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Revista Cabeça D'água - Edição 04

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Revista Cabeça D'água - Edicação 04. Nosso especial ROCK! A revista faz parte do blog Cabeça D'água (www.cabecadagua.com.br) em parceria com o blog Perdidos no ar (www.perdidosnoar.com.br)

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Revista Cabeça D’água

A Revista Cabeça D’água faz parte do blog Cabeça D’água._________________________________________________________________________________________

// Redatores» André Silva, Gabriel Gifoli, Izabela Raphael, Kaluan Bernardo, Luan Flavio e Miguel Amado.

// Edição» Eric Hayashi

// ParceriaPerdidos no Arwww.perdidosnoar.com.br

// RealizaçãoCabeça D’águawww.cabecadagua.com.br_________________________________________________________________________________________

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Ele! Quem é ele? Esse tal de...O rock é um velho doente; um homem maduro; um adolescente rebelde; e um garoto inocente. Na verdade ele não é nada disso, apesar de muitos falaram que ele é tudo isso.

O rock é uma entidade atemporal. Não é possível e nem justo compará-lo com outros movimentos e com diferentes estilos musicais. Mas é verdade que o rock é e foi um dos maiores produtos da cultura de massa e que, dia a dia, continua a provocar muitas revoluções – mesmo que disfarçadas por argumentos e movimentos pretensiosamente mais “contemporâneos”.

Havia um bom tempo que nenhum instrumento trazia tantas explosões em mentes, cérebros e almas como a guitarra e seus companheiros fizeram. Tudo junto com letras sobre revoluções, filosofias, sexo, besteiras, drogas, ficções científicas – ou qualquer coisa que ocupasse de fato a cabeça de alguém com vontade de comunicar-se pela música.

Nós do Perdidos no Ar somos realmente fãs do rock. Começamos nosso programa e nosso blog por amor a esse gênero. É claro que não nos prendemos a ele e reconhecemos a importância e grandiosidade de outros estilos musicais.

Mas, acho que nós, tal como o resto da sociedade, ainda vamos caminhar muito e ouvir muita coisa. No entanto, no fim, vamos ouvir um riff básico de guitarra e nos lembrar de quantas vezes ouvimos essa música e o quanto ela nos ouviu.

Por isso tudo, nada mais justo que, na nossa primeira edição do projeto de uma revistinha virtual, feita e idealizada pelo nosso amigo Eric Hayashi, do Cabeça D’Água, conte a história desse gênero.

Os textos foram todos feitos por muitas pessoas com gostos diferentes. Assim, esperamos ser um pouco mais ecléticos e justos. É claro que não tem como sermos isso de verdade. Por isso, essa edição é apenas uma homenagem às quase seis décadas que comemoramos todo dia 13 de julho, o Dia Internacional do Rock. Espero que gostem ;)

por Kaluan Bernardo

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# Anos 50página.06

página.08

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página.16

página.20

página.26

# Anos 70

# Anos 90

# Anos 60

# Anos 80

# Década 00

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# Anos 50Foi onde tudo começou. A década de 50 foi, para o rock n’roll, o ponto de formação. Com o inverno da Segunda Guerra ainda fresco no imaginário ocidental, a figura do adolescente surgiu. O rock n’roll era o consumo perfeito para uma cacetada de jovens inquietos, juntando o questionamento dos valores sociais conservadores e a vontade de se divertir.

A cria de Chuck Berry – embora haja controvérsias quanto à paternidade – atingiu em cheio uma juventude sedenta por entretenimento, escandalizou pais e fez os ouvidos de Frank Sinatra sangrarem, primeiro nos Estados Unidos e depois mundo afora.

Com a gravação de “Maybellene” (http://youtu.be/p0HmFr7mPsk), em 1955 na gravadora Chess Records, nascia o rock n’roll. Vou deixar o teste de DNA para o Programa do Ratinho ou para o Marty McFly. Se não inventou o ritmo, inventou o duckwalk, a figura do rockstar e condensou o troço todo. Depois dele, vieram outros empunhando guitarras, eventualmente também fazendo história.

