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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 10/5/2010 4 SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 10/5/2010 2 SEX+SÁB+DOM M O BR MÚSICA No palco do Bahia Café Hall, o cantor convidou o público a dançar Menos eclético e romântico, Zeca Baleiro faz show festivo O cantor maranhense convidou Jau para subir ao palco no show em Salvador VITOR PAMPLONA Zeca Baleiro busca desespera- damente fugir de rótulos. Em 10 discos (um deles em parceria com Raimundo Fagner e dois gravados ao vivo), afirmou-se como um compositor de linhas tortuosas, às vezes tão cioso de referências quanto uma colcha de retalhos. Adversário do “bom gosto“ amparado pela corte da crítica musical, guarda posição firme na barreira dos defensores do ecletismo. É um homem de boleros (Co- mo diria Odair), baladas de amor sangrento (À flor da pele), folclore regional (Mamãe Oxum) e rock. Não necessaria- mente nessa ordem. No palco do Bahia Café Hall (Paralela), na noite de sábado, Zeca e banda – Tuco Marcondes na guitarra, Fernando Nunes no baixo, Kuki Stolarski na bateria e Adriano Magoo no teclado e acordeon – emergiram dos ca- marins com poucos resquícios de melancolia. Para um público cativo, con- quistado com a inestimável con- tribuição da trilha de sete no- velas, guitarras distorcidas su- focam melodias. Pobre coração de donas-de-casa e de moças com os sentimentos à flor da pele. Guitarras fazem dançar. Com repertório pinçado so- bretudo de O Coração do Ho- mem-Bomba Vol. 1 (Bola divi- dida, sucesso de Luiz Ayrão de 1975; Alma não tem cor , a mais popular música de André Abu- jamra; Vai de Madureira; Você não liga pra mim;e Toca Raul), o show vai aos poucos se acal- mando. Entram em cena hits dos discos Vô Imbolá (1999) e Líricas (2000): Lenha, a balada baleira por excelência; Proibida pra mim, versão cada vez mais im- provável e constrangedora da música do Charlie Brown Jr.; e Quase Nada, canção sobre amo- res incertos cuja letra foi escrita pela poeta e compositora cu- ritibana Alice Ruiz, que foi ca- sada com Paulo Leminski. Palminhas e palhetas Na estrada desde meados da década de 1980, embora só te- nha gravado seu primeiro disco em 1997 (Por Onde Andará Ste- phen Fry?), Zeca Baleiro é um artista prudente. Do tipo que cultiva fãs ao arremessar palhe- tas de guitarra para o público, coreografa passos de dança com os músicos e puxa coro de pal- mas no final de canções can- taroláveis. Cacoetes e automatismos à parte, a maioria dos versos do maranhense está na boca da plateia. Emociona casais de na- morados e desafia o compositor a se aproximar do passado con- fessional e romântico. O caminho escolhido é outro. Cantor e banda sucumbem a um grand finale de arrepiar cata- cumbas: Heavy Metal do Se- nhor . A primeira música, do pri- meiro disco de Zeca Baleiro. A primeira profecia da obra de um artista que se popularizou com canções de amor, mas hoje soa barulhento e festivo. Diego Mascarenhas / Ag A TARDE Fotos Thiago Teixeira / Ag. A Tarde Cropped by pdfscissors.com

Menos eclético e romântico, Zeca Baleiro faz show festivo

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Crítica de show de Zeca Baleiro

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Page 1: Menos eclético e romântico, Zeca Baleiro faz show festivo

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SEX+SÁB+DOM

Os paulistanos do grupo Tablado de Arruar: espetáculo que não se sustenta nem como divertimento e nem como manifesto A banda cover do Kiss em ação no palco do Groove Bar: boas performances e muito carisma

MACHADO DE ASSIS QUER SABER MAIS SOBREO AUTOR? ACESSE A PÁGINA DA ACADEMIABRASILEIRA DE LETRAS http://www.machadodeassis.org.br

MÚSICA No palco do Bahia Café Hall,o cantor convidou o público a dançar

Menos ecléticoe romântico,Zeca Baleirofaz show festivo

O cantormaranhenseconvidou Jaupara subir aopalco no showem Salvador

VITOR PAMPLONA

Zeca Baleiro busca desespera-damente fugir de rótulos. Em 10discos (um deles em parceriacom Raimundo Fagner e doisgravados ao vivo), afirmou-secomo um compositor de linhastortuosas, às vezes tão cioso dereferências quanto uma colchade retalhos. Adversário do“bom gosto“ amparado pelacorte da crítica musical, guardaposição firme na barreira dosdefensores do ecletismo.

