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ano três | nº 24 | julho / agosto 2011 | R$ 10,00 www.plurale.com.br AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE ÉTICA, EM CONEXÕES PLURALE A OBRA SOCIAL DE MARGARETH MENEZES HIDRELÉTRICAS E SUSTENTABILIDADE FOTO DE EFRAIM NETO, CATARATAS DO IGUAÇU - PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU - PR

plurale em revista ed.24

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plurale em revista ed.24

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ano três | nº 24 | julho / agosto 2011 | R$ 10,00

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

ÉTICA,EM CONEXÕES PLURALE

A OBRA SOCIAL DE MARGARETH MENEZES HIDRELÉTRICAS E

SUSTENTABILIDADE

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 20114

34.FÁBRICA

CULTURAL:A OBRA SOCIAL DE MARGARETH

MENEZES

PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTA Julho/Agosto 20114

Conte xto

VIDA SAUDÁVEL

43CARBONO NEUTRO

64CINEMA VERDE

65

PELO BRASIL

38

4

52.INHOTIM: ETERNA BIENAL EM JARDINS BABILÔNICOS

22.HIDRELETRICIDADE E SUSTENTABILIDADE:

BAZAR ÉTICO47.

CONEXÕES PLURALE:14.

ECOLOGIA, ESPIRITUALIDADE E ÉTICA

34.34.

PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 20114

Foto: EFRAIM NETO

Foto: RAQUEL RIBEIRO

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 20116

Editorial

Como jornalistas especializados em Economia, Negó-cios e Finanças, por muitos anos cobrimos os princi-pais acontecimentos do cenário econômico brasileiro. Acompanhamos de perto várias crises e também mo-

mentos históricos como a abertura do mercado, assim como con-quistas em termos de grau de investimento e também de merca-dos externos.

Quando começamos o projeto Plurale, há quatro anos, sabí-amos dos imensos desafi os, mas também estávamos certos que teríamos muito que contar sobre a transformação por conta da migração para uma economia sustentável: no Brasil e no mundo. E fomos premiados pelo imenso e caloroso apoio não só da equi-pe aguerrida, mas também de parceiros e apoiadores confi antes na nossa proposta.

Foi com muito orgulho que recebemos, no fi m de julho, em concorrida solenidade, o Selo de Certifi cação 2011-1012, Padrão IBEF de Sustentabilidade. Criado este ano pelo Insti-tuto Brasileiro de Executivos de Finanças – entidade renomada que reúne vários especialistas na área fi nanceira, em empresas, bancos e consultorias – esta premiação visa valorizar cases de empresas que se destacam pela adoção de práticas sustentáveis. Cinco corporações ganharam os prêmios em cada categoria – Canal Futura, Confederação Brasileira de Vôlei, CPFL Energia, Grupo Pão de Açúcar e Previ –, assim como 10 fi nalistas rece-beram o selo de certifi cação. Plurale fi cou nesta seleta lista de fi nalista, junto a outras companhias renomadas como Banco do Brasil, Cedae e Coelce. Anteriormente, Plurale já havia sido premiada por duas vezes. Estes reconhecimentos e também do

Carlos Franco e Sônia Araripe, Editores de Plurale

em revista e Plurale em site

público leitor nos aumentam o desafi o e nos dão força para conti-nuar na direção planejada.

Nesta edição 24, trazemos alguns temas bem relevantes ao diálo-go sobre Sustentabilidade. O professor Roberto Patrus-Pena nos brinda com profundo artigo sobre Ecologia, Espiritualidade e Ética. Este é o segundo da nova seção Conexões Plurale, que, no espaço de quatro páginas, objetiva sempre aprofundar a refl exão. Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco e Da-rio Menezes, Diretor de Novos Negócios do Reputation Institute e professor da ESPM-RJ, também fazem análises valiosas em artigos.

A repórter Nícia Ribas esteve no sertão baiano para conhe-cer projeto que incentiva a educação e gera desenvolvimento local através da criação de caprinos. Da Bahia, Tom Correia, parceiro da Revista Grauçá, nos apresenta o belo projeto social da cantora Margareth Menezes. Raquel Ribeiro visitou Inho-tim, arte e cultura, museu magnífi co localizado em Brumadinho (MG). Estivemos ainda em Foz do Iguaçu (PR), acompanhando importante seminário internacional sobre Hidreletricidade e Sustentabilidade. Aproveitamos para visitar projeto socioam-biental mantido por Itaipu, nos municípios em torno da usina. Efraim Neto presenteia os leitores com imagens deslumbran-tes de Sete Quedas, no Parque Nacional do Iguaçu.

Da Argentina, a correspondente Aline Gatto Boueri conta como é delicioso andar pelas ruas de Buenos Aires de bicicle-ta. E ainda de mais longe, da Austrália, Mônica Pinho mostra campanhas geniais e engajadas de solidariedade. Tudo isso e muito mais. Especial para você e todos os que acompanham e gostam de Plurale.

A certifi cação foi entregue pelo presidente do IBEF-Nacional, Sergio Melo (D), em concorrida solenidade, para Carlos Franco, um dos diretores de Plurale

Foto: Luciana Tancredo/Plurale

Novo reconhecimento para Plurale

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Diretores

Carlos [email protected]

Sônia Araripe [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.br

Plurale em site no twitter:http://twitter.com/pluraleemsite

Comercial

[email protected]

ArteSeeDesignMarcos Gomes e Marcelo Tristão

Fotografi aLuciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto);

Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionaisAna Cecília Vidaurre, Geraldo Samor,

Isabel Capaverde, Isabella Araripe

(estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima

e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato(Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta ediçãoDario Menezes, Denise Hills, Edmilson Oliveira da Silva, Efraim Neto, Janaína Salles, Katarine Almeida, Laura Lima, Mônica Pinho, Newton Medeiros, Quasar Imagem, Raquel Ribeiro, Roberto Patrus-Pena e Tom Correia.

Plurale é a uma publicaçãoda SA Comunicação Ltda(CNPJ 04980792/0001-69)Impressão: WalPrint

Revista impressa em papel reciclável

Plurale em revista foi impressa em papel certifi ca-do, proveniente de refl orestamentos certifi cados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

São Paulo | Alameda Barros, 122/152CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidos comautorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

CartasQuem faz

Plurale em revista, Edição 23

“Prezada Sônia, agradeço-lhe a gentileza de enviar-me um exemplar da Edição 23 de Plurale em revista, que apreciei muito. Aproveito a ocasião para cumprimentá-la, bem como a sua equipe, pelo trabalho elaborado e cuidadoso e pela eleição do importante e oportuno tema dessa edição especial da revista. Cordialmente,Murilo Ferreira, Diretor-Presidente da Vale

“Em nome do presidente Liszt Vieira, gostaríamos de agradecer a bela foto publicada na Edição 23, de Paulo Lima, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aproveitamos para cumprimentar toda a equipe pelo belo trabalho apresentado a cada edição”Cláudia Rabelo Lopes, assessora de imprensa do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

“Gostaria de cumprimentar toda a equipe da revista pelo alto nível das matérias apresentadas na Edição 23 e especialmente, pelo belíssimo texto da querida professora Patrícia Almeida Ashley, uma brasileira que sabe como ninguém desatar os nós da gestão da responsabilidade social organizacional. Obrigada pelo incentivo ao povo brasileiro!”Ana Júlia Ramos, Pesquisadora e Coordenadora da Gestão da Responsabiliade Social - NBR 16001 do Inmetro, Rio de Janeiro

“Parabéns à Equipe de Plurale pela nova seção Conexões Plurale, que estreou com profundo artigo da Professora Patrícia Almeida Ashley, sobre sustentabilidade. Que venham muitos outros de autores também tão renomados quanto à Professora.”André Luiz Costa, gestor ambiental, São Paulo, SP

“A edição 23 da revista está muito interessante. Li a matéria de Ruanda e achei incrível o modo como a jornalista Vivian Simonato descreveu a vivência dela e interessante perceber que estamos tão distantes e tão próximos deste país: seja no meio da África, ou em alguma região do Brasil há o ser humano lutando pela vida, tendo como alicerce a esperanca. Achei muito interessante também a matéria do correspondente nos EUA Wilberto Lima Jr. - Um gerador mais leve que o ar - indicando que há muito a ser feito e muitas ideias boas estão surgindo para o melhor aproveitamento na geração de energia. Parabéns pela edição! Eduardo Galeazzo, pela internet

“Gostaria de ratificar aqui a belíssima matéria feita por Vivian Simonato, correspondente de Plurale na

Irlanda, sobre Ruanda. É impressionante a emoção, a veracidade e o envolvimento, mantido por ela do início ao fim da matéria, ao leitor. A riqueza de detalhes singulares e norteadores só confirmam a amplitude que é este país marcado pelo sofrimento e alegria de sobreviver dentro de um contexto tão grotesco e mutilante. Gostaria de parabenizar a equipe de Plurale em revista e, especialmente, Vivian Simonato pela oportunidade de ver, ler e compartilhar o sentimento humano desse povo africano.”Linalva Cunha, do Maranhão

“Quero dar os parabéns pela edição 23. As fotos da Chapada Diamantina, de Sidney Gouveia, estão lindas, lindas. Deu uma saudade da Bahia... E a matéria de Ruanda, da Vivian Simonato, está impressionante. Parabéns pra Vivian! Estou bem acompanhada na seção na Pelo Mundo!”Aline Gatto Boueri, de Buenos Aires, Argentina

“Muito obrigada pela matéria de Paulo Lima sobre o evento Viva a Mata na qual fomos entrevistados”Ângela, Severino e Emanuelle Righetti, microempresários, Vila Velha, ES

“Excelente a matéria de Paulo Lima “A festa da fl oresta”. Também visitei o Viva a Mata 2011 e fi quei deslumbrado com o que vi. A diferença é que o jornalista conseguiu colocar sentimentos nas entrelinhas, principalmente quando fala do Projeto de Cordel. Eu lembro que fi quei um tempão ouvindo o Elielson e fi quei a perguntar: meu Deus, como tem gente boa e capaz nesse nosso Brasil. O Elielson me encantou e creio que tenha encantado a todos que o ouvia... Parabéns para o jornalista Paulo Lima.”Pedro Paulo Carneiro, pela Internet

“A equipe do IPEMA gostaria de agradecer imensamente a divulgação de nosso trabalho e parceiros na Edição 23 na reportagem sob o título “Projeto Juçara recupera palmeira da Mata Atlântica.”Coordenação do Projeto Ipema, Ubatuba, SP

“Agradecemos a divulgação do trabalho da Ofi cina Toque de Mão na seção Bazar Ético da última edição”Equipe da Ofi cina Toque de Mão, Rio de Janeiro, RJ

“Agradeço o carinho e a matéria “Alexia abre o baú do exílio de Caetano”, por Maria Helena Malta, na Edição 23. Adoramos”Alexia Bomtempo, cantora, Rio de Janeiro

“Agradecemos a ótima matéria sobre restaurantes ecologicamente corretos, de Letícia Koeler. Ficou muito boa!”Ricardo Stern, empresário, Rio de Janeiro, RJ

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTEano três | nº 23 | maio / junho 2011 | R$ 10,00

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ESPECIALMEIO

AMBIENTE

ESTREIA:CONEXÕES

PLURALE

RUANDA: 17 ANOS DEPOIS

DO GENOCÍDIO, A VIDA HOJE

PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2011 4

34. FÁBRICA CULTURAL:

A OBRA SOCIAL DE MARGARETH

MENEZES

PLURALE EM REVISTA | EM REVISTA | EM REVISTAJulho/Agosto 2011 4

Contexto

VIDA SAUDÁVEL

43CARBONO NEUTRO

64CINEMA VERDE

65

PELO BRASIL

38

4

52. INHOTIM: ETERNA BIENAL EM JARDINS BABILÔNICOS

22. HIDRELETRICIDADE E SUSTENTABILIDADE:

BAZAR ÉTICO 47.

CONEXÕES PLURALE: 14. ECOLOGIA,

ESPIRITUALIDADE E ÉTICA

PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2011 4

Foto: EFRAIM NETO

Foto: RAQUEL RIBEIRO

55

Diretores

Carlos [email protected]

Sônia Araripe [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.br

Plurale em site no twitter:http://twitter.com/pluraleemsite

Comercial

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ArteSeeDesignMarcos Gomes e Marcelo Tristão

Fotografi aLuciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto);

Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionaisAna Cecília Vidaurre, Geraldo Samor,

Isabel Capaverde, Isabella Araripe

(estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima

e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato(Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta ediçãoDario Menezes, Denise Hills, Edmilson Oliveira da Silva, Efraim Neto, Janaína Salles, Katarine Almeida, Laura Lima, Mônica Pinho, Newton Medeiros, Quasar Imagem, Raquel Ribeiro, Roberto Patrus-Pena e Tom Correia.

Plurale é a uma publicaçãoda SA Comunicação Ltda(CNPJ 04980792/0001-69)Impressão: WalPrint

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“Em nome do presidente Liszt Vieira, gostaríamos de agradecer a bela foto publicada na Edição 23, de Paulo Lima, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aproveitamos para cumprimentar toda a equipe pelo belo trabalho apresentado a cada edição”Cláudia Rabelo Lopes, assessora de imprensa do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

“Gostaria de cumprimentar toda a equipe da revista pelo alto nível das matérias apresentadas na Edição 23 e especialmente, pelo belíssimo texto da querida professora Patrícia Almeida Ashley, uma brasileira que sabe como ninguém desatar os nós da gestão da responsabilidade social organizacional. Obrigada pelo incentivo ao povo brasileiro!”Ana Júlia Ramos, Pesquisadora e Coordenadora da Gestão da Responsabiliade Social - NBR 16001 do Inmetro, Rio de Janeiro

“Parabéns à Equipe de Plurale pela nova seção Conexões Plurale, que estreou com profundo artigo da Professora Patrícia Almeida Ashley, sobre sustentabilidade. Que venham muitos outros de autores também tão renomados quanto à Professora.”André Luiz Costa, gestor ambiental, São Paulo, SP

“A edição 23 da revista está muito interessante. Li a matéria de Ruanda e achei incrível o modo como a jornalista Vivian Simonato descreveu a vivência dela e interessante perceber que estamos tão distantes e tão próximos deste país: seja no meio da África, ou em alguma região do Brasil há o ser humano lutando pela vida, tendo como alicerce a esperanca. Achei muito interessante também a matéria do correspondente nos EUA Wilberto Lima Jr. - Um gerador mais leve que o ar - indicando que há muito a ser feito e muitas ideias boas estão surgindo para o melhor aproveitamento na geração de energia. Parabéns pela edição! Eduardo Galeazzo, pela internet

“Gostaria de ratificar aqui a belíssima matéria feita por Vivian Simonato, correspondente de Plurale na

Irlanda, sobre Ruanda. É impressionante a emoção, a veracidade e o envolvimento, mantido por ela do início ao fim da matéria, ao leitor. A riqueza de detalhes singulares e norteadores só confirmam a amplitude que é este país marcado pelo sofrimento e alegria de sobreviver dentro de um contexto tão grotesco e mutilante. Gostaria de parabenizar a equipe de Plurale em revista e, especialmente, Vivian Simonato pela oportunidade de ver, ler e compartilhar o sentimento humano desse povo africano.”Linalva Cunha, do Maranhão

“Quero dar os parabéns pela edição 23. As fotos da Chapada Diamantina, de Sidney Gouveia, estão lindas, lindas. Deu uma saudade da Bahia... E a matéria de Ruanda, da Vivian Simonato, está impressionante. Parabéns pra Vivian! Estou bem acompanhada na seção na Pelo Mundo!”Aline Gatto Boueri, de Buenos Aires, Argentina

“Muito obrigada pela matéria de Paulo Lima sobre o evento Viva a Mata na qual fomos entrevistados”Ângela, Severino e Emanuelle Righetti, microempresários, Vila Velha, ES

“Excelente a matéria de Paulo Lima “A festa da fl oresta”. Também visitei o Viva a Mata 2011 e fi quei deslumbrado com o que vi. A diferença é que o jornalista conseguiu colocar sentimentos nas entrelinhas, principalmente quando fala do Projeto de Cordel. Eu lembro que fi quei um tempão ouvindo o Elielson e fi quei a perguntar: meu Deus, como tem gente boa e capaz nesse nosso Brasil. O Elielson me encantou e creio que tenha encantado a todos que o ouvia... Parabéns para o jornalista Paulo Lima.”Pedro Paulo Carneiro, pela Internet

“A equipe do IPEMA gostaria de agradecer imensamente a divulgação de nosso trabalho e parceiros na Edição 23 na reportagem sob o título “Projeto Juçara recupera palmeira da Mata Atlântica.”Coordenação do Projeto Ipema, Ubatuba, SP

“Agradecemos a divulgação do trabalho da Ofi cina Toque de Mão na seção Bazar Ético da última edição”Equipe da Ofi cina Toque de Mão, Rio de Janeiro, RJ

“Agradeço o carinho e a matéria “Alexia abre o baú do exílio de Caetano”, por Maria Helena Malta, na Edição 23. Adoramos”Alexia Bomtempo, cantora, Rio de Janeiro

“Agradecemos a ótima matéria sobre restaurantes ecologicamente corretos, de Letícia Koeler. Ficou muito boa!”Ricardo Stern, empresário, Rio de Janeiro, RJ

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ad

e

Participe do Limpa Brasil Let’s do it!, um movimento decidadania e cuidado com o meio ambiente que pretende incentivar a mudança de atitude em relação aos resíduos sólidos.Seja você também catador por um dia e ajude a limpar sua cidade. Chega de lixo fora do lixo! Inscreva-se no site limpabrasil.com

Foto

: Lúc

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unha

Chico Buarque, músico e escritor, fotografado por Cesar Netto.

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Participe do Limpa Brasil Let’s do it!, um movimento decidadania e cuidado com o meio ambiente que pretende incentivar a mudança de atitude em relação aos resíduos sólidos.Seja você também catador por um dia e ajude a limpar sua cidade. Chega de lixo fora do lixo! Inscreva-se no site limpabrasil.com

Foto

: Lúc

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Chico Buarque, músico e escritor, fotografado por Cesar Netto.

PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201112

O mineiro Alberto Santos Dumont (Palmira, 20 de julho de 1873 – Guarujá, 23 de julho de 1932) é o ponto de partida do livro “Toneladas sobre os ombros”, de Ernesto Cavasin Neto, pelas inovações com as quais contribuiu para a histó-

ria da humanidade e muitas delas inspiradoras de práticas sustentáveis.A casa de Santos Dumont em Petrópolis, na região serrana do Rio de

Janeiro, é um bom exemplo. Não tinha cozinha, pois o aviador detesta-va desperdício e encomendava as refeições num antigo hotel que fi ca ao lado da Encantada, nome que deu a sua própria casa, onde os móveis eram, já naquela época multifuncionais, a cama que serve também de baú, o balde com aquecimento para os banhos, com quantidade limitada de água, num uso consciente do recurso, a sala com mesa, em formato de asa delta, que ocupa os cantos e tudo de forma muito limpa e possibilitando a melhor ocupação do espaço.

O homem que conquistou em 1901 o Prêmio Deutsch quando com o dirigí-vel de número 6 conseguiu contornar a Torre Eiffel em Paris provou ao mundo que os balões poderiam, mais leves que o ar atmosférico, serem pilotados e co-mandados pelo homem. De quebra, com a colaboração do amigo parisiense Cartier, criou o relógio de pulso, pois na época todos eram de bolso e ele precisa ter o controle horário de tudo.

Inovador, o homem que entrou para a história como pai da aviação, sempre teve um estilo de vida sustentável.

Na Encantada, tinha apenas três cabides no minúsculo guarda-roupas, sempre comprava uma roupa no lugar para onde ia e doava aquela que fi cava para trás a quem precisava. Para Dumont, era exagero o homem ter várias roupas e assim, modestamente, estava sempre na moda, sempre com um terno novo substituindo o antigo. Em viagens, acreditava que bastava uma mala de mão, até para não sobrepor peso.

É esse aviador, por suas ideias avançadas para a época que costura o livro de Cavasin como prova de que, sim, é possível viver de forma sus-tentável. E, diga-se, viver muito bem, com conforto e qualidade de vida. (Carlos Franco)

anos, as pessoas trocaram as lâmpadas por lâmpadas mais econômicas, passaram pelo custo que a energia iria representar no orçamento a ter mais cuidado no gasto. Então, governos e empresas passaram a apontar alternativas e a sociedade entendeu que deveria partici-par do problema naquele momento. É preciso ter esse tripé entre empresas-governos-cidadãos. O problema é que hoje as grandes discussões sobre clima e recursos hídricos ainda não envolvem o cidadão. Parece ter um hiato e esse caminho precisa ser encurtado. Quando isso ocorrer, haverá mais equilíbrio.

Plurale – Tem também a questão dos países ri-cos e pobres, que cria um fosso, pois os ricos já con-sumiram todas as reservas de recursos e os pobres ainda estão distantes dos padrões de consumo.

Cavasin Neto – Ninguém vai poder dizer que se você não teve um carro, agora não terá mais. A situação passa por outro caminho, o da oferta de serviços públi-cos de maior qualidade, o da cobrança de pedágios para tráfego de veículos em locais saturados, estimulando o transporte público, por exemplo. A questão dos países pobres passa por políticas de inclusão. Não se pode negar as conquistas tecnológicas a nenhum cidadão em nenhum lugar do mundo. Santos Dumont mesmo projetou o avião para que todos pudessem voar, mas se não ousasse não teria tirado os pés do chão. É preciso ousar para levar conforto com equilíbrio a todos. Não se pode condenar às cavernas cidadãos que vivem em países pobres para que os que vivem em países ricos possam ter a luz. É preciso que todos saiam ganhando no novo cenário. Os países pobres por garantirem equi-líbrio climático e hídrico precisam ser compensados por aqueles que não têm mais essas reservas. Mas nada disso acontecerá se deixarmos sempre o cidadão para última hora, com as ações e decisões apenas nas mãos de governos e empresas. É preciso chamar o ator princi-pal para o palco do debate e é isso que pretendo alertar no livro, que espero cumpra essa função, uma vez que é resultado das percepções de quem tem se dedicado ao tema e participado dos mais diferentes fóruns globais. Existe futuro, mas ele começa hoje, nesse instante.

Entrevista

A casa encantada

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Estante Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS...?Vários autores, Organizado por Marilene de Paula, Editora Fundação Heinrich Böll, 152 págs, a distribuição é gratuita e os interessados podem solicitar exemplares pelo e-mail [email protected] ou acessar a publicação em PDF em www.boell.org.br

Em 2002, a chegada ao poder do PT e de seus aliados foi acompanhada com grande expectativa. O primeiro governo comprometido com os valores da esquerda brasileira subia a rampa do Planalto e possibilitava a abertura de um leque de inicia-tivas, que poderiam gerar profundas mudanças socioeconômicas. Lula chegou ao fi m de oito anos de mandato com recorde de po-pularidade, deixando como legado relativo crescimento econômico, baixa taxa de desemprego e reconhecimento do Brasil no exterior.Para avaliar esse período, a Fundação Heinrich Böll convidou nove especialistas a analisarem de forma contundente as políticas em-preendidas nas áreas de relações internacionais, economia, direitos humanos, e políticas ambiental, para as mulheres e de promoção da igualdade racial.O resultado foi o livro “‘Nunca antes na história desse país’...? Um balanço das políticas do governo Lula”, que traz uma cole-tânea de artigos com alguns dos acertos, avanços e retrocessos dessa gestão.

O TEMPO NÃO PARA - VIVA CAZUZALucinha Araújo, Editora Globo, 256 págs, R$ 39,00

Cazuza morreu em julho de 1990. Três meses depois, amigos montaram um tri-buto no Rio chamado “Viva Cazuza – faça parte desse show”, cuja renda seria doada

ao Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, referência em Aids naquela época. Quando Lucinha Araújo foi entregar o cheque, percebeu que sua atuação contra a doença não havia se en-cerrado com a morte do fi lho. Em “O tempo não para – Viva Cazuza”, ela conta como tomou a frente da ONG que dá supor-te a crianças e adolescentes portadores do HIV e qual era seu sentimento logo que a doença se tornou epidemia. A obra reúne histórias das crianças atendidas pela Sociedade Viva Cazuza, questionamentos da autora e depoimentos de pes-soas que cruzaram e deixaram impressões na vida do cantor. Lucinha diz que sentiu certo receio de dividir o livro com os ami-gos do fi lho, até porque “relações amorosas e de amizade são muito diferentes”, mas ela resolveu dar voz a alguns que têm do que recordar, como Ney Matrogrosso, Sandra de Sá, Frejat, Ezequiel Neves, Nilo Romero, George Israel e Serginho, “única pessoa com quem Cazuza teve um relacionamento duradouro”.

CARTAS DO RIORoberto Saturnino Braga, Grupo Editorial Record/Editora Record,192 págs, R$ 32,00

O romance epistolar de Roberto Sa-turnino Braga repensa o amor, inves-tigando-o por todos os seus ângulos. Desde a redenção pelo sexo — o gozo,

a delícia, o sopro de vida que o amor dá — até a culpa — a difícil administração do tesão, do desejo, da libido. Cartas do Rio é um livro do amor possível. Engenheiro de formação e político por vocação, após quase cin-quenta anos de política, Roberto Saturnino Braga disse-ca em Cartas do Rio a rotina de um casamento, como se abrisse a caixa-preta das relações amorosas.

Conhecido como Senador da República e ex-prefei-to da cidade do Rio de Janeiro, cargos importantes que exerceu em mais de cinco décadas de política, Satur-nino Braga é, também, um arguto observador da natu-reza humana. Talento que exercita em sua carreira de escritor, iniciada na juventude com dois livros de crôni-cas sobre a vida carioca. E retomada anos mais tarde, quando públicou outros três livros, nos quais defi niu sua atuação política e opção fi losófi ca. Aos 60 anos, retor-nou à literatura, e desde então escreveu vários livros de contos e um romance, O Quarteto, todos centrados em personagens e na geografi a do Rio de Janeiro.

MUITO ALÉM DA RESPONSABILIDADE SOCIAL - COMO PREPARAR A PRÓXIMA GERAÇÃO DE LÍDERESde Jeffrey Hollender e Bill Breen, Editora Campus-Elsevier, 240 págs, R$ 59,90

Neste livro, os autores pro-põem um roteiro para criar empresas fi nanceira, so-cial e ambientalmente sustentáveis. Com exemplos notórios de corporações que conseguiram atingir o grau máximo nesse novo modelo de negócios, tais como Nike, Timberland, eBay e IBM, cada capítulo traz modelos inspiradores e reais para criar a em-presa do futuro. Recheado de exemplos práticos e escrito numa linguagem didática, os autores expõem os conceitos básicos para uma empresa operar em maior harmonia com o meio ambiente. Esta obra é leitura essencial para líderes, gestores e empreeen-dedores de sucesso.

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sidera que a resposta para a origem da vida está dada de forma satisfa-tória. Para o fundamentalista, quem discordar dele está errado. Por isso, o fundamentalismo está de mãos dadas com a intolerância religiosa, com o moralismo e com a rigidez ética. Ele impede a compreensão da espiritualidade como a consciência do mistério.

As respostas para a origem da vida são construídas a partir do reco-nhecimento do mistério do mundo. Podemos entender, assim, a máxima socrática como ponto de partida da sabedoria fi losófi ca. Essa postura de humildade permite o diálogo com quem pensa diferente sobre algo de que ninguém pode ter certeza. E abre a perspectiva para que cada pessoa evite identifi car-se com o seu pensamento e a sua crença. A fi xa-ção no conhecimento ou na moral decorre do esquecimento de que tudo o que pensamos é uma mera construção humana para lidar com o sentimento de insegurança diante do abismo. Mesmo a ciência é um esforço de compreensão da reali-dade que não soluciona o mistério, ainda que amparado em métodos de maior rigor. Pobre do cientista que deixou de duvidar do conhecimento. Corre o risco de transformar-se em um fundamentalista acadêmico. O desamparo existencial é fonte de fé, sabedoria e ciência e, como tal, deve manter-se aberto ao mistério, a fi m de não aprisioná-lo em formulações científi cas ou apologéticas fechadas à contínua descoberta da verdade.

