Pensamentos sociológicos

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    baixo, um texto de Jos Paulo Netto (UFRJ/PUC-SP) voltado releitura da TeoriaMarxista da Histria. Foi base da sua interveno no IV Seminrio Nacional de Histriada Educao/Unicamp (Fonte:www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/.../mesa06.rtf ).

    RELENDO A TEORIA MARXISTA DA HISTRIA

    Jos Paulo Netto

    Eu tambm queria comear agradecendo o convite para participar desse IV Seminrio Nacional, um convite que muito me honra, por esta mesa, pela presena de vocs. Edizer logo de cara de uma certa sensao de desconforto quem fala por ltimogeralmente tem vrias vantagens, mas no caso aqui eu s tenho desvantagens tendoem vista a exposio brilhante do Prof. De Decca, pela interveno sistemtica do Prof.Jos Carlos, e sobretudo pelo fato de eu no pertencer profissionalmente nem rea daeducao e nem ser um historiador profissional. Minha rea tem sido aquelatradicionalmente conhecida como das Cincias Sociais, que eu prefiro chamar de TeoriaSocial, mas tambm no cincia. E sobretudo, de um ponto de vista que nessemomento parece inteiramente jurssico. Minha leitura do real ainda permaneceteimosamente marxista.De qualquer maneira, a primeira preocupao que me ocorreu - eu preparei tambm umtextinho j que no consigo improvisar - mas a primeira preocupao que me ocorreufoi quando eu acordei hoje no hotel. Eu desci do hotel para vir a esse debate, tomei umnibus, como alguns dos companheiros aqui e viajei cerca de vinte minutos. Ns noestamos fazendo um debate em um lugar inocente. Prof. De Decca lembrava da USP,ele jovem, no do tempo da Maria Antonia, provavelvemtne. ? Ento contrastante, bom, ns estamos num lugar que um lugar assptico. Eu no vejotrabalhador, eu no vejo topos urbano, no ? um gueto. por acaso este debate nestelugar? No interessante que o CNPq pague para um marxista vir aqui tecer elaboraes sobre a sociedade? Eu acho que pensar historicamente, traduzindo um pouco o nosso tempo e o lugar de onde falamos, implica partir dessas preocupaesmais banais. Por que eu digo isso? Quero concordar inteiramente com a brilhanteinterveno do Prof. De Decca quando ele chamava ateno para essa fragmentao.Essa fragmentao absolutamente indiscutvel. Eu a vejo, acho que a aposta numafutura sntese uma aposta interessante. Mas eu sou muito pessimista com relao aseus efeitos contemporneos. E digo porque. Nunca ns insistimos tanto no interior dessa instituio (a universidade), no por acaso nesse gueto, guardado da vida social,isoladinho, limpo, assptico, aqui no tem problema (vo comear a surgir os problemas, quem trabalha na Universidade Federal vai ter mais um ano sem aumento) parece que a crise l da sia tem algo a ver com isso, h uma fragmentao no nossoolhar sobre o real, sobre o social, sobre os reais, e no entanto, segundo - e me perdoemtrazer essa informao aqui, ela parece excntrica - segundo informe do Banco Mundialde 95, estranhamente pouco citado pelos nossos economistas, 358 grandes executivoscontrolam o fluxo de bens e servios no mundo. Cada vez mais insistimos e sofremos avinculao das lgicas mercantis no nosso saber. E no entanto, isso implica cada vezmais nas autonomias do que realizamos. E supe que haja a um paradoxo, que no devenos leva a perplexidades s. Deve nos levar a indagar se essa condio ps-moderna quevivemos objetivamente, que no um mito, no uma criao mistificadora, mas se ela

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    no mantm razes que vo alm do horizonte que o nosso olhar est alcanando. Nessesentido a mim me preocupa muito o debate, na rea - vamos conservar a terminologia -das Cincias Humanas e Sociais, essa zona de sombra que tende a ser cada vez maiscorporativa. Eu me indago, e a lembrana dos nossos Departamentos (e no vale s paraa ps no, vale para a graduao tambm) se a organizao dos nossos Departamentoshoje no puramente feudal. Se ns no criamos objetos inteiramente imaginrios e

    com isso garantimos toda uma estrutura, que eu diria que uma estrutura clientelista,neptica, freqentemente desptica dentro das universidades. E eu me pergunto se essesnossos olhares, para alm da epiderme, que significativa no tempo presente, estoalcanando seus mecanismos moleculares. Isso sobretudo me afeta diretamente, namedida em que, trabalhando com as Cincias Sociais e eu falo do alto dos meuscabelos, da minha barba branca depois de quebrar a cara e ler bastante descobri queem Cincia Social, chameno-la assim, no se disse nada de novo desde 1920, quandoWeber morreu. Eu tenho o mesmo problema que muitos de vocs aqui seguramentetm, com os meus orientandos. O menino acha Foucault a inaugurao do mundo, masele nunca leu Nietzsche. Evidente, um problema.As coisas se tornam mais srias quando se cancela sumariamente o Sculo XIX. Marx,Weber, Durkheim, essas so figuras do museu da cultura contempornea. A minhainterveno vai no sentido oposto. E ela intencionalmente polmica. Eu penso que nsno entenderemos o tempo presente sem o aporte substantivo dos grandes pensadores damodernidade. E preciso conhec-los para critic-los. Eu trabalho numa universidadeonde no primeiro semestre, do primeiro ano, os jovens de 17 para 18 anos, chamam um professor simptico e diz: os paradigmas da modernidade esto colapsados. E at provvel que estejam, por favor, at provvel que estejam. Mas h que conhec-los!.Queria comear dizendo para vocs que eu tambm participo de uma idia que foiexposta aqui na mesa. Eu acho que o bom conhecimento terico-metodolgico nogarante, de partida, xito de pesquisa nenhuma. No sou anarquista metodolgico, mas podia citar inmeros exemplos, em vrias reas das chamadas Cincias Sociais, quemostram claramente que no a preparao terico-metodolgica que garante o xito da pesquisa ou da investigao. O que garante o xito da pesquisa, da investigao, ariqueza cultural do sujeito que pesquisa. Investigador ignorante, pesquisa estreita.Investigador rico, resultados fecundos e instigantes. E evidente que essa riqueza do pesquisador implica o conhecimento de vrios modelos e padres analticos e ele temque trabalhar segundo as suas opes que devem ser explicitadas. Nesse sentido, euqueria fazer um retorno, claro, que com o olhar de 1997, olhar da crise do socialismo,crise terminal, crise final, um olhar dessa vida que aparece aparentemente fragmentada eautonomizada. Eu penso que ela no est nem fragmentada nem autonomizada. Comesse olhar eu me proponho a revisitar o que penso ser a concepo de histria de Marx.Seguramente no a concepo de histria das trs leis da dialtica, por favor, mas uma releitura que me parece fecunda nos tempos contemporneos.Eu comearia dizendo que embora considere importante a distino entre Filosofia e

    Teoria da Histria essa distino no me parece uma distino gratuita eu penso quecom ela no se pode enfrentar produtivamente a problemtica terico-metodolgica daHistria. Assim, ao pensar na Teoria da Histria nos marcos da tradio terica fundada por Marx, o procedimento que eu reputo como o mais adequando, aquele segundo oqual toda a Teoria da Histria supe necessariamente um substrato filosfico. Sabendoum pesquisador que o tenha ou no, tendo um controle racional sobre ele ou no freqentemente quem fala que no gosta de filosofia est marcado por filosofiasextremamente conservadoras mas isso no significa em absoluto que tomemos afilosofia no sentido, eu diria tradicional, dos velhos sistemas filosficos especulativos

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    fechados. Entretanto, e mesmo levando em considerao essa cautela de princpio,tambm parece muito discutvel pensar o tema da Teoria da Histria na Teoria daMetodologia a partir do caso do meu ngulo de anlise da idia de uma teoria marxistada histria. Assim como eu estou convencido de que nunca existiu essa tiragemquimicamente pura, ideologicamente pura, teoricamente pura, - o marxismo - tambmno existe uma teoria marxista da histria. O que se convencionou designar como

    marxismo, um compsito campo terico-cultural, terico-poltico, onde convivem e seentrecruzam e freqentemente colidem e se chocam, variadas correntes intelectuais e prticas interventivas; por isso mesmo existem teorias marxistas da histria, em maior ou menor escala, vinculadas s distintas correntes do pensamento marxista e isso semcontar a influncia exercida por essas correntes sobre outras vertentes terico-metodolgicas. O reconhecimento dessa pluralidade de concepes tericas umimperativo posto pela anlise da realidade do desenvolvimento da tradio tericafundada por Marx. A sua diferencialidade me parece inconteste. No vejo como neg-lase examinamos as elaboraes de um Gramsci, de um Ernst Bloch, de um Lukacs, deum Benjamin, ou mesmo as investigaes, pensando nos Ingleses, de um Hill, de umThompson, de um Hobsbawn, ou de um Anderson. Um tal reconhecimento, entretanto,no pode iludir a necessidade de uma investigao rigorosa acerca de sua maior oumenor fidelidade metodolgica a Marx. Fidelidade que obviamente no tem nada a ver com qualquer interpretao talmdica ou fundamentalista da teoria marxiana. claroque esse problema no h de ser abordado aqui, mas a meno a essa pluralidade me importante por duas razes: primeiro, infirma qualquer crtica genrica s teoriasmarxistas da histria, por mais pertinentes que sejam, se referidas a manifestaestericas particulares. O que quero dizer com isso que uma crtica radical, por exemplo,de Althusser, como aquela que foi elaborada por Thompson, isso infirma a elaboraoauthusseriana e no a matriz terica uma vez que essa matriz uma matriz pluralizada.Em segundo lugar, ela obriga que a exposio dos marxistas acerca de suas concepestericas explicite sempre a sua vinculao concreta a um referencial prprio do campomarxista.Em obedincia a essa segunda razo, a minha exposio vai referir-se especificamente aMarx, ao que poderamos chamar de uma teoria marxiana da histria. As implicaesquanto primeira dessas observaes eu aludirei no fim da minha interveno. Um pressuposto da minha anlise, que no pode ser desenvolvido aqui, mas que colide comalgumas contribuies clebres, por exemplo a contribuio althusseriana, que a partir de 1843, mais exatamente a partir daquele texto clebre, o famoso manuscrito de 1844h uma inteira unidade na obra marxiana, sem prejuzo de inflexes que sinalizam nacrescente compreenso terica da investigao de Marx. A minha hiptese a seguinte:a partir de 1843 e at seus ltimos textos que so de 1879, 80, - nos ltimos trs anosMarx no produziu nada, na verdade a partir de 1875 se registra uma curva decrescenteda sua produtividade - a partir de 43, h uma unidade na obra marxiana. E essa unidade dada pelo objeto de investigao. Que objeto esse? a gnese do desenvolvimento e

    as possibilidades de crise da ordem burguesa. Esse o objeto de Marx. Esse meu pressuposto sustenta a tese de que, ao longo de sua trajetria intelectual, a partir de1843, Marx articula e desenvolve uma teoria da histria. Essa teoria, cujos ndulos maiselementares podem ser rastreados nos manuscritos econmico-filosficos de 1844,encontra as suas primeiras expresses nos textos de 45, 46, em parceria com Engels,notadamente a Ideologia Alem, mais individualmente as Teses sobre Feurbach e seexplicita nitidamente em 1847, 48, na Misria da Filosofia e, com Engels, no Manifestodo Partido Comunista. Essa teoria da histria, ou essa concepo de histria est, pensoeu, na base da leitura que Marx vai fazer nos anos 50 e 60, da dinmica capitalista

