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7/21/2019 Milton Lopes Anarquismo e Primeiro de Maio No Brasil http://slidepdf.com/reader/full/milton-lopes-anarquismo-e-primeiro-de-maio-no-brasil 1/26 1 ANARQUISMO E PRIMEIRO DE MAIO NO BRASIL* Milton Lopes 1  Resumo: À partir da análise da relação do Primeiro de Maio, o movimento operário e o anarquismo no Brasil, o autor debate criticamente as apropriações e as construção de significados nessa data, tendo como pano de fundo momentos-caves e dilemas pol!ticos da classe trabaladora no pa!s" #ervindo-se de um amplo corpus documental de $ornais, peri%dicos operários e anarquistas, o pesquisador analisa a conformação da data no &io de 'aneiro, #ão Paulo, &io (rande do #ul, Paraná, &ecife, )ma*onas e outros estados" +a consolidação das  primeiras comemorações do Primeiro de Maio na Primeira &epblica 1../-1/02, 3s diverg4ncias internas com os comunistas, passando pelos deslocamentos de sentido operados  pela disputa com o 5stado getulista 1/0-1/672 e a tentativa de retomada dos significados anarquistas e sindicalistas revolucionários da data 1/68-1/862, o te9to e9plicita a import:ncia do elemento simb%lico como um aglutinador de determinados pro$etos pol!ticos" Palavras !ave: )narquismo, #indicalismo &evolucionário, Movimento ;perário, Primeiro de Maio" ; Brasil conecerá seu primeiro grande surto de industriali*ação a partir da ltima d<cada do =mp<rio 1..1-1../2" )pesar do grosso da economia do pa!s ainda assentar na e9portação em grande escala de mat<rias-primas e produtos agr!colas com  predomin:ncia para o caf< nessa fase2, o nmero de estabelecimentos industriais, que era pouco mais de >> em 1.71 sobe para mais de 7>> em 1../" +o total do capital investido nas atividades industriais naquela <poca, 8>? concentram-se na indstria t49til, 17? na da alimentação, 1>? na de produtos qu!micos, 6? na indstria de madeira, 0,7? na do vestuário e 0? na metalurgia" 5ssas atividades produtivas manterão suas posições neste ranking  durante as d<cadas seguintes" @o per!odo de 1./> a 1./7 serão fundadas mais 67 fábricas, com investimento equivalente a 7>? do capital investido no in!cio dos anos 1..>" Am primeiro censo geral das indstrias  brasileiras reali*ado em 1/> mostrará a e9ist4ncia de 0"7. estabelecimentos industriais, empregando 17".61 operários" 00? destas fábricas estavam locali*adas no 1  'ornalista, pesquisador anarquismo e integrante do @cleo de Pesquisa Marques da Costa"

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1

ANARQUISMO E PRIMEIRO DE MAIO NO BRASIL*

Milton Lopes1 

Resumo:

À partir da análise da relação do Primeiro de Maio, o movimento operário e o

anarquismo no Brasil, o autor debate criticamente as apropriações e as construção de

significados nessa data, tendo como pano de fundo momentos-caves e dilemas pol!ticos da

classe trabaladora no pa!s" #ervindo-se de um amplo corpus documental de $ornais, peri%dicos

operários e anarquistas, o pesquisador analisa a conformação da data no &io de 'aneiro, #ão

Paulo, &io (rande do #ul, Paraná, &ecife, )ma*onas e outros estados" +a consolidação das

 primeiras comemorações do Primeiro de Maio na Primeira &epblica 1../-1/02, 3s

diverg4ncias internas com os comunistas, passando pelos deslocamentos de sentido operados

 pela disputa com o 5stado getulista 1/0-1/672 e a tentativa de retomada dos significados

anarquistas e sindicalistas revolucionários da data 1/68-1/862, o te9to e9plicita a import:ncia

do elemento simb%lico como um aglutinador de determinados pro$etos pol!ticos"

Palavras !ave: )narquismo, #indicalismo &evolucionário, Movimento ;perário, Primeiro de

Maio"

; Brasil conecerá seu primeiro grande surto de industriali*ação a partir da

ltima d<cada do =mp<rio 1..1-1../2" )pesar do grosso da economia do pa!s ainda

assentar na e9portação em grande escala de mat<rias-primas e produtos agr!colas com

 predomin:ncia para o caf< nessa fase2, o nmero de estabelecimentos industriais, que

era pouco mais de >> em 1.71 sobe para mais de 7>> em 1../" +o total do capital

investido nas atividades industriais naquela <poca, 8>? concentram-se na indstriat49til, 17? na da alimentação, 1>? na de produtos qu!micos, 6? na indstria de

madeira, 0,7? na do vestuário e 0? na metalurgia" 5ssas atividades produtivas

manterão suas posições neste ranking  durante as d<cadas seguintes" @o per!odo de 1./>

a 1./7 serão fundadas mais 67 fábricas, com investimento equivalente a 7>? do

capital investido no in!cio dos anos 1..>" Am primeiro censo geral das indstrias

 brasileiras reali*ado em 1/> mostrará a e9ist4ncia de 0"7. estabelecimentos

industriais, empregando 17".61 operários" 00? destas fábricas estavam locali*adas no1 'ornalista, pesquisador anarquismo e integrante do @cleo de Pesquisa Marques da Costa"

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&io de 'aneiro, então capital da rec<m proclamada repblica 1../2, percentual a que se

 poderiam somar os ? do antigo estado do &io de 'aneiro, 18? em #ão Paulo e 17? no

&io (rande do #ul" ) egemonia industrial do &io de 'aneiro cederia para #ão Paulo no

 per!odo entre 1/>-1/0." ) Primeira (uerra Mundial 1/16-1/1.2 dará grande impulso

3 indstria nacional, com a diminuição da importação dos pa!ses envolvidos no conflito

e tamb<m com a diminuição da concorr4ncia estrangeira, devido 3 forte queda do

c:mbio" Prado 'nior, 1/.1, pp" 7/-81D Eausto, 1/.0, pp" 1-1.2

; per!odo dessa primeira industriali*ação do pa!s coincide com a abolição

 $ur!dica da escravidão, alterando a pol!tica do 5stado brasileiro em relação 3 mão-de-

obra, passando o governo federal e os dos estados a elaborar leis e programas de

subs!dio 3 imigração de trabaladores europeus e mais tarde asiáticos $aponeses2" 5ntre

1.1 e 1/>, 0"0/>">>> imigrantes cegaram ao Brasil" 1"00">>> eram italianos,

/>1">>> portugueses e 7>>">>> espan%is" ) maioria deles estabeleceu-se no estado de

#ão Paulo, cu$o governo foi o mais ativo na criação de subs!dios 3 imigração" )

atividade a que os imigrantes eram inicialmente destinados era a agricultura, por<m

grandes parcelas encaminavam-se para os grandes centros urbanos em função da

nascente industriali*ação do pa!s, em parte financiada pelos pr%prios fa*endeiros"

Maram, 1//, p" 102 ) imensa maioria desses imigrantes europeus tomou

conecimento da camada Fquestão socialG ap%s sua cegada ao Brasil, e não vieram de

seus pa!ses de origem $á imbu!dos da ideologia anarquista, desmentindo a imagem da

Fplanta e9%ticaG transplantada para o meio do trabalador brasileiro cordato e bom" )s

condições de vida e de trabalo no campo e nas cidades por si $á condu*iam 3 luta

social" 5verardo +ias escreve, a prop%sitoH

; e9!guo grupo capitalista, aglutinado em oligarquia patronal, que se aviaabalançado 3 criação de fábricas geralmente de tecelagem e metalurgia,

estabelecera seus cálculos sobre uma base salarial bai9!ssima, salário deescravo, e9ploração bruta do braço umilde que se encontrava comabund:ncia no pa!s, gente de p< descalço e alimentação parca um punadode farina de mandioca, fei$ão, arro*, carne seca2 artigos alimentares baratose abundantes no mercadoD caf< adoçado com mascavo, e um pouco defarina, pois pão era artigo de lu9o, bem como o leite, a carne, oscondimentos, os legumes esses ltimos desconecidos na casa dotrabalador2" 5 quanto 3 moradia, estava confinada em barracões de fundo dequintal, em porões insalubres, em casebres geminados cortiços2, pr%9imos 3sfábricas e pelos quais pagava de aluguel mensal 17, >, 0> mil r<is" 5sse

 proletariado fabril, em grande parte feminino e constitu!do de mocinas, erao preferido para a indstria t49til, trabalando das 8 da manã 3s e . orasda noite" I"""J @a indstria metalrgica ou mec:nica o nmero de menores

tamb<m era predominante, sendo que aqui o se9o aceito era o masculino" I"""JKodos, ou quase todos, analfabetos, supersticiosos, t!midos, umilados por

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 palavrões e insultos depreciativos" =gnor:ncia total" #er dispensado doserviço significava mais fome, mais mis<ria em casa" 5ncarava-se odesemprego com arrepios de terror" +ias, 1/, pp" 67-682

'á os patrões $ulgavam Festar prestando um grande favor, praticando um ato de

 benemer4ncia em dar trabalo para proteger essa pobre gente esfomeadaL ;s gerentes

e diretores assumiam, por isso, ares altaneiros e superiores de grãos-senores, aos quais

s% se podia falar de cap<u sobre o peito, fa*endo v4nia de bei$a-mão, numa umildade

de escravoG" +ias, 1/, pp" 67-682

A institui"#o $o Primeiro $e Maio omo $ia $e luta

em #ão Paulo ainda com poucas fábricas que de*essete militantes operários

renem-se no centro da cidade, 3 rua N!bero Badar%, nmero 11>, a 17 de abril de 1./6"

)li < aprovada a resolução do Congresso #ocialista de Paris de 1../, que institu!a o 1O

de Maio como dia de luta e de protesto contra a condenação e e9ecução dos mártires de

Cicago" ;s presentes pretendiam mesmo estudar a melor maneira de comemorar o 1O

de maio vindouro" Mas a reunião foi suspensa com a cegada da pol!cia, mobili*ada por

uma denncia, segundo se acredita, do cnsul italiano" ; grupo era composto por

 brasileiros e imigrantes italianos" 5spancados e advertidos de que se persistissem em

agitar os operários seriam castigados e9emplarmente, foram separados em dois grupos,sendo de* deles, os de origem italiana, encaminados 3 Casa de +etenção do &io de

