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Revista Fé para Hoje Número 19, Ano 2003

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Editora Fiel

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SANSÃO E A SEDUÇÃO DA CULTURA 1

Fépara

Hojeé para Hoje é um ministério da Editora FIEL. Como

outros projetos da FIEL — as conferências e os livros— este novo passo de fé tem como propósito semearo glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deuspara a salvação de almas perdidas.O conteúdo desta revista representa uma cuidadosaseleção de artigos, escritos por homens que têmmantido a fé que foi entregue aos santos.Nestas páginas, o leitor receberá encorajamento a fimde pregar fielmente a Palavra da cruz. Ainda que estamensagem continue sendo loucura para este mundo,as páginas da história comprovam que ela é o poderde Deus para a salvação das ovelhas perdidas —“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”.Aquele que tem entrado na onda pragmática queprocura fazer do evangelho algo desejável aos olhosdo mundo, precisa ser lembrado que nem Paulo, nemo próprio Cristo, tentou popularizar a mensagemsalvadora.Fé para Hoje é oferecida gratuitamente aos pastores eseminaristas.

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Editora FielCaixa Postal 160112233-300 - São José dos Campos, SP

www.editorafiel.com.br

CONTEÚDO

DESTRUINDO O FUTURO .......................................................... 1Jim Elliff

AO NOVO PASTOR .................................................................. 4Joseph Irons

O ÚLTIMO SERMÃO .................................................................. 9Thomas Watson

OUTRO EVANGELHO ................................................................ 14Arthur W. Pink

CONFISSÕES DE FÉ E A CLAREZA DOUTRINÁRIA .................... 22F. Gresham Machen

SALVOS PELA MISERICÓRDIA, NÃO POR OBRAS ...................... 24Robert Murray M'Cheyne

A NOVA RELIGIOSIDADE NOS ESTADOSUNIDOS DA AMÉRICA ........................................................ 27

James White

VIAGEM À MOÇAMBIQUE ......................................................... 30Manoel Canuto

DESTRUINDO O FUTURO 1

DESTRUINDO O FUTURO

Jim Elliff

Assim como muitos estudantesdo ensino médio ou da universidade,eu tinha sonhos de encontrar, dentreuma grande variedade de estudantes,a pessoa certa com quem dividiria aminha vida. Em meus sonhos, ospadrões eram bastante razoáveis:inteligente, esperta, bonita, perso-nalidade atraente, capaz de pensar queeu era grande e um estimulante an-dar com Deus.

Para muitos de meus amigos, osonho se tornou um pesadelo. O sexoantes do casamento os levou a umvôo de helicóptero que eventualmenteos esmagou no asfalto duro, dimi-nuindo seriamente as chances de elesterem um casamento puro e agradá-vel (não mencionando “duradouro”).

O que acontece depois do sexo?As atitudes anteriores dizimam umbom futuro?

Infelizmente, em muitos casos,a resposta é “sim”. Nossas atitudesrealmente têm conseqüências. Osexplosivos colocados em uma vidahoje podem ser detonados nos temposmais inoportunos. Assim como asminas terrestres letais, tais explosivosgeralmente deixam como resultado

muito pouco daquilo que prometiaser tão bom e correto. O sexo antesdo casamento, por exemplo, temuma longa história de produzirdesconfiança em casamentos e decausar divórcios.

O sexo antes do casamento sem-pre se realiza sem o reconhecimentode que a experiência freqüentementeleva ao hábito. A pessoa que praticao sexo antes do casamento é uma pre-sa fácil para a prática de outros pe-cados. Embora fiquemos admiradosquando ouvimos que alguém teve umcaso de adultério, é provável que eleou ela mantinha um hábito sexual,em sua mente ou em seu corpo, du-rante algum tempo antes. Um estilode vida secreto caracterizado por de-sobediência sempre resulta de pro-var o gole inicial das águas roubadasdo sexo — uma experiência ou umpensamento produz outro, e maisoutro, entorpecendo a consciência eenfraquecendo a determinação.

O maior problema da promiscui-dade está no fato de que ela acabaem ruína eterna. O apóstolo Paulodisse, em 1 Coríntios 6.9-10, que osímpios não herdarão o reino de Deus

Fé para Hoje2

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— “Ou não sabeis que os injustos nãoherdarão o reino de Deus? Não vosenganeis: nem impuros, nem idóla-tras, nem adúlteros, nem efemi-nados, nem sodomitas, nem ladrões,nem avarentos, nem bêbados, nemmaldizentes, nem roubadores herda-rão o reino de Deus”.

Você pode iludir os outros, masnão a Deus; portanto, não engane asi mesmo. O pe-cado leva a jul-gamento. É ver-dade que cadapessoa tem pe-cado e merece oinferno. Nestesversículos, po-rém, o apóstoloPaulo estava a-presentando ar-gumentos para que fossem evitadasas principais tentações enfrentadaspelos crentes de Corinto, uma socie-dade que tinha uma cultura muitosemelhante à nossa.

Entretanto, Deus pode trans-formar uma vida de promiscuidadesexual. Depois de catalogar váriostipos de pessoas que não entrarão nocéu, Paulo continuou:

“Tais fostes alguns de vós; masvós vos lavastes, mas fostes san-tificados, mas fostes justificados emo nome do Senhor Jesus Cristo e noEspírito do nosso Deus” (1 Co 6.11).

Existe muita esperança nestaspalavras. Depois de haver sido apa-nhado na teia da lascívia, a sua por-ção tem de ser um estilo de vidaperpetuamente pecaminoso? Não.Por meio de Cristo, você pode serlibertado; e esta não é uma de-claração absurda. Embora nunca pos-

sa haver perfeição neste lado do céu,existe uma profunda reversão. Umverdadeiro cristão será capaz de di-zer: “Essa era a minha condição,porém agora por causa de Cristo, nãoé mais”.

Deus lava, santifica e justifica —exatamente o que você precisa paraescapar do domínio ditatorial de seusdesejos pecaminosos e ter a cer-

teza de herdar océu.

Assim, quan-do Deus o lava,Ele perdoa osseus pecados, re-movendo a suaculpa, ou seja,por meio da mor-te de Cristo,Deus apaga com-

pletamente a culpa e lhe dá um cora-ção puro. A culpa não é apenas umsentimento; ela é uma realidade. Ébom que o sentimento de culpa sejaremovido, mas o problema é a culpapropriamente dita.

Deus o santifica, ou seja, Ele osepara para Si mesmo, como algoexclusivamente dEle. E, depois desepará-lo para o uso dEle mesmo,Deus pode torná-lo semelhante a Elemesmo, por intermédio do EspíritoSanto, que Ele colocou em seuespírito. Esta é a maneira como Deusestampa o nome dEle em sua fronte,para designar que você é filho dElepara sempre.

E Deus justifica todos aquelesque vêm a Ele. A justificação signi-fica que você, embora seja uma cria-tura pecaminosa, é declarado justoaos olhos de Deus, não por causa doque você tem feito ou não, mas tão-

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...por meio da mortede Cristo, Deus

apaga completamentea culpa e lhe dá

um coração puro.

DESTRUINDO O FUTURO 3

somente por causa daquilo que Cris-to fez. A morte de Cristo em seu fa-vor é aceita por Deus em lugar dasua morte. Você é justificado pela féna obra de Cristo e não em suas pró-prias obras.

Eu estaria errando se lhe dissesseque a atividade sexual fora do ca-samento não lhe causará problemassérios. Ainda que tal atividade pareçabastante provocadora por um mo-mento, o deixar de seguir os preceitosde Deus referentes ao sexo é a fór-mula para a calamidade. Mas o vir aCristo, pela fé, muda as coisas.Quando Deus purifica, santifica ejustifica, você não é mais a mesma

pessoa; e recebe a garantia de umfuturo no céu.

Quando alguém sai do hospital,após uma cirurgia, a melhora em seuvigor físico torna-se visível a todos.Parece um novo homem. Mas as ci-catrizes ainda estão presentes. Essascicatrizes fazem-no recordar com oque seu corpo parecia.

Cicatrizes sexuais podem conti-nuar trazendo recordações, mas osseus erros anteriores não o podemdestruir, se você veio a Cristo. Àsemelhança de uma lagarta que deixao seu casulo, você pode deixar paratrás essa recordação, para sempre.

OS MALES DO CORAÇÃO DO HOMEMJohn Newton

Para que tenhamos uma idéia correta da natureza do coração huma-no, devemos perguntar a nós mesmos se conseguiríamos suportar a im-posição de declararmos sem restrições, em voz alta, na presença demuitas pessoas, todos os pensamentos e desejos que se encontram emnosso coração. Estou convicto de que algumas pessoas, se fossem colo-cadas diante de tal prova, prefeririam morrer a concordar com tal im-posição. Elas perceberiam que, em tal provocação, existem coisas paraas quais dificilmente encontrariam palavras capazes de expressá-las.

O Senhor, em sua misericórdia, nos tem guardado de conhecer ocoração dos outros, até ao ponto em que estamos dispostos a revelar anós mesmos. Se todas as pessoas fossem obrigadas a falar tudo o quepensam, isto seria o fim de nossa sociedade, e as pessoas nunca mais searriscariam a morar com outros seres humanos; em vez disso, morari-am com tigres e ursos.

Todos sabemos que danos uma língua desgovernada pode causar emalgumas ocasiões. Mas a língua não causará nenhum dano enquanto nãofor um instrumento de revelação das coisas ocultas do coração; é so-mente uma parte dessas coisas que a pior língua é capaz de revelar. Oque aconteceria, então, se todos os corações fossem abertos e todos osnossos pensamentos, conhecidos para os outros? Que mistura de confu-são, vergonha, retraimento, medo e desonra encheria todos os rostos...

E todos nós estamos expostos à perscrutação de um Deus puro esanto!

Fé para Hoje4

AO NOVO PASTOR

Joseph Irons

“Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não,corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade

e doutrina.”2 Timóteo 4.2

Prega a Palavra de maneira ex-perimental — isto demonstra quealgo mais do que um credo sadio éum dos requisitos para a existênciade um verdadeiro cristão. Vida! Avida de Deus tem de ser concebidana alma, pois, do contrário, aqueleque simplesmente professa ser cris-tão se assemelha a um bloco de pedraque passou pela mão do escultor efoi moldado na imagem de um ho-mem, mas não pode falar, andar,comer, nem trabalhar.