É um homem de boleros (Co-mo diria Odair), baladas deamor sangrento (À flor da pele),folclore regional (MamãeOxum) e rock. Não necessaria-mente nessa ordem.

No palco do Bahia Café Hall(Paralela), na noite de sábado,Zeca e banda – Tuco Marcondesna guitarra, Fernando Nunes nobaixo, Kuki Stolarski na bateriae Adriano Magoo no teclado eacordeon – emergiram dos ca-marins com poucos resquíciosde melancolia.

Para um público cativo, con-quistado com a inestimável con-tribuição da trilha de sete no-velas, guitarras distorcidas su-focam melodias. Pobre coraçãode donas-de-casa e de moçascom os sentimentos à flor dapele. Guitarras fazem dançar.

Com repertório pinçado so-bretudo de O Coração do Ho-mem-Bomba Vol. 1 (Bola divi-dida, sucesso de Luiz Ayrão de1975; Alma não tem cor, a maispopular música de André Abu-jamra; Vai de Madureira; Você

não liga pra mim; e Toca Raul),o show vai aos poucos se acal-mando.Entramemcenahitsdosdiscos Vô Imbolá (1999) e Líricas(2000): Lenha, a balada baleirapor excelência; Proibida pramim, versão cada vez mais im-provável e constrangedora damúsica do Charlie Brown Jr.; eQuase Nada, canção sobre amo-res incertos cuja letra foi escritapela poeta e compositora cu-ritibana Alice Ruiz, que foi ca-sada com Paulo Leminski.

Palminhas e palhetasNa estrada desde meados dadécada de 1980, embora só te-nha gravado seu primeiro discoem 1997 (Por Onde Andará Ste-phen Fry?), Zeca Baleiro é umartista prudente. Do tipo quecultiva fãs ao arremessar palhe-tas de guitarra para o público,coreografapassosdedançacomos músicos e puxa coro de pal-mas no final de canções can-taroláveis.

Cacoetes e automatismos àparte, a maioria dos versos domaranhense está na boca daplateia. Emociona casais de na-morados e desafia o compositora se aproximar do passado con-fessional e romântico.

O caminho escolhido é outro.Cantor e banda sucumbem a umgrand finale de arrepiar cata-cumbas: Heavy Metal do Se-nhor. A primeira música, do pri-meiro disco de Zeca Baleiro. Aprimeira profecia da obra de umartista que se popularizou comcanções de amor, mas hoje soabarulhento e festivo.

PEDRO FERNANDES

Com o final de Viver A Vida che-gando, uma peça encenada narua pelo grupo paulistano Ta-blado de Arruar com o títuloHelena Pede Perdão e é Esbo-feteada soava bastante promis-sora pela potencial carga de iro-nia. Com texto de Alexandre DalFarra e direção de João Otávio,o espetáculo foi encenado noLargo do São Francisco, sexta esábado, ao cair da tarde.

Helena e Augusto são um ca-sal falido que tem a casa in-vadida por Jack e Mary, pseudoassaltantes e psicóticos que nãoencontram nada para roubar.Entre sessões de tortura psico-lógica, saem juntos pelo mundocomo ativistas, mas as inten-ções não ficam muito claras.

A atuação do quarteto fracas-sa, o que gera um rompimentodo grupo e uma troca de casais.Helena se aproxima de Jack, dequem tem um filho, e Mary vaiembora com Augusto.

Apesar de contar com recur-sos interessantes, como a ins-talação de uma TV que exibecloses do que se passa em cena,

como lágrimas e sorrisos esbo-çados, sugerindo a ligação coma linguagem televisiva, a peça émuito aborrecida.

ReferênciasO enredo rocambolesco, quemistura referências a filmes desuspense americano, folhetimtelevisivo vagabundo e teatrodidático brechtiano, é feito paraconfundir. Embora a história su-giraumciclo,elanãosesustentanem como divertimento, nemcomo manifesto.

O tema “a metrópole e suascontradições” é exposto de ma-neira superficial (violência, ga-nância, opressão no trabalho?),exceto num momento em queum dos atores faz um discursode ódio à cidade São Paulo.

Efeito zero na plateia sosse-gada, formada por crianças, tu-ristas ocasionais e soteropolita-nos de tela de Caribé, sentadosem batentes e escorados nasportas dos casarões ao redor.

