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1 revista - Diálogo

Revista dialogo 2 edição

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Sumário.

Editorial

O que significa ser redentorista hoje

Padre Claro Monteiro e os Redentoristas

Padre Antônio Vieira – Um missionário com pensar próprio

O papel da Virgem Maria na Redenção de Jesus – Na proposta do Pe. Clemente Dillenschneider, C.Ss.R.

Identidade

A Accademia Alfonsiana e sua importância à Reflexão Teológico-Moral

Ação Missionária e Pastoral dos Redentoristas

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Expediente.REVISTA DIÁLOGORevista de Formação e Informação da Província Redentorista de São PauloEdição n. 2 - Julho a Dezembro 2014

Superior ProvincialPe. Luís Rodrigues Batista, C.Ss.R.

Coordenador EditorialPe. José Uilson Inácio Soares Junior, C.Ss.R.

RedatorPe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

RevisãoLeila Cristina Dinis FernandesLuana Galvão

Design e DiagramaçãoHenrique Baltazar

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Editorial.

EM MEIO A TANTA INFORMAÇÃO...Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.

[email protected]

Todos os dias somos bombardeados por milhões de informações, a grande maioria delas descartável. É tanto conteúdo, que muitas vezes não conseguimos distinguir aquilo que é mais importante daquilo que pode fi car para depois. Todo o conhecimento acumulado no mundo ao longo dos séculos XVIII e XIX mereceu a criação de uma enciclopédia, grande conquista da época e grande instrumento colocado nas mãos dos alunos ou nas estantes das melhores bibliotecas. Quantos de nós fomos assíduos frequentadores de nossas bibliotecas e leitores das curiosidades encontradas na Barsa, na Britânica, na Delta-Larousse e outras mais. Este mesmo conhecimento pode ser colocado hoje num disquete de computador ou num pen drive, sobrando ainda espaço para nossos conteúdos.

Nesse turbilhão de informações e de conteúdos, o mais diversifi cado possível, não podemos perder o sentido do essencial e daquilo que merece um pouco mais de atenção de nossa parte, mesmo que

seja uma leitura um pouco mais atenta e particularizada.

Por causa disso, ao retomarmos a Revista Diálogo, agora numa tiragem semestral, quisemos ajudar no processo de refl exão e de socialização do conhecimento, bem como valorizar a produção científi ca ou teológica de tantos companheiros nossos que, por vezes, têm um trabalho imenso ao elaborar uma monografi a conclusiva de um curso, como os nossos junioristas ao concluírem seu Curso de Teologia no ITESP, mas que depois fi ca, quem sabe, guardada na gaveta de uma escrivaninha ou na memória de um computador.

Apresentamos para a sua leitura mais um número de nossa revista Diálogo que vem recheada de bons conhecimentos.

Começamos com uma pergunta inquietante feita há alguns anos passados pelo padre Luís Kirchner, da Vice-Província de Manaus, mas que continua reboando em nossa mente e corações, especialmente em tempos de tantas e tão rápidas mudanças: O que signifi ca ser redentorista hoje? Padre Luís

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Kirchner vai ainda mais a fundo na sua interrogação perturbadora: quem somos nós e o que somos, diante da realidade que nos questiona e das provocações advindas de nossas constituições e estatutos.

Padre Scudeler recupera a história do padre Claro Monteiro, secular de Aparecida, contemporâneo dos Redentoristas Bávaros pioneiros. Apresenta traços históricos de sua vida e de sua personalidade, além de seu relacionamento bastante amistoso e cordial com os nossos pioneiros.

Num terceiro artigo trazemos uma resenha da monografia conclusiva do Curso de Teologia do Fr. Denis Francisco, falando do padre Antônio Vieira, tido como um missionário com um pensar próprio. Na sua alma e inquietude jesuítica, bem ao gosto do nosso papa Francisco, padre Vieira questionava as estruturas sociais e políticas de seu tempo. Fr. Denis traz algumas Notas preliminares para leitura do Sermão Santíssimo Sacramento de Padre Antônio Vieira – Século XVII. Durante o estudo, ele focaliza a busca do seu perfil missionário, depois o tipo de hermenêutica bíblica que utiliza em seus mais de 200 sermões e obras inacabadas, finalizando com uma análise mais minuciosa do Sermão Santíssimo Sacramento, no qual o notável jesuíta afirma a importância da união, motivo maior para o desagravo eucarístico.

Com um trabalho feito pelo padre Ruben Leme Galvão nós somos convidados a estudar o papel da Virgem Maria na redenção de Jesus Cristo, a partir da proposta do padre Clemente Dillenschneider, C.Ss.R. Padre Galvão analisa a obra do padre Clemente e afirma que quando se fala em redenção, muita gente pensa que é um tema exclusivo de teólogos, e não dos cristãos que vivem embrenhados nas tarefas do dia a dia. Muitos dizem que é uma coisa muito espiritual e elevada, que não vale a pena se

preocupar, mas isso toca profundamente a espiritualidade e a missão da congregação como um todo.

Temos ainda nesta revista mais um artigo do padre Vinícius Ponciano no qual ele trata da identidade. Para ele estamos transitando na atualidade sobre a via da modernidade líquida. Esta, por sua vez, coloca a identidade em um contínuo processo de transformação. Sendo assim, abrindo mão das ideologias preconcebidas, nós, residentes do líquido mundo moderno devemos desenvolver uma reflexão mais sustentável e adaptada à dinâmica do transitório, que se impõe sobre o fixo, o imutável e o perene. Como já é bem conhecido de todos, por ser ele um profundo admirador do filósofo da Pós-Modernidade, padre Vinícius funda seu estudo sobre a obra e o ensinamento de Zygmunt Bauman.

Por fim, com um trabalho do padre Rogério Gomes, resgatamos alguns aspectos históricos e alguns pontos de vista acerca da contribuição da Accademia Alfonsiana (AA) ao pensamento teológico moral. Mostramos o desejo da Congregação do Santíssimo Redentor em criar uma escola, no intuito de continuar a tradição afonsiana.

Mostramos também, nas palavras do Pe. Domingos Sávio, a movimentação que já está sendo iniciada em Aparecida e no Brasil, para bem celebrar o grande jubileu dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida e como este fato está repercutindo fora de nosso país, graças ao seu significado maior. Leia a nossa revista.

Reflita sobre os questionamentos que seus artigos apresentam e não deixe ser derrotado pelo turbilhão de informações da atualidade. E se você tiver algum trabalho que queira socializar, temos agora mais um canal de comunicação.

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Pe. Luiz Kirchner, C.Ss.R

Um dos privilégios que tive vivendo e estudando em Roma, na Casa Geral, foi o de estar com pessoas que eram especialistas sobre o início da Congregação ou que tomaram parte em momentos importantes de mudanças (por exemplo, o Capítulo Especial de 1967-69), ou atuaram nos desenvolvimentos mais recentes da Congregação (por exemplo, os Capítulos de 1985 e 1991). Nem todo esse trabalho e mudança surgiram pacifi camente. Algumas mudanças foram forjadas em acalorados debates e discussões. Pode-se ouvir ainda o ronco de gigantes sobre o sentido e a fi nalidade do “Ser Redentorista”.

Uma área que eu gostaria de tratar diz respeito à diferença entre O Mistério de Cristo e A Missão de Cristo.

Faz alguma diferença qual deles você escolhe, para entender o que é um redentorista. Esses pontos podem não parecer muito importantes para quem está ocupado em uma paróquia ou em uma equipe de missão. No entanto, há uma riqueza aqui que vale a pena o esforço em aprofundar e analisar.

Para São Paulo, Mistério indica o conteúdo central da mensagem cristã, a partir da Primeira Carta aos Coríntios 2,1- -7, que fala de Deus como uma sabedoria secreta, uma sabedoria oculta e que foi destinada para a nossa glória, antes de todos os tempos. Essa é a pedra angular da refl exão sobre a loucura divina da Cruz, sendo repetida mais tarde em Colossenses e Efésios, em que encontramos o pensamento

O QUE SIGNIFICA SER REDENTORISTA HOJE

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maduro de São Paulo, depois de uma vivência de pregação e oração.

Paulo fala sobre esse mistério pelo menos 28 vezes. É “a proclamação de Jesus Cristo, segundo a revelação do mistério oculto nos tempos passados” (Rm 16,25), mas “agora foi manifestado para os santos... a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vós” (Cl 1,26-27).

Paulo reza para “que Deus possa abrir uma porta para a nossa mensagem, de modo que possamos proclamar o mistério de Cristo” (Cl 3,4), porque “não foi manifestado nas gerações passadas, mas agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3,5). Foi um privilégio para Paulo ser capaz de pregar as riquezas de Cristo aos gentios (cf. Ef 3,8). Deus estendeu para ele (e agora para nós) esta salvação, revelada em Cristo, para ser anunciada (cf. 1Tm 1,9-11).

No debate entre Mistério e/ou Missão, uma visão de Cristo e da Cristologia também entra em jogo.

Aqueles que favorecem o “Mistério de Cristo” tendem para o Evangelho de São João, como os capítulos 14, 15 e 17, em que Cristo fala com tanto carinho com e a respeito de seu Pai. Ele contempla sua magnificência, é inspirado por Ele e, por isso, é compelido e guiado, pelo amor, a realizar a vontade do Pai de salvar o mundo. Jesus é preso, por assim dizer, em uma grande dinâmica e guiado a fazer a vontade do Pai – salvar a nós pecadores. Ele se torna o grande Missionário.

O redentorista é aquele que é chamado a contemplar e a ser capturado pelo grande ato de amor de Cristo na cruz, para seguir o Redentor, que serve como nosso modelo, que nos obriga a sair em busca de todos os pecadores e pessoas sem os efeitos da redenção em abundância. Assim deve ser nossa vida como

missionários. A Constituição 23 deveria ser uma das favoritas desse grupo, segundo a qual os membros da Congregação são chamados a continuar a presença (viva) e a missão de Cristo no mundo, tornando sua pessoa o centro de suas vidas.

As pessoas que favorecem a “Missão de Cristo” tenderiam a favorecer o Evangelho de São Lucas, segundo o qual Cristo é enviado para salvar (cf. Lc 4,18-22). A Constituição 55 seria uma das favoritas dessa escola de pensamento.

As pessoas da primeira escola de pensamento viam os movimentos que estavam direcionando para uma alteração ou substituição dessa visão por outra coisa como o maior ataque contra o verdadeiro sentido da Congregação! A prática da “imitação” de Cristo (que hoje não tem defensores visíveis) encontrou uma base teológica aqui também. Qualquer confrade que fez seus votos antes de 1967 lembra- -se bem das 12 virtudes mensais (agora vistas por alguns como uma contribuição/imposição de Falcoia: muito mais uma imitação exterior, e não um trabalhar interior dinâmico do Mistério de Cristo, o qual, acredita-se, é a verdadeira origem da Congregação).

Por que diferentes Capítulos, após resistência e dúvidas iniciais, aceitaram uma formulação que compreende um Redentorista a partir da Missão de Cristo?

Segundo S. Raponi, C.Ss.R., em sua obra de comentários sobre nossas atuais Constituições (Il Carisma Dei Redentoristi Nella Chiesa – que você pode encontrar generosas seções lendo “Espiritualidade Redentorista”, vol. 1 e 3), há quatro categorias-chave para compreender nossa legislação atual: a Vida Apostólica, o Exemplo do Redentor, a Evangelização dos Pobres e a Missão de Cristo.

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A missão é como uma raiz profunda que justifica plenamente nossa vida missionária, selada pela profissão religiosa (que nunca pode ser reduzida apenas a dizer que fazemos os votos para ser meros pregadores de Missões).

Para Raponi, quando olhado a partir desse ponto de vista, realça--se a unicidade fundamental da vida missionária redentorista, uma unicidade que encontra seu ponto focal na pessoa mesma do Redentor, a quem as quatro categorias fazem constante referência. Evangelizare pauperibus Misit mim (“Enviou-me para evangelizar os pobres”).

A frase “Vida Apostólica” substituiu o antigo termo “Vida Religiosa”, em nossas atuais Constituições (a única referência à “vida religiosa” está na Constituição 74 por causa de uma citação da Perfectae Caritatis). É no âmbito da vida apostólica que encontramos as duas partes: Ministério Apostólico e Comunidade de Vida Consagrada, as quais não deveriam estar em conflito uma com a outra, mas sim criar uma energia interior entre si.

Quando a proposta de introdução da Missão de Cristo em nossas Constituições apareceu pela primeira vez, houve duas principais objeções. Uma delas foi que isso era vago, impessoal, abstrato. Uma pessoa, e não uma ideia, deveria ser o centro de nossa vida. Alguns disseram que poderiam aceitar algo como “Cristo Redentor”.

Outro grupo estava preocupado com o perigo de que tal frase pudesse exagerar a ênfase no valor de nosso trabalho apostólico (por exemplo, algo externo a nós), em detrimento de nosso interior, da vida espiritual.

Pe. Raponi explica por que o uso de “Missão de Cristo” resolve essa dicotomia. Pode-se discutir o relacionamento entre a vida interior (consagração, por exemplo)

e a atividade apostólica (ministério, por exemplo) de diferentes maneiras:

a) É possível não só fazer uma distinção entre os dois, mas separá-los: Consagração e Serviço. Existem aí paralelos entre um e outro, nunca um encontro realmente. não há atividade dinâmica interna que vem deles. Eles coabitam lado a lado, alguns momentos em tensão. Uma manifestação da consagração em forma de serviço.

b) Ou pode ser uma fusão (confusão?) das duas: Consagração é Serviço. Porém a consagração poderia ser reduzida e diluída, quase desaparecendo. A vida interior começa a ser vista como uma fuga do trabalho, um afastamento estéril dentro de si mesmo.

c) A solução e interpretação que o Pe. Raponi sente que é a correta, e foi a intenção de diferentes Capítulos Gerais da Congregação, é: não separar, mas destacar cada uma delas. Não reduzir uma a outra, mas unificá-las numa síntese arrebatadora, por meio de uma conexão orgânica intrínseca. Essa unidade de partes distintas diz que ambos os elementos estabelecem uma categoria central: Cristo. Ou a Missão de Cristo.

Assim, como esclarece a Constituição 1, a expressão Vida Apostólica, que é expressamente ligada novamente ao texto do Fundador (seguindo o exemplo de Cristo), abrange, simultaneamente, a vida consagrada e a obra missionária dos Redentoristas (Leituras, vol. 1, p. 35).

