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Bolet im do PET nº 12 Junho/2010 p. 1
BBOOLLEETTIIMM ddoo PPEETT
Junho-2010 nº. 12
AA RR TT II GG OO
Microbiota endógena humana e a importância do
Projeto Microbioma Humano Por: Monique Santos do Carmo
Ao falarmos em biodiversidade, muitas
vezes recordamos da exuberante variedade de plantas e
animais que habitam os mais variados ecossistemas do nosso
planeta, sejam eles terrestres ou aquáticos. Aos poucos, vamos
pensando também nas fantásticas adaptações desses
organismos, que estão associadas com as mais distintas
condições impostas pelo ambiente em que vivem.
Porém, muitas vezes esquecemos que o mundo e o nosso
corpo, em part icular, estão literalmente colonizados por uma
rica e complexa d iversidade de microorganismos, que, a cada
dia, tem surpreendido os estudiosos com suas elevadas taxas
de mutações, e, consequentemente, de adaptação e resistência
às mais variadas condições ou, no caso dos microorganis mos
patogênicos, aos mais potentes antibióticos existentes.
Segundo Burton & Kirk (2005), o nosso corpo apresenta
aproximadamente 10 trilhões de células e cerca de dez vezes
mais microorganismos, habitando a superfície e o interior do
nosso organismo. Ao conjunto desses microorganismos, que
incluem as bactérias, fungos, vírus e protozoários
denominamos microbiota endógena humana, chamada
antigamente de “flora normal”, que é composta de 500 a mil
espécies diferentes.
A microbiota endógena humana, também denominada
residente, varia muito nas mais diversas regiões do nosso
corpo, dependendo de várias condições, tais como, umidade,
pH, temperatura e nutrientes disponíveis (BURTON & KIRK,
2005). Segundo um estudo desenvolvido pelos
Institutos Nacionais de Saúde dos Estados
Unidos (NIH), que tinha como objetivo fazer
uma análise genética dos microorganismos
coletados em várias regiões da superfície
do corpo de pessoas saudáveis, as áreas
secas e úmidas da pele tem uma
diversidade maior de micróbios do que as
oleosas.
Os pesquisadores desse estudo
afirmaram que “axilas úmidas e com pêlos,
por exemplo, ficam a uma curta distância de
antebraços lisos e secos, mas, esses dois locais são tão
ecologicamente diferentes quanto florestas tropicais e
desertos”. Partindo dessa linha de raciocínio,
podemos afirmar que somos um verdadeiro bioma,
constituídos por ricas comunidades microbianas que mantêm
relações indispensáveis com o nosso organismo, sendo muito
importante para a garantia de nossa sobrevivência.
É importante ressaltar que, além da microbiota residente, o
nosso corpo está constantemente sujeito a adquirir outros
microorganis mos (à medida que nos alimentamos e
deslocamos para os mais diversos lugares), constituindo a
chamada microbiota transiente. Esta microbiota normalmente
reside em caráter temporário no interior ou exterior do corpo.
Porém, em alguns casos pode chegar a desenvolver patologias
(quando a microbiota residente não está em condições de
competir com eles) (BURTON & KIRK, 2005).
Além da competição, existem outros mecanismos que
inibem ou dificultam a mult iplicação da microbiota residente
em nosso corpo, tais como: a produção de excreções ou
secreções corpóreas (urina, fezes, suor e lágrimas), o caráter
ácido ou alcalino de determinadas regiões do corpo e até
mes mo o banho, que pode remover determinados
microorganis mos, dependendo do grau de proliferação
(BURTON & KIRK, 2005).
Aquisição da microbiota endógena
Um feto não apresenta microbiota endógena, de modo que,
o primeiro contato com os microorganismos ocorre no parto.
Quando a criança nasce de um parto normal, a microbiota dela
é inicialmente constituída pelas bactérias da flora fecal
materna, que contamina o canal do parto. Porém,
quando a criança nasce de um parto cesariano, de
início, não há participação da flora fecal da
mãe, de modo que o aparecimento de
enterobactérias e anaeróbios (bactérias da
flora intestinal) é mais tardio. Vale lembrar
que, em ambos os casos, a flora da criança é
constituída também a partir do contato com
bactérias do ar e dos alimentos. Sendo assim, é
muito importante que os hospitais tenham um
bom padrão no que diz respeito às condições
sanitárias, visto que, como as crianças estão em processo
de composição da flora, elas não apresentam uma microbiota
Caros Leitores, Esse primeiro semestre de 2010 foi bastante movimentado: seleções do PIBIC, PIBID e PET; concursos para Prática de Ensino e
Sistemática de Fanerógamas; chegada de novos professores e a despedida de nosso querido Prof. Oliver. Assim, o PET gostaria de
parabenizar e dar às boas vindas aos novos professores: Mariana Guellero do Valle e Eduardo Bezerra de Almeida Junior; agradecer a
disponibilidade, as contribuições e o carinho do Prof.Oliver com todos nós do PET e desejar sucesso em seu retorno à terra natal;
parabenizar e desejar sucesso aos novos bolsistas PIBIC, PIBIDI e PET. E para fechar com chave de ouro esse semestre, gostaríamos de desejar a profa. Silma um excelente mandato à frente da nossa coordenação. Então para brindar esse final de semestre, é com alegria
que entregamos a vocês a décima segunda edição do nosso Boletim, que inaugura a seção “Escreva você também”, onde alunos e
professores podem publicar seus artigos e resenhas, além de outros assuntos de interesse. Assim gostaríamos de agradecer a re senha da
nossa querida aluna Priscila Sá Rivas, que inaugurou esse espaço. Esperamos contar com a colaboração de todos na manutenção desse
cantinho. O PET deseja Boas vindas aos Calouros do segundo semestre de 2010 e boas Férias a todos vocês ! Gisele Garcia Azevedo – Tutora do PET BIOLOGIA
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endógena suficientemente estabelecida para competir com
possíveis microorganismos patogênicos (TRABULSI &
ALTERTHUM, 2008).
Outro fator de grande importância na constituição da flora
endógena, diz respeito à alimentação. Crianças que são
amamentadas no seio materno, quando comparadas àquelas
alimentadas com mamadeira, apresentam uma menor
freqüência de amostras de Escherichia coli portadoras do
antígeno KI, que geralmente causa bacteremias e meningite no
recém nascido (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
É importante ressaltar que, mesmo depois de adultos,
existem determinados locais do nosso corpo que permanecem
estéreis, tais como o sangue, a linfa, líquido cefalo rraquidiano
e a maioria dos tecidos e órgãos internos (BURTON & KIRK,
2005).
Para melhor conhecimento da diversidade microbiana e da
adaptação dos microorganis mos com as mais diferentes
condições do nosso organismo, iremos falar sobre a
composição microbiana das diferentes regiões do nosso
organismo.
Microbiota da pele
Segundo Burton & Kirk (2005), a microbiota da pele é
constituída principalmente por bactérias e fungos. Nas regiões
mais úmidas e quentes (como as axilas), encontram-se uma
maior concentração de microorganis mos (em torno de 106
bactérias por cm2), enquanto que, nas regiões mais
secas, existe uma quantidade menor (em torno de
104 bactérias por cm
2) (TRABULSI &
ALTERTHUM, 2008).
Além da grande distribuição bacteriana
na região mais superficial da pele e na
parte posterior dos folículos pilosos, existe
uma quantidade significat iva destas nas
camadas mais profundas, sendo muito
importantes para a re-colonização, quando os
microorganis mos mais superficiais são
removidos. Basicamente, os gêneros
predominantes são Staphylococcus,
Corynebacterjum e Propjoniobacterium. A espécie
Staphylococcus epidermidis é encontrada em 90 %
das pessoas. Já a espécie Propionibacterium acnes, que,
como o próprio nome sugere é responsável pela acne, está
associada diretamente com as secreções das glândulas
sebáceas (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
Microbiota dos ouvidos e olhos
Geralmente, o ouvido médio e interno são estéreis,
enquanto que, o ouvido externo e o canal auditivo apresentam
basicamente a mes ma microbiota das regiões úmidas da pele
(boca e nariz). Quando um indiv íduo faz o esforço para
espirrar, tossir ou eliminar secreções das narinas, esses
microorganis mos mais superficiais podem atingir a trompa de
Eustáquio e ouvido médio, causando infecção (BURTON &
KIRK, 2005).
No que diz respeito aos olhos, a microbiota é bem mais
reduzida por causa da produção das lágrimas e da enzima
lisozima, que atuam como antimicrob ianos. De um modo
geral, são encontrados os gêneros Staphylococcus,
Streptococcus e Corynebacterium (BURTON & KIRK, 2005).
Microbiota do trato respiratório
O nosso trato respiratório é dividido em superior e inferior.
O primeiro abriga as fossas nasais e faringe, e o segundo
abrange a laringe, traquéia, brônquios, bronquíolos e pulmões.
