44

Marsupial #_1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

magazine of portuguese music with reviews and interviews

Citation preview

Page 1: Marsupial #_1
Page 2: Marsupial #_1
Page 3: Marsupial #_1

índice04 : Rapaz Mal Desenhado05 : notícias07 : Um Último Brinde08 : The Melancholic Youth Of Jesus11 : Lululemon12 : PAUS14 : Daisy Cutter16 : Nuno Norte18 : The Loyd20 : The Soaked Lamb24 : :papercutz27 : crónica DAEMONIVM28 : Blind Charge30 : Electric Willow33 : criticas discos36 : destaques n' A Trompa38 : ao vivo|reportagens41 : crónica Pedro Chagas42 : zootrópio43 : crónica Davide Lobão

MARSUPIAL #01Ficha Técnica:

MARSUPIAL webzinehttp://[email protected]

Director:Jorge Resende

Edição e Design:Kaamuz

Fotografia:Ana LobãoManuel Portugal

Colaboradores:André CarvalhoDavide LobãoDiogo CostaEmmanuel Oliveira (Manu)Francisco FelixHélio MoraisHugo GuerreiroMário FernandesNuno SilvaPedro Chagas FreitasRui DinisTiago Esteves

Editorial - Jorge ResendeOs mais cépticos provavelmente já estavam à espera do pior,ou melhor, já não esperavam que voltássemos. Pois muito bem,cá estamos para provar o contrário e, como referi no númeroanterior, toda esta aventura é regida pela incerteza eimprevisibilidade por isso é tão estimulante. É como seestivéssemos num barco no meio do oceano à mercê da vontadedos deuses e da boa ou má disposição deles. Verdade seja dita,prefiro quando estão mal dispostos e agitam as águas e sopramcom força. Só assim conseguimos andar para a frente e só assimconseguimos chegar ao topo da onda. Com tudo isto quemdivagou fui eu e o melhor é colocar o ponto final para quepossam desfrutar da Marsupial. E ficadecidido. Estas linhas serão aproveitadaspara divagar e, vá lá, de vez em quandodizer algo de interesse, mas só em casoextremo. Considerem-se avisados. Paraterminar, continuamos à espera dasvossas cartas de amor!

(@)Tira Manu por Manu

08

12

18

24

28

30

38

4220

Page 4: Marsupial #_1

O rapaz maldesenhado

Sempre fomos um povo sem problema na

adaptação a novas circunstâncias, como

nascidos do espírito criador, inventor e

aventureiro, sempre seguimos o novo

tempo com natural à vontade.

Mesmo neste de velocidade estonteante,

nada tememos.E hei-nos de antena parabólica na janela,

telemóvel na mão, GPS no carro, isqueiro

electrónico, aspecto de futebolista de ponta,

pagamentos com cartão de crédito, senha

com o número de vez na fila, IRS enviado

pela Internet, pulseira para entrar e sair

do festivais, euros na mão como bom

europeu, plasmas em todas as divisões e

de vários tamanhos, computador portátil

para levar até ao café da esquina, férias

em espaços vedados e artificiais, para

estar longe dos podres, martini na mão e

óculos maiores que a cara.

Estas pequenas coisas, foi tudo o que em

nós mudou na última década.

Felizmente continuamos a cumprir horário

enquanto fingimos trabalhar, estamos em

reunião de trabalho toda a tarde a beber

uns finos na esplanada.

Ainda cuspimos para o chão, com esses

dois sons admiráveis, o do puxar e o do

cuspir.Temos tempo para criticar o vizinho, invejar

o amigo, metermo-nos na vida dos outros,

mentir, aldrabar e ser corrupto no negócio,

atirar tudo o que não necessitamos para

o chão, mandar na hora de pedir e disfarçar

na hora de assumir.

Ainda somos todos os melhores do nosso

bairro, ainda somos o centro das atenções

onde quer que cheguemos, ainda dizemos

que o Fado é parolo e vamos todos ao

Pavilhão ouvir uma gaja fingir que canta,

enquanto fingimos entender, tudo porque

dizem ser toda boa.

Os homens ainda param de boca aberta a

ver uma mulher passar, ainda podemos

ouvir o piropo indelicado e o assobio de

papagaio.

‘A vantagemdo atraso’

por Francisco Félix

As mulheres ainda exibem, sem querer,

as suas partes aos outros, só para provocar

e depois fazerem queixa ao namorado

que o gajo não parava de olhar, esperando

o seu ciúme.

Ainda estacionamos o carro no passeio,

mijamos no muro da esquina,

consideramos o Dr. e vingamo-nos no

trabalhador. Ainda fazemos

negócios, desde que com

metade por baixo da mesa

e passamos à frente de

outros porque somos mais

importantes.

Ainda desenrascamos um

espanhol a falar com os

espanhóis, quer estejamos

cá, quer lá.

Tudo isto deixou oCapitalismo baralhado,

estando ele mais que

instalado e a derrubar os

ditos países mais fortes,

ainda é por cá umaesperança.Ainda vamos apanhar o

TGV, ainda vamos viver

bem.

Quando só tivermos Mar,

uma ou duas traineiras,

Terra, umas dezenas de

agricultores, quando restar

vinho, broa e Fado. Talvez

possamos pensar em ser

orgulhosa e dignamente

Portugueses.

Francisco Félix

Porto, 27 de Maio de 2010

Page 5: Marsupial #_1

Bass-Off editam álbum de estreia

8 anos após a edição do último registo de originais, So Goodnight”,os Pop Dell’Arte regressam aos discos com “Contra Mundum”, oquarto álbum da banda. Esta edição é no fundo a celebração de25 anos de um dos mais importantes projectos nacionais e é feitacom toda a pompa e circunstância. Esta é “uma edição de luxo,limitada e numerada, um objecto de colecção, que inclui umbooklet de 24 páginas ilustradas e um poster de face dupla”. Umregresso que promete.

O regresso dos Pop Dell’Arte

Tal comotinhamprometido jáestá cá fora onovo singledos LindaMartini.Chama-se“Belarmino” e“evoca amemória doboxeurBelarminoFragoso apartir do filmeassinado por

Linda Martini avançam com single“Belarmino”

Já havíamos noticiado por estas páginas que os bracarensespeixe:avião preparam o sucessor de aclamado “40.02”. Agorachegam mais notícias e mais certezas. Falo do primeiro single“No Jogo da Quimera” que está desde o passado dia 17 de Maiodisponível para download gratuito no novo site da banda emwww.peixeaviao.com. Relembramos ainda que “Madrugada”, oreferido segundo longa-duração da banda, tem edição previstapara Setembro do corrente ano.

Mais de peixe:avião

Apesar de haver ainda algumas dificuldades para serem resolvidas,a organização do Souto Rock confirmou a edição de 2010,assegurando a realização de um dia de festival, no dia 10 deJulho e que irá acontecer no Lugar de Quiraz (Roriz), em Barcelos.AS bandas confirmadas para esse dia são: Aspen (Barcelos),Smix Smox Smux (Braga), Classified (Barcelos) e os D3O(Coimbra). Mais informações em www.honeysound.com

Souto Rock 2010 confirmado

Foi no passado dia 12 de Abril que a banda de nome Bass-Offeditou o seu primeiro álbum. Este registo “é o resultado daparticipação vitoriosa na edição de 2008 do mítico FestivalTermómetro e da conquista do primeiro lugar no concursoMTV/Levi’s 501 Live Unbuttoned”. “Ohmónimo”, assim se intitulao referido disco, é composto por 9 faixas que se fazem representarpor “Whatever”. O tema escolhido para single faz a apresentaçãodeste trabalho “onde as guitarras rasgantes se aliam ao noise eao rock puro e duro que a banda das Caldas da Rainha faz questãode protagonizar.”

Fernando Lopes em 1964.” Mas mais do que isso é um avanço dosegundo longa duração que os Linda Martini se encontram nestemomento a gravar. É um belo tema que vem ainda acompanhadopelo respectivo videoclip e que promete coisas boas num futuropróximo. “Belarmino é a cidade de Lisboa, os “campeões comjeito” de O’Neill, ser-se bom a perder quando não se quer ganhar.”

Page 6: Marsupial #_1
Page 7: Marsupial #_1

Úm ultimobrinde

Morreu Ronnie James Dio. Alguns podem não saber o que significaesta frase, no entanto o seu impacto sobre muitos outros nãopode ser desmentido.Dio foi o principal responsável pela marca com que ainda hojesaudamos e abençoamos o trilho percorrido pela música pesada- com punho em riste e dedo indicador e mínimo erguidos, emforma de saudação, num gesto que em culturas mais antigasserviria, ora para abençoar, ora para afastar maus olhados. Elemesmo o explicou numa entrevista no documentário "Metal, aheadbanger's journey", de Sam Dunn, onde também podemostestemunhar a sua simpatia e predisposição para com os fãs eamigos da música em que tanto laborou.Foi quando o visionário guitarrista Ritchie Blackmore - ex-DeepPurple - o saqueou dos Elf para ser vocalista da sua então novabanda, os Rainbow, que Dio começou a dar que falar. Senhor deuma voz de poder e melodia inconfundível, Dio fez 5 álbuns dequalidade e influência significativa com os Rainbow, e mais tardechegou mesmo a integrar a formação dos Black Sabbath(1980-92), como vocalista substituto de Ozzy Osbourne. Apesar de muitosfãs acérrimos de Black Sabbath ainda hoje teimarem a pés juntosque a banda sem Ozzy não foi a mesma coisa, é muito difícilencontrar alguém que negue a qualidade do que esse alinhamentofoi capaz de fazer. A maior reclamação, mesmo nos dias de hoje,teria mesmo a ver com a identificação da banda, pois com umasonoridade diferente (proporcionada principalmente pela voz dovocalista, mas não só), deveria ser apresentada como algo quenão BS. Foi dessa forma que a banda regressou em 2006, com onome de "Heaven and Hell", o título do seu melhordisco como Sabbath(sob esta formação), dando imensos concertos e chegando mesmo a lançar mais um disco de originais - "The Devil You Know"(2009). Ronnie James Dio foi entretanto, a par de todas estas importantes incursões, mantendo uma sólida carreira através de lançamentos em nome próprio, tendo mesmo tido em vista lançar um disco novo em 2011.

Infelizmente ele não estará por cá para nos presentear com nova música ou a sua presença. No entanto um grande legado ele nos deixou; vamos manter viva a sua obra.

‘O Diabo que um diaviemos a conhecer’

por k69

Pete Steele não gostava da fama. Fazia música com os seusType O Negative, mas na verdade pouco procurava do queestava "para lá" do mundo prometido à música de rebeldia:bebida, outros desvarios e mulheres. Dizia quem o conheciaque era irónico e sarcástico, não hesitando em colocar-se a sipróprio no lugar do fuzilado e que a boa disposição daí adjacentetornava-o alguém bem distante da melancolia e frustraçãocuspida nas suas músicas, com uma raiva contida(ou não) soba tensão de um ambiente sonoro de si já bem grave. Tal eraa forma como ria das coisas menos adequadas que já haviainclusive, forjado e falsificado a sua própria morte. Imaginamosportanto que ele se foi tendo já uma ideia de como as pessoasiriam reagir a este momento; tirando um pormenor. "O quê?O Pete Steele morreu? Oh, deve ser brincadeira outra vez!",demorou mais algum tempo até que os fãs confirmassem erealmente aceitassem, até que comentários e votos vindos dosseus pares do mundo da música e amigos fizeram comoverquem esperava que a voz e mente de "Bloody kisses"(1993)voltasse uma vez mais para atormentar a calma fétida econformista dos nossos dias.O facto de ter como inspiração bandas como os Black Sabbathe The Beatles davam-lhe apenas outro toque de choque aosolhos de quem imaturamente julga estes colossos musicaiscomo coisas ridiculamente desligadas(digamos assim de raspãoque a banda favorita de Ozzy Osbourne são... The Beatles ;)A mistura de influências, o velho e o novo, o alternativo e omais obscuro, fundido ainda com a experiência que acumulouaquando da sua encarnação enquanto homem dedicado aothrash metal, com os Carnivore(1982-87) geraram toda umanova forma de sentir e cantar o metal(o Fernando Ribeiro queo diga).Quem acompanhou a sua discografia desde os primeiros discos,dificilmente se decepcionava com os passos por si dados aolongo dos anos, e era já esperado um sucessor para o último"Dead again"(2007).Por alturas de assinar a sua banda pela primeira vez com aRoadRunner(por volta de 1990-91), editora norte americanamítica no que ao metal e rock pesado diz respeito, Pete marcoudesde logo a diferença, assinando o contrato com uma misturado seu sangue e sémen. Também fez, devido à sua personalidadeincontida, várias afirmações que lhe foram moldando a'personagem' que para nós se tornou; desde afirmaçõessupostamente racistas que lhe colocaram o ponto de interrogaçãosobre orientações nazis em cima, quando no fundo era apenaso seu humor desgarrado e incompreendido a vir ao de cima.De qualquer forma o que sentia e expurgava nos discos nãoera de todo anedótico ou na 3ª pessoa. "Slow, deep and hard"(oprimeiro disco de TON, 1991), por exemplo, foiescrito sob a contemplação do próprio acercade sentimentos como vingança e suicídio,após a ruptura de uma intensa relaçãoamorosa.A bipolaridade do homem pode terdeixado marcas na sua personalidadee nas vidas de quem com ele secruzou, mas certo certo é que nãoteríamos o mesmo arrasto naurgência do metal(tão influente)hoje, se não fosse o Steele.

E vamos ser sinceros: quem é quenunca quis ser outro que não a simesmo? Venha daí um "I don'twanna be... i don't wanna be me.I don't wanna be me anymore!!"

‘Duro como a morte’

Page 8: Marsupial #_1

Os The Melancholic Youth Of Jesustêm já 20 anos de existência.Lembram-se de como tudocomeçou? Na altura qual era oobjectivo?Penso que o que me motivou a formar osThe Melancholic Youth Of Jesus (mYoj) nãodifere do que motiva outros grupos -gostava de música e achava a escola umtédio, logo, a ideia de estar numa bandaabria novas perspectivas para mim eoferecia-me a chance de me manter àmargem daquilo que é mundano. Sentique queria pertencer a este meio e nãome arrependo pois a cada ano que passaamo mais o que faço e é um estilo de vidafantástico.

Pelo que sei, logo no início foramcriando um núcleo de seguidoresque de certa forma vosimpulsionou para a estreia emdisco. Como era gravar um disconaquela altura? Muito diferenteda actualidade?Editámos a demo "Hall Of Noises" epassámos a despertar o interesse de muitaspessoas. Geraram-se rumores de que nãoéramos Portugueses. Enfim, os ingredientesperfeitos para atrair a atenção das pessoasem geral, o que juntamente com o apoiodas rádios e publicações independentessuperou o poder dos media mainstreamda altura e assim nasceu um culto aos TheMelancholic Youth Of Jesus. Naturalmenteo disco era o próximo passo, o grupo foicrescendo e passou a actuar diante depúblicos que nunca tinham ouvido a bandamas que foram atraídos pela curiosidadeporque o nome já começava a sermencionado em todo o tipo de publicações.Eu estava um pouco à margem desse

crescimento dos mYoj pois sempreconcentrei a minha atenção em escrevermúsica e sempre mantive o meu círculode amigos. Não deixei de ser quem era ea fama não estava no topo da minha listade prioridades. Lentamente comecei a serabordado na rua e noutros locais e aícomecei a entender que estávamos achegar a muitas pessoas. Porém, euentendo o quão efémero isto tudo é elimitei-me a gozar o momento. Naactualidade e com a internet existe imensadispersão o que exige um esforço extrapara se chegar ao maior número depessoas, além de que no presente existemais oferta. Abriram-se novos canais dedivulgação mas estou confiante de quehavendo um álbum bom e havendo bonsconcertos não será difícil a um grupoangariar seguidores. Penso que houve umaevolução em termos de formatos de ediçãomas no geral os trâmites não diferemsubstancialmente.

Entretanto a formação foi sendoalterada, houve entrada e saídade elementos acabando por ficaresapenas tu (Carlos) da formaçãooriginal. Que consequências tevepara a banda?Não existe uma formação original dosmYoj. Quando comecei a banda explaneibem a filosofia dos mYoj e houve a naturalexperiência com vários elementos até seformar um núcleo sólido. Em "Hall OfNoises" tínhamos uma formação, em"Lowveld" tínhamos outra. No geral haviaelementos que permaneceram na bandacomo o Rui Rocha e o João Rodrigues. NaLowveld Tour substituímos o Rui Rochaque ia casar e considerou que não estariadisponível para todos os concertosentretanto agendados. Após a Lowveld

Tour repensou-se a banda e as coisastornaram-se mais ambiciosas. Aquiperdemos o João Rodrigues, o Gabriel Maiae o Nelo Silva que tinha substituido o RuiRocha na Lowveld Tour, mas estesgravaram "Wanderlust" e "One Life Ain'tEnough". A partir desse ponto os mYojvoltaram a ser uma banda de laboratório,porém, era mais difícil encontrar as pessoasideais, uma vez que o grupo tinha já umnome e tínhamos Guide Lines concretos.Isto dificultou o recrutamento de novoselementos. Em 99, e já após a edição de"Wanderlust" e "One Life Ain't Enough",optei por seguir um outro rumo e assimpassei a trabalhar sem o Ricardo Oliveiraque esteve nos mYoj entre 93 até 99 eviveu-se um ressurgir dos mYoj, já com oRicardo Dias (Heavenwood) e oLuís Ferreira, que nopassado estava nosplanos dos mYoj masque por motivospessoais nunca sepode envolverna parte dagravaçãodos video-clips quefizemospara o"PopOff"nopassa-do.Nomeuen-ten-der,estafoi amelhor

Um dos projectos nacionais dos anos 90 de maior cultoanunciou recentemente o seu regresso. Regresso esse quefoi recebido com enorme entusiasmo por grande parte dosamantes de música e não é para menos. Os The MelancholicYouth Of Jesus, responsáveis pelos álbuns “Lowveld” ou“Wanderlust" entre outros, prometem novo álbum deoriginais a ser editado nos próximos meses. E porque acuriosidade é muita, a MARSUPIAL colocou algumasquestões a Carlos Santos, vocalista e mentor deste projecto.

