67
1 Estudo Científico “Estabelecer Cenários sobre os Efeitos das Alterações Climáticas na Abetarda, Sisão e Peneireirodastorres” 1º Relatório da Acção A4 Projecto LIFE Estepárias “Conservação da Abetarda, Sisão e Peneireirodastorres nas estepes cerealíferas do Baixo Alentejo” (LIFE07/NAT/P/654) Francisco Moreira (coord.) Ana Delgado Ricardo Correia Pedro Leitão Dezembro 2010

Relatório estepárias 151210 colonias corrigidasº Relatório... · Natureza e dos seus Recursos (IUCN 2010), mas também a nível nacional, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados

  • Upload
    lamminh

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

 

 1

 

 

 

Estudo Científico  “Estabelecer Cenários sobre os Efeitos das Alterações Climáticas na Abetarda, Sisão e 

Peneireiro‐das‐torres”  

1º Relatório da Acção A4  

Projecto LIFE Estepárias “Conservação da Abetarda, Sisão e Peneireiro‐

das‐torres nas estepes cerealíferas do Baixo Alentejo” (LIFE07/NAT/P/654) 

 

 

Francisco Moreira (coord.) Ana Delgado Ricardo Correia Pedro Leitão  

 

 

 

Dezembro 2010 

 

 

 2

ÍndiceIntrodução ..................................................................................................................................... 4 

Cenários e previsões de alterações climáticas .............................................................................. 5 

Padrões de alterações climáticas globais .................................................................................. 6 

Padrões de alterações climáticas em Portugal ......................................................................... 8 

Previsões de alterações climáticas globais .............................................................................. 10 

Previsões de alterações climáticas em Portugal ..................................................................... 12 

Impactos esperados das alterações climáticas nas aves estepárias ........................................... 16 

Efeitos das alterações climáticas na distribuição geográfica das espécies‐alvo no futuro ..... 18 

Efeitos das alterações climáticas na biologia das espécies‐alvo ............................................. 20 

Abetarda – Otis tarda .......................................................................................................... 21 

Sisão – Tetrax tetrax ............................................................................................................ 23 

Peneireiro‐das‐torres – Falco naumanni ............................................................................. 24 

Efeitos das alterações climáticas nos recursos das aves estepárias ....................................... 25 

Influência do clima na vegetação ............................................................................................ 26 

Abetarda – Otis tarda .......................................................................................................... 27 

Sisão – Tetrax tetrax ............................................................................................................ 28 

Peneireiro‐das‐torres – Falco naumanni ............................................................................. 29 

Influência do clima nos artrópodes ......................................................................................... 29 

Abetarda – Otis tarda .......................................................................................................... 31 

Sisão – Tetrax tetrax ............................................................................................................ 31 

Peneireiro‐das‐torres – Falco naumanni ............................................................................. 31 

Influência do clima na gestão e politíca agrícola .................................................................... 32 

Recomendações de gestão.......................................................................................................... 33 

Gestão do mosaico agrícola .................................................................................................... 34 

Gestão dos pousios/pastagens ............................................................................................... 36 

 

 3

Gestão do cereal ..................................................................................................................... 38 

Gestão das leguminosas .......................................................................................................... 40 

Gestão dos pontos de água ..................................................................................................... 41 

Gestão da dimensão da parcela e da pressão humana .......................................................... 42 

Promoção de ninhos artificiais adequados para Peneireiro‐das‐torres ................................. 43 

Actividades desenvolvidas em 2010 para as espécies‐alvo ........................................................ 44 

Monitorização da Abetarda – Otis tarda ................................................................................. 44 

Área de estudo e Metodologia ............................................................................................ 44 

Resultados ........................................................................................................................... 45 

Monitorização do Sisão – Tetrax tetrax .................................................................................. 47 

Metodologia ........................................................................................................................ 47 

Resultados ........................................................................................................................... 48 

Monitorização do Peneireiro‐das‐torres – Falco naumanni ................................................... 49 

Metodologia ........................................................................................................................ 49 

Resultados ........................................................................................................................... 52 

Referências .................................................................................................................................. 57 

Anexo 1 ........................................................................................................................................ 67 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 4

Introdução A existência de alterações nos padrões climáticos, provocadas pela actividade do Homem é, 

hoje em dia, um facto cientificamente comprovado. Estas alterações incluem, na generalidade, 

o  aumento  da  temperatura  média  global,  a  diminuição  da  precipitação  e  o  aumento  da 

frequência de ocorrência de eventos extremos. Os seus efeitos já se fazem sentir e as últimas 

previsões apontam para que as alterações se  intensifiquem nos próximos anos, prevendo‐se, 

também, um aumento das suas consequências. 

  As evidências da existência de alterações no clima  levaram a Organização das Nações 

Unidas  (ONU)  a  criar, em 1989, o Painel  Intergovernamental  sobre  as Alterações Climáticas 

(“Intergovernmental Panel on Climate Change”). As  funções deste painel passam por rever e 

avaliar as mais recentes  informações científicas, técnicas e sócio‐económicas, com relevância 

para uma melhor percepção sobre a temática das alterações climáticas a nível mundial. 

  Os  relatórios  produzidos  por  este  grupo  de  trabalho,  com  base  no  conhecimento 

científico mais recente, têm avaliado também o papel das alterações climáticas nos habitats e 

nas  espécies  que  deles  dependem.  As  suas  conclusões  apontam  para  que  as  alterações 

climáticas tenham um efeito negativo bastante acentuado nos ambientes e recursos naturais, 

levando a que as alterações no clima sejam encaradas, hoje em dia, como uma das principais 

ameaças à biodiversidade, a par da  introdução de espécies exóticas e da  intervenção directa 

do homem nos sistemas naturais. 

  Deste modo, torna‐se essencial  incorporar nos esforços de conservação medidas que 

tenham  em  conta  o  potencial  efeito  das  alterações  climáticas  nas  populações  naturais. No 

entanto, grande parte do conhecimento científico sobre os efeitos das mudanças do clima nas 

populações  naturais  foi  obtida  para  uma  escala  continental/regional  e  é  por  isso  pouco 

informativo  sob ponto de  vista da  conservação, que normalmente  se processa numa escala 

mais local. Torna‐se assim de grande importância não só obter novo conhecimento adequado 

a esta exigência mas também compilar a informação já existente que possa dar pistas sobre os 

efeitos do clima numa escala apropriada e que se enquadre com os esforços de conservação. 

  O projecto  LIFE  Estepárias  ‐ Conservação da Abetarda,  Sisão  e  Peneireiro‐das‐torres 

nas  estepes  cerealíferas  do  Baixo Alentejo  pretende  promover  a  conservação  na  região  do 

Baixo Alentejo  de  três  aves  estepárias  ameaçadas:  a Abetarda  (Otis  tarda),  o  Sisão  (Tetrax 

tetrax)  e  o  Peneireiro‐das‐torres  (Falco  naumanni).  Estas  espécies  apresentam  estatuto  de 

conservação  desfavorável  a  nível  global  (Abetarda  –  Vulnerável;  Sisão  –  Quase  ameaçado, 

 

 5

Peneireiro‐das‐torres  –  Vulnerável),  segundo  a  União  Internacional  para  a  Conservação  da 

Natureza  e  dos  seus Recursos  (IUCN  2010), mas  também  a  nível  nacional,  segundo  o  Livro 

Vermelho dos Vertebrados de Portugal, que atribui os estatutos de   Ameaçado à Abetarda e 

Vulnerável  ao  Sisão  e  Peneireiro‐das‐torres  (Cabral  et  al.  2006).  A  nível  europeu,  as  três 

espécies  são  também  abrangidas  pela Directiva Aves  (Directiva  Comunitária  79/409/CEE)  e, 

pelo  facto  de  constarem  do  Anexo  I  do  referido  documento,  são  consideradas  espécies 

prioritárias para a conservação das suas populações e habitats. 

  O estado de conservação destas espécies é preocupante e, apesar de todo o esforço de 

conservação que  lhes  tem sido dirigido, o potencial efeito negativo das alterações climáticas 

nas  suas  populações  e  habitats  não  foi  ainda  considerado  e  pode  comprometer  a  sua 

sustentabilidade  futura. Torna‐se por  isso essencial  avaliar o potencial efeito das mudanças 

climáticas nestas espécies e intervir de forma adequada a minimizar os seus efeitos. 

Este  relatório  insere‐se  assim,  no  âmbito  da  acção  A4  do  projecto  LIFE  Estepárias, 

sendo  o  seu  objectivo  compilar  a  informação  já  existente  que  possa  contribuir  para  a 

elaboração de medidas de conservação para as espécies abrangidas pelo projecto, tendo em 

conta os potenciais efeitos das alterações climáticas nas espécies previamente referidas. 

 

Cenárioseprevisõesdealteraçõesclimáticas   

A avaliação dos cenários e padrões actuais do clima e a previsão de cenários climáticos futuros 

são ferramentas essenciais para o estudo do fenómeno da alteração do clima, tanto à escala 

global  como  a  nível  regional,  e  para  a  percepção  dos  potenciais  efeitos  destas  alterações. 

Tendo em mente esta necessidade de conhecimento relativamente aos padrões de alteração 

do  clima,  existem  actualmente  diversos  grupos  que,  trabalhando  a  diferentes  escalas, 

procuram identificar os padrões climáticos actuais e prever a evolução futura. 

Considerando os trabalhos efectuados até ao momento, é possível fazer o balanço do 

conhecimento  existente  sobre  os  processos  climáticos  actuais  e  sobre  os  cenários  futuros, 

quer a nível global, quer a nível nacional. 

 

 

 

 6

Padrõesdealteraçõesclimáticasglobais 

O  Painel  Intergovernamental  para  as  Alterações  Climáticas  (IPCC)  produziu  em  2007  o  seu 

último  relatório  de  avaliação  sobre  o  estado  das  alterações  climáticas  a  nível  global  (IPCC 

Fourth  Assessment  Report:  Climate  Change  2007  –  AR4).  Este  relatório  faz  o  balanço  do 

conhecimento científico relativo às alterações climáticas até à data, sendo que esta avaliação 

abrange não só a evolução climática verificada nos últimos anos, como também as previsões 

de cenários climáticos futuros.  

Segundo este relatório, a temperatura média global do planeta tem vindo a aumentar 

desde a década de 1980, atingindo um aumento de cerca de 0,6 a 0,8oC na última década, em 

relação à média climática de 1961‐1990  (Figura 1). Este aumento da temperatura reflecte‐se 

num  aumento  quer  da  temperatura mínima,  quer  da máxima,  sendo  o  aumento  verificado 

mais pronunciado na primeira, o que  resulta numa diminuição da amplitude  térmica diária, 

como se pode observar na Figura 2. 

Do  ponto  de  vista  regional,  o  continente  Europeu  tem  uma  tendência  bem 

estabelecida de aquecimento, com um aquecimento médio de 0,9oC no período entre 1901 e 

2005, em relação à média de 1961‐1990. Este aumento tem sido mais pronunciado no Norte 

da Europa e nas zonas montanhosas do que no Sul da Europa (Alcamo et al. 2007). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Anomalias anuais na temperatura global do ar à superfície (oC), durante o período de 1850 a 2005, relativas à média entre 1961 e 1990, calculada segundo a base de dados de temperatura à superfície CRUTEM3 (Brohan et al. 2006). A curva a preto representa os valores obtidos pela mesma base de dados CRUTEM3 em comparação com os valores obtidos pelas análises das bases NCDC (Smith & Reynolds, 2005; azul), GISS (Hansen et al. 2001; vermelho) e de Lugina et al. 2005 (verde). Retirado de Solomon et al. 2007.  

 

 7

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2 – Anomalias anuais relativas à média de 1961 a 1990 da temperatura máxima, mínima e  amplitude  térmica  diária  (DTR).  As  curvas  representam  variações  decadais.  Retirado  de Solomon et al. 2007.  

 

No que respeita à precipitação global, e também segundo o último relatório do  IPCC, 

têm‐se verificado alterações na precipitação média durante as últimas décadas, apesar de não 

significativas. Este facto verifica‐se por se tratar de uma análise á média global, que abrange 

regiões com tendências de precipitação bastante diferentes. 

Ao analisar a evolução da precipitação média a um nível regional, podemos verificar a 

existência de uma redução significativa na precipitação média nas últimas décadas em muitas 

das  regiões analisadas,  facto que  também  se observa na  região do Mediterrâneo  (Figura 3). 

Nesta zona, verifica‐se uma tendência de redução da precipitação de cerca de 5% em relação à 

média da precipitação no período 1961‐1990, que se manifesta através de períodos de seca 

mais precoces e prolongados, tendência inversa à verificada na Europa do Norte (Alcamo et al. 

2007, Solomon et al. 2007).  

 

 8

 

Figura 3 – Precipitação anual para o período de 1900 a 2005 na área da Bacia do Mediterrâneo (% da média, considerando o período entre 1961 e 1990). Retirado de Solomon et al. 2007.  

PadrõesdealteraçõesclimáticasemPortugal 

Em  Portugal,  os  cenários  climáticos  e  os  seus  potenciais  impactos  foram  analizados  pelo 

Projecto SIAM – “Climate Change  in Portugal: Scenarios, Impacts, and Adaptation Measures”. 

Este projecto,  iniciado em 1999, teve duas  fases das quais resultaram dois relatórios: SIAM  I 

(Santos et al. 2002) e SIAM II (Santos & Miranda 2006). 

Segundo os resultados obtidos por este projecto, Portugal demonstra já alguns indícios 

de  alterações  nos  seus  padrões  climáticos,  tanto  no  que  respeita  à  temperatura  como  à 

precipitação. 

  Assim, os registos de  temperatura mostram que desde o ano de 1975 se verifica um 

aumento na temperatura média, seja na mínima, seja na máxima  (Figura 4). Este aumento é 

concordante com as tendências observadas a nível global e consistente, sendo observado quer 

na análise à temperatura média para Portugal, quer ao nível de estações individuais (Santos & 

Miranda 2006). 

Quanto à evolução da precipitação nos últimos anos, existe uma diminuição global da 

precipitação  para  Portugal  Continental.  Esta  tendência  de  diminuição  observada  apresenta 

variações sazonais, sendo que são os meses de Inverno e Primavera que parecem apresentar 

 

 9

uma maior diminuição da precipitação (Santos & Miranda 2006). Este facto é observado tanto 

na análise mensal (Figura 5) como na análise trimestral (Figura 6). 

Ainda  no  que  respeita  à  avaliação  das  tendências  de  precipitação,  Costa  e  Soares 

(2009) realizaram uma análise às tendências extremas de precipitação para o Sul de Portugal 

(durante o período de 1955 a 1999) onde se encontram as áreas de  intervenção do Projecto 

LIFE Estepárias. Este  trabalho demonstra a existência de variações na precipitação, quer em 

quantidade (menor precipitação) quer na duração (maior número de dias secos). De salientar 

ainda a existência de um aumento significativo do período de seca (número de dias secos) em 

Castro Verde, área onde se encontram importantes núcleos populacionais das espécies visadas 

pelo projecto LIFE Estepárias. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Figura 4 –Evolução da temperatura média mínima (curva inferior, eixo esquerdo) e máxima (curva superior, eixo direito) para Portugal continental durante o período de 1930 a 2002. Sobrepostas estão  linhas de tendência para os períodos propostos por Karl et al. 2000. Retirado de Santos & Miranda 2006.  

 

 

 

 

 

Figura 5 – Diferenças na precipitação média mensal entre as normais climáticas de 1971 a 2000 e 1941 a 1970. Retirado de Santos & Miranda 2006.  

 

 10

Previsõesdealteraçõesclimáticasglobais 

O último  relatório do  IPCC  sobre o estado das alterações climáticas a nível global apresenta 

também previsões,  até  ao  ano de 2100, para  a  evolução das  alterações  climáticas  segundo 

diferentes cenários (Solomon et al. 2007). Sendo a concentração de dióxido de carbono (CO2) 

na  atmosfera  um  dos  principais  factores  a  influenciar  o  clima,  as  previsões  apresentadas 

baseiam‐se  em  três  de  seis  possíveis  cenários  de  emissões  de  dióxido  de  carbono 

apresentados por Nakićenović & Swart (2000): altas (cenário A2), médias‐altas (cenário A1B) e 

médias‐baixas (cenário B2). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Figura 6 – Evolução dos  valores de precipitação de Portugal Continental entre 1931 e 2002 para os  trimestres compreendidos entre Dezembro e Fevereiro  (DJF), Março a Maio  (MAM), Junho a Agosto (JJA) e Setembro a Novembro (SON). A  linha a tracejado  indica o valor médio entre 1931 e 2002 para o trimestre analisado. Retirado de Santos & Miranda 2006.  

  Segundo  os  resultados  das  previsões  obtidos  para  os  cenários  avaliados  e  para  os 

diferentes modelos utilizados, podemos esperar de uma  forma geral um aumento global da 

temperatura  e da  precipitação  (Solomon  et  al.  2007).  Existem  no  entanto  variações  a nível 

continental e regional nos valores obtidos pelas previsões, quer no que respeita à temperatura 

(Figura 7), quer à precipitação (Figura 8). 

 

 11

Para a Europa, e concretamente para a região da Bacia do Mediterrâneo, as previsões 

analisadas pelo  IPCC apontam para um aumento da  temperatura entre os 2 e os 5oC e uma 

diminuição da precipitação de cerca de 0,4 mm dia‐1 até 2099. Por tudo  isto, esta região será 

uma  das  potencialmente  mais  afectadas  na  Europa,  consistindo  os  potenciais  efeitos  das 

alterações climáticas numa  redução da disponibilidade de água, no aumento da  seca e a na 

existência de perdas severas de biodiversidade (Alcamo et al. 2007). 

No entanto, os dados climáticos mais  recentes apontam para uma subestimação por 

parte das previsões do  IPCC no que  respeita às variações da  temperatura, visto que  se  tem 

observado nos últimos anos um aquecimento mais acelerado do que o esperado para a Bacia 

do Mediterrâneo,  incluindo  a  Península  Ibérica  (Van  Oldenborgh  et  al.  2009).  Estes  dados 

reforçam  a  ideia  de  que  a  região  do Mediterrâneo  será  uma  das  áreas mais  afectadas  da 

Europa pelas alterações climáticas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Figura  7  – Média multi‐modelo  da média  anual  do  aquecimento  à  superfície  (variação  na temperatura do ar à superfície, oC) para os cenários B1 (topo), A1B (centro) e A2 (base) e para três períodos temporais, 2011 a 2030 (esquerda), 2046 a 2065 (centro) e 2080 a 2099 (direita). As variações na temperatura são consideradas em relação à média observada no período de 1980 a 1999. Retirado de Solomon et al. 2007.  