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    atravs de um trabalho de pesquisa que no parte do nada, mas sintetiza criticamente ostericos que so constitutivos da cultura ocidental. Quero sinalizar aqui que no pensoque Marx, como todo grande pensador, alis, um raio repentino em cu sereno. Menosque chamar a ateno daquilo que inovador em Marx, acho que a pesquisa, agora,deve se centrar naquilo que Marx continua enquanto herdeiro das grandes tradies do pensamento ocidental. Eu mais adiante vou chamar a ateno para isso, porque no bojo

    dessa discusso h uma questo central para a histria, que a prpria noo deverdade. Pois bem, no marco dessa elaborao, o que Marx alcana um conjunto decategorias ontolgicas nucleares que permitem a reproduo ideal do movimento real dasociabilidade. Quero tambm deixar claro o seguinte: essa releitura de Marx me pareceque infirma boa parte da tradio do chamado Marxismo iluminista que entendia a obrade Marx como uma concepo terica geral sobre a natureza e sobre a sociedade. Semdescartar a necessidade de estudar a estrutura da natureza de um ponto de vistafilosfico, ou seja, de partida no tenho nada contra mas tambm no tenho nada a favor com relao chamada dialtica da natureza, eu penso, contudo, que a leitura deMarx uma leitura da realidade social. Precisamente essas categorias e as suasarticulaes esto na base do que eu chamo de teoria marxiana da histria. Entre todasas categorias fundantes da arquitetura terica de Marx ocupa lugar central a categoria de prxis, sobre a qual correu tinta em demasia desde as investigaes de Lukacs eGramsci dos anos 20 aos estudos de Marcuse, Lefebvre e Vzquez. precisamentesobre a concepo do homem como ser prtico e social que repousa na idia capital dotrabalho como forma modelar de prxis, vale dizer, o nico modo de criao, precisamente a partir dessa concepo que Marx elabora a sua teoria da histria. Nela seancoram todas as demais categorias nucleares com que Marx opera entre as quaisdestaco as de totalidade, negatividade e mediao sinalizando o fato de que h umaenorme riqueza categorial na obra de Marx que , talvez, entre os autores damodernidade, aquele que mais construiu categorias. Vou me ater s mencionadas porque me parece que elas articulam a sua arquitetura terica. Repito, porm, que todasas categorias s adquirem o seu estatuto concreto se portadas pela de prxis. Qual essaconcepo de histria de Marx? eu diria que a teoria marxiana estruturada com essascategorias sustenta a histria como: primeiro um processo objetivo, segundomedularmente contraditrio, terceiro no qual concorrem sujeitos coletivos, quarto que,determinados socialmente, atuam com diferentes graus de cinco conscincia e seis comteleologias diversas. Em outras palavras, quanto ao processo objetivo, isso significa quese trata de uma processualidade que porta em si mesma uma especificidade primariamente independente das representaes que dela faam os sujeitos; segundo,esse processo contraditrio j que ele marcado pela tenso entre os interesses sociaisque circunscrevem os diferentes sujeitos em presena; terceiro. um processo comsujeitos, seus sujeitos reais no se plasmam como personalidades singulares, mas comogrupos sociais vinculados por interesses comuns; quarto, projetos que so conduzidos por sujeitos determinados, isto , tais sujeitos no se constituem aleatoriamente, mas

    segundo imperativos e possibilidades que se colocam concretamente nos espaos etempos precisos; quinto, so sujeitos conscientes, ou seja, esses sujeitos no atuamcegamente mas direcionados pelo maior ou menor grau de conhecimento que tm doslimites e possibilidades da sua ao. E seis, um processo que marcado pela ao dossujeitos que tm finalidades, tm intenes sendo, pois, um processo tencionado por sujeitos com suas prprias teleologias. Cada objetivo do processo histrico respondecom um aparente paradoxo, os seus sujeitos atuam com intencionalidades determinadasmas o processo em si mesmo carece de intencionalidade, vale dizer, a histria no temuma finalidade imanente e o reconhecimento daquelas intencionalidades, se quiser, os

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    projetos que mobilizam tais sujeitos, afirmam a histria como um espao de tensoentre a necessidade posta pelas determinaes sociais concretas e a liberdade posta pelohorizonte de fins que animam os sujeitos, mas concretamente, afirmam a histria comoum campo aberto de possibilidades. Essa teoria da histria sustenta a primeira anlise deMarx do modo de produo capitalista contida como todo mundo sabe na Misria daFilosofia. Articula a primeira expresso programtica terica proletria (Manifesto do

    Partido Comunista) e os primeiros estudos concretos de Marx (As Lutas de Classe naFrana, 48/50, o 18 Brumrio, j mencionado aqui) mas ela que ganhar plenacompreenso a partir dos fundamentais estudos dos anos 57/58, consignados nosmanuscritos conhecidos por Grundrissen que abrem a via para a elaborao docapital. Aqui, em 1857/58, na culminao do itinerrio de pesquisa e de intervenodesenvolvida desde 43/44, essa teoria da histria se configurar como uma teoria daordem burguesa. isso o capital, a reproduo ideal do movimento real de um objetodeterminado: a sociedade assentada na dominncia do modo de produo capitalista. Eutenho me referido at aqui teoria marxiana da histria, parece necessrio distinguir claramente a essa altura o plano ontolgico do plano reflexivo, ainda que a reflexo deMarx na contracorrente de boa parte do pensamento da modernidade seja orientadaontologicamente. Isso que eu estou sinalizando como teoria marxiana, a reproduoideal, isto , o domnio pela conscincia terica do movimento real da histria.Reproduo tornada possvel graas ao arsenal de categorias elaboradas racionalmenteno exame do objeto social. A elaborao dessas categorias, sua articulao e suaeficcia analtica, mesmo que estreitamente vinculadas quele momento real, possuiuma legalidade que lhe imanente, ou no seria teoria, seria o prprio objeto. A teoriamarxiana da histria, assim, reproduzindo o movimento do objeto, no se identifica comele; faz com ele uma unidade, mas no mantm com ele uma relao de identidade. Nesse sentido, Marx opera numa concepo de verdade objetiva que Aristteles instalouno pensamento Ocidental. Eu creio que essa uma questo que atravessa todas asnossas polmicas: qual a noo de verdade com a qual ns estamos trabalhando, no? Ns sabemos que uma das caractersticas da modernidade promover umdeslizamento, um deslocamento, colocar em questo a noo que eu chamaria clssica,a noo de verdade formulada por Aristteles, que uma noo ontolgica. bomdefinir logo de partida: Marx trabalha com essa noo. Para Marx, a verdade - pararetomar a frmula eu diria aristotlica - a coincidncia, o encaixe, digamos assim, deuma representao terica com um objeto que a antecede, objeto no necessariamentematerial. O que distingue Marx dessa linha de continuidade que o critrio de verdade para ele no um critrio da conscincia solipsista; a prtica social que aparece comocritrio de verdade. A questo da teoria, ou mais exatamente, da reproduo ideal domovimento real, remete diretamente questo do mtodo. Eu creio que isso nosinteressa particularmente, aceitemos ou no ou supostos com os quais Marx trabalha. Ns sabemos que Marx pouqussimas vezes se deteve numa discusso estritamentemetodolgica. Quem rastreia, quem conhece a obra de Marx sabe que em pouqussimos

    momentos ele dedicou uma ateno autnoma ao tratamento dos problemasmetodolgicos. Mais uma vez o pe na contra corrente da modernidade. Isto ocorre em1944, 45, em 47 e em 57, 58; fora disso, as aluses em Marx questo metodolgicaso verdadeiramente residuais, o que no me parece espontneo. Isso se explica pelofato de que nele o interesse epistemolgico est sempre subordinado direoontolgica da sua reflexo. Quando ele discute mtodo ele o faz sempre conectando adiscusso do mtodo a um objeto preciso. Isso por uma razo bvia: na medida em que pe a teoria como reproduo ideal do movimento real do objeto, a relao do sujeitoque queira reproduzi-lo (o objeto) no pode ser aleatria, mas deve ser uma relao

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    determinada, numa perspectiva que permita apreender a dinmica do objeto. Assim,antes que um conjunto de regras formais e intelectivas, como ocorre, por exemplo, coma sociologia positivista de Durkheim, ou antes que a prescrio de procedimentos para aconstruo de modelos ideal-abstratos, como a sociologia compreensiva de Weber, aquesto metodolgica aparece em Marx como aquela relao reflexiva que permite aosujeito apropriar-se da dinmica do objeto. Na introduo que abre os manuscritos de

    1857, 58, Marx explicita claramente o procedimento metodolgico que guia a suainvestigao. E os retornos questo do mtodo, os prefcios e os posfcios do capital,no acrescentam nada de substantivo ao que expressamente sistematizado. Quando eletematiza o mtodo da economia poltica ele esclarece suficientemente, seja a elaboraocategorial, seja o trato do material emprico. Para alm da riqueza e da problematicidadedesse texto seminal, o que me importa assinalar que nele se enfeixa o essencial dotrato metodolgico de Marx. Ai se esclarece que a elevao do abstrato ao concretoimplica a crtica gentica estrutural, que a determinao do carter totalizante darealidade, carter que lhe imanente segundo Marx, resulta da pesquisa das mediaese que a reproduo do concreto pela via racional supe a via da abstrao. Se isso verdade, as implicaes so as mais fecundas. O mais importante est na determinaoessencial de que a crtica , de fato, a caracterstica do conhecimento terico para Marx.Para ele o conhecimento terico necessariamente conhecimento poltico. Adeterminao essencial que a crtica das condies da produo da vida material somente o ponto de partida para a reproduo terica do movimento social. Ponto de partida metodolgico, no mais do que isso. A crtica das condies da produo davida material abre a via reproduo ideal que simultaneamente explicao ecompreenso do conjunto do movimento social, mas no a realiza direta ounecessariamente. Trocando em midos, crtica das condies, ou melhor, conhecimentoterico das condies de produo e reproduo da vida material no significa paraMarx, de modo algum, conhecer a estrutura social e conhecer o modo integral defuncionamento de uma sociedade. Tambm nesse texto, repondo o que se poderiaindicar como o que me parece ser o ideal terico- metodolgico de Marx: a mximafidelidade do sujeito que pesquisa ao objeto pesquisado. Mas advirto: no nosespelhemos numa espcie de teoria do reflexo. A crtica demanda um sujeito ativo, ricoem determinaes. S um sujeito criativo pode trazer conscincia um objeto concreto,que sntese de mltiplas determinaes. Isso posto, est claro que no cabe para Marxo molde de uma aplicao do mtodo a um objeto particular. Gostaria de me deter nisso porque tambm considero - isso foi mencionado aqui na mesa - que um dos desastres da produo acadmica consiste em se pretender aplicar um mtodo a um objetodeterminado. Houve um tempo, hoje isso j est meio superado, no se fala mais nisso,mas houve um tempo em que toda dissertao ou tese trazia um captulo epistemolgicoonde o sujeito dizia quais eram os seus supostosl; depois a gente ia ler a anlise l nafrente, raramente mantinha qualquer vinculao orgnica, qualquer vinculao eu diriaviva, concreta, com os pressupostos. Ora, em Marx, esse um caminho que est

    claramente interditado. Eu quero mais uma vez lembrar que no estou falando dosmarxistas; eu esto falando de Marx, estou me atendo exclusivamente a Marx. Nssabemos que a universidade brasileira foi duramente marcada, em especial no final dosanos 70 e princpio dos anos 80, pelo vis das transposies diretas quando se pretendiaachar dialtica debaixo da cama, descobrir luta de classes na cozinha... Ora, o velhoMarx no fez isso!. Posso sustentar isso aqui documentalmente, depois ns vamos ter um bom debate em torno disso. Quero insistir que para Marx a idia de uma aplicaometodolgica lhe impertinente. Na investigao concreta, - e esse o problema dainvestigao, e tambm o problema da investigao histrica - na investigao

