METADISCURSO INTERPESSOAL EM ARTIGOS ACADÊMICOS

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  • 8/2/2019 METADISCURSO INTERPESSOAL EM ARTIGOS ACADMICOS

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    Cibele Gadelha Bernardino

    O METADISCURSO INTERPESSOAL EM ARTIGOS

    ACADMICOS: ESPAO DE NEGOCIAES E CONSTRUO

    DE POSICIONAMENTOS

    Belo HorizonteUFMG - FALE - POSLIN

    2007

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    Cibele Gadelha Bernardino

    O METADISCURSO INTERPESSOAL EM ARTIGOS

    ACADMICOS: ESPAO DE NEGOCIAES E CONSTRUO

    DE POSICIONAMENTOS

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

    Estudos Lingsticos da Faculdade de Letras da

    Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos

    requisitos necessrios para a obteno do ttulo de

    Doutora em Lingstica Aplicada.

    rea de concentrao: Lingstica Aplicada

    Linha de Pesquisa: Estudos da Linguagem, Identidade e

    Representao.

    Orientadora - Profa. Dra. Adriana Silvina Pagano.

    Belo HorizonteUFMG FALE POSLIN

    2007

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    B423m Bernardino, Cibele GadelhaO metadiscurso interpessoal em artigos acadmicos:

    espao de negociaes e construo de posicionamentos /

    Cibele Gadelha Bernardino. Belo Horizonte, 2007.243 p.Orientadora: Prof. Dr. Adriana Silvina PaganoTese (Doutorado em Lingstica Aplicada)

    Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.1. Artigo acadmico. 2. Metadiscurso interpessoal. 3.

    Marcadores metadiscursivos. I. Universidade Federal deMinas Gerais.

    CDD:410

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, sempre.

    A minha famlia, pelo apoio e imenso carinho.

    Ao meu amado irmo Cid Gadelha, pela presenasempre carinhosa.

    Ao meu amado esposo Vladimir Rosas Rodrigues pelo

    apoio e carinho.

    professora Adriana Silvina Pagano, pela orientao

    atenciosa e competente.

    Aos queridos amigos sempre presentes Adail Rodrigues

    Junior e Edemar Amaral Cavalcante, pelo apoio,presena e carinho incondicionais.

    A minha querida amiga Tatiana Macedo, pela presena

    amiga e dedicada.

    Aos amigos Paulo Henrique Caetano e Carolina Duarte

    Santana, pelo companheirismo e carinho.

    querida amiga Tarcileide Bezerra, pela amizade

    sincera sempre presente. amiga Ana Maria Pereira, pelo apoio.

    s instituies Universidade Estadual do Cear e

    CAPES.

    Aos membros do projeto CORDIALL da Faculdade de

    Letras da UFMG.

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    RESUMO

    Esta tese investiga a construo do metadiscurso interpessoal em exemplares de artigosacadmicos produzidos por autores(as) brasileiros(as), visando indagar como osmarcadores metadiscursivos interpessoais (HYLAND, 2000) realizados por adjuntos

    modais (HALLIDAY, 1994) so utilizados pelos(as) autores(as) brasileiros(as) da reade lingstica em exemplares de artigos acadmicos experimentais, tericos e dereviso de literatura (SWALES, 2004). Para cumprir tal objetivo, investigamos umcorpus composto por 10 exemplares de artigos experimentais, 10 exemplares de artigosde reviso de literatura e de 10 exemplares de artigos tericos, compilados a partir deexemplares do peridico D.E.L.T.A. disponveis no site http://www.scielo.br, epublicados no perodo compreendido entre os anos de 1997 e 2004. Para o levantamentoe mapeamento dos adjuntos modais que funcionaram como marcadores interpessoais foifeita uma anotao manual do corpus que permitiu extrair dados quantitativos com oprograma WordSmith Tools. No primeiro momento de anlise, os advrbios quefuncionaram como adjuntos modais foram manualmente anotados, depois fizemos uma

    classificao dos tipos de adjuntos segundo Halliday (1994) e Halliday & Matthiessen(2004) em dilogo com abordagens funcionais do portugus (NEVES, 2000). Em umterceiro momento, identificamos os adjuntos modais que funcionaram como marcadoresinterpessoais (HYLAND,1998/2000). Por fim, uma anlise mais detalhada de cada tipode artigo e de suas unidades retricas foi realizada para examinar os marcadoresinterpessoais em seus co-textos. A anlise dos dados apontou para os seguintesresultados: (a) nos trs corpora o marcador metadiscursivo mais utilizado pelos(as)autores(as) foi o marcador atributivo realizado por adjuntos modais de validade,intensidade e usualidade; (b) Os marcadores metadiscursivos de nfase foram realizadospor adjuntos modais de suposio, persuaso, probabilidade, obviedade e intensidade eo nmero de ocorrncias desses marcadores foi muito prximo nas trs categorias de

    artigos, sendo levemente maior em artigos tericos (c) os marcadores metadiscursivosde atenuao foram realizados, nos trs corpora, por adjuntos modais de probabilidade esuposio, com predomnio absoluto dos adjuntos de probabilidade. O nmero demarcadores de atenuao foi bastante superior nos exemplares dos artigos experimentaisse comparado ao nmero desses marcadores em artigos tericos e de reviso deliteratura; e (d) os marcadores metadiscursivos atitudinais realizados pelos adjuntosmodais de desejo, predio e intensidade foram os menos utilizados em todas as trscategorias de artigos. importante salientar que os(as) autores(as) de artigosexperimentais utilizaram mais marcadores metadiscursivos que os(as) autores(as) deartigos tericos e de reviso de literatura. Esta distino deve-se, principalmente, sdiferenas quanto ao uso dos marcadores metadiscursivos interpessoais de atenuaonos trs corpora, uma vez que esse tipo de recurso metadiscursivo foi,preferencialmente, utilizado nos artigos experimentais. Este fato deve-se presenamarcante desses marcadores na unidade retrica Resultados e Discusso, que tpicados artigos experimentais. Isto indica que em contraste com artigos tericos e de revisode literatura, em artigos experimentais, os(as) autores(as) parecem ter uma maiorpreocupao em atenuar a fora asseverativa de suas afirmaes, assim como emapresentar-se como fonte de suas proposies, deixando um espao de negociao maisamplamente aberto com seus pares da comunidade disciplinar.

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    ABSTRACT

    This dissertation examines metadiscourse (Hyland, 1998/2000) in research articleswritten by Brazilian researchers within the field of linguistics with a view to

    investigating the role of interpersonal markers (Hyland, 2000) realized by modaladjuncts (Halliday, 1994) in the writers projection of a stance and negotiation withtheir academic disciplinary communities. In order to pursue this, drawing on Swales(2004) a corpus composed by 10 experimental articles, 10 theoretical articles and 10review articles published between 1997 and 2004 was compiled from a Brazilianindexed journal (DELTA). Firstly adverbs functioning as modal adjuncts were manuallyannotated in the corpus and quantitative data regarding their occurrence per article andper rhetorical section were retrieved with the software Wordsmith Tools. In a secondstage, adjuncts were classified following Halliday (1994) and Halliday & Matthiessen(2004) supplemented by insights gathered from functional approaches to Portuguese

    (NEVES, 2000). A third step was to identify modal adjuncts functioning asinterpersonal markers according to Hyland (1998/2000). Finally, a more detailedanalysis of articles of each type was carried out in order to examine markersinterpersonal within their co-text. Our analysis shows that attribute markers realized bymodal adjuncts of validity, intensity and usuality were the most frequent markersoccurring in the three types of research articles. Metadiscourse markers of emphasisrealized by modal adjuncts of presumption, persuasion, probability, obviousness andintensity also occurred in the three types of articles, their frequency being slightlyhigher in theoretical articles. Moreover, the three types of article showed occurrences ofhegdes, which were realized by modal adjuncts of probability and presumption, theformer being significantly more frequent. Our analysis further shows that hedgesoccurred more frequently in experimental articles than theoretical and review articlesand that attitudinal markers realized by modal adjuncts of desire, prediction andintensity were the least frequently used category in all the three types of articles. Of thethree types of articles, experimental articles showed the highest frequency ofmetadiscourse markers, mostly due to the significant occurrence of hedges in this typeof articles, particularly in the rhetorical section of Results and Discussion, a sectiontypically present in experimental articles. This seems to point to a concern on the partof writers of experimental articles about expressing statements with caution andnegotiating their claims to gain acceptance in their disciplinary communities.