 

 12

 

 

 

 

 

 

 

 

  Figura 8 – Variações médias multi‐modelo na precipitação média  (mm dia–1) para o  cenário A1B para o período de 2080 a 2099,  relativas à média de 1980 a 1999. Regiões a ponteado indicam  uma  consistência  de  80%  nas  alterações  previstas  pelos  modelos.  Retirado  de Solomon et al. 2007. 

PrevisõesdealteraçõesclimáticasemPortugal 

A região da Bacia do Mediterrâneo é, como  já  foi referido, e segundo as previsões, uma das 

zonas potencialmente mais afectadas pelas alterações climáticas. Neste panorama, a Península 

Ibérica, e Portugal em particular, não são excepção. 

  As previsões de variação da  temperatura para a Península  Ibérica compreendem um 

aumento da temperatura que varia entre os 2 e os 8.5oC, de acordo com o modelo e cenário 

de emissões utilizado (Figura 9). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 9 – Previsão da anomalia da temperatura média para a Península Ibérica em relação á média  climática  de  1980  a  1999,  segundo  os modelos  e  cenários  climáticos  apresentados. Retirado de Santos & Miranda 2006. 

 

 13

 

No que respeita à precipitação, as previsões foram efectuadas de forma separada para 

as  zonas  este  e  oeste  da  Península  Ibérica.  Deste  modo,  tendo  em  conta  as  previsões 

apontadas para o Oeste da Península  Ibérica e os pontos  considerados em Portugal  (Norte, 

Centro  e  Sul)  as previsões  apontam para uma diminuição  geral da precipitação,  sendo  esta 

mais acentuada no Centro do país (Figura 10). Estes dados estão de acordo com a previsão da 

redução geral da precipitação média em toda a Península Ibérica (Pérez & Boscolo, 2010). 

Quanto às alterações previstas para Portugal Continental em particular, as primeiras 

previsões,  efectuadas  com  o  modelo  regional  HadRM  GGa2  (Figuras  11  e  12)  mostram 

elevadas variações quer para a temperatura mínima, quer para a máxima (Santos et al. 2002). 

Nas áreas abrangidas por este projecto, as maiores alterações dar‐se‐ão durante o Verão, com 

a  temperatura mínima  a  aumentar  entre 5.5o  e  a máxima  a  aumentar  entre 7.5  e 8.5o. No 

entanto, segundo o trabalho mais recente de Santos e Miranda (2006), utilizando um modelo 

de previsão climática regional mais actual (HadRM3) prevê‐se na mesma um aumento geral da 

temperatura que, apesar de menor amplitude, não será menos significativo. Efectivamente, as 

previsões mais recentes apontam para uma subida média da temperatura mínima entre 1,5 a 

3oC no  Inverno e de 2 a 5,5oC no Verão, com base nos cenários de emissões utilizados  (A2 e 

B2). Quanto à temperatura máxima, os modelos indicam uma subida média de 1,5 a 3,5oC no 

Inverno e 6 a 7oC no Verão, segundo os mesmos cenários de emissões. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 10 – Previsão da anomalia da precipitação média para a Península Ibérica em relação à média climática de 1980 a 1999 para o período de 2070 a 2099. Retirado de Santos & Miranda 2006. Os diferentes pontos representam as previsões obtidas segundo os modelos e cenários climáticos apresentados. 

 

 14

 

 

Figura 11 – Previsão da anomalia da temperatura mínima média para Portugal Continental em relação à média climática de 1961 a 1990 para o período de 2080 a 2100. Previsão efectuada com o modelo HadRM2 GGa2 para os trimestres de Dezembro, Janeiro e Fevereiro (a), Março, Abril e Maio (b), Junho, Julho e Agosto (c) e Setembro, Outubro e Novembro (d). Retirado de Santos et al. 2002. 

 

Figura 12 – Previsão da anomalia da temperatura máxima média para Portugal Continental em relação à média climática de 1961 a 1990 para o período de 2080 a 2100. Previsão efectuada com o modelo HadRM2 GGa2 para os trimestres de Dezembro, Janeiro e Fevereiro (a), Março, Abril e Maio (b), Junho, Julho e Agosto (c) e Setembro, Outubro e Novembro (d). Retirado de Santos et al. 2002.  

As previsões referentes à precipitação apontam para uma redução da média anual que pode ir 

até aos 50%, dependendo da zona do país (Figura 13). Esta redução geral da precipitação está, 

no entanto,  sujeita  a  variações  sazonais,  sendo particularmente  acentuada nos períodos de 

Primavera e Verão, como pode ser observado na Figura 14 (Santos & Miranda 2006). 

 

 15

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 13 – Previsão da variação da precipitação média anual em Portugal Continental para o período de 2070  a 2099,  com base na média  climática de 1980  a 1999,  segundo o modelo HadRM3. Retirado de Santos & Miranda 2006.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 14 – Previsão da variação da precipitação média em Portugal Continental nos meses de Inverno (em cima à esquerda), Primavera (em cima à direita), Verão (em baixo à esquerda) e Outono  (em baixo à direita)  respectivamente, para o período de 2070 a 2099, com base na média climática de 1980 a 1999, segundo o modelo HadRM3. Retirado de Santos & Miranda 2006. 

 

 16

 

Impactosesperadosdasalteraçõesclimáticasnasavesestepárias 

A alteração nos padrões actuais do clima é,  já hoje, uma realidade que se deverá  intensificar 

nos próximos anos com  consequências para as populações de aves estepárias. Os principais 

processos  através  dos  quais  se  podem  dar  esses  impactos  estão  resumidos  na  Figura  13. 

Podemos  então  considerar  existirem  três  processos  principais,  com  efeitos  directos  e 

indirectos nas populações das aves: 

 

(i) Efeitos na biologia e ecologia das espécies – incluem os efeitos directos das alterações 

do  clima na distribuição,  fisiologia,  fenologia  e  comportamento das  espécies de  aves. 

Nesta categoria incluem‐se efeitos que vão desde a alteração da distribuição geográfica 

das  espécies  numa  escala  alargada  até  a  alterações  na  época  de  reprodução  ou 

migração, alterações comportamentais e fisiológicas; 

 

(ii) Efeitos nos recursos – de uma forma simplificada, consideram‐se três tipos principais 

de recursos: a disponibilidade de habitats, a estrutura da vegetação (que está também 

associada aos habitats mas pode variar dentro de um mesmo habitat) e a quantidade de 

recursos tróficos. O impacto das alterações climáticas sobre os recursos vai afectar, por 

sua  vez,  a  biologia  e  ecologia  das  espécies,  e  determinar  as  suas  tendências 

demográficas; 

 

(iii)  Efeitos  na  gestão  humana  –  numa  paisagem  humanizada  como  as  estepes 

cerealíferas, é expectável um  impacto directo das alterações climáticas  sobre políticas 

agrícolas  e decisões dos  agricultores.  Este  é um processo  com  fortes  implicações nos 

recursos disponíveis para as aves e, consequentemente, na dinâmica populacional; 

 

Da  análise  da  Figura  15  resulta  também  óbvio  que,  no  contexto  de  um  projecto  de 

conservação  como  este  projecto  LIFE,  o  único  processo  onde  pode  haver  uma  intervenção 

eficaz para minimizar os impactos das alterações climáticas é através da intervenção na gestão 

 

 17

Alterações climáticas

‐ Alteração nos padrões de temperatura e precipitação ‐ Frequência e intensidade de eventos extremos (calor, frio, seca, etc.) 

Efeitos na 

biologia  

‐ Distribuição ‐ Fenologia ‐ Fisiologia ‐ Comportamento 

Efeitos nos recursos 

 ‐ Disponibilidade de habitat ‐ Estrutura da vegetação ‐ Disponibilidade de recursos tróficos 

Efeitos na gestão humana 

 ‐ Práticas agrícolas e de gestão 

 

humana, de  forma directa  (acções de gestão de habitat) ou  indirecta  (promoção de políticas 

agrícolas favoráveis à conservação das espécies). 

  Em  seguida,  é  analisada  a  informação  científica  existente  que  nos  permita  tirar 

elacções sobre os potenciais efeitos directos e indirectos das alterações climáticas na avifauna 

estepária,  com  especial  ênfase  para  as  três  espécies‐alvo  do  Projecto  LIFE  Estepárias  – 

Abetarda,  Sisão  e  Peneireiro‐das‐Torres.  Para  esse  efeito  foi  efectuada  uma  revisão 

bibliográfica das publicações científicas existentes sobre as espécies‐alvo do presente projecto 

LIFE  (Anexo  I).  Foi  com  base  na  revisão  desta  bibliografia,  com  destaque  para  os  trabalhos 

realizados  no  Sul  de  Portugal,  que  foram  avaliados  os  potenciais  impactos  das  alterações 

climáticas nas populações das três espécies, no que diz respeito aos efeitos na sua biologia e 

ecologia, bem como na disponibilidade  recursos. Esta análise será efectuada separadamente 

para cada uma das espécies, em 3 secções diferentes:  (i)  influência das alterações climáticas 

nos  padrões  geográficos  de  distribuição,  (ii)  efeitos  na  biologia,  (iii)  efeitos  nos  recursos. 

Posteriormente  serão  sugeridas  medidas  de  gestão  para  minimizar  os  impactos  nas 

populações destas espécies. 

  Figura 15 – Principais processos através dos quais se podem verificar os efeitos das alterações climáticas nas populações de aves estepárias.  

 

 18

Efeitosdasalteraçõesclimáticasnadistribuiçãogeográficadasespécies‐alvonofuturo 

Com a alteração das  condições  climáticas nas áreas de distribuição das diferentes espécies, 

prevê‐se  que  exista  nas  espécies  com  capacidade  de  migração,  a  modificação  da  sua 

distribuição  para  zonas  climáticamente  “adequadas”.  No  caso  das  aves,  a  sua mobilidade 

permitirá, na maioria dos casos, que as aves alterem a sua distribuição, migrando para novas 

áreas. Deste modo, a previsão da distribuição futura das espécies de aves é uma ferramenta 

essencial no sentido de perceber o potencial impacto das alterações climáticas na avifauna. 

No  ano  de  2007  foi  publicado  o  Atlas  Climático  das  Aves  Nidificantes  na  Europa 

(Huntley  et  al.  2007).  Este  trabalho  modelou  a  distribuição  futura  das  espécies  de  aves 

nidificantes  na  Europa  utilizando  dados  exclusivamente  climáticos  (temperatura  e 

precipitação). Para  isso, utilizaram um cenário de alterações climáticas “intermédio” (modelo 

B2 HadCM3), de forma a prever a distribuição das espécies no final do século XXI (2070‐2099). 

Deste modo, este trabalho engloba também previsões para as três espécies‐alvo do projecto 

LIFE  Estepárias  (Abetarda,  Sisão  e  Peneireiro‐das‐torres),  para  as  quais  encontramos  dois 

cenários bastante distintos. 

Para  a  Abetarda  e  Sisão,  as  previsões  efectuadas  apontam  para  uma  redução  e 

simultânea deslocação significativa das suas áreas de distribuição, quer de uma forma global a 

nível Europeu, quer concretamente para o nosso país, como podemos observar nas Figuras 16 

e 17. 

Figura 16 – Distribuição actual  (esquerda) e projecção da distribuição  futura  (direita) para a Abetarda (Otis tarda). R=0.34; O=0.05 (R – Proporção entre a extensão da distribuição futura e a extensão da distribuição actual; O – Proporção da sobreposição entre a distribuição futura e a distribuição actual). Retirado de Huntley et al. 2007. 

 

 19

 

Figura 17 – Distribuição actual (esquerda) e projecção da distribuição futura (direita) para o 

Sisão (Tetrax tetrax). R=0.61; O=0.14 (R – Proporção entre a extensão da distribuição futura e a 

extensão da distribuição actual; O – Proporção da sobreposição entre a distribuição futura e a 

distribuição actual). Retirado de Huntley et al. 2007. 

 

No caso do Peneireiro‐das‐torres e segundo as previsões, a tendência será para um aumento 

da sua área de distribuição, tanto a nível europeu como a nível nacional, existindo de  forma 

geral uma sobreposição entre a área de distribuição actual e a área de distribuição projectada 

para o futuro (Figura 18). 

 

Figura 18 – Distribuição actual (esquerda) e projecção da distribuição futura (direita) para o 

Peneireiro‐das‐torres (Falco naumanni). R=1.49; O=0.70 (R – Proporção entre a extensão da 

distribuição futura e a extensão da distribuição actual; O – Proporção da sobreposição entre a 

distribuição futura e a distribuição actual). Retirado de Huntley et al. 2007. 

 

 20

 

  Estas  projecções  levantam  questões  de  fundo,  no  que  diz  respeito  à  estratégia  de 

conservação das populações destas aves estepárias. A confirmarem‐se estes cenários, a região 

do Baixo Alentejo poderá  tornar‐se  totalmente  inadequada, de um ponto de vista climático, 

para  duas  das  três  espécies‐alvo  deste  projecto:  a  abetarda  e  o  sisão.  A  primeira  espécie 

poderá mesmo extinguir‐se no país, enquanto as áreas climaticamente apropriadas para sisão 

se  localizarão  no  centro  e  norte  de  Portugal.  Em  contrapartida,  no  caso  do  peneireiro‐das‐

torres, poder‐se‐ia esperar uma expansão da área de distribuição no sul e centro do país, caso 

exista habitat adequado. 

Há, no entanto, que salientar que estas estimativas são baseadas exclusivamente em 

dados climáticos, e não na disponibilidade de habitats adequados às espécies. As  implicações 

deste  facto  são que as espécies podem não  ter a  capacidade de efectivamente migrar para 

novas  áreas  geográficas  se nestas não  existir habitat onde  se possam  instalar. De qualquer 

forma,  do  ponto  de  vista  dos  objectivos  deste  projecto  LIFE,  as  alterações  climáticas  não 

favorecem as perspectivas de conservação de abetarda e sisão. 

De salientar  também as  reduções e alterações previstas nas áreas de distribuição de 

outras  espécies  estepárias  como  são  o  caso  do  Alcaravão  –  Burhinus  oedicnemus  (R=0.90; 

O=0.31), Cortiçol‐de‐barriga‐preta – Pterocles orientalis (R=0.81; O=0.14) e Rolieiro – Coracias 

garrulus (R=0.88, O=0.41). 

 

Efeitosdasalteraçõesclimáticasnabiologiadasespécies‐alvo 

As  condições  climáticas  são  um  dos  factores  naturais  com  a  capacidade  de  influenciar  o 

efectivo populacional de uma espécie. O grupo das aves, apesar de apresentar características 

como  elevada  mobilidade  e  capacidade  de  regulação  da  temperatura  corporal,  não  é 

excepção. Com efeito, é sabido o efeito de determinadas alterações do clima nas populações 

de aves,  como por exemplo períodos prolongados de  clima adverso ou episódios  climáticos 

extremos (Newton 1998, Pendlebury et al. 2004, Jiguet et al. 2006, Robinson et al. 2007).  

  Se, de uma forma geral, em  latitudes mais a norte a temperatura é o factor que mais 

influencia as populações de aves, nas zonas mais a sul é a precipitação que, condicionando a 

disponibilidade  de  água,  representa  o  factor  dominante  (Newton  1998).  Tendo  em 

consideração que as previsões climáticas para a região da Bacia do Mediterrâneo, sustentam 

 

 21

um aumento da temperatura e uma diminuição da precipitação, é expectável que se verifique 

um efeito negativo destas alterações nas populações de aves. 

  No  que  diz  respeito  à  comunidade  de  aves  estepárias,  é  sabido  que  o  clima, 

nomeadamente  a  precipitação,  pode  influenciar  a  sua  densidade. Os  níveis  de  precipitação 

durante  o  período  pré‐reprodutor  (Inverno  e  início  da  Primavera)  parecem  influenciar  a 

densidade de aves estepárias durante o período reprodutor, facto que estará provavelmente 

associado a uma simplificação estrutural do habitat, devido a um menor desenvolvimento da 

vegetação em anos mais secos (De Juana & Garcia 2005).  

   Para além dos efeitos do  clima na generalidade da  comunidade de aves estepárias, 

existe  já  algum  conhecimento  dos  efeitos  do  clima  para  algumas  espécies  em  particular. 

Efectivamente,  as  três  espécies‐alvo  do  projecto  foram  já  alvo  de  trabalhos  que  procuram 

relacionar diferentes aspectos da sua biologia com as condições climáticas. 

 

Abetarda–OtistardaA precipitação parece ser um dos parâmetros do clima com uma  forte  influência na biologia 

desta espécie. 

A produtividade da Abetarda  (no de crias por  fêmea) apresenta uma  relação positiva 

com  a  precipitação  durante  o  período  pré‐reprodutor  (Outubro  a  Março).  Esta  situação 

prende‐se com a relação positiva entre a precipitação e produtividade vegetal levando a (i) um 

aumento da disponibilidade de artrópodes durante o período de crescimento das crias e a (ii) 

uma  melhor  condição  das  fêmeas  (uma  vez  que  se  alimentam  de  matéria  vegetal)  que 

resultará  num  aumento  do  número  de  fêmeas  reprodutoras,  tamanho  das  posturas  e 

viabilidade das mesmas. No entanto, a relação é a inversa considerando a precipitação durante 

a época de eclosão dos ovos, sendo que quanto maior o número de dias de chuva durante esta 

fase,  menor  a  produtividade.  Este  facto  deve‐se,  provavelmente,  à  baixa  capacidade  de 

termoregulação das crias (Morales et al. 2002). 

De referir também que aproximações de modelação à selecção de habitat da Abetarda 

em  Espanha  (Suárez‐Seoanne  et  al.  2004)  demonstram  que  esta  espécie  parece  selecionar 

áreas  com maiores  valores  de  precipitação  e  valores  reduzidos  de  evapotranspiração  (que 

depende de variáveis climáticas como precipitação e radiação, sendo que valores mais baixos 

indicam solos mais húmidos). 

