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0HWDVGH,QIODomR HPRGHODJHPGHSROtWLFDPRQHWiULD compreendendo a experiência brasileira após 1999 &DWHJRULDJUDGXDQGR 7HPDSROtWLFDPRQHWiULDLQIODomR 5(6802 Este trabalho se inicia apresentando os fundamentos de uma solução para o viés inflacionário de políticas discricionárias baseadas na definição de metas e na conjugação destas com a independência do Banco Central. Trabalhando com o que há de melhor na literatura acerca do tema, tenta-se discutir as vantagens e desvantagens das metas inflacionárias relativas a outras alternativas de âncora nominal e confrontar a experiência brasileira às condições institucionais ideais para adoção desse arranjo monetário, demonstrando as dificuldades no processo de previsão e apresentando o modelo estrutural básico do Banco Central. Conclui-se que: (a) as evidências empíricas internacionais ainda não são conclusivas a respeito do sucesso desse arranjo no combate à inflação, (b) o regime tem alcançado resultados favoráveis no Brasil, a despeito dos choques enfrentados e dos custos em termos de volatilidade do produto nas economias emergentes, reduzindo os coeficientes de variabilidade da taxa de juros, crescimento do produto e taxa de inflação; o mesmo ocorrendo com as médias dessas variáveis comparativamente ao período pré-adoção e (c) o Banco Central brasileiro tem buscado adotar os principais desenvolvimentos em matéria de metas de inflação verificados no resto do mundo. 3DODYUDVFKDYH metas de inflação, modelagem de política monetária, canais de transmissão, Banco Central, Brasil.

Meta de Inflação e modelagem de política monetária

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Monografia que recebeu o terceiro lugar no concurso do Banco Central do Brasil.

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  • compreendendo a experincia brasileira aps 1999

    Este trabalho se inicia apresentando os fundamentos de uma soluo para o vis inflacionrio

    de polticas discricionrias baseadas na definio de metas e na conjugao destas com a

    independncia do Banco Central. Trabalhando com o que h de melhor na literatura acerca

    do tema, tenta-se discutir as vantagens e desvantagens das metas inflacionrias relativas a

    outras alternativas de ncora nominal e confrontar a experincia brasileira s condies

    institucionais ideais para adoo desse arranjo monetrio, demonstrando as dificuldades no

    processo de previso e apresentando o modelo estrutural bsico do Banco Central. Conclui-se

    que: (a) as evidncias empricas internacionais ainda no so conclusivas a respeito do

    sucesso desse arranjo no combate inflao, (b) o regime tem alcanado resultados favorveis

    no Brasil, a despeito dos choques enfrentados e dos custos em termos de volatilidade do

    produto nas economias emergentes, reduzindo os coeficientes de variabilidade da taxa de

    juros, crescimento do produto e taxa de inflao; o mesmo ocorrendo com as mdias dessas

    variveis comparativamente ao perodo pr-adoo e (c) o Banco Central brasileiro tem

    buscado adotar os principais desenvolvimentos em matria de metas de inflao verificados

    no resto do mundo.

    metas de inflao, modelagem de poltica monetria, canais de transmisso,

    Banco Central, Brasil.

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  • 3

    Em meados de 1999, o Brasil adotou formalmente um regime de poltica monetria

    baseado em metas de inflao. Esse arranjo de poltica monetria relativamente novo em

    comparao com outras alternativas e ainda tem sua base terica em formao.

    Busca-se compreender atravs deste trabalho a lgica existente por trs do arranjo de

    metas inflacionrias, analisando as recomendaes da melhor teoria e a prtica internacional

    sobre o assunto e confrontando-as com a modelagem da poltica monetria e sua utilizao no

    Brasil.

    A monografia redigida de forma a responder alguns questionamentos: (a) qual o

    argumento terico do regime de metas; (b) existem alternativas a este regime, quais so elas e

    porque no so usadas; (c) metas de inflao se baseiam somente na explicitao oficial da

    meta para a taxa de inflao; (d) o regime tem logrado xito, o que a experincia mundial fala

    a respeito; (e) como o Banco Central age na economia; quais so os modelos, como so feitas

    as previses e por que essas previses no so to simples.

    O captulo 2 evidencia as alternativas existentes utilizao das metas de inflao e

    descreve o argumento que d origem soluo via metas, finalizando por apresentar as

    vantagens e desvantagens desse regime.

    No captulo 3, enfocando o caso do Brasil, apresentam-se as condies consideradas

    (at aqui) pela literatura atual como ideais para que um pas possa alcanar resultados

    favorveis ao utilizar esse arranjo monetrio. Ao fechar o captulo apresentam-se as

    evidncias empricas, dando conta de que, independentemente do regime monetrio, os pases

    vm tendo sucesso na reduo dos nveis da taxa de inflao e que, para aqueles que utilizam

    metas inflacionrias, essas tm logrado xito, a despeito dos choques sofridos pelas

    economias.

  • 4

    No captulo 4, procura-se demonstrar como a poltica monetria tratada pelo Banco

    Central, apresentando de maneira simplificada os canais de transmisso e as dificuldades no

    caminho at a modelagem da economia. Pela apresentao se perceber que por meio de

    quatro equaes estruturais bsicas possvel retirar previses para as variveis mais

    relevantes da economia.

    O captulo 5 encerra a monografia, sem encerrar a discusso, que ainda foco de

    debate na rea acadmica.

  • 5

    "#$%&'()**'+),('#)-,

    H tempos, desde David Hume com sua Teoria Quantitativa da Moeda, a preocupao

    dos economistas monetrios tem sido tentar entender a relao entre moeda e nvel de preos1.

    No intuito de disciplinar a administrao da moeda, foram utilizados regimes

    monetrios, tais como: (a) , e (b)

    . Este primeiro, inicialmente correspondia ao padro ouro, em que um

    pas estabelecia o ouro como moeda ou fixava uma taxa de converso de sua moeda em ouro.

    Caiu em desuso aps a Primeira Guerra Mundial e hoje tem suas verses mais modernas no

    uso do e na plena dolarizao da economia2. A despeito de obter xito como

    ncora nominal no combate inflao, devido restrio que impe ao preo dos bens

    comercializveis, o cmbio fixo perdeu importncia, principalmente por tornar a economia

    suscetvel a ataques especulativos e gerar dificuldades aos pases de se ajustarem frente a

    problemas externos, retirando-lhes o poder de fazer poltica monetria (como ocorrido nas

    crises e desvalorizaes de 1997 e 1999 nas economias emergentes). O segundo regime

    consiste no anncio de metas para um agregado monetrio que sejam capazes de guiar as

    expectativas inflacionrias do pblico. Esse arranjo (notadamente utilizado pela Sua e

    Alemanha nos anos 70, e pelos EUA nos anos 80) ficou comprometido pela instabilidade da

    1 No a proposta dessa monografia discutir os males da inflao, todavia cabe lembrar alguns custos que ela nos impe, como: (a) custo sola de sapato devido ao inconveniente causado pela reduzida reteno de moeda, (b) o custo envolvido na avaliao dos preos relativos decorrente da grande variabilidade dos preos relativos dos diferentes bens, (c) o custo das distores fiscais quando h inflao em geral os agentes pagam mais impostos, (d) o custo para prever a inflao futura que dificulta o clculo dos ganhos obtidos com um plano de aposentadoria, (e) o desconforto de conviver com alteraes na moeda que o padro pelo qual medimos as transaes econmicas, e (f) a possibilidade de reduzir as receitas do governo devido s defasagens na arrecadao (efeito Oliveira Tanzi).

  • 6

    demanda por moeda, tendo em vista que as inovaes financeiras dos ltimos anos

    dificultaram a mensurao exata dos agregados monetrios.

    Diante dos problemas citados na tentativa de controle de agregados monetrios e

    conhecidas as deficincias da ancoragem cambial, no incio dos anos 1990, um novo regime

    monetrio passou a se difundir entre um grande nmero de pases trata-se do (c)

    , cuja institucionalizao se baseou na idia de que os bancos centrais

    deviam ser independentes e responsveis pela misso de conduzir a poltica monetria de

    modo a atingir a estabilidade de preos.

    Alternativamente s metas expostas acima, e como desenvolvimento das pesquisas

    recentes com as metas de inflao, foram propostas outras formas de regime de metas, tais

    como: (d) , (e) , e (f)

    . Contudo, no constam na literatura relatos de que essas trs

    alternativas tenham sido adotadas oficialmente por algum pas.

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    O regime de metas inflacionrias tem sido escolhido por um grande nmero de bancos

    centrais espalhados pelo mundo como sendo seu novo tipo de arranjo para a poltica

    monetria. Em 2000, completaram-se dez anos da adoo desse regime na Nova Zelndia,

    pas que tem servido de base analtica para esse tipo de experincia. Em uma das mais

    completas pesquisas feitas sobre arranjos monetrios, contida em Sterne .3 (2000 citado

    por Mahadeva; Sterne, 2002, p. 623), 61 dos 95 bancos centrais pesquisados reportaram ao

    uso de alguma meta explcita para inflao.

    2 Representando segundo Mendona 2002, os dois principais regimes de fixao rgida para a poltica monetria, em que o d seria a restrio da taxa de cmbio necessidade de uma reserva legal e a substituio da moeda do pas em questo pelo dlar.

  • 7

    4 70.#C#'#),?..),,F(()/,#$%&'D*+,)

    ndia (91) Polnia (98)* Nova Zelndia (90)*Chile (91) Rssia (93) Canad (91)Mxico (99)* Israel (91)Peru (94) Inglaterra (92)frica do Sul (00) Sucia (93)Uruguai (95) Suia (00)Brasil (99)* Australia (94)*

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    Fonte: Mahadeva; Sterne (2002), entre parnteses o ano do anncio oficial.Notas: * Dados coletados de Mishkin; Klaus Schmidt-Hebbel (2001).

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    Toda a fundamentao terica deste regime, tambm denominado de Inflation

    Targeting (IT), se baseia na escola de pensamento econmico Novo-Clssica e no trip: taxa

    natural de desemprego, curva expectacional de Phillips e vis inflacionrio.

    Pela hiptese da taxa natural de desemprego, assume-se que os diversos mercados de

    bens, servios, crdito e trabalho se ajustam automaticamente quando a economia no est

    sob efeito de qualquer interveno de poltica macroeconmica, sendo a taxa de desemprego

    igual taxa natural. Possuir uma taxa de desemprego igual natural implica dizer que

    somente vigoram na economia o desemprego friccional (decorrente da transio temporria

    entre um emprego e outro) e/ou o desemprego voluntrio (aquele desemprego por escolha do

    trabalhador).

    Associa-se a esse conceito a hiptese de que os agentes econmicos so racionais e

    que a moeda neutra no longo prazo. Relativo a primeira hiptese, isto o mesmo que, para

    3 Sterne, G. (2000) Key Issues in the Choice of Monetary Police Framework, in L. Mahadeva and G. Sterne (eds), Monetary Frameworks in a Global Context, London, Routledge.