The Melancholicouth Of JesusY

Page 9: Marsupial #_1

formação dos mYoj e viveu-se um períodomuito bom. Entretanto, e após tantosconcertos, eu senti-me cansado e opteipor mudar-me para Inglaterra. Cheguei atrabalhar com o Paulo Costa, que,juntamente com o Luís Ferreira,partilhavam os mesmos gostos que eu.Foi um período excelente e deu-me imensogozo, contudo, estava com a alma e amente viradas para novos rumos e fuiinicialmente para Dublin, onde surgiu "ACure 4 A Contemporary Dis-E's" - e maistarde para Inglaterra. Julgo que as entradase saídas de elementos deram azo a novaspossibilidades e ajudou a que eu pudessedesenvolver sem pressões o som dos mYoj.Quando começámos a dar os primeirosshows no Reino Unido recebi sempre apoiodas pessoas que vieram a integrar os mYoj.

Mas voltemos ao presente e àreformulação dos mYoj. Quandosurgiu a ideia e porquê esteregresso? Se existe um porquê…Cheguei a um ponto onde queria algo novoe optei por tirar um break dos mYoj e nãoacabar com os mYoj visto que haviamplanos mas, naquele momento, senti umacerta urgência em distanciar-me, pois,estava demasiado envolvido em tudo.Comecei os Sabotage UK com a minhaamiga Cecilia de Lisle. Demos imensosshows e foi agradável, porém, cheguei aum ponto em que sentia que não era estaa banda que desejava estar e optei porabandonar Sabotage UK e retomar o álbumque comecei a trabalhar para os mYojantes da paragem, mas com outro apetite.Penso que este regresso era inevitável.Aconteceu agora por questões pessoais enuma altura em que senti que queria voltar às canções novas que comecei a escrever para os mYoj e revisitar o material antigo com um toque novo e mais pessoal.

Sobre o álbum que aí vem, quepodem adiantar sobre ele?"Slow Motion" é um álbum fabuloso. Aindaa noite passada estive a ouvir as demos.Penso que é um álbum muito bemconseguido. Estou feliz com o resultado eestou ansioso por juntar este álbum àdiscografia dos mYoj. Estou curioso emrelação à reacção do público ao disco eaos concertos pois mais que uma revolução,é uma evolução no som dos mYoj.

Os temas deste álbum, são temasque ficaram na “gaveta” ou sãotemas novos que compuseram depropósito para este novo registo?A verdade é que este álbum começou aser escrito algum tempo atrás mas ascanções não combinavam e parecia maisuma compilação do que um álbum. Escrevientretanto mais 3 canções que serviramcomo um link para agrupar este álbum àsrestantes canções que tinha em mente.E voilà! Senti que este era o resultadoque andava à procura. É como um diário.Posso afirmar que é um álbum intuitivo eque fala de um período confuso na minhavida pessoal, um período que se estendeupor algum tempo e que julgo que outrosse poderão associar a algumas das ideiaspatentes no disco. Senti que queria tentaralgo diferente mas não abandonar a pessoaque sou. No fundo, senti uma vontadeenorme em tomar uma via nova, reinventaros mYoj e não limitar-me a reproduzirfórmulas do passado.

Muita coisa mudou nestes últimos20 anos, uma delas, e talvez amais significativa, foi a forma dedivulgares o teu trabalho. Nestemomento existe a internet quefacilitou, ou não, esse processo.Qual é a vossa opinião em relaçãoa isso? Partilham da opinião que“fazer o download de uma músicaé como roubar um carro”?Pessoalmente julgo que fazerem-sedownloads gratuitos é o mesmo que ir-seao minimercado ou à mercearia da vila e levar-se o que se quer sem pagar. A pergunta é: como poderá essa pessoa, dona do seu estabelecimento, sobreviver se não recebe dinheiro e como poderá renovar o seu stock se deixou de ter dinheiro? Penso que é uma questão de ética e de bom senso. Dou o exemplo da mercearia da vila pois os pequenos são os que sofrem mais e os mYoj pertencem a essa elite. As nossas receitas de merchandising ajudam a cobrir as tours e neste momento estou a considerar editar o nosso trabalho. Aí o nosso budget passa a ser dependente de todas as receitas possíveis, nomeada- mente, a distribuição digital. Entendo porém que os preços de

CDs não sejam atractivos e isso sim é omesmo que roubar um carro. Não pagoesses preços e opto por comprar tudo viacatálogo ou Ebay onde os preços condizemmais com a realidade do seu custo. Rejeitofazer downloads gratuitos a menos quealgo raro e nunca editado.

Apesar de residirem em Londrescontinuam atentos ao panoramamusical português? Que têmouvido de projectos e bandasnacionais que vos mereça aatenção?Moro em Bristol desde a semana passadapois estava saturado de Londres e da cenade Londres. Bristol é mais alternativo eoferece muita boa música. Não estou atentoao que se ouve em Portugal e apenasquando visito deparo que a cena indie nãoexiste ou não é divulgada de modoadequado. Confesso que possa serignorância minha mas sei encontrar amúsica que me agrada e nenhum dos meusamigos, em Portugal, me tem recomendadoalgo nestes últimos tempos. Numa notapositiva, ouvi algumas demos do novoálbum dos Heavenwood e Diva, bandas deque sou fã e estou impressionado, emboranão seja surpresa, pois são grupos comética e bom gosto. Gostei muito do álbum"Last Prophecy" do Francis Mann e o PauloCastro está a desenvolver um bom trabalhoo que será decerto um outro valor a reter.De resto, não me vem a memória maisnada digno de registo mas tenho ouvidocoisas boas sobre imensas novas bandase denoto uma produção mais apurada nasnovas bandas nacionais.

Que grandes diferenças esemelhanças encontram entrePortugal e Inglaterra a nívelmusical?Os artistas britânicos respeitam-semutuamente e são mais realistas no quetoca à promoção dos seus grupos. Não seiludem facilmente e são ambiciosos e nãoé surpresa notar que estes podem de factovir a ser "the next big thing". Em Inglaterraser-se músico é visto com bons olhos eexistem todas as condições para umabanda surgir - desde salas de ensaio, asalas de concertos. Em Portugal noto queos que querem vencer tornam-se maisfortes devido às adversidades. Aqui nãose toleram adversidades e o ânimo quebramais facilmente. Em termos desemelhanças, julgo não existiremsemelhanças mas isso não é indicativo denada - os países são diferentes e, comotal, existe pouco em comum.

Como referi, já andam nisto háalgum tempo. Que conselhosdariam a quem está a dar osprimeiros passos neste mundo“mágico” da música?Li recentemente uma entrevista de Trickyque tive o prazer de conhecer e é um dospoucos músicos com bom senso. Trickydiz que o Myspace veio piorar a vida dosmúsicos pois ergueu-se a falsa esperançade que sem saírem da garagem vão serfamosos e de é tudo uma questão detempo, deixando assim de equacionar quea inércia não leva a nada. O meu conselhoé que os músicos se concentrem naquiloque mais amam e deixem estas formasde alienação de lado pois a internet é um

Page 10: Marsupial #_1

bónus mas não a única esperança ourecurso de uma banda. Uma banda temde tomar contacto com o público viaconcertos e não via friend requests ouevent invites. Uma editora procura receberdemos mas não tem tempo ou paciênciapara fazer downloads de mp3 ou visitar oprofile de um grupo - acreditem que issoé uma lenda e quem procede assim tempoucas chances de suceder. Receboimensos fan mails, o que algo tocante,mas o meu coração está com os que sedão ao trabalho de irem a um concertoem vez de enviarem e-mails bonitos noconforto do lar. Penso que os grupos têmde tomar contacto com aquilo que éfisicamente real e saberem interpretardevidamente as estatísticas.

Agora que se segue? Quais osplanos para os próximos tempos?Primeiro o álbum, depois a tour. Não seio que reserva o futuro mas tenho recebidoimenso apoio e muitas pessoasdemonstraram a sua felicidade por saberemque os mYoj estão de volta e isso abreboas perspectivas, além de me mostrarque ainda continuamos no coração demuitos. Uma última pergunta, qual é a vossa personagem de banda

desenhada preferida?Wow! Sou um grande fã de cartoons ouanimação mas não tanto um fã de BD oubanda desenhada. Porém, julgo que emtermos de comédia a BD é uma fonteinfindável onde não existem limites eLarson é um exemplo flagrante. Tornei--me um adepto de Nietzsche desde os 13,e a ideia do "Super-homem" fez com queeu nutrisse amor pelas pessoas como estassão e isso sem super poderes, mas commuitas imperfeições, capazes de coisasespectaculares e admiráveis, apesar dassuas limitações. Se tivesse de escolher umpersonagem de cartoons favorito seria EricCartman de South Park. Comprei o DVD"The Cult Of Cartman" e consigo rir-meexclusivamente às custas de Cartman.Penso ser um personagem bem conseguidoe dá relevo ao absurdo que é ocomportamento dos adultos. Cartman é opolítico, o manipulador, o egoísta, e aqueleque não olha a meios para atingir os seusfins, por vezes incrivelmente absurdos.Seria um bom exemplo para descrevercomo vejo os políticos e como procuramderrubar adversidades de modo a reinaremnum regime, nem que seja medíocre, mas,acima de tudo condizente com ideais falidosde uma fraternidade que só é concebívela idealistas que se servem do queconsideram o "real" para se servirem a sipróprios. Cartman é hilariante porque

Curiosidade:

Como surgiu o nomeThe MelancholicYouth Of Jesus?The Melancholic Youth OfJesus foi inspirado nosfilmes "The Life Of Brian"dos Monty Python e "AUltima Tentação de Cristo"de Scorsese. São filmesdistintos mas transmitemuma mensagem comum eque, devido à minhaformação Judaica, metocam pessoalmente.

Entrevista: JRFotos: Daniela Silva

consegue abraçar o nosso lado pueril maso resto é um pouco mais perturbador.

http://www.myspace.com/themelancholicyouthofjesus

Page 11: Marsupial #_1

Eles são apenas dois: Pedro Ledo na guitarra e Tiago Sales na bateria. São de Vale de Cambra mas passama maior parte do tempo no Porto. São apaixonados por música, especialmente aquela que se fez entreos anos 20 e os anos 50 do século passado. Editaram no início do mês de Abril o primeiro EP “Thee Ol’Reliables”, registo que está disponível para download gratuito no myspace da banda. Para já esta é acurta história deste power-duo. Arrisco a dizer que isto é apenas o início de uma grande aventura quefará correr ainda muita tinta…

Lulu Lemon

Comecemos pelo vosso nome.Como surgiu o nome Lulu Lemon?O nome surgiu do nada, não tem factosinteressantes nem nada por trás. Já agora,o nome é Lululemon (tudo junto) emborao logótipo do myspace dê ideia de que éseparado.

Esta aventura começou onde equando? Começaram só os dois?A ideia nasceu em Maio de 2009 por umarazão um pouco caricata: ambos soubemosda existência de um concurso de bandasque se iria realizar num bar de Vale deCambra e, embora tivéssemos cada um asua banda, decidimos juntar-nos paraganhar algum dinheiro no concurso. Esseconcurso nunca se chegou a realizar mascomo nos apercebemos que tínhamosinfluências e ideias em comum decidimosavançar com o projecto para algo maissério. Desde o início que somos só doismas não negamos a hipótese de mais tardeacrescentar um membro novo na banda.

Na ficha técnica do vosso EP têmlá mais duas pessoas. Em concertovão continuar a ser só os dois ouvão mudar as coisas?Para já continuamos a ser apenas dois aovivo. Essas duas pessoas mencionadas naficha técnica apenas deram a suacontribuição com voz e baixo às gravaçõesem estúdio.

Falando do vosso EP de estreia,“Thee Ol’ Reliables”, como odefinem?Todas as músicas deste EP foram criadassem ideias, bandas ou estilos pré-definidos.Fomos criando músicas sem ter em contapraticamente nada. Compusemos o quenos apetecia na hora sem termos apreocupação de que tinha de soar a blues,surf ou “isto ou aquilo”, por isso achamosque, embora possamos ser consideradoscomo uma banda à volta do blues, quemouvir o EP vai notar que tem muita coisaà mistura fora do blues propriamente dito.O EP é composto por dois lados devido aofacto de cada lado ter sido gravado em

épocas diferentes e daí terem derivado ideias, composições e sonoridadesdiferentes.

Os temas deste EP bebem devárias referências e estilosmusicais. Quais são as vossasreferências musicas?Tudo o que ouvimos serve de referênciasà música que fazemos... não gostamosmuito de catalogar as nossas referênciasem x ou y artista. A única coisa quepodemos dizer é que dentro do blues anossa época preferida está entre os anos20 e os anos 50, principalmente blues comguitarra e voz tocado por indivíduos daraça negra.

Há uma curiosidade minha emrelação aos nomes das músicasuma vez que são instrumentais.Quando há um texto será maislógico mas no vosso caso comofazem para dar nomes aos temas?É simplesmente o que nos vem à cabeçano momento, sem que necessariamenteo título tenha alguma relação com amúsica.

Fiquei com a ideia de que iriamfazer uma edição em vinil. Sempreserá feita? E porquê essa ediçãonuma era tão digital?Em princípio será feita. A opção de editarem vinil tem a ver com o facto de o EP terdois lados (tal como o vinil), porque o vinilé um objecto coleccionável e é um dosformatos mais consumidos hoje em diadevido ao próprio “mojo” de ser uma coisaantiga, tem melhor qualidade que um cdcompacto.

Qual é a vossa opinião em relaçãoa todo este mundo virtual, a todaesta loucura da internet, dadivulgação de um projecto musicafeita à escala mundial e emminutos? Acham a internet umaferramenta mais benéfica ou maisprejudicial para uma banda comoos Lululemon?A internet é uma ferramenta muito boa se

for usada de forma correcta. Em relação àmúsica, pensamos que é extremamentebenéfico pois permite a partilha deinformação em todas as formas dumamaneira rápida e “worldwide” e semgrandes ou nenhuns custos.

Em relação ao actual panoramamusical nacional, têm estadoatentos? Que bandas merecem avossa atenção?O panorama nacional está cada vez melhorna nossa opinião. Especialmente no Porto,a cidade onde vivemos durante a semana.Com o esforço de promotoras, editoras eassociações o número e a qualidade dosconcertos está a aumentar e a melhorarrespectivamente. Além disso muitas dasbandas novas estão a surgir com boasideias e formatos inovadores. Outras nempor isso. Essas bandas com qualidadeconseguem, normalmente, boa promoçãoporque existe no Porto gente atenta àscoisas que estão a emergir e por vezespegam nelas para levá-las a um patamarsuperior dando a sua contribuição para apromoção das mesmas.

Bem, e o que se segue? Quais osplanos para o futuro?No futuro além da edição em vinil estamosa pensar começar a meter voz nas músicasnovas, trocarmos de instrumentos numaou noutra música (baterista na guitarra eguitarrista na bateria) dado que nosdesenrascamos mais ou menos bem comos papéis trocados e possivelmente, sesurgir a pessoa ideal, incluir um novomembro na banda.

Qual é a vossa personagem debanda desenhada preferida?Se fosse de desenhos animados seria oSpongebob, de banda desenhada nãofazemos ideia.

A última pergunta serão vocêsque a irão fazer a vocês mesmos,pode ser?Hmm ok. A pergunta: O que gostariam queeste blog vos oferecesse no dia da criança?A resposta:http://www.eastwoodguitars.com/GTRs/airline-Map/images/gtr_Seafoam-airMap.jpg

Entrevista: JR

http://www.myspace.com/lululemonband

Page 12: Marsupial #_1

com PAUS daí a nossa liberdade criativa.

Em relação ao EP propriamentedito, que podem adiantar?Quim Albergaria – Podemos adiantar otítulo: "É uma água".S - Que tem 4 músicas de PAUS.

Todos vocês já tiveram e têmoutros projectos além de PAUS ejá andam nisto há algum tempo.Qual a vossa opinião em relaçãoao actual panorama musicalnacional? Que bandas e projectostêm ouvido?QA - Em nome próprio eu, Quim, digo-teque nunca se produziu tanto e com tantaqualidade na música portuguesa. Bastaouvir os trabalhos recentes de bandascomo Gala Drop, Aquaparque, If Lucy Fell,Linda Martini, Youthless, Tropa Macaca,Magina,Tiago Guillul, B Fachada, o NorbertoLobo fodasse! A música portuguesa, eleia-se feita por portugueses e nãoobrigatoriamente em português, está muitobem e recomenda-se.S - O panorama musical está cada vezmelhor, quer no que diz respeito a bandasnovas que aparecem, quer na promoçãoque cada vez é maior (e bem vinda). Bandaou projectos recentes que tenho ouvidolembro-me de Filho da Mãe, Youthless,Asneira.

O actual mundo da música éextremamente activo. A cada

Andavam à procura da melhordefinição de PAUS, alguma que sedestaque?Hélio Morais - Até ver, a melhor definiçãopara PAUS é "...uma bateria siamesa, umbaixo maior que a tua mãe e teclados quete fazem sentir coisas". Mas como sãomuitas palavras, o melhor mesmo é definiro som de PAUS como... PAUS.

E, para vocês os quatro queprojecto é este? Qual é a vossadefinição?HM - PAUS é o resultado de quando nosencontramos os quatro em estúdio paragravar os ritmos que temos na cabeça eir acrescentando camadas de teclados,harmonias de voz, baixos e tudo o quenos vier à cabeça. Depois preocupamo-nos em aprender a tocar isso nos ensaios.É basicamente a música que sentimos naaltura, sem filtros e sem pré-definições.Shela - É música e somos nós todos juntos.

Será que este projecto parte deuma necessidade de fazer algodiferente de tudo o resto, que saiada “rotina”?HM - Primeiro este projecto nasceu deuma ideia simples: duas baterias só comum bombo. Nome? Bateria siamesa. Depoisdisso foi uma questão de arranjar tempopara brincarmos com ela (eu e o Quim).Quando vimos que tínhamos algumas boasideias fomos para estúdio com o Makoto

e o Shela e as coisas foram acontecendonaturalmente. Mas, decididamente, esteprojecto foge completamente ao métodode qualquer banda que qualquer um denós tenha hoje em dia ou tenha tido. Nessesentido essa ideia de rotina e o peso queela tem nos processos de criação era oque queríamos evitar. Foi a maneira queinventámos para que cada vez queestivéssemos juntos a tocar nunca fossechato nem repetitivo.S - A necessidade de fazer algo diferentede tudo o resto, que saia da rotina, é oque nos leva a tocar (ponto final). Os PAUSsão mais um prolongamento dessanecessidade, tal como os outros projectosem que também estamos envolvidos. Nãome parece que seja necessário sobre-justificar com necessidades específicasaquilo que fazemos os 4 juntos em PAUS,na realidade o som de uma banda édefinido pelos músicos que lá tocam. Sea(s) pessoa(s) fossem outras o som seriatambém gratificantemente diferente... ounão.