Como as fossas nasais e faringe são úmidas e quentes,
fornecem condições ideais para o crescimento de muitos
microorganis mos, enquanto que o trato respiratório inferior é
geralmente livre dos mesmos (BURTON & KIRK, 2005).
Microbiota do trato digestório
O sistema d igestório desempenha uma série de funções no
nosso organismo, que se estende desde a quebra dos alimentos
em partículas menores, absorção dos nutrientes até a
eliminação do que não é útil. Desse modo, é fundamental a
participação dos microorganismos, que entram em cena
garantindo uma melhor eficiência nesses processos.
O trato digestório compreende a boca (com a língua, dentes
e glândulas salivares), faringe, esôfago, estômago, intes tino
delgado, intestino grosso e ânus. O formato anatômico da
boca, a presença de resíduos de alimentos e de células
epiteliais mortas, favorece o abrigo de muitos
microorganis mos, tais como bactérias anaeróbias (presentes
nas margens da gengiva, no suco gengival, entre outros
locais), aeróbias, e, até mes mo de leveduras, protozoários e
vírus (BURTON & KIRK, 2005).
Estima-se que 1 ml de saliva contêm cerca de 108 bactérias.
Os principais gêneros encontrados na cavidade oral e faringe
são: Staphylococcus, Streptococcus, Neisseria, Bacteroides,
Actinomyces, Treponema e Mycoplasma (TRABULSI &
ALTERTHUM, 2008).
Normalmente, a diversidade microbiana no estômago não é
tão grande. Segundo Burton & Kirk (2005), isso se deve à
presença de enzimas gástricas e do pH ácido, que acaba
destruindo os microorganis mos transientes ou
alóctones, ou seja, aqueles provenientes do
meio exterio r, que são ingeridos
juntamente com os alimentos e bebidas.
Segundo Ladeira et al (2003), cerca de
50% dos indivíduos em todo o mundo
apresentam uma bactéria no estômago
denominada Helicobacter pylori, que está
associada a gastrite crônica, úlcera péptica e
câncer gástrico.
Já se tratando do intestino, temos não
somente uma grande quantidade, mas também
uma elevada diversidade bacteriana. Apresentamos
1014
bactérias para 1013
células, ou seja, o número de
bactérias intestinais é dez vezes maior que o número de
células que constituem os nossos órgãos e tecidos. Além
disso, essas bactérias pertencem a 500 espécies distintas
(TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
A microbiota intestinal apresenta uma distribuição muito
heterogênea, tanto vertical quanto horizontalmente. Como o
intestino delgado proximal está situado próximo ao estômago
(sofrendo ação dos fatores limitantes ao crescimento
bacteriano), o mesmo não apresenta grande diversidade
bacteriana, predominando os estafilococos, estreptococos e
lactobacilos. Dificilmente são encontradas bactérias
anaeróbias (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
Seguindo o trajeto intestinal, temos o íleo, que apresenta um
baixo potencial de oxirredução (possibilitando o crescimento
de anaeróbios) e uma maior diversidade de bactérias. Já no
intestino grosso, os anaeróbios superam os aeróbios, com a
predominância de bacteróides, bifidobactérias, fusobactérias,
lactobacilos, estreptococos, clostrídeos e enterobactérias. Esse
percurso constitui a chamada distribuição vertical, que se
configura pelo aumento gradativo na quantidade e diversidade
bacteriana (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
A distribuição horizontal está relacionada à presença de
pelo menos três hábitats, sendo eles: luz intestinal, camada de
muco e superfície ep itelial, de modo que, as diferentes
bactérias se distribuem de acordo com aquilo que seja mais
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adequado para sua sobrevivência (TRABULSI &
ALTERTHUM, 2008).
Microbiota do trato geniturinário
Como o nome sugere, o trato geniturinário é constituído
pelos órgãos do sistema urinário (rins, ureteres, bexiga e
uretra) e do sistema reprodutor masculino e feminino.
Estando os rins, ureteres e bexiga saudáveis, apresentam-se
estéreis. Porém, a região da uretra mais distante da bexiga
(denominada uretra distal) e a abertura externa da mes ma
contêm uma diversidade muito grande de microorganismos,
tais como bactérias (espécies não patogênicas de Neisseria,
estafilococos, estreptococos, enterococos, difteróides,
micobactérias, micoplas mas, bastonetes entéricos gram-
negativos e alguns anaeróbios), leveduras e vírus (BURTON
& KIRK, 2005).
Como a urina ácida passa continuamente pela uretra, esses
microorganis mos não chegam até a bexiga. Porém, quando
ocorre algum t ipo de obstrução ou estreitamento da uretra,
esses microorganismos se multip licam, podendo chegar até a
bexiga e causar infecções (BURTON & KIRK, 2005).
Excetuando-se a vagina, o sistema reprodutor masculino e
femin ino normalmente são estéreis . A microbiota da vagina
varia de acordo com o estágio de desenvolvimento sexual, de
modo que, durante a puberdade e depois da menopausa as
secreções são alcalinas, possibilitando o crescimento de
bactérias como difteró ides, estreptococos e E. coli (BURTON
& KIRK, 2005).
Durante o período fértil, as secreções vaginais são mais
ácidas (com pH entre 4 e 5) , permit indo assim o crescimento
de bactérias (lactobacilos, alguns estreptococos alfa
hemolíticos, estafilococos, difteróides) e leveduras. De um
modo especial, os lactobacilos são muito importantes para a
manutenção de um bom estado da vagina, uma vez que eles
produzem o ácido lático, que impede o crescimento de outras
bactérias associadas à vaginose (BURTON & KIRK, 2005).
Agressão por patógenos oportunistas
Diante da grande diversidade e complexidade das
interações dos microorganismos com o nosso corpo, é
fundamental que a microbiota endógena esteja em equilíbrio.
Qualquer alteração nessa homeostase pode gerar uma série de
problemas para o nosso organismo.
Vários fatores estão associados com esse desequilíbrio,
sendo que, segundo Finegold & Wexler (1988 apud Souza &
Scarcelli 2000), um dos principais diz respeito ao uso
indiscriminado de drogas antimicrobianas, principalmente dos
antibióticos. Esses medicamentos podem destruir uma boa
parcela da microbiota residente, facilitando assim o
crescimento excessivo de microorganismos que normalmente
fazem parte da nossa microbiota, mas, em pequeno número.
Dessa forma, a multiplicação desenfreada desses
microorganis mos denominados de patógenos oportunistas,
causa o que se convencionou chamar de superinfecção.
Um bom exemplo disso diz respeito à levedura Candida
albicans, que geralmente está presente em pouco número nas
aberturas do nosso corpo, porém, quando por qualquer motivo
a nossa microbiota residente é reduzida a um pequeno número,
esse microorganis mo cresce intensamente na boca, vagina ou
intestino grosso, causando a patogenia chamada de Candidíase
(BURTON & KIRK, 2005).
Projeto Microbioma Humano
A microbio logia tradicional tem direcionado seu foco para
o estudo das espécies como unidades isoladas, que, com seus
devidos méritos permitiu a descoberta e descrição de muitos
microorganis mos. Porém, nem sempre é possível isolar
espécimes viáveis para análise, porque o crescimento de
muitos microorganismos muitas vezes depende de um
microambiente específico que nem sempre pode ser
reproduzido experimentalmente.
Mesmo para as espécies normalmente cultivadas in vitro,
muito se tem a desvendar sobre as relações entre os
microorganis mos e interações micrób io-hospedeiro. Embora
algumas técnicas tradicionais da genética tenham auxiliado a
elucidar determinadas questões, investindo no seqüenciamento
do genoma de cepas bacterianas cultivadas em laboratório,
existe um ramo muito interessante denominado
metagenômica, que permite analisar o material genético
derivado de completas comunidades microbianas colhidas
diretamente do seu ambiente natural.
Dessa forma, a metagenômica apresenta-se como uma
ferramenta muito interessante, que, aliada às tradicionais
técnicas já existentes na genética, propicia uma análise de
cepas bacterianas conhecidas, providenciando informações
sobre a complexidade das comunidades microbianas humanas,
um dos objetivos do Projeto Microbioma Humano (HMP).
Esse projeto, lançado no ano de 2008, com previsão de
extensão até 2013 tem como principal objetivo fazer uma
caracterização mais precisa da microbiota humana (seja de
microorganis mos cultiváveis ou não) e analisar seu papel na
saúde e nas patologias.
As amostras estão sendo coletadas de cinco áreas do corpo:
do trato digestivo, da boca, da pele, das narinas e da vagina.
Os pesquisadores encontraram alguns resultados interessantes,
como a descoberta de proteínas produzidas por algumas
bactérias que vivem no estômago que pode causar ulceração
gástrica, descoberta de algumas proteínas associadas com o
metabolismo de açúcares e aminoácidos e a descoberta de
14.064 novas proteínas que estão disponíveis no banco de
dados do projeto.