 

 22

A análise comparada destes resultados com a evolução observada da precipitação no 

país nas últimas décadas  (ver Figura 5),  sugere um cenário pessimista para esta espécie. De 

facto, a tendência para menos chuva nos meses que antecedem o período reprodutor (Janeiro 

a Março)  e  o  aumento  (ligeiro)  observado  no  período  Abril  a  Julho  dos  últimos  30  anos, 

quando  comparados  com  o  período  anterior,  poderão  ter  tido  um  impacto  negativo  na 

produtividade da abetarda. As projecções, que apontam para uma continuação da diminuição 

da precipitação  (Figura 14),  sugerem um agravamento deste  impacto potencial, assim como  

uma potencial diminuição da qualidade do habitat para esta espécie.  

  Adicionalmente,  também  a  temperatura  influi  na  biologia  desta  espécie, 

especificamente  no  comportamento migratório  dos machos  após  a  época  de  reprodução. 

Findo o período  reprodutor,  e  ao  contrário das  fêmeas que,  normalmente,  se mantêm nas 

áreas  de  reprodução  para  nidificar,  os machos  tendem  a migrar  para  outras  áreas  logo  de 

seguida. Este comportamento, assim como a  selecção da área onde permanecem durante o 

Verão, parecem ser influenciados pela temperatura (Alonso et al. 2009). 

Os machos que se reproduzem em áreas mais quentes, de acordo com a temperatura 

do  mês  de  Julho,  apresentam  uma  maior  tendência  para  migrar  do  que  machos  que  se 

reproduzem  em  zonas mais  amenas.  Simultaneamente,  os machos  que  se  reproduzem  em 

áreas com  temperaturas mais elevadas durante o mês de  Julho  tendem a migrar uma maior 

distância do que machos que se reproduzem em zonas mais temperadas. Este comportamento 

é  explicado  pelos  autores  como  uma  possível  adaptação  de  forma  a  reduzir  os  custos 

energéticos com  regulação  térmica. No entanto, os  resultados que apresentam não excluem 

também a hipótese que este comportamento esteja relacionado com a procura de áreas com 

maior  abundância  de  alimento.  Estes  resultados  sugerem  que,  com  a  tendência  para  o 

aumento  da  temperatura,  os machos  de  abetarda  do  Baixo  Alentejo  efectuarão migrações 

mais frequentes e de maior amplitude. Esta situação não só  implicará um esforço energético 

adicional  para  as  aves,  como  poderá  também  resultar  num  aumento  de  outros  efeitos 

negativos  como  é  o  caso  da  colisão  com  linhas  eléctricas  uma  vez  que,  se  se  verificar  um 

aumento da  frequência  e distância  de migração desta  espécie,  também  a probabilidade  de 

colisão com linhas transmissão eléctrica aumentará. 

Quanto  à  selecção da  área de Verão, os machos de Abetarda que  tendem  a migrar 

parecem seleccionar áreas que apresentam não só um maior valor de precipitação em relação 

às áreas de reprodução, mas também áreas como plantações de girassol ou com presença de 

árvores,  que  providenciam  uma  maior  disponibilidade  de  sombra  e  protecção  contra 

 

 23

predadores (Palacín 2007, Alonso et al. 2009), facto que contrasta com a selecção de habitat 

durante a época de reprodução (Lane et al. 2001, Rocha 2006). No entanto, a preferência das 

Abetardas  presentes  numa  das  áreas  de  intervenção  deste  projecto  durante  o  Verão  não 

reflecte totalmente a mesma preferência descrita anteriormente para os machos migradores, 

particularmente  no  que  diz  respeito  à  utilização  de  áreas  com  presença  de  árvores  (Rocha 

2006).  Os  resultados  obtidos  em  Espanha,  relativamente  à  precipitação,  sugerem  que  a 

adequabilidade  das  áreas  tradicionais  de  veraneio  poderá  diminuir  com  a  diminuição  da 

precipitação. 

Ainda no que  respeita à  influência da  temperatura na  reprodução da Abetarda, esta 

parece  também  influenciar no comportamento de display dos machos. Hidalgo de Trucios e 

Carranza  (1991)  afirmam  que  temperaturas muito  elevadas  podem  aumentar  os  gastos  de 

energia  associados  com  esta  actividade  e  torná‐la  menos  eficiente  devido  a  um  menor 

movimento  das  fêmeas  nestas  condições.  Desta  forma,  o  futuro  aumento  da  temperatura 

devido  às  alterações  climáticas  poderá  também  afectar  o  comportamento  reprodutor  dos 

machos de Abetarda. 

   

Sisão–TetraxtetraxNo caso do Sisão, os factores climáticos parecem ter alguma influência na selecção do habitat. 

As  tentativas  de  modelar  a  distribuição  desta  espécie  em  Espanha  mostram  que  a 

incorporação de dados climáticos, nomeadamente de precipitação e evapotranspiração, leva a 

uma melhoria estatística dos modelos,  indicando que o clima pode ser um  importante factor 

na  selecção  de  habitat  para  esta  espécie  (Suárez‐Seoanne  et  al.  2004).  Neste  trabalho, 

variáveis de qualidade do habitat  (foram utilizados diferentes  índices de NDVI – Normalized 

Difference  Vegetation  Index)  foram  excluídas  do modelo  em  favor  de  variáveis  climáticas, 

sendo que esta espécie demonstra uma elevada selecção por áreas de solo húmido durante o 

Verão (elevada precipitação e baixa evapotranspiração). 

Estudos recentes na região de Madrid e Castro Verde (Delgado et al. 2009, Delgado & 

Moreira  2010)  mostram  que  a  precipitação  durante  o  período  pré‐reprodutor  influencia 

positivamente  a  densidade  de  machos  de  Sisão  durante  o  período  reprodutor.  Sendo 

conhecido que a precipitação é um factor importante na produtividade de populações de aves 

(Newton 1998), estes autores demonstram que a precipitação tem particular importância para 

o Sisão uma vez que a  influência desta nas populações desta espécie  se  regista mesmo em 

 

 24

áreas com elevada disponibilidade de habitat adequado. Os autores sugerem que  índices de 

precipitação  elevados  terão  um  efeito  positivo  quer  na  qualidade  do  habitat  (através  da 

estrutura da vegetação) quer na disponibilidade de alimento (maior disponibilidade de matéria 

vegetal  e  de  artrópodes),  promovendo  e  suportando  maiores  densidades  de  machos 

reprodutores. 

  Assim,  e  tal  como  para  a  Abetarda,  a  análise  dos  resultados  anteriormente 

apresentados em comparação com a evolução observada da precipitação no país nas últimas 

décadas  (ver  Figura  5),  sugere  que  as  recentes  alterações  do  clima  poderão  ter  tido  um 

impacto negativo na produtividade do Sisão. Da mesma forma, as previsões que apontam para 

uma  diminuição  da  precipitação  no  nosso  país  (Figura  14)  sugerem  um  agravamento  deste 

impacto potencial e uma potencial diminuição da qualidade do habitat para esta espécie, o 

que acabará por condicionar a sua selecção de habitat.  

É de salientar, ainda, que o estudo de Delgado & Moreira (2010) foi efectuado na área 

de  intervenção  deste  projecto,  demonstrando  que  os  impactos  das  alterações  climáticas, 

nomeadamente na precipitação,  já se fazem sentir e podem afectar de forma significativa as 

populações de Sisão alvo deste projecto. 

 

Peneireiro‐das‐torres–FalconaumanniConsiderando que o Peneireiro‐das‐torres é uma espécie migradora, a distribuição de colónias 

durante o período estival é influenciada por factores como a disponibilidade de estruturas de 

nidificação e a presença de habitat adequado à espécie, mas também o clima parece ser um 

factor importante. Com efeito, as tentativas de modelar a distribuição desta espécie no Sul de 

Espanha mostram que a precipitação é um  factor que está positivamente relacionado com a 

presença da espécie e a persistência de colónias (Bustamante 1997). Apesar de a precipitação 

não apresentar uma relação directa com estes dois factores, ela está positivamente associada 

com  presença  e  sobrevivência  das  colónias  quando  considerada  em  conjunto  com  factores 

como o uso do solo. 

Este facto poderá estar relacionado com as indicações que demonstram que os índices 

de  precipitação  durante  o  final  do  Inverno  e  Primavera  são  um  bom  preditor  do  sucesso 

reprodutor desta espécie (Rodriguez & Bustamante 2003). Efectivamente, os autores mostram 

que a existência de Invernos e Primaveras secas têm um impacto negativo nos três parâmetros 

reprodutores que  analisaram:  taxa de ocupação da  colónia,  taxa de  sucesso das posturas e 

 

 25

número médio de  crias por ninho. Esta  relação estará provavelmente associada à  influência 

positiva  que  a  precipitação  tem  no  desenvolvimento  da  vegetação  e  consequente 

disponibilidade de alimento (vegetação mais desenvolvida  levará a uma maior abundância de 

artrópodes). No entanto, e apesar de um aumento da precipitação beneficiar de forma geral o 

sucesso  reprodutor do Peneireiro‐das‐torres, os autores afirmam que existe uma diminuição 

da taxa de ocupação dos ninhos se a precipitação durante o período de corte for superior a 84 

mm. 

Finalmente,  também  a  temperatura  influencia  o  sucesso  reprodutor  desta  espécie, 

através  da  sobrevivência  das  crias. Um  estudo  realizado  recentemente  numa  das  áreas  de 

intervenção deste projecto demonstra que a existência de extremos de temperatura elevados 

durante  o  período  de  desenvolvimento  das  crias  tem  uma  grande  influência  no  seu 

desenvolvimento e pode inclusivamente levar à mortalidade das crias por desidratação (Catry 

et al. 2010). 

Como resultado destas evidências científicas, e considerando os cenários de previsão 

climática  nas  áreas  de  intervenção  do  projecto,  podemos  esperar  que  as  populações  de 

Peneireiro‐das‐torres  destas  áreas  respondam  da  seguinte  forma  à  diminuição  esperada  da 

precipitação e ao aumento da temperatura: (i) diminuição da probabilidade de ocorrência da 

espécie; (ii) diminuição do sucesso reprodutor. 

 

Efeitosdasalteraçõesclimáticasnosrecursosdasavesestepárias 

O  clima,  para  além  de  influênciar  directamente  a  biologia  das  aves  estepárias,  terá 

potencialmente  um  efeito  indirecto,  também,  através  da  sua  influência  no  habitat  e  nos 

recursos dos quais estas aves dependem. Deste modo, a influência das alterações do clima na 

vegetação, nomeadamente na vegetação herbácea, nas políticas agrícolas e na comunidade de 

artrópodes,  que  representam  um  importante  recurso  alimentar,  serão  factores  que 

potencialmente afectarão esta comunidade de aves. 

 

 

 

 

 

 26

Influênciadoclimanavegetação 

Do ponto de vista ecológico, o clima é visto como um factor de controlo da vegetação (Smith & 

Smith  2008)  e  é  sabido  que  alterações  a  longo  prazo  em  elementos  como  a  temperatura, 

precipitação  e  a  concentração de CO2  atmosférico,  entre outros, poderão  alterar processos 

como a  fotossíntese,  respiração,  reprodução e disponibilidade de nutrientes,  resultando em 

alterações na diversidade e estrutura da vegetação (Bonan 2002). 

As  aves  estepárias  apresentam  requisitos  ambientais  muito  específicos,  e  que  se 

centram sobretudo na diversidade de culturas disponíveis e na estrutura da vegetação que as 

compõem, variando de acordo com a espécie e a  fase do ciclo anual, e dependendo da  sua 

utilização  como  área  de  reprodução,  nidificação  e  alimentação. Assim  sendo,  é  importante 

perceber quais são as potenciais alterações na vegetação, nomeadamente na utilizada pelas 

espécies estepárias  (vegetação herbácea,  cereais,  leguminosas), que  resultarão da alteração 

do  clima, quer de  forma directa, quer através da gestão humana em  resposta às alterações 

climáticas. Esta última dependerá, em grande medida, das políticas agrícolas promovidas. 

Investigação direccionada no sentido de perceber os potenciais efeitos das alterações 

climáticas  na  vegetação  Mediterrânica  permitiu  já  identificar  alterações  na  biologia  deste 

grupo,  provocadas  por mudanças  na  temperatura  e  disponibilidade  de  água,  derivadas  das 

alterações climáticas e das mudanças na concentração de CO2 (Gordo & Sanz 2005). 

Considerando  especificamente  os  efeitos  do  clima  na  vegetação  herbácea,  estes 

dependem  da  amplitude  e  frequência  das  alterações.  O  clima  Mediterrânico  apresenta 

tradicionalmente uma grande variabilidade anual (Lázaro et al. 2001), nomeadamente no que 

respeita à precipitação, à qual as espécies anuais estão adaptadas. Estas adaptações poderão 

conferir‐lhes  alguma  resistência  e diminuir os  efeitos das  alterações no  clima  (Lázaro  et  al. 

2001). No entanto, alterações de grande amplitude (como as que estão previstas para a região 

do Mediterrâneo), como o aumento significativo da temperatura, a diminuição da precipitação 

(acima dos 30%) e o aumento do número de eventos extremos, poderão  ter  consequências 

bastante acentuadas na vegetação herbácea. 

No  que  respeita  aos  potenciais  impactos  da  alteração  do  clima  nas  culturas 

cerealíferas,  os  estudos  já  efectuados  prevêem,  de  uma  forma  geral,  uma  diminuição 

acentuada  na  produtividade  da  generalidade  dessas  culturas  no  Sul  da  Europa, 

particularmente  na  região  Mediterrânica  (Rosenweig  &  Hillel  1998,  Olesen  &  Bindi  2002, 

Giannakopoulos et al. 2005, Audsley et al. 2006, Alcamo et al. 2007). 

 

 27

Este  é  também  o  panorama  previsto  por  alguns  trabalhos  focados  em  Portugal, 

particularmente no que respeita à produção cerealífera no centro e sul do país, derivado do 

aumento stress hídrico devido às previsões de diminuição acentuada da precipitação (Brandão 

2006,  Santos  &  Miranda  2006).  Esta  diminuição  da  produção  poderá,  no  entanto,  ser 

minimizada com uma antecipação do calendário de cultivo, permitindo melhorar os níveis de 

produção,  mas  potencialmente  enfatizando  outros  conflitos,  como  por  exemplo,  entre  a 

colheita do cereal e a fenologia reprodutora das aves estepárias. 

Da mesma forma, as previsões indicam que a produção de leguminosas será, também, 

afectada  pelos  efeitos  das  alterações  climáticas,  prevendo‐se  uma  diminuição  da  sua 

produtividade no sul da Europa, nomeadamente no Mediterrâneo (Rosenzweig & Hillel 1998, 

Giannakopoulos et al. 2005). 

Deste modo, a confirmarem‐se as previsões para o Sul da Península  Ibérica, verificar‐

se‐á uma diminuição da diversidade, produtividade, biomassa e recrutamento, resultando na 

alteração  da  estrutura,  fenologia  e,  em  casos  mais  extremos,  na  tipologia  da  vegetação 

(Rosenweig & Hillel 1998, Cheddadi et al. 2001, Olesen & Bindi 2002, Peñuelas et al. 2004, 

Giannakopoulos et al. 2005, Audsley et al. 2006, Alcamo et al. 2007, Mannetje 2007, Miranda 

et al. 2009a, Miranda et al. 2009b). Para melhor perceber como as alterações na vegetação 

poderão  afectar  as  três  espécies  em  foco,  analisamos  de  seguida  a  sua  relação  com  a 

vegetação. 

 

Abetarda–Otistarda 

A Abetarda alimenta‐se preferencialmente de matéria vegetal verde, durante grande parte do 

ciclo  anual  (BWP,  Lane et  al. 1999, Caballero 2002, Rocha 2006). Desta  forma,  a  vegetação 

constitui um  recurso alimentar  importante para esta espécie. A confirmarem‐se as previsões 

de  alteração  do  clima,  poderá  verificar‐se  uma  diminuição  da  qualidade  e  quantidade  de 

matéria  vegetal  disponível  como  recurso  alimentar  para  esta  espécie,  afectando  a  sua 

sobrevivência. 

Adicionalmente, a Abetarda é uma espécie que nidifica no solo  (BWP 2006) e, como 

tal, a  selecção do  local de nidificação está em grande parte  relacionada  com a estrutura da 

vegetação,  devendo  permitir  um  balanço  entre  camuflagem  e  visibilidade  (Magaña  et  al. 

2010).  Desta  forma,  a  Abetarda  selecciona  preferencialmente  pousios  desenvolvidos  para 

 

 28

nidificar, assim como  searas em áreas onde estas  são mais esparsas e menos desenvolvidas 

(Morgado & Moreira  2000,  Rocha  2006).  A  variação  inter‐anual  na  selecção  entre  pousios 

desenvolvidos e  searas deverá estar  ligada a variações climáticas anuais  (nomeadamente na 

precipitação) que influenciarão a estrutura da vegetação e as opções agrícolas (Morgado 1997, 

Rocha 2006) e, desta forma, condicionam o balanço entre protecção e visibilidade necessário 

pela Abetarda e referido anteriormente. 

Os  efeitos das  alterações  climáticas na  estrutura de  vegetação dos pousios deverão 

assim resultar numa diminuição deste habitat para nidificação, uma vez que são expectáveis 

pousios menos desenvolvidos. No entanto, este efeito poderá  ser  compensado pelas  searas 

que, por se esperarem também menos desenvolvidas e mais esparsas, poderão assim tornar‐

se mais indicadas às necessidades desta espécie. 

 

Sisão–Tetraxtetrax 

O  Sisão,  tal  como  a  Abetarda,  alimenta‐se  preferencialmente  de matéria  vegetal  durante 

grande  parte  do  ciclo  anual.  É  então  expectável  que  a  qualidade  e  disponibilidade  deste 

recurso  diminua  em  função  dos  impactos  das  alterações  climáticas,  podendo  apresentar 

consequências importantes para a sobrevivência desta espécie. 