Entretanto estão a gravar o vossoprimeiro EP. Como tem corridoesse processo? O processo decomposição está a ser feito aomesmo tempo da gravação comotinham pensado inicialmente?HM - O processo está concluído. Temosas músicas gravadas e misturadas. Fomoscompondo directamente no estúdio.Regravámos umas coisas, alterámosoutras, acrescentámos, etc. Estúdio rima

PAUS

Quatro músicos de Lisboa, inconformados, procuram sempre algo novo e estimulante, decidiramjuntar-se e fazer um projecto com essas mesmas características. Saiu uns PAUS, projecto do qualsabemos ainda muito pouco mas aquilo que sabemos aguça-nos a curiosidade. Para já existe umamúsica “Mudo e Surdo” e a certeza de que a estreia em disco está para breve. Resta-nos aguardarpacientemente e enquanto isso porque não falar com eles? Foi o que fizemos.

Page 13: Marsupial #_1

minuto aparece um novo projectomusical, qualquer pessoa podefacilmente criar um projecto edivulgá-lo a nível mundial. Qualé a vossa opinião em relação aisso?QA - É o poder da música a voltar paraquem a faz e para quem a ouve por amor.As ferramentas de disseminação da músicaque temos à nossa disposição hoje em dianão só estão a purgar os intermediáriosdesnecessários entre músicos e ouvintes,como ao ajudarem a multiplicar para umaquantidade de oferta até agora semprecedentes, obriga as boas propostas aserem cada vez melhor. É a meritocraciano seu estado mais puro. PAUS aprova.S - Já não era sem tempo. Acho óptimo,quanto mais melhor, é a música que vaisalvar o mundo!!!

Acreditam no poder da músicaenquanto canção e melodia queapaixona e que só por si – semuma imagem e/ou máquinapromocional - consegue tocar aspessoas?QA - A música já existia antes das pessoas.São as pessoas, no entanto, que lhe dãosentido e lhe atribuem significado ao fazê-la sua. A música vai continuar a existirdepois de irmos todos embora. E a indústriade que falas é um capítulo numa históriaque há-de continuar sem um fim à vista.S - Sem dúvida!

E agora quais os planos para ofuturo para além da óbvia ediçãodo EP de estreia?QA - Tocar e fazer mais música,como qualquer outra banda.S - Concertos ao vivo e umdisco a seguir.

Qual a vossa personagempreferida de bandadesenhada?QA - Mancha negra.S - O Quim.

Para terminar, e como hásempre algo que fica porperguntar, esta últimaquestão são vocês a fazê-la?Pode ser?QA - Acreditam mesmo que já não hánada para inventar?S - Pode.

Entrevista: JR

http://www.myspace.com/bandapaus

Page 14: Marsupial #_1

culminaram no som DC. Acho que osleitores devem ouvir e formar a sua opinião.

Este é um disco que foi sendocriado ao longo da vossaexistência ou são temas recentes?E como funciona o vosso processocriativo?Algumas faixas do “M.O.A.B.” começaramcomo ideias há já alguns anos. Um ano agravar, produzir, gravar mais, destruirmaterial, acrescentar material, e aindamais gravações etc. É ao mesmo tempodivertido mas também frustrante.Normalmente as ideias surgem-nos. Como passar dos anos apercebemo-nos quenão adianta forçar a criatividade. Se abanda não se detém nalgo, então nãoserve. Gravamos a maior parte das nossasideias, tocamo-las uma e outra vez,ouvimo-las, deixámo-las de parte algumtempo e ouvimo-las de novo. Se aindasoar bem continuamos a tocá-las.Algumasfaixas do “M.O.A.B.” começaram como

ideias há já alguns anos. Um ano a gravar,produzir, gravar mais, destruir material,acrescentar material, e ainda maisgravações etc. É ao mesmo tempo divertidomas também frustrante. Normalmente asideias surgem-nos. Com o passar dos anosapercebemo-nos que não adianta forçar acriatividade. Se a banda não se detémnalgo, então não serve. Gravamos a maiorparte das nossas ideias, tocamo-las umae outra vez, ouvimo-las, deixámo-las departe algum tempo e ouvimo-las de novo.Se ainda soar bem continuamos a tocá-las.

Quais são as vossas referênciasmusicais?Bem, na realidade são muitas. De momentosão os Biffy Clyro, os álbuns dos OldGenesis, A Perfect Circle,Them CrookedVultures… Mas tentamos ouvir muitasbandas no Myspace só para saber o quese passa ou para avaliar a concorrênciase assim preferires.

Os próximos convidados da MARSUPIAL são os primeiros que nos chegam além fronteiras. Sãode muito longe e de um país que é mais conhecido pelo ingrediente de um dos principais pratosda nossa cultura gastronómica do que propriamente pelo rock. No entanto, existe muita músicana Noruega e muito rock. Prova disso são os “roqueiros” Daisy Cutter que até já ouviram falarde Cristiano Ronaldo e Nani.

Quem são os Daisy Cutter?Um quarteto Norueguês a tentar provar oque vale. Somos quatro indivíduos distintos,embora sejamos muito semelhantes.

Podem contar-nos um pouco dahistória dos Daisy Cutter?Foi um lugar-comum. O guitarrista conheceo vocalista e começa a rolar. Arranjam umbaterista e um baixista que posteriormentesão despedidos e entra malta nova. E aítens os Daisy Cutter. Depois disso, nósdemos mais de 100 concertos, semprecom a certeza de que os fãs tinham aquilopor que procuravam.

Entretanto, editaram um novotrabalho, o disco “M.O.A.B.”, queé na minha opinião um álbumassumidamente rock. Têm amesma opinião? Como o definem?É isso mesmo, é um álbum rock. São horasbem passadas e muito trabalho que

Daisy Cutter

http://www.myspace.com/daisycutterband

Page 15: Marsupial #_1

Para falar a verdade, não estoumuito a par do que se vai fazendoao nível musical na Noruega. Quese tem passado a esse nível?Não há muito a dizer. Acho que ébasicamente o mesmo que no resto domundo. Não há grandes perspectivas parabandas rock sem produtoras. A músicamainstream tem muito mais atenção e amaior parte é bem merecida. Temos muitasmuitas muitas bandas excelentes de todosos estilos cá na Noruega.

E a nível de concertos, existe umcircuito de bares ou locais paraas bandas se apresentarem aovivo?Sim há um circuito. Mas a Noruega é umpaís extremamente comprido (podes verno mapa). Somos do norte e para nós iraté à capital (lá no sul) seria como viajarde Portugal a Moscovo! Logo fazer estescircuitos sai caro. Mas o circuito é sobretudoconstituído por bares Universitários earredores mas as grandes cidades tambémtêm bons locais para concertos. Com PA’sdecentes e boa multimédia.

Chega alguma da músicaportuguesa à Noruega? Queconhecem de bandas e artistasportugueses?Desculpa mas não há muito a dizer… Aquisó chega o futebol, Ronaldo, Nani, a equipada selecção nacional. Ah, e o bacalhau.(risos) Diz-se que um navio mercanteportuguês encalhou perto da nossa costa(deviam andar à pesca de Bacalhau), porisso há por cá varias pessoas de cabeloescuro e tez morena. Todos eles têmascendentes portugueses. O nosso vocalistaé bem moreno, talvez ele tenha sanguelusitano nas veias.Nem dá para imaginar o que aconteceuquando um barco cheio de marinheiros,morenos e musculados desembarcou. Asmiúdas passaram-se e os Vikings depressaderam cabo deles. Obviamente foi tardedemais…

Vivemos num mundo cada vezmais global onde em minutos umabanda consegue divulgar o seutrabalho numa escala planetária.Qual é a vossa opinião em relaçãoa isso? Vêem a internet como umaliado ou como um inimigo?Temos de lidar com o mundo que temose não ficar irado por não ser comodesejaríamos. Bem, pelo menos quandonos referimos à web. Se não os conseguesvencer, junta-te a eles.É óptimo que consigas alcançar o mundonum instante, mas não somos os únicos.Por isso, o maior desafio é fazer-se notarentre tantas bandas. No fundo, tudo seresume a saber tocar, fazer boa musica,gravar bons álbuns e dar grandesconcertos. Trabalhar no duro! Tens de terum som próprio, original e isso não seaprende (talento). Como já se ouviumilhares de vezes: és 80 % de trabalhoárduo, 20 % de talento. Estejamos a falarda web ou de qualquer outro meio decomunicação.

E agora, quais os planos para ofuturo dos Daisy Cutter?Dar concertos sempre foi a prioridade para

os DC, sermos melhores,mais consistentes eassegurar que o públicotem sempre aquilo queespera. A nossapromotora está a tentaralinhar uma tour para dara conhecer mais dos DaisyCutter.

Uma perguntadiferente, qual évossa personagempreferida de bandadesenhada?Só pode ser o Calvin, doCalvin & Hobbes. O putoé fora de série! O que elefaz é épico. Tem ainteligência de um miúdode 6 anos mas sabeperfeitamente como omundo funciona.

Eles são o Pinto e o Ferreira e são uma banda. Cansadosda vida de escritório aproveitaram as horas vagas paragravarem a sua primeira fonografia. Contaram com apreciosa ajuda em estúdio do Fred Ferreira na bateria,Filipe Valentim nos sintetizadores e Nuno Espírito Santono baixo. Juntos ajudaram a dar vida às palavras de PedroMalaquias. O resultado final e que os Pinto Ferreira definemcomo sendo um “pop rock fresco e feliz por estar vivo”está pronto e prestes a ser editado. Para já podemos ouviro curioso single “Violinos No Telhado” no myspace efacebook dos Pinto Ferreira. O referido álbum de estreiacontou ainda com as participações especiais de GonçaloGalvão e Márcia Santos e foi produzido por Flak.

Os Pinto Ferreira são uma banda

Está a ser preparado o álbum de estreia dos eborensesUaninauei. Terá como título “Lume De Chão” e tem ediçãoprevista para o próximo verão. Já anteriormente tinhamdisponibilizado para audição no respectivo myspace ostemas “Guilhotina” e “ Circos A Arder”. Agora chega oprimeiro single “Chamas Em Mim”. Como já repararampelos títulos, este será um trabalho que irá incendiar opanorama musical nacional com riffs poderosos econtagiantes que roçam o metal, viajam pelo progressivo,e que abraçam o rock. A acompanhar o tema “ChamasEm Mim” chega também o primeiro videoclip da bandaque poderão visualizar aqui:http://www.youtube.com/watch?v=lGtH9-0IfFQ

“Chamas Em Mim” é o single deapresentação dos Unaninauei

Entrevista: JRTradução:Claudia Numão

Page 16: Marsupial #_1

Nuno Norte

Certamente muitos conhecerão o próximo convidado, Nuno Norte. Em parte devido à sua participaçãoe vitória da primeira edição de Ídolos. Mas, para quem não sabe, ele é muito mais do que isso. Aliás,muitos anos antes dessa participação já o Nuno cantava fado com os seus tios. Era apenas o iníciode uma bela história sobre um amante de música que quer entrar para a história como compositorde grandes canções de rock. E diga-se de passagem, está no bom caminho...

Page 17: Marsupial #_1

Comecemos pelo início de tudo.Lembras-te de como começou estatua aventura na música?Bem eu comecei muito cedo. Nasci naMarinha Grande e tenho vários cantorese músicos na família. Com 7 anos comeceia cantar fado nas casas de fado onde osmeus tios cantavam, até aos 10 anos fizteatro de revista, depois fui viver para oPorto e fiquei uns anos afastado da músicae mais virado para o desporto, jogavabasquetebol. Com uns 15 anos comecei acantar rock em bandas de garagem,estávamos em plenos anos 90. Até chegarao Ídolos, já com 26 anos, fiz muitosconcertos, tive muitas bandas, de ondedestaco os Parkinson que foi a que maisdurou.

Um marco no teu percurso musicalé sem dúvida a participação econsequente vitória na primeiraedição do Ídolos. Que portas teabriu, que te trouxe de bom?Acima de tudo deu-me a conhecer a umnúmero muito maior de pessoas. Convémrelembrar que foi a primeira edição eobviamente a inexperiência era muita emtermos de produção e de apoios aoprograma. Deu-me um contrato com umaeditora, a BMG de onde lancei um álbumHomónimo e fez com que outras pessoasno mundo da música em Portugalreparassem em mim, como foi o caso doJoão Gil que posteriormente me convidoua participar no projecto “Filarmónica Gil”.

É uma experiência queaconselhas?É uma boa experiencia, diverti-me muito,conheci muita gente, estive por dentro deuma produção televisiva que é uma coisaque me atrai bastante e, obviamente,correu muito bem para mim. Aconselho aquem queira experimentar, mas aconselhoa levar tudo sem muitas expectativas paranão se desiludirem depois. É precisolembrar que não passar a uma faseseguinte do programa é uma probabilidadesempre presente.

Entretanto tiveste vários projectosdesde os Parkinson, ao programaÍdolos, aos Filarmónica Gil, ao teuprojecto a solo, entre outros. Paranos situarmos, neste momentoem que projecto ou projectosestás envolvido?Bem neste momento estou mais activocom uma banda de Tributo a Nirvana (umadas minhas bandas favoritas de todos ostempos) que se chama Teen Spirits e tenhouma banda de Covers para Bares que sechama RockdaPop, onde basicamentetocamos hits Pop numa linguagem“Rockeira”.

Sei que estás a preparar um novoálbum a solo, é verdade? Quepodes adiantar sobre ele?Bem posso adiantar que é um álbum Rockcantado em Português, com um pouco depop e alguma electrónica à mistura. Eunão sei como o catalogar, vou deixar issopara os críticos, chamo-lhe Lama. OLançamento esta previsto para o final doverão mas ainda sem data definida.

No projecto a solo contas com a

ajuda de outras pessoas? A quenível se faz essa ajuda?No projecto a solo, mais propriamente noDisco, posso contar com grandes amigosda minha adolescência, tal como o JoãoAndré Piedade, ex-baixista dos“Bandemónio” e vocalista dos “Varuna“que além de gravar os baixos do álbum étambém o produtor do mesmo. Contotambém com Pedro Martins na bateria(Comité Caviar) e Ricardo Cavalera naguitarra e vozes (Varuna, Touro).

Sempre te consideraste um“homem do rock”, eu também osou, mas não achas que o rocktem sido um pouco desvalorizado,pelo menos em Portugal? Sintoque as pessoas ouvem menosrock…Sim o rock não se ouve como a uns anosatrás, mas aos poucos está a voltar. Acena dos Djs veio “roubar” um pouco acena Rock mas sabes como é, são fasesda música. Eu continuo a ouvir muito bomrock que se faz tanto no estrangeiro comoaqui mesmo em Portugal.

Quais são as tuas referênciasmusicais, aquelas que teinfluenciaram e/ou que teinfluenciam?Basicamente rock americano, anos 90,Soundgarden, Alice in chains, Nirvana,Stone Temple Pilots. Mais recentemente,The Dead Weather, Queens of The StoneAge, Foo Fighters, Them Crooked Vultures,entre outros .

Vejo que estás actualizado aonível das novas tecnologias. Qualé a tua relação com a internetenquanto ferramenta dedivulgação do teutrabalho?A internet veio ajudar muito a divulgaro trabalho das bandas. Mostras tudo ali:música, vídeos, fotos, info de concertos,contactos… Uso bastante a internet parapromoção de concertos e para contactocom o público. Quando comecei a tocar,as coisas não eram assim tão fáceis. Agoraposso criar um grupo no Facebook chamado“no meu tempo gravava cassetes aos meusamigos para eles ouvirem a minha músicae eles emprestavam aos amigos que ascopiavam também, e assimsucessivamente.

Isto da internet e a consequentepartilha/pirataria da música temgerado uma grande discussão emrelação aos direitos de autor. Qualé a tua opinião em relação a isso?É um pouco controverso mas acho quecada vez mais a música devia estardisponível para download a um preçomínimo. Em relação à pirataria, não sei.Quando arranjarem uma solução avisem.Eu já tive de sacar o meu primeiro álbumda net pois não tenho um original.

Tens estado atento ao actualpanorama musical nacional? Queprojectos e bandas merecem atua atenção?Não só por serem meus amigos mas pelaboa música que fazem destaco os “Varuna”,

uma nova banda do Porto ondecuriosamente estive para ser vocalistamas a distância impediu que assim fosse.Destaco também uma outra nova bandado Porto que se chama “Touro”, fazem umrock muito potente com umas letrasfantásticas em Português, e claro, o meudisco no fim do Verão.

E agora quais os planos para ofuturo próximo?Os meus planos são tocar o máximopossível. Gostaria de fazer alguns trabalhosrock na condição de produtor e esperarque o mundo não acabe em 2012.

Uma última pergunta: qual é atua personagem de bandadesenhada preferida?Surfista prateado.

Entrevista: JR

http://www.myspace.com/nunonorte

Page 18: Marsupial #_1

Conheço-vos desde o início, noentanto, acredito que este é talvezo princípio de um novo ciclo. Como vosso álbum de estreiafinalmente cá fora, qual é asensação? É realmente um novocapítulo na vida dos the LOYD?A sensação é óptima - finalmente umálbum! Deve ser a mesma sensação dequalquer banda que muito lutou e muitotrabalhou para conseguir ter um trabalhode longa duração. Isto é, penso eu, umsonho para qualquer um que queira vingarn0 mudo da música. Em relação ao novocapítulo acho que o disco vai trazer coisas- e já estamos a notar isso - que o nossoep “Done” não trouxe o que é, penso eu,normal.

O título “Love And Revolution”tem alguma coisa a ver com essefacto? Falem um pouco destevosso álbum de estreia…Sim um pouco. “Love” porque, já que asdificuldades existem e muito, é precisomesmo muito amor, dedicação, tempo ecompreensão para se conseguir fazer oque fizemos. “Revolution”, porque sentimosque estamos a remar contra a maré. Asbandas estão a seguir o caminho mais fácilao cantar em português e não se importamcom a qualidade da música que produzem.

