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 IINTRODUÇÃO -- PARTE A CASTRO, Iná E. Geografia e Política. Capítulo 1. 1. “PENSAR A GEOGRAFIA POLÍTICA DO SÉCULO XXI” 1.1 Os temas privilegiados: o problema das relações entre a política e o território. 1.2. O campo da geografia política: é na relação entre a política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais – e o território – base material e simbólica da sociedade – que se define o campo da geografia política. 1.3 Agenda da Geografia Política: doze (12) grandes temas: - A globalização; - A revalorização do local; - o enfraquecimento do Estado-Nação; - o ressurgimento dos nacionalismos; - o aumento da circulação internacional de mercadorias e de mão-de-obra e o maior controle das fronteiras; - o esmaecimento das regiões; - o renascimento dos regionalismos; - a expansão da democracia; - a intensificação da pobreza; - o fortalecimento dos movimentos sociais e dos direitos da cidadania; - a ampliação da exclusão. 1.4 Os pontos fortes e fracos da Geografia Política: Enfocando a lógica espacial da política, faz emergirem as questões relativas aos fenômenos que resultam da organização e da gestão coletiva da sociedade e os modos como estes afetam e são afetados pelo espaço. Os pontos fracos encontram-se justamente na diversidade de temas o que dificulta a construção de um corpus temático coerente, com suporte numa base teórico- metodológica abrangente. 1.5 Como pode ser compreendida a Geografia Política hoje: Um conjunto de idéias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia com a política e vice-versa. 1.6 A transformação dos marcos teóricos: - incorporação de questões de identidade política; - movimentos políticos e a invasão da política nas mais diferentes concepções do mundo contemporâneo. 2. RENOVAÇÃO DO DEBATE TEMÁTICO E TEÓRICO DA GEOGRAFIA POLÍTICA 2.1 Ampliação da agenda: pelo menos seis grandes temas impactaram a GP, na 2ª metade do século XX: - O fim da Guerra Fria; - A desagregação da União Soviética; - A globalização; - As disputas de minorias por territórios dentro das fronteiras nacionais; - A expansão e o fortalecimento da democracia representativa, etc;

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IINTRODUÇÃO -- PARTE ACASTRO, Iná E. Geografia e Política. Capítulo 1.

1. “PENSAR A GEOGRAFIA POLÍTICA DO SÉCULO XXI”1.1 Os temas privilegiados: o problema das relações entre a política e o território.

1.2. O campo da geografia política: é na relação entre a política – expressão emodo de controle dos conflitos sociais – e o território – base material e simbólicada sociedade – que se define o campo da geografia política.1.3 Agenda da Geografia Política: doze (12) grandes temas:- A globalização;- A revalorização do local;- o enfraquecimento do Estado-Nação;- o ressurgimento dos nacionalismos;- o aumento da circulação internacional de mercadorias e de mão-de-obra e omaior controle das fronteiras;- o esmaecimento das regiões;

- o renascimento dos regionalismos;- a expansão da democracia;- a intensificação da pobreza;- o fortalecimento dos movimentos sociais e dos direitos da cidadania;- a ampliação da exclusão.1.4 Os pontos fortes e fracos da Geografia Política:Enfocando a lógica espacial da política, faz emergirem as questões relativas aosfenômenos que resultam da organização e da gestão coletiva da sociedade e osmodos como estes afetam e são afetados pelo espaço.Os pontos fracos encontram-se justamente na diversidade de temas o que dificultaa construção de um corpus temático coerente, com suporte numa base teórico-

metodológica abrangente.1.5 Como pode ser compreendida a Geografia Política hoje:Um conjunto de idéias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia coma política e vice-versa.1.6 A transformação dos marcos teóricos:- incorporação de questões de identidade política;- movimentos políticos e a invasão da política nas mais diferentes concepções domundo contemporâneo.

2. RENOVAÇÃO DO DEBATE TEMÁTICO E TEÓRICO DA GEOGRAFIAPOLÍTICA

2.1 Ampliação da agenda: pelo menos seis grandes temas impactaram a GP, na2ª metade do século XX:- O fim da Guerra Fria;- A desagregação da União Soviética;- A globalização;- As disputas de minorias por territórios dentro das fronteiras nacionais;- A expansão e o fortalecimento da democracia representativa, etc;

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- “Enfraquecimento” do Estado Nacional como interlocutor institucional privilegiadonos processos de transformação contemporânea.2.2- 1970 1980 e 1990:- polêmico pluralismo temático e metodológico;- a disciplina presente nos debates que se fundamentam no território como fonte

ou estratégia de poder.2.3 As novas perspectivas após a desagregação da União Soviética e a débâcledo socialismo na Europa:- ressurgimento dos problemas clássicos dos territórios,- fronteiras e do Estado;- nações, nacionalismos e regionalismos.2.4. Jean Gottmann- O retorno recente à obra de Jean Gottmann (La politique des États et leursgéographie, 1952): a reflexão sobre a melhor organização política, i. é, acooperação e a justiça no espaço geográfico => justiça espacial. (p. 23-32).2.5 Critica-se o Estado Nação, o seu enfraquecimento e mesmo o seu fim:

a) pela perda de sua soberania;b) pela permeabilidade das suas fronteiras;c) pela desnacionalização do capital financeiro;d) pelo fortalecimento dos novos atores supranacionais, como: as grandescorporações e as organizações internacionais de regulação;e) a perda de sua centralidade política.

