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 REVISÃO DO SECTOR AGRÁRIO E DA ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR PARA DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES DE INVESTIMENTOS (TCP/ANG/2907) ANGOLA IDEIA DE PROJECTO AGROINDUSTRIA PARA PRODUÇÃO DE RAPADURA, AÇÚCAR MASCAVO E MELADO ANGOLA PERFIL DE PROJECTO  DOCUMENTO DE TRABALHO Nº 23k DOCUMENTO PRELIMINAR PARA COMENTARIOS MINISTERIO DA AGRICULTURA E DO DESENVOLVIMENTO RURAL ORGANI ZAÇ O D AS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO

Producao Rapadura Acucar Mascavo

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MINISTERIO DA AGRICULTURA E DO DESENVOLVIMENTO RURAL

ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAO

REVISO DO SECTOR AGRRIO E DA ESTRATGIA DE SEGURANA ALIMENTAR PARA DEFINIO DE PRIORIDADES DE INVESTIMENTOS (TCP/ANG/2907)

ANGOLA IDEIA DE PROJECTO AGROINDUSTRIA PARA PRODUO DE RAPADURA, ACAR MASCAVO E MELADO

DOCUMENTO DE TRABALHO N 23k DOCUMENTO PRELIMINAR PARA COMENTARIOS ANGOLA PERFIL DE PROJECTO

AGROINDUSTRIA PARA PRODUO DE RAPADURA, ACAR MASCAVO E MELADOI. ANTECEDENTES DO PROJECTO

I.1. Origem do Projecto Este perfil de projecto d suporte ao TCP (ANG/2907), aprovado pela FAO em setembro de 2003. A proposta do TCP era de apoiar o governo de Angola em definir estratgias, polticas e opes para o perodo de transio do auxlio emergencial em agricultura e segurana alimentar a um programa racional de investimento e de assistncia tcnica para a reabilitao e o desenvolvimento do sector agrcola e a restaurao da segurana alimentar. A questo compreende: i. reviso e actualizao das estratgias de desenvolvimento existentes no MINADER, dos sectores agrcola, pecurio e florestal e segurana alimentar e ajuste de novas prioridades para investimentos, reformas poltica e da capacidade nos nveis nacionais, provinciais e municipal/comunas, no contexto da reviso do sector agrcola realizada em 1996-97, quando FAO assistiu ao Governo de Angola (GOA) na preparao de uma profunda Anlise da Recuperao Agrcola e de Opes de Desenvolvimento (ARDOR em ingls) com financiamento ao abrigo do TCP/ANG/6612, contando com a participao de outros doadores (incluindo o Banco Mundial, o FIDA, o PNUD, o PAM, a UE e a Cooperao Francesa). ii. desenvolver estudos adicionais cobrindo aspectos relacionados polticas macroeconmicas consistentes que assegurem competitividade e desenvolvimento agrcolas; proposta para a reforma da pesquisa agrcola e servios de extenso; anlises e propostas para o modernizao do sub-sector de irrigao; os desafios na reconstruo de uma rede de marketing agrcola e rural; uma agenda agro-industrial para o desenvolvimento sustentvel do sector rural; anlises e propostas para o desenvolvimento de recursos humanos do sector rural com, nfase especial na mulher; e direcionamento para a gerncia florestal e de recursos naturais no contexto do desenvolvimento sustentvel da segurana alimentar; iii. obter o consenso necessrio entre o Governo, ONGs, a sociedade civil, o sector privado e outras instituies nacionais e internacionais, sobre estratgias, polticas e prioridades de investimentos e assistncia tcnica a serem consideradas pelos sectores agrcola, pecurio e florestal; e opes para a recuperao e desenvolvimento agrcolas. iv. assegurar de que s questes temticas sobre reabilitao rural, seja conferido o devido peso no Programa Estratgico de Reduo da Pobreza em Angola e no Planos Nacionais de Desenvolvimento a Mdio e Longo Prazo. I.2. Informaes Gerais As dcadas de hostilidades em Angola devastaram grandemente o pas e destruram o seu sector agrcola, que no passado foi muito forte. Nas reas rurais devastadas pela guerra, houve 2