Durante este ano e no próximo, o HMP estará financiando
projetos que amostrem o microbioma de voluntários saudáveis
e com doenças específicas, permitindo que os pesquisadores
estudem mudanças no microbioma de partes específicas do
corpo de indivíduos saudáveis que são usados como controle,
comparando-os com pacientes afetados por algum problema
de saúde. Além das regiões já citadas, as amostras estão sendo
coletadas do sangue e da uretra masculina.
Dessa forma, o Pro jeto Microbioma Humano apresenta um
papel chave, que, com as descobertas realizadas até agora e os
futuros experimentos, estarão auxiliando na melhor
compreensão da microbiota endógena humana, no sentido de
melhor elucidar suas relações com o hospedeiro.
Referências Bibliográficas
BURTON, G.R.W & KIRK, P.G.E. Microbiologia para as Ciências da Saúde. 7ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2005.
FERNANDES, T. As bactérias da sua pele. Dispomível em: <
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/microbiologia/as-bacterias-da-sua-pele/> Acesso em: 09 mai. 2010.
LADEIRA, M.S.P. ; SALVADORI, D.M.F. ; RODRIGUES, M.A.M. (2002) Biopatologia do Helicobacter pylori. J. Bras. Patol. Med. Lab,
Rio de Janeiro, v.39, n.4, 335- 342, 2003.
SCIENCE NEWS. Human Microbiome Project: Diversity of Human Microbes Greater Than Previously Predicted. Disponível em: <
http://www.sciencedaily.com/releases/2010/05/100520141214.htm > Acesso em: 22 mai. 2010.
SOUZA, C.A.I & SCARCELLI, E. Agressão por microrganismos da microbiota endógena. Arq.Inst. Biol. São Paulo, v.67, n.2, 275-281,
jul/dez., 2000.
TRABULSI, L.R. & ALTERTHUM, F. Microbiologia. 5ª edição. Editora Atheneu, 2008.
Bolet im do PET nº 12 Junho/2010 p. 4
RR EE SS EE NN HH AA SS
Impacto dos microorganismos no clima terrestre:
isso é possível? Por: Haylla Cristina Saraiva Ribeiro
Quase todos os dias, os mais variados meios de
comunicação nos apresentam problemas referentes às alterações
climáticas e ao efeito estufa. Além deste tema já tão debatido,
fala-se constantemente no grande vilão do meio ambiente e
causador de tais alterações: o homem. Porém, além de causador,
ao homem também é dado o papel de salvador do planeta Terra.
Quando a questão gira em torno do clima, muitas vezes é
levado em consideração apenas os macro- organis mos,
quer sejam os grandes animais ou as plantas, como
agentes causadores e solucionadores deste
problema. Neste artigo, no entanto, a autora
apresenta outros organismos que podem dar
contribuições significativas no que tange ao clima
na Terra. De uma forma dinâmica, os
microorganis mos, especialmente as bactérias e
archeaes, são lançados à luz da questão e características
que vão além da sua importância na base de sustentação da vida
parecem ter um efeito benéfico nos diferentes ecossistemas, uma
vez que seu metabolismo libera gases necessários à dinâmica do
controle climático.
Dentre os exemplos já conhecidos, como o seqüestro de Gás
Carbônico, é destacado o ciclo do Enxofre, produto das
atividades metabólicas dos procariotos marinhos. Segundo a
autora, há também um importante produto das atividades
metabólicas, o composto volátil dimetil-sulfeto (DMS), que ao
ser liberado no meio, age como condensador de nuvens,
importante elemento refletor de raios solares e dispersor de
chuvas.
Outra condição interessante citada pela autora refere-se à
Neve Marinha, que é um agregado de compostos orgânicos de
variados tamanhos que se localizam na coluna d`água e de
extrema importância para a cadeia alimentar. Este aglomerado de
substâncias orgânicas é colonizada por micoorganismos que
quebram, através de enzimas, as macromoléculas transformando-
os em compostos menores. Ainda segundo a autora, alguns
modelos de ciclagem de nutrientes consideram que metade da
demanda bacteriana por carbono é satisfeita através da interação
dos micoorganismos com esta Neve.
É válido destacar ainda que a ação antrópica é modificadora
da biosfera como um todo e, obviamente, os seres microscópicos
não estão isentos de tais influências. Desta forma, pode-se dizer
que o homem afeta duplamente (direta e
indiretamente) o clima da Terra, uma vez que o
impacto gerado por ele poderá ter efeito
imprevisível para essas comunidades.
Além d isso, é importante frisar que as
relações existentes entre os microorganismos e o
meio em que vivem não estão totalmente
esclarecidas pelos cientistas. Vivemos em um
planeta riquíssimo em d iversidade de espécies e,
consequentemente, em interações ecológicas; no entanto, nos
detemos quase sempre a enaltecer a capacidade que o homem tem
em influenciar o meio ambiente, de forma positiva ou não.
Acostumamo -nos também a pensar que as grandes mudanças
somente são causadas pelos macroorganismos. Desta forma,
esforços conjuntos na atual crise climática devem ser executados
e estudos sobre todos os organismos devem ser realizados, sem
desconsiderar o menor dos organismos, pois indubitavelmente
estamos longe de entender o complexo emaranhado de relações
que estes possuem e qual a influência das suas atividades no
nosso planeta.
Fonte: RIBEIRO, C. G. A música do microcosmo.
Revista Ciência Hoje , vol 45, p. 41-45, nov 2009.
Última fronteira na dinâmica de populações
Por: Lana Gabriela Mendes
Populações naturais são formadas pelo conjunto de indivíduos de uma mes ma espécie, que ocupa determinado tempo em certa
área. Essas populações estão em constante mudança, devido às taxas de mortalidade, natalidade, migração e emigração, mantendo,
no entanto, o equilíbrio. O estudo a cerca das variações anteriormente citadas, que ocorrem nas populações de seres vivos , chama-se
de dinâmica de populações.
Recentemente, uma nova área dentro da dinâmica de populações tem sido expandida e tem contribuído grandemente para a
compreensão de fenômenos como controle de doenças e epidemias: a eco logia do movimento.
Os pesquisadores Paulo Almeida, Diogo Loretto, Marcus Vieira (UFRJ) e Marcelo Ba rros (Laboratório Nacional de Computação
Científica – RJ) trazem na revista Ciência Hoje do ano corrente um artigo intitulado “O movimento dos animais”, que lança uma
interessante teoria sobre a movimentação de populações. Os autores tentam explicar o movimento realizado pelas populações através
da Teoria dos fractais. Esta teoria permite a quantificação da “tortuosidade do itinerário de uma espécie animal em seu ambiente”,
por meio de relações matemát icas simples.
Estudos como este são importante em diversas situações ecológicas, como no caso dos gambás –de–orelha–preta. Estes animais
mudam seus padrões de movimentação entre jovens e adultos, nas fases reprodutivas e não reprodutivas, quando machos; e de
acordo com as estações, no caso das fêmeas. A análise fractal destes animais mostrou também que o tamanho da população
influencia no seu padrão de movimentação, evidenciando movimentos mais tortuosos e concentrados, quando em alta densidade, e
movimentos mais amplos e menos tortuosos quanto menor for a densidade populacional.
Ou seja, muito além de avaliar a densidade e abundância de populações através do tempo, pesquisas como esta permitirão
também a compreensão de como a densidade populacional pode influenciar no movimento dos próprios indivíduos , avaliando sua
dinâmica no espaço. Este estudo permit iu, como dizem os autores, transpor a última fronteira na dinâmica de populações,
possibilitando a ligação entres as dinâmicas espacial e temporal.
É sabido por todos que grande parte das explicações da dinâmica de populações parte de modelos matemáticos, e mais uma vez,
as relações numéricas garantem à ecologia respostas mais fáceis de exp licar, entender e combinar as múltip las variantes dos
ecossistemas existentes.
Fonte: Ciência Hoje vol. 45/2010: O movimento dos Animais
Paulo Almeida, Diogo Loretto, Marcus Vieira (UFRJ) e Marcelo Barros (Laboratório Nacional de Computação Científica – RJ)
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 5
Uma dieta diferente Por: Itaynara Lobato Dutra
A ideia de que as plantas são organismos
autotróficos consiste em um fato
incontestável. No entanto, a natureza é
realmente surpreendente: quando pensamos
que seus mistérios foram desvendados, algo
novo e intrigante surge. A exemplo disso
temos as plantas carnívoras, que se desviam
dessa “regra” ao incrementarem sua dieta
com suprimento de origem an imal. O
motivo que leva essas plantas a desenvolver
esse comportamento e os mecanismos
utilizados por elas
são questões que
os pesquisadores
procuram há muito
tempo resolver.
Um art igo escrito
por Carl Zimmer,
intitulado “Atração
Fatal” e publicado na National Geografic
traz muitas informações interessantes acerca
desse estranho e fascinante fenômeno.