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AA Artigo Acadmico

    AE Artigo ExperimentalAT Artigo Terico

    AR Artigo de Reviso

    ADM Adjunto Modal

    ADMINT Adjunto Modal de Intensidade

    ADMINT-MAT Marcador Atitudinal realizado por

    Adjunto Modal de Intensidade

    ADMINT-MATR Marcador Atributivo realizado por

    Adjunto Modal de Intensidade

    ADMINT-ME Marcador de nfase realizado por

    Adjunto Modal de Intensidade

    ADMOBV Adjunto Modal de Obviedade

    ADMOBV-ME Marcador de nfase realizado por

    Adjunto Modal de Obviedade

    ADMPERS Adjunto Modal de Persuaso

    ADMPERS-ME Marcador de nfase realizado por

    Adjunto Modal de Persuaso

    ADMPOL Adjunto Modal de Polaridade

    ADMPRED Adjunto Modal de Predio

    ADMPRED-MAT Marcador atitudinal realizado por

    Adjunto Modal de Predio

    ADMPRO Adjunto Modal de Probabilidade

    ADMPRO-MA Marcador de Atenuao realizado

    por Adjunto Modal de

    Probabilidade

    ADMPRO-ME Marcador de nfase realizado por

    Adjunto Modal de Probabilidade

    ADMSUP Adjunto Modal de Suposio

    ADMSUP-MA Marcador de Atenuao realizado

    por Adjunto Modal de Suposio

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    ADMSUP-ME Marcador de nfase realizado por

    Adjunto Modal de Suposio

    ADMTEM Adjunto Modal de Tempo

    ADMTIP Adjunto Modal de Tipicidade

    ADMUSU Adjunto Modal de Usualidade

    ADMUSU-MATR Marcador atributivo realizado por

    Adjunto Modal de Usualidade

    ADMVAL Adjunto Modal de Validade

    ADMVAL-MATR Marcador atributivo realizado por

    Adjunto Modal de Validade

    EGPE Estudos de Gneros para

    propsitos Aplicados

    GSF Gramtica Sistmico-Funcional

    LSF Lingstica Sistmico-Funcional

    MA Marcador de Atenuao

    MAT Marcador Atitudinal

    MATR Marcador Atributivo

    ME Marcador de nfase

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    LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 - Metforas de gnero (SWALES, 2004:68)................................................ 35

    FIGURA 2 - Modelo CARS (Swales, 1990:141)............................................................ 41FIGURA 3 - Sntese da organizao retrica da seo de Resultados e Discusso ....... 45

    FIGURA 4 - Esquema demonstrativo do Sistema de Modo da Lngua ......................... 78

    FIGURA 5 - Sistema dos adjuntos de modo (Halliday; Matthiessen, 2004:128)........... 85

    FIGURA 6 - System network of modality (Halliday; Matthiessen, 2004:150).............. 90

    FIGURA 7 - Excertos do corpus 1 que apresentam os objetivos dos exemplares dos

    Artigos experimentais (AE)....................................................................... 120

    FIGURA 8 - Excertos do corpus 2 que apresentam os objetivos dos exemplares dos

    Artigos tericos (AT)............................................................................ 123

    FIGURA 9 - Excertos do corpus 3 que apresentam os objetivos dos exemplares dos

    Artigos de reviso de literatura (AR)......................................................... 126

    FIGURA 10 - Significados dos adjuntos modais de intensidade..................................... 142

    FIGURA 11 - Significados dos marcadores metadiscursivos de atenuao realizados

    por adjuntos modais (advrbios simples) no corpus de artigos

    experimentais............................................................................................. 166

    FIGURA 12 - Significados metadiscursivos dos marcadores de atenuao realizados

    por adjuntos modais (advrbios simples) no corpus de artigostericos....................................................................................................... 188

    FIGURA 13 Significados construdos pelos marcadores metadiscursivos de

    atenuao em artigos de reviso de literatura............................................ 207

    FIGURA 14 - Resumo das ocorrncias dos marcadores metadiscursivos interpessoais

    em artigos experimentais........................................................................... 220

    FIGURA 15 - Resumo das ocorrncias dos marcadores metadiscursivos interpessoais

    em artigos tericos..................................................................................... 221

    FIGURA 16 - Resumo das ocorrncias dos marcadores metadiscursivos interpessoaisem artigos de reviso de literatura............................................................ 222

    QUADRO 1 - MODO 1 orao declarativa afirmativa.................................................. 79

    QUADRO 2 - Funes discursivas tipos de modo da orao........................................ 80

    QUADRO 3 - Adjuntos de modalidade e polaridade........................................................ 84

    QUADRO 4 - Adjuntos modais de temporalidade............................................................ 84

    QUADRO 5 - Adjuntos modais de modo......................................................................... 84

    QUADRO 6 - Realizaes metafricas de modalidade ................................................... 88

    QUADRO 7 - Modalidade: variveis de tipo e orientao combinadas........................... 92

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    QUADRO 8 - Valores da modalidade............................................................................... 92

    QUADRO 9 - Tipo X valor X polaridade......................................................................... 93

    QUADRO 10 - Adjuntos de comentrio e seus significados............................................. 95

    QUADRO 11 - Adjuntos de comentrio............................................................................. 96

    QUADRO 12 - Classes de adjuntos X Significados construdos na linguagem................. 105

    QUADRO 13 - Organizao retrica dos exemplares de artigos acadmicos do corpus

    da anlise piloto......................................................................................... 111

    QUADRO 14 - Unidades retricas dos artigos experimentais do corpus 1........................ 121

    QUADRO 15 - Unidades retricas dos artigos tericos do corpus 2.................................. 124

    QUADRO 16 - Unidades retricas dos exemplares do artigo de reviso (AR) (corpus

    3)................................................................................................................ 126

    QUADRO 17 - Advrbios dos corpora 1,2 e 3 que funcionaram como adjuntos modais

    (modalizao)............................................................................................. 146

    QUADRO 18 - Significados dos marcadores de nfase realizados por adjuntos modais

    (advrbios simples) no corpus de artigos experimentais........................... 174

    QUADRO 19 - Significados dos marcadores de nfase realizados por adjuntos modais

    (advrbios simples) no corpus de artigos tericos..................................... 196

    QUADRO 20 - Significados dos marcadores de nfase em exemplares de artigos de

    reviso de literatura.................................................................................... 210

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    LISTA DE TABELAS

    1- Percentual de adjuntos modais realizados por advrbios simples em relao ao

    total de palavras no-repetidas (8.664) do corpus 1 (10 artigos experimentais

    completos)............................................................................................................. 147

    2 - Percentual dos tipos de adjuntos modais em relao ao total de adjuntos modais

    (1.019) do corpus 1 (10 artigos experimentais completos)................................... 148

    3 - Distribuio dos adjuntos modais no corpus 1 (10 Artigos experimentais

    completos) (resultado do clculo da Lista de Consistncia

    Detalhada).............................................................................................................. 149

    4 - Percentual de adjuntos modais realizados por advrbios simples em relao ao

    total de palavras no-repetidas (7.710) do corpus 2 (10 artigos tericos

    completos)............................................................................................................. 149

    5 - Percentual dos tipos de adjuntos modais em relao ao total de adjuntos modais

    (902) do corpus 2 (10 artigos tericos completos)................................................ 150

    6 - Distribuio dos adjuntos modais no corpus 2 (10 artigos tericos completos)

    (Resultado do clculo da Lista de Consistncia Detalhada).................................. 1517 - Percentual de adjuntos modais realizados por advrbios simples em relao ao

    total de palavras no-repetidas (10.067) do corpus 3 (10 Artigos de Reviso

    completos)............................................................................................................. 151

    8 - Percentual dos tipos de adjuntos modais em relao ao total de adjuntos modais

    (962) do corpus 3 (10 Artigos de Reviso completos).......................................... 152

    9 - Distribuio dos adjuntos modais no corpus 3 (10 Artigos de Reviso

    completos) (Resultado do clculo da Lista de Consistncia Detalhada)............... 15310 - Comparao entre os corpora 1, 2 e 3................................................................... 153

    11 - Comparao entre as ocorrncias de marcadores interpessoais nos corpora 1, 2

    e 3.......................................................................................................................... 158

    12 - Marcadores do metadiscurso interpessoal por unidade retrica artigos

    experimentais (5 exemplares)................................................................................ 159

    13 - Marcadores do metadiscurso interpessoal por unidade retrica artigos

    tericos (5 exemplares).......................................................................................... 184

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    14 - Marcadores do metadiscurso interpessoal por unidade retrica artigos de

    reviso de literatura (5 exemplares)...................................................................... 204

    15 - Marcadores interpessoais atributivos realizados por adjuntos modais de

    usualidade.............................................................................................................. 214

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    SUMRIO

    RESUMO....................................................................................................................... 04

    ABSTRACT.................................................................................................................. 05

    CAPTULO 1: INTRODUO.................................................................................... 13

    1.1 As questes e os objetivos que mobilizaram a pesquisa.......................................... 131.2 A organizao retrica do texto da Tese.................................................................. 19

    CAPTULO 2: GNEROS ACADMICOS: ESPAO DE NEGOCIAES E

    CONSTRUO DE POSICIONAMENTOS............................................................... 21

    2.1 Um panorama dos estudos sobre gneros textuais.................................................. 212.2 Algumas breves consideraes sobre o gnero artigo acadmico........................... 392.3 Estudos sobre significados interpessoais em gneros acadmicos......................... 46

    CAPTULO 3: ELEMENTOS TERICOS PARA COMPREENSO DACONSTRUO DOS SIGNIFICADOS INTERPESSOAIS DA LINGUAGEM....... 55

    3.1 O estudo sobre modalidade: um breve panorama.................................................... 553.2 Um panorama sobre a categoria dos advrbios....................................................... 603.3 Metafuno interpessoal: a gramtica da interao................................................. 75

    CAPTULO 4: METODOLOGIA................................................................................. 108

    4.1 O objeto de estudo................................................................................................... 1094.2 Descrio dos corpora de anlise............................................................................ 1104.3 Procedimentos de anlise.........................................................................................

