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Modelagem da Camada Limite Planetária
Amauri Pereira de Oliveira
Grupo de Micrometeorologia
2
Objetivo
• Nesta palestra serão abordadas as principais técnicas de simulação da turbulência atmosférica da Camada Limite Planetária (CLP):
modelagem numérica;
modelagem analógica.
Introdução
Parte 1
4
Micrometeorologia
A micrometeorologia trata dos
fenômenos atmosféricos que ocorrem
nas escalas de espaço menores do que
2 quilômetros e nas escalas de tempo
menores do que 1 hora.
5
Escalas da Micrometeorologia
Adaptado de Stull (1988).
6
Camada Limite Planetária
A CLP é definida como a região
adjacente à superfície onde a
turbulência gera mistura e o transporte
de energia, massa e momento entre a
superfície e a atmosfera.
7
Localização da CLP
Adaptado de Stull (1988).
8
Evolução temporal da CLP
Adaptado de Stull (1988).
9
CLP - superfície plana homogênea
Jatos de baixos níveis
Fonte: Fernando et al. (2001).
Sem memória
10
Fonte: Fernando et al. (2001).
CLP - superfície não homogênea
CLP urbana
11
CLP – efeito topográfico
Fonte: Hunt et al., 2003 Adveção confere um carácter não local a turbulência.
12
Turbulência
Entre todos os processos que tem
relevância em micrometeorologia,
turbulência é o mais importante e
também o mais complexo.
13
História da turbulência
Primeira descrição da turbulência século XV com o famoso desenho de Leonardo da Vinci (1452-1519).
Fonte: www.efluids.com
14
Osborne Reynolds
A década de 1880 marca o início da investigação científica da turbulência, com o engenheiro Irlandês Osborne Reynolds (1842-1912 ).
Reynolds, O., An experimental investigation of the circumstances which determine whether the motion of water shall be direct or sinuous, and the law of resistance in parallel channels. Philos. Trans. Roy. Soc. London 174 (1883) 935–982.
15
Geoffrey Ingram Taylor
Na década de 1910, físico inglês, Geoffrey Ingram Taylor (1886-1975) descreve os fundamentos físicos do movimento turbulento e apresenta, pela primeira vez, observações de turbulência feitas com anemômetro de fio quente.
Taylor, G.I., Eddy motion in the atmosphere. Philos. Trans. Roy. Soc. London A 215 (1915) 1–26.
16
Lewis Fry Richardson
Na década de 1920, matemático inglês Lewis Fry Richardson (1881-1953) apresentou a “lei dos 4/3” e introduziu o Número de Richardson (Ri) .
Richardson, L. F., Atmospheric diffusion shown on a distance-neighbor graph. Proc. Roy. Soc.London A 110(756) (1926) 709–737.
17
Andrei Nikolaevich Kolmogorov
Na década de 1940 o físico russo Andrei Nikolaevich Kolmogorov (1903-1997) publicou na URSS a teoria do turbulência de pequena escala.
Kolmogorov, A.N., Local structure of turbulence in an incompressible fluid at very high Reynolds numbers. Dokl. Akad. Nauk SSSR 30 (1941) 299–303.
Kolmogorov, A.N., Energy dissipation in locally isotropic turbulence. Dokl. Akad. Nauk SSSR 32 (1941) 19–21.
18
George Keith Batchelor
Na década de 1950 matemático australiano, George Keith Batchelor (1920-2000), apresenta os fundamentos da teoria do turbulência homogênea:
Batchelor, G.K., The Theory of Homogeneous Turbulence.
The University Press, Cambridge,UK (1953), reprinted 1956.
19
História mais recente
• A partir da década de 1960 foram realizados os grandes experimentos de campo;
• Experimento de Kansas e outros;
• Estes experimentos permitiram a comprovação da universalidade das teorias da similaridades (Monin-Obukov, Convecção livre, etc);
• Surgimento de novas técnicas de investigação da turbulência na CLP.
