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www.americaeconomia.com.br 30 DE NOVEMBRO, 2008 RANKING DE INFRA-ESTRUTURA ESPECIAL TECNOLOGIA PAÍS POR PAÍS, TIJOLO POR TIJOLO PROBLEMA NA MATRIX BRASIL Nº 369 R$ 10 VERBAS DO GOVERNO NÃO TORNAM PAC IMUNE À CRISE Miragem estatal

Nº 369 Edição Brasil

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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www.americaeconomia.com.br30 DE NOVEMBRO, 2008

RANKING DE INFRA-ESTRUTURA ESPECIAL TECNOLOGIAPAÍS POR PAÍS, TIJOLO POR TIJOLO PROBLEMA NA MATRIX

BRASIL

Nº 369 R$ 10

VERBAS DO GOVERNO NÃO TORNAM PAC IMUNE À CRISE

Miragem estatal

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NESTA EDIÇÃO

4 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

Nº 369 / 30 DE NOVEMBRO, 2008

Miragem estatalMesmo com as garantias oferecidas pelo governo, obras do PAC poderão ser afetadas pela crise

SEÇÕES10 Índice12 Memo14 Cartas16 Pistas17 Editorial18 Movimentos49 Ferramentas62 Capital Aberto63 Negócio Fechado72 Raio X73 Visões74 Linha Direta

ESPECIAL INFRA-ESTRUTURA24 Marcha lenta

A América Latina volta a mostrar poucos avanços no desenvolvi-mento do setor.

30 Top tenOs principais projetos anunciados em 2008.

32 Futuro áridoFalta de normas e de obras faz capital mexicana sofrer o risco de fi car sem água.

40 Portos abertosNova geração de navios demanda portos adaptados. E o de Rio Grande se prepara para o futuro.

42 Aquém das expectati-vas

Cresce o acesso à banda larga na América Latina. Mas a falta de concorrência faz com que ela deixe a desejar.

NEGÓCIOS

44 Japão em recessãoOportunidade para a América Latina?

46 Visão verdeImpacto socioambiental pode in-fl uir na concessão de créditos. E isso é bom.

47 Orgânicos em baixaCrise econômica afeta o mercado, sobretudo nos EUA.35

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NESTA EDIÇÃO

6 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

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Nº 369 / 30 DE NOVEMBRO, 2008

PMES GLOBAIS

50 Mão na rodaTerceirizar frotas para reduzir custos.

DEBATES

51 Tabaré diz não ao abortoO veto presidencial no Uruguai: golpe fi nal?

52 Os tratados na era ObamaPermanecem as dúvidas se democratas podem mudar sua difícil relação com o livre comércio.

54 E não estava mortoO PRI recobra força no México.

56 Reforma energéticaFinalmente, a estatal Pemex ganha auto-nomia. Resta saber se saberá usá-la.

58 OpiniãoFelix Peña afi rma que, reformulado, o Mercosul pode cumprir um importante papel na estabilidade regional.

FINANÇAS

59 OpiniãoPela primeira vez alguns países da região controlam seus destinos, diz John Edmunds.

60 E o G20?Não salvou o mundo fi nanceiro, mas a última reunião em Washington tampouco foi de todo desperdiçada.

I-BIZ

64 Especial tecnologiaProblemas na matrix.

70 Clics&ChipsYouTube em 50 polegadas.

71 InterfacesNão basta um carro com i-Pod; é preciso encontrar o i-Pod dos carros.

32 47

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8 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

americaeconomia.com / 2.0O site de negócios globais da América Latina

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE.

A expulsão da Odebrecht do Equador ex-pôs a falta de proteção dos investimentos de empresas nacionais no exterior. Como

o Brasil não tem ratifi cado nenhum acordo bi-lateral neste sentido, a estratégia adotada pelas empresas é fechar contratos a partir das fi liais instaladas em países que ofereçam alguma proteção para minimizar esse risco. “Os inves-tidores brasileiros não têm segurança”, afi rmou o sócio do escritório L.O. Baptista Advogados, Eduardo Felipe Matias. O advogado conta que o Brasil assinou 14 tratados relacionados a esse tipo de proteção, mas não ratifi cou nenhum. Já países como Argentina e Chile contam com mais de 30 tratados celebrados com diversos países que garantem, entre outros aspectos, a repatriação dos lucros. Membros da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara avaliaram que a posição do Brasil tem sido pouco enfática para a resolução desses problemas, o que pode abrir espaço para a eclosão de outros confl itos, como no caso da reivindicação do governo pa-raguaio de revisão dos contratos da hidrelétrica binacional Itaipu. Para o deputado Efraim Filho (DEM), “ou o governo brasileiro desmascara a verve autoritária do governo dos seus vizinhos ou assume que adota uma política externa equi-vocada em relação a eles”.

FALHA DE SEGURANÇA AO INVESTIDOR

A NOVA WALL STREET

“BRETTON WO-ODS” EUROPEU

Por que o melhor cami-nho para superar a atual crise fi nanceira global foi indicado pela Euro-pa e não por Washing-ton? Porque os EUA não são mais o centro econômico do plane-ta. Caberia à Europa liderar o processo de re-tomada da credibilidade nos mercados podendo até convocar “um novo Bretton Woods”. Leia o artigo completo da ad-vogada e professora da USP, Maristela Basso, na AméricaEconomia.com.br.

Reunidos por Améri-caEconomia, execu-tivos e especialistas latino-americanos analisaram a crise global e seu impacto na região. O encontro aconteceu em Lima, paralelamente à Apec. Na conferência, a revista divulgou um estudo que aponta que, apesar da crise, empre-sas asiáticas gastaram US$ 4,6 bilhões em 2008 para comprar companhias latinas. Confi ra a cobertura do evento em nosso site.

Page 9: Nº 369 Edição Brasil

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Page 10: Nº 369 Edição Brasil

10 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ÍNDICE DE EMPRESASOS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS.EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

AMÉRICAECONOMIA magazine (USPS #023106) is published biweekly on March, April, May, June, September, October and November, and monthly on January, February, July, August and December in Santiago, Chile by AméricaEconomía. AméricaEconomía is distributed in the United States by DL Distribution Group, 7301 Sw 100 Ct , Miami, FL. 33173-4651 PH: (305) 595-5505. Periodicals Postage paid at Miami, Florida. POSTMASTER: send address changes to DL DISTRIBUTION

GROUP 7301 Miami, FL 33173-4651.

a-b

Accenture ..................................50

AIG ...........................................62

Aires de Campo .........................47

Aliança Navegação e Logística .41

Amazon .....................................71

American Airlines .....................48

Arnet .........................................42

Asia America Equity Exchange 21

Avis Fleet Services ....................50

Avon ..........................................50

Banco do Brasil .........................67

Banco Real ................................46

Bear Stearns ..............................62

Bem Leve ..................................20

Bodega Marichal .......................21

Bolsa de Mulher ........................20

Bradesco ....................................67

c-d

Cartoon Network .......................23

Cemex .......................................23

CG/LA .......................................24

Charlie Yankee Air Pub ............49

China Beijing

Equity Exchange .................21

CIBC World Markets ................45

Cisco ....................................42,71

Citigroup ...................................62

Claro ..........................................67

ComScore ..................................68

Continental Airlines ..................48

Chrysler .....................................71

Delta ..........................................48

DHL Express .............................49

DMB Peru .................................49

e-f

Estrela Guia ...............................20

Facebook ...................................20

Facileasing ................................50

Feminice ....................................20

FiduPerú ....................................19

Fitch Ratings .............................62

Ford ...........................................71

g-h

Gartner ................................42, 65

General Motors .........................71

Giorgio Armani .........................44

Global Plus Investment

Management .......................62

GlobalThink Technology ..........42

Google .......................................71

Green Equity Investors ..............47

Grupo Bancolombia ..................19

Grupo Linx ................................64

Grupo Santander .................46, 50

Grupo Wilson, Sons ..................41

Gucci .........................................44

Hering .......................................37

Hewlett Packard ........................71

Hino ...........................................45

Hitachi Chemical ......................45

Honda Motors ...........................45

Honda ........................................71

i-j

IBM ...........................................66

IDC ............................................65

Indra ..........................................64

Intel ...........................................71

k-l

Karsten ......................................37

Kroll Associates Iberia ..............72

Kroll InfoAmericas ...................72

L.O. Baptista Advogados ............8

LAN ..........................................49

Latinamerican Trading ..............23

Leasing Corporation ..................50

Lehman Brothers .......................62

Louis Vuitton.............................44

m-n

Marco Consultoria ....................65

Mastersaf ...................................66

Mintel International ..................47

Mitsubishi ...........................45, 71

MySpace ...................................20

Nestlé ........................................50

Netcard ......................................20

New Ventures ............................46

Nike ...........................................19

Nissan ........................................71

Northwest ..................................48

Novartis .....................................50

o-p

Odebrecht ....................................8

Ofi XXI ......................................20

OmnicomMediaGroup ..............23

Organic Monitor ........................47

Orkut .........................................20

Panasonic ..................................70

Pemex Exploración y

Producción ..........................57

Petróleos Mexicanos (Pemex) ...56

Pfi zer .........................................50

PHH Arval.................................50

Pioneer ......................................70

Procter & Gamble .....................42

Puma .........................................19

r-s

Real Obra Sustentável ...............46

Renault ......................................71

RGX ..........................................49

Sabesp .......................................29

SafeBike

Internacional .......................21

Sanyo .........................................45

SAP ...........................................49

Scotiabank .................................50

SecondLife ................................20

Select .........................................64

Sumisho Auto............................50

t-u

Tata ............................................71

Telecom .....................................42

Telefónica ............................19, 42

Televisa .....................................19

The Competitive

Intelligence Unit..................42

Toyota ........................................44

Trevisan

Consultoria ..........................41

Tvlucion.com ............................19

Universobit.com ........................20

v-w-y

Visa ...........................................68

VKS Partex ...............................40

Volkswagen-Audi ......................71

VTR ...........................................42

Wachovia ...................................62

Washington Mutual ...................62

Whole Foods .............................47

YouTube ..............................19, 70

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12 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

MEMO

Felipe Aldunate M.Diretor Editorial

DIRETOR Elías Selman C.

Certifi cado Licitud de Título Nº 4090 . Certifi cado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. biweekly publication

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur

DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M.EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara

DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya UrquizaEDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco

EDITOR BRASIL Dubes SônegoESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 2589-3157 / 3160

EDITOR MÉXICO Marisol RuedaEDITOR MIAMI Antonio María DelgadoEDITOR FINANÇAS Eduardo Thomson

EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel CandiaREPÓRTERES Arly Faundes (México)

CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso•COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino

•VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Vernic Gudiel

•MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz

COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña•Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso

DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P. •ILUSTRADORES Daniela Guglielmetti, Rodrigo Díaz Carrizo

REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz

•COORDENADOR-GERAL Jaime Contreras•ANALISTA SÊNIOR Pablo Hernández

•ANALISTA Daniela González

AMÉRICAECONOMIA.COM •EDITOR Franco Piccato

•REPÓRTERES Marcelo García, Magdalena Álvarez, Pablo Jamett•

GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río MorenoDIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva

DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto •GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez

• BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia•DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira

•GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves•GERENTES DE NEGÓCIOS Rosangela Bomtempo, Nícolas Cardoso Slamek

•GERENTE DE MARKETING Denise TerranovaRua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111-

São Paulo - SP - BrasilCEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071•MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510

• ARGENTINA Claudia DassoTel: 5411/4383-8410 - 4383-8416

•CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus

Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y MiñoTel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Ana Pazos Pastor

Tel-Fax: 511-4211852 - Cels: 511-97897272/ 511-97622230

REPRESENTANTES INTERNACIONAIS •ALEMANHA Gerd Bielenberg (GWP InternationalMedia Service) Tel: 49211/887-2328 Fax: 887-2919

• ESCANDINÁVIA Finn Greve Isdahl(International Media Sales A/S) Tel: 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA LuisAndrade (Luis Andrade Publicidad Internacional) Tel: 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA Patricia Goupy (PEM Groupe PEMA) Tel: 331/4143-7057 Fax: 4738-6329 •

ITÁLIA Carlo E. Calcagno (Studio Calcagno s.r.l.) Tel: 3902/670-73383 • REINO UNIDO David Todd (David Todd Associates Ltd.) Tel: 4420/7538-5811 Fax:

7538-4911 •SUÍÇA Hans Otto (Infoplus AG) Tel: 411/269-7070

REDAÇÕES • SANTIAGO: Tel 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO: Tel 5255/5254-2400 • BUENOS AIRES: Tel 5411/4383-8410 • MIAMI: Tel

305/648-9071

AméricaEconomia é uma publicação quinzenal da Nanbei Ltd. •Impressa na Plural Editora e Gráfi ca . México, franquia paga. Publicação periódica•Registro PP09-0011

PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

GIL

BERT

O CO

NTR

ERAS

APOSTA NA INFRASEM UMA BOA gestão em infra-estrutura, as so-ciedades podem ruir. De verdade. É o que aconte-ce na Cidade do México, como nos conta a jornalista Arly Faundes na história “Futuro árido” sobre os graves problemas enfrenta-dos pela cidade que possui a maior concentração urba-na da América Latina para administrar seus recursos hídricos. Situação que co-labora para o afundamento da cidade.Os países latino-america-nos não costumam ser bons gestores de projetos de in-fra-estrutura. Com exceção do Chile de 1995-2005 e atualmente do Panamá, que se transforma na mesma velocidade em que o Canal é ampliado, são poucos os

países da região que podem apresentar bons resultados em planejamento, execução e fi nanciamento de projetos em infra-estrutura. Mas há os que estão melhor que outros. Isso é o que analisamos nesta edição, juntamente com a empresa norte-americana CG/LA: observamos conjuntamente diver-sas variáveis de infra-estrutura e capacidade de execução dos países para formular nossa terceira edição do ranking de competitividade em infra-estrutura. Este é um tema que a cada dia se torna mais relevante, pois mui-tos governos dos países da região querem investir em infra-estrutura como ferramenta produtiva para absorver o choque econômico causado pela crise fi nanceira global. De Felipe Calderón no México, passando pelo colombia-no Álvaro Uribe, pelo peruano Alan García e especialmente pelo brasileiro Lula, todos estão apostando na mesma direção. Mas, para que isso seja efetivo, é preciso saber investir e gerar modelos de fi nanciamento adequa-dos para construir e manter os projetos. “Uma das causas do problema de água no México são as falhas no pagamento por seu uso, o que gera uma seqüência de problemas cujo resultado é a falta de recursos para investir”, diz a chilena Arly, que vive no México desde meados de 2007. “Hoje, as soluções chegam tarde, as redes de água continuam estourando, e a cidade continua afundando.”

Arly na Plaza del Ángel: A cidade afunda

Page 13: Nº 369 Edição Brasil

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www.CopaTelmex.com

BRASIL OPEN DE TÊNISCOSTA DO SAUÍPE, BAHIA, BRASIL07 A 15 DE FEVEREIRO, 2009

www.tenisbrasil.com.br/brasilopen

MOVISTAR OPENVIÑA DEL MAR, CHILE31 DE JAN A 8 DE FEV, 2009

www.movistaropen.cl

Page 14: Nº 369 Edição Brasil

[email protected]

[email protected]@americaeconomia.com

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PedintesÉ incrível que, enquanto a comunidade internacional se preocupa em conseguir fundos para ajudar a mi-lhões de famílias que fi ca-ram sem teto e sem traba-lho, empresas automotivas que faturam bilhões de dólares ao ano, espalhadas por vários países ao redor do globo, também peçam ajuda ao governo para cobrir os desacertos de sua gestão! É um absurdo. As companhias automo-tivas norte-americanas se esqueceram das lições de William Edwards Deming, economista norte-ameri-cano nascido em 1900 que explicou a diferença entre as empresas japonesas e as dos Estados Unidos? As ja-ponesas não se esqueceram de seu diferencial, e por isso agora não precisam pedir a vergonhosa ajuda a seu governo para cobrir e justifi car sua inefi ciência, porque continuam sendo efi cientes.

Alberto Rodríguez Genta Caracas, Venezuela

Ministros bons e ministros mausParabenizo a revista pela análise feita dos responsá-veis pelas políticas econô-micas e as fi nanças públi-cas de nossos países. Nesse momento de enorme incer-teza, é relevante conhecer a potencialidade de nossos ministros. No caso de meu país, acho que a análise é correta e me confi rma que a única saída para a crise no país é o aeroporto de Ezeiza.

Mariano CastroBuenos Aires, Argentina

Apoio a Obama ISempre é interessante co-nhecer as posições das re-vistas que se lê sobre temas importantes. Os argumentos que vocês apresentaram pa-ra defender Barack Obama entre os candidatos a presi-dente dos Estados Unidos

me parecem corretos: ape-sar de que sempre concor-dei com os argumentos de base das políticas econômi-cas republicanas, os Esta-dos Unidos hoje necessitam uma revolução moral, uma revolução simbólica e de signifi cados. Isso só quem pode dar é o candidato que vocês apoiaram e que fi nal-mente ganhou.

Alejandro GarcíaMiami, EUA

Apoio a Obama IIConsidero um erro, sendo latino-americano, apoiar ao então candidato Barack Obama. O recém-eleito pre-sidente dos Estados Unidos tem poucas credenciais para demonstrar-se capaz de tratar de temas relevan-tes para a América Latina: imigração, comércio, rela-ções políticas, etanol, etc. O republicano McCain, por sua vez, era forte em to-dos eles. Acho errado que sua prestigiada publicação tenha se focado em uma coisa tão irracional como o carisma de um candidato e outras abstrações para dar seu apoio. Com o candi-dato republicano teríamos muitas coisas claras. Com Barack, hoje as dúvidas são tão grandes quanto as que tínhamos antes de ele ser eleito.

Fernando Ortiz,Cidade do México

A visão do BBVAExcelente a entrevista com Francisco González, presi-dente do BBVA (“O bom da crise foi que ela aconteceu”, AméricaEconomia N° 368, 17 de novembro, 2008). Nem sempre os espanhóis se destacaram pelo estilo de gestão de suas empresas, mas a visão desse executivo é admirável. Não é só inte-ressante para seu intelecto, mas também para os acio-nistas. Se no mundo hou-vesse mais banqueiros como ele, certamente o sistema fi nanceiro global teria um comportamento muito dife-rente e não teriam aconteci-do nem os resgates, nem as perdas milionárias.

Angélica OlivaresMiami, Estados Unidos

Inadimplente?Seria terrível para o país-irmão Equador decidir não pagar sua dívida externa

14 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

CARTAS

Page 15: Nº 369 Edição Brasil

neste contexto de profunda crise internacional, somada à pouca credibilidade do governo do sr. Correa. As portas da ajuda, a coopera-ção e qualquer outro tipo de negociação com o mundo econômico se bloquearão instantaneamente. Sabemos que o resultado desse tipo de política é o retrocesso. Isso já aconteceu com ou-tros países. Muitas empresas equatorianas chegam ao Peru afugentadas por seu gover-no, quando o ideal seria que viessem em um clima de paz e confi ança, acreditan-do em seu país e pensando apenas numa expansão de seu negócio. Espero que não seja muito tarde quando o sr. Correa se der conta do mal que está fazendo ao seu país.

Hugo Huamán TakayamaPeru

Inadimplente IIO proceder de Correa é desculpa de mal pagador. O que me admira é a confi ança que ele tem de que a Venezuela terá todo o dinheiro que Chávez diz distribuir. O deterioro das contas públicas desse país denuncia o desastre que se aproxima. Isso, Correa, liquide com seu país. Suje a imagem internacional de sua pátria!

Marcelo SommerUruguai

Inadimplente IIIO “companheiro” presidente agora sim decidiu liquidar o Equador com esse salto ao vazio. Pensa que des-sa forma o país ganhará “dignidade” e que todos o agradeceremos. Quero vê-lo

isolado do âmbito fi nanceiro internacional e fi nanciando o orçamento do próximo ano (aprovado tomando o preço do barril de petróleo a US$ 80). Seu sorriso ridículo não lhe bastará.

ConspiraçãoParece-me que tudo isso da “crise” foi montado, porque ninguém demonstrou que os bancos “gastaram” mais do que o que foi orçado.

Por outro lado, os bancos hipotecários não souberam administrar de forma in-teligente suas carteiras de cobrança, renegociando o pagamento das hipotecas de seus clientes, e preferiram embargar os bens imóveis sem prevenir a queda do valor das propriedades. Sequer souberam vender tais propriedades, ainda que fosse pelo valor residual que cada banco registra, para cada propriedade, em seus arquivos.Se os bancos tivessem “re-negociado” os saldos de-vedores com seus clientes, nada disso teria acontecido. Ao que parece, o órgão fi scalizador dos bancos não atuou adequadamente de forma oportuna.

Ricardo Soto VásquezCosta Rica

CARTAS

Page 16: Nº 369 Edição Brasil

16 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

SEGUINDO A PISTA

“SORTE”:CRÉDITO LOCAL

CRÉDITO CHINÊSPUBLICAMOS: Os bancos chineses tampouco querem perder a festa, e como seu mercado de capitais está muito menos desenvolvido que o japonês, a opção para eles é ir àqueles onde as empresas chinesas já têm operações de extração de matérias-primas, como Brasil e Peru, em busca de oportunidades. “De fato, o estatal Bank of China está trabalhando para abrir um escritório em São Paulo”, afi rma Paul Liu, da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Eco-nômico. (Dor asiática, AméricaEconomia Nº 367, 27 de outubro, 2008)

O NOVO: Dia 11 de novembro o presidente Lula assinou um decreto autori-zando a atuação do Banco da China do Brasil. O embaixador Chen Duging afi rmou que as operações deverão ser iniciadas no começo de 2009. Estima-se o capital inicial do Banco em US$ 100 milhões, que serão destinados priori-tariamente à concessão de créditos para empresas chinesas interessadas em atuar no País.

O AZTECA ATACA NOVAMENTEPUBLICAMOS: A América Latina tem sido um dos destinos favoritos das empresas mexicanas. Em março deste ano, a varejista Elektra estreou no Brasil com a abertura de uma loja e uma sucursal do Banco Azteca. (“Com passo fi rme”, AméricaEconomiaNº 360, 23 de junho, 2008)

O NOVO: O vice-presidente do conselho de administração do Banco Azteca, Luis Niño, afi rmou em novembro que até o fi m do ano espera ter a aprovação governamental para operar em El Salvador e na Argentina. No Peru, onde entrou em janeiro, o banco já possui 149 sucursais e, no Brasil, 12. Em todos os países onde opera mantém o modelo de negócio exercido no México, de crédito à baixa renda.

SEM FREIOPUBLICAMOS: Mas a chilena Cencosud não é a única que planeja uma forte expansão na região. A Falabella também segue somando novos países, depois de ver sua fusão com a D&S fracassar. (“A batalha continua”, AméricaE-conomia Nº 361, 21de julho, 2008)

O NOVO: Mesmo com a incerteza do pano-rama internacional, o grupo Falabella não detém seus planos de expansão. Em novembro, fechou um acordo com o governo colombiano para alugar as cinco lo-jas da rede Casa Estrella, em Cali e Bogotá, que pertenceram à Sears. Com isso, soma nove lojas no país, além de 15 lojas Sodimac, de produ-tos de reforma de casa. O grupo também já soma 500 mil adesões a seu cartão de crédito CMR.

NA JUSTIÇAPUBLICAMOS: A Aracruz, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, revelava que sua exposição em contratos de target foward poderia ser o dobro dos derivativos atrelados ao pré-pagamento de exportações. Uma situação crítica que só teve um sinal consistente em 4 de novembro, quando a empresa fi nalmente revelou o valor total da perda – US$ 2,13 bilhões, o maior anunciado –, e que esta já estava sendo renegociada com os bancos, eliminando com isso a exposição em 97% desses papéis. (“Quem mandou apostar?”, AméricaEconomia Nº 368, 17 de novembro, 2008)

O NOVO: Acionistas da Aracruz nos Estados Unidos entraram com uma ação civil pública conta a empresa, exigindo uma indenização por danos causados pela violação das leis norte-americanas de mercados de capitais, devido à realização de operações com deriva-tivos cambiais. A companhia brasileira, por sua vez, encontrou um bode expiatório: decidiu

Page 17: Nº 369 Edição Brasil

AFP

A América Latina ganhou uma visita ilustre na últi-ma semana de novembro: o presidente da Rússia

Dmitri A. Medvedev. Em sua passagem por diversos países da região, Medvedev cumpriu uma agenda intensa em laços econômicos, comerciais e contratos de insumos militares. Promover o intercâmbio comercial de bens e serviços não tem nada de mal. De fato, é muito bom. Mas não são poucos os indícios de que juntamente a isso está o plano de fortalecer a presença russa na América Latina, como parte do jogo estratégico do país frente aos Estados Unidos. E os países latino-americanos precisam ser extremamente cautelosos. E não só por isso. A Rús-sia pós-soviética, tanto quanto a soviética e a czarista, mostra inegáveis tendências autocráticas. Sua admiração pelos “homens fortes” tanto na política quanto nos ne-gócios não é retórica. Tampouco é retórica sua falta de gentileza com a mídia independente e a tendência de intervir nos assuntos internos de nações mais frágeis. Considerando isso, as calorosas boas-vindas do presi-dente Hugo Chávez, que não oculta seu interesse de que a Rússia tome algumas das posições que os EUA têm na região, refl etiu novamente o antiquado – e triste – da visão de mundo do governante venezuelano, que parece acreditar que o planeta equivale a um clube em forma de ringue, onde caudilhos ou homens providenciais re-solvem confl itos entre palavrões, rixas públicas e um ou mais drinques. Se alguma vez o foi, já não é mais assim. Por isso, na região, o Brasil é o jogador que tem que equilibrar, estender e articular da forma mais sofi stica-da possível sua relação com o gigante euroasiático. Isso porque o Brasil, juntamente com o México, é a única nação latino-americana que pode pretender uma relação de igual para igual em poder e infl uência em um futuro mundo multipolar.Quanto às aspirações comerciais russas, pode ser que estas não cheguem tão longe quanto a Rússia espera. A América Latina compete com ela nos mercados in-ternacionais de commodities e sua complementaridade econômica é tanta quanto a que existe entre a tequila e a vodka. Mas podemos aprender muito das indústrias rus-

sas com base em sua engenharia e tecnologia, bem como eles podem aprender muito da agroindústria latino-ame-ricana. E temos que trabalhar juntos para não arruinar o planeta (apesar de que a Rússia ainda tem que dar um sinal claro de que suas autoridades não têm uma posição passiva frente ao aquecimento global). Assim,

. Seja bem-vindo à América Latina, senhor Medvedev. Mas não nos consi-dere dentro dos velhos códigos com que seu país conti-nua vendo a política global.

LIMPAR A QUEM LIMPANo México, a Operação Limpeza terá que comprovar sua própria higiene. O plano promovido pelo presidente Felipe Calderón, pela Procuradoria Geral da República, com o objetivo de terminar com a corrupção na adminis-tração pública, derivou na prisão de altos funcionários da própria Procuradoria e do Ministério de Segurança Pú-blica. Isso porque, dentro de algumas de suas unidades, detectou-se infi ltração do narcotráfi co, especialmente do cartel dos Beltrán Leyva. Segundo o procurador-geral do México, Eduardo Medina Mora, um alto funcionário da Subprocuradoria de Investigações Especializadas em Delinqüência Organizada (Siedo) recebia US$ 450 mil mensais em troca de informações sobre investigações e ações que os organismos de segurança do país realiza-vam para combater o cartel do Pacífi co. Como Medina Mora não percebeu que um subordinado realizou essa transferência de informação durante 19 meses é algo que terá que ser explicado, bem como as dúvidas sobre a probidade do ministro de Segurança Pública, a quem funcionários da polícia acusaram em várias ocasiões de protetor do cartel de Sinaloa, e quem o presidente Felipe Calderón chegou a defender.Para limpar, é preciso usar panos limpos. E Calderón tem uma árdua tarefa pela frente. Abrir toda a informação disponível para provar a honradez de seu corpo de se-gurança e derrubar a complexa trama de infi ltrações que jaz nas instituições. O presidente terá que mostrar que a Operação Limpeza efetivamente será pulcra.

