111
2º Semestre Referencial teórico que permite ordenar e sistematizar os conhecimentos obtidos através de vários métodos de investigação, assim como colocar novas hipóteses sobre a natureza dos factores causais que conduzem à perturbação. Isto tem uma enorme importância para o tratamento e para a prevenção (evitar que pessoas saudáveis desenvolvam perturbações mentais, pela intervenção precoce nos factores de risco, diferentes dos factores causais, embora por vezes coincidentes). Teorias Psicopatológicas Ordenar o que é disperso. Formular questões Inevitávei s Encontrar categorias causais Indispensáv eis Dados sobre o indivíduo: comportamento, experiência psicológica e estilo de adaptação, comunicação e interacção, família, grupo social, cultura, factores biológicos...

Psicopatologia - 2º semestre

  • Upload
    a

  • View
    239

  • Download
    1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

psi

Citation preview

Page 1: Psicopatologia - 2º semestre

2º Semestre

Referencial teórico que permite ordenar e sistematizar os conhecimentos obtidos

através de vários métodos de investigação, assim como colocar novas hipóteses sobre

a natureza dos factores causais que conduzem à perturbação. Isto tem uma enorme

importância para o tratamento e para a prevenção (evitar que pessoas saudáveis

desenvolvam perturbações mentais, pela intervenção precoce nos factores de risco,

diferentes dos factores causais, embora por vezes coincidentes).

A grande variabilidade de factores existentes implica que não se possa estudá-los

todos da mesma forma. Como tal existem vários métodos e várias teorias, sendo que

estas últimas assentam em três grandes grupos:

Factores Biológicos

Factores Psicológicos

Factores Sócio- familiares

Teorias Psicopatológicas

Ordenar o que é disperso.

Formular questões

Inevitáveis

Encontrar categorias causais

Indispensáveis

Dados sobre o indivíduo: comportamento,

experiência psicológica e estilo de adaptação,

comunicação e interacção, família, grupo social,

cultura, factores biológicos...

Cérebro Inconsciente

Social

Page 2: Psicopatologia - 2º semestre

Erros a evitar:

Absolutização – Acreditar que uma teoria explica tudo

Reducionismo – Tentar explicar o comportamento patológico, que é

complexo, se uma forma simplista, exclusivamente através de um elemento

elementar

Reificação (concretização) – Pensar que as teorias são a própria realidade,

quando elas são apenas construções abstractas que se fazem sobre uma

realidade que se pretende interpretar. Daqui se depreende que é desejável

que elas estejam em permanente desenvolvimento.

Em relação a estas teorias é necessário saber:

Qual a tese principal

Quais as teorias parciais

Qual o modelo a que essas teorias dão origem

Qual a sua aplicabilidade

Page 3: Psicopatologia - 2º semestre

1. Tese Central

Os fenómenos psicopatológicos são consequência directa de alterações somáticas da

localização cerebral. Estas alterações podem ser

Estruturais (ex. tumor)

Funcionais (ex. Febre, variações neuro-químicas...)

De origem Intracraniana (ex. tumor)

De origem Extracraniana (ex. Febre, desidratação)

No entanto, não se demonstrou ainda uma relação linear entre a gravidade dos

factores orgânicos e a gravidade da perturbação.

2. Teorias Parciais

a) Genética

Bases hereditárias

Significado grande

Em relação à maior parte das perturbações vê-se a influência dos genes

Condição necessária, mas não suficiente

Hereditariamente poligénica

A sua presença é um factor de risco

Funciona como indutor de alterações neurofisiológicas ou neuroquímicas

b) Neurofisiológica

Teoria da Desorganização neuronal de Floor-Henry

Associa alterações do hemisfério dominante (processos cognitivos)

com psicoses esquizofrénicas (paranóides: perturbação de

conteúdo do pensamento e percepção - delírio) e alterações do

hemisfério não-dominante (processos afectivos) com psicoses

afectivas (bipolares).

Teorias Organicistas (Biológicas)

Page 4: Psicopatologia - 2º semestre

c) Neuroquímica

Teoria da Alteração dos Neurotransmissores – Van Praag

Associa alterações neuroquímicas com as perturbações, por

exemplo: depressão resulta de alterações de seretonina e

noradrenalina em determinadas áreas do cérebro; variações de

dopamina estão ligadas a Psicoses Alucinatórias; a doença de

Alzeimer associada a oscilações no sistema modular da acetilcolina.

3. Modelo

Biofísico ou Bio-médico

A doença mental tem uma etiologia ou causa

A causa é orgânica

A causa orgânica produz sintomas

Os sintomas formam o quadro clínico

4. Aplicabilidade

O modelo é eficaz (tem grande aplicabilidade) na explicação do aparecimento

de perturbações mentais induzidas efectivamente por causas orgânicas

A aplicabilidade é complementar no caso das psicoses afectivas (bipolar) e

esquizofrénicas (desorganizada e catatónica, não paranóide).

Este modelo não tem aplicabilidade para explicar a psicopatologia neurótica,

as perturbações da personalidade e as perturbações de ajustamento

Page 5: Psicopatologia - 2º semestre

1. Tese central

Os fenómenos psicopatológicos são determinados por factores familiares e sociais

Conclui-se que os factores ligados ao equilíbrio social podiam estar relacionados com

as causas (sociogénese) das perturbações mentais, porque, quando se agia sobre

factores do contexto (suporte social, integração familiar) em casos de doença mental

prolongada, os sujeitos apresentavam melhoras.

2. Teorias Parciais

a) Patologia da Comunicação

Perturbação do Padrão de Comunicação Intrafamiliar.

Verificou-se que os processos de comunicação são significativamente

diferentes nas famílias com pessoas esquizofrénicas em relação àquelas que

não têm. Enquanto nas famílias normais, o padrão de comunicação pais-

filhos tem diferentes estilos, de acordo com os contextos, a maioria (90%)

das comunicações nas famílias com alguém esquizofrénico assenta em

apenas uma modalidade de comunicação. A modalidade privilegiada é muito

patológica: paradoxal ou em duplo vínculo (2 significados opostos), tal é

muito perturbador para o receptor, já que este não entende o significado das

comunicações vindas de pessoas que avalia como importantes. A repetição

destes padrões conduz o receptor a uma posição insustentável de impasse.

De forma a que, para conseguir ficar em casa, tem três saídas possíveis:

uma, é fechar os canais de comunicação (introversão/ autismo

esquizofrénico), uma segunda, que é escolher ao acaso, o que torna tudo

igual a tudo (perda do pensamento lógico- formal – esquizofrenia tipo

desorganizada) e uma última, que passa pela construção de uma nova

realidade, que leva ao desenvolvimento das ideias delirantes da

esquizofrenia paranóide (o delírio não é défice, mas uma tentativa última de

adaptação).

Teorias Sociais

Page 6: Psicopatologia - 2º semestre

b) Sociogenia

Teoria do Stress Social – O contexto social pode comportar pode comportar

situações em que certos indivíduos estão mais vulneráveis. Estes sujeitos

encontram-se, então, em fragilidade social, já que a sua integração social

está routa, por exemplo, desemprego prolongado, pobreza...

3. Modelos

a) Modelo Familiar

A família é que está perturbada

A perturbação é ao nível da comunicação

O comportamento patológico é a reacção do indivíduo contra a má

comunicação

Aplicabilidade

Não de definiu se o factor é causa ou consequência, já que a presença de um

indivíduo perturbado modifica o sistema comunicacional.

b) Modelo Social

A perturbação resulta do impacto do stress social em sujeitos com

fragilidade social

Aplicabilidade

Razoavelmente eficaz em relação a perturbações (depressão, ajustamento,

consumos...) de indivíduos em fragilidade social

Page 7: Psicopatologia - 2º semestre

Teoria Comportamental

1. Tese central

Os fenómenos resultam de patologia da Aprendizagem

2. Teorias Parciais

a) Lacunas no comportamento

Debilidade – ausência de aprendizagem

Comportamento Assertivo (verbal) – É aprendido na relação com os

outros, ao nível da comunicação. O indivíduo não é capaz de comunicar

claramente o que quer e o quer não quer, por inibição depressiva ou

ansiosa (tipo social).

Processo de Coping ou confronto com o stress – os comportamentos de

gestão do stress (diminuir, controlar) são aprendidos. Se houver aqui um

défice de aprendizagem, o indivíduo em vez de se adaptar no confronto

com o stress, perturba-se (ansiedade, depressão).

b) Comportamentos que são problemáticos porque existem

Trata-se de comportamentos inadequados, porque mal aprendidos.

Medos fóbicos – factores ligados à aprendizagem conduzem à sua

génese. Segundo o modelo do condicionamento, quando há

contiguidade de estímulos entre um estímulo incondicionado aversivo e

outro estímulo neutro presente na altura ocorre uma associação dos

dois por condicionamento clássico, que é mantida por reforço (Skinner:

o evitamento proporciona bem estar, logo evitar o estímulo dá um

reforço positivo, neste caso, menos medo).

Disfunções Sexuais de natureza funcional – condicionamento de

medo/ ansiedade (com diferentes conteúdos: não agradar, ansiedade

Teorias Psicológicas

Page 8: Psicopatologia - 2º semestre

de desempenho...) à actividade sexual, visto que ansiedade provoca

inibição (sexual, inclusivamente). A cada novo fracasso mais

ansiedade haverá numa nova oportunidade.

3. Modelo Comportamental

O sujeito aprende comportamentos patológicos destinados a aliviar a

ansiedade

O comportamento perturbado resulta da aprendizagem condicionada ou

social desses comportamentos patológicos, que se mantém por reforço

4. Aplicabilidade

Explica o aparecimento de certas perturbações

Patologia fóbica (simples, social e agorafobia)

Disfunções sexuais funcionais

Depressão (como factor ligado à aprendizagem)

Modelo do Desespero Aprendido Processos de Aprendizagem SocialA criança nunca tem um reforço positivo dos pais, o que acarreta sentimentos de

frustração. Não havendo controlo ambiental (nada promove reforços

positivos), os níveis de insegurança aumenta, levando a desespero (abandono

afectivo) e consequentemente à depressão.

O sujeito pode aprender que o comportamento depressivo é um

comportamento desejável, já que o observa repetidamente na interacção com figuras significativas (o seu modelo é um

pai deprimido).

Seja qual for o factor causal, a perturbação pode manter-se por

aprendizagem, desde que o sujeito atribua grande importância a um

comportamento que alivia a ansiedade (ex. Dependência química) ou a uma

aprovação tácita do grupo social (mantém-se por reforço).

Page 9: Psicopatologia - 2º semestre

Teoria Desenvolvimentista

(muito recente: 20 anos)

1. Tese Central

Os fenómenos Psicopatológicos integram-se no desenvolvimento psicológico

normal

2. Teorias Parciais

a) A patologia normal pode alterar condições do desenvolvimento cognitivo e

emocional-social (mais evidente na infância e na adolescência).

b) O desenvolvimento como factor causal da perturbação

1ª dimensão- O sujeito não passa para a fase seguinte do desenvolvimento –

lacuna no processo do desenvolvimento – falta de skills

2ª dimensão- A presença numa determinada fase, com determinados

comportamentos de uma fase anterior. Existe portanto uma desarmonia (ex.

Jovens adultos)

c) Ciclo de Vida - Fases de vida do nascimento à morte.

Tanto na adolescência como na velhice verificam-se perturbações da

consciência do corpo, mas na enquanto nesta última está ligada à

hipocondria, na primeira costuma estar associada ao comportamento

alimentar ou dismorfobias.

Verifica-se 2 tendências: Nos mais novos, menos comportamentos sociais:

comportamentos (agressividade, abuso de substâncias, tentativas de

suicídio). Nos mais velhos, mais comportamentos sociais: perturbações do

pensamento (obsessivos, delirantes) e afectos

Page 10: Psicopatologia - 2º semestre

3. Modelos

A perturbação é uma descontinuidade (ou desequilíbrio) que surge ao longo

da continuidade do desenvolvimento normal

4. Aplicabilidade

Estudar impactos a nível comportamental/ afectivo / cognitivo...

Relação entre o desenvolvimento e o tipo predominante de patologia

Page 11: Psicopatologia - 2º semestre

Teoria Sistémica

1. Tese central

Os fenómenos psicopatológicos são configurações de respostas

psicológicas e fisiológicas ao stress social

2. Conceptualizações Principais

Confronto do sujeito com situações indutoras de stress (estado de saúde,

estilo de coping, suporte social)

Stress – resultado da interacção entre os factores de stress e os recursos

do sujeito

3. Modelo Sistémico

Perturbações como o resultado da falência dos processos individuais de

confronto e adaptação, considera, portanto, a psicopatologia como

adaptativa (dificuldades de adaptação)

4. Aplicabilidade

Entendimento da psicopatologia em relação com dificuldades de confronto

com acontecimentos vividos (leitura modelo de stress e de coping)

Perturbações de ajustamento (ansiedade patológica, reactiva, depressão

reactiva)

O stress agrava e mantém perturbações mentais

Page 12: Psicopatologia - 2º semestre

Memória de

Trabalho

Memória de

Evocação (onde está tudo o que somos e fomos)

Crença (funciona como um filtro, que lê da realidade o que quer ler: enviezamento)

Nos anos 60/70, Aaron Beck baptiza o pai crenças como esquema.

Jonhson Laird, apelida o construto a partir do qual o sujeito filtra a informação de esquema mental.

Teoria Cognitvista

1. Introdução

Modelo de processamento da informação

2. Terapia Cognitiva de Beck

Na versão original desta teoria existia um modelo simplista que ligada cognição e

emoção, nomeadamente que a cognição causava a emoção.

As posteriores revisões desta teoria vieram demonstrar que a cognição não é causa

directa da emoção, mas uma parte de um conjunto de mecanismos em interacção, que

envolvem factores biológicos, psicológicos e sociais.

Outros autores (Clark; Teasdale) postulavam, aliás, uma relação circular entre

cognição e emoção.

Page 13: Psicopatologia - 2º semestre

Eu perdedor

Futuro Negro

Mundo frustrante

Componentes Principais da Teoria

Tipos de Estruturas cognitivas onde assentam desordens emocionais

O tipo de representação de conhecimento focada pela teoria cognitiva são os

esquemas – unidades pelas quais a memória, o pensamento e a percepção são

organizados.