Outro cara genial, muito original, foi Bo Diddley (http://youtu.be/lpQCyWXbIss). Ele não teve a popularidade do tio Chuck, mas era um compositor de mão cheia. Escreveu clássicos como “Cadillac” ou “Mona” (regravados alguns anos depois por Kinks e Stones, respectivamente).

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por André Silva

Ele foi o primeiro negro a se apresentar no Ed Sullivan Show (é o vídeo acima), sendo banido após tocar uma música diferente da combinada com o apresentador. Além disso, criou a guitarra retangular com que passou a se apresentar, adicionou o efeito de tremolo no instrumento, aliado a uma batida tão influente que foi batizada com seu nome – e que segue sendo replicada.

Pois bem, um certo dia o caminhoneiro Elvis Presley foi gravar um compacto para sua mãe na gravadora Sun Records e mostrou seu potencial. Adicionando um pouco de country, rockabilly e gospel aqui e um rebolado acolá, saía quente da forma o grande difusor internacional do rock n’ roll – pelas canções ou pelos filmes. O resto é História e os roqueirosviram perspectivas melhores de carreira, criativa e economicamente.

Para fechar este pequeno recorte e ninguém me xingar por eu nem ter mencionado o Little Richard, Jerry Lee Lewis, Gene Vincent ou o João Gilberto (texto sobre os anos 50 e, fazer o que, no Brasil era bossa nova), fica aí um vídeo (http://youtu.be/M_344W5aLWA) de jovens músicos nos bastidores de um show em Oklahoma City.

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# Anos 60Os anos 1960 são um clichê. Ou melhor, eles se tornaram um verdadeiro chavão. Quando fui convidado para falar da década que reúne o maior número de lugares-comuns da história do rock, confesso que me senti um pouco insatisfeito. Afinal, qual a possibilidade de falar hoje de Woodstock, da paz, do amor, da psicodelia, da invasão britânica e do Dylan-goes-loud-and-electric sem cair na armadilha de dizer as mesmas coisas que tantos já disseram?

Pensando melhor, percebi que os anos 1960 são muito mais do que apenas isso. E é justamente a riqueza desta década que acaba ofuscando outros pequenos e grandes momentos que também aconteceram neste período.

A música francesa estava em polvorosa com nomes como Jacques Brel e Serge Gainsbourg, Ray Charles não se cansava de misturar os mais diversos estilos do cancioneiro norte-americano, a bossa nova era exportada com a parceria de Tom Jobim e Frank Sinatra, e o jazz, impulsionado pelas experimentações de Miles Davis, começava a sua relação promíscua com outros gêneros. Isso sem lembrar de tantos outros momentos marcantes daquela época.

É tanta coisa boa que surgiu durante estes loucos anos que seria impossível falar de todas elas neste post. Escolhi alguns episódios-chave que merecem muito mais atenção do que geralmente lhes é dada.

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por Luan Flavio

O rock descobre a garagem

Não demorou muito para que o rock percebesse que a garagem era o ambiente mais adequado da casa para ele ser tocado. O rock de garagem explodiu logo no início dos anos 1960, mas não entenda “explodir” como “ir bem comercialmente”. Foram poucas as bandas que conseguiram posições relevantes nas paradas. Milhares de jovens passaram a se reunir em áreas urbanas e rurais dos Estados Unidos para falar de temas adolescentes, como a vida escolar e as desilusões amorosas. Tudo com um inconfundível som cru, lo-fi e visceral. Para começar, escute The Seeds, The Kingsmen, The Sonics, e a inglesa The Troggs.

Johnny Cash se apresenta na prisão de Folsom

Considero At Folsom Prison o melhor disco ao vivo da história. Não apenas pelo simples motivo de ele ter acontecido em uma prisão, mas pelo contexto daquela apresentação do Homem de Preto em 1968. Cash já havia cantado sobre as mazelas da vida carcerária, os fantasmas que assombram os presos, redenção, arrependimento e tantos outros temas tão recorrentes em sua carreira, mas ele nunca havia cantado para os protagonistas daquelas canções. Johnny conquistou uma plateia hostil com seu carisma e sua sinceridade. Parecia que ele era um dos presos. A ideia deu tão certo que Cash repetiu a dose outras vezes em prisões dos Estados Unidos e do resto do mundo. Em 25 Minutes to Go, ele narra os últimos 25 minutos da vida de um

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# Anos 60condenado à morte. Para presos também condenados. O resultado você pode conferir nos ensurdecedores urros de aprovação que os internos soltavam durante e ao fim de cada canção.