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    concreta, cabe ao sujeito reproduzir racionalmente o objeto restituindo-lhe todas as suas(dele, o objeto) mltiplas determinaes; no cabe ao sujeito trazer uma imagem doobjeto, mas claro que isso s se sustenta na medida em que trabalhamos com aconcepo clssica ocidental de verdade. Infirmada essa concepo evidentemente essaconstruo carece de significado. Nesse sentido, me interessa sinalizar como que Marx trabalhava. E vocs me perdoem,

    especialmente aqui os meus companheiros de mesa, se eu vou chover um pouco nomolhado, mas eu creio que no chover no molhado. A minha prtica acadmica temme trazido algumas experincias muito curiosas, especialmente na rea das CinciasSociais, Humanas. Estudantes e professores se apropriam de todo um lxico, de todo umconjunto de, eu diria no categorias, mas de noes, constrem um discursoabsolutamente seguro e de repente, quando a gente comea a espremer, no sai nada. Eucostumo brincar que no h expresso que eu mais deteste do que aquela de processodialtico. Quero chamar a ateno de vocs que pela primeira vez eu estou falando essa palavrinha malvada aqui. Tudo aquilo que a gente no entende exatamente o que , viraum processo dialtico. Ningum pergunta o que , como que Marx, depois eu querodizer o que me parece isso tem a ver com a histria. Como que Marx trabalhava?Vamos deixar a formulao metodolgica, como que ele trabalhava?. Isso estdocumentado, eu diria, sobretudo nos grandes manuscritos de 1857, 58, que so umaespcie de diagrama, so o laboratrio mental de Marx. Ali a gente pode perceber essemovimento com muita clareza. E Marx parte sempre de um dado emprico, de um dadoda factualidade. O procedimento dele, qual ? agarrar um fato emprico, eu diria umelemento efetivo, se vocs quiserem, um elemento da positividade. Ele operasimultaneamente em dois nveis de anlise. O primeiro tipo de anlise a observaodireta. O segundo tipo de anlise a observao indireta. Eu anotei a interveno doProf. Jos Carlos Reis, sobretudo quando ele falava das novas fontes que a Escola dosAnnales elaborou, da diversidade das fontes. Um bom leitor de Marx localizaclaramente nos procedimentos de Marx todo esse material, no s o documento oficial,no s a ata, mas todo um recurso heurstico, que espantoso, abrangendo, inclusive, a biografia, o memorialismo da poca. Marx trabalha isso, a experincia direta, aexperincia indireta. E sempre opera um duplo corte, aquilo que os lingistas chamamde trabalho no eixo das simultneidades e o trabalho no eixo das sucessividades. Marxopera uma pesquisa diacrnica e simultneamente uma pesquisa sincrnica e isto por uma razo de princpio eurstico, uma vez que a gnese no se confunde nem com odesenvolvimento nem com a estrutura. Portanto, a anlise diacrnica no d conta dosignificado. preciso a analise sincrnica. Mas ele parte de elementos da factualidade,da positividade, trabalhando sincrnica e diacrnicamente, para buscar processos. Nestesentido, Marx opera segundo a velha tradio filosfica ocidental, posta hoje emquesto pelos ps-modernos, da distino entre a aparncia e a essncia. Segundo Marx, para captar a aparncia, para sinalizar o conjunto de processos de um fenmeno no necessrio nenhuma pesquisa. Basta mir-la, basta verific-la, basta constat-la. Em

    Marx, a aparncia no descartada, no secundarizada, mas ela tanto revela quantooculta a essncia. Donde, partir da aparncia significa partir da factualidade paralocalizar processos que remetem a novos dados, que remetem a novos processos e que, portanto, permite, numa viagem regressiva, num caminho de volta, retomar aquelamesma factualidade que foi o ponto de partida inicial e encontrar nela, retirando da sua processualidade, os traos que a particularizam. E evidente que Marx busca encontrar regularidades. Ele usa e seus leitores sabem e bom no se impressionar com isso, eleusa rigorosamente o vocabulrio da poca. Ele quer encontrar leis, ainda que ele sempreinsista no fato de que essas leis so tendenciais. Mas ele quer buscar leis. Leis de

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    regularidades. Ora, nesse processo o que me chama a ateno, em primeiro lugar, arelao sujeito-objeto. Marx conserva sempre a noo de que o objeto sobre o qualtrabalha um objeto produzido pelos homens. A objetividade particular desse objetoque se impe aos homens mais alm da representao que dele faam, isso no lhe retirao carter de no ser um objeto natural. Da pensarmos que a categoria fundante do pensamento de Marx a categoria de classes. Isso significa que inevitavelmente o

    sujeito est autoimplicado no objeto. No h uma relao de exterioridade na pesquisado social, na pesquisa do scio-histrico, na pesquisa do cultural, h uma relao deautoimplicao, que no uma relao de identidade, mas uma relao de unidade. Emsegundo lugar, Marx opera sempre com essa malfadada categoria da totalidade, to posta em questo hoje e que necessita efetivamente ser repensada. que Marx parte danoo de que no h nada irredutvel na realidade social. Para Marx a realidade social um complexo constitudo de complexos. Aqui de novo vem o dbito de Marx comaqueles que o precedem. Quem conhece filosofia h de se lembrar daquela noohegeliana do crculo constitudo de crculos: a realidade um complexo constitudo decomplexos. Isto significa que o dinamismo de cada um desses complexos no pode ser rebatido em outro. Trocando em midos, h em Marx sempre o enorme cuidado com aespecificidade das distintas instncias sociais. Isso pe a centralidade da categoriaterica da mediao. Essa categoria uma categoria central em Marx. Especialmenteaqueles que tm mais rodagem na academia sabem que o que caracterizou entre ns omarxismo vulgar foi precisamente a supresso de qualquer concepo mediadora davida social. H uma coisa ai chamada luta de classes e ela bate igualzinho na empresa,na escola, na famlia, onde quer que se v. E evidente que esse procedimento no temabsolutamente nada a ver com Marx. Na verdade, a questo posta por Marx a questoda anlise da particularidade, que ele entende como um campo de mediaes entre auniversalidade e a singularidade. evidente que esse narrador aqui fala de um ponto devista determinado. A mim me parece que esse enquadramento, esse guia de pensar oreal, e voltaremos ao problema dos limites desse guia logo a seguir, no algo que passe sem muitos problemas.O primeiro problema o cuidado em no fazer - isso j foi mencionado aqui na mesa eeu quero retornar a isso - de uma referncia terico-metodolgica, uma maneira deestreitar o objeto. Referncia terico-metodolgica s pode servir para abrir o objeto interveno do pesquisador. Nesse sentido preciso lembrar sempre que os fenmenosso sempre mais ricos que as leis tericas que se possam estabelecer sobre eles. A razoest sempre atrs da realidade, ela no esgota nunca a realidade. Isso lhe d um sentidode claro conhecimento relativo e no a mesma coisa que uma perspectiva relativista deconhecimento. O segundo trao aquele que me parece mais importante paraarredondarmos essa conversa e abrirmos o debate. que Marx estudou o que? Nasnossas Universidades h um pedao de Marx em cada departamento. H um pequeno pedao de Marx no Departamento de Sociologia, diga-se de passagem, mas ele estesquartejado entre vrios outros departamentos. Os socilogos o lem enquanto

    socilogos, os historiadores enquanto historiadores e assim por adiante e nsencontramos esse mosntrengo que uma sntese enciclopdica de todas as cinciassociais. Ora, preciso restituir a historicidade essencial de Marx. Marx no se enquadrana nossa grade pulverizada de ver o mundo segundo o objeto especfico das CinciasSociais. Marx no uma sntese de Sociologia, Antropologia, todos os ismos e ias.Marx um pensador que inaugura um modo determinado de ver a realidade. Nessesentido, para Marx, inteiramente legtima a formulao clebre l de 1845 que dealguma maneira me autoriza com essa aparente autoridade a conversar com vocs. Sreconhecemos uma cincia, a cincia da histria. que em Marx, a noo de

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    historicidade, do ponto de vista ontolgico e a noo reflexiva de histria, soabsolutamente abrangentes. Logo, essa crise contempornea de saber onde comea aAntropologia e acaba a Sociologia da Cultura, saber onde que comea a Micro-sociologia e seus limites com a Psicologia Social, esse problema no se pe para Marx.O que no quer dizer que Marx tenha uma receita para explicar desde a crise do capital,a calos e calosidades. Na verdade preciso deixar bem claro que a obra de Marx padece