A consciência do mistério e a li-berdade humana de pensá-lo para li-dar com os perigos da vida permitem ao ser humano pensar a escolha de suas condutas com espiritualidade, condição para atuar eticamente com elevação. Com tal dimensão de espi-ritualidade, o ser humano é capaz de perceber que seus papéis sociais, sua profi ssão, seus bens não são a sua essência. Sabe do risco de identifi car-se com sua função como pai, mãe, professor, gestor, assistente social ou qualquer outro papel. E abre-se para

a possibilidade de exercer essa fun-ção sem que isso se torne parte de si mesmo. A ação será mais efi caz quanto mais o seu agente a execute em bene-fício dela mesma e não para acentuar a identidade do seu papel .

O indivíduo consciente de si mes-mo reconhece que seus pensamentos e crenças não são a sua identidade. Eti-

mologicamente, idem, do latim, signi-fi ca “o mesmo”. Identifi car-se com algo é, literalmente, fazer dele o mesmo que si próprio. Identifi car-se com o conhe-cimento ou com a moral seria a perda da dimensão da espiritualidade, porque reduziria o mistério ao dogma, seja da ciência, seja da religião. A abertura para o conhecimento do novo depende do exercício da dúvida metódica, postura impossível naquele que se identifi cou com o conhecimento ou com a moral. Em síntese, o mistério como abismo absoluto, impossível de ser conhecido, é a base da espiritualidade que permite o desapego, a humildade, a liberdade, o respeito ao pensamento divergente e uma mente aberta para a construção de um sistema aberto às novas contri-buições. (i)

O PRINCÍPIO ÉTICO

A ética é a refl exão sobre o que convém. Tem como objeto de refl e-xão a escolha de uma conduta con-siderada correta em detrimento de outras. A escolha é condição indis-pensável para se pensar a ética. Ela

envolve a liberdade da pessoa que toma a decisão de refl etir sobre a conduta que considera adequada.

A fi nalidade da ética é ser feliz. Como vivemos em comunidade, a infelicidade do outro pode nos preju-dicar. Daí o princípio altruísta de que para ser feliz é preciso fazer feliz. A feli-cidade é um estado de harmonia vivida

pela pessoa. Abrange o equilíbrio do seu corpo, a satisfação de suas neces-sidades de amor, poder e independên-cia, e a percepção de que a vida tem um sentido.

Para ser feliz, precisamos nos re-lacionar com os outros e com o meio em que vivemos. Embora cada um seja uma individualidade, separada dos outros e da natureza, o ser humano não vive só. Ele se relaciona com ou-tras pessoas. E não existiria como ser humano sem ambiente social. Três princípios traduzem a fi nalidade da ética: não se prejudicar; não prejudi-car o outro; e não deixar que o outro o prejudique. Esse triplo imperativo é condição para que o ser humano seja feliz e se realize como pessoa partícipe de grupos sociais.

Não se prejudicar implica cuidar da própria casa, isto é, do corpo e do planeta. O corpo, como morada do es-pírito, é a casa de si mesmo. O planeta também é casa do ser humano. Cuidar do corpo e do planeta são condições éticas inextrincáveis de quem se per-cebe hóspede. Constitui contradição

CONEXÕES PLURALE

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irrefutável defender as fl orestas do pla-neta e se permitir ser um fumante.

Não prejudicar o outro signifi ca ser capaz de vê-lo como alteridade a quem o respeito é fundamental. O pre-juízo ao outro por meio da agressão, do roubo, da exploração ou da humi-lhação demonstra a incapacidade do indivíduo de ver-se separado daquele a quem desrespeita. Nesses casos, pre-domina a identifi cação com o outro, como se ele fosse parte de si mesmo. O indivíduo parece alienado de que a vida é trabalho que lhe compete, por seu próprio esforço e responsabilida-de. Ele não consegue perceber a hu-manidade do outro.

Não deixar que o outro a prejudi-que signifi ca a capacidade da pessoa

algum mutilar-se, fazer voto de pobreza, ser niilista e permissivo. Cuidado com a “própria casa” não signifi ca recusar a “casa própria”.

A RELAÇÃO ENTRE OS 3 E’S E OS 3 P’S

O princípio ecológico prevê o cui-dado com o planeta, uma casa com-partilhada por hóspedes diversos. O princípio ético implica o respeito a si e ao outro. O princípio da espiritualidade exige a percepção do mistério e sua ce-lebração como possibilidade de trans-cendência. Em conjunto, os 3 E’s permi-tem ao indivíduo exercitar a compaixão, aceitar a realidade e colocar os seus talentos a serviço do aperfeiçoamento das pessoas e do mundo. Sua atuação ética será ao mesmo tempo ecológica porque contemplará o micro e o macro. Servir ao todo é servir a si mesmo. Aper-feiçoar-se é aperfeiçoar a dinâmica dos nossos relacionamentos, pedra angular da nossa atuação no mundo. Os 3 E’s se entrelaçam mutuamente.

Essa percepção da unidade entre os contrários - que preside a síntese entre os 3E’s - unifi ca as aparentes contra-dições entre o individual e o social, o princípio (valor deontológico) e o fi m (valor teleológico), a convicção e a uti-lidade. Ela é condição para se pensar a Ética nos Negócios como um campo de conhecimento não somente necessário como possível.

Do princípio ecológico extraímos a máxima de que a empresa é uma célula em um organismo social, em que tudo está interligado. Qualquer organização estabelece relação de interdependência com outras organizações e a sociedade em geral. Justamente por ser parte, é necessário evitar a intimidade e feste-jar a cerimônia com as outras partes – base do respeito. Como a empresa se relaciona com clientes, fornecedo-res, empregados, governo, acionistas, concorrência, e demais stakeholders, é fundamental para a empresa saber-se parte de um sistema. Essa é a base para a compreensão de relações do tipo ganha-ganha.

Da espiritualidade como princípio, extraímos a noção de que a vida não

é passível de ser conhecida na sua totalidade, o que exige do gestor a humildade de colocar-se em diálogo com os pares e públicos interessados para construir juntos a solução para os problemas da organização. Responsa-bilidade social implica relacionamento com os públicos afetados pela empre-sa, ou seja, criação de canais de comu-nicação, trabalho conjunto, efetivação de parceria e espírito de co-autoria em projetos comuns.

Da ética, deduzimos o princípio de que a conduta humana deve estar, em última análise, a serviço das pessoas. No campo dos negócios, essa premis-sa remete à humanização das relações com empregados, clientes, acionistas, fornecedores e demais públicos. Não podemos esquecer que tudo que en-volve a atuação nas empresas, como trabalho, dinheiro, relacionamentos, projetos e sonhos, está a serviço da fe-licidade humana. Se a ética empresarial tem como meta 3 P’s (em inglês, profi t –lucro-, people, planet), fi ca claro que a dimensão da pessoa (people) deve presidir as demais.

A felicidade se realiza em cada um. Quem cultiva a espiritualidade, sentin-do a presença do mistério dentro de si, abre-se ao encontro com o outro. As-sim, pode ver que a vida tem um sen-tido maior que nossa existência. Essa dimensão de transcendência ajuda a ser feliz. E contribui para fazer do tra-balho uma fonte de realização porque pelo no sentido.

(i) Este parágrafo e o seguinte fo-ram inspirados nas ideias dos dois pri-meiros capítulos do livro de TOLLE, Eckhart. Um novo mundo: o desper-tar de uma nova consciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

(*) Roberto Patrus-Pena ([email protected]) é colu-nista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. Filósofo, psicólogo, mestre em Ad-ministração e Doutor em Filosofi a. Professor, palestrante, psicotera-peuta, escritor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração da PUC Minas.

estabelecer limites para conviver. Se não faz sentido prejudicar o outro, é absolutamente sem lógica permitir que uma pessoa permita que alguém a prejudique. Não faz sentido amar ao próximo mais do que a si mesmo. A noção de espiritualidade implica de-sapego no sentido de reconhecer que o corpo, os bens, os pensamentos, as crenças e os valores da pessoa não são a pessoa. Isso não signifi ca de modo

A felicidade se realiza em cada um. Quem cultiva a espiritualidade, sentindo a presença do mistério dentro de si, abre-se ao encontro com o outro. Assim, pode ver que a vida tem um sentido maior que nossa existência.

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28644 - SONIA ARARIPE REVISTA PLURARE N24_MIOLO.job1º Caderno VERSO REVERSAO

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Chico Buarque, músico e escritor, fotografado por Cesar Netto.

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Texto: Carlos Franco, Editor de Plurale em RevistaDe São Paulo, Fotos: Divulgação

Ernesto Cavasin Neto, da PriceWaterhouseCoopers (PwC), expõe no livro “Toneladas sobre os ombros”, da Editora Schoba, os desafi os da sustentabilidade e de como as empresas se preparam, mas deixam de lado o principal agente transformador: o cidadão co-

mum, que pode até ser o dirigente da empresa. O especialista é presença constante nos fóruns globais de

sustentabilidade e em todas as reuniões promovidas pela Organi-zação das Nações Unidas sobre o tema. É que na PriceWaterhouse-Coopers (PwC), no Brasil, ele comanda a área de sustentabilidade, responsável por relatórios e negócios do setor – da própria mul-tinacional de auditoria e consultoria e também de seus clientes. Condutor de processos de venda de crédito carbono e focado em energia, Cavasin decidiu colocar em livro, mais que sua experiên-cia, um alerta para as empresas e governos.

“Muitos projetos deixam de lado o principal agente de transfor-mação que é o cidadão comum. Vejo em muitas empresas uma pre-ocupação crescente com práticas sustentáveis como a separação de lixo e a economia de energia, mas, o mesmo, muitas vezes, não se aplica nos ambientes externos onde empresários e funcionários da própria empresa interagem, como a própria residência”.

Entrevista

Quanto pesa o homem? É por quilo ou tonelada? Em entrevista à Plurale, autor do livro “Toneladas sobre os ombros” fala sobre a migração para a economia de baixo carbono

Ernesto Cavasin Neto, especialista em Sustentabilidade da PwC

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possível mudar o mundo, torná-lo um lugar melhor para nós e para as futuras gerações, mas é preciso começar já. Santos Dumont, por exemplo, aliou modernidade e conforto à práti-cas sustentáveis, como a sua casa na região serrana do Rio de Janeiro, em Petrópolis, a Encantada.

Plurale – Aliás, Santos Dumont costura os capí-tulos do seu livro.

Cavasin Neto – É justamente por isso. Ele foi um ino-vador, um homem bem à frente do seu tempo. Vivia com absoluto conforto, mas tinha uma visão clara de evitar des-perdícios. Sempre inovava no fi gurino, com poucas mudas de roupas, doando as que não usaria mais. Estava sempre preo-cupado em poupar recursos, para deles usufruir. Foi um im-

portante inovador, passou a entender do clima, das correntes de ar para poder voar e teve uma percepção clara de como os fenômenos naturais interferiam no seu negócio. Hoje, muitas empresas têm a clara percepção que é preciso avaliar clima, recursos hídricos, enfi m todos os insumos, para projetar o negócio, afi nal todos os recursos são fi nitos e muitas vezes alguns podem ser substituídos por outras fontes, mais lim-pas ainda que esse possa ter impacto sobre o preço. É aí que entra a fi gura do cidadão comum, do consumidor que tem que começar a fazer opções mais claras de como pretende viver hoje e que herança pretende deixar para as futuras ge-rações. As empresas que esgotam seus negócios acabam por não terem vida longa. Ninguém está dizendo que temos que parar o mundo, parar tudo e voltar ao passado, temos sim que seguir em frente, mas é preciso avaliar os riscos. Hoje, as consultorias avaliam riscos e cada vez mais estes terão peso nos negócios, no valor de mercado das empresas e naquilo que farão delas empresas inovadoras.

Plurale – Você fala muito em trazer o cidadão comum para o debate e as ações. Então como se pode fazer isso?

Cavasin Neto – Talvez o melhor exemplo venha das campanhas pela erradicação do gás CFC (clorofl uorcarbono). Nada teria acontecido se o cidadão comum não fosse conven-cido dos riscos do buraco na camada de ozônio e não optasse por refrigeradores, por exemplo, sem uso de gás CFC. Nesse momento, entrou em campo governos, empresas e consu-midores. Foi por isso que deu e continua dando resultados positivos. O consumidor entendeu que deveria trocar os refrigeradores, que representam risco ao meio ambiente e a sua saúde. Os governos deram incentivos fi scais para que as empresas investissem em tecnologia, o consumidor teve des-conto na troca e o mundo começou a erradicar o problema. É essa participação de todos que é essencial. Não precisa ir muito longe, quando do “apagão” da energia elétrica há dez

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Para Cavasin, sem sensibilizar e convencer o cidadão comum, no exercício e na prática cotidiana, muitos dos esforços de governos, organizações não-governamentais e empresas caem por terra. Mas como na caverna de Platão há luz no fi m do túnel, então faça-se a luz. E buscando deixar clara a discussão, tanto no livro, que acaba de ser lançado como nesta entrevista à Plurale em revista, que Ca-vasin vai dando o seu recado, com a simplicidade necessária para que o assunto mais que impregne a superfície chegue ao coração de todos, irrigando práticas cada vez mais sustentáveis. O executivo que assume o comando da PwC na Polônia fala nessa entrevista de como é possível irrigar ideias novas que levem à construção de um mundo melhor.

Plurale em revista – Mais um li-vro sobre sustentabilidade chega às livrarias, desta vez o seu, intitulado “Toneladas sobre os ombros – Quan-to pesa o homem? É por quilo ou tonelada?”, da Editora Schoba, ainda há o que explorar sobre o assunto?

Ernesto Cavasin Neto – As ques-tões relacionadas à sustentabilidade são profundamente dialéticas, há sempre uma novidade, uma forma nova de ver o mundo, o mesmo mundo com outro olhar, talvez mais crítico. Os fenômenos causados pelo impacto do homem ao meio ambiente vão tecendo um con-

junto de informações importantes com impactos nas ações de go-vernos e empresas, muitas afetadas em seu lucro por força dessas transformações e mexem também com o homem, mas o homem, o cidadão comum, ainda está muito distante do processo. Acom-panho fóruns globais há anos e várias soluções são adotadas, várias inovações são apresentadas, muitos governos e muitas empresas as adotam, começam a buscar práticas sustentáveis, mas não chegam ao chamado “chão da fábrica”, ao cidadão comum na sua prática di-ária com o ambiente em que vive. Então, muitos dos esforços caem

por terra. A sociedade vive de exemplos de cidadania, precisamos ter mais exemplos de uma relação com o ambiente, sem a perda da qualidade de vida e conforto. As discussões muitas vezes são radi-calizadas e o principal agente de transformação, o cidadão comum, acaba fi cando de lado. Há casos de empresários que adotam práticas de extrema sustentabilidade em suas empresas, mas não levam para dentro de casa, nos seus gestos mais cotidianos essas práticas a sé-rio. Economiza-se água, energia no ambiente do trabalho e esbanja os meus recursos em casa. É isso que temos que avaliar. Parafrase-ando a campanha presidencial de Barack Obama, eu diria, que sim é

“Santos Dumont foi um inovador, um homem à frente do seu tempo. Vivia com absoluto conforto, mas tinha uma visão clara de evitar desperdícios”

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O mineiro Alberto Santos Dumont (Palmira, 20 de julho de 1873 – Guarujá, 23 de julho de 1932) é o ponto de partida do livro “Toneladas sobre os ombros”, de Ernesto Cavasin Neto, pelas inovações com as quais contribuiu para a histó-

ria da humanidade e muitas delas inspiradoras de práticas sustentáveis.A casa de Santos Dumont em Petrópolis, na região serrana do Rio de

Janeiro, é um bom exemplo. Não tinha cozinha, pois o aviador detesta-va desperdício e encomendava as refeições num antigo hotel que fi ca ao lado da Encantada, nome que deu a sua própria casa, onde os móveis eram, já naquela época multifuncionais, a cama que serve também de baú, o balde com aquecimento para os banhos, com quantidade limitada de água, num uso consciente do recurso, a sala com mesa, em formato de asa delta, que ocupa os cantos e tudo de forma muito limpa e possibilitando a melhor ocupação do espaço.

O homem que conquistou em 1901 o Prêmio Deutsch quando com o dirigí-vel de número 6 conseguiu contornar a Torre Eiffel em Paris provou ao mundo que os balões poderiam, mais leves que o ar atmosférico, serem pilotados e co-mandados pelo homem. De quebra, com a colaboração do amigo parisiense Cartier, criou o relógio de pulso, pois na época todos eram de bolso e ele precisa ter o controle horário de tudo.

Inovador, o homem que entrou para a história como pai da aviação, sempre teve um estilo de vida sustentável.

Na Encantada, tinha apenas três cabides no minúsculo guarda-roupas, sempre comprava uma roupa no lugar para onde ia e doava aquela que fi cava para trás a quem precisava. Para Dumont, era exagero o homem ter várias roupas e assim, modestamente, estava sempre na moda, sempre com um terno novo substituindo o antigo. Em viagens, acreditava que bastava uma mala de mão, até para não sobrepor peso.

É esse aviador, por suas ideias avançadas para a época que costura o livro de Cavasin como prova de que, sim, é possível viver de forma sus-tentável. E, diga-se, viver muito bem, com conforto e qualidade de vida. (Carlos Franco)

anos, as pessoas trocaram as lâmpadas por lâmpadas mais econômicas, passaram pelo custo que a energia iria representar no orçamento a ter mais cuidado no gasto. Então, governos e empresas passaram a apontar alternativas e a sociedade entendeu que deveria partici-par do problema naquele momento. É preciso ter esse tripé entre empresas-governos-cidadãos. O problema é que hoje as grandes discussões sobre clima e recursos hídricos ainda não envolvem o cidadão. Parece ter um hiato e esse caminho precisa ser encurtado. Quando isso ocorrer, haverá mais equilíbrio.

Plurale – Tem também a questão dos países ri-cos e pobres, que cria um fosso, pois os ricos já con-sumiram todas as reservas de recursos e os pobres ainda estão distantes dos padrões de consumo.

Cavasin Neto – Ninguém vai poder dizer que se você não teve um carro, agora não terá mais. A situação passa por outro caminho, o da oferta de serviços públi-cos de maior qualidade, o da cobrança de pedágios para tráfego de veículos em locais saturados, estimulando o transporte público, por exemplo. A questão dos países pobres passa por políticas de inclusão. Não se pode negar as conquistas tecnológicas a nenhum cidadão em nenhum lugar do mundo. Santos Dumont mesmo projetou o avião para que todos pudessem voar, mas se não ousasse não teria tirado os pés do chão. É preciso ousar para levar conforto com equilíbrio a todos. Não se pode condenar às cavernas cidadãos que vivem em países pobres para que os que vivem em países ricos possam ter a luz. É preciso que todos saiam ganhando no novo cenário. Os países pobres por garantirem equi-líbrio climático e hídrico precisam ser compensados por aqueles que não têm mais essas reservas. Mas nada disso acontecerá se deixarmos sempre o cidadão para última hora, com as ações e decisões apenas nas mãos de governos e empresas. É preciso chamar o ator princi-pal para o palco do debate e é isso que pretendo alertar no livro, que espero cumpra essa função, uma vez que é resultado das percepções de quem tem se dedicado ao tema e participado dos mais diferentes fóruns globais. Existe futuro, mas ele começa hoje, nesse instante.

Entrevista

A casa encantada

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Estante Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS...?Vários autores, Organizado por Marilene de Paula, Editora Fundação Heinrich Böll, 152 págs, a distribuição é gratuita e os interessados podem solicitar exemplares pelo e-mail [email protected] ou acessar a publicação em PDF em www.boell.org.br

Em 2002, a chegada ao poder do PT e de seus aliados foi acompanhada com grande expectativa. O primeiro governo comprometido com os valores da esquerda brasileira subia a rampa do Planalto e possibilitava a abertura de um leque de inicia-tivas, que poderiam gerar profundas mudanças socioeconômicas. Lula chegou ao fi m de oito anos de mandato com recorde de po-pularidade, deixando como legado relativo crescimento econômico, baixa taxa de desemprego e reconhecimento do Brasil no exterior.Para avaliar esse período, a Fundação Heinrich Böll convidou nove especialistas a analisarem de forma contundente as políticas em-preendidas nas áreas de relações internacionais, economia, direitos humanos, e políticas ambiental, para as mulheres e de promoção da igualdade racial.O resultado foi o livro “‘Nunca antes na história desse país’...? Um balanço das políticas do governo Lula”, que traz uma cole-tânea de artigos com alguns dos acertos, avanços e retrocessos dessa gestão.

O TEMPO NÃO PARA - VIVA CAZUZALucinha Araújo, Editora Globo, 256 págs, R$ 39,00

Cazuza morreu em julho de 1990. Três meses depois, amigos montaram um tri-buto no Rio chamado “Viva Cazuza – faça parte desse show”, cuja renda seria doada

ao Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, referência em Aids naquela época. Quando Lucinha Araújo foi entregar o cheque, percebeu que sua atuação contra a doença não havia se en-cerrado com a morte do fi lho. Em “O tempo não para – Viva Cazuza”, ela conta como tomou a frente da ONG que dá supor-te a crianças e adolescentes portadores do HIV e qual era seu sentimento logo que a doença se tornou epidemia. A obra reúne histórias das crianças atendidas pela Sociedade Viva Cazuza, questionamentos da autora e depoimentos de pes-soas que cruzaram e deixaram impressões na vida do cantor. Lucinha diz que sentiu certo receio de dividir o livro com os ami-gos do fi lho, até porque “relações amorosas e de amizade são muito diferentes”, mas ela resolveu dar voz a alguns que têm do que recordar, como Ney Matrogrosso, Sandra de Sá, Frejat, Ezequiel Neves, Nilo Romero, George Israel e Serginho, “única pessoa com quem Cazuza teve um relacionamento duradouro”.

CARTAS DO RIORoberto Saturnino Braga, Grupo Editorial Record/Editora Record,192 págs, R$ 32,00

O romance epistolar de Roberto Sa-turnino Braga repensa o amor, inves-tigando-o por todos os seus ângulos. Desde a redenção pelo sexo — o gozo,

a delícia, o sopro de vida que o amor dá — até a culpa — a difícil administração do tesão, do desejo, da libido. Cartas do Rio é um livro do amor possível. Engenheiro de formação e político por vocação, após quase cin-quenta anos de política, Roberto Saturnino Braga disse-ca em Cartas do Rio a rotina de um casamento, como se abrisse a caixa-preta das relações amorosas.

Conhecido como Senador da República e ex-prefei-to da cidade do Rio de Janeiro, cargos importantes que exerceu em mais de cinco décadas de política, Satur-nino Braga é, também, um arguto observador da natu-reza humana. Talento que exercita em sua carreira de escritor, iniciada na juventude com dois livros de crôni-cas sobre a vida carioca. E retomada anos mais tarde, quando públicou outros três livros, nos quais defi niu sua atuação política e opção fi losófi ca. Aos 60 anos, retor-nou à literatura, e desde então escreveu vários livros de contos e um romance, O Quarteto, todos centrados em personagens e na geografi a do Rio de Janeiro.

MUITO ALÉM DA RESPONSABILIDADE SOCIAL - COMO PREPARAR A PRÓXIMA GERAÇÃO DE LÍDERESde Jeffrey Hollender e Bill Breen, Editora Campus-Elsevier, 240 págs, R$ 59,90

Neste livro, os autores pro-põem um roteiro para criar empresas fi nanceira, so-cial e ambientalmente sustentáveis. Com exemplos notórios de corporações que conseguiram atingir o grau máximo nesse novo modelo de negócios, tais como Nike, Timberland, eBay e IBM, cada capítulo traz modelos inspiradores e reais para criar a em-presa do futuro. Recheado de exemplos práticos e escrito numa linguagem didática, os autores expõem os conceitos básicos para uma empresa operar em maior harmonia com o meio ambiente. Esta obra é leitura essencial para líderes, gestores e empreeen-dedores de sucesso.

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ROBERTOPATRUS-PENA

Este ensaio é fruto das minhas in-quietações como professor de Ética, psicoterapeuta e cidadão preocupado com a preservação do planeta. Procurei pensar sobre a importância de saber-se provisório nesse mundo, fonte de refl exão sobre o mistério e da espiri-tualidade. A partir dessa ideia, procu-ro relacionar ecologia, espiritualidade e ética (os 3 E’s) com o propósito de oferecer ao leitor uma oportunidade de refl etir sobre si mesmo e sobre a quali-dade da sua militância em prol de um mundo melhor. Finalizo o artigo asso-ciando a temática dos 3E’s com a Ética nos Negócios, a partir da premissa de que o trabalho é um lócus privilegiado da nossa atuação para a construção de uma sociedade melhor. Devemos lutar por justiça e sustentabilidade. Mas po-demos fazê-lo com amor. E felizes.

o priNcípio ecolóGico

Nós somos hóspedes na vida. An-tes de nascer, habitamos um órgão muscular feminino, que acolheu a cada um como ovo fecundado. Expulsos do meio líquido do útero, fazemos da primeira inspiração do ar a origem de toda angústia que vamos sentir toda vez que o choque da novidade abalar o equilíbrio de nossa energia vital. So-mos hóspedes de um útero antes mes-mo de nascer.

Recebido com hospitalidade, ale-gria e deslumbramento, o novo ser precisa de um lugar para morar. E o rebento vai para uma casa que não é sua, mas dos pais ou daqueles que se dispuseram a criá-lo. Sua chegada é celebrada com visitas de amigos e fa-

miliares. Embora talvez nem saiba, o fi lho é hóspede na casa dos pais. Dor-me, come e vive em uma casa que não lhe pertence. Desconfi o que quanto maior a noção que uma pessoa tem de que a casa onde está não é sua, maior a chance de que ela se comporte com mais educação. Quem se sabe visita na casa alheia lida com os objetos e com o espaço do outro com maior cerimônia. Tende a preservar espaços íntimos, ar-

maior e não lhe pertence. A passagem de cada um de nós pela Terra um dia terá um fi m. E ela continuará receben-do outros hóspedes, quem sabe nossos fi lhos, netos, bisnetos... Quanto maior a consciência da pessoa de que a Terra é a grande casa que o hospeda provi-soriamente, maior a probabilidade que ela atue com educação ecológica. Tam-bém somos visita no planeta. A vida cir-cula e permanece. Nós passamos.

Ecologia, Espiritualidade, Ética: relacionando os 3 E’s com a Ética nos Negócios

mários, gavetas, a evitar a intimidade, enfi m. Somos visita na casa dos nossos pais. Mesmo morando na casa deles.

Pode ser que um dia o fi lho (ou a fi lha) deixe a casa paterna. Terá en-tão a sua própria casa, não importa se “casa própria” ou alugada. Ainda assim, o ser humano continua sendo hóspede na vida. O planeta é a sua casa

CONEXÕES PLURALE PLURALE

Da compreensão de que o ser hu-mano se acomoda provisoriamente no útero, na casa dos pais e no planeta, podemos deduzir um preceito bíblico: honrar pai e mãe. Esse mandamento signifi ca reverenciar a origem próxima, os pais - responsáveis primeiros pelo milagre da concepção – e a origem primeira, fonte do mistério maior que

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é a Criação. Quem não respeita pai e mãe está adormecido em relação ao mistério do mundo. Saber-se criatura permite ao ser humano ter humildade para reconhecer que os fenômenos da vida ultrapassam a capacidade huma-na de tomar consciência deles. Essa constatação possibilita o respeito a po-sições divergentes e facilita o diálogo entre religiosos, fi lósofos e cientistas de posições divergentes.

Desse preceito, deduzimos o prin-cípio ecológico de respeito ao planeta, como casa da qual somos visita em tempo provisório. Aliás, a palavra eco, do grego oîkos, signifi ca casa, habita-ção. Cuidar das fl orestas, rios, mares e da atmosfera terrestre é cuidar de nossa casa. Quem é incapaz de ver que a vida continua mesmo depois da própria morte, ilusão própria de um individualismo cego, é insensível à premência de preservar e manter as condições de vida da Terra.