A dionéia, por exemplo, é considerada
por Alexander Volkov, fisiologista de
plantas na Universidade Oakwood no
Alabama (EUA), como uma “planta
elétrica". Um inseto, ao tocar em um pêlo da
folha de uma dioneia, dispara uma
minúscula carga elétrica, que se acumula no
tecido da folha, mas não é suficiente para
estimular o seu fechamento, mecan ismo que
evita reações diante de alarmes falsos como
gotas de chuva. Porém, um inseto em
constante movimento dentro da folha
encosta-se em mais pêlos induzindo a
produção de carga suficiente para fazer a
folha fechar. Essa carga elétrica viaja por
túneis cheios de fluídos na folha, abrindo
poros nas membranas celulares e
possibilitando o transporte da água para fora
dessas folhas, o que muda a conformação da
planta, de convexa para côncava, fazendo
com que as folhas se fechem aprisionando o
inseto.
A utriculária, por sua vez, através da
ejeção de água para fora de bexigas, cria
ambientes de baixa pressão. Quando o
animal esbarra em um pêlo-gatilho de
bexiga, esta se abre e a baixa pressão suga a
água e o animal para dentro. Já as plantas do
gênero Sarracenia e as nepentácias utilizam-
se de folhas em forma de tubo comprido
para aprisionar insetos e, dependendo do
tamanho, podem até consumir animais
maiores como sapos ou ratazanas. As
plantas carnívoras geralmente possuem
glândulas que secretam enzimas para digerir
os insetos. No entanto, a sarracenia purpúrea
dispõe da ajuda de outros organismos, como
de larvas de mosquito, mosquitos
adultos, protozoários e bactérias,
para digerir seu alimento.
Experimentos mostraram que
plantas que se alimentam de
animais ficam maiores. Mas, ao
contrário dos animais carnívoros,
que usam o carbono das
proteínas e das gorduras de sua
dieta para construir músculos e
armazenar energia, as plantas
carnívoras aproveitam o
hidrogênio, fósforo e outros
nutrientes fundamentais de suas
presas para produzir enzimas que
ajudam na captura da luz. As
plantas carnívoras possuem uma
deficiência na fotossíntese
devido ao fato de grande
quantidade de energia ser
desviada para a captura de
animais. Entretanto, em
condições especiais, como solo
pobre que oferece pouco
nitrogênio e fósforo, esse custo
pode ser entendido pela
vantagem que traz as plantas
carnívoras em relação às outras
plantas locais. Além disso, os
locais de
ocorrência
dessas
plantas são
muito
ensolarados,
de modo que
até mesmo uma planta carnívora
ineficiente consegue fazer
fotossíntese suficiente para
sobreviver.
Assim, as plantas carnívoras
representam uma das evidências
mais fascinante da complexidade
da natureza. Adaptações como as
supracitadas só tendem a reafirmar
o caráter dinâmico e criativo da
evolução, a qual nos proporciona
muitos enigmas que sempre
estamos empenhados a desvendar.
Fonte: ZIMMER, C. Atração
Fatal. National Geographic, ed.
120, mar 2010. Disponível em:
<http://viajeaqui.abril.com.br/natio
nal-geographic/edicao-120/plantas-
carnivoras-armadilhas-
535476.shtml>
Pombos
urbanos,
o„‟caos‟‟ das
cidades
Por: Carlos Celso Frazão
Saraiva Júnior
Os pombos urbanos (Columbia livia
domestica), descendentes do pombo-da-
rocha (Columbia livia livia) e originários do
leste europeu e da África do Norte, foram
trazidos ao Brasil em meados do século XVI
por colonos europeus e obtiveram um grande
sucesso no processo de sinurbização, devido
a abundância de alimentos nas cidades e pela
grande disponibilidade de lugares que
serviam de abrigo aos mesmos. Os pombos,
em registros históricos, representavam vários
tipos de simbologias, como paz, fert ilidade,
esperança e libertação, diferente do que são
considerados atualmente. Apelidados de
„‟ratos com asas‟‟, esses animais vêm
ocasionando vários problemas aos
patrimônios públicos e saúde social.
Pesquisas recentes, realizadas no estado
de São Paulo, mostraram que os pombos das
cidades podem ser considerados grandes
veiculadores de parasitos que podem afetar a
saúde humana. Foi relatado que patógenos,
como a giárd ia, Entamoeba histolytica,
Ascaris lumbricóides e Ancylostoma
duodenale, que são sérios causadores de
doenças, estão presentes em grande parte das
amostras de fezes coletadas em regiões de
muita circu lação humana e movimentos de
alimentos. Além dos casos já citados, há
também as penugens e as fezes secas dos
mes mos que são causadoras de alergias e
irritações respiratórias. Problemas como a
contaminação de depósitos de alimentos e
reservatórios de água com dejetos e resíduos
dessas aves, também podem ser bastante
relevantes para a questão social e
econômica.
Contudo, para amenizar o número de
pombos nas cidades, é necessário que sejam
aplicados vários métodos de controle, como
tintas repelentes, repelentes sonoros,
injeções de infert ilidade, ret irada dos ninhos
de locais importunos, diminuição da
disponibilidade de alimentos; e que mais
estudos sejam realizados sobre o assunto,
pois muito pouco é encontrado na literatura,
principalmente nos casos dos ectoparasitas
(carrapatos, pulgas, ácaros, moscas), que
também são potenciais causadores de
doenças para os humanos e os animais.
Fonte: SHULLER, M. Pombos urbanos,
um caso de saúde pública. Sociedade
Brasileira de Controle de Contaminação.
Artigo técnico.
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 6
Sexo e tamanho
Por: Milena Jansen Cutrim Cardoso
Stephen Jay Gould foi um dos maiores divulgadores da
ciência do século XX, pela sua habilidade e facilidade em tratar
de assuntos biológicos. Paleontólogo professor de Harvard, ele
manteve uma coluna mensal na revista Natural
History de 1973 a 2001, escrevendo mais
de 300 ensaios sobre história natural.
Em um desses artigos, chamado “Sexo
e tamanho”, publicado também em
seu livro “O sorriso do Flamingo”, ele
desmistifica a história de que, na
natureza, os machos são sempre
maiores que as fêmeas.
Seu texto começa falando sobre
pequenos moluscos com conchas, os crepidópodes da espécie
Crepidula fornicata, organismos que vivem uns sobre os outros
em amontoados, no qual os indivíduos menores do topo são
todos machos, enquanto que os organismos maiores situados na
base são fêmeas. Essa espécie na verdade é monóica, sendo que
os pequenos jovens desenvolvem-se em machos e, conforme
vão crescendo em tamanho, passam a
desenvolver órgão reprodutor
femin ino. Esse é um padrão de
desenvolvimento de organismos
hermafroditas chamado de
protandria, no qual se atinge a
maturidade sexual primeiro
como macho e é bastante
comum em invertebrados, grupo
mais numeroso em número de
espécies que o dos vertebrados,
táxon ao qual fazemos parte.
Para a fêmea é importante ter um corpo maior, já que é ela a
responsável por produzir os óvulos, células maiores por
conterem e transportarem organelas citoplasmáticas e
substâncias nutricionais para o embrião, ao contrário do
espermatozóide que é uma célula pequena responsável por
carregar somente o DNA. A lém disso, a fêmea geralmente
realiza o cuidado parental básico de carregar consigo os ovos,
protegendo-os. Logo, uma fêmea maior pode produzir maior
quantidade e qualidade de óvulos e filhotes.
No entanto, em alguns animais hermafroditas , os machos
são os indivíduos maiores. Isso ocorreria porque machos mais
competitivos (maiores e mais fortes) são os que conseguem
passar seus genes em maior quantidade para as próximas
gerações, já que são os que ganham o acesso às fêmeas. Como
a competição exige padrões de comportamento mais flexíveis e
amplos, o sistema nervoso desses animais tendem a ser mais
desenvolvido, como nos vertebrados, em que o padrão
protogínico (fêmea primeiro) é comum. Exemplos disso são
os peixes, como os da espécie Anthias squamipinis, que
vivem e m grupos de oito fêmeas e um macho. A competição
entre machos para manter o harém é intensa e a sua remoção
induz a mudança de sexo de uma das fêmeas do grupo, que
desenvolve coloração mais vistosa, espinhos maiores nas
nadadeiras, flâmulas mais elaboradas da nadadeira caudal,
além, é claro, do tamanho corpóreo maior.
Mais um exemplo de protandria, como nos invertebrados,
ocorre com as plantas da espécie Arisaema triphyllum, um
tipo de nabo selvagem. Essa é uma espécie díclina, ou seja, o
androceu e o gineceu ocorrem em flores diferentes.
Policansky, estudando plantas dessa espécie em
Massachussets nos Estados Unidos, registrou 2038
indivíduos, nos quais 1224 tinham flores masculinas com
média de altura de 336 mm, enquanto que 814 eram fêmeas
medindo em média 411 mm. Esse cientista constatou que a
altura de 380 mm era determinante para definir o sexo de
suas flores. Abaixo dessa altura a maioria dos indivíduos era
macho e acima, a maioria era fêmea. As plantas masculinas
tendiam a se transformar em fêmeas conforme crescessem e
as femin inas, por razões que levavam a planta a diminuir seu
tamanho (herbivoria, atrofia por causa da quantidade
insuficiente de luz ou desvio de reservas energéticas na
produção exagerada de sementes) passavam
a produzir flores com
estruturas masculinas.
