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OASL Formação Política A PLATAFORMA O anarquismo não é uma bela fantasia, nem uma idéia filosófica abstrata, mas um movimento social das massas trabalhadoras. Grupo dos anarquistas russos no estrangeiro (Dielo Truda) A PLATAFORMA e o contexto da Revolução na Ucrânia (1918-1921)

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OASLFormação Política

A PLATAFORMA

O anarquismo não é uma bela fantasia, nem uma idéia filosófica abstrata,

mas um movimento social das massas trabalhadoras.

Grupo dos anarquistas russos no estrangeiro (Dielo Truda)

A PLATAFORMAe o contexto da Revolução na Ucrânia (1918-1921)

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PLANO DA FORMAÇÃO

1. Contexto histórico do processo revolucionário na Ucrânia (1918-1921)

2. Contexto e motivação da Plataforma

3. A Plataforma- Tese central- Estrutura do documento- Conteúdo do documento

4. Debate e desdobramentos

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

Revolução de fevereiro de 1917Forma-se um governo republicano burguês na Rússia, com Kerensky à frente Forma-se na Ucrânia um governo nacionalista burguês, sob a liderança de Petlura Presos políticos são soltos; Após quase 9 anos na prisão, Makhno retorna para Ucrânia para reencontrar os companheiros ainda ativos do Grupo Anarco-comunista de Gulyai-Polye, fundado em 1905

Outubro de 1917Os bolcheviques tomam o poder na RússiaNa Ucrânia, a burguesia continua no poder Mas criação de sovietes e a tomada e coletivização de terras dos latifundiários pelos camponeses já ocorrem, mas ainda a passos lentos

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

Começo de 1918 (guerra civil na Rússia e início da revolução ucraniana) Acordo dos bolcheviques com os Alemães e os Austríacos (Tratado de Brest-Litovsk): a Ucrânia, com sua saída para o mar, é entregue à Alemanha O governo imperial alemão ocupa a Ucrânia, depõe o governo burguês, devolve as terras aos latifundiários, apoia o poder dos nobres e implanta um governo títere, sob a liderança de Skoropadisky Saque do país: matérias primas, gado, trigo, etc. são confiscados e enviados para a Alemanha A ocupação Alemã desencadeia um movimento generalizado de resistência popular

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

Formação do Exército Insurrecional Ucraniano (guerra civil na Rússia e na Ucrânia) Nestor Makhno (que era presidente do soviete local, da união regional dos camponeses e da união dos metalúrgicos e carpinteiros), junto com outros militantes, começa a organizar batalhões de camponeses e operários para enfrentar a ocupação alemã, retomar as terras para os camponeses e combater a burguesia local Dada a insuficiência de batalhões para enfrentar os desafios postos pelas circunstâncias, por exércitos regulares militarmente superiores, criam-se regimentos e um comando geral. Com isso, forma-se o Exercito Insurrecional Ucraniano de camponeses e operários

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

Controle democrático do exército: 1. O congresso dos sovietes ucranianos elegia o comando geral do

exército (Conselho Militar Geral) e tinha o poder de revogá-lo a qualquer momento

2. O alistamento era voluntário3. Estimativas mais generosas sustentam que o exército revolucionário era composto de aproximadamente 200.000 trabalhadores

A função do exército era, como organização armada do movimento popular,

1. Defender as regiões em que os camponeses e operários tomavam as fábricas e coletivizavam as terras2. Estender e liberar novas regiões3. Viabilizar condições para o trabalho construtivo da revolução:

organização autogestionária da vida econômica, social e política (da produção no campo e na cidade em forma de conselhos federados – sovietes – e da administração política em forma de federações de comunas livres)

4. Estima-se que as regiões liberadas pelo exército, conformando, sobretudo, o sul e leste do país, chegaram a ter 9 milhões de habitantes, numa área de aproximadamente 300 km².