3. FACE A FACE COM O EVENTO3.1 Marcos da história política contemporânea no mundo:a) o ataque ao WTC – perplexidade dos EUA.b) a guerra contra o Afeganistão – “contra quem guerrear?”.

c) a guerra no Iraque – motivações explícitas e implícitas.3.2 Um Estado Nacional contra um inimigo difuso que não é nem um território nemum Estado...3.3 A guerra contra redes reforçaria a certeza do papel secundário dos Estadosnacionais, inclusive pela sua incapacidade de proteger o cidadão da morteviolenta.3.4 No plano interno o reforço do controle das fronteiras e o cerceamento dasliberdades individuais dos cidadãos resultaram da prerrogativa da centralidadepolítico-territorial do mando e da obediência.3.5 No plano externo a política externa norte-americana impõe ao mundo asdecisões adequadas aos interesses do Estado-Nação.3.6 “Na realidade, estamos hoje diante de um mundo em transição, cuja direçãodas mudanças vem sendo objeto de interpretações nem sempre convergentes”.3.6.1 Hobsbawm – a queda do muro de Berlim marcou o final do séc. XX,tornando-o curto.3.6.2 Arrighi – século XX ainda não terminou, sendo mais longo que os outros.3.7 Interpretar as mudanças em curso é um desafio. Maquiavel, séc. XVI,interpretou o seu século:A percepção da necessidade de concentração e centralização do poder político econtrole do território nas mãos do Príncipe (o Estado Absolutista), garantido por 

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um exército profissional, para evitar a fragmentação territorial e o enfraquecimentodo poder dos Estados.

4- E O MOMENTO ATUAL?“A complexidade do momento atual reside, justamente, na visibilidade e na

aceleração dos tempos, ritmos e dos interesses que se movem de modoassincrônico e em diferentes escalas”.“À geografia política cabe refletir sobre as questões colocadas pelas dimensões

inerentes às relações entre a política – controle dos conflitos de interesses,decisões e ações – e o território – base material e simbólica do cotidiano social”.

4.1. Há um duplo desafio para a Geografia Política:- incorporar os fatos e as dinâmicas que trazem o novo e, ao mesmo tempo,considerar e interpretar as estratégias de conservação do antigo (...) incluindo-seaí o território, as instituições e as normas que estruturam a organização dassociedades no espaço.

TEXTOS DE AULA: CASTRO, Iná E. Geografia e Política. Território,escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2009. (Capítulo 1)

AS ORIGENS DA GEOGRAFIA POLÍTICA

• Há quase um consenso entre os especialistas que essa disciplina teria sidofundada ou pelo menos redefinida – advindo daí a “geografia políticamoderna” – por Friedrich RATZEL, com a obra Politische Geographie

(Munique, Leipzig, 1897).• Mas alguns autores - poucos - buscam o nascimento da geografia política

em outros autores e épocas: Para Kasperson e Minghi (The structure of Political Geography, Chicago, Aldine Publishing, 1969) ela teria sidoiniciada por ARISTÓTELES na sua obra  A Política, do século V aC.;

• Para Jean Gottmann (La Politique des Etats et leur Géographie, Paris,Armand Colin, 1952), ela teria começado com MONTESQUIEU no seu livroO espírito das Leis, do século XVIII.

Afinal, por que Ratzel é tido como o fundador da Geografia Política?

1. Ele teria sido o primeiro a escrever sobre o assunto, isto é, sobre adimensão espacial da política? NÃO. (Vários pensadores antes dele abordaram esse tema: Aristóteles,Maquiavel, Montesquieu, etc., mesmo não pretendendo fazer geografia nemsendo considerados geógrafos).

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2. Ele teria sido afinal o criador do rótulo, isto é, da expressão “geografiapolítica?”NÃO. Era muito comum a existência de obras – artigos, verbetes emenciclopédias e até livros – com esse título nos séculos XVI, XVII e XVIII.

Então, os motivos para se considerar Ratzel como o iniciador da Geografia Política,pelo menos de sua fase “científica” ou moderna, são:

• Ele delimitou com relativa clareza o que é política – fazendo uso de umaconcepção maquiavélica – e quais são os seus aspectos geográficos ouespaciais. Nas obras anteriores, todos os aspectos de um Estado ou paíseram abordados: as montanhas, o clima, os rios, a população, etc.

• Ele propôs um estudo nomotético (que busca teorias, conceitos, princípiosou leis), sendo que as obras anteriores eram todas idiográficas (isto é,estudos de casos particulares) e descritivas.

• Ele adotou uma concepção moderna – isto é, advinda da modernidade – de

política = Estado e as atividades a ele ligadas (lutas pelo poder, guerras,conquistas territoriais, busca de poderio internacional)

Politsche Geographie [Geografia Política], de F.Ratzel (1897) SUMÁRIO.