Em síntese, a consciência de que somos hóspedes na vida permite a re-fl exão sobre o mistério do mundo e, ao mesmo tempo, a compreensão da ecologia como cuidado com a casa em que vivemos. Somos provisórios. Esta-mos de passagem.

a espiritualiDaDe como priNcípio

Hóspede no planeta, o ser huma-no é também hóspede do próprio corpo. À medida que envelhece, tem a chance de ver-se cada vez mais lúcido em um corpo cada vez menor para a grandeza da inspiração que um dia foi chamada de alma. Não somos o nos-so corpo. Essa ilusão, comum tanto a quem se sente belo quanto àquele que não gosta do seu corpo, é fonte de so-frimento, atual ou futuro. Ao contrário dos animais, que são o corpo, o ser humano tem um corpo.

A partir do momento em que o ser humano demonstra capacidade de abstração e consolida as mudan-ças fi siológicas que permitem a re-produção, ele já é capaz de compre-ender que o corpo é a casa do seu espírito, ou, para usar uma lingua-

gem laica, a casa da sua consciência, do seu pensamento sobre si mesmo, de sua refl exão. A velhice, entretanto, é a última oportunidade para que ele acabe com a ilusão de que é o seu cor-

A compreensão de que a vida é mistério é o fi o de Ariadne para pensar a relação entre ecologia, espiritualida-de e ética. Não é raro ver pessoas des-lumbradas com o nascimento de uma criança na família. A gravidez, o parto, o primeiro colo de um ser tão belo quanto indefeso são experiências que se apresentam ao ser humano como um mistério maravilhoso. Ocorre, po-rém, que cada um de nós é o mesmo mistério de um recém-nascido. Apenas crescemos. O arrebatamento diante da vida não acontece somente diante de um bebê que acaba de nascer. Ele se apresenta a qualquer momento. Sem-pre. Mas nem todas as pessoas estão atentas para o mistério da vida.

Não deveríamos precisar de even-tos extraordinários para lembrar que estamos vivos. Curiosamente, damo-nos conta do esplendor da vida e do espetáculo de existir quando estamos diante da morte ou diante de algo que nos pareça um milagre. O milagre (do latim miraculum, substantivo que sig-nifi ca prodígio ou fato extraordinário; e mirari, verbo que exprime admiração, espanto) é a manifestação de um fenô-meno fabuloso diante do qual nos sen-timos maravilhados. Existe fenômeno mais interessante do que a vida? Não é absolutamente estranho estarmos res-pirando (involuntariamente) em um planeta que se move no universo em meio a uma infi nidade de astros?

Vida é mistério. Mistério é não-sa-ber. Diante do não-saber, o ser huma-no sente angústia. Fica incomodado por não ter respostas para suas pergun-tas. Diante do abismo do não saber, o ser humano é convidado a construir os fundamentos. Assim, o ser humano inventa respostas. O vazio de respostas para o mistério da vida é condição de possibilidade para a liberdade huma-na. Se não houvesse o vazio, ninguém teria a liberdade de acreditar no que acredita. Seríamos obrigados a aceitar uma verdade pré-estabelecida, que recusa a possibilidade de outra versão. A isso chamamos fundamentalismo. O fundamentalismo recusa o mistério (e a angústia decorrente) porque con-

Não deveríamos precisar de eventos extraordinários para lembrar que estamos vivos. Curiosamente, damo-nos conta do esplendor da vida e do espetáculo de existir quando estamos diante da morte ou diante de algo que nos pareça um milagre.

po. A diminuição natural de algumas funções do seu corpo e a necessária adaptação às limitações próprias da idade permitem ao adulto velho pen-sar que seu corpo é uma casa frágil para um espírito cada vez mais livre. Se abençoado com a virtude da fé, pode valer-se dela para imaginar que também é hóspede do seu corpo. A partir daí, abre-se a possibilidade de viver com espiritualidade e perceber em cada gesto, palavra ou conduta a celebração do mistério da vida.

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sidera que a resposta para a origem da vida está dada de forma satisfa-tória. Para o fundamentalista, quem discordar dele está errado. Por isso, o fundamentalismo está de mãos dadas com a intolerância religiosa, com o moralismo e com a rigidez ética. Ele impede a compreensão da espiritualidade como a consciência do mistério.

As respostas para a origem da vida são construídas a partir do reco-nhecimento do mistério do mundo. Podemos entender, assim, a máxima socrática como ponto de partida da sabedoria fi losófi ca. Essa postura de humildade permite o diálogo com quem pensa diferente sobre algo de que ninguém pode ter certeza. E abre a perspectiva para que cada pessoa evite identifi car-se com o seu pensamento e a sua crença. A fi xa-ção no conhecimento ou na moral decorre do esquecimento de que tudo o que pensamos é uma mera construção humana para lidar com o sentimento de insegurança diante do abismo. Mesmo a ciência é um esforço de compreensão da reali-dade que não soluciona o mistério, ainda que amparado em métodos de maior rigor. Pobre do cientista que deixou de duvidar do conhecimento. Corre o risco de transformar-se em um fundamentalista acadêmico. O desamparo existencial é fonte de fé, sabedoria e ciência e, como tal, deve manter-se aberto ao mistério, a fi m de não aprisioná-lo em formulações científi cas ou apologéticas fechadas à contínua descoberta da verdade.

A consciência do mistério e a li-berdade humana de pensá-lo para li-dar com os perigos da vida permitem ao ser humano pensar a escolha de suas condutas com espiritualidade, condição para atuar eticamente com elevação. Com tal dimensão de espi-ritualidade, o ser humano é capaz de perceber que seus papéis sociais, sua profi ssão, seus bens não são a sua essência. Sabe do risco de identifi car-se com sua função como pai, mãe, professor, gestor, assistente social ou qualquer outro papel. E abre-se para

a possibilidade de exercer essa fun-ção sem que isso se torne parte de si mesmo. A ação será mais efi caz quanto mais o seu agente a execute em bene-fício dela mesma e não para acentuar a identidade do seu papel .

O indivíduo consciente de si mes-mo reconhece que seus pensamentos e crenças não são a sua identidade. Eti-

mologicamente, idem, do latim, signi-fi ca “o mesmo”. Identifi car-se com algo é, literalmente, fazer dele o mesmo que si próprio. Identifi car-se com o conhe-cimento ou com a moral seria a perda da dimensão da espiritualidade, porque reduziria o mistério ao dogma, seja da ciência, seja da religião. A abertura para o conhecimento do novo depende do exercício da dúvida metódica, postura impossível naquele que se identifi cou com o conhecimento ou com a moral. Em síntese, o mistério como abismo absoluto, impossível de ser conhecido, é a base da espiritualidade que permite o desapego, a humildade, a liberdade, o respeito ao pensamento divergente e uma mente aberta para a construção de um sistema aberto às novas contri-buições. (i)

o priNcípio ético

A ética é a refl exão sobre o que convém. Tem como objeto de refl e-xão a escolha de uma conduta con-siderada correta em detrimento de outras. A escolha é condição indis-pensável para se pensar a ética. Ela

envolve a liberdade da pessoa que toma a decisão de refl etir sobre a conduta que considera adequada.

A fi nalidade da ética é ser feliz. Como vivemos em comunidade, a infelicidade do outro pode nos preju-dicar. Daí o princípio altruísta de que para ser feliz é preciso fazer feliz. A feli-cidade é um estado de harmonia vivida

pela pessoa. Abrange o equilíbrio do seu corpo, a satisfação de suas neces-sidades de amor, poder e independên-cia, e a percepção de que a vida tem um sentido.

Para ser feliz, precisamos nos re-lacionar com os outros e com o meio em que vivemos. Embora cada um seja uma individualidade, separada dos outros e da natureza, o ser humano não vive só. Ele se relaciona com ou-tras pessoas. E não existiria como ser humano sem ambiente social. Três princípios traduzem a fi nalidade da ética: não se prejudicar; não prejudi-car o outro; e não deixar que o outro o prejudique. Esse triplo imperativo é condição para que o ser humano seja feliz e se realize como pessoa partícipe de grupos sociais.

Não se prejudicar implica cuidar da própria casa, isto é, do corpo e do planeta. O corpo, como morada do es-pírito, é a casa de si mesmo. O planeta também é casa do ser humano. Cuidar do corpo e do planeta são condições éticas inextrincáveis de quem se per-cebe hóspede. Constitui contradição

CONEXÕES PLURALE PLURALE

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irrefutável defender as fl orestas do pla-neta e se permitir ser um fumante.

Não prejudicar o outro signifi ca ser capaz de vê-lo como alteridade a quem o respeito é fundamental. O pre-juízo ao outro por meio da agressão, do roubo, da exploração ou da humi-lhação demonstra a incapacidade do indivíduo de ver-se separado daquele a quem desrespeita. Nesses casos, pre-domina a identifi cação com o outro, como se ele fosse parte de si mesmo. O indivíduo parece alienado de que a vida é trabalho que lhe compete, por seu próprio esforço e responsabilida-de. Ele não consegue perceber a hu-manidade do outro.

Não deixar que o outro a prejudi-que signifi ca a capacidade da pessoa

algum mutilar-se, fazer voto de pobreza, ser niilista e permissivo. Cuidado com a “própria casa” não signifi ca recusar a “casa própria”.

a relaÇÃo eNtre os 3 e’s e os 3 p’s

O princípio ecológico prevê o cui-dado com o planeta, uma casa com-partilhada por hóspedes diversos. O princípio ético implica o respeito a si e ao outro. O princípio da espiritualidade exige a percepção do mistério e sua ce-lebração como possibilidade de trans-cendência. Em conjunto, os 3 E’s permi-tem ao indivíduo exercitar a compaixão, aceitar a realidade e colocar os seus talentos a serviço do aperfeiçoamento das pessoas e do mundo. Sua atuação ética será ao mesmo tempo ecológica porque contemplará o micro e o macro. Servir ao todo é servir a si mesmo. Aper-feiçoar-se é aperfeiçoar a dinâmica dos nossos relacionamentos, pedra angular da nossa atuação no mundo. Os 3 E’s se entrelaçam mutuamente.

Essa percepção da unidade entre os contrários - que preside a síntese entre os 3E’s - unifi ca as aparentes contra-dições entre o individual e o social, o princípio (valor deontológico) e o fi m (valor teleológico), a convicção e a uti-lidade. Ela é condição para se pensar a Ética nos Negócios como um campo de conhecimento não somente necessário como possível.

Do princípio ecológico extraímos a máxima de que a empresa é uma célula em um organismo social, em que tudo está interligado. Qualquer organização estabelece relação de interdependência com outras organizações e a sociedade em geral. Justamente por ser parte, é necessário evitar a intimidade e feste-jar a cerimônia com as outras partes – base do respeito. Como a empresa se relaciona com clientes, fornecedo-res, empregados, governo, acionistas, concorrência, e demais stakeholders, é fundamental para a empresa saber-se parte de um sistema. Essa é a base para a compreensão de relações do tipo ganha-ganha.

Da espiritualidade como princípio, extraímos a noção de que a vida não

é passível de ser conhecida na sua totalidade, o que exige do gestor a humildade de colocar-se em diálogo com os pares e públicos interessados para construir juntos a solução para os problemas da organização. Responsa-bilidade social implica relacionamento com os públicos afetados pela empre-sa, ou seja, criação de canais de comu-nicação, trabalho conjunto, efetivação de parceria e espírito de co-autoria em projetos comuns.

Da ética, deduzimos o princípio de que a conduta humana deve estar, em última análise, a serviço das pessoas. No campo dos negócios, essa premis-sa remete à humanização das relações com empregados, clientes, acionistas, fornecedores e demais públicos. Não podemos esquecer que tudo que en-volve a atuação nas empresas, como trabalho, dinheiro, relacionamentos, projetos e sonhos, está a serviço da fe-licidade humana. Se a ética empresarial tem como meta 3 P’s (em inglês, profi t –lucro-, people, planet), fi ca claro que a dimensão da pessoa (people) deve presidir as demais.

A felicidade se realiza em cada um. Quem cultiva a espiritualidade, sentin-do a presença do mistério dentro de si, abre-se ao encontro com o outro. As-sim, pode ver que a vida tem um sen-tido maior que nossa existência. Essa dimensão de transcendência ajuda a ser feliz. E contribui para fazer do tra-balho uma fonte de realização porque pelo no sentido.

(i) Este parágrafo e o seguinte fo-ram inspirados nas ideias dos dois pri-meiros capítulos do livro de TOLLE, Eckhart. Um novo mundo: o desper-tar de uma nova consciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

(*) Roberto Patrus-Pena ([email protected]) é colu-nista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. Filósofo, psicólogo, mestre em Ad-ministração e Doutor em Filosofi a. Professor, palestrante, psicotera-peuta, escritor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração da PUC Minas.

estabelecer limites para conviver. Se não faz sentido prejudicar o outro, é absolutamente sem lógica permitir que uma pessoa permita que alguém a prejudique. Não faz sentido amar ao próximo mais do que a si mesmo. A noção de espiritualidade implica de-sapego no sentido de reconhecer que o corpo, os bens, os pensamentos, as crenças e os valores da pessoa não são a pessoa. Isso não signifi ca de modo

A felicidade se realiza em cada um. Quem cultiva a espiritualidade, sentindo a presença do mistério dentro de si, abre-se ao encontro com o outro. Assim, pode ver que a vida tem um sentido maior que nossa existência.

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Sustentabilidade: no ambiente financeiro

ArtigoDeniseHills

No contexto em que vivemos atualmente, com as cidades brasileiras cada vez mais inchadas – mais de 84% da população brasileira vive em zonas urbanas segundo o último censo do IBGE – e expansão da

economia, em que as projeções apontam um aumen-to de cerca de 4% em 2011, falar sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente não é mais assunto apenas para os ambientalistas. O crescimento das cidades e da econo-mia como um todo gera grandes impactos ambientais,

como maior emissão de gases, produção de lixo e degra-dação das matas, que afetam a todos, indistintamente.

Assim, a pauta sobre meio ambiente deve ser tema de discussão não somente no governo, mas também nas es-colas, nas empresas e na sociedade como um todo. Como atuo na área financeira, proponho-me a destacar qual é o papel das instituições financeiras.

É sabido que os bancos são viabilizadores econômicos de projetos de pequenas, médias e grandes empresas, seja por meio de investimentos ou financiamentos. E o desafio

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que temos pela frente é como ser um agente de transfor-mação viabilizando boas práticas socioambientais.

As instituições financeiras não têm o poder fiscaliza-dor, isso é função do governo, mas podem ser um agente catalisador, incentivando as empresas a inserirem aspec-tos socioambientais em sua gestão, nos seus projetos de expansão ou na construção de novas unidades. Identifi-car essas oportunidades é uma forma de estimular a sus-tentabilidade dos clientes e, ao mesmo tempo, inserir o tema no dia a dia dos negócios do banco.

Linhas de financiamento específicas, apuração de ris-cos socioambientais nas operações, seguros ambientais e análise socioambiental nos investimentos são algumas formas encontradas pelos bancos para influenciar sua cadeia de clientes e fornecedores, entretanto as institui-ções financeiras podem ir além.

Uma forma é dialogar com as empresas parceiras atuando como “advisory”, mostrando oportunidades de melhoria, especialmente para aquelas que estão pouco sensibilizadas ao tema. Entretanto, trata-se de um longo caminho, tanto para os bancos, quanto para as empresas, pois não basta ter um processo ou um produto. A linha de frente, a área comercial, tem que entender a impor-tância do tema, ter argumentos e conseguir identificar, assertivamente, como a empresa parceira minimiza seus impactos ambientais e sociais negativos.

Outra forma é potencializar companhias, no Brasil e no mundo, que pioneiramente estão desenvolvendo tecnologias e projetos diferenciados em prol do meio ambiente. Isso pode ser feito por meio de parcerias com universidades, fundos ou private equity ou por outras formas, dependendo da criatividade de cada ins-tituição financeira.

Os bancos europeus e alguns americanos estão na vanguarda desse movimento, inclusive alguns, traba-lhando de forma colaborativa. Goldman Sachs, Standard Chartered, JP Morgan e Triodos Bank são alguns exem-plos de bancos que lideram esse movimento.

As instituições financeiras estão buscando alternati-vas para promover a sustentabilidade nas empresas, mas não podemos esquecer que as organizações são feitas por pessoas, e são elas que farão a diferença! Incluir a sustentabilidade na tomada de decisões é reconhecer que a empresa está inserida num contexto que tem im-pactos sobre os negócios, mas sensibilizar e engajar os indivíduos é um investimento que todas as empresas de-vem fazer. Afinal de contas é a mudança de nosso padrão de consumo e de nossas atitudes que contribuirá para que desperdicemos menos os recursos naturais.

No camiNho certo

Recentemente, recebemos uma notícia que nos mostrou que estamos indo na trajetória correta. No dia 16 de junho, o Itaú Unibanco foi eleito, em Londres, o

Banco Mais Sustentável do Mundo no prêmio “2011 FT/IFC Sustainable Finance Awards”, concedido pelo jornal britânico Financial Times e pelo IFC (Internatio-nal Finance Corporation), braço financeiro do Banco Mundial. Esse reconhecimento comprova o foco na in-tegração da sustentabilidade de forma transversal nas áreas de negócio, reforçando nosso foco em perfor-mance sustentável. O Itaú Unibanco procura combinar consistente desempenho financeiro com atitudes que privilegiam a ética, a transparência no relacionamento com clientes, colaboradores, acionistas e comunidade. Estamos comprometidos com princípios sólidos de atrelar o tema aos negócios da organização.

Foi exatamente este o ponto destacado na premia-ção, o compromisso das instituições financeiras em tornar a sustentabilidade uma parte central de seus negócios. Especialmente neste setor, em que a ati-vidade em si não causa impactos ambientais diretos, mas que pode atuar de forma significativa. A análise de risco socioambiental para crédito como ferramenta estratégica de gestão de risco e na análise de inves-timentos, citada anteriormente, além de produtos in-clusivos como microcrédito e crédito universitário e o foco no relacionamento com o cliente foram aspectos essenciais apontados pela comissão julgadora para a concessão do reconhecimento ao banco.

A nova visão do Itaú Unibanco lançada em 2010 – ser o banco líder em performance sustentável e em sa-tisfação dos clientes – também foi citada como ponto positivo para a premiação. E, ainda, foi reconhecido todo o histórico de compromissos e pactos que assu-mimos nos últimos anos, como Princípios do Equador e Princípios para o Investimento Responsável (PRI), Pacto Global e Carbon Disclosure Project.

O FT/IFC Sustainable Finance Awards é um dos re-conhecimentos mundiais mais relevantes na área da sustentabilidade e há cinco anos elege as instituições financeiras focadas no desenvolvimento sustentável. A edição de 2011 obteve um recorde de 187 inscrições de 161 instituições em 61 países.

O banco também foi escolhido como Mais Susten-tável das Américas, concorrendo com instituições da Argentina e do México. Em 2009 e 2010 o Itaú Uni-banco já havia recebido o prêmio na categoria Ban-co Mais Sustentável da América Latina e de Mercados Emergentes.

Este prêmio é mais uma prova de que a atuação de um banco, do sistema financeiro em si, ou de qualquer área de atividade econômica pode e deve ter compro-missos e ações focadas na sustentabilidade.

*Denise Hills é Superintendente de Sustenta-bilidade do Itaú Unibanco

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O desafi o corporativo de cada diaRefl exões sobre a 15ª Conferência Internacional sobre Reputação Corporativa, Identidade e Marca

ColunistasDarioMenezes

No contexto social em que vivemos, em que os efeitos da globalização, da Internet, da livre circulação de ideias e do tráfego ins-tantâneo de capital, as pessoas, as empre-sas e os países estão cada vez mais interde-

pendentes. O que ocorre em um lugar infl uencia um ou mais públicos de interesse ou organizações em qualquer parte do mundo. Reputação é baseada na compreensão da percepção que os stakeholders têm sobre as ações passadas e possíveis iniciativas futuras da empresa para o melhor relacionamento com eles, seja esse um em-pregado, um acionista, um cliente, um fornecedor, um representante do governo, um jornalista, um membro da comunidade acadêmica ou um representante de uma organização da sociedade civil. Quando a organização é percebida positivamente por esses públicos, natural-mente eles tendem a ter uma atitude favorável em rela-ção à empresa, apoiando suas iniciativas e engajando-se em suas relações comerciais e institucionais. Portanto, não estamos falando de imagem ou marca, mas sim de um ativo valioso que se constrói através de ações e rela-cionamentos consistentes, transparentes e coerentes ao longo dos anos.

A efi caz gestão da reputação reduz confl itos, ajuda a empresa a lidar com a diversidade, gera valor e benefí-

cios mútuos. Essa gestão é realizada por meio do alinha-mento entre a visão estratégica da empresa, sua cultura organizacional e as percepções dos stakeholders. Já os riscos que podem causar danos à reputação têm impacto direto na organização como um todo, afetando sua credi-bilidade, seu desempenho fi nanceiro, reduzindo o apoio dos seus stakeholders e da sua capacidade de reunir di-ferentes públicos em prol de uma causa comum. Geral-mente originam-se do gap existente entre a reputação conquistada pela empresa e a sua realidade, nas mudanças nos valores e expectativas dos seus públicos de interesse ou na falta de ação e alinhamento interno. Esses riscos baseiam-se em eventos ou fatos contextuais que podem levar a empresa a perder a pré-disposição de seus públicos em apoiá-la, por consequência reduzindo valor e aumen-tando os seus custos internos, devido ao tempo, energia e trabalho que terão que ser investidos para recuperar essa pré-disposição de apoio dos seus públicos.

Após a participação na 15ª. Conferência Internacio-nal sobre Reputação, Identidade e Marca realizada re-centemente pelo Reputation Institute em New Orleans, destaco algumas conclusões relevantes sobre o avanço da gestão da reputação, sua abrangência dentro da estra-tégia corporativa e alinhamento com a competitividade das empresas:

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DarioMenezes

1. De uma forma global, os públicos estão cada vez mais interessados em entender, co-nhecer e reconhecer a organi-zação (estratégia, processos sustentáveis e governança) que está por trás das marcas, e não somente conhecer os seus produtos e serviços. Essa argumentação baseia-se em um recente estudo interna-cional que indica que 61% da disposição das pessoas para recomendar uma empresa é dirigida por sua percepção da empresa como um todo, en-quanto apenas 39% indicam depender das percepções dos produtos e serviços da em-presa. Dessa forma, o que vai fazer a diferença no contexto atual é a forma como a empre-sa produz, como está estrutu-rada toda a sua cadeia de valor e como ela se relaciona com os seus públicos estratégicos.

2. Focalizar na visão e en-tendimento das expectativas e percepções dos múltiplos stakeholders da empresa e não apenas da análise tradicio-nal dos acionistas, governo e clientes. É necessário ampliar a lente de visão sobre esses públicos e inseri-los de uma forma sistêmica e estruturada na estratégia das empresas.

3. Gerenciar os riscos as-sociados à reputação de uma forma preventiva e proativa não atuando somente após o início da crise de imagem cor-porativa.

4. Monitorar a presença nas mídias tradicionais e so-ciais e as alterações no seu contexto social de atuação.

5. Analisar as externali-dades (positivas e negativas) geradas pela empresa e o im-pacto social das ações corpo-rativas. Sendo assim não é di-fícil prever que cada vez mais os comportamentos, ações e posturas das organizações

deverão ser pautados pela equidade, engajamento de todos os seus stakeholders, transparência, pré-disposição para a prestação de contas as suas partes interessadas e respeito aos consumidores. Seja uma empresa petrolífera, do segmento de teleco-municações ou do segmento eletroeletrônico como foi o recente caso da Sony.

Segundo o estudo 2010 ™ RepTrak produzido pelo Reputation Institute, a Sony criou um dos mais fortes reputação no mundo, alcançando o segundo lugar no ranking global, somente atrás do Google e contemplando com sucesso seu histórico de 65 anos de inovação, reconhecimento de mercado e de crítica.

Em 2011 um evento inesperado mudou a história da Sony, quando a empresa enfrentou o maior ataque a sua reputação nos últimos anos. Um grupo de ativistas hackers roubou uma quantidade considerável de dados confi denciais dos usuários mundiais da rede PlayStation. A Sony demorou aproximadamente um mês para co-municar ofi cialmente a violação de segurança, explicando que os dados dos usuá-rios, incluindo informações de cartão de crédito, talvez tivessem sido colocados à venda na rede mundial de computadores. Em várias partes do mundo, a empresa foi alvo de críticas em todas as mídias tradicionais e sociais, pois os seus clientes, até então fi éis advogados da marca, fi caram confusos e indignados. Eles criticaram a empresa por práticas de segurança questionável, fraco processo de governança e co-municação lenta em responder a essa questão tão relevante, prejudicando a imagem da empresa e levando ao declínio da sua reputação do 2º para o 6º lugar no estudo conduzido em 2011. Os efeitos da crise têm sido visíveis no preço das ações da Sony desde março com queda de dois dígitos no seu valor de mercado. Isso reforça o conceito de que os riscos associados à reputação baseiam-se em eventos ou fatos contextuais que podem levar a empresa a perder a pré-disposição de seus públicos em apoiá-la, por consequência reduzindo valor.

Fica claro, assim, o grande desafi o das empresas, o desafi o corporativo atual: manter-se relevante no processo de inovação dos seus produtos e serviços, ser cada vez mais efi ciente na implementação da sua estratégia corporativa, desenvolver no-vas formas de relacionamento e marketing sem contudo, esquecer de entender, monitorar e atender as expectativas de seus públicos de interesse de uma forma transparente, consistente e crível.

(*) Dario Menezes é Diretor de Novos Negócios do Reputation Institute e professor do IBMEC/RJ e da ESPM/RJ.

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P raticamente em toda apresentação sobre a matriz energética brasileira o destaque é para a liderança da geração por hidrelétricas, chegando a 14,2%, que, somadas a outras fontes renováveis, atinge cerca de 46%. Mas seria esta fonte de energia re-

almente sustentável? O debate se acirrou nos últimos tempos diante da urgência de conseguir abastecer o crescimento ace-lerado da economia, com previsão de aumento na demanda por energia de cerca de 60%, alavancando como prioritários investimentos maciços em hidrelétricas na região Amazônica, uma das mais ricas do planeta em biodiversidade.

Em junho, especialistas de diversos países estiveram reu-nidos no Congresso Mundial de Hidreletricidade 2011, evento realizado não por acaso em Foz do Iguaçu, onde está localizada uma das maiores usinas do planeta, Itaipu Binacional. Promo-vido pela Associação Mundial de Hidreletricidade (IHA, em in-glês), foram quatro dias intensos de rodadas de debates com foco não só na questão técnica dos empreendimentos, mas, principalmente, em Sustentabilidade.

“Não há dúvida que investimentos em hidreletricidade são sustentáveis”, frisou o presidente da IHA, Refat Abdel-Malek.

Representantes de organismos multilaterais, empresas especiali-zadas neste setor e representantes do governo brasileiro fi zeram coro. O secretário do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zim-merman, também destacou o papel relevante desta fonte na ma-triz energética brasileira. E o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, lembrou os recentes estudos mostrando que a matriz energética deverá mudar nos próximos anos, chegando em 2030 em torno de 46,3%, quando hoje é de 44,8%, somando hidráulica, eólica, biomassa, entre outras).

“Temos uma das matrizes mais limpas do mundo. Devido ao potencial de exportação de petróleo e à estabilidade de suas instituições, o país será cada vez mais cotejado pelas maiores economias mundiais como um parceiro estratégico para supri-mento energético”, frisou Tolmasquim.

Protocolo - Durante o Congresso Mundial foi lançado o Protocolo de Sustentabilidade para o setor. O documento apre-senta melhores práticas em Sustentabilidade para empreendi-mentos que ainda serão feitos e também para os que já estão em funcionamento. Oito empresas assinaram o compromisso de cumprir o Protocolo, entre elas, Itaipu Binacional do Brasil. O grupo Odebrecht também demonstrou interesse em ser sig-natário, mas ainda está estudando o assunto.