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

No curso de 1918Os alemães são expulsos pelas forças armadas lideradas pela burguesia ao norte e pelo Exército Insurrecional Ucraniano, concentrado no sul do paísO exército revolucionário no sul não somente expulsa as tropas de ocupação austro-alemãs, mas também impede o avanço das forças burguesas lideradas por PetluraOs bolcheviques voltam à Ucrânia

Final de 1918, 1919 e 1920O Exército Insurrecional Ucraniano, em aliança com o Exército Vermelho, enfrenta e vence as contraofensivas czaristas lideradas por Denekin e WrangelEm verdade, o grosso do exército de Denekin é enfrentado e vencido pelo EIU ao sul, em 1919Campanha bolchevique de difamação do exército revolucionário: são enviadas forças letonas, chinesas e siberianas para dificultar a captação pelo exército insurrecional, i.e, evitar que soldados vermelhos deserdassem e passassem a compor os batalhões maknovistas, como ocorreu na etapa de Denikin

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

... Final de 1918, 1919 e 1920:Em abril 1920, bolcheviques e maknovistas voltam a fazer uma aliança. Agora para enfrentar os exércitos czaristas de WrangelEm novembro do mesmo ano, em batalhas sangrentas, os brancos são derrotadosApós a campanha da Crimeia, em que os maknovistas e os bolcheviques vencem Wragel, os bolcheviques traíram os maknovistas, os atacando pela retaguardaNeste momento, dizimado por anos de guerra, o exército insurrecional conta com apenas 3.000 combatentes; estima-se que o Exercito Vermelho tenha atacado os maknovistas com 150.000 soldadosMuitos ucranianos camponeses, operários e seus familiares – simpatizantes e/ou que viviam nas áreas de influência maknovista – são presos e cruelmente assassinados pelos bolcheviquesEm 1921, um pequeno grupo de 300 combatentes, entre eles Makhno, gravemente ferido, conseguem escapar do cerco bolchevique, e fogem para a Romênia; parte deles chegará posteriormente à FrançaFim da revolução ucraniana

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1. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO NA UCRÂNIA (1918-1921)

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2. CONTEXTO E MOTIVAÇÃO DA PLATAFORMA

FRANÇA, 1925-1926

Russos exilados retomam discussões sobre o anarquismo

- Processo de crítica e autocrítica * Por que perdemos a revolução?

- Reflexão estratégia (leitura da realidade, objetivos, caminhos)

- Criação revista Dielo Truda em 1925

- Debates intensos e diversas contribuições

- Um determinado grupo, em torno de Arshinov e Makhno, que estava entre os fundadores da revista, sustenta posições desde 1921 (capítulo do livro do Arshinov sobre a história da makhnovitschina), que se aprimoram em artigos e levam à Plataforma, publicada na revista em 1926

- Segue-se grande e rica polêmica com anarquistas de vários países

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2. CONTEXTO E MOTIVAÇÃO DA PLATAFORMA

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3. A PLATAFORMA

3.1 TESE CENTRAL

Contradição: - Virtude das posições anarquistas (ideias) X situação complicada do anarquismo em sua intervenção nas lutas de classes (práticas)

Problemas fundamentais: - Desorganização, fragmentação e existência efêmera de grupos anarquistas

Motivo: - Compreensões distintas (até mesmo contraditórias) do anarquismo

* Anarquismo como movimento de massas dos trabalhadores (Bakunin)

* Anarquismo como busca da liberdade individual (falta de responsabilidade e posturas antiorganizacionistas)

Caso concreto: - Contexto revolucionário ucraniano de 1918 a 1921; ainda que a França daquele momento não fugisse à regra

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3. A PLATAFORMA

3.1 TESE CENTRAL

Solução: * Criar uma União Geral dos Anarquistas (Organização política revolucionária)* Organizar a UGA em torno de uma proposta orgânica clara,

diferente da síntese e do anarco-sindicalismo* Reunir a maioria dos anarquistas para uma prática política

coletiva e organizada* Estabelecer uma linha política, uma estratégia comum e um

programa

Referencial histórico:* Bakunin, Aliança e Internacional

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3.2 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

- Documento dividido em três partes/seções fundamentais

* Geral* Construtiva* Organizacional

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3.2 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

- Geral* Luta de classes: traço fundamental da sociedade* Papel do Estado e necessidade de revolução social violenta* O anarquismo: origens, objetivos e aspectos centrais* Crítica à democracia representativa* A negação estratégica do Estado e da dominação* Papel dos anarquistas e das massas antes e durante a

revolução* Crítica às concepções autoritárias de período transitório* Prática sindical

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3.2 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

- Construtiva (A sociedade futura)* Coletivização/socialização da produção* Consumo* Coletivização/socialização da terra* Defesa da revolução: instituições militares

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3. A PLATAFORMA

3.2 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

- Organizacional (A organização anarquista e seus princípios)* Unidade ideológica* Unidade estratégica* Responsabilidade coletiva* Federalismo

