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o diario de bordo

Marjorie, o diário de bordo

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This is my Design Graduation Final Project at FAAC, UNESP-Bauru in Brazil. "Marjorie" is a collection of body adornments that briefly reveals the story of the search for identity and the end of my graduation through my personal experiences with their crises and syncretism.

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"Marjorie"Projeto de Conclusão de CursoDesign com Habilitação em Projeto de Produto

Natália Helena dos Santos de Toledo Orientação Prof. Dr. Claudio Roberto y Goya

Departamento de DesignFaculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - FAACUniversidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP

Bauru, São Paulo2012

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“A Lagarta e Alice ficaram olhando uma para a outra algum tempo em silêncio. Finalmente a Lagarta tirou o narguilé da boca e se diri-

giu a ela numa voz lânguida, sonolenta.“Quem é você?" perguntou a Lagarta.

Não era um começo de conversa animador. Alice respondeu, meio encabulada. "Eu... eu mal sei, Sir, neste exato momento...pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já

eu mesma, entende?""Não entendo", disse a Lagarta.

"Receio não poder ser mais clara", Alice respondeu com muita poli-dez, "pois eu mesma não consigo entender, para começar; e ser de

tantos tamanhos diferentes num dia é muito perturbador.’”(CARROLL, Lewis; Aventuras de Alice no País das Maravilhas)

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Resumo 5Abstract 5

Introdução 6Contextualizando 7O pior não tem limites 7A arte de procrastinar 8Mudança de planos 9Um novo começo para um novo fim 11Eondequerochegarcomtudoisso? 13Receitadomeubolo 17

Nãoestousozinha 26DesignTUN 26AuDICTIONS Brasil 29Exposição Jóias Contemporâneas: Brasil e Dinamarca 32Noah Maxman 37Mana Bernardes 38

Históriadavidapeloobjeto,históriadoobjetoatravésdavida 41Conceito 41Eu por vocês, vocês em mim 47Execução de Protótipos 54

Finaldanovela 64

Eagora? 85

Naminhacabeceira 87

Agradecimentos 89

Falaqueeuteescuto 91

Sumário

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“Marjorie” é uma coleção de adornos corporais que conta brevemente a trajetória da busca pela identidade da orien-tanda através de experiências pessoais, com suas crises e sincretismos, dialogando com a construção da identidade cultural brasileira.

“Marjorie” is a collection of body adornments that briefly reveals us the history of the under graduating student’s quest for self identity through its personal experiences, with its crises and syncretisms that dialogue with the foundation of the Bra-zilian cultural identity itself.,

Resumo

Abstract

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Fazer esse trabalho não foi um processo fácil. A faculdade foi uma fase incrível e intensa. Entrei cheia de incertezas, sem saber o que era efetivamente Design, qual área me interessava e se era mesmo o que eu queria fazer. A Unesp era minha meta de cursinho, mas foi uma escolha relativamente fácil continuar em Bauru. No primeiro dia de aula, nós, bixos (gírias paulista para calouro) incrivelmente assustados, ficamos em pânico quando começaram a colocar plaquinha em nós, depois de mil banhos de tintas no trote. De repente, chegam duas meninas, olham pra mim e conversam entre si: “Que você acha?”- disse a menina loira do cabelo comprido. “Pode ser essa!”, respondeu a outra loira, emendando: “BIXETE, não perde essa placa!”. E foi assim, pelas mãos da Camila Botelho e da Laura Garcia que nasceu a Marge. Logo depois da placa de papel sulfite, me pintaram inteira de amarelo e me fantasiaram de Marge Simpson. Dali em diante, conheci incontáveis (sério) pessoas que queriam que eu decorrasse o nome delas e ficavam bravas se eu esquecesse. Era muito assédio todo dia: os veteranos vinham, perguntavam como estavamos, se estava tudo bem, judiavam um pouco, colocavam medo na gente, mas sempre acolhendo muito bem os novatos (sempre acreditei que isso só fez bem para nós; depois que passou, claro).Conforme os anos e o curso foram passando, fui mudando. Virei a bixete de Bauru que ia em festa, virei a veterana má, a Marge do LabSol, a menina dos eventos, a menina que não dormia. Quando foi chegando a hora de me formar, eu tive muita dificuldade de lidar com essa cisão.Contrariando minha vontade, cheguei ao quarto ano e comecei a tão temida “Introdução ao PCC” (que nome mais marginal para o fim da minha gradação). A primeira aula foi um soco no estômago. A professora, que gosta de fazer o estilo durona mal humorada, mostrou um monte de trabalhos falando que precisávamos definir nossa proposta e começar a pesquisa teórica naquele semestre.