“Já seguimos as melhores práticas em sustentabilidade, com ISO em nosso empreendimento. Mas este Protocolo é mais um passo importante”, explicou Antônio Cardoso, dire-

Especial

Hidreletricidade rima com Sustentabilidade?Evento internacional reúne em Foz do Iguaçu especialistas para debater o tema. Protocolo foi lançado apresentando melhores práticas em Sustentabilidade para usinas futuras, mas protestos marcaram tom de polêmica

Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista(*)De Foz do Iguaçu (PR)Fotos: Efraim Neto e Divulgação IHA

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tor técnico de Itaipu Binacional. Ele explicou que a partir de agora o detalhamento do Protocolo será replicado para os departamentos da empresa. E acredita que Itaipu poderá servir de exemplo para outras companhias brasileiras que atuam em hidreletricidade.

Várias ONGs, como a WWF, a TNC, a Oxfam e a Transparência In-ternacional participaram da redação do Protocolo, que também con-tou com o apoio de organismos multilaterais, como o Banco Mundial. O trabalho levou oito anos e a expectativa é de um custo de 1,28 mi-lhão de euros de setembro de 2010 até setembro de 2013.

O presidente da IHA, Refat Abdel-Malek, destacou que a adesão ao Protocolo é voluntária e será uma ferramenta relevante para as companhias que atuam neste ramo perseguirem a Sustentabilidade. “Estamos muito orgulhosos do trabalho desenvolvido”, afi rmou.

Um pouco antes do anúncio ofi cial, na plenária do Congresso, quando o lançamento do Protocolo foi anunciado, houve protesto de representante da ONG International Rivers, Zachary Hurwitz, que falou em nome de 22 organizações da sociedade civil. “O Protocolo é só uma carta de intenções e não fala de temas relevantes como a questão do respeito aos Direitos Humanos”, disse. A resposta veio de integrantes do grupo de trabalho do Protocolo, ao frisar que o diálogo está aberto e que várias ONGs participaram do processo.

Além de Itaipu, outras sete companhias de hidreletricidade assina-ram hoje o Protocolo de Sustentabilidade: EDF, E.ON, Hydro Tasma-nia, Landvirkjun, Manitob Hydro, Sarawak Energy e Statkraft.

Para garantir a correta aplicação do protocolo, a IHA irá estabele-cer um conselho supervisor e treinar auditores independentes.

“A Rede WWF assume o compromisso de apoiar este processo e garantir que os estudos baseados no protocolo sejam confi áveis e que a ferramenta seja usada para promover mais sustentabilidade e não para o chamado ‘greenwash’ ou ‘banho’ de sustentabilidade”, assegurou Joerg Hartmann. O Protocolo de Sustentabilidade da IHA considera quatro componentes: o planejamento, preparação, imple-mentação e operação dos empreendimentos hidrelétricos.

Hidrelétricas na Amazônia – Apesar do recente anúncio do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de que o governo desistiu de usar todo o potencial da Amazônia para a produção de energia hidrelétrica, ainda paira sobre a região a ameaça de diversos novos empreendimentos, como as 13 hidrelétricas planejadas para o rio Tapajós nas próximas décadas. Tais empreendimentos poderão ser benefi ciados orientados com a aplicação do Protocolo de Susten-tabilidade da IHA, de acordo com o coordenador de Infraestrutura da Iniciativa Amazônia Viva, da Rede WWF, Pedro Bara Neto.

Para o WWF-Brasil é necessária uma visão sistêmica das bacias hidrográfi cas quando do planejamento de novos empreendimen-tos, de forma a conservar o funcionamento dos ecossistemas e a integridade social, econômica e cultural das comunidades que habitam as áreas atingidas, ou mesmo defi nir rios a conservar livres de barragens. “Não existe mágica em conservação, espe-cialmente em uma área rica e complexa como a Amazônia, mas este protocolo proporciona melhores oportunidades para o di-álogo e apoio a decisões bem informadas e baseadas em fatos científi cos”, disse Bara Neto.

Protesto – Tantos dias de debate e a polêmica não foi esque-cida. De que forma esta energia renovável hidráulica está sendo produzida no Brasil e em outros países em desenvolvimento? A que custo socioambiental? Baseada em que princípios éticos? Belo Monte, no Rio Xingu, é apenas a face mais polêmica do am-bicioso plano de expansão de investimentos em hidrelétricas no país, envolvendo vultuosos recursos privados e ofi ciais. Somente no Rio Tapajós está prevista a construção de 13 hidrelétricas nas próximas décadas.

ESPECIAL HIDRELÉTRICAS - PLURALE • ESPECIAL HIDRELÉTRICAS

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O protesto quase solitário de dois representantes de povos indígenas no evento solene marcou bem o tom de falta de sin-tonia entre as partes envolvidas. “Não queremos Belo Monte. E somos contra também outras hidrelétricas que estão destruindo a Amazônia e outras fl orestas brasileiras”, gritou, em meio à ple-nária, enquanto falava um dirigente da Eletrobrás, a índia Sheila Juruna, da etnia Juruna. Também o pataxó Me Tuktine protes-

Pedro Bara, da WWF-Brasil

Sheila Juruna

Jorge Samek, Diretor-Geral de Itaipu

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tou, mas em tom menos exaltado. “Há um tremendo impacto social na região de Belo Monte. Não estamos sendo ouvidos pelo Governo. Queremos que nos ouçam”, disse. Em esmagadora mi-noria, os manifestantes foram vaiados. Mas o representante da Eletrobras pediu calma a plateia e assegurou que os povos indí-genas estão sendo sim ouvidos em todas as audiências públicas.

Os dois indígenas contaram que não foi fácil conseguirem se credenciar para o evento, contando com o apoio da ONG global International Rivers, com sede na Califórnia, a mesma que pro-testou na assinatura do Protocolo de Sustentabilidade.

Mas se é preciso continuar girando o motor da economia – e o Brasil tem pressa no crescimento – como conciliar de-senvolvimento das hidrelétricas com sustentabilidade? “Cada caso é um caso, mas temos um modelo muito sustentável. Itaipu comprovou ser possível ter um relacionamento aberto com as comunidades e todos as partes envolvidas”, disse Jorge Samek, diretor geral pelo lado brasileiro de Itaipu Binacional.

Modelo - Em rodas reservadas comenta-se que o Governo Dilma Rousseff gostaria de adotar muitas das práticas socioam-bientais de Itaipu – com 37 anos, nascida no Governo Militar - no desenvolvimento das hidrelétricas que estão sendo construídas na Amazônia (leia mais sobre isto a seguir). Samek acrescenta que Itaipu tem uma característica ainda mais particular: conciliou in-teresses de dois países – Brasil e Paraguai. “Temos expertise sufi -ciente para acreditar na integração energética em outros projetos também”, disse, citando investimentos binacionais – de geração e transmissão - com a Argentina e Venezuela, por exemplo.

O presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho, também insistiu neste tema ao falar no Congresso. Segundo ele, a energia elétrica – seja via hidrelétricas ou linhas de transmissão – tem um imenso papel para intensifi car a interligação do Brasil com outros países da América Latina.

“Isso está acontecendo com a Argentina, Uruguai, Venezuela, Peru e Bolívia”, explicou Carvalho Neto. Ele citou os casos dos projetos das Usinas de Garabi e Panambi, com a Argentina; Ca-choeira Esperanza, na Bolívia e de Guri, com o Peru. Segundo o presidente da Eletrobras, Itaipu “é um bom modelo para ser seguido”, citando os projetos ambientais e sociais desenvolvidos. “Um sobrevoo de helicóptero na região de Itaipu mostra o traba-lho de preservação e resgate das matas ciliares e da microbacia hidrográfi ca”, complementou Carvalho.

A integração com outros países vizinhos, explicou o executivo, pode ser através de uma hidrelétrica, a exemplo do que está aconte-cendo com Argentina, Venezuela e Bolívia, ou também por intermé-dio de linhas de transmissão, como com o Uruguai, que depende ainda de licenciamento ambiental, e a expectativa é que as obras comecem no segundo semestre. As obras por lá já começaram e pelo lado brasileiro deverão se iniciar tão logo saia o licenciamento.

O diretor geral brasileiro de Itaipu Binacional, Jorge Samek, também falou aos jornalistas sobre o papel relevante da integra-ção latino-americana através de usinas e contou que tem recebi-do delegações de vários países para conhecer melhor o modelo da usina construída pelo Brasil e Paraguai. “Este é um sonho de todo país”, frisou.

Belo Monte – Sobre Belo Monte, o presidente da Eletro-bras considerou normal a saída do grupo Bertin, dando lugar para a Vale. Ele destacou os investimentos em meio ambiente do empreendimento, totalizando cerca de R$ 3 bilhões, em sanea-mento, construção de casas, etc. Um pouco antes da coletiva, na plenária, o presidente da holding estatal de energia afi rmou que esta é uma batalha principalmente de comunicação e que “alguns grupos, uma minoria, se opõem.”

No caso de outros empreendimentos na Amazônia, como as cinco hidrelétricas previstas para o Complexo do Tapajós, o mode-lo a ser seguido será novo, de plataformas. Carvalho Neto explicou que, como se fosse a plataforma de petróleo, a usina é instalada e depois do processo de sua construção, o objetivo é desmobilizar tudo para que a fl oresta volte a ocupar seu espaço e não surja ali um novo pólo econômico. “O objetivo é procurar preservar ao máximo a biodiversidade”, disse o presidente da Eletrobras.

Escolhas – Apesar de defender as hidrelétricas como “grandes fontes de energia renovável” e dentro de todos os preceitos da sus-tentabilidade, até mesmo o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Salles critica a forma como Belo Monte tem sido tocada.

“A maneira como está acontecendo este investimento, no mí-nimo de forma atropelada, não deveria ser repetida”, destacou, em entrevista à Plurale. Mas defende a relevância do projeto. “Não há como abrir mão deste potencial de geração de energia. Porém, me-lhor seria tratar este debate com serenidade.”

Há um debate também sobre o tamanho da área atingida e so-bre a necessidade ou não e como deve ser o reservatório. Hoje, pelas regras atuais, só se pode fazer reservatório praticamente a fi o d`água, o que tem provocado um certo “descontentamento” de alguns representantes do setor privado. O governo não admite a possibilidade de alterar as regras agora, mas a pressão continua.

“Alguma hora este escolha entre a capacidade menor de gera-ção, que deixa de armazenar não só naquela usina, mas também perde a capacidade de biomassa e eólica”, diz Salles.

O Grupo Odebrecht, com forte atuação na construção e operação de hidrelétricas, também defende o caráter sustentável deste tipo de projeto. Capitaneando o projeto Santo Antônio, em Rondônia, defende ser possível sim avançar com resultados con-cretos. “Temos praticado a sustentabilidade em nossos investi-mentos, inclusive com certifi cações internacionais”, afi rmou Luiz Gabriel Todt de Azevedo.

Ele admite que o debate sobre as hidrelétricas na Amazônia é relevante, mas insiste não haver outro caminho para atender o forte crescimento da demanda por energia no Brasil. “O debate é sadio. Mas a fronteira de expansão do Brasil é a Bacia Amazônica”, afi rma. E volta a destacar o que chama de “posições transparen-tes” no caso de Santo Antônio. “Trabalhei em vários países e vejo como estamos avançados em termos de fazer uma hidrelétrica de forma sustentável”, concluiu Azevedo.

Mas afinal, hidreletricidade, rima mesmo com sustenta-bilidade? Ficou claro que este debate está mesmo bem lon-ge do fim.

(*) A editora viajou a convite da organização do evento.

Especial

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Produção de orgânicos em pequenos municípios em

torno de Foz do Iguaçu mostra resultados como parte do

Projeto Cultivando Água BoaTexto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revistaDe Foz do Iguaçu, Missal, Santa Helena e São Miguel do Oeste (PR) - Fotos: Adenério Zanella

A paisagem impressiona. Por onde o carro cruza, até onde a vista alcança, as terras férteis estão cobertas de plantação, principalmente de milho e soja. Marcações com placas brancas vistosas, com combinação de números e nomes de fabri-

cantes de sementes, indicam aos produtores dados sobre as sementes e produtos utilizados em cada lavoura. Por produtos entenda-se também agrotóxicos.

A cena se repete em diferentes cidades que cruzamos a par-tir da saída cedo de Foz do Iguaçu, em um dia quente de junho. A depender do ponto-de-vista, esta região, berço de água boa e solo fi rme, é “herdeira” ou “madrasta” de sua sina, digamos assim: como os municípios são diretamente – ou indiretamen-te – afetados pela Hidrelétrica Itaipu Binacional estão umbili-calmente ligados ao megainvestimento. A empresa binacional – como indica o nome, brasileira e para-guaia – precisou cumprir todas as condi-cionantes. Entre eles, atender a região na área socioambiental.

O principal cartão-de-visitas da com-panhia é o Programa Água Boa. Que, não por acaso, tem este nome. A mesma água potente da Bacia Hidrográfi ca do Rio Pa-raná, que assegura os valiosos recursos para a binacional, também precisa ser compensada e preservada para todos.

Municípios - O programa foi lança-do em 2003 e defi niu como território de atuação a unidade de planejamento da natureza, a Bacia Hidrográfi ca. Decorren-te deste conceito, a área de infl uência de atuação direta da Itaipu deslocou-se de 16 municípios conhecidos como lindeiros e que tiveram áreas inundadas pelo reser-vatório da usina, na margem brasileira, para os 29 municípios da Bacia Hidrográ-fi ca do Paraná 3, conhecida como BP3.

“Temos procurado construir um modelo de desenvolvi-mento sustentável com a participação de todos os envolvidos”, explica Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Am-biente de Itaipu. E acrescenta que o Cultivando Água Boa está fundamentado em documentos nacionais e planetários e tem como objetivo estabelecer critérios e condições para orientar as ações socioambientais relacionadas com a conservação dos recursos naturais e centradas na qualidade e quantidade das águas e na qualidade de vida das pessoas

Com a experiência de Deputado Constitutinte, Nelton tem “costurado” acordos e parcerias envolvendo prefeituras e comunidades para que os resultados se concretizem. O fi -lósofo Leonardo Boff, um dos autores da Carta da Terra, está envolvido com o programa desde o início. Na esteira de ações do Cultivando Água Boa há desde Educação Ambiental para

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Nelson Girotto

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estudantes, Gestão por Bacias, Desenvolvimento da Pesca, até um projeto de Agricultura Orgânica. Ao todo, são 18 programas, 70 projetos e 108 ações de responsabilidade socioambiental. O Cultivando Água Boa recebeu vários prêmios e tem sido considerado modelo. Tanto que foi “importado” para a hidrelétri-ca paraguaia de Yacyretá, em março deste ano, com a ajuda de Itaipu. “Itaipu e Yacyretá estão demonstran-do que empresas do setor elétrico podem ser muito mais do que meras geradoras de energia para se con-verterem em verdadeiras promotoras do desenvol-vimento regional”, disse Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu, na época da solenidade.

Modelo - Foi com este olhar de “São Tomé”, de quem precisa ver para crer, que partimos para con-ferir de perto se o discurso dos executivos em gabi-netes com ar-refrigerado realmente está fl orescendo sob o sol quente. Ainda mais depois que crescem os rumores que o Governo de Dilma Roussef pretente usar o modelo socioambiental de Itaipu como mode-lo para a exploração de novas hidrelétricas na Ama-zônia, onde só cresce a polêmica sobre os impactos socioambientais na Bacia do Xingu, em uma das re-giões riquíssimas em biodiversidade – uma das mais preservadas não só do Brasil, mas do planeta.

O objetivo de nossa visita em campo era verifi car como a iniciativa de promover a Agricultura Orgânica estava acontecendo nas pequenas propriedades ru-rais. A primeira parada foi no sítio da família Girotto, na área rural do município de Santa Helena, distante cerca de duas horas de Foz do Iguaçu. A propriedade familiar se diferencia bem das que vimos nas redon-dezas. No lugar dos frondosos – e parecendo até de desenho animado de tão verdes – campos de milho e soja, nos deparamos com a variada agricultura fami-liar e orgânica, misturando criação de animais com o plantio de diferentes culturas.

“Tem gente aqui que me acha doido, mas não troco a agricultura orgânica por nada neste mundo”, resume Nelson Antônio Girotto, 47 anos. Quando usava agrotóxico, chegou a ser intoxicado e decidiu que nunca mais mexeria com os produtos. Pai de um garoto de oito anos e aguardando a chegada de mais um fi lho, o gaúcho, descendente de italianos, conta que chegou por estes lados do Oeste do Paraná quando ainda era pequeno, trazido pelos pais. A propriedade foi herdada pelo lado do avô materno, que dividiu suas terras herdadas entre os fi lhos, depois herdadas pelos netos. Nelson fi cou com uma fatia de 16 hectares, dos quais planta em 12 hectares um pouco de tudo, entre frutas e legumes, de-pendendo da época: maracujá, morango, mandioca, salsinha e o que mais der, em sistema de rodízio.

Saudável - Recebeu incentivos do Programa Água Boa – assim como cerca de 1 mil produtores da região - para não seguir o exemplo dos primos e ami-gos, todos plantando com agrotóxicos, e manteve o modelo que seus avôs e pais lhe ensinaram de usar como adubo apenas a compostagem e o esterco animal. Dependendo do mês e das vendas, o agricultor conta que dá para fazer até R$ 2 mil. Ainda há alguns gargalos a serem superados, lembra o agricultor, como uma maior presença das Prefeituras, nas contrapartidas. Mas nada que não possa ser resolvido com maior diálogo. “Não temos do que reclamar. Aqui, o que se planta, dá”, conta. A maior parte da produção é comprada pelo Programa, que destina os produtos principalmente para a merenda das escolas da região. Mas nem só isso. Nélson também vende, duas vezes por semana, seus legumes e fru-tas orgânicas em feiras da região, incentivadas pelo programa. “São muito mais saudáveis”, assegura, orgulhoso que o fi lho nunca está doente e jamais precisou fi car internado.

Especial

Professora Bia e alunos Fransuellen Machado

Nelton Friedrich, de Itaipu

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Saudável e gostoso. Que o digam as crianças da região, como as que estudam na Escola Muni-cipal Nereu Ramos, ali perto. “A comida é ótima e não tem veneno”, diz a simpática Fransuellen Kalbaum Machado, de nove anos. A criançada da turma concorda em gênero, número e grau. “Como tudo, aqui e em casa”, completa Paola Girotto, sobrinha do agricultor Nélson. Aliás, por esta comunidade de Santa Helena, todos pa-recem formar uma grande família unida. A pro-fessora da turma é ... a esposa de Nélson, Maria Beatriz Girotto, mais conhecida como Bia.

“Estamos estudando conceitos de Meio Am-biente e sempre passo para as crianças a impor-tância de preservarmos o planeta e de comermos produtos saudáveis”, conta a Professora Bia, 39 anos, grávida do segundo fi lho. Inteligente e doce, ela vai além. Conta para os jovens a lenda local da gralha azul, que dissemina as sementes dos pinheiros, destacando o conceito de pre-servação. “A realidade aqui é da agricultura com agrotóxicos e não há muito preocupação com a saúde do solo e das pessoas. Mas as crianças se-rão nossas gralhas azuis, neste futuro trabalho de preservação”, acredita.

Na escola, a comida servida na merenda e gostosa e só utiliza produtos orgânicos. Para incentivar ainda mais este conceito, o Progra-ma Cultivando Água Boa lançou um Concurso de Receitas para as merendeiras, apenas utili-zando produtos orgânicos e saudáveis. “Minha receita foi selecionada e publicada no livro”, se orgulha a merendeira Ivani Lúcia Both. Por dia são servidas cera de 100 merendas de manhã e outras 40 de tarde. “Não sobra nada nos pra-tos”, comemora Ivani.

A diretora da escola, Dulce Grande Miranda, conta que antes havia muita comida industriali-zada, principalmente enlatados. Com a chegada dos produtos orgânicos, os cardápios foram enri-

quecidos de variedade e de qualidade. Dul-ce mostra ainda a horta no terreno ao lado, mantida com a ajuda das crianças.

Coooperativa – Nem só nas escolas são colocados os produtos orgânicos. Mi-guel Sávio, funcionário da área de Meio Ambiente de Itaipu, mostra a colocação ainda em cooperativas e pontos de ven-da nos diferentes municípios. Em Missal, próximo de Santa Helena, é possível en-contrar não só legumes e frutas orgânicas, mas também geléias e pães caseiros pro-duzidos na região. “Venho sempre aqui comprar. São muito frescos e saudáveis”, assegura o médico Luiz Gustavo Neves. O vice-presidente da Cooperativa das Agroin-dústrias das Famílias do Oeste de Paraná, Mário Trevisan, faz questão de destacar que os preços dos orgânicos não são tão diferentes dos produtos tradicionais, como

costuma acontecer em alguns grandes centros, com em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Negociamos com os produtores para que os orgânicos tenham preços competitivos”, diz.

A mandala é utilizada nas apresenta-ções sobre o Cultivando Água Boa. Nel-ton Friedirich, coordenador em Itaipu do programa, explica que esta simbologia é muito importante. “Estamos em um la-boratório a céu aberto. A ideia de poder compartilhar, criar junto, desenvolver com a sociedade é a mais valiosa. Repli-car o que estávamos vivendo aqui em outras regiões seria ótimo. Mas é preciso entender a importância de construir em conjunto, dentro da realidade de cada região”, destaca. No caso da região da Ba-cia Hidrográfi ca do Paraná 3, conhecida como BP3, onde está em curso o Água Boa, a adesão foi total. Após reuniões de sensibilização, todos os municípios apoiaram o Comitê. “O programa não é de Itaipu. Passou a ser um movimento de todos”, frisa Nelton. Este ano estão previstos cerca de US$ 12 milhões.

Se isso poderá funcionar em outras áreas, ainda não é possível assegurar. Mas, a julgar pelo que vimos, ao menos por es-tas bandas do Oeste do Paraná, é possível sim sonhar com alternativa ao tradicional modelo de relacionamento entre municí-pios e gestores de hidrelétricas.

costuma acontecer em alguns grandes centros, com em São Paulo e no Rio de

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Ivani Both

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Um simpático quati aparece do meio da mata nos recepciona na descida até as Cataratas do Iguaçu. Ele é o símbolo deste belo Parque Na-cional, que encanta turistas de diferentes par-tes do planeta. A russa Natasha não se cansava

de apreciar e curtir a paisagem. Como ela, americanos, japo-neses, chineses e visitantes de diversos países se encantavam com a força da natureza na forma de água e pedras.Estes flagrantes geniais são do jornalista Efraim Neto, espe-cializado em Ecologia, que assim como nós, de Plurale, cruza diferentes pontos do país mostrando um Brasil em trans-formação. Foi sua primeira visita às Cataratas. “Belíssimo”, resumiu. Sem dúvida. E o que é melhor: com a boa adminis-tração da cobrança de uma taxa dos turistas, o Parque está bem cuidado e preservado. Muito melhor do que a última visita que fizemos há cerca de 30 anos. Lá está localizado o tradicional Hotel das Cataratas, hoje reformulado, tendo sido transferido para o grupo inglês Orient-Express, o mesmo do Copacabana Palace, no Rio.De acordo com informações do site oficial do Parque Nacio-nal do Iguaçu, as Cataratas estendem-se numa frente semicir-cular de 2.700 metros de extensão, dos quais 800 metros es-tão do lado brasileiro e 1.900 metros do lado argentino. São compostas por um número variado de saltos e quedas que oscila entre 150 e 270, de acordo com o volume de água do rio. A altura máxima das quedas é de 80 metros. Os saltos têm nomes próprios como Floriano, Deodoro, Benjamim Cons-tant, mas, o mais famoso é a Garganta do Diabo. As rochas do ParNa Iguaçu se originaram de processos vulcânicos, na realidade, trata-se do chamado vulcanismo de fendas que ocorreu na região entre aproximadamente 165 a 120 milhões de anos.Uma lenda explica sobre o surgimento das famosas Cataratas. Um jovem índio guerreiro, Tarobá, “rouba” a índia Naipi, fi-lha do cacique da tribo, no dia em que ela seria entregue em culto para o deus M`boy. Este, furioso pela fuga, penetrou nas entranhas da terra e retorcendo seus músculos, provocou desmoronamentos que foram caindo sobre o rio, formando os abismos das cataratas. Envolvidos pelas águas, caíram de grande altura. Tarobá transformou-se numa palmeira e Naipi numa rocha junto da grande cachoeira, onde até hoje perma-necem enamorados.Poucos sabem, mas Alberto Santos Dumont, o inventor do avião, foi também o padrinho do Parque. Ele visitou as Ca-taratas em 1916, e diante de tamanha beleza, solicitou ao governador da província que nessa área fosse criado um Par-que. Após 23 anos, em 10 de janeiro de 1939, foi criado o Par-que Nacional do Iguaçu, desde 1986 considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO. Ainda não conhece? Vale a pena marcar a viagem.

Cataratas do Iguaçu: imagem para nunca mais ser esquecida

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Fotos:

Efraim Neto

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Em concorrido almoço realizado na sede do Centro do Jockey Club Brasileiro, no Rio, o IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças certifi cou e premiou no dia 27 de julho, empresas focadas na sustentabili-

dade. Eram 15 fi nalistas em cinco categorias, sendo que Plurale estava entre elas, concorrendo na categoria Ges-tão. Aplresentada pela jornalista Renata Vasconcelos, a cerimônia de premiação reuniu cerca de 400 executivos e teve início com um clipe da música Heal The World de Michael Jackson, para em seguida passar a entrega do troféu Ecosofi a - escultura que sintetiza esteticamente a cultura da sustentabilidade e a capacidade de um siste-ma de se regenerar - aos cinco vencedores.

“Nas próximas décadas, o conhecimento e a inteli-gência do ser humano passarão por testes difíceis. Não apenas o crescimento econômico deve estar na pauta, mas também a inclusão social, a positividade ecológica e o respeito à cultura local”, destacou a apresentadora.

O Prêmio IBEF de Sustentabilidade 2011 teve como patrocinadoras empresas cujas administrações estão voltadas para a sustentabilidade – Vale, Deloitte, Usiminas e Cemig.

As empresas que receberam o prêmio em cada cate-goria foram: Grupo Pão de Açúcar, na categoria Estrutura da Operação; a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) em Administração de Confl itos; na categoria Governan-ça Corporativa, a CPFL Energia levou o prêmio; a Previ

Além das cinco premiadas, 10 fi nalistas também foram certifi cadas. Plurale integra neste seleto time e agora tem selo de certifi cação

Texto: Isabel Capaverde, de Plurale em revista

Fotos: Luciana Tancredo, Equipe Plurale

IBEFpremia empresas que se destacam pela adoção de práticas sustentáveis

Reconhecimento

O presidente do IBEF-Nacional, Sergio Melo (D), entrega a Certifi cação para um dos diretores de Plurale, Carlos Franco (E)

foi contemplada em Gestão e na categoria Valorização, a Fundação Roberto Marinho, com o Canal Futura.

Grande disputa - Este é o primeiro ano do Prêmio IBEF de Sustentabilidade. Foram inscritos 52 cases nas cinco categorias

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do projeto, avaliados por um Comitê Técnico formado por 15 profi ssionais em diversas áreas de atividades. Den-tre os projetos inscritos, 15 foram certifi cados. Em 2012, o projeto “Padrão IBEF de Sustentabilidade” novamente irá certifi car empresas e administrações voltadas para o tema Sustentabilidade.

O projeto, baseado no livro “Avaliação de Investimen-tos Sustentáveis”, de autoria do Diretor do IBEF- Marcos Rechtman e do Prof. Carlos Eduardo Frickmann, buscou desenvolver conceitos de direção e gestão empresarial para possibilitar a atuação fundamentada em princípios de sustentabilidade das organizações. Ele caracteriza e disse-mina responsabilidade socioambiental como paradigma complementar ao desempenho econômico-fi nanceiro.

O local foi transformado, por meio de decoração, em uma verdadeira fl oresta tropical, com direito a montanha e cachoeira. No palco, as empresas vencedoras apresenta-ram vídeos dos cases inscritos, onde também receberam o troféu Ecosofi a, criado pelo artista plástico Gianni Patu-zzi, inspirado na obra “As três ecologias”, 1989, de Felix Guattari, psicanalista e fi lósofo, das mãos de representan-tes das empresas patrocinadoras.

