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PESQUISA OPERACIONAL Um texto essencial para Engenharias, Computação e Ciências Econômicas Antônio César Baleeiro Alves Marco Antônio Figueiredo de Menezes Francisco José Pfeilsticker Zimmermann Goiânia 2006

PESQUISA OPERACIONA

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Page 1: PESQUISA OPERACIONA

PESQUISA OPERACIONAL

Um texto essencial para

Engenharias, Computação e

Ciências Econômicas

Antônio César Baleeiro Alves

Marco Antônio Figueiredo de Menezes

Francisco José Pfeilsticker Zimmermann

Goiânia

2006

Page 2: PESQUISA OPERACIONA

SUMÁRIO Capítulo 1: MODELAGEM EM PESQUISA OPERACIONAL

Capítulo 2: MATRIZES E SISTEMAS LINEARES

Capítulo 3: PROGRAMAÇÃO LINEAR

Capítulo 4: DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADE

Capítulo 5: PROCESSOS DE MARKOV

Capítulo 6: SISTEMAS DE FILAS DE ESPERA

Capítulo 7: SIMULAÇÃO

BIBLIOGRAFIA

APÊNDICES

Page 3: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 1

Modelagem em Pesquisa Operacional

Neste capítulo estudaremos o processo de modelagem em Pesquisa

Operacional (PO). O objetivo aqui, não é o de obter soluções de problemas de PO, mas sim o

de modelar problemas, em contraposição ao uso apenas da experiência e do bom senso.

Como referências básicas sugerimos (HILLIER e LIEBERMAN, 1995) e

(GOLDBARG e LUNA, 2005).

A influência da Segunda Guerra Mundial foi decisiva para o ressurgimento

da PO, e os desenvolvimentos que se seguiram nas décadas que sucederam ao grande conflito

são devidos especialmente à difusão do computador nas universidades e empresas. Havia

demandas da parte da indústria e dos governos (transportar, planejar e interceptar, etc.), novos

conhecimentos em Matemática, Engenharia, Estatística, Economia e Computação eram

publicados, e financiamentos de pesquisa nesta área de conhecimento surgiram. O projeto

Scientific Computation of Optimum Programs é um exemplo de relevante financiamento

ocorrido na ocasião, que resultou num grupo formado para pesquisar a viabilidade em aplicar

a Matemática e técnicas correlacionadas à análise de problemas de planejamento e

programação militar.

1.1 O processo de modelagem

Os responsáveis pela tomada de decisões nos mais variados campos da

atividade humana defrontam-se com a necessidade de resolver algum problema específico de

PO. A compreensão e a definição do problema são de fundamental importância para o

processo de modelagem.

O primeiro passo para a resolução de um problema de PO é a formulação,

que consiste em traduzir a realidade empírica para sentenças lógicas e dados objetivos,

permitindo a partir daí o estabelecimento de um modelo matemático. É onde devemos decidir

(julgamento humano) que aspectos do sistema real devemos incorporar ao modelo, assim

como quais podem ser ignorados, que suposições podem ser feitas e quais podem ser

Page 4: PESQUISA OPERACIONA

2

descartadas. A tradução está sujeita a erros e falhas de comunicação. Também, não existem

técnicas precisas capazes de permitir o estabelecimento do modelo de um problema.

O segundo passo é a dedução do modelo, isto é, analisá-lo e resolvê-lo

através de algoritmos específicos. Sua solução, atenta aos métodos numéricos em

Computação, sugere uma tomada de decisão. Para a sua sustentação, recorremos ao terceiro

passo que é a interpretação de uma solução do modelo para uma solução do sistema real. Se o

modelo não for validado, ele deve ser reformulado, e assim por diante. Este é o processo de

modelagem. Para maiores detalhes sobre o processo de modelagem, recomendamos

(RAVINDRAN, PHILLIPS e SOLBERG, 1987).

A seguir, estudaremos o primeiro passo do processo, ou seja, a formulação

em Programação Matemática e exemplos de modelos probabilísticos, sem nos preocuparmos

com a solução e a validação.

1.2 Formulação de alguns problemas

Trataremos a seguir três problemas de PO nesta seção, um da área agrícola,

outro de administração, um de eletricidade, além de alguns processos estocásticos. Em cada

seção, enunciaremos o problema de PO e seu modelo correspondente. Finalmente com relação

aos modelos probabilísticos, apenas enunciaremos alguns problemas.

1.2.1 Um problema agrícola

Este problema foi extraído de (MÜLLER 2004), e trata da elaboração de um

modelo de Programação Linear para planejamento de produção agrícola.

1.2.1.1 O problema

Consideremos um problema na agricultura para decidir quais e em que

quantidade os alimentos soja, milho, arroz e feijão devem ser plantados em uma determinada

área de forma a maximizar o lucro líquido do produtor rural. A Tabela 1.1 resume os dados do

problema.

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3

Tabela 1.1 – Dados gerais do problema.

Produção esperada (sacas/hectare)

Renda líquida esperada (reais/hectare)

Gleba Tamanho (hectare)

Soja Milho Arroz Feijão Soja Milho Arroz Feijão 1 10 50 130 30 40 1.200 1.040 240 1.450 2 18 48 120 32 55 1.080 910 300 3.380 3 22 48 140 30 43 1.065 1.728 300 1.890 4 49 50 100 28 38 1.320 700 280 1.220 5 51 35 70 36 32 365 -120 600 610 6 54 32 65 37 30 160 -380 595 280 7 77 35 68 37 32 360 -171 620 585 8 69 38 95 39 36 610 410 665 900

Mínimo (sacas ou hectares)

2.500 (sacas)

3.000 (sacas)

150 (hectares)

Máximo (hectares)

80 (hectares)

Em relação aos dados da Tabela 1.1, apenas a título de informação, um

hectare corresponde a uma área plana equivalente a um quadrado de 100 metros de lado, ou

seja, 10.000 m2, enquanto uma saca em geral pesa 50 kg. Pelas restrições impostas pelo

proprietário da fazenda precisa-se colher no mínimo 2.500 sacas de soja, pois são para

produzir semente encomendada; no mínimo 3.000 sacas de milho, pois será utilizada para

pagar empréstimo feito em milho à cooperativa local; pretende-se plantar, no mínimo, 150

hectares de arroz plantados, pois é terra de primeiro ano (terra fraca) e, no máximo, 80

hectares de terra para plantio de feijão, pois se corre risco de perda e prefere-se, neste ano,

não arriscar muito.

Ainda na Tabela 1.1, “Produção esperada” diz respeito ao que se espera de

cada gleba (porção de terra) para o cultivo de cada um dos alimentos. A “Renda líquida

esperada” é a diferença entre o custo de produção e renda bruta esperada. As duas últimas

linhas formam o conjunto de restrições imposto pelo proprietário da fazenda, que diz respeito

ao mínimo ou máximo de sacas que se deseja colher de um certo tipo de alimento, ou o

mínimo ou máximo de terra (em hectare) que se deseja plantar.

1.2.1.2 Um modelo

Como já afirmamos, não existem regras precisas para o processo de

modelagem, por isto sugerimos uma tentativa de encontrar inicialmente as variáveis de

Page 6: PESQUISA OPERACIONA

4

decisão. Também sugerimos verificar as unidades de grandeza de cada dado, inclusive das

variáveis de decisão.

Neste caso, definimos 8,,2,1, =ixij e 4,3,2,1=j , as variáveis de

decisão que pretendemos encontrar, se existirem, a saber:

ijx : área em hectares por gleba i , para o plantio do alimento j

( 1=j , soja, 2=j , milho, 3=j , arroz, e 4=j , feijão).

Como estamos interessados em maximizar a renda da fazenda, utilizamos os dados da “Renda

líquida esperada (reais/hectare)” da Tabela 1.1 para construir o valor da chamada função

objetivo do problema, a saber:

.900665410610585620171360280595380160610600120365

1220280700132018903001728106533803009101080145024010401200

84838281

74737271

64636261

54535251

44434241

34333231

24232221

14131211

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

+++++++−++++−++++−++++++++++++++++++++

Nosso objetivo de maximização está sujeito a algumas restrições. Sabemos

que a soma das áreas para o plantio dos quatro alimentos em cada gleba não pode ultrapassar

o tamanho total da gleba. Temos então:

.6977545149221810

84838281

74737271

64636261

54535251

44434241

34333231

24232221

14131211

≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++

xxxx

xxxxxxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

Ainda, não pode haver área negativa para plantio de cada alimento. Para isso

temos,

8,,2,1,0 =≥ ixij e 4,3,2,1=j .

Page 7: PESQUISA OPERACIONA

5

Finalmente, consideramos as restrições impostas pelo proprietário da

fazenda conforme a Tabela 1.1, que se referem aos requisitos de produção dos cereais para

atendimento de encomenda, pagamento de empréstimo e condições de qualidade do solo e

risco de perdas em relação ao feijão. Assim, obtemos as seguintes desigualdades:

25003835323550484850 8171615141312111 ≥+++++++ xxxxxxxx

300095686570100190120130 8272625242322212 ≥+++++++ xxxxxxxx

.80150

8474645444342414

8373635343332313≤+++++++≥+++++++

xxxxxxxx

xxxxxxxx

Portanto, o nosso modelo matemático, que tenta traduzir uma particular

realidade da agricultura, é dado pelo problema de PO

maximizar

84838281

74737271

64636261

54535251

44434241

34333231

24232221

14131211

900665410610585620171360280595380160610600120365

1220280700132018903001728106533803009101080145024010401200

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

+++++++−++++−++++−++++++++++++++++++++

sujeito a:

6977545149221810

84838281

74737271

64636261

54535251

44434241

34333231

24232221

14131211

≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++≤+++

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

xxxx

25003835323550484850 8171615141312111 ≥+++++++ xxxxxxxx

300095686570100190120130 8272625242322212 ≥+++++++ xxxxxxxx

80150

8474645444342414

8373635343332313≤+++++++≥+++++++

xxxxxxxx

xxxxxxxx

Page 8: PESQUISA OPERACIONA

6

8,,2,1,0 =≥ ixij e 4,3,2,1=j .

A formulação discutida nesta seção refere-se a um modelo com funções

afins (isto é, lineares). Desta forma, denominamos este problema agrícola de um problema de

Programação Linear (contínua), que estudaremos no Capítulo 3.

1.2.2 Um problema de designação

Com base em (FANG e PUTHENPURA, 1993), extraímos o seguinte

problema de Programação Linear Inteira.

1.2.2.1 O problema

Cinco pessoas (A, B, C, D, E) estão designadas para trabalhar em cinco

projetos diferentes (1, 2, 3, 4, 5). A Tabela 1.2 mostra quanto tempo (em dias) uma

determinada pessoa consegue finalizar um específico projeto.

Tabela 1.2 – Dados gerais do problema.

Projetos Pessoas 1 2 3 4 5

A 5 5 7 4 8 B 6 5 8 3 7 C 6 8 9 5 10 D 7 6 6 3 6 E 6 7 10 6 11

O pagamento diário (em uma jornada de quatro horas) por pessoa é 60 reais.

Suponha que uma pessoa é designada para realizar um único projeto e cada projeto só pode

ser realizado por uma única pessoa.

1.2.2.2 Um modelo

Neste caso definimos ijx , 5,,2,1 =i ( 1=i , pessoa A e assim por

diante) e 5,,2,1 =j , os projetos pelas quais podem ser designadas responsáveis. A variável

ijx pode ser definida como:

Page 9: PESQUISA OPERACIONA

7

=ijx

contráriocaso,0 projeto o para designadafor pessoaase,1 ji

Nosso interesse agora é o de minimizar o custo para a execução dos

projetos. Assim, utilizamos os dados da Tabela 1.2, para construir o valor da função objetivo,

a saber:

).116107663667

1059867385684755(60

5554535251

4544434241

3534333231

2524232221

1514131211

xxxxx

xxxxx

xxxxx

xxxxx

xxxxx

++++++++++++++++++++++++++++

Nosso objetivo de minimização está sujeito a algumas restrições. Sabemos

que cada pessoa é designada para realizar um único projeto, isto é,

15

1=

=jijx , 5,,2,1 =i ,

e que cada projeto só pode ser realizado por uma única pessoa, isto é,

15

1=

=iijx , 5,,2,1 =j .

Portanto, o nosso modelo matemático que tenta traduzir uma particular realidade do problema

clássico de designação (assignment problem, em inglês), é dado pelo problema de PO,

minimizar

)116107663667

1059867385684755(60

5554535251

4544434241

3534333231

2524232221

1514131211

xxxxx

xxxxx

xxxxx

xxxxx

xxxxx

++++++++++++++++++++++++++++

sujeito a: 1

5

1=

=jijx , 5,,2,1 =i

1

5

1=

=iijx , 5,,2,1 =j

1,0∈ijx , 5,,2,1 =i e 5,,2,1 =j .

Page 10: PESQUISA OPERACIONA

8

A formulação discutida nesta seção refere-se a um modelo com funções

lineares tais que as variáveis de decisão são inteiras. Desta forma, denominamos este

problema de designação de um problema de Programação Linear Inteira (discreto), assunto

que não será objeto de estudo neste livro. Todavia, para os leitores interessados em

aprofundar seus conhecimentos nesta área sugerimos os livros de (FOULDS, 1984) e

(GARFINKEL e NEMHAUSER, 1972).

1.2.3 Um problema de amplificador de tensão

A seguir apresentamos um problema de otimização que envolve um circuito

elétrico.

1.2.3.1 O problema

Em Engenharia Elétrica é comum a utilização de circuitos amplificadores

em aparelhos de áudio e vídeo. Esses circuitos recebem em sua entrada uma tensão elétrica e

aumentam sua amplitude disponibilizando na saída um sinal elétrico amplificado.

O circuito da Figura 1.1 mostra de maneira simplificada um amplificador

onde os estágios de entrada e saída são representados, respectivamente, por uma fonte de

tensão, v , e por uma resistência de carga, cR , igual a Ω10 ( AV=Ω ). Este circuito, para

certos valores do parâmetro α , comporta-se como um amplificador de tensão. Devem ainda

ser respeitados os limites inferior e superior de V12 e V30 , respectivamente, para a tensão

na resistência de carga, cc iv 10= .

entrada saída Figura 1.1 – Circuito básico para amplificação da tensão v .

i

ci

+

cv

ΩM7,0

cR v

+

abv

Ω5

ci

+ ΩM1 abvα

a

b

Page 11: PESQUISA OPERACIONA

9

A tensão v da fonte está restrita aos limites inferior e superior,

respectivamente, de mV340 e mV500 . O parâmetro α deve ser no mínimo igual a 120 .

1.2.3.2 Um modelo

Neste caso, definimos as variáveis de decisão que se pretende encontrar, se

existirem, a saber:

i : corrente elétrica em ampères (A) suprida pela fonte;

ci : corrente elétrica em ampères (A) no lado da carga;

v : tensão elétrica da fonte em volts (V); α : parâmetro de controle da fonte dependente, que é adimensional.

Nosso interesse está em operar o circuito da Figura 1.1 minimizando a perda

de energia elétrica em watts ( VAW = ) nos resistores de resistências ΩM7,0 , ΩM1 e Ω5 ,

a saber:

226 5107,1 cii +× .

Na expressão da perda de energia elétrica não incluímos a resistência cR

porque esta representa a carga do circuito.

Nosso objetivo de minimização está sujeito a algumas restrições. De acordo

com a 2ª Lei de Kirchhoff, que estabelece que a tensão aplicada a qualquer percurso fechado

de um circuito é igual ao somatório das quedas de tensão naquele percurso, temos:

abviv +×= 6107,0 ,

onde, abv é a queda de tensão no resistor de ΩM1 .

Procedemos de modo análogo para analisar o percurso fechado onde se

encontra a resistência de carga e obtemos:

cab viv += 5α .

Page 12: PESQUISA OPERACIONA

10

Substituindo cc iv 10= na última igualdade e desenvolvendo, obtemos

0105 =−− cab iivα .

Além disso, foi dado que:

301012 ≤=≤ cc iv .

Dividindo cada dupla desigualdade por dez, obtemos:

32,1 ≤≤ ci .

Portanto, o nosso modelo matemático que tenta traduzir uma particular

realidade do problema de minimização das perdas em um circuito amplificador de tensão, é

dado pelo problema de PO

minimizar 226 5107,1 cii +×

sujeito a: 0107,0 6 =−×− abviv

0105 =−− cab iivα

32,1 ≤≤ ci 50,034,0 ≤≤ v 120≥α .

A formulação discutida nesta seção refere-se a um modelo com pelo

menos uma função não linear. Desta forma, denominamos este problema de amplificador de

tensão de um problema de Programação Não Linear. Neste livro não estudaremos

Programação Não Linear. Todavia, sugerimos as referências (BAZARAA, SHERALI e

SHETTY, 1993) e (LUENBERGER, 1984).

1.2.4 Formulação em processos estocásticos

Processos estocásticos (ou modelos probabilísticos) são modelos

matemáticos desenvolvidos para analisar sistemas dinâmicos sujeitos a incerteza, usando a

linguagem da probabilidade. O termo “dinâmico” significa que a variável tempo t geralmente

está envolvida no processo de formulação.

Page 13: PESQUISA OPERACIONA

11

A principal característica de um problema estocástico é que, associado a

pelo menos uma de suas variáveis, temos um número que mede o grau de incerteza (ou de

certeza) da ocorrência do valor da variável, dado pela probabilidade.

A formulação em processos estocásticos normalmente compreende a

elaboração de sentenças lógicas, a interpretação de dados estatísticos sobre o problema e a

identificação da distribuição de probabilidade que governa as variáveis. Depois de construído

o modelo, este pode admitir soluções analíticas. Em casos de problemas complexos, a

simulação computacional é a melhor alternativa.

Estudaremos a teoria de probabilidades e distribuições no Capítulo 4.

Assim, substituiremos o passo da formulação pelo enunciado de alguns problemas para

processos de Markov (Capítulo 5), teoria de filas (Capítulo 6) e simulação (Capítulo 7).

1.2.4.1 Cadeias de Markov

Muitos processos que ocorrem em sistemas reais podem ser estudados como

se o sistema sob análise passasse, a partir de um estado inicial, por uma seqüência de estados,

onde a transição de um determinado estado para o seguinte ocorreria segundo uma certa

probabilidade. No caso em que esta probabilidade de transição depende apenas do estado em

que o fenômeno se encontra e do estado a seguir, o processo será designado processo de

Markov de primeira ordem e uma seqüência de estados seguindo este processo será

denominada cadeia de Markov.

Um conceito fundamental em processos de Markov é a noção de estado.

Propriedades em comum entre indivíduos ou objetos caracterizam o que chamamos de

estados. Podemos apontar associações entre propriedade em comum e estado: uma população

da região norte que migra para o sul; veículos estacionados numa determinada área; e

máquinas numa grande linha de produção.

a) Exemplo

Em 1993, a utilização do solo em uma cidade de 130 2km de área ocupada

apresentava os seguintes índices:

Page 14: PESQUISA OPERACIONA

12

(I) Uso residencial: 30% (II) Uso comercial: 20% (III) Uso industrial: 50%

O problema é encontrar os estados de utilização do solo em 1998, 2003 e 2008, assumindo

que as probabilidades de transição para intervalos de 5 anos são dadas pela seguinte matriz

P :

III

II

I

P

IIIIII

=9,01,002,07,01,01,01,08,0

1.2.4.2 Teoria de filas

Um processo de filas consiste em chegadas de usuários em um

estabelecimento de prestação de serviços, esperando alinhados (em fila). O usuário que chega

ao estabelecimento aguarda se todos os atendentes estiverem ocupados, e é prontamente

atendido em caso contrário. Após receber o serviço, o usuário deixa o estabelecimento.

a) Exemplo

Uma casa de doces finos é operada por uma pessoa, o proprietário. O

modelo de chegada de clientes nos sábados segue aproximadamente uma distribuição de

Poisson, com uma taxa média de chegada de 10 pessoas por hora. Os clientes são atendidos

em base FIFO (primeiro a entrar, primeiro a sair) e por causa do sucesso da loja eles têm que

esperar para serem atendidos após chegarem. O tempo gasto para atender a um cliente é

estimado como exponencialmente distribuído, com um tempo médio de atendimento de 4

minutos. O problema é determinar a probabilidade de se formar uma fila; o tamanho médio da

fila; o tempo esperado que um cliente deve aguardar na fila; o tempo médio que um cliente

deve ficar na loja.

1.2.4.3 Simulação

Simulação significa reproduzir o funcionamento de um sistema com o

auxílio de um modelo.

Page 15: PESQUISA OPERACIONA

13

Toda simulação requer a construção de um modelo com o qual são feitos

experimentos. Em nosso caso, este modelo é definido por um conjunto de relações lógico-

matemáticas, descritas geralmente por um programa de computador. A partir do modelo, as

simulações nos permitirão testar algumas hipóteses sobre o valor de variáveis controladas. As

conclusões são usadas então para melhorar o desempenho do sistema em estudo,

proporcionando suporte bem fundamentado à tomada de decisões.

A simulação computacional surgiu a partir da idéia do método Monte Carlo,

durante uma conferência em Los Alamos, nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra

Mundial. Naquela ocasião, após serem apresentadas as experiências adquiridas com o ENIAC

(Electronic Numeric Integrator and Calculator), Stanislaw Ulam pressentiu a potencialidade

da nova máquina para técnicas de amostragem estocástica. John Von Neumann, pioneiro da

Computação, também presente na conferência, foi um dos precursores desse método. Monte

Carlo baseia-se essencialmente na geração intensiva de números aleatórios para a solução por

simulação computacional de problemas estocásticos.

Um número aleatório é um número de uma seqüência de números cuja

probabilidade de ocorrência é a mesma que a de qualquer outro número na seqüência.

Métodos de simulação de problemas probabilísticos (não determinísticos) exigem a geração

de números aleatórios.

a) Exemplo

Uma empresa deseja saber qual é o nível ideal de estoque para seus

produtos. Um problema é manter o atendimento dentro dos padrões previamente estabelecidos

com a maior economia possível no gerenciamento e na manutenção dos estoques. As

variáveis são: a demanda aleatória em um período de tempo; o tempo de atendimento de

pedido de reposição; e os estoques inicial e final no período.

1.3 Exercícios

1. (BOLDRINI, COSTA, FIGUEIREDO e WETZLER, 1986) A Cia. Sovina de Investimentos

possui seis milhões de reais, quantia esta que deverá ser aplicada em cinco tipos de

investimentos, sendo que os retornos anuais para cada investimento são: investimento 1 ( 1I ),

10%; investimento 2 ( 2I ), 8%; investimento 3 ( 3I ), 6%; investimento 4 ( 4I ), 5%; e

investimento 5 ( 5I ), 9%.

Page 16: PESQUISA OPERACIONA

14

O gerente desta Cia. deseja diversificar os investimentos para obter o

máximo de rendimento possível. Dado o elemento de risco envolvido, o gerente restringiu a

quantia a ser aplicada em 1I a não mais que a quantia total aplicada em 3I , 4I e 5I (em

conjunto). A soma da quantia total a ser aplicada em 2I e 5I deve ser pelo menos igual à

quantia aplicada em 3I . O 2I deve estar limitado a um nível que não exceda a quantia

aplicada em 4I .

É preciso determinar a alocação ótima de investimento entre as cinco

categorias, de forma que o retorno ao final do ano seja o máximo possível. Formular o

problema.

2. (BOLDRINI, COSTA, FIGUEIREDO e WETZLER, 1986) Uma empresa nacional possui

fábricas em Campinas e Belo Horizonte (BH). Esta empresa produz e distribui computadores

a comerciantes de várias cidades. Numa determinada semana, a empresa possui: 30 unidades

em Campinas e 40 unidades em BH. Nesta mesma semana, esta empresa deve atender os

pedidos dos comerciantes das seguintes cidades: 20 unidades para São Paulo (SP), 25

unidades para o Rio de Janeiro (RJ) e 25 unidades para Vitória. O problema consiste em

distribuir as máquinas aos comerciantes de forma a atender os pedidos a um custo mínimo de

transporte. Os custos unitários de transporte em reais são: 9 de Campinas para SP, 16 de

Campinas para RJ, 25 de Campinas para Vitória, 27,50 de BH para SP, 22,50 de BH para RJ e

21 de BH para Vitória. Formular o problema.

3. (HILLIER e LIEBERMAN, 1995) Uma multinacional decide se instalar em Goiás e

escolhe dois municípios para construir fábricas e armazéns: Catalão e Rio Verde. Construção

de fábricas e armazéns nestas cidades resulta nos índices de retornos indicados na Tabela 1.3.

Tabela 1.3 – Índices de retorno em unidades monetárias.

Catalão Rio Verde Fábrica 72 40 Armazém 48 32

Os seguintes critérios devem ser respeitados no processo de decisão: se for

construído armazém em Catalão não será construído armazém em Rio Verde; em unidades

monetárias, o investimento requerido na construção de uma fábrica em Catalão é 48, o

Page 17: PESQUISA OPERACIONA

15

investimento requerido na construção de uma fábrica em Rio Verde é 24, o investimento

requerido na construção de um armazém em Catalão é 40, o investimento requerido na

construção de um armazém em Rio Verde é 16 e a empresa disponibiliza no máximo 80 para

investir nas construções.

Temos ainda a condição de que na localidade onde for construído armazém

tem que ser construída fábrica. Formular o problema de modo a maximizar o retorno do

investimento.

4. Considere o problema da seção 1.2.3 sobre operação do amplificador de tensão com

mínimas perdas. Reescreva o modelo em função das variáveis de decisão α e v , que para

este problema são de fato as variáveis de controle.

5. (BAZARAA, JARVIS e SHERALI, 1997) A qualidade do ar em uma região depende

principalmente das emissões de efluentes (e.g., 2CO , 2SO , 4CH , etc.) na atmosfera pelas n

indústrias existentes. Cada instalação industrial pode utilizar m diferentes tipos de

combustível. Suponha que a energia total necessária à indústria j é jb calorias por dia e que

ijc é a emissão de efluentes por tonelada do combustível i pela indústria j . Além disso,

suponha que o combustível do tipo i custa ic dólares por tonelada e que cada tonelada deste

tipo de combustível gera ijα calorias na indústria j . O nível de poluição do ar na região não

pode exceder b microgramas por metro cúbico. Finalmente, seja jγ um parâmetro

meteorológico que relaciona emissões da indústria j à qualidade do ar da região. Escrever o

modelo do problema para determinar a mistura de combustíveis a ser utilizada por cada

indústria.

6. Consulte a literatura em Pesquisa Operacional e forneça um exemplo de um problema

estocástico.

Page 18: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 2

Matrizes e Sistemas Lineares

Praticamente em todos os campos de estudo da Pesquisa Operacional

utilizam-se matrizes, seja na representação de sistemas algébricos lineares, em expressões

contidas em passos de algoritmos de solução de problemas, e em representações algébricas de

processos de Markov, dentre tantas outras.

A forma adequada de representar e manipular grande quantidade de dados é

através da utilização de matrizes. Essencialmente, os algoritmos que realizam operações

numéricas em computador, especialmente quando manipulam muitos dados, são implementados

para operar com matrizes. Também, matrizes são úteis quando se deseja simbolizar de forma

concisa uma seqüência sistemática de operações matemáticas.

Este capítulo aborda noções elementares de álgebra de matrizes que, de

alguma maneira, estão associados aos tópicos de Pesquisa Operacional que serão abordados

neste livro. Sugerimos as referências (BOLDRINI, COSTA, FIGUEIREDO e WETZLER,

1986), (CAMPOS, 2001) e (RUGGIERO e LOPES, 1997).

2.1 Matrizes

Matriz é uma tabela de elementos dispostos em linhas e colunas. Trataremos

matrizes cujos elementos são números. Particularmente, números reais. Denotamos uma matriz

A que possui m linhas ( mi ,,2,1 = ) e n colunas ( nj ,,2,1 = ) assim:

Page 19: PESQUISA OPERACIONA

.][

321

321

22232221

11131211

==

mnmjmmm

inijiii

nj

nj

ij

aaaaa

aaaaa

aaaaa

aaaaa

aA

(2.1)

O elemento ija , mi ,,2,1 = e nj ,,2,1 = , encontra-se situado na linha de número i e na

coluna de número j .

Duas matrizes A , nm × , e B , qp × , são iguais, BA = , quando o número

de linhas de A é igual ao número de linhas de B , o número de colunas de A é igual ao número

de colunas de B e ijij ba = , para todo pmi == ,,2,1 e para todo qnj == ,,2,1 .

Apresentaremos agora alguns tipos de matrizes. Seja dada a matriz A , nm × .

Dizemos que A é uma matriz quadrada quando nm = . A é uma matriz nula quando 0=ija

para todo mi ,,2,1 = e nj ,,2,1 = . Quando 1=n , ou seja, apenas uma coluna existe,

chamamos A de matriz coluna. Por outro lado, quando 1=m , chamamos A de matriz linha.

Um tipo especial de matriz quadrada é a matriz identidade, que possui

elementos unitários na diagonal e zeros em todas as outras posições, a qual está mostrada em

(2.2) para a ordem nn ×

=

10000

01000

0001000001

I

(2.2)

Doravante, a matriz identidade será representada pelo símbolo I . Todavia, nota-se que em

outras bibliografias também se utiliza a notação nI para uma matriz identidade de ordem nn × .

Uma matriz quadrada A é dita uma matriz diagonal quando possui elementos

0=ija para todo ji ≠ . Quando A é uma matriz quadrada com 0=ija para todo ji > ,

chamamos A de matriz triangular superior. Quando A é uma matriz quadrada com 0=ija

para todo ji < , chamamos A de matriz triangular inferior. A seguir, estão mostrados exemplos

Page 20: PESQUISA OPERACIONA

de matrizes triangulares 44 × , sendo A uma matriz triangular superior e B uma matriz

triangular inferior.

−−

=

2000100

31001411

21

A

−=

3413012100300001

B

(2.3)

As matrizes que possuem apenas uma coluna ou apenas uma linha são

designadas como vetores, e alguns autores as chamam também de vetor coluna ou vetor linha.

Neste texto, para homogeneizar a notação e facilitar a compreensão das expressões que utilizam

matrizes, a designação de vetores será atribuída apenas a matrizes do tipo coluna. A expressão

mostrada a seguir ilustra essa definição

=

m

i

v

v

v

v

v

2

1

(2.4)

Em (2.4) tem-se uma matriz coluna, que é denotada pelo vetor v , com suas componentes

mi vvvv ,,,,, 21 .

Quanto à quantidade de elementos não nulos que uma matriz apresenta, é

usual designar por matriz densa aquela em que a maior parte dos seus elementos é diferente de

zero. As matrizes que apresentam grande quantidade de elementos nulos são conhecidas como

matrizes esparsas. Matrizes que aparecem em modelos de problemas de grande porte do mundo

real normalmente são esparsas. Por exemplo, em certos estudos da área de Engenharia Elétrica,

matrizes de redes elétricas reais apresentam 99,5% de elementos nulos em relação ao total de

posições.

Uma peculiaridade interessante de matrizes é que essas estruturas de dados

admitem operações de adição, subtração e multiplicação, praticamente como se faz com

números, todavia, observando-se certas restrições para a realização dessas operações.

2.1.1 Operações com matrizes

Page 21: PESQUISA OPERACIONA

Dadas duas matrizes A e B , sob certas condições, as operações de adição,

subtração e multiplicação são definidas.

Para facilitar a compreensão e tornar a exposição mais didática, serão tratadas

primeiramente as operações de adição e subtração, que exigem que as matrizes sejam de mesma

ordem.

Definição 2.1: (Adição) Sejam ija o elemento genérico da matriz A e ijb o elemento genérico

da matriz B , ambos os elementos situados na −i ésima linha e na −j ésima coluna de suas

respectivas matrizes. Desde que as matrizes A e B tenham a mesma ordem, a matriz obtida da

adição, BA + , é uma matriz também de ordem nm × , tal que seus elementos são obtidos da

soma do elemento ija de A e o elemento ijb de B . Portanto, a adição resulta numa matriz

designada por C , de modo que:

][][][][),( ijijijijij babacBACBA +=+==+= .

Para exemplificar a operação de adição, considere as matrizes dadas a seguir:

−=

150

13

21A e

−=520

118

41B .

A adição BA + resulta na matriz C , conforme está indicada a seguir:

−=

++−

+−+−+

=

−+

=+

6151

011

5120541

21

10

1183

5201

18

150

13

43

41

21

CBA

.

Uma observação a partir dos cálculos anteriores é que a adição foi efetuada elemento a

elemento, somando-se apenas elementos que ocupam a mesma posição.

Definição 2.2: (Subtração) Sejam ija e ijb , respectivamente, os elementos genéricos da matriz

A e da matriz B , tal como estabelecido na Definição 2.1. Desde que as matrizes A e B

tenham a mesma ordem, a matriz obtida da subtração, BA − , é uma matriz também de ordem

Page 22: PESQUISA OPERACIONA

nm × , tal que seus elementos são obtidos ao subtrair o elemento ijb do elemento ija . Portanto,

a subtração BA − resulta numa matriz designada por C , de modo que:

][][][][),( ijijijijij babacBACBA −=−==−= .

Para exemplificar a operação de subtração, considere as matrizes dadas no

exemplo referente à Definição 2.1. Então, a subtração BA − resulta na matriz C indicada a

seguir:

−−

−−=

−−−−−−−−−

=

−−

−=−

4251

25

51205)1(0

1183

5201

18

150

13

41

41

21

41

21

CBA

.

A operação de multiplicação de matrizes já não é tão trivial quanto as

operações de adição e subtração.

Primeiramente, a condição de existência da multiplicação da matriz A pela

B , cujas ordens respectivas são nm × e qp × , é que: “o número de colunas da matriz A

precisa ser igual ao número de linhas da matriz B , isto é, pn = ”. A matriz produto, neste caso,

tem ordem qm × .

A Figura 2.1 ilustra duas situações: no primeiro exemplo, a multiplicação é

possível e, no segundo, a multiplicação não é definida, ou seja, é impossível. Nesta figura, o

símbolo ‘ × ’ indica um elemento qualquer da matriz.

[ ]

××××××

=××

×××

13× 21× 23×→ 33× 22 × possível impossível

Figura 2.1: Exemplos de situações de multiplicação de matrizes.

Definição 2.3: (Multiplicação de duas matrizes) Dadas duas matrizes A , nm × , e B , qn × ,

observada a condição de existência, a multiplicação de A por B resulta numa matriz designada

por C , de modo que:

××××

×××××××××

Page 23: PESQUISA OPERACIONA

][),( ilcCABBA == , onde,

=

=n

kklikil bac

1, mi ,,2,1 = e ql ,,2,1 = .

Em geral BAAB ≠ . De fato, para

−=

1100

A e

=

11

B ,

=

×+×−×+×

=

−=

00

11111010

11

1100

AB ,

enquanto que BA não está definida para a multiplicação de matrizes. Por outro lado, para

=

1001

B , obtemos BAAB = .

A transposição de matrizes é definida conforme (2.5),

][ ijT cCAA ==

(2.5)

onde

jiij ac =

sendo TA a notação para a transposta da matriz A .

Dizemos que A é uma matriz simétrica quando for uma matriz quadrada com

jiij aa = para todos i e j . Uma matriz anti-simétrica é quando A é uma matriz quadrada com

elementos jiij aa −= e seus elementos da diagonal são nulos. As matrizes simétrica e anti-

simétrica possuem as propriedades expressas em (2.6) e em (2.7), respectivamente,

TAA = (2.6)

.TAA −= (2.7)

Consideremos uma matriz A , nm × , e uma matriz B , qn × . Então,

.)( TTT ABAB =

Page 24: PESQUISA OPERACIONA

Com efeito,

=TAB)( =

T

nqnn

q

q

mnmm

n

n

bbb

bbb

bbb

aaa

aaa

aaa

21

22221

11211

21

22221

11211

= =

===

===

===

T

n

kkqmk

n

kkmk

n

kkmk

n

kkqk

n

kkk

n

kkk

n

kkqk

n

kkk

n

kkk

bababa

bababa

bababa

112

11

12

122

112

11

121

111

=

=

===

===

===

n

kkqmk

n

kkqk

n

kkqk

n

kkmk

n

kkk

n

kkk

n

kkmk

n

kkk

n

kkk

bababa

bababa

bababa

112

11

12

122

121

11

112

111

= =

===

===

===

n

kmkkq

n

kkkq

n

kkkq

n

kmkk

n

kkk

n

kkk

n

kmkk

n

kkk

n

kkk

ababab

ababab

ababab

112

11

12

122

112

11

121

111

= .TT AB

A multiplicação de um número real por matrizes é definida por:

].[][),( ijij aaAA αααα ==

A seguir estudaremos o determinante.

Page 25: PESQUISA OPERACIONA

2.1.2 Determinante

Definição 2.4: (Determinante) Seja nC o conjunto de todas as matrizes quadradas de ordem n ,

isto é, matrizes nn × , cujos elementos são números reais. Definimos o determinante como a

função

),det(:det

AACn

ℜ→

onde, )det(A pode ser calculado de forma recursiva, da seguinte maneira:

a) 1=n ,

.)det(][ 1111 aAaA ==

b) 2=n ,

.)det( 211222112221

1211 aaaaAaa

aaA ×−×=

=

c) 3≥n ,

=

+−==n

jij

jiijij MaAaA

1,)1()det(][ para um dado i com ,,,2,1 ni =

onde ijM é o determinante da matriz (submatriz) que obtemos de A retirando a −i ésima linha

e a −j ésima coluna.

Exemplo 2.1: Considere

−−−

−=

212112

321A .

Calcule )det(A .

Optaremos por fixar a linha 1 e calcular o determinante de A aplicando a Definição 2.4, do

seguinte modo:

=

−−−

−=

212112

321det)det(A

Page 26: PESQUISA OPERACIONA

=

−−×−×+

−−

×−×−+

−−

×−×= +++12

12det)1(3

2212

det)1()2(2111

det)1(1 312111

5)1)2()1(2(3))1()2(22(2))1()1(21(1 =×−−−××+−×−−××+−×−−××= .

5)det( =∴ A .

A partir da definição de determinante, não é difícil contar as multiplicações

necessárias para calcular o determinante de uma matriz de ordem n : para uma matriz de ordem

2 são necessárias 2 multiplicações, para uma matriz de ordem 3 é preciso calcular 3

determinantes de ordem 2 e multiplicar esses determinantes pelos elementos da linha escolhida,

perfazendo, neste caso, 9 multiplicações, e assim por diante. Para matrizes de ordens 1, 2, 3, 4 e

5, as quantidades de multiplicações requeridas são respectivamente 2, 9, 40 e 205. A fórmula

recursiva )1( 1 += −nn pnp , iniciando com 01 =p , reproduz a quantidade requerida de

multiplicações no cálculo do determinante de uma matriz de ordem n quando aplicamos a

Definição 2.4. Por exemplo, para matrizes de ordens 1, 2, 3, 4 e 5 obtemos

205,40,9,2,0 54321 ===== ppppp , respectivamente. O número de multiplicações é

muito elevado para matrizes de porte médio e, por esta razão, qualquer algoritmo que envolva o

cálculo de determinantes não é praticável em implementações computacionais. Por exemplo, o

cálculo do determinante de uma matriz 1010 × exigirá 6.235.300 multiplicações. Para efeito de

comparação, a Tabela 2.1 apresenta valores de np e de !n .

Tabela 2.1: Comparação entre valores do número de multiplicações requeridas no cálculo do

determinante e o fatorial da ordem da matriz.

Ordem da matriz, n np !n

1 0 1 2 2 2 3 9 6 4 40 24 5 205 120 6 1.236 720 7 8.659 5.040 8 69.280 40.320 9 623.529 362.880 10 6.235.300 3.628.800

Page 27: PESQUISA OPERACIONA

Podemos utilizar

= −=

1

1 )!(!n

kn kn

np , comprovando, assim, que

A seguir enunciaremos algumas propriedades de determinante.

Proposição 2.1: Sejam

a) Se todos os elementos da

Page 28: PESQUISA OPERACIONA

Conseqüentemente, a

Os determinantes das submatrizes principais líderes são conhecidos como

menores principais líderes.

Exemplo 2.2: Considere a matriz

Page 29: PESQUISA OPERACIONA

Definição 2.6: (Matriz definida positiva) Seja

e simétrica. A matriz

Em particular, uma matriz simétrica real

é definida positiva se,

Page 30: PESQUISA OPERACIONA

Exemplo 2.4: Represente graficamente a função quadrática definida como a seguir,

ℜ→ℜ2:f , [ ] .221112

),( 2122

21

2

12121 xxxx

xx

xxxxf ++=

=

A Figura 2.3 ilustra a representação gráfica da função deste exemplo.

Figura 2.3: Gráfico da função do Exemplo 2.4.

O próximo exemplo refere-se a uma função quadrática cuja matriz não é

definida positiva.

Exemplo 2.5: Represente graficamente a função quadrática definida como a seguir,

ℜ→ℜ2:f , [ ] .2441

11),( 21

22

21

2

12121 xxxx

xx

xxxxf +−−=

−−

=

Escrevemos a função completando os quadrados, comprovando que a mesma será sempre

negativa, independente dos valores que 1x e 2x assumirem, para x não nulo,

),( 21 xxf

1x 2x

Page 31: PESQUISA OPERACIONA

0)2(24 214

3212

1221

22

21 <−−−=+−− xxxxxxx

Figura 2.4: Gráfico da função do Exemplo 2.5.

No exemplo em que a matriz é definida positiva, a concavidade da função

está voltada para cima, conforme podemos ver na Figura 2.3, enquanto que, no exemplo

correspondente ao caso em que a matriz não é definida positiva (na verdade, a matriz é definida

negativa), a concavidade da função está voltada para baixo (Figura 2.4).

Existem implicações do fato da matriz ser definida positiva, as quais são

importantes para estudos em diversos ramos da Pesquisa Operacional, mas que não serão

tratadas neste livro.

A seguir trataremos da obtenção da inversa de uma matriz.

2.1.3 A inversa de uma matriz

Definição 2.7: (Matriz inversa) Seja A uma matriz quadrada de ordem n . A é invertível (ou

seja, possui inversa) quando existir uma única matriz 1−A , denominada matriz inversa de A ,

tal que

),( 21 xxf

1x 2x

Page 32: PESQUISA OPERACIONA

.11 IAAAA == −−

Exemplo 2.6: Considere

.2001

=A

Calcule 1−A , se existir.

=

=

10

01

20

01

2221

1211bb

bbIAB

=

10

0122 2221

1211bb

bb.

Por igualdade de matrizes, obtemos

0,0,1 211211 === bbb e 2122 =b .

Por outro lado,

IBA =

=

=

10

01

20

010

01

21 .

Então,

==−

21

10

01BA

é a única matriz inversa de A .

A matriz ]0[=A não é invertível, uma vez que para 10 11 =≠= −− IAAA ,

portanto, não existe 1−A .

Consideremos as matrizes A , nn × , e B , nn × , e 1−A e 1−B as matrizes

inversas de A e B , respectivamente. Então,

111)( −−− = ABAB .

Page 33: PESQUISA OPERACIONA

Com efeito, usando a associatividade de matrizes, o fato de que B é invertível e que AAI = ,

IAIAABBAABAB === −−−−− 11111 )()())((

e, de maneira análoga,

IBBBIBBAABABAB ==== −−−−−− 111111 )()())(( .

Além disso,

AA =−− 11)( .

Com efeito,

11 −− == AAIAA .

Isto é, a matriz inversa da matriz 1−A é a matriz A .

2.1.4 Inversa de uma matriz e determinante

Na definição de determinante surgiu o número mostrado em (2.8),

ijji

ij M+−=∆ )1( (2.8)

o qual denominamos ij∆ de cofator do elemento ija .

Seja A uma matriz quadrada de ordem n . Chamamos de matriz dos

cofatores, denotada por A , a matriz que obtemos de A correspondendo a cada um de seus

elementos o seu respectivo cofator, isto é:

∆∆∆

∆∆∆∆∆∆

=

nnnn

n

n

A

21

22221

11211

.

Definição 2.8: (Matriz adjunta) Seja A uma matriz quadrada de ordem n . Definimos a matriz

adjunta de A , denotada por Aadj , como

Page 34: PESQUISA OPERACIONA

TAAadj = .

Exemplo 2.7: Considere a matriz

=

1211

A .

Calcule a matriz adjunta de A .

Temos que

,1)1det(1)1( 1111

11 =×=−=∆ + M

,2)2det()1()1( 1221

12 −=×−=−=∆ + M

,1)1det()1()1( 2112

21 −=×−=−=∆ + M

.1)1det(1)1( 2222

22 =×=−=∆ + M

Então, a matriz dos cofatores é

−−

=1121

A .

