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As oficinas terapêuticas são uma possibilidade de intervenção terapêutica eficaz e delas podem participar variados grupos: idosos, crianças, adolescentes, portadores de transtorno mental grave, e psicossomático, e mesmo pessoas que, desgastadas pelo estresse cotidiano, encontram-se em estado de estafa e/ou desequilíbrio emocional.

Oficinas terapêuticas (Renata Bomfim)

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Apontamentos sobre oficinas terapêuticas e sobre o Estarte (Espaço Terapêutico Arte)

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As oficinas terapêuticas

são uma possibilidade de

intervenção terapêutica

eficaz e delas podem

participar variados grupos:

idosos, crianças,

adolescentes, portadores

de transtorno mental

grave, e psicossomático, e

mesmo pessoas que,

desgastadas pelo estresse

cotidiano, encontram-se

em estado de estafa e/ou

desequilíbrio emocional.

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O ESTARTE ―Espaço Terapêutico Arte― nasceu com uma missão, acolher e tratar pessoas em sofrimento psíquico.

Acreditamos que a saúde mental pressupõe bem mais que a ausência de transtorno mental, antes, é um conceito que se relaciona com qualidade de vida cognitiva e com equilíbrio emocional.

O sofrimento psíquico pode se expressar de variadas maneiras: angústia, ansiedade, tristeza, depressão e, no corpo, sob a forma de transtornos psicossomáticos. Acolhemos e tratamos, de forma multidisciplinar, pessoas que necessitam de apoio.

Nosso Espaço oferece atendimento individual, grupos terapêuticos e variadas oficinas terapêuticas.

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Renata Bomfim Arteterapeuta e psicossomatista

Artista plástica (UFES), especialista em Arteterapia na Saúde e na Educação (UCAM/RJ), em Psicossomática (FACIS/SP), e em Psicologia Analítica Jungueana (IBPP/ES). Mestre e doutoranda em Letras pela UFES.

Integrou o Grupo de Extensão da UFES Cada Doido Com Sua Mania entre os anos de 1999 e 2007. Participou da estruturação dos serviços de saúde mental CAPS Ilha de Santa Maria (SESA/PMV), Centro de Atenção Continuada para crianças e adolescentes (CACIA/UFES), Ambulatório de Saúde Mental para Crianças e Adolescentes (HUCAM) onde ministrou oficinas terapêuticas.

O Espaço Terapêutico Arte (Estarte) está localizado na Rua Darcy Grijó, nº 50. Jardim da Penha, Vitória/ ES. (Ao lado da UFES)

Tel.: (27) 995.7474.10

[email protected]

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A PALAVRA OFICINA POSSUI VARIADAS ACEPÇÕES * LUGAR ONDE SE VERIFICAM GRANDES TRANSFORMAÇÕE * LUGAR ONDE SE EXERCE UM OFÍCIO, OU OCUPAÇÃO (TRABALHO DE ORDEM MANUAL E/OU INTELECTUAL) Importa que a OFICINA TERAPÊUTICA abre para o indivíduo espaços de expressividade e de criação livre e espontânea, permitindo que este, ao produzir algo, produza a si mesmo, e se perceba de forma integrada.

As oficinas terapêuticas são uma possibilidade de intervenção terapêutica eficaz e delas podem participar variados grupos: idosos, crianças, adolescentes, portadores de transtorno mental grave e psicossomático, e mesmo, pessoas que, desgastadas pelo estresse cotidiano, encontram-se em estado de estafa e/ou desequilíbrio emocional. Esta abordagem terapêutica visa possibilitar que o participante recupere o equilíbrio perdido, a autonomia, e que volte a sonhar, a se interessar pela vida, pelas pessoas e por si mesmo.

