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REVISTA-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA FACULDADE CÁSPER LÍBERO #45 - 1 SEMESTRE DE 2009 Reflexos da crise Como o dinheiro, em período de instabilidade, afeta a vida dos brasileiros. E o que pensam os especialistas Paul Singer e Luiz Belluzzo ENSAIO Ponte Estaiada, o novo símbolo do poder financeiro da cidade

Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

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A Revista Esquinas é um órgão laboratorial do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. A revista é semestral, e a cada edição as matérias giram em torno de um tema específico. Na edição 45 nosso tema foi Dinheiro. Boa Leitura!

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REVISTA-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA FACULDADE CÁSPER LÍBERO#45 - 1 SEMESTRE DE 2009

Reflexos da criseComo o dinheiro, em período de instabilidade, afeta a vida dos brasileiros. E o que pensam os especialistas Paul Singer e Luiz Belluzzo

ensaioPonte Estaiada, o novo símbolo do poder financeiro da cidade

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Deus ou Diabo, não importa, o fato é que o dinheiro está intimamente ligado ao nosso cotidiano. Ninguém sai de casa sem gastar alguma coisa – desde a compra de uma passagem de ônibus até a de uma roupinha. E como a ocasião faz o compra-dor, saca-se o dinheiro da carteira (ou seu irmão virtual, o cartão). Não há dúvida de que o dinheiro permeia todas as relações sociais. Basta ficar quietinho, na hora do almoço, num dos tantos restaurantes a quilo da cidade, para ouvir a conversa da mesa ao lado. Fatalmente ele será o assun-to, direta ou indiretamente. Nunca se usou tanto o verbo “comprar” ou “pagar”. No final do ano passado, a estrutura econômica mundial ficou abalada com uma nova crise financeira. Desta vez, a bolha estourou nos Estados Unidos. Uma pedra neste lago de especulações cria ondas intensas para todos os lados. E todo o mercado internacional estremece. É o que está acontecendo. Diante desta nova crise, o capital mais uma vez procura saídas para garantir sua sobrevivência. Esta não é a primeira, nem será a última. O capitalismo já incorporou entre suas perdas e ganhos estes momentos de crise. Para nós, da Esquinas, este é um momento oportuno para se tratar do assunto “dinheiro”. Os estudantes responsáveis pela revista me

Revista-laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero

Fundação Cásper LíberoPresidente Paulo CamardaSuperintende Geral Sérgio Felipe dos Santos

Faculdade Cásper LíberoDiretora Tereza Cristina VitaliVice-DiretorWelington AndradeCoordenador de Jornalismo Carlos Costa

Professora responsávelHeitor Ferraz Mello

MonitoriaEditorasJulia AlquéresKarina Sérgio GomesDesignerRenata Miwa

CapaKarina Sérgio Gomes

Participaram desta edição Andressa Carrara, Anita Name, Bárbara Ferreira, Beatriz Bulla, Beatriz Gomes, Betina Neves, Bruna Carvalho, Bruno Podolski, Camila Mendonça, Camila Pinto, Caroline Arice, Claudia Franco, Daniele Pechi, Débora Zanelato, Estela Suganuma, Felipe Cordeiro, Felipe Tacla, Fernanda Barbosa Lira, Fernanda Jacob, Fernanda Marjorie, Fernanda Pereira, Flavia Teles, Gabriel Vituri, Giulia Pagliarini, Giuliana Perasso, Guilherme Burgos, Heitor Augusto, Hugo Passarelli, Isabella Ayub, Isabella D’Erocle, Isabella Manso, Isabella Vilalba, Izabel Oliveira, José Gomes Jr., Juliana Chiavassa, Juliana Helpe, Karina Trevizan, Larissa de Mello, Larissa Rosa, Livia Maria Lucas, Liz Terra, Lygia Haydée, Louise Fidelis Solla, Luan Fernando, Luciana Reis, Ludmilla Pazian, Luiz Felipe da Silva, Luma Pereira, Mariana Lima, Mariane Granado, Mônica Pestana, Murilo Corrêa, Narlir Galvão, Natalia Guaratto, Nathalia Garcia, Nathalie A. de Franco, Patrícia Lima, Paula Carvalho, Paula Lopes, Paulo Pacheco, Pedro Samora, Priscila Pires, Rafael de Queiroz, Ralph Izumi, Renata Jordão, Renato Leite Ribeiro, Rodrigo Faber, Rodrigo Panacho, Rubens Nogueira, Stephanie Concistré, Tarima Marques, Thais da Silva Lima, Thais Sawada, Thiago Tanji, Victoria Khatounian, Vinicius de Melo Oliveira, Vitor Henrique Valêncio, Viviane Laubé e Wilson Saiki.

AgradecimentosAdalton Diniz, Gilberto Maringoni, Helena Jacob, Welington Andrade e Carlos Costa

ImpressãoEskenazi Indústria Gráfica Ltda.Av. Miguel Frias e Vasconcelos, 1023Jaguaré — São PauloTelefone: (11) 3766 4011Fax: (11) 3768 5501

Núcleo de RedaçãoAvenida Paulista, 900 — 5º andar01310-940 — São Paulo — SP Tel.: (11) 3170-5874E-mail: [email protected]: www.facasper.com.br/jo/esquinas

apresentaram, no começo do ano, duas propostas de temas. Uma era o “corpo”, a outra, o “dinheiro”. Não foi preciso pensar muito. Ele está na ordem do dia. Teríamos de enfrentar o discurso oficial e real do dinheiro, com todos seus jargões. No entanto, precisaríamos – dentro deste tema tão vasto – fazer algumas opções. As linhas possíveis de abordagem surgiram durante as reuniões internas de pauta, contando com a participação de vários alunos do curso de jornalismo.

Para mim, este número significou um grande desafio. Primeiro, sabia que não se-ria fácil substituir a professora Rosângela Petta, que tocou admiravelmente a revis-ta durante três anos, colocando toda sua experiência profissional na confecção de cada um dos números que foram produzi-dos neste período. O segundo desafio era o assunto, ainda mais para alguém que não tem grande familiaridade com a área eco-nômica – a não ser a intuitiva, que todos nós, frutos de um mundo capitalista, te-mos. No entanto, contei com a participação animada e intensa dos alunos. Aproveito, então, este editorial para parabenizar a equipe do Esquinas – Julia Alquéres, Kari-na Sérgio Gomes e Renata Miwa –, que to-cou este número profissionalmente. Minha presença foi apenas a de um palpiteiro.

ele está

HEITOR FERRAZ MELLO

EDITORIAL

ESQUINAS 2º SEMESTRE 2008 03

Em ensaio fotográfico, o novo

monumento de são Paulo, a Ponte Estaiada, vista em

diferentes ângulos pelos fotógrafos da Faculdade de

Jornalismo da Cásper Líbero

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Deus ou Diabo, não importa, o fato é que o dinheiro está intimamente ligado ao nosso cotidiano. Ninguém sai de casa sem gastar alguma coisa – desde a compra de uma passagem de ônibus até a de uma roupinha. E como a ocasião faz o compra-dor, saca-se o dinheiro da carteira (ou seu irmão virtual, o cartão). Não há dúvida de que o dinheiro permeia todas as relações sociais. Basta ficar quietinho, na hora do almoço, num dos tantos restaurantes a quilo da cidade, para ouvir a conversa da mesa ao lado. Fatalmente ele será o assun-to, direta ou indiretamente. Nunca se usou tanto o verbo “comprar” ou “pagar”. No final do ano passado, a estrutura econômica mundial ficou abalada com uma nova crise financeira. Desta vez, a bolha estourou nos Estados Unidos. Uma pedra neste lago de especulações cria ondas intensas para todos os lados. E todo o mercado internacional estremece. É o que está acontecendo. Diante desta nova crise, o capital mais uma vez procura saídas para garantir sua sobrevivência. Esta não é a primeira, nem será a última. O capitalismo já incorporou entre suas perdas e ganhos estes momentos de crise. Para nós, da Esquinas, este é um momento oportuno para se tratar do assunto “dinheiro”. Os estudantes responsáveis pela revista me

Revista-laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero

Fundação Cásper LíberoPresidente Paulo CamardaSuperintende Geral Sérgio Felipe dos Santos

Faculdade Cásper LíberoDiretora Tereza Cristina VitaliVice-DiretorWelington AndradeCoordenador de Jornalismo Carlos Costa

Professora responsávelHeitor Ferraz Mello

MonitoriaEditorasJulia AlquéresKarina Sérgio GomesDesignerRenata Miwa

CapaKarina Sérgio Gomes

Participaram desta edição Andressa Carrara, Anita Name, Bárbara Ferreira, Beatriz Bulla, Beatriz Gomes, Betina Neves, Bruna Carvalho, Bruno Podolski, Camila Mendonça, Camila Pinto, Caroline Arice, Claudia Franco, Daniele Pechi, Débora Zanelato, Estela Suganuma, Felipe Cordeiro, Felipe Tacla, Fernanda Barbosa Lira, Fernanda Jacob, Fernanda Marjorie, Fernanda Pereira, Flavia Teles, Gabriel Vituri, Giulia Pagliarini, Giuliana Perasso, Guilherme Burgos, Heitor Augusto, Hugo Passarelli, Isabella Ayub, Isabella D’Erocle, Isabella Manso, Isabella Vilalba, Izabel Oliveira, José Gomes Jr., Juliana Chiavassa, Juliana Helpe, Karina Trevizan, Larissa de Mello, Larissa Rosa, Livia Maria Lucas, Liz Terra, Lygia Haydée, Louise Fidelis Solla, Luan Fernando, Luciana Reis, Ludmilla Pazian, Luiz Felipe da Silva, Luma Pereira, Mariana Lima, Mariane Granado, Mônica Pestana, Murilo Corrêa, Narlir Galvão, Natalia Guaratto, Nathalia Garcia, Nathalie A. de Franco, Patrícia Lima, Paula Carvalho, Paula Lopes, Paulo Pacheco, Pedro Samora, Priscila Pires, Rafael de Queiroz, Ralph Izumi, Renata Jordão, Renato Leite Ribeiro, Rodrigo Faber, Rodrigo Panacho, Rubens Nogueira, Stephanie Concistré, Tarima Marques, Thais da Silva Lima, Thais Sawada, Thiago Tanji, Victoria Khatounian, Vinicius de Melo Oliveira, Vitor Henrique Valêncio, Viviane Laubé e Wilson Saiki.

AgradecimentosAdalton Diniz, Gilberto Maringoni, Helena Jacob, Welington Andrade e Carlos Costa

ImpressãoEskenazi Indústria Gráfica Ltda.Av. Miguel Frias e Vasconcelos, 1023Jaguaré — São PauloTelefone: (11) 3766 4011Fax: (11) 3768 5501

Núcleo de RedaçãoAvenida Paulista, 900 — 5º andar01310-940 — São Paulo — SP Tel.: (11) 3170-5874E-mail: [email protected]: www.facasper.com.br/jo/esquinas

apresentaram, no começo do ano, duas propostas de temas. Uma era o “corpo”, a outra, o “dinheiro”. Não foi preciso pensar muito. Ele está na ordem do dia. Teríamos de enfrentar o discurso oficial e real do dinheiro, com todos seus jargões. No entanto, precisaríamos – dentro deste tema tão vasto – fazer algumas opções. As linhas possíveis de abordagem surgiram durante as reuniões internas de pauta, contando com a participação de vários alunos do curso de jornalismo.

Para mim, este número significou um grande desafio. Primeiro, sabia que não se-ria fácil substituir a professora Rosângela Petta, que tocou admiravelmente a revis-ta durante três anos, colocando toda sua experiência profissional na confecção de cada um dos números que foram produzi-dos neste período. O segundo desafio era o assunto, ainda mais para alguém que não tem grande familiaridade com a área eco-nômica – a não ser a intuitiva, que todos nós, frutos de um mundo capitalista, te-mos. No entanto, contei com a participação animada e intensa dos alunos. Aproveito, então, este editorial para parabenizar a equipe do Esquinas – Julia Alquéres, Kari-na Sérgio Gomes e Renata Miwa –, que to-cou este número profissionalmente. Minha presença foi apenas a de um palpiteiro.

ele está

HEITOR FERRAZ MELLO

EDITORIAL

ESQUINAS 2º SEMESTRE 2008 03

Em ensaio fotográfico, o novo

monumento de são Paulo, a Ponte Estaiada, vista em

diferentes ângulos pelos fotógrafos da Faculdade de

Jornalismo da Cásper Líbero

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SUMÁRIO

06 TEMPOS DE MUDANÇAAs consequências da crise econômica e financeira em alguns setores da economia brasileira

10 DE OLHO NA CRISEOs especialistas Paul Singer e Luiz Belluzzo opinam sobre o conturbado momento econômico mundial

14 O VALOR DA BOLSAA tecnologia mudou a forma de negociar ações. Os pregões viva-voz estão com os dias contados

18 ESSE TAL SISTEMA FINANCEIROPara entender a política monetária brasileira, é preciso saber como funciona o Banco Central (Bacen)

26 QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?As loterias estão presentes no cotidiano do brasileiro antes mesmo da Família Real chegar ao Brasil. Entenda como jogar cada modalidade oferecida atualmente

30 O DINHEIRO QUE NÃO TRAZ FELICIDADEEncontros de Devedores Anônimos são uma alternativa para quem está afogado em dívidas e não sabe como sair delas

48 LIÇÕES PARA O BOLSOCresce o número de livros de autoajuda financeira. Autores falam deste mercado e sobre suas publicações

04 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

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24 POR APENAS R$ 2,00As modalidades e os preços das apostas no Jockey Club

20 DESCONSTRUINDO AS NOTAS Há 15 anos o Real se reinventa com mais detalhes para evitar a falsificação e preservar a identidade nacional

22 INCERTEZA NOS GRAMADOSAtualmente, alguns times temem a perda de patrocinadores

34 NO MEIO DO RIOEm ensaio fotográfico, a Ponte Octávio Frias de Oliveira, o mais novo símbolo de poder da cidade de São Paulo. O monumento se destaca numa região caracterizada por contrates sociais

42 O GRANDE MERCADO DOS PEQUENINOSUm dos negócios mais oportunos hoje em dia é investir nos novos agentes econômicos: as crianças

44 O PASSADO EM LIQUIDAÇÃOEventos conhecidos pelo nome de Família Vende Tudo são comuns em São Paulo. Costumam acontecer em casas de famílias, onde são vendidos objetos antigos

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56 O NEGÓCIO DA ARTEOs milhões de dólares envolvidos na venda de uma obra de arte, seja em leilões, galerias ou entre particulares

ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 05

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52 MÚSICA VIRTUALComprar CDs? Não! É possível adquirir músicas de uma forma muito mais barata: baixá-las pela internet. E os artistas também ganham com isso

54 A FORTUNA DOS IRMÃOS COENOs diretores Joel e Ethan Coen costuma fazer filmes com histórias que envolvem dinheiro. É marcante a presença de personagens gananciosos e com problemas financeiros

41 COMPRAS

SEÇÕES

03 EDITORIAL

17 TRABALHO

40 RECICLAGEM

29 CORPO

46 COMIDA

47 FICÇÃO

50 LITERATURA

62 LAZER

66 ALI NA ESQUINA60 MECENATO À BRASILEIRAProjeto de reforma da Lei Rouanet levanta debate acerca das distorções da política de incentivo à cultura baseada na isenção de imposto de renda

64 O TESOUREIROColecionador de moedas desde os oito anos, Antonio Soeiro herdou a coleção do avô e dá continuidade ao hábito até hoje

51 A VOZ DO SAMBAAs letras do gênero musical genuinamente brasileiro sempre trataram do cotidiano e, muitos delas, do dinheiro

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ECONOMIA

Maria rita isern viu os hábitos de sua casa mudarem no fim do ano passado. A fi-sioterapeuta de 41 anos teve que reavaliar seus gastos após a empresa de óleos vege-tais de seu marido ser afetada pela crise. “A gente começou a economizar. Passei a fazer compras aqui [Supermercado Dia] porque é mais barato; a pesquisar e fazer compa-ração de preços; a comprar cada coisa em um lugar.” Maria Rita é só mais um exemplo dentre os diversos paulistanos que convi-vem com a crise econômica.

O assunto tomou conta dos jornais, revistas e aparece até em conversas infor-mais. Ações flutuantes, queda das bolsas e desemprego. Os reflexos da crise assustam. As previsões mudam todos os dias e, nos noticiários, especialistas fazem uma análi-se após a outra. A opinião pública divide-se entre aqueles que acreditam que essa será outra Crise de 29 - quando a bolsa de valo-res de Nova York quebrou - , e os otimistas, que acreditam na recuperação gradual do sistema econômico.

A situação atual é um reflexo da instabi-lidade político-econômica iniciada em 2001, nos Estados Unidos. O boom imobiliário causado pelos baixos juros transformou a obtenção de um imóvel em um investimen-to lucrativo. Empresas de financiamento também viram seu mercado crescer com a maior procura. Em 2006, os preços dos imó-veis começaram a cair. Os juros do Federal Reserve – o Banco Central norte-americano – aumentaram e houve uma retração de crédito. A essa altura, havia mais casas que compradores disponíveis.

Os juros altos provocaram ascensão do número de inadimplentes. O efeito bola de neve resultou em significante desaceleração na economia do país. Os sinais mais descon-certantes apareceram rapidamente: grandes empresas alegando falência, multinacionais congelando ações e fundos. O governo ame-ricano, desde então, lançou pacotes econô-micos e injetou dinheiro no mercado na ten-tativa de se recuperar.

CrIsE AquI NO brAsIl O impacto tardou a chegar ao Brasil. Apesar dos re-sultados negativos no exterior, os reflexos da crise só alcançaram o país no quarto tri-mestre de 2008. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Indus-trial (Iedi), a indústria nacional foi afetada principalmente no setor de média-alta tec-nologia – máquinas e equipamentos e pro-dutos químicos. No início do ano passado,

Pessimismo no país

Temposde mudança

Desemprego: o estado de São Paulo perdeu, em dezembro de 2008, mais da metade das vagas criadas ao longo do ano.

Indústria nacional: o setor de média-alta tecnologia – máquinas e equipamentos e produtos químicos – foi o mais afetado.

Setor imobiliário: linhas mais populares de crédito foram criadas para atrair um público de menor renda.

Em época de crise, setores da economia brasileira são abalados em menor ou maior escala. Em São Paulo, o governo cria medidas na tentativa de diminuir os danos causados por ela

Houve o corte de 750 mil vagas de empregos formais no país entre novembro de 2008 e fevereiro deste ano. O segmento mais afetado foi o da agropecuária, com retração de 8,6% das vagas no setor.

Em janeiro de 2009, do total de empregos com carteira assinada extintos no país, 38% eram cargos provenientes do Estado.

06 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

REPORTAGEM BRUNA CARvAlHO, ISABEllA D’ERCOlE (2o ano de Jornalismo) e IzABEl OlIvEIRA (4o ano de Jornalismo)

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o crescimento nessa área chegava a 12,77%. Já no fim do ano, apresentava uma queda acentuada de 12,74%. Entrento, a indústria de alimentos sofreu menor retração: 3,24%. Para André Carvalho, professor de econo-mia da Universidade Presbiteriana Macken-zie, “existe um efeito substituição, isto é, consumidores migram de produtos com alta sofisticação para artigos mais simples, incrementando a receita de empresas que fornecem bens mais acessíveis”.

Apesar das baixas vendas de outubro a dezembro do ano passado, o setor varejista reagiu e cresceu 1,4% em janeiro desse ano, se comparado ao mês anterior. Segundo o ex-diretor do Banco Central, Keyler Rocha, “algumas empresas buscaram soluções quando perceberam as sucessivas quedas. Saídas como liquidações e parcelamentos foram largamente utilizadas”. O estado de São Paulo foi o que mais contribuiu para a alta dessas taxas, com aumento de 8,7%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE).

MErCAdO frusTrAdO No Brasil, o mercado imobiliário também sofreu mu-danças: a partir de 2007, o número de lan-çamentos duplicou, de acordo com a Seco-vi-SP, maior sindicato do setor imobiliário da América Latina. Na cidade de São Paulo, por exemplo, 38 536 unidades foram lança-das, 50% a mais que em 2006. Esses apar-tamentos eram, em primeiro momento, de

alto padrão, atraindo pessoas com maior capital. No ano de 2008, o número de habi-tações construídas diminuiu, mas o enfoque também mudou. Linhas mais populares de crédito foram criadas para atrair um públi-co de menor renda. Entretanto, a queda de vendas foi suave, contando com 34 080 em-preendimentos.

Neste ano, o ramo deve se adaptar às condições criadas pela crise. Em janeiro apresentou 382 lançamentos contra 715 do mesmo período do ano anterior. Para Mau-ricio Meriqui, assistente de atendimento ao incorporador da Imobiliária Lopes, a espe-rança é de que o pior já tenha passado. “O primeiro trimestre foi bem ruim, mas abril já mostra que o setor imobiliário está se sustentando novamente, se reestruturan-do.” Segundo ele, a expectativa era muito grande para os anos de 2008 e 2009. Essa pressão acarretou na crise: “O mercado fi-cou frustrado”. Meriqui viu as vendas caí-rem no final do ano passado. “Os primeiros cortes e demissões foram dos empresários, classe média e alta, nosso público alvo. Eles pararam de comprar porque havia o medo de ser demitido, do banco ou da consultoria quebrar, dos juros aumentarem”, conta.

No setor automobilístico, no entanto, os resultados são surpreendentes. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que a venda de veículos de passeio e comer-

ciais leves caiu 19,29% no mês de novembro de 2008 se comparada ao ano de 2007. Ba-seando-se nesse saldo negativo, o governo lançou medidas de estímulo à produção e venda de produtos industrializados. O corte temporário do Imposto sobre Produ-tos Industrializados (IPI), a partir do dia 12 de dezembro, permitiu ligeiro aumento da comercialização de automóveis. Como resultado, em fevereiro desse ano houve a primeira alta desde setembro do ano pas-sado: 0,15%. As medidas de abatimento do IPI foram prorrogadas pelo governo até dia 31 de junho de 2009. Sobre esse assunto, José Roberto Souza, vendedor de carros da Ibirapuera Motors, diz que “as vendas de todas as marcas de carro foram afetadas, com exceção das ‘top de linha’. Essas se be-neficiaram com o baixo IPI, já que seus con-sumidores não se importam com a taxa de juros, que ainda é muito alta”.

AlTA vElOCIdAdE Enquanto os carros populares apresentam tímido crescimento nas vendas, a área de luxo demonstra estar imune à crise. O primeiro bimestre deste ano foi promissor para as quatro princi-pais marcas representantes do mercado automobilístico de alto padrão. Audi, BMW, Mercedes-Benz e Volvo cresceram 31% se comparado a janeiro e fevereiro de 2008. A previsão de vendas de empresas desse seg-mento é de dez mil veículos por ano, como no ano anterior. Muitos economistas atri-buem esse sucesso ao surgimento de novos ricos. No caso da General Motors, de acordo com Márcio Motta, consultor de vendas da Concessionária Caltabiano, “o volume de vendas diminuiu, mas nada desesperador”.

Aos 26 anos e dono da mecânica “Vi-per”, Bruno Teixeira percebeu uma queda no movimento. “O pessoal só encosta o carro quando quebra. Pra fazer manutenção pre-ventiva é mais difícil.” Para Bruno foi grande a diferença de atendimentos do final do ano passado e do primeiro trimestre deste ano. Ele não fez mudanças drásticas no negócio,

Supermercados mais populares não sofreram impacto da crise. Segundo o gerente Márcio Barbosa, do Dia, as vendas não cairam.

Supermercado Dia, Vila Mariana

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o crescimento nessa área chegava a 12,77%. Já no fim do ano, apresentava uma queda acentuada de 12,74%. Entrento, a indústria de alimentos sofreu menor retração: 3,24%. Para André Carvalho, professor de econo-mia da Universidade Presbiteriana Macken-zie, “existe um efeito substituição, isto é, consumidores migram de produtos com alta sofisticação para artigos mais simples, incrementando a receita de empresas que fornecem bens mais acessíveis”.

Apesar das baixas vendas de outubro a dezembro do ano passado, o setor varejista reagiu e cresceu 1,4% em janeiro desse ano, se comparado ao mês anterior. Segundo o ex-diretor do Banco Central, Keyler Rocha, “algumas empresas buscaram soluções quando perceberam as sucessivas quedas. Saídas como liquidações e parcelamentos foram largamente utilizadas”. O estado de São Paulo foi o que mais contribuiu para a alta dessas taxas, com aumento de 8,7%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE).

MErCAdO frusTrAdO No Brasil, o mercado imobiliário também sofreu mu-danças: a partir de 2007, o número de lan-çamentos duplicou, de acordo com a Seco-vi-SP, maior sindicato do setor imobiliário da América Latina. Na cidade de São Paulo, por exemplo, 38 536 unidades foram lança-das, 50% a mais que em 2006. Esses apar-tamentos eram, em primeiro momento, de

alto padrão, atraindo pessoas com maior capital. No ano de 2008, o número de habi-tações construídas diminuiu, mas o enfoque também mudou. Linhas mais populares de crédito foram criadas para atrair um públi-co de menor renda. Entretanto, a queda de vendas foi suave, contando com 34 080 em-preendimentos.

Neste ano, o ramo deve se adaptar às condições criadas pela crise. Em janeiro apresentou 382 lançamentos contra 715 do mesmo período do ano anterior. Para Mau-ricio Meriqui, assistente de atendimento ao incorporador da Imobiliária Lopes, a espe-rança é de que o pior já tenha passado. “O primeiro trimestre foi bem ruim, mas abril já mostra que o setor imobiliário está se sustentando novamente, se reestruturan-do.” Segundo ele, a expectativa era muito grande para os anos de 2008 e 2009. Essa pressão acarretou na crise: “O mercado fi-cou frustrado”. Meriqui viu as vendas caí-rem no final do ano passado. “Os primeiros cortes e demissões foram dos empresários, classe média e alta, nosso público alvo. Eles pararam de comprar porque havia o medo de ser demitido, do banco ou da consultoria quebrar, dos juros aumentarem”, conta.

No setor automobilístico, no entanto, os resultados são surpreendentes. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que a venda de veículos de passeio e comer-

ciais leves caiu 19,29% no mês de novembro de 2008 se comparada ao ano de 2007. Ba-seando-se nesse saldo negativo, o governo lançou medidas de estímulo à produção e venda de produtos industrializados. O corte temporário do Imposto sobre Produ-tos Industrializados (IPI), a partir do dia 12 de dezembro, permitiu ligeiro aumento da comercialização de automóveis. Como resultado, em fevereiro desse ano houve a primeira alta desde setembro do ano pas-sado: 0,15%. As medidas de abatimento do IPI foram prorrogadas pelo governo até dia 31 de junho de 2009. Sobre esse assunto, José Roberto Souza, vendedor de carros da Ibirapuera Motors, diz que “as vendas de todas as marcas de carro foram afetadas, com exceção das ‘top de linha’. Essas se be-neficiaram com o baixo IPI, já que seus con-sumidores não se importam com a taxa de juros, que ainda é muito alta”.

AlTA vElOCIdAdE Enquanto os carros populares apresentam tímido crescimento nas vendas, a área de luxo demonstra estar imune à crise. O primeiro bimestre deste ano foi promissor para as quatro princi-pais marcas representantes do mercado automobilístico de alto padrão. Audi, BMW, Mercedes-Benz e Volvo cresceram 31% se comparado a janeiro e fevereiro de 2008. A previsão de vendas de empresas desse seg-mento é de dez mil veículos por ano, como no ano anterior. Muitos economistas atri-buem esse sucesso ao surgimento de novos ricos. No caso da General Motors, de acordo com Márcio Motta, consultor de vendas da Concessionária Caltabiano, “o volume de vendas diminuiu, mas nada desesperador”.

Aos 26 anos e dono da mecânica “Vi-per”, Bruno Teixeira percebeu uma queda no movimento. “O pessoal só encosta o carro quando quebra. Pra fazer manutenção pre-ventiva é mais difícil.” Para Bruno foi grande a diferença de atendimentos do final do ano passado e do primeiro trimestre deste ano. Ele não fez mudanças drásticas no negócio,

Supermercados mais populares não sofreram impacto da crise. Segundo o gerente Márcio Barbosa, do Dia, as vendas não cairam.

Supermercado Dia, Vila Mariana

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08 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

entretanto: “Começamos a diminuir as des-pesas. Já não estocamos mais algumas pe-ças e produtos que antes era normal”.

sOBE E dEsCE Alguns bares e restau-rantes não conseguiram escapar das con-sequências do abalo econômico. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Res-taurantes (Abrasel), a perspectiva de cres-cimento caiu de 8% para 5% em 2008. En-tretanto, a estimativa também está aliada a Lei Seca, que foi sancionada pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva em junho de 2008. Após entrar em vigor, a medida provocou queda em 70% dos estabelecimentos do país. Ainda assim, o setor registrou alta de cerca de 5% em janeiro de 2009 em relação ao mesmo mês de 2008.

É o caso de alguns estabelecimentos de bairros nobres da capital. Na contramão da crise, o restaurante Sallvattore, localizado no Itaim Bibi, não sofreu o impacto negativo que atingiu outros setores. Hamilton Mellão, chef e dono do estabelecimento, conta que, para manter o movimento, passou a adotar quatro elementos básicos: “Nosso restau-rante possui uma política de preços baixos, além de ter bom ambiente, bom serviço e boa comida. Esta conjunção fideliza a clien-tela e garante as alternâncias normais de movimento do setor”.

O restaurante D.O.M., no bairro dos Jar-dins, também não sentiu os efeitos da crise. Michele Teixeira, da administração do esta-belecimento, afirma que nenhuma mudança foi adotada. “O D.O.M. foi muito pouco atin-gido após o estouro da crise. Nem a rotina e nem o modo de conduzir o restaurante foi alterado”, afirma.

O seguimento de supermercados tam-bém não sentiu tanto os efeitos da crise. Em São Paulo, o crescimento do setor ficou em 6,57% em 2008, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas). Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), garante que o desempenho do setor foi bastante positivo no ano passado, reflexo do aumento de ren-da da população brasileira. “Isso significa que o brasileiro levou para casa produtos que antes não tinha condições de comprar”, diz. Entretanto, o mês de dezembro apre-sentou uma redução no ritmo de cresci-mento das vendas, possivelmente devido ao impacto da crise econômica. Ele ressaltou que, se houver aumento do desemprego e a consequente desaceleração da economia, o aumento nas vendas será um pouco mais modesto durante o ano de 2009.

Em supermercados com preços mais po-pulares, a crise ainda não chegou. No Dia, de acordo com o gerente Márcio Barbosa, não houve impacto. “As vendas não caíram, não teve mudança na compra de produtos mais baratos no lugar dos mais caros. A clientela manteve o mesmo padrão”, informa.

AuMENTA O dEsEMPrEgO A maior preocupação dos governos, no entanto, é a influência direta da crise nos índices de desemprego. Estudos da Departamento In-tersindical de Estatísticas e Estudos Socio-econômicos (Dieese) apontam corte de 750 mil vagas de empregos formais no país en-tre novembro de 2008 e fevereiro deste ano. O segmento mais afetado foi o da agrope-cuária, com retração de 8,6% das vagas no setor. Em seguida ficou a indústria de trans-

Mercedes - Benz

DIv

Ulg

ãO

“As vendas de todas as marcas

de carro foram afetadas, com

exceção das ‘top de linha’”, diz José

Roberto Souza, vendedor da

Ibirapuera Motors

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formação, que eliminou 5% dos postos de trabalho. A cidade será diretamente afetada no ramo do comércio e de serviços. Segundo Keyler Carvalho, isso acontece porque “com o arrefecimento da atividade econômica em escala nacional, é uma consequência auto-mática a perda de intensidade nos negócios sediados nas cidades”.

No estado de São Paulo, em dezembro de 2008, foram perdidas mais da metade das vagas criadas ao longo do ano. Em janeiro de 2009, do total de empregos com cartei-ra assinada extintos no país, 38% ou 38.676 eram cargos provenientes do Estado, segun-do dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O maior empre-gador é, desde o início de 2008, o setor de serviços ou terciário. Estão abrigados nessa área 9,255 milhões de trabalhadores.

COMbATENdO A CrIsE O governa-dor José Serra anunciou em fins de 2008 a criação de um pacote para combater os efeitos da crise no estado de São Paulo. As principais medidas consistem em diminuir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas empresas. Além dis-so, acrescentou linhas de crédito pela Nossa Caixa destinadas a indústrias de autopeças e máquinas. Essas áreas dependem da linha de crédito, mas em benefício, elas empre-gam um alto número de funcionários.

Outro decreto do pacote permitiu o par-celamento da taxa de ICMS. O objetivo dessa ação é estimular o capital de giro das empre-sas, ou seja, aumentar o dinheiro em caixa.Alguns artigos como couro, vinho, cosméti-cos e produtos têxteis tiveram redução da carga do ICMS de 18% para 12%.

Para salvar pequenas e médias empre-sas, Serra arquiteta a instauração de um sis-tema de devolução do ICMS pago na compra de mercadorias pelo programa Nota Fiscal Paulista. Essa medida significa para o gover-no abdicar R$ 350 milhões. A última medida trata das entidades sem fins lucrativos, que devem passar a receber 30% do ICMS pago ao adquirir produtos e serviços. “Muitos esforços estão sendo realizados para ame-nizar esse colapso. Essa crise é substancial-mente de falta de confiança das pessoas em relação aos mercados. Confiança, diferente-mente de mercadoria, é intangível, portanto se refaz aos poucos”, afirma ex-diretor do Banco Central, Keyler Rocha.

Ainda é cedo para medir as consequên-cias diretas em São Paulo. Para especialistas, a maior cidade do país tem a competência única de se adaptar às condições extremas. Para André Carvalho, professor de econo-mia da Mackenzie, há uma enorme “capaci-dade de acomodar as transformações que o ritmo nacional impõe”.

PéssIMAs MudANçAs Entretanto, a longo prazo, segundo o professor, algumas mudanças devem surgir: “Pode-se esperar mais desemprego, inchaço visível do setor informal (vendedores ambulantes, flaneli-nhas etc.) e da mendicância, aumento nos índices de criminalidade e piora na quali-dade do ar e da água.” Além disso, André Carvalho ainda afirma que “a crise mundial agrava e intensifica as mazelas típicas dos grandes centros urbanos brasileiros, tor-nando ainda mais difícil a tomada de deci-sões adequadas pela abrangente escassez de recursos que ela provoca”.

