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www.americaeconomia.com.br 15 DE DEZEMBRO, 2008 PARAÍSOS FISCAIS NATURA NO EXTERIOR ORÇAMENTOS 2009 ENTRE A OCDE E A CRISE A CAMINHO DO AZUL RESERVAS EM XEQUE O MAL DE DETROIT CRISE DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA DOS EUA IMPACTA MÉXICO E BRASIL ESPECIAL WORLD ECONOMIC FORUM OS TEMAS DE 2009 BRASIL Nº 370 R$ 10

Nº 370 Edição Brasil

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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Page 1: Nº 370 Edição Brasil

www.americaeconomia.com.br15 DE DEZEMBRO, 2008

PARAÍSOS FISCAIS NATURA NO EXTERIOR ORÇAMENTOS 2009ENTRE A OCDE E A CRISE A CAMINHO DO AZUL RESERVAS EM XEQUE

O MAL DEDETROITCRISE DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA DOS EUA IMPACTA MÉXICO E BRASIL

ESPECI

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WORLD

ECONOMIC FORUM

OS TEMAS DE 2009

BRASIL

Nº 370 R$ 10

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Ourocard Comércio Exterior.O novo cartão do Banco do Brasil tem umavantagem exclusiva: a certifi cação digital.

O Banco do Brasil lança o Ourocard Comércio Exterior, o primeiro cartão

de crédito do mundo com certifi cação digital. Com ele, você, exportador ou

importador, tem a oportunidade única de realizar operações 100% digitais.

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impressão e a entrega do contrato nas agências de relacionamento. E, assim, reduzir custos

e ganhar mais segurança e agilidade nas transações on-line.

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Page 3: Nº 370 Edição Brasil

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Page 4: Nº 370 Edição Brasil

NESTA EDIÇÃO

4 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

Nº 370 / 15 DE DEZEMBRO, 2008

À espera do socorroO setor automobilístico do México e do Brasil sofrem com a agonia do trio dinâmico de Detroit: GM, Ford e Chrysler

SEÇÕES 8 Índice10 Memo12 Cartas14 Pistas16 Editorial18 Movimentos36 Ferramentas69 Capital Aberto73 Negócio Fechado74 Linha Direta

DEBATES

48 Orçamentos 2009Os governos latino-americanos ainda não conseguem efetivar uma política fi scal contracíclica.

51 Palavra de NobelJoseph Stiglitz e Edmund Phelps avaliam o desempenho brasileiro em política macroeconômica.

52 Uma escapadinhaEm um cenário de crise mundial, os paraísos fi scais podem se converter nos grandes ganhadores.

54 Vento contraOs furacões acabaram com a última festa de aniversário da Revolução Cubana. E ainda há a crise mundial para piorar.

56 América CentralO istmo se transforma na nova terra das oportunidades, diz Abraham Lowenthal, em um balanço depois de 25 anos de sua última viagem à região.

59 Quinta colunaPara Susan Kaufman, o capitalismo deve ser uma opção mais atraente do que o populismo para os setores mais desprotegidos.

62 As grandes jogadas de 2008

Conheça as maiores fusões e aquisições do ano, e a opinião de banqueiros de investimento sobre como será 2009.

68 OpiniãoA recessão não será profunda e os cenários pessimistas para a região já podem ser descartados, diz John Edmunds.

I-BIZ

70 Cômputo digitalAs empresas saem à busca de pro-cessadores e equipamentos de baixo consumo elétrico, mas alta capacidade de processamento.

NEGÓCIOS30 Modelo sustentável

Brasileira Natura quer chegar ao azul nas operações internacionais.

33 Bem-posicionadoO Wal-Mart do México soube cuidar-se na bonança e agora joga com vantagem frente aos concorrentes.

PMES GLOBAIS

35 Aposta na temporadaEstender sua empresa às cidades de ve-raneio pode ser lucrativo, mas demanda um bom planejamento.

37 ESPECIALOs principais temas que marcarão a agenda de 2009 e as projeções macro para os países latino-americanos. FO

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VIZINHOS PROBLEMÁTICOS

6 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

americaeconomia.com / 2.0O site de negócios globais da América Latina

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE.

INTEGRAÇÃO BENÉFICA?

OPORTUNIDADESPARA MINERAÇÃO

Em entrevista à Amé-ricaEconomia, Lia Valls Pereira, econo-mista do IBRE-FGV, disse que a integração dos países sul-ameri-canos não avançou de forma mais profunda porque ainda não são consenso os benefícios efetivos do processo. Para a economista, os países relutam em avançar nas negociações que irão exigir certa perda de autonomia das políticas nacionais, mas destacou projetos como a Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Sul-Americana e a criação do Fundo para a Con-vergência Estrutural do Mercosul, porque saem do âmbito comercial. Segundo ela, a internacionali-zação das empresas brasileiras também é importante para apro-ximar os países.

Adiamento de proje-tos, encerramentos de trabalhos, demissões em massa. A minera-ção mundial não tem escapado do impacto da crise fi nanceira global. No entanto, este é um momento que pode ser mui-to proveitoso para companhias que ainda contam cVom liqui-dez. O presidente da Antofagasta Minerals, Marcelo Awad, apon-ta que há no mercado ativos subvalorizados, abrindo espaço para novas fusões e aqui-sições, especialmente na produção de cobre. Mas, explicou, é pre-ciso tomar decisões de investimento em um contexto de longo prazo, “visando um horizonte amplo, para os anos 2020 e 2050”. No entanto, reconhe-ceu que restrições ao crédito são uma barreira.

Se já é preciso manter relações amigá-veis com nossos vizinhos em momen-tos de vacas gordas, em situações de

crise fi nanceira, como a atual, é ainda mais essencial mantê-los próximos. Contudo, não é o que estão fazendo os países da América do Sul, que atualmente estão passando por tensões diplomáticas pelos temas mais va-riados. O Brasil, por exemplo, é centro de vários confl itos, como as ameaças de calotes do Equador junto ao BNDES, o dilema sobre o Tratado de Itaipu com o Paraguai, além de divergências com a Argentina sobre medidas protecionistas do Mercosul. Confi ra em nosso site como esses confl itos políticos afetam as relações comerciais entre os países.

Page 7: Nº 370 Edição Brasil

Secretaria doTesouro Nacional

Ministérioda FazendaMais informações, acesse: www.tesourodireto.gov.br

Tesouro DiretoSegurança e rentabilidade,esse é o nosso papel.

TESOURO DIRETO, MAIS BRASIL PARA MAIS BRASILEIROS.

Para o Governo Federal, democratizar também é oferecer acesso aos títulos públicos para todos os brasileiros.

Por isso, criou o Tesouro Direto, um programa de venda de títulos da dívida pública pela internet com a garantia

do Tesouro Nacional. Uma excelente opção de investimento, a curto, médio ou longo prazo, também para você.

Page 8: Nº 370 Edição Brasil

8 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

ÍNDICE DE EMPRESASOS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS.EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

AMÉRICAECONOMIA magazine (USPS #023106) is published biweekly on March, April, May, June, September, October and November, and monthly on January, February, July, August and December in Santiago, Chile by AméricaEconomía. AméricaEconomía is distributed in the United States by DL Distribution Group, 7301 Sw 100 Ct , Miami, FL. 33173-4651 PH: (305) 595-5505. Periodicals Postage paid at Miami, Florida. POSTMASTER: send address changes to DL DISTRIBUTION

GROUP 7301 Miami, FL 33173-4651.

a-bAbertis .......................................64Aços Villares .............................64ACS ...........................................64Actinver .....................................34Advent International México ....62AIG ...........................................64Alog Data Centers .....................71AMD .........................................71Amnet Telecomunicaciones ......64Anadarko Petroleum .................63Anglo-American .......................63Anima Estudios .........................20Antofagasta Minerals ............6, 64Apple .........................................69Aracruz ................................24, 63ArcelorMittal .............................63ArcelorMittal Inox Brasil ..........63Autopista del Aconcagua ..........64Autopista del Itata .....................64AXA Group ...............................64Baker Tilly International ...........20Banco Bradesco ..................64, 70Banco de Venezuela ..................64Banco do Brasil .........................63Banco Fator ...............................31Banco Itaú .................................63Banco Nossa Caixa ...................63Bancomext ................................64BBVA ........................................64BBVA Bancomer.......................33Belleskin ...................................35BM&F Bovespa ........................64BNDES .....................................64Bodega Aurrerá .........................34Brasil Telecom ..........................63

c-dCaja Madrid ..............................64Carrefour .............................31, 34CCR Rodovias ..........................24Cemex .......................................64Cemex Venezuela ......................64Cencosud .............................64, 69Cepsa .........................................64Chevron Texaco ........................64Chocolates Kopenhagen ............35Chrysler .....................................27CHT Auditores e Consultores ...53Codelco .....................................49Colliers ABR .............................69

Colliers International ................69Comerci .....................................33Compaq .....................................69Consultora ABECEB ................40Copel .........................................24Corporación Aceros DM ...........64Cosan .........................................64CSN ...........................................63Cummins Filtración ..................29Cummins Inc. ............................29D-link ........................................71Dell ......................................45, 71

e-fEBX Group ...............................64Ecopetrol ...................................64Edelaysen ..................................64Epson .........................................45Esso Brasileira de Petróleo .......64ExxonMobil ..............................64Farmasa .....................................64FCC ...........................................64Fidelity Investments ..................42First Reserve Corporation .........64Ford ...........................................27Fresnillo ....................................63Frontel .......................................64

g-hGartner ......................................71General Motors .........................27Gerdau .......................................64Gigante ......................................33Global Crossing ........................71Global Insight ............................29Google .................................18, 71Gran Tierra Energy ...................64Grupo Bertin .............................64Grupo Financiero Inbursa .........63Grupo MMX .............................63Grupo Peñoles ...........................63Grupo Santander .......................64Grupo Simec .............................64Grupo Ultra ...............................64Hewlett-Packard ........................69Holcim Sement ..........................64Honda ........................................27HP .............................................71Hupecol .....................................64Hypermarcas .............................64

i-jIBM ...........................................71IDC ............................................45Industrias CH ............................64Infupa ........................................62Instituto Ethos ...........................24Intel ...........................................70Invin ..........................................64Iochpe-Maxion ..........................24IronX .........................................63Itochu ........................................63IXE Grupo Financiero ...............29JBS ............................................64JFE Steel ...................................63

k-lKobe Steel .................................63Kroll ..........................................49Kroll Infoamericas ....................39La Exquisita ..............................37Lehman Brothers .................48, 71LLX Logística ...........................64London Mining Brasil ...............64Los Grobo .................................64

m-nMamoré Mineração ...................64Manpower .................................41Marfrig ......................................64Marubeni Corporation ...............64Massimo Randó ........................20Maxxi ........................................34Microsoft .............................69, 71Millicom ....................................64Mineração Taboca S.A. .............64Minsur .......................................64Morgan y Morgan .....................53Motorola ....................................45Mulata Brasil .............................35Namisa ......................................63National Beef Packing ..............64Natura ........................................30NComputing ..............................71Nippon Steel ..............................63Nisshin Steel .............................63

o-pOGX Petróleo e Gás ..................63Oi ...............................................63Oliver Wyman Group ................53OSI group ..................................64

Pactual Capital Partners ............64Pão de Açúcar ...........................34Patagonia Austral ......................22PDVSA ..........................47, 50, 64Pemex ........................................50Petrobras ...................................24Posco .........................................63PricewaterHouseCoopers ..........62Procesadora Industrial SAN ......64Propilco .....................................64PSEG .........................................64Pyramid Research .....................18

r-sRoyal Vopak ..............................64SAESA ......................................64Seguros ING ..............................64Sementes Selecta .......................64Sidenor ......................................64Sidor ..........................................63Sincor ........................................64Smithfi eld Beef .........................64Solana Petroleum ......................64Soriana ......................................33Soros Fund Management ..........64Standard Chartered Bank ..........49StatoilHydro ..............................63Strabag SE .................................64Sumitomo ..................................63Sun ............................................71Supermercados Wong ...............64

t-u Tax Justice Network ..................53Techint .......................................64Telemig Celular .........................64Tendências Consultoria .............50Todo Dia ....................................34Total ..........................................64Toyota ........................................27Unibanco ...................................63Unilever .....................................31Usiminas ...................................64

v-w-yVale ...........................................64Vivo Participações .....................64Votorantim Celulose ..................63Wal-Mart México ................33, 63WEG .........................................24Yahoo! .......................................69

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10 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

MEMO

Felipe Aldunate M.Diretor Editorial

DIRETOR Elías Selman C.

Certifi cado Licitud de Título Nº 4090 . Certifi cado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. biweekly publication

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur

DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M.EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara

DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya UrquizaEDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco

EDITOR BRASIL Dubes SônegoASSISTENTE DE EDIÇÃO Sérgio Spagnuolo

ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 2589-3157 / 3160

EDITOR MÉXICO Marisol RuedaEDITOR MIAMI Antonio María DelgadoEDITOR FINANÇAS Eduardo Thomson

EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel CandiaREPÓRTERES Arly Faundes (México)

CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso•COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino

•VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Vernic Gudiel

•MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz

COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña•Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso

DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P. •ILUSTRADORES Daniela Guglielmetti, Rodrigo Díaz Carrizo

REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz

•COORDENADOR-GERAL Jaime Contreras•ANALISTA SÊNIOR Pablo Hernández

•ANALISTA Daniela González

AMÉRICAECONOMIA.COM •EDITOR Franco Piccato

•REPÓRTERES Marcelo García, Magdalena Álvarez, Pablo Jamett•

GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río MorenoDIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva

DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto •GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez

• BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia•DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira

•GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves•GERENTES DE NEGÓCIOS Rosangela Bomtempo, Nícolas Cardoso Slamek

•GERENTE DE MARKETING Denise TerranovaRua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111-

São Paulo - SP - BrasilCEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071•MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510

• ARGENTINA Claudia DassoTel: 5411/4383-8410 - 4383-8416

•CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus

Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y MiñoTel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Ana Pazos Pastor

Tel-Fax: 511-4211852 - Cels: 511-97897272/ 511-97622230

REPRESENTANTES INTERNACIONAIS •ALEMANHA Gerd Bielenberg (GWP InternationalMedia Service) Tel: 49211/887-2328 Fax: 887-2919

• ESCANDINÁVIA Finn Greve Isdahl(International Media Sales A/S) Tel: 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA LuisAndrade (Luis Andrade Publicidad Internacional) Tel: 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA Patricia Goupy (PEM Groupe PEMA) Tel: 331/4143-7057 Fax: 4738-6329 •

ITÁLIA Carlo E. Calcagno (Studio Calcagno s.r.l.) Tel: 3902/670-73383 • REINO UNIDO David Todd (David Todd Associates Ltd.) Tel: 4420/7538-5811 Fax:

7538-4911 •SUÍÇA Hans Otto (Infoplus AG) Tel: 411/269-7070

REDAÇÕES • SANTIAGO: Tel 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO: Tel 5255/5254-2400 • BUENOS AIRES: Tel 5411/4383-8410 • MIAMI: Tel

305/648-9071

AméricaEconomia é uma publicação quinzenal da Nanbei Ltd. •Impressa na Plural Editora e Gráfi ca . México, franquia paga. Publicação periódica•Registro PP09-0011

PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

MIG

UEL

CAN

DIA

Rodrigo:O editor-futurólogo

DEIXANDO MARCASMUITA GENTE AINDA lembra o que estava fazendo naquele dia de 1963 quando assassinaram John F. Ken-nedy. Ou em 1986, quando o ônibus espacial Challenger explodiu. Os almanaques econômicos e fi nanceiros destacam o dia 26 de outubro de 1987, fatídica Segunda-Feira Negra, dia em que a média industrial Dow Jones perdeu cerca de 23% de seu valor em uma só jornada. Nos almanaques do futuro, 2008 também terá um lugar entre os anos mais lembra-dos, que evocam vividamen-te lembranças terríveis ou esperançosas. Se você tra-balha no mundo fi nanceiro, será que esquecerá o dia 15 de setembro, quando foi di-vulgada a quebra do Lehman Brothers? E para aqueles que se interessam mais pelos te-

mas políticos, lembra o que estava fazendo em 4 de novembro, dia em que Bara-ck Obama foi eleito primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos? Outros eventos também marcaram o ano, como a explosão da bolha das commo-dities (nem o mais criativo roteirista de Hollywood imaginaria o barril de petró-leo fl utuando de US$ 140 a menos de US$ 40 em um par de meses), as Olimpí-adas de Beijing, a consolidação da popularidade de Lula, a violência dos grupos narcotrafi cantes no México e o surgimento do Peru como exemplo de crescimen-to na região (AméricaEconomia também lembrará 2008 como o ano em que inaugurou uma edição local da revista nesse país). Mas nem tudo é olhar para trás. Nosso futurólogo e editor adjunto Rodrigo La-ra liderou uma equipe que elencou os temas que marcarão a pauta de 2009 na região, como o caldeirão fervente na Venezuela, o fi m da era da Concertación (coalizão de esquerda que governa o Chile), e os problemas fi scais na região.Em uma nota à parte, esta edição também trata do cenário de um importante setor na região: o automotriz, em momentos em que as montadoras norte-ameri-canas se encontram sob cuidados intensivos.E deixe-me dizer-lhes que, segundo nossa agenda, 2009 será um ano que tam-bém deixará sua marca em futuros almanaques.

Page 11: Nº 370 Edição Brasil

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Page 12: Nº 370 Edição Brasil

[email protected]

Ranking de Ministros ISou hondurenha e sempre leio a sua revista. Entretan-to, me parece um erro que sua publicação tenha consi-derado a nossa ministra de Finanças, Rebeca Santos, como uma das piores da América Latina. Dizer que Rebeca não está preparada para o período de crise que atravessamos é desconhecer a história hondurenha e os avanços que temos alcança-do nos últimos tempos.

María RendónTegucigalpa, Honduras

Ranking de Ministros IIAndrés Velasco o melhor ministro de Finanças da América Latina? Isso é fácil. Dado o esquema institucio-nal que a economia chilena possui e o nível de consenso alcançado pelos atores polí-ticos no país é fácil ser um bom ministro de Finanças Públicas. O difícil é sê-lo em um ambiente com condições complicadas. Por isso, o melhor ministro de fi nanças da região deveria ser Agustín Cartens, do México, quem tem conseguido dar uma no-va cara ao Ministério, apesar

[email protected]@americaeconomia.com

Com sóum clique, novos serviços da AméricaEconomia

dos problemas que o México enfrenta.

Francisco Morales G.Monterrey, México

Ranking de Ministros IIISurpreendeu-me muito o ranking de Ministros de Finanças da América Latina. Os resultados são discutí-veis, mas com certeza são um excelente alimento para o debate intelectual sobre as economias latino-ameri-canas. Chamou-me muito a atenção que tenham incluído o Ministro do meu país, a Argentina. Mais além do que diga seu título, Carlos Fer-nández não é o Ministro de Economia e Finanças Públi-cas da Argentina. Quem está a cargo dessa pasta é Cristi-na Fernández de Kirchner. É ela quem toma realmente as decisões. No próximo ano a incluam no ranking e não o Fernández, que só está pre-enchendo espaço.

José Luis GonzálezBuenos Aires, Argentina

Na alegria e na tristeza Quero parabenizá-los por sua publicação que tem me servido de guia durante este ano nas minhas refl exões empresariais e como ferra-menta em minhas decisões. Conheci sua publicação graças a um amigo no come-ço do ano, que me presen-

teou uma assinatura. E desde então, se transformou em um bom companheiro para estes tempos de incerteza. Portan-to, lhes desejo um próspero 2009, tanto para a sua edição impressa como à on-line.

Adolfo NarváezBogotá, Colômbia

Focos nas oportunidadesTodos dizem: as crises dão oportunidades, mas não as vemos nas páginas das revis-tas de negócios onde estão apostando os que realmente as estão buscando. Creio que há muitas queixas e lamen-tos e bem poucas páginas dedicadas às oportunidades que se abrem. Convido-os a fazer a diferença e a nos con-tar quais serão as histórias de negócios que se destacarão durante 2009.

Ramiro GiordanoLa Paz, Bolívia

Do PeruLeio sua revista há anos e estou bastante surpreso pe-lo interessante resultado a sua edição local no Peru. A AméricaEconomia Peruse tornou um referencial da imprensa de negócios deste país e combina de maneira perfeita a inteligência regio-nal com o conhecimento lo-cal. Felicito-os por seu pro-jeto e lhes desejo o melhor.

Jorge E. ReyLima, Peru

12 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

CARTAS

22 AMÉRICAECONOMIA / 17 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIAL

Andrés Velasco, ministro da Fazenda, Chile

Agustín Carstens, secretário da Fazenda e Crédito Público,México

Discípulos de José

O país conta com a melhor política fiscal anticíclica da região, com reservas de mais de US$ 21 bilhões.

É valorizado por impul-sionar a reforma tribu-tária e a energética que modernizará a Pemex.

Um painel de 140 economistas da América Latina avalia o desempenho dos gestores de finanças públicas da região e quão preparados estão para enfrentar estes tempos turbulentos AméricaEconomia Intelligence

Avaliação ministerialNotas de desempenho

10

8

6

4

2

9

7

5

3

1

7,87,4

7,06,76,7

6,16,1 5,95,9

4,9

5,9

5,1

3,5 3,43,8

2,83,2

2,8

.cl .mx .pe .co.br .uy.gt .sv.cr .py.pa .do .ni .bo.hn .ve.ec .ar

7,8 7,4

Quando José interpretou o sonho do Faraó, como relata o livro do Gênesis na Bíblia, com certeza nunca imaginou que dava uma das maiores lições de finanças públicas de todos os tempos. É uma

tarefa que alguns dos ministros de Finanças da região vêm re-petindo, como um verdadeiro mantra: “guardar recursos para épocas de vacas magras”.

E essa época chegou. No momento em que os mercados acionários mundiais sofrem uma volatilidade extrema, os países desenvolvidos encaminham-se a uma recessão e o crédito se restringe, a capacidade de administrar as finanças públicas de forma adequada será essencial para reduzir o impacto da crise em nossas economias. Quem são os mais bem-preparados? Para dar essa resposta, formamos um painel com 140 economistas da região que responderam, através de e-mail, um questionário sobre a gestão pública das finanças. Os resultados estão refle-tidos neste segundo ranking Melhores Ministros de Finanças, fruto da percepção dos especialistas sobre o desempenho des-ses gestores.

Desta vez, quem leva o primeiro lugar é o ministro da Fazen-da do Chile, Andrés Velasco. De acordo com os especialistas participantes, Velasco é, de longe, quem conta com as melhores ferramentas para empreender uma política anticíclica nesses tempos de crise, que no país se reflete na queda do preço do cobre, principal produto de exportação do Chile, de US$ 3,2 a US$ 1,8 a libra. Tal fato não afetou o humor do ministro. O país conta com dois fundos de reserva que – em 30 de junho – somavam US$ 21,22 bilhões (12,6 do PIB). Pela primeira vez o Chile terá um orçamento expansivo em época de recessão. E apesar de a idéia do superávit estrutural ser atribuída à equipe financeira do governo anterior, Velasco tem levado esse prin-cípio com o mesmo rigor que José no Egito.

O segundo lugar é do mexicano Agustín Carstens, um dos principais promotores da reforma tributária e energética que o Estado mexicano finalmente conseguiu levar adiante. O terceiro lugar do ranking é de Luis Valdivieso, do Peru, que,

apesar de estar a poucos meses no cargo, já conseguiu transmitir confiança ao mercado de que o país continuará avançando em uma administração cuidadosa da macroeconomia e impulsio-nando reformas. Já o quarto lugar ficou com Guido Mantega, do Brasil, que apesar de não demonstrar a mesma liderança identificada em seu antecessor, Antonio Palocci, transmitiu a confiança necessária para levar o País ao grau de investimento conquistado este ano.

Os especialistas convidados a formar o painel tiveram que avaliar a gestão dos ministros com notas entre 1 e 10, em cinco aspectos: estabilidade macroeconômica, impulso a reformas pró-competitividade (crescimento), liderança da equipe econômica e envio de sinais de confiança à cidadania, aos empresários e aos investidores. Este último ponto é extremamente relevante em

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14 AMÉRICAECONOMÍA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

SEGUINDO A PISTA

MOVIDA A ÁLCOOLPUBLICAMOS: José Sergio Gabrielli não quer ser apenas o principal distribuidor e comercia-lizador de etanol. Também quer produzi-lo. “Estamos discutindo como integrar o processo de produção”, disse. (“A nova cor da Petrobras”, AméricaEconomia Nº 338, 2 de abril, 2007)

O NOVO: A Petrobras anunciou que fechará 2008 com exporta-ções de etanol de 605 milhões de litros, 400% a mais do que em 2007. A maioria (500 milhões) teve como destino os EUA. A esta-tal também divulgou que estuda a possibilidade de formar parceria com investidores estrangeiros para comprar participações em usinas. Segundo Alan Kardec, presidente da Petrobras Biocom-bustíveis, estuda-se a aquisição não só de novos projetos como de companhias já consolidadas.

RECEITA DE UM MILIONÁRIO

PUBLICAMOS: Com um contrato de US$ 1,5 bilhão e participação de 25% no projeto do metrô da capital mexicana, a companhia

Carso, de Carlos Slim, avança na tática criada pelo empresário de focar-se em setores com alto potencial de crescimento. (“Em constru-

ção”, AméricaEconomia Nº 362, 11 de agosto, 2008)

O NOVO: A turbulência dos mercados fez com que o mexicano começasse a exercer outra das estratégias que o tornaram milionário:

comprar participações em companhias com problemas fi nanceiros. Entre suas princi-

pais cartadas recentes estão aumentar sua participação na loja de produtos de luxo Saks

a 18%, tornando-se o maior investidor da companhia, e a compra de US$ 150 milhões

em ações do Citigroup, através de seu grupo fi nanceiro Inbursa.

DEVO, NÃO NEGO?PUBLICAMOS: A campanha eleitoral trouxe à baila uma discussão que deve deixar brasileiros e argentinos de cabelo em pé: os contratos de energia das usi-nas binacionais Itaipu e Yaciretá. O tema foi proposto pelo bispo Lugo. (“O bispo e o general”, AmericaEconomia Nº 351, 26 de novembro, 2007)

O NOVO: Itaipu não sai da cabeça do presidente Lugo. Depois de o Equador questionar a legalidade de parte de sua dívida externa, agora o Paraguai anun-ciou a criação de uma comissão para o mesmo propósito. Recentemente, Lugo declarou que incluirá nesse estudo a dívida relacionada à construção da Itaipu binacional – cujos US$ 19 bilhões restantes deveriam ser saldados até 2023, e cujo credor é a Eletrobras.