Portanto,

−−

==1211TAAadj .

O próximo resultado relaciona determinante e matriz adjunta.

Teorema 2.1: Seja A uma matriz quadrada de ordem n . Então,

IAAadjA )det(= .

Agora relacionamos determinante e matriz inversa, através do teorema a

seguir.

Teorema 2.2: Uma matriz quadrada A é invertível se, e somente se, 0)det( ≠A .

Page 35: PESQUISA OPERACIONA

Os Teoremas 2.1 e 2.2 propiciam um método de obtenção da inversa de uma

matriz, a saber:

)det(1

AAadj

A =−

(2.9)

A expressão (2.9) para cálculo da inversa de uma matriz A pode ser utilizada

para solucionar um sistema linear algébrico de poucas equações e incógnitas. Isto será tratado

na seção a seguir. Nas seções posteriores serão apresentados métodos computacionalmente mais

eficientes para resolver sistemas lineares de equações algébricas de qualquer dimensão ( A

quadrada).

2.2 Sistemas lineares algébricos de pequeno porte

Para sistemas de pequeno porte, o cálculo do determinante é realizável com

um número razoável de operações aritméticas. Portanto, sistemas lineares algébricos com até

quatro incógnitas podem ser resolvidos utilizando a ‘Regra de Cramer’.

Seja A uma matriz quadrada de ordem n invertível. Considere nRb ∈ . O

sistema linear

bAx = (2.10)

pode ser expresso como

bAx 1−= (2.11)

uma vez que A é invertível e, conseqüentemente,

)det()det( AbA

AbAadj

xT

==

(2.12)

usando (2.9) e a definição de matriz adjunta. A regra (2.12) para a resolução do sistema de

equações (2.10) é reconhecida como a Regra de Cramer.

Desenvolvendo (2.12),

Page 36: PESQUISA OPERACIONA

∆∆∆

∆∆∆∆∆∆

=

nnnnn

n

n

b

b

b

Ax

2

1

21

22212

12111

)det(1

sendo que para nj ,,2,1 = ,

))1(()det(

1)(

)det(1

11=

+

=−=∆=

n

iij

jii

n

iiijj Mb

Ab

Ax

De acordo com a definição de determinante, conclui-se que, para obter a

incógnita jx , basta calcular o determinante da matriz A após ter trocado a −j ésima coluna

desta matriz pelo vetor termo independente, b , e dividir o resultado encontrado pelo )det(A .

De modo idêntico, devemos proceder para todas as demais incógnitas.

As igualdades a seguir ilustram o mecanismo de solução de um sistema de

três incógnitas pela aplicação da Regra de Cramer, a saber:

.)det(

det

,)det(

det

,)det(

det

33231

22221

11211

333331

23221

13111

233323

23222

13121

1 A

baa

baa

baa

xA

aba

aba

aba

xA

aab

aab

aab

x

=

=

=

Tendo em vista a complexidade dos cálculos de determinantes e, por

conseguinte, dos métodos de obtenção da inversa de uma matriz e de solução de sistemas por

Cramer, estudados nas seções anteriores, nos sentimos compelidos a estudar formas mais

eficientes de executar estas operações.

Os métodos computacionalmente mais eficientes que os estudados

anteriormente baseiam-se em operações elementares sobre matrizes, que serão abordados a

seguir.

2.3 Operações elementares sobre matrizes

Page 37: PESQUISA OPERACIONA

Podemos realizar as seguintes operações chamadas operações elementares

sobre as linhas (ou colunas) de uma matriz.

1. )( ji ll ↔ Permutação das −i ésima e −j ésima linhas. Por exemplo,

.14

4301

~4314

01

32

−−↔

−− ll

2. )( ii ll α← Multiplicação da −i ésima linha por um número não nulo α . Por exemplo,

.4331201

~34314

01

22

−−×−←

−− ll

3. )( jii lll α+← Substituir a −i ésima linha pela soma da −i ésima linha com a −j ésima

linha multiplicada por um número não nulo α . Por exemplo,

.4317

01~3

4314

01

122

−−×+←

−− lll

Resumindo, as operações elementares realizadas sobre uma matriz são: (a) a

permutação de duas linhas; (b) a multiplicação de uma linha por uma constante diferente de

zero; e (c) a adição de uma linha a um múltiplo de outra linha.

Ao utilizarmos as operações elementares, podemos fazê-lo com um propósito

previamente definido e, neste caso, haverá regras a serem cumpridas. Por exemplo, o objetivo

pode ser verificar se dois vetores, dentre três vetores dados, são linearmente independentes;

neste caso, as operações serão usadas para fazer emergir vetores canônicos, conforme mostra o

Exemplo 2.8.

Exemplo 2.8: Verifique através de operações elementares se existem dois vetores linearmente

independentes dentre os três vetores dados

Page 38: PESQUISA OPERACIONA

=642

u ,

=321

v e

=451

w .

Disporemos os três vetores na forma de uma matriz e efetuaremos operações elementares sobre

ela,

436524112

.

Inicialmente, o nosso propósito será o de obter com operações elementares os vetores

T]001[ e T]010[ nos lugares das duas primeiras colunas da matriz. Se tivermos

sucesso, então os vetores u e v são linearmente independentes e, em caso contrário, são

dependentes.

436524

1~

436524112 2

12

1121

1 ll

,

×−←×−←

100300

1~

64

436524

1 21

21

133

122

21

21

llllll .

Podemos ver que a hipótese de que os vetores u e v eram linearmente independentes não se

sustentou, porque não foi possível obter vetores canônicos nos lugares de suas colunas. O

próximo passo é testar, de modo análogo, se dois outros vetores são linearmente independentes.

Vamos verificar se u e w são linearmente independentes buscando obter vetores canônicos nos

lugares de suas colunas, aproveitando os cálculos já realizados.

100100

1~

100300

1 21

21

231

2

21

21

ll ,

−←

−←

00010001

~100100

1 21

233

221

1121

21

lll

lll

.

Page 39: PESQUISA OPERACIONA

A observação das colunas 1 e 3, que correspondem aos vetores u e w , comprova que tais

vetores são linearmente independentes. De fato, na relação entre u e w mostrada a seguir

=

451

642

α ,

não existe um número real α que atenda à igualdade.

A lição que fica do Exemplo 2.8 é que, as operações elementares foram

empregadas com um propósito bem definido, que era o de obter vetores canônicos, e isto fez

com que realizássemos as operações sobre as linhas da matriz em torno de elementos pivôs: o

pivô foi o número 2 na primeira parte do exemplo e, na segunda parte, o pivô usado foi o

número 3.

A seguir é estabelecida a definição de equivalência de matrizes.

Definição 2.9: (Matriz linha equivalente) Sejam A e B matrizes nm × . B é linha equivalente

a A , quando B for obtida de A através de um número finito de operações elementares sobre as

linhas de A .

Exemplo 2.9: Considere

−−=4314

01A .

Encontre uma matriz B linha equivalente a A .

Bll

lll

ll

A =

−−

−−←

×+←

−↔

−−=

410114

~410114

~243

0114

~4314

01

22

233

21

.

Neste caso, podemos dizer que:

Page 40: PESQUISA OPERACIONA

−−4314

01

~

−−

410114

Informações importantes sobre matrizes podem ser extraídas ao realizarmos

operações elementares sobre suas linhas. Por exemplo, quando precisamos verificar se há

equações redundantes dentre as equações lineares algébricas que compõem um sistema. Um

outro problema é saber se uma dada matriz quadrada possui ou não inversa. Nestes casos e, em

muitas outras situações, a forma escalonada de uma matriz A , nm × , será muito útil.

2.3.1 A forma escalonada

Definição 2.10: (Matriz na forma escalonada) Uma matriz escalonada é aquela quando o

primeiro elemento não nulo de cada uma de suas linhas está à esquerda do primeiro elemento

não nulo de cada uma de suas linhas subseqüentes e, além disso, as linhas nulas (se houver)

estão abaixo das demais.

As matrizes

300015202731

e

15202038

são matrizes escalonadas, enquanto a matriz

152100002038

não é escalonada, porque o primeiro elemento não nulo da primeira linha não está à esquerda do

primeiro elemento não nulo da terceira linha e, também, porque a segunda linha é nula enquanto

a terceira não.

Exemplo 2.10: Obtenha a forma escalonada da matriz

Page 41: PESQUISA OPERACIONA

−−

=344132411410321

A .

Iniciaremos anulando os elementos da primeira coluna que estão abaixo do elemento da posição

(1,1), usando 122 4 lll ×+←

−×+←

−−

3441364137010321

~4344132411410321

122 lll ,

e 133 3 lll ×+← ,

133 33441364137010321

lll ×+←

64137064137010321

.

Em seguida, anulamos os elementos da segunda coluna que estão abaixo do elemento da

posição (2,2), usando 233 1 lll ×−←

0000064137010321

.

A matriz

0000064137010321

é, portanto, a forma escalonada da matriz A .

Muitas vezes é preciso utilizar a operação de permutação de linhas da matriz

para obtermos a forma escalonada. Vejamos o exemplo a seguir.

Exemplo 2.11: Obtenha a forma escalonada da matriz

−−−=10123

482241

A .

Page 42: PESQUISA OPERACIONA

Multiplicamos a primeira linha por 2 e adicionamos o resultado à segunda linha

( 122 2 lll ×+← ), obtendo:

10123000241

.

Permutamos as linhas 2 e 3 ( 32 ll ↔ ):

00010123241

.

Em seguida, realizamos a operação elementar 122 3 lll ×−← para finalmente obter a forma

escalonada

000400241

.

Com a forma escalonada, conforme definida e ilustrada através de exemplos,

estamos a um passo da definição de forma escalonada reduzida. A partir da forma escalonada de

uma matriz, a forma escalonada reduzida é obtida do seguinte modo: “tornar os primeiros

elementos não nulos de cada linha iguais à unidade e anular os elementos que estiverem acima

destes na mesma coluna”.

Vamos ao exemplo.

Exemplo 2.12: Obtenha a forma escalonada reduzida da matriz

−−

=344132411410321

A .

Partindo da forma escalonada obtida no Exemplo 2.10, temos

−−−×←×−←

0000010

10321~

1

0000064137010321

76

74

713

271

2

11

ll

ll

.

Page 43: PESQUISA OPERACIONA

Anularemos os elementos acima do elemento unitário da posição (2,2)

×+←

−−−

000001001

~2

0000010

10321

76

74

713

75

78

75

211

76

74

713

lll.

A matriz

000001001

76

74

713

75

78

75

é, portanto, a forma escalonada reduzida da matriz A .

Na próxima seção forneceremos uma aplicação da forma escalonada que

acabamos de estudar.

2.3.2 Posto de uma matriz

Em diversas situações nos deparamos com a necessidade de analisar se uma

matriz quadrada possui inversa, ou se um sistema linear algébrico de equações possui solução

única ou se possui uma infinidade de soluções. Essas questões são resolvidas com base na

definição de posto de uma matriz.

Para estabelecer as definições nesta seção, serão supostos conhecimentos

prévios em Álgebra Linear, em especial os conceitos de espaço vetorial, dependência linear e

subespaços de uma matriz. Além disso, considere a transformação linear definida pela matriz

nmA ×ℜ∈ . Dois subespaços importantes do espaço vetorial nℜ estão associados com esta

transformação: o espaço nulo de A , definido por

0;)( =ℜ∈= AxxAN n

e seu complemento ortogonal, o espaço linha de A , definido por

,;)( mTnT zzAxxAR ℜ∈=ℜ∈=

Segue-se que qualquer vetor nv ℜ∈ pode ser unicamente decomposto (soma direta) como

pp vvv ~+= , onde )(ANvp ∈ e )(~ Tp ARv ∈ .

Page 44: PESQUISA OPERACIONA

Definição 2.11: (Posto de uma matriz) A dimensão r do espaço linha de A é chamada de posto

de A .

Para caracterizar precisamente o espaço linha de uma matriz A , nm × , é

necessário encontrar um conjunto linearmente independente (LI) de vetores linhas dessa matriz.

O número desses vetores LI é a dimensão do espaço linha e, portanto, o posto de A . O

procedimento para obter a dimensão do espaço linha consiste em determinar a forma escalonada

da matriz. Regra geral: o posto de A é o número de linhas não nulas da matriz na forma

escalonada.

Façamos o exemplo a seguir.

Exemplo 2.13: Obtenha o posto da matriz

−−

=116224132

A .

Efetuamos sobre A as operações elementares sobre as linhas de A , como indicadas a seguir:

122 2116224132

lll ×−←

−−

~3116

480132

~

133 lll ×−←

−−

~1480

480132

~

233 lll ×−←

−−

−−

000480132

.

Concluído o escalonamento, verificamos que as linhas ]132[ − e

]480[ − são linearmente independentes. Portanto, o posto de A é 2. De fato, observando as

linhas da matriz A é possível ver que a terceira linha é a soma das duas primeiras.

Uma conclusão interessante é que, a matriz A do Exemplo 2.13 não possui

inversa, porque seu posto é inferior ao seu número de linhas. Denotamos por ‘posto deficiente’

uma matriz cujo posto é inferior ao número de linhas.

Uma aplicação prática da forma escalonada reduzida de uma matriz ocorre

quando desejamos determinar o espaço coluna dessa matriz, que também está associada à

determinação de posto.

Page 45: PESQUISA OPERACIONA

Definição 2.12: (Espaço coluna de uma matriz) Seja A uma matriz nm × e considere nx ℜ∈ .

Consideremos a transformação linear T , definida por

)()(: ℜ→ℜ mn VVT ,

tal que

AxxT =)( .

O espaço coluna da matriz A é o subespaço )(AR de )(ℜmV gerado pelos

vetores colunas de A , o qual identificamos com o conjunto

Imagem )(; ℜ∈= nVxAxT .

Em outras palavras, o conjunto Imagem T é o subespaço de )(ℜmV gerado

pelos vetores colunas de A . Diante disso, a forma escalonada reduzida de uma matriz nos

informa os vetores da base do espaço coluna da mesma matriz. Façamos um exemplo.

Exemplo 2.14: Determine os vetores da base do espaço coluna da matriz

−−−

−=

423022201110121

A .

O nosso objetivo é eliminar um a um os vetores linearmente dependentes até que os vetores

restantes formem um conjunto linearmente independente. A maneira sistemática de fazer isto é

obter a forma escalonada reduzida da matriz A . Depois de aplicar operações elementares sobre

as linhas da matriz A com vistas à obtenção da forma escalonada reduzida, chegamos à

seguinte matriz linha equivalente

−−−

−−−

514

51

511

210000102001

~423022201110121

.

Observamos que os vetores canônicos emergiram nas três primeiras colunas da matriz. Isto

significa que os vetores

Page 46: PESQUISA OPERACIONA

−21

1

,

012

e

301

são os vetores geradores do espaço coluna da matriz A . Outra observação é que os vetores são

em número de 3, que é o posto da matriz A .

Nas seções posteriores serão discutidas outras aplicações para o posto de uma

matriz.

2.3.3 Matrizes elementares

Definição 2.13: (Matriz elementar) Uma matriz elementar é aquela obtida a partir da matriz

identidade, através da aplicação de uma operação elementar com linhas.

A seguir enunciaremos um resultado sobre matrizes elementares. Aqui, uma

operação elementar com linhas inversa à uma operação elementar com linhas efetuada na matriz

identidade significa que: para ji ≠ , ℜ∈α , 0≠α , ji ll ↔ temos ji ll ↔ ; ii ll α← temos

ii ll α1← ; jii lll α+← temos jii lll α−← .

Teorema 2.3: Uma matriz elementar kE é invertível e sua inversa é a matriz elementar 1−kE ,

que corresponde à operação elementar com linhas inversa da operação efetuada para kE .

Vamos iniciar a discussão do Teorema 2.3 pela apresentação de um exemplo.

Exemplo 2.15: Considere a matriz identidade de ordem 3. Calcule cada matriz elementar e a sua

matriz inversa, para as operações elementares com linhas 21 ll ↔ , 33 9ll ← e 211 lll +← ,

respectivamente.

Temos pela definição de matriz elementar que

Page 47: PESQUISA OPERACIONA

21

100010001 ll

I

= ~ 1100001010

E=

,

33 9100010001

ll

I

= ~ 2900010001

E=

,

211

100010001 lll

I

+←

= ~ 3100010011

E=

.

Assim, pelo Teorema 2.3, ,1E 2E e 3E possuem matrizes inversas calculadas da seguinte

maneira:

21

100010001 ll

I

= ~ 11

100001010

−=

E ,

391

3100010001

ll

I

= ~ 12

9100010001

−=

E ,

211

100010001 lll

I

−←

= ~ 13

100010011

−=

−E .

Agora estamos prontos para desenvolver um método para a determinação da

inversa de uma matriz, chamado método de Gauss-Jordan.

2.3.4 O método de Gauss-Jordan

Este método afirma que se A for uma matriz invertível (satisfaz o Teorema

2.2) e se uma seqüência de operações elementares sobre as linhas reduzir A à matriz identidade

I , então aquela mesma seqüência de operações sobre as linhas, quando aplicadas a I ,

produzirá a matriz inversa 1−A .

Page 48: PESQUISA OPERACIONA

Exemplo 2.16: Considere a matriz

=201010321

A .

Determine a matriz inversa de A .

Empregando o método de Gauss-Jordan, temos a seguinte seqüência de cálculos:

133100201010010001321

],[lll

IA

−←

= ~

~ 211 2

101120010010001321 lll −←

−−− ~

~

233 2101120010010021301

lll +←

−−−

− ~

~

33121100010010021301

ll −←

−−

− ~

~ 311 3

121100010010021301 lll −←

−−

− ~

~ ],[121100

010010342001

1−=

−−

−AI .

Portanto,

Page 49: PESQUISA OPERACIONA

−−

−=−

121010342

1A .

No Exemplo 2.16, podemos observar que ao realizarmos a operação

elementar sobre linhas 133 lll −← , obtemos a matriz elementar 1E e a sua matriz inversa 11−E ,

a saber:

−=

101010001

1E e

=−

101010001

11E .

Da mesma forma, para 211 2lll −← ,

−=

100010021

2E e

=−

100010021

12E ,

para 233 2lll +← ,

=120010001

3E e

−=−

120010001

13E ,

para 33 ll −← ,

−=

100010001

4E e

−=−

100010001

14E ,

e para 311 3lll −← ,

−=

100010301

5E e

=−

100010301

15E .

Assim, considerando o método de Gauss-Jordan, a partir da matriz A realizamos a seqüência de

operações:

AE1 , AEE 12 , AEEE 123 , AEEEE 1234 e IAEEEEE =12345 ,

Page 50: PESQUISA OPERACIONA

e, a partir da matriz identidade,

IE1 , IEE 12 , IEEE 123 , IEEEE 1234 e 112345

−= AIEEEEE .

Estamos prontos para estudar métodos eficientes de solução de sistemas

algébricos lineares.

2.4 Sistemas lineares algébricos

Um sistema de equações lineares com m equações e n incógnitas é um

conjunto de equações do tipo indicado em (2.13).

mnmnmm

nn

nn

bxaxaxa

bxaxaxa

bxaxaxa

=+++

=+++=+++

2211

22222121

11212111

,

(2.13)

onde para todos mi ,,2,1 = e nj ,,2,1 = , ija e ib são números reais dados.

Uma solução do sistema (2.13) é uma −n upla ordenada da forma

Tnxxx ][ **

2*1 que satisfaça simultaneamente as m equações.

Na notação matricial, definindo

=

mnmm

n

n

aaa

aaa

aaa

A

21

22221

11211

e

=

mb

b

b

b

2

1

,

devemos encontrar, se existir, x em nℜ tal que

bAx = . (2.14)

Classificamos as soluções para o sistema linear (2.13) ou, equivalentemente, (2.14), assim:

a) Compatível determinado, isto é, quando admite uma única solução;

Page 51: PESQUISA OPERACIONA

b) Compatível indeterminado, isto é, quando admite uma infinidade de soluções; e

c) Incompatível, isto é, quando não admite solução.

Por exemplo, o sistema de equações lineares

=−=+

6352

21

21

xx

xx

é compatível determinado, porque possui uma única solução, ou seja,

−=

13

x . Ainda, o

sistema de equação linear

1535 21 =+ xx

é compatível indeterminado, porque possui uma infinidade de soluções, ou seja,

2ℜ∈x ; 3515 1

2x

x−= e 1x qualquer.

Finalmente, o sistema de equações lineares

=++−=−+=++

43252723

321

321

321

xxx

xxx

xxx

é incompatível, porque o conjunto solução é vazio. Este fato pode ser comprovado através de

operações elementares sobre a matriz aumentada, ],[ bA , conforme mostra o exemplo dado a

seguir.

Exemplo 2.17: Considere o sistema

=++−=−+=++

43252723

321

321

321

xxx

xxx

xxx

Mostre que este sistema é incompatível.

A matriz aumentada do sistema é

−−=

432151127231

],[ bA

Page 52: PESQUISA OPERACIONA

Efetuamos sobre ],[ bA as seguintes operações elementares

133432151127231

],[lll

bA

+←

−−= ~

~ 122 21155051127231

lll ×−←

− ~

~

233115509550

7231

lll +←

−−− ~

~

−−−20009550

7231

Obtemos assim um sistema linha equivalente e, então, podemos reescrever o sistema de

equações original a partir da forma escalonada da matriz aumentada ],[ bA ,

=−=−−

=++

20955

723

3

32

321

x

xx

xxx

Do sistema linha equivalente, podemos concluir que não existe valor para 3x que satisfaz a

última equação. Portanto, o sistema de equações é incompatível, ou seja, seu conjunto solução é

vazio.

Dizemos que dois sistemas de equações lineares são equivalentes, quando

possuírem o mesmo conjunto solução.

2.4.1 Sistemas homogêneos

Um sistema de equações lineares com m equações e n incógnitas chama-se

homogêneo, quando é da forma

0=Ax .

Page 53: PESQUISA OPERACIONA

Observemos que nx ℜ∈= 0 é sempre uma solução do sistema homogêneo, denominada

solução trivial.

Um sistema homogêneo pode se apresentar em uma das seguintes situações:

(a) o sistema 0=Ax possui uma única solução, a solução trivial; ou (b) possui uma infinidade

de soluções, inclusive a solução trivial.

Antes de passarmos aos exemplos, considere a proposição enunciada a seguir.

Proposição 2.3: O espaço solução de um sistema homogêneo 0=Ax tem dimensão rn − ,

onde n é o número de incógnitas e r é o posto da matriz A de coeficientes. Como

conseqüência, um sistema homogêneo 0=Ax com n incógnitas tem solução única

nx ℜ∈= 0 se, e somente se, o posto de A for igual a n .

Desta proposição observamos que se nr = , a dimensão do espaço nulo de

A , que é o conjunto solução do sistema homogêneo 0=Ax , é igual a 0=− nn , quer dizer, o

caso indicado em (a). O caso indicado em (b) ocorre quando nr < .

Exemplo 2.18: Verifique se o seguinte sistema homogêneo possui solução única 30 ℜ∈=x .

=−−=++−=++

00202

321

321

321

xxx

xxx

xxx

.

Vamos calcular o posto da matriz de coeficientes, obtendo a forma escalonada.

233133

122230

330121

~111

211121

llllll

lll

+←

−−−←+←

−−− ~

100330121

Concluímos que o posto da matriz de coeficientes é 3, portanto, igual ao número de linhas da

matriz. Isto significa que a única solução do sistema é 0321 === xxx . Podemos concluir

também que as colunas (e as linhas) da matriz de coeficientes são linearmente independentes.

Exemplo 2.19: Verifique se o seguinte sistema homogêneo possui solução única.

Page 54: PESQUISA OPERACIONA

=+−=+=−+

0302032

321

21

321

xxx

xx

xxx

.

Primeiramente, vamos calcular o posto da matriz de coeficientes para verificar se a única

solução do sistema é a trivial ou não.

233133

122630630321

~2311012321

llllll

lll

−←

−−

−←×−←

−~

−−

000630321

A forma escalonada mostra que o posto da matriz de coeficientes é 2 (matriz ‘posto deficiente’),

portanto, o sistema homogêneo possui uma infinidade de soluções.

No restante deste capítulo estaremos interessados na solução do sistema

(2.13) (ou (2.14)), para nm = , ou seja, a matriz de coeficientes é quadrada.

Dada uma matriz quadrada com coeficientes reais, A, nn × , e dado um vetor

b em nℜ , queremos encontrar, se existir, x em nℜ tal que bAx = . Se A é invertível, então o

sistema (2.13) (ou (2.14)), para nm = , possui uma única solução. Todavia, calcular

explicitamente a matriz inversa 1−A e, em seguida, efetuar o produto bA 1− é desaconselhável,

uma vez que o número de operações envolvidas é grande, principalmente para sistemas de

grande porte, ou seja, sistemas que envolvem grande número de equações e incógnitas.

Inicialmente, estudaremos alguns problemas com soluções, digamos, que

podem ser facilmente obtidas.

2.4.2 Sistemas triangulares

Seja o sistema linear bAx = em que A , nn × , é triangular inferior, com

elementos da diagonal diferentes de zero, e b em nℜ . Escrevendo as equações deste sistema

temos:

nnnnnn bxaxaxa

bxaxa

bxa

=+++

=+=

2211

2222121

1111

.

(2.15)

Page 55: PESQUISA OPERACIONA

Supondo todos os coeficientes ija não nulos, tais que ji = , a solução do

sistema triangular inferior (2.15) é calculada pelas substituições sucessivas, a saber:

11

11 a

bx = ,

22

12122 a

xabx

−= , , nn

nnnnnnn a

xaxaxabx 112211 −−−−−−=

.

Regra geral: iniciando com 11

11 abx = , a incógnita ix é obtida pelo

somatório indicado em (2.16),

ii

i

jjiji

i a

xab

x

=−

=

1

1)(

, para ni ,,2 = .

(2.16)

O seguinte algoritmo resolve o sistema triangular inferior (2.15).

Algoritmo 2.1: Substituições sucessivas (ou diretas).

Dados: uma matriz triangular inferior com elementos da diagonal diferentes de zero, A , nn × ,

um vetor b em nℜ e n .

1111 abx ← Para ni ,,2 = 0←soma Para 1,,1 −= ij jij xasomasoma +←

iiii asomabx )( −←

Exemplo 2.20: Calcule a solução do sistema triangular inferior

−=

101

634032001

3

2

1

x

x

x

usando o algoritmo de substituições sucessivas.

1111 ==x 2=i , 0=soma , 1=j , 2120 =×+=soma , 323)20(2 −=−=x 3=i , 0=soma , 1=j , 4140 =×+=soma ;

2=j , 2)32(34 =−×+=soma , 216)21(3 −=−−=x Tx ]21321[* −−= .

Page 56: PESQUISA OPERACIONA

Agora, seja o sistema linear bAx = em que A , nn × , triangular superior,

com elementos da diagonal diferentes de zero, e b em nℜ . Escrevendo as equações deste

sistema, temos:

nnnn

nn

nn

bxa

bxaxa

bxaxaxa

=

=++=+++

22222

11212111

.

(2.17)

A solução do sistema triangular superior (2.17) é calculada pelas substituições

retroativas, a saber:

nn

nn a

bx = , ,

22

232322 a

xaxabx nn−−−=

, 11

121211 a

xaxabx nn−−−=

.

Regra geral: iniciando com nn

nn a

bx = , a incógnita ix é obtida pelo

somatório indicado em (2.18),

ii

n

ijjiji

i a

xab

x

+=

−= 1

)(

, para 1,,1 −=ni .

(2.18)

Algoritmo 2.2: Substituições retroativas (ou reversas).

Dados: uma matriz triangular superior com elementos da diagonal diferentes de zero, A , nn × ,

um vetor b em nℜ e n .

nnnn abx ← Para 1,,1 −= ni 0←soma Para nij ,,1 += jij xasomasoma +←

iiii asomabx )( −←

Exemplo 2.21: Calcule a solução do sistema triangular superior

Page 57: PESQUISA OPERACIONA

−=

− 04

21

20000100

43201001

4

3

2

1

x

x

x

x

usando o algoritmo de substituições retroativas.

0)2(04 =−=x 3=i , 0=soma , 4=j , 0)0(00 =×+=soma , 41)04(3 −=−−=x 2=i , 0=soma , 3=j , 12)4(30 −=−×+=soma ;

4=j , 12)0(412 −=×+−=soma , 72))12(2(2 =−−=x 1=i , 0=soma , 2=j , 0)7(00 =×+=soma ;

3=j , 0)4(00 =−×+=soma ; 4=j , 0)0(10 =×+=soma , 11)01(1 =−=x

Tx ]0471[* −= .

Finalmente, trataremos o problema (2.13) (ou (2.14)), para nm = , com a

hipótese de que o determinante da matriz A é diferente de zero e que a matriz de coeficientes

não está expressa na forma triangular.

2.4.3 O método de eliminação de Gauss

O método de eliminação de Gauss consiste em transformar um sistema de

equações lineares, bAx = , através de operações elementares, em um sistema triangular

superior equivalente. A partir daí, usa-se o algoritmo de substituições retroativas.

A obtenção do sistema equivalente é feita operando-se sobre as linhas da

matriz aumentada ],[ bA objetivando-se sempre anular os elementos de uma dada coluna que

estão imediatamente abaixo do elemento da diagonal, designado como pivô. Este procedimento

é repetido para as primeiras 1−n colunas do sistema.

Usaremos kija para denotar o coeficiente ija da matriz A no final da etapa k

e kib para denotar a −i ésima coordenada do vetor b no final da etapa k . A etapa k é a fase em

que se elimina a variável kx nas equações nkk ,,2,1 ++ . Supomos que 0)det( ≠A . Assim,

Page 58: PESQUISA OPERACIONA

podemos reescrever o sistema de equações lineares de forma que o elemento 01111 aa = seja

diferente de zero:

==

0002

01

02

02

022

021

01

01

012

011

00 ],[],[

nnnnn

n

n

baaa

baaa

baaa

bAbA

.

Na etapa 1 eliminamos a variável 1x das equações ni ,,2 = , subtraindo da

equação i a primeira equação multiplicada por 011

01

1 aam i

i = , para ni ,,2 = , onde 011a é

denominado pivô da etapa 1. Ao final desta etapa, obteremos a matriz aumentada equivalente

=

1112

12

12

122

11

11

112

111

11

0

0],[

nnnn

n

n

baa

baa

baaa

bA

,

onde

=1ija 0

110

jiij ama − , para ni ,,2 = e nj ,,2,1 = ,

=1ib 0

110 bmb ii − , para ni ,,2 =

=11 ja 0

1 ja , para nj ,,2,1 = ,

=11b

01b

Na etapa 2, dado que 0)det( ≠A , sempre teremos o elemento 0122 ≠a .

Então, podemos reescrever a matriz 1A , sem alterar a posição da linha 1, de modo que o pivô da

etapa 2, 122a , seja diferente de zero. Agora eliminaremos a variável 2x das equações

ni ,,3 = , subtraindo da equação i a segunda equação multiplicada por 122

12

aai para

ni ,,3 = . Ao final desta etapa, obteremos a matriz aumentada equivalente

=

2223

23

23

233

22

22

223

222

21

21

213

212

211

22

00

000

],[

nnnn

n

n

n

baa

baa

baaa

baaaa

bA

,

onde

Page 59: PESQUISA OPERACIONA

=2ija 1

121

jiij ama − , para ni ,,3 = e nj ,,2 = ,

=2ib 1

221 bmb ii − , para ni ,,3 =

=2ija 1

ija , para 2,1=i e nj ,,2,1 = ,

=2ib 1

ib , para 2,1=i .

Continuamos com este processo até a etapa 1−n , onde obteremos ao final

desta etapa a matriz aumentada equivalente

=

−−

−−−−

−−−−

−−

−−−−

−−−

−−

11

13

13

113

133

12

12

112

123

122

11

11

111

113

112

111

11

0000

000

],[

nn

nnn

nnn

nn

n

nnn

nn

nn

nnn

nn

nnn

nn

ba

baaa

baaaa

baaaaa

bA

.

Agora o sistema linear equivalente é triangular superior. O sistema está

pronto para a aplicação do Algoritmo 2.2.

Os procedimentos descritos nesta seção são expressos na forma de um

algoritmo, como a seguir.

Algoritmo 2.3: Eliminação de Gauss.

Dados: uma matriz quadrada A , nn × , com 0)det( ≠A , um vetor b em nℜ e n .

Para 1,,1 −= nk Para nki ,,1 +=

kk

ika

am ←

0←ika Para nkj ,,1 +=

kjijij maaa −←

kii mbbb −←

Em seguida, ilustraremos o Algoritmo 2.3 resolvendo um exemplo numérico.

Exemplo 2.22: Reduza o seguinte sistema a um sistema triangular superior

Page 60: PESQUISA OPERACIONA

=−=++=++

21654032

21

321

321

xx

xxx

xxx

Em notação matricial temos

−=

201116540321

],[ bA .

Usando o algoritmo de eliminação de Gauss,

0,414,2,1 21

1121 ====== aa

amik ,

3)2(45,,2 22122222 −=×−=−←= amaaaj , 6)3(46,,3 23132323 −=×−=−←= amaaaj , 1)0(41, 2122 =×−=−← bmbbb .

0,111,3 31

1131 ===== aa

ami ,

3)2(11,,2 32123232 −=×−−=−←= amaaaj , 3)3(10,,3 33133333 −=×−=−←= amaaaj , 2)0(12, 3133 =×−=−← bmbbb .

Neste ponto obtemos

−−−−

233016300321

~],[ bA .

Continuando o Algoritmo 2.3,

0,133,3,2 32

2232 ==−

−==== aaamik ,

3)6(13,,3 33233333 =−×−−=−←= amaaaj , 1)1(12, 3233 =×−=−← bmbbb .

Neste ponto obtemos

−−130016300321

~],[ bA .

Portanto, o sistema equivalente triangular superior é como a seguir

Page 61: PESQUISA OPERACIONA

==−−=++

13163032

3

32

321

x

xx

xxx

Exemplo 2.23: Calcule a solução do sistema triangular superior obtido pela aplicação da

eliminação de Gauss

==−−=++

13163032

3

32

321

x

xx

xxx

Pelo algoritmo de substituições retroativas obtemos

313 =x ,

13))(61( 312 −=−×+=x ,

11))1(2)(30( 311 =−×−×−=x ,

Tx ]3111[* −= .

A próxima seção tratará do método mais indicado para resolver sistemas

lineares de equações algébricas, que é a decomposição LU, também conhecida como fatoração

LU.

2.4.4 Decomposição LU de matrizes quadradas

A seção 2.4.2, intitulada “Sistemas triangulares”, mostrou que um sistema de

equações em que a matriz de coeficientes se apresenta como uma matriz triangular inferior ou

como uma matriz triangular superior é facilmente solucionável por substituições diretas ou

reversas. A seção 2.4.3 mostrou que é possível usar a eliminação de Gauss e transformar um

sistema bAx = para a forma triangular.

O método da decomposição LU associa as duas idéias: primeiro, obtém a

forma triangular superior da matriz A e, simultaneamente, armazena os multiplicadores usados

nesta operação. Em seguida, a solução do sistema é alcançada resolvendo-se dois sistemas

triangulares através das substituições direta e reversa.

Inicialmente trataremos da decomposição da matriz de coeficientes, sem

contudo, efetuar operações sobre o vetor independente, b , ao contrário do que foi feito na seção

2.4.3. O primeiro caso é quando não há troca de linhas durante a fatoração.

Page 62: PESQUISA OPERACIONA

Exemplo 2.24: Obtenha uma decomposição LU da matriz

−−

=

1111121101222114

A .

O procedimento é o mesmo utilizado no processo de eliminação de Gauss. Efetuaremos

operações elementares para anular elementos das colunas da matriz, desde a coluna 1 até a

coluna 3, sempre anulando as posições abaixo do elemento da diagonal correspondente.

Anularemos a seguir os elementos que estão abaixo do elemento da posição (1,1):

−−

−−

×−←

−−

1111121110

2114

~)(

1111121101222114

23

23

142

22 lll, multiplicador utilizado = 4

2 ,

−−

−−

×−←

−−

−−

11110

102114

~)(

1111121110

2114

21

49

45

23

23

141

33

23

23

lll, multiplicador utilizado = 4

1 ,

−−

−−

×−←

−−

−−

21

45

45

21

49

45

23

23

141

442

14

94

52

32

3

0

010

2114

~

)(11110

102114

lll

, multiplicador utilizado = 41 .

A matriz triangular inferior, designada por L , no caso específico do método LU, possui a

diagonal principal constituída de elementos unitários, e os elementos que se situam abaixo da

diagonal são os multiplicadores utilizados nas operações elementares durante o processo de

eliminação.

Dessa forma, após anular elementos na primeira coluna, a matriz L passa a exibir a seguinte

estrutura:

Page 63: PESQUISA OPERACIONA

=

1??

01?0010001

41

41

42

L .

Passaremos, em seguida, a anular os elementos da coluna 2 que estão abaixo da posição (2,2):

−−−

×

−←

−−

−−

21

45

45

31

27

23

23

233

21

45

45

21

49

45

23

23

000

102114

~

00

102114

23

45

lll,

multiplicador utilizado = 65

23

45

−=−

.

−−

×

−←

−−−

−−

31

25

31

27

23

23

24421

45

45

31

27

23

23

0000

102114

~

000

102114

23

45

lll

,

multiplicador utilizado = 65

23

45

−=−

.

Depois de anular elementos na segunda coluna, a matriz L apresenta a seguinte estrutura:

−−

=

1?010010001

65

41

65

41

42

L .

Anularemos o elemento da coluna 3 que está abaixo da posição (3,3):

−−

×

−←

−−

−−21

23

12

72

32

3

34431

25

31

27

23

23

00000

102114

~

0000

102114

27

25

lll

,

multiplicador utilizado = 75

27

25

= .

A matriz L exibe finalmente a sua estrutura completa,

Page 64: PESQUISA OPERACIONA

−−

=

1010010001

75

65

41

65

41

42

L ,

e a matriz U é a própria matriz triangular superior que resultou das operações de eliminação de

Gauss,

−−

=

−21

23

12

72

32

3

000

0010

2114

U .

O produto das matrizes L e U resulta na matriz original A , conforme está indicado a seguir.

ALU = ,

−−

=

−−

−−

− 11111211

01222114

000

0010

2114

1010010001

212

31

27

23

23

75

65

41

65

41

42

.

Dessa forma, está concluído o Exemplo 2.23 no qual obtivemos uma decomposição da matriz

A .

Os fundamentos matemáticos da decomposição LU provêm do conceito de

matriz elementar (vide Definição 2.13 e o Teorema 2.3). No exemplo precedente, os passos para

obter a decomposição de A podem ser expressos usando matrizes elementares, do seguinte

modo:

−−

−−

=

−−

−=

1111121110

2114

1111121101222114

110001000010001

23

23

42

1 AE ,

−−

−−

=

−−

−=

11110

102114

1111121101222114

110001000010001

110001000100001

21

49

45

23

23

42

4112 AEE ,

Page 65: PESQUISA OPERACIONA

=

−−

=

11111211

01222114

10000100

0010001

1000010

00100001

100

010000100001

42

41

41

123 AEEE

−−

−−

=

21

45

45

21

49

45

23

23

0

010

2114

.

Assim, as multiplicações das seguintes matrizes elementares

=

100001000100001

654E ,

=

100010000100001

65

5E e

=

100010000100001

75

6E

sobre AEEE 123 , na seqüência AEEEEEE 123456 , conduzem à matriz triangular superior U ,

−−

==

−21

23

12

72

32

3

123456

000

0010

2114

UAEEEEEE .

Ora, a inversa da matriz elementar do tipo usado na decomposição LU consiste apenas em

trocar o sinal do elemento não nulo que está fora da diagonal, e a inversa da matriz elementar é

também uma matriz elementar. Outro aspecto interessante da matriz elementar é que o produto

de duas matrizes elementares que descrevem operações sobre o triângulo inferior goza da

propriedade de superposição, observada a ordem das operações.

Para exemplificar a superposição, considere o produto 14

13

−− EE ,

−=

=−−

100

01000100001

1000010

00100001

100

010000100001

41

65

65

41

14

13 EE

que equivale à soma

Page 66: PESQUISA OPERACIONA

−=

−+

=−+ −−

100

01000100001

10000100

00100001

1000010

00100001

100

010000100001

41

65

65

41

14

13 IEE

Conseqüentemente,

=

−−

10010000100001

75

65

16

15 EE

=−−

10000100010001

41

42

12

11 EE

Daí, concluímos que o produto 16

15

14

13

12

11

−−−−−− EEEEEE resultará na matriz triangular inferior,

L , como está mostrado a seguir,

UEEEEEEA 16

15

14

13

12

11

−−−−−−= ,

LUA = .

Precisamos de um procedimento sistemático para efetuar a decomposição LU

de uma dada matriz A . Suporemos inicialmente que não haverá necessidade de troca de linhas.

O Algoritmo 2.4 obtém a decomposição LU de A , nn × .

Algoritmo 2.4: Decomposição LU de A .

Dados: uma matriz quadrada A , nn × , e n .

IL ← Para 1,,1 −= nk Para nki ,,1 +=

kk

ika

am ←

0←ika mlik ← Para nkj ,,1 += kjijij maaa −←

Ao término dos passos deste algoritmo, os elementos da matriz U estarão

armazenados nas posições originalmente reservadas à matriz A , portanto, perderemos os

elementos de A .

Page 67: PESQUISA OPERACIONA

Com a suposição de que não haverá troca de linhas, a decomposição LU pode

falhar. O Exemplo 2.25 ilustra esta situação.

Exemplo 2.25: Obtenha a decomposição LU da matriz, sem efetuar troca de linhas,

−−=114212112

A .

Ao anularmos o elemento 2− , da posição (2,1), verificamos o surgimento do zero na posição

diagonal (2,2),

( )

×−←

−− −

114300112

~114212112

122

22 lll .

A presença deste elemento zero impossibilita efetuar a operação de anular a posição (3,2),

ocupada pelo elemento 1. Nestas condições, dizemos que a decomposição LU falhou.

Proposição 2.4: Seja A uma matriz, nn × . A existência das matrizes triangulares L e U , na

hipótese de não podermos efetuar troca de linhas (ou seja, a primeira operação elementar

descrita na seção 2.3), tais que LUA = , é assegurada sempre que as submatrizes principais

líderes de A forem não singulares.

Entretanto, a operação elementar troca de linhas resolve este impasse.

No Exemplo 2.26, efetuaremos a decomposição LU da matriz do exemplo

precedente e, simultaneamente, construiremos uma matriz denominada matriz de permutação,

simbolizada por P .

Exemplo 2.26: Obtenha a decomposição LU da matriz, com troca de linhas se necessário,

−−−

=114212212

A .

Ao tentarmos anular o elemento 2− , da posição (2,1), verificamos o surgimento de zero na

posição diagonal (2,2). Reiniciaremos o processo, trocando então a linha 1 e a linha 3 , cuja

operação estará representada pela matriz elementar 1E ,

Page 68: PESQUISA OPERACIONA

=001010100

1E .

Teremos,

−−−=

212212114

1AE .

Anulamos, em seguida, o elemento 2− da posição (2,1),

( )

−−×−←

−−− −

2120

114~

212212114

25

2114

222 lll .

Anulamos o elemento 2, que está na posição (3,1),

( )

−−

×−←

−−

25

21

25

21

142

33

25

21

0

0

114

~

212

0

114

lll

,

Partimos, finalmente, para anular o elemento 21 que se encontra na posição (3,2),

( )

−×−−←

−−

0000

114

~10

0

114

25

21

23325

21

25

21

lll

.

A matriz triangular superior, U , é

−=000

0114

25

21U ,

e a matriz L , é

−= −

1101

001

21

21L ,

Page 69: PESQUISA OPERACIONA

com a ressalva de que uma troca de linhas ocorreu e está representada na matriz P (que é o

produto de matrizes elementares que refletem as trocas de linhas ocorridas),

=001010100

P .

Para concluirmos o exemplo, precisamos entender o papel da matriz P na

decomposição LU. Se fizermos o produto LU não iremos obter a matriz A , ao contrário do

que foi mostrado no Exemplo 2.23 onde não ocorreu troca de linhas, isto é,

−−−=

−= −

212212

114

0000

114

1101

001

25

21

21

21LU .

Todavia, o produto obtido é a matriz A pré-multiplicada por P . Então, como

regra geral, a decomposição LU quando trocas de linhas estão representadas pela matriz P é tal

que,

LUPA = ,

e

PLUA = .