'aneiro, de onde s% seriam liberados a 1 de de*embro +ias, 1/, pp" 6., 60, 0"2"

)o cegar 3 cidade de #antos para embarque para o &io de 'aneiro, um deles, )rtur

Campagnoli, teria conseguido fugir lançando-se ao mar, depois de ter perguntado

durante a viagem de trem aos policiais de sua escolta se sabiam nadar" Campagnoli,

ourives de profissão, depois de passagens pela Erança e pela =nglaterra, instalara com

seu irmão Nuciano uma colnia libertária na cidade de (uararema no interior de #ãoPaulo $á nos ltimos anos da monarquia 1...2" #cmidt, s"d", pp" 0-72

) pol!cia de #ão Paulo colocou-se de prontidão no dia 1O de Maio daquele ano,

temendo manifestações operárias e conflitos, que não ocorreram" @o entanto, bombas

e9plodiram em dois palacetes da burguesia paulistana e outra no Nargo do Carmo,

 pr%9imo ao quartel do 7O Batalão de Pol!cia" PM#PQ#MC, 1//>, p"1>6" Pineiro e

Rall, 1/.1, p" 6>2

) libertação dos que passaram meses presos no &io, segundo te9to de um deles,

Eeli9 Se**ani, enviado ainda da prisão e publicado no $ornal  Il Risveglio #ão Paulo,

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de de*embro de 1./62 s% seria poss!vel graças 3 intervenção do )postolado Positivista

 $unto ao rec<m empossado Presidente da &epblica, Prudente de Moraes" #ei9as, 1//,

 p" 2 )visados por telegrama de sua libertação, os companeiros de #ão Paulo

acorreram 3 estação ferroviária para saudar os camaradas que voltavam da então capital

federal, furando o cordão de isolamento de soldados com baioneta calada, unindo-se aos

libertos no canto da Internacional " 

;s italianos envolvidos no epis%dio, dentre os quais estavam 5ugenio

(astaldetti, E<li9 Se**ani, )ugusto +onati, )rtur Campagnoli, (alileo Botti, eram

alguns dos militantes pioneiros do anarquismo em #ão Paulo e no Brasil" #ei9as, 1//,

 p" 702 @o entanto, tamb<m avia socialistas entre eles e os militantes brasileiros" )

 pr%pria reunião desbaratada pela pol!cia intitulava-se #egunda Confer4ncia dos

#ocialistas Brasileiros" )lguns dos italianos tornaram-se anarquistas no Brasil, como foi

o caso de Se**ani" #ei9as, 1//, p" 2 ; anarquismo estava presente no Brasil desde o

final da d<cada de 1..> com a e9peri4ncia dos irmãos Campagnoli $á citada e a Colnia

Cec!lia, fundada em 1./> no estado do Paraná pelo agrnomo e veterinário anarquista

italiano (iovanni &ossi em 1./>" Cf" Mello @eto, 1//.2 ) cooperação, neste final de

s<culo T=T e in!cio do movimento operário no Brasil, entre socialistas e anarquistas

refletia a con$untura internacional em que os anarquistas esforçavam-se por participar

da #egunda =nternacional, fundada em 1../, estando representados em vários

congressos socialistas reali*ados na 5uropa, inclusive no = Congresso =nternacional

;perário #ocialista, ocorrido em Paris de 16 a 1 de $ulo de 1../, responsável pela

adoção da data de 1O de Maio como dia internacional do proletariado e da $ornada de .

oras de trabalo como bandeira de luta do proletariado universal" Carone, 1//0, pp"

01-082 5ssa situação persistirá at< o =S Congresso #ocialista =nternacional de Nondres,

de 8 de $ulo a de agosto de 1./8, em que os anarquistas são definitivamente

e9pulsos, reali*ando seu pr%prio congresso tamb<m naquela cidade de / a 01 de $ulo=S Congresso )narquista2" Carone, 1//0, pp" 6-702

+esde o congresso socialista de Paris em 1../, s% em 1./1 < poss!vel encontrar

uma primeira refer4ncia a comemorações de 1O de Maio no Brasil" @o 1O de Maio

daquele ano, circula em #ão Paulo uma edição nica de $ornal com aquele t!tulo, o que

vem a se repetir no 1O de Maio do ano seguinte, s% que desta ve* o t!tulo era em italiano

 Primo Maggio2, estando a publicação, de tend4ncia anarquista, a cargo de )cille de

 Cf" artigo de )ugusto +onati, F&ecordemos, poisG" =nH O Amigo do Povo, 6, 1/>"

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#antis" &oio, 1/.8, p" /2 )inda em 1./ < lançado o $ornal Um de Maio, sa!do no &io

de 'aneiro" ; 1O de Maio de 1./ no Brasil veria ainda publicado um artigo do escritor

5uclides da Cuna 1.88-1/>/2 publicado no $ornal O Estado de São Paulo  com um

in!cio que se tornou c<lebreH Fe9traordinário amanecer o de o$e nas velas capitais da

5uropaLG" Cuna, 1/88, p" 8>82 @o te9to de seu escrito, 5uclides, embora louvando

as mobili*ações operárias em torno da data, condena os Fe9ageros de ProudonG,

considerando que Ftoda a sua do operariado2 força está nesta arregimentação, que ora

desponta 3 lu* de uma aspiração comumD a anarquia < $ustamente o seu ponto vulnerável

 U quer se defina por um caso notável de isteria U Nouise Micel U ou por um caso

vulgar de estupide* U &avacolG"

) condenação ao anarquismo por 5uclides se ligava 3s ações dos anarquistas

FbombistasG0  na Erança, cu$as atividades e processos $udiciários tiveram ampla

divulgação na imprensa brasileira naquele momento, com grande destaque para o caso

de &avacol, citado por ele em seu artigo" 5uclides da Cuna, militante republicano,

avia sido afastado da 5scola Militar no &io de 'aneiro em 1... devido a um protesto

que protagoni*ou perante o ministro da guerra da monarquia durante visita deste 3quele

estabelecimento" ) seguir, passou algum tempo em #ão Paulo, onde, do final daquele

ano at< o in!cio do seguinte, publicou uma s<rie de artigos sob o pseudnimo de

Proudon no então  Província de São Paulo" &abelo, 1/88, pp" 0.-612 5m um deles,

contradi*endo seu escrito posterior, considera Proudon o Fpensador mais original de

nosso s<culoG, afirmando mesmo que os republicanos do Brasil poderiam intitular-se

anarquistas no sentido da l%gica proudoniana e não na de inimigos da ordem que les

atribu!am" Cuna, 1/88, p" 7782 5uclides, de seu republicanismo inicial, teria evolu!do

 para um vago socialismo, tendo, a partir da!, cessado sua tra$et%ria ideol%gica, Ftendo

estagnado sua marca inquieta de pensador de novos rumos para a cultura brasileira,

dedicando-se unicamente ao seu métier  de escritor, burilando os per!odos, descarnando-os de qualquer ganga, dei9ando-os lisos e velando mais pela arquitetura formal do que

 pelo destaque da ess4nciaG" Moura, 1/86, p" 11/2 ) 5uclides tamb<m < atribu!da a

autoria $unto com Erancisco 5scobar2 do manifesto do Clube =nternacional Eilos do

Krabalo, lançado em 1O de Maio de 1/>1" )lguns contestam sua participação na

redação do documento +ias, 1/, pp" 0.-0/2, alegando que ele trata-se apenas de

uma e9posição do que significaria a data, com apelos a um vago socialismo de fundo

0 &efer4ncia aos anarquistas que defendiam a Fpropaganda pelo fatoG, principalmente com a e9plosão de bombas e atentados contra membros da burguesia e do 5stado"

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umanitário" @o entanto, argumenta-se que uma comparação desse te9to com os outros

dois sobre o 1O de Maio assinados por 5uclides revelam bastante semelança nos

conceitos apresentados" Moura, 1/862 ) 1O de Maio de 1/>6, 5uclides publicaria o

artigo intitulado FAm Selo ProblemaG mais uma ve* no  Estado de São Paulo, em que

afirma que foi com Mar9 Feste infle9!vel adversário de ProudonG2 que o socialismo

cient!fico começou a usar uma linguagem firme, compreens!vel e positivaG, di*endo

acreditar nas posições socialistas Fcorretamente evolucionistas e que se cegaria ao

socialismo atrav<s do processo normal de reformas lentas, operando-se na consci4ncia

coletiva e refletido-se pouco aos poucos na prática, nos costumes e na legislação escrita,

continuamente meloradasG" Moura, 1/86, p"1>D Cuna, 1/88, pp" 1/> e segs"2

Para o ano de 1./, valeria destacar tamb<m comemoração que os socialistas

teriam reali*ado na cidade de #antos e a primeira comemoração pblica do 1O de Maio

em Porto )legre, promovida pelo semanário  LAvennire, editado naquela cidade desde

1 de fevereiro daquele ano, por um grupo de italianos oriundos da Colnia Cec!lia,

fundada pelo anarquista (iovanni &ossi no Paraná" Kendo como lema a divisa em latim

 La!or Omnia "incit   I; Krabalo Sence KudoJ, esse $ornal tirou poucas edições, e

contava entre seus colaboradores com o m<dico Erancisco Colombo Neoni, (io Paolo

Nocatelli e 5gidio (ianinni" ; $ornal terminou quando estourou a camada &evolução

Eederalista no &io (rande do #ul no ano seguinte, depois de um duelo entre Colombo

Neoni e Cesare Pelli, diretor do $ornal O Italiano, tamb<m editado naquela cidade"

Marçal, >>6, pp" /0-/62

;s anarquistas que tentaram organi*ar manifestações no 1O de Maio de 1./6 em

#ão Paulo, embora libertados da prisão em de*embro daquele mesmo ano, continuaram

sob vigil:ncia policial" 5 tão logo sa!ram da prisão voltaram a $untar esforços para que

 $á no ano posterior ouvesse uma comemoração do 1O de Maio na capital bandeirante"

 @a noite de 1 para 1. de março de 1./7 a pol!cia paulistana prendeu NucianoCampagnoli e )ttilio Senturini, quando eles distribu!am e colavam nos muros

manifestos anarquistas pelos subrbios da cidade" ) seguir, a pol!cia procedeu a buscas

nas casas de diversos militantes, apreendendo numerosos livros e publicações de

 propaganda revolucionária e procedendo 3 prisão de )rtur Campagnoli, (iuseppe

Consorti, Nudovico Kavani e )ndr<a )lemo" #egundo relat%rio do cefe de pol!cia de