    de um limite central. Marx se props como objeto a anlise da ordem burguesa, e s nosdeixou um nvel dessa anlise, um, o nvel do seu movimento econmico, maisexatamente, o nvel do movimento do capital. Foi isso que ele nos legou. E insistindosempre que esse o ponto de partida para a anlise da sociedade; no a esgota emabsoluto. Mas h a dois problemas que me parecem que esto at hoje, dos finais dosculo passado at hoje, apoquentando todos aqueles que simptica ou antipaticamente, para usar o termo segundo os velhos gregos o tratavam, se relaciona com Marx. O primeiro problema dia respeito ao mbito de validez dessa leitura da histria. Durantemuito tempo, e ainda h figuras que sustentam isso, a concepo de histria de Marx ede historicidade, a chave heurstica para desvendar de Ado ao comunismodesenvolvido, ou seja, para aqum e para alm da ordem burguesa. Eu penso que auniversalidade do pensamento de Marx est restrita rigorosamente aos quadros daordem do capitalismo. Quem quiser estudar o que veio antes ou depois, evidentementese vier depois alguma coisa, apenas com o marco de referncia de Marx, seguramentevai se dar mal. Marx explcito quanto a isso, est pensando a ordem do capital. Paraalm ou para aqum disso so necessrios outros recursos heursticos, que Marx nofornece, alis nem pretendia. O segundo elemento um elemento muito tenso, que eusuponho que os historiadores profissionais devem ter padecido para resolv-lo em cadasituao determinada; essa, a palavra miservel, essa estranha dialtica entrenecessidade e liberdade. Como que isso joga em conjunturas histricas precisas? Noh receita prvia para isso; preciso investigar.Mas agora eu quero retornar, para fechar, ao meu primeiro ponto. Quais so as crticasque no marco da ps-modernidade, no marco contemporneo, so feitas a essaabordagem de ordem metodolgica? Ns podamos escolher vrios bons interlocutoresde Marx. Primeiro Weber, mas vocs sabem que Weber desenvolve toda sua teoria do pluricausalismo, a frmula de Weber conhecida, quando eu encontro uma nicaexplicao para o fenmeno social, podemos ter certeza que essa explicao falsa. Eme parece que Weber tem toda razo nisso. Qualquer forma de monocausalismo basicamente redutora. S que Weber estava discutindo com a Segunda Internacional,no com Marx. Ele transfere uma leitura precisa para o conjunto da obra. Podamoslembrar as crticas de Durkheim, mas eu preferia ficar com um autor contemporneoque nesse momento faz furor em algumas universidades brasileiras. Trata-se do professor Boaventura de Souza Santos, que um socilogo portugus da melhor, comodizem os portugueses, um socilogo de primeira gua, e que no seu ltimo livro publicado aqui no Brasil, Pela mo de Alice, tem dois captulos onde ele enfrenta

    abertamente a discusso com Marx. Eu fiz uma anlise disso num texto que saiu pelarevista da UFRJ, e vou rapidamente sinalizar quais so as crticas que o professor Boaventura faz, e que so as crticas no apenas ps-modernas, pois esse elenco decrticas vem, eu diria, desde 1890. A primeira crtica a idia do reducionismo. H emMarx um reducionismo econmico. Eu penso que essa crtica no se sustenta quandotratamos a textualidade de Marx. Marx no um autor fatorialista, h um fator econmico, um fator poltico, um fator... isso no existe em Marx. Na medida em queMarx opera sistematicamente com a categoria da totalidade esta crtica impertinentecom relao a Marx. A segunda crtica aquela que vem sobretudo de Liotard mas j

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    vem de antes. Trata-se da idia da metanarrativa, dos grandes relatos. Os marxistasseriam timos para grandes painis, um objeto microscpico no serve, ento eu vou para a fenomenologia, vou para outras alternativas. Isso parece um equvoco. No otamanho do objeto que define a sua relao com a totalidade. Eu posso fazer micropesquisas conservando uma perspectiva ampla de sociedade, do processo social ede histria. A terceira idia a do determinismo, como se houvesse em Marx um

    determinismo econmico. evidente que Marx opera como um militante, quefreqentemente tem que dar plulas de convico, do tipo o socialismo vem, ns temosque nos organizar. Marx no foi um profissional que trabalhou com bolsa do CNPq,como ns. Ele era um pesquisador que estava colado no movimento social e evidenteque esse um elemento constitutivo das suas concepes tericas e de seu mtodoexpositivo; no h que perder isso de vista. Mas eu diria que perfeitamente possvel provar textualmente, e j h estudos a esse respeito, que em Marx no h umdeterminismo no sentido de imaginar a histria com teleologia. Os sujeitos histricosoperam teleologicamente, mas a histria no tem teleologia. O aspecto final a idia deevolucionismo. claro que Marx tem uma leitura evolutiva da sociedade humana,quanto a isso no resta a menor dvida. O que me parece fundamental distinguir umaconcepo evolutiva de uma concepo evolucionista, que supe que haja umateleologia j contida no princpio. Penso que essa crtica impertinente tambm comrelao a Marx. Ora, finalizo chamando a ateno para o seguinte: nenhuma dessascrticas moderna, nenhuma delas nova, todas essas crticas j remontam ao sculoXIX, remontam fundamentalmente constituio da segunda internacional, a partir de1889. Isto quer dizer o seguinte: se a minha hiptese de trabalho est correta, essascrticas so pertinentes a boa parte da produo marxista, mas a produo marxista nose confunde, nem se identifica com a produo marxiana, o que no quer dizer quesejam autnomas, por favor, podemos discutir isso depois, mas eu diria que a produomarxiana tem um estatuto distinto das vrias linhas de explorao e desenvolvimento datradio marxista.Queria terminar dando para vocs uma sugesto que me posta sempre quando euinicio meus cursos de instruo sobre mtodos e teoria: na Inglaterra dos anos 40 e 50,havia um marxista extremamente qualificado chamado George Thompson (por favor no confundir com xxx Tompson (?), historiador que nesse momento faz tanto sucessono Brasil). O G.Thompson era um historiador da cultura e se meteu a estudar a velhaGrcia. Conhecia Marx como ningum, e produziu alguns estudos interessantssimossobre o drama, mais exatamente a tragdia grega do perodo clssico. Pouco depois,trabalhando no exlio nos Estados Unidos, um pensador alemo, absolutamente alheio tradio marxista, W. Jaeger, tomou o mesmo objeto que era a Grcia clssica, e produziu uma obra monumental chamada Paidia, os ideais da cultura grega. Eu,como marxista, tomo o meu companheiro ingls e vejo que ele fez um estudointeressante; tomo o alemo que no tinha nenhuma lio de marxismo e vejo que elefez um estudo monumental sobre a cultura grega. Com isso eu retorno minha

    colocao inicial, ou seja, nenhuma formao terico-metodolgica garantia de xitode investigao. Ela um dos componentes da investigao e deve ser um componentefundamental. No h pesquisa rica feita por sujeito ignorante, mas s o sujeitoculturalmente rico no constitui garantia para o xito da pesquisa. Quase sempre nstemos uma noo muito linear da pesquisa, sobretudo quando a gente l as teses. Osujeito formulou hipteses, encontrou variveis, fez uma pesquisa riqussima. Quem faz pesquisa sabe que no assim. h idas e vindas, voc abandona supostos, tem querecicl-los, retific-los, freqentemente a hiptese inicial serviu s como um condutor que foi logo substitudo quando voc encontrou o rumo. Nesse sentido,- sem nenhuma

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    observao que acene para um anarquismo metodolgico ou terico-metodologico, porque isso no faz parte da minha viso,- eu chamaria a ateno para o conjunto decautelas que devemos ter, que o bom mesmo o resultado da investigao, o produtodela. Quando se tem um produto rico na mo, pouco importa saber de onde que eleveio, o que importa que abre o nosso olho paro mundo. E nesse sentido, a distinoentre filosofia da histria e teoria da histria, me parece significativa. que a filosofia

    da histria quer mais do que o conhecimento, quer conhecer e orientar; nesse sentido setrata de uma pedagogia social. Muito obrigado.

    KARL MARX rika Zuza, Luzigrcia Rocha,

    Karla Pereira e Janana Almeida (*).

    HISTRICO

    Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Treves,capital da provncia alem do Reno, cuja tradio remontavaaos tempos de Roma. Treves desempenhava um papel, nosculo XIX, importante na cultura dessa regio, misturando oliberalismo revolucionrio, vindo da Frana, com a reao doAntigo Regime, liderada pela Prssia. Pouco se sabe sobreseus antepassados. Seu pai, Hirschel, era advogado e

    conselheiro de justia. Em 1824 abandonou o judasmo,batizando-se com o novo nome de Heirinch. possvel queessa converso tenha sido por motivos materiais, pois, nessapoca os cargos pblicos ficavam vedados aos judeus daRennia. Sua me, Enriqueta Pressburg, apesar dedescendente de rabinos no exerceu sobre o filho a fortedoutrinao, habitual nas famlias israelitas, e no teve

    qualquer influncia intelectual sobre sua formao.Quando terminou o secundrio em Treves, Marx se

    matriculou na Universidade de Bonn, queria estudar jurisprudncia. L, descobriu a vida bomia e esbanjoudinheiro. Na universidade, tambm, passou a escrever versosapaixonados para uma amiga de infncia, Jenny Von

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    W estphalen, que viria a se casar, algum tempo depois. Asfamlias se opuseram, j que seria um casamento desigual,pois, a jovem possua alta posio social, no entanto, nadaadiantou.

    Cumprindo um desejo do pai, que queria que terminasseos estudos antes do casamento, matriculou-se naUniversidade de Berlim. Afastou-se do Direito e se aproximouda Histria e da Filosofia. Em uma de suas cartas ao pai, Marxrevela suas relaes contraditrias com o hegelianismo,pensamento dominante na Berlim da poca. Apesar disso, nodeixou de ser atrado e envolvido pelo idealismo de Hegel,

    Filosofia que se prope , sobretudo, juntar o mtodo e oobjetivo. Estado, Religio, Filosofia constituem para Hegelsuprema manifestao de Deus, entendido como absoluto.Desse ponto de vista, a religio crist aparece como a maiscompleta revelao da razo, enquanto esprito universal.

    O jovem Marx participou diretamente das discusses edos trabalhos do grupo de Berlim at 1841, perodo em que

    voltou a Treves. Levava consigo textos inacabados,abrangendo vrios estudos como a crtica da escola histricado Direito, anlise da arte crist entre outros. Abandonou acarreira de advogado para tentar conseguir uma ctedrauniversitria.

    Marx no conseguiu abraar a carreira universitria emBonn, procurou uma universidade menor e neutra, doutorou-se ento por Iena. Marx enviou um artigo, na poca, para arevista Anedota, publicada por Ruge, contra a censura naimprensa, passou a colaborar, tambm, com a Gazeta Renana,rgo liberal publicado em Colnia. Marx passa ento a sepreocupar com problemas polticos e sociais. Pouco a pouco, oque para Marx parecia dever ser uma revoluo poltica,

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    reclamando uma reorganizao do Estado, transformou-se naidia de uma revoluo social, que deveria modificar a prpriaestrutura da sociedade como um todo.

    O namoro da burguesia liberal com a esquerdahegeliana durou pouco. A crtica social democratadesenvolvida por Marx, o socialismo utpico de Moses Hess,afastaram os leitores da Gazeta Renana, que foi fechada pelogoverno. Marx acabou emigrando para a Frana.

    A esquerda hegeliana resolveu ento publicar umarevista no exlio que se chamaria Anais-Franco-Alemes. Elano passou do primeiro nmero duplo, Marx colaborou com

    dois trabalhos: Introduo a uma crtica da Filosofia do Direitode Hegel e a Questo judaica. Nesse nico dos Anais Franco-Alemes, foi publicado um artigo de Frederick Engels quemarcou uma virada no pensamento de Marx. Ele faria daEconomia Poltica, seu principal objeto de estudo. Do mesmomodo que Engels, Marx partiu da idia feuerbachiana dohomem como um ser genrico, pensando, alm do mais, a

    sociedade civil como lugar de sua alienao. Esta nasce deuma forma de trabalho a que o sistema de produo,orientado para a posse e para o mercado, submete otrabalhador. O homem produz, apenas, para ter o produto doseu trabalho a fim de troc-lo por outro. E a, com adeslealdade do comrcio, todos acabam se alienando.Contudo, discorda de Feuerbach na teoria de que a religio eraconseqncia,e no causa, da alienao do homem atravs daexplorao e das lutas de classe, que s poderia ser resolvidocom a ascenso do proletariado ao poder.