O Exemplo 2.26 solucionado anteriormente, além de mostrar como proceder

quando há troca de linhas, também ilustra o caso em que a matriz A é singular e a

decomposição LU é realizada normalmente. Isto pode ser constatado no fato de que o

determinante da matriz U é zero (que é igual ao determinante da matriz A , conforme

estabelecido pela Proposição 2.1).

A solução de um sistema de equações lineares algébricas com n equações e n incógnitas,

bAx = , compatível determinado, é realizada sem dificuldades se estivermos de posse da

decomposição LU da matriz de coeficientes. Suporemos que na decomposição não houve troca

de linhas, então a solução é obtida com os seguintes passos: uma vez que agora

bUxLxLUAx === )()( ,

Page 70: PESQUISA OPERACIONA

(1) decomposição: LUA=

(2) substituição direta: bLy =

=

−−

−−

n

n

n

n

nnnn

nn

b

b

b

b

y

y

y

y

lll

ll

l

1

2

1

1

2

1

1,21

2,11,1

21

101

0010001

;

(3) substituição reversa: yUx =

=

−−−−−

n

n

n

n

nn

nnnn

nn

nn

y

y

y

y

x

x

x

x

u

uu

uuu

uuuu

1

2

1

1

2

1

,11,1

,21,222

,11,11211

00000

0

.

As etapas que solucionam os sistemas triangulares são idênticas aos métodos

descritos na seção 2.4.2, sendo que a solução de bLy = é feita aplicando o Algoritmo 2.1 e a

solução de yUx = é feita aplicando o Algoritmo 2.2.

A seguir, adaptamos os algoritmos mencionados à notação utilizada nesta

seção para apresentar o algoritmo completo de solução de um sistema de equações bAx = ,

compatível determinado, para o caso em que a troca de linhas não é necessária.

Algoritmo 2.5: Solução de bAx = através da decomposição LU.

Dados: uma matriz quadrada A , nn × , um vetor de termos independentes b e n .

IL ← Para 1,,1 −= nk Para nki ,,1 +=

kk

ika

am ←

0←ika mlik ← Para nkj ,,1 += kjijij maaa −←

Page 71: PESQUISA OPERACIONA

11 by ← Para ni ,,2 = 0←soma Para 1,,1 −= ij

jij ylsomasoma +←

somaby ii −←

nnnn ayx ← Para 1,,1 −= ni 0←soma Para nij ,,1 +=

jij xasomasoma +←

iiii asomayx )( −←

O leitor pode, a princípio, não ver vantagem da solução de sistemas com a

decomposição LU sobre o método de eliminação de Gauss. Entretanto, uma característica muito

importante da decomposição LU é notada quando desejamos resolver sistemas com a mesma

matriz de coeficientes e diferentes vetores de termos independentes. Com as mesmas matrizes

triangulares, L e U , obtidas da decomposição da matriz A , procederemos às etapas de

substituição direta e reversa para cada vetor de termos independentes. Enquanto que, na

eliminação de Gauss, o algoritmo opera sobre a matriz aumentada, ],[ bA , de modo que para

outro vetor de termos independentes todo o processo de eliminação terá que ser realizado desde

o início.

Um aspecto extremamente importante quando tratamos da solução de

sistemas de equações lineares algébricos é o número de operações requeridas para chegarmos à

solução do sistema. Vimos anteriormente que a solução via determinante (Regra de Cramer) é

extremamente onerosa em relação ao número requerido de operações. O método de Gauss-

Jordan e a subseqüente multiplicação da inversa de A pelo vetor b é visto aqui como um

método de solução de sistemas de equações lineares algébricos.

Primeiramente, analisaremos o número de operações necessárias para a

decomposição LU de uma matriz A , nn × .

Aqui, assumimos um flop como a unidade de operação de ponto flutuante que

corresponde a um produto acompanhado de uma adição envolvendo números reais (ou seja,

dcba ×+= ). Então, supondo a primeira linha da matriz inalterada, na obtenção dos zeros na

primeira coluna realizamos )1( −nn flops e, na segunda coluna, )2)(1( −− nn flops e, na

terceira coluna, )3)(2( −− nn flops e, assim por diante, resultando no seguinte somatório,

Page 72: PESQUISA OPERACIONA

=−+−

1

1))(1(

n

kknkn ,

cujo resultado é 33

)1( 32 nnnn −=−. Dizemos que a decomposição LU é )( 3

3nO flops.

Por outro lado, a obtenção da inversa da matriz A através do método de

Gauss-Jordan requer a seguinte quantidade de flops para anular as posições abaixo da diagonal

principal,

=−+−

1

1))(12(

n

kknkn , e

=−+

1

1))((

n

kknkn

flops para anular as posições acima da diagonal principal, além de aproximadamente nn )1( +

flops para tornar unitários os elementos da diagonal. Efetuando as somas indicadas, chegamos

ao número aproximado de flops requeridos na obtenção da inversa da matriz A através do

método de Gauss-Jordan

=−+−

1

1))(12(

n

kknkn +

=−+

1

1))((

n

kknkn + nn )1( +

23 3 nn +≅ .

As etapas de solução do método baseado na decomposição LU consomem

2)1(2 −n flops e, no método de solução por Gauss-Jordan, as operações requeridas para

multiplicar 1−A por b correspondem a 2n flops. Negligenciamos os termos de menor ordem no

cálculo do número de operações de ponto flutuante e concluímos que os métodos sob análise

possuem os desempenhos mostrados na Tabela 2.2.

Tabela 2.2: Número aproximado de flops requeridos para a solução de um sistema bAx = ,

sendo A uma matriz nn × , nos métodos de Gauss-Jordan e decomposição LU.

Gauss-Jordan Decomposição LU inversa

23 3 nn +

decomposição

3

3 nn −

multiplicação bA 1− 2n substituições 2)1(2 −n total

23

223 323 nnnn ≅++

total

336136 323 nnnn ≅+−+

Percebemos imediatamente que, dentre os métodos apresentados neste texto,

o que apresenta melhor desempenho é o método de solução baseado na decomposição da matriz

em seus fatores triangulares L e U .

Page 73: PESQUISA OPERACIONA

No próximo capítulo estudaremos um tópico básico de Programação

Matemática denominado Programação Linear.

2.5 Exercícios

1. Programe a adição de duas matrizes, nm × .

2. Programe a transposição de uma matriz, nm × .

3. Programe a multiplicação de uma matriz nm × e uma matriz qn × .

4. Programe a Regra de Cramer para o Exemplo 2.16 com Tb ]321[ −= .

5. Programe o algoritmo de substituições sucessivas para o Exemplo 2.20.

6. Programe o algoritmo de substituições retroativas para o Exemplo 2.21.

7. Programe o algoritmo de eliminação de Gauss com o algoritmo de substituições retroativas

para o Exemplo 2.22.

8. Utilize o comando rref do software MATLAB para a matriz do Exemplo 2.12.

9. Utilize o comando rank do software MATLAB para a matriz do Exemplo 2.13.

10. Utilize o comando rref do software MATLAB para a matriz do Exemplo 2.14.

11. Utilize o comando null do software MATLAB para a matriz do Exemplo 2.19.

12. Utilize o comando [P,L,U]=lu(A) do software MATLAB para a matriz do Exemplo

2.24.

13. Utilize o comando [P,L,U]=lu(A) do software MATLAB para a matriz do Exemplo

2.26.

14. Programe o Algoritmo 2.5 e resolva o seguinte sistema de equações

−=

121

201010321

3

2

1

x

x

x

15. Utilize o comando x=A\b do software MATLAB para resolver o sistema do exercício

anterior.

16. Calcule a inversa da matriz A empregando o método da matriz adjunta

=201010321

A .

17. Obtenha o sistema linha equivalente a

Page 74: PESQUISA OPERACIONA

=−=++=++

21654032

21

321

321

xx

xxx

xxx

18. Determine o posto de cada uma das seguintes matrizes

a)

=

111111

A , b)

−−−=842421

421B , c)

−=

242101

C , d)

−=

113111201221

D .

19. Classifique os sistemas bAx = quanto à solução: (a) compatível determinado; (b)

compatível indeterminado; e (c) incompatível (ou inconsistente).

a)

−=++−=++

=++

23331654

132

321

321

321

xxx

xxx

xxx

, b)

=−+=+−

252

321

321xxx

xxx,

c)

=++=+−=++

01132

321

321

321

xxx

xxx

xxx

, d)

=−+=+−

11

321

321xxx

xxx.

20. Mostre que o sistema

=++−=−+=++

43252723

321

321

321

xxx

xxx

xxx

não tem solução, ou seja, é incompatível.

21. Verifique se as matrizes A e B são definidas positivas ou não

a)

−−

=320221013

A , b)

−=

1231

B .

22. Obtenha as inversas das matrizes elementares

a)

=100050001

1E , b)

=102010001

2E , c)

−=

130010001

3E .

23. Utilize matrizes elementares para obter a inversa da matriz

=201010321

A .

24. Converta o sistema bAx = à forma triangular e obtenha a solução x com os dados

Page 75: PESQUISA OPERACIONA

−=

311022302000

1111

A ,

=

0010

b .

25. Pesquise e descubra um método que não utilize o cálculo de determinantes para determinar

se uma matriz é ou não é definida positiva.

Page 76: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 3

Programação Linear

Neste capítulo introduziremos a Programação Matemática através da

Programação Linear (PL). Definiremos o problema de PL (PPL) e estudaremos os

fundamentos da PL e o método simplex.

Iniciamos o nosso propósito definindo o problema de PL.

3.1 O problema de PL

Nesta seção definimos o problema de Programação Linear. Em particular,

definimos o problema de PL na forma padrão, no sentido de que qualquer PPL pode ser

convertido para este formato.

Consideremos os números inteiros m e n tais que nm <<0 . Dados uma

matriz numérica com coeficientes reais ,A , nm × e vetores mb ℜ∈ e ,nc ℜ∈ o problema de

Programação Linear no formato padrão é um problema de Otimização,

(P) 0. x

:a sujeito minimizar

≥==

bAx

xcz T

Seguem-se algumas definições associadas ao problema (P).

Definição 3.1: Considere o PPL (P).

a) A função linear xczx T= é chamada função objetivo.

b) O conjunto 0; ≥=ℜ∈= b, xAxxX n é chamado conjunto viável e um ponto

Xx ∈ é denominado ponto viável.

c) O conjunto ( ) ,*;* XxxcxcXxPX TT ∈∀≤∈= é chamado conjunto de soluções

ótimas e um ponto ( )PXx ∈* é denominado solução ótima.

Page 77: PESQUISA OPERACIONA

75

d) O problema (P) chama-se problema ilimitado, quando existe uma seqüência )( kx tal

que Xx k ∈ e ,−∞→kT xc quando ∞→k .

e) O problema (P) chama-se problema inviável, quando X é vazio.

Um caso para um problema ilimitado de PL poderá ser observado no

Exemplo 3.9 adiante, enquanto que para um problema inviável, podemos recorrer ao Exemplo

2.17, quando estudamos o sistema de equações lineares incompatível.

Exemplo 3.1: Sejam dados a matriz tecnológica ,A ,3 2 × o vetor do lado direito 2ℜ∈b e o

vetor custo 3ℜ∈c a saber:

−=

101142

A ,

=

75

b e

−=

201

c .

O PPL na forma padrão é o seguinte:

.07542 : a sujeito

2minimizar

321

31

321

31

≥=+=+−

−=

x,x,x

xx

xxx

xxz

3.1.1 Obtenção do formato padrão

Geralmente, pretendemos resolver um PPL no formato do problema (P). Isto

é, o primeiro grupo de restrições envolve somente igualdades e todas as variáveis do modelo

são não negativas. Além disso, queremos minimizar o valor da função objetivo.

Na ocorrência de

, :a sujeito maximizar

Xx

xcz T

∈=

basta trocarmos o sinal no valor da função objetivo, a saber:

. :a sujeito minimizar

Xx

xcz T

∈−=−

Page 78: PESQUISA OPERACIONA

76

Para ,m,i 1= , na ocorrência de desigualdades como mostradas a seguir

in

jjij bxa ≤

=1

ou

in

jjij bxa ≥

=1,

basta tomarmos 0≥+inx , tal que

iinn

jjij bxxa =+ +

=

1

ou

iinn

jjij bxxa =− +

=

1,

respectivamente e, assim, convertemos as restrições de desigualdade para igualdade. Dizemos

que inx + é uma variável de folga, quando adicionada na restrição e, variável de excesso,

quando subtraída na restrição.

Por outro lado, consideremos .1 ,n,j = Sejam dados números reais jl e

,ju com .0≠jl Na ocorrência de variáveis do tipo jj lx ≥ ou jj ux ≤ podemos considerar

jj lx ≥ ou jj ux ≤ como restrições do tipo ≥ ou ≤ , respectivamente.

Na ocorrência de variáveis livres, isto é, ℜ∈jx , para algum ,n,j 1= ,

basta realizarmos uma mudança de variáveis definindo,

jjj xxx ˆ−= , com 0≥jx e 0ˆ ≥jx .

Note-se que não consideramos desigualdades estritas.

Exemplo 3.2: Para converter o PPL

02

: a sujeito

5maximizar

2

21

21

≥≤+

−=

x

xx

xxz

para o formato padrão, devemos tomar 2321 =++ xxx , com 03 ≥x , e definir

541 xxx −= , com 04 ≥x e 05 ≥x ,

Page 79: PESQUISA OPERACIONA

77

e trocar o sinal no valor da função objetivo. Assim, obtemos:

.0,,,

2:a sujeito

5minimizar

5432

5432

542

≥=−++

+−=

xxxx

xxxx

xxxz

A propósito, quando um problema de Otimização é um problema de PL?

Quando as funções envolvidas (a função objetivo e as restrições do problema) são afins

(lineares) e contínuas e, além disso, as variáveis do problema são contínuas.

3.2 A geometria da Programação Linear

Nesta seção trataremos do estudo dos fundamentos da PL. O que faremos

neste caminho, então, será reescrever o que já existe na literatura, dando uma primeira olhada

no conjunto viável como um poliedro e, em seguida, caracterizando-o como um poliedro com

um número finito de pontos extremos e com pelo menos um ponto extremo quando não vazio;

desenvolvendo um método gráfico para a solução de um PPL; e enunciando o Teorema

Fundamental da PL.

Iniciamos o nosso intuito com alguns resultados de convexidade. Afinal, o

que são poliedros?

Definição 3.2: Sejam dados um vetor não nulo na ℜ∈ , denominado vetor normal, e um

escalar ℜ∈δ .

a) O conjunto

; δ=ℜ∈= xaxH Tn

é denominado um hiperplano.

b) Os conjuntos

; δ≤ℜ∈= xaxH Tnl

e ; δ≥ℜ∈= xaxH Tn

u

são denominados semiespaços fechados.

c) Um poliedro é um conjunto formado pela interseção de um número finito de

semiespaços fechados.

Page 80: PESQUISA OPERACIONA

78

Pela definição de poliedro, observamos que o conjunto vazio é um poliedro,

porque o conjunto vazio é a interseção de zero semiespaços fechados, por exemplo.

Exemplo 3.3: A Figura 3.1 representa um hiperplano H definido pelo vetor normal

[ ]T,,a 2010= e pelo número 3,0=δ . Observe que o vetor a define a inclinação do

hiperplano enquanto que δ define a posição de .H No sentido do vetor normal, obtemos uH

(região hachurada) e, no sentido contrário, .lH Observe, também, que H é um poliedro,

porque é a interseção de dois semiespaços fechados, lH e .uH

Figura 3.1: Representação de um hiperplano H e de semiespaços fechados lH e uH no 2ℜ .

Agora, o que é um conjunto convexo?

Definição 3.3: Sejam dados q vetores nqxxx ℜ∈,,, 21 .

a) Dizemos que n x ℜ∈ é uma combinação linear de nq , x,, xx ℜ∈21 , quando

existem q escalares ℜ∈q, ,, 21 tais que

qq xxxx +++=

22

11 .

b) Dizemos que n x ℜ∈ é uma combinação convexa de nq , x,, xx ℜ∈21 , quando

x é uma combinação linear e

Page 81: PESQUISA OPERACIONA

79

121 =+++ q e ]1,0[21 ∈q, ,, .

A notação ]1,0[ significa intervalo fechado cujos extremos são 0 e 1.

c) Seja S um subconjunto do nℜ . Dizemos que S é um conjunto convexo, quando

todas as combinações convexas de quaisquer dois pontos de S pertencem a S .

d) Seja S um subconjunto convexo do nℜ . Um ponto x em S é denominado ponto

extremo de ,S quando x não é uma combinação convexa de quaisquer dois outros

pontos distintos em .S

No exemplo a seguir são ilustrados dois conjuntos: um conjunto convexo e

um conjunto não convexo.

Exemplo 3.4: Na Figura 3.2(a) temos um conjunto convexo com quatro pontos extremos e a

Figura 3.2(b) não é um conjunto convexo. São também mostrados dois pontos 1x e 2x

pertencentes aos conjuntos e x um ponto extremo da Figura 3.2(a).

(a) (b)

Figura 3.2: Exemplos no 2ℜ de (a) um conjunto convexo S , e (b) um conjunto não convexo.

No conjunto da Figura 3.2(a) verificamos que, dados quaisquer dois pontos

deste conjunto, os que são uma combinação convexa desses dois pontos também pertencem

ao conjunto, o que não ocorre em relação ao conjunto da Figura 3.2(b). Além disso, na Figura

3.2(a) x é um ponto extremo porque não pode ser escrito como uma combinação convexa de

dois pontos distintos dele em S , enquanto que na Figura 3.2(b) não existe ponto extremo

porque o conjunto não é convexo.

1x 1x

2x 2x

x

Page 82: PESQUISA OPERACIONA

80

Agora, do ponto de vista computacional, vamos reescrever a definição de

ponto extremo de uma maneira mais operacional. Iniciamos com a seguinte definição.

Definição 3.4: Sejam dados uma matriz ,A , nm × ,0 nm << e um vetor b em mℜ .

Consideremos um sistema de equações lineares , bAx = tal que posto( A ) m= .

a) Uma matriz quadrada ,B , mm × obtida de ,A com m vetores coluna linearmente

independentes denomina-se matriz base de A . Uma matriz ,N ( )mnm −× , obtida de

,A com os mn − vetores coluna restantes denomina-se matriz não base.

b) Consideremos uma matriz base ,B mm × . O conjunto de índices correspondentes a

esta matriz base ,B no sistema , bAx = chama-se conjunto de índices base. O

conjunto com os demais mn − índices chama-se conjunto de índices não base.

Denotamos o conjunto de índices base por BI e o conjunto de índices não base por

NI . Os conjuntos BI e NI têm cardinalidade m e mn − , respectivamente.

c) Consideremos uma matriz base ,B mm × . As variáveis correspondentes a esta

matriz base ,B no sistema , bAx = são denominadas variáveis básicas. As demais

mn − variáveis são as variáveis não básicas. Denotamos o vetor de variáveis básicas

por Bx e o vetor de variáveis não básicas por Nx .

d) Anulando as mn − variáveis não básicas, obtemos um sistema compatível

determinado, constituído de m equações e m incógnitas. Determinando o valor das

variáveis básicas, obtemos uma solução básica. Ou seja, façamos 0=Nx e

resolvemos o sistema linear bBxB = .

e) Uma solução básica onde as variáveis básicas são não negativas denomina-se solução

básica viável.

f) Uma solução básica viável onde existe ao menos uma variável básica nula denomina-

se solução básica viável degenerada.

Por conveniência, suponhamos que mxxx ,,, 21 sejam as variáveis

básicas, que são as coordenadas de Bx , e nm xx ,,1 + sejam as variáveis não básicas,

coordenadas de Nx . Então, neste caso, os conjuntos BI e NI são como a seguir:

,,2,1 mIB = e ,,2,1 nmmIN ++= .

Page 83: PESQUISA OPERACIONA

81

Para a resolução do sistema bAx = buscamos exprimir Bx em função de

Nx , a saber:

bx

xNBbAx

N

B

=

= ][ =+ bxx NB

.11 NB NxBbBx −− −= (3.1)

Para 0=Nx , bBxB 1−= e x é uma solução básica. Se 01 ≥= − bBxB para 0=Nx , então

x também é uma solução básica viável.

Exemplo 3.5: Considere o sistema linear

.03

3

4321

41

321

≥=+=++

, x, x, xx

x x

xxx

Neste exemplo, a matriz A e o vetor b são definidos por

=

10010111

A e

=

33

b .

Primeiramente, tomamos a matriz base

=

0111

B ,

obtida de A através da primeira coluna e da segunda coluna. Segue-se que o conjunto de

índices base e o conjunto de índices não base são, respectivamente,

2,1=BI e 4,3=NI , a solução básica é

Tx ]0003[= ,

porque o vetor de variáveis não básicas é TTN xxx ]00[][ 43 == e o vetor de variáveis

básicas é calculado por

=

=

33

0111

2

1

xx

bBxB

==+

,3

3

1

21

xxx

isto é, TTB xxx ]03[][ 21 == . Tanto a solução básica viável quanto a solução básica

viável degenerada coincidiram com a solução básica ,x uma vez que 0≥Bx e, em particular,

Page 84: PESQUISA OPERACIONA

82

02 =x . Por outro lado, tomando a matriz base

=

1001

B ,

obtida de A através da terceira coluna e da quarta coluna, segue-se que o conjunto de índices

base e o conjunto de índices não base são, respectivamente,

4,3=BI e 2,1=NI , a solução básica é

Tx ]3300[= ,

porque o vetor de variáveis não básicas é TTN xxx ]00[][ 21 == e o vetor de variáveis

básicas é calculado por

=

=

33

1001

4

3

xx

bBxB

==

,3

3

4

3

xx

isto é, TTB xxx ]33[][ 43 == . Neste caso, a solução básica viável possui 0>Bx , logo,

não é uma solução básica viável degenerada.

Se para um PPL um ponto extremo é uma solução básica viável e vice-

versa, então obteremos uma caracterização mais operacional para pontos extremos; do ponto

de vista computacional. É o que afirmamos no próximo teorema, cuja demonstração pode ser

encontrada em BREGALDA, OLIVEIRA e BORNSTEIN, 1988.

Teorema 3.1: Consideremos o PPL (P). Um ponto viável Xx ∈ é ponto extremo se, e

somente se, x é uma solução básica viável.

Assim, podemos calcular pontos extremos através do cálculo de soluções

básicas viáveis. Além disso, devemos observar que a correspondência entre pontos extremos

e soluções básicas viáveis não é em geral um a um (veja Exercício 4).

O próximo resultado caracteriza o conjunto viável de um PPL, formalizando

assim, a sua geometria.

Teorema 3.2: Consideremos o PPL (P). Todo conjunto viável X é um poliedro com um

número finito de pontos extremos e, quando não vazio, possui ao menos um ponto extremo.

Page 85: PESQUISA OPERACIONA

83

O exemplo que será apresentado a seguir corresponde a um método gráfico

para solucionar um PPL.

Exemplo 3.6: (Um método gráfico): Consideremos o problema de PL,

.0 , 2 :a sujeito

minimizar

21

21

1

≥=+

=

xx

xx

xz

Este problema possui uma única solução ótima, Tx ]20[* = , porque o

menor valor que podemos ter para 1x é 01 =x . Logo, 22 =x .

Apesar da simplicidade com que obtivemos a solução ótima para este

problema, poderíamos, também, tê-la obtido pelo seguinte método gráfico, conforme mostra a

Figura 3.3.

Devemos tomar pontos viáveis no conjunto viável X com o menor valor da

função objetivo, uma vez que na solução ótima *x , xcx c TT ≤* para todo Xx ∈ . Desta

forma, relembrando a definição de hiperplano, o vetor dado ,nc ℜ∈ não nulo (se

XP, Xc == )(0 ) e o número xcT=δ para cada ,Xx ∈ definem um hiperplano para cada

.Xx ∈ Na Figura 3.3, por exemplo, para

==

021xx , 21 =x cT , e para

==

5,15,02xx ,

5,02 =xcT ; e para

==

203xx , 03 =xcT . Aqui não é possível encontrar outro ponto

Xx ∈ tal que 0≤xcT . Portanto, [ ]Txx 20* 3 == é a solução ótima. Observemos que os

hiperplanos percorrem o sentido contrário ao vetor custo c , quando na minimização.

Page 86: PESQUISA OPERACIONA

84

Figura 3.3: Solução do Exemplo 3.6 através de um método gráfico.

Assim, estamos prontos para enunciar o Teorema Fundamental da

Programação Linear, cuja demonstração pode ser encontrada em BREGALDA, OLIVEIRA e

BORNSTEIN, 1988.

Teorema 3.3: Consideremos o PPL (P). Se (P) admite solução ótima, então uma solução ótima

é atingida em ao menos um ponto extremo do conjunto viável.

Na próxima seção apresentaremos o desenvolvimento de um método para

resolver o problema (P).

=0

2x1

2xc 1T =

==2

0xx 3*

=5,1

5,0x2

c

5,0xc 2T =

X

2x

1x

0xc 3T =

Page 87: PESQUISA OPERACIONA

85

3.3 Método simplex primal

Todo método advém da necessidade de resolvermos algum problema. Nesta

seção, estamos interessados na solução dos problemas de PL através do estudo do método

simplex, devido a DANTZIG, 1951.

Consideremos o PPL (P), no formato padrão,

(P) ,0

:a sujeito minimizar

≥=

=

x

bAx

xcz T

onde são dados uma matriz ,A ,nm × e vetores mb ℜ∈ e ,nc ℜ∈ com nm <<0 .

Sem perda de generalidade, consideramos a matriz A de posto completo, ou

seja, A possui uma submatriz quadrada invertível, e o vetor do lado direito 0≥b , ou seja,

nenhum elemento de b é negativo. Se nm = , usamos o Capítulo 2, porque neste caso basta

resolver um sistema de equações lineares algébricas.

A idéia do método simplex consiste em caminhar pela fronteira do poliedro

de um PPL, através de pontos extremos adjacentes com valores da função objetivo sempre

menores do que os valores anteriores.

Enunciamos, a seguir, um algoritmo denominado de algoritmo mestre, em

uma tentativa de exprimir, sob esta forma, as idéias do método simplex.

Algoritmo 3.1: Algoritmo mestre.

Dados: 0x solução básica viável inicial associada a uma matriz base inicial 0B .

0←k .

Repita

Escolha, se possível, uma nova variável básica daquelas variáveis não básicas.

Escolha, se possível, uma nova variável não básica daquelas variáveis básicas.

Atualize 1+kB e 1+kx .

1+← kk .

Até que convirja.

Devemos agora responder a uma pergunta chave acerca do algoritmo

Page 88: PESQUISA OPERACIONA

86

mestre:

como se determina uma solução básica viável inicial?

Este problema consiste em encontrar um ponto viável inicial. Denominamos

este problema de fase 1 ou, equivalentemente, problema de viabilidade. Aqui, supomos que o

ponto viável inicial é dado, porque a idéia do método simplex para a fase 2 (problema de

otimalidade), que desenvolvemos neste capítulo, é semelhante. Esta hipótese é forte, no

sentido de que não trataremos problemas inviáveis de PL.

Considere o problema de PL (P). Denotamos uma solução básica viável para

(P), nx ℜ∈ˆ , associada a uma matriz base ,B mm × . Denotamos, também, uma matriz não

base N , )( mn m −× . Por definição, 0ˆ 1 ≥= − bBxB e 0ˆ =Nx .

De um modo geral, como não podemos garantir que os índices das variáveis

básicas e das variáveis não básicas estão ordenados, os conjuntos de índices base e de índices

não base serão representados genericamente como a seguir, respectivamente:

,,, 21 mB iiiI = e ,,, 21 mnN jjjI −= .

A matriz de coeficientes tecnológicos ,A particionada, tem suas colunas da

matriz base e da matriz não base conforme mostrados a seguir, respectivamente:

][21 miii AAAB = e ][

21 mnjjj AAAN −= ,

onde ,,,,21 miii AAA

mnjjj AAA −,,,21

representam as colunas da matriz A

correspondentes aos seus respectivos índices.

Analogamente à partição de ,A o vetor de custos fica conforme a seguir:

Tmiii

B cccc ][21

= e Tmnjjj

N cccc ][21 −= .

Uma vez que uma matriz base é conhecida, todo ponto viável x , para (P),

pode ser escrito com o vetor de variáveis básicas

Tmiii

B xxxx ][21

=

Page 89: PESQUISA OPERACIONA

87

e com o vetor de variáveis não básicas

Tmnjjj

N xxxx ][21 −= .

Desenvolvendo bAx = obtemos a expressão (3.1), a saber:

bAx = =+ bxx NB

.11 NB NxBbBx −− −= (3.1)

Desenvolvendo xcT e usando a última igualdade,

NTNNTBNTNBTBT xcNxBbBcxcxcxc )()()()()( 11 +−=+= −−

.])()[()( 11 NTBTNTBT xNBccbBcxc −− −+= (3.2)

Portanto, de (3.1) e (3.2), e relembrando que 0ˆ 1 ≥= − bBxB , podemos

reescrever o problema (P) assim:

.0,0 :a sujeito

])()[()( minimizar 11

11

≥≥−=

−+=−−

−−

NNB

NTBTNTB

xNxBbBx

xNBccbBc z

(3.3)

Observe que o valor da função objetivo em (3.3) pode ser reescrito assim:

.)(

0)(

11

−+==

−−

N

BT

BTNTBT

x

x

cNBcbBcxcz

Definição 3.5: (Custo reduzido) Designamos o vetor

−=

− BTN cNBcs

)(

01

como vetor custo reduzido.

Cada componente do vetor s é a taxa de redução no valor da função

objetivo com respeito à mudança na variável não básica.

Historicamente, na publicação do livro (DANTZIG, 1963), o método

Page 90: PESQUISA OPERACIONA

88

simplex foi formalizado através do formato tabular. Quer dizer, podemos representar o

problema de PL (P) pelo seguinte quadro:

Tabela 3.1 – Quadro do simplex.

Base TBx )( TNx )( RHS

0=Bs BTNN cNBcs )( 1−−= xcz T ˆ−=− Bx I NB 1− 01 ≥− bB

Na Tabela 3.1, na primeira linha estão representadas as variáveis básicas Bx

e as variáveis não básicas Nx . Na segunda linha estão representados o vetor custo reduzido

(conforme Definição 3.5) e o negativo do valor da função objetivo. Na terceira linha desta

tabela está representado o sistema bAx= particionado assim:

=+=+=+= −−−−− bBNxBIxbBNxBBxBbxxbAx NBNBNB 11111

[ ] ,, 11 bBx

xNBI

N

B−− =

onde bB 1− é o vetor do lado direito do quadro simpex denotado por RHS (right hand side).

Exemplo 3.7: Considere o problema de PL no formato padrão

minimizar =z 21 2xx −−

.0,,,,3624:a sujeito

54321

51

421

321

≥=++=++=++

xxxxx

xx

xxx

xxx

Desejamos expressar o PPL no formato tabular segundo a matriz base definida pelo conjunto

de índices base, 5,4,2=BI e a matriz não base definida pelo conjunto de índices não

base 3,1=NI .

A partição da matriz A que retrata a base corrente é a seguinte:

Page 91: PESQUISA OPERACIONA

89

=100011001

B e

=010211

N .

A seqüência de cálculos seguirá o que está mostrado na Tabela 3.1.

O vetor de variáveis básicas, bBxB 1−= ,

,324

364

100011001

364

100011001 1

=

−=

=

Bx

e a solução básica viável, x ,

=

=

003

24

3

1

5

4

2

x

x

x

x

x

x

xN

B

=

32040

x .

O valor da função objetivo, xcz T ˆ= ,

8

32040

]00021[ −=

−−=z .

O vetor custo reduzido, BTNN cNBcs )( 1−−= ,

−=−=

002

010211

100011001

01

)(

1

1

T

BTNN cNBcs

−−

−=

002

010211

100011001

01

T

Ns

Page 92: PESQUISA OPERACIONA

90

.21

22

01

002

0111

11

01

=

−−

−=

−−

−=

T

Ns

Portanto, Ts ]00201[= é o vetor custo reduzido.

Note-se que no cálculo anterior

−=−

0111

111NB .

No quadro do simplex, Tabela 3.2, temos:

Tabela 3.2 – Quadro do simplex para o Exemplo 3.7.

Base 1x 2x 3x 4x 5x RHS

1 0 2 0 0 8=− z

2x 1 1 1 0 0 4

4x 1 0 1− 1 0 2

5x 1 0 0 0 1 3

Observe na Tabela 3.2, que a matriz identidade BBI 1−= está representada

pelas colunas de índices em 5,4,2=BI , enquanto que NB 1− pelas colunas de índices em

3,1=NI . O vetor do lado direito do quadro simplex é obtido por bB 1− e, na primeira linha,

temos o vetor custo reduzido e o negativo do valor da função objetivo 8=− z .

O próximo teorema fornece uma condição suficiente para uma solução

básica viável ser uma solução ótima. A demonstração pode ser encontrada em FANG e

PUTHENPURA, 1993.

Teorema 3.4: Se x é uma solução básica viável com vetor custo reduzido não negativo, então

x é uma solução ótima para o problema (P).

Usando o Teorema 3.4 no problema de PL do Exemplo 3.7, verificamos que

Tx ]32040[= é uma solução ótima, porque o vetor custo reduzido

Page 93: PESQUISA OPERACIONA

91

Ts ]00201[= é não negativo, o que pode ser observado também na primeira linha no

quadro simplex na Tabela 3.2.

3.3.1 Mecanismo de mudança de base

Para entender como o método simplex iterativamente produz uma nova

solução básica viável a partir de uma solução básica viável conhecida, precisamos determinar

uma direção que se deve seguir sobre uma aresta do poliedro convexo X . Observando o

Algoritmo 3.1, escolher uma nova variável básica daquelas variáveis não básicas, significa

verificar se podemos melhorar o valor da função objetivo a partir da solução básica viável

conhecida, o que é garantido pelo Teorema 3.4. Isto é, deve existir alguma coordenada do

vetor custo reduzido negativa. Por outro lado, escolher se possível uma nova variável não

básica daquelas variáveis básicas, significa que deve existir uma nova solução básica viável.

Definição 3.6: (Direção de aresta) Dado o conjunto viável 0; ≥=ℜ∈= b, xAxxX n , uma

direção de aresta u em X , cujos pontos extremos são kx e lx , é um vetor tal que

uxx lk λ+= , onde λ é um número real.

A Figura 3.4 ilustra duas possíveis direções de arestas de um politopo

(poliedro limitado) a partir de 0x . Note que uxx λ+= 02 , para algum λ real.

Figura 3.4: Direções de arestas num politopo do 2ℜ a partir de 0x .

Suponhamos que, estando num ponto extremo (solução básica viável) kx ,

para uma matriz base B , desejamos alcançar o ponto extremo adjacente 1+kx e, para isto,

2x

1x

2x

1x 0x

u

Page 94: PESQUISA OPERACIONA

92

uma variável básica deverá dar lugar a uma variável que é não básica. Isto significa que,

apenas uma variável não básica poderá crescer seu valor a partir de zero, a qual

denominaremos hx , NIh ∈ .

Usando (3.1), sendo bBx kB 1−= o vetor de variáveis básicas associado ao

ponto extremo corrente, 1+kBx é o vetor de variáveis básicas associado ao ponto extremo

adjacente caracterizado como

−= −−+

0

00

][21

11

hmnjjj

kBkB

xAAABxx

hhkBkB xABxx 11 −+ −= .

De acordo com a Definição 3.6, hAB 1−− é uma direção de aresta no mℜ ,

enquanto que hx deverá ser o tamanho do passo que poderemos dar nesta direção para obter

um novo ponto extremo. Genericamente, o vetor direção de aresta, nu ℜ∈ , é expresso como

h

AB

u

h

=

0

1

0

1

.

(3.4)

Por conveniência, designaremos hAB 1−− por hd− (veja BAZARAA, JARVIS, SHERALI,

1997).

Neste ponto de nossa exposição surge naturalmente a seguinte pergunta:

Quanto podemos ‘caminhar’ seguindo a direção u sem perder a viabilidade?

Para responder esta questão, façamos a seguinte análise. O sistema bAx = é

expresso da forma NB NxBbBx 11 −− −= , como a seguir

Page 95: PESQUISA OPERACIONA

93

ˆ

ˆ

ˆ

222

111

hhmmkmk

hhiikik

hh

kk

hh

kk

xdbx

xdbx

xdbx

xdbx

−=

−=

−=−=

(3.5)

onde ikb é a −i ésima componente do termo bB 1− , pois Bi Ik ∈ . Precisamos determinar o

máximo acréscimo que a variável hx poderá sofrer sem perder viabilidade. Ora, para valores

mid hi ,...,1,0 =≤ , o crescimento de hx não provocará a saída da base de qualquer variável

que se encontra no primeiro membro, dado que 0ˆ ≥ikb , Bi Ik ∈ . Portanto, apenas quando

mid hi ,...,1,0 => , teremos a saída da base de uma das variáveis do primeiro membro.

A questão agora é a seguinte:

qual variável sairá da base para dar lugar à variável hx que está entrando?

A análise da expressão

hhi

ik

hi

ik xd

b

d

x−=

ˆ, para todo Bi Ik ∈ , mi ,...,1= e 0>h

id ,

mostra que a menor razão hi

ik

d

b indicará qual variável do primeiro membro sairá da base

mediante o crescimento de hx . Este critério é conhecido como teste da razão mínima, que é

formalmente expresso no Procedimento 3.1.

Procedimento 3.1: (Teste da razão mínima) Escolhida para entrar na base uma variável hx ,

sendo NIh ∈ , e calculado hhi ABd 1−= com mi ,...,1= , para determinar a variável a sair da

base sem perder viabilidade, aplicamos o teste da razão mínima

qBihih

i

ik

mihq

qkkIkd

d

b

d

bíndice,0;

ˆmin

ˆ

,...,1

∈>==

. (3.6)

O índice qk que resulta do teste da razão mínima é o índice da variável que sairá da base, com

Page 96: PESQUISA OPERACIONA

94

a garantia de não perder viabilidade, ou seja, alcançar uma nova solução básica viável.

Finalmente, as respostas para as duas perguntas colocadas anteriormente

são: qkx , Bq Ik ∈ , sairá da base e

hq

qkh

d

bx

ˆ= ,

sendo hq

qk

d

b o valor que hx irá assumir ao entrar na base e, também, o tamanho do passo na

direção de aresta obtida por (3.4).

Exemplo 3.8: Considere o PPL no formato padrão do Exemplo 3.7 e, também, a solução

básica viável TTB xxxx ]364[][ 543 == . Supondo que 2x tenha sido escolhida para

entrar na base, calcule o vetor direção da aresta, 32 ℜ∈d , e a nova solução básica viável.

A partição da matriz A e do vetor x que retrata a base corrente é a

seguinte:

=100010001

B e

=011211

N ,

=

=

003

64

2

1

5

4

3

x

x

x

x

x

x

xN

B

=

36400

x ,

de modo que, 5,4,3=BI e 2,1=NI .

Tomamos a coluna da variável 2x em A , designada por 2A , e calculamos a

direção 2d pela aplicação da expressão (3.4)

−=

−=

10

10

22

1 dAB

u ,

onde 22

1 dAB −=− − é

Page 97: PESQUISA OPERACIONA

95

=

=

011

011

100010001 1

2d .

Portanto,

−−

=

10011

u e

=011

2d .

A nova solução básica viável é calculada depois de decidir, observando o

teste da razão mínima, qual variável sairá da base sem perder viabilidade. Então,

3índice416

,14

min 13,2,1

===

=kkq

i e 4

ˆ22

1

3 == xdb

,

a variável 3x sairá da base e assumirá o valor 0 , enquanto 2x entrará na base com valor 4.

Finalizando o exemplo, calculamos a solução para a nova matriz base B :

5,4,2ˆ =BI e 3,1ˆ =NI ,

=

364

100011001 1

Bx ,

TBx ]324[ˆ = e TNx ]00[

ˆ = ,

=

=

320

40

5

4

3

2

1

x

x

x

x

x

x .

O próximo teorema fornece um critério de possível melhoria para o valor da

função objetivo do problema (P). A demonstração pode ser encontrada em BREGALDA,

OLIVEIRA E BORNSTEIN, 1988.

Teorema 3.5: Considere o PPL (P). Seja dada uma solução básica viável x associada a uma

Page 98: PESQUISA OPERACIONA

96

matriz base B . Considere ,0<hs para algum ,NIh ∈ tal que existe 0>hid ao menos para

algum mi ,...,1= . Ainda, considere

∈>== Bi

hih

i

ik

mihq

qkI, kd;

d

b

d

b0

ˆmin

ˆ

,...,1.

(3.7)

Então, fazendo hq

qkh

d

bx

ˆ= a nova variável básica, anulamos

qkx fazendo-a variável não básica,

obtendo assim uma nova solução básica viável x tal que .xcxc TT ≤

Usando o Teorema 3.5 no problema de PL do Exemplo 3.7, verificamos no

quadro simplex, Tabela 3.3, que NIh =∈ 2,1 e 11 −=s e 22 −=s . Além disso, o vetor

Td ]121[1 = e Td ]011[2 = . Ao escolhermos 2=h ( 022 <−=s ), o índice para entrar

no novo conjunto de índices base, calculamos o mínimo do quociente entre os elementos da

última coluna e da coluna dois, para as coordenadas positivas de 2d . Daí encontramos o

índice 3=qk , o índice para entrar no novo conjunto de índices não base. Observemos as duas

setas na Tabela 3.3: a seta vertical indica que 2x será a nova variável básica e 3x a nova

variável não básica.

Tabela 3.3 – Quadro do simplex para o Exemplo 3.8 para 5,4,3=BI .

Base 1x 2x 3x 4x 5x RHS

1− 2− 0 0 0 0=− z 1l ← 3x 1 1 1 0 0 4 2l 4x 2 1 0 1 0 6 3l 5x 1 0 0 0 1 3 4l

A partir do Tabela 3.3, o número 1 na interseção da linha 2l (seta

horizontal) e coluna referente a 2x (seta vertical) é o elemento pivô. Assim, devemos zerar o

restante dos elementos desta coluna usando as seguintes operações elementares: 233 lll −← e

211 2lll +← . O próximo quadro do simplex, Tabela 3.4, mostra o resultado; que coincide

Page 99: PESQUISA OPERACIONA

97

com o Tabela 3.2 do exemplo anterior.

Tabela 3.4 – Quadro do simplex para o Exemplo 3.8 para 5,4,2ˆ =BI .

Base 1x 2x 3x 4x 5x RHS

1 0 2 0 0 8=− z

2x 1 1 1 0 0 4

4x 1 0 1− 1 0 2

5x 1 0 1 0 1 3

Exemplo 3.9: Considere o PPL no formato padrão

.0,

2:a sujeito

minimizar

21

21

1

≥=−

xx

xx

x

Seja a solução básica viável 21 == xxB . Supondo que 2x tenha sido escolhida para entrar na

base, calcule o vetor direção da aresta, ℜ∈2d , e analise o PPL.

A partição da matriz A e do vetor x que retrata a base corrente é a

seguinte:

1=B , 1−=N e

=

=

=

02

2

1

x

x

x

xx

N

B

de modo que, 1=BI e 2=NI .

Tomamos a coluna da variável 2x em A , designada por 2A , e calculamos

a direção 2d pela aplicação da expressão (3.4)

−=

−=

11

22

1 dABu ,

onde 22

1 dAB −=− − é

1)1()1( 12 −=−= −d .

Portanto,

Page 100: PESQUISA OPERACIONA

98

=

11

u e 12 −=d .

Isto significa que não podemos obter uma nova variável básica e concluímos que o PPL é

ilimitado.

Este fato, no Exemplo 3.9, sugere o seguinte resultado, cuja demonstração

pode ser encontrada em BREGALDA, OLIVEIRA E BORNSTEIN, 1988.

Teorema 3.6: Considere o PPL (P). Seja dada uma solução básica viável ,x a qual está

associada uma matriz base .B Se tivermos sh 0< e 0≤hd , para algum ,NIh ∈ então (P) é

um problema ilimitado.

Usando o Teorema 3.6 no problema do Exemplo 3.9, verificamos no quadro

do simplex, Tabela 3.5, que NIh =∈ 2 e 012 <−=s . Todavia, o vetor 012 <−=d .

Observemos na Tabela 3.5 que 2x como uma nova variável básica melhora o valor da função

objetivo, mas em uma direção que não encontramos uma nova solução básica viável, uma vez

que o Procedimento 3.1 não se verifica.

Tabela 3.5 – Quadro simplex para o Exemplo 3.9 em que o PPL é ilimitado.