LET ME TRY AGAINPUBLICAMOS: A derrota no referendo constitucional - apesar de grande parte da receita recorde que a petrolífera estatal Pdvsa tem registrado ser destinada a programas sociais, e que indica que o apoio das Forças Armadas Nacionais não é incondicional -, relativiza os sonhos de Chávez de governar até 2050. E, de quebra, obrigará uma mudança de estilo para 2008, que vem como novas eleições no país. (“Os limites de Chávez”, AméricaEconomia Nº 352, 10 de dezembro, 2007)

O NOVO: No começo de dezembro, o presidente venezuelano pediu a seus partidários que preparem até fevereiro uma emenda constitucional que per-mita sua reeleição indefi nidamente. Chávez, entretanto, não defi niu quando se realizaria o referendo necessário para sua aprovação. O último referendo rechaçado em 2007 incluía entre os itens de reforma da Constituição a am-pliação das competências do Poder Executivo. Dessa vez, Chávez afi rmou que a única mudança em jogo nessa nova emenda constitucional seria a reelei-ção, argumentando que a amplitude da proposta feita em 2007 fez com que a população “não a entendesse bem”.

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AFP

“A discussão em Coahuila não é a pena de morte, mas como vamos matar. Se vamos fuzilar, degolar, se vamos

enforcar ou fazer algo ‘light’, que pode ser uma injeção le-tal. Mas você acha que um desgraçado que faz isso merece alguma consideração?” Esta declaração não é de um cida-dão mexicano atemorizado pelos mil seqüestros registrados em 2008 no país (o dobro de 2006), mas do governador do estado de Coahuila, que conseguiu que a Câmara estadual aprovasse a reintrodução da pena de morte no caso de se-qüestros seguidos de assassinato. As palavras de Humberto Moreira – homem do PRI, que não teve o apoio do PAN nem do PRD para eleger-se –, ainda que não tenha efeitos práticos para evitar os seqüestros, mostra que a sociedade mexicana começa a aceitar medidas extremas como um ca-minho a se tentar, tendo em vista a impotência do aparelho estatal de segurança para ao menos inibir esses delitos. E que o presidente Calderón, além de bradar sua guerra aber-ta aos narcos, têm de dedicar mais esforços – juntamente com os governadores – para reinventar ao menos algumas unidades-chave das polícias do México, para que estas possam escapar da cultura de cumplicidade com o delito já instalada.

BRASIL: PAZ DOMÉSTICA, PROBLEMAS NA VIZI-NHANÇAOnde, ao contrário, uma nova cultura– também negativa – começa a eclodir é na relação entre o Brasil e vários de seus vizinhos. Os cada vez mais regulares confl itos entre o Pla-nalto e Paraguai, Bolívia e Equador por temas creditícios, energéticos e de investimentos parecem mostrar que – além de casos pitorescos ou interesses políticos de curto prazo – a disparidade de riqueza e poder entre o Brasil e esses paí-ses começa a gerar ressentimento. Às vezes, fundamentado nos efeitos provocados pelas mudanças geradas com os investimentos. No Paraguai, o cultivo massivo de soja por parte dos “brasiguaios” no leste do país levou à migração de quase 100 mil camponeses a outras regiões e cidades. As autoridades brasileiras têm sido cautelosas, mas nada indica que manterão esse tom se o ato de culpar o governo ou as

empresas brasileiras se converter em costume. Ajudaria a evitá-lo se empresas e governos chegassem a um consenso sobre um mecanismo de mediação para o trabalho em áreas estratégicas como a energética ou em áreas fronteiriças, o que ainda facilitaria o desenvolvimento da necessária inte-gração empresarial regional.

Não obstante, em tempos duros, também há boas notí-cias chegando do Brasil: a popularidade do presidente Lu-la, que não pára de subir. Uma pesquisa do Datafolha rea-lizada em novembro, em meio à crise econômica mundial, mostrou que 70% dos brasileiros consideram seu governo bom ou excelente. É impossível negar que o presidente brasileiro possui uma virtude tão sutil quanto poderosa: conseguir convencer a população de que o manejo dos as-suntos públicos de um país tão complexo quanto o Brasil é mais simples do que realmente é. Seu estilo resulta modes-to, até em seus arroubos de mau humor com a seleção de futebol. Tal resistência ao melodrama ou à tendência a uma paranóia de culpar pode ser considerada uma notável virtu-de cívica, e escassa, em uma região onde se alternam pre-sidentes de uma extroversão digna de afãs artísticos com outros que acreditam servir à majestade do cargo com um afastamento e incapacidade de comover e comover-se que se mostram incapazes de inspirar seus cidadãos. Também deve-se elogiar a reação pública do mandatário brasileiro frente aos primeiros sinais da crise fi nanceira.

Sua popularidade resulta tão efetiva que 78% dos en-trevistados indicaram que confi avam que sua vida melho-raria em 2009. Apenas 3% responderam que sua situação econômica se veria afetada negativamente. E surpreenden-tes 27% confessaram não saber que havia uma crise em curso. É certo que parte dessas avaliações se vinculam ao rastro de otimismo geral existente no Brasil antes da explo-são da crise. Cabe então a pergunta: se a região lutou para melhorar em tantos campos, por que deixará que lhe arre-batem tão rapidamente toda a boa expectativa pelos efeitos de uma crise pela qual não é responsável? Talvez não fosse ruim que os países latino-americanos importassem um pou-co da confi ança e alegria brasileiras.

16 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

EDITORIAL

MÉXICO AO EXTREMO

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18 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

MOVIMENTOS

LATI

NST

OCK

O ACESSO À Internet cresce a passos largos na América Latina. Nos próximos cinco anos, o número de internautas crescerá mais que o do-bro superando os 270 milhões na região. Desse total, 60%, ou 160 milhões, navegarão na web de suas casas, segundo prognósticos do último estudo da empresa Pyramid Research. O relató-rio, realizado a pedido do Google, conclui que os negócios vinculados à rede apenas começaram. O mercado da publicidade on-line se triplicará, chegando a US$ 31 bilhões em 2013, enquanto o e-commerce, que atualmente movimenta US$ 13 bilhões, registrará um crescimento composto de 33% anuais no mesmo período. E, ao invés de ser afetado negativamente, o auge da internet se benefi ciaria com a retração econômica global, diz Alexandre Hohagen, diretor geral do Google Latinoamérica. “À medida que a crise se tornar mais aguda, os consumidores recorrerão mais à web em busca de melhores preços e oportu-nidades. Ter menos dinheiro obriga a pensar para investir melhor. Aí radica a possibilidade de transformar uma crise em oportunidade para milhares de empresas grandes, médias e peque-nas”, garante.

A crise nãonavega

MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

INTERNET: 270 MILHÕES DEUSUÁRIOS DAQUI A CINCO ANOS

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20 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

MOVIMENTOS

IMORTALIZAR O PERSONAGEM Chávez em uma série de desenhos animados foi o golpe de mestre da produtora mexicana Anima Estu-dios. A série, criada há apenas dois anos, já é vista em praticamente toda a América Latina e sua estréia nos EUA foi bem recebida. José Carlos García de Letona, vice-presidente executivo de produção e desenvolvimento da Anima, afi rma que em janeiro lançará no Mé-xico o terceiro fi lme do personagem. “O ‘Agente 00-P2’ é muito mais ambicioso que os dois fi lmes anteriores, com orçamento que ronda os US$ 2,5 milhões”, conta García de Letona. As duas primeiras pro-duções, ‘Magos y Gigantes’ e ‘Imaginum’, contaram com orçamento de US$ 1 milhão e US$ 1,6 milhão, respectivamente, e até o momen-to registram lucro de entre 25% e 30%. O montante do investimento nesses projetos está longe dos US$ 90 milhões de uma produção norte-americana semelhante, mas não deixa de ser motivo de come-moração para a produtora. “Com esse orçamento e a desvalorização do dólar, podemos fazer produtos ainda mais competitivos para este mercado”, diz García de Letona.

Rio revoltoTRISTEZA DE UNS, ALEGRIA de outros. E quem não pode recla-mar da crise é a rede internacional de auditores Baker Tilly Inter-national, que agrupa consultores independentes em todo o mun-do, e que recentemente reuniu seus delegados latino-americanos em Santiago do Chile para discutir estratégias e novos padrões, como as normas IFRS. “Em tempos de crise, o valor de um bom serviço de auditoria aumenta, já que os investidores e regulado-res fi cam mais atentos”, comenta Jim Castellano, presidente do Conselho da Baker Tilly International. “Não estamos totalmente à prova de recessões, mas 2007 foi particularmente bom para o se-tor”. A Baker Tilly International, oitava maior empresa desse setor em todo o mundo, registrou um aumento de 18% em sua receita global, para pouco menos de US$ 3 bilhões. E a empresa está bus-cando crescer na América Latina. “Temos sócios locais em todos os países da América do Sul, salvo Costa Rica e El Salvador, onde também estamos buscando parceiros. E nos interessa o mercado cubano, onde vemos muito potencial”, comentou.

Negócio animado

EDUARDO THOMSON / SANTIAGO

MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

ISSO, ISSO:CHÁVEZ JÁ CHE-

GOU AOS EUA

CLAUDIA LEZAETA está confi an-te em sua incursão no mercado chileno. A empresária, que deve o crescimento de sua empresa à baixa estatura de seus clien-tes, espera faturar US$ 200 mil em 2009 no país com a venda de sapatos adaptados para pro-porcionar ao usuário alguns centímetros de altura adicionais. Claudia aterrissa em Santiago depois de colecionar um fracas-so no México, quando trabalhava com a franquia do designer Max Denegri, segundo ela, devido à falta de disciplina do autor. Por isso, decidiu fabricar sua própria linha para manter a franquia, mas agora com sua própria mar-ca: Massimo Randó. Atualmente com vendas anuais de US$ 500 mil em duas lojas no México e através do site, Claudia tampou-co quer parar no Chile. “O plano é cobrir de forma mais efi ciente possível toda a América Latina e algumas regiões dos Estados Unidos que tenham presença latina.” Depois do Chile, a rota da empresária será Colômbia, Gua-temala, Costa Rica, Argentina, o restante do México, Texas e Mia-mi”, afi rma.

A importância de crescer

MARÍA SOLEDAD GÓMEZ / SANTIAGO

LEZAETA:MAIS ALTURA.

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22 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

TROCAR INFORMAÇÕES entre empresas do mesmo setor em mercados diferentes pode ampliar as perspectivas de crescimento em mercados locais. Com isso em mente, as associações de marke-ting promocional do Brasil, Mé-xico, Argentina, Chile e Uruguai acabam de criar a Federação Iberoamericana de Marketing Promocional (Fimapro). Segun-do Guilherme de Almeida Prado, vice-presidente da Fimapro, a reunião facilitará o intercâmbio de experiências em questões como modelos de remuneração, certifi -cação de campanhas, registro de idéias em concorrências e direitos autorais. Existe ainda a possibili-dade de elaboração de panoramas de mercado, como o já realizado com base no PIB dos países integrantes. O Brasil encabeça a lista, com fatura-mento estimado de R$ 23 bilhões em 2007, seguido pelo México, com R$ 19,9 bilhões. Argentina, Chile e Uruguai aparecem com R$ 10,5 bilhões, R$ 3 bilhões e R$ 700 milhões, respectivamente. Em meio à crise, boas práticas podem ser fundamentais. “A atividade de marketing promocional é anticíclica. Mas este não será um período fácil”, diz Prado.

O CHILENO JORGE LUKSIC é mais conheci-do pela centolla (tipo de caranguejo), prin-cipal exportação de sua empresa, a Patago-nia Austral. Mas agora o empresário e chef tem outro desafi o: produzir presunto de ja-vali alimentado com bellota (fruto do roble, parecido com uma noz). “A bellota dá um sabor especial à carne e uma gordura que derrete a baixas temperaturas”, afi rma. Com apoio fi nanceiro da instituição de fomento local (Corfo), o empresário conseguiu siste-matizar todo o processo de produção. “Hoje há um boom turístico de pessoas ávidas a conhecer coisas diferentes, e temos uma tradição a resgatar, que chegou com a imi-gração Croata, há 110 anos”, afi rma. “Temos condições climáticas – de tem-peratura e umidade – naturais para produzi-lo, e podemos transformar nossa região na zona do presunto do Chile.” Ainda que consiga aumentar a produção de presunto de javali, este continuará sendo um manjar para poucos. Segun-do Luksic, uma perna de 6 kg custa cerca de US$ 450 mais IVA. A quem tem cacife para apreciá-lo, o chef sugere a companhia de uma boa baguete e um vinho Sirah.

MOVIMENTOS

Manjar do sul

Como parte de sua expansão na América do Sul, a empresa chinesa de PCs Lenovo nomeou Marcelo Medeiros presidente dos nove paí-ses nos quais opera no continente. Tomas Oliveira, que ocupava um posto nos Estados Unidos, fi cará no lugar deixado por Medeiros, como presidente da Lenovo Brasil.

Pouco menos de dois anos depois de assumir a presidência da cervejaria Schincariol, o executivo Fernando Terni deixa a companhia. Ele será substituído por seu antecessor, Adriano Schincariol, principal acionista da empresa. Especula-se que sua saída esteja relacionada ao fato de Terni não ter conseguido cumprir metas de aumento de participação de mercado.

A estatal brasileira Petrobras anunciou que Daniel Teixeira Ma-chado será o novo gerente encarre-gado da expansão da Refi naria de Paulínia (Replan). O engenheiro substitui Raymundo Cerqueira, que estará a cargo da refi naria da empresa em Pasadena, Estados Unidos.

A Orange Business Services no-meou Javier Semerene como vice-presidente de vendas para América Latina. Sua experiência de mais de 20 anos em telecomunicações o respalda para liderar o crescimen-to da empresa na região.

O chileno Laurence Golborne renunciou ao posto de gerente geral corporativo do grupo chileno Cencosud por desavenças com o Conselho, que por sua vez nomeou Manfred Paulmann, fi lho do patriarca Horst Paulmann, como vice-presidente.

vemvai &

MARCELO MEDEIROS

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

LUKSIC:TRADIÇÃO E BOA MESA

MARKETINGPROMOCIONAL:

CONTRA A CRISE

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24 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

MOVIMENTOS

EM CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU. O dito popular tem um sig-nifi cado especial na Colômbia, país que, apesar de contar com uma posição privilegiada na produção mundial de café, tem registrado uma queda no consumo da bebida. Pesquisas recentes indicam que os colombianos tomam apenas 2,9 xícaras de café por dia, quantida-de semelhante à registrada em 1994 e muito menor que a de 1997, quando era de 3,4 xícaras por pessoa. A situação já gera inquietação entre os membros da Federação Nacional de Cafeicultores e motivou a criação de uma campanha para estimular a demanda doméstica. “A primeira meta do programa é frear a queda no consumo”, explica Luis Fernando Samper, diretor de propriedade intelectual da federação e encarregado do programa. O plano contempla o uso de um selo, um slogan e elementos de marketing que reforçam o convite para que os colombianos tomem mais café em mais ocasiões e em todas as ida-des. O programa considera replicar uma iniciativa adotada no Brasil, onde o governo distribui café com leite a milhões de estudantes em escolas públicas.

A PETROBRAS FECHOU o ano com uma notícia ruidosa: sua exclusão da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, composto por ações de empresas que apresentam alto compromisso com a sustentabilidade e a Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Sua saída se deve ao não-cumprimento de uma ordem de reduzir o conteúdo de enxofre no diesel comercializado no Brasil. “A Petrobras demonstrou uma posição pouco ética e transparente”, diz Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. “Não quis reconhecer o problema, e depois passou a justifi cá-lo, demonstrando que não tinha intenção de resolvê-lo.” Ainda que tenha sido a mais polêmica, não foi a única baixa do ISE - Aracruz, CCR Rodovias, Copel, Iochpe-Maxion e WEG - que vem registrando uma redução de sua carteira. Mau sinal? “De jeito nenhum”, responde Young. “O número de candidatos ultrapassa os cem ao ano. O que acontece é que agora a vara está mais alta, os critérios foram aper-feiçoados. Agora, além da declaração da empresa, são avaliados docu-mentos comprobatórios, valorizando ainda mais o índice”, afi rma.

Café dormido

LUCIA LEZACA / BOGOTÁ

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

Má nota

OS TAXISTAS “PORTENHOS” têm reconhecido prestígio. E

a população de motoristas que trabalham para outros taxistas ou empresas pro-

prietárias de frota cresceu de forma acelerada nos últimos anos. Hoje, em Buenos Aires, somam 33 mil. O anúncio de que cerca de 6 mil poderiam fi car sem trabalho levou seu

sindicato a ameaçar uma gre-ve no período do Natal e Ano Novo. “Vamos parar”, garante

Jorge Omar Viviani, repre-sentante da organização, que

se queixa que as empresas lucram há cinco anos e que apenas começaram a ver-se afetadas em abril, quando o confl ito entre o governo e o

campo deteve o crescimento da economia. E, agora, “demi-tem sem piedade”. A deman-

da por táxis caiu entre 30% e 40% nos últimos meses e, em

janeiro e fevereiro, costuma baixar outros 20%. Para os ta-xistas, o verão deve começar

nublado.

RODRIGO LARA / BUENOS AIRES

2008 2007 2006Nº de empresas 30 32 34

Nº de ativos 38 40 43

Valor total ativos (R$) 370 bilhões 927 bilhões 700,7 bilhões

% total de cap. da Bovespa 30,7 39,6 48,5

VAIVÉM VERDEEvolução dos números do ISE

Fonte: BM&FBovespa

Papai Noel não vai de táxi

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IMAG

EGRO

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26 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

NEGÓCIOS INDÚSTRIA

EFEITO EM CADEIAA crise do trio de Detroit põe em apuros a indústria automobilística no México e no BrasilMarisol Rueda, Cidade do México

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 27

Os fabricantes de autopeças do merca-do brasileiro reduziram suas expecta-tivas de crescimento em 2009 de 9,6%

para 6,3%. E são esperadas demissões.

Oidílio vivido durante três décadas pela América Latina como potente

mercado das três grandes fabricantes de automóveis norte-americanas General Motors, Ford e Chrysler, passou por momento difíceis, mas nenhum como o atual. A crise que atualmente aflige o trio de Detroit chegou ao último elo da cadeia no Mé-xico e no Brasil, as maiores plataformas de exportação do setor automotivo na região. As fábricas locais das montadoras e milhares de empresas de autopeças estão vivendo na carne o próprio colapso da indústria.

Embora a produção de au-tos vá crescer 4% no México este ano frente às 2.022.241 unidades de 2007, em 2009 haverá uma queda de 12%. E apenas em 2010 se prevê uma recuperação. A filial da General Motors no país des-pediu 660 funcionários este ano, suas vendas caíram 17% em outubro e para dezembro há previsão de paralisações técnicas em praticamente todas as plantas. A Chrysler México também está reestruturando suas operações.

Já no Brasil, apesar do fato de que 2008 deverá ser o melhor ano da história do setor, por conta das vendas entre janeiro e setembro, a produção de veículos caiu 34,4% em novembro frente a outubro. Jackson Schneider, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (An-favea), diz que, até agora, nenhuma montadora voltou atrás com seus investimentos. Mas muitas estão dando férias coletivas a empregados para reduzir estoques nos pátios.

A indústria de autopeças será muito afetada em ambos os países. Em 2007, as vendas do setor no México chegaram

a US$ 28,630 bilhões, cifra que será 5% menor em 2008 e 10% menor em 2009, segun-do prognósticos da Indústria Nacional de Autopeças (INA). “Vendemos mais de 60% de nossa produção para o México e EUA [ao trio de Detroit]”, explica Augustín Ríos, pre-sidente da INA. “Como eles perderam volume nos EUA, temos sentido os efeitos aqui”. As pequenas empresas de au-topeças do país – por volta de 20% do total – estão entre as mais afetadas, junto com as que produzem componentes para grandes automóveis que consomem mais combustível, justamente o tipo de veículo que os norte-americanos evitam comprar agora. O

presidente da INA explica que algumas empresas do setor fecharam, outras paralisaram a produção e outras mais efe-tuaram demissões.

No final deste ano, a in-dústria mexicana de auto-peças estima perder 8 mil empregos. A este número podem ser somados 2 mil mais, devido à possibilidade de empresas internacionais fecharem fábricas em breve, explica Ríos, sem revelar o nome das companhias.

No gigante sul-americano o panorama é parecido. A in-dústria de autopeças brasileira é responsável por mais de 220 mil empregos, além de um faturamento de US$ 36 bilhões em 2007. Recente-mente, o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças)

reduziu a expectativa de cres-cimento para 2008, de 9,6% a 6,3%. “O primeiro trimestre será muito difícil”, disse em um comunicado Paulo Butori, presidente do Sindipeças. “Te-mos que levar em conta que os acontecimentos e algumas decisões das empresas mudam diariamente e a situação pode piorar”. A crise também afetou os investimentos. Segundo o comunicado, das 95 empresas consultadas pelo sindicado, 46%, ou 43 empresas, reduzi-rão os investimentos em 2009, e apenas 6% aumentarão.

As fornecedoras de auto-peças também paralisarão a produção este mês, por pelo menos 16 dias, e demissões são esperadas. “Sem dúvida

há uma grande preocupação do setor de autopeças, porque estão totalmente vinculados à produção. Estão preocupados na mesma proporção,” disse Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford Brasil.

O IRMÃO MENORA indústria automobilística mexicana é uma das mais vinculadas ao mercado norte-americano. Lá, 70% dos au-tomóveis e cerca de 60% das autopeças produzidas têm os EUA como destino. O setor gera 3% do Produto Interno Bruto (PIB), 14% da produ-ção manufatureira, 20,6% das exportações e 6% do inves-timento estrangeiro direto. O momento crítico começou com a alta dos combustíveis e já impactou de maneira direta as

empresas que mais dependem do mercado norte-americano. Só GM, Ford e Chrysler, juntas, são responsáveis por 54% da produção nacional de veículos e 53,8% das vendas, e empregam diretamente 24.634 pessoas e cerca de 225.000 indiretamente.

Para o México, será fun-damental que as três grandes montadoras consigam sair da profunda crise que atravessam, o que ainda não está certo. Embora a desaceleração no setor norte-americano tenha começado há oito anos, as más notícias pioraram em novembro. Nos EUA, as vendas da General Motors retrocederam 41% em rela-ção ao mesmo mês de 2007;

as da Chrysler, 47% e as da Ford, 31%. Um dos piores resultados em 26 anos. As vendas de suas concorrentes estrangeiras também caíram: as da Toyota diminuíram 34% e as da Honda, 32%. Várias pessoas, incluindo o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, criticaram o trio por continuar fabricando automóveis de alto consumo de combustível, sabendo que uma crise era iminente.

As três companhias so-licitaram ao Congresso um plano de resgate de US$ 34 bilhões, que foi reduzido a US$ 15 bilhões disponíveis no curto prazo, para rees-truturação cambial, corte de modelos e empregos, e uma maior consolidação de suas operações. No fechamento desta edição, líderes democra-

Page 28: Nº 370 Edição Brasil

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 29

NEGOCIOS INDÚSTRIA

FONTE: ASSOCIAÇÃO MEXICANA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

PASSO ATRÁSPRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS NO MÉXICO

2.500.000

2.000.000

1.500.000

1.000.000

500.000

02003

1.540.565

2004

1.507.175

2005

1.607.376

2006

1.978.771

2007

2.022.241

2008

2.123.353

2009

1.868.551

EMPRESASNOVEMBRO 2008

TOTAL VAR % NOV 2007

Chrysler 13.869 -43,2

Ford Motor 21.360 -25,4

General Motors 40.581 24,4

Honda 2.325 -21,2

Nissan 29.928 20,1

Toyota 4.094 46,4

Volkswagen 32.707 0,3

Total 144.864 -2,8

FONTE: ASSOCIAÇÃO MEXICANA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

PRODUÇÃO MEXICANA PARA EXPORTAÇÃO

tas e a Casa Branca estavam dispostos a fazer um acordo sobre o plano, mas a iniciativa enfrentava grande oposição entre líderes republicanos, que ameaçavam bloquear a medida no Congresso.

Alguns analistas previram que este montante não será suficiente para evitar uma quebra nos próximos anos e afirmam que o resgate poderia custar até US$ 125 bilhões. “A quebra seria muito pro-vavelmente um duro golpe na indústria automotiva do México”, diz Lucía Martín Rivero, analista do IXE Grupo Financiero.

General Motors e Chrys-ler estão em piores condi-ções. A primeira pediu um financiamento de US$ 12 bilhões, incluindo US$ 4 bilhões imediatamente, e uma linha de crédito de US$ 6 bilhões. A Chrysler pediu um empréstimo de US$ 7 bilhões. Embora uma quebra não signifique a paralisação de atividades nas fábricas, o processo de reorganização afetaria suas operações na América Latina.

LUZ NO FIM DO TÚNELMas nem tudo está perdido. A Ford, a menos afetada do trio, pediu ao Congresso crédito de US$ 9 bilhões só caso a situação piore em 2009. A em-presa possui liquidez de US$ 30 bilhões, incluindo linhas de crédito, e está reforçando sua estratégia de produzir mais automóveis híbridos e compactos. Durante no-vembro, lançou seis veículos em Los Angeles, Califórnia, dos quais dois são as versões híbridas do Fusion e Mercury Milan. Estes carros foram produzidos no México ex-clusivamente para o mercado norte-americano e outros três para o mercado local.

Embora vá paralisar uma

fábrica em janeiro, a com-panhia seguirá adiante com o plano de investimento de US$ 3 bilhões anunciado em março. “No tema de pro-dução há boas notícias para o México”, afirma Herman Morfin, gerente de relações públicas da Ford no México. A companhia registrou uma queda de 15% nas vendas no mercado mexicano em outubro passado e disse que, globalmente, espera registrar ganhos em 2011.

No Brasil, os planos da Ford também continuam. Apli-cações de cerca de US$ 2,2 bi-lhões na América do Sul serão realizadas até 2012. “Todos os investimentos no Brasil e América do Sul são decididos com base na nossa capacida-

de local”, afirma Golfarb, da Ford Brasil. “Nossa operação é auto-sustentável”.

Enquanto isso, a agência de promoção de investimen-tos ProMéxico trabalha para atrair mais players do setor automotivo para o mercado local, e mantém conversas com Fiat e Hyundai, en-tre outras. “Queremos mais montadoras aqui”, relata Abraham Hernández, chefe da Unidade de Inteligência da ProMéxico. Também busca vincular as montadoras locais a outras regiões, como Ásia e Europa, para diversificar sua carteira de clientes. “Temos que olhar além dos próximos seis meses. O mercado de automóveis se recuperará em dois ou três anos aos níveis

que estava no ano passado”, prevê Hernández. “Estabele-cer uma fábrica é um plano de longo prazo”.

O mercado de autopeças também tem uma pequena vantagem devido ao segmento de carros usados. “Uma parte importante de sua produção é para reposição”, diz Lúcia Rivero, analista do IXE.

O prognóstico de vendas da Cummins Filtración, filial mexicana da fabricante norte-americana de motores Cum-mins, foi reduzido em 10% este ano. “Estamos crescendo, mas não chegando ao número que tínhamos como objetivo. Pensávamos crescer 20% em 2008”, explica Pedro Zermeño, diretor comercial da subsidi-ária. Mas a empresa tem um plano B. Como seu principal mercado – de reposições para caminhões que transportam automóveis fabricados no México para os EUA – caiu, agora busca novos clientes em setores como mineração e construção, e ampliará sua lista de provedores internos para reduzir importações. “Buscamos aumentar nossa participação de mercado”, diz Zermeño. “As vendas aos nossos clientes não vão crescer, temos que arrumar novos”.