    Para Marx, o Estado Alemo da sua poca representavao passado dos povos modernos e a luta contra sua opressoassinalaria o esforo de livrar a humanidade de todos os laos

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    que a alienam. Um de seus pensamentos de que toda crticapermanece incua se no atinge a raiz do prprio homem,enquanto ser concreto e a sociedade no qual vive e semanifesta.

    A coincidncia de perspectivas e de resultados uniu Marxe Engels a um trabalho comum. Fizeram : A Sagrada Famlia,no qual, o subttulo : Crtica de uma Crtica Crtica . Elespreconizavam um amplo entrosamento da teoria com osproletrios, pois, diziam, nada mais ridculo do que umaidia isolada de interesses concretos. O livro ainda no haviasido publicado, quando Marx foi expulso do territrio francs,

    em fevereiro de 1845. Refugiou-se, em Bruxelas, e o motivoda expulso foi um artigo escrito para Vorwaerts que tratavasobre a greve dos teceles da Silsia. O governo prussianoaproveitou-se disso para pressionar o governo Francs parafechar a revista e perseguir seus redatores.

    No exlio, Marx e Engels redigiram Ideologia Alem e,l, Marx continuou a se preocupar com a poltica. Participou da

    Liga dos Comunistas e foi para um congresso da Liga queele e Engels prepararam: o Manifesto Comunista. Essa obrainsiste na necessidade de substituir o programa contra apropriedade privada, em geral, pelo projeto da apropriaocoletiva dos meios de produo capitalista, quanto a fonte dealienao do homem que vive numa sociedade desse tipo.

    No ano de 1848, Marx desenvolveu intensa atividade. Orei Leopoldo da Blgica respondia agitao popular,dissolvendo todo tipo de agitao operria e perseguindo osexilados que, l, estavam. Marx retornou a Paris. A Liga, noentanto, dissolveu-se e Marx fundou a Nova Gazeta Renana.Viu-se obrigado a procurar novo exlio, devido vitria deseus adversrios. Fixou-se, definitivamente em Londres.

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    Escreveu O 18 Brumrio de Lus Bonaparte em 1852, que erauma forma de resolver seus problemas financeiros. Tratandode um assunto atual, ele esperava ganhar algum dinheiro. Poroito anos, colaborou com dois artigos semanais, no New York

    Tribune. Em 1859, ficou pronto o texto: Para a Crtica daeconomia Poltica e em 1867, foi publicado O Capital. Marxescreveu para si prprio uma enorme quantidade de textos,hoje, reunidos em grande parte nos Esboos da Crtica daEconomia Poltica e Teorias sobre a Mais-Valia, sendo queeste ltimo deveria constituir o quarto volume de O Capital.

    Quando se estabeleceu, em Londres, que Marx entrou em

    contato com as teorias de Adam Smith e David Ricardo.Divergindo deles na teoria da evoluo do sistema daeconomia inglesa, devido ao diferente contexto filosfico eobjetivo cientfico diferentes problemas para resolver fazendo adotar um enfoque metodolgico distinto para aeconomia poltica. Ele percebeu que os economistas inglesesse detiam s riquezas das naes, usando como premissas, asanlises da sociedade da poca. Por isso, aprofundou seuestudo relacionando, explicitamente a sua economia aoquadro referencial mais amplo de seu pensamento filosfico,social e poltico. Naturalmente, achou a anlise de Ricardo,particularmente, til, pois, Ricardo ao se concentrar naquesto da distribuio do produto nacional total,proporcionou exatamente o ponto de partida correto para oproblema econmico central de Marx as origens do

    excedente, usado na revoluo industrial que descobriu Terorigem na pirataria, nas cruzadas, escravido, colonizao eexpropriao da terra camponesa, que, embora, visasse,inicialmente, apenas, o lucro imediato dos latifundirios, tevesua conseqncia refletida na industrializao inglesa.

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    TEORIA

    As teorias de Marx so muitas, contudo, explicaremos asprincipais: M-D-M, D-M-D*, D-D*; Mais-valia; Valor social;Exrcito de trabalhadores, Trabalhador vivo X trabalhadormorto. Aps descobrir a origem do capital, Marx dedicou-se aestudar as fases do capitalismo. Este teve seu primeiromomento no que Marx denominou de M-D-M , ou seja, quandoum indivduo troca uma mercadoria por dinheiro e o usa paraadquirir uma outra mercadoria necessria para a suasubsistncia, no visando ao lucro. A Segunda fase a do D-M-D*, na qual consiste no investimento em dinheiro do

    indivduo numa mercadoria ou produo, com o intuito devend-la por um preo mais alto, visa ao lucro. A terceira fase a D-D* que trata da especulao, quando um indivduo deposse de seu excedente passa a emprest-lo a juros, visandoum lucro maior. Nesta fase, ele alerta para o crescimento domercado especulativo em detrimento do produtivo, causandodesemprego e insegurana ao prprio capitalista, j que aespeculao depende de fatores externos.

    Foi entre a Segunda e terceira fases que surgiu a mais-valia , consistindo na explorao do proletariado, pelocapitalista, atravs das horas de trabalho, na qual, o operriotrabalha o dobro de tempo necessrio para pagar o seusalrio. Marx descobriu que uma mercadoria valia o tempogasto em sua produo, logo, se um operrio da indstriafabril para cobrir seu salrio precisa trabalhar quatro horasproduzindo 300 peas, ele trabalhar oito e produzir 600peas, pois, as quatro horas a mais e as 300 peas so o lucrodo empregador. Vale lembrar que o salrio pago aotrabalhador no o suficiente para sua evoluo social(moradia, educao, sade, etc.), mas, o estritamente

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    necessrio a sua sobrevivncia e reproduo de mo deobra, como um combustvel.

    No entanto, Marx consegue, neste contexto, enxergaruma integrao social fora e dentro das fbricas, pois na linhade montagem, a diviso do trabalho que fora criada paraalienar os trabalhadores fazendo com que no se vissem comoprodutores de seus trabalhos propicia uma interao entreos operrios, sem que percebam, ao ponto que se uminterrompesse suas atividades toda a montagem seriaprejudicada e que se interrompida ou atrasada, refletiria nadistribuio e no consumo. nesta integrao social que o

    alemo v o suicdio dos capitalistas, ao reunirem, nummesmo ambiente, pessoas em pssimas condies detrabalho, aumentando o risco de uma revolta.

    Para o Marxista, o que, at aquele momento, impedia arevoluo dos operrios era o exrcito de trabalhadores, ouseja, a concorrncia por vagas na produo que fragmentava aclasse operria, ao fazer o operrio ver em seu companheiro,

    um rival. Como ser que um capitalista consegue mantersempre um excedente de trabalhadores? Simples, trabalhomorto X trabalho vivo, que a substituio do homem pelamquina na linha de produo. Marx, ao contrrio do quealguns dizem, no era contra o poder. Mas, contra o poder namo da burguesia. Pois, pregava tir-lo das mos da minoriae coloc-lo nas mos da maioria, ou seja, do proletariado, nopara que eles tomem as decises do Estado diretamente, maspara terem o direito de escolher o seu ou seus representantes.

    A abolio das condies da propriedade at agoraexistente no algo que distinga e caracterize o comunismo(...) o que distingue o comunismo no a abolio da

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    propriedade em geral, mas a abolio da propriedadeburguesa

    (*) Alunas de Comunicao da UFRN.

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    As teorias de Marx esto fundamentadas naquilo que o homem, ou seja, o que a

    sua existncia. O Homem condenado a ser livre. Marx tentou demonstrar que no capitalismo

    sempre haveria injustia social, e que o nico jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua

    fortuna seria explorando os trabalhadores, ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx

    selvagem, pois o operrio produz mais para o seu patro do que o seu prprio custo para a

    sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econmico de

    explorao, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

    ++++++++++++++++++++++++++=

    http://www4.escola24h.com.br/cf/salaaula/sociologia2/classicos.cfm

    Apresenta Max Weber, Karl Marx,

    apontando para a influncia do fator econmico sobre os fatos humanos. Sustentando

    que as relaes sociais so inteiramente interligadas s foras produtivas,

    Karl Marx (1818 ? 1883) Economista, filsofo e socialista alemo, revolucionou o estudo da sociedade,apontando para a influncia do fator econmico sobre os fatos humanos. Sustentandoque as relaes sociais so inteiramente interligadas s foras produtivas, acreditava quea pesquisa sociolgica s seria possvel se buscasse compreender a sociedade de formaglobal (todos os seus aspectos, culturais, econmicos, polticos, sociais) e histrica.Estudar a evoluo da sociedade humana, segundo Marx, implicava partir do exameemprico dos processos concretos da vida social da existncia humana, ou seja, daanlise das condies materiais da existncia.

    Palavras-chave : Base Material da Existncia Humana? Luta de Classes? Base eSuper-estrutura ? Ideologia? Alienao

    A base material da existncia humana Na concepo materialista da vida social ? o materialismo histrico - o discurso sobre ohomem e sobre a histria tem que partir da anlise de fatos reais, ou seja, fatosconstatados apenas pela via emprica. Essa anlise evidencia que os homens comearama se distinguir dos animais quando comearam a produzir os seus meios de subsistncia.O que os indivduos so depende das condies materiais de sua produo, este o

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    pressuposto bsico da concepo materialista da histrica. Essa produo implicanecessariamente uma relao do homem com a natureza e com os outros homens,relao essa que assume forma prpria e especfica em cada poca do desenvolvimentohistrico. As foras produtivas e as relaes de produo so interdependentes econstituem a base real da sociedade. Quando se deixa de considerar um deles, o que setem uma concepo abstrata do homem, da sociedade e da histria.

    A luta de classes Analisando as condies de produo de seu tempo, Marx observou que asdesigualdades sociais eram provocadas pelas relaes de produo do sistemacapitalista, que dividem os homens em proprietrios e no-proprietrios dos meios de produo. A posse dos meios de produo, sob a forma legal de propriedade privada,faz com que os trabalhadores, para assegurar a prpria sobrevivncia, tenham de vender sua fora de trabalho ao empresrio capitalista, o qual se apropria do trabalho de seusoperrios. Nesse contexto, as relaes entre os homens se caracterizam por relaes deoposio, antagonismo, explorao e complementaridade entre as classes sociais. Essesantagonismos, subjacentes a toda relao social desde o surgimento da propriedade privada, fazem da histria do homem uma histria da luta de classes, da luta constanteentre interesses opostos. Essa luta o grande motor da histria.