um deslocamento macio de pessoas e um colapso total dos sistemas tradicionais de agricultura em pequena escala. Em grande parte do pas, a guerra deixou a infra-estrutura rural e as capacidades tcnicas locais ou destrudas ou em total confuso. Tendo sido no passado um exportador substancial de produtos agrcolas, Angola est agora profundamente dependente de importaes de alimentos e operaes extensas de ajuda alimentar destinadas s suas vtimas de guerra, deslocados e refugiados. Durante os confrontos, o pessoal dos Governos provinciais, incluindo os funcionrios do Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MINADER), tiveram que retirar-se para Luanda e para as poucas provncias seguras no sul e ao longo da plancie costeira. Em resultado disso, o programa do MINADER no sector rural e agrcola, tradicionalmente executado atravs dos seus departamentos provinciais, foi extremamente reduzido na maior parte do pas, com exceo para algumas actividades de emergncia. Nos anos 90, foi levado a cabo um massivo programa de assistncia humanitria com o apoio da comunidade internacional e organizaes no-governamentais (ONGs). A FAO participou, em conjunto com outros doadores e ONGs em programas para apoiar a recuperao do enfraquecido sector agrcola. Em 1996-97, quando a paz parecia assegurada, aps o Protocolo de Lusaka de 1994, a FAO forneceu assistncia tcnica ao Governo de Angola em duas linhas de aco: TCP/AN/6611 Estabelecendo a Ponte entre a Emergncia e o Desenvolvimento: Um Projecto-Piloto para a Reabilitao Agrcola na Provncia do Huambo. Ao mesmo tempo a FAO assistiu na preparao duma profunda Anlise da Recuperao Agrcola e de Opes de Desenvolvimento (ARDOR) com financiamento ao abrigo do TCP/ANG/6612, produzindo um considervel nmero de recomendaes detalhadas sobre estratgias de desenvolvimento agrcola. Estas recomendaes e o programa de investimentos foram apresentados e aprovados num seminrio de nvel nacional em Luanda, em Maio de 1997. A ARDOR permanece at hoje como um dos documentos de referncia mais procurados no que diz respeito ao sector agrcola do pas. Nos seis anos aps a aprovao da anlise agrcola, o Governo de Angola procurou implementar alguns aspectos da estratgia, mas registrou-se um progresso limitado por causa da retomada das hostilidades em 1998 durando at Abril de 2002, das possibilidades limitadas para actividades de campo e da falta de apoio significativo de doadores para investimentos. Os doadores concentraram a sua ateno em atender as necessidades urgentes dos deslocados internos, cujo nmero aumentou bruscamente de 0,5 milhes em 1997 para cerca de 4 milhes em 2002. Porm, com a cessao recente das hostilidades e a aparente chegada duma paz real e duradoura apresentaram ao Governo uma oportunidade excepcional para avanar com a agenda do desenvolvimento agrcola. De facto, um rpido progresso na reconstruo do sector rural uma condio para a manuteno da paz, porque cerca de 70% da populao vive de actividades agrcolas e rurais. Os programas de emergncia aumentaram recentemente a sua cobertura de modo a apoiar o reassentamento das populaes rurais deslocadas, assim como refugiados retornados, e tropas 3

desmobilizadas, em conjunto com a reconstruo e reabilitao de infra-estruturas danificadas ou destrudas pela guerra. Algumas ONGs esto a concentrar esforos no desenvolvimento organizacional a nvel das comunidades (ADRA, CARE, World Vision), enquanto outras se concentram no micro-crdito (CLUSA). Embora o papel da FAO em emergncias seja apreciado pelo Governo e a comunidade de assistncia humanitria, este papel est destinado a diminuir e a reorientar-se para a reabilitao a longo prazo do sector agrcola. II. REA DO PROJECTO A agroindstria dever estar localizada estrategicamente prxima rea produtora, e de preferncia, absorver a produo de vrios agricultores familiares associados. A vitalidade e longevidade da actividade agroindustrial depende fundamentalmente de fornecimento garantido de matria-prima. Em Angola, as provncias que apresentam vantagens em termos de localizao so: Benguela, Cunene, Huila e Malanje. III. RACIONALIDADE DO PROJECTO Dentre os diversos empreendimentos rurais, a pequena indstria da cana-de-acar, quando bem implantada e tecnicamente explorada um dos mais lucrativos. A elaborao de rapadura, de melado e de diversos tipos de acares brutos prtica conhecida nas propriedades rurais h muitos anos. A rapadura tem mercado garantido em muitos pases, graas tendncia actual no sentido de se consumir os chamados produtos "naturais". O melado elaborado a partir do caldo de cana ou da rapadura um produto que apresenta boa aceitao no mercado. Para as pequenas propriedades rurais, a elaborao do melado uma das formas lucrativas de beneficiar a cana, uma vez que o processo envolve equipamentos simples e em pequeno nmero, com possibilidade de trabalho com mo-de-obra da prpria famlia. O melado considerado alimento de grande importncia em vrios pases. Cada 100 g do produto fornece 300 calorias, alm de conter tambm quantidade importante de minerais e de vitaminas. Seu uso na alimentao humana diversificado. consumido puro e em misturas com outros alimentos, tais como queijos, farinha, biscoitos, bolo e mandioca. Alm disso, o melado utilizado tambm como ingrediente na indstria de confeitaria, bebidas, balas e at mesmo como substituto do xarope no acondicionamento de alguns tipos de frutas em conserva. O produtor precisa estar atento para os factores que contribuem para a melhoria de seu negcio: matria-prima (a cana-de-acar), as instalaes (a fbrica), a qualidade da gua utilizada, a qualidade da mo de obra e sobretudo as reaes e tendncias do mercado. necessrio treinamento e conscientizao dos funcionrios da fbrica sobre o que e a importncia da qualidade para a empresa e fundamentalmente para eles prprios.