#ão Paulo, Bento Pereira Bueno Fdo interrogat%rio dos presos saiu a confissão franca de

que eram propagandistas convencidos e ardentes do socialismo anarquista, solidárioscom todas as manifestações dessa crençaG" Pineiro e Rall, 1/.1, pp" 6>-612 ; 1O de

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Maio de 1./7 conseguirá ser comemorado no litoral do estado, em #antos" ) cidade

 possu!a um Centro #ocialista com biblioteca, fundado por #ilv<rio Eontes m<dico

sergipano radicado na cidade, cu$o filo, o poeta e tamb<m m<dico Martins Eontes seria

um destacado anarquista durante toda a vida2, #%ter )ra$o e Carlos 5scobar" Ninares,

1/, p" 02 5sse grupo passaria editar a revista quin*enal A #uestão Social  a partir de

setembro do mesmo ano e que $á no 1O de Maio de 1./8 lançaria sua edição nmero 17"

 @o interior do estado, em #ão 'os< do &io Pardo, outro grupo socialista teria

conseguido comemorar o 1O de Maio seguinte, comemoração que teria sido inofensiva,

com passeata, banda de msica e foguetes" @o entanto, tal comemoração, que estaria

entre as pioneiras no pa!s, tem sido contestada por memorialistas como 5verardo +ias

1/, p" 072"

Ama caracter!stica das primeiras omenagens aos mártires de Cicago era a

comemoração não s% do 1O de Maio, mas da data de sua e9ecução, que ocorreu a 11 de

novembro de 1.." )s autoridades tamb<m mantinam intensa observação sobre os

militantes operários, visando reprimir quaisquer manifestações naquela data" 5m 1./.,

em #ão Paulo, sua atenção deve ter sido redobrada pelo fato de que no 1O de Maio

daquele ano ouve uma intensificação da propaganda em todo o estado, tendo diversos

oradores reali*ado confer4ncias em #antos, #ão Paulo, 'undia!, Campinas e &ibeirão

Preto"6 )l<m disso, na capital, no Keatro Politeama, cerca de mil pessoas assistiram a

numerosos poemas e discursos feitos por anarquistas como Ben$amim Mota e Polinice

Mattei" ;utro anarquista, (igi +amiani, recusa-se a tomar a palavra para não provocar

desacordo nem suscitar a desordem, pois a manifestação era promovida em con$unto

com os socialistas e ouve uma proposta aprovada de se encaminar ao Congresso

 @acional uma petição com reivindicações operárias" À tarde ouve uma passeata pelas

ruas do centro da cidade at< o Nargo de #" Erancisco e, 3 noite, a representação da peça

teatral $apital e %ra!al&o" #ei9as, 1//, p" 2 ) > de setembro, Polinice Mattei seriamorto a tiros por membros da sociedade patri%tica italiana Anione Meridionale,

estreitamente ligada 3 repressão pol!tica de então, e comandada pelo capitão @icolao

Matara**o, ao participar de contra-manifestação 3 comemoração de data patri%tica

italiana promovida pela Anione Meridionale" #eu enterro, que partiu da #anta Casa, foi

severamente vigiado pela pol!cia e a multidão por pouco não foi dispersada pela

cavalaria, quando oradores se sucediam 3 beira da sepultura de Mattei"

6  Cf" artigo de Ben$amim Mota, F@otas para a Rist%ria U Siol4ncias Policiais contra o Proletariado U;ntem e Ro$eG" =nH A Ple!e, 01Q>7Q1/1/" Kranscrito em Pineiro e Rall, 1//, p" 6"

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) 1> de novembro, anarquistas e socialistas, tais como (igi +amiani, Brusci,

Veferino Bartoloma**i, Ben$amim Mota e 5stevão 5strela, assinam um manifesto

con$unto sobre a data do dia seguinte" Ben$amim Mota 1.>-1/6>2, advogado e

 $ornalista, inicialmente republicano e abolicionista ao final da monarquia, começara a

interessar-se pela questão social durante as comemorações do 1O de Maio de 1./ e no

decorrer de 1./. dirigira duas publicações anarquistas e publicara o primeiro livro sobre

anarquismo de autor brasileiro,  Re!eldias Mota, 1./.2, contendo crnicas publicadas

na imprensa paulistana"

 @a noite de 1> de novembro de 1./. a pol!cia emitiu ordem de prisão contra

todos os signatários do documento" +amiani, Brusci e Bartoloma**i foram arrancados

de suas casas durante a noite e 5stevão 5strela preso em um baile a que fora com a

fam!lia" Mota resistiu 3 investida policial em sua casa, ameaçando atirar em quem

invadisse seu domic!lio, acabando por escapar 3 prisão" Mota, 1./.2 ) pol!cia

querendo $ogar a opinião pblica contra os militantes detidos, emitiu um boletim em

que afirmava aver prendido dois anarquistas que pretendiam envenenar os

reservat%rios de água que abasteciam a cidade" ; $ornal O Estado de São Paulo em seu

noticiário endossou as alegações policiais" Mota e 5strela vieram a pblico pelas

colunas dW A Platéia, com veemente artigo desmentindo as inf:mias da repressão"

Processados pelo policial &angel de Ereitas, este acabou por retirar a quei9a" Mota,

1./.2 ) partir de 1/>>, a comemoração do 11 de novembro tornou-se mais dif!cil, pois

a data coincidia com o aniversário do rec<m entroni*ado rei da =tália, Sit%rio 5manuel

=== seu antecessor, o rei Rumberto, fora morto pelo anarquista (aetano Bresci2,

alegando a pol!cia que a comemoração nessa data constituiria uma ofensa 3s

representações diplomáticas italianas" @o entanto, a repressão continuou tamb<m sobre

o 1O de Maio" @o ano anterior as manifestações em #ão Paulo foram reprimidas,

conforme noticiou at< mesmo a imprensa de outros estados, como o  'i(rio da %arde deCuritiba, que a 7 de maio noticiava Fontem, em #ão Paulo, muitos anarquistas fi*eram

grande passeata dando vivas sediciosos" ) pol!cia dispersou-osG Cardoso e )ra$o,

1/.8, p" 62

5m 1/> < enviado pro$eto de lei 3 C:mara dos +eputados, tornando a data

feriado nacional, o que s% viria a acontecer mais tarde" ) imprensa burguesa passa a

enaltecer a data com uma ret%rica va*ia, que busca mascarar seu verdadeiro significado

 para o proletariado mundial, como o  'i(rio da %arde  de Curitiba, no 1O de Maio de1/>H

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Cnscios de que representavam uma força poderosa, procuraram os operáriosunir-se, congregar-se sob a <gide brilante do amor e da pa*, e, qual novoscru*ados, caminam desassombradamente 3 conquista da 'erusal<m dofuturo" Para as almas e9austas de sofrimento, a esperança < o bálsamosuavi*ador por e9cel4ncia" )! esse anseio, esta alegria sã, que emana de todos

os corações, no dia de o$e, florescidos como uma promessa de um futuro deabsoluta $ustiça" Cardoso e )ra$o, 1/.8, p" 62

)s autoridades permitem sua comemoração, desde que esta ocorra em ambiente

fecado, como nos conta 5verardo +iasH

)qui, em #ão Paulo, começou a comemorar-se a data de 1O de Maio, desde1/>0 ou 1/>6, mas sempre em locais fecados, em salões a pagamento, sob aforma aparente de festivais, levando 3 cena dramas de profunda compreensãoumana, como 'oão 'os<, ; =nfantic!dio ou Crime 'ur!dico, uma confer4nciaem seguida e depois baile, que era o camari* para a $uventude" I"""J Mas

sempre em locais fecados, salões de aluguel, at< que se conseguiuorgani*ação atrav<s das Nigas de &esist4ncia e se obteve consentimento policial, sob responsabilidade, para um com!cio em praça pblica" I"""J Comosempre acontece, ap%s o com!cio, veio o desfile pelas ruas da cidade, comc:nticos +ias, 1/, pp" 0-0.2

; fato de o 1O de Maio no in!cio do s<culo TT $á se acar enrai*ado como data

dos trabaladores entre os operários < demonstrado pelo fato de que em abril de 1/>6

um grupo de 18 trabaladores da construção civil de #antos fundou um sindicato com a

denominação de #ociedade Primeiro de Maio, de que foi eleito presidente o anarquista

#everino (onçalves )ntuna" ) sociedade instalou uma biblioteca e um curso para oss%cios, entrando imediatamente no terreno das reivindicações sociais" #antos, então

segundo porto do pa!s, avia esmagado a concorr4ncia de portos menores no

escoamento da produção de caf< de #ão Paulo, em decorr4ncia da construção da estrada

de ferro #antos-'undia! em 1.8" 5m breve seria denominada a FBarcelona brasileiraG,

em vista da combatividade dos que ali trabalavam, em luta contra a poderosa

Compania +ocas de #antos, com monop%lio para e9plorar o porto, concedido pelo

governo federal e uma pol!cia e9tremamente violenta e arbitrária na repressão amovimentos grevistas" (itaX, 1//, p" 812

Yuanto aos desfiles operários pelas ruas, estes constitu!am uma prática adotada

mesmo em outras ocasiões que não o 1O de Maio" ; $ornal da categoria dos padeiros do

&io de 'aneiro, O Pani)icador , em sua edição de 1O de $aneiro de 1/>>, reprodu*iu um

relato de M" #" Pino sobre comemorações ocorridas a 17 de de*embro do ano anterior,

com um desfile daqueles trabaladores pelas ruas do centro do &io, que contou com o

concurso da banda de msica do 0O batalão de infantaria do corpo de pol!cia" =ndo 3redação do  *ornal do +rasil , delegados dos padeiros receberam o estandarte da

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associação ali depositado" ; corte$o seguiu em visita 3s redações dos demais $ornais

então editados no &io, presenteando os $ornalistas com cartões-cromo alusivos 3 data"

Kendo como destino o Cassino 5spanol, os trabaladores ali se detiveram para uma

sessão solene, capitaneada por 5varisto de Moraes, advogado ligado ao incipiente

sindicalismo de então e preocupado com a organi*ação dos operários no $ogo da pol!tica

institucional" Carone, 1//, pp" 16.-16/2

;s corte$os operários, animados por bandas de msica, com queima de fogos de

artif!cio, conferiam um ar festivo 3s comemorações operárias" ; que se convencionou

camar de Fcarnavali*açãoG das datas operárias" 5sse aspecto das manifestações

operárias tamb<m ocorria no 1O de Maio, principalmente no &io de 'aneiro, provocando

a cr!tica severa dos anarquistas, que ali en9ergavam o desvio do foco daquela data como

dia de luta e protesto dos trabaladores, servindo assim aos prop%sitos alienantes de

 patrões e autoridades"