Receio que nesta condição seencontram milhares de pessoas quese passam por cristãos em nossosdias. Ser um verdadeiro cristãosignifica possuir a vida de Deus naalma, por meio da poderosa vivi-ficação da sua graça. Significa terCristo formado no coração, aesperança da glória; ser um ramo da“Videira Verdadeira” — um membroda Cabeça viva. Sim, significa sertornado capaz de realizar as funçõespeculiares da vida espiritual e gozarantecipadamente da vida eterna, por

viver na plenitude de Cristo, andan-do com Deus e mantendo comunhãocom os céus. Eu tremo quando pen-so na ilusão que prevalece entre oshomens neste assunto crucial, ao co-locarem a aparência da piedade nolugar do seu poder.

Meu irmão, se Deus prolongar aminha vida, espero observar o seuministério. E ficarei muitíssimo tristese descobrir que o formalismo vazioe professos de coração dividido per-manecem sem perturbação no seupastorado. Você deve suspeitar ime-diatamente que algo está errado emseu ministério, se os seus ouvintesaprovam o seu ministério e, ao mes-mo tempo, se deleitam com o peca-do e tranqüilizam suas consciênciasna busca por diversões mundanas.

Apresso-me em descrever maisparticularmente a posição oficial quevocês agora mantêm na igreja de Deus— o pastor. Uma coisa é ser pregador;outra é ser pastor. Existem muitospregadores que, de maneira alguma,estão qualificados para serem pasto-

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res de igrejas. A todos os pregadoreseu posso dizer: “Prega a palavra!”Mas, para você, eu tenho algo maisa dizer: “Insta, quer seja oportuno,quer não, corrige, repreende, exortacom toda longanimidade e doutrina”.O quê? Temos de fazer isto sempre?Sim, sempre. “Insta, quer seja opor-tuno, quer não.” Por amor a Cristo,à Igreja, à própria alma e à sua saú-de, eu o exorto: seja vigilante noexercício deste ofício sublime.

Sim, por amor a Cristo, todo oseu tempo não é suficiente para queexalte o precioso nome dEle. E, vistoque há poucosque O honram,seja este o seuperpétuo tra-balho. Sim, poramor à Igreja,pense no valordas almas precio-sas confiadas aoseu cuidado pas-toral! Lembre-sede que elas esperam ser alimentadas;freqüentemente, elas virão à casa deoração, parecendo ovelhas famintas,supondo que você lhes trará algo daplenitude de Cristo, da qual elas po-derão sobreviver. E elas não devemser desapontadas. Eu lhe encarrego:inste, quer seja oportuno, quer não,em seu púlpito, em seu escritório,no seu relacionamento com as pes-soas de seu encargo. Enquanto vocêlê, visita, passeia ou viaja, transfor-me cada incidente e cada objeto emum servo do seu grande propósito,no ofício pastoral, para a glória deDeus.

Mas existem outras partes doministério pastoral referidas em nos-

so versículo. Você tem de corrigir asinconsistências, o mau humor, o es-pírito mundano, o amor por pree-minência, as desordens familiares ea falta de bondade fraternal deles; àmedida que, com freqüência, expõeestes e outros males entre os que es-tão ao seu encargo.

Você tem de “repreender” escan-dalosos que professam ser crentes,heresias abomináveis e hipócritasbajuladores; pois esteja certo de queencontrará tais pessoas no decursode sua carreira pastoral. E, se nãoforem repreendidos, eles roerão

como um cânceras partes vitais desua tranqüilidadee de sua utilida-de. Não deixe devisitar os enfer-mos. Muitas bên-çãos são conse-guidas no leitode crentes enfer-mos. Quando

meu escritório se mostrou completa-mente infrutífero, obtive muitos ser-mões ao visitar tais crentes. E, quan-do as minhas visitas foram uma bên-ção para o enfermo e moribundo,também se tornaram uma bênção paramim. Deste modo, comprovei que“melhor é ir à casa onde há luto doque ir à casa onde há banquete”.

Nosso versículo nos mostra tam-bém que, em todas as suas partes,nosso ofício deve ser realizado “comtoda a longanimidade e doutrina”.Existe uma peculiaridade nesta ex-pressão que faremos bem se a obser-varmos. Longanimidade e doutrinaaparecem juntas, como se o apóstoloestivesse dizendo que a longani-

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Existem muitos pregadoresque, de maneira alguma,

estão qualificadospara serem pastores

de igrejas.

Fé para Hoje6

midade sem doutrina pode degene-rar-se em dissolução; e a doutrina semlonganimidade pode tornar-se seve-ridade. Por conseguinte, enquantovocê demonstra longanimidade paracom o fraco e o perverso, não cedanenhum ‘i” de doutrina à fraquezaou à perversidade deles. E, enquan-to você mantém com firmeza todasas doutrinas da graça, pratique tole-rância e longanimidade para comaqueles que não podem receber taisdoutrinas; lembre-se da exortaçãoapostólica: “Disciplinando com man-sidão os que se opõem”.

Oponha-se apenas no Espírito deCristo. Mas, sempre que a verdadede Deus for atacada, tenha coragemde um leão, assim como Cristo teve.Se o seu nome e o seu caráter forematacados, pense nEle, que, ao serultrajado, não revidou com ultraje.Se a honra do seu Senhor for as-saltada, enfrente o inimigo com aPalavra do Espírito. Se você forgolpeado em uma face, ofereça aoutra também.

Tenha como seu moto aquelasagradáveis palavras do apóstolo:“Santidade e sinceridade de Deus”.Utilize grande clareza de linguagem,evitando idéias extravagantes e fra-ses esquisitas. O evangelho não pre-cisa de outra roupagem, além da suaprópria; portanto, não procure acres-centar-lhe adornos; não se humilhea ponto de rebaixá-lo. Rejeite novi-dades, procure o velho caminho eande nele.

Apresso-me a mencionar a úl-tima característica do encargo trans-mitido pelo apóstolo, ou seja, o mo-tivo solene: “Haverá tempo em quenão suportarão a sã doutrina”. Meu

irmão, o tempo já chegou. Emboramuitos discutam sobre isto, estoudisposto a comprovar que, onde asdoutrinas da graça forem completa-mente ensinadas, com clareza, amente carnal se levantará contra talpregação e tais ensinadores. Sim, estaé a atual situação degenerada da igrejade Deus: milhares de pessoas queapresentam algumas evidências deserem nascidas de Deus se mostramhostis para com as mais preciosasverdades do evangelho eterno e to-mam posição ao lado dos persegui-dores dos servos de Deus.

O perverso fermento do armi-nianismo se infiltrou tanto na Igrejade Deus, que até os verdadeiros cren-tes não suportam as doutrinas queprostram o homem até ao pó eexaltam somente a Deus. Por isso,os arautos da verdade, sobre os quaisDeus colocou a mais distinta honra,são constantemente reprovados comohomens perigosos; e as pessoas sãoadvertidas, com freqüência, a nãoouvi-los. E tudo isto é feito em meioa pretensões de amor universal.Portanto, você tem de preparar-separa abandonar as doutrinas da graçaou para enfrentar perseguição porensiná-las, especialmente da partedaqueles que têm o nome de ministrosdo evangelho.

Tornou-se uma prática comumentre os teólogos modernos negaralgumas doutrinas e perverter outras.Oh! Sentimos indignação diante desseneutralismo traiçoeiro! Abracemostoda a verdade ou renunciemos to-talmente o cristianismo! Pois, se asdoutrinas principais são rejeitadas,muito pouco nos resta. Eu não meadmiro de que os incrédulos zombem

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da verdade, considerando-a uma fá-bula inventada com muita astúcia.Não é terrível, meu irmão, que en-tre os que se identificam como evan-gélicos existem muitos homensque têm descara-mento suficientepara negar a eter-na união da Igre-ja com o seu Ca-beça e a eternaresponsabilidadedEle em favor deseu corpo? Comcerteza, não pre-cisamos de me-lhores provas deque chegou o tempo em que os ho-mens não suportam a sã doutrina.Portanto, você tem o encargo de serhonesto e ousado em defesa da ver-dade.

Oh! como as outras doutrinas sãopervertidas! Por exemplo, a doutri-na da expiação é apresentada,freqüentemente, como a satisfação dajustiça divina em relação ao pecado,sem qualquer referência aos eleitosde Deus. E, quando se fala sobre aregeneração, constantemente se em-prega termos que permitem o pe-cador imaginar que a regeneração éuma obra dele mesmo, que não con-siste em nada mais do que umaprimoramento da velha natureza.Assim, podemos dizer que os homensnão suportam as mais preciosas dou-trinas da graça, quando elas sãoplenamente ensinadas. Portanto, meuirmão, compete a você, bem como atodos os que conhecem o amor daverdade, ser vigilante e ousado nacausa do Senhor, lembrando a ben-dita exortação de nosso Senhor: “Sê

fiel até à morte, e dar-te-ei a coroada vida”.

Não recue diante da verdade portemer a perseguição. Você não podeevitá-la nestes dias, exceto por in-

fringir sua cons-ciência e sacrifi-car sua utilidadeno santuário sa-cerdotal. Vocêdeve esperar queserá chamadohipercalvinista,supralapsariano,antinomiano eoutros títulos re-pugnantes, que o

representarão como um monstro.Mas não tenha medo, somente tenhacuidado de si mesmo e da doutrina(cf. 1 Tm 4.16), e Deus cuidará devocê.

Acautele-se de seu próprio espí-rito! Quando você for atingido porum insulto, achará difícil preservara moderação cristã. E, se os inimi-gos da verdade puderem ser bem-su-cedidos em provocá-lo a dizer algu-ma palavra sórdida, eles não falha-rão em desprezar seu nome por cau-sa do pecado do qual eles mesmossão os autores. Por essa razão, sejaimportuno com Deus, a fim de que amentalidade de Cristo esteja em você;e torne estas palavras o lema de seupúlpito: “Falando a verdade emamor”.

Não posso terminar minha adver-tência para você, meu filho, semmencionar aquela bendita exortaçãode nosso Senhor: “Acautelai-vos doshomens”. É agradável ver a caloro-sa recepção demonstrada a você e aoseu ministério, em sua ordenação.

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...longanimidade semdoutrina pode degenerar-

se em dissolução; e adoutrina sem

longanimidade podetornar-se severidade.

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Fé para Hoje8

Deus a perpetue! Mas não fique sur-preso, se alguns dos que hoje clamam“Hosana” mudarem, pouco a pouco,o tom de suas palavras e disseremposteriormente: “Vá embora daqui”.Agradeça a Deus pela bondade de suascriaturas, mas veja-a como algo bas-tante enganoso.