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Algumas Oficinas Terapêuticas que oferecemos no ESTARTE:

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Programação de atividades

Hora Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

09:00 OFT VATT OFT SP OFT VATT

10:00 OFT VATT OFT OFLIT SP

11:00 OFLIT

12:00

13:00 ATT

14:00 ATT ATT ATT ATT ATT

15:00 ATT OFLIT ATT OFLIT ATT

16:00 OFLIT

17:00 OFLIT ATT VATT

18:00 ATT VATT

19:00 SP ATT

20:00 VATT

21:00

ATT: Atendimento Terapêutico

OFT: Oficina terapêutica

SP: Supervisão

VATT: Vivência de Arteterapia

VATTEM: Vivência de Arteterapia para equipes

multiprofissionais

OFLIT: Oficina Literária

OE: Orientação para estudantes

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Figura 1 Bispo do Rosário vestindo o seu manto

É uma aventura lúdica adentrar o “mundo” criado por Arthur Bispo do Rosário, ícone da arte contemporânea brasileira. Comparado com Andy Warhol e Marcel Duchamp, Bispo do Rosário representou o Brasil na 46ª Bienal de Veneza, um dos mais prestigiados eventos internacionais de artes plásticas do mundo, juntamente com o artista Nuno

Ramos, suas obras continuam sendo expostas em variados países. As 802 obras deixadas por Bispo do Rosário foram produzidas sob condições adversas e motivadas por uma fé inflexível, ele acreditava estar cumprindo uma missão divina: representar tudo o que existe no mundo. O artista recriou um mundo em miniatura, mantos bordados, estandartes, assemblages (técnica que consiste na justaposição de elemento), e reuniu, em séries, muitos objetos. Segundo o próprio Bispo do Rosário este novo mundo seria apresentado ao Todo Poderoso no dia do juízo final, e seria um mundo “sem trevas, planalto ou precipício”, “sem miséria e nem pobreza”.

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XXX A criatividade era abundante, enquanto os materiais eram escassos. Bispo improvisou os recursos de que necessitava para a realização de sua obra, ele desfiou o próprio uniforme azul da colônia, símbolo máximo da despersonalização, para bordar com os seus fios uma arte de vanguarda, irmanada com movimentos como a Pop Art e o Novo realismo. As sucatas recolhidas pelo artista nas suas perambulações pela Colônia Juliano Moreira, sobras e restos, ironicamente, colocariam o Brasil no mapa-múndi das artes plásticas. As palavras também desempenharam um importante papel na obra de Bispo do Rosário, elas foram

pintadas, escritas, e emergiram, especialmente e em profusão, em bordados, na forma de nomes de pessoas célebres e anônimas, registros de ideias, e extratos poéticos. Bispo do Rosário foi um homem de origem humilde, nasceu em 1909 em uma cidadezinha sergipana chamada Japaratuba. Filho de Adriano Bispo do Rosário e de Blandina Francisca de Jesus, o artista foi marinheiro, pugilista e, entre outros trabalhos, prestou serviços para uma família tradicional carioca, os Leoni. Bispo se recusava a receber salário, trabalhava em troca de moradia e alimentação.

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A “outra” origem de Arthur Bispo do Rosário, não a do nordestino negro e pobre, mas, a do “eleito”, “Filho do homem”, começou às vésperas do natal de 1938, quando a cortina que revestia o teto do mundo se rasgou e ele recebeu, por parte de sete anjos, o chamado para se apresentar. Bispo vagou por dois dias pelas ruas do Rio de Janeiro seguindo o exército angelical e chegou ao Mosteiro de São Bento. Ao adentrar a capela ele anunciou que era “o juiz dos vivos e dos mortos, o Cristo”. Bispo esperava ser reconhecido pelos religiosos, porém, enquanto os sinos das igrejas dobravam para receber “o enviado de Deus”, arquetipicamente, tal como aconteceu com o Cristo, Bispo caiu nas mãos da autoridade terrena. Preso por policiais militares foi enviado para o hospício da Praia Vermelha. No dia 25 de janeiro de 1939, Bispo do Rosário adentrou o portão da Colônia Juliano Moreira, que continha na entrada a frase profética: praxix omnia vincit