Em outra parte Raponi disse: “O Salvador não é apresentado como missionário para a imitação, de modo que se possa copiar suas múltiplas virtudes e exemplos em nossa própria vida espiritual e, eventualmente, tê-las reproduzidas nos outros. Antes, que ele seja apresentado como o Missionário do Pai, que vem a este mundo para anunciar o Reino” (Leituras, vol. 3, p. 108).

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Usando um jogo de palavras, Raponi diz a respeito da missão que não devemos ter atos ou trabalhos de um apóstolo, mas um apóstolo trabalhando e agindo. Um evangelizador santifica-se evangelizando. “O missionário encontra Deus dentro de si mesmo na oração e no silêncio. Mas esse encontro não pode permanecer dentro dele. Oração e silêncio estão a serviço dos outros. Encontra-se Deus levando-o aos outros” (Raponi, o.c., Carisma, p. 99).

Para ser um bom e fiel redentorista hoje, deve-se ser um místico ativo, um contemplativo em ação, um apóstolo fervoroso, um asceta dinâmico, que está no mundo, mas não é dele, e todas as outras coisas maravilhosas que a Constituição 20 nos ensina.

Independentemente da teologia ou do ponto de vista que você adota, parece claro que “o trabalho e a oração, a pregação e a vida em comunidade, o ministério e o estudo são aspectos inseparáveis, em simbiose. Portanto, não justaposição e muito menos separação, mas sim interdependência e interpenetração, a exemplo do Cristo Redentor” (cf. Readings (Leituras), vol. 1, p. 35).

A Constituição 55 deixou claro que todos os membros da Congregação são missionários e não apenas aqueles que são saudáveis e capazes, mas os membros que estão ocupados na administração e no ensino, os que são velhos, doentes e incapazes. Não é tanto o que fazemos, mas QUEM NÓS SOMOS, o que nós somos, nossa ontologia. Santo Afonso disse, em setembro de 1733, que “a única finalidade do nosso Instituto é o trabalho das Missões. Se este trabalho for omitido ou malfeito é o fim do Instituto”.

Nada menos que uma autoridade histórica como Pe. Louis Vereecke corrobora essa afirmação, dizendo: “Do ponto de

vista histórico, nós podemos estabelecer o seguinte: a finalidade primordial da Congregação é a evangelização, ou seja, o anúncio da Boa-Nova revelada por Jesus Cristo... essa atividade é realizada em comunidade... comprometida por uma busca institucional pela perfeição evangélica” (Leituras, vol. 1, p. 10).

Pe. John O’Donnell, ao comentar a frase sobre a Vida Apostólica, considera que, além de nos dar um senso de unidade, ela também pretende convencer-nos de que a pregação do Evangelho é a única finalidade de nossa existência como redentoristas. Somos chamados, simplesmente, a compartilhar com Jesus Cristo sua missão de pregar a Palavra de Deus aos pobres, sendo uma Congregação.

Falando sobre nossas novas Constituições e o que elas representam para nós para vivermos nossa vida redentorista, Pe. Vereecke pergunta se houve uma ruptura com o passado. Certamente não, responde ele. Será que vai haver continuidade? Isso depende de nós, diz ele.

Então poderíamos dizer que o Mistério, doutrina central tantas vezes citada por São Paulo, é vivido por nós redentoristas por meio da Missão de Cristo? Que o Redentor a ser contemplado é encontrado em nossa Missão?

Não importa o que poderia ter sido dito em 1731 ou 1749; o nosso carisma agora foi registrado e ratificado pela Santa Sé. Longe de ser algo externo, adicionado a partir do exterior, para viver a Missão é o “QUEM SOMOS”, o “QUE NÓS SOMOS”.

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O padre José Wendl, em carta (1º de novembro de 1894), registra simplesmente que na viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, eles (os missionários) contaram com a companhia “do vigário de Aparecida, enviado pelo bispo ao Rio para servir de guia.”1 É, o chefe da missão, Pe. Gebardo Wiggermann que nos dá o seu nome completo: Pe. Claro Monteiro do Amaral.2

Pelas cartas de diversos redentoristas nota-se que o padre Claro foi de grande ajuda, sendo-lhe atribuído inclusive o desejo de entrar para a Congregação. Pois assim comenta o padre Gebardo em carta ao provincial: “Hoje ainda o bispo de São Paulo garantiu-me que não fará qualquer difi culdade se algum padre desejar entrar para nossa congregação, antes deseja e pensa

que o Pe. Claro gostaria de fazê-lo” (Idem, p. 88). Esse desejo nunca foi formalizado pelo interessado, contudo o fato de ele ter-se tornado capuchinho e se juntado ao provincial capuchinho Frei Bernardino de Lavalle, como foi registrado em sua passagem por Santa Cruz do Rio Pardo, rumo ao empreendimento de evangelizar os índios do oeste do Estado de São Paulo, mostra que havia o desejo de se tornar religioso.

Pe. Luiz Gonzaga Scudeler, C.Ss.R.

PADRE CLARO MONTEIROE OS REDENTORISTAS

Cf. Carta (54) Pe. José Wendl aos Confrades da Europa (1894 – Aparecida – 1º de novembro). In CORRESP – Correspondência da Província Redentorista de São Paulo, 1817 a 1896. Aparecida: Ed. Santuário, Datilografada, 1883. Volume I, p. 78-84.Cf. Carta [55] do Pe. Gebardo Wiggermann ao Prov. Pe. Antônio Schoepf (1984 – São Paulo, 1º de novembro). Cf. CORRESP – Correspondência da Província Redentorista de São Paulo, 1817 a 1896. Aparecida: Ed. Santuário, Datilografada, 1883. Volume I, p. 84-91.

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Cf. Carta [161] de Matias Raus ao Pe. Gebardo Wiggermann (1896 – Roma, 10 de fevereiro), p. 366-367. Cf. Carta [173] ao Padre Geral, Matias Raus (1896 – Aparecida, 10 de março), p. 392-393. Carta (56) do Pe. Lourenço Gahr ao Prov. Pe. Antônio Schoeff (1894 – Aparecida, 4 de novembro), p. 91-103.

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Nesse sentido, as cartas dos primeiros redentoristas registram, um ano depois, o entusiasmo dos redentoristas diante da possibilidade e real proposta de eles igualmente evangelizarem os índios, tendo sido registrada essa possibilidade em carta pelo Pe. Gebardo ao padre geral, Matias Raus: “Ao chegar a vez da fundação entre os índios estou pronto! Até agora pensei que só em Goiás e Mato Grosso havia índios, mas sei agora que os há neste estado também, quase a metade do Estado de São Paulo, que é quase tão grande quanto à Alemanha. São selvagens ainda. O Estado de São Paulo gostaria de achar missionários. Os capuchinhos já tentaram e receberam 1:000$ por mês de auxílio; desistiram depois de os índios terem assassinado e comido um padre moço” (cf. Carta (140) do Pe. Gebardo Wiggermann ao Padre Geral, Matias Raus (1895 – Aparecida, 10 de novembro, p. 321-323, texto p. 323).

Seria esse padre moço, morto pelos índios, o padre Claro Monteiro do Amaral? Se for, o estranho de tudo é que nenhuma menção se tem nas cartas dos missionários e nas crônicas da comunidade.

E o entusiasmo de diversos missionários em irem trabalhar junto aos índios?3 Teria sido aquele padre Claro, que “nos acompanhou a viagem toda”, “um homem bom” e que “mora aqui perto de nós”, e que “traz muitos presentes” (cf. Carta (61) do Ir. Estanislau aos Confrades (1894, Aparecida, 18 de novembro, p. 116-120).

O certo é que houve propostas concretas de fundação em regiões limites dos selvagens: São José dos Campos Novos do Paranapanema,4 bem como em Ouro Fino, GO.5 Ambas foram motivo de conversa na comunidade de Aparecida, e não de Goiás. O superior-geral, embora diga que lhe agrada a fundação em São José do Paranapanema, é realista dizendo que as

O Irmão Estanislau (Carta [150] ao Prov. Antônio Schopf, 1895 – Aparecida, 12 de dezembro), p. 337-338; (Carta (154) aos Confrades [na Alemanha] 1895 – Aparecida, 27 de dezembro), p. 347-350; o padre Spaeth (Carta [165] ao provincial Antônio Schoepf, 1896 – Aparecida, 24 de fevereiro), p. 375-379. Este comenta: “Indo trabalhar entre os índios, tinha o pressentimento de ser devorado por eles, como aconteceu com o jovem capuchinho. É verdade que seria necessário um bom apetite, pois sou só pele e osso e duro como um bacalhau e, ser comido sem condimentos, deve ser coisa séria; mas, do que não é cpaz um selvagem?” (cf. Idem, PL 378). Padre Eugênio Mahlbacher, desde que chegou sempre doente, confessa: “não cesso de me oferecer ao Sr. Deus para as missões entre os índios, caso ele me restitua a saúde” (Carta [175] ao provincial Antônio Schoepf, 1895 – Aparecida, 12 de março).Cf. Carta (147) do Pe. Gebardo Wiggermann ao Prov. Antônio Schoepf (1895 – Aparecida, 5 de dezembro), p. 331-333. Nela se lê: “Estando eu em São Paulo, há 8 dias, o bispo e o vigário-geral insistiram comigo para uma fundação em São José dos Campos Novos do Paranapanema e o quanto mais cedo possível. Nós deveríamos também assumir a paróquia, pelas razões seguintes, como zona de missão”. Entre elas: “1) Estaríamos na proximidade dos índios com a possibilidade de estabelecer contato com eles; não é possível por enquanto, fundar residência entre eles”. Cf. Carta [163] do Bispo Eduardo de Goiás ao Padre Gebardo Wiggermann (1896, Goiás, 18 de fevereiro), p. 369-371.

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comunidades existentes devem antes se fortalecer.6 O padre Gebardo, porém, lamenta a recusa, quando comunica o envio da carta do Bispo de Goiás solicitando a fundação em Ouro Fino, GO. Ele comenta: “Por toda parte os índios nos estendem as mãos pedindo auxílio. É para se chorar, quando vejo um enorme campo de almas abandonadas aos milhões, uma seara madura e tão poucos operários. Sinto o coração magoado, ouvindo o pedido do Sr. Bispo, vendo sua confiança nos filhos de Santo Afonso e ter de lhe dizer da impossibilidade de o ajudar”.7

Se o padre Lourenço Gahr, como superior da comunidade, deixa registrado interessantes informações sobre a convivência com o vigário: “Pe. Claro levou-nos a uma fazenda próxima, distante um quarto de hora daqui. Pudemos ver o cafezal em flor, o terreiro onde é seco o café, colocado em sacos de 60 quilos e afinal convertido em deliciosa bebida na xícara”.8

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Carta (57) do Pe. Lourenço Gahr ao Prov. Pe. Antônio Schoeff (1894, Aparecida, 4 de novembro, p. 103-105), p. 104.

Cf. Crônicas, volume I, p. 25. Idem, p. 105.

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E então:“Pe. Claro já havia dito em São Paulo

que não precisaríamos trazer dinheiro para cá, pois receberíamos tantas intenções de missas que poderíamos enviá-las não só a Goiás, mas também à Europa; a espórtula regular de uma missa é de 3$000”.9

Mais ainda:“No começo, era sempre servido

vinho à mesa; alguns tempos depois perguntou a razão de os irmãos não beberem vinho; ele mesmo bebia cerveja de Munique. O Pe. Visitador, crendo que a cerveja fosse mais cara, determinara que servisse vinho. Pe. Claro disse-me, porém, que ela é mais barata e, além disso, o vinho não é puro, é falsificado e nocivo; isso nós experimentamos e tivéssemos boa água, seria preferível ao vinho”.10

Contudo, o cronista anota sobre sua capacidade de organização pastoral, quando os redentoristas assumem a administração em janeiro de 1895: “O bom Padre deixou, porém, os livros oficiais em grande desordem. No livro de óbito estavam anotados só dois. Faltavam completamente os documentos do mês de março e precisavam ser completos pelo Bureau da polícia; livros de batizados e casamentos estavam escritos em tanta confusão que se precisou de novos livros com nova autorização”.11

Se ele não era organizado na documentação, era zeloso e arrojado pastoralmente, como nas circunstâncias em que deixa o Santuário nas mãos dos missionários alemães. O superior assim narra “alguma coisa de 3 de dezembro para cá” ao Padre Geral, Matias Raus:

“Pe. Claro esteve ausente o mês todo, atendendo uma paróquia atacada da cólera,

de onde o vigário havia fugido. Ao voltar, pediu licença por um mês, ficando como substituto o Pe. Wendl, melhor conhecedor da língua. Em meados de janeiro, foi-nos proposto assumirmos administração e cura das almas em lugar do Pe. Claro. Pareceu-nos aceitável a proposta, pois a administração não é difícil da maneira como está sendo feita e poderíamos melhorar a cura de alma” (Carta (82) do Pe. Lourenço Gahr ao Pe. Geral, Matias Raus, 1895 – Aparecida, 9 de fevereiro – p. 189-193).

O fato de o padre Claro Monteiro do Amaral se arriscar indo a uma região onde corria o risco de pegar uma doença quase sempre mortal revela ter um espírito arrojado, capaz de se entusiasmar pela catequese dos índios. Lá, arriscou a vida. Suas motivações e os seus métodos, deixemos ao juízo de quem o inspirou. O silêncio dos que ele ajudou e aos quais cedeu a cura do episcopal santuário pode ser explicado pelas circunstâncias como as notícias iam e vinham.

A conclusão é das minhas especulações e não sobre se o Pe. Claro Monteiro do Amaral é aquele capuchinho que foi morto pelos índios numa aventura, cujo relato foi dado por seus companheiros indígenas e reportado por etnólogo alemão.

Carta (58) do Pe. Lourenço Gahr (1894, Aparecida, 6 de novembro):

“Nosso grande amigo e diretor Claro dá-nos aula; o ruim é que ele não entende alemão, tendo nós que nos arranjar com o latim. Aprender, eis a minha grande cruz; está difícil, mas Nossa Senhora há de me ajudar” (p. 107).

“Pe. Claro diz que o povo é generoso; tendo ele já recebido tanto que não sabe o que fazer com os presentes” (p. 107).