A VISITA RUSSA

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 17

EDITORIAL

Page 18: Nº 369 Edição Brasil

18 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

MOVIMENTOS

NINGUÉM DUVIDA que a te-quila tem efeitos secundários

– sobretudo se exagerar na dose. Mas pode gerar diaman-tes? A resposta é sim. Ao me-nos segundo os pesquisado-

res da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), que descobriram que a com-

posição da tequila permite gerar partículas de diamante

a partir de 40% de etanol e 60% de água, “e me chamou

a atenção porque é a mesma proporção que a das bebidas alcoólicas”, diz Miguel Apati-ga, da Unam. “Comprei uma pequena garrafa e trabalha-mos nas mesmas condições

que com etanol e água, e saiu bem.” Segundo Apatiga, a cha-ve é que a tequila tem a com-

posição exata de átomos de carbono, hidrogênio e oxigê-

nio para produzir películas de diamante. Ainda que até agora

essa seja uma produção em laboratório, esperam passar

à escala industrial em um par de anos.

brutaTequila

ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

FERN

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O CA

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DÍA

DESEJA SEU DIAMANTE COM

LIMÃO E SAL?

Page 19: Nº 369 Edição Brasil

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 19

MOVIMENTOS

O COLOMBIANO FUAD VELASCO sabe que no Peru o mercado de fi dei-comissos está em pleno desenvolvimento, e o momento para entrar nesse negócio não pode ser melhor. Para o presidente do conselho da empresa de serviços fi duciários FiduPerú, os fi deicomissos de garantia são a me-lhor alternativa frente à iminente crise fi nanceira para que as empresas possam ter acesso a fi nanciamento para seus projetos de investimento, sobretudo em um país onde o défi cit de infra-estrutura é de US$ 23 bi-lhões, segundo o Ministério de Transportes e Comunicações. “No Peru existe um grande potencial para desenvolver o mercado fi duciário”, diz Fuad Velasco, da FiduPerú, pertencente ao Grupo Bancolombia. “Enquan-to nesse país há US$ 6,3 bilhões de ativos envolvidos, na Colômbia essa cifra chega a US$ 54 bilhões.” Além disso, o ritmo de crescimento do mer-cado fi duciário nos últimos anos é de 15% a 20%. Este ano, estima-se que cresça 17% e feche o ano com US$ 7,6 bilhões em ativos.

NOVEMBRO É O MÊS em que os santiaguinos fazem as pazes com o calor e a atividade física, e ninguém sabe melhor disso que as fabricantes de artigos esportivos. A Nike atraiu 12 mil pessoas pa-ra as ruas da capital chilena em sua tradicional corrida de 10 km. Já a Puma decidiu selecionar um centésimo desse total para um desafi o diferente: subir os 34 andares - 140 metros - da torre da Telefónica, um dos edifícios emblemáticos da cidade. “É o segundo ano que promovemos o Puma Run Up e o primeiro em que abri-mos algumas vagas para as pessoas que quisessem se inscrever pela internet”, conta José Arias, gerente geral da Puma no Chile, acrescentando que a idéia foi inspirada em uma corrida seme-lhante realizada no Empire State Building, em Nova York. “O inte-resse foi tanto que tivemos que bloquear o acesso pouco tempo depois.” Planos para replicar a idéia em outro país latino-america-no. “Não descartamos a idéia, mas sabemos que isso depende da associação com os responsáveis por um arranha-céu como este”, afi rma, sem revelar quais seriam os possíveis candidatos.

Salva-vidas fi duciário

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

NATÁLIA VERA / LIMA

Foi dada a largada

NÃO CONTENTE COM seu papel dominante no México, a Televisa

investiu em uma agressiva campa-nha de expansão que está levando

a empresa mexicana multimídia a incursionar em novos ter-renos. Com o lançamento do tvlucion.com, site de vídeos gratuitos, a

empresa passa a concorrer dire-tamente com o YouTube, apresen-

tando não só conteúdos criados por seus próprios usuários como colocando à disposição dos inter-nautas um programa de notícias,

duas séries exclusivas, além de vídeos que fazem parte do extenso

arquivo da Televisa. Além disso, a empresa também incursiona pelo

Oriente com a estréia da versão chinesa de La fea más bella, novela escrita pelo colombiano Fernando

Gaitán e produzida pela Televisa no México. E está negociando ou-tras quatro novelas: La madrastra,La intrusa, Esmeralda e Las tontas no van al cielo. “Esse projeto vem

de uma expansão internacional da Televisa. A decisão foi ter uma pre-

sença muito mais importante em um mercado como o chinês e com mais abertura”, diz Arturo Cazares,

conselheiro da Televisa para os mercados asiáticos.

MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

Novosnegócios

AGORA, ESCADA ABAIXO

VELASCO:A EXPANDIR OS FIDEICOMISSOS

Page 20: Nº 369 Edição Brasil

20 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

MOVIMENTOS

Escritórios virtuais vs SecondLifeINSPIRADO NA POPULARIDADE de mundos virtuais como SecondLife, o argen-tino Leonardo Savelli, fundador da Universobit.com, decidiu levar esse con-ceito ao mundo corporativo com um serviço de escritórios e edifícios onde se podem realizar reuniões virtuais, teleconferências e sessões de capacitação pela internet. A Ofi XXI é uma aplicação muito mais leve que o SecondLife, e conta “com design mais apropriado para a imagem corporativa que um avatar”, diz Savelli, presidente da nova empresa. Mas o cliente deverá ter seus próprios arquitetos, engenheiros e equipes para replicar sua imagem e conectar os apli-cativos de sua própria organização. A Ofi XXi oferece uma planilha básica e o sistema onde montar o projeto, bem como a promoção dos edifícios através de eventos virtuais e da interconexão dos sistemas de comunidades 2.0. Somente o tempo dirá se a iniciativa conseguirá replicar o sucesso do SecondLife. Mas o Ministério do Trabalho, a Câmara de Software e Serviços Informáticos da Ar-gentina e outras 11 empresas já alugaram seus espaços.

JUAN DALMASSO / BUENOS AIRES

DIZ A LENDA que se po-de encontrar - ou perder - qualquer coisa na bolsa de uma mulher. Mas isso incluiria uma rede social? Aparentemente, sim. A companhia brasileira Bolsa de Mulher transformou-se em meados do ano pas-sado em uma rede social só para mulheres, cujos contatos vão sendo cria-dos em torno de interesses comuns. Hoje, o Bolsa de Mu-lher combina uma rede social com diferentes pági-nas de conteúdo e serviços de e-commerce. “Atualmen-te, quem usa Facebook, Orkut ou MySpace se rela-ciona com pessoas que co-nhece”, diz Andiara Petterle, CEO da Bolsa de Mulher, no Brasil. “Em nosso caso, te-mos 6 milhões de acessos ao mês no Brasil, de pes-soas que não necessariamente se conhecem pessoalmente, mas se relacio-nam porque estão passando por momentos semelhantes na vida.” Devido ao sucesso da idéia, o Bolsa de Mulher acaba de começar sua expansão para Argentina, Chile e México. Recentemente, adquiriu outros sites, como Estrela Guia – de astrologia –, Feminice – seu principal rival –, Bem Leve e Netcard, e começará a oferecer conteúdo e serviços para celulares. “Há um universo de cerca de 30 milhões de mulheres internautas na América Latina, excluin-do o Brasil”, diz Petterle. E que já se transformaram em alvo.

Mulheres em rede

ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

Ricardo Villela Marino, diretor de assuntos latino-americanos da Federação Brasileira de Ban-cos (Febraban) e presidente de operações latino-americanas do Banco Itaú, foi nomeado presiden-te da Federação Latino-americana de Bancos, Felaban, para o período 2008-2010.

José Manuel Berruecos foi nomeado diretor da Cisco para América Central, norte da América do Sul e Caribe da Cisco, cargo antes ocupado por Rodrigo Abreu, que agora irá para a Cisco Brasil. Berruecos esteve antes a cargo da operação latino-americana da EDS, além de ter ocupado posições chave na Sun e na HP.

O brasileiro Marcos Souza assumirá o comando da start up Avancera para a América Latina. Seu desafi o é desenvolver o mercado de Server Based Com-puting através da representação exclusiva da solução ThinLinc em toda a região.

Márcia Peres assumiu a diretoria de operações da Third IT Solutions, no Brasil. A criação do cargo deveu-se ao forte cres-cimento da empresa nos últimos anos.

Após sete anos de experiência na Sonda Procwork, Gutembergue de Lima Rodrigues, ex-gerente da regional do Rio de Janeiro, é nomeado diretor da unidade da empresa em Minas Gerais. O novo executivo tem como desafi o ampliar o atendimento ao mercado mineiro,

vemvai &

RICARDO VILLELA MARINO

PETTERLE:REDES SÓ

PARA ELAS

Page 21: Nº 369 Edição Brasil

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 21

MOVIMENTOS

A CHINA ESTÁ BUSCANDO novas oportunidades de investimento no novo mundo. O China Beijing Equity Exchange (CBEX), instituição que tem realizado os maiors leilões de ativos chineses privatizados, uniu-se ao Asia America Equity Exchange (AAEE) para investir gran-des montantes em projetos canadenses, norte-americanos e latino-americanos. “Nossa meta é que no prazo de um ano todas as nossas divisões estejam funcionando e que possamos captar um volume de negócios de dezenas de bilhões de dólares ao ano”, diz Slenda Chang, presidente da AAEE, instituição que inaugurou em novembro um escritório de representação em Miami. A nova sucursal é a que se encar-regará de canalizar novos projetos para que empresas e fundos soberanos chineses invistam. Dois setores geram especial interesse: mineração e energia. A quantidade de recursos à disposi-ção dos chineses para investir é impressionante. Os fundos sobera-nos do Estado ultrapassam os US$ 2 trilhões, muitos dos quais foram colocados em bônus do Tesouro dos Estados Unidos que vencem em alguns meses.

Bolso cheio

ANTONIO MARÍA DELGADO / MIAMI

EDUARDO THOMSON / SANTIAGO

MUITA gente fora da América Latina tem difi culdades para localizar o Uruguai no mapa. Os próprios uruguaios con-fessam que quando viajam ao exterior ouvem a irritante pergunta: “Não é parte da Argentina?” Para os vinicul-tores uruguaios, entretanto, essa relação poderia ajudar a driblar o escasso reconheci-mento do país como produtor de vinho e abrir caminho em mercados premium. Por isso, associações que agrupam mais de 240 fabricantes de vinho no Uruguai negociaram recentemente com o governo o investimento para reforçar a imagem do Uruguai como “produtor do Tannat”, sua ce-pa mais famosa, e posicionar seus vinhos entre os grandes conhecedores. O motivo é simples: “Não temos capacidade de concorrer em volume de produção com países como Argentina e Chile; por isso, temos que buscar esses 15% do mercado mundial que gostam de consumir vinhos premium”, afi rma Juan Andrés Marichal, enólogo da Bodega Marichal. Ele conta que o projeto poderá render frutos em três anos. Até lá o Uruguai espera que, pelo menos entre os amantes do vinho, o país seja mais fácil de localizar.

SE ESCUTAR ALGUM motociclista falando de airbags, não se sur-

preenda. Estes já fazem parte do regulamento do Rally Dakar, e são uma realidade de mercado que a

hispano-venezuelana SafeBike Inter-nacional lançou na Venezuela e no Brasil, enquanto busca expandir-se ao restante da região. Mas não con-sistem em bolsas que saem do vo-

lante e se infl am no caso de alguma colisão. São jaquetas infl áveis que

amortecem as pancadas no pesco-ço, nas costas e nas articulações. Elas têm um aspecto normal, mas

possuem um dispositivo conectado à moto que, ao ser subitamente acio-

nado pela força do corpo quando projetado, infl a os sistemas, como se

o motorista fosse um ouriço. Cada unidade custa entre 300 euros (US$

375) e 660 euros (US$ 825), que a SafeBike espera vender através de

órgãos ofi ciais como departamentos de trânsito, policiais e bombeiros. “Vemos que os governos, como o

venezuelano, estão muito interessa-dos em regulamentar seu uso como

obrigatório, levando em conta que mundialmente as mortes em motoci-cleta cresceram 30%”, observa Juan

Martinez, diretor comercial para a América Latina, que estima vender

5 mil unidades no primeiro trimestre de 2009.

JUAN DALMASSO / BUENOS AIRES

U-ru-onde?

Motociclis-mo com airbags

URUGUAI: BERÇO DO TANNAT, TÁ?

EM BUSCADE OPORTUNIDADES

NÃO SE ENGANE: ISTO É PRO-

TEÇÃO

Page 22: Nº 369 Edição Brasil

Latin America’s Global Business MagazineGlobal Perspective, Regional Focus, Local Intelligence

www.americaeconomia.com

Page 23: Nº 369 Edição Brasil

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 23

MOVIMENTOS

Gay powerSE VOCÊ GERENCIA uma marca de roupa, um restaurante ou uma pro-

dutora de espetáculos, comece a pensar em como comunicar-se com

o universo gay. Os homossexuais latino-americanos destinam a maior

parte de seu orçamento a roupas, idas a restaurantes, espetáculos e

produtos de estética. Quarenta e cinco por cento preferem produ-

tos que dirijam sua publicidade ao mundo gay. Além disso, 61% dos

entrevistados para uma pesquisa da OmnicomMediaGroup (OMD) acham

que há cada vez mais produtos e pu-blicidade voltados para eles, e 65%

afi rmam que a melhor publicidade é feita pelas marcas de perfume e de roupa. Eles adoram comprar (61%

declararam uma alta preferência por sair às compras e 78% não se

sentem discriminados ao fazê-lo) e, apesar de preferirem marcas fi nas

e reconhecidas, muitos (41%) estão abertos a provar novos nomes. Os cami-nhos para abordar esse seg-mento - que em geral têm alto po-

der aquisitivo - são sugeridos pelo estudo “Entre o público e o privado”

que conclui que já existem várias marcas tradicionais investindo em uma linha de comunicação dupla:

heterossexual em meios massivos e gay na mídia segmentada.

MAIS DE 1,3 MILHÃO DE AVATARES, de diferentes formas e cores. Esse número de seres digitais corresponde à quantidade de adolescentes latino-americanos registrados na versão 2.0 do site do Cartoon Network até o fi nal de outubro – 474 mil somente do Brasil. “É uma boa notícia, pois nossa meta era fechar o ano com 1 milhão”, afi rma Pablo Zuccarino, diretor de mídia digital do Cartoon Network. A nova experiência desfru-tada pelos jovens internautas – que inclui a possibilidade de compar-tilhar jogos entre usuários e expressar opiniões – elevou o número de entradas únicas mensais em quase 20%, a 3,5 milhões. Mas esse não é o único motivo da empresa para comemorar. “Por sorte o lançamos es-te ano, pois o modelo multiplataforma também nos dá a possibilidade de oferecer diferentes formatos de publicidade, aproveitando o mundo virtual criado, com vídeo, personagens e até a criação de planetas”, afi rma, demonstrando sua preocupação com a retração dos orçamentos publicitários para 2009 e, conseqüentemente, a maior concorrência para atraí-los. “Esperamos que os anunciantes se mantenham, mas certamen-te terão projetos menos ambiciosos e buscarão alcançar o mesmo resul-tados com menos dinheiro”, afi rma.

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO JUAN PABLO RIOSECO / SANTIAGO

A BATALHA entre a mexicana Cemex e as empresas peruanas agrupadas na Asso-ciação de Produtores de Cimento (Asocem) ainda vai longe. A Latinamerican Tra-ding, fi lial da Cemex no Peru – que planeja fechar o ano com uma participação de mer-cado de 2,5% –, anun-ciou que sua aposta para investir US$ 120 milhões na instalação de uma fábrica no pa-ís continua de pé. E a

empresa garante que é um bom momento para isso, já que a crescente demanda de cimento no Peru está levando as em-presas locais ao limite de sua capacidade instalada, e inclusive poderia ocasionar futuros problemas de abastecimento. “As ampliações anuncia-das pelas empresas locais não estariam prontas para atender à demanda de 2009”, diz Miguel Vargas,

gerente fi nanceiro da Latinamerican Tra-ding. O que a Asocem acha disso? A asso-ciação afi rma que o consumo nacional de cimento chegará este ano a 7 milhões de toneladas métricas (TM), menos que a ca-pacidade instalada de suas associadas, que é de 10,22 milhões de TM por ano. “No ano que vem não haverá problemas de abas-tecimento”, garantem seus representantes.

Vida digital

Guerra do cimento FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN / LIMA

CIMENTO:SUFICIENTEPARA O PERU?

Page 24: Nº 369 Edição Brasil

A maior difi culdade que o setor enfrentra está na engenharia fi nanceira que se requer para atrair o investimento que os pro-jetos demandam

GERAL PONTUAÇÃO

1 Chile 67,96

2 Panamá 63,93

3 México 62,57

4 Colômbia 60,99

5 Brasil 60,62

6 Trin. e Tob. 60,59

7 Rep. Dom. 55,71

8 Peru 55,69

9 Uruguai 51,94

10 El Salvador 47,26

11 Costa Rica 42,58

12 Argentina 40,90

13 Venezuela 39,91

14 Guatemala 39,75

15 Cuba 39,14

16 Jamaica 36,69

17 Honduras 36,00

18 Paraguai 35,14

19 Equador 34,72

20 Belize 32,06

21 Bolívia 32,02

22 Nicarágua 30,80

23 Haiti 21,11

24 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

Procura-se um modelo

CHIL

E

COLÔ

MBI

AM

ÉXIC

OPA

NAM

Á

BRAS

ILTR

IN. E

TO

B.

URU

GU

AIRE

P. D

OM

JAM

AICA

COST

A RI

CA

PERU

EL S

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DO

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GEN

TIN

ACU

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GU

AIG

UAT

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ABO

LÍVI

AH

ON

DU

RAS

BELI

ZEEQ

UAD

OR

NIC

ARÁG

UA

HAI

TI

90

75

60

45

30

15

Resultados no tempo

FONTE: CG/LA e AméricaEconomiaPontuação e posição dos países em 2007 e 2008

PONTUAÇÃO 2008PONTUAÇÃO 2007

Ainfra-estrutura cria emprego. A infra-estrutura melhora a competitividade de um país e a qualidade de vida de seus cidadãos. A infra-estrutura gera conhecimentos, cria redes em-presariais e resolve problemas reais. Por isso

é adotada por políticos como bandeira de campanha.Os benefícios indiretos dos investimentos em infra-estrutura

são consideráveis e por isso não há muita polêmica quando um país avança no desenvolvimento de projetos do setor. E nestes tempos de crise fi nanceira, são muitos os que dizem que o investimento em infra-estrutura poderia ser a melhor política econômica contracíclica.

Mas essa é uma tarefa que demanda muito trabalho. É preciso atrair muito capital, capacidade de execução e dispo-nibilidade para esperar pelo retorno até que o projeto esteja concluído. Hoje, o maior desafi o não está na engenharia téc-nica que permite construir a ponte, o porto ou a refi naria: está na engenharia fi nanceira que se requer para atrair o inves-timento que o projeto ne-cessita. Ou seja, na criação de modelos de negócios por trás de cada projeto que ga-rantam a sua rentabilidade e a criação de um marco legal adequado para assegurar aos investidores que os acordos assinados serão respeitados. A questão é que a América Latina tem sido pouco exitosa em resolver esses problemas, tanto que seu investimento em infra-estrutura alcança ape-nas o equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média mundial é de 2,2%, e na Ásia supera os 5%. Mas nem todos os países estão igualmente capacitados para executar projetos de infra-estrutura. Essa é a conclusão desta terceira edição do nosso Ranking de Infra-Estrutura da América Latina. Elaborado em parceria com a consul-toria especializada CG/LA,

O presente ano não foi bom para o setor de infra-estrutura latino-ameri-cano: poucos anúncios de projetos e poucas reformas fi zeram com que os países quase não avançassem nesta nova edição do Ranking de Infra-Estrutura da América Latina. Mas há exceções: o Brasil, o Peru e as tele-comunicações. Equipe AméricaEconomia

de Washington, analisamos quão bem-preparados estão os países da região para atrair investimento em infra-estrutura. “Investir consideravelmente em infra-estrutura pode amortecer o impacto da crise fi nanceira sobre as economias reais”, diz Norman Anderson, presidente e fundador da CG/LA. “Hoje em dia, analisar a capacidade de um país para desenvolver projetos do setor equivale a analisar a sua capacidade para enfrentar a crise.”

A metodologia deste ranking, elaborada pela CG/LA, co-loca parâmetros e compara uma enorme quantidade de dados sobre a infra-estrutura dos países da América Latina, que são organizados em três grandes dimensões. A primeira é o estoque existente, ou a capacidade da infra-estrutura atual de cada país para sustentar a produtividade e competitividade dos negócios. Esta categoria inclui também os sucessos passados, especifi camente o desenvolvimento de projetos que geram experiência e conhecimento no mercado local. A segunda dimensão é a situação macroeconômica do país. É um fator de alta relevância: se as contas não estão em ordem, é pouco provável que o país possa realizar os investimentos necessários. A terceira dimensão é a capacidade futura de construir, que

Page 25: Nº 369 Edição Brasil

Quanto de cada?

FONTE: CG/LA e AméricaEconomiaRanking geral 2008 detalhado por componentes

Economia Cap. de futuro Estoque infra

O Peru foi um país vence-dor, já que registra o

maior crescimento da região este ano, subindo

do posto 11 ao 8

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 25

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

ELÉTRICO PONTUAÇÃO

1 México 21,00

2 Colômbia 18,59

3 Chile 18,17

4 Peru 17,96

5 Trin. e Tob. 16,70

6 Brasil 15,86

7 Bolívia 15,54

8 Panamá 14,81

9 Argentina 14,60

10 Uruguai 14,18

11 Paraguai 14,00

12 Costa Rica 13,55

13 Venezuela 12,92

14 Cuba 12,81

15 Honduras 12,60

16 Guatemala 11,30

17 El Salvador 10,82

18 Jamaica 10,50

19 R. Dom. 10,08

20 Equador 10,08

21 Nicarágua 9,87

22 Belize 8,61

23 Haiti 7,56

CHILE

PANAMÁ

MÉXICO

COLÔMBIA

BRASIL

TRIN. E TOB.

REP. DOM.

PERU

URUGUAI

EL SALVADOR

COSTA RICA

ARGENTINA

VENEZUELA

GUATEMALA

CUBA

JAMAICA

HONDURAS

PARAGUAI

EQUADOR

BELIZE

BOLÍVIA

NICARÁGUA

HAITI

10 20 30 40 50 60 70 80

reúne um conjunto de atributos que se relacionam à capacidade dos países de atrair investimentos, como a visão dos líderes sobre o futuro e a infra-estrutura, a existência de conhecimento técnico local e a capacidade do setor público para executar seus projetos, entre outros (ver metodologia pág. 29).

O Chile continua encabeçando o ranking, embora com uma margem decrescente. O país não tem mantido a extraor-dinária imaginação que o caracterizou no período 1995-2005. No entanto, encontra-se muito acima do restante da América Latina – embora abaixo dos líderes mundiais na matéria, co-mo Coréia do Sul e Espanha. Como no ano passado, o Chile lidera em transporte e sistema sanitário.

À continuação vem o Panamá e sua enorme transformação desde que anunciou a ampliação do canal que une o Pacífi co com o Atlântico. Este não só é o projeto mais relevante de infra-estrutura estratégica em todo o hemisfério, como também posiciona o Panamá acima de outros países quanto à porcen-tagem do PIB investido em infra-estrutura – o dobro do Chile, que, por sua vez, dobra ao seu concorrente mais próximo. De grande relevância é que, assim como as companhias chilenas de infra-estrutura têm se expandido até a Argentina, Peru e Colômbia, o Panamá está adquirindo o tipo de experiência que lhe permitirá construir projetos similares, em breve, em países vizinhos.

Na seqüência estão quatro países em virtual empate: México, Colômbia, Brasil e Trinidad e Tobago. O Brasil está pela primeira vez entre os Top 5, principalmente devido a uma positiva situação macroeconômica e aos avanços do PAC, o Programa de Acele-

ração do Crescimento que o presidente Lula vem promovendo há alguns anos e que já está mostrando resultados concretos. O México e a Colômbia não têm histórias tão positivas. Como o Chile, têm perdido pontos no último ano: a Colômbia, mais de 11, e o México, 6. No caso mexicano, a decepção deve ser dobrada, pois Felipe Calderón declarou que seu sexênio seria o da infra-estrutura, que começaria com um importante plano de casas populares e uma renovação da infra-estrutura nacional. Mas, entre problemas de gestão e mudança de prioridades (pro-vavelmente este será o sexênio da guerra contra os narcotráfi co e da crise, mais que o das obras públicas), os planos têm demorado a se concretizar em grande parte dos governos.

O seguinte grupo de países é liderado pelo gigante energético Trinidad e Tobago, um país que se apronta para transformar-se em um centro fi nanceiro para a região. Para consegui-lo, vai ser preciso um investimento considerável em infra-estrutura digital, já que o país não entra nem no Top 10 nesse item.

A verdadeira notícia neste aspecto, no entanto, é que o Peru avança tanto em sua pontuação global (mais de 3 pontos) como no ranking geral, do 11º lugar ao 7º lugar, o maior crescimento neste ano. Tanto o Peru como a República Dominicana têm melhorado a sua pontuação geral, enquanto o restante dos

países tem visto a sua pontu-ação cair abruptamente nesta categoria.

A Costa Rica perdeu 10 pontos, principalmente pela sua falta de habilidade para lograr avanços em projetos prioritários. Este grupo de países vai precisar de uma considerável ajuda para es-capar dos piores efeitos da crise – principalmente junto aos órgãos multilaterais.

Os últimos cinco países do ranking vão precisar de assis-tência extrema para sobreviver à crise que se aproxima. O novo presidente do Paraguai, Fernando Lugo, tem bastante trabalho pela frente. Na pon-tuação geral, o Paraguai caiu 7 pontos e passou do 16º ao 19º lugar no ranking. O Haiti continua a ser o último, com uma ampla margem em relação a países que, de fato, estão em uma péssima situação.

As posições no ranking variam de acordo com a área

Page 26: Nº 369 Edição Brasil

O toque ecológico

FONTE: ENERGY INFORMATION ADMINISTRATIONProjeção de consumo de energia renovável

BRASIL MÉXICO OUTROS

0

2.000

4.000

6.000

8.000

2003

BILH

ÕES

DE

BTU

S

2010 2015 2020 2025 2030

México lidera o ranking elé-trico pelo terceiro ano con-secutivo; Colômbia se aferra ao segundo lugar por sua matriz diversifi cada, e Chile fi ca para trás

26 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

LOGÍSTICA PONTUAÇÃO

1 Chile 15,44

2 Colômbia 12,37

3 Panamá 11,88

4 Jamaica 11,39

5 Uruguai 10,41

6 Argentina 10,39

7 Rep. Dom. 10,05

8 México 10,00

9 Brasil 9,92

10 Trin. e Tob. 9,80

11 Cuba 7,72

12 Costa Rica 6,98

13 Venezuela 6,37

14 Paraguai 6,00

15 Guatemala 5,76

16 Bolívia 5,39

17 El Salvador 4,90

18 Honduras 4,66

19 Equador 4,29

20 Peru 4,17

21 Belize 3,19

22 Haiti 2,70

23 Nicarágua 2,21

O último apaga a luz

FONTE: Autoridades elétricas de cada paísConsumo elétrico (kHw per capita)

ESTADOS UNIDOS

CORÉIA DO SUL

ESPANHA

TRIN. E TOB.

CHILE

VENEZUELA

JAMAICA

ARGENTINA

BRASIL

URUGUAI

0 2.750 5.500 8.250 11.000 13.750

da infra-estrutura que a análise aponta. Este estudo considera quatro: eletricidade, malha viária e logística, saneamento e infra-estrutura digital. No ranking de energia elétrica, o México mantém o primeiro lugar na América Latina, pelo terceiro ano consecutivo. Esse resultado se deve em grande parte às contí-nuas melhoras em todos os aspectos da rede elétrica federal. A chave continua sendo a habilidade e determinação da CFE de diversifi car a matriz de geração para garantir o abastecimento – incluindo a inauguração, este ano, da planta GNL Manzanillo, que levará gás do campo de Camisea no Peru.