(o trabalho tudo vence). Classificado pela psiquiatria como esquizofrênico- paranoico, Arthur Bispo do Rosário conheceu a realidade nua e crua da vida no sistema manicomial. A Colônia Juliano Moreira, instituição destinada a abrigar “expurgados da sociedade”, doentes considerados crônicos, “casos irreversíveis” auscultados pela psiquiatria carioca da década de 30, foi à morada de Bispo por cinco décadas. As visões “místicas” e os “delírios de grandeza” fizeram com que o artista fosse encaminhado para o pavilhão 11 do Núcleo Ulisses Viana, lócus privilegiado da geografia da exclusão que era ocupado pelos internos considerados mais “perigosos”. A colônia compreendiam uma área verde de cerca de sete milhões de metros quadrados, com grutas e cachoeiras que integravam a antiga Fazenda Engenho Novo, desapropriada para abrigar o hospício. Em meio à mata atlântica havia uma raridade arquitetônica do

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século XIX, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.

Os portadores de transtorno mental greve colhem, hoje, os frutos da luta antimanicomial em prol da desospitalização. Os manicômios, cujo modelo de assistência teve a sua ineficiência comprovada, estão sendo substituídos por Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e por Casas lares, e a legislação, se não é perfeita, reconhece os direitos dos portadores de transtorno mental grave. Mas em 1938 a situação era bem diferente, pois as técnicas psicanalíticas propostas por Freud na virada do século XIX, só chegaram à Colônia Juliano Moreira em 1981, antes disso, esta reproduzia as experimentações que chegavam de centros psiquiátrico europeus, ricas em

perversidades. O eletrochoque, por exemplo, aparato desenvolvido na década de 30 pelo italiano Ugo Cerletti, a partir da visita a um matadouro de porcos, foi muito bem recebido na Colônia, tanto que havia uma máquina em cada Núcleo. O dramaturgo Antonin Artaud, em 1945, escreveu ao seu psiquiatra pedindo a interrupção do eletrochoque, ele disse: “o tratamento apaga a minha memória, entorpece meu pensamento e meu coração, faz de mim um ausente que se vê durante semanas em busca do seu ser”. A lobotomia foi um “tratamento” recebido na Colônia como a “salvação da lavoura”. Inventada em 1936 ela rendeu ao seu criador, o neurologista português Egas Moniz, o Prêmio Nobel de Medicina. Bispo, como por milagre, safou-se de muitas destas armadilhas da psiquiatria de sua época.

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Ex-lutador de boxe e possuidor de grande força física, Bispo do Rosário passou a ajudar os enfermeiros na contenção dos pacientes mais violentos, conquistando assim, um lugar para si na Colônia, ele era o “xerife”. O artista fez amigos no manicômio, ele empreendia algumas tarefas e usufruía de pequenos privilégios como o de “tomar café com os guardas nos bastidores do poder”. Com o passar do tempo os enfermeiros passaram a respeitar os períodos nos quais Bispo submergia no oceano particular de vozes que lhe diziam o que precisava fazer, eram épocas de recolhimento e produção frenética. O cunho místico que orientou o processo criador de Bispo do Rosário exigia o isolamento. Foi do seu mundo particular

que a ele confrontou o poder opressor do sistema psiquiátrico vigente. Uma infinidade de artigos de consumo do hospício segregados em blocos: galochas, colheres, fivelas de cintos, cabides, seringas, pentes, ferramentas, pipas, chapéus, rodos, bolas, capacetes, foram reunidos e utilizados numa ação criativa, uma “obra-escudo”, esta foi, de certa forma, uma expressão de resistência. A visada psicanalítica chegou a Colônia após 1981 e os pacientes passaram a ser estimulados a falar. Foi nesse período que Rosângela, estudante de psicanálise, chegou à Colônia, e um forte vínculo se estabeleceu entre ela e Bispo. Nessa época o artista passou a construir as miniaturas em dobro para presenteá-la, Rosângela tornou-se para Bispo uma personagem idealizada, ela era o seu anjo redentor, tanto que ele escreveu: “Rosângela Maria Diretora tudo eu tenho”.

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Enquanto, na clausura do seu “quarto-forte” (cubículo minúsculo que abrigava um colchonete e um buraco no solo), e longe dos olhares curiosos, Bispo do Rosário escondia os mistérios do seu “novo mundo” em formação, no mundo, a arte explodia em novos conceitos. Na Itália de 1962, Piero Manzoni seguia a tendência do New Dada explorando a desordem dos materiais e expondo, em galerias, objetos do cotidiano.