► Seção 1 – Sobre as relações entre o solo [espaço/território] e o Estado

► - O Estado, organismo ancorado ao solo;

► - O solo no desenvolvimento do Estado;

► - Posse, propriedade e soberania.

► Seção 2 – Movimento histórico e crescimento dos Estados

► - O movimento histórico;► - Diferenciação e valores políticos;

► - Conquista e colonização;► - Domínio Estatal e domínio natural.

► Seção 3 – O crescimento espacial dos Estados

► - A influência das representações geográficas e das idéias religiosas e nacionais

sobre o desenvolvimento dos Estados;

► - O desenvolvimento estatal em interação ao meio ambiente.► Seção 4 – A posição

► - Posição no sentido lato e restrito.► Seção 5 – A extensão

► - Extensão [tamanho] territorial e seus efeitos políticos; - Povoamento e comércio.► Seção 6 – As fronteiras

► As fronteiras naturais;

► Fronteiras como órgão periférico.

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Alguns trechos do livro Geografia Política, de Ratzel (1897).• “A geografia política é o estudo das relações entre o

Estado e o solo” (apresentação)• “Podemos encontrar na História uma diferença

entre a política territorial, ou geográfica, e a políticaem geral, isto é, não territorial” (Seção1, capítulo2).

• “A forma correta de entender o Estado é considerá-lo como um organismo, que se encontra enraizadoao solo” (Idem).

• “O desenvolvimento do Estado é um processoespacial (…) Uma potência puramente política,independente do solo, não pode existir a não sercomo forma transitória” (Idem)

• A guerra representa, do ponto de vista geográfico,um movimento poderoso, brusco e violento, no qualmassas humanas de um país penetram dentro deum outro país” (Seção 2, capítulo 1)

• “Faz parte da natureza dos Estados odesenvolvimento em rivalidade com os vizinhos, e oobjetivo da disputa consiste geralmente em porçõesterritoriais. A aquisição de terras torna-se o alvo do

desenvolvimento político e a existência de umgrande Estado incita os seus vizinhos menores anivelar as diferenças através da aquisição/conquistade territórios” (Idem, seção 3)

• “Todos os grandes Estados do passado e dopresente foram obra de povos civilizados. Essaligação pode ser vista claramente pelo fato de que,com exceção da China, os grandes Estados daatualidade estão na Europa ou em zonas coloniais

européias” (Idem, seção 3).• “A extensão [territorial] e a duração são, para os

Estados, dois atributos intimamente ligados(…) Sãoas mesmas forças, aquelas que permitem a umpovo preservar a integridade de seu territórioherdado ou conquistado, as que da mesma forma

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permitem que ele dure décadas ou séculos” (Idem,Seção 5).

Como avaliar criticamente essa obra de Ratzel?

1. Delimitação de um novo objeto [os geógrafos políticos que o sucederam,mesmo discordando de vários aspectos, reproduziram os seus temas e conceitosessenciais]2. Forte influência do seu contexto: defesa do colonialismo alemão, darwinismo,positivismo e cientificismo.

TEXTOS DE AULA:• COSTA, W. M. Geografia politica e geopolitica. São Paulo,

Edusp, 1992. (capítulo 2)• MORAES, A.C.R. Ratzel. São Paulo, Atica, 1990.

(introdução)• RATZEL, F. La Geographie politique. Paris, Fayard, 1987.

UM HISTÓRICO DA GEOGRAFIA POLÍTICA

O contexto histórico do final séc. XIX e inícios séc.XX favoreceu os estudosgeográfico-políticos imperialismo e rivalidades entre as “grandes potências”,expansão territorial e colonial, uma situação de pré-guerra (que eclodiria em1914), declínio relativo da potência dominante (Reino Unido) com ascensão denovas (Alemanha, Japão,Rússia, EUA, além da França).

A Geografia Política – e também a geopolítica, que surgiu logo em seguida aRatzel – teve um solo fértil para se expandir, o que ocorreu com a multiplicação deobras sobre o assunto nas chamadas “Escolas Nacionais de Geografia”,principalmente a alemã, a francesa e a inglesa, além de outras (a russa, a norte-americana, etc.).

A geografia política a partir de Ratzel pode ser dividida em duas fases principais:

1. De Ratzel até os anos 1970 Geografia Política Clássica2. De meados dos anos 70 em diante Nova Geografia Política (ou

Geografia do Poder, ou Geopolítica crítica).

A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA (OU TRADICIONAL) TEVE DOISMOMENTOS OU FASES:

1a. Fase = do final do século XIX até a Segunda Guerra Mundial (1939-45):

2a. Fase = de 1945 até os anos 1970.

