34
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI ÁRIDO. DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ANIMAIS DEFESA SANITÁRIA E HIGIENE E INSPEÇAO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL ANDERSON LUIS AIOLFI ABATE DE BOVINOS EM FRIGORÍFICO NO MUNICÍPIO DE UNIÃO DA VITÓRIA – PR CURITIBA – PR 2013

Monografia Anderson.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI RIDO. DEPARTAMENTO DE CINCIAS ANIMAIS

    DEFESA SANITRIA E HIGIENE E INSPEAO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

    ANDERSON LUIS AIOLFI

    ABATE DE BOVINOS EM FRIGORFICO NO MUNICPIO DE UNIO DA VITRIA PR

    CURITIBA PR 2013

  • ANDERSON LUIS AIOLFI

    ABATE DE BOVINOS EM FRIGORFICO NO MUNICPIO DE UNIO DA VITRIA PR

    Monografia apresentada Universidade Federal Rural do Semi-rido UFERSA, Departamento de Cincias Animais, como exigncia final para obteno do ttulo de especializao em Defesa Sanitria e Higiene e Inspeo de Produtos de Origem Animal. Orientador: Msc. Ariane Paula Rovani Scolari Faculdades Integradas do Vale do Iguau.

    CURITIBA PR

    2013

  • ANDERSON LUIS AIOLFI

    ABATE DE BOVINOS EM FRIGORFICO NO MUNICPIO DE UNIO DA VITRIA - PR

    Monografia apresentada Universidade Federal Rural do Semi-rido UFERSA, Departamento de Cincias Animais, como exigncia final para obteno do ttulo de especializao em Defesa Sanitria e Higiene e Inspeo de Produtos de Origem Animal.

    APROVADO EM ____/____/____

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________ Prof. Dr. Jean Berg Alves da Silva

    Presidente

    ___________________________________________ Prof. Dra. Valria Natasha Teixeira

    Primeiro Membro

    ___________________________________________ Prof. Msc. Andra Barros

    Segundo Membro

  • minha esposa Manuela e minhas filhas Maria Luiza e Ana Clara. Aos meus pais, Luis e Josefa, que acima de tudo sempre confiaram em mim e pelo exemplo de vida que so. s minhas irms, Andria e Adriana.

    DEDICO

  • AGRADECIMENTOS

    minha querida e amada esposa, Manuela, que sempre esteve presente me ajudando a caminhar em busca dos nossos ideais. s minhas filhas, Maria Luiza e Ana Clara, que sempre me proporcionaram momentos de alegria. Aos meus pais, que estiveram presentes em todos os momentos de minha vida. A Deus, pelo dom da vida, pela ajuda e proteo, pela Sua fora e presena constante, e por me guiar concluso de mais uma preciosa etapa de minha vida.

  • O degrau de uma escada no serve simplesmente para algum permanecer em cima dele, destina-se a sustentar o p de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.

    (Thomas Huxleyo)

  • RESUMO

    H algumas dcadas, o abate de animais era considerado uma operao tecnolgica de baixo nvel cientfico e no se constitua em um tema pesquisado seriamente por universidades, institutos de pesquisa e indstrias. A tecnologia do abate de animais destinado ao consumo somente assumiu importncia cientfica quando observou-se que os eventos que se sucedem desde a propriedade rural at o abate do animal tinham grande influncia na qualidade da carne. Este trabalho teve como objetivo descrever o abate de bovinos realizado em um frigorfico municipal da cidade de Unio da Vitria Paran, descrevendo todos os procedimentos, desde a inspeo ante-mortem, at os procedimentos higinicos sanitrios que foram utilizados no abate. Para descrever todos esses mtodos foi usado o protocolo de abate e inspeo da matria-prima. Concluiu-se neste estudo que, a qualidade da carne que chega ao consumidor final recebe grande influncia na qualidade, dependendo desde o manejo do animal na propriedade at a forma de abate.

    Palavras chave: Abatedouro, bovinos, carne, qualidade, inspeo.

  • ABSTRACT

    Decades ago, the slaughter of animals was considered a technological operation of low scientific level and does not constitute a theme seriously researched by universities, research institutes and industries. The technology of the slaughter of animals for consumption only took scientific significance when it was observed that the events that follow from farm to slaughter the animal had great influence on meat quality. This study aimed to describe the slaughter of cattle held in a refrigerator municipal city of Union City - Paran, describing all procedures, from the ante-mortem inspection, until the sanitary procedures that were used in the killing. To describe all these methods was used protocol slaughter and inspection of the raw material. It was concluded that in this study, the quality of the meat that reaches the final consumer receives a large influence on quality, depending on the management of the animal from the property to the form of slaughter.

    Key-words: Slaughterhouse, cattle, beef, quality inspection.

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 01 Quantidade de bovinos abatidos semanalmente no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, acompanhado durante os meses de janeiro a maro de 2012 ............................................................................... 25 TABELA 02 Porcentagem de bovinos abatidos semanalmente no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, acompanhado durante os meses de janeiro a maro de 2012 ............................................................................... 25 TABELA 03 Quantidade e porcentagem de condenaes por sistemas fisiolgicos realizadas pelo Servio de Inspeo Municipal no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, durante os meses de janeiro a maro de 2012 ...................................................................................................................................... 28 TABELA 04 Quantidade de leses encontradas na inspeo dos bovinos abatidos pelo abatedouro frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, entre os meses de janeiro e maro de 2012 ............................................................................... 29

  • 10

    LISTA DE SIGLAS

    atm Atmosfera

    BPF Boas Prticas de Fabricao

    cm Centmetros

    EPIs Equipamentos de proteo individual

    G.T.A. Guia de transporte animal

    kg Quilograma

    kg/m Quilograma por metro

    kg/m Quilograma por metro quadrado

    km/h Quilometro por hora

    m Metro

    m Metro quadrado

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    MS Ministrio da Sade

    n Nmero

    C Grau Celsius

    pH Potencial hidrogeninico

    PIQ Padro de Identidade e Qualidade

    ppm Partes por milho

    RIISPOA Regulamento de Inspeo Industrial e Sanitria de Produtos de Origem

    Animal

    SIM Servio de Inspeo Municipal

    SNC Sistema nervoso central

    TGI Trato gastrointestinal.