James Brown salva a pátria

Em 1968, James Brown lançou a música “Say It Loud – I’m Black and I’m Proud” logo após o assassinato de Martin Luther King, Jr. A canção era uma resposta aos pedidos dos fãs para que Brown se posicionasse em relação a tudo o que acontecia na América naquele período, algo que ele não tinha feito até então. Mas Brown fez mais do que isso. No dia seguinte à morte do pastor e ativista dos direitos civis, o Padrinho do Funk cantou em Boston. A apresentação foi transmitida ao vivo pela televisão e depois reprisada continuamente. Tudo para tentar manter os possíveis manifestantes em casa. Naquele dia, conta-se, 40 pessoas morreram, centenas se feriram e 20 mil foram presos, mas na capital de Massachusetts a paz prevaleceu.

A Motown rompe a fronteira entre a música negra e branca

Mais do que criar um som próprio, a gravadora de Detroit fundada por Barry Gordy acabou com a divisão antes tão clara entre o que era “música negra” e o que era “música branca”. O soul feito pelo selo é tão característico que ganhou a alcunha de “Motown

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por Luan Flavio

Sound”, reconhecível mesmo por leigos no assunto. O auge de popularidade da gravadora aconteceu mesmo durante os anos 1960, com artistas como Marvin Gaye, Diana Ross & The Supremes, Jackson 5, Stevie Wonder e The Temptations. O ápice de qualidade, entretanto, só viria nos anos 1970 (na minha opinião, que fique claro), com o lançamento dos melhores discos de Gaye e Wonder.

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# Anos 70A década de 70 é um verdadeiro caldeirão cultural. O rock crescia cada vez mais e novos estilos e subgêneros não paravam de surgir. Existiam cada vez mais tribos, bandas, rótulos e BOOM! Música nova para todos os lados.

Vai ser impossível contemplar tudo o que rolou de rock na década de 70, mas vou tentar passar de leve por alguns dos novos movimentos que apareceram nessa deliciosa década.

Heavy Metal

O irmão mais novo, cabeludo e agressivo do rock nascia no dia 13 de fevereiro de 1970, com o lançamento de um disco chamado Black Sabbath (http://youtu.be/_aIhh9nFYv4). Quatro jovens ingleses, de origens humildes, fascinados por filmes de terror, resolveram levar a estética do horror para a música, criando as raízes do Heavy Metal.

Alguns anos mais tarde, surge o Judas Priest, a primeira banda a dizer “nós tocamos Heavy Metal”. Desse movimento todo, que se alastraria com muita força por toda a década, os anos 70 chegam ao fim com o New Wave Of British Heavy Metal. O novo movimento, encabeçado pelo Iron Maiden, dava mais fôlego para a história continuar por muitas décadas.

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por Kaluan Bernardo

Punk

Se o Heavy Metal é o irmão mais novo e agressivo do Rock, o Punk é o irmão briguento, retardado e descolado, que também nasceu nessa década de 70.

Muitos dizem que o berço desse tal de punk era um boteco chamado CBGB, onde bandas novatas se apresentavam. Entre elas, quatro moleques que mal sabiam tocar revolucionaram a música para sempre. O nome do grupo era Ramones (http://youtu.be/d9EhPunI6xg), e com eles, veio uma invasão de bandas inspiradas

pelo movimento Do it Yourself.

Entre todas as bandas do gênero que surgiram duas merecem destaque junto com os Ramones: Sex Pistols e The Clash. É claro que é uma injustiça eu nem citar Patti Smith e Television, por exemplo. Mas são tantos os grupos importantes, que é melhor ficarmos com só essa tríade mesmo.

Progressivo

Também tinha o irmão nerd. Era o Progressivo, que atraía os fãs mais loucos e gostava de misturar música erudita com o Rock’n Roll em músicas que não terminavam nunca.

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# Anos 70Na verdade, o gênero surgiu no fim dos anos 60, mas foi em 70 que ele viu seu ápice com bandas como Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer, Genesis e Jethro Tull (http://youtu.be/BV-ASc0qkrM) fazendo mais sucesso e pirando a cabeça de muita gente.