Conclusão

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“Pe. Visitador escreve ter recebido carta do bispo, dizendo que o Pe. Claro deseja ingressar em nossa congregação e que ele, bispo, não se opõe, mas deseja que os outros muitos da sua diocese sigam o mesmo caminho” (p. 107).

“Além do Pe. Claro, há aqui dois padres; um deles dirige o jornal, não ouve confissão e liquida a missa em 15 minutos. Nenhum deles tem algo a dizer na Igreja” (p. 108).

Carta (59) do Pe. Gebardo Wiggermann ao Pe. Geral: Matias Raus (1984, Aparecida, 4 de novembro, p. 108-113):

“Um ótimo padre de 35 anos, Claro Monteiro do Amaral cuida do Santuário. Ele é nosso amigo e deseja, como me disse o bispo, entrar para a Congregação, e o bispo declarou estar de acordo que ele e outros padres que quiserem entrem de fato. Como o Pe. Claro não tinha cozinha própria, pediu para tomar as refeições com os padres e eu o permiti” (p. 112).

Carta (61) do Ir. Estanislau aos Confrades (1894, Aparecida, 18 de novembro, p. 116-120):

“Chegamos a São Paulo, quarta- -feira à tarde. O Pe. Claro acompanhou- -nos a viagem toda. Homem bom, mora aqui, perto de nós, trazendo-nos muitos presentes” (p. 119).

Carta do Pe. Lourenço Gahr aos confrades (1984, Aparecida, 20 de novembro, p. 121-123):

“O diretor traz-nos ovos, galinhas e paga a cerveja” (p. 123).

“De resto, luto com a gramática sob a orientação do diretor, homem desejoso de ser admitido na congregação” (123).

“Ele nos ensina durante o recreio, porém, dificilmente nos entendemos por ignorarmos as respectivas línguas” (p. 123).

Carta (64) do Pe. Lourenço Gahr ao Prov. Antônio Schoepf (1894, Aparecida, 30 de novembro, p. 124-127):

“Encomendei, certa vez, duas garrafas de cerveja a 1$5000 cada uma, quando em São Paulo custa setenta e cinco réis. O Pe. Claro compra-nos sempre a cerveja, por isso não ‘sábio’ o preço; ele entrega na nossa cozinha tudo o que recebe de ovos, manteiga e aveia, porque come conosco”.

“Está grassando a cólera na cidade umas horas distantes daqui; como o vigário não atende os doentes, o bispo destacou o Pe. Claro para lá. Faz alguns dias que ele foi e ainda não tivemos notícias dele.”

E por ocasião da novena para a festa da Imaculada: “Cada noite, deverá haver uma pregação, mas o Pe. Claro está fora e nós não sabemos a língua. Que Nossa Senhora nos ajude” (p. 127).

Carta (73) do Pe. Lourenço Gahr ao Prov. Antônio Schopt (1895, Aparecida, 21 de janeiro, p. 172-174). É nesta carta que aparece referência ao Pe. Claro:

“Na Carta de 8 de janeiro, eu lhe comuniquei que o vigário de Aparecida, Pe. Claro, achava-se há um mês em São Paulo, tendo deixado aqui como seu substituto o Pe. Wendl. A 10 de janeiro, recebi uma carta, perguntando-me se nós poderíamos aceitar definitivamente o seu lugar na cura das almas. Ele, ao que me consta, será diretor de um colégio para crianças pobres, a ser aberto em fevereiro” (p. 173).

Carta (82) do Pe. Lourenço Gahr ao Pe. Geral, Matias Raus (1985, Aparecida, 9 de fevereiro, p. 189-193):

“Desta vez, vou narrar alguma coisa de 3 de dezembro para cá. Pe. Claro

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15revista - Diálogo

esteve ausente o mês todo, atendendo uma paróquia atacada da cólera, de onde o vigário havia fugido. Ao voltar, pediu licença por um mês, ficando como substituto o Pe. Wendl, melhor conhecedor da língua. Em meados de janeiro, foi-nos proposto assumirmos administração e cura das almas em lugar do Pe. Claro. Pareceu-nos aceitável a proposta, pois a administração não é difícil da maneira como está sendo feita e poderíamos melhorar a cura de alma” (p. 189-193).

Carta (84) do Pe. Lourenço Gahr ao Pe. Geral, Matias Raus (1895, Aparecida, 21 de fevereiro, 195-199):

“Pe. Claro passou o mês de dezembro na paróquia vizinha, de onde o vigário se retirara por medo da cólera, lá grassante. Ao voltar, pediu um mês de descanso, ficando o Pe. Wendl como seu substituto. Há 15 dias, escreveu-me de São Paulo, propondo--nos tomarmos conta do Santuário definitivamente. Como nos pareceu que não mudaria em nada nossa situação, julgamos poder aceitar” (p. 195-196).

No dia 23 de janeiro de 1895, o cronista registra carta do Pe. Claro Monteiro do Amaral ao padre superior Lourenço Gahr, comunicando-lhe sua “exoneração do cargo de cura desse Episcopal Santuário” e comunicando que interinamente os redentoristas estavam encarregados da administração (cf. Crônica da Comunidade Redentorista de Aparecida 1894 a 1907. Aparecida: Edição datilografada da tradução, 1982, p. 24-25. É a última referência ao “bom Pe. Claro, [que] nos é muito dedicado e procura providenciar tudo, [e que] pediu-me permissão de tomar as refeições conosco, tendo ‘concedi-lha prazeroso’, [e que] ‘instrui os padres na língua portuguesa’” (cf. Carta [55] do Pe.

Gebardo Wiggermann ao Prov. Pe. Antônio Schoepf (1984, São Paulo, 1 de novembro, p. 84-91).

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16 revista - Diálogo

O presente texto apresenta alguns tópicos que trabalhei na dissertação monográfi ca para o curso de conclusão em Teologia do ITESP, com o título Notas preliminares para leitura do Sermão Santíssimo Sacramento de Padre Antônio Vieira – Século XVII.

Durante o estudo, focalizei na busca do seu perfi l missionário, depois no tipo de hermenêutica bíblica que utiliza em seus mais de 200 sermões e obras inacabadas, fi nalizando numa análise minuciosa do Sermão Santíssimo Sacramento, no qual o notável jesuíta afi rma a importância da união, motivo maior para o desagravo eucarístico.

Pe. Antônio Vieira nasceu no dia 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa. Filho do casal burguês Cristovam Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. Neste Tempo, Lisboa era a capital do Império Português, que abrigava lusitanos e estrangeiros, inúmeros escravizados africanos e indianos frutos das conquistas marítimas. Luxo e pobreza eram ostentados pela cidade.

Já bem antes de seu nascimento, sua família era investigada pelo Santo Ofício, que se preocupava com hereges e pagãos (judeus, mouros e protestantes).

Segundo Azevedo, um dos principais historiadores de Vieira, seu pai era mouro, pois seu avô, criado dos Condes de Unhão,

Fr. Denis Francisco Rosa Oliveira, C.Ss.R.

PADRE ANTÔNIO VIEIRAUM MISSIONÁRIO COM PENSAR PRÓPRIO

Sua origem

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17revista - Diálogo

Como jesuíta

desposou com uma mulher de cor, com traços africanos.1 Para alguns pesquisadores, sua mãe tinha sangue hebraico, no entanto não se tem documentação para provar.

Seu pai exerceu o ofício de escrivão no tribunal de Lisboa. Dois anos depois foi mandado para o Brasil, onde exerceu o cargo de escrivão da Relação, cargo conquistado pelo casamento com a filha do armeiro.2 Viera e a mãe continuaram morando numa casa simples na freguesia dos Mártires. Nesse período, foi educado pela mãe na arte da leitura e da escrita. O trabalho e a independência fizeram também parte do dia a dia do menino.3

Cristovam regressou a Lisboa depois de três anos no Brasil, retornando dois anos depois com sua família. Antônio já estava com seis anos, eles fixaram sua residência na Bahia, capital da colônia, assistida pelo governador, bispo e cabido, juízes e colonos.

Sua primeira atividade apostólica na Companhia se deu no Espírito Santo, para onde foi enviado para ajudar na catequese de uma tribo indígena. Experiência que deu a ele um conhecimento real das dificuldades das missões entre os indígenas e da vida sofrida deles, o que muito o sensibilizou.4

Ao concluir a apresentação da vida de Vieira como noviço, Azevedo ressalta a vida ascética, a obediência, virtude de capital importância na vida jesuítica, pois leva o noviço abrir mão dos interesses pessoais e mergulhar fundo no trabalho do Reino Eterno. Nesse projeto de vida, a humildade tem um peso. Além disso, mortificações e trabalhos manuais fazem parte do dia a dia do noviço jesuíta. Ele é educado para ser “contemplativo na ação”.5

Os escritos de Filosofia e Teologia de Vieira deixam transparecer uma vez mais a sua personalidade forte e criativa. Ele pediu licença a seus superiores para deixar de lado as tradicionais e cansativas apostilas e elaborar suas próprias anotações. Sinal visível de um pensar próprio.

Seu primeiro cargo foi de professor de retórica no Colégio Olinda, em Olinda. Para assumir o cargo de professor, o candidato precisava conhecer bem a Filosofia e a Teologia. Neste período, ganhou confiança de seus superiores, ao escrever a Carta Ânua, carta escrita que constava as atividades dos jesuítas.

Além desses conhecimentos, Vieira dominava o latim e o português, qualidades que o habilitaram a assumir a responsabilidade de redigir os primeiros documentos da Companhia no Brasil, por um determinado período.

O menino Vieira estudou no único colégio existente, o dos Jesuítas, onde se aprimorou nos estudos e na vida espiritual. Este primeiro contato com os jesuítas deixou marcas indeléveis em sua vida.

A formação jesuítica recebida ao longo dos anos de estudos forjou o caráter de Vieira. Os jesuítas levavam uma vida austera e heroica, sempre dispostos a se sacrificarem para defender a fé cristã e se preciso fosse até o martírio. O sonhador e autônomo Vieira sentiu-se atraído pelo projeto de vida jesuítico. Assim, no dia 5 de maio de 1623 pediu para ser recebido na Ordem.

Segundo Azevedo, o colégio jesuíta exercia uma marcante influência na vida intelectual da Bahia. Os que ingressavam na Ordem seguiam os estudos teológicos, os

Azevedo, J. Lúcio de. História de Antônio Vieira. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1931, p. 12.

Besselaar, José Van. Antônio Vieira: O Homem, a Obra, as Ideias. p. 4.

Ibidem, p. 13.

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externos, assim eram chamados os outros estudantes, havia classes preparatórias de artes e de humanidade.

Ibidem, p. 16. Azevedo, J. Lúcio de. História de Antônio Vieira, p. 28.

45

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18 revista - Diálogo

Besselaar, José Van. Antônio Vieira: O Homem, a Obra, as Ideias. p. 4.

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Vieira utiliza duas dinâmicas imprescindíveis nos textos: a fidelidade à grande oratória clássica e a fidelidade aos textos litúrgicos e bíblicos que dão títulos aos mesmos sermões.7 Não se pode negar o tom político presente em muitos sermões, por exemplo, o sermão da festa de São Sebastião, em janeiro de 1634, que está carregado de sebastianismo.8

A análise de alguns sermões deixa clara a preocupação de Vieira pelo bem comum. O seu pensamento é universal e, para isso, apresenta Portugal como um novo Império eleito por Deus, defende a revelação divina na história de Portugal.9

Alguns sermões resumem a sua ideologia: O sermão dos Bons Anos (1641) – relata a posse de D. João IV como ato profético, tempo de bonança; o sermão de São José (1642) – no qual defende D. João IV como o “encoberto”, profecia do Bandarra que se realiza (sebastianismo); o sermão pelo Bom sucesso de nossas armas (1645) – nele apresenta a graça divina como aliada no combate aos inimigos, animando o exército no amor à Pátria; haveria outros sermões

Um exímio pregador dos púlpitos e articulador da língua portuguesa

Como embaixador da Coroa Portuguesa

Durante a conclusão dos estudos, antes mesmo de tornar-se padre, dedicou- -se ao apostolado nas aldeias da Bahia. Pela primeira vez pregou na língua dos indígenas, utilizando termos militares, de conceitos e símiles em que vibra a nota guerreira. Não é de costume a língua do púlpito; mas era tempo de guerra, e estava presente o governador com o séquito habitual de gente de espada.6 Pregou vários sermões e neles já se mostrara um orador cativante, com um pensar próprio.

Ibidem, p. 63. Ibidem, p. 39.

Cf. Pécora, Alcir (Org.). Antônio Vieira. Sermões. São Paulo: Hedra, 2003.

Urbano, Carlota. “O Padre Antônio Vieira e a Companhia de Jesus”, in Revista Lusófona de Ciências das Religiões, p. 53. Urbano, Carlota. “O Padre Antônio Vieira e a Companhia de Jesus”, in Revista Lusófona de Ciências das Religiões, p. 47.

Azevedo, J. Lúcio de. História de Antônio Vieira, p. 39.76

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similares.10 Todos denotam o quanto o seu pensamento visa à unidade e ao progresso do Império Português.

Falar de Vieira, como articulador da língua portuguesa e exímio pregador, constitui-se um desafio. A riqueza estrutural e de linguagem de seus sermões continua até hoje desafiando e encantando todos os que leem e estudam suas cartas e sermões.

Não é à toa que sua fama de orador circula na Colônia e chega aos ouvidos da Coroa. Dom João IV é aclamado rei em 1640. Os jesuítas apoiam a nova nomeação. Desdobram-se em manifestações de apoio, nos púlpitos e na produção de textos de legitimação do trono da Casa de Bragança.11

Em todas as colônias a nova dinastia é conhecida.

O propósito da nova dinastia é restaurar o Império Português, criando uma estrutura de independência nacional. Para isso, conta com políticas diplomáticas e alianças. Essa restauração se dá em várias frentes de batalha, contando com o apoio de operações militares e marítimas.12

Nesta época, Portugal e Espanha são os dois principais Impérios da Europa, ao lado da Holanda. Entre eles, há uma guerra comercial e uma luta política pela hegemonia, visando controlar a rota marítima comercial.

Neste contexto, as Ordens Religiosas são convocadas a exercerem cargos diplomáticos para garantir o bom relacionamento

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Na defesa dos judeus e cristãos novos

A profecia

Marques, João Francisco. “A crítica sociopolítica de Vieira”, in Revista Lusófona de Ciências das Religiões. Vieira e a possibilidade de um novo mundo – Missionação no Império Colonial Português, Lisboa, ano VII-2008, n. 23/14, Edições Universitárias Lusófonas, 2008, p. 83.