+essa forma, o $ornal anarquista  A ,reve, que começou a ser publicado no &io

de 'aneiro $ustamente a 1O de Maio de 1/>0, em sua edição nmero , de 17 de maio,

comenta o 1O de Maio passado" 5m mat<ria assinada por Paus!lipo da Eonseca 1./-

1/062, ele camou a atenção para o fato de que

rego*i$ou a imprensa burguesa com o fato dos feste$os do primeiro de maioassumirem um caráter francamente carnavalesco, e felicitou o operariadodesta cidade por ter soleni*ado a significativa data de maneira tão rid!cula edeprimente" Confrangeu-nos o coração vermos tantos omens servirem deinstrumentos inconscientes a uma detestável mascarada, percorrendo as ruassob o batuque de bandas marciais e a estacionarem de redação em redação

 para ouvirem discursos que eram verdadeiros insultos atirados 3s suas faces"I"""J  A ,reve, 1/>02

; 1O de Maio do ano seguinte não decorreu de forma melor" ) 16 de maio de

1/>6, Manuel Moscoso Z-1/12 comenta como transcorreu a data no &io no  Amigo do

 Povo, $ornal anarquista publicado em #ão Paulo desde 1/>" =niciando seu artigo F; 1O

de Maio no &ioG de maneira irnica, di* que a burguesia fluminense a princ!pio deve ter

se assustado com a grande movimentação nos meios operários nos dias que antecederam

o 1O de Maio, pensando tratar-se talve* de preparativos revolucionários"

#egundo Moscoso, logo o medo dos burgueses passou, ao verificarem que Ftoda

aquela atividade era destinada a preparar coisas mais importantes do que todas as

emancipações do mundoH os estandartes e as coroas, as bandeiras para as sedes das

associações, as bandas de msica da pol!cia, e9<rcito e marina, as fitinas U a 7>> r<is

cada uma U para o braço ou para os lap<is, as missas por alma de companeiros mortos,

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e assim por dianteG"

Moscoso prossegue deplorando Fo estado de incultura em que se encontra a

classe operária desta capitalG, $á que ali os operários teriam interpretado o 1O de Maio

como qualquer festa religiosa" )inda de acordo com Moscoso, naquele 1O de Maio

 puderam ser observadosH

5standartes alusivos a datas e pessoas santos2, coroas sobre andorescarregadas ao ombro por crianças, inos 3 liberdade, 3 umanidade, 3 pa*universal outros tantos santos e virgens2, inaugurações com profusão de

 bandeiras, sessões solenes onde oradores I"""J pregam sermões que terminame9ortando o operário a esperar" O Amigo do Povo, 70, 1/>62

Moscoso destacava ainda em sua cr!tica ao 1O de Maio daquele ano os elogios da

imprensa burguesa 3s comemorações, reprovando as iniciativas tomadas pela Anião

;perária do 5ngeno de +entro, as manifestações de apreço de operários a patrões na

fábrica de calçados (lobo, o convite a pol!ticos para presidirem cerimnias em

associações operárias no caso o senador =rineu Macado2 e a sessão solene da

maçonaria" Sia apenas como ponto positivo nas comemorações da data naquele ano no

&io o envio pelo Centro das Classes ;perárias Fcapela onde < adorado o doutor Sicente

de #ousa, seu eterno presidenteG2 de carta de protesto ao *ornal do +rasil , considerando

indignas as reali*ações de tais festas" 5mbora o caráter festivo de que começava a

revestir-se o 1O de Maio fosse mais acentuado no &io de 'aneiro, tamb<m ocorria em

outras regiões" @o mesmo nmero do  Amigo do Povo, em que estava estampada a

mat<ria de Moscoso, tamb<m era veiculada correspond4ncia enviada de Porto )legre

 pelo (rupo dos Romens Nivres condenando atitudes semelantes ocorridas na capital

gaca" 5m contraste, o $ornal apresentava relato dos eventos ocorridos naquela data em

#ão Paulo, que apresentavam um caráter mais libertário"

) questão de evidenciar o verdadeiro sentido do 1O de Maio torna-se $á tão

importante que o = Congresso ;perário Brasileiro, reali*ado no &io de 'aneiro, de 17 a> de abril de 1/>8, dedica uma parte de suas resoluções sobre orientação a esse tema"

; congresso, reali*ado na então capital federal, primeiro de uma s<rie de tr4s que se

reuniriam depois em 1/10 e 1/>, contou com a presença de 60 delegados sindicais, e

resultou na fundação da Confederação ;perária Brasileira, primeira central sindical de

caráter nacional, orientada pelos princ!pios do sindicalismo revolucionário de origem

francesa" #uas resoluções inclu!am o endosso 3 id<ia de ação direta com m<todo de luta

social, da criação de sindicatos com minoras militantes e a não participação dostrabaladores na pol!tica institucional, concentrando-se estes, na luta econmica"

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 @a parte de suas resoluções voltada para as comemorações do 1O de Maio, o

congresso afirmava que os operários aceitavam a e9ist4ncia de uma luta de classes

Fque ele não criou, mas se v4 obrigado a aceitarG2 e que, portanto, Fnão se pode reali*ar

uma [festa do trabaloW, mas sim um protesto de oprimidos e e9plorados, lembrando o

sacrif!cio dos Mártires de CicagoG" Por conseq\4ncia, o congresso, em suas resoluções,

verberava e reprovava

as palaçadas feitas no 1O de Maio com o concurso e complac4ncia dossenoresD incita o operário a restituir ao 1O de Maio o caráter que lecompete, de sereno mas desassombrado protesto, e de en<rgica reivindicaçãode direitos ofendidos, e ignoradosD estimula vivamente as organi*açõesoperárias 3 propaganda das reivindicações e afirma o 1O de MaioD I"""J ocongresso aconsela os operários e respectivos sindicatos que, no caso emque esta data se$a decretada dia feriado, iniciem uma forte propaganda no

sentido de patentear incompatibilidade da adesão do 5stado a talmanifestação, que < revolucionária e de luta de classe, apontando o seutrágico ep!logo a 11 de novembro de 1.." Pineiro e Rall, 1//, p" 62

)l<m disso, o = Congresso decide, na parte dedicada 3 ação operária, convidar os

trabaladores a iniciar uma greve no 1O de Maio de 1/>, com vistas 3 adoção da

 $ornada de . oras de trabalo" Pineiro e Rall, 1/.1, p" 702

) greve geral e9plode no 1O de Maio de 1/>, tendo como epicentro a cidade de

#ão Paulo" +ias, 1/, pp" 87-8D &oio, 1/.8, pp" 11>-1112 ) pol!cia, de sobreaviso,

 pro!be a concentração em praça pblica naquela data, tendo tropas ocupado a Praça da#<" @o entanto, a Eederação ;perária de #ão Paulo convoca para um com!cio em sua

sede 3s 16 oras, que fica superlotada, sendo ali distribu!dos manifestos alusivos 3 data

e $ornais sindicalistas revolucionários e anarquistas como Luta Prolet(ria, O Padeiro, O

$&apeleiro, %erra Livre  e  -ovo Rumo" ;s oradores, inflamados, insistem sobre a

questão da $ornada de trabalo de . oras, conclamando os operários 3 greve" Cegam

not!cias de cidades do interior do estado, solidari*ando-se com o nascente movimento

grevista" ) pol!cia efetua diversas prisões 3 sa!da do ato" ) 6 de maio, os metalrgicosentram em greve, seguidos a 7 de maio pelos operários da construção civil" @o dia < a

ve* dos canteiros, serrarias, fábricas de pentes e barbatanas, pintores e lavanderias" +o

dia . a do m4s de maio, mais 1. categorias profissionais $untam-se aos grevistas" )s

 paralisações estendem-se a outras cidades do estado como Campinas, #ão Bernardo do

Campo, &ibeirão Preto, =tu e #antos"

) 1 de maio os operários do importante Moino #antista tamb<m se declaram

em greve, com a pol!cia como sempre espancando e prendendo grevistas" ) 1 de maio

os industriais paulistas renem-se para deliberar sobre a greve, resolvendo pedir 3

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 pol!cia que intensifique a repressão e 3 imprensa que não d4 muita cobertura aos

acontecimentos da greve para não influenciar operários que ainda poderiam aderir ao

movimento" Am dos empresários ali presentes declara que as oito oras não devem ser

concedidas, pois os operários passariam o tempo gano em botequins e festas" ) pol!cia,

alguns dias depois, $ustifica as prisões em massa e a depredação de sedes operárias com

o prete9to de que Fa greve foi provocada por alguns anarquistas, agitadores de of!cio,

 pagos por governos estrangeiros para matar a nossa indstria"G ) greve s% terminaria

totalmente em 17 de $uno, com as diversas categorias paralisadas voltando

gradativamente ao trabalo, tendo quase todas as corporações conseguido as oito oras

de trabalo, o que aconteceu tanto em #ão Paulo quanto em #antos, Campinas, &ibeirão

Preto, )raraquara, #ão Bernardo, #ão Carlos, #alto de =t, 'undia! e Cravinos"

) partir desse ist%rico 1O de Maio, a data se fortalece em termos de luta social e

de protesto" Pelos anos seguintes, < de se notar a crescente participação do pblico

operário nos eventos da data direcionados para seu sentido real" Pinçando alguns

e9emplos, no 1O de Maio de 1/>/ em Curitiba, o orador 'os< Nopes @etto, da Eederação

;perária do Paraná foi ovacionado ao pronunciar discurso sobre o verdadeiro sentido

das comemorações, levando a multidão a cantar em un!ssono o ino ./ de Maio  do

anarquista italiano Pietro (ori" 5m sua oração, Nopes afirmou que Fa data representava

o despertar moral de uma classe pu$ante e forte, que parecia dormir sobre os louros

colidos nos campos das reivindicações sociaisG" Cardoso e )ra$o, 1/.8, pp" 0>-012

5m 1/1, sob o tema Forgani*ação sindical e protesto contra o custo de vidaG ouve

grande manifestação a partir das . oras da manã no Nargo da Conc%rdia em #ão

Paulo" ) seguir, ouve um com!cio da Eederação ;perária de #ão Paulo no #alão Celso