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A procura por produtos artesanais, com padres de qualidade tm aumentado. Face s crescentes exigncias do consumidor, o fabricante precisa se profissionalizar, e estar a se preocupar e praticar mais os factores de qualidade e de produtividade. A empresa precisa ainda aprender a conhecer o seu desempenho em termos dos diversos ndices de produtividade tais como: quilograma de produto/hora de mo de obra trabalhada na produo; quilogramas de produto/tonelada de cana moda; quilograma de produto/hectare de cana cortada; litros ou quilogramas de caldo de cana com determinado Brix/hora de engenho; litros ou quilogramas de caldo de cana a com determinado Brix/tonelada de cana moda; toneladas de cana/hectare, em cada corte; toneladas de cana/hora de engenho. Alm dessas medidas relacionadas com o desempenho da produo, a fbrica precisa praticar, regularmente durante a safra, os ndices de qualidade, pelo menos aqueles exigidos pela legislao especfica. As informaes sobre custos, e outros valores devem ser tomados simplesmente como referncias pelo que, para cada projecto a implantar deve ser feito um estudo especifico, ajustando valores, investimentos e outros dados do mercado. IV. OBJECTIVOS DO PROJECTO Este trabalho constitui um perfil que caracteriza uma unidade de produo de acar mascavo, melado e rapadura, apresentando o processo de elaborao dos produtos, consideraes sobre o controle de qualidade, sugesto de aproveitamento de subprodutos, indicando os principais equipamentos necessrios, a dimenso, a localizao e a construo civil. O objectivo o aprimoramento das condies de produo, valorizando o produto artesanal. A meta a racionalizao do processo produtivo, aprimorando a qualidade e a produtividade dos produtos. O perfil rene informaes tcnicas e econmicas para orientao do investidor. A capacidade esperada de produo da unidade em torno de 900 kg dirios para um total de 148.608 kg total de produto por safra, com 172 dias de atividades de produo e um esmagamento mdio dirio de 9 toneladas de cana. A partir de alguns ndices possveis de serem conseguidos com tecnologia e manejo adequados, foi feita a estimativa da dimenso do canavial obtendo-se um valor de 24,18 ha como sendo a rea mnima plantada necessria para esta produo. V. DESCRIO DO PROJECTO Especificao da matria-prima A produo de acar mascavo, melado e rapadura como em qualquer actividade produtiva, est associada rendibilidade da actividade. Para tanto se torna necessrio conhecer as perdas, a eficincia do processo e o custo de produo. 5

Um dos temas mais comentados actualmente nos sistemas de produo de diversas reas qualidade e produtividade. Nesta associao, a qualidade e a produtividade da matria-prima assumem importncia relevante na pequena indstria da cana-de-acar, estando envolvidas directamente com o desempenho das operaes de moagem (extrao de caldo) e sua concentrao ou cozimento, sendo fundamental na obteno de altos rendimentos e melhor qualidade do produto final. Um aspecto de grande importncia para a elaborao da rapadura a uniformidade de maturao da cana. A cana deve ser cortada quando estiver no pico de sua maturao, teor mximo de sacarose e mnimo de acares simples (redutores), pois estes no cristalizam, prejudicando o rendimento, alm de afetar o sabor (qualidade sensorial) dos produtos. Tambm no se aproveita a ponta da cana para rapadura, pois rica em acares simples (monossacardeos - redutores) que causam problemas, tais como, escurecimento excessivo da massa, dificuldade de "ponto", mela durante a estocagem e perda de rendimento do processo. Limpeza e lavagem da cana Quanto operao de lavagem da cana antes da moagem, nas pequenas instalaes de produo artesanal, normalmente possvel viabiliz-la com pequenas adaptaes e pouco investimento. A limpeza da matria prima com gua potvel fundamental e reduz a contaminao por terra e outros materiais estranhos. Dimenso do Canavial Na programao da produo importante observar o planejamento do canavial. Os clculos a seguir foram realizados imaginando uma produo diria de 864 kg de produto, em jornada de trabalho de oito horas, para 172 dias teis de safra. Sugeriu-se para efeito de estimativa uma produtividade agrcola de 80 t de cana-de-acar/ha, com caldo a 18 Brix, em mdia. A estimativa de extrao de 600 litros de caldo (garapa)/t de cana, com um rendimento de 96 kg de produto por tonelada de cana moda. Balano de Massa do Processo A seguir, tem-se o balano de massa para um dia normal de processamento.