Pães e ovos cozidos deram forma a obras que, depois de expostas, eram consumidas pelo público. Manzoni expôs caixas com as próprias fezes numa obra denominada Merde d’artiste. Obras de Manzoni, como a assemblage de paezinhos, encontrou eco nas obras de Bispo do Rosário, tanto nas peças que agrupavam “bugigangas” em série, quanto nas garrafas plásticas preenchidas com fezes e urina, organizadas pelo artista. O sistema social opressor era confrontado por obras escatológicas e improváveis e muitos artistas se engajaram na tentativa de enterrar a tradição. O francês Arman, por exemplo, artista plástico representante do Novo Realismo, passou a tomar os bens de consumo da sociedade moderna para reorganizá-los em repetições aleatórias, suas

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obras mais conhecidas intitulam-se Latas de lixo e Montes de detritos. Outro francês, Íris Clert, produziu obras como Retrato de Sonny Liston (1963), que consistia num amontoado de ferros de passar roupas que alcançava 85 centímetros de altura. Um ferro de passar roupas, daqueles antigos e pesados, também integrou as assemblages de Bispo do Rosário. Ironicamente, enquanto os artistas denunciavam a compulsão capitalista no mundo, Bispo estava alheio a movimentos artísticos, galerias de artes, marchands e mecenas, ele era um excluído do sistema.XXX

“O senhor do labirinto” não gostava de falar sobre a sua história de vida, quando lhe

perguntavam sobre a sua origem, ele respondia apenas: “Um dia eu simplesmente apareci”. Muito do passado do artista emergiu na sua obra do recôndito da memória: signos da infância e tradições de um lugar (Japaratuba) que tem como centro a Igreja de Nossa Senhora da Saúde. Os bordados, as fantasias do Dia de Reis, a coroação do Rei e da Rainha em vestes cravejadas de bordados e franjas, ambos negros, nos Folguedos, bem como, a pressão cultural representada no nome que reúne dois termos imantados pela religiosidade católica (Bispo + Rosário). Em um dos bordados do artista aparece a inscrição “Missão Japaratuba”, fragmento que comprovam a riqueza cultural herdada, que foi poeticamente trabalhada em fardões tecidos, adornos, rebordos costurados. Variações estéticas também incorporaram temas marítimos; embarcações com mastros, boias, botes salva-vidas, âncoras e bandeiras, reminiscências da época de marujo. Bispo se designava

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“Rei dos Reis” e, para si, teceu um manto avermelhado, salpicado de bordados com o qual seria coroado, o “Manto da Apresentação”, peça considerada a sua obra-prima. Bispo esperava que os mesmos sete anjos que lhe transmitiram “o chamado” viessem buscá-lo “com poderes e glórias” para levá-lo “para cima”, e visando a salvação do mundo ele construiu uma obra intitulada “A arca de Noé”, um barco feito com papelão e pano. O sagrado e o profano perpassam toda a obra de Bispo: bandeirolas juninas, a bandeira do Brasil, signos religiosos como um coração de Cristo (entalhado na madeira), imagens de santos, medalhinhas da Virgem Maria, cruzes e crucifixos ilustraram a sua via-crucis estética.

Bispo realizava jejuns sazonais para ficar “todo brilhoso, dos pés a cabeça”, até tornar-se “transparente” e “subir aos céus na hora da passagem”. Entre delírios e momentos de lucidez, Bispo do Rosário construiu uma obra monumental, que “possui vocação para a vitória”, ao tecê-la, o artista elevou o seu eu para além da condição de “louco e asilado”. Bispo, já idoso, passou atrair olhares forasteiros, especialmente dos jornalistas. Foi a partir de 1985 que a sua obra ganhou visibilidade e começou a se projetar nacionalmente. Ele posava altivo para as câmeras, vestindo o “Manto” e empunhando estandartes. Nuances da vida e da arte de Bispo do Rosário tem sido trabalhadas por artistas em filmes, teatros e livros. A Editora Rocco, após 15 anos, reedita obra Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto, escrita pela jornalista Luciana Hidalgo, vencedora do Prêmio Jabuti de 1997. Essa obra revela um estudo aprofundado