Compreende-sequeosatorestenham que gritar, por não con-tar com a acústica de um teatro,mas a preparação vocal não éboaosuficienteeosberroscons-tantes soam estridentes.

Apesar de ser encenada ao arlivre, poucas técnicas de teatrode rua são empregadas. Comum semicírculo de carvão quedistanciava o público da cena ecadeiras dispostas ao redor, aprodução deixa claro que esta-ria melhor instalada num tea-tro. Mesmo assim, essa provi-dência seria incapaz de salvar aprodução do constrangimentoque provoca por conta da suamá qualidade.

Destroyer Kiss Cover é tributo fidelíssimo

CHICO CASTRO JR.

Um público menor do que o es-perado – possivelmente, devidoa fraca divulgação do evento –compareceu ao Groove Bar nasexta-feira, para o primeiro diadeapresentaçõesdabandaDes-troyer Kiss Cover.

Ainda assim, fiel ao espíritodo Kiss, a banda paulista, ga-nhadora de um concurso no Do-mingão do Faustão, fez um beloe fidelíssimo tributo aos mas-carados novaiorquinos.

Com o repertório estritamen-te centrado no filé da banda(fase mascarada, entre 1973 e82), Fábio Stanley (voz, guitar-

O espetáculoexpõe o tema“a metrópole esuas contradições”de maneirasuperficial

ra), Tutú Simmons (voz, baixo),Rodrigo Frehley (guitarra solo,voz) e Léo Criss (bateria, voz)desempenharam seus papéiscom brilhantismo e simpatia.

Destaques para Tutú e Rodri-go – ambos reproduzem seuspersonagens com uma fidelida-de impressionante, incluindo aítrejeitos, vozes e solos, tudo re-produzido nota por nota.

Carisma e humorJá o front man Fábio, se não temo alcance vocal de Paul Stanley(e quem teria?) ganhou a pla-teia pelo carisma e humor, as-sim como Léo Criss, batera deresponsa. Os hits eram cantadosem coro: Deuce, Cold Gin, I LoveIt Loud, Firehouse e a apoteóticaRock ‘n‘ Roll All Nite, com direitoa chuva de papel picado e voltapara casa com a alma lavada.

Com repertórioestritamentecentrado no filé dabanda, os músicosganharam a plateiapela simpatia

José Mauro Brant em cena, histórias com dicção machadiana

Ator à altura do Bruxo do Cosme Velho

MARCOS DIAS

Um ator em completo domíniodos seus recursos foi o que se viuno monólogo Contando Macha-do de Assis, com José MauroBrant, que esteve em cartaz nes-te fim de semana na Caixa Cul-tural Salvador.

Dois contos escritos no século19, Missa do galo (1893) e Ma-riana (1891), com fragmentosde Dom Casmurro, tocam empaixõesobsessivasdossereshu-manos, como o desejo e as trai-ções, para levar ao primeiro pla-no a única fidelidade possívelpara Assis: a linguagem.

Dirigido por Antonio Gilberto,que também assina o roteirocom Brant, o espetáculo foi en-cenado pela primeira vez em2008, no Rio de Janeiro, no anoem que se comemorou o cen-tenário da morte do escritor.

O duro trabalho de dar umcorpo às palavras do Bruxo doCosme Velho – quando se sabeque seus textos podem beirar aintransitividade–só fazcomqueo talento de Brant para contarhistórias e, aqui, mantendo adicção machadiana na íntegra,seja novamente destacado.

Intenso e vazioMesmo que nada mais reste dopudor que fazia com que se vi-brasse ao ver parte do braço ouo “bico... das chinelas“ de al-guém, ou que a alucinação deum amor não passe de níveis desentidos, se os textos levam oleitor à busca do próprio sen-tido,obrigamoatoraatingirumgrau ao mesmo tempo intensoe vazio da performance.

A bem sucedida parceria deBrant com Antonio Gilberto, emtorno de um teatro literário, vaise desdobrar em Salvador e opúblico poderá ver o premiadoFederico García Lorca: Pequenopoema infinito, nesta terça equarta, às 19h30, no TeatroMartim Gonçalves (Canela). Co-mo o Bruxo, esse é outro quenunca vai morrer.

Monólogo reúnetextos dos contosMissa do galo eMariana, comfragmentos de DomCasmurro

Fernando Vivas/ Ag. A TARDE

Diego Mascarenhas / Ag A TARDE

Peça paulistana decepciona

Fotos Thiago Teixeira / Ag. A Tarde

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