  • 11

    SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 12

    2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 13

    2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 13

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................................... 13

    3 REVISO DE LITERATURA ............................................................................. 14

    3.1 INTRODUO ......................................................................................... 14

    3.2 ABATE DOS ANIMAIS ........................................................................... 14

    3.3. TRANSPORTE DOS ANIMAIS ............................................................. 15

    3.4. EMBARQUE E DESEMBARQUE DOS ANIMAIS .............................. 17

    3.5 INSPEO ante mortem ................................................................... 17

    3.6 BOAS PRTICAS DE FABRICAO BPF ........................................ 20

    3.7 ABATE DE EMERGNCIA .................................................................... 22

    3.7.1 Matana imediata ........................................................................ 22

    3.7.2 Matana mediata ......................................................................... 22

    4 MATERIAIS E MTODOS .................................................................................. 23

    4.1 LOCAL ...................................................................................................... 23

    5 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................... 23

    6 COSNIDERAES FINAIS ................................................................................ 31

    7 REFERNCIAS ..................................................................................................... 32

  • 12

    1 INTRODUO

    O abate humanitrio no Brasil era considerado uma operao tecnolgica de

    baixo nvel cientfico e no se constitua em um tema pesquisado seriamente por

    universidades, institutos de pesquisa e indstrias. A tecnologia do abate de animais

    destinados ao consumo somente assumiu importncia cientfica quando se observou que

    os eventos que se sucedem desde a propriedade rural at o abate do animal tinham

    grande influncia na qualidade da carne.

    Nos dias de hoje, tenta-se fazer desta operao um mtodo menos brutal, uma

    vez que a forma de abater os animais influencia significativamente na qualidade da

    carne. Tambm dever moral do homem, o respeito a todos os animais e evitar os

    sofrimentos inteis a aqueles destinados ao abate. preciso ter em mente que todo

    processo exige treinamento especializado para os operadores e manuteno adequadas

    dos equipamentos, para que essa operao no represente riscos de acidentes para o

    operador e tambm para que seja mais eficiente.

    Roa (1999), define o abate humanitrio como um conjunto de procedimentos

    realizados para garantir o bem-estar animal que se inicia na propriedade rural at o

    momento da sangria no frigorfico evitando que os animais tenham sofrimentos

    desnecessrios.

    Por estas razes, descrever os procedimentos do abate de bovinos em um pequeno

    abatedouro de servio de inspeo municipal pode trazer benefcios para a populao

    que consumir os produtos finais provindos desse local. Citar-se- ainda, algumas

    leses encontradas durante a inspeo e pontos positivos e negativos acompanhados.

  • 13

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Caracterizar o processo de abate de bovinos, do abatedouro frigorfico

    Kerber, com Servio de Inspeo Municipal, no municpio de Unio da Vitria

    Paran.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Caracterizar o transporte dos animais da propriedade at o abatedouro;

    Observar e caracterizar a inspeo ante mortem e post mortem;

    Caracterizar as Boas Prticas de Fabricao do local;

    Citar a quantidade de animais abatidos durante os meses de janeiro,

    fevereiro e maro de 2012;

    Citar e quantificar as leses mais encontradas durante a inspeo.

  • 14

    3 REVISO DE LITERATURA

    3.1 INTRODUO

    De acordo com o RIISPOA (1952), os matadouros-frigorficos so

    estabelecimentos que possuem instalaes completas e equipamentos adequados para o

    abate, manipulao, preparo e conservao das espcies de aougue sob variadas

    formas, com aproveitamento completo, racional e perfeito dos subprodutos no

    comestveis, possuindo instalaes completas de frio industrial. O matadouro

    considerado o estabelecimento com instalaes adequadas para a matana de quaisquer

    espcies de aougue visando o fornecimento de carne em natureza ao comrcio interno,

    com ou sem dependncias para industrializao e, dispor obrigatoriamente, de

    instalaes e aparelhagem para o aproveitamento completo e perfeito de todas as

    matrias primas e preparo de subprodutos no comestveis.

    Define-se por carcaa de bovino, ou bubalino, o animal abatido, sangrado,

    esfolado, eviscerado, desprovido de cabea, membros, rabada, gordura perirrenal e

    inguinal, medula, glndula mamria na fmea, ou verga, exceto suas razes, e testculos

    no macho.

    3.2 ABATE DOS ANIMAIS

    Os animais devem ser abatidos por um processo chamado abate humanitrio,

    que definido como o conjunto de procedimentos tcnicos e cientficos que garantem o

    bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade rural at a operao de sangria

    no matadouro frigorfico (ROA, 2001).

    A tecnologia do abate de animais destinado ao consumo humano somente

    assumiu importncia cientfica quando se observou que os eventos que se sucedem

    desde a propriedade rural at o abate do animal tinham grande influncia na qualidade

    da carne (SWATLAND, 2000).

    O abate dos animais essencial que seja realizado sem sofrimentos

    desnecessrios e que a sangria seja eficiente. As condies humanitrias no devem

    prevalecer somente no ato de abater e sim nos momentos precedentes ao abate

    (GRACEY & COLLINS, 1992). As etapas de transporte, descarga, descanso,

  • 15

    movimentao, insensibilizao e sangria dos animais so importantes para o processo

    de abate dos animais, devendo-se evitar todo o sofrimento desnecessrio.

    Os funcionrios devem ter um treinamento, capacitao e, a sensibilidade dos

    magarefes, fundamental (CORTESI, 1994).

    Segundo Swatland (2000), h vrios critrios que definem um bom mtodo de

    abate: os animais no devem ser tratados com crueldade; no podem ser estressados

    desnecessariamente; a sangria deve ser a mais rpida e completa possvel; as contuses

    na carcaa devem ser mnimas e o mtodo de abate deve ser higinico, econmico e

    seguro para os operadores.

    Os mtodos convencionais de abate de bovinos envolvem a operao de

    insensibilizao antes da sangria, com exceo dos abates realizados conforme os rituais

    judaicos ou islmicos (CORTESI, 1994).

    3.3 TRANSPORTE DOS ANIMAIS

    Segundo Roa (2001) e Tarrant et al. (1988), o transporte rodovirio o

    principal meio de conduo de animais para o abate.

    A mortalidade de bovinos durante o transporte extremamente baixa; novilhos

    so mais susceptveis que animais adultos (KNOWLES, 1995). Thornton (1969)

    salienta que os animais gordos so mais susceptveis que os animais magros. A alta

    temperatura, grande distncia e a diminuio do espao ocupado por cada animal,

    contribuem para que ocorram problemas de transporte.

    O principal aspecto a ser considerado durante o transporte de bovinos o espao

    ocupado por animal, ou seja, a densidade de carga, que pode ser classificada em alta

    (600 kg/m), mdia (400 kg/m) e baixa (200 kg/m) (TARRANT et al., 1988). A

    extenso das contuses aumenta com o aumento da densidade de carga, principalmente

    com valores superiores a 600 Kg/m2 (TARRANT et al., 1992).

    A densidade de carga utilizada no pas , em mdia, de 390 a 410 kg/m. O

    aumento do estresse durante o transporte causado pelas condies desfavorveis como

    privao de alimento e gua, alta umidade, alta velocidade do ar e densidade de carga.

    (SCHARAMA et al., 1996). Os veculos utilizados para transporte dos animais so

    caminhes boiadeiros, tipo truque, com carroaria medindo 10,60 x 2,40 metros,

    com trs divises: anterior, com 2,65 x 2,40 metros; intermediria, com 5,30 x 2,40

  • 16

    metros; e posterior, com 2,65 x 2,40 metros. A capacidade de carga mdia de 5

    animais na parte anterior e posterior e 10 animais na parte intermediria, totalizando 20

    bovinos (ROA, 2001).