  • 8

    os tericos dessa corrente do pensamento, as expectativas dos agentes sobre as variveis

    econmicas so formadas sem a ocorrncia de erros sistemticos. Quanto a segunda hiptese,

    considera-se que a expanso da oferta de moeda alm do crescimento do produto acarreta um

    gasto que no pode ser atendido pelo sistema econmico decorrendo da as presses altistas

    de preos de forma que a inflao vista como um fenmeno monetrio, no sendo capaz

    de afetar os nveis de produto real, emprego e renda real, no longo prazo.

    Uma vez que os agentes econmicos hipoteticamente no cometem erros sistemticos

    e direcionam suas aes com base no pleno conhecimento de todo o comportamento da

    economia, caso a autoridade monetria queira explorar a inclinao negativa da curva de

    Phillips aproveitando-se da opo conflitiva ! entre inflao e desemprego, o

    resultado de uma expanso monetria far com que o nvel de emprego se eleve (somente)

    enquanto os trabalhadores guardam a falsa expectativa de que os preos se encontram no

    mesmo nvel anterior e aceitam o salrio nominal mais alto oferecido pelas firmas. Passado

    esse prazo, ou no longo prazo, os empregos gerados devido aos equvocos das expectativas

    dos trabalhadores voltaro ao seu nvel original que a taxa de desemprego natural e a

    economia ter experimentado somente mais inflao.

    Isto porque:

    A economia novo-clssica sugere que o governo deve abster-se de implementar qualquer poltica monetria que no se paute por regras plenamente conhecidas e que, portanto, causam efeitos sobre as variveis reais da economia. (CARVALHO ., 2002, p. 220) Logo, na ausncia de barreiras informacionais, a possibilidade de iluso monetria, elemento-chave para explicar a existncia do trade-off na curva de Phillips (verso Friedman-Phelps) deixa de existir. Em outras palavras, as variaes na poltica monetria, sob expectativas racionais, no so capazes de afetar o lado real da economia. (MENDONA, 2002, p. 47)

    Assim, papel das autoridades monetrias conduzir as expectativas, sem permitir

    surpresas aos agentes econmicos, evitando um ambiente de incertezas e desconfiana em

  • 9

    relao ao seu comportamento que possa resultar em distrbios para a economia.4 De outra

    forma, to logo os agentes percebam a inteno do governo em alterar o rumo da poltica

    monetria os preos tambm respondero na mesma direo.

    Pois:

    Em uma economia sujeita a este tipo de expectativas, qualquer atitude discricionria do Banco Central produz rudos que podem levar os agentes formadores de preos a errar. Os erros diminuem a credibilidade do Banco Central, ao mesmo tempo em que produzem efeito sobre o nvel de produto somente no curto prazo (...) Os efeitos de curto prazo sobre o emprego e renda, no entanto, tendem a se dissipar no longo prazo. (CROCCO; JAIME JR, 2003, p.7)

    Em linha com os argumentos supracitados, percebe-se que o vis inflacionrio de

    polticas discricionrias pode se manifestar, principalmente, porque h um incentivo para as

    autoridades monetrias em fazer polticas inflacionistas: (a) para reduzir o desemprego

    explorando a inclinao negativa da curva de Phillips no curto prazo e (b) para aumentar a

    receita de senhoriagem.

    O primeiro incentivo inflacionrio derivado da anlise sobre o ciclo poltico. Como

    destacado por Mendona (2002), natural que os polticos tendam a maximizar seu sucesso

    eleitoral. Desta forma, em pocas de eleio, podem muito bem ser tentados a produzir menos

    desemprego e mais crescimento do produto (mesmo que cientes do sucesso apenas no curto

    prazo), simplesmente com o propsito de arrebanharem mais eleitores e vencer as eleies.

    O segundo incentivo derivado da discrio que abre a possibilidade dos governos

    pressionarem os responsveis pela poltica monetria para que implementem polticas que

    visem mais emprego. Em situaes em que a autoridade fiscal exerce domnio sobre a

    autoridade monetria e no estando o pblico interessado em absorver um dficit adicional, as

    autoridades monetrias podem ser levadas a financiar o governo por meio de emisso de

    moeda, gerando inflao. O incentivo para inflacionar advm quando o governo tem interesse

    4Para uma compreenso detalhada da Teoria da poltica monetria Novo-Clssica (que foge do escopo desse trabalho) sugere-se consultar Carvalho, (2002). Para uma crtica (resumida) a essa alternativa terica sugere-se, Sics, (2002) e Crocco; Jaime Jr, (2003).

  • 10

    em aumentar sua receita de senhoriagem (". Conforme destaca Bleaney (2000), a

    inflao tende a ser tanto maior quanto: (a) menor a averso do governo inflao, (b) maior

    a resposta da taxa de desemprego a surpresas inflacionrias, (c) maior a averso do governo a

    um supervit primrio, (d) maior a relao entre base monetria e produto interno bruto e (e)

    maior a relao dvida pblica e produto interno bruto. Essa inflao vinculada poltica

    discricionria (ou a poltica sem regras) diminuir o bem-estar, porque incluir os custos da

    inflao tais como citados na nota um.

    Foi pensando no exposto acima que alguns economistas alertaram para o perigo que

    representaria para a estabilizao de preos se os governantes interessados no imposto

    inflacionrio quisessem sempre manter a emisso de moeda ou o crescimento da base

    monetria muito perto do mximo de imposto inflacionrio que ela pode gerar.

    Para os novo-clssicos a poltica econmica importante demais para ser deixada ao

    arbtrio dos #. Primeiro, porque estes freqentemente no tm competncia para

    fazer julgamentos com conhecimento de causa e isso abre espao para propostas incorretas na

    resoluo de problemas complexos. Segundo, devido possibilidade do uso oportunista da

    poltica monetria. Como a inflao um problema para a economia e o ciclo poltico

    eleitoral, a dominncia fiscal, bem como o aumento da receita de senhoriagem, podem ocorrer

    periodicamente e revelia dos governantes, a institucionalizao de metas torna-se muito

    importante.

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    O uso das metas, na concepo novo-clssica, serve para acomodar as flutuaes entre

    produto e emprego, na medida em que isola o Banco Central de presses expansionistas

    sistemticas e reduz a possibilidade de vis inflacionrio dos governantes. Segue-se, ento, a

    elaborao de propostas para a conduo da poltica monetria e a organizao de um Banco

  • 11

    Central com maior transparncia junto ao pblico e comprometido com a estabilidade dos

    preos.

    As argumentaes de que um Banco Central independente5 seria bom para o controle

    da inflao foram discutidas, dentre outros autores, por Alesina; Summers, (1993)6, citados

    por Fischer (1995, p. 203-204), que, baseando em um exerccio emprico, concluram que

    bancos centrais mais independentes em geral produziam uma inflao mais baixa do que os

    bancos centrais menos independentes. Estes chamam a ateno para a existncia de uma

    relao negativa entre a mdia de inflao e o grau de independncia do Banco Central numa

    amostra de 17 pases industrializados.7

    Os que defendem a tese da Independncia dos Bancos Centrais (IBC), apiam-se,

    dentre outros fatores, na busca por reputao8 medida pelo grau de confiana dos agentes

    privados nos dirigentes do Banco Central e nas relaes fundamentais da curva de Phillips

    expectacional que diz que a taxa de desemprego natural prevalecer na ausncia de erros ou

    decepo das expectativas.

    A tese da IBC objetiva delegar a poltica monetria a um agente que mantenha a sua reputao, a credibilidade nas regras monetrias e, conseqentemente, mantenha a inflao em patamar aceitvel e reduza a variabilidade do produto. (CARVALHO 2000, p. 223)

    Segundo Fischer (1995, p. 201-203), dois so os modelos propostos para a IBC. O

    primeiro o de Rogoff (1985),9 que pode ser definido como um esquema de Banco Central

    5 Em suma os argumentos a favor da independncia do banco central tm como base a alegao de que os polticos: a) so mopes e no do muita importncia s questes de longo prazo, b) no so especialistas em poltica monetria e por isso no esto aptos a tomar essas decises e c) tem menos incentivos para agir conforme o interesse pblico do que os burocratas dos bancos centrais que visam maximizar sua carreira e prestgio. Por outro lado, no h garantias de que um BACEN independente no estaria livre de presses polticas, tendo em vista, o poder que o presidente exerce sobre o congresso e sobre as leis que regulamentam os bancos centrais. Na opinio de alguns economistas o fato do presidente e/ou o congresso no terem poder sobre a poltica monetria impede que a poltica monetria seja utilizada de forma coordenada com a poltica fiscal. 6 Alesina, Alberto and Summers, Lawrence H. Central Bank Independence and Macroeconomic Performance: Some Comparative Evidence. $%&'#, May 1993, 25 (2), pp. 151-6. 7 Para uma discusso ampla sobre IBC, que foge ao objetivo desse trabalho, sugere-se uma reviso das questes em aberto com Fischer, (1995), e mais acerca do debate com Crocco; Jaime Jr, (2003). 8 O que influiria positivamente sobre as expectativas futuras de inflao. 9 Rogoff, Kenneth. The Optimal Degree of Commitment to an Intermediate Monetary Target. ($), November 1985, 100 (4), pp. 1169-90.

  • 12

    com independncia de objetivos e instrumentos. E o segundo o modelo de Walsh (1995)10,

    onde o Banco Central tem a independncia dos instrumentos.

    O primeiro modelo criticado por permitir muita autonomia ao Banco Central tendo

    em vista que esse pode definir a seu critrio os objetivos de poltica bem como a maneira de

    alcan-los. Nesse arranjo, o objetivo garantir um gestor para o Banco Central que tenha o

    perfil conservador e que d mais peso inflao do que sociedade, todavia isto d espao

    inconsistncia dinmica na medida em que um candidato a diretor pode se mostrar avesso

    inflao somente para ganhar o cargo.

    J a segunda proposta considerada melhor que a primeira, porque busca limitar as

    aes dos gestores ao estabelecer uma meta de inflao contratual. Assim, anula a importncia

    de fatores subjetivos como as preferncias quanto inflao na hora da escolha de um diretor

    ou gestor para o Banco Central. Esta proposta garante ao Banco Central liberdade de

    instrumentos para alcanar uma taxa de inflao estabelecida em contrato com o governo e/ou

    congresso e ainda impe aos gestores sanes como perda de seus cargos caso a inflao

    ultrapasse o nvel timo estipulado. tambm conhecida como alternativa do arranjo agente-

    principal, pois o governo (principal) delega uma responsabilidade ao gestor do BACEN

    (agente) mediante um contrato.