Estes esquemas derivam da experiência passada do sujeito, nomeadamente da

relação da criança com os progenitores, embora não sejam vistos como

representações passivas dessa experiência.

Outra característica sua é a de irem para além da informação corrente, ou seja, a

activação de parte do esquema leva à activação de todo o esquema. Portanto, a

informação contida no input vai ser processada de acordo com os valores operacionais

com “default”.

Também os esquemas que orientam relações interpessoais e importantes papeis e

metas podem ser activados desta forma. Em seguida, estes, que são baseados no

passado do sujeito, providenciam o ponto de partida para a concepção de novas

relações e experiências.

Em relação a perturbações emocionais específicas, Beck argumenta que certos

grupos de esquemas disfuncionais são provavelmente característicos.

Ex. Na depressão os esquemas reflectem, em parte, a tríade cognitiva que foca os

aspectos negativos do self, do mundo e do futuro.

Entre os episódios de desordens emocionais (depressão e ansiedade), o autor propõe

que os esquemas disfuncionais inactivos/ adormecidos são apenas activados quando

o estímulo de stress concordante ocorre.

Page 14: Psicopatologia - 2º semestre

Processos Cognitivos

O efeito da activação de esquemas disfuncionais é que produzem pensamentos

negativos automáticos (“sou um falhado”; “ninguém gosta de mim”), em que o

indivíduo acredita.

Apesar de toda a gente ter estes pensamentos, o indivíduo predisposto à depressão

procura mais evidências para suportar estas crenças negativas.

Esta procura de evidência inclui as distorções lógicas dos pensamentos, que são:

Alteração selectiva

Minimização do material positivo relacionada com o self

Maximização do material negativo relacionado com o self

Pessoalização – acartar a culpa por tudo o que de negativo acontece

O resultado disto, em combinação com outros enviezamentos, como os da memória, é

que o indivíduo deprimido mantém uma certa visão negativa do self e continua,

consequentemente, deprimido.

Early Experience(ex. criticism and rejection from parents)

Formulation of Disfunctional Assumptions(eg. unless I am loved I am worthless)

Critical Incidents(eg. loss events)

Activation of Assumption

Negative Automatic Thoughts

Depression

Page 15: Psicopatologia - 2º semestre

3. Emoções Básicas de Eckman e sua aplicação à leitura cognitivista da

Psicopatologia Neurótica

Medo

O medo normal está bastante presente nas nossas vidas, no entanto, quando

extremado e não adaptado/ contextualizado, evolui para perturbações de ansiedade

(ataques de pânico, ansiedade generalizada, ou stress pós-traumático) ou

perturbações fóbicas.

Exemplo: Fobia Social: expectativa de ser avaliado quando em público, que coexiste

com um modelo de desvalorização do self. Tal origina fuga. Faz um corte com a

realidade anterior, uma vez que não processa nenhuma das vezes em que teve

comportamentos pró-sociais.

Repulsa

Aparece transculturalmente através da boca, no evitamento da incorporação (primeiro

através da mama, e depois com outras utilizações...).

Quando extremada, verifica-se o evitamento presente na neurose obsessivo-

compulsiva. Muitas vezes daqui decorrem bizarrias comportamentais (ex. compulsões

de lavagem, verificação).

O que aqui se observa é a passagem para o exterior da repulsa pelo próprio self, a par

de uma rigidização da ambivalência do self “penso, logo evito.”

Raiva

Quando extremada dá origem à agressividade (auto ou hetero).

Tristeza

Quando extremada e desadaptada dá origem à depressão.

Com o modelo da depressão desenvolve-se a terapia cognitivista, onde aparecem

classicamente os modelos psicopatológicos dos esquemas mentais, como

especificado acima.

Alegria/ Felicidade

Page 16: Psicopatologia - 2º semestre

Teoria Fenomenológico- Existencial

1. Introdução

Dentro dos modelos psicodinâmicos, aqueles que procuram a compreensão

psicológica e psicopatológica do sujeito em função da sua história individual,

diferenciam-se as teorias psicanalíticas e as fenomenologico-existenciais.

Apesar de ambos se tratarem de modelos hermenêuticos, divergem na sua

metodologia e pressupostos fundamentais.

Por exemplo, para a Psicanálise o sujeito psicológico é determinado por pulsões

inconscientes, que foram muito influenciados pelas figuras parentais em fases

precoces do desenvolvimento, enquanto para o Existencialismo é o próprio sujeito que

se determina a ele próprio, isto é o seu destino é construído activamente pelo sujeito,

por intermédio das escolhas que vai fazendo.

2. Conceptualizações Psicológicas

Concepção do Homem – Psicologia Existencial

Cuida da Sua Existência

Nós enquanto existentes tomamos conta de nós próprios, procurando o nosso auto

conhecimento, compreensão de nós próprios e descobrindo a nossa própria identidade

– existe uma tendência psicológica para isso.

Tal é mediatizado pela relação intersubjectiva com o outro, situação em que

aprendemos os nossos modos de sentir, pensar, imaginar...

“Cuidado” aqui remete para a importância que é dada ao que as pessoas são e ao que

elas são capazes de fazer (o que é chamado de auto-eficácia noutros modelos), assim

como ao que ainda não são, mas que podem vir-a-ser – as suas potencialidades. Isto

pode aparecer mais claramente nas situações de dificuldade, nomeadamente nas

situações de sofrimento psicológico.

Page 17: Psicopatologia - 2º semestre

Desta forma, verificamos que a patologia, embora gere sofrimento, tem/ pode ter

aspectos positivos, na medida que pode proporcionar a possibilidade da pessoa se

conhecer melhor.

Escolhe Intencionalmente e Constrói Significativamente

A Psicologia Existencial tem do sujeito a concepção de que é um ser consciente e

reflexivo, na medida em que é capaz de fazer escolhas intencionalmente, ou seja,

opções que têm significado e que correspondem a desejos, necessidades, etc.

Ao contrário da Psicanálise, o Existencialismo defende que toda a vida mental é o

resultado de escolhas que se fazem de forma consciente (e não inconscientemente), e

donde resulta o significado da nossa existência.

Desta forma, o sofrimento psicológico pode ser o resultado de determinadas escolhas,

não por que as pessoas escolham ficar perturbadas, mas porque o ficam no resultado

das suas escolhas.

Este modelo dá importância à existência (diferente de vida). Viver é o percurso

biológico. Só o Homem existe, na medida que só o Homem consegue escolher e

construir significados para o seu mundo psicológico.

Responsabiliza-se/ Compromete-se

A responsabilização aparece aqui não numa acepção moral ou social, mas existencial.

Só o Eu é capaz de construir, através de escolhas/ projectos significantes, a sua

existência.

3. Temas Existenciais

Angústia

Aparece em relação com o sentimento de ter sido lançado no mundo e sentir-se

obrigado a fazer escolhas, nomeadamente em relação às quais não se conhecem

consequências. A angústia advém da necessidade de escolher (quando tomamos

decisões importantes, quando tomamos consciência que temos de decidir por nós

próprios, mas ligada à liberdade e autonomia de escolher a sua própria história).

Page 18: Psicopatologia - 2º semestre

Morte

A angústia é a luta do Homem enquanto pessoa viva contra o não-ser. O medo não

viria da ameaça de morte em si, mas do conflito ambivalente em relação a essa

ameaça.

A consciência da morte própria produz individualidade, por destacar o Homem da

banalidade e evidência do seu carácter de ser-para-a-morte.

A decisão resoluta do Homem em assumir a sua finitude permite atenuar o medo que

o pensar na morte inspira, e ao mesmo tempo introduzir modificações no ser,

causadas pela necessidade constante de auto conhecimento.

A consciência da morte tem outro efeito mais indirecto sobre a individualidade, que

está relacionado com a autenticidade das escolhas.

Liberdade

Liberdade que permite ao Homem escolher um projecto (fundamental e individual de

ser) que exprime a totalidade do seu movimento para ser, a sua relação original

consigo próprio, o mundo e os outros, patente na sua conduta.

Ser livre é fazer escolhas concretas e toda a liberdade é situada na realidade

objectiva.

Trata-se de uma liberdade de eleição na qual o Homem pode determinar-se a querer

por si mesmo, com autonomia de escolha.

Quando há limitações a esta liberdade, foi o sujeito que as colocou, ao estabelecer os

obstáculos a enfrentar no caminho que escolheu.

O Homem é condenado a ser livre.

Projecto

O projecto fundamental, enquanto coerência interna de cada pessoa, que emerge

temporalmente a todas as suas condutas (acções, emoções, sentimentos, discurso...),

reflectindo uma escolha originária.

O projecto emerge de um desejo abstracto de ser.

A estrutura da existência do Homem é narrativa, a narrativa que ele faz sobre si

próprio e que constitui a sua história.

Tomando como ponto de partida essa narrativa é possível analisar o projecto

existencial, a chave organizadora da existência.

Page 19: Psicopatologia - 2º semestre

Implicações terapêuticas - a análise da existência como expressão de um projecto

concreto permite confrontar abertamente esse projecto para assumi-lo e reelaborá-lo,

na linha da auto-realização.

Valores

Os pontos de vista existenciais referem que a vida de cada homem é marcada por

perdas irreparáveis, pelo que os sentimentos de frustração, insegurança e dor seriam

inerentes. Deles são gerados os valores, que assim são os únicos suportes para o

Homem continuar a caminhada. Genericamente são: a liberdade de escolha, a

dignidade, a individualidade, o amor e a criatividade.

4. Método Fenomenológico

Nas duas abordagens Fenomenológica e Existencial, o método correspondente é o

mesmo, nomeadamente o método fenomenológico.

Permite aceder directamente aos fenómenos tal como aparecem à

consciência, tornando inteligível tudo que é marcado pela subjectividade

Ausência de Interpretação – focaliza-se totalmente na experiência do outro,

através de técnicas de análise do discurso. Há várias destas técnicas, das

quais salientamos a análise semântica do discurso, uma vez que esta

procura os significados acerca da experiência interna do sujeito.

Utiliza-se para tal, no contexto de investigação, a gravação das entrevistas.

Fala falante – sobre a experiência

Fala não falante – construções racionais

sobre a experiência (banalidades)

Exige uma descrição cuidadosa e sistemática daquilo que é percebido na

experiência vivida e procura identificar e elucidar o seu significado essencial.

2 falas

Page 20: Psicopatologia - 2º semestre

Aplicações do método

1º momento – o método foi aplicado à vivência psicológica do “aqui e agora”,

isto é, qual a perturbação, como é vivida (experiência individual) e qual o seu

significado. Assim, uma qualquer patologia, por exemplo a depressão, é

apenas uma abstracção que apenas existe fora das pessoas. O que

interessa, portanto, é o indivíduo que está deprimido: estar deprimido.

2º momento – o mesmo método foi aplicado à existência total do sujeito,

procurando-se a narrativa que ele faz da sua própria história e finalmente

como a perturbação se integra no contexto da existência.

4. Compreensão Fenomenológica

A abordagem fenomenológica da psicopatologia tem por finalidade a compreensão

dos fenómenos psicopatológicos tal como são dados e vividos, e elucidar qual a forma

do funcionamento mental do paciente.

Compreensão das Vivências Patológicas de K. Jaspers

1º descrição fenomenológica da perturbação – estudo descritivo dos estados

de consciência perturbados.

2º compreensão genética – relações de significado entre uma experiência

actual perturbada e acontecimentos anteriores

3 conceitos:

Reacção patológica – quando uma pessoa se perturba em relação a um

qualquer acontecimento que tenha um grande impacto psicológico para o

sujeito (ex. luto) – perturbação de adaptação.

Análise fenomenológica

Análise existencial

Page 21: Psicopatologia - 2º semestre

Desenvolvimento – Quando uma perturbação ocorre tendo como

antecedente determinadas características da personalidade.

Processo – experiência de perturbação em que não se encontra relação

nenhuma com a experiência anterior, verifica-se portanto uma ruptura, uma

perda de continuidade (ex. Alzeimer)

Compreensão Genético- Estrutural de Minkowsky

Perturbação geradora do acontecer vital

Fenomenologia Categorial de Binswanger.

Flexões existenciais do ser

5. Compreensão Existencial

Daseinanalyse de Binswanger

Análise da existência (DaSEIN), do sujeito transcendental e não do existente

(DAsein), inspirada na obra de Heidegger.

Preocupação onto(pato)lógica e psiquiátrica – o patológico seria o que se afastaria

da estrutura apriorística do ser (temporalidade, corporalidade, espacialidade...) e

que se tornou uma estrutura existencial modificada.

Análise Existencial

Baseada na obra de Sartre, vê o Homem como hermeneuta no seu próprio mundo

através da sua própria história e do seu projecto existencial.

A análise existencial parte da existência total com o objectivo de trazer claridade

às escolhas que o Homem faz para se tornar pessoa.

Procura, portanto, a análise no existente, como se estrutura o seu mundo particular

e concreto.

Análise do Homem como ser, cuja existência precede a essência. A vida não é

determinada nem antecedida de nenhuma realidade ideal, pelo que a existência é

contingente e gratuita.

Page 22: Psicopatologia - 2º semestre

Deste modo, o Homem fica obrigado a escolher, principalmente o projecto espácio-

temporal através do qual se projecta o ser – o Homem não é uma totalidade

acabada.

Todas as manifestações do comportamento humano são expressões do projecto

existencial.

A relação com os outros é essencialmente conflituosa, porque o outro, dotado da

mesma liberdade que eu, ameaça a minha existência.

Outras Conceptualizações

Angústia gerada pelos conflitos existenciais

Falta de significado e de autorrealização

Qualidade existencial de limitação da psicopatologia

5.1 Abordagem Existencial do estar perturbado

Psicopatologia Contextualizada na Existência

O que é essencial é a existência do sujeito e não da patologia, que, se existir, faz

parte do todo. Para a perceber temos de perceber o todo, a existência. Assim, o

diagnóstico tem uma importância relativa.

Perturbar-se como possibilidade universal

Todas as pessoas podem perturbar-se.

Estranheza e afastamento em relação a si

Os fenómenos psicopatológicos são resultado de inautenticidade e alienação de si

e consequentes escolhas pouco sintónicas.