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que conta com pesquisas realizadas na Colônia Juliano Moreira e em Japaratuba, bem como, com entrevistas. Luciana Hidalgo afirmou que, após trilhar o “labirinto de palavras, histórias e bordados”, do universo de Bispo do Rosário, saiu “outra”. A morte de Bispo do Rosário em 1989 suscitou a preocupação com o destino e preservação de sua obra, então foi fundada a Associação de Amigos dos Artistas da Colônia Juliano Moreira. Atualmente, Arthur Bispo do Rosário dá nome ao único Museu de Arte Contemporânea, cujas exposições acontecem em galerias situadas nas dependências de uma instituição psiquiátrica. O acervo do Museu Bispo do Rosário foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio do Rio de janeiro (INEPAC), e as obras ficam expostas permanentemente. Municipalizado, o Hospício Juliano Moreira tornou-se Instituto Municipal de

Assistência à Saúde Juliano Moreira. (fonte: www.letraefel.com)

Figura 2 Carl Gustav Jung

A literatura, especialmente a poesia, faz parte da história, tanto familiar, quanto profissional de Carl Gustav Jung. Conta-nos Bair (2006), sua biógrafa, que ao nascer, Jung foi batizado com o nome Karl Gustav II Jung, uma homenagem ao seu avô paterno,Carl Gustav I Jung. O avô de Jung era cidadão alemão, conhecido tanto por suas opiniões liberais, quanto pelas histórias que contava e

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que deram à sua biografia, tons ficcionais, entre elas, a suspeita de que era filho ilegítimo do poeta Goethe. Na juventude Carl Gustav I havia morado em Berlim, na casa de um editor chamado Geog Andréas Reimer, onde integrou um grupo de intelectuais do romantismo como Ludwig Tieck e os irmãos Schlegel.. A saber, August Wilhelm Von Schlegel foi o responsável pela tradução de Shakespeare para o alemão. Doutor em medicina e ciências naturais, o avô de Jung, foi também, escritor de poemas e canções, algumas registradas no livro alemão de cantigas. Conta-se que foi muitas vezes persuadido a abandonar a medicina pela poesia, conselho que não seguiu, continuando a publicar suas obras anonimamente, sob o pseudônimo de Mathias Nusser.

Figura 3 Georg Andreas Reimer

O “K” foi uma atualização feitas pelos pais de Jung ao seu nome, mas ele optou manter o nome na forma original familiar, apenas uma das muitas identificações que mantinha com seu “abençoado avô”, que segundo ele, havia posto “um ovo muito estranho na sua mistura” (BAIR, 2006). Paul Jung, o pai de Jung II, estudara línguas orientais na Universidade de Göttingen, especializando-se em árabe e escreveu uma dissertação acerca dos comentários em hebraico do sábio do século X Jephel Bem Eli sobre o Cântico dos Cânticos de Salomão. Mas, contrariando a vontade do pai, Carl Gustav I, não trilhou uma carreira

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brilhante como erudito, tornando-se padre numa igreja reformada da Suíça. Este breve histórico familiar mostra o berço intelectual onde foi recebido o jovem Jung, que estudava idiomas como o latim e o grego e aos treze anos, ingressou no estudo da filosofia.

Figura 4 Carl Gistav Jung

Jung era um homem erudito, lera durante a sua vida escritores como A. E. Biedermann, que tratava do dogmatismo cristão, leitura levou-o diretamente a Schopenhauer, Meister Eckhart, santo Tomás de Aquino, a quem “desprezava”, Hegel, Kant e Nietzsche, Shakespeare, Heráclito, “com menor interesse” Pitágoras e

Empédocles, mas, a poesia, esta lia “com paixão e prazer”. A paixão pela obra de arte poética levou Jung a escrever, na maturidade, o livro O espírito na Arte e na Ciência, onde volta à atenção para os movimentos culturais, entre eles as artes plásticas e a literatura. Nessa obra Jung reconhece o desafio de fazer dialogar a psicologia analítica e a arte que, “apesar de sua incomensurabilidade”, compartilham uma “estreita relação” e acrescenta: [embora a poesia pertença ao campo da literatura e da estética, esta possui grande força imagística] não pretendo de modo algum substituir tais pontos de vista pela perspectiva psicológica. Acaso o fizesse incorreria no pecado da unilateralidade que eu mesmo censurei.