Não tolere qualquer violação deseu ofício sagrado, lembrando-se deque ele é totalmente espiritual. Nãopermita que ninguém retire o incensosagrado de suas mãos. Também nãotolere que você mesmo esteja inter-ferindo no servir às mesas. Cuidebem do seu púlpito, das ordenançase do progresso espiritual de seu re-banho, deixando as coisas temporaisaos cuidados de outras pessoas.

Finalmente, meu irmão, e antesde todas as coisas, cultive uma totaldependência da influência do EspíritoSanto, a fim de tornar bem-sucedidostodos os seus labores. Em seu escri-

tório, Ele deve guiá-lo na escolha daspassagens bíblicas e abrir sua mentepara tais passagens. No púlpito, Eledeve incendiar seu coração, aplican-do a mensagem que você apresentaao coração dos seus ouvintes. E, emtoda a sua carreira oficial e diária, oEspírito Santo tem de mostrar-lhe ascoisas de Cristo.

Sem esta obra eficaz, você des-cobrirá que as rodas de sua carrua-gem arrastam-se com muita dificul-dade e que seu trabalho logo setornará muito enfadonho. No entan-to, com a sanção e o auxílio doEspírito Santo, você não falhará emganhar almas, alimentar as ovelhas econsolar o corpo místico de Cristo.Tudo isto fará com que seu labor setorne deleitável e proveitoso para suaprópria alma.

(Resumo do sermão de ordenaçãodo pastor George Gosling, em 1828,baseado em 2 Timóteo 4.2-3.)

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Através dos anos, temos criado os nossos própriosguetos de artistas, superestrelas e apresentadores, comversões cristãs de tudo que há no mundo... Por exemplo,“a música cristã” é freqüentemente uma desculpa paraartistas, muitas vezes inferiores, conseguirem vencer numasubcultura cristã que imita o brilho e glamour do entrete-nimento secular, inclusive suas próprias cerimônias depremiação e seu ambiente de superestrelato... Produzirmúsica em conformidade com os gostos anestesiados deuma cultura consumista já é ruim; imitar a arte co-mercializada é desperdiçar talento... Isto trivializa tantoa arte quanto a religião.

Michael S. Horton

O ÚLTIMO SERMÃO 9

O ÚLTIMO SERMÃO

Thomas Watson

A 24 de agosto de 1662, dois mil ministros puritanos do evange-lho foram excluídos de seus púlpitos, tendo recebido a ordem de nãomais pregarem em público. O Ato de Uniformidade, baixado peloparlamento inglês, conhecido pelos evangélicos como a Grande Ejeção,pairava por sobre a Inglaterra como uma nuvem espessa. Muitos líde-res eclesiásticos da Igreja Anglicana, a religião oficial, estavamforçando os puritanos a cessarem suas prédicas ou a se moldarem àadoração litúrgica decretada por lei. Muitos ministros preferiam osilêncio à transigência.

Com olhos marejados de lágrimas, milhares de crentes humildesouviram seu último sermão no domingo imediatamente anterior à dataem que o Ato se tornaria lei. E, naquele último domingo de liberdade,os ministros puritanos provavelmente pregaram os seus melhores ser-mões.

O sermão que passamos a transcrever, de modo um tanto abrevi-ado, foi pregado por Thomas Watson a seu pequeno rebanho.

Antes que eu me vá, devo oferecer alguns conselhos e orientaçõespara vossas almas. Eis as vinte instruções que tenho a dar a cada um de vós,para as quais desejo a mais especial atenção:

1) Antes de tudo, observa tuas horas constantes de oração a Deus, diaria-mente. O homem piedoso é homem “separado” (Sl 4.3), não apenas porqueDeus o separou por eleição, mas também porque ele mesmo se separa pordevoção. Inicia o dia com Deus, visita-O pela manhã, antes de fazeresqualquer outra coisa.

Lê as Escrituras, pois elas são, ao mesmo tempo, um espelho que mos-tra as tuas manchas e um lavatório onde podes branquear essas máculas.Adentra ao céu diariamente, em oração.

2) Coleciona bons livros em casa. Os livros de qualidade são como fon-

Fé para Hoje10

tes que contêm a água da vida, com a qual poderás refrigerar-te. Quandodescobrires um arrepio de frio em tua alma, lê esses livros, onde poderásficar familiarizado com aquelas verdades que aquecem e afetam o cora-ção.

3) Tem cuidado com as más companhias. Evita qualquer familiaridadedesnecessária com os pecadores. Ninguém pode apanhar a saúde de outrem;mas pode-se apanhar doenças. E a doença do pecado é altamente trans-missível.

Visto não podermos melhorar os outros, ao menos tenhamos o cuidadode que eles não nos façam piores. Está escrito acerca do povo de Israel que“se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras” (Sl 106.35).

As más companhias são as redes de arrastão do diabo, com as quaisarrasta milhões de pessoas para o inferno. Quantas famílias e quantas almastêm sido arruinadas pelas más companhias!

4) Cuidado com o que ouves. Existem certas pessoas que, com seusmodos sutis, aprendem a arte de misturar o erro com a verdade e de ofere-cer veneno em uma taça de ouro. Nosso Salvador, Jesus Cristo,aconselhou-nos: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentamdisfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15).

Sê como aqueles bereanos que examinavam as Escrituras, para verifi-car se, de fato, as coisas eram como lhes foram anunciadas (At 17.11).Aos crentes é mister um ouvido discernidor e uma língua crítica, quepossam distinguir entre a verdade e o erro e ver a diferença entre o ban-quete oferecido por Deus e o guisado colocado à sua frente pelo diabo.

5) Segue a sinceridade. Sê o que pareces ser. Não sejas como os rema-dores, que olham para um lado e remam para outro. Não olhes para o céu,com tua profissão de fé, para, então, remar em direção ao inferno, comtuas práticas. Não finjas ter o amor de Deus, ao mesmo tempo que amas opecado. A piedade fingida é uma dupla iniqüidade.

Que teu coração seja reto perante Deus. Quanto mais simples é o dia-mante, tanto mais precioso ele é; e quanto mais puro é o coração, maior é ovalor que Deus dá à sua jóia. O salmista disse sobre Deus: “Eis que tecomprazes na verdade no íntimo” (Sl 51.6).

6) Nunca te esqueças da prática do auto-exame. Estabelece um tribunalem tua própria alma. Tem receio tanto de uma santidade mascarada quantode ires para um céu pintado. Julgas-te bom porque outros assim pensam deti?

Permite que a Palavra seja um ímã com o qual provarás o teu coração.Deixa que a Palavra seja um espelho, diante do qual poderás julgar a aparên-cia de tua alma. Por falta de autocrítica, muitos vivem conhecidos pelos

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outros, mas morrem desconhecidos por si mesmos. “De noite indago o meuíntimo”, disse o salmista (Sl 77.6).

7) Mantém vigilância quanto à tua vida espiritual. O coração é uminstrumento sutil, que gosta de sorver a vaidade; e, se não usarmos decautela, atrai-nos, como uma isca, para o pecado. O crente precisa estarconstantemente alerta.

Nosso coração se assemelha a uma “pessoa suspeita”. Fica de olho nele,observa o teu coração continuamente, pois é um traidor em teu própriopeito. Todos os dias deves montar guarda e vigiar. Se dormires, aí está aoportunidade para as tentações diabólicas.

8) O povo de Deus deve reunir-se com freqüência. As pombas de Cris-to devem andar unidas. Assim, um crente ajudará a aquecer ao outro. Umconselho pode efetuar tanto bem quanto uma pregação. “Então, os quetemiam ao SENHOR falavam uns aos outros” (Ml 3.16).

Quando um crente profere a palavra certa no tempo oportuno, derramasobre o outro o óleo santo que faz brilhar com maior fulgor a lâmpada domais fraco. Os biólogos já notaram que há certa simpatia entre as plantas.Algumas produzem melhor quando crescem perto de outras plantas.Semelhantemente, esta é a verdade no terreno espiritual. Os santos são comoárvores de santidade. Medram melhor na piedade quando crescem juntos.

9) Que o teu coração seja elevado acima do mundo. “Pensai nas coisaslá do alto” (Cl 3.2). Podemos ver o reflexo da lua na superfície da água,mas ela mesma está acima, no firmamento. Assim também, ainda que ocrente ande aqui em baixo, o seu coração deve estar fixado nas glórias doalto.

Aqueles cujos corações se elevam acima das coisas deste mundo nãoficam aprisionados com os vexames e desassossegos que outros experimen-tam, mas, antes, vivem plenos de alegria e de contentamento.

10) Consola-te com as promessas de Deus. As promessas são grandessuportes para a fé, que vive nas promessas do mesmo modo que o peixe

As promessas de Deus são quais balsas flutuantesque nos impedem de afundar,

quando entramos nas águas da aflição.g

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Fé para Hoje12

vive na água. As promessas de Deus são quais balsas flutuantes que nosimpedem de afundar, quando entramos nas águas da aflição. As promessassão doces cachos de uvas produzidos por Cristo, a videira verdadeira.

11) Não sejas ocioso, mas trabalha para ganhar o teu sustento. Estoucerto de que o mesmo Deus que disse: “Lembra-te do dia de sábado, para osantificar”, também disse: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra”.Deus jamais apoiou qualquer ociosidade.

Paulo observou: “Estamos informados de que, entre vós, há pessoasque andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem navida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor JesusCristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão” (2 Ts3.11-12).

12) Ajunta a primeira tábua da Lei à segunda, isto é, piedade para comDeus e eqüidade para com o próximo. O apóstolo Paulo reúne essas duasidéias, em um só versículo: “Vivamos, no presente século... justa e piedo-samente” (Tt 2.12). A justiça se refere à moralidade; a piedade diz respeitoà santidade.

Alguns simulam ter fé, mas não têm obras; outros têm obras, mas nãotêm fé. Alguns se consideram zelosos de Deus, mas não são justos em seustratos; outros são justos no que fazem, mas não têm a menor fagulha de zelopara com Deus.

13) Em teu andar perante os outros, une a inocência à prudência. “Sede,portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt10.16). Devemos incluir a inocência em nossa sabedoria, pois doutro modotal sabedoria não passará de astúcia; e precisamos incluir sabedoria em nos-sa inocência, pois do contrário nossa inocência será apenas fraqueza.

Convém que sejamos tão inofensivos como as pombas, para que nãocausemos danos aos outros, e que tenhamos a prudência das serpentes, a fimde que os outros não abusem de nós nem nos manipulem.

14) Tenha mais medo do pecado que dos sofrimentos. Sob o sofrimen-to, a alma pode manter-se tranqüila. Porém, quando um homem pecavoluntariamente, perde toda a sua paz. Aquele que comete um pecado paraevitar o sofrimento, assemelha-se ao indivíduo que permite sua cabeça serferida, para evitar danos ao seu escudo e capacete.