Introdução

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No fim da aula, a depressão era coletiva. Estávamos nós, quarenta alunos do Design de Produto cabisbaixos assombrados pelo monstro do TCC (que vou chamar errado o trabalho inteiro, não me conformo com a sigla PCC). As lendas eram as piores possíveis: você não vai dormir, é muito difícil, seu orientador não vai deixar você fazer o que quer, mas estava na hora de enfrentá-los.Esse fatídico semestre também era o que eu estava decidida a sair do LabSol. Essa cissão também foi bem dolorosa, situação complicada pelo meu envolvimento profissional e emocional com o Laboratório, que era muito e intenso. E esse semestre foi assim, entre criar o que seria meu TCC, tentar sair do Labsol e fazer algo novo da minha vida.E assim se passou 2011, o ano que eu deveria me tornar designer, mas alguma coisa deu errado. Para entender melhor a cronologia dos fatos, vamos contextualizar.

ContextualizandoO pior não tem limites

(texto de 12 de março de 2011, publicado em opiornaotemlimites.blogspot.com)

Tudo começou quando meu querido professor, amigo e segundo pai Claudio Goya virou para mim e disse: “Naty, encontrei uma frase que é a sua cara, prepare-se...O PIOR NÃO TEM LIMITES!”Eu, que esperava uma frase de efeito, motivadora e positiva, ou bem contraventora, na hora fiquei um pouco decepcionada, mas não demorou cinco minutos pra eu concordar e rirmos especulando sobre todo o conteúdo obscuro da frase.Quem não me conhece que me compre: eu sou absurdamente crítica. Quando estou de mal humor então, a criticidade dobra e tenho que me controlar para não me tornar uma bela de uma chata.Tudo era bem mais intenso e descontrolado quando eu era mais nova. Um dia, fiz um plano à longo prazo de me tornar uma pessoa melhor e

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tenho tentado controlar os meus defeitos e aprimorar minhas qualidades com o tempo. Até que tem dado certo.Estou desde o ano passado pensando em criar um blog pra falar sobre meu Projeto de Conclusão de Curso, agora com essa nova sigla do crime, PCC, mas como boa procrastinadora, enrolei até o presente momento. Desde essa idéia, em outubro de 2010, pasme, quando escrevi minha primeira folha de idéias sobre direções a tomar no meu PCC, aconteceram muitas reviravoltas na minha vida...”

A arte de procrastinar(texto de 23 de março de 2011, publicado em opiornaotemlimites.blogspot.com)