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A primeira fase (1897-1945) teve os seguintes traços:• Forte base nacional, com acirrados conflitos entre escolas ou correntes

nacionais;• Ênfase na ordem mundial (competição entre Estados por maior influência

econômica e territorial) e nas relações entre poderio estatal e espaço;• Forte identificação com a Geopolítica

AUTORES/OBRAS MARCANTES NESSA PRIMEIRA FASE:

• RATZEL;• VIDAL DE LA BLACHE (La Géographie Politique à propos des écrits de

F.Ratzel, 1898);• ALBERT DEMANGEON (Géographie Politique, 1932);• HALFORD MACKINDER (Geographical Pivot of History, 1904);• J.BRUNHES E C.VALLAUX (Géographie de l’histoire. Géographie de la

paix et de la guerre, 1918);• J.FAIRGRIÈVE (Geography and World Power, 1915);• E.HUNTINGTON (Civilization and Climate, 1915);• J.ANCEL (Géographie des fontières,1938);• N.SPYKMAN (America’s Strategy and World Politics, 1942).

AUTORES/OBRAS MARGINALIZADOS (anarquistas):• E. RECCLUS (L’homme et la Terre, 1905).• P.KROPOTKIN (Mutual Aid, 1902).

A 2a. Fase, de 1945 até inícios dos anos 1970, representou:• Um rompimento com a Geopolítica;• Um maior rigor teórico-metodológico: ênfase na cientificidade ao invés da

busca de poderio para o Estado;• Preocupações com a Guerra Fria, com ideologia e com sistemas sócio-

econômicos;• Enfraquecimento das escolas alemã e francesa e fortalecimento da escola

norte-americana.

AUTORES/OBRAS MARCANTES NESTA FASE:• J. GOTTMANN (La politique des Etats et leur Géographie, 1952);• R. HARTSHORNE (The fuctional approach in Political Geography, 1950);• H.W.ALEXANDER (World Political Patterns, 1957);• N.POUNDS (Political Geography, 1957);• S. COHEN (Geography and Politics in a World Divided, 1963);• P. GEORGE (Panorama du monde actuel, 1965).

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A FASE ATUAL, A PARTIR DOS ANOS 1970:• A “nova Geografia Política”• Ou Geografia do Poder?• Ou Geopolítica crítica?• Ou Geografia dos conflitos?

• Ou “Estudo geográfico dos fenômenos de dominação?”.

Esta “nova” geografia política iniciou-se a partir do final dos anos 1960 eprincipalmente na década de 1970 interligada à emergência de novos atores: ofeminismo, as lutas contra a guerra do Vietnã e pelos direitos civis, o maio de1968, a contracultura, etc.Com isso, há uma preocupação com novos agentes/atores, com novas formas delutas: relações de gênero, de orientação sexual, conflitos culturais e étnico-territoriais, novas territorialidades, marginalidade/exclusão, etc.;

Poder (ou poderes) e não mais apenas Estado

Agora a geografia política estuda mais as relações de poder (ou relações dedominação), a política lato sensu , ao invés de ver política apenas no Estado.

Procedeu a uma releitura da Geopolítica;Isso começou com Yves Lacoste e a sua revista Hérodote (1976).Uma geopolítica não mais a serviço dos Estados totalitários; Uma geopolíticacrítica?

Trechos da obra de Y. Lacoste: A Geografia, isto serve, em primeiro lugar,para fazer a guerra.

“Seguramente, o termo geopolítica foi proscrito há decênios, sob pretexto de queele esteve estreitamente ligado à argumentação do expansionismo hitleriano. Mas,pelo mesmo motivo, se baniu a biologia, da qual os teóricos nazistas das ‘raçassuperiores’ fizeram o uso que se sabe?” (p.242).“Os dirigentes dos povos que lutaram, ou lutam ainda, para a independência oupara a autonomia, também eles fazem geopolítica, mas seus argumentos não são,evidentemente, os mesmos que os das potencias que os dominam. Na França, aobra do geógrafo libertário Elisée Reclus é, numa grande proporção, umageopolitica... Reclus considerava o raciocínio geográfico um meio de resistência àopressão e ele desejava fazê-lo conhecer ao maior número de cidadãos...”(p.243).

“Saber pensar o espaço para saber nele se organizar, para saber ali combater” (p.189)“Contrariamente ao que pensam certas pessoas, o raciocínio do tipo geopoliticonão postula o primado do Estado: ele é utilizável por aqueles que o combatem”(p.243).

Trechos da obra de C. Raffestin: Por uma geografia do poder 

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“Ratzel, sem se dar conta, criou as bases de uma ‘geografia do totalitarismo’porque só levou em consideração uma escala, a do estado. Nosso objetivo foirecuperar as outras escalas, por intermédio das relações de poder... O trunfo dageografia política é o homem na sua qualidade de membro de uma coletividade é,portanto, uma ‘geografia da autonomia que está em causa” (p. 267).

“Os fatos do mundo, as lutas das minorias, o tráfico de recursos, a marginalização,o terrorismo, etc, são relações de poder que se vinculam a uma geografiaimediata. Se não sabemos analisá-los ou se nos recusamos a fazê-lo, então oconhecimento científico que pretendemos elaborar não é um conhecimentocientífico, é, no máximo, o registro do que acontece, sem ganho de inteligibilidadee de informação reguladora” (p. 268).