Fracasso da relação com o seu mundo interno

Com o fracasso da relação com o se mundo interno, o sujeito não poderia

experimentar o ser-no-mundo, a existência. Seria então incapaz de aceder ao

mundo interno dos outros, pelo que não seria possível o encontro, nem as

Page 23: Psicopatologia - 2º semestre

interacções significativas (estar-com). Teria lugar, desta forma, uma redução

importante da experiência, com bloqueio de desenvolvimento pessoal. Finalmente

surgiria a angústia relacionada com o afastamento de si mesmo e o vazio

associado à falta de sentido.

Impasse em relação a projectos e modos de ser

Os projectos que não são realizados, mas que o sujeito também não abandona,

nem tenta perceber o que fez com que não desse certo (ou faz atribuições

externas).

Perda da Liberdade de Escolha

Perda da possibilidade de fazer uma escolha e de se comprometer com uma

decisão, compromisso que faz referência à sua responsabilidade e posicionamento

activo perante o mundo, conferindo à experiência uma dimensão de

superficialidade, vazio e falta de sentido.

Page 24: Psicopatologia - 2º semestre

Teoria Psicanalítica

1. Teoria Psicanalítica

A teoria psicanalítica propõe que as manifestações clínicas reflectem conflitos intra

psíquicos entre pulsões, o principio do prazer, as operações defensivas que reflectem

o principio da realidade e as motivações inconscientes do super ego.

Os conflitos do Inconsciente entre impulso e defesas são expressos sob a forma de

conflitos entre as instâncias da estrutura tripartida:

Id é o repositório das pulsões

Super ego representa a internalização das regras dos pais e da cultura

Ego modula as pulsões através dos mecanismos de defesa

Conflitos: Os conflitos intra psíquicos (na medida em que são o resultado de

desejos não realizados) resultam do movimento que o sujeito faz na procura

da gratificação do desejo e percebe esse movimento como ameaçador e

gerador de ansiedade, culpa ou punição externadefesas do ego contra

impulsos do Id

o superego leva à inibição do Ego

a expressão repetida dos impulsos do Id constitui uma defesa contra as

pressões do Superego

Inibições das funções do ego no que respeita à sexualidade, intimidade,

relações sociais e activação dos afectos

Formações de compromisso entre impulsos reprimidos e defesas directas

contra eles

Expressão dissociativa do impulso e da defesa

A resolução dos conflitos

Passa pela análise destes conflitos intersistémicos

2. Compreensão Psicanalítica em Psicopatologia

Compreender

Page 25: Psicopatologia - 2º semestre

Cada vez que recebemos um paciente, esperamos poder compreendê-lo (e que ele se

sinta compreendido)

Ensinam-nos, desde muito cedo, que esse desejo de compreender o outro não pode

cegar a necessidade de ser útil!

Os esforços de compreensão devem fazer-se para com a pessoa e não para com a

doença

Por muitos livros que tenhamos lido não saberemos entender o funcionamento dos

pacientes... conhecer as teorias e os dados que se aplicam a determinados tipos de

pacientes permite-nos falar/pensar sobre as pessoas que têm este ou aquele tipo de

problema... Mas não nos diz nada sobre o paciente que nos consulta pela primeira

vez.

Para reduzir essa incerteza (esse não saber) muitos profissionais introduzem uma

metodologia standard. No entanto, a única possibilidade de compreendermos uma

pessoa em concreto é por-mo-nos em relação interpessoal com ela!

Compreender um paciente inclui (para além do pedido objectivo e da história que nos

conta) os aspectos afectivos e relacionais

Há um perigo que decorre da esperança e do desejo de que tudo tem que

compreender (omnipotência) e que, na maior parte das vezes, o leva a nada

compreender (mas que continua a funcionar como se tudo percebesse...) “não, não,

compreendo perfeitamente o que me diz...”

A pseudocompreensão que, por vezes, ocorre e decorre da impotência de quem

pensa que tudo deve saber, é trágica para quem trabalha nesta área.

“não precisa de me dizer mais nada: já compreendi tudo” (mêdo de não compreender,

de não entender, de não poder ser útil).

Compreender implica esperar, poder suportar durante algum tempo a ignorância, a

dúvida, a frustração a quem investiga um sistema que influencia (ainda que de modo

inconsciente) nossa actividade e atitude

Não é possível compreender o outro (e a si mesmo) sem se ser tolerante...

Ser capaz de receber o sofrimento do outro e suportá-lo dentro de si (sem o actuar,

por ex. dando conselhos precipitados) ou de suportar o medo de ser depreciado, ou

agredido, ou abandonado.... Exige que se seja tolerante sem que se seja

condescendente com a parte doente do paciente.

Page 26: Psicopatologia - 2º semestre

Podem sentir-se pressionados à colusão (cumplicidade inconsciente) com aspectos

mais doentes do paciente por via da sua própria vivência (culposa, temerosa, de

dificuldade em opor-se ao paciente ou que o paciente procure outro terapeuta) e isso

frustre a esperança do terapeuta no seu desejo de ser reconhecido no seu esforço, na

sua dedicação ou mesmo na sua capacidade para ser útil ao paciente.

Identificação projectiva, Identificação introjectiva,

Há processos psicológicos que ocorrem sempre que duas pessoas estão em relação

interpessoal e que não diferem no essencial daquilo que se passa na relação

terapêutica.

Para se entender o outro, o que sente, muitas vezes o que fazemos é pensar o que

sentiríamos numa situação semelhante. Normalmente, nem pensamos nisso, há um

movimento psicológico automático que nos leva a introjectar, a introduzir em nós o que

o outro estará a pensar, a vivenciar

Em simultâneo estaremos a comparar com o que sentimos nós...

Porque cremos que partilhamos com os outros um conjunto de atitudes, emoções

básicas e motivações, o que o paciente sente não poderá ser muito diferente do que

nós pensamos (empatia), Existem perigos relacionados com esta situação.

Essa compreensão é baseada na identificação projectiva que consiste em por-mo-nos

no lugar do outro, que é diferente de nós!

Pomos no outro partes de nós (experiências, sentimentos, fantasias, projecções) para

que nos possamos identificar com o outro, sentir o mesmo que o outro (identificação).

Este outro a quem invadimos imaginariamente com as nossas coisas, permite-nos

deixar de as sentir dentro de nós e senti-las de forma criativa como se fossemos o

próprio paciente. Sentir como o próprio paciente, projectando nele partes de nós

mesmos.

O que se faz é assim um reconhecimento do funcionamento do paciente

Graças a esta possibilidade o conhecimento do paciente é muitíssimo aumentado já

que ao que é habitual que ele expresse se junta a informação que o terapeuta colhe

por via dos processos de identificação projectiva e identificação introjectiva.

Este conceito criado por Melanie Klein e retomado por Bion tem por base uma fantasia

inconsciente que é a de que nos podemos desembaraçar dos aspectos do self que

não gostamos, introduzindo-os noutra pessoa (projectando)

Page 27: Psicopatologia - 2º semestre

É este processo que permite a intuição clínica que suporta a compreensão profunda

dos processos interpessoais que nos são externos

Transferência e Contratransferência

Transferência é a vivência, no presente, de sentimentos, pulsões, atitudes,

fantasias e defesa em relação a uma pessoa, que são inadequadas a essa

pessoa e são uma repetição, um deslocamento de reacções que reportam a

pessoas significativas da infância. Para que se a reacção seja considerada

como transferencial deve ter duas características:

ser uma repetição do passado

ser inadequada ao presenteContratransferência é a transferência do

terapeuta face ao paciente. Está ligada à história do terapeuta e os

processos são equivalentes.

É o conjunto de respostas emocionais especificas despertadas no terapeuta

pelas características do seu paciente.

A análise destes movimentos permite ao terapeuta uma maior compreensão

interna dos processos que ocorrem no paciente.

“a contratransferência permitida é a necessária para que se compreenda o paciente”

C.Matos

A intuição é a utilização criativa da identificação projectiva por via da cuidadosa

análise da contratransferência.

Resulta da capacidade de observar (o outro) enquanto se observa (a si, a observar)

A ansiedade é a pedra angular da manifestação da transferência e do seu

reconhecimento pelo clínico, assim como da própria contratransferência e do insight

(ou capacidade de introspecção do clínico)

Que diz o paciente quando solicita ajuda? Porque é que evoca no terapeuta este ou

aquele sentimento? O reconhecimento “do que está a pôr no terapeuta” e que tipo de

ansiedade está a vivenciar é fulcral para o processo.

Interpretação

É o primeiro dos instrumentos do analista. Envolve uma afirmação explanatória feita

pelo analista que ligue um sintoma, pensamento ou sentimento ao seu significado

inconsciente.

Page 28: Psicopatologia - 2º semestre

Interpretações genéticas são aquelas que ligam pensamentos, conflitos e

sentimentos do presente com os seus antecedentes na infância. O analista

reconstrói o passado do paciente com base nas memórias, sonhos e

associações, nas distorções transferenciais de modo a ligar o como as

situações do presente repetem o passado

Interpretações transferenciais são vistas como a actividade mutativa central

do analista. Mostra ao paciente como a sua percepção do analista é uma

repetição de relações significativas do seu passado. Ajuda o paciente a ver

como os desejos e expectativas actuais são influenciados pelo passado.

Tem, basicamente, duas categorias:

resistência à resolução da transferência

resistência ao conhecimento da situação transferencial

Page 29: Psicopatologia - 2º semestre

1. IntroduçãoAs perturbações ansiosas são bastante comuns

Ex. Perturbação de ataques de pânico – 2/3 %, pessoas jovens (20-30 anos)

Perturbação de ansiedade generalizada – 5%, início na infância ou adolescência,

prolongando-se no tempo. Distribuição por sexos: 2 mulheres/ 1 homem

Ansiedade

É um estado emocional desagradável, em que o sujeito se sente tenso,

atemorizado e alarmado.

Experiência Comportamento

Inquietação Psíquica Inquietação motora

Tensão Emocional Manifestação de Hiperactividade

Insegurança/ medo Sistema Nervosa Simpático

Ansiedade Patológica

Ansiedade Traço (de personalidade) – manifesta-se por uma preocupação

excessiva e constante consigo, sendo esta preocupação associada a

cognições catastróficas, ou seja, percepção de ameaça permanente, o que

resulta em insegurança. Existe, igualmente, uma avaliação negativa do

próprio, com baixas expectativas de eficácia. São sujeitos com assertitividade

baixa (fraca comunicação).

Ansiedade Estado - Muitas vezes consequência de ansiedade traço. Trata-se

de um indivíduo com experiência psicológica feita de três vivências:

percepção de ameaça (medo sem saber qual a causa), sensação de não

conseguir fazer nada (avaliação negativa das suas capacidades de resposta

às ameaças: insegurança) e estar à espera (expectativa) do que irá

acontecer de mau (atenção focalizada, o que leva a desatenção em geral:

verifica-se muito frequentemente acidentes). É acompanhada de

manifestações corporais: tremores, suores, dor toráxica, sensação de

adormecimento, aumento do batimento cardíaco, dificuldades respiratórias e

alterações do sono (insónia de adormecimento) e do comportamento sexual.

Page 30: Psicopatologia - 2º semestre

Crise de Ansiedade – Ansiedade muito intensa, de que o ataque de pânico é

um exemplo. Dura pouco tempo, mas tem um efeito desorganizador máximo.

O seu começo é súbito (endógeno). Dominam as manifestações corporais:

Coração bate muito depressa (150 pulsações/ minuto), dificuldade

respiratória (provoca tonturas e enjoos). O sujeito experimenta

despersonalização ou desrealização (menos frequente), só havendo espaço

mental para pensar na morte eminente.

Modalidades de vivência da ansiedade

Estados Ansiosos – ansiedade não ligada a nenhum estímulo ambiental, não

relacionado com nenhuma experiência

Ansiedade Livre a Generalizada (endógena, principalmente)

Estados Fóbicos – há um estímulo externo que desencadeia a ansiedade

Ansiedade Sistematizada e Ligada

Existe, no entanto, um parentesco entre estas duas modalidades, que se prende com

o facto de terem factores causais semelhantes (genéticos, dinâmicos, cognitivos) e de

se tratar da mesma ansiedade patológica, embora vivida de diferentes formas, tanto

que é comum um sujeito viver, numa primeira fase, um estado ansioso e em seguida

passar para uma fase fóbica.

2. Estados Ansiosos

Ansiedade Primária

Perturbações onde a ansiedade é a manifestação principal

Page 31: Psicopatologia - 2º semestre

Pode manifestar-se numa perturbação de ataques de Pânico (angústia de

separação real/ imaginada), ansiedade generalizada (neurótica clássica: angústia

de castração) ou ansiedade Reactiva – falência dos processos de coping

Perturbações de Ataques de Pânico

Episódios recorrentes de ataques de pânico, sem causa externa identificável.

Experiência prévia de perda, separação, ameaça...

Ataques de Pânico: 15-30 min

Vivido psicológico de medo intenso

Conteúdos: perder o controlo, enlouquecer, morrer.

Grande intensidade das manifestações corporais de ansiedade

Limitações Agorafóbicas: evitamento de locais não-familiares

Ansiedade antecipatória- intervalo de ataques de pânico “pode acontecer

outra vez”

Evolução depressiva - Vivido de inferioridade e incapacidade, isolamento,

vivido nosofóbico (medo de doença concreta)/ hipocondria (medo de estar

doente)

Ligada a angústia de separação

Perturbação Ansiedade Generalizada

Ansiedade estado num indivíduo com ansiedade traço, na maioria das vezes

Manifestações persistentes de ansiedade, sem relação com pessoas ou com

situações específicas

Ansiedade Flutuante

Sentimento de insegurança, preocupação excessiva e particular – feita de

cognições catastróficas - representação perigosa do mundo

Queixas de insónias, disfunção sexual e fadiga crónica, manifestação de

excesso de actividade do sistema nervoso vegetativo (tremores,

taquicardias...)

Pode ter causas orgânicas ou psicológicas (Conflito intrapsíquico neurótico –

angústia de castração)

Ansiedade Reactiva patológica

Resposta induzida por acontecimentos vividos com significado individual

ameaçador. Resultado da falência de estruturas psicológicas de gestão do

Page 32: Psicopatologia - 2º semestre

stress. Desorganização causa sintomas. Perturbação de Ajustamento – contexto

de adaptação

Ansiedade Secundária

Perturbações em que a ansiedade aparece associada a outras quadros, não sendo a

manifestação principal. Por exemplo:

Ansiedade Psicótica

A ansiedade mais grave encontra-se associada a psicoses, sendo muito intensa

(semelhante aos ataques de pânico, com medo da morte), mas manifestando-se

corporalmente, não conseguindo o sujeito actuar no sentido de a aliviar.