(arcia, interrompido com a cegada de numerosos operários oriundos dos bairros

 proletários do Brás e da Mooca, cantando a  Internacional   e sendo intensamente

aplaudidos" À noite reali*ou-se outro com!cio no Nargo #ão Erancisco, organi*ado porum grupo de estudantes da faculdade de direito que ali funcionava, que contou com

numerosa concorr4ncia, com a multidão permanecendo no local mesmo com a forte

cuva que desabou" +ias, 1/, p" 62

5m 1/10, em Porto )legre, destacaram-se as comemorações organi*adas pela

Eederação ;perária do &io (rande do #ul, cu$o secretariado contava com a participação

de vários anarquistas" Eoi reali*ado um com!cio que contou com a presença de cerca de

mil pessoas" ) seguir ouviu-se msica, e9ecutada pelas bandas da Nira ;perária e daNira ;riental, ouve participação em $ogos e foram pronunciadas palestras sociais"

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Petersen, >>1, p" /2

 @esse conte9to, não seria de estranar que os poetas libertários e9ercitassem sua

lira sobre a data, em uma prática que se tornou tradicional dentro da po<tica anarquista,

 produ*ida tanto por militantes que não eram escritores profissionais, quanto por aqueles

que pretendiam seguir uma carreira literária, como no caso do poeta anarquista Ma9 de

Sasconcelos 1./1-1/1/2, que no 1O de Maio de 1/10 publicava na "o0 do %ra!al&ador ,

%rgão da Confederação ;perária Brasileira, editado no &io de 'aneiro, e $á em sua

segunda fase 1/10-1/172H

+ia grande e cruel 3 mem%ria operáriaRinos brancos de Pa*" Rinos rubros de (uerra") Bandeira do )mor que se fe* incendiáriaL+ata fatal que em si ao mesmo tempo encerra

) promessa do bem ao coração do Pária5 $uramentos de ]dio aos senores da Kerra^;lar perdido al<m,

 @um sono em que se v4m o Mundo Comunista;u se lembram talve* os mortos de Cicago^(rande marco militário 3 suprema conquista+o pa!s ideal onde se esplaina o NagoSerde-a*ul da Conc%rdia a consolar a vistaL_alendario^ ; #ol se ilumina se$a; ltimo a iluminar as grades da prisão;s muros do Yuartel e as facadas da =gre$aD5 amanã ao brotar do grande )stro o clarão,Yue a seus raios triunfais o Romem por fim se ve$a#obre a Kerra cantar, liberto do patrão^L

) tend4ncia do governo e das classes dominantes em transformar o 1O de Maio

em Ffesta do trabaloG adquire maior impulso a partir da d<cada de 1/1>" @o 1O de

Maio de 1/16, @eno Sasco 1..-1/>2, anarquista portugu4s que residira e militara no

Brasil durante de* anos, alerta, no artigo F; #ignificado do 1O de MaioG, publicado na

edição alusiva 3 data da "o0 do %ra!al&ador H

5is a festa do 1O de Maio, isto <, a manifestação proletária que ainconsci4ncia de uns, a astcia e velacaria de outros e a cumplicidade detodos redu*iram em tantas partes a uma absurda [festa do trabaloW, como lecamam os burgueses complacentes" I"""J S%s, s% o podereis feste$ar quandotiverdes conquistado" 5 < dessa conquista que se trata, tanto no 1O de Maiocomo nos outros dias"  A "o0 do %ra!al&ador , 70-86, 1/162

5m #antos, o $ornal anarquista  A Revolta, na mesma data, parece fa*er coro ao

artigo de @eno Sasco na "o0 do %ra!al&ador , escrevendo, no artigo F1O de MaioGH

;s governos, que sempre tratam de desvirtuar as coisas, $á cogitam, em toda

 parte, de fa*er do 1O de Maio um feriado" Yuando isto for verdade,trabaladores, então não se abandona mais o trabalo nesse dia, porque eleserá perdido completamente o verdadeiro sentido, e $á não será mais um dia

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de protesto, < o dia 1O de Maio sancionado pela lei"  A Revolta, 1/162

 @o entanto, a consci4ncia do 1O de Maio classista e de lembrança dos mártires de

Cicago $á se encontra bem difundida entre o operariado brasileiro" 5m Manaus, o

tamb<m anarquista Luta Social  conclama neste 1O de Maio, por meio do artigo F+ata de#angueG, de Eernandes SarelaH

Samos, pois, operários de Manaus^ Samos di*er bem alto que tamb<m aqui,neste colossal )ma*onas, surgiu e frutificará a árvore grandiosa da )narquia,que á de albergar a umanidade com a mesma sombra, porque todos somosiguais em direitos"  A Luta Social , 1/162

) preocupação em esclarecer os operários sobre o real significado da data

continuará no ano seguinte em que, $á iniciada a Primeira (uerra Mundial, os operários

voltam-se para o antibelicismo, tendo, neste sentido, reali*ado grande com!cio no Nargo

de #ão Erancisco no &io de 'aneiro, lugar tradicional de manifestações operárias,

com!cio que terminou com passeata pelo centro da cidade com vivas 3 =nternacional dos

Krabaladores e repdio 3 guerra" &oio, 1/.8, p" 1012 ; 1O de Maio seguinte

confirmaria o tom antib<lico da manifestação internacionalista e antimilitarista do ano

anterior, com a publicação anarquista do &io de 'aneiro -a +arricada, escrevendoH F;

Primeiro de Maio, dia simb%lico da luta internacional antipatronal está o$e mancado

de sangue traidor, nas trinceiras de lama e da degradação das frentes de batala"G  -a +arricada, 1/182

%et&lio 'ar(as) omunistas e reormistas 

 @o 1O de Maio de 1/1., com o Brasil $á tendo entrado na guerra desde outubro

do ano anterior, os operários reali*am grande com!cio no teatro Maison Moderne na

Praça Kiradentes, no &io de 'aneiro, com a presença de cerca de 0 mil pessoas, em que

e9pressam votos para a conclusão de uma pa* em separado entre os proletários de todoo mundo" ) revolução ocorrida na &ssia no ano anterior mobili*ava os anarquistas e

sindicalistas revolucionários, que acreditavam que esta seguiria rumos libertários"

)ssim, os operários reunidos no Maison Moderne tamb<m manifestam sua Fprofunda

simpatia pelo povo russo, nesse momento em luta aberta contra o capitalismo e o

5stadoG" &oio, 1/.8, p" 1072

) atitude resoluta dos anarquistas em pregar o internacionalismo proletário em

tempo de guerra, assim como a inserção em lutas populares como a que foi empreendida

contra a alta do custo de vida e o desemprego que se alastrava pelos meios operários em

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função de menores orários nas fábricas, provocados pela superprodução, assim como a

 $á citada eclosão da &evolução &ussa, que encia de esperanças de transformações

sociais os oprimidos, serão os fatores que levarão a que o 1O de Maio de 1/1/ tena uma

intensa participação dos trabaladores, principalmente no &io de 'aneiro" ; barbeiro e

militante anarquista de origem portuguesa )m!lcar dos #antos nascido em 1/>>2, que

delas participou, mais tarde relatariaH

; 1O de Maio de 1/1/ foi uma manifestação sem precedentes no &io de'aneiro" ) pol!cia e o governo ficaram preocupados seriamente" @a )venida&io Branco, ceia desde a Praça Mauá at< a Praça Eloriano Pei9oto, aviavárias tribunas, onde oradores anarquistas defendiam as suas doutrinassociais, sem o menor constrangimento" 5ssa grande massa umana, ao longoda )venida, dava vivas 3 liberdade e 3 igualdade" Como a pol!cia limitou-se,apenas, a observar sem nenuma interfer4ncia ou restrição, as manifestações

terminaram em pa*" Eloresciam, então, as associações operárias" ) pol!ciafecara a Eederação ;perária2, mas avia o Centro Cosmopolita, a Aniãodos Kecelões, a Anião dos ;perários em Construção Civil, a dos #apateiros,as duas ltimas na Praça da &epblica" &odrigues, 1/, pp" 87-882

; 1O de Maio daquele ano, $á definido como Fo mais brilante do BrasilG teve

com!cio-monstro no &io organi*ado pelo Partido Comunista, fundado a / de março

daquele ano" )pesar do nome, esse partido possu!a caracter!sticas libertárias e se

dissolveria em pouco tempo, ao perceberem os anarquistas os caminos autoritários e

estatais que os bolcevistas imprimiam aos acontecimentos na &ssia, apoderando-se da

revolução popular ocorrida naquele pa!s" ) então capital federal assistira em novembro

de 1/1. a uma tentativa insurrecional anarquista, abortada pela repressão policial" 5sse

com!cio reali*ou-se em torno da estátua do Sisconde do &io Branco na Praça Mauá, na

região portuária do &io" Bandeira, 1/8, p" 1.12 ;s militantes presos em conseq\4ncia

da tentativa insurrecional de 1/1. foram soltos a tempo de assisti-lo, menos cinco

operários detidos em Mag<, que foram ob$eto de uma das moções aprovadas no

com!cio, protestando contra sua detenção" )o com!cio, seguiu-se passeata, tendo 3

frente a comissão do PC libertário com seu pavilão" Cálculo da <poca indica que dela

teriam participado 8> mil pessoas" 5la se encerrou com novo com!cio, dessa ve* de

encerramento, com os oradores falando das escadarias do Keatro Municipal" Bandeira,

1/8, pp" 1.-1.02

Mas não s% no &io ouve manifestações grandiosas dos trabaladores" 5las

tamb<m ocorreram em @iter%i, na praça em frente 3 estação das barcas que fa*em o

tra$eto &io-@iter%i, palco de violentos conflitos entre grevistas e a pol!cia no ano

anterior" 5m &ecife, operários cantaram em coro a  Internacional  na sede da Eederação

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;perária de Pernambuco" 5m #ão Paulo não ouve comemoração da data, pois > mil

operários encontravam-se em greve, travando-se numerosos conflitos com a pol!cia, na

capital e em cidades do interior" Bandeira, 1/8, pp" 1.-1.02

Manifestações de tal magnitude voltariam a ocorrer no &io durante o 1O de Maio

de 1/" 5mbora naquele ano tivesse sido fundado um partido comunista de orientação

mar9ista-leninista, ele se uniu aos anarquistas nas comemorações, obedecendo a

instruções para formação de frentes nicas, emanada da 0` =nternacional de Moscou"

