Produtos Audiovisuais Feitos Exclusivamente Para Web-um Estudo de Caso Do Multishow

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE COMUNICAO

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    JORNALISMO

    PRODUTOS AUDIOVISUAIS FEITOS EXCLUSIVAMENTE PARA WEB:

    UM ESTUDO DE CASO DO MULTISHOW 2011

    IZABELLA SOUZA DA SILVA

    RIO DE JANEIRO

  • 2 2011

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE COMUNICAO

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    JORNALISMO

    PRODUTOS AUDIOVISUAIS FEITOS EXCLUSIVAMENTE PARA WEB:

    UM ESTUDO DE CASO DO MULTISHOW

    2011

    Monografia submetida Banca de

    Graduao como requisito para obteno do

    diploma de Comunicao Social/

    Jornalismo.

    IZABELLA SOUZA DA SILVA

    Orientadora: Profa. Suzy dos Santos

    RIO DE JANEIRO

  • 3 2011

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE COMUNICAO

    TERMO DE APROVAO

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada, avalia a Monografia Produtos

    Audiovisuais feitos exclusivamente para web:um estudo de caso do Multishow,

    elaborada por Izabella Souza da Silva.

    Monografia examinada:

    Rio de Janeiro, no dia ........./........./..........

    Comisso Examinadora: Orientadora: Profa. Dra. Raquel Paiva de Arajo Soares Doutora em Comunicao pela Escola de Comunicao .- UFRJ Departamento de Comunicao - UFRJ Prof. Mrcio Tavares DAmaral Doutor em Letras pela Faculdade de Letras - UFRJ Departamento de Comunicao -. UFRJ Prof. Maurcio Lissowisky Doutor em Comunicao pela Escola de Comunicao - UFRJ Departamento de Comunicao UFRJ

    RIO DE JANEIRO

  • 4

    2011

    FICHA CATALOGRFICA

    SILVA, Izabella Souza Produtos Audiovisuais Feitos Exclusivamente para Web: um estudo de caso do canal Multishow. Rio de Janeiro, 2011. Monografia (Graduao em Comunicao Social/ Jornalismo) Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Escola de Comunicao ECO. Orientadora: Suzy dos Santos

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a minha me, cuja pacincia, motivao e otimismo foram os

    principais motores desse trabalho. Sem ela, a concluso dessa etapa certamente seria muito

    mais dolorosa e sufrida.

    Agradeo tambm ao meu pai que sua maneira sempre se mostrou preocupado com a ma

    educao e disposto a ajudar no que fosse preciso.

    professora Suzy, registro aqui tambm o meu muitssimo obrigado pela solicitude,

    compreenso e pacincia nos momentos em eu tive dificuldades em organizar essa

    produo. Seus conhecimentos me estimularam a seguir com o tema e otimizaram meu

    aprendizado sobre Internet e tecnlogia.

    Agradeo aos professores Lissowisky e Mrcio Amaral que foram to importantes na

    minha formao acadmica e que agora se dispuseram a participar de mais este momento

    importante na ECO.

    Agradeo tambm aos meus amigos que acreditaram em mim mesmo quando eu no sabia

    muito bem e ao meu co, Charlie Madiba, que sempre me acompanhou nas longas

    madrugadas que envolveram esse processo.

  • 6

    Ter nascido me estragou a sade

    Clarice Lispector

  • 7 SILVA, Izabella Souza. Produtos Audiovisuias feitos exclusivamente para web: Um

    estudo de caso do Multishow. Orientadora: Suzy dos Santos. Rio de Janeiro: UFRJ/ECO. Monografia em Jornalismo.

    RESUMO

    Este trabalho mostra como se deu o estabelecimento de um novo tipo de produo

    audiovisual no Brasil, a voltada para Internet. Para isso, a pesquisa tem seus holofotes

    votados para a produo audiovisual para web do canal por assinatura Multishow. O projeto

    inclui tambm um estudo sobre a evoluo da TV e da Internet, alm de uma reflexo sobre

    a reorganizao dos papis dos meios mediante ao surgimento de um novo veculo de

    comunicao.

  • 8 SUMRIO

    1. INTRODUO........................................................................................................... 7

    2. O MODELO BRASILEIRO DE TELEVISO ...................................................... 11

    2.1 A TV ABERTA.......................................................................................................... 12

    2.2 A TV POR ASSINATURA.................................... 14

    2.3 A GLOBOSAT....................................................... 17

    2.4 O MULTISHOW.................................................... 18

    2.5A CONCORRNCIA COM OUTRAS MDIAS E EVASO DE

    AUDINCIA............................ 20

    2.6 MOVIMENTO DOS CANAIS PARA SE ADEQUAREM....................................... 23

    3. A PLATAFORMA DE INTERNET BRASILEIRA................................................ 26

    3.1. A IMPORTNCIA DO PAPEL DA WEB PARA O CANAL ................................. 29

    4.0 ESTUDO DE CASO: AS WEBSRIES DO MULTISHOW........ 37 4.1 WEBSRIES....... 37

    4.2. I LOVE MY NERD.40

    3.2.1.2 SERGUEI ROCK SHOW.......... 44

    5. CONCLUSO.............................................................................................................. 48

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................ 49

    7. ANEXOS........................................................................................................................ 51

  • 9 1.INTRODUO

    A evoluo das tecnologias no deixa dvidas: novos meios de comunicao

    costumam se apropriar das funes anteriormente exercidas por outros veculos. Essa

    prtica costuma se estender at que os novos meios consigam delimitar suas prprias

    funes, promovendo uma reorganizao dos que vigoravam at o seu surgimento.

    Dessa maneira, ao olharmos para a rapidez da sucesso tecnolgica atual, podemos

    verificar uma constante reorganizao das funes de cada meio. Eles juntam foras,

    suprimem velhas funes, adquirem algumas novas, tudo com o aval e chancela do

    consumidor.

    partir da podemos voltar a ateno para um tipo especfico de confluncia de

    funes entre dois meios:o uso da internet como plataforma para programas de televiso.

    Essa apropriao do papel da televiso por parte da internet vem se mostrando cada vez

    mais comum no Brasil e no mundo e, como no poderia ser diferente, vem gerando uma

    srie de novas conseqncias para ambos os meios.

    Aqui no Brasil, o desenvolvimento deste tipo de programao j bastante comum

    e vem atingindo nveis significativos de audincias. Uma srie de canais com contedo

    exclusivo para web j foram formados e a tendncia que esse mercado venha expandir

    cada vez mais. Cabe, por isso, pensar em como essa nova realidade poder afetar a funo

    social da televiso. Que conseqncias ela vai gerar para nossa sociedade? No futuro

    estaremos assistindo TV pela internet? Estas so as perguntas que buscarei responder neste

    trabalho.

    Esta dissertao pretende estudar o surgimento de um novo tipo de contedo audiovisual

    brasileiro: o voltado para transmisso unicamente pela internet. Qual papel desempenhado

    por esta nova funo da web? Qual seu pblico alvo? A que ele se presta? Quais so suas

    implicaes em relao a televiso? Meu objetivo analisar as mudanas provocadas por

    essa nova funo da internet na sociedade brasileira e em sua televiso.

    A Internet no Brasil vem crescendo e se popularizando a cada dia mais. Novos

    provedores, velocidades e tecnologias surgem a todo momento, o que vem gerando o

    sucessivo aparecimento das mais diversas aplicaes para a rede. Nesse sentido, o

    estabelecimento da internet como veiculadora de contedo audiovisual de forma peridica

  • 10 se configura como uma nova funo deste meio, fazendo uma interseo com o papel que

    costumava ser da televiso.

    Sendo assim, este objeto de estudo permite uma anlise terica baseada nos estudos

    de Marshall McLuhan sobre o aparecimento de novos meios de comunicao. No livro Os

    Meios de Comunicao como extenses do Homem, que pretendo tomar como norte.

    McLuhan demonstra os efeitos do surgimento de um novo meio, as conseqncias para o

    meio a ser superado bem como tudo isso influencia as formas de interao social. Em

    poucas linhas, meu estudo se prope a aplicar os conceitos preconizados pelo terico

    canadense de forma a entender como vem se dando esse novo tipo de interao no caso

    especfico da internet x TV.

    A partir da leitura da bibliografia buscarei entender de que maneira se deu a

    configurao dessa nova aplicao da internet mostrando em meu trabalho como se deu a

    evoluo deste meio no pais. Em seguida, pretendo me empenhar em analisar as interfaces

    desse tipo de programao e a da veiculada na televiso, delineando suas semelhanas e

    diferenas alm das implicaes dessa novidade para os demais meios de comunicao

    (principalmente para TV) e para a sociedade. Para isso, sero utilizados dois estudos de

    caso de forma comparativa: o programa I Love My Nerd e Serguei Rock Show, ambos

    veiculados apenas no site do canal Multishow.

    Inicio meu trabalho falando sobre o sistema de televiso aberta no pas. Nesse

    tpico, abordo a evoluo deste meio no Brasil, desde o seu surgimento at o modelo que

    seguimos hoje. Fica demonstrado a, no s o aspecto histrico do veculo, mas

    principalmente os parmetros econmicos, legais e sociais que regem esse meio.

    partir da , dedico-me a falar sobre o modelo de TV paga que adotamos . Com

    isso, busco desenvolver o assunto focando no desenvolvimento da TV por assinatura

    nacional, de forma a esclarecer como esse meio surgiu e de que maneira chegamos neste

    cenrio de mercado que chegamos agora.

    Nos dois tpicos seguintes, o trabalho mostra a histria da GLOBOSAT

    Programadora e do Multishow. A GLOBOSAT uma as principais programadoras de TV

    cabo no pais e atualmente responde por mais de 30 canais do ramo. Dentre eles, est o

    Multishow, canal que responde pelos programas voltados para Internet que estudaremos no

    final deste trabalho.

  • 11 No final deste captulo, discutida a concorrncia entre a TV e Internet. nesse

    momento que comea a vir tona as questes sobre o surgimento de um novo meio

    preconizadas por Marshall McLuhan no livro Os Meios de Comunicao como Extenses

    do Homem. Para tanto, tento demonstrar como se deu o surgimento da Internet, traando

    um perfil deste meio e de seu modo de produo padro. Por fim, desenvolvo um tpico

    que narra o movimento dos canais de TV para se adequarem ao surgimento de novas

    tecnologias que disputam o mesmo nicho de mercado/ a mesma funo de entretenimento

    na vida das pessoas.

    O segundo captulo comea discorrendo sobre a plataforma de Internet brasileira.

    Nesse momento, demonstrado de que modo a Internet foi implantada no pais, deixando

    claro o processo evolutivo deste meio no Brasil. Dessa forma, esse mdulo constitui-se

    como uma etapa crucial para entender o relacionamento entre a populao brasileira e a

    rede.