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3.2 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

- Suplemento (Questões e respostas)* Maiorias e minorias no anarquismo* Estrutura e traços do regime livre dos sovietes* Anarquismo como guia ideológico das massas* Defesa da revolução* Liberdade de expressão* Distribuição comunista

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Surgimento do anarquismo- Origem nas lutas de classes dos movimentos populares no século XIX, em sua oposição ao capitalismo, a partir das carências e aspirações dos trabalhadores- Não é fruto de ideias/filosofias abstratas e nem da cabeça de um ou outro teórico ou filósofo- Clássicos como Bakunin e Kropotkin interpretaram este movimento popular real e ajudaram a difundir seus aspectos fundamentais

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

O anarquismo- Conecta idéias e pensamentos com práticas e ações- Socialismo classista revolucionário e libertário- Negação da propriedade privada, da exploração, do Estado, da sociedade de classes, da dominação de maneira geral - Afirmação da necessidade de uma sociedade socialista livre, autogerida e federada (comunismo libertário)- Meios específicos (estratégia) para essa transformação. Mobilização combativa e autônoma/independente de massas, com protagonismo de operários e camponeses; processo interno autogestionário e federalista, com coerência de meios e fins

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Crítica do capitalismo- Propriedade privada: meios e instrumentos de produção - Exploração do trabalho: produto do trabalho apropriado pela burguesia- Burocracia- Privilégios econômicos e sociais; desigualdade- Falta de liberdade e independência

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Crítica do Estado e da democracia representativa- Dominação de classe é garantida pelo Estado (violência de classe)

* Dominação da maioria por uma minoria de governantes- Estado tem o objetivo de manter/garantir a dominação capitalista (forma social de organização da burguesia)- Dois aspectos fundamentais do Estado: força e legitimidade.

Força: Violência e coerção capitalistaLegitimidade: Estímulo à ignorância das massas

- Democracia representativa sustenta a sociedade de classes* Direitos civis (liberdade individual, expressão, reunião) e

igualdade perante a lei são garantidos, na medida em que não coloquem em xeque interesses capitalistas

* Não ameaça propriedade capitalista e reduz-se ao político (capitalistas continuam a controlar o econômico e o cultural; dominação econômica garante dominação política)

* Encobre dominação burguesa com liberdades e garantias fictícias

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Sociedade de classes e luta de classes- Sociedade contemporânea é uma sociedade de classes

* Classe capitalista* Classe trabalhadora (operários e camponeses)

- Exploração e opressão- Luta de classes é o fator fundamental da estruturação da sociedade

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Crítica do socialismo de Estado e do “período de transição”- Socialistas que acreditam que o Estado pode ser utilizado pelos trabalhadores para sua emancipação: “Autoridade socialista e Estado proletário”- Revolucionários (bolcheviques) e reformistas (social-democratas)- Por meio do Estado, só se pode criar outro sistema de dominação

* Estado retira iniciativa das massas, mata sua criatividade, sustenta uma cultura de submissão, promove a confiança cega em líderes

* Meio “Estado proletário” torna-se fim, produzindo novas classes/castas privilegiadas- Oposição à ideia de período de transição dos socialistas estatistas- Necessidade imediata da revolução social

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: revolução social- Processo de transformação necessariamente violento- Protagonizada pelas massas, coloca fim imediato ao capitalismo e ao Estado e abre as portas para o início do comunismo libertário- Deve levar à completa emancipação dos trabalhadores- Deve desenvolver uma estratégia de defesa para enfrentar as forças da contrarrevolução

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: revolução social

Defesa da revolução- Processos revolucionários muito conflitivos e longos (muitos anos)- Construir uma força capaz de impedir os intentos contrarrevolucionários: órgãos para defesa da revolução- Força guerrilheira com todos os trabalhadores e camponeses armados (início do processo): caráter de classe do exército- Com o tempo, estabelecimento de organizações militares libertárias- Estratégia militar comum: unidade de planejamento e comando; autonomia tática e operativa- Negação do militarismo de Estado com alistamento obrigatório; organismos voluntários e baseados na autodisciplina- Submissão total (política) do exército às organizações de massas de trabalhadores e camponeses