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Descrio do processo de produo A figura abaixo ilustra o processo de obteno de rapadura. Detalhes sobre as principais operaes ali representadas so descritas a seguir. Moagem da cana - extrao do caldo A cana cortada deve ser preferencialmente moda no mesmo dia. A cana cortada espera de moagem sofre deterioraes que ocasionam perdas de rendimento e de qualidade do produto. O perodo de espera entre o corte da cana e o cozimento do caldo (garapa) no deve ultrapassar doze horas, tolerando no mximo 18 a 24 ou 30 horas, dependendo da qualidade da cana. A limpeza da cana factor de grande importncia para a eficincia da moagem e para a qualidade dos produtos. A capacidade das moendas dada pela quantidade de cana que pode ser moda economicamente, em um determinado espao de tempo. O tamanho do engenho deve ser compatvel com a capacidade de concentrao de caldo da fbrica, para que no haja interrupo da operao de cozimento (concentrao) por falta de garapa e nem excesso de garapa aguardando para ser concentrada.

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A espera prejudica a qualidade dos produtos e a eficincia da unidade industrial. O caldo, obtido pela moagem, passa por um sistema de coa ou filtrao, em que so separados os resduos mais leves (bagacinhos, bagacilhos e outros fragmentos), sendo coletado em um depsito de alvenaria, de madeira, de ferro ou outro material compatvel, para decantao, onde so separados os resduos de terra, areia e outros mais pesados do que o caldo.

Fluxograma da produo de rapadura Este depsito tem sada de caldo na parte superior. A filtrao e decantao garantem o trabalho com caldo de cana mais limpo, contribuindo para o atendimento das exigncias de qualidade. Tipos de instalaes das tachas de concentrao A instalao mais comum nos pequenos estabelecimentos a que utiliza recipientes abertos, aquecidos a fogo directo, as chamadas tachas, das quais h vrios arranjos: de uma nica tacha, de trs, de quatro, ou at de mais tachas, em srie. 8

A instalao mais primitiva a que utiliza tacha nica, na qual se realiza todas as etapas. Outro tipo de instalao a que utiliza trs ou quatro tachas de cobre (maior durao) ou de ferro batido, de fundo curvo. A menor das tachas (a de ponto) fica prximo chamin e a maior prximo boca da fornalha. De modo geral, na primeira tacha feita a correo da acidez do caldo com leite cal, na segunda a clarificao (limpeza), na terceira obtm-se o xarope e na quarta dado o "ponto". Correo de Acidez e Limpeza do Caldo O caldo de cana normal ligeiramente cido. Dada a sua composio qumica complexa, o seu aquecimento sem correo dessa acidez provoca um escurecimento demasiado do produto, alm de excesso de inverso da sacarose, o que prejudicial, no caso de produo da rapadura. Nas instalaes mais simples (pequenos engenhos) normalmente no se faz a correo da acidez do caldo de cana. A limpeza do caldo ou a retirada de impurezas, sob a forma de espumas feita no caldo quente, porm, antes que entre em fervura. Essa retirada de impurezas, que deve ocorrer durante toda a operao de concentrao, garante produto mais puro e claro. Concentrao do caldo de cana Aps a clarificao, retirada de todas as espumas, o caldo transferido para a terceira tacha, onde ocorrer a concentrao (evaporao da gua) e se transformar em xarope. Se houver uma quarta tacha na instalao, ao se aproximar o "ponto", o xarope transferido. Ao se aproximar o "ponto", ele deve ser atingido com baixo aquecimento, para evitar a queima, excesso de caramelizao do acar e conseqente escurecimento excessivo do produto. necessria a agitao da massa de melado para evitar a queima. Ponto para rapadura Ao se aproximar o ponto, o xarope se transforma em melado e a fervura toma aspecto de borbulhamento. A concentrao do ponto para a rapadura cerca de 73 Brix, a quente, ou 80 Brix, a frio. Retira-se pequenas amostras do melado, uma colher de sopa, colocando-a em vasilha com gua fria. Com os dedos, tenta-se formar uma bola. Essa amostragem repetida at conseguir a formao da "bola" que representa o ponto. Descarregamento da massa, moldagem e armazenamento Obtido o ponto, a massa imediatamente transferida, com auxlio do rominhol, para a resfriadeira, normalmente um coxo de madeira com dimenses variveis, segundo o tamanho das tachas. O rominhol um utenslio de cobre, ao inoxidvel ou outro material, com capacidade de cinco a oito litros, preso a um cabo longo de madeira, para facilitar o manuseio. Na resfriadeira a massa mexida (agitada) constantemente, at esfriar um pouco. Quando a massa se apresenta mais brilhante, mais espessa e mais clara, est no ponto de 9