Seja como for, a recupe-ração vai demorar. Analistas estimam que o mercado norte-americano vai se recuperar no começo de 2010, ainda que tu-do dependa de quão profunda seja a recessão. “Antecipamos um ano de 2009 muito difícil e estimamos que a economia dos EUA possa se recupe-rar em 2010”, diz Rebecca Lindland, analista da Global Insight. Mas, sem dúvida, a reação em cadeia vai golpear a América Latina.

Com Sérgio Spag-nuolo, São Paulo

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30 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

NEGÓCIOS CONSUMOFE

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“Desculpe se pareço can-sado, mas é que às seis da manhã já estava no

aeroporto”, dizia o argentino Axel Moricz em uma tarde de novembro, depois da viagem a São Paulo da qual voltou nomeado gerente geral da operação chilena da brasilei-ra Natura, onde há três anos exercia o cargo de gerente co-mercial. Moricz desembarcou em Santiago com sua meta na ponta da língua: “Tanto no Chile quando no restante da América Latina, o objetivo da empresa é consolidar mais a marca, mostrar-se socialmente responsável, financeiramente viável e gerar sinergia.”

Sinergia é a palavra mágica que chegou à boca de todos os executivos da empresa de cosméticos este ano e que deu base a uma forte reestrutura-ção operacional vivida pela companhia dentro do Brasil, depois de perceber que o modelo que a transformou em ícone indiscutível de sustentabilidade ambiental não era acompanhado de uma gestão que desse conta de seu crescimento rápido de forma também sustentável. “O grande problema da Natura foi crescer absurdamente de forma quantitativa, enquanto o lado qualitativo não acom-panhava esse desempenho”, diz Alexandre Fialho, diretor de relações institucionais e mercado da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte. E isso começou a golpear os números. “A companhia estava com um crescimen-to pequeno, inferior ao do mercado, perdendo market share, dando um sinal aos investidores que a projeção de crescimento futuro não iria acontecer”, diz Pedro Villares, diretor de operações para a América Latina da companhia.

Assim, em 2008, a Natura

Depois de ordenar a casa, brasileira Natura agora busca tirar as operações internacionais do vermelhoSolange Monteiro

MUDANÇA DE COR

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 31

tratou de reagir rapidamente. No início do ano, anunciou um forte plano de reestruturação, que culminou com a redução, em outubro, de 200 postos de trabalho, parte deles realocado nas novas divisões da empresa. “Agora eliminamos o retraba-lho e ordenamos a Natura por processo (regiões de venda) e unidades de negócio. É como se você tivesse a Unilever e o Carrefour na mesma opera-ção, enquanto no mercado em geral o varejo tenta tirar valor da indústria e vice-versa”, explica Marcelo Cardoso, vice-presidente de desen-volvimento organizacional da companhia. “Eles tiveram total disposição de fazê-lo. Prova disso é o afastamento de todos os vice-presidentes anteriores, que tinham a cul-tura de focar unicamente em suas operações individuais, sem pensar de forma sistê-mica”, avalia Fialho.

Um relatório emitido pelo Banco Fator aponta ainda a redução do portfólio de produtos da empresa (atual-mente em 851 unidades, com projeção de fechar o ano em 780) como outro item positi-vo nesse processo. “Além de focar-nos na qualidade, isso reduz a complexidade ope-racional”, explica Cardoso. Os ganhos de eficiência e produtividade compensaram o aumento do investimento de marketing em R$ 55,2 milhões nos primeiros nove meses do ano (adicionais ao plano de investimentos de R$ 400 milhões no período 2008-2010), para recuperar a perda de participação de mercado de 22,5% no primeiro semestre de 2007 a 21,8% no mesmo período deste ano.

Os resultados não demo-raram a aparecer. No terceiro trimestre do ano, a receita líquida consolidada foi de R$ 921 milhões, um crescimento

de 22,3% em relação ao tercei-ro trimestre de 2007 (contra uma estimativa do Banco Fator de 14,1%). E a margem Ebitda aumentou para 24,7%, contra 23,8% em 2007. Além disso, a Natura transformou-se em um dos destaques do ano na Bovespa. Em meio à onda de baixas que assolou a bolsa, a companhia despontou como uma das poucas novas do mercado de capitais que resistiam aos efeitos da crise. Em novembro, suas ações or-dinárias acumulavam ganho de 30,39% no ano, depois

de terem caído mais de 40% em 2007.

TAREFA PENDENTEMas, apesar do reconhecimen-to dos bons sinais emitidos pela companhia, o mercado ainda está atento a outra ta-refa pendente da empresa: a de tornar as operações internacionais (seis países latino-americanos, além de um escritório na França) rentáveis. Isso porque, há mais de dez anos fora do país – ainda que somente metade deles com um plano estrutu-rado de internacionalização – a Natura ainda funciona no vermelho, mesmo registrando um crescimento médio acima de 30% ao ano.

Ainda que alguns analis-tas critiquem a estratégia da empresa, Villares afirma que, em um modelo de negócio de venda direta como o da Natura, é normal que o breakeven chegue depois de quatro

ou cinco anos. “Temos custos fixos que não variam muito. Nosso negócio passa a gerar lucratividade quando há ganho de escala, quando temos mais consultoras (que somam 111 mil nos países latino-america-nos) para cada promotora de vendas”, explica. “No Brasil, para cada promotora, temos cerca de 600 consultoras; na América Latina, essa média é de 150. Ou seja, se uma consultora da América La-tina vendesse o mesmo que uma no Brasil, ainda assim me geraria um custo quatro

vezes maior.”A empresa, entretanto,

mostra-se mais pró-ativa para acelerar esses resultados. A primeira iniciativa nesse sen-tido foi cancelar, por tempo indeterminado, o plano de instalar-se nos Estados Uni-dos, previsto inicialmente para 2009. “No restante das operações, na verdade, não temos grandes correções a serem feitas; temos apenas que evitar erros. Ou seja, poder crescer 40% no próximo ano em volume de itens sem que isso signifique gerar estruturas pesadas nem no Brasil, nem nas regiões”, diz Villares. Isso para alcançar a meta de ganhar 5% de participação de mercado na América Latina até 2012 com o melhor ren-dimento possível.

“Aqui não temos prevista uma reestruturação como a do Brasil. Mas certamente vamos parar e refletir para crescer de forma ordenada”, diz Moricz,

em Santiago. Chile, Argenti-na e Peru, que formam parte do grupo de países chamado “em consolidação” – onde a empresa registrou receita líquida de R$ 108,8 milhões nos primeiros nove meses do ano – são os que estão mais perto de alcançar o break even,com uma margem Ebitda de (-1,8%) no mesmo período. “Nesse grupo a gente vai fechar o ano com 1,2% de margem. Não é negativo, mas é muito baixo. Nosso apetite é 20%, 22%, como no Brasil”, diz.

Uma das estratégias defi-nidas pela empresa para ace-lerar esse processo é buscar acordos regionais. “Hoje, por exemplo, temos uma mesma fornecedora de call center,com a qual temos cinco, seis contratos diferentes. Agora preciso buscar um só que me proporcione melhoria no nível de serviço a um custo inferior”, exemplifica Villa-res. Outro ponto que jogará a favor dos resultados, segun-do o executivo, é o câmbio. “Antes trabalhávamos com um câmbio de R$ 1,65 e agora o projetamos a R$ 2,10. Esse era um fator exógeno à companhia, mas que no caso de uma empresa exportadora como a nossa nos tira pontos de margem preciosos.”

Temor à crise econômica global? Não, segundo o exe-cutivo. “Nesses cenários de retração, há duas alavancas que nos ajudam. A primeira é a migração do gasto em bens

Momentos de retração econômica não afetam fortemente a

operação da empresa, já que a venda direta é uma boa fonte de renda extra.

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NEGÓCIOS CONSUMO

duráveis para não-duráveis, ou seja, as pessoas deixam de comprar um carro mas gastarão mais em alimentos e cosméticos, por exemplo. E a segunda é que os momentos de recessão fazem o papel da revendedora ganhar valor, pois é uma renda adicional importante dentro da famí-lia”, afirma.

OUTRO RITMO Ainda que essas iniciativas ajudem a dinamizar o proces-so no exterior, as estimativas para chegar a um resultado azul na Venezuela, México e Colômbia (denominado grupo em desenvolvimento, onde a margem Ebitda registrada nos primeiros nove meses do ano foi de -93,1%, com receita líquida de R$ 29 milhões), são mais ponderadas. “Na Venezuela, cuja operação foi inaugurada em 2007, como ainda temos dúvidas quanto às questões políticas e macroeconômicas do país, optamos por manter uma operação pequena, que não superará os R$ 4,5 milhões e poderá chegar ao break evenjá em 2009”, diz Villares. Co-lômbia e México, entretanto, não verão o lucro antes de 2011, segundo estimativas da Natura.

“Isso não é ruim, porque nesses países decidimos optar por ganhar velocidade, já que são mercados interessantes”, garante o executivo. Segun-do a associação colombiana do setor (Andi), o mercado colombiano de cosmética e asseio soma US$ 2,5 bilhões e, graças ao crescimento eco-nômico registrado nos últimos anos no país, há muito poten-cial a ser explorado. “Sobre-tudo se toma em conta que o consumo per capita anual de cosméticos na Colômbia é de US$ 37, enquanto no México é de US$ 60, na Venezuela

US$ 57 e no Brasil, US$ 74”, compara José Concha, diretor executivo da Andi. “E somos o segundo país exportador de cosmético da região, perdendo apenas para o México.”

Já no México, que soma

um mercado de US$ 7 bilhões, o desafio da Natura ainda é adequar seus produtos ao gosto do consumidor. “Nossos perfumes não condizem com a preferência das mexicanas, que querem uma fragrância mais doce e que dure mais na

pele”, diz Villares. “Tampouco temos uma linha de cosméti-cos para combater aí”, conta, afirmando que os produtos para esse mercado já estão em fase de aprovação, podendo ser lançados em 2009.

E essa necessidade de criar alternativas novas para os mercados estrangeiros está encaminhando a Natura a ou-tra mudança que poderá fazer diferença em sua estratégia: a possibilidade de produzir fora do Brasil. “É uma decisão que

não tem prazo para acontecer e nem sabemos se será uma fábrica própria ou não. Mas em nossa primeira pesquisa pudemos identificar empresas com qualificação técnica sufi-ciente para fabricar boa parte de nosso portfólio”, afirma Villares. “Nesse sentido, estamos pesquisando alguns fornecedores de fragrâncias no México e de maquiagem na Argentina. Também estamos avaliando outra possibilidade na Colômbia, e torcendo para que isso dê certo”, diz.

Para Fialho, as tentações que cruzarão o caminho da Natura serão demasiadas para que ela se contente em associar-se e não opte por uma fusão ou aquisição. “So-bretudo no México, onde os valores dos ativos baixaram, pois há empresas do setor que também se viram afetadas pela exposição a derivativos cambiais e que sonhariam em ser incorporadas pela Natura”, afirma o consultor. Carlos Ber-zunza, diretor da associação de produtores de cosméticos do México (Canipec), não confirma tal informação sobre as empresas mexicanas, em geral de capital fechado. “Até hoje, isso não foi colocado como tema de discussão na Câmara”, garante.

Seja como for, Fialho reforça que hoje a Natura se encontra bem-posicionada em caixa e alavancagem, e essa seria uma ótima oportunidade de mudar o perfil de sua estra-tégia de negócios, “deixando de investir em despesas para investir em ativos”. Além do mais, “seria um bom aprendi-zado, pois até hoje sua fórmula de crescimento não saiu do feijão-com-arroz”, afirma, incentivando a companhia a beber outras águas e, dessa forma, dar mais um passo para robustecer e dinamizar sua internacionalização.

Villares: estudan-do a possibilidade de fabricar fora do Brasil.

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 33

NEGÓCIOS VAREJOG

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Conquista do consumidor:Wal-Mart está na frente

TEMPO DE COLHEITA

Movimentos adiantados para tomar o controle do tabuleiro e proteger o rei

são táticas que ampliam a pos-sibilidade de um xeque-mate. E, desta vez, quem se mostra um campeão nesse xadrez é o Wal-Mart do México. Com uma nula exposição a instru-mentos derivados como torre do tabuleiro, uma prudente política financeira no papel de rainha, e um rei com boa

liquidez, a companhia varejista está mais bem-posicionada que seus concorrentes para enfrentar a crise. E poderá ganhar inclusive acima da média do setor.

Seus concorrentes mais próximos, que durante os últimos anos se endividaram para expandir-se diante de um negócio que parecia crescente, hoje enfrentam altas taxas de juros e o bolso golpeado dos

mexicanos frente a um cenário inflacionário.

A Soriana, segunda maior rede de supermercados do México, está absorvendo a compra da rede Gigante, feita no ano passado, por US$ 1,35 bilhão. “Temos que destinar um montante maior que o ori-ginalmente planejado, devido ao pagamento de juros”, diz Rodrigo Benet, gerente de Relação com os Investidores

O Wal-Mart do México agora tira proveito de suas políticas conservadorasMarisol Rueda, Cidade do México

da Soriana. “As condições econômicas em nível mun-dial e a baixa liquidez nos mercados de dívida fizeram com que os níveis de taxas de financiamento aumentas-sem consideravelmente nos últimos meses.”

Já a Comercial Mexicana, terceira maior varejista do país, está em sérias dificuldades. No fechamento desta edição, a holding à qual pertence, a Controladora Comercial Me-xicana (Comerci), negociava passivos de cerca de US$ 2,2 bilhões. Tudo como conseqü-ência de uma superexposição a instrumentos derivativos que tomou a companhia de surpresa em setembro, quando o peso mexicano se desvalorizou.

Alguns credores já se mo-bilizaram. O banco BBVA

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34 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

NEGÓCIOS VAREJO

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Bancomer, por exemplo, embargou alguns bens da Comerci em resposta a uma dívida de US$ 100 milhões. Outros demandaram a em-presa nos EUA. Apesar de a Comercial Mexicana ter sido ativa em promoções para incentivar o consumo, seus problemas conjunturais a puseram em condições de desvantagem em relação a suas concorrentes.

O Wal-Mart do México, maior rede de supermerca-dos do país, aproveitou a oportunidade para atacar em todas as frentes. O varejista norte-americano tem um futuro invejável, segundo analistas, graças aos frutos colhidos com suas estratégias agressivas. “Isso lhe permitirá ganhar participação de mercado”, diz Francisco Suárez Savín, diretor de análise e estratégia da corretora Actinver. “Ela tem condições de incrementar seu piso de vendas em 11% para 2009, recomprar ações, e outorgar a seus acionistas um retorno do dividendo de pouco menos de 2%.”

Savín acha que a inevitá-vel queda do consumo será o momento perfeito para refor-çar sua tradicional campanha “Preços baixos todos os dias”. “Vemos essa conjuntura como um chamado a fazer o que sabemos fazer melhor, ou seja, gerar economia”, diz Antonio Ocaranza, diretor de comunicação corporativa do Wal-Mart do México.

A companhia opera quatro diferentes formatos de super-mercados no México, mas seu maior esforço se concentrará na Bodega Aurrerá, focada em atender o segmento de baixa renda. “É um formato com grande vocação de atender às famílias com maior ne-cessidade de economia”, diz Ocaranza. Até novembro, a empresa abriu cem novos

De olho na base da pirâmide

pontos da bandeira Bodega Aurrerá em todo o país.

“O Wal-Mart continuará adaptando seu portfólio para atacar um segmento do mer-cado mais baixo e atender um consumidor mais cauteloso”, diz Savín, da Actinver. “Essa estratégia atenua os efeitos em matéria de menor poder aqui-sitivo, bem como o deterioro na confiança do consumidor frente à piora das condições econômicas e à maior incerteza para 2009”, afirma.

COMO RELÓGIOA empresa tampouco se esque-ceu da eficiência. Fortaleceu sua relação com fornecedores e eliminou intermediários. “Te-mos visto uma estratégia mais ativa e a oferta de esquemas alternativos que claramente atacam a Comerci tirando proveito da situação que es-ta enfrenta”, explica Savín. Este ano, a empresa criará 16 mil empregos formais, muito menos que os 21 mil previstos em fevereiro, e 15 mil vagas temporárias para a época do Natal.

O Wal-Mart do México respondeu imediatamente à queda de 0,7% em suas ven-das em unidades semelhantes

àquelas que estão há mais de um ano em operação (em se-tembro, em relação ao mesmo período do ano anterior). “De-senvolvemos uma campanha de comunicação muito atraente e agressiva dizendo às pessoas que somos uma fonte de boas notícias para sua família”, afirma Ocaranza.

Além de suas conhecidas estratégias de desconto e pres-tações sem juros, a companhia congelou os preços de 108 produtos estratégicos de sua marca própria até 31 de de-zembro e lançou bonificações em compras feitas durante a época do Natal, entre outros. “São preços e produtos que geram uma grande expectativa e um movimento adicional em nossas lojas”, diz Ocaranza.

O incremento no tráfego compensa as quedas no valor médio de compras por cliente que se registrou nos trimestres anteriores. Até novembro, o tíquete médio do Wal-Mart do México registrou um ligeiro aumento de 1%, contra 2,1% no mesmo período de 2007. Pese o difícil entorno econô-mico, as vendas em unidades iguais em novembro cresceram 5,6% em relação ao mesmo período de 2007.

As notícias sobre seu plano de investimentos para 2009 só chegarão em fevereiro de 2009. “O compromisso que temos com o país é de longo prazo e as conjunturas não são algo que afeta isso”, garante Ocaranza. Para isso, a filial mexicana do gigante norte-americano continuará reinvestindo o lucro em sua operação. Entre 2003 e 2007, o montante do lucro investido foi de US$ 3,87 bilhões.

Ainda que os analistas esperem que as vendas do setor cresçam apenas 2% em 2009, o Wal-Mart de Méxi-co, como também a Soriana, avançarão acima da média do mercado. A segunda deverá seguir integrando as operações adquiridas e ir reduzindo o que concebe como endividamento administrável – no fechamento do terceiro trimestre, divulgou que 29% de sua dívida era de curto prazo. “Esperamos que ambas as redes ganhem participação de mercado, ou seja, que experimentem crescimentos mais altos em relação ao geral do setor”, diz Savín, da Actinver.

Mas o rei do tabuleiro continuará sendo o Wal-Mart.

O crescimento da renda nos extratos que for-mam a base da pirâmi-

de social brasileira nos últi-mos anos tampouco passou despercebido à filial brasileira do Wal-Mart. Criar lojas que atendam especificamente às necessidades das classes C, D e E é um dos principais ob-jetivos da rede varejista ame-ricana no País no curto prazo. Recentemente, a companhia anunciou que mais da metade das entre 80 e 90 lojas que o Wal-Mart Brasil planeja abrir em 2009 – parte de um pro-jeto de investimento de R$

1,8 bilhão – terá as bandeiras Todo Dia e Maxxi, de perfil popular. As novas unidades seguirão um conceito de “loja de comunidade”, ofe-recendo serviços agregados como atendimento médico e cursos profissionalizantes. O mix de serviços dependerá da demanda em cada região. A companhia acha que com isso poderá aumentar a fre-qüência de consumidores nas lojas, alavancando as vendas feitas por conveniência. Ho-je, a maior parte das lojas com a bandeira Todo Dia fica na região Nordeste e a com

a bandeira Maxxi, no Sul. Com a expansão, porém, o modelo e as duas bandeiras deverão ser levados para as outras regiões do País onde o Wal-Mart está presente. De acordo com a última edição do ranking da Associação Brasileira de Supermercados, em 2007 o Wal-Mart ocupava a terceira posição no ranking do setor, com vendas de R$ 15 bilhões, 11% do mercado e 313 lojas. Os dois primeiros da lista eram Carrefour e Pão de Açúcar, respectivamente.

Dubes Sônego, São Paulo

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 35

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PMES GLOBAIS

Djalma Moreira, da Belleskin: de olho nos turistas

Desde dezembro de 2004, quando chega o verão, Djalma Moreira mantém a

mesma rotina: migra da capital paulista ao Litoral Norte, onde fica até o final de fevereiro, alta temporada na costa atlântica brasileira. Férias prolongadas? Não. O empresário da Belleskin leva para as principais praias da região o serviço de tatuagem temporária feita com aerógrafo, que ele representa de uma com-panhia norte-americana. “É um produto hipoalergênico que tem feito sucesso”, afirma.

Já que desfilar um desenho na pele quase sempre demanda pouca roupa, a estratégia de Moreira de buscar as praias é fundamental. Os três meses de verão correspondem a cerca de 40% das vendas totais com tatuagem – a Belleskin também

representa outros produtos –, que em 2007 foram de R$ 1,5 milhão. “Instalamos quiosques em shoppings, e oferecemos alternativas que vão de R$ 5 a R$ 20.”

Para quem vê o negócio de Moreira – que no restante do ano mantém suas operações em três parques temáticos –, parece tentador aproveitar o movimento das cidades de ve-raneio para ganhar um dinheiro extra. “Da mesma forma que os jornais, que oferecem uma assi-natura móvel para não perder o cliente, alguns empreendedores querem compensar a queda nas vendas quando a maioria viaja de férias”, diz Wlamir Bello, consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O negócio, entretanto, pode se tornar um risco para

NEGÓCIO DE VERANEIOLevar sua empresa às estâncias de férias demanda planejamento

as finanças da empresa se não for estudado detalhadamente. “Muitas vezes o empresário quer algo dentro da linha de conforto dele e deixa o plane-jamento de lado.”

Para o consultor, é reco-mendável um planejamento com seis meses de antece-dência. “É importante esta-belecer o ponto de equilíbrio do negócio para calcular sua viabilidade, e a necessidade de adaptar a produção para essa demanda”, diz. Um dos primeiros passos é fazer uma pesquisa básica na Secre-taria de Turismo da cidade de interesse, para basear sua projeção no número de tu-ristas que recebe e seu gasto médio, além de certificar-se das licenças necessárias para instalar-se no lugar. E não dei-xar de lado custos como os de transporte e moradia, além da escolha de funcionários, que têm que adequar-se ao perfil do negócio.

“No meu caso, se tivesse que bancar tudo do meu bol-so, sairia no prejuízo”, conta Patricia Izar, franqueada da Chocolates Kopenhagen, que recebeu apoio da franqueadora

para operar um quiosque no shopping sazonal Market Pla-za, em Campos do Jordão. A cidade serrana recebe 700 mil visitantes somente no mês de julho, com um gasto médio per capita de R$ 200 diários. “Às vezes a estimativa de vendas não se cumpre”, diz, contan-do que no último inverno esperava um crescimento de vendas de 30%, mas registrou apenas 10%.”

Já para Moreira, uma das principais dificuldades ao instalar-se no litoral foi o treinamento de mão-de-obra. “É preciso ganhar técnica para manejar o aerógrafo, e por isso buscamos ajuda das prefeituras para fazer a capacitação”, conta. Com a experiência adquirida, ele aprendeu que dentro do or-çamento é preciso incluir os custos de rotatividade de mão-de-obra temporária “que já chegou a quase 40%” e de um adicional no valor do aluguel na temporada seguinte, “pois se as vendas foram boas, o aluguel costuma sofrer uma alta”. Para ampliar o negócio além dos pontos próprios em São Paulo, Moreira passou a trabalhar com o sistema de co-modato, somando atualmente 130 pontos-de-venda em mais oito estados brasileiros.

E quem não quer envolver-se de cara em um investimento alto, mas sim testar o mercado, pode fazer como a empresa de biquínis Mulata Brasil, que aluga a diária de um bar na praia de Maresias, no litoral paulista, para fazer queima de estoque. “Vendemos bastante e muitos clientes nos procuraram depois em nossa loja, em São Paulo”, diz Flávia Almeida, sócia da empresa, revelando que a estratégia tornou sua marca mais conhecida.

Marcelo Galli e Solange Monteiro

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PMES GLOBAIS [FERRAMENTAS]

36 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

“Uma crise, como a atual, não pode ser solucionada com fórmulas individuais e muito menos com a redu-ção de pessoal. Assim como o sucesso chega com o trabalho em equipe, as crises também têm que ser enfrentadas em equipe. Aumentar a receita através da criatividade, da qualidade do que se oferece e do bom serviço ao cliente são fórmulas que devem ser usadas antes de reduzir a folha de pagamentos.” Osvaldo Lau, Panamá

“O sucesso se conquista quando se trabalha em equi-pe e não como grupo, ou seja, em perfeita comunhão, onde existam verdadeiros líderes e não os mal deno-minados ‘chefes’. Cada tarefa, não importa a área, deve ser motivada e estar de acordo com um plano de in-centivos com base em um sistema de metas. O capital humano é o ativo mais valioso que toda empresa pos-sui.” Joselo Peña Herrera, Equador

Participe: http://blogs.americaeconomia.com/pymes/

ATREVA-SE

Quem deseja ter seu produto ou serviço colado na mente do consumidor precisa atrever-se a diver-sifi car. Esse foi o conselho de Martin Lindstrom, especialista de neuromarketing, em visita a San-tiago do Chile. Para Lindstrom, o pequeno e médio empresário não pode limitar-se a criar uma logo-marca; precisa trabalhar com todos os sentidos do consumidor, deixando em cada um deles um sinal para que este identifi que seu produto sem a neces-sidade de ver a marca. “Isso passa por iniciativas simples, como ter uma música de introdução no site da empresa, a outras mais ousadas como testar novas texturas e formatos em embalagens”, exem-plifi ca. “Quanto mais regiões do cérebro conseguir estimular, melhor.”Lindstrom também advertiu que atualmente as pes-soas estão mais estressadas, o que as incentiva a ser mais supersticiosas e a comprar mais produtos que em sua mente sejam identifi cados como for-madores de espaços de segurança. “Dessa forma, um produto será mais bem-sucedido quanto mais valores relacionados à fé religiosa ele tiver”, afi r-ma. Entre eles, oferecer um sentido de pertinência, rituais (como o de fumar um cigarro), um inimigo claro (um produto de beleza contra o envelheci-mento, por exemplo), e estar envolvido em mistério e símbolos.

Inspiração da criseEra 2001 e a uruguaia Patricia López trabalhava como professora de inglês. O refl exo da crise argentina na eco-nomia do país a fez buscar uma fonte de renda adicional, cozinhando por encomenda. E o que era negócio secun-dário rapidamente levou Patricia a se transformar em empresária. Juntamente com seu sócio, Mario Santellán, desde 2002 Patricia lidera a La Exquisita, que atualmente possui 16 funcionários e fornece cerca de 900 porções diárias de comida embalada a estações de serviço em postos de gasolina, como sanduíches em pão croissant, tortas de verdura e saladas. E como fazer um negócio que nasceu da crise sobreviver a outra retração econômica? “Acho que seria pouco rea-lista dizer que não seremos afetados, mas vamos traba-lhar muito mais para manter a mesma relação qualidade/preço”, afi rma. Outro ingrediente usado pela empresária, considerado indispensável em qualquer cenário, é a ino-vação. “Recém-lançamos uma linha premium, com novos ingredientes e apresentação, aproveitando o aumento de demanda no verão, sobretudo com a chegada de turis-tas”, diz. “E em maio de 2009 iremos inaugurar uma linha de doces, aproveitando o apelo do inverno.”