Também  no  que  respeita  à  época  de  reprodução  e  nidificação,  o  Sisão  tal  como  a 

Abetarda, apresenta uma grande associação com a estrutura da vegetação. Sendo os pousios o 

uso  do  solo  preferencial  durante  a  época  reprodutora  para  esta  espécie  (Martínez  1994, 

Delgado & Moreira 2000, Silva 2005), os machos de Sisão apresentam uma forte relação com a 

estrutura  da  vegetação,  provavelmente  relacionada  com  a  necessidade  de maximizar  a  sua 

visibilidade  durante  o  período  de  display  nos  leks  (Moreira  1999, Morales  et  al.  2008). No 

entanto, tendem a selecionar áreas com maior abundância de alimento e, consequentemente, 

com uma grande disponibilidade de matéria vegetal verde (Morales et al. 2008). Já as fêmeas, 

parecem  selecionar  áreas  de  vegetação mais  elevada  (até  30cm) mas  também  como  uma 

elevada disponibilidade de alimento. 

Assim sendo, os impactos esperados das alterações climáticas na vegetação afectarão 

também o Sisão, quer através da estrutura da vegetação, quer como recurso alimentar, devido 

a um menor desenvolvimento da vegetação. Esta situação poderá ser particularmente grave 

para as fêmeas, devido à sua necessidade de camuflagem durante o período de nidificação. 

 

 29

 

Peneireiro‐das‐torres–Falconaumanni 

No caso do Peneireiro‐das‐torres, apesar de não existir uma relação directa com a vegetação, 

esta  existe  de  forma  indirecta,  devido  à  influência  da  vegetação  na  disponibilidade  de 

artrópodes.  Alimentando‐se maioritariamente  de  insectos  herbívoros,  a  disponibilidade  de 

alimento para esta espécie estará dependente da abundância de vegetação, que se reflectirá 

na abundância das populações de artrópodes. 

Se  considerarmos  as  previsões  que  apontam  para  uma  menor  produtividade  da 

vegetação  devido  às  alterações  climáticas,  podemos  então  esperar  também  um  efeito 

negativo nas populações de artrópodes (analisado em maior promenor de seguida) facto que 

afectará as populações de Peneireiro‐das‐torres. 

 

Influênciadoclimanosartrópodes 

No  caso  das  aves  estepárias,  os  insectos  representam  um  importante  recurso  alimentar, 

nomeadamente  durante  a  época  de  reprodução,  tanto  para  espécies  insectívoras  como  o 

Peneireiro‐das‐torres, como para espécies como o Sisão e a Abetarda, cujos indivíduos adultos 

recorrem  quer  a  uma  dieta  herbívora,  quer  insectívora, mas  cujas  crias  dependem  de  uma 

alimentação exclusivamente insectívora durante os primeiros meses de vida (BWP 2006, Jiguet 

2002, Rocha et al. 2005, Traba et al. 2008). Existem inclusivamente dados de que a ausência de 

insectos como recurso alimentar possa ter sido a causa para um elevado declínio da população 

de  Sisão em  França  (Inchausti & Bretagnolle 2005),  reforçando  a  importância deste  recurso 

para esta espécie. Assim sendo, é necessário entender de que forma os prováveis efeitos das 

alterações climáticas nas comunidades de insectos afectarão estas espécies. 

  Os  artrópodes,  sendo  organismos  ectotérmicos,  apresentam,  no  geral,  uma  grande 

sensibilidade  ao  clima. Deste modo,  aspectos da  sua biologia, nomeadamente  fisiológicos e 

fenológicos, estão extremamente dependentes de condições climáticas adequadas (Menéndez 

2007, Robinet & Roques 2010). Por estas razões, prevê‐se que os insectos serão um dos grupos 

mais afectados pelas mudanças climáticas, o que, por seu turno, afectará as espécies que deles 

dependem (Samways 2005; Samways et al. 2010). 

 

 30

   Efectivamente, estudos recentes demonstram que as alterações climáticas estão  já a 

afectar  as  populações  de  insectos.  Apesar  de  se  observarem  alguns  efeitos  positivos  das 

alterações do clima nesta comunidade, nomeadamente permitindo uma maior sobrevivência 

durante  os meses  de  Inverno  (Robinet  &  Roques  2010,  Bale  &  Hayward  2010),  a  grande 

maioria dos  reflexos destas alterações nas espécies de  insectos parecem confirmar que este 

será um dos grupos potencialmente mais afectados pelas alterações climáticas. 

  A  existência  de  alterações  na  distribuição  de  algumas  espécies,  coincidentes  com 

alterações observadas no  clima,  é  já um  efeito bem documentado para diversos  grupos de 

insectos  (Hill  et  al.  2002, Hickling  et  al.  2006, Menéndez  2007,  Bale & Hayward  2010). Da 

mesma  forma,  alterações  na  fenologia  de  diferentes  grupos  de  insectos,  referentes  a 

diferentes estádios do ciclo de vida, foram também observadas e documentadas (Roy & Sparks 

2000, Gordo & Sanz 2006, Hassal et al. 2007, Memmott et al. 2007, Parmesan 2007, Bale & 

Hayward 2010, Bonal et al. 2010). Finalmente, outros aspectos da biologia deste grupo como 

taxas  de  desenvolvimento,  interacções  entre  espécies,  parâmetros  evolutivos,  dispersão  e 

colonização por  invasoras são também afectados pelas mudanças no clima  (Menéndez 2007, 

Robinet & Roques 2010, Bale & Hayward, 2010). 

  Para  além  de  afectar  a  distribuição  e  fenologia  dos  artrópodes,  o  clima 

(particularmente  a  precipitação)  é  também  um  importante  factor  na  determinação  da 

abundância  deste  grupo.  Índices  de  precipitação  reduzidos  durante  a  Primavera  podem 

condicionar  de  forma  significativa  a  abundância  de  vários  grupos  artrópodes  em  áreas 

agrícolas  (Frampton  et  al.  2000).  Tendo  em  consideração  as  previsões  de  diminuição  da 

precipitação  para  o  nosso  país,  podemos  esperar  uma  diminuição  da  abundância  de 

artrópodes  no  futuro,  facto  que  afectará  as  populações  de  vertebrados  insectívoros  dos 

sistemas agrícolas. 

  Deste modo, os efeitos das alterações no clima, que se prevêm nas comunidades de 

insectos,  nomeadamente  no  que  diz  respeito  à  alteração  da  distribuição,  fenologia  e 

abundância, poderão afectar gravemente a sobrevivência das aves estepárias. Analisamos de 

seguida  como  estes  efeitos  podem  afectar  cada  uma  das  espécies‐alvo  deste  projecto  em 

maior pormenor. 

 

 

 31

Abetarda–Otistarda 

Os  juvenis de Abetarda apresentam uma dieta quase exclusivamente  inserctívora, que se vai 

alterando com a época e idade. Quanto aos indíviduos adultos desta espécie, apesar de a sua 

durante esta fase consistir maioritariamente de matéria vegetal durante grande parte do ciclo 

anual,  os  insectos  são  também  um  recurso  alimentar  utilizado,  particularmente  no  Verão 

quando a vegetação se encontra mais seca (BWP 2006, Lane et al. 1999). 

  Desta forma, as alterações previstas na abundância e fenologia da fauna de artrópodes 

podem  apresentar  um  grande  impacto  nos  recursos  alimentares  para  esta  espécie,  quer 

durante o período de reprodução, durante a qual são essenciais para a alimentação das crias, 

como  também  durante  o  período  do  Verão,  durante  o  qual  a  vegetação  não  apresenta 

condições para colmatar as necessidades alimentares desta espécie. 

 

Sisão–Tetraxtetrax 

O Sisão apresenta uma dieta semelhante à Abetarda, quer durante a  fase  juvenil, durante a 

qual depende quase exclusivamente de artrópodes, quer durante a fase adulta, durante a qual 

utiliza também artrópodes na sua dieta, especialmente durante a época reprodutora e o Verão 

(BWP 2006, Jiguet 2002). Mais uma vez, as alterações previstas na abundância de artrópodes 

que foram referidas anteriormente podem resultar em graves impactos na sobrevivência desta 

espécie, nomeadamente durante os períodos em que mais depende deste recurso. 

 

Peneireiro‐das‐torres–Falconaumanni 

Esta  espécie  é  maioritáriamente  insectívora  (BWP  2006),  pelo  que  qualquer  alteração  na 

disponibilidade  de  artrópodes  terá  sempre  um  impacto  elevado  na  sua  sobrevivência.  No 

entanto,  há  que  destacar  os  potenciais  impactos  durante  o  período  reprodutor  e  pós‐

reprodutor/pré‐migratório. Durante o período  reprodutor, a abundância e disponiblidade de 

artrópodes  influenciará  não  só  a  condição  das  fêmeas  (e  consequentemente  o  tamanho  e 

condição das ninhadas) como também a sobrevivência das crias. A variação da disponibilidade 

 

 32

de  artrópodes  com  o  clima  é  precisamente  uma  das  justificações  apontada  para  a  relação 

observada  entre  o  clima  e  o  sucesso  reprodutor  desta  espécie,  como  já  foi  referido 

anteriormente  (Rodriguez  &  Bustamante  2003).  Durante  o  período  pré‐migratório  os 

indivíduos desta espécie necessitam de acumular reservas energéticas para poder efectuar a 

migração  com  sucesso,  estando  por  isso  dependentes  de  uma  disponibilidade  de  recursos 

adequada (Newton 2008). 

 

Influênciadoclimanagestãoepolitícaagrícola 

As  previsões  dos  efeitos  do  clima  na  vegetação  e  nas  comunidades  de  artrópodes 

apresentadas  anteriormente  são  ainda  reforçadas  se  considerarmos o  factor humano  como 

determinante nas opções agrícolas. O último relatório do IPCC aponta a adopção de medidas 

de  adaptação  da  agricultura  ao  clima  a  curto  prazo  como  um  factor muito  importante  na 

resposta deste sector ao clima, particularmente no Sul da Europa (Alcamo et al. 2007). Neste 

relatório  são  sugeridas medidas  como mudanças nas espécies e variedades  cultivadas  (mais 

adaptadas à seca) e a alteração dos períodos de sementeira. 

No entanto, será também necessário adoptar medidas a  longo prazo, e que passarão 

pela adaptação das políticas agrícolas, favorecendo a utilização da área agrícola de acordo com 

a sua adequabilidade numa perspectiva climática e sócio‐económica. As projecções apontam 

para uma diminuição geral da área agrícola e de pastoreio na Europa (devido ao aumento da 

produtividade  agrícola  esperado  para  o  norte  da  Europa),  levando  de  uma  forma  geral,  e 

dependendo  do  cenário  considerado,  a  um  aumento  da  intensificação  e/ou  do  abandono 

agrícola (Rounsevell et al. 2005, Berry et al. 2006). No entanto, o abandono de áreas agrícolas 

de  produção  poderá  criar  novas  oportunidades  para  um  aumento  da  área  de  agricultura 

extensiva,  segundo as previsões  sócio‐económicas para os casos em que as opções políticas 

tenham em consideração questões ambientais (Rounsevell et al. 2005, Berry et al. 2006). 

Desta forma, a reforma das políticas agrícolas a nível Europeu será um importante mecanismo 

de  adaptação  do  sector  agrícola  às  alterações  climáticas  (Alcamo  et  al.  2007)  e, 

consequentemente,  de  extrema  importância  para  a  conservação  da  biodiversidade 

dependente  dos  sistemas  agrícolas.  A  adequação  das  políticas  agrícolas  à  conservação  das 

espécies dependentes dos sistemas agrícolas terá obrigatoriamente de passar pela adopção de 

medidas de gestão adequadas a estas espécies. Na secção seguinte deste relatório analisamos 

 

 33

em maior pormenor que medidas de gestão poderão ser implementadas, numa perspectiva de 

alteração do clima, para a conservação das três espécies alvo deste projecto. 

 

Recomendaçõesdegestão 

Com base no conhecimento existente, podemos afirmar que as alterações climáticas que  se 

farão  sentir  na  área  do  Mediterrâneo  reflectir‐se‐ão,  de  uma  forma  geral,  num  impacto 

negativo acentuado para as aves estepárias em geral e, em particular, para as espécies‐alvo 

deste  projecto.  Estes  impactos  sentir‐se‐ão  em  diversos  aspectos  da  ecologia  das  espécies, 

resultando numa alteração do estado das suas populações, tal como esquematizado na Figura 

19. 

 

 

 

Figura  19  –  Esquema  representativo  da  relação  entre  o  clima,  as  práticas  agrícolas  e  as populações de aves estepárias.  

Desta  forma,  e  apesar  de  alguma  incerteza  relativamente  aos  efeitos  concretos  do 

clima  nestas  espécies,  torna‐se  necessário  providenciar  atempadamente  medidas  que 

 

 34

permitam minimizar estes potenciais efeitos no  futuro. Assim, e com base no conhecimento 

existente,  apresentamos  algumas  recomendações  de  gestão  aplicadas  às  três  espécies‐alvo 

deste projecto, com vista a minimizar os potenciais efeitos das alterações climáticas nas suas 

populações, os quais foram descritos no capítulo anterior. 

 

Gestãodomosaicoagrícola 

Hoje em dia, a gestão agrícola em ambientes estepários é essencial à conservação das aves 

que deles dependem, e nas quais  se enquadram as  três espécies‐alvo deste projecto. Assim 

sendo,  os  potenciais  impactos  das  alterações  climáticas  na  gestão  agrícola  serão 

potencialmente um dos efeitos mais significativos para a conservação destas espécies. 

Como  foi  discutido  no  capítulo  anterior,  é  espectável  a  existência  de  alterações  no 

mosaico agrícola tradicional. Estas deverão acontecer nível da paisagem, quer com a potencial 

alteração  da  dimensão  da  área  agrícola,  quer  com  a  alteração  do  próprio mosaico  agrícola 

tradicional para um panorama que pode variar entre o abandono e a  intensificação agrícola. 

Neste  aspecto,  todas  as  espécies‐alvo  do  projecto  serão  afectadas,  uma  vez  que  todas 

dependem do mosaico agrícola para a sua conservação. 

No caso da abetarda, a alteração do mosaico agrícola tradicional será prejudicial uma 

vez que esta espécie utiliza os vários componentes deste mosaico, designadamente áreas de 

cereal  (seara  e  restolho),  pousio/pastagem  natural  e  leguminosas,  consoante  o  tipo  de 

actividade (nidificação ou alimentação) e a época do ano (Martínez 1992, Morgado & Moreira 

2000, Lane et al. 2001, Moreira et al. 2004, Morales et al. 2006, Rocha 2006, Magaña et al. 

2010).  Assim  sendo,  é  recomendável  a  manutenção  de  um  mosaico  de  habitats  (searas, 

pousios, restolhos, leguminosas), atendendo ao sistema tradicional de rotação de culturas, que 

permita não só disponibilizar os diferentes habitats preferenciais durante  todo o ciclo anual, 

mas  também  compensar  os  potenciais  impactos  negativos  do  clima  nos  recursos  desta 

espécie. 

As  preferências  de  habitat  descritas  para  o  Sisão mostram  que  esta  espécie  utiliza 

preferencialmente  áreas  de  pousio  durante  a  época  de  reprodução,  sendo  esta  situação 

descrita  por  vários  trabalhos  (Martínez  1994,  Salamolard  &  Moreau  1999,  Silva  2005), 

inclusivamente em áreas abrangidas por este projecto  (Delgado & Moreira 2000, Henriques 

2003, Fonseca 2004, Moreira et al. 2007). Apesar de os pousios serem claramente o habitat 

 

 35

reprodutor  preferencial  para  o  Sisão,  outros  cultivos,  como  cereal  (searas  e  restolhos)  e 

leguminosas,  são  também  importantes  nas  diferentes  fases  do  ciclo  anual  (Martínez  1994, 

Salamolard & Moreau 1999, Henriques 2003, Fonseca 2004, Silva et al. 2004, Morales et al. 

2006, Silva et al. 2007). Consequentemente, e  tal  como para a Abetarda, a manutenção do 

mosaico  de  culturas  de  exploração  tradicional  é  essencial,  de  forma  a  permitir  não  só 

disponibilizar  os  diferentes  habitats  utilizados  durante  todo  o  ciclo  anual,  mas  também 

compensar  os  previsíveis  impactos  do  clima  nos  recursos  destas  espécies,  nomeadamente 

compensando a provável perda de biodiversidade e potencial perda de qualidade dos pousios. 

Finalmente, os  trabalhos  referentes  à utilização do habitat por parte do Peneireiro‐

das‐torres mostram que esta espécie se alimenta sobretudo em áreas de pousio (normalmente 

pastoreado) e áreas de cereal, sendo esta informação coincidente entre os estudos realizados 

no nosso país (Rocha 1995, Franco et al. 2004a) e a informação obtida noutras áreas (Donázar 

et al. 1993, Bustamante 1997, Tella et al. 1998, Ursúa et al. 2005, Gracía et al. 2006, Rodríguez 

et al. 2006, Rodríguez & Bustamante 2008, De Frutos et al. 2008, De Frutos et al. 2009), sendo 

que  todos  estes  usos  do  solo  fazem  parte  do  modelo  de  exploração  agrícola  tradicional. 

Perante  este  facto,  a  manutenção  da  exploração  agrícola  tradicional,  representada  pelo 

mosaico de culturas de cereal e pousios é recomendável e de incentivar (Franco et al. 2004b), 

nomeadamente,  nas  áreas  em  torno  das  colónias,  de  forma  a  disponibilizar  os  habitats 

utilizados por esta espécie como áreas de caça, essenciais ao seu sucesso reprodutor. 

Desta  forma, a manutenção do mosaico agrícola  tradicional será muito  importante e 

benéfico para  a  conservação das  três espécies no panorama das  alterações  climáticas, pelo 

que  será de  incentivar. O  esforço pela  sua manutenção deverá  ser  incorporado  em  futuras 

reformas  efectuadas  às  políticas  agrícolas,  factor  importante  na  adaptação  aos  efeitos  das 

alterações climáticas na agricultura (Alcamo et al. 2007) e poderá inclusivamente beneficiar de 

novas oportunidades criadas pelo espectável abandono de áreas agrícolas de produção se as 

opções políticas tiverem em consideração questões ambientais (Rounsevell et al. 2005, Berry 

et al. 2006). 