Sallvattore, Itaim Bibi

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A crise não atingiu os restaurantes, como Sallvattore, localizados em bairros nobres de São Paulo

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REPORTAGEM NATHALIA GARCIA e WILSON SAIKI (2° ano de Jornalismo)IMAGEM RAFAEL DE QUEIROZ (3° ano de Jornalismo)

ENTREVISTA

ElEs Estão EntrE os mais reconhecidos economistas do país: formaram-se na Universidade de São Paulo (USP); participaram da política; publicaram livros; e nutrem uma paixão em comum, lecionar. Em entrevista exclusiva à EsquInAs, Luiz Gonzaga Belluzzo e Paul Singer opinaram sobre a crise econômica mundial e contaram um pouco de suas experiências e também de suas atividades atuias.

Luiz Gonzaga Belluzzo é formado em direito, parti-cipou como secretário de Política Econômica no Gover-no de José Sarney e, atualmente, atua na presidência do Palmeiras – o futebol é a sua grande paixão. Apesar de ter recusado um convite para ser Presidente do Ban-co Central, a política ainda faz parte da sua vida. Hoje Belluzzo é Conselheiro informal do Presidente Lula. Além disso, faz parte da consultoria editorial da revis-ta Carta Capital, e é sócio e professor da Faculdade de Campinas (Facamp).

O economista Singer iniciou sua atuação política no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e graduou-se em Economia pela USP, onde se tornou professor. Após a implantação do Ato Institucional nº 5, durante o governo militar, foi aposentado compulsoriamente. Foi um dos criadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Hoje, exerce a função de coor-denador na Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego.

De

Paul Singer e Luiz Belluzzo falam sobre a crise e contam sobre suas atividades

Paul singer (à esquerda) e Luiz Belluzo (à direita)

olhona crise

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 11

“Acho que o Brasil vai sofrer menos, terá uma recuperação”, Luiz Belluzzo

ESQUINAS Muita gente fala que essa é uma nova crise de 29, o senhor concorda com isso? Quais são as semelhanças e as diferenças?PAUL SINGER Elas têm elementos comuns. Eu não gosto dessa expressão “uma nova crise”, porque elas nunca são iguais. A primeira característica comum deve-se ao fato de ser uma crise mundial, a qual praticamente nenhum país escapou, como na de 29 que pegou efetivamente o mundo inteiro. Outro aspecto é que as duas são financeiras na sua origem, quer dizer, é um sistema financeiro que foi para o espaço. Como nós conseguimos superar a de 29, temos hoje todo o aprendizado daquela, por isso não são iguais. A reação dos governos faz a diferença, essa crise é rápida e bastante ampla, ninguém está preocupado em saber se vai ou não aumentar a dívida pública, mobiliza-se trilhões. Isso me deixa um pouco otimista, achando que essa crise terá um fim bem mais rápido que a anterior, que durou praticamente uma década.ESQUINAS Quais os efeitos e o tempo de recuperação que o Brasil pode sofrer e levar para uma recuperação da crise?LUIZ GONZAGA BELLUZZO Essa crise não é apenas financeira, é econômica porque está caindo o emprego, a renda e as empresas estão cortando investimentos. É uma crise estrutural da forma como a economia cresceu e esse é o problema mais agudo. O presidente Barack Obama percebeu que não é somente debelar a crise financeira, porque isso o tempo vai resolver. Acho que o Brasil vai sofrer menos, terá uma recuperação, dado o peso do mercado interno. Se usarem as medidas corretas e não ficarem fazendo lambanças, como, por exemplo, sustentar o superávit primário, pode ser que a economia brasileira ganhe velocidade mais cedo. Quanto ao resto do mundo eu tendo a concordar com o Obama, porque vai ter que existir um rearranjo estrutural nas forças que comandaram o crescimento; que sair do consumo e voltar um pouco para o investimento público e isso vai fazer com que a economia cresça mais devagar durante muito tempo. Eu acho que eles vão ter que tomar outras medidas para segurar a renda da população mais atingida.SINGER No que se refere ao crescimento, esse ano há um torneio de palpites que começou no fim do ano passado e continua incessantemente. É lógico que no dia 30 de dezembro os palpites vão se unir e chegar a um acordo. Não vou entrar nessa, não temos nenhum elemento para saber como é que a economia vai se comportar, a não ser o primeiro trimestre, que já acabou e permite ser otimista. Ninguém tem bola de cristal, acho que o Brasil está fazendo o que a gente já esperava. Uma recuperação no segundo semestre de 2009, eu diria que é provável.ESQUINAS Como os senhores avaliam o conservadorismo do Banco Central e do Comitê de Política Monetária (Copom) , em relação às taxas de juros?BELLUZZO O conservadorismo do Banco Central tem suas raízes na Alemanha dos anos 30, quando o Banco Central alemão não percebeu que estava vindo uma depressão. Esse posicionamento tem a ver com o passado e com uma certa cautela a notar que as coisas mudaram. Isso decorre de uma visão bastante temerosa

de que a inflação voltasse. É uma questão difícil para se interpretar. O Elio Gaspari disse que eu baixaria as taxas de juros caso assumisse a presidência do BC, eu de fato baixaria, mas não seria suficiente sem outras medidas para restabelecer o crédito, medidas que o governo foi tomando progressivamente, um pouco atrasado. É sempre assim. O Banco Central se atrasou na percepção da intensidade da crise, você pode argumentar que há razões para que ele tivesse se atrasado como, por exemplo, a inflação de commodities que ocorreu no meio de 2008. Agora estamos em uma situação em que as coisas estão começando a se acomodar em um nível mais baixo, eu não sei se teria sido possível impedir que a crise chegasse aqui, mas poderíamos ter atenuado o movimento dela. SINGER Um desastre. Eles aumentaram as taxas de juros desnecessariamente várias vezes, cortando os momentos em que o país estava crescendo com maior vigor. Fizeram isso em 2004, o que foi uma pena visto que em 2005 tivemos um crescimento muito menor do que poderia ter sido. Em 2008 de novo, já tinha uma crise mundial atingindo os Estados Unidos e, ainda assim, eles aumentaram as taxas de juros mais uma vez. Todo mundo ficou indignado, por volta do segundo semestre de 2008. Agora estão desfazendo esse aumento, mudaram a política. Caiu a ficha.ESQUINAS Os senhores pensam que a reforma do sistema financeiro a partir da injeção de 1,1 trilhão de dólares no FMI, decidida pelo G20, conseguirá atingir os objetivos propostos?BELLUZZO Esse é um dos aspectos que estão sendo tratados adequadamente, vamos ver como será executado. Porque uma das deficiências do período anterior é que se deixou a função de financiar os balanços de pagamentos aos mercados privados. Agora estamos chegando à conclusão – um pouco antiga – de que é necessário um organismo supranacional público capaz de criar liquidez para segurar crises de balanço de pagamentos que ocorrem de tempos em tempos nessa economia. Parece que estamos assistindo à repetição de um filme que foi passado várias vezes, agora no Leste Europeu. É preciso aumentar os recursos dessas instituições multilaterais e reduzir as condicionalidades, não adotar os programas de ajustamento que eram executados no período em que as economias centrais estavam crescendo e permitir que os países da periferia também ajudem na recuperação. Essa é uma diferença em relação a outras crises, mesmo que demore para que isso ocorra. Se comparar com os anos 30, na Conferência de Londres não se

tinha acordo sobre nada. Agora há um consenso de que é preciso ter esse instrumento para poder regular a liquidez internacional, para os países não serem obrigados a cortar as suas importações, conseguindo um financiamento adequado e um balanço de pagamento, até que a situação se estabilize.

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“Acho que o Brasil vai sofrer menos, terá uma recuperação”, Luiz Belluzzo

ESQUINAS Muita gente fala que essa é uma nova crise de 29, o senhor concorda com isso? Quais são as semelhanças e as diferenças?PAUL SINGER Elas têm elementos comuns. Eu não gosto dessa expressão “uma nova crise”, porque elas nunca são iguais. A primeira característica comum deve-se ao fato de ser uma crise mundial, a qual praticamente nenhum país escapou, como na de 29 que pegou efetivamente o mundo inteiro. Outro aspecto é que as duas são financeiras na sua origem, quer dizer, é um sistema financeiro que foi para o espaço. Como nós conseguimos superar a de 29, temos hoje todo o aprendizado daquela, por isso não são iguais. A reação dos governos faz a diferença, essa crise é rápida e bastante ampla, ninguém está preocupado em saber se vai ou não aumentar a dívida pública, mobiliza-se trilhões. Isso me deixa um pouco otimista, achando que essa crise terá um fim bem mais rápido que a anterior, que durou praticamente uma década.ESQUINAS Quais os efeitos e o tempo de recuperação que o Brasil pode sofrer e levar para uma recuperação da crise?LUIZ GONZAGA BELLUZZO Essa crise não é apenas financeira, é econômica porque está caindo o emprego, a renda e as empresas estão cortando investimentos. É uma crise estrutural da forma como a economia cresceu e esse é o problema mais agudo. O presidente Barack Obama percebeu que não é somente debelar a crise financeira, porque isso o tempo vai resolver. Acho que o Brasil vai sofrer menos, terá uma recuperação, dado o peso do mercado interno. Se usarem as medidas corretas e não ficarem fazendo lambanças, como, por exemplo, sustentar o superávit primário, pode ser que a economia brasileira ganhe velocidade mais cedo. Quanto ao resto do mundo eu tendo a concordar com o Obama, porque vai ter que existir um rearranjo estrutural nas forças que comandaram o crescimento; que sair do consumo e voltar um pouco para o investimento público e isso vai fazer com que a economia cresça mais devagar durante muito tempo. Eu acho que eles vão ter que tomar outras medidas para segurar a renda da população mais atingida.SINGER No que se refere ao crescimento, esse ano há um torneio de palpites que começou no fim do ano passado e continua incessantemente. É lógico que no dia 30 de dezembro os palpites vão se unir e chegar a um acordo. Não vou entrar nessa, não temos nenhum elemento para saber como é que a economia vai se comportar, a não ser o primeiro trimestre, que já acabou e permite ser otimista. Ninguém tem bola de cristal, acho que o Brasil está fazendo o que a gente já esperava. Uma recuperação no segundo semestre de 2009, eu diria que é provável.ESQUINAS Como os senhores avaliam o conservadorismo do Banco Central e do Comitê de Política Monetária (Copom) , em relação às taxas de juros?BELLUZZO O conservadorismo do Banco Central tem suas raízes na Alemanha dos anos 30, quando o Banco Central alemão não percebeu que estava vindo uma depressão. Esse posicionamento tem a ver com o passado e com uma certa cautela a notar que as coisas mudaram. Isso decorre de uma visão bastante temerosa

de que a inflação voltasse. É uma questão difícil para se interpretar. O Elio Gaspari disse que eu baixaria as taxas de juros caso assumisse a presidência do BC, eu de fato baixaria, mas não seria suficiente sem outras medidas para restabelecer o crédito, medidas que o governo foi tomando progressivamente, um pouco atrasado. É sempre assim. O Banco Central se atrasou na percepção da intensidade da crise, você pode argumentar que há razões para que ele tivesse se atrasado como, por exemplo, a inflação de commodities que ocorreu no meio de 2008. Agora estamos em uma situação em que as coisas estão começando a se acomodar em um nível mais baixo, eu não sei se teria sido possível impedir que a crise chegasse aqui, mas poderíamos ter atenuado o movimento dela. SINGER Um desastre. Eles aumentaram as taxas de juros desnecessariamente várias vezes, cortando os momentos em que o país estava crescendo com maior vigor. Fizeram isso em 2004, o que foi uma pena visto que em 2005 tivemos um crescimento muito menor do que poderia ter sido. Em 2008 de novo, já tinha uma crise mundial atingindo os Estados Unidos e, ainda assim, eles aumentaram as taxas de juros mais uma vez. Todo mundo ficou indignado, por volta do segundo semestre de 2008. Agora estão desfazendo esse aumento, mudaram a política. Caiu a ficha.ESQUINAS Os senhores pensam que a reforma do sistema financeiro a partir da injeção de 1,1 trilhão de dólares no FMI, decidida pelo G20, conseguirá atingir os objetivos propostos?BELLUZZO Esse é um dos aspectos que estão sendo tratados adequadamente, vamos ver como será executado. Porque uma das deficiências do período anterior é que se deixou a função de financiar os balanços de pagamentos aos mercados privados. Agora estamos chegando à conclusão – um pouco antiga – de que é necessário um organismo supranacional público capaz de criar liquidez para segurar crises de balanço de pagamentos que ocorrem de tempos em tempos nessa economia. Parece que estamos assistindo à repetição de um filme que foi passado várias vezes, agora no Leste Europeu. É preciso aumentar os recursos dessas instituições multilaterais e reduzir as condicionalidades, não adotar os programas de ajustamento que eram executados no período em que as economias centrais estavam crescendo e permitir que os países da periferia também ajudem na recuperação. Essa é uma diferença em relação a outras crises, mesmo que demore para que isso ocorra. Se comparar com os anos 30, na Conferência de Londres não se

tinha acordo sobre nada. Agora há um consenso de que é preciso ter esse instrumento para poder regular a liquidez internacional, para os países não serem obrigados a cortar as suas importações, conseguindo um financiamento adequado e um balanço de pagamento, até que a situação se estabilize.

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SINGER O fato de ter sido uma reunião de chefes de Estado tem um outro peso. Pelo que eu li, todas as resoluções tinham sido acertadas previamente, ou seja, na própria cúpula não se negociou nada. Em princípio, Barack Obama diz que apoia uma ampliação do poder de decisão dentro do Fundo Monetário Internacional (FMI) de países como Brasil, China, Índia e Rússia. Não dava para apostar no FMI sem essas mudanças, ele foi uma coisa desastrosa, principalmente quando o neoliberalismo pegou o fundo. Obrigou países pobres a fazerem uma política suicida e manterem o valor da moeda. Um desastre. Mas agora parece que está mudando, a alta direção, inclusive Paulo Nogueira

keynesianas. Eu diria até extremadas, o que convém e é muito bom. Segundo ele, são todos economistas de destaque muito conservadores e que não conhecem nada do Terceiro Mundo, que, hoje, inclui os países do Leste Europeu – Ucrânia e Polônia. Os economistas não contextualizam, eles têm os dogmas e vão até os países para negociar a carta de intenções.ESQUINAS O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, declarou que os problemas globais requerem soluções globais. Os senhores acham que agora os países têm que agir em conjunto? E como isso chega ao Brasil?BELLUZZO Isso não é uma questão de escolha, não tem jeito. A integração das economias aumentou muito e não se pode mais desconsiderá-la. Por exemplo: em 1930, logo depois do crash da Bolsa, os americanos subiram as tarifas de importação; eles consideraram isso um sinal e falaram cada um cuide de si e Deus de todos. Todos começaram a tomar medidas protecionistas, o comércio mundial se contraiu assim como uma teia de aranha, diminuiu até chegar a um ponto muito baixo. Essa foi uma das razões pela qual a crise foi tão violenta. Dessa vez não, as pessoas aprendem. Nota-se que todos estão preocupados com o protecionismo, é claro que você tem uma medida aqui, outra ali, mas nada parecido com o que ocorreu nos anos 30. Os governos estão abastecendo e tentando resolver. É isso, não há como ter uma solução nacional. Chame de solução global, isso vai ser imposto pelos fatos.SINGER Eu acho que está na hora de agir em conjunto para acabar com a globalização, a globalização foi um erro enorme, tanto a financeira como a comercial. O que eu quero dizer é o seguinte: tem que deixar cada país decidir sua política de comércio exterior. Foi uma estupidez criar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e forçar os países a não deferirem no comércio exterior de sua própria nação. Significa que o poder de decidir o que queremos ou não importar passou do governo, que é democraticamente eleito, para as multinacionais, nós não temos nenhum controle sobre as nossas vontades de exportar ou importar. O comércio mundial é dominado por grandes empresas privadas que visam o lucro e nada mais.ESQUINAS De que forma o senhor colaborou para implantação da Secretaria de Economia Solidária no governo Lula?SINGER Colaborei muito pouco na verdade, a Secretaria foi solicitada ao presidente Lula em uma reunião que aconteceu depois que ele foi eleito, nos últimos dias de 2002, em Porto Alegre. Quando veio essa ideia de fazer em Brasília no Ministério do Trabalho, o pessoal me convocou para estar em Brasília naqueles momentos. Jaques Wagner, que iria ser o Ministro do Trabalho, em conjunto com o movimento indicou meu nome, então, eu aceitei. Criamos a Secretaria junto com o Fórum das Ideias de Economia Solidária, fazendo toda sua política em parceria estreita com o Movimento de Economia Solidária.ESQUINAS O senhor vê a Economia Solidária como uma alternativa, principalmente nesse momento de crise?SINGER Acho que no momento de crise pode também ser uma alternativa. A crise vai ser relativamente curta, e, no Brasil, não muito profunda. Na época do Fernando Collor e do Fernando Henrique Cardoso, houve uma crise trágica no país, quando se perderam milhões de empregos. Nessa ocasião, a Economia Solidária foi reinstituída. Por volta dos anos 90, começou um movimento de formação de cooperativas, especialmente de empresas que estavam falindo com

“Ninguém tem bola de cristal, acho que o Brasil está fazendo o que a gente já esperava”, Paul Singer

Batista, economista brasileiro que representa o Brasil e mais oito países das Américas do Sul e Central, diz que é possível que esteja mudando, mas não mudou ainda. O que mudou foi o diretor de origem socialista, Dominique Strauss-Kahn, que está tomando posições

Paul Singer em sua casa durante a entrevista

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 13

a entrada de produtos chineses e coreanos. Muitas empresas contraíram-se e algumas até abriram falência, então, os trabalhadores assumiram essas empresas e transformaram em cooperativas, com o apoio dos sindicatos. A Economia Solidária é imune à crise. Dentro de uma cooperativa ninguém é mandado embora, se ela produz menos, todos vão produzir menos e, consequentemente, ganhar menos, mas ninguém é mandado embora. A criatividade de todos é posta à prova e busca-se fazer outras coisas que tenham mercado. Se você tiver Economia Solidária como uma parte dominante da economia, a crise passa a ser um fenômeno externo que pode ser corrigido. No caso específico dessa, tendo em vista a especulação financeira como causa, ela se mostra completamente vulnerável à crise. Por causa da divisão de classes, quem toma decisão, corta gastos e cortar gastos significa mandar as pessoas embora.ESQUINAS O senhor é professor, escreve para várias publicações, faz parte do conselho editorial da Carta Capital e agora é Presidente do Palmeiras. Como consegue lidar com tantas atividades?BELLUZZO Não é tão complicado assim, porque você tem gente eficiente trabalhando com você. No caso do Palmeiras, eu montei uma diretoria muito competente. Eu fico, na verdade, orientando as pessoas. Ser presidente de futebol é uma loucura. Você tem uma grande quantidade de problemas, desde o cloro da piscina, até o jogador que está chateado porque brigou com a namorada, mas dá pra você fazer tudo isso. Tendo um pouco de método, dá para você fazer. O clube demanda muito, agora você tem que estabelecer uma regra. De manhã, por exemplo, eu ainda dou aula na Facamp, toda quarta-feira; estudo de manhã e de tarde eu dedico ao Palmeiras, já na Carta Capital eu tenho a reunião de pauta e escrevo. Dá para ir levando. ESQUINAS De que forma se dá sua relação com o presidente Lula, como conselheiro informal?BELLUZZO As reuniões são irregulares, mas são frequentes. Eu conheço o Presidente desde os anos 70, quando estava no Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Ele me chamou, eu fui secretário. Tenho uma relação muito antiga com o Lula, trabalhei muito no comitê eleitoral, mas eu disse a ele várias vezes que não queria ir para Brasília. Eu acho Brasília um negócio meio punk. O Delfim e eu somos basicamente os economistas com quem ele conversa, é uma posição alta, mas não tem uma ligação oficial, e eu nem quero.ESQUINAS Os senhores têm uma longa carreira acadêmica, existe alguma preferência pela vida acadêmica ou pela vida política?SINGER Eu fui um acadêmico extremamente feliz, eu queria ser e consegui ser. Passei mais de 40 anos fazendo as pesquisas e os cursos que me interessavam. Voltaria a fazer isso, se eu tivesse escolha. Essa atividade que eu estou desenvolvendo agora é, de certa forma, o coroamento da minha atividade acadêmica. As coisas que estou realizando, tinha concebido no plano teórico previamente, escrevi livros e tive toda uma atividade política e acadêmica sobre a Economia Solidária. É um grande privilégio transformar essas ideias em realidade e até testar se elas eram verdadeiras ou não. Nesse momento, eu estou extremamente feliz de poder ter essa oportunidade que a vida me ofereceu.BELLUZZO Eu sou fundamentalmente um professor, o que gosto de fazer é isso. Eu fui mudando, de advogado para sociólogo e para economista. Fiquei na Universidade por 40 anos, praticamente. Depois da minha aposentadoria, eu continuei dando aula sem remuneração, porque é proibido você fazer outro

contrato. Nos anos 70, eu, o Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), e o João Manuel, que é meu sócio na Facamp, fomos assessores da presidência do MDB. Combinamos a atividade acadêmica com a atividade política, em um momento importante - no período da ditadura militar. Tive que sair do país depois da morte de Vladimir Herzog, em 1975, porque prenderam três ou quatro alunos meus. Eu tinha um grupo de trabalho político com eles, mas que não era clandestino, mesmo assim eu tive que sair do Brasil. Com a saída do general Edinardo, pude voltar em fevereiro de 1976. Fui para o governo em 1985, foi uma experiência importante, tivemos que lidar com uma situação fiscal remanejável e com crise monetária, ajudou-me bastante a perceber

“Eu disse várias vezes que não queria ir pra Brasília. Acho Brasília

um negócio meio punk”, Belluzzo

o que estava acontecendo e também melhorou minha capacidade de avaliação. Quando você sai da academia e vai para um mundo que você tem que decidir, você aprende muita coisa.

Luiz Bellozzoposa para foto em sua casa

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 13

a entrada de produtos chineses e coreanos. Muitas empresas contraíram-se e algumas até abriram falência, então, os trabalhadores assumiram essas empresas e transformaram em cooperativas, com o apoio dos sindicatos. A Economia Solidária é imune à crise. Dentro de uma cooperativa ninguém é mandado embora, se ela produz menos, todos vão produzir menos e, consequentemente, ganhar menos, mas ninguém é mandado embora. A criatividade de todos é posta à prova e busca-se fazer outras coisas que tenham mercado. Se você tiver Economia Solidária como uma parte dominante da economia, a crise passa a ser um fenômeno externo que pode ser corrigido. No caso específico dessa, tendo em vista a especulação financeira como causa, ela se mostra completamente vulnerável à crise. Por causa da divisão de classes, quem toma decisão, corta gastos e cortar gastos significa mandar as pessoas embora.ESQUINAS O senhor é professor, escreve para várias publicações, faz parte do conselho editorial da Carta Capital e agora é Presidente do Palmeiras. Como consegue lidar com tantas atividades?BELLUZZO Não é tão complicado assim, porque você tem gente eficiente trabalhando com você. No caso do Palmeiras, eu montei uma diretoria muito competente. Eu fico, na verdade, orientando as pessoas. Ser presidente de futebol é uma loucura. Você tem uma grande quantidade de problemas, desde o cloro da piscina, até o jogador que está chateado porque brigou com a namorada, mas dá pra você fazer tudo isso. Tendo um pouco de método, dá para você fazer. O clube demanda muito, agora você tem que estabelecer uma regra. De manhã, por exemplo, eu ainda dou aula na Facamp, toda quarta-feira; estudo de manhã e de tarde eu dedico ao Palmeiras, já na Carta Capital eu tenho a reunião de pauta e escrevo. Dá para ir levando. ESQUINAS De que forma se dá sua relação com o presidente Lula, como conselheiro informal?BELLUZZO As reuniões são irregulares, mas são frequentes. Eu conheço o Presidente desde os anos 70, quando estava no Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Ele me chamou, eu fui secretário. Tenho uma relação muito antiga com o Lula, trabalhei muito no comitê eleitoral, mas eu disse a ele várias vezes que não queria ir para Brasília. Eu acho Brasília um negócio meio punk. O Delfim e eu somos basicamente os economistas com quem ele conversa, é uma posição alta, mas não tem uma ligação oficial, e eu nem quero.ESQUINAS Os senhores têm uma longa carreira acadêmica, existe alguma preferência pela vida acadêmica ou pela vida política?SINGER Eu fui um acadêmico extremamente feliz, eu queria ser e consegui ser. Passei mais de 40 anos fazendo as pesquisas e os cursos que me interessavam. Voltaria a fazer isso, se eu tivesse escolha. Essa atividade que eu estou desenvolvendo agora é, de certa forma, o coroamento da minha atividade acadêmica. As coisas que estou realizando, tinha concebido no plano teórico previamente, escrevi livros e tive toda uma atividade política e acadêmica sobre a Economia Solidária. É um grande privilégio transformar essas ideias em realidade e até testar se elas eram verdadeiras ou não. Nesse momento, eu estou extremamente feliz de poder ter essa oportunidade que a vida me ofereceu.BELLUZZO Eu sou fundamentalmente um professor, o que gosto de fazer é isso. Eu fui mudando, de advogado para sociólogo e para economista. Fiquei na Universidade por 40 anos, praticamente. Depois da minha aposentadoria, eu continuei dando aula sem remuneração, porque é proibido você fazer outro

contrato. Nos anos 70, eu, o Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), e o João Manuel, que é meu sócio na Facamp, fomos assessores da presidência do MDB. Combinamos a atividade acadêmica com a atividade política, em um momento importante - no período da ditadura militar. Tive que sair do país depois da morte de Vladimir Herzog, em 1975, porque prenderam três ou quatro alunos meus. Eu tinha um grupo de trabalho político com eles, mas que não era clandestino, mesmo assim eu tive que sair do Brasil. Com a saída do general Edinardo, pude voltar em fevereiro de 1976. Fui para o governo em 1985, foi uma experiência importante, tivemos que lidar com uma situação fiscal remanejável e com crise monetária, ajudou-me bastante a perceber

“Eu disse várias vezes que não queria ir pra Brasília. Acho Brasília

um negócio meio punk”, Belluzzo

o que estava acontecendo e também melhorou minha capacidade de avaliação. Quando você sai da academia e vai para um mundo que você tem que decidir, você aprende muita coisa.

Luiz Bellozzoposa para foto em sua casa

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Os pregões na Bovespa não são mais os mesmos. Devido à tecnologia, o antigo espaço de negociações agora é local de aprendizado

REPORTAGEM FERNANDA pAtROcíNiO, JOSÉ GOMES JR. e pRiSciLA piRES (2o ano de Jornalismo)IMAGEM FERNANDA pAtROcíNiO (2o ano de Jornalismo)

AÇÕES

Homens engravatados aos gritos, com telefones sem fio colados à orelha e gesti-culando freneticamente as mãos davam, ao espaço onde ocorria o pregão, ares de batalha. Mas a luta ali não era física, mas sim econômica: vários operadores lutando pela compra e venda de ações. A associa-ção entre a expressão “bolsa de valores” e a imagem de gritaria, telefones e, claro, muito estresse é inevitável. Porém essa cena está mudando. Ao menos no que diz respeito à

O valor daBOLSA

BM&FBovespa, a Bolsa de Valores, Mercado-rias e Futuros de São Paulo. A previsão é que até julho desse ano o pregão passaria a ser totalmente eletrônico.

A Nova Bolsa, como também é conhe-cida, representa a união entre a Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa, relacionada aos negócios de ações (partes do capital de uma empresa), e a Bolsa de Mercadorias e Futuros, BM&F, voltada ao mercado de com-modities (gêneros agrícolas, ferro, petróleo

entre outros produtos primários). A insti-tuição está entre as cinco maiores bolsas do mundo. No final de abril, por exemplo, o valor de mercado estava em cerca US$ 8 bilhões – para se ter uma ideia, a Bolsa de Nova York tem valor de mercado girando em torno dos US$ 6 bilhões. Embora, hoje, a BM&f e a Bovespa sejam uma única insti-tuição, as negociações ainda se realizam em prédios separados – ambos situados na re-gião central de São Paulo. E somente a bolsa

14 ESQUiNAS 1º SEMEStRE 2009

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ESQUiNAS 1º SEMESTRE 2009 15

Esse sistema permite também ao investidor informar suas ordens de compra e venda para o corretor pela internet. O que agiliza as operações.

COiSA dE muSEu Para onde foram os operadores? Alguns voltaram para os pré-dios de suas corretoras para fazerem de lá as negociões, outros acabaram despedidos, e houve ainda os incorporados pela insti-tuição. Como o economista Rui Paranhos, ex-operador, que integra, como outros au-xiliares, a equipe responsável por orientar e apresentar as atrações do Espaço Bovespa aos visitantes.

No mesmo local onde aconteciam os pregões. O espaço conta com café, auditório para palestras, cinema 3D, mesas de opera-ções e um centro de memória – um labirinto de paredes azuis que destaca vídeos e obje-tos referentes à história da instituição. E cla-ro, os painéis com as cotações e curvas dos índices do mercado ainda permanecem.

Há quem ache inconcebível, em um local como aquele, reinar o silêncio. Mas, para a maioria, o Espaço Bovespa é um importan-te instrumento didático. “O Espaço é bom, pois as pessoas podem ver de perto como funciona o mercado e quem visita se apai-

xona por ele”, conta Marques.HOrA dE invEStir “Sem a Bolsa, é

muito mais difícil para quem quer comprar e para quem quer vender e fazer negócios”, afirma o economista Felipe Miranda. A Bolsa de Valores é uma instituição na qual empre-sas dispostas a vender parte de seu capital encontram acionistas interessados em com-prá-lo. Além disso, possibilita a legitimida-de dos negócios feitos.

Os interessados em investir na BM&FBovespa – qualquer pessoa disposta a pagar os valores das ações, que vão de centávos a centenas de reais – precisam, em primeiro lugar, procurar uma corretora. “Você só pode comprar e vender ações ou contratos futuros através de uma corretora. É preciso fazer um cadastro nessa correto-ra, como se fosse um banco, e, a partir daí, poder operar suas ações”, explica Paranhos, funcionário do Espaço Bovespa. “A Bolsa centraliza todas as operações e monitora os negócios feitos, de modo a garantir que todos estejam dentro das regras”, completa. Tais regras são elaboradas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vin-culada ao Ministério da Fazenda.

No momento da compra da ação, o in-

de commodities ainda mantém, parcialmen-te, o antigo pregão viva-voz.

nO gritO Na Bovespa, em 1997, aque-les homens engravatados, os operadores de pregão, responsáveis por cumprir as ordens dos investidores, deram lugar a uma plata-forma tecnológica avançada que permite a execução de centenas de compras de ações por minuto, a Mega-Bolsa. “A negociação eletrônica é ótima, pois dá uma grande transparência às operações”, diz Donizetti Marques, agente autônomo de investimento e ex-operador da Bovespa.

O pregão eletrônico, no entanto, não foi bem visto por todos – principalmente pelos operadores que foram demitidos. As demis-sões, cerca de 1500, ocorreram em função da chegada dessa plataforma tecnológica. Porém Marques lembra que “a atual crise também contribuiu para os cortes”. Para Felipe Miranda, economista e editor do site da revista Infomoney, “o pregão eletrônico é algo eficiente, confiável, e não foi implanta-do para encerrar o pregão viva-voz. Trata-se simplesmente da evolução”.

Agora, os acionistas negociam direto pe-los sites das corretoras, os chamados HomeBrokers, que estão ligados à Mega-Bolsa.

“O pregão eletrônico é algo mais eficiente e confiável. E não foi implatado para encerrar o viva-voz. Trata-se simplesmente de uma evolução”, diz Felipe Miranda, economista

Os pregões viva-voz estão se tornado coisa do passado. Na primeira foto a Bolsa de Valores na década de 1940. Na segunda, as negociações da década de 1960

iMA

GEN

S: B

M&F

BOVE

SPA

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ESQUiNAS 1º SEMESTRE 2009 15

Esse sistema permite também ao investidor informar suas ordens de compra e venda para o corretor pela internet. O que agiliza as operações.

COiSA dE muSEu Para onde foram os operadores? Alguns voltaram para os pré-dios de suas corretoras para fazerem de lá as negociões, outros acabaram despedidos, e houve ainda os incorporados pela insti-tuição. Como o economista Rui Paranhos, ex-operador, que integra, como outros au-xiliares, a equipe responsável por orientar e apresentar as atrações do Espaço Bovespa aos visitantes.

No mesmo local onde aconteciam os pregões. O espaço conta com café, auditório para palestras, cinema 3D, mesas de opera-ções e um centro de memória – um labirinto de paredes azuis que destaca vídeos e obje-tos referentes à história da instituição. E cla-ro, os painéis com as cotações e curvas dos índices do mercado ainda permanecem.

Há quem ache inconcebível, em um local como aquele, reinar o silêncio. Mas, para a maioria, o Espaço Bovespa é um importan-te instrumento didático. “O Espaço é bom, pois as pessoas podem ver de perto como funciona o mercado e quem visita se apai-

xona por ele”, conta Marques.HOrA dE invEStir “Sem a Bolsa, é

muito mais difícil para quem quer comprar e para quem quer vender e fazer negócios”, afirma o economista Felipe Miranda. A Bolsa de Valores é uma instituição na qual empre-sas dispostas a vender parte de seu capital encontram acionistas interessados em com-prá-lo. Além disso, possibilita a legitimida-de dos negócios feitos.

Os interessados em investir na BM&FBovespa – qualquer pessoa disposta a pagar os valores das ações, que vão de centávos a centenas de reais – precisam, em primeiro lugar, procurar uma corretora. “Você só pode comprar e vender ações ou contratos futuros através de uma corretora. É preciso fazer um cadastro nessa correto-ra, como se fosse um banco, e, a partir daí, poder operar suas ações”, explica Paranhos, funcionário do Espaço Bovespa. “A Bolsa centraliza todas as operações e monitora os negócios feitos, de modo a garantir que todos estejam dentro das regras”, completa. Tais regras são elaboradas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vin-culada ao Ministério da Fazenda.

No momento da compra da ação, o in-

de commodities ainda mantém, parcialmen-te, o antigo pregão viva-voz.

nO gritO Na Bovespa, em 1997, aque-les homens engravatados, os operadores de pregão, responsáveis por cumprir as ordens dos investidores, deram lugar a uma plata-forma tecnológica avançada que permite a execução de centenas de compras de ações por minuto, a Mega-Bolsa. “A negociação eletrônica é ótima, pois dá uma grande transparência às operações”, diz Donizetti Marques, agente autônomo de investimento e ex-operador da Bovespa.