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    A institucionalizao do regime de metas inflacionrias envolve a definio e a

    divulgao oficial de um limite em termos de taxas ou bandas de variao para a taxa de

    inflao em um determinado horizonte de tempo e envolve, tambm, a delegao ao Banco

    Central da misso de conduzir a poltica monetria (com a preocupao central) de modo a

    atingir a taxa de inflao definida. A este, cabe a funo de ajustar os instrumentos

    10 Walsh, Carl. Optimal Contracts for Central Bankers. *)+,, March 1995, 85, pp. 150-67.

  • 13

    (principalmente a taxa de juros) para que a inflao esperada esteja na banda (meta)

    estabelecida, relegando ao segundo plano seus outros objetivos de curto prazo como cmbio,

    juros e produto, por exemplo.

    A meta de inflao tem sido adotada porque os responsveis pela poltica monetria

    acreditam que ela funcionar como uma ncora para as expectativas inflacionrias dos agentes

    (neutralizando essas expectativas) sem estar sujeita aos problemas presentes nos outros

    regimes. Porm, existem vantagens e desvantagens relativamente utilizao de outras

    formas de ancoragem nominal.

    Comparativamente ao sistema de taxas de cmbio fixas o regime de metas

    inflacionrias tem a vantagem de possibilitar o uso da poltica monetria para definir, por

    exemplo; o nvel da taxa de juros, do desemprego ou dos preos. Entretanto, por necessitar de

    cmbio flexvel para seu funcionamento, tem a desvantagem de permitir grandes variaes na

    taxa de cmbio nominal.

    Tal estrutura no permite o uso da poltica monetria como capaz de determinar de forma independente o nvel de emprego, preos, taxa de juros, oferta de moeda, volume de crdito e fluxo de capital [...] observa-se que h a perda na possibilidade de uso da poltica monetria frente a choques sobre a economia domstica. (MENDONA, 2002, p. 39)

    Por outro lado, uma estratgia de metas monetrias para o controle da inflao

    segundo Mishkin; Savastano11 (2000 citados por Mendona, 2002, p. 41), compreenderia

    quatro pontos bsicos: (a) - , (b) .

    / ., (c)

    / 0

    e (d) 1

    .

    11 Mishkin, F.; Savastano, M. A. Monetary Policy Strategies for Latin America. 2')+, Draft: February, 22

    2000.

  • 14

    O regime de metas inflacionrias conseguiu absorver todos os pontos bsicos que

    constituem a estratgia de utilizar os agregados monetrios para controlar a inflao (no IT,

    pede-se ajuste fiscal e cmbio flexvel, publicam-se as metas, procuram-se eliminar os desvios

    com punio e, ainda, exigem-se justificativas em caso de erro do ), porm com a

    caracterstica de ser mais facilmente compreendido pelo pblico e com a vantagem adicional

    de que os choques de velocidade de circulao da moeda no tm relevncia, ou melhor

    dizendo, o Banco Central no precisa se preocupar em controlar o montante de M1, M2 ou

    outro agregado qualquer.

    Em Bernanke ., (1999) so citadas quatro razes que fazem as metas

    inflacionrias preferveis meta de crescimento do produto nominal: (a)

    . Isto pode gerar um desgaste poltico ou

    uma espcie de acusao por parte da sociedade de que o governo seja pessimista, quando sua

    previso est colocada abaixo da que seria a do produto potencial; (b) 1

    /.

    Mesmo com a implementao de um sistema de coletas e banco de dados semelhante ao

    primeiro, ainda assim, seria muito mais difcil de ser realizado de maneira pontual, devido s

    dificuldades de se obter dados atualizados sobre produto nominal num curto espao de tempo;

    (c) 3 .

    Existem dvidas sobre a capacidade da meta de crescimento do produto nominal ser mais

    efetiva no alcance da estabilizao do que o sistema de metas de inflao no curto prazo e (d)

    3/. Esse tipo de situao geraria

    crticas desnecessrias ao governo quando este estivesse fixando uma baixa taxa de

    crescimento do produto nominal, que na realidade, apenas teria o objetivo de fazer com que a

    inflao se tornasse menor. Em suma, na opinio de Bernanke ., (1999), estabelecer uma

    meta para o produto nominal no conveniente, pois dificultaria a tomada de decises por

  • 15

    parte das autoridades monetrias por ser de difcil entendimento por parte do pblico e ainda

    apresentaria um problema relativo ao tempo necessrio para obter as estatsticas necessrias.

    Mishkin; Schmidt-Hebbel, (2001) argumentam que a fixao do nvel de preos reduz

    a incerteza sobre o comportamento do nvel de preos j que os desvios da meta so

    revertidos ao longo do horizonte, no trazendo, assim, complicaes para o planejamento dos

    investimentos. Contudo, uma desvantagem em relao meta de inflao que, com o nvel

    de preos fixos, se teria a varincia dos preos reduzida, porm ao custo de desestabilizar a

    taxa de desemprego, este arranjo requer que 4 e 4 da meta sejam

    eliminados por completo. Tal como lembra Fischer (1994, citado por Mishkin; Schmidt-

    Hebbel, 2001, p. 31)12 (...) a price-level target produces more output variability than an

    inflation target because unanticipated shocks to the price level are not treated as bygones and

    must be offset. Pesa sobre o nvel de preos a probabilidade de que a economia seja lanada

    numa deflao quando a inflao muito baixa. E em linha com os autores acima os episdios

    de deflao deixam os polticos com dois problemas: (a) a possibilidade de emergir uma

    instabilidade financeira gerando grande perda para a economia e a produo e (b) a

    probabilidade de que a taxa de juros nominal se aproxime de zero tornando a conduo da

    poltica monetria mais complicada. Dada a incerteza sobre seus benefcios, no surpresa

    que nenhum banco central tenha adotado essa opo.

    Uma variante para a fixao do nvel de preos poderia ser a definio de uma

    trajetria para o nvel de preos. Essa alternativa permite que os choques sejam dissipados, se

    existir uma trajetria da taxa de inflao ps-choque que seja inferior mdia registrada no

    perodo. Diferentemente da meta de inflao, a fixao de uma trajetria para o nvel de

    preos tem a vantagem de garantir maior certeza quanto ao nvel de preos no longo prazo.

    Entretanto, tal como aponta Fischer (1995, p. 204), as vantagens da meta de inflao sobre a

    12 Fischer, S. (1994). Modern Central Banking, in Forest Capie, Charles Goodhart, Stanley Fischer and orbert Schanadt, The future of Central Banking. Cambridge University Press, Cambridge, U.K.: 262-308.

  • 16

    fixao de uma trajetria para o nvel de preos, esto em que: (a) a execuo da poltica

    monetria muito mais difcil se o alvo o nvel de preos, (b) a maior parte dos contratos

    nominais so de curto prazo e (c) os benefcios dos contratos de longo prazo podem ser

    obtidos atravs de indexao.

  • 17

    89:;54

    "5'#/,%=,/,*/'%&'/(),#$,'#-,

    No incio da utilizao das metas de inflao, os pases no seguiam uma cartilha

    baseada em efetivas prticas logo aps o anncio das metas. Os pases apenas anunciavam

    publicamente sua meta, mas no ficavam comprometidos com as prticas que hoje so

    consensuais. A experincia adquirida com a adoo das metas de inflao durante os anos

    1990 equivaleu a um processo de aprendizado para a poltica monetria. O Brasil, ao contrrio

    de outros pases que utilizam as metas inflacionrias, j iniciou o regime seguindo todas as

    recomendaes da literatura relevante sobre o tema.

    Apenas recentemente formou-se um consenso sobre os pr-requisitos para um

    completo regime de metas (Mishkin, 2000; Mishkin; Schmidt-Hebbel, 2001; Mendona,

    2002; Fraga ., 2003). O IT trata-se de uma estratgia de poltica monetria que envolve

    cinco elementos bsicos ou cinco pilares institucionais, quais sejam: (a)

    , (b) ., (c) -

    , (d) - e,

    principalmente, (e) -.

    Esses pilares institucionais fazem com que o IT seja muito mais do que um simples

    anncio oficial da meta de inflao, de modo que possa se fazer um corte na anlise dos

    diversos pases que explicitam metas. Ou seja, a partir desse ponto, os pases que utilizam

    metas inflacionrias so aqueles que observam esses cinco pilares. Abaixo se discute cada

    uma dessas condies ideais ou pilares institucionais.

    A idia principal de um anncio oficial para a meta de inflao a de garantir a

    continuidade da estratgia. Tentar cumprir a meta sem a explicitao ou sem a

  • 18

    institucionalizao dessa estratgia, alm de ser pouco transparente, estaria sujeito

    habilidade e ao comprometimento das autoridades monetrias da poca13.

    Economias com metas inflacionrias no podem ter um governo que gaste mais do que

    arrecada esse comportamento suscitaria alguma forma de financiamento atravs de dvida

    ou de emisso de moeda e o resultado seria taxas de juros muito altas para financiar o dficit

    ou a emisso de moeda, o que geraria inflao.14

    Adotar outra ncora nominal como a taxa de cmbio, por exemplo, sugerido pela

    literatura como provvel causa de uma performance deficiente da poltica monetria sob

    metas de inflao (MISHKIN; SCHMIDT-HEBBEL, 2001). De outra forma, intervenes

    (esterilizaes) no cmbio afetam a transparncia da poltica monetria. Assim mudanas na

    taxa de juros nominal so mais transparentes e indicam que a ncora nominal ainda continua

    sendo a meta de inflao e no a taxa de cmbio.15

    A independncia de instrumentos reduz o vis inflacionrio presente na conduo da

    poltica monetria. Alm disso, a falta de independncia de instrumentos para ao do Banco

    Central poderia dar margem existncia do problema de inconsistncia temporal.16

    A literatura sugere que:

    The institutional commitment involves legislative support for an independent central bank whose charter ought to contain two key features: (i) sufficient insulation of the policy-making board of the central bank from the politicians, with members of the board appointed to long terms and protected from arbitrary dismissal; and (ii) giving the central bank full and exclusive control over setting of monetary-policy

    13 O FED americano segue uma espcie de estratgia velada de metas de inflao. Essa instituio no explicita metas e assim tem a vantagem de no incorrer em prejuzos gerados por uma regra de poltica monetria como, por exemplo, limitar a sua margem de manobra. Pode-se dizer que adota um regime de ncoras monetrias implcitas, onde no existe a transparncia do IT. 14 Essa questo suscita crticas sobre como os governos deveriam agir em momentos de recesso na economia. Quando a economia est em recesso, a arrecadao cai e as transferncias sobem de maneira automtica, estabilizando a economia, mas causando, tambm, um dficit oramentrio. Numa situao de oramento equilibrado esse processo de estabilizao automtica no poderia acontecer, uma vez que seria exigido que o governo reduzisse os gastos ou aumentasse os impostos para fazer frente ao declnio na economia. 15 Isso no implica que o Banco Central no deva dar ateno a outras variveis. Entretanto, ao defender uma taxa de cmbio o Banco Central perderia margem de manobra para conduzir a taxa de juros de modo a evitar, por exemplo, uma recesso. 16Na nota 22 discute-se a - Na realidade, o regime de metas de inflao permite uma certa flexibilidade na conduo da poltica monetria no podendo ser considerado uma regra rgida. No Brasil, o Banco Central tem autonomia para escolher os seus instrumentos para fazer poltica monetria, entretanto, ele no independente.