 

 

 36

Gestãodospousios/pastagens 

Os pousios são um dos componentes do mosaico tradicional de exploração agrícola com maior 

importância para as aves que dependem deste sistema, e prova disso é a sua grande utilização 

por parte das três espécies‐alvo deste projecto, como já foi referido anteriormente. 

Actualmente,  algumas  áreas  de  pousio  são muitas  vezes  utilizadas  como  áreas  de 

pastagem de gado durante períodos alargados de  tempo  (cerca de 3‐5 anos),  tendo efeitos 

negativos  na  estrutura  da  vegetação.  Estes  impactos  poderão  ser  ainda  agravados  pelos 

grandes  impactos esperados devido às alterações climáticas. Como  já foi abordado na secção 

anterior deste relatório, os impactos das alterações climáticas na vegetação reflectir‐se‐ão na 

diversidade,  produtividade,  biomassa,  recrutamento,  estrutura,  fenologia  e,  inclusivamente, 

tipologia  da  vegetação.  Nas  áreas  de  intervenção  deste  projecto  são  esperadas  grandes 

alterações  na  temperatura  e  precipitação  (Figuras  11  a  14),  que  se  reflectirão  no 

desenvolvimento  da  vegetação,  e  consequentemente  na  sua  estrutura.  Desta  forma,  as 

espécies  que  dependem  da  vegetação  herbácea,  e  particularmente  da  sua  estrutura,  como 

local de nidificação serão potencialmente as mais afectadas, pelo que uma gestão adequada 

destas áreas será essencial para a sua conservação. 

Os pousios são uma das áreas preferenciais para a Abetarda durante as várias épocas 

do ano (Martínez 1992, Fonseca 2004, Moreira et al. 2004, Rocha 2006, Magaña et al. 2010) 

sendo utilizados como locais de paradas nupciais pelos machos, enquanto que os pousios mais 

desenvolvidos  são  importantes  como  locais  de  nidificação  de  fêmeas  (Rocha  2006).  Neste 

contexto,  e  considerando  a  alteração  do  clima,  o  principal  impacto  esperado  será  então  a 

escassez de pousios altos, devido à reduzida precipitação. 

  Apesar  da  utilização  de  vários  tipos  de  uso  do  solo  envolvidos  no mosaico  agrícola 

tradicional,  o  Sisão  é  uma  espécie  extremamente  associada  aos  pousios,  sendo  este  o  seu 

habitat preferencial durante a época reprodutora (Martínez 1994, Salamolard & Moreau 1999, 

Fonseca 2004, Silva 2005, Moreira et al. 2007). Durante esta época, o Sisão apresenta uma 

elevada dependência de uma estrutura de vegetação adequada para o seu sucesso reprodutor, 

que lhe permita um balanço entre visibilidade/protecção (Martínez 1994, Wolff et al. 2001), e 

 

 37

esta  situação  poderá  tornar‐lo  numa  espécie  particularmente  sensível  às  alterações  da 

vegetação. 

Para  o  Peneireiro‐das‐torres  os  pousios  representam  um  habitat  particularmente 

importante, sendo bastante utilizado como área de caça, tanto durante o período reprodutor 

(Donazár  et  al.  1993,  Franco  et  al.  2004a,  Garcia  et  al.  2006),  como  no  período  pós‐

reprodutor/pré‐migratório  (De  Frutos  et  al.  2008,  De  Frutos  et  al.  2009).  Este  habitat  é 

especialmente utilizado pela sua abundância de recursos (Rodríguez & Bustamante 2008), mas 

essa  abundância  poderá  diminuir  de  acordo  com  as  previsões  referentes  às  alterações 

climáticas, pelo que a sua gestão adequada é particularmente importante. 

Desta  forma,  e  tendo  em  conta  as  necessidades  das  espécies,  é  recomendada  a 

manutenção de áreas de pousio não pastoreadas no mosaico agrícola para a manutenção de 

uma estrutura de  vegetação  adequada  à nidificação do  Sisão e Abetarda,  facto que poderá 

também favorecer a abundância de artrópodes utilizados pelas três espécies. Em alternativa, a 

criação de áreas de set‐aside anual ou sazonal, de forma a abranger os períodos de pré‐época 

e época de nidificação, permitirá não só a recuperação da estrutura da vegetação adequada 

para  a  nidificação mas  também  contribuiria  para  o  aumento  da  disponibilidade  alimentar 

durante este período, que constitui a altura crítica para o sucesso dos ninhos e sobrevivência 

das crias. Este aspecto pode ser particularmente importante se os cenários de política agrícola 

levarem ao desaparecimento progressivo dos cultivos de cereais. 

No caso das áreas utilizadas como pastagens para o gado, será necessária uma gestão 

do  encabeçamento  de  gado  que  permita  manter  uma  estrutura  de  vegetação  mais 

desenvolvida, adequada às espécies que nidificam no solo, e que será agravada num cenário 

de seca. Esta gestão assume especial  importância em áreas de pousio próximas das áreas de 

lek de  sisão  e  abetarda, onde  as  fêmeas  tendem  a nidificar  (Estanque  2008, Magaña  et  al. 

2010). Esta situação poderá também beneficiar a diversidade e abundância de insectos para o 

Peneireiro‐das‐torres, mas poderá  inversamente diminuir  a  sua  acessibilidade  (Franco  et  al. 

2004a) e, nesse sentido, mais investigação deverá ser realizada no sentido de perceber qual o 

encabeçamento de gado que permita maiores benefícios para as três espécies.  

No que diz respeito ao tipo de gado, apesar de existirem alguns estudos que abordam 

esta temática, as informações são algo contraditórias. Hounsome et al. 2010 demonstram que 

existe  um  efeito  directo  do  gado  bovino  na  nidificação,  através  do  pisoteio  de  ninhos. No 

entanto, Reino et al. 2010 demonstram que o gado bovino parece  ser mais  favorável que o 

gado  ovino,  cujo  pastoreio  parece  afectar  mais  o  Sisão.  Sendo  assim,  é  necessária  mais 

 

 38

informação  sobre  o  efeito  (directo  e  indirecto)  do  pastoreio  nas  aves  estepárias  para  a 

elaboração de sugestões adequadas quanto ao tipo de gado a utilizar. 

A criação de pastagens semeadas biodiversas (ricas em leguminosas), também poderá 

contribuir para a recuperação da diversidade floristica/herbácea, permitindo uma estrutura de 

vegetação  mais  desenvolvida,  e  consequentemente  um  aumento  da  disponibilidade  de 

artrópodes.  A  importância  destas  pastagens  no  contexto  das  alterações  climáticas  já  foi 

comprovada  em  diferentes  projectos  (e.g.  Projecto  Extensity  da  LPN)  e  poderá  contribuir 

também para as aves estepárias. 

 

Gestãodocereal 

As searas são, a par dos pousios, um dos componentes do mosaico tradicional de exploração 

agrícola  do  qual  as  aves deste  sistema mais  dependem,  facto  confirmado  pela  sua  elevada 

utilização por parte das três espécies‐alvo deste projecto. 

  Sendo previsto que as searas poderão ser particularmente afectadas pelas alterações 

climáticas (Giannakopoulos et al. 2005, Santos & Miranda 2006, Brandão 2006), é expectável 

que, para além da diminuição da qualidade deste habitat, as alterações climáticas potenciem 

as questões económicas e políticas que têm levado a uma diminuição da área de cereal. Neste 

cenário,  as  espécies mais  afectadas  serão  as que dependem directamente das  searas, quer 

como fonte de alimento, quer como local de nidificação.  

As culturas de cereal são, a par dos pousios, um dos usos do solo preferencialmente 

utilizados pela Abetarda, nomeadamente durante a época de reprodução e durante o Inverno 

(Morgado & Moreira  2000,  Fonseca  2004, Moreira  et  al.  2004,  Rocha  2006, Magaña  et  al. 

2010). A utilização das searas deve‐se à sua  importância como fonte de recursos alimentares 

ao  longo do  ciclo agrícola e  como habitat de nidificação, pelo que os efeitos das alterações 

climáticas  nas  searas  afectarão  directamente  (diminuição  da  qualidade/produtividade  do 

cereal) e indirectamente (abandono agrícola) as populações desta espécie. 

A utilização de áreas de cereal por parte do Sisão, quer de searas por parte das fêmeas 

durante  a  nidificação,  quer  de  restolhos  e  sementeiras  durante  o  Inverno  como  áreas  de 

alimentação,  está descrita por  vários  autores  (Wolff  et  al. 2001, Wolff  et  al. 2002,  Fonseca 

2004,  Silva  et  al.  2004, Morales  et  al.  2006).  Como  já  foi  referido,  o  impacto  previsto  das 

alterações climáticas nas culturas cerealíferas é grande (Giannakopoulos et al. 2005, Santos & 

 

 39

Miranda  2006,  Brandão  2006),  reflectindo‐se  na  diminuição  da  qualidade  das  searas  e, 

eventualmente, no abandono desta prática, factos que afectarão a reprodução (diminuição e 

perda  de  qualidade  de  habitat  de  nidificação)  e  sobrevivência  (dimiuição  de  recursos 

alimentares) desta espécie. 

Já no que  respeita  ao  Peneireiro‐das‐torres,  as  searas  são  exclusivamente utilizadas 

como habitat de alimentação, representando uma importante fonte de recursos alimentares, a 

par dos pousios (Donázar et al. 1993, Rocha 1995, Tella et al. 1998, Franco et al. 2004a, Ursua 

et al. 2005, Rodríguez et al. 2006, De Frutos et al. 2008, De Frutos et al. 2009). O impacto das 

alterações climáticas irá afectar as searas (Giannakopoulos et al. 2005, Santos & Miranda 2006, 

Brandão  2006),  nomeadamente  a  nível  da  sua  produtividade,  podendo  levar  ao  abandono 

desta prática e, desta forma, à perda de importantes locais de alimentação. 

Assim  sendo,  a manutenção  e  gestão  destas  culturas  será  uma medida  importante 

para  a  conservação  destas  espécies  no  contexto  das  alterações  climáticas  e  a  sua  gestão 

deverá passar pela selecção do cereal que pareça ser mais benéfico para as espécies que dele 

dependem como recurso alimentar e como habitat de nidificação, escolhendo variedades de 

cereal que conciliem a preferência das espécies com a adequabilidade aos cenários climáticos 

futuros. Desta  forma, mesmo  considerando que o grau de desenvolvimento  (em  termos de 

biomassa, altura e densidade) e de produtividade (quantidade de semente disponível para as 

aves)  de  variedades mais  adaptadas  à  seca  (como  por  exemplo  as  variedades  tradicionais 

utilizadas  no  passado  na  região,  ver  Baptista  2010)  não  ser  possivelmente  semelhante  às 

utilizadas no presente, ainda assim deverão representar um importante recurso alimentar para 

o Sisão e Abetarda (ao  longo do ciclo, desde a sementeira até após a ceifa) e ainda constituir 

um habitat adequado para a nidificação, quer para a Abetarda, que parece preferir searas mais 

esparsas e menos desenvolvidas  (Morgado & Moreira 2000, Rocha 2006), quer para o Sisão, 

podendo colmatar a diminuição de qualidade e estrutura prevista para os pousios. 

  A adequação do ciclo de cultivo dos cereais, concretamente no que respeita às datas 

de lavra, sementeira e ceifa, é tida pelos especialistas como uma das acções de gestão agrícola 

mais  importantes  no  que  respeita  à  conservação  das  aves  agrícolas  que  nidificam  no  solo, 

como são os casos da Abetarda e Sisão (BWP 2006, Moreno et al. 2010). 

Apesar dos esforços que  têm sido realizados para adaptar esta situação nas políticas 

agrícolas de  forma a beneficiar estas espécies, a alteração destes períodos é  tida  como um 

factor muito  importante na  resposta do  sector agrícola ao  clima, particularmente no Sul da 

 

 40

Europa  (Alcamo  et  al.  2007). Desta  forma,  é  expectável  que  possam  surgir  novos  conflitos 

entre a actividade agrícola e a conservação destas espécies. 

  Tendo  em  conta  as  alterações  no  ciclo  de  cultivo  aconselhadas  para minimizar  os 

efeitos do clima nas culturas cerealíferas (Santos & Miranda 2006), através da antecipação do 

período de sementeira e, consequentemente, do período de ceifa, é de prever que haja uma 

coincidência entre este período e a época reprodutora da Abetarda e do Sisão. Considerando o 

elevado  impacto  da  ceifa  no  sucesso  reprodutor  destas  espécies,  devido  à  destruição  de 

ninhos e mortalidade de crias derivadas desta acção, é de extrema importância que, nas áreas 

de reprodução de Abetarda e Sisão, os dois períodos não sejam coincidentes. 

Para isso é necessário garantir a monitorização do período de reprodução de ambas as 

espécies  (que  também  poderá mudar  em  função  das  alterações  no  clima)  e  articular  essa 

informação  com os agricultores,  com o objectivo de  garantir que  a  ceifa ocorra no  final ou 

após o término do período reprodutor destas espécies. 

 

Gestãodasleguminosas 

As plantações de leguminosas estão também muitas vezes presentes no mosaico agrícola, mas 

geralmente em proporções inferiores aos restantes usos do solo. Num cenário futuro, e com a 

diminuição  da  produtividade  geral  da  vegetação,  as  sementeiras  de  leguminosas  poderão 

representar um recurso alimentar importante, sendo, por isso, essencial a sua manutenção no 

mosaico agrícola. No entanto, as previsões dos impactos das alterações climáticas nas culturas 

de leguminosas apontam para uma grande diminuição da sua produtividade no Mediterrâneo, 

em  especial  em  Portugal  (Giannakopoulos  et  al.  2005).  Esta  situação  poderá  levar  a  uma 

diminuição da utilização deste tipo de culturas no mosaico agrícola. 

A  importância  das  sementeitas  de  leguminosas  para  as  populações  de  Abetarda  é 

mencionada por vários autores, nomeadamente como fonte de alimento (Martínez 1992, Lane 

et al. 1999, Morales et al. 2006, Rocha e tal. 2006). Tal como para a Abetarda, as plantações de 

leguminosas  parecem  apresentar  alguma  importância  para  as  populações  de  Sisão, 

nomeadamente como fonte de alimento, tanto vegetal como animal, durante diferentes fases 

do ciclo anual (Martinez, 1994, Salamolard & Moreau 1999, Wolff et al. 2001, Wolff et al. 2002, 

Fonseca 2004, Silva et al. 2007). Num estudo recente realizado em França por Bretagnolle et 

 

 41

al.  (2010), verificou‐se  inclusivamente um aumento da população de  sisão  com o  cultivo da 

alfafa. 

Assim,  e  num  cenário  futuro  de  alterações  climáticas,  com  a  diminuição  da 

produtividade  geral  da  vegetação,  as  sementeiras  de  leguminosas  poderão  representar  um 

recurso alimentar adicional, pelo que a sua manutenção no mosaico agrícola será importante, 

mesmo  tendo em conta a diminuição de produtividade prevista para as próprias culturas de 

leguminosas (Giannakopoulos et al. 2005). A opção por culturas mais adequadas ao clima e o 

adiantamento no calendário da sementeira poderão  favorecer a manutenção e qualidade de 

áreas de leguminosas e, consequentemente, do recurso alimentar que representa para ambas 

as espécies. 

No  entanto,  para  isso,  é  necessário  que  as  leguminosas mais  indicadas  para  climas 

mais  secos  sejam  também  utilizadas  por  ambas  as  espécies.  Sabe‐se  que  o  grão‐de‐bico 

favorece as aves estepárias, no entanto, seria importante a realização de um estudo nas áreas 

afectadas pelo projecto, recorrendo a diferentes tipos e variedades de leguminosas (e.g. grão‐

de‐bico,  alfalfa,  luzerna,  etc.),  em  que  seja  avaliada  não  só  a  produtividade  das  diferentes 

leguminosas, mas  também  a  sua  utilização  por  Sisão  e  Abetarda,  permitindo  uma melhor 

definição de quais os  tipos de  leguminosas e  suas variedades mais  indicadas no  futuro para 

estas espécies. 

 

Gestãodospontosdeágua 

A diminuição da precipitação associada às alterações climáticas, que se prevê particularmente 

acentuada em algumas das áreas de intervenção deste projecto (Santos & Miranda 2006), terá 

consequências directas  e  indirectas nas populações  de  aves  estepárias. Além  de  influenciar 

indirectamente  os  recursos  utilizados  pelas  três  espécies‐alvo  deste  projecto  (como  já  foi 

analisado na secção anterior deste relatório), como a vegetação e os artrópodes, a diminuição 

da precipitação  terá como efeito directo a diminuição da disponibilidade de água para estas 

espécies. 

  Sendo  sabido que a disponibilidade de água é um dos  factores ambientais que mais 

afecta as populações de aves de latitudes inferiores, nomeadamente durante o Verão (Newton 

1998, Suárez‐Seoanne et al. 2004), a promoção de pontos de água, que permitam o acesso das 

aves a este  recurso,  será uma medida  importante no cenário de diminuição de precipitação 

 

 42

previsto para o Mediterrâneo. Esta situação poderá  favorecer directamente as três espécies‐

alvo, quer através da sua utilização directa (a utilização das margens de riachos está descrita 

na literatura para a Abetarda – Hidalgo de Trucios e Carranza 1990, Moreira et al. 2004 – mas 

deverá  ser  uma  realidade  também  para  as  outras  espécies),  quer  indirectamente 

providenciando maior qualidade de abundância de recursos alimentares (Borralho et al. 1998, 

Rocha 2006).  

 

Gestãodadimensãodaparcelaedapressãohumana 

No  contexto dos ecossistemas  agrícolas, um dos efeitos  indirectos das  alterações  climáticas 

sobre as populações de aves estepárias será o aumento da pressão humana nestes sistemas, 

manifestado através da sua intensificação com o objectivo a minimizar os efeitos do aumento 

da temperatura e da seca na produção agrícola. 

É  sabido  que  as  espécies  de  aves  de  ambientes  agrícolas  extensivos  são 

particularmente  sensíveis à perturbação humana, e essa  situação está descrita para o  Sisão 

(Suárez‐Seoanne et al. 2002, Fonseca 2004, Silva et al. 2004), a Abetarda  (Lane et al. 2001, 

Magaña et al. 2010) e o Peneireiro‐das‐torres (Bustamante 1997, Catry et al. 2009), sendo que 

as medidas de diminuição da pressão humana  sobre estes  sistemas  são  vistas  como acções 

importantes para a conservação destas espécies (Moreno et al. 2010) e poderão servir como 

contrapeso aos efeitos directos do clima. 