O pregão eletrônico, no entanto, não foi bem visto por todos – principalmente pelos operadores que foram demitidos. As demis-sões, cerca de 1500, ocorreram em função da chegada dessa plataforma tecnológica. Porém Marques lembra que “a atual crise também contribuiu para os cortes”. Para Felipe Miranda, economista e editor do site da revista Infomoney, “o pregão eletrônico é algo eficiente, confiável, e não foi implanta-do para encerrar o pregão viva-voz. Trata-se simplesmente da evolução”.

Agora, os acionistas negociam direto pe-los sites das corretoras, os chamados HomeBrokers, que estão ligados à Mega-Bolsa.

“O pregão eletrônico é algo mais eficiente e confiável. E não foi implatado para encerrar o viva-voz. Trata-se simplesmente de uma evolução”, diz Felipe Miranda, economista

Os pregões viva-voz estão se tornado coisa do passado. Na primeira foto a Bolsa de Valores na década de 1940. Na segunda, as negociações da década de 1960

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Em 1890, o negociante de capitais Emilio Rangel Pestana fundou, em São Paulo, a Bolsa Livre, voltada, principalmente, ao mercado cafeeiro. No entanto, a instituição durou pouco. Um ano depois viria a falir devido à crise do Encilhamento, causada pela política de emissão de moedas feita pelo ministro da Fazenda Ruy Barbosa, para ajudar os industriais. Em 1895, é crida a Bolsa de Fundos Públicosde São Paulo, uma institiução pública, em que voltaram a ocorrer as negociações. Esse período é conhecido como “idade da pedra”. O motivo eram os enormes quadros-negros de pedra em que se registravam as negociações (foto). No fim da década de 1960, esses quadros foram trocados por computadores e circuitos internos de TV. Em 1967, a Bolsa passou a ser uma instituição privada e sem fins lucrativos, chamando-se Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa.

A última grande mudança da bolsa foi em 1997, com a implantação do Mega-Bolsa, plataforma avançada de processamento de dados. O pregão eletrônico passou a substituir, aos poucos, o pregão viva-voz. As operações manuais foram eliminadas em 2005, e o espaço na qual se realizavam as negociações tornou-se o Espaço Bovespa. Antes, no ano 2000, houve a integração das diversas bolsas brasileiras (como a do Rio de Janeiro e do Paraná), o que deu à Bovespa a concentração de todas as atividades acionárias do país.Em 1986, a Bovespa criou o Projeto Bolsa Mercantil e de Futuros (BM&F), voltado às transações de commodities e derivativos, que, em 1989, se tornaria independente. Cinco anos depois, incorporou a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP). Finalmente, em 2008, a BM&F e a Bovespa anunciam a fusão, tornando-se a BM&FBovespa.

NO sOBE E dEscE dA hIsTóRIA

vestidor pode fazê-lo direto com a corretora. Ou pode, ainda, usar o sistema Home Broker,no qual o acionista coloca suas ofertas dire-tamente no sistema. Existem dois tipos de ações: Preferenciais Nominativas (PN), que compartilham proporcionalmente os lu-cros, mas não permitem opinar sobre dos rumos da empresa, e as Ordinárias Nomina-

tivas (ON), quando os acionistas participam proporcionalmente no lucro das empresas e têm direito de voto em assembleias.

Todas as compras e vendas da Bolsa são registradas nos painéis eletrônicos, que mostram, também, as ações negociadas. No entanto, como todo investimento é um risco, a rápida valorização das ações pode

ocasionar um ganho apreciável, mas uma repentina desvalorização pode levar à per-da de milhões.

A venda de ações permite a expansão dos negócios das empresas expandirem, e gira a economia do país. “As bolsas de valo-res são fundamentais para o mercado capi-talista”, explica Felipe Miranda.

16 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

Monitor do Espaço Bovespa simula a compra e venda de ações no sistema de pregão eletrônico, implantado na Bovespa em 1997

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REPORTAGEM Isabella ayub, julIana helpe e vIctorIa khatounIan (1º ano de jornalismo)

iMAGEM karIna sérgIo gomes (4º ano de jornalismo)

TRABALHO

meTALúRgicOamilson kavéski, 47, é encarregado de produção em uma empresa metalúrgica de pequeno porte. concluiu o ensino médio e fez um curso complementar de tornearia mecânica. seu salário é de r$ 1 600 por mês, e trabalha 9 horas por dia produzindo cerca de 500 peças. cada uma delas custa r$ 3,90, portanto 410 peças vendidas já pagariam o salário de amilson. segundo dados da Departamento Intersindical de estatísticae estudos socioeconômicos (Dieese), assim como o metalúrgico amilson,35,2% dos trabalhadores da região metropolitana de são paulo recebem entre dois e cinco salários mínimos.

gARidenTisTAa dentista thaís gioia, 42, trabalha em um consultório particular na zona sul de são paulo. separadae mãe de uma menina de dois anos, ela conta que um dentista que possui seu próprio negócio costuma ganhar entre r$ 10 mil a r$12 mil por mês. “eu trabalho de 10 a 12 horas por dia e eu tenho que ter controle do meu dinheiro. meu salário é muito inconstante”, comenta. em seu consultório, o serviço mais barato, a profilaxia, custa em média r$ 150 e o mais caro, a colocação de uma prótese de porcelana, r$1 200.

pROfessORAa professora de português e espanhol maria Del carmen, 49, dá aulas no ensino médio da escola pio XII no morumbi. ganhaaproximadamente r$ 5 mil por mês. o preço da hora/aula equivale a r$ 35. já a professora de educação Física a. k., que trabalha 8 horas em um colégio estadual, recebe r$ 5,50 por hora de aula mais bonificações. “a gente tem muita responsabilidade para ganhar tão pouco”, reclama. segundo estudo de 2008 da Fundação getúlio vargas, os trabalhadores com os melhores salários são aqueles que possuem mais anos de estudo. se a. k. tivesse feito pós-graduação, receberia aproximadamente r$27,31 por hora de trabalho.

maria do amparo, 43, é gari da avenida paulista. nas ruas, ela trabalha sete horas e meia por dia, recebe um salário de r$ 600 e gasta cerca de 3h20 todos os dias no trânsito. assim, a gari integra o grupo dos 20,6% brasileiros com rendimento entre 1 e 1,5 salários mínimos. a baixa renda, ela explica, mal cobre as dívidas. paracuidar dos filhos, recebe a ajuda do marido que trabalha como pedreiro. em casa, as economias são constantes. mesmo assim, ela ainda tem um desejo maior. “eutô doida pra comprar um carro”, conta maria do amparo.

esQuInas 1º semestre 2009 17

Banco Quanto ganham alguns dos brasileiros que se esforçam para pagar as contas no fim do mêsde horas

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Page 17: Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

REPORTAGEM Isabella ayub, julIana helpe e vIctorIa khatounIan (1º ano de jornalismo)

iMAGEM karIna sérgIo gomes (4º ano de jornalismo)

TRABALHO

meTALúRgicOamilson kavéski, 47, é encarregado de produção em uma empresa metalúrgica de pequeno porte. concluiu o ensino médio e fez um curso complementar de tornearia mecânica. seu salário é de r$ 1 600 por mês, e trabalha 9 horas por dia produzindo cerca de 500 peças. cada uma delas custa r$ 3,90, portanto 410 peças vendidas já pagariam o salário de amilson. segundo dados da Departamento Intersindical de estatísticae estudos socioeconômicos (Dieese), assim como o metalúrgico amilson,35,2% dos trabalhadores da região metropolitana de são paulo recebem entre dois e cinco salários mínimos.

gARidenTisTAa dentista thaís gioia, 42, trabalha em um consultório particular na zona sul de são paulo. separadae mãe de uma menina de dois anos, ela conta que um dentista que possui seu próprio negócio costuma ganhar entre r$ 10 mil a r$12 mil por mês. “eu trabalho de 10 a 12 horas por dia e eu tenho que ter controle do meu dinheiro. meu salário é muito inconstante”, comenta. em seu consultório, o serviço mais barato, a profilaxia, custa em média r$ 150 e o mais caro, a colocação de uma prótese de porcelana, r$1 200.

pROfessORAa professora de português e espanhol maria Del carmen, 49, dá aulas no ensino médio da escola pio XII no morumbi. ganhaaproximadamente r$ 5 mil por mês. o preço da hora/aula equivale a r$ 35. já a professora de educação Física a. k., que trabalha 8 horas em um colégio estadual, recebe r$ 5,50 por hora de aula mais bonificações. “a gente tem muita responsabilidade para ganhar tão pouco”, reclama. segundo estudo de 2008 da Fundação getúlio vargas, os trabalhadores com os melhores salários são aqueles que possuem mais anos de estudo. se a. k. tivesse feito pós-graduação, receberia aproximadamente r$27,31 por hora de trabalho.

maria do amparo, 43, é gari da avenida paulista. nas ruas, ela trabalha sete horas e meia por dia, recebe um salário de r$ 600 e gasta cerca de 3h20 todos os dias no trânsito. assim, a gari integra o grupo dos 20,6% brasileiros com rendimento entre 1 e 1,5 salários mínimos. a baixa renda, ela explica, mal cobre as dívidas. paracuidar dos filhos, recebe a ajuda do marido que trabalha como pedreiro. em casa, as economias são constantes. mesmo assim, ela ainda tem um desejo maior. “eutô doida pra comprar um carro”, conta maria do amparo.

esQuInas 1º semestre 2009 17

Banco Quanto ganham alguns dos brasileiros que se esforçam para pagar as contas no fim do mêsde horas

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FINANÇAS

O sistema financeirO é um conjunto de instituições que geram a política monetária do país. É responsável por manter o fluxo de dinheiro entre poupadores e investido-res. “A rigor, você tem de um lado pessoas e empresas com sobra de dinheiro e de outro com falta. O sistema faz um meio de campo. Quem tem sobra, aplica, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, e quem tem falta pega emprestado”, explica José Eduardo Balian, professor de macroeconomia da Escola Su-perior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O Sistema Financeiro nacional é forma-do por conselhos, sendo que o principal é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que estabelece o rumo da política monetária, cambial e de créditos, e fiscaliza o funcio-namento das instituições financeiras em todo o país. Atualmente, tem como presi-dente Guido Mantega, ministro da Fazen-da. O principal órgão do sistema é o Banco Central do Brasil (Bacen), que controla as políticas monetárias e cambial, e garante a estabilidade do sistema financeiro.

O FAmOSO BANcO ceNtrAl A políti-ca monetária é a função que define o sentido mais amplo do Bacen e aquela que, em últi-ma instância, articula as demais. A principal função consiste em adequar as transações monetárias a real capacidade da economia e absorver recursos sem causar desequilí-brios nos preços.

Ele é o principal banco do Brasil, e pode emprestar dinheiro somente para bancos. Sua função é atingir uma meta de inflação,

que hoje é 4,5% ao ano, podendo variar de 3,5% até 5,5%. Seu instrumento para regular o volume de moeda é controlar a taxa cam-bial, centralizando as operações de câmbio, ora vendendo, ora comprando dólares.

Além disso, ele define a taxa que define o Sistema Especial de Liquidação e Custó-dia (Selic), que expressa a média pondera-da calculada pelo volume dos negócios fi-nanciados no dia, ou seja, pelas vendas de títulos públicos realizadas pelo governo e pelos resgates realizados pelos comprado-res. Segundo o professor de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA - RP/USP), Alexandre Assaf Neto, esses títulos são emitidos pelo governo e podem ser comprados por qualquer pessoa. “Os títulos emitidos servem para controlar a quantidade de capital que circula na econo-mia, rendendo certa taxa de juros que será definida pelo comprador no ato da aquisi-ção”, conclui.

Já Balian, professor de macroeconomia, esclarece que todos os títulos têm um pra-zo. “O Banco Central vende um documento por R$ 1 mil por um ano, por exemplo, e no final há um resgate desse valor mais os juros. Este é um empréstimo com a socieda-de.” O BC fornece ao mercado a tendência da política monetária: se a instituição coloca mais dinheiro no mercado, a Selic vai baixar e haverá mais dinheiro para se emprestar.

REPORTAGEM fernanda jacob, paula lopes (1o ano de jornalismo) e daniele pechi (3o ano de jornalismo)IMAGEM andressa carrara (2o ano de relações públicas)

financeiro desvendar alguns termos econômicos pode tornar o entendimento da política monetária nacional mais fácil do que parece

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relAÇõeS INterNAcIONAIS A taxa de câmbio é definida como quantidade de

entendao sistema

moeda nacional necessária para que se pos-sa adquirir mesmo valor da moeda estran-geira. Ela é uma padronização, pois é calcu-lada por meio da comparação entre todas as moedas. “A taxa de câmbio varia. Conforme tem mais oferta de dólares no país, a taxa cai, se a saída é maior que a entrada, a taxa sobe. Todos os dias acontecem importações e exportações, então todo dia esta taxa osci-la”, esclarece Balian.

Os investimentos estrangeiros são mui-to importantes e possuem influência direta na taxa de câmbio. No período atual, em que o mundo passa por uma grande crise finan-ceira, a taxa subiu em decorrência da reti-rada de dólares do mercado feita por esses investidores, que tiraram dinheiro da econo-mia nacional para injetá-lo na economia de seu país de origem. Há menos quantidade de dólares disponíveis em nosso mercado do que quando o dólar valia praticamente mesmo que o real. “O dólar vale mais que o real pois é a moeda que reflete a mais rica e equilibrada economia do mundo”, afirma o professor Alexandre Assaf Neto.

De acordo com Balian, o Banco Central, representado na figura de seu presidente, Henrique Meirelles, é o guardião da moeda. “O Presidente do BC cuida da inflação, ele recebe uma meta, com dois pontos de va-riação para cima ou para baixo, e por isso deve trabalhar com o volume de moeda para alcançá-la”, afirma Balian. O cumprimento dessa meta é muito importante, pois a par-tir dela, os investidores internacionais per-

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esQuiNas 1º seMesTre 2009 19

Sede do Banco Central em São Paulo, na Avenida Paulista

COnSERvAçãO dAS nOTAS

cebem que países têm controle sobre suas economias e, assim, são lugares seguros para investimento. Vale lembrar ainda que, com a entrada de capital estrangeiro, a taxa de câmbio é reduzida, favorecendo, dessa maneira, as importações.

Enquanto o guardião da moeda desem-penha seu papel, o ministro da Fazenda deve ter como prioridade o desenvolvimen-to econômico e social do país, a melhoria da qualidade de vida e da renda da população e a eficiência produtiva. “O presidente do BC é a autoridade política monetária, ele tem autoridade sobre as finanças em termos do seu controle e da fiscalização dos bancos. O objetivo do Meirelles é a inflação, através de juros e de crédito; a competência dele está restrita ao Sistema Financeiro Nacional e mais nada. O ministro da Fazenda cuida da economia do país, em todos os aspectos”, elucida o professor Assaf.

Através do sistema financeiro, o governo ajuda o país a crescer, incentivar ou reduzir a demanda. Isso ocorre através dos emprés-timos feitos em dinheiro diretamente para os bancos. “Recentemente, por causa dessa crise, o Banco Central liberou o compulsório dos bancos, pra o banco ter mais dinheiro em caixa, e dessa maneira, poder emprestar mais dinheiro para as pessoas, aumentando a circulação de capital”, explica Assaf. Cerca de 80% desses empréstimos são feitos por meio de crédito, e eles são fundamentais para a atividade financeira nacional. “Se o país tem um alto índice de inflação, esfria a

demanda por produtos e as indústrias ven-dem menos. Isso resulta em estoques para-dos e baixa dos preços, ou seja, prejuízo”, explica o professor Balian.

As atribuições do Banco Central e as do governo executivo brasileiro são separadas por uma linha tênue, pois a autonomia do Bacen não é regulamentada por lei. “O Banco Central tem um objetivo, que muitas vezes não é o mesmo do governo: controlar a in-flação, os meios de pagamento e dar incum-bência ao sistema. Muitas vezes tudo isso pode segurar o crescimento da economia, e desse modo as metas do BC vêm de encon-tro com as do governo”, comenta Assaf. “Se o BC não tiver autonomia, o executivo deter-mina metas que ele é obrigado a cumprir; se ele tiver autonomia, pode aumentar ou diminuir juros da maneira que lhe convir. Será independente e não precisará seguir as ordens do governo federal”. Como esta independência entre os dois poderes – eco-nômico e financeiro – não é clara, as duas instituições trabalham e dialogam juntas, esforçando-se para criar uma política que beneficie ambas as partes.

emISSÃO de mOedA O Banco Central detem ainda o monopólio de emissão de moedas e deve zelar por sua estabilidade, mantendo o seu poder de compra. “O preço de se emitir uma moeda é o preço da maté-ria, ou seja, o preço do papel. Já a quanti-dade de moeda que se emite é calculada a partir da política monetária vigente”, decla-ra Assaf. O controle sobre a evolução dos

TariMa MarQues e pedro saMora

(1º ano de Jornalismo)

meios de pagamento implica o controle ou a regulação do crédito.

de acordo com Luiz ernani, Chefe adjunto do departamento do Meio Circulante do BancoCentral, 17% das notas circulantes atualmente estão degradadas e devem ser retiradas do mercado. “É uma reposição necessária, o papel tem sua vida útil e seu desgaste natural”, diz. estima-se que o número de notas deterioradas todo ano é de cerca de r$ 1,6 bilhão.as principais condições para que se substitua uma nota são: rabiscos, manchas e cortes. “ascédulas podem ser substituídas nos bancos, que aceitam essa troca desde que o caixa tenha segurança de que a cédula é legítima”, afirma Luiz ernani. além disso, não são reembolsadas aquelas que possuem menos da metade do seu tamanho original. a previsão do Banco Central para o ano de 2009 é de que se gaste r$ 250 milhões no processo de substituição das cédulas. o cidadão deve colaborar cuidando bem do seu dinheiro, tanto no que diz respeito ao modo de gastá-lo quanto no manuseamento das notas. ”É importante que as pessoas saibam que esses danos antecipam a vida útil da cédula e representam um desperdício para a sociedade”, conclui ernani.

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FINANÇAS

O sistema financeirO é um conjunto de instituições que geram a política monetária do país. É responsável por manter o fluxo de dinheiro entre poupadores e investido-res. “A rigor, você tem de um lado pessoas e empresas com sobra de dinheiro e de outro com falta. O sistema faz um meio de campo. Quem tem sobra, aplica, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, e quem tem falta pega emprestado”, explica José Eduardo Balian, professor de macroeconomia da Escola Su-perior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O Sistema Financeiro nacional é forma-do por conselhos, sendo que o principal é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que estabelece o rumo da política monetária, cambial e de créditos, e fiscaliza o funcio-namento das instituições financeiras em todo o país. Atualmente, tem como presi-dente Guido Mantega, ministro da Fazen-da. O principal órgão do sistema é o Banco Central do Brasil (Bacen), que controla as políticas monetárias e cambial, e garante a estabilidade do sistema financeiro.

O FAmOSO BANcO ceNtrAl A políti-ca monetária é a função que define o sentido mais amplo do Bacen e aquela que, em últi-ma instância, articula as demais. A principal função consiste em adequar as transações monetárias a real capacidade da economia e absorver recursos sem causar desequilí-brios nos preços.

Ele é o principal banco do Brasil, e pode emprestar dinheiro somente para bancos. Sua função é atingir uma meta de inflação,

que hoje é 4,5% ao ano, podendo variar de 3,5% até 5,5%. Seu instrumento para regular o volume de moeda é controlar a taxa cam-bial, centralizando as operações de câmbio, ora vendendo, ora comprando dólares.

Além disso, ele define a taxa que define o Sistema Especial de Liquidação e Custó-dia (Selic), que expressa a média pondera-da calculada pelo volume dos negócios fi-nanciados no dia, ou seja, pelas vendas de títulos públicos realizadas pelo governo e pelos resgates realizados pelos comprado-res. Segundo o professor de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA - RP/USP), Alexandre Assaf Neto, esses títulos são emitidos pelo governo e podem ser comprados por qualquer pessoa. “Os títulos emitidos servem para controlar a quantidade de capital que circula na econo-mia, rendendo certa taxa de juros que será definida pelo comprador no ato da aquisi-ção”, conclui.

Já Balian, professor de macroeconomia, esclarece que todos os títulos têm um pra-zo. “O Banco Central vende um documento por R$ 1 mil por um ano, por exemplo, e no final há um resgate desse valor mais os juros. Este é um empréstimo com a socieda-de.” O BC fornece ao mercado a tendência da política monetária: se a instituição coloca mais dinheiro no mercado, a Selic vai baixar e haverá mais dinheiro para se emprestar.

REPORTAGEM fernanda jacob, paula lopes (1o ano de jornalismo) e daniele pechi (3o ano de jornalismo)IMAGEM andressa carrara (2o ano de relações públicas)

financeiro desvendar alguns termos econômicos pode tornar o entendimento da política monetária nacional mais fácil do que parece

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relAÇõeS INterNAcIONAIS A taxa de câmbio é definida como quantidade de

entendao sistema

moeda nacional necessária para que se pos-sa adquirir mesmo valor da moeda estran-geira. Ela é uma padronização, pois é calcu-lada por meio da comparação entre todas as moedas. “A taxa de câmbio varia. Conforme tem mais oferta de dólares no país, a taxa cai, se a saída é maior que a entrada, a taxa sobe. Todos os dias acontecem importações e exportações, então todo dia esta taxa osci-la”, esclarece Balian.

Os investimentos estrangeiros são mui-to importantes e possuem influência direta na taxa de câmbio. No período atual, em que o mundo passa por uma grande crise finan-ceira, a taxa subiu em decorrência da reti-rada de dólares do mercado feita por esses investidores, que tiraram dinheiro da econo-mia nacional para injetá-lo na economia de seu país de origem. Há menos quantidade de dólares disponíveis em nosso mercado do que quando o dólar valia praticamente mesmo que o real. “O dólar vale mais que o real pois é a moeda que reflete a mais rica e equilibrada economia do mundo”, afirma o professor Alexandre Assaf Neto.

De acordo com Balian, o Banco Central, representado na figura de seu presidente, Henrique Meirelles, é o guardião da moeda. “O Presidente do BC cuida da inflação, ele recebe uma meta, com dois pontos de va-riação para cima ou para baixo, e por isso deve trabalhar com o volume de moeda para alcançá-la”, afirma Balian. O cumprimento dessa meta é muito importante, pois a par-tir dela, os investidores internacionais per-

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esQuiNas 1º seMesTre 2009 19

Sede do Banco Central em São Paulo, na Avenida Paulista

COnSERvAçãO dAS nOTAS

cebem que países têm controle sobre suas economias e, assim, são lugares seguros para investimento. Vale lembrar ainda que, com a entrada de capital estrangeiro, a taxa de câmbio é reduzida, favorecendo, dessa maneira, as importações.

Enquanto o guardião da moeda desem-penha seu papel, o ministro da Fazenda deve ter como prioridade o desenvolvimen-to econômico e social do país, a melhoria da qualidade de vida e da renda da população e a eficiência produtiva. “O presidente do BC é a autoridade política monetária, ele tem autoridade sobre as finanças em termos do seu controle e da fiscalização dos bancos. O objetivo do Meirelles é a inflação, através de juros e de crédito; a competência dele está restrita ao Sistema Financeiro Nacional e mais nada. O ministro da Fazenda cuida da economia do país, em todos os aspectos”, elucida o professor Assaf.

Através do sistema financeiro, o governo ajuda o país a crescer, incentivar ou reduzir a demanda. Isso ocorre através dos emprés-timos feitos em dinheiro diretamente para os bancos. “Recentemente, por causa dessa crise, o Banco Central liberou o compulsório dos bancos, pra o banco ter mais dinheiro em caixa, e dessa maneira, poder emprestar mais dinheiro para as pessoas, aumentando a circulação de capital”, explica Assaf. Cerca de 80% desses empréstimos são feitos por meio de crédito, e eles são fundamentais para a atividade financeira nacional. “Se o país tem um alto índice de inflação, esfria a

demanda por produtos e as indústrias ven-dem menos. Isso resulta em estoques para-dos e baixa dos preços, ou seja, prejuízo”, explica o professor Balian.

As atribuições do Banco Central e as do governo executivo brasileiro são separadas por uma linha tênue, pois a autonomia do Bacen não é regulamentada por lei. “O Banco Central tem um objetivo, que muitas vezes não é o mesmo do governo: controlar a in-flação, os meios de pagamento e dar incum-bência ao sistema. Muitas vezes tudo isso pode segurar o crescimento da economia, e desse modo as metas do BC vêm de encon-tro com as do governo”, comenta Assaf. “Se o BC não tiver autonomia, o executivo deter-mina metas que ele é obrigado a cumprir; se ele tiver autonomia, pode aumentar ou diminuir juros da maneira que lhe convir. Será independente e não precisará seguir as ordens do governo federal”. Como esta independência entre os dois poderes – eco-nômico e financeiro – não é clara, as duas instituições trabalham e dialogam juntas, esforçando-se para criar uma política que beneficie ambas as partes.

emISSÃO de mOedA O Banco Central detem ainda o monopólio de emissão de moedas e deve zelar por sua estabilidade, mantendo o seu poder de compra. “O preço de se emitir uma moeda é o preço da maté-ria, ou seja, o preço do papel. Já a quanti-dade de moeda que se emite é calculada a partir da política monetária vigente”, decla-ra Assaf. O controle sobre a evolução dos

TariMa MarQues e pedro saMora

(1º ano de Jornalismo)

meios de pagamento implica o controle ou a regulação do crédito.

de acordo com Luiz ernani, Chefe adjunto do departamento do Meio Circulante do BancoCentral, 17% das notas circulantes atualmente estão degradadas e devem ser retiradas do mercado. “É uma reposição necessária, o papel tem sua vida útil e seu desgaste natural”, diz. estima-se que o número de notas deterioradas todo ano é de cerca de r$ 1,6 bilhão.as principais condições para que se substitua uma nota são: rabiscos, manchas e cortes. “ascédulas podem ser substituídas nos bancos, que aceitam essa troca desde que o caixa tenha segurança de que a cédula é legítima”, afirma Luiz ernani. além disso, não são reembolsadas aquelas que possuem menos da metade do seu tamanho original. a previsão do Banco Central para o ano de 2009 é de que se gaste r$ 250 milhões no processo de substituição das cédulas. o cidadão deve colaborar cuidando bem do seu dinheiro, tanto no que diz respeito ao modo de gastá-lo quanto no manuseamento das notas. ”É importante que as pessoas saibam que esses danos antecipam a vida útil da cédula e representam um desperdício para a sociedade”, conclui ernani.

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O Real traz em suas cédulas a história, a fauna e a flora do país. E, claro, muitos detalhes para evitar a falsificaçãoREPORTAGEM BRunO POdOlski, FEliPE Tacla e HEiTOR augusTO (1o ano de Jornalismo)

DESIGN

Desconstruindo

20 EsQuinas 1º sEMEsTRE 2009

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“A notA deve conter elementos de iden-tidade nacional”, explica Keiko Mármore da Silva, analista do Banco Central. Mas quais são os símbolos presentes nas cédulas que circulam hoje em dia?

O Real (veja ao lado) herdou alguns elementos das cifras que circularam no passado. A efígie da República e as armas nacionais, por exemplo, estão presentes no dinheiro brasileiro desde a Proclamação da República em 1889. Além da atual figura da efígie, que já existia na nota de 200 cruza-dos novos, de 1989, o beija-flor, da extinta nota de um real, estava na cédula de 100 mil cruzeiros, de 1992. Animais, como a tar-taruga-marinha e a onça-pintada, também tinham sido temas das moedas de 500 cru-zeiros e 50 cruzeiros-reais, respectivamen-te, em 1992 e 1993.

Em menos de trinta anos, o Brasil trocou de moedas seis vezes até chegar ao Real, que circula há 15 anos no país desde sua implantação, em 1994, pelo, então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. A inflação era o maior inimigo das moedas an-teriores, o que acarretava na troca contínua de valores monetários (veja infográfico abai-xo). “O Real foi feito em cerca de seis meses. Geralmente o processo de criação de notas leva mais de cinco anos”, conta João Sidney Figueiredo Filho, chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central.

De acordo com Figueiredo, a questão do tempo influenciou a preparação do Real. A “reciclagem” de imagens, o anverso igual e as dimensões padrões são consequências do curto prazo estabelecido para o lança-mento. Utilizar imagens de animais no lugar de personalidades também foi uma forma de ganhar tempo. Estampar personalidades, como Machado de Assis e Oswaldo Cruz, necessitaria da autorização dos parentes e de um trâmite legal que não se resolveria rápido. O uso da fauna nacional no dinhei-ro descomplicou esse assunto. A escolha apenas de animais para todas as cédulas também diferenciou o Real das moedas an-teriores. Nas notas mais recentes, a escolha da Tartaruga-de-pente (R$ 2) e do Mico-leão Dourado (R$ 20) foram resultado de uma pesquisa pública.

E quem pensa que todas as cédulas em circulação são idênticas, engana-se. Por motivos de segurança, algumas notas, de mesmo valor, podem apresentar pequenas diferenças. Por exemplo, as mais antigas de R$ 5 e R$ 10, a marca d’água é a imagem da efígie da República e as mais recentes é Bandeira Nacional.

Para NINGuém vEr Receber o troco é complicado para quem não enxerga. O Banco Central imprime nas notas do Real, no canto inferior esquerdo do anverso, uma marca tátil para pessoas cegas (veja ao lado

Impressões em alto relevo). No entanto, as marcas vão se desgastando e perdendo o re-levo, o que torna a identificação delas ainda mais difícil para quem tem diabetes, porque a doença diminui a sensibilidade ao tato.

“O Banco Central procurou aumentar essa marca nas notas de R$ 2 e de R$ 20, mas continua difícil de perceber. Desde 2001, a instituição mantém contato com deficientes visuais buscando formas de melhorar isso”, diz Regina Fátima Caldeira de Oliveira, su-pervisora de revisão da Fundação Dorina Nowill e deficiente visual. A principal pro-posta é diferenciar as medidas das cédulas e então reconhecê-las pelos tamanhos distin-tos, como são as notas de euro.

O professor de história Ciro de Moura Ramos enxerga 80% abaixo do normal, mes-mo com óculos. Ele não usa o tato para dis-tinguir o dinheiro, “eu percebo a nota pela cor”, explica. As cores, assim como a tarja brilhante da nota de R$ 20, auxiliam quem possui deficiência de visão. Contudo, há pessoas que não têm como diferenciar pela cor. “O que a gente faz? Cada um encontra sua forma”, explica Regina Fátima Caldeira de Oliveira. “Eu divido as notas nos quatro compartimentos da carteira e dobro as cé-dulas que ficam no mesmo bolso, como as de R$ 50 e R$ 100. Nunca tive problemas, mas quando faço compra e recebo o troco, tenho que confiar”, conclui.

Os Florins e os soldos foram as primeiras moedas a circular com o nome “Brasil”.

com a criação da casa da Moeda, o dinheiro começa a ser fabricado no país.

Pataca: foi a que circulou por mais tempo no Brasil, trocada em 1834 pelo cruzado.

cunhagem das primeiras moedas com a efíge da República.

1630 -1654 1695-18891694 1889-1918

as notas

LinhA dO TEMPO: dA PRiMEiRA MOEdA, cOM O nOME “bRAsiL”, AO REAL

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EsQuInas 1º sEMEsTRE 2009 21

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MARcAs visívEis Ou quAsE invisívEis

Exposta à luz ultravioleta, a cédula apresenta pequenas fibras de cor lilás espalhadas pelo papel que garantem sua autenticidade.

FIBraS LumINESCENTES

Em tamanho minúsculo, as letras “B” e “C” foram impressas dentro do valor da nota. Elas podem ser vistas com o auxílio de uma lente de aumento.

Estão nos relevos de tinta na efígie, na imagem do animal, nas legendas “Reais” e “Banco Central do Brasil”. amesma técnica também é aplicada à marca tátil (imagem).

ImPrESSõES EmaLTo rELEvo

mICroImPrESSõES (1)

marCa D’áGua (2)Contra a luz, enxergar-se ou desenho da Efígie da República, ou a Bandeira nacional. na nota de R$ 2 a figura é a Tartaruga-Marinha; e na de R$ 20, o Mico-leão dourado.

FIBraS CoLorIDaSsão fios vermelhos, azuis ou verdes espalhados em ambos os lados da cédula.

FIo DE SEGuraNçaum fio magnético vertical colocado próximo ao centro, ele permite a leitura por equipamentos eletrônicos de contagem

FaIxa hoLoGráFICaExclusiva da nota de R$ 20, a faixa laminada tem imagens do número 20 e do Mico-leão dourado. dolado direito, há a inscrição “Banco Central do Brasil”.

ChaNCELaSas assinaturas do ministro da fazenda e o presidente do Banco Central, impressas no canto inferior direito.

NumEraçãoCada cédula apresenta uma com-binação única de letras e números formando o número de série.

Contra a luz, as imagens das armas nacionais no anverso e no reverso combinam-se numa única figura.

rEGISTro CoINCIDENTE

Cruzeiro: uniformizou os 56 tipos de Réis, que circulavam no país desde 1695.

O Real acabou com as trocas constantes de padrões monetários

Cruzeiro novo, Cruzeiro, Cruzado, Cruzado novo, Cruzeiro e Cruzeiro Real. Com rápidas trocas, as notas eram carimbadas para especificar o valor vigente

O Tostão foi criado para facilitar o troco

1994 - hoje$ 1918-1935 1942-1967 1967-1994

nas notas há vários símbolos de identificação nacional, como animais de nossa fauna e marca d’água com nossa bandeita. E para evitar a falsificação, existem várias marcas de segurança, sendo algumas delas visíveis a olho nú, e outras apenas com a ajuda de luz ou lupa.

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esportes

75 anos de O SãO PaulO é hexacampeão brasileiro, o Corinthians tem a maior torcida do Estado e conta agora com o ídolo Ronaldo. Moti-vos parecem não faltar para que esses dois grandes clubes brasileiros consigam vender espaços publicitários por altos montantes. Porém, com a crise econômica, que ameaça atingir também os gramados, outra realida-de se mostrou presente: alguns patrocina-dores passaram a oferecer valores abaixo do esperado pelas equipes.

Aproveitando a boa fase do time em campo e, consequentemente, o fortaleci-mento da marca, diretores são-paulinos chegaram a oferecer no começo de 2009 o espaço publicitário na camiseta do seu uniforme por R$ 30 milhões para o peito e costas, e mais R$ 15 milhões para as man-gas. Porém, de acordo com o supervisor de marketing do São Paulo, Bruno Aventurado, o valor do contrato fechado pelo clube neste ano foi bem abaixo do esperado.