13

internacional. Viera assume o cargo de embaixador itinerante na Europa e nos domínios Além-Mar.

Gozando da confiança do Monarca, Vieira é convocado com frequência para ajudar, aconselhar em questões delicadas para a Coroa. Embora não sendo perito em estratégias políticas, obtém assinaláveis êxitos em alguns casos, não poucas derrotas em outros e grandes frustrações.

Vieira dá uma contribuição significativa no processo de Restauração de Portugal. Entre os anos 1641 a 1652, estando em Portugal, procura ser fiel aos objetivos da Independência Nacional. Ao longo de sua presença no palácio real português, constata os fracassos do governo, a incompetência dos auxiliares de Dom João IV e a cerrada luta pelo poder e cargos. Desiludido, escreve o Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma (1652), no qual alerta o rei sobre o que ocorre ao seu redor.13

Como embaixador, Vieira consegue criar políticas econômicas que foram além dos limites da Casa de Bragança. O comércio, para ele, é o veículo essencial ao desenvolvimento do país e para a realização de sua Restauração. Sem poder contar com os fidalgos portugueses, ele busca recursos entre os cristãos-novos e os judeus.

A reorganização comercial de Portugal com a ajuda dos judeus ricos alavancou a economia estancada pela guerra contra a Espanha, beneficiou a própria Europa e as colônias portuguesas. No entanto, antes de trazer de volta os judeus e cristãos-novos para o reino, ele necessitava do aval do rei e do Santo Ofício.

Com a nomeação à coroa de Dom João IV, desencadeia-se a Restauração. Uma nova imagem surge no Império titulado por Nação Superior, cujo objetivo elementar é purificar o país com a fé Católica (Inquisição).15 O sebastianismo16 ali presente e a devoção ao joanismo contribuem, na ótica de Vieira, com a

Projeto nada fácil de ser realizado por ir contra os costumes e a doutrina católica.

Para Abreu, razões econômicas favoreceram, o rei acata e Vieira reivindica três questões: a primeira, reabrir os processos da inquisição contra os judeus, estudando os casos injustos contra eles; a segunda, devolução dos bens e isenção de confisco; e, por fim, a terceira, acabar com a distinção entre cristãos-novos e cristãos- -velhos.14

Com o apoio do rei, o jogo político comercial de Vieira dá certo. Traz aliados judeus e cristãos-novos, antes perseguidos, de volta a Portugal.

Ao propor a contribuição dos judeus e cristãos-novos, utiliza como argumento basilar o fato de Portugal acolher comerciantes protestantes, que eram considerados como hereges pela Igreja. Por que não acolher os cristãos-novos?, questiona Vieira.

Além dos interesses econômicos, ao trazer de volta os judeus e cristãos-novos expulsos injustamente, Vieira tem outro escopo: aproximar-se deles para conhecer mais a cultura judaica e suas relações religiosas com o catolicismo.

Abreu, Luiz Machado. “Moldura para um retrato de Vieira”, in Revista Lusófona de Ciências das Religiões, p. 38.

Explicar sebastianismo.

Faria, João André de Araújo. “Da maravilhosa aclamação Del’Rey nosso Senhor no Estado do Brasil”: Representações políticas do Estado do Brasil na Restauração Prodigiosa de Portugal, 1640- -1668”, in Revista de Humanidades. UFRN. Caicó, v. 9. n. 24, set/out. 2008. Disponível em: <www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais>. Acesso em: 25 fev. 2013.

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purificação do país através do nacionalismo. Dentro dessa circunstância, para o Quinto Império acontecer, a purificação de Portugal será dada pelo messianismo, que transformará a sociedade lusitana em justa e santa (eleita).

Assim, em 1642, prega o Sermão dos Bons Anos, vincula a esperança sebastianista com o joanismo (devoção ao rei), salientando que Dom João IV é o El Rei aguardado. Na carta intitulada Esperanças de Portugal (1659), que escreve ao bispo jesuíta do Japão, Dom André Fernandes, já concebe o joanismo dentro do Quinto Império.17

A personalidade vigorosa e ativa de Vieira foi acrescida pela formação jesuítica do zelo missionário sonhador que o levou a colocar inteiramente a serviço do Reino Temporal e Eterno de Jesus Cristo.

A vida como religioso, a serviço da Companhia, da Igreja e como Embaixador da Coroa Portuguesa, nunca deixou de lado a luta pela justiça e defesa dos mais necessitados, índios e judeus perseguidos.

O missionário na Companhia é preparado para superar as dificuldades decorrentes da missão. Vieira viveu num tempo no qual a visão de mundo era permeada pelo humanismo renascentista, que dava importância à meditação da palavra na pregação, pois o pregador é um herói que se revela no combate e no triunfo da palavra.

Breve, Antônio Vieira realiza um pouco de tudo, mas nesse tudo se vê o mais sublime de suas agilidades: o olhar detalhista, articulador e executor. Detalhista nos fatos; articulador das ideias e sonhos; e executor da verdade na qual deposita a fé. Exemplo para muitos missionários atuais, pois o notável jesuíta, segundo alguns pesquisadores, esteve 200 anos à frente de seu tempo.

A ideia do Quinto Império, após ser apresentada em sermões e na carta ao bispo do Japão, é examinada pelo Santo Ofício, preocupado com a presença de teorias pró--joanistas e pró-judaicas.

Vale lembrar que os judeus já vinham sendo perseguidos pela Inquisição, por não aceitarem Jesus Cristo como o Messias esperado. O mesmo passa a acontecer com o sebastianismo e o joanismo, com seus traços populares e judaicos.

Por fim, Pe. Antônio Vieira prova que Dom João IV é o Encoberto e não Dom Sebastião, porque é no seu reinado que se cumprem as profecias. O Quinto Império iniciaria no ano de 1666 com a instauração da Terra do Reino de Cristo Consumado, na perspectiva do joanismo. A profecia sobre o Quinto Império já se faz presente desde o início na obra inacabada de Vieira a História do Futuro.

Após ser julgado pela Inquisição em 1665, Vieira é preso em Coimbra e segue para o exílio num mosteiro perto do Porto. Ali, dedica-se a escrever as Representações, obra apologética com citações apenas da

Real, Miguel. “Padre Antônio Vieira: A Arquitetônica do Quinto Império”, in Revista Lusófona de Ciências das Religiões, p. 125.

Besselaar, José Van. Antônio Vieira: O Homem, a Obra, as Ideias, p. 20.

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Bíblia e o Breviário. O ano 1666 passa e não acontecem as suas profecias; Vieira permanece calado, sem contudo mudar suas ideias.18 Quando nasce o Príncipe Dom João, filho de Dom Pedro II, agora na Bahia desde seu nascimento, imediatamente aplica a ele o que antes aplicara a dom João IV, agora o Príncipe realizaria as profecias. Entretanto, o Príncipe também morreu, e uma vez mais as Profecias não se realizam.

Conclusão

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Introdução

Hoje, nós somos convidados a estudar o papel da Virgem Maria na redenção de Jesus Cristo. Sua missão é muito importante.

Quando se fala em redenção, muita gente pensa que é tema de teólogo, e não dos cristãos que vivem embrenhados nas tarefas do dia a dia. Dizem que é uma coisa muito espiritual e elevada, que não vale a pena se preocupar.

Ao contrário, a redenção não é um tema fora da vida da gente, mas uma realidade muito concreta, que toca o nosso coração humano e cristão. Aliás, a nossa luta por uma vida mais digna faz parte do processo redentivo.

A redenção é a libertação do pecado e a restauração da raça humana na amizade com Deus, realizada por Jesus Cristo, mediante sua vida, morte e gloriosa ressurreição.

Deus Pai, que nos amou primeiro, envia o seu Filho para nos redimir, animado pelo Espírito Santo. Junto de Jesus nós experimentamos a redenção, que é abundante e renovadora.

A redenção é fruto do amor de Deus. Em seu Evangelho, São João diz: “Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para quem crer, não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus não enviou seu Filho ao mundo para julgar

Pe. Ruben Leme Galvão, C.Ss.R.

O PAPEL DA VIRGEM MARIA NA REDENÇÃO DE JESUS, NA PROPOSTA DO PADRE

CLEMENTE DILLENSCHNEIDER

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22 revista - Diálogo

o mundo, mas para que o mundo se salve por meio dele” (Jo 3,16-17).

A redenção de Jesus atinge o homem completo, em todas as suas dimensões. Dizia Santo Agostinho: “Quem te criou sem ti, não te pode salvar sem ti”. Por isso a nossa atitude é de acolher livre e generosamente o Redentor em nossa vida.

Ao experimentar o amor de Deus, nós, cristãos, continuamos a obra redentora de Jesus, testemunhando e anunciando o Evangelho da Salvação no mundo de hoje. Nós ajudamos as pessoas a se aproximarem de Cristo e dele receberem a graça da redenção, que as coloca na dinâmica da conversão e da vida nova, marcada pela fé, caridade e esperança.

Os pensadores e teólogos cristãos têm nos ajudado a entender melhor a Virgem Maria no mistério da redenção de Jesus Cristo.

A participação de Nossa Senhora no mistério da redenção é um assunto bastante atual, muito debatido nos tempos atuais. Temos várias opiniões de estudiosos.

Há aqueles que questionam o lugar da Virgem Maria na redenção de Jesus Cristo, apresentando suas ideias e seus pontos de vista.

Há também os que são favoráveis, desenvolvendo o tema de maneira equilibrada. Buscam justificar sua opinião nas Sagradas Escrituras e na Tradição da Igreja.

Nós encontramos as opiniões dos autores em seus escritos. São tantos os livros que tratam do assunto, que formam uma verdadeira biblioteca.

É motivo de grande alegria para os devotos verem que tudo que diz respeito à Mãe de Deus é alvo de tanto estudo e debate.

Sem dúvida, assim se cumpre a profecia da própria Virgem Maria:

“Todas as gerações me proclamarão Bem- -aventurada” (Lc 1,48).

A própria piedade cristã registra:“Louvar-te, os justos todos

pretendem.Mas falhar, humildes entendem.Tuas glórias, embora exaltandomuito aquém, acabam ficando,

ó Maria!” (Do Hino Salve Mater).Pe. Clemente Dillenschneider

Pe. Clemente Dillenschneider, C.Ss.R. († 05/02/1969), estudou, com afinco e seriedade, o papel de Nossa Senhora na redenção de Jesus Cristo. Sua opinião foi muito aceita e elogiada por teólogos e pensadores cristãos.

Dele assim escreveu Mons. Laurentin: “No campo da Mariologia é um verdadeiro especialista”.

O Prof. Philip o elogiou, dizendo: “Explanação metódica, redação claríssima, espírito objetivo, julgamento sereno. Seus trabalhos sobre mariologia estão alicerçados nos sólidos princípios da teologia”.

E o Frei Serapião de Iragui, O.F.M., assim escreveu: “Por mais de 50 anos ele explorou esse tema e, assim, seus trabalhos, fruto de acuradas pesquisas e de grande poder de síntese, são admirados por toda a parte, mesmo por aqueles que não aceitam suas opiniões e conclusões”.

Muitos, embora não neguem a competência do Pe. Clemente nesse assunto, afirmam que ele “navega entre duas opiniões (entre duas águas)”.

Alguns chegam a afirmar estar ele entre os adversários da doutrina da participação de Maria na redenção.

Neste trabalho, depois de diligente pesquisa, tentaremos provar que nada disso é verdade.

O Pe. Clemente trata o tema com maestria e muita profundidade. Seu tratado

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23revista - Diálogo

Divisão do Trabalho

Jesus Cristo como único Mediador

é muito lúcido e objetivo, baseado em fundamentos sólidos da teologia.

Para facilitar a leitura, nós apresentamos o nosso trabalho de maneira didática, dividindo-o em diversas partes.

Na primeira parte, embora muito resumidamente, trataremos da absoluta fidelidade do Pe. Clemente à Igreja, no tocante a intangível doutrina de um só mediador.

Na segunda parte, procuraremos provar que o Pe. Clemente defende uma participação objetiva e imediata da Virgem Maria em nossa redenção.

Na terceira parte, buscaremos igualmente demonstrar o verdadeiro ou exato sentido das afirmações do Pe. Clemente, que foram causa de falsas interpretações.

Finalizando, deixaremos claro que não há razão para se afirmar que, em sua tese sobre Maria na redenção, o Pe. Clemente “navega em duas águas”, apresenta opiniões contrárias em sua proposta.

Afirma-se e fica provada a absoluta fidelidade do Pe. Clemente Dillenschneider à doutrina da Igreja, que admite Cristo como único mediador.

De acordo com a doutrina da Igreja, mediador é aquele que serve para estabelecer o relacionamento, a comunicação e a união entre Deus e os seres humanos.

Jesus Cristo é o mediador perfeito entre Deus e os seres humanos, pois Ele é o próprio Filho de Deus. Somente Ele é o redentor, que se sacrificou na cruz, por amor, salvando a humanidade. Ele morreu, mas ressuscitou. Está vivo e glorioso junto do Pai.

O único mediador entre Deus e a humanidade é Jesus. O próprio evangelista São João registra a declaração de Cristo: “Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). Ele é o caminho que leva ao Pai.

São Paulo afirma que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, que se entregou na cruz para redimir a todos. Deus enviou seu Filho para salvar a todos (Gl 2,4-6).

De acordo com a Carta aos Hebreus, o único ato salvador, que obteve o perdão e a reconciliação, é o sacrifício de Jesus, que derramou seu sangue e entregou sua vida pela humanidade. Ele é o verdadeiro mediador (Hb 7,26-28; 8,6; 9,11-14).

Na história da salvação, Maria desempenha um papel especial, com sua missão de ser a Mãe de Jesus Cristo. Durante sua vida terrestre, ela esteve ao lado de Jesus, intervindo em favor dos seres humanos. Ela colaborou estreitamente com Jesus em sua missão salvadora.

A tarefa de Maria não terminou no momento de ser elevada à glória do céu. Ela continua, ao lado de Cristo, o mediador por excelência, a exercer sua função de socorro e auxílio dos seres humanos. Ela prossegue perto da humanidade, colaborando com Cristo para a salvação da humanidade.

A mediação de Maria é dependente e subordinada à mediação de Cristo. Ela não está acima do Cristo nem independente dele. Viva e ressuscitada na comunhão dos santos, seu papel é de cooperação na obra de Jesus.