Já que o pior não tem limites, sejamos realistas: atire a primeira pedra quem nunca procrastinou. Seja o que for: aquele trabalho da faculdade, a arrumação do armário, responder um e-mail, qualquer coisa que você pensa “Ah, daqui a pouquinho eu faço...” e vai deixando. Eu estou numa fase muito ruim de procrastinação (palavra que aprendi primeiro em inglês numa música da Britney Spears, muita cultura).Não que eu ache isso bonito, muitíssimo pelo contrário! Isso tem sido uma dificuldade séria que todo dia eu penso que tenho que corrigir e tem efetivamente me atrapalhado. O hábito mais estranho que adquiri ultimamente é não fazer o que preciso em ordem de prioridade. Por exemplo, eu tenho uma série de coisas pra fazer, algumas urgentes, outras nem tanto, e quando vou começar a fazê-las, ao invés de começar pela super urgente, eu começo por outra. Eu sei, é ridículo, mas tem acontecido. Veja por exemplo, agora: eu deveria estar escrevendo artigos sobre projetos do LabSol, que o prazo final do Congresso que vamos enviar é nesta sexta feira, mas resolvi postar no blog. Não posso dizer que foi uma escolha ruim, só não foi a mais urgente.Depois do primeiro post, várias vezes pensei em fazer outros contando alguns fatos. Cheguei até a abrir o blogger, mas sempre acabava desistindo, afinal, se a fase é de procrastinar, não vamos deixar nenhuma

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atividade de fora.Durante esse tempo sem escrever, fiquei pensando se eu não postasse os fatos em ordem cronológica faria alguma diferença, mas acho que esse detalhe é mínimo. Portanto, a regra é a seguinte: Escreve-se o que tem vontade. A de hoje foi de escrever um pouco sobre essa mania estranha de prioridade erradas e procrastinação, aplicando a teoria na prática, enquanto eu brinco com minha gata (com um novelo amarrado no dedão do meu pé que fico puxando de um lado pro outro, seguindo as recomendações do meu namorado numa tentativa desesperada dela gostar mais de mim do que dele...assunto para outro post). De qualquer forma, vou tentar não procrastinar mais meu sono.

Mudança de planos(texto de 1 de setembro de 2011, publicado em www.opiornaotemlimites.blogspot.com)

Já havia pensado esses dias que gostaria de retomar o blog, mas depois de me perguntarem por ele ontem, não resisti: voltei! :)

Nesses mais de cinco meses sem postar, houveram muitas mudanças:

1 - Sobre a arte de procrastinarFoi lindo ler o último poste e ver que consegui melhorar! :)Estou procurando ter metas, muito foco, e cumprí-las com rigidez.Eu que já era adepta das listinhas e da agenda (aquela de papel, acredita?), tenho organizado meus dias loucamente e tentado cumprir toda a programação. Na verdade, devo isso ao André! Confesso que andei meio descontrolada e ele é sempre a pessoa que, pacientemente, me diz que a vida não é fácil mesmo e que tenho que persistir nos meus objetivos. Acho que finalmente, estou aprendendo a dar conta da minha vida como um todo :) (...)

3. AliceAchei engraçado ler sobre a Alice! Hoje ela já é uma adolescente,

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grande e esporadicamente revoltada...e me ama mais que o André! Algumas vezes eu quis matá-la (como o dia que dormi fora e ela fez coco na minha cama e ficou TUDO fedendo), mas normalmente ela é uma gata muito da boazinha! (muitas borrifadas depois). Ela virou uma animação na matéria de Marketing II (vídeo “Alice”) e em breve será castrada. Logo ela virará a gata gorda e preguiçosa, sonho do pai dela :)

4. TCCClaro que deixei pra falar do TCC (aliás, PCC) por último porque esse tópico demanda mais profundidade. Eu que estava contando com ter o projeto para Iniciação Científica aprovada para fazer meu PCC em um ano, tive que repensar todos meus planos. O projeto não foi aprovado e meu pai, depois de muitos argumentos sensatos, me convenceu que tinha que me formar no tempo certo, ou seja, no fim desse ano.Então, tive que repensar todo meu trabalho. Ando com mania de sofrer e claro, sofri horrores até ter aquela conversa com o orientador onde eu chorei por nada. Mais uma vez, ele foi a pessoas sensata que disse que poderia me formar até o fim do ano e vai ficar tudo bem (Goya, seu lindo! <3).Então, surgiu a idéia mais genial e mais louca do que fazer de PCC: UM LIVRO! Houveram amigos que falaram que não era minha cara, mas depois de pensar se isso seria uma boa idéia mesmo, me empolguei com a idéia porque: 1. tenho uma paixão louca por livros! 2. boatos que escrevo bem. Convenhamos, sempre fui a pessoa que tinha que fazer o relatório de todo e qualquer trabalho, já aceitei isso na minha vida. Escrever um livro parece bem legal! (embora nem sempre eu consiga falar sobre isso com alegria, afinal, é o trabalha que vai cortar meu vínculo oficial com essa coisa linda chamada universidade)Passei por uma fase de negação. Vou te falar que não é fácil aceitar que você vai se formar. A faculdade foi algo tão incrível pra mim! Mas depois de mais ou menos um mês, já passei pra fase de aceitação e agora estou lendo aproximadamente seis (eu disse SEIS) livros pra escrever três textos pra daqui uma semana.