    Teoricamente, do ponto de vista econmico, procura-se transportar os animais

    empregando alta densidade de carga, no entanto, esse procedimento tem sido

    responsvel pelo aumento das contuses e estresse dos animais, sendo inadmissvel

    densidade superior a 550 kg/m (TARRANT et al., 1988; TARRANT et al., 1992).

    No transporte rodovirio, as condies desfavorveis podem ocasionar

    contuses, perda de peso, estresse e at a morte de animais (KNOWLES, 1999).

    A extenso das contuses nas carcaas representa uma forma de avaliao da

    qualidade do transporte, afetando diretamente a qualidade da carcaa, considerando que

    as reas afetadas so aparadas da carcaa, com auxlio de faca, resultando em perda

    econmica e sendo indicativo de problemas com o bem-estar animal (JARVIS &

    COCKRAM, 1994).

    A privao de alimento e gua conduz perda de peso do animal. A razo da

    perda de peso relatada na literatura cientfica extremamente varivel, de 0,75% a 11%

    do peso vivo nas primeiras 24 horas de privao de gua e alimento (KNOWLES, 1999;

    WARRISS, 1990). A perda de peso dos animais tem razo direta com o tempo de

    transporte, variando de 4,6% para 5 horas a 7% para 15 horas, recuperada somente aps

    5 dias (WARRISS et al., 1995). A perda de peso motivada inicialmente pela perda do

    contedo gastrintestinal e o acesso gua durante a privao de alimento reduz as

    perdas. A perda de peso da carcaa tambm varivel, de valores inferiores a 1% a

    valores de 8% aps 48 horas de privao de alimento e gua. O peso do fgado tende a

    diminuir rapidamente da mesma forma que o volume do rmen, cujo contedo torna-se

    mais fludo (WARRISS, 1990). Transporte por tempo superior a 15 horas inaceitvel

    do ponto de vista de comportamento e bem-estar animal (WARRISS et al., 1995).

    As respostas fisiolgicas ao estresse so traduzidas atravs da hipertermia e

    aumento da frequncia respiratria e cardaca. O estmulo da hipfise e adrenal est

    associado aos aumentos dos nveis de cortisol, glicose e cidos graxos livres no plasma.

    Pode ocorrer ainda aumento de neutrfilos e diminuio de linfcitos, eosinfilos e

    moncitos (GRANDIN, 2000; GRIGOR et al., 1999; KNOWLES, 1999).

    Segundo Almeida (2005), o estresse sofrido pelos animais antes do abate pode

    afetar a cor e o pH da carne. Com todos os transtornos sofridos pelos animais h um

  • 17

    desvio das funes fisiolgicas. Frente a tais situaes o organismo procura manter seus

    processos vitais de equilbrio interno, ou seja, homeostase.

    Conforme Grandin (1997), a reteno, o manejo adotado e as inovaes que o

    animal recebe so causas de estresse psicolgico, enquanto, os extremos de temperatura,

    fome, sede, fadiga e injrias so causas do estresse fsico.

    3.4 EMBARQUE E DESEMBARQUE DOS ANIMAIS

    O processo de embarque dos animais a primeira etapa do pr-abate, onde os

    animais ficam mais suscetveis ao estresse, uma vez que a maioria dos responsveis por

    fazer os embarques no so treinados adequadamente, fazendo com que os animais

    sofram para embarcar nos caminhes (SILVA, 2004).

    No desembarque, o principal objetivo fazer com que os animais desam de

    maneira no agitada, para que se acomodam nos currais, mas isso requer pacincia e

    habilidade e um conhecimento de como os animais iro se comportar diante de um

    ambiente estranho (ALMEIDA, 2005).

    Procura-se evitar o uso de bastes eltricos ou ferres, a rampa tende a atender a

    correta inclinao de desembarque e com raias duras para que no haja escorreges,

    tendo em vista uma melhor qualidade da carne (BARBOSA & SILVA, 2004). Ainda, os

    autores descrevem outros dois aspectos importantes relacionados a leses e fraturas: as

    rampas, onde no apresentam o ngulo correto de 20 para bovinos; e a falta de raia

    dura nos pisos, para que os animais no venham a escorregar.

    As operaes de embarque e desembarque dos animais, se bem conduzidas, no

    produzem reaes estressantes importantes (KENNY & TARRANT, 1987).

    3.5 INSPEO ante mortem

    O perodo de descanso ou dieta hdrica no matadouro o tempo necessrio para

    que os animais se recuperem totalmente das perturbaes causadas pelo deslocamento

    desde o local de origem at o estabelecimento de abate (GIL & DURO, 1985). De

    acordo com o artigo n 110 do RIISPOA Regulamento de Inspeo Industrial e

    Sanitria de Produtos de Origem Animal (BRASIL, 1968), os animais devem

    permanecer em descanso, jejum e dieta hdrica, nos currais, por 24 horas, podendo esse

    perodo ser reduzido em funo de menor distncia percorrida.

  • 18

    Segundo Gil & Duro (1985), o descanso ou dieta hdrica o tempo necessrio

    para que os animais se recuperem totalmente das perturbaes surgidas pelo

    deslocamento desde do local de origem at o estabelecimento de abate.

    O descanso tem como objetivo principal reduzir o contedo gstrico para

    facilitar a eviscerao da carcaa e tambm restabelecer as reservas de glicognio

    muscular (BARTELS, 1980; SHORTHOSE, 1991).

    Durante o descanso e dieta hdrica realizada a inspeo ante mortem e seu

    objetivo exigir e verificar os certificados de vacinao e sanidade dos animais,

    identificar o estado higinico sanitrio dos animais para auxiliar os dados informativos,

    inspeo post mortem, identificar e isolar os animais doentes ou suspeitos antes do

    abate, bem como vacas em gestao adiantada ou recm paridas e, ainda, verificar as

    condies higinicas dos currais e anexos (GIL e DURO, 1985; SNIJDERS, 1988;

    STEINER, 1983).

    Na inspeo ante mortem, existem alguns procedimentos especficos que,

    segundo Soerensem e Marulli (1999), so importantes observar: animais em conjunto,

    atentando para o comportamento dos lotes e para o comportamento individual; o animal

    parado e em movimento, sem contudo excita-lo; a pele e anexos de todas as superfcies

    expostas; a cobertura muscular, ossos e articulaes e, principalmente as aberturas

    naturais. Somente os animais considerados sadios pela inspeo ante mortem

    devem ser abatidos em conjunto. Animais suspeitos devem ser separados para o curral

    de observao, onde de acordo com as necessidades, passaro por uma avaliao clinica

    mais detalhada, e aqueles que se apresentarem doentes, devero ser abatidos em

    separado, no matadouro sanitrio ou na prpria sala de matana, ao final da do servio

    normal. Os demais animais, com alterao no SNC, incapazes de reagir aos estmulos

    normais, com temperatura anormal, dispneia, edemas, abscessos, sarnas, hematomas,

    entre outros, devem ser encaminhados para o curral de observao.