Maria está em comunhão total com Cristo. Junto de Jesus, ela intercede pelos seres humanos, para que obtenham a salvação. Como Mãe próxima, sensível e solidária às necessidades deles, ela se preocupa com eles e atua em favor deles.

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24 revista - Diálogo

Em sua reflexão, Pe. Clemente reafirma sua fidelidade à doutrina da Igreja.

Para ele, Jesus Cristo é o único mediador. A mediação de Maria é sempre subordinada e dependente da mediação de Cristo.

De acordo com a proposta do Pe. Clemente, a mediação de Maria é especial, tendo em vista seu lugar único no mistério de Cristo e da Igreja.

Pe. Clemente afirma que o “merecimento participativo da Virgem Maria jamais e de nenhum modo poderá causar sombra ao mérito salvífico de Cristo, do qual ela própria depende”. E conclui dizendo que longe “de diminuí-lo ela o exalta ainda mais”.

Observemos a extraordinária semelhança, até quase identidade de suas afirmações, com as do Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” (Cap. VIII, n. 60).

O Concílio Vaticano II afirma que a missão materna de Maria em favor dos homens não obscurece nem diminui a mediação de Cristo, único mediador. Ao contrário, ostenta-lhe o poder, pois flui de seus méritos e deles depende inteiramente. Não impede, e sim favorece a união imediata dos fiéis com Cristo.

Pe. Clemente continua afirmando que, embora “Cristo e sua Mãe tenham realizado de modo diverso a nossa salvação, entretanto, pela comunhão de intenção e da vontade, estavam unidos para os mesmos fins. Permanecendo, com efeito, Cristo formalmente independente em méritos, enquanto que Maria, formalmente, depende do Filho”.

Cuida o Pe. Clemente de estender essa preocupação quanto à intangibilidade dos méritos de Cristo a todos que tratam

desse assunto. “Tanto os que afirmam como os que negam a colaboração direta da Bem-aventura Virgem em nossa Redenção, preocupam-se com todo empenho em preservar a suprema autonomia do nosso Salvador”.

E até no final de seu trabalho, Pe. Clemente manifesta a sua preocupação de que a “excelência e a autoridade dos méritos de Cristo, de todos os modos, devem ser preservadas”.

Do que já foi exposto, parece-nos inútil prolongar-nos no assunto. Ficou patente a posição do Pe. Clemente quanto a essa questão. Posição essa em preservar os direitos do Redentor, que levou alguns a afirmarem que ele “navega em duas águas”, como veremos depois.

Sendo fiel à doutrina da Igreja de que Jesus Cristo é o único mediador, Pe. Clemente desenvolve sua proposta de que a Virgem Maria é a corredentora.

Na reflexão do Pe. Clemente, corredentora é a expressão que manifesta a união de Maria na obra redentora de Jesus Cristo. Ela colaborou na terra e continua colaborando no céu com seu Filho na redenção da humanidade.

O Pe. Clemente desenvolve seu pensamento sobre a corredenção da Virgem Maria em duas partes:

1. Na primeira parte, ele expõe o mérito da Bem-aventurada Virgem na economia da nossa salvação e explicita a qualidade desse mérito.

2. Na segunda parte, demonstra e prova a perfeita harmonia dessa colaboração da Virgem Maria com os méritos de Cristo.

A Corredenção da Virgem Maria

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25revista - Diálogo

Em primeiro lugar, Pe. Clemente expõe o mérito da Bem-aventurada Virgem na economia da nossa salvação e explicita a qualidade desse mérito.

Em verdade Pe. Clemente não poderia trilhar melhor caminho na apresentação desta primeira parte. Depois de apresentar a situação do problema, ele estuda com muito cuidado, total fidelidade e até escrupulosidade, a doutrina dos Santos Padres.

Apresenta com grande precisão e lucidez as declarações do magistério da Igreja e dos Papas, não aumentando nem diminuindo o seu significado.

Expõe corajosamente as opiniões contrárias e examina cuidadosamente seus valores. Não omite nem mesmo os argumentos dos que ainda hesitam. Procura saber e julgar com muita severidade os argumentos até daqueles que seguem a sua doutrina. Não deixa de consultar também as manifestações da piedade popular.

Por último, e o que é mais importante, lança as raízes de sua doutrina na Sagrada Liturgia e nas Sagradas Escrituras.

Somente depois dessa exatíssima e acurada pesquisa é que Pe. Clemente expõe suas opiniões, seus argumentos e define a sua posição.

Pe. Clemente coloca todo o valor da cooperação de Maria no seu “Fiat” (“Faça- -se”), ou seja, quando ela aceitou a proposta de ser a Mãe do Salvador (Lc 1,38). Pois foi por este “Faça-se” que, em nome de toda a humanidade, Ela deu à vontade do Eterno Pai uma resposta positiva. E esse consentimento não pode ser reduzido a uma atitude meramente passiva, mas sim

1. O mérito da Bem-aventurada Virgem na economia de nossa Salvação e a sua qualidade

uma ativa participação de ampla eficácia na obra da redenção.

Pe. Clemente argumenta que assim “como Cristo, cabeça da humanidade, mereceu para nós a salvação, assim a Virgem, em virtude de sua especialíssima vocação à maternidade que a uniu ao Novo Adão, quis merecer para nós a salvação. E, se encontramos em Cristo o princípio interno de seus méritos na obediência voluntária ao Pai, também encontramos o mesmo princípio como fundamento dos méritos da Bem-aventurada Virgem”.

Pe. Clemente ainda afirma que “Maria, com o seu ‘Faça-se’, isto é, aderindo com fé e amor, em nome de toda a humanidade, ao ministério da encarnação redentora, cooperou para a aquisição de todas as graças da redenção”.

Para Pe. Clemente, “esse consentimento (Faça-se) continha virtualmente toda a vida de Cristo: encarnação, paixão e morte; e era verdadeiramente uma condição indispensável”.

De acordo com seu pensamento, nesse “divino consórcio, que teve seu início na encarnação e o seu final no Calvário, Maria não foi apenas mera assistente ou alguém que meramente aprovava, mas cooperou ativamente. Sua participação foi em verdade consciente e, por isso, estendeu- -se à própria redenção objetiva”.

Pe. Clemente diz que a “compaixão dolorosa da Virgem Maria, embora não constituindo um complemento à paixão de Cristo, não pode, entretanto, ser tida como algo acidental ou como algo dispensável. Foi, sim, uma verdadeira participação na redenção e o motivo é este: toda a vida da Virgem Maria, especialmente seus sofrimentos, tinha um objetivo: a paixão e morte do Senhor. Tudo tinha como fim

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26 revista - Diálogo

Na segunda parte, Pe. Clemente demonstra e prova a perfeita harmonia entre a colaboração da Virgem Maria e os méritos de Cristo.

completar integralmente o plano de nossa redenção e, embora não constituísse parte integrante da ação redentora do Novo Adão, era, contudo, correlativo a ela”.

Conforme seu raciocínio por que “Deus assim determinou, é necessário admitir o seguinte: embora por motivos diversos, somos todos devedores pela nossa reabilitação espiritual aos méritos do Novo Adão e da Nova Eva. O mérito da Bem-aventurada Virgem e o valor de sua participação na paixão, juntamente com o sacrifício do Filho, eram motivos para que Deus concedesse aos homens a Salvação”.

Pe. Clemente conclui dizendo que “nada impede, pois, que se possa afirmar que a salvação do gênero humano provenha ao mesmo tempo dos méritos ‘de condigno’ (de direito) de Cristo”.

Quanto à qualidade dos méritos da Virgem Maria, o Pe. Clemente de modo algum aceita que possa ser “de condigno”, de direito. Mas ele acha também que a expressão “de condigno” não explicita totalmente a colaboração da Mãe de Deus.

Por isso mesmo, com outros autores, ele admite a expressão “de supercongruo” (congruência especial), que provém da palavra “hyperdulia” (veneração especial).

Assim Pe. Clemente se exprime: “Se alguém, pois, quiser definir melhor esse especial mérito, deverá intitulá-lo ‘de supercongruo’”.

2. Perfeita harmonia entre a colaboração da Santa Virgem Maria e os méritos de Cristo

Pe. Clemente diz que lhe parece “óbvio admitir que Deus, em previsão dos méritos de Cristo, tenha concedido à Bem-aventurada Virgem, juntamente com a antecipada justificação, também o privilégio de colaborar na salvação do mundo, embora de modo todo seu e em união com o Filho”.

Mas como se tornou isso possível?Pe. Clemente expõe que, antes de

tudo, “Cristo se oferece para libertar sua Mãe (Redenção Antecipada), para assim torná-la capaz de colaborar meritoriamente na salvação dos demais e, depois, numa segunda intenção, oferecer-se, com sua própria Mãe, pela salvação do mundo. Assim Maria depende dos méritos de Cristo como em sua Imaculada Conceição”.

Todavia, ele adverte: “Os méritos de Cristo e a mediação de Maria se unem sem nenhuma confusão. Pois uma coisa seria afirmar que a ação Redentora de Cristo dependeria do mérito de Maria, e isso é simplesmente impossível afirmar; outra, bem diferente, é ensinar que nossa salvação está unida, embora de modo diverso, ao mérito de Cristo por direito e à mediação de Maria”.

Pe. Clemente esclarece que no “calvário temos um único sacrifício, no qual Cristo, como Sumo Sacerdote, oferece-se ao Pai em nome de toda a humanidade em seu corpo e sangue, e a Virgem Maria, associada ao Sumo Sacerdote como Mãe, oferece-se na imolação do coração, pelo mesmo fim redentor”. O sacrifício de Cristo, Deus o aceita pelo rigor da justiça. O de Maria, porém, pelo seu beneplácito.

Isso exposto, o Pe. Clemente assim argumenta: “Se não se afirma que Maria cooperou para nossa salvação independentemente de Cristo, ou se, embora dependendo, teria acrescentado algo como complemento, de nenhum modo

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27revista - Diálogo

1. Da participação meritória da Virgem Maria

2. Quanto aos efeitos da redenção

é absurdo que Ela, por divina disposição, associada ao Filho pela sua função materna (em tudo, porém, dele dependendo quando se trata de mérito), tenha trazido para nós a salvação”.

E conclui dizendo que “Deus, portanto, livremente dispôs, para nossa total redenção, que a tivéssemos e, abundantemente pelos méritos de justiça, de seu Filho morto na cruz e como algo mais, associou a Mãe de seu Filho de tal modo que as ações de Cristo e de Maria se integram por essa divina disposição”.

Agora, nós faremos diversos esclarecimentos sobre pontos da proposta do Pe. Clemente Dillenschneider. Vamos elucidar afirmações suas que foram ou são causa de falsas interpretações e demonstrar seu verdadeiro sentido.

Um segundo ponto que Pe. Clemente esclarece é quanto aos efeitos da redenção.

Ele faz a seguinte distinção: “Dois efeitos devemos distinguir quanto à Redenção: da parte de Deus e da parte dos homens. Da parte de Deus, a redenção foi a reparação do pecado e a reintegração do homem pecador ao estado da graça primitiva. Essa reintegração se dá pela inserção na morte de Cristo. Em se tratando dessa realidade, não se verifica a participação da Bem-aventurada Virgem como corredentora”.

Para Pe. Clemente, o mérito da Santíssima Virgem é este: “Os mesmos efeitos que Cristo nos mereceu superabundantemente por um novo título – sempre, entretanto, de modo inferior – a Virgem Maria os mereceu também”.

Ele conclui dizendo que é, portanto, algo acidental, de modo que sem essa colaboração a redenção teria o mesmo valor. Todavia, embora acidental, a colaboração de Maria, por Divina Vontade, faz parte do plano de salvação.

Como vimos, o Pe. Clemente coloca toda a ênfase da participação de Maria no seu “Fiat” – “Faça-se”.

Pe. Clemente afirma que, pelo “seu ‘Faça-se’ consciente e livre, Maria acolheu o Verbo Encarnado não somente como Filho, mas também como Redentor do gênero humano e todo o seu plano de salvação. E esta acolhida não foi apenas um ato afetivo e particular, mas absolutamente querido e dentro dos planos de Deus”.

Para ele, sem “este consentimento e sem a morte de Cristo, a nossa fé, que nos leva à salvação, de nenhum modo seria possível”.

Mas o ato Redentor de Cristo em seu sentido estrito teria alguma dependência desse “Faça-se”? “Negativo”, responde Pe. Clemente.

Ele esclarece que a “participação da Mãe de Deus de nenhum modo pode

Esclarecimentos

estar unida, em sentido de dependência, ao ato Redentor de Cristo. Por isso mesmo não podemos falar de redentora, mas de corredentora”.

De acordo com o Pe. Clemente, a “participação de Maria no mistério de nossa Salvação de nenhum modo pode ser diretamente inserida no ato salvífico de Cristo”.

Mas deve-se notar o seguinte (e os que não o fazem interpretam erroneamente a sua doutrina), que ele acrescenta logo em seguida: “Esta participação acontece na Vontade Divina que assim estabeleceu no plano total da salvação”.

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28 revista - Diálogo

De tudo que ficou exposto, não se pode, de forma alguma, afirmar que o Pe. Clemente, ao tratar desse tema, “navega em duas águas”. Ele não se contradiz em suas afirmações.

Para corroborar essa afirmação, queremos citar suas afirmações na parte final do seu livro “Para compreender bem a Corredenção de Maria”.

Em seu livro, assim Pe. Clemente se expressa: “Entretanto, Ele quis que se unissem essas duas categorias de mérito em favor de nossa redenção. E assim Ele os uniu. Uniu, então, em prol de nossa Salvação, antes de tudo e como fator absoluto e essencial, os méritos ‘de condigno’, ‘de direito’, de nosso Salvador e, como acréscimo, os méritos ‘de supercongruo’ de Maria. Assim, de acordo com a disposição e agrado divinos, o ato Redentor de Cristo e a participação salvífica de Maria se unem, mas não se confundem. Eles se unem sem se confundir quanto ao mesmo efeito redentor, merecido de modo diverso, cada um no seu respectivo plano”.

Pode-se, então, deduzir claramente que, em seus estudos e trabalhos, o Pe. Clemente considera o mistério de nossa redenção não apenas como um ato pessoal de Cristo, mas como a realização de todo um plano salvífico de Deus.