    Base e Super-estrutura O conjunto das foras produtivas e relaes sociais de produo de uma sociedade sosua base. Sobre essa base a sociedade constri as instituies polticas e sociais queformam a superestrutura. A base determina a superestrutura, ou seja, a superestrutura o reflexo do conjunto das relaes sociais de produo. Assim, quando a baseeconmica se modifica, a superestrutura, que depende dela, tambm se modifica. Mas asuperestrutura, constituda pelas formas jurdicas, polticas, religiosas, artsticas oufilosficas, em resumo, pelas formas de conscincia social, no passiva. Em umasociedade divida em classes, ela assume um carter de classe e, com isso, tambmexerce influncia sobre a base, acelerando ou moderando o desenvolvimento social.

    Ideologia Na concepo do materialismo histrico, ideologia modo de ver a realidade da classedominante, ou seja, o conjunto de argumentos e valores que servem para exprimir e justificar os interesses dessa classe. As teorias filosficas, polticas, morais e religiosas,sendo produtos humanos, no so autnomas, so vinculados forma em que oshomens vivem, por isso, em uma sociedade de classes, apresentam o interesse da classedominante como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade.Progressivamente, a ideologia se torna independente das relaes materiais e de classeque lhe deram origem e passa a funcionar como instrumento material e moral dedissimulao da realidade e como norma de orientao cultural e de conduta para os

    membros da sociedade. Com isso, as classes dominadas tm a iluso de estarem pensando e agindo racional e livremente, porque desconhecem o ?poder invisvel? queas foram a pensar e agir de acordo com os interesses de explorao e dominao dosque detm os meios de produo. A funo da ideologia justamente a de ocultar edissimular as divises sociais e polticas, fazer crer que as desigualdades sociais,econmicas e polticas no so produzidas pela diviso social das classes, mas por diferenas individuais ?naturais?, ligadas aos talentos e s capacidades das pessoas.

    Alienao

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    O que torna possvel a implantao e o fortalecimento da ideologia a alienao.Alienao significa, literalmente, ?tornar-se outro? ou ?ceder a outro o que prprio?.Segundo Marx, na produo capitalista a alienao social diz respeito relao dooperrio com o produto de seu trabalho: com a diviso do trabalho, esse produto estranho ao operrio, no pertence a ele e sim ao capitalista que lhe d trabalho. Naatividade produtiva o operrio no considera o prprio trabalho como parte de sua vida

    real. Por isso, o trabalho se torna apenas um meio de sobrevivncia individual, deixandode ser a expresso positiva da natureza humana. Com a alienao, portanto, o homem privado de sua essncia social. Alienados, os homens no se reconhecem como agentese autores da vida social com suas instituies; ignoram a origem social das idias e seu prprio trabalho para cri-las; acreditam que as idias existem em si e por si mesmas. Asociedade surge assim como uma fora natural estranha e poderosa, que faz com quetudo seja necessariamente como . Na concepo de Marx, portanto, alienao social odesconhecimento das condies histrico-sociais concretas em que vivemos, ou seja, odesconhecimento de que tais condies so produzidas pela ao

    Estudo entre o pensamento de Durkheim e Karl Marx quanto ao objeto da sociologia eos mtodos utilizados pelos mesmos ao abordar a realidade social e posicionamento doautor ante os dois pensadores na atualidade.

    27/j an/2004 Geraldo Amaral [email protected] Veja operfil deste autor no DireitoNet

    Comearemos nossa anlise a partir do objeto de estudo de cada autor, verificando,desde j, existir entre eles diferenas sensveis e antagnicas. Enquanto Durkheim atem-se ao estudo do fato social, com a sociedade determinando as aes do indivduo,Marx procura entender os movimentos da sociedade tendo como objeto as relaessociais e a luta de classes transformando os fenmenos sociais e para Durkheim aluta entre as classes expressa anormalidade no que tange s relaes sociais.

    Utilizando-se do mtodo positivo, apoiado na observao, induo e experimentao que Durkheim tenta formular proposies que estabeleam relaes constantes entre osfenmenos, os chamados fatos sociais, a fim de compreender a maneira de agir fixaou no do indivduo, obedecendo a coero exterior, determinada pela sociedade sobre omesmo, implicando, assim, que a sociedade se impe ao indivduo, ditando a ele normasde comportamento, e que a ele compete, apenas, assimil-las, no importando se haveriainteresses ou motivaes individuais que determinassem o fato social, haja vista, paraele ser o todo mais importante do que as partes que o compem, sendo cada indivduo, portanto, apenas um tomo na grande qumica que a sociedade.

    Segundo ele, um dos fatores de agregao da sociedade a diviso do trabalho, tendoem vista a interdependncia entre os indivduos, advinda da mesma, como consequnciadas especializaes nas tarefas, identificando, aqui, a coero da conscincia coletivasobre as conscincias individuais.

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    Os fenmenos que constituem a sociedade tm sua origem na coletividade, onde osfatos sociais so formados pelas representaes coletivas, atravs de suas lendas,mitos, religio, e crenas morais que so legadas de gerao para gerao, acrescentadasde experincias e sabedoria acumuladas, sendo assim, de forma muito particular,

    infinitamente, mais rica e complexa do que a do indivduo, reafirmando a teoria de quea sociedade que determina o indivduo.

    Mesmo estudando fatos j cristalizados, que para Durkheim, constituem maneiras deser sociais, tais como: forma de nossas casas, nosso vestirio, a linguagem escrita, so para ele, realidades exteriores vontade dos indivduos, tornando-os, assim, fatossociais, que possuem ascendncia sobre eles, arrastando-os e influenciando-os, ditandonormas e costumes que so internalizados nos indivduos, atravs da educao. Noeducamos nossos filhos como queremos, mas sim da forma que a sociedade admite e prope, pois muito do que passamos aos mesmos j existia antes deles.

    Se, porventura, tentamos escapar aos ditames de normas pr-estabelecidas, violandouma regra moral ou desafiando uma lei, verificaremos toda sorte de dificuldades eobstculos que nos sero impostos pelos demais membros da comunidade na tentativade nos impedir que assim procedamos para que no sejamos punidos, mostrando-nos,sempre, que estamos diante de algo que nos superior.

    As idias e os sentimentos coletivos no podem ser modificados ao nosso bel prazer.

    A mudana possvel, no entanto, necessrio se faz que vrios indivduos, atravs deuma ao combinada consigam constituir um novo fato social. As resistncias quelaseriam tanto maiores quanto fossem a importncia dos valores a serem modificados,incorrendo, assim, numa batalha feroz de foras antagnicas, visando a consolidao, ouno, das mudanas pretendidas.

    Como j dissemos, antes, segundo o pensamento de Durkheim as instituies soimpostas aos indivduos, e eles, a elas adere, mesmo que de forma constrangedora,ainda assim, ele encontra vantagens, tais como as regras morais, que apesar decoercitivas, a eles se apresentam como coisas agradveis e desejveis, embora,impliquem em deveres que demandam esforo no seu cumprimento. A sociedade temvida prpria, antecede e sucede aos indivduos, tal qual um ente superior que independedeles, possui sobre eles autoridade e ainda que os constranja, ainda assim eles a amam.

    Durkheim defende que o melhor mtodo para se explicar a funo do fato social nasociedade, seria atravs da observao, de maneira semelhante ao adotado pelos

    cientistas naturais, levando-se em conta, entretanto, que o objeto do estudo dentro daSociologia tem peculiaridades prprias, distintas dos fenmenos naturais. No entanto,acreditava ele que investigando-se as relaes de causa e efeito e regularidade, poderiase chegar a descoberta de leis, que determinassem a existncia de um fato socialqualquer e que por conseguinte, determinaria, este, a ao dos indivduos.

    Para ele, os fenmenos coletivos variam de acordo com o substrato social em que vivemos indivduos, sendo esse substrato definido pelo territrio em que os mesmos vivem ese movimentam, decorrendo da a comunicao e a interao entre os mesmos, fatos

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    estes de relevante importncia na vida social.

    Ao observar um fato social, que ele passa a designar como coisa, o cientista deveafastar-se de todo e qualquer conhecimento anterior que ele possua do mesmo,tomando-o como uma realidade exterior, sem considerar as suas manifestaesindividuais, evitando, assim, interferncias no resultado da pesquisa a que se props.

    Seu papel exprimir a realidade, no julg-la. p. 27 (TNIA QUINTANEIRO).Quanto ao pensamento de Marx, podemos entend-lo como uma tentativa dele prpriode compreender a sociedade capitalista atravs da luta de classes, onde a minoria(capitalista) dita as regras para o viver e pensar da minoria (trabalhadores). A distncia eas contradies cada vez maiores entre os que detm os instrumentos para a produo eos que tm apenas sua fora de trabalho, constituem, assim, duas classes bsicas, cadavez mais polarizadas, que se transformam no seu objeto de estudo sociolgico.

    O conflito antagnico, resultante das desigualdades econmicas destas duas classes(opressores e oprimidos) para Marx o ponto chave das sociedades industriaismodernas, onde esses setores opostos, em seu processo de interao, buscam umasoluo para as tenses resultantes de suas diferenas, ainda que exista umamanipulao de idias com o nico intuito de engrupir o povo, atravs da alienao poltica e cultural, para que este no perceba o vnculo entre o poder econmico e o poder poltico que ir influenciar na qualidade de vida de todos.

    Desse conflito, podemos destacar o antagonismo existente entre a evoluo da indstriamoderna e das cincias, com a criao ou incentivo criao de mquinas e/outecnologias cada vez mais avanadas, patrocinadas pelos meios de produo(capitalistas), e em contra partida a essas novas criaes o aumento da misria e dadecadncia do proletariado.

    A criao dessas novas mquinas e/ou tecnologias acabariam por substituir a mo-de-obra empregada, maximizando o lucro dos capitalistas, atravs da liberao de pagamento dos encargos inerentes a ela e criando, ainda, um contingente dedesempregados que seria usado como fora inibidora de ao, por parte dos que semantm no emprego, de qualquer demonstrao de insatisfao com relao s forasde produo, dificultando, assim, as transformaes nas relaes sociais entre oscontrrios.

    Aos detentores dos meios de produo, interessa, sempre, aumentar os lucros paragarantir a manuteno do poder e seu padro de vida. Os lucros advindos das novastecnologias no so traduzidos em renda para os que continuam em seus postos detrabalho, aumentado, assim, cada vez mais as diferenas entre as classes sociais. O

    trabalhador comum, alienado do pensamento poltico, atravs da negao, a ele, daeducao escolar, por exemplo, no mais dono do produto de seu trabalho,transformando-se em assalariado da propriedade privada, determinando, assim, ocrescimento dos dependentes proletrios e sua misria. Enfim, o crescimento dos meiosde produo no se traduz em melhoria de vida dos trabalhadores. A alienao,econmica e cultural, produz no trabalhador a alienao poltica, que s interessa classe dominante, para manuteno do status quo.

    Para Marx, o grau de desenvolvimento (justia social) de uma sociedade medido a

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    partir das relaes sociais que envolvem os meios de produo e as foras produtivas,levando-se em considerao a diviso do trabalho e a interdependncia correlata aesta, atravs da anlise crtica do que produzem e como produzem, determinando, destamaneira, o ser. O homem, na interao com a natureza e outros homens, procuramsuprir suas carncias, determinando o que produzir e como produzir, provocando atransformao da sociedade, na busca constante por melhores condies de vida.

