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Papel da proteína tirosina fosfatase BceD na interação com Burkholderia e células epiteliais Micaela Sintra Torrado Dissertação para a obtenção do grau de Mestre Bioengenharia e Nanossistemas Orientadores: Professora Doutora Leonilde de Fátima Morais Moreira Doutora Ana Sofia de Jesus Ferreira Júri: Presidente: Professor Doutor Luís Joaquim Pina da Fonseca Orientador: Professora Doutora Leonilde de Fátima Morais Moreira Vogais: Doutora Dalila Madeira Nascimento Mil-Homens Dezembro de 2014

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Papel da proteína tirosina fosfatase BceD na interação

com Burkholderia e células epiteliais

Micaela Sintra Torrado

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre

Bioengenharia e Nanossistemas

Orientadores: Professora Doutora Leonilde de Fátima Morais Moreira

Doutora Ana Sofia de Jesus Ferreira

Júri:

Presidente: Professor Doutor Luís Joaquim Pina da Fonseca

Orientador: Professora Doutora Leonilde de Fátima Morais Moreira

Vogais: Doutora Dalila Madeira Nascimento Mil-Homens

Dezembro de 2014

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i

Agradecimentos

Para chegar até aqui, muitas foram as pessoas que me apoiaram nos momentos mais

difíceis desta etapa.

Quero agradecer à minha orientadora Professora Doutora Leonilde Moreira e co-

oriendadora Doutora Ana Sofia Ferreira pela oportunidade de permitir a minha integração na

sua equipa, assim como toda a disponibilidade demonstrada para me ajudar e orientar.

Quero igualmente agradecer a todos os colegas do BSRG que sempre se prontificaram

para me auxiliar e pelos inúmeros conhecimentos que me foram transmitindo ao logo do

projeto, principalmente às Doutoras Inês Silva e Dalila Mil-Homens e aos Doutores Nuno

Bernardes e Mário Santos.

A todos os meus amigos e colegas de curso por estarem sempre ao meu lado durante

esta fase, pelo seu companheirismo, força e apoio em todos os momentos.

Por último, porque sozinha não chegaria a esta etapa da minha vida, quero agradecer à

minha família por todo o apoio incondicional, pela amizade, paciência e ajuda na superação de

todos os obstáculos que apareceram ao longo desta caminhada.

O meu MUITO OBRIGADA a todos.

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ii

Resumo

O complexo Burkholderia cepacia (Bcc) engloba presentemente 18 espécies de

bactérias Gram-negativas, associadas a infeções respiratórias, geralmente crónicas, em

doentes com fibrose quística (FQ). Estas infeções respiratórias causadas por bactérias

pertencentes ao Bcc provocam uma diminuição da função pulmonar e uma redução do tempo

espectável de vida do doente, sendo consistentemente identificadas como fatores de risco.

Apesar de já se terem caracterizado muitos fatores de virulência em Bcc, os mecanismos

moleculares empregues por estas bactérias na interação com o hospedeiro ainda são

grandemente desconhecidos. Por exemplo, pouco se sabe sobre um possível efeito de

proteínas bacterianas com atividade de tirosina fosfatase na alteração de vias de sinalização

do hospedeiro. Como tal, o objetivo deste estudo foi determinar se as propriedades de adesão

a superfícies abióticas (biofilme) ou bióticas (células epiteliais de pulmão CFBE41o-) estão

dependentes da atividade da proteína tirosina fosfatase BceD de Burkholderia contaminans

IST408. Para tal, introduziram-se mutações em aminoácidos conservados correspondentes a

regiões catalíticas de BceD e avaliou-se a sua atividade como fosfatase. Os resultados obtidos

indicaram que as alterações dos resíduos C9A, D119A, R15E e Y128F de BceD resultaram na

perda de atividade enzimática. Por sua vez, a introdução destas mutações em BceD não

alterou capacidade de formação de biofilmes de B. contaminans, mas afetou a capacidade de

adesão a células CFBE41o-. Estes resultados deixam em aberto a possibilidade de BceD, e em

particular a sua atividade como tirosina fosfatase, poder direta ou indiretamente contribuir para

os mecanismos de interação bactéria-hospedeiro.

Palavras-chave: Proteína tirosina fosfatase, Burkholderia contaminans, fibrose quística,

biofilmes, células epiteliais de pulmão

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Abstract

The Burkholderia cepacia complex (Bcc) includes presently 18 species of Gram-

negative bacteria generally associated to chronic respiratory infections in patients with cystic

fibrosis (CF). These respiratory infections caused by bacteria belonging to the Bcc cause a

decrease in lung function and a reduced lifetime of the patient being consistently identified as

risk factors. While many Bcc virulence factors have been characterized, the molecular

mechanisms used by these bacteria in the interaction with the host are still largely unknown. For

example, little is known about a possible effect of bacterial protein tyrosine phosphatases

activity in the signaling pathways of the host. As such, the aim of this study was to determine

whether the properties of adhesion to abiotic (biofilm) or biotic (lung epithelial cells CFBE41o-)

surfaces of Burkholderia contaminans IST408 are dependent on BceD protein tyrosine

phosphatase activity. To do this, mutations were introduced into BceD regions corresponding to

catalytic conserved amino acids and evaluated their activity as a phosphatase. The results

indicated that the changes of C9A, D119A, R15E and Y128F of BceD resulted in loss of

enzyme activity. In turn, the introduction of these mutations in BceD did not alter the ability of B.

contaminans to form biofilms, but it affected its ability to adhere to cells CFBE41o-. These

results leave open the possibility of BceD, and in particular its activity as a tyrosine

phosphatase, direct or indirectly contribute to the mechanisms of bacteria-host interaction.

Keywords: Protein tyrosine phosphatase, Burkholderia contaminans, cystic fibrosis, biofilms,

lung epithelial cells

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iv

Índice

Agradecimentos.............................................................................................................................. i

Resumo .......................................................................................................................................... ii

Abstract ......................................................................................................................................... iii

Índice ............................................................................................................................................. iv

Índice de Figuras ........................................................................................................................... vi

Índice de tabelas .......................................................................................................................... vii

Abreviaturas e Siglas .................................................................................................................. viii

1. Introdução .............................................................................................................................. 1

1.1. Burkholderia cepacia ..................................................................................................... 1

1.2. Exopolissacárido ........................................................................................................... 2

1.3. Fosforilação de proteínas em bactérias ........................................................................ 4

1.3.1. Fosfotirosina fosfatases bacterianas ..................................................................... 5

1.4. Biofilmes ........................................................................................................................ 7

1.5. Modelos para estudo de infeção ................................................................................... 8

1.6. Objetivo da tese ............................................................................................................. 8

2. Materiais e métodos ............................................................................................................ 10

2.1. Material biológico e condições de crescimento ........................................................... 10

2.1.1. Estirpes bacterianas, plasmídeos e oligonucleótidos ......................................... 10

2.1.2. Armazenamento e condições de crescimento bacteriano .................................. 11

2.2. Técnicas de manipulação de DNA .............................................................................. 12

2.2.1. Extração de DNA ................................................................................................. 12

2.2.2. Amplificação de DNA por PCR ............................................................................ 12

2.2.3. Electroforese em gel de agarose ........................................................................ 12

2.2.4. Mutagénese dirigida em resíduos conservados da proteína BceD .................... 13

2.3. Introdução de DNA recombinante em células ............................................................. 13

2.3.1. Células eletrocompetentes .................................................................................. 13

2.3.2. Electrotransformação de estirpes de Burkholderia ............................................. 14

2.3.3. Conjugação triparental para transferência de plasmídeos .................................. 14

2.4. Técnicas de manipulação de proteínas ...................................................................... 14

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v

2.4.1. Sobre-expressão de proteínas recombinantes ................................................... 14

2.4.2. Purificação das proteínas His6-BceD através de cromatografia por afinidade ... 15

2.4.3. Análise de proteínas por electroforese ................................................................ 15

2.4.3.1. Electroforese em géis de poliacrilamida em condições desnaturantes (SDS-

PAGE)………... ................................................................................................................ 15

2.5. Ensaios enzimáticos .................................................................................................... 16

2.6. Formação de biofilmes ................................................................................................ 16

2.7. Linhas celulares e cultura de células .......................................................................... 17

2.8. Ensaios de adesão e invasão ..................................................................................... 17

3. Resultados ........................................................................................................................... 18

3.1. Mutagénese dirigida em resíduos conservados de BceD ........................................... 18

3.2. Sobre-expressão da proteína recombinante His6-BceD e seus variantes .................. 19

3.3. Purificação das proteínas His6-BceD e variantes através de cromatografia de

afinidade .................................................................................................................................. 20

3.4. Ensaios enzimáticos .................................................................................................... 21

3.5. Importância da atividade de fosfatase de BceD na adesão a superfícies bióticas e

abióticas .................................................................................................................................. 22

3.5.1 Ensaio de formação de biofilmes ............................................................................ 24

3.5.2. Ensaios de adesão e invasão de células epiteliais ................................................. 24

Discussão dos resultados ........................................................................................................... 27

Bibliografia ................................................................................................................................... 29

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vi

Índice de Figuras

Figura 1 – Estrutura da unidade heptassacarídica repetitiva do exopolissacárido cepaciano. .... 3

Figura 2 – Organização genética do agrupamento de genes bce envolvidos na produção do

exopolissacárido em Burkholderia cepacia.. ................................................................................. 3

Figura 3 - Alinhamento da proteína BceD de B. cepacia com PTPs de baixo peso molecular de

procariotas confirmada experimentalmente. ............................................................................... 18

