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Pesca Brasil l 68 Perfil do pescador »Por: Janaina Quitério [email protected] — Ah, que saudade de pescar... Foi com esse suspiro que o músico Almir Sater recebeu a equipe da Revista Pesca Brasil após a passagem de som do show realizado no final de agosto, em São Caetano do Sul – SP. Com um chapéu marrom confortável na cabeça — para combinar com a viola? — Almir Sater lançava de si um leve aroma amarelo de maracujá. Ou, pelo menos, sua figura construída em imagem e som como homem pantaneiro fazia os sentidos de quem estava por perto associarem-no inteiramente à natureza e ao Pantanal. A voz sorria grave e sem pressa, pedindo para a memória puxar o sucesso “Tocando em frente” — composição sua com o parceiro Renato Teixeira: “Ando devagar porque já tive pressa levo esse sorriso porque já chorei demais”. O cantor, compositor, violeiro e ator Almir Sater fala da sua relação com o meio ambiente e proseia sobre como gosta de pescar 68-81.indd 1 20/10/2008 08:27:25

"O pescador Almir Sater"

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Perfil publicado na Revista Pesca Brasil 13, em novembro de 2008. (txt sem aplicação da Nova Ortografia) O cantor, compositor, violeiro e ator Almir Sater fala da sua relação com o meio ambiente e proseia sobre como gosta de pescar

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Page 1: "O pescador Almir Sater"

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Perfil do pescador

»Por: Janaina Quitério [email protected]

— Ah, que saudade de pescar... Foi com esse suspiro que o músico Almir Sater recebeu a equipe da Revista Pesca Brasil após a passagem de som do show realizado no final de agosto, em São Caetano do Sul – SP. Com um chapéu marrom confortável na cabeça — para combinar com a viola? — Almir Sater lançava de si um leve aroma amarelo de maracujá. Ou, pelo menos, sua figura construída em imagem e som como homem pantaneiro fazia os sentidos de quem estava por perto associarem-no inteiramente à natureza e ao Pantanal. A voz sorria grave e sem pressa, pedindo para a memória puxar o sucesso “Tocando em frente” — composição sua com o parceiro Renato Teixeira:

“Ando devagar porque já tive pressalevo esse sorriso porque já chorei demais”.

O cantor, compositor, violeiro e ator Almir Sater fala da sua relação com o meio ambiente e proseia sobre como

gosta de pescar

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No palco, Almir Sater de-clama a música que toca na alma. Em cena, ponteia a viola, distri-buindo um som de pegada que traz os ouvintes para o interior do palco. Nos bastidores, o violeiro também constrói em versos sua relação com a natureza: “Fui cria-do em Campo Grande – MS, cida-de na qual as fazendas estão bem pertinho. A gente saía caminhando e já chegava naquela ‘chacrinha’. Eu sempre gostei muito de mato. A maioria dos pescadores, quando vai pescar, também está indo para o meio do mato, à procura de um pouco de paz, de contato com a natureza. Todo bom pescador que conheço gosta muito de preservar a natureza”, papeia. Mais importante do que fis-gar o peixe é estar pescando, con-fessa Almir. E se não pegar peixe? “Sei lá eu... como um sanduíche, compro o peixe. Gosto é de estar num barco, sabendo que nesse dia ninguém vai me achar no meio do rio, e que não tem mais nada para fazer a não ser ficar dando comida aos peixes”. Durante muitos anos, Al-mir Sater criou a família na fazenda Campo Novo, em Aquidauana – MS, às portas do rio. Todo dia bus-cava peixe para o almoço e janta. Lá, nunca deixou de trazer peixe: — Nem que fossem pira-nhas, que é um peixe muito bom de comer. Como gosta de pescar? “Eu gosto de pescar com linha de mão e uso uma câmara de bicicleta cortadinha como dedeira. Eu não gosto de ficar muito tempo segu-rando molinete, porque aquele rio nosso tem muito peixe. E moline-te dá muito trabalho. E gosto de pescar com vara de bambu: aque-la pescaria em que a gente solta o barco e vai descendo à beira do

rio, fazendo de conta que é a fru-tinha que vai caindo. O peixe acha que é a frutinha, e a gente engana o peixe”, explica. Almir Sater tem três filhos. O mais velho — o violonista Gabriel Sater — seguiu os passos do pai e tem apresentado o show “Filhos de peixe”. O filho mais novo, hoje com 12 anos, gostava de pescar jacaré. Com os dois mais novos em ida-de escolar, Almir Sater mudou-se para a Serra da Cantareira - SP, onde tem o parceiro Renato Teixei-ra como vizinho. Nos meses de férias, Almir Sater retorna ao Pantanal: “Em ju-lho fui pescar no rio Aquidauana, lá pra baixo, no Pantanal. Acho um rio muito bonito”. A natureza pa-rece ser uma inspiração para sua criação musical. “Eu amo a nature-za, gosto do silêncio para tocar”. Quando algum fã questiona se ele vai lançar o show em DVD, Almir Sater responde sereno: — Gosto de que as pessoas me ouçam de olhos fechados. Assim é a relação de Almir Sater com a música e com a natu-reza: música para sentir. Natureza para curtir. Ambas para preser-var. Tudo se toca, como é cantado no trecho da música “Um violeiro toca”:

“Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca. A viola, o violeiro

e o amor se tocam...”

Pantaneiro Neste novembro, dia 14, Almir Sater completa 52 anos. Desde jovem toca violão, mas se apaixonou pela viola quando es-tudava Direito no Rio de Janeiro. Nascido na região Centro-oeste do Brasil, a influência musical vem de fora: folk americano, música para-guaia e andina. De dentro do país,

inspira-se no violeiro Tião Carreiro e tem como parceiros os músicos Paulo Simões e Renato Teixeira. Com Paulo Simões, Almir Sater montou a Comitiva Esperan-ça — com quem percorreu mais de mil quilômetros pelo Pantanal pes-quisando a música e os costumes da região. O primeiro disco foi grava-do em 1981, pela Continental. Du-rante muitos anos, seu instrumental de viola “Luzeiro” foi o tema mu-sical de abertura do Globo Rural. Almir participou da novela Panta-nal, hoje reprisada, Ana Raio e Zé Trovão, Rei do Gado — encenando o personagem Pirilampo, da dupla fictícia “Pirilampo e Saracura” — e Bicho do Mato. O último CD é o Sete Sinais — uma produção inde-pendente gravada em 2006.

Almir Sater autografa a Revista Pesca Brasil após entrevista. Os bonés — também autografados — serão sorteados aos leitores que fizerem assinatura

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