Base 1x 2x RHS 0 1− 2=− z

1x 1 1− 2

A partir das análises apresentadas nas seções precedentes, podemos

estabelecer os passos do algoritmo simplex. Para a entrada na base e para a saída da base,

utilizaremos a regra do menor índice (BLAND, 1977) para garantirmos convergência.

3.3.4 O algoritmo simplex

Finalmente, estabelecemos o algoritmo simplex revisado fase 2 para

resolver o problema de PL (PPL). No método simplex, pode ocorrer um fenômeno

denominado ciclagem, que consiste em voltarmos para a mesma matriz base após um certo

número de iterações do algoritmo. Assim, enunciamos o algoritmo simplex com uma técnica

anti-ciclagem, ou seja, com a regra de Bland (BLAND, 1977).

Page 101: PESQUISA OPERACIONA

99

Algoritmo 3.2: Simplex.

Dados: uma solução básica viável 0x associada a uma matriz base inicial ,0B um conjunto de

índices base 0BI e um conjunto de índices não base

0NI .

0←k .

Repita

Calcule o vetor multiplicador simplex ,mRy ∈ resolvendo o sistema linear

kBTk cyB = .

Calcule o vetor custo reduzido nRs ∈ tal que,

0=ls , para para todo kBIl ∈ , e

lT

ll Aycs −= para todo kNIl ∈ .

Se 0≥s

então kx é uma solução ótima.

senão

Entrada na base: calcule o novo índice base

0;min <=∈ lIl

slhkN

.

Calcule o vetor direção de aresta ,Rd mh ∈ resolvendo o sistema linear

hh

k AdB = .

Se 0≤hd

então problema ilimitado.

senão

Saída da base: calcule o novo índice não base

.I, k; dd

x

d

x; kk

kBihih

i

kik

mihi

kik

ikBIik

q

∈>===∈

0minmin,...,1

0

00

0

Atualize os índices base e não base, respectivamente,

)(1 qkBkB khII −∪←+ , e

Page 102: PESQUISA OPERACIONA

100

)(

1hkII qkNkN −∪←+ .

Atualize a matriz base: substitua a coluna qkA de A em kB pela coluna hA de A ,

obtendo-se assim 1+kB .

Calcule a nova solução básica viável ,1 nk Rx ∈+ resolvendo o sistema linear

bxB kBk =+

+1

1 , com .01 =+kqkx

1+← kk .

Até que 0≥s ou 0≤hd .

Temos algumas observações a fazer acerca deste algoritmo. Inicialmente,

observe que são dados os conjuntos de índices base 0BI e não base .

0NI Isto se deve à nossa

conveniência de escrita e de implementação. Depois, o vetor custo reduzido s é calculado

pela definição em dois passos: primeiro, referenciamos o vetor multiplicador simplex y ; e

segundo, o cálculo das coordenadas de s associadas ao conjunto de índices não base da

iteração corrente é feito usando o vetor multiplicador simplex ao invés do cálculo de inversão

de matrizes. Também, observe que os critérios de parada exibindo uma solução ótima é

devido ao Teorema 3.4 e certificando problema ilimitado é devido ao Teorema 3.6. Ainda,

quando possíveis, tanto as escolhas para a entrada na base quanto para a saída da base são

devidas ao Teorema 3.5 acrescidas da técnica anticiclagem do menor índice (regra de Bland).

Observe também que atualizamos a nova matriz base por uma troca de colunas na matriz A .

Isto é o que caracteriza o método simplex revisado, isto é, o esforço computacional é muito

menor do que o método simplex tradicional. Finalmente, é importante afirmar que, com a

hipótese de φ≠X , o método simplex converge no sentido de que encontra uma solução

ótima para (P), ou certifica que o problema (P) é ilimitado.

Exemplo 3.10: Determine a solução ótima do problema de PL, conhecida a solução básica

viável inicial correspondendo aos índices base 3,2=BI e não base 4,1=NI ,

Page 103: PESQUISA OPERACIONA

101

21 3minimizar xxz +=

0,,,85:a sujeito

4321

421

321

≥=−+=−+−

xxxx

xxx

xxx

.

Vamos aplicar passo a passo o Algoritmo Simplex 3.2.

Inicialização:

3,20

=BI e 4,10

=NI ,

e a matriz base

−=

0111

0B ,

a solução básica viável inicial é

−=

−=

=

85

1110

85

0111 1

3

20

x

xxB

=

38

0Bx ,

=

=

0

0

4

10

x

xxN .

O vetor Bx é algumas vezes designado como b ,

==

38ˆ0 bx B .

Passo 1: Primeiro teste de convergência:

Na iteração 0=k , o vetor multiplicador simplex 2ℜ∈y é

]30[1110

]03[)( 10

0 =

−== −Bcy TBT .

O vetor custo reduzido é

0=ls , para para todo 3,2∈l , e

lT

ll Aycs −= para todo 4,1∈l ,

−=−=

444

111

Aycs

AycsT

T

,

22)13)1(0(111

]30[1 11 −=−=×+−×−=

−−= ss

Page 104: PESQUISA OPERACIONA

102

3))1(300(01

0]30[0 44 =−×+×−=

−−= ss .

Como temos uma componente do vetor custo reduzido negativa, significa

que a base corrente não é ótima, então passamos ao próximo passo.

Passo 2: Mudança de base ou segundo teste de convergência:

Escolhemos para sair da base a variável 1x que tem custo reduzido negativo,

21 −=s . Então,

1=híndice .

A direção 21 Rd ∈ é

−=

−11

0111

12

11

d

d

=

−=

−=

21

11

1110

11

0111 1

12

11

d

d.

Em seguida, iremos escolher uma variável para entrar na base observando

inicialmente o teste da razão mínima,

23

23

,18

min,min2,11

2

03

11

02

2,11

0

=

=

=== ii

q

qk

dx

dx

d

x,

32 == kkíndice q . Concluída a mudança de base, no próximo passo atualizaremos a solução

básica.

Passo 3: Atualização da base:

Atualizamos os índices base e não base,

1,21

=BI , e

4,31

=NI .

Atualizamos a matriz base,

−=

1111

1B .

Calculamos a nova solução básica viável,

Page 105: PESQUISA OPERACIONA

103

−=

−=

=

85

85

1111

21

21

21

211

1

21

x

xxB

=

23

213

1Bx ,

=

=

0

0

4

31

x

xx N .

Incrementamos k , 1=k , e retornamos ao passo 1.

Passo 1: Primeiro teste de convergência:

Na iteração 1=k , o vetor multiplicador simplex 2ℜ∈y é

]21[]13[)(2

12

12

12

11

1 =

−== −Bcy TBT ,

O vetor custo reduzido é

0=ls , para para todo 1,2∈l , e

lT

ll Aycs −= para todo 4,3∈l ,

−=−=

444

333

Aycs

AycsT

T

,

11)02)1(1(001

]21[0 33 ==×+−×−=

−−= ss

2))1(201(01

0]21[0 44 =−×+×−=

−−= ss .

Observamos que todas as componentes do vetor custo reduzido são não

negativas, o que significa que a base corrente é ótima.

Finalmente, a solução ótima do PPL é 1x com valor da função objetivo z , a

saber:

Tx ]00[ 213

231 = , ]0031[1 == xcz T .21

00

213

23

=

No próximo capítulo iniciamos o estudo de processos estocásticos.

Page 106: PESQUISA OPERACIONA

104

3.4 Exercícios propostos

1. Expressar os seguintes problemas de PL no formato padrão:

(a)

.0

2

2:a sujeito

maximizar

21

21

21

1

≥≥+≤+

x x

xx

x x

x

,

(b)

.2 :a sujeito

minimizar

21

1

=+ x x

x

(c)

8.1,0 ,0

1

3000 005,0:a sujeito

2maximizar

32

32

321

21

≤≤≥≥−≤++

xx

xx

xx x

xx

2. Quais dos seguintes problemas de otimização são problemas de PL? Justifique.

(a)

.0

1 :a sujeito

5 minimizar

2

321

3

≤≤+−

x

xxx

x

(b)

.0 ,

22 :a sujeito

)1log( minimizar

21

221

1

≥=+

+

xx

xx

x

(c)

.1 0, ,

0 :a sujeito

minimizar

21

21

1

∈=−

xx

xx

x

3. Desenhe conjuntos com zero, um, dois e uma infinidade de pontos extremos.

Page 107: PESQUISA OPERACIONA

105

4. Considere o PPL

21minimizar xxz −=

.0,323:asujeito

21

2

1

21

≥≤≤≤+

xx

x

x

xx

Pede-se:

(a) coloque o PPL no formato padrão;

(b) verifique que todos os pontos extremos são soluções básicas viáveis e vice-versa; e

(c) verifique que o número de pontos extremos é menor do que ou igual ao número de

soluções básicas viáveis.

5. Encontre um poliedro não vazio tal que um conjunto viável de qualquer PPL não pode

assumir. Por quê?

6. Use o método gráfico para construir exemplos para um PPL:

(a) com uma única solução ótima;

(b) com uma infinidade de soluções ótimas;

(c) ilimitado; e

(d) inviável.

7. Considere o PPL

.0

2 :a sujeito

minimizar

21

21

1

≥=−

, x x

xx

x

Pede-se:

(a) resolva graficamente este problema;

(b) para o conjunto de índices base 1=BI e a solução básica viável [ ] ,02ˆ Tx = use o

Teorema 3.6 para concluir que este PPL é um problema ilimitado;

(c) encontre a direção de aresta 2ℜ∈u a partir de x , tal que u é uma direção de descida, isto

é, 0<ucT ;

(d) implemente o Algoritmo 3.2 para este problema de PL.

Page 108: PESQUISA OPERACIONA

106

8. Considere o PPL

.0

2 :a sujeito

minimizar

21

21

1

≥=+

, xx

xx

x

Pede-se:

(a) resolva graficamente este problema.

(b) para a solução básica viável [ ] ,02ˆ Tx = use o Teorema 3.5 para concluir que a nova

variável x possui xcxc TT ˆ≤ ; quem é x ?;

(c) implemente o Algoritmo 3.2 para este problema de PL.

9. Implemente o método simplex tabular para o problema do Exemplo 3.10.

10. Considere o problema do Exemplo 3.10, agora, com um vetor do lado direito

Tb ]102[= . Resolva-o usando o Algoritmo 3.2 e o método simplex tabular.

11. Consulte a página do Laboratório de Programação Linear (LabPL –

http://www.ucg.br/Institutos/LabPL/Index.html) para resolver alguns problemas de PL em

geral. Pratique algumas de suas resoluções on-line e observe a existência de outros métodos

de resolução.

12. Faça uma pesquisa da literatura em PL, por exemplo, YOSHIDA de 1987, e compare o

método simplex com o método simplex revisado.

Page 109: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 4

Distribuições de Probabilidade

Uma distribuição de probabilidade atribui uma probabilidade a cada valor da

variável aleatória ou a cada intervalo de valores. Quando tratamos com variáveis que podem

assumir apenas valores discretos, a cada possível valor da variável podemos associar a no

máximo um valor de probabilidade. Temos, assim, a noção de função de um conjunto para

outro conjunto, de modo que o primeiro conjunto contém os valores possíveis da variável

aleatória e o segundo conjunto contém as probabilidades. Para variáveis que assumem valores

contínuos em ℜ , temos que as variáveis são definidas num dado intervalo de números reais e

as probabilidades pertencem ao intervalo ]1,0[ . No caso discreto, para um certo valor ix do

primeiro conjunto associamos diretamente a probabilidade de sua ocorrência, que é designada

por )( ixP . Por outro lado, para o caso contínuo, não tem sentido o cálculo da probabilidade

para um valor especificado de x . Trabalhamos então com a noção de função densidade de

probabilidade, que no caso unidimensional é uma função real, isto é, ℜ→ℜ:f , que permite

calcular as probabilidades associadas uma variável aleatória contínua.

A exemplo dos modelos matemáticos determinísticos, nos quais as funções

desempenham importante papel (por exemplo, a linear, a quadrática, a exponencial, a

trigonométrica, etc.), verificamos também que, na obtenção de modelos estocásticos para

problemas do mundo real, algumas distribuições de probabilidade surgem mais

freqüentemente que outras. Neste capítulo estudaremos as distribuições de probabilidade de

variáveis discretas, a binomial, a hipergeométrica, a uniforme e a distribuição de Poisson, e

também as distribuições de probabilidade de variáveis contínuas, a retangular ou uniforme

continua, a normal, a exponencial e a distribuição de Erlang.

Antes de iniciarmos o estudo das distribuições de probabilidade, faremos

uma breve revisão do conceito de probabilidade. Após esta revisão trataremos dos modelos

empíricos e dos modelos teóricos no estudo de probabilidades.

Page 110: PESQUISA OPERACIONA

108

4.1 Probabilidade

Um sonho humano sempre foi prever o futuro. No entanto, como este

intento não pode ser plenamente satisfeito, a existência de uma ‘medida’ que permita verificar

as chances de ocorrerem determinados acontecimentos ou eventos é um passo importante. Á

medida da incerteza associada a um dado evento damos o nome de probabilidade. A primeira

tarefa a ser empreendida trata-se de corretamente identificar todos os eventos ou

acontecimentos que de fato sejam possíveis em relação à situação que examinamos. Estamos

particularmente interessados em experiências cujos resultados são imprevisíveis e

mutuamente exclusivos. Isto significa que, em cada repetição dessa experiência é impossível

prever, com absoluta certeza, qual o resultado que será obtido e, além disso, a ocorrência de

um resultado exclui a ocorrência de qualquer um dos demais, o que quer dizer que, só um dos

eventos pode acontecer de cada vez. Toda experiência com essas características é chamada de

experimento aleatório, e seus possíveis resultados são chamados de eventos. Por último, resta-

nos verificar quais são os que possuem maiores ou menores “chances” de ocorrer.

O conceito de probabilidade está diretamente associado ao conceito de

conjunto e, também, à idéia de contagem dos elementos desse conjunto e dos elementos dos

seus subconjuntos.

Para cada experimento aleatório ε , definiremos o espaço amostral S como

o conjunto de todos os resultados possíveis de ε . Dado um experimento aleatório, os métodos

empíricos de cálculo de probabilidade caracterizam-se pela contagem ou enumeração

exaustiva dos elementos do espaço amostral S com a finalidade de obter a freqüência relativa

de certo evento A , sendo que A é um subconjunto de S , ou seja, SA ⊆ . O evento A

relativo a um particular espaço amostral S associado a um experimento ε é simplesmente

um conjunto de resultados possíveis. Aplicamos então a definição clássica de probabilidade.

Definição 4.1 (Probabilidade) Seja um experimento aleatório ε cujo espaço amostral é

caracterizado pelo conjunto S , e seja um evento aleatório caracterizado pelo conjunto A , a

probabilidade de ocorrência do evento A é a razão da cardinalidade de A e a cardinalidade

de S , conforme estabelece a expressão

||||

)(SA

AP = , (4.1)

Page 111: PESQUISA OPERACIONA

109

onde, A e S são a quantidade de elementos do conjunto A e a quantidade de elementos do

conjunto S , respectivamente.

Apresentaremos a seguir um exemplo de aplicação da Definição 4.1.

Exemplo 4.1: A cesta ilustrada na Figura 4.1 contém seis bolas, sendo duas pretas e quatro

brancas.

Figura 4.1: Cesta com seis bolas.

Realizaremos o experimento aleatório que consistirá em retirar

simultaneamente duas bolas, anotar suas cores e em seguida devolvê-las à cesta. Qual é a

probabilidade de neste experimento retirar uma bola preta e a outra branca?

Vamos supor inicialmente como se as bolas brancas fossem identificadas

por números de 1 a 4 e as pretas por números de 1 a 2. Com o auxílio desse artifício

descreveremos o espaço amostral S associado a este experimento aleatório, representando as

bolas brancas por 421 ,,, bbb e, as pretas, por 1p e 2p ,

.,,,,,,,,,,,,,

,,,,,,,,,,,,,,,,

21241423132212

2111434232413121

pppbpbpbpbpbpb

pbpbbbbbbbbbbbbbS =

O número de elementos do espaço amostral, ou seja, || S , é a combinação

simples de seis bolas tomadas duas a duas, isto é, 1526 =C .

O evento “uma bola preta e a outra branca” é um subconjunto de S

representado pelo conjunto A , mostrado a seguir:

.,,,,,,,,,,,,,,, 2414231322122111 pbpbpbpbpbpbpbpbA =

Aplicamos a Definição 4.1 e obtemos a solução,

Page 112: PESQUISA OPERACIONA

110

158

||||

)( ==SA

AP .

A fórmula geral para o cálculo da probabilidade de exatamente x eventos

na amostra é

nN

xnDN

xD

C

CC −− ,

onde, N é o número de itens da coleção de objetos, D é o número desses objetos que gozam

de certa propriedade e n é o número de elementos da amostra.

O problema solucionado anteriormente é um exemplo do modelo estocástico

hipergeométrico.

A principal conclusão que extraímos desse exemplo é que a probabilidade

depende diretamente do conjunto que define o espaço amostral e do subconjunto que descreve

o evento que caracteriza objetivamente o processo que estamos estudando.

A seguir resolveremos um exemplo parecido com o Exemplo 4.1, de modo

que as alterações do enunciado levarão a um problema completamente diferente.

Exemplo 4.2: Considere a cesta ilustrada na Figura 4.1. Realizaremos o experimento aleatório

que consistirá em retirar uma bola anotar sua cor e devolvê-la à cesta e, em seguida, pegar

uma segunda bola e proceder do mesmo modo. Qual é a probabilidade de retirar uma bola

preta e a outra branca?

O número de elementos do espaço amostral, S , é 3662 = . Se fossemos

enumerar os elementos do espaço amostral, bastaria obter o produto cartesiano do conjunto

,,,,, 214321 ppbbbb com ele próprio. Neste caso, percebemos que a ordem de aparecimento

do elemento, ou seja, qual cor ocorre em primeiro lugar está em discussão, isto porque um

elemento é retirado e depois é retirado outro, diferentemente do que foi feito no Exemplo 4.1.

O evento “uma bola preta e a outra branca” é um subconjunto de S

representado por A , mostrado a seguir:

).,(),,(),,(),,(),,(),,(),,(),,(

),,(),,(),,(),,(),,(),,(),,(),,(

4241323122211211

2414231322122111

bpbpbpbpbpbpbpbp

pbpbpbpbpbpbpbpbA =

Page 113: PESQUISA OPERACIONA

111

Note que cada elemento do conjunto é um par ordenado, enquanto que, no

exemplo anterior, cada elemento era um conjunto de dois elementos.

Aplicamos a Definição 4.1 e obtemos a solução,

94)(

3616

||||

)( =→== APSA

AP .

Uma forma alternativa para solucionar o exemplo é a seguinte. As

probabilidades de retirar uma bola branca e de retirar uma preta, são, respectivamente, 32 e

31 . Se desenvolvermos o binômio 2

31

32 )( + obtemos

91

94

942

310

321

311

320

312

322

31

32 )()()()(2)()()( ++→++=+ .

A segunda parcela do desenvolvimento binomial corresponde à

probabilidade de retirar uma bola branca e uma preta (vide os expoentes). O expoente do

binômio é o número de tentativas no evento. A generalização desse procedimento nos levaria

a uma fórmula geral para o cálculo de probabilidade com reposição. Este exemplo

corresponde ao modelo estocástico binomial.

A probabilidade tal como estudada nesta seção não permite sua aplicação

em problemas complexos, uma vez que a contagem dos elementos do espaço amostral nem

sempre é trivial e a representação do fenômeno aleatório sob a forma de conjuntos não é

praticável em muitas situações.

Uma forma de trabalhar com probabilidade que permite o uso do

computador é a sua interpretação como freqüência relativa no contexto de um experimento

aleatório.

4.1.1 Probabilidade e freqüência relativa

Considere um experimento aleatório e um evento a ele associado, designado

por A . São realizadas, inicialmente, 1k repetições do experimento; depois 21 kk + repetições;

em seguida, 321 kkk ++ , continuando dessa maneira até realizarmos rkkkk ++++ 321

Page 114: PESQUISA OPERACIONA

112

repetições do experimento. Seja n o número de repetições do experimento, isto é,

rkkkkn ++++= 321 , e )(An o número de vezes que o evento A ocorre, então a

freqüência relativa de A , )(Af , é

nAn

Af)(

)( = .

(4.2)

A freqüência relativa )(Af goza da seguinte propriedade: à medida que o

número de repetições do experimento aleatório for aumentado, a freqüência relativa baseada

neste número crescente de repetições tenderá a se ‘estabilizar’ próxima de algum valor

numérico definido (MEYER, 1980). Esta propriedade é descrita formalmente no Teorema 4.1,

que é atribuído a Bernoulli, 1713, e é conhecido como ‘Primeira Lei dos Grandes Números’.

Teorema 4.1: Quando o número de realizações de um experimento aleatório cresce muito, a

freqüência relativa do sucesso associado vai se aproximando cada vez mais de certo valor que

denominamos de probabilidade.

Este teorema nos fornece uma interpretação da probabilidade que é

adequada a cálculos com o computador. Esta noção é explorada exaustivamente no capítulo

deste livro que trata de Simulações.

Os fenômenos aleatórios podem ser descritos através de métodos empíricos

ou por meio de modelos teóricos de probabilidade. Utilizando uma distribuição empírica de

probabilidade seja no processo de simulação seja na solução de problemas de tomada de

decisão, estaremos limitando as possíveis ocorrências futuras às condições válidas no passado.

Alguns acontecimentos podem não ter tido oportunidade de ocorrência, o que impede sua

reprodução no futuro. Usando uma distribuição teórica de probabilidade nas condições

descritas, estaremos adicionando informações ao comportamento da variável, o que torna o

modelo mais apto a prever o futuro. Desta forma, sempre que houver condições favoráveis,

devemos optar pelo uso do modelo teórico ajustado ao invés do modelo empírico.

A seguir trataremos os métodos empíricos para depois abordarmos os

modelos teóricos.

4.2 Distribuição de probabilidade e variável aleatória

Page 115: PESQUISA OPERACIONA

113

1 2 0 X

Com o objetivo de mostrar a relação entre a variável aleatória X e a

probabilidade )(XP , iniciaremos o estudo de distribuições de probabilidade analisando

alguns casos empíricos.

Exemplo 4.3: Consideremos o lançamento simultâneo de duas moedas, cujo espaço amostral é

),(),,(),,(),,( CoCoCaCoCoCaCaCaS = . A variável aleatória X representa o número de

caras que aparecem. Na Tabela 4.1 vemos a associação existente entre o evento ‘cara’, a

variável X e a probabilidade ).(XP

Tabela 4.1: Relações entre evento, variável aleatória e probabilidade.

Espaço amostral Número de caras )(X )(XP ),( CaCa 2

41

),( CoCa , ),( CaCo 1 2

14

14

1 =+

),( CoCo 0 4

1

Ao definirmos a distribuição de probabilidade estabelecemos uma

correspondência entre os valores da variável aleatória e os valores da probabilidade. A função

)()( ii xXPxf == determina a distribuição de probabilidade da variável aleatória X .

A Figura 4.2 ilustra a distribuição de probabilidade da Tabela 4.1.

Figura 4.2: Distribuição de probabilidade do evento ‘número de caras’.

O Exemplo 4.4 que será apresentado a seguir mostra a estreita relação

existente entre distribuição de freqüência e distribuição de probabilidade.

Exemplo 4.4: Após 30 dias de observações o número de acidentes diários num grande

estacionamento de veículos foi catalogado. A Tabela 4.2 mostra os dados obtidos.

21

41

)(XP

Page 116: PESQUISA OPERACIONA

114

Tabela 4.2: Distribuição de freqüência de acidentes num estacionamento.

Número de acidentes Freqüência 0 22 1 5 2 2 3 1 30=i if

As probabilidades são obtidas dividindo as freqüências pelo total de

observações. A Tabela 4.3 mostra a distribuição de probabilidade para este problema.

Tabela 4.3: Distribuição de probabilidade de acidentes num estacionamento.

Número de acidentes Probabilidade 0 0,73 1 0,17 2 0,07 3 0,03 = 00,1)(XP

Devemos ressaltar que a associação entre freqüência relativa e probabilidade

só é possível se o número de observações for suficientemente grande.

Exemplo 4.5: No lançamento de dois dados são observados os números de pontos das faces

que saem voltadas para cima. Definimos uma variável aleatória X que é igual à soma dos

pontos das faces de cima de ambos os dados. Os resultados possíveis são catalogados e estão

apresentados na Tabela 4.4.

Tabela 4.4: Distribuição de probabilidade de X .

X 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 )(XP 36

1 362 36

3 364 36

5 366 36

5 364 36

3 362 36

1

A Figura 4.3 representa graficamente XXP ×)( , sob a forma de histograma.

Page 117: PESQUISA OPERACIONA

115

12111098765432

Figura 4.3: Distribuição de probabilidade do evento ‘soma dos pontos das faces de dois

dados’.

A seguir são apresentadas duas definições fundamentais no estudo de

processos estocásticos.

4.2.1 Esperança matemática e variância de uma variável aleatória discreta

Definimos esperança matemática de uma variável aleatória discreta X

como a soma de todos os produtos possíveis dos valores da variável aleatória pelas

respectivas probabilidades. Através da expressão (4.3) definimos a esperança matemática

)(XE .

=∞

=1),()(

iii xPxXE

(4.3)

onde, )(XE é a média ponderada dos possíveis valores de X , cada um ponderado por sua

probabilidade.

No contexto do estudo de probabilidades, esperança (ou valor esperado)

possui o mesmo significado de média, por isso, é muitas vezes designado por x quando se

trata de amostra e µ para uma população.

Definimos variância de uma variável aleatória como a esperança matemática

do quadrado da diferença entre a variável aleatória e sua média, ou seja,

365

61

91

121

181

361

)(XP

Page 118: PESQUISA OPERACIONA

116

2))(()( XEXEXV −= . (4.4)

A expressão (4.4) advém da definição clássica de variância, que é a

seguinte:

1

)(1

2

)( −

−==

N

xxN

ii

XV ,

onde, N é o número de elementos da amostra e 1−N é o número de graus de liberdade.

Após desenvolvimentos, a definição de variância pode ser expressa

conforme mostrada em (4.5).

22 )]([)()( XEXEXV −= , (4.5)

onde, = )()( 22ii xPxXE e 2)]([ XE é o quadrado da esperança matemática )(XE .

Ressaltamos que a variância é igual ao desvio padrão ao quadrado, isto é,

2)( sXV = , onde s é o desvio padrão amostral.

Agora estamos preparados para estudar os modelos teóricos de

probabilidade. Iniciaremos o estudo com distribuições de variáveis aleatórias discretas.

4.3 Distribuição hipergeométrica

A distribuição hipergeométrica é a distribuição de probabilidade discreta

mais elementar e é aplicável aos casos de amostragens sem reposição. Consideremos uma

coleção de N itens, sendo que D desses itens tenham certa propriedade e o restante, DN − ,

não tenha esta propriedade. Se a amostra de n itens for retirada sem reposição, então a

probabilidade de exatamente x eventos na amostra é obtida pela relação (4.6):

nN

xD

xnDN

C

CCxXP

−−== )( .

(4.6)

O valor esperado de uma variável hipergeométrica é dado pela expressão

(4.7).

Page 119: PESQUISA OPERACIONA

117

ND

nXE =)( .

(4.7)

A variância de uma variável hipergeométrica é dada pela expressão (4.8).

−−

−=1

1)(N

nNND

ND

nXV .

(4.8)

Apresentamos a seguir um exemplo para ilustrar a aplicação da distribuição

de probabilidade hipergeométrica.

Exemplo 4.6: Em um lote de doze peças do mesmo modelo, quatro são defeituosas. Sendo

retiradas aleatoriamente duas peças, qual é a probabilidade de ambas serem defeituosas?

A primeira pergunta que surge é se o experimento é feito sem reposição ou

com reposição. Vamos resolver o problema considerando sem reposição, que é o caso da

distribuição hipergeométrica. Primeiramente, analisemos a retirada de duas peças por meio de

um processo empírico.

Para utilizarmos o método empírico direto, estabelecemos as seguintes

definições:

evento A = primeira peça defeituosa ;

evento B = segunda peça defeituosa .

A probabilidade de retirarmos uma peça defeituosa é124

)( =AP .

Supondo que os eventos A e B sejam dependentes, ou seja, a peça retirada

no evento A afeta a probabilidade de retirada da segunda peça, a probabilidade de retirarmos

simultaneamente duas peças defeituosas é o produto da probabilidade do evento A e a

probabilidade do evento B tendo em vista que A ocorreu.

111

113

124

)()()( =×=×=∧ ABPAPBAP .

Agora, resolveremos o mesmo problema (Exemplo 4.6) aplicando a

definição de distribuição hipergeométrica.

Page 120: PESQUISA OPERACIONA

118

Supondo que não haja reposição no experimento teremos a distribuição

hipergeométrica. O experimento aleatório em que são retiradas peças defeituosas de um lote

de peças é um exemplo típico de aplicação da distribuição hipergeométrica.

Pela definição dada em (4.6), a propriedade que é referida pode ser ‘o

defeito das peças’. Portanto, temos 4=D peças com esta propriedade; 12=N peças no lote.

Desejamos calcular a probabilidade de retirar duas peças com defeito, sem

reposição, então: a amostra retirada tem 2=n itens; como queremos duas defeituosas implica

que o número de eventos é 2=x ; portanto, a probabilidade é

111

6661

)2(212

24

08

212

24

228 =×====

C

CC

C

CCxP .

Um método de verificação dos resultados obtidos passa pela enumeração

dos elementos do espaço amostral, o qual denominamos de método empírico enumerativo, é

apresentado a seguir.

Suponhamos que as peças sejam representadas por letras,

lkjihgfedcba ,,,,,,,,,,, . Imaginemos que as peças dcba ,,, sejam as quatro defeituosas

do lote. Formando subconjuntos de duas peças, teremos o espaço amostral S . O total de

elementos de S é 66!)212(!2

!12212 =

−=C elementos, uma vez que a ordem que as peças

aparecem no grupo não é importante. O evento ‘duas peças defeituosas’ é representado pelo

subconjunto ,,,,,,,,,,, dcdbcbdacabaA = . Aplicamos a Definição 4.1 e

obtemos 111

666

)( ==AP . Esta é a probabilidade de retirar exatamente duas peças sem

reposição (retirar uma peça, não repô-la no lote e depois retirar uma segunda peça).

4.4 Distribuição binomial

Antes de introduzir a distribuição binomial, primeiramente vamos relembrar

o desenvolvimento do binômio )( pq + elevado ao expoente inteiro n . Segundo o Teorema

Binomial, temos o somatório:

knkn

k

kn

n qpCqp −

==+

0)( .

Page 121: PESQUISA OPERACIONA

119

O número

=

k

nCk

n é conhecido como coeficiente binomial e é definido

pela relação (4.9):

!)(!!

knkn

Ck

n kn −

==

.

(4.9)

Definimos a variável aleatória X como o número de sucessos nas n

tentativas. Logo, X pode assumir os valores n,,3,2,1,0 . Para xX = , temos x sucessos

e xn − fracassos, então a distribuição binomial é expressa pela relação (4.10):

xnxxn qpCxXP −== )( , (4.10)

onde: )( xXP = é a probabilidade de exatamente x eventos em n tentativas independentes;

p é a probabilidade do evento numa tentativa;

q é a probabilidade de que o evento não ocorra na mesma tentativa, 1=+ pq .

Ao aplicarmos as definições (4.3) e (4.4), concluímos que o valor esperado

da distribuição binomial é np e sua variância é npq .

As condições para aplicação da distribuição binomial requerem que os

eventos sejam independentes e complementares, e que devemos conhecer a probabilidade do

sucesso de uma tentativa, p , e a probabilidade do insucesso, q , além do que as

probabilidades p e q devem manter-se constantes no decorrer do experimento (isto é, com

reposição).

A distribuição binomial de probabilidade é adequada aos experimentos que

apresentam apenas dois resultados: sucesso ou fracasso. A condição que exige que as

probabilidades p e q sejam constantes é satisfeita tirando-se amostras e repondo no universo

cada unidade amostral retirada.

Para ilustrar a distribuição binomial consideremos o Exemplo 4.7, que é o

mesmo Exemplo 4.6 com a diferença de que há reposição ao retirar as duas peças.

Exemplo 4.7: Em um lote de doze peças do mesmo modelo, quatro são defeituosas. São

retiradas aleatoriamente duas peças, uma após a outra e com reposição. Qual é a probabilidade

de ambas as peças serem defeituosas?

Page 122: PESQUISA OPERACIONA

120

Consideremos que o sucesso consiste em retirar uma peça defeituosa do lote

de doze, em que existem quatro defeituosas. Então, a probabilidade do sucesso é31

124 ==p

para uma tentativa. Não retirar uma peça defeituosa corresponde à probabilidade

complementar, 32

31

11 =−=−= pq ou 128=q .

Identificamos os parâmetros .eventos2,tentativas2 == xn São duas

tentativas porque retiramos uma peça e depois a outra. Aplicamos a expressão (4.10) para o

cálculo da probabilidade de ocorrer exatamente duas peças defeituosas,

91

32

31

)2(02

22 =

== CxP .

Eis mais um exemplo de aplicação do modelo binomial.

Exemplo 4.8: Considere um processo de fabricação onde a probabilidade de ocorrência de um

item defeituoso é de 0,2. Se tirarmos uma amostra de vinte itens, qual é a probabilidade de

ocorrerem menos de três itens defeituosos na amostra?

A probabilidade de ocorrência de menos de três itens significa o seguinte:

nenhum item defeituoso, um item ou dois itens defeituosos. Portanto, aplicaremos a

distribuição binomial conforme a seguir:

.206,0)3(

,)8,0()2,0()8,0()2,0()8,0()2,0()3(

),2()1()0()3(1822

201911

202000

20

=<++=<

=+=+==<

xP

CCCxP

xPxPxPxP

A soma de termos de probabilidades exibida anteriormente é denominada de

probabilidade conjunta.

4.5 Distribuição uniforme discreta

Para um conjunto com 1+n elementos, a distribuição uniforme de

probabilidade é dada pela relação (4.11):

Page 123: PESQUISA OPERACIONA

121

11

)(+

==n

xXP .

(4.11)

A relação (4.11) é válida para os seguintes valores de X ,

nanaaaaxX +−+++== ),1(,,2,1, .

A média e a variância são, respectivamente,

2)(

naXE += ,

(4.12)

12)2(

)(+= nn

XV .

(4.13)

O Exemplo 4.9 mostra como são feitos os cálculos de probabilidades com a

distribuição uniforme discreta.

Exemplo 4.9: Uma variável aleatória discreta pode ter apenas os valores 6,5,4,3 e 7 .

Supondo que distribuição de probabilidade dessa variável é uniforme, qual é a probabilidade

de que a variável aleatória tenha o valor 4? Qual é a probabilidade de que a variável tenha

valores menores ou iguais a 6? Determine também a média e a variância.

Para este exemplo, com o auxílio da relação (4.11) determinamos o valor de

n ,

.47,6,5,4,3,3),1(3,23,13,3

,),1(,,2,1,

==+−+++=

+−+++=

nx

nnx

nanaaaax

Dado que a distribuição é uniforme, a probabilidade de que uma variável

aleatória tenha um valor particular dentre os valores possíveis para X é a mesma para

qualquer outro valor. Neste exemplo, a probabilidade de que a variável tenha valor 4 é,

20,051

141

11

)4( ==+

=+

==n

XP .

Page 124: PESQUISA OPERACIONA

122

A probabilidade de que a variável aleatória x tenha valores menores ou

iguais a 6 é a probabilidade de termos os números 3, 4, 5 ou 6,

80,020,020,020,020,0)6( =+++=≤XP .

A média é

524

32

=+=+= nax .

A variância é

212

)24(4)( =+=XV .

4.6 Distribuição de Poisson

Em muitos casos, conhecemos o número de sucessos, porém, se torna difícil

e, às vezes, sem sentido, determinar o número de fracassos ou o número total de tentativas.

Por exemplo, considere automóveis que passam num cruzamento. Podemos, num dado

intervalo de tempo, anotar quantos carros com uma determinada característica passaram pelo

cruzamento específico, porém, o número de carros que deixaram de passar pela esquina não

poderá ser determinado.

A distribuição de Poisson é usada nas situações probabilísticas onde a área

de oportunidade de ocorrência de um evento é grande, mas a oportunidade de ocorrência em

um intervalo particular (ou em um ponto particular) é muito pequena. Os experimentos de

Poisson fornecem valores numéricos de uma variável aleatória X que representam os

números de sucessos que ocorrem durante um dado intervalo de tempo ou em uma região

especificada. Se for tempo, o intervalo de tempo pode ser de qualquer ordem de grandeza,

como um minuto, um dia, uma semana, um mês ou mesmo um ano. Se for uma medida

geométrica, a região especificada pode ser um segmento de reta, um volume de um sólido, um

pedaço de material, etc.

Assim, um experimento de Poisson pode gerar observações para a variável

aleatória X que representa o número de chamadas telefônicas por hora recebidas num

Page 125: PESQUISA OPERACIONA

123

escritório, ou o número de horas que uma escola fica sem luz elétrica. Em outras palavras, a

distribuição de Poisson descreve o número de vezes que ocorre um evento, que certamente

ocorrerá muitas vezes, mas que é pouco provável que ocorra num particular instante de

observação. Essa característica é típica de chegadas em uma fila de espera.

A probabilidade de x ocorrências em um processo de Poisson com

parâmetro α é definida pela relação (4.14).

αα −== ex

xXPx

!)( , +∈ Zx .

(4.14)

O parâmetro α permite empregar o modelo de Poisson seja para tempo,

para distância, para área, etc. Quando trabalhamos com tempo, o parâmetro α é definido

como t∆= λα , onde λ é uma taxa na unidade de tempo.

Os histogramas mostrados na Figura 4.4 ilustram distribuições de

probabilidade de Poisson para quatro diferentes valores de α . A abscissa é a variável x .

Figura 4.4: Histogramas da distribuição de Poisson para quatro valores do parâmetro α .

Na distribuição de Poisson, a média e a variância são, respectivamente,

Page 126: PESQUISA OPERACIONA

124

α=)(XE , (4.15)

α=)(XV . (4.16)

Iremos, a seguir, interpretar fisicamente os parâmetros da distribuição de

Poisson através de exemplos.

Exemplo 4.10: Uma fila de atendimento de um pronto socorro recebe em média quatro

acidentados por hora. Qual é a probabilidade de chegar em uma hora até dois acidentados?

Calcularemos primeiro a taxa λ . A taxa de chegada é hora

sacidentado4=λ ,

sendo o tempo de observação hora1=∆t . Vamos calcular as probabilidades dos eventos

2,1,0 === xxx , ou seja, ninguém chega, chega um e chegam dois acidentados no

intervalo de uma hora:

nenhuma chegada, 018,0!0)14(

)0( 140

=×== ×−exP ,

uma chegada, 074,0!1

)14()1( 14

1=×== ×−exP ,

duas chegadas, 146,0!2)14(

)2( 142

=×== ×−exP .

A probabilidade de ocorrerem chegadas de até dois acidentados em uma

hora é a probabilidade conjunta dos eventos analisados anteriormente,

.238,0)3(,146,0074,0018,0)3(

,)2()1()0()3(

=<++=<

=+=+==<

xP

xP

xPxPxPxP

Convidamos o leitor a fazer uma comparação deste exemplo com o

Exemplo 4.8. Será possível resolver o Exemplo 4.8 utilizando o modelo de Poisson?

Exemplo 4.11: Num processo de fabricação que produz lâminas de vidro, em que o número

médio de defeitos por lâmina é cinco, qual é a probabilidade de que uma lâmina tenha

exatamente seis defeitos?

Page 127: PESQUISA OPERACIONA

125

Dos dados, temos que o número médio de lâminas é 5=α e o número de

eventos é .6=x Portanto, a solução é imediata,

146,0!6

5)6( 5

6=== −exP .

Exemplo 4.12: Uma companhia de seguros estima que 0,005% de uma população sofre cada

ano de certo tipo de acidente. Qual é a probabilidade que a companhia tenha que pagar a mais

do que três pessoas dentre as dez mil seguradas contra este tipo de acidente em um dado ano?

A probabilidade de uma pessoa acidentar-se é 0,00005. Isto significa que a

taxa anual de ocorrências deste tipo de acidentes é

anopessoas5,0

1000.1000005,0 =×=λ .

O número médio de ocorrências é 5,0=∆tλ e o número de eventos é .3=x

.002,0998,01)1,3(

,!

5,01)1,3(1)1,3(

3

0

5,0

=−==∆>

×−==∆≤−==∆>

=

=

txP

xe

txPtxPx

x

x

Nas seções seguintes analisaremos as distribuições de probabilidade de

variáveis contínuas mais importantes do ponto de vista da Pesquisa Operacional. Porém, antes

de iniciarmos o estudo dessas distribuições, estabeleceremos definições que serão de grande

utilidade para a compreensão das mesmas.

4.7 Variável aleatória contínua e distribuições de probabilidade

Certos experimentos aleatórios requerem que a variável aleatória, X ,

assuma valores reais. Por exemplo, se estivermos estudando a medida da altura de pessoas em

um conjunto especificado de uma comunidade, a variável X não é mais restrita a valores

discretos. As alturas podem ser 89,1 metros ou 01,2 metros, etc. Outro exemplo é quando

Page 128: PESQUISA OPERACIONA

126

precisamos medir uma temperatura ou uma tensão elétrica, que certamente não são números

inteiros. Isto nos leva à consideração das variáveis aleatórias contínuas, que podem ser

definidas em todo conjunto real, ou em intervalos especificados do mesmo conjunto.

Para tratarmos das distribuições continuas, considere as seguintes

definições.

Definição 4.2: (Função densidade de probabilidade, fdp) Seja o intervalo contínuo ),( baI = ,

sendo a e b números reais, ba < . A variável aleatória X que tome os valores reais x , tais

que Ix ∈ , tem uma distribuição ℑ se sua função densidade de probabilidade, )(xf ,

ℜ→ℜ:f , for tal que

a) 0)( ≥xf ,

b) =b

adxxf 1)( ,

c) =≤≤ 21

)()( 21xx dxxfxXxP , probabilidade de que X esteja entre os

valores 1x e 2x ,

d) = dxxfxF )()( , função de probabilidade acumulada.

Definição 4.3: (Esperança matemática de uma variável aleatória contínua) Seja X uma

variável aleatória contínua com função densidade de probabilidade, )(xf , o valor esperado de

X é

= ba dxxxfXE )()( . (417)

Definição 4.4: (Variância de uma variável aleatória contínua) Seja X uma variável aleatória

contínua com função densidade de probabilidade, )(xf , a variância de X é

22 )]([)()( XEdxxfxXVb

a−= . (4.18)

Compare a expressão (4.8) com a expressão (4.5).

Page 129: PESQUISA OPERACIONA

127

Agora estamos prontos para o estudo de algumas distribuições de variáveis

aleatórias continuas.

4.7.1 Distribuição normal

Uma das distribuições mais importantes é a distribuição normal. Uma das

razões dessa importância é que a distribuição normal, comumente, representa com boa

aproximação as distribuições de freqüência observadas em diversos fenômenos naturais.

Outra razão é que a distribuição normal pode ser relacionada com a maioria das distribuições

de probabilidade existentes por meio do Teorema do Limite Central (vide seção 4.8). Além

disso, para um número grande de tentativas, as normais servem como aproximação de

probabilidades binomiais.

A distribuição normal é também conhecida como distribuição de Gauss. A

distribuição de Gauss é contínua e simétrica em torno da média e sua curva estende-se de

menos infinito ( ∞− ) a mais infinito ( ∞+ ).

Matematicamente, a função densidade de probabilidade (fdp) da distribuição

normal é definida por (4.19):

,21

)( 22

2)(

σ

µ

σπ

−−=

x

exf ∞+<<∞− x .

(4.19)

Na equação (4.19), os símbolos possuem os seguintes significados:

µ : média da população;

σ : desvio padrão;

π : número irracional cujo valor aproximado é 3,1415;

e : número irracional cujo valor aproximado é 2,71828.

O parâmetro µ é a média da distribuição normal. Este valor é a média

populacional, que junto com a variância populacional, 2σ , são valores supostamente

conhecidos. É importante fazer neste ponto um paralelo entre µ e a média x , definida

anteriormente. Seja uma população de tamanho N donde vamos retirar todas as possíveis

Page 130: PESQUISA OPERACIONA

128

amostras simples de tamanho n dessa população, e para cada uma vamos calcular a média x .