Figura 4 - Gel de proteínas SDS-PAGE representativo da sobre-expressão da proteínas

recombinantes His6-BceD. .......................................................................................................... 19

Figura 5 - Purificação da proteína His6-BceDC9A ......................................................................... 20

Figura 6 – Retas para a determinação da velocidade de hidrólise de PNPP por Hi6-BceD na

presença de concentrações crescentes de substrato. ................................................................ 21

Figura 7 - Atividade de fosfatase de His6-BceD pura na presença de PNPP e representação de

Lineweaver-Burk para determinação das constantes cinéticas .................................................. 22

Figura 8 -Separação electroforética em gel de agarose de DNA plasmídico correspondente à

conjugação triparental. ................................................................................................................ 23

Figura 9 –Tamanho do biofilme formado pelas estirpes indicadas após 48 horas de indução em

meio S, sem agitação, a 30°C. .................................................................................................... 24

Figura 10 – Adesão de Burkholderia contaminans IST408 e mutante bceD::Tp a células

CFBE410- obtidas por microscopia de fluorescência (A). Em B mostra-se a % de adesão das

bactérias a células epiteliais determinado pela contagem de CFUs. ......................................... 25

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Índice de tabelas

Tabela 1 - Fosfotirosina fosfatases envolvidas em processos de virulência através da interação

com proteínas da célula hospedeira ............................................................................................. 6

Tabela 2 - Estirpes bacterianas utilizadas neste estudo ............................................................. 10

Tabela 3 - Plasmídeos utilizados neste estudo ........................................................................... 10

Tabela 4 – Oligonucleótidos utilizados para a mutagénese dirigida por recurso a PCR. ........... 11

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Abreviaturas e Siglas

ABC – cassete de ligação a ATP

ATP – Adenosina trifosfato

Bcc – Complexo Burkholderia cepacia

CFTR – Regulador de condutância transmembranar de fibrose quística

CFU – Unidades formadoras de colónias

DNA – Ácido desoxirribonucleico

dNTP – Desoxirribonucleotídeo fosfatado

DO – Densidade óptica

EPS – Exopolissacárido

FBS – Soro fetal de bovino

FQ – Fibrose quística

IPTG – Isopropyl β-D-1-thiogalactopyranoside

LB – Meio de cultura Luria-Bertani

LMW-PTP – Proteína fosfotirosina fosfatase de baixa massa molecular

MEM – Meio essencial mínimo com sais Earle

MOI – Multiplicidade de infeção

PBS – Solução salina tamponada com fosfato

PCR – Reação em cadeia da polimerase

PHP – Fosfatase polimerase-histidinol

PNP – p-nitrofenol

PNPP – p-nitrofenol fosfato

PTP – Proteína fosfotirosina fosfatase

Rpm – Rotações por minuto

SDS-PAGE – Dodecil-sulfato de sódio (SDS) de poliacrilamida (PAGE)

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1. Introdução

1.1. Burkholderia cepacia

O género Burkholderia engloba mais de 80 espécies de bactérias Gram-negativas em

forma de bastonete. A espécie Pseudomonas cepacia, atualmente denominada Burkholderia

cepacia, está inserida num complexo composto por 18 espécies relacionadas entre si com o

nome de Complexo Burkholderia cepacia (do inglês Burkholderia cepacia complex, Bcc). Esta

espécie foi descrita pela primeira vez em 1950 por Walter Burkholder como sendo um agente

fitopatogénico, associado ao apodrecimento das cebolas. Contudo, as espécies pertencentes

ao Bcc são comuns no meio ambiente (água, solo e rizosfera de plantas), em humanos.

Existem várias espécies do Bcc que desenvolvem interações benéficas com os seus

hospedeiros como a produção de compostos antimicrobianos, a colonização de raízes de

plantas e fixação de azoto e a utilização de uma variedade de compostos de carbono e outras

que são patogénicas oportunistas em humanos causando graves infeções respiratórias em

pacientes com fibrose quística (FQ) e em indivíduos imunocomprometidos (Coenye e

Vandamme, 2003; Vandamme e Dawyndt, 2011).

A fibrose quística, descrita pela primeira vez em 1936, é a doença hereditária

autossómica recessiva fatal mais comum na população caucasiana, com uma incidência de

aproximadamente 1 em cada 2500 nascimentos (Wallis, 1997). É causada por uma mutação no

braço longo do cromossoma 7, na região 3, banda 1 (7q31), que codifica para uma proteína

transmembranar transportadora de iões Cl- pertencente à superfamília ABC (“ATP-binding-

cassete”) denominada regulador de condutância transmembranar de fibrose quística (do inglês

Cystic Fibrosis Transmembrane conductance Regulator, CFTR). Mutações neste gene

conduzem ao muco pulmonar mais espesso característico da doença e insuficiência

progressiva da função respiratória (Nussbaum et al., 2001; Rommens et al., 1989). Desde as

primeiras descrições da doença na década de 40 que é reconhecida a elevada suscetibilidade

dos doentes com FQ às infeções pulmonares. Estes doentes são muitas das vezes colonizados

por uma série de microrganismos que agravam o estado do paciente. O pulmão é um dos

principais órgãos afetados em doentes com FQ. As secreções são desidratadas, o que dificulta

a limpeza mucociliar e os elevados teores de cloreto de sódio levam à inativação de proteínas

relacionadas com a resposta imunológica, formando-se deste modo um ambiente favorável à

colonização de microrganismos e, consequentemente, ao aumento da suscetibilidade a

infeções respiratórias (Govan e Deretic, 1996).

Apesar de cerca de 50-60% dos pacientes com fibrose quística serem colonizados por

Pseudomonas aeruginosa, um outro agente infecioso muito temido é Bcc, com uma taxa de

incidência entre 4-8%, devido à sua resistência à maioria dos antibióticos de uso clínico e à sua

associação com a deterioração rápida e fatal das funções pulmonares, acompanhada de

septicémia, situação clinicamente conhecida pelo nome "síndrome da cepacia”. As infeções

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provocadas por microrganismos pertencentes ao Bcc em doentes com FQ podem variar desde

a eliminação espontânea das bactérias, à colonização assintomática e declínio gradual do

estado do doente, até ao “síndrome da cepacia” (Isles et al., 1984).

1.2. Exopolissacárido

A identificação dos fatores de virulência envolvidos na patogenicidade das bactérias do

complexo Bcc é uma das áreas de investigação da maior importância. Entre esses fatores de

virulência encontram-se enzimas extracelulares como as lipases, estruturas da superfície de

bactérias como o exopolissacárido, vários tipos de sideróforos para a captura de ferro, vários

sistemas de secreção de proteínas do tipo I, II, III, IV, V e VI e vários sistemas de deteção de

quorum sensing, entre eles as proteínas homólogas a LuxIR (Ferreira et al., 2013; Leitão et al.,

2010).

Os polissacáridos extracelulares ou exopolissacáridos (EPS) são polímeros de açúcar

de alto peso molecular sintetizados e segregados por muitos microrganismos. A produção de

exopolissacárido tem um papel muito importante na adaptação de bactérias a diferentes

condições de stresse, estando envolvido na criação de relações de simbiose e patogenicidade

com os hospedeiros, na interação com péptidos antimicrobianos, na persistência no pulmão de

doentes FQ e em vários modelos de infeção, na formação de biofilmes, na quimiotaxia dos

neutrófilos e, na capacidade de sequestrar espécies reativas de oxigénio, havendo nestes dois

últimos uma ação direta e fundamental na defesa pulmonar do hospedeiro (Herasimenka et al.,

2005; Cunha et al., 2004; Zlosnik et al., 2008; Conway et al., 2004; Sousa et al., 2007; Bylund

et al., 2006). Apesar de já se terem identificado pelo menos sete tipos diferentes de

exopolissacáridos produzidos por espécies do género Burkholderia, o mais comum é o

cepaciano, sendo constituído por uma unidade heptassacarídica repetitiva acetilada formada

pelos monossacáridos D-glucose, D-ramnose, D-manose, D-galactose e ácido D-glucurónico

na proporção de 1:1:1:3:1 (Figura 1). Nas condições experimentais usadas, o cepaciano é o

único exopolissacárido produzido por Burkholderia contaminans IST408 (anteriormente

designada Burkholderia cepacia), estirpe estudada ao longo deste trabalho (Ferreira et al.,

2011). A importância da produção de EPS por Burkholderia em interações patogénicas foi

estudada in vitro e in vivo. A formação de EPS em Bcc é especialmente importante na adesão

a superfícies, na resistência a péptidos antimicrobianos, na interferência com o sistema

imunitário inato e na contribuição para formação de biofilmes (Ferreira et al., 2013; Conway et

al., 2004; Ferreira et al., 2007).

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Figura 1 – Estrutura da unidade heptassacarídica repetitiva do exopolissacárido cepaciano. Glc, glucose; Gal, galactose; GlcA, ácido glucurónico; Man, manose; Rha, ramnose. Adaptado de Cerantola et al. (1999), Cescutti et al. (2000).

Os genes necessários para a biossíntese do cepaciano compreendem o agrupamento

de genes bce-I e bce-II (Figura 2). O primeiro agrupamento de genes (bce-I) é composto por 11

genes de bceA a bceK. Os genes bceA e bceC codificam proteínas presumivelmente

envolvidas na biossíntese de nucleótidos ativados de açúcar; os genes bceB, bceG, bceH,

bceJ e bceK codificam para possíveis glicosiltransferases; já os restantes genes (bceD, bceE,

bceF e bceI) codificam para proteínas possivelmente envolvidas no processo de polimerização

e excreção do exopolissacárido. Relativamente ao segundo agrupamento de genes (bce-II) é

composto por 9 genes de bceM a bceU. Os genes bceM, bceN e bceT codificam proteínas

presumivelmente envolvidas na biossíntese de nucleótidos ativados de açúcar; os genes bceO,

bceS e bceU codificam para possíveis aciltransferases; o gene bceR codifica para uma

possível glicosiltransferase bifuncional; o gene bceQ codifica para uma proteína possivelmente

envolvida no processo de polimerização e excreção do exopolissacárido; e, finalmente, o gene

bceP tem função desconhecida (Figura 2) (Ferreira et al., 2011).