O que interessa é ser cantado na línguade Camões.Actualmente, para muitos, a boa músicaé feita com cordas e um balde a fazer debaixo, pratos de cozinha em vez da bateriae sinceramente não sei o que é que sepassa, nem onde isto vai parar... são modastambém, em que se não gostares daquelegajo que toca bateria, guitarra, canta,arrota e faz tudo ao mesmo tempo já nãopercebes nada de música e por isso tensdeir ver e ouvir, porque fica bem, é fixe eestás “in”. Daí a palavra revolução. Maisdo que um facto consumado, a palavradeve ser entendida como uma intenção,uma tentativa e o nosso contributo paramudar um pouco o que se passa nomercado nacional, porque não nos revemosnos modelos actuais.Em relação ao disco: é um álbum de rockpuro que apesar de não inovar não tempassado ao lado de quem o ouve e dequem nos vê ao vivo. Apesar do nomegigante dos Beatles estar no álbum atravésda nossa versão de “Help!” como nossoprimeiro single do álbum, está longe deser o nosso melhor tema. Está muito boae segue na perfeição o estilo da bandamas penso que músicas como “Alone”, “IHave Fear”, “To Be One”, “Have To GetUp”, “Round two”, “Promise You”, estão decerta forma muito superiores. É um discoque não está dirigido a um públicoespecífico.É um álbum para toda a gente,

não tem barreiras de idades, de sexo, deestilos musicais e penso que todos,independentemente do estilo que maisgostam, conseguem ouvir e gostar de“Love And Revolution”.

Este trabalho foi nascendo aolongo do vosso percurso, foi algopensado ou nasceuespontaneamente?É óbvio que quando começámos a ver queisto é realmente o que queremos fazer davida precisamos de um álbum e não issonão se resolve de um dia para o outro. Épensado claro.

Sei que foi gravado e produzidotambém por vocês. Sentem quefoi melhor assim, puderamexplorar e “brincar” um poucocom o vosso som e fazer algo quefosse de encontro ao que vocêsqueriam? É para repetir no futuro?Sim é para repetir! Aliás, já estamos atrabalhar em novos temas para um trabalhoposterior... experimentámos e nãoqueremos outra coisa. Produzirmos earranjarmos as músicas ao nosso gosto,sem termos de estar preocupados com oque o produtor vai achar e pensar, é muitomelhor e dá-nos mais espaço para a criaçãoe também mais espaço para inventar e

Os the LOYD são daquelas bandas apaixonadas pelo rock puro, sincero e enérgico. São fiéis aos seusideais e prova disso é a estreia em álbum intitulada “Love And Revolution” que deve ser mesmo traduzido à letra. Amor e revolução é o que prometem. Mas para saber um pouco mais sobre o que pensam, a MARSUPIAL esteve à conversa com Jou Maia, vocalista e guitarrista da banda que respondeu sem manhas e directo ao assunto, ou não fosse ele um homem do rock.

the LOYD

Page 19: Marsupial #_1

experimentar. Devia ser um caminho quetodos deviam experimentar.Digo istoporque já estivemos dos dois lados.

Acreditam na força da música pelamúsica, sem qualquer outro tipode factor, ou máquina“promocional” por detrás?Eu queria acreditar que sim, mas não vejonada.

Vivemos numa era global onde ainformação corre a umavelocidade louca. Um artista gravaum disco, coloca-o no myspace eem poucos minutos conseguechegar a milhões de pessoas.Qual é a vossa opinião emrelação a isso? Talvez nãoseja muito benéfico para amúsica... acham o mesmo?Acho positivo no aspecto da tuamúsica ir além fronteiras emsegundos e chegar ao maiornúmero de ouvidostambém em segundos...o lado negativo acabapor ser a possívelvulgarização da músicaporque hoje em diaqualquer um pode fazermúsica. Consegues ter atua música ao lado debandas como “Metallica”ou “Foo Fighters” e istosem nenhum tipo deselecção ou filtro. [risos]Isso é bom ou mau?Sinceramentenão sei e julgo queninguém ainda o sabe...

E em relação àpirataria /partilhada música via net.Acham que “fazero download deuma música é amesma coisa doque roubar umcarro”?Não, roubar um carro émais difícil. Ai tu nãosabias???

Em relação ao panoramamusical nacional têmestado atentos? Que têmouvido?Não tenho estado atento porquenão me interessa e porque meenervo ao ouvir certas coisas...gosto muito de, de, de, de...não me esta a ocorrer onome... [risos]

E ao nívelinternacio-nal?Sim, aí jáestou umpouco maisatento. “Alicein chains”está muito bom,“Biffy Clyro”muito bom também,“Muse”. “Them Crocked Vultures”desiludiram-me, estava à espera de mais

e claro, estava à espera de mais e claro,nunca me canso de ouvir “Foo Fighters”,“Nirvana”, “Ramones” e por aí...

Bem… álbum cá fora, videocliptambém, planos para o futuro?Vamos com calma pois há muitas coisasque podem acontecer e temos muitasdecisões para tomar nos tempos maispróximos, o que é positivo.

Uma última pergunta. Qual é avossa per-

sonagem de banda desenhadapreferida?É o EMCIMADETINUNCAMECANSO…

http://www.myspace.com/loydband

Entrevista: JRFotos: Pedro Lopes

Page 20: Marsupial #_1

Vocês editaram recentemente ovosso segundo álbum “Hats &Chairs”. É mesmo um disco parase ouvir sentado? Como odefinem?É um disco para se ouvir sentado. Bemsentado. E de preferência de chapéu. Maschegaram até nós relatos de pessoas queouviram o disco em pé e mesmo assimnão se arrependeram. Mas desconhecemosse estariam de chapéu.Os nossos concertos, tal como os discos,têm um carácter intimista. A música quefazemos soa melhor se todos estivermossentados. Nós e o público. É uma questãode gravidade. Pode ser que alguém atéabane o pé mas até isso dá mais jeito deperna cruzada.Este “Hats & Chairs” é um álbum enraizadona música que se fazia na América daprimeira metade do século passado,nomeadamente nos blues. Mas tem ramosbastante compridos e fortes como o Swing,o Ragtime, o Jazz, entre outros, e algunsaté nasceram muito depois dessa época.E não desprezamos as folhas mais verdese viçosas que têm pouco tempo de vida.

Este é um novo capítulo na vidados The Soaked Lamb ou é umcontinuar do anterior trabalho?É um novo capítulo que continua o trabalhoanterior. O enredo é o mesmo mas temoutro desenvolvimento.O primeiro disco é “homemade” tal comoo seu nome e foi gravado mesmo antesde existir banda. Este segundo já é oproduto duma banda que tem umapersonalidade própria, um número fixo deelementos (apesar de contaresporadicamente com alguns convidados),muitos concertos e que foi desenvolvendoo novo álbum desde os concertos depromoção do primeiro disco até aomomento das gravações. E foi todo gravadoem estúdio. Conta ainda com maisinstrumentos. Muito mais instrumentos.Este álbum tem treze temas, todosoriginais, ao passo que o anterior dividiaos louros e os cravinhos, com versões deoutros artistas.

O que é que vocês queremtransmitir com a vossa música nogeral, e com “Hats & Chairs”

em particular?Nós fazemos as coisas tão devagar quenão sobra tempo para pensar muito nisso.Fazemos a música que gostamos. Isso éo mais importante para nós. E fazemo-lacomo se ela fosse durar para sempre enão para ser consumida e deitada fora.Como se cada música fosse um standardque ainda não tinha sido escrito.

Vocês conseguem percorrer váriasdécadas no vosso álbum, desdeas décadas 20 e 30 até àactualidade. Quais são as vossasreferências musicas?São muitas e variadas. São nomes como:Rev Gary Davis, Blind Blake, DjangoReinhardt, Screamin’ Jay Hawkins, VinicioCapossela, Ruth Etting, Tom Waits, BillieHoliday, Bessie Smith, Howlin’ Wolf,Leadbelly, Sanseverino, Colette Magny,Nina Simone, Chavela Vargas, LibbyHolman, Paolo Conte, Ethel Waters, Ogresde Barback, Vera Hall, Chico Buarque, TheMills Brothers, Klezmatics, Squirrel NutZippers. E muitos, muitos mais.

The Soaked Lamb

Os The Soaked Lamb voltaram, desta vez de chapéu, sentados e prontos para nos darem muita música.Mas música a sério, daquela que nos dá vontade de levantar e dançar sem parar. No entanto, aconselhama não nos levantarmos e a ouvi-los sentados. Dizem que é por causa da gravidade. Nós aceitamos oconselho mas quisemos saber mais. Eles, sem nunca se levantarem, explicaram tudo, tim tim por tim tim…

Page 21: Marsupial #_1
Page 22: Marsupial #_1

The Soaked LambApresentação do CD "Hats & Chairs".............................................Data: 31 de Março de 2010Local: Ivity Empty Room, Jardim 9 de Abril,Nº20, em Lisboa...........................................fotos: Manuel Portugal

Page 23: Marsupial #_1

Mas principalmente a música que se faziaantes da segunda guerra mundial e damassificação da indústria musical.

Entretanto têm apresentado ovosso trabalho em algumas dassalas de concertos do nosso país.Como está a decorrer?Estamos a ser muito bem recebidos poronde temos passado. Repetimos algunspalcos mas a maioria dos locais até sãonovidade para nós. E nós para eles. Asreacções do público e da crítica têm sidomuito positivas. Uma surpresa muito boae que suplantou as nossas melhoresexpectativas e as mais pessimistas.Aconteceu-nos um episódio absolutamenteinédito, no Porto: algumas pessoas dopúblico cantaram as nossas músicasenquanto as tocávamos. E estavam de pé.

Li que vocês são seis mas quetocam mais de uma dúzia deinstrumentos. É verdade? Comofunciona isso ao vivo?A grande maioria da banda é modesta econtida e foca-se apenas num sóinstrumento. O Miguel toca bateria, o Vascopiano, o Gito contrabaixo e a Mariana cantae toca saxofone. O problema é que osrestantes dois elementos, o Afonso e oTiago, conseguem a proeza de tocar maisde uma dúzia de instrumentos entre eles.São multi-instrumentistas mas não seorgulham disso, até porque lhes dábastante mais trabalho. A maioria sãoinstrumentos pequenos e por isso aindavão cabendo em palco. São harmónicas,ukuleles, trompetes, clarinetes, saxofones,etc. Alguns são maiores, como guitarras,banjo e lap steel, mas nada que não caibanuma mala dum automóvel pequeno.

Vocês têm estado atentos a outrosprojectos e artistasnacionais?Quais sãoaqueles quemerecem avossaatenção?Gostamos muitode Dead Combo.Todo o trabalhodeles é muitoespecial e muitobem feito. Temuma personali-dade muito fortee uma sonoridadee trabalho decomposição degrande nível.Outra das bandasque não nos can-samos de ouvirsão os A Jigsaw.O último discodeles é particular-mente bom. Erecomendamos.Além disso, sãoexcelentes ao vivo.

Vivemos umaera “confusa”,a internet temactualmente umpapel importan-te na divulgaçãodos projectos

musicais, no entanto, nem todosos artistas a vêem com bons olhos.Qual é a vossa opinião em relaçãoa isso?Realmente vivemos numa época confusa.Mas a internet não tem culpa nenhumadisso. É apenas uma ferramenta comooutra qualquer e, se bem usada, ajuda aconstruir muita coisa boa. É muito útil enós adoramo-la. Nesse aspecto não somosnada vintage. Forçou uma indústriacorrompida e viciada a mudar e a ser maiscriativa e a acreditar mais na criatividadealheia. E isso só pode ser positivo.Hoje em dia qualquer um pode gravar umamúsica em casa e fazer-se ouvir nos quatrocantos do Mundo. Claro que isso por sinão faz uma boa música. Mas faz descobrirmuita coisa boa que de outra forma nuncasairia de uma garagem qualquer. E ascoisas boas continuarão a ser boas e asmás não deixarão de ser más por causada internet. Temos acesso a mais coisas.Muito mais coisas. E para bandas com anossa dimensão é fundamental chegar aomáximo de pessoas possível porque aindatocamos para um nicho.Quem ganha realmente muito dinheirocom a venda de músicas são as editorasmultinacionais. Não são os artistas. Nuncaforam. Quem é que estará mais preocupadocom os downloads ilegais?

Bem, e agora o que se segue?Quais são os planos para o futuroque se avizinha?Estamos a acabar a tour nacional depromoção ao “Hats & Chairs”. Depois dissoestamos a planear com a nossa agênciade booking (Rewind Music) uma pequenatour internacional e que acontecerá maispara o Verão. Estamos também a prepararuma outra edição especial

mas ainda é um pouco cedo para adiantarmais pormenores sobre isso. E jácomeçámos a pensar nas músicas quefarão parte do terceiro capítulo da banda,o sucessor deste “Hats & Chairs”.

Qual é a vossa personagem debanda desenhada preferida?Seria difícil encontrar uma que agrade aos6 da mesma forma. Mas tendo que optarpor uma que tenha a ver com a banda, aescolha recai em Corto Maltese.Principalmente por usar chapéu. E porquenasceu na mesma altura que nós, no iníciodo século passado.

Esta última pergunta fica ao vossocargo. Pode ser?A resposta fica ao vosso. Pode ser?

Curiosidade: Como surgiu o nomeThe Soaked Lamb?Essa questão tem perto de 80 anos e équase tão velha como nós. O nome veioda ementa dos longos almoços deDomingo, quando se fizeram as primeirasgravações. O ensopado de borrego foi umprato recorrente. E a tradução literal umaconsequência do vinho tinto que oacompanhava.

Entrevista: JRFotos: Claudio Balas

http://www.myspace.com/thesoakedlamb

Page 24: Marsupial #_1

:papercutz começou por ser o projecto de Bruno Miguel. Actualmente oprojecto evoluiu para se tornar uma banda. Uma banda que se tornou numdos raros casos de sucesso a sair de Portugal para a cena internacionalindependente da música electrónica. Dotado de um experimentalismoelectrónico adocicado com melodias de cariz pop, por vezes erroneamenteconfundido com elitismo musical de difícil acesso, :papercutz é a buscaincessante pelo equilíbrio entre o som orgânico e inorgânico. Depois de vero seu trabalho incluído em diversas compilações, assina em 2007 pela editoraindependente canadiana Apegenine (David Kristian, Emanuele Errante, Hunz,etc...). Em 2008 é editado o seu álbum de estreia Lylac, que é aclamado pelacrítica nacional e internacional fazendo com que seja atribuído, em 2009,o prémio "Off the beaten track" dos The People's Choice Awards assim comoo prémio "Ones to Watch", numa iniciativa conjunta do Myspace Internacionalcom a Vodafone.

Neotropic, Spandex e Signer) tiveramcríticas positivas e daí surgiram convitespara o apresentar ao vivo. É nesta faseque decido reunir um pequeno núcleo demúsicos (a Melissa entretanto voltou paraos Estados Unidos) para interpretar oálbum ao vivo e dar continuidade aoprojecto de uma forma mais humana, commais atenção aos instrumentos acústicose à voz. Falo da nova voz de :papercutz,a Marcela Freitas e de alguns músicosconvidados, com raízes na música erudita,na electrónica e na música popular e quefazem agora parte desta encarnação dos:papercutz no formato banda. Nos últimosconcertos fomos quatro em palco maisuma pessoa encarregue dos visuais.O nome surge como forma de descreveras músicas, não pela sua estética masantes pelo processo de composição. A ideiaé uma analogia entre o cuidado que asmúsicas têm e a atenção ao detalhe (alémdo trabalho quase plástico com fontessonoras no início do projecto) e a arteancestral que existe em várias culturas decriar formas através do corte de papel(papercuts). O próprio nome da primeirademo (Articulated forms) tanto leva paraesse contexto como para a nossa existêncianuma sociedade, o facto de sermoselementos de um todo como formasarticuladas. Os dois pontos e o z surgirampara criar um nome próprio e por umaquestão estética. Uns parecem gostar,outros não. No meu caso gosto sobretudode ver o nome impresso.

Antes do álbum de estreia tu vistea tua música publicada emdiversas compilações ("NovosTalentos Fnac" por exemplo). Deque maneira consideras que esteprocesso te ajudou a dar aconhecer ao mundo?É preciso distinguir as compilaçõesportuguesas das outras já que a quemencionas, por exemplo, apenas tem umefeito nacional. Base One: Paradox CityV.A. (com o Armando Teixeira, Ka§par,Pitch Boys e outros) e Os Novos TalentosFnac serviu para chamar atenção dealgumas rádios, ouvintes e outros meiosque não nos conheciam. São uma boaforma de descobrir novos projectos e eumesmo vou sendo bem surpreendido detempo em tempo. Lá fora as compilaçõesservem também para chamar a atençãode editoras que procuram novos artistaspois é um mercado mais saudável econsequentemente com maior número deedições.

Devo confessar que a primeiramúsica que me chamou a atençãopara :papercutz não foi umoriginal mas sim um remix paraa música Camaleão dos Peixe :Avião (principalmente o samplede voz atrevido do início).Revisitaste também de formadeliciosa a "Forbidden Colours".Podemos esperar no futuro pormais remisturas de :papercutz?Em termos de remisturas já recebi algunsconvites mas infelizmente não tenho tidoo tempo disponível para os aceitar. Tenhoum ou outro pendente neste momentoque posso vir a fazer aproveitando o tempode estúdio do próximo álbum. Sãoexperiências muito boas que aconselhoporque permitem duas coisas: que nosafastemos por um tempo do nossopercurso, o que tem coisas boas e outraschatas e por outro lado pegarmos notrabalho de outros e recriá-lo com a nossaassinatura, pensando no que define o nossosom e respeitando a música original.