A Figura 4.5 ilustra a relação existente entre µ e x .

Figura 4.5: Ilustração da relação entre µ e x .

As relações da média, do desvio padrão e da variância para uma amostra e

para uma população são apresentadas na Tabela 4.5.

Tabela 4.5: Relações dos parâmetros com amostra e população.

Parâmetro Amostra População finita

Quantidade de elementos n N

Média x µ

Desvio padrão s σ

Variância 2s 2σ

A probabilidade de uma variável aleatória contínua normalmente distribuída

ser igual ou menor que um número a é a área sob a curva normal de ∞− a a .

Matematicamente, esta probabilidade é dada pela relação (4.20):

=≤∞−

adxxfaxP )()( = área sob a curva normal de ∞− até a ,

(4.20)

=≤∞−

− −a

dxeaxPx

22

2)(

21

)( σ

µ

σπ.

população

amostra

x média µ média

Page 131: PESQUISA OPERACIONA

129

Do mesmo modo, a probabilidade de uma variável aleatória normalmente

distribuída ser maior do que um valor dado a é,

)(1)( axPaxP ≤−=> .

As curvas normais exibem características especiais em termos de sua forma

geométrica, de como se especificam e também de como são utilizadas para obtenção de

probabilidades. O gráfico de uma distribuição normal se assemelha muito a um sino: é suave e

unimodal, e simétrico em relação à sua média. Menos óbvio é o fato de que a curva se

prolonga indefinidamente em qualquer das direções, a partir da média. Aproxima-se cada vez

mais do eixo horizontal à medida que aumenta a distância a contar da média, mas nunca chega

a tocar no eixo.

Outra característica importante é que uma distribuição normal fica

completamente especificada por dois parâmetros: sua média e seu desvio padrão. Em outras

palavras, existe uma única distribuição normal para cada combinação de uma média µ e um

desvio padrão σ . Diferentes combinações de média e desvio padrão originam curvas normais

distintas.

A probabilidade de uma variável aleatória distribuída normalmente tomar

um valor entre dois pontos dados é igual à área sob a curva normal compreendida entre os

dois pontos.

É essencial reconhecer que uma distribuição normal é uma distribuição

teórica. Para mensurações físicas grupadas numa distribuição de freqüência é uma

distribuição ideal; nenhum conjunto de valores efetivos adaptar-se-á exatamente a ela. Assim

é que, por exemplo, os valores reais não variam entre ∞− e ∞+ . As limitações do

instrumento que se usa nas medições eliminam efetivamente outros valores potenciais. Não

obstante, tais deficiências são amplamente contrabalançadas pela facilidade de utilização da

distribuição normal na obtenção de probabilidades, e pelo fato de que a referida distribuição

ainda constitui uma boa aproximação de dados reais. Assim, quando dizemos que uma

variável aleatória é distribuída normalmente, a afirmação deve ser interpretada como uma

implicação de que a distribuição de freqüência de seus resultados possíveis pode ser

satisfatoriamente bem aproximada pela distribuição normal de probabilidades. Logo, a curva

Page 132: PESQUISA OPERACIONA

130

normal é um modelo. Em simulações computacionais é comum o emprego da distribuição

normal truncada, conforme será vista no Capítulo 7.

Como a integração indicada na equação (4.20) não pode ser efetuada

diretamente pelos métodos triviais de Cálculo Diferencial e Integral, usamos tabelas para

determinar as áreas sob a curva normal. Uma forma de facilitar a obtenção das probabilidades

normais é utilizar a forma normal padronizada e apresentar os valores em tabelas. As Tabelas

4.6 e 4.7 apresentam valores das áreas sob a curva normal padronizada. Nessas tabelas, dados

os valores de x , µ e σ , tem-se a proporção da área total sob a curva que está sob a porção

da curva de ∞− a σ

µ−= xz .

A distribuição normal constitui, na realidade, uma família infinitamente

grande de distribuições (isto é, uma para cada combinação µ e σ ). Conseqüentemente, seria

inútil procurar elaborar tabelas que atendessem a todas as necessidades. Há, entretanto, uma

alternativa bastante simples que contorna o problema: tomando como ponto de referência a

origem e o desvio padrão como medida de afastamento a contar daquele ponto (unidade de

medida), determinamos uma nova escala que é comumente conhecida como escala z .

Utilizamos a variável normal padronizada dada pela relação (4.21):

σµ−= x

z .

(4.21)

As áreas sob a curva de qualquer distribuição normal podem ser achadas

utilizando-se uma tabela normal padronizada, após fazer a conversão da escala original para a

escala em termos de desvios padrões. A tabela dá a área sob a curva (isto é, a probabilidade de

um valor cair naquele intervalo) entre ∞− e valores escolhidos de z , isto é,

)( zZP ≤<−∞ . Temos, então, que se X é uma variável aleatória com distribuição normal

de média µ e desvio padrão σ , podemos escrever )()( zZPxXP ≤<−∞=≤<−∞ onde

Z é uma variável aleatória tal que σ

µ−= xz . A partir desta transformação, a distribuição

resultante tem média igual a zero e desvio padrão igual a um. Por isso, é denotada por )1,0(N .

Page 133: PESQUISA OPERACIONA

131

Tabela 4.6: Áreas sob a curva normal padronizada de ∞− a z , 0≤z .

σµ−x

0,09 0,08

0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00

−3,5 0,00017 0,00017 0,00018 0,00019 0,00019 0,00020 0,00021 0,00022 0,00022 0,00023 −3,4 0,00024 0,00025 0,00026 0,00027 0,00028 0,00029 0,00030 0,00031 0,00033 0,00034 −3,3 0,00035 0,00036 0,00038 0,00039 0,00040 0,00042 0,00043 0,00045 0,00047 0,00048 −3,2 0,00050 0,00052 0,00054 0,00056 0,00058 0,00060 0,00062 0,00064 0,00066 0,00069 −3,1 0,00071 0,00074 0,00076 0,00079 0,00082 0,00085 0,00087 0,00090 0,00094 0,00097

−3,0 0,00100 0,00104 0,00107 0,00111 0,00114 0,00118 0,00122 0,00126 0,00131 0,00135 −2,9 0,0014 0,0014 0,0015 0,0015 0,0016 0,0016 0,0017 0,0017 0,0018 0,0019 −2,8 0,0019 0,0020 0,0021 0,0021 0,0022 0,0023 0,0023 0,0024 0,0025 0,0026 −2,7 0,0026 0,0027 0,0028 0,0029 0,0030 0,0031 0,0032 0,0033 0,0034 0,0035 −2,6 0,0036 0,0037 0,0038 0,0039 0,0040 0,0041 0,0043 0,0044 0,0045 0,0047

−2,5 0,0048 0,0049 0,0051 0,0052 0,0054 0,0055 0,0057 0,0059 0,0060 0,0062 −2,4 0,0064 0,0066 0,0068 0,0069 0,0071 0,0073 0,0075 0,0078 0,0080 0,0082 −2,3 0,0084 0,0087 0,0089 0,0091 0,0094 0,0096 0,0099 0,0102 0,0104 0,0107 −2,2 0,0110 0,0110 0,0113 0,0116 0,0119 0,0122 0,0125 0,0129 0,0136 0,0139 −2,1 0,0143 0,0146 0,0150 0,0154 0,0158 0,0162 0,0166 0,0170 0,0174 0,0179

−2,0 0,0183 0,0188 0,0192 0,0197 0,0202 0,0207 0,0212 0,0217 0,0222 0,0228 −1,9 0,0233 0,0239 0,0244 0,0250 0,0256 0,0262 0,0268 0,0274 0,0281 0,0287 −1,8 0,0294 0,0301 0,0307 0,0314 0,0322 0,0329 0,0336 0,0344 0,0351 0,0359 −1,7 0,0367 0,0375 0,0384 0,0392 0,0401 0,0409 0,0418 0,0427 0,0436 0,0446 −1,6 0,0455 0,0465 0,0475 0,0485 0,0495 0,0505 0,0516 0,0526 0,0537 0,0548

−1,5 0,0559 0,0571 0,0582 0,0594 0,0606 0,0618 0,0630 0,0643 0,0655 0,0668 −1,4 0,0681 0,0694 0,0708 0,0721 0,0735 0,0749 0,0764 0,0778 0,0793 0,0808 −1,3 0,0823 0,0838 0,0853 0,0869 0,0885 0,0901 0,0918 0,0934 0,0951 0,0968 −1,2 0,0985 0,1003 0,1020 0,1038 0,1057 0,1075 0,1093 0,1112 0,1131 0,1151 −1,1 0,1170 0,1190 0,1210 0,1230 0,1251 0,1271 0,1292 0,1314 0,1335 0,1357

−1,0 0,1379 0,1401 0,1423 0,1446 0,1469 0,1492 0,1515 0,1539 0,1562 0,1587 −0,9 0,1611 0,1635 0,1660 0,1685 0,1711 0,1736 0,1762 0,1788 0,1814 0,1841 −0,8 0,1867 0,1894 0,1922 0,1949 0,1977 0,2005 0,2033 0,2061 0,2090 0,2119 −0,7 0,2148 0,2177 0,2207 0,2236 0,2266 0,2297 0,2327 0,2358 0,2389 0,2420 −0,6 0,2451 0,2483 0,2514 0,2546 0,2578 0,2611 0,2643 0,2676 0,2709 0,2743

−0,5 0,2776 0,2810 0,2843 0,2877 0,2912 0,2946 0,2981 0,3015 0,3050 0,3085 −0,4 0,3121 0,3156 0,3192 0,3228 0,3264 0,3300 0,3336 0,3372 0,3409 0,3446 −0,3 0,3483 0,3520 0,3557 0,3594 0,3632 0,3669 0,3707 0,3745 0,3783 0,3821 −0,2 0,3859 0,3897 0,3936 0,3974 0,4013 0,4052 0,4090 0,4129 0,4168 0,4207 −0,1 0,4247 0,4286 0,4325 0,4364 0,4404 0,4443 0,4483 0,4522 0,4562 0,4602 −0,0 0,4641 0,4681 0,4721 0,4761 0,4801 0,4840 0,4880 0,4920 0,4960 0,5000

Page 134: PESQUISA OPERACIONA

132

Tabela 4.7: Áreas sob a curva normal padronizada de ∞− a z , 5,3≤z .

σµ−x

0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09

+0,0 0,5000 0,5040 0,5080 0,5120 0,5160 0,5199 0,5239 0,5279 0,5319 0,5359 +0,1 0,5398 0,5438 0,5478 0,5517 0,5557 0,5596 0,5636 0,5675 0,5714 0,5753 +0,2 0,5793 0,5832 0,5871 0,5910 0,5948 0,5987 0,6026 0,6064 0,6103 0,6141 +0,3 0,6179 0,6217 0,6255 0,6293 0,6331 0,6368 0,6406 0,6443 0,6480 0,6517 +0,4 0,6554 0,6591 0,6628 0,6664 0,6700 0,6736 0,6772 0,6808 0,6844 0,6879 +0,5 0,6915 0,6950 0,6985 0,7019 0,7054 0,7088 0,7123 0,7157 0,7190 0,7224

+0,6 0,7257 0,7291 0,7324 0,7357 0,7389 0,7422 0,7454 0,7486 0,7517 0,7549 +0,7 0,7580 0,7611 0,7642 0,7673 0,7704 0,7734 0,7764 0,7794 0,7823 0,7852 +0,8 0,7881 0,7910 0,7939 0,7967 0,7995 0,8023 0,8051 0,8079 0,8106 0,8133 +0,9 0,8159 0,8186 0,8212 0,8238 0,8264 0,8289 0,8315 0,8340 0,8365 0,8389 +1,0 0,8413 0,8438 0,8461 0,8485 0,8508 0,8531 0,8554 0,8577 0,8599 0,8621

+1,1 0,8643 0,8665 0,8686 0,8708 0,8729 0,8749 0,8770 0,8790 0,8810 0,8830 +1,2 0,8849 0,8869 0,8888 0,8907 0,8925 0,8944 0,8962 0,8980 0,8997 0,9015 +1,3 0,9032 0,9049 0,9066 0,9082 0,9099 0,9115 0,9131 0,9147 0,9162 0,9177 +1,4 0,9192 0,9207 0,9222 0,9236 0,9251 0,9265 0,9279 0,9292 0,9306 0,9319 +1,5 0,9332 0,9345 0,9357 0,9370 0,9382 0,9394 0,9406 0,9418 0,9429 0,9441

+1,6 0,9452 0,9463 0,9474 0,9484 0,9495 0,9505 0,9515 0,9525 0,9535 0,9545 +1,7 0,9554 0,9564 0,9573 0,9582 0,9591 0,9599 0,9608 0,9616 0,9625 0,9633 +1,8 0,9641 0,9649 0,9656 0,9664 0,9671 0,9678 0,9686 0,9693 0,9699 0,9706 +1,9 0,9713 0,9719 0,9726 0,9732 0,9738 0,9744 0,9750 0,9756 0,9761 0,9767 +2,0 0,9773 0,9778 0,9783 0,9788 0,9793 0,9798 0,9803 0,9808 0,9812 0,9817

+2,1 0,9821 0,9826 0,9830 0,9834 0,9838 0,9842 0,9846 0,9850 0,9854 0,9857 +2,2 0,9861 0,9864 0,9868 0,9871 0,9875 0,9878 0,9881 0,9884 0,9887 0,9890 +2,3 0,9893 0,9896 0,9898 0,9901 0,9904 0,9906 0,9909 0,9911 0,9913 0,9916 +2,4 0,9918 0,9920 0,9922 0,9925 0,9927 0,9929 0,9931 0,9932 0,9934 0,9936 +2,5 0,9938 0,9940 0,9941 0,9943 0,9945 0,9946 0,9948 0,9949 0,9951 0,9952

+2,6 0,9953 0,9955 0,9956 0,9957 0,9959 0,9960 0,9961 0,9962 0,9963 0,9964 +2,7 0,9965 0,9966 0,9967 0,9968 0,9969 0,9970 0,9971 0,9972 0,9973 0,9974 +2,8 0,9974 0,9975 0,9976 0,9977 0,9977 0,9978 0,9979 0,9979 0,9980 0,9981 +2,9 0,9981 0,9982 0,9983 0,9983 0,9984 0,9984 0,9985 0,9985 0,9986 0,9986 +3,0 0,99865 0,99869 0,99874 0,99878 0,99882 0,99886 0,99899 0,99893 0,99896 0,99900

+3,1 0,99903 0,99906 0,99910 0,99913 0,99915 0,99918 0,99921 0,99924 0,99926 0,99929 +3,2 0,99931 0,99934 0,99936 0,99938 0,99940 0,99942 0,99944 0,99946 0,99948 0,99950 +3,3 0,99952 0,99953 0,99955 0,99957 0,99958 0,99960 0,99961 0,99962 0,99964 0,99965 +3,4 0,99966 0,99967 0,99969 0,99970 0,99971 0,99972 0,99973 0,99974 0,99975 0,99976 +3,5 0,99977 0,99978 0,99978 0,99979 0,99980 0,99981 0,99981 0,99982 0,99983 0,99983

O Exemplo 4.13 mostra como calcular a probabilidade com distribuição

normal utilizando a variável z e as tabelas.

Page 135: PESQUISA OPERACIONA

133

Exemplo 4.13: Num laboratório, repetidas medições executadas numa peça utilizando certo

instrumento eletrônico resultam numa seqüência de valores. Os erros de medição comportam-

se de forma aleatória segundo a distribuição de Gauss. A média da distribuição é vinte e o

desvio padrão é oito. Qual é a probabilidade de medir valores menores que quatorze?

Temos: 14;8;20 === aσµ , que é o maior valor da variável aleatória x .

Aplicamos a fórmula (4.21) para variável normal padronizada:

75,08

2014 −=−=z .

Desejamos obter a probabilidade )14( ≤xP . Na verdade, com a

transformação, vamos buscar na tabela a área sob a curva normal modificada de .a z∞−

Consultamos a Tabela 4.6. Localizamos na primeira coluna o valor 7,0− e

no cruzamento dessa linha com a coluna de 0,05 encontramos o número 0,2266. Portanto, a

probabilidade procurada é .2266,0)14( =≤xP O valor 0,2266 pode ser interpretado como a

proporção dos valores menores do que 14.

Exemplo 4.14: Os pesos de 600 estudantes são normalmente distribuídos com média 65,3 kg

e variância 30,25. Determine o número de estudantes que pesam: (a) entre 60 e 70 kg ; e (b)

mais de 63,2 kg .

Vamos considerar primeiro o cálculo da probabilidade para estudantes que

pesam entre 60 e 70 kg. Suporemos também que x≅µ e s≅σ . A variância é o quadrado do

desvio padrão:

kgXV 5,525,30)( ==→= σσ .

Vamos calcular a probabilidade de a variável aleatória estar entre 60 e 70

kg , que é

)7060( ≤≤ xP .

Page 136: PESQUISA OPERACIONA

134

Raciocinando em termos da área da curva normal, vamos calcular a área de

∞− a 70 e subtrair desse valor a área que vai de ∞− a 60 ,

)60()70()7060( ≤−≤=≤≤ xPxPxP .

Temos que calcular as variáveis normais padronizadas 6070 e zz (para

isso temos que empregar a relação (4.21)),

.96,05,5

3,6560

,85,05,5

3,6570

60

70

−=−=

=−=

z

z

Consultamos as Tabelas 4.6 e 4.7 entrando com os valores de z e achamos

os seguintes números:

.6338,01685,08023,0)7060(

,1685,0)60(

,8023,0)70(

60

70

=−=≤≤=≤→=≤→

xP

xPz

xPz

O número esperado de estudantes com pesos compreendidos entre 70e60

é o produto 3806006338,0 ≅× estudantes.

A probabilidade de termos estudantes com mais que 63,2 kg é obtida do

seguinte modo. Vamos calcular a probabilidade de a variável aleatória ser menor ou igual a

63,2 kg ,

)2,63( ≤xP .

Como a área total sob a curva normal é igual a um, vamos subtrair dessa

área o resultado obtido, )2,63( ≤xP , já que queremos calcular a probabilidade )2,63( >xP ,

.38,05,5

3,652,63),2,63(1)2,63(

−=−=

≤−=>

z

xPxP

Page 137: PESQUISA OPERACIONA

135

Consultamos a Tabela 4.7 e obtemos:

3520,0)2,63( =≤xP .

Concluímos que a probabilidade de, neste universo, encontrarmos

estudantes com mais de 63,2 kg é

648,0352,01)2,63(1)2,63( =−=≤−=> xPxP .

Desse modo, esperamos que 389600648,0 ≅× estudantes tenham peso

superior a 63,2 kg .

4.7.2 Distribuição retangular ou uniforme

Nesta seção trataremos apenas da distribuição retangular (uniforme)

contínua. Esta distribuição é aplicável em situações nas quais as probabilidades de todos os

sucessos são iguais. A Figura 4.6 ilustra a função densidade de probabilidade retangular.

Figura 4.6: Distribuição retangular contínua.

A função da Figura 4.6 é definida conforme a relação (4.22):

xba

)(xf

ab −1

Page 138: PESQUISA OPERACIONA

136

>

≤≤−

<

=

bx

bxaab

ax

xf

,0

,1,0

)( .

(4.22)

Notemos que a área do retângulo ilustrado na Figura 4.6 é igual a um, como

deve ser para qualquer função densidade de probabilidade. A probabilidade de que uma

variável aleatória x tenha um valor menor ou igual a um número 1x que pertença ao intervalo

],[ ba é:

bxaabax

abdx

dxxfxxPx

a

d

a≤≤

−−=

−==≤ 1

11

1 )()( ,

onde, )( 1xxP ≤ é a probabilidade acumulada da variável aleatória x de a até 1x .

A média e a variância das variáveis aleatórias da distribuição uniforme são

obtidas pelas expressões (4.23) e (4.24), de acordo com as Definições (4.3) e (4.4).

2)(

baXE

+== µ . (4.23)

12)(

)(2

2 abXV

−== σ . (4.24)

4.7.3 Distribuição exponencial

A função densidade de probabilidade exponencial é definida pela relação

(4.25).

xexf ββ −=)( , ∞<≤ x0 . (4.25)

Esta forma de distribuição de probabilidade é conhecida mais

especificamente como distribuição exponencial negativa ( 0>β ) e, nesta forma, é

Page 139: PESQUISA OPERACIONA

137

freqüentemente usada para descrever tempos de serviço em modelos de fila de espera. Neste

tipo de aplicação, a variável aleatória x representa o tempo.

Em aplicações na teoria de filas, o parâmetro β da relação (4.25) é o

número de ocorrências na unidade de tempo. Por exemplo, β pode ser a taxa de chegada de

usuários por unidade de tempo (neste caso, na teoria de filas, β corresponderia ao parâmetro

λ , que é a notação usual para a taxa média de chegada de usuários).

A média e a variância das variáveis aleatórias da distribuição exponencial

são obtidas pelas relações (4.26) e (4.27).

βµ 1

)( ==XE . (4.26)

βσ 1

)( 2 ==XV . (4.27)

A probabilidade acumulada exponencial desde zero até um instante que

tenha transcorrido um tempo t∆ , isto é, a função de distribuição acumulada, é dada por

(4.28):

tetxP ∆−−=∆≤ β1)( (4.28)

A função de distribuição acumulada é obtida integrando a função )(xf em

x de 0 a .t∆ O valor acumulado mede a probabilidade de o intervalo entre duas ocorrências

consecutivas ser menor ou igual ao intervalo de tempo t∆ .

Exemplo 4.15: Numa linha de montagem de televisores, localizada na Zona Franca de

Manaus, obtivemos a informação de que o tempo de serviço médio por aparelho é de duas

horas. Qual é a probabilidade de ocorrer um tempo de serviço de menos de 1:40 horas?

A média é igual a aparelhohoras2

1 =β

o que implica em .5,0=β O

intervalo requerido de execução do serviço é horas.35

6040

1 horas40:1 =+= A probabilidade

de termos intervalos de execução do serviço inferiores a 40:1 horas é:

Page 140: PESQUISA OPERACIONA

138

.5654,0)35

(

,11)35

( 83334,035

5,0

=≤

−=−=≤ −×−

xP

eexP

4.7.4 Distribuição de Erlang

Esta distribuição de probabilidade leva o nome do seu criador, o

dinamarquês Erlang, um estudioso pioneiro da área de telecomunicações, que viveu no século

XIX. A função densidade de probabilidade da distribuição de Erlang é definida em (4.29).

m

m

am

exxf

ax

)!1()(

1

−=

−−, ∞<≤ x0 .

(4.29)

Onde:

a : parâmetro de escala ou coeficiente de variação, 0>a ;

m : parâmetro de fôrma ( m é um número inteiro positivo).

Após a comparação entre as distribuições exponencial negativa e Erlang, é

imediata a constatação de que em (4.29) para 1=m e β=a1 teremos a fdp exponencial

definida em (4.25).

A média e a variância das variáveis aleatórias da distribuição Erlang são

obtidas pelas relações (4.30) e (4.31).

amXE == µ)( . (4.30)

maXV 22)( == σ . (4.31)

A função de probabilidade acumulada da fdp de Erlang, calculada desde

zero até um valor especificado x , é dada por (4.32).

Page 141: PESQUISA OPERACIONA

139

−= −

=−

10 !

)(1)( m

i

ia

xa

x

iexF .

(4.32)

A distribuição Erlang é usada como uma extensão para a distribuição

exponencial se o coeficiente de variação for menor que 1 (isto é, 1<a ), por exemplo nas

seguintes aplicações:

a) na modelagem de tempos de atendimento (ou de serviço) de sistemas

de filas;

b) na modelagem do tempo de reparo e tempo entre falhas de

equipamentos e sistemas.

Na primeira aplicação mencionada, um servidor com tempos de serviço cuja

distribuição seja Erlang( ma, ) pode ser representado como se fosse uma série de m

servidores com tempos de serviço de distribuição exponencial.

Especificamente em sistemas de telecomunicações, a distribuição Erlang é

empregada na modelagem do tráfego de chamadas telefônicas.

Para m não muito grande, a utilização do computador para o cálculo do

fatorial seja na expressão (4.29) e seja em (4.32) requer certos cuidados por parte do

programador em face das limitações de representação da aritmética inteira das máquinas

atualmente disponíveis. Todavia, existem métodos para contornar essas dificuldades.

Em simulações com o uso do computador, a distribuição Erlang é gerada a

partir de variáveis uniformemente distribuídas seguindo os passos apresentados no Algoritmo

4.1.

Algoritmo 4.1: Obtenção de variáveis de Erlang a partir da distribuição continua uniforme.

Dados: os parâmetros m e a .

Faça 1←P Para mi ,,1 = )1,0(Uui ← iuPP ×← PamaErlang ln),( ×−←

Na seção seguinte será estudado um teorema de capital importância para

simulações em computador, que encontra muitas aplicações em Pesquisa Operacional.

Page 142: PESQUISA OPERACIONA

140

)( yP

61

4.8 Teorema do Limite Central

Este teorema afirma que, sob condições genéricas, as somas e as médias das

amostras de medidas aleatórias extraídas de uma população tendem a apresentar uma

distribuição aproximadamente bem comportada, desde que a amostragem seja repetida. O

significado desta afirmação pode ser melhor ilustrado com um exemplo.

Exemplo 4.16: Considere a população referente à experiência de se jogar um dado não viciado

um número grande de vezes. A distribuição de probabilidade é dada pelo histograma da

Figura 4.7.

Figura 4.7: Distribuição de y , que é o número obtido ao se jogar um dado.

Extraímos uma amostra de 5=n medidas (jogamos o dado cinco vezes e

anotamos os resultados obtidos) obtendo assim a amostra desejada. Por exemplo,

suponhamos que os números anotados nessa primeira amostra sejam 3,1,5,3=y e 2 .

Calculemos a soma dessas cinco medidas e também a média da amostra, y . A título de

experiência, vamos repetir a amostragem cem vezes. Os resultados para cem amostras estão

parcialmente indicados na Tabela 4.8, juntamente com os valores correspondentes de =

5

1iiy e

y .

Tabela 4.8: Medidas da amostra: soma e média.

Número da amostra Medidas contidas na amostra iy y

1 3, 5, 1, 3 ,2 14 2,8 2 3, 1, 1, 4, 6 15 3,0

. . . . . . . . . . . . 100 2, 4, 3, 4, 6 19 3,8

y 0

654321

Page 143: PESQUISA OPERACIONA

141

Construiremos um histograma de freqüências de y (ou de =

5

1iiy ) para essas

cem amostras e teremos uma representação gráfica da distribuição empírica. Observaremos

um resultado interessante: embora os valores de y, na população ( 6,5,4,3,2,1=y ), sejam

equiprováveis (vide Figura 4.7) e, por conseguinte, possuam uma distribuição perfeitamente

uniforme, as médias das amostras (ou somas) apresentam uma distribuição não uniforme.

Em termos formais, um enunciado do Teorema do Limite Central é como

apresentado a seguir.

Teorema 4.2: Se amostras aleatórias com n observações forem extraídas de uma população

com média µ e desvio padrão σ , então, quando n for grande, a média amostral será

normalmente distribuída com média µ e desvio padrão n

σ.

A aproximação aludida no Teorema 4.2 será tanto mais perfeita quanto

maior for o valor de n .

Para ilustrar este teorema foi elaborado no ambiente MATLAB um código

para simular o lançamento do dado por cinco vezes consecutivas. Esse experimento foi

repetido mil vezes. O histograma de freqüências resultante é conforme ilustrado na Figura 4.8.

Figura 4.8: Histograma de freqüências que se apresenta com o aspecto de uma normal.

Page 144: PESQUISA OPERACIONA

142

O código escrito com instruções do MATLAB é mostrado na Figura 4.9.

n = input('Entrar com o tamanho da amostra: ');

m = input('Entrar com a quantidade de simulações: ');

for k = 1:m,

soma = 0;

for i = 1:n,

y(i) = fix(1 + 6*rand);

soma = soma + y(i);

end;

media(k) = soma/n;

end;

maior = norm(media, inf); menor = norm(media, -inf);

h = (maior - menor)/m;

x = menor: h: maior;

hist(media, x)

Figura 4.9: Código em MATLAB para verificação do Teorema do Limite Central.

Chamamos a atenção do leitor para forma do histograma da Figura 4.8, que

lembra a forma de sino típica da distribuição normal.

Ressaltamos que o Teorema do Limite Central não especifica a distribuição

da população. Na realidade, a distribuição da população pode se apresentar sob uma vasta

gama de distribuições de probabilidade e é isto que torna este teorema notável e de grande

aplicabilidade. O Teorema do Limite Central também pode ser enunciado de modo específico

para uma população uniformemente distribuída.

Teorema 4.3: Sejam kuuu ,,, 21 , k variáveis aleatórias independentes uniformes e sejam

)( iuE=µ e )(2iuV=σ a esperança e a variância, respectivamente. Ao obter

==

k

iiux

1, a

esperança e a variância de X são, respectivamente, µkXE =)( e 2)( σkXV = , e tem-se,

para k grande, que σµ kkXZk )( −= é aproximadamente a distribuição normal

padronizada.

Page 145: PESQUISA OPERACIONA

143

Considerando ainda o Exemplo 4.16, observamos que o Teorema do Limite

Central poderia ser enunciado de maneira alternativa para a soma dos resultados de uma

amostra =

5

1iiy , que também tende a apresentar uma distribuição normal, de média µ e desvio

padrão n

σ à medida que n se torne cada vez maior.

Este teorema nos diz que a média e o desvio padrão da distribuição das

médias amostrais são definitivamente relacionados à média e o desvio padrão da população

amostrada, bem como ao tamanho n da amostra. As duas distribuições têm a mesma média,

µ , e o desvio padrão da distribuição das médias amostrais é igual ao desvio padrão da

população σ dividido por n . Conseqüentemente, a dispersão da distribuição das médias

amostrais será consideravelmente menor (n

1 , no máximo), quanto mais difusa for a

distribuição da população. Mais importante ainda é o fato de o Teorema do Limite Central

afirmar que a distribuição das médias amostrais é aproximadamente normal (distribuição de

Gauss) para amostras de tamanho n moderado ou grande.

4.9 Exercícios propostos

1. Resolva os problemas supondo distribuição binomial:

a) Uma moeda é lançada 5 vezes seguidas e independentes. Calcule a probabilidade de

serem obtidas 3 caras nessas 5 provas.

b) Dois times de futebol A e B, jogam entre si 6 vezes. Encontre a probabilidade de o

time A ganhar 4 jogos. (Lembre-se que a probabilidade de um time ganhar uma

partida é 31 ).

c) Considere um processo de fabricação onde a probabilidade de ocorrência de um item

defeituoso é de 0,05. Se tirarmos uma amostra de 10 itens, calcule a probabilidade de

menos de três itens defeituosos na amostra.

2. Resolva os problemas supondo distribuição hipergeométrica:

a) Uma empresa possui 8 diretores, dos quais 5 são homens e 3 são mulheres. Uma

comissão de 3 diretores deve ser constituída através de sorteio para representar a

Page 146: PESQUISA OPERACIONA

144

empresa num Congresso que acontecerá em Cancun. Qual é a probabilidade de ser

sorteada uma comissão que tenha exatamente 2 mulheres?

b) Pequenos motores elétricos são expedidos em lotes de 50 unidades. Antes que uma

remessa seja aprovada, um inspetor escolhe 5 desses motores e os inspeciona. Se

nenhum dos motores inspecionados for defeituoso, o lote é aprovado. Se um ou mais

forem verificados defeituosos, todos os motores da remessa serão inspecionados.

Suponha que existam, de fato, três motores defeituosos no lote. Calcule a

probabilidade de que a inspeção de todo o lote de 50 seja necessária? (Sugestão:

calcule a probabilidade ),1( ≥XP onde X é o número de motores). Resposta: .28,0≅

3. Suponha um jogo de 25 números (inteiros de 1 a 25) no qual são escolhidos 15 números.

Apenas o acerto dos 15 números dá um excelente prêmio ao felizardo. No sorteio, os números

são retirados de um mesmo globo sem reposição. Um esperançoso apostador está intrigado

porque ele normalmente acerta 10 ou 11 pontos e nunca fez os 15. Como podemos explicar

isto para o apostador usando o modelo hipergeométrico? Será que acertar poucos pontos é

difícil também? Faça cálculos e, se for necessário, um gráfico também.

4. Uma companhia de seguros descobriu que somente cerca de 0,1 por cento da população

está incluído em certo tipo de acidente cada ano. Se seus 10.000 segurados são escolhidos ao

acaso na população, qual é a probabilidade de que não mais do que 5 de seus clientes venham

a estar incluídos em tal acidente no próximo ano? (Resposta: 0,067).

5. Resolva o Exemplo 4.8 usando o modelo de Poisson com parâmetro α igual a 4.

6. Prove a expressão (4.15) do valor esperado para o modelo de Poisson dado pela expressão

(4.14).

7. Resolva os problemas supondo distribuição normal:

a) Um teste padronizado de escolaridade tem distribuição normal com média igual a 100 e

desvio padrão igual a 10. Determine a probabilidade de um indivíduo submetido ao

teste ter nota: (1) maior que 120 (resposta: 0,0228); (2) entre 85 e 115 (resposta:

0,8664).

Page 147: PESQUISA OPERACIONA

145

b) Uma lâmpada eletrônica tem duração média de 850 dias e desvio padrão de 40 dias.

Sabendo que a duração é normalmente distribuída, calcule a probabilidade de uma

lâmpada desse tipo durar: (1) entre 700 e 1.000 dias (resposta: 0,9998); (2) menos de

750 dias (resposta: 0,0062).

8. Entrando em um sistema de auto-atendimento de um banco, os clientes com seus

automóveis acessam o caixa-rápido. Os tempos de utilização são exponencialmente

distribuídos com uma média de 45 segundos. Qual é a probabilidade de ocorrer um tempo de

acesso ao caixa-rápido de menos de 30 segundos?

9. Resolva o problema supondo distribuição uniforme discreta. Uma tabela de 100 números

(00 a 99) dispostos aleatoriamente. Fecha-se o olho e ao acaso aponta-se para um dos

números da tabela. Qual é a probabilidade de ‘apontar’ o número 24? Qual é a probabilidade

de acertar um número correspondente à sua idade nesta tabela? Supondo que ninguém na sala

tem menos de 20 e mais que 45 anos, qual é a probabilidade de apontar números na faixa de

idades do pessoal da sala? Qual é a média dos números dessa tabela? Qual é a variância? Qual

é o desvio padrão?

Page 148: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 5

Processos de Markov

Neste capítulo trataremos de uma seqüência de estados que segue um

processo de Markov, tal que a probabilidade da próxima ocorrência dependerá apenas da

ocorrência imediatamente anterior. Isto é, trataremos com cadeias de Markov de primeira

ordem.

Processos de Markov constituem um tipo especial de processo estocástico

que possui a propriedade de que as probabilidades associadas com o processo num dado

instante do futuro dependem somente do estado presente, sendo, portanto, independentes dos

eventos no passado. Desse modo, os processos markovianos são caracterizados pelo que se

designa como ‘falta de memória’.

Para caracterizar processos de Markov de maneira precisa é necessário

estabelecer uma definição formal.

5.1 Definição e caracterização de processos de Markov

Antes de apresentar a definição de processos de Markov, vamos expor um

conceito mais abrangente que é o de processo estocástico.

Processo estocástico é definido como uma coleção indexada de variáveis

aleatórias tX , onde o índice t pertence a um dado conjunto T . O conjunto T é

normalmente composto de números inteiros não negativos, e tX representa uma característica

mensurável de interesse num instante de tempo t . Formalmente, a notação indicada pela

expressão (5.1) define processo estocástico sobre um dado espaço de probabilidade

; TtX t ∈ . (5.1)

Os valores assumidos pela variável aleatória tX são chamados estados, e o

conjunto de todos os possíveis valores forma o espaço de estado do processo.

Page 149: PESQUISA OPERACIONA

147

Como exemplo de um processo estocástico podemos citar o tráfego de

dados em uma rede local de computadores que se encontra interligada à rede Internet. Neste

sistema, mensagens eletrônicas são recebidas e enviadas enquanto são feitos downloads de

arquivos. A taxa de transferência de bits por unidade de tempo num dado servidor desta rede é

uma variável incerta que depende da intensidade de uso do sistema pelos usuários conectados

naquele momento. Podemos, neste sistema, caracterizar a variável aleatória tX como a

velocidade de transferência de dados em sbits , onde t é o instante de tempo pertencente ao

intervalo ),0[ ∞=T . O espaço de probabilidade neste exemplo corresponde à função

densidade de probabilidade que rege o comportamento da variável aleatória tX , por exemplo,

uma distribuição normal.

Definição 5.1: (Processo de Markov) Um processo estocástico ; TtX t ∈ é chamado um

processo de Markov quando, para qualquer tempo tttt n <<<< 10 , a distribuição

condicional de tX para os valores dados de nttt XXX ,,,

10 dependem somente de

ntX :

- se tX assumir valores discretos, esta definição é expressa como

),,,|( 01 01xXxXxXxXP tntntt nn

==== −− = )|( ntt xXxXP

n== , (5.2)

- se tX assumir valores contínuos, esta definição é expressa como

),,,|( 01 01xXxXxXxXP tntntt nn

===≤ −− = )|( ntt xXxXP

n=≤ . (5.3)

Nestas expressões, 110 ,,, −nttt representam o passado, e t e nt são o

futuro e o presente respectivamente.

É interessante estabelecer claramente como é lida, por exemplo, a expressão

(5.2), que é como segue: a probabilidade da variável X ter valor igual a certo valor x no

tempo t , dado que a variável aleatória tenha assumido os valores nx , ,,1 −nx 0x ,

respectivamente, nos tempos nt , ,,1 −nt 0t , é igual a probabilidade da variável X ter valor

igual a um certo valor x no tempo t , dado apenas que a variável tenha assumido o valor nx

no tempo nt .

A Definição 5.1 pode ser traduzida para a linguagem natural, como segue:

um processo estocástico é um processo de Markov se o futuro do processo, conhecido o

estado presente, é independente do passado.

Page 150: PESQUISA OPERACIONA

148

É fundamental no estudo de processos de Markov a noção de estado.

Propriedades em comum entre indivíduos (ou objetos) caracterizam o que designamos por

estados. São apresentados a seguir exemplos de objetos ou coisas que possuem propriedade

em comum:

- máquinas em uma linha de produção, cujos estados podem ser máquina

funcionando, máquina parada e em reparo, máquina parada aguardando por reparo;

- uma população que migra de uma região para outra, podendo encontrar-se

em um dos seguintes estados: população ociosa, população empregada;

- safras de soja na região Centro-Oeste do Brasil, sendo que os estados

podem ser safra boa, safra ruim ou safra razoável.

Os processos de Markov sempre envolvem a variável ‘tempo’, seja

considerada na forma discreta onde o tempo varia em saltos (ou seja, intervalos regulares), ou

na forma contínua podendo assumir valores reais.

Nos exemplos citados anteriormente podemos notar que o tempo está

presente. Uma máquina ao estragar requer tempo para ser consertada, podendo, portanto,

exibir alteração em seu estado se observada a intervalos regulares de tempo. Povos que

migram de um lugar a outro fazem isto com certa periodicidade. Safras ocorrem em meses

determinados que diferem em função da região e da cultura considerada.

5.2 Relevância dos processos de Markov e possíveis aplicações

Em todas as áreas da atividade humana busca-se quantificar eventos que

possuem certo grau de incerteza de ocorrência. Isto implica de certa forma na necessidade de

“prever o futuro”. Modelos matemáticos probabilísticos são concebidos para auxiliar o

homem na tomada de decisão.

No mundo real há diversos sistemas dinâmicos que podem ser modelados

como processos de Markov. Eis alguns exemplos de aplicações:

- planejamento de sistemas de atendimento a filas de espera que são

normalmente modelados como processos de ‘nascimento e morte’;

- dimensionamento de recursos computacionais para servir a processos que

compartilham tempo e espaço;

- avaliação de equipamentos em operação numa linha de produção industrial

ou em instalações complexas;

Page 151: PESQUISA OPERACIONA

149

- estudo de fenômenos econômicos e movimentos sociais;

- análise de processos biológicos, como a evolução de certas espécies vivas

seja para fins de exploração comercial ou para a preservação;

- análise da evolução de certa epidemia numa comunidade.

Na bibliografia de Pesquisa Operacional são encontradas aplicações de

processos de Markov que compreendem desde o estudo de sistemas móveis de comunicação,

passando pelo tráfego de sinais digitais e o desenvolvimento de técnicas que objetivam

disponibilizar o serviço aos usuários, bem como a análise da evolução de corporações e

sistemas sociais com o passar do tempo. Em todas as aplicações nota-se um traço comum – o

tempo.

Conforme estabelecido na Definição 5.1, há duas categorias de processos de

Markov: (1) os processos de tempo discreto, em que o índice t assume apenas valores inteiros

não negativos, ou seja, ,2,1,0=t ; e (2) os processos nos quais a variável tempo é contínua,

ou seja, ),0[ ∞∈t . Em ambas as categorias, os estados são caracterizados por números

inteiros não negativos definidos a partir dos valores que a variável aleatória X pode assumir.

5.3 Processos de Markov de tempo discreto

Um processo de Markov está completamente especificado se forem

conhecidas as probabilidades de transição e a distribuição inicial de probabilidades dos

estados.

Toda vez que um estado suceder a outro, dizemos que o processo

estocástico markoviano deu um passo. O passo pode representar um período de tempo que

resulte em outro estado possível. Se o número de passos é zero, tal situação representa o

presente, igual a um estará representando um possível estado no próximo passo, e assim por

diante.

Iniciaremos o estudo de processos de Markov de tempo discreto definindo

probabilidades de transição.

Definição 5.2: (Probabilidades de transição) As probabilidades condicionais

)|( 1 iXjXP tt ==+ , para ,2,1,0=t ,

Page 152: PESQUISA OPERACIONA

150

são chamadas de probabilidades de transição. Se, para cada i e j ,

)|()|( 011 iXjXPiXjXP tt =====+ , para todo ,2,1,0=t ,

então as probabilidades de transição para um passo são ditas estacionárias e usualmente são

denotadas por ijp .

A probabilidade de transição do estado i ao estado j , em um passo,

simbolizada por ijp , é a probabilidade de um objeto que se encontra no estado i após um

intervalo de tempo fixo predeterminado ser encontrado no estado j .

Para n passos à frente, como extensão da Definição 5.2, é possível escrever

as probabilidades de transição para cada i e j , com ,2,1,0=n , conforme a expressão:

)|()|( 0 iXjXPiXjXP ntnt =====+ , para todo ,2,1,0=t (5.4)

Para simplificar a notação, usaremos a seguinte simbologia:

ijpiXjXP === )|( 01 ,

)()|( 0 npiXjXP ijn === .

De acordo com a referência (HILLIER e LIEBERMAN, 1995), a notação

)(npij introduzida anteriormente implica que, para 0=n , )0(ijp é )|( 00 iXjXP == ,

sendo igual a 1 se ji = e igual a 0 em caso contrário.

As probabilidades de estados são definidas como a seguir.

Definição 5.3: (Probabilidade de estado no instante n ) A probabilidade do estado i tomada

no instante n é a probabilidade de um objeto ocupar o estado i após um número n finito de

passos. Formalmente, para 1+M estados,

)()( iXPnp ni == , para Mi ,,2,1,0 = .

Page 153: PESQUISA OPERACIONA

151

Especificamente para o instante inicial tem-se a distribuição inicial de

probabilidades de estados, a qual é representada por um vetor linha )0(p , cujas componentes

são as probabilidades )(npi , Mi ,,2,1,0 = .

])0()0()0()0([)0( 210 Mppppp = (5.5)

De posse das definições estabelecidas nesta seção, estamos prontos para

apresentar um exemplo numérico.

Exemplo 5.1: Numa certa região durante o período de chuvas, que dura cerca de seis meses a

cada ano, os estados observados são dois: dias ensolarados e dias chuvosos, os quais serão

designados pelos índices 0 e 1, respectivamente. A partir de observações históricas, foram

obtidas para um passo (ou seja, um dia) as probabilidades de transição supostas constantes. A

um dia chuvoso sucederá um dia chuvoso com probabilidade igual a 43 e, um dia ensolarado,

com probabilidade 41 . Dias ensolarados sucedem dias ensolarados com probabilidades iguais

a 21 , enquanto que, ao ocorrer um dia ensolarado, a probabilidade de chover no dia seguinte

é 21 . Desejamos estudar o regime de chuvas dessa região modelando o processo estocástico

descrito como um processo de Markov. Como primeira informação desse estudo, precisamos

inferir sobre o número esperado de dias chuvosos anualmente se a tendência descrita pelas

probabilidades permanecer inalterada.