Utilizando-se de um
organismo que pode
mudar de sexo em
qualquer direção
como conseqüência
direta do tamanho do
indivíduo, como
explicado no último
exemplo, Gould mostrou que a natureza operaria
preferencialmente com organis mos protândricos e que a
protoginia apresentada pelos vertebrados seria uma exceção a
essa regra. Muitas vezes tomamos como padrão
características que são comuns na nossa espécie ou nas mais
próximas filogeneticamente de nós. Dessa vez, Gould nos
mostrou que o homem não é a medida para todas as coisas .
Fonte: Gould, Stephen Jay. O sorriso do flamingo:
reflexões sobre história natural. 2 ed. São Paulo : Mart ins
Fontes, 2004. cap. 3: Sexo e tamanho, p. 45-51.
SAIBA MAIS:
Stephen Jay Gould nasceu em 1941, na cidade de Nova Iorque. Era paleontólogo, professor das
Universidades de Harvard e Nova Iorque, curador do Museu de Zoologia Comparada de Harvard, além
de um dos mais importantes escritores científicos de sua geração. Também é conhecido por desenvolver,
junto com o também paleontólogo Niles Eldredg, a teoria do equilíbrio pontuado, teoria que provocou
grande polêmica no meio acadêmico por contrapor o princípio do gradualismo usado por Darwin para
explicar a especiação dos organismos.
Escreveu durante 27 anos uma coluna na rev ista Natural History, colecionando mais de 300 ensaios
sobre História Natural e Evolução. Muitos destes textos foram publicados nos seus inúmeros livros,
como O polegar do panda, Dedo mindinho e seus vizinhos, O sorriso do flamingo, A falsa medida do
homem, Darwin e os enigmas da vida, dentre outros. Alguns destes títulos podem ser encontrados na
biblioteca do PET.
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 7
Evolução Humana é a mais perfeita? Soluços e
hérnias mostram que não
Por: Fab íola Garreto de Sousa
Soluços, hérnias e outras características que perturbam humanos têm origem
no nosso parentesco evolutivo com peixes e anfíbios, e do compartilhamento de
certos caracteres com os mesmos. Um exemplo claro disso é o longo e
dispendioso caminho do cordão espermát ico, que muitas vezes culmina, após
algum tempo, em uma maior suscetibilidade e fragilidade a diversos tipos de
hérnias nos homens. Além disso, os nervos herdados dos peixes no seu trajeto
do pescoço em direção ao diafragma podem desencadear soluços, processo
desencadeado pelo fechamento da passagem da traquéia, herdado dos anfíbios .
No caso do cordão espermát ico, as gônadas humanas têm o início do
desenvolvimento semelhante às dos tubarões, peixes e outros animais
vertebrados. Assim sendo, nos primeiros as gônadas se formam numa cavidade
abdominal alta do corpo, p róxima ao fígado e permanecem ali, sendo o esperma
provavelmente produzido nessa região. Nos mamíferos, o desenvolvimento se
diferencia dos animais aquáticos, pois na formação do feto masculino as
gônadas descem, no caso dos machos até o saco escrotal localizado fora do
corpo, caracterizando uma enorme importância na qualidade do esperma. E é aí
que mora o perigo: para que os testículos desçam até o saco escrotal, acabam
forçando o cordão espermático a uma virada em forma de laço , que nos homens
provoca uma fraqueza na parede abdominal, podendo ocasionar diversos tipos
de hérnias quando uma alça do intestino sai desse ponto fraco.
O exemplo dos soluços mostra a existência de duas vertentes de nossa
história: uma compart ilhada com os peixes e outra com anfíb ios . Dos peixes
herdamos os principais nervos da respiração, um desses denominado nervo
frênico, que estende-se da base do crânio ao tórax e ao diafragma, e qualquer
coisa que bloqueie o trajeto nesses nervos pode interferir diretamente na
respiração. Uma solução evolutiva mais racional seria colocar o in ício desses
nervos em um local mais próximo ao d iafragma, o que in felizmente não
aconteceu. O soluço, então, pode ser fruto do passado em comum que temos
com anfíbios, os quais possuem um padrão característico de músculos e nervos
na produção do soluço. Nesse caso, quando os girinos usam a respiração
branquial, precisam bombear água para a boca e garganta sem deixar que ela
entre nos pulmões, o que eles conseguem através do fechamento da glote,
impedindo a descida da água pelas vias respiratórias, uma forma de soluço
estendido.
Sendo assim, vemos que grande parte da nossa história aconteceu em
oceanos, córregos e savanas, diferentemente dos locais onde nos encontramos
hoje. Nossos ossos dos joelhos, costas e pulsos surgiram em criaturas aquáticas
há centenas de milhares de anos. Talvez esteja aí à exp licação do rompimento
de nossas cartilagens e dores nas costas ao andarmos sobre duas pernas, assim
como o porquê do desenvolvimento de síndromes e lesões por movimentos
repetitivos quando digitamos, escrevemos ou tocamos piano , por exemplo.
Nossos ancestrais não faziam nada disso, o projeto inicial de um peixe foi tão
modificado para andar ereto, falar, pensar, e ter capacidade motora que resultou
em um desastre com alto preço a ser pago pela transformação.
A partir disso vemos como nossa própria evolução nos levou a um beco sem
saída e como a própria tecnologia que criamos nos trouxe, apesar dos inúmeros
e indiscutíveis avanços, problemas fisiológicos, anatômicos e motores,
mostrando que ainda não estamos tão adaptados como costumamos pensar, e
que nossa adaptação também fo i para nós uma via de mão única, onde tanto
ganhamos quanto perdemos. Em um mundo sem essa história herdada, não
teríamos complicações como soluços e hérnias, no entanto também não
seríamos tão eficientes e com tantas habilidades únicas.
Fonte: Shubin, N. H. A ascensão do homem.
Revista Scientific American, edição especial, n. 37
A paradoxal atitude humana
Por: Rafael Cabral Borges
Quantos de nós, integrantes da sociedade
humana, já nos questionamos sobre nossa
atitude paradoxal em relação à natureza? Por
que, mesmo cientes das conseqüências
potencialmente irreversíveis dos nossos atos,
nós continuamos a destruí-la? Essa é a questão
levantada pelo pesquisador Franklin Rumjanek
(UFRJ) em seu artigo: Homo sapiens
„kamikazis‟ (Ciência Hoje, Março – 2010).
O autor inicia sua discussão fazendo uma
comparação entre homens e cavalos, que a
primeira vista pode ser considerada de mau
gosto e inconcebível, mas que quando
analisada, torna-se uma verdade na qual a
maioria dos homens não quer acreditar ou
aceitar. Os cavalos são conhecidos como
suicidas, pois podem cavalgar até a morte, se
esse for o desejo de seu cavaleiro, portanto,
eles abdicam da própria vida em favor do
desejo de seu cavaleiro. O autor usa uma
citação de William Faukner para mostrar o
desprezo que inúmeras pessoas sentem por
essa atitude.
Porém, apesar de desprezarmos tal atitude,
a sociedade humana percorre, já há algum
tempo, uma trajetória consciente de
autodestruição, comparável à do cavalo. A
natureza hoje passou a ser temida, a tecnologia
passou a ser nossa principal ferramenta de
destruição e as grandes metrópoles são o
melhor abrigo para nos proteger da natureza e
todos os seus “perigos”.
Se pararmos para analisar, a grande maioria
das nossas crianças já não tem e não querem
ter contato com a natureza por possuírem um
medo intrínseco de algo que elas nunca
tiveram contato. Atualmente, o conhecimento
das crianças sobre a natureza se restringe aos
animais capazes de lhes causar danos, já que,
para elas , o mundo “selvagem”, natural, é uma
ameaça, que pode se tornar real através de uma
mord ida, picada ou mesmo um terremoto ou
tsunami, pois são essas as imagens da natureza
divulgadas na maioria dos programas de
televisão.
É de grande importância que os biólogos
possam trabalhar em conjunto com os grupos
já existentes de pessoas que acreditam que as
crianças possam estar sofrendo de um déficit
de natureza, como fala Richard Louv (autor do
liv ro: A últ ima criança da floresta: salvando
nossas crianças do déficit de natureza).
Precisamos fazer parte da divulgação de toda a
beleza e vida das interações biológicas. E, o
mais importante, precisamos que as novas
gerações compreendam que a natureza precisa
ser preservada se nós quisermos continuar
sssssssssss vivos.
aaaaaaa Fonte: Rumjanek, F. Homo sapiens
qqqqqq „kamikazis‟. Ciência Hoje, vol.
AAAAAA 45, n. 268, p. 21, mar. 2010.