    Logo em seguida, traado um panorama da Internet no Brasil atualmente. Nesse

    tpico, so demonstradas as caractersticas gerais desse meio, elucidando a capacidade

    tecnolgica do pais, os limites e gargalos que esse meio encontra, bem como os principais

    interesses e perfis dos brasileiros que usam a web. Esse mdulo fundamental para o

    entendimento do caso a ser estudado, uma vez que deixa claro a capacidade do meio e a

    forma como as pessoas esto dispostas a interagir com ele.

    partir da o trabalho esclarece o papel da Internet para o Multishow, mostrando

    os diversos casos e possibilidades que este veculo proporciona ao canal e aos seus

    espectadores. nesse mdulo que comea a ficar claro como se estabelece a relao o

    canal com a web e como essa relao estabelecida com o espectador.

    Na seqncia, estabelece-se o que este trabalho entende como websrie. Este

    conceito, norteia o estudo de caso que ser feito no ltimo mdulo e imprescindvel para

    delimitar o que relevante nesta anlise. Sendo assim, so dedicadas algumas pginas para

    esclarecer esse conceito, mostrar sua histria e delinear as especificidades relevantes nesse

    formato.

    Finamente, chego ao estudo do caso que este trabalho se prope a analisar: As

    websries do canal Multishow. Neste mdulo, sero analisadas as duas experincias do

    canal neste formato, de modo a demonstrar como elas foram estabelecidas, seu mote e suas

  • 12 estratgias de linguagem e divulgao. Alem disso, tambm sero analisados os resultados

    dessa experincia em termos de nmero de espectadores e repercusso dos programas.

    Nesse processo os conceitos de confluncia dos meios e Marshall Mcluhan voltam a cena,

    fazendo um paralelo entre esses exemplos e a experincia mais popularmente disseminada

    os formatos de TV.

    No final, sero traadas as nuances de cada meio partir de todo conhecimento

    acumulado no decorrer do trabalho. Nesse momento, as websries sero analisadas pela

    tica tecnolgica, demonstrando as limitaes que a web oferece a este meio e sob a

    perspectiva da relao entre este formato e as sries de TV, esclarecendo como se

    estabeleceram as principais caractersticas desse processo criativo.

  • 13 2. O MODELO BRASILEIRO DE TELEVISO

    A televiso surgiu no Brasil em 1950. No entanto,esse meio s consegue ganhar fora

    e se desenvolver nos anos 1970, quando o governo decide subsidiar a infra-estrutura

    necessria para a transmisso dos sinais de TV e a produo de aparelhos receptores de tais

    sinais, barateando, assim., o custo do aparelho para o consumidor final. Desde essa poca

    at ento, o papel do Estado brasileiro vem sendo o de fomentar a estrutura fsica para

    transmisso de sinais e regular as leis que regem as concesses de licensas para emissoras

    de tv.

    Numa sntese do que o modelo brasileiro de televiso, pode-se dizer que este

    veculo organizado em cadeias produtivas que esto concentradas no eixo cultural

    formado entre as cidades do Rio de Janeiro e So Paulo. Dessa forma, o sistema brasileiro

    de televiso constitudo de redes de canais privados, pblicos e estatais neste caso, as

    emissoras so vinculadas s Secretarias de Estado de Educao e Cultura que so

    financiados indiretamente pela publicidade. Atualmente, a televiso constitui o meio de

    comunicao mais difundido no pas e algumas das emissoras brasileiras chegam, inclusive,

    a exportar seus programas para o exterior.

    A legislao que regulamenta o rdio e a televiso no Brasil a Lei n 4.117, de 27

    de agosto de 1962, mais conhecida como Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes. Ela

    define os servios de radiodifuso como assunto de interesse nacional e com uma finalidade

    educativa e cultural. Alm deste cdigo, h de se respeitar tambm a um decreto-lei do ano

    de 1991 que legitimiza todas as concesses de rdio e televiso em vigor na poca e

    estabelece a ampliao do prazo de concesses das licenas de televiso para um Perodo

    mximo de 15 anos.

    Mesmo com tamanha popularidade, a audincia da televiso vem diminuindo em

    todo o mundo. Esse movimento pode ser visto como uma consequncia do sucesso de

    novas plataformas de comunicao, que mudaram os hbitos de consumo de informao e

    entretenimento do pblico.

    As dificuldades enfrentadas pela TV no so uma novidade. Elas datam da dcada

    de 1990 e passam pela proliferao de novas plataformas de comunicao que permitem a

    distribuio de contedos audiovisuais tradicionalmente associados a produo televisiva.

  • 14 Esse perodo, que vem sendo denominado como Fase da Multiplicidade da Oferta,

    caracterizado por uma concorrncia diferente da que se costuma observar. Agora, a briga

    pela audincia no acontece apenas entre dois ou mais canais diferentes, essa disputa

    passou a ser intermdia, envolvendo os mais diversos suportes na concorrncia pela ateno

    do pblico.

    O receptor mudou, e, hoje, quer participar mais, rejeitando um sistema com poucas

    opes e uma baixssima capacidade de interveno. E as grandes empresas brasileiras

    ligadas ao audiovisual j percebem as novas potencialidades de produo e distribuio de

    contedo a partir das novas tecnologias. Com isso, elas abriram seu espectro de atuao e

    passaram a analisar as possibilidades de produo e transmisso de contedo audiovisual

    na Internet.

    2.1 A TV ABERTA

    No Brasil, a televiso aparece j em 1950 com os empreendimentos pioneiros de Assis Chateaubriand, adotando desde o incio o sistema comercial , respaldado por um esquema de concesses do Estado empresa privada. Mas at 1955, pelo menos, o carter experimental das transmisses fato comprovado por todos que se dedicaram ao estudo do tema. Essa situao vai se alterando rapidamente, ao mesmo tempo em que a televiso vai se transformando no principal veculo publicitrio em substituio ao rdio, que j tinha tambm a sua indstria montada no rastro da imprensa. (BOLANO, 2000, p 2)

    Em 18 de setembro de 1950, aquilo que era apenas um sonho de um grande

    empresrio de comunicaes brasileiro tomou forma e se materializou: entra no ar em So

    Paulo a primeira rede de TV da Amrica Latina, a TV Tupi. Promovida por Francisco Assis

    Chateaubriand, a estria deste meio no Brasil contou com cerca de 200 televisores

    espalhados pelas ruas de toda cidade, j que nesta poca o acesso a estes aparelhos era

    muito difcil. No ano seguinte, em 1951, a televiso chega tambm ao Rio de Janeiro e em

    1953, j existiam quatro emissoras no pas, duas no Rio de Janeiro e duas outras na cidade

    de So Paulo.

    Neste primeiro momento, a televiso, como todo novo meio, se estabeleceu sob

    forte influncia do rdio utilizando inicialmente sua estrutura, seu formato de programao,

    bem como seus tcnicos e artistas. Esse modelo de implementao um exemplo clssico

  • 15 da hiptese criada por Marshal Mcluhan, que afirma: O encontro de dois meios (o hbrido),

    constitui um momento de verdade e revelao, do qual nasce a forma nova. (MCLUHAN,

    1964:69)

    Cabe ainda ressaltar que num primeiro momento, o modelo de radiodifuso adotado

    pelo governo brasileiro parte da premissa de que a televiso um servio pblico e as

    empresas que integram este mercado sempre estiveram subordinadas ao controle

    governamental. Isso ocorreu porque at 5 de outubro de 1988 - data da promulgao da

    ltima Constituio brasileira - era o Estado quem detinha por lei o direito de conceder e

    caar a licena e a permisso para uso de freqncias de rdio ou televiso.

    Essa postura do governo no foi adotada por um simples acaso. Ela foi defendida

    durante muito tempo como arma poltica para fortalecer os grupos ligados aos interesses

    dos militares, lesando os demais da participao na liderana dos grandes grupos de

    comunicao. No entanto, com a promulgao da legislao de 1988, foram adotadas algumas mudanas na concesso e renovao da licena de transmisso dos sinais de televiso. Essa

    mudana confere, de certa maneira, um carter mais democrtico ao processo de

    licenciamento de canais de TV e dinmica de mercado audiovisual vigente at esse

    momento.

    De acordo com o Captulo V da nova Carta, a criao ou renovao da concesso de

    uma emissora passa a depender da aprovao do Congresso Nacional e no apenas da

    deciso pessoal de quem esteja no exerccio da Presidncia da Repblica. Alm disso, o

    cancelamento da concesso ou permisso de emissoras de TV antes do prazo mnimo de 15

    anos passa a estar sujeito a deciso judicial. E tambm fica estabelecida a proibio da

    censura e da formao de oligoplios nos meios de comunicao, bem como a permisso de

    posse e administrao destes veculos por qualquer pessoa naturalizada brasileira h mais

    de 10 anos.

    Dessa maneira, a TV ampliou muito seu alcance e espectro de canais por todo o

    Brasil. Tamanha evoluo no teria sido possvel sem um amplo apoio poltico e

    econmico por parte do governo e sem os fortes investimentos publicitrios que visavam

    estimular a populao a adquirir mais televisores. No entanto, todas essas transformaes

    no foram capazes de promover verdadeiramente a dinamizao do mercado e a incluso de

  • 16 novos nomes a frente das emissoras. Permaneceram no controle as mesmas elites de

    outrora.

    1 2.2 A TV POR ASSINATURA

    Mesmo com todo o seu sucesso e reconhecimento como meio imprescindvel s

    culturas de massa, a televiso passou muitos anos lutando contra um entrave bastante

    poderoso: a qualidade do sinal. Como a distribuio das redes transmissoras costumava ser

    bastante heterognea, no era raro que o sinal de TV chegasse casa das pessoas com

    grandes variaes na imagem e no som, gerando uma demanda por novas tecnologias

    capazes de resolver esse impasse.

    A soluo encontrada aparece nos Estados Unidos na dcada de 1940, uma

    tecnologia capaz de levar os sinais de TV a pessoas que no os recebiam com boa

    qualidade. A partir de antenas de alta sensibilidade e, posteriormente, de cabos, esse

    sistema permitia que municpios longnquos e grandes cidades recebessem o contedo

    transmitido pelas emissoras de televiso da mesma maneira.

    Embora bastante lucrativo, os empresrios ligados a esse mercado logo perceberam

    que o ramo poderia estar sendo subexplorado. Inspirados pelo crescimento do mercado e

    pela evoluo tecnolgica, essas pessoas passaram a cobrar pelo servio de distribuio do

    sinal e, assim, nasce a TV paga.

    No Brasil, a histria desse setor se deu de forma bem parecida a dos Estados

    Unidos. Com o intuito de aprimorar o sistema de distribuio do sinal, surgem nos anos 50 1 Mercado Brasileiro de Comunicao"; Gabinete Civil da Presidncia; Secretaria de Imprensa e Divulgao; Coordenadoria de Divulgao; Braslia, 1983.