moldagem nas frmas. Estas frmas, normalmente so feitas de rgua (de madeira), encaixveis, formando compartimentos retangulares, com capacidade varivel de acordo com o tipo de mercado a ser atendido; de 25, 50, 250, 300, 500 ou at 1.000 gramas. Armadas sobre superfcie lisa, plana e nivelada, de madeira ou outro material, como granito, as frmas so enchidas com a massa cozida e depois repartidas, ou o inverso. Para facilitar a remoo, as frmas so umedecidas com gua, quando montadas. O produto permanece nas frmas o tempo necessrio para o endurecimento, variando de 20 a 60 minutos ou mais, dependendo do ponto dado ao melado. Aps a retirada da frma, antes de ir para o depsito e embalagem, recomenda-se deixar a rapadura em local arejado e seco, por 24 horas, para completar o endurecimento. Subprodutos da produo de rapadura Na pequena indstria da cana-de-acar, como o caso da produo artesanal de rapadura, h basicamente trs tipos de resduos/poluentes, a saber: os resduos da cultura da cana (ponta/palmito da cana-de-acar), o bagao da cana e a espuma da garapa. Aproveitamento da ponta/palmito da cana-de-acar A ponta da cana-de-acar, aps o corte, representa em mdia 8%, em peso da cana madura, isto , para cada tonelada de cana cortada so produzidas cerca de 80 kg de matria-verde em ponta de cana, no caso de cana crua (sem queima). O mais comum na pequena indstria deixar este material secar ao sol, no campo e ser utilizado como cobertura morta no canavial. Entretanto, o palmito e a folha da cana podem ser e tm sido utilizados tambm, com freqncia, na alimentao de ruminantes, bovinos principalmente. Neste caso o material ainda verde passado em ensiladeira (picadeira de capim) e colocado directamente nos cochos. A ponta/palmito da cana-de-acar pobre do ponto de vista nutricional para bovinos. No entanto, utilizado como volumoso, sendo adicionado de uria e complementado com outros nutrientes, na alimentao do gado bovino.

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Aproveitamento do bagao da cana-de-acar O bagao da cana rico em celulose e outros carboidratos, tendo vrias aplicaes industriais. O bagao tem vrios usos, sendo o principal deles, a produo de papel para impresso de jornais, livros e diversas outras aplicaes. Na pequena indstria, a principal utilizao do bagao como combustvel na fornalha da caldeira ou directamente na fornalha das tachas de concentrao de caldo de cana, no caso de produo de rapadura. O bagao pode ainda ser utilizado na alimentao de ruminantes, como o gado bovino. Neste caso, por ser um produto de baixa qualidade nutricional (baixa digestibilidade), ele dever ser submetido a um tratamento de amonizao (tratamento com amnia), que melhora sensivelmente sua digestibillidade.Tambm pode ser utilizado, juntamente com outros restos de cultura, para a compostagem com esterco de gado bovino.O composto um adubo orgnico obtido a partir de lixo, de restos de culturas e de dejetos de animais, que tem sido muito utilizado e valorizado pelos adeptos da agricultura orgnica, em substituio, com vantagem, s formulaes de fertilizantes qumicos. Aproveitamento da espuma da limpeza da garapa Na produo de rapadura, durante as operaes de limpeza, clarificao e concentrao da garapa, ocorre a separao da espuma, que representa de 5 a 10% (em volume) do caldo. Esta espuma material altamente poluente, se jogada nos crregos, rios ou riachos, sendo esta prtica proibida. Embora seja relativamente pobre do ponto de vista nutricional, este material tem sido utilizado para alimentao animal, como sunos e bovinos. Dimenso, localizao e obras A dimenso das instalaes fsicas proposto neste perfil para processar 9 toneladas por dia de cana-de-acar, procurou compatibilizar um investimento inicial propcio a pequenos e mdios agricultores associativados com uma capacidade de produo adequada ao mercado existente.