20
Sensoriamento remoto
Imagem de satélite de uma esteira de vórtices de Karman gerados por uma ilha sobre o Pacífico.
Fonte: www.efluids.com
21
Simulação Análogica
Túnel de vento
Fonte: www.efluids.com
22
Modelagem Numérica
Simulação numérica atuais com grades com 5123 pontos.
Fonte: Moin e Mahesh, 1998.
Modelagem Numérica da
Turbulência da
Camada Limite Planetária
Parte 2
24
Principais Técnicas
• Modelos DNS ou modelos de simulação numérica direta (DNS = “Direct Numeric Simulation”);
• Modelos RANS ou Modelos de Média de Reynolds (RANS = “Reynolds Averaged Navier-Stokes”);
• Modelos LES (LES = “Large Eddy Simulation”).
25
Modelo DNS
• Solução numérica das equações de Navier-Stokes;
• Todos as escalas do movimento são resolvidas;
26
é a micro escala de Kolmogorov.
l é a escala dos turbilhões mais energéticos.
Escalas da Turbulência
27
Escalas resolvidas pelo modelo DNS
• o número de pontos de grade necessários para resolver todas as escalas de movimento é igual a:
• Na CLP: Re ~ 107
• Modelo DNS requer um grande esforço computacional mesmo para escoamentos com número de Reynolds pequenos (~1000).
493 Re
28
Modelo DNS
• No início da década de 70 foram realizadas as primeiras simulações 3-D de turbulência com modelo DNS no NCAR;
• Primeira simulação com DNS publicada foi para turbulência isotrópica com Re = 35, em uma grade de 323 (Orszag e Patterson, 1972);
• Atualmente: utiliza-se grades com 5123.
29
Menor escala espacial resolvida pelo modelo DNS
Menor escala não precisa ser igual a micro escala de Kolmogorov.
30
Número de Reynolds
O quanto alto Re deve ser para ser considerado alto o suficiente?
Existem vários situações em que aumentar Re significa simplesmente aumentar o tamanho do subintervalo inercial.
31
Modelo DNS
Tem sido muito útil para simular propriedades da turbulência de escoamentos complexos não geofísicos;
Ferramenta de pesquisa extremamente poderosa para Re pequeno (~ 1000);
Utilização de modelo DNS para escoamentos geofísicos ainda é incipiente, porém muito promissora.
32
Modelos de Médias de Reynolds
Modelos diagnósticos;
Modelos prognósticos.
33
Modelos diagnósticos
Modelos diagnósticos estão baseados nas teorias de similaridade válidas para a CLP.
34
Teoria de Similaridades
• Monin-Obukhov: válidos para a CLS e 1 > z/L > -1;
• Convecção Livre: válidos para a CLS e z/L < -1;
• Camada de Mistura: válidos para CM convectiva;
• Local: válidos para a CLP estável.
CLS = Camada Limite Superficial CM = Camada de Mistura
35
Vantagem
• Simplicidade computacional;
• Permite estimar diretamente variâncias da velocidade;
• Permite estimar diretamente as escalas características de comprimento da turbulência.
36
• Não fornece estimativa da altura da CLP;
• Válida somente para CLP em condições de equilíbrio e homogêneas;
• Válida somente para CLP sobre uma superfície horizontalmente homogênea;
• Está restrita às regiões da CLP onde as condições de validade da teoria de similaridade são satisfeitas.
Desvantagem
37
Modelos prognósticos
• Modelo de camada de mistura;
• Modelo de fechamento de primeira ordem;
• Modelo de fechamento de segunda ordem;
• Modelo de fechamento de 1.5 ordem.
38
Modelo de Camada de Mistura
39
Modelo de Camada de Mistura
Hipótese: mistura turbulenta é suficientemente intensa de modo a eliminar os gradientes verticais das propriedades médias ao longo de boa parte da extensão vertical da CLP.