  • 17 em algumas cidades serranas do sudeste, redes de distribuio de sinais atravs de cabos

    coaxias2. Com isso, queles que desejassem usufruir de mais qualidade de imagem e som

    no seu sinal de TV, bastava efetuar o pagamento de uma taxa mensal referente a este

    servio.

    Apesar de pioneiras, essas iniciativas se mostram muito embrionrias e pouco

    relevantes economicamente. A TV a cabo tal qual como conhecemos hoje s comea a se

    desenvolver efetivamente no Brasil na dcada de 80, com o aparecimento de canais como a

    CNN, que transmitia notcias 24h e a MTV, com uma ampla programao musical. Esses

    canais despertam a ateno de dois grupos de comunicao poderosos para uma nova forma

    de investir em TV. So eles o Grupo Abril 3 e as Organizaes Globo4.

    O fato que, sem uma institucionalizao da TV por assinatura, especialmente da TV a cabo, o que havia nos anos 1970 eram operaes de CATV isoladas que cumpriam apenas o papel de distribuir os sinais da TV aberta onde sua recepo era deficiente. Esse quadro s comearia a mudar efetivamente no final dos anos 1980. (POSSEBON, 2009, p. 22).

    Foi em 1988 que o governo decide regulamentar o setor e a partir de dezembro de

    1989, atravs da portaria 250 do Ministrio das Comunicaes, a TV por assinatura passa

    a existir oficialmente no Brasil, atravs de licenas e utilizao chamadas DISTV (Servio

    de Distribuio de Sinais de TV por Meios Fsicos).

    Alguns anos depois, em 1991, so criados dois grandes grupos de TV a cabo, a

    TVA do Grupo Abril (operando em MMDS) e a GLOBOSAT das Organizaes Globo

    (operando via satlite banda C). O sucesso dessas iniciativas, despertou o interesse de

    outros investidores e, assim outras empresas voltadas para esse tipo de servio surgiram

    rapidamente.

    2 Cabo condutor que possibilita a transmisso de frequncias de diversos espectros por longas distancias. 3 Criado por Victor Civita, o Grupo Abril um dos maiores e mais influentes grupos de comunicao da Amrica Latina. Ao longo de sua histria, expandiu e diversificou suas operaes, e hoje fornece contedo em multiplataformas. 4 Iniciado em 1925 com o Jornal A Noite, foi criado pelo jornalista e empresrio Irineu Marinho e atualmente o maior conglomerado de mdias da Amrica Latina. Hoje, as organizaes Globo compreendem veculos de Internet, TV, rdio e jornal.

  • 18

    5

    O desenvolvimento do setor gerou a necessidade da criao de uma legislao

    especfica. Por isso, em 1995 o governo optou por acabar som o sistema de DISTV,

    promulgando a chamada Lei de TV a Cabo. Com essa nova regulamentao, as licenas de

    DISTV foram transformadas em concesses e estabeleceu-se que dali por diante o direito

    de exibio s poderia ser concedido atravs de processos licitatrios, tal qual acontece

    com as emissoras de TV aberta.

    Em 1997, mais uma lei gerou mudanas na TV paga brasileira.: A aprovao da Lei

    Geral das Telecomunicaes criou a Anatel (Agncia Nacional de Telecomunicaes), que

    passou a desempenhar a funo de rgo regulador de todos os servios de

    telecomunicaes. partir desse momento, a Anatel se tornou responsvel pela

    regulamentao e fiscalizao da TV por assinatura alem do desenvolvimento de seus

    processos licitatrios. 5 Disponvel em http://tvporassinatura.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=19&Itemid=36 (acessado em 01/11/11)

  • 19 2.3 A GLOBOSAT

    Em novembro de 1991, finalmente criada a primeira operadora de TV por

    assinatura brasileira. Atuando inicialmente com apenas quatro canais (Telecine, Top Sports

    atual Sportv-, Multishow e GNT), a GLOBOSAT surgiu num primeiro momento com o

    papel de desempenhar tanto as funes de elaborao de contedo quanto as de

    distribuio dos canais, que apesar de apresentarem programaes bastante diferentes

    encontravam pontos e estreitamento no que diz respeito ao pblico alvo.

    Os quatro canais iniciais da GLOBOSAT tm em comum as caractersticas do seu pblico-alvo e seu conceito geral de narrativa. O target so os adultos das classes econmicas A/B, sendo o limite etrio mnimo a faixa dos adolescentes acima de 12 anos de idade. Da decorre o tipo de televiso que devemos fazer uma TV sem compromisso com a audincia, em que se vende (...) informao. Uma TV cujo o ritmo calmo, sem narrativa vertiginosa de ataque de venda de BROADCASTING.(POSSEBON,2009,p.45)

    No entanto, uma reviso estratgica do negcio fez com que em 1993, surgisse a

    NET Brasil. Este novo brao as organizaes Globo ficou responsvel pela gerncia dos

    servios de venda e distribuio, permitindo que a GLOBOSAT se voltasse unicamente

    para a programao e produo de contedo prprio, dedicando-se totalmente aos seus

    canais.

    Ainda assim, a programao dos canais GLOBOSAT permanecia extremamente

    dependente do contedo importado. Esse cenrio comea a sofrer alteraes no ano de

    1995 com o surgimento de novos canais importantes como a Globo News, o USA (atual

    Universal Channel) e o Shoptime,. Alm disso, neste mesmo ano que acontece a expanso

    do canal Telecine, que passou a ser um rede de cinco canais (Telecine 1, Telecine 2,

    Telecine 3, Telecine 4 e Telecine 5)6 com diferentes gneros cinematogrficos. Essas

    novidades, garantiram um aumento da produo prpria, que aliado reduo dos custos da

    TV por assinatura no Brasil, foi um dos principais fatores responsveis pela sua 6 Inicialmente, os canais foram numerados de 1 a 5 para poder identific-los.Logo em seguida, cada membro da rede recebeu um nome como Telecine Premium, Telecone Action, Telecine Emotion, Telecine Happy e Telecine Gallery.Contudo, esses canais ainda sofreram algumas alteraes de nome Atualmente, a rede Telecine composta por 9 canais com verses em HD e SD.

  • 20 popularizao no pas.

    Em 1997 a GLOBOSAT assume a posio de lder do mercado brasileiro de

    programao para TV por assinatura. Atualmente, a empresa conta com 34 canais (25 em

    SD, oito em HD e um canal internacional), ocupando o lugar de maior programadora da

    Amrica Latina.

    Seus canais atingem todo o territrio nacional e so assistidos por cerca de 14,6

    milhes de telespectadores. Dentre os canais e parcerias Globosat esto: GNT, Multishow,

    Multishow HD, SporTV, SporTV2, SporTV3, Rede Telecine (Telecine Premium, Telecine

    Action, Telecine Light, Telecine Fun, Telecine Touch, Telecine Cult, Telecine HD,

    Telecine Pipoca HD), Universal Channel, Globo News, Globosat HD, Canal Viva, Canal

    Brasil, Futura, Megapix, Megapix HD, Sexy Hot, For Man, Premiere FC, Pemiere HD,PFC

    Internacional, Playboy TV, Venus e Private, dentre outros.

    2.4 O MULTISHOW

    um canal voltado para o jovem adulto, que sabe o que quer e busca entretenimento sem abrir mo da informao. O Multishow traz a realidade deste pblico na sua programao, transformando suas experincias em parte do canal. O contedo inclui msica, viagem, humor e assuntos cotidianos do seu universo tratados com leveza e descontrao.7

    Lanado em 1991, o Multishow foi um dos primeiros canais brasileiros de TV por

    assinatura. Como na poca o mercado de TV paga ainda era bastante incipiente, os

    investimentos na programao e no posicionamento do canal no foram muito incisivos.

    Nesse momento, ainda no havia interesse em investir em produo prpria, nem num

    elenco ou apresentadores, a inteno do canal era agradar todos os pblicos. Sendo assim,

    eram exibidos desde desenhos animados como Os Simpsons e Garfield, a seriados antigos

    como Perdidos no Espao, videoclipes e filmes, alm de uma programao ertica leve no

    final da noite.

    A evoluo do mercado de TV por assinatura fez crescer a disputa pela audincia,

    forando os canais a se posicionarem de forma diferenciada, de maneira a atrair um 7 Disponvel em http://www.midiafatos.com.br/index.aspx, acessado em 13/10/2011

  • 21 pblico alvo especfico e, conseqentemente, os investimentos publicitrios relativos a esse

    pblico.

    Seguindo essa tendncia, em 2002 o Multishow comeou um processo de

    reposicionamento estratgico da grade de programao que s teria fim em 2006. A partir

    da, o canal passa a ter como principal objetivo se tornar um meio de comunicao jovem,

    abrangendo uma ampla faixa etria que vai dos 18 aos 34 anos. E, para atingir esse target,

    sua programao passa a se basear em trs pilares fundamentais: msica, humor e

    comportamento.

    nesse momento que a diretoria do canal percebe a necessidade de investimento na

    produo nacional, associando a imagem do Multishow a elementos caros ao mundo

    jovem. Assim, passam a integrar o elenco do canal apresentadores como Daniele Suzuki,

    Renata Simes, Edgard Piccoli e Didi Wagner.

    Alm disso, tambm fica decidido que o canal deveria estar presente em todas as

    plataformas d counicao, disponibilizando seu contedo na forma que o pblico optasse

    por consumir. Comeou, ento, o processo de criao da Rdio Multishow FM e do Portal

    Multishow na Internet. Este passou a centralizar todas as informaes do canal. Como

    efeito dessas mudanas, o canal atingiu em 2008 a liderana e audincia entre os jovens de

    18 a 24 anos.8

    Em 2009, o canal passa por mais uma transio importante. Guilherme Zattar, que j

    havia sido diretor geral do SporTV, assumiu a direo do Multishow, estimulando a estreia

    de novos programas nacionais, principalmente os do gnero reality. As mudanas na

    programao do canal foram to considerveis que a sua comunicao tambm precisou se

    modificar mais uma vez. Assim, o Multishow altera novamente sua estratgia, criando mais

    um pilar, o de comportamento.

    Atualmente, se destacam programas como De Cara Limpa, 220 Volts e Muito Giro

    no pilar humor. Na dramaturgia, o Multishow conta com sries como Open Bar, Os

    Gozadores, Na Fama e na Lama, Ed Mort e Adorvel Psicose. Os programas sobre viagem

    e os realities vem ganhando cada vez mais espao na programao. Vai pra onde? e Lugar

    Incomum passam a dividir a grade com Todo Mundo, Viagem Sem Fim, Volta ao Mundo,

    No Caminho, Nalu pelo Mundo, dentre outros. E a faixa ertica que costumava contar com 8 Disponvel em http://www.portaldapropaganda.com.br/portal/propaganda/8453, acessado em 24/11/2011

  • 22 poucas produes nacionais, hoje conta com Cidade Nua, Malcia, Sexshake Cabar e

    Papo Calcinha.