Ansiedade Neurótica

Perturbações obsessivo compulsivas, perturbações hipocondríacas e

perturbações histéricas.

Ansiedade associada a perturbações depressivas

Depressões ansiosas

Ansiedade associada a perturbações deficitárias

Deterioração cognitiva.

3. Estados Fóbicas

Perturbações, cujas manifestações são as fobias, ou seja, quando o medo é um medo

fóbico

Fobia – É um medo desproporcionado na sua intensidade em relação à

perigosidade real da situação (estímulo), de tal forma que, se o sujeito estiver

perante a situação tem um comportamento semelhante a um ataques de pânico. É

inexplicável para o sujeito, irracional, involuntário, recorrente e conduz ao

evitamento.

Fobias Primárias

Fobias Simples

Page 33: Psicopatologia - 2º semestre

Fobias isoladas e específicas e, portanto, pouco incapacitantes

Fobias Sociais

Medo de ficar embaraçado, de ser humilhado, de corar ou sentir-se mal em

público (ex. Comer em público, falar em público...). A experiência subjectiva está

associada ao sentimento de exposição aos outros e consequente avaliação

negativa, devido à avaliação própria de menor eficácia (baixa auto estima).

Agorafobias

Fobias múltiplas e difusas (agorafobia, claustrofobia, fobias de lojas, transportes,

túneis, cinemas...).

Ansiedade livre e generalizada.

Limitação da actividade, que gera muito sofrimento psicológico e leva a

sentimentos de incapacidade muito significativos (evitamento).

Podem acompanhar-se por ataques de pânico (causa ou consequência).

É uma das perturbações mais graves, uma vez que coexistem muitas fobias em

situações variadas

Fobias Secundárias

Associadas a perturbações de ansiedade – neurose ansiosa (nosofobias,

claustrofobias e agorafobias)

Associada a perturbações obsessivas – neurose obsessiva (fobias

obsessivas de contaminação e fobias de impulso)

Associada a perturbações psicóticas (dismorfofobias)

Page 34: Psicopatologia - 2º semestre

Tristeza

Normal – adequada, duração

breve, sem repercussões,

reactiva-vivencial

Patológica – desproporcionada,

duração longa, c/ repercussões,

reactiva/ endógena

Frequência

Num determinado momento 5% da população está deprimida.

20% das pessoas com doença grave, principalmente incapacitante e com dor crónica

estão deprimidas.

50% das pessoas com patologia mental experimentam depressão primária ou

secundária.

15% das pessoas com depressão tem depressão crónica (mais de 2 anos).

Caracterização da Experiência Psicológica da Depressão

As perturbações depressivas são múltiplas e variadas, com diferentes factores

causais, embora a experiência psicológica seja sempre a mesma.

Vivências Associadas às Depressões

Abandono – ninguém gosta de mim; depressões endógenas e dos indivíduos

neuróticos

Perda – verifica-se mais nas depressões reactivas

Culpa – o sujeito acha que fez coisas mal no seu passado ou não fez o que

devia (orientação pelo princípio do dever). A culpa aspira castigo, que é

muitas vezes procurado no suicídio. (15% das pessoas com depressões

psicóticas suicidam-se)

Inferioridade/ Incapacidade

Manifestações da Depressão

Depressão

Page 35: Psicopatologia - 2º semestre

Manifestações Fundamentais

Humor deprimido

Lentificação Psicomotora

Auto-desvalorização: o que concretiza a baixa de auto-estima e que se

exprime pela inferioridade, inutilidade e culpa, sendo que esta última pode ser

delirante.

Manifestações Acessórias

Perturbações do Comportamento Alimentar

Anorexia

Bulimia

Perturbações do Sono

Insónias

Hipersómnia

Perturbações da Actividade Sexual

Diminuição do desejo sexual

Percepção da dor: diminui o limiar à dor, pelo que pode fazer-se acompanhar

de dor corporal psicogénica. Estas dores caracterizam-se por serem

lateralizadas (experiência de dor hemicorporal), sendo as mais frequentes as

dores de cabeça, lombares e pélvicas (baixo-ventre nas mulheres).

Fadiga (cansaço físico e psicológico, antes de qualquer esforço, o que o

distancia de uma patologia de causa orgânica, por exemplo: anemia)

Desinteressado das actividades habituais (anhedonia), o que leva à redução

das actividades ou a realização das mesmas actividades, mas com muito

mais esforço

Tipos Principais de Depressão

Depressão Reactiva

Existe uma relação clara entre o estado patológico e o acontecimento - é reactiva em

continuidade histórica. A depressão é uma resposta patológica - Tristeza natural e

compreensível como expressão de perda; está relacionada com dinâmicas

psicológicas que focam os significados de perda para o sujeito (alguém, saúde...).

Enquadram-se, portanto, no grupo das Perturbações de Ajustamento.

Page 36: Psicopatologia - 2º semestre

Depressão Orgânica

Estar deprimido na base de doença orgânica. Manifestação directa no sistema mental

por doença ou por indução de medicamentos. São exemplo de depressões orgânicas

as que ocorrem em relação com Alzeimer, hipotiroidismo, cancro da cabeça do

pâncreas...

Depressões Endógenas

O sujeito aparece de repente intensamente deprimido. Existe auto-desvalorização

significativa, ideação suicida precoce. Não relacionada com estímulos externos, sendo

os factores causais intrínsecos ao indivíduo. Não se sabe exactamente quais são,

embora se adivinhe uma predisposição genética. Existe uma influência nos ritmos

biológicos: vigília/ sono (insónia terminal) e dos afectos (o humor piora de manhã,

assim como nas estações do Outono e inverso)

Perturbação Afectiva da Personalidade

Tendência habitual para estar deprimido. Temperamento depressivo

Factores de Personalidade – facilitadores do deprimir-se:

Traços obsessivóides e dependência afectiva

(funcionamento da personalidade: perfeccionista, associado a

uma vinculação excessiva ao sentido do dever; quando algo não

corre como o devido gera-se culpa)

Descargas agressivas com culpabilidade

Introversão com pessimismo

Autoconfiança baixa

Controlo percebido baixo

Depressão nas Neuroses

Estar-deprimido como pessimismo conflituoso (intra / interpsíquico)

Perturbações Psicóticas

Tristeza vital, experimentada no corpo com mal-estar difuso e insuportável.

Quase todas as depressões psicóticas são endógenas, embora nem todas as

depressões endógenas sejam psicóticas.

Page 37: Psicopatologia - 2º semestre

Existe um corte com a realidade, ausência de consciência de perturbação, ideias

delirantes, alucinações (não frequentes)...

Psicóticas/ Endógenas Neuróticas/ Reactivas

Factores CausaisHereditariedade/ perturbação

afectiva da personalidade

Perturbação do

desenvolvimento,

acontecimento de vida,

neuroticismo

Início Brusco Variável

Curso Fásico Contínuo

Afecto Básico Tristeza vital Tristeza e ansiedade

Ritmo Diurno Melhoria vespertina Agravamento vespertino

Sono Insónia terminal Insónia Inicial

Psicomotórica Inibição/ agitação ————

DelíriosPossíveis (culpa, ruína,

hipocondria)Ausentes

Suicídio Possível Excepcional

História Familiar Frequente Rara

Análise EstruturalRotura biográfica, falta de

contacto

Continuidade compreensível,

busca de contacto

Futuro da Depressão

Suicídio

Ansiedade hipocondríaca, nos mais velhos

Dependência dos outros

Abuso de substâncias (estimulantes)

Page 38: Psicopatologia - 2º semestre

Modelo Teóricos de Explicação da Depressão

Modelo Médico

A depressão é um estado mental que resulta de alterações das concentrações de

neurotransmissores, nomeadamente a seretonina, a dopamina e a acetilcolina no

sistema límbico – Modelo Neuroquímico

Modelo Comportamental

Aprendizagem Social - modelagem: identificação com figuras significativas deprimidas

Desespero Aprendido (learned helplessness) de Seligman.

Modelo Cognitivista

Estilo cognitivo alterado

Tríade Cognitiva de Beck (cognições disfuncionais)

Cognições depressivas

Hipergeneralização

Alteração selectiva

Estas explicações têm grande aplicabilidade nas depressões reactivas. Contudo,

também se aplicam às depressões endógenas se pensarmos que estas são

reactualizações de momentos depressivos despertados por determinados

acontecimentos

Eu perdedor

Futuro Negro

Mundo frustrante

Page 39: Psicopatologia - 2º semestre

Modelo Psicanalítico

Distingue a perda de objecto – luto – e a perda do amor do objecto – depressão .

Neste último caso, a experiência de abandono e perda é afectiva – a agressividade

devia voltar-se para o outro que abandona, mas volta-se para o próprio (deflexão da

agressividade).

Modelo Fenomenológico

Estuda o aspecto essencial (constante estrutural) da experiência de depressão, que é

a vivência do tempo psicológico. A vivência de sucessão tem normalmente uma

direcção: vem do passado, passa pelo presente e vai para o futuro. Isto é a

intencionalidade da consciência, que na depressão está invertida: vem do passado,

passa pelo presente e volta para o passado.

Modelo Existencial

Inflexão do projecto existencial. A não existência de futuro implica a não existência de

um projecto existencial ou a repetição do passado no futuro.

A tematização da existência (temporalidade).

Diferenças nas listas das perturbações depressivas

França Aglo-saxões

Fenomenologia

Depressões Ansiosas

Melancolias

Depressões mascaradas

Depressões Atípicas

Depressões Reactivas

Depressões nas neuroses

Perturbação afectiva da personalidade

Psicoses Afectivas Bipolares

Psicoses Afectivas Unipolares

Depressões Orgânicas

Perturbação Distimica (depressões com mais de dois anos

e em indivíduos com traços neuróticos significativos:

patologia de personalidade só com depressão)

Page 40: Psicopatologia - 2º semestre

1. Sintomas Neuróticos

Sintoma Neurótico

Usa-se o termo sintoma e não manifestação pois a principal teoria que tem estudado

as neuroses é o modelo psicanalítico. Na teoria psicanalítica está generalizado o uso

do conceito de sintoma neurótico. Os sintomas neuróticos são as principais

manifestações das neuroses. Os sintomas podem apresentar diferente estruturação e

diferentes variedades clínicas; podendo ser:

Ansiosos

Fóbicos

Histéricos

Obsessivos

Todas têm por base a ansiedade neurótica e a diferente estrutura faz com que haja

diferentes neuroses com diferentes sintomas.

A ansiedade neurótica é a típica ansiedade endógena. O neurótico também reage de

forma ansiosa aos acontecimentos, mas a sua principal ansiedade vem de dentro. Há

uma fonte interna de ansiedade muito intensa, nomeadamente, do conflito

intrapsíquico.

Quando a ansiedade é do tipo livre e generalizada, temos a perturbação da ansiedade

generalizada, que corresponde ao conceito clássico de ansiedade neurótica.

A ansiedade fóbica também é um sintoma neurótico (ex. agorafobia – perturbação

simples), corresponde ao conceito de neurose fóbica. Através dos mecanismos de

difusão do eu, esta ansiedade por apresentar-se por sintomas corporais (ex. perda de

força nas pernas, converte num sintoma corporal, é a principal característica da

ansiedade neurótica histérica.)

Estados Neuróticos e Neuroses

Page 41: Psicopatologia - 2º semestre

Outras vezes o processo ansiogénico é mais ideativo, sendo que as ideias levam o

sujeito a fazer algo, é a ansiedade obsessiva.

Por fim, a ansiedade pode levar a uma preocupação permanente com a saúde – é a

ansiedade hipocondríaca.

2. Natureza das perturbações neuróticas

É verdade que se podem desenvolver sintomas neuróticos a situações reactivas, se a

perturbação que está presente é uma patologia fóbica ou obsessiva temporária. Assim

teriam carácter reactivo, mas isto não é o mais frequente.

A natureza mais frequente das perturbações neuróticas diz respeito ao

desenvolvimento patológico da realidade (a perturbação aparece no indivíduo que

anteriormente já tinha perturbação e essa desenvolve-se no sentido de os sintomas

irem aparecendo).

Ou seja, o indivíduo já tinha alguma perturbação de personalidade, que terá começado

na infância e que, a partir de certa altura, com relação a acontecimentos, se

desenvolve no sentido de uma perturbação neurótica.

Perturbação de Personalidade Perturbação Neurótica ou Neurose

Personalidade Neurótica

Neuroticismo – Características mais primitivas do funcionamento do indivíduo que são

comuns ao indivíduo que sofre de personalidade neurótica (traços comuns e traços

específicos)

ex. personalidade obsessiva – (é um tipo de personalidade neurótica,

está dentro das personalidades neuróticas) perturbação obsessiva que em 90% dos

casos tem presente uma neurose obsessiva – tem características que são específicas

de ele próprio – ou personalidade histérica.

Page 42: Psicopatologia - 2º semestre

O indivíduo apresenta um conflito interno muito activo. Permanentemente em conflito

consigo próprio – dois níveis:

1º - sempre à procura do ideal do eu (sentimento de inferioridade);

2º - dificuldade em harmonizar os seus desejos e as normas interiorizadas (conflito

entre o id e o superego). Conflito dele com ele próprio. Que se acompanha de um

outro aspecto – o indivíduo não consegue realizar os seus projectos existenciais mais

significativos (tem projectos existenciais significativos) não os consegue realizar, mas

também não os abandona. Projectos fracassados que não são abandonados por

projectos mais realistas – frustração.

Há vários tipos de perturbações neuróticas de personalidade – têm todas traços

comuns:

Controlo deficiente dos afectos

Varia entre o excessivo controlo dos afectos (por ex. agressividade muito

inibida) e o deficiente controlo dos seus estados emocionais e afectivos.

Obsessivo – raramente se emociona – carapaça, uma contenção enorme.

Histérico – controlo efectivo muito escasso. Chora, ri, etc. – desinibição

excessiva.

Segundo a teoria psicanalítica, a patologia neurótica é estruturada durante a

infância, período em que o indivíduo é levado a construir uma representação

muito má e perigosa do mundo externo, o que gera ansiedade - sentimento

de insegurança permanente. Houve dificuldade em fazer uma identificação

com a figura parental do mesmo sexo. Dificuldades profissionais,

interpessoais, relações amorosas. Vida profissional de sucesso e vida

pessoal de fracasso.