    112

    CAPTULO 5: OBSERVANDO OS ADJUNTOS MODAIS....................................... 119

    5.1 Reconhecendo e classificando os adjuntos modais nos exemplares dos corpora1, 2 e 3.................................................................................................................... 1285.2 Apresentando a freqncia e a distribuio dos adjuntos modais nos exemplaresdos corpora 1,2 e 3........................................................................................................ 146

    CAPTULO 6: OBSERVANDO OS MARCADORES METADISCURSIVOS.......... 157

    CAPTULO 7: CONSIDERAES FINAIS............................................................... 218

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................... 235

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    Captulo 1

    Introduo

    Significant genres, such as the research article (RA),are integral to a disciplines methodology as theyensure that information is conveyed in ways thatconform to its norms and ideology. Thus for writers topublish and influence their fields, they must exploittheir understanding of these genres.

    Ken Hyland, Writing without conviction? Hedging inscience research articles.

    1.1 As questes e os objetivos que mobilizaram a pesquisa

    Acredito que a inquietao necessria para a gestao de uma pesquisa pode

    partir de trs pontos: de lacunas tericas as quais o(a) pesquisador(a) almeja preencher e

    para tanto busca um locus de anlise que lhe seja frtil; do contato com um objeto que

    provoque questes relevantes a um ambiente terico, ou da interseo entre estes dois

    pontos de partida. Posiciono-me no ponto de partida da interseo, posto que, por um

    lado, as questes referentes s diversas esferas da interao social e os gneros textuais

    que as mobilizam tm sido objeto de meu interesse e estudo desde 1999, quando iniciei

    a pesquisa para minha dissertao de mestrado (BERNARDINO, 2000) e, por outro

    lado, o gnero artigo acadmico passou a ocupar a minha ateno, em meados de 2002,

    particularmente no que diz respeito construo dos posicionamentos e das avaliaes

    dos(as) pesquisadores(ras). , pois, a partir deste encontro entre um campo terico, a

    Anlise de Gneros, e um objeto de anlise, o artigo acadmico, que localizo a questo

    central que impulsiona esta pesquisa, a saber: como os(as) pesquisadores(as) constroem

    seus posicionamentos e suas avaliaes no gnero textual artigo acadmico?

    relevante salientar que foi no espao do Programa de Ps-Graduao em

    Estudos Lingsticos da Universidade Federal de Minas Gerais que encontrei o terreno

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    favorvel para a investigao desta questo. Pois foi neste espao que pude desenvolver

    um trabalho consistente a partir da formao do grupo de pesquisa registrado no

    diretrio do CNPq, Conhecimento Experto em Comunidades Disciplinares

    Acadmicas. E exatamente porque esta pesquisa nasceu e se desenvolveu no

    ambiente desse grupo e sob a presente orientao da prof. Adriana Pagano que passo, a

    partir deste ponto do meu texto, a escrever em primeira pessoa do plural.

    importante lembrar que alguns(mas) pesquisadores(as) j envidaram

    esforos para buscar responder questo proposta acima, olhando-a a partir de

    pressupostos tericos e metodolgicos distintos. No cenrio internacional citamos,

    sobretudo na vertente anglo-americana de estudos, os trabalhos de Crompton (1997)

    sobre o uso de hedges (marcadores de atenuao) em escrita acadmica; de Hyland

    (1998/ 2000) sobre o uso de hedges (marcadores de atenuao) e boosters (marcadores

    de nfase) como mecanismos de negociao entre membros de uma rea disciplinar; de

    Varttala (1999) sobre o uso de hedges (marcadores de atenuao) em artigos de

    divulgao cientifica; de Myers (1999) sobre a pragmtica da polidez em textos

    acadmicos; de White (2003) sobre marcadores dialgicos no texto acadmico, entre

    outros.

    Quanto ao cenrio brasileiro, contemplando vertentes distintas, chamamos a

    ateno para os trabalhos de Coracini (1991) que busca analisar marcas textuais

    indicadoras da subjetividade da autoria a partir dos pressupostos tericos da Lingstica

    da Enunciao, de Figueiredo-Silva (2001) sobre o ensino do uso de atenuadores em

    escrita acadmica; de Balocco (2002) sobre o uso de enunciados em primeira pessoa no

    texto acadmico e de Arajo (2005) sobre indicadores textuais da subjetividade da

    autoria em artigos acadmicos em lngua portuguesa e em lngua inglesa.

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    Nossa proposta de trabalho insere-se neste interesse de pesquisa. Assim, a

    partir da anlise de um corpus de artigos produzidos por pesquisadores(as)

    brasileiros(as) no peridico D.E.L.T.A., buscamos perceber e analisar como, na rea de

    Lingstica, os(as) autores(as) de exemplares do gnero textual artigo acadmico

    constroem significados interpessoais de posicionamento avaliativo ao produzirem seus

    textos. Esta questo parte da considerao de que diferentes padres de avaliao

    podem exercer papis especficos em gneros especficos e, portanto, cabe levantar tais

    padres nos termos de suas ocorrncias e seus funcionamentos, articulando-os aos

    valores e propsitos dos grupos sociais que utilizam tais gneros.

    Como delimitao deste objetivo central, esta pesquisa busca realizar os

    seguintes objetivos especficos:

    1. Mapear e analisar os marcadores metadiscursivos interpessoais

    (HYLAND,1998/2000) realizados por meio de adjuntos modais

    (HALLIDAY, 1994/2004).

    2. Verificar como estes elementos se apresentam em artigos acadmicos

    Experimentais, Tericos e de Reviso de Literatura (SWALES, 2004).

    3. Comparar como estes marcadores metadiscursivos se apresentam em

    cada uma das unidades retricas prototpicas do gnero artigo acadmico

    em exemplares de artigos experimentais, tericos e de reviso de

    literatura. (SWALES, 2004).

    4. Analisar quais as relaes entre o padro de posicionamento e avaliao

    do(a) pesquisador(a)-autor(a), ao produzir exemplares de artigos

    experimentais, tericos e de reviso e os propsitos e valores da

    comunidade disciplinar.

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    Para tanto, trabalhamos com a articulao entre trs teorias de base: a

    anlise de gneros textuais, com foco na produo terica de John Swales (1990/2004),

    o estudo do metadiscurso interpessoal de Hyland (1996/1998/2000) e a teoria sistmico-

    funcional de M. A. K. Halliday (1994/2004), particularmente para o tratamento dos

    adjuntos modais.

    Em primeiro lugar, queremos justificar que, em meio a variadas perspectivas

    para a abordagem de gneros, optamos pela perspectiva da vertente anglo-americana de

    John Swales, porque a produo deste autor reconhecidamente voltada para aplicaes

    em anlise de gneros em contextos acadmicos, em especial para o tratamento do

    gnero artigo acadmico. Inclusive, no Brasil, a descrio de diferentes gneros

    acadmicos feita, predominantemente, com base neste autor. Alm disso, Swales

    (1990/2004) estabelece conceitos fundamentais para o exame de gneros textuais,

    propondo a anlise textual como caminho para iluminar questes sobre a caracterizao

    dos gneros e a relao com suas prticas sociais subjacentes.

    A teoria de Swales (1990/2004) utilizada neste trabalho, basicamente, para

    o tratamento retrico dos exemplares de artigos acadmicos.

    Se por um lado, o referencial terico de Swales possibilita visualizar a

    organizao retrica dos gneros acadmicos, por outro lado, no nos oferece

    instrumentos suficientes para a anlise dos caminhos utilizados pelos(as) autores(as)

    para construir seus posicionamentos e avaliaes. Assim, foi no conceito de

    etadiscurso interpessoal utilizado por Hyland (1996/1998/2000) que encontramos a

    categoria terica satisfatria para averiguar a construo de posicionamentos desses(as)

    autores(as) em exemplares de textos acadmicos, pois este autor, em grande parte da sua

    produo, dedica-se ao estudo do metadiscurso em exemplares de gneros textuais que

    circulam na comunidade acadmica. Para Hyland (1998), o metadiscurso interpessoal

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    refere-se a aspectos do texto que explicitamente sinalizam a atitude do autor em relao

    ao contedo proposicional e em relao audincia. O metadiscurso , portanto,

    essencialmente interacional e avaliativo.

    Hyland (1998) aponta cinco categorias que podem ser averiguadas para a

    anlise do metadiscurso interpessoal: hedges (marcadores de atenuao), emphatics

    (marcadores de nfase), attitude markers (marcadores de atitude), relational markers

    (marcadores relacionais) e person markers (marcadores pessoais)1. fundamental para

    a compreenso do percurso realizado nesta pesquisa que se esclarea que esses

    marcadores metadiscursivos podem ser realizados por diferentes elementos lxico-

    gramaticais, mas que Hyland no se preocupou, em seus estudos, em estabelecer

    critrios para o mapeamento desses elementos do ponto de vista lxico-gramatical.

    Assim, buscamos na teoria sistmico-funcional de Halliday (1994/2004) o instrumental

    terico-metodolgico adequado para verificar e mapear quais elementos lxico-

    gramaticais so responsveis pela construo dos significados metadiscursivos

    interpessoais em exemplares de artigos acadmicos.

    Desta feita, nesta pesquisa interessou, particularmente, o detalhamento da

    funo interpessoal da linguagem apontada por Halliday (1994/2004), uma vez que ,

    principalmente, por meio dos significados interpessoais que os falantes se posicionam e

    posicionam seus interlocutores no ato da interao. Para Halliday (1994), a construo

    dos significados interpessoais se faz, predominantemente, por meio dos sistemas de

    modo e modalidade da lngua que sero descritos pormenorizadamente no Captulo 2

    desta tese.