Primeiramente vamos identificar os dados fornecidos no enunciado com as

probabilidades definidas anteriormente. Sendo 0 o número associado ao estado “sol” e 1 o

número associado ao estado “chuva”, temos as probabilidades condicionais seguintes para um

passo:

- dia chuvoso sucede dia chuvoso → 43

1101 )1|1( ==== pXXP ;

- dia ensolarado sucede dia chuvoso → 41

1001 )1|0( ==== pXXP ;

- dia chuvoso sucede dia ensolarado → 21

0101 )0|1( ==== pXXP ;

- dia ensolarado sucede dia ensolarado → 21

0001 )0|0( ==== pXXP .

Page 154: PESQUISA OPERACIONA

152

Para encontrar a probabilidade do estado 0 em um passo, )1(0p , podemos

utilizar o conceito de probabilidade total, o qual para dois estados possui a seguinte expressão:

)1()1|0()0()0|0()0()1( 00100110 ===+====== XPXXPXPXXPXPp ,

)0()0()1( 1100000 ppppp += .

Na última expressão observamos )0(0p e )0(1p , que são as probabilidades

iniciais dos estados (vide a Definição 5.3).

Procedendo de modo análogo, para encontrar a probabilidade do estado 1

em um passo, )1(1p , utilizamos novamente o conceito de probabilidade total:

)0()0|1()1()1|1()1()1( 00100111 ===+====== XPXXPXPXXPXPp ,

)0()0()1( 0011111 ppppp += .

Se for de interesse determinar as probabilidades dos estados 0 e 1 em dois

passos, respectivamente, )2(0p e )2(1p , tendo em vista que as probabilidades de transição

são constantes, basta escrever as expressões conforme mostradas a seguir:

)1()1()2( 1100000 ppppp += ,

)1()1()2( 0011111 ppppp += .

Se prosseguirmos com esta forma de calcular, o cálculo se revelará

enfadonho, com grande possibilidade de confusão com tantos índices.

Uma forma alternativa e muito mais funcional consiste no emprego da

representação matricial. Das expressões de cálculo de )1(0p e )1(1p , obtém-se a

representação matricial mostrada a seguir:

=

1110

01001010 ])0()0([])1()1([

pp

pppppp .

Page 155: PESQUISA OPERACIONA

153

Analogamente, das expressões de cálculo de )2(0p e )2(1p , extraímos a

representação matricial mostrada a seguir:

=

1110

01001010 ])1()1([])2()2([

pp

pppppp .

Ora, se substituirmos o vetor ])1()1([ 10 pp da segunda expressão pela

primeira expressão obteremos o seguinte:

=

1110

0100

1110

01001010 ])0()0([])2()2([

pp

pp

pp

pppppp ,

2

1110

01001010 ])0()0([])2()2([

=

pp

pppppp .

Finalmente, ao empregarmos o Princípio da Indução Matemática é imediata

a conclusão de que uma expressão para n passos pode ser escrita, conforme está indicada a

seguir:

n

pp

ppppnpnp

=

1110

01001010 ])0()0([])()([ .

Esta expressão resolveria o exemplo em pauta se conhecêssemos a

distribuição inicial, isto é, o vetor ])0()0([ 10 pp . No entanto, veremos à frente, neste

capítulo, que, sob certas condições, as probabilidades dos estados a longo prazo são

independentes da distribuição inicial, sendo esta outra propriedade inerente à maioria dos

processos de Markov.

Retornamos então ao Exemplo 5.1. Para resolver o exemplo lançamos mão

de um artifício conhecido por árvore de probabilidades. A Figura 5.1 ilustra o diagrama em

árvore partindo do estado 0, onde são considerados apenas quatro passos. Outro diagrama

poderia ser construído, porém, partiria do estado 1.

Mostraremos como se calcula a probabilidade do estado 1 após quatro

passos, isto é, )4(1p . Notamos na árvore de probabilidades (Figura 5.1) que, dado que os

eventos são independentes, precisamos multiplicar todas as probabilidades dos ‘caminhos’

Page 156: PESQUISA OPERACIONA

154

que levam ao estado 1 para calcular a probabilidade do estado 1 em quatro passos

(BILLINTON, 1970).

Figura 5.1: Diagrama em árvore de probabilidades iniciando no estado 0.

A Tabela 5.1 mostra em detalhes os cálculos para obtenção de )4(1p .

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

chuva

sol

21

21

21

21

21

21 2

1

21

21

21

21

21

21

21

21

21

43

43

43

43

43

43

43

41

41

41

41

41

41

41

Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4

Page 157: PESQUISA OPERACIONA

155

Tabela 5.1: Planilha de cálculo da probabilidade do estado 1.

Produtos de probabilidades de transição Probabilidades parciais

=01000000 pppp21

21

21

21

161

=11010000 pppp43

21

21

21

323

=01100100 pppp21

41

21

21

321

=11110100 pppp43

43

21

21

649

=01001001 pppp21

21

41

21

321

=11011001 pppp43

21

41

21

643

=01101101 pppp21

41

43

21

643

=11111101 pppp43

43

43

21

12827

Probabilidade total (probabilidade do estado 1 em quatro passos) 664,012885 ≈

Se construirmos uma tabela para mostrar os cálculos da probabilidade do

estado 0 para quatro passos, chegaremos sem dúvida no valor 336,0)4( 12843

0 ≈=p . Se

estendermos os cálculos para mais passos não é difícil concluir que a probabilidade do estado

1 encaminhará para 32 , enquanto que a probabilidade do estado 0 será de 3

1 , preservadas as

condições.

Com estes cálculos podemos responder à questão formulada no enunciado

do Exemplo 5.1. Portanto, espera-se que, em seis meses, 120 dias serão chuvosos

( 12018032 =× ), e 60 dias serão ensolarados.

5.3.1 Matriz de transição de probabilidades

Uma notação conveniente para representar probabilidades de transição para

n passos é a forma de matriz.

Definição 5.4: (Matriz de probabilidades de transição para n passos) Seja MS ,,1,0 = o

conjunto finito de estados, e seja o par de estados ),( ji , tal que SSji ×∈),( . Associe a cada

par ),( ji um número real )(npij , de modo que sejam satisfeitas as propriedades

Page 158: PESQUISA OPERACIONA

156

1)(0 ≤≤ npij para SSji ×∈∀ ),( e =∈Sj

ij np 1)( para Si ∈∀ , define-se a matriz nP (leia-

se matriz P elevada ao expoente n ),

=

)()()(

)()()()()()(

10

11110

00100

npnpnp

npnpnp

npnpnp

P

MMMM

M

M

n

.

(5.6)

Especificamente, para um passo, a matriz de probabilidades de transição é

como representada em (5.7), onde é omitido o índice )1( .

=

MMMM

M

M

ppp

ppp

ppp

P

10

11110

00100

.

(5.7)

Em particular, para 0=n , tem-se como conseqüência natural que 0P é a

própria matriz identidade, I , de ordem )1()1( +×+ MM , o que está de acordo com o fato de

que )0(ijp é igual a )|( 00 iXjXP == e

≠=

=jise

jisepij ,0

,1)0( .

Com base no teorema da probabilidade total e na definição de probabilidade

de transição para n passos, )|()( 1 iXjXPnp nnij === − , tem-se a expressão (5.8) para o

cálculo da probabilidade do estado j em n passos

)()0()()( nppjXPnp iji

inj === . (5.8)

Page 159: PESQUISA OPERACIONA

157

A partir da expressão (5.8) podemos concluir que a matriz nP é relacionada

à distribuição inicial de probabilidades, )0(p , definida pela expressão (5.5), e ao vetor de

probabilidades de estados para n passos, através da expressão (5.9)

nPpnp )0()( = . (5.9)

Esta expressão pode ser deduzida pela aplicação do Princípio da Indução

Matemática, a exemplo do que foi feito durante a solução do Exemplo 5.1 para o caso

particular de um processo de 2 estados.

Em relação à expressão (5.9), se o espaço de estados S do processo de

Markov nX for finito, então o cálculo de nP é relativamente fácil. Para processos de

Markov com espaços de estados contáveis, porém infinitos, o cálculo de nP não é trivial.

Contudo, existem métodos para determinar o comportamento assintótico, isto é, quando

∞→n , de )(np e nP .

5.3.2 Cadeias de Markov

Uma forma visual conveniente para representar um processo de Markov é

através de um grafo que se compõe de nós, que são os estados, e arcos direcionados que

simbolizam as transições entre estados. Este grafo é denominado diagrama de transição.

Definição 5.5: (Cadeia de Markov) A seqüência nX , ,2,1,0=n , é chamada uma cadeia

de Markov homogênea de tempo discreto, com espaço de estados ,,2,1,0 MS = , e

matriz de probabilidades de transição, P , se para todo ,2,1,0=n a condição

ijnn piXjXPiXjXP ====== − )|()|( 011

é satisfeita para todo SSji ×∈),( .

Considere o exemplo apresentado a seguir.

Page 160: PESQUISA OPERACIONA

158

Exemplo 5.2: Considere o problema enunciado no Exemplo 5.1. Desejamos utilizar a

representação sob a forma de diagrama de transição de uma cadeia de Markov para expressar

o problema daquele enunciado.

Identificamos dois estados, portanto, 1=M , e o espaço de estados

é 1,0=S . O produto cartesiano, SS × , é )1,1(),0,1(),1,0(),0,0( . A matriz de

probabilidades de transição para um passo é a seguinte:

=→

=

43

41

21

21

1110

0100 Ppp

ppP .

O grafo que corresponde à cadeia de Markov para este exemplo é ilustrado

na Figura 5.2.

Figura 5.2: Diagrama de transição de uma cadeia de Markov com dois estados.

A análise de cadeias de Markov utilizando matriz de probabilidades de

transição pode ser efetuada tomando-se certas precauções tendo em vista que nem todos os

processos de Markov de tempo discreto comportam-se de modo semelhante à medida que o

número de passos aumenta.

Surge então a necessidade de uma classificação das cadeias de Markov.

5.3.3 Classificação das cadeias de Markov

Os estados de um processo de Markov são divididos em transitório e

recorrente. Esta classificação diz respeito à probabilidade do processo retornar a um dado

estado i se o processo partiu deste estado.

0 1 2

101 =p

43

11 =p 2100 =p

4110 =p

Page 161: PESQUISA OPERACIONA

159

Seja iif a probabilidade de que o processo retornará ao estado i dado que o

processo tenha partido deste estado, então segue a definição de estado recorrente.

Definição 5.6: (Estado recorrente) Um estado i é recorrente se e somente se, partindo do

estado i , o processo eventualmente retornará ao estado i com probabilidade 1=iif .

O processo cuja cadeia de Markov foi apresentada no Exemplo 5.2 possui

ambos os estados recorrentes. Outro exemplo de estados recorrentes corresponde à matriz de

probabilidades de transição mostrada a seguir:

=

0110

P .

Uma cadeia de Markov com dois estados recorrentes está ilustrada na Figura

5.3.

Figura 5.3: Diagrama de transição de uma cadeia de Markov com dois estados recorrentes.

Estados transitórios, também conhecidos como não recorrentes, são aqueles

que, partindo do estado i , há uma probabilidade positiva de que o processo não retornará a

esse estado (isto é, 1<iif ). Estados recorrentes e transitórios podem coexistir numa mesma

cadeia de Markov. A caracterização de estados transitórios não é trivial e, por esta razão, os

detalhes de processos de Markov desse tipo não serão enfatizados neste texto.

Um tipo especial de estado recorrente é o estado absorvente cuja definição é

estabelecida a seguir, conforme a referência (TRIVEDI, 2002).

Definição 5.7: (Estado absorvente) Um estado i é dito ser um estado absorvente se e somente

se a probabilidade iip é igual a 1.

1 111 =p 0 100 =p

Page 162: PESQUISA OPERACIONA

160

A cadeia cujo diagrama de transição está ilustrado na Figura 5.3 tem ambos

os estados absorventes.

É importante ressaltar que só é possível ‘escapar’ de um estado absorvente

se o processo for reiniciado, ou seja, se o processo partir novamente de qualquer outro estado

que não seja absorvente. Vamos apresentar um exemplo para tornar mais claras as definições.

Exemplo 5.3: Considere um navio com dois sistemas propulsores, que são duas turbinas

idênticas. Seja nX a variável aleatória tal que seu valor é o número de turbinas em operação

normal no passo n . Se uma das turbinas falhar, ela poderá ser consertada, enquanto se ambas

falharem, o navio pára, mas ainda haverá possibilidade de que uma das turbinas seja

consertada sendo esta a reignição do processo de Markov e não a transição para outro estado.

As probabilidades são as seguintes: se uma turbina que nunca passou por reparo é boa no

tempo 1−nt , ela tem confiabilidade de 90% no tempo nt ; porém, uma turbina que se estragou

no tempo 1−nt , após reparada, é apenas 60% confiável no tempo nt . Suponha as

probabilidades independentes e modele o problema como um processo de Markov de tempo

discreto.

Os valores possíveis para a variável X são: 0, 1 e 2, sendo,

respectivamente, duas turbinas estragadas, apenas uma operando e ambas operando. O

modelo de probabilidades sugerido é o Binomial já que os eventos são independentes, ou seja,

a falha de uma turbina não implica na falha da outra, e cada turbina só pode ser encontrada em

uma dentre duas condições.

As probabilidades de transição são calculadas como a seguir.

- ambas em operação, 221 )2|2( pXXP nn === − ,

81,09,09,022 =×=p ;

- uma turbina boa e a outra estragada dado que ambas estavam em operação,

211 )2|1( pXXP nn === − , 18,09,01,01,09,021 =×+×=p ;

- ambas estragadas dado que as duas estavam boas, 201 )2|0( pXXP nn === − ,

01,01 212220 =−−= ppp ;

- uma em operação e a outra entra em operação após o reparo, 121 )1|2( pXXP nn === − ,

Page 163: PESQUISA OPERACIONA

161

54,06,09,012 =×=p ;

- nenhuma em operação dado que apenas uma estava boa, 101 )1|0( pXXP nn === − ,

04,04,01,010 =×=p ;

- uma em operação dado que uma delas estava estragada, 111 )1|1( pXXP nn === − ,

42,01 101211 =−−= ppp .

O estado 0 é absorvente uma vez que entrando nele não se pode abandoná-

lo exceto se o processo partir novamente, portanto, 100 =p .

A matriz de probabilidades de transição para um passo fica conforme está

mostrada:

=10004,042,054,001,018,081,0

012

012

P.

As análises de sistemas cujos modelos são representados por processos de

Markov de tempo discreto para elevado número de passos trazem informações importantes.

No entanto, nem todos os processos comportam-se de maneira idêntica para ∞→n e, por

isso, não permitem que certas conclusões sejam extraídas.

Daí advém a necessidade de estabelecer objetivamente sob quais condições

as probabilidades limites existem e se possuem ou não algum significado físico.

Definição 5.8: (Probabilidade limite ou probabilidade estacionária) Para o estado j de uma

cadeia de Markov, o elemento jv , para Mj ,,1,0 = , é definido como a probabilidade

limite )(lim npv jn

j∞→

= , ou seja, jv é a probabilidade do estado j em regime estacionário.

Em conseqüência, o vetor ][ 10 Mvvvv = é o vetor de regime estacionário.

Nos desenvolvimentos que seguem será mostrado que para determinadas

cadeias nem sempre é possível obter o vetor de probabilidades limites. Uma propriedade

Page 164: PESQUISA OPERACIONA

162

requerida para a existência de jv , tal como definida anteriormente, é que a cadeia seja

aperiódica.

Definição 5.9: (Periodicidade de estados) Se partindo do estado i retornamos a este estado em

um número par ou ímpar (maior que 1) de passos dizemos que o estado é periódico, com

período igual ao menor número inteiro de passos que for necessário para alcançar o estado. A

uma cadeia com estados periódicos designamos cadeia periódica. Por outro lado, será

aperiódica se todos os estados forem aperiódicos.

Uma forma de verificar a periodicidade de estados é visualizar o processo

como uma árvore de probabilidades. Por exemplo, a cadeia cuja matriz é

=

0110

10

10

P,

é periódica com período 2. A árvore de probabilidades ilustrada na Figura 5.4 mostra isto

claramente.

Figura 5.4: Árvore de probabilidades de uma cadeia de Markov com dois estados periódicos.

Por outro lado, ambos os estados da cadeia de Markov da Figura 5.3 são

aperiódicos. Outro exemplo de cadeia com estados aperiódicos é a cadeia cuja árvore está

ilustrada na Figura 5.1. Na árvore da Figura 5.1 é fácil visualizar que, partindo do estado 0, é

possível alcançar o estado 0 em um passo; de modo análogo, se a partida for do estado 1

alcança-se o mesmo estado em um passo.

Em contraposição aos estados absorventes, se todos os estados de uma dada

cadeia de Markov se comunicam a matriz de probabilidades de transição dessa cadeia exibirá

propriedades especiais. A definição de estados comunicantes é dada em seguida.

0 1 0 1

1º passo 2º passo 3º passo

1=n 2=n 3=n

Page 165: PESQUISA OPERACIONA

163

Definição 5.10: (Estados comunicantes) O estado i se comunica com o estado j se, partindo

do estado i , é possível alcançar o estado j direta ou indiretamente, observando-se o sentido

do arco que os une.

Exemplo 5.4: Dadas as matrizes de transição associadas às cadeias de Markov, identificar se

os estados se comunicam ou não. As posições marcadas com * (asterisco) representam

números positivos (probabilidades de transição para um passo).

a)

=*******0*

210

210

P.

Os estados da cadeia de Markov da matriz P são representados pelos

números 1,0 e 2 .

Partindo do estado 1, isto é, segunda linha da matriz, é possível chegar

diretamente a qualquer um dos estados. Na primeira linha, de 0 não conseguimos chegar

diretamente ao estado 1. Todavia, de 0 podemos chegar ao estado 2 e daí alcançamos 1.

Portanto, na cadeia que a matriz P representa todos os seus estados se comunicam.

A outra matriz é mostrada a seguir.

b)

=0**0*0***

210

210

P.

A partir desta matriz é possível construir o diagrama de transição da cadeia,

na qual a existência de seta indica elemento positivo na matriz. A Figura 5.5 ilustra o

diagrama de transição que corresponde à última matriz.

Figura 5.5: Diagrama de transição de uma cadeia de Markov onde o estado 1 é absorvente.

1 0

2

Page 166: PESQUISA OPERACIONA

164

Ao analisarmos a cadeia da Figura 5.5 é imediata a constatação de que os

estados 0 e 2 se comunicam e que o estado 1 não se comunica com os demais.

As cadeias de Markov em que todos os estados podem ser alcançados a

partir de todos os outros estados em um número finito de passos são chamadas de cadeias

irredutíveis. Assim, as cadeias dos Exemplos 5.2 e 5.4(a) são irredutíveis e aperiódicas.

Os autores Hillier e Lieberman demonstram que todos os estados em uma

cadeia de Markov irredutível são recorrentes. Implicando que para identificar se uma cadeia

de Markov é irredutível é o bastante provar que todos os estados do processo se comunicam.

Esta assertiva pode ser colocada de outra forma, mais prática, conforme está exposta no

Teorema 5.1.

Teorema 5.1: Uma condição suficiente para uma cadeia ser identificada como irredutível é

que exista algum número n inteiro não negativo tal que 0)( >npij para todo i e j .

Este teorema fornece uma regra prática para a identificação de cadeias

irredutíveis. Em outras palavras, ao elevarmos a matriz P da cadeia que se quer identificar a

potências n de pequenos valores, por exemplo, 2=n , 3=n , etc., podemos verificar se

existe algum n para o qual 0)( >npij para todo i e j . Em caso afirmativo, a cadeia é

irredutível. A referência (BRONSON, 1985) designa a cadeia que atende à condição do

Teorema 5.1 de cadeia regular.

Vamos aplicar o resultado do Teorema 5.1 para identificar as cadeias cujas

matrizes são dadas no Exemplo 5.5.

Exemplo 5.5: Dadas as matrizes seguintes:

a)

=**0*0*0**

P ; e b)

=

*0*00*0**0*00*0*

P ;

verifique se elas correspondem à cadeias irredutíveis.

Tomamos a matriz P do caso (a) e a elevamos ao quadrado, obtendo-se:

Page 167: PESQUISA OPERACIONA

165

=

=*********

**0*0*0**

**0*0*0**

2P .

Ao efetuarmos o produto simbólico P por P , verificamos que todas as

posições com elementos nulos foram preenchidas, portanto, é correto afirmar que a cadeia é

irredutível (ou regular).

Tomamos a matriz P do caso (b) e a elevamos ao quadrado, obtendo-se:

=

*0*00*0**0*00*0*

2P .

De posse de 2P , é imediata a constatação que a matriz 3P exibe o mesmo

padrão de preenchimentos com elementos positivos observado em P . Conseqüentemente,

todas as potências, 4P , nPP ,,5 exibirão padrões semelhantes ao de P . É possível

concluir que não existe n de tal modo que 0)( >npij . Isto implica que a cadeia em questão

não é irredutível. Conclusão idêntica pode ser extraída se aplicarmos o resultado do Teorema

5.1 à matriz do Exemplo 5.4(b), confirmando assim a identificação feita pelo método dos

estados comunicantes.

Para complementar a seção que trata da classificação das cadeias de

Markov, considere a definição de estado recorrente positivo (ou não nulo).

Definição 5.11: (Estado recorrente positivo) O estado i é recorrente positivo se, partindo do

estado i , o tempo esperado para o processo visitar novamente este estado é finito. Por outro

lado, ao partir do estado i se o tempo esperado para o processo visitar este estado for infinito,

o estado é dito recorrente nulo.

O tempo esperado para um processo re-visitar o estado i , também

conhecido como tempo médio de recorrência, é definido pela esperança matemática indicada

pela expressão (5.10)

=∞

=1)(

niiii nnfµ , para 1)(

1=

=nii nf ,

(5.10)

Page 168: PESQUISA OPERACIONA

166

onde, )(nfii é a probabilidade de re-visitar o estado i em n passos. O tempo esperado para um processo que tenha partido do estado i , após

n passos, retornar ao estado j , também conhecido como tempo de primeira passagem, é

definido conforme (5.11)

=∞

=1)(

nijij nnfµ ,

(5.11)

onde, )(nfij é a probabilidade em n passos de visitar o estado j se o processo partiu do

estado i .

Dado que 1)(1

=∞

=nij nf para SSji ×∈),( , onde, ,,2,1,0 MS = , as

probabilidades )(nfij podem ser calculadas pelas relações recursivas (5.12)

ijijij ppf == )1()1( ,

jjijijij pfpf )1()2()2( −= ,

jjijjjijjjijijij pnfnpfnpfnpnf )1()2()2()1()1()()( −−−−−−= .

(5.12)

A aplicação das expressões (5.10) a (5.12) será feita posteriormente.

Estados recorrentes positivos que são aperiódicos são chamados de estados

ergódicos. Conseqüentemente, cadeias que têm todos os estados ergódicos são designadas

como cadeias ergódicas.

5.3.4 Análise de cadeias finitas irredutíveis com estados aperiódicos

As cadeias finitas de Markov cujos estados são recorrentes positivos e

aperiódicos gozam de uma propriedade singular, que está expressa no Teorema 5.2

(TRIVEDI, 2002).

Teorema 5.2: Para uma cadeia irredutível e aperiódica, com todos os estados recorrentes

positivos, o vetor de probabilidades limites, ][ 10 Mvvvv = , tal que )(lim npv jn

j∞→

= ,

Page 169: PESQUISA OPERACIONA

167

é o único vetor de probabilidades de regime estacionário e satisfaz as relações (5.13) e (5.14),

a saber:

vPv = , (5.13)

10

==

M

jjv , 0≥jv .

(5.14)

O cálculo do vetor v pode ser efetuado usando o computador através da

equação iterativa Pvv kk )()1( =+ , para ,2,1,0=k , arbitrando um vetor de estimativa

inicial )0(v , até que a convergência seja alcançada. Uma maneira alternativa para a obtenção

de v é o método analítico: constrói-se o sistema (5.13) e troca-se uma das 1+M equações

lineares pela relação (5.14), para, em seguida, solucionar o sistema de equações resultante.

Vamos aplicar o resultado do Teorema 5.2 para calcular as probabilidades

estacionárias dos estados do sistema do Exemplo 5.1.

Exemplo 5.6: Dado que a cadeia do Exemplo 5.1 atende as condições do Teorema 5.2, isto é,

é irredutível e aperiódica com estados recorrentes positivos, calcule as probabilidades de

regime estacionário.

Primeiramente, vamos utilizar a equação de iteração tomando o vetor inicial

]01[)0( =v , que para este exemplo fica conforme está mostrada a seguir:

,][][4

34

12

12

1)(

1)(

0)1(

1)1(

0

=++ kkkk vvvv com ]01[)0( =v .

A Tabela 5.2 resume os cálculos iterativos.

Tabela 5.2: Iterações para obtenção do vetor de probabilidades de regime estacionário.

k )(kv )1( +kv )()1( kk vv −+ 0 ]01[ ]500,0500,0[ ]500,0500,0[− 1 ]500,0500,0[ ]625,0375,0[ ]125,0125,0[− 2 ]625,0375,0[ ]656,0344,0[ ]031,0031,0[− 3 ]656,0344,0[ ]664,0336,0[ ]108108[ 33 −− ××− 4 ]664,0336,0[ ]666,0334,0[ ]102102[ 33 −− ××−

Page 170: PESQUISA OPERACIONA

168

Em função da precisão requerida nos cálculos, mais iterações podem ser

realizadas. Sugerimos que o leitor repita o procedimento iterativo mostrado anteriormente

tomando qualquer outro vetor )0(v como estimativa inicial.

A Figura 5.6 ilustra a evolução das probabilidades dos estados 0 e 1 à

medida que o número de passos aumenta. Ressaltamos nestes cálculos a coincidência entre o

número de passos n e o contador de iterações k .

Os gráficos ilustrados na Figura 5.6 merecem alguns comentários. No

gráfico da esquerda, o vetor de probabilidades iniciais é ]01[)0( =p . Enquanto que, no

gráfico da direita, o vetor de probabilidades iniciais é ]10[)0( =p . Observa-se que o vetor

de probabilidades de regime estacionário obtido, ou seja, ])()([][ 1010 ∞∞== ppvvv ,

independe do vetor de probabilidades iniciais.

Regra geral: para qualquer cadeia irredutível aperiódica, as probabilidades

limites dos estados )(lim)(lim npnpv ijn

jn

j∞→∞→

== existem e são independentes do vetor de

probabilidades iniciais )0(p .

Figura 5.6: Probabilidades dos estados em função do número de passos para dois vetores de

probabilidades iniciais distintos.

Page 171: PESQUISA OPERACIONA

169

O leitor é convidado a voltar ao Exemplo 5.1 e traçar um paralelo entre a

solução obtida aqui através do processo iterativo e os cálculos efetuados naquele exemplo.

Agora, o cálculo das probabilidades estacionárias será feito analiticamente.

Para tal, com base na expressão (5.13) obtemos o sistema de equações:

=

43

41

21

21

1010 ][][ vvvv →

=+−

=−

0

0

141

021

141

021

vv

vv.

Como as equações são linearmente dependentes, substitui-se a segunda

equação (arbitrou-se a segunda, mas poderia ser a primeira) pela equação (5.14). O sistema de

equações assim obtido é o seguinte:

=+=−1

0

10

141

021

vv

vv.

A solução deste sistema nos fornece ][ 32

31=v , que é a mesma solução

para a qual converge o método iterativo.

Ao estudar processos de Markov é natural a expectativa do leitor por

conhecer as aplicações dessa interessante teoria em problemas do mundo real. A interpretação

física dos resultados obtidos com os cálculos e a tradução desses resultados para a linguagem

natural são etapas essenciais para a compreensão do comportamento do sistema sob análise.

Neste contexto, apresentamos em seguida algumas interpretações relevantes:

- a probabilidade de regime estacionário, iv , é a porcentagem do tempo total

considerado que o processo permanece no estado i ;

- para cadeias ergódicas, o recíproco da probabilidade de regime

estacionário, designado por iiµ , é o tempo esperado de recorrência do estado i , isto é,

iii v

1=µ , para Mi ,,2,1,0 = ,

onde, iiµ é o tempo médio do processo re-visitar o estado i ;

Page 172: PESQUISA OPERACIONA

170

- seja f uma função da variável aleatória X , por exemplo, custos

financeiros associados aos estados. As probabilidades estacionárias iv podem ser utilizadas

para calcular a esperança matemática de )(Xf , assim:

==

M

ii ifvXfE

0)())(( .

(5.15)

Em seguida, apresentamos um exemplo que permite a interpretação dos

resultados obtidos de maneira mais prática.

Exemplo 5.7: Uma fábrica possui duas máquinas idênticas essenciais ao processo de

manufatura e são operadas continuamente, exceto quando elas estão quebradas. Devido ao

fato que essas máquinas são muito sensíveis e quebram freqüentemente, é necessário

remunerar em tempo integral um técnico para reparar a máquina quando ocorrer alguma falha.

Suponha que o intervalo de tempo de observação seja de um dia e que a variável

aleatória nX representa o número de máquinas quebradas no dia n . Os valores possíveis para

a variável aleatória são 1,0=nX e 2 . Admita que durante cem dias de observações foram

anotadas as situações das duas máquinas, chegando-se às probabilidades de transições dos

estados para 1 dia, que estão mostradas na matriz P :

=100

1

602020204040402040

012

012

P

=6,02,02,02,04,04,04,02,04,0

012

012

P.

Outro dado importante é que custos de estar nos estados 0, 1 e 2 são, respectivamente, $ 0,00,

$ 1.500,00 e $ 10.000,00, e há também o custo fixo de remuneração do técnico, que é $

100,00 ao dia. O custo de duas máquinas paradas é alto porque implica na parada da linha de

produção, podendo causar sérios transtornos à fábrica. A partir das probabilidades de regime

estacionário, calcule:

(a) se ambas as máquinas se estragam, a probabilidade que o tempo para consertar uma dessas

máquinas seja de dois dias;

Page 173: PESQUISA OPERACIONA

171

(b) na ocorrência de ambas as máquinas fora de operação, em quantos dias espera-se que esta

situação ocorra novamente;

(c) o número esperado de dias de ociosidade do técnico;

(d) o custo por dia a longo prazo para manter as máquinas.

A partir da matriz, conclui-se que a cadeia é irredutível e aperiódica, com

estados recorrentes positivos. Por isso, podemos aplicar o Teorema 5.2 para calcular o vetor

v , donde obtemos:

]4375,02500,03125,0[=v .

Para responder o item (a) precisamos calcular a probabilidade que o tempo

de primeira passagem do estado 0 ao estado 1 seja igual a 2 dias, ou seja, )2(01f . Utilizamos

então as relações recursivas para obter )2(01f

2,0)1()1( 010101 =→= fpf ,

11010101 )1()2()2( pfpf −= .

Para concluir o item (a), precisamos calcular )2(01p .

=

=48,024,028,036,028,036,044,024,032,0

6,02,02,02,04,04,04,02,04,0

6,02,02,02,04,04,04,02,04,0

2P → 24,0)2(01 =p .

Portanto, a probabilidade que o tempo para consertar uma dessas máquinas seja de dois dias é

igual a:

16,0)2(4,02,024,0)2()1()2()2( 010111010101 =→×−=→−= ffpfpf .

O item (b) pede o tempo de recorrência para o estado 2. Basta

calcular2

221v

=µ , resultando no seguinte valor:

Page 174: PESQUISA OPERACIONA

172

3125,0122 =µ → 2,322 =µ dias.

Para o item (c), o número esperado de dias de ociosidade do técnico

corresponde aos dias em que ambas as máquinas ficam em operação, ou seja, é o tempo de

recorrência do estado 0,

4375,0100 =µ → 3,200 =µ dias.

Finalmente, para o item (d), o custo por dia a longo prazo para manter as

máquinas é a esperança matemática da função custo em regime estacionário.

00,000.103125,000,500.125,000,04375,0))(( ×+×+×=XfE → 00,500.3))(( =XfE .

Devemos adicionar ao valor obtido anteriormente o custo fixo devido à remuneração do

técnico. Portanto, o custo por dia a longo prazo para manter as máquinas é $ 3.600,00.

As cadeias de Markov analisadas nesta seção exibem a propriedade especial

de que a potência nP para n tendendo ao infinito resulta numa matriz cujas linhas são todas

iguais. A expressão (5.16) exprime a mencionada propriedade de forma mais clara

=∞→

M

M

M

n

n

vvv

vvv

vvv

P

10

10

10

lim .

(5.16)

Por exemplo, a matriz do Exemplo 5.6 ao ser elevada a expoentes cada vez

mais altos resulta na seguinte matriz:

=

=

∞→∞→ 32

31

32

31

43

41

21

21

limlimn

n

n

nP .

Esta é uma propriedade inerente às cadeias finitas irredutíveis e aperiódicas.

No entanto, cadeias que possuem estados absorventes constituem uma classe especial de

Page 175: PESQUISA OPERACIONA

173

processos que não exibem tal propriedade. Por exemplo, a matriz do Exemplo 5.3 é um caso

que não atende à propriedade.

5.3.5 Análise de cadeias finitas com estados absorventes

O estudo das cadeias de Markov finitas com estados absorventes requer que

a matriz de probabilidades de transição P seja expressa de modo especial. Isto implica que as

linhas de P que correspondem aos estados não absorventes devem ser arranjadas em primeiro

lugar e, em seguida, nas últimas linhas figuram os estados absorventes.

A expressão (5.17) mostra uma representação na forma canônica da matriz

de probabilidades de transição quando há estados absorventes,

=→

= +

+

I

CQP

ccqq

ccqq

P rsrrrrr

srr

0

1000

010011

111111

,

estados não absorventes Q C estados absorventes 0 I

(5.17)

O cálculo da potência nP passa pelo seguinte desenvolvimento.

Primeiramente, para k natural, prova-se que kP é igual a identidade (5.18)

=

I

CQPk

k

0

~,

(5.18)

onde, o elemento da posição ),( ji da matriz kQ denota a probabilidade de chegar ao estado

não absorvente j após k passos partindo do estado não absorvente i , enquanto que C~

denota

a submatriz C após k passos.

Uma das informações mais relevantes na análise de cadeias absorventes é o

número esperado de passos em que o processo ficará no estado não absorvente i antes da

absorção. Considere o seguinte teorema.

Page 176: PESQUISA OPERACIONA

174

Teorema 5.2: Para uma cadeia de Markov com pelo menos um estado absorvente, o número

esperado de passos para a absorção partindo do estado não absorvente i é o somatório dos

elementos da −i ésima linha da matriz 1)( −− QI .

Uma prova deste teorema fundamenta-se no fato de que para o processo

alcançar a absorção este deve transitar antes por todos os estados não absorventes nos passos

∞,,2,1,0 . Assim, o número esperado de passos antes da absorção se o processo partiu do

estado não absorvente i é a −i ésima linha da matriz que resulta do somatório

∞∞

=++ ++= QQQQQ

k

k

0

20 ,

lembrando que IQ =0 e que a norma da matriz Q seja menor que 1 (isto é, 1<Q ).

Finalmente, recorremos às séries convergentes, neste caso, aplicadas a

matrizes, que nos permite concluir que o somatório anterior é igual à matriz 1)( −− QI .

A matriz 1)( −− QI é designada como matriz fundamental e é uma rica fonte

de informação sobre cadeias de Markov. Os elementos dessa matriz dão os números de passos

(ou os números de vezes) que o processo visita os estados não absorventes antes de alcançar a

absorção (vide expressão (5.12)).

Antes de passarmos a um exemplo de aplicação vamos estabelecer mais um

conceito importante sobre cadeias absorventes. Suponhamos que o processo tenha partido do

estado não absorvente i e desejamos calcular a probabilidade de absorção no estado j . Note-

se que aqui o índice j indica um estado absorvente.

Teorema 5.4: Para uma cadeia de Markov com pelo menos um estado absorvente, a

probabilidade do processo que partiu do estado não absorvente i ser absorvido no estado j é

o elemento da posição ),( ji da matriz que resulta do produto CQI 1)( −− .

A demonstração deste teorema é deixada como exercício para o leitor. A

referência (SHAMBLIN, 1989) traz um argumento que pode auxiliar o leitor nesta tarefa.

Page 177: PESQUISA OPERACIONA

175

Outra forma possível para se concluir pela validade do Teorema 5.4 é

mostrar que o limite n

nPlim

∞→ comporta-se como mostrado a seguir (TRIVEDI, 2002).

−=

=

∞→∞→ I

CQII

CQP

n

n

n

n 0)(0

0limlim

1.

(5.20)

Estamos de posse de métodos e informações que permite resolver um

exemplo de aplicação.

Exemplo 5.8: Considere o problema do enunciado do Exemplo 5.3. Ambas as turbinas em

falha constituem um estado absorvente, do qual só se pode escapar se uma das turbinas puder

ser consertada enquanto o navio estiver completamente parado, ou, se de algum modo,

turbinas novas puderem ser transportadas ao navio. Desejamos determinar o tempo médio (ou

seja, o número de passos) para o navio paralisar totalmente suas máquinas supondo que ele se

encontra com ambas as turbinas operando normalmente. Calcule também as probabilidades de

absorção.

Do Exemplo 5.3, temos que a matriz de probabilidades de transição para

este problema é a seguinte:

=10004,042,054,001,018,081,0

012

012

P.

De acordo com a expressão (5.18), as matrizes Q , C e I são como dadas a

seguir.

=

42,054,018,081,0

Q ,

=

04,001,0

C e [ ]1=I .

Page 178: PESQUISA OPERACIONA

176

A primeira pergunta refere-se ao número de passos para alcançar o estado

absorvente 0 tendo partido do estado 2. Portanto, necessitamos calcular a matriz 1)( −− QI .

−−

=

=−

58,054,018,019,0

42,054,018,081,0

1001

QI ,

=

−−

=−−

−6154,145385,418462,186154,44

58,054,018,019,0

)(1

1QI .

A matriz fundamental 1)( −− QI é então da seguinte forma:

=− −

6154,145385,418462,186154,44

12

)( 1QI .

A resposta à primeira questão é a soma dos elementos da primeira linha da

matriz fundamental, que resulta em 4616,638462,186154,44 =+ . Isto significa que se duas

turbinas estiverem em operação, o número esperado de passos até que as duas se estraguem é

de 63,5 unidades de tempo.

As probabilidades de absorção são calculadas com base no Teorema 5.4.

=

=

−−

=−−

−000,1000,1

04,001,0

6154,145385,418462,186154,44

04,001,0

58,054,018,019,0

)(1

1CQI .

=− −

000,1000,1

12

)( 1CQI .

Partindo do estado com duas turbinas, a probabilidade de absorção é igual a

1. Do mesmo modo, partindo do estado com uma turbina, a probabilidade de absorção é

também igual a 1.

As probabilidades para alcançar a absorção partindo de qualquer um dos

estados não absorventes nem sempre são iguais a unidade. Isto ocorreu neste exemplo porque

na cadeia de Markov analisada há apenas um estado absorvente. O exemplo que será

apresentado a seguir considera uma cadeia com dois estados absorventes e tem por objetivo

Page 179: PESQUISA OPERACIONA

177

principal mostrar uma forma alternativa ao Teorema 5.3 de se calcular os tempos médios para

absorção.

Exemplo 5.9: Um reservatório de uma usina hidrelétrica é utilizado com a finalidade de

prover renda adicional à população que habita suas vizinhanças através da atividade

pesqueira. Periodicamente, a companhia que detém a concessão supre o reservatório com

alevinos, que se tornarão adultos, procriarão e também servirão ao propósito da pesca.

Estudos mostraram que existem dois bons estados para pesca, os quais serão designados por

2s e 3s . No entanto, se a atividade pesqueira for intensificada, a população de peixes pode

cair a níveis em que a pesca precisa ser interrompida por certo tempo. Além disso, por causas

naturais, o crescimento excessivo da população de plantas aquáticas (algas e outras) pode

alcançar um nível a ponto de prejudicar a pesca, levando também a suspensão da atividade,

que somente será retomada após a limpeza do lago. Este sistema físico foi modelado como um

processo de Markov em que o período de tempo considerado razoável para ser tomado como

unidade de tempo é de um mês (isto significa que um passo equivale ao tempo de um mês). O

estado que corresponde a inserção de alevinos no reservatório é um estado transitório e é

denotado por 1s . Os estados de interrupção da pesca por redução do número de peixes e

suspensão da atividade por poluição aquática são simbolizados, respectivamente, por 4s e 5s ,

sendo estes estados absorventes. As probabilidades de transição foram levantadas por

métodos estatísticos e estão indicadas na matriz mostrada a seguir. Desejamos conhecer o

comportamento deste processo no regime estacionário. Determine os tempos de primeira

passagem partindo de estados não absorventes até os estados absorventes. Calcule também a

probabilidade de absorção no estado 4s se o processo partiu do estado transitório.

=

10000010001,02,02,05,001,01,07,01,001,01,008,00

5

4

3

2

1

54321

s

s

s

s

s

P

sssss

.

Page 180: PESQUISA OPERACIONA

178

O grafo da cadeia de Markov deste exemplo está ilustrado na Figura 5.7 a

título de ilustração apenas. Note-se nesta figura o estado transitório 1s e os estados

absorventes 4s e 5s .

Figura 5.7: Diagrama de transição da cadeia de Markov do modelo de piscicultura do

reservatório.

Os tempos médios para alcançar a absorção, que são os números esperados

de meses para atingir os estados absorventes, podem ser calculados pela aplicação do

Teorema 5.3, de maneira análoga ao que foi feito no exemplo anterior.

−−

−=

=−8,05,007,09,00

08,01

2,05,007,01,00

08,00

100010001

QI →

=

−−

−=−

43,235,1089,116,2051,173,11

8,05,007,09,00

08,01)(

1

1QI .

A matriz fundamental 1)( −− QI é então da seguinte forma:

2s 1s

5s

4s 3s

8,0

1,0 1,0

1,0

7,0 1,0 5,0 1,0

2,0

1,0

1

1

2,0

Page 181: PESQUISA OPERACIONA

179

=− −

43,235,1089,116,2051,173,11

)(

3

2

11

s

s

s

QI .

Os passos esperados antes da absorção são mostrados na Tabela 5.3.

Tabela 5.3: Cálculos dos passos esperados antes da absorção a partir dos elementos da matriz

fundamental.

Estado não absorvente de partida Passos esperados antes da absorção

1s 24,451,173,11 =++ meses

2s 05,489,116,2 =+ meses

3s 78,343,235,1 =+ meses

Os passos calculados na Tabela 5.3 são os tempos para absorção partindo de

estados não absorventes.

As probabilidades de absorção são obtidas aproveitando-se a matriz

fundamental com base no procedimento proposto no Teorema 5.4.

=− −

1,02,01,01,01,01,0

43,235,1089,116,2051,173,11

)( 1CQI ,

=− −

38,062,041,059,0

42,058,0

)(

3

2

11

54

s

s

s

CQI

ss

.

A probabilidade de absorção no estado 4s se o processo partiu do estado

transitório é 58,0 .

Os números que figuram na matriz obtida anteriormente podem ser obtidos

aplicando o processo iterativo estabelecido na seção 5.3.4 que foi também utilizado no

Exemplo 5.6. Arbitrando o vetor inicial [ ]00001)0( =v , após trinta iterações, obtém-

Page 182: PESQUISA OPERACIONA

180

se o vetor [ ]4243,05756,00001,00001,00)30( =v . Os dois últimos elementos de )30(v

referem-se aos estados absorventes.

Um método alternativo de obtenção dos tempos de primeira passagem usa

as fórmulas recursivas (5.12) e (5.13). A aplicação dessas fórmulas exige cálculos sucessivos

de potências da matriz de probabilidades de transição, o que implica necessariamente no

emprego de computador (HILLIER e LIEBERMAN, 1995).

Vamos exemplificar os cálculos supondo 1s o estado de partida, ou seja,

.1=i Para 4=j , temos:

1,0)1()1( 1414 == pf ,

44141414 )1()2()2( pfpf −= → 11,018,0)2(14 ×−=f → 08,0)2(14 =f ,

441444141414 )2()2()1()3()3( pfpfpf −−= → 108,011,03,0)3(14 ×−×−=f → → 12,0)3(14 =f ,

4414441444141414 )3()2()2()3()1()4()4( pfpfpfpf −−−= → → 112,0108,011,03624,0)4(14 ×−×−×−=f → 0624,0)4(14 =f ,

44144414441444141414 )4()2()3()3()2()4()1()5()5( pfpfpfpfpf −−−−= → 10624,0112,0108,011,04207,0)5(14 ×−×−×−×−=f → ,0583,0)5(14 =f .