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 8
EE VV EE NN TT OO SS II CURSO DE CAMPO EM ORNITO LOGIA Data: 30 de Junho a 09 de Julho de 2010
Local: São Luís – MA Site: http://ejmutual.com.br/empresa/page/ii-curso-de-campo-em-ornitologia
CURSO DE FÉRIAS EM GENÉTICA E MELHO RAMENTO DE PLANTAS, LGN/ESALQ/USP Data: 12 a 16 de Julho de 2010 Local: Piracicaba – SP Site:http://www.genetica.esalq.usp.br/cursogmp
62ª REUNIÃO ANUAL DA SPBC Data: 25 a 30 de Julho de 2010 Local: Natal – RN Site: http://www.sbpcnet.org.br/natal
XV ENAPET – ENCO NTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET Data: 25 a 30 de Julho de 2010
Local: Natal – RN Site: http://www.ena.pet.ufrn.br/
XXXI ENEB - ENCONTRO NACIO NAL DOS ESTUDANTES DE BIO LOGIA Data: 08 a 14 de Agosto de 2010 Local: Feira de Santana – BA
Site: http://www.enebio.org/eneb2010/
XIII INTERNATIO NAL CONGRESS O F ACAROLOGY Data: 23 a 27 de Agosto de 2010 Local: Recife – PE Site: http://www.cenargen.embrapa.br/ica13/
25TH INTERNATIO NAL ORNITHO LOGICAL CONGRESS Data: 22 a 28 de Agosto de 2010
Local: Campos do Jordão - SP Site: http://www.acquaviva.com.br/ioc2010/
61º CONGRESSO NACIONAL DE BO TÂNICA Data: 05 a 10 de Setembro de 2010 Local: Manaus – AM
Site: http://www.61cnbot.com.br/
56º CONGRESSO BRASILEIRO DE GENÉTICA Data: 14 a 17 de Setembro de 2010 Local: Guarujá – SP Site: http://www.sbg.org.br/site/index.html
EE SS CC RR EE VV AA VV OO CC ÊÊ TT AAMM BB ÉÉMM Por: Priscila Marlys Sá Rivas
Nos últimos anos, muitas pesquisas têm focado no entendimento dos mecanis mos moleculares envolvidos no controle da síntese e
degradação de proteínas, uma vez que muitas doenças que acometem os seres humanos são resultado do desequilíbrio do turnorver
protéico. A desnutrição, anorexia, caquexia (perda excessiva de massa muscular em indivíduos co m câncer ou contaminados com
HIV), a sarcopenia (perda natural de massa muscular devido à idade), as distrofias musculares, alterações metabólicas e endócrinas
acarretam em um aumento da taxa de degradação protéica.
O músculo esquelético é o principal reservatório de proteína corporal e é o tecido que fornece essa macromolécula em estados de
deficiência protéica nos organismos. Para isso, as células musculares esqueléticas devem requisitar uma série de enzimas que atuam
degradando polipeptídeos. A via de proteólise não-lisossomal é realizada pelo sistema ubiquitina-proteossomo. Este sistema envolve o
complexo proteossomo, conhecido como 26S (constituído por 2 subunidades regulatórias, 11S e 19S, e por uma subunidade catalít ica,
20S) e pelas enzimas da família ubiquit ina. Este complexo não só degrada proteínas miofib rilares durante o catabolismo, mas também
proteínas intracelulares.
O processo de degradação protéica inicia-se pela a marcação da proteína alvo por uma série de enzimas – as ubiquitinas E1, E2 e
E3 – que adicionam monômeros de ubiquitina à cadeia das proteínas (poliubiquit inadas), alterando a estrutura das mesmas, que passa m
a estar desenroladas para melhor ação do sistema proteossomo. A segunda etapa constitui no reconhecimento da cadeia poli-Ub pela
subunidade 19S. Com energia fornecida por ATP-ases, o substrato é reconhecido, desdobrado e desubiquitinado. Os canais do
proteossomo 20S (subunidade catalítica) são abertos e a cadeia polipeptídica é degradada por hidró lise. As cadeias polipeptídicas
geradas são degradadas por exopeptidases. Estas possuem peso e tamanho variáveis e o mecanismo b ioquímico que gera estas
diferenças ainda não está bem elucidado.
Ubiquitinação da proteína-alvo e degradação pelo complexo proteossomo. Fonte: Mich & Goldberg, 1996.
O sistema ubiquit ina-proteossomo é regulado pela oferta de aminoácidos. Hamel e co laboradores (2003) demonstraram que os
aminoácidos isoleucina, leucina, tirosina, fenilalanina, triptofano, lisina, e arginina influenciam negativ amente a atividade do
proteossomo em células da musculatura esquelética. Quanto maior a quantidade de aminoácidos em nossa dieta, menores são as ta xas
de proteólise muscular. Esse processo de downregulation reflete as complexas interações que ocorrem em nosso organismo, que é uma
verdadeira máquina de controle das respostas celulares.
Fonte: BECHET, D. et al. Regulat ion of Skeletal Muscle proteolysis by Amino Acids. Journal of Renal Nutrition, vol 15 (1), p. 18-
22, 2005b.; CIENCHANOVER, A. Early work on the ubiquitin proteasome system, an interview with Aaron Ciechanover. Cell Death
Differ. vol. 12 (9), p. 1167–77, 2000; GORBEA, C. et al. Assembly of the regulatory complex of the 26S proteasome. Mol Biol Rep.
vol. 26 (1-2), p. 15–19, 1999; MITCH, W.E., GOLDBERG, A.L. Mechanisms of muscle wasting New England Journal of Medicine,
Boston, v.335, n.25, p.1897-1905, 1996.
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 9
MM OO NN OO GG RR AA FF IIAA SS Sazonalidade e os efeitos da luz, da pós-maturação e do
nitrato na germinação de sementes de três plantas
invasoras, ocorrentes em S ão Luís, MA, Brasil.
Aluno: Ariana Brelaz de Sousa
Orientador: Dr. Paulo Sérgio de Figueiredo
Relator: Dra. Emilia Girnos
Avaliação da Diversidade e Terópodes da Formação
Alcântara, com base nos Dentes da Coleção de Fósseis da
UFMA E CHAPADINHA.
Aluno: Emanuel Brandão Passos
Orientador: Dr. Manuel Alfredo Araújo Medeiros
Relator: Dr. Carlos Ruiz Martinez
Es tudo de mutações do Gene Presenilinal em indivíduos
com quadro sugestivo da Doença de Alzheimer no Es tado
do Maranhão.
Aluno: Carolina Malcher Amorim de Carvalho Silva
Orientador: Dra. Emygdia Rosa Leal Mesquita
Relator: Dr. Oliver Kuppinger
Diversidade de Herpetofauna Terrestre em Fragmentos
de Mata Amazônica circundados por ecossistemas
costeiros e antropizados na Ilha do Maranhão.
Aluno: Bruna Rafaela Pinheiro Mart ins
Orientador: Dra. Gilda Vasconcellos de Andrade
Relator: Dr. Carlos Martinez
Identi ficação de Cianobactérias e microcistina
encontradas em águas portuárias de São Luís, Ma, Brasil.
Aluno: Genilson Rodrigues Ferreira Lima
Orientador: Dr. Oliver Kuppinger
Relator: Dra. Emygdia Rosa Mesquita
Determinação da taxa de infecção de Lutzomyia
longipalpis por Leishmania em Imperatriz, estado do
Maranhão, Brasil: foco urbano de transmissão calazar.
Aluno: Bruno Rafael Rabelo Costa
Orientador: Dr. José Manuel Macário Rebelo
Relator: Dr. Oliver Kuppinger
Diagnóstico molecular da taxa de infecção natural de Lutzomyia longipalpis por Leishmania no município de
Barreirinhas.
Aluno: Matheus Silva A lves
Orientador: Dr. José Manuel Macário Rebelo
Relator: Oliver Kuppinger
Simulação do Ciclo de Vida de Mos quitos Aedes
(Díptera:Cilicidae) sob condições controladas de
Temperatura.
Aluno: Valéria Ferreira Cardoso
Orientador: Msc. Richardson Gomes
Relator: Dr. José Manuel Macário Rebelo
Avaliação dos potenciais impactos gerados pela compra
compulsiva de aparelhos celulares.
Aluno: Caio Henrique Ribeiro Garcia de Mederiros
Orientador: Msc. Richardson Gomes Lima da Silva
Relator: Dr. Murilo Drummond
LL II NN HH AA DD EE PP EE SS QQ UU IISS AA
Por: Agostinho Cardoso Nascimento Pereira
Nesta edição, a linha de pesquisa do Boletim Informativo
do PET divulga os projetos de caráter extensionista
desenvolvidos pelo Prof. Dr. Murilo Serg io Drummond,
vinculado à UFMA em 1986, como bolsista de
desenvolvimento científico regional CNPq.
Os projetos de extensão começaram a ser idealizados em
1990, devido à preocupação com a devastação da Reserva
Florestal do Sacavém, que na época servia como laboratório
natural para pesquisas e aulas práticas do Departamento de
Biologia (DEBIO). Nesse contexto alguns professores e
estudantes do DEBIO-UFMA fundaram a Associação
Maranhense Para a Conservação da Natureza (AMAVIDA).