    Como possvel perceber, as questes aqui levantadas trazem em seu bojo

    reflexes sobre que elementos podem ser considerados mais apropriadamente

    definidores para a caracterizao de um gnero textual. Ao observar o padro de

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    construo do metadiscurso interpessoal do(a) pesquisador(a)-autor(a), pretendemos,

    pois, perceber as relaes entre este padro e os propsitos e valores da comunidade

    disciplinar ao escrever artigos acadmicos e, desta forma, perceber em que medida os

    elementos lxico-gramaticais (particularmente os adjuntos modais) utilizados para

    construir tal metadiscurso so relevantes para a caracterizao deste gnero.

    A proposta de pesquisa apontada nesta tese traz contribuies tanto para o

    campo da Anlise de Gneros quanto para a perspectiva Sistmico-Funcional. Para o

    primeiro campo, a pesquisa pode contribuir, como prope Swales (2000), para afunilar

    o olhar em direo a uma micro-anlise dos exemplares de gneros, verificando em que

    medida elementos lingsticos podem ou no ser caracterizadores dos gneros textuais.

    Para a Lingstica Sistmica, esta pesquisa pode favorecer, no s a compreenso sobre

    como as escolhas lxico-gramaticais dos falantes funcionam para estabelecer propsitos

    e valores sociais, mas tambm a aplicao dos conceitos e da metodologia de anlise

    desta teoria a um corpus em lngua portuguesa.

    Outra importante contribuio da investigao aqui proposta est

    relacionada ao ensino da escrita acadmica, uma vez que o reconhecimento, a descrio

    e a anlise do padro lxico-gramatical de construo do metadiscurso interpessoal

    construdo pelos(as) autores(as) pode contribuir, sobremaneira, em dois importantes

    aspectos. Primeiro, para ampliar o campo de descrio dos gneros textuais da academia

    que tm sido, preferencialmente, estudados em relao caracterizao das suas

    unidades e subunidades de informao prototpicas. Segundo, para subsidiar a produo

    de materiais didticos, a exemplo da importante produo do material organizado por

    Motta-Roth (2002b) sobre redao acadmica.

    Por fim, interessante observar que o momento atual bastante propcio

    anlise e descrio dos padres de posicionamento e avaliao da autoria, posto que

    1 Traduo de nossa responsabilidade.

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    parece estar ocorrendo uma maior conscientizao sobre a necessidade de se estudar

    como o(a) autor(a) se compromete e se posiciona frente ao discurso construdo. Assim,

    o estudo ora proposto pode contribuir para a explicitao desse metadiscurso.

    1.2 A organizao retrica do texto da Tese

    O texto desta tese estar dividido em sete captulos.

    Na Introduo ou primeiro captulo, apresentamos os objetivos e a

    justificativa para a realizao da pesquisa.

    No captulo 2, apresentamos a discusso terica acerca das noes de gnero

    textual e comunidade disciplinar, a caracterizao do gnero artigo acadmico e uma

    discusso sobre a construo do metadiscurso interpessoal em gneros textuais que

    circulam na academia.

    No captulo 3, realizamos um breve panorama dos estudos sobre

    modalidade, para em seguida tratar sobre a categoria dos advrbios, particularmente,

    dos modalizadores e finalizamos com o tratamento detalhado da metafuno

    interpessoal da Gramtica Sistmico-funcional, focalizando, principalmente, o papel dos

    adjuntos modais na construo de significados metadiscursivos.

    No captulo 4, apresentamos o objeto de estudo, a descrio dos corpora de

    anlise, os procedimentos para a realizao da anlise e os resultados prvios da anlise

    piloto realizada quando da elaborao do projeto de pesquisa que deu origem a este

    trabalho.

    No captulo 5, primeiro captulo de anlise propriamente dita, apresentamos

    os resultados quantitativos aos quais chegamos sobre o mapeamento, a distribuio e a

    classificao dos adjuntos modais nos trs corpora de anlise. Este captulo visa no

    somente apresentar tais resultados, mas tambm o percurso realizado para depreend-

    los, assim como as dificuldades de anlise que foram sendo resolvidas neste percurso.

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    importante salientar aqui que o levantamento dos adjuntos modais visa verificar quais

    desses adjuntos funcionaram como marcadores do metadiscurso interpessoal.

    No captulo 6, aps termos mapeado os adjuntos modais utilizados pelos(as)

    autores(as) (captulo 5), passamos a observar esses dados, verificando quais desses

    adjuntos modais funcionaram como marcadores de metadiscurso interpessoal. A partir

    da, realizamos um novo levantamento quantitativo para verificar a ocorrncia dos

    marcadores metadiscursivos nos exemplares dos artigos experimentais, tericos e de

    reviso. Discutimos, ento, os resultados encontrados, interpretando-os luz dos

    propsitos comunicativos do gnero artigo acadmico e dos valores, convenes e

    relaes de poder que regulam as interaes na comunidade disciplinar em foco.

    Por fim, no captulo 7, sistematizamos os resultados encontrados ao longo

    dos captulos 5 e 6.

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    Captulo 2

    Gneros textuais acadmicos:

    espao de negociaes e construo de posicionamentos

    Increasingly, then, mainstream research has moved awayfrom simple constituency representations of genre staging toexamine clusters of register, style, lexis and other rhetoricalfeatures which might distinguish particular genres. Animportant feature of much recent work has been a growinginterest in the interpessonal dimensions of academic andtechnical writing. This research has sought to reveal howpersuasion in various genres is not only accomplischedthroug the representation of ideas, but also by theconstruction of an appropriate authorial self and negotiationof accepted participant relationships.

    Ken Hyland, Disciplinary discourse:Social interactions in academic writing.

    O objetivo deste captulo oferecer um panorama dos estudos sobre os

    gneros textuais acadmicos como espao de interao social, de negociao entre pares, de

    construo de posicionamento e avaliao. Para tanto, inicialmente apresentaremos um

    breve panorama para situar as diferentes abordagens que tm se debruado sobre as

    questes referentes ao estudo dos gneros textuais, para em seguida tratar sobre a

    construo de significados interpessoais no gnero artigo acadmico que o objeto

    especfico desta pesquisa.

    2.1 Um panorama dos estudos sobre gneros textuais

    Os estudos sobre gneros textuais tm ocupado espao importante no cenrio

    dos estudos sobre a linguagem em uso, principalmente, no que diz respeito interao em

    comunidades acadmicas e profissionais e ao ensino de lngua materna e segunda lngua.

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    Podemos apontar quatro importantes vertentes que devem ser consideradas

    neste cenrio: a Escola de Genebra; a Escola de Sydney e as perspectivas norte-americanas

    da Nova Retrica e dos Estudos de Gneros para Propsitos Especficos.

    A Escola de Genebra, situada na perspectiva terica do interacionismo scio-

    discursivo, tem como principais nomes os de Jean-Paul Bronckart e de Bernard Schneuwly.

    O cenrio terico do interacionismo scio-discursivo tem suas bases na

    psicologia social de Vygotsky (1934/1985), na sociologia de Habermans (1987) e de

    Ricoeur (1986) e na perspectiva scio-enunciativa de Bakhtin (1953/1992) na qual

    podemos encontrar a abordagem de gnero da Escola de Genebra.

    Essa abordagem tem como objetivo central o estudo de gneros para a

    construo de uma experincia aplicada escola elementar. Na perspectiva de anlise

    proposta por Bronckart (1999), a nfase da anlise de gneros lanada sobre a anlise dos

    ipos de discurso em relao com os mundos discursivos (termos do autor). Entendendo

    tipos de discurso como: formas lingsticas que so identificveis nos textos e que

    traduzem a criao de mundos discursivos especficos, sendo esses tipos articulados entre

    si por mecanismos enunciativos que conferem ao todo textual sua coerncia seqencial e

    configuracional. (BRONCKART, 1999:149)

    Assim, para este autor, os tipos do discurso so analisados em termos scio-

    psicolgicos, ou seja, o analista tenta definir as operaes constitutivas dos mundos

    discursivos e sua materializao em tipos lingsticos.

    Esta perspectiva dos estudos sobre gneros a que mais dificilmente estabelece

    dilogo com as demais trs abordagens, uma vez que transita mais especificamente pelos

    meandros tericos da psicologia social.

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    Quanto s demais abordagens, h pontos de contato, particularmente entre a

    abordagem de Estudos de Gneros para Propsitos Especficos de Swales e Bhatia e a

    Abordagem Sistmico-Funcional da Escola de Sydney. Antes, porm, iniciemos pelo

    tratamento da perspectiva de estudo de gnero conhecida como Nova Retrica cujo trabalho

    seminal o de Carolyne Miller (1984) intitulado Genre as social action.