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: comunismo libertário- Sistema federalista envolvendo organizações autogeridas de produção e consumo (sovietes/conselhos de operários e camponeses)- Conquista da base social da nova sociedade (meios que permitem a autogestão: terra, produção, funções de gestão etc.)- Relações sociais igualitárias, pautadas na liberdade e independência- Comunismo de aprimoramento constante: “de cada um segundo suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades”

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: comunismo libertário

Coletivização/socialização da produção- Indústria pertence ao conjunto de trabalhadores: não há proprietários (privados ou do Estado) e todos têm os mesmos direitos- Supressão da exploração do trabalho e da burocracia- Antigos capitalistas e classe média integram a nova sociedade como trabalhadores ou a abandonam- Autogestão dos trabalhadores

* Sovietes de trabalhadores* Comitês de fábricas

- Articulação federalista (comunas, distritos, país) de baixo para cima- Tecnologia colocada à serviço dos trabalhadores

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: comunismo libertário

Consumo- Objetivo: satisfação das necessidades de todos (menos os que se recusarem a trabalhar por razões contrarrevolucionárias); exceção crianças, velhos, incapazes etc.- Aproximação cidade-campo, com criação de cooperativas operárias e camponesas

* Suporte das indústrias para industrialização do campo* Produção dos camponeses para as cidades

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Objetivo finalista: comunismo libertário

Coletivização/socialização da terra- Terras pertencem ao conjunto de trabalhadores: não há proprietários (privados ou do Estado) e todos têm os mesmos direitos

* Não podem ser compradas, vendidas, alugadas- Supressão da exploração do trabalho- Possibilidade de conciliar produção individual-familiar e coletiva; camponeses devem resolver essa questão

* Ainda assim, anarquistas devem promover e incentivar a coletivização

* Possibilidade de fundação de um sindicato de camponeses- Articulação federalista (comunas, distritos, país) de baixo para cima- Tecnologia colocada à serviço dos trabalhadores

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista- Força coletiva organizada (objetivos e caminhos claros)- Atuação antes e durante a revolução como agente determinante na influência das massas (referência ao Grupo Anarco-Comunista de Gulyai Polye, já em 1917)- Objetivo: Criar / participar ativamente das organizações de massas e impulsioná-las a protagonizar a revolução

* Não são os anarquistas que deverão fazê-la e nem assumir uma posição de dominação e/ou substituição da classe

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista

Antes da revolução- Organização em dois níveis (OEA/massas)- Estimular luta de classes das massas- A partir das práticas libertárias existentes nas massas, estimular consciência de classe, radicalização dos trabalhadores e consciência/defesa do modelo libertário de organização e luta- Educação/propaganda e trabalho organizativo

Durante a revolução- Anarquismo deve ser a principal concepção ideológica- Orientação / guia dos acontecimentos rumo ao socialismo- Não basta começar a revolução; ela deve levar à completa emancipação dos trabalhadores

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: as massas

- Sujeitos revolucionários: trabalhadores urbanos, camponeses, parte dos trabalhadores intelectuais- Massas são o principal agente da revolução

* Possuem grande capacidade, demonstrada nos movimentos populares

* Estão, em grande medida, dispersas- Tarefa dos anarquistas:

* Criar e participar ativamente das organizações de massas* Estimular capacidade criativa e construtiva das massas* Suprimir obstáculos para que isso se manifeste

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: as massas

Sindicalismo (de intenção revolucionária)- Uma das formas do movimento revolucionário de trabalhadores

* Ainda assim, é um agrupamento por necessidade que não possui ideologia definida e nem condições de sozinho, resolver as questões sociais em sua totalidade

* Sem os anarquistas, toma outros rumos- Crítica à propaganda anarquista individual / pequenos grupos- Anarco-sindicalismo: um passo a frente, mas não necessariamente trabalha com dois níveis (insuficiente)- Atuação organizada dos anarquistas nos sindicatos

* Estimular para que os sindicatos se tornem braços ativos da revolução social

* Articular atividades do sindicato com outros setores da classe* Criar sindicatos anarquistas e participar de sindicatos existentes

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3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: a organização anarquista

- Reunião dos operários e camponeses anarquistas com objetivo de tornar-se a força preponderante na influência das massas- Passar dos pequenos grupos dispersos para uma organização forte; reunir os melhores militantes do anarquismo- Determinar os rumos dos acontecimentos pré-revolucionários e revolucionários (orientação e guia)