  • 19

    instruments. The institucional commitment to price stability also requires that the central bank be given a mandate to have price stability as its primary goal, making it clear that when there is a conflict with other goals, such as exchange-rate stability or promotion of high employment, price stability must be accorded the higher priority. (MISHKIN, 2000, p. 106)

    O nvel de confiana do pblico na meta estabelecida tanto maior quanto maior for a

    coerncia das aes do Banco Central e do governo para com o objetivo de longo prazo da

    poltica monetria. Da advm a idia de credibilidade operacional (no sistema) e poltica

    (naqueles que tomam as decises). Para ganhar confiana (reputao) e aumentar essa

    credibilidade, ajudando para que as expectativas de inflao convirjam para a meta pr-

    estabelecida, recomendvel elevado grau de transparncia na conduo da poltica

    monetria. Uma maneira de aumentar essa comunicao entre a autoridade da poltica e o

    pblico se daria pela da divulgao de relatrios de inflao, informando, neles, os valores

    numricos da meta de inflao (para os vrios anos em questo), os limites de variao, os

    procedimentos para a obteno da meta proposta e as possveis razes para algum desvio em

    relao a esta meta.

    "#$),'#0),#089#'4,

    Aps a implementao do plano Real (1994), o Brasil passou a utilizar o cmbio como

    ncora nominal. A justificava era a de que, ao manter o Real valorizado e emparelhado com o

    Dlar (1 R$ = 1 US$), a entrada de produtos importados ajudava a conter o processo

    inflacionrio pelo lado da demanda.

    Contudo, diante da crise dos pases asiticos em 1997 e da moratria russa em 1998, a

    utilizao de cmbio fixo conjugada com o desajuste fiscal deixou o Brasil em meio a uma

    crise de confiana, que gerou grande fuga de capitais dos mercados emergentes em 1999.

    Como resposta a essa crise as autoridades monetrias foram obrigadas a elevar a taxa

    de juros e a negociar com o Fundo Monetrio Internacional (FMI) um pacote de ajuda

  • 20

    financeira. Mesmo diante da ajuda do FMI e do comprometimento com o ajuste fiscal o

    sistema de taxa de cmbio fixa gerava muita presso sobre as reservas cambiais. Para no ter

    mais perdas de reservas, o Banco Central se viu obrigado a abandonar o regime de cmbio

    fixo, permitindo a flutuao em janeiro de 1999.

    A alterao no regime cambial (com a conseqente desvalorizao do Real) fez com

    que a inflao se elevasse. O Comit de Poltica Monetria (COPOM) declarou que a

    manuteno da estabilidade de preos seria o principal objetivo do Banco Central Brasileiro

    (BACEN) e elevou a taxa de juros (a taxa Selic - Sistema de Liquidao e Custdia - foi de

    39 % para 45 % a.a.). A nova diretoria do BACEN assumiu seu posto em maro de 1999,

    ciente da necessidade de um novo regime monetrio para a economia brasileira e achou por

    bem propor o regime de metas inflacionrias.

    The new floating exchange rate clearly required a new nominal anchor for economic policy. Monetary policy, along with strengthened fiscal adjustment and a firm wage policy in the public sector, would be instrumental in preventing the recurrence of an inflationary spiral and ensuring a rapid deceleration of the rate of inflation. Inflation targeting was the most suited framework to achieve economic stabilization under a flexible exchange rate regime, with the target itself playing the role of the nominal anchor. With sound arguments, it was not difficult to convince the President, the Finance Minister, and their senior economic advisors that IT could work well in Brazil. The IMF staff was most receptive to the proposed new framework for monetary policy, and showed interest in organizing an international seminar on IT, where the discussions could benefit from the experience of a number of central banks and academics. (BOGDANSKI; TOMBINI; WERLANG 2000, p. 9)

    No entanto, o BACEN ainda no dispunha de um grupo de economistas capacitados

    para gerir esse novo arranjo monetrio. No havia nem mesmo um departamento especfico

    que estivesse cuidando dessa questo17. Existiam funcionrios que trabalhavam com os

    modelos de previso de inflao, mas que estavam divididos em vrios departamentos. No

    campo institucional, aconteceriam algumas reformas como, por exemplo, a garantia ao

    BACEN de independncia nos instrumentos para conduzir a poltica monetria e a

    implementao da Lei de Responsabilidade Fiscal. O fato que a crise de confiana antecipou

    17 Bogdanski, J.; Tombini, A. A.; Werlang, S. R. C. (2000) considerada a literatura bsica para esse perodo.

  • 21

    a institucionalizao do regime (adiantou um processo que ainda estava por amadurecer) e

    eliminou as possibilidades de aprendizado gradual para a sua implementao.

    Within the Central Bank, a Research Department was created by end of March. Initially, three research areas were opened: IT, financial risk and pricing and microcoenomics of banking. The IT group, consisting of 14 researchers (...) (BOGDANSKI; TOMBINI; WERLANG, 2000, p. 9)

    Em julho de 1999, o Brasil adotou formalmente o regime de metas de inflao18. Sob o

    comando de seu novo presidente, Armnio Fraga, o BACEN j havia anunciado alguns

    pontos: (a) a meta de inflao seria uma meta do governo e no do BACEN, o que denotava

    um comprometimento oficial com esse objetivo; (b) o ndice de preos escolhido para

    mensurar a inflao seria o ndice de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), e no teria qualquer tipo de expurgo; (c) as

    metas anunciadas no estariam sujeitas a revises ou ajustes e seriam sempre anunciadas no

    ms de junho e com precedncia de at dois anos e (d) para garantir a transparncia da

    poltica monetria o BACEN informaria aos interessados, por meio de Relatrios de Inflao

    trimestrais, previses e justificativas para as decises adotadas referentes a manuteno da

    meta de inflao na taxa estipulada.

    Neste nterim foi feito, tambm, o anncio das metas de inflao para 1999, 2000 e

    2001, existindo para essas metas um intervalo de tolerncia de mais ou menos dois pontos

    percentuais em relao ao centro da meta como forma de acomodar as variaes do IPCA. A

    idia era conseguir uma gradual reduo da inflao ao fixar as metas em 8 %, 6 % e 4 % ao

    ano, respectivamente, de forma a atingir os patamares de inflao aceitveis

    internacionalmente.19

    Essas medidas demonstram implicitamente coerncia com a teoria que sustenta o

    regime de metas de inflao. A lgica era tentar isolar a direo da economia dos rumos da

    18 Conforme decreto lei no 3.088 de 21 de junho de 1999 Disponvel no Relatrio de Inflao de junho, 1999.

  • 22

    poltica no pas, tentando fomentar, assim, certas prticas como controle fiscal e procura por

    uma baixa taxa de variao dos preos, tornando as polticas no apenas de governos

    especficos, mas de Estado. Ao menos o que pensam Giambiagi; Carvalho, (2002)20 em sua

    anlise sobre a institucionalizao da estabilidade.

    4 72)H,/'5

    Ano Meta % Teto % Inflao % IPCA 1999 8 10 8,94 2000 6 8 5,97 2001 4 6 7,07** 2002 3,5 5,5 12,53** 2003* 8,5 10,5 --- 2004* 5,5 7,5 ---

    Fontes: Banco Central, IBGE. * Projees alteradas no Governo Lula ** IPCA acima do teto estabelecido

    Nos dois primeiros anos sob metas de inflao, o objetivo foi alcanado com sucesso.

    Porm, de acordo com o mostrado na tabela acima, as metas estipuladas para 2001 e 2002

    ultrapassaram o teto permitido, ficando em 7,07 % e 12,53 %. A justificativa apresentada para

    o seu no cumprimento est baseada nos severos choques que a economia enfrentou nesse

    perodo. De maro a agosto de 2001, no mbito interno, houve o choque de energia eltrica e

    um grande aumento nos preos dos alimentos. No mbito externo, a economia americana

    passava por desacelerao e nossa economia sofria com os efeitos de uma depreciao

    cambial que foi agravada pelo acontecimento do ataque terrorista em 11 de setembro e pela

    crise argentina. Em 2002, a crise de confiana devido s eleies presidenciais, no mbito

    interno, bem como ameaas de guerras, no mbito externo, levaram o cmbio a disparar

    19 Em DA SILVA FILHO, Tito Ncias T., 2001, o leitor poder encontrar uma discusso sobre o que seja uma definio operacional de estabilidade de preos; aqui interessa-nos saber que a inflao mais baixa possvel, mas que no gere muito desemprego. 20 Se o leitor se interessar por conhecer a histria da institucionalizao do regime sugere-se ler Mendona, (2001).

  • 23

    afetando seriamente a inflao. O grfico abaixo ilustra o impacto dos choques no cmbio

    nominal. 21

    Em decorrncia da falta de xito no alcance da meta nos dois anos anteriores, os

    valores centrais () para a meta em 2003, que havia sido definido em 2001 em 3,25 %

    com +/- 2,0 % de tolerncia, e para 2004, definido e divulgado em 2002, em 3,75 %

    (+/- 2,5 %), sofreram alteraes. Primeiro se modificou o valor de 2003, para 4 % com

    intervalo de +/- 2,5 %, e depois, logo no incio do governo Lula, novas projees foram feitas

    para a meta j traada de 2003 e 2004, elevando a primeira para 8,5 % com intervalo de

    +/- 2,0 %, e a segunda para 5,5 % (com margem ou intervalo de +/- 2,0 %).

    Este fato demonstrou uma caracterstica importante do regime de metas inflacionrias

    (ele no segue um receiturio), j que se permite a combinao de com uma

    (discrio) sem induzir a perda de credibilidade. Em condies normais

    (ausncia de choques), o Banco Central segue a meta, mas se desvia dela quando ocorrem

    choques adversos na economia, tornando o desvio justificvel.22

    21 O BACEN fornece descrio pormenorizada das causas do descumprimento das metas em duas cartas abertas ao Ministro da Fazenda. Para uma compreenso detalhada do perodo sugere-se Muinhos ., (2003). 22 Entretanto, as polticas discricionrias podem suscitar o problema da - na medida em que os # podem desejar anunciar com antecedncia a poltica a ser seguida somente com o objetivo de influir sobre a expectativa dos tomadores de decises privadas e depois renegar seu anncio. Numa situao desta, os tomadores de decises tendem a desconfiar dos anncios de medidas econmicas e h perda de credibilidade devido inconsistncia dos formuladores de poltica ao longo do tempo. Isto porque, sendo os agentes econmicos racionais, estes tomam suas decises levando em considerao todas as informaes disponveis e, pelo menos em tese, no cometeriam o mesmo erro de acreditar em um governo que no honrou seus compromissos.