O primeiro envelope a ser aberto pela apresentadora foi o da categoria Estrutura da Operação, ganha pelo Gru-po Pão de Açúcar e sua Loja Verde. Em seguida foi a vez da categoria Administração de Confl itos e quem levou o troféu foi a CBV – Confederação Brasileira de Vôlei. Seu presidente Ary Graça, brincou dizendo que o vôlei brasi-leiro permanecerá no pódio nos próximos anos.

Ary Graça, frisou que o vôlei brasileiro é uma empresa geradora de negócios. “O Brasil se transformou em uma potência no voleibol mundial e virou um grande negócio, com várias partes envolvidas. Administrar para que todas essas pessoas tenham suas expectativas alcançadas não é uma tarefa simples”, explicou Ary Graça.

Na categoria seguinte, Governança Corporativa, o vencedor foi o CPFL Energia. O próximo envelope a ser aberto foi o da categoria Gestão, onde Plurale era uma das fi nalistas. Representando a revista e site lá estavam Carlos Franco, editor e sócio (à frente do projeto junto com Sô-nia Araripe, em viagem), a repórter Isabel Capaverde e a fotógrafa Luciana Tancredo. Apesar da torcida, o prêmio fi cou, merecidamente, com a Previ – Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil.

de transparência da instituição, fortalecendo as parcerias com em-presas e organizações que mantenham postura semelhante, além de funcionar como um importante indutor tanto da qualidade da organização quanto de sua imagem”.

Orgulho - A equipe Plurale muito se orgulhou de ter sido reconhecida como fi nalista, fazendo parte deste seleto time. O certifi cado foi entregue a Carlos Franco pelo presidente do IBEF-Nacional, Sergio Melo. “A história de reconhecimento de Plurale não é só nossa, mas sim de todos – equipe, colaboradores, parcei-ros e apoiadores – que acreditaram desde o início na iniciativa de podermos relatar, de forma plural, o processo de transformação no Brasil e no mundo por uma economia em bases mais sustentá-veis”, destacou Carlos Franco.

Esta é a terceira vez que Plurale, em seus quatro anos de história, é reconhecida por selecionado júri. Anteriormente, a revista e o site com foco em Sustentabilidade ganharam os Prêmios de Jornalismo concedidos pela Associação Brasileira de Fabricantes de Bicicletas (Abraciclo) e da Associação Brasileira de Alumínio (ABAL).

E para fi nalizar a cerimônia, na categoria Valorização, o Canal Futura, projeto da Fundação Roberto Mainho, com parceiros pri-vados, foi o premiado, por desenvolver um belo trabalho voltado para a Educação e Sustentabilidade.

Para o presidente da Previ, Ricardo Flores, “os objetos centrais da atuação de entidades como a Previ são o pagamento de benefícios previdenciários aos participantes e a contribui-

ção para a melhoria da qualidade de vida de cada um deles e de seus dependentes no futuro. Esses objetivos são indissociáveis dos diferentes aspectos envolvidos no que hoje tratamos por sustenta-bilidade. A empresa acredita que a adoção de uma Política de Res-ponsabilidade Socioambiental ajuda a reforçar os valores éticos e

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Social

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Texto: Tom Correia, da Revista Grauçá, de Itapagipe (BA)Fotos: Quasar Imagem e Acervo Fábrica Cultural

MeninosOurode

A transformação na vida de jovens itapagipanos que fazem parte de um projeto social idealizado por Margareth Menezes comprova o que já se imaginava: basta uma chance para que eles se revelem responsáveis, atuantes e sedentos por horizontes mais amplos

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Aliar sucessos como “Faraó”, “Dandalunda” e “El-legibô” à Margareth Menezes é um caminho que surge de maneira natural. Mas, bem antes disso, a infância sem recursos vivida pela artista já co-meçava a despertar seus sentidos para as causas

sociais autênticas. Não é à toa que ela participa de campanhas que promovem igualdade e inclusão, como as da Legião da Boa Vontade. Enquanto trilhava seu caminho com a paciência dos que acreditam no próprio talento, cantando em eventos como o Ano do Brasil na França e Montreux Jazz Festival na Suíça, nunca esqueceu da sua terra de origem. Foi a partir des-ta relação afetiva com Itapagipe, onde costumava pescar nos antigos manguezais, que Maga foi desenvolvendo um olhar mais crítico. Era o início do que viria a ser a Fábrica Cultural.

Ocupando espaços em locais como a Igreja da Penha, Ca-bana do Bogary e um galpão na Avenida Beira Mar, a Fábrica tem cursos voltados para alunos regularmente matriculados na rede pública e com renda familiar de até meio salário mí-nimo por pessoa. Um dos projetos mais concorridos, o “Na Trilha da Cidadania”, atende jovens de 16 a 24 anos com o intuito de promover a inclusão socioprodutiva, através de ações integradas para formação e qualifi cação profi ssional em Estamparia, Design Gráfi co, Criações em Costura, Produção Cultural e Manutenção de Micro e Redes com duração de seis meses e cada matriculado recebe R$ 130 de bolsa auxílio. As turmas possuem 30 alunos, orientados pelos profi ssionais en-volvidos no projeto, dentre professores, pessoal administrati-vo e colaboradores. Desde 2009, quando as atividades foram iniciadas, 500 jovens receberam certifi cado de conclusão, mas a demanda tem crescido a cada ano: a última inscrição contou com mais de 850 candidatos que concorreram a 375 vagas . A seleção teve etapas como entrevista e visita socioeconômica para averiguar renda familiar.

O arte-educador e professor do curso de Estamparia, Júlio César Cardoso, 52, além de ser grande admirador da Península, vê nos alunos um traço de personalidade bem defi nido: a baixa auto-estima. “Quando eles chegam, faze-mos todo um trabalho para resgatar a auto-confi ança deles, mostrando que é possível reverter esse sentimento de infe-rioridade”, afi rma. Alguns, após receberem certifi cado, são selecionados como instrutores, transmitindo conhecimento e experiência para as turmas mais novas. Tamires Dantas,

23, acredita que sua timidez deu lugar a outro compor-tamento depois de frequentar as aulas de Criações em Costura. “Aqui pude aperfeiçoar o que eu já sabia, além de deixar a vergonha de lado e me tornar muito mais comunicativa”, declara. Moradora da Mangueira, aluna do 2º ano do Ensino para Jovens e Adultos do Colégio Estadual Paulo Américo, ela acredita que se tornou mo-nitora devido à sua dedicação. “Nunca faltei aula, nem mesmo quando chovia muito, e sempre sentei na pri-meira fi la, anotando tudo”, complementa.

O ambiente arejado do galpão da Avenida Beira-Mar é bem descontraído. Professores, funcionários e alunos recém-chegados são receptivos e descontraídos, propor-cionando um clima propício para que eles cresçam em todos os aspectos. Para a diretora pedagógica da Fábrica, Nadja Miranda, esses primeiros frutos estão sendo colhi-dos devido à abertura de novos horizontes. “A maturida-de deles está nas possibilidades que lhes são oferecidas. Precisamos sensibilizar o jovem para que ele tenha uma formação profi ssional e supere a falta de perspectivas ao redor. Temos ex-alunos que já estão trabalhando como estagiários e contratados em empresas da região”, diz.

Aluno exemplar - Um menino de dez anos cor-re atrás dos turistas que chegam para visitar a Igreja do Bonfi m. Nas mãos, segura os pequenos orixás feitos de plástico e fi tinhas que ele mesmo aprendeu a fazer sozi-nho. Cada um é vendido entre R$ 10 e R$ 15, o que lhe dá autonomia para comprar o que quiser, principalmente brinquedos novos. Assim era a infância de Cleiton Silva, 23, um jovem curioso e observador. Morador do Bonfi m, ele descobriu a Fábrica Cultural através de amigos e esco-lheu aprender Estamparia. Ao fi nal do curso, tornou-se um dos alunos mais destacados. Atualmente é monitor e trabalha numa empresa desenvolvendo peças e tratan-do tecidos jeans, depois de ser enviado ao Rio de Janeiro para um curso de qualifi cação de duas semanas. “Acho os jovens de hoje muito mal informados e as oportunidades são poucas, o que só leva ao envolvimento com o tráfi -co. O poder público olha para o centro, mas esquece de Itapagipe. Precisamos ter mais acesso à cultura e melhor educação”, critica.

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“Além de qualifi car os jovens, nossa intenção também é

estimular que eles retornem como multiplicadores às suas comunidades e desenvolvam

seus próprios projetos” Teresa Carvalho, Coordenadora

Pedagógica do Projeto Trilha

Social

Reconhecimento do potencial do lugar, chance para desenvolver talentos, qualifi cação profi ssional e inclusão socioprodutiva, sensibili-zação para descoberta de potenciais produtivos. A Fábrica, além de parceiros como o SEBRAE, Igreja Católica (Nossa Senhora da Penha), o Clu-be Cabana do Bogary e do Lions Clube, conta com o apoio da Secretaria Estadual de Desenvol-vimento Social e de Combate à Pobreza (Sedes). Em 2011, um novo curso está sendo estrutura-do: manutenção em micros e rede, estimulando a reciclagem de lixo eletrônico.

Sim, é possível - Em setembro de 2010, os meninos e meninas organizaram a 1ª Caminha-da Ecológica da Fábrica Cultural, chamando a atenção dos moradores da Península para um dos seus problemas mais graves: o lixo. Na orla da Ribeira, conversaram com a população sobre iniciativas que podem minimizar a situação e recolheram garrafas plásticas e latas jogadas nas praias. No fi nal do mesmo ano, todos os alunos se envolveram em torno do “Ribeira Bem Sau-dável”, projeto elaborado pelos alunos do curso de Produção Cultural e que abrangeu diversos campos na área de cuidados com o bem-estar da comunidade, oferecendo aos itapagipanos atividades como aulas de yoga e alongamento, além de serviços de orientação odontológica e verifi cação de pressão arterial.

São essas formas de ação participativa na co-munidade que são estimuladas entre os meni-nos e meninas, tornando-os aptos para assumir o papel de futuros empreendedores de inicia-tivas benéfi cas ao próprio meio onde vivem. O professor Júlio se emociona quando lembra da mãe de um dos seus alunos. “Ela veio me agra-decer o que fi z pelo fi lho dela, mas faço isso porque acredito muito nesse projeto e nesses jovens. Eles são pedras preciosas que só preci-sam de lapidação para acreditar que é possível uma realização pessoal e emocional em suas vidas”, conclui.

Outros projetos da Fábrica:

proGrama circulaNDo arte

Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o Circulando de-senvolve anualmente ofi cinas de arte-educação, língua e literatura e acom-panhamento escolar para crianças de 6 a 13 anos oriundas das escolas mu-nicipais pertencentes à Coordenadoria Regional de Educação Cidade Baixa. Além disso, o programa inclui ofi cinas criativas com os pais e professores de escolas parceiras. Cerca de 300 crianças já foram benefi ciadas.

coNversa Na varaNDa

Ação de mobilização comu-nitária que envolve os pais das crianças e jovens atendidos pelos projetos da Fábrica Cultural. Cons-tituindo-se como um fórum de discussão na e para a comunidade local, este espaço de diálogo visa fortalecer os vínculos familiares e comunitários.

Informações: (71) 3207-6597

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A visão social de Maga Exemplo para os meninos e meninas da Fábrica Cultural, Margareth teve uma infância cheia

de limitações, apesar da época feliz que viveu em Itapagipe. Estudante do Luiz Tarquínio, fez parte de um grupo de teatro na Boa Viagem e se tornou backing vocal de Sarajane em meados dos anos 1980. Atualmente, é uma das mais conceituadas intérpretes baianas, desenvolvendo sua carreira primando pela qualidade artística: são 21 turnês no exterior, 4 indicações de premiação interna-cional (Grammy), 14 álbuns e 3 DVDs. Veja a entrevista exclusiva concedida por Maga à Grauçá:

Que momentos foram mais marcantes na sua infância e adolescência na Península? A Itapagipe de hoje não merecia atenção e cuidado maiores?

Ter nascido e vivido na Península foi um presente para mim. Com certeza precisamos cui-dar melhor daqui. Acho que as pessoas deveriam começar a procurar conhecer a história desse lugar, os valores e a força produtiva que existe por lá. Essa terra, esse mar, essa beleza... certamente é um dos mais ricos da Bahia e precisamos aprender a valorizá-la. Uma coisa muito triste, por exemplo, é a pesca predatória com bombas. Falta às pes-soas o entendimento de que, se elas deixarem de usar bomba, vai haver muito mais peixes. A enseada tem o nome que tem (Tainheiros), porque era um berçário de pei-xes e mariscos. Isso é signifi cado quase certeiro de fartura na produção pesqueira, se

houver preservação desse ambiente. Não é necessário muito tempo para ter acesso a essas e outras informações; as pessoas precisam só de conscientização.Que necessidades fundamentais deram origem à Fábrica Cultural?Senti na pele a transformação que o acesso à arte, cultura e cidadania podem provocar numa jovem. Um grupo de teatro (que é era apenas um projeto de integração entre três escolas estaduais) fez uma mudança radical em mim e em meus colegas, e isso se refl etiu na escola e na comunidade porque começamos a ter mais ferramentas para questionar e para criar. Acho que foi grande o valor

que essa vivência teve em minha vida e me ajudou a ser uma pessoa pensan-te, questionadora; ajudou no meu senso crítico, na minha imaginação e

também no planejamento para efetivação das coisas. Foi o embrião de muita coisa boa em minha vida. Além disso, minha amiga Jaqueline Azevedo começou a se envolver com projetos sociais e se encantou

com esse tipo de trabalho. Ela me estimulou e esclareceu várias questões e depois tivemos apoio de outras pessoas que so-

maram bastante. Assim nasceu a Fábrica.O que representou para você a formatura, em julho do ano passado, da primeira turma do projeto?Foi uma alegria que não cabe em mim ter assistido ao

evento. Devido aos compromissos, não estou tão presente quanto gostaria e isso faz com que os momentos que passo lá sejam ainda mais especiais e preciosos. Ver o resultado dos cursos, os produtos dos jovens do “Na Trilha da Cida-dania”, foi maravilhoso! Eu torço muito por cada menino e menina de áreas carentes, para que eles possam despertar e ver seu potencial, ao invés de desperdiçar o tempo com coisas que não valem a pena. Às vezes esses jovens não

têm consciência da importância que eles efetivamente possuem. Alguns procuram a valorização em ativida-des ilícitas, mas acredito que a maioria desses casos seja por falta de acesso a outras oportunidades. Como convivem a Margareth cidadã e a artista?

De forma bem próxima porque sou uma só. Agra-deço a Deus, tudo que tenho vivido e principalmente

por ter encontrado mestres para trazer transformações à minha vida: professores, amigos, pai e mãe, e principalmente o

Eterno Mestre. O pensamento é uma ferramenta para articulação e de acordo com o nível de acesso a informações, com a orientação recebida, a criança e o jovem podem caminhar na

direção do entendimento. Daí o valor da educação de qualidade na vida das pessoas.

Mais: www.margarethmenezes.com.br Conheça a Revista Grauçá: http://www.revistagrauca.com.br/

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2011

Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista

Morro do Cantagalo, Espaço Criança Esperança, manhã ensola-rada de inverno no Rio (no fim de julho) e uma vista fantástica de Ipanema, Leblon e Lagoa, abençoados pelo Cristo Redentor. Cenário ideal para a Coca-Cola reunir a imprensa, representantes de ONGs e agências de publicidade parceiras para anunciar os resultados e as metas de seus negócios sociais e lançar a campanha publicitária que será divulgada nos veículos de comunicação da América Latina: “Cada garrafa tem uma história”.

Depois que todos se acomodaram no auditório do Espaço, Clau-dia Lorenzo, diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola Brasil, come-çou falando dos 125 anos de Coca-Cola no mundo e da preocupação de não deixar de ser local para se tornar global. Fez uma pequena retrospectiva da forma como a marca se consolidou fazendo parte da memória afetiva de todos nós (“quem não tem uma foto de festa de aniversário, Natal ou Ano Novo com uma Coca na mesa?” indagou) para chegar ao momento de hoje. “A marca que está presente na fes-ta quer também fazer parte da construção desta festa”, frisou Claudia. Assim ela deu início a apresentação do mais novo programa social da empresa, o “Coletivo Coca-Cola” que tem apenas dois anos.

De ciNco uNiDaDes em 2009 a mais De 100 em 2011

O Coletivo funciona da seguinte maneira: em conjunto com ONGs e outros parceiros são criadas unidades operacionais em comunidades de menor oportunidade, visando o desenvolvimento socioeconômico. Cada unidade é como um centro de formação de jovens e estímulo ao empreendedorismo entre mulheres. Cada ci-clo de aulas tem a duração de dois meses e, ao final, os alunos têm a oportunidade de aplicar os conhecimentos, elaborando planos de negócios para comércios locais. O encaminhamento para o mercado de trabalho é feito por meio da Coca-Cola Brasil e seus fabricantes, contando também com sua rede de clientes e fornecedores.

O programa ainda oferece opções de microcrédito às comuni-dades, via parcerias estabelecidas com agentes do setor financeiro. As ONGs CDI e Visão Mundial são responsáveis pela operação do projeto nas comunidades.

“No Espaço Criança Esperança, onde estamos agora, também temos um Coletivo em funcionamento. Começamos com cinco uni-dades em 2009, em Recife e São Paulo. Hoje já estamos espalhados por todo o Brasil. Nossa meta é instalar mais de 100 unidades do Coletivo até o final de 2011 e, até a Copa do Mundo de 2014, estar nas principais comunidades de todo o país”, completou Claudia.

Claudia também falou rapidamente sobre o “Reciclou, Ga-nhou”, programa de reciclagem que a empresa desenvolve com sucesso a 15 anos com catadores e cooperativas de catadores de

resíduos sólidos, levando dignidade e profissionalismo a esses tra-balhadores. “Pesquisas comprovam que o aumento de renda dos catadores cooperados no “Reciclou, Ganhou” é de 15 a 20%. E quanto maior o profissionalismo, maior a renda que pode chegar a mil reais mensais. A meta do “Reciclou, Ganhou” é chegarmos a 500 cooperativas até 2014”.

histórias De viDa Na campaNha publicitária

Para apresentar a nova campanha que a empresa veiculará na mídia a partir de 5 de agosto, Claudia passou a palavra para Luciana Feres, diretora de Marketing da Coca-Cola. “A campanha foi concebi-da de uma forma totalmente diferente de tudo que já fizemos. Sem roteiro pré-definido, convidamos o cineasta Breno Silveira (de “2 Filhos de Francisco”), para vivenciar nossas iniciativas. Nesse proces-so, ele descobriu pessoas incríveis, que fazem diferença positiva em suas comunidades. Essas pessoas inspiradoras se tornaram nossos personagens e ajudam a contar como os programas apoiados pela Coca-Cola podem transformar vidas positivamente”, explica.

Com desenvolvimento liderado pelo Brasil, “Cada garrafa tem uma história” terá como protagonistas os brasileiros Tião Santos (líder do movimento de catadores de materiais recicláveis e par-ceiro do programa “Reciclou, Ganhou”) e Marcos André França da Silva (instrutor das turmas de varejo do projeto Coletivo no Recife) que estavam presentes e se emocionarem ao verem os vídeos pela primeira vez. Além da equatoriana Stephanie Romero (diretora de comunicação no Equador do programa “Um teto para meu país”, que constrói casas em comunidades), o argentino Sigfrido Moroder (presidente do Centro de Beneficiência El Alfarcito, centro de edu-cação no noroeste da Argentina) e o mexicano Roberto Mejía (dire-tor do projeto Viveiros Florestais no México, dedicado à devolução de água ao meio ambiente pelo reflorestamento).

“Cada garrafa tem uma história” ainda traz mais uma gran-de novidade. Segundo Luciana Feres, “queremos que todos os nossos consumidores saibam que cada vez que eles bebem um produto da Coca-Cola, eles se tornam parte dessas histórias de otimismo. Por isso, pela primeira vez, as clássicas latas e garrafas dos nossos refrigerantes terão silhuetas em seus rótulos. Serão as imagens dos personagens desenhadas por textos com suas narra-tivas transformadoras”.

Coca-Cola Brasil apresenta resultados de seus negócios sociais e lança campanha“Cada garrafa tem uma história”

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Cláudia Lorenzo (E) e Luciana Feres apresentaram os resultados

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Por Nícia Ribas*, de Plurale em revistaDe Gravataí (RS)

Já está funcionando em Gravataí, a 25 km de Porto Alegre (RS) a primeira loja com baixo impacto ambiental da Goodyear do Brasil, fabricante de pneus para carros, picapes, caminhões, ônibus e aviões, com a maior rede de revendedores do País e cerca de 1.000 pontos de venda. Seu presidente, Giano Agostini estava lá, no dia 12 de julho, para inaugurar o novo espaço, criado em parceria com o seu revendedor Bellenzier Pneus.

Segundo Agostini, o conceito de sus-tentabilidade e proteção do meio ambien-te já vem sendo incutido há alguns anos no cotidiano da empresa, através da conscien-tização de seus 3.500 funcionários. “Não gostamos de encarar esse tema, que já está virando um modismo, com superficialida-de; Nosso desejo, internamente, sempre foi avançar e inovar em tecnologia e como modelo de gestão, porém, de maneira cor-reta. Por isso, a sustentabilidade permeia todas as ações da Goodyear.”

Há três anos, o gerente sênior de Sus-tentabilidade e Assuntos Corporativos, Mi-guel Dantas, vem organizando de maneira estratégica as iniciativas de sustentabilida-de existentes na Goodyear, com a finalida-de de obter maior engajamento interno e maior impacto na sociedade. “Iniciamos um forte processo de educação, através de workshops com oito horas de duração para todos os funcionários, incluindo diretores e gerentes”, diz Miguel. Para o pessoal da produção, foi preparado um programa es-pecial com apenas quatro horas de dura-ção e linguagem adequada.

lucrar e preservar é possível

A nova loja de Gravataí chega para con-solidar o tripé Rentabilidade, Inovação e Sociedade, perseguido pela Goodyear. A empresa já vem avançando nesse conceito através de outras iniciativas, como o lança-mento de pneus com menor resistência ao rolamento, que consomem menos com-bustível e, consequentemente, emitem menos CO².

Além disso, para evitar o desperdício, os pneus podem ser recauchutados três ve-zes com a mesma bor-racha de fabricação, ampliando para 300 mil quilômetros sua vida útil. Os clientes Goodyear podem, ain-da, optar pelo sistema Tire IQ, que permite identificar e rastre-ar o pneu por meio de rádio frequência, graças à instalação de um chip inteligente. “Essa tecnologia reduz o custo operacional da frota, uma vez que permite o controle efi-caz dos pneus”, esclarece Agostini .

Para evitar a poluição ambiental, a Goodyear faz parte da Reciclanip, as-sociação criada pelos fabricantes de pneus, visando a coleta e destinação corretas de pneus inservíveis no Bra-sil. “Já participamos há 10 anos desse projeto e assim colocamos em prática o conceito moderno de gestão em-presarial, em que a responsabilidade pós-consumo faz parte dos princípios de qualquer empresa que se preocupa com o futuro do Planeta”, diz Agostini, informando que existem mais de 500 pontos de coleta espalhados no País. Uma das formas mais comuns de re-aproveitamento dos pneus inservíveis é como combustível alternativo para as indústrias de cimento. Além disso, servem para a fabricação de solados de sapatos, borrachas de vedação, du-tos pluviais, pisos para quadras poli-esportivas, pisos industriais e tapetes para automóveis.

loja susteNtável

A primeira loja de pneus brasileira com baixo impacto ambiental, no quilô-metro 18 da RS 118, uma freeway que, em breve, terá oito pistas, ligando Porto Alegre ao Vale dos Sinos e Viamão, con-tribui ainda mais para a elevação do já inflado PIB de Gravataí. Os irmãos Bel-lenzier, e a Goodyear, capricharam no projeto. O novo conceito de loja conta

Respeito à natureza no mercado de pneus

com três caixas d’água enterradas, que captam a água da chuva para reutilização nos sanitários, sistema de incêndio, jar-dins e na limpeza dos pisos, poupando aproximadamente 30 mil litros por mês.

Seu telhado verde facilita a drenagem e garante maior isolamento do ambiente, melhorando as condições termo acústi-cas da loja. Energia solar aquece a água dos chuveiros. Vidros duplos amenizam a temperatura ambiente, reduzindo o uso de ar condicionado. O imenso letreiro da fachada é todo em led – lâmpadas que economizam cerca de 90% de energia se comparadas com as normais. Sistemas in-dependentes de iluminação permitem a utilização inteligente das lâmpadas inter-nas, evitando desperdício.

As portas são em madeira certificada pelo Conselho Brasileiro de Manejo Flo-restal. Lá fora, o piso concregrama – com grama entre as lajotas - amplia a área ver-de, onde foram plantadas árvores nativas e um canteiro com chás para cada hora do dia. “Temos o hábito de oferecer chá aos nossos clientes”, diz a diretora Nilva Bellenzier. Ela garante que o custo dos diferenciais ecologicamente corretos não ultrapassou 10%: “Pretendo recuperar o investimento nessa obra em dois anos e para o resto da vida terei lucro através da economia de água e energia”.

*A repórter viajou a convite da Goodyear do Brasil.

Da esquerda para a direita: Os irmãos Bellenzier - Nilberto, Adriano e Nilva - cortam a fita inaugural com o presidente da Goodyear, Giano Agostini (de blazer).

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2011PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201040

GIFE lança o primeiro banco de dados online sobre o investimento social realizado pela iniciativa privada no Brasil

De São PauloO GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

lançou no dia 4 de agosto, em São Paulo, o primeiro banco de dados online sobre o investimento social realizado pela iniciativa privada no Brasil. Baseado no Censo GIFE, mape-amento bienal que o Grupo faz sobre o Investimento Social Privado (ISP) de seus associados, o objetivo da plataforma é que nos próximos anos extrapole os limites da Rede e reúna também informações de todo o campo do investimento so-cial privado brasileiro.

Além do incentivo à pesquisa, a iniciativa aponta para uma democratização dos dados coletados sobre o setor. “Até então, o Censo GIFE levantava uma série de informações sobre ISP e nós selecionávamos algumas para análise e publicação. Agora, esses dados estarão disponíveis a todos, que poderão viabilizar os cruzamentos que desejarem”, explica o gerente de Progra-mas do GIFE, Andre Degenszajn.

Realizado pelo GIFE e Itaú Cultural, com parceira técnica do IBOPE Inteligência/Instituto Paulo Montenegro, o Censo GIFE estima que sua rede de associados investe no país cerca de R$ 2 bilhões (2010), apontando um crescimento em relação a 2008 – R$ 1,3 bilhão.

Com o patrocínio de Oi Futuro, Petrobrás, Fundação Vale, Instituto Camargo Corrêa e Fundação Bradesco, o le-vantamento também mostra que a Rede GIFE benefi ciou cerca de 24 milhões de brasileiros (2010). As áreas de Edu-cação (82%), Juventude (60%) e Cultura (60%) seguem con-centrando o maior número de investidores (estes dados não são por valor investido, mas por investidor ou benefi ciados); e a de Meio Ambiente foi a que mais cresceu nos últimos cinco anos.

coNteXto

Apesar de representar apenas uma parcela do investimen-to social brasileiro, a Rede GIFE, por reunir as maiores organi-zações, é considerada referência nacional na realização plane-jada de investimentos no campo social e seu desenvolvimento é indicativo das tendências do setor.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), as empresas brasileiras investem anualmente no Brasil, aproximadamente, R$ 6 bilhões em ações sociais, “O Censo GIFE traz nitidez para a fotografi a do investimento so-cial privado, que ainda possui poucos dados sistematizados so-bre suas práticas”, afi rma a socióloga e diretora do Ipea, Anna Maria Peliano.