0z
M
bzaw
40
Vantagem
• Simplicidade computacional;
• Fornecem uma estimativa direta da altura da CLP.
41
Desvantagem
• Restrito às condições de uma CLP convectiva ou uma CLP estável com ventos intensos;
• Válido somente quando os poluentes estão completamente misturados ao longo da CLP;
• Não fornece estimativa direta das variâncias da velocidade e das escalas características comprimento.
Modelo de fechamento de 1ª ordem
43
Modelo de fechamento de 1ª ordem
Os modelos de fechamento de primeira ordem estão baseados na analogia existente entre os transportes turbulento e molecular de uma determinada propriedade de um fluido.
λ é o comprimento de mistura e u é a escala característica de velocidade.
z
uKwu M
Fluxo vertical
uK 1M
Coeficiente de difusão
44
Vantagem
• Simplicidade computacional.
45
Desvantagem
• Requer a determinação das escalas características de comprimento e da velocidade da turbulência;
• Não pode ser generalizado para todas as regiões da CLP e condições de estabilidade;
• Não permite a estimativa direta das variâncias da velocidade do vento;
• Não permite a estimativa direta da altura da CLP.
Modelo de fechamento de 2ª ordem
47
Modelo de fechamento de 2ª ordem
Os modelos de fechamento de segunda
ordem estão baseados nas equações que
descrevem os momentos estatísticos de
segunda ordem a partir da parametrização
dos termos de terceira ordem.
48
Equação do Tensor Tensão de Reynolds
Dissipação molecular
Transporte Tendência à Isotropia
49
Parametrizações• Donaldson (1973)• Mellor e Yamada (1974)• André et al. (1978)• Mellor e Yamada (1982) • Therry e Lacarrére (1983)• Andrên (1990) • Abdella e MacFarlane (1997) • Galmarini et al. (1998)• Abdella e MacFarlane (2001)• Nakanishi (2001)• Vu et al. (2002)• Nakanishi e Niino (2004)
Parametrizações baseadas em experimentos de laboratório.
Parametrizações baseadas em experimentos numéricos usando LES.
50
Balanço de ECT na CLP
Estável
Convectiva
Destruição Térmica
Produção Térmica
51
Vantagem
• Fornece uma estimativa direta da altura da CLP;
• Fornece uma estimativa direta das variâncias da velocidade do vento.
52
Desvantagem
• Custo computacional mais elevado do que os demais fechamentos;
• Não fornece uma estimativa direta das escalas de comprimento característica da CLP.
Modelo de fechamento de 1.5 ordem
54
Modelo de fechamento de 1.5 ordem
Os modelos de fechamento de 1.5 ordem também estão baseados na analogia existente entre os transportes turbulento e molecular.
55
Modelos de fechamento de 1.5 ordem
z
eK
ze
ee
zK
g
z
v
z
uK
t
eM1
23
2H0
22
M
A diferença é que a escala característica de velocidade é determinada a partir da equação prognostica para energia cinética turbulenta (e).
56
Altura da CLP sobre Iperó, São Paulo
Corte vertical direção Leste-Oeste
Iperó
Fonte: Pereira (2003)
57
Vantagem
• Fornecem uma estimativa direta da altura da CLP.
58
Mais uma equação prognostica;
Não permitem a estimativa direta das variâncias da velocidade do vento na CLP.
Desvantagem
Modelo LES
60
Modelo LES
Nos modelos do tipo LES, as equações de conservação
de momento, massa e energia são filtradas de modo a
descrever somente os movimentos de escala maior do
que uma determinada escala de corte.