A Colômbia continua no segundo lugar no ranking de eletri-cidade, graças à sua matriz fortemente diversifi cada (carvão e gás natural produzidos no interior do país, bem como hidroele-tricidade). Já o Chile continua em um impasse surpreendente. É o único país do Top 5 que carece de uma importante fonte local de combustível, que lhe permita ser capaz de cobrir su-as próprias necessidades básicas. A instável dependência do gás natural argentino continua afetando o país – e, pior ainda, apresentando um fator de insegurança que origina um cenário pouco propício para os negócios.

O Peru este ano é o astro da cena, logrando fi nalmente conectar o combustível de Camisea à matriz energética, bem

como desenvolvendo importantes projetos hidroelétricos. A sua ascensão no ranking se deve principalmente a uma mar-gem de reserva maior, 12%, em comparação com o 7% do ano passado, assim como às boas notícias em relação ao projeto hidroelétrico e de irrigação Electropampas/PampasVerdes de US$ 2 bilhões em Ayacucho, e ao apoio de multilaterais como a CAF para os projetos elétricos no Peru.

O Brasil continua atrasado apesar de ser, ao mesmo tempo, uma grande promessa. Os problemas que tem tido para diver-sifi car a sua matriz, que depende principalmente da hidroele-tricidade, têm sido atenuados graças aos novos investimentos em gás natural e a um agressivo programa de energias verdes. Este programa é de nível mundial e promete incorporar 14.400 MW ao sistema até 2020, o que cobriria até 15% da matriz energética do país. No entanto, o sistema brasileiro, assim como o chileno, se encontra cheio de incertezas – uma verdadeira falta de incentivo para os investimentos de longo prazo.

Tanto o Panamá quanto a Argentina destacam-se nesta categoria, embora por razões diferentes. O Panamá está desen-volvendo agressivamente a sua capacidade de geração, como um mecanismo para sustentar a sua economia. A Argentina, que já chegou a ter um dos melhores sistemas elétricos da América Latina, baseado tanto em abundante geração hidroelétrica quanto em seu próprio abastecimento de gás natural, a um custo muito bai-xo, no entanto, tem hoje o pior sistema de todos os grandes países da região.

DE OLHO NA ESTRADAA crise, ao que parece, bateu antecipadamente no setor de estradas rodoviárias e logísti-ca, pois 2008 foi um ano que careceu de grandes projetos. Em matéria de transporte, 2008 poderia ser lembrado como o ano das postergações. O setor, conformado pelos portos e sistemas logísticos associados – incluindo transporte urbano, estradas, vias ferroviárias e hidrovias – é crítico para a competitividade da América Latina. O Chile é novamente o primeiro nesta categoria.

Page 27: Nº 369 Edição Brasil

Conectados

FONTE: CG/LAHost de internet cada 10 mil habitantes

ESTADOS UNIDOS

URUGUAI

MÉXICO

ESPANHA

ARGENTINA

CHILE

BRASIL

CORÉIA DO SUL

COLÔMBIA

TRIN. E TOB.

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 27

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

TELECOM PONTUAÇÃO

1 Brasil 15,82

2 Chile 14,00

3 Colômbia 13,58

4 Rep. Dom. 13,44

5 Uruguai 13,44

6 México 13,30

7 Argentina 13,16

8 Belize 12,88

9 Peru 12,18

10 Costa Rica 11,48

11 Venezuela 11,40

12 Jamaica 10,50

13 Paraguai 10,22

14 El Salvador 10,08

15 Honduras 9,24

16 Nicarágua 9,10

17 Trin. e Tob. 8,96

18 Panamá 8,96

19 Guatemala 8,26

20 Equador 6,44

21 Bolívia 6,16

22 Cuba 4,90

23 Haiti 2,66

ÁGUAS PONTUAÇÃO

1 Chile 10,03

2 Colômbia 7,93

3 Uruguai 7,67

4 Cuba 6,46

5 Trin. e Tob. 6,09

6 Brasil 5,99

7 México 5,93

8 Peru 5,78

9 Costa Rica 5,67

10 Panamá 5,46

11 Equador 5,41

12 Belize 4,88

13 Argentina 4,73

14 Venezuela 4,67

15 Rep. Dom. 4,46

16 Jamaica 4,20

17 El Salvador 3,62

18 Bolívia 3,41

19 Honduras 3,26

20 Guatemala 3,20

21 Paraguai 2,57

22 Nicarágua 2,42

23 Haiti 0,68

2.000 4.000 6.000 8.000 10.000

Contudo, este ano o país adiou uma série de projetos e ainda lhe dói o fracasso do Transan-tiago, o polêmico sistema de transporte urbano da capital que tem absorvido quase todos os seus recursos na procura de uma solução.

A Colômbia é o país com maior potencial em transporte na região. Com portos tanto no Atlântico como no Pacífi co, e um território interior que exi-ge maior conectividade com os portos e sistemas de acesso logístico – especialmente um sistema intermodal – o país pa-rece estar pronto para explorar novos terrenos em infra-estrutura de transportes. Mas algo o está atrasando e a sua pontuação cai 13% nesta categoria, em relação a 2007.

O Panamá é o primeiro em infra-estrutura portuária e lo-gística, em todo o hemisfério-inclusive portos no litoral do Golfo e no litoral Leste dos Estados Unidos estão investindo

em preparação para a explosão de embarcações Post-Panamax que deverá acontecer assim que o Canal estiver pronto, em 2014. A Jamaica continua ocupando uma posição relativamente elevada em nosso ranking, seguido pela estréia do Uruguai dentro dos Top 5.

Os seguintes cinco países são importantes. O Brasil subiu um degrau, da décima à nona posição, melhorando a sua pontuação em quase 20%, um dos incrementos mais impor-tantes de qualquer país, em qualquer categoria, neste ranking. Grande parte deste avanço se deve a melhoras em logística. Ao mesmo tempo, as concessões de autopistas e os projetos de transporte urbano continuam avançando aceleradamente, assim como os investimentos privados, como o projeto do Porto de Açu, de Eike Batista.

Tanto a República Dominicana, quanto o México têm uma série de projetos ambiciosos pendentes, que foram adiados em 2008 e deverão se realizar em 2009. Na República Dominicana, o projeto para a autopista Santo Domingo – Samaná, que une os litorais Norte e Sul da ilha, deverá continuar; e no México, uma série de iniciativas rodoviárias e portuárias chaves, in-cluindo o projeto Punta Colonet, que já vem aí e contempla um investimento de US$ 8 bilhões, deverão avançar em 2009.

HORIZONTE NEGROO setor sanitário (que combina as redes de água potável e esgotos) encontra-se em graves apuros na América Latina. À exceção do Chile, as pontuações de cada país na região têm sido menores – de forma precipitada no caso da Argentina, que

abandona completamente o Top 10 desta categoria, apesar de ter ocupado o 5º lugar há um ano. Isto pressagia um ano ruim para 2009, já que os investimentos em águas e esgotos tendem a avançar nos bons tempos, e a cair de forma dramática em perío-dos de difi culdades fi nanceiras. Por exemplo, numa das maiores cidades da América Latina – que se caracteriza por graves proble-mas de água – o orçamento do setor para 2009 foi diminuído em 25%. A mensagem é a de que o setor de água potável e esgotos na América Latina se encontra em crise, e que esta situação vai piorar devido a que os investimentos estão condicionados ao

nível das tarifas e impostos sobre bens raízes.

Os países que têm rea-lizado os maiores esforços nos últimos anos, são os que obtêm as mais altas pontu-ações: Chile, Colômbia e Uruguai. São países que não só reconhecem a importância da água potável para a saúde pública como têm incorpo-rado modelos financeiros para garantir a operabilidade e manutenção de sistemas de água – os quais, porém, continuam a apresentar níveis muito abaixo dos sistemas do primeiro mundo.

O Uruguai entra no Top 5 este ano, principalmente em função de projetos de melhora na distribuição de água potável, incluindo o projeto de Modernização e Reabilitação dos sistemas de Obras Sanitárias do Estado, com o respaldo do Banco Mundial.

O Brasil e o México têm grandes planos, assim co-mo grandes necessidades

e constantes postergações. Cada um tem abordado de forma

Page 28: Nº 369 Edição Brasil

28 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

Se soltássemos a imaginação e definíssemos a forma dos países não mais por sua geografia e área, mas pelo índice de infra-estrutura, a América Latina ficaria como se vê acima.

Dessa forma, o Brasil teria seu tamanho reduzido, já que nesta versão do ranking de infra-estrutura da CG/LA ele obtém a quinta posição. Se esse exercício tivesse sido feito há dois anos, o país te-ria ficado ainda menor, já que desde a primeira versão do ranking o

Brasil aumentou seu índice de infra-estrutura em 3,7 pontos. Apesar de ter melhorado sua posição, quando se trata de infra-estrutura, o Brasil e a região em geral crescem lentos.

Dentro desse jogo, os países que se vêem favo-recidos são Chile, Panamá e México, que obtêm os três primeiros lugares. Já Bolívia, Nicarágua e Haiti também sofrem uma redução de suas superfícies.

País encolhido

Infra-estrutura Brasil histórico

FONTE:CG/LAPontuação fi nal do Brasil, por ano

40

50

60

70

2008

60,62

2007

60,59

2006

56,92

Ranking transporte

FONTE:CG/LAPontuação fi nal do Brasil, por ano

20

15

10

5

02006

8,94

2007

7,84

2008

9,92

Ranking eletricidade

FONTE:CG/LAPontuação fi nal do Brasil, por ano

20

15

10

5

02006

13,89

2007

17,74

2008

15,86

Ranking digital/telecomunicações

FONTE:CG/LAPontuação fi nal do Brasil, por ano

20

15

10

5

02006

13,58

2007

13,86

2008

15,82

Ranking saneamento básico

FONTE:CG/LAPontuação fi nal do Brasil, por ano

0

5

10

15

20

2006

6,41

2007

7,19

2008

5,99

Page 29: Nº 369 Edição Brasil

A infra-estrutura digital mostrou grandes avanços em 2008 pela disponibilidade de fi nanciamento para novos investimentos. O Brasil leva a dianteira nesse setor

METODOLOGIA E FONTES

Para realizar este ranking, a CG/LA recolheu as informações

e analisou 40 variáveis separadas, que se dividiram em va-

riáveis ‘infra-estruturais’ e econômicas/administrativas. As

primeiras são aquelas que descrevem a capacidade física e o

desempenho de um país –como estradas asfaltadas por cada

1.000 habitantes. As segundas são aquelas que descrevem

as condições gerais sob as quais os projetos são concebidos

e levados adiante.

A coleta dos dados se fez durante um período de seis meses,

para os 23 países incluídos na reportagem. Também se con-

sidera na metodologia uma terceira dimensão de variáveis,

que é composta por: visão estratégica das áreas gerais nas

quais um país, região ou cidade pode ser mais competitivo;

capacidade de planifi cação técnica do setor público; capa-

cidade estratégica do setor público, ou seja, de levar adiante

um projeto; tamanho dos projetos de infra-estrutura nos

quais se compromete o país e quanto estes contribuem para

a competitividade; capacidade de liderança nas políticas e

fi nanciamentos para que os projetos se completem; desem-

penho no longo prazo dos projetos; a existência de fortes

empresas locais de engenharia, busca e construção (EPC é

sua sigla em inglês); e a presença de investidores institucio-

nais locais, como fundos de pensão, que ajudem a fi nanciar

os projetos com um horizonte no longo prazo.

Os oito requisitos acima mencionados devem funcionar de

forma sincronizada para que um país obtenha um cresci-

mento sustentável no longo prazo em sua infra-estrutura e

são sintetizados em um indicador.

VEJA OS RESULTADOS COMPLETOS DO RANKING EMWWW.AMERICAECONOMIA.COM.BR

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 29

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

Projetar um país

FONTE: CG/LA e AméricaEconomiaIndicador de capacidade de construir o futuro

403020100

CHILEPANAMÁ

TRIN. E TOB.

BRASIL

MÉXICOCOLÔMBIAREP. DOM

PERU

EL SALVADORGUATEMALA

ARGENTINA

JAMAICA

HONDURASCUBA

VENEZUELA

NICARÁGUAPARAGUAI

EQUADOR

BOLÍVIAHAITI

diferente o problema sanitário. O Brasil tem descentralizado um sistema estatal, enquanto o México possui um sistema federal. Porém, os resultados são os mesmos: uma batalha para articular ou fi nanciar projetos, e atrasos constantes nas obras (ver história na pág. 35).

A Cedae, entidade sanitária do estado do Rio de Janeiro (e que apresenta um dos piores desempenhos da região), se prepara para realizar a sua oferta pública inicial de ações, seguindo a tendência imposta pela Sabesp. A administração atual está investindo fortemente para melhorar a efi ciência e reduzir as perdas de água potável, tanto as físicas, quanto as comerciais - de faturamento. Observa-se também que os esforços do Peru para incrementar o seu rendimento no setor sanitário têm gerado resultados impressionantes – logrando um avanço do 15º ao 8º lugar em um ano. Isto também demonstra a precariedade do setor na América Latina, assim como o rápido avanço que se poderia alcançar com esforço e perseverança.

SEM CONEXÃO… DE NOVO A área de infra-estrutura digital mostra um rendimento diame-tralmente oposto ao do setor sanitário, ainda gera investimentos e é facilmente fi nanciada por meio das tarifas de acesso e em direta correlação com a produtividade.

As pontuações melhoraram de forma signifi cativa em 2008 em todos os países. O Brasil continua no primeiro lugar, ele-vando a sua pontuação nesta categoria em 12%. De fato, o Brasil está progredindo signifi cativamente em matéria digital – particularmente em novos serviços de valor agregado. Vêm a seguir o Chile e a Colômbia, que têm desenvolvido sistemas bem projetados, que servem de plataforma para os negócios, com poucas interrupções ou perdas de sinal.

A República Dominicana continua subindo no ranking, do 5º ao 4º lugar em um ano, melhorando a sua pontuação em 11%. O grande assunto deste país é seu movimento agressivo no ingresso e processamento de dados, baseado em um cres-cimento estável e uma importante população bilíngüe – o que representa uma considerável vantagem.

O México surpreende, mantendo a 6ª posição, principalmente devido ao elevado custo das ligações e à falta de inovação – produto de um sistema de telefonia monopólico.

Um dos poucos que tem caído neste aspecto é a Costa Rica, do 7º ao 10º lugar, devido ao fracasso na liberalização de seu sistema estatal. Muitos dos serviços digitais disponíveis em toda a América Latina simplesmente não estão disponíveis na Costa Rica.

Page 30: Nº 369 Edição Brasil

BUSCAM-SE

Apesar desses exemplos, a infra-estrutura da América Latina ainda requer muito investimento futuro. O estudo da CG/LA identifi ca alguns dos principais projetos demandados na re-gião que permanecem, em alguns casos, em fase de estudo, mas que são de vital importância para o desenvolvimento da região. Estes incluem: a construção do porto de Punta Colonet na costa pacífi ca do México (avaliado em US$ 2 bilhões); a estrada Oaxaca-Puerto Escondido-Huatulco (US$ 450 milhões); a expansão e concessão dos portos de Moín e Limón, na Costa Rica (US$ 350 milhões); a construção do metrô de Bogotá; a expansão do porto e da ferrovia de Santos, no Brasil (US$ 5,4 bilhões); a reabilitação e expan-são da ferrovia a Belgrano, na Argentina (US$ 1,1 bilhão); o projeto petrolífero Ku-Maloob Zaap no México (US$ 4 bilhões); o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo (US$ 11 bilhões); e o projeto hidroelétrico Santo Antônio, no Brasil (US$ 1 bilhão).

7

8

10

96

Extensão da linha FerroNorte – BrasilValor do Projeto: por defi nir

Postergado durante mais de uma década, o projeto estenderá os 900 km de linha férrea existentes em São Paulo para mais de 5 mil km. Este megainvestimento logístico permitirá unir as regiões produtivas do interior com o Porto de Santos. O custo dos primeiros 400 km é estimado em US$ 1,1 bilhão.

Autopista Ruta del Sol – ColômbiaValor: US$ 2,5 bilhõesA Ruta del Sol é o maior projeto que

o governo colombiano empreenderá durante esta década. A estrada, que terá 900 km de extensão, conectará Bogotá com o porto de Santa Marta, na costa Atlântica. Será um dos maio-res projetos de infra-estrutura na América Latina e a principal iniciativa do setor de transporte na Colômbia. Os termos da licitação estão sendo defi nidos pelas autoridades.

Planta de trat. de águas servidas La Chira – PeruValor: US$ 384 milhõesO projeto inclui o desenho, fi nancia-

mento, construção, operação e manutenção de uma estação de tratamento de água. A planta terá capacidade média de 6,5 m3/s e máxima de 11,3 m3 /s. A concessão para sua operação será por 25 anos.

Porto de Itaqui – BrasilValor: US$ 100 milhões (estimado)A expansão do porto de Itaqui é parte do

PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo brasileiro e envolve uma expansão signifi cativa do parque industrial. Atualmente, conta com quatro terminais. A expansão contempla entregar a construção de um terminal multipropósito em concessão. Estima-se o custo em US$ 100 milhões, incluindo a dragagem, mas o mais provável é que se supere essa cifra. A construção do porto ajudará a desconges-tionar os portos de Santos e Paranaguá.

Reestruturação da Termoelétrica Valle de México – MéxicoValor: US$ 800 milhões

O projeto foi licitado pela Comissão Federal de Eletricidade em meados de 2008 e, completo, terá capacidade de 1.170 MW. A iniciativa, que fornecerá energia elétrica para uma das regiões urbanas mais populosas do planeta, será desenvolvida pelo setor privado através do sistema de licitações públicas do país.

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 31

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

O estudo de AméricaEconomia e CG/LA identifi ca os projetos anunciados em 2008 que modifi -carão o perfi l da infra-estrutura na América Latina. Estes são os dez principais:

Page 31: Nº 369 Edição Brasil

BUSCAM-SE

Apesar desses exemplos, a infra-estrutura da América Latina ainda requer muito investimento futuro. O estudo da CG/LA identifi ca alguns dos principais projetos demandados na re-gião que permanecem, em alguns casos, em fase de estudo, mas que são de vital importância para o desenvolvimento da região. Estes incluem: a construção do porto de Punta Colonet na costa pacífi ca do México (avaliado em US$ 2 bilhões); a estrada Oaxaca-Puerto Escondido-Huatulco (US$ 450 milhões); a expansão e concessão dos portos de Moín e Limón, na Costa Rica (US$ 350 milhões); a construção do metrô de Bogotá; a expansão do porto e da ferrovia de Santos, no Brasil (US$ 5,4 bilhões); a reabilitação e expan-são da ferrovia a Belgrano, na Argentina (US$ 1,1 bilhão); o projeto petrolífero Ku-Maloob Zaap no México (US$ 4 bilhões); o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo (US$ 11 bilhões); e o projeto hidroelétrico Santo Antônio, no Brasil (US$ 1 bilhão).

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Extensão da linha FerroNorte – BrasilValor do Projeto: por defi nir

Postergado durante mais de uma década, o projeto estenderá os 900 km de linha férrea existentes em São Paulo para mais de 5 mil km. Este megainvestimento logístico permitirá unir as regiões produtivas do interior com o Porto de Santos. O custo dos primeiros 400 km é estimado em US$ 1,1 bilhão.

Autopista Ruta del Sol – ColômbiaValor: US$ 2,5 bilhõesA Ruta del Sol é o maior projeto que

o governo colombiano empreenderá durante esta década. A estrada, que terá 900 km de extensão, conectará Bogotá com o porto de Santa Marta, na costa Atlântica. Será um dos maio-res projetos de infra-estrutura na América Latina e a principal iniciativa do setor de transporte na Colômbia. Os termos da licitação estão sendo defi nidos pelas autoridades.

Planta de trat. de águas servidas La Chira – PeruValor: US$ 384 milhõesO projeto inclui o desenho, fi nancia-

mento, construção, operação e manutenção de uma estação de tratamento de água. A planta terá capacidade média de 6,5 m3/s e máxima de 11,3 m3 /s. A concessão para sua operação será por 25 anos.

Porto de Itaqui – BrasilValor: US$ 100 milhões (estimado)A expansão do porto de Itaqui é parte do

PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo brasileiro e envolve uma expansão signifi cativa do parque industrial. Atualmente, conta com quatro terminais. A expansão contempla entregar a construção de um terminal multipropósito em concessão. Estima-se o custo em US$ 100 milhões, incluindo a dragagem, mas o mais provável é que se supere essa cifra. A construção do porto ajudará a desconges-tionar os portos de Santos e Paranaguá.

Reestruturação da Termoelétrica Valle de México – MéxicoValor: US$ 800 milhões

O projeto foi licitado pela Comissão Federal de Eletricidade em meados de 2008 e, completo, terá capacidade de 1.170 MW. A iniciativa, que fornecerá energia elétrica para uma das regiões urbanas mais populosas do planeta, será desenvolvida pelo setor privado através do sistema de licitações públicas do país.

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 31

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

O estudo de AméricaEconomia e CG/LA identifi ca os projetos anunciados em 2008 que modifi -carão o perfi l da infra-estrutura na América Latina. Estes são os dez principais:

Page 32: Nº 369 Edição Brasil

32 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

Futuro árido

Page 33: Nº 369 Edição Brasil

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A falta de normas tarifárias, infra-estrutura e disponibilidade de água colocam a Cidade do México e seus arredores em perigoArly Faundes Berkhoff, Cidade do México

Os astecas que no século XIV fundaram seu im-pério sobre as pequenas ilhas de Tenochtitlan e Tlatelolco, no meio de cinco lagos, certamente não se surpreenderiam se soubessem que, qua-

se 500 anos após ter sido conquistada, sua capital imperial continua sendo muito maior e mais populosa que a capital dos conquistadores espanhóis. Na época já era assim, e hoje a Cidade do México continua se caracterizando por ser uma das maiores concentrações urbanas do mundo. O fato que, sim, lhes chamaria a atenção, é o desaparecimento da água dessa cidade. De toda a água.

Com 22 milhões de habitantes, 20% do total da população do país, o Distrito Federal (DF) mexicano e seus arredores foram construídos sobre o que foi um paraíso aquático que, com o correr do tempo, foi transformado quase num deserto. A população atual carece cada vez mais do abastecimento local deste recurso. Hoje, a água que alimenta a capital de-ve ser transportada de outros estados através de complexos sistemas.

Segundo a Comissão Nacional da Água, na Zona Me-tropolitana do Vale do México – que compreende o DF e os municípios ao redor do estado do México – 92,5% da população têm acesso à água potável encanada, mas esta porcentagem é cada vez mais difícil de ser mantida.

A demanda cresce tanto quanto a população, num ritmo de 2% no DF e de 5,6% no estado do México. Este aumento deveria ser passível de controle. O problema é, por um lado, que tal aumento acontece em um entorno ambiental onde, em termos absolutos, a disponibilidade de água começa a se reduzir a níveis críticos. E, por outro, que os incentivos socioeconômicos não estão aplicados para reverter esta rea-lidade, fazendo com que cidadãos e empresas não melhorem a forma como a utilizam.

De fato, o sistema de abastecimento requer uma infra-estrutura que possibilite um maior investimento. Além disso, os sistemas aqüíferos estão sendo superexplorados, afetando diretamente a qualidade da água e o risco de afundamento da cidade. Pior ainda, a estrutura dos preços não fomenta um consumo mais consciente. E as redes de abastecimento de água apresentam importantes vazamentos, resultando numa grande perda da água que abastece a Zona Metropolitana.

Jorge Efrén Villalón, diretor da Bacia Águas do Vale do México, da Comissão Nacional da Água (Conagua), explica que “como neste terreno antes existia um lago, o terreno é lamacento e instável e tende a afundar”. E essa predisposição já está se convertendo em realidade: a região apresenta uma

média de 10 cm de afundamento por ano, provocando danos graves na rede hidráulica, o que explica e perda de 30% a 40% da água transportada.

Segundo dados da Conagua, a Zona Metropolitana do Vale do México recebe 63 m3 (63 mil litros) de água por segundo para uso urbano. Deste total, 19,5 m3 vêm do Sistema Cut-zamala e Lerma (do estado do México e Michoacán, respec-tivamente), 1,5 m3 de rios e mananciais e uma quantidade considerável, 42 m3, dos lençóis aqüíferos.

Além disso, conforme é necessário aumentar a profundidade de exploração, encontra-se maior concentração de metais; a cor e o cheiro do líquido começam a mudar. Assim, a água chega cada vez menos apropriada para o consumo.

Parte fundamental desta superexploração é o grande con-sumo per capita de água potável do Vale: uma média de 325 litros diários por habitante. Muito mais alto que em outras cidades como Monterrey ou Águas Calientes, onde a média de consumo por habitante é de 250 litros por dia. “Não temos uma cultura de consumo consciente de água porque aqui é muito barata”, explica Villalón. Segundo a Conagua, o custo de extração da represa em Cutzamala, incluindo o tratamento para torná-la potável, é de 6,70 pesos mexicanos (US$ 0,4) por m3. No entanto, os serviços de transporte e tratamento das águas – constitucionalmente, no México não se pode

cobrar pela água em si – são vendidos a 4,21 pesos (US$ 0,3) aos governos do estado do México e do DF. “No ano passado aumentamos em 18% o preço e foi um problema. Todos se queixaram, embora ninguém tenha chegado a pen-sar que o custo ainda continua muito acima do que estamos cobrando”, acrescenta. Segundo Villalón, o problema é que, como o país nunca teve um sistema efi ciente de cobrança da água, determinar um preço real de um dia para outro é muito mais difícil.

Mas esta intrincada cadeia da água não termina aí. Em nível nacional, depois de receber a água da Conagua, os Estados a distribuem aos seus municípios, que têm seus próprios órgãos para administrar os sistemas de água (insti-tuições públicas). No caso do DF, que não está dividido em municípios, os operadores de água dependem do Serviço de Água da Cidade do México, o qual por sua vez depende do Governo do DF.

E, embora se suponha que este tenha autonomia para operar e, portanto, para regularizar tarifas, na prática isso não funciona assim. Segundo explica Roberto Olivares, presidente da Associação Nacional de Empresas de Água e Saneamento (Aneas), que agrupa os operadores dos sistemas

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 33

ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

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ÁLVA

RO A

RAYA

URQ

UIZA

Já se tornou quase um mantra do Governo Federal brasi-leiro. Desde que estourou a crise fi nanceira nos Estados Unidos, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, repete com a mesma freqüência com que é questionado por

jornalistas que não faltará crédito para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Grandes projetos de infra-estrutura são uma das principais bandeiras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também de outros presidentes latino-americanos, para garantir a geração de empregos e manter as engrenagens da economia resistentes à retração. No caso do PAC, porém, fechar a equação que garantirá o investimento

dos R$ 503,9 bilhões previstos em obras de infra-estrutura até o fi nal de 2010 não dependerá apenas da boa vontade política. Segundo especialistas, a crise pode ter comprometido a demanda por instrumentos de crédito fundamentais na estruturação de fi nanciamento de algumas obras, ou mesmo colocado de so-breaviso potenciais interessados em estabelecer parcerias com o Estado. Pelo menos, no curto prazo.

“O governo está injetando recursos, mas certos projetos, como o de algumas PPPs, por exemplo, demandam estruturas fi nanceiras sofi sticadas, que não sabemos se podem ser erguidas neste momento de crise”, afi rma Rogério Sobreira, professor de

Especialistas afi rmam que, mesmo com garantias de crédito do governo brasileiro, a crise poderá afetar cronograma de obras do PAC Dubes Sônego, São

Paulo

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ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

Contraponto estatal

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Garófalo: “O governo está pondo muita responsabilidade nas costas da iniciativa pri-vada... ela nem sempre vai se aventurar”

economia e fi nanças da FGV. Sobreira se refere a instrumentos de securitização e derivativos, que provavelmente não teriam demanda atualmente, por serem identifi cados como vilões da crise que colocou diversos grandes bancos de joelhos. “São obras, inclusive, que não poderiam ser tocadas exclusivamente com recursos do sistema fi nanceiro nacional. Porque o Banco Central impõe limitações ao volume de recursos empenhados por uma instituição em apenas um projeto”, diz.

Sobreira chama a atenção ainda para o fato de que parte das obras do PAC são tocadas em parceria com a iniciativa privada. Face à crise, ele acredita que muitos empresários e executivos podem relutar em se associar ao governo em projetos cujo de-sempenho futuro dependa fortemente do crescimento do PIB, ou que necessitem de um montante grande de recursos iniciais. “Não que a crise vá levar ao cancelamento, mas pode adiar a realização de certos projetos de infra-estrutura”, diz o acadêmico.