15) Foge da idolatria. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21).A idolatria consiste numa imagem de ciúme que provoca a Deus. Guarda-tedos ídolos e tem cuidado com as superstições.

16) Não desprezes a piedade por estar sendo ela perseguida. Homens

O ÚLTIMO SERMÃO 13

ímpios, quando instigados por Satanás, vituperam, maliciosamente, o ca-minho de Deus.

A santidade é uma qualidade bela e gloriosa. Chegará o tempo quandoos iníquos desejarão ver algo dessa santidade que agora desprezam, masestarão tão removidos dela como agora estão longe de desejá-la.

17) Não dá valor ao pecado por estar atualmente na moda. Não julga opecado como coisa apreciável, só porque a maioria segue tal caminho. Pen-samos bem sobre uma praga, só porque ela se torna tão generalizada eatinge a tantos? “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas;antes, porém, reprovai-as” (Ef 5.11).

18) No que diz respeito à vida cristã, serve a Deus com todas as tuasforças. Deveríamos fazer por nosso Deus tudo quanto está no nosso alcan-ce. Deveríamos servi-Lo com toda a nossa energia, posto que a sepulturaestá tão perto, e ali ninguém ora nem se arrepende. Nosso tempo é curtodemais, pelo que também o nosso zelo de Deus deveria ser intenso. “Sedefervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.11).

19) Faze aos outros todo o bem que puderes, enquanto tiveres vida.Labuta por ser útil às almas de teus semelhantes e por suprir as necessidadesalheias. Jesus Cristo foi uma bênção pública no mundo. Ele saiu a fazer obem.

Muitos vivem de modo tão infrutífero, que, na verdade, suas vidasdificilmente são dignas de uma oração, como também seu falecimento qua-se não merece uma lágrima.

20) Medita todos os dias sobre a eternidade. Pois talvez seja questão depoucos dias ou de poucas horas — haveremos de embarcar através do ocea-no da eternidade. A eternidade é uma condição de desgraça eterna ou defelicidade eterna. A cada dia, passa algum tempo a refletir a respeito daeternidade.

Os pensamentos profundos sobre a eterna condição da alma deveriamservir de meio capaz de promover a santidade.

Em conclusão, não devemos superestimar os confortos deste mundo.As conveniências do mundo são muito agradáveis, mas também são passa-geiras e logo se dissipam. A idéia da eternidade deve ser o bastante paraimpedir-nos de ficar tristes em face das cruzes e sofrimentos neste mundo.A aflição pode ser prolongada, mas não eterna. Nossos sofrimentos nestemundo não podem ser comparados com nosso eterno peso de glória.

Considerai o que vos tenho dito, e o Senhor vos dará entendimentoacerca de tudo.

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Fé para Hoje14

OUTRO EVANGELHO

Arthur W. Pink

Satanás não é um iniciador; eleé um imitador. Deus tem um Filhounigênito, o Senhor Jesus Cristo; demodo similar, Satanás tem o “filhoda perdição” (2 Ts 2.3). Existe umaTrindade Santa; de maneira se-melhante, existe a Trindade do Mal(Ap 20.10). Lemos nas Escrituras arespeito dos “filhos de Deus”? Le-mos também sobre os “filhos domaligno” (Mt 13.38). Deus realmen-te realiza em seus filhos tanto o que-rer como o executar a sua boa von-tade? Somos informados que Satanásé o “espírito que agora atua nos fi-lhos da desobediência” (Ef 2.2).Existe um “mistério da piedade” (1Tm 3.16)? Também existe um “mis-tério da iniqüidade” (2 Ts 2.7). ABíblia nos diz que Deus, por meiode seus anjos, sela os seus servos emsuas frontes (Ap 7.3)? Aprendemosigualmente que Satanás, por meio deseus agentes, coloca uma marca so-bre as frontes de seus servidores (Ap13.16). As Escrituras nos revelamque o “Espírito a todas as coisas pers-cruta, até mesmo as profundezas deDeus” (1 Co 2.10)? De maneira se-melhante, Satanás possui as suas

“coisas profundas” (Ap 2.24). Cris-to realiza milagres? Satanás tambémpode fazer isso (2 Ts 2.9). Cristo estáassentado em seu trono? De modosemelhante, Satanás tem o seu trono(Ap 2.13). Cristo possui uma Igre-ja? Satanás tem a sua sinagoga (Ap2.9). Cristo é a luz do mundo? Demodo similar, o próprio Satanás “setransforma em anjo de luz” (2 Co11.14). Cristo designou os seus após-tolos? Satanás também possui os seusapóstolos (2 Co 11.13). Tudo issonos leva a considerar o “Evangelhode Satanás”.

Satanás é um arquiimitador. Eleestá agora em atividade no mesmocampo em que o Senhor Jesus semeoua boa semente. O diabo está pro-curando impedir o crescimento dotrigo, utilizando-se de outra planta,o joio, que em aparência se asse-melha muito ao trigo. Em resumo,por meio de um processo de imita-ção, Satanás está almejando neutra-lizar a obra de Cristo. Portanto,assim como Cristo tem um evange-lho, Satanás também possui um evan-gelho, que é uma imitação sagaz doevangelho de Cristo. O evangelho de

OUTRO EVANGELHO 15

Satanás se parece tanto com aqueleque procura imitar, que multidões depessoas não-salvas são enganadas poreste evangelho.

O apóstolo Paulo se referiu a esteevangelho, quando disse: “Admira-me que estejais passando tão depres-sa daquele que vos chamou na graçade Cristo para outro evangelho, oqual não é outro, senão que há al-guns que vos perturbam e queremperverter o evangelho de Cristo” (Gl1.6,7). Este falso evangelho estavasendo proclamado mesmo nos diasdo apóstolo, e uma terrível maldi-ção foi lançada sobre aqueles que opregavam. O apóstolo continuou:“Mas, ainda que nós ou mesmo umanjo vindo do céu vos pregue evan-gelho que vá além do que vos temospregado, seja anátema” (v. 8). Coma ajuda de Deus, nos esforçaremospara explicar, ou melhor, para des-mascarar este falso evangelho.

O evangelho de Satanás não é umsistema de princípios revolucionári-os, nem mesmo um programa deanarquia. Este evangelho não pro-move conflitos ou guerras, mas temcomo alvo a paz e a unidade. Nãoprocura colocar a mãe contra a fi-lha, nem o pai contra o filho; ao in-vés disso, ele fomenta o espírito defraternidade pelo qual a raça huma-na é considerada uma grande “irman-dade”. Este evangelho não procuramortificar o homem natural, e simaprimorá-lo e enaltecê-lo. O evan-gelho de Satanás defende a educaçãoe a instrução, apelando ao “melhorque há no íntimo do ser humano”;tem como alvo fazer deste mundo umhabitat tão confortável e agradável,que a ausência de Cristo não será

sentida e Deus não será necessário.O evangelho de Satanás se esforçapara manter o homem tão ocupadocom as coisas deste mundo, que nãotem ocasião nem inclinação para pen-sar no mundo por vir. Este evange-lho propaga os princípios doauto-sacrifício, da caridade e da be-nevolência, ensinando-nos a viverpara o bem dos outros e sermos bon-dosos para todos. Apela fortementeà mentalidade carnal, tornando-sepopular entre as massas, porque ig-nora os solenes fatos de que, por na-tureza, o homem é uma criaturacaída, está alienado da vida de Deus,morto em delitos e pecados, e de quea única esperança se encontra em sernascido de novo.

Em distinção ao evangelho deCristo, o evangelho de Satanás ensi-na que a salvação se realiza por meiodas obras; incute na mente das pes-soas a idéia de que a justificação di-ante de Deus ocorre com base nosméritos humanos. A frase sagrada doevangelho de Satanás é: “Seja bom efaça o bem”; mas falha em reconhe-cer que na carne não habita bem al-gum. O evangelho de Satanás a-nuncia uma salvação que se realizapor meio do caráter, uma salvaçãoque é o reverso da ordem estabelecidapor Deus, em sua Palavra — o caráterse manifesta como fruto da salvação.As ramificações e organizações des-te evangelho são multiformes. Tem-perança, movimentos de reforma,associações de cristãos socialistas,sociedades de cultura ética, congres-sos sobre a paz, todas estas coisas sãoempregadas (talvez inconscientemen-te) em proclamar este evangelho deSatanás — a salvação pelas obras.

Fé para Hoje16

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Cristo é substituído pelo cartão deapelo; o novo nascimento do indiví-duo é trocado pela pureza social; e adoutrina e a piedade são substituídaspor filosofia e política. A cultivaçãodo velho homem é considerada maisprática do que a criação de um novohomem em Cristo Jesus, enquanto apaz universal é procurada sem ainterposição e o retorno do Príncipeda Paz.

Os apóstolos de Satanás não sãodonos de bares e negociantes de es-cravos brancos; em sua maioria, elessão ministros do evangelho ordena-dos por igrejas. Milhares daquelesque ocupam os púlpitos das igrejasmodernas não estão mais engajadosem apresentar as verdades funda-mentais da fécristã; eles dei-xaram de lado averdade e se en-tregaram a fá-bulas. Em vez demagnificarem agrande vileza dopecado e revela-rem as suas eter-nas conseqüên-cias, tais minis-tros minimizam o pecado, por de-clararem que este é apenas uma ig-norância ou uma ausência do bem.Em vez de advertirem seus ouvintesa fugirem da “ira vindoura”, tais mi-nistros tornam Deus um mentiroso,por declararem que Ele é muito amá-vel e misericordioso e que, por issomesmo, não enviará qualquer de suascriaturas para o tormento eterno. Emvez de declararem que, “sem derra-mamento de sangue, não há remis-são”, tais ministros apenas apre-

sentam Cristo como o grande Exem-plo e exortam seus ouvintes a segui-rem os passos dEle. Temos de afirmara respeito desses ministros: “Por-quanto, desconhecendo a justiça deDeus e procurando estabelecer a suaprópria, não se sujeitaram à que vemde Deus” (Rm 10.3). A mensagemdeles talvez pareça bastante plausí-vel, e seu objetivo, digno de louvor;todavia, lemos a respeito deles: “Por-que os tais são falsos apóstolos, obrei-ros fraudulentos, transformando-seem apóstolos de Cristo. E não é deadmirar, porque o próprio Satanás setransforma em anjo de luz. Não émuito, pois, que os seus própriosministros se transformem em minis-tros de justiça; e o fim deles se-

rá conforme assuas obras” (2Co 11.13-15).Além do fato deque centenas deigrejas estão semlíderes que pro-clamem fielmen-te todo o con-selho de Deus eapresentem ocaminho de sal-

vação dEle, também temos de enca-rar o fato de que a maioria das pes-soas destas igrejas provavelmente têmde aprender a verdade por si mes-mas. O culto familiar, onde umaporção da Palavra de Deus deveriaser lida todos os dias, é atualmente,mesmo nos lares de muitos crentesnominais, uma coisa do passado. ABíblia não é exposta no púlpito, nemlida nos bancos das igrejas. As exi-gências de uma época repleta deatividades são inumeráveis, de modo

A heresia não é umanegação completada verdade, e simuma perversão da

verdade.