Figura 2 – Organização genética do agrupamento de genes bce envolvidos na produção do exopolissacárido em estirpes do complexo Burkholderia cepacia. Adaptado de Ferreira et al. (2011).

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O gene estudado neste projeto, bceD, está envolvido no processo de polimerização e

excreção do exopolissacárido e codifica para uma proteína com atividade de fosfotirosina

fosfatase que remove o grupo fosfato dos resíduos de tirosina fosforilados. O envolvimento

desta proteína na regulação da biossíntese do exopolissacárido cepaciano deverá ser por

modificações pós-tradução de algumas enzimas necessárias para a produção deste polímero,

nomeadamente da tirosina cinase BceF. Estudos realizados revelam que a interrupção do gene

bceD mostra apenas uma redução de cerca de 25% do cepaciano produzido, mas este

polímero parece ter viscosidade mais baixa do que o EPS nativo e possivelmente uma massa

molecular inferior (Ferreira et al., 2007).

1.3. Fosforilação de proteínas em bactérias

A fosforilação de proteínas é uma das modificações pós-tradução mais importantes e

está envolvida na regulação de uma grande variedade de processos fisiológicos. Ainda que em

eucariotas a fosforilação de resíduos de tirosina, serina e treonina fosse bem conhecida, só no

final da década de 1970 foi demonstrada a presença de aminoácidos fosforilados em proteínas

bacterianas (Ge e Shan, 2011; Grangeasse et al., 2012; Kobir et al., 2011; Grangeasse ey al.,

2007). Inicialmente pensava-se que em procariotas apenas existia fosforilação nos resíduos de

ácido aspártico, uma característica importante dos sistemas de transdução do sinal de dois

componentes. No entanto, em 1970 observou-se a existência de fosforilação em resíduos de

serina e de treonina em bactérias e em meados da década de 80, a fosforilação de resíduos de

tirosina em bactérias foi finalmente demonstrada. A fosforilação de resíduos de serina, de

treonina e de tirosina é importante no mecanismo do controlo dinâmico de diversos processos

celulares em bactérias, incluindo a biossíntese de polissacáridos, o metabolismo de DNA, a

divisão celular, e a resistência a compostos antimicrobianos. A fosforilação de proteínas, ou

seja, a adição de grupos fosfatos nestas é realizada por proteínas denominadas cinases e a

desfosforilação de proteínas, ou seja, a remoção de grupos fosfato nestas é concretizada por

proteínas denominadas fosfatases (Grangeasse et al., 2007; Kiley e Stanley-Wall, 2010;

Aoyama et al., 2003; Zhang, 2005).

Um dos exemplos mais bem estudados da fosforilação/desfosforilação de resíduos de

tirosina em bactérias está relacionado com a produção de polissacáridos, mas além destes, a

fosforilação por proteínas tirosina cinase está também relacionada com muitos outros

processos celulares, como a produção de cápsula, o crescimento, a migração, a exportação

flagelina, a adaptação a condições de stresse e a produção de metabolitos secundários

(Whitmore e Lamont, 2012; Guan e Dixon, 1993). Enquanto as proteínas tirosina cinase (BY-

kinases) já são estudadas desde a década de 80, as primeiras purificações de fosfotirosina

fosfatases foram realizadas em 1988 e a primeira clonagem de um gene em 1990. Por este

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motivo, as tirosina cinases bacterianas, estão hoje em dia mais bem caracterizadas e

compreendidas que as fosfotirosina fosfatases (Isles et al., 1984; Cozzone et al., 2004).

1.3.1. Fosfotirosina fosfatases bacterianas

As proteínas fosfotirosina fosfatases (do inglês protein tyrosine phosphatase, PTP) são

uma família de enzimas responsáveis pela hidrólise do grupo fosfato ligado a resíduos de

tirosina em proteínas. São caracterizadas por possuírem um domínio altamente conservado

com uma sequência consenso no local catalítico característico desta família

([I/V]HCXAGXXR[S/T]G), onde X é qualquer aminoácido. Os resíduos de cisteína e de arginina

são essenciais para a catálise enzimática (Aoyama et al., 2003).

Com base na função, estrutura e sequência, as proteínas com atividade de fosfotirosina

fosfatase podem ser agrupadas em três famílias principais: (i) proteínas fosfotirosina fosfatase

(PTP) semelhantes às eucarióticas e proteínas fosfatase com dupla especificidade; (ii)

fosfatases polimerase-histidinol (PHP), geralmente presentes em bactérias Gram-positivas; e

(iii) proteínas fosfotirosina fosfatase de baixa massa molecular (LMW-PTP) compostas por

enzimas acídicas também presentes em organismos eucariotas. Estas famílias apresentam

regiões de consenso na sequência de aminoácidos, principalmente do centro ativo

(Grangeasse et al., 2007; Aoyama et al., 2003; Cozzone et al., 2004; Whitmore e Lamont,

2012).

Embora as fosfotirosina fosfatases bacterianas possam estar intimamente envolvidas

numa série de processos celulares, dois grandes temas tornaram-se evidentes: a participação

destas na produção de polissacárido e atuando como proteínas efetoras com o potencial de

manipulação de vias de transdução de sinal de células hospedeiras. A produção de

exopolissacárido é um determinante de virulência em muitos organismos e, portanto, a

atividade da fosfotirosina fosfatase tem aqui um papel fulcral no fluxo de informações que

controla a atividade patogénica (Ferreira et al., 2007; Grangeasse et al., 2007). Por outro lado,

existem PTPs que afetam as vias de sinalização do hospedeiro, encontrando-se algumas delas

na Tabela 1. Como exemplo, a fosfatase YopH de Yersinia, que é injetada em células epiteliais

humanas, visa proteínas de adesão focal de acolhimento, tal como p130Cas, paxilina e cinase

de adesão focal (FAK). Da mesma forma, a proteína SptP de Salmonella enterica inibe a

ativação da via de MAPK por desfosforilação da proteína Raf, quebra a distribuição dos

filamentos intermédios após a ligação de vimentina e regula a biogénese de um nicho

intracelular através da desfosforilação de VCP. A fosfatase PtpA de Mycobacterium

tuberculosis é também um dos exemplos de interação com células hospedeiras (Chao et al.,

2009). Mycobacterium tuberculosis segrega duas PTPs, ambas necessárias para a

sobrevivência intracelular em macrófagos. A proteína PtpA é excretada durante o processo de

infeção de células hospedeiras e esta proteína altera vias de sinalização eucarióticas

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permitindo à bactéria resistir ao processo fagocítico, enquanto a PtpB tem um eventual papel

na subversão da resposta imunitária do hospedeiro (Bach et al., 2008; Wong et al., 2011; Zhou

et al., 2010; Andrade e Valvano, 2014). Também a fosfotirosina fosfatase Dpm de Burkholderia

cenocepacia está implicada no atraso da maturação de vacúolos contendo bactérias em

macrófagos (Andrade e Valvano, 2014). Contudo, a Dpm não é funcional no que respeita à sua

atividade de fosfatase. De referir ainda que, exceto para MPtpA de Mycobacterium tuberculosis

e Dpm de Burkholderia cenocepacia que são LMW-PTP’s, todas as restantes fosfotirosina

fosfatases com relevo em virulência são membros da família PTP.

Tabela 1 - Fosfotirosina fosfatases envolvidas em processos de virulência através da interação com proteínas da célula hospedeira (adaptado de Whitmore e Lamont (2012) e Andrade e Valvano (2014)).

Organismo Enzima Impacto nas células

hospedeiras Referências

Coxiella burnetii Acp Inibição de neutrófilos

humanos

Hill e Samuel,

2011

Listeria monocytogenes LipA Disrupção do citoesqueleto de

actina

Kastner et al.,

2011

Mycobacterium tuberculosis MPtpA e B Polimerização da actina em

macrófagos

Koul et al., 2000;

Cowley et al.,

2002

Salmonella typhi StpA Disrupção do citoesqueleto do

hospedeiro Arricau et al., 1997

Salmonella ‘typhimurium’ SptP Rearranjo da actina Murli et al., 2001

Yersinia pseudotuberculosis YopH Rearranjo do citoesqueleto;

inibição da fagocitose Bliska, 2000

Burkholderia cenocepacia Dpm Atraso na maturação de

fagossomas

Andrade e

Valvano, 2014

Como foi referido anteriormente, a produção de exopolissacáridos e cápsula são

considerados fatores de virulência uma vez que muitos são fracamente imunogénicos e

mascaram antigénios de superfície e recetores que seriam reconhecidos pelas células

fagocíticas do hospedeiro. Como tal, sendo a quantidade de polissacárido controlada pela

atividade de cinases/fosfatases, estas enzimas são de facto cruciais nestes mecanismos de

virulência. Em alguns casos a desfosforilação da tirosina cinase aumenta a produção de

polissacárido, como é o caso de E. coli K-12 produtora de ácido colânico (Vincent et al, 1999).

Contrariamente, em E. coli K-30 a produção de polissacárido capsular do grupo I aumenta com

o nível de fosforilação da cinase (Wugeditsh et al, 2001). Qualquer que seja a situação, pode-

se afirmar que os níveis de produção de polissacáridos estão dependentes da atividade de

tirosina cinases e fosfatases.