Hard Rock

O Hard, assim como o progressivo, nasceu na década de 60. Mas também foi longe nos anos 70. Inclusive, vou resumir a década inteira com um riff: Tan Tan Taaaan Tan Tan TaTaaaaan Tan Tan Taaaan Tan Taaaaaaaaaan.

Além do Deep Purple (http://youtu.be/b-MG_35Gk7g), que está tocando em sua cabeça, quem viveu os anos 70 pôde acompanhar Led Zeppelin, Kiss, Alice Cooper, Van Halen, T-Rex, Nazareth e muitos outros que, em minha opinião, fizeram a parte mais legal dos anos 70.

Disco Music

A Disco também surgiu nos anos 70, junto com a explosão de bandas como Chic (http://youtu.be/4KUL9-eNXzQ), Bee Gees, Donna Summer e Abba.

As semelhanças entre a Disco Music e o Rock são grandes. Assim como o Punk, a disco queria contestar. Nos clubes e fora deles, a música servia de voz para gays, negros, latino-

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por Kaluan Bernardo

americanos e outras minorias. E, assim como o Progressivo, as canções flertavam com a psicodelia.

New Wave

Com toda essa explosão, ainda surgiu o New Wave, que misturava um pouco de tudo. Definir o gênero é meio complicadinho, por isso vou deixar a tarefa para os especialistas de rótulos. O fato é que algumas das bandas mais importantes dos anos 70 estão enquadradas aí. Entre elas, o B-52’s, The Bangles, David Bowie, Talking Heads, Blondie (http://youtu.be/Jxpe1oSp_sg) e The Police.

Na minha opinião, o New Wave foi criado pelos críticos malas que precisavam de mais um gênero para enquadrar as bandas que eles não conseguiram classificar em nenhum dos estilos acima.

Entre outros

Ufa! Após o passeio pelas vitrines de vinis dos anos 70, divididas em vários selos,

ainda faltou falar de muita coisa. Seria uma heresia eu terminar esse post sem nem citar as bandas brasileiras, que conseguiam fazer rock em anos tão difíceis. E eram bandas ótimas, como Joelho de Porco, A Bolha, Secos & Molhados (http://youtu.be/vDvjecJOpa4), Casa das Máquinas. Por isso, fecho o post com os vídeos desses grandes músicos brazucas.

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# Anos 80Ah, os saudosos anos 80… Há quem os julgue como o começo da decadência do Rock; de fato, há motivos plausíveis para esse julgamento (afinal, mitos do rock clássico como o Led Zeppelin “faleceram” no primeiro ano dessa década). Na verdade, talvez tenha sido um período de consolidação da década anterior. Cabe a cada um de nós formar uma opinião. Esse texto visa somente relembrar brevemente alguns dos movimentos importantes que despontaram nesses gloriosos anos de 1980.

Resultados da década anterior

Os anos 70 foram os criadores do chamado heavy metal. Bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple (trindade sagrada) são o exemplo clássico. Com o fim da década, essas bandas sofreram consideráveis mudanças: o Zeppelin extinguiu-se, com o falecimento do mítico baterista John Bonham; o Black Sabbath perdeu o vocalista Ozzy Osbourne, enquanto o Deep Purple já havia se esfacelado alguns anos antes. Todavia, essas mudanças abriram caminho para inúmeras correntes musicais, como veremos a seguir.

Thrash Metal

Imagine um bando de garotos da Costa Oeste americana com raiva no coração e guitarras em punho. Os primeiros anos da década de 80 viram nascer alguns dos maiores gigantes do metal de todos os tempos, como Metallica (http://youtu.be/B9d5fgDHEQA), Slayer, Megadeth e tantos outros. Sua música era rápida, agressiva e transmitia toda a raiva e a frustração da

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por Gabriel Gifoli

juventude da sociedade yuppie. Uma pedrada musical chamada Kill ‘Em All define bem o que é o Thrash Metal.