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Não arrogo também apresentar uma teoria completa da criação poética, isso ser-me-ia impossível. As minhas explanações significam apenas meus pontos de vista, a partir das quais poderia orientar-me uma consideração psicológica do fenômeno poético (JUNG). Ciente dos perigos de misturar campos diversos de saber sem levar em conta a especificidade de cada um, e de que a essência da atividade artística é inacessível para a psicologia, Jung (1991) advertiu para perigo das leituras reducionistas que, “inopinadamente”, desviam o interesse da obra de arte enredando-a “numa embrulhada labiríntica, [de] pressupostos psíquicos, tornando-se então o poeta um caso clínico”. Sob essa ótica a psicologia pessoal do poeta não explica a obra de arte. Jung acreditava que reduzir a criação artística às relações pessoais que o poeta mantinha com os pais ou a outros fatores como distúrbios psicológicos, não contribuía para a compreensão desta e

reinterou: um poeta pode ter sido influenciado mais pela relação com seu pai, outro pela ligação com a mãe e finalmente um terceiro pode demonstrar, através de suas obras, traços inconfundíveis da repressão sexual; tudo isso pode ser atribuído tanto a neuróticos, como a todas as pessoas [ditas] normais. E assim nada de específico se apurou para o julgamento de uma obra de arte, na melhor das hipóteses ampliamos e aprofundamos o conhecimento dos pressupostos históricos. [...] Bom senso e parcimônia, podem resultar uma interessante visão geral de como a criação artística está entrelaçada com a vida pessoal do artista, por um lado, por outro, como ela se projeta para fora desse entrelaçamento (JUNG, 1991). O poeta na visão jungueana satisfaz as necessidades anímicas de um povo através de sua obra, e constitui para o autor, saiba ele ou não, mais do que o seu próprio destino pessoal. A interpretação da

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obra não compete ao poeta. Segundo Jung (1991, p. 93), “uma obra-prima é como um sonho que, apesar de todas as evidências, nunca se interpreta a si mesmo e nunca é unívoca”, portanto a interpretação não deve ser feita pelo poeta, mas “deve ser deixada aos outros e ao futuro”. O sentido da obra de arte poética só é alcançado quando o indivíduo se permite modelar por ela, assim como o poeta foi modelado, assim a obra tocará as regiões profundas da alma, onde os seres vibram em uníssono e a sensibilidade humana abarca a humanidade. Portanto, a obra de arte é ao mesmo tempo objetiva e impessoal.

"CADA UM DESSES INDIVÍDUOS- ESQUIZOFRÊNICOS OU MARGINAIS DE VÁRIOS GÊNEROS- POSSUI SUAS PECULIARIDADES, MAS TODOS TÊM CONTATO ÍNTIMO COM AS FORÇAS NATURAIS, BRUTAS, VIRGENS DO INCONSCIENTE. QUE HAJAM CONFIGURADO VISÕES, SONHOS, VIVÊNCIAS NASCIDAS DESSAS FORÇAS PRIMÍGENAS, EIS UM DOS MISTÉRIOS MAIORES DA PSIQUE HUMANA" (DRA NISE DA SILVEIRA).

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Amigos, trago para vocês um pouquinho do trabalho realizado pela Dra Nise da Silveira, fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente. Tive a honra de estagiar no Museu, antigo Hospital psiquiátrico Pedro II, em 2000. Foi uma experiência ímpar que resultou na produção de um vídeo. Mas quem foi a Dra Nise da Silveira? Certamente uma mulher à frente de seu tempo, uma psiquiatra rebelde que, inconformada com as práticas terapêuticas de sua época (eletrochoque, insulinoterapia, lobotomia e confinamento), ousou fazer diferente. Não se esqueçam que estamos falando da década de 1940, Dra. Nise inovou criando no Hospital Psiquiátrico Pedro II, a seção de Terapêutica Ocupacional, e lutou muito para fundamentar cientificamente esta nova forma de lidar com os pacientes.