  • 24

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    OU

    T/1

    994

    JAN

    /199

    5

    AB

    R/1

    995

    JUL

    /199

    5

    OU

    T/1

    995

    JAN

    /199

    6

    AB

    R/1

    996

    JUL

    /199

    6

    OU

    T/1

    996

    JAN

    /199

    7

    AB

    R/1

    997

    JUL

    /199

    7

    OU

    T/1

    997

    JAN

    /199

    8

    AB

    R/1

    998

    JUL

    /199

    8

    OU

    T/1

    998

    JAN

    /199

    9

    AB

    R/1

    999

    JUL

    /199

    9

    OU

    T/1

    999

    JAN

    /200

    0

    AB

    R/2

    000

    JUL

    /200

    0

    OU

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    000

    JAN

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    1

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    001

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    OU

    T/2

    001

    JAN

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    2

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    R/2

    002

    JUL

    /200

    2

    OU

    T/2

    002

    JAN

    /200

    3

    AB

    R/2

    003

    Taxa de cmbio - R$/US$ - (venda) - mdia mensalTaxa Selic acumulada no ms anualizada (expressa como proporo)

    eleio

    ameaas de guerra

    crise Argentina

    apago

    governo Lula

    flutuaocambial

    CrisesMxico Asitica Russa

    11 de setembro

    57'.%&'/)D/I(C,'#'(,#)D,#'/,''?.#$#)/'*'#'(,*HFonte: Elaborao prpria com dados do Banco Central do Brasil. Tal como demonstrado no grfico acima, o cmbio flutuante absorveu todos os

    choques no perodo aps 1999. Ademais, a inflao dos preos administrados por contrato e

    monitorados (energia, telefonia, transporte, dentre outros) que tm grande peso no IPCA,

    cerca de 30,8 % na composio deste ndice, cresceu muito acima dos preos livres ou de

    mercado, devido principalmente rigidez dos contratos que garantem o repasse da

    depreciao cambial e ao impacto dessa depreciao nos ndices de preos.

    Decidiu-se, ento, por ajustar as metas de 2003 e 2004, conforme a prtica usual em

    poltica monetria, levando em considerao os efeitos primrios da mudana de preos

    relativos e procurando neutralizar as presses inflacionrias na economia decorrentes dessa

    mudana.23 Embora isso possa parecer um retrocesso no sentido de levar perda de

    credibilidade devido mudana na meta, 4 - so

    23 Tal como apresentado no Relatrio de Inflao de junho 2002, o BACEN desenvolveu uma metodologia para quantificar a origem da inflao. Deste modo a poltica monetria est sendo orientada no sentido de eliminar apenas os efeitos secundrios (inrcia) do choque de oferta sobre a inflao, preservando o realinhamento inicial dos preos relativos.

  • 25

    mais significantes, uma vez que os agentes privados sabem o porqu do objetivo no ter sido

    alcanado mediante a explicao pblica detalhada dos motivos que levaram ao fracasso na

    tentativa de alcan-lo. (FRAGA ., 2003).

    ""5'?./'$)*'+),('#)-,#'#2'/(),#$,'#-,

    O impacto dos choques de oferta na economia e o maior crescimento dos preos

    administrados em relao aos livres ou de mercado (31,4 % no perodo 1999:7 2003:2)

    levaram a discusses sobre o desenho institucional do IT no Brasil.24

    Mishkin; Schmidt-Hebbel, (2001) apontam quatro formas para que um regime de

    metas inflacionrias esteja estruturado de forma a manter a credibilidade perante os choques.

    A primeira a . ou . A

    segunda a . A terceira forma consiste em

    4. Como quarta opo, se prope a

    , para que flutuaes da taxa de inflao possam ser melhor absorvidas.

    Cabe ressaltar que, na ocasio da adoo do regime no Brasil, tanto a primeira quanto

    a segunda forma foram descartadas, pois se buscava ganhar credibilidade e aquelas propostas

    poderiam ser interpretadas como uma maneira de manipular os ndices de preos25. Ampliar o

    horizonte de tempo da avaliao do regime de metas de dois para seis a oito semestres,

    garantiria mais tempo para a ao da poltica monetria, como enfatizado pelo Banco Central

    da Nova Zelndia, porm Giambiagi; Carvalho (2002), destacam um ponto importante ao

    24 Muinhos (2002, 2003) exploram esse tema exaustivamente. 25A imposio de um ncleo () para a inflao se daria, por exemplo, atravs do expurgo de alguns itens sensveis a choques de oferta do ndice de Preos ao Consumidor IPC, tais como energia, alimentao e tarifas pblicas, dentre outros. No Brasil isso representaria, em mdia, cerca de 30 % da cesta de consumo. Outra opo seria utilizar as clusulas de escape ou definir circunstncias para justificar o fracasso no atendimento do

    devido a eventos imprevistos como: a) mudana nos impostos indiretos, b) desastres naturais, c) mudanas nos termos de troca, d) alteraes de taxas de juros, dentre outros. A justificativa para tal evitar respostas excessivas da poltica monetria com o intuito de combater a inflao.

  • 26

    observar que isso apenas seria vivel quando no houvesse um carter inercial da inflao,

    pois assim os choques de preos no tenderiam a se perpetuar no sistema26.

    O Brasil optou por utilizar as bandas (ou intervalos de confiana), o que por um lado,

    bom, pois com sua utilizao no necessrio justificar pequenas alteraes na meta de

    inflao. Todavia, o problema est no fato de que esta alternativa no oferece um bom guia

    para a formao de expectativas e, ocorrendo falta de credibilidade, o pblico incorpora s

    expectativas o limite superior da banda, implicando mais tempo para o processo de busca da

    estabilidade dos preos (MENDONA, 2002).

    Segundo os relatrios do BACEN, dados a intensidade e a abrangncia dos choques

    que a economia brasileira sofreu no perodo 2001-02, tornou-se recomendvel a adoo de

    trajetria mais suave para as metas estabelecidas, justificando-se, assim, as j citadas

    alteraes da meta. A permanncia da associao de curto horizonte juntamente com estreita

    oscilao poderia at levar a uma recesso27, pois demandaria um alto custo, em termos de

    volatilidade do produto, para trazer a taxa de inflao meta estabelecida em apenas um

    ano28. Alm do que resultaria em uma grande desconfiana na manipulao da taxa de cmbio

    como tentativa de mirar a taxa de inflao, tendo em vista seu rpido impacto na inflao

    comparativamente taxa de juros29.

    No quadro abaixo, percebe-se que Israel e Nova Zelndia revisaram o tamanho timo

    para as suas bandas e ampliaram os intervalos utilizados como meta. J o Canad e

    novamente a Nova Zelndia alteraram o horizonte de tempo da meta, de forma a adequar a

    trajetria das metas de inflao s condies vigentes em suas economias.

    26 Isto decorre do fato de que quando a covarincia entre a inflao passada e atual positiva, a utilizao de horizonte de tempo ou mdias mais longas para a inflao pode comprometer o . 27 Caso da Nova Zelndia em 1996, conforme Mishkin; Schmidt-Hebbel, (2001). 28 o que parece estar acontecendo no final do primeiro semestre do ano de 2003 quando os ndices de preos acusam deflao. 29 O pblico e os polticos prestam muita ateno na taxa de cmbio nominal e fazem presso sobre o BACEN para alterar sua poltica monetria, levando-a em considerao. Uma apreciao cambial ajuda no combate inflao, porm torna a economia menos competitiva e o pas suscetvel a crises de confiana decorrentes de

  • 27

    ",/3#,(*+,/'

    Metas de inflao correspondem a um arranjo monetrio relativamente novo. Como

    enfatizado, recente a formao de um consenso terico a respeito de quais seriam as

    condies ideais da economia para que o IT pudesse funcionar com sucesso.

    Cecchetti; Ehrmann (1999)30 (citados por Mendona 2001, p. 142-3), objetivando

    verificar se a implementao das metas inflacionrias estimula ou no a existncia do

    inflao-produto, utilizaram para exame o produto da economia e a diferena ao quadrado

    da inflao observada a taxa de 2 %, cinco anos antes e cinco anos depois da explicitao da

    dficits comerciais. Por outro lado, a volatilidade cambial excessiva tambm ruim por impedir o planejamento das exportaes. 30 Cecchetti, S.; Ehrmann, M. Does inflation targeting increase output volatility? An international comparison of policymakers preferences and outcomes. 2')+5#67 7426, December, 1999.

    4 7#',(*(#)%&'/()/,#$%&'**+

    Pas Adoo ndice de

    Preos objetivado

    Intervalo para a meta

    Horizonte de tempo da meta

    Clusulas de Escape

    Responsa-bilidade com os

    objetivos

    Definio da meta

    Publica- es

    Canad Fev 1991 Ncleo do IPC (exclui: alimentao, energia, e impostos indiretos).

    1991: 3-5% 1992: 2-4 % Jun 94: 1,5-3,5% 1995-2001: 1-3%

    1991: 22 meses **Aps 1992 mltiplos anos.

    Reviso da meta sobre circunstncias excepcionais.

    Explicao pblica do desvio da meta.

    Governo e Banco Central.

    Relatrio de poltica monetria. Projeo da inflao.

    Israel Jan 1992 IPC cheio 1992: 14-15% 1993: 10% 1994: 8% *1995: 8-11% 1996: 8-10% 1997: 7-10%1998: 7-10% 1999: 4% 2000: 3-4% 2001: 3-4%

    Anual No tem Explicao pblica do desvio.

    Governo em consulta ao Banco Central.

    Relatrio de Inflao.

    Nova Zelndia

    Mar 1990 IPC cheio. Aps 1999 o IPC exclui juros.

    1990: 3-5% 1991: 2,5-4,5% 1992: 1,5-3,5% 1993-1996: 0-2% *Desde 1997: 0-3%

    1990-92: anual. **1993-1996 mltiplos anos. Desde 1997 indefinido.

    Eventos no usuais que causam inflao, tais como: mudanas nos termos de troca, impostos indiretos e choques de oferta como o agrcola, por exemplo.

    Explicao pblica do desvio da meta e definio do tempo para o retorno da mesma. O diretor do Banco Central pode vir a perder seu cargo.

    Governo e Banco Central.

    Relatrio de Inflao e projees da inflao.

    Fonte: Mishkin; Schmidt-Hebbel, (2001) apresentam essa mesma tabela para 19 pases. Notas: * alterao do intervalo de oscilao da meta ** alterao do horizonte de tempo da meta

  • 28

    meta, encontrando menor variabilidade da inflao e do produto em oito de um total de nove

    pases desenvolvidos da amostra escolhida sugerindo maior eficincia devido a menor

    variabilidade da inflao e do produto.