+ulles, 1/2

5m 1/0, as comemorações ressentiram-se do estado de s!tio vigente no pa!s" ;s

 protestos daquele ano ficaram marcados pela campana internacional pr%-#acco e

San*etti, os dois anarquistas italianos presos nos 5stados Anidos sob falsa acusação de

assalto ao pagamento de uma fábrica e que penariam na prisão durante anos at< serem

e9ecutados na cadeira el<trica em agosto de 1/, em um ato que abalou todos os

recantos do mundo" ; nmero de 1O de Maio do $ornal  A Ple!e de #ão Paulo publicou

uma carta de #acco e San*etti dirigida originalmente ao $ornal franc4s  Le Li!ertaire,

que foi lida em diversas assembl<ias operárias durante o dia 1O" ) Plebe, 1/02 )inda

no &io, 3 noite ouve com!cios em várias sedes sindicais" &odrigues, 1/8" pp" 8-12

; 1O de Maio de 1/0 marcou ainda o lançamento do $ornal A Revolu1ão Social , editado

 pelo grupo de comunistas libertários do &io de 'aneiro e que se organi*ava desde o

in!cio do ano" ; grupo levava o t!tulo do romance de um de seus principais membros, o

escritor Eábio Nu* 1.86-1/0.2, e se propuna a manter um Fanarquismo puroG,

considerando que o $ornal A Ple!e de #ão Paulo apresentava cada ve* mais tend4ncia a

adotar o sindicalismo como FideologiaG, em substituição ao anarquismo, depois da sa!da

de 5dgar Neuenrot 1..1-1/8.2 de sua redação" ; $ornal lançou poucas edições, mas

 provocou pol4mica nos meios anarquistas e operários" +ulles, 1/, p" 102

1/6 será o ano em que os com!cios de 1O de Maio no &io de 'aneiro passarão adividir-se entre dois logradouros pblicos" ; Partido Comunista do Brasil, a central

sindical comandada pelo l!der pelego #arandX &aposo e a Anião dos ;perários em

Eábricas de Kecidos conclamam seus filiados a comparecerem a com!cio na Praça Mauá"

) Eederação ;perária do &io de 'aneiro, sob orientação anarquista, convida os

trabaladores em geral a com!cio na Praça 11 3s 16 oras, ap%s sessão na sede da E;&'

ao meio dia" ;s participantes do com!cio da Praça 11, ap%s seu t<rmino, dirigem-se em

 passeata para o da Praça Mauá" +ulles, 1/, pp" 1.6-1.72 @o entanto, os doiscom!cios foram fracos, $á demonstrando o quanto as divisões internas nos movimentos

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1.

sindical e operário, causadas pelos pelegos e pelo PCB, $á aviam começado a miná-los

no que possu!am em termos de capacidade luta para transformações"

5m #ão Paulo, os anarquistas denunciaram no te9to do manifesto relativo ao 1O

de Maio as viol4ncias praticadas pelos bolcevistas na &ssia" @o entanto, os

comunistas fi*eram com que essas passagens fossem cortadas da redação final do

documento" ;s anarquistas demonstraram a seguir como o PCB e9ercia controle sobre o

comit4 das associações operárias, por tal motivo tendo censurado o te9to original do

manifesto" #ucedendo ao orador 'oão da Costa Pimenta que tina abandonado o

anarquismo pelo PCB2 durante os discursos no #alão Celso (arcia, em #ão Paulo, o

militante anarquista Elorentino de Carvalo 1..-1/62 voltou 3s acusações contra o

PCB, cu$os integrantes presentes tiveram que se retirar da reunião sob vaias da plat<ia"

5dgard Neuenrot, por sua ve*, respondendo a artigos aparecidos na imprensa do PCB

destaca, em  A Ple!e, a obra de de*enas de anos de luta incessante dos anarquistas"

+ulles, 1/, pp" 1.7-1.82

)lgum tempo depois do 1O de Maio daquele ano, e9plodiu em #ão Paulo o

camado Fsegundo 7 de $uloG, alusão aos dois levantes militares que se insurgiram

contra os governos da Primeira &epblica 1../-1/0>2" )rtur Bernardes, eleito

 presidente da repblica e tomando posse em 1/, será o alvo dessa segunda e tamb<m

fracassada tentativa de tomada do poder pelos militares revoltosos" ; segundo 7 de

 $ulo o primeiro fora em 1/2 significará a decretação de uma s<rie de medidas

repressivas por Bernardes, que, na verdade, s% ampliará medidas nesse sentido que $á

aviam começado a ser adotadas no governo de seu antecessor, 5pitácio Pessoa 1/1/-

1/2"

5pitácio, por sua ve*, tamb<m dera continuidade a antecessores ao deportar

grande nmero de militantes operários de origem estrangeira" )inda no governo de

Pessoa o decreto 6"6, de 8 de $aneiro de 1/1 sobre a entrada de estrangeiros tamb<mregulava medidas de deportação" ) 1 de $aneiro do mesmo ano era emitido o decreto

6"8/ que regulava e9pressamente a repressão ao anarquismo" ) 8 de novembro de

1/, em final de governo, 5pitácio Pessoa decretou um F&egulamento (eral de

Pol!ciaG" Bernardes, logo ao tomar posse, a > de novembro de 1/, assinou decreto

que, entre outras medidas relativas 3 pol!cia, institui a 6` delegacia au9iliar,

formali*ando assim a e9ist4ncia de uma pol!cia pol!tica na então capital do pa!s" #amis,

>>, pp" /0-/.2 Como cefe da nova repartição policial foi colocado o ma$or Carlos da#ilva &eis, significativamente mais tarde enviado 3 =tália Eascista, para estudar sua

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1/

legislação trabalista, com vistas 3 sua adaptação ao Brasil"

Para os anarquistas do Brasil, o per!odo Bernardes 1/-1/82, sob estado de

s!tio, vai caracteri*ar-se por prisões em massa, deportações e, acima de tudo, por serem

enviados para o campo de concentração de Clevel:ndia, no então territ%rio do )mapá,

 pr%9imo 3 fronteira com a (uiana, onde vários virão a morrer em conseq\4ncia de

fome, doenças e maus tratos" 5 < na pr%pria Clevel:ndia que um grupo de militantes

ácratas rene-se no 1O de Maio de 1/7 para comemorar seu dia de luta, segundo

depoimento de um deles, +omingos Passos, publicado no $ornal anarco-sindicalista  A

 +atal&a de Nisboa" #amis, >>, p" 062 @a mesma data, era lançado no &io de 'aneiro

um Partido #ocialista Brasileiro, com o apoio do PCB, com vistas a eleições que se

reali*ariam no ano seguinte" +ulles, 1/, p" 012

'á em 1/8, a vertente libertária do movimento operário tenta recuperar-se, mas

o 1O de Maio daquele ano apresenta pouca e9pressividade em comparação com o brilo

de maios anteriores" )lgumas poucas publicações libertárias em #ão Paulo e do &io

(rande do #ul menos atingido pela repressão2 relembram o verdadeiro significado da

data" &odrigues, 1/.8, p" 782 @o com!cio da praça Mauá no &io de 'aneiro, o e9-

anarquista Pedro Bastos, agora a serviço do PCB, vocifera contra o anarquista Carlos

+ias por ele ter sido escolido para representar os trabaladores brasileiros no

congresso da ;rgani*ação =nternacional do Krabalo em (enebra" +ulles, 1/, p"

6>2 +ois anos depois, Bastos estaria envolvido em um epis%dio no #indicato dos

(ráficos do &io de 'aneiro, em que membros do PCB atiraram sobre militantes

anarquistas indefesos, matando um deles, o sapateiro )ntonino +omingue*"

)s comemorações de 1/ no &io de 'aneiro ainda apresentam um certo brilo,

mas continuam mantendo a separação entre os com!cios da Praça 11 anarquistas2 e

Praça Mauá comunistas e pelegos2" Publicações libertárias dão destaque 3 data em

Porto )legre, #ão Paulo e &io de 'aneiro" 5m #ão Paulo,  A Ple!e  avia voltado acircular, mas por pouco tempo, pois seria novamente proibida ao dar destaque 3s

manifestações contra a e9ecução de #acco e San*etti nos 5stados Anidos agosto de

1/2" &odrigues, 1/.8, p" 862 @o com!cio da Praça 11 comparecem mais de 8> mil

 pessoas depoimento do militante anarquista Manuel Nopes2" &odrigues, 1/.8, p" 82

)t< 1// continuaram no &io de 'aneiro as manifestações do 1O de Maio, mas

sem a mesma e9pressividade de outros tempos" Ama nova era prenunciava-se com o

advento da d<cada de 1/0>, com a ascensão de (etlio Sargas ao poder")s oligarquias que comandavam a Primeira &epblica, institu!da em 1../,

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>

 passam a desentender-se" ) ruptura final ocorre em torno da sucessão presidencial de

asington Nu!s 1/8-1/0>2D (etlio Sargas, governador do &io (rande do #ul,

candidata-se 3 presid4ncia pela camada )liança Niberal contra o paulista 'lio Prestes,

candidato da situação" Prestes vence o pleito, em eleições fraudulentas, o que precipita

um movimento armado em outubro de 1/0>, que levaria (etlio ao Palácio do Catete,

sede presidencial no &io, por um Fcurto per!odoG de 17 anos, complementado por outros

tr4s 1/71-1/762, quando eleito por voto direto antes de seu suic!dio, em meio a grave

crise pol!tica"

+urante a era Sargas o sindicalismo livre, que avia permitido um formidável

vetor social aos anarquistas, sofrerá duros golpes, de certa forma antecipados no

governo de Bernardes" ) d<cada de 1/0> verá surgir no Brasil um poderoso partido de

inspiração fascista, a )ção =ntegralista Brasileira, que cega a se constituir em

movimento de massas com centenas de milares de filiados por todo o Brasil" Sargas,

 por sua ve*, embora com uma apro9imação cada ve* maior dos governos das pot4ncias

na*i-fascistas, que contavam com numerosos simpati*antes entre a elite pol!tica e social

 brasileira, acabará enganando os fascistas locais e instalando sua pr%pria ditadura em