Para além do envolvimento direto das proteínas BceD e BceF de B. contaminans

IST408 na produção do exopolissacárido cepaciano, estas enzimas também estão envolvidas

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noutros processos celulares. Num estudo recente onde se analisou o transcriptoma do mutante

para o gene bceF com a estirpe selvagem, ficaram evidentes grandes diferenças ao nível da

expressão de genes com 630 deles a apresentarem expressão diferencial (Ferreira et al, 2013).

A maioria dos genes com expressão diminuída estão incluídos nas categorias de resposta ao

stress, mobilidade celular, adesão e metabolismo de carbono e energia. Os genes com

expressão aumentada estão sobretudo envolvidos no metabolismo de lípidos e sinalização

intracelular. O estudo de alguns fenótipos revelou que o mutante no gene bceF é menos

resistente ao choque térmico e à radiação ultravioleta, apresenta motilidade reduzida, menor

formação de biofilmes e atenuação da virulência em Galleria mellonella (Ferreira et al, 2013).

Num estudo posterior com estes mutantes avaliaram-se várias propriedades relevantes para a

interação com células do hospedeiro, nomeadamente utilizando uma linha celular do epitélio

pulmonar de um doente com FQ. Os resultados obtidos indicaram que os mutantes para os

genes bceD e bceF de Burkholderia contaminans IST408 apresentavam níveis de adesão e

invasão às células CFB41o- inferiores aos da estirpe selvagem. Além disso, estes mutantes

apresentavam uma capacidade inferior de perturbação das ligações coesivas entre as células

do epitélio. Isto foi demonstrado através da observação de um menor fluxo de albumina

marcada em epitélio infetado com cada um dos mutantes e de um maior número das proteínas

ZO-1, claudina e ocludina, associadas à adesão entre as células (Ferreira et al, dados não

publicados).

1.4. Biofilmes

Os biofilmes são comunidades complexas de bactérias embebidas numa matriz e

aderidas a uma superfície e a sua formação é afetada pela quantidade de ferro disponível pela

síntese de exopolissacárido e pela mobilidade das bactérias (Dunne, 2002; Huber et al., 2002;

Cunha et al., 2004). A formação de biofilmes proporciona proteção aos elementos que o

constituem não só em termos nutricionais mas também em termos de alterações ambientais e

na defesa contra o hospedeiro. Estas comunidades apresentam proteção não só aos

antibióticos mas também ao sistema imunitário do hospedeiro (Dunne, 2002; Loutet e Valvano,

2010).

A formação de biofilme pelas bactérias P. aeruginosa tem sido reconhecida como um

importante problema clínico devido ao facto de as bactérias que crescem em biofilmes

apresentarem uma maior resistência aos antibióticos e mais proteção contra a resposta

imunitária do hospedeiro. Bactérias do complexo Burkholderia cepacia e P. aeruginosa

colonizam os pulmões dos doentes com FQ através de biofilmes, podendo estes serem mistos,

isto é, formados por mais do que uma espécie de bactérias (Forstner, 1993; Eaves-Pyles et al.,

2001).

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Embora se conheçam vários determinantes moleculares envolvidos na formação de

biofilmes, muitos há ainda por descobrir. Por exemplo, só muito recentemente foi evidenciada a

relevância de proteínas tirosina fosfatases na formação de biofilmes em Pseudomonas

aeruginosa, Streptococcus gordonii e Porphyromonas gingivalis. A tirosina fosfatase TpbA de

Pseudomonas aeruginosa foi identificada como um regulador negativo da expressão do operão

pel que leva à síntese de um polissacárido componente da matriz extracelular do biofilme. Esta

proteína regula ainda a lise celular por forma a controlar a quantidade de DNA extracelular

usado na maturação do biofilme (Ueda e Wood, 2009; Ueda e Wood, 2010). De entre os

organismos que colonizam a cavidade bocal, as bactérias Porphyromonas gingivalis e

Streptococcus gordonii formam biofilmes conjuntos que são regulados pela tirosina fosfatase

de baixa massa molecular Ltp1 de Porphyromonas gingivalis. Foi demonstrado que esta

proteína funciona como um regulador negativo da produção de exopolissacárido e

consequentemente da formação de biofilme (Maeda et al, 2008). Relativamente à proteína

BceD de Burkholderia contaminans IST408, esta parece ter relevância na formação de

biofilmes uma vez que o mutante para o gene bceD apresenta menor formação de biofilme que

a estirpe selvagem (Ferreira et al, 2007).

1.5. Modelos para estudo de infeção

Uma variedade de modelos de infeção in vivo têm vindo a ser desenvolvidos com vista

a investigar quer mecanismos conservados quer mecanismos específicos de patogenicidade

no hospedeiro. Modelos biológicos como: Galleria mellonella e Caenorhabditis elegans,

embriões de peixe-zebra, ratinhos, porcos e linhas celulares eucarióticas são alguns exemplos

de modelos de infeção utilizados no estudo de fatores de virulência de bactérias do Bcc e na

resposta imunitária do hospedeiro (Leitão et al., 2010).

Neste trabalho serão utilizadas linhas celulares de epitélio pulmonar humano

CFBE41o- como modelo biológico. As linhas celulares de epitélio pulmonar humano CFBE41o-

são homozigóticas para a mutação delta F508 no gene CFTR.

1.6. Objetivo da tese

Estudos recentes sobre a relevância da proteína BceD na interação da bactéria com

células epiteliais de pulmão de um doente com FQ revelaram que na sua ausência, a bactéria

apresenta um menor grau de adesão e invasão (Ferreira et al, não publicado). Adicionalmente,

a estirpe mutante para bceD apresentou menor capacidade de quebrar as junções entre

células epiteliais crescidas em monocamada, sendo pois um indicativo de que fenómenos de

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fosforilação/desfosforilação são importantes no processo de interação bactéria-hospedeiro.

Assim sendo, o objetivo deste trabalho é compreender a forma como a proteína BceD está

envolvida em processos de adesão/invasão de células epiteliais. Para isso é necessário obter-

se variantes de His6-BceD que apresentem mutações no centro ativo e determinar

experimentalmente se perderam a atividade fosfatase. Depois pretende-se expressar o gene

bceD nativo e variantes sem atividade de fosfatase no mutante bceD e determinar se os níveis

de adesão/invasão de células epiteliais e da formação de biofilmes são dependentes dessa

mesma atividade de tirosina fosfatase.

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2. Materiais e métodos

2.1. Material biológico e condições de crescimento

2.1.1. Estirpes bacterianas, plasmídeos e oligonucleótidos

Várias estirpes bacterianas foram utilizadas neste trabalho e estão listadas na Tabela

2. As estirpes de Burkholderia foram usadas para o estudo da produção de biofilmes e de EPS

ou de outras características fenotípicas. As estirpes de E. coli foram utilizadas como células

hospedeiras para experiências de clonagem ou usadas para a purificação de proteínas de

fusão com uma cauda de histidinas.

Tabela 2 - Estirpes bacterianas utilizadas neste estudo.

Estirpe Genótipo e Características Relevantes Referências

Burkholderia contaminans IST408

Isolado clínico Richau et al., 2000

IST408 bceD::tpR

Derivada de B. contaminans IST408 com interrupção do gene bceD por uma cassete

tpR

Ferreira et al., 2007

E. coli XL1-Blue recA1 lac [F’ proAB lacl

qZ∆M15 Tn10(Tet

R)]

thi Bullock et al., 1987

E. coli SureTM

E14- (mcrA), D(mcrCB-hsdSMR-mrr)171, endA1, supE44, thi-1, gyrA96, relA1, lac, recB, recJ, sbsC, umuC:Tn5 (KM

R), uvrC,

(F’ proAB, lacIqZαM15 Tn10 (tet

R))

Stratagene

Abreviaturas: tpR, trimetoprim; tet

R, tetraciclina

A Tabela 3 mostra a lista de plasmídeos utilizados neste estudo e as características

mais relevantes de cada um.

Tabela 3 - Plasmídeos utilizados neste estudo

Plasmídeos Descrição Fonte

pWH844 Derivativo de pQE9, lacIq, Ap

R

Schirmer et al.,

1997

pBBR1MCS Vetor de clonagem de vasta gama de hospedeiros, Cm

R

Kovach et al., 1994

pRK2013 Vetor mobilizável, ColE1 tra (RK2)+, Km

R Figurski et al., 1979

pLM211-1 Derivado do pWH844 contendo o gene bceD Ferreira et al., 2007

pSF1305-1 Derivado do plasmídeo pLM211-1 expressando

His6-BceDC9A Este trabalho

pSF1305-4 Derivado do plasmídeo pLM211-1 expressando

His6-BceDY128F Este trabalho

pSF1305-5 Derivado do plasmídeo pLM211-1 expressando Este trabalho

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His6-BceDD119A

pSF1311-1 Derivado do plasmídeo pLM211-1 expressando

His6-BceDR15E Este trabalho

pLM136-2 Derivado do plasmídeo pBBR1MCS contendo o

promotor do operão bce e o gene bceD, CmR

Ferreira et al., não

publicado

pSF1311-2 Derivado do plasmídeo pLM136-2 expressando

BceDY128F Este trabalho

pSF1311-5 Derivado do plasmídeo pLM136-2 expressando

BceDC9A Este trabalho

pSF1311-6 Derivado do plasmídeo pLM136-2 expressando

BceDD119A Este trabalho

pSF1312-1 Derivado do plasmídeo pLM136-2 expressando

BceDR15E Este trabalho

Abreviaturas: ApR, ampicilina; Cm

R, cloranfenicol; Km

R, canamicina.