    O banho de asperso capaz de melhorar a sangria pelo vaso constrio

    perifrica que ela possa provocar (DA SILVA, 1995). J Roa e Serrano (1995)

    afirmam que essa etapa do abate bovino no afeta a eficincia da sangria ou o teor de

    hemoglobina retido nos msculos.

    O ministrio da agricultura (MAPA, 1968), fala que o local deve dispor de gua

    com presso mnima de trs atm, e uma hiperclorao de 15 ppm de cloro disponvel.

    No Brasil, de acordo com o artigo 146 do RIISPOA (BRASIL, 1968), a rampa

    de acesso equipada com canos perfurados ou borrifadores e recebe o nome de

  • 19

    seringa, que pode ser simples ou dupla at o boxe de atordoamento, alm disso, deve

    ser transversalmente em forma V, com a finalidade de permitir a passagem de apenas

    um animal por vez.

    Devido ao grande volume de gua na rampa, os animais podem escorregar e, por

    este motivo, deve obrigatoriamente possuir pisos no derrapantes (GRANDIN, 2000).

    Aps o descanso e a dieta hdrica, os animais so conduzidos at o boxe de

    atordoamento passando antes pelo banho de asperso, para que haja uma limpeza nas

    suas extremidades, cascos e regio anal para realizar uma esfola higinica.

    Os animais vo um de cada vez para sala de insensibilizao, que o mtodo de

    atordoamento consiste em colocar o animal em um estado de inconscincia, que perdure

    at o fim da sangria, no causando sofrimento ao animal (GIL e DURO, 1985).

    Segundo Roa (1999), a inspeo ante mortem atribuio exclusiva do

    mdico veterinrio, que tambm o escalado para o exame post mortem dos

    animais que ele inspeciona in vivo .

    A utilizao da marreta como mtodo de abate promove grave leso do tecido

    sseo com afundamento da regio atingida. No encfalo produz um processo de

    contuso cranioenceflica, como relatado por vrios pesquisadores. Apresentam

    tambm uma grande incidncia de hemorragias macroscpicas e microscpicas na ponte

    do bulbo, podendo ser considerado leso indireta, ou seja, uma hemorragia no ponto

    opositor do golpe no crebro promovido pelo contra golpe da poro basilar do osso

    occipital (ROA, 1999).

    Quando o animal cai na rea de vmito, aps a insensibilizao, feita a

    lavagem do nus e em seguida a mana, normalmente pela pata esquerda (corrente mais

    carretilha 1,45 cm). Em seguida, suspenso atravs de um guincho para o trilho alto

    (GIL e COSTA, 2000).

    A sangria feita com o animal pendurado, usando-se duas facas, uma para abrir

    a barbela e a outra para cortar os grandes vasos (jugular e cartida). O tempo de sangria

    deve levar trs minutos (MUCCIOLO, 1985).

    Roa (2001) cita que as cmeras de resfriamento devem ser equipadas com

    sistema de termgrafos, onde as carcaas devem permanecer no mnimo 24 horas na

    temperatura de 2.1C (maturao sanitria), para estabilizar o pH e retardar a

    proliferao microbiana.

  • 20

    3.6 BOAS PRTICAS DE FABRICAO BPF

    Campos (1999) relata que o produto ou o servio de qualidade aquele que

    atende perfeitamente (projeto perfeito), de forma confivel (sem defeitos), acessvel

    (baixo custo), segura (segurana do cliente) e no tempo certo (entrega no prazo certo, no

    local certo e na quantidade certa) as necessidades do cliente.

    Segundo a portaria 46 de 1998, do Ministrio da Agricultura, Pecuria e

    Abastecimento (MAPA), o animal deve ser mantido em jejum e dieta hdrica, e tambm

    ser exposto a um banho de asperso com presso de trs atm, e concentrao mnima de

    cinco ppm de cloro, para assim diminuir a contaminao microbiolgica de origem

    bacteriana durante a esfola e eviscerao (BRASIL, 1998).

    O Ministrio da Sade do Brasil (1993) cita as boas prticas de fabricao como

    normas e procedimentos que devem atender em um determinado padro de identidade e

    qualidade de um produto ou servio e que consiste na apresentao de informaes

    referentes aos seguintes aspectos bsicos, segundo Ribeiro-Fortim e Abreu (2006):

    a) Padro de Identidade e qualidade;

    b) Condies ambientais;

    c) Instalaes e Saneamento;

    d) Equipamentos e Utenslios;

    e) Recursos Humanos;

    f) Tecnologia Empregada;

    g) Controle de Qualidade

    h) Garantia de Qualidade;

    i) Armazenagem;

    j) Transporte;

    k) Informao ao Consumidor;

    l) Exposio /Comercializao;

    m) Desinfeco /Desinfestao.

    conveniente a utilizao de duas facas de sangria uma para inciso da barbela

    e a outra para o corte dos vasos. As facas devem ser mergulhadas na caixa de

    esterilizao aps a sangria de cada animal, tendo em vista que microorganismos da

    faca j foram encontrados nos msculos e medula ssea (MUCCIOLO, 1985).

    De acordo com Kolb (1984) o sangue tem pH alto entre 7,35-7,45. Mucciolo

    (1985) relata que em virtude do grande teor proteico, o sangue tem uma rpida

  • 21

    putrefao, ento a capacidade de conservao da carne mal sangrada muito limitada

    podendo constituir um problema de aspecto para o consumidor.

    A no adequao do transporte dos animais pode tambm causar grandes perdas

    financeiras na indstria de carnes, resultadas por carcaas contundidas (GRANDIN,

    2007).

    Segundo a Anvisa (2004), as boas prticas de fabricao (BPF) abrangem um

    conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indstrias de alimentos a fim de

    garantir a qualidade sanitria e a conformidade dos produtos alimentcios com os

    regulamentos tcnicos. A legislao sanitria federal regulamenta essas medidas em

    carter geral, aplicvel a todo o tipo de indstria de alimentos e especfico, voltadas s

    indstrias que processam determinadas categorias de alimentos.

    um programa que controla junto com a anlise do produto final, a gua, as

    contaminaes cruzadas, as pragas, a higiene e o comportamento do manipulador, a

    higienizao das superfcies, o fluxo do processo, alm de outros itens, conferindo

    maiores garantias de qualidade aos produtos.

    Gil e Duro (1985) relatam que durante o processo operacional de abate

    (sangria, esfola, eviscerao, serragem, toalete, pesagem de carcaas, carimbagem e

    lavagem) os funcionrios precisam ser todos treinados, para que tomem todos os

    cuidados mantendo a higiene com o intuito de evitar contaminao.