Insegurança e Ansiedade - ligadas à auto-estima baixa. Sentimentos de

inferioridade. Alta depressividade.

Baixa Auto-confiança - que vai significar uma

Resistência Baixa à frustração

6. Perturbações Neuróticas

Page 43: Psicopatologia - 2º semestre

Características das perturbações neuróticas

São perturbações mentais menos graves que as psicoses. Metáfora: tumores malignos

(psicoses), tumor benigno (neuroses). Os tumores malignos invadem outros órgãos ou

sistemas, os benignos são localizados, circunscritos. As neuroses são perturbações do

indivíduo consigo próprio – bem localizadas e circunscritas no funcionamento

psicológico. Localizada nos aspectos do funcionamento afectivo. Perturbação a esse

nível e a esse nível se mantém, não invade outras zonas do funcionamento

psicológico do indivíduo. Grau de adaptação razoável. Certo grau de ajustamento.

Perturbações Psicóticas Perturbações Neuróticas

Invade todos os aspectos do

funcionamento mental – desadaptação,

alteração do comportamento

(pânico, fobia, obsessiva, histérica - casos

excepcionais) em que os sintomas

causam incapacidade. Perturbação

menos grave e mais circunscrita

Factores Causais das Neuroses

Perturbação causada por factores psicológicos, os modelos psicogénicos explicam

melhor as perturbações neuróticas.

Perturbação de ataques de pânico, perturbação de fobias sociais, perturbação neurose

obsessiva – factores genéticos equilibrados com os factores psicológicos (excepções)

e sociais;

Estas perturbações costumam ter como antecedente uma perturbação neurótica de

personalidade (antecedente – pode ou não desenvolver-se numa perturbação). Há

mesmo perturbações neuróticas em que a perturbação de personalidade é muito

próxima, relacional:

neurose obsessiva – prévia perturbação da personalidade – perturbação

obsessiva;

neurose histérica – perturbação histérica de personalidade;

Perturbações Mentais que se incluem dentro das Perturbações Neuróticas

(São as perturbações neuróticas propriamente ditas, não as de personalidade)

Page 44: Psicopatologia - 2º semestre

a) Perturbação de ansiedade:

perturbações de pânico;

perturbações de ansiedade generalizada;

b) Perturbações Fóbicas:

perturbação agorafóbica;

perturbação de fobias sociais;

perturbação de fobia simples;

c) Perturbações Obsessivas

Acontecem em sujeitos normais nas situações aborrecimento, fadiga, insónia.

Manifestações obsessivóides

A patologia obsessiva não é exclusiva das neuroses obsessivas – quando não são

neuroses obsessivas trata-se de manifestações obsessivóides. As manifestações

obsessivóides têm normalmente causa psicológica (esquizofrenias; depressões;

personalidades pré-melancólicas), exceptuando as psicoses orgânicas.

Neurose obsessivo-compulsiva

“Por mais que queira não consigo deixar de pensar que estou sujo,

por fora e por dentro.”

Patologia do pensamento ao nível de ideias obsessivas acompanhada por patologia

do comportamento ao nível dos actos compulsivos. Já que estes aliviam o sentimento

obsessivo temporariamente.

Ideias de dúvida – comportamentos de verificação – fica muito ansioso se

não fizer as verificações).

tema da contaminação – medo de estar sujo. Compulsões de lavagens.

tema das ideias de contraste – raro.

tema das ideias obsessivas de contagem.

As duas mais importantes

Page 45: Psicopatologia - 2º semestre

Formas mais graves – doença obsessiva; a neurose obsessiva – menos grave. A

doença obsessiva refere-se a graus de incapacidade muito graves – neuroses

obsessivas com factores genéticos muito significativos – relação com algumas lesões

cerebrais muito específicas. A neurose obsessiva diz respeito a um menor grau de

incapacidade – factores mais psicológicos das neuroses.

Personalidade compulsiva

(isolada; acompanhada)

Em 90% dos casos trata-se de indivíduos muito inteligentes do ponto de vista

cognitivo, mas pouco inteligentes do ponto de vista emocional. Verifica-se uma grande

contenção emocional - dificuldade em exteriorizar, exprimir as emoções - nível verbal e

discurso.

Pessoas muito convencionais, adequadas à norma (“deve”/ “dever” muito frequente no

discurso) – aspiração sempre à perfeição. São pessoas com vinculação excessiva ao

sentido de dever, o que tem uma vinculação social positiva (traços muito reforçados

pelo meio social – o indivíduo é um paradigma do que ‘deve ser’). A grande

preocupação com a ordem (perfeccionismo) das coisas e das pessoas. – cada coisa

no seu lugar e cada lugar para uma coisa. A palavra ‘moderação’’ perturba muito.

Também se manifesta com as pessoas. Faz um conjunto muito variado de

racionalizações de relações amorosas.

Está presente igualmente uma absolutização (ou 8 ou 80, “as coisas ou são pretas ou

brancas!”). Intolerância à incerteza -que causa enorme ansiedade. Inflexibilidade e

rigidez estão presentes.

Personalidade compulsiva de base é bastante rara, corresponde a cerca de 4% de

todas as perturbações neuróticas. Com frequência é moderada ou muito grave –

incapacidade social e incapacidade psicológica. Desenvolvem-se muitas vezes, a nível

secundário, perturbações depressivas graves.

Ideias obsessivas que são geradoras de muita ansiedade, levam a actos compulsivos,

para aliviar.

d) Perturbações Somatoformes

Page 46: Psicopatologia - 2º semestre

Grupo de perturbações com manifestações sugestivas de doença física, ou seja, que

se manifestam ao nível do corpo, embora inexplicáveis pela condição física;

desproporcionados à situação médica; com repercussões importantes (familiar;

profissional). São muito variadas:

Perturbação de somatização

Indivíduo que apresenta um elevado grau de neuroticismo – patologia da

personalidade. Sintomas fundamentalmente físicos – múltiplos, vagos e mal

localizados. Estes sintomas são vários ao mesmo tempo – dores, perturbações

digestivas, perturbações do sono, perturbações sexuais, fadiga – graus variados de

incapacidade.

Tal como outros sintomas neuróticos, esta queixa permite obter ganhos secundários,

quanto mais não seja afecto dos outros.

Perturbação de conversão

Perturbação de personalidade histérica ou histriónica – sintomas físicos – doença

física a nível motor ou sensorial. Aparecem de forma súbita e repentina. Sugerem uma

doença física grave. Paralesia, perda de sensibilidade, ou perda de visão. Sintomas

que sugerem a doença física do sistema nervoso central que o indivíduo não tem.

Características:

aparecem subitamente mas num contexto emocional relevante – frustração;

atitude do próprio – no lugar de ficar ansioso, ou mesmo pânico – atitudes

de indiferença entre o que lhe está a acontecer.

Perturbação de dor somatoforme

A manifestação principal é a dor física (corpo) que não tem causas físicas – factores

causais psicológicos – característica do sintoma neurótico, que se desenvolve em

indivíduos com sintomas neuróticos de personalidade.

Dismorfofobias

Preocupação estética

Perturbação hipocondríaca

Page 47: Psicopatologia - 2º semestre

Preocupação com a saúde do corpo, nomeadamente, ansiedade sistematizada na

saúde corporal – objecto da ansiedade: corpo vivido (vivido na sua perda de saúde);

Não existe mais nada além da saúde e da doença, vive-se na bipolaridade corpo são/

corpo doente.

O discurso hipocondríaco é, portanto, perseverante – discurso enquanto modalidade

única. É, por vezes reforçado socialmente. “Portugueses falam de futebol, do tempo e

de doenças.”

Pode-se falar em hipocondria psicótica ou hipocondria neurótica.

conteúdos : cancrofobias, fobia da SIDA, cardiofobias, venereofobias, febre

de loucura,

tipos : neurose hipocondríaca; hipocondria associada a perturbações de

ansiedade e fobias; depressões; perturbações obsessivas e perturbações

orgânicas cerebrais;

e) Perturbações de Adaptação

Características:

manifestações emocionais relacionadas com o stress psicossocial

(“reactivas” – reacções vivências patológicas);

provocam limitações profissionais e pessoais;

acontecimentos precipitantes:

conflitos interpessoais;

dificuldades profissionais;

separação e divórcio;

reforma;

insucesso financeiro,

traumatismo físico;

7. Modelos Explicativos das Neuroses

Page 48: Psicopatologia - 2º semestre

Biológico

factores genéticos (plurifactoriais);

alterações diencefálicas (aumento da susceptibilidade ao castigo e às

recompensas) – perturbações de ataques de pânico, fobias sociais, neurose

obsessiva.

Comportamental

A neurose é um padrão de comportamento desadaptado aprendido por

condicionamento e que se mantêm por reforço (alívio do reforço / aprovação

social) – só funciona em alguém perturbado.

O sintoma alivia a ansiedade – reforço – temporariamente;

Aprovação social – reforço – (hipocondria)

Desenvolvimentista

A neurose desenvolve-se na consequência do desequilíbrio do Eu e

representação ameaçadora do mundo por dificuldade de identificação com a

figura parental e/ ou vivência duma situação de fragilidade.

Psicanalítico

É o modelo mais potente.

A neurose é a expressão simbólica do conflito intrapsíquico inconsciente,

originado no desenvolvimento infantil;

Existencial

A neurose reflecte a não realização / não abandono do projecto existencial;

Sociogénico

mais para reacções neuróticas do que para neuroses propriamente ditas

considera a neurose o resultado da falência no conflito com pressões sociais.

Page 49: Psicopatologia - 2º semestre

1. Introdução

Não se identificam através de manifestações clínicas, mas pela análise de traços de

personalidade.

Nível Sintomático Nível da Personalidade

Para a identificação de traços da personalidade requere-se a recolha de padrões de

relacionamento com os outros, interacção com o mundo. É um padrão aquilo que for

estável no tempo e numa variedade de situações.

As perturbações personalidade vêm do senso comum (“maus feitios”). Houve a

passagem deste construto para um nível científico, no entanto, tal não foi pacífico. A

polémica mantêm-se pela existência de duas correntes interpretativas/ avaliativas da

personalidade.

Modelo Categorial/ Tipológico – tenta-se discriminar as categorias

Modelo Dimensional – em que se discriminam as dimensões da

personalidade. São mais correcto, mas têm menos aplicação prática

A abordagem aqui focada é a correspondente ao DSM IV

2. Percurso Histórico

Pinel (1809) – identifica uma categoria – a mania sem delírio. Tal teve grande

importância, uma vez que, até a altura, a psicopatologia dividia-se apenas em

neuroses e psicoses.

Pritchard (1837) – Chama a atenção para as perturbações categoriais,

publicando um livro – Análise do Carácter, em que alerta para o facto dos

traços caracteriais funcionarem como resistência. Diz dos traços que são

muito rígidos (armadura caracterial), tendo de ser derrubados.

Perturbações da Personalidade

Page 50: Psicopatologia - 2º semestre

nota

Personalidade

Carácter

Traços que se formam na relação com os outros,

sendo importante a relação precoce com figuras

significativas (a Psicanálise sobrevaloriza o

carácter)

Temperamento

Traços de personalidade com origem biológica (as

teorias biológicas sobrevalorizam o

temperamento)

Schneider (1934) – descreve as perturbações psicopáticas, que actualmente

correspondem às perturbações da personalidade

3. Aspectos Clínicos que se aplicam a todas as Perturbações da Personalidade

Situam-se entre as psicoses e as neuroses, mas noutro plano (não

sintomático). As pessoas com perturbações da personalidade estão dentro da

realidade, como os neuróticos (não há actividade delirante), mas, tal como os

psicóticos, não reconhecem a patologia.

Resposta inflexível, não adaptada ao stress.

A capacidade de amar e trabalhar está geralmente afectada, já que têm

dificuldades no relacionamento interpessoal.

Há tendência para conflitos interpessoais e para provocar rejeição nos outros.

Não aprendem com os erros e o sofrimento psíquico é aceite como imutável.

Os traços caracteriais são

Aloplásticos – porque se reflectem nos outros

Egossintónicos – dificuldade no reconhecimento da patologia

Os traços mais patológicos têm tendência a diminuir com a idade

Page 51: Psicopatologia - 2º semestre

3.1 Diagnóstico Diferencial

Patologias que se podem confundir com perturbações da personalidade

Patologias com causas orgânicas – quando há viragem brusca da

personalidade

Alcoolismo

Abuso de opiáceos

Simulação

4. Perturbações de Personalidade – DSM IV

Grupo A Grupo B Grupo C

Perturbações cujo

funcionamento está próximo

de uma psicose, no sentido

da bizarria, excentricidade e

desadequação social

Perturbações com as

seguintes características:

egocentrismo, impulsividade

Perturbações próximas do

funcionamento neurótico

Paranóide

Esquizóide

Esquizotípica

Anti-social

Estado limite

Histriónica

Narcísica

Evitante

Dependente

Obsessivo-Compulsivo

Outras não especificadas

Frequência igual nos dois

sexos

Mais frequente nos homens

a anti-social e narcísica

4.1 Grupo A

Perturbação Esquizóide

Considerada, primeiramente, uma situação pré-mórbida, anunciadora de um posterior

surto psicótico. Só com Schneider se considera a esquizóidia como uma

personalidade patológica qualitativamente diferente do processo esquizofrénico;

embora façam parte, juntamente com as personalidades esquizotípicas, de um

espectro esquizofrénico.

Há que perceber se a perturbação da personalidade acontece antes ou depois do consumo

Page 52: Psicopatologia - 2º semestre

Na sua descrição é possível distinguir dois aspectos: por um lado, a pobreza da vida

afectiva e relacional com introversão marcada e, por outro, o aparecimento de uma

forma minor de dissociação do pensamento e autismo.

O diagnóstico é dado pela existência de um padrão persistente de indiferença às

relações sociais e capacidades diminuídas para experimentar e exprimir emoções.

Os sujeitos perturbados escolhem actividades solitárias, não têm amigos íntimos nem

confidentes e aparentam frieza e distância.

Devem distinguir-se da perturbação de personalidade evitante, na qual o isolamento

social é devido à hipersensibilidade à rejeição, com permanência do desejo de

estabelecer relações.