O projeto do trem-bala, que prevê a ligação entre as cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, seria um exemplo. Estimada em algo entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, a obra teve o leilão adiado do primeiro para o segundo semestre de 2009 em função da crise. A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, justifi cou a decisão dizendo que um projeto de tal dimensão exige um nível de precisão técnica bastante aguçado. Para Sobreira, porém, o adiamento da licitação já é um sinal de problemas: “são riscos não triviais, que podem levar à postergação”.

Em função disso, merecem atenção grandes leilões previs-tos para o próximo ano, como a terceira etapa de concessões rodoviárias, marcada para o dia 23 de março. O investimento previsto nos 2066 km dos trechos das BRs 040, 116 e 381, nos estados de Minas Gerais e Goiás, é de R$ 1,6 bilhão, até 2010. Após o período, seriam necessários outros R$ 6,6 bilhões. Este ano, em dezembro, também deverá ser lançado na Bovespa o edital de sub-concessão da Ferrovia Oeste-Leste. Orçado em R$ 3,3 bilhões, a serem investidos até 2010 – outros R$ 2,7 bilhões são previstos para obras posteriores –, o projeto ligará Ilhéus, na Bahia, a Figueirópolis, no Tocantins, cobrindo 1,5 mil km. Na área de energia, foi marcado para outubro de 2009 o leilão da usina de Belo Monte, no Pará, que aproveitará o potencial de geração hidrelétrica do Rio Xingu, gerando 11,1 mil MW. O projeto prevê investimento de R$ 7 bilhões, dos quais R$ 2,8 bilhões programados para acontecer até 2010.

O temor da iniciativa privada em assumir riscos num mo-mento de escassez de liquidez como o atual é compreensível. “A área de infra-estrutura tem um lado perverso”, diz Gin Kwan Yue, professor do departamento de administração da PUC-SP, especialista em operações e logística. “Mesmo que a economia permaneça aquecida por dez anos, o retorno da maioria dos pro-jetos acontece depois de 20 anos. Por isso, é necessário contar com grande volume de recursos no início.”

Levando-se em consideração o percentual de participação direta da iniciativa privada e de empresas estatais no conjunto do PAC, a capacidade de levantar fi nanciamentos pode ser crucial. Dos R$ 503,9 bilhões que o governo espera ver transformados

em infra-estrutura até 2010, somente R$ 67,8 bilhões sairão diretamente do bolso da União. Até agora, porém, dos quase R$ 33 bilhões aprovados nos orçamentos de 2007 e 2008, ape-nas cerca de um terço foi efetivamente desembolsado, segundo levantamento realizado pela ONG Contas Abertas em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi ).

De janeiro a junho deste ano, por exemplo, dos R$ 6,6 bilhões autorizados para rodovias, saíram dos cofres públicos somente R$ 235 milhões, ou 4,3%, além de R$ 1,8 bilhão de restos a pagar. Em 2007, os percentuais de desembolso efetivo em ferrovias, portos e infra-estrutura energética foram, respectivamente, de 23,48%, 38,35% e 20,58%. Somente em aeroportos, por conta do caos aéreo que vive o País, foi investida a totalidade dos recursos previstos.

E ainda há muito a ser feito. De acordo com o último balanço do programa, que cobre o período que vai do seu início até 30 de setembro deste ano, de um total de 2198 obras monitoradas, 1829 estão em ritmo de execução adequado. Mas, apenas 194 foram concluídas, não muito mais que o total de obras que me-recem atenção ou estão em estado considerado preocupante: 175. Na área de infra-estrutura energética, por exemplo, 32% dos projetos ainda estavam em fase de licitação de obra, projeto ou licenciamento. Em infra-estrutura logística, o percentual era

de 26%, enquanto em infra-estrutura social e urbana, 66%.“O governo está pondo muita responsabilidade sobre as

costas da iniciativa privada. Nesse cenário, ela nem sempre vai se aventurar”, diz Gilson de Lima Garófalo, professor do departamento de economia da PUC-SP e membro do Núcleo de Análise Econômica. Além disso, diz ele, fusões e aquisições são tendências em outros setores, não apenas no fi nanceiro, e podem drenar recursos que de outra forma talvez fossem dire-cionados a projetos de infra-estrutura. E algumas empresas já estão parando projetos que podem ser interrompidos, num claro sinal de indisposição para a tomada de riscos frente a um quadro econômico pouco cristalino.

Para Adriano Biava, especialista em fi nanças e professor da FEA-USP “o setor privado não vai ter tanto capital assim”. E, “o setor público vai ter que pensar um pouco mais sobre quais recursos públicos pode dispor”. Uma das alternativas, segundo ele, seria a “contribuição de melhoria”, uma taxa cobrada de proprietários diretamente benefi ciados por uma obra – a valo-rização de um imóvel próximo a um metrô, por exemplo. Mas, não haveria interesse político para tanto. O que exige atenção redobrada com as fi nanças públicas para garantir os recursos

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ABr

necessários à continuidade do programa. “A receita é defasada. Estamos arrecadando o correspondente há três ou seis meses. É bom tomar cuidado para o ano que vem. Há o alerta sobre a pos-sibilidade de redução do ritmo de atividade econômica”, diz.

É algo que preocupa também outros economistas. Para So-breira, da FGV, está claro que uma redução do crescimento do PIB para 3%, como é a previsão atual para 2009, terá impacto sobre a arrecadação. E o governo será pego numa situação de aumento dos gastos públicos, justamente num momento em que seria desejável maior margem de manobra. “Na época em que fazia sol, o governo teve a oportunidade de fazer o ajuste fi scal e não fez”, afi rma o acadêmico, que lembra que reduzir as metas de superávit não seria a solução para o problema, uma vez que a medida seria encarada como aventureira, derrubando a confi ança na sustentabilidade da dívida do País. Garófalo, da PUC-SP, faz avaliação semelhante. “O governo vai ter queda de arrecadação e acaba de mostrar relativa generosidade com o funcionalismo público, que teve reajustes salariais”, diz o economista.

ENTRAVES BUROCRÁTICOS

Mas, mesmo em áreas nas quais o governo tem o dinheiro pronto para oferecer, podem acontecer problemas. Em meados de novembro, Leodegar Tiscoski, secretário do Ministério das Cidades, apresentou um balanço dos recursos solicitados pela

iniciativa privada para obras de saneamento básico. Dos R$ 8 bilhões disponíveis, foram habilitados apenas R$ 2 bilhões. Questionada sobre o que o governo classifi cou como “falta de interesse” das empresas do setor, a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib) reagiu apontando como razão para o fato a baixa demanda por projetos do gênero em prefeituras e estados. A abertura de licita-ções andaria a passos lentos, mesmo havendo dinheiro, por escassez de profi ssionais habili-tados para colocar de pé os projetos.

É um caso emblemático da difi culdade que o Brasil tem de dar andamento aos contratos. Maurício Portugal Ribeiro, consultor do setor de infra-estrutura na International Finance Corpotarion (IFC), ligada ao Banco Mundial, explica quais os trâmites tradicionais de um

projeto. “É preciso fazer um edital de contratação de uma consultoria para fazer o projeto e, depois, um edital de obra, para realização do projeto em si. O processo todo pode levar dois anos, supondo que o poder público tenha gente para conduzir esses projetos”, diz. Segundo ele, muitos dos projetos que evoluíram até agora já estavam contratados ou já havia, pelo menos, um estudo pronto para a obra. Em função disso, existe a possibilidade de que o que vier pela frente ande mais devagar.

Em grandes hidrelétricas de Jirau e Estreito, na região Norte, existe ainda protestos de ambientalistas. Até agora, o governo contornou o problema, mas Estreito chegou a ser paralisada, em meados do ano, por uma liminar concedida por um juiz fede-ral de Imperatriz (MA), que acolheu a denúncia do Ministério Público. Segundo levantamento realizado pela ONG Contas Abertas junto a Advocacia Geral da União (AGU), as obras do PAC já receberam mais de 900 ações judiciais, a maioria rela-tivas à desapropriação de terras que serão inundadas por lagos de hidrelétricas ou cortadas por rodovias.

Independente das ressalvas feitas ao programa, todos os entrevistados consideram a execução dos projetos incluídos no PAC de vital importância. E lembram que, bem ou mal, a coisa está andando. “Pior do que estava, não vai fi car. Bem ou mal, os investimentos estão sendo feitos e existe disposição do governo de investir”, diz Ribeiro, do IFC.

No Sul do Brasil, não é só a crise que pode atrapalhar o anda-mento das obras do PAC. As chuvas que castigaram o estado de Santa Catarina durante os meses de outubro e novembro

causaram estragos suficientes para provocar o que o secretário de Infra-Estrutura local, Romualdo Theophanes França, classificou co-mo “problemas sérios” nas sete obras rodoviárias em andamento na região. A chuva, que provocou enchentes e desmoronamentos, che-gando a romper um duto do gasoduto Brasil-Bolívia, teria mudado a estabilidade do solo. Em função disso, serão necessárias adequações

no cronograma de execução, nos projetos e metodologias de cons-trução, para garantir a segurança das obras.

Os estragos foram tão significativos que João Paulo Kleinubing, prefeito de Blumenau, a cidade mais atingida de Santa Catarina, es-tima que a recuperação de toda a infra-estrutura local poderá levar até dois anos. Blumenau é um dos principais pólos têxteis do País, abrigando principalmente empresas fabricantes de malhas e produtos de cama, mesa e banho. Entre as empresas com origem na região estão Hering e Karsten.

São Pedro X PAC

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SOCIAL

AméricaEconomia premiou a empresários, personalidades e executivos que movimentaram os negócios na América Latina em 2008, em um almoço de reconhecimento no dia 20 de novembro, no Hotel Miraflores Park, em Lima, no Peru.O evento – que celebrou o 20° aniversário dos Prêmios Excelência e foi realizado paralelamente a APEC CEO Summit – contou com a presença dos mais destacados empre-sários da região, que também participaram da conferência “A Nova Wall Street. Quais as mudanças nos serviços financeiros na América Latina e na Ásia Pacífico?”.

AMÉRICAECONOMIA ENTREGA PRÊMIOS EXCELENCIA 2008

John Edmunds, profesor da Babson Collage; Enrique García, CEO da Corporación Andina de Fomento CAF; Pedro Pablo Kuczynski, ex-primeiro-ministro do Peru; Francisco Aristeguieta, presidente do Citibank Colombia e Guillermo Larraín, superintendente de Valores e Seguros de Chile.

Enrique García, CEO da Corporación Andina de Fomento CAF.

Alberto Alemán, Administrador da Autoridad del Canal de Panamá recebe o prêmio das mãos de Norman Anderson, CEO da GG-LA

Cristiano Sampaio, gerente da AmBev Perú recebe o prêmio representando Carlos Brito, CEO da Inbev. Quem faz a entrega é Fernando Chevarría, editor executivo da AméricaEconomía Perú.

Nils Strandberg, presidente da AméricaEconomia, faz a entrega do prêmio a Germán Freyre, gerente da Incalpaca.

Guillermo Larraín, superintendente de Valores e Seguros de Chile, recebe o prêmio das mãos de Juan Ignacio de Zabala, gerente da AméricaEconomía Perú.

Felipe Aldunate, diretor editorial da AméricaEconomía faz a entrega do prêmio a José Rubens de La Rosa, CEO da Marcopolo.

Rodrigo Paz, presidente da Liga Deportiva Universitaria de Quito recebe o prêmio das mãos de Gloria Landabur, vice-presidenta executiva da AméricaEconomía.

Francisco Aristeguieta, presidente do Citibank Co-lombia.

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Pedro Pablo Kuczynski, ex-primeiro-ministro do Peru.

Carlos Rodriguez-Pastor, CEO da Interbank recebe o prêmio das mãos de Nils Strandberg, presidente AméricaEconomía.

Fernando Chevarría, editor executivo da AméricaEconomía Perú faz a entrega do prêmio a Raúl Obregón, gerente da Bimbo Peru, que representou Daniel Servitje, diretor do Grupo Bimbo.

Felipe Aldunate, diretor editorial da AméricaEconomía faz a entrega do prêmio a Gustavo Grobocopatel, CEO do Grupo Los Grobo.

José Alberto Vélez, presidente da Cementos Argos recebe o prêmio das mãos de Juan Ignacio de Zabala, gerente da AméricaEconomía Perú.

Nils Strandberg, presidente da AméricaEconomía faz a entrega do prêmio a José Alberto Zuccardi, presidente da La Agrícola.

Gloria Landabur, vice-presidenta executiva da AméricaEconomía faz a entrega do prêmio a Flavio Balestrín, diretor de Expansão Internacional do Grupo TOTVS, que representou Laercio Consentino, presidente da TOTVS.

Luc Gerard, presidente da Tribecapital Partners.

Max Novoa, presidente da Publimobil, recebe o prêmio das mãos de Fernando Chevarría, editor executivo da AméricaEconomía Perú.

Francisco Aristeguieta, presidente do Citibank Colombia, recebe o prêmio representando Manuel Medina Mora, presidente e diretor do grupo Citi. John Edmunds, professor da Babson Collage, faz a entrega.

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Rotas profundasAs novas gerações de navios exigem da América Latina portos mais bem-preparadoDubes Sônego, São Paulo

Das janelas do bimotor de fabricação tcheca Let 410 UVP-E20, de 19 lugares, a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, parece um mar, de tão ampla. No horizonte, percebe-se que a terra fi rme estende-se

de forma análoga: é plana como a massa de água lá embaixo; se diferencia apenas pela coloração esverdeada e pela textura. Em poucos minutos mais, surge um centro urbano, e a aeronave aterrissa no pequeno aeroporto de Rio Grande. Esta pequena cidade gaúcha, de cerca de 200 mil habitantes, foi fundada em 1737, como posto de defesa no extremo sul do país, no canal de acesso à lagoa. É a mais antiga do estado, mas só há poucos anos voltou a assumir posição de relevância econômica nacional. E a pleitear um papel de maior destaque: o de porto do Mercosul.

A aposta tem razão de ser. Na última década, começaram a entrar em operação navios de transporte de contêineres de uma nova geração, conhecida como Post Panamax. O nome vem do fato de serem grandes demais para atravessar o canal que liga o Atlântico ao Pacífi co na região do Caribe. Mas, esta não é a única limitação que enfrentam. Carregados, esses cargueiros gigan-tes exigem que os portos interessados em recebê-los ofereçam

cais mais profundos que os encontrados na maioria dos casos. Uma exigência pode forçar o rearranjo das rotas marítimas na América Latina e, de quebra, benefi ciar Rio Grande.

Hoje, os maiores navios do mundo, como o Emma Maersk, com 397 metros de comprimento e capacidade de 11 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), fazem as grandes rotas do eixo horizontal, que ligam os EUA à Ásia e os EUA à Europa. O volume é quase o dobro do carregado pelos maiores navios que escalam a costa brasileira. À medida que novas em-barcações Post Panamax entram em operação, porém, as que operavam as rotas que ligam o Leste ao Oeste são transferidas as do eixo Norte-Sul, fazendo escalas na América Latina, diz o consultor de portos Marcos Vendramini, sócio-diretor da VKS Partex, “é o efeito cascata.”

O problema é que muitos portos importantes da região, co-mo o de Buenos Aires, o quinto maior da América Latina e do Caribe de acordo com a Comissão para a América Latina e o Caribe (Cepal), das Nações Unidas, não têm calado sufi ciente para receber os navios das novas gerações. E é pouquíssimo provável que venham a ter. No caso de Buenos Aires, alter-

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nativas como a dragagem não são viáveis economicamente, uma vez que seria necessário aprofundar todo o trecho do Rio da Prata que separa a capital argentina do oceano. O porto de Itajaí, localizado na foz do rio Itajaí Açu, no litoral de Santa Catarina, no Sul do Brasil, é outro que enfrenta problema seme-lhante, por causa do assoreamento. Seu calado de 10,5 metros é sufi ciente para receber apenas navios de pouco mais de 4 mil TEUs. Além do que, a cidade ao redor difi culta a expansão de áreas para movimentar e armazenar cargas.

Com grandes áreas livres e planas, posição geográfi ca privile-giada, próxima de grandes centros industriais, como Porto Alegre, a cidade de Rio Grande é uma das que vêem nas difi culdades dos concorrentes oportunidades. “Alguns navios começam a não chegar a Buenos Aires. Em algum momento, os argentinos terão que fazer o transbordo das cargas para navios maiores, na costa brasileira. Somos o centro geográfi co do Mercosul e queremos ser uma desses pontos”, diz Sérgio Fischer de Castro, diretor de terminais do Grupo Wilson,Sons, que administra o terminal de contêineres local.

Concessionária do porto desde 1997, a empresa recentemente investiu US$ 50 milhões na ampliação do cais e na compra de guindastes em forma de trave (RTGs), que permitiram o aumento da capacidade de movimentação de cargas de 700 mil TEUs para 1,13 milhão de TEUs, por ano. Hoje, Rio Grande ocupa a 18ª posição no ranking de portos da Cepal, duas posições atrás de Itajaí, por exemplo. Mas, para o futuro, conta com a vantagem de ter maior calado (12,5 metros, expansíveis), áreas livres para construção de vias de acesso, movimentação e armazenagem de cargas.

Não é um caso único na América Latina. Segun-do Ricardo Sánchez, especialista em infra-estrutura da Cepal, um dos portos com grande calado em melhores condições para crescer no México é justamente o mais novo e um dos menos movimentados na lista dos 30 maiores portos da região: o de Lázaro Cárdenas. Ele já recebe navios de 6,6 mil TEUs, vindos da Ásia, e tem capacidade de receber navios de até 8 mil TEUs. “Manzanillo (hoje, o mais movimentado do País) está cercado pela cidade, tem problemas para crescer. Lázaro sim tem para onde se expandir, capacidade de manejo de cargas e um terminal grande. Este vai ser o grande porto para o futuro”, diz.

No Chile, Valparaiso e San Antonio, respectivamente 10º e 17º do ranking da Cepal, são os portos apontados por Sán-chez como destaques em termos de preparação para os novos tempos, apesar de problemas de acesso por terra. No Panamá, MIT, o segundo, atrás apenas de Santos, e Balboa, o quarto, são outros exemplos citados de preocupação com efi ciência. “Deve haver uns oito portos em toda a América Latina que têm profundidade e guindastes para receber os grandes navios das novas gerações”, diz o especialista. E acrescenta: “a maioria está preparada apenas para navios Panamax, de até 4,5 mil TEUs. Têm problemas de calado, gruas pequenas e antigas, ou nem mesmo têm gruas, como Callao (maior porto do Peru e 8º no ranking da Cepal)”.

Portos mais bem preparados como os citados tendem a as-sumir o papel de hub ports. O conceito, importado da aviação, já é usado na Ásia e no Norte da Europa. Grandes aeroportos, como o de Frankfurt, na Alemanha, são o ponto de chegada

e partida tanto de aviões pequenos, que cobrem rotas curtas, quanto de aviões grandes, que voam trechos intercontinentais. E servem para a concentração ou distribuição de cargas e pas-sageiros, sendo chamados de hubs. “Eles ainda não existem por aqui”, diz Olivier Girardi, sócio-diretor de transporte, logística e infra-estrutura da Trevisan Consultoria. “Mas, com a chegada dos Post Panamax, existe a idéia de fazer hub ports”.

A preocupação em receber navios de grande porte não é um simples capricho. “É uma questão de economia de escala. Quanto maior o navio, menor o custo por contêiner”, diz Girar-di. “Nós já estamos fora das grandes rotas do hemisfério Norte. Se não usarmos hub ports, fi caremos ainda mais limitados em termos de competitividade”. Além disso, segundo José Antonio Balau, diretor de operações e cabotagem da Aliança Navegação e Logística, um porto não escolhe que navios receber. “Se não houver calado, a navegação simplesmente não virá.”

Incluído no Programa Nacional de Dragagem, do Governo Federal Brasileiro, o canal de acesso a Lagoa dos Patos permi-tirá em breve a passagem de navios de mais de 10 mil TEUs, colocando Rio Grande no seleto grupo de portos brasileiros capazes de receber os navios Post Panamax, ao lado de Sepetiba (Rio de Janeiro), Suape (Pernambuco), Pecém (Ceará), Itaqui

(Maranhão), Itapoá (Santa Catarina) e Santos (São Paulo), os dois últimos também após dragagem. As estimativas variam um pouco, mas, com calados de pelo menos 15 metros, esses portos deverão ser capazes de atender a escalada no tamanho dos navios até por volta de 2013 ou 2015, quando atracarão na região embarcações de 9 mil a 10 mil TEUs de capacidade.

Porém, pelo menos no Brasil, para que o modelo de hub ports funcione, o executivo da Aliança diz que será necessá-ria a criação de mecanismos que dêem agilidade a liberação de cargas vindas de outros portos brasileiros na alfândega. “O reembarque chega a demorar uma semana”, diz Balau. “Ainda é exigida a verifi cação física da carga e a alfândega não trabalha 24 horas por dia. Tentamos implantar um sistema do tipo em 2006 e não fomos bem sucedidos. Já melhorou muito. Mas, por conta da burocracia, não conseguíamos que uma carga saísse de Itajaí na segunda, chegasse a Santos na terça e embarcasse na quarta”, conta o executivo.

A julgar pelo crescimento das embarcações, é possível que, em breve, surjam novas iniciativas. Resta saber quais serão, entre os portos latino-americanos, os escolhidos pelos gigantes. Além da profundidade do cais, diz Girardi, pesarão na escolha a proximidade de grandes centros produtores e consumidores. Se assim for, sairão em vantagem grandes cidades capazes de abrir espaço para o crescimento de seus portos.

Com Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México.

Quanto maior a embarcação, menor o custo por contêiner do transporte.E um porto não pode escolher quais navios receber: sem calado, será eliminado

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ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

PaísConexões

de mais de 512 kbps (%)

Conexões de mais de 1mbps (%)

Argentina 82 41

Brasil 59 28

Venezuela 54 14

Chile 50 13

Colômbia 35 8

Peru 29 4

Aquém das

CORRIDA DE TARTARUGAS

“Freqüentemente lhe cai a conexão?... Ah... Você tem o modem redondinho, que parece uma tartaruga? Sim? Então esse é o problema.” Essa era a resposta que o ser-viço técnico da Arnet, unidade de negócios de internet

da argentina Telecom, dava a muitos de seus usuários há um ano. Poderia ter sido o caso de um simples mortal, mas não: o problema era massivo e a falha, reconhecida abertamente: o modem Huawey, que a empresa entregava a seus clientes junto ao serviço oferecido, cortava a comunicação. Na seguinte pro-moção feita pela companhia, esse problema já estava resolvido mas, infelizmente, não era o único que invadia o mercado.Quando estabeleceram o programa de benefícios Work from home na Procter & Gamble (P&G), perceberam que existiam problemas reais quando a conexão de ADSL selecionada para o executivo não correspondia à operadora da parte Norte (Te-lecom) ou Sul (Telefónica) do país. “Tivemos que tomar a de-cisão de contratar um serviço local”, queixa-se Pablo Vásquez, responsável pela infra-estrutura de redes e comunicações da P&G em Buenos Aires, mostrando que nem tudo cheira bem na fl orescente banda larga argentina.O crescimento do mercado é galopante, a um ritmo de 46% ao ano, segundo o estudo “Barômetro Cisco da Banda Larga”: os backbones nacionais e internacionais estão mais que bons, “mas não existe concor-rência sufi ciente para que haja um serviço de qualidade. “E não somente na Argentina, mas em toda a região”, diz, em Oregon, o argentino Juan Pablo Fernández, do Gartner. Com exceção do Chile, que é o único país da América Latina, junto a Cuba, que obriga a interconexão de serviços, a conco-rrência não será o melhor brilho da rede. O Brasil é semelhante à Argentina, garante o especialista, e a situação no México é ainda pior. Apesar de que as companhias de TV a cabo mexi-canas podiam prover esse serviço até pouco tempo atrás, dando início ao processo de consolidação, “não se constituíram em uma opção real”, afi rma.A prática de fazer grandes promoções e deixar os investimentos para depois tem sido comum entre as operadoras da região. Sua conseqüência é a saturação das centrais e a queda de qualida-de do serviço. Para piorar, a última milha é precisamente uma parte do negócio sensível à manutenção, ainda mais levando em conta que em muitas regiões as ligas de cobre não são precisamente novas. “A experiência não é boa e lhe obriga a

A penetração da banda larga cresce a toda velocidade pela América Lati-na. Mas a falta de concorrência faz com que essa largura deixe a desejarJuan Pablo Dalmasso, Córdoba

contratar o dobro de largura de banda que o requerido para obter algo satisfatório”, observa Diego Ghione, presidente de GlobalThink Technology, pequena empresa tecnológica de Cór-doba dedicada ao desenvolvimento de tecnologias para VoIP. Uma pesquisa realizada pelo IDC entre executivos de telecom presentes no evento Futurecom 2008, em São Paulo, mostra que a desconfi ança entre eles é grande. Quando se perguntou sobre o desenvolvimento do 3G como alternativa competitiva, 92% afi rmaram que essas inovações elevarão o tráfego de dados, mas 56% consideraram que os operadores não estão preparados para enfrentar esse aumento.Ainda que o futuro possa ser alentador devido ao crescimento acelerado, inclusive da largura de banda oferecida, para alguns analistas é preciso considerar que ainda estamos longe do primeiro mundo. “Não apenas pelo índice de penetração por cada 100 habitantes, que na média da região é de 4,5% e nos países desenvolvidos é de 25%, como também pelas capacida-des oferecidas”, adverte o mexicano Gonzalo Rojón, diretor de ICT Research da consultoria The Competitive Intelligence Unit, na Cidade do México. E não é uma comparação absurda. Os serviços online são universais e os latino-americanos ainda pedalam um triciclo.Nesse sentido, as projeções estatísticas e de mercado se unem em um ponto de saturação. Por um lado, segundo cálculos do IDC publicados no “Barômetro Cisco da Banda Larga”, a Argentina se colocava como a provedora de maior largura de banda, com mais de 80% das conexões superando os 512 kbps e mais de 40% superando a capacidade do megabit por segundo (mbps) em junho de 2008. No mesmo período, o Brasil

FONTE: IDC, BARÔMETRO CISCO DA BANDA LARGA 2008

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ESPECIALINFRA-ESTRUTURA

expectativas

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEESPECIALINNNFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAA-ESTRUTURA

Em recente pesquisa rea-lizada entre executivos do setor de telecom em São Paulo, 92% afi rmaram que o 3G elevará o tráfego de dados, mas 56% consi-deraram que as operado-ras não estão preparadas para o aumento.

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registrava quase 60% das conexões superando os 512 kbps e 28% superando 1 mbps. O problema é que 512 kbps a esta altura do campeonato signifi cam mais uma conexão sempre on do que realmente banda larga. “Uma conexão corporati-va parte de 2 mbps; uma internet com VoiP e vídeo, entre 1 e 2 mbps funciona bem, e se falamos de triple play, já deveríamos considerar de 4 a 6 mbps”, diz Daniel Gemse, gerente de engenharia de sistemas da Cisco para Argentina, Uruguai e Paraguai.A Cisco ainda prevê um crescimento feroz de conteúdos para 2012. Somente entre consumidores fi nais da América Latina, espera-se que o tráfego IP supere os 32 hexabytes (mil à oitava)

mensais para 2012. Apesar de que a maior parte do consumo atual de tráfego IP seja de dados, o vinculado com a IPTV (TV sobre internet) e com o VoD (vídeo on demand) terá uma taxa de aumento anual na região de mais de 68%, chegando a ser de 90% do tráfego total que corre pela rede. Se é que a largura de banda suporte.O que fazer? Certamente, abrir a concorrência para acelerar o crescimento não foi uma má idéia, até o momento. Além disso, a internet é um dos pilares para que o negócio das tele-com continue crescendo, alentando o 3G e o WiMax para ter alternativas de última milha. E inclusive adequar a qualidade

aos custos. “Certamente não podemos pagar um serviço de primeiro mundo, mas pelo menos mais do que nos oferecem”, diz Juan Pablo Fernández, diretor de pesquisa para telecomu-nicações da Gartner.