A lista de oligonucleótidos usados na amplificação de bceD, para efetuar mutagénese

dirigida está representada na Tabela 4.

Tabela 4 – Oligonucleótidos utilizados para a mutagénese dirigida por recurso a PCR.

Nome dos iniciadores Sequência

BceDY128F up CCGAGGCCGATTTCCGCGAGAGCTACTC

BceDY128F low GAGTAGCTCTCGCGGAAATCGGCCTCGG

BceDD119A up GGGGCCGAGATTGCCGCCCCGCACGGCGGCC

BceDD119A low GGCCGCCGTGCGGGGCGGCAATCTCGGCCCC

BceDC9A up AACATCCTGATCGTCGCCCACGCGAACGTCTGC

BceDC9A low GCAGACGTTCGCGTGGGCGACGATCAGGATGAA

BceDR15E up CACGCGAACGTCTGCGAGAGCCCGGCAGCGGAA

BceDR15E low TTCCGCTGCCGGGCTCTCGCAGACGTTCGCGTG

2.1.2. Armazenamento e condições de crescimento bacteriano

Para realizar o armazenamento a longo prazo, as culturas bacterianas foram mantidas

congeladas a -80°C em 40% (v/v) de glicerol. As culturas frescas foram obtidas a partir de parte

do material congelado, por inoculação em meio sólido durante a noite. As estipes de

Burkholderia cresceram em meio sólido adequado a 30°C e as estirpes de E. coli a 37°C. As

estirpes de Burkholderia foram mantidas em meio LB (Lennox broth, 20 g/L) suplementado com

concentrações apropriadas de antibiótico: 100 µg/ml de trimetoprim e 100 µg/ml de

cloranfenicol e as de E. coli em meio LB suplementado com 150 µg/ml de ampicilina. As

culturas líquidas foram preparadas transferindo uma colónia isolada de Burkholderia ou E. coli

para meio líquido LB e incubaram-se durante a noite a 30ºC ou 37ºC com agitação orbital.

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2.2. Técnicas de manipulação de DNA

2.2.1. Extração de DNA

O DNA plasmídico foi extraído de estirpes hospedeiras de E. coli crescidas em meio LB

suplementado com antibióticos apropriados por um kit de minipreps (Zymo research), seguindo

as instruções de preparação. Os fragmentos de DNA utilizados em processos de clonagem

foram purificados em géis de agarose com um kit de extração de gel QIAquick, de acordo com

as instruções apresentadas por este. As concentrações das soluções de DNA plasmídico foram

determinadas utilizando um espectrofotómetro ND-1000 (NanoDrop).

2.2.2. Amplificação de DNA por PCR

As condições gerais utilizadas para a realização de amplificação de DNA por PCR

foram: 100 ng do DNA molde, 1 U de Taq polimerase (Thermo Science), 0,4 µM de cada primer

e 200 µM de dNTPs. As concentrações de MgSO4 e enhancer foram otimizados em cada caso.

As reações de amplificação foram realizadas no termociclador Bio-Rad C1000. A temperatura

de ligação dos iniciadores e os tempos de extensão também foram otimizados para cada

conjunto de iniciadores e fragmentos de DNA. As condições gerais de PCR foram: as amostras

foram submetidas a uma desnaturação inicial de 2 minutos a 95°C, seguido de 30 ciclos de três

passos: desnaturação a 95°C durante 45 s, hibridação dos iniciadores a uma temperatura de

ligação otimizada durante 30 s e extensão das cadeias a 68°C durante o tempo, calculado

como 1 min por kb do produto esperado. Após os 30 ciclos, as amostras foram submetidas a

uma extensão final a 68°C durante 8 minutos e armazenada a 4°C.

2.2.3. Electroforese em gel de agarose

O procedimento de electroforese em gel de agarose foi adaptado a partir de Sambrook

et al. (2001), utilizando-se 0,8% (p/v) de agarose em tampão TAE 1X a 110 V. De modo a

preparar as amostras antes da eletroforese, foram adicionados 2 µL de tampão de amostra a

cada amostra de 20 µL. O marcador de pesos moleculares utilizado como padrão foi o 1 kb de

DNA ladder (Invitrogen). Depois da electroforese, o gel foi corado numa solução de GelRed e o

DNA foi visualizado sob luz UV utilizando o sistema Gel DOC e o software Quantity One.

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2.2.4. Mutagénese dirigida em resíduos conservados da proteína BceD

A mutação específica de aminoácidos da proteína His6-BceD e BceD foi conseguida in

vitro usando o método de mutagénese dirigida QuikChange®. Os oligonucleótidos

complementares foram desenhados contendo o codão desejado modificado. Os iniciadores

foram desenhados para promover a troca de uma tirosina por uma fenilalanina na posição 128

(Y128F), de um ácido aspártico por uma alanina na posição 119 (D119A), de uma cisteína por

uma alanina na posição 9 (C9A) e de uma arginina por um ácido glutâmico na posição 15

(R15E). A mistura de PCR foi feita utilizando 5 µL do tampão de reação 10X concentrado, 25

ng de DNA, 1.5 µL de cada iniciador, 1 µL de dNTPs, 3 µL de DMSO e 1 µL de enzima turbo

polimerase (Pfu Ultra polymerase) para um volume final de 50 µL. As condições de PCR

usadas para promover a mudança do codão foram: 95ºC durante 2 minutos para promover a

desnaturação do DNA, 18 ciclos de 3 passos que consiste em 95ºC durante 50 segundos, 60ºC

durante 50 segundos e 68ºC durante 6 minutos, seguido de 1 ciclo a 68ºC durante 10 minutos

e 1 ciclo a 4ºC durante 5 minutos.

Depois da amplificação por PCR, os produtos de reação foram digeridos com a

endonuclease DpnI durante 1 hora a 37ºC, enzima essa que reconhece apenas DNA metilado,

promovendo a sua hidrólise. Após isto o DNA modificado é inserido em E. coli XL1-Blue

através de electrotransformação. A confirmação das mutações foi efetuada por sequenciação

de DNA.

2.3. Introdução de DNA recombinante em células

2.3.1. Células eletrocompetentes

As células eletrocompetentes de E. coli ou de B. contaminans foram preparadas

através da inoculação de 100 ml de meio LB com uma densidade ótica inicial de 0,2. As células

cresceram a 30ºC (B. contaminans) ou a 37ºC (E. coli), com agitação orbital até alcançarem

uma densidade ótica de 0.8. Após essa etapa, as culturas foram centrifugadas a 8000 rpm a

4ºC durante 15 minutos e posteriormente o sedimento foi lavado com água estéril gelada 3

vezes. No último passo de lavagem utilizou-se 4 ml de glicerol 10% (v/v) sob as mesmas

condições de centrifugação. O sedimento celular foi ressuspenso em 2 ml de glicerol 10% (v/v),

fizeram-se alíquotas de 110 µL e colocou-se no congelador a -80ºC.

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2.3.2. Electrotransformação de estirpes de Burkholderia

Cerca de 15 µL de DNA plasmídico previamente preparados de clones de E. coli foram

misturados numa alíquota de células eletrocompetentes para B. contaminans IST408. Esta

mistura foi então transferida para uma cuvete de electrotransformação onde foi aplicado um

choque elétrico com uma voltagem de 2,5 kV. Depois do pulso elétrico, as células foram

incubadas em 900 µL de meio LB líquido durante a noite a 30ºC, após o qual as células foram

plaqueadas em meio seletivo apropriado.

2.3.3. Conjugação triparental para transferência de plasmídeos

A conjugação triparental foi utilizada para transferir plasmídeos de interesse de E. coli

para estirpes de Burkholderia. A estirpe dadora e a estirpe ajudante de E. coli cresceram

durante a noite a 37ºC em 30 ml de LB suplementado com antibióticos apropriados. As estirpes

recetoras de Burkholderia cresceram durante a noite a 30ºC em 30 ml de LB. Foram colocados

0,4 ml de cada estirpe em tubos de microcentrífuga diferentes e posteriormente foram

centrifugadas e lavadas com NaCl 0,9% (v/v) duas vezes e ressuspendidas em solução salina.

Juntou-se a cultura das 3 bactérias e centrifugou-se durante 5 minutos a baixa rotação. O

sedimento celular foi ressuspenso em 80 µl de NaCl 0,9% (v/v) e colocados num filtro inserido

previamente numa placa com LB sólido. Depois da incubação durante a noite a 30ºC, a

camada de bactérias que cresceu na superfície do filtro é ressuspendida em 1 ml de NaCl 0,9%

(v/v). Foram feitas diluições sucessivas apropriadas e plaquearam-se estas em placas de LB

sólido com concentrações apropriadas de antibiótico.

2.4. Técnicas de manipulação de proteínas

2.4.1. Sobre-expressão de proteínas recombinantes

As células E. coli Sure que albergam o plasmídeo pWH844 com o gene de interesse

clonado foram cultivadas em meio LB com ampicilina, com agitação de 250 rpm a 37°C, até se

obter uma densidade ótica aproximada a 0,6. A indução foi iniciada pela adição de 0,1 mM de

IPTG (Isopropyl β-D-1-thiogalactopyranoside) à cultura seguido de incubação durante 4 horas

para ocorrer a expressão da proteína. As células foram recolhidas através da centrifugação a

8000 rpm durante 10 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o sedimento celular foi

ressuspendido com 5 ml de tampão PBS 1X e congeladas a -80ºC até serem utilizadas.