:papercutz

André Carvalho - Antes de mais,para localizar os nossos leitores,em que circunstâncias surge oprojecto :papercutz (e já agora ocliché, porque :papercutz?) quecomeçou por ser um projecto asolo e agora já é uma banda asério?Bruno Miguel - O projecto nasce com umtrabalho promocional de nome "ArticulatedForms" (e o resumo sob a forma de E.P.que sai pela Portuguesa Test Tube) quefui compondo no tempo livre entre ensaiose concertos que tinha com a banda emque estava na altura, os Oxygen. A ideiainicial era simplesmente explorar um registodiferente com a colaboração de vocalistas,

uma mistura da estrutura de canções einstrumentais e com uma linguagem maisecléctica. O meu trabalho teve umas criticassimpáticas e depois de algumascompilações decidi dedicar-me por inteiroa :papercutz (porque senti que era ocaminho ideal para poder evoluir). Assimnasce o álbum "Lylac" com a voz daamericana, de raízes Portuguesas, MelissaVeras. O álbum é editado pela ApegenineRecordings de Montreal, Canadá, umapequena editora independente mas comcatálogo bastante interessante com nomescomo David Kristian, Khonnor, EmanueleErrante, Julien Neto entre outros, Pareceu-me ideal para o meu trabalho. Tanto oálbum como o single Ultravioleta rmx's(com remisturas de The Sight Below,

http://www.myspace.com/papercutzed

Page 25: Marsupial #_1

Uma das características que torna:papercutz mais interessante é acapacidade de conjugar sonsdigitais (electrónica pura e dura)com diversos sons analógicos(cordas, piano, etc..). Como é queatingiste este equilíbrio?É um processo em evolução e penso que,embora haja um equilíbrio, ainda não estáperfeito. Desde que me lembro de escrevermúsica que me interessa a mistura entreelectrónica e instrumentos orgânicos.Simplesmente com o tempo houve umtroca da instrumentação eléctrica para osinstrumentos acústicos e registos maispróximos de música erudita, ou clássicaembora o termo clássica se refira a umperíodo de tempo que não é aquele queinvoco já que estou mais próximo dominimalismo contemporâneo.

Quando partiste para o álbum deestreia Lylac tinhas alguma ideiapré concebida ou foram ideias queforam desenvolvidas à medidaque ias "pondo as mãos namassa"?Eu trabalho muito com conceitos já queme facilita a composição. Dessa formapasso a dispor de uma linha que acabapor definir todo o trabalho e me ajudanesse caminho da composição, nem queseja a descartar o que não interessa. Houveuma fase inicial de criação do conceito edo que pretendia do álbum, antes mesmode pegar num instrumento e depois foium longo trabalho pois nunca tinha escritoum álbum sozinho, tanto a nível musicale de produção como na escrita das letras.No entanto, em estúdio é sempreimportante experimentar novos processos

Tal como outros artistas, tutambém editaste e vais editarremisturas de temas teus porparte de outros artistas. Comofuncionam essas colaborações equem faz essas escolhas?Essas colaborações funcionam numa basede respeito artístico e empatia.Basicamente eu escolho os nomes que meinteressam e a editora também sugerealguns nomes projectando o resultado finalpretendido. Depois, ou os contactodirectamente, sobretudo se já os conhecer,ou esse contacto fica a cargo da editora.A primeira fase é um misto de trocas deopiniões sobre o trabalho em causa edepois encontramos o caminho para assuas recriações. Existem artistas que semnenhum tipo de opinião conseguem umresultado fantástico à primeira e outrosque necessitam de alguma direcção.

No estrangeiro existe um enormeinteresse pela tua música, aindamaior do que aquele que existedentro de portas. Estiveste noSXSW, recebeste um People'sMusic Award...Com que olhos vêsisso?Não somos assim tão pouco conhecidoscá, nem somos assim tão conhecidos láfora mas existe esse interesse sim. Emrelação a Portugal, começámos do zero,sem nenhum tipo de hype ou de apoioeditorial ou da rádio porque a nossa editoranão estava representada cá. Felizmentehoje em dia, embora ainda tenhamos muitoque percorrer e público ao qual chegar, ascópias do "Lylac" estão a esgotar. Temosbastantes convites para concertos (os quaisparamos em Setembro), já estivemos em

várias rádios com nossa música e fomosentrevistados por um vasto leque depublicações, embora os grandes meiosteimem em classificar a nossa sonoridadede complexa ou elitista. Isto foi possívelatravés de muito trabalho e de quase doisanos de concertos com cerca de 50 datasaté ao momento. Admito que nossa músicanão é fácil e precisa de tempo para seconhecer, mas rejeito este atestado deestupidez aos ouvintes Portugueses.Lá fora é outro mundo, não existem essetipo de questões porque há nichos demercados e a música independente eoriginal é das mais valorizadas. O nossopróximo objectivo passa precisamente porcontinuar a dar concertos lá fora sobretudoem festivais com alguma relevância comoo SXSW para o qual fomos felizmenteescolhidos e que prova as minhasanteriores palavras pela diversidade demúsica proposta. Os prémios que temosrecebido são importantes pois validam onosso trabalho e afirmam o interesse nanossa música, abrem algumas portas masnão é para nós o mais importante. O maisimportante é chegar às pessoas fazendoa música que se gosta.

És mais um dos "filhos" do Portoa vingarem no mundo da música.Que importância tem a Invicta namúsica que produzes?Começa a ser inegável a força da culturano Porto mas não sei até que ponto é queas pessoas já aprenderam realmente aviver a cidade, a percorrer a cidade, a terhábitos e a potencializar a cultura eentretenimento oferecido. No meu caso ereferindo-me à música em particular, tivea felicidade de ver o Steve Reich ou oBernardo Sassetti na casa da música, oMichael Nyman em Serralves, o Ricardo

e por vezes partir de erros parasituações que não teríamoschegado lá de outra forma. Ouseja, é preciso manter umamente aberta e emborapossamos ter uma ideia originalela nunca se deve impor àparte mais importante que é acriatividade musical.

Sabemos que estásprestes a entrar emestúdio, o que irá variarnos métodos degravação deste novoálbum?A grande diferença vai ser quepara além de gravar com aMarcela vou ter músicosconvidados numa forma deenriquecer a musicalidade doálbum, uma vez que sou uminterprete mediano na maiorparte dos instrumentos quegravei, e de forma a ter ummaior leque de opções.

Como surgiu a tuaassociação à Apegenine?Na altura de procurar umaeditora compilei alguns temasdo álbum numa demo e envieipara editoras nacionais eestrangeiras. O interesse veiodas editoras estrangeiras. AApegenine foi uma delas eachei que o "Lylac" faziasentido no catálogo dela. Aideia é procurar editoras ondeos trabalhos se encaixem efaçam sentido para o seumercado. Felizmente hoje emdia o interesse das editoras por:papercutz é maior e consigomais facilmente casas para osmeus trabalhos.

Villalobos no Sá da Bandeira,um dos primeiros concertosdos Dead Combo nos MausHábitos, conhecer o Rafael(The Sight below) no PassosManuel, facto que levaria amais tarde o contactassepara a incrível remistura quefez de :papercutz e todoseles, entre muitos outrosme inspiram pela suaoriginalidade e criatividade,o que poderia ser diferentese as minhas origens fossemnoutro lugar. No entanto, eem relação à música quefaço e às suas raízes,considero-me mais que doPorto ou Português, sou umcidadão do mundo.

"Já agora e em tom decuriosidade, queartistas/músicasandas a escutar commais frequênciaultimamente?"No record store day compreiTomorrow, In A Year dos TheKnife que comecei agora aouvir. Não é fácil mas érecompensador. Descobri,através da dica de umamigo, um grupo muito bom(que vem cá!) que são osHEALTH. Olha, vê estevídeo...e o novo da JoannaNewsom que é altamenterecomendável. Descobritambém estes Balmorhea equeria ver se comprava onovo do Sassetti...é dospoucos que me fazcolecionar a discografia.

Entrevista: André Carvalho

Page 26: Marsupial #_1
Page 27: Marsupial #_1

primeira (re)aparição, alternando isso comnovos nomes, novas tendências. Semquerer soar a conclusão, os Inhumanpublicaram em 2009 três temas no seumyspace (www.myspace.com/inhumanpt),faixas que contêm uma actualidadegritante. A banda soube reinventar-se coma fórmula mais básica de todas. Recuperoualgumas coisas que não se sentiam no seuúltimo disco de originais, como uma maiordistorção, uma vocalização mais agressivamas o melhor elogio é que a banda soubefazer do seu regresso uma novidade euma conquista. Conquista de novos fanse de outros mais antigos. A sugestão énossa, a audição é de todos. Dos novos edos velhos temas que a banda tem peloseu myspace e espalhados noutros lados.Só fica a faltar um novo disco. Se estetexto ajudar…

Com que letrasse escreve o metalem português?www.abcdemonium.blogspot.com/

Por Hugo Guerreiro

Com que letras se escreve o metal emportuguês? Com várias, de vários estilos,géneros (e sub-géneros). A pergunta podeparecer desajustada ou descontextualizadamas faz todo o sentido. Cada estilodescreve-se automaticamente com cadainterpretação ou através da audição pessoalque cada um faz do mesmo. Daí que sejadifícil reconhecer qualidades a uma banda,ao mesmo tempo que desgostamos deoutra de estilo distinto. Completamentediferentes são as sensações que nosoferece o regresso de uma banda que emdada fase da nossa vida nos influenciava,nos levava a adquirir os seus discos e aseguir as suas entrevistas e fotos nasfanzines (da altura).

Muitos seriam os projectos que poderiamser recuperados para esta resenha. Hojesó aqui deixarei um. Os Inhuman. São umcolectivo formado em 1992, entretantoregressado ao activo com novos temas enovos concertos. Um longo hiato naactividade da banda, dez anos maisexactamente, interrompido em 2008 como regresso deste colectivo de Silves.

Voltemos então atrás. Há doze anos abanda gravava em Inglaterra com SimonEfemey o seu último disco de originais.“Foreshadow” marcava uma evolução nosom da banda. Com um produtor conhecidopelos trabalhos com Paradise Lost, é comalguma naturalidade que encarámos o somdo grupo nacional bastante aproximadoda banda inglesa. “Foreshadow”possivelmente foi um disco incompreendidomas o certo é que doze anos depoismantém uma actualidade interessante.

A esta altura sinto uma necessidade derecuperar algumas bandas. Se o Marsupialme permitir os Inhuman serão apenas a

Page 28: Marsupial #_1

A banda que se segue chega-nos do Porto e trás nabagagem muito rock: duro e poderoso. E sempre deenorme qualidade. Chamam-se Blind Charge e 2009foi um ano de muita actividade, quer a nível de discos– editaram o EP de estreia “Pieces OF A Black Box”e o single “Mr. Ocean” – quer a nível de concertosonde aproveitam sempre para partilhar a electricidadecaótica que os caracteriza. E foi precisamente o anotransacto o mote para a conversa que se segue.

BlindCharge

2009 foi um ano bastante activopara vocês: lançamento do EP deestreia, tema extra com videoclip,e ainda uma agenda de concertosbastante interessante… Quebalanço fazem de 2009? Que vostrouxe de bom?Temos de reconhecer que sim. Foi um anobastante positivo, onde pudemos tocarbastante, rodar bem as músicas e ondeprincipalmente nos divertimos muito.

O feedback das pessoas que vosforam conhecendo foi bom?Sim. Tivemos um feedback muito bom porparte de todos, principalmente a partir dolançamento da Mr. Ocean. Desde aspessoas que sempre nos acompanharamaté às pessoas que não nos conheciamnotamos uma aceitação muito positiva enalguns casos bastante surpreendente.

O vosso som é poderoso e acabapor ser rock e metal ao mesmo

tempo. Como definem o vossosom?Somos rock. Temos influências de todosos lados, mas acabamos por ser rock!

Como já referi, editaram em 2009o “Pieces Of A Black Box” o vossoEP de estreia, e depois o tema“Mr. Ocean”. O porquê destasedições separadas? Se existe umaexplicação…Claro! Nós acreditamos bastante no EPmas a certa altura sentimos a necessidadede demonstrar algo mais.Decidimos testar a simplicidade!Contactámos o Davide Lobão, que é umgrande amigo, para a pré-produção; paraa gravação e mistura falamos com o DanielCarvalho, amigo de longa data e para ovídeo falámos com o António Conceiçãoque fez o vídeo com o Telmo, nossoguitarrista.

O que querem transmitir àspessoas que ouvem as vossas

músicas e em especial com ostrabalhos que editaram?Cada pessoa é livre de retirar da nossamúsica o sentimento, a força, a energiaque bem entender.Nós fazemos música sincera, ao nossogosto e na qual nos revemos, a partir daícada um que a ouvir vai retirar da músicaalgo diferente dos outros.

Pelo que me pareceu tiveram umaagenda bastante interessante epercorreram um pouco o país paraapresentar o vosso EP. Sentiram,entre os vários pontos do país,diferenças na aceitação do vossosom? Onde, na vossa opinião, hámais aceitação e mais entrega porparte do público?Existem sítios onde a aceitação é diferentede outros mas isso às vezes depende dosdias, das pessoas que aparecem, etc. Masfelizmente podemos dizer que em váriospontos do país tivemos muito bom

Page 29: Marsupial #_1

Entrevista: JR

feedback. Em relação a esta mini tour quefizemos, tivemos sempre boas casas eforam sempre bons concertos. Julgo quefoi um momento especial para toda abanda, perceber a diferente forma comoas pessoas começaram a olhar para nós.

Qual é a vossa actual opinião emrelação às iniciativas e locais paraconcertos. Existem em númerosuficiente e com uma qualidadeaceitável?Julgo que cada vez existem mais sítiospara as bandas tocarem, mas a nível dequalidade julgo que ainda há muito a fazer.Muitos dos bares não oferecem grandequalidade às bandas. Já começa a haveralgumas excepções mas nem sempre ascondições são as melhores.

Sobre o panorama musicalnacional, que bandas nacionaistêm ouvido e merecem a vossaatenção?

Chemical Wire, Roulote Rockers,Raiz Urbana, O Bisonte, Homem Mau,Solid, Death Will Come, O Diligente, OMonstro, basicamente tudo aquilo que nãopassa na rádio.

E ao nível de bandasinternacionais?Muita coisa mesmo! É difícil enumerar!Mas podemos dizer-te que o último álbumque nos deixou de boca aberta foi o "SoundAwake" dos Karnivool.

Bem, e agora que se segue? Existejá material novo, novas músicas?Estamos neste momento a pré-produzir onosso primeiro álbum! Ou seja, roupagensnovas nalgumas músicas, malhas novas,ideias novas e muito trabalho.

Qual é a vossa personagempreferida de banda desenhada?Os irmãos Du Pon! E a seguir o Marsupilamisem dúvida! (risos)

Mensagem para o público emgeral.Ouçam muita música, procurem muitamúsica também. Não deixem quem sejamsempre os mesmos a decidir o que vocêsouvem. E leiam e reencaminhem aMarsupial porque é preciso apoiar o rarojornalismo musical de qualidade que aindaexiste.

Mr. Ocean...é o mais recente single dos Blind Charge parao EP "Pieces of a Black Box". O video para estamúsica pode ser visto no myspace da banda emhttp://www.myspace.com/blindcharge, ou noyoutube através do link:http://www.youtube.com/watch?v=r4CqtKr6WEE

http://www.myspace.com/blindcharge

Page 30: Marsupial #_1

Os Electric Willow podem passar ao lado dos menos atentos mas são daqueles projectos que mal seatravessam no nosso caminho nos cativam e nos fazem apaixonar. Com apenas 5 anos de existênciacontam já com 4 discos, dois EP’s e dois álbuns, todos eles belos registos recheados de deliciosas melodiasem formato canção. Pondo isto, há a necessidade de saber mais. Pedro Geraldo (bateria e percussão)prontamente se disponibilizou para nos esclarecer tudo sobre a electricidade e o salgueiro.

Antes de mais, como apareceu onome Electric Willow?O nome tem que ver com a paisagemnatural em que se enquadra o nosso localde ensaio, um cenário campestre onde osalgueiro (willow) é a árvore quepredomina. A electricidade é aquele recursovital à música que fazemos.

Esta aventura começou como equando?Começou após a dissolução dos Caffeineem 2005, banda a que pertencia o CláudioMateus. O Cláudio tinha uma séria detemas em mão, pretendeu gravá-los eeditá-los com um outro projecto que lhepermitisse outras abordagens esonoridades. Através do Adílio Sousa, quejá estava a trabalhar no que viriam a seros Electric Willow, foi-me apresentado oCláudio e o respectivo projecto, isto noinício de 2006. As referências musicais emcomum eram mais que muitas e facilmentese criou uma cumplicidade que permitiuao fim de meia dúzia de ensaios avançarpara estúdio para assim ser gravado o 1ºdisco, Mood Swing.

Entretanto, depois de 3 ep’s e 3

álbuns, que balanço fazem? Comotem sido o feedback por parte dequem vos ouve e vos fica aconhecer?O balanço é extremamente positivo. Temosum percurso de constante evolução, nãosó musical mas também de alargamentoe fidelização do nosso público. Temos vindoa conquistar aos poucos um grupo maisvasto de gente que aprecia o nossotrabalho. Não somos propriamente umabanda para o grande púbico mas quemnos vai conhecendo acaba por gostar danossa música e começa a acompanhar oque vamos fazendo.

Vocês mostraram-se produtivosnestes ainda curtos anos deexistência… As músicas que forameditando são músicas queestavam nas vossas gavetas ousão canções que foram surgindocom o tempo? Como funciona todoeste processo, desde acomposição à edição?As músicas têm surgido à medida que abanda vai evoluindo. As canções vão sendocompostas pelo Cláudio que as apresenta

nos ensaios. A partir daí vem o trabalhoda sala de ensaio onde existe oenvolvimento do trio em que vamospartilhando ideias e colaborando numaorgânica de constante comunicação atéchegarmos ao nosso som final. Quandoachamos que as canções atingiram umnível que nos satisfaz partimos paraestúdio, ou será mais correcto dizer queo estúdio é que parte para nós visto queaté agora temos utilizado quase semprea nossa sala de ensaio onde fazemosalgumas captações com o estúdio móveldo José Arantes (um dos nossoscolaboradores ligados à Honeysound) quealém do papel de engenheiro de som temacumulado também o de produtor. Apósas primeiras captações onde se criam asbases todo o resto do trabalho, desdevozes, teclados e percussões, é efectuadono estúdio do José Arantes em Barcelosassim como a mistura final.

As canções dos Electric Willowfalam de quê ou de quem? E ondese inspiram os Electric Willow?As canções revelam sempre de algumaforma as vivências, estados de espírito eperspectivas intimistas daquilo que nos

WillowElectric

Page 31: Marsupial #_1

rodeia e das relações humanas. Algunstemas remetem também para o imagináriodas nossas leituras.

Quais são as vossas referênciasmusicais?Os grandes compositores de canções desempre e de alguma forma os criadoresdesta cena toda como Neil Young, BobDylan, Van Morrison, Leonard Cohen, LouReed, Tom Waits são efectivamente umasólida referência mas depois cada um doselementos dos Electric Willow tem as suaspreferências muito diversas que vão desdeThe Who, Led Zeppelin, Stooges, TalkingHeads, Tony Allen, Violent Femmes, Neu!,Bill Callahan, Sonic Youth, Butthole Surfers,Captain Beefheart, Pavement, Silver Jews,The Fall, entre outras.