OUTRO EVANGELHO 17

que milhares de crentes têm poucotempo e, menos ainda, inclinação deprepararem-se para o encontro comDeus. Por isso, a maioria dos quesão muito indolentes para investiga-rem por si mesmos são deixados àmercê daqueles a quem eles pagampara examinarem as Escrituras nolugar deles; muitos deles negam a suaconfiança em Deus, por estudarem eexporem os problemas econômicose sociais, e não os óraculos de Deus.

Em Provérbios 14.12, lemos:“Há caminho que ao homem parecedireito, mas ao cabo dá em caminhosde morte”. Este “caminho” que ter-mina em “morte” é uma ilusão dodiabo — o evangelho de Satanás —um caminho de salvação por meiode realizações humanas. É um cami-nho que “parece direito”, ou seja, éum caminho apresentado de umamaneira tão plausível, que apela aohomem natural; e de uma maneiratão sutil e atrativa, que recomenda asi mesmo à inteligência de seus ou-vintes. Multidões incontáveis sãoseduzidas e enganadas por este ca-minho, devido ao fato de que ele seapropria de uma terminologia reli-giosa, recorre, às vezes, à Bíblia,para sustentar a si mesmo (sempreque isto for conveniente aos seus pro-pósitos), e defende ideais nobres di-ante dos homens, sendo proclamadopor aqueles que foram graduados emnossas instituições teológicas.

O sucesso de um falsificador demoedas depende de quão parecida amoeda falsa se torna com a genuína.A heresia não é uma negação com-pleta da verdade, e sim uma perver-são da verdade. Esta é a razão porque uma mentira incompleta é mais

perigosa do que uma mentira com-pleta. Por isso, quando “o pai damentira” sobe ao púlpito, ele nãocostuma negar abertamente as ver-dades fundamentais do cristianismo;pelo contrário, ele as reconhece as-tutamente e, em seguida, apresentauma interpretação errônea e uma fal-sa aplicação. Por exemplo, ele nãomanifestará uma tolice tão excessi-va, a ponto de anunciar ousadamentesua incredulidade em um Deus pes-soal; Satanás admite a existência deum Deus pessoal, mas, em seguida,apresenta uma falsa descrição docaráter deste Deus. Satanás anunciaque Deus é o Pai espiritual de todosos homens, quando as Escrituras nosdizem claramente que somos “filhosde Deus mediante a fé em Cristo Je-sus” (Gl 3.26) e que, “a todosquantos o receberam, deu-lhes o po-der de serem feitos filhos de Deus”(Jo 1.12). Além disso, Satanás de-clara que Deus é extremamente mi-sericordioso e jamais enviará qual-quer membro da raça humana para oinferno, quando Deus mesmo afir-mou: “Se alguém não foi achado ins-crito no Livro da Vida, esse foi lan-çado para dentro do lado de fogo”(Ap 20.15).

Satanás não seria tão medíocre,a ponto de ignorar o personagem cen-tral da História da humanidade — oSenhor Jesus. Pelo contrário, o evan-gelho de Satanás reconhece o SenhorJesus como o melhor homem que jáviveu. Este evangelho atrai a aten-ção das pessoas às obras de compai-xão e de misericórdia realizadas porJesus, à beleza de seu caráter e à su-blimidade de seus ensinos. A suavida é elogiada, mas a sua obra vi-

Fé para Hoje18

cária é ignorada; a importantíssimaobra de expiação na cruz nunca émencionada, enquanto a sua triun-fante ressurreição física, dentre osmortos, é considerada como uma dascredulidades de uma época de supers-tições. Este evangelho não contém osangue da expiação e apresenta umCristo sem cruz, que é recebido nãocomo Deus manifestado na carne, esim apenas como o Homem Ideal.

Em 2 Coríntios 4.3-4, temosuma passagem bíblica que oferecemuito esclarecimento sobre o nossotema. Esta passa-gem nos diz: “Seo nosso evange-lho ainda estáencoberto, é pa-ra os que se per-dem que está en-coberto, nosquais o deus des-te século [Sata-nás] cegou o en-tendimento dosincrédulos, pa-ra que lhes não resplandeça a luz doevangelho da glória de Cristo, o qualé a imagem de Deus”. Satanás cegaa mente dos incrédulos por ocultar-lhes a luz do evangelho de Cristo epor substituí-lo pelo seu próprio evan-gelho. Ele é apropriadamente cha-mado de “diabo e Satanás, o sedutorde todo o mundo” (Ap 12.9). Ape-nas em apelar ao “melhor que existeno homem” e em exortá-lo a “seguiruma vida nobre”, Satanás forneceuma plataforma geral sobre a qual aspessoas de diferentes tons de opiniãopodem se unir e proclamar esta men-sagem comum.

Citamos, novamente, Provérbi-

os 14.12: “Há caminho que ao ho-mem parece direito, mas ao cabo dáem caminhos de morte”. Alguém jádisse, com considerável verdade, queo caminho para o inferno está pavi-mentado com boas intenções. Have-rá muitos no lago de fogo querecomendaram suas próprias vidascom boas intenções, resoluções ho-nestas e ideais elevados — aqueles queeram justos em seus relacionamen-tos, corretos em suas transações ecaridosos em todos os seus procedi-mentos; homens que se orgulhavam

de sua integrida-de, mas que pro-curavam justi-ficar-se a si mes-mos diante deDeus, por meiode sua justiçaprópria; homensde boa morali-dade, misericor-diosos, magnâ-nimos, mas quenunca se viram

como pecadores culpados, perdidos,merecedores do inferno e necessita-dos de um Salvador. Este é o cami-nho que “parece direito”; é o ca-minho que a si mesmo se recomendaà mente carnal e a multidões de pes-soas iludidas em nossos dias. O en-gano do diabo afirma que podemosser salvos por meio de nossas pró-prias obras e justificados por meiode nossos atos; enquanto Deus nosdeclara em sua Palavra: “Pela graçasois salvos, mediante a fé... não deobras, para que ninguém se glorie”;e: “Não por obras de justiça pratica-das por nós, mas segundo a sua mi-sericórdia, ele nos salvou”.

Satanás cega a mentedos incrédulos porocultar-lhes a luz

do evangelho de Cristoe por substituí-lo peloseu próprio evangelho.

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OUTRO EVANGELHO 19

Há alguns anos, conheci um ho-mem que era um pregador leigo eobreiro cristão entusiasta. Durantesete anos, ele estivera engajado napregação pública e em atividades re-ligiosas. No entanto, por meio dasexpressões que ele utilizava, eu mes-mo duvidei se ele era “nascido denovo”. Quando comecei a questioná-lo, descobri que ele tinha um conhe-cimento muito imperfeito das Escri-turas e apenas uma vaga noção sobrea obra de Cristo em favor dos peca-dores. Por algum tempo, procureiapresentar-lhe o caminho da salva-ção, de uma maneira simples e im-pessoal, e encorajá-lo a estudar aPalavra de Deus, na esperança deque, se meu amigo ainda não era sal-vo, Deus se agradaria em revelar-lheo Salvador que ele necessitava.

Uma noite, para nossa alegria,aquele que estivera pregando o evan-gelho por vários anos, confessou quehavia encontrado a Cristo somentena noite anterior. Ele reconheceu(usando as suas próprias palavras)que estivera apresentando “o Cristoideal”, e não o Cristo da cruz. Creioque existem milhares de pessoas se-melhantes a este pregador, pessoasque, talvez, foram trazidas à EscolaDominical, aprenderam sobre o nas-cimento, a vida e os ensinos de JesusCristo; pessoas que crêem na histo-ricidade da pessoa de Cristo; pesso-as que esporadicamente se esforçampara obedecer os preceitos de Jesus epensam que isso é tudo que é neces-sário para a sua salvação. Comfreqüência, esse tipo de pessoa, quan-do atinge a maturidade e sai para omundo, depara-se com os ataques deateístas e infiéis, dizendo-lhes que

Jesus de Nazaré nunca viveu nestemundo. Mas as impressões dos pri-meiros contatos com o evangelho nãopodem ser facilmente apagadas e taispessoas permanecem firmes na con-fissão de que crêem em Jesus. Ape-sar disso, quando a sua fé é exami-nada, com muita freqüência desco-bre-se que, embora acreditem emmuitas coisas sobre Jesus, tais pesso-as realmente não crêem nEle. Em suamente, elas acreditam que Ele real-mente viveu neste mundo (e, por cre-rem nisso, imaginam que são salvas),mas nunca abaixaram as armas de suaguerra contra Jesus, sujeitando-se aEle, nem creram nEle verdadeira-mente, com todo o seu coração.

A simples aceitação de uma dou-trina ortodoxa sobre a pessoa de Cris-to, sem o coração haver sido con-quistado por Ele e sem a vida Lheser consagrada, é outra fase do “ca-minho que ao homem parece direi-to, mas ao cabo dá em caminhos demorte”; em outras palavras, é outroaspecto do evangelho de Satanás.

E, agora, qual é a sua situação?Você está no caminho que “parecedireito”, mas termina na morte, ouno caminho estreito que conduz àvida? Você abandonou verdadeira-mente o caminho largo que conduz àperdição? O amor de Cristo criou emseu coração um ódio e horror portudo aquilo que é desagradável aDeus? Você tem desejo de que Elereine sobre você (Lc 19.14)? Vocêestá descansando plenamente na jus-tiça de Cristo e no sangue dEle paraa sua aceitação diante de Deus?

Aqueles que estão confiando emformas exteriores de piedade, comoo batismo ou a “confirmação”; aque-

Fé para Hoje20

les que são religiosos porque isto éconsiderado uma característica derespeitabilidade; aqueles que fre-qüentam alguma igreja, porque fazê-lo está na moda; e aqueles que seunem a alguma denominação porquesupõem que esse passo os capacitaráa se tornarem cristãos — todos essesestão no caminho que “ao cabo dáem morte” — morte espiritual e eter-na. Não importa quão puros sejamos nossos motivos; quão bem inten-cionados, os nosso propósitos; quãonobres, as nossas intenções; quão sin-ceros, os nossos esforços, Deus nãonos reconhece como seus filhos en-quanto não recebemos o seu Filho.