Para 5=j , temos:

1,0)1()1( 1515 == pf ,

55151515 )1()2()2( pfpf −= → 11,018,0)2(15 ×−=f → 08,0)2(15 =f ,

551555151515 )2()2()1()3()3( pfpfpf −−= → 108,011,0244,0)3(15 ×−×−=f → → 064,0)3(15 =f ,

5515551555151515 )3()2()2()3()1()4()4( pfpfpfpf −−−= → → 1064,0108,011,02896,0)4(15 ×−×−×−=f → 0456,0)4(15 =f ,

55155515551555151515 )4()2()3()3()2()4()1()5()5( pfpfpfpfpf −−−−= → 10456,01064,0108,011,03244,0)5(15 ×−×−×−×−=f → ,0348,0)5(15 =f .

Obviamente os cálculos devem continuar até um valor de n considerado

alto. A Tabela 5.4 mostra os resultados parciais obtidos com o uso do computador.

Aplicamos então a expressão (5.12) duas vezes, resultando em 14µ e em 15µ .

2,544814 =µ e 1,698115 =µ .

Page 183: PESQUISA OPERACIONA

181

Adicionando os dois tempos médios, encontramos o número esperado de

passos antes da absorção partindo do estado 1s , 2429,46981,15448,2 =+ meses. Este

resultado se arredondado com duas casas decimais é o mesmo obtido anteriormente através da

matriz fundamental (vide Tabela 5.3).

Tabela 5.4: Valores de )(14 kf e )(15 kf para 40,,2,1 =k .

)(14 kf )(15 kf 0,1000 0,0091 0,0005 0,0000 0,1000 0,0058 0,0003 0,0000 0,0800 0,0068 0,0004 0,0000 0,0800 0,0043 0,0002 0,0000 0,1200 0,0050 0,0003 0,0000 0,0640 0,0032 0,0002 0,0000 0,0624 0,0037 0,0002 0,0000 0,0456 0,0024 0,0001 0,0000 0,0583 0,0028 0,0001 0,0000 0,0348 0,0018 0,0001 0,0000 0,0381 0,0021 0,0001 0,0000 0,0255 0,0013 0,0001 0,0000 0,0307 0,0015 0,0001 0,0000 0,0191 0,0010 0,0001 0,0000 0,0218 0,0011 0,0001 0,0000 0,0142 0,0007 0,0000 0,0000 0,0167 0,0009 0,0000 0,0000 0,0106 0,0005 0,0000 0,0000 0,0122 0,0006 0,0000 0,0000 0,0078 0,0004 0,0000 0,0000

O livro intitulado Matrix Analysis and Applied Linear Algebra, uma

publicação da SIAM de autoria de Carl D. Meyer, traz interessante abordagem sobre a Teoria

de Perron-Frobenius, que pode auxiliar o leitor na compreensão deste capítulo

especificamente no que se refere ao tratamento de matrizes estocásticas.

Existem processos estocásticos com características de processos de Markov

em que o tempo não é uma variável discreta, embora os estados sejam discretos. Esta classe

de processos markovianos será estudada na seção seguinte.

5.4 Processos de Markov de tempo contínuo

Processos de Markov de tempo contínuo são similares aos processos de

Markov de tempo discreto exceto pelo fato de que as transições entre estados podem ocorrer

em qualquer instante de tempo. O conjunto que denota o espaço de estados do processo, a

exemplo dos processos de Markov estudados anteriormente, é discreto, podendo ser finito ou

infinito.

Com o objetivo de caracterizar precisamente os processos markovianos de

tempo contínuo, buscaremos a seguir estabelecer formalmente as relações que regem seu

comportamento.

Page 184: PESQUISA OPERACIONA

182

Em primeiro lugar, a Definição 5.1 se aplica aos processos de Markov de

tempo contínuo, em particular a expressão (5.3). Resta definir probabilidades de transição.

Definição 5.12: (Probabilidades de transição) Sejam dois estados i e j , o instante de tempo u

tal que tu ≤≤0 , e )(tX e )(uX as variáveis aleatórias discretas que contêm os números dos

estados nos tempos t e u , respectivamente, a probabilidade de transição ),( tupij é definida

pela probabilidade condicional

))(|)((),( iuXjtXPtupij === ,

sendo i , j ,2,1,0= , e

≠=

=ji

jittpij se,0

se,1),( .

As cadeias de Markov 0;)( ≥ttX são designadas como cadeias tempo-

homogêneas se as probabilidades de transição ),( tupij dependem somente da diferença de

tempos ut − .

Para definirmos completamente um processo de Markov de tempo contínuo

precisamos definir as probabilidades dos estados, )(tp j no instante t , para j ,2,1,0= .

Definição 5.13: (Probabilidade de estado) A probabilidade do processo ser encontrado no

estado j no instante de tempo t é definida por

))(()( jtXPtp j == .

Com base no teorema da probabilidade total, expressamos ))(( jtXP =

como o somatório:

===i

iuXPiuXjtXP ))(())(|)(( ,

de modo que, para 0=u , resulta na expressão:

Page 185: PESQUISA OPERACIONA

183

=i

jijj ptptp )0(),0()( . (5.21)

A expressão (5.21) mostra que um processo de Markov de tempo contínuo

está completamente definido se as probabilidades de transição e o vetor inicial de

probabilidades dos estados, )]0()0()0([)0( 10 Mpppp = , são especificados,

para 1+M estados.

Em seguida, apresentaremos uma conseqüência notável das propriedades

dos processos de Markov de tempo contínuo.

Uma propriedade inerente às cadeias de Markov de tempo contínuo do tipo

tempo-homogêneas é que o futuro do processo é completamente definido no estado presente.

Portanto, a distribuição da variável aleatória tempo de permanência de um processo em um

dado estado deve ser ‘sem memória’. Designando por Y tal variável aleatória, a seguinte

probabilidade condicional

)()|( rYPtYrtYP ≤=≥+≤

descreve objetivamente essa propriedade.

Para auxiliar o leitor na compreensão desse conceito foi elaborada a Figura

5.8, na qual estão ilustradas no eixo dos tempos as localizações de t e r , sendo ],[ rttY +∈ .

A variável r é uma variável auxiliar que, no decorrer da análise, tenderá a zero.

Figura 5.8: Localização de variáveis no eixo dos tempos.

Com base na referência (TRIVEDI, 2002), segue então o teorema.

Teorema 5.5: Para cadeias de Markov tempo-homogêneas, a variável aleatória tempo que o

processo gasta (ou permanece) num dado estado possui distribuição exponencial negativa com

taxa igual a β .

tempo 0 r t rt +

futuro presente

Page 186: PESQUISA OPERACIONA

184

A demonstração deste teorema é como segue. Seja )(tfY a função

densidade de probabilidade exponencial, tal que tY etf ββ −=)( , ),0[ ∞∈t ,

dttdF

tf YY

)()( = ,

de modo que genericamente )()( tYPtFY ≤= . A derivada de )(tFY será denotada por )(' tFY .

Do conceito de probabilidade condicional (propriedade ‘sem memória’)

advém a expressão

)(1)()(

)()(

)()(

tFtFrtF

rFtYP

rtYtPrYP

Y

YYY −

−+=→≥

+≤≤=≤ .

Se dividirmos ambos os membros da expressão anterior por r e tomarmos o

limite para 0→r teremos a equação diferencial seguinte (lembremos do quociente de

Newton do Cálculo Diferencial e Integral):

)(1)(

)0('

'tF

tFF

Y

YY −

= ,

cuja solução é a função exponencial

tFY

YetF )0('1)( −−= → t

Y etF β−−= 1)( .

Portanto, a função densidade de probabilidade para a variável aleatória

tempo gasto num dado estado das cadeias de Markov do tipo tempo-homogêneas é a

exponencial com taxa β .

Nas análises de cadeias de Markov de tempo contínuo necessitamos da

definição de taxa de transição entre dois estados (TRIVEDI, 2002).

Definição 5.14: (Taxa de transição) À função contínua não negativa )(tqij definida por

ut

ijij t

utptq

=∂∂

=),(

)(

damos o nome de taxa de transição do processo do estado i para o estado j .

Page 187: PESQUISA OPERACIONA

185

Para uma cadeia de Markov de tempo contínuo, as taxas de transição e as

probabilidades dos estados são relacionadas por meio da equação de Kolmogorov mostrada

em (5.22) (TRIVEDI, 2002).

+−=≠ ji

iijjjj tptqtptq

dt

tdp)()()()(

)(.

(5.22)

Na equação (5.22), )(tqij é a taxa de transição estabelecida na Definição

5.14 e jq é o somatório das taxas de transição do estado j aos estados adjacentes.

Vamos ilustrar a aplicação da equação (5.22) para uma cadeia de dois

estados que está ilustrada na Figura 5.9 com suas taxas de transição.

Figura 5.9: Diagrama de transição de uma cadeia de Markov de tempo contínuo com dois

estados.

Observando o diagrama da Figura 5.9, tem-se que:

010 qq = e 101 qq = .

Escreveremos em seguida, para cada estado, a equação (5.22):

110000 pqpq

dtdp +−= ,

001111 pqpq

dtdp +−= .

Para efeito de simplificação admitiremos as taxas de transição constantes e a

seguinte notação: λ=01q e µ=10q . Em regime estacionário, as equações diferenciais

reduzem-se a equações algébricas linearmente dependentes.

01q

1 0

10q

)(1 tp )(0 tp

Page 188: PESQUISA OPERACIONA

186

0)()( 10 =∞+∞− pp µλ , 0)()( 01 =∞+∞− pp λµ .

Negligenciamos uma das equações e utilizamos o fato de

que 1)()( 10 =∞+∞ pp para obter as probabilidades dos estados em regime estacionário.

µλµ+

=∞)(0p ,

µλλ+

=∞)(1p .

É interessante neste ponto do texto estabelecer a notação correta para

probabilidades dos estados em regime estacionário, que é basicamente a mesma utilizada na

seção que tratou de processos de Markov de tempo discreto, de acordo com a Definição 5.8.

A probabilidade limite ou probabilidade estacionária para o estado j é dada

pelo limite )(lim tpv jt

j ∞→= . Para tornar mais clara a análise da cadeia de dois estados feita

anteriormente considere o exemplo apresentado a seguir.

Exemplo 5.10: Calcular as probabilidades instantâneas dos estados 0 e 1 que constam do

diagrama de transição da Figura 5.9. Uma vez calculadas as funções )(0 tp e )(1 tp , determine

pela aplicação de limite para ∞→t as probabilidades estacionárias.

Dos cálculos efetuados anteriormente, tem-se:

100 pp

dtdp µλ +−= ,

011 pp

dtdp λµ +−= .

Para qualquer instante t , a soma 1)()( 10 =+ tptp deve se verificar. Depois

de realizadas substituições, chegamos às equações diferenciais de primeira ordem seguintes:

µµλ =++ 00 )( p

dtdp

,

λµλ =++ 11 )( p

dtdp

.

Page 189: PESQUISA OPERACIONA

187

Ao resolvermos estas equações, supondo que o processo tenha partido do

estado 0, isto é, 1)0(0 =p e 0)0(1 =p , obtemos as soluções que são as probabilidades

instantâneas dos estados.

tetp )(0 )( µλ

µλλ

µλµ +−

++

+= ,

tetp )(1 )( µλ

µλλ

µλλ +−

+−

+= .

Para concluir o exemplo, supondo 0>+ µλ calculamos os limites das

funções )(0 tp e )(1 tp para ∞→t para obter as probabilidades estacionárias, 0v e 1v .

µλµ

µλλ

µλµ µλ

+=

++

+= +−

∞→∞→

t

ttetp )(

0 lim)(lim → µλ

µ+

=0v ,

µλλ

µλµ

µλλ µλ

+=

+−

+= +−

∞→∞→

t

ttetp )(

1 lim)(lim → µλ

λ+

=1v .

Ficam, dessa forma, estabelecidos os elementos fundamentais que

permitirão a análise de cadeias de Markov de tempo contínuo em regime estacionário.

5.4.1 Análise de cadeias de Markov de tempo contínuo para o regime estacionário

O nosso interesse resume-se aos processos de Markov que tenham

alcançado o regime estacionário. Isto quer dizer que pretendemos aplicar a teoria para análises

de problemas a longo prazo. Do ponto de vista das equações, os modelos serão independentes

da variável tempo e, conseqüentemente, não trataremos com equações diferenciais, embora os

modelos tenham origem na equação de Kolmogorov dada em (5.22).

Nas condições descritas, a equação de Kolmogorov para o −j ésimo estado

é conforme mostrada por (5.23).

+−=≠ ji

iijjj vqvtq )(0 para Mj ,,2,1,0 = . (5.23)

Page 190: PESQUISA OPERACIONA

188

Para permitir a análise em regime estacionário, o elemento chave é a matriz

de transição a exemplo do que foi feito para cadeias de tempo discreto. O primeiro passo

naturalmente consistirá em estabelecer procedimentos sistemáticos para obter tal matriz.

5.4.1.1 Obtenção da matriz de transição

Consideremos dois pontos de partida possíveis:

- obtenção de P a partir do diagrama de transição; e

- obtenção de P a partir da equação de Kolmogorov.

No primeiro caso, o índice de cada estado é associado a uma única linha e a

uma única coluna da matriz, caracterizando genericamente um elemento de fora da diagonal

da matriz P pelo par ordenado ),( ji , com ji ≠ . O elemento da posição ),( ji , com ji ≠ ,

associa-se univocamente com o arco orientado do diagrama de transição da cadeia de Markov

que parte do estado i e vai até o estado j . Assim, tem-se a seguinte lei de formação da matriz

de transição obtida a partir de um dado diagrama de transição,

elemento da posição jiji

≠),( = taxa ijq (arco orientado de i para j ),

(5.24) elemento da posição ),( jj = jq−1 .

Para exemplificar este procedimento de obtenção da matriz P , tomaremos

como exemplo uma cadeia com quatro estados (BILLINTON, 1970).

Exemplo 5.11: Dado o diagrama da cadeia de Markov ilustrado na Figura 5.10, obtenha a

matriz de transição correspondente. Observe que nem todos os nós estão interligados.

1 0

2λ 4λ

Page 191: PESQUISA OPERACIONA

189

Figura 5.10: Diagrama de transição de uma cadeia de Markov de tempo contínuo com quatro

estados.

Aplicamos então a regra estabelecida pela expressão (5.24) para os

elementos de fora da diagonal, donde obtemos a Tabela 5.5.

Tabela 5.5: Elementos de fora da diagonal obtidos a partir do diagrama de transição.

Arco Posição e elemento Arco Posição e elemento De 0 a 1 (0,1) → 1λ De 2 a 0 (2,0) → 2µ De 0 a 2 (0,2) → 2λ De 2 a 1 (2,1) → 0 De 0 a 3 (0,3) → 0 De 2 a 3 (2,3) → 3λ De 1 a 0 (1,0) → 1µ De 3 a 0 (3,0) → 0 De 1 a 2 (1,2) → 0 De 3 a 1 (3,1) → 4µ De 1 a 3 (1,3) → 4λ De 3 a 2 (3,2) → 3µ

O elemento da diagonal da matriz é obtido subtraindo da unidade a soma

das taxas cujos arcos deixam o nó considerado. Portanto, os elementos da diagonal são:

Posição (0,0) → )(1 21 λλ +− Posição (1,1) → )(1 41 λµ +− Posição (2,2) → )(1 32 λµ +− Posição (3,3) → )(1 43 µµ +− .

Conseqüentemente, a matriz de transição para este exemplo fica conforme

indicada a seguir.

Page 192: PESQUISA OPERACIONA

190

+−+−

+−+−

=

)(10)(10

0)(10)(1

3210

3210

4334

3322

4411

2121

µµµµλλµµλλµµ

λλλλ

P.

Por outro lado, se for conhecido o sistema de equações que decorre da

aplicação de (5.23) a todos os estados, a obtenção da matriz de transição obedece ao seguinte

procedimento genérico.

Para a equação do estado j adicionamos a variável jv ao primeiro e ao

segundo membros simultaneamente e, em seguida, agrupamos os termos semelhantes

deixando a probabilidade estacionária jv explícita no primeiro membro. Repetimos este

procedimento para todos as 1+M equações do sistema. A idéia é reescrever o sistema sob a

forma conhecida vPv = , onde P é a matriz que se deseja obter.

Exemplificaremos este procedimento através do Exemplo 5.12.

Exemplo 5.12: Dado o sistema de equações de uma cadeia de Markov de três estados, obtenha

a matriz de transição correspondente.

012

201

210

233040

230

vvv

vvv

vvv

++−=++−=++−=

.

Adicionamos 0v , 1v e 2v a ambos os membros das equações dos estados 0,

1 e 2, respectivamente,

01222

20111

21000

2334

23

vvvvv

vvvvv

vvvvv

++−=++−=++−=

.

Após agrupar os termos semelhantes obtemos:

Page 193: PESQUISA OPERACIONA

191

0122

2011

2100

23)31()41(

2)31(

vvvv

vvvv

vvvv

++−=++−=++−=

0122

2011

2100

2323

22

vvvv

vvvv

vvvv

++−=++−=++−=

,

2102

2101

2100

2323

22

vvvv

vvvv

vvvv

−+=+−=++−=

.

Por fim, resulta o sistema na forma matricial, onde a matriz de transição está

explícita.

[ ] [ ]

−−

−=

232131212

210210 vvvvvv ,

−−

−=

232131212

210

210

P.

Quanto à classificação das cadeias, a mesma classificação apresentada nas

seções que trataram de processos discretos no tempo é válida, exceto o conceito de

periodicidade que está atrelado ao conceito de passos. Assim, teremos, como antes, cadeias

com estados recorrentes e cadeias com estados transitórios. A classe das cadeias recorrentes

compreende também as cadeias absorventes. Um estado i é dito ser absorvente se 0=ijq

para ji ≠ , de modo que, uma vez que se o processo entra neste estado, o mesmo é destinado

a permanecer nele. Como definido anteriormente, em uma cadeia irredutível todo estado pode

ser alcançado de qualquer outro estado.

Os processos de Markov de tempo contínuo encontram aplicações em

diversas áreas, dentro as quais destacamos sistemas de filas de espera (processo conhecido

como nascimento e morte) e confiabilidade de sistemas físicos em geral.

Page 194: PESQUISA OPERACIONA

192

Vamos ilustrar a análise de cadeias de Markov de tempo contínuo através da

solução de dois exemplos. O primeiro exemplo é transcrito do livro (HILLIER e

LIEBERMAN, 1995).

Exemplo 5.13: Um shopping tem duas máquinas idênticas que são operadas continuamente

exceto quando estão quebradas. Assim que uma máquina se quebra, ela é reparada

imediatamente por um técnico que fica de plantão para atender a emergência. O tempo

requerido para reparar uma máquina tem distribuição exponencial com média de 5,0 dia.

Uma vez que a operação de reparo é concluída, o tempo até a próxima falha é também uma

variável aleatória exponencial com média de 1 dia, sendo estas distribuições independentes.

Defina a variável aleatória )(tX como

=)(tX número de máquinas quebradas no tempo t ,

então os possíveis valores de )(tX são 0, 1 e 2. Portanto, sendo o tempo t uma variável

contínua que se inicia em 0=t , o processo estocástico de tempo contínuo 0;)( ≥ttX dá a

evolução do número de máquinas quebradas.

Dadas às características do problema, este pode ser modelado como um processo de Markov

de tempo contínuo com estados 0, 1 e 2. Conseqüentemente, podemos utilizar as equações de

regime estacionário apresentadas anteriormente para calcular a distribuição de probabilidades

do número de máquinas quebradas a longo prazo. Para proceder à análise, inicialmente,

precisamos determinar as taxas de transição, que comporão a matriz de transição.

Determine:

(a) as taxas de transição do processo;

(b) o diagrama de transição;

(c) a matriz de transição P ; e

(d) o percentual do tempo que ambas as máquinas estarão quebradas.

A solução é como segue. O estado ‘número de máquinas quebradas’

aumenta de 1 quando uma falha ocorre e decresce de 1 quando um reparo ocorre.

Considerando que as máquinas não se estragam ao mesmo tempo e que ambas não são

consertadas simultaneamente, as taxas 02q e 20q são iguais a zero. Se o tempo médio de

reparo é 5,0 dia, a taxa de reparo de qualquer uma das máquinas é 2 . Então, 221 =q e

Page 195: PESQUISA OPERACIONA

193

210 =q reparos por dia. O tempo esperado até que uma máquina que está em operação se

estrague é de 1 dia, então 112 =q . Se ambas as máquinas estiverem operacionais, falhas

ocorrem a uma taxa de 211 =+ por dia. Isto significa que 201 =q .

O diagrama de transição do processo descrito é ilustrado na Figura 5.11.

Figura 5.11: Diagrama de transição do sistema de duas máquinas.

Para obter a matriz de transição utilizamos o primeiro procedimento descrito na seção 5.4.1.1.

−−

−=

120122021

210

210

P.

Para calcular as probabilidades estacionárias jv , para 2,1,0=j , utilizamos

as relações vPv = e 10

==

M

jjv , que é resolvida tal com se fez no Exemplo 5.6.

===

2,04,04,0

2

1

0

v

v

v

.

Assim, a longo prazo, ambas as máquinas estarão quebradas por 20% do

tempo, e uma máquina estará quebrada em 40% do tempo.

Estudaremos a seguir um exemplo de aplicação à confiabilidade.

201 =q

1 0

210 =q 2

112 =q

221 =q

Page 196: PESQUISA OPERACIONA

194

Exemplo 5.14: É usual em subestações de energia elétrica utilizar dois transformadores

idênticos em paralelo, de modo que a potência de cada um dos equipamentos é suficiente para

atender a instalação. A motivação para isto é aumentar a confiabilidade da subestação

relativamente à alternativa de usar um único transformador. A Figura 5.12 ilustra o esquema

elétrico simplificado para a análise de falha. A seta da figura indica o sentido do fluxo da

energia.

Figura 5.12: Dois transformadores idênticos em paralelo.

No esquema com dois transformadores em paralelo, a indisponibilidade do sistema ocorrerá

apenas se ambas as máquinas estiverem fora de operação, porque implicará na interrupção do

fluxo de energia. Os estados possíveis para os transformadores são: ambos em operação (0 em

falha), um em operação e o outro em falha (1 em falha) e os dois fora de operação (2 em

falha). A taxa de falhas é λ e a taxa de reparo é µ , ambas associadas à distribuições

exponenciais independentes. Suponhamos também que se os dois transformadores estiverem

em operação não é possível que os dois falhem simultaneamente, e nem é possível consertar

dois transformadores ao mesmo tempo. O diagrama de transição do processo está

representado na Figura 5.13.

Figura 5.13: Diagrama de transição da cadeia de Markov de dois transformadores em paralelo.

λ2

1 0

µ

2

λ

µ2

ambos em operação

um em operação e o

outro em falha

ambos em falha

Page 197: PESQUISA OPERACIONA

195

Supondo que as condições de regime estacionário sejam verificadas, isto é, ∞→t , determine

as seguintes informações:

(a) a probabilidade de falha do sistema;

(b) a disponibilidade do sistema; e

(c) o tempo médio para o sistema falhar dado que se encontra em plena operação.

Para solucionar o exemplo montamos a matriz de transição a partir do

diagrama da Figura 5.13.

−+−

−=

µµλµλµ

λλ

2120)(1

0221

210

210

P

Para obter as respostas às duas primeiras questões, precisamos calcular as

probabilidades estacionárias dos estados. Para tal utilizamos as relações vPv = e 10

==

M

jjv ,

que são solucionadas pelo método analítico.

2

2

0)( µλ

µ+

=v ,

21)(

2

µλλµ+

=v ,

2

2

2)( µλ

λ+

=v .

Dado que cada unidade é capaz de suprir a instalação, a probabilidade de

falha do sistema corresponde a um ou dois equipamentos em falha, que é 21 vv + ,

21 vv +2

2

)(

2

µλλµλ

++= .

A disponibilidade do sistema, no caso do sistema em paralelo, é a

probabilidade de que ao menos uma unidade esteja em operação (ou seja, disponível),

Page 198: PESQUISA OPERACIONA

196

2

2

10)(

2

µλλµµ

++=+ vv .

A resposta ao item (b) está intimamente relacionada à natureza do problema

sob análise; neste caso, depende essencialmente da forma como são ligados os

transformadores. Por exemplo, se os transformadores estivessem em série, a disponibilidade

implicaria necessariamente na operação de ambos.

Para responder à última questão formulada, lançamos mão de um artifício:

supomos que o estado 2 é absorvente e calculamos a partir da matriz de transição modificada

o tempo para alcançar a absorção partindo do estado 0 (ambos em operação). No contexto do

estudo da confiabilidade o tempo para alcançar a falha total do sistema é designado por

MTTF, que é a sigla para Mean Time to Failure (cuja tradução é tempo médio para a falha)

(BILLINTON, 1970).

Supondo o estado 2 um estado absorvente, a matriz de transição, P , é como

segue:

+−−

=100

)(10221

210

210

λµλµλλ

P

A exemplo dos estudos feitos anteriormente na seção 5.3.5, identificamos na

matriz P a sub-matriz Q .

.)(1

22110

10

+−−

=µλµ

λλQ

Calculamos a matriz fundamental 1)( −− QI .

+=− −

λµλµλ

λ 22

2

1)(

21QI

Page 199: PESQUISA OPERACIONA

197

Partindo do estado 0 (que é o sistema em plena operação), o MTTF (isto é, o

tempo antes do estado absorvente) é

MTTF = →++ )2(2

12

λµλλ

MTTF =22

)3(

λµλ +

.

Para concluir o estudo deste tema fascinante sugerimos a solução dos

exercícios propostos.

5.5 Exercícios propostos

1. (BRONSON, 1985) Um recenseamento econômico revelou que, numa dada população, as

famílias são divididas em dois grupos: (1) as economicamente estáveis; e (2) aquelas em

depressão. Depois de um período de 10 anos, a probabilidade de que uma família estável

assim permaneça é de 0,92, enquanto a probabilidade dela entrar em depressão é de 0,08. A

probabilidade de que uma família em depressão se torne estável é 0,03, enquanto a

probabilidade de que ela assim permaneça é de 0,97. Calcule a probabilidade de uma família

estável estar em depressão a longo prazo. Obtenha também o tempo médio que uma família

estável permanece nesta condição.

2. Um representante comercial visita seus clientes cada mês. A experiência passada mostra

que, se um cliente fez um pedido no último mês, a probabilidade de um novo pedido no mês

corrente é 0,3, e se não foi efetuado pedido algum no mês passado, a probabilidade é 0,6.

Assim, em cada um dos meses subseqüentes ao primeiro, cada cliente deve encontrar-se em

um dos dois estados:

- estado 0: nenhum pedido no mês passado; e

- estado 1: um pedido no mês passado.

Dessa forma, com base nas probabilidades de transição podemos predizer o comportamento

no futuro. Para um cliente do universo dos que não fizeram pedidos no mês anterior,

determine a probabilidade que o tempo transcorrido para efetuar um novo pedido seja de 3

meses.

3. (SHAMBLIN, 1989) Suponhamos que três fabricantes de automóvel colheram os seguintes

dados sobre as compras de clientes. A Tabela 5.6 representa a probabilidade de um cliente que

Page 200: PESQUISA OPERACIONA

198

agora possui Ford (estado 1s ), ,0=n comprar um Ford, Chevrolet (estado 2s ) ou Plymouth

(estado 3s ) na próxima vez, isto é, no próximo passo, 1=n . Informação semelhante é

fornecida para todos os proprietários dos outros modelos.

Tabela 5.6: Probabilidade (%) de compras em função do estado atual.

Próxima compra ( 1=n )

Compra presente ( 0=n )

% compra Ford % compra Chevrolet % compra Plymouth Ford 40 30 30

Chevrolet 20 50 30 Plymouth 25 25 50

Modele o problema como uma cadeia de Markov de tempo discreto com passo igual a um

ano.

Determine:

(a) a matriz de probabilidades de transição para este processo;

(b) a classificação desta cadeia;

(c) as probabilidades estacionárias;

(d) o tempo médio que o comprador de um Ford permanece com esta marca; e

(e) o número esperado de anos que o cliente que atualmente possui um Ford compre um

Plymouth.

Como sugestão para resolver a questão (e) faça artificialmente o estado 3s um estado

absorvente e calcule o tempo esperado para a absorção.

4. Dadas as matrizes de transição para um passo, classifique cada uma das cadeias.

(a)

=3,04,03,06,03,01,07,01,02,0

P ; (b)

=

21

41

81

81

41

41

61

31

01001000

P .

5. Em 1993, a utilização do solo em uma cidade de 130 quilômetros quadrados de área

ocupada apresentava os seguintes índices:

Page 201: PESQUISA OPERACIONA

199

uso residencial 30% → estado 1s ;

uso comercial 20% → estado 2s ;

uso industrial 50% → estado 3s .

(a) Calcule os percentuais de ocupação do solo nesta cidade em 2003, assumindo que as

probabilidades de transição para intervalos de 5 anos são dados pela seguinte matriz:

=90100207010101080

3

2

1

321

,,

,,,

,,,

s

s

s

P

sss

.

(b) Encontre as probabilidades limites dos estados de utilização do solo nesta cidade.

6. Em relação exercício anterior sobre ocupação do solo da cidade, suponha que se uma área é

destinada à indústria esta fica imprestável para uso residencial ou comercial. Imaginando o

estado 3s como estado absorvente, determine o número esperado de passos (em anos) até que

uma região que é residencial se torne industrial.

7. As sociedades ocidentais são estratificadas em função do poder aquisitivo de bens das

famílias. Supondo que as classes sociais sejam: (a) classe A – ricos; (b) classe B – classe

média; (c) classe C – pobres; e (d) classes D, E, etc. – miseráveis. No Brasil, o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, realiza periodicamente um censo econômico, que,

com base em amostragem, traça um perfil razoavelmente preciso da população com o foco na

sua condição sócio-econômica. A cada censo são observadas as mudanças das famílias entre

as classes. Modele o processo como uma cadeia de Markov de tempo discreto, onde os

estados são as classes indicadas anteriormente e o estado do item (d) é um estado absorvente.

Para análise, considere os dados que constam da matriz de probabilidades de transição. Se o

passo é o intervalo de tempo igual a 10 anos, calcule o número de passos antes da absorção se

o processo partiu do estado ‘rico’. Ao usar a matriz, considere as seguintes associações:

pobre → 0 miserável → 1 médio → 2 rico → 3

Page 202: PESQUISA OPERACIONA

200

=

3,06,001,01,05,01,03,0

00101,01,04,04,0

3210

3210

P.

8. Elabore um programa de computador para calcular )(kfij , sendo 1=i e 5,4=j , de modo

que a partir dos dados do Exemplo 5.9 sejam reproduzidos os resultados que constam da

Tabela 5.4.

9. (BILLINTON, 1970) Dois equipamentos idênticos são instalados e operam em série.

Suponha três estados para modelar o processo como uma cadeia de Markov de tempo

contínuo com taxas λ e µ , respectivamente, para falha e reparo. Mostre que a

disponibilidade do sistema vale 2

2

)( µλµ+

e que a MTTF é igual a λ21 . (MTTF é o tempo

médio para a falha).

10. Um sistema com um único servidor aberto ao público tem seus tempos de atendimentos

distribuídos exponencialmente com taxa igual a µ . Os tempos entre chegadas dos usuários

que demandam pelo serviço desses guichês também exibem a distribuição exponencial com

taxas iguais a λ . Os usuários que acessam o sistema surgem segundo o modelo de Poisson. O

estado é caracterizado pelo número de usuários presentes, 0 , 1, 2 , , ∞ . Nessas condições,

o sistema se enquadra como um processo de nascimento e morte, podendo ser descrito como

uma cadeia de Markov infinita de tempo contínuo. Desenhe o diagrama de transição dessa

cadeia e escreva as equações de Kolmogorov para o regime estacionário. Supondo que µλ < ,

com base em séries convergentes, prove que a expressão para a probabilidade estacionária 0v

em função do quociente µλρ = é

ρ−= 10v , onde, 0v é a probabilidade de encontrar o sistema vazio, ou seja, livre de usuários. Neste

exercício você precisará usar o resultado da série:

xxxxxxS

i

i

−=++++== ∞∞

= 11210

0 , se 10 << x .

Page 203: PESQUISA OPERACIONA

Capítulo 6

Sistemas de Filas de Espera

Uma fila de espera ocorre sempre que a demanda por um serviço excede

num dado instante a capacidade do sistema para prover o serviço. Um sistema de fila de

espera é um conceito mais geral do que simplesmente pessoas aguardando em fila para

receberem atendimento em um estabelecimento de prestação de serviços. Podemos citar

alguns exemplos de sistemas de filas de espera, como a seguir: atendimento de chamadas

telefônicas de uma companhia, o sistema de atendimento ao consumidor (normalmente

designado pela sigla SAC), processos esperando em fila pela execução numa rede de

computadores e aviões que chegam e solicitam permissão para aterragem num aeroporto,

dentre outros.

Em análises de sistemas de filas de espera normalmente desejamos obter

informações objetivas sobre a capacidade de serviço que deve ser disponibilizada aos usuários

e os custos operacionais envolvidos desde a espera até o atendimento. Se por um lado a

capacidade de serviço for insuficiente, tempos de espera excessivos podem implicar em custos

adicionais por perdas de consumidores e ociosidade da parte de quem espera, enquanto que,

por outro lado, oferecer muita capacidade de serviço requer investimentos e pode levar

ociosidade ao sistema de atendimento. A teoria de filas de espera trabalha, portanto, com

objetivos conflitantes. Dado um modelo, a principal motivação para seu estudo está na busca

de soluções que representem um ponto de equilíbrio entre os conflitos.

Há um grande número de modelos matemáticos de filas de espera que

permite descrever diferentes situações observadas na prática. Existem modelos elementares

para descrever sistemas de filas com um único atendente em que o número máximo de

consumidores permitido no sistema é ilimitado, assim como também aqueles sistemas que são

tão complexos que se mostram mais adequados para serem resolvidos através de simulação

computacional ao invés da utilização de modelos analíticos.

Normalmente, quando estudamos sistemas de filas procuramos respostas

sob a forma de medidas objetivas que sejam capazes de orientar o projetista do sistema. As

grandezas mais comuns são:

Page 204: PESQUISA OPERACIONA

202

– o tempo médio que um usuário aguarda pelo atendimento;

– o grau de ociosidade do sistema de atendimento;

– o número médio de usuários no sistema;

– o número médio de usuários na fila.

Uma característica normalmente exibida pelos sistemas de filas mais

complexos é a incerteza dos dados de entrada. Por exemplo, na maioria dos sistemas de filas,

não é possível precisar exatamente em que instante um usuário irá acessar o sistema e nem

tampouco quanto tempo vai durar o seu atendimento. Um sistema desse tipo é dito de

natureza estocástica e o seu funcionamento é descrito como um processo estocástico.

Com o objetivo de descrever os principais modelos analíticos de sistemas de

filas de espera, vamos apresentar a seguir uma notação universalmente aceita: a notação de

Kendall-Lee. Também serão apresentados elementos básicos de sistemas de filas.

6.1 Elementos Básicos de Sistemas de Filas e Notação de Kendall-Lee

Em qualquer sistema de filas podemos identificar os seguintes elementos:

– a fila propriamente dita, que é caracterizada essencialmente por aqueles indivíduos que não

são atendidos assim que chegam e podem esperar pelo serviço;

– o servidor que tem a função de prover o serviço ao usuário, que pode ou não seguir uma

sistemática de atendimento, identificando-se aí o atendente e o mecanismo de serviço;

– a fonte de usuários do sistema de filas.

A Figura 6.1 ilustra os elementos básicos de um sistema de filas de espera.

Figura 6.1: Elementos básicos de um sistema de filas.

Fonte de usuários Fila Servidor

consumidores consumidores

servidos

Page 205: PESQUISA OPERACIONA

203

A fonte de usuários do sistema de filas é composta pelos consumidores

potenciais do serviço oferecido pelo sistema. Uma característica da fonte de usuários é o seu

tamanho. Por exemplo, o escritório de uma seguradora de veículos oferece atendimento aos

seus segurados numa cidade. O número de usuários que demandam pelos serviços oferecidos

pelo escritório é um subconjunto pequeno da população da cidade. Não devemos confundir o

tamanho da fonte de usuários com a capacidade do sistema de fila. A capacidade do sistema

está associada ao máximo número de usuários que o sistema pode comportar num dado

período de seu funcionamento. Numa modelagem simplificada, geralmente supomos que a

fonte e a capacidade do sistema são ilimitadas e a razão para isto é que as expressões resultam

mais simples e conduzem a cálculos mais fáceis. Todavia, podemos ter um modelo em que a

capacidade do sistema é limitada e a fonte de usuários, mesmo não sendo infinita, mas por ter

um tamanho muito grande é suposta infinita. Neste último caso, as expressões serão mais

complexas que na abordagem simplificada.

O comportamento estatístico dos consumidores para acessarem o sistema de

filas pode ser descrito por uma distribuição de probabilidades empírica que pode ser

representada por um modelo analítico conhecido de probabilidade. O modelo de Poisson é

comumente usado para descrever a forma como os consumidores são gerados pela fonte e,

para definir completamente essa distribuição, é necessário ter apenas a taxa média de

chegadas.

Um aspecto importante associado à fila é a ordem com que os usuários são

selecionados para o atendimento. Isto é referido como disciplina da fila. Por exemplo, o

critério adotado pode ser ‘primeiro a chegar, primeiro a ser atendido’, ou alguma outra ordem.

O tempo transcorrido desde o começo do atendimento até a sua conclusão

para um consumidor que está recebendo o serviço é o tempo de serviço. Para descrever o

atendimento, devemos especificar uma distribuição de probabilidade para os tempos de

serviço. A distribuição mais comumente especificada para tempos de serviço é a distribuição

exponencial.

Diante do exposto, percebemos que pode haver uma grande variedade de

combinações de características de sistemas de filas, sendo que cada uma dessas combinações

implicará num modelo diferente. Daí surge a notação atribuída a Kendall e a Lee. O uso desta

notação tem a finalidade de descrever os sistemas de filas de espera de modo claro e objetivo.

Page 206: PESQUISA OPERACIONA

204

A notação de Kendall-Lee consiste de rótulos dispostos em forma

seqüencial como mostra o exemplo ilustrado na Figura 6.2, de modo que cada rótulo possui

um significado.

M / M / s : FIFO / C / K Distribuição dos tempos

entre chegadas

Distribuição dos tempos de

serviço

Número de servidores

Disciplina da fila

Número máximo de

consumidores no sistema

Tamanho da fonte

de usuários

Figura 6.2: Um exemplo de notação de Kendall-Lee.

O primeiro campo descreve o processo de chegada e o segundo campo o

modelo estatístico do atendimento. As letras mais usadas são as seguintes: M , D , E e G .

M no primeiro campo significa que o processo de chegada é do tipo Poisson e os tempos

entre chegadas têm distribuição exponencial. M no segundo campo quer dizer que o

atendimento segue o modelo de Poisson e os tempos de atendimento obedecem a distribuição

exponencial. A letra M é uma alusão ao termo ‘markoviano’ implicando em distribuição

exponencial para tempos de serviço e tempos entre chegadas, de acordo com o que está

demonstrado na seção 5.4 que trata de processos de Markov de tempo contínuo. As demais

letras significam: D é determinístico, G é uma distribuição genérica e E é a distribuição de

Erlang. Quanto ao símbolo G , um sistema de filas, por exemplo, do tipo 1// GM , tem

distribuição exponencial dos tempos entre chegadas, os tempos de atendimento possuem

distribuição genérica, o sistema possui um atendente, a disciplina da fila é FIFO (first-in-first-

out), a capacidade do sistema é infinita e a fonte de usuários é ilimitada. Se o modelo de filas

tem distribuição genérica, as grandezas de desempenho do sistema ficam em função da

esperança matemática, )(SE . Neste caso, os tempos de serviço são genericamente

distribuídos de acordo com uma variável aleatória genérica, S .

A disciplina da fila, além de FIFO, pode ser LIFO, que significa ‘último a

chegar, primeiro a ser atendido’, ou PRI, se para o atendimento é observada alguma

prioridade.

Na próxima seção trataremos dos principais conceitos e parâmetros de

sistemas de filas. Posteriormente, obteremos expressões analíticas de cálculo de desempenho

de sistemas de filas iniciando o estudo pelo modelo mais simples, que é o 1// MM .

Page 207: PESQUISA OPERACIONA

205

6.2 Conceitos básicos e parâmetros de sistemas de filas

Conhecer a terminologia empregada nos estudos de sistemas de filas é o

primeiro passo no estudo dessa área da Pesquisa Operacional.

Definiremos a seguir alguns termos básicos sobre filas de espera.

Definição 6.1: (Cliente) Elemento que chega e requer atendimento. Os clientes podem ser

pessoas, máquinas, peças, torcedor que vai comprar ingressos, cartas que chegam e devem ser

entregues, carros estacionados, etc.

Alguns sinônimos são usados para o termo cliente, tais como consumidor e

usuário.

Definição 6.2: (Canal de atendimento) Processo ou pessoa que realiza o atendimento do

cliente. É comum usar o termo atendente para referir ao canal de atendimento. Como

exemplos podemos citar a impressora que executa as requisições de impressões numa rede de

computadores, o vendedor de ingressos, o carteiro, o estacionamento, etc.

Quanto à capacidade C do sistema e o número s de atendentes, os sistemas

de filas podem ser classificados como está ilustrado no esquema da Figura 6.3.

Figura 6.3: Um esquema com uma classificação de sistemas de filas.

Os usuários ou clientes chegam ao sistema a uma razão, que é determinada

pela quantidade de usuários dividida pelo intervalo de tempo de observação. Esta taxa é

Capacidade do sistema, C

Modelos de fila

Infinito Finito

Único Único Múltiplo Múltiplo Número de canais de

atendimento, s

Page 208: PESQUISA OPERACIONA

206

designada como taxa de chegada e é representada pela letra λ (leia-se “lâmbda”) e é

calculada conforme (6.1).

tempo de intervalochegam que usuários de número=λ .

(6.1)

A freqüência ou a velocidade com a qual os usuários são atendidos ou

recebem o serviço é denominada de taxa de atendimento. Esta taxa é representada pela letra

µ (“mi”) e é calculada pela expressão (6.2).

tempo de intervaloatendidos usuários de número=µ .

(6.2)

Para tornar mais claras as definições dos parâmetros λ e µ , vamos resolver

o seguinte exemplo.

Exemplo 6.1: Clientes chegam a um posto de atendimento e é observado que num intervalo de

tempo de 5 minutos chegam 6 clientes. Qual é a taxa de chegada, λ ? Se no atendimento, em

média, um usuário demanda 40 segundos, qual é a taxa de atendimento?

Aplicamos a expressão (6.1) para calcular λ e obtemos:

minutoclientes2,1minutos5clientes6 ==λ .

Para determinarmos a taxa de atendimento, podemos usar o seguinte

raciocínio: se em média um atendimento é completado em 40 segundos, quantos clientes

serão atendidos num tempo igual a 1 minuto?

x→→

60140

atendidos clientestempo

16040 ×=× x →23

4060 ==x .

Page 209: PESQUISA OPERACIONA

207

Portanto, a taxa de atendimento é minutoclientes23=µ .

Os problemas de filas de espera consistem em ajustar adequadamente a taxa

de atendimento do processo com a taxa de chegada do trabalho a ser feito. Do ponto de vista

do projetista, isto é feito através do correto dimensionamento do número de servidores do

sistema de filas. Para entendermos melhor os parâmetros λ e µ , suponha as seguintes

situações extremas para um sistema com um único atendente:

1. Um sistema de fila e atendimento possui uma taxa de chegada λ maior

que a taxa de atendimento µ ;

2. Um outro sistema raramente recebe clientes e quando um cliente

aparece este é atendido imediatamente. Neste caso, a taxa de chegada é

muito baixa e menor que a taxa de atendimento.

As situações imaginadas merecem alguns comentários. A primeira situação

não pode em princípio ser resolvida da forma como está: sendo µλ > não há sistema de

atendimento capaz de absorver esta demanda e a fila tende a crescer indefinidamente. Uma

solução possível é instalar mais guichês de atendimento e dessa forma adequar a taxa de

atendimento às condições da taxa de chegada (isto é, tornar µλ < ). Outra solução, embora

ruim para o cliente, mas aparentemente mais econômica, é limitar o número de clientes que

chegam ao sistema. Para o sistema que recebe poucos clientes e quando os recebe eles são

rapidamente atendidos, podemos supor que não haverá formação de fila. Este é, com certeza,

um sistema mal dimensionado. Neste caso, naturalmente algo deve ser feito no sentido de

adequar λ e µ .