Glam Rock

Enquanto em alguns lugares dos EUA garotos cabeludos e revoltados faziam o thrash, em Los Angeles, outros garotos, tão cabeludos quanto e absurdamente mais maliciosos davam continuidade ao legado do New York Dolls. O mainstream oitentista foi marcado por cabelos bufantes e com laquê, maquiagem pesada e roupas muito coloridas. Estamos falando, é claro, de bandas como Mötley Crüe (http://youtu.be/1XHcPYorSJw), Poison e Twisted Sister, denominadas Glam Rock (Glam metal, sleaze, hair metal, “poser”, ou “metal farofa” são outros

dos inúmeros nomes que vertente recebeu). Esse movimento dominou a programação de clipes da MTV, enquanto seus antagonistas thrashers dominavam o underground. Seu reinado só viria a ser abalado com a chegada dos anos 90 e o temido movimento grunge.

Classic Rock e Metal

Não devemos pensar, porém, que os anos 80 só contavam com músicos travestidos e pervertidos ou headbangers raivosos e com cara de mau. Muitas bandas clássicas de rock sobreviveram e fizeram grandes lançamentos nessa década. Um belo exemplo é o

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# Anos 80Black Sabbath. Com a saída de Ozzy Osburne, o baixinho Dio assumiu os vocais da banda e fez grandes trabalhos, assim como o próprio Ozzy, que iniciaria uma carreira solo de muito sucesso (e que perdura até hoje). Isso sem falar de bandas como AC/DC, Rush e Iron Maiden (http://youtu.be/jsmcDLDw9iw), este pertencente ao subgênero New Wave of British Heavy Metal, que viveram seu auge nesse período.

New Wave

Outro movimento que começou nos anos 70 e encontrou os rumos do sucesso nos 80 foi a New Wave, nascida ao lado do punk. As bandas desse estilo tinham uma pegada mais eletrônica, incluindo também experimentação. Os grandes nomes de Talking Heads, Duran Duran, The Cure e A-ha (http://youtu.be/djV11Xbc914) eram todos, genericamente falando, relacionados a esse movimento, antagônico ao metal ascendente da época. A New Wave deixou uma marca fortíssima nessa década, e

o imaginário de muita gente remete ao seu visual e cultura quando se cita os anos 1980.

Brasil

Os rockeiros tupiniquins não fizeram feio nos anos 80. A escola de Rita Lee e Raul Seixas surtiu efeito, e rapidamente bandas como Barão Vermelho, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso (http://youtu.be/0LIi7c0GTHk)despontaram no país. Isso é claro, falando do mainstream, pois por

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por Gabriel Gifoli

debaixo dos panos, fenômenos desde o punk (Ratos de Porão) até o Black Metal (Volcano) faziam fervilhar a música brasileira. Abaixo, além do clássico Paralamas, um exemplo do underground brasileiro.

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# Anos 90Os anos 90 foram para a música no geral, não só para o rock, um período prolífico e cheio de obras marcantes. Como o abordado neste especial é o gênero que perdura desde os anos 50, dá para definir a última década do século XX como a época em que o alternativo virou o comercial.

Gigantes Resistentes

Entretanto, isso não quer dizer que as grandes bandas dos 80 foram todas para o buraco. Com o duplo Use Your Ilusion (1991), o Guns N’ Roses (http://youtu.be/8SbUC-UaAxE)continuava levando multidões tanto para as lojas de CD quanto para os estádios. No metal, o mesmo se aplica para o Metallica. Com o Black Album (1991), a banda alcançou maior projeção, principalmente na MTV, em uma mudança que até agora muitos

fãs não engoliram. Quem também se adaptou para os novos tempos foi o Pantera. Após abandonar sua faceta “glam” (que rendeu o apelido “Glamtera”) o grupo achou sua identidade e lançou os sensacionais Cowboys From Hell (1990) e Vulgar Display Of Power (1992).

Os “Alternativos”

Mas voltando ao alternativo, os holofotes no começo dos 90 se voltaram para o estado de Washington, muito graças a MTV. Apesar do grunge ser colocado muitas vezes como estilo musical, diversas bandas com inspirações e som diferentes apareceram para o

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por Miguel Amado

grande público em um período curto de tempo, sendo caracterizado melhor como uma cena. Soundgarden, Alice In Chains, Pearl Jam e o Nirvana (http://youtu.be/hTWKbfoikeg) estouraram com poucos meses de diferença. Entre os álbuns que elevaram esses quatro pesos-pesados dos 90 para outro nível estão Badmotorfinger (out/91), Facelift(ago/90), Ten (ago/91) e, claro, Nevermind (set/91).