Sendo  assim,  a  diminuição  de  fontes  de  perturbação  directa  (perturbação,  tráfego, 

etc.)  e  indirecta  (presença  de  estruturas  humanizadas  como  caminhos,  vedações,  linhas 

eléctricas) nestes  sistemas  favorecerá  a  capacidade das populações destas espécies  lidarem 

com os impactos derivados das alterações climáticas.  

Adicionalmente, a gestão do tamanho da parcela, através da manutenção de parcelas 

extensas  poderá  também  contribuir  para  a  diminuição  da  pressão  humana.  No  caso  do 

Peneireiro‐das‐torres,  uma  vez  que  se  prevê  que  no  futuro  as  populações  desta  espécie 

estejam  dependentes  de  colónias  artificiais  para  a  sua  nidificação  (Catry  et  al.  2009),  a 

implementação  de  novas  colónias  em  áreas  extensas  de  habitat  adequado  e  afastadas  de 

fontes de perturbação humana deverão ser outra medida a ter em conta. 

No caso do Sisão, apesar de na realidade agrícola Portuguesa, a presença de parcelas 

de maior dimensão ser benéfica (Silva et al. 2010), este facto não acontece noutras populações 

 

 43

europeias  (Wolff et al. 2001). Provavelmente, em zonas de terrenos pouco férteis  (como é o 

caso de Castro Verde) e num cenário de seca poderá tornar‐se vantajoso para esta espécie a 

existência  de  um  mosaico  agrícola  com  parcelas  de  menor  dimensão  mas  com  maior 

diversidade  de  usos  do  solo.  Esta  diversidade  poderá  ser  particularmente  importante  na 

procura de alimento e habitat de nidificação, em contraste com parcelas de pousio de grandes 

dimensões, mas de  fraca qualidade, e poderá  criar uma  situação de  conflito entre a gestão 

mais  adequada  para  as  diferentes  espécies.  Desta  forma,  numa  perspectiva  de  alterações 

climáticas, será recomendável para o Sisão a existência de parcelas de tamanho  intermédio e 

inseridas na diversidade do mosaico agrícola. 

 

PromoçãodeninhosartificiaisadequadosparaPeneireiro‐das‐torres 

Como  já  foi  descrito,  as  populações  de  Peneireiro‐das‐torres  estão  actualmente  muito 

dependentes de estruturas artificiais para nidificar, nomeadamente em Portugal (Franco et al. 

2005,  Catry  et  al.  2007).  Actualmente,  já mais  de metade  da  população  desta  espécie  em 

Portugal,  e  particularmente  na  área  de  Castro  Verde,  intervencionada  por  este  projecto, 

recorre  a  estruturas  artificiais  para  nidificar  (Catry  et  al.  2009).  Mais,  prevê‐se  que  esta 

situação se deve  intensificar no futuro (Catry et al. 2009). O aumento da temperatura devido 

às alterações climáticas é previsível,  facto que  se deverá  reflectir  também num aumento da 

temperatura  no  interior  dos  ninhos  desta  espécie.  Esta  situação  é  prejudicial  ao 

desenvolvimento  e  sobrevivência  das  crias  e  representa  um  novo  e  sério  problema  para  a 

conservação desta espécie (Catry et al. 2010). 

  A monitorização  das  condições  internas  do  ninho  e  paralelamente  da  condição  das 

crias mostra que os ninhos de madeira são particularmente prejudiciais ao desenvolvimento 

das crias desta espécie devido às elevadas temperaturas que se fazem sentir no seu interior, e 

que podem atingir os 55oC (Catry et al. 2010). Desta forma, deverão ser realizados esforços no 

sentido  de  os  adequar  às  novas  condições  ambientais,  com  o  objectivo  de minimizar  este 

impacto  na  sobrevivência  das  crias.  A  utilização  de  materiais  isolantes  e  de  cor  clara  na 

construção dos ninhos  serão medidas  importantes a adoptar nos  locais onde a utilização de 

caixas ninho pelo Peneireiro‐das‐torres seja comum. 

 

 

 44

Actividadesdesenvolvidasem2010paraasespécies‐alvo 

O  estudo da dinâmica populacional das  espécies  alvo, que  tem  vindo  a  ser  realizada desde 

1980 para a Abetarda, 2002 para o Sisão e 1995 para o Peneireiro‐das‐torres, permite analisar 

o possível impacte das alterações climáticas nas espécies‐alvo, de forma a sugerir medidas de 

mitigação dos potenciais  impactos negativos  resultantes destas alterações. Sendo assim,  faz 

parte do objectivo deste projecto a continuação da monitorização das espécies‐alvo de 2010 a 

2012, de forma a aumentar a  informação temporal sequencial sobre a dinâmica populacional 

destas espécies para uma posterior análise da sua relação com variáveis climáticas. 

Neste  primeiro  relatório  de  progresso  são  apresentados  os  resultados  referentes  às 

actividades desenvolvidas no presente ano de 2010.  

 

MonitorizaçãodaAbetarda–Otistarda 

A  Abetarda  é  a  espécie  com  o  maior  historial  de  monitorização  anual.  A  monitorização 

sequencial  da  abetarda  teve  início  no  ano  de  1980,  quando  começou  a  ser  aplicada  a 

metodologia de censos para esta espécie  (Pinto et al. 2005, Rocha 2006).Neste relatório são 

apresentados os principais resultados do censo realizado na Primavera de 2010, que resultou 

da colaboração com a equipa de censo (PNVG e LPN). 

ÁreadeestudoeMetodologia 

A área de estudo (08º14’ W, 37º54’ N – 07º46’ W, 37º34’ N) cobriu uma superfície de 90528 

hectares, coincidindo com o núcleo do Campo Branco e sobrepondo‐se quase na totalidade à 

Zona de Protecção Especial de Castro Verde. Esta área foi dividida em 15 sectores (Figura 20), 

sendo cada sector prospectado por uma equipa de pelo menos 2 elementos com experiência 

na área. A cobertura visual foi realizada pecorrendo os caminhos agrícolas, em veículo todo‐o‐

terreno.  

 

 45

 

Figura  20  – Delimitação  da  área  de  estudo  e  a  sua  divisão  nos  15  sectores  (a  vermelho)  e 

apresentação do limite da ZPE de Castro Verde (a verde). 

 

O  censo  foi  realizado no dia 27 de Março de 2010, excepto para os  sectores 8  (27 e 28 de 

Março) e 4  (1 de Abril). Não  foi possível a  realização de  censos para os  sectores 2  (Pedras‐

Brancas)  e  13  (Beringelinho/Filipeja)  por  razões  logísticas.  De  qualquer  forma,  nos  últimos 

anos, não têm ocorrido abetardas nessas zonas durante a época de paradas nupciais. 

ResultadosO número total de abetardas observadas na Primavera de 2010 foi de 1048 indivíduos (Figura 

21 e Quadro 1), com o número máximo observado de 286 indivíduos no sector 12 (área de São 

Marcos) e o número mínimo de 10  indivíduos no sector 4 (área de Braciosas/Magros). Foram 

observadas na área de estudo um total de 706 machos e 277 fêmeas. 

              Figura 21 – Número de indivíduos de abetarda contabilizados no censo da Primavera de 2010, de acordo com o sexo e idade. 

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Machos adultos  Machos jovens Fêmeas Indeterminados

 

 46

 

Quadro 1 – Número de indivíduos de abetarda contabilizados, de acordo com o sexo e idade, 

nos sectores da área de estudo, no censo da Primavera de 2010. 

 

 

Sectores 

 

 

Área (ha)

Nº to

tal 

indivíd

uos 

Nº to

tal mach

os 

Nº m

achos 

adulto

Nº m

achos 

jovens 

Nº fê

meas 

Nº 

indeterm

inad

os 

1 – Carregueiro‐Messejana  11 065  19  7  7  0  1  11 

3 ‐ Gavião/Albernoa  7 433  107  49  49  0  22  36 

4 ‐ Braciosas/Magros  5 418  10  1  1  0  9  0 

5 ‐ Corte Pequena  8 037  115  80  80  0  35  0 

6 – Algodor  4 096  16  4  4  0  2  10 

7 ‐ Bispos/Mourão/ 

Mestras 7 315  151  81  78  3  69  1 

8 ‐ Perdigoa/Paraíso  4 670  104  75  71  4  28  1 

9 – Entradas  7 425  110  101  98  3  5  4 

10 – Cuchilhas  5 459  54  53  52  1  1  0 

11 ‐ Mt Seixo  4 364  39  35  34  1  4  0 

12 ‐ S. Marcos  6 208  286  191  177  14  95  0 

14 ‐ Sete/Viseus  6 875  15  8  1  7  5  2 

15 ‐ Guerreiro/Tacões  2 759  22  21  21  0  1  0 

Total para a área de estudo    1048  706  673  33  277  65 

 

 

 47

MonitorizaçãodoSisão–Tetraxtetrax 

O Sisão é uma das espécies para as quais há  registos detalhados de dinâmica populacional. 

Como  já  foi  referido  no  presente  relatório,  Delgado  e  Moreira  (2010)  demonstraram  a 

influência da precipitação durante o período pré‐reprodutor na densidade de machos de Sisão 

durante  o  período  reprodutor  (ver  Anexo  II).  Este  estudo  de monitorização  teve  início  em 

2002, e  foi  realizado em  três áreas de estudo:  São Marcos  (4418 ha), Entradas  (4219 ha) e 

Ervidel  (5926  ha).  Entre  as  actividades  a  serem  desenvolvidas  entre  2010‐2012  para  esta 

espécie,  será  dada  continuação  à  monitorização  para  as  áreas  de  estudo  referidas 

anteriormente, segundo a mesma metodologia. Esta monitorização, para além de contemplar 

censos  nas  três  áreas  monitorizadas,  engloba  também  dados  sobre  a  disponibilidade  e 

qualidade do habitat principal para os machos de sisão, os pousios e pastagens. As tendências 

populacionais, bem  como da disponibilidade e qualidade do habitat  serão  relacionadas  com 

variáveis climáticas disponíveis para a zona. 

 

Metodologia 

Durante a segunda quinzena de Abril de 2010,  foi realizado o censo de machos de Sisão nas 

áreas de Entradas e São Marcos, localizadas na ZPE de Castro Verde, e na área de Ervidel, área 

agrícola de características intensivas (sobretudo cereal de regadio, girassol e também olival de 

regadio). 

A metodologia de censo tem como base o registo auditivo e visual de machos num raio 

de 250m em  torno de pontos de escuta  fixos, por um período de 5 minutos. As  fêmeas não 

foram consideradas por serem tímidas e  insconspícuas (Cramp & Simmons, 1980). Os pontos 

foram  definidos  no  início  da  monitorização  do  sisão  nestas  áreas  (2002)  (ver  Delgado  & 

Moreira 2010), distanciados 600m entre si, ao longo de caminhos em percursos pré‐definidos 

realizados de carro. 

Foram  definidos  184  pontos  de  escuta  (Figura  22)  no  total,  para  as  três  áreas  (68 

pontos em São Marcos, 63 pontos em Entradas e 53 pontos em Ervidel). Em cada ponto,  foi 

registado o habitat onde os machos se encontravam, e medida a disponibilidade do habitat, 

estimando o habitat dominante por oitavos da circunferência com raio de 250m. Cada sessão 

de  campo  teve  a  duração  de  2h,  coincidindo  com  os  picos  de  actividade  da  espécie,  uma 

 

 48

sessão de manhã tendo início 30 minutos antes do nascer do sol, e a sessão do final de tarde 

terminando 30 minutos após o pôr‐do‐sol.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 22 – Localização das áreas de estudo de São Marcos, Entradas e Ervidel e respectivos pontos  de  escuta.  A  cinzento‐claro  está  representada  a  ZPE  de  Castro  Verde.  Retirado  de Delgado & Moreira 2010. 

Resultados 

Na figura 23 é apresentada a abundância média de machos de sisão para a contagem ocorrida 

na segunda quinzena de Abril de 2010. A abundância média foi superior na área de Entradas, 

com 9.65machos/km2 e  inferior na área  intensiva de Ervidel, com 0.88 machos/km2. O valor 

máximo de abundância atingido num ponto de escuta foi de 30.39 machos/km2 nas áreas de 

Entradas e de São Marcos. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 23 – Abundância média de machos de  sisão  (número de machos/km2) e  respectivos intervalos de confiança a 95%, nas áreas de São Marcos, Entradas e Ervidel.  

 

 49

MonitorizaçãodoPeneireiro‐das‐torres–Falconaumanni 

A população de Peneireiro‐das‐torres tem sido monitorizada desde 1995 na região de Castro 

Verde, nos trabalhos desenvolvidos por Rocha 1995, Rocha et al 2002, e também no âmbito do 

projecto LIFE Peneireiro (LIFE02/NAT/P8481) por Catry & Reis 2003, Catry et al. 2004, 2005 e 

Henriques et al. 2006. O presente estudo tem como objectivo complementar a série temporal 

de parâmetros  reprodutores existente, com  informação  recolhida no período de 2010‐2012, 

de forma a poder relacionar as variações anuais destes parâmetros com as variáveis climáticas. 

Neste relatório são apresentados os resultados da monitorização dos parâmetros reprodutores 

para as oito colónias seleccionadas, realizada durante a época reprodutora de 2010.   

Metodologia 

Para a monitorização do Peneireiro‐das‐torres  foram seleccionadas um total de oito colónias 

segundo  dois  critérios:  colónias  com maior  número  de  anos  de  acompanhamento  e  com 

historial de um número igual ou superior superior a 15 casais/colónia (quadro 2).  

 

Quadro 2  ‐ Colónias  seleccionadas para monitorização de Peneireiro‐das‐torres  (2010‐2012). 

PNVG  –  Parque Natural  do  Vale  do Guadiana;  CEABN  –  Centro  de  Ecologia Aplicada  “Prof. 

Baeta Neves”; *monitorização assegurada pela LPN (dados serão cedidos posteriormente).  

Colónias seleccionadas de 

Peneireiro‐das‐torres 

Monitorização 2010  Número de anos 

monitorizados 

CV1  LPN*  16 

CV13  LPN*  7 

CV19  LPN*  7 

CV5  CEABN  8 

CV10  CEABN  9 

OU1  CEABN  8 

ME1  CEABN  8 

OU6  PNVG e CEABN  15 

 

 50

 

 

 

 

 

 

Figura 24 – Colónia de Peneireiro‐das‐torres do Monte Álamo. 

 

Durante a época de reprodução de 2010, foram realizadas no mínimo 2 visitas a cada uma das 

colónias  (Quadro  3).  A  primeira  visita,  em meados  de Maio,  visava  confirmar  os  locais  de 

nidificação  (cavidades,  caixas‐ninho)  ocupados  por  casais  em  cada  colónia,  e  também 

determinar o  tamanho das posturas. Considerou‐se a existência de casal nidificante, quando 

foram encontrados indícios de reprodução (mais de 1 ovo ou crias). A segunda visita, realizada 

em meados  de  Junho  teve  como  objectivo  determinar  o  número  total  de  crias  e  de  crias 

voadoras/ninho, considerando crias voadoras aquelas com mais de 20 dias. A determinação da 

idade  foi  feita visualmente a partir do desenvolvimento das  remiges primárias. Para as crias 

voadoras procedeu‐se à anilhagem e à recolha de dados de condição corporal, como o peso e 

o comprimento da 8ª primária a partir da junta carpal.  

Quadro  3  –  Número  de  visitas  realizadas  às  colónias  e  respectivas  datas,  para  a  época 

reprodutora de 2010. São apresentadas as colónias para as quais a monitorização foi realizada 

pela LPN e PNVG. 

Colónias seleccionadas  Nº de visitas Datas das visitas 

CV1  LPN LPN

CV13  LPN LPN

CV19  LPN LPN

CV5  3 22 de Maio; 19 de Junho; e 3 de Julho de 2010.

CV10  2 22 de Maio; e 19 de Junho de 2010. 

OU1  4 17 e 27 de Maio; 20 de Junho; e 6 de Julho de 2010.

ME1  3 23 de Maio; 1 de Junho; e 2 de Julho 2010.

OU6  12 17, 26 de Abril; 9,17,27 de Maio; 3,11,20,22,29 de Junho; e 

6,15 de Julho de 2010. 

 

 51

 

Em cada uma das visitas procedeu‐se ao registo dos resultados obtidos em fichas, com 

o  esquema  de  anos  anteriores  de  todos  os  locais  de  nidificação  existentes  nas  colónias, 

disponibilizados pela LPN e PNVG (OU6). Foram acompanhados todos os  locais de nidificação 

disponíveis em cada colónia, excepto na OU6 onde uma cavidade se encontrava inacessível. Na 

colónia ME1, grande parte dos  locais de nidificação existentes debaixo de telha deixaram de 

existir, devido ao estado de degradação do telhado. 

 

No âmbito deste trabalho, e de acordo com o objectivo do estudo seleccionaram‐se os 

seguintes parâmetros reprodutores a monitorizar: 

1. Taxa de ocupação – proporção de locais de nidificação ocupados pela espécie (casais 

nidificantes) em relação aos disponíveis em cada colónia. 

2. Taxa  de  voo  ‐  como  o  número  de  crias  voadoras  por  casal  com  sucesso  na 

nidificação,  isto é, que produziram no mínimo uma cria voadora. As crias  foram 

consideradas voadoras após os 20 dias de idade (Rocha 1995). 

3. Produtividade – número de crias voadoras por casal nidificante. 

4. Sucesso  reprodutor  ‐ percentagem de posturas que produziram pelo menos, uma 

cria voadora relativamente ao número total de posturas detectadas. 

5. Condição corporal das crias ‐ indicador de probabilidade de sobrevivência, medido a 

partir do peso (±2 g) e medição do comprimento da 8ª pena primária (±1mm) nas 

crias com mais de 20 dias (Figura 25), segundo Rodriguez & Bustamante 2003.  

   

Figura 25 – Medição do comprimento da 8ª pena primária de uma cria fêmea de peneireiro‐

das‐torres.   