Uma forma ainda mais ilusóriado evangelho de Satanás consiste emlevar os pregadores a apresentaremo sacrifício expiatório de Cristo e,em seguida, dizerem aos seus ouvin-tes que a única exigência de Deus paraeles é que creiam no seu Filho. Pormeio disso, milhões de almas que nãose arrependem são iludidas, pensan-do que foram salvas. Mas o SenhorJesus disse: “Se.... não vos arrepen-derdes, todos igualmente perecereis”(Lc 13.3). Arrepender-se significaodiar o pecado, sentir tristeza porcausa do pecado e converter-se dele.É o resultado da obra do EspíritoSanto em tornar o coração contritodiante de Deus. Ninguém, exceto apessoa de coração quebrantado, podecrer de maneira salvífica no SenhorJesus Cristo.

Afirmamos, mais uma vez, quemilhares estão iludidos, ao supor que“aceitaram a Cristo” como seu “Sal-vador pessoal”, quando na realidadeainda não O receberam como seuSENHOR. O Filho de Deus não veio

ao mundo para salvar seu povo nospecados deles, e sim para salvá-los“dos pecados deles” (Mt 1.21). Sersalvo dos pecados significa ser salvodo ignorar e do rejeitar a autoridadede Deus; significa abandonar o cur-so de vida caracterizado pelo egoís-mo e pela satisfação pessoal; ou, emoutras palavras, abandonar nosso pró-prio caminho (Is 55.7). Ser salvo sig-nifica sujeitar-se à autoridade deDeus, render-se ao domínio dEle,oferecer-nos a nós mesmos para ser-mos governados por Ele. Aquele quenunca tomou sobre si o jugo de Cris-to; aquele que não está verdadeira ediligentemente procurando agradar aCristo, em todos os aspectos da suavida, e continua supondo que estáconfiando na obra consumada deCristo, esse está iludido por Satanás.

Em Mateus 7, há duas passagensque nos mostram os resultados apro-ximados entre o evangelho de Cristoe a falsificação de Satanás. Primei-ra, nos versículos 13 e 14: “Entraipela porta estreita (larga é a porta, eespaçoso, o caminho que conduz paraa perdição, e são muitos os que en-tram por ela), porque estreita é aporta, e apertado, o caminho queconduz para a vida, e são poucos osque acertam com ela”. Segunda, nosversículos 22 e 23: “Muitos, naque-le dia, hão de dizer-me: Senhor, Se-nhor! Porventura, não temos nósprofetizado em teu nome, e em teunome não expelimos demônios, e emteu nome não fizemos muitos mila-gres? Então, lhes direi explicitamen-te: nunca vos conheci. Apartai-vosde mim, os que praticais a ini-qüidade”.

Sim, querido leitor, é possível

OUTRO EVANGELHO 21

trabalhar em nome de Cristo (atépregar em seu nome) e, embora omundo e a igreja nos conheçam, nãosermos conhecidos pelo Senhor!Quão necessário é que descubramosem que situação realmente estamos;que examinemos a nós mesmos, a fimde sabermos se estamos na fé; quenos julguemos pela Palavra de Deuse verifiquemos se estamos sendo en-ganados pelo nosso sutil inimigo; que

descubramos se estamos edificandonossa casa sobre a areia ou se ela estáconstruída sobre a Rocha, que é Je-sus Cristo! Que o Espírito de Deusexamine nosso coração, quebrantenossa vontade, destrua nossa inimi-zade contra Deus, produza em nósum profundo e verdadeiro arrepen-dimento e faça os nossos olhos se fi-xarem no Cordeiro de Deus, que tirao pecado do mundo.

PRIVANDO-SE DO DIREITO

DE PRIMOGENITURA João Calvino

Quando Esaú pôs mais valor em uma única refeiçãodo que em sua primogenitura, ele privou-se da bênçãodivina. Profanos, pois, são aqueles em quem o amor domundo predomina e prevalece em tal medida que se es-quecem do céu, tal como sucede com aqueles que sãolevados pela ambição, que vivem para o dinheiro e paraas riquezas, entregam-se à glutonaria e se emanharamem todo gênero de deleites; e, em seus pensamentos edesejos, não dão qualquer espaço ao reino espiritual deCristo... na verdade não passa de pobre repasto de lenti-lhas. Atribuir um alto valor às coisas que quase não valemnada é uma atitude que provém dos desejos depravadosque cegam nossos olhos e nos fascinam. Portanto, se énosso desejo possuir um lugar no santuário de Deus, en-tão devemos aprender a desprezar tais iguarias, por meiodas quais Satanás costuma engodar os réprobos.

Fé para Hoje22

CONFISSÕES DE FÉE A CLAREZA DOUTRINÁRIA

F. Gresham Machen

O método de clareza doutriná-ria está de acordo com as leisfundamentais da mente. Não pode-mos expressar com clareza o quesignifica determinada verdade, se nãoa contrastarmos com o que ela nãosignifica. Todas as definições se pro-cessam por meio da exclusão. Por-tanto, quão superficial é a idéia deque a igreja precisa tornar sua dou-trina positiva, ao invés de negativa,ou seja, a idéia de que a controvérsiadeve ser evitada e a verdade, mantidasem ataques contra o erro! No entan-to, o fato evidente é que a verdadenão pode ser mantida desta maneira.Ela pode ser mantida tão-somentequando pode ser nitidamente diferen-ciada do erro.

Não devemos nos admirar de queos grandes credos da igreja, assimcomo os grandes avivamentos docristianismo autêntico, nasceram de

controvérsias teológicas. A profun-da riqueza e a crescente exatidão dadoutrina cristã foram ocasionados, emgrande parte, pela necessidade de re-mover dos ensinos da igreja o ele-mento estranho.

Em anos recentes, a igreja temseguido, com freqüência, procedi-mentos exatamente opostos a este.Ela tem delineado qual é o significa-do das afirmações doutrinárias, masestas supostas afirmações doutrinári-as são elaboradas tendo em vista umpropósito contrário ao propósito quegovernou a elaboração dos grandescredos da História da Igreja.

Estes grandes credos estavamisentos de erro; tinham o propósitode excluir o erro e estabelecer o ensi-no bíblico em profundo contrastecom aquilo que se opunha a ele, afim de que a pureza da igreja fossepreservada. As afirmações modernas,

CONFISSÕES DE FÉ E A CLAREZA DOUTRINÁRIA 23

ao contrário dos credos, incluem oerro. Têm o objetivo de oferecer lu-gar na igreja para tantas pessoas etantas escolas de pensamento quantosforem possíveis.

“Existem muitas denominaçõesem nosso país”, declara o perito emeficiência eclesiástica, e “é obvio quemuitas das denominações têm de seunir”. Por exemplo: em um lugarexiste uma igreja que tem confissãode fé calvinista; em outro lugar, acha-mos uma igreja cuja confissão de féé claramente arminiana, ou seja,anticalvinista. De que maneira estasduas igrejas se unirão? “Ora, é óbvioque temos de suavizar o credo cal-vinista, simplesmente aparandoalguns de seus ângulos, até que osarminianos sejam capazes de aceita-lo”, diz o perito em eficiênciaeclesiástica. “ou podemos fazer algoainda melhor: escrever um credo to-

talmente novo, que contenha somen-te aquilo que os arminianos e oscalvinistas têm em comum, de modoque tal credo sirva como fundamen-to para uma nova “Igreja Unida”.

Esses são os métodos do movi-mento moderno de unidade da igre-ja. Tais métodos são levados a efei-tos em um nível maior do que noexemplo hipotético que acabamos decitar. Calvinismo e arminianismo,que citamos no exemplo, embora se-jam muito diferentes, são tipos de cre-dos evangélicos. Todavia, muitas dasafirmações modernas são elaboradaspara conquistar a aceitação não so-mente das pessoas que mantêm dife-rentes tipos de crenças evangélicas,mas também a aceitação de pessoasque realmente não têm qualquer cren-ça evangélica.

(Extraído de God Transcendentand Other Sermons, 1949.)

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Orai sem cessar e pregai a Palavra fiel emtermos mais claros do que nunca. Tal conduta talvezpareça a alguns uma forma de ficar parado e nadafazer, mas a verdade é que isso traz Deus para den-tro da batalha; e, quando Ele vem para vingar-sedaqueles que desprezam sua aliança, a vitória vemrápida. “Levanta-te, ó Deus, pleteia a tua própriacausa!”

C. H. Spurgeon

Fé para Hoje24

SALVOS PELA MISERICÓRDIA,NÃO POR OBRASRobert Murray M'Cheyne

“Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundosua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador

e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nósricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador”

Tito 3.5,6

1. O CAMINHO DO PERDÃO

Quando uma pessoa se encontrasob convicção de pecado, experimen-ta o sentimento de que todos os diasDeus está irado para com ela. Talpessoa se afunda em uma condiçãode melancolia, “laços de morte cer-cam-na, e angústias do inferno seapoderaram dela”. Quando Deus vi-sita esta pessoa, em sua misericórdia,Ele o faz por meio de revelar ao co-ração o Senhor Jesus Cristo. Deusmanifesta a sua “benignidade.... e oseu amor para com todos” (Tt 3.4).O Espírito Santo faz resplandecer aface de Jesus Cristo, mostrando aoperdido como o Senhor Jesus tevecompaixão dele, veio a este mundopor causa dele, obedeceu e morreuno lugar dele; mostrando tambémque o pior dos pecadores pode recebê-Lo como seu Salvador. O pecador

contempla o Cordeiro de Deus e seucoração enche-se de paz, ao crernEle. Ora, isto é o que significam aspalavras “segundo a sua misericór-dia, ele nos salvou”.

1.1 - Algumas almas estão pro-curando a salvação por meio de“obras de justiça”. Você sofre nocumprimento de deveres religiosos;lê a Bíblia e ora, alimenta os famin-tos, veste os despidos, para fazercompensação por pecados cometidose colocar sobre Deus a obrigação desalvá-lo. Destas palavras, torna-seevidente que você não compreendeo caminho que conduz ao céu. Estecaminho está fechado para você, vis-to que, “não por obras de justiçapraticadas por nós, mas segundo suamisericórdia, ele nos salvou” (Tt3.5); e que, “se a justiça é mediantea lei, segue-se que morreu Cristo emvão” (Gl 2.21).