Sendo um contraponto de bandas que explodiram nos 80, como, por exemplo, o Motley Crue e o próprio Guns N’ Roses, esses grupos foram colocadas no pacote do “alternativo”, algo que no final incluía bandas completamente díspares que só tinham em comum o fato de não se parecer com o feito principalmente em Los Angeles na década anterior. Ao invés de mulheres, carros, shows com palcos megalomaníacos e superproduções nos videoclipes, entrava em cena as letras depressivas, os palcos simples e um aparente ódio a fama.

Prova de que o alternativo englobou praticamente qualquer coisa feita nos 90 são o Rage Against The Machine, o Stone Temple Pilots e o Smashing Pumpkins. O primeiro até hoje é visto como inclassificável. A solução, portanto, foi a palavra “alternativo”. Misturando o vocal “rapeado” de Zack de La Rocha com a estrutura de uma banda de rock liderada pelo guitarrista/gênio Tom Morello, tirando até o último som das suas surradas guitarras, a banda lançou seu álbum de estreia homônimo em 1992.

No mesmo ano o Stone Temple Pilots, originários de San Diego (Califórnia), estreou com

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# Anos 90Core (1992). Mesmo não soando nada alternativo, seguindo a mesma linha de bandas de hard rock dos 70 e 80, eles também viraram alternativos e até grunge.

Movimento similiar foi feito com o Smashing Pumpkins, banda de Chicago, distante milhares de quilômetros de Seattle. Em 1992, o vocalista e guitarrista da banda, Billy Corgan, falou sobre o assunto: “nós passamos de ‘próximo Jane’s Addiction’ para o ‘próximo Nirvana’. Agora nós somos o ‘próximo Pearl Jam’”. A prova de que eles eram mesmo diferentes curiosamente veio para preencher o vácuo deixado pela morte de Kurt Cobain. Mellon Collie and The Inifinte Sadness (1995) alcançou o topo das paradas em diversos países, inclusive os Estados Unidos e mostra um grupo mais “sofisticado” que seus contemporâneos “alternativos”.

Inglaterra Forte Novamente

A partir de 1994 o mundo contra-atacou. A Inglaterra ressurgiu com o britpop do Blur e principalmente do Oasis (http://youtu.be/6hzrDeceEKc), que em 94 e em 95 lançou seus dois maiores clássicos: Definitely Maybe e (What’s Your Story) Morning Glory. O Radiohead já tinha conquistado seu espaço com Pablo Honey (1993) e se colocou entre os grandes da música mundial com The Bends (1995) e Paranoid Android (1997).

Ainda nas ilhas britânicas, os irlandeses do Cranberries causaram um enorme impacto comercial com No Need to Argue (1994), com cerca de 17 milhões de cópias vendidas

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por Miguel Amado

e sete discos de platina só nos Estados Unidos. Outro sucesso britânico na América foi o Bush. Com Sixteen Stone (1994), a banda foi mais uma a ser rotulada como grunge e se beneficiou com isso, alcançando a quarta posição da Billboard 200.

Brasil

No Brasil, os gigantes dos 80 tiveram vários percalços na década seguinte. Cazuza morreu em 1990 enquanto Renato Russo faleceu em 1996, desfalcando duas bandas símbolo do rock brasileiro, o Barão Vermelho e o Legião Urbana. Em 1992, para se dedicar a sua carreira solo, Arnaldo Antunes saiu do Titãs. Os Paralamas do Sucesso não perderam ninguém, mas começaram os 90 com uma intensa queda na popularidade.