1/0, ap%s esmagar tentativa insurrecional do PCB em 1/07" ) ofensiva varguista em

relação aos sindicatos se dará em tr4s frentesH

1"2  Repressão policial " Com o aperfeiçoamento do aparato policial de caráter

 pol!tico erdado da antiga repblica vide Bernardes2, tomando como modelo aparelos

repressivos montados pelas pol!cias fascistas europ<ias" Kal repressão terá grande

incremento a partir dos acontecimentos de 1/07, com prisões em massa, torturas e

assassinatos de liberais e militantes de esquerda os anarquistas entre eles2"

"2 Emissão de legisla1ão incidindo so!re o movimento sindical " Kal legislação

criou de imediato o Minist<rio do Krabalo, =ndstria e Com<rcio +ecreto 1/"660, de

> de novembro de 1/0>2, basicamente encarregado de controlar pelo governo a questãosindical" ;utras leis emitidas no per!odo Sargas restringiam o acesso aos cargos

sindicais apenas a pessoas previamente avaliadas pelas autoridades, obrigando os

trabaladores a possu!rem um nico sindicato para cada categoria e instituem o imposto

sindical" )p%s o golpe de estado de 1/0, apenas os sindicatos reconecidos pelo

governo ou se$a, sob seu dom!nio2 teriam e9ist4ncia legal reconecida" Moraes Eilo,

1/., pp" 18 e segs"2 Para adoçar estas e outras medidas, diretamente copiadas da

legislação fascista italiana, Sargas decreta em 1/60 a Consolidação das Neis doKrabalo, que garantia direitos básicos ao trabalador, no mesmo ano em que falando no

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1

rádio no 1O de Maio insiste sobre a necessidade da sindicali*ação obrigat%ria, lançando

campana neste sentido" Moraes Eilo, 1/., pp" 78 e segs"2

0"2  Apropria1ão do ./ de Maio por "argas" Para efeito de propaganda,

 principalmente a partir da implantação do 5stado novo, em 1/0, o 1O de Maio torna-se

uma festa getulista, receada de cerimnias e desfiles, com Sargas discursando aos

Ftrabaladores do BrasilG, enquanto muleres, colegiais e desportistas marcavam

disciplinadamente para agradecer direitos recebidos de Sargas Fpai dos pobresG e Fmãe

dos ricosG"

)pesar dessa ofensiva autoritária sobre o sindicalismo livre, á resist4ncia por

 parte dos trabaladores pela domesticação e cooptação de seu movimento" ) 1O de maio

de 1/01, a Anião ;perária do Paraná relembra a origem do 1O de Maio como dia de

 protesto e luta em seu $ornal O Oper(rio, mais uma ve* protestando contraH Fuma das

mais clamorosas in$ustiças registradas nas páginas da ist%riaH o enforcamento, numa

das praças pblicas de Cicago, nos 5stados Anidos, dos idealistas proletáriosG"

Cardoso e )ra$o, 1/.8, p" 7>2

#ignificativamente, o 1O de Maio de 1/01 passou-se entre conflitos entre a

 pol!cia e os manifestantes, principalmente no &io de 'aneiro com dois feridos 3 bala2 e

em &ecife" 5m 1/0, mesmo com uma cena pol!tica tumultuada, que culminaria em

 $uno com uma revolta da oligarquia paulista, que se sentia preterida por Sargas, na

camada &evolução Constitucionalista, o 1O de Maio < comemorado na capital daquele

estado com diversos com!cios promovidos pela Eederação ;perária e os sindicatos a ela

filiados em vários bairros da cidade" &odrigues, 1//0, p" 1/2 @aquele ano, camam

novamente a atenção as comemorações em Curitiba, que apontam para a origem

classista da data, relembrando os mártires de Cicago, contrapondo-se 3queles que dela

 pretendem fa*er apenas um momento festivo" Cardoso e )ra$o, 1/.8, pp" 7>-71D

&odrigues, 1/8, p" 0612 @o &io de 'aneiro, os trabaladores distribu!ram um manifestoconclamando os operários a manterem-se 3 margem da pol!tica institucional e eleitoral,

apelando pela sua união, pela liberdade sindical, contra os fascistas, a =gre$a Cat%lica,

Fos pseudo-socialistas, pseudo-comunistas, provocadores e ambiciososG" &odrigues,

1//0, p" >2

em Curitiba que a Eederação ;perária do Paraná, ainda sob forte influ4ncia

anarquista, lança seu $ornal ./ de Maio, no 1O de maio de 1/00" 5m #ão Paulo, na

mesma data, os capeleiros lançam seu $ornal O %ra!al&ador $&apeleiro, sob a bandeira anarco-sindicalista, totalmente dedicado aos Mártires de Cicago" Mas as

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manifestações foram proibidas pelas autoridades" Mesmo assim, a Eederação ;perária

de #ão Paulo convocou um com!cio na Praça da #<" Com a suspensão do com!cio pela

 pol!cia, centenas de trabaladores marcaram at< 3 sede da federação cantando a

 Internacional " ) pol!cia então invadiu a sede da Eederação ;perária de #ão Paulo,

interditando-a por dois dias e prendendo todos os que ali se encontravam, s% os

libertando 3 noite" +ulles, 1/, pp" 6>-6>.2 @o &io de 'aneiro, a escalada fascista

resultava na fundação, durante o 1O de Maio, de uma publicação destinada a combat4-la,

um $ornal tamb<m denominado Primeiro de Maio" &odrigues, 1//0, p" 072

 @o ano seguinte, em um primeiro de maio denominado de Fmaio sem solG, as

comemorações em #ão Paulo iniciaram-se a 0> de abril, com um festival de

confraterni*ação no #alão Celso (arcia, com a presença dos sindicatos filiados 3

Eederação ;perária de #ão Paulo, confer4ncia e representação de peça de teatro social"

 @o dia seguinte, as comemorações transferiram-se para a sede da federação, onde se

constituiu um Plenário-Confer4ncia Pr%-;rgani*ação da Confederação ;perária

Brasileira, central sindical de inspiração anarco-sindicalista, e visando 3 reali*ação do 6O

Congresso ;perário @acional" &odrigues, 1//, pp" 0>>-0>D &odrigues, 1//0, pp"

06-072 )s comemorações ocorrem regularmente em cidades como 'undia!, Campinas,

#antos e &io de 'aneiro" &odrigues, 1//0, p" 2

; pro$eto dos anarquistas de, em meio 3 crescente viol4ncia da repressão policial

e de limitações de liberdades pblicas e sindicais, refundar uma central sindical de

matri* libertário não obteve 49ito, em vista da perseguição ainda mais violenta que se

abateu sobre os movimentos sociais a partir do final de 1/07, de que muitos anarquistas

tamb<m foram v!timas" )s comemorações de 1O de Maio com caráter de luta tendiam

cada ve* mais a decair ou a sumir de cenário" )t< mesmo os fascistas da )ção

=ntegralista tentam apoderar-se da data, como se confere por proclamação integralista

em Porto )legre, no 1O de Maio de 1/0, apontando para Convenção Krabalista queteriam reali*ado no &io em de*embro de 1/08" Petersen, 1//, pp" 6.6-6.72 Mas para

os fascistas ideol%gicos será intil" (etlio os usará como suporte para seu pr%prio

golpe de estado a 1> de novembro de 1/0, instaurando uma ditadura que durará at<

1/67" @o decorrer do 5stado @ovo, como $á observado, o 1O de Maio será comemorado

com desfiles e paradas de agradecimento ao regime e sua glorificação, com os

sindicatos totalmente atrelados 3 máquina estatal e sendo dirigidos por elementos de

confiança do governo" Para os verdadeiros construtores e mantenedores de um 1O deMaio de luta e protesto, s% restava a perseguição e a prisão, se fi*essem oposição ao

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 pro$eto autoritário varguista"

Uma tentativa $e retoma$a

Com a deposição de Sargas e o fim do 5stado @ovo em 1/67, a situação em

relação ao controle dos sindicatos praticamente em nada se modificou" Mantida a

legislação getulista, copiada do fascismo italiano, os mecanismos para o dom!nio de

 pelegos e reformistas continuaram a asfi9iar qualquer tentativa de um sindicalismo

livre, apol!tico no sentido de não participar da pol!tica partidária2, classista e

combativo" ;s anarquistas, que aviam sido decisivos na sua construção e manutenção,

continuaram a ser deles ali$ados, embora tentassem voltar a inserir-se nos sindicatos" @o

entanto, se estas condições ob$etivas impediam um renascimento do sindicalismo

revolucionário, que desde a d<cada de 1/> sofreu dura repressão e esva*iamento por

via legislativa, < preciso tamb<m notar que, istoricamente, os anarquistas do Brasil

ressentiram-se da falta de organi*ações espec!ficas e org:nicas embora algumas tenam

e9istido2, diluindo-se seus militantes em meio ao sindicalismo, muitas ve*es sem uma

visão clara dos fins da milit:ncia anarquista"

)o final da ditadura varguista, o movimento operário independente avia sido

esmagado pela máquina estatal e pela atuação aparelista e pol!tica do PCB" ;

anarquismo tende cada ve* mais a concentrar-se em um nmero menor de militantes,

 por<m mais conscientes ideologicamente" )s comemorações do 1O de Maio continuam a

ter um cuno oficial, $á que os sindicatos continuam atrelados ao 5stado"

) 1O de maio de 1/68, o $ornal anarquista  A1ão 'ireta, que começara a ser

editado no &io de 'aneiro pouco tempo antes, procura esclarecer seus leitores sobre o

real significado da data, contrariando o tom cada ve* mais festivo que se procura

imprimir a ela, como continuavam gritando Fos pol!ticos malandros da vela burguesia,

ou da burguesia nov!ssima, a tal progressistaG" ;s militantes anarquistas queconseguiram escapar 3 fria repressora dos ltimos anos reuniram-se no dia 0> de abril

em um espetáculo de teatro social em #ão Paulo" @o dia seguinte, ouve uma sessão no

#alão das Casses Naboriosas naquela cidade" Comemorações anarquistas ocorreram em

outros pontos do Brasil, com a distribuição de manifestos" &odrigues, 1//2 @o 1O de

Maio de 1/6, ressurge em #ão Paulo  A Ple!e, antiga publicação anarquista

grandemente influenciada pelo sindicalismo revolucionário, que não era publicada

desde 1/67, agora em sua ltima fase, que iria at< 1/71"  A Ple!e, 1/62 ;s anarquistasmanterão procedimentos similares nas comemorações do 1O de Maio dos anos seguintes,

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com sua imprensa alternativa alertando os trabaladores sobre o real significado da data"