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NEGÓCIOS INDÚSTRIA

Pela Rua Omotesando, em Tóquio, costumam passar jovens vestidos

com roupas das mais bizarras tribos urbanas que passeiam carregando sacolas de pro-dutos Gucci, Giorgio Armani e Louis Vuitton, enquanto teclam com rara habilidade mensagens de texto em seus celulares coloridos de última geração. “Agora carregam menos sacolas”, diz Cedric

Leherle, um fotógrafo francês que está há 20 anos morando em Tóquio, enquanto tira fo-tos dos pedestres. O motivo é que o arquipélago asiático está oficialmente em recessão. O que está causando demissões e afetando o fraco consumo interno. Alguns economistas até prevêem uma retração de 1% na economia em 2009.

Mas essa pode ser uma boa notícia para a América

Latina, pois está forçando as empresas do país a transferi-rem a localização de muitas de suas atividades produtivas e a analisar novos mercados. A isso é preciso somar a força da moeda japonesa, o iene, que golpeou em cheio as empresas exportadoras locais. Ainda que algumas pessoas acreditem que a situação cambial não será uma tendência no longo prazo e poderá enfraquecer-se, ela é

sim um fator que as empresas japonesas estão levando em conta ao considerar instalar novas plataformas de produ-ção. A América Latina pode aproveitar para fortalecer ainda mais sua posição de plataforma produtiva, beneficiando-se de sua proximidade de vários mer-cados e sua mão-de-obra cada vez mais qualificada.

A montadora Toyota, por exemplo, parece estar fazendo

RECESSÃO PRODUTIVAEm contração econômica e com o iene supervalorizado, Japão vê na Amé-rica Latina plataforma de produção atraente para suas empresas Eduardo Thomson, Tóquio

Toyota: 3 mil empregados a menos no Japão

AFP

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 45

uma mudança geográfica em sua estrutura produtiva. Ape-sar do mau tempo, a empresa indicou que vai construir sua segunda fábrica de automó-veis no Brasil, na cidade de Sorocaba, no Estado de São Paulo, com a contratação de 2.500 trabalhadores.

Tudo isso enquanto demite cerca de 3 mil empregados temporários no Japão e 120 em sua fábrica na Virgínia Ocidental, Estados Unidos, ao que se somam fechamentos temporários de fábricas neste país. Aliás, os empregados de uma unidade da Toyota em San Antonio, Texas, aproveitaram um fechamento temporário da fábrica para trabalhar na lim-peza de praças públicas.

À DISTÂNCIAOutro fator que está levando as empresas japonesas a olha-rem à América Latina para a produção de bens e serviço é o alto custo do transporte. A proximidade com os Estados Unidos - que está em recessão agora, mas é e seguramente continuará a ser um grande país consumidor - e o fato de que muitos economistas prevêem que os preços dos combustíveis voltarão a subir também jogam a favor da América Latina.

O tema foi discutido em profundidade durante uma conferência organizada em Tó-quio recentemente pelo Banco Interamericano de Desenvolvi-mento. Nela, Hiroshi Watanabe, presidente e gerente-geral do Japan Bank for International Cooperation (JBIC) comentou que os preços altos de energia e transporte continuarão pesan-do cada vez mais no comércio (os recentes preços baixos do petróleo se devem mais a temores de curto prazo pela recessão do que aos funda-mentos econômicos, segundo ele). Essa importante barreira

para a logística internacional está forçando a se considerar plataformas de produção mais próximas de novos mercados. É a nova tendência conhecida como near-sourcing, ou seja, produzir mais perto dos con-sumidores finais.

De fato, segundo um estudo da CIBC World Markets, os custos de transportes de bens para os Estados Unidos equi-valem a uma tarifa de 9% em todas as importações.

Há instituições que iden-tificaram essa necessidade de inserir a América Latina como uma plataforma, seja para ca-deias globais de produção ou para casos de near-sourcing.Gabriel Barrera, diretor da unidade de desenvolvimento da Proméxico, organismo encarregado de promover o comércio exterior mexicano,

afirma que diferentes entidades assumiram essa questão como uma de suas tarefas centrais. “Um dos temas principais que as entidades promovedoras do comércio na América Latina estão analisando é como atrair mais investimentos estrangeiros para a região com o objetivo de fortalecer as redes de pro-dução na região”, diz Barrera. Ele completa que para esse propósito, tais instituições programaram uma conferên-cia no Peru para o início de dezembro.

Mas há tarefas importan-tes nas quais a região deve trabalhar para poder acelerar o investimento estrangeiro direto, particularmente se ele

provém de empresas japonesas. Akira Kudo, ex-diretor das operações da Mitsubishi na América do Sul e atualmente assessor de estratégia global, considera vital que a América Latina trabalhe para reforçar a integração regional e global para se converter em uma pla-taforma de produção atraente para as empresas japonesas. “O Brasil por si só é um mercado suficientemente grande, mas os outros países devem trabalhar na integração de seus merca-dos para atrair mais atividades produtivas japonesas, comenta. “Por exemplo, a Mitsubishi fabrica partes de automóveis no Brasil e elevadores na Co-lômbia, mas gostaríamos de produzir mais. As empresas japonesas reconhecem que devem concentrar seus esforços manufatureiros nos produtos

de maior tecnologia. Produtos com tecnologias mais comuns, é melhor fabricar em outros países, como os da América Latina.”

E no futuro serão os inte-resses privados de empresas como a Mitsubishi que defi-nirão a agenda de integração comercial para promover o comércio e a produção. An-toni Estevadeordal, gerente do setor de comércio de in-tegração do BID, explicou na conferência em Tóquio que é preciso reconhecer que o setor privado está se tornando a força dominante para a integração regional em vez das políticas governamentais. “A integração do setor produtivo será o prin-

cipal motor na forma em que serão desenhados os acordos de comércio regionais”, co-menta. Um exemplo disso é a iniciativa do Arco do Pacífico, proposto recentemente para in-tegrar os países com litoral no Pacífico e que comercializam com a Ásia.

Alguns meios de comu-nicação internacional estão acentuando que o novo cenário de crise financeira, recessão e near-sourcing será o réquiem da globalização. Que esses produtos eletrônicos, como o iPhone, produzidos a partir de componentes elaborados em diversos continentes por 30 empresas diferentes, montados na Ásia e depois vendidos nos Estados Unidos ou Europa, serão algo do passado. Agora tudo será produzido e montado próximo ao mercado final.

Talvez seja muito cedo para dizer se será o fim da globalização -- há tempos a globalização tem inimigos --, mas que as empresas japonesas estão aumentando sua presença na região é inegável. A Sanyo aumentará a capacidade de uma fábrica de painéis solares no México. A Hitachi Chemical abrirá uma fábrica de autope-ças no mesmo país. A Honda Motors recentemente terminou a construção de uma fábrica de moto-táxis em Iquitos, Peru, e a fabricante japonesa de cami-nhões Hino planeja uma nova fábrica no México. É hora de acentuar a integração regional para garantir que não mudem de opinião e partam.

O alto custo do transporte da Ásia e a proximidade com os EUA tam-bém são atrativos para as japone-

sas instalarem-se na região.

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46 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

VISÃO [email protected]

QUESTÃO DE RISCONo Banco Real, a receita bem-sucedida de concessão de crédito é uma só: avaliar o impacto socioambiental Arly Faundes Berkhoff

APESAR DE AINDA ser pouco evidente para algumas empresas, o impacto socioam-biental de seus projetos pode ter implicações financeiras. E os bancos não estão alheios a esse assunto na hora de emprestar dinheiro.

No Brasil, um dos casos emblemáticos, e por isso sem-pre lembrado, é o do Banco Real. Integrado recentemente ao Grupo Santander, o Real desenvolveu um sistema de avaliação de risco que inclui impactos socioambientais das empresas candidatas a uma linha de financiamento. Esse sistema se soma ao conceito global de sustentabilidade adotado pela instituição, que a tornou conhecida no Brasil como “banco verde”. “Um banco que não inclui perguntas sobre temas am-bientais não está incorporando a preocupação ‘verde’ em seu core business”, diz André Carvalho, diretor da incuba-dora de negócios sustentáveis New Ventures.

O HSBC faz algo seme-lhante em suas filiais no México e na Argentina, além de seguir os Princípios do Equador, que proporcionam um conjunto de alinhamen-tos voluntários para que as instituições financeiras e seus clientes minimizem os impactos dos projetos em grande escala.

O Real concede créditos a cerca de 3 mil empresas por ano; destas, pelo menos 10% precisam fazer alguma mudança em sua estrutura para mitigar o impacto socio-ambiental e, assim, conseguir

VICT

OR

JAQ

UE

O analista de crédito revisa as respostas e confirma a veracidade das informações.

5

Informa-se o resultado ao cliente para que este faça as mudanças necessárias.

4

1PERGUNTAS

RESPOSTAS

3

2

Envia-se um questionário ao cliente com perguntas sobre a situação sócioambiental de seu negócio.

Fluxo sustentável

A equipe de evaliação de riscosócioambientalrevisa a análise creditícia anterior.

Uma vez aprovado o crédito,o cliente deve responder o questionário anualmente.

o crédito. Para avaliar esse risco, o

Real envia ao cliente um ques-tionário com 11 perguntas. As respostas são confirmadas por um analista junto aos órgãos públicos pertinentes. Depois, a equipe de Cristopher Wells - gerente de risco ambiental do banco - faz uma nova re-

visão dos dados para decidir se aprovam plenamente, com condições especiais ou sim-plesmente recusam conceder o crédito à empresa.

Segundo o executivo, há muitos riscos que não apare-cem nos informes financeiros das empresas que podem afetar a rentabilidade de um

negócio. “Se uma empresa conta com más condições de trabalho e isso é divulgado na mídia, o comprador ou importador pode ameaçar suspender as compras até que a empresa tome medidas para melhorar tais condições”, diz Wells.

Somado a isso, o Real tem um acordo com o IFC, braço financeiro do Banco Mundial, de US$ 300 milhões para financiar iniciativas sustentáveis. Também possui uma consultoria que se chama Real Obra Sustentável, que avalia se as empresas estão adequadas aos critérios de sustentabilidade do banco. “Dessa forma é possível reduzir os custos e os riscos da obra, ganhando um dife-rencial de mercado”, explica Maria Luiza Pinto, diretora executiva de desenvolvimento sustentável do Grupo Santan-der, no Brasil.

E o banco também dá o exemplo. As agências são “ecoeficientes”, construídas com tijolos reciclados, usando tintas sem solventes, com piso e móveis feitos de madeira certificada, aproveitamento da luz solar e uso de ar condicio-nado que não provoca danos à camada de ozônio, entre outras características.

Anualmente o Banco Real realiza um inventário das emissões de gases do efeito estufa de sua operação. Em 2005, a média de emissões por funcionário foi de 2,02 tone-ladas; em 2007, essa média caiu para 1,51 tonelada. E este ano esperam que se situe entre 1,18 e 1,22 toneladas.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 47

NEGÓCIOS ALIMENTOS

Retração: produtos para poucos

Desde sua época de univer-sitária, Kristen Gambetta, jovem fisioterapeuta de

25 anos, só comia alimentos orgânicos. A possibilidade de consumir produtos elaborados com pesticidas e outros aditi-vos químicos não tinha lugar em seus princípios de vida saudável. Mas a atual situação econômica fez essa moradora de Houston, Texas, restringir os produtos orgânicos ao leite, às verduras e às frutas,

“especialmente as que como com casca”, conta. Tampouco a surpreende que nos últimos tempos os mercados que antes só vendiam alimentos naturais tenham cometido a “heresia” de incluir alimentos convencionais em suas estantes. “As pessoas estão cada vez mais preocu-padas com a economia e menos com o que comem.”

O mercado glo-bal de produtos orgâ-

As pessoas já não querem pagar mais caro por alimentos orgânicosMaría Soledad Gómez, Santiago

nicos não é imune às incertezas econômicas, que fizeram os alimentos elaborados sob estritos padrões de qualidade voltarem ao status de produ-tos de luxo. E os produtores latino-americanos também já notaram essa mudança.

A empresa de análise de mercado Mintel International divulgou recentemente um estu-do no qual descreve uma queda na demanda entre os consumi-dores de produtos orgânicos nos EUA. “Alguns preferem continuar com o leite, a carne e alguns produtos frescos, mas deixaram de comprar cereais,

bolachas e doces orgânicos”, diz. O motivo? Amarjit Sahota, diretor do Orga-

nic Monitor, explica: “Enquanto o leite e algumas verduras como

a cenoura podem custar entre 15% e 20% mais, produtos processados ou mais sofisticados como

a manga podem custar o dobro”, diz.

Na América Latina. Onde se produz boa parte dos alimentos orgânicos vendidos nos EUA e Europa, alguns produtores já verificam uma diminuição nos pedidos internacionais. Carmen García, diretora de exportações da ProAgro, no Peru, afirma que as vendas de orgânicos “estão sendo afeta-das pelo aumento de preço”. E as empresas só podem optar por reduzir seus custos. No México, Guadalupe Latapi, que vende produtos de di-ferentes provedores sob a marca Aires de Campo, diz que, em seu caso, a situação se complicou. “Trabalha-mos com uma margem 20% acima do preço de um produto não-orgânico”, afirma. E a maior parte das

exportações orgânicas que saem do México tem como destino os EUA, destino que

deixou de ser uma oportuni-dade. Apesar de a venda de orgânicos nos EUA ter aumen-tado 140% entre 2003 e 2008, de US$ 3 bilhões a US$ 7,1 bilhões, segundo a Mintel, as projeções indicam que 2009 será lento. No ano que vem, as vendas de orgânicos, que até 2006 cresciam acima de 20% ao ano, deverão ter seu crescimento reduzido pela metade, para 10%.

Algo semelhante acontece na Europa e no Reino Unido. “Esperamos, em alguns casos, crescimento zero”, diz Sahota, do Organic Monitor. Mas o especialista acha que, passada a crise, o segmento recuperará o ritmo. “A demanda cairá temporariamente entre 3% e 4%, mas quando a confiança voltar aos mercados, voltará a se acelerar.”

As dificuldades enfrenta-das atualmente já deixaram vítimas. Recentemente, a rede norte-americana Whole Foods, especializada em produtos or-gânicos, teve que ser resgatada da crise com uma injeção de capital do fundo privado Green Equity Investors.

De qualquer forma, estima-se que esse mercado conti-nuará em ascensão quando o panorama melhorar. Segundo Sahota, esse fenômeno não é novo: algo semelhante foi visto há alguns anos na Alemanha. “A economia sofreu uma queda e as vendas do setor se estagnaram, para depois voltar a crescer entre 15% e 20% ao ano”, lembra.

A mexicana Guadalupe diz que já conta com estratégias para enfrentar a crise: baixar os preços dos produtos básicos e aperfeiçoar seu site para faci-litar o contato com potenciais clientes internacionais. O re-sultado, entretanto, dependerá de quão afetado será o bolso do consumidor.

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O PREÇO DO LUXO

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48 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

NEGÓCIOS AVIAÇÃO

LINDO CÉUPressionadas por problemas em seu mercado de origem, companhias aéreas norte-americanas viajam à América LatinaAntonio María Delgado, Miami

AP

Os últimos 12 meses foram particularmente turbulen-tos para as companhias

aéreas norte-americanas. Pri-meiro tiveram que enfrentar os exorbitantes preços dos combustíveis, quando o barril de petróleo acima dos US$ 130 ameaçava levar vários ícones dessa indústria rumo à quebra. Logo surgiu o fantas-ma da recessão mundial que, apesar de ter levado os preços dos combustíveis de volta a níveis mais razoáveis, agora ameaça afetar a demanda por passagens.

E a América Latina, que até agora tem se mostrado

exceção à essa regra, já se transformou em alvo também dessas companhias, cujos exe-cutivos se mantêm otimistas projetando formas de atender um maior número de latino-americanos.

“Estamos focados em cres-cer na região”, diz Alfredo González, diretor regional para América do Sul da American Airlines. “Obviamente, para 2009 não sabemos qual será o impacto da crise econômica, ninguém sabe, mas continua-mos buscando oportunidades para crescer aí.”

E parece que encontraram algumas. A American Airlines

abriu em novembro várias rotas novas a Salvador, Recife e Belo Horizonte e, para dezembro, a empresa prevê agregar um segundo vôo para cobrir a rota Nova York-Buenos Aires.

Recife e Buenos Aires parecem ser particularmente atraentes para as companhias norte-americanas, já que a Delta também está organizando novos vôos para atender essas cidades. O mercado brasileiro gera muito interesse para a Delta – que se converteu na maior do mundo ao fundir-se este ano com a Northwest–, já que a recente revisão de um acordo bilateral entre Estados

Unidos e Brasil está gerando novas oportunidades.

“Tínhamos um acordo bilateral entre EUA e Brasil muito limitante”, diz Christo-phe Didier, vice-presidente de vendas da Delta para a Améri-ca Latina. “Em junho, ele foi revisado pela primeira vez em 11 anos. Eles nos deram mais pontos para servir, com mais freqüências. Além de São Paulo e Rio, vamos atender Recife, Fortaleza e Manaus.”

A Delta também está ex-pandindo suas operações em Buenos Aires, e prepara novos vôos a Tegucigalpa, Bogotá, Guayaquil, Santiago (República Dominicana), Cancún e Bonai-re. A fusão recém-concretizada está colocando a Delta em um ponto privilegiado para atender ao crescente tráfego entre América Latina e Ásia, devido ao alto número de rotas que a Northwest possui ao Oriente.

O executivo acrescenta que o recente fortalecimento do dólar frente a várias das principais moedas da região impactou o tráfego aéreo. Não obstante, destaca que a deman-da deverá continuar robusta sempre e quando os países da região consigam manter seus ritmos de crescimento.

Os executivos da Conti-nental Airlines também se mostram otimistas quanto às perspectivas para a América Latina. E apesar de não estar projetando novos vôos para a região, a companhia continua sendo a norte-americana que oferece maior número de vôos ao México e à América Cen-tral. “A Continental não é uma recém-chegada na América Latina”, diz a empresa, por email. “Operamos aproxima-damente 1,5 mil vôos semanais à América Latina e ao Caribe, que representam 55% de nosso alcance internacional.”

Continental: líder dos EUA em vôos ao México

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[FERRAMENTAS] PMES GLOBAIS

30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 49

VENTO A FAVORServiço de bordo de primeira classe. Esse é o objeti-vo do chileno Victor Herrera, que depois de trabalhar por quase 30 anos com transporte terrestre de tri-pulação para a compa-nhia LAN realizou seu sonho empreendedor: comprar o último Boeing 737 em ope-ração na companhia aérea chilena e transformá-lo em um pub, inaugurado no início de novembro. O projeto Herrera implicou vários desafi os de engenharia – en-tre eles, o de transportar o avião à sua localização atual, nos arredores de Santiago – até a criação da réplica de uma torre de controle onde funciona o bar e um salão VIP. “É um negócio pioneiro na América Latina, ao qual nos dedicamos nos mínimos detalhes”, diz Herrera, que trabalha em sociedade com seu fi lho, Yanko. A capacidade total do Charlie Yankee Air Pub, dentro do avião e na torre, é de 120 pessoas. Entre os diferenciais oferecidos pelos empresários está a pos-sibilidade de o cliente escolher e reservar sua mesa através do site (www.pubcharlieyankee.cl), como se fosse um check-in, e uma ampla oferta de drinks, para que o passageiro possa aproveitar a noite sem medo de turbulência.

CONECTADO, MAS NEM TANTO

Apesar de reconhecer a importância de estar na Internet, os pequenos e médios exportadores latino-americanos ainda não aproveitam as potencialidades da rede para aumentar suas vendas externas. Essa é a conclusão de um estudo realizado pela empresa RGX, em associação com DHL Express e SAP, com 721 pequenas e médias empresas (PMEs) de 15 paí-ses da região.Segundo o estudo, três em cada quatro empresas exportadoras entrevistadas possuem um site corpo-rativo. Entretanto, somente 11% oferecem a possibi-lidade de compras em seus sites, 28% adaptaram a página para receber pedidos online, e apenas 21% disponibilizam seus produtos para serem vendidos em outros sites ou portais. “De fato, 25% dos entre-vistados afi rmam que a internet atualmente não co-labora na captação de novos clientes”, afi rma Diego Frediani, diretor geral da RGX, na apresentação do estudo, em Santiago do Chile. Para Frediani, as PMEs não podem perder a oportunidade de reforçar esse canal, sobretudo focando a geração de confi ança e valor agregado. Alguns exemplos desse esforço são oferecer informações detalhadas e atualizações fre-qüentes, além de conteúdos adicionais sobre produ-tos ou serviços.

Não deixe de sorrirConselho para os pequenos empresários desanimados com o panorama para 2009: não deixe que os funcioná-rios identifi quem em sua cara motivos para se sentirem inseguros com relação a seu emprego. Quem dá o aler-ta é a consultora Inés Temple, da DMB Peru, que afi rma que a incerteza é o maior inimigo da produtividade e da retenção de talentos. Para defender essa tese, a espe-cialista compilou uma série de dados retirados de vá-rios estudos. Entre eles:

79% dos empregados afi rmam que saem de um tra-•balho por falta de reconhecimento (fonte: Society for Human Resource Management).Para 66% das pessoas, o reconhecimento infl ui signi-•fi cativamente em seu desempenho, enquanto somen-te 15% mencionam o salário (fonte: Watson Wyatt).30% do lucro de uma empresa depende do ambiente •de trabalho (Harvard Business School).70% do clima laboral depende do chefe imediato •(Harvard Business School).

Yanko e Victor:prestes a decolar

TERRENO VIRTUAL

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

EQUADOR

BRASIL

CHILE

BOLÍVIA

MÉXICO

PMEs que promovem seus negócios na internet:

67%

53%

48%

45%

44%

FONTE: RGX

42%

37%

32%

28%

20%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

PERU

EQUADOR

COLÔMBIA

MÉXICO

HONDURAS

PMEs que oferecem seus produtos à venda em outros sites:

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50 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

Os pequenos comércios do México se transformaram em um campo de bata-

lha de grandes companhias. “Se você não chega a tempo para oferecer seu produto, a concorrência toma seu lugar”, conta José Rodríguez, gerente da frota da Nestlé na Cidade do México.

Como a Nestlé, muitas ou-tras empresas necessitam en-frentar a mesma batalha diária, e reconhecem que parte desse trabalho logístico pode desviar o foco do negócio principal. No caso da empresa suíça, essa tarefa implica garantir o bom funcionamento de uma frota de 2 mil caminhões que circulam pelas ruas do Méxi-co. “Refletimos e chegamos à conclusão de que o melhor era buscar alguém com ex-periência no assunto”, diz o executivo.

Hoje, quem cuida da frota da Nestlé é a mexicana Faci-leasing. Há 20 anos a empresa aluga veículos sob o sistema de leasing (ou seja, com direito a compra), e há dez resolveu ampliar seu negócio ofere-cendo o serviço de adminis-tração de frota, que inclui de manutenção e temas legais à gasolina. A empresa tem um contact center de mecânicos e um sistema CRM que faz o acompanhamento de cada veí-culo. Dessa forma, os clientes podem ter controle completo da

frota através do sistema Fleet Online. A vantagem que a em-presa oferece é clara: negociar preços e garantias diretamente com as montadoras. Se o ve-

ículo não rende a quantidade prometida de quilômetros por litro, o provedor responde pela diferença.

Assim, as empresas se fi-xam na tarefa de desenhar as melhores rotas e escolher os motoristas de sua confiança.

“Esse serviço me proporcio-na um custo variável porque pago por unidade de conser-tos, conto com uma equipe reduzida e nos preocupamos somente com o operacional”, diz Rodríguez.

O negócio da Facileasing registra uma onda de expansão no México e na América Latina. “Esse tipo de administração busca reduzir o custo total de propriedade e isso vai além do sistema de leasing”, diz Luis Cuenca, diretor comercial da Facileasing.

“Não são muitas as em-presas que se dedicam a isso, ainda que exista uma tendência

POR UM BOM CAMINHOEmpresa mexicana cresce oferecendo terceirização do manejo de frotas corporativas Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

PMES GLOBAIS

Serviço conjuga um instrumento financei-ro com a vantagem da associação estratégica

crescente de aproveitar fer-ramentas financeiras como o leasing”, diz Manuel Estrada, acadêmico do Departamento de Operações do Ipade, na Cidade do México. Para ele, o mérito da empresa está em integrar um instrumento finan-ceiro com outro de serviços e associações estratégicas. “Cria-ram um produto mais robusto para cobrir uma necessidade completa”, diz.

Além da Nestlé, a Facilea-sing tem entre seus 180 clientes companhias como Pfizer e Novartis, Avon, Scotiabank, Santander e Accenture. E mantém aliança global com empresas como PHH Arval, Avis Fleet Services, Sumisho Auto e Leasing Corporation, administrando 1,8 milhão de veículos. Desde que começou a oferecer esse serviço, a empresa registra média de crescimento de 18% ao ano. No primeiro semestre deste ano, o aumento chegou a 33% em relação ao mesmo período de 2007, to-talizando um faturamento de US$ 16 milhões. Para Cuenca, a atual crise é uma oportu-nidade. “As tesourarias das grandes empresas vão cuidar do fluxo efetivo, e o leasing e aluguel serão uma alternativa de financiamento.”

Ainda que não tenha um registro preciso da economia conquistada – já que o trabalho com a Facileasing começou em abril – Rodríguez afirma já ter percebido avanços. Antes, por exemplo, tinham que estar em contato com 500 mecâni-cos espalhados pelo México. “Hoje já não pensamos nisso; dedicamos tempo à estratégia”, diz. Assim, na Facileasing os empresários seguem em boa rota, e seus clientes abrem caminho para serem os pri-meiros a chegar.

Cuenca:amplo mercado

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 51

DEBATES ABORTO

Uruguaios protestam contra a decisão governamental

Os grupos pró-aborto no Uruguai sofreram um duro gol-pe com o veto presidencial, mas há quem acredite que a legalização será inevitável no longo prazo Rodrigo Lara Serrano

AP

Oveto recentemente imposto pelo presidente uruguaio Tabaré Vásquez à uma lei

de saúde reprodutiva que au-toriza o aborto durante os três primeiros meses de gravidez em casos de perigo para a vida da mãe e “penúrias econômicas”, foi tão surpreendente quanto complexo.

Primeiramente, porque Vásquez bloqueou uma nor-ma aprovada por seu próprio partido no Congresso. E depois porque – dada sua tripla condi-ção de líder partidário, titular do Executivo e médico – é possível avaliar que se encontrava em uma posição única para ne-gociar uma lei restritiva, que habilitasse o aborto ante risco de morte, incesto ou violação

de mulheres com problemas mentais ou não, e que bloque-asse as outras opções, se é que estas causavam repugnância a sua consciência pessoal ou a suas crenças religiosas.

O que aconteceu no Uruguai (onde a mulher que aborta é pu-nida com três a nove meses de prisão – também há pena para quem o executa –, a menos que seja para “salvar a própria hon-ra”, cuja definição fica a critério do juiz) poderia antecipar uma onda de demandas por leis fa-voráveis ao aborto? De acordo com Elena Prada, pesquisadora sênior do Guttmacher Institute na Colômbia, não. “Em vez de promover um avanço, pode gerar um retrocesso”, afirma. Isso porque, como um efeito

bumerangue, quem se opõe à legalização poderia “abraçar essa bandeira e protagonizar casos como o da Nicarágua, onde se permitia o aborto quan-do havia risco para a saúde da mulher”. Segundo Elena, “Isso acabou sendo abolido em 2006, levando à situação absurda de que nenhuma mulher que sofra uma hemorragia, muitas vezes causada por um aborto espon-tâneo, possa ser atendida por nenhuma instituição de saúde”, fato que levou a mortalidade materna a disparar no país.

Na Argentina, Luciana Peker, especialista em temas sobre a mulher, tampouco acha que outros países tentarão aprovar leis semelhantes. Ao contrário, “o veto de Tabaré

poderá gerar um ‘efeito casti-go’ no restante dos países. Um ‘se lá não pode, aqui menos ainda’”.

Enquanto a batalha verbal corre, os abortos continuam acontecendo. Calcula-se que em toda a América Latina eles somem 4 milhões ao ano. Uma pesquisa comparativa mundial publicada por Susheela Singh, vice-presidente de Pesquisa do Guttmacher Institute, revelou que Chile, República Domini-cana, Peru e Guatemala possu-íam as taxas mais altas (nessa ordem) de hospitalizações por complicações derivadas de abortos entre cada mil mulheres.