PALAVRA DE EMPREENDEDOR

Lindstrom: Ousar com os sentidos

Bateu a fome?La Exquisita pode estar aí

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WORLD ECONOMIC FORUM

AGENDA 2009

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 37

World Economic ForumA agenda de 2009

GUIA PARA UM ANO INCERTOUm agitado 2008 chega ao fi m, ano que deixou profundas cicatrizes em praticamente todas as economias desenvolvidas do mundo e acentuou o nervosismo frente ao ano que se avizinha. Além da evidente tarefa dos Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, de restabelecer pontes com todo o mundo – incluindo a América

Latina –, quais serão os temas, confl itos e personagens que se destacarão no próximo ano? Nas próximas páginas, enumeramos algumas dessas tendências, como afetarão a região e por quê. E entregamos as projeções macroeconômicas de AméricaEconomia

Intelligence para 2009.

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WORLD ECONOMIC FORUM

AGENDA 2009

38 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

ESTRELA SEM HERDEIRO

MÉXICOINFILTRADO

A notícia boa é que um mistério foi resolvido. A China não será mais o dra-gão esfomeado de matérias-primas que alimentará outro boom de commodi-ties. Não da maioria dos produtos, pelo menos. No estudo “The commodity

boom: the long-term prospects”, o Banco Mundial mostra que – entre 2002 e 2007 – a demanda do gigante asiático só foi substancial no alumínio, cobre e carbono, e medianamente importante sobre petróleo. Essa demanda registrou baixa quanto ao trigo e negativa quanto ao arroz. “Além dos fortes ganhos no PIB e o crescimento da receita nos países em desenvolvimento, a demanda de grãos não se acelerou de maneira apreciável por sua demanda, sejam considerados em conjunto ou somente no caso da China.”

Quanto ao milho, o etanol foi o grande responsável pelas altas, motivo de 47% a 70% da alta nominal dos preços. Enquanto a alta do trigo e do arroz, como ou-

Com os assassinatos ligados ao narcotráfi co registrando aumento de 117% (5.376) em 2008, não

é de estranhar que 2009 marcará uma virada negativa. E a perspectiva ainda tende a piorar: “o risco que o México corre de se transformar em um Estado falido, em sua intenção por diminuir a infl uência do narcotráfi co, está cada vez mais patente”, diz Edgardo Buscaglia, conselheiro do Instituto de Investiga-ção e Formação das Nações Unidas e professor convidado do Itam.

“Há cidades onde impostos estão sendo pagos, um quantia que chega até US$ 45.000 anuais, a grupos criminosos para que os empresários possam se sentir protegidos”, revela Buscaglia. “É um típico sintoma de que está se tornando um Estado falido.”

O problema parece ser que, no Méxi-co, apenas são aplicados um dos quatro pilares para combater efetivamente o narcotráfi co: maior repressão. Falta ao Estado mexicano atuar efetivamente para desmantelar a economia criminal, combater a corrupção política com toda

a força da lei e estabelecer um plano nacional de prevenção contra drogas.

Mesmo que o governo do presi-dente Felipe Calderón tenha detido funcionários supostamente ligados às organizações e feito algumas apre-ensões de armas e dinheiro, vários analistas afi rmam que estas atitudes são mais midiáticas. “Não há país que tenha saído dessa situação sem limpar sua classe política e os funcionários técnico-operativos do Estado, e isso ainda não é visto no México”, acres-centa Buscaglia.

Assim sendo, a tendência pode fi car mais clara à medida que as organizações de drogas continuem se infi ltrando nas instituições do Estado, como têm feito até agora.

INVERNO PARA AS COMMODITIES

ABr

AFP

BRASIL NARCOTRÁFICO

MATÉRIAS-PRIMAS

Rousseff: eclipse de Lula

O próximo ano será de desafi os para o Partido dos Trabalhadores no Brasil. Sem um candidato

natural para suceder o presidente Lula nas eleições de 2010, a legenda do governo vive uma situação paradoxal: quanto mais o mandatário sobe nas pesquisas de opinião, mais Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, parece estar longe de consolidar-se como sua sucessora. “Ainda é cedo para ter certeza. Sem un nome natu-ral, uma fi gura de alcance nacional que possa destacar-se dentro do PT, Lula está colocando Dilma à frente de todas as políticas ativas do governo para posicioná-la como promotora do crescimento”, diz Rachel Meneguello, coordenadora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp.Se Dilma ou qualquer outro nome escolhido pelo partido não decolar, o Brasil verá à frente uma quebra da polaridade PT-PSDB (partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de São Paulo José Serra) que já dura mais de 10 anos em disputas presiden-ciais. O que ocorrerá com o cenário brasileiro? “É uma grande dúvida, já que o PMDB tampouco demonstra capacidade de ser protagonista de nível nacional”, explica Meneguello. Frente a um panorama como este, a cientista política crê que a única saída de Lula será voltar-se ao partido para crescer suas bases, e tentar transferir à estrela eleita o brilho que apenas ele carrega.

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AGENDA 2009

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 39

tras commodities alimentícias, a alta é relacionada a um efeito multicasual, no qual a valorização do petróleo foi o fator mais importante, bem como a especulação de parte dos produtores de reter seus produtos e dos compradores ávidos por adquirirem mais, antecipando uma série de altas.

O futuro? Por um lado, no caso da China, a intensidade do uso de matérias-primas tende a baixar à medida que o PIB começar a aumentar com a oferta de serviços. Além disso, com renda per capita superior a US$ 3 mil, a demanda extra de grãos tende a cair a zero. Do outro lado estão as imprescindíveis mudanças tecnológicas, passíveis de aumentar ou diminuir a demanda e a oferta. Uma coisa é clara: “nos países em desenvolvimento, projeta-se que a renda per capita triplicará de US$ 1.550 para US$ 4.650 entre 2004 e 2030. Isto signifi ca que, enquanto a demanda de grãos e alguns metais tende a desacelerar, a deman-da por energia tende a se fortalecer”. Vendedores de energia, agüentem a crise e prosperarão.

Com a desaceleração e até a redução do crescimento pro-vocados pela crise, o ano que vem pode ser o momento certo para transformar um mau presente num bom futu-

ro. Como? Melhorando a “qualidade” do crescimento. “Na América Latina crescemos muito, mas, em geral, isso não

serviu para melhorar drasticamente o bem-estar”, diz a economista Victoria Giarrizo, do centro de estudos CERX. O crescimento acelerado, além disso, serviu para atrasar “reformas necessárias vinculadas à ar-recadação e ao gasto”. Na região, durante a última década, a maior parte das pessoas “mudou de proble-

ma: antes era não ter trabalho; o que foi convertido em ‘minha renda não é sufi ciente’. Ou, no caso do Chile, por

QUALIDADE DO CRESCIMENTO

A desvalorização que parece ter afetado as moedas latino-americanas provavelmente se estenderá por 2009. O motivo? O fi m do auge das commodities ter-

minou também com a onda de investimentos de 2007 e 2008. Segundo um relatório recente da Kroll Infoamericas, os modelos de negócios construídos sobre uma projeção de moedas fortes poderão ser inviáveis. E para Argentina, Venezuela e Equador, o diagnóstico poderá ser pior. O primeiro tem chance de ver

uma deterioração maior de suas divisas com o avanço da crise; o segundo estaria destinado à desvalo-

rização, e o terceiro sentirá pressões a partir de 2010 para abandonar a dolarização, já que a falta de receita o levaria a buscar uma fl exibilidade maior para obter fi nanciamento.

“Pelos próximos dois ou três anos, os preços do petróleo se manterão baixos. Se as grandes economias do mundo estão funcionando com

taxas de crescimento abaixo do normal, o petróleo custará menos.” O prognóstico do Prêmio Nobel Edmund Phelps não afetará apenas os traders e o bolso dos motoristas. Pode ser a chave para o futuro da Venezuela. A correlação entre o valor do ouro negro e as reservas do Banco Central venezuelano, unida à infl exibilidade na redução de gastos do go-verno Chávez, aumenta as possibilidades de uma desvalorização. Tal cenário reativou os desejos do mandatário de obter o direito de reeleição indefi ni-da. Por quê? A chegada de nuvens no horizonte da economia venezuelana pode afetar sua aceitação popular. Analistas acreditam que ai jaz o motivo da apressada iniciativa de submeter novamente a questão a um referendo. Obviamente, a iniciativa atiçou a oposição, que não só considera a medida ilegal como assegura que pode trazer risco de violência. “Não podem existir dúvidas sobre o empenho de Hugo Chávez para perpetuar-se como mandatário supremo a qualquer custo”, escreveu em sua coluna no diário El Nacional o analista político Aníbal Romero. É válido reconhecer que um referendo habilitará um clima de enfrentamentos violentos entre partidários e adversários de Chávez, que converteu a política de seu país em um jogo trágico sem resultados.

VENEZUELA,COLISÃO À VISTA

exemplo, ‘não é sufi ciente para ter um bom plano de saúde’”. A lógica por trás desta visão é que “nos países emergentes há muitas coisas para melhorar”. Por isso, se a qualidade de vida for privilegiada “pode-se crescer menos e isso não precisa ser um problema”, à medida que se tem um gasto mais efi ciente e “mais concentrado no tecido produtivo”. Por isso, a base da recuperação, argumenta Giarrizo, não deveria estar concen-trada em impulsionar o consumo na base do endividamento das pessoas.

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ECONOMIA

DESVALORIZAÇÕES

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TICA

Rafael Ramírez, ministro de Energia da Venezuela: maus

tempos

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AGENDA 2009

40 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

A queda na cotação da soja, de US$ 600 a tonelada para cerca de US$ 300, é uma desgraça para milhares de agricultores do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai (além de um problema para as balanças comerciais).

Mas é uma oportunidade de sobrevivência para produtores de outros cultivos que dependem do extenso sistema de arrendamento de terras e que estavam sendo dispensados pelos produtores de soja. E também para as comunidades indígenas que foram expulsas, às vezes com métodos violentos.

Somente nos últimos anos, uma área equivalente à da Califórnia passou de selva, mata e pasto natural para o cultivo da soja. Segundo o grupo Base, 85% do leste do Paraguai, antes da chegada de produtores brasileiros e argentinos, eram compostos de matas. Atualmente, apenas 12% permanecem intactos. Na Argentina, a safra de 2008-09 produzirá cerca de 90 milhões de toneladas de grãos, dos quais 50 milhões de soja. Alguns analistas estimam que a febre da soja passou. Aos baixos preços, aos agrotóxicos mais caros, à contaminação e à monocultura, soma-se o fato de que seu consumo não é adequado a menos de cinco anos (pela presença de hormônios vegetais). “Houve muito barulho especulativo que infl ou o preço. E os produtores deverão se apertar, mas não sei. O obituário está para sair em uma data mais distante”, diz o economista Eduardo Cúria. “Em dois anos saberemos.”

A Argentina anuncia que entregará US$ 320 milhões para fi nanciar a compra de 10 milveículos no-

vos de baixo custo. O México garante que seu plano de infra-estrutura dará origem a 300 mil empregos. No Chile, o Banco Central antecipa cortes nas taxas de juro para o primeiro trimestre de 2009. À medida que o inverno da recessão sopra seus ventos gelados na América Latina, cada país apresenta seus planos. Para o ano que vem, tudo parece indicar que até os mais relutantes em reconhecer suas necessidades, Brasil e Peru, deverão promover “refúgios” focados em indústrias específi cas. No Brasil, as obras do Programa de Ace-leração do Crescimento (PAC) vão representar uma potente injeção na economia através de obras de infra-estrutura. Mas é das empresas públicas e privadas que deverá vir a maior parte dos US$ 200 bilhões previstos para o programa até 2010.Na primeira metade de 2009, as ex-pectativas serão determinantes. “O mais importante é atuar sobre as ex-pectativas”, assegura Mariano Lamo-te, economista-chefe da Consultoria ABECEB, em Buenos Aires. Por isso, seja na Argentina ou em outro país, “a implantação deve ser feita o mais rápi-do possível para que isso aconteça”. O plano argentino é de US$ 3,85 bilhões e concentra-se em sustentar o consumo interno. É sufi ciente? O governo diz que a receita crescerá 4%. “Nossa estimativa é de 1,5% a 3%”, diz Lamote.

Trata-se de uma prática comum: as famílias extremamente pobres entregam um de seus fi lhos, ou

vários, a famílias ricas. Em troca, em-bora sejam alimentados, os pequenos são usados para todo tipo de serviço. E abusos. Com 54% de seus 9 milhões de habitantes vivendo em extrema pobreza e 80% na pobreza, é compreensível por

que no Haiti não dá para lutar contra esse costume. Em 2009, a primeira re-pública da América deverá mostrar que pode sustentar o frágil equilíbrio políti-co e econômico construído com apoio internacional. A perspectiva é ruim. O país cresceu apenas 3,5% em 2007 e o pacote de reformas do FMI é insufi ciente para o crescimento de uma nação tão devastada ecologicamente, e com sua defi ciente infra-estrutura afetada pela passagem de quatro furacões este ano. A missão fracassou? “O mandato era para estabelecer a paz”, diz Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Unión para La Nueva Mayoría. “Não de reconstruir o Estado, que é a questão crucial no Haiti.” E que segue pendente.

BLUES DO HAITI

SOJA COM PROGNÓSTICO RESERVADO

CONTROLE DE CONTROLE DE EXPECTATIVAS

AFP

AGRI

CULT

URA

GASTO

POBREZA

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AGENDA 2009

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 41

O uso do BNDES (Banco Nacional de De-senvolvimento Social e Econômico) como ferramenta de integração regional corre o

risco de ser deixado de lado em 2009. No co-meço de dezembro, o chanceler brasileiro Celso Amorim declarou que o Brasil poderia deixar de conceder crédito a seus vizinhos se o Equador questionar na Câmara de Comércio Internacional, em Paris, a dívida de US$ 243 milhões que tem com o BNDES. Também avisou aos membros da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) que tal atitude poderia limitar empréstimos aos

integrantes do bloco. Uma postura semelhante foi adotada pelo Paraguai, que considera injusta sua dívida de US$ 19 bilhões com o Brasil. “Em caso de não-pagamento, talvez a integração política dei-xe de ser o fator mais relevante”, antecipa Fátima Cristina Bonassa Bucker, professora de direito em relações exteriores da ESPM, em São Paulo. Por enquanto, o Brasil buscará uma saída conciliadora. Mas os próximos governos poderão fi car tentados a exercer represálias mais duras. Hoje, o Brasil é credor de US$ 2,5 bilhões de seus vizinhos apenas em créditos para exportação.

CRÉDITO EM RISCO

MARÉ BAIXAMARÉ BAIXASe há um tema tratado com mais intensidade na crise, este tema é o desemprego. Embora haja con-

senso de que aumentará, ninguém sabe em que medida os pacotes de estímulo e os acordos trabalhistas moderarão a alta. No México, pesquisa feita pela empresa Manpower mostrou que ape-nas 17% das empresas diminuirão a oferta de postos de trabalho, contra 65% que dizem que a manterão, e surpreendentes 15% que contratarão pessoas no primeiro trimestre de 2009. No Brasil, o emprego na indústria caiu 0,2% em outubro frente a setembro. Na Argentina, a central sindical CGT disse que cerca de 14 mil trabalhadores já perderam seus cargos devido à crise. Para evitar o pânico, os sindicatos, as empresas e o governo concordaram com a criação de um Observatório de Emprego, antes de realizar um acordo de estabilidade trabalhista em troca de perdas salariais. O problema é que, com o altíssimo nível de informalidade, o maior impacto do desemprego na região estará fora da medição e das medidas institucionais.

Com mais de meio milhão de moradias destruídas pela ação de três furacões,

a queda do preço do níquel e a possibilidade de uma queda no fluxo turístico europeu, canadense e latino-americano, a recuperação da economia cubana enfrenta desafi os para o próximo ano. Barack Obama, Hugo Chávez e Dmitri Med-vedev, nessa ordem, serão as fi guras que defi nirão grande parte do destino da ilha em 2009. Veja a reportagem “A ressaca dos furacões”, nesta edição.

CUBA E INES-CUBA E INES-PERADOS 51 ANOS

A crise fi nanceira e econômica mundial, como em todas as épocas de escassez, fornecerá combustível extra para a

delinqüência. Os desafi os maiores são en-frentados por México, Honduras, Guatemala, Colômbia e Brasil. Neles, as organizações criminais conseguiram operar com armas de guerra e coordenar-se para atuar no exterior. E também contam com proteção policial. Após meio quarto de sé-culo de fracasso na aplicação de “políticas de mag-nitude” (mais po-lícia, condenações maiores, poderes mais amplos), tal-vez seja o momen-to de testar algo novo. “As polícias precisam ser me-nores e mais bem-pagas”, diz Gustavo Palmieri, encarregado de Segurança Cidadã no CELS, na Argentina. A América Latina conta com níveis de prisão preventiva e efetiva mais altos que na Europa. Também possui prisões que servem para operar centros de reprodução de culturas criminais. Uma medida aponta o mínimo de resultados imediatos: a proibição total nas mãos dos civis de armas de alto calibre e coordenação regional para acabar com o escandaloso mercado semi-negro de armas.

MENOS ARMAS,MENOS DELITOS

AFP

AFP

ABr

DÍVIDA

EMPREGO

POLÍ

TICA

SEGURANÇA

Luciano Coutinho, do BNDES: menos generosidade

Raúl Castro: infelizaniversário

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42 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

Em uma das mudanças mais ver-tiginosas da história econômica recente, o primeiro trimestre de

2009, antes imaginado como um mo-mento chave na luta antiinfl acionária global, passou a ser o contrário: o momento no qual poderá ser avaliado se o mundo caminha ou não a uma baixa generalizada nos preços: a te-mida defl ação. Analistas como Trevor Greetham, da Fidelity Investments, acreditam que haja mais possibili-dades de uma “refl ação”: a queda da infl ação em um tempo de atividade escassa, mas não negativa.

A queda em massa de todos os preços, característica da defl ação, resulta na pior notícia possível: de que poderiam vir novas crises fi nan-ceiras, com pessoas e companhias incapazes de gerar receitas para pagar suas dívidas.

O fechamento das minas de pellets de ferro da Vale é um exemplo do que ocorre nas defl ações. Por enquanto os sinais não são claros. O Equador registrou uma defl ação de -0,16% em novembro (em 2007 havia sido de 0,5%), mas um pingüim não faz inverno. Na Argentina, em outro exemplo claro, no varejo: o quilo de tomates passou de US$ 4,6 em outubro de 2007 para US$ 0,28 em dezembro (com o preço em julho de US$ 1,8). Sinal de que a demanda está em queda.

TEMPORADA DE PREÇOS BAIXOSBAIXOS

Na Nicarágua, o gabinete presi-dencial real e a sede da Frente Sandinista estão no mesmo

lugar: a casa particular de Daniel Ortega, o presidente do país. Trata-se de um imóvel que pertenceu ao atual vice-presidente, o ex-banqueiro liberal Jaime Morales Carazo, quando ele era inimigo mortal de Ortega e exercia, nos anos 1980, em Washington, um forte lobby a favor dos “contras”, na guerra civil fi nanciada pelo então presidente Ronald Regan.

O fato é um sinal da complexida-de do cenário político nicaragüense, onde o governo de unidade nacional

A PROVA DANICARÁGUA

orteguista encerrou a divisão entre os antigos sandinistas e os antigos liberais.

As manipulações abusivas do governo nas recentes eleições mu-nicipais (com a proibição da entrada de observadores da OEA e de Jimmy Carter) alimentam as acusações de fraude. Frente a esta evidência, a União Européia e os EUA suspenderam o dinheiro da cooperação internacional (US$ 43 milhões no primeiro caso), ao mesmo tempo que diversas linhas de crédito, num montante de US$ 40 milhões, dependem da aprovação parlamentar de vários acordos que a oposição deseja bloquear.

Desta forma, a Nicarágua se converteu em um ponto simbólico importante para 2009. Um ponto de vista diz que Ortega violou a Carta Democrática Interamericana e o resto dos países da América deveria sancioná-lo. Mas isso supões acusá-lo de efetuar um auto-golpe através de eleições municipais e isolar economi-camente a segunda nação mais pobre das Américas, quando Hugo Chávez ofereceu o máximo de apoio.

Por isso, a Nicarágua será uma dura e inevitável prova para a ha-bilidade e vigor da diplomacia dos governos latino-americanos e a nova administração de Barack Obama nos EUA. Provas que darão um sinal de como, ou não, lidar com as tentações autocráticas eternamente renovadas na região.

Com o emprego estável ou em leve queda e as

remunerações reais em uma situação parecida, 2009 caminha para ser um novo ano perdido na luta interminável, não para acabar, e sim para moderar, a pobreza na região. “As previsões indicam uma deterioração na renda dos lares, que se concentraria em trabalhadores autônomos e assalaria-dos informais”, prevê o último relatório sobre a pobreza da CEPAL. Com 71

POBREZA

AFP

INFLAÇÃO DEMOCRACIA

RECEITA

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AGENDA 2009

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 43

milhões de indigentes e 182 milhões de pobres (33,2% dos habitantes), a América Latina ostenta um recorde penoso. De fato, em 2008, a indigência aumentou 0,3% (12,6% a 12,9%). Somente na rica Argentina vivem hoje 2,1 milhões de pessoas que nem sempre têm o que comer, o que explica que oito crianças menores de 5 anos morram diariamente por conta dos efeitos da desnutrição. A cifra, revelada por Juan Carr, titular da Rede Solidária e membro do Centro de Luta contra a Fome da Faculdade de Veterinária da Univer-sidade de Buenos Aires (UBA), é inferior ao número de 12 crianças que morreriam por estes motivos cinco anos atrás, “mas oito é um número muito alto para nos conformarmos”, lamenta-se.

A regulamentação das propriedades e a delimitação de zonas agroecológicas para o cultivo da cana-de-açúcar, excluindo sua expansão até o Amazonas e o Pantanal,

são duas metas da ofensiva do governo brasileiro para 2009, que busca algo hoje impossível: a sobrevivência da selva e uma agricultura e pecuária sustentáveis ao mesmo tempo.

Seria possível pensar que a crise econômica dará um respiro ao desmatamento, que em 2008 voltou a crescer em intensidade, após anos de queda. Mas, “imaginar que a crise levará a uma redução das pressões dos setores agropecuários é desconhecer as forças principais por trás de tudo”, des-mente Antonio Marcio Buainain, do Núcleo de Economia Agrícola e Meio Ambiente do Instituto de Economia da Unicamp. “Estas forças são: a insegurança jurídica (quanto mais rápido alguém ocupa uma área, maior é a chance virar dono dela) e a tradição da derrubada constante para a criação de gado.” Segundo o especialista, dada a situação, cultivos como a soja e o algodão contribuirão mais para preservar as selvas do que as demais forças, acentuadas em momentos de crise, já que a desestruturação das economias em regiões de fronteira com selvas tende, literalmente, a lançar milhares de famílias para dentro das matas, as quais, sem alternativas, simplesmente acabam com a fl ora para praticar agricultura de subsistência.

No médio prazo, o mundo poderia sobreviver sem o Amazonas; mas não está claro se o Brasil pode. O impacto brutal de sua desapropriação iria para o sistema hídrico e de fertilidade dos solos, o que poderia – como aconteceu no Haiti – destruir o sustento material da economia.

AMAZÔNIA SOB PRESSÃO

Como em todas as crises fi nanceiras, a atual é vista como uma oportunidade para reformar a arquitetura fi nanceira mundial. Por que não começar em casa? A criação de

um fundo de reserva latino-americano, com recursos destina-dos aos seus países, será um tema que rondará, se não a agenda, pelo menos as discussões em 2009. Muito foi falado do Bando do Sul como um complemento da Corporação Andina de Fomento, mas a descon-fi ança do Brasil sobre as intenções da Venezuela e os diversos trâmites burocráticos colocaram a idéia no limbo. Mas isso não quer dizer que não seja um conceito prático. Tanto que os países da Asean, no sudeste asiá-tico, criaram um.

“É uma idéia bastante recente”, diz Norberto

Iannelli, diretor do Escritório Regional da Secretaria Geral Iberoamericana. “É preciso ver se a quantidade das reservas disponíveis é sufi ciente para ter um banco capaz de ser apro-veitado pelas urgências do dia”, afi rma. Um desafi o extra seria amortecer a participação (ou não) no banco de todos os organismos que existem hoje (FMI, Banco Mundial, CAF, BID). “Cada um tem um perfi l e mecanismos próprios.” E, claro, concordar de onde virá o dinheiro.

FUNDO MONETÁRIO LATINO-AMERICANO

AFP

AP

FINANCIAMENTO SUSTENTABILIDADE

Teremos nossopróprio Strauss-kahn?

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AGENDA 2009

44 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

No encontro anual entre empre-sários chilenos com a presidente Michelle Bachelet, surgiu um

pedido de alívio frente à crise: baixar o imposto sobre valor agregado (hoje em 19%). A idéia mostra que, sempre que há crise, o fantasma das reduções tributárias para estimular o inves-timento e o gasto começa a rondar. “Desde 1994 não se vê um aumento

tão grande na arrecadação tributária no Brasil. Hoje, o governo espreme a iniciativa privada e as famílias com uma margem inaceitável”, diz Istvan Kasznar, professor da FGV do Rio de Janeiro. Ele acredita que é melhor que o governo reduza o imposto às empre-sas para estimular os investimentos. Mas nem sempre os governos estão dispostos a fazê-lo. Em épocas de

Após quase 20 anos no timão, é provável que 2009 seja o último ano da Concertación à frente do governo

do Chile. Nascido no fi m os anos 1980, o pacto político de centro-esquerda recebeu o poder das mãos do próprio Augusto Pi-nochet. Mas hoje seu encanto foi diluído entre denúncias de corrupção e desgaste pela permanência no poder. Muitos de seus detratores o comparam com o PRI mexicano. Tudo isso permitiu que o em-presário Sebastián Piñera, dono da linha aérea Lan, tenha visto crescer sua popu-laridade quase na mesma medida de seu patrimônio. Embora tenha perdido nas eleições de 2005 para Michelle Bachelet, hoje as pesquisas dão respaldo a ele.

Segundo uma pesquisa de opinião feita pela Adimark em novembro, ape-nas 15,7% aprovavam a gestão do par-tido governista, e 21,76%, a Aliança do Chile, coalizão de direita encabeçada pelo empresário. Não há dúvida que a ascensão de Piñera ao poder será uma grande notícia sociopolítica para o Chile, país acostumado, desde 1860 até 1973, à alternância de poder. A grande pergunta é se a legenda poderá levar a cabo polí-ticas inovadoras, tanto em profundidade como em sintonia, também na área social, como a promoção de empreendedores e inovação, onde tradicionalmente não se destacou.

UM EMPRESÁRIO NO PODER

MENOS CARGA, POR FAVOR

O próximo ano poderia ser denominado como o ano da construção no Peru, pois o plano anti-crise do ministro de Economia e Finanças, Luis Valdivieso, busca dar prioridade às obras para manter os empregos está-

veis. É previsto que as exportações peruanas tenham uma forte desaceleração por conta de uma menor demanda e preços mais baixos das commodities. Assim, o governo destinará nada menos que US$ 1 bilhão para garantir créditos hipo-tecários em programas de construção e anunciou a disponibilidade de créditos de outros quase US$ 10 bilhões com organismos internacionais que podem ser destinados ao fi nanciamento público de grandes obras de infra-estrutura, cuja lacuna é avaliada em US$ 30 bilhões.