    Apesar de todas essas novidades na programao, o Multishow no perdeu seu foco

    na veiculao de contedo musical. Alm de transmitir alguns dos maiores festivais do pas

    como o Rock in Rio e SWU, seus telespectadores puderam acompanhar ao vivo alguns dos

    maiores shows internacionais realizados no pas. Foi o caso dos Rolling Stones, Black Eyed

    Peas, Lenny Kravitz, e U2. Isso sem falar no TVZ, que oferece clipes nacionais e

    internacionais diariamente em dois horrios diferentes e em programas como o Levando

    um Som e Experimente.

    2.5 A CONCORRNCIA COM OUTRAS MDIAS E A EVASO DE AUDINCIA

    A Internet surgiu a partir de pesquisas militares da poca da Guerra Fria. Nesse

    perodo, os Estados Unidos tinham medo um ataque russo que poderia revelar informaes

    sigilosas a respeito do pas. Temeroso, o governo norte-americano passou a estimular a

    criao de uma rede responsvel por unir todos os computadores do planeta em uma nica

    forma de compartilhamento. Dessa maneira, caso o pas fosse vitima de uma ofensiva

    russa, as informaes armazenadas ali no estariam perdidas. Tudo ficaria registrado

    virtualmente.

    Na dcada de 1960, se valendo dos estudos da ARPA (Advanced Research Project

    Agency), um rgo cientfico e militar responsvel pelos avanos tecnolgicos, o governo

    dos Estados Unidos estimulou o desenvolvimento de uma rede de armazenamento e

    distribuio de dados que inicialmente conectou algumas universidades e centros de

    pesquisa do pais, a ARPANET.

    No entanto, dez anos depois, as tenses entre a Unio Sovitica e Estados Unidos

    diminuram consideravelmente. No havendo mais o risco de ataque iminente, o governo

    norte-americano permitiu que cientistas de universidades pudessem estudar este sistema.

    Dessa forma, o governo cooptava uma enorme massa de mo de obra qualificada disposta a

    investir seu tempo e se dedicar a contribuir para os avanos dessa tecnologia de defesa de

    dados.

    Com isso, o projeto restrito do governo acabou adquirindo propores maiores do

  • 23 que o imaginado inicialmente. Dividiu-se, o sistema de rede em dois grupos, a MILNET,

    um que englobava somente as unidades militares e a nova ARPANET, envolvendo

    cientistas e pesquisadores de universidades que trabalhavam para desenvolv-la.

    Rapidamente, essa diviso da rede se espalhou, conquistando jovens dos mais diversos

    campi do pas.

    9

    E foi em 1989, que o cientista do Conseil Europen pour La Recherche Nuclaire

    (em portugus, Conselho Europeu de Pesquisas Nucleares), Tim Berners-Lee, criou uma

    nova forma de ver e manipular a ARPANET, revolucionando completamente este meio.

    Seus estudos foram responsveis pelo desenvolvimento do famoso WWW (World Wide

    Web), um sistema de documentos dispostos na Internet que permitem o acesso s informaes apresentadas no formato de hipertexto10. Para ter acesso a tais informaes

    necessrio usar um programa de computador chamado navegador. Alm do WWW, Berners-Lee tambm criou outras duas ferramentas indispensveis

    9 Disponvel em http://www.tecmundo.com.br/1778-a-world-wide-web-completa-20-anos-conheca-como-ela-surgiu.htm (acessado em 01/11/11) 10 Textos exibidos em formato digital que podem conter informaes em formato de imagens, sons, vdeos, etc. O acesso a esse contedo se d por meio de links, que servem como uma ponte entre os mais diversos sites.

  • 24 para a Internet: o cdigo HTML11 e o protocolo HTTP12. Com as invenes de Berners-Lee

    e vrias evolues e melhorias nestes protocolos e cdigos, chegamos Internet como a

    conhecemos.

    Na mudana de dcada, a internet j estava consolidada como uma das grandes

    foras da tecnologia e os avanos tecnolgicos acompanhados por sua conseqente reduo

    dos custos trataram de espalhar a web por todo o mundo.

    A Internet inverteu a lgica tradicional que imperava em meios como o rdio, a

    televiso e o jornal. Nesses veculos, a comunicao partia unilateralmente de um emissor

    que enviava a sua mensagem para diversos receptores. No entanto, nesse modelo as partes

    no dialogam, nem se conectam entre si. No h um lugar de encontro nem a produo de

    contedos compartilhados.

    O desenvolvimento da comunicao em rede modificou esse cenrio, na medida que

    dinamizou os horizontes dos receptores. O rpido avano das tecnologias ligadas a

    telecomunicaes e a informtica abriu um enorme leque de novas possibilidades para os

    usurios da web, uma vez que foram responsveis pela democratizao das ferramentas de

    gerao e produo de contedo.

    Alm da produo, a Internet tambm diminuiu os custos de distribuio dos

    produtos nela veiculados, reduzindo as limitaes de quem desejava divulgar sua produo.

    Com a web, o usurio finalmente pde assumir o controle desse tipo de conhecimento e

    assim, os receptores tambm passaram a desempenhar o papel de emissores.

    Pode-se dizer, ento, que seguindo a idia de Marshall Mcluhan, a web

    proporcionou uma reorganizao na diviso que existia entre consumidores e produtores.A

    mensagem de qualquer meio ou tecnologia a mudana de escala, cadncia ou padro

    que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas. (MCLUHAN, 1964, p. 22)

    Com a oferta de produo crescendo consideravelmente, a televiso no consegue

    absorver tudo que produzido e esse papel acabou sendo dividido com a Internet. Desse

    modo, a rede passa a ser ainda mais valorizada como plataforma, proporcionando um

    grande espao para a exposio de novos contedos. Sendo assim, a segmentao mercado 11 ou HyperText Mark-up Language, uma linguagem responsvel por codificar e decodificar documentos nas pginas da web. 12 ou Hyper Text Transfer Protocol o protocolo usado na web para distribuio e recuperao de informaes. o HTTP que especifica co o navegador (browser) e o servidor da web se comunicam entre si.

  • 25 que envolve esse tipo de produto ganha cada vez mais fora, graas a abundante oferta de

    produtos, que constantemente estimulada pela democratizao dos meios de produo, e

    pelas facilidades na distribuio que a Internet e as tecnologias associadas a ela, vem

    proporcionando aos seus usurios.

    Atualmente, o espectador tem acesso a mltiplas possibilidades de entretenimento e

    informao, desde o ltimo sucesso de Hollywood at matrias jornalsticas e vdeos

    domsticos. Contedo amador e profissional dividem o mesmo espao com a comodidade

    de poder ser acessado quando for conveniente ao consumidor. O terico Chris Anderson

    fala sobre essa diversidade de possibilidades da web em seu livro A Teoria da Cauda

    Longa.

    A grande vantagem do broadcast a sua capacidade de levar um programa a milhes de pessoas com eficincia sem igual. Mas no capaz de fazer o oposto levar um milho de programas para cada pessoa. No entanto, isso exatamente o que a Internet faz to bem. A economia da era do broadcast exigia programas de grande sucesso algo grandioso para atrair audincias enormes. Servir a mesma coisa para milhes de pessoas ao mesmo tempo demasiado dispendioso e oneroso para as redes de distribuio destinadas a comunicao ponto a ponto. (ANDERSON, 2006, p. 5).

    Outra tendncia a de convergncia entre duas ou mais tecnologias. Quando a TV

    foi desafiada pela Internet as grandes redes televisivas perceberam que seria mais vantajoso

    se apropriar dessa nova mdia do que tentar competir com ela. A partir da o processo de

    convergncia entre os dois meios se acelerou vertiginosamente. Dessa forma, as emissoras

    de televiso foram obrigadas a buscar as mais diversas solues de contedo que

    contemplassem mais de um veculo de comunicao. A televiso e a Internet passaram a

    andar de mos dadas.

    Alm deste tipo de comodidade, a Internet tambm possibilita ao usurio a vantagem

    de assistir os programas de seu interesse sem intervalos comerciais. O desenvolvimento

    desse hbito corrobora o comportamento resistente s interrupes caractersticas da

    televiso favorecendo ainda mais a web como plataforma para produtos audiovisuais.

  • 26 2.6 MOVIMENTO DOS CANAIS PARA SE ADEQUAREM

    Diante desse ambiente de competitividade entre TV e web, as emissoras de televiso

    acabaram optando por aderir a entrada na era da Internet.. As grandes redes finalmente

    perceberam que seria mais vantajoso ter esse novo meio como aliado, ao invs de assumir o

    papel de seu opositor. Nessa nova mdia, a discusso sobre o fim dos meios tradicionais em

    substituio novidade que se apresenta j no cabe mais. Nenhuma mdia ser substituda,

    todas elas coexistiro, num movimento de convergncia entre os diferentes meios.

    Por convergncia, refiro-me ao fluxo de contedos atravs de mltiplas plataformas de mdia, cooperao entre mltiplos mercados miditicos e ao comportamento migratrio dos pblicos dos meios de comunicao que vo a quase qualquer parte em busca das experincias de entretenimento que desejam. Convergncia uma palavra que consegue transformaes tecnolgicas, mercadolgicas, culturais e sociais.(JENKINS, 2008:42)

    De acordo com essa lgica, se parte dos telespectadores esto na Internet, as emissoras de televiso precisam atrair esses usurios para seus universos virtuais. Assim, todas as grandes redes de televiso, rdio, jornais e revistas passaram a usar a web como plataforma para seus contedos, produzindo exclusivamente para ela, ou adaptando seus produtos para esse formato, seguindo o raciocnio de McLuhan, que diz:Nenhum meio existe sem depender do outro: (...) nenhum meio tem sua existncia ou significado por si s, estando na dependncia na constante interrelao com os outros

    meios(MCLUHAN, 1964:42) Uma das principais caractersticas dessa convergncia a coexistncia de elementos da linguagem de dois ou mais meios, interligados. Essa interao d origem a uma nova linguagem, que seria um dos grandes adventos desse novo sistema. Aos poucos, as emissoras de televiso vm adaptando suas linguagens para no perder audincia. A poca de apenas reproduzir o contedo que exibido na TV passou. Esse foi um erro comum no incio da utilizao da Internet pelas emissoras de televiso que no tem se repetido mais.