Têm andado um pouco por todopaís para apresentar as vossascanções. Sentiram algumadiferença entre os vários lugares,aldeias, vilas, cidades de Portugalpor onde passaram?A diferença está sempre no tipo de sala enas pessoas que a frequentam e não nalocalização geográfica do espaço. Se formostocar a um sítio onde existe o hábitode ver bandas ao vivo, em que aspessoas se dirijam a esseespaço com a intençãode ver e ouvir asbandas é óbvioque issose

re-flectenumaexperi-ênciamuito maisprazenteirapara nós.Caso contrário,e isso já acon-teceu, atémesmo emsituações finan-ceiramente gene-rosas, torna-se algopenoso e desgastante.Sem dúvidas que hásempre esse risco,mas vamos tentandoser cada vez mais crite-riosos com a nossaagenda.

Na vossa opinião,existem iniciativas elocais suficientes emPortugal para uma bandacomo a vossa se apresentarao vivo?Não. Apesar disso, acho que nãonos podemos queixar. Sabemos queexiste um certo monopólio de determi-nadas promotoras que canibalizam osespaços mais atractivos, sendo difícil parauma banda como os Electric Willow, semapoios de editoras e promotoras, chegara determinadas salas. Mas para já, temosconseguido o retorno financeiro dos nossos

DISCOGRAFIA:

ElectricWillow

Majestic lies (2009)

Nothing’s ever good enough(2008)

Ready/Be for real(Ep - 2006)

Mood swing (2006)

discos através de concertos o que temgarantido a sobrevivência económica dabanda.

E em relação ao actual panoramamusical nacional, recomendam?Algumas bandas ligadas à Honeysoundcomo o Partisan Seed, Intermission, Biarroztêm produzido alguns trabalhos de grandequalidade. Os nossos grandes escritoresde canções como José Mário Branco,Fausto, Sérgio Godinho, Zeca Afonso sãoe serão sempre referências inquestionáveis.Penso que de uma forma geral, a músicaportuguesa está a atravessar um bommomento, com uma série de projectos quevão aparecendo e furando os esquemashabituais do mainstream.

Bem, e agora que se segue?Estamos a trabalhar o esboço do nosso 4ºdisco, onde vamos tentar fugir ao que estápara trás e que constituiu uma espécie detrilogia. Temos já algumas ideias quepassarão, entre outras coisas, por umaaposta na fusão de sons acústicos comalguma electrónica. A nossaideia é trabalhar este disco sobretudo com mais tempo e meios, sem criar obrigatoria- mente uma ruptu- ra com o passado.

Qual é a vossa perso- nagem de banda dese- nhada prefe- rida?

Bem, aqui a resposta é um bocado individualizada, eu sempre tive uma fixação pelo Valerian, o herói espácio- temporal. É uma BD de ficçãocientífica surgida em França nos anos 60que tem um lado meio psicadélico a quepor vezes consigo associar uma série deprojectos musicais.

Entrevista: JR

http://www.myspace.com/electricwillowband

Page 32: Marsupial #_1

Blasfemea –“GaláxiaTropicalia”(La Lisbonera | 2009)

O novo álbum de Blasfemea éum doce forjado numa selvatropical que, saltando de umelectropop animado para umafrobeat de cariz contagioso,não permite nunca que oouvinte pare de bater o pé.Cada música do longa duraçãoé representada por um nomefeminino, o que é algo de certaforma curioso.Logo a abrir deparamo-nos comuma verdadeira pérola damúsica pop nacional da últimadécada. "Maria" é um misto defrases facilmente memoráveise sintetizadores a lembrar hitsda pista de dança dos anos 80que, fundindo-se com riffs deguitarra, nos introduzem aoinocentemente jovem universode Galaxia Tropicalia.Em Kami, Kaede e Eva o ritmodecresce dando maior destaqueà parte vocal e à guitarradistorcida, mantendo, aindaassim, um carácteralegremente melancólico, cujabatida a lembrar uns VampireWeekend sintetizados faz comque estas músicas sejamperfeitamente passíveis de seouvir numa qualquer noite deverão animada.O álbum conta com aparticipação da banda britânicaDead Kids na música "Ida" (queaparentemente ainda temposters de Duran Duran noquarto) que a par da primeirafaixa são as nossas preferidas.Já "Victoria" eleva os ritmostribais a outro nível enquantoque "Catherine" é dotada deum psicadelismo capaz de nospor um sorriso nos lábios.A versão de "Dirty Diana" dosaudoso Michael Jackson, agorasimplesmente "Diana", acabapor ficar um bocado aquém dorestante álbum, tornando-seum pouco cansativa e repetitiva.Com um cheirinho mais folkacústico chega "Lindsay" numenganador encerrar do álbumpois logo a seguir segue-se a"hidden track" "Requiem forLatika" que poderia muito bemser algo retirado de uns Beatlesdos anos 60 com uns toque dewestern rock n' roll.

mais recente "Maldoror", álbum inspirado nos textos de IsidoreDucasse.Colocando em pousio os terrenos mais exóticos e de acesso maisdifícil registados nos últimos trabalhos, "Pesadelo em peluche" servecomo um checkpoint que regista os 25 anos de actividade de AdolfoLuxúria Canibal e companheiros com o projecto MM.Aqui e ali associamos um tema a uma outra fase do seu percurso,como é o caso do tema "Paisagens mentais", em que o ambientesonoro nos remete para a fase inicial do grupo, mais precisamentede "Corações Felpudos" (um excelente álbum cuja produção nãoficou à altura), ou em "Tiago Capitão", descrito pelos próprios como"maoísta no Tempo da revolução", que vem trazer mais umpersonagem ao imaginário MM, a juntar ao caótico e corrosivo"Anarquista Duval" e ao "Divino Marquês" de moral duvidosa (ambosde "O.D., Rainha do rock'n'crawl"). Já o dançável "Metalcarne",embora trajado com tecidos diferentes depressa nos traz à memóriao excelente "Carícias malícias" com toda uma carga erótica emaquinal, mas desta vez com um gostinho a "Crash", o inquietantefilme de David Cronemberg.Mas os regressos não são exclusivamente feitos ao universo MM.As várias costelas do Rock'n'roll são citadas em riffs que evocambandas ou movimentos chave na identidade da banda, mesmofugindo aos mais óbvios e menos presentes nos seus registosdiscográficos anteriores. No caso mais surpreendente, os TalkingHeads aparecem mais ou menos assumidos na secção rítmica dotema "MetalCarne" que, excluindo os elementos mais primitivos davoz e textos de Adolfo, poderia estar incluído em "Stop MakingSense", importante registo ao vivo da banda de David Byrne. Aindano universo Post-punk, o tema escolhido para o single "Novelos daPaixão" revela a marca que as composições dos The Fall de MarkE. Smith deixaram no seio do grupo. "Como um Vampiro", que seadivinha um futuro hino para a facção gótica dos seguidores docolectivo, é feito ao estilo dos Sisters of Mercy, com Fernando Ribeiro(Moonspell) a interpretar os textos de Adolfo Luxúria Canibal demaneira (demasiado) semelhante à que Pedro Laginha fez nosMundo Cão.O Rockabilly, o Hard-rock ou o indie-rock têm também os seusmomentos de homenagem e há até uma aragem morna vinda daCalifórnia dos Red Hot Chilli Peppers soprada através de "EstânciaBalnear".Todas estas referências, obrigatórias nesta análise pelo papel quetêm no conceito deste trabalho, suportam um álbum camuflado,onde contrastam o pânico e o algodão doce, o vazio e a promessade eterna juventude. Sob a forma de canções (no seu sentido maistradicional), a morte, o sexo, a religião, a política e as suas "teoriasda conspiração" continuam presentes mas agora suavizados, pintadosem tons de rosa tal como a televisão e as revistas os apresentam.Como quando nos noticiários repletos de caos humano, miséria,abuso de poder, ódio e chacinas em nome de deus(es) são balanceadose branqueados com doses maciças de publicidade que nos juramfazer viver o paraíso aqui na terra, bastando para isso escolhercuidadosamente a marca do creme com que nos enlameamos oua beberagem gaseificada com que nos purgamos.Na era da televisão, onde nada dói até matar, onde a morte é puraficção envolta em compromissos publicitários, os MM fazem umtrabalho com as mesmas regras, onde a crueza e a densidadehabituais na discografia da banda dão lugar a uma visãoaparentemente mais descontraída, confortável, distante, em suma,"de peluche".Neste ambiente onde o brilho do sol chega a enceguecer, a heroínade outros tempos é substituída por caipirinhas e mojitos ("EstânciaBalnear"), a sexualidade rude e grotesca rendida por uma embriaguezerótica e psicadélica povoada por personagens mediáticas ("O SeioEsquerdo de R.P."), as ruelas decadentes trespassadas por modernasauto-estradas rumo ao sonho. Um sonho que não queremos ter.É provavelmente a nível estético o álbum mais acessível de toda adiscografia dos MM e embora seja menos intenso não deixa de serconsistente, o que fará com que daqui saiam vários cartões de visitapara outros convidados que não habituées.Mário Fernandes

Mão Morta – “Pesadelo em peluche”(Cobra Discos | 2010)

O Rock'n'roll Revisitado

Galaxia Tropicalia soa comouma antologia da música popdos anos 60 - 80 revisitada àluz da actualidade. Numasonoridade semelhante à debandas como MGMT e AnimalCollective, os Blasfemea sãomais uma prova de que amúsica em Portugal está deboa saúde e aconselha-se.P.s: Se tivesse que caracterizareste álbum com apenas umafrase, ver-me-ia obrigado arecorrer aos própriosBlasfemea:"You're like hot chocolate inthe morning, warming me upinside" (em "Maria")André Carvalho

O novo disco dos Mão Morta (MM)teve como livro de cabeceira "TheAtrocity Exhibition" (A Feira deAtrocidades), de J. G. Ballard.Apesar da obra do escritor nãoter o mesmo peso no conceitoda obra como noutros registos,este modus operandi não énovidade na já consideráveldiscografia da banda, uma vezque a literatura foi tambémutilizada como mote em "Müllerno Hotel Hessischer Hof", ondecriaram paisagens sonoras sobretextos de Heiner Müller,ou no

Homem Mau –“Pelo Lado deDentro”(Brainmusic | 2009)

O álbum do ano

“Aviso: antes de colocar a tocaro respectivo CD faça uma cópiado mesmo. Pensando bem, façaduas porque este vai ser umdaqueles CD’s que vai ouvirvezes sem conta, que vai andarconsigo para todo o lado e quecertamente vai riscar.” Estedeveria ser o aviso inscrito nacapa de “Pelo Lado De Dentro”,primeiro longa duração dosportuenses Homem Mau e queacaba por ser o único pontofraco deste disco. Tirando issoé o álbum perfeito, ideal paraqualquer situação, um parceiroque nos acompanha pela vidafora e que vamos quererconservar até ao fim dos nossosdias. “Pelo Lado De Dentro” éum álbum verdadeiro e sincero,feito com enorme paixão e amorpela música, feito por pessoasque acreditam na música e naforça que as canções podem ternos que a ouvem com a mesmasinceridade. Já o disse e nãome canso de o repetir: este éo álbum perfeito. Se ainda nãoo ouviram, acordem e ouçam-no ou deixam passar ao ladoum álbum imenso. Os HomemMau podem ser os precursoresde uma nova cena nacional anascer na cidade do Porto. Paraisso só precisam que (mais)alguém acredite neles… Euacredito.JR

Page 33: Marsupial #_1

Dias de raiva – “Dias de raiva”(OptimusDiscos | 2010)

“Abre a pestana, e luta!..“

que se completa com Fred (Yellow w van, Mundo cão) na bateria,Nuno Espírito Santo(Braindead) no baixo, mais Paulo Franco eJoão Guincho (a dupla dos Dapunksportif) nas guitarras.A 2ª surpresa foi quando estava a aceder ao site da"Optimusdiscos", na página dos Dias de Raiva, para ouvir assuas músicas. Enquanto estava a escutar músicas de uma outrabanda - de death metal progressivo, note-se - cuja última músicaescutada havia terminado, sem saber começo a ouvir a músicaseguinte e a minha primeira reacção foi: Epá, nesta eles estãomais "apunkacalhados", mais garage e... hey, parece que estãoa cantar em português?!!. Foi aí que reparei que o player do sitetinha começado automaticamente e por momentos nem duvideique estava a ouvir uma banda de intenções raivosas, fulminantese sem distrações; nem coloquei o português(língua) em causa,antes pelo contrário: o seu timbre e acentuação caía bastantebem ao som.Punk, Thrash metal e Hardcore serão os ingredientes que consigodestilar neste 'coquetel molotov' que marca a estreia dos DDR(seráinocente a aproximação da sigla à de uns DRI?) tendo bebidoinspiração de bandas como Suicidal Tendencies, ou até mesmoPantera, como já referiram os mesmos. Bodycount é um nomede quase tentadora e previsível associação, assim que ouvimoso repetir insistente do nome da banda no início de 'Sem moral',por exemplo. Os temas das músicas rondam vários aspectos davida, sem necessariamente cair na linguagem tipo de um estilocomo o punk rock, chegando a catalogar temas como amorespassados('amores de liceu'), ou simpatização por certas afiliaçõespoliticas("camarada comunista") - quando normalmente o génerorecorre ao tema mais na vertente anti - de uma forma que deixaalgo mais para ficar a mascar. É bastante interessante a riquezainerente nas letras, que ora carregam no nervo típico do punkmais raivoso, ora surpreendem com palavras insuspeitas, tudosegundo um ponto de vista que não deixa de ser contemplativo,por um narrador de episódios urbanos já com nome firmadocomo o do homem que está ao leme dos DRR.'Dança de parvos' é a musica que mais terá reacção por partedo público, pela sua natureza convidativa ao canto em coro dorefrão, de punho em riste entoando "..come, bebe, fode!...", ecom uma aceleração ao longo da música que pede por descargade energia a um público que só pode ser sedento de explosõessónicas. A 'Herança' mostra o lado persistente de Carlão sobreum tema ainda urgente como as acções de uns e as consequênciasdessas mesmas sobre outros - podendo falar mesmo no exemplode novas gerações nas mais variadas etnias que incide para ovandalismo e a forma como isso continua a perpetuar o preconceitosobre os seus pares. Com isto resumimos que os temas de Diasde Raiva, o disco de apresentação, não são banais. São temasque acodem à superfície de entre muito queixume sem algoconcreto, ou que se distinga em vista. Istrumentalmente, paraalém do groove sempre presente a polvilhar o punk cerrado queora pende mais para o hardcore, ora para o thrash metal, aindasomos presenteados com um inesperado final na forma de 'gotas'onde a cadência(já conhecida) da dupla de guitarristas dá umpasso em frente e a mistura insuspeita de todos estes génerosrevela uma outra face, mais experimental, que, mesmo sendomais melancólica, não perde uma ponta de credibilidade sonoraem relação às restantes malhas.Agora resta encontrar o espaço entre a gaveta dos Cds paramais um disco; há-de haver!K69

Nada melhor que a citaçãoacima para representar o meuobjectivo com esta nova secção.Como inauguração, trago-vosPink Moon, de Nick Drake.Nick Drake nasceu em 1948,em Burma (Myanmar). Filho depais ingleses, adoptou essanacionalidade. Com cerca de20 anos foi para Inglaterra enessa altura grava o seuprimeiro álbum de estúdio, FiveLeaves Left. Depois dessesurgiram Bryter Layter e PinkMoon. Nick acabou por morrerem 1974 aos 26 anos com umaoverdose de medicamentos.Durante a sua vida nunca teveum verdadeiro reconhecimentodo seu trabalho, sendo póstumaa quase totalidade do seureconhecimento. Não gostavade dar concertos nementrevistas. Apenas a partir dadécada de 90, depois desucessivas referências à suaobra e a uma publicidade daVolkswagen, datada de 2000,cuja banda sonora foi a músicaPink Moon, do álbum com omesmo nome, é que aconteceuesse verdadeiroreconhecimento, sendo hojeconsiderado uma lenda damúsica Folk.Pink Moon, o álbum, mostra-nos mais uma visão do autorsobre o mundo que o rodeava.No final percebemosperfeitamente que ele (tal comoos outros génios,convenhamos), estava à frentedo seu tempo. Todas as 11músicas são similares, com voze guitarra (excepto a primeira,que também inclui piano),apresentando também um lado“negro”, resultante dasconstantes depressões einsónias de Nick. Tudo istomisturado redunda num álbummagnífico que todos os músicose amantes de música deveriamouvir.Diogo Costa

The Soaked Lamb– “Hats & Chairs”( - | 2010)

Máquina do Tempo

E se pudéssemos viajar notempo? Esta é uma perguntaque me ocorre inúmeras vezesmas este é um desejoimpossível de realizar. Ou talveznão. Desde que ouçamos osdiscos certos podemos fazeressa viagem sim. A nossamente quando estimulada damelhor forma é uma máquina

Tive 2 surpresas distintas eseparadas no intervalo detempo entre o saber daexistêcia e o ouvir o disco dosDias de Raiva. A 1ª foi quandodesfolhei as páginas de umjornal(então reciclado dumarevista) de música e me deparocom a foto do Carlão (akaPacman, vocalista dos DaWeasel) embrulhado entre umgrupo de fotos que formavamum todo que não eram os DaWeasel e revelavam intuitosbem mais pesados. Todo esse

Local Native –“Gorilla Manor”(Infectious Records | 2009)

Que fique registado que estenão é o melhor disco do ano,nem o mais inovador. GorillaManor é, no entanto, um discocheio de grandes canções. Asharmonias vocais são muitobonitas e perfeitas para suscitarpaixões de Verão. É verdadeque o disco foi editado naEuropa, em Novembro, mas àsvezes as coisas demoram tantoa chegar até nós que é bemprovável que chegue na alturacerta…no Verão. Não esperemporém um disco todo a atirarpara o Congo, na onda deVampire Weekend, uma dasbandas usadas como referênciado que os Local Natives fazem.Gorilla Manor é um disco dedetalhes. Coisas simples quequando ouvidas em conjunto setornam muito bonitas. Asmúsicas são algo melancólicasmas não necessariamentetristes. São uma espécie de finalde férias de Verão, poucos diasantes de voltarem as aulas.Ficamos tristes porque as fériasestão a acabar mas por outrolado estamos ansiosos porcontar aos colegas tudo o quefizemos. É um disco triste masa puxar para cima. Imaginemque conseguem pegar na belezadas melodias de Fleet Foxes, nasimplicidade e detalhe de GrizzlyBear mas com uma atitude maispunk na forma de interpretar.Gorilla Manor é um disco destabanda vinda de LA. Sem dúvidaa não perder.Hélio Morais