A nova Geografia PolíticaUso de autores/teorias considerados críticos ou radicais: Marx e marxismos,Gramsci, Escola de Frankfurt, Foucault, anarquismo…Preocupações, a partir dos anos 80, com a globalização ou o sistema global.

Criação de novos conceitos ou abordagens: territorialidades, tribos, regionalismos,limites do Estado-nação, relações de poder no/com o espaço…Há também uma continuação, com um enfoque mais crítico, das preocupaçõesepistemológicas e teórico-metodológicas da fase anterior: estatuto científico erelações com a geopolítica, com a ciência política, etc., a continuidade dageografia eleitoral , as diferenças regionais das lideranças e dos partidos políticos,etc.

Alguns autores/obras importantes nesta nova fase:• LACOSTE, Y.   La Géographie, ça sert, d’abord, a faire la guerre. Paris,

F.Maspero, 1976.•

RAFFESTIN, C.   Pour une Géographie du Pouvoir. Paris, Libr.Techniques,1980.• HÉRODOTE.   Revue de géographie et de géopolitique. Revista trimestral,

editada desde setembro de 1976.• LACOSTE, Y. e GIBLIN, B. (org.). Géopolitiques des Régions Françaises. 3

vols. Paris, Fayard, 1986.• TAYLOR, P.J. Political Geography, World-Economy, Nation-State and Locality.

London, Longman,1985.• RAFFESTIN, C. Géographie des frontières. Paris, PUF, 1974.• FOUCHER, M. Fronts et Frontières. Um tour du monde géopolitique. Paris,

Fayard, 1988.• PILE, S. e KEITH, M. (org.). Geographies of resistance. London, Routledge,

1997.• AGNEW, J.  Mastering Space: Hegemony, Territory and International Political 

 Economy, London, Routledge, 1995.• DEMKO, G.J. e WOOD, W.B. Geopolitical Perspectives on the 21st Century.

Oxford, Westview Press, 1994.• CLAVAL, P., LACOSTE, Y. e OUTROS.   Penser la Terre. Stratèges et 

citoyens: le rével des géographes. Paris, Autrement, 1995.

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• SHORT, J.R.  New Worlds, New Geographies. New York, Syracuse UniversityPress, 1998.

TEXTOS DE AULA:• COSTA, W.M. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo:

Edusp, 1992. (capítulos 3 e 4)• CASTRO, I. E. de. Geografia e política. Território, escalas de

ação e instituições. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2009.(capítulos 1 e 2)

• LACOSTE, Y. A Geografia - Isso Serve em Primeiro Lugar,Para Fazer a Guerra. Campinas: Papirus, 1989. (trechos)

• RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo,Àtica, 1993. (trechos)

• VESENTINI, J. W. O que é geografia política? E geopolitica?(mimeo)

IMPERIALISMO, GRANDES POTENCIAS E ESTRATÉGIASGLOBAIS

Final do século XIX, começo do século XX: emergência das potências mundiais edo imperialismo como forma histórica específica de relacionamento internacional.

Potencia mundial e imperialismo: conceitos que expressam – 1) a expansão docapitalismo baseado na industrialização crescente e na reprodução ampliada docapital, assumindo, cada vez mais, a sua forma monopolista.2) manifestam o caráter da expansão do capitalismo – observado no crescimento,concentração e centralização de capitais industriais e bancários em poucos paísese a sua desigual internacionalização. É o capitalismo monopolista, baseado nocrescimento dos trustes, cartéis e associações de todo o tipo entre capitaisindustriais e bancários – observados nos EUA, Inglaterra, Alemanha e França –cujo objetivo é o controle dos mercados em escala mundial.Esse processo qualifica a nova etapa imperialista, ou seja, após a expansãocolonial, as grandes potências passaram às disputas pelo controle de mercados e

territórios, em especial, os coloniais. Não se trata, aqui, de conquista territorial,mas de competição entre Estados associados aos grandes monopólios.Além das grandes potências imperialistas, devemos observar os impériosterritoriais estruturados formalmente como impérios. São: o alemão, o russo, oaustro-húngaro, o japonês e o turco-otomano que, diferentemente dos outros,suas áreas de influência direta compreendiam, principalmente, territórios europeusou asiáticos contíguos e suas economias ainda eram fortemente assentadas nasatividades primárias.

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Observando essas potências, o quadro geopolítico mundial apresentava-secompleto, e o mundo estava dividido por áreas de influência de cada uma delas.As fronteiras formais são linhas de tensões e as estratégias dos Estados sãocondicionadas por esse novo quadro e devem ser globais.As projeções do poder dessas nações poderão ser terrestres ou marítimas, mas

sempre serão mundiais. É nesse contexto que se desenvolveu a GeografiaPolítica e sua vertente aplicada às estratégias de domínio e de guerra, ageopolítica.