    Neste ensaio, Miller discute o conceito de situao recorrente relacionando-o ao

    conceito de gnero que visto como ao retrica recorrente. Assim, o termo gnero est

    relacionado a uma classificao baseada na prtica retrica organizada em torno de aes

    tpicas de uma situao tambm tpica. Sob este ponto de vista, o gnero percebido como

    cultural, histrico e, portanto, dinmico.

    importante compreender, ainda, que para esta autora, o conceito de situao

    parte de uma concepo semitica, ou seja, uma situao tipificada no igual sua

    ocorrncia; , na realidade, uma representao social, uma estrutura semitica. Ento, o

    gnero entendido como uma ao retrica recorrente dirigida a situaes sociais

    recorrentes que so entendidas como representaes coletivas de situaes reais que se

    tornam tpicas em uma determinada cultura. Miller (1994), em seu artigo Rhetorical

    Community: the cultural basis of genre, toma o conceito de cultura como um modo

    particular de vida em um determinado tempo e lugar em toda a sua complexidade

    experienciada por um grupo que se reconhece enquanto uma identidade comum. Para a

    autora, possvel caracterizar uma cultura a partir de seu conjunto de gneros posto que

    este conjunto representa um sistema de aes e interaes que apresentam localizaes e

    funes sociais especficas e com valor recorrente. Como conseqncia desta interpretao,

    Miller aponta, ainda, para o gnero como um espao mediador entre o micro-nvel do

    processamento da linguagem natural e o macro-nvel da cultura. sob este prisma que a

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    autora aponta que o gnero possibilita aos sujeitos a aprendizagem de como agir

    retoricamente em situaes recorrentes.

    Outros importantes nomes neste campo so os de Charles Bazerman; Aviva

    Freedman e Peter Medway. Para esses autores, os gneros no podem ser tomados como

    formas tpicas prontas para uso, pois esta viso desconsidera que o gnero uma categoria

    essencialmente scio-histrica sempre em mudana. Assim, gneros so vistos como

    tipificaes dinmicas e histricas.

    Como aponta Paltridge (2001), as reflexes sobre gnero da Nova Retrica so

    menos de carter lingstico em sentido estrito e mais de natureza retrica e histrico-

    cultural. Jonhs (2002) nos diz que os tericos da Nova Retrica preferem focalizar sua

    anlise sobre as situaes retricas mais do que sobre as caractersticas de linguagem.

    ainda importante salientar que comum entre os tericos desta abordagem, diferenciando-

    os da Escola de Sydney e dos Estudos de Gneros para Propsitos Especficos (EGPE), a

    considerao de que gneros so complexos e variados demais para serem retirados de sua

    situao retrica original e transplantados para a sala de aula (FREEDMAN, 1994). Assim,

    esses tericos tendem a explorar gneros fora da realidade escolar.

    Acreditamos que, apesar de estudiosos como Miller, Bazerman e Swales serem

    considerados como pertencendo corrente norte-americana de estudos de gneros, do ponto

    de vista metodolgico, h pouco contato entre esses autores, posto que como apontam

    autores como Paltrideg (2001) e Jonhs (2002), o foco dos analistas da Nova Retrica recai,

    mormente, sobre os aspectos culturais e histricos mais do que sobre os aspectos de

    linguagem, enquanto que o foco dos Estudos de Gneros para Propsitos Especficos recai

    sobre a anlise de elementos retricos e lxico-gramaticais relacionados aos aspectos

    contextuais de uso dos exemplares dos gneros. Alm desse fator, cabe ainda sublinhar que

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    autores como Swales tm claramente uma orientao para aplicao pedaggica dos

    estudos de gneros, orientao que no se aplica aos estudiosos da Nova Retrica.

    Tomemos agora para tratamento a chamada Escola de Sydney, que tem como

    principal referncia terica a teoria da linguagem como semitica social.

    Mesmo que os estudos sobre gneros na Austrlia tenham se desenvolvido no

    mesmo perodo dos estudos em Ingls para Propsitos Especficos e da Nova Retrica, eles

    tiveram um desenvolvimento independente destas tradies, centrando-se, principalmente,

    nas bases tericas da Lingstica Sistmico-Funcional (LSF) de Halliday. Esta teoria v a

    linguagem em termos das escolhas, descritas em nvel funcional, que o falante realiza no

    sistema da lngua em contextos particulares de uso.

    Embora o registro mais do que o gnero tenha sido a construo analtica

    central de Halliday, alguns de seus discpulos na Austrlia, como Jim Martin, tm

    desenvolvido teorias sobre os gneros textuais dentro do arcabouo terico da LSF.

    Refletindo a preocupao de Halliday em conectar forma, funo e contexto social, Martin

    e outros tericos tm definido gnero como staged goal-oriented social processes e,

    portanto, como formas estruturais que a cultura usa em certos contextos para alcanar

    vrios propsitos. Neste ponto, podemos novamente perceber uma certa aproximao,

    guardadas as diferenas, com as propostas de tericos como Swales e Bhatia que tambm

    estabelecem a relao entre a estrutura retrica dos gneros e os propsitos comunicativos

    dos grupos sociais que os utilizam. Alis, a este propsito, Jonhs (2002:07) nos diz que os

    moves de Swales e osstages de Martin so conceitos bastante aproximados.

    Por outro lado, como afirma Hyon (1996), estudiosos da Escola de Sidney tm

    se diferenciado da abordagem em EGPE, mormente por focalizarem prioritariamente os

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    gneros escolares e no-profissionais, mais do que os gneros acadmicos e profissionais

    que so o foco em EGPE. Pensamos, contudo, que apesar desta distino metodolgica, o

    objetivo para fins aplicados de ambas as reas, seja em contextos do ensino bsico ou na

    academia, um importante fator de aproximao entre estas abordagens. Mas vejamos mais

    detidamente como os tericos de Sidney trabalham o conceito e a anlise de gneros

    textuais.

    A perspectiva sistmico-funcional da anlise de gnero objetiva explicar

    padres da linguagem motivados pelo alcance de objetivos especficos, ou, em outros

    termos, padres da linguagem em uso em termos das regularidades de propsitos, contedo

    e forma, levando em considerao o aspecto dinmico da natureza genrica. Como nos diz

    Paltridge (2001), os analistas de gnero desta perspectiva terica argumentam que uma

    perspectiva de estudo da linguagem baseada na anlise de gneros textuais tem o mrito de

    relacionar as escolhas de linguagem aos propsitos culturais, possibilitando, assim,

    perceber como os usurios da linguagem engajam-se em objetivos scio-culturais.

    Mas, como compreendida a relao texto-contexto sob o ponto de vista

    sistmico-funcional? Para Halliday (1994), o contexto visto prioritariamente em termos

    do conceito de registro, apontando, pois, para a anlise das variveis lingsticas e

    situacionais em relao a um contexto de situao especfico. Como nos diz Leckie-Tarry

    (1995), o registro, para Halliday, constitudo por caractersticas lingsticas que esto

    tipicamente associadas configurao de caractersticas do contexto situacional.

    Ao analisar o registro, Halliday (1994) aponta o ampo, o Modo e as Relaes

    como aspectos do contedo de situao que so relevantes para as escolhas dos falantes.

    Como nos diz Eggins (1994), importante ressaltar que estas variveis de registro so

    tomadas como as mais relevantes porque esto estreitamente vinculadas aos trs tipos de

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    significados que a linguagem realiza (significados ideacionais, interpessoais e textuais) e

    porque cada varivel mantm uma relao sistemtica e predizvel com os padres lxico-

    gramaticais do sistema lingstico. Assim, o ampo de um texto pode estar associado

    realizao de significados experienciais que, por sua vez, so realizados por meio de

    padres de transitividade da gramtica; o Modo pode estar associado aos significados

    textuais que se estruturam por meio dos padres de gerao e continuidade temtica e as

    Relaes associam-se aos significados interpessoais realizados atravs das estruturas de

    modo e modalizao da lngua.

    Por outro lado, outros tericos vinculados abordagem sistmico-funcional,

    preferem trabalhar a noo de contexto a partir do conceito de gnero, apontando que a

    noo de registro no suficiente para dar conta dos aspectos scio-culturais mais amplos

    da dimenso contextual. Segundo Leckie-Tarry (1995:08):

    Uma das afirmaes da recente teoria de gneros funcionalista/crtica que a teoria de gneros

    difere da teoria de registro no grau de nfase dado ao propsito social com variveldeterminante no uso da linguagem...Em essncia, a teoria de gneros uma teoria do uso dalinguagem (Martin, Christie and Rothery, 1987:119), isto , uma teoria da linguagem comodiscurso. Em outras palavras, eles vem a teoria de registro como uma teoria que coloca poucopeso nos processos sociais e, consequentemente, nos aspectos scio-funcionais dos textos. Ateoria de registro considerada, portanto, uma teoria da linguagem enquanto texto, ao invs deuma teoria do discurso (LECKIE-TARRY (1995:08). 2

    Uma tentativa de resolver tal aparente conflito realizada por Eggins e Martin

    (1997) que tomam os conceitos como complementares e propem um processo analtico

    que apreenda ambos os conceitos como instrumentais, estando a dimenso contextual de

    registro mais relacionada situao especfica de interao; e a noo de gnero, a

    propsitos institucionais, a dimenses scio-culturais mais amplas. Sob o ponto de vista

    2 One of the claims of recent functionalist/critical genre theory is that genre theory differs from register theory in the amount ofemphasis placed on social purpose as a determining variable in language use.... In essence genre theory is a theory of language use(MARTIN, CHRISTIE AND ROTHERY, 1987:119), that is, as a theory of language as discourse. In other words, they see register theoryas placing to little weight on social processes and hence upon socio-functional aspects o texts. Register is therefore considered a theory oflanguage as text, rather than as a theory of discourse. (Nossa traduo)

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    desses autores, este tipo de anlise est baseada, por um lado, na predio textual e, por

    outro, na deduo contextual. Isto , dada a descrio do contexto, possvel antecipar os

    significados e as caractersticas lingsticas que, probabilisticamente, figuraro no texto; e,

    por outro lado, dado o texto, possvel deduzir, tambm probabilisticamente, elementos do

    contexto no qual o texto foi produzido. Como apontam Eggins e Martin (1997), para que a

    antecipao e a deduo sejam possveis, os analistas devem relacionar categorias de

    contexto a especificaes detalhadas de padres lingsticos, apontando como os contextos

    situacional e cultural so realizados sistemicamente por escolhas lingsticas. Assim, os

    termos registro (contexto de situao) e Gnero (contexto de cultura) so as duas dimenses

    contextuais que exercem maior impacto sobre o texto, sendo, portanto, os maiores

    responsveis pelas variaes textuais. Outro aspecto importante da relao texto-contexto,

    sob o ponto de vista sistmico-funcional, que textos no so meras codificaes da

    realidade, mas elaboraes semiticas de significados socialmente construdos e isso

    implica dizer que a anlise da linguagem sob as perspectivas dos contextos de registro e

    gnero no pode ser uma mera descrio das variaes lingsticas entre textos, mas

    tambm uma investigao e uma explicao de como os textos servem a interesses

    divergentes em construes discursivas da vida social.