“Fechamos pela metade do que preten-díamos. Não está fácil”, lamenta o dirigen-te, que por determinação do clube, não tem permissão para informar valores. O São Pau-lo, após negociar com diversas companhias, renovou para este ano o contrato de publici-dade na camisa com a empresa de eletrôni-

cos sul-coreana LG. Segundo informações do site especia-

lizado em marketing esportivo, Máquina do Esporte (www.maquinadoesporte.uol.br), mesmo com a crise, os valores totais do Tricolor, incluindo patrocínio na camisa de futebol, passaram de R$ 16 milhões em 2008 para R$ 18 milhões este ano, recorde no mercado brasileiro até então, mas era es-perado muito mais. “O São Paulo costuma nivelar os patrocínios. Todos os grandes fe-charam na mesma base. Renovamos o con-trato com a LG mesmo com o valor abaixo do esperado porque não poderíamos ficar mais de três meses sem patrocínio”, expli-ca Aventurato, que viu, dias após o acerto do São Paulo com a LG, o Palmeiras assinar contrato com a também sul-coreana Sam-sung para o peito da camisa e com a Suvinil para as mangas.

outras preocupações Os números totais da negociação do Verdão, de acordo com o Máquina do Esporte, giram em tor-no de R$ 15 milhões. “Os patrocínios foram celebrados, no caso da Samsung, com va-lores muito superiores aos que a gente ti-nha anteriormente”, orgulha-se o diretor de marketing palmeirense, Rogério Dezembro, que, ao contrário do dirigente são-paulino,

Com medo de ser mais um alvo da crise, o esporte mais popular do mundo está em alerta

REPORTAGEM ESTELA SUGANUMA (1o ano de Jornalismo), LUIZ FELIPE DA SILVA e RUBENS NOGUEIRA (3o ano de Jornalismo)

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Incerteza nos gramados

Em 2009, o São Paulo conseguiu R$ 18 milhões de patrocínio. Mas era esperado muito mais

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rechaçou qualquer influência da crise nas negociações. “A gente tem uma receita este ano de patrocínio que é superior aos dos úl-timos anos. Nós não sofremos efetivamente com nenhum efeito da crise”. Mesmo assim, o dirigente ainda se mostra preocupado com os estragos que a crise pode vir a cau-sar. “Talvez a gente venha a sentir a crise na diminuição de possibilidade de venda de jo-gador para o exterior. Se a crise lá está gra-ve, fatalmente isso terá impacto nas receitas dos clubes brasileiros”, ponderou.

Se o Palmeiras ainda não sofre com os efeitos da crise mundial, não se pode dizer o mesmo de outro grande time paulista, o Corinthians. Segundo os dirigentes, de volta à primeira divisão do futebol brasileiro (dis-putou e venceu a Série B em 2008), o clube – que tem como aliada a força de marketing do ídolo Ronaldo –, seria capaz de impulsio-nar a marca corintiana a níveis dos maiores times da Europa. Chegou a ser inclusive di-vulgado nos principais jornais sobre espor-tes de São Paulo que a equipe havia negocia-do com empresas árabes por um valor de US$ 30 milhões.

No entanto, em março deste ano, o time anunciou acerto de contrato com a marca de laticínios Batavo (que já patrocinou a equipe nos anos de 1999 e 2000) por R$ 18 milhões até o fim da temporada. O departamento de marketing do clube se limitou a dizer que, ainda que sendo um valor abaixo do espera-do, foi um bom negócio, visto que os espaços nas mangas e calções ainda estão livres para serem negociados, mesmo que, no momen-to, qualquer valor negociado nestes espaços

teria que ser divido com o atacante Ronaldo. O jogador, por conta de seu contrato, tem liberdade para negociar os espaços da man-ga e calções do uniforme corintiano e ainda receber 80% do valor total.

Felizmente, as equipes menores sofrem menos com a crise. “Na Portuguesa, inter-fere em menor escala. Os investidores bus-cam distribuição e parceria comercial e não tanto exposição na mídia, como nos times grandes, e isso geralmente é difícil de ser cortado numa empresa, mesmo em tempos de crise”, explica o gerente de marketing da equipe, Fabio Porto.

o cofre dos clubes Apesar dos al-tos valores que envolvem os patrocínios nas camisas dos clubes de futebol, os dirigen-tes garantem que a maior parte das receitas ainda resultam da venda de atletas para as equipes da Europa. “O jogador com poten-cial de venda para o exterior recebe um sa-lário alto. Tanto que a multa que você esta-belece para poder negociar esse jogador na Europa é um múltiplo do salário dele. Ele, se não for comercializado, fatalmente terá um impacto financeiro”, esclareceu o palmei-rense Rogério Dezembro.

O dinheiro que entra nos cofres palmei-renses provindos do patrocínio da Samsung representa 23% da receita total. “As outras

grandes matrizes são direitos de TV, bilhe-teria, manutenção do clube social, prêmios pagos pelas federações e, eventualmente, a venda de jogadores”, garante o diretor de marketing alviverde. Já no Corinthians, de acordo com o planejamento financeiro para o ano de 2009 divulgado pelo clube, o pa-trocínio da camiseta, calção e fornecedor esportivo (Nike) pretende chegar ao valor de R$ 27 milhões, o que representaria um quarto da receita total do clube.

Outro fator importante para o rendi-mento financeiro de um clube é sua atuação dentro de campo. A Portuguesa sabe que o rebaixamento para a Série B do Campeona-to Brasileiro em 2008 teve um impacto no valor da camisa. “O rebaixamento sempre interfere no patrocínio, mas nem tanto, por-que nosso perfil é diferente dos clubes gran-des. Interfere nas cotas de TV, na exposição do time e mais nas receitas diretas”, explica o dirigente lusitano.

Cada vez mais profissional, o futebol consegue reinventar maneiras de manter sua saúde financeira. As principais razões para isso, no entanto, ainda são determina-das por fatores acompanham o futebol bra-sileiro desde sempre: o talento do jogador nacional e a inexplicável paixão do torcedor pelo seu time de coração.

“Não está fácil”, afirma Aventurado, supervisor de marketing do São PauloIncerteza nos gramados

O Corinthians ainda espera patrocínio para o calção e as mangas

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Com o valor simbólico, pode-se apostar nas corridas de cavalo do Jockey Club que funciona há 134 anos em São Paulo

REPORTAGEM NARLIR GALVÃO (1o ano de Jornalismo) IMAGEM RAFAEL DE QUEIROZ (3o ano de Jornalismo)

APOSTA

Por apenasDirigir-se ao guichê, escolher a modali-dade de aposta, o número do animal e tor-cer para que o cavalo escolhido vença. De acordo com Thaís Fernandes de Almeida, auxiliar de apostas do Jokey Club, esses são os primeiros passos para jogar. “Eu sempre incentivo os apostadores a verem os cavalos antes no cânter [galoperealizado pelo animal antes do páreo, para demonstrar seu estado físico]”, conta Thaís. Ela explica as modalidades de aposta, que variam do Placê à Exata (veja box), e dá algu-mas dicas e instruções. As apostas também podem ser realizadas na internet, através do site do Jockey; nas agências de aposta; e pelo telefone, o cha-mado “TeleJockey”. OS APOSTAdOreS “É difícil não viciar. O esporte é legal e o ambiente bem agradável”, afirma Fernando Luiz Oliveira Neto, aposta-dor de corridas de cavalo há 33 anos. “Perdi um monte de coisas, até carro e salário do mês em um dia”, lamenta. Mesmo assim, ele já chegou a obter grandes quantias de di-nheiro que vieram depois de muito tempo apostando. “Já acertei várias vezes, já ga-nhei R$ 15 mil”, conta.

A grande maioria dos apostadores é composta por um público mais velho. O em-presário José D’Elia, por exemplo, tem 80 anos e freqüenta o Jockey desde 1946. “Eu venho porque eu gosto do espetáculo”, diz. Ele lembra que já viu muitos apostadores

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sábado e domingo, a partir das 13h45 e na segunda-feira, a partir das 18h15. Cada corrida é dividida em páreos (geralmente ocorrem dez por dia), ou seja, corridas dis-putadas entre sete a nove cavalos. O tempo de intervalo entre um páreo e outro é de 35 minutos. Muitas vezes, na sexta-feira, há o simulcasting, que consiste na realização de apostas de acordo com a transmissão pela televisão das corridas que estão acontecen-do em outros Jockeys.

PrOTAgOniSTAS dAS cOrridAS O Jockey conta com cerca de 1500 animais puro-sangue inglês de corrida, além de 500 cavalos que auxiliam na formação de pro-gramas de corrida, chamados popularmen-te de pungas. Esses cavalos vêm das regiões sul e sudeste do Brasil e, ao completarem dois anos de idade, são encaminhados ao Jockey Club, onde serão treinados para as disputas. Isso é o que explica o treinador José Luiz Aranha.

Eles também são tratados diariamente pelos cavalariços, reponsáveis por alimen-tar, escovar e tratar dos animais. “Vida de cavalariço é complicada!”, exclama Getúlio Furtado, que está na profissão há mais de 30 anos. Ele chega às cinco horas da manhã na Vila Hípica, quando há a abertura da pis-ta e os corredores saem das cocheiras, para levá-los para correr até às 9h30. Daí em diante, passa o resto da manhã tratando e escovando os cavalos para que, das 14h às

17h, ocorra o passeio dos animais na Vila Hípica. Ao término, Getúlio prepara os ani-mais para descansarem.

sofrendo do mesmo problema de Fernando Luiz Oliveira Neto: “De corrida de cavalo, tem gente que se arruinou”.

Já a designer Bianca Pulice, 27, e o em-presário Francesco Fiuscuni, 29, vão toda segunda-feira ao Jockey Club. Geralmente, eles apostam dois reais por páreo, cerca de R$ 20 durante toda a noite. Lembram de um dia em que ganharam R$ 140 apostando no azarão Mete Medo.

FALTA de PÚBLicO Ao longo desses 134 anos de existência do Jockey Club, o nú-mero de apostadores diminuiu muito. Com a popularização dos jogos de azar, muitos adeptos trocaram de jogo. De acordo com Carlos Henrique Pádua, 58, que freqüenta o estabelecimento há 40 anos, “na lotérica, com R$ 10 você pode ganhar R$ 1 milhão. Aqui, você joga R$ 100 para ganhar R$ 300. É um jogo caro e não tem retorno”.

Na visão de Eliane Mendes Garcia, 46, que foi funcionária do Jockey Club por 15 anos no setor de informações, o problema é a falta de marketing. “Agora tem mais es-trutura, mas falta divulgação”, explica. Hoje em dia, ela vai ao Jockey apenas passear e não aposta como nos tempos em que traba-lhava no local.“Na época em que trabalhava no Jockey, eu deixava o meu salário para a aposta”, confessa.

de gALOPe em gALOPe Seja como for, as corridas continuam acontecendo toda semana. Elas são realizadas nas tardes de

Vencedor: aposta direta no número do cavalo vencedor.Placê: aposta em um cavalo, valendo se o mesmo chegar em primeiro ou segundo lugar.Dupla: aposta em dois cavalos, que devem estar no primeiro e segundo lugar independente da ordem.Exata: aposta nos números dos cavalos dos dois primeiros colocados na ordem exata de chegada.Acumulada: união de duas ou mais indicações de vencedor, placê, dupla e exata em páreos diferentes.Pick 3: acumulada de vencedor com três indicações, que podem acontecer nos dois primeiros páreos da noite ou efetuadas nos três últimos páreos.Pick 8: aposta nos oito últimos vencedores do dia.Fast 6: aposta nos seis últimos vencedores, sendo que os três primeiros são de páreos realizados na Cidade Jardim (SP) e os três últimos na Gávea (RJ).Bettings 5: acertar as últimas cinco exatas da programação.Trifeta: acertar os três primeiros colocados na ordem correta.Quadrifeta: acertar os quatro primeiros colocados na ordem correta.

PRIncIPAIs MODAlIDADEs DE APOsTA

no Jockey as competições acontecem três vezes por semana. E apostadores podem investir quanto de dinheiro quiserem

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Com o valor simbólico, pode-se apostar nas corridas de cavalo do Jockey Club que funciona há 134 anos em São Paulo

REPORTAGEM NARLIR GALVÃO (1o ano de Jornalismo) IMAGEM RAFAEL DE QUEIROZ (3o ano de Jornalismo)

APOSTA

Por apenasDirigir-se ao guichê, escolher a modali-dade de aposta, o número do animal e tor-cer para que o cavalo escolhido vença. De acordo com Thaís Fernandes de Almeida, auxiliar de apostas do Jokey Club, esses são os primeiros passos para jogar. “Eu sempre incentivo os apostadores a verem os cavalos antes no cânter [galoperealizado pelo animal antes do páreo, para demonstrar seu estado físico]”, conta Thaís. Ela explica as modalidades de aposta, que variam do Placê à Exata (veja box), e dá algu-mas dicas e instruções. As apostas também podem ser realizadas na internet, através do site do Jockey; nas agências de aposta; e pelo telefone, o cha-mado “TeleJockey”. OS APOSTAdOreS “É difícil não viciar. O esporte é legal e o ambiente bem agradável”, afirma Fernando Luiz Oliveira Neto, aposta-dor de corridas de cavalo há 33 anos. “Perdi um monte de coisas, até carro e salário do mês em um dia”, lamenta. Mesmo assim, ele já chegou a obter grandes quantias de di-nheiro que vieram depois de muito tempo apostando. “Já acertei várias vezes, já ga-nhei R$ 15 mil”, conta.

A grande maioria dos apostadores é composta por um público mais velho. O em-presário José D’Elia, por exemplo, tem 80 anos e freqüenta o Jockey desde 1946. “Eu venho porque eu gosto do espetáculo”, diz. Ele lembra que já viu muitos apostadores

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sábado e domingo, a partir das 13h45 e na segunda-feira, a partir das 18h15. Cada corrida é dividida em páreos (geralmente ocorrem dez por dia), ou seja, corridas dis-putadas entre sete a nove cavalos. O tempo de intervalo entre um páreo e outro é de 35 minutos. Muitas vezes, na sexta-feira, há o simulcasting, que consiste na realização de apostas de acordo com a transmissão pela televisão das corridas que estão acontecen-do em outros Jockeys.

PrOTAgOniSTAS dAS cOrridAS O Jockey conta com cerca de 1500 animais puro-sangue inglês de corrida, além de 500 cavalos que auxiliam na formação de pro-gramas de corrida, chamados popularmen-te de pungas. Esses cavalos vêm das regiões sul e sudeste do Brasil e, ao completarem dois anos de idade, são encaminhados ao Jockey Club, onde serão treinados para as disputas. Isso é o que explica o treinador José Luiz Aranha.

Eles também são tratados diariamente pelos cavalariços, reponsáveis por alimen-tar, escovar e tratar dos animais. “Vida de cavalariço é complicada!”, exclama Getúlio Furtado, que está na profissão há mais de 30 anos. Ele chega às cinco horas da manhã na Vila Hípica, quando há a abertura da pis-ta e os corredores saem das cocheiras, para levá-los para correr até às 9h30. Daí em diante, passa o resto da manhã tratando e escovando os cavalos para que, das 14h às

17h, ocorra o passeio dos animais na Vila Hípica. Ao término, Getúlio prepara os ani-mais para descansarem.

sofrendo do mesmo problema de Fernando Luiz Oliveira Neto: “De corrida de cavalo, tem gente que se arruinou”.

Já a designer Bianca Pulice, 27, e o em-presário Francesco Fiuscuni, 29, vão toda segunda-feira ao Jockey Club. Geralmente, eles apostam dois reais por páreo, cerca de R$ 20 durante toda a noite. Lembram de um dia em que ganharam R$ 140 apostando no azarão Mete Medo.

FALTA de PÚBLicO Ao longo desses 134 anos de existência do Jockey Club, o nú-mero de apostadores diminuiu muito. Com a popularização dos jogos de azar, muitos adeptos trocaram de jogo. De acordo com Carlos Henrique Pádua, 58, que freqüenta o estabelecimento há 40 anos, “na lotérica, com R$ 10 você pode ganhar R$ 1 milhão. Aqui, você joga R$ 100 para ganhar R$ 300. É um jogo caro e não tem retorno”.

Na visão de Eliane Mendes Garcia, 46, que foi funcionária do Jockey Club por 15 anos no setor de informações, o problema é a falta de marketing. “Agora tem mais es-trutura, mas falta divulgação”, explica. Hoje em dia, ela vai ao Jockey apenas passear e não aposta como nos tempos em que traba-lhava no local.“Na época em que trabalhava no Jockey, eu deixava o meu salário para a aposta”, confessa.

de gALOPe em gALOPe Seja como for, as corridas continuam acontecendo toda semana. Elas são realizadas nas tardes de

Vencedor: aposta direta no número do cavalo vencedor.Placê: aposta em um cavalo, valendo se o mesmo chegar em primeiro ou segundo lugar.Dupla: aposta em dois cavalos, que devem estar no primeiro e segundo lugar independente da ordem.Exata: aposta nos números dos cavalos dos dois primeiros colocados na ordem exata de chegada.Acumulada: união de duas ou mais indicações de vencedor, placê, dupla e exata em páreos diferentes.Pick 3: acumulada de vencedor com três indicações, que podem acontecer nos dois primeiros páreos da noite ou efetuadas nos três últimos páreos.Pick 8: aposta nos oito últimos vencedores do dia.Fast 6: aposta nos seis últimos vencedores, sendo que os três primeiros são de páreos realizados na Cidade Jardim (SP) e os três últimos na Gávea (RJ).Bettings 5: acertar as últimas cinco exatas da programação.Trifeta: acertar os três primeiros colocados na ordem correta.Quadrifeta: acertar os quatro primeiros colocados na ordem correta.

PRIncIPAIs MODAlIDADEs DE APOsTA

no Jockey as competições acontecem três vezes por semana. E apostadores podem investir quanto de dinheiro quiserem

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SORTE

26 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

Quem nunca sonhou em acordar milio-nário? O copeiro Roberto dos Santos, 35, tenta a sorte há cinco anos, mas ainda não chegou a sua vez. “Comecei a apostar por esporte mesmo. A gente joga porque tenta a sorte. Brasileiro é assim”, diz. Mas há bra-sileiros que tentam, ganham, e arranjam as mais estranhas técnicas para buscar o prê-mio. Em julho de 2008, por exemplo, segun-do a Caixa, um apostador de Minas Gerais demorou quase duas semanas para ir bus-car seu prêmio – R$ 26,5 milhões na Mega-Sena. Quando foi à agência da Caixa, levou o bilhete premiado escondido na meia.

O desejo de mudar de vida é o que leva milhares de pessoas às Casas Lotéricas para fazerem a famosa “fezinha”. Afinal, os jogos das loterias federais são as únicas modali-dades legais de aposta do país. Só em 2008, o montante arrecadado com a venda de apostas foi de R$ 5,7 bilhões, 10,5% maior do que em 2007 – só no estado de São Paulo a quantia chegou a quase R$ 2 bilhões.

VElhOS hábiTOS Mas esse não é um costume recente entre os brasileiros. A pri-meira loteria foi criada em 1784, em Vila Rica (hoje Ouro Preto, MG) para obter recur-sos para a construção do prédio da Câmara e da Cadeia. Segundo o livro A História das Loterias no Brasil, de Paulo Cesar Ribeiro, os bilhetes eram feitos de maneira artesanal e em duas vias: uma para o apostador e outra para ser sorteada. Esses eram dobrados e fe-chados em um tambor. Em outro tambor, gi-ravam papéis contendo o valor do prêmio.

A vinda da Corte Portuguesa ao Brasil, em 1808, fez com que as loterias se popula-rizassem. Mas a regulamentação dos jogos só veio em 1844, quando D. Pedro II, com um decreto, estabeleceu, por exemplo, reali-zação dos sorteios em um único dia.

De acordo com o livro A História das Lo-terias no Brasil, em 1961, o então presidente Jânio Quadros estava insatisfeito com os lu-cros dos concessionários, com denúncias de fraudes nos sorteios e por não haver maio-res benefícios para a população, a não ser para os que recebiam os prêmios. E por isso, passou a administração das loterias para a Caixa Econômica Federal.

Segundo Roberto Derziê de Sant’Anna,

superintendente de Loterias e Jogos da Caixa Econômica Federal, não é de responsabilida-de da Caixa a criação de jogos e suas regras. “Compete privativamente à União legislar sobre loterias”, explica. “A existência delas é precedida de Lei aprovada na Câmara Fe-deral. Essa Lei determina as características de cada modalidade”, completa Derziê.

FEzinha Hoje, de acordo com o Sindi-cato dos Comissários e Consignatários do Estado de São Paulo (Sincoesp), que repre-senta as casas lotéricas paulistas, há 2400 unidades espalhadas pelo estado, 910 só na capital. Mas são de poucas que saem clientes premiados, como o chef de cozinha Hélio Silva, 38, que já ganhou R$ 16 mil na Lotomania, apostada na casa lotérica Brasi-lândia, Zona Norte de São Paulo. “Jogo por-que quero mudar de vida”, afirma Hélio, que usou o dinheiro do prêmio para reformar a sua casa e a da mãe e continua jogando até hoje.

Segundo Maria Cândido, 52, funcioná-ria da lotérica Brasilândia há doze anos, “as pessoas vêm pagar conta, aproveitam e compram o jogo”. De acordto a Caixa, em agosto de 2008, um apostador de Santa Ca-tarina ganhou mais de R$ 14 milhões, com uma aposta na Mega-Sena comprada com o troco de uma conta.

Maria Cândido comenta que jogos, cujos prêmios estão acumulados, são os mais pro-curados, e após o fechamento dos bingos a procura aumentou. Ela mesma confessa ser adepta da fezinha: “Eu jogo direto. Já fiz a quadra da Mega-Sena umas seis vezes”. A Mega-Sena é a modalidade mais popular das loterias. O papel de aposta, também conhe-cido como volante, custa R$ 1,75 e dá ao apostador o direito de escolher seis deze-nas. Em 2008, foram realizadas mais de 136 milhões de apostas no jogo.

Parte do dinheiro arrecadado com as apostas é destinado a órgãos do governo e a projetos sociais. Em 2008, foram repassa-dos R$ 2,72 bilhões, 6% a mais em relação a 2007. “Esses repasses são importantes na medida em que constituem importante fonte de recurso para aplicação pelo Gover-no Federal em programas de cunho social”, afirma Roberto Derziê.

um miliOnáRiO ?REPORTAGEM FElIpE coRdEIRo, lUAN SoUzA e pAUlo pAchEco (1o ano de Jornalismo) IMAGEM pAUlo pAchEco (1º ano de Jornalismo)

Quem quer ser

Quartas-feiras e sábados, dias de sorteio da Mega-Sena, apostadores fazem fila nas lotéricas

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 27

O sonho de ficar rico da noite para o dia leva milhares de brasileiros a fazerem apostas nas loterias federais. E esse hábito vem de antes da chegada da Família Real ao Brasil.

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28 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

Dupla Sena (2001)Modo de jogar: acertar seis números das cinco dezenas. Há um segundo prêmio para quem acertar cinco ou quatro números. Arrecadação em 2008: R$ 204 milhões.Maior prêmio: R$ 11.443.167,80, em 04/02/2003.

Instantânea (“Raspadinha”) (1991)Modo de jogar: basta raspar o bilhete e torcer para que haja um prêmio.Arrecadação em 2008: R$ 122 milhões.Maior prêmio: R$ 100 mil, em 1997

Loteria Federal (1962 )Modo de jogar: os bilhetes, com séries de cinco números, são divididos em 10 frações que podem ser compradas juntas ou separadas. Ganha quem acertar o bilhete todo. Também são sorteados bilhetes com numeração aproximada ou invertida.Arrecadação em 2008: R$ 185,7 milhões. Maior prêmio: R$ 25 milhões, em 21/12/1996.

Lotogol (2002)Modo de Jogar: acertar três a cinco placares dos jogos de futebol disponíveis na cartela. Arrecadação em 2008: R$ 6,7 milhões. Maior prêmio: R$ 264.448,48, em 18/03/2002.

Lotomania (1999)Modo de Jogar: acertar de 16 a 20 números dos 50 apostados entre os 100 disponíveis. Arrecadação em 2008: R$ 457,6 milhões. Maior prêmio: R$ 7.210.352,79 em 13/11/2002.

EScOLhA O SEu

Loteca (Loteria Esportiva) (1969)Modo de Jogar: acertar os placares dos 14 jogos de futebol disponíveis na cartelaArrecadação em 2008: R$ 80,6 milhões. Maior prêmio: R$ 1.256.949,71, em 31/05/2004.

Lotofácil: (2003)Modo de Jogar: apostar 15 números dos 25 disponíveis na cartela. Arrecadação em 2008: R$ 1,46 bilhão. Maior prêmio: R$ 4.081.776,78, em 05/12/2005.

Mega-Sena (1996)Modo de jogar: acertar os seis números apostados dos 100 disponíveis.

Arrecadação em 2008: R$ 2,39 bilhões. Maior prêmio: R$ 64,9 milhões, em 10/10/1999.

Quina (1994)Modo de jogar: acertar cinco números apostados dos 80 disponíveis. Arrecadação em 2008: R$ 707 milhões. Maior prêmio: R$ 3.317.910,59, em 28/08/2008.

Timemania (2007)Modo de jogar: acertar de três a sete números dos 10 presentes na cartela ou descobrir qual o Time do Coração sorteado. Arrecadação em 2008: R$ 112, 6 milhõesMaior prêmio: R$ 7.818.108,56, em 15/06/2008

A Caixa disponibiliza 11 modalidades jogos para as pessoas tentarem a sorte. Saiba quais são elas:

Clique aqui e ganhe um milhão de reais. o tentador convite aparece muitas vezes na internet, seja por meio de spams ou propagandas em sites. Ao apresentar a chance de aumento de renda, tais anúncios acabam atraindo aqueles que não possuem conhecimento em segurança na internet. Segundo Bruno Gurgel, consultor de uma empresa de treinamento e consultoria em software livre, “90% dessas propostas não são confiáveis e o ideal é procurar empresas idôneas quando se quiser obter uma renda extra”. A internet, para o consultor, é um reflexo da sociedade e do conhecimento cultural de cada um. “Muitos querem desbravar os caminhos da web, mas outros desconhecem os perigos existentes nela”, diz.A assistente administrativa Marli Silva caiu no que ela considera “uma embromação”. Ao aceitar trabalhar em sua casa pela empresa Cintra & Rezende Recursos Humanos (também conhecida como STC – Sistema de Trabalho em Casa), pagou uma quantia de R$ 500, em cinco

meses. Esse valor era referente a apostilas que explicavam qual seria sua função, que consistia na divulgação dessa forma de trabalho para outras pessoas. Mas, segundo ela, as apostilas não “esclarecem absolutamente nada”. Agora, Marli está desempregada e acredita ter sido vítima de propaganda enganosa. Agora espera ser ressarcida após ter entrado com um processo no Juizado de pequenas Causas. Quando a empresa foi contatada pela equipe da ESQuINAS, a resposta obtida foi apenas um e-mail com propagandas a respeito do trabalho a ser realizado. Apesar da tentação gerada por essas mensagens, o bom senso é a principal medida que se deve ter para evitar prejuízos. Abrir e-mails desconhecidos, acreditar em trabalhos que exijam - antes de qualquer contato - valores a serem pagos, usar lan houses para efetuar transações financeiras, não são atitudes consideradas seguras. Afinal, o perigo não mora só ao lado, também ao clique do mouse do computador do escritório.

PERIGO A uM cLIQuELuciana Reis e Viviane Laubé (2º Ano de Jornalismo)

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REPORTAGEM AnitA nAme, betinA neves e viniCiUs De meLO (1º ano de Jornalismo)

iMAGEM RODRigO pAnAChO (4º ano de publicidade e propaganda)

CORPO

Tudo à

no brasil a prática é liberada somente entre parentes, com exceção de são paulo e minasgerais, onde a prática também é permitida entre não-parentes, desde que não haja dinheiro en-volvido. no entanto, anúncios como o da dona de casa J. D. C., 32, casada e com duas filhas, são facilmente encontrados na internet. ela oferece sua barriga no site www.guis.com.br, do guia de serviços. J. D. C. pretende alugar a barriga por, no mínimo, R$ 60 mil, para proporcionar um futuro melhor às suas filhas e talvez comprar uma casa.

VENDEDORA DE CABELOA estudante Daiana mendes, 19, ficou 18 meses sem cortar o cabelo, e depois vende os 60 cm de comprimento dos fios por R$ 200. “vale a pena vender o cabelo para levantar uma grana fácil e sem esforço”, acredita. A maior parte das pessoas que vendem são mulheres. no salão de niltamurcelli, nilta Cabeleireiros & perucas, os fios comprados são usados para perucas e apliques. segundo a cabelereira Raquel de souza, ”o cabelo mais caro é o loiro e cacheado, já o mais barato é o liso em cores escuras”. e Raquel conta que o preço é“no mínimo R$ 80 por 100g de cabelo, de acordo com o tamanho, o tipo e a cor”.

mODELOnicole Jonnel, 18, foi modelo por quatro anos. ganhava por volta de R$ 400 por desfile, e R$ 1500 em comerciais para lojas aqui no brasil. “no exterior podia receber até Us$ 30 mil por um comercial de cabelo. Já fiz dois”, conta. mas a cobrança era grande: “não podia ter mais do que 90 cm de quadril.” na época, tinha 1,76 m de altura e pesava 50 kg. Já a modelo Rafaela Jala, 19, ganha cerca de R$ 600 para fazer fotos para lojas. “É um trabalho cansativo, mas pra quem quer ganhar uma grana vale a pena”, diz.

fisiCuLTuRisTAO fisiculturismo é um esporte em que os praticantes esculpem seus corpos por meio da musculação para fins competitivos que não rendem muito dinheiro. segundo o fisicul-turista Fábio veras, no brasil não há patrocínio. O prêmio máximo dos campeonatos é de R$ 3 mil. mesmoassim, os esportistas se esforçam. “mepreparo para a competição três meses antes, numa dieta de arroz, batata, clara de ovo e peito de frango”, conta o fisioculturista Flávio Ribeiro, 34.

GAROTA DE PROGRAmA“Antes da crise eu conseguia até R$ 10 mil por semana, com uns três clientes por dia. mas, agora, se consigo um já é muito”, rec-lama garota de programa R. m., 29. Apesar do número de clientes ter diminuido, o preço continua o mesmo. ela cobra R$ 300 por uma hora e meia de serviço. mas con-ta que tem muitos gastos: “chego a gastar R$ 1500 por mês com exames médicos, produtos de beleza e divulgação”. só para manter sua foto no site m.Class (site de luxo que divulga acompanhantes), gasta R$ 700 por semana. para ajudar na renda no fim do mês, ela também é cabeleireira.garota de programa há apenas um ano, Kelly, 24, cobra o mesmo valor que R. m.pelo serviço. Começou por conta da falta de emprego e de dinheiro. “O lucro é alto e tenho tudo o que quero”, diz. segundoR. m., o dinheiro também foi o fator que a atraiu para essa atividade há seis anos.

venda

BARRiGA DE ALuGuEL

pessoas que vendem o corpo chegam a ganhar até Us$ 30 mil dólares

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SAÚDE

o dinheiro que

30 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

M.A. erA pequeno quando viu um tio abrir uma carteira cheia de cartões de crédi-to. Na época, disse a ele mesmo que um dia teria uma carteira como aquela. Hoje, aos 28 anos, o assistente de contabilidade não che-gou a ter dezenas de cartões, e nem quer: “bastaram três cartões para me estrangu-lar”. M.A. faz parte do Devedores Anônimos (DA), que segue os passos e as tradições dos Alcoólicos Anônimos. O grupo atende pes-soas que viram suas vidas afetadas pelas dí-vidas geradas pelos gastos excessivos.

“Quando eu comecei a trabalhar, eu recebia e logo gastava, mas não tinha dívi-das”, diz. Para ele, as mudanças começaram há quatro anos, quando um tio alcoólatra foi morar com sua família. “Tive raiva dele e essa raiva me fez gastar mais”. A presen-ça de um parente com um problema de de-pendência foi início para M. A. se tornar um comprador compulsivo. As compras ser-viam para ele como um porto seguro. “Não é simplesmente gastar, ter dívidas. Você desconta nas compras todo sentimento de medo, raiva, inadequação, frustração”.

A psicóloga do Ambulatório dos Trans-tornos do Impulso do Hospital das Clínicas, Tatiana Filomenski, explica que “o transtor-no do comprar compulsivo é uma falha, que as pessoas têm de resistir ao impulso de comprar. É um comportamento que aconte-ce em conseqüência de sentimentos negati-vos, frustrações, baixa auto-estima, identi-dade mais frágil”.

Era só se sentir mal que M. A. ia às com-pras. Para ele, era um “sistema compulsi-vo”. Essa fraqueza, segundo Tatiana, “se transforma em um círculo vicioso. A pessoa aprende que, ao comprar, ela adquire uma

falsa sensação de felicidade, de bem-estar momentâneo. Os compradores compulsi-vos aprenderam isso de alguma forma, por modelos ou por exemplos da família”. Essa possível descendência da compulsão por gastar é uma teoria que M. A. também acre-dita. “Eu tenho pessoas na família que têm problemas de compulsão financeira. Todo dependente tem alguém na família que é de-pendente”, conta.

Dívidas com cartões de crédito, cheque especial e prestações complicaram a vida de M.A. Quando ele chegou ao DA estava de-vendo entre R$ 12 mil a R$ 13 mil. “Foi meu primeiro rombo. Estava nervoso, surtado, angustiado”, relata. Tatiana, porém, afirma que nem todo comprador compulsivo adqui-re débitos. “O comprador compulsivo passa a ter prejuízos pessoais, profissionais, so-ciais, financeiros. Ele pode chegar a ter dívi-das, mas isso não é uma regra”, afirma.

EnfiAnDo o pé nA jAcA A onioma-nia, também conhecida como Transtorno do Comprar Compulsivo, foi estudada pela primeira vez pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, em 1915, mas só em 1994 os critérios de diagnósticos da doença foram definidos, dessa vez, pela psiquiatra Susan McElroy. No entanto, no Brasil, não há mui-tos estudos sobre o transtorno. O tratamen-to no Hospital das Clínicas surgiu a partir do Ambulatório do Jogo Patológico (AMJO), do Instituto de Psiquiatria, organizado pelo psiquiatra Hermano Tavares, que hoje é co-ordenador dos Programas de Jogo Patológi-co e Transtorno do Impulso do Hospital. No ambulatório, começaram a aparecer os com-pradores compulsivos em busca de ajuda. Para atender a essa demanda, criou-se um

grupo específico, coordenado por Tatiana. “As pessoas que vêm nos procurar, real-

mente estão muito deprimidas, não sabem mais lidar com a situação, se sentem muito fracassadas porque já tentaram controlar, mas não conseguem”, afirma. Para chegar a esse estado, a pessoa ultrapassa os limites do que é considerável uma compra saudá-vel. A psicóloga explica que um comprador que enfia o “pé na jaca” de vez em quando não é compulsivo. “Quem nunca se endivi-dou no cartão de crédito?”, brinca.