Assim, Pe. Clemente preserva a integridade da doutrina nos seguintes itens:

E tudo isso, não por necessidade, mas por livre beneplácito divino e disposição da divina providência na atual economia de nossa salvação.

Concílio Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium (Capítulo VIII).

La Mariologiedu S. Alphonse de Liguori. Friburgo – Suíça, 1931, p. 320-321.

Maria Corredentrice (Versão italiana). D. Aldo Poggi. Ed. Paulina, 1954. Tradução do original francês: “Maria a serviço de nossa Redenção”.

Marie dans l´Economie de la Création Renové. Paris, 1957.

Papel de la Virgem Maria nel Mistério de nuestra Redencion. Frei Serápio de Tragini, O.F.M.

Pour une Coredemption Mariale bien Comprise. Ed. Marianum, 1947.

Conclusão

De um só mediador.Necessário e justo relacionamento

entre a ação de Cristo e a de Maria.A cooperação de Maria, embora de

modo subordinado.

Acreditamos que se pode até inserir a doutrina do Pe. Clemente, sem nenhuma ressalva, dentro da Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, em seu VIII Capítulo.

Assim afirma a Constituição Dogmática Lumen Gentium: “Um só é nosso mediador que se entregou pela nossa redenção. Todavia, a materna missão de Maria a favor dos homens, de modo algum, obscurece nem diminui esta mediação única de Cristo, mas até demonstra o seu poder. Pois todo o influxo salutar da Virgem nos homens não tem origem numa necessidade intrínseca, mas do Divino Beneplácito, e flui dos superabundantes méritos de Cristo.

Predestinada desde a eternidade pelo desígnio da Providência Divina a ser Mãe de Deus, pela Encarnação do Verbo Divino, a Bem-aventurada Virgem foi nesta terra a sublime Mãe do Redentor e, singularmente mais que todos, sua generosa companheira e humilde Serva do Senhor.

Ela concebeu, gerou, nutriu o Cristo, apresentou-o ao Pai no templo, padeceu com seu Filho morrendo na Cruz.

Assim, desse modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela cooperou na obra do Salvador para a restauração sobrenatural da humanidade. Por esse motivo, ela se tornou para nós mãe na ordem da graça” (n. 60- -62).

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29revista - Diálogo

Estamos transitando, na atualidade, sobre a via da modernidade líquida. Esta, por sua vez, coloca a identidade em um contínuo processo de transformação. Sendo assim, abrindo mão das ideologias preconcebidas, nós, residentes no líquido mundo moderno, devemos desenvolver uma refl exão mais sustentável e adaptada à dinâmica do transitório, que se impõe sobre o fi xo, o imutável e o perene.

Mas o que é identidade? Etimologicamente falando, identidade é o “conjunto de caracteres próprios e exclusivos, com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das exclusividades, quer ante seus semelhantes”.1

A conceituação de identidade interessa a

Pe. Vinícius Ponciano, C.Ss.R.

IDENTIDADE

vários ramos do conhecimento (história, sociologia, antropologia, direito etc.) e tem portanto diversas defi nições, “conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal, perdida ou resgatada”.2 O termo identidade tem vários signifi cados distintos e importantes. Vejamos alguns conceitos:

“Para a Sociologia, Identidade é o compartilhamento de várias ideias e ideais de um determinado grupo.

Para a Antropologia, Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos, referências e infl uências, que defi nem o entendimento relacional de determinada entidade, humana ou não humana, percebida por

Identidade. In: Wikipédia, a enciclopédia livre (Google), p. 1. Ibidem, p. 1.1 2

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30 revista - Diálogo

Já a palavra ambivalente “deriva do latim prefixo (ambi), que significa ‘dois’, e (valência), que é derivado do latim (valentia), significando ‘força’. O termo foi proposto pelo psicanalista Eugen Bleuler (Vortragüber Ambivalenz, 1910) e foi redefinido por Freud. É comum utilizar a palavra ‘ambivalente’ para descrever a

Para Bancos de dados orientados a objeto, o conceito de identidade é utilizado para identificar unicamente objetos dentro de uma base de dados. Dessa forma, cada objeto possui um OID (Object Identifier), que identifica unicamente um objeto durante o seu ciclo de vida. Os OIDS nunca mudam durante o tempo de vida de um objeto e também nunca são realizados. OIDS podem ser implementos logicamente ou fisicamente”.3

A diversidade de conceitos acerca da identidade se estende. Temos ainda: Identidade visual, Identidade corporativa, Identidade de gênero, Identidade social, Identidade cultural, Identidade de objetos, Identidade religiosa, Identidade digital e outras.

No campo da modernidade líquida, a Identidade transita livremente e com bastante desenvoltura, e em alguns

contraste, ou seja, pela diferença ante as outras, por si ou por outrem. Portanto, Identidade está sempre relacionada à ideia de alteridade, ou seja, é necessário existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres pelos quais me identifico.

Para a Medicina legal, Identidade consiste numa série de exames feitos no vivo ou no morto, onde se apuram, por ser humano, a raça, sexo, estatura, idade, definição, peso e conformação corpórea, sinais particulares (má formações, cicatrizes, tipo sanguíneo, feições faciais etc.).

Para o Direito, a Identidade constitui- -se num conjunto de caracteres que, delimitados legalmente, tornam a pessoa ou um bem individuado e particularizado, diferenciando-o dos demais, e como tal sujeito a direitos e/ou deveres.

Ibidem, p. 1. Ibidem, p. 8.

Ibidem, p. 8.

Vecchi, Benedetto. Introdução. In: Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 7.

Ibidem, p. 8.

Ambivalência. In: Wikipédia, a enciclopédia livre (Google), p. 1.

3 5

7

4

6

8

momentos ela pode abalar as nossas “crenças fundamentais”,4 aumentando ainda mais a nossa perplexidade. Ora, no líquido mundo moderno, o melhor a fazer é não definir ou conceitualizar um acontecimento. Na era líquida, o melhor a fazer é “estabelecer conexões com fenômenos sociais ou manifestações do etos público, que parecem muito distantes do objeto inicial da investigação, e tecer comentários sobre eles”.5 Um pouco de ecleticidade ajuda-nos a compreender que há importantes conexões entre o objeto investigado com outras “manifestações da vida na sociedade humana”.6

A Identidade “é um assunto que, pela própria natureza, é intangível e ambivalente”.7 Sendo a Identidade intangível, ela é inviolável e um direito intocável. Voltemo-nos nossa atenção para a palavra ambivalência. Do ponto de vista etimológico, ambivalência “é um estado de ter, simultaneamente, sentimentos conflitantes perante uma pessoa ou coisa. De outro modo, ambivalência é a experiência de ter pensamentos e emoções simultaneamente positivas e negativas em relação a alguém ou alguma coisa. Um exemplo comum de ambivalência é o sentimento de amor e ódio por uma mesma pessoa”.8

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31revista - Diálogo

falta de sentimentos diante de questões ou circunstâncias. Mas a palavra mais específica e convencionalmente aceita para usar neste caso seria ‘indiferente’. Uma boa maneira de efetuar a utilização correta é a de lembrar que o prefixo (ambi) significa (ambos), por isso, se você é (ambivalente), você tem sentimentos positivos e negativos por algo ou sentimentos de ambos os lados de uma questão. Ambivalência é vivida como psicologicamente desagradável, quando os aspectos positivos e negativos de um assunto são presentes na mente de uma pessoa ao mesmo tempo. Esse estado pode levar à evasão ou à deliberada tentativa de resolver a ambivalência. Quando a situação não requer uma decisão a ser tomada, as pessoas têm menos conforto, mesmo quando o sentimento é ambivalente”.9

Diante da intangibilidade e ambivalência da Identidade o melhor a fazer, segundo Zygmunt Bauman, “é não buscar respostas tranquilizadoras nos ‘textos consagrados’ do pensamento crítico”.10 É sempre bom recordar que a “modernidade líquida nos projeta num mundo em que tudo é ilusório, onde a angústia, a dor e a insegurança, causadas pela ‘vida em sociedade’, exigem uma análise paciente e contínua da realidade e do modo como os indivíduos são nela inseridos”.11 Na atualidade líquida, “qualquer tentativa de aplacar a inconstância e a precariedade dos planos que homens e mulheres fazem para as suas vidas, e assim explicar essa sensação de desorientação exibindo certezas passadas e textos consagrados, seria tão fútil quanto tentar esvaziar o oceano com um balde”.12

Em tempos de vias líquidas é bom que não se perca o “princípio da responsabilidade”.13

Do contrário, pode-se entrar em curto- -circuito com a “cultura de massa”.14

Portanto, é importante que sintamos capazes de “olhar o mundo de frente, sem recorrer a ideologias preconcebidas”.15

A globalização é uma voz que clama e reivindica, nos quatro cantos do mundo, uma forma de “mudança radical e irreversível”.16 Zygmunt Bauman a vê como uma grande transformação que “afetou as estruturas estatais, as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva, a produção cultural, a vida cotidiana e as relações entre o eu e o outro”.17 No mundo globalizado, o indivíduo é continuamente convocado a mudar a sua postura e opinião sobre determinado objeto ou determinada situação, seja ela de cunho pessoal ou social. Na modernidade líquida nada se resolve a partir de um “modelo preestabelecido”.18 Pelo contrário, na ágora líquida e vertiginosa tudo deve ser visto e entendido como um processo. Sua compreensão e análise vai depender disso.

A questão da Identidade deve estar bem longe das teses do fundamentalismo. Estamos em um mundo genuinamente globalizado. O multiculturalismo, o pluralismo e a internet com suas comunidades virtuais vão, a todo o momento, informando-nos que, no ventre da modernidade líquida, uma infinidade de identidades são geradas a cada momento. Essas identidades geradas na velocidade da luz são lançadas no mundo prontas para serem usadas. Somam-se a isso a queda do estado de bem-estar social, a sensação de insegurança e a “corrosão do caráter”.19

Com a divulgação da tese da flexibilidade

Ambivalência. In: Wikipédia, a enciclopédia livre (Google), p. 1.

Ibidem, p. 8-9.

Ibidem, p. 9.

Vecchi, Benedetto. Introdução. In: Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 8.

Ibidem, p. 9.

Ibidem, p. 9. Ibidem, p. 9.

9

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13

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Vecchi, Benedetto. Introdução. In: Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 11.

Ibidem, p. 11. Ibidem, p. 11.

Ibidem, p. 11.

16

1817

19

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32 revista - Diálogo

Vecchi, Benedetto. Introdução. In: Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 12.

Ibidem, p. 12-13.

Ibidem, p. 12.

Cosmopolitismo. In: Wikipédia, a enciclopédia livre (Google), p. 1.

Ibidem, p. 11. Ibidem, p. 12.

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2021

deparamos, não raramente, com conflitos no interior das mais diversas sociedades. Onde não há flexibilidade os conflitos sociais tendem a ser ainda mais contundentes. Veja o que está acontecendo no Mundo Árabe. Na atualidade, como em um programa de talk-show, todo mundo se sente no direito de vociferar as suas justificativas, sem “jamais conseguir produzir efeito sobre a injustiça e a falta de liberdade existente no mundo moderno”.20

Numa sociedade que “tornou incertas e transitórias as identidades sociais, culturais e sexuais, qualquer tentativa de ‘solidificar’ o que se tornou líquido, por meio de uma política de identidade, levaria inevitavelmente o pensamento crítico a um beco sem saída”.21 Hoje há uma carência de exercícios de sabedoria. Pela mesma forma sentimos a falta de mais “estratégias de adaptação à modernidade líquida”.22

O debate sobre as questões que dizem respeito à Identidade continua aberto. Ainda há muito para ser dito a esse respeito. Embora percebemos que as exigências de proteção se multiplicam a cem por um. Há um explícito desejo de retornar a “um modo familiar restrito que cria fronteiras e barreiras para manter distante o outsider”,23 não importa quem seja. Tal postura impossibilita o ir e vir livremente das identidades cada vez mais plurais e multiculturais. Qualquer tentativa de edificar novas e resistentes fronteiras, ao longo do globo terrestre, será um desastre irreparável. É claro que a comunidade é sempre um abrigo seguro para proteger o indivíduo dos efeitos da globalização em todo o planeta. Entretanto, é importante que essas comunidades sejam sempre

abertas, plurais, multiculturais, voltadas para o diálogo aberto com o outro diferente. “Zygmunt Bauman tem frequentemente chamado a atenção para o cosmopolitismo e para a sedutora mobilidade.”24

Com relação à etimologia da palavra cosmopolitismo quero dizer que “(cosmoua) vem do grego cosmopolita + ismo é um pensamento filosófico que despreza as fronteiras geográficas impostas pela sociedade, considerando que a humanidade – ou, ao menos os cultos – segue as leis do Universo (cosmos), isto é, considera os homens como formadores de uma única nação, não vendo diferenças entre as mesmas, avaliando o mundo como uma pátria. Atualmente o termo é bastante associado a uma ideologia que vê com desprezo a História e os acontecimentos do passado, valorizando apenas o mundo moderno, na área da urbanização – como as metrópoles, as megacidades, as megalópoles. Alguns dicionários o descrevem como sendo: Atitude ou doutrina que prega a indiferença ante a cultura, os interesses e/ou soberanias nacionais, com a alegação de que a pátria de todos os homens é o Universo”.25

Zygmunt Bauman está corretamente convencido “de que a verdade só pode ser afirmada na ágora, removendo desse modo o véu do obscurantismo, que impede essa mesma ambivalência de se tornar o lugar onde é possível experimentar o princípio de responsabilidade próprio de cada um. A ágora é o espaço privilegiado em que se pode falar abertamente”26 sobre os mais diversos assuntos que afloram como rebento novo na modernidade líquida.

Vecchi, Benedetto. Introdução. In: Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 13-14.

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33revista - Diálogo

Bibliografi a

Devemos ser, na modernidade líquida, um cosmopolita ou um cidadão do mundo. Devemos sempre optar pelo desejo de transcender a divisão geopolítica, que é inerente as cidadanias nacionais dos diferentes Estados e países soberanos. Somos representantes de nós mesmos. Nossa política de identidade deve afi rmar em nós uma busca incansável pela liberdade e pela independência. A nossa Identidade tem que nos garantir como cidadãos da Terra, do Mundo ou do Cosmos. Que de fato colaboremos com o estabelecimento de uma nova cidadania de aplicação global.