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Tem sido cansativo, mas bacana! Ainda tenho que ir um dia (oficialmente) na faculdade porque tenho matérias, mas de resto, estou tentando cada vez mais direcionar meu tempo pra isso.Tenho fé que vai dar! Tenho 29 dias caso haja alguma emergência e é bom eu por essa minha cabeça pra render!Aliás, meu livro vai ser sobre Ecodesign, Sustentabilidade e Design Social, ou seja, essa vivência toda que foi a faculdade pra mim. Devo postar algo sobre quando meus textos começarem a sair.

Um novo começo para um novo fim(texto de 23 de março de 2012, publicado em opiornaotemlimites.blogspot.com) Depois de perceber que, realmente, eu estava ficando mais maluca que o normal, resolvi trancar meu TCC e fazer terapia. Bem que eu disse que precisava dela. Essa decisão veio acompanhada de muitos medos, choro e uma série de conseqüências, mas acreditando cegamente nos meus instintos malucos e o que acreditava ser melhor pra mim, não deixe de fazer nada e fui em frente.Assim, continue vivendo minha vida onde a única regra que continuei levando muito a sério é comer de três em três horas (se você é gastrítico, você me entende). A terapia de fato me ajudou a controlar minha ansiedade e pensar que talvez, mesmo sem estar formada, fosse hora de eu dar um (ou dois) passo(s) à frente. Aconteceram coisas incrivelmente ruins, que me rendeu vinte e um dias ininterruptos de dor de cabeça, e coisas incrivelmente boas, como um estágio de um mês em um Estúdio de designers famosos em São Paulo. De repente, lá estava eu, morando mais tempo de favor na casa de amigos em São Paulo do que na casa onde minha vida material morava. A partir dai, a história da minha vida tem acontecido de uma forma muito engraçada. Voltei para Bauru fingir que ainda morava lá, fui pra Belo Horizonte onde conheci pessoas que vou levar para toda minha vida em um CoNE Design (e sai de lá como encrenqueira) e passei por alguns momentos de incerteza até finalmente ter que me mudar para

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São Paulo.No semestre passado, eu fazia discursos falando que eu precisava de alguma coisa muito forte para me tirar do LabSol. E de repente, do dia para noite, consegui o estágio (tão por acaso, tão cheio de aventuras) no Estúdio. A partir daquele mês de São Paulo, eu sabia que meu lugar não era mais em Bauru. A única coisa que me fazia pensar em ficar lá era todo meu amor pelo interior e por um moreno de 1,81m. Mas nada me tirava da cabeça que ficar em Bauru, pacatamente fazendo meu TCC para poder arranjar um trabalho bacana depois, talvez trabalhando em qualquer coisa contra meus princípios apenas para cumprir as etapas de um jeito convencional fosse melhor. Eu, teimosa que sou, vim conhecer a Design Possível, prestei seletiva e de repente, estava aqui.Já faz quase um mês que tive que empacotar minha vida e desmontar móveis em um fim de semana, confiar minha gata ao meu gato (e vice e versa) e vir pra São Paulo sem casa, meio sem dinheiro, meio sem saber como ia realmente ser. Desde então, estou trabalhando muito, procurando casa e, finalmente, fazendo o TCC que eu realmente quero. Minha lição de tudo isso foi: não nasci para seguir caminhos lineares. Por mais que eu queira, tente, não consigo desligar o modo aventura da minha vida. Mas quer saber mesmo? Que ótimo começo para um ótimo novo fim :)