A técnica contábil C.P, 37, se endividou e não foi uma só a vez. Ela é uma das pessoas com mais tempo no grupo Devedores Anô-nimos, frequenta às reuniões há sete anos. Quando chegou, devia cerca de R$ 23 mil. As dívidas, segundo ela, foram feitas devido a problemas de auto-estima. “Tenho proble-mas muito fortes de aceitação”, confessa.

A psicóloga Tatiana explica que motivos como esse, entre compradores compulsivos, são comuns. “Eles têm objetos de desejo muito bem definidos”, diz. Ela explica que esses objetos fazem parte da construção de uma identidade.

Os homens, por exemplo, buscam cons-truir sua identidade por meio de aparelhos eletrônicos, relógio, carteira, perfume e car-ro. Nas mulheres a necessidade de moldar uma identidade, uma personalidade, é mais forte. Isso explica o fato de 70% dos pacien-tes com oniomania, no Hospital das Clíni-cas, serem do sexo feminino. “As mulheres são mais voltadas para a aquisição de ob-jetos como roupas, sapatos, cosmético, ma-quiagem”, explica Tatiana. Ela ressalta que tanto homens como mulheres, com ou sem o transtorno, têm necessidades inerentes

No Hospital das Clínicas, cerca de 95 pessoas se tratam para aprender a gastar menos e sair das dívidas. Grupos de Devedores Anônimos também aparecem como uma alternativa para quem não sabe como contralar seus gastos.

REPORTAGEM CAMILA MENDONÇA (3o ano de Jornalismo) IMAGEM KARINA SÉRGIO GOMES (4º ano de Jornalismo)

não traz felicidade

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ESQUINAS 2º SEMESTRE 2008 31

traz felicidade

Por essa porta passam pessoas que tiveram suas vidas machucadas pela lâmina do cartão de crédito

1. Suas dívidas estão interferindo na harmonia familiar? ( ) Sim ( ) Não

2. A pressão dos credores lhe rouba a atenção no trabalho? ( ) Sim ( ) Não

3. Sua reputação está sendo afetada pelas dívidas? ( ) Sim ( ) Não

4. As dívidas abalam sua auto-estima e o fazem sentir-se inferior? ( ) Sim ( ) Não

5. Você já deu informações falsas para obter crédito? ( ) Sim ( ) Não

6. Já fez promessas irrealistas a seus credores? ( ) Sim ( ) Não

12. Já pegou dinheiro emprestado sem analisar adequadamente a taxa de juros que teria de pagar? ( ) Sim ( ) Não

13. Você normalmente espera uma resposta negativa quando é submetido a uma análise de crédito? ( ) Sim ( ) Não

14. Já elaborou um plano para pagar as dívidas e, depois, sob pressão, acabou não o seguindo? ( ) Sim ( ) Não

15. Você justifica suas dívidas dizendo a si mesmo que é superior às outras pessoas e que, quando chegar “sua vez”, liquidará as pendências de um dia para outro? ( ) Sim ( ) Não

Resultado: Oito ou mais questões, com resposta sim, é sinal de consumo compulsivo

7. Suas dívidas fazem com que você descuide do bem-estar material da família? ( ) Sim ( ) Não

8. Teme que seu empregador, família ou amigos descubram até que ponto você está endividado? ( ) Sim ( ) Não

9. Quando você depara com uma situação financeira difícil, a possibilidade de um empréstimo lhe dá uma enorme sensação de alívio? ( ) Sim ( ) Não

10. A pressão causada pelas dívidas tira-lhe o sono à noite? ( ) Sim ( ) Não

11. Já pensou em se embriagar para esquecer momentaneamente as dívidas? ( ) Sim ( ) Não

TEsTE sE vOcê é uM GAsTAdOR cOMPulsIvO*

* Teste retirado da Veja Online (http://veja.abril.com.br/idade/testes/gastador.html - acesso dia 26 de maio de 2009, às 15h35 )

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SAÚDE

o dinheiro que

30 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

M.A. erA pequeno quando viu um tio abrir uma carteira cheia de cartões de crédi-to. Na época, disse a ele mesmo que um dia teria uma carteira como aquela. Hoje, aos 28 anos, o assistente de contabilidade não che-gou a ter dezenas de cartões, e nem quer: “bastaram três cartões para me estrangu-lar”. M.A. faz parte do Devedores Anônimos (DA), que segue os passos e as tradições dos Alcoólicos Anônimos. O grupo atende pes-soas que viram suas vidas afetadas pelas dí-vidas geradas pelos gastos excessivos.

“Quando eu comecei a trabalhar, eu recebia e logo gastava, mas não tinha dívi-das”, diz. Para ele, as mudanças começaram há quatro anos, quando um tio alcoólatra foi morar com sua família. “Tive raiva dele e essa raiva me fez gastar mais”. A presen-ça de um parente com um problema de de-pendência foi início para M. A. se tornar um comprador compulsivo. As compras ser-viam para ele como um porto seguro. “Não é simplesmente gastar, ter dívidas. Você desconta nas compras todo sentimento de medo, raiva, inadequação, frustração”.

A psicóloga do Ambulatório dos Trans-tornos do Impulso do Hospital das Clínicas, Tatiana Filomenski, explica que “o transtor-no do comprar compulsivo é uma falha, que as pessoas têm de resistir ao impulso de comprar. É um comportamento que aconte-ce em conseqüência de sentimentos negati-vos, frustrações, baixa auto-estima, identi-dade mais frágil”.

Era só se sentir mal que M. A. ia às com-pras. Para ele, era um “sistema compulsi-vo”. Essa fraqueza, segundo Tatiana, “se transforma em um círculo vicioso. A pessoa aprende que, ao comprar, ela adquire uma

falsa sensação de felicidade, de bem-estar momentâneo. Os compradores compulsi-vos aprenderam isso de alguma forma, por modelos ou por exemplos da família”. Essa possível descendência da compulsão por gastar é uma teoria que M. A. também acre-dita. “Eu tenho pessoas na família que têm problemas de compulsão financeira. Todo dependente tem alguém na família que é de-pendente”, conta.

Dívidas com cartões de crédito, cheque especial e prestações complicaram a vida de M.A. Quando ele chegou ao DA estava de-vendo entre R$ 12 mil a R$ 13 mil. “Foi meu primeiro rombo. Estava nervoso, surtado, angustiado”, relata. Tatiana, porém, afirma que nem todo comprador compulsivo adqui-re débitos. “O comprador compulsivo passa a ter prejuízos pessoais, profissionais, so-ciais, financeiros. Ele pode chegar a ter dívi-das, mas isso não é uma regra”, afirma.

EnfiAnDo o pé nA jAcA A onioma-nia, também conhecida como Transtorno do Comprar Compulsivo, foi estudada pela primeira vez pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, em 1915, mas só em 1994 os critérios de diagnósticos da doença foram definidos, dessa vez, pela psiquiatra Susan McElroy. No entanto, no Brasil, não há mui-tos estudos sobre o transtorno. O tratamen-to no Hospital das Clínicas surgiu a partir do Ambulatório do Jogo Patológico (AMJO), do Instituto de Psiquiatria, organizado pelo psiquiatra Hermano Tavares, que hoje é co-ordenador dos Programas de Jogo Patológi-co e Transtorno do Impulso do Hospital. No ambulatório, começaram a aparecer os com-pradores compulsivos em busca de ajuda. Para atender a essa demanda, criou-se um

grupo específico, coordenado por Tatiana. “As pessoas que vêm nos procurar, real-

mente estão muito deprimidas, não sabem mais lidar com a situação, se sentem muito fracassadas porque já tentaram controlar, mas não conseguem”, afirma. Para chegar a esse estado, a pessoa ultrapassa os limites do que é considerável uma compra saudá-vel. A psicóloga explica que um comprador que enfia o “pé na jaca” de vez em quando não é compulsivo. “Quem nunca se endivi-dou no cartão de crédito?”, brinca.

A técnica contábil C.P, 37, se endividou e não foi uma só a vez. Ela é uma das pessoas com mais tempo no grupo Devedores Anô-nimos, frequenta às reuniões há sete anos. Quando chegou, devia cerca de R$ 23 mil. As dívidas, segundo ela, foram feitas devido a problemas de auto-estima. “Tenho proble-mas muito fortes de aceitação”, confessa.

A psicóloga Tatiana explica que motivos como esse, entre compradores compulsivos, são comuns. “Eles têm objetos de desejo muito bem definidos”, diz. Ela explica que esses objetos fazem parte da construção de uma identidade.

Os homens, por exemplo, buscam cons-truir sua identidade por meio de aparelhos eletrônicos, relógio, carteira, perfume e car-ro. Nas mulheres a necessidade de moldar uma identidade, uma personalidade, é mais forte. Isso explica o fato de 70% dos pacien-tes com oniomania, no Hospital das Clíni-cas, serem do sexo feminino. “As mulheres são mais voltadas para a aquisição de ob-jetos como roupas, sapatos, cosmético, ma-quiagem”, explica Tatiana. Ela ressalta que tanto homens como mulheres, com ou sem o transtorno, têm necessidades inerentes

No Hospital das Clínicas, cerca de 95 pessoas se tratam para aprender a gastar menos e sair das dívidas. Grupos de Devedores Anônimos também aparecem como uma alternativa para quem não sabe como contralar seus gastos.

REPORTAGEM CAMILA MENDONÇA (3o ano de Jornalismo) IMAGEM KARINA SÉRGIO GOMES (4º ano de Jornalismo)

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traz felicidade

Por essa porta passam pessoas que tiveram suas vidas machucadas pela lâmina do cartão de crédito

1. Suas dívidas estão interferindo na harmonia familiar? ( ) Sim ( ) Não

2. A pressão dos credores lhe rouba a atenção no trabalho? ( ) Sim ( ) Não

3. Sua reputação está sendo afetada pelas dívidas? ( ) Sim ( ) Não

4. As dívidas abalam sua auto-estima e o fazem sentir-se inferior? ( ) Sim ( ) Não

5. Você já deu informações falsas para obter crédito? ( ) Sim ( ) Não

6. Já fez promessas irrealistas a seus credores? ( ) Sim ( ) Não

12. Já pegou dinheiro emprestado sem analisar adequadamente a taxa de juros que teria de pagar? ( ) Sim ( ) Não

13. Você normalmente espera uma resposta negativa quando é submetido a uma análise de crédito? ( ) Sim ( ) Não

14. Já elaborou um plano para pagar as dívidas e, depois, sob pressão, acabou não o seguindo? ( ) Sim ( ) Não

15. Você justifica suas dívidas dizendo a si mesmo que é superior às outras pessoas e que, quando chegar “sua vez”, liquidará as pendências de um dia para outro? ( ) Sim ( ) Não

Resultado: Oito ou mais questões, com resposta sim, é sinal de consumo compulsivo

7. Suas dívidas fazem com que você descuide do bem-estar material da família? ( ) Sim ( ) Não

8. Teme que seu empregador, família ou amigos descubram até que ponto você está endividado? ( ) Sim ( ) Não

9. Quando você depara com uma situação financeira difícil, a possibilidade de um empréstimo lhe dá uma enorme sensação de alívio? ( ) Sim ( ) Não

10. A pressão causada pelas dívidas tira-lhe o sono à noite? ( ) Sim ( ) Não

11. Já pensou em se embriagar para esquecer momentaneamente as dívidas? ( ) Sim ( ) Não

TEsTE sE vOcê é uM GAsTAdOR cOMPulsIvO*

* Teste retirado da Veja Online (http://veja.abril.com.br/idade/testes/gastador.html - acesso dia 26 de maio de 2009, às 15h35 )

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32 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

prador compulsivo.O diagnóstico não foi dado por nenhum

psicólogo, mas por um site na Internet. “Eu percebi que realmente tinha alguma coi-sa errada comigo, e fui procurar na Inter-net uma resposta”, diz C.M.. O aposentado conta que encontrou diversas matérias e depoimentos sobre o transtorno, e as carac-terísticas descritas se pareciam muito com o comportamento que vinha tendo. “Tinha um teste em um site que perguntava se eu ficava ansioso para pegar um empréstimo, realmente eu ficava; se, quando eu pegava esse dinheiro para gastar, eu ficava mal, realmente eu ficava. Então, eu tinha esse problema mesmo”, constatou. Diante dessa conclusão, C.M. foi procurar a melhor ma-neira de se tratar e, também pela Internet, encontrou o DA.

Ele afirma que se não fosse às reuniões do grupo, ele ultrapassaria o limite. “Eu não sei aonde eu pararia, aonde eu chegaria. Eu continuaria gastando, onde eu conseguisse empréstimo eu pegaria. Chegaria uma hora em que eu não iria pagar mais ninguém”, imagina. Quando chegou ao DA, C.M. devia entre R$ 12 mil a R$ 15 mil. “O problema dessa doença é que você não consegue sa-ber o montante da dívida. Na verdade, você não quer saber quanto deve, só quer saber em gastar”, explica.

Embora seja hoje mais consciente de sua

compulsão, o aposentado ainda não conse-guiu quebrar os cartões. O que fez foi co-locá-los, junto com o talão de cheques, em um envelope e entregá-los à filha, para que ela os escondessem na casa dela. “Parece até brincadeira. Mas, se eu não visse passar aquele cartão, eu não ficava satisfeito. Dá um prazer você vê aquele cartão passar. Eu tinha que gastar, eu tinha que tirar aquele cartão da carteira e ver ele passar”, conta. “Eu não tinha o cartão, o cartão me tinha.”

Para C. M., o que o impulsiona não é sen-timento negativo, ou qualquer depressão. E sim, a ansiedade. “Aquela ansiedade de le-vantar de manhã e a primeira coisa é correr para loja e comprar. Só que essa ansiedade passa, é como se fosse uma droga, depois volta tudo de novo”, explica.

Sua última “crise” de compulsão foi de-sencadeada por uma câmera fotográfica. “Se eu não pegasse aquela câmera na mão, parecia o fim do mundo”. Sem prestar aten-ção no preço do equipamento, C.M. acabou financiando o valor e, ao final, pagou quase R$ 2 mil na câmera que custava, à vista, R$ 700. “Tudo isso é conseqüência da ansieda-de”, conclui.

créDito: um prAto chEio C.M. cre-dita à facilidade de pegar um empréstimo como um dos principais fatores que o fez um devedor. O assistente de contabilidade M.A. constatou que suas dívidas aumenta-

“Eu não tinha o cartão de

crédito, o cartão me

tinha”, diz C.M., aposentado

Todos os sábados, em média, 12 pessoas

participam dos encontros do DA

de pertencer a um grupo. “Quando a gente se sente fora, excluído daquele meio, a gen-te tenta ficar igual”, esclarece. No entanto, quando se trata dos compradores compulsi-vos essas necessidades se intensificam.

De maneira geral, o ato de comprar ocu-pa uma função muito específica na vida de um oniomaníaco. A pessoa com o transtor-no chega a mentir, quando perguntado se foi ao shopping, por exemplo. “Ele mente para mascarar o quanto ele está envolvido com o comprar. Ele vai ao shopping e diz que não foi; compra um sapato e passa o sapato no chão para dizer que ele comprou aquilo faz tempo; guarda as sacolas escondidas dentro do armário”, exemplifica Tatiana. Também podem chegar a falsificar cheques, e a rea-lizar pequenos furtos para adquirir seu ob-jeto de desejo.

DEpEnDênciA? A psicóloga conta que, embora já se saiba que sentimentos negati-vos são a base da doença, ainda não há nada que confirme a existência de uma causa química. “O que sabemos é que esses trans-tornos do impulso podem ser vistos como uma dependência comportamental”. No entanto, para o aposentado C.M., 60, “essa doença é tão nociva quanto aquela pessoa que é viciada em drogas”. O aposentado freqüenta o DA há apenas seis meses. É um “devedor anônimo em tratamento”, como gosta de enfatizar, e se considera um com-

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É dessa forma que C. M. tenta agora en-xergar o dinheiro. Para ele, assim que come-çou a participar das reuniões, sua relação com a moeda melhorou: “é mais saudável”. Para M. A., tudo agora tem que ser pensa-do, principalmente as compras. “Estou mais controlado agora”, conta.

As reuniões, para quem não tem alterna-tiva, ajudam. No entanto, segundo Tatiana, o ideal seria essas pessoas procurem auxílio médico, caso se perceba algum comporta-mento um tanto exagerado na relação com o consumo. “Algumas pessoas nos procu-ram porque não aguentam mais, estão de-sesperadas. Outras, porque a família leva”, explica Tatina. “A nossa orientação básica é que os próprios pacientes nos procurem”, aconselha a psicóloga.

Não é à toa que mamãe sempre dizia: “lave as mãos depois de pegar em dinheiro”. A probabilidade de se pegar uma doença ao manusear notas e moedas é a mesma de tocar nas barras do ônibus ou na maçaneta das portas. De acordo com a dermatologista Vanessa Tanaka, do consultório particular Unidade de Dermatologia e Endocrinologia (UDE), o contato da pele direto com dinheiro não traz doenças. Só há perigo “se tiver alguma ferida ou picada”, alerta a dermatologista. Essas lesões são a porta de entrada dos microorganismos no corpo, tornando-o mais suscetível à alguma infecção, caso alguma bactéria muito perigosa penetre no organismo. Os olhos, porém, são mais sensíveis. O oftalmologista Flávio Rodrigues e Silva, da Clínica Particular Centro de Excelência Oftalmológica (CEO) de Bauru, assegura que o contato da mão suja com os olhos causa doenças oculares. Segundo ele, a doença mais comum é a conjuntivite.Todos os objetos, que estão sujeitos ao contato de muitas pessoas, podem conter micróbios nocivos à saúde. Mas estes são minoria no ambiente. Logo, não é preciso ter bacteriofobia, Basta seguir o conselho da mamãe: “lave as mãos depois de pegar em dinheiro”.

DInhEIRO sujONATHALIE A. DE FRANCO e

LUMA PEREIRA (2º Ano de Jornalismo)

ram há quatro anos, quando o crédito era abundante. A psicóloga Tatiana concorda: “O acesso ao crédito incentivou muito o mau uso do dinheiro, logo a geração de dívi-das, o comprador compulsivo viu um prato cheio nisso”.

Ela conta que têm pacientes que chegam ao HC com sete cartões de crédito. “É difícil administrar um ou dois, imagine sete”, res-salta Tatiana. Ela lembra que ter dívidas não é uma regra para ser um comprador com-pulsivo. “Há pessoas que estão endividadas porque são compradores compulsivos e pessoas que estão endividadas porque não têm uma educação financeira adequada”, explica a psicóloga.

Embora trate de pessoas que são con-sumistas ao extremo, Tatiana ressalta que não há nada de errado em comprar. “Nin-guém aqui é contra comprar, pelo contrário, comprar é uma ação prazerosa. Comprar é importante. A gente vive em uma sociedade que é consumista, onde o consumo é incen-tivado o tempo todo”, esclarece a psicologa. Ela, no entanto, atenta que é preciso utilizar o dinheiro de forma consciente.

Tatiana conta que, hoje, cerca de 95 pes-soas estão em tratamento no Hospital das Clínicas, sendo que 60 delas estão na ma-nutenção – terapia pós tratamento, em que elas tentam se adaptar ao novo estilo de vida, que cabe em seu orçamento.

hospital das ClínicasAv. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 6472a/6a das 8h às 18h. Tel. 3069-6000

D. A. (Devedores Anônimos)Qualquer pessoa pode participar das reuniões, e quem quiser, não precisa se identificar. Não necessário inscrições, ou pagamento de qualquer taxa.Rua Santa Ifigênia, 30Sáb. das 16h às 18h. Tel. 3229-6706

ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 33

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É dessa forma que C. M. tenta agora en-xergar o dinheiro. Para ele, assim que come-çou a participar das reuniões, sua relação com a moeda melhorou: “é mais saudável”. Para M. A., tudo agora tem que ser pensa-do, principalmente as compras. “Estou mais controlado agora”, conta.

As reuniões, para quem não tem alterna-tiva, ajudam. No entanto, segundo Tatiana, o ideal seria essas pessoas procurem auxílio médico, caso se perceba algum comporta-mento um tanto exagerado na relação com o consumo. “Algumas pessoas nos procu-ram porque não aguentam mais, estão de-sesperadas. Outras, porque a família leva”, explica Tatina. “A nossa orientação básica é que os próprios pacientes nos procurem”, aconselha a psicóloga.

Não é à toa que mamãe sempre dizia: “lave as mãos depois de pegar em dinheiro”. A probabilidade de se pegar uma doença ao manusear notas e moedas é a mesma de tocar nas barras do ônibus ou na maçaneta das portas. De acordo com a dermatologista Vanessa Tanaka, do consultório particular Unidade de Dermatologia e Endocrinologia (UDE), o contato da pele direto com dinheiro não traz doenças. Só há perigo “se tiver alguma ferida ou picada”, alerta a dermatologista. Essas lesões são a porta de entrada dos microorganismos no corpo, tornando-o mais suscetível à alguma infecção, caso alguma bactéria muito perigosa penetre no organismo. Os olhos, porém, são mais sensíveis. O oftalmologista Flávio Rodrigues e Silva, da Clínica Particular Centro de Excelência Oftalmológica (CEO) de Bauru, assegura que o contato da mão suja com os olhos causa doenças oculares. Segundo ele, a doença mais comum é a conjuntivite.Todos os objetos, que estão sujeitos ao contato de muitas pessoas, podem conter micróbios nocivos à saúde. Mas estes são minoria no ambiente. Logo, não é preciso ter bacteriofobia, Basta seguir o conselho da mamãe: “lave as mãos depois de pegar em dinheiro”.

DInhEIRO sujONATHALIE A. DE FRANCO e

LUMA PEREIRA (2º Ano de Jornalismo)

ram há quatro anos, quando o crédito era abundante. A psicóloga Tatiana concorda: “O acesso ao crédito incentivou muito o mau uso do dinheiro, logo a geração de dívi-das, o comprador compulsivo viu um prato cheio nisso”.

Ela conta que têm pacientes que chegam ao HC com sete cartões de crédito. “É difícil administrar um ou dois, imagine sete”, res-salta Tatiana. Ela lembra que ter dívidas não é uma regra para ser um comprador com-pulsivo. “Há pessoas que estão endividadas porque são compradores compulsivos e pessoas que estão endividadas porque não têm uma educação financeira adequada”, explica a psicóloga.

Embora trate de pessoas que são con-sumistas ao extremo, Tatiana ressalta que não há nada de errado em comprar. “Nin-guém aqui é contra comprar, pelo contrário, comprar é uma ação prazerosa. Comprar é importante. A gente vive em uma sociedade que é consumista, onde o consumo é incen-tivado o tempo todo”, esclarece a psicologa. Ela, no entanto, atenta que é preciso utilizar o dinheiro de forma consciente.

Tatiana conta que, hoje, cerca de 95 pes-soas estão em tratamento no Hospital das Clínicas, sendo que 60 delas estão na ma-nutenção – terapia pós tratamento, em que elas tentam se adaptar ao novo estilo de vida, que cabe em seu orçamento.

hospital das ClínicasAv. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 6472a/6a das 8h às 18h. Tel. 3069-6000

D. A. (Devedores Anônimos)Qualquer pessoa pode participar das reuniões, e quem quiser, não precisa se identificar. Não necessário inscrições, ou pagamento de qualquer taxa.Rua Santa Ifigênia, 30Sáb. das 16h às 18h. Tel. 3229-6706

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CIDADE

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No meio do caminho, entre a favela Real Parque e o Hotel Hilton, tem um monumento: a ponte Octávio Frias de Oliveira, ícone do atual centro financeiro de São Paulo

REPORTAGEM Julia alquéReS e kaRiNa SéRgiO gOmeS(4o ano de Jornalismo) IMAGEM RaFael De queiROZ (3o ano de Jornalismo), kaRiNa SéRgiO gOmeS e TOm COSTa (4º ano de Jornalismo)

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46 ESQUINaS 2º SEMESTRE 2008

O complexo viário liga a Avenida Jornalista Roberto Marinho à Marginal Pinheiros no Brooklin, zona sul de São

Paulo. Para os cerca de 6 mil moradores da favela do Real Parque, que não possuem carro, a Ponte não tem ser-

ventia alguma. Já para os motoristas, se tornou uma nova opção de caminho. Em horários de pico, cerca de 1000

veículos atravessam a ponte por hora.

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FOTOGRAFAR o novo símbolo de poder da cidade, a pon-

te Octávio Frias, mais conhecida como Ponte Estaiada,

não foi tarefa fácil. Rafael de Queiroz visitou a favela Real

Parque para saber por qual ângulo aquelas pessoas, que

vivem com uma renda mensal que varia de um a três sa-

lários mínimos, veem o novo monumento paulistano de

quase 138 metros de altura e que custou R$ 260 milhões.

Tom Costa subiu no mais alto dos prédios do condo-

mínio onde também fica um dos hotéis mais luxuosos de

São Paulo, o Hilton, cuja diária da Suíte Residencial, para

uma pessoa, com vista para a ponte e seus 144 estais (ca-

bos de sustentação), custa R$ 979.

Karina Sérgio Gomes visitou o local mais de uma vez

para conseguir captar o exato tom de dourado que refle-

te nos prédios das Avenidas Nações Unidas e Engenhei-

ro Luís Carlos Berrini, o novo centro financeiro da cida-

de, que desde os anos 1990 abriga as sedes de empresas

multinacionais do setor terciário.

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40 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

RECICLAGEMREPORTAGEM: PâMElA REIS (1º ano de Jornalismo), MARIANE GRANAdo e RENATA JoRdão (2º ano de Jornalismo)

oito anos estudando em londres foram fundamentais para que Juliana Suarez desenvolvesse sua técnica de produção de bolsas a partir de sacolas plásticas. Segundo a designer, o material é manipulado através da aplicação de linhas até ficar bem resistente. “Pretendo reeducar o consumidor na questão da importância da reutilização do lixo”, diz Juliana. E consegue: a matéria-prima é doada por clientes e familiares. “Guardo todas as sacolas e levo para a Juliana reciclar: é um alívio”, conta a cliente Renata lanari. ospreços vão de R$ 75 a R$ 600. São vendidos no ateliê Marialixo, na Vila Madalena

Há dois anos, a chilena Alexandra Guerrero notou a quantidade de bitucas de cigarro que são joga-das no chão e decidiu reciclá-las na forma de roupas e acessórios. o Mantis, uma espécie de xale, é feito de filtros de cigarro, que são limpos, tingidos e fiados com lã. Um processo 100% manual e que utiliza apenas materiais renováveis e biodegradáveis. “As pessoas ficam surpresas, porque as peças não têm mau cheiro”, diz a designer. o custo de produção é pouco menos da metade do valor da venda (R$ 300). o Mantis é vendido apenas pelo blog mantis-mantis.blogspot.com

BItuCAs, ApEnAs o CoMEço CAIu nA REdE é RoupA novAInspirada no trabalho de Henrique Schknann, que transforma o material desprezado por pescadores em tapeçaria, roupas e acessórios, a gaúcha Nara Guichon passou a utilizar redes de pesca em sua confecção. Produzidas manualmente, as peças misturam as redes com outras fibras. os acessórios custam, em média, R$ 100, enquanto as roupas chegam a R$ 1500. o custo de produção é quase metade do preço final. “As pessoas amam, mas acham um pouco caro”, afirma Edileusa Novato, da loja Mimi Soffer, na Vl. Madalena. Mas há quem não ligue para o preço. “os clientes acham diferente e é disso que eles gostam”, explica Rosa Santos, da loja Siricutico, em Moema. As peças também são vendidas pelo site: naraguichon.com.

sACoLA dE sACoLAs

A artista plástica Naná Hayne utiliza a sucata de computadores e celulares para produzir o que chama de “tecnojóias”. “Procuro utilizar o máximo dos componentes existentes dentro destes aparelhos”, explica. o resultado são colares de componentes de Hd, anéis e pulseiras com chips, teclas, cabos e fusíveis. Seus principais clientes são geeks, nerds e pessoas preocupadas com o meio ambiente. o preço varia de R$ 10 a R$ 60, são vendidas nas oficinas e exposições da artesã.

A agrônoma Marisa de Góes durante toda sua vida profissional preocupou-se com meio ambiente. desde que se aposentou, dedicou-se ao artesanato de bijuterias nas feiras de Brasília. “os brincos são de retalhos enormes, coloridos e baratos. Geralmente as mocinhas é que compram. Me parece que estas não se importam com o material ou a proposta ecológica, e sim com a beleza”, explica a artesã. Marisa comenta que alguns acham que o artesanato é a mesma coisa que utilizar lixo como acessório, e por isso não compram. o preço das bijuterias é de, no mínimo, R$ 10.

LIxo, não. é ACEssóRIo!

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A moda é serA sustentabilidade já invadiu as vitrines. Artesãs dão ao que era lixo status de luxo.

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café kopi luwak Santo Grão

Rua Oscar Freire, 413 Aos mais conservadores pode causar certo nojo. Mas o fato é que o café feito com as fezes do Luwak, um animal indonésio, está entre os mais exóticos e caros da cidade. Comercializada no Santo Grão, segundo responsável pela marca, Vanessa Mills, a bebida é para aqueles que aceitam a diversidade do café. De acordo com o critico de restaurante Ricardo Castanho, “o café é bom. Mas não vale quanto custa”: R$ 25. E para quem gosta de exotismo, pode provar também a versão brasileira. O grão do café Jacu Bird, vendido no Suplicy Cafés Especiais, é digerido pelo Jacu, pássaro das montanhas do Espírito Santo. O preço varia de R$ 8 a R$14.

caneta graf von tinteiro faber-castell

Lenat Rua Oscar Freire,1174 Procuradas especialmente por colecionadores, as canetas da linha tradicional da empresa alemã Faber-Castell são feitas com madeiras nobres de reflorestamento e pena confeccionada à mão, com detalhes em ouro branco e amarelo. “Todas as canetas levam banho de ródio, técnica desenvolvida para evitar o escurecimento”, diz a vendedora Selma de Freitas. A marca conta ainda com uma linha de temas especiais, como as ornamentadas com couro de arraia, chifre de mamute e seiva de árvore. R$ 3025.

decantador de vinho, 750 ml Spicy

Rua Haddock Lobo, 746Para os amantes da bebida do deus Baco, um decantador de vinhos é essencial. Ajuda a valorizar a cor de safras mais antigas, amadurecer as mais jovens e limpa as impurezas. A peça da marca Riede é feita de cristal e tem um design moderno. “Os da Riedel são obras de arte e os melhores do mundo, mas cumprem exatamente a mesma função dos decanters mais simples disponíveis no mercado”, afirma o enólogo Arthur Azevedo (R$1198). A vendedora Ana Cláudia Din, da Spicy Haddock Lobo, afirma que, embora o decantador não seja muito procurado, atrai clientes para outros produtos, como as taças, cujos preços que variam entre R$ 59 e R$ 378 a unidade.

lixeira touch bin 40l brabantia

SpicyRua Haddock Lobo, 746As lixeiras da Brabantia foram desenvolvidas para abrirem com apenas um toque, mas sem deixar qualquer marca de digital. O que garante a ausência dos incômodos sinais é o acabamento em Inox Finger Proof, que protege e facilita a limpeza. Com 10 anos de garantia, segundo o fabricante, a tampa pode ser aberta mais de mil vezes. Isso sim é ir do lixo ao luxo. R$ 1648.

luxo ao extremoPara uns pode parecer extravagância, mas para outros um decantador de vinho ou uma caneta ornamentada são produtos de extrema necessidade

REPORTAGEM CAMILA PInTO e LOuISE SOLLA (1º ano de Jornalismo)

compras

ESQuInAS 1º SEMESTRE 2009 41

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42 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

INFÂNCIA

grANde

REPORTAGEM báRbARA SANToS, ThAIS SAwAdA (1o ano de Jornalismo) e lygIA hAydéE (4o ano de Jornalismo) IMAGEM ARQUIvo pESSoAl

Aumenta a participação econômica das crianças no comércio brasileiro e diversos setores apostam suas fichas na garotada

omercado dos

pequeninos

Daniel passa em média 4 horas por dia jogando videogame

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 43

nos últimos anos os brasileiros veem assistindo à uma grande mudança no cená-rio econômico: as crianças agora são agen-tes ativos da economia. E os jogos eletrôni-cos são uma grande prova do aumento da participação infantil no mercado brasileiro. De acordo com a empresa de pesquisa E-Bit, só no Dia das Crianças do ano passado, o comércio virtual arrecadou R$ 359 milhões.

A oscilação dos preços desses brinque-dos é alta. Aparelhos de videogame, por exemplo, variam de R$ 400 a R$ 3 mil. As sensações do momento são os chamados vi-deogames da sétima geração: Playstation 3, Xbox 360 e Nintendo Wii. Ambos possuem controles com sensores de movimento, que revolucionaram a forma de jogar. Porém o Wii possui a principal atração: um contro-le sem fios. O Wii Remote detecta os movi-mentos em três dimensões via bluetooth, em que os movimentos dos jogadores são captados e transmitidos pela barra de sen-sor. A entrada para o controle clássico ainda permanece, mas a novidade de jogar livre-mente fez tanto sucesso que um dispositivo foi criado para aumentar a capacidade dos movimentos dos jogadores, o MotionPlus,que vem acoplado ao controle.

Para as crianças de hoje é difícil imagi-nar um mundo sem tecnologia. Daniel tem 12 anos e brinca com jogos de computador e videogame desde os sete. Sempre que está em casa passa a maior parte do tempo em frente ao computador e à TV. “A maioria das coisas que faço tem tecnologia envolvida”, afirma. “Quando eu chego da escola faço as tarefas e vou correndo jogar. Fico das 18h até às 22h, o limite que meu pai estabeleceu. Já é um costume”, conta o menino. E quan-do está com os amigos, Daniel adora fazer campeonatos de video-game. “A gente sor-teia a casa de alguém. Cada um leva o seu controle e o jogo preferido”, comenta.