    Roa (2001) sugere que no resfriamento das meias carcaas, as cmaras de

    resfriamento devem ser equipadas com sistema termogrfico, respeitando a capacidade

    e permanecendo por no mnimo 24 horas temperatura ambiente de no mnimo 2.1C

    (maturao sanitria) com o intuito de estabilizar o pH e retardar a proliferao

    microbiana.

    H um grande interesse dos pases desenvolvidos por processos denominados

    abates humanitrios com o principal objetivo e reduzir sofrimentos inteis animal a ser

    abatido (CORTESI, 1994; PICCHI e AJZENTAL, 1993).

    Segundo Cortesi (1994) e Laurent (1997), dever moral do homem o respeito a

    todos os animais e evitar os sofrimentos inteis queles destinados ao abate. Cada pas

    deve estabelecer regulamentos em frigorficos, com objetivo de garantir condies para

    proteo humanitria diferentes espcies.

    Conforme Swatland (2000), h vrios critrios que definem um bom mtodo de

    abate, tais como:

    a) Os animais no devem ser tratados com crueldade;

  • 22

    b) Os animais no podem ser estressados desnecessariamente;

    c) A sangria deve ser mais rpida e completa possvel;

    d) As contuses na carcaa devem ser mnimas;

    e) O mtodo de abate deve ser higinico, econmico e seguro para os

    operadores.

    3.7 ABATE DE EMERGNCIA

    De acordo com Roa (2001), a matana de emergncia deve ser realizada em

    animais que chegam ao frigorfico em precrias condies fsicas ou de sade, em que o

    animal esteja impossibilitado de chegar sala de matana por seus prprios meios como

    tambm aqueles que foram retidos no curral de observao, aps o exame geral.

    Qualquer animal destinado matana de emergncia ser, obrigatoriamente

    marcado na orelha com etiqueta metlica ou plstica.

    3.7.1 Matana imediata

    A matana de emergncia imediata destinada ao sacrifcio, a qualquer

    momento, dos animais que no podem se locomover, certificadamente acidentados e

    contundidos, com ou sem fratura e que no tenham alterao de temperatura ou

    qualquer outro sintoma, que os excluam, regulamentarmente do abate em comum

    ROA (2001).

    3.7.2. Matana mediata

    Destina-se a animais que se apresentaram doentes ao exame clinico, e devem ser

    abatidos depois da matana normal.

    Animais que tiveram alterao de temperatura corporal, tanto hipertermia ou

    hipotermia, devem ser condenados linearmente, podendo ser abatidos no departamento

    de necropsia ou sala de matana, conforme o diagnstico do mdico veterinrio e a seu

    critrio.

    Aps diagnstico negativo de doena infectocontagiosa, os animais podero ser

    recolhidos ao curral de observao e os que se fizerem acompanhar de certificado de

  • 23

    tuberculinizaco ou de soro-aglutinao bruclica positivas, expedido por veterinrio

    oficial da Defesa Sanitria Animal ou por profissionais crendeciados por este servio

    (ROA, 2001).

    4 MATERIAIS E MTODOS

    4.1 LOCAL

    O trabalho foi realizado no abatedouro Frigorfico Kerber, situado na rua Andr

    Balardini, 1401, Colnia Corrente, em Unio da Vitria PR. O frigorfico atua sob

    controle do Servio de Inspeo Municipal SI e conta com sete funcionrios um

    mdico veterinrio.

    H uma mdia de 100 bovinos e 250 sunos abatidos por ms neste local,

    portanto, considera-se um abatedouro com pequeno fluxo de servio, entretanto,

    equipado com uma cmara de resfriamento com capacidade mdia de 30 animais,

    utilizada para armazenamento de carcaa resfriadas; uma cmara de congelamento com

    capacidade de 12 animais, e um caminho especfico para o transporte.

    O frigorfico terceiriza seus servios para mercados e produtores da regio.

    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    Durante o perodo de acompanhamento e elaborao do trabalho, observou-se

    duas fmeas bovinas com gestao adiantada, em tero final. Estas foram descartadas no

    abate e separadas. Entrou-se em contato com os proprietrios e os animais retornaram

    ao local de origem. Alguns animais possuam leses de transporte e outras ocasionadas

    por outros animais (chifradas) e foram acompanhados at o final do abate, onde no

    foram encontrados problemas no exame postmortem.

    O transporte dos animais realizado por veculo prprio (boiadeiro). Com

    agendamento prvio, o funcionrio vai at o local de origem da carcaa e avalia

    (avaliao externa e macroscpica) se h possibilidade de abate para estes animais.

    Quando resultado positivo, se carrega os animais e leva at o frigorfico. O

    funcionrio deve ser experiente e manter o caminho em baixa velocidade para que no

  • 24

    promova leses nos animais. A empresa preconiza que a velocidade do caminho deve

    ser abaixo de 70 km/h, dependendo das condies das estradas.

    Um transporte mal executado promove acidentes aos animais, como hematomas,

    edemas, fraturas e outros processos depreciativos da matria-prima, o que gera nus ao

    frigorfico e ao produtor porque parte, ou at mesmo a totalidade do seu produto, ser

    descartada.

    Os animais que sero transportados devem estar devidamente documentados, ou

    seja, o seu proprietrio deve se deslocar ao rgo defesa estadual do seu municpio e

    retirar a Guia de Trnsito Animal (G.T.A.). A GTA de grande importncia, pois

    remete a segurana do consumidor, porque possivelmente pode-se detectar a origem

    deste animal e tambm reconhecer as zonas epizootiolgicas e as zoonoses que possam

    ser transmitidas por alimentos, caso ocorra algum surto de doenas de fundo alimentar.

    Alguns autores afirmam que a via terrestre a principal forma de transporte de

    bovinos para os abatedouros, atentando para fatores que podem diminuir o estresse do

    animal, garantindo assim, uma excelente matria prima ao consumidor. So estes

    fatores: interferncia da temperatura, distncia, densidade dos animais, condies das

    estradas e velocidade do veculo (BRAY et al., 1989; GRIGOR et al., 1999; JARVIS &

    COCKRAM, 1994; KNOWLES, 1995; ROA, 2001; SCHARAMA et al., 1996;

    TARRANT et al., 1992; THORNTON, 1969; WARRIS et al., 1995)

    De acordo com os autores Bartels (1980), Gil e Duro (1985), Shorthose (1991),

    Snijders (1988) e Steiner (1983), verificadas as documentaes de origem, o

    monitoramento e acampamento no desembarque, sanidade dos animais, acomodao e

    descanso, jejum hdrico e insensibilizao. Foi observado que no era realizado o

    monitoramento e acompanhamento no desembarque, alojamento e insensibilizao de

    forma adequada, portanto, no o local no esta adequado s normas de inspeo

    sanitria e abate humanizado. Com base na citao de Cortesi (1994), os magarefes

    devem ser receber orientao sobre a importncia de diminuir o estresse aos animais,

    para isto devem realizar curso de treinamento e capacitao, podendo ser ministrado

    pelo prprio veterinrio do abatedouro.

    de interesse do consumidor final que seja implantado o sistema de

    rastreabilidade bovina que consegue diagnosticar do inicio da vida at o abate dos

    animais. Reconhecer os momentos onde estes foram imunizados, passaram por

    tratamentos medicamentosos ou mesmo situao epidemiolgica de doenas que

  • 25

    possam interferir no mercado externo. Por isso, o frigorfico acompanhado d

    preferncia aos animais identificados.