 

 52

 

Para  cada  colónia,  também  foram  registadas  as  causas  de  insucesso  reprodutor 

(ausência de crias voadoras), tanto em posturas como em ninhadas (predadas, abandonadas). 

 

Resultados 

Parâmetros reprodutores 

O número de casais por colónia e respectivos parâmetros reprodutores para a época 

de nidificação de 2010 são apresentados no quadro 4. O número de casais/colónia foi superior 

na colónia OU6 (66 casais), como se tem vindo a verificar nos anos anteriores. Na colónia CV5 

o número de casais diminuiu para esta época reprodutora, ocorrendo apenas 11 casais. A taxa 

de ocupação  foi mais  elevada na  colónia CV10  (84%)  e mais baixa na OU1  (30%), devido  à 

elevada ocupação de locais de nidificação por outras espécies, principalmente por pombo. 

O sucesso reprodutor foi elevado, atingindo o máximo de 88.9% na colónia CV10, e o 

mínimo na colónia ME1, com 9.1 % devido à elevada predação. 

A taxa de voo atingiu o valor máximo de 3.08 crias voadoras/casal na colónia OU1, e a 

produtividade foi máxima no na colónia CV5 (2.44 crias voadoras/casal).   

Relativamente  à  condição  corporal  das  crias  para  as  colónias  amostradas,  o  peso 

variou  entre  84  e  200  gramas,  e o  tamanho da  8ª primária  variou  entre  105  e  227 m  (ver 

Quadro 5). Verifica‐se uma  variação do peso das  crias entre as  colónias,  sendo as  crias das 

colónias OU1  e  CV10,  aquelas  que  atingiram  pesos mais  elevados  entre  os  160‐190mm  de 

comprimento de asa (a partir dos 190mm os indivíduos passam a adquirir capacidade de voo). 

(ver  Figura 26). Considerando os  valores médios de peso das  crias,  as  colónias OU1  e CV5, 

atingiram os valores mais elevados (ver Quadro 5.).  

 

 53

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 26 – Distribuição do peso (g) relativamente ao comprimento da asa (mm) das crias de 

Peneireiro‐das‐torres,  nas  colónias  seleccionadas  para  a  época  reprodutora  de  2010.  Os 

pontos coloridos diferenciam as colónias amostradas  (azul – OU1; verde – ME1; beje – CV5; 

preto – CV10; vermelho – OU6). A linha a preto representa a linha de ajuste. 

 

 

       

Figura 27 – à esquerda – ninhada de crias com 5 dias de idade, à direita – ninhada com crias de 

15 dias de idade. 

 

240220200180160140120100

200

180

160

140

120

100

80

pe

so

cri

a

 

 54

Quadro 4 – Número de casais nidificantes e parâmetros reprodutores para cada colónia (média 

e  desvio‐padrão  para  a  taxa  de  voo  e  produtividade,  N  corresponde  ao  número  de  casais 

utilizados  para  estimar  o  parâmetro  reprodutor).  São  apresentadas  as  colónias  em  que  a 

monitorização foi realizada pela LPN, resultados que não foram disponibilizados. 

         

 

Colónias  Nº de casais  Taxa de 

ocupação 

Sucesso 

reprodutor 

Taxa de voo  Produtividade 

 

CV1  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV13  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV19  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV5  11  47.83% 

 

88.89% 

(N=9) 

2.75± 

1.58crias 

(N=8) 

2.44±1.74 crias 

(N=9) 

CV10  43  84.31% 

 

81.08% 

(N=37) 

2.97± 

0.96crias 

(N=30) 

2.40±1.46 crias 

(N=37) 

OU1  22  28.95%  76.46% 

(N=17) 

3.08±1.11 

crias (n=13) 

2.35±1.66 crias 

(N=17) 

OU6  66  61.68%  83.07% 

(N=65) 

3.37±1.14 

crias (N=54) 

2.80±1.64 crias 

(N=65) 

ME1  15  83.33%  9.09% 

(N=11) 

‐ 

(N=1) 

0.36±1.20 crias 

(N=11) 

 

 55

Quadro 5 – Número total de crias amostradas e o número de crias de acordo com o sexo, o 

peso médio e o  tamanho médio da 8ª primária e  respectiva variação  (mínimo, máximo) das 

crias amostradas em cada colónia. 

 

Seguidamente,  é  apresentada  uma  breve  descrição  para  cada  uma  das  colónias 

montorizadas para a época reprodutora de 2010:  

  

Colónia CV5 

Na colónia CV5 em 2010 existiam 23  locais de nidificação, entre 9 debaixo de telha e 

14  caixas‐ninho/potes‐ninho. Destes, 11  foram ocupadas por  casais de Peneireiro‐das‐torres 

Falco naumanni e 8 ocupadas por outras espécies (1 casal de Rolieiro Coracias garrulus, 1 casal 

de  Coruja‐das‐torres  Tyto  alba,  3  casais  de  Estorninho‐preto  Sturnus  unicolor,  2  casais  de 

Peneireiro‐vulgar Falco tinnunculus, 1 casal de Pombo Columba livia). 

Colónias 

Nº to

tal de crias 

Nº d

e mach

os 

Nº d

e fêmeas 

Nº d

indeterm

inados 

Comprim

ento de 

asa 

Peso

 

CV1  

LPN  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV13  

LPN  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV19  

LPN  LPN  LPN  LPN  LPN  LPN 

CV5  

20  11  8  1  

160.95mm (105‐208) 

 

158.60g (129‐183) 

 

CV10  

30  13  16  1  

172.47mm (124‐204) 

 

155.63g (98‐200) 

 

OU1  33  23  10 0  

162.91mm (112‐202) 

158.39g (86‐196) 

OU6  

157  99  58  0 177.04mm (112‐227) 

148.56 (84‐176) 

ME1  4  2  2 0  

156.75mm (138‐167) 

138.00g (134‐144) 

 

 56

Para o sucesso reprodutor foram consideradas 9 posturas das 11 existentes, porque na 

última visita ainda existiam crias em duas das ninhadas que ainda não tinham atingido os 20 

dias. Nesta colónia, uma das posturas foi abandonada. 

 

Colónia CV10 

Na colónia CV10 em 2010 existiam 51  locais de nidificação, entre cavidades e caixas‐

ninho. Destes, 43 foram ocupadas por casais de Peneireiro‐das‐torres e 4 ocupadas por outras 

espécies (1 casal de Rolieiro, 3 casais de Peneireiro‐vulgar). 

Para o sucesso reprodutor foram consideradas 37 posturas das 43 existentes, porque 

na última visita ainda existiam crias em 6 ninhadas que ainda não tinham atingido os 20 dias. 

Na 2ª visita  foram encontradas 5  crias mortas no  solo, e 2 posturas em que os ovos  foram 

predados. 

 

Colónia OU1 

Na  colónia OU1 em 2010 existiam 77  locais de nidificação, 71  cavidades e 6  caixas‐

ninho.  Destes,  23  foram  ocupados  por  casais  de  Peneireiro‐das‐torres  e  23  ocupados  por 

outras espécies (2 casais de Rolieiro, 1 casal de Coruja‐das‐torres, 3 casais de Estorninho‐preto, 

1 casal de Peneireiro‐vulgar e 16 casais de Pombo). 

Para o sucesso reprodutor foram consideradas 18 posturas das 23 existentes, porque 

na última visita ainda existiam crias em duas ninhadas que ainda não  tinham atingido os 20 

dias. Nesta colónia, uma das posturas foi abandonada. 

 

Colónia OU6 

Na  colónia  OU6  em  2010  existiam  107  locais  de  nidificação  (cavidades),  onde  66 

cavidades  foram  ocupadas  por  casais  de  Peneireiro‐das‐torres,  e  7  cavidades  ocupadas  por 

outras espécies (1 casal de Rolieiro, 1 casal de Coruja‐das‐torres, 2 casais de Estorninho‐preto 

e 3 casais de Peneireiro‐vulgar). 

Para o sucesso reprodutor foram consideradas 65 posturas das 66 existentes, porque 

numa ninhada as crias não tinham atingido os 20 dias aquando da última visita. Nesta colónia, 

sete posturas foram abandonadas. 

 

 

 

 

 57

Colónia ME1 

Na colónia ME1 em 2010 existiam 18 locais de nidificação (6 cavidades, 11 caixas‐ninho 

e  1  debaixo  de  telha).  Em  anos  anteriores  existiam  mais  locais  debaixo  de  telha,  mas 

actualmente  o  telhado  encontra‐se  em  mau  estado  pelo  que  desapareceram  ou  estão 

degradadas. Dos 18 locais disponíveis, 15 foram ocupadas por casais de Peneireiro‐das‐torres e 

2 ocupadas por outras espécies (1 casal de Peneireiro‐vulgar e 1 casal de Pombo). 

Para o sucesso reprodutor foram consideradas 11 posturas das 15 existentes, porque 

na última visita ainda existiam crias em 4 ninhadas que ainda não tinham atingido os 20 dias. 

Nesta  colónia,  8  posturas  foram  predadas  (rato),  correspondendo  a  75.73%  das  posturas. 

Apenas uma ninhada teve sucesso, resultando 4 crias voadoras. 

 

 Alterações previstas no plano de actividades para 2011 e 2012 

Na  monitorização  do  Peneireiro‐das‐torres  para  as  épocas  de  2011  e  2012,  não  irá  ser 

considerada a colónia ME1, devido ao baixo número de crias e de casais registados em 2010, 

associado à elevada predação das posturas e ao estado de degradação do Monte.  

 

Referências   

Alcamo,  J., Moreno,  J.,  Nováky,  B.,  Bindi, M.,  Corobov,  R.,  Devoy,  R.,  Giannakopoulos,  C., 

Martin, E., Olesen, J., Shvidenko, A., 2007. Europe  in Parry, M., Canziani, O., Palutikof, J.,  

van  der  Linden,  P.,  Hanson,  C.  (Eds.).  Climate  Change  2007:  Impacts,  Adaptation  and 

Vulnerability. Contribution of Working Group  II  to  the Fourth Assessment Report of  the 

Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, UK. 

Alonso,  J.,  Palacín,  C.,  Alonso,  J., Martín,  C.,  2009.  Post‐breeding migration  in male  great 

bustards:  low  tolerance  of  the  heaviest  Palaearctic  bird  to  summer  heat.  Behavioral 

Ecology and Sociobiology, 63. 

Audsley,  E.,  Pearn,  K.,  Simota,  C.,  Cojocaru,  G.,  Koutsidou,  E.,  Rounsevell,  M.,  Trnka,  M., 

Alexandrov, V., 2006. What  can  scenario modelling  tell us about  future European  scale 

agricultural land use, and what not?. Environmental Science and Policy, 9. 

Bale,  J.,  Hayward,  S.,  2010.  Insect  overwintering  in  a  changing  climate.  The  Journal  of 

Experimental Biology, 213. 

Baptista, F. O., 2010. Alentejo a questão da terra. 100Luz. 

 

 58

Berry,  P.,  Rounsevell,  M.,  Harrison,  P.,  Audsley,  E.,  2006.  Assessing  the  vulnerability  of 

agricultural  land use and  species  to  climate  change and  the  role of policy  in  facilitating 

adaptation. Environmental Science & Policy, 9. 

Bonal, R., Muñoz, A., Espelta,  J., 2010. Mismatch between  the  timing of oviposition and  the 

seasonal optimum: The stochastic phenology of Mediterranean acorn weevils. Ecological 

Entomology, 35. 

Bonan,  G.,  2002.  Ecological  Climatology:  Concepts  and  Applications.  Cambridge  University 

Press, Cambridge, UK. 

Borralho, R., Rito, A., Rego, F., Simões, H., Vaz Pinto, P., 1998. Summer distribution of Red‐

legged  Partridges  Alectoris  rufa  in  relation  to  water  availability  on  Mediterranean 

farmland, Ibis, 140. 

Brandão, A., 2006. Alterações Climáticas na Agricultura Portuguesa:  instrumentos de análise, 

impactos e medidas de adaptação. Tese de Doutoramento em Engenharia Agronómica, 

Instituto Superior de Agronomia. 

Bretagnolle, V.,  Villers, A., Denonfoux, L., Cornullier, T. & Inchausti, P. 2010. Alphalpha and the 

conservation of  little bustards and other birds  in  southwest  France. Proceedings of  the 

2009 BOU Annual Conference: Lowland Farmland Birds III. Countryside Council for Wales, 

Defra, Natural England, the RSPB and Scottish Natural Heritage. 

Brohan, P., Kennedy,  J., Harris,  I., Tett, S.,  Jones, P., 2006. Uncertainty estimates  in  regional 

and  global  observed  temperature  changes:  A  new  dataset  from  1850. Journal  of 

Geophysical Rsearch, 111. 

Bustamante,  J.,  1997.  Predictive  models  for  lesser  kestrel  Falco  naumanni  distribution, 

abundance and extinction in southern Spain. Biological Conservation, 80. 

Birds of the Western Paleartic interactive 2.0.1. 2006. BirdGuides Ltd. 

Caballero, F.S., 2002. La alimentación de la avutarda en la província de Badajoz. Quercus, 194. 

Cabral, M. J. (Coord.), Almeida, J., Almeida, P. R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, 

M.  E.,  Palmeirim,  J. M.,  Queiroz,  A.  I.,  Rogado,  L.,  Santos‐Reis, M.  (Eds.),  2006.  Livro 

Vermelho  dos  Vertebrados  de  Portugal.  2ª  ed.  Instituto  da  Conservação  da 

Natureza/Assírio & Alvim. 

Catry, I. & Reis, S. 2003. Relatório da monitorização das colónias de Peneireiro‐das‐torres Falco 

naumanni em Portugal – 2003. Relatório do Projecto Peneireiro‐das‐torres, LPN, Lisboa. 

 

 59

Catry, I., Catry, T., Alcazar, R. & Cordeiro, A. 2004.  Relatório da monitorização das colónias de 

Peneireiro‐das‐torres  Falco  naumanni  em  Portugal  –  2004.  Relatório  do  Projecto 

Peneireiro‐das‐torres, LPN, Lisboa. 

Catry, I., Cordeiro, A. & Alcazar, R. 2005. Relatório da monitorização das colónias de Peneireiro‐

das‐torres  Falco  naumanni  em  Portugal  –  2005.  Projecto  Peneireiro‐dastorres,  LPN, 

Lisboa. 

Catry,  I.,  Alcazar,  R.,  Franco,  A.,  Sutherland,  W.,  2009.  Identifying  the  effectiveness  and 

constraints of conservation  interventions: A case study of the endangered  lesser kestrel. 

Biological Conservation, 142. 

Catry, I., Alcazar, R., Henriques, I., 2007. The role of nest‐site provisioning  in  increasing  lesser 

kestrel  Falco  naumanni  numbers  in  Castro  Verde  Special  Protection.  Conservation 

Evidence, 4. 

Catry,  I.,  Franco,  A.,  Sutherland,  W.,  2010.  Adapting  conservation  efforts  to  face  climate 

change: modifying nest‐site provisioning for lesser kestrels. Submetido a piblicação. 

Cheddadi, R., Guiot, J., Jolly, D., 2001. The Mediterranean vegetation: what if the atmospheric 

CO2 increased?. Landscape Ecology, 16. 

Costa, A., Soares, A., 2009. Trends in extreme precipitation indices derived from a daily rainfall 

database for the South of Portugal. International Journal of Climatology, 29. 

Cramp, S., Simmons, K., 1980. The birds of  the Western Palearctic, vol.  II. Oxford University 

Press, London, UK. 

de  Frutos, A., Olea, P., 2008.  Importance of  the premigratory  areas  for  the  conservation of 

lesser  kestrel:  space  use  and  habitat  selection  during  the  post‐fledging  period.  Animal 

Conservation, 11. 

de Frutos, A., Olea, P., Mateo‐Tomás, P., Purroy, F., 2009. The role of fallow in habitat use by 

the  Lesser  Kestrel  during  the  post‐fledging  period:  inferring  potential  conservation 

implications  from  the  abolition  of  obligatory  set‐aside.  European  journal  of  Wildlife 

Research, 56. 

De Juana, E., Garcia, A., 2005. Fluctuaciones relacionadas con  la precipitación en  la riqueza y 

abundancia de aves de medios esteparios mediterrâneos. Ardeola, 52. 

Delgado,  A., Moreira,  F.,  2000.  Bird  assemblages  of  an  Iberian  cereal  steppe.  Agriculture, 

Ecosystems & Environment, 75. 

Delgado, A., Moreira,  F.,  2002. Do wheat, barley  and oats provide  similar habitat  and  food 

resources for birds in cereal steppes?. Agriculture, Ecosystems & Environment, 93. 

 

 60

Delgado,  A.,  Moreira,  F.,  2010.  Between‐year  variations  in  Little  Bustard  Tetrax  tetrax 

population densities are influenced by agricultural intensification and rainfall. Ibis, 152. 

Delgado, M., Morales, M., Traba, J., Garcia de la Morena, E., 2009. Determining the effects of 

habitat management and climate on the population trends of a declining steppe bird. Ibis, 

151. 

Directiva Aves ‐ Directiva n.º 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril, alterada pelas directivas 

n.º  91/244/CEE,  da  Comissão,  de  6  de Março,  e  n.º  97/49/CE,  da  Comissão,  de  29  de 

Junho. 

Donázar,  J.,  Negro,  J.,  Hiraldo,  F.,  1993.  Foraging  habitat  selection,  land‐use  changes  and 

population decline in the lesser kestrel Falco naumanni. Journal of Applied Ecology, 30. 

Fonseca, C., 2004. Factores do habitat que determinam a ocorrência de Abetarda (Otis tarda) 

durante o Inverno na Zona de Protecção Especial de Mourão/Moura/Barrancos (Portugal). 

Estágio  Profissionalizante  da  Licenciatura  em  Biologia  Aplicada  aos  Recursos  Animais, 

variante Terrestres, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 

Frampton, G., Van Den Brink, P., Gould, P., 2000. Effects of spring drought and  irrigation on 

farmland arthropods in southern Britain. Journal of Applied Ecology, 37. 

Franco,  A.,  Catry,  I.,  Sutherland, W.,  Palmeirim,  J.,  2004a.  Do  different  habitat  preference 

survey methods  produce  the  same  conservation  recommendations  for  lesser  kestrels?. 

Animal Conservation, 7. 