Entretanto, isso não quer dizer que o rock brasileiro morreu nos 90. Muito pelo contrário. No meio da década apareceram duas bandas que explodiram de imediato: Raimundos (http://youtu.be/gbojLFGr3L8)e Mamonas Assassinas. Os álbuns responsáveis pelo imenso sucesso não eram dos mais originais no título (Raimundos de 1994 e Mamonas Assassinas de 1995), porém as letras humorísticas junto com o carisma dos integrantes fizeram os dois grupos conquistarem enormes legiões de fãs. Infelizmente a história não durou muito para os dois: um acidente aéreo matou todos os integrantes do Mamonas ainda em 1996. Já o Raimundos segue na ativa, mas sem o

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# Anos 90 por Miguel Amado

vocalista Rodolfo, fora da banda desde 2001. Outra banda brasileira a se destacar nos 90 é o Sepultura: os discos Arise (1991), Chaos A.D (1993) e Roots (1996) marcam o auge da banda, este último tendo vendas expressivas não só no Brasil, mas também em outros mercados como a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.

Rock Pós Nirvana

Com a morte de Kurt Cobain, o holofote em Seattle ficou mais fraco. Mas a “saga” do alternativo continuou, tendo o festival Lollapalooza como a “casa” dessas bandas. Nine Inch Nails (destaco The Downward Spiral de 1994), Pavement, Sonic Youth, Green Day (10 milhões de cópias com Dookie) e Screaming Trees (outra excelente banda de Seattle)foram atrações do festival organizado por Perry Farrell, vocalista do Jane’s Addiction.

Após quatro décadas de rock, os anos 90 não se destacaram tanto pela inovação mas sim pela releitura do que já tinha sido feito, dando uma roupagem moderna. A maior experimentação da época foi a tentativa de unir o gênero com a música eletrônica, algo audível no próprio Nine Inch Nails, assim como em alguns ábuns do Radiohead e no Adore (1998), do Smashing Pumpkins.

Os 90 terminaram com o ressurgimento do Red Hot Chili Peppers (http://youtu.be/YlUKcNNmywk)com Californication (1999) e com o multiplatinado Enema Of The State do Blink-182. Porém, o rock começou a perder espaço nas rádios para o hip-hop, o rap e outro “fenômeno” da virada do milênio: as boy bands.

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# Década 00O Especial Semana do Rock chega ao fim. Mas só o especial, porque o rock, bom, o rock está longe de terminar. Ao longo desses dias já vimos muita coisa por aqui: surgimentos de gêneros musicais, histórias de grandes ídolos e fatos marcantes que fizeram do rock uma parte da história mundial.

Sempre atrelado a movimentos sociais e mudanças de comportamento da sociedade, o rock serviu de alto falante para muita gente, que catarrava em acordes o que gritava em pensamento. Na primeira década dos anos 2000, a história não foi diferente, apenas os focos de interesse é que se configuraram um pouco.

Tio Sam e a Juventude Transviada

Em seu livro “Escuta Só” (Companhia das Letras), o crítico Alex Ross explica a música do ínicio do novo milênio como um “neoclacissismo de quinto estágio acontecendo no que restava do rock”. Para o jornalista da New Yorker, os grupos musicais da era “00” se caracterizou por remontar “algum momento de pureza perdida nos anos de 1960 e 70”.

E era exatamente isso. Os nova-iorquinos do The Strokes (http://youtu.be/umAxuxN9fJU), que receberam a alcunha de salvadores do rock’n roll, gravaram seu disco de estreia Is This It (2001) em um estúdio simples com um produtor que só trabalhava com bandas ditas

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por Izabela Raphael

independentes, ou “indies”. A sonoridade que fugia para um lado mais lo-fi, era o plano de fundo para composições irônicas e agressivas, que tinham como mote absoluto a… juventude.

Durante toda a década, Julian Casablancas e seus amigos alimentaram o imaginário de adolescentes que se viam a beira de uma explosão social. Queda das Torres Gêmeas, crises econômicas, guerra no Oriente Médio e falta de perspectiva eram alguns dos fatores que mais davam vontade de chutar tudo para o alto e sair gritando sem destino.

Ainda nos Estados Unidos, também merece destaque o músico Jack White, que ao lado de uma baterista mediana, formou o duo White Stripes (http://youtu.be/RfczN5LCqxg). A dupla saiu mundo a fora cantando músicas que tinham um toque de blues, mas que em sua essência era um rock pegado, furioso e inconformado. Com um talento de quebrar as pernas, White lançou novas ideias para a produção musical

dos anos 2000, que, ao mesmo tempo em que podia ser a melhor possível, graças ao advento de novas tecnologias, acabou se encontrando num modo mais orgânico, bruto, feito da maneira mais “analógica” possível.