SALVOS PELA MISERICÓRDIA, NÃO POR OBRAS 25

1.2 - Como podemos ser salvos?É por meio da “manifestação da be-nignidade e do amor de Deus, nossoSalvador”. Você acha que tem defazer alguma coisa, para mudar a ati-tude de Deus, enquanto Cristo, nossogrande Sumo Sacerdote, por meio daoferta de Si mesmo, fez tudo o queera necessário, para abrir o caminhoda reconciliação com Deus, que é“bom e compassivo” (Sl 86.5).Aprenda a não olhar para dentro desi, e sim a olhar para fora, a fim deobter paz. Você está examinadodetalhadamente a sua vida de trevase o seu coração que está em trevasainda mais densas. Você está debili-tando os seus olhos, para encontraralgum raio de luz em seu coração.Isto é inútil. Alguém já tentou ver onascer do sol olhando para uma ca-verna? Olhe para fora, contemple abenignidade e o amor de Deus, nos-so Salvador. É a descoberta dapessoa, ofícios, beleza, obra consu-mada e espontaneidade de Deus,nosso Salvador, que enche o coraçãode paz, e os lábios, de louvor.

“Os meus terrores desaparece-ram ante o seu doce nome,meus temores de culpa bani-ram-se, com ousadia eu vimbeber livremente na fonte queoutorga vida.Jeová-Tsidkenu é tudo paramim.”

2. O CAMINHO DA SANTIDADE

“Ele nos salvou mediante o la-var regenerador e renovador doEspírito Santo.”

2.1 - É um “lavar”. A obra do

Espírito Santo em um coração per-doado é designada lavar, porque éum tornar limpo. O coração naturalé corrupto e vil; nada que flui denossa natureza pode limpá-lo — ne-nhuma boa resolução, nenhumjuramento, nenhum esforço podemudar o coração natural (Jr 13.23).Somente o Espírito Santo pode fazerisso.

2.2 - É o “lavar regenerador”,ou seja, o novo nascimento. Não éuma lavagem exterior do corpo, e simuma mudança interior, na alma. Nãoé o batismo com água, e sim com o“Espírito Santo”. Oh! quantas vezesjá lavei meu corpo, deixando-o lim-po! Mas, eu já experimentei o lavarregenerador”? Há algum tempo fuilavado nas águas do batismo; mastambém fui batizado com o EspíritoSanto?

2.3 - É um lavar constante. Aágua que Cristo outorga será, naalma, “uma fonte a jorrar para a vidaeterna” (Jo 4.14). Muitos lugares,quando são bem lavados, permane-cem limpos por algum tempo. Noentanto, isso não acontece com ocoração do homem, que é um terrí-vel poço de iniqüidade. O “rio daágua da vida” tem de ser derramadoneste coração e jorrar perpetuamen-te através dele. Temos de ser regadosa cada momento. Oh! feliz a almaque possui em seu íntimo a Fonte daságuas vivas. Não conhecemos nossocoração enganoso, se não sentimosnossa necessidade da inesgotável fon-te do Espírito Santo, a fim de puri-ficar-nos de toda imundícia.

2.4 - É uma renovação do Espí-rito Santo. Quando uma casa se tornarachada e prestes a cair, nenhum re-

Fé para Hoje26

paro melhorará sua condição. Elaprecisa ser destruída e construídanovamente. O coração de um peca-dor é como esse tipo de casa. A leprado pecado está arraigada nas suasparedes. Tal coração tem de serdestruído e construído novamente.Isto é a renovação do Espírito San-to. Quando temos um inverno longoe severo, as árvores permanecem se-cas e sem folhas, parecem mortas enão podem dar frutos; e, se o inver-no continuar por muito tempo, elaspoderão morrer. Mas quando o ve-rão sopra outra vez sobre as árvores,a seiva ascende aos galhos em umfluxo vigoroso e abundante — “Afigueira começa a dar seus figos, eas vides em flor exalam o seu aro-ma” (Ct 2.13). A face da terra érenovada (Sl 104.30). O coração dopecador é como uma árvore morta.Estar sem Cristo é o inverno da alma.Todavia, quando Cristo é revelado,e a alma chega ao amor de Deus, e oEspírito Santo é enviado ao coração,a pessoa se torna uma nova criaturae canta: “Sou como a oliveiraverdejante, na Casa de Deus” (Sl52.8).

Por último, o Espírito é derra-mado sobre nós abundantemente. Oscrentes freqüentemente se lamentamde que há poucas gotas do Espíritocaindo em nossos dias. Infelizmen-te, existem muitas razões para estaqueixa, mas pelo menos em um as-

pecto ela não é verdadeira. Ondequer que exista um simples crente,ali o Espírito Santo foi derramadoabundantemente. Quando contemplotodo o mundo permanecendo na im-piedade e vejo milhares de arma-dilhas colocadas diante de minhaalma, em todos os caminhos; quan-do ouço o rugir do leão que anda emderredor, procurando a quem possadevorar; e, antes de tudo, quandovejo a lei dos meus membros lutan-do contra a lei da minha mente, soutentado a clamar: “Algum dia pere-cerei às mãos de Saul”. Ainda queeu tivesse legiões de anjos ao meulado, eles não poderiam me susten-tar. Nenhuma criatura pode guar-dar-me de cair. Mas Jesus disse: “Aminha graça te basta”. Ele derramao Espírito Santo abundantemente.Que gotejar continuo de chuva, quejorrar constante da fonte de água, queabundante fluir do rio de Deus é ne-cessário para suster minha almadesamparada! Deus seja louvado porseu Santificador que habita em nós.“Ora, àquele que é poderoso para meguardar de tropeços e me apresentarcom exultação, imaculado diante dasua glória, ao único Deus, nosso Sal-vador, mediante Jesus Cristo, Senhornosso, glória, majestade, império esoberania, antes de todas as eras,e agora, e por todos os séculos.Amém!”(Jd 24-25)

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As três grandes forças na história do mundo são: a Igreja,a observância do Dia do Senhor e o culto doméstico.

Joseph Hall

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A NOVA RELIGIOSIDADENOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

James White

Preletor da XIX Conferência Fiel para Pastores e Líderes (Outubro-2003)

Os verdadeiros crentes são pes-soas impopulares hoje. Com isso,estou querendo dizer que, se alguémassume com muita seriedade a ver-dade e os princípios bíblicos e tem aousadia de falar a verdade em meioà crise nacional de nossos dias, talpessoa descobre que está sendo alvode olhares furiosos. Ao que estamosnos referindo?

Em seguida ao 11 de setembrode 2001, os norte-americanos se tor-naram repentinamente muito reli-giosos. Houve vigílias, cultos de ora-ção à luz de velas em todos oslugares. Pessoas que por muitos anosnão haviam proferido a palavra“Deus”, exceto em suas profa-nidades, tornaram-se bastante pie-dosas e meditativas. Personalidadesdo rádio, que na segunda-feira, 10de setembro, se focalizavam na di-minuição das taxas de impostos ouem algum outro assunto político,começaram a refletir sobre o papeldo “mal” em nosso mundo. Comcerteza, aquela semana causou, de

muitas maneiras, uma reviravolta nopanorama espiritual.

Ninguém deve pensar que estanova religiosidade é um motivo deregozijo para os crentes, pois, de fato,não o é. Sim, ouvimos antigos hinoscristãos serem cantados. Igrejas cris-tãs imensas estavam repletas no diado Senhor. No entanto, não existeum “cristianismo parcial”, assimcomo não existe tal coisa como umcristão que se coloca lado a lado comum mulçumano, um seguidor do ju-daísmo, do budismo, para decla-rarem: “Adoramos o mesmo Deusutilizando nomes diferentes”. Tam-bém não existe um cristianismo quenão fala sobre o arrependimento dopecado. A nova religiosidade nosEstados Unidos da América possuidois pilares fundamentais:

a) Existe um único Deus, desco-nhecido, ao qual as pessoas podemdirigir-se utilizando qualquer dos di-ferentes nomes que as religiõesatribuem a este Deus, nomes que não

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revelam absolutamente nada de va-lor objetivo a respeito da vontadedEle concernente à sua própria ado-ração e ao comportamento dos ho-mens;

b) Este Deus não se ira, não co-nhece o pecado, nem o juízo. Porconseguinte, qualquer pessoa queousa afirmar que Ele pune alguém,ou uma nação, é um herege fervo-roso para a nova religiosidade nor-te-americana.

O problema pode ser visto comfacilidade: os verdadeiros cristãoscrêem, fundamentalmente e por ne-cessidade, que existe um único Deusverdadeiro. Este Deus verdadeironão é Alá; não é Krishna. Tambémnão é o Deus de Joseph Smith, nemBuda, nem os sikhs, nem os bahais.Nosso Deus estabeleceu profundas egrandes diferenças entre Si mesmo eos deuses das nações e das religiõesque viviam ao redor de seu povo nopassado. Deus fez isso com um pro-pósito específico: buscar a verdadeiraadoração, que está alicerçada no co-nhecimento daquilo que Ele real-mente é e na revelação de Si mesmoaos homens. Deus não concede aoshomens a liberdade de fazer imagensdEle, para adorá-Lo de um modo queagrada a criatura, em vez do Cria-dor. Deus é exclusivo quanto à suaadoração. A sua adoração está ínti-ma e vitalmente ligada à verdade.Sem a verdade, não existe adoraçãoao Deus dos verdadeiros cristãos.

E a verdade revelada pelo Deusdos cristãos nas Escrituras é inques-tionável, especialmente no que serefere aos assuntos da lei de Deus,do pecado, da rebeldia, do castigo,

da ira e do julgamento. Uma das ati-tudes mais surpreendentes a obser-varmos é a disposição que os “evan-gélicos” demonstram em pular rapi-damente para o vagão do “nunca fa-laremos sobre a ira, ou sobre opecado, ou sobre a punição”.

O remanescente é tão frágil, queninguém se levantará para clamarcontra esta tolice? Omitir a verdadesobre o pecado e o julgamento, porcausa do temor da opinião e dos sen-timentos dos homens, é tornarridícula a cruz de Cristo! Não hácruz, não há sacrifício, onde não hápecado nem ofensa que exige a ou-torga do perdão por intermédio doperfeito sacrifício de Cristo! Aqueleque evita falar sobre o pecado e ojuízo divino, para “ganhar” o outro,está fazendo isso por infidelidade aopróprio evangelho! E do que esseoutro precisa ser ganho? Como apre-sentar-lhe o evangelho, se não hápecado a ser perdoado no Calvário?