Franco, A., Marques,  J.,  Sutherland, W.,  2005.  Is nest‐site  availability  limiting  Lesser  Kestrel 

populations? A multiple scale approach. Ibis, 147. 

Franco, A., Sutherland, W., 2004b. Modelling the foraging habitat selection of  lesser kestrels: 

conservation implications of European Agricultural Policies. Biological Conservation, 120. 

García, J., Morales, M., Martínez, J., Iglesias, L., Garcia de la Morena, E., Suárez, F., Viñuela, J., 

2006. Foraging activity and use of space by Lesser Kestrel Falco naumanni  in relation  to 

agrarian management in central Spain. Bird Conservation International, 16. 

Giannakopoulos, C., Bindi, M., Moriondo, M., LeSager, P., Tin, T., 2005. Climate change impacts 

in the Mediterranean resulting from a 2oC global temperature rise. WWF. 

Gordo, O., Sanz, J., 2005. Phenology and climate change: a long‐term study in a Mediterranean 

locality. Oecologia, 146. 

Gordo, O., Sanz,  J., 2006. Temporal  trends  in phenology of  the honey bee Apis mellifera  (L.) 

and  the  small white  Pieris  rapae  (L.)  in  the  Iberian  Peninsula  (1952–2004).  Ecological 

Entomology, 31. 

 

 61

Hansen, J., Ruedy, R., Sato, M., Imhoff, M., Lawrence, W., Easterling, D., Peterson, T., Karl, T., 

2001. A  closer  look at United States and global  surface  temperature  change. Journal of 

Geophysical Rsearch, 106. 

Hassal, C., Thompson, D., French, G., Harvey,  I., 2007. Historical changes  in the phenology of 

British Odonata are related to climate. Global Change Biology, 13. 

Henriques,  I., 2003. Estudo de alguns parâmetros populacionais e da  selecção de habitat do 

Sisão  (Tetrax  tetrax) durante  a  época de  reprodução em  áreas  com diferentes  regimes 

agrícolas.  Estágio  Profissionalizante  da  Licenciatura  em  Biologia  Aplicada  aos  Recursos 

Animais, variante Terrestres, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 

Henriques, I.,  Constantino, R., Alcazar, R. 2006. Relatório Final da Monitorização das Colónias 

de  Peneireiro‐das‐torres  Falco  naumanni  em  Portugal—2006  da  Acção D2  do  Projecto 

Penereireiro‐das‐torres 

Hickling, R., Roy, D., Hill,  J.,  Fox, R.,  Thomas, C., 2006.  The distributions of  a wide  range of 

taxonomic groups are expanding polewards. Global Change Biology, 12. 

Hidalgo, S.J. & Carranza, J., 1991. Timing, structure and functions of the courtship display in the 

male Great Bustard. Ornis Scandinavica, 22: 360‐366. 

Hill,  J.,  Thomas,  C.,  Fox,  R.,  Telfer, M., Willis,  S., Asher,  J., Huntely,  B.,  2002.  Responses  of 

butterflies  to  twentieth  century  climate  warming:  implications  for  future  ranges. 

Proceedings of the Royal Society of London B, 269. 

Hounsome, T. Leech, D., Gorman, M., Raffaelli, D. Delahay, R., 2010. The effect of cattle grazing 

on  ground  nesting  birds.  Proceedings  of  the  2009  BOU  Annual  Conference:  Lowland 

Farmland Birds  III. Countryside Council  for Wales, Defra, Natural England,  the RSPB and 

Scottish Natural Heritage. 

Huntley, B., Green, R., Collingham, Y., Willis, S., 2007. A climatic atlas of European breeding 

birds. Durham University, The RSPB and Lynx Editions, Barcelona. 

Inchausti, P., Bretagnolle, V., 2005. Predicting short‐term extinction risk for the declining Little 

Bustard (Tetrax tetrax) in intensive agricultural habitats. Biological Conservation, 122. 

IUCN,  2010.  IUCN  Red  List  of  Threatened  Species.  Version  2010.3.  <www.iucnredlist.org>. 

Downloaded on 21 September 2010. 

Jiguet, F., 2002. Arthropods in diet of Little Bustards Tetrax tetrax during the breeding season 

in  western  France:  Seasonal,  age  and  sex‐related  variations  in  the  diet  were  studied 

during March to October. Bird Study, 49. 

 

 62

Jiguet, F.,  Julliard, R., Thomas, C., Dehorter, O., Newson, S., Couver, D., 2006. Thermal range 

predicts bird population resilience to extreme high temperatures. Ecology Letters, 9. 

Karl, T., Knight, R., Baker, B., 2000. The record breaking global temperatures of 1997 and 1998: 

Evidence for an increase in the rate of global warming?. Geophysical Research Letters, 27. 

Lane, S., Alonso, J., Alonso, J., Naveso, M., 1999. Seasonal changes in diet and diet selection of 

great bustards (Otis t. tarda) in north‐west Spain. Journal of Zoology, 247. 

Lane, S., Alonso, J., Martín, C., 2001. Habitat preferences of great bustard Otis tarda flocks  in 

the arable steppes of central Spain: are potentially suitable areas unoccupied. Journal of 

Applied Ecology, 38. 

Lázaro, R., Rodrigo, F., Gutiérrez, L., Domingo, F., Puigdefábregas,  J., 2001. Analysis of a 30‐

year  rainfall  record  (1967‐1997)  in  semi‐arid  SE  Spain  for  implications  on  vegetation. 

Journal of Arid Environments, 48. 

Lugina, K., Groisman, P., Vinnikov, K., Koknaeva, V., Speranskaya, N., 2005. Monthly surface air 

temperature time series area‐averaged over the 30‐degree  latitudinal belts of the globe, 

1881–2004.  Trends:  A  Compendium  of  Data  on  Global  Change,  Carbon  Dioxide 

Information Analysis Center, Oak Ridge National Laboratory, U.S. Department of Energy. 

<Available online at http://cdiac.esd.ornl.gov/trends/temp/lugina/lugina.html>. 

Magaña, M., Alonso, J., Martín, C., Bautista, L., Martín, B., 2010. Nest‐site selection by Great 

Bustards Otis tarda suggests a trade‐off between concealment and visibility. Ibis, 152. 

Mannetje, L., 2007. Climate change and grasslands through the ages: an overview. Grass and 

Forage Science, 62. 

Martínez,  C.,  1992. Variación  del  tamaño  y  tipo  de  los  bandos  de Avutarda  (Otis  tarda)  en 

función del habitat. Miscellania Zoologica, 16. 

Martínez, C., 1994. Habitat selection by the Little Bustard Tetrax tetrax  in cultivated areas of 

Central Spain. Biological Conservation, 67. 

Memmott, J., Craze, P., Waser, N., Price, M., 2007. Global warming and the disruption of plant‐

pollinator interactions. Ecology Letters, 10. 

Menéndez,  R.,  2007.  How  are  insects  responding  to  global  warming?.  Tijdschrift  voor 

Entomologie, 150. 

Mihoub,  J., Gimenez, O., Pilard, P., Sarrazin, F., 2010. Challenging  conservation of migratory 

species:  Sahelian  rainfalls drive  first‐year  survival of  the  vulnerable  Lesser Kestrel  Falco 

naumanni. Biological Conservation, 143. 

 

 63

Miranda,  J., Padilla, F., Lázaro, R., Pugnaire, F., 2009a. Do changes  in  rainfall patterns affect 

semiarid annual plant communities?. Journal of Vegetation Science, 20. 

Miranda, J., Padilla, F., Pugnaire, F., 2009b. Response of a Mediterranean semiarid community 

to  changing  patterns  of  water  supply.  Perspectives  in  Plant  Ecology,  Evolution  and 

Systematics, 11. 

Morales,  M.,  Alonso,  J.,  Alonso,  J.,  2002.  Annual  productivity  and  individual  female 

reproductive success in a great bustard Otis tarda population. Ibis, 144. 

Morales, M., Suárez, F., Garcia de  la Morena, E., 2006. Réponses des oiseaux de steppe aux 

différents  niveaux  de mise  en  culture  et  d'intensification  du  paysage  agricole.  Révue 

d’écologie, 61. 

Moreira,  F.,  Leitão,  P.,  Morgado,  R.,  Alcazar,  R.,  Cardoso,  A.,  Carrapato,  C.,  Delgado,  A., 

Geraldes, P., Gordinho, L., Henriques,  I., Lecoq, M., Leitão, D., Marques, A., Pedroso, R., 

Prego,  I., Reino, L., Rocha, P., Tomé, R., Osborne, P., 2007. Spatial distribution patterns, 

habitat correlates and population estimates of Steppe birds in Castro Verde. Airo, 17. 

Moreira, F., Morgado, R., Arthur, S., 2004. Great bustard Otis tarda habitat selection in relation 

to agricultural use in southern Portugal. Wildlife Biology, 10. 

Moreno, V., Morales, M., Traba, J., 2010. Avoiding over‐implementation of agri‐environmental 

schemes  for  steppe  bird  conservation:  a  species‐focused  proposal  based  on  expert 

criteria. Journal of Environmental Management, 91. 

Morgado, R., Moreira,  F., 2000.  Seasonal population dynamics, nest  site  selection,  sex‐ratio 

and clutch size of the Great Bustard Otis tarda in two adjacent lekking areas. Ardeola, 47. 

Nakićenović, N., Swart, R., (Eds.) 2000. Special Report on Emissions Scenarios. A Special Report 

of  Working  Group  III  of  the  Intergovernmental  Panel  on  Climate  Change. Cambridge 

University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA. 

Newton, I., 1998. Population Limitation in Birds. Academic Press, London, UK. 

Olesen,  J.,  Bindi,  M.,  2002.  Consequences  of  climate  change  for  European  agricultural 

productivity, land use and policy. European Journal of Agronomy, 16. 

Parmesan,  C.,  2007.  Influences  of  species,  latitudes  and  methodologies  on  estimates  of 

phenological response to global warming. Global Change Biology, 13. 

Pendlebury, C., MacLeod, M., Bryant, D., 2004. Variation in temperature increases the cost of 

living in birds. Joural of Experimental Biology, 207. 

Peñuelas,  J., Gordon, C., Llorens, L., Nielsen, T., Tietema, A., Beier, C., Bruna, P., Emmett, B., 

Estiarte, M.,  Gorissen,  A.,  2004.  Nonintrusive  Field  Experiments  Show  Different  Plant 

 

 64

Responses to Warming and Drought Among Sites, Seasons, and Species  in a North‐South 

European Gradient. Ecosystems, 7. 

Pérez, F., Boscolo, R., 2010. Clima en España: Pasado, Presente y Futuro. CLIVAR. 

Pinto,  M.;  Rocha,  P.;  Moreira,  F.  2005.  Long‐term  trends  in  great  bustard  (Otis  tarda) 

populations  in  Portugal  suggest  concentration  in  single  high  quality  area.  Biological 

Conservation, 124. 

Reino, L., Porto, M., Morgado, R., Moreira, F., Fabião, A., Santana, J., Delgado, A., Gordinho, L., 

Cal,  J., Beja, P., 2010. Effects of  changed grazing  regimes and habitat  fragmentation on 

Mediterranean grassland birds. Agriculture, Ecosystems & Environment, 138. 

Robinet, C., Roques, A.,  2010. Direct impacts of recent climate warming on insect populations. 

Integrative Zoology, 5. 

Robinson, R., Baillie, S., Crick, H., 2007. Weather‐dependent  survival:  implications of climate 

change for passerine population processes. Ibis, 149. 

Rocha,  P.,  1995.  O  Peneireiro‐de‐dorso‐liso  (Falco  naumanni)  na  região  de Mértola‐Castro 

Verde: Biologia e Ecologia de uma ave de presa colonial. Relatório de Estágio do curso de 

Recursos Faunísticos e Ambiente, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 

Rocha, P., 2006. Dinâmica populacional e distribuição da Abetarda no Baixo‐Alentejo – Relação 

com o uso da terra. Tese de Doutoramento em Engenharia Florestal, Instituto Superior de 

Agronomia. 

Rocha, P., Marques, A., Moreira, F., 2005. Seasonal variation in Great Bustard Otis tarda diet in 

South Portugal with a focus on the animal component. Ardeola, 52. 

Rodríguez, C., Bustamante, J., 2003. The effect of weather on  lesser kestrel breeding success: 

can climate change explain historical population declines?. Journal of Animal Ecology, 72. 

Rodríguez,  C.,  Bustamante,  J.,  2008.  Patterns  of  Orthoptera  abundance  and  lesser  kestrel 

conservation in arable landscapes. Biodiversity and Conservation, 17. 

Rodríguez, C., Johst, K., Bustamante, J., 2006. How do crop types influence breeding success in 

lesser  kestrels  through  prey  quality  and  availability?  A modelling  approach.  Journal  of 

Applied Ecology, 43. 

Rosenzweig,  C.  e  Hillel,  D.  (Eds.),  1998.  Climate  change  and  the  global  harvest.  Potential 

Impacts of the Greenhouse Effect on Agriculture. Oxford University Press, New York, USA. 

Rounsevell, M.,  Ewert,  F.,  Reginster,  I.,  Leemans,  R.,  Carter,  T.,  2005.  Future  scenarios  of 

European  agricultural  land  use  II.  Projecting  changes  in  cropland  and  grassland. 

Agriculture, Ecossystem and Environment, 107. 

 

 65

Roy, D., Sparks, T., 2000. Phenology of British butterflies and climate change. Global Change 

Biology, 6. 

Salamolard,  M.,  Moreau,  C.,  1999.  Habitat  selection  by  Little  Bustard  Tetrax  tetrax  in  a 

cultivated area of France. Bird Study, 46. 

Samways, M., 2005. Insect Diversity Conservation. Cambridge University Press, Cambridge, UK. 

Samways, M., McGeoch, M., New, T., 2010.  Insect Conservation: A handbook of approaches 

and methods. Oxford University Press, London, UK. 

Santos, F., Forbes, K., Moita, R.,  (Eds.) 2002. Climate Change  in Portugal. Scenarios,  Impacts 

and Adaptation Measures ‐ SIAM Project. Gradiva, Lisboa, Portugal. 

Santos, F., Miranda, P.,  (Eds.) 2006. Alterações Climáticas em Portugal. Cenários,  Impactos e 

Medidas de Adaptação ‐ Projecto SIAM II. Gradiva, Lisboa, Portugal. 

Silva, J., 2005. Modelação da selecção de habitat do Sisão Tetrax tetrax em período reprodutor 

numa  paisagem  fragmentada  do  Alto  Alentejo.  Tese  de  Mestrado  em  Biologia  da 

Conservação, Universidade de Évora. 

Silva, J., Faria, N., Catry, T., 2007. Summer habitat selection and abundance of the threatened 

little bustard in Iberian agricultural landscapes. Biological Conservation, 139. 

Silva,  J.,  Palmeirim,  J., Moreira,  F.,  2010. Higher  breeding  densities  of  the  threatened  little 

bustard  Tetrax  tetrax  occur  in  larger  grassland  fields:  Implications  for  conservation. 

Biological Conservation, 143. 

Silva, J., Pinto, M., Palmeirim, J., 2004. Managing landscapes for the little bustard Tetrax tetrax: 

lessons from the study of winter habitat selection. Biological Conservation, 117. 

Smith,  T.,  Reynolds,  R.,  2005.  A  global  merged  land  and  sea  surface  temperature 

reconstruction based on historical observations (1880–1997). Journal of Climate, 18. 

Smith,  T.,  Smith,  R.,  2008.  Elements  of  Ecology.  7th  Edition.  Benjamin/Cummings  Science 

Publishing.San Francisco, California.  

Solomon,  S., Qin, D., Manning, M., Chen,  Z., Marquis, M., Averyt, K.,  Tignor, M., Miller, H., 

(Eds.)  2007.  Contribution  of Working Group  I  to  the  Fourth  Assessment  Report  of  the 

Intergovernmental  Panel  on  Climate  Change,  2007.  Cambridge  University  Press, 

Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA. 

Suárez‐Seoanne, S., Osborne, P., Alonso, J., 2002. Large‐scale habitat selection by agricultural 

steppe  birds  in  Spain:  identifying  species‐habitat  responses  using  generalized  additive 

models. Journal of Applied Ecology, 39. 

 

 66

Suaréz‐Seoanne, S., Osborne, P., Rosema, A., 2004. Can climate data from METEOSAT improve 

wildlife distribution models?. Ecography, 27. 

Tella,  J.,  Forero,  M.,  Hiraldo,  F.,  Donázar,  J.,  1998.  Conflicts  between  Lesser  Kestrel 

conservation  and  European  agricultural  policies  as  identified  by  habitat  use  analyses. 

Conservation biology, 12. 

Traba,  J., Morales, M., Garcia  de  la Morena,  E., Delgado, M.,  Kristin, A.,  2008.  Selection  of 

breeding  territory  by  little  bustard  (Tetrax  tetrax) males  in  Central  Spain:  the  role  of 

arthropod availability. Ecological Research, 23. 

Ursúa, E., Serrano, D., Tella, J., 2005. Does  land  irrigation actually reduce foraging habitat for 

breeding lesser kestrels? The role of crop types. Biological Conservation, 122. 

Van Oldenborgh, G., Drijfhout, S., van Ulden, A., Haarsma, R., Sterl, A., Severijns, C., Hazeleger, 

W., Dijkstra, H., 2009. Western Europe is warming much faster than expected. Climate of 

the Past, 5. 

Wolff, A., Dieuleveut, T., Martin, J., Bretagnolle, V., 2002. Landscape context and Little Bustard 

abundance  in  a  fragmented  steppe:  implications  for  reserve  management  in  mosaic 

landscapes. Biological Conservation, 107. 

Wolff, A., Paul,  J., Martín,  J., Bretagnolle, V., 2001. The Benefits of Extensive Agriculture  to 

Birds: the case of the little bustard. Journal of Applied Ecology, 38. 

 

 

 

 67

AnexoIRevisão bibliográfica das publicações científicas existentes sobre as espécies‐alvo do presente 

projecto LIFE (Anexo I). 

AnexoIIDELGADO, A. & MOREIRA,  F.  (2010)  Between‐year  variations  in  Little  Bustard  Tetrax  tetrax 

population densities are influenced by agricultural intensification and rainfall. Ibis, 152.