Personalidade Esquizotípica

A presença de peculiaridades ideativas, na aparência, no comportamento ou ainda no

campo do relacionamento interpessoal, começando no início da idade adulta, aponta

para o diagnóstico de personalidade esquizotípica, desde que estas características

não sejam suficientemente acentuadas para preencherem os critérios de

esquizofrenia.

A nível do pensamento podem existir ideias bizarras e pensamento mágico, em

desacordo com as normas culturais.

O discurso mostra peculiaridades acentuadas, podendo apresentar-se digressivo,

vago ou abstracto; os conceitos expressos são expressos de forma bizarra e as

palavras são usadas de modo a provocar reacções de estranheza nos outros.

Os comportamentos são excêntricos e a aparência pode ser desleixada com

maneirismos ou falando sozinhos.

As relações interpessoais são invariavelmente perturbadas.

Personalidade Paranóide

A descrição clássica das personalidades paranóides comporta quatro elementos

principais: a hipertrofia do eu é o traço principal que se exprime pelo orgulho; a certeza

de ter razão; o desprezo, desqualificação ou exploração dos outros; rigidez e

intolerância que roça o fanatismo.

A desconfiança domina as relações com os outros e vai desde o sentimento de ser

incompreendido, não estimado, isolado, à suspeita activa e à interpretação das

Page 53: Psicopatologia - 2º semestre

atitudes alheias como hostilidade sistemática. Alimenta ideias megalómanas de

perseguição, crime, erotomania...

Os erros de julgamento compreendem-se a partir da submissão do processo lógico às

posições afectivas.

Por fim, a anadaptabilidade é o resultante social destas atitudes psicológicas.

As dificuldades relacionais dos domínios familiar, profissional e pessoal, levam a um

isolamento social e a uma retirada do investimento no próprio, o que acentua os outros

traços.

Estes indivíduos são geralmente litigantes, com tendência para exagerar as

dificuldades, hipervigilantes, tendendo a evitar a culpa própria, mas quando tal se

justifica.

Revelam extrema dificuldade em aceitar críticas dirigidas a si próprio, evita a

intimidade, ostentando um necessidade excessiva em serem auto suficientes.

Deve fazer-se o diagnóstico diferencial com as psicoses paranóides e esquizofrénicas,

na medida em que nestas últimas existem sintomas psicóticos persistentes (ideias

delirantes e alucinações), que não fazem parte da perturbação de personalidade

paranóide.

4.2 Grupo B

Personalidade Anti-social (personalidade psicopática)

Esta perturbação, conhecia classicamente como psicopatia, apresenta uma biografia

típica com início na infância onde se acumulam desde logo: fugas de casa, absentismo

escolar, crueldade com pequenos animais ou crianças mais pequenas, mentiras

patológicas, fogo posto e pequenos roubos.

Durante a adolescência estes indivíduos agravam as características pré-existentes

como instabilidade e impulsividade com ocasião para passagem ao acto repetidas, tais

como delitos vários, tentativas de suicídio, violência, abuso de álcool e drogas e

experiências sexuais não usuais para o seu grupo etário.

Quando procuram ajuda, geralmente coagidos, queixam-se de insatisfação pessoal,

incapacidade para tolerar o aborrecimento e humor disfórico.

A perturbação é incapacitante resultando na falência de autonomia e auto-suficiência,

com muitos anos de institucionalização, geralmente do tipo penal.

Page 54: Psicopatologia - 2º semestre

São conhecidos factores predisponentes tais como instabilidade e síndrome de

hiperactividade com défice de atenção na infância, assim como abuso sexual,

crescimento sem figuras parentais ou ausência de disciplina consciente.

A prevalência na população geral é de cerda de 3% nos homens e menos de 1% nas

mulheres.

Deve fazer-se o diagnóstico diferencial quer com a criminalidade comum não atribuível

a doença mental quer com abuso de substâncias.

Neste último caso, o comportamento anti-social é anterior ao consumo.

Episódios maníacos podem estar associados com comportamento anti-social. No

entanto, a natureza episódica destes comportamentos exclui o diagnóstico de

personalidade anti-social.

Personalidade Limite

A noção de personalidade borderline com origem na teoria psicanalítica, impôs-se

progressivamente ao longo dos últimos 50 anos.

Deve ser evitada como saco sem fundo diagnóstico quando não é possível o doente

ser enquadrado na classificação de neurose ou psicose.

Pelo contrário, o diagnóstico está sujeito a critérios precisos tais como: padrão global

de instabilidade aos níveis do humor, relações interpessoais, profissional e afectiva.

Impulsividade em áreas potencialmente auto-lesivas, como por exemplo, consumo de

substâncias, auto agressões, excesso de velocidade…

Baixa tolerância à frustração com descontrolo dos impulsos e tendência fácil para

passagem ao acto, sentimentos crónicos de aborrecimento e vazio e difusão da

identidade quer a nível da auto imagem, orientação sexual ou escolha de objectivos e

valores.

Dos aspectos estruturais psicodinâmicos presentes nesta perturbação, salientamos a

perturbação da identidade, utilização de mecanismos de defesa primitivos (clivagem,

negação, identificação projectiva e idealização primitiva) e teste de realidade mantido.

As complicações possíveis incluem crises depressivas, abuso de substâncias,

episódios psicóticos breves ou morte prematura por suicídio. Este perturbação é mais

frequente em mulheres.

Personalidade Narcísica

Page 55: Psicopatologia - 2º semestre

A DSM IV utiliza a designação de personalidade narcísica para um padrão global de

grandeza em fantasia ou comportamento, hipersensibilidade à avaliação dos outros e

ausência de empatia.

De modo frequente estes sentimentos de grandeza alternam com sentimentos de auto

desvalorização.

A auto-estima é frágil, sendo compensada por uma necessidade exibicionista de

constante atenção e admiração. Em resposta à crítica respondem com raiva, vergonha

ou humilhação.

No relacionamento amoroso manifestam ausência de empatia, sendo o parceiro

considerado um prolongamento de si próprios.

Muito preocupados com fantasias de êxito ilimitado, poder, brilho ou beleza, reagem

com inveja intensa em relação àqueles que são percebidos como tendo maior êxito.

Associa-se muitas vezes às personalidades histriónica, borderline e anti-social.

Uma complicação frequente é a depressão, quando o indivíduo atinge a idade média

de vida, apercebendo-se das suas limitações físicas e de que não alcançará todo o

sucesso desejado.

Personalidade Histriónica

Os comportamentos sedutores com conotação sexual, excessiva emocionalidade,

teatralidade e procura de atenção, caracterizam esta patologia.

As pessoas com perturbação histérica procuram constantemente encorajamento,

aprovação e o elogio dos outros, exprimindo as suas emoções de modo

desproporcionado.

Vivem centrados sobre si próprios, com baixa tolerância à frustração, dirigindo as suas

acções para a obtenção de satisfação imediata.

Extremamente preocupados coma aparência física, geralmente atraentes e sedutores,

podem parecer brilhantes aos olhos dos outros. Necessitam constantemente de

novidade, estimulação e excitação, aborrecendo-se rapidamente com a rotina.

São percebidos como superficialmente encantadores, mas pouco verdadeiros.

Revelam pouco interesse na actividade intelectual e no pensamento analítico, mas são

frequentemente criativos e imaginativos.

As relações interpessoais são caracterizadas por uma exuberância facilitadora de

novos contactos, sendo contudo impressionáveis e facilmente influenciáveis.

Apresentam com frequência queixas físicas; mais frequente no sexo feminino.

4.3 Grupo C

Page 56: Psicopatologia - 2º semestre

Personalidade Evitante

Conhecida classicamente como personalidade fóbica, era descrita em termos dos

comportamentos ligados à timidez com evitamento das situações relacionais, sempre

que a proximidade implicasse sexualidade ou agressividade.

Em estado de alerta e de hiper vigilância em situações percebidas como perigosas ou

a tudo o que as possa representar simbolicamente, podem utilizar a fuga para a frente

como defesa.

O DSM IV utiliza a expressão personalidade evitante para descrever um padrão

persistente de desconforto social, medo de avaliação negativa e timidez.

São facilmente magoados pelo critica e muito susceptíveis ao mais pequeno sinal de

desaprovação, são retraídos, sem amigos intimos ou confidentes. Anseiam, no

entanto, por afecto e aceitação.

Os perigos físicos e os riscos envolvidos em atitudes vulgares, mas fora de rotina, são

amplamente exagerados. A fobia social pode ser uma complicação desta perturbação,

distinguindo-se dela pelo facto do evitamento ser feito mais para situações específicas,

do que globalmente as situações sociais.

Personalidade Obsessiva

Pessoas que investem muito na ordem, obstinação e economia (o que Freud chama

tríade anal).

O DSM IV aponta como características essenciais desta perturbação o perfeccionismo

e a inflexibilidade. A preocupação excessiva com as regras, eficiência e pormenores

insignificantes, prejudicam as suas actividades, privilegiando o trabalho e a

produtividade em relação ao lazer a às relações inter-pessoais.

Os sujeitos são excessivamente conscienciosos, moralistas e escrupulosos no

julgamento de si próprios e dos outros, avarentos, convencionais e adiam

sucessivamente a tomada de decisões.

A perturbação é mais frequente no sexo masculino, sendo vulgares complicações da

linha depressiva.

Personalidade Dependente

Page 57: Psicopatologia - 2º semestre

Os sentimentos de apego e dependência são universais. Contudo, quando aparecem

em excesso tal pode-se tornar problemático.

O DSM IV insiste no comportamento submissivo e dependente, com incapacidade

para tomar decisões quotidianas e consentindo que os outros assumam a

responsabilidade de decidir sobre assuntos importantes das suas vidas.

Sentindo-se desconfortáveis ou desesperados quando sozinhos, fazem grandes

esforços para evitar esta situação, concordando com as outras pessoas mesmo

quando acredita que estas estão erradas, com medo de rejeição e abandono.

São comuns sintomas como a ansiedade e a depressão, assim como a subvalorização

das suas capacidades e autocrítica exagerada.

É aparentemente mais comum no sexo feminino.

Perturbações da Personalidade não especificadas

Utiliza-se esta categoria quer em relação a quadros mistos em que haja traços de uma

perturbação de personalidade específica, quer ainda em relação a perturbações de

personalidade que o clínico julgue aproximadas, embora não façam parte desta

classificação por necessitarem de investigação adicional; como sejam os casos de

perturbação de personalidade impulsiva, imatura, auto-destrutiva e sádica.

5. Modelos Explicativos das Perturbações de Personalidade

Page 58: Psicopatologia - 2º semestre

Biológico

Gémeos monozigóticos têm mais perturbações deste tipo que gémeos

dizigóticos

Trabalhos de ... e Sheldon tentaram relacionar alguns traços de personalidade

com a forma do corpo

Thomas e Chess (1977) fizeram um estudo longitudinal (dos 3 aos 20 anos),

em que confirmaram que alguns traços se fixam muito precocemente.

Psicodinâmico

Tem em atenção tanto os comportamentos das pessoas, como os critérios estruturais.

Distingue três organizações psicopatológicas de peso:

Neurótica

Psicótica

Borderline

Definidos por três critérios

Integração da personalidade

Mecanismos de defesa (de alto nível do tipo neurótico, tendo defesas dos

outros grupos – B e C)

Teste de realidade (mantido nos neuróticos e borderline e alterado nos

psicóticos)

Page 59: Psicopatologia - 2º semestre

1. Características universais nas psicoses

Presença de manifestações psicóticas

Delírios

Alucinações

Perturbação do juízo Crítico

Não é capaz de fazer uma avaliação correcta do que é real ou imaginário,

tomando como real o imaginário. Não tem

Distanciamento em relação à realidade

O facto de acreditar na existência de factos que não existem a não ser para o

próprio, faz com que o indivíduo se distancie da realidade partilhada pelos

outros, isto é, a sua neorealidade faz um corte com a realidade comum.

Este distanciamento confere incoerência do pensamento / discurso e

também comportamento.

Consequências pessoais, familiares e sociais

Psicoses

Principais manifestações

Page 60: Psicopatologia - 2º semestre

2. Tipos de Psicoses

2.1 Psicoses Orgânicas

São estados psicopatológicos resultantes de efeitos directos ou indirectos de

alterações orgânicas cerebrais, funcionais ou estruturais, sendo que a disfunção

cerebral pode ser transitória ou permanente.

Factores Causais Principais

Traumáticos – por exemplo, traumatismo craniano

Vasculares – por exemplo, arteriosclerose cerebral

Tóxicos – resultantes de intoxicações agudas ou crónicas de álcool, heroína

ou cocaína

Infecciosos – infecções no sistema nervoso central, por exemplo meningites

ou, mais frequentemente, encefalites

Degenerativos – a situação mais relevante é a doença de Alzeimer (perda

substancial de massa cinzenta do córtex e sua substituição por placas de

nome Alzeimer)

Podem ser de dois tipos:

a) Perturbações Cognitivas Generalizadas

Manifestam-se por défices progressivos cognitivos permanentes e amplos (memória,

percepção, pensamento...). O sujeito pode ter consciência disso (arteriosclerose), ou

não (doença de Alzeimer). São acompanhadas de demência ou delírios. Neste último

caso, a perturbação é classificada como Perturbação psicótica orgânica aguda

transitória (ingleses) ou Estados confusionais ou confuso-oníricos (franceses)

b) Perturbações Cognitivas Selectivas

Traduzem-se num estado amnésico. São normalmente provocadas pelo abuso de

álcool – síndrome de Korsakov

Grupos de Risco

Idosos – mais predispostos à demência

Jovens (15- 25/30 anos) – como consequência dos traumatismos cranianos

provocados por acidentes, mais frequentes nestas idades ou pelo abuso de

substâncias.

Page 61: Psicopatologia - 2º semestre

2.2 Psicoses Esquizofrénicas

Psicoses esquizofrénica breve/ reactiva – até 3 semanas

Perturbações Esquizomorfas ou Esquizoformes – duração de 3 semanas a 6

meses. Estados transitórios que podem até não voltar a repetir-se

Psicoses Esquizofrénicas

Definição

CID (OMS)

Grupo de psicoses, cujo transtorno fundamental é uma alteração de

personalidade, distorção das características do pensamento, com sentimento de

ser controlado por forças externas, ideias delirantes, afecto alterado, sem relação

com a situação real e autismo.