61
Modelos de Médias de Reynolds
f
)x('f)x(f)x(f
62
Modelo LES
)x(f)x(f~
)x(f
f
large eddies
63
Equações do modelo LES
2j
i2
i0
i
j
ij
i
x
u
x
p1
T
g
x
uu
t
u
dxdydzGuu~ ii
2j
i2
j
jiji
i0
i
j
ij
i
x
u~
x
)u~u~uu(
x
p~1~
T
g
x
u~u~
t
u~
Sub-grade
Filtro G
64
Simulação da turbulência no dossel
0U
m200~
z
< 1
00 m
Fonte: Patton et al. (1997); Moeng (2003)
65
CLP Convectiva - Cidade de São Paulo
Corrente ascendente
Fonte: Marques Filho (2004)
66
CLP convectiva – Cidade de São Paulo
Fonte: Marques Filho (2004)
( zi /L ~ - 800)
67
Dispersão de CO na Cidade de São Paulo
Fonte: Marques Filho (2004)
68
Propriedades espectrais
Fonte: Marques Filho (2004)
69
Vantagem
Resolve diretamente os movimentos turbulentos
de grande escala da CLP.
70
Desvantagem
Custo computacional excede a capacidade de processamento disponível para pesquisa no Brasil.
Uma simulação no CRAY J90 do LCCA/USP requer 5 dias de CPU para processar 3000 passos de tempo de 1 segundo em uma grade de 803.
Modelagem Analógica da Turbulência
na Camada Limite Planetária
Parte 3
72
Modelagem Analógica
Modelagem analógica da turbulência na CLP
consiste de gerar turbulência em fluídos em
condições de laboratório. A turbulência pode ser
gerado utilizando ar em um túnel de vento
atmosférico ou com água em tanques de
convecção.
73
Túnel de vento atmosférico
74
Ensaio em túnel de vento atmosférico
75
Vantagem
• Repetir ensaios que simulam CLP controlando as condições médias do escoamento (intensidade e direção do vento);
• Medir em vários pontos do CLP de forma simultânea.
76
Desvantagem
• Limitações nos processos geofisicos que podem ser simulados em um túnel de vento atmosférico.
77
Túnel de vento atmosférico do IPT*
Simular a CLP sobre a Cidade de São Paulo.
* Instituto de Pesquisa Técnológica do Estado de São Paulo
78
Túnel de vento atmosférico do IPT
Seção de ensaio de 3 m. Ventilador pesa 2 toneladas
Distância para gera CLP da ordem de 30 metros.
79
Parte 4
Conclusão
80
Turbulência
Turbulência é um dos fenômenos
da física clássica não resolvidos.
81
Prêmio de 1 milhão de dolares!
Fonte: http//www.claymath.org/millennium
82
Estágio atual
Lumley, J. L. and Yaglom, A. M., 2001: A century of turbulence. Flow. Turbulence and Combustion, 66, 241-286.
83
Micrometeorologia
Isto faz com que a micrometeorologia
possa ser considerada uma das áreas
mais desafiadoras e interessantes da
meteorologia.
84
• Melhorar as previsões de tempo e clima;
• Efetuar corretamente análises de impacto ambiental;
• Representar adequadamente os processos de interação solo-vegetação-atmosfera e oceano-atmosfera;
• Etc.
Relevância
85
Sumário sobre modelos de CLP
Conclui-se que o modelo que melhor combina capacidade de descrever as propriedades da CLP e simplicidade numérica é o modelo de fechamento de segunda ordem.
86
Modelo de fechamento de 2ª ordem
Túnel de vento Modelo
Modelo LES
Apresenta uma grande capacidade de simular turbulência em escoamentos geofísicos.
Saída para custo computacional é o processamento paralelo.
Na USP conseguimos reduzir em um fator de 100 utilizando um código paralelo da modelo LES cedido pela Moeng em uma “HP-Compaq S45 (com 4 processadores e 6Gb de memória)”.
88
Observações LES
Fonte: Moeng (2003)
Modelo LES
89Fonte: Moeng (2003)
Previsão Numérica de Tempo
90
Modelo DNS
Aplicações geofísicas do modelo DNS estão dando origem a nanometeorologia.
Difusão em um “canyon”
91
Agradecimentos
• O suporte financeiro do CNPq e da FAPESP e da Sociedade Brasileira de Meteorologia.