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VI. CUSTOS INDICATIVOS Apresenta-se a seguir, as necessidades de investimento e as estimativas de custos e receitas para a produo de acar mascavo, melado e rapadura. Mais uma vez relembramos que as informaes sobre custos, e outros valores devem ser tomados simplesmente como referncias pelo que, para cada projecto a implantar deve ser feito um estudo especifico, ajustando valores, investimentos e outros dados do mercado. Investimento Fixo O investimento fixo o destinado s imobilizaes com terreno, construo da unidade industrial (conforme croqui da fbrica encontrado neste perfil), sede da agroindstria com 40 m_, equipamentos e outros gastos complementares. Fundo de Maneio A estimativa do investimento necessrio operao normal do empreendimento considerou itens que envolvem estoques mnimos de matria-prima e materiais secundrios, estoque de produtos acabados e em processo, reserva de caixa para compromissos de salrios, a quantia 12

necessria para cobrir crditos clientes (um percentual das vendas que so realizadas a prazo) e um desconto para reduzir as necessidades em fundo de maneio, correspondente a negociao de crditos com o sistema bancrio (crditos de fornecedores). Estimativa dos Custos Totais de Produo Os custos totais de produo podem ser entendidos como a soma do custo varivel com o custo fixo. Com relao a custos fixos, a vida til das edificaes para fins de depreciao foi estimada em 50 anos1. A vida til para os equipamentos da fbrica foi considerada como sendo de 10 anos, enquanto para veculos o perodo de 5 anos. Os custos variveis englobam as despesas que variam de acordo com a quantidade de matria-prima processada. Foram includas despesas com pessoal operacional, material de escritrio, gua, eletricidade, matrias-primas principais e secundrias, manuteno e custos financeiros. Estimativa da Receita Anual A receita anual estimada foi calculada com a unidade agroindustrial operando com 100% da capacidade de produo, a partir do 1 ano de instalao do projecto. De maneira sucinta, apresenta-se a seguir os custos e receitas estimados para a implantao do perfil.ITEM 1 2 3 4 5 6 7 DESCRIO GASTOS COM OBRAS CIVIS GASTOS COM AQUISIO E INSTALAO DE EQUIPAMENTOS NECESSIDADE EM FUNDO DE MANEIO ESTIMATIVA DO CUSTO FIXO TOTAL DA AGROINDSTRIA ESTIMATIVA DO CUSTO VARIVEL ANUAL CUSTOS TOTAIS DE PRODUO ESTIMATIVA DA RECEITA ANUAL VALOR (US$) 36038,29 54069,22 65199,06 19776,88 213363,90 233140,78 331846,59

Estimativa da Rendibilidade Os indicadores mostrados refletem o conjunto de premissas adotadas na montagem dos quadros financeiros do projeto. Nas condies indicadas no presente perfil, obtiveram-se ndices de rendibilidade, representados pelos seguintes indicadores: Taxa Interna de rendibilidade (TIR) um indicador da rendibilidade do projecto e deve ser comparada com a taxa mnima de atratividade do investidor. Valor Actual Lquido (VAL) quando maior que zero, indica que a rendibilidade do investimento superior taxa mnima de atratividade considerada. Perodo de Recuperao do Capital (PRC) corresponde ao tempo esperado para que o1

Aqui se levou em conta a vida til do investimento em edifcios, que na prtica deve ser ajustado lei existente, que no caso de Angola varia de 20 a 25 anos. 13

capital investido seja recuperado. Ponto Morto (PM) um indicador da flexibilidade da operao. o ponto em que as receitas se igualam aos custos. Quanto mais baixo for, mais flexvel o investimento, demonstrando at que ponto a indstria pode operar abaixo da sua capacidade instalada sem colocar o empreendimento em risco.