Se no papel o plano soa coerente, a burocracia pode fazer com que só haja boas intenções. Além disso, Valdivieso – assim como seu antecessor Luis Car-ranza – já começa a gozar da antipatia do presidente Alan García e dos demais ministros, devido a sua negativa de ceder a pedidos por mais itens. Felizmente, recentemente foi publicado o regulamento das associações público-privadas, elemento que facilitará a implantação da iniciativa. Mas ainda há o fator tempo. A cristalização de projetos de construção pode demorar meses, enquanto a crise ameaça mais rápida e fortemente do que se esperava. O tanque de oxigênio che-gará antes da morte do paciente? Em 2009 isso será esclarecido.

SURFANDO A ONDA DO CIMENTO

AND

INA

ELEIÇÕES IMPOSTOS

CONSTRUÇÃO

García: impulso à infra

Piñera: por cima

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 45

medo de investir o Estado precisa gastar mais e a última coisa que não quer é reduzir suas receitas, já abaladas. Mas o que muitas admi-nistrações estão dispostas a fazer é fl exibilizar algumas retenções e antecipar devoluções. Um estímulo que poderá aliviar as costas de muitas Pmes em tempos de crise. É sufi ciente? Assim como no Brasil e no Chile, na Argentina muitos analistas pressionam por uma reforma tributária que distribua melhor os impostos também nos bons tempos para investir.

Que ninguém se surpreenda se em 2009 a indústria de informática fi car ao lado do Greenpeace na causa am-bientalista e os usuários começarem a receber – como

os clientes da Dell no Brasil, Colômbia e México – ofertas do fabricante para reciclar gratuitamente os produtos da marca em desuso.

Motorola e Epson fi zeram a mesma coisa na Argentina para evitar que seus equipamentos obsoletos fossem para o lixo. Mundialmente, mais de 200 fabricantes tecnológicos se uniram para tratar do tema. Isso porque a acelerada obsoles-cência dos produtos informatizados transformou-se em uma ameaça ambiental e as organizações protecionistas começaram a pe-dir responsabilidade maior dos produtores.

A América Latina não está fora do problema, cada vez maior. Um estudo elaborado pela Plataforma RELAC estima que entre 1983 e 2005 foram vendidos 94,67 milhões de computadores na região, dos quais 27% esta-riam fora de uso atualmente. Calcula-se que cada equipamen-to represente nove kg de material, o que signifi ca 230 miltoneladas de resíduos eletrônicos, sem contar aparelhos de TV, rádios e outros dispositivos. Do total, 5% são metais pesados e altamente contaminantes. Por sorte, grande parte do material é reciclável. É possível resgatar 150 kg de cobre, 20 kg de estanho e 300 g de ouro por tonelada processada.

Tudo isso atrairá um número crescente de empresas espe-cializadas em buscar a conscientização dos grandes vendedores e dos não poucos usuários.

Enquanto todos tiram o pé do acelerador, Carlos Slim anunciou que sua empresa investirá mais de US$ 3 bilhões durante 2009. A maior parte

será para ampliar a capacidade de redes e desenvolver a infra-estrutura 3G. Não é por acaso. A mobilidade seguirá sendo o setor dinâmico para as operadoras de telecomunicações “e um dos segmentos de oportuni-dades a se levar em conta em 2009”, observa Ricardo Villate, vice-presidente de análise e consultoria para

a América Latina da IDC.Em 2008, de um lado, o mercado

mostrou um crescimento especial dos smartphones, os quais, em mercados como o argentino, foram multiplica-dos por cinco, ampliando a base para a venda de serviços de dados e para ganhos maiores por usuário. De outro, a banda larga móvel está em pleno crescimento. As redes 3G na região passaram de 25 a 36 em menos de um semestre, abrindo um espectro de serviços que muitos esperam ser traduzido em maior quantidade de oferta de entretenimento, como música

ou TV portátil. “Mas o que se vê até o momento, pelo

menos na Argentina, é que as operadoras colocaram o 3G como um substituto à escassa cobertura do ADSL, e um complemento ideal para o laptop e a mobilidade”, detalha em Buenos Aires o especialista em telecomunicações Enrique Carrier. “Embora sejam por enquanto movimentos da oferta, teremos que ver como o mercado se desdobrará”, acrescentou.

DIAS DE 3G

gopnmumemde

LIXO DIGITAL EM ALTA, NEGÓCIOS À VISTA

TELECOMUNICAÇÕESTE

CNOL

OGIA

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AGENDA 2009

46 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

o

O FIM DE UMA ERAO FIM DE UMA ERA

A INFLAÇÃOA INFLAÇÃOMASCARADAMASCARADA

COMBATE AO COMBATE AO DESEMPREGODESEMPREGO

COM FUNDOSCOM FUNDOSE OBRASE OBRAS

A violenta queda nos termos de comércio para os produtos que a região exporta provocará uma queda na ativi-

dade econômica. O volume menor de recursos que virão das exportações resultará em uma conta corrente negativa, um menor dinamismo na criação de empregos e uma moderação nos gastos das famílias, A demanda agregada ten-derá a frear a alta dos preços, ainda que vários países sigam com infl ação de dois dígitos.

Ainda que o Indec divulgue que a infl a-ção no país é inferior a 10%, cálculos independentes a colocam entre 20% e

30%. A tendência no mundo é de queda, mas não se deverá observar necessariamente uma queda signifi cativa, dados os anúncios do apoio ao consumo. A Argentina terá sorte se não entrar em recessão. Se a queda nas vendas do setor automobilístico se mantiverem, o desemprego poderá disparar e a demanda agregada entrar na área negativa.

O gigante sul-americano não estará imu-ne ao contágio internacional. O câmbio fl utuante será a grande ferramenta para

amortizar o choque internacional ao permitir que o país não deteriore suas contas externas. E sem a infl ação como uma ameaça iminente, a política monetária poderá ser um pouco mais expansiva na luta por dinamizar a demanda interna. O crescimento esperado deverá rondar os 2%, ainda que o grande desafi o das autori-dades seja frear o desemprego.

Nem os gordos fundos economizados no exterior impedirão que o Chile reduza seu dinamismo. Apesar de os indicado-

res macro serem estáveis, projetos imobiliários estão sendo paralizados, alguns exportadores de alimentos registram problemas e o preço do cobre cai. A grande dúvida é se haverá demis-sões no comércio no primeiro trimestre do ano. Se o Chile se salvar dessa retração, será graças a um agressivo plano de obras públicas.

AMÉRICA LATINA

ARGENTINA

BRASIL

CHILE

-10

-5

5

10

15

20

25

CONTA CORR. %PIB

1,4

PIB VAR. %

8,7

INFLAÇÃO %

1,7

DÍV. INTERNA VAR. %

8,2

DESEMPREGO %

-1,1

CONTA CORR. %PIB

25

20

15

10

5

-5

-10PIB VAR. %

1,4

INFLAÇÃO %

18,0

DÍV INTERNA VAR. %

-2,0

11,5

-9,9

25

20

15

10

5

-5

-10PIB VAR. %

1,8

INFLAÇÃO %

5,5

DÍV. INTERNA VAR. %

3,08,0

CONTA CORR. %PIB

7,4

25

20

15

10

5

-5

-10INFLAÇÃO %

6,09,0

CONTA CORR. %PIB

-0,9

PIB VAR. %

1,8

DÍV. INTERNA VAR. %

0,9

DESEMPREGO %

DESEMPREGO %

DESEMPREGO %

PROJEÇÕES AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE 2009

Page 47: Nº 370 Edição Brasil

WORLD ECONOMIC FORUM

AGENDA 2009

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 47

A OVELHA BRANCAA OVELHA BRANCA

EQUILIBRISMO EQUILIBRISMO COM A MOEDACOM A MOEDA

A HORA DO FREIOA HORA DO FREIO

QUANDO O SÓCIO QUANDO O SÓCIO NÃO COLABORANÃO COLABORA

A economia peruana tem se mostrado uma das mais dinâmicas da região nesta primeira década do século 21 e

continuará assim. Apesar de que sentirá o freio tanto em suas exportações de minério quanto no consumo interno, em 2009 o país será um dos mais dinâmicos da região, com um crescimento acima dos 5%. Tudo graças à força do avanço de sua demanda interna, que lhe permitirá continuar reduzindo o nível de desemprego.

A violenta queda no preço interna-cional do barril de petróleo vai trazer problemas a uma economia que depende

excessivamente do petróleo, não somente para o fi nanciamento do Estado como também da demanda interna. A PDVSA reduzirá suas vendas, que em 2009 não deverão superar os US$ 50 bilhões. É bem provável que haja intervenção no câmbio, seja através da desvalorização ou de uma mudança para o sistema de fl utuação fl exível.

O maior problema da Colômbia para 2009 deverá ser o desemprego, que poderá chegar aos 12%. Atualmente as

exportações do país se concentram nos EUA, Venezuela e Equador e nenhuma dessas três economias estará bem das pernas em 2009.Isso deverá gerar o enfraquecimento das contas externas, menor dinamismo na demanda interna e um crescimento bem mais moderado que o que o país registrou no último qüinqüênio.

No terceiro trimestre de 2008 a eco-nomia do México entrou em terreno negativo. Sua extrema dependência dos

EUA o impossibilita de manter-se à margem da crise. Na capital mexicana, já é notório o fechamento de pontos comerciais. A economia informal será o grande refúgio dos mexicanos em 2009, e por isso não se espera que o índice de desemprego aumente de forma signifi cativa. As autoridades também terão que ter cuidado com as contas externas.

PERU

VENEZUELA

COLÔMBIA

MÉXICO

25

20

15

10

5

-5

-10

5,5

25

20

15

10

25

-5

-10PIB VAR. %

2,5

INFLAÇÃO %

5,2

DÍV. INTERNA VAR. %

1,0

12,0

CONTA CORR. %PIB

-2,2

25

20

15

10

5

-5

-10PIB VAR. %

PIB VAR. %

PIB VAR. %

INFLAÇÃO %

INFLAÇÃO %

6,5

INFLAÇÃO %

DÍV. INTERNA VAR. %

DÍV. INTERNA VAR. %

6,0

DÍV. INTERNA VAR. %

CONTA CORR. %PIB

CONTA CORR. %PIB

0,5

CONTA CORR. %PIB

0,53,0 1,6

-7,7

7,0

5,1

40

30

20

10

-10

-0,5

40,0

-1,5

14,5

-7,6

DESEMPREGO %

DESEMPREGO %

DESEMPREGO %

DESEMPREGO %

Page 48: Nº 370 Edição Brasil

48 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

DEBATES POLÍTICA FISCAL

ATAQUE AO PORQUINHOPara muitos países, chegou o momento de usar os recursos acumulados em épocas de vacas gordas. Os que não economizaram, porém, enfrentarão problemas. Juan Pablo Rioseco, Santiago

ROD

RIG

O D

ÍAZ

CARR

IZO

Orçamentos nacionais re-lativamente altos para estimular a economia em

uma época de crise. A receita que vários países da América Latina ensaiam aplicar em 2009 soa perfeita para realizar uma apresentação em Power Point e convencer a todos que a

região tem uma política fiscal anticíclica. Mas não se engane: todo o produto é mais casual do que planejado.

O certo é que o gasto não foi elaborado com a intenção de estimular a atividade, mas simplesmente porque os go-vernos pensavam que teriam

mais receita do que realmente tiveram. Quando a maioria dos países latino-americanos elaborava seus orçamentos, em setembro de 2008, as ex-pectativas dos preços das commodities e o crescimento do PIB – a base para se calcular o gasto – eram mais altas do

que agora. Por trás da explosão da queda do Lehman Brothers, a realidade começou a enviar uma mensagem diferente: o câmbio e a atividade cairiam, o que derrubaria as receitas. E neste novo cenário, os países que conseguiram economizar em tempos de vacas gordas po-

Page 49: Nº 370 Edição Brasil

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 49

dem agüentar, mas os que têm seus porquinhos vazios terão que sair em busca de dinheiro lá fora. E não está nada fácil conseguir isso.

“Os governos latino-ame-ricanos estão em uma situação muito difícil,” afirma Claudio Loser, sênior fellow do Diálogo Interamericano e ex-diretor do departamento do hemisfério ocidental do Fundo Monetá-rio Internacional (FMI). Em condições normais, diz, eles poderiam dedicar-se a gastar da forma como os Estados Unidos e alguns países euro-peus estão fazendo. Mas nem todos têm a mesma capacidade de incorrer em déficit. Um cálculo do economista indica que a queda das exportações pode ser equivalente a cerca de 2% do PIB da região, ou a algo entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões. Três vezes o PIB de El Salvador, por exemplo. E neste difícil equilíbrio entre um gasto reanimador e pouco endividamento, o triste é que países mais bem-preparados nem sempre são os que têm mais necessidades.

“A política fiscal latino-americana é pró-cíclica: no geral, os governos gastam em períodos de auge econômico e menos em recessão,” relatou a edição Perspectivas Econômi-cas da América Latina 2009,publicada recentemente pela OCDE. E o próximo ano não será exceção.

CICLO MALDITOOs países da América Central estão entre os que apresentam as maiores dificuldades. Para começar, têm vivido o ciclo oposto ao racha dos altos preços das commodities da América do Sul. “Ao serem importadores de produtos naturais, o câmbio os castigou nos últimos cinco anos”, diz Juan Pablo Jiménez, economista da Cepal. “São os que menos aproveitaram a

festa, e hoje são os que estão com mais dificuldades em termos de pobreza, acesso a mercados e liquidez.”

E também sofreram os que não têm limitado seus gastos e nem conseguido se cuidar. O Equador é o exemplo mais claro, e já está em moratória técnica. A Venezuela, no entanto, tem reservas impor-tantes e elaborou o orçamento de 2009 com previsões con-servadoras (US$ 60 o barril de petróleo). Contudo, Ca-racas elevou seus gastos até as nuvens nos últimos anos, para além da capacidade de absorção da economia. “Chá-vez terá que suspender muitos

dos projetos que prometeu executar no exterior (leia-se “petrodiplomacia”), porque ele não vai aumentar impostos para cobrir o déficit”, salienta Douglas Smith, diretor de es-tudos da região do América Standard Chartered Bank. E se os preços do petróleo se mantiverem nestes níveis, po-deria haver uma deterioração gradual do apoio a Chávez nos próximos dois anos, afirmou John Price, diretor de business intelligence da consultoria Kroll, em Miami.

Na Argentina, entretanto, a economia está desacele-rando e as receitas fiscais vão diminuir. Embora após

a crise de 2001 o país tenha melhorado sua relação dívida/PIB, ele não possui reservas “e ninguém quer comprar a dívida argentina”, diz Smith. Desta forma, será muito difícil para o país financiar qualquer iniciativa de expansão fiscal. A carta debaixo da manga é, por mais questionável que seja, recorrer aos fundos de pensão. Uma espécie de eco-nomia à força, que permitiria ter um montante de reservas parecido com o do Chile – que alcança US$ 25 bilhões –, o único país que está aplicando uma política fiscal anticíclica planificada e sustentada por anos de poupança.

O Chile começou, no iní-cio da década, a aplicar uma regra de balanço estrutural que o obrigou a definir o gasto público segundo um cálculo de receita em longo prazo. Isso permitiu gastos maiores quando o preço do cobre – principal matéria-prima de exportação e fonte de receita da estatal Codelco – chegava a um mínimo de 60 centavos de dólar por libra-peso, mas também permitiu gerar grandes economias quando o valor beirava os US$ 4. Atualmente, o mi-nistro da Fazenda, Andrés Velasco, se gaba de não ter cedido às pressões da época para aumentar o gasto, argu-mentando que o país devia economizar para os períodos de vacas magras. E sempre que pode, o ministro ressalta que o país possui um fundo soberano de acerca de US$ 25 bilhões, produto dessa política.

“O Chile tem guardado re-cursos, tem uma política fiscal cuidadosa e pode aumentar o gasto sem muito perigo porque lidou com as coisas de forma inteligente”, diz Claudio Loser. “É o único que pode adotar medidas de gasto

2006 2007 2008* 2009 *A.LATINA 0,1 0,4 -0,3 -0,1Argentina 1,0 0,6 1,0 0,9

Bolívia 3,4 2,3 3,0

Brasil -2,9 -2,0 -2,6 1,8

Chile 7,7 8,8 6,9 3,7

Colômbia -3,8 -3,0 -3,3 -3,0

Costa Rica -1,1 0,6 -0,5 -1,6

Equador -0,2 -0,1 -0,1 -4,1

El Salvador -0,4 -0,2 0,8 0,8

Guatemala -1,9 -1,5 -1,6 -1,7

Haiti 0,3 -1,6 -2,1

Honduras -1,1 -2,9 -1,9

México 0,1 0,0 0,0 0,0

Nicarágua 0,0 0,6 -0,8 -0,5

Panamá 0,2 1,2 -1,0

Paraguai 0,5 1,0 -0,2 1,3

Peru 1,5 1,8 2,3 2,3

Rep. Dom. -1,1 0,6 -2,7

Uruguai -1,0 -1,7 -1,0

Venezuela 0,0 3,0 -1,8 -1,7

FONTE: CEPAL, SOBRE CIFRAS OFICIAIS. * METAS OFICIAIS PREVISTAS NO ORÇAMENTO 2009

GASTAR OU NÃOResultado global de governos centrais (% do PIB)

0.6

GASTO

1.4

2.3 2.4

PERC

ENTU

AL

1.6

2004 2005 2006 2007 20080%

4%

8%

FONTE: CEPAL

LIMÃO ESPREMIDO(% do PIB)

11.4

ARGENTINA BOLÍVIA CHILE COLÔMBIA EQUADOR MÉXICO PERU VENEZUELA

10.8

6.65.8

4.84.5

2.72.2 2.6

3.02.0

1.6

7.2

8.8

4.9

3.9

7.98.4

5.6

4.5

2.9

14.613.9

10.0

8.0

2.72.2

1.8

FONTE: CEPAL (b) ano base; (p) cenário pessimista, com queda de 20% adicionais em relação ao ano base

MATÉRIA DILUÍDAReceita fi scal por exploração de recursos naturais não-renováveis

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

3.53.0

2.4

2007 2008 2009 (b) (p)2009

Page 50: Nº 370 Edição Brasil

50 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

anticíclico, keynesiano, para suavizar o impacto da crise,” relata Price, da Kroll.

Outros seguiram seu exem-plo. Colômbia e Peru têm sido cuidadosos na política fiscal durante os últimos anos. O segundo criou o fundo de Estabilização Fiscal em 2000. De acordo com o governo, ele deveria alcançar os US$ 3,5 bilhões ao final de 2009, quando deve usá-lo para não recorrer a ajustes pró-cíclicos. “O Peru está em uma situação na qual não precisa endividar-se”, disseram autoridades.

O Brasil, no entanto, tem feito mais esforços para co-locar limites aos gastos do que para estabelecer regras anticíclicas. “Em um país fe-deral, é difícil imaginar uma regra como a chilena”, diz Jiménez, da Cepal. “Nele, o ministro das finanças decide o destino de aproximadamente 40% do orçamento.” Mas is-so, ao menos, tem permitido a manutenção das contas em dia, o que foi fundamental para a conquista do invest-ment grade.

Em todo caso, analistas locais sentem a necessidade de maiores avanços. Felipe Salto, analista da Tendências Consultoria, em São Paulo, disse que desde o acordo de 1999 sobre as metas de ajuste fiscal, não houve mais refor-mas. “Hoje o país caminha conforme o ciclo; se cresce, aumenta os gastos; se não, os reduz para alcançar a meta. Mas se hoje está bem na foto, não é só por causa de um es-forço fiscal. A ampliação das receitas se deve muito mais ao aquecimento da economia do que a um plano de governo.” E o país segue mostrando um nível de endividamento alto. “Suas opções em manejo de política fiscal são um pouco mais limitadas do que as do

Chile, Peru e México”, ex-plica Smith.

O México, por outro lado, tem economizado, mas talvez não o suficiente. “Os governos que recebem grande parte de suas receitas através de em-presas estatais que dependem dos preços das commodities, como a PDVSA, Codelco, Pemex, vão sofrer uma forte diminuição de suas receitas, talvez em até 30%”, acredi-ta Price. “No México e na América Central, o nível de atividade depende em gran-de medida das exportações aos Estados Unidos, e isso vai custar caro na arreca-dação”, acrescenta Loser. Jiménez realça que o país norte-americano sofrerá por

todos os lados que uma crise poderia golpear: a economia real (exportações), as remes-sas, o sistema financeiro e o preço das commodities.

Além disso, o país elaborou um orçamento considerando o preço do barril de petróleo bruto em cerca de US$ 80, cifra levemente mais alta do que as projeções atuais. Em todo caso, o orçamento de 2009 é assegurando contra uma queda do petróleo com operações de cobertura em mercados financeiros. Isso permite suportar um orçamen-to razoavelmente maior: US$ 235 bilhões frente aos US$ 200 bilhões de 2008.

Não é hora de clamar vi-tória. O fato de que há três

meses os países estavam pensando em commodities caras e em combater a infla-ção é sinal de um período de incertezas.

Um fator chave será a duração e profundidade da crise. Se for extrema, até o Chile terá que sair ao mercado e buscar financiamento, que será caro e escasso. Seus anos de conservadorismo permiti-ram ganhar a confiança dos investidores. Mas as nações mais pobres não têm essa vantagem. “Hoje os mercados estão muito mais nervosos”, diz Loser. “E os países que necessitam endividar-se terão que pagar muito mais.” Para Jiménez, da Cepal, o melhor para as nações menos solven-tes é renunciar a uma política de gastos altos e apertar o cinto. “Costumamos reco-mendar uma política fiscal anticíclica, mas, para isso, temos que ter algo guardado”, relatou. “Por querer assegurar um nível de atividade neste mês, não podemos colocar em risco a solvência fiscal intertemporal.”

Contudo, excetuando-se as más notícias, o clichê de que os países estão mais bem preparados para enfrentar a atual conjuntura parece ser verdadeiro. Há 10 ou 15 anos nenhum país da região teria reservas. “Quando melho-raram as receitas, nos anos 2003, 2004 e 2005, o gasto público não aumentou na mesma proporção”, explica Jiménez. Além disso, os paí-ses estruturaram suas dívidas em prazos maiores, o que lhes permitirá, pelo menos, uma folga para manter o gasto sem ter que entrar em desgastantes rodadas de negociação com potenciais investidores.

Com Solange Monteiro,Santiago, e Antonio Delgado, em Miami

Além dos ornamentos fiscais, não são poucos os países da região que lançaram programas de contingência depois do começo da crise das hipotecas nos Estados Unidos. O denominador comum é garantir a liquidez

e assegurar o emprego e a atividade econômica.O México, por exemplo, lançou em outubro um plano para

combater a crise: o Programa para Impulsionar o Crescimento e o Emprego. O plano se traduz em usar recursos públicos em cerca de 1% do PIB, ampliando e remanejando o gasto público, agilizando o gasto em infra-estrutura, dando apoio às Pmes e simplificando os trâmites de comércio exterior.

O Brasil tem dado ênfase ao seu Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), cujos investimentos totais alcançarão os US$ 275 bilhões. Também lançou um pacote de medidas que inclui redução do imposto de renda – que implicará uma renúncia fiscal de R$ 4,9 bilhões – e do imposto sobre venda de automóveis.

O Uruguai anunciou nos primeiros dias de dezembro a devolução de impostos a exportadores, o que significará uma injeção de liquidez ao mercado de US$ 100 milhões. Além disso, o Estado entregará créditos especiais ao setor leiteiro e promoverá a participação de empresas privadas em obras de infra-estrutura, com a expectativa de investimentos de até US$ 1 bilhão.

O Chile, além das medidas para dar liquidez ao sistema financeiro, anunciou um programa de US$ 850 milhões para melhorar o acesso ao financiamento de exportadoras e pe-quenas empresas, e outro US$ 1,15 bilhão para estimular a compra de habitações por famílias de renda média, além de ampliar o acesso de pequenas e médias empresas a recur-sos financeiros. A Argentina, por sua vez, já anunciou que destinará parte das reservas para conceder empréstimos ao consumo e investimento.

Emergência, emergência!

DEBATES POLÍTICA FISCAL

Page 51: Nº 370 Edição Brasil

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 51

JOSEPH STIGLITZO senhor é um crítico da idéia de que o mercado é capaz de se auto-regular. Porém, é comum se ouvir que o Brasil e outros países estão mais bem-preparados que nunca para enfrentar a crise justamente porque seguiram os conselhos do FMI e do Banco Mundial e priva-tizaram grandes estatais. Não é paradoxal?Algumas coisas que eles recomendaram funcionaram e outras coisas que o Brasil fez contra os conselhos deles, também. Um exemplo. Para o FMI e o Banco Mundial, o Brasil não deveria ter o BN-DES ou qualquer dos bancos de desenvolvimento que agora são alternativas aos bancos especulativos. No fundo, o que tanto o Consenso de Wa-

shington quanto o consenso geral sempre disseram é que, se você gasta mais do que ganha, terá problemas. E, em anos recentes, o Brasil passou a viver de acordo com o que ganha. Foi capaz de aumen-tar seu superávit, construiu reservas sólidas. E foi o que o colocou em melhor posição. O País adotou políticas que eram coincidentes com as sugeridas pelo FMI. Mas porque algumas das sugestões que lhe foram dadas estavam certas.Como o senhor analisa as condi-ções e as chances brasileiras de aumentar sua influência e sua inserção econômica internacional durante a crise?O fato de a discussão ter co-meçado em uma reunião do G-20, que deveria ser uma

ORio de Janeiro recebeu em dezembro a visita de dois prêmios Nobel de Economia: Joseph Stiglitz e Edmund Phelps. Em entrevista a Dubes Sônego, editor de AméricaEconomia,

eles falaram sobre os acertos nas políticas macroeconômica e monetária que efetivamente fortaleceram a economia brasileira nos últimos anos, e apontaram oportunidades para o País em meio à crise. Entre as boas notícias, o Brasil pode ganhar peso no cenário político internacional.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVOreunião do G-8, em Washing-ton, deu ao Brasil uma voz que de outra maneira o País não teria. E houve considerável discussão na ocasião sobre a maior participação dos merca-dos emergentes. O importante para o Brasil e outros países em desenvolvimento, é ir além dos assuntos que serão obviamente discutidos: trans-parência, governança corpo-rativa, etc. Também deve ser dada ênfase às reformas em instituições internacionais; às assimetrias entre políticas típicas de mercados emergen-tes e países desenvolvidos, que possibilitaram esse fluxo perverso de capitais, e a um comprometimento com a cria-ção de novas instituições de crédito internacionais.