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15

2.4.2. Purificação das proteínas His6-BceD através de cromatografia

por afinidade

A proteína recombinante His6-BceD foi purificada a partir da lise de células de E. coli

por lise enzimática com auxílio do protocolo descrito de seguida. Após super-expressão,

centrifugou-se o sedimento celular ressuspendido no tampão PBS 1X durante 10 minutos a

8000 rpm a 4ºC. De seguida, por cada 200 mL de células, adicionou-se 1 ml de lisozima (20

µg/ml) e 15 ml de tampão de lise [25% (w/v) de sacarose, 50 mM Tris-Base, 100 mM NaCl a

pH=7,4], ressuspendeu-se o sedimento e colocou-se em gelo durante 25 minutos.

Posteriormente, adicionou-se 0,01 % (v/v) de Triton X-100 1% e misturou-se bem até a solução

ficar viscosa. Incubou-se a solução durante 15 min a 37ºC e finalmente adicionou-se 25 µL de

RNAse A (10 µg/ml) e 50 µL de DNAse I (4 µg/mL), misturou-se bem e incubou-se durante 20

minutos a 37ºC. Após a remoção dos restos celulares por centrifugação a 10.000 x g durante

20 min a 4°C, a proteína His6-BceD foi purificada por cromatografia de afinidade, que foi pré-

carregada com iões Ni2+

, devido à afinidade existente entre o níquel e a cauda de histidinas

presente na proteína His6-BceD. Foi utilizado um gradiente de concentração de imidazole para

eluir a proteína, com uma concentração a variar entre os 100 e os 300 mM de modo a se obter

a proteína purificada, uma vez que o imidazole tem maior afinidade para o níquel do que as

histidinas. Foram recolhidas 5 alíquotas de 1 ml de cada concentração de imidazole

adicionados à coluna para serem separadas por electroforese em gel de poliacrilamida em

condições desnaturantes.

2.4.3. Análise de proteínas por electroforese

2.4.3.1. Electroforese em géis de poliacrilamida em condições

desnaturantes (SDS-PAGE)

O sistema de gel descontínuo descrito por Laemmli (1970) foi usado para separar

proteínas em géis de poliacrilamida. Estes géis são compostos por dois géis diferentes: o gel

de corrida, que contém 12,5% de poliacrilamida e que permite que as proteínas sejam

separadas de acordo com o seu peso molecular; e o gel de resolução, contendo 4% de

poliacrilamida, onde as proteínas são inseridas. Após polimerização, o gel é imerso num

tampão de corrida com uma concentração 1X. Antes de serem aplicadas no gel, as amostras

são ressuspensas no tampão de aplicação incubadas durante 5 minutos a 100ºC e colocadas

em gelo até arrefecerem. A separação das proteínas é conseguida através da aplicação de um

campo elétrico com uma voltagem de 150 V durante aproximadamente 1 hora.

Após separação, os géis de acrilamida foram corados através da imersão destes numa

solução corante de azul coomassie durante cerca de 20 minutos. Durante a incubação, os géis

são agitados gentilmente para que o corante se espalhe uniformemente sobre o gel. Depois de

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estarem corados, estes são lavados com água destilada e submetidos a uma solução

descorante.

2.5. Ensaios enzimáticos

A atividade fosfatase é determinada baseando-se num acompanhamento contínuo,

através de um espectrofotómetro a 405 nm, de p-nitrofenol (PNP) formado a partir do p-

nitrofenol fosfato (PNPP) a 37ºC. A mistura de reação contém 100 mM de tampão citrato de

sódio a pH 6,5, 1 mM de EDTA, β-mercaptoetanol a 0,1% (v/v) e concentrações variadas de

PNPP de 0 a 40 mM, num volume total de 1 ml. A concentração de PNP formada foi estimada

através do uso de um coeficiente de extinção molar de 18000 M-1

cm-1

. Todas as reações são

iniciadas pela adição de proteína purificada. Uma unidade da atividade da enzima foi definida

como a quantidade de enzima que catalisa a formação de 1 µmol de PNP por minuto sob as

condições do ensaio.

2.6. Formação de biofilmes

Os ensaios de formação de biofilmes foram baseados no método descrito por Cunha et

al., (2004). Foram preparadas culturas líquidas em meio LB de diferentes estirpes de B.

contaminans IST408 com os antibióticos apropriados e foram colocadas a crescer durante a

noite com agitação de 250 rpm a 37°C. As culturas foram subsequentemente diluídas em meio

S para uma densidade ótica de 0,1 a 640 nm, e 200 µl dessa suspensão de células foi utilizada

para inocular os poços de uma placa de 96 poços. Os poços contendo meio de crescimento S

esterilizado foram utilizados como controlos negativos na extremidade da placa. As placas

foram incubadas a 30°C durante 48 h sem agitação e o biofilme formado foi quantificado. Os

meios de cultura e as células bacterianas não ligadas foram removidas dos poços por lavagem

cuidadosa com NaCl a 0,9% (três vezes, 200 µL em cada lavagem) com o auxílio de uma

pipeta. As bactérias aderentes foram coradas com 200 µl de uma solução de violeta de cristal a

1% (p/v) durante 15 minutos à temperatura ambiente e de seguida realizaram-se três lavagens

suaves com 200 µL de NaCl a 0,9%. O corante que ficou nos poços foi solubilizado em 200 µL

de etanol a 95% e o biofilme foi quantificado pela medição da absorvância da solução a 590

nm, utilizando um leitor de microplacas. Os resultados são os valores médios para pelo menos

cinco repetições de três experiências independentes.

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17

2.7. Linhas celulares e cultura de células

Neste trabalho foram utilizadas linhas celulares de epitélio pulmonar de um doente com

fibrose quística denominadas CFBE41o-, homozigóticas para a mutação delta F508 do gene

CFTR. As linhas celulares foram mantidas em frascos revestidos com fibronectina em Meio

Essencial Mínimo com sais Earle (MEM, do inglês Minimum Essential Medium) suplementado

com 10% de soro fetal de bovino (FBS), L-Glutamina 0,292 g/L e Penicilina/Streptomicina 100

U/ml, a 37ºC em atmosfera húmida com 5% de CO2.

2.8. Ensaios de adesão e invasão

Os ensaios de adesão e invasão foram realizados em células epiteliais pulmonares

CFBE41o- usando uma adaptação do método descrito por Martin e Mohr (2000). As células

foram inicialmente crescidas em placas de 24 poços (4x105 células/poço) em meio MEM

suplementado com FBS e L-Glutamina, sem antibióticos, durante 24h a 37ºC numa atmosfera

húmida contendo aproximadamente 5% de CO2. Após 24h foram lavadas com PBS e mantidas

com meio MEM não suplementado. As estirpes bacterianas foram crescidas segundo as

condições acima referenciadas no máximo de 24h, tendo sido utilizada uma multiplicidade de

infeção de 10 células bacterianas para cada célula epitelial (MOI de 10:1). Para os ensaios de

adesão, as células já infetadas, foram incubadas a 37ºC numa atmosfera com 5% de CO2

durante 30 minutos de forma a proporcionar a adesão das bactérias às células. Findo o tempo

de adesão as células foram lavadas 3 vezes com PBS e lisadas com tampão de lise (10 mM

EDTA, 0,25% Triton X-100 e PBS) durante 20 minutos à temperatura ambiente. As células

aderidas foram quantificadas através do plaqueamento de diluições sucessivas do lisado. Os

resultados foram expressos por percentagem de adesão sendo estes corrigidos com base na

quantidade inicial de bactérias utilizadas para a infeção.

Nos ensaios de invasão as células foram igualmente infetadas com uma MOI de 10:1 e

com uma MOI de 50:1. No entanto, a fim de proporcionar a internalização das bactérias nas

células epiteliais, o tempo de incubação foi de 2h a 37ºC com 5% de CO2. Após o tempo de

incubação as células foram lavadas três vezes com PBS e, adicionou-se uma solução de

ciprofloxacina (2 mg/ml) deixando-se incubar por mais 2h nas mesmas condições, a fim de

eliminar todas as bactérias que não tenham sido internalizadas. Após este tempo, 100 µL do

sobrenadante foram plaqueados para verificar a eficácia dos antibióticos na morte bacteriana.

Por último as células epiteliais foram novamente lavadas três vezes com PBS e lisadas com

tampão de lise, 20 minutos à temperatura ambiente. A quantidade de células bacterianas com

capacidade invasiva foi determinada através do plaqueamento de diluições sucessivas do

lisado obtido.

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18

3. Resultados

3.1. Mutagénese dirigida em resíduos conservados de BceD

A proteína BceD de B. contaminans IST408 foi previamente demonstrada como sendo

uma fosfatase uma vez que foi capaz de hidrolisar o substrato artificial PNPP e de desfosforilar

resíduos de tirosina fosforilados da cinase BceF (Ferreira et al, 2007). O alinhamento de

aminoácidos de BceD com outras LMW-PTPs evidencia a conservação do motivo CX4CR,

característico desta família (Figura 3).

Figura 3 - Alinhamento da proteína BceD de B. contaminans com PTPs de baixo peso molecular de procariotas confirmadas experimentalmente. Acinetobacter johnsonii (Aj) Ptp, Acinetobacter lowffii (Al) Wzb, Ralstonia solanacearum (Rs) EpsP, Salmonella enterica serotipo Typhimurium (St) Wzb, Escherichia coli (Ec) Wzb e Erwinia amylovora (Ea) AmsI. O X indica qualquer aminoácido. Os asteriscos indicam os resíduos de aminoácidos que são idênticos em todas as proteínas, um ou dois pontos indicam substituições semi-conservadas ou conservadas, respetivamente (adaptado de Ferreira et al. (2007)).