  • 27 Embora se possa, tecnologicamente, transmitir televiso pela internet, no muito interessante, no muito efetivo e, sobretudo, se realmente se pretendesse transmitir a televiso que temos, a massa da televiso, pela internet, no haveria, nos prximos vinte anos, capacidade de banda previsvel para faze-lo em nenhum pas, nem sequer nos Estados Unidos. Quer dizer, a capacidade de transmitir o enorme volume que representaria toda a televiso que se transmite hoje simplesmente impensvel, carssimo e ineficaz. (CASTELLS, 2003, p.284) Cada meio deve trabalhar, ao seu modo, o tema desenvolvido por outros meios. Todas caractersticas de linguagem no devem ser apenas um complemento, mas de fato, devem adicionar informaes relevantes mensagem, ao contedo que veiculado.

  • 28 3. A PLATAFORMA DE INTERNET BRASILEIRA O que possibilitou a chegada da internet ao Brasil foi a Bitnet,: uma rede de

    universidades fundada em 1981, que ligava a Universidade da Cidade de Nova York

    Universidade Yale, em Connecticut. Foi a partir desse meio de conexo que, em 1988, um

    grupo de pesquisadores brasileiros e norte-americanos fizeram a ligao e o

    compartilhamento de dados entre os computadores da Fundao de Amparo Pesquisa do

    Estado de So Paulo (FAPESP) ao Fermilab, laboratrio de fsica, localizado em Illinois,

    nos Estados Unidos. As duas instituies eram ligadas via linha telefnica, atravs de cabos

    submarinos, mas como a conexo era do tipo ponto a ponto13, a discagem no era

    necessria.

    No incio da dcada de 90, o Ministrio da Cincia e Tecnologia lana a Rede

    Nacional de Pesquisa (RNP), uma organizao de interesse pblico cuja principal misso

    consiste em operar uma rede acadmica com alcance em todo territrio nacional. Quando

    foi lanada, a organizao tinha o objetivo de capacitar recursos humanos de alta tecnologia

    e difundir a tecnologia da Internet atravs da implantao do primeiro backbone14

    brasileiro.

    O primeiro backbone do Brasil foi inaugurado em 1991 e era destinado exclusivamente comunidade acadmica. No ano seguinte, a RNP j havia implementado

    uma rede nacional, unindo 11 capitais brasileiras numa malha que abrangia velocidades de

    9.600 bps. a 64.000 bps.

    Em 1994, a internet finalmente sai do ambiente acadmico e passa a ser

    comercializada para o pblico em geral. No Brasil, a EMBRATEL lana o Servio Internet

    Comercial, em carter experimental com conexo internacional de 256 Kbps. Em maio do

    ano seguinte, o servio comeou a funcionar de forma definitiva e o governo resolveu abrir

    o backbone fornecendo conectividade a provedores de acesso comerciais. A partir da a

    Internet comea a conquistar o povo. 13 A conexo do tipo ponto a ponto liga diretamente dois pontos de uma rede, em geral dois computadores. 14 O backbone, traduo de "espinha dorsal", uma rede principal por onde passam os dados dos clientes da internet. No Brasil, as empresas BrasilTelecom, Telecom Italia, Telefnica, Embratel, Global Crossing e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) prestam esse servio. Essa mesma rede tambm responsvel pelo envio e recebimento de dados entre grandes cidades e at entre Brasil e outros pases. Disponvel em http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL634945-15524,00-O+QUE+E+BACKBONE.html (acessado em 01/11/11)

  • 29

    15

    Com isso, a rede se popularizou cada vez mais, crescendo vertiginosamente em

    pouqussimo tempo. Em 1996, foram lanados grandes portais e provedores de conexo

    rede no Brasil. E, j no ano seguinte, o aumento de acessos a rede foi tamanho que gerou a

    necessidade de uma infra-estrutura mais rpida e segura, com investimentos em novas

    tecnologias.

    No entanto, devido a carncia de uma infra-estrutura de fibra ptica que

    contemplasse todo o territrio nacional, acabou- se optando num primeiro momento, pela

    criao de redes locais de alta velocidade, aproveitando a estrutura de algumas regies

    metropolitanas.

    Posteriormente, em 2000, como parte desses investimentos na rede, foi implantado

    o backbone RNP2. Sua funo interligar todo o pas em uma grande rede de alta

    tecnologia. Atualmente, o RNP2 conecta nossos 27 estados, ligando mais de 300

    instituies de ensino superior e de pesquisa no pas, como o INMETRO e suas sedes 15Disponvel em http://www.faced.ufba.br/~bonilla/dissertacao/anexos.htm (acessado em 01/11/11)

  • 30 regionais.

    16

    Pouco tempo depois, em 2002, a RNP conquista mais um avano na sua trajetria.

    Nesse ano, o governo federal transformou a instituio em uma organizao social,

    conferindo a ela uma maior autonomia administrativa para executar suas tarefas. Como

    objetivos dessa transformao esto o fornecimento de servios de infra-estrutura de redes

    IP avanadas, a implantao e a avaliao de novas tecnologias de rede, a disseminao

    dessas tecnologias e a capacitao de recursos humanos na rea de segurana de redes,

    gerncia e roteamento.

    A partir de 2005, a comunicao entre os pontos de presena (PoPs) 17da rede comeou a sofrer uma srie de melhorias com a implementao de tecnologia ptica, o que

    aumentou a capacidade de operao de nossa rede para 11 Gbps.

    Um pouco mais de dez anos depois do seu surgimento, em 2007, o uso da internet j

    fazia parte do cotidiano dos brasileiros. De acordo com o Ibope/NetRatings18, nesta poca o

    pais movimentava aproximadamente 114 bilhes de dlares em comrcio eletrnico e

    possua uma base de 40 milhes de computadores, cerca de 18 milhes deles instalados em

    residncias. 16 Disponvel em http://www.rnp.br/rnp/backbone-historico-graficos.html (acessado em 01/11/11) 17 pontos onde redes inteiras, ou pontos isolados se ligam a um backbone da Internet. Os provedores de servio na Internet possuem um, ou mais pontos de presena que possibilitam o acesso a Internet para seus assinantes. 18 Diponvel em http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Not%EDcias&docid=CF6FD70EA995EC738325731E006B9D95 (acessado em 13/11/11)

  • 31

    3.1A REDE NO BRASIL ATUALMENTE

    A internet conquistou os brasileiros definitivamente. A cada ano que passa, maiores

    so os avanos nas taxas tanto de desenvolvimento tecnolgico quanto em acessibilidade na

    rede do pais. De acordo com uma pesquisa do Instituto Ibope Nielsen Online19, o Brasil

    terminou o ms de setembro de 2011 com a marca de 61,2 milhes de internautas que

    acessam a rede em casa ou no trabalho. Esse nmero representa um crescimento de 14%

    em relao aos 40,6 milhes de usurios registrados no mesmo perodo do ano anterior

    (setembro de 2010).

    Segundo a instituio20, o nmero de internautas brasileiros encontrados pela soma

    de todos os ambientes de acesso - residncias, trabalho, lan houses21, escolas e bibliotecas,

    dentre outros -, foi da ordem de 77,8 milhes de usurios no segundo trimestre de 2011.

    Esse nmero 5,5% superior ao do segundo trimestre de 2010 e 20% maior que o do

    segundo trimestre de 2009.

    Evoluo do nmero de pessoas com acesso internet

    22

    Mas o maior ndice absoluto de crescimento no nmero de usurios ativos vem

    ocorrendo em residncias. Entre setembro de 2009 e setembro de 2011, a variao foi de 19 Disponvel em http://info.abril.com.br/noticias/internet/internet-no-brasil-chega-a-78-mi-de-usuarios-12092011-5.shl (acessado em 13/11/11) 20 Disponvel em http://info.abril.com.br/noticias/internet/internet-no-brasil-cresce-14-em-um-ano-31102011-25.shl (acessado em 13/11/11) 21 estabelecimento onde pode-se pagar para usar a internet durante um tempo determinado 22 Disponvel em http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Not%EDcias&docid=C2A2CAE41B62E75E83257907000EC04F (acessado em 13/11/11)

  • 32 37%, saltando de 27,7 milhes para 37,9 milhes de usurios. Um estudo da Fecomrcio/RJ

    e Ipsos 23revelou que o principal fator desse crescimento foi o aumento na venda de

    computadores, que tiveram os preos reduzidos em virtude da concesso de benefcios

    fiscais - iseno de PIS e Cofins 24- e por causa da desvalorizao do dlar em relao ao

    real. Assim, apesar das taxas de crescimento de acesso internet praticamente ter em

    saltado de 27% em 2007 para 48% em 2011,boa parte dos brasileiros ainda no desfruta da

    rede - 52%.

    25

    Dentre os conectados, a frequncia do uso da rede tambm aumentou, como mostra

    a pesquisa da Fecomrcio/RJ e o Ipsos26, . Entre os brasileiros conectados, 47% afirmam

    que se conectam diariamente rede, ao passo que 33% acessam mais de uma vez por

    semana e 12% uma vez por semana. Quanto ao tempo de conexo, 55% dos internautas

    passam de 30 minutos a duas horas ligados na web; 23% permanecem conectados entre

    duas e quatro horas; e 14% ficam menos de meia hora.

    23 Disponvel em http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=28315&sid=4 (acessado em 13/11/2011) 24 Em junho de 2005, o governo federal criou uma Medida Provisria que permitia a venda de computadores no valor de at R$2.500, 00 com iseno dos impostos PIS e COFINS. A MP do Bem (MP n252), como ficou conhecida, proporcionou uma queda de quase 10% no valor de compra dos computadores. Originalmente, a vigncia desta medida terminaria em dezembro de 209, mas visando impulsionar ainda mais a venda de comutadores no Brasil, o governo decidiu por postergar a cobrana desses impostos at 2014. 25 Disponvel em http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Not%EDcias&docid=EED93C565B0676488325782B0065EEE0 (acessado em 13/11/2011) 26 Disponvel em http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=28315&sid=4 (acessado em 13/11/2011)

  • 33 Ainda de acordo com essa pesquisa, os principais motivos que levam as pessoas a

    buscar o acesso a web so o contato com os amigos (50%) e trabalho (27%). Os tipos de

    sites mais acessados so redes sociais (61%), de pesquisas (48%), e-mails (34%), de

    notcias (34%), de diverso (17%) e de servios (17%).

    27

    A velocidade disponvel para navegao na Internet mais adotada no pas a

    compreendida na faixa entre 512 Kbps e 2 Mbps. Ela utilizada por 47,8% do total dos

    clientes, embora seja considerada uma conexo de velocidade mdia. Na sequncia,

    aparece a faixa de 2 Mbps a 8 Mbps, utilizada por 15% dos usurios. Cerca de 31% dos

    internautas brasileiros navega com uma velocidade lenta, de at 512 Kbps, enquanto

    somente 6% deles se conectam a rede com velocidade superior a 8 Mbps28.