EDMUND PHELPSO senhor defende que políticas monetárias de curto prazo para controlar a infl ação levam a baixas taxas de infl ação no longo prazo. Há quem defenda no Brasil que talvez fosse melhor afrouxar um pouco a política monetária para crescer mais, mesmo com um pouco mais de infl ação. O senhor concorda?Essa forma de pensar faz al-gum sentido se você imaginar

que, em um ou dois anos, o nível de emprego crescerá fortemente suportado pela força da iniciativa privada. Poderia se dizer: vamos ter um pouco mais de inflação agora, para alavancar o em-prego, e depois lidamos com um eventual aumento das ex-pectativas de inflação. Porém, mais fortes, porque o nível de emprego estará melhor. Mas é uma aposta. Se o nível de emprego não crescer, você terá um duplo problema e estará mais fraco para lidar com ele. É um tipo de jogo muito perigoso. Não quero dizer que é sempre inapro-priado. Mas é arriscado. E se compreende que um Banco Central responsável, como o brasileiro, pense duas vezes antes de entrar nesse jogo.A América Latina será uma impor-tante parceira comercial para que os Estados Unidos atravessem essa crise?É apreciável o desenvolvi-mento de mercados latino-americanos como a Colômbia e o Brasil. É claro que qualquer pequena contribuição ajuda. Mas não acho que será fator-chave na recuperação dos EUA.

Joseph Stiglitz:Mais voz para o Brasil

Edmund Phelps:Prudência monetária

DEBATES ENTREVISTA

Page 52: Nº 370 Edição Brasil

Ilhas fi scais:Drible no leão

ATORMENTADOS PELO PARAÍSO

ROD

RIG

O D

ÍAZ

CARR

IZOB

em poderia ser o roteiro de um filme de espionagem internacional. Um bancário

em Liechtenstein roubou regis-tros de contas e vendeu um CD de informações à polícia alemã, iniciando uma perseguição

que explicitou a maior evasão tributária da história da Euro-pa; e, com furor, os líderes de mais de 40 países reclamaram o pagamento de impostos. O caso está tendo conseqüências muito reais para o pequeno

principado e para os chamados paraísos fiscais.

Além disso, a crise financei-ra impôs uma nova moda: a de buscar culpados. O vilão da vez são precisamente os paraísos tributários – países que prestam

Apesar de os países da OCDE reclamarem o pagamento de impostos, centros fi nanceiros offshore poderão ganhar com a criseSoledad Gómez, Santiago

serviços financeiros e cujas leis permitem evadir impostos em outras nações. Agora, todas as flechas apontam aos hedge funds e à trupe-fantasma que se valia de fundos inexistentes utilizando, entre outros truques, contratos de papel em centros financeiros offshore. Isso quer dizer que 2009 pode ser um ano difícil para estes pequenos esconderijos financeiros. Ou talvez o contrário. O fracasso do sistema financeiro dos países desenvolvidos, especialmente dos impenetráveis intercâmbios entre bancos europeus e norte-americanos, poderá aumentar o fluxo de recursos para esses paraísos. Na América Lati-na, tanto o Panamá quanto o Uruguai são constantemente saudados como centros de evasão tributária, embora ve-

52 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

DEBATES FINANÇAS

Page 53: Nº 370 Edição Brasil

nham tentando melhorar suas imagens.

Segundo Álvaro Calderón, funcionário de assuntos eco-nômicos da Cepal, os centros financeiros mais importantes na região são as Ilhas Cay-man, Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas e norte-americanas, “que permitem a realização de operações financeiras sem muito controle. Em algumas classificações aparece o Pa-namá, mas aí a definição é bastante ampliada”. De acordo com o especialista da Cepal, os montantes investidos nestes centros são quase impossí-veis de quantificar, ainda que vários esforços sejam feitos para avaliá-los. A estimativa mais elevada é a da Tax Jus-tice Network, que em 2005 estimou em US$ 11,5 trilhões os ativos offshore. Avaliação mais recente, do Oliver Wyman Group, coloca a cifra em US$ 8 trilhões.

Mas quanto dano isso gera à economia mundial e qual re-lação poderia haver entre estes trilhões e a crise financeira?

A Organização para Coo-peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem lu-tado durante anos contra os paraísos fiscais e, alertada pelo escândalo de Liechtenstein, declarou em outubro que os centros financeiros offshoresão um perigo à estabilidade econômica mundial. O orga-nismo conta com uma lista de 38 países que qualifica como paraísos fiscais, e já tentou convencê-los a compartilhar informações, segundo Pascal Saint-Amans, funcionário da Divisão de Cooperação e Po-lítica Fiscal da OCDE. Três foram classificados como não-cooperativos: Andorra, Mônaco e Liechtenstein. “A este grupo deve ser somado o Panamá, porque é um país que não compartilha nenhuma informação,” diz.

A classificação é considera-da um absurdo pelo advogado panamenho Eduardo Morgan Jr., presidente da Morgan y Morgan e ex-embaixador do Panamá nos EUA. “Não se pode impedir evasão tributá-ria, pois é uma competência fiscal. Da mesma forma que Hong Kong e Cingapura (que não estão incluídos na lista da OCDE), nós temos um imposto territorial.” O Panamá apenas registra as rendas produzidas no país, mas não registra as geradas internacionalmente. O advogado sustenta que a intenção da OCDE de tornar estes centros mais transparentes é uma resposta à competência que representam seus próprios sistemas bancários, agora de-bilitados pela crise. Contudo, Saint-Amans insiste que “não se pode continuar com o sigilo aos esquemas tributários, em tempos de turbulências finan-ceiras evidentes.”

Brasil e Argentina criticam o Uruguai pela evasão tributária de seus cidadãos através das Sociedades Anônimas Finan-ceiras de Investimento (Safi). Calderón, da Cepal, diz que o Uruguai tentou converter-se em um centro financeiro, mas fracassou por conta do tamanho de seu mercado. Gonzalo Hordeñana, sócio da CHT Auditores e Consultores, confirma que “as Safi apenas pagam um imposto ao patrimô-nio equivalente a 0,3% e suas ações são ao portador, sem a exigência de identificação do dono”.

Entretanto, Tabaré Vásquez já estragou a festa, impedindo a criação de novas Safi e dando até 2010 para que as existen-tes passem a ser companhias domésticas, que pagam 25% de imposto de renda e 1,5% de imposto patrimonial.

É preciso concordar que nem todos os centros financei-ros são definidos como paraísos

fiscais. Antes de abandonar as distinções entre centros onshore e offshore, em julho de 2008, o FMI descrevia os segundos como “países ou jurisdições que provêem serviços financeiros a não-residentes em uma escala desproporcional ao tamanho e financiamento de sua própria economia doméstica”. Em ou-tras palavras, países pequenos com grandes aspirações em serviços financeiros. O fato de milhares de não-residentes possuírem contas nos Estados Unidos, Suíça e outros países maiores, nunca foi tema de discussão. Embora inclua os centros financeiros offshoreno plano dos demais centros

financeiros, a declaração do FMI nada diz sobre temas tributários, frisando que “a globalização torna desneces-sárias as distinções entre estes centros”.

Além, disso, como salienta o advogado chileno Franco Brezovic, especialista em temas tributários, “temos que esclarecer o que são paraísos tributários e o que é segredo bancário, que podem ser temas diferentes”. Contudo, quando a OCDE tentou que todos os países de sua lista negra de 1998 adotassem uma regra e firmassem compromisso de compartilhar informações, muitos pediram que o mesmo fosse feito por suas contrapar-tes. A maior surpresa para a organização foi ver que tanto os EUA quanto a Suíça se negaram a fechar um acordo. Isso deixou claro, para alguns, como o advogado Morgan, que a distinção entre paraíso fiscal e centro financeiro legítimo não

é transparência, nem o regime tributário, e sim o tamanho. Não obstante, Saint-Amans declarou que muitos desses países têm consentido em participar do Programa de Cooperação Tri-butária da OCDE. O Panamá o fez em 2002, mas nunca mais voltou a negociar.

Quanto à possibilidade de os chamados paraísos fiscais terem algum papel na crise, Morgan é categórico: “é ina-ceitável que a OCDE agora trate de encobrir sua incom-petência colocando a culpa do colapso nos centros que chama de offshore”. Como a crise é oriunda de seus próprios ban-cos, especialmente nos EUA,

que não registra investimentos estrangeiros nem compartilha nenhuma informação fiscal – exceto com o Canadá –, estes países agora vêem os centros financeiros como ameaça. Segundo Morgan, a posição do FMI é “um golpe na luta contra o que a OCDE chama de paraísos fiscais”.

E já faz um ano que o então senador Barack Obama, hoje presidente eleito dos EUA, promoveu a Lei Para Deter o Abuso dos Paraísos Fiscais, cal-culando que os ativos offshore,especialmente os hedge funds,permitiam a evasão de mais de US$ 100 bilhões em impostos ao ano. Poucos apostam que ele combaterá esses centros financeiros, com todos os pro-blemas em sua agenda. Ainda que o mantra de sua campanha possa ter algum efeito: “sim, nós podemos”.

Com EduardoThomson, Santiago

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 53

Morgan: “diferença entre paraíso fiscal e centro fi-nanceiro é só o tamanho”

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54 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

DEBATES CUBA

Afogada em problemas:Ilha enfrenta três catástrofes

naturais e uma fi nanceira

A RESSACA DOS FURACÕESEnquanto Gustav, Ike e Paloma colocam à prova a sustentabilidade para Raúl Castro, a crise mundial chega à ilhaAntonio María Delgado, Miami

Há um ano, tudo parecia indicar que o governo cubano teria muito o que

comemorar no qüinquagési-mo aniversário da revolução. Imaginava-se que Fidel Castro continuaria de fora do poder diário, e também já tinham sido dissipadas as dúvidas sobre a capacidade de seu irmão Raúl de manter-se no comando. Além disso, as perspectivas econômicas eram promisso-ras: com os preços do níquel, produto de exportação da ilha, nas nuvens, o boom turístico

e o petróleo subsidiado por Hugo Chávez, as taxas de crescimento dispararam.

Tudo mudou devido a qua-tro furacões. Três oriundos de problemas climáticos, e um advindo do turbilhão financei-ro. Com danos que superam os US$ 10 bilhões, a passagem dos furacões Gustav, Ike e Paloma pela ilha em um intervalo de poucas semanas destroçou a já deficitária produção agrícola. Também causou extensos da-nos à infra-estrutura e deixou centenas de milhares de pessoas

desabrigadas. Paralelamente, o ciclone da recessão global abateu os preços do níquel (fonte de recursos), e ameaça afastar o fluxo turístico. Isso sem contar com os problemas previstos para Chávez.

Segundo Phil Peters, vi-ce-presidente do Lexington Institute, um think tank apar-tidário com sede em Wa-shington que acompanha de perto a economia cubana, “o impacto dos furacões na ilha foi devastador. Mais de 500 mil casas foram destruídas e

a produção de alimentos foi prejudicada de três formas”. Por um lado, com a própria destruição das colheitas. De outro, “as autoridades também perderam grande quantidade de produtos quando os armazéns em que elas estavam foram destruídos”. E, finalmente, um dado que se tende a esquecer, “foram perdidas as plantações, algumas das quais requerem vários anos de crescimento antes que comecem a dar fru-tos”, relembra Peters.

Devido a tudo isso, “há

AP

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A queda do preço internacional do petróleo ameaça cortar a entra-

da de recursos nos cofres venezue-lanos e sua assistência à ilha.

um verdadeiro problema de segurança no abastecimento de alimentos”, acrescentou. “Não estou dizendo que este-jam passando por uma situação de fome, mas agora possuem um problema que não tinham antes.”

NA FILAA escassez começou a ser sentida nas ruas imediatamente depois da passagem dos fura-cões. Até em Havana, cidade que não sofreu diretamente os golpes dos três fenômenos climáticos, as pessoas foram obrigadas a passar até seis horas em filas para conseguir alguma verdura.

“O tema dos alimentos toca fundo... as pessoas só per-guntam por comida”, relata a dissidente Yoani Sánchez, em seu célebre blog Generación Y,que escreve a partir da capital cubana apesar da censura do governo (ela foi proibida pelas autoridades de viajar para rece-ber o Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo na Espanha e o Bobs, da Deutsche Welle, na Alemanha).

Mas o pior está sendo visto nas províncias de Holguín e Piñar del Rio, que sofreram os golpes mais duros dos ciclones. “Há dois ou três lugares da ilha nos quais a situação está muito difícil”, comenta Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubano e Cubano-Americano. “Há milhares de casas sem teto, há gente sem água potável e que enfrenta sérias dificuldades para conse-guir alimentos”, afirma.

No restante do país, dá para conseguir alimento com mais facilidade. Mas o esta-do de escassez é detectado nos preços dos produtos no mercado negro, onde um ovo agora custa o equivalente a um terço do salário médio dos cubanos. Os problemas de abastecimento levaram as

autoridades a tentar combater a entrada de produtos neste mer-cado, e recentemente centenas de pessoas foram presas sob a acusação de vender produtos sem autorização.

O problema básico é que Cuba deve ser muito cuidadosa com sua conta em dólares. A destruição das colheitas deve impulsionar a importação de alimentos. Além disso, os preços do níquel, que – jun-tamente aos do cobalto – é uma das matérias-primas de exportação do país, caiu de US$ 50 mil a tonelada em 2007 para os atuais US$ 15 mil por tonelada.

Outro item restritivo é o impacto da crise nos Estados Unidos no envio de remessas. Acredita-se que a crise mun-dial repercutirá no envio de

dinheiro dos cubanos exilados, que atualmente alcança cifras entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões, por ano.

TURISTASBEM-VINDOSA segunda incógnita na equa-ção do financiamento está na atividade turística. Até o momento, o fluxo de visitantes na ilha se mantém estável. O governo de Havana informou recentemente que espera fechar o ano com um total de 2,34 milhões de visitas e superar os US$ 2,2 bilhões que obteve no ano passado como receita do setor.

A tendência, contudo, pode mudar em 2009. Espanha, Itália e Canadá, principais origens de turistas na ilha, enfrentam

fortes desacelerações e cresci-mento do desemprego.

FALTAM CASASUma queda na receita implica que o governo terá mais difi-culdades para reparar os danos causados pela passagem dos furacões. O número de casas destruídas agrava ainda mais o sério déficit habitacional que os cubanos enfrentam.

Pode tudo isso levar a um descontentamento aberto? “O governo sente que pode manter-se na dianteira sem maiores percalços. Está com-pletamente seguro que o povo não sairá às ruas. O aparato de segurança funciona. Não estão muito preocupados, porque não há grande perigo”, resume Suchlicki.

Peters, por sua vez, salien-

ta que essa estabilidade de receita do governo depende, em parte, da assistência que recebe de países amigos, como a Venezuela, cujos aportes em petróleo equivaleram a mais de US$ 3,2 bilhões este ano.

Sob esse ponto de vista, a diminuição dos preços do petróleo bruto ameaça cortar severamente a entrada de recursos nos cofres venezue-lanos, e ainda falta ver se o governo de Chávez continu-ará com a mesma disposição frente a Cuba. Mas, sob outro ponto de vista, o barril mais barato torna menos custosa a troca do insumo por serviços médicos.

Além disso, Cuba possui um velho amigo que agora é

seu “novo” amigo: a Rússia. “Os russos estão arrependidos de ter abandonado Cuba nos anos 1990 devido à evolução de sua relação com os Estados Unidos”, afirma uma fonte que acompanhou a visita de Dmitri Medvedev e prefere permanecer anônima.

Poucos dias antes, Igor Sechin, vice-premiê russo, concedeu um crédito de US$ 20 milhões a Cuba para inves-timentos em projetos petro-líferos (prospecção de águas profundas) e de níquel.

Contudo, a população tem motivos para reclamar. A es-cassez “tornou mais evidente as profundas diferenças sociais entre os que podem dispor de uma reserva alimentícia, tabelas e rádio a bateria, e aqueles que dependem exclu-

sivamente da gestão oficial”, denunciou a valente Sánchez em seu blog. “A voracidade por ter agora o que o amanhã não oferece fez com que os habitantes de um povoado de Piñar del Rio utilizassem foices para alcançar as cem telhas de amianto repartidas de um caminhão”, revelou, em um de seus textos.

É um pouco irônico que, em meio século de revolução, seja um presidente negro norte-americano, e não um líder negro cubano, a prin-cipal esperança de uma vida melhor para Cuba.

Em tal contexto, o fim do embargo comercial norte-americano seria um desafio benéfico para o regime da ilha.

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56 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

DEBATES AMÉRICA CENTRAL

REDESCOBRINDOO ISTMO

Cidade da Guatemala:Muitas mudanças em 25 anos

Nosso colunista percorre a América Central e nos adianta o que contará ao próximo governo dos EUA Abraham Lowenthal

Imagine se seu irmão gêmeo despertasse hoje de um coma de 25 anos e pedisse que

você contasse sobre as prin-cipais mudanças ocorridas na América Central. O que você responderia?

Minha última visita à região foi justamente há 25 anos. Passei pelo continente em diversas oportunidades, nos fins dos anos 1970 e durante o começo dos 1980, mas não

retornei nesse último quarto de século. Assim, voltar a pisar na região no final de 2008 foi quase como acordar de um coma.

Imediatamente após a eleição de Barack Obama e em meio à crise econômica internacional, viajei por três semanas a Guatemala, El Sal-vador, Nicarágua e Panamá, com o objetivo de avaliar como estes países mudaram com o

tempo. Meu objetivo foi pes-quisar para um livro intitulado “Repensando as relações entre Estados Unidos e América Latina” e, também, adquirir uma percepção mais imediata da situação atual destes paí-ses, para poder oferecer uma opinião ao próximo governo dos EUA.

A idéia principal que ficou foi: a região mudou muito e melhorou em diversas dimen-

sões nos últimos anos. Mas também há muitos desafios e problemas pendentes que podem ser agravados pela atual crise econômica. Vejamos.

A grande boa-nova para meu irmão gêmeo que saiu do coma é que Nicarágua e El Salvador estão em paz, enfrentando desafios políticos, mas sem uma guerra civil à vista. Há 20 anos, a Guate-mala ainda estava imersa em um cruel ciclo de insurgência rural e repressão genocida. Agora conseguiu várias tran-sações executivas pacíficas e a inauguração, em 2008, de um governo democrata de centro liderado por Alberto Colom, que busca fortalecer os pro-gramas sociais, aumentar os impostos e fortalecer o Estado. Tudo isso era francamente

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AFP

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 57

As gangues, como a “mara Salvatru-cha”, substituíram as guerrilhas co-mo fonte de medo em toda a região.

impensável há 20 anos. O Panamá, nesse período,

encontrava-se sob o poder do corrupto e repressivo Coronel Manuel Noriega; agora ele está preso, a imprensa panamenha é mais livre, suas eleições são competitivas e amplamente aceitas como legítimas.

No âmbito econômico e produtivo, as notícias também são excelentes. Guatemala, El Salvador e Nicarágua, em níveis distintos, diversificaram suas economias, deixando de depender excessivamente das exportações de café, açúcar, algodão e carne, para dar mais ênfase a produtos menos tra-dicionais (frutas, hortaliças, flores, produtos marítimos e frango). As montadoras e indústrias têxteis, de autope-ças e chips de computador, o turismo e o setor de serviços, incluindo call centers, tam-bém prosperaram. O Panamá, por sua vez, obteve êxito na reversão de posse do Canal, expandindo seu porto e insta-lações de maneira considerá-vel e desenvolvendo grandes centros de serviços bancários e legais. A construção está em pleno auge, o turismo se expande, e o país, estimula-do pela expansão do Canal, está experimentando níveis invejáveis de crescimento, com reduções significativas no número de pessoas que vivem na miséria e pobreza extrema.

Os quatro países se forta-leceram devido à expansão considerável de investimentos e ao comércio inter-regional, e pelo melhorado acesso ao mercado norte-americana através da DR-CAFTA (acor-do de livre comércio entre Estados Unidos e os países da América Central e República Dominicana, no Caribe). O grande fluxo imigratório, principalmente aos Estados Unidos, especialmente a partir

de El Salvador e Guatemala, aliviou a pressão sobre o emprego, forneceu um fluxo vital de remessas (que alcan-çam 18% do PIB no caso do primeiro país) e produziram importantes intercâmbios não-monetários, como de idéias, técnicas e aspirações.

Ainda considerando o ante-riormente dito, é certo que os muitos habitantes do continente que ainda são muito pobres e historicamente excluídos, incluindo os povos indígenas da Guatemala, permanecem substancialmente em des-vantagem. Mas já não são brutalmente silenciados, têm acesso a diversos canais para expressar suas necessidades e prioridades, e sua situação tem melhorado de forma lenta, po-rém segura. Os investimentos em educação foram expandidos significativamente e as estatís-ticas de alfabetização e anos

de escolaridade melhoraram bastante.

Esse panorama correria o risco de ser falsamente feliz, se não ressaltássemos o fato de que cada um desses países se mantém bastante dividido, não obstante, entre as classes privilegiadas e os setores majoritários da população, mergulhados em pobreza ou pobreza extrema. Ambas as categorias chegam a compor metade da população na Gua-temala e Nicarágua, mais de 30% em El Salvador e mais de 28% no Panamá, o mais rico dos quatro.

Apesar de a política e as comunicações terem se de-mocratizado, o acesso aos grandes ativos econômicos e à educação de qualidade segue extremamente restrito. Um crescimento econômico importante ocorreu desde 1990 no Panamá, El Salvador

e Guatemala, e desde 2000 também na Nicarágua, mas os benefícios do crescimento continuam sendo distribuídos de forma desigual nos quatro países. A elite guatemalteca possui mais helicópteros per capita do que qualquer outro país (admitindo o terreno montanhoso), mas os índices de desnutrição, ainda que te-nham melhorado, continuam entre os piores do mundo. O contraste entre as casas e estilos de vida dos ricos e dos pobres, tanto em áreas urbanas quanto rurais, é impactante.

Outra má notícia é a de que as instituições políticas em todos estes países perma-necem frágeis. Os presidentes e parlamentares são eleitos em sufrágios reconhecidos e aceitos como legítimos, mas rapidamente perdem a legiti-midade devido à corrupção e ineficiência. A confiança

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leia a versão completa desta análise emWWW.AMERICAECONOMIA.COM.BR

AFP

58 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

DEBATES AMÉRICA CENTRAL

A Nicarágua corre o risco de sucum-

bir ao autoritarismo.

pública na maioria dos pre-sidentes é baixa, e ainda mais baixa no caso do poder legislativo.

Isso parece muito ruim? Pois ainda tem mais. O siste-ma judiciário é amplamente reconhecido como corrupto, comprometido e incapaz de encontrar responsáveis ou vencer a impunidade.

Os partidos políticos são débeis, com a exceção de El Salvador, onde o conflito entre Arena e FMLN poderia polarizar o país novamente. As legendas são formadas e desaparecem com sur-preendente velocidade na Guatemala, e os partidos são meros veículos pessoais na Nicarágua. Em cada um destes países, existe algum perigo de reversão para go-vernos autoritários, com sinais mais evidentes na Nicarágua, especialmente na evidente manipulação governamental das eleições municipais em novembro para evitar o triunfo da oposição em Manágua e várias outras cidades.

Vinte e cinco anos depois de que ditaduras cruéis e guerras civis não menos duras levaram medo ao istmo, feliz-mente agora há menos temor de uma possível intervenção militar na política. Mas a angústia agora cobrou uma cara nova: a polícia deixou de ser efetiva; agora é inca-paz de prover os elementos básicos de segurança cidadã, sobretudo na Guatemala e em El Salvador. Assim como a imigração provê o benefí-cio das remessas com uma mão, com a outra a deporta-ção da juventude criminosa contribui ao crescimento de sanguinárias máfias juvenis conhecidas como maras, tanto em El Salvador quanto na Guatemala.

O crime violento, incluindo o homicídio, é alto em am-

bos os países e transpassou a barreira das gangues juvenis e cartéis do narcotráfico para uma ameaça onipresente por parte do crime organizado. Antes, “corria-se risco ao dizer algo desatinado ou pertencer ao partido político equivocado”, me disseram na Guatemala, “mas hoje se pode morrer simplesmente por estar do lado errado da rua no momento errado”.

O resultado? As pesquisas de opinião ao longo da região, inclusive no Panamá, mos-tram que os cidadãos estão preocupados com o crime e a impunidade. Em El Salva-dor e Guatemala, há muito mais seguranças privados que policiais.

A Nicarágua parece ser o menos afetado por esse temor,

em parte porque o país, assis-tido pela milícia sandinista, desenvolveu forças militares e policiais profissionais que ainda funcionam bem. No Panamá, ainda que a opinião pública esteja preocupada com o crime e o narcotráfi-co, também existe o medo de que algumas medidas sejam tomadas para combatê-los possam se transformar em objeto de abuso.

O último, mas não menos importante, é que o papel dos EUA nestes países mudou dra-maticamente desde o intenso intervencionismo dos anos 1980. Washington segue tendo influência importante neles, mas de maneira mais difusa. A época em que o presidente Ronald Regan poderia declarar irrefutavelmente que os EUA

tinham interesse vital de se-gurança nacional na política interna centro-americana já é passado.

Mas os vínculos de inter-dependência, reforçados pela proximidade e o legado, fazem com que a América Central seja importante para os EUA. Não seria muito difícil para a nova administração de Oba-ma voltar a ter um impacto positivo na região. Como? Com medidas. Algumas sim-ples. Estendendo o status de proteção tempoária para os imigrantes salvadorenhos, por exemplo. E outras mais trabalhosas: impulsionar uma reforma migratória e levar adiante o tratado de livre comércio com o Panamá no Congresso.

Não menos importante seria o efeito de trabalhar próximo às agências de co-operação internacional para melhorar o desenvolvimento econômico e a assistência em casos de desastres naturais. E, essencial, ajudar a enfrentar a pobreza extrema como par-te de um programa sólido e permanente de nível mundial. Seriam investimentos modes-tos frente ao gigantismo dos desafios em outras regiões do planeta, mas positivos em uma comunidade de nações que de tempos em tempos, para o bem ou para o mal, reaparece na agenda da política exterior norte-americana.

Abraham Lowenthal,professor de Relações Inter-nacionais da Universidade de Southern California, pre-sidente emérito e pesquisador sênior do Pacific Council on International Policy e pesqui-sador sênior não-residente do Brookings Institution.

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 59

DEBATES 5a COLUNA

Diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami

Susan Kaufman Purcell

O fortaleci-mento do caudilhismo como resul-tado da crise financeira não é uma conclu-são inelutável

ESTÁ CLARO QUE a América Latina não poderá se isolar por completo da crise fi nanceira mundial. O Fundo Monetá-rio Internacional agora prevê que o crescimento econômico na região será de apenas 2,5% em 2009, em comparação com a projeção anterior de 3,2%. Os países que dependem mais da exportação de commodities serão os que sofrerão as maiores quedas no crescimento, com a Venezuela liderando a lista. Aqueles países com exportações mais diversifi cadas, como Brasil e México, verão menores baixas. Não há um consenso, contudo, quanto à duração da crise. Os otimistas crêem que o pior terá passado no fi nal de 2009, enquanto os pessimistas acreditam que se estenderá até 2010 e mais à frente.

Se já é difícil prever o impacto econômico que a crise terá na América Latina, será mais difícil antever os impactos que terá na arena política. Há algumas décadas, o cientista político Ted Gurr escreveu um livro chamado “Por que a gente se rebela”. Nele, dizia que as rebeliões surgem nor-malmente quando os períodos de crescimento e de oportuni-dade são revertidos subitamente. Se bem que seu argumento é mais uma hipótese do que uma regra se nos perguntarmos sobre a futura estabilidade política na América Latina.