Os resultados não demoraram a aparecer, juntamente com o surgimento de um grande volume de pinturas, esculturas, etc., realizadas pelos pacientes.Na medida em que produziam, os pacientes passavam a apresentar melhoras significativas no quadro clínico.

Figura 5 Dra Nise da Silveira

As imagens que resultaram

desse trabalho passaram a

intrigar a Dra Nise e a

psiquiatra buscou apoio na

teoria jungueana para, de

alguma forma, elucidá-las.

Lançar um olhar sobre a

produção de um paciente era

ter acesso a sua psique, coisa

quase impossível de ser feita

por outra via, especialmente

na esquizofrenia. Dra Nise viu

Page 22: Oficinas terapêuticas (Renata Bomfim)

que muitas das imagens

produzidas eram formas

circulares ou próximas do

círculo, símbolo da unidade e

da integração e idênticas as

imagens utilizadas para

meditação e representação das

divindades das religiões

orientais. Ela se perguntou

como e porque pessoas

psiquicamente cindidas

estariam estar produzindo, em

profusão, símbolos da

unidade? Dra Nise encontrou

apoio em Jung que também

ficou muito interessado nessas

imagens.

A psique possui, assim como o

corpo, potencial autocurativo,

e busca compensar a situação

caótica da mente e a

dissociação por meio da

produção de símbolos, que são

pontes entre o mundo da

psique e o mundo exterior, ou

seja, a realidade objetiva. Este

trabalho realizado pela Dra

Nise da Silveira acabou

introduzindo a psicologia

analítica junguiana no Brasil, e

entre Jung e Dra Nise teve

inicio uma profícua troca de

experiências. Jung literalmente

mandou a Dra Nise estudar os

mitos, sem o conhecimento

destes, não seria possível uma

compreensão mais profunda

das representações produzidas

pelos pacientes. Muitas

imagens surgidas no ateliê

tinham semelhanças com

temas míticos universais, e os

autores dos trabalhos, eram

em grande parte, pessoas

humildes, de classes sociais

que não lhes permitiam grande

acervo de conhecimento da

cultura de outros lugares.

Esse trabalho é um marco para

a psiquiatria no mundo,

infelizmente mais conhecido e

reconhecido no exterior que no

Brasil e abriu portas para

mudanças significativas na

forma de tratamento no

campo da saúde mental,

certamente um orgulho para

todos nós terapeutas e

brasileiros. A psicologia

junguiana não tem como único

objetivo encontrar mitos

Page 23: Oficinas terapêuticas (Renata Bomfim)

representados na produção

dos pacientes psiquiátricos, o

seu interesse maior está em

identificar e acompanhar nas

produções o processo contínuo

de elaboração dos conteúdos

psíquicos, visando melhorar a

orientação do tratamento para

a melhora do paciente.

Figura 6Encontro entre Nise e Jung

"Do mesmo modo que o corpo

humano é um agrupamento

completo de órgãos, cada um o

termo de longa evolução

histórica, também devemos

admitir na psique organização

análoga. Tanto quanto o

corpo, a psique não poderia

deixar de ter sua história" (C.

G. Jung).

Rituais:

Óleo sobre papel de Carlos

Pertuis.

Mitos egípcios:

Lápis de cera sobre papel de

Carlos Pertuis

Deus Rá e a barca do Sol-

detalhe de papiro egípcio da

19ª dinastia.

Page 24: Oficinas terapêuticas (Renata Bomfim)

Galeria de Imagens ESTARTE:

Oficinas de pintura, Mosaico,

Contação de histórias e

Vivêncis socioambientais.

Page 25: Oficinas terapêuticas (Renata Bomfim)

Oferecemos, ainda, cursos, grupos de estudo, vivências e supervisão. Se algum desses trabalhos despertou o seu interesse entre em contato conosco pelo tel.: (27) 995. 7474.10 Atenciosamente, Renata Bomfim