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Os desafios da transição para a nova economia sustentável

Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista , de São Paulo

O local não poderia ser mais adequado. O Centro de Eventos da Fecomércio, que também abriga o Teatro Raul Cortez. Foi assim, num clima cult e bem mais descontraído que as versões anteriores, que, durante dois dias intensos foi realizada a Confe-rência Ethos 2011, reunindo cerca de 1000 pessoas.

O desafio lançado desde a divulgação do programa foi cons-truir agenda de transição para nova economia e influenciar governo sobre projeto nacional de desenvolvimento sustentá-vel. Vários palestrantes renomados – brasileiros e estrangeiros – participaram das rodas de diálogo. Executivos de empresas, representantes do Terceiro Setor e do Governo também am-pliaram o debate.

“Contamos com a presença de 30 CEOs e 182 jornalistas, o que nos ajuda a multiplicar as mensagens nas empresas e na so-ciedade”, lembrou Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos e coordenador geral da Conferência.

Com o tema transversal “Protagonistas de uma Nova Econo-mia”, a conferência reuniu CEOs de grandes empresas, lideran-ças da sociedade civil e especialistas em muitos dos temas abor-dados, como água, energia, biodiversidade, florestas, direitos humanos, finanças sustentáveis, resíduos, trabalho e educação, entre outros, para mostrar experiências e estabelecer os rumos necessários em cada área para formar uma plataforma de susten-tação para a mudança.

Mas foi Bernardo Toro, filósofo colombiano, sem dúvida, a figura mais marcante do encontro. Falou sobre a relevância da Educação neste processo de transição para a nova econo-mia sustentável. Reforçou que “é preciso cuidar” e lembrou que o planeta não está em perigo. Outro ponto de forte relevância

foi abordado pelo professor da USP, Ricardo Abramovay. Ele alertou sobre a necessidade de se trabalhar a consolidação de uma economia verde também sob o viés da inclusão e da re-dução da desigualdade. Leia mais na seção de frases, a seguir.

Num balanço final, o presidente do Ethos, Jorge Abrahão, disse: “Não temos respostas claras para todas as perguntas, mas temos empresas atuantes e com o diferencial de não estarem pensando somente em seus dilemas, mas sim na sociedade.” Itacarambi complementou: “a balança pende para o bem”.

Com a amplitude dos temas debatidos e a diversidade de atores presentes nos palcos e nas plateias, o Instituto Ethos anunciou que pretende dar corpo a uma estratégia para co-laborar com a pauta do governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A oportunidade para isso se abriu quando a entidade foi convidada a ser uma das quatro organizações da sociedade civil a ter assento na Comissão da Rio+20, que está sendo co-ordenada pelo Itamaraty. Essa comissão vai construir as pro-postas que o governo brasileiro deve encaminhar para a ONU até 1º de novembro deste ano, para que sejam analisadas e incluídas, ou não, na pauta final que será debatida por chefes de governo e de Estado de 193 países em junho de 2012, no Rio de Janeiro.

Um novo sistema interativo de perguntas e respostas foi apresentado, com grande aceitação do público. Em 2012, a Conferência será realizada no Rio de Janeiro.

Leia mais sobre a Conferência em reportagens publicadas em Plurale em site (www.pluraleemsite.com.br) e no hotsite do evento http://www.ethos.org.br/CE2011/

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Selecionamos aqui algumas frases que marcaram a Conferência do Instituto Ethos 2011, realizada em agosto último. Em 2012, o evento acontecerá no Rio de Janeiro, em maio.Frases

“É preciso mostrar para a sociedade que as opções de produtos e serviços de menor impacto estão disponíveis”DANIELA DE FIORI, Vice-Presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade do Walmart Brasil

“É preciso ousadia para avançar no tema de mudanças climáticas”IZABELLA TEIXEIRA, Ministra do Meio Ambiente

“O momento de crise global proporciona ao Brasil a oportunidade de repensar o padrão de comportamento em relação à gestão do trabalho, onde o trabalho decente seja o centro da nova sociedade”

MÁRCIO POCHMANN, Presidente do IPEA

“O maior poluidor de águas hoje é o consumidor doméstico. Apenas 20% do esgoto é tratado no país.”

LUPÉRCIO ZIROLDO, coordenador do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográfi cas

“Na construção de uma nova economia em que a relação entre a sociedade e a natureza seja central, será preciso transparência no uso dos recursos. E isso implica estabelecer limites para o consumo exagerado de energia pelos mais países e consumidores mais ricos.”RICARDO ABRAMOVAY, Professor de Economia da Universidade de São Paulo

“Não temos respostas claras para todas as perguntas, mas temos empresas atuantes e com o diferencial de não estarem pensando somente em seus dilemas, mas sim na sociedade”

JORGE ABRAHÃO, Presidente do Instituto Ethos

“O planeta não está em perigo. Quem está em perigo somos nós, seres humanos. Mas temos que nos reconhecer como espécie para sobreviver”BERNARDO TORO, Filósofo colombiano

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VIDA SaudávelQuem curte vida

saudável, circula em lojas de produtos na-turais e restaurantes saudáveis sabe que sempre há uma “es-trela” do momento. Já foi a quinoa, depois

soja preta, a romã, mais tarde o óleo de côco, cristais de pólen e por aí segue a lista extensa. Agora, a última do momento é o fruto noni. Não conhece? Tem jeito de fruta-do-conde, só que mais fininho: o nome científico é Morinda Citrifolia e originário dos mares do Sul, princi-palmente do Tahiti. Segundo especialistas, a presença de ômega 6 e óxido nítrico dilataria os vasos, melhorando a oxigenação e, consequentemente, a memória. E o noni ainda contém betacaroteno, precursor da vitamina A, e acubina, que agrega propriedades antibióticas. Não há estudos definitivos, mas o fruto também tem sido con-siderado “milagroso” em tratamentos renais. Não é fácil encontrá-lo in natura, sendo mais habitual em produtos industrializados, como polpa, sucos e chás. O gosto? Já provamos na forma de suco, mas vamos deixar a surpresa para você também testar.

Apoio:

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O livro de receitas Festa Vegetariana 2, produzido pela Sociedade Vegetariana Brasilei-ra e organizado pela jornalista Raquel Ribeiro (colaboradora de Plurale), acaba de ser lança-do durante a bem sucedida VII NaturalTech - Feira Internacio-nal de Alimentação Saudável, Produtos Naturais e Saúde, em São Paulo. A nova edição, revis-

ta e ampliada, traz três capítulos inéditos: Festa Junina, Churrasco Veg e Depois da Festa, com várias receitinhas para saudar São João, curtir um espetinho sem cruelda-de e ainda recuperar o corpo e a alma após baladinhas extravagantes. O capítulo Lista de Compras também está recheado de novos ingredientes transados, capazes de tornar sua cozinha ainda mais saborosa. O livro tem 102 paginas, custa 20 reais e está a venda no site da SVB: www.svb.org.br

A festa continua

Noni, a nova estrela

Uma nova bebida acaba de chegar ao mercado, misturando leite, quinoa, linhaça e frutas. Produzida pela Piracan-juba, a novidade é apresentada em caixi-

nhas Tetra Pak nos sabores ameixa, banana e mamão com maçã e cereais. Há embalagens menores, de 200 ml para beber de canudinho e de 500 ml com tampa de rosca. Mas, por que adicionar quinoa e linhaça a uma bebida lác-tea? De acordo com a Engenheira de Alimentos e Super-visora de P&D da Piracanjuba, Helena Camargo, a quinoa é considerada um dos alimentos mais completos para a nutrição humana, pois é fonte de proteínas, configurando como uma excelente opção, inclusive, para os vegetaria-nos. “Ela contém gorduras insaturadas, consideradas ‘gor-duras boas’, pois têm efeito antiinflamatório e previnem o aparecimento de doenças cardiovasculares. Além disso, têm importante função antioxidante e minerais, como o cálcio, o ferro, o magnésio e o zinco”, explica. A linhaça, por sua vez, é a maior fonte vegetal de ácido graxo alfa-linolênico e também de lignanas, fitoestrógenos de forte efeito antioxidante. Além disso, é fonte de fibras, tanto solúveis quanto insolúveis.

A prática regular de atividades físicas pode proporcionar muitos benefícios à saúde, como a melhora da qualidade do sono e o fortalecimento do coração. Se você quer praticar um esporte, mas ainda não decidiu qual, que tal se juntar a quatro milhões de brasileiros e começar a correr? “Quando deixamos de ser sedentários e passamos a realizar exercí-cios regulares, reduzimos o risco de doença e morte por patologias cardiovasculares. Uma pequena mudança nos hábitos do dia a dia é capaz de promover uma grande me-lhora na nossa saúde e na qualidade de vida. Porém, é fun-damental que se faça uma avaliação médica antes de iniciar qualquer atividade”, afi rma Dr. Luiz Gomes, cardiologista e médico auditor da Unimed-Rio.

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Nova bebida misturalinhaça, quinoa e frutas

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Texto: Nícia Ribas, de Serrinha (BA)Fotos: Nícia Ribas e Divulgação

A família de José da Paixão Pereira e Raimunda Santos Cardoso é uma das 22 benefi ciadas pelo Projeto Cabra Escola numa co-munidade de Serrinha (BA), uma parceria da Pfi zer e o MOC – Movimento de Organização Comunitária. Em 2005 eles rece-beram três cabras, um empréstimo de R$ 1.800,00 a ser pago em

quatro parcelas anuais a partir do segundo ano; capacitação em caprinocultura e acompanhamento técnico para fazer crescer o rebanho e tirar dele o máxi-mo proveito. Em contrapartida têm que manter seus três fi lhos na escola. A ideia é incrementar a renda das famílias do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

“Já cheguei a ter 30 cabras”, orgulha-se José, contando que no seu aniver-sário de 50 anos matou um bode e chamou os amigos para festejar. O clima é mesmo de festa, apesar do casebre com piso de terra batida, sem energia, nem água encanada. No fogão à lenha do alpendre, Raimunda cozinha o feijão e o milho colhidos em sua roça, e uma galinha do quintal. “Quer almoçar, moça?” Traz logo o prato, serve o feijão, enquanto José chega com o pote de farinha. Alegria e orgulho nos olhos do casal.

As duas fi lhas mais velhas já lhes deram dois netos, todos criados à base de leite de cabra. Na hora da ordenha, Raimunda é a mais jeitosa. Entrega o neto a José, que não consegue conter a cabra arisca, e faz o serviço: “Com ela, os bichos fi cam mais mansos”, diz ele. Luiz Lisboa de Oliveira, técnico de

Transformação

Iniciativa no sertão baiano incentiva a educação, combate o trabalho infantil e gera renda com leite de cabra para famílias

Cabras no Quintal, Crianças na Escola

Aquatro parcelas anuais a partir do segundo ano; capacitação em caprinocultura e acompanhamento técnico para fazer crescer o rebanho e tirar dele o máxi-mo proveito. Em contrapartida têm que manter seus três fi lhos na escola. A ideia é incrementar a renda das famílias do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

“Já cheguei a ter 30 cabras”, orgulha-se José, contando que no seu aniver-sário de 50 anos matou um bode e chamou os amigos para festejar. O clima é mesmo de festa, apesar do casebre com piso de terra batida, sem energia, nem água encanada. No fogão à lenha do alpendre, Raimunda cozinha o feijão e o milho colhidos em sua roça, e uma galinha do quintal. “Quer almoçar, moça?” Traz logo o prato, serve o feijão, enquanto José chega com o pote de farinha. Alegria e orgulho nos olhos do casal.

As duas fi lhas mais velhas já lhes deram dois netos, todos criados à base de leite de cabra. Na hora da ordenha, Raimunda é a mais jeitosa. Entrega o neto a José, que não consegue conter a cabra arisca, e faz o serviço: “Com ela, os bichos fi cam mais mansos”, diz ele. Luiz Lisboa de Oliveira, técnico de

Iniciativa no sertão baiano incentiva a educação, combate o trabalho infantil e gera renda com leite de cabra para famílias

José da Paixão Pereira e família

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agropecuária do MOC, que faz o planejamento da proprie-dade e orienta sobre alternativas de geração de renda e tecnologia para o semi-árido, explica que se trata de um criatório com certa rejeição na região por causa de sua agressividade: “Através do projeto, estamos quebrando essa resistência”.

E os fi lhos do casal deixaram realmente de ajudar na criação e na roça para frequentar a escola? Mais ou menos. Itairan, 11 anos, é assíduo na 6ª. série da Escola Municipal João Francisco Pereira, mas o que ele gosta mesmo é pas-sar as tardes no terreiro de casa, ajudando os pais com as cabras e a roça. “Hoje, graças a Deus, os menino estuda; as mais velha também e ainda continuam ajudando, só que elas prefere ir para o motor do sisal”, diz Raimunda, ela

própria diarista do sisal do Miguel . Em plena região sisaleira, muitos atuam na extração da fi bra, atividade de alto risco de acidente de trabalho, com muita decepação de membros, se-gundo os técnicos do MOC.

proGresso À vista

Na propriedade de Pedro Ferreira dos Santos e Jandira Ramos dos Santos, a movimentação é grande. Pedro, com ajuda de ami-gos e vizinhos, ergue canteiros sob orientação dos técnicos do MOC, que explicam que só assim a horta vai manter a umidade em tempos de seca. Pilhas de sacos de cimento ocupam parte da sala da casa novinha, recém construída.

- E então, seu Pedro, desde quando está no Projeto? - Ah, isso quem sabe é a mulher, ela já vem vindo aí... Bem disposta, decidida, Jandira cuida de tudo mesmo e se or-

gulha de ter todos os seus oito fi lhos na escola. Antes de 2004, ano em que a família entrou para o Cabra Escola, ela e Pedro se viravam com os R$ 150,00 mensais que recebem do Bolsa Família. Para sobreviver, vendiam dias de trabalho nas roças grandes da região e faziam esteira e bocapio (um tipo de sacola) de pindoba, uma palha que buscavam em Santa Luz. “Nós ia daqui pra rua a pé, levando na cabeça o que tinha para vender na feira de Serrinha,” lembra. Com os artesanatos de palha e o produto do roçado, con-seguiam apurar R$ 2,50 para comprar farinha e feijão. Carne, só de vez em quando.

Enquanto exibe suas cabras, galinhas e ovelhas, Jandira lem-bra que, antes do Projeto, não podia ter animais: “Não tinha nem comida pra gente, quanto mais para os bichos”. Seus netos, de três e sete anos, foram salvos da anemia graças ao leite de cabra. O roçado de aipim, feijão e milho garantia a sobrevivência deles, além dos pés de banana, laranja e tangerina espalhados pelo ter-reno. Na paisagem verdejante de início de inverno, entre cactos fl oridos,Venâncio e Ronilson, de 11 e 10 anos, correm no meio das cabras, segurando-as pela canga, enquanto a mãe faz a ordenha. Clima de alegria, cooperação e muito carinho.

Jandira fez os cursos oferecidos pelo MOC para lidar com as cabras e as plantações. Agora sonha em expandir seus canteiros de hortaliças, que ela chama de lera: coentro, salsa, cebolinha. Mas, isso só vai ser possível quando fi car pronta a nova cisterna que está sendo instalada em seu terreno.

Jandira Ramos dos Santos

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201146

mais áGua No sertÃo

O semi-árido da Bahia, onde 75% da população têm renda média mensal abaixo de um salário mínimo, 35% são analfabetos, e 80% da produção advêm de atividades rurais, é considerado um dos lugares mais pobres do Brasil.

Com 76 mil habitantes, Serrinha, vizinha de Feira de Santana, que é conhecida como o portal do sertão, sofre a ação do sol quente durante a maior parte do ano. Com muitos minifúndios, apenas três ou quatro meses de chuvas, e rios de água salobra, o maior problema da Região é a irrigação. “Não dá para contar apenas com a água dos barreiros e açudes, temos que manter reservas de água para o período da seca”, explica o agrônomo Mateus Carneiro.

O projeto Uma Terra e Duas Águas, desenvolvido em parceria com o Moc, prevê uma cisterna para uso da casa, de 16 mil litros; e outra de produção, com 50 mil litros, para garantir a irrigação do terreno e a criação de animais. As famílias benefi ciadas pelo

Projeto Cabra Escola têm prioridade para atendimento. É essa cisterna de produção que Jandira aguarda com ansiedade para poder estender sua horta de lera.

toDos Na sala De aula

A Escola Municipal João Francisco Pereira acolhe hoje 270 alunos contra os 130 de dois anos atrás. “Com os incentivos dos projetos sociais, os alunos permanecem mais na escola e quando precisam faltar, as mães mandam bilhetes, justifi cando”, diz a di-retora Marta Pereira Bispo Pinto. Filhos de pequenos agricultores, meninos e meninas conciliam seus estudos com o trabalho na roça que mantém para consumo próprio ao lado de suas casas.

“Estudo pela manhã e à tarde ajudo painho no roçado de mandioca, feijão e milho”, conta Marcos Aurélio Pereira de Jesus, 18 anos, 8ª. série, com talento para o desenho. Já José Hamilton Cardoso Pereira, 18 anos, 6ª. série, gosta mesmo é de jogar vide-ogame depois da aula.

As colegas Maria Evanúzia Araujo dos Santos e Joyce Pereira de Jesus, 15 anos, sonham com o casamento e têm um olhar po-ético sobre o trabalho na roça: “Os homens cavam, as mulheres plantam e a colheita é feita por todos juntos, até as crianças pe-quenas.” O milho que elas ajudam a plantar e colher vira canjica e pamonha nas barraquinhas das tão esperadas festas juninas, quando costumam arrumar namorado.

46

abraNGÊNcia Do cabra escola

Com apoio da Unicef, o projeto da Pfi zer está presente nos municípios de Serrinha, Riachão do Jacuípe, Nova Fátima, Con-ceição do Coité, Ichú, Barrocas, Queimadas, Quijingue, Nordes-tina e Pé de Serra. Mais de 900 caprinos da raça anglonubiana já foram fi nanciados. Os agricultores familiares escolhem seus ani-mais nas feiras do Cabra Escola realizadas a cada nova edição do Projeto, que teve início em 2002. Os recursos do fi nanciamento, captados pelo MOC são transferidos para o Cogefur – Conselho Gestor do Fundo Rotativo, que disponibiliza o crédito através das Cooperativas de Crédito.

Cada família recebe até cinco caprinos. Mas antes chega o apoio técnico e fi nanceiro para estruturar suas propriedades, de modo que possam introduzir ali a caprinocultura de corte, leitei-ra e mista. Com isso, as famílias conseguem criar seus animais, mesmo durante a seca. A Pfi zer e todos os envolvidos no projeto acreditam que as famílias tenham um acréscimo bastante signi-fi cativo no seu orçamento mensal, com a venda de leite, carne e couro. Além do ganho em qualidade da alimentação e, conse-quentemente, da saúde da família.

O Cabra Escola é reconhecido pelo Banco Mundial e pela Unicef como experiência modelo e considerado bem sucedido na prevenção e erradicação do trabalho infantil na região sisaleira da Bahia. Em 2008, recebeu o prêmio Corporate Citizen of the Américas, conferido pela Trust of the Americas, afi liada à OEA – Organização dos Estados Americanos.

o Que é o mocO Movimento de Organização Comunitária, sem fi ns lucrati-vos, fi ca em Feira de Santana, no semi-árido baiano, e concentra sua atuação nos municípios da Região Sisaleira, mas sua metodo-logia de apoio à mobilização da sociedade civil na luta pelo exercí-cio dos seus direitos se estende a outros estados.“Nossa atuação se desenvolve através de programas baseados nas linhas estratégicas da instituição, todos voltados para a for-mação de pessoas, fortalecimento de organizações populares e a interferência em espaços onde ocorre a construção, elaboração e controle social de políticas públicas, com ênfase naqueles de caráter regional, como conselhos, comissões e fóruns; municipal, e até a nível nacional”, explica Alex Lima de Meirelles, do MOC.

Transformação

Maria Evanuzia Araujo dos Santose Joyce Pereira de Jesus

Itairan Cardoso

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47Bazar ético

As águas límpidas de Bonito, no Mato Grosso do Sul, fi caram famosas e atraem cada vez mais turistas para a região. Por suas belezas naturais, o Município de Bonito ganhou várias vezes premiações de ecoturis-

mo e projeto sustententável. Entretanto, a população mais carente do município não tem participado diretamente desse mercado local gerado pelo turismo e foi pensando nisso, aproveitando essa oportunidade, que nasceu o Fibra Viva.O Projeto Fibra Viva é uma das ações do Instituto Família Legal, uma organização não governamental situada em Bonito, que atende, em período contrário ao escolar, 100 crianças e adolescentes em si-tuação de risco no município. O Instituto é uma organização criada para dar atendimento não só a criança carente, mas para toda a sua família, por acreditar ser este o caminho mais viável para atingir ao seu objetivo que é o de complementar a formação dessas crianças com atividades criativas e estimulantes visando compensar a defa-sagem educacional causada pela pobreza e desajuste familiar. As famílias frequentadoras do Instituto são selecionadas através de um criterioso método de classifi cação, que envolve todos os órgãos responsáveis pela assistência social do município. Por sua vez, a palavra “Legal” do nome da organização deve-se à participação do Ministério Público da Vara da Infância e da Adolescência em todo o seu processo de criação e desenvolvimento. Nos dois primeiros anos de vida, o projeto foi apoiado pela Petro-bras. Ele amplia a oportunidade de atendimento às famílias cujos fi lhos são frequentadores do Instituto Família Legal e tem como objetivo capacitar mulheres para a produção e comercialização de artesanato, aproveitando esse potencial do mercado formado pe-los mais de 200 mil turistas que Bonito recebe por ano, vindos de todas as partes do mundo. Nos três anos de duração, o projeto já capacitou aproximadamente 70 mulheres e comercializou aproximadamente 10 mil unidades. São sacolas, bolsas, luvas de forno, protetores de notebook entre outros objetos utilitários, confeccionados com técnica apurada de produção, tipo “patchwork” e decorados com a fauna local. Além da preocupação de gerar renda para famílias carentes e de valorizar a natureza regional nos seus motivos e cores, o proje-to busca sensibilizar os seus participantes e consumidores para a importância da reutilização de materiais para a conservação da natureza. Toda a matéria-prima utilizada para a fabricação de suas peças vem de materiais usados e descartados, tais como as roupas de neoprene utilizadas nos diversos passeios de fl utuação existentes no município e lonas de malotes danifi cados doados pelos Correios e Banco do Brasil.

Contato: Instituto Família Legal - Av. Paulo VI, 229 - BNHCEP 79290-000 Bonito/MS - TEL: (67) 3255-1820Site: http://www.familialegal.org.br/E-mail : [email protected]

Fibra Viva gera renda em Bonito

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

bras. Ele amplia a oportunidade de atendimento às famílias cujos fi lhos são frequentadores do Instituto Família Legal e tem como objetivo capacitar mulheres para a produção e comercialização de artesanato, aproveitando esse potencial do mercado formado pe-los mais de 200 mil turistas que Bonito recebe por ano, vindos de

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Reabilitação

48

Ainda é madrugada quando Robson de Paula Goulart, de 40 anos, mo-rador de Mesquita, município da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, levanta, toma banho

e se arruma. Ele fi ca pronto às 5h, horário em que chega o transporte da prefeitura que o leva-rá para o tratamento de reabilitação.

Essa é a sua rotina desde 2006 quando, por causa da paraplegia (perda de movimentos da cintura para baixo) provocada por uma infl a-mação na coluna, iniciou a reabilitação na As-sociação Brasileira Benefi cente de Reabilitação (ABBR). Inaugurada em 05 de agosto de 1954, num terreno de mais de 11 mil m2, a instituição fi ca no Jardim Botânico, Zona Sul da cidade do Rio, bem distante da casa do atendente.

E lá Robson chega por volta das 7h para suas sessões de fi sioterapia e terapia ocupacional. Ele passa por um longo corredor de entrada, em que fi ca uma pequena loja com produtos ortopédi-cos, além de consultórios e salas de psicólogos, fonoaudiólogos, musicoterapeutas e assistentes sociais, e, no horário marcado, dirige-se aos se-tores nos quais é atendido.

Um deles é o Ginásio de Fisioterapia, onde profi ssionais ajudam a reabilitar pacientes com lesões raquimedulares e mielopatias, como é o caso do Robson. Para ele, a atenção e o carinho dos profi ssionais ajuda na recuperação dos pa-cientes. “O atendimento é bastante humaniza-do. Sinto como se já fosse uma família. E isso au-menta a nossa autoestima”, sorri o atendente.

Não é surpresa que Robson pense assim. Segundo o presidente da entidade, o cirurgião

Texto: Janaína Salles, Especial para Plurale em revistaFotos: Katarine Almeida e Divulgação ABBR

ABBR completa 57 anos com história marcada pela recuperação de pacientes de diferentes pontos do País

vida em movimentoA batalha pela

Robson Goulart

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especialista em coluna vertebral Deusdeth Gomes do Nascimento, a preocupação com a qualidade do atendimento está impressa nos valores e na missão da ABBR. Para ele, a entidade “deve ofe-recer serviços integrados de reabilitação física a pessoas de todas as idades, com qualidade e res-ponsabilidade social, estimulando potencialidades e independência para uma vivência plena e digna na sociedade”.

Empresa privada sem fi ns lucrativos, conside-rada de Utilidade Pública, a ABBR atende pacientes de todos os 92 municípios do Estado, dos quais mais de 70% pelo convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS). Números signifi cativos, ainda mais somados a outros dados: por dia são atendidos cerca de 1,3 mil pacientes, e mais de 12 mil produ-tos ortopédicos são fornecidos todos os anos pela fábrica de órteses e próteses da ABBR, que funcio-na paralelamente ao centro de reabilitação.

Além das crianças, dos adultos e dos idosos que recebem atendimento gratuito pelo SUS, para tra-tar grandes lesões, pessoas que sofrem de dores na coluna, artrose, osteoporose ou outras patologias, também podem ter acesso a diversos tratamentos através convênios privados ou particulares, como é o caso de quem procura Pilates, Hidroterapia e Medicina Esportiva.

Nascimento, no entanto, reconhece que só é possível atender a tanta gente porque há apoio do poder público e da sociedade, através de doações, pois os custos com os tratamentos são muito ele-vados. “A contribuição de nossos mantenedores e parceiros é de grande importância para a sustenta-bilidade da instituição”.

O que se refl ete nas mudanças pelas quais a ABBR tem passado. Nos últimos anos, através das

Arquivo ABBR

parcerias com esferas do governo e com a iniciativa privada, setores foram refor-mados e equipamentos mais modernos foram comprados. Como é o caso do suporte de peso para treinamento de marcha, que auxilia no tratamento de le-sões medulares graves, e do videogame Nitendo Wii – que permite ao paciente fazer exercícios repetitivos, de maneira divertida, já que o jogo obriga o usuário a se mexer constantemente.

Foi também ao realizar atividades lúdicas durante o tratamento na ABBR que o jovem Luciano Alves, de 23 anos, descobriu seu talento: o de pintar. “Um dia eu estava deitado na cama e disse: ‘meu Deus, sei que não mexo as pernas nem os braços, mas me dá uma forma

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de ganhar dinheiro com o fruto do meu trabalho’. Uma semana depois eu comecei a pintar”, lembra o jovem, que hoje pinta melhor com a boca, do que desenhava com as mãos.

Luciano chegou à instituição após bater com a cabeça no fundo do mar, ao cair da Pedra do Ar-poador, quando tinha apenas 15 anos. “Parecia que eu tinha morrido, que estava em outra dimensão. Eu me lembrei de coisas de quando eu era bebê, vi toda a minha vida num flash”.

Mas o hoje pintor profissional e estudante de jornalismo sobreviveu, passou por cirurgias e mui-tas horas de fisioterapia (que faz até hoje), apren-dendo a se adaptar à cadeira de rodas e ao fato de ter perdido o movimento das pernas e dos braços. Ainda assim, encontrou em pincéis e telas uma fon-te de inspiração e renda para a família. O instrutor Gilson, do setor de Oficina Terapêutica da entida-de, o incentivou a começar. Por isso guarda com orgulho até hoje a primeira tela de Luciano, que retrata o local onde se acidentou.