    Essas estatsticas levaram o governo brasileiro a despender esforos numa iniciativa

    que busca popularizar a banda larga no pas. Em maio de 2011, o Ministrio das

    Comunicaes criou o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que pretende levar

    conexo de alta velocidade a preos populares para 40 milhes de pessoas e 60 milhes de

    acessos banda larga mvel at 2014. Para isso, esto sendo feitos uma srie de 27 Disponvel em http://www.tecmundo.com.br/infografico/9683-a-velocidade-media-da-internet-no-brasil-infografico-.htm (acessado em 13/11/11) 28 Disponvel em http://info.abril.com.br/noticias/internet/internet-no-brasil-cresce-14-em-um-ano-31102011-25.shl (acessado em 13/11/2011)

  • 34 investimentos em tecnologia, implantao de redes de fibra tica e incentivos s empresas

    responsveis por esse tipo de servio.29

    3.2 A IMPORTNCIA DO PAPEL DA WEB NO CANAL

    Seguindo as perspectivas de mercado atuais o Multishow optou por dinamizar seus

    investimentos, passando a atuar tambm na Internet. Em 2007, o canal lana seu portal na

    web que rapidamente conquistou seus espectadores. O segredo do sucesso dessa nova

    plataforma est na maneira de conduzir seu contedo: o site no se limita apenas a

    reproduzir as informaes sobre a sua programao, mas oferece tambm entretenimento e

    vantagens aos seus telespectadores.

    Nessa tentativa de chamar os internautas para assistir a programao do Multishow na

    TV, o canal passou a implementar uma srie de novas estratgias de divulgao das mais

    variadas. Matrias sobre a estreia de programas, ou chamando para episdios especficos

    so as estratgias de divulgao adotadas mais populares e de certa forma at mesmo

    bvias.

    Contudo, o canal no se limita a investir apenas nesse tipo de divulgao. Para

    garantir que os internautas se interessem pelo material do canal, a equipe de Internet no

    poupa esforos para colocar parte desse contedo online, de maneira a despertar o interesse

    do internauta pela programao. Com isso, trechos inditos dos programas so divulgados

    no site justamente no dia que o contedo ir ao ar na televiso. Assim, o espectador pode

    ter uma prvia dos programas e, caso se interesse, ele ir buscar o canal para ter acesso ao

    programa na ntegra.

    Recentemente, essa estratgia de divulgao de vdeos tornou-se ainda mais ousada.

    Em 2011, o canal passou a programar pr-estreias de programas na sua pgina na web. Com

    isso, o episdio inteiro exibido na Internet um dia antes de ir ao ar na televiso. So

    exemplos dessa prtica os programas Olvias na TV, 220V e Ed Mort.

    Todavia, essa prtica pode ser considerada por muitos um erro de programao, j

    que o expectador que assiste a pr-estreia na web provavelmente no assistir a primeira

    exibio do programa na TV. No entanto, o raciocnio usado nessa estratgia outro: 29 Disponvel em http://www.mc.gov.br/images/pnbl/o-brasil-em-alta-velocidade1.pdf , acessado 26/11/2011

  • 35 assistindo o episdio que foi divulgado no portal Multishow, o internauta que no tem o

    hbito de assistir TV, poder se interessar pelo programa e acompanhar os demais

    episdios na televiso. Outra possibilidade de que esse interesse pelo episdio seja

    divulgado pelo expectador online, seja por redes sociais, ou mesmo pelo prprio boca a

    boca. Assim, a audincia do episdio acaba sendo multiplicada dando condies da srie/

    programa cativar ainda mais espectadores.

    Se valendo das redes sociais como ferramenta de divulgao, o canal passou a

    conquistar cada vez mais espao no cotidiano do seu pblico alvo, jovens na faixa etria

    entre 18 e 34 anos. Atravs de fruns de debates na sua comunidade no Orkut30,

    interagindo com a audincia pelo Facebook31, fornecendo informaes sobre msica e

    eventos ou realizando promoes no Twitter32, o Multishow ganhou notoriedade tambm

    na Internet.

    Dentro dessa lgica de interao com o pblico, o canal apostou em mais uma forma

    de ficar prximo dos seus assinantes e lanar tendncias. O Outros500 um projeto

    baseado na criao de uma plataforma de dilogo do Multishow com 500 pessoas

    relevantes em contedo de entretenimento do Brasil. Segundo o site do projeto: Outros500

    a experincia de colaborao entre o Multishow e 500 das pessoas mais conectadas da

    internet brasileira, que selecionam e compartilham o que h de mais legal e novo em

    entretenimento.33Para isso, foram escolhidos cem pessoas influentes em msica, humor,

    comportamento, viagem e sexo para atuarem como geradores de informaes, contedo e

    opinies na web.

    A partir da foi desenvolvida uma plataforma que se aproveita do Twitter para coletar

    o contedo gerado por essas pessoas, organizar e disponibilizar para a audincia do site do

    canal. Com isso, fica estabelecido um ambiente de dilogo em que os usurios podem

    interagir com o canal, trazendo suas opinies e ideias.

    Nesse esforo de gerar contedo para a web independente do que veiculado na

    30 Rede social gratuita criada em 2004 com o objetivo de ajudar os usurios a conhecer pessoas e a manter relacionamentos. 31 Rede social gratuita fundada em 2004, onde os usurios podem criar perfis e compartilhar fotos, vdeos e listas de interesse. 32 uma rede social gratuita, criada em 2006, que permite o envio e recebimento de mensagens entre os usurios em tempo real. 33 disponvel em http://www.outros500.tv/site/ , acessado em 01/11/2011

  • 36 televiso, o canal no se limitou s redes sociais. Numa tentativa de atrair ainda mais

    usurios para o site, os blogueiros Rodrigo, do blog Jacar Banguela, e Flvio, do Xongas,

    foram selecionados para desempenhar a funo de curadores da sesso de humor da pgina

    do Multishow, o Gargalha. Assim, eles passaram a ser responsveis por alimentar o portal

    com contedo bem humorado mesmo que este no se relacione com a programao do

    canal. Seu objetivo se resume a criar posts divertidos focando nos interesses do pblico

    alvo do canal.

    Paralelamente ao Gargalha, o site tambm implementou outras sees especiais que

    vm fazendo uma ligao entre a Internet e a programao do Multishow na TV. Nesses

    casos, so desenvolvidos blogs que costumam expor fotos, curiosidades, dicas, enfim, uma

    srie de contedos extras que se prestam a divulgar os programas e especiais exibidos na

    televiso.

    O blog do programa Casa Bonita um bom exemplo desse caso. O espao na web

    funciona como uma via de atualizao de cada episdio que vai ao ar no canal. Assim, os

    posts so feitos de maneira a dar uma prvia do que ser exibido em cada episdio com

    fotos e vdeos do programa, o que acaba chamando a audincia para os episdios que vo

    ao ar na TV.

    Seguindo uma linha um pouco diferente, mas ainda no pilar sensual, est o blog do

    Papo Calcinha. A pgina conta com posts escritos pelas apresentadoras Luhanna e Pietra

    com assuntos bastante variados dentro do tema sexo. Porm, diferentemente do exemplo

    anterior, o blog das calcinhas, como chamado pelo pblico, no costuma chamar os

    leitores para assistir o programa na TV, funcionando apenas como uma plataforma de

    contedo extra do programa.

    Outro caso a se destacar so o dos blogs dos programas de viagens. Nesse pilar temos

    os blogs das sries Volta ao Mundo e No Conta l em Casa, ambos alimentados pelos

    apresentadores dos programas. No caso do No Conta L em Casa, um dos apresentadores,

    o jornalista Andr Fran, desenvolveu o blog por conta prpria e este acabou sendo

    incorporado pelo site do canal. Com isso, o blog no constitui uma ferramenta de

    divulgao exclusiva do programa e no raro que seus assuntos extravasem o contedo

    dos episdios. Ainda assim, a pgina costuma publicar muitos assuntos relacionados ao

    programa e frequentemente so postados teasers ou matrias que chamam para os prximos

  • 37 episdios.

    J o blog do Volta ao Mundo foi uma ideia desenvolvida pela equipe do canal, apesar

    de ter sido alimentado pelas prprias apresentadoras do programa durante o periodo de

    gravaes. A pgina contm muitas informaes sobre o programa e poderia ser uma

    excelente ferramenta de divulgao, no fosse o fato do ltimo post ter sido feito 5 meses

    antes da estria na TV.

    Outra maneira bastante interessante de utilizao dos blogs pelo canal, foi

    desenvolvida durante as transmisses dos festivais Rock in Rio e SWU. Desde 2010, com a

    primeira edio do festival SWU, o canal implementou um blog com divulgao em tempo

    real de notcias, fotos, vdeos e resenhas sobre o evento. Essa estratgia se concretizou em

    2011 com a cobertura do Rock in Rio, otimizando a veiculao de informaes nesse tio de

    cobertura.

    O sucesso dessa experincia estimulou o Multishow a buscar mais uma novidade para

    web. Alm da possibilidade dos shows serem vistos ao vivo no canal de TV, partir de

    2011, um dos palcos destes festivais (normalmente os que contam com atraes de menos

    populares) tem seus espetculos exibidos na pgina do canal, concomitantemente com a

    exibio na televiso. Isso importante, pois a audincia de quem no pode assistir o

    festival no Multishow no perdida, mas convertida e normalmente atrelada a

    repercusso na web, ajudando a chamar a ateno de mais e mais expectadores. um

    efeito bola de neve.

    Embarcando na mar de sucesso do site do Multishow, o canal promoveu ainda o

    lanamento do portal TOP TVZ, em 2010. O novo site contm mais de um milho de letras

    de msicas e clipes dos mais variados artistas da cena musical nacional e internacional.

    Somado a isso, a pgina tambm funciona como ferramenta de divulgao de notcias e

    servios sobre shows, cds, videoclipes e novidades do mundo da msica em geral, alm de

    promover a interao do internauta com o espectador do programa TVZ, atravs da votao

    dos melhores clipes do dia.34

    Por fim, o canal apostou tambm no desenvolvimento de programas exclusivos para

    Internet, o I Love My Nerd e Serguei Rock Show. Com todas essas prticas, a Internet 34 Dentro do TVZ exibido tambm o Top TVZ programa homnimo ao site que responsvel por colocar no ar os 25 clipes mais votados na sua pgina da web.

  • 38 passou a funcionar como uma via de mo dupla para o canal, onde o contedo que vai ao ar

    pode ser disponibilizado online e o desenvolvido propriamente para a web pode vir a ser

    exibido na televiso.

  • 39

    4.0 ESTUDO DE CASO: AS WEBSRIES DO MULTISHOW

    Tendo analisado todos os fatores fundamentais para a compreenso do cenrio da

    televiso e da Internet no Brasil, o prximo passo deste trabalho consiste em observar como

    se estruturou a implementao das websries no Multishow.