BeAuty For teeN Outra área em que o público infantil se destaca cada vez mais hoje em dia é a estética. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), mostra que em 2009 o Brasil já ocupa o segundo lugar em vendas desses produtos. E os salões de beleza também passaram a se especializar em serviços para crianças. Alguns oferecem festa de aniver-sário com direito a cortes de cabelo, ma-quiagem e manicure.

O Jacques Janine, por exemplo, possui o Beauty for Teen, em que as meninas, nor-malmente entre 9 e 15 anos, são produzidas como se fossem para uma festa. “Rola muita maquiagem, cor, uma decoração muito lú-dica”, diz o cabelereiro Raphael Cardoso. Nesse dia, uma parte do salão é reservada e decorada exclusivamente para a aniversa-riante e suas amigas mais íntimas.

Segundo Raphael, o serviço é realizado de uma forma totalmente dirigida a esse pú-blico: “É um tipo de trabalho feito de modo que elas se sintam com a sua própria idade. É criada uma atmosfera muito diferente da de um salão de beleza, é como se a menina

fosse uma princesa em um conto de fadas, com todas as suas amigas”, afirma. Segundo ele, uma das principais atrações acontece quando as meninas fazem as unhas. “As unhas são feitas com bastante brilho, de maneira bem jovial. Essa tendência está na moda e as meninas sabem tudo o que acon-tece no mercado”, conta.

Clhoê Chenin, consultora de imagens e maquiadora, tem 20 anos, mas fez o Beauty for Teen em suas festas de 14 e 15 anos. “Foi muito legal passar o dia com as ami-gas, nos arrumando. Enquanto nos produ-zíamos, fotógrafos tiravam fotos”, conta. Clhoê diz que naquela época era bastante vaidosa: “Gostava de fazer unhas, cabelo e maquiagem. Coisas de patricinha!”.

Raphael acredita, inclusive, que a idéia do Beauty for Teen tenha surgido a partir do sucesso provocado pelo Dia da Noiva que atualmente é muito mais descontraído. “Talvez esse tenha sido o gancho, pois a atmosfera é muito parecida”, comenta. Os serviços oferecidos pelo salão incluem la-vagem, escova, manicure, penteados e, até mesmo, massagem. Tudo isso acompanha-do de salgadinhos, doces e bebidas.

O preço pago pelo serviço é alto. Se a ani-versariante escolher apenas pelo serviço do salão de beleza, o Jacquie Janine, por exem-plo, cobra R$ 280 por pessoa. Se o espaço e os quitutes oferecidos também ficarem por conta do salão, ainda há uma despesa de R$ 1500. Vale lembrar que os pais pagam pelo número de crianças convidadas (máximo de 22 meninas) e pelo o que a aniversariante deseja fazer no seu grande dia.

PeQueNoS INVeStIDoreS Os investi-mentos também seguem esta linha de cres-cimento constatada nos produtos voltados ao mercado infantil. As cadernetas de pou-panças, uma das aplicações mais populares do país na década de 90, hoje não possuem mais a mesma força. Por incrível que pare-ça, os fundos de investimentos – forma de aplicação financeira formada pela união de vários investidores –, ou as ações – títulos negociáveis das empresas –, são as formas de aplicação mais procuradas pelos pais nos últimos tempos.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), por exemplo, os investido-res mirins de até 10 anos somam atualmen-te 1900 pessoas, segundo informações da própria Bolsa de Valores. Considerando os jovens até os 20 anos de idade, o número sobe para 54 mil, o que representa, atual-mente, 20% do total de investidores.

Por isso, alguns bancos resolveram in-vestir na educação financeira voltada para o novo mercado. É o caso do Grupo Santander Brasil, que conta com o site Brincando na Rede (www.brincandonarede.com.br). “Sa-bemos que as crianças estão cada vez mais atentas à relação com o dinheiro e consu-mo. Decidimos desenvolver um canal que abordasse o assunto de forma lúdica e que estimulasse a discussão entre as crianças”, diz Sandro Marques, superintendente de de-senvolvimento sustentável do grupo.

pequeninos

“As unhas são feitas com bastante brilho. Essa tendência está na moda e as meninas sabem tudo o que acontece no mercado”, diz Raphael Cardoso, cabelereiro

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44 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

comportamento

de telégrafos a máquinas de costurar, manivela, gangorras, lençóis finos, louças clássicas e até estátuas em formato de ame-doim. É com essa variedade infinita e sur-preendente de objetos que trabalham os or-ganizadores dos eventos conhecidos como Família Vende Tudo. A curiosa exposição comercial ocorre em bairros residenciais da cidade de São Paulo e consiste na venda de objetos usados que são dispostos dentro de uma casa, aberta ao público, que se trans-forma numa verdadeira loja.

“Começei vendendo roupas novas. Mi-nha mãe era diretora de tribunal e meu pai escritor de cartório. Então eu vendia para funcionários públicos”, diz Cristina Rho-mes, 55, da Coisas e Objetos de Arte em Re-sidência (Coar), empresa que organiza esse tipo de evento desde 1982. Porém, além do gosto pela arte, o que mais a atraiu foi o fato de ser um trabalho dinâmico. “Não gosto de ficar presa a um lugar. Cada semana intera-jo com uma família diferente. São culturas, costumes, tradições distintas”, explica Rho-mes, que já cadastrou 12 mil clientes. Eles recebem informações sobre os locais dos próximos eventos por meio de uma mala di-reta. E também podem conferir a agenda no site www.coar.com.br.

O evento pode ocorrer de duas formas distintas. A família que vai se mudar deixa o

o passadoem liquidação

REPORTAGEM gIUlIA pAglIARINI (1o ano de Jornalismo) e lIvIA MARIA lUcAS (2o ano de Jornalismo) IMAGEM TOM cOSTA (4º ano de Jornalismo)

conhecidos como Família vende Tudo, os eventos acontecem nos fins de semana e atraem pessoas que compram objetos usados por um bom preço

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 45

que quer vender na residência e empresta a casa para o organizador, que expôe os obje-tos que foram comprados de outras pesso-as. Ou então, aluga-se uma casa para dispor os objetos, inclusive aqueles que restaram do último Família Vende Tudo. O evento costuma acontecer aos sábado e domingos. Os objetos que não foram vendidos no fim de semana são colocados à venda novamen-te na próxima exposição.

As famílias que vendem seus objetos possuem motivos diversos. “Algumas ven-dem porque não têm dinheiro, outras por não terem espaço, outras pelo fato da mãe ter falecido e quererem alugar o apartamen-to”, diz Carolina Rholmes, filha e sócia de Cristina. Os clientes de José Carlos Quental, que também organiza esse tipo de evento, já venderam seus pertences para pagar dívi-das e cirurgias, por exemplo.

Quanto custa? Na hora de negociar o preço da venda, muitos impasses podem surgir. Nem sempre o valor original de uma peça condiz com o preço que os organizado-res conseguirão vendê-la. Quando começou a trabalhar no ramo das antiguidades, Cris-tina buscava informações de antiquários e comerciantes, sobretudo no que diz respei-to ao valor. Muitas vezes lhe passavam pre-ços abaixo da média. Hoje, veterana e com quase 27 anos de experiência, ela sabe qual é a margem de preço que realmente interes-sa aos clientes. Quental segue o critério de que quanto mais antigo for, maior será o va-lor atribuído ao objeto, com a condição de que ele esteja conservado.

sem crise Diferente do que diria um banqueiro, Carolina Rholmes, sócia do Coar, afirma com segurança e convicção: “Aqui não tem crise”. “Pelo contrário, estamos vendendo mais”, confirma Quental. Isso porque, nessa época, as pessoas procuram coisas mais baratas e os objetos vendidos nesses eventos costumam custar menos. José Ignácio, 72, comprova isso ao explicar que “a gente compra pra dar de presente por 20, 30, o que vale no mínimo 80”. Ga-rante, ainda, que encontra “antiguidades de primeiro mundo por preços cinco vezes mais baratos”.

Quental já atingiu R$ 500 mil de rendi-mento num único evento e chegou a vender um quadro por R$ 300 mil. Porém, esse lu-cro depende da qualidade dos objetos. Cada organizador adota um tipo diferente de tria-gem. Pelo critério de Cristina, a pessoa que está se mudando da casa pode vender o que quiser. Além disso, as peças não precisam estar num estado de qualidade excepcional. Mas, se alguém quiser encaixar seus objetos no evento, precisa vender no mínimo 30 pe-ças de uma vez e todas em bom estado. Já Quental segue um processo de seleção ba-seado na procedência, na época e no estado de conservação das peças. Elas custam ge-ralmente 30% a menos que as novas, o que se torna um grande atrativo.

clientela fiel Carolina conta que cerca de 80% dos clientes vão ao evento toda semana com os mais diversos fins. José Amaral, 54, por exemplo, frequenta cerca de sete Famílias Vende Tudo por semana para abastecer seu sebo on-line, o Sebo do Amaral, cadastrado no site Estante Virtu-al. E como quer garantir os melhores livros sem ter de sair no tapa com os clientes diz: “Sou sempre o primeiro a chegar”. Umas das maiores vantagens para ele é o preço, “pa-guei R$ 5 num livro, vou revender por R$ 25 e um novo custa R$ 90”.

“É muito importante a memória ser

reciclada e colocada em outro contexto”,

diz Antônio Maschio, artesão

“É um programinha de sábado”. É assim que a cliente Ana Cristina define o Família Vende Tudo, evento que ela frequenta há mais de 15 anos. “Olho e vejo o que com-bina com a minha casa”, explica. Lavínia Scheibieel, 57, também está sempre presen-te, pois vê “boas oportunidades de negócio”. Ela analisa cada peça, a fim de encontrar al-guma que realmente valha a pena. Na última promoção em que foi, comprou uma mala Louis Vuitton por R$ 60.

Antônio Maschio, 62, frequenta esses eventos quase todo fim de semana à pro-cura dos mais diversos tipos de tecidos, os quais transforma em flores decorativas. Antes disso, Antônio cozinhava e elaborava cardápios para o bar Spazio Pirandello. O estabelecimento era um espaço cultural, re-duto de intelectuais e artistas como Fernan-do Henrique Cardoso e Paulo Autran. Mas quando Antônio contraiu hepatite C, ele teve de abandonar esse espaço. Na confec-ção de flores, encontrou o novo trabalho.

De acordo com ele, “é muito importan-te a memória ser reciclada e colocada em outro contexto”. E essa é também uma das funções do Família Vende Tudo: dar uma nova conotação a heranças, memórias e le-gados, passando-os adiante e dando-os um interminável tempo de vida.

No mês de abril, um dos eventos de Quental aconteceu numa casa no bairro de Pinheiros. Os moradores estavam de mudança e resolveram vender tudo

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comidaREPORTAGEM larissa freitas, liz terra e thiago tanji (1º ano de jornalismo)

iMAGEM ralph izumi (3º ano de jornalismo) e DiVulgaÇÃo

46 esQuinas 1º semestre 2009

segredo de família Lanchonete do Seu Oswaldo

Rua Bom Pastor, 1659 (Ipiranga)localizada no bairro do ipiranga, a tradicional lanchonete do seu oswaldo funciona há mais de 40 anos no mesmo ponto. Com um estilo simples e acolhedor, oferece deliciosos lanches com destaque para o X-salada (R$ 5,90), cujo molho secreto de tomate faz toda diferença. marta, filha de seu oswaldo, é quem comanda hoje o local. elagarante a mesma qualidade dos tempos de seu pai, até porque o chapeiro luiz, um dos poucos que sabem a famosa receita secreta do molho, continua trabalhando na lanchonete

sou chique, bem! Ponto Chic

Largo do Paissandu, 27 (Centro)história e tradição é o que não faltam no ponto Chic. a decoração da primeira lanchonete era com azulejos importados na década de 1920, o que

deu nome ao local. o forte da casa é o sanduíche Bauru (R$ 14,40): rosbife mais quatro tipos de queijo derretidos, fatias de tomate e pepino no pão francês. o lanche, com mais de 80 anos, foi criação de Casemiro pinto neto, que batizou sua invenção gastronômica com o nome da cidade onde nasceu, Bauru, no interior de são paulo.

olho maior que a barriga Bar do Mané

Rua E, boxe 14 (Mercado Municipal)o lanche de mortadela do Bar do mané não é mais novidade em são paulo, mas ainda faz do mercado municipal (rua da Cantareira, 306 – parque Dom pedro) ponto de parada obrigatória de quem passa pela cidade. entre as barracas de frutas, especiarias, frios e carnes, o local está entre os mais procurados por quem quer provar o famoso lanche. o lema do bar avisa “aqui, o que tem menos é pão”. são 250 gramas de mortadela fria (R$ 9,00) ou quente (R$ 10,00), no pão francês. É difícil até abrir a boca e dar uma boa mordida.

múltipla-cidadania Charles Dog’s

Av. Braz Leme, 480 (Casa Verde)o que não falta é nacionalidade para os cachorros-quentes da Charles Dog’s. têmalemão, americano, francês, português, e claro, paulista (R$ 5,50), né, meu! paraquem estiver com muita, mas muita fome, as melhores opções são o inglês (R$ 11,50)

e o brasileiro (R$ 10,80) recheados com quatro (sim, quatro!) salsichas. e quem gosta de lanche, mas não curte muito o embutido, as pedidas são o oriental (pão francês, patê de atum, alface e tomate) e o português (frango empanado, molho rosé, alface, tomate).

lanche nosso para comer bem gastando pouco, em são paulo, não tem saída: as melhores opções estão nas lanchonetes. de cada dia

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TEXTO JULIA ALQUÉRES (4º ano de Jornalismo)

IMAGEM RENATA mIWA (3º ano de Publicidade e Propaganda)

FICÇÃO

ESQUINAS 1º SEmESTRE 2009 47

Comemorariam um ano de namoro, e Manuel faria surpresa, queria noivar. Comprou duas alianças, escolheu um poema de Neru-da e separou o melhor vinho de sua adega. Esperou durante horas na calçada de sua casa, mas Sandra não apareceu. Foi até a casa da moça, bateu com força na porta. Amor, amor, amor? Quem apareceu foi o vizinho com a novidade. Sandra havia ido embora pra Itália com o marido naquela manhã, escutava Manuel enquanto esmagava Neruda em sua mão até que as palavras penetraram em sua pele. Restou o papel imerso em sangue, sem letra alguma.

Da segunda vez, fez o céu chover Drummond. Lígia não lia po-emas, tampouco gostava de bebidas alcoólicas. E fazia cinco meses que se encontravam todos os dias às 17h no mesmo local para um café. Beijaram-se uma única vez, depois da qual Lígia corou e pediu sigilo. Manuel achou então que era a hora de firmar compromisso. Comprou alianças, escolheu poemas de Drummond – sentia vontade enorme de ensiná-la a gostar de poesia –, e separou o melhor vinho de sua adega – sentia vontade enorme de olhar para a boca de Lí-gia molhada de vermelho escuro. Esperou durante cinco horas pela moça na sacada da cafeteria, depois fez voar todos os versos.

E Thereza durou o tempo do esvaziamento daquela garrafa de vinho tinto naquelas duas taças de cristal. Depois do último gole, a menina levantou-se e foi embora sem dizer qualquer palavra. Na ex-pectativa de trazê-la de volta, Manuel recitava aos gritos. “Eu quero a estrela da manhã. Onde está a estrela da manhã?”. E Thereza virou a esquina, e ao homem restaram os próximos versos não ditos do poema de Bandeira, e duas alianças que levava no bolso na calça.

E Manuel cansou-se. O amor era privilégio dos outros, pensava. E achou que abrir uma “loja de alianças e de poemas”, como gosta-va de dizer, seria uma forma de saber do amor – é que sentia uma vontade tremenda de tê-lo por perto. Funcionava assim: o cliente contava sua história de amor para Manuel que, então, escolhia as alianças, o poema e o vinho certo de cada relação. E foi assim que o homem enriqueceu, virando lenda na cidadezinha onde morava. Palavrear sentimentos com Manuel era certeza de amor eterno.

Mas esse tempo também se evaporou, dessa vez com muita fu-maça. Já sentia um cheiro de queimado enquanto abria a porta, e quando entrou na loja enxergou apenas aquele fumo espesso. Só teve uma reação, tateou um armário à esquerda, arrebentou uma das portas e salvou a caixa de poemas. Saiu depressa da loja a tem-po de vê-la transformar-se em labaredas.

Restaram-lhe os poemas; alguns vinhos que guardava em casa; a fortuna em dinheiro. Era privilégio dos outros, teve certeza. Era

melhor resguardar-se do mundo. E Manuel deu a preencher notas de dez reais com poemas. E o homem acorda, escreve poesia no di-nheiro, e com a ajuda de uma taça de vinho engole a “nota poética”, como gosta de dizer. É que quer guardar tudo dentro dele. É que Manuel teme o desaparecimento daquilo que lhe resta.

Neruda, Drummond, Bandeira... São esses gemidos que costu-mam atormentar os vizinhos durante a madrugada, quando Manuel, coberto de notas, esforça-se para adormecer sem amor. E foi no último domingo que a vizinhança pôde ouvir bem baixinho o último poema – era de Bukowisk –, a ser lido pelo homem, pois o crepitar do fogo falava mais alto. Antes que a labareda tomasse a casa toda,

there is a place in the heart thatwill never be filled

a spaceand even during thebest momentsandthe greatest times

we will know it

we will know itmore thanever

there is a place in the heart thatwill never be filled…

(E não foi possível saber se Manuel absorveu Bukowisk em notas, com o auxílio de uma taça de vinho, ou se foi o poeta que tragou o tempo daquele homem.)

…and

we will waitandwait

in thatspace.

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comidaREPORTAGEM larissa freitas, liz terra e thiago tanji (1º ano de jornalismo)

iMAGEM ralph izumi (3º ano de jornalismo) e DiVulgaÇÃo

46 esQuinas 1º semestre 2009

segredo de família Lanchonete do Seu Oswaldo

Rua Bom Pastor, 1659 (Ipiranga)localizada no bairro do ipiranga, a tradicional lanchonete do seu oswaldo funciona há mais de 40 anos no mesmo ponto. Com um estilo simples e acolhedor, oferece deliciosos lanches com destaque para o X-salada (R$ 5,90), cujo molho secreto de tomate faz toda diferença. marta, filha de seu oswaldo, é quem comanda hoje o local. elagarante a mesma qualidade dos tempos de seu pai, até porque o chapeiro luiz, um dos poucos que sabem a famosa receita secreta do molho, continua trabalhando na lanchonete

sou chique, bem! Ponto Chic

Largo do Paissandu, 27 (Centro)história e tradição é o que não faltam no ponto Chic. a decoração da primeira lanchonete era com azulejos importados na década de 1920, o que

deu nome ao local. o forte da casa é o sanduíche Bauru (R$ 14,40): rosbife mais quatro tipos de queijo derretidos, fatias de tomate e pepino no pão francês. o lanche, com mais de 80 anos, foi criação de Casemiro pinto neto, que batizou sua invenção gastronômica com o nome da cidade onde nasceu, Bauru, no interior de são paulo.

olho maior que a barriga Bar do Mané

Rua E, boxe 14 (Mercado Municipal)o lanche de mortadela do Bar do mané não é mais novidade em são paulo, mas ainda faz do mercado municipal (rua da Cantareira, 306 – parque Dom pedro) ponto de parada obrigatória de quem passa pela cidade. entre as barracas de frutas, especiarias, frios e carnes, o local está entre os mais procurados por quem quer provar o famoso lanche. o lema do bar avisa “aqui, o que tem menos é pão”. são 250 gramas de mortadela fria (R$ 9,00) ou quente (R$ 10,00), no pão francês. É difícil até abrir a boca e dar uma boa mordida.

múltipla-cidadania Charles Dog’s

Av. Braz Leme, 480 (Casa Verde)o que não falta é nacionalidade para os cachorros-quentes da Charles Dog’s. têmalemão, americano, francês, português, e claro, paulista (R$ 5,50), né, meu! paraquem estiver com muita, mas muita fome, as melhores opções são o inglês (R$ 11,50)

e o brasileiro (R$ 10,80) recheados com quatro (sim, quatro!) salsichas. e quem gosta de lanche, mas não curte muito o embutido, as pedidas são o oriental (pão francês, patê de atum, alface e tomate) e o português (frango empanado, molho rosé, alface, tomate).

lanche nosso para comer bem gastando pouco, em são paulo, não tem saída: as melhores opções estão nas lanchonetes. de cada dia

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TEXTO JULIA ALQUÉRES (4º ano de Jornalismo)

IMAGEM RENATA mIWA (3º ano de Publicidade e Propaganda)

FICÇÃO

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Comemorariam um ano de namoro, e Manuel faria surpresa, queria noivar. Comprou duas alianças, escolheu um poema de Neru-da e separou o melhor vinho de sua adega. Esperou durante horas na calçada de sua casa, mas Sandra não apareceu. Foi até a casa da moça, bateu com força na porta. Amor, amor, amor? Quem apareceu foi o vizinho com a novidade. Sandra havia ido embora pra Itália com o marido naquela manhã, escutava Manuel enquanto esmagava Neruda em sua mão até que as palavras penetraram em sua pele. Restou o papel imerso em sangue, sem letra alguma.

Da segunda vez, fez o céu chover Drummond. Lígia não lia po-emas, tampouco gostava de bebidas alcoólicas. E fazia cinco meses que se encontravam todos os dias às 17h no mesmo local para um café. Beijaram-se uma única vez, depois da qual Lígia corou e pediu sigilo. Manuel achou então que era a hora de firmar compromisso. Comprou alianças, escolheu poemas de Drummond – sentia vontade enorme de ensiná-la a gostar de poesia –, e separou o melhor vinho de sua adega – sentia vontade enorme de olhar para a boca de Lí-gia molhada de vermelho escuro. Esperou durante cinco horas pela moça na sacada da cafeteria, depois fez voar todos os versos.

E Thereza durou o tempo do esvaziamento daquela garrafa de vinho tinto naquelas duas taças de cristal. Depois do último gole, a menina levantou-se e foi embora sem dizer qualquer palavra. Na ex-pectativa de trazê-la de volta, Manuel recitava aos gritos. “Eu quero a estrela da manhã. Onde está a estrela da manhã?”. E Thereza virou a esquina, e ao homem restaram os próximos versos não ditos do poema de Bandeira, e duas alianças que levava no bolso na calça.

E Manuel cansou-se. O amor era privilégio dos outros, pensava. E achou que abrir uma “loja de alianças e de poemas”, como gosta-va de dizer, seria uma forma de saber do amor – é que sentia uma vontade tremenda de tê-lo por perto. Funcionava assim: o cliente contava sua história de amor para Manuel que, então, escolhia as alianças, o poema e o vinho certo de cada relação. E foi assim que o homem enriqueceu, virando lenda na cidadezinha onde morava. Palavrear sentimentos com Manuel era certeza de amor eterno.

Mas esse tempo também se evaporou, dessa vez com muita fu-maça. Já sentia um cheiro de queimado enquanto abria a porta, e quando entrou na loja enxergou apenas aquele fumo espesso. Só teve uma reação, tateou um armário à esquerda, arrebentou uma das portas e salvou a caixa de poemas. Saiu depressa da loja a tem-po de vê-la transformar-se em labaredas.

Restaram-lhe os poemas; alguns vinhos que guardava em casa; a fortuna em dinheiro. Era privilégio dos outros, teve certeza. Era

melhor resguardar-se do mundo. E Manuel deu a preencher notas de dez reais com poemas. E o homem acorda, escreve poesia no di-nheiro, e com a ajuda de uma taça de vinho engole a “nota poética”, como gosta de dizer. É que quer guardar tudo dentro dele. É que Manuel teme o desaparecimento daquilo que lhe resta.

Neruda, Drummond, Bandeira... São esses gemidos que costu-mam atormentar os vizinhos durante a madrugada, quando Manuel, coberto de notas, esforça-se para adormecer sem amor. E foi no último domingo que a vizinhança pôde ouvir bem baixinho o último poema – era de Bukowisk –, a ser lido pelo homem, pois o crepitar do fogo falava mais alto. Antes que a labareda tomasse a casa toda,

there is a place in the heart thatwill never be filled

a spaceand even during thebest momentsandthe greatest times

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Page 48: Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

Cresce o número de livros que buscam ensinar como as pessoas devem administrar o próprio dinheiro

REPORTAGEM vitor valênCio (1o ano de Jornalismo)

Lições para

Nos últimos aNos ocorreu um boom no mercado editorial de livros de autoaju-da financeira. Para o professor Luís Carlos Ewald, economista conhecido como o Sr. Dinheiro do Fantástico, da Rede Globo, e autor do livro Sobrou Dinheiro – Lições de Economia Doméstica, da Editora Bertrand Brasil, uma das razões desse crescimento é o fato de que a inflação está sob controle, o que possibilita o controle da renda familiar. Então as pessoas procuram esses livros para aprenderem a fazer orçamento familiar.

“Hoje o governo tem orçamento e muitas famílias passaram a também ter orçamento. Toda família que tem orçamento, pode crer, vive dentro da renda familiar que ganha”, afirma o Sr. Dinheiro. Ele diz que nos Esta-dos Unidos o controle das finanças domés-ticas existe há anos, “qualquer americano já aprende esta matéria desde pequenininho”, comenta. “Agora aqui no Brasil é que virou moda. E isso é bom, pois as pessoas come-çaram a usar esta sistemática para controlar suas contas e fazer orçamentos”, explica o professor Luís Carlos Ewald.

Segundo Paulo Tadeu, diretor da Ma-trix Editora, que publicou Oh! Dívida Cruel - Como sobreviver no mundo do dinheiro curto em 12 hilárias prestações, de Daniel Funes e Sandra Mello, muitas pessoas que estão ingressando agora no mercado profis-sional, e se deparam com a difícil tarefa de administrar o próprio dinheiro, passam a fazer parte do mercado consumidor desses livros. Para o economista Gustavo Cerbasi, autor de Casais Inteligentes Enriquecem Jun-tos, da Editora Gente, a educação financeira é uma questão de qualidade de vida e, hoje

em dia, as pessoas estão buscando isso. InspIrações e motIvações dos

autores De acordo com Gustavo Cerbasi, que também é professor em cursos de pós-graduação e MBAs, foi mesmo uma questão de atender uma demanda, pois já identifica-va esta necessidade em seu cotidiano. “Sem-pre tive vontade de levar minhas aulas para mais pessoas; para a internet. Foi quando um de meus alunos apresentou-se como editor, então surgiu a oportunidade de lan-çar o primeiro livro em 2003: O Dinheiro – O Segredo de Quem Tem”, conta.

Com exceção do primeiro, que traça um plano de como construir independência fi-nanceira, todos os outros nasceram de dú-vidas, críticas e comentários dos próprios leitores. “O livro Casais Inteligentes Enri-quecem Juntos nasceu de respostas dadas a quase 1000 leitores. Eles não conseguiam seguir o plano descrito no primeiro livro, pois não conseguiam falar com o marido ou esposa”, diz Cerbasi. “O livro não nasceu como uma resposta, mas sim das respostas organizadas e dadas a estes casais sobre como economizar. Escrevi em quatro finais de semana, pois já tinha o conteúdo pronto e com os arquivos enviados foi mais uma questão de organização do tema”, explica.

Para Luís Carlos Ewald, que ministra palestras sobre o assunto, o surgimento de seu livro foi uma conseqüência natural de sua carreira, pois sempre deu aulas de matemática financeira. Ele afirma que a po-pularização desses livros contribui para a melhoria da qualidade de vida das famílias brasileiras. “Nas condições de hoje em dia com esta crise que está por aí e que ainda

48 ESQUinaS 1º SEMEStrE 2009

Em cima, o economista Gustavo Cerbasi. Embaixo, o professor Luís Carlos Ewald . Ambos autores de livros do gênero

o bolso

LIvros

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Page 49: Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

ESQUINAS 2º SEMESTRE 2008 49

o bolso

vai se aprofundar, a única maneira de au-mentar o salário é diminuir despesas, en-tão é aí mesmo que deve haver pressão, ter controle para não gastar mais do que deve”, explica.

De acordo com Gustavo Cerbasi, o que está por trás de todo especialista é a certeza de que enriquecer é uma questão de esco-lha. “Se as pessoas perceberem que é possí-vel fazer esta escolha, com boa orientação e com o máximo de informação possível, mais vão se dar conta de que é viável colocar isso em prática”, afirma. “A sociedade brasileira está percebendo que é possível enriquecer, mas ainda vai ter que digerir um pouco mais de informação para isso”, comenta.

opInIão dos LeItores Márcia Márti-res, 43, formada em Finanças e Banking, lei-tora assídua de livros de administração fi-nanceira, como Pai Rico Pai Pobre, de Robert T. Kiyosaky, acredita que esse tipo de livro possui uma linguagem que é muito técnica e distante do cotidiano do cidadão comum.

Para ela, não há muita clareza ou uma fórmula mágica, “as técnicas adotadas de-pendem muito do conhecimento de quem lê”, acredita. “Para você colocar em prática o que eles falam, você tem que vivenciar a economia, não adianta pegar um cidadão leigo, do povo, que só lê economia no jornal de domingo”, afirma.

Já para a administradora Priscila Cesá-rio Busch, 34, que leu o livro Casais Inteli-gentes Enriquecem Juntos, este tipo de lei-tura pode revelar o quão caótica pode ser a situação financeira do leitor. “Chorei quatro dias quando descobri minha real situação financeira”, confessa. Com a ajuda de uma

planilha de custos, que a administradora co-nheceu através da leitura do livro, aprendeu a não gastar além do que ganha.

Priscila Busch diz que agora sabe co-locar as contas na ponta do lápis. Cortou excessos, como cartões de crédito e, junto com o marido, concentrou esforços para cobrir o limite das contas que possuíam. Depois abriu uma única conta conjunta, o que facilitou e barateou a administração das finanças do casal. “De vez em quando ainda discutimos, mas agora temos uma planilha de despesas e discutimos juntos como ad-ministrá-la”, conta.

recomendações “Toda dieta é boa, ou seja, qualquer conselho, qualquer livro que fale sobre orçamento, sobre controle das contas com certeza é muito bom”, diz Luís Carlos Ewald. Segundo ele, as famílias precisam olhar as suas respectivas realida-des, e perceber que não estamos em um mo-mento em que seja possível desperdiçar.

Sobre os métodos abordados em seu livro Sobrou Dinheiro – Lições de Economia Doméstica, o professor é categórico: “Eu faço o que eu digo, porque todas as minhas recomendações contêm exemplos do meu dia a dia, pois quando eu digo que é possí-vel economizar 30% do salário, é porque eu consigo economizar”, afirma. “Eu trabalho na pesquisa de preços, vou a todos os su-permercados e depois vou ao que cobre o preço dos outros. Então você leva o encarte dos outros concorrentes e compra em qual-quer um destes pelo preço mais barato. Ou seja, compra as ofertas de todos em um só supermercado”, explica o Sr Dinheiro. E con-clui: “economizar dá trabalho!”.

“A única maneira de aumentar o salário é diminuir despesas”, diz Luís Carlos Ewald, economista

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Page 50: Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

LITERATURAREPORTAGEM Isabella lubrano P. Manso (1º ano de Jornalismo) e MônIca Pestana (3º ano de Jornalismo)

Os muquiranasGrandes personagens da literatura que se consagraram por seus estranhos hábitos e obstinada mania de guardar (e não gastar) seu rico dinheirinho

50 esQuInas 1º seMestre 2009

ele não é uma personagem da literatura clássica, mas é o avarento mais lembrado dos quadrinhos e desenhos infantis. criado pelo desenhista carl barks, o pato mais ranzinza e muquirana da Disney foi inspirado no personagem ebezener scrooge, de charles Dickens em O Natal do Avarento. tioPatinhas se consagrou com seus mergulhos em sua caixa-Forte recheada de dinheiro; aventuras em busca de tesouros lendários para aumentar sua fortuna; e, claro, pelo cuidado com seu amuleto de sorte e símbolo de sua fortuna, a moedinha número – a primeira moeda que ganhou.

Carls BarksTIO PATINHAS

antes de subir na barca para o inferno, o onzeneiro descobre que terá de deixar sua riqueza, conquistada por meio de agiotagem e usura, no mundo dos vivos. e tenta convencer o Diabo em deixá-lo retornar e resgatar sua fortuna. “Demo barqueiro! sabês vós no que me fundo? Quero lá tornar ao mundo e trazer o meu dinheiro.” a tentativa fracassa e a personagem fica sem uma moedinha se quer.

Gil VicenteO AUTO dA bARcA dO INfERNO

o natal é o cenário da história do sr. scrooge, cuja avareza é motivo de reflexão sobre suas atitudes e seu futuro. esse comerciante mal-humorado não apresenta traços de solidariedade até que a visita da alma de seu sócio começa a mudar esse avarento. o medo de uma morte solitária surge com a visão de seu velório com ladrões comentando: “ele assustou todo mundo quando ele era vivo, para nos dar todo o lucro quando está morto”.

Charles DickensO NATAL dO AVARENTO

Harpagon, o avarento de Molière, é uma das figura mais conhecida quando a palavra é avareza. egoísta e desagradável, ele esconde uma fortuna em ouro numa arca enterrada no seu jardim. e para engordar ainda mais suas economias é capaz de agiotar o filho cleanto. tudo em nome do seu, como ele mesmo diz, único e adorado amigo, único e verdadeiro amor: sua arca de ouro, com quem acaba abraçado, completamente sozinho

MolièreO AVARENTO

“ai, a crise, ai, a carestia!”, brada euricão Árabe quando sente seu dinheiro ameaçado. criado aos moldes dos mais populares contos de cordel do nordeste brasileiro, euricão é um Harpagon caboclo. Mas, em vez de uma arca de ouro, a personagem esconde sua fortuna numa porca de madeira. “euricão sacrificou toda sua existência à porca”, afirma o autor ariano suassuna

Ariano SuassunaO SANTO E A PORcA

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música

ado

Indepedentemente da época em que foi feito, o samba sempre carregou uma mar-ca registrada: a estreita relação com o coti-diano e, consequentemente, com o dinheiro (ou a falta dele). “O cotidiano é o próprio samba”, afirma o historiador José Adriano Frenerick, autor da tese Nem do morro, nem da cidade: As transformações do samba e a indústria cultural – 1920-1945. Ele explica que, desde o seu surgimento, o samba era uma forma de resistência à modernidade capitalista que começava a surgir no Bra-sil. “O sambista sempre preferiu cantar, na maioria das vezes, o ócio, o não-trabalho, a malandragem, a não inserção no mercado capitalista”, diz. “Acumular dinheiro não é

o objetivo do sambista, e nem do samba”, completa Frenerick.