    Os abates eram realizados diariamente, comeando pela avaliao ante

    mortem, que iniciada no momento da chegada ao frigorfico. Os animais eram

    destinados para os currais de seleo onde eram pesados e separados por lotes e em

    sequncia de abate. A inspeo ante mortem era efetuada aps o descarregamento

    dos animais que ocorria meia hora antes do incio do abate.

    A casustica de abate foi classificada semanalmente, conforme observa-se nas

    tabelas 01 e 02.

    TABELA 01 Quantidade de bovinos abatidos semanalmente no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, acompanhado durante os meses de janeiro a maro de 2012.

    Ms 1 semana

    2 semana

    3 semana

    4 semana

    5 semana

    TOTAL

    Janeiro 18 30 23 35 0 106 Fevereiro 22 24 14 26 0 86

    Maro 16 20 21 14 27 98 TOTAL 290

    Fonte: o autor (2012).

    TABELA 02 Porcentagem de bovinos abatidos semanalmente no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, acompanhado durante os meses de janeiro a maro de 2012. Ms 1

    semana 2

    semana 3

    semana 4

    semana 5

    semana TOTAL

    Janeiro 16,9% 28,3% 21,7% 33% 0% 100% Fevereiro 25,58% 27,9% 16,27% 30,23% 0% 100% Maro 16,32% 20,4% 21,42% 14,28% 27,55% 100% Fonte: o autor (2012).

    Detalhando o exame ante mortem, deve-se observar a documentao dos

    animais recebidos e avaliao do status sanitrio dos mesmos, visto que algumas

    enfermidades tm sinais clnicos claros nos animais vivos. Aps previamente

    selecionados nesta etapa, os animais so enviados ao abate.

    Os animais destinados ao abate chegavam 12 horas antes do incio do processo,

    e passam por jejum alimentar e hdrico. Este processo objetiva o esvaziamento natural e

    fisiolgico do aparelho digestivo, facilitando a eviscerao no abate. O RIISPOA afirma

  • 26

    que o jejum deve ser de no mnimo 24 horas, entretanto, este tempo pode ser alterado

    conforme as distncias de origem das carcaas.

    Os animais so encaminhados para a rea de abate por um corredor, com linhas

    de chuveiro que remove parte das sujidades e material grosseiro que possa interferir ou

    contaminar a matria-prima. A gua utilizada deve ser na temperatura ambiente e

    aspergida nos animais enquanto se deslocam, tendo ainda um objetivo importante:

    reduo estresse, produzindo efeito tranquilizante. Esta etapa do processo conhecida

    como banho de asperso. De acordo com Roa (2001), este banho no interfere na

    sangria, mas serve para limpeza do animal, evitando contaminao do ambiente e

    carcaa.

    O jejum e dieta hdrica no eram eficientes, pois no obedeciam ao tempo

    necessrio. De acordo com o artigo n 110 do RIISPOA (1968), os animais devem

    permanecer em descanso, jejum e dieta hdrica, nos currais, por 24 horas. A forma em

    que os animais eram conduzidos era inadequada, com materiais pontiagudos. Pereira

    (2006) afirma que a conduo dos animais at a linha de abate deve ser da forma menos

    estressante possvel.

    A prxima etapa a conteno fsica do animal para posterior insensibilizao

    do animal por uma marreta com altura de um metro, que se chocava contra a calota

    craniana. A utilizao da marreta como mtodo de abate promove grave leso no tecido

    sseo com afundamento da regio atingida podendo ser considerada leso indireta

    (ROA, 1999). Algumas vezes h necessidade de repetio do movimento de

    atordoamento, em funo da distncia, fora do funcionrio ou movimentao do

    animal a ser abatido.

    Em seguida, executa-se a sangria com um corte nico da veia jugular e artria

    cartida, sendo preconizado o uso correto e esterilizao adequada das facas.

    Aps este procedimento, o animal sobreposto no trilho, geralmente pelo

    membro posterior esquerdo e direcionado pela noria para rea do vmito; inadequado

    deixar mais de um animal em decbito lateral ou esternal no cho, pois pode ocorrer o

    extravazamento de lquidos gstricos.

    A esfola ou retirada do couro do animal realizada manualmente. Os operrios

    ficam em uma plataforma para que o animal no entre em contato direto com cho e

    para que o sangue seja drenado mais rapidamente contribuindo para amaciar a carne. A

    esfola dos membros anteriores e sua desarticulao ocorrem logo aps; estando correto

    enumerar a face articular do carpo a ausncia da realizao deste procedimento

  • 27

    compromete a linha de abate e dificulta a identificao entre carcaa e outros rgos a

    serem examinados aps a esfola dos membros anteriores e posteriores.

    Posteriormente, a cauda esfolada, e realizada a ocluso do reto e da poro

    cranial do esfago. Cuidados com a contaminao da carcaa pela pele e por plos

    devem ser tomados nesta etapa.

    A desarticulao da cabea feita sem numerao. Aps lavagem com gua

    morna e com presso, as peas so colocadas no trilho para vir at a mesa de inspeo,

    onde o mdico veterinrio realiza o exame da cabea que consistir em: seco

    sistemtica dos msculos masseteres (interno e externo) e pterigidea, na seco

    longitudinal da lngua, e tambm na seco sistemtica dos gnglios linfticos

    submaxilares e retro faringianos.

    Ento, realizada a eviscerao pela abertura das cavidades plvica e

    abdominal. Retira-se em uma nica etapa o tubo gastrointestinal, e juntamente com os

    estmagos, deve sair o bao, intestinos, pncreas e bexiga.

    Retira-se fgado, pulmes e corao, que so colocados no trilho junto com

    diafragma e rins, destinando-se a inspeo de profissional. Limpa-se os rgos e retira-

    se gorduras, tecidos conjuntivo, gnglios linfticos e glndulas, seguindo o exame

    visual do fgado e gnglios linfticos retro-hepticos e pancreticos. Uma inciso da

    superfcie gstrica do fgado e na base do lbulo quadrado realizada, para inspecionar

    os canais biliares.

    Um exame visual (macroscpico externo) do msculo cardaco e pericrdio faz-

    se necessrio, realizando inciso do pericrdio e em seguida do corao na posio

    longitudinal expondo os ventrculos e a atravessando o septo interventricular.