Sonho de toda mãe é ver os fi lhos pequenos um dia crescidos. Já adultos, assumindo com Ela a vida que tanto anseia para si e para eles! Quer prolongar-se neles! Assim me vejo; assim se veja você que me lê neste momento, diante da Mãe Aparecida! Ante a intensidade no amor, na disponibilidade com que Ela acolheu e viveu o Evangelho que o Pai pensou para todos nós, quão pequeninos ainda somos, apenas tentando nascer e dar os primeiros vacilantes passos!

É sob esse vosso olhar de Mãe, esperançoso em nos ver crescendo! Em ouvir hoje de nós, e de modo sempre mais corajoso, o que um dia foi vossa resposta pronta e absoluta: “faça-se em mim segundo a vossa Palavra!” É sob esse vosso olhar e fé, que pretendemos abraçar esse 2014 aqui em vosso Santuário!

É o primeiro dos três anos preparatórios de vosso tricentenário aniversário! Nossos bispos do Brasil, em sua Assembleia Geral, dar-nos-ão o toque da unidade na universalidade. Aqui reunidos, serão o coração pulsante a injetar luz, vida no organismo inteiro, em nossa Igreja, até a mais remota diocese ou prelazia.

O Hallel, em sua segunda edição, foi o grande marco de juventude no Santuário! Ele nos relembrou

Bauman, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi/ZygmuntBauman. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

2014, O Tricentenário Iniciado!

a saudosa e alegre Jornada Mundial da Juventude e a Semana Missionária que a precedeu! Mas, nesse ano, foi assumido pelo Santuário e nosso Sub-regional (Arquidiocese de Aparecida e suas dioceses sufragâneas: Lorena, Taubaté, São José dos Campos e Caraguatatuba) e contando ainda com o que faz grande diferença: a coordenação experiente de seus fundadores de Franca e equipe.

Desde já suplicamos a Ti, experiente na matéria, Mãe de pé aos pés da cruz de Teu Filho, que ilumines e nos guies na Novena e Festa que Te queremos fazer neste ano! Ajuda-nos a meditar os mistérios da dor e até da morte na vida de Teu Filho e hoje em nossas vidas! Que saiamos da tua novena e festa deste ano, mais fi lhos e fi lhas Teus, mais “de pé” como Tu, decididos para as lutas diárias, tão marcadas de dor até sairmos inteiramente vencedores – em Teu Filho – do último inimigo a ser derrotado, que é a morte!

Para imprimir mais segurança a nossos passos, a partir de fevereiro, contamos com a Comissão para a Celebração do Tricentenário do Encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nomeada pela Presidência da CNBB.

Nesse mesmo 2014, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, também está iniciando seu triênio preparatório para celebrar o primeiro centenário da Aparição de Nossa Senhora aos Três Pastorinhos em maio de 1917. Promovemos, em conjunto, algumas celebrações comemorativas dos dois centenários. Assim, no mês de maio, recebemos em nosso Santuário o bispo de Fátima- -Leiria e comitiva que trouxeram uma Imagem de Nossa Senhora de Fátima entronizada aqui entre nós.

No ano que vem, será nossa vez de entronizarmos uma Imagem da Mãe Aparecida lá. Em cada ano do triênio, então a começar deste 2014, rezaremos, ainda com o Santuário de lá, um terço conjunto através da Televisão.

Que tudo, nessas comemorações e em todo esse ano de 2014, faça Nossa Senhora sempre mais conhecida, amada e acolhida em Sua missão de nos levar à Vida plena, a Jesus que, por Sua vez, nos conduza até o Pai, amém!

Pe. Domingos Sávio da Silva, C.Ss.R.

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34 revista - Diálogo

Introdução 1. Alguns acenos históricos

Este breve artigo tem a fi nalidade de resgatar alguns aspectos históricos e pontos de vista acerca da contribuição da Accademia Alfonsiana (AA) ao pensamento teológico moral.

A história do nascimento da AA é bastante longa e complexa e ligada às decisões dos Capítulos Gerais da Congregação do Santíssimo Redentor. O Capítulo de 1894 exprime o desejo de que a Congregação devia ter uma “Escola Superior Geral” em Roma. Isso se torna decisão no capítulo de 1904 que abre essa “Escola Maior”, fechada em 1914. Essa ideia é abandonada, todavia se pensa em uma estrutura de acolhimento dos estudantes que viessem estudar em Roma e pudessem receber a doutrina teológico-espiritual de Santo Afonso. O Capítulo de 1936 recomenda expressamente que se tenha uma escola de teologia moral, no entanto

Mostraremos o desejo da Congregação do Santíssimo Redentor em criar uma escola, no intuito de continuar a tradição afonsiana, a complexidade desse processo ao longo do tempo e o signifi cado dessa instituição à própria Congregação e à Igreja, na voz de confrades ligados a essa história e também de quem nela estuda.

Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R.

A ACCADEMIA ALFONSIANA E SUA IMPORTÂNCIA

À REFLEXÃO TEOLÓGICO-MORAL

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35revista - Diálogo

todo o processo é interrompido por causa da Segunda Guerra Mundial. O projeto é retomado pelo Capítulo de 1947.1 Dois anos depois, no dia 9 de fevereiro de 1949, há 65 anos, em caráter experimental, ocorria a fundação da Accademia como uma faculdade de teologia moral afonsiana, um instituto interno da C.Ss.R. pelo Superior- -Geral P. Leonardo Buijs, com intuito de pensar uma teologia moral que tivesse uma relação íntima entre teologia pastoral e vida espiritual sem legalismos.

Em 1951, a nova escola se inicia com um biênio com atividades bastante articuladas. No dia 25 de março de 1957, a Sagrada Congregação para os Religiosos, baseada na Constituição Sedes Sapientiae, reconhece a Alfonsiana como escola pública confiada aos redentoristas, aberta a estudantes e professores não redentoristas. Tal situação propiciou uma procura pela entidade que exigia estudos superiores, além dos universitários convencionais, mas não podia conferir títulos acadêmicos, a não ser diploma válido para outros institutos. Assim, Pe. Gaudreau propôs ao reitor da Universidade Lateranense naquela época, d. Antônio Piolanti, a possibilidade de inserção naquela Universidade. No dia 2 de agosto de 1960, o prefeito da Sagrada Congregação para as Universidades e Seminários, com o consentimento do Papa João XXIII, declarava a Accademia Alfonsiana incorporada a Universidade Lateranense.2

No discurso de incorporação, o Reitor Magnífico da Lateranense afirma: “trata-se de um verdadeiro e autêntico Instituto de Teologia Moral, o primeiro deste gênero em toda a história da Igreja, que se inspirando no magistério

Cf. Majorano, Sabatino. Cinquant’anni di impegno per il rinnovamento della teologia morale. In: Cinquant’anni di storia. Quaranta anni di incorporazione nella Pontificia Università Lateranese. Roma: Edacalf, 1999, p. 23-25.

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de Santo Afonso de Ligório se propõe a aprofundar o estudo dos aspectos naturais e sobrenaturais de todos os problemas da vida moral, de acordo com as exigências do mundo moderno, sob a guia do magistério da Igreja”.3 Por fim, no dia 20 de maio de 1968, o Reitor Magnífico Pavan instituía, com o consentimento da Congregação pela Educação Católica, um segundo ciclo de estudos para uma licenza especializada e um terceiro ciclo para doutorado.4

De acordo com o Prof. Sabatino Majorano, “a gestação [da Accademia], de fato, foi longa e complexa. Funda-se na preocupação dos redentoristas pela defesa e a difusão do pensamento do seu Fundador. A proclamação de Afonso como doutor da Igreja em 1871, as disputas em torno ao seu sistema, os ataques que foram movidos de muitas partes entre o fim século XIX e início do século XX, as exigências formativas da mesma congregação determinam nos Redentoristas uma crescente consciência da necessidade, não só de promover manuais morais de inspiração afonsiana, mas também de um específico centro de estudos em Roma”.

Da sua fundação até hoje estiveram à frente da Accademia o Pe. Jan Visser, Regente (1957-1959), e os seguintes professores e Presidentes: Pes. Domenico Capone (1969-1983), Séan Cannon (1989--1995), Bruno Hidber (1995-2000), Sabatino Majorano (2000-2006), Martin

Cf. Sacra Congregatio Pro Seminaris Et Studiorum Universitatibus. Decreto Fidei morumque aedificationem (Romae 2 Augusti 1960). In: AAS 52 (1960), p. 835-836. Nesse sentido a Accademia não é afiliada, mas incorporada, isto é, ao mesmo tempo inserir-se na Universidade e ter autonomia própria de instituto de especialização de teologia moral e enriquecer a Faculdade de Teologia.

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Disponível em: <http://www.alfonsiana.org/italian/istituto/it_storia.htm>. Acesso em: 20 janeiro 2014. Cf. Hidber, Bruno. Sintesi dell’anno accademico 1998-1999 e dei cinquant’anni dell’Accademia Alfonsiana. In: Cinquant’anni di storia. Quaranta anni di incorporazione nella Pontificia Università Lateranese. Roma: Edacalf, 1999, p. 14-17.

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McKeever (2006-2013) e Andrzej Wodka, atualmente. O quadro atual de professores na ativa é de 27, sendo que desses 17 são redentoristas e os demais diocesanos, de outras congregações e uma leiga. Estão inscritos 273 estudantes. Desses, 162 doutorandos e 99 mestrandos e os demais em categorias especiais. Da sua fundação até hoje, passaram 4.970 alunos pela nossa instituição de ensino e especialização.

Ao apresentar o processo de formação da AA, é importante buscar compreender a sua importância para a Congregação e para Igreja, considerando a experiência de quem esteve ou está à sua frente. Conforme Seán Cannon, professor emérito, quando os Padres do Concílio Vaticano II falaram sobre o estudo da teologia moral para os futuros sacerdotes, desejavam que a sua exposição científica fosse mais alimentada pela Sagrada Escritura, devendo revelar a grandeza da vocação dos fiéis em Cristo e a sua obrigação de dar frutos na caridade para vida do mundo (OT 16). Conclui: “Acredito que podemos ver premiada aqui a visão mais ampla e positiva da teologia moral abraçada, desde o nascimento da AA, na fidelidade à herança de Santo Afonso e ampliada nos últimos anos a serviço de uma pastoral eficaz ao povo de Deus”. De acordo com Majorano, “para a Congregação a AA constitui um compromisso de fidelidade ao seu fundador e ao seu carisma: não é possível evangelizar os abandonados sem aprofundar com eles e por eles o Cristo e a sua ‘copiosa redenção’. Para a Igreja, creio que a AA desenvolva uma tarefa importante e delicada de pesquisa e de ensinamento, comprometendo-se a aprofundar a proposta moral, de maneira que essa parta sempre da vida concreta, sobretudo dos mais fracos, articule-se como caminho para todos em

2. Importância da AA à Congregação e à Igreja

direção à santidade, unindo de maneira fecunda diálogo e anúncio. Trata-se de uma perspectiva fundamental se se deseja que Cristo seja encontrado por todos como ‘caminho, verdade e vida’”.

O Pe. Hidber lembra que o papel da AA é importante em um contexto de avanço veloz e complexo das ciências nos vários setores da vida e das inúmeras questões que emergem e requerem um diálogo aberto e criativo e orientação, diante de tantos desafios. Ele afirma que “a atenção particular à relação entre teologia moral e pastoral sempre caracterizou a AA e é uma peculiaridade muito atual no contexto dos ‘sinais dos nossos tempos’ (B. Häring). É um instituto de teologia que escuta os ‘sinais dos tempos’, próximo das questões e preocupações dos homens de hoje, próprio aos ‘pequenos e simples’, pesquisando e ensinando a moral sempre à luz da copiosa redenção”. Quase na mesma linha, Martin McKeever assevera que a “teologia moral e a ética teológica, há tempos, vivem momentos (decênios) difíceis em um contexto cultural sempre mais complicado. A nossa responsabilidade, como redentoristas, é de continuar a tradição de Santo Afonso, isso quer dizer seriedade acadêmica e sensibilidade pastoral”.

Para o atual Presidente, Andrzej Wodka, a AA é uma obra da Congregação, um ministério apostólico, um serviço, expressão da caritas pastoralis que nos impulsiona a proclamação da palavra de Deus em cada contexto e, de modo especial, os mais desafiadores. A “AA é expressão da Congregação, mas também serviço a ela, no sentido de continuidade da tradição [alfonsiana] e produção daqueles instrumentos e linguagem novos, que depois ajudam diretamente os confrades missionários. Deles, esperamos as sinalizações dos problemas que, sozinhos,

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talvez não seriam em grau de afrontá-los imediatamente, mas juntos em um esforço compartilhado, comunitário e, por isso, mais completo e profissional”.

Segundo o Pe. Ricardo Hoepers, da arquidiocese de Curitiba, que se doutorou pela Alfonsiana, no dia 14 de janeiro de 2014, a “AA teve um papel fundamental no processo de Renovação da Teologia Moral no pós-Concílio Vaticano II, e esse legado de reflexão e produção teológico-moral a capacita, no momento atual, a ser ponte em três desafios: 1) de assegurar a continuidade do espírito renovador do Vaticano II na formação teológico-moral do seu corpo docente e discente; 2) de fomentar a pesquisa teológico-moral nas realidades plurais dos países periféricos; 3) de estabelecer uma produção permanente de Teologia Moral ecumênica, de diálogo religioso, bem como de ‘encontro-confronto’ com as éticas estabelecidas pela sociedade secular”. Na ótica de Moisés Pontes, jesuíta, um dos nossos doutorandos, ao relatar as motivações que o fez escolher a AA, exprime: “[...] no cotidiano da Accademia, descobri outras facetas de sua importância para a vida da Igreja. Elenco a principal delas: a preocupação com a formação integral de seus estudantes sejam presbíteros, religiosos ou leigos. Nas aulas, em conversas formais e informais entres alunos e professores, nas orientações de estudos, enfim, em inúmeras ocasiões evidencia-se o interesse em formar não apenas moralistas, mas servidores da Boa-Nova de Jesus para a vida do mundo hodierno. Talvez tal contributo passe despercebido aos olhos de muitos, pois não entra em estatísticas, porém é seguramente sentido e acolhido pelos homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são beneficiados com o ministério de seus ex- -alunos”.