GEOPOLITICOS CLÁSSICOS

A “Geopolítik ” nasceu das idéias do jurista sueco, professor de direito político egermanófilo, Rudolf Kjellen num texto intitulado “As grandes potências”, de 1905e reafirmado na obra “O Estado como forma de vida”, de 1916. Tomava de Ratzela idéia de Estado como organismo territorial, reduzindo-a a um organismo do tipo

biológico.Sua concepção de Estado assume um caráter estreito, reducionista eexpansionista e é francamente dirigida aos “estados maiores” dos impérioscentrais da Europa, em especial à Alemanha. Por manipular os conceitos daGeografia Política (seus escritos se assemelham a um receituário de imperialismo,mais óbvio do que os escritos de Ratzel - este sim um teórico) ele explicitou seusobjetivos imperialistas.As ideias de Kjellen são bem recebidas dentro de determinada esfera intelectualalemã, formadora do pensamento nacional socialista, e terá outros expoentes, emespecial Karl Haushofer.Alfred T. Mahan: oficial da marinha norte americana e professor do colégio naval,

é conhecido como o precursor das teorias geopolíticas sobre o poder marítimo(sea power) – apesar de nunca ter feito uso desse rótulo em seus escritos, que emgrande parte foram publicados antes de Kjellen ter proposto sua geopolítica.Sua obra mais conhecida “A influência do poder marítimo sobre a história” foipublicada em 1890.

MAHANMahan concebe os oceanos e mares como um vasto espaço social e político, comcaracterísticas próprias, que os distinguem dos espaços terrestres, masarticulados a estes pelos portos e vias de comunicação interiores. Observa que aarticulação com os continentes, até o advento das estradas terrestres, dependiaquase que exclusivamente das vias navegáveis interiores. Com o desenvolvimentodas vias terrestres, há o estreitamento das relações entre os dois espaços,favorecendo o comércio mundial e a circulação em geral, promovendo umainterdependência entre as marinhas mercantes e de guerra, formando um únicosistema durante os conflitos. Daí a chave para a hegemonia mundial estar,segundo ele, no controle das rotas marítimas. Seus trabalhos baseiam-se emobservações sobre a Inglaterra e outros países europeus e visa o poder imperialista dos EUA sobre o mundo.

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Toda a Geopolítica, e a de Mahan não foge à regra, implica uma filosofia dahistória. Sua leitura da História, de forma distorcida, via o poder marítimo como ocentro das mudanças, algo decorrente de sua atividade e da incumbência a quese propôs – pensar as condições para o fortalecimento do seu Estado no cenáriomundial – nesse sentido, como “conselheiro do príncipe”, ele foi muito ouvido, pois

os EUA se tornaram, desde o início do século XX, a grande potência marítima doplaneta. Além disso, sua grande idéia tornou-se realidade: a construção do canaldo Panamá, unindo o Pacífico ao Atlântico, sob o domínio direto dos EUA até1999.

A VISÃO GEOESTRATÉGICA DE MACKINDER

Halford J. Mackinder, apesar de também não ter feito uso do rótulo geopolítica, éconsiderado o grande teórico da geopolítica clássica.Suas ideias foram expostas inicialmente num paper apresentado à real sociedade

geográfica de Londres intutulado “O pivô geográfico da História”, em 1904. Nele,o autor lembra a chegada ao fim da era dos descobrimentos e constata a tomadade posse do planeta, surgindo uma nova fase, de enfrentamento das potenciasimperiais. Lembrava que, com o desenvolvimento das comunicações terrestres –precisamente graças ao trem – estava posta em cheque a hegemonia das viasmaritimas – a base de poder do Império Britânico.Relacionava essas mudanças com uma “constante geográfica” na históriauniversal: a existencia de um espaço que era determinante para o controle doplaneta, por ele denominado de Pivô geográfico, situado no centro do continenteeuroasiático – a ilha mundial – de modo que quem a controlasse, dominaria omundo.

Em 1919, publicou “Ideais democráticos e realidade”, e passou a denominar aárea pivô de Heartland (coração da Terra).Como os oceanos e mares cobrem cerca de três quartos da superfície terrestre e,nas terras emersas (onde logicamente vivem os povos e existem os Estados)destaca-se um conjunto ou “continente”, o velho mundo (África e Eurásia), queabrange cerca de 58% do total (se excluirmos a Antártida), Mackinder hierarquizouesses espaços como se eles tivessem um valor intrínseco e permanente para opoderio mundial. Ele chamou de “ilha mundial” (world island) esse grande bloco deterras (o velho mundo), no qual, de acordo com os seus estudos, (algo queprovavelmente seja verdadeiro, na medida em que ai vive a maior parte dapopulação mundial), teria ocorrido a imensa maioria das guerras da história dahumanidade. E, dentro dessa ilha mundial haveria uma área central básica, queseria uma imensa região central localizada em parte na Europa e em parte naÁsia, no interior dela, a região geoestratégica do planeta, a heartland – quecorresponde aproximadamente ao que hoje chamamos de Europa Oriental – cujaposse seria a condição básica para a hegemonia mundial.A importância dessa região estaria na combinação de três características: apresença de uma porção importante da maior planície do mundo, que seprolongaria desde as estepes russas até a Alemanha, os paises baixos e o norteda França, e que seria coberta de pastagens (grassland), o que favoreceria a

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mobilidade de povos e guerreiros; a presença de alguns dos maiores rios domundo (sic); e sua natureza mais ou menos fechada em relação às incursõesmarinhas. Nas célebres palavras do autor “Quem controla a heartland, controla ailha mundial e, quem controla a ilha mundial, domina o mundo.* Observar trecho e citação de Gallois na página 71 do texto de Font e Rufi.