5m 1/7., passarão a editar um $ornal voltado para o sindicalismo,  A1ão Sindical " Am

dos trabaladores que ali colaboravam, o sapateiro anarquista Pedro Catalo 1/>1-

1/8/2, analisava em te9to publicado na 1` edição daquela publicaçãoH

;s sindicatos, tal como estão o$e aqui no Brasil e em boa parte do mundoI"""J desencantam e amortecem as mais vivas pai9ões que possam povoar osanseios proletários" #ão peças $ustapostas de uma máquina montada pelosgovernantes, com a finalidade nica de manobrar os trabaladores,redu*indo-os a conglomerados num<ricos, sem vontade pr%pria e seme9pressão ideol%gica" #ão %rgãos desvitali*ados, an4micos de pensamentos,

 paup<rrimos de pretensões, su$eitos terminantemente 3 intervençãoministerial" &odrigues, 1//0, pp" 1>-112

Catalo continuava seu te9to e9primindo a esperança de que este Fciclo de

ibernaçãoG dos trabaladores estivesse por terminar, acrescentando, no entanto, que

esse seria Fum despertar lento, por<m marcante e decisivoG" Catalo, no mesmo te9to,

manifestava ainda a crença de que aos sindicatos caberia ainda Forgani*ar a produção, o

consumo e a distribuição" ) missão ist%rica dos sindicatos proletários < a de morali*ar

o g4nero umano"G  A Ple!e, 1/62

 @os anos seguintes, pouco mudou o panorama sindical brasileiro e,

conseq\entemente, o 1O de Maio" ; sindicalismo reformista continuou fortalecendo-se,

com o PCB tentando auferir vantagens para si dentro dessa estrutura" ) situação pioroucom o golpe militar de 1O de abril de 1/86, resposta da direita ao populismo do

 presidente 'oão (oulart, erdeiro direto da tradição varguista, golpe que contou com o

apoio do imperialismo norte-americano e instalou no poder uma ditadura civil-militar

que se estenderia at< 1/.7" @esse per!odo, militantes anarquistas tamb<m foram presos

e torturados, assim como os de todas as correntes de esquerda" )o final da d<cada de

1/>, $á na fase terminal da ditadura, com o surgimento de um movimento sindical no

)BC paulista, envolvido em greves de enfrentamento 3 ditadura, com o surgimento deum sindicalismo que questionava o papel oficial dos sindicatos, ouve alguma

esperança entre os libertários de que ouvesse a retomada de um sindicalismo

independente" Kal esperança manteve-se por muito curto espaço de tempo, com a

fundação logo em seguida do Partido dos Krabaladores PK2, que condu*iu os

operários para a via pol!tica partidária institucional" ;s resultados que vemos o$e, são

de um PK que agora < partido de governo e está aliado ao que á de mais delet<rio na

 pol!tica institucional brasileira" #ua central sindical, a Central nica dos Krabaladores

CAK2, cumpre novamente o mesmo velo papel de correia de transmissão dos

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governantes para os trabaladores"

Por outro lado, o fim da ditadura significou a emerg4ncia de outros espaços de

luta social associações de moradores por um curto espaço de tempo, movimentos de

sem-terra, sem-teto, desempregados, etc"2 onde o$e se inserem os anarquistas

organi*ados, sem aver abandonado suas tentativas de inclusão no movimento sindical"

 @esses espaços, os anarquistas podem e devem reali*ar significativa participação, fi<is

aos princ!pios que orientaram os Mártires de Cicago em 1..8"

Reer+nias ,i,lio(r-ias

B)@+5=&), Moni*D M5N;, Cl%visD )@+&)+5, )" K" ; Ano "ermel&o2 a Revolu1ão Russa e seus re)le3os no +rasil " &io de 'aneiro, Civili*ação Brasileira, 1/8"

C)&+;#;, )lcina de NaraD )&)';, #!lvia Pereira de" ./ de Maio2 $em Anos deSolidariedade e Luta" Curitiba, Bei$a Elor, 1/.8"

C)&;@5, 5dgard"  A II Internacional pelos seus $ongressos 4.5567.6.89" #ão Paulo,)nitaQ5+A#P, 1//0"

 " Movimento Oper(rio no +rasil 4.5::7.6889" #ão Paulo, +ifel, 1//"

CA@R), 5uclides da" O!ra $ompleta, vol" 1" &io de 'aneiro, )guilar, 1/88"

+=)#, 5verardo" ;ist<ria das Lutas Sociais no +rasil " #ão Paulo, )lfa-mega, 1/"

+ANN5#, 'on " E"  Anar=uistas e $omunistas no +rasil " &io de 'aneiro, @ova Eronteira,1/"

E)A#K;, Boris" %ra!al&o Ur!ano e $on)lito Social " #ão Paulo, +=E5N, 1/.0"(=K)R, Maria Ncia Caira" "entos do Mar> %ra!al&adores do Porto> Movimento Oper(rio e

$ultura Ur!ana em Santos> .5567.6.8" #ão Paulo, A@5#P, 1//"

N=@R)&5#, Rerm!nio" $ontri!ui1ão ? ;ist<ria das Lutas Oper(rias no +rasil " #ão Paulo,)lfa-mega, 1/"

M)&)M, #eldon Neslie"  Anar=uistas> Imigrantes e o Movimento Oper(rio +rasileiro [email protected]@" &io de 'aneiroH Pa* e Kerra, 1//"

M)&)N, 'oão Batista" A Imprensa Oper(ria do Rio ,rande do Sul " Porto )legre, edição doautor, >>6"

M5NN; @5K;, Candido de" O Anar=uismo E3perimental de ,iovanni Rossi" Ponta (rossa,A5P(, 1//."

M;&)5# E=NR;, 5varisto de" O Pro!lema do Sindicato Bnico no +rasil2 seus )undamentos sociol<gicos" #ão Paulo, )lfa-mega, 1/."

M;K), Ben$amim" Re!eldias" #ão Paulo, Kipografia Brasil de Carlos (ere h Cia", 1./."

M;A&), Cl%vis" Introdu1ão ao Pensamento de Euclides da $un&a" &io de 'aneiro, Civili*açãoBrasileira, 1/86"

P5K5&#5@, #!lvia &egina Eerra*" C#ue a União Oper(ria SeDa -ossa P(triaF ;ist<ria das Lutas dos Oper(rios ,aGc&os2 Para $onstruir suas Organi0a1Hes" #anta MariaQ Porto)legreH AE#M QAE&(#, >>1"

P5K5&#5@, #!lvia &egina Eerra*D NAC)#, Maria 5li*abet orgs"2"  Antologia do MovimentoOper(rio ,aGc&o 4.5:@7.6:9" Porto )legre, AE&(#, 1//"

Page 26: Milton Lopes Anarquismo e Primeiro de Maio No Brasil

7/21/2019 Milton Lopes Anarquismo e Primeiro de Maio No Brasil

http://slidepdf.com/reader/full/milton-lopes-anarquismo-e-primeiro-de-maio-no-brasil 26/26

P=@R5=&;, Paulo #<rgioD R)NN Micael"  A $lasse Oper(ria no +rasil J .5567.6@ J 'ocumentos, vol" 1" #ão Paulo, )lfa-mega,1//"

 " A $lasse Oper(ria no +rasil , vol" " #ão Paulo,Brasiliense, 1/.1"

P&)+; '@=;&, Caio" ;ist<ria EconKmica do +rasil " #ão Paulo, Brasiliense, >>"

&)B5N;, #!lvio" Euclides da $un&a" &io de 'aneiro, Civili*ação Brasileira, 1/88"

&;+&=(A5#, 5dgar" -acionalismo e $ultura Social " &io de 'aneiro, Naemmert, 1/"

 " -ovos Rumos" &io de 'aneiro, Mundo Nivre, 1/8"

 " Alvorada Oper(ria" &io de 'aneiro, Mundo Nivre, 1//"

 " A -ova Aurora Li!ert(ria 4.687.6859" &io de 'aneiro, )ciam<, 1//"

 " O Ressurgir do Anar=uismo .67.65@" &io de 'aneiro, )ciam<, 1//0"

 " Entre 'itaduras 4.6857.69" &io de 'aneiro, )ciam<, 1//0"

&;=; 'os< Nui* del" ./ de Maio $em Anos de Luta .557.65 " #ão Paulo, (lobal, 1/.8"

#)M=#, )le9andre" $levelNndia2 Anar=uismo> Sindicalismo e Repressão Política no +rasil " #ãoPauloQ &io de 'aneiro, =maginárioQ)ciam<, >>"

#CRM=+K, )fonso" São Paulo de Meus Amores Lem!ran1a 4$rKnicas9" #ão Paulo,Brasiliense, s"d"

#5=T)# 'acX )lves de"  Mémoire et Ou!li Anarc&isme et Sndicalisme Révolutionnaire au +résil " ParisH Maison des #ciences de lWRomme, 1//" 

=nformativos, colet:neas e outros 

PM#PQ#MC" [email protected]@Q $em "e0es Primeiro de Maio" #ão PauloH Prefeitura do Munic!pio de#ão Paulo Q #ecretaria Municipal de Cultura, 1//>" 

 A "o0 do %ra!al&adorQ $ole1ão ac7Similar do *ornal da $on)edera1ão Oper(ria [email protected]." #ão PauloH =mprensa ;ficial do 5stado, 1/.7" 

'ornais 

O Amigo do Povo" #ão Paulo, ano =, nmero 6, 7 de maio de 1/>D ano ===, nmero 70, 16 demaio de 1/>6" 

 A ,reve" &io de 'aneiro, ano =, nmero , 17 de maio de 1/>0" 

 A "o0 do %ra!al&ador " &io de 'aneiro, ano S=, nmero 0>, 1O de maio de 1/10D ano S==,nmeros 70-86, 1O de maio de 1/16" 

 A Revolta" #antos, ano ==, nmero , 1O de maio de 1/16" 

 A Luta Social " Manaus, ano =, nmero , 1O de maio de 1/16" 

 -a +arricada" &io de 'aneiro, ano ==, nmero 6, 1O de maio de 1/18" 

 A Ple!eQ #ão Paulo, ano S=, nmero >., 1O de maio de 1/0D ano 0>, nmero 17, nova fase, 1Ode maio de 1/6" 

* .e/to pu,lia$o ori(inalmente no livro  Los Orígenes Libertario del Primero de Mayo: de

Chicago a América Latina) or(ani0a$o por os2 Antonio %uti2rre0 Danton) pu,lia$o pelae$itora Quimant& em 34145