DSM (APA)

Perturbações caracterizadas por deterioração do nível de funcionamento anterior

(profissional, social, cuidados pessoais), perturbação do pensamento (forma e

conteúdo), do afecto, da percepção, da relação com o mundo, aparecimento

antes dos 45 anos e duração de, pelo menos, 6 meses

Manifestações psicológicas - 4 níveis:

Perturbação do pensamento (comum nas psicoses hebefrénicas, que

começam aos 14/15 anos):

Forma – ruptura do processo associativo, não havendo relações

lógicas, que provocam desorganização e desagregação do

pensamento.

Conteúdo – Dominam delírios de influência ou de perseguição, no

caso das esquizofrenias tipo paranóide.

Perturbação da percepção

Existência de alucinações, sendo que dominam as auditivas, as

psico-sensoriais ou psíquicas.

Page 62: Psicopatologia - 2º semestre

Perturbação do afecto

Mudança dos afectos em relação aos familiares próximos (de

positivo a agressivo)

Progressiva diminuição da resposta emocional – o indivíduo torna-

se menos reactivo, deixando de haver reacção afectiva – frieza

afectiva. Pode existir igualmente afectos sem relação ou afectos

discordantes.

Perturbação do comportamento

Existe um movimento de introversão, com retirada autista (não

relação)

Manifestações de 1ª linha (Kurt Schneider, 1958)

“fortemente sugestivas”, mas não exclusivas

Fenómenos Alucinatórios

Sonorização do pensamento, duas ou mais vozes comentando as acções do

sujeito.

Fenómenos Delirantes

Influencia no pensamento e nos actos - Imposição do pensamento/ roubo do

pensamento/ divulgação do pensamento/ sensações corporais impostas/

percepção delirante

2.3 Psicoses Afectivas

Grupos de Psicoses, cujo transtorno fundamental é uma alteração do humor e dos

afectos

No sentido depressivo

No sentido maníaco

De alternância entre mania e depressão

Page 63: Psicopatologia - 2º semestre

Tipos Principais

1- Perturbações afectivas Unipolares

Episódios depressivos psicóticos sem episódios maníacos

Aparece em pessoas mais velhas (mais de 40 anos) que não têm

antecedentes familiares semelhantes.

Quase sempre antes de desenvolver a psicose unipolar apresentava

perturbação de personalidade com aspectos do funcionamento obsessivo e

de dependência dos outros – personalidade pré-melancólica

Os episódios prolongam-se tendencialmente por 6 meses.

A proporção entre sexos é de 2 mulheres : 1 homem.

2- Perturbações Afectivas Bipolares

Episódios depressivos e maníacos alternados ou apenas episódios

maníacos.

Na maioria dos caso esta patologia é antecedida por uma perturbação da

personalidade ciclotímica.

Aparecem principalmente em indivíduos jovens (20 anos), numa proporção

igualitária entre sexos.

História familiar positiva.

Episódios que dura tendencialmente 3 meses.

Page 64: Psicopatologia - 2º semestre

1. O que são e o quais são os Comportamentos Auto Destrutivos

Comportamento auto destrutivo

Comportamento que ocorre quando um indivíduo tenta fazer mal a si próprio.

De ressalvar que as expectativas são diversificadas, variando entre o desejo genuíno

de morrer, entre o desejo de escapar à morte e a não existência de expectativas

definidas (deixar a morte ao acaso).

Tipos de Comportamentos Auto destrutivos

Suicídio

Comportamento auto destrutivos, cujo resultado é a morte do próprio

Tentativa de Suicídio

Comportamento que corresponde a um acto deliberadamente auto destrutivo,

do qual o indivíduo escapa de morrer.

Para suicídio

Comportamento auto destrutivo que não tendo uma relação directa com o

desejo de morrer pode resultar nisso.

Ex. um indivíduo com insuficiência renal crónica terá de fazer hemodiálise e

falta a algumas sessões, assim como deliberadamente faz erros alimentares.

Ex2. Um indivíduo ingere uma grande quantidade de substâncias, podendo

ter uma overdose (relacionado com o desafio de limites, a ocorrência de

morte é deixada ao acaso, se algo correr mal o indivíduo pode morrer).

Comportamentos Auto Destrutivos

Page 65: Psicopatologia - 2º semestre

Diferentes perfis constituídos por tendências estatísticas significativas

Suicídio Tentativa de Suicídio

Sexo Homem (2 a 3: 1) Mulher (2:1)

Idade (*1) Mais velhos (45-55 anos) Mais jovem (20-30 anos)

Motivos (*2) Separação e divórcio

Crises situacionais (Luto, decepção amorosa, conflito interpessoal); situação social (desemprego, dificuldades económicas – falta de suporte social)

Psicopatologia (*3)

Psicopatologia prévia: depressão, psicoses e alcoolismo

Psicopatologia prévia (neuroses)

Métodos (*4)Principalmente meios físicos e químicos (também ingestão de medicamentos)

Principalmente medicamentos (também meios físicos e químicos)

Nota (*1) – as taxas de suicídio aumentam com a idade, no entanto, na adolescência o

suicídio é a segunda causa de morte, a seguir aos acidentes.

Nota (*2) – muitas vezes estes acontecimentos desencadeiam uma crise suicida, altura

em que a pessoas está deprimida e tem ideação suicida.

Nota (*3) – pode não haver psicopatologia associada (10 – 15% dos casos).

Nota (*4) – o suicídio está mais relacionado com meios físicos e químicos violentos

(letalidade muito elevada). No entanto, a intencionalidade suicida não pode ser

avaliada apenas pela gravidade do método usado.

Verifica-se que, nestes casos, existe uma predominância de história familiar positiva,

isto é, naquela família já houve outras pessoas que se suicidaram ou se tentaram

suicidar. Tal pode-se dever a um processo de aprendizagem social (imitação ou

modelagem), ou pela doença aniversário (muitas pessoas suicidam-se no aniversário

da morte de um ente querido). De ressalvar que no caso das psicoses existe um factor

genético que explica 15% dos suicídios.

Page 66: Psicopatologia - 2º semestre

2. Factores Causais dos Comportamentos Auto Destrutivos

São vários os factores causais das condutas auto destrutivas, nomeadamente do

suicídio, podendo estes agrupar-se em três condições: problemas situacionais,

doenças físicas e psicopatologia propriamente dita.

Problemas situacionais

Verifica-se que o indivíduo confronta-se com situações indutoras de stress (mais

frequentemente crises pessoais associadas a luto, separação, divórcio,

dificuldades económicas, desemprego, etc.), podendo desenvolver uma

perturbação de ajustamento e ser conduzido ao suicídio.

Doenças físicas

Doenças físicas que provocam incapacidade são incuráveis/ terminais ou que

comportam dor crónica, têm uma probabilidade de desenvolver condutas auto-

destrutivas, como o suicídio, até porque estas situações costumam estar

associadas a depressões reactivas, principalmente quanto mais novo for o sujeito

e quanto mais repentino for o acontecimento.

Psicopatologia

Os comportamentos auto destrutivos atravessam toda a psicopatologia, estando

fortemente relacionados com ela, tema que desenvolvemos em seguida.

3. Relação entre Comportamentos Auto destrutivos e Psicopatologia

Perturbações depressivas

A patologia mais associada ao suicídio, estimando-se que aumenta a

probabilidade de suicídio em vinte e quatro vezes. Podemos diferenciar as:

Depressões psicóticas, cujo protótipo são as psicoses maníaco-depressivas,

onde os motivos estão associados à libertação do sofrimento e às ideias

delirantes de culpa;

Depressões neuróticas, onde o os comportamentos auto destrutivos surgem

numa dinâmica interpessoal, nomeadamente a hetero-agressão, a obtenção

de afecto e a manipulação do outro;

Page 67: Psicopatologia - 2º semestre

Depressões reactivas, cuja finalidade principal identificada é o apelo, o

pedido de ajuda para acabar com o sofrimento.

O suicídio ocorre normalmente na altura do dia em que o humor está mais

deprimido, o que corresponde às manhãs nas depressões psicóticas, ao fim da

tarde nas neuróticas e ao início da noite nas reactivas.

Alcoolismo e dependência de drogas

Existe uma associação destes casos à depressão reactiva (dificuldades muitas

vezes decorrentes do próprio consumo), sendo que o que funciona em termos de

autodestruição é o próprio consumo. Muitas vezes, o impulso auto-destrutivo é

deixado ao acaso, sem uma intencionalidade bem definida (eg. poder ter, ou não,

uma overdose)

Psicoses esquizofrénicas

Estima-se uma probabilidade de suicídio três vezes superior à da população em

geral. Aqui o suicídio poderá ter lugar em três contextos: numa fase inicial, quando

não há muitos delírios, mas uma angústia psicológica marcada associada a

fenómenos de despersonalização; numa fase mais avançada, pela presença de

alucinações auditivas que dão ordens de auto-destruição, de notar que o indivíduo

não tem juízo crítico; ou quando o indivíduo começa a melhorar e a ter consciência

da sua doença, já que pode desenvolver uma depressão pós-psicótica.

Psicoses Orgânicas

Estados confusionais – o suicídio é uma consequência catastrófica, uma vez

que o sujeito não tem intenção de se matar, mas por causa da sua

desorientação tal pode acontecer.

Demências – nas fases iniciais de demência o sujeito pode ainda ter

consciência que está a perder capacidade, o que origina uma depressão por

incapacidade.

Neuroses

Aqui predominam as tentativas de suicídio.

Neurose Obsessiva – depressão uma vez que não consegue lutar contra as

ideias obsessivas

Neuroses histriónica - significado predominante a agressão contra o outro,

assim como o ganho secundário (manipulação)

Depressão subsequente aos ataques de pânico (incapacidade)

Page 68: Psicopatologia - 2º semestre

4. Prevenção do Suicídio

Evolução das Ideias de Suicídio

“A ideia suicida é a ponta da navalha a remexer no golpe até ao desespero decisivo”

Teixeira de Pascoaes

Fase 1 – Tem a ideia de suicídio, entre outras

Fase 2 – Aumento da frequência da ideia de suicídio

Fase 3 – Luta interna contra as próprias ideias

Fase 4 – Receptividade à informação

Fase 5 – Decisão suicida

No período de ambivalência existe, na maioria das vezes, avisos feitos a diferentes

pessoas. Estas comunicações podem ser directas (“estou a pensar em matar-me”) ou

não tão directas (“estou muito cansado, já me custa viver”).

Em termos de prevenção é particularmente importante que haja uma intervenção

nesta altura.

Entrevista de Avaliação do Risco de Suicídio

O objectivo é perceber o significado psicopatológico do suicídio de forma a definir a

estratégia mais adequada.

Perguntas:

Desejou alguma vez matar-se ?

Tem pensado em ferir ou matar-se?

Já tentou alguma vez? Quando e como ?

Ultimamente tem tido ideias de se matar?

Tendo pensado, pensou como ?

Pensou matar mais alguém?

Ideação suicida

Ambivalência

A partir deste momento já não há prevenção possível

Page 69: Psicopatologia - 2º semestre

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, a possibilidade de falar no assunto é

muitas vezes aliviante e preventiva.

O risco de suicídio é avaliado em termos de determinados factores: sexo, idade,

depressão, tentativas anteriores, abuso de álcool, plano organizado, vontade muito

forte, suporte social escasso, ausência de ganho secundário, doença física.

Tipo ideal de suicida: homem de 75 anos, viúvo, deprimido há três meses, já fez

tentativas de suicídio, considera que não tem nada a perder, consome bastante álcool,

não tem amigos, nem suporte social, diagnosticado um cancro na semana anterior.

Page 70: Psicopatologia - 2º semestre

1. Consequências para a Integração Social

(esta é uma área eminentemente de outros técnicos, mas os psicólogos podem e

devem desenvolver competências a este nível)

As consequências para a integração social situam-se a vários níveis:

redução do suporte social;

insucesso escolar

desemprego;

problemas legais;

pobreza e sem abrigo;

acidentes;

Técnicos de Saúde Mental

Funções de prevenção e identificação precoce de qualquer tipo de desadequação

ao nível da integração social. Deverão actuar no sentido de promover e aumentar

a competência de outros técnicos.

No contexto actual, no nosso sistema de saúde, os cuidados não são prestados

em equipa, quando esse é um dos aspectos fundamentais para o sucesso da

prevenção/intervenção no domínio da saúde mental. Os técnicos das diferentes

áreas trabalham isoladamente (cada um dos técnicos de saúde mental procede

independentemente à avaliação e diagnóstico dos indivíduo que lhe são

apresentados. O psiquiatra faz o seu diagnóstico independentemente do psicólogo,

do dermatologista, etc., etc. e vice-versa. Cada qual trabalha e actua apenas no

nicho que domina sem estabelecer relações com outras zonas técnicas de

prevenção, avaliação e diagnóstico). Acontece frequentemente que uma pessoa

com saúde mental deteriorada seja diagnosticada e avaliada por um técnico

isoladamente.

O facto de um indivíduo ter uma perturbação mental pode ser um viés ao nível da

avaliação por outras disciplinas. Outros médicos (que não de saúde mental)

podem negligenciar diversos aspectos da sua sintomatologia pelo simples facto do

Consequências da Psicopatologia

Page 71: Psicopatologia - 2º semestre

indivíduo ser doente mental. A queixa não é levada a sério. Entende-se portanto

que, ainda hoje, ter uma doença mental é um risco para a saúde.

Redução do suporte social

As redes de suporte social (família, amigos, trabalho) são muito importantes para a

nossa adaptação e suporte psicológico. O que se recebe dos outros é muito

importante. O suporte social é um factor fundamental para evitar que acontecimentos

indutores de stress tenham consequências graves para a saúde mental e física do

indivíduo.

Quando se fala de suporte social, está-se a falar de suporte social de qualidade – que

se caracteriza por ser um suporte social percepcionado como estando presente

quando é preciso. É esta percepção, e a sua concretização na prática, que é o suporte

social de qualidade. Funciona como tampão ou amortecedor dos efeitos negativos que

o stress pode ter sobre a saúde.

Para evitar esses efeitos negativos do stress, é necessário estabilizar o suporte social

de qualidade dos indivíduos.

Diferentes perturbações mentais podem alterar (diferentemente) as redes sociais do

indivíduo.