Para o estudante, a pintura significa um instru-mento de inclusão e a oportunidade de fazer tudo o que faz hoje: estudar, expor e viver do seu traba-lho. “Antes da deficiência eu não sabia desenhar. Até tentava, achava bonito, mas não tinha o dom. Até fugia das aulas de artes do colégio. E foi quando vendi meu primeiro quadro que me dei conta de que podia fazer aquilo”, sorri ele, atual estágiário em Assessoria de Imprensa.

História parecida tem Messias Fernandes de Oliveira, pernambucano de Bom-Jardim. Assim como Luciano, e como tantos outros, ele era novo quando sofreu o acidente em Magé, no Rio: tinha apenas 14 anos quando mergulhou num rio, bateu a cabeça na pedra e lesionou a coluna.

Faltavam poucos dias para voltar para casa, das férias, mas a viagem teve que ser adiada por mais de dois anos. Esse foi o período que em Messias passou por hospitais e chegou à ABBR. Desenganado pelos médi-cos, acabou sendo operado e três meses depois estava de pé, com a ajuda de aparelhos. Chegou a enfrentar cerca de oito horas di-árias de fisioterapia.

Até que a saudade da família o levou de volta a Pernambuco, onde reaprendeu a escrever, re-tornou à escola e fez o que ele mais queria: voltar a cavalgar. Anos mais tarde, voltou a morar no Rio, formou-se em Psicologia e hoje atende pessoas que tam-bém têm algum tipo de deficiên-cia. “Antes de persistir, acredite”, é uma das mensagens que ele passa a seus pacientes.

Reabilitação

PÁGINA 22JULHO 2011 8

[NOTAS][CARRO ELÉTRICO]

VAI OU NÃO VAI?

Cerca de 300 pessoas estiveram reunidas no fim de junho para debater os potenciais

e desafios envolvidos na introdução e uso de veículos elétricos no Brasil. O Seminário Brasileiro sobre Tecnologias para Veículos Elétricos foi organizado pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, em Brasília.

Reduzir nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis – e, de quebra, cortar emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global – exige o desenvolvimento de novas alternativas que trazem os seus próprios desafios tecnológicos, industriais, comerciais e políticos. Nesse contexto, os carros elétricos não são exceção.

O objetivo do encontro foi estabelecer bases para acelerar a implantação dessa nova opção em território nacional. Segundo o diretor-presidente da ABVE, Pietro Erber, os veículos híbridos que aumentam a eficiência dos atuais veículos de combustão interna em 30% serão os primeiros a chegar às ruas.

Apesar do uso dos carros elétricos ainda estar muito ligada à questão tecnológica – o desenvolvimento de baterias mais eficientes e baratas tem sido uma preocupação constante –, um dos debates mais esperados foi o que discutiu políticas públicas para esses veículos e contou com a presença do secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Henrique Barbosa Filho. “Os veículos elétricos são uma tendência de desenvolvimento tecnológico e representam uma grande oportunidade para o Brasil”, afirmou. – POR

FÁBIO RODRIGUES

[CHILE I]

HERMANOS TAMBÉM NA CORRIDA ENERGÉTICA

A largada foi dada. Em resposta à crise de oferta de energia no Chile, os órgãos

responsáveis pelo setor no país assumiram o desafio de elevar a participação das fontes renováveis de 3% para o patamar de 20%. Hoje, o Chile enfrenta dois problemas: a necessidade de importar quase todos os insumos energéticos e ainda depender de fontes poluentes.

Ao mesmo tempo, crescem as críticas à construção da hidrelétrica HidroAysén.

Aprovada pelo presidente Sebastián Piñera, a usina deve gerar 2.750 megawatts, mas, por ser projetada na Patagônia, foi rechaçada por parte importante da população chilena e atacada até mesmo em um editorial do New York Times.

Com isso, especialistas dizem que é mais realista trabalhar com a meta de 10% para as renováveis. O Ministerio de Energía formou uma comissão para avaliar todas as possibilidades para o desenvolvimento elétrico do país, que tem uma matriz instalada de 15.460 MW. Mais da metade dela utiliza carvão, petróleo e gás natural.

Enquanto isso, cinco dos Consórcios Tecnológicos Empresariais de Investigação em Biocombustíveis – formados por empresas e universidades – receberam financiamento público para avançar no desenvolvimento e implementação de tecnologias. Os projetos já começaram a andar. – POR HELÔ REINERT, DE

SANTIAGO DO CHILE

[CHILE II]

SOLUÇÃO AQUÁTICA

Três projetos, orientados para o desenvolvimento de tecnologia para o

cultivo de microalgas para produção de biocombustíveis, deram a largada em janeiro e têm até 2016 para apresentar resultados. O primeiro já conta com um laboratório para o cultivo das cepas que serão posteriormente levadas a uma planta-piloto. O segundo prevê a construção de uma biorrefinaria dentro de uma central termoelétrica existente. As microalgas serão cultivadas em piscinas internas que se alimentarão do CO2 produzido no processo de geração de energia. Por último, estuda-se a utilização de microalgas de uma espécie nativa que serão cultivadas em Chiloé, ao Sul do Chile. (HR)

[CHILE III]

Presente do deserto

O deserto do Chile tem sido fonte de inspiração para o desenvolvimento de diferentes projetos de energia. Até o final do ano, será aberta uma licitação para a produção de energia fotovoltaica na cidade de San Pedro de Atacama. A região reúne condições

melhores para a produção desse tipo de fonte que Espanha e Alemanha, os países que mais se valem dela. Atualmente, a cidade é iluminada com geradores alimentados predominantemente com diesel, mas isso não será mais assim. Em breve, o sol do deserto gerará boa parte da demanda. Trata-se de um projeto para 500 KW.

As probabilidades de crescerem as apostas nesse tipo de energia aumentam no Chile. Considera-se que as condições estão, de certa forma, dadas. A crise na economia espanhola provocou a queda no preço da tecnologia solar, enquanto o do diesel voltou a subir, e já chegaram ao Chile grandes fornecedores como Farosa, Abengoa e Acciona para prospectar mercado. Também na região norte, a Codelco, considerada a primeira produtora de cobre do mundo, finaliza a construção da primeira planta industrial solar da América do Sul. A potência instalada é de 1 MW. A produção está prevista para começar até o fim de 2011. (HR)

DIV

ULG

ÃO

ACESSE, NA VERSÃO DIGITAL DESTA NOTA EM FGV.BR/CES/PAGINA22, INFORMAÇÕES SOBRE PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

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Anúncio ETHOS

PÁGINA 22JULHO 2011 8

[NOTAS][CARRO ELÉTRICO]

VAI OU NÃO VAI?

Cerca de 300 pessoas estiveram reunidas no fim de junho para debater os potenciais

e desafios envolvidos na introdução e uso de veículos elétricos no Brasil. O Seminário Brasileiro sobre Tecnologias para Veículos Elétricos foi organizado pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, em Brasília.

Reduzir nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis – e, de quebra, cortar emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global – exige o desenvolvimento de novas alternativas que trazem os seus próprios desafios tecnológicos, industriais, comerciais e políticos. Nesse contexto, os carros elétricos não são exceção.

O objetivo do encontro foi estabelecer bases para acelerar a implantação dessa nova opção em território nacional. Segundo o diretor-presidente da ABVE, Pietro Erber, os veículos híbridos que aumentam a eficiência dos atuais veículos de combustão interna em 30% serão os primeiros a chegar às ruas.

Apesar do uso dos carros elétricos ainda estar muito ligada à questão tecnológica – o desenvolvimento de baterias mais eficientes e baratas tem sido uma preocupação constante –, um dos debates mais esperados foi o que discutiu políticas públicas para esses veículos e contou com a presença do secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Henrique Barbosa Filho. “Os veículos elétricos são uma tendência de desenvolvimento tecnológico e representam uma grande oportunidade para o Brasil”, afirmou. – POR

FÁBIO RODRIGUES

[CHILE I]

HERMANOS TAMBÉM NA CORRIDA ENERGÉTICA

A largada foi dada. Em resposta à crise de oferta de energia no Chile, os órgãos

responsáveis pelo setor no país assumiram o desafio de elevar a participação das fontes renováveis de 3% para o patamar de 20%. Hoje, o Chile enfrenta dois problemas: a necessidade de importar quase todos os insumos energéticos e ainda depender de fontes poluentes.

Ao mesmo tempo, crescem as críticas à construção da hidrelétrica HidroAysén.

Aprovada pelo presidente Sebastián Piñera, a usina deve gerar 2.750 megawatts, mas, por ser projetada na Patagônia, foi rechaçada por parte importante da população chilena e atacada até mesmo em um editorial do New York Times.

Com isso, especialistas dizem que é mais realista trabalhar com a meta de 10% para as renováveis. O Ministerio de Energía formou uma comissão para avaliar todas as possibilidades para o desenvolvimento elétrico do país, que tem uma matriz instalada de 15.460 MW. Mais da metade dela utiliza carvão, petróleo e gás natural.

Enquanto isso, cinco dos Consórcios Tecnológicos Empresariais de Investigação em Biocombustíveis – formados por empresas e universidades – receberam financiamento público para avançar no desenvolvimento e implementação de tecnologias. Os projetos já começaram a andar. – POR HELÔ REINERT, DE

SANTIAGO DO CHILE

[CHILE II]

SOLUÇÃO AQUÁTICA

Três projetos, orientados para o desenvolvimento de tecnologia para o

cultivo de microalgas para produção de biocombustíveis, deram a largada em janeiro e têm até 2016 para apresentar resultados. O primeiro já conta com um laboratório para o cultivo das cepas que serão posteriormente levadas a uma planta-piloto. O segundo prevê a construção de uma biorrefinaria dentro de uma central termoelétrica existente. As microalgas serão cultivadas em piscinas internas que se alimentarão do CO2 produzido no processo de geração de energia. Por último, estuda-se a utilização de microalgas de uma espécie nativa que serão cultivadas em Chiloé, ao Sul do Chile. (HR)

[CHILE III]

Presente do deserto

O deserto do Chile tem sido fonte de inspiração para o desenvolvimento de diferentes projetos de energia. Até o final do ano, será aberta uma licitação para a produção de energia fotovoltaica na cidade de San Pedro de Atacama. A região reúne condições

melhores para a produção desse tipo de fonte que Espanha e Alemanha, os países que mais se valem dela. Atualmente, a cidade é iluminada com geradores alimentados predominantemente com diesel, mas isso não será mais assim. Em breve, o sol do deserto gerará boa parte da demanda. Trata-se de um projeto para 500 KW.

As probabilidades de crescerem as apostas nesse tipo de energia aumentam no Chile. Considera-se que as condições estão, de certa forma, dadas. A crise na economia espanhola provocou a queda no preço da tecnologia solar, enquanto o do diesel voltou a subir, e já chegaram ao Chile grandes fornecedores como Farosa, Abengoa e Acciona para prospectar mercado. Também na região norte, a Codelco, considerada a primeira produtora de cobre do mundo, finaliza a construção da primeira planta industrial solar da América do Sul. A potência instalada é de 1 MW. A produção está prevista para começar até o fim de 2011. (HR)

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ACESSE, NA VERSÃO DIGITAL DESTA NOTA EM FGV.BR/CES/PAGINA22, INFORMAÇÕES SOBRE PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201152

Cultura

Triste aparência lunar. Esse costuma ser o aspecto de uma área explorada pela mineração. Inhotim, antiga área de carregamento de minério de ferro, mostra ser possível consertar um estrago desse quilate: da terra

seca e pedregosa surgiram cinco lagos, hoje rodeados por gar-ças, maritacas, martins-pescadores, cisnes e centenas de passa-rinhos. Em volta desse mundo aquático repleto de vida, uma paisagem digna de Monet descansa os olhos e enche a alma de verde, com pontes românticas, fl ores das mais diversas cores e jardins milimetricamente traçados. Só de palmeiras existem ali mais de 1200 espécies diferentes! Burle Marx se sentiria em casa: a principal alameda é batizada com seu nome e em todo o paisa-gismo percebe-se a infl uência do mestre.

Texto e Fotos: Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em revista - De Brumadinho (MG)

Uma eterna bienal em jardins babilônicosNos arredores de Belo Horizonte, o Instituto Inhotim, um parque guarnecido por fi níssimas galerias, é hoje referência internacional de beleza, qualidade e arte contemporânea

Não bastasse tanta beleza natural, nesse verdadeiro jar-dim botânico crescem galerias de arte contemporânea, com um acervo do nível de um MoMA nova-iorquino. Obras de Hélio Oiticica, Cildo Meirelles, Adriana Varejão, Tunga, Chris Burden, Matthew Barney, Janet Cardiff e outros nomes quen-tes do Brasil e do mundo estão confortavelmente instaladas em galerias que muitas vezes foram construídas sob medida. É o caso da instalação Sonic Pavilion, do artista norte-ame-ricano Doug Aitken. Construída no ponto mais alto do par-que, uma nave cilíndrica com paredes de vidro impressiona. Do lado de dentro, uma lente espelhada protege a abertura de um buraco de 202 metros de profundidade. Instalados lá embaixo, 12 microfones transmitem para a sala os ruídos

Page 53: plurale em revista ed.24

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amplificados das entranhas do solo, criando um inusitado ambiente meditativo. “As pessoas entram, tentam olhar o buraco e se vêem: cada um é responsável pelo que ocorre na terra”, interpreta Nahana, uma simpática monitora de ar-tes. A obra “de lama lâmina”, de Matthew Barney (foto) tam-bém ganhou uma “casa” moldada a sua altura, literalmente. Trata-se de um guindaste imenso, com pinças que seguram uma majestosa árvore desenraizada (feita de cera), dentro de uma estrutura geodésica de vidro e metal. A geometria perfeita e a máquina representam a luta do progresso con-tra a natureza – ao menos assim entendi essa imagem que remete a titãs e orixás.

Impactantes, incompreensíveis, incômodas, profundas ou simplesmente belas, as obras do Inhotim falam à mente e ao espírito. Cada uma, ao seu modo, provoca uma reação. Eu fui tocada, particularmente, pelas experiências sonoras. Caminhar num amplo salão envidraçado ouvindo um coral gregoriano afinadíssimo – cada voz saia de uma das 96 cai-xas de som, com os naipes de barítonos, contraltos, tenores e sopranos “se movendo e circulando” conforme o anda-mento da música – foi uma viagem virtual ao centro de um palco no século XIII. Minha filha de quatro anos elegeu a galeria Cosmococa, de Oiticica, com suas cinco salas lúdi-cas, que convidam o visitante a ser “participante” das obras. Entre elas, encontramos salas com bolas de soprar, redes, almofadas em formas geométricas, chão macio e uma pisci-na com luzes que desenham imagens no teto (e onde, ape-sar da água fria, todos podem entrar e depois usar uma das dezenas de toalhas à disposição). Tudo no ritmo da trilha de Yoko Ono, Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Jimi Hendrix e John Cage. Para Oiticica, pioneiro da arte contemporânea, se o público não interage, a obra inexiste: ou seja, tudo ali pode ser tocado, curtido, vivenciado. O curioso é que esse trabalho habita a galeria mais sisuda do museu-jardim – o prédio parece um bunker. Provocação através do contraste? Brincadeira com a embalagem cinza contendo um presente multicolorido? O certo é que o arrojado acervo de Inhotim interage, dialoga (e eventualmente discorda, discute) com as galerias e com o paisagismo do entorno. A integração das muitas esculturas ao ar livre, espalhadas nessa imensa área de 97 hectares, se faz ainda mais clara: estátuas são emol-

duradas por jardins floridos, instalações bizarras são cercadas de palmeiras exóticas, árvores centenárias e objetos curiosos – como o mega-caleidoscópio do artista dinamarquês Olafur Eliasson – rode-ado por plantas suculentas com forma de polvo. Talvez a obra mais adaptada a seu entorno seja Beam Drop Inhotim, recriada em 2008 (originalmente instalada no Art Park, nos EUA, e destruída em 1987). Trata-se de uma “plantação” de 71 vigas metálicas de construção, que foram jogadas por um guindaste de uma altura de 45 metros, dentro de uma vala repleta de cimento fresco. Conforme o concreto secava, as vigas consolidavam a obra na posição em que eram “engessadas”. Localizada no alto da montanha, parece um bosque futurista. Outro trabalho que chama a atenção é a instalação de Yayoi Kusama: 500 esferas brilhantes de aço inoxidável flutuam nos espelhos d’água de um jardim suspenso e movem-se ao sabor dos ventos – e de mãos

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impacto ambieNtal e social

Quando se fala em impacto, pensamos logo no lado negativo, já que raramente a presença humana na natureza traz algum bem. Pois em Inhotim, o solo devastado foi transformado em uma terra rica, centenas de milhares de árvores foram plantadas ou transplantadas e a vegetação natural do entorno foi preservada com a criação de uma reserva que já virou fl oresta. O impacto social é igualmente positi-vo: dos cerca de 700 funcionários, boa parte vem de Brumadinho, e os guias artísticos e ambientais incluem muitos estudantes de Belo Horizonte. O Instituto Inhotim desenvolve pesquisas na área ambiental, ações educativas e um programa de inclusão e cidadania para as comunidades vizinhas. Os projetos Inhotim Encanto e Coral e Iniciação Musical são bons exemplos, pois mobilizam crianças, jovens e adultos. Uma parceria com a prefeitura de Belo Horizonte promove visitas gratuitas aos alunos da rede pública com o programa Escola Integrada: toda terça e quarta-feira cerca de 400 alunos passam o dia inteiro em visita educacional. A prefeitura fi nancia o transporte e o Instituto oferece almoço, entrada, lanche e visita.

curiosas – refl etindo as imagens ao seu redor e produzindo ruí-dos tranquilizantes. Poesia pura...

Não é preciso ser expert em arte contemporânea, nem se sentir particularmente tocado por alguma das obras para curtir Inhotim. Se você for seduzido pela placidez dos lagos, sinuosi-dade dos jardins, imponência das palmeiras, delicadeza das or-quídeas e pela poesia das veredas de plantas mimosas, captou boa parte da verve artística do lugar. Se simplesmente aproveitar a sombra e a majestosa presença do tamboril, árvore que chega a 35 metros de altura, terá agradando Bernardo Paz, idealizador desse fabuloso projeto e presidente do conselho de administra-ção do Instituto Inhotim. Afi nal, a primeira peça a ser colocada no terreno inóspito da antiga mineradora não foi uma obra de arte e sim uma muda de planta. Amigo de Burle Marx, ao sonhar com Inhotim, Paz imaginou um imenso jardim.

Aberto ao público em 2006, o Instituto já recebeu, em um único dia de feriado, 4600 visitantes. Tudo organizadíssimo,

limpo, bem exposto, sinalizado e... vigiado! Nada de fotografar o interior das galerias, fazer piquenique ou entrar nos lagos. Coisa fi na. E que merece ser reproduzida mundo afora. Se dez por cen-to dos bilionários aplicassem assim uma parcela de seus lucros, o mundo seria mais belo...

Cultura

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aprecie sem moDeraÇÃo

Situado no simplório município de Brumadinho, a 51 quilômetros de Belo Horizonte, Inhotim pode ser visitado em um único dia, mas merece pelo menos o dobro (assim você escapa da angustia de querer ver tudo de uma vez, e não conseguir). O ideal é chegar perto das nove da manha e fi car até o ultimo minu-to (as galerias fecham as 16h30 durante a semana e as 17h30 nos fi nais de semana), depois dá para fazer compras na lojinha, que oferece artesanato ecológi-ca e socialmente correto. Entre uma galeria e outra, pare para descansar num dos monumentais bancos do designer Hugo Franca, feitos com troncos inteiros (Inhotim exibe o maior acervo de esculturas mobili-árias do artista paulistano). Tome um café expresso ou um sorvete italiano divino e almoce num dos apra-zíveis restaurantes (tudo caro, porém de primeira). Recomendo o Oiticica, em frente ao lago principal. As mesinhas de fora recebem a sombra de uma árvore vestida de bromélias e orquídeas, a comida é boa e o serviço, impecável. Em Brumadinho ainda não há luga-res gostosos para comer ou beber, mas nos arredores você consegue encontrar uma comida caseira variada e bem feita, como a da simpática pousada Dona Car-minha. Caso saia do Rio de Janeiro e pretenda viajar de carro, é bom fazê-lo durante o dia, pois as estradas sinuosas têm sinalização precária, sem acostamento, com muitos caminhões e poucos postos de gasolina.

Para saber mais: http://www.inhotim.org.br

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas

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Itaú Unibanco é eleito bancomais sustentável do mundo

O Itaú Unibanco foi eleito, em ju-nho, em Londres, o Banco Mais Sus-tentável do Mundo no prêmio “2011 FT/IFC Sustainable Finance Awards”, concedido pelo jornal britânico Fi-nancial Times e pelo IFC (Internatio-nal Finance Corporation), braço fi -nanceiro do Banco Mundial. O banco também foi reconhecido como Mais Sustentável das Américas, concor-rendo com instituições da Argentina e do México. Em 2009 e 2010 o Itaú Unibanco já havia recebido o prêmio

na categoria Banco Mais Sustentável da América Latina e de Mercados Emergentes. “Em um mundo em plena transformação, temos muito orgulho de receber esse

reconhecimento, que na verdade reforça o nosso foco em performance sustentá-

Comunidades conectadasA Fundação Telefônica, a Vivo e o Programa Rede Jovem lançaram em 11

de agosto a expansão do projeto Wikimapa para 16 comunidades do Comple-xo do Alemão e adjacências, no Rio de Janeiro. O objetivo é criar um mapa virtual de comunidades de baixa renda, a partir da identificação de locais de interesse público, como hospitais, escolas, comércios, ONGs, praças, quadras esportivas, entre outras, além de ruas informais que ainda não constam dos serviços de pesquisa e visualização de mapas na internet.A Fundação Tele-fônica, a Vivo e o Programa Rede Jovem lançaram nesta quarta (dia 10) a expansão do projeto Wikimapa para 16 comunidades do Complexo do Alemão e adjacências, no Rio de Janeiro. O objetivo é criar um mapa virtual de comunidades de baixa renda, a partir da identificação de locais de interesse público, como hospitais, escolas, comércios, ONGs, praças, quadras esportivas, entre outras, além de ruas informais que ainda não constam dos serviços de pesquisa e visualização de mapas na internet.

vel. O Itaú Unibanco procura combinar consistente desempenho fi nanceiro com atitudes que privilegiam a ética, a transparência no relacionamento com clientes, colaboradores, acionistas e co-munidade. Nós estamos comprometi-dos com princípios sólidos de atrelar o tema aos negócios da organização. Essa caminhada está baseada em liderança responsável e na satisfação dos nossos clientes por meio da educação fi nancei-ra e da oferta de produtos adequados a necessidade e fase de vida de cada um ”, afi rmou Zeca Rudge, Vice presidente da área de Relações Institucionais do Itaú Unibanco.

Denise Hills, superintendente de Sustentabi-lidade do Itaú Unibanco (com o troféu em mãos), recebeu o prêmio de Banco Mais Sus-tentável do Mundo ao lado dos vencedores das demais categorias e de Rachel Kyte, vice presidente do IFC e John Ridding, CEO doFinancial Times (à dir. da Denise)

Françoise Trapenard , diretora da Fundação Telefônica, e Versione Souza, diretor regional da Vivo com os jovens do Complexo do Ale-mão/ Foto de Ronaldo Pereira, Divulgação.

Empresas apresentam resultados dasemissões de Gases de Efeito Estufa

Em 10 de agosto foi realizado o Evento Anual do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol, em São Paulo, em que foram apresentados os resultados de 77 inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de empresas voluntárias referen-te às emissões do ano de 2010. Elas representam 14 setores diferentes, conforme a Classifi cação Nacional de Atividades Econômicas, IBGE. A maior parcela (47%) das empresas in-ventariantes pertence ao setor industrial, seguido pelas em-

presas do setor fi nanceiro (8%) e do setor de energia (7%). Foi o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) que desenvolveu, há três anos, em parce-ria com o World Resources Institute (WRI), o Programa Brasi-leiro GHG Protocol que tem como objetivo estabelecer uma cultura de elaboração e publicação de inventários corporativos de emissões de gases de efeito estufa no país.

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

Revista RI no iPadA edição de julho da Revista RI, a prin-

cipal publicação mensal brasileira sobre relações com investidores e mercado de capitais, a partir de agora também esta-rá disponível nos formatos digitais para iPad, pc, mac e Android, aumentando assim, consideravelmente, a sua circula-ção junto aos leitores.

Nessa edição, a revista apresenta um amplo debate sobre a importância

TAM lança edital para selecionar projetossocioambientais que receberão apoio em 2012

A TAM acaba de publicar em seu site (www.tam.com.br), nos links Institucional > Socioambiental, o edital

de apoio para os interessados em apresentar projetos nas áreas de turismo sustentável e de meio ambiente. As ins-crições poderão ser feitas até 1º de setembro de 2011.

“Temos consciência dos nossos desafios e buscamos parcerias que mobilizem, conscientizem e sensibilizem

em seu site (www.tam.com.br), nos links Institucional

as pessoas para a sustentabilidade. Devemos trabalhar em conjunto em prol de um turismo sustentável, nos preparando para o crescimento constante do setor aé-reo, intensificado com eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil nos próximos anos. É funda-mental a integração de políticas públicas, da iniciativa privada e da sociedade civil”, declara Carolina Duque, diretora de Gestão de Pessoas e Conhecimento da TAM Linhas Aéreas

O INFRAPREV, fundo de pensão da Infraero, pelo terceiro ano consecutivo, compensou as emissões de gases de efeito estufa (GEE) realizadas em 2010. Foram neutralizadas 83,54 tone-ladas de CO2 por meio do plantio de 528 árvores em área da Mata Atlântica. Pelo engajamento ambiental, o Instituto renovou o selo Carbon Free, que atesta a sua contribuição para a redução do aquecimento global e para a recuperação e conservação da Mata Atlântica.

Neutralização no Infraprev

Início de operação comercial de PCHs da AluparA Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) auto-

rizou a Alupar, (Grupo Alusa), a iniciar a operação co-mercial da primeira de duas unidades geradoras da PCH de Lavrinhas. Juntas, as duas unidades totalizarão capaci-dade de geração de 30MW. A PCH de Lavrinhas compõe

com a PCH de Queluz, ambas localizadas no leito do rio Pa-raíba do Sul, no Vale do Paraíba, em São Paulo, um comple-xo energético, cuja capacidade de geração somada (60 MW) será suficiente para atender à demanda de uma cidade com 230 mil habitantes.

de uma maior participação do investidor pessoa física na Bovespa, para o fortaleci-mento e consolidação do mercado de ações no Brasil. A revista alerta que mais do que a Bolsa e as corretoras, quem tem mais a ganhar com isso são as próprias empresas listadas ao terem uma parcela significativa de suas ações nas mãos dos investidores individuais, ampliando com isso a sua base acionária.

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Transporte

Mais Am r e menos mOtOr em Buenos AiresFomos conferir se o lema do ciclista apaixonado pode ser proferido na capital argentina. Três usuários diários da bicicleta nos contaram a dor e a delícia de usá-la pelas ruas portenhas.

Texto e Fotos: Aline Gatto Boueri. de Buenos Aires, Correspondente de Plurale na Argentina

Uma cidade totalmente plana, com ruas desenhadas em forma de ta-buleiro de xadrez, diagonais que encurtam caminhos e ciclovias. O sonho de qualquer um que ama

andar sobre duas rodas movidas a energia huma-na? Buenos Aires.

Apesar dos problemas que as grandes cidades la-tino-americanas, em maior ou menor medida, com-partilham, a capital argentina é um excelente lugar para usar a bicicleta como meio de transporte. Mesmo com trânsito pesado, ônibus grandes em ruas estreitas e a falta de educação dos motoris-tas de táxi, carros e motos, esta carioca crescida

na Tijuca se apaixonou por Buenos Aires no momento em que passou a pedalar por ela.