    Os rins tambm devem ser avaliados macroscopicamente e se observado alguma

    alterao significativa faz-se a inciso e avalia-se a parte interna.

    Os pulmes eram cortados no tero terminal perpendicularmente ao eixo maior,

    no sendo naturalmente estas incises necessrias para os pulmes.

    Na tabela 03, possvel observar as condenaes de rgos realizadas no

    frigorfico. Nota-se que os rins foram os rgos mais condenados, prevalecendo os

    cistos renais.

  • 28

    TABELA 03 Quantidade e porcentagem de condenaes por sistemas fisiolgicos realizadas pelo Servio de Inspeo Municipal no abatedouro Frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, durante os meses de janeiro a maro de 2012.

    Sistemas Quantidades Porcentagem (%) Rins 114 63,3%

    Fgado 32 18,7% Cabea 19 10,5% Lngua 10 5,5%

    Corao 07 3,8% TOTAL 180 100%

    Fonte: o autor (2012)

    Aps toda a inspeo dos rgos internos, a carcaa dividida em duas meias-

    carcaas. Antes da serragem do peito, a serra deve ser desinfetada com gua fervente

    (acima de 100 C) a cada animal abatido.

    Em outra plataforma, ocorre a inspeo das meias-carcaas, examinado de modo

    geral o aspecto e a colorao das peas. Verifica-se a normalidade nas articulaes e

    massa musculares, esfoliando com a faca os linfonodos linfticos inguinais, pr-crurais,

    ilacos e isquiticos evitando incis-los ou desloc-los; tambm so examinados os

    nodos linfticos pr-peitorais e pr-escapulares, pela sua natural localizao

    intermuscular.

    Com a finalizao destes procedimentos, a carimbagem das meias carcaas

    executada. A localizao da carimbagem conforme a legislao. As carcaas liberadas

    para o consumo so marcadas no coxo duro, no lombo, na ponta de agulha, paleta,

    peito, msculos dianteiros e traseiros, e costela.

    Depois, as carcaas so lavadas e remove-se o excesso de gorduras para ir

    pesagem. So direcionadas ento, cmara de resfriamento, com a temperatura de

    aproximadamente 4 C.

    Observou-se que a inspeo post-mortem no estava de acordo com o

    preconizado pelos autores, o que dificultava a identificao dos rgos ou leses

    patolgicas que necessitariam de condenao completa da carcaa. Alm de no seguir

    a sequncia correta da inspeo e cortes na cabea dos animais, podendo por algumas

    vezes ser condenada a carcaa errada.

    Na tabela 04, observam-se as leses encontradas durante o abate dos bovinos no

    frigorfico acompanhado.

  • 29

    TABELA 04 Quantidade de leses encontradas na inspeo dos bovinos abatidos pelo abatedouro frigorfico Kerber, na cidade de Unio da Vitria Paran, entre os meses de janeiro e maro de 2012.

    Patologia Janeiro Fevereiro Maro TOTAL Abscesso de cabea 0 1 0 1

    Abscesso de fgado 2 5 3 10 Abscesso de lngua 2 2 3 7

    Abscesso de rim 0 1 1 2

    Cirrose 1 0 0 1 Cisticercose calcificada 7 6 7 20

    Cisto renal 42 30 35 102 Congesto 2 2 2 6

    Contaminao 1 0 0 1 Contuso 1 1 1 3

    Degenerao gordurosa 1 0 0 1 Esteatose 1 1 0 2

    Macha vermintica 6 3 6 15 Pericardite 3 0 1 4

    TOTAL 69 53 60 182 Fonte: o autor (2012)

    Todo este processo produtivo gera resduos, tais como vsceras que no foram

    utilizadas para agregao de valor, sangue, chifre, couro, vescula biliar, intestino, peas

    contaminadas e descartadas pelo processo de inspeo do mdico veterinrio

    responsvel e outros. Outro resduo importantssimo nos ltimos anos e que agrega

    valor a gordura. Na busca por novas tecnologias combustveis, h muitas pesquisas

    sendo realizadas com este material para produo de biocombustvel. O sangue, chifre e

    couro so vendidos a empresas terceirizadas, entretanto, o que resta, incinerado.

    Considera-se ainda como resduo a gua utilizada no frigorfico para

    higienizao das mquinas, carcaas e das edificaes. Esta gua, que agora est

    agregada de gorduras, materiais saponceos e todo rejeito do frigorfico deve ser

    encaminhada para um sistema biolgico de tratamento de efluentes composto por lagoas

    de estabilizao que possuem a funo de degradar toda a matria orgnica e inorgnica,

    evitando assim, a poluio ambiental.

    No aspecto construtivo, as edificaes so de estrutura de alvenaria somado a

    equipamentos antigos. H necessidade de melhorias neste ambiente, onde as paredes

    esto deterioradas: pinturas velhas, azulejos quebrados e mal higienizados.

    O curral de chegada misto: madeira e concreto. Este material gera dificuldade

    de higienizao e desinfeco, alm de conservao (pintura). .

  • 30

    Outra observao realizada a ausncia de equipamentos de proteo individual

    (EPI o para preveno de quedas de carcaas da

    trilhagem, luvas de metal para evitar cortes e leses nos funcionrios, equipamento de

    proteo auricular e outros.

  • 31

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Devido a complexidade da cadeia produtiva de bovinos e a quantidade de carne

    consumida, entende-se que existem interaes entre reas multidisciplinares,

    envolvendo diferentes profissionais para que o produto final chegue ao consumidor com

    qualidade.

    A tecnologia de abate deve ser amplamente discutida, pois a partir disso ser

    possvel a insero e o desenvolvimentos de novas tcnicas para se obter protena

    animal de melhor qualidade e de menor custo.

    Um pequeno erro, engano ou negligncia de pessoas envolvidas com esse

    tipo de trabalho, pode ser o inicio de um grande problema de sade pblica.

    Abatedouros clandestinos ou a falta de inspeo correta nos locais cadastrados ainda

    fazem parte do comrcio de carnes no Brasil.

    Atualmente, outro ponto que os profissionais envolvidos devem analisar o bem

    estar animal, que amplamente discutido, entretanto pouco difundido nos abatedouros

    do pas.