    Apesar de muito populares mundialmente, a produo nacional de programas

    veiculados primordialmente na web ainda muito escassa e inconsistente. So poucos os

    casos brasileiros que obtm sucesso nesta rea, apesar da grande tendncia de crescimento

    da demanda por esse tipo de produto.

    Atentos a essa carncia do mercado, a equipe de Internet e Programao do

    Multishow iniciou em 2010 um projeto de exibio de programas feitos s para web. A

    ideia colocar no ar 2 novos projetos a cada ano, com perspectivas de aumento deste

    nmero longo prazo.

    At o presente momento, o canal j lanou dois programas do gnero: O I Love My

    Nerd e o Serguei Rock Show. Ambos obtiveram reaes bastante positivas em termos de

    audincia e repercusso na mdia, incentivando o canal a continuar investindo neste tipo de

    produo.

    No entanto, importante ressaltar que a segunda temporada de programas foi gravada

    antes mesmo da primeira experincia terminar de exibir todos os seus episdios. Sendo

    assim, o Serguei Rock Show no contempla os resultados observados pela primeira

    experincia. Estes s podero ser incorporados como mudanas nas experincias futuras do

    canal.

    4.1 WEBSRIES

    Webserie o nome dado para o contedo audiovisual divulgado em espaos de

    tempo peridicos na Internet. Elas surgiram em 1995, com o lanamento de The Spot35. No

    entanto, esse tipo de produo s ganhou fora e se desenvolveu entre 2004 e 2006, quando

    35 Websrie de Scott Zakarin sobre jovens que moravam numa repblica na Califrnia.

  • 40 sites de streaming36, como o Yotube e Vimeo 37foram popularizados. De formato varivel,

    os episdios costumam ter uma durao mdia de 2 a 15 minutos e baixssimo custo de

    produo.

    A divulgao desse contedo costuma acontecer na prpria internet, usando as

    ferramentas de redes sociais como o Facebook e o Twitter ou sites e blogs especializados

    por veicular este tipo de produo. Seus produtores tambm costumam criar pginas

    especiais e blogs, que alm de hospedar os episdios, renem informaes, materias e todo

    tipo de curiosidades sobre a srie, seu elenco e sua produo. Notas em outros veculos, ou

    objetos promocionais so opes raramente adotadas, j que a experincia comprova que

    este tipo de divulgao no costuma se mostrar to eficaz quanto a divulgao feita na

    prpria Internet.

    Alm das formas tradicionais de financiamento, como publicidade e venda de

    produtos, os produtores independentes de websries vem buscando formas alternativas de

    conseguir receita. Uma das opes adotadas o Crowdfunding, um modelo baseado numa

    espcie de vaquinha feita pelos espectadores, que financiam as temporadas. Em geral, os

    produtores estipulam um valor necessrio para realizar uma nova temporada e os fs da

    srie colaboram depositando dinheiro em uma conta da produo. Foi o que aconteceu com

    a srie de animao Depois do Fim do Mundo (2010), cujos produtores lanaram o

    primeiro episdio com seus prprios recursos/ investimentos, porm ao perceberem que

    conseguiram um nmero razovel de acessos ao video e uma boa resposta do pblico,

    pediram a ajuda dos espectadores por meio de colaboraes para poder dar continuidade ao

    projeto.

    Outra alternativa muito comum para obteno de verba para webseries a

    associao entre produtores e marcas que querem divulgar seus produtos ou servios. Em

    2011, a Adidas38 desenvolveu, em parceria com as revistas Capricho, Superinteressante e

    Mundo Estranho39, a Adidas All In, uma srie que aborda o cotidiano de dois jovens, 36 Streaming a tecnologia que permite o envio de informao multimdia atravs de pacotes, utilizando redes de computadores, sobretudo a Internet. 37 sites que hospedam vdeos. YouTube um fundado em 2005 e o site mais popular do tipo devido possibilidade de hospedar qualquer vdeo que podem ser disponibilizados em blogs e sites pessoais. J o Vimeo foi lanado em 2004 e no permite a hospedagem de qualquer material que no tenha sido criado pelo usurio. 38 Marca fabricante de produtos esportivos 39 Publicaes do grupo abril de comunicao

  • 41 mostrando sua relao com os produtos Adidas. O objetivo dessa ao era proporcionar um

    maior dilogo entre a marca e seus consumidores adolescentes, atravs da criao de

    vnculos emocionais com esse pblico.

    No mesmo ano, a fabricante de tnis Mizuno tambm recorreu a este formato e criou

    a websrie Corra com Mizuno em Amsterdam, que aborda o dia-a-dia de treinamento de

    quatro corredores iniciantes selecionados atravs de uma promoo realizada nas redes

    sociais. Os atletas mostram sua rotina de treinamento durante um ano em programetes de

    at cinco minutos. No final do programa, os participantes competiro no Grande Desafio de

    Amsterdam.

    Com tamanho crescimento desse mercado, grandes redes de TV esto voltando seus

    olhos para a produo exclusiva para internet, ainda que estes programas no tenham

    nenhuma relao com as produes exibidas em suas grades na TV. A Warner40 fez sua

    primeira experincia com programas para web em 2008, com a srie Soroty Forever. Em

    2011, a rede produziu mais uma websrie, Mortal Kombat41, uma adaptao do jogo

    homnimo. Alm da Warner, outras cadeias produtoras audiovisuais, como CBS e a Fox,

    tambm compraram a idia e comearam a desenvolver produtos audiovisuais exclusivos

    para a rede.

    Algumas websries so to boas que acabam migrando pra TV, onde ganham mais

    espao. Um exemplo disso a dramaturgia canadense Sanctuary, comprada pelo canal

    SyFy42. A srie foi lanada na Internet em 2007, tendo, princpio, apenas oito episdios

    de 15 minutos. Sanctuary fez tanto sucesso que conquistou os produtores do canal,

    passando a ser transmitida na TV em temporadas de 13 episdios. Sua verso para televiso

    est agora na quarta temporada.

    Esse tipo de produo evoluiu tanto, que chegou a conquistar um premiao

    prpria. o Streamy Awards, evento criado pela International Academy of Web Television

    em 2009, que escolhe anualmente as melhores produes de vdeos online. Os candidatos

    ao prmio so divididos em 36 categorias que vo desde drama, comdia e animao at

    escolha do pblico e produo visionria. 40 produtora norte-americana e filmes e produtos para TV. 41 Srie de jogos de luta 42 canal por assinatura lanad em 1992 pela rede NBC Universal. Tem uma programao voltada para Fico Cientfica, Fantasia e Terror e exibdo em pases da Amrica Latina, America do Norte, sia e Europa.

  • 42 4.2 I LOVE MY NERD

    I Love My Nerd foi o primeiro produto exclusivo para web lanado pelo Multishow. A srie foi desenvolvida em 10 episdios com uma mdia de 12 minutos cada. Sua estria foi dia 23 de novembro de 2010, com dois novos uploads43 por semana, nas teras e quintas-feiras s 17h. Os novos episdios foram atualizados no site do canal at o dia 23 de dezembro de 2010 e permanecem disponveis at ento. A visualizao do programa gratuita.

    Ao contrario do que se pode pensar, a ideia de implementar websries no portal Multishow, no foi uma demanda imposta pela audincia. Segundo Leandro Ramos, roteirista, diretor e responsvel pelos projetos audiovisuais para Internet, esse tipo de investimento nasceu de uma espcie de curiosidade do canal em investir em contedos transmdia44 e experimentar outras plataformas:

    No teve nenhuma pesquisa com o assinante pra saber se era uma demanda deles, ou no. Na verdade foi uma iniciativa do canal muito mais relacionada com a possibilidade de explorar o que no fazia antes, do que pra atender a pblico, ou demanda. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    O mote que impulsionou a criao da websrie foi uma demanda que surgiu na gerncia e programao do canal. Inspirados no sucesso do programa As Gostosas e os Geeks45, o canal apresentou um briefing e uma srie em que o personagem principal seria um nerd. A partir da, o desenvolvimento da proposta ficou por conta do prprio Leandro, que pode criar livremente em cima desse briefing, tendo sempre em mente os interesses e preferncias do pbico alvo do canal.

    43 transferncia de dados de um computador para um servidor de rede, que permite colocar o contedo disponvel na web. 44 Termo que se refere a possibilidade de narrar histrias em diversos meios de comunicao 45 Reality show norte-americano que exibido no Brasil pelo Multishow. Ele consiste em um grupo de mulheres bonitas distribudas em pares com um grupo de nerds. Cada membro da dupla tem que passar seus ensinamentos e experincias para o outro e o casal que demonstrar ter trocado mais conhecimento sobre o universo de cada um ganha o programa levando uma premiao de 250 mil dlares.

  • 43 O I Love My Nerd consiste numa espcie de reality show de humor em que dois

    rapazes com o perfil nerd46, Carlos Arthur (CA) e Marcelo Dias, (Musg) vo conviver com Monique Luchese e Lidia Barbiere, mulheres jovens e sensuais que desconhecem completamente o universo dos meninos. Mas esse formato no muito bem definido, uma vez que havia um pr-roteiro das atividades realizadas, fica complicado classificar o programa como reality.

    O I Love My Nerd um reality... mais no , n? Assim, um reality porque a gente pensou em situaes praquelas pessoas reais viverem, mas ao mesmo tempo tinha um roteiro. partir do momento que a gente pensou o que eles iam fazer, eu acho muito difcil chamar de reality. , porque partir do momento que voc fez um roteiro, voc vai falar que aquilo realidade? perigoso, n? No realidade.(...) Eu diria que um programa de humor, n? (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    As duplas representantes de cada sexo vo trocar experincias com o universo

    desconhecido atravs de provas e atividades que visam promover sua insero na realidade alheia, como disputas de videok, lutas no gel, batalhas no guitar hero47, dentre outros. Em cada episdio, os casais saem pra se divertir e disputar uma prova para se ambientar com o universo do sexo oposto. O nerd vencedor da prova do dia ganha o direito de dirigir um clipe sensual com a menina perdedora, escolhendo inclusive itens como o figurino e a locao. Mesmo tendo esse perfil do programa pr-estabelecido e contando com as ideias, de certa forma, j maturadas, o I Love My Nerd no teve em momento algum um pr-roteiro fechado, j que dentro das possibilidades criadas, sempre havia espao para a novidade. Sendo assim, o roteiro funcionava mais como uma forma de se orientar durante as gravaes do que como um caminho a ser seguido risca.