A partir daí, o DEBIO realizou algumas ações por meio da
AMAVIDA, como a instalação da Base de Pesquisa do
Cajual e projetos como, por exemplo, o Projeto Verde
Vinhais, de ordenamento dos espaços públicos. Mas foi após
o retorno do doutorado no ano 2000, que as ações de
extensão foram intensificadas por meio de uma ação mais
direta nas comunidades rurais. Essas ações extensionistas
foram unificadas no Pro jeto Abelhas Nativas (PAN), que na
verdade trata-se de um programa, que engloba atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Dessas atividades surgiram
parcerias com órgãos públicos, empresas privadas, além de
ONGs e fundações.
O professor Murilo é coordenador do Projeto Abelhas
Nativas desde sua criação há 10 anos, este programa visa a
sustentabilidade de comunidades rurais através da
meliponicultura (criação de Abelhas Nativas sem Ferrão,
subtribo Meliponina). Atualmente um novo gestor para o
projeto esta sendo selecionado. Tal gestor deverá possuir
bastante conhecimento técnico, capacidade de relacionamento
e maturidade administrativa para gerir um projeto que é
multiinstitucional, uma vez que diferentes instituições atuam
apoiando financeiramente ou em suas ações específicas. Por
exemplo, a AMAVIDA atua na mobilização comunitária, a
UFMA e a UEMA atuam em pesquisas que visam solucionar
as demandas emergentes das comunidades, o Instituto Abelhas
Nativas (IAN) atua na capacitação técnica, certificação e
normatização do projeto, a Meliponina, uma empresa privada,
encarrega-se de comercializar os produtos do projeto, a Rede
de Pesquisa Abelhas Nativas com Fins Sociais (REPANS)
estabelece uma ligação entre as comunidades rurais e as
instituições de pesquisa permit indo assim uma transferência de
tecnologia da forma mais adequada para a melhoria do sistema
produtivo das comunidades. Por fim a associação dos
produtores atua disponibilizando para o mercado os produtos
das abelhas nativas das suas regiões. O projeto conta ou
contou com o apoio da ALUMAR, da Suzano Papel e
Celulose, da Fundação Banco do Brasil e do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este projeto
possui grande reconhecimento, o que é refletido nos prêmios
nacionais com os quais foi contemplado.
Atualmente, há uma parceria com o PET-Biologia no
desenvolvimento de um manual de orientação para professores
das escolas públicas rurais e um caderno de atividades para
crianças que serão trabalhados com o segundo volume de uma
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 10
série de 4 volumes da Cart ilha do Projeto Abelhas Nativas.
Este trabalho faz parte de uma meta de disseminar a cu ltura
da conservação das nossas abelhas nativas, no meio rural por
meio da escola formal.
Além do PET existem ainda alunos apoiando algumas
outras atividades. Normalmente os estudantes começam
realizando alguma at ividade de apoio de extensão ou de
pesquisa, no laboratório na UFMA. Posteriormente tem a
etapa de viagens para as áreas de atuação no interior do
Maranhão (nordeste), onde ele tem o contato mais direto com
as comunidades. A partir daí, dependendo muito mais da
iniciativa dos estudantes, eles podem começar a atuar mais
diretamente em ações de capacitação, e mesmo se sentir
estimulado para desenvolver alguma pesquisa de interesse
específico ao Projeto. Algumas, inclusive se tornam base para
uma monografia de conclusão de curso. Atualmente,
vinculado ao PAN, está sendo montada uma base de dados
georeferenciada (GEOPAM) para apoiar d iversas pesquisas
em ecologia e genética na área de atuação do projeto. A base
de dados Já possui amostras de aproximadamente 1.000
colônias de 22 espécies de abelhas nativas, que tem
estimulado parcerias com diversas universidades do Brasil.
EE NN TT RR EE VV II SS TT AA
Nesse boletim, entrevistamos a Bióloga Laís de Morais Rego Silva, graduada em Licenciatura e Bacharelado em
Ciências Biológicas pela UFMA, Mestre em Biodiversidade e Conservação pela UFMA e Pós -Graduanda em Auditoria e Perícia
Ambiental. Ela atualmente é Analista Ambiental do Departamento de Preservação e Conservação Ambiental (SEMA -Secretária de
Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão) responsável pela gestão das Unidades de Conservação do Maranhão.
No cargo desde 2007. Aproveite!
PET-BIO: Quais as unidades de conservação estaduais do
Maranhão?
Laís Silva: Existem 12 unidades estaduais, onde 4 são de
proteção integral e 8 são de uso sustentável (Áreas de Proteção
Ambiental – APA‟s). As primeiras são: Parque Estadual do
Mirador, Parque Estadual do Bacanga, Parque Marinho Parcel de
Manoel Luís e Estação Ecológica do Rangedor. As APA‟s da
Baixada Maranhense, da Foz do rio Preguiças - Pequenos
Lençóis – Região Lagunar Adjacente, das Reentrâncias
Maranhenses, do Itapiracó, do Maracanã, do Upaon-Açu –
Miritiba – A lto do Rio Preguiças, dos Morros Garapenses (criado
em 2008) e da Reserva de Recursos Naturais da Nascente do Rio
Balsas (que futuramente será re-,categorizada como APA)
compõem o segundo grupo.
PET-BIO: Qual o papel da S EMA ante tais unidades?
Laís Silva: A SEMA faz a gestão completa destas unidades:
criação, monitoramento, fiscalização e educação ambiental.
PET-BIO: Quais os principais problemas enfrentados
pelas nossas Unidades nos últimos anos?
Laís Silva: Um dos maiores problemas de todas as nossas
unidades estaduais é a falta dos instrumentos de gestão,
principalmente em relação ao p lano de manejo e conselho
consultivo. As únicas unidades que têm plano de manejo são o
Parque Estadual do Bacanga e a APA do Itapiracó. Neste
momento, estamos elaborando o do Parque Estadual do Mirador.
A APA dos Morros Garapenses é a primeira a ter um conselho
consultivo e este foi recentemente criado. Então, em relação à
elaboração de um instrumento de gestão ainda estamos
caminhando, e sem ele fica difícil conduzir normas dentro das
unidades. No caso das APA‟s, por serem mais permissivas diante
a lei, o plano de manejo é essencial para definir quais são as
regras a serem respeitadas nas mesmas. Outro problema é em
relação aos trabalhos de fiscalização feitos dentro das unidades.
Há um contraste entre nosso pequeno contingente e as APA‟s
que são gigantescas, como por exemplos, a APA das
Reentrâncias Maranhenses com 2 milhões de hectares, a APA da
Baixada Maranhense com 1,7 milhões de hectares e a APA
Upaon Açu – Mirit iba que tem mais de 1 milhão de hectares.
Há apenas 5 analistas ambientais no departamento, em
contraste com as nossas doze unidades. Tal fato se explica
pelos poucos concursos públicos e pequenos números de vagas
oferecidas e, como em todo Brasil, pelo destino de pequenos
recursos à Secretaria de Meio Ambiente, que é o menor de
todos os oferecidos a secretarias.
PET-BIO: Quais trabalhos estão sendo realizados para
promover o uso sustentável e preservação da
biodiversidade nessas áreas? As comunidades têm se
mostrado participativas?
Laís Silva: O trabalho de fiscalização é realizado através do
contato tanto com o poder público quanto com a comunidade.
Do ano passado pra cá, nós temos ido até as unidades em
alguns municípios e pedido ao poder público, sindicatos,
cooperativas e associações as demandas de crimes ambientais
e, a partir destes, realizamos as fiscalizações e autuações, com
multas ou não, dependendo da situação. Em seguida levamos
os casos para o min istério público do município para que o
mes mo possa ter uma ação mais direta naquela região. Só que
nós não conseguimos alcançar todos os municípios. Também
existem algumas parcerias que estão sendo feitas com o
Ministério do Meio Ambiente e projetos estão sendo
elaborados para as APA‟s das Reentrâncias, Baixada e Parcel
de Manoel Luís. Estas três áreas, além de serem unidades de
conservação, são Sítios Ramsar, que são áreas que possuem um
selo muito importante por conter áreas internacionalmente
reconhecidas como zonas úmidas. Do Brasil, só o Maranhão
possui três Sítios Ramsar e projetos têm sido elaborados em
parceria com o Ministério do Meio Ambiente para serem
enviados para fundos internacionais.
PET-BIO: Como é feito o monitoramento nessas áreas de
modo que se possa acompanhar a qualidade ambiental das
mesmas?
Laís Silva: Ele é realizado junto às atividades de fiscalização e
é a que nós menos efetuamos. O que mais realizamos são as
fiscalizações, e junto destas verificamos quais os
empreendimentos que estão com as licenças em d ia. A parte de
Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 11
Es tá aberto mais um EDITAL DE S ELEÇÃO do PET!