Nesse sentido, o Uruguai volta a surpreender. A mor-talidade materna é baixa “de-vido a um bom programa pós-aborto”, comenta Peker. Trata-se de um plano geral e prático que permite “que os problemas ocasionados por abortos clandestinos sejam tratados de forma adequada nos hospitais públicos”.

Fátima Juárez, coordenado-ra do Doutorado em Estudos de População e doutora em Saúde Pública do Colegio de Méxi-co, destaca que “entre 1990 e 2006 se observa que o aborto induzido (ilegal) aumentou 64% no México, de 536 mil para 875 mil”. Essa univer-salização real e crescente do aborto clandestino poderá ser central na aceitação do aborto na capital mexicana, onde hoje é legal e sem restrições até as primeiras doze semanas de gestação.

A massificação do aborto, somada à mudança do papel da mulher na sociedade, segundo Fátima, poderia levar “aque-las organizações favoráveis a garantir a saúde da mulher a continuar lutando (mesmo com o veto no Uruguai). Não acho que elas desanimarão com um resultado negativo”, diz.

O EFEITO “CARTÃO VERMELHO DE TABARÉ”

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52 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

DEBATES COMÉRCIO

Obama:popular, carismático e

protecionista

COMÉRCIO NA ERA OBAMAA vitória democrata nas eleições dos Estados Unidos ameaça impedir a aprovação de novos tratados de livre comércio com a América Latina Antonio María Delgado / Miami

Não é uma condenação à morte, mas os defen-sores do livre comércio

nos Estados Unidos acabam de perder grande parte de seu poder de manobra. A ampla maioria democrata no Congresso deverá restringir seriamente qualquer iniciati-

va para continuar avançando com a agenda de abertura co-mercial iniciada há quase 20 anos. E, embora seja verdade que existe certo consenso em Washington de que uma maior integração comercial com a América Latina é crucial para preservar os interesses do país

na região, a crise econômica e uma presença maior de legis-ladores contrários aos TLCs conteriam qualquer esforço do presidente recém-eleito, Barack Obama, de seguir com o processo.

“A abertura comercial entrará em um processo de

desaceleração”, diz Claude Barfield, especialista em co-mércio do centro de estudos American Enterprise Institute. “Isso se deverá principal-mente ao fato de que a crise econômico-financeira levará muito tempo para ser resolvida e, depois, independente do tipo

AP

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 53

de política que Obama decida adotar, ele sabe que tem um partido profundamente divi-dido, e introduzir temas rela-cionados ao comércio só iria causar desaprovação por parte das poderosas associações sindicais e de outros setores tradicionalmente contrários à abertura comercial.”

Esses setores tiveram um papel importante na eleição de Obama, que durante a campanha criticou duramen-te os tratados de abertura comercial assinados pelos Estados Unidos, afirmando que tinham proporcionado o êxodo de postos de traba-lho para o exterior. No caso do TLC com o México e o Canadá, o agora presidente-eleito, disse na campanha que era um acordo ruim para os Estados Unidos e prometeu modificá-lo a fim de “refle-tir o conceito de que nosso comércio não deve ser bom apenas para Wall Street, mas para o resto do povo”.

Entretanto alguns especia-listas não dão muita impor-tância a declarações como essa, alegando que são sim-plesmente atitudes eleitorais vazias e que é amplamente aceito entre as instituições de Washington que o livre comércio não só gera mais benefícios que custos para os norte-americanos, mas que também é uma das melhores ferramentas com que os Esta-dos Unidos contam para ajudar os países latino-americanos a reduzir seus níveis de pobreza e, por conseguinte, avançar em alguns dos maiores de-safios que o país enfrenta na região, como o narcotráfico, a imigração ilegal e o crescente sentimento antiamericano.

Também há muito espaço para fortalecer as relações entre Washington e a Amé-rica Latina, em momentos

em que países como China e Rússia começam a desfru-tar de uma presença maior na região. “Isso é parte do novo cenário, no qual os pa-íses têm alternativas ao Tio Sam”, afirma o professor de ciências políticas do Davidson College, Russell Crandall, um dos assessores de Obama em questões internacionais. “E creio que estamos vendo que esses países que estão se desviando, digamos, dessa relação homogênea com os Estados Unidos, se deram conta de que não só podem sobreviver, mas também prosperar, fora da órbita de Washington.”

Para Roger Noriega, ex-subsecretário de Estado para Questões do Hemisfério Oci-dental, o recente anúncio do presidente colombiano Álvaro

Uribe, considerado um dos mais próximos aliados de Washington na região, de que pretende visitar a Rússia causou especial preocupação e acentua a necessidade de que o Congresso norte-americano aprove o tratado de livre co-mércio com a nação andina. Contudo o pacto enfrenta uma forte oposição dos congressis-tas, principalmente entre as fileiras do partido democrata, diante das acusações de que Bogotá está fazendo muito pouco para deter a violência contra os sindicalistas e há bem pouca probabilidade de ele ser aprovado antes que termine o atual período de sessões do Congresso.

Analistas acreditam que finalmente o Congresso apro-

vará o tratado de livre comér-cio com o Panamá. Até existe a possibilidade de que o isso ocorra no atual período de sessões, assim que o deputado Pedro Miguel González, líder político acusado de ter parti-cipação no assassinato de um soldado norte-americano em 1992, deixar a presidência da Assembléia do Panamá.

E Obama eventualmente teria um grande incentivo para lutar dentro de seu partido a fim de conseguir o apoio para o tratado comercial com Bogotá, já que não vai querer passar à história como “o presidente que perdeu a Colômbia”.

“É uma decisão que tem de ser tomada”, diz Barfield, do American Enterprise Insti-tute. “Há a parte geopolítica, que creio que será o fator que

eventualmente decidirá se será feito ou não. Mas também há a posição natural dentro da liderança democrata, contrá-ria ao tratado comercial. No final, creio que se decidirá por apresentar o acordo no Congresso por motivos de política regional. Aí sim, vai depender muito do que ocorre na Colômbia. Se houver novos escândalos de violações dos direitos humanos, como os que vimos recentemente, eles darão munição a quem está contra esse tipo de acordo.”

Mas a Colômbia seria o final do processo de abertura comercial entre os Estados Unidos e a América Latina, pelo menos no que concerne ao primeiro governo do presi-dente Obama, que para seguir

adiante teria de ir contra boa parte de seu próprio partido. O presidente-eleito derrotou seu rival, o senador republica-no John McCain, graças em grande parte ao forte apoio dos movimentos sindicais e do chamado grupo de consu-midores, que são obstinados opositores da abertura co-mercial. E, o que talvez seja pior para o processo, muitos dos congressistas democratas recém-eleitos ganharam seus mandatos com plataformas políticas que eram contra a globalização.

Qualquer iniciativa de abertura comercial por parte de Obama receberia uma aco-lhida melhor entre as fileiras do oposicionista Partido Repu-blicano, organização tradicio-nalmente mais receptiva aos temas de abertura comercial.

Mas a ajuda que receberia ali seria relativamente pequena, já que esse partido sofreu uma grande erosão em seus quadros no Congresso. Atualmente conta com 40 cadeiras no Senado, ante 58 do Partido Democrata, e 175 cadeiras na Câmara Baixa frente aos 255 do partido do governo.

E também existe a deterio-ração do tema aos olhos da opinião pública. As últimas pesquisas de opinião indicam que é cada vez menor o nú-mero de norte-americanos que vêem com bons olhos a assi-natura de acordos comerciais. Isso não quer dizer que as for-ças contrárias à globalização são maioria, mas certamente a rejeição à abertura comercial aumentou.

Muitos legisladores recém-eleitos pelo partido do futuro presidente ganharam vo-tos com plataformas contra a globalização

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DEBATES POLÍTICAAF

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Apesar de sempre ter votado pelo Partido Ação Nacional (PAN), o jovem advogado

mexicano José Luis Velasco está pensando seriamente em mudar de opção nas próximas eleições presidenciais, em 2012. “O PAN me decepcionou, não tem um candidato e a econo-mia vai mal”, diz Velasco, de 34 anos. “Tudo depende de como as coisas aconteçam, mas poderia votar pelo PRI.” A resposta é chocante, já que a “nova” escolha de Velasco se trata do Partido Revolucionário Institucional, o dinossauro que foi derrubado em 2000 depois de 71 anos à frente do país.

A conjuntura político-econô-

mica, somada a certa falta de memória histórica, está levando muitos mexicanos a tomar o ca-minho escolhido por Velasco, o que poderia revigorar o partido que foi expulso da cadeira presi-dencial com o voto do cansaço. Somente nas eleições deste ano, o PRI conseguiu ganhar 116 governos municipais dos 198 que estavam em disputa. Hoje governa 18 dos 31 estados mexicanos e controla 21,2% da Câmara dos Deputados e 25,7% do Senado.

Tudo isso tem aberto a tri-lha para que o PRI capitalize o descontentamento social da população devido à onda de violência gerada pelo narcotrá-

fico, à desaceleração econômica e à crise na qual a esquerda se encontra submersa, encabeça-da pelo Partido da Revolução Democrática (PRD).

O dinossauro que grande parte dos mexicanos acreditava extinto quer deixar para trás sua imagem antiga e protagonizar as próximas eleições. “Sem dúvida o PRI quer voltar a Los Pinos”, diz José Antonio Aguilar, doutor em Ciência Política do centro de Pesquisa e Docência Econômica (Cide). E para conquistá-lo está pen-sando em um extreme makeover. Nos últimos anos lançou novos candidatos, ainda que por trás destes esteja a velha

A crise da esquerda e do governo de Calderón fortalecem o partido que governou o México durante 71 anosMarisol Rueda, Cidade do México

política do partido. Mas o es-forço deu frutos. Há menos de quatro anos era impossível ver jovens do partido em cargos executivos, como Enrique Peña Nieto, Ivonne Ortega, Ismael Alfredo Hernández e Félix González Canto.

O primeiro, que aspira à Presidência, investiu forte na mídia para posicionar-se nacionalmente. Afirma-se que pode ser a “nova” cara do PRI, apesar de que dentro do partido alguns não o queiram como candidato. Como pri-meiro passo, o partido já está num corpo-a-corpo com outros grupos, disputando espaço nas ruas para lançar seus nomes às eleições de julho de 2009 que renovarão a Câmara dos Deputados e o governo de seis estados. “Tudo aponta a que haverá uma reação do PRI”, diz Aguilar, afirmando que essas eleições refletirão a avaliação dos mexicanos ao desempenho do presidente Felipe Calderón, do PAN.

A VOLTA DOS DINOSSAUROS

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Uma das vantagens do PRI é sua força territorial. Uma reforma eleitoral recentemente aprovada limita as campanhas na mídia, e o PRI pode tirar proveito do fato de governar muitas cidades e usar os es-paços públicos para comícios. Além disso, tem a conjuntura econômica a seu favor, já que as pessoas começam a sentir no bolso o impacto da crise global e da desaceleração dos EUA nas exportações, remes-sas e na receita petrolífera. Os prognósticos do Banco Central indicam que o PIB deste ano crescerá somente 2%, e, em 2009, entre 0,5% e 1,5%.

A isso é preciso somar a crescente onda de violên-cia gerada pelo narcotráfico. Muitos criticaram o confronto direto adotado por Calderón sem antes ter feito uma lim-

peza interna para eliminar as infiltrações desses grupos em instituições federais. “Talvez um segmento da população manifeste um voto de castigo por este tipo de política”, diz Gerardo Esquivel, pesquisador do Colegio de México.

“É o momento de resolver de forma urgente os temas que são reclamados pela socie-dade”, diz Erick Fernández, pesquisador da Universidade Iberoamericana. “Se os pro-blemas continuarem sendo postergados, vão se acumular. E um ano de eleições, como 2009 não parece ser o melhor para começar a agir.”

AINDA HÁ CHANCEApesar de as projeções apon-tarem que o PRI ganhará as eleições do próximo ano, PAN e PRD ainda podem reverter

essa tendência para 2012. Tu-do dependerá de como o atual governo administre a crise econômica e dos resultados do combate ao narcotráfico, além de quão capaz seja a esquerda mexicana de se reunificar. “O PAN tem que enviar uma resposta através dos governos que lidera para ir eliminando os saldos negativos, especialmente em segurança”, diz Fernández. “Já o PRD tem que apresentar uma mensagem consistente e não pensar no curto prazo.”

O certo é que, apesar de os três maiores partidos do país desejarem a cadeira pre-sidencial, o triunfo também dependerá dos candidatos que apresentem. O PAN não possui um candidato forte; e o PRD tampouco vislumbra um nome tão potente quanto o de Andrés Manuel López Obrador

nas eleições de 2006. O atual prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, fará de tudo para ser candidato à Presidência, mas não tem uma base política própria dentro do PRD e um setor do partido não o vê como seu candidato. Além disso, “não dispõe dos recursos do PRI”, diz Aguilar, do Cide.

Nas eleições intermediárias, como são chamadas as que antecedem à presidencial, do ex-presidente Vicente Fox, o PRI foi vencedor, mas nas presidenciais de 2006 o ven-cedor foi o candidato do PAN. “Os resultados de Fox eram medíocres, mas seu partido voltou a ganhar as eleições, ainda que por uma margem estreita”, diz Aguilar. “Assim, se os resultados não forem ca-tastróficos, o PAN ainda tem uma chance.”

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56 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

DEBATES ENERGIAAF

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Durante vários anos, o campo de petróleo de Chicontepec, localizado

no estado mexicano de Vera-cruz, permaneceu relegado a segundo plano pela estatal Petróleos Mexicanos (Pemex). Suas complexas condições geológicas, o elevado custo

Maior autonomia trará novos desafi os e oportunidades à petrolífera estatal mexicanaMarisol Rueda, Cidade do México

de extração e a escassez de recursos dificultavam sua exploração. Mas hoje a pe-trolífera mexicana planeja investir no campo graças às vantagens que espera conquis-tar com a reforma energética recentemente aprovada.

Chicontepec é uma das apostas da Pemex para com-pensar o declínio da produção do gigantesco campo Cantarell. Este, depois de ter alcançado produção de 2 milhões de bar-ris de petróleo por dia em 2004, hoje produz somente 902 mil barris. O aumento nos inves-timentos em Chicontepec será possível graças ao fato de a Pemex ter ganhado autonomia orçamentária e poder oferecer contratos com incentivos ex-tras às suas contrapartes com base em desempenho.

Estas são algumas das conquistas com a reforma energética no México, cujas principais conseqüências recaem sobre a Pemex. Sua aprovação, por ampla maioria, foi um bálsamo em meio às crises econômica e de seguran-ça enfrentadas pelo presidente Felipe Calderón: finalmente o governo teve êxito em uma iniciativa que – embora tenha gerado atritos no interior dos partidos políticos – nenhum dos governos antecessores havia conseguido.

“É a reforma mais impor-tante e transcendente no setor desde a nacionalização da in-dústria petrolífera, em 1938”, diz Alejandro Díaz-Bautista, pesquisador do Departamento de Estudos Econômicos do Colégio da Fronteira Norte.

Conceder à Pemex maior autonomia de gestão e mais recursos para investir são medidas crucias frente às novas condições da indústria energética mexicana. As atu-ais descobertas de petróleo da estatal já não têm o mesmo tamanho nem a facilidade de

PEMEX 2.0

Pemex:em busca de novas fontes

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 57

exploração das encontradas há 30 anos. “Agora temos campos menores e menos produtivos”, diz Carlos Mo-rales Gil, diretor geral da Pe-mex Exploração e Produção. “Hoje é preciso perfurar muito mais poços, e fazê-lo com o esquema (anterior à reforma) de lei de Obras Públicas e Serviços simplesmente não tinha nenhum futuro.” Gerava burocracia e rigidez, afirmam os analistas.

MAIS FLEXÍVELA nova legislação propor-ciona mais flexibilidade na gestão de contratos. Antes, a empresa não podia modificar as condições iniciais destes durante a sua vigência. “Por isso, muitas obras ficaram pela metade”, afirma David Shiel-ds, especialista em assuntos energéticos. Se o preço do aço subia, por exemplo, não havia flexibilidade para repassar esse aumento de custo para o con-trato. “Isso fazia com que os projetos ficassem inacabados”, diz Shields.

A lei também permitirá a incorporação de novas tecno-logias ou práticas operacionais em um projeto depois da as-sinatura do contrato, algo que antes estava limitado. Além disso, a reforma reduz a carga fiscal para as explorações em zonas difíceis, o que incentiva a Pemex a continuar explo-rando – como vai fazer com Chicontepec.

Considerando esses fatores, espera-se que a companhia amplie sua capacidade de execução. “Hoje, estamos perfurando 700 poços ao ano com muitos problemas, porque temos capacidade de execução limitada”, diz Mo-rales, da Pemex. “Com estes novos contratos, poderemos perfurar mais de 1,5 mil poços de extração por ano.”

A empresa também terá

mais flexibilidade para deci-dir quanta dívida pode emitir para financiar projetos. “Isto terá um impacto muito grande entre 2015 e 2020 porque, se administrar bem suas finanças, a estatal poderá investir mais em exploração e produção”, afirma Duncan Wood, pes-quisador do Instituto Tecno-lógico Autônomo do México (Itam). As expectativas são de que Chicontepec, que hoje produz 33 mil barris diários, eleve sua participação a 600

mil barris por dia em 2015. Outros campos importantes para compensar o declínio de Cantarell são Ku-Maloob-Zaap, Sihil e Ayatsil. Num curto prazo, entre 2009 e 2011, a Pemex vai trabalhar em Ku-Maloob-Zaap e desenvolverá Sihil e Ayatsil, além de tentar conter a queda da produção em Cantarell.

O campo de Ayatsil conta com 500 milh ões de barris de reservas provadas, enquanto Sihil tem 350 milhões. “São estruturas menores, mas têm um rendimento que vai nos ajudar a manter os níveis de produção”, diz Morales. Ku-Maloob-Zaap, por exem-plo, contribuiu com 690 mil barris diários, em média, nos primeiros dez meses deste ano, volume 39% superior ao obtido no mesmo período do ano passado.

E assim terá que ser até 2015, quando as operações de águas profundas começarem a mostrar resultados. Prevê-se que para essa data contribuam

com 100 mil barris por dia, os quais farão parte de um total de 3 milhões de barris diários projetados para essa época, de acordo com a nova reforma. Sem o novo regime “teríamos caído a menos de 2,4 milhões de barris por dia, inferior aos atuais 2,8 milhões”, diz Morales.

Outros dos benefícios con-tidos na reforma são mudanças no Conselho da Pemex, para incluir mais especialistas em petróleo e negócios, bem co-

mo a criação de um Conselho Nacional de Energia, que vai estabelecer e supervisionar a política energética do país, e uma Comissão Nacional de Hidrocarbonetos, para regular e supervisionar a exploração e extração de hidrocarbonetos que poderão ser encontrados em lençóis ou jazidas.

Antes, o Conselho Admi-nistrativo era composto por 11 membros, cinco do sindicato da Pemex e seis do Governo Federal. “Com quatro novos conselheiros temos um equi-líbrio muito mais a favor do governo para que a Pemex possa ter maior autonomia com respeito ao que diz o sindicato”, diz Wood, do Itam.

RISPIDEZEmbora a reforma petrolífera tenha sido aprovada por ampla maioria no Congresso, algu-mas facções dos partidos de esquerda ficaram inconfor-madas com a resolução. A Frente Ampla Progressista (FAP), uma coalizão legis-

lativa e de governo formada por partidos de esquerda, tem argumentado que a reforma é privatizadora. “E é assim, no sentido que fortalece e amplia a participação do setor privado nas atividades que compõem a indústria petrolífera”, afirma Víctor Rodríguez Padilla, doutor em economia e política de energia da Universidade Nacional Autônoma do Mé-xico (Unam).

Os integrantes do FAP sustentam a sua argumentação

no fato de que companhias privadas estarão presentes ao longo de toda a cadeia de valor através do sistema de contratos e de licenças, com exceção da área de refino.

E são esses olhos os que zelarão pela correta aplicação da nova reforma energética no México. Alguns analistas ainda demonstram certa reserva com respeito à capacidade que a Pemex demonstrará na hora de tomar as decisões apropriadas para financiar projetos. “Não tenho tanta confiança em que possam tomar as decisões corretas”, afirma Wood, do Itam. “Mas vamos ver o que acontece”, acrescenta. Embora manifeste abertamente certas dúvidas, o especialista acredita que a reforma é o primeiro passo para pensar em futuras modificações na indústria petrolífera mexicana.

E, quem sabe, daqui a al-guns anos, poderão ser muitos os Chicontepecs que estarão em plena atividade de explo-ração.

Ainda que alguns desconfiem da ca-pacidade da Pemex de tomar de-

cisões corretas, todos apóiam a au-tonomia de gestão da estatal.

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58 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

Félix Peña

DEBATES OPINIÃO

Diretor do Instituto de Comércio Internacional da Fundação Standard Bank e professor de Relações Comerciais Internacionais da Universidade Nacional de Tres de Febrero, Argentina.

Hora de revisão?

UM DENSO TECIDO de instituições e regras contribui para que o comércio mundial seja previsível. Algumas são multilaterais e globais, como as desenvolvidas nos 60 anos do sistema GATT-OMC. Outras são regionais ou resultam da crescente rede de acordos bilaterais.São bens públicos internacionais que facilitam os inter-câmbios de bens e serviços, o desenvolvimento de redes transnacionais de valor e a solução de eventuais diferen-ças.As instituições e regras existentes estão longe da perfei-ção. Inclusive em alguns casos não conseguiram alcançar os ambiciosos objetivos iniciais. Mas elas existem e seu desenvolvimento custou muito esforço. Além disso, cum-prem uma função que no complexo cenário econômico atual tem um valor signifi cativo. São escudos protetores frente à recorrente tentação de fechar os mercados, como já aconteceu durante a Grande Depressão da década de 30. Não foi essa a causa dos desastres produzidos pela Segunda Guerra Mundial. Mas facilitou que estes acon-tecessem.Por isso hoje é prioridade preservar tais regras e institui-ções. Mas para isso se requer que estas sejam adaptadas a novas realidades. Preservar o existente não exclui a ne-cessidade de revisar e, eventualmente, refazer suas agen-das, instrumentos e métodos de trabalho.No caso da OMC, o debate sobre essa revisão já está acontecendo. As difi culdades para concluir a Rodada Doha tornam essa necessidade evidente. Por um lado, são muitos os países membros e é difícil conquistar equilí-brios entre os diversos interesses, às vezes contrapostos. Por outro lado, não é fácil visualizar os benefícios do deterioro do atual sistema multilateral do comércio mun-dial, que poderia resultar do imobilismo.Uma das chaves da OMC é colocar um limite ao prote-cionismo dos mercados e aos instrumentos que distorcem as condições em que o comércio mundial se desenvolve. A consolidação das tarifas máximas que os países mem-bros podem aplicar e o teto para os subsídios à produção agrícola são alguns dos exemplos. Inclusive há quem se questiona, com razão, se não teria sido conveniente che-

gar a um acordo em julho passado. As bases propostas podiam estar longe das ambições originais e dos equilí-brios necessários mas, se tivessem sido aprovadas, per-mitiriam domesticar melhor as tendência protecionistas que agora emergem como resultado da crise econômica mundial. Concluir Doha não signifi ca eliminar a necessidade de continuar negociando condições para um sistema mais funcional ao desenvolvimento econômico de todos os países membros da OMC. Ao contrário, permitiria con-centrar os esforços futuros na necessária reformulação de métodos das negociações comerciais multilaterais, a fi m de torná-los mais efi cazes e mais equilibrados em seus resultados. Isso requer que a conclusão da Rodada Doha inclua uma agenda de revisões na OMC.Também no Mercosul se observa a necessidade de re-formas. O bloco é identifi cado por determinados setores econômicos de seus próprios países como carente de

efi cácia. É conside-rado insufi ciente pa-ra orientar decisões de investimento que tenham o objetivo de projetar ao mundo a capacidade de pro-duzir bens e prestar serviços que sejam competitivos. Em um contexto global de múltiplas oportunida-des e opções para a inserção de qualquer país que tenha es-tratégias comerciais ofensivas, é visto como uma espécie de camisa-de-força.É difícil imaginar uma opção crível para o atual Mercosul. Parar e começar do zero não é um cami-nho recomendável, se se levar em conta as múltiplas dimensões de um processo de integração que trans-cende o comercial. Já se for renovado, poderá cumprir uma

função relevante na estabilidade política de uma região na qual operam forças centrífugas. Como a OMC, o Mer-cosul também requer combinar preservação e revisões.

Em um contexto global de múl-tiplas oportuni-dades e opções para qualquer país que tenha estratégias co-merciais ofensi-vas, o Mercosul é visto como uma espécie de camisa-de-força. É difícil imaginar uma solução crí-vel para o bloco.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 59

John C. Edmunds

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.

FINANÇAS OPINIÃO

Recursos internos

em divisas e sua fl exibilidade fi scal sem precedentes. Se as discussões em torno deste tema durarem muito, é bem provável que o país só cresça 2,5% em 2009, mas há cenários mais otimistas que também têm de ser conside-rados.Já o Brasil é um caso exemplar porque encontra formar de continuar crescendo, apesar da desaceleração dos mer-cados aos quais exporta. Seu crescimento se projeta em 3,5% em 2009, não muito menor que as taxas de cresci-mento dos anos anteriores. O motivo é que o setor expor-tador atualmente representa somente 10% do PIB. Além disso, o Brasil conta com grandes reservas em moeda estrangeira, que superam a demanda de converter reais a dólares. O sistema fi nanceiro do país é hoje muito dife-rente daquele que se contagiou facilmente em 1994, 1998 e 2001. Hoje os brasileiros investem suas economias em fundos mútuos, que são muito mais transparentes que os bancos comerciais. Houve rumores de uma alta exposição a derivativos de divisas. Em crises anteriores, tais rumo-res teriam sido sufi cientes para engatilhar pânico. Desta vez, entretanto, o dano foi menor, já que os investidores puderam avaliar as perdas e ver que os recursos disponí-

veis eram mais que sufi cientes para cobri-las.O mercado de bônus confi rma essa visão de prudência. Desde o início de 2008, os investido-res em dólares sofreram perdas de 12,8% em bônus peruanos e 7,8% em bônus brasileiros. Durante esse mesmo período, os bônus argentinos caíram 66% e os bônus corporativos “podres”, 28%.Qual de todas essas diferentes estimativas será a correta? O Peru pode continuar crescen-do a taxas de 7%, enquanto o Chile cresce menos de 3%? O Brasil conseguirá superar-se e exceder 3,5% da expansão projetada? A resposta depende, em parte, de quão rapidamente a crise internacional seja resol-vida e quanto dano implicará à economia real dos países industrializados. Mas, mais

que isso, dependerá de como os países latino-americanos manterão seus níveis de investimento em capacidade produtiva, apontando a seus mercados internos, e quão bem-sucedidos sejam em impulsionar aumentos de pro-dutividade. A notícia realmente boa é que, pela primeira vez, esses países têm o controle de seus próprios destinos econômicos.

AS NOTÍCIAS DE REVISÃO nas estimativas de cresci-mento econômico em 2009 já se converteram no pão de cada dia e a América Latina não é exceção à essa tendên-cia. Mas se alguém estuda as cifras da região atenciosa-mente, alguns países latino-americanos se encontram em uma posição favorável para manter o crescimento econô-mico. Destes, os casos de Peru, Chile e Brasil são parti-cularmente destacáveis.O Peru tem se revelado um aluno muito aplicado. Redu-ziu sua dívida externa de US$ 25,6 bilhões em 1995 para US$ 18,6 bilhões em setembro deste ano. Nesse período, seu PIB continuou crescendo, assim a carga relativa à dívida se tornou muito menor. Suas reservas em moeda estrangeira cresceram para US$ 31 bilhões, e por isso conta com dinheiro sufi ciente para não apenas pagar as dívidas como também suas importações, mesmo frente a uma queda das exportações.O Peru conta com múltiplas oportunidades para realizar proveitosos investimentos em infra-estrutura e sufi ciente receita advinda de impostos para fi nanciá-los. A arreca-dação tributária aumentou 17,1% em setembro de 2008 comparado com o mesmo mês de 2007. As projeções indicam que em 2009 se alcançará um superávit primário fi scal de 3,6% do PIB, enquanto em 2010 e 2011 esse ex-cedente chegará a 3,5% e 3,3% do PIB, respectivamente. Conseqüentemente, o gasto público não superará o nível de receita tributária.Os investimentos estão orientados às exportações, mas também desenvolverão o mercado interno e proporciona-rão mais renda aos peruanos. O país prognostica um dé-fi cit de conta corrente de 2,6%, 2,5% e 2,2% do PIB para os próximos três anos, mas não serão sufi cientemente grandes para desviar as projeções de crescimento de 7% para 2009 e de 7,2% e 7,5% para 2010 e 2011.O Chile também é um caso a destacar, apesar do país atravessar um período de dúvidas. Recentemente o Banco Central reduziu sua previsão de crescimento a 2,5% em 2009 e 4% para 2010, mas essas projeções talvez sejam muito baixas. As fi nanças públicas do país estão em tão boa ordem que o país poderia manter um maior nível de investimento que o que mostrou até agora. O governo ainda não sabe o que fazer com suas enormes reservas

As estimativas dependerão de como os países latino-americanos manterão seus níveis de in-vestimento em capacida-de produtiva e impulsionarão aumentos de produtividade.