Para estudar a importância de alguns resíduos conservados de BceD, nomeadamente

resíduos pertencentes ao centro ativo (alteração do ácido aspártico na posição 119 por alanina,

da cisteína na posição 9 por alanina e da arginina na posição 15 por ácido glutâmico) e uma

tirosina altamente conservada na posição 128 por uma fenilalanina, na atividade da proteína

BceD, foi usada a técnica de mutagénese dirigida. Esta técnica consiste em mudar nucleótidos

específicos na sequência de DNA que codifica para a PTP de modo a promover a alteração

específica do resíduo pretendido. Neste trabalho o plasmídeo pLM211-1, contendo o gene

bceD, foi mutado de acordo com a técnica descrita anteriormente, após se ter efetuado

algumas otimizações, tendo-se obtido os plasmídeos: pSF1305-1, pSF1305-4, pSF1305-5 e o

pSF1311-1, codificando respetivamente as proteínas His6-BceDC9A, His6-BceDY128F, His6-

BceDD119A e His6-BceDR15E. As mutações pretendidas foram confirmadas através de

sequenciação de Sanger.

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19

3.2. Sobre-expressão da proteína recombinante His6-BceD e

seus variantes

Após alterações de alguns codões do gene bceD por mutagénese dirigida, e de estes

plasmídeos variantes terem sido introduzidos em E. coli, realizou-se a sobre-expressão das

diferentes proteínas utilizando o protocolo descrito nos métodos. Foram tiradas frações da

cultura de células antes (tempo zero) e 4 horas depois (tempo 4) de ser adicionado o IPTG, de

modo a se poderem separar as proteínas num gel SDS-PAGE. Como se pode verificar através

da Figura 4, existem bandas muito intensas nos poços 3, 5, 7, 9 e 10 que evidenciam que

houve um aumento da quantidade da proteína recombinante com cerca de 18 kDa, o que era

pretendido. Os poços 2, 4, 6 e 8 representam os extratos proteicos totais da estirpe contendo o

plasmídeo para a expressão das proteínas His6-BceD, His6-BceDC9A, His6-BceDY128F e His6-

BceDD119A no tempo zero, respetivamente; os poços 3, 5, 7, 9 e 10 representam os extratos

proteicos totais da estirpe contendo o plasmídeo para a expressão das proteínas His6-BceD,

His6-BceDC9A, His6-BceDY128F, His6-BceDD119A e His6-BceDR15E, respetivamente, após 4 horas de

indução.

Figura 4 - Gel de proteínas SDS-PAGE representativo da sobre-expressão das proteínas recombinantes His6-BceD antes e após a indução (poços 2 e 3, respetivamente); da proteína His6-BceDC9A antes e após a indução (poços 4 e 5); da proteína His6-BceDY128F antes e após a indução (poços 6 e 7); da proteína His6-BceDD119A antes e após a indução (poços 8 e 9); e da proteína His6-BceDR15E após a indução (poço 10). O poço 1 representa o padrão de proteínas.

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20

3.3. Purificação das proteínas His6-BceD e variantes através

de cromatografia de afinidade

Foi realizada a purificação das diferentes proteínas recombinantes que foram

anteriormente sobre-expressas, utilizando o protocolo descrito nos métodos. Recolheram-se

frações da coluna de cromatografia quando a proteína foi aplicada e quando foi eluida com

imidazole a diferentes concentrações. Depois separaram-se as frações proteicas num gel de

eletroforese SDS-PAGE, do qual a Figura 5 é representativa. Esta figura mostra o resultado da

purificação da proteína recombinante His6-BceDC9A com 18 kDa, onde se pode constatar o seu

grau de pureza em todas as frações eluídas, principalmente nas 2ª, 3ª e 4ª frações eluidas com

uma concentração de 200 mM de imidazole.

É de salientar que foram realizadas várias otimizações no protocolo da purificação

destas proteínas de modo a se obter o resultado pretendido. Inicialmente eram lisadas as

células através do método de sonicação e posteriormente estas foram lisadas através de

métodos enzimáticos uma vez que se obteve maior concentração de proteína livre. Também foi

otimizado o método de aplicação das diferentes concentrações de imidazole na coluna de

cromatografia: inicialmente era utilizado um equipamento que automaticamente colocava

diferentes concentrações de imidazole na coluna de cromatografia e posteriormente as

diferentes concentrações foram aplicadas à coluna manualmente. Estas duas alterações a um

protocolo já existente permitiram obter um maior rendimento da proteína pura.

Figura 5 - Purificação da proteína His6-BceDC9A em que o poço 5 corresponde ao padrão de proteínas. Os poços 1, 2, 3, e 4 correspondem ao conteúdo correspondente à concentração de imidazole de 200 mM nos 2º, 3, 4º e 5º ml recolhidos da coluna, respetivamente; os poços 6, 7 8, 9 e 10 correspondem ao conteúdo correspondente à concentração de imidazole de 300 mM nos 1º, 2º, 3º, 4º e 5.º ml recolhidos da coluna, respetivamente.

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3.4. Ensaios enzimáticos

Para determinar a atividade de fosfatase de cada proteína recombinante, tanto da

nativa como das que continham alterações em diferentes resíduos, foram realizados ensaios

enzimáticos. A atividade fosfatase da proteína His6-BceD e das suas variantes foi testada

quanto à sua capacidade para clivar o substrato artificial PNPP. A Figura 6 representa os

valores de absorvância ao longo do tempo para algumas concentrações de PNPP e para a

proteína His6-BceD.

Figura 6 – Retas para a determinação da velocidade de hidrólise de PNPP por His6-BceD na presença de concentrações crescentes de substrato.

A proteína de fusão nativa purificada foi capaz de hidrolisar eficientemente este

substrato sintético a um valor de pH de 6,5, valor este testado em trabalhos anteriores como

sendo o pH ótimo de atividade desta proteína (Ferreira et al., 2007). Na Figura 7A está

representa a atividade de fosfatase de His6-BceD na presença de concentrações crescentes de

PNPP e determinados os parâmetros cinéticos Km e Vmax (Figura 7B). De acordo com os

valores obtidos, a velocidade máxima é de 0,16 µmol min-1

mg-1

para uma constante de

Michaelis-Menten de 0,61 mM.

y = 9E-07x - 0,0007 R² = 0,0704

y = 6E-05x + 0,0005 R² = 0,9975

y = 9E-05x - 0,0006 R² = 0,9986

y = 0,0001x - 0,0005 R² = 0,999

y = 0,0001x - 0,0015 R² = 0,999

-0,005

0

0,005

0,01

0,015

0,02

0,025

0,03

50 100 150 200

Ab

sovâ

nci

a 4

05

nm

Tempo (s)

0 mM

0,625 mM

1,25 mM

2,5 mM

5 mM

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22

Figura 7 - Atividade de fosfatase de His6-BceD pura na presença de PNPP (A) e representação de Lineweaver-Burk para determinação das constantes cinéticas (B).

Após confirmação da atividade de His6-BceD usaram-se as mesmas condições para

avaliar a atividade de todas as restantes variantes de BceD. Os dados obtidos indicaram que

nenhuma delas apresentou qualquer atividade de fosfatase, confirmando assim a importância

dos resíduos de aminoácidos originais como cruciais para a atividade desta enzima.

3.5. Importância da atividade de fosfatase de BceD na adesão

a superfícies bióticas e abióticas

Para determinar se o envolvimento da proteína BceD em determinados fenótipos está

dependente a sua atividade como fosfotirosina fosfatase, optou-se por complementar o

mutante Burkholderia contaminans bceD::TpR com o gene bceD nativo e variantes a partir do

plasmídeo replicativo pBBR1MCS. Para tal foi necessário usar uma construção já existente no

laboratório que contém o promotor do operão bce e o gene bceD e que se denomina pLM136-

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2. Assim, por mutagénese dirigida foram construídos os plasmídeos pSF1311-2, pSF311-5,

pSF311-6 e pSF312-1 expressando BceDY128F, BceDC9A, BceDD119A e BceDR15E, respetivamente.

Após sequenciação do gene bceD em cada um destes plasmídeos e confirmação da presença

da respetiva mutação, estes plasmídeos foram mobilizados para estirpes de Burkholderia

contaminans por conjugação triparental. Assim, foram introduzidos o vetor vazios (pBBR1MCS)

e o plasmídeo com o gene bceD (pLM211-1) na estirpe selvagem (IST408) e na estirpe mutada

no gene bceD (IST408 bceD::Tp). Foram também introduzidos no mutante todos os plasmídeos

com o gene bceD contendo cada uma das mutações nos aminoácidos conservados estudados

neste trabalho. No final da experiência foi necessário escolher as colónias corretas e verificar,

através de electroforese em gel de agarose, se realmente as estirpes continham o plasmídeo

que se pretendia introduzir. Na Figura 8 podem observar-se diferentes tamanhos de

plasmídeos: os poços 2 e 3 correspondem à estirpe IST408+pLM136-2; os poços 4, 5 e 6

correspondem à estirpe IST408+pBBR1MCS; os poços 7, 8 e 9 correspondem ao mutante

bceD::Tp+pLM136-2; os poços 10, 11 e 12 correspondem ao mutante bceD::Tp+pBBR1MCS.

Concluindo, as bandas que contêm um maior peso molecular correspondem às colónias que

continham o plasmídeo pLM136-2 e as que possuem menor peso molecular correspondem às

que apenas continham o vetor pBBR1MCS vazio. Seguindo o mesmo procedimento,

introduziram-se os plasmídeos com os variantes de bceD no mutante bceD::Tp (resultados não

apresentados).