Indicadores FinanceirosDESCRIO DO INDICADOR UNIDADE VALOR CALCULADO 56,61 2,02 277.275,14 16,69

Taxa Interna de Rendibilidade (TIR) Perodo de Recuperao do Capital (PRC) Valor Actual Lquido (VAL) Ponto Morto (PM) VII. FONTES DE FINANCIAMENTO PROPOSTAS A serem definidas VIII. BENEFCIOS DO PROJECTO

% ANOS US$ %

A agroindstria aqui caracterizada dever absorver a produo de vrios agricultores familiares, gerando emprego e renda na rea rural. Recomenda-se sejam realizadas parcerias com agricultores independentes ou com agricultores associados, a fim de se assegurar pleno abastecimento de matria-prima. So os pequenos e mdios produtores os que na actualidade esto em capacidade de garantir grandes quantidades de produtos, apesar dos seus exguos rendimentos, mas estes podem hoje constituir entre 1,0 a 1,3 milhes de famlias. Tanto os grandes produtores, antigos fazendeiros e/ou agro-industriais como os novos fazendeiros angolanos que detm concesses de grandes extenses, esto descapitalizados e a quantidade de capital por eles requerida desproporcionalmente maior ao tipo de investimento requerido pelos pequenos produtores. Portanto afigura-se como opo a curto e mdio prazo a necessidade de se recapitalizar os pequenos e mdios produtores. Os comerciantes necessitam de capital de trabalho para reiniciar o seu negcio. O comerciante conhece e sabe por experincia prpria os problemas da rea rural e tambm o tipo de coisas precisas para o estmulo ao produtor alm do mesmo ser o agente bancrio que facilita crdito aos produtores na base da sua capacidade produtiva. Tanto o comerciante como o campons so parte do circuito e gozam de confiana mtua. Os comerciantes afirmam no haver campons que no cumpra com os seus compromissos creditcios ou econmicos e que os riscos pelos crditos que eles outorgam so baixos. Ao recapitalizar-se o comerciante rural, necessariamente vai-se recapitalizar o pequeno produtor, pois o primeiro o agente de crdito rural que lhe vai facilitar normalmente os bens de consumo e alguns dos instrumentos de trabalho a crdito aos produtores, os quais por sua vez vo pagar em espcie com parte da colheita por eles cultivada. A grande maioria dos comerciantes rurais est organizada em associaes, grmios e cmaras de comrcio e 14

indstria. Eles pretendem desenvolver uma estratgia para a reabilitao da rede comercial rural. IX. PROCEDIMENTOS PARA A IMPLEMENTAO

As pr-condies para a reactivao da economia rural passa necessariamente por:

Livre circulao de pessoas e bens. Uma estabilidade macro-econmica, e eliminao de altas taxas de inflao. Garantia da segurana no meio rural. Reabertura das vias de acesso. Reduo gradual do programa de emergncia e ajuda alimentar.

Aumento na taxa de investimentos do oramento geral do estado a ser destinado ao sector agrcola. Formulao duma poltica de desenvolvimento rural que seja favorvel ao desenvolvimento do pequeno e mdio campons. Descentralizao administrativa, econmica e poltica.

X. ASSISTNCIA TCNICA REQUERIDA A reestruturao das instituies de Investigao Agrcola, Assistncia Tcnica, Promoo Agrcola, Produo e Distribuio de Sementes e Crdito Rural em Angola, fundamental como suporte prtica de uma agricultura tecnificada. A adaptao de tecnologia de pases com agricultura mais desenvolvida e com condies ambientais semelhantes devem ser adaptadas e absorvidas prioritariamente, como forma de ganhar tempo e baixar custos na absoro de tecnologia. Sugere-se ainda, a implantao de unidades agroindustriais pilotos para treinamento de mode-obra e qualificao de pessoal de nvel tcnico, inclusive para a manuteno dos equipamentos requeridos. Para ser competitiva em preo e em qualidade, a agroindstria dever voltar suas atenes para a produtividade e qualidade da cana-de-acar. Os principais factores de qualidade e produtividade da cana-de-acar so: variedades de cana, o local ou ambiente de cultivo, pragas e doenas e planejamento agrcola. O planejamento est relacionado com os aspectos de maturao da cana e disponibilidade quantitativa durante a safra, queima da cana (se for o caso), colheita, carregamento e transporte e com o a dimenso do canavial. 15