    Atravs de outro exerccio que considerava a taxa de inflao e a taxa de desemprego

    anual, trs anos antes e trs anos depois da explicitao da meta, verificou-se (agora para uma

    amostra de oito pases) que uma queda na inflao obtida pelo aumento da taxa de sacrifcio,

    ou seja, pelo aumento do desemprego sugerindo que os efeitos sobre o desemprego no

    podem ser ignorados. Entretanto, pesa sobre o resultado obtido o fato de que a maioria dos

    pases, utilizados na amostra acima, adotou o regime de metas inflacionrias durante o

    processo de desinflao, o que levaria por si s possibilidade de reduo do produto e a um

    aumento temporrio do desemprego (MENDONA, 2001).

    Como destaca Sics (2002b), no existem argumentos suficientemente slidos para

    garantir que a adoo de metas inflacionrias seja a responsvel pela queda da inflao. Pases

    que adotaram o regime de metas (IT) e pases que no o adotaram (no IT) esto tendo

    relativo sucesso no da inflao, uma vez que no diferem significativamente nos valores

    apresentados. A tabela abaixo apresenta uma comparao entre pases desenvolvidos que

    utilizaram ou no metas de inflao entre 1990 e 1998. Se metas de inflao fossem

    necessrias para inflao baixa, os pases que no a utilizaram deveriam apresentar inflao

    mdia anual maior no perodo.

    4 @75'(*%&'#)*+/#',/'

    '(()(()/,#$%&'8>>6>J9

    Taxa de inflaomdia anual (%)

    Variao mdia anualdo PIB (%)

    Com metas deinflao

    3,4 2,5

    Sem metas deinflao

    3,2 2,7

    Fonte: Sics (2002b).

  • 29

    Para reforar sua posio, Sics (2002b) ainda cita Andrew Haldane, do Banco Central

    da Inglaterra. A despeito de ser um defensor do regime de metas, Andrew Haldane argumenta

    que metas de inflao tm sido propostas num perodo em que as presses inflacionrias so

    benignas em comparao com os anos 70 e 80. Assim, no se pode avaliar ainda quanto da

    melhora da inflao nos anos 1990 pode ser atribuda boa sorte e quanto se pode atribuir

    boa administrao monetria tanto em pases com ou sem IT.

    O grfico abaixo uma comparao de pases IT (*) e no IT e sustenta a afirmao

    anterior ao demonstrar a evoluo das mdias qinqenais do ndice de Preos ao

    Consumidor (IPC) de 1971 a 2000. Independente do arranjo monetrio utilizado pelos pases

    no perodo, uma caracterstica comum a todos que a inflao esteve em queda.

    1971

    -75

    1976

    -80

    1981

    -85

    1986

    -90

    1991

    -95

    1996

    -00

    EUA

    Alemanha

    Reino Unido*

    57A#/,/%''5'#.(,/'859/>

  • 30

    Fraga ., (2003) acentuam que a performance do IT ao redor do mundo tem sido

    positiva, ao analisar dados de 1997:1 a 2002:2. Em ambos os grupos de pases de sua amostra

    (economias desenvolvidas e em desenvolvimento), a inflao mdia para o perodo ps-IT

    tem estado substancialmente abaixo da inflao verificada antes da adoo do regime de

    metas inflacionrias (grfico abaixo).

    0%

    2%

    4%

    6%

    8%

    10%

    12%

    14%

    Economias Desenvolvidas Economias Emergentes

    Antes do IT Depois do IT

    57D#.(K/,/,#$%&'Reproduzido de: Fraga ., (2003).

    No obstante a inflao tenha sido combatida, as economias emergentes (ou em

    desenvolvimento) no tm conseguido reduzir a taxa de inflao para os mesmos nveis das

    economias desenvolvidas. Este fato estilizado atribudo s diferentes caractersticas do IT

    para os dois grupos de pases. Enquanto, os pases desenvolvidos introduziram o regime de

    metas num cenrio de inflao sob controle, os pases em desenvolvimento o fizeram em um

    cenrio de transio de alta inflao para baixa inflao (desinflao), no qual a adoo da

    meta de inflao parte de um esforo necessrio para que as autoridades monetrias

    obtenham credibilidade e assumam compromisso com a estabilidade de preos.

    A fragilidade das instituies e a imperfeita credibilidade do pblico no regime,

    atribuindo baixa probabilidade ao alcance da meta, bem como, a magnitude dos choques

  • 31

    enfrentados por essas economias emergentes, fazem com que elas encarem trs desafios: (a)

    - (b)

    e(c)

    Na histria de instituies fracas, os pases emergentes tm a desvantagem do esforo

    para ganhar credibilidade ao longo do tempo. Os custos da desinflao so mais altos em

    termos da volatilidade. A volatilidade da taxa de juros e do produto mais alta do que a dos

    pases desenvolvidos refletindo o fato dos agentes atriburem grande probabilidade de, ao

    ocorrer um choque, o Banco Central voltar atrs no compromisso com a meta. Todo esse

    quadro influencia as expectativas inflacionrias, provocando a resposta da poltica monetria

    atravs dos juros. A inflao persistente devido grande influncia do passado.

    Antes da adoo das metas de inflao, os pases desenvolvidos da amostra escolhida

    por Fraga ., (2003) tinham em mdia, 3,72 % de inflao anual, enquanto os pases em

    desenvolvimento tinham 13,11 % tal como demonstra o GRFICO 3. No decorrer da

    dcada de 90, os pases desenvolvidos, por apresentarem menores taxas de inflao no incio

    do regime, permaneceram numa trajetria declinante do da taxa de inflao, porm no

    muito acentuada, enquanto, os pases em desenvolvimento foram diminuindo o nvel das suas

    taxas de inflao devido diminuio de suas metas () ao longo desse perodo

    (GRFICO 4 abaixo).

    Num processo de desinflao semelhante ao dos pases emergentes, os agentes

    privados no acreditam muito no compromisso do Banco Central com a estabilidade. Como

    resultado, temos a tendncia desses agentes incorporar as expectativas futuras da inflao ao

    invs da meta que o Banco Central estabeleceu. Se o Banco Central estiver disposto a

    enfrentar a inflao, freando-a quando essa der sinais de aquecimento, ele provar sociedade

    que est realmente comprometido com a meta e isso lhe dar ganhos de credibilidade ou

    reputao representada num maior grau de confiana do pblico nas suas aes.

  • 32

    LLLL*+(/#',(#)'LLLLLL*+/#',/'

    5@72)H,/'M)0)N(K/,'(*#)0(7+'/'>>666Reproduzido de: Fraga ., (2003).

    Ao definir uma nova meta, os agentes econmicos incorporaro logo aquela meta

    como sendo a efetiva inflao do perodo porque confiam no objetivo estabelecido pelo Banco

    Central, tendo em conta o passado recente, em que suas aes foram condizentes com esse

    objetivo. E assim, a inflao pode convergir para a meta. Entretanto, at que o Banco Central

    ganhe credibilidade a volatilidade da taxa de juros e do produto ser alta.

    If inflation targeting is adopted in an economy with an inflation rate significantly higher than the long-term goal, the central bank has to conduct an active policy with output costs to bring inflation down. The reduction in inflation faces two obstacles, which result in costly disinflation and higher volatility of inflation and output: (i) the already mentioned imperfect credibility, and (ii) the presence of some degree of inflation persistence, resulting from some backward-looking behavior in price setting. The presence of backward-looking behavior may be due to factors such as indexed wage contracts, and adaptive expectations. In particular, in Brazil, the adjustment of regulated prices such as electricity and telephone service follows a contractual rule that implies a high degree of persistence. (FRAGA. 2003, p.17)

    Para os pases emergentes a meta de inflao tem funcionado no sentido de diminuir

    os nveis da taxa de inflao, embora num primeiro momento a custo de uma maior

    volatilidade (a tabela abaixo proporciona a comparao desses valores).

  • 33

    Caractersticas das economias emergentes como um fraco regime fiscal, riscos

    associados regulamentao frgil do sistema financeiro e choques externos so vistas como

    uma espcie de dominncia fiscal, financeira ou externa. O medo do domnio fiscal afeta as

    expectativas de inflao requerendo uma poltica monetria apertada. Falta de regulao e

    superviso no mercado financeiro, aliado presena de contratos financeiros de curto prazo e

    pfio desenvolvimento desses mercados financeiros, enfraquecem os mecanismos de

    transmisso da poltica monetria e requerem o movimento mais rpido da taxa de juros, o

    que aumenta sua volatilidade. Os choques externos, como o rompimento do fluxo de capitais

    que reflete os fracos fundamentos da economia, alteram o cmbio, conduzindo a taxas de

    juros mais altas para evitar presses inflacionrias.

    Inflao Cmbio * PIB** Juros PIB Inflao

    Austrlia 2,05 0,13 1,96 0,58 4,78 5,89Canad 0,83 0,04 1,30 1,14 3,57 1,96Islndia 2,45 0,15 3,13 3,02 4,17 4,05Nova Zelndia 1,21 0,16 3,61 1,47 3,09 1,65Noruega 0,77 0,10 2,25 1,46 2,66 2,44Sucia 1,11 0,12 2,41 0,44 2,58 1,24Suia 0,54 0,08 1,14 0,92 1,79 0,85Reino Unido 0,92 0,06 0,79 1,13 2,61 2,46

    Brasil 2,09 0,15*** 2,06 7,06 1,81 5,89Chile 1,3 0,17 3,25 -- 3,11 3,88Colombia 5,43 0,25 3,38 10,02 0,81 12,51Repblica Tcheca 3,46 0,09 2,73 5,81 1,18 5,31Hungria 4,09 0,16 -- 1,13 -- 11,21Israel 3,18 0,10 3,36 3,34 2,98 4,32Mxico 5,98 0,07 3,17 7,26 4,05 11,72Peru 3,04 0,11 3,45 5,50 2,11 3,89Polnia 4,13 0,11 2,40 4,14 3,85 8,40frica do Sul 2,13 0,26 1,11 3,65 2,26 6,51Coria do Sul 2,36 0,14 6,38 5,52 4,31 3,73Tailndia 3,25 0,14 6,13 6,72 0,08 2,88

    Reproduzido de:

    Fraga (2003) que usaram dados trimestrais do Fundo Monetrio Internacional - FMI

    * refere-se ao coeficiente de variao ( desvio padro/ mdia).

    ** taxa de crescimento obtida comparando trimestre corrente com o trimestre do ano anterior.

    *** refere-se ao perodo 1999:1 - 2002:2. Para 1997:1 - 2002:2, o valor 0,31.

    Volatilidade Mdia

    !!

  • 34

    Muinhos ., (2003) analisando o caso do Brasil, destacam um ganho em termos de

    variabilidade do produto e da taxa de juros, depois da adoo do IT, representado no menor

    coeficiente de variao para essas variveis (1,28 e 0,09, respectivamente). Em mdia, a taxa

    de juros mais baixa (18,2 %) e o crescimento do produto maior (2,5 %) no regime de

    metas inflacionrias. A despeito da taxa de inflao no ter sido a menor no perodo do IT,

    deve-se levar em considerao que no perodo entre 1996:1 1999:2, quando em mdia ela

    esteve em 5,8 %, diferentemente do perodo ps-1999, o cmbio era a ncora nominal da

    economia e trabalhava para atenu-la (vide TAB. 6).