Nick Drake –“Pink Moon”(Island | 1972)

“Pink Moon gonna get youall”

Page 34: Marsupial #_1

Zombies ForMoney – “ZFM” (EP)(Kali // Trouble & Bass | 2010)

Dj Manaia, uma das estrelas maisascendentes da música electrónicaportuguesa associa-se a Kliparpara trazer-nos o arrepiantemundo de Zombies For Money.Inicialmente lançado pela KaliRecords (Drop Top e Zeder) eactualmente sob a tutela daTrouble & Bass (de nomes comoAC Slater e Drop The Lime) ZFMé o primeiro lançamento de umadupla que promete incendiar aspistas de dança em todo o mundo.Uma série de ritmos animalescosimpregnados de basslines nomínimo contagiantes e polvilhadosde samples vocais a lembrarZomby, fazem de "BhangraDance" a nossa música preferidade todo EP.Se "Bhangra Dance" nos encheas medidas, já as faixas"Sacanagem" e "Numbra One"lembram-nos de algo que poderiamuito bem ser um b-side de"Machines Don't Care". Apesar doalegre e sussurrante "sacanagem"(na faixa com esse nome) quenos põe um sorriso nos lábios, asfaixas tornam-se um poucocansativas pelo que resultariammelhor se fossem mais curtas.ZFM conta também com remixesde artistas que já dão cartas comoFoamo e Malente & Robinsonassim como das jovens promessaslisboetas Zeder e Drop Top.Remixes estes que elevam asmúsicas originais a outro nível,tanto de agressividade como depotencial explosão da pista.Se a solo cada um destes doisóptimos artistas são incendiários,já seria de esperar que estacolaboração fosse qualquer coisade fabulosa. Ainda assim este EPsoube a pouco muito devido aexpectativas desmedidas da nossaparte. Ficamos assim atentos e àespera do próximo ep Heavy BassChampions Of The World Vol. Va ser editado exclusivamente pelaTrouble & Bass no dia 4 Maiodeste ano.André Carvalho

Os Lululemon, power-duo de Vale de Cambra, editaramrecentemente o primeiro trabalho da banda. Chega emformato EP, dividido - tal como um vinil - em lado A e ladoB, três temas em cada um, influenciados por um blues rockque viaja pelo presente. Esta separação deve-se ao factodos temas terem sido gravados em épocas diferentes emarcarem dois momentos diferentes da ainda curta existênciadeste projecto. Um trabalho a ter em conta e que estádisponível para download gratuito no myspace da banda emwww.myspace.com/lululemonband

Lululemon editam primeirotrabalho

Xinobi –“Day Off” (12")(Work It Baby | 2008)

Há pequenas coisas na vidaque fazem com que esta valhaa pena: O cigarro pela manhã,o pequeno-almoço reforçadoapós uma épica noite de copos,a fatia do meio de uma torrada,estrear cadernos, caminhar naborda do passeio, cantar nochuveiro...Se a junção de todosestes momentos fosse umamúsica, esta seria a Day Offde Xinobi. Vocais de origemsoul misturam-se com um somfunky e ritmado para animaras hostes. Não é de admirarassim que Xinobi, juntamentecom Moullinex, sejam dosnomes mais interessantes damúsica electrónica portuguesaactual. Este 12" conta aindacom uma remistura no mínimoadorável de Anoraak, produtorfrancês membro do colectivo

de artistas Valerie, queaproxima Day Off de um synthpop característico dos anos 80,do tempo dos videojogosoldschool em que as coresmagenta e turquesa reinavam.André Carvalho

Este mês o norte do país foi marcado pela abertura de maisum espaço que se presta a marcar pela inovação dos artistasconvidados. Situado na baixa do Porto, o Villa certamenteé algo a ter em conta. No que toca a lançamentos, os nomesque saltam à vista são o de LCD Soundsystem (que lançamo seu derradeiro álbum) com "This Is Happening" e FlyingLotus com Cosmogramma. Saíram finalmente novos trabalhosdo promissor produtor britânico A1 Bassline (numa mixtapede nome "Ministry") assim como uma mixtape fabulosa deMoullinex (que irá lançar o seu debut ainda este ano) paraa série White Light do blogue com o mesmo nome.Continuamos ansiosamente à espera de novidades acercados novos longa duração de Treasure Fingers, Aeroplanee Uffie, estando já algumas faixas disponíveis para downloadnos blogues da especialidade. Alguns nomes a ter em contapara este mês são: O Children (que acabam de lançar o EP"Ruins"), Monarchy (que finalmente editam o muito esperadoEP "The Phoenix Alive"), Jamaica (ex Poney Poney) eJamtech Foundation, cujo EP "Too Fast" da jovem editora(e proeminente blogue) Discobelle Records anda comelevada rotação em set's de grandes nomes mundiais comoLaidback Luke, Crookers (com actuação marcada noClashClub de 30 de Abril) e Malente (que nos visitou noPlano B para uma actuação de um dos mais importantesduos de dj's do Porto, Twin Turbo).André Carvalho

impressionante que nos levaonde quisermos desde queacompanhada pela músicacerta. “Hats & Chairs” foi aminha última viagem.Pressionei play e recuei umasvalentes décadas até aos anos20, 30 e 40 de 1900, alturaem que a música era feita àmão, sem artefactos outecnologias várias, onde osmúsicos e os artistas sabiammesmo tocar e cantar. Alturaem que o tempo andava maisdevagar.Fui convidado a sentar-me, acolocar o chapéu e a desfrutaratentamente as canções queos The Soaked Lamb metinham para oferecer. E é tãobom ouvi-los e ouvi-la. É tãobom que apetece não desligaresta máquina do tempo, ficarali e aproveitar o sol, ou achuva, ou a neve, ou aconversa. Acima de tudo,aproveitar a vida. “Hats &Chairs”, segundo longa duraçãoda banda, consegue oimpossível. “Hats & Chairs” éum álbum belíssimo que nostransporta para o passado feitono presente com um pé nofuturo recheado de deliciosascanções que transpiram gotasde mel sem nunca serdemasiado doce.JR

Page 35: Marsupial #_1

cada por 10€

inclui

por

tos d

e en

vio

Page 36: Marsupial #_1

Mísia – “Ruas”(Universal | 2009)

Não sei se por viver além fronteiras, sepor não ser mulher de grandes show-offs, a verdade é que se sente umasensação de distância em relação à figurade Mísia; minha; do povo; do país.Naturalmente nem será real mas se fosse,este “Ruas” deveria servirinequivocamente para fazer regressar a

Revolution Within –”Collision”(Rastilho | 2009)

Brutal!Doem só de ouvir, as oito faixas quecompões este “Collission” – contandocom o intróito e o interlúdio. E é assimque nos sentimos: atropelados, tal apujança demonstrada pelo quinteto

Coldfear – “DecadenceIn The Heart Of Man”(Edição de Autor | 2009)

Não é ainda aquele disco definitivo dosColdfear, um EP quase nunca o é, mas éjá a expressão de uma fortepersonalidade. E também não é pelaespecial originalidade do som destesbarcelenses mas sim pela qualidade já

Anaquim – “As Vidasdos Outros”(Universal | 2010)

O Anaquim já chegou. Chegou embaladopor uma pop de cartoon que o levou aostops. Aos tops do mainstream e aosouvidos das pessoas, das pessoas detodos as idades, sexos e gostos. À voltadas coisas da vida, da sua e da dos

Ghosts of Port Royal –“Ghosts of Port Royal”(Edição de Autor | 2009)

Por mais que o tempo se esforce em dizero contrário, há coisas que nunca mudam,nunca morrem. Podem reinventar-se masnunca morrem. O rock’ n’ roll é uma delas.A prová-lo está o EP CD-R que o quartetogravou em 2009, um disco composto por

Simbiose – “FakeDimension”(Rastilho Records | 2009)

“Fake Dimension” não é apenas um disco,é uma forma de ser, uma forma de estar,uma forma de sentir.Ao 4º álbum de originais, agora com seloRastilho Records, a banda de Hugo (voz),Johnie (voz), Luis (bateria), Bifes (baixo)

Hanging By a Name –“II”(Cogwheel Records | 2010)

Valem sempre muito mais quando o somganha uma outra gáspea. É aí que asguitarras se tornam mais intensas e asecção rítmica mais pressionante. Os 10temas de “II”, segundo capítulo da vidados Hanging By a Name, mostram uma

Destaques' A Trompa

outros, de uma forma desprendida e até divertida, Anaquim éum novo e verdadeiro artista popular. Um artista portuguêsdaqueles que respiram[...]

artista Mísia ao centro de nós. Repararam que não disse fadista.Não foi por acaso. E não foi porque Mísia é mais do que o fado,é mais do que Portugal e é mais do que o mundo. E o mundoagradece. “Lisboarium” e “Tourists”, os dois actos deste “Ruas”éisso mesmo, um monumento musical onde o fado insiste emcruzar-se com marchas, mornas e outras sonoridades do mundo.Que belo itinerário o do CD2.[...]

nortenho, bem materializada desde logo na voz poderosíssimade Raça. O resto é puro metal, é puro thrash, com uma secçãorítmica diabólica e uma dupla de guitarras de técnica apurada,catalisadores de um espectáculo rítmico duro, pesado.Absolutamente felinos e não é pelo seu nome surgir vastas vezesassociado à sonoridade dos Pantera, mas sim pela forma destemidacomo o grupo se atira em frente, munido de tudo o que tem paradar. É metal de qualidade.[...]

demonstrada no resultado final. Gravado nos estúdios bracarensesUltrasound e tendo contado com a produção do incontornávelDaniel Cardoso, “Decadence In The Heart Of Man” vive preenchidopor um atraente equilíbrio thrash/death metal melódico. Sem

nunca perder uma estrutura agressiva é constante a intensidade da música dos Coldfear. É pesada, vibrante. É consistente sem nunca entrar em facilitismos de composição. No fundo é apenas a confirmação de uma nova esperança do metal nacional, praticamente já uma certeza.[...]

três temas rock, clássicos, de fortes feições hard, numa sonoridadetípica dos anos 70/80. Sobra a atitude garage de uma banda aviver revivendo, lembrando-nos que também o tempo é o quefazemos dele. Passa sempre, mas não passa da mesma forma.[...]

banda de Coimbra muito mais coesa, mais personalizada edetentora de uma sonoridade que viaja melodiosamente por entreum rock de cariz alternativo. Só falta mesmo, aqui e ali, a sensaçãode uma voz mais encorpada.[...]

Page 37: Marsupial #_1

Minta & The BrookTrout – “Minta & TheBrook Trout”(Edição de Autor | 2009)

Depois de um EP com um título de “You”(Edição de Autor, 2008) a deixar no aruma ideia feliz, este “Minta & The BrookTrout” surge como o desfecho dessa ideia,outra vez feliz. É um disco feliz. A felicidade

Karpe Diem – “KarpeDiem”(Edição de Autor | 2009)

Composto por sete temas, “Karpe Diem”faz uma viagem ao passado e ao presenteda banda de Alverca. É o presente queencontramos reflectido nas primeirasquatro faixas de “Karpe Diem”.Encontramos um descomprometido rock

La la la Ressonance –“Outdoor”(Honeysound | 2009)

Este não é um disco linear; longe disso.Entre a liberdade de uma jam e o concretodo trabalho laboratorial, a música dos Lala la Ressonance é um extenso e dispersomanto sonoro. Sem uma direcçãodefinida, esta pouca linearidade expressa-

se desde logo numa clara atitude transgressora, como os própriosgostam de referir. Entre o contemporâneo e o jazz, arquitectadosa espaços por uma postura e melodias pop, no fim, fica essaatitude transgressora fundamentada numa orientação geral decariz fortemente experimental. Claramente mais irreverente queo anterior, é esta dispersão estética que atrai em “Outdoor”,elevando os La la la Ressonance a um outro patamar criativo.Superiormente etéreo, mais directo e por isso mesmosurpreendente.[...]

Haven Denied –“Symbiosys”(Edição de Autor | 2009)

E não é de fácil análise este segundoálbum dos bracarenses Haven Denied.Mais do que uma simbiose, “Symbiosys”é a expressão da capacidade dediversificação dos Haven Denied. Parauns positivo, para outros nem por isso,

ManInFeast – “HowOne Becomes WhatOne Is”(Edição de Autor | 2009)

“How One Becomes What One Is” é aexpressão de um conceito formulado emvolta da filosofia de Friedrich Nietzsche,do pensamento do economista Sir JohnMaynard Keynes e do livro de Madame

N.do.A..: Os textos aqui apresentados são excertos de artigos originalmente publicado em destaque no blog a trompa. Se pretender ler o texto completodeverá apontar ao endereço http://a-trompa.net.

em português, interpretado por instrumentistas competentes,

a música do grupo bracarense centra-se essencialmente nometal, evoluindo posteriormente para uma forma expansivadeste. Nem só de electricidade vive “Symbiosys”, vive tambémdo acústico. Com maior ou menor agressividade, mais ou menosacelerados e com maior inclinação para o rock ou mesmo parao hard rock, em “Symbiosys” sobressai uma ideia de capacidade,aliada a uma outra de evolução. E é possível evoluir mais.[...]

de “Minta & The Brook Trout” sente-se no mergulho dado na suaenorme subtileza pop-folk. Sente-se naquela paz de espírito queo álbum nos oferece, numa sensação de relaxamento do corpo,da mente, da alma. São 11 canções de um descomprometimentoinequívoco e doce, trilhadas pelo caminho que separa o intimismoda vontade deste se expressar exteriormente, de extravasar. Odisco é uma porta que se abre para a rua, simples e melodiosa,carregada pela voz sempre segura de Minta.[...]

Blavatsky, “A voz do silêncio”. Parece um conceito complexo, éverdade. Exteriormente não é sequer facilmente perceptível, éverdade. É um disco interessante, é igualmente verdade.Estruturado em três momentos diferentes (introspecção, revelaçãoe assimilação), “How One Becomes What One Is” expressa-senum rock de peso de feições fortemente progressivas. É essa amusicalidade que trespassa nos pouco mais de trinta minutos de“How One Becomes What One Is”, mais ou menos exploratórios– como em “Keynesian Model”, mais ou menos convencionais.Pressente-se uma viagem sensorial à coisa do espírito humano,do espírito e do corpo.[...]

e Nuno (Guitarra) chega ainda mais longe, fazendo o que melhor sabe fazer: uma música brutal, explosiva, de gigantescas labaredas, fruto de um cruzamento diabólico entre o mais pesado do metal e o mais duro do hardcore. O resultado éuma máquina sonora absolutamente infernal. Perseverança epersonalidade são as características de uma banda que não baixaguarda, nunca, porque a luta continua todos os dias.[...]

com humildade e uma enorme paixão pelo que fazem. O tal “rockmuito português e sem preconceitos ou ambições desmedidas”que a banda refere na sua biografia. Como se os UHF e os Xutos& Pontapés se cruzassem um dia numa estrada qualquer destepaís. Os Karpe Diem estariam lá também para mostrar como sepreenche a alma de uma banda que pensa em português.[...]

Rui Dinis

http://a-trompa.net

Eventos . Aftershow .Livros . Crónicas .Discos . Ofertas .Fotos . News, e mt+ http://www.fenther.net/

Page 38: Marsupial #_1

Sonic Youth (Porto)

Há sonhos que perseguimos uma vida. Umdesses sonhos era poder ver uma dasminhas bandas preferidas de sempre, osSonic Youth. Sei que, e sendo eles umasdas minhas maiores referências, é umavergonha não os ter visto antes. Mas avida é mesmo assim, o acaso e odesencontro pregam-nos partidas destas.Desde que soube da vinda dos SY esteano a Portugal e mais precisamente aoPorto, que as minhas orelhas arrebitarame o meu rabo não parou de abanar, de tãocontente. Mesmo assim, não marquei naagenda para não dar azar.Sexta-feira, hora de almoço e fica decididoir ver os SY. Bilhete? Ainda não tenho edesejo que ainda haja algum. 19 horas,termina mais uma semana de trabalho eruma-se em direcção ao Porto, maisprecisamente ao Coliseu do Porto e quiso destino e o acaso que ainda houvessebilhetes!

As notícias e críticas a concertos recentesque ia lendo, aliado ao desejo enorme queeu tinha de os ver, colocavam asexpectativas num patamar altíssimo echeguei a duvidar que o concerto dessanoite pudesse alcançar o que imaginava.Pois enganei-me profundamente. Oconcerto superou todas as expectativas e

Sonic Youthhttp://www.myspace.com/sonicyouth.............................................Data: 23 de Abril de 2010Local: Coliseu do Porto (Porto)...........................................crítica: JR

bem, até o próprio caos. Para os encoresficaram os clássicos, no primeiro os temas“The Sprawl” e “Cross The Breeze” nosegundo “Candle” e “Death Valley 69” comum final estrondoso e a terminar com umaimagem que ficará por mais algum tempono meu coração, as guitarras de ThurstonMoore e de Lee Ranaldo bem no alto e atocarem-se, produzindo um feedback “`alá Sonic Youth” terminando em apoteosesónica um concerto perfeito.Os SY são das poucas bandas que existemque nunca cederam a pressões e semprefizeram aquilo que lhes dá na gana, querse goste ou não, o importante para elesé criarem algo com que se sintam bem,transmitir aquilo que sentem e passar paraos instrumentos a paixão, a garra e o amorque está dentro deles. Eles nasceram paraisto. Mais do que um concerto, este foisem dúvida uma lição dada pelos mestresdo rock e sinto-me um privilegiado empoder estar presente.