Exemplo: Psicoses esquizofrénicas ou algumas perturbações de personalidade

Que perturbações da personalidade vão acarretar diminuição do suporte social? (ex.

perturbações do tipo paranóide – as pessoas não estão para aturar aquela

agressividade, são as pessoas que se afastam, neste caso). (ex. perturbação anti-

social – rouba, cheques sem cobertura, etc.).

As pessoas tendem a afastar-se de pessoas com grande instabilidade emocional

(border-line, perturbação esquizóide – é o indivíduo que se retira). Na perturbação

esquizóide existe uma certa tendência para a prazo se instalar um certo isolamento.

Por um lado há movimento de afastamento em que o indivíduo se isola, se retrai –

retirada social. Por outro lado, o seu comportamento estranho afasta as outras

pessoas.

Consequência – redes sociais muito pequenas – rede social de 2 a 3 pessoas (quando

o normal são 30 pessoas)

Page 72: Psicopatologia - 2º semestre

Indivíduos muito desprotegidos, não beneficiam do efeito tampão ou amortecedor.

Atenção: esta relação não é linear. Não é só quantidade mas também qualidade.

A psicopatologia pode afectar outras áreas do desenvolvimento

insucesso escolar – perturba o sucesso escolar;

- psicoses infantis;

- psicoses na adolescência;

O maior risco encontra-se ao nível da patologia psicótica – o indivíduo não deixa de ter

a eficiência cognitiva, mas a perturbação vai desorganizar os comportamentos

intelectuais (ex. concentração – capacidade de estudo necessária para essa trajectória

de sucesso). Estas problemáticas também se podem alargar aos jovens adultos,

adolescentes. Por outro lado, é óbvio que existem as debilidades.

Integração profissional

Há um problema sério. Pode haver uma relação estreita entre a perturbação mental e

desemprego. As perturbações mentais podem conduzir ao desemprego. Há um certo

risco que pessoas com perturbações mentais perderem os empregos, sobretudo

quando são empregos com vínculos precários. Por outro lado, estar desempregado há

muito tempo (desemprego de longa duração) pode desencadear perturbações mentais

(pelo stress). Desemprego de longa duração = stress.

Quais os indivíduos que correm maior risco?

Sobretudo os indivíduos com psicoses (sobretudo com esquizofrenias). Se a

esquizofrenia surge durante a adolescência o indivíduo vai ficar (com muita

probabilidade) com um nível de habilitações baixo (desiste da escola). O

sujeito pode nem sequer conseguir entrar no mercado de trabalho.

Outra situação relativamente frequente é o desenvolvimento de uma

esquizofrenia mais tardia, um indivíduo já se encontrava integrado e

perturba-se. Perde o emprego, por atitudes e comportamentos ligados à

patologia. Perdendo o emprego torna-se muito difícil encontrar outro.

Page 73: Psicopatologia - 2º semestre

O desemprego de uma maneira ou de outra pode espreitar estas pessoas -

esquizofrénicos.

Temos ainda, dentro das psicoses, as maníaco-depressivas, de tipo bipolar.

Que começam subitamente e têm um impacto significativo na situação

profissional. Conduzindo a períodos longos de ausência e baixa prolongada.

Não é necessário referirmo-nos a patologias tão graves para falarmos de

baixas muito longas. Pessoas com perturbações de ansiedade (agorafobias)

podem permanecer longos períodos sem trabalhar, a perturbação impede o

indivíduo de sair de casa, não podendo deslocar-se até ao emprego.

Perturbações agorafóbicas – fobias múltiplas e defesas, o sujeito desenvolve

medos fóbicos e defesas, não se afasta de casa com medo que lhe aconteça

alguma coisa.

Perturbações por dependência de substâncias – álcool e drogas. Dificuldade

em conservar os empregos. Problemas laborais, conflitos no local de

trabalho. São pessoas que têm, com enorme frequência, acidentes. O

alcoolismo crónico e as toxicodependências são outras varáveis de risco em

relação à adaptação profissional.

Perturbações de personalidade que se traduzem em temas de instabilidade

ao nível das relações afectivas. Os indivíduos envolvem-se facilmente em

conflitos, também no local de trabalho.

Finalmente, convém recordar que as dificuldades profissionais (diminuição

do rendimento profissional) são, por vezes, a primeira manifestação de

psicopatologia até aí desconhecida. Esta perturbação profissional é

reveladora, em alguns casos, de perturbação mental. Sobretudo nos casos

de psicoses orgânicas - primeira manifestação de uma perturbação orgânica

cerebral. Evoca a possibilidade do indivíduo estar a desenvolver uma

demência.

(+ 45 anos) – arteriosclerose cerebral e

Alzheimer;

(- 45 anos) – traumatismos cranianos e

HIV;

Page 74: Psicopatologia - 2º semestre

Problemas legais

(Pode haver alguma relação entre psicopatologia e justiça.)

Perturbações mentais que mais frequentemente conduzem a problemas com a justiça

Perturbação de personalidade anti-social e borderline - impossibilidade de

se obedecer ao normativo social. Um dos critérios para a sua identificação é

a existência de problemas com a justiça e comportamentos delinquentes ou

criminosos sem aprendizagem (o facto de haver sanção não implica

reabilitação ou aprendizagem com a experiência).

Criminalidade associada à dependência das drogas. Há 20% mais

dependência das drogas como o álcool, que é legal e está associado a baixa

criminalidade, que das restantes drogas. Problemas legais ligados às drogas

- droga e álcool.

2. Consequências para a Saúde Física

Diferença entre o que é um tratamento e uma reabilitação:

tratamento - é uma ajuda que se pode proporcionar através de técnicas e

dirige-se ao controle da perturbação – trata-se a perturbação;

reabilitação e inserção social – dirige-se não à perturbação mas à pessoa,

promover competências a nível social e profissional, que lhe permita viver de

forma contínua.

Tratam-se de dois conceitos distintos mas indispensáveis na acção sobre os

indivíduos perturbados. São conceitos que se complementam.

O trabalho em equipa é efectivamente eficaz – proporcionando a relação entre o

tratamento e a reabilitação. É necessário tratar a perturbação mental para que o

Page 75: Psicopatologia - 2º semestre

indivíduo possa participar em programas de reabilitação. Tratar a perturbação mental é

uma condição necessária mas não suficiente.

O tratamento e a reabilitação, tanto quanto possível, devem ser simultâneos – ao

mesmo tempo. Quando se começa a tratar começa-se a integrar.

Ligação entre comportamento patológico mental com os comportamentos relacionados

com a saúde física.

Envolvimento em comportamentos de risco para a saúde

Os comportamentos de risco são comportamentos através dos quais o indivíduo

aumenta a probabilidade de vir a adoecer consequência do seu comportamento

(ex. fumar).

O nosso envolvimento em comportamentos de risco aumenta a probabilidade de

se desenvolver uma doença relacionada com esse comportamento.

Há muitos comportamentos de risco, alimentação, condução, relações

desprotegidas, etc.

Importa enfatizar que as pessoas com perturbações mentais, quando comparadas

com as pessoas sem perturbações mentais, têm, normalmente, uma vida menos

saudável. Psicopatologia – maior frequência de comportamentos de risco para a

saúde.

a) Que comportamentos de risco:

tabagismo;

consumo abusivo de álcool, drogas e medicamentos (sem receita médica);

comportamentos de risco por maus hábitos alimentares;

sedentarismo – ausência de actividade física regular;

Este tipo de comportamentos aumenta, em primeiro lugar, as probabilidades das

doenças vasculares – diminui a esperança de vida. Há uma relação com a gravidade

da psicopatologia, entre os psicóticos é onde é mais frequente encontrar estes

Psicopatologia e Psicologia da Saúde

A psicologia da saúde é uma área que estuda o comportamento humano relacionado

com a saúde (quer o comportamento propriamente dito, quer as formas como

concebem a saúde, como a pensam, a comunicação, como se relacionam, etc., etc.)

Page 76: Psicopatologia - 2º semestre

problemas. Esta relação é tal que os psicóticos morrem mais cedo que os não

psicóticos, e não é por suicídio.

Em segundo lugar, as pessoas com psicopatologia tendem a solicitar menos os

recursos existentes, não vão ao médico quando estão doentes, não usam os meios de

que dispõem. Menor utilização dos recursos de saúde. Dispõem de menos informação

acerca dos problemas de saúde e das doenças que as podem afectar.

Em terceiro lugar, as pessoas com psicopatologia tendem a frequentar consultas de

saúde mental. Com frequência não frequentam o médico de família. Quando têm uma

doença ou não se tratam ou vão a um médico qualquer.

Por fim, como os serviços de saúde mental estão desarticulados em relação aos

serviços de saúde física, os técnicos de saúde mental tendem a desvalorizar a saúde

física, ou nem chegam a passar pelo assunto. Por outro lado, os técnicos que não são

de saúde mental tendem a atribuir a queixa ao facto da pessoa ser doente mental.

Podemos concluir então que a variável psicopatologia é uma variável de risco para a

saúde física.

b) Quais são os contextos em que as pessoas com perturbações se envolvem mais

em comportamentos de risco para a saúde?

Os mesmos que as pessoas normais. Mesmo um indivíduo normal, num contexto de

stress, pode desencadear comportamentos de risco. Porque um dos tipos de

estratégias para lidar com o stress é o escape comportamental.

Em termos de psicopatologia o que há de específico?

Pessoas com psicopatologia têm tendência a utilizar menos estratégias activas

(cognitivas e emocionais) e utilizam mais estratégias passivas (negação e evitamento).

A ansiedade e a depressão aumentam com as estratégias passivas. Espreita o risco

dos comportamentos de risco sexuais, uma vez que estes possibilitam a revalorização

narcísica do indivíduo.

Nesta questão do stress as pessoas com psicopatologia estão à partida fragilizadas

por dois outros factores:

Diminuição do suporte social – melhor suporte social contraria a tendência

para se envolver em comportamentos de risco. Estratégias mais activas, não

de escape comportamental;

Page 77: Psicopatologia - 2º semestre

Ansiedade – as pessoas percepcionam mais ameaças do que as que

existem, tudo é perigoso.

c) Os comportamentos de risco podem proporcionar o alívio dos estados perturbados

Dificuldade em tolerar sintomas físicos – menor tolerância a experiências

corporais desagradáveis. Patologia Neurótica – neuroticismo – personalidade

neurótica – intolerância a experiências corporais desagradáveis,

especialmente experiências dolorosas → Auro-medicação: anti-inflamatórios,

analgésicos. A sua intolerância à frustração (neuroticismo) e a facilidade com

que desenvolvem ansiedade → tranquilizantes e hipnóticos.

Dificuldades no confronto com procedimentos médicos indutores de stress –

há um conjunto de procedimentos médicos (diagnóstico, terapia) que são,

eles próprios, indutores de stress. Acarretam dois factores importantes: -

experiência corporal desagradável; - medo. A pessoa pode pensar que o

exame quer dizer que ela tem uma doença grave, o que faz com que os

exames sejam indutores de stress. Os exames são, muitas vezes, invasivos.

São sempre mais complicados para as pessoas com psicopatologia, evitam

fazer os exames que são necessários. Os indivíduos com psicopatologia

utilizam estratégias de evitamento, podem não fazer os exames que lhes são

recomendados - pessoas com perturbações ansiosas e fóbicas. Todos os

exames que envolvam intrusão são muito indutores de stress e ansiedade

para as pessoas com psicoses, nestes casos não se trata de evitamento mas

de recusa. Os indivíduos com patologia neurótica tendem a ter maiores

níveis de ansiedade. Têm receio de todas as experiências corporais.

Dificuldade de comunicação e de relação com os técnicos – as pessoas com

psicopatologia têm comportamentos patológicos que são normalmente

rejeitados quando não são compreendidos. Há muita gente com

psicopatologia que tem uma enorme instabilidade (border-line) e

imprevisibilidade de comportamentos. Comportamentos provocadores

(aproximação sedutora); comportamentos ameaçadores (perturbação de

personalidade anti-social e border-line); comportamentos controladores

(obsessivos).

O comportamento patológico é uma fonte de perturbação da relação e da

comunicação entre os indivíduos com psicopatologia e os técnicos de saúde.

Page 78: Psicopatologia - 2º semestre

Dificuldades de adaptação à doença e à hospitalização – psicopatologia

aumenta a probabilidade de aumentar o stress e posteriores consequências

(conflitos com técnicos, depressões, dependências).

Problemas de adesão a tratamentos médicos – comportamento de adesão –

grau de concordância entre o comportamento e a recomendação do técnico

de saúde. Pode ser satisfatório ou insatisfatório – quando é insatisfatório, os

tratamentos vão ser desajustados e inadequados. A adesão pode ser muito

diversa em indivíduos com psicopatologia, dos que aderem excessivamente

(obsessivos), passando pelos que aderem pouco (medos fóbicos), chegando

aos que oscilam consideravelmente (border-line).

Comportamentos inadequados de procura de cuidados – forma como o

individuo se relaciona com os serviços de saúde quando percepciona uma

alteração do seu estado de saúde. As pessoas que têm comportamentos

pouco adequados tem uma razão para isso, normalmente trata-se de

psicopatologia - hipocondria. Há pessoas que consultam mais quando estão

em stress. O contrário, a diminuição da procura dos técnicos, também existe

– perturbações psicóticas, esquizofrénicas, que se caracterizam por um

grande isolamento, autismo, grande dificuldade em entrar em relação.

Pessoas que tenham problemas evitativos.

Stress ocupacional dos técnicos – stress profissional nos técnicos de saúde

(dava pano para mangas…!). Médicos, enfermeiros, psicólogos, etc. Dois

pontos:

É frequente a psicopatologia nos próprios técnicos de saúde; o stress a nível

profissional pode associar-se a perturbações mentais – perturbações de

ansiedade, suicídio, abuso de substâncias (álcool, estimulantes,

tranquilizantes);

Em relação às profissões de saúde há um risco enorme: as qualidades

profissionais exigidas ou desejáveis são opostas às qualidades familiares

exigidas ou desejáveis. Isto é, o técnico deve, enquanto técnico permanecer

distante, frio, analítico, contido, etc., e a pessoa deve, no contexto entra-

profissional, deixar este conjunto de características à porta do local de

trabalho e mudar significativamente. Conflitualidade entre profissão e família.

– psicopatologia dos próprios técnicos.