A Rainha drogada também usa MySpace

Já na Inglaterra, o britpop deixou de herança um tédio monstruoso, que podava qualquer novidade mais intransigente. Ninguém arriscava, e o rock inglês já estava quase no limbo,

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# Década 00até os Libertines (http://youtu.be/HAusT_Yl1gE) aparecerem.

A banda liderada por Pete Doherty e Carl Barat não estava muito a fim de mudar nada, não. O recheio “sexo, drogas e rock’n roll” era muito mais apetitoso para os garotos de cabelos oleosos. Como é de se imaginar, a coisa não durou muito. Dois discos, um assalto e muitas brigas depois, o quarteto se separou e cada um seguiu só. Mas valeu como um pontapé inicial.

A partir daqui, acontece um rocambole de estilos e propostas diferentes, pelo mundo inteiro (e afora). Os ditos indies usam a tecnologia moderna a seu favor. Mostram o

dedo do meio para grandes gravadoras e de dentro do próprio quarto lançam seus discos de estreia. Algumas delas fazem um trabalho tão bom e significativo que são adotadas pelas grandes companhias do showbizz, e acabam se tornando novos ídolos num piscar de olh…, digo, num clique.

A plataforma virtual MySpace revela centenas de artistas diferentes a cada semana. Uns desaparecem no dia seguinte, outros arrastam multidões de fãs até os dias atuais, não é mesmo Arctic Monkeys (http://youtu.be/MtimhZ1QM6M)? Afinal, tudo depende do que você quer falar e mais, de como você vai fazer isso.

Verde, amarelo, barba e circuito independente

Agora, no Brasil, a coisa saiu fora do foco internacional. Ninguém aqui estava interessado

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por Izabela Raphael

em reclamar demais. O que a gente mais queria era música boa, por completo. Mas nos deram em partes, e vimos um mundo diferente.

O grupo carioca Los Hermanos (http://youtu.be/J16o9bYS-no) acordou em 99, com um disco homônimo regular, que tinha hit chiclete (já esqueceram de “Anna Júlia”?), rock paulera e mpb. Dois anos depois, com uma fama estabelecida e posição de destaque dentro do cenário musical da época, os barbudos puderam escolher que tipo de carreira eles queriam levar, e optaram por uma mais indefinida, mas repleta de público. Os Los Hermanos enveredaram pelo lado alternativo da força.

Jovens amantes da bossa nova, do tropicalismo e da mpb resolveram fazer da band sua principal porta voz num ambiente que estava para lá de bagunçado. Nomes como CPM 22, Detonautas, Charlie Brown Jr, entre outras, aguçaram músicos mais jovens a fazerem um estilo que destoasse de tudo aquilo. E quem passou a receita da massa havia sido, justamente, Marcelo Camelo e cia.

Os mesmos softwares usados pelos garotos ingleses para gravar seus EPs debaixo da escada da casa da vó, foram usados pelos garotos brasileiros, do Oiapoque ao Chuí, em cima ou de baixo da escada.

Intérpretes, duplas, trios, quartetos, quintetos e supergrupos como a brasiliense Móveis Coloniais de Acajú (http://youtu.be/8zZ0cnn6GNw), que soma 12 integrantes ao todo,

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# Década 00 por Izabela Raphael

pipocaram pelo país inteiro. Para ganharem uma certa visibilidade, já que nas rádios só rolava mainstreans como NX Zero e Fresno, essa onda de novos nomes se organizou em grupos, festivais, regiões e circuitos. O “índio” virou “caraíba”.

E como toda trajetória histórica, não dá para adivinhar o que acontece daqui para frente. Estilos passados batem a porta constantemente, mas os sintetizadores conseguem arrumar tudo de uma maneira eletrônica e por conseguinte, mais moderna. Os Los Hermanos já se desfizeram, os independentes já aparecem na MTV com mais frequência e de tempos em tempos, programas de gravação virtuais vão se atualizando mais e mais. O “indie” deixou de ser condição e se tornou gênero. Fácilmente palatável e rebelde, ele também tenta ser reflexo de uma geração.

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