Por exemplo, a recente alta nos preços das matérias-primas levou a uma aceleração no crescimento econômico e a uma melhora nos padrões de vida, que permitiu a muita gente subir ao status de classe média ou pelo menos sonhar com isso. A América Latina também se caracteriza por uma enorme desigualdade na distribuição de renda. E, onde a tec-nologia permitiu, líderes populistas moveram suas massas em protestos contra seus respectivos governos. A existência de enormes grupos não integrados à economia nacional ou ao sistema político, como alguns grupos indígenas, aumen-ta o potencial de mobilização destas forças. Esse potencial também é aumentado pela ausência de sistemas de apoio social que permitam mitigar os golpes de uma súbita baixa nos níveis de vida.

Entretanto, nem todos os países da América Latina estão igualmente expostos à instabilidade política. Os menos vul-neráveis possuem sistemas políticos bem institucionalizados

Capitalismo doSéculo 21

e responsáveis que não dependem de um só indivíduo para sua estabilidade. Também diversifi caram suas exportações, possuem enormes reservas em moeda estrangeira e baixos níveis de dívida externa. E um ou dois que adotaram políti-cas fi scais anticíclicas e que reservaram parte de suas novas riquezas para os períodos de vacas magras.

Para estes países, a crise representa uma oportunidade de reduzir possibilidades de maior instabilidade política no futuro, por meio da implantação de reformas que fortaleçam suas instituições políticas, elevem a produtividade e compe-titividade de suas economias e ofereçam oportunidades para os mais pobres. Exemplos destas reformas incluem investi-mentos em educação e infra-estrutura como rodovias, portos e tecnologia da informação, que por sua vez promovem em-pregos e geram maior crescimento econômico do que sim-plesmente entregar dinheiro à população. Os investimentos que melhorarem os níveis de segurança, reduzindo o crime e a corrupção, fortalecem tanto as instituições políticas como o potencial econômico do país.

A crise fi nanceira mundial também representa uma opor-tunidade para que aqueles países afetados por caudilhos populis-tas mudem de rumo. O populis-mo sem recursos abundantes pa-ra distribuir é difícil de manter. Há duas óbvias alternativas para esta problemática situação. Uma é manter a estabilidade por meio de métodos cada vez mais au-toritários de governo. A outra é implantar políticas economica-mente sustentáveis e produtivas. A recente conduta dos caudilhos populistas na região mostra que a primeira opção é mais prová-vel que a segunda.

Mas o fortalecimento dos caudilhos populistas como resultado da crise fi nanceira mundial não é uma conclusão inelutável. Muito dependerá da conduta dos grupos de opo-sição democráticos e de sua capacidade de oferecer uma alternativa econômica atrativa ao populismo autoritário. As recentes eleições na Venezuela mostram que isso pode acontecer se os movimentos de oposição trabalharem juntos e se unirem sob uma bandeira de um candidato único em eleições de qualquer nível de governo. Também, o que se requer é uma alternativa econômica ao populismo – o que o analista político venezuelano Aníbal Romero chama de um programa de modernização capitalista. Isso vai demandar a reestruturação do atual sistema capitalista da América La-tina, que só serve para perpetuar uma estrutura social e de distribuição de renda totalmente desigual, a um capitalismo que é mais produtivo e efi ciente e que conceda emprego, renda e oportunidades de progresso a percentuais maiores da população. É uma meta difícil, mas, já que cada crise apresenta novas oportunidades, não é impossível.

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SOCIAL

CONFERÊNCIAS E-LAB NA AMÉRICA LATINA

Visa e AméricaEconomia novamente uniram forças para pesquisar sobre o auge e as perspectivas de crescimento do comércio eletrônico, através da realização do segundo estudo “Situação e Tendências em Comércio Eletrônico” na América Latina e no Caribe. A partir dos dados e tendências do estudo, estabele-ceu-se um diálogo multifuncional que incorporou os principais atores do mercado na série de conferências “As Oportunidades do Comércio Eletrônico na América Latina”, realizadas nas cidades cidades de Lima, Buenos Aires, São Paulo e Cidade do México.São Paulo.

Guillermo Rospigliosi, diretor executivo novos canais da Visa para América Latina e o Caribe, apresenta-se na reunião realizada Lima.

Nils Strandberg, presidente de AméricaEconomia; Jaime Mourao, de Lan.com; Mario Giuffra, gerente geral da Promotik; Víctor Alarcón Ramírez, professor da Centrum Católica; Javier Draxl, diretor da Go2Peru; Juan Francisco Rosas, gerente geral de www.peru.com / www.iquiero.com, e Guillermo Rospigliosi, vice-presidente adjunto de comércio eletrônico e novos canais da Visa para América Latina e o Caribe.

Graciela Schvartzman, gerente comercial da Visa Argentina, expõe na conferência realizada na Argentina.

José María Ayuso, diretor geral produtos da Visa América Latina.

Nils Strandberg, presidente AméricaEconomía.Panorâmica da platéia durante o evento.

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Eduardo Coello, diretor geral da Visa México.

Jaime Mourao, da Lan.com; Mario Guiffa, gerente geral da Promotik; Víctor Alarcón Ramirez, professor da Centrum Católica; Javier Draxl, diretor da Go2Peru; e Juan Francisco Rosas, gerente geral da www.peru.com / www.iquiero.com.

Raúl Diez-Canseco, fundador e presidente do Conselho da Universidade San Ignacio de Loyola, expõe no evento realizado em Lima.

Alguns dos painelistas, no final da conferência na Cidade do México. Os expositores, no final do evento na Cidade do México.

Alguns dos palestrantes da Conferência realizada em São Paulo.

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NEGÓCIOS 2008

62 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

ESPECIAL

Hoje Wall Street pode parecer uma cidade fantasma. Os grandes ban-cos de investimento estão mais

preocupados em anunciar demissões do que estruturar novos negócios de fusões ou aquisições. Alguns órgãos de imprensa afi rmam que a atividade de M&A (acrôni-mo em inglês para fusões e aquisições) se contraiu mais de 20% em 2008 nos Estados Unidos em relação ao ano anterior, e que 2009 tampouco será auspicioso.

A queda nos Estados Unidos faria qualquer um pensar que o panorama é o mesmo em todos os cantos do planeta, incluindo na lista a América Latina. Mas não é. De fato, a região registrou um leve aumento no número e no volume de transações na região, segundo dados do serviço de informação sobre fusões e aquisições DealWatch.

O volume de operações na América Latina subiu de US$ 115,2 bilhões em 2007 a US$ 116,9 bilhões até 4 de outu-bro deste ano. O Brasil registrou a maior expansão no número e em volume de operações ao longo do período. Cresceu de 417 transações avaliadas em US$ 41,3 bilhões em 2007 para 562 operações, que correspondem a um valor total de US$ 61,4 bilhões em 2008.

Devido a isso, não é de se surpreender que vários banqueiros de investimento e administradores de fundos que atuam na região consultados demonstrem otimismo frente às perspectivas para 2009.

Por exemplo, para o setor de private equity, o panorama se apresenta positivo, garante o presidente da administradora de fundos Wamex México, Ernesto Warnholtz.

“ainda que soe um pouco estranho, a crise pode nos benefi ciar, porque certamente o crédito será reduzido, os juros subirão e, por outro lado, existirão oportunidades de compra porque existirão empresas em difi culdades. Então, fundos de capital privado como o nosso, com os recursos que têm, poderão entrar no lugar dos ban-cos e dos empréstimos com participação acionária”.

Entre os países mais atraentes, o Bra-sil permanece na dianteira. “Vemos que nos últimos anos a economia brasileira tem demonstrado mais dinamismo que a

mexicana, e isso continuará no próximo ano”, comenta Diego Serebrisky, managing director da administradora de fundos pri-vados Advent International México.

No caso do Chile, a recente queda no valor do peso poderia motivar novos ato-res estrangeiros a voltarem seus olhos ao país. “O peso desvalorizado em mais de 30% favoreceria a entrada de fundos de private equity regionais e internacionais. Durante 2008, devido à fortaleza do peso, a entrada no Chile não era sufi cientemente atraente”, diz Marcelo Ratafi á, da área de fusões e aquisições da Pricewaterhouse-Coopers no Chile.

Colômbia e Peru têm registrado taxas de crescimento muito altas nos últimos anos, o que os torna países atraentes. “Se tentássemos comparar a América Latina com a Ásia, poderíamos dizer que o Brasil é a China, e que a Colômbia é o Vietnam”, diz Héctor Cateriano, diretor geral do Fondo Transandino Colombia.

Cateriano explica que a Colômbia poderia ser a terceira economia capaz de desenvolver um potencial para futuras transações de fundos de capital privado na região, depois do México e do Brasil, devido a seu mercado interno de 45 mil-

hões de pessoas, à recente formação de uma classe média com acesso ao crédito e o avanço dos processos de paz.

Menos alentadora é a opinião de Manuel Solanet, sócio do banco de investimento argentino Infupa, que garante que em seu país o anúncio de estatização das AFPs foi o tiro de misericórdia para esfriar totalmente o ânimo dos investidores. “Mundialmente, supomos que os mercados vão se tranqüi-lizar pouco a pouco. Com isso, o crédito e os investimentos voltarão lentamente. No âmbito local, não prevemos que haja novas notícias que estimulem o investimento”, afi rma Solanet.

Atividade subterrâneaCom tantas notícias sobre a crise econômica mundial, surpreende saber que a atividade de fusões e aquisições na América Latina continuou crescendo. E, para 2009, há quem ainda veja mais oportunidades tentadoras. Karen Hernández e Eduardo Thomson, Santiago, Lisia González, Cidade do México

O Brasil continuará sendo um dos países mais atraentes para fusões e aquisições. Já a recente desvalorização do peso poderia motivar novos atores estrangeiros a focar-se no Chile. Colômbia e Peru registraram atraentes taxas de crescimento.

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NEGÓCIOS 2008

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA63

ESPECIAL

DATA: 3 de novembroATIVO: Itaú e UnibancoVALOR: US$ 12,2 BILHÕESPAÍS: Brasil

Itaú e Unibanco, dois dos principais ban-cos do Brasil, anunciaram sua fusão, que criará uma das dez maiores instituições fi nanceiras do mundo, com US$ 265 bilhões em montante de ativos. A ope-ração, que ainda depende da aprovação do Banco Central, cria uma instituição fi nanceira com capital acionário de US$ 23,6 bilhões.

DATA: 25 de abrilATIVO: Brasil TelecomVALOR: US$ 3,51 BILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Oi

Depois de meses de árduas negociações, a Oi chegou a um acordo para comprar 22,3% da Brasil Telecom Participações, controladora da Brasil Telecom. A opera-ção, entretanto, somente se concretizará depois da aprovação do governo, apesar de a lei atualmente proibir que uma com-panhia brasileira de telecomunicações compre outra.

DATA: 17 de janeiroATIVO: IronXVALOR: US$ 3,5 BILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Anglo-American

A companhia britânica Anglo-American acordou comprar 63,3% da IronX, em-presa conformada por ativos de ferro do grupo MMX, do empresário Eike Batista. A IronX tem uma participação de 50% no projeto Minas-Rio e de 70% no Amapá.

DATA: 12 de junhoATIVO: OGX Petróleo e GásVALOR: US$ 3,41 BILHÕESPAÍS: Brasil

OGX Petróleo e Gás, do empresário Eike Batista, realizou a maior saída à bolsa da história do Brasil ao colocar 15,3% da empresa no mercado.

DATA: 17 de outubroATIVO: NamisaVALOR: US$ 3,21 BILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Itochu, Nippon Steel, JFE Steel, Posco, Sumitomo, Kobe

Steel y Nisshin Steel.Um consórcio japonês acordou comprar 40% da Nacional Minerios S.A. (Namisa), fi lial da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A empresa produz aproximada-mente 20 milhões de toneladas de ferro ao ano.

DATA: 26 de maioATIVO: Grupo Financiero In-bursaVALOR: US$ 2,45 BILHÕESPAÍS: MéxicoCOMPRADOR: La Caixa

O banco espanhol La Caixa comprou 20% de grupo fi nanceiro mexicano In-bursa. Esse, por sua vez, continuará sendo controlado pelo empresário mexicano Carlos Slim.

DATA: 20 de novembroATIVO: Banco Nossa CaixaVALOR: US$2,28 BILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Banco do Brasil

A instituição fi nanceira estatal Banco do Brasil anunciou a compra de 71,3% do Banco Nossa Caixa, que estava em mãos do estado de São Paulo. Com a operação, o Banco do Brasil se conver-terá no segundo maior banco do país em termos de ativos.

DATA: 4 de marçoATIVO: Campos de petróleo em

alto marVALOR: US$ 2,1 BILHÕESPAÍS: Brasil e EUACOMPRADOR: StatoilHydro

A petrolífera norte-americana Anadarko Petroleum decidiu vender 50% do campo petrolífero Peregrino, na Bacia de Cam-pos, e 25% do campo Kaskida, no Golfo do México. Peregrino prevê produzir 500 milhões de barris logo a partir do início de sua operação em 2010, enquanto Kaskida concentra um importante campo de hidrocarbonetos.

DATA: 9 de maioATIVO: FresnilloVALOR: US$ 1,77 BILHÃOPAÍS: México

O grupo mexicano Peñoles completou a saída à bolsa, colocando 22,7% de sua recentemente separada fi lial Fresnillo na Bolsa de Londres. Peñoles é o maior produtor de prata do mundo e o segundo produtor de ouro no México.

DATA: 6 de agostoATIVO: Aracruz CeluloseVALOR: US$ 1,71 BILHÃOPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Votorantim Celulose e Papel

A brasileira Votorantim Celulose e Papel (VCP) concluiu a compra de 12,4% da Aracruz Celulose. Com isso, aumentou sua participação no maior produtor mun-dial de polpa branqueada de eucalipto para 56%.

DATA: 6 de marçoATIVO: ArcelorMittal Inox Bra-silVALOR: US$ 1,66 BILHÃOPAÍS: BrasilCOMPRADOR: ArcelorMittal

O grupo ArcelorMittal apresentou uma oferta por 40,3% das ações que não pos-suía em sua fi lial brasileira e assim tirar esses papéis do mercado. A unidade, única produtora integrada de aço inoxidável e de aço silicone da América Latina, controla 90% do mercado brasileiro.

DATA: 2 de agostoATIVO: SidorVALOR: US$ 1,65 BILHÃOPAÍS: Venezuela

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1 Roberto Setúbal, presidente do Itaú: banco de US$ 23,6 bilhões

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NEGÓCIOS 2008

64 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

ESPECIAL

COMPRADOR: Governo da VenezuelaDepois de meses de negociações infru-tíferas, o governo venezuelano acordou comprar 60% da Sidor da argentina Te-chint. A holding argentina fi ca com uma participação de 10% na Sidor, sufi ciente para ganhar um posto no conselho e garan-tir o fornecimento de insumos para suas duas outras empresas na Venezuela.

DATA: 5 de maioATIVO: Grupo BertinVALOR: US$ 1,5 BILHÃOPAÍS: BrasilCOMPRADOR: BNDES

Através de uma injeção de capital, o BNDES negociou a compra de 27,5% das ações do grupo industrial Bertin. A holding, que opera várias companhias em diversos segmentos no Brasil, teria recebido previamente mais de US$ 600 milhões do banco.

DATA: 12 de fevereiroATIVO: Seguros INGVALOR: US$ 1,5 BILHÃOPAÍS: MéxicoCOMPRADOR: AXA Group

O grupo holandês ING acordou vender sua operação mexicana de seguros gerais ao grupo francês AXA para focar-se em pensões e rendas vitalícias no México.

DATA: 5 de marçoATIVO: Banco BradescoVALOR: US$ 1,36 BILHÃOPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Controladores do Bradesco

O grupo espanhol BBVA negociou a ven-da de sua participação de 5% no banco brasileiro Bradesco para assim focar-se no lançamento de sua própria plataforma de operações no país.

DATA: 24 de abrilATIVO: Projetos de mineração no Norte do ChileVALOR: US$ 1,31 BILHÃOPAÍS: ChileCOMPRADOR: Marubeni Corpo-ration

A chilena Antofagasta Minerals negociou a venda de 30% dos projetos de cobre Esperanza e El Tesoro ao grupo japonês. O acordo ainda inclui o compromisso de Marubeni de aportar fundos adicio-

nais para o desenvolvimento do projeto Esperanza.

DATA: 6 de agostoATIVO: Banco de VenezuelaVALOR: US$ 1,2 BILHÃOPAÍS: VenezuelaCOMPRADOR: Governo da Vene-zuela

O governo venezuelano anunciou a nacio-nalização do Banco de Venezuela depois que soube da intenção do controlador, o grupo espanhol Santander, de vendê-lo a um empresário local. O banco é um dos maiores do país, com 285 sucursais e 3 milhões de clientes.

DATA: 31 de janeiroATIVO: SincorVALOR: US$1,1 BILHÃOPAÍS: VenezuelaCOMPRADOR: Governo da Vene-zuela

O governo venezuelano negociou pagar à francesa Total e à norueguesa Statoi-lHydro US$ 1,1 bilhão pela redução de suas participações no projeto petrolífero Sincor.

DATA: 15 de maioATIVO: LLX LogísticaVALOR: US$ 1,05 BILHÃOPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Desconhecido

O EBX Group, do empresário brasileiro

Eike Batista, anunciou a venda de 30% de sua fi lial de logística a um sócio estra-tégico não-revelado. A LLX administra três projetos de construção de portos no Brasil, avaliados em US$ 3,5 bilhões.

DATA: 18 de janeiroATIVO: Três mineradoras de ferroVALOR: US$ 925 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Usiminas

A siderúrgica brasileira Usiminas adqui-riu três empresas de minério de ferro: J. Mendes, Somisa Siderúrgica Oeste de Minas e Global Mineração. Com ven-das de US$ 10,4 bilhões, a Usiminas é um dos maiores produtores de aço da América Latina.

DATA: 4 de abrilATIVO: Cemex VenezuelaVALOR: US$ 920 MILHÕESPAÍS: VenezuelaCOMPRADOR: Governo da Vene-zuela

O governo venezuelano decidiu nacio-nalizar a fi lial da companhia mexicana de cimentos Cemex, depois de fracassar nas negociações com a empresa para fi -xar um preço de compra pela operação. A Cemex Venezuela controlava quase 50% do mercado local.

DATA: 17 de marçoATIVO: Campo de petróleo Ca-racaraVALOR: US$ 920 MILHÕESPAÍS: ColômbiaCOMPRADOR: Cepsa

A colombiana Hupecol aceitou vender o controle do campo de petróleo Caracara à espanhola Cepsa. O acordo envolve uma área de operações de mais de 94 mil hectares.

DATA: 17 de fevereiroATIVO: Empresas de eletrici-dadeVALOR: US$ 887 MILHÕESPAÍS: ChileCOMPRADOR: Morgan Stanley In-frastructure y Ontario Teachers’ Pension Plan (OTPP)

A norte-americana PSEG decidiu sair do Chile e vender suas empresas Saesa, Frontel e Edelaysen, entre outras.

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11 Lakshmi Mittal: novos ativos no Brasil

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NEGÓCIOS 2008

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA65

ESPECIAL

DATA: 22 de fevereiroATIVO: Corporación Aceros DM e Procesadora Industrial SANVALOR: US$ 850 MILHÕESPAÍS: MéxicoCOMPRADOR: Grupo Simec

O Grupo Simec do México, fi lial da In-dustrias CH, anunciou a compra de outras duas siderúrgicas mexicanas (Corporación Aceros DM, SA de CV e Procesadora In-dustrial SAN, SA de CV) para fortalecer sua posição no mercado local.

DATA: 26 de novembroATIVO: Unibanco AIGVALOR: US$ 820 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Unibanco

O banco brasileiro Unibanco anunciou a compra das ações que a seguradora norte-americana AIG possuía na empresa de seguros brasileira Unibanco AIG, dona de 8% do mercado local de seguros e pensões.

DATA: 26 de maioATIVO: UsiminasVALOR: US$ 819 MILHÕESPAÍS: Brasil

A mineradora Vale anunciou a intenção de vender sua participação de 2,9% na empresa siderúrgica e distribuidora de aço Usiminas no mercado aberto.

DATA: 15 de agostoATIVO: PetrobrasVALOR: US$ 811 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Soros Fund Mana-gement

O fundo comandado pelo investidor húngaro-norte-americano George Soros anunciou a compra de uma participação indeterminada, por US$ 811 milhões, na petrolífera brasileira.

DATA: 20 de agostoATIVO: London Mining BrasilVALOR: US$ 810 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: ArcelorMittal

A siderúrgica ArcelorMittal anunciou a compra da London Mining Brasil, produtora de ferro no estado de Minas Gerais.

DATA: 26 de maioATIVO: Aços VillaresVALOR: US$ 793 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Gerdau

O grupo siderúrgico Gerdau divulga a compra de uma participação de 28,9% na Aços Villares que estava nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). A Sidenor Internacional também possui participação na empresa, com 58,4% do capital acionário.

DATA: 17 de junhoATIVO: Chevron TexacoVALOR: US$ 726 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Grupo Ultra

O grupo petroquímico brasileiro Ultra entrou no mercado de distribuição de combustíveis através da compra da operação local da Chevron Texaco. A unidade (Chevron Brasil Ltda - Texaco) distribui combustíveis e lubrifi cantes e participa em trabalhos de exploração no país sul-americano.

DATA: 26 de marçoATIVO: BM&FVALOR: US$ 717 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Bovespa

Este ano se concretizou a esperada fusão das bolsas Bovespa e BM&F, dando sur-

gimento a um gigante regional e global em mercado de valores. A nova com-panhia, chamada temporariamente de Nova Bolsa, terá ações inscritas dentro do segmento Novo Mercado, que exige uma maior transparência por parte da companhia.

DATA: 24 de abrilATIVO: Esso Brasileira de Pe-tróleoVALOR: US$ 715 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Cosan

A fabricante brasileira de açúcar e etanol Cosan entrou na distribuição de combus-tíveis ao comprar os postos de gasolina da ExxonMobil no Brasil. A Esso Brasileira conta com 1,5 mil postos em 60 estados brasileiros, convertendo-se dessa forma no quinto maior varejista de combustí-veis do país.

DATA: 24 de dezembro de 2007ATIVO: PropilcoVALOR: US$ 690 MILHÕESPAÍS: ColômbiaCOMPRADOR: Ecopetrol

A petrolífera estatal colombiana Eco-petrol comprou a empresa produtora de petroquímicos Propilco dos grupos locais Valorem e Sanford. A Propilco é a pro-dutora de polipropileno mais importante da região andina e do Caribe.

DATA: 28 de julhoATIVO: Solana Petroleum Explo-ration ColombiaVALOR: US$ 583 MILHÕESPAÍS: ColômbiaCOMPRADOR: Gran Tierra Ener-gy

As petrolíferas canadenses Gran Tierra Energy e Solana Petroleum, com operações principalmente na Colômbia, decidiram fundir-se. A nova companhia estaria em condições de produzir 15 mil barris diários de petróleo, pois contaria com reservas de uso de 18,4 milhões de barris.

DATA: 30 de junhoATIVO: Invin S.L.VALOR: US$ 582 MILHÕESPAÍS: ChileCOMPRADOR: Abertis, Santander

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24 Michael Tilmant, CEO da ING: mais pensões e menos seguros

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NEGÓCIOS 2008

66 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

ESPECIAL

Infrastructure FundAbertis e Santander anunciaram que comprarão a parte que não tinham da operadora de estradas Invin no Chile das mãos da também espanhola ACS. A Invin detém uma participação de 48% na Sociedad Concesionaria Autopista Cen-tral e é dona de 50% das ações Sociedad Concesionaria Rutas del Pacífi co.

DATA: 5 de marçoATIVO: Smithfi eld BeefVALOR: US$ 565 MILHÕESPAÍS: EUACOMPRADOR: JBS

O grupo brasileiro de produtos alimen-tícios JBS comprou a empresa de carnes Smithfi eld Beef. A companhia norte-americana, que conta com quatro mata-douros e uma companhia de transporte, processa anualmente 680 mil toneladas de carne.

DATA: 5 de marçoATIVO: National Beef Packa-gingVALOR: US$ 560 MILHÕESPAÍS: EUACOMPRADOR: JBS

No mesmo dia que anunciou a compra da Smithfi eld, a JBS também divulgou a aquisição de processadora de carnes norte-americana National Beef. A empre-sa adquirida conta com três matadouros, duas plantas de processamento e uma companhia de transporte.

DATA: 6 de fevereiroATIVO: Autopistas del Aconcagua e ItataVALOR: US$ 553 MILHÕESPAÍS: ChileCOMPRADOR: FCC e Caja Madrid

O banco mexicano Bancomext leiloou sua participação em duas auto-estradas chilenas, Aconcagua (SCADA) e Itata (SCADI), a um consórcio espanhol con-formado por FCC e Caja Madrid. SCADA é uma auto-estrada de 218 km que forma parte da Carretera Panamericana. Já a SCADI tem 81 km.

DATA: 18 de junhoATIVO: Holcim C.A.VALOR: US$ 552 MILHÕESPAÍS: VenezuelaCOMPRADOR: Governo da Vene-

zuelaO governo venezuelano concluiu a na-cionalização da fi lial local da companhia suíça Holcim Cement, que reterá 15% de participação.

DATA: 23 de junhoATIVO: ativos da OSI Group VALOR: US$ 550 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Marfrig

A empresa brasileira de carne bovina Marfrig comprou as operações no Brasil e em vários países da Europa da norte-americana OSI Group. O acordo envolve a aquisição de seis companhias, três delas no Brasil e outras três na Europa.

DATA: 12 de fevereiroATIVO: BorcoVALOR: US$ 550 MILHÕESPAÍS: BahamasCOMPRADOR: Royal Vopak e First Reserve Corp.

A petrolífera estatal venezuelana PDVSA completou a venda do terminal Bahamas Oil Refi ning Company, ou Borco, a um consórcio formado pela Royal Vopak e a First Reserve Corporation.

DATA: 4 de janeiroATIVO: InvinVALOR: US$ 545 MILHÕESPAÍS: Chile

COMPRADOR: AbertisA espanhola ACS chegou a um acordo para vender 49% da chilena Invin, ope-radora de estradas, à Abertis, que depois decidiu comprar os 51% restantes.

DATA: 1 de junhoATIVO: FarmasaVALOR: US$ 537 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Hypermarcas

A empresa de capital privado GP Inves-timentos e a família Samaja negociaram a venda do laboratório Farmasa à Hyper-marcas. Com a operação, a Hypermarcas obtém o controle de todas as ações da Farmasa e registrará um aumento de US$ 300 milhões em suas vendas.

DATA: 24 de abrilATIVO: imobiliários, na Cidade do MéxicoVALOR: US$ 520 MILHÕESPAÍS: MéxicoCOMPRADOR: BBVA

O banco espanhol BBVA completou a maior transação imobiliária da história do México ao vender seu edifício Ban-comer e comprar duas propriedades para construir seus escritórios.

DATA: 22 de julhoATIVO: Amnet Telecommunica-tionsVALOR: US$ 510 MILHÕESPAÍS: Países centro-americanosCOMPRADOR: Millicom

A sueca Millicom chegou a um acordo para comprar a empresa de telecomuni-cações Amnet, que oferece serviços de TV a cabo na Costa Rica, em Honduras e El Salvador. A empresa também ofer-ta serviços telefônicos na Guatemala e Nicarágua.