Figura 8 - Separação electroforética em gel de agarose de DNA plasmídico correspondente à conjugação triparental. O poço 1 corresponde ao padrão de pesos moleculares; os poços 2 e 3 correspondem ao IST408+pLM136-2; os poços 4, 5 e 6 correspondem ao IST408+pBBR1MCS; os poços 7, 8 e 9 correspondem ao IST408 bceD::Tp+pLM136-2; os poços 10, 11 e 12 correspondem ao IST408 bceD::Tp+pBBR1MCS

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24

3.5.1 Ensaio de formação de biofilmes

A formação de biofilme contribui para a proteção das bactérias contra o sistema

imunitário do hospedeiro e maior resistência a compostos tóxicos como antibióticos. Para

avaliar a formação de biofilme efetuou-se um ensaio quantitativo utilizando violeta de cristal.

Neste ensaio, o tamanho do biofilme formado por cada estirpe em estudo foi quantificado

através do crescimento das bactérias em 96 poços, em meio S, e estas foram incubadas a

30ºC durante 48 h antes da quantificação por recurso a violeta de cristal.

Os resultados obtidos são apresentados na Figura 9, que mostram que nas condições

testadas, a única estirpe que fez menor biofilme é o mutante bceD::Tp contendo o vetor

pBBR1MCS vazio. Todas as restantes estirpes expressando a proteína BceD nativa ou

variantes apresentam níveis superiores de formação de biofilme. Este resultado sugere que a

proteína BceD é importante para a formação do biofilme, mas que esta influência não depende

da sua atividade como fosfatase.

Figura 9 – Tamanho do biofilme formado pelas estirpes indicadas após 48 horas de indução em meio S, sem agitação, a 30°C.

3.5.2. Ensaios de adesão e invasão de células epiteliais

Resultados anteriores demonstraram que o mutante para o gene bceD de B.

contaminans IST408 apresenta níveis de adesão a células CFBE41o- inferiores aos

observados pela estirpe selvagem. Tal resultado está evidenciado na Figura 10A onde se

00,20,40,60,8

11,21,4

Bio

film

e 5

90

nm

*

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25

podem ver imagens obtidas num microscópio de fluorescência, mostrando bactérias que

expressam a proteína fluorescente DsRed (Ferreira et al, resultados não publicados).

Neste trabalho, para se avaliar in vitro a capacidade de adesão de diferentes estirpes

estudadas, foi utilizada a mesma linha celular mostrada na Figura 10A. Os ensaios foram

efetuados com base na diferença das contagens de CFUs antes e após a infeção da

monocamada de células. Os resultados obtidos encontram-se representados na Figura 10B e

mostram que as estirpes que expressam a proteína BceD nativa apresentam maiores níveis de

adesão. Pelo contrário, o mutante bceD::Tp complementado com o vetor vazio ou as variantes

BceDC9A, BceDD119A e BceDR15E apresentam menores valores de adesão. O mutante

complementado com a variante BceDY128F apresenta um comportamento intermédio, não sendo

possível concluir com elevado grau de certeza quanto à sua importância. Este conjunto de

resultados parece sugerir que a máxima adesão de B. contaminans IST408 estará dependente

da atividade de fosfotirosina fosfatase de BceD.

Figura 10 – Adesão de Burkholderia contaminans IST408 e mutante bceD::Tp a células CFBE41o- obtidas por microscopia de fluorescência (A). As bactérias encontram-se marcadas pela proteína DsRed e as células epiteliais mostram a localização da proteína E-caderina após imunodeteção com um anticorpo marcado com Alexa488 (Ferreira et al, não publicado). Em B mostra-se a % de adesão das bactérias a células epiteliais determinado pela contagem de CFUs.

*

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26

De seguida, efetuaram-se estudos de invasão das várias estirpes às células CFBE41o-.

Pese embora o facto de se terem testado MOI de 10 (10 células bacterianas) : (1 célula

epitelial) e 50, não foi possível obter qualquer CFU para as estirpes analisadas.

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Discussão dos resultados

Apesar de já se terem identificado vários determinantes de virulência em estirpes do

complexo Burkholderia cepacia, é necessário identificar quais os genes que, em última análise,

regulam a expressão desses fatores de virulência. Neste trabalho examinou-se a atividade

enzimática e função biológica da fosfotirosina fosfatase BceD de Burkholderia contaminans

IST408. Esta proteína, cuja atividade de fosfatase já foi previamente demonstrada (Ferreira et

al, 2007), apresenta resíduos conservados no motivo CX4CR e DPY que correspondem a

regiões catalíticas. Como tal, três das mutações aqui estudadas corresponderam a resíduos

catalíticos, nomeadamente C9, D119 e R15. O resíduo de tirosina Y128 não está descrito como

importante na catálise, mas encontra-se conservado noutras fosfatases e como tal foi também

incluído neste estudo. De acordo com o previsto, a alteração nos resíduos C9, D119 e R15

resultaram em proteínas variantes de BceD sem atividade como fosfatase. Interessantemente,

a alteração do resíduo de tirosina na posição 128 também resultou na eliminação da atividade

catalítica de BceD. Duas razões que podem explicar este facto são o estar diretamente

implicado na catálise ou de esta alteração levar a uma mudança conformacional significativa

que impede o normal funcionamento da enzima.

Relativamente aos parâmetros cinéticos obtidos para a proteína BceD, estes valores

são inferiores aos obtidos anteriormente. Assim, neste trabalho obteve-se um Km de 0,61 mM e

um Vmax de 0,16 µmol min-1

mg-1

enquanto na publicação de Ferreira et al (2007) se obteve um

Km de 3,7 mM e um Vmax de 8,8 µmol min-1

mg-1

. Esta discrepância pode dever-se a uma

eventual perda de atividade no processo de lise celular enzimática ao invés da utilização de

ultrassons efetuada anteriormente.

Como foi referido anteriormente, as proteínas fosfotirosina fosfatases TpbA e Ltp1 de

Pseudomonas aeruginosa e Porphyromonas gingivalis, respetivamente, estão direta ou

indiretamente envolvidas na síntese de polissacáridos importantes para a matriz dos biofilmes

(Ueda et al, 2009; Maeda et al, 2008). Também em Burkholderia contaminans IST408 foi

demonstrado que a mutação no gene bceD leva à diminuição de 25% na produção de

exopolissacárido e a uma menor formação de biofilmes (Ferreira et al, 2007). Neste trabalho

confirmou-se que o mutante bceD::Tp produz menos biofilme, mas o envolvimento desta

proteína não parece estar dependente da atividade de fosfotirosina fosfatase uma vez que o

biofilme formado pelos variantes de BceD é semelhante à estirpe selvagem. Enquanto a razão

para estas observações não é compreendida, será interessante quantificar os níveis de

polissacárido produzido pelas várias estirpes e inferir se apenas a atividade fosfatase é

importante ou também se possíveis mecanismos de interação proteína-proteína podem

também estar envolvidos.

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28

A ligação das bactérias às células epiteliais do pulmão é o primeiro passo para a

colonização deste órgão por estirpes de Bcc. Para avaliar a influência que o gene bceD poderá

ter na colonização foi expresso o gene bceD nativo e os variantes sem atividade de fosfatase

no mutante bceD e determinou-se se os níveis de adesão/invasão de células epiteliais são

dependentes da atividade fosfatase. Os resultados obtidos confirmam que a ausência do gene

bceD leva a uma menor adesão às células epiteliais. No que se refere às mutações nos

resíduos do centro ativo (C9A, D119A e R15E), verifica-se que também apresentam níveis de

adesão inferiores à estirpe selvagem, sugerindo que a atividade de fosfatase de BceD contribui

para o fenómeno de adesão. O resultado obtido para a estirpe contendo BceDY128F, apesar de

não apresentar atividade de fosfatase, tem um nível de adesão equivalente à estirpe selvagem,

o que não está de acordo com os resultados obtidos nas outras variantes mutadas de BceD.

Mais repetições desta experiência terão de ser efetuadas quer no que diz respeito à adesão e

confirmação da atividade enzimática.

Uma última questão que ficou em aberto é se a proteína BceD é excretada, atuando

diretamente sobre as células epiteliais, ou se o seu efeito é indireto, atuando sobre outras

moléculas efetoras de Burkholderia. De facto, proteínas da família PTP e LMW-PTP que se

conhece que interferirem em vias de sinalização do hospedeiro, como é o caso da YopH de

Yersinia pseudotuberculosis (Black et al, 1998), StpP de Salmonella ‘typhimurium’ (Lin et al,

2003) ou PtpA e PtpB de Mycobacterium tuberculosis (Koul et al, 2000) são todas elas

translocadas para células do hospedeiro. Num trabalho recente, Andrade e Valvano (2014)

avaliaram a excreção de 4 LMW-PTPs de Burkholderia cenocepacia, tendo concluído que

apenas a proteína Dpm era excretada. Ou seja, nas condições testadas por estes autores, a

proteína homóloga a BceD de Burkholderia contaminans IST408 não era excretada. Apesar

deste resultado, não podemos excluir que o possa ser na presença de células epiteliais

CFBE41o-. Se efetivamente BceD não for excretada, terá então de se investigar a sua

participação noutros processos celulares que favoreçam a adesão a superfícies bióticas como

é o caso das células epiteliais.

Em conclusão, este estudo demonstrou que a atividade de fosfatase de BceD de

Burkholderia contaminans IST408 requer a integridade dos motivos conservados que

correspondem às regiões catalíticas e que esta atividade não parece ter influência na formação

de biofilmes, mas é necessária para o processo de adesão a células epiteliais de pulmão

CFBE41o-.

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Bibliografia

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tyrosine phosphatase is required for the delayed maturation of the bacteria-containing vacuoles

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