É exatamente neste ponto que anova religiosidade norte-americanapõe as mãos sobre os ouvidos, recu-sando-se a ouvir. Os Estados Unidosda América querem a bênção de Deuse desejam que Ele nos proteja da vi-são horrível de aviões voando, pro-positada e impiedosadamente, emdireção aos nossos monumentos na-cionais. Queremos que Deus estejaperto de nós, quando entramos emnossos aviões; que Ele nos protejado horror de pensarmos nas circuns-tâncias ocorridas quando as TorresGêmeas ruíram. Queremos que Deusguie os nossos militares, nos permi-ta curvar nossos músculos e lançarimpunemente nossos mísseis. Que-remos a bênção de Deus, um Deus

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cuidadoso, que tão-somente satisfa-ça nossos caprichos e necessidades.Este é o “Deus” da nova religiosida-de nos Estados Unidos da América.

No entanto, os Estados Unidosnão querem um Deus santo, que éjusto e tem revelado sua vontade arespeito de como devemos viver, nósque somos suas criaturas. Os Esta-dos Unidos são uma terra encharcadade sangue; nos gloriamos na violên-cia, somos tão egoístas, tão presosem nossa avareza, fornicação, pai-xões sexuais, que assassinamos nos-sos descendentes ainda no ventre.

Nossas mãos estão cobertas de san-gue; e ainda pensamos que acendervelas, levantando-as em nossas mãos,enquanto sussurramos “Deus aben-çoe a América”, nos trará o favor deDeus? Ouça a Palavra dirigida a ou-tra nação que também era “religiosa”,mas se recusava a ouvir a palavra dearrependimento:

“Pelo que, quando estendeis asmãos, escondo de vós os olhos; sim,quando multiplicais as vossas ora-ções, não as ouço, porque as vossasmãos estão cheias de sangue” (Is1.15).

A SEGUNDA INFÂNCIA Abraham Kuyper

Originalmente a adoração divina apareceu insepa-ravelmente unida à arte, porque, no estágio inferior, aReligião ainda está inclinada a dissipar-se na formaestética... o esforço mais nobre deve ser libertar a reli-gião e a adoração divina mais e mais de sua forma sensoriale encorajar sua vigorosa espiritualidade...

O fato de uma reintrodução do simbólico em nossoslugares de adoração ser ardentemente desejada, devemosà triste realidade que a pulsação religiosa em nossos diasestá muito mais fraca do que estava nos dias de nossosmártires. Mas longe de pedir emprestado desta o direitode descer ao nível inferior da religião, esta fraqueza davida religiosa deve inspirar à oração por uma obra maispoderosa do Espírito Santo. A segunda infância, em suavelhice, é um movimento retrógrado, doloroso. O homemque teme a Deus e cujas faculdades permanecem claras einalteradas, não retorna do ponto de maioridade para osbrinquedos de sua infância.

Fé para Hoje30

VIAGEM À MOÇAMBIQUEManoel Canuto

Foram oito horas de vôo até Johannesburgo, na África do Sul. De lá,mais duas horas até Maputo, capital de Moçambique. Eu estava indo para aConferência da Editora FIEL, que hoje se realizam em três locais diferentes:Potugal, Brasil e Moçambique. Iria falar na quarta Conferência deMoçambique, onde vários líderes de igrejas, congregações e outros irmãosparticipariam. Tivemos mais ou menos 150 pessoas. Fui apenas com opropósito de falar àqueles irmãos, porém, o mais importante é que Deus medeu a oportunidade de ver e ouvir coisas que não imaginava. Vivi umagrande experiência cristã.

Fui recebido em Maputo pelo missionário Karl Peterson e fiquei emsua casa, desfrutando da comunhão de sua família por dois dias, antes deirmos à outra cidade onde se realizaria o evento. No domingo, preguei parauma pequena comunidade humilde e carente, debaixo de uma árvore (umagrande mangueira). Eles sentavam em uma esteira de palha, e havia poucascadeiras. O pastor realizou a Santa Ceia e todos participaram. Foi a primeiravez em que participei de uma Santa Ceia onde o segundo elemento foiservido em um cálice comum. Percebi o amor do pastor Peterson por aquelepovo. Eles haviam se convertido do paganismo e das superstições tão comunsna África. Falei sobre Jesus e os dois ladrões na cruz. Falei com o coração,palavras simples de salvação. Via claramente a avidez deles em ouvir amensagem. Eles cantaram durante muito tempo; o que, aliás, é umacaracterística deles.

Na segunda feira, voamos para Nampula, a terceira cidade deMoçambique, que fica mais ao norte. Uma cidade mais pobre. Um grandee usado Land Hover esperava para nos levar à casa do Dr. Charles Woodrow,médico e missionário naquelas paragens há muito tempo. Homem de grandecapacidade de trabalho, que está com um projeto de construir um pequenohospital para realizar cirurgias apenas na população carente. Já era tardinhaquando chegou o Pr. Conrad Mbewe, do Zâmbia. Ele seria o outroconferencista. Já o conhecia das Conferências Fiel no Brasil. Foi bom revê-lo. Um grande pregador.

VIAGEM À MOÇAMBIQUE 31

Jantamos bem e conversamos sobre os problemas da região, da África,das necessidades e dos costumes do povo. Fiquei sabendo que eles têm umconceito vago de pecado e, por isso, muitas igrejas sofrem com pecados nomeio do povo de Deus. O tema da Conferência trataria desta questão: OPecado: Sua Armadilha, Seu Remédio. Naquela noite, fiquei até tarde mepreparando para o outro dia, quando teríamos a abertura do evento. Estavaansioso para ver o desenrolar de tudo. Percebi que haviam chegado maispessoas na casa. Era um casal de missionários britânicos (Missionário ArturHallett e sua esposa Christine) que trabalha há muitos anos emJohannesburgo. Um casal idoso, mas muito ativo e simpático. A temperaturacaiu para 21 graus, e senti frio durante a noite.

No outro dia, ficamos aguardando chegar a noite para a abertura. Fomosaté o local, que era um clube alugado para o encontro. Muitas pessoasestavam trabalhando com muita dedicação. Procurei ver a livraria, e estavabem servida de bons livros reformados. Fiquei feliz. Os preços estavambem abaixo do preço normal, para facilitar aos pastores e líderes adquirirema literatura reformada. Era tudo simples, mas muito bem organizado.

À noite, tivemos a abertura e falei sobre o Salmo 1. Deus foi bom paraconosco, e percebi o interesse e avidez pela Palavra. Nos outros dias, oritmo das palestras foi aumentado, e tivemos oportunidades de perguntas erespostas, além de divisão de grupos para o estudo de outros assuntos e tirardúvidas das palestras proferidas. O Pr. Conrad foi muito usado por Deusnas suas mensagens. O povo nos ouvia com muita atenção e interessecontagiante. Em uma das palestras, ao final, um pastor veio em lágrimas ese ajoelhou, para que orássemos por ele. Há este costume no meio deles.Estava quebrantado com a visão de uma vida de pecado e o quanto era ummiserável pecador. Oramos e Deus nos consolou. Outro nos procurou paracompartilhar problemas eclesiásticos. Outros, ainda, indagavam sobreproblemas no casamento. Um deles perguntou sobre a questão do livre-arbítrio do homem. Tivemos vários contatos dessa natureza. Alguns jámostravam bom conhecimento das doutrinas da graça, fruto da leitura doslivros e das Conferências anteriores. Fiquei feliz com isso. Vi que o trabalhodos anos anteriores já tinha seus efeitos positivos.

Eram de denominações as mais variadas, com nomes bem diferentes eestranhos ao nosso conhecimento. Por exemplo, "Igreja da Graça de Cristode Efésios 2.8". Percebi que havia menos mulheres do que homens, e muitasestavam com seus filhinhos nas costas, como é o costume da região. Soubeque mais no sul, a presença feminina é maior nas igrejas, ao contrário donorte de Moçambique. Isso comprovei ao retornar a Maputo.

Chegou o momento do final, e já sentíamos a saudade estampada nasfaces dos irmãos. Agradeci a Deus pela fome e sede da Palavra. Tinhafalado sempre expositivamente, pois o missionário me pediu que assim ofizesse, para que os pastores pudessem, quem sabe, fazer o mesmo nas suascongregações, visto que isso não é comum entre eles. Senti um amor especial

Fé para Hoje32

por aquele povo, um povo que Deus tirara das profundezas da superstição edo paganismo, mediante o evangelho, que é o poder de Deus. Entendiporque Pr. Peterson amava tanto aquela gente e tinha uma especial atençãopara com eles. Orei por eles e pelo resultado do evento.

No dia seguinte, ao final dos trabalhos, nos sentamos para fazer umaavaliação, consultando a avaliação que cada um fez da Conferência. Oresultado bem foi positivo, depois da análise do pensamento dos participantes.Foi discutido o tema do próximo ano e outras decisões foram tomadas.Percebi seriedade e organização.

Voltei para Maputo. No sábado e no domingo, preguei em uma igrejade mais ou menos 60 pessoas. Novamente celebramos a Ceia do Senhor.Preguei e um intérprete foi usado, pois havia muitos que só compreendiamcerto dialeto. Fiquei surpreso com a competência do intérprete, que emnenhum momento falhou. Quanto mais eu falava e me animava, ele, demaneira similar, procurava ser fiel ao pregador. Foi bem interessante. Erauma comunidade alegre, desejosa de ouvir a Palavra de Deus; me despedideles, abracei-os emocionado, em vista da carência não só econômica, mastambém de conhecimento. No entanto, eles tinham o desejo de servir aDeus com sinceridade de coração e o amor que enchia seus corações. Volteiao Brasil no outro dia (28). Foram dez horas e meia de vôo até São Paulo e,depois, para o Recife, mais três horas. Valeu a pena. Dei graças a Deus porter sido usado para falar a outros povos a respeito das grandezas de Deus ede sua graça salvadora derramada sobre seus eleitos.

Recebi agora, dia 06 de agosto, um e-mail do Pr. Peterson, dizendo:“Recebemos uma carta de um participante dizendo que nunca tinha percebidoque não era um crente verdadeiro até à Conferência! Graças a Deus!”

Oremos pela FIEL e seu ministério. Oremos pelo Pr. Ricardo Denhane sua esposa, D. Pérola, e por toda a luta em propagar as doutrinas da graçano Brasil e em outros países.

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A nossa vida não deve ser caracterizada porinquietações que geram ansiedades, e sim pela féque produz felicidade.

C. H. Spurgeon(Extraído do livro "Promessas Preciosas")