Esse raciocínio fundamenta-se no que Aron chamou de “esquematizaçãogeográfica”, que consiste em tentar compreender a história, notadamente asguerras e os conflitos entre os povos, a partir de características territoriais. Essasideias, que afinal de contas foram levadas a sério até a segunda guerra mundial,talvez tenham tido uma boa base de sustentação na época de Mackinder, aquelado Estado territorial militarizado, com a guerra sendo desenvolvida, na terra ou nomar (mas ainda não ar e muito menos com o apoio do espaço cósmico) com base,não na tecnologia de precisão, mas no número de soldados, navios earmamentos.

Karl Haushofer e a Geopolitik alemãAo fim da 1a guerra , já com 50 anos, decide entrar na reserva e ingressar naUniversidade de Munique, como professor. Foi aceito após apresentar seudoutorado sobre o Japão.Suas ligações com os componentes do III Reich como Rudolf Hess, o aproximamde Hitler, para quem apresentou suas idéias sobre o espaço vital alemão. Criou,

 junto com um grupo denominado “escola de Munique”, a revista de geopolítica,veículo para suas elocubrações sobre a necessidade de espaço vital, o binômioraça e terra, etc.A obra de Haushofer e de sua “escola” de geopolítica não prima pela criatividade

teórica, já que se propunha somente a apresentar um conjunto de técnicas deaplicação, do que era produzido pela Geografia nos problemas políticos daconjuntura internacional alemã.Na obra Geopolitica das panregiões, de 1931, prega que as 4 potencias devemassumir responsabilidades internas e externas (neste caso, organizar o mundo).As 4 panregiões: americana, dos EUA; a euroasiática, da Russia (mas somentedepois de renunciar ao bolchevismo); a leste-asiática, do Japão e a Euro-africana,sob o dominio da Grã-Alemanha.Hausofer leva a extremos o que chamamos de “determinismo territorial” de Ratzel.Partindo de um conceito metafísico de espaço geral e abstrato, uma entidade quemodela e determina todas as demais esferas da vida social, ele conclui que “oespaço rege a História da Humanidade”. Também como Ratzel, condena os povosque se conformam com “as pequenas comodidades de um rincão seguro eacolhedor”, preferindo os que almejam o espaço ideal ao seu futuro: “Só umanação cujo espaço se ajusta às suas necessidades, tanto espirituais comomateriais, pode ter esperança de alcançar verdadeira grandeza”.

O BLOCO EUROASIATICO CONTINENTAL

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Um tema das teorias geopolíticas de Haushofer sobre a política externa, que setransformou no assunto mais comentado no âmbito da Geografia política e mesmofora dela, é o que se refere à sua idéia de um bloco euroasiático continental (aunião das panregiões russa e alemã).Antes mesmo do fim da 1a guerra, Haushofer conhecia o famoso texto de

Mackinder sobre o pivô geográfico e, posteriormente, em 1919, o desenvolvimentode suas idéias no livro sobre o assunto. Entre os comentaristas da geopolíticaalemã é unânime a constatação de uma forte influência do geógrafo inglês sobreHaushofer. Muitos lamentam ou consideram até irônico que as teorias de uminglês pudessem ter servido tão bem ao campo do adversário. É o caso deGottmann, que lamenta que essas teorias “elaboradas por um grande patriota paraservir o seu país, fossem postas a serviço dos grandes desígnios de um outro e,de fato, sobretudo contra o país de Mackinder. É o perigo de toda doutrina”.Observar curiosidades sobre a figura de Haushofer nas páginas 64 e 66.

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?SAMUEL HUNTINGTON

Em 1993, S. Huntington afirma que, no mundo pós- guerra fria, os conflitos nãosão mais ideológicos ou econômicos mas, fundamentalmente, culturais.“As Nações-Estado continuarão a ser os agentes mais poderosos nosacontecimentos globais, mas os principais conflitos ocorrerão entre nações egrupos de diferentes civilizações” Huntington diz ter criado um “novo paradigma” para explicar os conflitos pós-guerra fria:

O novo paradigmaOs grupos não se agrupariam mais entre “ricos e pobres”; democráticos e não-democráticos; capitalistas e comunistas, etc, o que tornou necessário criar umanova diferenciação no mapa mundi: a das “civilizações”.Civilização, segundo Huntington, é “a identidade cultural mais ampla de um povo:um inglês e um irlandês podem ter diferenças ou tensões culturais, mas eles seidentificam como europeus e, no limite, como ocidentais”.Considera as 21 “civilizações” enumeradas por Toynbee: a ocidental, a islamica, ahindu, a eslava, a japonesa, a africana, etc.