XI. QUESTES TEMTICAS E AES PROPOSTAS Recomendaes tcnicas mais completas devero resultar da aplicao de metodologia indicada para a elaborao de pacotes tecnolgicos para o cultivo da cana de acar e incorporar outras recomendaes especficas. Entretanto, recomenda-se ateno especial aos itens e aspectos seguintes: Prticas conservacionistas so importantes no cultivo da cana de acar e devem ser seguidas conforme recomendado. Deve-se proceder amostragem do solo para anlise qumica, para que seja realizada uma correta calagem e adubao. Algumas caractersticas convencionais de qualidade da cana so a pol, pureza, acares redutores, pH e acidez total. O teor e a pureza do acar (sacarose) na cana dependem e variam com diversos factores, tais como: condies de clima, fertilidade do solo, qualidade e propriedade da adubao, tratos culturais, variedade da cana e idade do canavial, entre outros. Desta forma, para obter maior rendimento, o produtor deve procurar plantar variedades de cana que atinjam o teor mximo de sacarose na poca do corte. H necessidade de se analisar os materiais disponveis e plantar, para cada regio, variedades de cana que sejam precoces (maturao mais cedo), intermedirias e tardias, para que o perodo de safra possa ser estendido e obter matria-prima de qualidade (teor elevado de sacarose) ao longo de toda a safra. No controle de produo deve-se estar atento para a produtividade da cana-deacar, em termos de sacarose por rea plantada (kg de sacarose/hectare, por exemplo), talvez mais do que toneladas de cana por hectare. Na produo artesanal, assim como na pequena indstria da cana-de-acar de modo geral, os produtores tm dado preferncia para variedades de cana que, entre outras caractersticas, apresentem facilidade de despalha (remoo da palha), durante o corte, j que a queima da cana, antes do corte, no recomendada. Tambm importante evitar as variedades com alto ndice de florescimento logo antes da maturao, pois perdem muito acar e aumentam a quantidade de fibras, prejudicando a eficincia da moagem. As variedades de cana classificadas como precoces, so apropriadas para o processamento no comeo da safra. 16

O perodo de colheita longo, at 120 dias. As variedades consideradas de ciclo intermedirio apresentam um perodo de colheita de 90 a 120 dias, do ponto de maturao at o incio do declnio do teor de acar (sacarose). As variedades de ciclo tardio tm um perodo de colheita mais curto, cerca de 90 dias, coincidindo com o final da safra. Como mencionado anteriormente, a escolha das variedades a serem plantadas factor preponderante para o sucesso do empreendimento. Um aspecto de grande importncia para a elaborao da rapadura a uniformidade de maturao da cana. A cana deve ser cortada quando estiver no pico de sua maturao, teor mximo de sacarose e mnimo de acares simples (redutores), pois estes no cristalizam, prejudicando o rendimento, alm de afetar o sabor (qualidade sensorial) dos produtos. O mercado consumidor angolano apresenta um grande potencial de procura para a produo de sub produtos da cana de acar e qualquer deciso de governo que tenha por objectivo fixar o homem no campo praticando agricultura sustentvel, dever associar o emprego de tecnologia x educao x utilizao das potencialidades oferecidas ambientalmente pelo pas. XII. RISCOS POSSVEIS Ao se implantar uma actividade agro-industrial para o processamento de cana de acar, devero ser observados importantes factores, tais como: produo da matria-prima, distncia da unidade agroindustrial fonte de matria-prima, fluxo do processo operacional, linha de equipamentos e utenslios e controle de qualidade da matria-prima e do produto final. Os riscos de insucesso estaro associados como em qualquer outra actividade, e dependero basicamente dos efeitos da poltica agrcola, econmica, fiscal e financeira definidas pelas autoridades governamentais. A agroindstria aqui caracterizada dever estar prxima produo da matria-prima, sendo que, de preferncia, absorva a produo de vrios agricultores familiares associados. O fornecimento garantido de matria-prima de fundamental importncia para a vitalidade da agroindstria.

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A seguir relacionam-se os principais pontos que devem ser levados em considerao na escolha do local a ser implantada a agroindstria, para que sejam evitados possveis riscos ao empreendimento: o potencial de obteno da matria-prima na regio deve ser superior procurada suprimento de gua confivel e de boa qualidade (potvel); fornecimento suficiente de energia elctrica , sem interrupo; disponibilidade de mo-de-obra, incluindo pessoal de nvel tcnico; ausncia de contaminantes de qualquer espcie nos arredores da agroindstria; infra-estrutura rodoviria em condies de uso e de fcil acesso; fbrica projetada e possibilitar futuras expanses na produo;

disponibilidade de rea suficiente para implantao da agroindstria e uma futura expanso. Apndice 1: Mapa da rea do Projecto:

Provncias produtoras de cana de acar: Benguela, Cunene, Huila e Malanje

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