    Mdia Desvio PadroCoeficiente de

    VariaoMdia Desvio Padro

    Coeficiente deVariao

    Mdia Desvio PadroCoeficiente de

    Variao

    1994:4 - 1999:2 10,3 9,2 0,89 2,0 6,3 3,16 35,4 14,1 0,401996:1 - 1999:2 5,8 4,8 0,84 2,0 5,2 2,55 28,2 6,0 0,21

    1999:3 - 2002:2 7,1 3,0 0,42 2,4 3,5 1,46 18,0 1,4 0,081999:3 - 2002:4 8,9 6,0 0,68 2,5 3,3 1,28 18,2 1,6 0,09

    Reproduzido de Muinhos . (2003).Notas: dados trimestraisTaxa de inflao IPCATaxa de juros Selic

    Taxa de Inflao Crescimento do Produto Taxa de Juros

    K/,O/,'*/&''$,,#)/,%&'*)D/,#$%&'O4)D/2.'

    4 1#'

  • 35

    @ 5 A5B55

    455 5 4

    @"#,('/)#(,

    &'/*'+),('#)-,

    O regime de metas inflacionrias pressupe muita responsabilidade e transparncia na

    conduo da poltica monetria. O Banco Central desempenha um papel muito difcil ao

    tentar prever a trajetria da taxa de inflao. Uma vez que os erros esto inerentes nesse

    processo, sua reputao colocada prova todas as vezes que anuncia uma previso de

    inflao. Este captulo aborda as dificuldades enfrentadas pelo BACEN ao longo de todo

    processo de previso, apresentando os canais de transmisso da poltica monetria e os

    principais modelos utilizados para as previses.

    @"5#,/)#(,

    &'/*'+),('#)-,(&',(*,$,/

    Na economia, ao contrrio das cincias exatas, os modelos quase nunca captam todas

    as nuanas de um fenmeno real. A existncia de choques freqentes, incertezas e mudanas

    estruturais caractersticas do mundo real aliados falta de um modelo estrutural capaz de

    representar fielmente a realidade, reduzem consideravelmente a probabilidade de acerto da

    meta de inflao.

    Atravs do estudo dos mecanismos de transmisso da poltica monetria, isto , do

    estudo dos diversos efeitos produzidos pela poltica monetria na economia o BACEN

    procura modelar a inflao tentando torn-la previsvel.

    Em linha com o objetivo descrito, cinco canais de transmisso da poltica monetria

    podem ser identificados: (a) taxa de juros de mercado, (b) preo dos ativos, (c) crdito, (d)

    expectativas e (e) taxa de cmbio.

  • 36

    Aou taxa nominal de juros de curto prazo, no caso brasileiro, a

    taxa Selic, o principal instrumento de poltica monetria. atravs dela que se formam todas

    as outras taxas de juros da economia, tendo em vista o seu aumento se propagar por toda a

    estrutura a termo da taxa de juros. Se aceitarmos que no curto prazo os preos so rgidos, um

    aumento da taxa de juros nominal eleva tambm a taxa de juros real, o que, por sua vez,

    aumenta o custo do capital, diminuindo o investimento privado e o consumo de bens durveis,

    reduzindo a demanda agregada e afetando a inflao.

    Em decorrncia da elevao da taxa de juros nominal, os tambm

    sofrem alteraes, o qual se reflete negativamente na riqueza dos agentes (um bom exemplo

    a queda no preo das aes), desestimulando, assim, o investimento e o consumo e inibindo o

    lucro das empresas, culminando por reduzir a inflao.

    Outro canal, o das afeta a confiana dos agentes.

    Ao alterar a taxa de juros, a ao do banco central pode alterar as expectativas dos agentes econmicos quanto evoluo presente e futura da economia. Por exemplo, ao elevar a taxa de juros de curto prazo para evitar o surgimento da inflao, o banco central pode restabelecer a confiana no desempenho futuro da economia, e provocar uma queda nas taxas de juros esperadas para prazos mais longos. A queda na taxa de juros durante uma recesso pode significar que tempos melhores viro, estimulando o consumo da populao. Por outro lado, vale observar que devido incerteza inerente aos efeitos da poltica monetria e evoluo da economia, muitas vezes uma mudana na taxa de juros pode produzir efeitos opostos aos esperados. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, Junho, 1999)

    O 3 afetado pela elevao da taxa de juros nominal da seguinte maneira: ao

    aumentar a taxa de juros e diminuir o volume de reservas da economia, o Banco Central

    obriga que os bancos comerciais diminuam seus emprstimos, inibindo assim o investimento

    e o consumo e afetando negativamente a demanda agregada e por ltimo a inflao.

    Por fim, ao elevar a taxa de juros nominal ou Selic, a (flexvel, como

    recomendvel para o arranjo de metas inflacionrias) fica valorizada e transmite os efeitos

    dessa poltica monetria reduzindo a taxa de inflao por trs vias distintas: diretamente (a)

    por meio dos preos domsticos dos que tornam-se mais baratos, e indiretamente

  • 37

    (b) mediante a diminuio do custo dos produtos finais por meio da queda dos preos dos

    insumos importados e (c) atravs da diminuio da demanda agregada ao transferir a demanda

    dos bens domsticos para bens importados.

    Como visto, ao afetar os canais supracitados, as decises de poltica monetria (taxa

    de redesconto, percentual do depsito compulsrio e taxa de reservas) influem sobre o gasto e

    o nvel de poupana de pessoas e empresas, investimento e exportaes lquidas, estes por sua

    vez, afetam a demanda agregada e por ltimo a taxa de inflao.

    Taxa Selic

    Preos externos

    Taxas de jurosde mercado

    Preo dos Ativos

    Expectativas

    Crdito

    Taxa de cmbio

    Choque de oferta

    Investimento privado

    Bens de consumodurveis

    Exportaes Lquidas

    Demanda Agregada

    Taxa de inflao

    75#,/)#(,

    &'/*'+),('#)-,)K,#$%&'Reproduzido de: BANCO CENTRAL DO BRASIL, junho (1999)

    Esta representao grfica dos canais de transmisso da poltica monetria primeira

    vista parece simples. Entretanto, quando se consideram a causalidade e os , ela torna-se

    complexa. Um choque de oferta sofrido pela economia pode ter impactos diretamente no

    cmbio (o que geralmente ocorre sem ) e depois se transferir para a inflao via demanda

    agregada num perodo correspondente ao acerto nos contratos de importao32. Tambm pode

    31 Definido na quantia em Reais por moeda estrangeira (R$/Moeda estrangeira). 32 Existe um entre a alterao da taxa de cmbio e a efetivao de novos contratos de importao e exportao que leve a referida taxa em considerao, bem como no podem ser desprezados os intervalos entre o pedido e o embarque das mercadorias.

  • 38

    obrigar uma reao das autoridades monetrias alterando a taxa Selic e, desta forma ativar

    todos os outros canais de transmisso at atingir a inflao com vrios de tempo.

    A economia que passa por choques de oferta pode experimentar reflexos na inflao

    de maneira e tempos () distintos dependendo da natureza do choque em questo. Por

    exemplo, um choque de petrleo eleva o custo de produo dos bens que tem como

    componentes/ insumos os derivados do petrleo, aumentando os preos externos medidos em

    moeda nacional e afetando a inflao. J uma crise de confiana na economia pode requerer

    do Banco Central uma resposta altura mediante a alterao da taxa de juros bsica, fato que

    no alteraria os preos externos num primeiro momento, mas que se deslocaria por outros

    canais de transmisso at impactar na inflao.

    Os efeitos resultantes das decises de poltica monetria somente materializam-se sobre o nvel de atividade econmica e a taxa de inflao aps um certo intervalo de tempo. Decises diferentes surtem resultados distintos e com defasagens diferentes. Por esse motivo quando o objetivo principal do BACEN atingir uma meta para a inflao, sua poltica monetria deve ser guiada pela avaliao prospectiva da inflao. O horizonte analisado de seis meses a dois anos. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 1999).

    Bernanke ., (1999) apontam uma dificuldade decorrente do exposto acima, qual

    seja, '&. Isto porque se a inflao apresenta

    alto grau de imprevisibilidade em decorrncia de seus elementos estocsticos o pblico pode

    ter dificuldade em avaliar o esforo feito pelo Banco Central para alcanar a meta,

    principalmente nas ocasies em que este no obtm xito. J Canuto; Holland, (2002),

    complementam a anlise expondo duas outras dificuldades, quais sejam: (a)

    e (b) ou no curso completo da

    poltica monetria33 como sendo um problema operacional. Por certo, estes dois ltimos

    pontos prejudicam a acuidade da autoridade monetria na busca da meta objetivada. Como

    forma de ajudar no processo de tomada de decises indispensvel estimar esses impactos,

    procurando conhecer o tempo correto dessas defasagens. Decorre da, a necessidade de um

  • 39

    processo de previso bem estruturado. Nesse processo, trs metodologias so usadas pelo

    BACEN:

    (a) * 8 *: Por esta metodologia busca-se extrair do

    comportamento de uma varivel os movimentos que antecedem a evoluo da inflao.

    Consiste na combinao de variveis econmicas que tentam captar com antecedncia fases

    de crescimento e de recesso ou, pelo menos, tentam captar os provveis pontos de inflexo

    na trajetria futura da inflao.

    O BACEN utiliza 49 variveis como indicadores antecedentes para sua anlise sobre a

    inflao e elas esto classificadas em cinco grupos: Moeda e Finanas, Emprego e Salrios,

    Preos, Nvel de Atividade e Setor Externo. Tanto na seleo das variveis candidatas a

    indicadores quanto na avaliao de seu poder de previso, so analisadas as correlaes com a

    inflao. Desta forma, para saber se a inflao est dando sinais de aquecimento ou

    desaquecimento, o BACEN pode consultar, por exemplo, a evoluo do Emprego na

    Construo Civil (no grupo do Emprego e Salrios) e/ou a Capacidade Utilizada na indstria

    de So Paulo (no grupo Nvel de Atividade), dentre vrios outros indicadores e obter, assim,

    um julgamento objetivo sobre o futuro da economia.

    (b) &% : Esses tipos de modelos no tm relao de causa

    e efeito so tambm conhecidos como no tericos. Correspondem a um resumo estatstico

    das relaes entre diversas variveis sem uma interpretao econmica e tm por objetivo: (a)

    1, (b) e (c)

    4/ 86&*. Dentre estes modelos destacam-se os

    autoregressivos VAR, bayesianos BVAR e modelos de mdias mveis ARMA.

    (c) ) 9 Estes se baseiam em relaes de causa e efeito com as

    quais se tenta captar inter-relaes dos principais agregados da economia brasileira.