A temática permaneceu, mas o samba passou por diversas transformações desde o seu surgimento, no início do século XX. “Já nos anos 20 e 30, extrapolou o universo negro, ganhando audiência e sambistas de várias classes sociais”, conta o historiador. Naquela época, alguns artistas fundamen-tais do samba, como Noel Rosa, Ary Barroso e Carmem Miranda, eram da classe trabalha-dora e de uma pequena classe média. “Não eram provenientes nem dos grupos negros nem descendentes de escravos”, afirma Fre-nerick. E, como mesmo diz o historiador, “o samba é uma rica tradição de mudanças”.

Ao falar do cotidiano, as letras desse gênero musical genuinamente brasileiro costumam tratar de dinheiro

REPORTAGEM gAbRIEl vITURI e kARINA TREvIzAN (2o ano de Jornalismo) IMAGEM kARINA SéRgIo goMES (4º ano de Jornalismo)

Seu garçom me empresta algum dinheiroQue eu deixei o meu com o bicheiro,Vá dizer ao seu gerenteQue pendure esta despesaNo cabide ali em frente

conversa de botequim

Pedro pedreiro penseiro esperando o tremManhã, parece, carece de esperar tambémPara o bem de quem tem bemDe quem não tem vintém

pedro pedreiro

Trabalhei o mês inteiro recebi meu ordenadoEntre uma compra e outra ficou tudo no mercadoÁgua, luz e telefone em casa tudo cortadoPor falta de pagamento isso aí não tem fiado

tudo lotado

vozsamba

Noel Rosa/Vadico (1934)

Chapinha (2008)

Se o operário soubesse reconhecer o valor que tem seu dia, por certo que valeria duas vezes mais o seu salário

o samba do operárioCartola (década de 1970)

Chico Buarque (1965)

Ai, ai meu Deus Tenha pena de mim!Todos vivem muito bem Só eu quem vive assimTrabalho, não tenho nada Não saio do miserêAi, ai meu Deus

tenha pena de mimCiro de Souza e Babaú (1938) Mas é preciso viver

E viver não é brincadeira nãoQuando o jeito é se virarCada um trata de siIrmão desconhece irmãoE aí dinheiro na mão é vendavalDinheiro na mão é soluçãoE solidão

pecado capitalPaulinho da Viola (1975)

zIRIGuIduM dO dIn-dIn AO lOnGO dA hIsTóRIA

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tecnologia

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MÚSica

REPORTAGEM gIUlIANA pERASSo(1o ano de Jornalismo)

Nos últimos aNos, as lojas de discos ga-nharam um rival silencioso que até pouco tempo atrás parecia inofensivo: a internet. Com ela, não é mais necessário sujar os dedos de pó nas prateleiras das lojas. Com alguns cliques se pode ter acesso gratuito a uma variedade imensurável de músicas. “Não espere encontrar coisas novas no pro-grama de sábado do Chacrinha. Essa época já passou!”, diz Lampadinha, produtor da Arsenal Music, empresa de Rick Bonadio.

Por intermédio da web muitos artistas têm adquirido espaço para divulgação de seus trabalhos. Redes sociais como MySpa-ce, Orkut, Last.fm e Trama Virtual são por-tas encontradas para músicos adquirirem exposição e para o público conhecer e bai-xar as canções em seu computador.

O site brasileiro da gravadora Trama, o Trama Virtual, por exemplo, disponibiliza

uma rede em que as bandas podem criar pá-ginas com espaço para disponibilizar infor-mações, fotos e músicas, tanto para ouvir em streaming (diretamente no site) quanto para download. Os downloads são gratuitos para o usuário, mas existe a possibilidade de remuneração para a banda.

O site possui um projeto chamado Download Remunerado. Por ele, algumas empresas cedem uma verba mensal que é dividida entre os downloads realizados no mês. Em março deste ano, o Trama arreca-dou R$ 6 mil e obteve 148 888 downloads, o equivalente a R$ 0,04 por música. As ban-das recebem o dinheiro via depósito bancá-rio após acumularem o mínimo de R$ 50. O iTunes é outro site de música que, vendendo músicas pela internet, remunera os artistas. “Prefiro comprar e ter a música na frequên-cia certa, o que muitas vezes não acontece

virtualAs redes socias presentes na internet são hoje o grande meio de divulgação dos artistas e de seus trabalhos

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quando baixo gratuitamente na rede”, diz o produtor Lampadinha.

Redes como o MySpace e Last.fm tam-bém permitem criação de páginas para di-vulgação de trabalhos. Apesar de não terem remuneração para o artista, os serviços ain-da são largamente utilizados, pois a divul-gação é o principal atrativo dos sites.

Segundo Lampadinha, para chamar atenção do internauta é necessário manter um contato direto com o público, através da criação de espaços em rede sociais e da manutenção de um site atualizado. “Se al-guém entra no seu site e vê que a última atualização é de dois meses atrás, nunca mais volta”, diz.

O cD vai acabar? Segundo Lampa-dinha, por muito tempo, as gravadoras de CDs arrecadavam muito dinheiro com a venda dos álbuns de seus artistas e pouco se preocupavam em produzir seus shows. Com os downloads na internet aumentando exponencialmente, o lucro vindo da venda de CDs diminuiu bruscamente. E, para se adaptar ao novo meio fonográfico, antigas gravadoras tornaram-se produtoras.

Por isso o produtor da Arsenal Music afirma que a era dos CDs já passou. “Pra mim, já acabou faz tempo. Quando me dão um CD eu falo ‘outro?’, e coloco na empo-eirada prateleira com mais de quatro mil CDs.” Ele argumenta explicando que em um Hard Disk, parte do computador onde são guardados os dados, é possível armazenar um número muito maior de CDs em um es-paço infinitamente menor.

Já o produtor Ivo Ferreira de Souza Neto, tem uma visão mais romantizada.”Eu acho que o CD, como era o disco de vinil antigamente, ainda é o grande sonho de uma banda, ter todo aquele trabalho árduo

de passar semanas no estúdio, errar, fazer de novo, ver os resultados, pensar na arte e na fotografia do encarte, enfim, tudo que envolve um lançamento de um CD é insubs-tituível”, afirma.

Se o CD vai ou não acabar, é difícil saber. Mas que a internet é hoje um importantíssi-mo meio de divulgação da música, isso é im-possível negar. Como será no futuro, ainda não se sabe. “Cada veículo de comunicação trouxe agregado a si movimentos musicais: a era da rádio, os cantores de rádio; os festi-vais de música na televisão e agora estamos vivendo o momento da imersão da internet na música. Daqui um tempo vamos ver me-lhor no que isso vai dar”, comenta Felipe Souza, vocalista da banda Mombojó.

Lampadinha, o produtor da Arsenal Music, empresa de Rick Bonadio

Trama Virtual, MySpace e Last.fm,

três redes socias que fazem sucesso

hoje na internet

Artistas como Maria Rita e Ed Motta têm lançado seus novos álbuns em discos de vinil. Recentemente, a gravadora responsável pelos discos da maior banda de grunge da história, o Nirvana, anunciou que vai lançar três dos CDs mais importantes da história da banda também em vinil. Segundo José Augusto Gomes, responsável pela parte de música clássica e jazz da Fnac, há hoje um boom de coisas antigas e o lança-mento dos vinis se encaixa nisso. Na loja, além dos álbuns atuais, como o penúltimo de Bob Dylan, que sai por R$ 120, pode-se encontrar novas edições de álbuns antigos, como é o caso do primeiro de Chico Science, Da lama ao caos, que custa R$ 100. E as primeiras edições dos mais antigos, como O Álbum Branco dosBeatles, podem ser encontradas nos diversos sebos paulistanos, com preços que alcançam até R$ 150.

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quando baixo gratuitamente na rede”, diz o produtor Lampadinha.

Redes como o MySpace e Last.fm tam-bém permitem criação de páginas para di-vulgação de trabalhos. Apesar de não terem remuneração para o artista, os serviços ain-da são largamente utilizados, pois a divul-gação é o principal atrativo dos sites.

Segundo Lampadinha, para chamar atenção do internauta é necessário manter um contato direto com o público, através da criação de espaços em rede sociais e da manutenção de um site atualizado. “Se al-guém entra no seu site e vê que a última atualização é de dois meses atrás, nunca mais volta”, diz.

O cD vai acabar? Segundo Lampa-dinha, por muito tempo, as gravadoras de CDs arrecadavam muito dinheiro com a venda dos álbuns de seus artistas e pouco se preocupavam em produzir seus shows. Com os downloads na internet aumentando exponencialmente, o lucro vindo da venda de CDs diminuiu bruscamente. E, para se adaptar ao novo meio fonográfico, antigas gravadoras tornaram-se produtoras.

Por isso o produtor da Arsenal Music afirma que a era dos CDs já passou. “Pra mim, já acabou faz tempo. Quando me dão um CD eu falo ‘outro?’, e coloco na empo-eirada prateleira com mais de quatro mil CDs.” Ele argumenta explicando que em um Hard Disk, parte do computador onde são guardados os dados, é possível armazenar um número muito maior de CDs em um es-paço infinitamente menor.

Já o produtor Ivo Ferreira de Souza Neto, tem uma visão mais romantizada.”Eu acho que o CD, como era o disco de vinil antigamente, ainda é o grande sonho de uma banda, ter todo aquele trabalho árduo

de passar semanas no estúdio, errar, fazer de novo, ver os resultados, pensar na arte e na fotografia do encarte, enfim, tudo que envolve um lançamento de um CD é insubs-tituível”, afirma.

Se o CD vai ou não acabar, é difícil saber. Mas que a internet é hoje um importantíssi-mo meio de divulgação da música, isso é im-possível negar. Como será no futuro, ainda não se sabe. “Cada veículo de comunicação trouxe agregado a si movimentos musicais: a era da rádio, os cantores de rádio; os festi-vais de música na televisão e agora estamos vivendo o momento da imersão da internet na música. Daqui um tempo vamos ver me-lhor no que isso vai dar”, comenta Felipe Souza, vocalista da banda Mombojó.

Lampadinha, o produtor da Arsenal Music, empresa de Rick Bonadio

Trama Virtual, MySpace e Last.fm,

três redes socias que fazem sucesso

hoje na internet

Artistas como Maria Rita e Ed Motta têm lançado seus novos álbuns em discos de vinil. Recentemente, a gravadora responsável pelos discos da maior banda de grunge da história, o Nirvana, anunciou que vai lançar três dos CDs mais importantes da história da banda também em vinil. Segundo José Augusto Gomes, responsável pela parte de música clássica e jazz da Fnac, há hoje um boom de coisas antigas e o lança-mento dos vinis se encaixa nisso. Na loja, além dos álbuns atuais, como o penúltimo de Bob Dylan, que sai por R$ 120, pode-se encontrar novas edições de álbuns antigos, como é o caso do primeiro de Chico Science, Da lama ao caos, que custa R$ 100. E as primeiras edições dos mais antigos, como O Álbum Branco dosBeatles, podem ser encontradas nos diversos sebos paulistanos, com preços que alcançam até R$ 150.

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cinema

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a fortuna dos

REPORTAGEM fERNANdA bARboSA lIRA (1o ano de Jornalismo)

irmãoscoen

os filmes de Joel e Ethan Coen, o “diretor de duas cabeças”, possuem uma temática frequente: o dinheiro

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fortuna dos

Todo direTor de cinema costuma ter uma marca registrada. Nos filmes de Woody Allen, são comuns histórias cômicas e românticas, recheadas com ironia; nos de Quentin Tarantino há sempre uma dose de violência. Já o sueco Ingmar Bergman preferia tratar de temas religiosos e de questões metafísicas, retratando sempre o sofrimento humano. Charles Chaplin, por sua vez, ressaltava e tecia críticas acerca de problemas da sociedade.

Com o “diretor de duas cabeças”, não é diferente. Os Irmãos Joel e Ethan Coen sempre procuram inserir traços marcantes nos trabalhos que fazem. Além da eterna presença de humor negro, o dinheiro é uma temática frequente na obra desses diretores. Em grande parte dos filmes, os irmãos inserem personagens gananciosos

e com graves problemas financeiros. Porém, raramente as empreitadas desses desafortunados têm êxito.

O dinheiro (ou a falta dele) sempre rendeu bons roteiros ao cinema e os Coen sabem utilizá-lo como problema nas diversas experiências vividas pelos personagens de seus filmes. “Eu acredito que o dinheiro entra nos filmes dos Coen como um elemento desagregador, como um estopim, ou seja, aquilo que entra no enredo para dar início a uma série de situações que culminarão numa situação de extremo caos. É praticamente o ponto de partida de muitos roteiros deles”, comenta Celso Sabadin, jornalista e crítico de cinema, atuante em sessões de sites como Yahoo e UOL.

Os Coen mostram, em boa parte da obra, o destino decadente de personagens

ambiciosos. No filme O grande Lebowski,por exemplo, um fracassado homem termina a história em uma situação pior da que começou. Está sem dinheiro, como sempre esteve. Mas, além disso, tem o carro destruído, a casa em ruínas e até um amigo morto. E o único personagem que, no filme, aparentava ter abundância financeira por méritos próprios, nada mais era do que um farsante, herdeiro de uma fortuna que estava sendo gasta incontrolavelmente por sua inconsequente mulher.

Mas o que será que levou os diretores a enfatizarem tanto o dinheiro em seus roteiros? Uma incógnita. Talvez por terem morado no subúrbio. Talvez por terem de cortar grama em troca de sua primeira câmera. Mas, com certeza, não foi por nenhum dos motivos abaixo:

arizona nunca mais Nicolas Cage é um ex-presidiário que mora em um trailer com sua mulher. Ao saber que não pode ter filhos, ela resolve roubar uma criança. As melhores cenas do filme ocorrem quando, sem dinheiro, o casal se envolve em enrascadas para sustentar o bebê, e também para fugir de um vingador pago para exterminá-los.

fargoNesta premiada obra prima dos irmãos, observa-se William H. Macy como um inábil gerente de loja de automóveis que se encontra em uma delicada situação financeira. Então, ele decide encomendar o sequestro de sua própria mulher a fim de conseguir o dinheiro do resgate com seu rico sogro.

na roda da fortunaAs ações de uma grande empresa não vão bem, o que desespera o diretor dela, que se suicida. onovato Noville é encarregado de assumir o cargo. Mesmo inexperiente, o rapaz cria um produto que salva a companhia da falência e enche seu bolso de dinheiro. Por conta da ganância de alguns personagens, diversas situações dramáticas surgem.

e aí, meu irmão, cadê você?

o grande lebowskiJeff Lebowski é confundido com um milionário que tem o mesmo nome que o seu. Certa vez, é chamado por ele para ajudá-lo a resgatar sua noiva seqüestrada. Ela tem uma característica marcante: uma facilidade incrível para adquirir dívidas.

matadores de velhinhaso filme é uma refilmagem de O Quinteto da Morte de 1955, e conta com uma trama fortemente ligada a formas ilícitas de se conseguir dinheiro. o suposto professor G.H. dorr (Tom Hanks) tem um plano infalível para roubar um cassino. Ele e mais cinco especialistas se hospedam na casa de uma senhora. Pelo nome do filme, pode-se deduzir a que se dedicam os bandidos após terem suas táticas desvendadas pela velhinha.

onde os fracos não têm vezVencedor do oscar de melhor filme em 2008, o filme conta com atuações brilhantes, como a de Javier Barden, que levou o oscarde melhor ator coadjuvante. Cenas de tirar o fôlego decorrem do fato de um caçador ter encontrado e se apropriado de uma valise recheada de dinheiro. Atrás da fortuna, também estão traficantes estrangeiros, os xerifes locais, e um assassino de frieza ímpar.

queime depois de lerA mais recente obra dos Coen conta com um time de atores renomados que se veem ligados na história por um Cd de dados. Acreditando na importância do objeto, que contém informações sobre um ex-agente da CIA, funcionários de uma academia resolvem chantagear seu dono, a fim de conseguirem dinheiro para satisfazerem objetivos pessoais.

o filme é uma comédia dramática baseada na odisséia de Homero. “Vocês encontrarão uma fortuna, mas não aquela que procuram.” Esta foi a frase dita por um profeta cego e que três prisioneiros foragidos em plena época da Grande depressão encontram enquanto se aventuram pelo sul dos Estados Unidos. Eles estão em busca de liberdade e de um tesouro enterrado.

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fortuna dos

Todo direTor de cinema costuma ter uma marca registrada. Nos filmes de Woody Allen, são comuns histórias cômicas e românticas, recheadas com ironia; nos de Quentin Tarantino há sempre uma dose de violência. Já o sueco Ingmar Bergman preferia tratar de temas religiosos e de questões metafísicas, retratando sempre o sofrimento humano. Charles Chaplin, por sua vez, ressaltava e tecia críticas acerca de problemas da sociedade.

Com o “diretor de duas cabeças”, não é diferente. Os Irmãos Joel e Ethan Coen sempre procuram inserir traços marcantes nos trabalhos que fazem. Além da eterna presença de humor negro, o dinheiro é uma temática frequente na obra desses diretores. Em grande parte dos filmes, os irmãos inserem personagens gananciosos

e com graves problemas financeiros. Porém, raramente as empreitadas desses desafortunados têm êxito.

O dinheiro (ou a falta dele) sempre rendeu bons roteiros ao cinema e os Coen sabem utilizá-lo como problema nas diversas experiências vividas pelos personagens de seus filmes. “Eu acredito que o dinheiro entra nos filmes dos Coen como um elemento desagregador, como um estopim, ou seja, aquilo que entra no enredo para dar início a uma série de situações que culminarão numa situação de extremo caos. É praticamente o ponto de partida de muitos roteiros deles”, comenta Celso Sabadin, jornalista e crítico de cinema, atuante em sessões de sites como Yahoo e UOL.

Os Coen mostram, em boa parte da obra, o destino decadente de personagens

ambiciosos. No filme O grande Lebowski,por exemplo, um fracassado homem termina a história em uma situação pior da que começou. Está sem dinheiro, como sempre esteve. Mas, além disso, tem o carro destruído, a casa em ruínas e até um amigo morto. E o único personagem que, no filme, aparentava ter abundância financeira por méritos próprios, nada mais era do que um farsante, herdeiro de uma fortuna que estava sendo gasta incontrolavelmente por sua inconsequente mulher.

Mas o que será que levou os diretores a enfatizarem tanto o dinheiro em seus roteiros? Uma incógnita. Talvez por terem morado no subúrbio. Talvez por terem de cortar grama em troca de sua primeira câmera. Mas, com certeza, não foi por nenhum dos motivos abaixo:

arizona nunca mais Nicolas Cage é um ex-presidiário que mora em um trailer com sua mulher. Ao saber que não pode ter filhos, ela resolve roubar uma criança. As melhores cenas do filme ocorrem quando, sem dinheiro, o casal se envolve em enrascadas para sustentar o bebê, e também para fugir de um vingador pago para exterminá-los.

fargoNesta premiada obra prima dos irmãos, observa-se William H. Macy como um inábil gerente de loja de automóveis que se encontra em uma delicada situação financeira. Então, ele decide encomendar o sequestro de sua própria mulher a fim de conseguir o dinheiro do resgate com seu rico sogro.

na roda da fortunaAs ações de uma grande empresa não vão bem, o que desespera o diretor dela, que se suicida. onovato Noville é encarregado de assumir o cargo. Mesmo inexperiente, o rapaz cria um produto que salva a companhia da falência e enche seu bolso de dinheiro. Por conta da ganância de alguns personagens, diversas situações dramáticas surgem.

e aí, meu irmão, cadê você?

o grande lebowskiJeff Lebowski é confundido com um milionário que tem o mesmo nome que o seu. Certa vez, é chamado por ele para ajudá-lo a resgatar sua noiva seqüestrada. Ela tem uma característica marcante: uma facilidade incrível para adquirir dívidas.

matadores de velhinhaso filme é uma refilmagem de O Quinteto da Morte de 1955, e conta com uma trama fortemente ligada a formas ilícitas de se conseguir dinheiro. o suposto professor G.H. dorr (Tom Hanks) tem um plano infalível para roubar um cassino. Ele e mais cinco especialistas se hospedam na casa de uma senhora. Pelo nome do filme, pode-se deduzir a que se dedicam os bandidos após terem suas táticas desvendadas pela velhinha.

onde os fracos não têm vezVencedor do oscar de melhor filme em 2008, o filme conta com atuações brilhantes, como a de Javier Barden, que levou o oscarde melhor ator coadjuvante. Cenas de tirar o fôlego decorrem do fato de um caçador ter encontrado e se apropriado de uma valise recheada de dinheiro. Atrás da fortuna, também estão traficantes estrangeiros, os xerifes locais, e um assassino de frieza ímpar.

queime depois de lerA mais recente obra dos Coen conta com um time de atores renomados que se veem ligados na história por um Cd de dados. Acreditando na importância do objeto, que contém informações sobre um ex-agente da CIA, funcionários de uma academia resolvem chantagear seu dono, a fim de conseguirem dinheiro para satisfazerem objetivos pessoais.

o filme é uma comédia dramática baseada na odisséia de Homero. “Vocês encontrarão uma fortuna, mas não aquela que procuram.” Esta foi a frase dita por um profeta cego e que três prisioneiros foragidos em plena época da Grande depressão encontram enquanto se aventuram pelo sul dos Estados Unidos. Eles estão em busca de liberdade e de um tesouro enterrado.

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mercado

dao negócio

artePara galeristas, leiloeiros e artistas este é um mercado como outro qualquer

REPORTAGEM ANDRÉ MARCHEZANO (2o ano de Jornalismo), JuliA AlquEREs e kARiNA sÉRgiO gOMEs (4o ano de Jornalismo)

56 EsquiNAs 1º sEMEsTRE 2009

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US$ 1,4 milhão. Esse foi o valor alcançado pelo quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, a maior quantia já paga pela obra de um artista brasileiro. Se muitos acreditam que o valor de uma obra de arte é inestimável, o mercado mostra que há quem esteja dis-posto a pagar milhões por ela. O fenômeno nacional mais recente é a artista plástica Be-atriz Milhazes, cujo quadro O Mágico alcan-çou a quantia de US$ 1,049 milhão, adquiri-do pelo mesmo colecionador que comprou Abaporu, o argentino Eduardo Constantini.De acordo com o segurador Guilherme Ta-deu Olivetti, depois desse leilão as obras de Milhazes valorizaram muito. “Tem cliente meu que comprou uma peça dela há três anos por R$ 70 mil e hoje está valendo meio milhão”, exemplifica. O valor das obras tam-bém varia de acordo com a fase de produção do artista. No caso de Vik Muniz, segundo o leiloeiro James Lisboa, “as fases ligadas a diamantes, chocolates, são as mais procura-das porque são as mais criativas”. No leilão de arte feito no dia 24 de março deste ano pelo Escritório de Arte, a foto Team, do ar-tista, teve o lance mínimo de R$ 180 mil.

No prelo As formas de avaliar o traba-lho de um artista variam. Na Galeria Verme-lho, por exemplo, em caso de artistas novos, o custo de produção é multiplicado por três. “O primeiro paga a obra que foi feita; o se-gundo é por causa da carreira, ele precisa

ter dinheiro pra fazer novas obras. E o ter-ceiro preço é porque ele precisa sobreviver”, explica Akio Aoki, representante de vendas internacionais da Vermelho. No caso de ar-tistas mais reconhecidos, avalia-se o currí-culo da obra e do artista. Os leilões avaliam as obras também desta maneira, com uma peculiaridade: o preço das obras é abaixo do valor do mercado. “Isso acontece para poder criar a liquidez, ou seja, para que haja uma disputa, um confronto de valores para che-gar ao preço real de fato”, esclarece Lisboa.

Ele comenta ainda a vantagem que os leilões têm frente às galerias. “Na galeria você espera acontecer. No leilão as vendas acontecem numa noite, é mais dinâmico, não pode durar mais que uma sessão de ci-nema, que é quanto uma pessoa aguenta”, explica o leiloeiro. Segundo ele, 70% do que é posto em pregão é vendido. Afirma, no en-tanto, que as maiores negociações são feitas entre os próprios colecionadores.

As pinturas a óleo são as mais valoriza-das e os artistas do modernismo brasileiro são os mais procurados. “Os mais caros são os que a gente chama pintura dos nossos avôs, Tarsila e Portinari principalmente”, diz Lisboa. Estes são também os artistas preferidos pelos ladrões. No último dia dez de maio deste ano, foram roubadas da casa de Ilde Maksoud as telas O Cangaceiro e Re-trato de Maria, ambas de Cândido Portina-

ri, e Figura em Azul, de Tarsila do Amaral - avaliadas em cerca de R$ 3,5 milhões. No ano passado, foi a vez da Estação Pinacote-ca. Os ladrões, em plena luz do dia, levaram um quadro de Lasar Segall, outro de Di Ca-valcanti e duas gravuras de Picasso, que jun-tos valiam cerca de R$ 1 milhão. Outro caso famoso foi o roubo das obras O Lavrador de Café, de Portinari, e Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 2007. O museu não con-tava com seguro nem sistema de segurança equipado com alarmes e sensores.

a sete chaves O seguro de obra de arte é como qualquer outro. A diferença é que às vezes o valor da coleção fica tão alto que o próprio segurado desiste do negócio. A coleção mais valiosa que a empresa de se-guros Chub cobriu foi avaliada em R$ 300 milhões. O segurador Guilherme Olivetti ex-plica que o valor foi aumentando tanto, por conta de novas aquisições, que o segurado desistiu do negócio. No caso da artista plás-tica Tomie Ohtake, que solicitou o seguro de suas obras, foi a Chub que não quis segurar. “Imagina a gente falar: Tomie Ohtake, o seu quadro não vale isso. Na época a gente su-geriu o seguinte, eu faço o seguro, quanto você vai gastar pra repor a tela, a tinta, a moldura. Esse custo eu reponho, se pegar fogo. Mas o valor da peça era muito compli-cado”, conta Olivetti.

“Os mais caros são os que a gente

chama pintura dos nossos avôs,

Tarsila e Portinari principalmente”,

diz James Lisboa, leiloeiro

O Mágico, de Beatriz Milhazes (foto da página

ao lado) e Abaporu, de Tarsila do Amaral, são

as obras brasileiras que alcançaram os maiores

lances em leilão

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US$ 1,4 milhão. Esse foi o valor alcançado pelo quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, a maior quantia já paga pela obra de um artista brasileiro. Se muitos acreditam que o valor de uma obra de arte é inestimável, o mercado mostra que há quem esteja dis-posto a pagar milhões por ela. O fenômeno nacional mais recente é a artista plástica Be-atriz Milhazes, cujo quadro O Mágico alcan-çou a quantia de US$ 1,049 milhão, adquiri-do pelo mesmo colecionador que comprou Abaporu, o argentino Eduardo Constantini.De acordo com o segurador Guilherme Ta-deu Olivetti, depois desse leilão as obras de Milhazes valorizaram muito. “Tem cliente meu que comprou uma peça dela há três anos por R$ 70 mil e hoje está valendo meio milhão”, exemplifica. O valor das obras tam-bém varia de acordo com a fase de produção do artista. No caso de Vik Muniz, segundo o leiloeiro James Lisboa, “as fases ligadas a diamantes, chocolates, são as mais procura-das porque são as mais criativas”. No leilão de arte feito no dia 24 de março deste ano pelo Escritório de Arte, a foto Team, do ar-tista, teve o lance mínimo de R$ 180 mil.

No prelo As formas de avaliar o traba-lho de um artista variam. Na Galeria Verme-lho, por exemplo, em caso de artistas novos, o custo de produção é multiplicado por três. “O primeiro paga a obra que foi feita; o se-gundo é por causa da carreira, ele precisa

ter dinheiro pra fazer novas obras. E o ter-ceiro preço é porque ele precisa sobreviver”, explica Akio Aoki, representante de vendas internacionais da Vermelho. No caso de ar-tistas mais reconhecidos, avalia-se o currí-culo da obra e do artista. Os leilões avaliam as obras também desta maneira, com uma peculiaridade: o preço das obras é abaixo do valor do mercado. “Isso acontece para poder criar a liquidez, ou seja, para que haja uma disputa, um confronto de valores para che-gar ao preço real de fato”, esclarece Lisboa.

Ele comenta ainda a vantagem que os leilões têm frente às galerias. “Na galeria você espera acontecer. No leilão as vendas acontecem numa noite, é mais dinâmico, não pode durar mais que uma sessão de ci-nema, que é quanto uma pessoa aguenta”, explica o leiloeiro. Segundo ele, 70% do que é posto em pregão é vendido. Afirma, no en-tanto, que as maiores negociações são feitas entre os próprios colecionadores.

As pinturas a óleo são as mais valoriza-das e os artistas do modernismo brasileiro são os mais procurados. “Os mais caros são os que a gente chama pintura dos nossos avôs, Tarsila e Portinari principalmente”, diz Lisboa. Estes são também os artistas preferidos pelos ladrões. No último dia dez de maio deste ano, foram roubadas da casa de Ilde Maksoud as telas O Cangaceiro e Re-trato de Maria, ambas de Cândido Portina-

ri, e Figura em Azul, de Tarsila do Amaral - avaliadas em cerca de R$ 3,5 milhões. No ano passado, foi a vez da Estação Pinacote-ca. Os ladrões, em plena luz do dia, levaram um quadro de Lasar Segall, outro de Di Ca-valcanti e duas gravuras de Picasso, que jun-tos valiam cerca de R$ 1 milhão. Outro caso famoso foi o roubo das obras O Lavrador de Café, de Portinari, e Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 2007. O museu não con-tava com seguro nem sistema de segurança equipado com alarmes e sensores.

a sete chaves O seguro de obra de arte é como qualquer outro. A diferença é que às vezes o valor da coleção fica tão alto que o próprio segurado desiste do negócio. A coleção mais valiosa que a empresa de se-guros Chub cobriu foi avaliada em R$ 300 milhões. O segurador Guilherme Olivetti ex-plica que o valor foi aumentando tanto, por conta de novas aquisições, que o segurado desistiu do negócio. No caso da artista plás-tica Tomie Ohtake, que solicitou o seguro de suas obras, foi a Chub que não quis segurar. “Imagina a gente falar: Tomie Ohtake, o seu quadro não vale isso. Na época a gente su-geriu o seguinte, eu faço o seguro, quanto você vai gastar pra repor a tela, a tinta, a moldura. Esse custo eu reponho, se pegar fogo. Mas o valor da peça era muito compli-cado”, conta Olivetti.

“Os mais caros são os que a gente

chama pintura dos nossos avôs,

Tarsila e Portinari principalmente”,

diz James Lisboa, leiloeiro

O Mágico, de Beatriz Milhazes (foto da página

ao lado) e Abaporu, de Tarsila do Amaral, são

as obras brasileiras que alcançaram os maiores

lances em leilão

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“O seguro varia entre 0,3% a 1,5% do va-lor total da coleção”, diz o segurador. Para avaliar as peças, a empresa envia um pro-fissional que fotografa e especifica os de-talhes, como tamanho e técnica, das obras. Depois o colecionador é encarregado de levar essa documentação a um especialista que determinará o valor das peças. A par-tir desse orçamento, a quantia do seguro é calculada. Atualmente a Chub só faz seguro de coleções particulares, já que o número de museus que procuram as seguradoras é muito baixo e o risco, muito alto.

No Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), no entanto, as obras são seguradas. “Se a obra sofrer algum risco, como um roubo ou um vandalismo, por exemplo, a seguradora in-deniza”, diz Paulo Roberto Amaral Barbo-sa, diretor do acervo do museu. “Mas para nós não é interessante nem pensar nisso. Se você risca ou estraga uma obra, ela não é nem mais aquela obra”, observa.

Há todo um cuidado com o acervo. O empréstimo de peças, por exemplo, para outras instituições, seja fora ou dentro do país, segue um procedimento rigoroso. “As nossas obras quando saem daqui passam por um processo de aclimatação de 48 ho-ras numa caixa de transporte, que é especia-lizada para isso”, explica Paulo Roberto. O preço dessas caixas varia de R$ 15 mil a R$ 18 mil. Segundo o diretor, é preciso anali-sar a temperatura do local onde a obra será exposta. Variações climáticas podem causar

Seção Diagonal, de Marcius Galan, em exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro. Abaixo, visitantes veem as obras do acervo do MAC.

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danos nas peças. “Toda obra que sai do mu-seu precisa ficar embalada num ambiente estabilizado em 22 graus”, informa.

Quando é solicitado o empréstimo de uma peça, quem arca com todos os cus-tos é o interessado. Inclusive o serviço do courrier (pessoa do museu encarregada de acompanhar a obra até ser exposta e depois o seu retorno). “Uma vez na parede, em caso de quadros, a obra é de responsabilidade do pessoal da casa e o courrier volta para cá. Quando a exposição é encerrada, ele volta para buscar a obra”, explica Paulo Roberto.

NA PONTA DO LÁPIS Cada mostra, or-ganizada pelo MAC, não sai por menos de R$ 120 mil. “Nossa verba mensal é da or-dem de R$ 400 mil pra pagar tudo o que se possa imaginar”, afirma. “Uma vantagem que temos sobre os outros museus é que pelo menos a mão de obra, que somos nós, é paga pelo Estado. Museus ou instituições particulares vivem na corda bamba porque sempre têm custos a pagar”, observa. Para o curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Felipe Chaimovich, o maior auxílio, por parte do Estado, vem da Lei Rou-anet. “A gente vai atrás de patrocinadores para adquirir as obras. Os patrocinadores usam o recurso de abatimento de imposto garantido pela Lei Rouanet”, explica.

A ajuda do governo também foi im-portante para que o artista Marcius Galan conseguisse expor uma obra no exterior.

“Talvez, sem incentivo do governo, do Mi-nistério da Cultura, eu não conseguiria ter ido pra Houston fazer meu trabalho lá”, con-ta Galan. O auxílio governamental consistia no pagamento da passagem para Houston, mediante a apresentação de um projeto, em que o artista expunha a importância de sua obra, da mostra que iria participar e do mu-seu onde aconteceria a exposição.

Galan ainda não vive só de arte. “Eu tra-balho como designer. Faço um monte de coisa. Porque para mim é muito mais cômo-do não depender só do mercado de arte”, conta o artista. “É algo que seria ótimo, mas eu não tento lutar pra que isso aconteça. Se-ria depender de algo que é instável. Eu fico mais seguro tendo os outros projetos”, diz. No começo da carreira, a permuta era a for-ma de vender suas obras. “Eu trocava traba-lho meu por molduras”, exemplifica.