E não foi a única. A bailarina Brisa Videla, de Venado Tuerto, no estado

de Santa Fe; a professora de pilates Eliana Etizne, de Bahía Blanca, no

estado de Buenos Aires; e o estudante de mestra-

do Michiel

Van Meervenne, de Bruxelas, Bélgica, nos convidaram a percorrer a cidade com eles e nos levaram aonde costumam levá-los suas bicicletas.

os 10 km com a brisa

Saímos com a Brisa do bairro de Abasto e pedala-mos cerca de 10 km até o bairro de Villa Urquiza – um dos limites da cidade de Buenos Aires ao norte. Lá a bailarina foi, acompanhada de uma amiga, à Fabri-cicleta, uma oficina onde fanáticos e entendidos da arte de montar e consertar bicicletas se reúnem às terças e sábados para ajudar, grátis, aos ciclistas de primeiras viagens adeptos do faça você mesmo.

No caminho, um acidente mostrou que o grande perigo da bicicleta está dentro dos car-ros que dividem com ela o espaço público. Um passageiro desatento de um táxi abriu a porta do veículo para descer e golpeou nossa anfitriã. Quando nos detive-mos para reclamar mais atenção, a explicação do irresponsável foi: “eu presto atenção nos carros.”

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bicicleta também é traNsporte público

O transporte público em Bue-nos Aires é relativamente eficien-te, se pensamos no caos do Rio de Janeiro. Linhas de metrô bem dis-tribuídas pela cidade, trens com vagões especiais para bicicletas e ônibus que circulam 24h por dia e por toda a cidade – tudo isso por preços muito baixos – fazem com que andar de carro ou táxi pareça uma loucura.

E o governo da cidade piscou o olho para a ideia. Criou um Sis-tema de Transporte Público em Bicicleta, com 11 postos de em-préstimo (por, no máximo, duas horas), condicionados pela apre-sentação de um documento, um serviço pago no nome do usuário da bicicleta e um comprovante de residência emitido pela Polícia Federal. “Um pouco burocrático, não?”, ironiza Brisa.

A cidade também ganhou 36 km de ciclovias e criou o programa Mejor en Bici, que estimula o uso de bicicletas. Brisa e Eliana con-tam que, quando podem, usam a faixa preferencial. “É muito mais seguro”, garante Eliana. “O único problema é que é mal sinalizada. A ciclovia termina sem avisar e, de repente, você está numa contra-mão”, pondera Brisa.

4 km com eliaNa

Com Eliana, saímos do bairro do Abasto também e fizemos qua-se todo o caminho pela ciclovia, até Caballito. Um percurso de cerca de 4 km entre a casa da pro-fessora de pilates e uma das aca-demias onde dá aulas, quase todo pela ciclovia. Eram 18h e o trânsi-to era intenso. “Com todas as coi-sas que tenho que fazer, em luga-res tão diferentes, sem a bicicleta eu não teria tempo nem dinheiro

“ As pessoas têm dificuldade em entender que a bicicleta é também um veículo que tem o direito de circular com segurança pela cidade”, reclama. Mesmo assim, não troca a magrela por nada. “A bicicleta é liberdade. Eu escolho quando, como e por onde vou.”

“ Com todas as coisas que

tenho que fazer, em lugares tão diferentes, sem

a bicicleta eu não teria tempo

nem dinheiro para fazer”

Para a bailarina Brisa Videla, bicicleta é liberdade

A professora de pilates Eliana

Etizane pedala cerca de 15 km

por dia

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massa crítica

As tradicionais pedaladas coletivas, que acontecem em várias cidades do mundo (a de Porto Alegre fi cou tristemente famosa por conta do atropela-mento dos ciclistas em março) são uma excelente oportunida-de para o visitante de outro país passear pela cidade sem medo e bem acompanhado. No pri-meiro domingo de cada mês, os participantes se encontram às 16h no famoso Obelisco.

para fazer”, conta. Ela faz cerca de 15 km por dia, 90% dentro da Capital Federal. “Fora o trem, que é amigo da bicicleta, eu não suporto transporte público.”

O uso indevido da ciclovia também gera dor de cabeça. Não é raro ver motos aproveitando a deixa para ultrapassar por aí ou mesmo para circular na contramão pela faixa da bicicleta. Alguns carros tam-bém estacionam aí em horários de menor movimento e os pedestres costumam atravessar sem considerar que a ciclo-via é mão dupla, olhando apenas para o sentido dos carros. “Os pedestres ainda não registram a ciclovia, algumas pesso-as caminham por ela como se fosse um calçadão. Há muitos buracos e em lugares onde há muito movimento, como o bairro de Once (onde está uma das grandes cen-trais de trem da cidade), é uma tortura”, se queixa Eliana.

10 km com michiel

Fomos comprovar e, com Michiel, saí-mos de Almagro até a Plaza Congreso, ou-tro ponto de muito movimento na cidade. No caminho, passamos por Once. “Essa parte é complicada mesmo”, comenta.

O estudante mora em Buenos Aires há pouco mais de um ano e conta que esta-va acostumadíssimo a usar a bicicleta em Bruxelas e em Gent, onde morou durante

Transporte

passeios turísticos e aluGuel De bicicletas

La Bicicleta Naranja, no bair-ro de San Telmo, é uma agência que oferece passeios guiados, durante o dia e durante a noite. O preço do aluguel da bicicleta por pessoa varia entre 15 pesos (cerca de R$6) a hora e 220 pe-sos (cerca de R$85) a semana.

O telefone para contato é (54-11) 43621104 e o e-mail é [email protected]

a graduação na universidade e onde, se-gundo ele, “a bicicleta tem sempre a pre-ferência.” Mesmo não sendo bem assim em Buenos Aires, ele diz que desde que começou a pedalar pela cidade, nunca mais parou. “O limite do motorista de car-ro ou ônibus é não te matar. Mas eu sem-pre sinalizo quando vou mudar de faixa e uso a educação quando acontece alguma situação perigosa. Nós, que usamos a bi-cicleta e que somos os principais prejudi-cados em caso de acidente, muitas vezes precisamos educar os demais. E, para isso, é preciso que sejamos cada vez mais.”

Quando saímos da Plaza Congreso, onde Michiel passou para pegar algumas xerox que tinha encomendado para a faculdade, seguimos até a Biblioteca Na-cional, em Palermo. No total, foram cerca de 10 km de passeio, às vezes um pouco tenso, mas sem nenhum tipo de inciden-te. “As ruas quadriculadas facilitam para quem não conhece bem a cidade. Em caso de se perder, é só pegar uma pa-ralela, que você sabe que vai chegar. E, para as emergêcias, uso a Guia T” (guia de bolso com todas as ruas da cidade).

E, como cereja do bolo, esta que vos fala recomenda: o outono – pelo clima e pela paisagem – é a estação ideal para conhecer Buenos Aires. So-bre duas rodas.

“ As ruas quadriculadas facilitam para

quem não conhece bem a

cidade. Em caso de se perder, é só pegar uma paralela, que você sabe que

vai chegar. E, para as

emergêcias, uso a Guia T ”

O belga Michiel Van Meervenne usa a Guia T para pedalar por Buenos Aires

P elo Mundo

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P elo Mundo

A Comissão Europeia aprovou em 19 de julho último nova diretiva para a ges-tão de combustível irradiado e resíduos radioativos, ou lixo atômico, são aqueles gerados em processos de produção de energia nuclear, mas também que podem

ser resultado de tratamentos e diagnósticos radiológicos, pesquisa científi ca entre outros. A medida, proposta em 2010, deve começar a vigorar até setembro deste ano. Todos os 27 Estados-Membros da União Europeia, dos quais 14 possuem reatores nucleares, de-vem apresentar os programas nacionais para gerenciamento dos resíduos radioativos até 2015, que serão notifi cados e podem ser alterados pela Comissão Europeia.

As obrigações prevêem que os programas propostos por cada Estado-Membro inclua um calendário de ações para a construção das instalações de eliminação, descrição das atividades necessá-rias para a implementação dessas soluções, avaliação de custos e descrição dos sistemas de fi nanciamento. As normas de segu-rança elaboradas pela Agência Internacional de Energia Atômica serão juridicamente vinculativa.

Todas as informações para compor o plano de gerenciamento de resíduos radioativos também devem ser disponibilizadas ao pú-blico em geral, que devem participar do processo decisório do pla-no nacional de gerenciamento de resíduos radioativos.

Os Estados-Membros também são obrigados a passar por avalia-ções periódicas realizadas por órgãos de controle internacional, não ultrapassando o período de 10 anos. Também há a possibilidade de cooperação entre dois Estados-Membros em usar uma instalação de eliminação dos resíduos em um deles.

As exportações do lixo atômico para países do continente africa-no, Caribe, Antártida e do Pacífi co não são autorizadas. No entanto, será possível exportar os resíduos radioativos para outros países fora da União Europeia desde que o país recipiente prove que dispõe de depósito defi nitivo em funcionamento para esta fi nalidade. No entanto, as normas internacionais para depósitos de resíduos alta-mente radioativos defi ne que estes tenham que ser instalados em repositórios geológicos profundos. Atualmente, depósitos com es-sas características não existem no mundo e o tempo estimado para projetar e construir um deles é de 40 anos, no mínimo.

ções públicas para ensiná-la (é preciso entender a idade dela). Através de um Mentor ela foi colocada em contato, via Twitter, com uma autora e consultora de marketing que não só a esclareceu, como ainda fez uma apresentação via Skipe para a classe dela. Agora mesmo, uma escola no estado de Massachussets vai distribuir iPads para todos seus 1100 alunos, visando, segundo seu Diretor, alavancar o conceito e o uso das PLNs. Custo: 200 mil dólares em um ano.

Um livro foi escrito e seu co-autor, Will Richardson, estima que 5% dos professores do país já usam as Redes e declara que acredita que os melhores professores, para a vida dos dos estu-dantes, serão aqueles que eles vão en-contrar (usando as PLNs) e não os que forem dados a eles. Uma afi rmativa ta-vez forte demais, mas o assunto já está sendo considerado um fenômeno.

Criando uma rede de mentoresPor Wilberto Lima Jr, Correspondente de Plurale em revista nos EUA, De Boston

Vivian Simonato, Correspondente de Plurale na Irlanda, de Dublin

suprir a necessidade de conhecimento específi co criado pelos estudantes.

Os estudantes podem achar outras fontes e outros “experts” para realmente pesquisar o que eles querem saber. Eles tem acesso a intrução especializada, aju-da ou aconselhamento. Daí o princípio de Mentor. O fato é que as redes sociais estão servindo para ampliar este conhe-cimento específi co e curiosamente tem encontrado um terreno fértil em escolas de áreas rurais, pelo natural afastamento dos grandes centros.

As PLNs são gratuitas e permitem que os estudantes também contatem outros estudantes e que professores acessem outros professores. Os exemplos são vá-rios, mas alguns mostram bem o que se pode fazer:

Uma aluna de 17 anos, do interior dos EUA (no estado de Iowa) não conseguia achar um curso sobre marketing e rela-

Uma nova ideia

de red (NET) está crescendo

aqui nos EUA.Trata-se das chama-das PLNs ( Personal Learning Ne-tworks ), ou, traduzindo, Redes (Networks) de Aprendizado Pesso-al. Criadas por um consórcio aberto de professores que agora soma cer-ca de 9700, as PLNs usam as redes sociais, principalmente o Twitter.

A ideia é simples: oferecer aos estudantes a possibilidade de con-tatar “experts” em assuntos que são do seu interesse, mas não são encontrados nas suas próprias es-colas. Não se trata de pesquisa ape-nas, mas a possibilidade de discutir esses assuntos com quem entende. Elas partem do princípio que as próprias escolas não conseguem

Novas diretivas de gestão para resíduos radioativospara União Europeia

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A cada 2 horas, alguém morre de câncer no san-gue, muitos dos quais, crianças.Por isso, todo mês de Março, milhares de pessoas pintam ou raspam seu cabelo para ajudar a levantar fundos para a Leu-kaemia Foundation (Fundação de Leucemia).

O “Be brave and shave” é também um dos maiores e mais divertidos eventos solidários da Australia. A inscrição dá direito ao “corte radical”- máquina ZERO ou a um cabelo tingido numa cor que faça a diferença.

De 1998, quando foi criado, até hoje, 106 milhões de dólares já foram arrecadados para auxiliar no tratamento de leucemia, linfomas e mielomas, além de oferecer suporte às famílias dos pacientes.

Solidariedade

Texto: Mônica Pinho, de Perth, Austrália Fotos: Divulgação

Campanhas muito engajadas

!

Impressiona o número de campanhas solidárias que existem na Austrália. Impressiona mais ainda o número de pessoas

que se engajam nas causas e participam efetivamente, através de doações ou inscrições, nos eventos que ajudam a levantar

fundos para diversos projetos, porém com um objetivo comum: ajudar ao próximo.

Nesse espírito de solidariedade, não existe a melhor e nem a mais interessante campanha. Todas são importantes e de

valor incalculável porque são em prol da vida. Mas, algumas são de fato muito curiosas. Confi ram no calendário abaixo.

!

Esse evento teve início em Mar-

ço de 2005 para angariar fundos

para o Asthma Foundation of Wes-

tern Australia e atualmente já está

incluído no WA Sports e no calen-

dário da comunidade local. Costu-

ma levantar mais de AU$ 113.000 e

benefi ciar mais de 225.000 cidadãos

do estado de WA.Reúne ciclistas

profi ssionais e iniciantes e por isso,

quem se inscrever pode escolher

entre 3 tipos de pedaladas: mais

longa, de 60 km, média, de 30 km

ou de 10 para os que preferem

curtas distâncias. Este ano, a inscri-

ção cobrava a simbólica quantia de

AU$10 por pessoa.

leucemia – marÇo - be brave aND shave

asma – marÇo – hbF (health proFessioNal FouNDatioN) Free bike hike For asthma

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Criada em 1998, o Mother`s Day Clas-

sic é considerado hoje, o maior evento

solidário da Austrália e já angariou AU$

7,8 milhões até hoje. Acontece anualmente em Maio, no Dia da

Mães, em diversas cidades da Australia: Ade-

laide, Brisbane, Canberra, Geelong, Melbour-

ne, Gold Coast, Hobart, Sydney entre muitas

outras pequenas localidades pelo país.

Trata-se de uma corrida/caminhada para

arrecadar fundos para as pesquisas de pre-

citY 2 surF - aGosto

the WorlD’s larGest ruN (a maior corriDa Do muNDo)

Essa corrida de 14 km e que já aniversaria 40 anos, acon-tece todos os anos em Sydney, no mês de Agosto e é conside-rada um dos maiores eventos esportivos da Austrália. Famílias inteiras marcam presença, incluindo crianças e idosos, todos querendo colaborar e fazer parte, seja correndo ou andando, o importante é participar.

A corrida começa no centro da cidade e termina na praia – Bondi Beach. Por isso recebe o nome de City 2 (to) Surf.

No ano passado bateu o recorde de 80.000 inscritos e ar-recadou mais de AU$ 2.8 milhões em todo o país, que serão distribuídos entre 500 instituições de caridade.

Movember é um evento solidário que acontece todos os anos no mês de Novembro para levantar fundos para a saúde e bem-estar do homem, mais especifi camente nos tratamentos de câncer da prósta-ta e depressão masculina.

É um evento que “transforma” a aparência de milhares de ho-mens na Australia e em outros países no mundo: Reino Unido, Cana-dá, Irlanda, Estados Unidos, Africa do Sul, Holanda e Nova Zelandia.

No dia 1º. de Novembro, com o rosto devidamente barbeado, os interessados em ajudar se inscrevem e fazem sua doação. Pelo resto do mês, esses homens, conhecidos como MO Bros (MO vem

!

de moustache e Bros de brothers), deixam seus bigodes crescerem e se transformam em publicidade ambulante, propagando a ideia e convidando mais e mais pessoas a juntarem-se à causa. Criam-se até perfi s nas redes sociais para estimular as doações e gerar mais inte-resse nas campanhas.

A verba levantada é dirigida à Fundação de Câncer de Próstata da Australia e ao Beyondblue, uma iniciativa nacional com foco na cons-cientização mundial sobre os problemas que envolvem a depressão. O último levantamento mostra mais de 129 mil inscrições e mais de AU$ 23 milhões arrecadados só na Austrália.

cÂNcer De próstata – Novembro – movember – real moustaches, real outcomes

Além dessas, outras várias campanhas cumprem seu papel ao

longo do ano. Há campanhas permanentes contra o fumo, álcool

e melanoma (It`s a Word, not a sentence). Sem contar um sem

número de prospectos que recebemos diariamente nas ruas sobre

a importância das vacinas ou doação de órgãos.

As empresas também participam destas campanhas fazendo do-

ações, divulgando cartazes, incentivando a participação dos funcioná-

rios nas corridas, organizando leilões e cafés da manhã benefi centes.

Aqui na Austrália é quase impossível fi car alheio à solidariedade.

Cada um faz a sua pequena parte e forma um grande todo.

crescem os biGoDes,

crescem os FuNDos!!!

cÂNcer De mama – maio – breast cÂNcer – mother`s DaY classic

venção e cura do Câncer de Mama, através

do National Breast Cancer Foundation.

Este ano, o evento está marcado para 8

de maio e pretende superar a marca dos 2,1

milhões de dólares australianos arrecadados

em 2010, com a participação de mais de

100.000 pessoas.O Mother`s Day Classic proporciona

às comunidades, uma das melhores for-

mas de se celebrar o Dia da Mães, através

da DOAÇÃO.

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s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

Do Inpe

A República Democrática do Congo adotou a tecnologia bra-sileira de monitoramento desen-volvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que oferece seu sistema baseado em

satélites a países interessados em cuidar de suas fl orestas. O objetivo é utilizar os resultados do monitoramento na implantação de políticas nacionais para REDD - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação em Países em Desenvolvimento.

O país africano é o segundo no mundo com maior co-bertura de fl orestas tropicais. Em primeiro está o Brasil, que possui em seu território grande parte da Amazônia (foto), a maior fl oresta tropical do planeta.

As obras que faltavam para a des-poluição da Baía de Guanabara serão concluídas antes das Olimpíadas de 2016, quando já começarão a ser sen-tidos os seus efeitos. A previsão é do coordenador executivo do Programa de Saneamento Ambiental dos Muni-cípios do Entorno da Baía de Guana-bara (Psam), da Secretaria Estadual do Ambiente, Gelson Serva.

COM APOIO DA TECNOLOGIA BRASILEIRA, CONGO AVANÇA NO MONITORAMENTO DE FLORESTAS PARA REDD

OBRAS DE DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA SERÃO CONCLUÍDAS ANTES DAS OLIMPÍADAS, DIZ COORDENADOR

ENTIDADE APONTA OS RISCOS NO COMÉRCIO DE CARBONO

FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO RECEBE INSCRIÇÕES PARA EDITAIS DE APOIO A NOVOS PROJETOS ATÉ O FIM DE AGOSTO

“Apesar de nem todos os esquemas de co-mércio de créditos de carbono serem farsas, geralmente não é esclarecido aos investidores que as negociações nos mercados de balcão exigem experiência e habilida-de”, alertou a Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido (FSA UK) no início de agosto.

Fernanda B. Müller - Fonte: Instituto CarbonoBrasil /Agências Internacionais

O aviso ressalta a importância de se ter esquemas pa-dronizados e regulamentados para a venda dos créditos voluntários, utilizados por empresas que desejam ‘neu-tralizar’ ou ‘compensar’ suas emissões de gases do efeito estufa (GEEs).

“É preciso estar atento, principalmente com as redu-ções de emissão voluntárias (REVs), que muitas vezes são apresentadas como ‘certifi cadas’ quando na verdade representam uma variedade enorme de entidades e di-ferentes padrões que podem não ser reconhecidos por nenhum esquema de compensação no Reino Unido”, acrescenta a FSA UK.

De Curitiba

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza rece-be, até o dia 31 de agosto, inscrições para os editais de apoio a projetos do segundo semestre de 2011. Podem concorrer ao fi nanciamento, projetos de organizações não-governamentais ou fundações ligadas a universidades que contribuam efetivamente para a conservação da natureza no Brasil.

As inscrições devem ser feitas no site da Fundação Grupo Boticário (www.fundacaogrupoboticario.org.br), no link “O que fazemos > Quem somos> Editais”. As propostas podem ser ins-critas na linha de Edital de Apoio a Projetos, direcionada a todas as regiões do Brasil, cujos temas dizem respeito a: ações e pesqui-sa para a conservação de espécies e comunidades silvestres em

ecossistemas naturais; ações para implementação de polí-ticas voltadas à conservação de ecossistemas naturais; ações para a restauração de ecossistemas naturais; ações para prevenção ou controle de espécies invasoras; estu-dos para a criação ou mane-jo de unidades de conservação; e, pesquisa sobre vulnerabilidade, impac-to e adaptação de espécies e ecossistemas às mudanças climáticas.

Outra linha é o Edital Bio&Clima-Lagamar, lançado este ano, cujo apoio está direcionado à região do Lagamar (foto/ no litoral sul de São Paulo e litoral do Paraná) e a projetos que se enquadrem nas seguintes temáticas: impacto das mudanças climáticas em espécies e ecossistemas; monitoramento de longo prazo de variáveis bióticas e abióticas; serviços ecossistêmicos e os impactos das mudanças climáticas; e, previsão de cenários climáticos e seus impactos sobre a biota.

O Psam substituiu o antigo Progra-ma de Despoluição da Baía de Guana-bara (PDBG), criado em 1992 e que se estendeu até 2006. Durante esse perío-do, foram investidos no programa cerca de US$ 760,4 milhões, englobando US$ 349,3 milhões do Banco Interamerica-no de Desenvolvimento (BID), US$ 162,8 milhões do Banco de Coopera-ção Internacional do Japão (Jbic) e US$ 248,3 milhões de contrapartida do go-verno fl uminense. A partir de 2006, têm sido aplicados no Psam, com recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), R$ 100 milhões, em média, por ano, na despoluição da Baía de Guanabara, segundo Serva.

Por Alana Gandra, Repórterda Agência Brasil

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Filme: Semeador urbanoFilme: Terra deu, Terra come

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Filme: Semeador urbanoFilme: Terra deu, Terra come

Docudrama na AmazôniaMisto de documentário com fi cção está em fase de pré-pro-

dução o fi lme Amazônia – Planeta Verde uma parceria da brasileira Gullane Filmes com a francesa Gedeon Programmes. Segundo o pessoal da Gullane conta em seu blog, com cenário natural e elenco selvagem o fi lme terá uma boa dose de dramati-zação no estilo “A Marcha dos Pinguins”. Será um grande registro documental sobre a Floresta Amazônica, a partir do ponto de vis-ta de um macaco-prego que mostrará ao público os mistérios da fauna e da fl ora da região.

Festival visões periféricasfoi transferido

A quinta edição do Festival Visões Periféricas – Audiovisual, Edu-cação e Tecnologias, foi transferida para outubro em data ainda por divulgar. O festival que acontece no Rio de Janeiro já exibiu mais de 700 fi lmes agregando um público de mais de 13 mil pessoas. Há mostras competitivas para fi lmes a serem exibidos em salas de cine-ma e fi lmes de até três minutos voltados a Internet. A organização é da Associação Imaginário Digital (www.imaginariodigital.org.br ).

“Pixo como expressão” é o tema do 6º festival cine favela

Estão abertas até 30 de setembro as inscrições para o 6º Festi-val Cine Favela de Cinema, referência na produção da periferia, que acontecerá nas comunidades de Heliópolis, Paraisópolis e Cidade Tiradentes e na rede SESC-SP, de 9 a 15 de novembro na capital pau-lista. O festival que já atraiu mais de 14 mil espectadores, exibiu mais de 250 títulos nacionais, benefi ciou 200 jovens em ofi cinas de cinema e distribuiu R$ 20.000,00 em prêmios, este ano será realizado pela Associação Cine Favela e pelo SESC-SP. Nesta edição o tema central será o “Pixo como Expressão da Periferia”. Haverá exibição de fi lmes em escolas públicas, presídios e redes de reabilitação, estações do metrô e unidades da rede SESC.Mais informações: www.festivalcinefavela.com.br

Copie e distribuaA intenção do cineasta Silvio Tendler (de “Jango”, “Os Anos JK”,

“Glauber o Filme”) ao colocar na Internet seu mais recente documen-tário O veneno está na mesa – que não será vendido e sim liberado para cópia e distribuição - é disseminar a informação de que o brasilei-ro está se envenenando diariamente pelo uso abusivo de agrotóxicos nos alimentos e assim levar essa discussão ao governo federal. Lidera-mos um triste ranking: somos os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, cerca de 5,2 litros a cada ano por habitante. Num fi lme de 50 minutos com narração de Caco Ciocler, Dira Paes, Julia Lem-mertz, além de entrevistas com especialistas, pequenos agricultores e trechos de reportagens veiculadas em rádio e TV, Tendler denuncia que a ganância de meia dúzia de empresas multinacionais – dando nome a todas elas – com a conivência das autoridades do Brasil, está matando a população e a terra. O fi lme faz parte da Campanha Per-manente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, iniciativa que reúne mais de 30 entidades da sociedade civil, movimentos sociais, ambientalis-tas, estudantes e organizações ligadas à saúde. Para baixar na íntegraO veneno está na mesa acesse www.soltec.ufrj.br.

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

CINEMA Verde ISABEL CAPAVERDE

Filmes que não fi cam paradosAo invés de reclamar que somos um país sem tela (leia-se

sem salas de exibição), com problemas de distribuição e ain-da necessitando de formação de plateia, alguns usam a criati-vidade na busca de soluções. No site www.fi lmesquevoam uma empresa catarinense de comunicação distribui conteúdo audiovisual de qualidade. Para acessar e assistir seu longas, cur-tas, documentários e até um canal com fi lmes infantis basta se cadastrar no site, criando uma conta. Entre os fi lmes postados há documentários interessantes como Impasse sobre o movi-mento que tomou conta das ruas de Florianópolis em maio e junho de 2010, quando milhares de pessoas protestaram con-tra o aumento da tarifa do transporte coletivo e Histórias do Oeste sobre a velocidade das transformações nas margens do rio Uruguai com a construção de uma usina hidroelétrica que muda a paisagem e os valores de uma terra que foi habitada por índios de diferentes grupos, colonizada por descendentes de europeus e que teve seu ambiente original devastado.

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PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 201166

I m a g e m

Q ue o Rio de Janeiro é bonito por natureza, isso já é fato conhecido há anos, cantado em verso e prosa pelo mestre Jorge Ben Jor. Esta belíssima imagem, do jornalista EDMILSON OLIVEIRA DA SILVA, é uma prova disso. Mostra ao fundo a Pedra da Gávea e o Morro Dois Irmãos, emoldurados por duas gaivotas que parecem reinar absolutas nas águas cariocas. A foto é parte de ensaio chamado “Voadores”, que pode ser conferido em Plurale em site. O baiano Edmilson nasceu em Santo Amaro da Purifi cação, terra de outros astros da música popular – Caetano e Maria Betânia

–, mas fez carreira e história no Rio de Janeiro. Foi um dos desbravadores no Jornalismo Científi co e Ecológico, muito antes destes temas ganharem as ruas. Na fi gura dele, Plurale faz aqui uma homenagem aos desbravadores desta caminhada, como Adalberto Marcondes, Alexandre Mansur, Flamínio Araripe, Lúcia Chayb, Marcos Sá Corrêa, Nairo Almeri, René Caprilles, Sérgio Abranches, Sérgio Adeodato e Vilmar Berna, entre muitos outros. A benção, mestres!

Santuário ecológico urbano e centro de pesquisas de ponta

Foto: Edmilson Oliveira da Silva

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Para quem tem espírito

empreendedor, a vida

está cheia de oportunidades

para realizar mais.

O Grupo Boticário tem uma história de empreendedorismo.

Tudo começou com O Boticário, que, em 34 anos, se tornou

a maior rede de franquias de cosméticos do mundo e continua

se expandindo rapidamente. E a história do Grupo Boticário ganhou

um novo capítulo: Eudora. A primeira empresa de cosméticos

no Brasil que já nasce no sistema multicanal, com venda direta,

lojas-conceito e comércio eletrônico integrado às redes sociais.

É assim que o Grupo Boticário segue realizando cada vez mais.

Empresas do Grupo Boticário

www.grupoboticario.com.br

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