    Finalmente, vamos tratar do nosso principal foco de interesse: a perspectiva

    terica reconhecida como Anlise de Gneros para Propsitos Especficos que tem como

    principal referncia a produo terica de John Swales.

    Como j afirmamos, a produo de Swales tem sido uma das mais relevantes no

    campo dos Estudos de Gneros para Propsitos Especficos, fato que podemos perceber

    atravs do conjunto de dissertaes, teses e artigos acadmicos que tm tomado este autor

    como referncia. Por exemplo, no Brasil, temos as produes de Motta-Roth e Hendges

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    (1996) sobre anlise de gneros em resumos de artigos de pesquisa; de Biasi-Rodrigues

    (1998) sobre resumos de dissertaes; de Silva (1999) sobre descrio da seo de

    Resultados e Discusso em artigos da rea de qumica; de Hendges (2001) sobre a

    caracterizao de artigos acadmicos eletrnicos, particularmente, da seo de Reviso de

    Literatura; de minha prpria pesquisa de mestrado (BERNARDINO, 2001), na qual

    descrevo a comunidade discursiva dos Alcolicos Annimos e o uso do gnero textual

    Depoimento dos Alcolicos Annimos como espao de realizao dos propsitos

    comunicativos dessa comunidade; de Oliveira (2005) sobre a representao do discurso nos

    gneros artigo acadmico e de divulgao cientfica e de Macedo (2006)sobre a citao

    como recurso de afiliao acadmica.

    Ao tratarmos da proposta de Swales, importante ressaltar que, segundo o

    prprio autor, o objetivo central de sua produo intelectual oferecer uma concepo para

    o ensino e pesquisa do ingls padro ministrado nas universidades, sobretudo em contextos

    de aprendizes para os quais o ingls no a lngua materna ou primeira lngua. Para tanto, o

    autor focaliza a anlise de gneros como um caminho para o estudo dos textos escritos e

    falados para fins aplicados. Outra importante observao que a produo de Swales, que

    tem como marco central o livro GenreAnalysis (1990), tem sido bastante visitada e

    tambm criticada, o que tem provocado vrias revises da teoria, inclusive por parte do

    prprio autor. Assim, apresentaremos a produo de Swales a partir da proposta de 1990

    em dilogo com suas respectivas revises e com o posicionamento de outros autores.

    Para Swales (1990), o conceito de gnero textual est intimamente ligado ao

    conceito de comunidade discursiva que, por sua vez, tem como principal critrio de

    classificao o reconhecimento dos propsitos comunicativos comuns e partilhados que

    regulam a interao. sob este prisma que Swales aponta os propsitos comunicativos

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    como o fator central na conceituao e no reconhecimento dos gneros textuais, fator cuja

    importncia supera a necessidade do reconhecimento de marcas formais.

    Em Swales (2004), a proeminncia do propsito comunicativo como critrio

    para reconhecimento de gneros posta em questo. Na verdade, tal questionamento j

    vem desde 1998, quando Swales passa a apontar o reconhecimento dos propsitos no mais

    como critrio predominante, mas como critrio que deve estar associado a outros critrios

    tais como a forma, a estrutura, as expectativas da audincia e os papis dos participantes.

    Essa reformulao parte, em certa medida, da considerao de que no tarefa simples

    reconhecer tais propsitos comunicativos, posto que, se por um lado, h gneros cujos

    propsitos so mais facilmente identificveis, por outro, h uma gama de gneros que

    podem apresentar mais de um propsito ou apresentar alguns propsitos explcitos e outros

    implcitos, como o caso dos gneros textuais das esferas da poltica e da publicidade.

    Ainda h que se considerar qual o grau de amplitude ou de restrio de tais propsitos para

    que eles possam ser considerados como definidores de um gnero. Por exemplo, podemos

    dizer que o gnero artigo acadmico tem um propsito geral e que o elemento diferencial

    entre os tipos de artigos (artigo experimental, artigo terico e artigo de reviso segundo

    SWALES, 2004) so seus propsitos especficos? Ento por que no consider-los gneros

    diferentes? Talvez, exatamente, porque o propsito no seja o nico fator definidor de tal

    diferenciao.

    Isto implica dizer que a caracterizao e a conceituao de um gnero textual

    no repousam sobre o reconhecimento de atributos essenciais e necessrios, j que no h

    limites bem definidos entre exemplares e no-exemplares de um gnero textual enquanto

    uma classe conceitual. Assim, ao descrevermos um gnero textual, no podemos esperar

    que seus exemplares sejam facilmente detectveis, uma vez que nem todos teriam,

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    necessariamente, os mesmos atributos. Alis, j em 1990, Swales apontava que a descrio

    de gneros textuais no poderia ser vista como o reconhecimento e a normalizao de

    atributos essenciais, fixos e necessrios e que na descrio dos gneros, podemos encontrar

    exemplares mais ou menos tpicos, mais prximos ou mais distantes do prottipo.

    Outro aspecto central na proposta de 1990 o de comunidade discursiva. Ao

    tratar deste conceito, Swales apontou a necessidade de estabelecer critrios definidos para o

    reconhecimento de tais comunidades. Tal justificativa paira sobre o reconhecimento de que

    a expresso Comunidade Discursiva, empregada, em geral, por pesquisadores que adotam

    uma viso social do processo de escrita, era utilizada de forma muito indeterminada,

    favorecendo, assim, crticas acerca do esvaziamento e da circularidade do termo.

    Respondendo antecipadamente a tais crticas, Swales (1990) determina seis critrios para o

    reconhecimento de comunidades discursivas, implicando afirmar que nem todo grupo que

    interage verbalmente pode ser reconhecido como tal. Os critrios em questo so:

    1. uma CD tem um acordo quanto aos objetivos pblicos comuns;

    2. uma CD tem mecanismos de intercomunicao entre seus membros;

    3. uma CD utiliza mecanismos para promover participao efeedback;

    4. uma CD utiliza e compartilha o conhecimento de um ou mais gneros

    textuais;

    5. uma CD compartilha um lxico especfico;

    6. uma CD deve manter equilbrio entre os membros experientes e os

    membros iniciantes.

    interessante pontuar que o conceito de comunidade discursiva um dos mais

    importantes e, talvez, tambm um dos mais polmicos da teoria de Swales. As

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    controvrsias acerca deste conceito impulsionaram o autor a revisit-lo em 1992 e,

    posteriormente, em 1998.

    Em 1992, Swales realizou modificaes na proposta de 1990, incluindo novos

    critrios e alterando alguns aspectos dos critrios j postulados. As reformulaes propostas

    possibilitaram a ampliao e a flexibilizao do conceito de comunidade discursiva, pois

    consideraram a possibilidade de modificao do gnero textual, a expanso do lxico, a

    importncia da manuteno de um sistema de crenas e de um espao profissional e a

    composio hierrquica implcita e explicita da comunidade.

    Porm esta reformulao ainda deixou espaos para crticas tais como a iluso

    de homogeneidade da comunidade, a constatao de que o conceito aplica-se a

    comunidades bem estruturadas, mas no em construo e, por fim, como apontam Hemais e

    Biasi-Rodrigues (2003), a ausncia de mecanismos para delimitar a abrangncia do termo.

    Assim, em 1998, Swales passa a considerar a comunidade discursiva sob um ponto de vista

    capaz de abrigar a instabilidade, a tenso e as divergncias entre seus membros.

    importante ressaltar, ainda, que para Swales (1998) os membros experientes

    da comunidade buscam constantemente compartilhar e instruir os membros iniciantes sobre

    as tradies, os valores e as prticas discursivas mais apropriadas para interagir e serem

    aceitos pela comunidade, sem, no entanto, desconsiderar a heterogeneidade e, portanto, a

    tenso prpria de todo grupo social.

    Estes avanos na proposta de Swales podem ser extremamente teis para

    refletirmos sobre a comunidade discursiva da academia. Ou seria melhor dizer, sobre as

    comunidades discursivas da academia? A esse propsito, consideramos bastante

    interessante recorrer discusso realizada por Hyland (2000) sobre culturas disciplinares.