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60 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

FINANÇAS INTEGRAÇÃO

Merkel, Sarkozy e Bush Jr.:anfi triões pouco queridos

G7 + OUTROS 13A recente cúpula do G20 em Washington não representou a mudança do mundo fi nanceiro, mas destacou o maior peso das economias emergentes no cenário global Darrell Delamaide / Washington

AFP

“Acúpula foi uma enorme decepção. Os líderes mundiais deixaram-

se cair e não conquistaram absolutamente nada.” Com essas palavras, o economista Desmond Lachman, pesqui-sador do centro de estudos American Enterprise Insti-tute, descreve sua impressão

sobre a mais recente cúpula dos líderes do G20, marcada para discutir a crise mundial. “Enquanto isso, todo mundo está indo ao inferno.”

As versões sobre o balanço da crise são contraditórias, posto que existiam grandes esperanças depositadas nes-se tema. Com as economias

desenvolvidas golpeadas, algo que fica claro é que o encontro serviu para que novos atores, como México e Brasil, aumentassem seu poder de influência no setor financeiro global.

Lachman, ex-subdiretor do departamento de pesquisa e políticas do Fundo Monetá-

rio Internacional, acha que o mínimo que se podia esperar dessa cúpula era um estímulo global coordenado. “Em vez disso, discutiram sobre como prevenir uma nova crise”, diz. “Isso não é o que se faz quando se está mergulhado na pior crise econômica depois da Segunda Guerra. Primeiro,

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 61

é preciso resolver esta.”Na semana posterior à

reunião, o mercado acionário dos Estados Unidos voltou a cair, a indústria automotiva implorava ao Congresso para ser resgatada, e os mercados de crédito mundiais pareciam estar prestes a viver um novo colapso. “Toda a economia está à beira do precipício”, afirma Lachman.

OTIMISTASOutros analistas foram mais otimistas em seus balanços. “Certamente, não foi Breton Woods II, como algumas pessoas esperavam”, diz o argentino Claudio Loser, ex-chefe do departamento de América Latina do FMI. “Mas foi o suave começo de uma modificação no sistema financeiro internacional.”

Este ponto foi levado ainda mais longe pelo presidente do Brasil. “Estamos falando do G20, porque o G8 já não tem motivo para existir”, decla-rou Lula à mídia, depois do evento. “Em outras palavras, as economias emergentes devem ser consideradas no atual contexto do mundo globalizado.”

Loser, que hoje é pesqui-sador sênior do Diálogo Inter-Americano em Washington, vê Brasil e México como países latino-americanos em condi-ções de ocupar um papel de peso na formulação de uma agenda econômica global – não apenas dentro do G20 como também no FMI, no Banco Mundial e no Fórum de Estabilidade Financeira, este último formado por pre-sidentes de bancos centrais e outras autoridades monetárias, fundado pelo G7, com sede no Bank of International Settlements, na Suíça.

“O G7 reflete a realidade de 10 anos atrás”, diz Loser. “Esses países têm que aceitar

que o mundo mudou. Eles podem não gostar disso, mas têm que ouvir o que o Brasil tem a dizer.”

O economista acha que vá-rios países latino-americanos – Brasil, México, Chile, Co-lômbia e Peru – vão suportar a crise razoavelmente bem. “Eles trabalharam arduamente durante os últimos cinco a dez anos para melhorar o sistema financeiro. E acumularam reservas que lhes permitem absorver parte do golpe.”

Outros países –Venezuela, Argentina e Equador – terão muito mais problemas, diz Loser. Mas não estão con-taminados pela quantidade de ativos tóxicos que afetam

outras economias emergentes na Ásia e no Leste Europeu, sem falar dos mercados de-senvolvidos na Europa e América do Norte.

“Poderia-se descrever os países latino-americanos como vítimas inocentes”, diz Lach-man. Os fundamentos de mui-tos países, como Brasil, são sólidos, mas se está perdendo muito dinheiro, à medida que as retiradas dos investidores obrigam os hedge funds a liquidar importantes posições em moedas locais.

Nesse sentido, o presidente mexicano Felipe Calderón en-fatizou a necessidade de ajudar as economias emergentes. “As instituições financeiras inter-nacionais devem adotar um papel muito mais ativo”, disse, “apoiando países emergentes para minimizar o impacto na atividade econômica e evitar o aumento da pobreza.”

Mas Loser acha que os

países latino-americanos não devem satisfazer sua costumeira vontade de culpar o resto do mundo por seus problemas. “Alguns desses países pensaram que os pre-ços das commodities nunca cairiam, e por isso gastaram a receita”, diz. “Estes pensaram que estávamos ante um ‘novo paradigma’, em que os preços se manteriam altos”.

No encontro, a América Latina foi representada pelos líderes de Brasil, México e Argentina. A declaração de 10 páginas, resultado da Cúpula sobre Mercados Financeiros e Economia Mundial, cobriu de tudo, de normativas contábeis aos famosos credit default

swaps, e o prazo mais curto definido para implementar as novas políticas é 31 de março. Muitas das ações descritas foram apresentadas como propostas de médio e longo prazo.

Os líderes do G20 também se comprometeram a evitar medidas protecionistas. Loser considera essa promessa como o acordo mais emblemático da cúpula. “Isso é extremamente importante. Disseram que não seguiriam o caminho antiqua-do de impor restrições”, diz o economista. “É um impor-tante sinal para os países em desenvolvimento.”

O jantar na Casa Branca, na noite anterior à cúpula, também pode ter produzido compromissos importantes. “Muitos dos primeiros-mi-nistros e chefes de Estado presentes claramente compre-endem o fato de que a crise não terminou”, diz o diretor-

gerente do FMI Dominique Strauss-Khan, em coletiva de imprensa realizada depois da cúpula. “Por isso devem tomar medidas”, afirmou.

Com base nos prognósticos econômicos divulgados pelo FMI pouco antes da cúpula, Strauss-Khan disse que, com a inflação em retrocesso e o surgimento da deflação co-mo a grande ameaça nesse momento, os orçamentos deficitários deixam de ser um perigo importante, caso se gaste para estimular a economia. “Se houve alguma época da história econômica mundial em que a política fiscal e o estímulo estatal devessem ser usados, essa

época é agora.”Para o FMI, uma das me-

didas concretas produzidas na reunião foi o anúncio do Japão de proporcionar US$ 100 bilhões em recursos. Atualmente, o fundo conta com apenas US$ 200 bilhões para gastar, pouco frente ao aumento da lista de espera de países que pedem ajuda. Tam-bém houve a sugestão de que a China e outros países com excedentes no Oriente Médio poderiam aportar outros US$ 400 bilhões ao FMI.

A agência poderia desti-nar US$ 100 bilhões a uma instituição criada em no-vembro para prover liquidez de curto prazo a países que ostentem políticas adequa-das, mas que foram afetados pela crise financeira. Brasil e México, bem como outros países latino-americanos, poderiam solicitar ajuda por essa via.

Os líderes do G20 se comprome-teram, em um acordo emblemáti-

co, a evitar medidas protecionistas.

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62 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

CAPITAL [email protected]

Fonte: Economática

Preços e ações de alguns bancos na NyseBase 100=5 de janeiro de 2007

RIBANCEIRA DOW JONESBANK OF AMERICAWELLS FARGOCITIGROUP

140

120

100

80

60

40

20

005 JAN 07 05 NOV 07 05 NOV 08

COMPANHIA PAÍSDINH./

DÍVIDA CPFargo S.A. ARG 0,01Samarco Mineração BRA 0,02Viña Santa Rita CHI 0,02Industria Nigua R. DOM. 0,02Proquifi n MÉX 0,03

OS “TOP FIVE”Menor posição dinheiro/dívida de curto prazo

FONTE: FITCH RATINGS

Queda nas ações financeiras dos EUA afunda ainda mais todo o mercado acionário

A CULPA É DOS BANCOS

O FATO DE AS AÇÕES do Citigroup terem subido 60% em um dia não diz nada. Isso porque subiram de US$ 3 a US$ 5, quando no início de 2007 o preço de cada ação do grupo custava US$ 50. O Citi está tão mal assim? Ao que parece, sim.

Segundo Enrique Álvarez, do IdeaGlobal em Nova York, “isso foi um erro do Tesouro dos EUA”. Quando se anunciou que o programa de resgate Tarp deixaria de comprar ativos po-dres, o Citi decidiu incorporar instrumentos de investimento estruturados de mais de US$ 17 bilhões que estavam fora da folha de balanço, causando uma reação negativa do mer-cado, que se lançou a vender no curto prazo “e como hoje não há ninguém no mercado disposto a comprar, os agentes obrigam o governo a ir ao resgate”, diz Álvarez.

Para Jorge Suárez, do Glo-bal Plus Investment Manage-ment, “o mercado acha que o

Governo não deixará o Citi quebrar, mas ninguém sabe quanto se necessitará para evitar a quebra”. E quanto aos demais bancos? “Bom, ninguém está totalmente são”, diz Suárez.

O sistema fi nanceiro norte-americano em geral viu o preço de suas ações cair. Bear Stearns, Lehman Brothers, Wachovia, Washington Mutual e AIG estão na lona. E, junto com eles, o Dow Jones, que perdeu 35% de seu valor, impulsionado por um fenômeno de venda obrigado pelos bancos. Como assim? Muito simples. Os ban-cos norte-americanos podem emprestar uma quantidade de dinheiro equivalente a certo número de vezes o seu capital. E, cada vez que a ação de um banco cai, reduz-se o valor de capital, e portanto é preciso vender títulos para manter a relação capital-empréstimos dentro da margem exigida. Isso provocou um espiral de vendas nunca antes visto.

“Estamos frente a um mercado histórico”, diz Álvarez.

E apesar dos planos de resgate terem ajudado, eles somente estabilizam a condição do doente para que o quadro não se agrave; não garantem que ele será curado.

Até agora, os que se recupe-raram foram os créditos a curto prazo no sistema fi nanceiro, o que deveria gerar uma sensação de otimismo.

Mas a maior fonte de otimis-mo no mercado nesse minuto se chama Obama. Para Suárez, “o mercado poderá fi car ainda mais otimista se for feita uma análise mais profunda da equipe econômica do novo presidente, porque está bem equilibrada”. Tim Geithner, que foi nomeado secretário do Tesouro, é reconhecido como grande negociador, e Lawrence Summers, que será o principal assessor econômico de Obama, é um experiente economista.

Rodrigo Díaz

HÁ DINHEIRO... POR ENQUAN-TOOs emissores de bônus corporativos na América Latina experimentaram signifi cativas melhoras em suas posições de liquidez desde 2003. Segundo recente informe da classifi -cadora Fitch Ratings, isso se deve à solidez dos mercados de capital locais, uma forte

geração de fl uxo de caixa e uma signifi cativa queda do alavancamento. Mas o relatório também menciona que nos últimos 12 meses se registrou uma queda generalizada na taxa de crescimento dos fundos provenientes de operações das mesmas empresas, além de uma queda no percentual de dinheiro disponível frente à dívida de curto prazo das empresas. Essa situação, além do adormecimento dos mer-cados de capitais e bancários locais, certamente colocará a solvência dos emissores de bônus corporativos à prova.O relatório ainda identifi cou as empresas que possuem o menor nível de dinheiro disponível em relação à sua dívida de curto prazo, um importante indicador da saúde fi nanceira de uma companhia.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 63

NEGÓCIO FECHADO>> ALBANESIA empresa argentina comercializado-ra de produtos energéticos adquiriu a Central Térmica Independencia de Centrales Térmicas del Noroeste. O montante negociado não foi revelado. O comprador instalará duas turbinas de geração de poder que acrescenta-rão 120 MW ao sistema. A Albanesi investirá US$ 100 milhões neste projeto que estará pronto para o primeiro trimestre de 2010.

>> AZUL AZULAs ações da sociedade chilena que administra o clube Deportivo Univer-sidad de Chile teve uma má estréia. Em sua primeira cotação na Bolsa de Comércio de Santiago, os papéis caíram mais de 18%, afetados pelo cenário crítico do mercado bursátil local e internacional. A oferta pú-blica inicial envolveu 19,8 milhões de ativos (54,52% da companhia). No total, a fi rma recebeu ao redor de US$ 14,8 milhões. A operação foi coordenada por três corretoras de valores: BancoEstado, EuroAmerica e LarrainVial.

>> BANCO DO BRASILA entidade fi nanceira brasileira anunciou a aquisição do Banco do Estado do Piauí. O Banco do Brasil emitirá 2.930.649 ações correspondentes ao Banco do Piauí com um valor econômico de US$ 38,03 milhões. Este último era controlado pelo estado do Piauí até que em 2000 foi transferido ao governo federal do Brasil.

>> CEMEXA empresa de cimentos mexicana anunciou um acordo com a Cimpor

Inversiones, subsidiária espanhola de Cimpor Cimentos de Portugal SGPS para a venda de suas operações nas Ilhas Canárias. O acordo compreende os ativos de concreto e cimento da Cemex em Tenerife e 50% da pro-priedade da fi rma mexicana em duas joint ventures, Cementos Especiales de las Islas (CEISA) e Inprocoi.

>> CHINA NATIONAL PETROLEUM CORPORA-TIONA petrolífera asiática e a Recope (Refi nería Costarricense de Petróleo) fi rmaram um acordo para criar uma joint venture com um prazo de 25 anos na Costa Rica. Assim buscam melhorar, reconstruir e expandir as 1,2 milhão toneladas por ano da refi naria Moin, para aperfeiçoar a capacidade de seus processos, a qualidade do produto e a proteção ambiental.

>> COMPAÑÍA MINERA MILPOA empresa controlada pela brasileira Votorantim Metais adquiriu 100% da subsidiária peruana desta última, Votorantim Andina Perú S.A.C. Esta companhia havia sido criada recen-temente para adquirir o controle da Compañía Minera Atacocha, da qual é dona de 69,75% das ações com direito a voto.

>> GENERAL ATLANTICO grupo de private equity adquiriu 40% dos ativos na corretora de seguros brasileira Grupo Quali-corp. O acordo está valorizado em US$ 100 mihões. O Grupo Qualicorp é formado por três

companhias; Qualicorp Corretora de Seguros, Access Clube de Benefícios e Access Administração e Serviços.

>> GRUPO CAMPARIA fi rma italiana chegou a um acordo com a Destiladora San Nicolás para adquirir 100% da companhia mexicana por US$ 17,5 milhões. A transação será fechada no fi nal deste ano. O acordo inclui os negócios e ativos da companhia: uma destilaria, as marcas de tequila Espolón e San Nicolás, o estoque de tequila e a plataforma de distri-buição para o mercado mexicano. Além disso, a Campari assumirá os US$ 10 milhões da dívida fi nanceira da destiladora.

>> MMX MINERAÇÃO E METÁLICOS S.AA companhia de mineração brasileira adquiriu duas propriedades mineiras localizadas a 90 quilômetros de Copiapó, no norte do Chile, por US$ 26 milhões para criar novos negócios no país. Junto com a aquisição, a MMX fi rmou dois acordos opcionais para adquirir os direitos de exploração de ferro de outras minas próximas. O preço fi nal poderia chegar a US$ 535 milhões se a MMX decidir executar a opção e adquirir os lotes vizinhos.

>> SOUTHWEST AIRLI-NESA companhia aérea norte-americana realizou um acordo comercial com a mexicana Volaris para compartilhar códigos. Este será implementado a partir de 2010 quando a norte-americana modernizar o seu sistema eletrônico de reservas. Trata-se do primeiro passo para desenvolver uma aliança comercial que permitirá aos clientes viajar a uma série de destinos nos Estados Unidos e no México mantendo as baixas tarifas de ambas companhias.

>> SOLERA HOLDINGSO provedor norte-americano de software e serviços para a indústria de seguros automotivos adquiriu a brasileira Inpart Serviços Ltda., dedicada ao intercâmbio eletrônico para a compra e venda de peças de reposição para veículos no Brasil.

>> SYNGENTAA empresa suíça anunciou que fechou um acordo para adquirir a SPS Argentina (SPS), companhia especializada no desenvolvimento, produção e marketing de soja, milho e girassol. A transação permitirá à Syngenta aumentar signifi cativa-mente sua presença no mercado argentino. O valor da transação não foi divulgado.

Monsanto:Aquisição no brasil

>> MONSANTO

A companhia de alimentos dos EUA chegou a um acordo para a aquisição da brasileira Aly Participações, matriz das empresas especializadas no negócio da cana-de-açúcar CanaVialis e Alellyx, por US$ 290 milhões.

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64 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALTECNOLOGIA

Problemas na Matrix

Aconteceu em Santiago. Em um jantar privado de executivos da indústria de tecnologia da in-formação (TI), os presentes decidiram se abrir. “Quanto a crise vai afetar você?”, disse um. Os gerentes das maiores empresas de TI olharam um

para o outro, deixaram as rivalidades de lado por um momento e comparti-lharam suas visões. “A opinião geral é a de que se mantivermos o mesmo faturamento em 2009, será um bom ano”, diz um dos executivos que particiou do encontro.

Possivelmente, a conclusão seria a mesma se o encontro tivesse acontecido no México, na Colômbia ou em algum país da América Central: a indústria das empresas de TI, aquelas que se dedicam a vender softwares feitos sob medida ou padro-nizados, plataformas e serviços de manutenção, atualização de hardware e um sem-número de outros serviços para as quais são necessários especialistas em informática, terá um bom ano se repetir as cifras de vendas alcançadas este ano. É que a crise fi nanceira global também afetará a indústria de hardware, códigos binários e arquiteturas digitais. “No México, a queda poderá ser de 7,5%, em 2009”, diz Saul Cruz, analista da consultoria Select, no México. No Brasil, ainda que de forma bem menos brusca, a desaceleração também será sentida. “A indústria vinha crescendo a taxas anuais de 8% no País, mas duvido muito que

cheguemos a essa média em 2009”, diz Fernando Meirelles, diretor do Centro de Tecnologia da Informação Aplicada (CIA), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A venda de software vinha crescendo a taxas de 12%, mas esperamos crescer apenas entre 3% e 4%, em 2009”, diz José Cursellis, diretor da Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes), que reúne cerca de 800 empresas.

O golpe será sentido fortemente, dizem vários participan-tes da indústria, porque 2008 vinha sendo um bom ano para os empresários do setor em toda a região. Inclusive, no último trimestre deste ano, vinham sendo realizados investimentos de contratos fi rmados no início do ano, motivo pelo qual alguns ainda não sentiram o verdadeiro impacto da crise. “O mercado vinha embalado e muitas lojas e shoppings em construção serão inaugurados de qualquer forma”, diz Alberto Menache, dire-tor corporativo do Grupo Linx. “É uma indústria com muitos contratos já fechados”.

Mas, além dos projetos atualmente em execução, o mundo não está tão positivo. “Já sabemos como serão as coisas”, diz o argentino Luis Cuezzo, diretor geral da espanhola Indra para Chile, Peru, Uruguai e cuja empresa tem vendas de US$ 300 milhões em serviços de TI em toda a América Latina. “Todas as decisões de investimentos serão postergadas até que haja

A crise freará o rápido crescimento da indústria de TI na América Latina. No mercado mexicano pode até haver queda, de 7,5%. No Brasil, porém, a desaceleração esperada é bem menos bruscaFelipe Aldunate e Dubes Sônego, Santiago e São Paulo

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 65

ESPECIALTECNOLOGIA

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MENOS CONSULTORES

FONTE: PESQUISA DO IDC COM 164 EMPRESAS DA AMÉRICA LATINA

EM QUAL DAS SEGUINTES ÁREAS ACHA QUE HAVERÁ ALGUM TIPO DE REDUÇÃO DE GASTO OU DE INVESTIMENTO EM 2009?

IT CONSULTINGDESENV. DE APLICAÇÕES/PROG. SOB MEDIDA

CAPACITAÇÃO/EDUCAÇÃO

SUPORTE E MESA DE AJUDA

OUTSOURCING

GESTÃO DE OPERAÇÕES

INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS

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maior clareza em relação à profundidade da crise: até lá, só seguirão investindo aqueles que não podem funcionar sem in-vestir, os que buscam maior efi ciência através da tecnologia”, diz Cuezzo.

Por isso, são muitos os que estão esperando uma forte con-tração dos negócios, especialmente durante o primeiro semestre de 2009. Até lá, é pouco provável que haja sinais claros que permitam às empresas trabalhar com algum grau de certeza sobre os cenários que enfrentarão seus investimentos. A isso é preciso somar o efeito que a crise terá sobre certos setores (especialmente exportadores) que são usuários intensivos de tecnologias, sem falar das restrições de crédito geradas pela falta de liquidez. É que grande parte das vendas da indústria, especialmente a compra de ativos físicos (computadores, ser-vidores, etc.) é feita através de operações de crédito. “A crise é principalmente uma crise de fi nanciamento”, diz o peruano Luis Anavitarte, vice-presidente e diretor de pesquisa de mer-cado para mercados emergentes da Gartner, baseada em São Francisco. “Isto signifi ca que veremos muitas empresas poster-gando decisões como, por exemplo, a de renovarem seu parque de PCs, do primeiro para o segundo semestre”.

O segmento de hardware é provavelmente o mais crítico: enquanto a maior parte dos serviços de TI pode ser vendida já como serviços pagos mês a mês, muitas empresas ainda prefe-rem ter os equipamentos de computação em seus escritórios e investir altas somas – o que exige mais capital. Por isso, será o item mais afetado. “Contudo, a maior parte dos investimentos continuará a ser destinada a servidores, redes, soluções de ar-mazenamento e PCs”, diz Cristina Rivas, gerente de pesquisa para o Cone Sul da IDC.

Sem falar no varejo, segmento de mercado no qual está cada vez mais difícil vender. “Para o consumidor residencial as coisas serão mais difíceis: hoje, para os consumidores é mais difícil ter acesso a uma cesta básica de produtos e serviços digitais”, diz o mexicano Luis Guarango, diretor para a América Latina da Marco Consultoria. Por exemplo, no México, diz Guarango, em maio eram necessários quase seis salários para digitalizar uma

residência. Hoje, são necessários nove salários mínimos para comprar os mesmos equipamentos, mais de 50% de aumento. No caso argentino, o aumento foi de 30%.

Mas, como diz o clichê, é na crise que estão as maiores opor-tunidades. E na América Latina que se transformou, nos últimos anos, na região de maior crescimento em investimentos em TI do mundo e no segundo maior mercado emergente do planeta, depois da Ásia Pacífi co, continuam havendo muitas delas.

Miguel Pérez, presidente da Associação Chilena de Empre-sas de Tecnologia da Informação (ACTI), diz que “quando há crise, em geral, a área de tecnologia não sofre muito, porque implementar soluções tecnológicas permite a redução de cus-tos”. Por este motivo, não espera uma forte redução, mas uma transferência de investimentos, já que haverá menor renovação de hardware (PCs, servidores e impressoras). “Vai haver redução no volume de investimentos em infra-estrutura e aumento em serviços, porque a tecnologia que as empresas têm provavel-mente terá que durar um ano a mais”.

De acordo com Cuezzo, da Indra, as empresas mudarão o foco de atuação. “Os que continuarem investindo em novos projetos de TI vão se focar naqueles que geram maior efi ciên-cia e na diminuição de custos”, diz. E, nas atuais circunstân-cias, só haverá dinheiro para os que forem capazes de garantir rentabilidade imediata. Para isso, não há nada melhor que a redução de custos.

A isso é preciso somar a demanda por serviços de manutenção de grandes investimentos feitos no passado ou que já estavam em andamento e não podem ser interrompidos. No Brasil, por exemplo, havia cerca de 18 milhões de computadores, em todo o país, em 2002. Hoje, a cifra é de 45 milhões, de acordo com a CIA, da FGV. A área de TI vinha consumindo cerca de metade dos investimentos realizados pelas companhias brasileiras nos últimos anos. Mas, muitos desses investimentos são contabili-zados como gastos correntes, que as empresas não deixarão de fazer. “As grandes corporações continuarão a comprar tecno-logia, enquanto que as PMEs estão se aproximando dos canais tradicionais de TI”, diz Guarango, da Marco Consultoria.

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FOCO NAS APLICAÇÕES

FONTE: PESQUISA DO IDC COM 164 EMPRESAS DA AMÉRICA LATINA

EM QUAL DOS SEGUINTES TIPOS DE SOFTWARE HAVERÁ ALGUM TIPO DE REDUÇÃO DE GASTO OU INVESTIMENTO EM 2009?

APLICAÇÕES ESPECIALIZADASCOLABORAÇÃOSISTEMAS OPERACIONAISBASE DE DADOSERPSEGURANÇACRMBUSINESS INTELLIGENCEPRODUTIVIDADE

100-249 250-499 1000 ou + Média500-999empregados

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66 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

ESPECIALTECNOLOGIA

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CONTINUE COM O VELHO PC

FONTE: PESQUISA DO IDC COM 164 EMPRESAS DA AMÉRICA LATINA

NOVO PCSERVIDORDISP. MÓVELIMPRESSORASEQUIP. DE REDEARMAZENAMENTO

EM QUAL DOS SEGUINTES TIPOS DE HARDWARE HAVERÁ REDUÇÃO DE GASTO OU INVESTIMENTO EM 2009?

100-249 250-499 1000 ou + Média500-999empregados

Para outros, a crise é uma oportunidade para que os hábitos de comercialização da indústria mudem para melhor. “As pessoas estão muito insatisfeitas com a forma como hoje se comercializam softwares”, diz Meirelles, da CIA-FGV. “Hoje, as empresas só usam cerca de 10% das potencialidades de um sistema de gestão integrada com que trabalham... e a exigência de hardware para qualquer software hoje é absurda. É uma coisa sem sentido”. Menos ainda em um mundo no qual o hardware se transforma em uma enorme acumulação de capital imobilizado.

Foi no que apostou o brasileiro Cláudio Coli, diretor executivo da Mastersaf, uma empresa que oferece soluções tecnológicas para as áreas fi scal e tributária. Sua companhia começou a oferecer um serviço para que varejistas pudessem emitir notas fi scais eletrônicas pela internet. Pelo modelo tradicional, o cliente teria que comprar um PC, um software e contratar alguém para implantar o sistema, aumentando sua necessidade de capital ini-cial. Contudo, através de uma aliança com a IBM, a Mastersaf oferece a possibilidade de que a nota seja preenchida on-line e armazenada em servidores da IBM, eliminando a necessidade de um sistema interno na loja. O comerciante paga apenas pelo número de notas fi scais emitidas através da rede.

Assim, também será possível começar a popularizar siste-mas de venda de tecnologia que aproveitam a capacidade de computadores remotos. Trata-se de uma tendência que vinha se desenhando há alguns meses, mas que deverá ser acelerada pela crise.