DATA: 17 de dezembro de 2007ATIVO: Supermercados WongVALOR: US$ 500 MILHÕESPAÍS: PeruCOMPRADOR: Cencosud

A família peruana Wong decidiu vender a principal rede de supermercados do Peru por US$ 500 milhões mais participação acionária na chilena Cencosud. Com a operação, a família se converte em um dos três principais acionistas da rede e ganha um posto no Conselho.

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44 Francisco González, do BBVA: mudança de casa no México

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NEGÓCIOS 2008ESPECIAL

DATA: 31 de julhoATIVO: Operações da Cemex na Áustria e HungriaVALOR: US$ 485 MILHÕESPAÍS: MéxicoCOMPRADOR: Strabag SE

A fabricante de cimento austríaca Strabag SE comprou as operações da Cemex no meio do ano. A mexicana prevê usar o dinheiro arrecadado na operação para reduzir sua dívida de US$ 19,7 bilhões.

DATA: 22 de setembroATIVO: Mamore Mineração e Mineração TabocaVALOR: US$ 468 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Minsur

A empresa minera peruana Minsur com-prou a Mamore Mineração Metalurgia Ltda. e a Mineração Taboca S.A., duas empresas brasileiras produtoras de ferro, estanho e outros minerais.

DATA: 24 de junhoATIVO: Sementes SelectaVALOR: US$ 455 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Los Grobo e Pactual Capital Partners

O grupo agroindustrial argentino Los Grobo e a empresa de capital privado Pactual Capital Partners compraram a atribulada companhia brasileira Se-mentes Selecta. A empresa adquirida dedica-se à produção, comercialização e distribuição de sementes.

DATA: 15 de agostoATIVO: Telemig CelularVALOR: US$ 454 MILHÕESPAÍS: BrasilCOMPRADOR: Vivo Participa-ções

A Vivo aumentou sua participação na Telemig Celular através de uma oferta pública na bolsa. A compra feita na oca-sião corresponde a 16% da empresa.

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Data de fechamento: 31 de ezembroData de publicação: 15 de janeiro de 2009

América Latina

www.americaeconomia.com

O melhor da-Os leitores da AméricaEconomia votam pelos melhores

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redondas que serão realizadas em 2009.

49 Gustavo Grobocopatel: pronto para semear

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68 AMÉRICAECONOMIA / 15 DE DEZEMBRO, 2008

John C. Edmunds

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.

PARECEU UMA ETERNIDADE, mas por fi m os adultos aparentemente têm o controle. A era das erráticas e inco-erentes políticas econômicas e monetárias provenientes de Washington está chegando ao fi m.A coisa mais surpreendente que vimos nos últimos meses foi a improvisação destas políticas, que mudavam de um dia para o outro mas não atacavam a raiz do problema. Analistas e observadores do mercado concordam que o melhor seria fornecer aos proprietários de moradias me-lhores termos para suas dívidas hipotecárias. Contudo, o Tesouro, ao invés de enfrentar essa realidade de forma rápida e pragmática, se enrolou em demorados e inúteis debates. Os proprietários continuaram perdendo suas casas, as taxas de embargos sobre moradias subiram a ní-veis sem precedentes nos últimos 29 anos – dos quais se têm dados – e os preços das casas desmoronaram. A recuperação começou quando Obama anunciou os no-mes das pessoas que vão compor sua equipe econômica. Logo veio o resgate ao Citigroup, e depois o pacote de US$ 800 bilhões do Fed para comprar dos bancos suas carteiras de instrumentos respaldados por hipotecas e ou-tros ativos “tóxicos”, que afetaram as solvências e limita-ram o desejo de emprestar dinheiro. Neste mesmo dia as taxas de juros para empréstimos hipotecários com prazo de 30 anos caíram um ponto percentual, de 6% para 5%. Foi a primeira boa notícia para o mercado de moradias norte-americano desde que a crise começou. Antes de Obama anunciar sua equipe, os observadores se perguntavam como tomariam suas decisões entre tantos bons candidatos. Agora vemos que ele não se limitou a indicar pessoas a antigos cargos do passado. Como mu-dança, está nomeando um grande número de pessoas de primeiro nível e criou novos postos para eles, para que todos possam usar suas experiências.A boa notícia é que logo teremos mãos estáveis na dire-ção, valendo-se de uma variedade de especialistas, in-cluindo aqueles com credibilidade e conhecimento para enfrentar problemas. Haverá um grande pacote de estí-mulo fi scal, maiores investimentos nos mercados fi nan-ceiros e programas de empregos. Estas agressivas inter-venções continuarão pelo tempo que for necessário para reativar a economia.A dúvida agora é quais serão os cenários realistas para a

América Latina? Os mais pessimistas – ou seja, uma re-petição da Grande Depressão dos anos 30 – agora podem ser descartados. A recessão não será tão profunda como muita gente teme, nem durará tanto.A queda nos preços das matérias-primas continuará por algumas semanas ou meses, mas a agressiva criação de nova liquidez nos EUA chegará a um ponto de infl exão. Os participantes do mercado observarão que o risco de uma defl ação é menor que o risco de a infl ação ressurgir. Quando os pacotes de estímulo monetário e fi scal che-garem a este ponto, os temores de uma queda nos preços das commodities serão substituídos por uma sensação de urgência para acumular estoques. Nos mercados futuros de commodities, a estrutura de preços ainda não revela quando começará a nova fase de acumulação, mas dá al-gumas pistas. Por exemplo, os preços do alumínio, cobre e níquel na Bolsa de Metais de Londres mostram que um comprador pode adquirir esses contratos prontos no mer-cado e vendê-los no futuro com entrega para 15 meses com um ganho bruto nessas transações de armazenamen-to de 12,7%, 4,3% e 5,5%, respectivamente. Em comparação, o retorno da compra de ouro no merca-

do à vista e futuro com entrega para 15 meses era de 1,9%, e a taxa de retorno dos bônus do Tesouro para o mesmo prazo era de 1,15%. Os ganhos dos metais industriais não eram sufi cientes para estimular in-vestidores a comprar, vender no mercado futuro e armaze-nar. O mercado de futuros para metais industriais não oferece rentabilidade muito maior do que os bônus. Mas demons-tram que o mercado de futuros não está dizendo aos donos desses metais para que os vendam imediatamente. Isso aconteceria se operadores do

mercado acreditassem que estamos à porta de uma gran-de depressão ou de uma baixa ainda mais profunda na demanda por metais industriais.Além da estrutura de preços nos mercados futuros de commodities, as autoridades na América Latina também podem observar o mercado global de bônus. No fi nal de novembro, o rendimento de um ano do título brasileiro denominado em reais era 13,5% maior que o rendimento do bônus do Tesouro dos EUA há um ano. Esse enorme diferencial atrairá investimentos de carteira ao Brasil e quando o fl uxo de dinheiro voltar ao país, o real se forta-lecerá. Outras moedas latino-americanas também ganha-rão força, eventualmente.

FINANÇAS OPINIÃO

Resgate e recuperação

Cenários mais pessimistas para a região já podem ser descartados. A recessão não será tão longa e profunda co-mo se teme.

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 69

CAPITAL [email protected]

FONTE: COLLIERS INTERNATIONALValor médio mensal do aluguel (US$/m2) vs taxa de ocupação (%)ALUGA-SE

ESPAÇO DE TRABALHO

EM BAIXAPreço das ações da Cencosud

FONTE: ECONOMÁTICA

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O PESO DE UM NOME

Às vezes o mercado celebra, outras vezes entristece. Quando um alto executivo deixa o comando de uma empresa cujas ações são listadas em bolsa, as expectativas de ganhos acionários são afetadas. Em uma ponta, há os casos de Carly Fiona, ex-CEO da Hewlett-Packard e quem supervisionou a fusão com a Compaq, e de Jerry

Os distritos financeiros em Nova York estão apresen-tando taxas de desocupação cada vez maiores. Na América Latina as taxas seguem baixas... por enquan-to

UM LUGAR para começar a observação dos problemas no setor fi nanceiro é no espaço dos escritórios premium, os conhecidos como classe A ou A+. Em Nova York, onde há pouco mais de um ano conse-guir novos escritórios era uma tarefa difícil, a crise golpeou com força e as demissões foram tão grandes que agora sobra espaço. De fato, atualmente estão disponíveis cerca de 16 milhões de pés quadrados (1,5 milhão de m2) de espaço de escritório em 68 edifícios comerciais em Manhattan, segundo estudos da consultoria Colliers ABR. É praticamente o dobro do ano passado.

E os aluguéis, conseqüen-temente, também caíram. Segundo uma reportagem do New York Times, houve desvalorização entre 20% e 30% em 2008, para entre US$ 45 e US$ 80 o pé quadrado ao

ano (o que se traduz em US$ 41,6 e US$ 74 por metro qua-drado ao mês). E na América Latina? Por enquanto o setor fi nanceiro, um dos principais inquilinos de escritórios classe A do mundo, parece não estar sofrendo demais, se usado o mesmo parâmetro. Segundo um relatório da Colliers In-ternational, ainda continua a escassez de oferta de edifícios classe A+ e A nos conhecidos distritos fi nanceiros e, assim, um baixo nível de desocu-pação; ainda há uma maior demanda por escritórios de boas especifi cações e se estima estabilidade nos preços de aluguéis e de venda.

Cidades como Buenos Ai-res, Lima, Santiago e Cidade do México mostram poucas ofertas novas de escritórios Premium, enquanto em Bogotá e San José da Costa Rica regis-tram boas oportunidades. De

longe, os maiores aluguéis são pagos em São Paulo, segundo a Colliers, de aproximadamente US$ 45,12 por metro quadrado ao mês. O mais barato é Lima, com um valor de aluguel por metro quadrado de US$ 16,3 ao mês.

Para o futuro, a consultoria espera um aumento no nível de desocupação dos edifícios desse porte, mas não direta-mente por conta da crise e sim pela entrada de novos projetos no mercado nos próximos anos. Só para Buenos Aires é esperada a entrada de 100 mil m2 de novos escritórios nos próximos anos, embora todos já estejam reservados. Em Lima, por sua vez, serão lançados 270 mil m2 em novos escritórios classe A, os quais não estão reservados, boa no-tícia para quem está pensando em se mudar.

Eduardo Thomson

Yang no Yahoo!, que é culpado pelo fracasso da fusão com a Microsoft. As ações dessas empresas experimentaram certa recuperação após os executivos renunciarem. Na outra ponta, pode acontecer de as ações caírem, assim como ocorre toda vez que se especula sobre a saída de Steve Jobs da Apple.

Uma empresa local que sentiu a desilusão do mercado por mudança é a chilena Cencosud, que viu a saída de seu conspícuo gerente geral Laurence Golborne, líder de um amplo processo de expan-são internacional. Em 4 de dezembro, quando a renúncia foi anunciada, a empresa fechou o pregão do dia seguinte com baixa de 3%, apesar de o índice-referência ter se mantido estável. Começam a surgir dú-vidas sobre uma das lustrosas empresas chilenas.

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ALEX

AND

RE B

ATIB

UGLI

Computador de baixo consumo

Obrasileiro Reinaldo Affon-so, diretor de desenvol-

vimento tecnológico da Intel Brasil, não se surpreendeu quando o Bradesco decidiu incluir 50 mil computadores de última geração e 20 mil monitores de LCD como itens fundamentais na políti-ca de ecoefi ciência. Um dos papéis do executivo é levar aos usuários as vantagens de cada desenvolvimento da companhia. Por isso, não podia ignorar o fato de que as novas máquinas consomem 44% menos de energia do que as antigas, levando o gigante do setor fi nanceiro a economizar 3,5 Megawatts anuais, reduzir a emissão de carbono e, sem dúvida, a cortar boa parte

dos custos. E para quem quiser seguir

os passos do banco brasileiro, Affonso poderia calcular resultados ainda melhores. A Intel acaba de apresentar ao mercado latino-americano os Core I7, a última geração de chips com uma capacidade de processamento 40% maior, mas sem aumentar a conta de eletricidade. “A energia se tornou um ponto crítico para as empresas, e quando algumas como o Bradesco podem economizar US$ 10 milhões em cinco anos, sem dúvida é um fator decisivo,” aponta.

Para sorte do planeta, a in-dústria levou o assunto a sério e quem não utiliza produto

Fabricantes e CIOs correm para evi-tar o colapso do poder do computa-dor buscando novas tecnologias que reduzam o consumo elétrico, mas não a capacidade de processamentoJuan Pablo Dalmasso, Córdoba

I-BIZ

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Datacenters pro-duzem 23% das emis-

sões de carbono do setor, e os PCs, 39%.

“verde” parece não estar na onda do mercado. Intel, sua rival AMD, HP, Dell, IBM, Sun e Microsoft, entre um pelotão de companhias de tecnologia, formam o Green Grid, um consórcio dedica-do a promover a efi ciência energética de datacenters e alcançar uma redução de 50% no consumo até 2010.

O objetivo não é casual. Se para uma empresa de grande porte o tema energético é crí-tico, para a crescente indústria de datacenters os problemas são ainda piores. Isso pode ser confi rmado por Roberto Vigo, vice-presidente de tecnologia e operação de datacenters para América Latina e Caribe da Global Crossing, que conta com 15 operações na região. “O consumo elétrico triplicou entre 2000 e o ano passado e calculamos que voltará a triplicar até 2012. Além dis-so, as tarifas subiram com o petróleo, mas nunca voltaram a cair,” lamenta o executivo, em Buenos Aires.

E isso não é tudo. A evolu-ção tecnológica foi multipli-cada por oito em capacidade de processamento por metro quadrado e com ela a emissão de calor e a necessidade de resfriamento, fazendo com que cada watt de processa-mento seja acompanhado por outros dois, um dedicado ao resfriamento e outro ao sis-tema elétrico em geral, como reforço especial para salvá-lo em caso de queda de energia. Além disso, uma demanda crescente, a um ritmo anual de 46%, rapidamente preencheu o espaço que a tecnologia li-beraria. “Em dez anos, montar um datacenter de 500 metros quadrados aumentou de US$ 7 mil a algo entre US$ 25 mil e US$ 30 mil por metro quadrado,” exemplifi ca.

Tecnologia inteligenteAs propostas são variadas, mas

sem dúvida o denominador comum é que agora o software incorporado nos dispositivos é tão importante quanto o dese-nho dos “ferros”. A AMD, por exemplo, oferece a tecnologia PowerNow!, que permite ao sistema operacional dos ser-vidores monitorar a atividade e desacelerar o CPU toda vez que a carga de trabalho não é utilizada, podendo reduzir o consumo em 75%, assegura a empresa. Caminho semelhante foi seguido pela IBM que, instalando ferramentas de administração energética em dez servidores da Alog Data Centers, líder de hosting no Brasil, conseguiu reduzir em 35% o consumo de energia e o resfriamento potencial das máquinas, e em até 50% o custo energético por unidade de processamento.

E se o Google pensava em construir um datacenter inteiro no oceano, o certo é que ao menos a água em volta pode ser um recurso para evitar o aquecimento e a utilização de motores de ventilação. Pelo menos é isso que mostra o data-center portátil e “prêt-à-porter” da Sun, o Modular Datacenter, instalado em Puerto Tirol, uma passagem sobre o Rio Paraná a 30 km de Resistência, capital da província argentina de Chaco. Todo o datacenter é montado em uma estrutura de contêiner de 20 pés. Os únicos requerimentos são a conexão elétrica e o cabo da rede pública. “Ele consegue economia energética de 20% se comparado com outros de características semelhantes,” afi rmou Alejandro Raffaele, ge-rente da Sun na Argentina.

O problema é que moder-nização requer investimento, e o contexto de crise fi nan-ceira não parece ser a melhor circunstância para apostar no futuro. Se antes da queda do Lehman Brothers as projeções do IDC eram de que pelo menos

30% dos servidores seriam de última geração, o que se poderia esperar agora, quando as projeções foram corrigidas com uma desaceleração quase à metade dos investimentos previstos no início do ano? “Virtualização”, opina Vigo, da Global Crossing.

Mais uma vez, é preciso inte-ligência para aproveitar melhor o equipamento. Especialistas concordam que um servidor típico utiliza entre 5% e 10% de sua capacidade disponível em um período de 24 horas. Com a utilização de software ou hardware, se consegue um melhor aproveitamento, redu-

zindo o número de servidores utilizados anteriormente. “Uma estratégia que pode adiar crises energéticas não só por meses, mas por anos”, afi rmam no Gartner.

Contudo, se os datacenters concentram a maior atenção por sua escala, segundo Affonso, da Intel, produzem apenas 23% das emissões de carbono do setor de informática, enquanto PCs e monitores emitem quase o dobro: 39%. Se forem somados às redes corporativas, poderiam ser acrescentados 7% a essa conta. Só para constar como referência: um estudo realizado pela Universidade Tecnológica Nacional da Argentina concluiu que se os 7 milhões de PCs existentes no país, sem contar servidores, possuíssem chips de última geração, a Argentina teria economizado o equivalente ao gerado pela usina nuclear de Atucha.

Desta forma, os problemas

não parecem ser tecnológicos. As opções são diversas: a mo-dernização de PCs e monitores, como escolheu o Bradesco, poderia ser superada pela troca de um PC por um notebook de última geração, que “exi-ge a décima-sétima parte de energia que um Pentium D”, segundo a Intel. Também não falta quem proponha voltar ao velho esquema dos clientes servidores, como o Desktop on demand, da Dell, ou o Sun Ruy, da Sun, cuja segunda versão oferece um consumo de apenas 4 watts por ponto de trabalho. Ou a proposta da NComputing, que virtualiza

sistemas operacionais de um PC no qual cada terminal consome apenas cinco watts na rede, contra 110 de um PC comum. É até mesmo possível completar o pacote acessando redes com o selo “Green”. A D-link, graças a seu sistema de detecção de conexão, pode economizar até 80% de energia que utilizava anteriormente.

Mais uma vez, o inconve-niente é a viabilidade comercial. Não porque os novos equipa-mentos sejam mais caros do que a geração anterior, e sim porque o cliente inicial, normalmente usuário de equipamentos mais antigos, pode não enxergar a eficiência energética como um diferencial na sua equação fi nanceira. Individualmente talvez não perceba. Mas para que servem as panes nacio-nais de efi ciência energética se não para funcionar como estimuladoras de novas tec-nologias?

15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 71

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15 DE DEZEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 73

NEGÓCIO FECHADO

>> ALBA ALIMENTOS NICARÁGUAA Assembléia Nacional da Venezuela aprovou o desembolso de US$2,3 milhões para que o governo compre, por meio das empresas estatais PDV Caribe e Corporación Venezolana Agrária, uma participação acionária na Alba Alimentos Nicarágua. Os outros acionistas da empresa serão as empresas nicaragüenses Albanisa e Petronic.

>> BANCOESTADOO banco estatal chileno informou um acordo com o francês BNP Paribas Asset Management para vender os 49,9% do BancoEs-tado Administradora General de Fondos por aproximadamente US$ 26 milhões. O desem-bolso total vai depender do desem-penho da fi lial do BancoEstado. BNP Paribas Asset Management pertence ao banco francês BNP Paribas, e é dedicada à administração de ativos.

>> BARCELÓ HOTELSFoi anunciada a compra de um hotel cinco estrelas na Cidade da Guatemala pela rede norte-americana Marriott por cerca de US$ 42 milhões. O hotel

será chamado de Barceló Guatemala City e possui 383 apartamentos.

>> CGGVERITASA companhia francesa de serviços petrolíferos informou que obteve um contrato avaliado em US$ 100 milhões junto à petroleira estatal venezuelana PDVSA para realizar atividades de exploração sísmica 3D na Venezue-la. É o maior contrato de exploração sísmica já feito no país e terá duração de cerca de seis meses.

>> COMERCIAL MEXI-CANAFoi concretizada a venda dos 50% que a Comercial possui na Presta-comer, uma empresa mexicana ad-ministradora de cartões de crédito, ao BNP Paribas Personal Finance, que já era sócio do negócio. A transação é de aproximadamente US$ 9 milhões. O BNP terá o direito exclusivo por cinco anos para operar os cartões das bandeiras Comercial Mexicana, Bodega, Mega e Sumesa.

>> CORFICOLOMBI-ANAFoi anunciada a venda dos 56,7% de participação da Corfi colom-biana na Lloreda, uma empresa

colombiana de azeite vegetal e gordura animal, por cerca de US$ 23 milhões a três grupos estrangeiros: Waenne Investments, Metcalf Sondrio e Commercial International. A Lloreda possui 1.200 funcionários e vendas anuais na ordem de US$ 50 milhões.

>> DIAGNÓSTICOS DA AMÉRICA A empresa de serviços médicos se-gue avançando no Brasil e começará a operar no Estado do Mato Grosso. Recentemente a companhia fechou a compra de quatro laboratórios nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande, pelos quais pagará aproximadamen-te US$ 17 milhões.

>> ENTEL CHILEA empresa de telecomuni-cações chegou a um acordo de compra de 100% da chilena Cientec Computación por volta de US$ 23 milhões. O vendedor é o fundo de capital fechado Millenium. A Cientec se dedica aos serviços de hosting e administração de centros de TI e conta com 400 funcionários e fatu-ramento anual de aproximadamente US$ 21 milhões.

>> PARKER HANNIFINA companhia norte-americana de produtos tecnológicos comprou a Detroit Plásticos e Metais, um produtor brasileiro de tubos, válvulas e conexões para a indústria petrolífera, petroquímica e de celulose. O valor da compra não foi informado. A Detroit possui receita anual de aproximadamente US$ 17 milhões.

>> PROLEC-GEA empresa mexicana Prolec-Ge International chegou a um acordo para comprar 54,4% da indiana Indo Tech Transformers por montante não revelado. Além disso, apresentou uma oferta pelos 20% da empresa negociados na bolsa de Mumbai. A Prolec-Ge, com sede em Monterrey, é uma produtora de transformadores.

>> TACO BELLA rede norte-americana de restaurantes de comida mexicana voltará ao Peru, desta vez pelas mãos do grupo local Pelosi, dono das franquias da Pizza Hut e KFC no país. Taco Bell teve sua primeira operação no Peru nos anos 1990, sem muito êxito.

>> TRANSPETROA brasileira Transpetro, fi lial de logística da Petrobras, fechou um contrato com o armador Eisa, com sede no Rio de Janeiro, para a produção de quatro barcos do modelo Panamax. O contrato é parte de um programa de modernização da frota da Transpetro avaliado em US$ 2,5 bilhões, para um total de 26 navios.

>> TUPERA empresa brasileira de autopeças comprou a totalidade das ações da rival Vanzin Automotive por quantia não revelada. A Vanzin possui instalações nos Estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e 485 funcionários. Em 2007, a Vanzin registrou vendas de US$ 41 milhões, enquanto a Tuper, com 1.100 funcionários, teve receita de US$ 251 milhões.

VALE:NOVA AQUISIÇÃO

>> ValeA mineradora adquiriu a consultora de serviços pe-trolíferos Petroleum Geoscience Technology (PGT), com sede no Rio de Janeiro. O valor da compra não foi informado, mas fontes da imprensa dizem que a Vale concordou em pagar US$ 6,7 milhões até 2013 em quotas anuais. A compra faz parte dos planos da Vale de explorar seus próprios campos de gás, já que é um importante consumidor de energia.

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[CHILE]

TRAVESTISMO DEMOCRÁTICO

MIG

UEL

CAN

DIA

Nas últimas eleições municipais em Santiago, uma loira platinada chorava humilhada frente às câmaras de TV. Era um travesti – ou transexual, como alguns preferem denominá-los – que tentava fazer uso de seu direito a voto. Mas não sabia – ou quem sabe sim? – que ir vestida (o) de mulher ocasionaria uma chuva de insultos em seu local de votação por parte de seus companheiros de mesa. Porque, no Chile, os homens votam com os homens, e as mulheres votam em outros locais, com seus pares.Não tinha escapatória. No país, uma vez inscrito para votar, é obrigação fazê-lo. Se o travesti tivesse querido evitar os insultos e não ir sufragar, teria se exposto a uma pesada multa.Mas isto poderia mudar. O Congresso chileno discute uma nova lei sobre inscrição automática nos registros eleitorais, que inclui medidas como a constituição de mesas mistas – homens e mulheres – e a eliminação da obrigatorie-dade do sufrágio. O que neste caso se traduz em uma pessoa menos exposta aos insultos das pessoas intolerantes a ou-tras preferências sexuais. Não só terá a opção de não votar, senão quecomo também entre as mulheres. Este caso levou a uma discussão com meus colegas sobre o voto voluntário. Soubemos que um deles não tinha se inscrito nos registros eleitorais até quase os 30 anos. Seme-lhante descoberta desatou um acalorado diálogo sobre os deveres e direitos cidadãos, e as diferenças que existem nas leis eleitorais entre os países da região.O modelo mais coercitivo é o da Argentina, onde a inscri-ção é automática e votar é obrigatório. As sanções consis-tem em uma multa. No Equador, de acordo à nova Consti-tuição, a inscrição é automática: a partir dos 16 anos o voto é voluntário, e a partir dos 18, obrigatório. Aqueles que não votam devem pagar uma multa. O certificado de votação, que se entrega depois do primeiro sufrágio é requisito indispensável para os “direitos de cidadania”. Quer dizer, a partir dos 18 anos, se alguém quiser, por exemplo, abrir

uma conta de banco ou tirar passaporte, deve apresentar sua cédula e seu certificado de votação em dia. O caso do Bra-sil é similar: quando atinge a maioridade deve se inscrever nos registros eleitorais, do contrário, terá seu castigo.Para os chilenos, até o momento, não existe nem a inscri-ção automática nem o voto voluntário. Recordo quando alcancei a maioridade, o primeiro que eu fiz foi ir tirar minha carteira de habilitação e me inscrever nos registros eleitorais. Um fato pouco comum entre os meus contem-porâneos, já que a maioria escudava sua desconformidade

com o sistema não votando. Das restrições do sistema local não se livram nem os chilenos que estão fora do país, de viagem ou radicados. À minha irmã, que mora na Holanda, a lei a impede de votar. Mas, sim lhe exige ir ao consulado para deixar constância de que está muito longe do local de votação. Caso contrário, multa. Outro colega, o mesmo que não tinha se inscrito até os 30, ainda teme as conseqüências que uma recente viagem fora do país possa lhe trazer. Ainda não foi notificado, no entanto, seus olhos se abrem, o volume de sua voz sobe

levemente e suas mãos histriônicas expressam com temor do que pode vir.Quem sabe seria bom avançar a esquemas mais liberais como o do México. Através de uma colega me informei que a Constituição especifica que o voto está entre os deveres e direitos dos cidadãos. Entretanto, na prática não recebem sanções nem por não estar inscrito nem por não ir sufragar uma vez que já está. No fundo, é algo similar ao que se busca no Chile (voto voluntário), mas que no caso mexica-no não se requer de novas leis para dar seu aval; digamos que é uma lei “popular voluntária”.Esperemos que para as próximas eleições presidenciais de 2009 no Chile já não haja mais loiras soluçando nas filas nem mais sanções para os folgados que, aletargados por esses dias de calor, ficaram grudados nos lençóis.

Karin Hernández

LINHA DIRETA

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