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“Os objetos não existem no vácuo; são parte de uma complexa coreografia de intenções” (SUJIC, D.; A linguagem das coisas, pág. 54, 2010)

A construção da minha identidade sempre foi algo muito confuso para mim. Minha família tem ascendentes em cinco países europeus diferentes e isso quis dizer na minha vida inteira, basicamente, NADA.Sempre instiguei minhas avós, que eram quem aparentemente detiam esse conhecimento, para elas me contarem melhor de onde veio a nossa família, o que faziam, porque acabaram no Brasil. Quando elas estavam inspiradas, elas contavam histórias bem genéricas sobre como por exemplo, eles vieram para o Brasil em um navio e foram trabalhar no sítio.A minha avó Erminda gostava de contar sobre a nonna (a avó da vovó. não é engraçado pensar que ela tem avó? ela sempre teve cabelo branco!), mas o comentário geral era que ela era brava (como todas mulheres da família). Já a minha avó Rita, depois de anos de investida, me contou que uma parte da família veio da região de Porto, na Espanha, e veio pro Brasil por causa de alguma guerra ou oportunidade (infelizmente, não tive a oportunidade de verificar a história). Estabeleceram-se em Guararapes, onde plantavam e vendiam algo (abacaxi?) e depois mudaram para São Paulo. Depois a dona Rita ainda se mudou para Botucatu e para Bauru, onde casou-se e teve três filhos.

Eondequerochegarcomtudoisso?

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Uma vez, um parente fez um levantamento de familiares pelo Brasil (pasmem). Fiquei muito animada em ler e tentar entender algo novo, mas para minha decepção, esse levantamento era apenas um discrimação de quem era parente de quem e todos Toledo, de uma forma bem confusa. Sem uma tradição familiar forte, passei um bom tempo da minha vida tentando entender a qual cultura eu pertencia. Afinal, a que lugar eu pertencia?Dentro dessa minhas buscas conscientes e inconscientes, fiz várias atividade que pertenciam a várias outras culturas e talvez não a minha. Será que eu passaria o resto da minha vida sentindo não pertencer a lugar nenhum? Isso foi tão longe que quando percebi, esse era o meu principal foco dentro do trabalho: valorizar a identidade local dos grupos de atendidos do LabSol (explicações posteriores). Demorei muito tempo pra decidir o que queria fazer de TCC pelo simples fato de não conseguir entender o que eu gostava. Durante a graduação, as minhas escolhas pelos projetos sempre foram guiadas pelos professores. O problema de ter ficado passiva nesse processo é que quando pude escolher o que projetar e qual o tema, não conseguia achar nada o suficientemente interessante para ser “A escolha”. Foi durante o banho, bem naquele momento em que a distração é tão grande que você tem que recapitular toda sua metodologia para não deixar de lavar algo, que a temática do meu TCC surgiu. Como várias outras idéias advindas do banho no decorrer da minha graduação, um gritinho animado (extremamente espontâneo e assustador profissional de namorado) e uma vontade de sorrir incontrolável saíram de mim, que na impossibilidade de desenhar no embasado do vidro do banheiro sem Box da Casa da Praia (minha república em Bauru) , quase desisti do banho para ligar pro Goya e explicar a iluminação divina que tive enquanto quase esqueci de passar xampu no cabelo.“Busca pela minha identidade, como não pensei nisso antes?”, ficava repetindo para mim mesma, enquanto tentava bater um novo recorde em término de banho. Ainda de toalha, liguei para o Goya e marquei uma orientação em plenas férias escolares. O restante do dia foi um grande devaneio de idéias tentando consolidar de onde tudo isso veio e o que eu queria transmitir, com medo de que o meu querido