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    Para Hyland (2000), as comunidades discursivas no podem ser vistas como

    realidades monolticas e estveis, pois so compostas por indivduos com variadas

    experincias, comprometimentos e influncias. Assim, comunidades so, freqentemente,

    pluralidades de prticas e crenas que acomodam o desacordo e viabilizam para grupos e

    indivduos a possibilidade de inovar dentro das margens de suas prticas, sem, no entanto,

    por em risco o espao de engajamento em aes comuns. Como alternativa ao conceito de

    comunidade discursiva, Hyland, (ibid.) nos aponta o conceito de ulturaDisciplinar.

    Primeiro importante entender o conceito deDisciplina, aqui tomada como uma instituio

    humana onde aes e compresses so influenciadas por relaes pessoais e interpessoais,

    assim como por fatores sociais e institucionais (Hyland: 2000:09). As disciplinas podem

    ser vistas como sistemas nos quais mltiplas crenas e prticas se sobrepem e interagem.

    Algumas so caracterizadas, inclusive, por perspectivas que competem para ocupar espao

    dentro da prpria disciplina. Para o autor, cada disciplina pode ser vista como um grupo

    com normas, nomenclaturas, campos de conhecimentos, conjuntos de convenes, objetos e

    metodologias de pesquisa, constituindo uma cultura disciplinar particular que se manifesta

    e tambm construda pelos respectivos discursos disciplinares. Tais culturas diferem em

    torno de dimenses cognitivas e sociais, apresentando contrastes no somente em seus

    domnios de conhecimento, mas tambm em seus objetivos, comportamentos sociais,

    relaes de poder, formas de estruturar os argumentos, etc.

    Nos termos de Bhatia (2004:32), disciplinas devem ser compreendidas em

    termos de conhecimento especfico, metodologias e prticas compartilhados pelos membros

    de uma comunidade. Ou seja, suas formas de pensar, construir e consumir conhecimentos,

    suas normas e epistemologias especficas, seus objetivos e as prticas disciplinares para

    alcanar tais objetivos.

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    Desta forma, considerando que textos so produzidos para serem

    compreendidos dentro de um certo contexto cultural, podemos dizer que a anlise de

    gneros pode levar a importantes consideraes sobre o que est subjacente em culturas

    disciplinares, apresentando e ao mesmo tempo construindo as percepes do(a)

    acadmico(a) sobre os valores e as crenas de sua comunidade disciplinar. Assim, para

    Hyland (2000), estudar a produo escrita na academia implica perceber a produo,

    distribuio e consumo de gneros como prticas institucionais particulares.

    Como aponta Bhatia (2004:32), os gneros so sensveis s variaes

    disciplinares. Assim, livros didticos em Economia, por exemplo, partilham similaridades

    com livros didticos em Cincias Sociais, uma vez que tm em comum o propsito de

    apresentar conhecimento aos membros iniciantes da comunidade. Entretanto, diferem em

    termos de suas caractersticas disciplinares, especialmente na maneira como abordam o

    conhecimento da rea, como apresentam seus argumentos e os tipos de evidncias que so

    vlidos em cada disciplina. Pode-se acrescentar que diferem tambm na forma como

    constroem seus posicionamentos e sua relao com o leitor.

    Em torno desta questo, Hyland (2000) chama bastante a ateno para o carter

    fundamentalmente interativo da produo acadmica:

    Isso nos leva a ver a escrita como um engajamento em um processo social no qual a produode texto reflete metodologias e estratgias retricas projetadas para moldar apropriadamente

    contribuies disciplinares. Criar um ambiente de leitura convincente envolve, ento, evidenciarconvenes disciplinares e genrico especificas tais como o artigo publicado um hbridomultifacetado co-produzido pelos autores e pelos membros do pblico ao qual dirigido(Knorr-Cetina, 1981:106). Significados textuais, em outras palavras, so socialmente mediados,influenciados pelas comunidades s quais escritores e leitores pertencem (HYLAND,2000:12).3

    3It leads us to see writing as an engagement in a social process, where the production of texts reflects methodologies, arguments andrhetorical strategies designed to frame disciplinary submissions appropriately. Creating a convincing reader enviroment thus involvesdeploying disciplinary and genre-specific conventions such that the published paper is a multilayered hybrid co-produced by the authorsand by members of the audience to which it is directed (KNORR-CETINA, 1981:106). Textual meanings, in other words, are sociallymediated, influenced by the communities to which writers and readers belong. (Nossa traduo)

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    Como podemos perceber, para o autor, nos gneros textuais acadmicos h uma

    forte preocupao em se estabelecer negociao e acordo entre os membros da comunidade

    disciplinar. Assim um dos principais propsitos dos autores serem persuasivos,

    convencendo seus pares a aceitarem suas proposies. H que se considerar, porm, que

    esse objetivo geral ir variar em campos disciplinares distintos. Acerca desta questo,

    teceremos maiores comentrios no tpico 1.3.

    Voltando proposta de Swales, podemos verificar que outra considervel

    mudana em relao publicao de 1990 est na prpria conceituao do termo gnero

    textual. Em sua publicao de 2004, Swales pe em questo a conceituao de gnero

    proposta em 1990, uma vez que passa a considerar que tal conceituao no pode ser

    tomada como plenamente aceitvel em diferentes contextos e em diferentes momentos

    histricos. Assim, ao invs de tomar um conceito categrico para a noo de gnero,

    Swales opta por tratar tal noo a partir de uma caracterizao multifacetada como pode ser

    percebido na figura abaixo:

    METAPHORS VARIABLE OUTCOMES

    Frames of Social Action Guiding principles G

    Language Standards Conventional Expectations E

    Biological Species Complex Historicities N

    Families and prototypes Variable Links to the Center R

    Institutions Shaping Contexts; Roles E

    Speech Acts Directed Discourses S

    FIGURA1 Metforas de gneroFonte: Swales, 2004:68.

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    Como podemos notar, Swales prope observarmos os gneros textuais a partir

    de uma perspectiva multifacetada, articulando diferentes abordagens, sem a preocupao de

    estabelecer um conceito definitivo e que abarque a totalidade da noo de gnero. Vejamos,

    ento, mais detalhadamente, a interpretao da FIGURA 1.

    A noo de gnero como frame est pautada em Bazerman (1997) e apresenta

    os gneros como frames para a ao social e no como a ao em si mesma. Assim, o

    gnero um ponto de partida, uma orientao inicial, uma matriz por meio da qual os

    falantes/escritores podem organizar seus planos e idias e por meio da qual os

    ouvintes/leitores podem orientar suas expectativas. Desta forma, parece que o gnero passa

    a ser visto como um dos fatores responsveis pelo sucesso da ao comunicativa, ou seja, o

    gnero freqentemente necessrio para que haja esse sucesso, mas no condio

    suficiente para isso.

    A segunda metfora para a caracterizao de gneros textuais (baseada em

    DEVITT, 1997) aponta para o gnero como um espao no qual ocorrem padres de

    restrio e criatividade; de regularidade e mudana; de limitao e escolhas. Neste ponto

    interessante remeter discusso realizada por Bhatia (2004) na qual o autor aponta que:

    embora os gneros textuais sejam identificados sob as bases de caractersticas

    convencionais, eles continuamente mudam;

    embora os gneros textuais estejam associados a padres de textualizao, membros

    experientes e/ou em posio de poder em comunidades disciplinares podem alterar tais

    padres;

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    embora os gneros textuais respondam a propsitos comunicativos socialmente

    reconhecidos, eles podem ser explorados para responder a motivaes de organizaes

    ou de indivduos;

    embora haja uma tendncia em se identificar e conceituar os gneros como formas

    puras, no mundo real, eles, freqentemente, so hbridos;

    embora os gneros textuais estejam relacionados a limites institucionais, tais limites,

    freqentemente, sofrem variaes;

    embora a anlise de gneros seja tipicamente vista como uma investigao textual, uma

    abordagem mais interpretativa tende a expandir tal viso, articulando a anlise textual

    com aspectos etnogrficos, cognitivos, computacionais, ideolgicos, etc.

    A terceira metfora, pautada no trabalho de Fishelov (1993), diz respeito

    comparao entre o desenvolvimento, a expanso e o declnio de gneros textuais em um

    dado contexto cultural e o desenvolvimento de espcies biolgicas. A partir desta

    comparao, o autor diz que gneros so como novas espcies animais que surgem em

    pequenas populaes isoladas do rebanho principal, nas margens do territrio. Na

    analogia com os gneros, a margem pode estar localizada no surgimento de algum novo

    avano tecnolgico, na contribuio individual de algum membro renomado ou de algum

    grupo de destaque em um determinado campo do conhecimento.

    A quarta metfora, tambm baseada em Fishelov (1993), discute a questo da

    prototipicidade das famlias de gneros, apontando, como j foi discutido anteriormente,

    para a constatao de que h exemplares mais ou menos prximos do prottipo.

    Ainda com base em Fishelov, Swales discute, como quinta metfora, o gnero,

    enquanto uma instituio. Para esta perspectiva, o gnero uma instituio complexa,

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    envolvendo processos mais ou menos tipificados de produo e recepo e fazendo parte de

    uma ampla rede de valores. Outro aspecto importante da considerao dos gneros

    enquanto instituio que eles posicionam seus usurios enquanto papis institucionais,

    mais do que enquanto indivduos.