    A alienao imputvel propriedade privada dos meios de produo se manifesta nofato de que o trabalho, atividade essencialmente humana, que define a humanidade (ecriatividade) do homem, perde suas caractersticas, j que passa a ser, para osassalariados, nada mais que um meio de sobrevivncia. Em vez do trabalho ser aexpresso do prprio homem, o trabalho se v degradado em instrumento, em meio deviver. Essa na concepo de Raymond Aron(apud CARLOS ANTNIO FRAGOSOGUIMARES) uma das interpretaes para o pensamento de Karl Marx.

    Para Herclito de feso, a realidade um constante devir, onde o contraditrio presena marcante na explicao do movimento, da transformao das coisas distintasentre si, porm interrelacionadas, como assim considera a dialtica.

    E, atravs da dialtica materialista que Marx tenta explicar a realidade social, procurando mostrar que no a conscincia do homem que determina o seu ser, mas,exatamente o contrrio.

    Para Marx a pesquisa da realidade social s seria possvel se a matria fosse investigadaem seus pormenores e nas diferentes formas de desenvolvimento, e, perquirida aconexo que h entre elas, s assim, seria possvel espelhar, no plano ideal, a realidade pesquisada. Assim ele procede na anlise minuciosa do modo de produo docapitalismo, identificando nele os elementos contraditrios, as suas interdependncias,sem esquecer que se trata de uma realidade.

    , ento, atravs dos elementos contraditrios de cada realidade, onde o movimento, aqualidade e as mudanas so peculiares que o mtodo deve subordinar-se ao objeto, matria estudada.

    Apesar de engajar-se numa teoria que ele afirma ser crtica e revolucionria, o prprioMarx alerta que o mtodo por ele usado no significa o estabelecimento da verdade, at porque no existe verdade objetiva, apenas verdades, e alerta, ainda, para o fato de suacrtica ao modo de produo capitalista representa o ponto de vista do proletariadoassim como a economia clssica representa o ponto de vista da burguesia, mostrando,assim, que ao contrrio da metafsica, a dialtica contestadora, questionadora,exigindo, dessa forma, um constante reexame da teoria e a crtica prtica.

    Para Lnin: marxismo um guia para ao e no um dogma.

    Finalizando essa exposio, entendo, ser, a sociedade de hoje uma conjugao do pensamento tanto de Durkheim quanto de Marx, tendo em vista que a vida do indivduoem muito determinada pelos padres sociais ditados pela classe dominante (detentorado poder), embasada em dogmas morais, religiosos e de condutas que so passados degerao para gerao, como descreve Durkheim e, de uma forma branda, comodescreveu Marx, posto que o povo continua alienado, alijado dos seus direitos bsicos,

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    como comer, por exemp lo, numa luta de c lasses des leal, tal qua l Dav i e Go lias, ha javista o desemprego crescen te como ini idor de tomada de aes por aque les quecon tinuam em seus pos tos de traba lho, sendo es te, cada vez ma is degradado, espo liado,vili pend iado, tornando-se, cada vez ma is me io de sobrev ivnc ia para a c lasse do

    pro letar iado que obr igado a sus tentar os lucros, sempre ma iores, so licitados pe locap italista, e tern izando o conf lito en tre as c lasses.

    B B GR

    1. QUINTANEI R , Tan ia. Um Toque de Cl ss icos : Durkhe im, Marx e Weber. BeloHor izon te. Ed itora UF MG. 1995. P. 17 a 57 e 64 a 77.

    2. GADOTTI, Moac ir. Concepo D ialtica da Educao : Um Es tudo In trodu t r io. SoPau lo. Ed itora Cor tez. 9 ed. 1995. P. 15 a 38.

    3. GUI MAR ES, Car los An t nio Fragoso. Kar l Marx : Gn io e Profe ta. in In terne t.htt p:// .terrav ista.p t/FerNoronha P. 01 a 09.

    +++++++++++++++++

    produo cap italista produo e reproduo das re laes de produoespec if icamen te cap italistas Econom ia e Infra-Es truturaKar l MarxSeg, 10 de Agos to de 2009 15 :07

    Kar l MarxO produ to da produo cap italista no somen temais-valia : cap ital.

    O cap ital , como v imos, D- M-D', valor que se valoriza a s i mesmo, va lor que geravalor.

    Pr imeiramen te, aps sua transformao nos fa tores do processo de traba lho- em me iosde produo, cap ital constante - e em capacidade de trabalho - em que se conver teu ocap ital var i vel -, a soma de d inhe iro ou de va lor ad iantado somen teem si , s

    po tenc ialmen te cap ital; e o somente antes de sua transformao nos fa tores do processo rea l da produo. To somen te, den tro do mesmo, graas incorporao real do traba lho v ivo nas formas ob jetivas de ex istnc ia do cap ital; to somen te, por fora daabsoro rea l do traba lho ad iciona l que, no s esse trabalho se transforma emcap ital, mas a soma de va lor ad ian tado se transforma, de cap ital poss vel, de cap ital segundo sua de term inao, em cap ital rea l e atuan te. Que acon teceu duran te o processo

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    total? O operrio vendeu a disponibilidade sobre a sua fora de trabalho, para conseguir os meios necessrios de subsistncia, por um valor dado, determinado pelo valor de suafora de trabalho. Qual , pois, no que a ele se refere, o resultado? Simples e puramente a reproduo de sua fora de trabalho. Que cedeu em troca disso? Aatividade conservadora de valor, criadora e multiplicadora de valor: seu trabalho. Emconsequncia, e deixando parte o desgaste de sua fora de trabalho, sai do processo talqual como entrou, como simples fora de trabalho subjetiva que, para conservar-se, terque percorrer renovadamente o mesmo processo.

    O capital, pelo contrrio, no sai do processo tal como entrou. No transcurso destetransformou-se pela primeira vez em capital real, em valor que se valoriza a si mesmo.O produto total agora a forma sob a qual existe como capital realizado e, como tal,enquanto propriedade do capitalista; enquanto poder autnomo e criado pelo prpriotrabalho, novamente se contrape a este. O processo de produo, por conseguinte, nofoi apenas seu processo de reproduo, mas seu processo de produo como capital.Anteriormente, as condies de produo se contrapunham [ao operrio] enquantocapital, na medida em que este asencon t ava diante de si como preexistentes eau t onom i adas . Agora, encontra diante de si o produto de seu prprio trabalho,enquanto condies de produo transformadas emcap it al . O que era premissa agoraresultado do processo produtivo.

    Que o processo de produo geracap it al , pois, outra maneira de dizer que geroumai s-valia.

    Mas, com isso, a questo no est encerrada. Amai s-va lia reconverte-se em capitaladicional; apresenta-se como formadora de novo capital ou de capital acumulado.Dessa maneira, ocap it al geroucap it al , e no apenas se realizou como capital. O prprio pr oce sso d e acumul a o no mais do que um momento imanente do processocapitalista da produo. Implica novacr ia o d e assa l ar iad o s, meios para a realizaoe aumento do capital existente, seja porque subsume partes da populao ainda noabarcadas pelo processo capitalista, como crianas e mulheres, seja porque graas aocrescimento natural da populao lhe submetida uma massa crescente de operrios.Observando mais atentamente, verifica-se que o capitalr eg ul a, conforme suasnecessidades de explorao, essa produo da fora de trabalho, a produo da massahumana que ele ir explorar. O capital, ento, no produz apenas capital; produz massaoperria crescente, a nica matria por meio da qual pode funcionar como capitaladicional. Desse modo, o trabalho no s produz, em oposio a si mesmo e em escalasempre mais ampla, as condies de trabalho enquantocap it al , mas o capital produz emescala cada vez maior osassa l ar iad o s pr odutivo s que requer. O trabalho produz suascondies de produo enquantocap it al , e o capital produz o trabalho como trabalhoassalariado, como meio de sua realizao enquanto capital. A produo capitalista no

    somente reproduo da relao: sua reproduo em escala sempre crescente; e namesma medida em que, com o modo de produo capitalista, se desenvolve a fora produtiva social do trabalho, cresce tambm a riqueza acumulada em oposio aooperrio, comor iqueza que o d omina , comocap it al ; estende-se frente a ele o mundo dariqueza como mundo alheio e que o domina, e na mesma proporo se desenvolvem, por oposio, sua pobreza, indigncia e sujeio subjetivas. Seue sva ziament o e essaabu nd ncia se correspondem e andam a par. Ao mesmo tempo, cresce a massa dessesmeios de produo vivos do capital: o pr ol et ar iad o trabalhador.

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    O cr e sciment o d o cap it al e o au ment o d o pr ol et ar iad o apresentam-se, portanto, como produtos concomitantes, ainda que polarmente opostos, do mesmo processo.

    A relao no s se reproduz, no s produz em escala cada vez mais acentuada. Demodo a no s absorver mais operrios e se apoderar, continuamente, tambm de ramos produtivos que antes no dominava, mas tambm, como foi exposto na anlise do modode produo especificamente capitalista, essa relao se reproduz sob condies cadavez mais propcias para uma das partes, para os capitalistas, e mais desfavorveis para aoutra - os assalariados.

    Levando-se em conta a continuidade do processo produtivo, o salrio to somenteuma par t e do produto constantemente criado pelo operrio, a que se transforma emmeios de subsistncia e, portanto, em meios para a conservao e aumento dacapacidade de trabalho necessria ao capital para sua autovalorizao, para seu processovital. Essa conservao e aumento da capacidade de trabalho, como resultados do processo, se apresentam, ento, somente como reproduo e ampliao de suascondies de reproduo e de acumulao - mas que pertencem ao capital.

    Com isso desaparece tambm aapar ncia que a relao apresentava na superfcie,segundo a qual po ssu id or e s d e mer cad or ias com direitos iguais se defrontam nacirculao, no mercado, os quais, como os demais po ssu id or e s d e mer cad or ias , s sediferenciam entre si pelo contedo material de suas mercadorias, pelo valor de uso particular das mercadorias que tm para vender entre si. Ou ento essa formaor i g in r ia da relao subsiste s comoapar ncia da relao que lhe serve de base, da relaocap it ali st a .

    Deve-se distinguir dois momentos pelos quais ar e pr odu o da prpr ia r el a o emescala constantemente mais ampla se diferencia,enquant o r e su lt ad o d o pr oce ss o cap it ali st a d e pr odu o, da primeira forma tal como esta, por um lado, entra em cenahi st or icament e e, por outro, apresenta-se, incessante e renovadamente, na superfcie dasociedade capitalista desenvolvida.

    1) Primeiro,em r el a o ao pr oce sso int r odut r io que se efetua dentro da circulao: acom pra e venda da f ora d e t raba l ho .