    33 Defasagem interna se refere ao tempo em que o choque leva para afetar a economia e defasagem externa o tempo que se passa at a ao de resposta por parte da poltica monetria.

  • 40

    Estes ltimos, devido a sua importncia por apresentarem relaes tericas conhecidas entre

    algumas variveis, sero analisados na prxima seo.

    @"'/').).C-,'/'45

    Considerando que o objetivo principal da poltica monetria alcanar a meta de

    inflao, os economistas do BACEN tm de ter o instrumental para avali-la em termos

    quantitativos. Nesta seo, apresenta-se de forma resumida o modelo estrutural bsico

    proposto por Bogdanski; Tombini; Werlang, (2000) para o comportamento da economia

    brasileira.

    A modelagem para a transmisso da poltica monetria resultado do

    aperfeioamento34 de um grupo de modelos estruturais e composta de quatro equaes

    estruturais que determinam endogenamente o hiato do produto (4

    ), a taxa de inflao (

    ), o

    cmbio nominal (

    ) e a taxa de juros real (

    ) para uma dada regra de reao (

    ) da autoridade

    monetria. Seu objetivo principal identificar e quantificar o grau de intensidade (dado pelos

    coeficientes estimados) e os (defasagens usualmente trimestrais) dos principais canais

    de transmisso.

    @""5.

    ),,,,( 1121

    444 = A especificao bsica da demanda agregada representada pela curva IS que

    expressa o hiato do produto35 em funo de seus valores passados, da taxa de juros real

    defasada36e, se a economia estiver passando por um ajuste fiscal, pode se incluir tambm o

    termo que representa o supervit primrio em porcentagem do Produto.

    34Esta seo parte do modelo original indicando as inovaes que ocorreram ao longo dos anos. 35 Definido como o logaritmo da razo entre o produto atual e o potencial. 36 No relatrio de inflao de junho de 2002 o BACEN apresentou uma nova especificao que utiliza como varivel explicativa em lugar da taxa de juros real (r) a taxa Swap pr DI de 180 dias defasada em um perodo e deflacionada pelo IPCA tambm defasado em um perodo.

  • 41

    444 +++++= 141322110 89 :44

    ;+"? .

    ;6+"? )/ 3 4/

    Esperam-se sinais para o hiato do produto defasado, e para a taxa de

    juros real e para o supervit primrio.

    @""5./,

    ,*

    ]),(,,(.),,[ 121

    4) += 37 Na verso original do modelo em Bogdanski; Tombini; Werlang, (2000) o BACEN

    calculava a inflao sem distino entre seus componentes. Entretanto, de 1999 em diante,

    percebeu-se que os preos administrados por contrato ou monitorados pelas agncias

    governamentais, tais como, combustveis, energia, telefone, planos de sade, dentre outros;

    tiveram uma inflao bem maior (quase o dobro) do que a dos preos livres ou de mercado.

    Na tentativa de melhorar as estimaes da curva de Phillips, o Banco Central passou a estimar

    a inflao cheia (aquela composta por preos livres e administrados) da seguinte forma.38

    Calcula-se primeiro a inflao dos preos livres atravs da curva de Phillips ou curva

    de oferta agregada. Conforme apresentado na equao abaixo, esta inflao regredida contra

    37 A especificao da curva de Phillips apresentada aqui difere da do BACEN, pois leva em considerao a inflao passada e as expectativas numa mesma equao. Na realidade, o BACEN estima duas equaes uma com expectativas adaptativas (leva em conta a inflao passada) e outra com expectativas racionais (leva em conta o futuro) e retira a mdia dos coeficientes estimados entre as duas. Isto se justificaria por motivos empricos, tendo em vista que as equaes estimadas tm melhor ajuste, uma vez que os resultados encontrados separadamente colocam o coeficiente da inflao esperada 1,5 vezes maior que o da inflao passada. Isso denotaria uma credibilidade no regime e/ou um ajuste da inflao em relao ao produto muito mais rpido do que parece ser na realidade. 38 Considerando que uma parcela entre 20 e 25 % do IPCA se refere a preos administrados que tm sido reajustados acima da inflao dos preos livres, optou-se por estimar seu impacto inflacionrio de forma separada da curva de Phillips e depois somar as duas inflaes (preos livres e administrados) para se obter a inflao cheia. (Conforme destaca o relatrio de Inflao de setembro de 2002)

  • 42

    a inflao cheia defasada (para captar a inrcia no processo inflacionrio), a expectativa futura

    de inflao (com base em todas as informaes disponveis), o hiato do produto defasado e a

    combinao das primeiras diferenas entre taxa de cmbio nominal multiplicada pelo preo

    internacional (de modo a captar a influncia externa).

    ++++++= + )()( 14132211

    ,,

    ! (.),,

    "

    ! !

    Feito isso, estima-se a inflao dos preos administrados de forma separada, considerando as projees de reajustes feitas em bases geogrficas e sob regras especficas,

    dependendo dos contratos existentes e da importncia do repasse cambial na formao dos

    preos.

    A inflao cheia ou final obtida levando em considerao a soma dessas duas

    inflaes ponderadas pela sua composio no IPCA.

    )()(

    += 89

    # $ % $

    &'()

    &'()

  • 43

    @""?.%&'/?.,+C,'$,##,'

    A equao de equilbrio financeiro39 no mercado cambial relaciona a taxa esperada de

    desvalorizao cambial com o diferencial entre as taxas de juros domsticas e externas e o

    prmio de risco. A primeira especificao proposta seguia condio de arbitragem como

    representada abaixo.

    ++=

    *! %

    $

    % + !,

    A taxa de juros internacional e o prmio de risco representam variveis exgenas ao

    modelo.

    Exerccios economtricos levaram o BACEN a flexibilizar a forma como o diferencial

    de juros e o prmio de risco afetam a depreciao cambial. De forma a estimar melhor a taxa

    de cmbio nominal optou-se por considerar o diferencial de juros )(

    como uma funo

    linear da diferena entre a taxa Selic e a Federal Funds (americana).

    O prmio de risco ),(

    por ter a peculiaridade de apresentar alta volatilidade e estar

    associado a fundamentos macroeconmicos e tambm a fatores subjetivos analisados pelos

    investidores, costuma ser modelado em funo de fatores objetivos que o afetam. No

    momento da modelagem levada em considerao a situao fiscal do pas, as condies de

    liquidez internacional, o desempenho do mercado de capitais, as perspectivas do balano de

    transaes correntes e a classificao de risco do Pas pelas agncias, dentre outras

    informaes. Assim, espera-se que um bom desempenho fiscal, representado por um

    39 Essa equao advm da que relaciona mudanas esperadas na taxa de cmbio entre dois pases [

    -

    .

    -

    -

    ] aps tomadas as primeiras diferenas e considerado

    -

    .

    ou seja, as mudanas esperadas hoje para o cmbio daqui a um tempo /, subtradas das mudanas esperadas para o

  • 44

    supervit e/ou uma classificao favorvel de risco, bem como, um cenrio internacional de

    liquidez, implique na reduo do prmio de risco com o tempo.

    0 =++= ,

    33211

    !,

    $+

    ,1

    '&23/'450,!

    +

    Considerando a nova forma de estimar o diferencial de juros e a modelagem do prmio

    de risco, a equao sugerida pelo BACEN como condio para o equilbrio financeiro pode

    ser expressa, da seguinte forma40:

    6*

    +++= ))(1()( 1111 89

    , 11, !

    ,%, $*

    $% 6 %

    ) , &'()

    ''& 7

    Aumentos no diferencial de juros geram apreciaes cambiais, enquanto que aumentos no

    prmio de risco esto associados a depreciaes.

    Sob a hiptese de que no equilbrio de longo prazo (quando diferencial de juros e prmio

    de risco se anulam) a variao do cmbio nominal corresponderia ao diferencial entre as

    taxas de inflao domstica e americana, ).(

    =

    cmbio de hoje, mas firmadas no tempo , seguem um processo aleatrio de media zero e varincia constante, por hiptese. 40 Para uma compreenso passo por passo da derivao dessa condio sugere-se consultar o Relatrio de Inflao de Dezembro de 2001, p. 127-132. Ali pode-se ver que atualmente o BACEN modela o prmio de risco apenas como funo linear do do C-Bond em relao ao .

  • 45

    ),( *

    = Para que o BACEN faa uma simulao do seu modelo estrutural ele tem de definir

    uma regra de poltica monetria para a taxa de juros.41 A regra utilizada geralmente tem a

    especificao do com pesos para desvios contemporneos da inflao e do hiato

    do produto.

    32*

    1 )( ++=

    *,

    Da combinao das equaes (1), (2), (3) e (4), o BACEN dispe de um simples

    modelo estrutural que pode lhe gerar previses para: (a) inflao, (b) hiato do produto, (c)

    taxa de cmbio e (d) trajetria para a taxa de juros real e nominal.

    Na prtica, as decises de poltica monetria do COPOM se norteiam pelas previses

    feitas por estes modelos.

    Estes resultados obtidos so avaliados qualitativamente e o processo de deciso

    complementado, levando-se em considerao as informaes externas aos modelos como: (a)

    sries histricas, (b) indicadores antecedentes e (c) pesquisas de opinio realizadas pelo

    BACEN junto ao mercado.

    41Alm da Regra de Taylor Bogdanski; Tombini; Werlang, (2000) apresentam trs outras possveis, quais sejam: a) !" , como o prprio nome sugere seria estipular um valor arbitrrio para a taxa de juros utilizada quando se quer estimar os modelos estruturais para efeito de previso da inflao e hiato do produto; b) "calculada deterministicamente ou estocasticamente por

  • 46

    O debate em torno da eficcia da utilizao do IT ainda est dentro do ambiente

    acadmico. Toda semana surge um artigo novo, trazendo um exerccio economtrico sobre

    sua robustez no que tange a combater a inflao.

    Ao que parece, somente aps a institucionalizao de alguns pontos bsicos ou

    condies ideais para o funcionamento desse novo arranjo monetrio que as pesquisas

    economtricas puderam avanar no sentido de afirmar sobre a sua robustez ou no.

    Infelizmente, isso se deu h pouco tempo e as amostras ainda so relativamente pequenas para

    se extrair concluses muito fortes.

    Pela reviso da literatura a que este trabalho se props e pela anlise do perodo do IT

    no Brasil, pode se concluir que: (a) o Brasil tem seguido em linha com os principais

    desenvolvimentos sobre metas de inflao no mundo, de forma a enquadrar-se no modelo

    institucional ideal proposto pela literatura, salvo pelo fato de ainda no ter um Banco Central

    independente; (b) as questes referentes eficcia do regime de metas de inflao podem ser

    consideradas ainda em aberto e estes questionamentos tendero a se tornar maiores a partir de

    agora devido, principalmente, ampliao das amostras de dados de pases nos estudos e

    definio das condies ideais