Há ainda muita comoção dentro de mime talvez seja demasiado cedo para o dizer,mas provavelmente este foi o concerto daminha vida! O sonho perseguido estáfinalmente realizado e quem sabe não serárepetido? Espero que sim…

foi muito mais do queesperava dele, foisimplesmente soberbo,apenas ao alcance dosdeuses. As quatro primeirasmúsicas colocaram-me nocéu, sentado numa nuvem,com um sorriso de orelha aorelha e só não me caíramalgumas lágrimas decontentamento pela faceporque tive vergonha. Erapossível, estava a acontecerali mesmo à minha frente,um “concertão” daqueles quesó se vê uma vez na vida.Algumas vozes criticaram porter sido um concerto muito“The Eternal”. Sim, éverdade, “The Eternal” foipassado a pente fino mastambém é verdade que oreferido álbum é um dosmelhores trabalhos dos SY,recheado de canções de rockfabulosas com apersonalidade vincada dosSY que nos fazem viajar portoda a carreira deles. Paraalém disso, o álbum resultana perfeição ao vivo. Bem,saindo das mãos daqueleseternamente jovens sónicos,tudo soa bem, tudo resulta

Page 39: Marsupial #_1

Desconhecia o trabalho dos Riding Pânico.Já tinha lido coisas muito boas acercadeste projecto mas nada mais que isso.Foi uma enorme surpresa e mesmoparecendo em muitas alturas fruto deimproviso deram a ideia que em Portugalhá malta bastante capaz de criar barulhoaudível e contagiante.

Quanto aos Mouth of the Architect comum EP tão bom como “The ViolenceBeneath” era difícil imaginar que não fossebom. Quando os três moços se juntam nagritaria é impossível ficar indiferente e nãolevar uma enorme chapada sonora. Penaque o concerto de Kylesa ainda estivessemuito presente e fosse difícil entrar porcompleto no ambiente criado.

Sonic Youth (Lisboa)O confronto de gerações esteve bastantepresente neste concerto. Actualmente nãoserá muito fácil encontrar bandas que aolongo de tantos anos tenham marcadotantas pessoas. Neste contexto, eracurioso verificar que havia quem queriafaixas antigas de álbuns como “DaydreamNation”, “Goo”, “Sister” ou “EVOL”, comotambém havia muita gente que talveztivesse tido o primeiro contacto com abanda através do mais recente registo“The Eternal”.

As expectativas eram muito altas, muitoporque os alinhamentos em Espanhaforam um autêntico destilar de clássicose muito pouco centrado no mais recenteálbum. Não é que ache “The Eternal” umálbum menor, é um bom disco mas nãoconsegue competir com nenhum dosálbuns anteriormente mencionados. Ogrande defeito deste concerto foi mesmoesse, a performance quase na íntegra donovo álbum, tendo ficado para o fimalgumas faixas que queria ouvir como“Shadow of a Doubt” e “Death Valley 69”.

Sonic Youthhttp://www.myspace.com/sonicyouth.............................................Data: 22 de Abril de 2010Local: Coliseu dos Recreios, Lisboa...........................................Mouth of the Architect+ Riding Pânicohttp://www.myspace.com/mouthofthearchitecthttp://www.myspace.com/ridingpanico.............................................Data: 21 de Abril de 2010Local: Musicbox, Lisboa...........................................crítica e fotos: Tiago Esteves

Mouth of the Architecte Riding Pânico

De resto, é importante mencionar que maisuma vez comprovo que talvez estes SonicYouth só venham a terminar as suascarreiras quando estiverem na cova. Éimpressionante verificar o imenso prazerque continuam a retirar de cada concertoe a forma acriançada como continuam atocar. Não são miúdos, muito pelo contrário,e a continuação do debitar de ruído e riffsbarulhentos é de louvar.

O concerto vai ficar com certeza namemória de todos os que estiverampresentes mas terá tido demasiado “TheEternal” para se tornar mítico e eterno.

Page 40: Marsupial #_1

Duff e O Diligentewww.myspace.com/duffplacewww.myspace/odiligente.............................................Data: 20 de Março de 2010Local: V5, Porto...........................................fotos: Ana Lobão

DUFF eO Diligente

Page 41: Marsupial #_1

Sou um velho de 30 anos. Um velho

acabado, queimado: a caminho da

demência absoluta. Sou um velho. E a

velhice, ficas agora a saber, nada tem que

ver com a idade. Não entendeste? É

natural: estás cheché de todo.

Os velhos não têm paciência, pensam que

sabem tudo, passam a vida a contar

histórias que já contaram dezenas de vezes

e têm alguns problemas de erecção. E é

por isso, com excepção de uma das

premissas que acabei de enunciar, que eu

sou um velho. Sou um velho porque já

não tenho paciência para a juventude.

Nem sequer para os adultos. Nem sequer

para as crianças. Resumindo: não tenho

paciência. E imaginar que tiveste paciência

para aí estares, ainda, a leres estas

bojardas que eu escrevo tira-me, admito,

do sério. Vai à tua vida, rapaz.

A velhice detecta-se em muitos locais. Mas

sobretudo nas caixas de supermercado.

Nas caixas de supermercado, os velhos

acreditam que todos são parvos – excepto

eles. Porque o velho faz questão de, de

modo descarado, passar à frente dos

outros. É como se o seu estado de alma

– que faz dele velho – lhe permitisse deter

um passe especial: um passe que lhe dá

prioridade em qualquer situação. O velho

olha para os restantes humanos como

pobres coitados – que ainda não

perceberam que estão a caminho de ser

velhos. O velho tem, por isso, a humildade

de nada lhes dizer – a troco de lhe ser

dada permissão para fazer dos outros

imbecis. O velho é um ex-imbecil. Porque

só há dois estados entre a humanidade:

a imbecilidade; e a ex-imbecilidade. Ao

saber que ainda aí estás, é fácil de saber

de que lado estás tu.

Sou um velho de 30 anos. Já fui imbecil.

Agora sou apenas infeliz. É isso o que o

velho é: infeliz. Infeliz porque tudo o que

era bom já passou – e tudo o que é mau

está por vir. Infeliz porque o pénis não

ergue, porque o comando da televisão

avariou, porque a mulher que ama é, como

ele, uma velha de todo o tamanho. O velho

– que, reitero, pode até ter (como eu) 30

anos – acredita que o mundo inteiro

conspira contra si. Melhor: o velho tem a

certeza absoluta (e é capaz de o atestar

com os mais variados factos) de que o

mundo inteiro conspira contra si. Ou, se

não conspira, está prestes a conspirar. Ou,

se não está prestes a conspirar, tem uma

grande vontade de, um dia, o vir a fazer.

O velho acredita que tudo o que está à

volta está ali para o ver sofrer, para o ver

penar, para o ver cair. E tu acabaste de

cair: isto tudo que escrevi até agora era

brincadeira. O que, tendo em conta o

tempo que te fez perder, não é brincadeira

nenhuma. Mas, nas últimas linhas do texto,

vou compensar-te com algo de sério. Bora!

Agora a sério: há dois tipos de velhos –

os velhos com futuro; e os velhos sem

futuro (ou: os velhos só com passado).

Os velhos com futuro são os velhos

porreiraços, que vivem, na reforma, a

segunda adolescência: vestem-se bem,

estão sempre com um sorriso nos lábios,

adoram passear com os netos, os filhos,

Os velhos com futuro são os velhos Viagra – para quem o futuro, mesmo

que curto, é algo que merece ser constantemente erguido: algo que vale

sempre a pena. Os velhos sem futuro, pelo contrário, metem pena.

Escolhe: imbecil ou ex-imbecil?

Por Pedro Chagas Freitaswww.pedrochagasfreitas.blogspot.com/

a esposa – e alguns até com as

amantes. Os velhos com futuro

são os velhos Viagra – para quem

o futuro, mesmo que curto, é

algo que merece ser

constantemente erguido: algo

que vale sempre a pena. Os

velhos sem futuro, pelo contrário,

metem pena. Temem, a cada

segundo que passa, que seja o

último, tratam os outros como

seres inferiores – que ainda têm

muito que viver até estarem à

altura de entender o que eles,

desgraçados, sofrem. Os velhos

sem futuro são os velhos Aspegic

– pó dentro de um pacote

fechado: já estão mortos; mas

a natureza insiste em manter-

lhes o coração a trabalhar. Eu,

admito, sou um velho atípico.

Um velho Aspegic Viagra. Esta

jovem, de aspecto levemente

vulgar, com quem hoje partilho

a cama que o diga. Ou que o

gema, bá.

Page 42: Marsupial #_1

“Smolik” arrecadou o prémio de melhorfilme de animação português no FestivalMostra em 2009 - “A participação e aconsequente vitória na categoria de melhorfilme português de estudantes no festivalMostra ainda hoje tem repercussões poiso festival tem muita visibilidade a nívelnacional e internacional” - e ainda foivencedor de melhor jovem criador nofestival Ovarvídeo de 2009.Sobre a animação nacional Cristiano aindadisse - “Portugal tem talento e já deu

Smolik de Cristiano Mourato no Festival Animafest ZagrebConsiderado o 2º festival de animaçãomais antigo da Europa, o 20º World Festivalof Animated Film – Animafest Zagreb –seleccionou a curta “Smolik” do jovemportuguês Cristiano Mourato para integrara secção Student Competition. A capitalcroata foi escolhida para sediar o festivalentre os dias 1 e 6 de Junho.Natural de Lisboa, Cristiano Mourato nasceuem 1986 e enveredou pela animação depoisde ter assistido ao filme de José MiguelRibeiro – “A Suspeita”. Começou os seusestudos na área do cinema de animaçãonos cursos do CITEN – Fundação CalousteGulbenkian no ano de 2004. “Yulunga” éuma das suas obras mais conhecidas e jálhe valeu participações em diversos festivaispor todo o mundo e alguns prémios.Baseou-se no tema dos Dead Can Dancepara trabalhar nessa curta. Em “Smolik”decidiu trabalhar com o compositorFernando Mota - “O resultado não poderiater sido melhor. Para além do projecto terganho dimensão, foi uma experiência muitoboa. Sinto-me privilegiado. Ele é um grandeprofissional” – referiu Cristiano.

Zootrópio Por Nuno Silvawww.sparkuberalles.blogspot.com/

http://www.smolik-themovie.com/

provas que consegue estar no palmarésinternacional no que toca a curtas-metragens, mas no que diz respeito aséries ou outro tipo de produção industrialas coisas não são tão agradáveis.Precisamos fundamentalmente devisibilidade nos mercados internacionais.Precisamos de mais apoios, especialmentedo Estado. Mas existe outro problema quepenso ser fundamental, Portugal precisade formação de qualidade”.

tendo sido, inclusivamente, já premiado.O livro de Kleist ilustra praticamente avida de Cash desde a sua infância,passando pelo famoso concerto no FolsomPrison e pelas últimas sessões de gravaçãocom o produtor americano Rick Rubin.“O meu Pai tinha um disco de Cash elembro-me de ver uma fotografia dele lápor casa todo vestido de preto e penseique deveria ser um tipo porreiro.” - afirmouKleist - “A primeira vez que comecei aouvir com mais atenção a sua discografiafoi quando saiu o“American Recordings”.Antes disso conhecia apenas algumasmúsicas como "Ring of Fire” e “A BoyNamed Sue" e ainda outras que se ouviamna rádio. Fiquei realmente impressionadocom os álbuns American Recordings poiseram de uma enorme intensidade.”Kleist afirmou ainda que o livro surgiu noseio de uma discussão com a editora alemãCarlsen Verlag sobre representações demúsica ao vivo em banda desenhada.Deparou-se, posteriormente, com abiografia de Cash mas antes porém umamigo tinha-lhe facultado o livro dabiografia do alemão Franz Beast Dobler -“The Beast in Me” – não era exactamenteaquilo que procurava. Por conseguinte, foi

Foi lançada recentemente pelo alemãoReinhard Kleist a biografia de Johnny Cashem banda desenhada. “Johnny Cash: ISee a Darkness” é um excelente trabalho

sobre a vida de Cash que resolveu trabalhartendo ficado plenamente satisfeito com asua escolha.O autor indicou ainda que foi bastanteemocionante ter feito referência ao míticoconcerto no Folsom Prison onde se destacaGlen Sherley pois não este era uma merauma personagem. O prisioneiro reflecteuma verdadeira preocupação com aliberdade mostrando não só uma vontadede se libertar da prisão física que o isolamas do próprio cativeiro que construiu emtorno de si mesmo e em relação aos outros- luta que Johnny Cash também travoutoda a vida e em que por vezes não foimuito bem sucedido.São assim imagens expressivas e comuma dinâmica cinematográfica através dasquais Kleist narra os altos e baixos do Manin Black, os seus sucessos e fracassosprovocados pelo consumo excessivo dedrogas e álcool. Mas é justamente estacomplexidade que caracteriza apersonalidade de Johnny Cash, esta deu-lhe energia para se insurgir contra a políticados EUA e para lutar pelos direitos dosexcluídos.

Este é para mim um dos livros de bandadesenhada do ano. Recomendo!

Johnny Cash em Banda Desenhada

Page 43: Marsupial #_1

Penso pouco para o demasiado que há.

Acho que quero ter algumas conclusões.

Conclusões que me acalmem um pouco

do bocado que constantemente me

apoquenta. Ao longo dos anos que me

cilindram com a necessidade de atirar o

idealismo cano abaixo, afrontei-me de

ideias que se tentam desmoronar a cada

hora. Mas quanto mais perto estou de as

deixar cair mais próximas da sua

concretização elas me parecem.

Convençam-se, não há segredo mais bem

guardado no mundo que viver. Às vezes

parvos, abalados e deprimidos julgamo-

nos incapazes de mais duas ou três frases

de filosofia barata que nos levante a moral.

Isso é fácil e certamente nada nos dirá ou

provará o contrário. É a era da auto-ajuda.

Não consigo entender como vamos

continuar, como iremos conseguir continuar

mas sei que vamos continuar. Diz ele que

é "enquanto houver estrada para andar".

Nestes tempos continuo a bater, de frente,

com a opinião que todos têm e que se

acham capazes de dar. Declarar que se

gosta ou não se gosta tem e faz todo o

sentido mas gostar de julgar e rotular,

numa tentativa desprezável de condenação,

parece-me, sem qualquer pudor, errado.

O gosto de cada um é o gosto de cada um

mas a opinião de cada um também o é.

Teremos todos que saber a opinião de

todos sem sequer a querermos saber?

Porque hei-de eu ter que saber se gostam

ou não da forma de eu falar? Se não me

querem ouvir não me ouvem, não é

necessário fazer de cada frase minha um

cavalo de batalha. A esta altura o leitor

poderá pensar que sou alvo de críticas

constantes mas muito pelo contrário, a

apatia é um factor que continua a

predominar neste nosso tão gostoso meio.

Opiniões há mas só quando algo vai directo

ao receptor. O receptor recebe, não

procura, recebe. Estranho, não? Agora até

temos de filtrar uma quantidade infindável

de coisas que nos chegam para podermos

ser capaz de apreciar algumas delas.

Entenda-se na música que de música falo

e quando de música falo, falo

necessariamente da vida, sem parar, sem

nunca parar.

O facebook, ah, que coisa maravilhosa, o

facebook. Então colocamos vídeos e frases

que gostamos, dizemos o que fazemos de

manhã, à tarde e à noite e "os nossos

amigos" comentam alegremente. Gosto

tanto da contemporaneidade. Uns dizem,

os outros reclamam, os outros criticam e

tantos amigos que eu tenho no facebook,

uns mil e tal que dão as suas opiniões

mesmo quando não se pedem. Há quem

me diga que as opiniões são para ser dadas

quando as pedimos. Não concordando em

absoluto com isso, deslumbro-me com o

como é fácil agradar a esta geração de

voyers, "my g-g-generation". Adoro

provocar um e outro com coisas que

simplesmente são o que são, mas logo e

imediatamente tenho as reacções tão, mas

tão boas de conhecidos e entendidos da

matéria que espezinham e reduzem algo

que nem nos seus mais bonitos sonhos,

alguém que tenham sequer conhecido,

conseguiu. Ora bem, quando vemos uma

banda, no youtube, num qualquer concerto

a tocar para cerca de, digamos, sem poder

precisar, vinte mil pessoas (caso em

questão, rock am ring 2009, banda em

questão, limp bizkit) e desses míseros

milhares, vermos uma massa humana a

saltar e a desfrutar de uma simples

descarga de energia, despoletada por esses

senhores trintões que fazem, desde

sempre, aquilo que lhes apetece, de boné

para trás, que podemos dizer? Ora bem,

gostava muito disto quando tinha catorze

anos. Eu, com os meus vinte e oito anos,

gostava daquilo por alturas do three dollar

bill e do significant other. Não deixei de

gostar, hoje. Se calhar sou um gajo que

não evolui e consigo até admitir que o

Chocolate Starfish tinha músicas bastante

fracas, ou então, que a mim já pouco me

diziam, mas situando-me melhor no tempo,

mil novecentos e noventa e nove era o

ano do Significant Other que eu comprei

numa loja mal saiu e que ainda hoje me

faz bater o pé e ter a vontade de dizer

para pegares no teu nookie e o enfiares

pelo teu ass acima, porque honestamente,

eu não quero saber. Houve muitas

conversas em que falei de guilty pleasures,

com amigos, de bandas das quais gosto

muito e que a maior parte das pessoas

acha parolo, infantil, mas porque raio hei-

Pensar pouco para o demasiado que háwww.obsessividadespeculativa.blogspot.com/

Por Davide Lobão

-de eu gostar de algo só porque

é cool? Na minha linha de trabalho

isso significaria estar a mudar o

estilo da música que faço

conforme as modas. Eu entendo

que todos nós nos adaptemos

aos tempos, mas não entendo

que nos desrespeitemos por

causa das coisas que gostamos.

Em situações práticas da vida é

bastante óbvio, noutras nem por

isso. São os novos tempos, os

tempos em que não queremos

saber uns dos outros senão de

nós próprios. Aqui não sublinho

o "eu não quero saber", sublinho

antes o "eu quero saber". Quero

ouvir outra banda, outra música.

Quero ouvir e saber porque é que

se catalogam dezenas de estilos

musicais dentro de um estilo

chamado metal. Quero saber

porque é que o rock e o punk não

são formas de estar nas cabeças

dos outros, quero saber porque

é que são motivos de crítica.

Quero saber porque é que

proibimos as pessoas de fazerem

coisas que só as prejudicam a

elas. Quero saber porque é que

a anarquia é o caos para todos e

não o supremo estado. Quero

saber, e hei-de continuar à

procura. Dizer todos dizemos,

fazer vinte mil pessoas entrar em

êxtase com a música que

tocamos, é um feito para poucos

nesta nossa pequeníssima

existência.

Que muitas e mais pessoas sejam

capazes de fazer música para

todos cantarmos e dançarmos

juntos enquanto bebemos e

fumamos e rimos.

Page 44: Marsupial #_1

www.omarsupilami.net