Conflitos civilizacionais

Ainda segundo Huntington, o padrão normal da história é a predominância deconflitos civilizacionais e, somente nos últimos quatro séculos – desde a paz deWestfalia até a guerra fria- a humanidade teria vivido um padrão ocidental dehistória – baseado no conflito entre reis, depois nações, entre interesseseconômicos e ideológicos.Terminada a fase da guerra-fria, a ultima de padrão ocidental, devido a umdeclinio relativo do ocidente ou uma nova ascensão das civilizações (islâmica econfuciana, p.ex.),as coisas estão voltando ao “normal”...

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Linha de cisão entre civilizaçõesÁreas de fronteira ou contato cultural (não são fronteiras politicas), locais onde hásignificativa presença de civilizações diferentes e ocorre uma “luta pelo controle doterritório de cada um”.

Exemplos: Bósnia e Kosovo. Na Bósnia, ocorreu uma disputa entre grupos“ocidentais” (os croatas), islâmicos (os bósnios) e eslavos ortodoxos (os sérvios);e no Kosovo haveria uma disputa entre islamicos (os kosovares) e eslavosortodoxos (os sérvios)

Nova ordem mundial: multipolar e multicivilizacionalEm 1996, Huntington publicou novo livro, na tentativa de fundamentar melhor suainterpretação do ”choque de civilizações” (O choque de civilizações e arecomposição da ordem mundial).os centros mundiais de poder ainda são os Estados, mas os agrupamentos mais

importantes são as 7 ou 8 “grandes civilizações” que existem no globo.

Estado civilizacional núcleoCategoria nova de poder, diferente das potencias do ultimo século. “Civilizaçõessão famílias e os Estados-núcleo representam o chefe, o lider dos demais Estadosdo bloco civilizacional, que o veem como um parente cuja liderança proporciona aeles apoio e disciplina”.Os Estados-núcleo têm papel de mediadores nos conflitos mundiais e encontrar esses líderes para as civilizações que ainda não os têm seria algo imprescindívelpara manter a paz mundial.Ocidente: dois polos: UE e EUA (que tendem a se alinhar por meio da OTAN).Islâmica: “tem percepção de si, mas não tem coesão”. Está dividido em centros de

poder competitivos (o autor prefere a Turquia como lider, já os turcos querementrar na UE).Ortodoxa: o lider da família é Russia. Sínica: a China. Hinduista: a India.Latino-americana: não há. Africana: não há. (mas não enfrentam conflitos comoutrascivilizações).“São relativamente frágeis do ponto de vista da percepção e tendem a se colocar como dependentes do ocidente”.

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O PAPEL DOS EUA

► A grande preocupação de Huntington é com o que chama de “declinio do ocidente”e com o papel que os EUA deveriam desempenhar nessa nova ordem multipolar e

multicivilizacional.

► “Ocorre um declínio gradual e inexorável do poder relativo do ocidente ante o restodo mundo”.

► Do que ele tem medo?

Argumentos:

► Do ponto de vista territorial, em 1920 o ocidente governava cerca de 66 milhões de

km2 e hoje essa área seria cerca de 32,8 milhões de km2.

► Do ponto de vista demográfico, em 1900 os ocidentais representavam cerca de 30%

da população mundial e governavam outros 45%, ao passo que hoje são pouco maisde 13% do efetivo planetário.

► Quanto ao produto econômico mundial, em 1920, a parcela do ocidente

representava 84% do total e, em 1980, 57%.

► O “poder” (território,população e recursos) dos EUA e da Europa está encolhendo...

Conclusões de Huntington

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► Os EUA e a UE têm de se manter unidos ou “serão destruidos separadamente” - por 

isso, EUA e OTAN não deveriam se envolver em conflitos que ocorrem em “outras

civilizações”. Este seria o primeiro requisito para a paz no mundo multipolar emulticivilizacional.

►  Nada de se envolver em “guerras alheias” - de outras civilizações – mesmo que seja

em nome dos direitos humanos.► Mediação conjunta: Estados-núcleo deveriam negociar entre si para conter guerras

que ocorrem nas linhas de cisão entre as civilizações.

exemplos

►  Não se deve impedir a Russia de dominar os países eslavo-ortodoxos da Europa e aRussia não deve se opor à expansão da OTAN nos países da Europa Oriental com

cultura ocidental.

►  Não se deve intervir no desejo da China de anexar Taiwan e outras áreas... “é inútile até arrogante tentar impedir a China de cumprir seu destino de dominar a Asia

oriental”

As insuficiencias das teses de Huntington

► Legitima uma “desconsideração” pelos direitos humanos em culturas não ocidentais.Isso significa a partilha do planeta entre meia duzia de Estados Núcleo, cada um

 podendo fazer oque bem entender em sua zona de influencia (parecido com a

 proposta do “mundo em fatias” de Haushofer).► “Huntington subestimou a força da modernidade e do secularismo em lugares que

seguiram este caminho com muitas dificudades. Do seu ponto de vista, fenômenos

como a “hinduização” da India ou o fundamentalismo islâmico venceram”.

Texto de aula: VEZENTINI, J.W. Os choques culturais marcarão o século XXI? In: NovasGeopoliticas. São Paulo, Contexto, 2000, p.53-62.