  • 32

    7 REFERNCIAS

    Abate Humanitrio (filme). Traduo de A. Escosteguy e J.S. Madeira. Porto Alegre: CRMV/RJ, 1997. 90 min, color., son., VHS. ALMEIDA,L.A.M. Manejo no pr-abate de bovinos: aspectos comportamentais e perdas econmicas por contuses. 2005. 53f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria Preventiva) Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2005. BARBOSA da SILVA, C.A. Matadouro misto de bovinos e sunos. Braslia: Ministrio da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrria, Secretaria de Desenvolvimento Rural, 1995. 32p. BARBOSA, A.D.F., SILVA, I.J.O. Abate humanitrio: ponto fundamental do bemestar animal. Revista Nacional da Carne. So Paulo: v. n. 328, p.37-46. 2004. BARTELS, H. Inspeccin veterinria de la carne. Zaragoza: Acribia, 1980. 491p. BRASIL. Ministrio da Agricultura. Departamento de Defesa e Inspeo Agropecuria. Regulamento de Inspeo Industrial e Sanitria de Produtos de Origem Animal. So Paulo: Inspetoria do SIPAMA, 1968. 346p. BRASIL. Ministrio da Agricultura. Departamento de Defesa e Inspeo Agropecuria e. Regulamento de Inspeo Industrial Sanitria de produtos de Origem Animal. So Paulo. Inspetoria do SIPAMA, 1968. Disponvel em: . BRASIL. Ministrio da Agricultura. Padronizao de tcnicas. Instalaes e equipamentos. L - BOVINOS. DNPA. DIPOA. 1971. BRASIL. Ministrio da Sade. Portaria n 1428, de 26 de novembro de 1993. Controle de qualidade na rea de alimentos. Dirio oficial da Unio. Braslia, DF. 1993. Seo l. BRAY, A.R., GRAAFHUIS, A.E., CHRYSTALL, B.B. The cumulative effect of nutritional, shearing and preslaughter washing stresses on the quality of lamb meat. Meat Science, Oxon, v.25, n.1, p.59-67, 1989. CORTESI, M.L. Slaughterhouses and humane treatment. Revue Scientique et Tecnnique Ofce International des Epizooties, v.13, n.1, p.171-193, 1994. GIL, J.I., DURO, J.C. Manual de inspeo sanitria de carnes. Lisboa: Fundao Caloustre Gulbenkian, 1985. 563p. GIL, J.I; COSTA, J. Manual de inspeo sanitria de carnes. Lisboa: Fundao Calouste Euberias, 2001.

  • 33

    GRACEY, J.F., COLLINS, D.S. Humane Slaughter. In: Meat hygiene. London: Baillire Tindall, 1992. p.143-167. GRANDIN, T. Buenas practicas de manejo para el arreo e insensibilizacion de animales. In: Internet: http:www.grandin.com/spanish/buenas.practicas.html. 2000. 10p. GRANDIN, T. Assessment of stress during handling and transport. Journal of Animal Science, v.75, p. 249-257, 1997. GRANDIN, T. Maintaining acceptable animal welfare during Kosher or Halal slaughter. Internet: www.grandin.com /ritual/maintain. welfare. during. slaughter.ht ml. 2007. GRIGOR, P.N., GODDARD, P.J., LITTLEWOOD, C.A., WARRISS, P.D., BROWN, S.N. Effects of preslaughter handling on the behaviour, blood biochemistry and carcases of farmed red deer. Veterinary Record, London, v.144, p.223-227, 1999. JARVIS, A.M., COCKRAM, M.S. Effects of handling and transport on bruising of sheep sent directly from farms to salughter. Veterinary Record, London, v.135, n.11, p.523-527, 1994. KENNY, F.J., TARRANT, P.V. The physiological and behavioural responses of crossbred Friesian steers to short-haul transport by road. Livestock Prodution Science, Amsterdan, v.17, p.63-75, 1987. KNOWLES, T.G. A review of post transport mortality among younger calves. Veterinary Record, London, v.137, p.406-407, 1995. KNOWLES, T.G. A review of the road transport of cattle. Veterinary Record, London, v.144, n.8, p.197-201, 1999. KOLB, E. Fisiologia veterinria. 4 edio, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1984. 612p. LAURENT, H.R.H.P. The study of animal welfare: a moral obligation. In: ZUTPHEN, L.F.M., BALLS, M. ed., Animal alternatives, welfare and ethics. Amsterdam: Elsevier Sci. Publ. , 1997. p.22-24. MUCCIOLO, P. Carnes: estabelecimentos de matana e de industrializao. So Paulo: ncone, 1985. 102p. PICCHI, V., AJZENTAL, A. Abate bovino segundo o ritual judaico. Revista Nacional da Carne, So Paulo, v.18, n.202, p.53-57, 1993. PEREIRA, A. S. C.; LOPES, M. R. F. Manejo pr-abate e qualidade da carne. 2006. Disponvel em: .

  • 34

    RISPOA (REGULAMETNO DE INSPEO E SANITRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL) aprovada pelo ano de 1952, atualizada em 1997. ROA, R.O. Abate humanitrio: o ritual kasher e os mtodos de insensibilizao de bovinos. Botucatu: FCA/UNESP, 1999. 232p. Tese (Livre-docncia em Tecnologia dos Produtos de Origem Animal) Universidade Estadual Paulista. ROA, R. O. Abate humanitrio: insensibilizao e sangria. Revista Nacional da Carne, n.290, p.45-52, 2001. SCHARAMA, J.W., van der HEL, W., GORSSEN, J., et al. Required thermal thresholds during transport of animals. The Veterinary Quartely, Dordrecht, v.18, n.3, p.90-95, 1996. SHORTHOSE, W.R. Experincia australiana na utilizao do bfalo para carne. In: Simpsio sobre bfalo como produtor de carne, 1, 1991, Campinas. Palestra..., Campinas, 1991. SNIJDERS, J. Good manufacturing practices in slaughter lines. Fleischwirtschaft, Frankfurt, v.68, n.6, p.753- 756, 1988. SOERENSEN, B.; MARULLI, K.B.B. Manual de Sade Pblica. Editora UNIMAR, Marlia/SP, 1999. 494 p. STEINER, H. Working model of standardized technique for the hygienic slaughtering of cattle. Fleischwirtschaft, Frankfurt, v.63, p.1186-1187, 1983. SWATLAND, H.J. Slaughtering. Internet: http://www.bert.aps.uoguelph.ca/ swatland/ch1.9.htm. 2000. 10p. TARRANT, P.V., KENNY, F.J., HARRINGTON, D. The effect of stocking density during 4 hour transport to slaughter on behaviour, blood constituents and carcass bruising in Friesian steers. Meat Science, Oxon, v.24, n.3, p.209- 222, 1988. TARRANT, P.V., KENNY, F.J., HARRINGTON, D., MURPHY, M. Long distance transportation of steers to slaughter: effect of stocking density and physiology, behaviour and carcass quality. Livestock Production Science, Amsterdam, v.30, p.223-238, 1992. THORNTON, H. Compndio de inspeo de carnes. Londres: Bailliere Tindall an Cassel, 1969. 665p. WARRIS, P.D. The handling of cattle pre-slaughter and its effects on carcass meat quality. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdan, v.28, n.1, p.171-186, 1990. WARRISS, PD, BROWN, S.N., KNOWLES, T.G., KESTIN, S.C., EDWARDS, J.E., DOLAN, S.K., PHILIPS, A.J. Effects on cattle of transpor by road for up 15 hours. The Veterinary Record, London, v.136, n.1, p.319-323, 1995.