RIO REVOLTOSO

Quanto aos setores industriais que continuarão ativos com-

ALEX

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“O MERCADO VINHA EM ALTA VELOCI-DADE E MUITOS PROJETOS CONTINU-ARÃO SENDO EXECUTADOS APESAR DA CRISE”, DIZ ALBERTO MENACHE, DO GRUPO LINX.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 67

ESPECIALTECNOLOGIA

“DEU TILT”Previsão de crescimento de gastos/investimento em TI, antes e depois da crise Peru: 8,5% / 11,9% Brasil: 14,4% / 9,1% Colômbia: 16,6% / 8,6% Chile: 14,7% / 8,3% Resto da América Latina: 15,8% / 7,5% Argentina: 16,5% / 7,4% México: 11,7% / 5,2% Venezuela: 7,9% / 4,5% Estados Unidos: 4,2% / 0,9% Europa Ocidental: 3,9% / 1,2% Japão: 2,3% / 1,0% América Latina: 13,7% / 7,8% Mundo: 5,9% / 2,6%

ANTES E DEPOISVocê acha que os gastos em todos os serviços e produtos de TI de sua companhia serão maiores, menores ou iguais aos reali-zados nos últimos 12 meses? Respostas dadas antes e depois da explosão da crise fi nanceira dos EUA, em setembro

Antes da crise37% Maiores12% Menores51% Iguais

Depois da explosão da crise

23% Maiores32% Menores46% Iguais

Fonte: Pesquisa realizada pelo IDC com 164 companhias da América Latina

Previsão de crescimento de gastos/investimentos em TI, por segmento, antes e depois da crise Software: 12,1% / 10% Serviços: 10,7% / 8,6% PC/equipamentos: 15,3% / 6,6% Armazenagem de dados: 5,1% / 2,8% Redes: 6,6% / 2,8% Impressão: 9% / 1,7% Servidores: 3,1% / 2,1%

pradores de tecnologia, não há grandes surpresas: a indústria bancária latino-americana e a de telecomunicações, além da administração pública, seguirão dominando os contratos.

As empresas, tanto do México quanto do Brasil e de outras partes da região, crêem também que muitas oportunidades se abrirão no mundo das pequenas e médias empresas. Rivas, do IDC no Chile, acredita que as PMEs têm uma oportunidade para investir em soluções que melhorem sua produtividade. “Estamos vendo que a questão do Saas (Software as a Service) e dos softwares, em geral, segue se desenvolvendo na América Latina”, diz. “E as PMEs continuam no processo de adoção deste tipo de aplicações, críticas para seus negócios, sem investir em infra-estrutura”.

Outra área em que há um crescimento consistente é a de comércio eletrônico. Segundo Menache, da Linx, seu grupo planeja implantar um portal no qual os clientes poderão fazer leilões reversos para compra de bens e serviços produtivos e não-produtivos, de forma semelhante a que acontece em lici-tações públicas. “Devemos investir também muito na área de comércio B2C (vendas ao consumidor fi nal)”, diz Menache. É que o Brasil, assim como outros países da região, atravessa um boom no comércio eletrônico, que a crise não parece capaz de interromper (ver gráfi co na página 68).

Além disso, não são poucos os que vêem a vantagem que estão gerando as atuais condições de comércio: a depreciação das moedas latino-americanas frente ao dólar voltou a tornar atrativa a possibilidade de exportar software e serviços de TI.

Mas, as oportunidades não surgem apenas do lado das novas formas de serviços ou de setores mais dinâmicos. Não são poucas as empresas de TI que têm percebido que muitos competidores menores podem complicar-se nos próximos meses, por falta de capital de giro e, portanto, se sujeitarem a aquisições. “Já aconteceram muitas conversas entre empresas rivais neste sen-tido, inclusive a minha está em busca de um comprador”, diz um executivo mexicano que prefere não revelar seu nome nem o de sua empresa, para não afetar as negociações.

Contudo, entre os profi ssionais do setor, na maior parte dos países, há muito nervosismo. Não são poucos os que lembram a enorme retração da indústria logo após a explosão da bolha de internet que reduziu drasticamente os salários e deixou vários deles na rua. Um resultado lógico em uma indústria cuja chave é a gestão de enormes quantidades de recursos humanos altamente capacitados e cujos ajustes passam principalmente por demis-sões. Há, porém, boas notícias no front. Grandes consumidores de TI, como os bancos brasileiros Bradesco e Banco do Brasil anunciaram a manutenção em 2009 do mesmo volume de inves-timentos em TI que realizaram em 2008. Em outras empresas, como a telefônica Claro, do grupo Slim, foram anunciadas altas de até 40%. Mas, pelo menos por ora, são exceções no cenário latino-americano. É que a crise aconteceu no pior momento: justo quando os altos executivos das empresas fazem o planejamento orçamentário para o ano que se aproxima. “Estão fazendo suas apostas no momento de maior incerteza, e em função disso, serão conservadores”, diz um empresário colombiano. Alguns esperam que quando terminar o carnaval brasileiro e o restante do Cone Sul regressar das férias, em março, haja uma revisão das contas e uma confi rmação de investimentos que realmente possam ser feitos – e com os quais os cenários previstos po-deriam recuperar-se. Mas, com as informações disponíveis, só resta apertar o cinto e rezar para que a situação não piore. E, claro, buscar as boas oportunidades.

- Com Marisol Rueda e Arly Faundes, México, e María Soledad Gómez, Santiago

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ESPECIALTECNOLOGIA

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Fonte: AméricaEconomia Intelligence e VISAUS$ 10,9 BILHÕES: COMPRAS EM SITES LOCAIS E ESTRANGEIROSCOMPOSIÇÃO DO E-COMMERCE 2007

Caribe sem P. Rico

Porto Rico

México

Chile

Outros

Brasil

Argentina

Peru

Venezuela

América Central

Colômbia

Conveniência - comodidadeCompro a qualquer hora

Credibilidade do sistema-segurançaRapidez

Maior ofertaOferta outros países

Maior variedadeMenor preço

Nenhuma

18,7%18,1%

13,3%12,0%

11,6%

11,5%10,9%

3,2%0,0%

0% 10% 20%

Fonte: AméricaEconomia Intelligence e VISACOMUNIDADE DE LEITORES, AM. LAT. 08, RESPOSTAS MÚLTIPLASVIRTUDES DO E-COMMERCE

O boom doe-commerce

ESTUDO REALIZADO POR:

Um dos setores que este ano não verá sinais de crise é o comércio eletrônico. A tendência de transformar documentos e relações comerciais que antes aconteciam no mundo real em eletrô-nicas cresce tanto em tempos de bonança quanto

de crise. Afi nal, momentos de retração levam à necessidade de abrir novos mercados, bem como de tornar as operações mais efi cientes. Já dissemos: este ano, o comércio eletrônico na América Latina registrará vendas de US$ 16 bilhões para con-sumidores, uma cifra 60% maior que a de 2007. Essa estimativa é resultado de um completo estudo realizado pela empresa de cartões de crédito Visa em conjunto com AméricaEconomia Intelligence, publicada na edição de 23 de junho de AméricaE-conomia. Trata-se de um trabalho que ambas as organizações vêm desenvolvendo há três anos, impulsionadas pelo enorme interesse que esse comércio gera entre os participantes da indústria de cartões de crédito e – com certeza – entre nossos leitores. De fato, pelos telefones de nossos escritórios e em nossas caixas postais chegaram uma infi nidade de solicitações do estudo Visa-AméricaEconomia Intelligence. Assim, depois de ouvirmos nossos leitores, incluímos nestas páginas alguns dos resultados do estudo e aproveitamos para lembrar que sua versão completa pode ser baixada de nosso site.

Um dado que acrescentamos nestas páginas é o estudo da ComScore, empresa norte-americana que mede o tráfego de sites de e-commerce em todo o mundo. A tendência que eles registraram no último ano também é positiva. Pelo menos o número de visitantes únicos que os sites de comércio eletrônico da região recebem tem registrado claro aumento: média de 26% para o ano terminado em agosto de 2008. Continuaremos revisando essa tendência regularmente para saber como esse setor evolui.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 69

ESPECIALTECNOLOGIA

Visitantes Únicos (Mil)

Sites Out-07 Out-08 Var.%

Mercadolibre 26.404 31.497 19,3

Buscapé.Com inc. 6.473 9.333 44,2

Apple inc. 6.027 7.734 28,3

Ebay 8.315 5.541 -33,4

Amazon sites 4.814 4.321 -10,2

Dell 3.204 2.174 -32,2

Hewlett Packard 2.200 2.100 -4,5

Ciao Sites 2.447 1.916 -21,7

Barbie 1.711 1.713 0,2

AmericanGreetings Property 1.493 1.680 12,5

Uol Brasil Shopping 1.471 1.449 -1,5

Magazineluiza.com.br 1.352 1.419 4,9

Guiadohardware.net 1.181 1.223 3,6

Tuparada.com 2.450 1.176 -52,0

Paris.cl 1.280 1.118 -12,6

Livrariasaraiva.com.br 1.060 1.112 4,9

Grupo Falabella 1.342 1.048 -21,9

PriceGrabber 2.103 1.011 -51,9

Ticketmaster 1.100 893 -18,8

TOTAL INTERNAUTAS 56.520 72.547 28,4

-60

-40

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Busc

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bella

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Fonte: ComScore

Fonte: ComScore

Fonte: ComScore

VARIAÇÃO EM VISITANTES ÚNICOS (OUT. 08/OUT. 07)

SITES DE E-VAREJO MAIS POPULARES ENTRE INTERNAUTAS (OUT- 2008)

CAMARÃO QUE DORME...

OS 10 MAIS VISTOS

0 10 20 30 40 50

MercadoLibre 43

BuscaPé.com Inc 13

Lojas Americanas 11

Apple Inc 11

eBay 8

Amazon Sites 6

Dell 3

Hewlett Packard 3

Ciao Sites 3

Barbie 2

2003 2004 2005 2006 2007 08p 09p 10p

Fonte: AméricaEconomi Intelligence e VISAGASTO TOTAL EM E-COMMERCE NA AMÉRICA LATINA (EM US$ MILHÕES)CLICS & DINHEIRO

1.866 3.0664.925

7.78310.908

16.025

21.954

32.000

24.000

16.000

8.000

29.638

Fonte: AméricaEconomia Intelligence e VISA

RESPOSTAS MÚLTIPLAS, COMPRAS UNITÁRIAS. COMUNIDADE DE LEITORES, LATAM. 08

O QUE COMPRO PELA INTERNET

Livros, música e fi lmes 21,4%16,9%

13,9%

12,3%9,1%

7,7%6,7%

4,1%3,1%

2,8%

1,8%

5%0% 10% 15% 20%

Turismo e viagensEletrônicos

Software

Eletrodomésticos

ServiçosFlores e presentes

ComidaJogos

Peças de reposiçãoMobiliário

OS SITES DE E-COMMERCE MAIS VISITADOS NA REGIÃOOS MAIS REQUISITADOS

Para mais informações sobre este estudo, visite o site www.americaeconomia.com.br

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70 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

CLICS & CHIPS[gadget]Torre musicalTodoroki é o nome desse novo sistema musical da clássica marca Pioneer, que promete deleitar os mais exigentes tímpanos. O equipamento tem um subwoofer grande (30 cm) que entrega baixos mais fortes e pesados, além de uma torre de alto-falantes frontais e conexão USB. Seu preço ainda não foi divulgado.

www.pioneerelectronics.com

[gadget]Relógio móvel

O telefone LG Prada II tem um acompanhante perfei-to. Trata-se do Prada Link, relógio que se conecta ao celular através de Bluetooth e que mostra informa-

ções como ligações recebidas e SMS. Tem uma tela Oled de 0.9 polegadas (120 x 56 px), pesa 51 gramas e tem autonomia de 48 horas. Custa cerca de US$ 300.

www.lge.com

[.com]Facebook para executivosO site MeetTheBoss pretende mudar a forma como os empresários se comunicam. A página é uma rede social que permite ter os contatos necessários em nível gerencial de diferentes empresas de todo o mundo. Também oferece diversas videoconferências com líderes do universo dos negócios. A inscrição é gratuita, com algu-mas restrições.

www.meettheboss.com

[gadget]YouTube em 50 polegadasA nova TV de plasma da Panasonic não se limita a lhe oferecer o fi lme do seu canal predileto. Ela é compatível com IPTV (TV por protocolo de internet), o que permite que serviços como os oferecidos pelo YouTube possam ser desfrutados no TH-50PZ850 de 50 polegadas. Além disso, suporta resoluções 1080p FullHD. Sua vida útil é de 100 mil horas. Custa US$ 2,7 mil.

www.panasonic.com

Page 71: Nº 369 Edição Brasil

SOLE

DAD

TIRA

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 71

INTERFACESA LOUCA VIDA COTIDIANA COM AS MÁQUINAS INTELIGENTES.

ADOLFO WATERHOUSE

É necessário uma rede wi-fi dentro do carro ou camionete?

Conquistá-la significa converter um veículo em on the edge, na crista da onda? Só o fato de que essas perguntas tenham sido consideradas relevantes há três meses demonstra por que a indústria automobilística de Detroit se encontra “tecnicamente” extinta, como os últimos mamutes que sobreviveram, em algumas ilhas do Mar de Barents, alguns milhares de anos mais que o restante.

Que os tecno-acessórios fossem como as telas de GPS ou o tamanho dos veículos, as mudanças mais visí-veis nos modelos da última década, é um sinal da incompreensão das companhias norte-americanas sobre o que é a inovação tecnológica.

As pessoas não querem um carro com um iPod: querem que um carro seja o iPod dos carros.

Isso foi o que Thomas L. Frie-dman, colunista do The New York Times, sinalizou ao afirmar que um eventual pacote de resgate das companhias General Motors, Chrysler e Ford deveria obrigar – como contrapartida – a contratação ad-honorem de Steve Jobs como CEO de emergência.

Para alguns isso parecerá uma crítica apresentada como piada, mas não é. Tratou-se de um pedido real. Michael Cusumano, professor da MIT Sloan School of Management, pôs o dedo na ferida na semana passada. Imaginando um cenário de uma quebra administrada e de uma recuperação, disse: “Meu pior medo é que os fabricantes de automóveis dos EUA têm muita dificuldade em atrair talentos. E isso será difícil de superar”. Nas últimas duas décadas, lembrou Cusumano, os melhores estudantes do MIT em Engenharia e Management foram para Google, Intel, Cisco. Inclusive Amazon e Hewlett Packard. Mas não para a Ford. O mesmo não acontece na Europa ou na Ásia, onde trabalhar na Volkswagen-Audi ou Honda – nem

se fala em Tata –, ainda é suficiente ou muito apaixonante.

Por quê? Entre outros motivos, porque em um mundo com centenas de milhões de novos usuários asiá-ticos e com problemas ambientais e de custo energético agudos, o carro é uma máquina que tem que ser reinventada.

É o que no Brasil o economista e mestre em Engenharia Renato Cesar Pompeu e o engenheiro mecânico Carlos Eduardo Momblanch estão buscando. Eles projetaram o Pompeo. Um carro para duas pessoas que pesa apenas 380 kg. A inovação? Tirar uma das rodas traseiras e usar um motor de motocicleta. Uma loucura. De fato, igual a um reprodutor de música portátil sem auto-falantes, com todas as funções manipuláveis mediante uma única roda-tecla.

Em um mercado que vende pouco mais de 1 milhão de motos por ano, um quase-carro que fará 25 km por litro (contra 10 km/l de seu equivalente em quatro rodas) faz todo o sentido para quem deseja um carro que faça bem o que todos os carros fazem: levar as pessoas de um lugar para outro, mas de forma rápida e sustentável. E que no próximo ano poderá ter sua versão elétrica.

Outro brasileiro, ou brasileiro-libanês, para ser mais exato, Carlos Ghosn, CEO da Nissan e da Renault, há certo tempo já afirma que o futuro dos carros será “dos veículos que se plugam na tomada” (cars with cords). Um exemplo dessa tendência, que alimenta tal esperança, é o iMiEV da Mitsubishi. Com mais de 60 CV, sua autonomia é de 100 km. É um carro intracidade, mas anuncia algo novo: mais que velocidades, em seu caso é preciso falar de “modos”. A velocidade/modo B otimiza os freios e a velocidade para que a energia cinética do veículo expanda ao máximo a vida da bateria. O iPod para música é agregado pelo motorista.

EM BUSCA DO IPOD DE CARRO

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72 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

RAIO X[ESPANHA]

SOLE

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TIRA

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UI

TOUREIRO TOUREADO

O CAMPEÃO DA EUROPA TROPEÇA

2003 2004 2005 2006 2007 2008 (E) 2009 (F)

PIB US$ MILHÕES 885.649 1.046.172 1.130.628 1.233.380 1.439.840 1.625.520 1.519.969

POPULAÇÃO MILHÕES 40,0 40,5 41,0 41,7 42,3 43,0 43,8

PIB PER CÁPITA US$ 22.114 25.846 27.600 29.603 34.002 37.769 34.736

VAR. % PIB 3,1 3,3 3,6 3,9 3,7 1,3 -0,2

INFLAÇÃO (%) 3,1 3,1 3,4 3,6 2,8 3,0 2,7

DESEMPREGO (%) 11,1 10,6 9,2 8,5 8,3 11,5 12,5

SALDO COMERCIAL US$ MILH. (75.716) (96.132) (114.975) (131.554) (132.974) (131.614) (124.750)

SAÍDA IED US$ MILH. 28.718 60.532 41.829 100.249 119.605 N.D. N.D.FONTES: EUROSTAT, UNCTAD. / E=ESTIMATIVAS EUROSTAT, AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE.

Cerca de 20 mil trabalhadores do setor imobiliário e da in-dústria automotiva foram os primeiros a sofrer os efeitos da crise financeira na Espanha. Mas não são os únicos, já

que o vírus se estendeu rapidamente. No acumulado do ano, a crise já cobrou meio milhão de postos, segundo dados do Mi-nistério do Trabalho. Somente nos últimos três meses, foram eliminados 160 mil empregos. As previsões para 2009 são de que a taxa de desemprego chegue a 12,5%.

E esse quadro terá seus reflexos na América Latina. “Quase 60% dos imigrantes latino-americanos trabalham nos setores de construção e serviços (os mais afetados pela retração), e por isso sua capacidade de envio de dinheiro reduziu-se notavelmente”, diz Jan Smith, diretor geral da Kroll InfoAmericas. Segundo as previsões de Smith e Luis R. Roger, diretor associado da Kroll Associates Iberia, é possível que o mercado de remessas se contraia10% em 2009, e até 20% em alguns casos, como o da Bolívia, onde 70% das remessas chegam da Espanha.

O presidente José Luis Rodríguez Zapatero anunciou recen-temente um amplo pacote de medidas para amenizar os efeitos da crise, que se resume basicamente em um aumento do gasto público. Depois de cerca de quatro anos com superávit, as contas do Estado voltam ao vermelho e o déficit orçamentário superará 3% do PIB, porcentagem que a União Européia só permite que seja superada em situações de crise. Depois de 15 anos de crescimento contínuo, no terceiro trimestre a economia espanhola se contraiu 0,2%.

Em meio à tormenta, a inflação é o único dado positivo: caiu até situar-se em 2,5% graças, entre outros fatores, à que-da dos preços das matérias-primas. Mas a Espanha sofre mais

América Latina poderá sofrer com a repatriação dos lucros das empresas espanholas obtidos no continenteSergio Saiz

a crise do que outros países de seu entorno, não só pela bolha imobiliária como também devido ao grande déficit comercial que acumula, de quase 100 bilhões de euros, ou 10% do PIB. Com tal panorama, e frente à falta de liquidez para financiar operações, as empresas espanholas frearam todos os seus planos de investimento direto tanto dentro quanto fora do país. “É época de ficar calmo”, diz Juan Carlos Martínez Lázaro, professor de macroeconomia da IE Business School.

Para ele, “as companhias têm menos desejo ou possibilidades de investir porque o financiamento é caro e de difícil acesso”. Mas esse freio afetará a América Latina menos do que nos anos 1990, já que o investimento direto na região supõe apenas 5,6% dos US$ 74 bilhões que a Espanha investiu fora de suas fronteiras em 2007. No que, sim, a falta de liquidez afetará será no inves-timento dos resultados obtidos pelas filiais latino-americanas. Na opinião de Martínez Lázaro, “a desvalorização das divisas latino-americanas é o efeito da repatriação do lucro”, que as

matrizes necessitam para sanear suas contas.

Para o especialista, “a solução espanhola passa por serem mais competitivos e venderem mais”, e para isso o governo identificou alguns “países-chave” com os quais suas empresas têm que fortalecer suas relações comerciais. Do con-tinente americano, figuram nessa lista Estados Unidos, México e Brasil.

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30 DE NOVEMBRO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 73

VISÕESo que lêem

ASÍDE SIMPLE

John GribbinBarcelona

2006US$ 38

Rodrigo Lara Serrano

MAIS UM POUCO PODE SER MUITOAstrofísico mostra como os sistemas mais complexos, ecossistemas ou economias se auto-organizam e caem em crise pelos motivos mais simples

Soa raro dizê-lo. Mas é verdadeiro. Se por um estranho consenso os governos do mundo

tivessem decidido não socorrer seus bancos e instituições financeiras, hoje veríamos todos os bancos do planeta quebrar. Todos? Na verdade, não. Os de China, Taiwán, de alguns países do Golfo Pérsico, Myanmar (há bancos em Myanmar?), vários da Espanha, alguns da Suécia, teriam sobrevivido. Por quê? Em Así de simple (Deep Simplicity), John Gribbin responde a essa pergunta ao mostrar o que temos aprendido sobre o funcionamento da dinâmica dos sistemas complexos.

“Os economistas modernos trabalham com sistemas dinâmicos mutantes, nos quais surgem retroalimentações positivas através das quais flui uma forma de energia (neste caso, o dinheiro)”, escreve. E acrescenta que “as economias são em realidade sistemas auto-organizados que se encontram à beira do caos, com tudo o que isso implica”.

A expressão “à beira do caos” não tem, neste caso, nenhuma implicância moral ou de advertência normativa. E o que “implica” é que, quando os sistemas simples – um banco nacional, seus clientes e seus dois ou três concorrentes importantes – se conectam com seus equivalentes em todo o mundo, a partir de uma “conexão x” extra, todo o sistema dá um salto em complexidade. Uma “transição de fase”. Logo, o que eram sistemas isolados se transformam em um novo sistema. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores Meter Bak e Kim Sneppen (descrito por Gribbin) revela

que, “com una gama de possibilidades extrema-mente ampla, quaisquer que sejam as condições das quais partamos e os impactos que aplique-mos aos sistemas vivos, chegamos ao estado crítico auto-organizado que se produaz à beira do caos, onde até o mais simples detona-dor pode, em certas ocasiões, produzir uma mudança muito ampla dentro do sistema”. Um terremoto. Ou a extinção de centenas de espécies. Ou bancos.

Voltando ao começo. O que há em comum entre os bancos não-golpeados é seu baixo nível de conexão com os ativos de risco da rede global: seja por regulações mais estritas (como na Espanha), disposições culturais (banca islâmica) ou conduta ultraprudente depois de suportar um choque quase mortal há pouco tempo (caso da Argentina). O livro de Griffin é uma mostra de como decisões aparentemente inócuas ou benéficas, em um contexto de interconexão mundial podem ter a potência de uma explosão. Um livro obrigatório para economistas e empresários modernos de verdade.

Quando criança passava muito tempo jogando xadrez e sempre o encontrei parecido ao mundo dos negócios. Por is-so, quando descobri o livro de Garry Kaspa-rov (How life imitate chess), não pensei duas vezes para lê-lo. Mostra a forma de avançar a um objetivo fi nal; também, como converter uma derro-ta em futura vitória, como dar volta a uma situação e como preparar-se para os grandes desafi os.

A estratégia do Oceano Azul, de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, é um excelente livro que ajuda cada empresário a ela-borar sua própria estratégia. Hoje resulta mais valio-so do que nunca, dado que se trata de não fi xar-se no comum: no oceano vermelho, onde to-dos concorrem por preços e formas de pagamento.

Ing. Walter Steiner, PresidenteZanellaArgentina

Rodolfo Enriquez Diretor de MarketingIguazú ArgentinaArgentina

Hugo Morote NúñezSócio Roselló AbogadosMéxico

Interessei-me por O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon. É uma história narrada por um adolescente autista que pode explicar a teoria da relati-vidade e identifi car os números primos até o 7.507. Apesar de seus problemas para relacionar-se com outros seres humanos, vence seus medos para resolver a intriga que dá origem à obra.

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74 AMÉRICAECONOMIA / 30 DE NOVEMBRO, 2008

Um homem me aborda na saída da estação do metrô em Tóquio. É sábado de manhã e tinha tomado

um trem para o distrito de Akasuka, conhecido como um dos mais tradicionais de Tóquio, para conhecer um pouco a cidade antes que o avião me trouxesse de volta a Santiago do Chile.“Desculpe molestá-lo, mas gostaria de praticar meu inglês com o senhor, se não se incomoda”, diz o homem, cortês e com forte sotaque. Fui pego de surpresa e minha essência latino-americana me fez imediatamente suspeitar de um possível assalto ou seqüestro, e meu reflexo foi esconder rapidamente minha câmara fotográfica digital. Mas volto à razão: não sou turista em São Paulo, Santiago ou Cidade do México. Isto é Tóquio, a capital mais segura do mundo. E é pouco provável que um cidadão na-tural do Japão, berço da Sony, Canon, Nikon, queira roubar minha câmara comprada no duty free de não lembro onde. “Quero conversar em inglês com você”, repete, enquanto lhe calculo entre 50 e 60 anos. Respondo seco: “Tenho poucos minutos. Não tenho nenhum problema em falar inglês com você se me acompanhar, pois quero visitar alguns lugares e tirar algumas fotos”, respondo. O homem concorda e se põe a ca-minhar ao meu lado. Sem mais nem menos, tinha improvisado um guia turístico – e, o melhor de tudo, grátis – para conhecer a cidade mais cara do mundo.Por um momento me senti um personagem de Haruki Mu-rakami, best seller japonês que escreve romances a partir de encontros impossíveis nas ruas de Tóquio, entre personagens de diferentes planetas. Pergunto-lhe duas vezes seu nome, e não consigo entender. Só sei que, como Murakami, seu sobrenome começa com M, e por isso o chamarei a partir de agora de Senhor M. Apesar de querer conversar, o Senhor M era um homem de poucas palavras. Nunca tomava a iniciati-va na conversa. De fato, sou eu que tenho que pedir infor-mação a meu guia turístico: que trabalha no metrô de Tóquio como engenheiro elétrico, vai à aula de inglês uma vez ao mês, tem dois filhos, que os pais levam seus filhos a serem abençoados no templo (budista ou shinto) aos 3, 5 e 7 anos,

e que no Japão o futebol agora é quase tão popular quanto o beisebol.Ele me leva a vários lugares do distrito, como o templo Sensoji (budista) e o santuário Akasuka (shinto e literalmente adjacente ao templo budista, exemplo nada usual de tolerân-cia religiosa no país, segundo ele). Caminhamos pelo bulevar Nakamise-dori, apinhado de lojas com quimonos caros (de seda) e outros nem tanto (de poliéster). Os silêncios me incomodavam, e por isso puxo assunto

com o tema do dia: a crise econômica no Japão. “Há alguns anos o país atravessou uma crise muito

forte, assim aprendemos a lição e estamos preparados para situações como esta”,

me responde. Por fim algo familiar nesta cena. Sua resposta, rápida

e quase recitada de memória, é idêntica ao discurso que escutamos mais de uma vez no passado recente da boca de ministros, analistas e porta-vozes de empresas: a América Latina está muito melhor posicionada agora e aprendeu a lição do passado. Comento que, não obstante as

lições, o Japão está a ponto de cair em recessão. “Isso dizem”,

reage, mirando o horizonte de arranha-céus. “Isso dizem.” Prefiro

não continuar falando de economia com meu guia turístico, apesar de continuar com

essa idéia dando voltas, enquanto caminho na frente de uma loja de café importado. “Se realmente todos tivessem aprendido com o passado, não haveria crise nem mais bolhas além das de sabão”, penso comigo.Num ato cortês, o Senhor M me acompanha até a estação do metrô que necessitava tomar para visitar o “Tokyo Tower”, outra atração da cidade. Despede-se com uma singela re-verência e agradece a gentileza de permitir que me acom-panhasse. Também lhe agradeço e dou meia volta. E lá foi ele a buscar outra cara ocidental para treinar seu inglês. E eu, a aproveitar as poucas horas que restavam antes de ter que rumar ao aeroporto. Mas uma estranha sensação percorreu minha espinha enquanto caminhava pela plataforma: como nas histórias de Murakami, ninguém parece aprender suas lições.

Eduardo Thomson

AS LIÇÕES DE MURAKAMI

LINHA DIRETA

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