    O processo capitalista de produo no apenas at ra n sf or ma o em cap it al do valor ou da mercadoria que o capitalista, em parte, traz ao mercado e, em parte, retm no processo de trabalho; mas esses produtost ra n sf or mad o s em capital no so seus produtos, mas do operrio. O capitalista vende-lhe, constantemente, uma parte de seu produto - meios necessrios de subsistncia - em troca de trabalho, para conservao eaumento da capacidade de trabalho do prpriocom prad or , e empresta-lhe,

    continuamente, outra parte de seu produto, as condies objetivas de trabalho, comomeios para a autovalorizao do capital, comocap it al . Enquanto o operrio reproduzseus produtos comocap it al , o capitalista reproduz o operrio como assalariado e, portanto, como vendedor de seu trabalho. A relao entre simples vendedores demercadorias implica que estes troquem seus prpriost raba l ho s , encarnados em diversosvalores de uso. A compra e venda da fora de trabalho como resultado incessante do processo capitalista implica que o operrio dever ead quir ir , constantemente, uma partede seu prprio produto em troca de seu trabalho vivo. Com isso sed e sfa z a apar ncia desimples relao entre po ssu id or e s d e mer cad or ias . Essa compra e venda contnua da

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    fora de trabalho e o constante confronto da mercadoria produzida pelo prpriooperrio, comocom prad ora de sua fora de trabalho ou como capital constante,apresentam-se apenas como f or ma med iad ora de sua submisso ao capital, do trabalhovivo como simples meio para conservao e aumento do trabalho que se lhe defrontacomoobjetivad o, como autnomo. Essa perpetuao da relao entre o capital , comocomprador, e o operrio, como vendedor de trabalho, constitui uma f or ma de mediaoimanente a esse modo de produo; mas forma que apenas formalmente se diferenciade outras formas mais diretas da submisso do trabalho e da pr o pr iedad e por parte dos possuidores das condies de produo. Enco br e, como simplesr el a o mone t r ia , atransao real e a dependncia perptua que o processo intermedirio de compra evenda renova incessantemente. No s se reproduzem de maneira constante ascondies dessecom r cio, mas o que um compra e o outro precisa vender resultado do processo. A renovao constante dessa relao decom pra e venda no faz senomediar a continuidade da relao especfica de dependncia e confere-lhe aapar ncia falaz de uma transao, de um contrato entre po ssu id or e s d e mer cad or ias dotados deiguais direitos e que se contrapem de maneira igualmente livre. Essa relaoint r odut r ia apresenta-se, inclusive, como momento imanente dessa dominao, geradana produo capitalista, do trabalho objetivado sobre o vivo.

    Erram, em consequncia, aqueles que consideram o trabalho assalariado, a venda dotrabalho ao capital, e com isso a forma de trabalho assalariado, como exteriores produo capitalista; trata-se de uma forma essencial, produzida renovadamente pelarelao capitalista de produo, de mediao dela prpria; erram tambm aqueles quedescobrem, nessa relao superficial, nessa formalidade essencial ou aparncia darelao capitalista, sua prpriae ss ncia e, portanto, procuram caracterizar a relao - efazer-lhe a apologia - subsumindo operrios e capitalistas na relao geral entre

    po ssu id or e s d e mer cad or ias, suprimindo-lhes a diferena especfica.

    2) Para que surja a relao capitalista em geral, so pressupostos um nvel histrico euma forma de produo social determinados. mister que se tenham desenvolvido , nointerior do modo de produo precedente, meios de circulao e de produo, assimcomo necessidades, que impulsionem no sentido de superar as antigas relaes de produo e de transform-las em relao capitalista. Entretanto, necessitam estar apenas suficientemente desenvolvidas para que se opere a subsuno do trabalho aocapital. Com base nessa relao modificada, desenvolve-se, no obstante, um modo de produo especificamente transformado que, por um lado, gera novas foras produtivasmateriais e, por outro, no se desenvolve a no ser base destas, com o que cria para simesmo novas condies reais. Inicia-se, assim, uma renovao econmica total que, por uma parte, cria pela primeira vez condies reais para a dominao do capital sobreo trabalho, aperfeioa-as e lhes d forma adequada; e, por outra, gera nas foras produtivas do trabalho, nas condies de produo e relaes de circulao por ela

    desenvolvidas em oposio ao operrio, as condies reais de um novo de produo queelimine a forma antagnica do modo capitalista de produo, e cria, desse modo, a basematerial de um processo de vida social com uma nova configurao e, com isso, de umanova formao social.

    Essa uma concepo essencialmente diferente da sustentada pelos economistas burgueses, eles prprios presos s representaes capitalistas, os quais veem, semdvida, como se produzd ent r o da relao capitalista, mas no como se produz essa prpria relao, nem como, ao mesmo tempo, nela se produzem as condies materiais

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    de sua dissoluo, com o que se suprime sua jus ti f ica o hi st r ica como f or manece ssr ia do desenvolvimento econmico, da produo da riqueza social.

    Vimos, pelo contrrio, no s como o capital produz, mas como ele prprio produzido; e como, quando surge do processo produtivo, essencialmente diferente dequando entrou. Por um lado, o capital d forma ao modo de produo; por outro, essaforma modificada do modo de produo e certo nvel de desenvolvimento das foras produtivas materiais constituem base e condio - a premissa - de sua prpriaconfigurao.

    R esultado do processo imediato de produo

    No s as condies objetivas do processo de produo, mas igualmente o carter e speci f icament e social delas apresentam-se como resultado deste; as relaes sociais e, portanto, a posio social dos agentes da produo entre si, as prpriasr el a e s d e pr odu o so produzidas, so o resultado, incessantemente renovado, do processo [...]

    Karl Marx (1818-1883)

    Fonte: MARX, Karl.O Cap it al, livr o 1 , cap t ul o VI ( ind it o ). So Paulo: LivrariaEditora Cincias Humanas, 1978, p. 90-95

    Karl Marx

    Antroposmoderno.com

    Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Treveris (cidade da Prssia renana). Seu pai eraum advogado judeu convertido ao protestantismo em 1824. Sua famlia era abastada e culta,embora no revolucionaria. Depois de cursar os estudos secundrios em Treveris , Marx sematriculou na Universidade, primeiro na Universidade de Bonn e logo na de Berlin, seguindo acarreira de Direito, mas estudando sobretudo Historia e Filosofia. Terminados seus estudosuniversitrios em 1841, apresentou uma tese sobre a filosofia de Epicuro. Seus ideais eramtodavia as de um idealista hegeliano. Em Berlin se aproximou ao circulo dos hegelianos deesquerda (Bruno Bauer e outros), que tentavam tirar da filosofia de Hegel concluses ateias erevolucionrias.

    Depois de cursar seus estudos universitrios, Marx se mudou para Bonn, com a inteno de serprofessor. Mas a poltica reacionria de um governo que em 1832 havia eliminado da ctedraLudwig Feuerbach, negando-lhe novamente a entrada nas aulas em 1836, e que em 1841retirou ao jovem professor Bruno Bauer o direito de ensinar na ctedra de Bonn obrigou-o arenunciar a cadeira acadmica. Nessa poca, as idias dos hegelianos de esquerda faziamrpidos progressos na Alemanha. Foi Ludwig Feuerback quem sobretudo a partir de 1836 seentregou critica de teologia, comeando a orientar-se para o materialismo, que em 1841 (Aessncia do cristianismo) triunfa claramente em suas doutrinas; em 1836 aparecem seusPrincpios da filosofia do porvir. H que ter vivido a influncia liberadora destes livros,escreve Engels anos mais tarde referindo-se a essas obras de Feuebach. Nos (ou seja, os

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    hegelianos de esquerda, entre eles Marx) fizemo-nos no instante feuerbachianos . Naqelapoca, os burgueses radicais renanos que tinham certos pontos de contato com os hegelianosde esquerda, fundaram em Colnia um peridico de oposio, a Gazeta do Rin (que comeou aser publicado em 1 de janeiro de 1842). Seus principais colaboradores eram Marx e BrunoBauer; em outubro de 1842, Marx foi nomeado redator chefe do peridico e se mudou deBonn para Colnia. Sob a direo de Marx, a tendncia democrtica revolucionaria do

    peridico foi acentuando-se e o governo o submeteu primeiro a uma dupla e logo a uma triplacensura, para acabar ordenando sua total supresso a partir do 1 de janeiro de 1843. Marx seviu obrigado a abandonar antes dessa data seu posto de redator chefe, mas a separao noconseguiu salvar o peridico que deixou de publicar-se em maro de 1843. Entre os artigosmais importantes, publicados por Marx na Gazeta do Rin, Engels menciona, alem dos quecitamos mais abaixo o que se refere a situao dos campesinos viticultores do vale do Mosela.Como as atividades jornalsticas lhe haviam revelado que no dispunha dos necessriosconhecimento de economia poltica, se aplicou ardorosamente ao estudo desta cincia. Em 1843, Marx se casou em Kreuznach com Jenny Von Westphalen, sua amiga de infncia,com quem havia se prometido desde estudante. Sua mulher pertencia a uma reacionria earistocrtica famlia prussiana. Seu irmo mais velho foi ministro do Governo na Prssia

    durante uma das pocas mais reacionrias, de 1850 a 1858. No outono de 1843, Marx semudou para Paris, com o propsito de editar ali, desde o estrangeiro, uma revista de tiporadical em colaborao com Arnoldo Ruge (1802 1880; hegeliano de esquerda, encarceradode 1825 a 1830, emigrado depois de 1848, e bismarckiano depois de 1866-1870). Esta revistaentitulada Anais franco-alemes, s chegou a ver a luz do primeiro caderno. A publicao teveque ser interrompida em conseqncia das dificuldades com os tropeos da difusoclandestina na Alemanha e das discrepncias de critrio surgidas entre Marx e Ruge. Os artigosde Marx nos Anais nos mostram j o revolucionrio que proclama a critica impiedosa de todoo existente , e, em especial, A critica das armas , apelando s massas e ao proletariado.

    Em setembro de 1844 Federico Engels passou uns dias em Paris, a partir desse momento oamigo mais intimo de Marx. Ambos tomaram conjuntamente parte ativssima da vida, febrilpor aquele tempo, dos grupos revolucionrios de Paris (especial importncia revestia adoutrina de Proudhon, que Marx submeteu a uma critica demolidora em sua obra Misria daFilosofia, publicada em 1847) e, em luta enrgica contra as diversas doutrinas do socialismopequeno burgus, construram a teoria e a ttica do socialismo proletrio revolucionrio oucomunismo (marxismo). Vejam as obras de Marx correspondentes esta poca, 1844-1848 eanteriores, na Bibliografia. Em 1845, por petio do governo prussiano, Marx foi expulso deParis como revolucionrio? perigoso, e fixou sua residncia em Bruxelas. Na primavera de1847, Marx e Engels se filiaram a uma sociedade secreta de propaganda, a Liga doscomunistas e tomaram parte destacada no II Congresso desta organizao (celebrado emLondres, em novembro de 1847), onde se lhes confiou a redao do famoso Manifesto doPartido Comunista, que veio luz em fevereiro de 1848- Esta obra expe com muita clareza eum brilhantismo geniais a nova concepo do mundo, o materialismo conseqente aplicadotamb