    Antes de gravar o I Love My Nerd a gente j tinha um roteiro.. Um roteiro, no, um guia, uma coisa meio muleta pra cada episdio, que eram na verdade 10. O primeiro episdio era os nerds conhecendo as gostosas. E

    46 Termo que descreve o esteretipo de pessoa intelectualizada que prioriza o estudo e o conhecimento em detrimento de outras atividades populares. 47 um vdeo-game de musica criado em 2005 Ele conta com um controle em forma e guitarra, usado pelos jogadores para simular a reproduo de msicas.

  • 44 os outros 9 so experincias que a gente queria que eles tivessem com elas. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    Essa caracterstica do roteiro permitiu que o programa fosse alm da interao dos

    grupos e das provas mencionadas, contando ainda com pequenos quadros com dicas de sexo e paquera para os nerds. Esses trechos no haviam sido pensados de forma bem delineada antes das gravaes, ou seja, no tinham um nome nem um perfil pr-estabelecidos. Eles foram desenvolvidos partir das experincias apresentadas em cada episdio e foram usados durante o processo de edio com a finalidade de conferir ritmo ao programa.

    Quando a gente convidou eles, a gente falou que a gente queria fazer um programa com dois nerds que vo conhecer duas gostosas que eram do Casa Bonita e que vo fazer o que vocs quiserem com elas. O que vocs gostariam de fazer? E eles trouxeram ideias. Algumas no eram viveis. As que eram minimamente viveis, a gente tentou realizar. (...) A gente foi tentando realizar o que eles queriam. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    O tempo dos episdios tambm no foi um aspecto pensado com rigidez. Ao contrrio do que comumente difundido pelas pessoas que pensam e produzem esse tipo de produto, o diretor da srie no acredita que uma margem e tempo curto seja imprescindvel para sucesso dos episdios. Na verdade isso tem a ver com seu modo de ver a diferena entre vrios contedos para diferentes plataformas.

    Eu no acredito muito nessa coisa de: Ah, isso aqui um contedo pra web. Ah, isso aqui pra televiso. Isso tem linguagem de TV. Eu acho que ou a parada legal e as pessoas vo querer ver, ou no legal. E a independe do formato. O cara que tiver acesso s pela interne, vai ver aquilo s pela internet. O cara que tiver acesso quele contedo s na televiso, vai ver na televiso, se ele tiver interesse em ver. Eu no acho que a gente tem que pensar o contedo pra cada plataforma. Eu acho que acabou isso. (...) Contedo contedo, a pessoa tem ou no tem interesse em ver. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    J a exibio, ao contrrio de todos os demais aspectos do programa, funcionava de

    forma peridica e sistemtica. A estratgia de postar no site dois programas por semana foi

    definida em funo do nmero de episdios estabelecido.

  • 45

    A gente pegou e falou: Olha, ns temos 15 episdios, exibir isso como? Ah, todo dia? No, no tem demanda pra isso. Uma vez por semana? Talvez fique muito espaado. A a gente falou: Ah, vamos fazer duas vezes, sei l, tera e quinta, no lembro exatamente qual era o dia. E a gente fez pra experimentar, pra ver como que ia. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    No entanto, como o prprio Leandro deixou claro na entrevista, no havia nenhuma

    ligao entre esta postura e algum tipo de estudo, ou observao terica. A programao da

    srie foi feita de forma emprica, buscando testar os limites que a Internet impe a esse tipo

    de produo.

    Para divulgao deste novo projeto, o canal contou com o apoio do portal globo.com - que j era um parceiro na disseminao de novos contedos-, chamadas na programao do canal, menes recorrentes em redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut, alm do apoio do Outros500.

    Assim, sete episdios obtiveram destaque na home da globo.com e os perfis do canal nas redes sociais deram nfase ao programa, sobretudo nos dias em que novos

    episdios eram postados. Como efeito dessas aes, o I Love My Nerd viu sua audincia e

    repercusso muito aumentada. Entre os meses de novembro de 2010 e abril de 2011, a

    pgina do programa obteve cerca de 548 mil visualizaes, um nmero superior ao da

  • 46

    46

    maioria dos programas do canal. Dentre esses acessos, a taxa de converso dos vdeos da

    pgina proporo de usurios que assistiram os vdeos foi de 20%, o que representa

    109,6 mil expectadores efetivos.

    Alm disso, a websrie conquistou comentrios positivos, principalmente no

    Twitter. Muitos usurios postaram em seus perfis do microblog e do Facebook links com

    vdeos dos episdios, comentrios sobre os personagens e pedidos por uma nova

    temporada. Ainda assim, essa repercusso foi menos intensa do que se esperava, devido ao

    alto nmero de acessos pgina do programa.

    4.3 SERGUEI ROCK SHOW

    Serguei Rock Show foi o segundo programa feito exclusivamente para a plataforma de Internet do canal. Entretanto, para efeitos de anlise das mudanas propostas, importante ressaltar que o produto foi idealizado e gravado antes de se concatenarem os resultados da experincia anterior e, por isso, no contempla todo feedback recolhido a partir do seu antecessor.

    Inicialmente, o programa foi desenvolvido com 10 episdios com durao estimada de 12 minutos. No entanto, com o decorrer da temporada, os programas foram variando sua durao, de acordo com o nmero de quadros e novidades por episdio. Sua estreia foi no dia 17 de maro de 2011, com um upload semanal nas sextas-feiras s 17h. A postagem de novos programas aconteceu at o dia 20 de maio de 2011 e assim como o I Love My Nerd, todos os vdeos permanecem disponveis no site do canal e sua exibio no prescinde pagamento.

    O Serguei uma pessoa real, a gente tinha algum roteiro, nada pra ele decorar, mas cada programa tinha um tema, ele ia falar do tema que a gente pediu pra ele falar, ento mais um programa de entretenimento, de humor, de msica, do universo dele. O programa era ele, na verdade, era sobre o jeito como ele vive. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    Diferentemente do projeto anterior, a ideia de concepo do programa nasceu na prpria equipe responsvel pelo seu desenvolvimento. Segundo o Leandro Ramos, a iniciativa de fazer um programa usando o Serguei como personagem principal foi dele

  • 47

    47

    mesmo e surgiu por causa de uma ao promocional feita para o Prmio Multishow de

    2010.

    A campanha realizada para divulgar o evento era baseada em pequenas chamadas na

    programao, em que o roqueiro divagava aleatoriamente sobre os indicados de cada

    categoria da premiao. Nessas vinhetas, o Serguei ia tecendo uma srie de comentrios

    sobre os artistas e este material foi exibido sem uma ordem especfica durante os intervalos

    comerciais do canal, uma ideia bastante parecida com o contedo do programa que ia ao ar

    na web.

    A partir da, o diretor do projeto se interessou pela persona do roqueiro e comeou a

    aperfeioar a ideia do programa. Ele incrvel, qualquer tema que voc d pra ele fala, ele

    vai falar de uma forma completamente diferente. (RAMOS, Leandro, em entrevista

    concedida a autora em 14/11/2011).

    Este perodo de pr-produo exigiu que a equipe trabalhasse para conhecer a fundo

    os hbitos e preferncias do roqueiro. Para isso, a preparao do programa no se restringiu

    a meras reunies e pesquisas. Os responsveis pelo Serguei Rock Show foram para

    Saquarema e fizeram inmeras visitas casa do msico, chegando, inclusive concluso de

    que o cenrio ideal para o projeto era a prpria casa do Serguei. Dessa maneira, conseguiu-

    se desenvolver ideias de temas e quadros para o programa, estabelecendo, assim, um pr-

    roteiro para as gravaes.

    A gente definiu que cada episdio teria uma banda homenageada, um cantor, ou um artista e a eu fui pra l com quadros, com coisas que e eu queria que ele falasse. Eu queria que ele falasse de sade, eu queria que ele desse dica de sexo... E a no dar uma dica de sexo como um sexlogo d uma dica de sexo. assim: o que o Serguei falaria pra um casal que quer sair da rotina, entendeu? (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    Tal qual a primeira experincia, o tempo dos episdios do Serguei Rock Show no

    havia sido definido com antecedncia. Havia uma estimativa da minutagem desejada em

    cada programa, porm esta no estava engessada, havendo espao para que se

    apresentassem variaes.

  • 48

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    Eu nunca pensei o tempo do episdio antes de fazer, entendeu? O Serguei tem episdios de 16 minutos e tem episdio com 9 minutos. (...) Eu tinha essa ideia depois de gravar, n? Antes de gravar, no. Porque eu acho tambm complicado voc pensar isso vai ter x minutos. (...)Quanto ele vai falar e o quo interessante vo ser as coisas que ele vai falar, a depende. Pode ser que ele fale 3 minutos muito legais, mas pode ser que ele fale 7 minutos chatos. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    Com o material captado nas gravaes, foram confeccionados 10 episdios do

    programa. Porm post-los duas vezes por semana, como foi feito com o I Love My Nerd

    pareceu demais para a gerente de programao do canal, Tatiana Costa. Novamente o canal

    aposta na experimentao e estabelece que o programa deveria ser atualizado uma vez por

    semana.

    Na verdade foi um segundo passo de experimentao. A gente tinha experimentado o I Love My Nerd duas vezes por semana e a como a gente ia fazer 10 episdios, ao invs de 15, a Tati Costa falou: Ah, vamos fazer um por semana e vamos ver como reage. (RAMOS, Leandro, em entrevista concedida a autora em 14/11/2011)

    A divulgao do programa se deu de maneira um pouco diferente do I Love My

    Nerd. Ao contrrio do seu antecessor na web, o Serguei Rock Show no pode contar muito com seu principal parceiro em termos de divulgao, o portal globo.com. Nesta temporada, os episdios postados na pgina do Multishow receberam destaque apenas uma vez, levando esse episdio a atingir o nmero excepcional de 39 mil visualizaes em um nico dia.

    Mesmo assim, a srie atingiu um nmero de visualizaes superior ao que era esperado. Conquistando apenas 109 mil internautas que clickaram nos links do programa, a temporada conseguiu mais espectadores do que o I Love My Nerd. Apesar da aparente contradio presente nesses nmeros, as concluses tiradas so coerentes. Essa diferena se deu, porque ainda que o nmero total de acessos a pgina neste caso fosse menor, houve uma espcie de compensao pelo aumento na taxa de converso do acesso em streaming que foi de 52%. Esta porcentagem representa um pblico de cerca de 56, 7 mil expectadores.

    Outro fator positivo, foi a repercusso do programa nas redes sociais. O nmero de comentrios veiculados nos perfis dos usurios foi consideravelmente positivo, inclusive se

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    forem usados parmetros de programas veiculados na televiso. Muitos elogios foram feios e surpreendentemente, no foi captada nenhuma crtica.

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    5.0 CONCLUSO A partir desta anlise, conclui-se que apesar de muito profissional, a experincia

    audiovisual do Multishow na Internet se mostra como um espao de empirismo e testes, como o prpri