    Por fim, Swales considera a metfora do gnero enquanto ato de fala,

    novamente com base em Bazerman (1994). Segundo Bazerman, os propsitos, o

    reconhecimento dos propsitos, o alcance dos propsitos com a co-participao de outros e

    as aes provocadas pelos propsitos, tudo isso existe no campo do fato social construdo

    pela manuteno de esferas padronizadas de interao e pelos gneros que materializam as

    interaes verbais tpicas dessas esferas.

    Bazerman (1994) afirma que um texto composto por vrios atos de fala,

    somente pode ser reconhecido como um nico ato de fala se for identificado por um gnero,

    posto que isto o eleva aostatus de um tipo singular de ao social.

    A proposta de percepo multifacetada do conceito de gnero apontada por

    Swales parece sugerir um percurso metodolgico de anlise que investigue os exemplares

    de um gnero sob aspectos mltiplos e no mais, preponderantemente, retricos.

    A respeito dessa trajetria de investigao, Bhatia (1993) nos diz que

    importante salientar que qualquer percurso de anlise depender, em grande medida, dos

    objetivos da investigao, do gnero em questo e seu contexto de uso e do grau de

    conhecimento acumulado que j se tem sobre este gnero. Para Bhatia (1993:23), a anlise

    de um gnero requer:

    localizar os exemplares do gnero em um contexto situacional e refinar os

    instrumentais para realizar tal anlise. Isto significa, nos termos do autor,

    definir as relaes entre falante/audincia e definir seus objetivos na

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    interao; definir a localizao social, histrica, cultural e filosfica da

    comunidade que usa o gnero; identificar o objeto/a realidade extra-textual

    que os exemplares do gnero buscam representar, mudar ou utilizar e a

    relao desses exemplares com a realidade;

    localizar o contexto institucional, ou seja, observar as regras e convenes

    (lingisticas, sociais, culturais, acadmicas organizacionais e profissionais)

    que governam o uso da linguagem em determinado ambiente institucional;

    decidir que nvel de anlise lingstica mais apropriado para a investigao

    em questo. Bhatia aponta trs nveis principais: a anlise de caractersticas

    lxico-gramaticais, a anlise de padres de textualizao e a anlise do

    padro de organizao retrica dos exemplares do gnero;

    conferir os resultados de anlise com as informaes de membros

    experientes da cultura disciplinar na qual o gnero utilizado.

    Encerrado este panorama, passemos, ento, a consideraes sobre o gnero

    artigo acadmico.

    2.2 Algumas breves consideraes sobre o gnero Artigo Acadmico

    Tomando o conceito de Swales (1990), que tem sido referncia obrigatria no

    tratamento desta questo, temos que o gnero artigo acadmico (AA) associado a gneros

    escritos que reportam a alguma investigao feita por seus(suas) autores(as) com vistas

    apresentao de descobertas e/ou discusso de questes tericas e/ou metodolgicas.

    Swales (2004:207), ao retomar a caracterizao do gnero AA, leva em considerao as

    diferenas entre artigos experimentais propriamente ditos, artigos tericos e artigos de

    reviso. Estes ltimos, por sua vez, se desdobram, ainda, em artigos que apresentam uma

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    viso histrica de um determinado campo de conhecimento; artigos que descrevem a

    situao atual de um campo do conhecimento; artigos que propem uma teoria ou modelo

    para resolver alguma questo no campo de conhecimento e artigos que chamam a ateno

    para alguma questo do campo de conhecimento (SWALES, 2004:208).

    Corroborando Swales, Motta-Roth (2002b) nos diz que o artigo acadmico o

    gnero textual mais recorrente para a produo e divulgao de conhecimento na

    comunidade acadmica, pois tem como objetivos bsicos apresentar e discutir resultados de

    pesquisas ou ainda apresentar reviso de literatura da rea. importante ressaltar, porm,

    que a posio hierrquica de um gnero ir variar em diferentes prticas disciplinares

    (SWALES, 2004). Ainda segundo Motta-Roth (2002b), ao produzirem e publicarem

    exemplares deste gnero, os(as) autores(as) buscam construir, frente comunidade

    acadmica, a identidade de um(a) pesquisador(a) capaz de refletir sobre estudos relevantes

    para um campo de pesquisa e, a partir da, pontuar um problema ainda no totalmente

    estudado neste campo, elaborando articulaes tericas e metodolgicas para a investigao

    deste problema.

    Hyland (2000:12) pontua, ainda, como objetivos do gnero artigo acadmico:

    estabelecer a produo cientifica em questo como uma novidade para a comunidade

    disciplinar; reconhecer produes anteriores e estabelecer as hipteses em questo dentro

    do contexto geral do discurso disciplinar; oferecer garantias sobre as proposies

    construdas no artigo; demonstrar um ethos disciplinar apropriado e habilidade para

    negociar com os pares na academia.

    Para Silva (1999), a recorrncia do uso do gnero artigo acadmico relaciona-

    se, ainda, a duas necessidades bsicas que movimentam a produo cientfica a saber: a

    necessidade de estabelecer uma interao constante e dinmica entre os membros

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    experientes ou iniciantes da academia e a necessidade, por parte dos(as) autores(as), de

    terem seus trabalhos reconhecidos para efeito de financiamento junto a orgos de fomento.

    Em 1990, Swales descreve a caracterizao retrica do gnero artigo

    acadmico, apresentando quatro unidades retricas bsicas: Introduo, Mtodos,

    Resultados e Discusso, as quais, acreditamos, se prestam mais descrio do artigo

    experimental, mas no, to claramente, aos demais tipos de artigos acadmicos. J em

    2004, esse autor nos diz que a caracterizao retrica, provavelmente, sofrer flutuaes em

    diferentes reas do conhecimento. Como exemplo, Swales cita que na rea de humanidades

    muito comum a inexistncia da seo de metodologia, haja vista a natureza ensastica de

    alguns dos artigos dessa rea.

    Em sua descrio da caracterizao retrica do gnero artigo acadmico,

    Swales (1990) d especial ateno unidade retrica Introduo. A partir desta abordagem,

    surge o chamado modelo CARS que tem sido um aparato metodolgico importante para a

    descrio de gneros a partir da caracterizao de suas unidades retricas.

    O modelo CARS uma representao esquemtica da organizao retrica da

    Introduo em torno de um objetivo central, ou seja, a apresentao da pesquisa dentro de

    um contexto. Vejamos, ento, o modelo:

    1 Estabelecer um territrio

    Passo 1 Asseverar a importncia da pesquisa e/ouPasso 2 Fazer generalizaes sobre o assunto e/ouPasso 3 Revisar itens da pesquisa prvia

    2 Estabelecer um nicho

    Passo 1A Apresentar evidencias contrrias a estudos prvios ouPasso 1B Indicar uma lacuna ouPasso 1C Levantar questes ouPasso 1D Continuar uma tradio

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    3 Ocupar o nicho

    Passo 1A Esboar os objetivos ouPasso 1B Anunciar a presente pesquisaPasso 2 Anunciar os principais resultadosPasso 3 Indicar a estrutura do artigoFIGURA 2 Modelo CARS (SWALES, 1990:141) Traduo de Silva (1999).

    A partir de agora, passaremos descrio da contribuio de Motta-Roth

    (2002b) caracterizao do gnero artigo acadmico. Este enfoque importante para esta

    pesquisa, uma vez que esta autora detalha as unidades retricas apontadas por Swales e

    acrescenta, em sua descrio, a seo Reviso de Literatura que tem grande relevncia

    para o corpus de anlise deste trabalho. A autora apresenta, com base em Swales, tambm

    quatro unidades retricas de organizao das informaes no gnero, mas o faz a partir de

    outra distribuio, segundo a qual os artigos acadmicos seriam estruturados por

    Introduo, Reviso de Literatura, Metodologia e Resultados/Discusso. Observemos,

    rapidamente, algumas importantes caractersticas destas unidades retricas.

    Na Introduo, os(as) autores(as), geralmente, contextualizam o ambiente

    terico do trabalho de pesquisa, delimitando o campo no qual sua investigao estar

    situada. Como j vimos, segundo Swales (1990), nesta unidade retrica, os(as) autores(as) ,

    comumente, apresentam um territrio de conhecimento, constroem um nicho para sua

    pesquisa e ocupam este nicho com seu trabalho.

    A unidade retrica Reviso de Literatura elaborada, principalmente, para

    apresentar e dialogar com as teorias e os autores que sero pertinentes para a

    fundamentao da investigao e da anlise a serem realizadas no percurso da pesquisa,

    emprestando, assim, uma voz de autoridade ao texto construdo. Segundo Motta-Roth

    (2002b), ao construir esta seo do artigo, os(as) autores(as) buscam demonstrar que

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    reconhecem a importncia intelectual de outros autores e que esto qualificados como

    embros de uma determinada cultura disciplinar por meio da familiaridade com a

    produo de conhecimento prvio na rea (Ibid.:54).

    vlido sublinhar tambm que a Reviso de Literatura, prototipicamente,

    realiza as seguintes sub-funes (Motta-Roth, 2002b): estabelecer interesse profissional no

    tpico; fazer generalizaes sobre o tpico ou, ainda, citar, estender, contra-argumentar ou

    indicar lacunas em relao a pesquisas prvias.

    Quanto unidade retrica Metodologia, podemos, em linhas gerais, dizer que

    nesta seo que os(as) autores(as) apresentam o objeto de investig