Hoje o trabalho de Galan ultrapassa o limite das molduras. “Arte vai mudando e o mercado acaba absorvendo as coisas”, aponta. Algumas de suas obras são instala-ções. Um exemplo é a Seção diagonal, que está em negociação com Museum of Fine Arts, de Houston. Nesses casos de site spe-cific (obras feitas para um local específico),

quem compra não leva o trabalho para casa, como um quadro, e sim o projeto. “Qual-quer pessoa pode fazer aquele trabalho em qualquer lugar. São os trabalhos pouco con-vencionais que fazem a coleção ter força”, diz o artista.

Quem representa Marcius Galan, em São Paulo, é a galeria Luisa Strina. “A galeria tem o papel fundamental de inserção do artista no mercado”, diz o artista. Akio Aoki, repre-sentante de vendas internacionais da Ver-melho, concorda: “uma instituição que pro-cura um jovem artista precisa de um filtro e o primeiro filtro é a galeria”. Quando a obra é comprada, normalmente, o valor da venda é dividido igualmente entre os dois. O pre-ço, no caso de Galan, é determinado por um consenso entre ele e a galerista. “Faço uma lista com os preços que eu acho justos base-ados nos trabalhos antigos e a Luísa fala se está caro, se está barato”, conta o artista.

Os valores negociados no mundo da arte podem causar espanto, mas como reza o ve-lho ditado: “olhar não custa nada”. A entra-da em galerias e em alguns museus, como o MAC, é franca. Outros, como o Masp e o MAM, tem pelo menos um dia na semana em que não é cobrado o ingresso.

“A galeria é fundamental para a inserção do artista no mercado”, diz Galan, artista

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CULTURA

mecenato

REPORTAGEM HUGO PaSSareLLi (2o ano de Jornalismo)

reforma da Lei rouanet questiona a isenção de imposto de renda como principal mecanismo de financiamento à cultura

à bRAsiLeiRA

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O que Cirque du Soleil e Doutores da Ale-gria têm em comum? Ambos são exemplos de projetos financiados pela Lei de Incenti-vo Fiscal ou Lei 8 313, também conhecida como Lei Rouanet.

Criada em 21 de dezembro de 1991, ainda no governo Collor, a Lei instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pro-nac) que funciona com dois mecanismos de apoio a projetos culturais: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), fundo de recursos públi-cos, e o mecenato, participação do capital privado, via isenção de imposto de renda.

Sob o ponto de vista da origem dos re-cursos para cultura, o Ministério da Cultu-ra (MinC) avalia que cerca de 90% de toda a verba captada é proveniente de renúncia fiscal, ou seja, não vem de aplicação direta da iniciativa privada e, sim, da isenção de impostos. Dentro dessa estatística, há pro-jetos tão diversos como os já citados Cirque du Soleil e Doutores da Alegria. O primeiro causou polêmica em 2006, quando a empre-sa mexicana Companhia Interamericana de Entretenimento (CIE) conseguiu isenção fis-cal de R$ 9,4 milhões para trazer ao Brasil o espetáculo Saltimbanco, com ingressos que chegaram a R$ 370. O segundo, porém, é al-tamente dependente de doações para man-ter suas operações, como esclarece Milena Marques, supervisora de mobilização de re-cursos da trupe. De acordo com Marques, “cerca de 60% das doações do projeto vem de pessoas físicas e jurídicas que conhecem o mecanismo de incentivo via Lei Rouanet”.

No entanto, “a renúncia fiscal não pode ser o ponto central do financiamento à cul-tura”, resumiu o Secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, Roberto Nascimento, durante o I Congresso de Jornalismo Cultu-ral, realizado entre 4 a 8 de maio de 2008, em São Paulo. “Em 2008, a região Sudeste ultrapassou os 80% de participação na Lei Rouanet. Além disso, apenas 3% dos propo-

nentes ficaram com 50% de toda essa ver-ba”, completou Nascimento.

O qUe pROpõe A RefORmA Com o intuito de tentar corrigir esses problemas, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, apre-sentou, em 23 de março, o projeto de refor-ma da Lei Rouanet que, até seis de maio, esteve em consulta pública e aberto a su-gestões no site do MinC. Agora, o texto de-pende de aprovação no Congresso Nacional para entrar em vigor.

O desequilíbrio na distribuição de verba entre as regiões do Brasil e entre os diver-sos tipos de arte é um dos pontos princi-pais atacados pela reforma. Com ela, o MinC quer ser o investidor direto da cultura, por meio do fortalecimento do Fundo Nacional da Cultura (FNC) e da criação de novos fun-dos setoriais, dedicados às Artes, ao Livro e à Leitura, à Cidadania, Identidade e Diver-sidade Cultural e à Memória e Patrimônio Cultural Brasileiro. “O papel do Ministério é universalizar o acesso à cultura”, afirmou Alfredo Manevy, secretário-executivo do Mi-nistério da Cultura.

Além disso, estão previstas, como ma-neira de onerar mais o capital privado, no-vas faixas de renúncia fiscal de imposto de renda de 60%, 70%, 80% e 90%. Mas conti-nuarão existindo as faixas de isenção de 30% e 100%. Outra novidade é a criação do Vale Cultura, valor mensal de R$ 50 dado ao trabalhador para ser gasto, por exem-plo, em cinemas, peças e exposições. Se-gundo estimativas do MinC, a medida pode beneficiar até 14 milhões de trabalhadores e injetar R$ 600 milhões por mês no mer-cado cultural.

pOLêmiCAs Apesar da promessa de avanço no financiamento à cultura, muitas das mudanças do projeto são questiona-das por intelectuais, produtores culturais e entidades ligadas ao marketing cultural. Para João Leiva, sócio da J. Leiva Cultura

e Esporte – consultoria de desenvolvimen-to de políticas culturais e esportivas para empresas –, a partir da criação de novas faixas de isenção, “haverá queda de parti-cipação do empresariado”. Leiva concorda que há erros na Lei e distorções na distri-buição de verba, como diz o argumento do Ministério. Mas ressalta: “não há uma lei que resolva todo o vácuo cultural no Brasil. A Lei Rouanet funciona muito bem para de-terminados projetos. A reforma não só não resolve as distorções da Lei atual, como piora o que está dando certo”.

André Piero Gatti, professor de História do Cinema Brasileiro da Fundação Arman-do Álvares Penteado (FAAP), acredita que há um erro no modo como o incentivo à cultura é tratado pelo empresariado. “A Lei Rouanet não é investimento, é mecenato. Na Lei, a única coisa que o investidor busca é agregar o nome dele ao ‘produto’ em exi-bição.” O professor também considera que não há contrapartida social dos projetos aprovados pelo Ministério. “Hoje, muitas peças de teatro, montadas via Lei Rouanet, não possuem ingressos com preço inferior a R$ 80. Qual é o retorno para a sociedade disso?”, questiona.

“Sou favorável ao fortalecimento do Fun-do Nacional de Cultura e ao financiamento público de cultura”, afirma Sergio Farah Scamilla, produtor cultural e sócio da Esca-milla Soluções Culturais. Scamilla acredita que o problema na reforma é a falta de cla-reza de suas propostas. “Do jeito que está, tudo é extremamente genérico. O projeto de reforma da Lei Rouanet deveria estar mais aprofundado”. Outro ponto fundamental para o produtor, não abordado pela refor-ma, é a modernização da gestão do MinC. “Às vezes, você chega a esperar seis meses até um projeto ser aprovado. Deveria haver um plano para maior capacitação do corpo técnico do Ministério”, opina.

Cirque du Soleil: isenção fiscal de

R$ 9,4 milhões no espetáculo Saltimbanco

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REPORTAGEM HUGO PaSSareLLi (2o ano de Jornalismo)

reforma da Lei rouanet questiona a isenção de imposto de renda como principal mecanismo de financiamento à cultura

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ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009 61

O que Cirque du Soleil e Doutores da Ale-gria têm em comum? Ambos são exemplos de projetos financiados pela Lei de Incenti-vo Fiscal ou Lei 8 313, também conhecida como Lei Rouanet.

Criada em 21 de dezembro de 1991, ainda no governo Collor, a Lei instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pro-nac) que funciona com dois mecanismos de apoio a projetos culturais: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), fundo de recursos públi-cos, e o mecenato, participação do capital privado, via isenção de imposto de renda.

Sob o ponto de vista da origem dos re-cursos para cultura, o Ministério da Cultu-ra (MinC) avalia que cerca de 90% de toda a verba captada é proveniente de renúncia fiscal, ou seja, não vem de aplicação direta da iniciativa privada e, sim, da isenção de impostos. Dentro dessa estatística, há pro-jetos tão diversos como os já citados Cirque du Soleil e Doutores da Alegria. O primeiro causou polêmica em 2006, quando a empre-sa mexicana Companhia Interamericana de Entretenimento (CIE) conseguiu isenção fis-cal de R$ 9,4 milhões para trazer ao Brasil o espetáculo Saltimbanco, com ingressos que chegaram a R$ 370. O segundo, porém, é al-tamente dependente de doações para man-ter suas operações, como esclarece Milena Marques, supervisora de mobilização de re-cursos da trupe. De acordo com Marques, “cerca de 60% das doações do projeto vem de pessoas físicas e jurídicas que conhecem o mecanismo de incentivo via Lei Rouanet”.

No entanto, “a renúncia fiscal não pode ser o ponto central do financiamento à cul-tura”, resumiu o Secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, Roberto Nascimento, durante o I Congresso de Jornalismo Cultu-ral, realizado entre 4 a 8 de maio de 2008, em São Paulo. “Em 2008, a região Sudeste ultrapassou os 80% de participação na Lei Rouanet. Além disso, apenas 3% dos propo-

nentes ficaram com 50% de toda essa ver-ba”, completou Nascimento.

O qUe pROpõe A RefORmA Com o intuito de tentar corrigir esses problemas, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, apre-sentou, em 23 de março, o projeto de refor-ma da Lei Rouanet que, até seis de maio, esteve em consulta pública e aberto a su-gestões no site do MinC. Agora, o texto de-pende de aprovação no Congresso Nacional para entrar em vigor.

O desequilíbrio na distribuição de verba entre as regiões do Brasil e entre os diver-sos tipos de arte é um dos pontos princi-pais atacados pela reforma. Com ela, o MinC quer ser o investidor direto da cultura, por meio do fortalecimento do Fundo Nacional da Cultura (FNC) e da criação de novos fun-dos setoriais, dedicados às Artes, ao Livro e à Leitura, à Cidadania, Identidade e Diver-sidade Cultural e à Memória e Patrimônio Cultural Brasileiro. “O papel do Ministério é universalizar o acesso à cultura”, afirmou Alfredo Manevy, secretário-executivo do Mi-nistério da Cultura.

Além disso, estão previstas, como ma-neira de onerar mais o capital privado, no-vas faixas de renúncia fiscal de imposto de renda de 60%, 70%, 80% e 90%. Mas conti-nuarão existindo as faixas de isenção de 30% e 100%. Outra novidade é a criação do Vale Cultura, valor mensal de R$ 50 dado ao trabalhador para ser gasto, por exem-plo, em cinemas, peças e exposições. Se-gundo estimativas do MinC, a medida pode beneficiar até 14 milhões de trabalhadores e injetar R$ 600 milhões por mês no mer-cado cultural.

pOLêmiCAs Apesar da promessa de avanço no financiamento à cultura, muitas das mudanças do projeto são questiona-das por intelectuais, produtores culturais e entidades ligadas ao marketing cultural. Para João Leiva, sócio da J. Leiva Cultura

e Esporte – consultoria de desenvolvimen-to de políticas culturais e esportivas para empresas –, a partir da criação de novas faixas de isenção, “haverá queda de parti-cipação do empresariado”. Leiva concorda que há erros na Lei e distorções na distri-buição de verba, como diz o argumento do Ministério. Mas ressalta: “não há uma lei que resolva todo o vácuo cultural no Brasil. A Lei Rouanet funciona muito bem para de-terminados projetos. A reforma não só não resolve as distorções da Lei atual, como piora o que está dando certo”.

André Piero Gatti, professor de História do Cinema Brasileiro da Fundação Arman-do Álvares Penteado (FAAP), acredita que há um erro no modo como o incentivo à cultura é tratado pelo empresariado. “A Lei Rouanet não é investimento, é mecenato. Na Lei, a única coisa que o investidor busca é agregar o nome dele ao ‘produto’ em exi-bição.” O professor também considera que não há contrapartida social dos projetos aprovados pelo Ministério. “Hoje, muitas peças de teatro, montadas via Lei Rouanet, não possuem ingressos com preço inferior a R$ 80. Qual é o retorno para a sociedade disso?”, questiona.

“Sou favorável ao fortalecimento do Fun-do Nacional de Cultura e ao financiamento público de cultura”, afirma Sergio Farah Scamilla, produtor cultural e sócio da Esca-milla Soluções Culturais. Scamilla acredita que o problema na reforma é a falta de cla-reza de suas propostas. “Do jeito que está, tudo é extremamente genérico. O projeto de reforma da Lei Rouanet deveria estar mais aprofundado”. Outro ponto fundamental para o produtor, não abordado pela refor-ma, é a modernização da gestão do MinC. “Às vezes, você chega a esperar seis meses até um projeto ser aprovado. Deveria haver um plano para maior capacitação do corpo técnico do Ministério”, opina.

Cirque du Soleil: isenção fiscal de

R$ 9,4 milhões no espetáculo Saltimbanco

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LAZERREPORTAGEM flávIA TElES (1º ano de Jornalismo) e ThAíS dA SIlvA lIMA (2o ano de Jornalismo)

BarettoRua Vitório Fasano, 88, Jardim Paulista

Centro Cultural São Paulo (CCSP)Rua Vergueiro, 1000, Paraíso

Com lugar para apenas 66 pessoas sentadas, o Baretto, piano-bar do hotel fasano, possui poltronas francesas e oferece atrações que chegam a custar R$ 300. foi o caso do show da cantora Marina de la Riva em abril. “A ideia é proporcionar um show muito intimista, para um público endinheirado na faixa dos 40, 50 anos”, explica francisco de freitas, gerente do local que já recebeu personalidades como Ney Matogrosso. Já o Centro Cultural São Paulo (CCSP) também oferece espetáculos de grandes nomes da música, como Chico César e Arnaldo Antunes, que quando não são gratuitos, custam R$ 10. Segundo Sílvia Marquezi, administradora da sala de espetáculos, “os artistas trabalham de graça e a casa é um espaço público. Por isso, os frequentadores também pagam menos.” A sala tem capacidade para 631 pessoas.

SHOWS

Espaço PremiumAv. Magalhães de Castro, 12.000, Cidade Jardim

CinemarkEm 15 shoppings na cidade de São Paulo

“Queremos que todos os públicos frequentem nossos cinemas”, afirma Maricy leal, gerente de marketing do Cinemark. Em algumas salas da rede acontece o Cine Cult, que oferece filmes do circuito alternativo por R$ 4 todos os dias às 15 horas. outra opção, nesse mesmo horário e preço, é a Sessão Desconto, que exibe longas em cartaz a mais tempo. E para aqueles que não dispensam o aconchego do sofá de casa está disponível o Espaço Premium: há duas salas que, juntas, acomodam 224 pessoas. “Já temos uma clientela cativa, que nos conhecem por nome e tem preferência pelo atendimento de alguns funcionários”, afirma Cliedena Menezes, atendente do Premium Bar que oferece de pipocas com azeite espanhol a carta de vinhos. Mas toda essa mordomia tem um preço: os ingressos chegam a custar R$ 46 no fim de semana.

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DiviRtA-SE A cidade de São Paulo tem programas para todos os bolsos

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Com frequências médias de 80% por espetáculo, o Teatro Alfa já apresentou espetáculos que chegaram a custar R$1500,caso da apresentação do maestro e compositor Ennio Morricone. Até o dia dois de agosto, está em cartaz a peça Noviça Rebelde, uma adaptação de um clássico da Broadway, com ingressos variando de R$ 60 a R$180. Segundo Fernando Guimarães, gerente operacional e de programação do Teatro Alfa, “a escolha das produções é baseada no conceito e conteúdo dos espetáculos, no sentido de atender a um público exigente”. No Teatro do Sesi, porém, com R$ 30, até abril, foi possível assistir a três montagens do grupo teatral curitibano Sutil Companhia. E, normalmente, às quartas-feiras, os espetáculos são gratuitos. “O maior foco do teatro é a formação de público em meio a tanta gente não iniciada em artes e, por isso, os preços populares são peça fundamental”, diz Evelyne Lorenzetti, assessora do teatro.

Em 2008 a primeira publicação do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, completou 70 anos e ganhou nova edição da Editora Record. Contém o texto integral, além de fotografias do sertão nordestino. O livro custa R$ 99,90 na Livraria Cultura. No Estante Virtual, rede de sebos pela internet, edições mais antigas saem por R$ 10. Auto denominada “a Google dos sebos”, o site conta com 1.353 lojas registradas em 239 cidades e mais de 400 mil usuários cadastrados. Almir da Silva Mota, dono do sebo virtual Alfarrabius, achou que a melhor solução para a divulgação de seu “hobby lucrativo” seria o site. “A parceria com o Estante me ajudou a organizar os negócios, além de conseguir clientes de todo o país, coisa que não conseguiria com uma loja física”, comenta. Mesmo comercializando produtos iguais, o diretor comercial da Livraria Cultura Fábio Herz não acredita que haja concorrência. “Os mercados são diferentes, os consumidores diferentes. Muitos procuram por edições esgotadas em sebos. É uma alternativa positiva”, afirma.

Estante Virtualwww.estantevirtual.com.br

Livraria Cultura - Conjunto NacionalAvenida Paulista, 2073, Cerqueira César

Teatro do SesiAv. Paulista, 1313, Cerqueira César

Teatro AlfaRua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro

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Com frequências médias de 80% por espetáculo, o Teatro Alfa já apresentou espetáculos que chegaram a custar R$1500,caso da apresentação do maestro e compositor Ennio Morricone. Até o dia dois de agosto, está em cartaz a peça Noviça Rebelde, uma adaptação de um clássico da Broadway, com ingressos variando de R$ 60 a R$180. Segundo Fernando Guimarães, gerente operacional e de programação do Teatro Alfa, “a escolha das produções é baseada no conceito e conteúdo dos espetáculos, no sentido de atender a um público exigente”. No Teatro do Sesi, porém, com R$ 30, até abril, foi possível assistir a três montagens do grupo teatral curitibano Sutil Companhia. E, normalmente, às quartas-feiras, os espetáculos são gratuitos. “O maior foco do teatro é a formação de público em meio a tanta gente não iniciada em artes e, por isso, os preços populares são peça fundamental”, diz Evelyne Lorenzetti, assessora do teatro.

Em 2008 a primeira publicação do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, completou 70 anos e ganhou nova edição da Editora Record. Contém o texto integral, além de fotografias do sertão nordestino. O livro custa R$ 99,90 na Livraria Cultura. No Estante Virtual, rede de sebos pela internet, edições mais antigas saem por R$ 10. Auto denominada “a Google dos sebos”, o site conta com 1.353 lojas registradas em 239 cidades e mais de 400 mil usuários cadastrados. Almir da Silva Mota, dono do sebo virtual Alfarrabius, achou que a melhor solução para a divulgação de seu “hobby lucrativo” seria o site. “A parceria com o Estante me ajudou a organizar os negócios, além de conseguir clientes de todo o país, coisa que não conseguiria com uma loja física”, comenta. Mesmo comercializando produtos iguais, o diretor comercial da Livraria Cultura Fábio Herz não acredita que haja concorrência. “Os mercados são diferentes, os consumidores diferentes. Muitos procuram por edições esgotadas em sebos. É uma alternativa positiva”, afirma.

Estante Virtualwww.estantevirtual.com.br

Livraria Cultura - Conjunto NacionalAvenida Paulista, 2073, Cerqueira César

Teatro do SesiAv. Paulista, 1313, Cerqueira César

Teatro AlfaRua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro

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perfil

Aos domingos, na feira de antiguidade do MASP, Antonio Soeiro troca e vende suas moedas repetidas

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REPORTAGEM bEATRIz MARTINS e jUlIANA chIAvASSA (1o ano de jornalismo)IMAGEM RENATo lEITE RIbEIRo (1o ano de jornalismo)

O tesoureiroAntonio Soeiro preserva o hábito de colecionar moedas desde os oito anos. Uma herança de família que passou de avô para neto e persiste até hoje

Aos domingos, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), um segundo mu-seu é montado. Os 74 m² do espaço são ocu-pados por barracas de antiguidades, em que são vendidas luminárias, candelabros, pra-tarias, imagens sacras etc. Em uma delas, moedas, muitas moedas, dos mais variados países e épocas: China, Dinamarca, do Impé-rio Romano antes de Cristo e do tempo de D. Pedro I. Uma senhora se aproxima dessa barraca, abre um porta-níquel e despeja as moedinhas na mão do senhor responsável.

— Quanto vale? – ela pergunta. Ele olha, reolha e diz:

— Não valem muita coisa... — devolve algumas, que segundo ele não têm valor algum. Pega um calhamaço de mais duas mil páginas para mostrar à senhora quanto valem as únicas duas peças que lhe interes-sam e explica: “Não importa muito o quão velha a moeda é, mas o seu estado de con-servação” — as da senhora estavam pretas. Ele oferece dez reais pelas duas moedas da época do Império Brasileiro, ela aceita.

Esse é apenas um exemplo da maioria das pessoas que se aproxima da barraca de Antonio Soeiro, 62, conhecido como Tonyan. A paixão por colecionar dinheiro veio ainda criança, quando tinha oito anos e herdou a coleção de moedas do avô. Incentivado pela família desde pequeno, Tonyan diz que seu pai o fazia pesquisar quem era a pessoa que estava estampada nas notas. “Eu tinha que procurar nos livros quem era aquela pessoa que estava na nota. É por isso que hoje em dia acredito que o dinheiro conta a histó-ria”, explica. Atualmente ele não sabe ao certo quantas moedas tem em sua coleção, tampouco o valor aproximado. Para ele, “o valor de uma coleção é histórico e universal, não de cifras”.

O colecionismo e a barraca na feira de antiguidades são a diversão desse arqueó-logo por formação, que não se dedica mais à pesquisa de sítios arqueológicos. Hoje trabalha na perícia de crimes no Centro de Exames, Análises e Pesquisa do Instituto de Criminalística da Polícia Federal. Na feira,

encontra amigos, clientes, incentiva o cole-cionismo, e, entre uma venda e outra, lucra, mas muito pouco, segundo ele.

CLIENTELA Boa parte das pessoas, que vão à barraca de Tonyan, tenta vender moe-das em mau estado, as quais o colecionador rejeita. Geralmente são Cruzeiros e Cruza-dos que, segundo o colecionador, não são raros nem antigos. Mas quando a peça é de seu interesse, Tonyan faz gastos extrava-gantes, os quais ele não confessa o valor. Explica que ser caro é relativo, pois algu-mas peças são realmente caras, mas valem à pena. Como uma de suas raridades, uma moeda grega de 530 anos a.C., que vale cer-ca de R$ 70 mil.

Com tanto tempo de coleção, é difí-cil quantificar e individualizar as moedas. Tonyan, no entanto, lembra de um caso inu-sitado de uma nota chilena. “Eu estava aqui conversando com uma freguesa quando chegou um homem muito mal educado me perguntado por quanto eu compraria um bolinho de notas. Como elas estavam muito sujas e quase não tinham valor de mercado, eu paguei R$ 5 e ele se deu por satisfeito. Quando fui conferir o que tinha dentro do envelope, fiquei surpreso com essa nota do Chile”, mostra uma nota cheia de assinatu-ras. Na raridade constavam as assinaturas de todos os jogadores da seleção brasileira de 1962, que conquistou o bicampeonato mundial de futebol. E as peças curiosas não param por aqui. No acervo podem ser vis-tas, por exemplo, tabletes de bambu do ta-manho de um dedo, que serviam para serem trocadas por banhos quentes na China.

ARTIMANHAS As moedas em exposi-ção e a venda são apenas as repetidas de sua coleção. “É claro que de vez em quando eu coloco uma melhor aqui, para chamar o público”, confessa. A barraca ainda possui um estratagema para quem curte roubar al-gumas moedinhas. Duas latas de biscoitos, uma em cada lado da barraca, ofertam dez moedas por R$ 4. Mais do que vender, a in-tenção é separar as de pouco valor para os cleptomaníacos que freqüentam o local. Se-

gundo Tonyan, o furto ali é comum, mas as pessoas desejam apenas ter a sensação de pegar algo, por isso, deixa as latas.

Entre seus clientes fixos estão um de Brasília e outro de Santos, que, a cada qua-tro meses, passam na feirinha e chegam a gastar R$ 10 mil em moedas. Já as mulheres são quase tão raras quanto a sua coleção. Uma delas é bióloga, e coleciona apenas notas e moedas que tenham figuras de ani-mais. Quando uma peça com essa caracte-rística chega às mãos do colecionador, ele separa para a cliente.

O preço varia de acordo com a raridade, conservação e idade. E também é tabelado em catálogos internacionais e por leilões, dos quais Tonyan participa toda quarta-fei-ra, onde também adquire novos itens. E as-sim a coleção cresce. E, quiçá, as histórias.

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perfil

Aos domingos, na feira de antiguidade do MASP, Antonio Soeiro troca e vende suas moedas repetidas

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REPORTAGEM bEATRIz MARTINS e jUlIANA chIAvASSA (1o ano de jornalismo)IMAGEM RENATo lEITE RIbEIRo (1o ano de jornalismo)

O tesoureiroAntonio Soeiro preserva o hábito de colecionar moedas desde os oito anos. Uma herança de família que passou de avô para neto e persiste até hoje

Aos domingos, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), um segundo mu-seu é montado. Os 74 m² do espaço são ocu-pados por barracas de antiguidades, em que são vendidas luminárias, candelabros, pra-tarias, imagens sacras etc. Em uma delas, moedas, muitas moedas, dos mais variados países e épocas: China, Dinamarca, do Impé-rio Romano antes de Cristo e do tempo de D. Pedro I. Uma senhora se aproxima dessa barraca, abre um porta-níquel e despeja as moedinhas na mão do senhor responsável.

— Quanto vale? – ela pergunta. Ele olha, reolha e diz:

— Não valem muita coisa... — devolve algumas, que segundo ele não têm valor algum. Pega um calhamaço de mais duas mil páginas para mostrar à senhora quanto valem as únicas duas peças que lhe interes-sam e explica: “Não importa muito o quão velha a moeda é, mas o seu estado de con-servação” — as da senhora estavam pretas. Ele oferece dez reais pelas duas moedas da época do Império Brasileiro, ela aceita.

Esse é apenas um exemplo da maioria das pessoas que se aproxima da barraca de Antonio Soeiro, 62, conhecido como Tonyan. A paixão por colecionar dinheiro veio ainda criança, quando tinha oito anos e herdou a coleção de moedas do avô. Incentivado pela família desde pequeno, Tonyan diz que seu pai o fazia pesquisar quem era a pessoa que estava estampada nas notas. “Eu tinha que procurar nos livros quem era aquela pessoa que estava na nota. É por isso que hoje em dia acredito que o dinheiro conta a histó-ria”, explica. Atualmente ele não sabe ao certo quantas moedas tem em sua coleção, tampouco o valor aproximado. Para ele, “o valor de uma coleção é histórico e universal, não de cifras”.

O colecionismo e a barraca na feira de antiguidades são a diversão desse arqueó-logo por formação, que não se dedica mais à pesquisa de sítios arqueológicos. Hoje trabalha na perícia de crimes no Centro de Exames, Análises e Pesquisa do Instituto de Criminalística da Polícia Federal. Na feira,

encontra amigos, clientes, incentiva o cole-cionismo, e, entre uma venda e outra, lucra, mas muito pouco, segundo ele.

CLIENTELA Boa parte das pessoas, que vão à barraca de Tonyan, tenta vender moe-das em mau estado, as quais o colecionador rejeita. Geralmente são Cruzeiros e Cruza-dos que, segundo o colecionador, não são raros nem antigos. Mas quando a peça é de seu interesse, Tonyan faz gastos extrava-gantes, os quais ele não confessa o valor. Explica que ser caro é relativo, pois algu-mas peças são realmente caras, mas valem à pena. Como uma de suas raridades, uma moeda grega de 530 anos a.C., que vale cer-ca de R$ 70 mil.

Com tanto tempo de coleção, é difí-cil quantificar e individualizar as moedas. Tonyan, no entanto, lembra de um caso inu-sitado de uma nota chilena. “Eu estava aqui conversando com uma freguesa quando chegou um homem muito mal educado me perguntado por quanto eu compraria um bolinho de notas. Como elas estavam muito sujas e quase não tinham valor de mercado, eu paguei R$ 5 e ele se deu por satisfeito. Quando fui conferir o que tinha dentro do envelope, fiquei surpreso com essa nota do Chile”, mostra uma nota cheia de assinatu-ras. Na raridade constavam as assinaturas de todos os jogadores da seleção brasileira de 1962, que conquistou o bicampeonato mundial de futebol. E as peças curiosas não param por aqui. No acervo podem ser vis-tas, por exemplo, tabletes de bambu do ta-manho de um dedo, que serviam para serem trocadas por banhos quentes na China.

ARTIMANHAS As moedas em exposi-ção e a venda são apenas as repetidas de sua coleção. “É claro que de vez em quando eu coloco uma melhor aqui, para chamar o público”, confessa. A barraca ainda possui um estratagema para quem curte roubar al-gumas moedinhas. Duas latas de biscoitos, uma em cada lado da barraca, ofertam dez moedas por R$ 4. Mais do que vender, a in-tenção é separar as de pouco valor para os cleptomaníacos que freqüentam o local. Se-

gundo Tonyan, o furto ali é comum, mas as pessoas desejam apenas ter a sensação de pegar algo, por isso, deixa as latas.

Entre seus clientes fixos estão um de Brasília e outro de Santos, que, a cada qua-tro meses, passam na feirinha e chegam a gastar R$ 10 mil em moedas. Já as mulheres são quase tão raras quanto a sua coleção. Uma delas é bióloga, e coleciona apenas notas e moedas que tenham figuras de ani-mais. Quando uma peça com essa caracte-rística chega às mãos do colecionador, ele separa para a cliente.

O preço varia de acordo com a raridade, conservação e idade. E também é tabelado em catálogos internacionais e por leilões, dos quais Tonyan participa toda quarta-fei-ra, onde também adquire novos itens. E as-sim a coleção cresce. E, quiçá, as histórias.

ESQUINAS 2º SEMESTRE 2008 59

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Page 66: Revista Esquinas - nº 45 - Dinheiro - Faculdade Cásper Líbero

REPORTAGEM BEATRIZ BULLA e DÉBORA ZANELATO (2° ano de Jornalismo)

ALI NA ESQUINAALI NA ESQUINAALI NA ESQUINAALI NA ESQUINA

66 ESQUINAS 1º SEMESTRE 2009

Museu da Numismática Herculano Pires Avenida Paulista, 1495

Telefone: 2168 1876Horário de funcionamento

3ª 10h/19h, 4ª 10h/21h e 5ª/dom 10h/19h

AS MOEDASAvENidA PAulisTA, 149, nono andar. A pai-sagem do centro financeiro de São Paulo, avis-tada pela janela, que vai do teto ao chão, não poderia combinar melhor com a atração ali instalada: Museu de Numismática “Herculano Pires”. Ao passar pela porta de entrada do mu-seu, o visitante encontra um grande livro, Voya-ge au Brésil, de Jean-Baptiste Debret. Esta é pista da proposta da exposição: uma viagem, não por meio de livros, mas por moedas e medalhas que ilustram a história do Brasil. E para entrar no cli-ma, a trilha sonora do ambiente é composta por músicas de artistas brasileiros: de Carlos Gomes a Chico Buarque, passando pelo xaxado de Luís Gonzaga e pela bossa de Tom Jobim.

A primeira parada é em 1394, com o nasci-mento de Infante Dom Henrique, fundador da Escola de Sagres. Por meio de painéis, um breve relato da chegada dos portugueses é contado. Após o desembarque das Caravelas, começa a exposição, com cerca de 1500 peças, entre mo-edas e condecorações brasileiras, que contam os mais de 500 anos de história do país.

Nas vitrines, com prateleiras azuis, as infor-mações são passadas em três níveis: acima das peças, há um painel com pequenos textos que

Mesa para observação detalhada de moedas

situam o visitante sobre época das moedas que está vendo; abaixo das peças, há imagens do período histórico seguidas de uma linha do tempo. Entre os itens que chamam mais aten-ção estão a primeira moeda que circulou no Brasil, de 1499, que também é a mais antiga do museu; e a chamada “Ensaio Monetário Terra de Santa Cruz”, em que está cunhado o segundo nome pelo qual o país foi batizado, Terra de San-ta Cruz – ela esta também é a mais rara, só exis-tem dois exemplares, a que está na instituição, e outro em Portugal.

E se engana quem pensa que só existem moedas maciças e que servem para a troca de mercadorias. Apesar de parecer uma moeda de bronze, uma das peças exposta é, na verdade, um estojo onde se guardava uma versão da primeira constituição brasileira, de 1824. Outro momento histórico do país também é destaca-do por meio de suporte diferente. “Lavagem do ouro” é o título da maquete que ilustra uma das mais importantes fases da economia brasileira, a mineração, no século 18.

No final do corredor, o visitante encontra um hall, onde, além da continuidade da expo-sição, há uma grande mesa circular equipada

com um microscópio de lentes laica, que permi-te a observação detalhada de algumas moedas. Qualquer um pode se aventurar como perito e analisar de pertinho os itens expostos, embora a mesa seja destinada a especialistas e pesqui-sadores, que têm um interesse específico em numismática, ciência que estuda as moedas.

E a viagem que partiu da Escolas de Sagres se encerra na era dos cartões de crédito. For-ma de dinheiro que crianças, como Thayná, 11, da escola estadual Professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, estão mais familiarizadas. “O museu é distante da realidade de parte do público que vem aqui, tentamos tornar as visi-tas algo mais lúdico, mais leve”, explica Marina Silveira, educadora e supervisora da Instituição. Resultado alcançado e ratificado na frase de Thayná: “eu aprendi mais [sobre história do Brasil] nessa tarde do que nos meus anos na escola”.

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estai. [do frâncico*stâg, atr. do fr. ant. stay, atual étai]S. m. Marinh. 1. Qualquer dos cabos que aguentam a mastreação para vante. 2. Marinh. Qualquer cabo destinado a suportar em posição vertical um turco, chaminé, balaústre ou qualquer outra peça do equipamento da embarcação. 3. Bras. Constr. Nav. Haste metálica geralmente cilíndrica, que serve para manter em posição qualquer parte ou peça da embarcação. [Cf. brandal.]

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