Princípios da organização anarquista- Unidade teórica / ideológica- Unidade tática / Método coletivo de ação- Responsabilidade coletiva - Federalismo

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: a organização anarquista

- Unidade teórica / ideológica- Força que orienta a atividade política com objetivos determinados (linha política)- Comum a todos da organização- Táticas e estratégias em concordância com essa linha

- Unidade tática / Método coletivo de ação- Todos militantes e grupos de acordo com estratégia e linha política- Linha comum evita desperdício de forças (cada um faz uma coisa; com ações que chegam a se contradizer)- Concentração de forças, direção comum do caminhar orgânico, objetivos fixos

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: a organização anarquista

- Responsabilidade coletiva- Atividade revolucionária exige responsabilidade coletiva- Rejeição da atuação sob responsabilidade de um indivíduo; responsabilidade é sempre coletiva- União responsável do membro com a organização e da organização com o membro- Contra o individualismo

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3. A PLATAFORMA

3.3 CONTEÚDO DO DOCUMENTO

Estratégia anarquista: a organização anarquista

- Federalismo- Deturpado por anarquistas que defendem a manifestação de seu próprio ego e são contrários à organização; essas posições devem ter fim- Contra a centralização e pela organização federativa- Estímulo ao espírito crítico, à iniciativa, à independência, à livre opinião, à liberdade individual- Concordância livre (indivíduos e organizações) para trabalhar coletivamente visando objetivos em comum- Cumprir deveres comuns, de acordo com decisões compartilhadas- Não podem haver decisões não executadas- OEA composta de diferentes grupos (células) com um secretariado (Comitê Executivo), orientando o trabalho político e técnico da organização- Comitê Executivo: executa decisões, orienta grupos e indivíduos menos articulados, monitora o estado da organização, faz as relações da organização (internas e externas)

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4. DEBATE E DESDOBRAMENTOS

Defensores da Síntese* Sébastien Faure (“A Síntese Anarquista, de 1928)* Volin (“A Síntese Anarquista”, de 1934)* Anarco-sindicalistas: Maximoff, Sobol, Schwartz, Fleshin etc.

Argumentos fundamentais- Falta autocrítica: “Culpa dos outros”- Correntes do anarquismo (anarco-comunismo, anarco-sindicalismo e anarco-individualismo) são complementares. Comunismo (objetivo), sindicalismo (meio), individualismo (garantia preservação liberdade individual, emancipação e felicidade)- Plataforma teria incorporado elementos do bolchevismo no contato na revolução Rússia / Ucrânia. União Geral partido bolchevique- Confusão dos termos (reforçados pela tradução de Volin); direção, vanguarda etc.- Questionamento da autonomia dos grupos na organização (linha única seria autoritária / não anarquista)- Questionamento do Comitê Executivo (comitê central)- Nome União “Geral” (obrigação de todos fazerem parte)

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4. DEBATE E DESDOBRAMENTOS

Defensores da organização anarquista (relativamente críticos da Plataforma)

* Malatesta* Luigi Fabbri* Camilo Berneri

Argumentos fundamentais- Concordância parcial; alguns aceitam colaborar de fora- Modelo poderia levar a uma “bolchevização” do anarquismo- Grupos e indivíduos têm que ter autonomia para trabalhar com diferentes estratégias e táticas; não aceitam unidades- Possível cooperação com individualistas- Problema dos termos

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4. DEBATE E DESDOBRAMENTOS

Defensores da organização anarquista (apoiadores da Plataforma)* Poloneses Ranko, Ida Mett e Walecki (autores)* Pier Carlo Masini* Geoges Fontenis

Desdobramentos concretos- Bulgária: Entre 1926 e 1927 a Federação dos Anarco-Comunistas Búlgaros (FAKB) adotou a Plataforma- França: Criação de organizações dissidentes da União Anarquista: Union Anarchiste Communiste Révolutionnaire (1927) e Fédération Communiste Libertaire (1934-1936); Organisation Pensée Bataille (1950).- Itália: Grupos Anarquistas de Ação Proletaria (GAAP)- Polônia: grupo de Ranko- China: Chen- Tentativa de Internacional Comunista Libertária (OPB, GAAP)

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“Como o socialismo em geral e como qualquer outro movimento social, o anarquismo nasceu do povo. E só conservará sua vitalidade e sua força

criadora enquanto permanecer popular.”Piotr Kropotkin

Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)[email protected]

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FIM