Período de inscrição: 23/06 a 05/07/2010 na sala do PET/Bio logia no Departamento de Biologia/UFMA
06/07 das 13:00 às 14:00: Palestra sobre “O PET e a indissociabilidade entre ensino, pes quisa e extensão” – Grupo PET
( DEBIO/UFMA)
07/07 das 16:00 às 18:00: Prova de Redação (DEBIO/UFMA)
08/07 das 16:00 às 18:00: Prova de Inglês (DEBIO/UFMA)
12/07 a partir das 17:30: Apresentação das propostas de projetos (DEBIO/UFMA)
Para download do edital completo acesse: http://pet.ufma.br/b iologia/
monitoramento feita por nós é basicamente esta de acompanhar
as licenças dos empreendimentos. No momento a Secretaria não
tem programas de monitoramento ambiental e qualidade de água
dentro das unidades. Na APA das Reentrâncias Maranhenses
existe um trabalho federal de monitoramento de aves migratórias
e caranguejos feito pela SEMAF e o SETEME (órgãos federais
ligados ao IBAMA). Monitorar não é competência exclusiva do
órgão ambiental. Ele também é competência das Universidades
que podem realizar pesquisas, de ONG‟s que trabalham com
meio ambiente, e muitos destes não o fazem. O órgão ambiental
nunca vai ter “mãos e pés” pra fazer todo o serviço necessário e
este, por sua vez, não é competência exclusiva dele. Todos têm
que fazer sua parte. Não se observa conectividade entre as
Universidades e a Secretaria. Apesar de professores realizarem
pesquisas dentro das unidades de conservação não há o envio de
informações obtidas nas mesmas para órgão ambiental. Já
realizamos pedidos, mas não houve respostas. E isto resulta
numa falta de dados na SEMA para embasar nossos pareceres.
As Universidades acabam produzindo conhecimento pra elas
próprias, congressos e seminários, e não fazem a extensão deste
para as comunidades e a realização da gestão. Elas produzem
conhecimento para a criação e reconhecimento da importância de
reservas, mas não para a sua gestão. O órgão ambiental não te m
como fazer esta parte do monitoramento. Ele tem que ser feito
pelos órgãos de pesquisa como a EMBRAPA, FAPEMA e
Universidades. E a falta de conectividade entre tais órgãos e a
Secretaria é uma falha grave e real não apenas no Maranhão, mas
também em outros estados. Culpar a SEMA, o IBAMA e o
ICMBIO é muito mais fácil.
PET-BIO: Quais os nossos parques “ativos” e quais
atividades estão sendo desenvolvidas em cada um deles?
Laís Silva: Um grande exemplo de unidade de conservação que
temos é a do Parque Estadual do Mirador que tem 435 mil
hectares e é uma área super conservada. Lá nós temos 22 guarda-
parques que trabalham para uma cooperativa conveniada à
Secretaria, e estes fazem os trabalhos de fiscalização e
monitoramento em carros e motos, sendo que existem nove
postos de fiscalização dentro do parque onde os guarda-parques
moram com suas famílias e tem toda uma estrutura apropriada
para o trabalho. O plano de manejo está sendo elaborado agora
por uma equipe da UFMA. O Parque Marinho Parcel de Manoel
Lu ís é uma área que não temos acesso por ser muito distante. No
Parque Estadual do Bacanga, que tem uma realidade bem
complexa por se situar no ambiente urbano e ser circundado por
uma área de invasão, são realizadas algumas fiscalizações e está
por ser iniciada a mobilização da comunidade local para a
elaboração de um conselho consultivo. A instalação de um
hospital dentro do Parque foi impedida pelo parecer negativo
dado tanto pela SEMA quanto pela CAEMA. Este parque tem
uma importância muito grande pela quantidade de nascentes que
contém e pela Represa do Batatã que abastece mais de 10% de
São Luís e representa um desafio por ser uma área de proteção
integral dentro de um ambiente urbano.
PET-BIO: Não poderíamos deixar de perguntar sobre o
nosso parque na Estação Ecológica do Rangedor. Como se
explicaria o fato de nossa nova Assembléia Legislativa ter
sido construído em meio a uma unidade de conservação?
Laís Silva: Em linhas gerais, na verdade o que aconteceu foi
que antes da Estação Ecológica ter sido criada a Assembléia
Legislat iva tinha pleiteado a área para construção da sua sede.
Como já se sabia que o solo daquela área é muito poroso e
consistia numa área de recarga de aqüíferos, estabeleceu-se um
acordo de que a área seria concedida para a Assembléia e em
troca se criaria uma unidade de conservação de proteção
integral das mais restrit ivas, no caso, ou uma Estação
Ecológica ou uma Reserva Biológica, sendo a primeira mais
adequada devido à pequena quantidade de fauna na área. Então,
criou-se em 2005 a Estação Ecológica do Rangedor sem ser
incluída nela a área onde seria criada a sede da Assembléia. O
que aconteceu de errado foi a instalação do portal de entrada
que deveria ter sido construído, conforme o acordo, pela
entrada do SEBRAE e não pela Av. Jerônimo de Albuquerque.
A Assembléia mudou de idéia e pediu uma licença de desmate
que foi concedida pela SEMA sem passar pelo nosso
departamento, e isto resultou num desmate que ainda foi maior
do que o que estava previsto na licença. Então, nem a licença
deveria ter sido concedida, nem a Assembléia deveria ter
desmatado além do previsto pela licença concedida. Houve erro
das duas partes. A Assembléia foi multada por isso, mas não
tenho informações sobre o pagamento ou não da mesma.
PET-BIO: Há disponível dados sobre a biodiversidade
nestas unidades de conservação?
Laís Silva: Não. Existem apenas diagnósticos iniciais. A falta
de conectividade com as Universidades dificu lta tal trabalho.
PET-BIO: Quais as futuras pers pectivas para a gestão das
nossas unidades de conservação?
Laís Silva: Uma boa perspectiva que temos é a recente
elaboração do Sistema Estadual de Unidades de Conservação
(SEUC) que é um passo muito importante para a elaboração da
política estadual das unidades. Fizemos uma proposta que está
sob consulta pública pra poder passar por todo tramite
burocrático de votação na Assembléia e posterior geração de
lei. Assim poderemos traçar mais normas e restrições dentro
das nossas unidades. E sempre ficamos na expectativa da
elaboração dos instrumentos de gestão para as mesmas. Já
criamos o Conselho Consultivo da APA dos Morros
Garapenses, e estamos nos mobilizando para a elaboração do
Conselho Consultivo do Parque Estadual do Bacanga, do
Mirador e do Itapiracó para este ano. Tais realizações já
representarão grandes avanços.
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Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 12
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Por: Carlos Celso Frazão Saraiva Junior
Telhados verdes vivos
Temperaturas mais amenas no verão e no inverno, isolamento acústico, economia de energia, redução das ilhas de calor nos
centros urbanos, diminuição da quantidade de água escorrendo pelas ruas em dias de chuva forte, ar menos poluído. Essas são as
vantagens de instalar, no alto de casas e prédios, os chamados telhados verdes – que são canteiros produzidos especialmente para
essa área da edificação. A ideia não é nova, afinal já no século XIX eram comuns as cabanas feitas com teto coberto de gramín eas
nos Estados Unidos. Desde a década de 1960, a Europa também adotou a moda. Mas há poucos anos ela começou a se espalhar de
verdade e ganhar terreno nas grandes cidades, locais que mais lucram com essa iniciativa.
É importante lembrar, sempre, que não basta pegar um monte de terra e umas sementes e jogar no telhado. O primeiro passo
para construir um telhado verde em sua casa é contratar um engenheiro que avalie a estrutura da obra, para saber se ela compo rta o
peso que será acrescentado lá em cima. Por esse motivo é mais difícil uma casa já construída obter um telhado verde do que uma
casa que ainda será construída. Porém para atender à demanda de quem já tem sua casa construída, algumas opções interessantes
têm surgido. Um dos exemplos é o telhado verde alveolar patenteado pela empresa Ecotelhado, de Porto Alegre (RS), que chega a
ser quase dez vezes mais leve que os tradicionais. O segredo para a leveza? Eles não usam terra e sim um sistema com todas as
características que a terra tem e que são fundamentais para a planta: lugar de fixação, aeração, acúmulo de água e nutrientes, mas
sem seu peso.
O esquema é muito parecido com o tradicional, em linhas gerais: primeiro há uma membrana anti-raízes. Logo depois, uma
membrana para retenção de água, feita de material PET reciclado. Acima, uma membrana filtrante, que não permite a passagem de
sujeira para baixo. Os preços para a implantação desse tipo de telhado é de cerca de R$ 90 por m².
Atualmente, um grande exemplo da aplicação do telhado verde, é encontrado na cidade de São Paulo, na cobertura do edifício
da prefeitura de SP, considerada uma das maiores biocoberturas da cidade.
Fonte: www.oeco.com.br
Noticia orig inal escrita por Lucia Nascimento.
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Bo letim do PET nº 12 Junho/2010 p. 13
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