Penso que esses relatos nos ajudam a enriquecer a nossa história acadêmica e, sobretudo, pensar na responsabilidade que nós Redentoristas temos perante a Congregação e a Igreja. A cada dia, devemos pedir ao Espírito Santo a renovação do coração e das estruturas, para que possamos contribuir, para que o ser humano possa ser cada vez mais livre das amarras que não o deixam experimentar a sua própria humanidade e a Copiosa Redenção proclamada por Jesus Cristo.

Não se pode desvencilhar a história da AA da história de Santo Afonso como Padroeiro dos Moralistas e Confessores e da Congregação e do desejo de pensar a teologia moral de modo novo, fundada sobre a liberdade, sobre a consciência, o “núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz [...] e se descobre, de modo admirável, aquela lei que se cumpre no amor de Deus e do próximo” (GS 16). Não é mais uma moral heterônoma, fundada nas leis e nos atos humanos, mas autônoma centrada na capacidade de conversão humana e de suas atitudes. É, portanto, moral concreta para pessoas concretas em uma história concreta. Buscar respostas pastorais, nesse contexto, implica profecia e cometer certas transgressões saudáveis. Não se faz ciência sem determinado grau de transgressão e sem problemas, hipóteses e investigação. Em termos de incertezas, de “estranhos morais” e das grandes transformações, o papel da AA no campo da teologia moral é importante como interlocutora nos processos de descobertas de novas respostas que afligem e ferem o coração dos homens e mulheres de hoje, que de uma forma e de outra são abraçados pelo Redentor.

Conclusão

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Introdução

Missões populares

É bastante variada a atividade apostólica dos redentoristas no Brasil, tanto quanto ao tipo como quanto à intensidade e ao número de pessoas. Não pretendemos apresentar um relato histórico de todo esse esforço de evangelização, mas apenas uma visão geral do momento presente.

Talvez seja a atividade que mais caracterizou os redentoristas no Brasil, pelo menos durante bastante tempo. As Missões Populares Redentoristas podem ser defi nidas como uma campanha extraordinária de evangelização, dirigida aos católicos da zona rural, das periferias urbanas e das cidades.

AÇÃO MISSIONÁRIA E PASTORALDOS REDENTORISTAS

Um grupo de missionários redentoristas, com a ajuda de religiosas e de leigos, dedica-se à evangelização, tendo em vista a conversão fundamental, a formação ou renovação da vida comunitária cristã. Essa evangelização é feita pela pregação diferenciada conforme os destinatários, pela celebração dos sacramentos (principalmente da Eucaristia e da Penitência), pelas celebrações festivas ou penitenciais, pelas práticas devocionais da religiosidade cristã e popular, pelos programas de rádio ou televisão, pelos jornais locais e pela divulgação de livros e panfl etos.

A Missão tem toda uma preparação religiosa e tática, envolvendo durante meses a comunidade que será evangelizada, despertando lideranças e formando comunidades e grupos setoriais.

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Pastoral em Santuários

Paróquias e igrejas não paroquiais

Retiros espirituais e pregações

Parece que os redentoristas no Brasil, a maior parte das vezes, somente assumiram paróquias quando essas eram a única ou a melhor possibilidade para sua missão evangelizadora. Em geral, as paróquias redentoristas também foram marcadas por nosso modo de ser e evangelizar.

Nossas igrejas não paroquiais quase sempre se transformaram em centros de evangelização e piedade, com uma dedicação especial ao atendimento das confissões e ao aconselhamento espiritual.

No passado os redentoristas no Brasil se dedicaram muito intensamente à pregação de retiros espirituais para padres, religiosos e leigos. Nos últimos anos está

Desde sua fundação, em 1732, os redentoristas têm uma longa tradição no setor das missões paroquiais. No Brasil, logo no começo, esse apostolado foi assumido e até agora jamais foi abandonado pela Congregação. Atualmente, nota-se um renovado empenho na formação de mais equipes missionárias, na recuperação e na renovação das técnicas, práticas e temários.

Bem cedo surgiram no Brasil santuários, que sempre atraíram grande número de peregrinos. Cada um a seu modo teve grande papel na conservação da fé e da religiosidade de nosso povo, jamais devidamente assistido pela pastoral ordinária das paróquias, quando mais não fosse pelo número reduzido de padres e pelas distâncias.

Já em 1894 os redentoristas da Alemanha vieram em primeiro lugar para atender os peregrinos do Santuário de Nossa Senhora Aparecida (SP) e do Santuário do Divino Pai Eterno (GO). Posteriormente, os redentoristas assumiram durante algum tempo os santuários do Bom Jesus de Perdões (SP), do Bom Jesus de Congonhas (MG), do Senhor do Bonfim (BA), de Nossa Senhora da Penha (SP) e de Nossa Senhora Auxiliadora (RS).

Atualmente, os missionários redentoristas estão prestando seu trabalho pastoral em alguns dos mais conhecidos santuários do Brasil: Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO); Santuário do Bom Jesus da Lapa, em Bom Jesus da Lapa (BA); Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP); Santuário de Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá (PR); Santuário de São Geraldo, em Curvelo (MG).

O trabalho dos redentoristas nesses santuários mostrou sempre algumas características: em primeiro lugar os redentoristas souberam aproximar-se do povo, derrubando ao máximo possível as barreiras culturais, assumindo de fato a função de missionários populares, na linguagem, nas maneiras e na religiosidade. Deram sempre uma importância muito grande à pregação e à catequese, sempre em linguagem simples e viva. Procuraram dinamizar a vida sacramental, principalmente através da Eucaristia e da Reconciliação. Valorizaram e purificaram, quando preciso, as romarias e as devoções populares, enquanto momentos de oração, reconciliação, convivência e celebração. Podemos notar ainda como que, em praticamente todos os santuários que assumiram, os redentoristas sempre tomaram iniciativas no campo dos meios de comunicação social, criando editoras, jornais, revistas, rádios e por fim TV e internet.

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havendo uma retomada dessa atividade, pelo menos no plano da preocupação. Tradicionalmente, são muitos os párocos que recorrem aos redentoristas quando precisam de pregações avulsas, tríduos e novenas. Porque, sem dúvida, há um estilo redentorista de pregação, que continua atraindo pela sua forma simples, clara e familiar.

A nova situação de urbanização acelerada criou amplas periferias, principalmente em torno das grandes cidades. Para enfrentar essas circunstâncias que trouxeram novas exigências à evangelização, foram criadas comunidades temporárias, inseridas em favelas ou situações semelhantes.

Essas comunidades devem possibilitar uma evangelização integral (não só “religiosa”), emergente do ambiente e nele inserida. Com essas comunidades procura- -se ainda recuperar mais efetivamente a função da comunidade redentorista como evangelizadora por sua simples presença.

ImprensaJá em 1900, apenas seis anos após

sua chegada, os redentoristas vindos da Alemanha assumiam a publicação de um semanário em Aparecida (SP). Foi o início de um longo esforço de muitos anos que levou ao surgimento e à consolidação de uma editora redentorista, atualmente a Editora Santuário. Houve outras iniciativas, sendo que duas destacam-se no momento: o Centro de Pastoral Popular e a Gráfica Editora Redentorista da Vice-Província de Brasília, hoje gráfica e Editora Scala, e a

Comunidades inseridas

Comunicação Social

Rádio Aparecida e outras rádios redentoristas

Gráfica Editora do Bom Jesus da Lapa, junto ao santuário do mesmo nome na Bahia.

Essas iniciativas foram sempre acompanhadas, com intensidade variável conforme os tempos, pelo esforço de muitos redentoristas que se dedicaram à produção de livros, folhetos e matérias para jornais e revistas. Sem dúvida, temos nosso lugar marcado na literatura religiosa brasileira. Também nisso foram razoavelmente numerosos os que procuraram seguir o exemplo de Santo Afonso, nosso fundador.

Pelo menos lá por 1935 e 1936 os redentoristas da Província de São Paulo já pensavam em usar o rádio para a evangelização. Alguns chegaram até a sonhar com uma rádio em Aparecida. Autoridades da Congregação e da Igreja, porém, não tinham tanta coragem de sonhar ou, quem sabe, eram mais realistas.

Somente em 1951 concretizou-se o sonho, de forma muito humilde, com uma pequena emissora de cem watts. Era o embrião da Rádio Aparecida, que se desenvolveu principalmente graças a seus ouvintes e a muitos redentoristas que ali deixaram sua marca.

Outras rádios foram criadas ou assumidas diretamente pela Congregação; algumas continuam conosco até hoje. Entre todas a mais nova em termos de administração é a RB2 de Curitiba, PR, sob os cuidados da Província de São Paulo.

Nesses anos, em rádios nossas ou sob nossa direção, bem como em muitas outras rádios, os redentoristas estiveram presentes. Para alguns esse foi e para outros ainda é o apostolado principal de sua vida missionária. Alguns ficaram mais conhecidos, porque ocuparam o microfone;

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A Rede Aparecida, capitaneada pela TV Aparecida que hoje pode ser sintonizada de diversas formas, seja pela TV de sinal aberto, com também pela TV de sinal fechado ou por assinatura, nasceu para anunciar a boa notícia do Redentor: nosso Deus é Bondade e misericórdia. Ele nos convoca a viver como irmãos e nos apresenta a mãe querida que nos acompanha e serve de exemplo.Carinhosamente chamada de “A TV de Nossa Senhora”, a TV Aparecida hoje ocupa um lugar de destaque entre os veículos de comunicação da Igreja e da Congregação. E, depois de nove anos de caminhada, ela se estrutura desta forma em sua missão e responsabilidades.

FinalidadePropor o modo de viver indicado

pelo evangelho: com qualidade de vida, com cuidado por tudo o que é humano, com atenção para com outro, com a busca de mais educação e saúde, com amor à natureza e com a certeza do divino como realização fi nal e completa.

Proposta1. ACOLHER os irmãos com o

mesmo carinho com que a mãe acolhe os fi lhos.

2. MANIFESTAR o valor da vida, o prazer de ser gente, o de ter irmãos, o de construir a terra, os prazeres de aprender e de ensinar, e o de procurar o Céu como desejo e ideal últimos.

3. MOTIVAR o irmão a colocar-se plantado na terra, conhecedor do que o cerca com capacidade de discernir e criticar os fatos, tornando-se transformador da realidade.

4. OFERECER mais conhecimentos, mais relacionamentos, mais capacidade para crescer como ser humano e como cristão.

5. CELEBRAR A FÉ diariamente.

Marcas1. A alegria de estar com os

telespectadores. Não há obrigação. Existe gosto.

2. A vontade de fazer tudo bem- -feito, com prazer e com beleza.

3. A clareza de dizer que o Evangelho valoriza tudo o que é humano.

4. A constante devoção a Nossa Senhora. Tudo aqui começa e passa por Ela.

Rede Aparecida

outros são menos lembrados porque fi caram ocultos atrás da pesada estrutura necessária para a comunicação.

Ainda que de forma ocasional e limitada, houve e ainda há outras formas de presença redentorista na televisão, no rádio e na imprensa em geral onde atuamos e em cidades onde acontece a pregação das Santas Missões. Podemos lembrar também algumas tentativas limitadas no campo do cinema e dos audiovisuais.

A província de Goiânia mantém a Rádio Difusora de Goiânia, que integra o “Sistema Redentorista de Comunicação” que no passado era integrado por mais seis emissoras no Estado de Goiás (Ipameri, Anápolis, Catalão, São Luís de Montes Belos, Iporá, Caiapônia). A Província do Rio de Janeiro tem a Rádio Educadora, em Coronel Fabriciano (MG). A Vice-província de Manaus tem a Rádio Educação Rural, em Coari (AM), e a Província de Campo Grande mantém a Rádio Difusora de Paranaguá, entre outras rádios redentoristas do Brasil.

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Os Missionários Redentoristas sempre estiveram “antenados” com as mudanças pelas quais o mundo passa a fi m de que possam, mais efi cazmente, anunciar a Boa-Nova. Assim fundaram a Editora Santuário, criaram a Rádio Aparecida e a TV Aparecida. Acompanhando os avanços tecnológicos, já na década de 1990, começaram um trabalho de evangelização via Internet, através do site “Redemptor”, cuja intenção era que em breve ele se tornasse um Portal. Depois disso, a partir de abril de 2010, esse projeto concretizou- -se e os Missionários Redentoristas também quiseram realizar a obra da evangelização, de um modo afonsiano, utilizando este pós-moderno meio de comunicação: a Internet. Nessa área, além de muitos sites e páginas de redes sociais, que são iniciativas de confrades ou de unidades redentoristas, já temos uma boa presença, como campo fértil para a evangelização, com destaque para o Portal A12.com.

Santo Afonso foi um grande teólogo moralista, aclamado patrono dos moralistas e confessores. De algum modo a Teologia Moral, como ciência e como prática, sempre esteve presente na formação e nas preocupações dos redentoristas no Brasil. Ainda que durante muito tempo essa atividade estivesse reduzida praticamente aos Seminários Maiores da própria Congregação. Não foram muitos, mas sempre houve alguns nomes de redentoristas na produção de Teologia Moral no Brasil.

Em 1986, os redentoristas do Brasil uniram-se para criar o “ITM – Instituto de Teologia Moral”– , voltado para a pesquisa teológica, a pós-graduação e a formação pastoral, que infelizmente hoje se encontra “adormecido”. Mas, apesar disso, tem sido intensa a atividade dos diversos redentoristas no ensino, na promoção de congressos e encontros, na publicação de pesquisas de teologia moral realizadas no Brasil e na América Latina em geral.

Internet

Pesquisa e ensino da Teologia Moral

Quem somosUm novo Portal Católico, sob a

proteção da Mãe Aparecida, a fi m de levar para mais perto de você ações de evangelização realizadas pela Rede Aparecida (composta pelo Santuário Nacional, Rádio e TV Aparecida, e Editora Santuário) e pelos Missionários Redentoristas.

Nossa missão1. Promover uma cultura de

respeito, diálogo e interação, utilizando todas as novas ferramentas digitais. Com o intuito de unifi car todos os públicos, respeitando a riqueza de sua diversidade, especialmente católicos e devotos da Mãe Aparecida.

2. Favorecer a integração das instituições que compõem a Rede Aparecida, levando ao mundo digital qualidade de conteúdo, testemunhos de fé e formação.

Nossa visão1. Estabelecer a plenitude de

nossa missão, colaborando com nossa atividade missionária e evangelizadora tendo em todo este universo Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, como elemento-chave desta união.

2. Ser referência em produção e difusão de conteúdo, levando ao usuário interatividade que ofereça qualidade e credibilidade nas informações.

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