O parâmetro λ é um dado de entrada muito importante nas análises de

sistemas de filas e, por esta razão, devemos discutir de forma mais aprofundada o seu

significado. Primeiramente vamos supor a chegada de, por exemplo, 5 usuários num sistema

de filas hipotético. Suponhamos também que foram anotados os instantes de chegada dos

usuários, denotados por it , com 5,4,3,2,1=i , medidos a partir do instante zero. Esses

tempos são marcados no eixo dos tempos, como ilustra a Figura 6.4.

Page 210: PESQUISA OPERACIONA

208

Figura 6.4: Instantes de chegada de usuários num sistema de filas marcados no eixo dos

tempos.

Identificamos na Figura 6.4 os tempos entre chegadas consecutivas, de

modo que para cada usuário é possível associar um único desses tempos. Neste exemplo,

associamos os tempos entre chegadas aos usuários na seguinte ordem:

1º usuário: 011 −= tT 2º usuário: 122 ttT −= 3º usuário: 233 ttT −= 4º usuário: 344 ttT −= 5º usuário: 455 ttT −=

Os tempos entre chegadas são representados pela letra T para evitar

confusão de notação, conforme ilustra a Figura 6.5.

Figura 6.5: Tempos entre chegadas de usuários num sistema de filas marcados no eixo dos

tempos.

Se aplicarmos aos dados deste exemplo a expressão (6.1), calculamos o

parâmetro λ dividindo o número de usuários pelo intervalo de tempo,

tempo de intervalochegam que usuários de número=λ

54321

5

TTTTT ++++=→ λ .

1t 2t 3t 4t 5t 0

1t 2t 3t 4t 5t 0

1T 2T 3T 4T 5T

Page 211: PESQUISA OPERACIONA

209

Ora, partindo da análise da última expressão é imediata a constatação de que

a taxa de chegada λ é o inverso da média dos tempos entre chegadas.

Podemos expressar formalmente esta conclusão através da expressão (6.3),

onde TMC é o tempo médio entre chegadas (que é o mesmo que a média dos tempos entre

chegadas).

TMC1=λ .

(6.3)

Uma expressão análoga à expressão (6.3) relaciona a taxa de atendimento µ

e a média dos tempos de serviço, TMS .

TMS1=µ .

(6.4)

Diante do exposto, a segunda parte do Exemplo 6.1 poderia ser resolvida de

forma direta, ou seja, pela aplicação da expressão (6.4), assim,

→= segundos40TMS401=µ ,

que, ao ser convertida para atendimentos por minuto, assume o seguinte valor:

minutoclientes23

4060 ==µ .

É interessante notar quanto aos parâmetros λ e µ , que o parâmetro λ em

geral não permite qualquer controle por parte do projetista do sistema de filas, uma vez que

este valor é determinado pela fonte de usuários. Já o parâmetro µ , embora fortemente

dependente da natureza e volume do serviço demandado pelo usuário, pode ser de algum

modo influenciado pelo projetista do sistema de filas, por exemplo, em função da sistemática

de atendimento e da habilidade do atendente para realizar o serviço.

Depois de levantados os dados λ e µ de um determinado sistema de filas

precisamos obter grandezas que representem medidas objetivas da situação operacional da fila

Page 212: PESQUISA OPERACIONA

210

em regime estacionário. Tais grandezas são designadas como medidas de efetividade dos

sistemas de filas.

6.3 Medidas de efetividade dos sistemas de filas

As mais primitivas medidas de efetividade são as esperanças matemáticas da

variável aleatória tempo que os usuários permanecem na fila e da variável aleatória tempo que

os usuários permanecem no sistema.

Designamos os símbolos T , Q e S para representar as variáveis aleatórias

‘tempo no sistema’, ‘tempo na fila’ e ‘tempo de serviço’, respectivamente, para um

consumidor selecionado aleatoriamente. Os valores esperados dessas variáveis aleatórias são

)(TE , )(QE e )(SE , respectivamente, para T , Q e S .

O tempo de espera é o tempo gasto na fila antes de receber o serviço e, ao

término do período de espera, o consumidor é imediatamente atendido, é natural que o tempo

de permanência no sistema (sistema é entendido aqui como fila em conjunto com servidor)

seja calculado pela soma indicada na expressão (6.5).

)()()( SEQETE += . (6.5) A esperança matemática do tempo de serviço, )(SE , é igual a µ

1 , uma que

esses tempos são exponencialmente distribuídos. Além disso, designamos )(QE por qW (que

vem do termo inglês waiting time in the queue) e )(TE pela letra W . A expressão (6.5) pode

então ser reescrita como mostrada a seguir.

µ1+= qWW . (6.6)

É importante frisar que a expressão (6.6) é geral, ou seja, ela vale

independentemente do modelo de filas estudado e de suas características intrínsecas.

A medida de efetividade que se refere ao número médio de usuários no

sistema é designada como L (que vem do termo inglês length). Se n for o número de

usuários no sistema e nP a probabilidade de que existam n usuários no sistema, dado que a

Page 213: PESQUISA OPERACIONA

211

variável aleatória é discreta, a esperança matemática )(nE é trivialmente calculada pela

expressão (6.7).

==∞

=0)(

nnnPLnE .

(6.7)

O número médio de usuários na fila é designada por qL (do inglês, length of

the queue) e é definida como a esperança matemática, )( qnE , obtida pela expressão (6.8).

−==∞

=snnqq PsnLnE )()( .

(6.8)

As medidas de efetividade, W , qW , L e qL , formam uma espécie de figura

de mérito do desempenho de um sistema de filas, sendo que, a partir de seus valores, é

possível emitir um parecer consubstanciado sobre a condição operacional do sistema. Por

exemplo, a partir delas podemos ter um indicativo da necessidade ou não de ampliar o sistema

de atendimento ou de cortar custos.

Há relações matemáticas entre as medidas de efetividade de tempo e as

medidas de efetividade do número de usuários, que foram demonstradas por J. D.C. Little na

década de 70 do século XX.

6.3.1 Fórmula de Little

Para qualquer processo de filas em regime estacionário, a fórmula (6.9) é

válida.

WL λ= . (6.9)

Esta expressão é conhecida por fórmula de Little.

De maneira análoga, temos uma relação entre qL e qW .

qq WL λ= . (6.10)

Page 214: PESQUISA OPERACIONA

212

As expressões (6.6), (6.9) e (6.10) são extremamente importantes porque

relacionam as quatro quantidades fundamentais que são determinadas à medida que qualquer

uma delas é encontrada. Além disso, essas relações são genéricas, ou seja, são válidas para

todo tipo de modelo de sistemas de fila.

De posse dos conceitos básicos, das definições das medidas de efetividade e

das relações fundamentais, estamos prontos para desenvolver e estudar modelos de filas de

espera. Iniciaremos nosso estudo pelos modelos estocásticos de filas mais simples e depois

passaremos à análise de modelos mais complexos.

Iniciaremos na próxima seção o estudo dos sistemas de filas em que as

chegadas e os atendimentos ocorrem segundo o modelo estocástico de Poisson e os tempos

entre chegadas e os tempos de atendimento seguem a distribuição exponencial.

6.4 Sistemas de filas com chegadas e atendimentos do tipo ‘markoviano’

A fim de tornar didático o estudo que faremos a seguir, dividiremos esta

seção nos seguintes tópicos:

– sistemas de filas 1// MM , que têm apenas um atendente (ou seja, um servidor ou um canal

de atendimento) e capacidade infinita;

– sistemas de filas sMM // , que têm s atendentes e capacidade infinita;

– sistemas de filas CMM /1// , que têm um atendente e capacidade finita C ;

– sistemas de filas CsMM /// , que têm s atendentes e capacidade finita C .

Os dois últimos tópicos são designados como sistemas multicanal. Em todos

os tópicos que serão abordados a disciplina da fila (ou das filas) é FIFO e a fonte de usuários

possui um número ilimitado de usuários potenciais. Em um sistema com capacidade finitaC ,

se um usuário chegar e encontrar o sistema em sua capacidade máxima este usuário é

automaticamente descartado.

6.4.1 Sistemas de filas 1// MM

Seja )(tX o número de consumidores no sistema no instante t e

suponhamos que µλ < . Dado que o tempo entre chegadas e o tempo de atendimento são

Page 215: PESQUISA OPERACIONA

213

variáveis aleatórias com distribuição exponencial, o processo cujo estado é caracterizado por

)(tX é um processo de Markov. Portanto, podemos desenvolver o estudo de sistemas de filas

1// MM com base nos procedimentos apresentados na seção 5.4.1.

Primeiramente procuraremos obter uma expressão para a probabilidade de

encontrar n usuários no sistema, que designaremos por nP . Os desenvolvimentos que serão

apresentados a seguir também podem ser encontrados na referência (NELSON, 1995).

Figura 6.6: Diagrama de transição de um sistema de filas do tipo 1// MM .

Processo de Markov como o que está ilustrado no diagrama da Figura 6.5 é

conhecido como processo de nascimento e morte.

Partindo da lei de formação da matriz de transição P ,

elemento da posição jiji

≠),( = taxa ijq (arco orientado de i para j ),

elemento da posição ),( jj = jq−1 ,

e analisando o diagrama da Figura 6.6, identificamos os seguintes elementos diferentes de

zero das posições de fora da diagonal:

λ=01p µ=10p

... λ=− nnp ,1

µ=−1,nnp

λ=+1,nnp

µ=+ nnp ,1 ...

Nas posições da diagonal principal, obtemos os seguintes elementos:

λ=01q

1 0

µ=10q

λ=− nnq ,1

1−n µ=−1,nnq

λ=+1,nnq

µ=+ nnq ,1 n 1+n

Page 216: PESQUISA OPERACIONA

214

λ−= 100p )(111 µλ +−=p

... )(11,1 µλ +−=−− nnp

)(1, µλ +−=nnp

)(11,1 µλ +−=++ nnp ...

Finalmente, o sistema de equações para a obtenção das probabilidades

estacionárias fica da seguinte forma:

vPv = ,

Pvvvvvvvvvv nnnnnn ][][ 11101110 +−+− = ,

sendo que as probabilidades limites, ,,,,,, 1110 +− nnn vvvvv , são as probabilidades dos

estados, ,,,,,, 1110 +− nnn PPPPP ,

PPPPPPPPPPP nnnnnn ][][ 11101110 +−+− = ,

onde, a matriz de transição P com um número infinito de estados é:

+−+−

+−

+−−

+

−=

+−

)(1000

)(100

0)(100

000)(1

0001

1

1

1

0

1110

µλµλµλµ

λµλ

µλµλλ

n

n

nP

nnn

.

A equação do estado 0 é a seguinte:

100 )1( PPP µλ +−= ,

que nos permite escrever 01 PPµλ= .

Para 1≥n , a −n ésima equação é dada por:

Page 217: PESQUISA OPERACIONA

215

11 )](1[ +− ++−+= nnnn PPPP µµλλ .

Partindo de 01 PPµλ= e da −n ésima equação para 1=n calculamos 2P :

0

2

2 PP

=µλ

.

Continuamos com este procedimento e obtemos a solução procurada, nP .

0PPn

n

=µλ

para ,2,1=n , (6.11)

onde, nP é a probabilidade do estado n , ou seja, a probabilidade de encontrar exatamente

n usuários no sistema.

A expressão para cálculo de 0P é obtida usando o fato de que 10

=∞

=nnP :

=

=0

01

n

nP

µλ

.

(6.12)

Considerando a condição 1<µλ

estabelecida na seção 6.2, a série do

denominador de (6.12) converge para µ

λ−11

. Conseqüentemente obtemos uma expressão

sucinta para a probabilidade do estado 0 .

µλ−= 10P . (6.13)

A probabilidade 0P é a probabilidade de encontrar o sistema ocioso.

Portanto, da análise da expressão (6.13), concluímos que µλ é a probabilidade de encontrar o

sistema ocupado. A razão µλ é simbolizada pela letra grega ρ (leia-se “ro”).

A expressão da probabilidade de n usuários no sistema, fica então da forma

indicada pela expressão (6.14).

)1( ρρ −= nnP para ,2,1=n . (6.14)

Page 218: PESQUISA OPERACIONA

216

Dessa forma, concluímos a determinação da probabilidade de encontrar n

usuários no sistema, conforme nos propusemos a fazer no início desta seção.

Cabe ressaltar aqui o significado do parâmetro ρ . Este parâmetro admite

algumas interpretações de grande utilidade nas análises, a saber:

– ρ é a proporção do tempo em que o sistema está ocupado ( 01 P−=ρ );

– ρ é a intensidade de tráfego ou o fator de utilização do sistema.

No contexto de aplicação de ρ como intensidade de tráfego, a unidade

usada é o erlangs, que é uma unidade usual em sistemas de filas em geral.

Vamos resolver um exemplo com o objetivo de tornar mais claros os

conceitos desenvolvidos.

Exemplo 6.2: Um pronto socorro médico presta serviços de atendimento a acidentados

durante as 24 horas do dia. Em média, num dia típico, 42 pacientes recorrem aleatoriamente

ao atendimento deste pronto socorro. Um paciente requer em média 25 minutos para receber

os primeiros socorros, serviço que é feito por uma única equipe de profissionais. Assuma que

o modelo é de uma fila 1// MM e efetue os seguintes cálculos:

(a) a taxa média de chegadas;

(b) a taxa média de atendimentos;

(c) a probabilidade de que, num intervalo de tempo de 1,5 horas, 2 pacientes cheguem ao

pronto socorro;

(d) a probabilidade de que um paciente selecionado aleatoriamente encontre o pronto socorro

desocupado;

(e) o percentual do tempo em que o pronto socorro está ocupado;

(f) se há somente uma sala de espera no pronto socorro, qual é a probabilidade de que

pacientes tenham de esperar no corredor pelo atendimento?

As taxas λ e µ são determinadas aplicando-se os procedimentos da seção

6.2.

horapacientes75,12442 ==λ ,

minutopacientes04,0251 ==µ horapacientes4,26004,0 =×=→ µ .

Page 219: PESQUISA OPERACIONA

217

Como o modelo de chegadas de pacientes é uma distribuição de Poisson

com taxa média igual a λ , e o intervalo de tempo é conhecido, vamos aplicar a fórmula

αα −=∆ ex

txPx

!),( , +∈ Zx ,

para horas5,1=∆t , 625,25,175,1 =×=α . Fazendo 2=x , temos a seguinte probabilidade:

625,22

!2625,2

)5,1,2( −= eP 2496,0)5,1,2( ≅→ P .

Portanto, em um intervalo de tempo de uma hora e meia, há uma

probabilidade de 24,96% de que cheguem dois pacientes no pronto socorro.

A probabilidade de um paciente encontrar o pronto socorro desocupado é

dada por 0P , que é a probabilidade do sistema vazio. Aplicamos então a fórmula (6.13).

2708,04,2

75,111 00 ≅−=→−= PP µ

λ .

O percentual do tempo em que o pronto socorro está ocupado é dado por ρ .

7292,04,2

75,1 ≅=→= ρρ µλ .

Isto significa que cerca de 73% do tempo (no caso, 24 horas, implica em 17

horas e meia) o pronto socorro está ocupado.

O parâmetro ρ é também a intensidade de tráfego, que é expressa como

7292,0 erlangs.

Finalmente, se há apenas uma sala de espera e a sala comporta um paciente

e outro paciente está sob os cuidados da equipe, então se o número de pacientes no sistema for

superior a dois teremos pacientes no corredor do pronto socorro. Portanto, precisamos

calcular a probabilidade de encontrar mais de dois pacientes no sistema.

)(1 2102 PPPPn ++−=> .

Page 220: PESQUISA OPERACIONA

218

Basta aplicar a fórmula (6.14), )1( ρρ −= nnP para 2,1=n .

)1440,01975,02708,0(12 ++−=>nP 3877,02 =→ >nP .

Partiremos agora para a determinação das medidas de efetividade do modelo

de filas 1// MM .

Número esperado de usuários no sistema, L :

Recorremos à expressão (6.7) que define L e também à expressão (6.14).

−=→ −=∞

=

= 00)1()1(n

n

n

n nLnL ρρρρ .

A somatória é identificada como uma conhecida série convergente uma vez

que 1<ρ . Conseqüentemente, o número esperado de usuários no sistema, L , é dado pela

expressão (6.15).

ρρ−

=1

L .

(6.15)

Usamos a fórmula de Little (6.9) e obtemos a expressão para cálculo de W .

Tempo médio de permanência do usuário no sistema, W :

)1( ρλρ−

=W .

(6.16)

Para calcular qW podemos usar a expressão (6.6) combinada com a fórmula

para cálculo de W .

Page 221: PESQUISA OPERACIONA

219

Tempo médio de espera na fila, qW :

)1(

2

ρλρ−

=qW .

(6.17)

Número médio de usuários na fila, qL :

Recorremos à expressão (6.8) para 1=s e também à expressão (6.14).

−=

−=

=

=

=

11

1)1(

nn

nn

nnq

PnP

PnL

ρρ

ρρ

ρ

−−

=

−−−

=

1

),1(1 0P

O número médio de usuários na fila é calculado pela expressão (6.18).

ρρ−

=1

2

qL .

(6.18)

Vamos resolver um exemplo de aplicação das grandezas cujas expressões

foram obtidas.

Exemplo 6.3: Um sistema de atendimento ao cliente de uma pequena empresa comercial é

operado por uma pessoa através de uma central telefônica. As demandas dos clientes ao

sistema seguem uma distribuição de Poisson, com uma taxa média de chegada de 10

solicitações por hora. Os clientes são atendidos em base FIFO e os clientes que ligam e

encontram o sistema ocupado esperam pelo atendimento. Isto faz com que às vezes existam

chamadas em espera, ou seja, forma-se uma fila. O tempo gasto para atender a um cliente é

estimado como exponencialmente distribuído, com um tempo médio de atendimento de 4

minutos. Determine:

(a) o número médio de usuários no sistema;

Page 222: PESQUISA OPERACIONA

220

(b) o tamanho médio da fila;

(c) o tempo esperado que um cliente deve aguardar na fila;

(d) o tempo médio que um cliente deve ficar na loja.

Primeiramente vamos calcular os parâmetros do sistema a partir dos dados

de entrada.

A taxa de chegada é horaclientes10=λ . O tempo médio de atendimento é

µ1

, que foi dado como 4 minutos, portanto, a taxa de atendimento é minutoclientes

41=µ . A

taxa λ está em horaclientes e a taxa µ está expressa em minuto

clientes . É preciso deixar estas

taxas em unidades coerentes. Vamos exprimir λ em minutoclientes , tal como µ .

minutoclientes

minutoclientes

4161

=

=

µ

λ

Portanto, o valor de ρ , 32== µ

λρ .

Concluída a fase preparatória dos dados, estamos prontos para aplicar as

fórmulas e solucionar os itens pedidos.

O número médio de usuários no sistema é calculado pela aplicação de

(6.15).

2321

321

=−

=→−

= LLρ

ρclientes.

O tamanho médio da fila é dado pela expressão (6.18).

33,134

1

)(

1 32

23

22≅→=

−=→

−= qqq LLL

ρρ

clientes.

O tempo esperado que um cliente deve aguardar na fila é:

88)1(

)(

)1( 32

61

23

22=→=

−=→

−= qqq WWW

ρλρ

minutos.

O tempo médio que um cliente deve permanecer na loja é o tempo médio do

sistema. Vamos aplicar a expressão (6.16).

1212)1()1( 3

26

13

2=→=

−=→

−= WWW

ρλρ

minutos.

Page 223: PESQUISA OPERACIONA

221

6.4.2 Sistemas de filas sMM //

O objetivo é obter uma expressão para a probabilidade de encontrar

exatamente n usuários no sistema, nP . Para tal usaremos a modelagem do sistema de filas

multicanal como um processo de Markov de nascimento e morte, cujo diagrama de transição

está ilustrado na Figura 6.7.

Figura 6.7: Diagrama de transição de um sistema de filas do tipo sMM // .

Com a suposição de que a taxa média de atendimento de cada servidor é µ ,

a taxa média global de atendimento de n servidores é µn . Quando todos os servidores

estiverem ocupados, ou seja, sn ≥ , a taxa média global de atendimento é µs .

Um procedimento mais simples do que o utilizado no desenvolvimento

apresentado na seção 6.4.1 para obter nP consiste em escrever equações de Kolmogorov para

os −j ésimos estados (vide equação (5.23) do Capítulo 5) do diagrama da Figura 6.7. Para

facilitar o emprego desse método, basta escrever as equações de balanço para o processo de

nascimento e morte, como é indicado a seguir:

Estado Taxa de saída = Taxa de entrada 0 10 PP µλ = 1 201 2)( PPP µλµλ +=+ 2 312 3)2( PPP µλµλ +=+ ... ...

1−s sss PsPPs µλµλ +=−+ −− 21])1([ s 11)( +− +=+ sss PsPPs µλµλ

sn ≥ 11)( +− +=+ nnn PsPPs µλµλ .

λ=01q

1 0

µ=10q

λ=− ssq ,1

1−s

µsq ss =−1,

λ=+1,ssq

µsq ss =+ ,1

s 1+s

λ=−− 1,2 ssq

µ)1(2,1 −=−− sq ss

Page 224: PESQUISA OPERACIONA

222

A partir das equações escritas anteriormente, para sn ≤ , temos que:

( )0!

Pn

P

n

λ= , para sn ,,2,1 = .

(6.19)

A partir das equações escritas anteriormente, para sn ≥ , temos que:

( )0

!P

ssP

sn

s

n −= µ

λ, para sn ≥ .

(6.20)

Usamos o fato de que 10

=∞

=nnP e as relações (6.19) e (6.20) para obter a

probabilidade de encontrar o sistema vazio, 0P .

( ) ( ))1(!!

1

1

0

0

ρµ

λµ

λ

−+

=−

= sn

Ps

s

n

n,

(6.21)

onde, µλρ s= , que é menor que a unidade.

Precisamos obter uma medida de efetividade e todas as outras medidas serão

encontradas. Optamos por aplicar a expressão (6.8) que define qL .

( )02)1(!

Ps

L

s

ρµλ

−= .

(6.22)

O número médio de usuários no sistema é calculado pela expressão (6.23).

( )µλ

ρ

ρµλ

+−

= 02)1(!P

sL

s

.

(6.23)

O tempo médio de permanência do usuário no sistema é calculado pela

expressão (6.24).

Page 225: PESQUISA OPERACIONA

223

( )µρµ

µλ 1

)1(!02

+−

= Pss

W

s

,

(6.24)

O tempo médio de permanência do usuário no sistema é calculado pela

expressão (6.25).

( )02)1(!

Pss

W

s

qρµ

µλ

−= ,

(6.25)

Se um usuário ao chegar ao sistema encontrar pelo menos s usuários

concluirá que o sistema está ocupado. A probabilidade de encontrar o sistema ocupado é a

somatória das probabilidades para encontrar pelo menos s usuários no sistema,

( )==∞

= −

=≥

sn sn

s

snnsn P

ssPP 0

!

µλ

,

que resulta na expressão (6.26).

( )0)1(!

Ps

P

s

sn ρµ

λ

−=≥ .

(6.26)

Em outras palavras, a probabilidade snP ≥ é a probabilidade de que uma

chegada ao sistema tenha de esperar.

Iremos resolver a seguir um exemplo para consolidar os conceitos

desenvolvidos nesta seção.

Exemplo 6.4: Um centro de distribuição de mercadorias distribui seus produtos por

intermédio de caminhões que são carregados em dois postos de carregamento. Os caminhões

são carregados à medida que chegam e às vezes têm de esperar pelo atendimento. Após

observações foram colhidos os seguintes dados: taxa média de chegada de 2 veículos por

hora; cada caminhão gasta em média 20 minutos para ser carregado.

(a) Qual é a probabilidade de que um caminhão ao chegar ao centro de distribuição tenha que

esperar para ser atendido?

(b) Qual é o número médio de caminhões na fila?

Page 226: PESQUISA OPERACIONA

224

(c) Qual é o número esperado de caminhões no sistema?

A taxa de atendimento por servidor, µ , é obtida do tempo médio de

atendimento. Portanto, horacaminhões3=µ . A taxa de chegada é hora

veículos2=λ e do

enunciado concluímos que .2=s

Aplicamos a expressão (6.21) para calcular 0P :

( ) ( ))1(!!

1

1

0

0

ρµ

λµ

λ

−+

=−

= sn

Ps

s

n

n

( ) ( )( )3

1

23

21

0

32

0

1!2!

1

−+

=→

=n

n

n

P ,

( ) ( ) ( )( ) 6

232

1

1

1!2!1!0

10

31

23

213

203

20

++=→

−++

= PP ,

5,00 =P .

A probabilidade 0P é a probabilidade do sistema vazio. É importante

ressaltar que 0P é o valor chave nos cálculos de sistemas sMM // , uma vez que as medidas

de efetividade têm suas expressões dependentes deste valor.

A probabilidade de que um caminhão ao chegar ao centro de distribuição

tenha que esperar para ser atendido é 2≥nP .

( )→×

−=≥ 5,0

)311(!2

23

2

2nP 1667,02 ≅≥nP .

O número esperado de caminhões na fila é qL . Aplicamos a expressão

(6.22).

( )→

−= 02)1(!

Ps

L

s

ρµλ

( )

clientes083,05,0)311(!2 23

123

2≅×

−=qL .

O número esperado de caminhões no sistema é L . Aplicamos a expressão

(6.23).

Page 227: PESQUISA OPERACIONA

225

( )→+

−=

µλ

ρ

ρµλ

02)1(!P

sL

s

clientes75,032

121 =+=L .

À primeira vista o leitor pode estranhar os valores decimais obtidos para as

grandezas qL e L , uma vez que as medidas possuem a conotação de grandezas inteiras.

Entretanto, os valores decimais podem ser explicados por se tratar de esperanças matemáticas

que resultam de produtos de probabilidades por números inteiros.

A teoria das filas de espera propicia uma ferramenta valiosa para orientar o

projetista no planejamento de sistemas de atendimento a usuários em geral. O

dimensionamento de um Call Center, por exemplo, requer conhecimentos de sistemas de

filas. O Exemplo 6.5 é extraído da referência (SHAMBLIN, 1989) e mostra como as fórmulas

podem ser usadas com esta finalidade.

Exemplo 6.5: Uma companhia telefônica está planejando instalar cabinas telefônicas em um

novo aeroporto. Ela traçou a norma de que uma pessoa não deve esperar mais que 10% das

vezes que ela tentar usar o telefone nesse sistema. A demanda de uso é estimada como sendo

uma distribuição de Poisson com uma média de 30 usuários por hora. A chamada telefônica

tem uma distribuição exponencial com um tempo médio de 5 minutos. Coloca-se então a

questão: quantas cabinas telefônicas devem ser instaladas?

Os valores de λ e µ são respectivamente horausuários30 e

horausuários12 . Como µλ s< , e não sabemos qual é o valor de s , o número de cabinas não

pode ser menor que 3 ( 12330 ×< ). Vamos resolver a questão por tentativa: calculamos 0P

para 3=s e a correspondente probabilidade 3≥nP ; depois calculamos para 4=s , e assim por

diante até alcançarmos a norma especificada pela companhia. Os resultados dos cálculos estão

mostrados na Tabela 6.1.

Tabela 6.1: Valores de 0P e snP ≥ para diversos valores supostos de s .

Número de servidores, s

Probabilidade do sistema ocioso, 0P

Probabilidade do sistema ocupado, snP ≥

3 0,0449 0,702 → 70,2% 4 0,0737 0,320 → 32% 5 0,0801 0,130 → 13% 6 0,0816 0,047 → 4,7%

Page 228: PESQUISA OPERACIONA

226

Da análise da Tabela 6.1, notamos que com 5 (cinco) cabinas, a

probabilidade de um encontrar o sistema ocupado é superior ao índice especificado. A

instalação de seis (6) cabinas telefônicas daria ao usuário uma probabilidade de 4,7% de

espera. Como este número é inferior a 10%, o menor número de cabinas que atenderá às

exigências da companhia é, portanto, 6.

A referência (HILLIER e LIEBERMAN, 1995) mostra traçados de família

de curvas de probabilidade 0P e da grandeza L em função do fator de utilização ρ ,

parametrizadas por s . Essas curvas são úteis na solução de problemas do tipo abordado no

Exemplo 6.5.

Na próxima seção trataremos de sistemas de filas do tipo ‘markoviano’ com

um único atendente e capacidade do sistema finita, dada pela quantidade especificada C .

6.4.3 Sistemas de filas CMM /1//

Neste modelo, se um usuário chega e o sistema já possui C usuários este

não é atendido e é imediatamente descartado. Isto significa que o número de consumidores no

sistema não pode exceder o número especificado C . Em relação ao modelo estudado na seção

6.4.1, a principal modificação é que a taxa média de chegada de usuário será λ para todos os

estados 1−≤ Cn e será zero para Cn ≥ .

O diagrama de transição é parecido com aquele mostrado na Figura 6.6,

exceto pelo fato que o processo pára no estado Cn = . A Figura 6.8 ilustra o diagrama do

modelo CMM /1// .

Figura 6.8: Diagrama de transição de um sistema de filas do tipo CMM /1// .

A exemplo do desenvolvimento apresentado para sistemas 1// MM , para o

sistema CMM /1// temos a probabilidade de encontrar n usuários no sistema dada pela

fórmula (6.27).

λ

1 0

µ

1−C

µ

C

λ

µ

λ

Page 229: PESQUISA OPERACIONA

227

0PPn

n

=µλ

, para Cn ,,1,0 = .

(6.27)

Supondo 1<= µλρ , o cálculo de 0P passa pela avaliação da somatória

10

0 ==

C

n

n Pρ , que é uma progressão geométrica de 1+C termos.

101

1+−

−=C

ρ.

(6.28)

As relações (6.27) e (6.28) implicam na expressão (6.29),

nCnP ρ

ρρ

11

1+−

−= , para Cn ,,1,0 = .

(6.29)

As medidas de efetividade qWWL ,, e qL são então obtidas, calculando-se

primeiramente a grandeza L , conforme é mostrada em (6.30).

1

1

1

)1(1 +

+

−+−

−=

C

CCL

ρρ

ρρ

.

(6.30)

A referência (HILLIER e LIEBERMAN, 1995) traz em detalhes esta

demonstração.

As demais medidas de efetividade são obtidas utilizando-se as seguintes

relações:

ρ−= LLq ,

λLW = ,

λq

qL

W = ,

onde,

Page 230: PESQUISA OPERACIONA

228

)1(1

0 −=→=−

=

C

nCn PP λλλλ .

(6.31)

A probabilidade CP é a probabilidade de um usuário encontrar o sistema em

sua capacidade máxima.

11

)1(+−

−=C

C

CPρ

ρρ, para 1<ρ .

(6.32)

A obtenção de W e qW a partir de L e qL , respectivamente, requer para o

modelo CMM /1// o emprego do parâmetro λ , que é a esperança matemática da taxa de

chegada. Esta exigência é inerente aos processos de filas cujos sistemas têm capacidades

limitadas. A explicação para isto é a seguinte. Para o −n ésimo estado, a taxa de chegada é a

rigor nλ , sendo a probabilidade correspondente dada por nP . A razão disso é que a taxa nλ

é também uma variável aleatória do processo de nascimento e morte. Em nossas análises, para

fins de simplificação das expressões, adotamos a suposição de que as taxas independem dos

estados ,2,1,0=n e são iguais a λ . Contudo, a taxa média de chegada a longo prazo deve

ser calculada como o valor esperado, ou seja, =∞

=0nnn Pλλ , sendo nP a proporção do tempo

em que o processo está no estado n . Ora, para sistemas com capacidade ilimitada temos

λλλ ==∞

=0nnP , porém, para sistemas limitados, em geral, λλ ≠ , como é o caso mostrado

na expressão (6.31).

Resolveremos um exemplo com a finalidade de esclarecer a aplicação do

modelo estudado nesta seção.

Exemplo 6.6: Um laboratório de radiologia possui apenas um equipamento e atende pacientes

numa base FIFO. Por razões de limitação de espaço físico, o laboratório comporta um

máximo de 4 pacientes. Os pacientes chegam ao laboratório de acordo com um processo de

Poisson, a uma taxa média de 1 paciente por hora. O tempo necessário para atender um

paciente é exponencialmente distribuído com um tempo médio de 45 minutos. Determine:

(a) o número médio de pacientes presentes no laboratório;

Page 231: PESQUISA OPERACIONA

229

(b) a probabilidade de um paciente escolhido ao acaso encontrar o laboratório ocupado;

(c) o tempo médio que um paciente deve esperar para ser atendido.

As taxas de chegada e atendimento são horapaciente1=λ e

horapacientes34=µ , respectivamente. A intensidade de tráfego oferecida no sistema é

43== µ

λρ erlangs.

Dado que 4=C e foi pedido o número médio de pacientes no laboratório,

L , aplicamos a fórmula (6.30).

1

1

1

)1(1 +

+

−+−

−=

C

CCL

ρρ

ρρ

,

5

5

75,01

75,0575,01

75,0

−×−

−=L ,

444,1≅L pacientes.

A probabilidade de encontrar o laboratório ocupado é a probabilidade de

encontrar 4 pacientes no sistema.

11

)1(+−

−=C

C

CPρ

ρρ,

5

4

475,01

75,0)75,01(

−−=P ,

1037,04 ≅P .

O tempo médio que um paciente deve esperar para ser atendido é qW , que

requer o cálculo de λ .

)1( CP−= λλ ,

)1037,01(1 −=λ → 8963,0=λ horapacientes .

ρ−= LLq ,

694,075,0444,1 ≅→−= qq LL pacientes.

8963,0694,0=qW , hora7743,08963,0

694,0 ≅=qW 46≅→ qW minutos.

Page 232: PESQUISA OPERACIONA

230

Portanto, o tempo médio de espera de pacientes no laboratório é

aproximadamente de 46 minutos.

Trataremos a seguir dos sistemas de filas do tipo ‘markoviano’ com

múltiplos servidores de atendimento e capacidade finita do sistema.

6.4.4 Sistemas de filas CsMM ///

A dedução da fórmula para cálculo da probabilidade de encontrar n usuários

no sistema para o modelo CsMM /// fica trivial em vista dos desenvolvimentos feitos

anteriormente. A suposição mais forte é que o número de servidores (ou atendentes) é no

máximo igual à capacidade do sistema, ou seja, Cs ≤ .

Para um número n de usuários menores ou iguais ao número de servidores

s , a probabilidade nP é a mesma calculada pela expressão (6.19). Por outro lado, para

Cns ≤≤ , a probabilidade nP é a mesma calculada pela expressão (6.20). Para Cn > ,

0=nP , uma vez que a taxa de chegada é nula já que não é mais admitido nenhum usuário no

sistema.

( )

( )

>

+=

=

=

.para,0

,,,1,para,!

,,,2,1para,!

0

0

Cn

CssnPss

snPn

P

sn

n

n

n

µλ

µλ

(6.33)

A expressão para o cálculo da probabilidade do sistema ocioso é dada por:

( ) ( )

+

=

= +=

−s

n

C

sn

sn

s

sn

sn

P

0 1

0

!!

1

µλµ

λµ

λ

(6.34)

Já que para sn ≤ não há fila, a fórmula para cálculo do número médio de

usuários na fila é obtida efetuando o desenvolvimento da seguinte expressão:

Page 233: PESQUISA OPERACIONA

231

( )0

!)( P

sssnLq

sn

nC

sn −= −= µ

λ,

para jsn =− , ( )

00 !

Pss

jLqj

jssC

j

+−

== µ

λ,

j

s

sC

j

sj

sP

Lq

=

= µλ

µλ

0

0!

,

jsC

j

sj

sP

Lq ρµλ

=

=0

0!

,

1

0

0!

−−

=

= jsC

j

sj

sP

Lq ρρµλ ,

mas, 1−= jj

jd

d ρρ

ρ,

=

=

sC

j

js

dd

sP

Lq0

0! ρ

ρρµλ ,

=

=

sC

j

js

dd

sP

Lq0

0!

ρρ

ρµλ ,

−−

=

++

ρρ

ρρµ

λ1

1!

10

sCs

dd

sP

Lq .

A última expressão é válida para 1<ρ . O desenvolvimento então é

concluído processando a derivada que compõe a expressão. Conseqüentemente, a expressão

para cálculo de Lq para o modelo de filas CsMM /// é dada por (6.35).

( ) [ ] 02)1()(1

)1(!PsC

sL sCsC

s

q ρρρρ

ρµλ

−−−−−

= −− ,

(6.35)

onde, µλρ s= .

De posse do valor qL , o número médio de usuários no sistema pode ser

calculado pela expressão (6.36).

)1(1

0

1

0−++=−

=

=

s

nn

s

nnqq PsnPLL ,

(6.36)

onde,( )

0!P

nP

n

λ= .

Page 234: PESQUISA OPERACIONA

232

As demais medidas de efetividade são obtidas pela aplicação das seguintes

expressões:

λLW = ,

λq

qL

W = .

A importância da teoria de filas em áreas aplicadas é inquestionável. Como

exemplo, citamos o seguinte fato. Numa lista telefônica da companhia Pacific Bell, que

atende a região da Califórnia nos EUA, podemos ler a seguinte frase: “30 second response

time to 90% of customer service phone calls”. Isto quer dizer que, em 90% das chamadas

feitas pelos clientes que usam o sistema da companhia, o tempo de resposta esperado é de 30

segundos. Esta informação só é possível porque algum método que usa teoria de filas foi

aplicado no planejamento do sistema telefônico.

Na área de telefonia, o modelo de filas mais usado é o modelo de Erlang

(vide seção 4.7.4). Em sistemas de comunicações, a intensidade de tráfego é uma variável

aleatória que varia com o tempo, podendo experimentar períodos de ociosidade e de

congestionamento. O projeto de um dado sistema telefônico deve garantir que a probabilidade

de haver congestionamento seja menor ou no máximo igual a um certo valor considerado

razoável. Esta probabilidade é designada como probabilidade de bloqueio, designada pelo

símbolo bP . Dentre os modelos estocásticos de tráfego, o modelo conhecido como Erlang-B é

o indicado para medir a taxa de bloqueio de requisições quando o tráfego é aleatório e não

existe fila de espera. Este é o caso em que a requisição de chamada ao encontrar o sistema

ocupado abandona o sistema, portanto, não formando fila.

No modelo de Erlang, as chamadas chegam a um enlace conforme um

processo de Poisson de taxa conhecida, λ , que é uma medida do número médio de chamadas

por unidade de tempo. Os tempos de serviços seguem a distribuição exponencial, com taxa

µ . O tráfego é caracterizado pela relação µλ , que designaremos por ρ . O enlace é

composto por circuitos (troncos ou linhas), e uma chamada é bloqueada e perdida se todos os

circuitos estiverem ocupados. Em caso contrário, a chamada é aceita e utiliza um circuito

durante o seu tempo de retenção. Estudos realizados sobre a distribuição estatística de Poisson

para cálculo da probabilidade de bloqueio podem ser sintetizados na fórmula B de Erlang, ou

fórmula de perda de Erlang, que é dada pela expressão (6.37).

Page 235: PESQUISA OPERACIONA

233

=

=

N

k k

Nb k

N

P

0 !

ρ

.

(6.37)

Cabe notar que o modelo de Erlang é apenas parte de uma área de estudo

conhecida como teoria de filas, que é capaz de tratar problemas complexos de tráfego em

redes que são compartilhadas pelos mais diversos tipos de informação, tais com voz, dados e

multimídia. No caso do tráfego de chamadas telefônicas, o modelo de Erlang-B se aplica sem

restrições.

A avaliação numérica da probabilidade bP através da aplicação direta da

fórmula (6.37) oferece dificuldades uma vez que o número N de linhas pode assumir valores

muito altos. O problema advém tanto do cálculo do fatorial quanto do cálculo das potências

de ρ à medida que N cresce. A referência (QIAO, 1998) propõe um método eficiente de

avaliação da expressão (6.37), e também apresenta um procedimento para obter N ao serem

dados os valores bP e ρ .

Existem outros modelos de filas que possuem expressões analíticas para

cálculo das medidas de efetividade, mas que não serão tratados neste livro. As referências

(HILLIER e LIEBERMAN, 1995) e (NELSON, 1995) são excelentes fontes bibliográficas de

pesquisa e estudo de sistemas de filas. Para o leitor interessado em ampliar seus

conhecimentos sobre a teoria de filas, aconselhamos as referências mencionadas

anteriormente.

6.5 Exercícios propostos

1. O modelo de chegadas de carros seguindo por uma via estreita e única a um banco caixa-

rápido segue um processo de Poisson, com taxa média de um carro por minuto. Os tempos de

utilização são exponencialmente distribuídos, com uma média de 45 segundos. Considerando

que um carro esperará o quanto for necessário, determine (a) o número esperado de carros

aguardando por utilização do caixa-rápido; (b) o tempo médio que um carro espera pela

utilização do serviço; (c) o tempo médio que um carro gasta no sistema e; (d) a probabilidade

de que existam carros esperando na rua, se o estabelecimento do banco pode somente

comportar um máximo de 5 automóveis.

Page 236: PESQUISA OPERACIONA

234

2. Veículos chegam a um semáforo com duas opções de movimento, seguir em frente ou virar

à direita. Imaginar que os veículos formam fila única ao chegarem no cruzamento. As

chegadas obedecem a um processo de Poisson, com taxa média de 9 veículos a cada 2

minutos. Os tempos de utilização são exponencialmente distribuídos, com uma média de 25

segundos (utilização é quando um veículo recebe permissão de passagem). Supondo taxas

iguais para as demandas e para as duas opções de movimento e considerando que um carro

esperará o quanto for necessário, determine: (a) a probabilidade de encontrar o sistema

ocioso; (b) o número esperado de carros aguardando pela sua vez de passagem; (c) o tempo

médio que um carro espera pela passagem; (d) o tempo médio que um carro permanece no

sistema; e (e) a probabilidade de que um carro tenha que parar neste cruzamento.

3. Uma companhia telefônica instalou 3 cabinas telefônicas em um aeroporto. A demanda de

uso dos aparelhos é estimada como sendo uma distribuição de Poisson de modo que em média

a cada 2,4 minutos chega um novo usuário. Os tempos gastos nas chamadas telefônicas têm

uma distribuição exponencial de modo que, em média, a cada 2 horas 18 usuários concluem

suas ligações. Pergunta-se:

(a) Qual é o fator de utilização das cabinas?

(b) Qual é a probabilidade de encontrar as cabinas vazias, ou seja, o sistema desocupado?

(c) Qual é o número médio de usuários no sistema?

(d) Qual é a probabilidade de que um usuário ao chegar para utilizar o serviço telefônico

tenha que esperar pelo atendimento?

4. Os aviões requisitam permissão para aterrissar em um aeroporto de pista única a uma média

de um a cada 4 minutos; a distribuição das requisições se aproxima da distribuição de

Poisson. Os aviões recebem permissão em uma base de primeiro a chegar, primeiro a ser

atendido, sendo que aqueles que não têm condições de pouso imediato devido a

congestionamento de tráfego aéreo são colocados em espera, mas por restrições do espaço

aéreo da cidade, apenas 3 aviões podem permanecer em espera. O tempo requerido para

pousar um avião varia com a experiência do piloto e é exponencialmente distribuído com

média de 3 minutos. Determine: (a) o número médio de aviões em espera; (b) o tempo médio

que um avião aguarda até conseguir a permissão de pouso; (c) a probabilidade de que existam

mais que dois aviões em espera.

Page 237: PESQUISA OPERACIONA

235

5. Resolva o exercício anterior supondo que há duas pistas no aeroporto, ou seja,

4/2// MM .

6. Em relação ao modelo de fila estudado na seção 6.4.4, complete a dedução da expressão de

cálculo de qL , que deve resultar em (6.35).

7. Faça uma comparação entre os sistemas de filas 1// MM e CMM /1// , e verifique que as

fórmulas de cálculo das medidas de efetividade do primeiro modelo podem ser obtidas a partir

das fórmulas correspondentes do modelo com capacidade finita ao considerar o limite para

∞→C .

8. Utilize como fonte bibliográfica inicial o artigo (QIAO, 1998) e procure compreender a

proposta dos autores para avaliar a expressão (6.37) contornando as dificuldades numéricas

computacionais verificadas quando o cálculo dessa expressão é efetuado de forma direta.

Page 238: PESQUISA OPERACIONA

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