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orientador me levasse pra outro caminho que não me animasse.No dia seguinte, fui pra Unesp para a orientação, vivendo aquele ar melancólico sem meus amigos na faculdade, especialmente agravado pela minha chegada ao quinto ano (de quatro) de graduação, pensando mais uma vez sobre como o campus é bonito com a luz de verão, mesmo com toda aquela vegetação sem combinação em vãos de cimento mal conservado.O Goya tinha acabado de voltar de uma viagem ao Instituto de Arte Contemporânea, em Inhotim - MG, e estava muito animado com tudo o que tinha visto. Eu, mesmo explodindo de ansiedade de contar logo o que tinha pensado, fiquei mais de uma hora tendo uma aula particular sobre Arte Moderna (e gostei bastante, tá Goya?). Depois de conversamos sobre a viagem, férias, planos, finalmente falamos sobre TCC. A idéia de busca da identidade não pareceu interessar muito no início. O Goya continuou navegando no site do Instituto, olhando para tela por cima do seu pequeno óculos de leitura e seu veredicto foi “Legal” (naquela entonação peculiar característica dessa palavra pronunciada pelo Goya). Quando eu já começava a derreter na cadeira, explicando que não sabia projeto de que queria desenvolver, só que com certeza que seria um trabalho de Ecodesign, o Goya pediu um tempo para processar a idéia. Depois de um tempo, a resposta dele foi “E se você fizesse adornos corporais?”. A minha lembrança na hora foi módulo do curso de extensão em jóia que fiz e fiquei super frustrada por só ter que me preocupar em contar as lapidações das gemas (aprendi alguma coisa, pelo menos) ao invés de aprendermos como aplicar aquele conhecimento técnico (e arcaico) em desenvolvimento de projetos de joalheria de verdade.Vendo a decepção estampada na minha cara (tenho esse problema), o segundo questionamento foi “Você conhece o DesignTun?”. Recebendo uma negativa minha, fomos procurar a referência para progredir na idéia. Quando achamos o site, era vários adornos, a maioria colares, brincos e anéis de borracha recortado a laser em formatos muito divertido ou bonitinhos. Vendo as peças, já fiquei mais aberta a idéia de adornos corporais, que para você meu querido leitor pode parecer extremamente óbvia, mas pra mim demorou um tempo a parecer tão

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parte mim.Eu já estava viajando no material em que poderia desenvolver algum projeto semelhante, quando sou novamente questionada: “Você conhece a Mana Bernardes?”. No reflexo, respondi “Mana o que?” e recebi em troca uns resmungos “É claro que você conhece a Mana Bernardes, você não deve saber que os trabalhos são ela...”. E logo estávamos com o site da Mana aberto e navegando admirados com a transformação dos materiais em cada peça e o ótimo resultado estético delas. É claro que conhecia a Mana Bernardes. Ela foi uma das boas descobertas da pesquisa sobre Ecodesign em Plástica II, com o colar Manda cá e lá. “Se for pra projetar algo assim, eu topo fazer adornos corporais.” E foi assim que tomei o caminho mais óbvio para vocês e tão nebuloso pra mim: depois de tantos nós na garganta*, eu queria desenvolver uma coleção de adornos corporais, desenvolvida em no máximo cinco meses para me formar com dignidade e dar efetivamente próximos passos na minha vida. Sendi assim, fundamentado no Ecodesign, o projeto objetiva principalmente reutilização de resíduos urbanos através da confecção de adornos corporais, fomentando o interesse em estudos e produtos provenientes dos mesmos, iniciativas que procuram diminuir o impacto ambiental de materiais descartados, através do reaproveitamento dos mesmos. No desenvolvimento dos produtos, foi priorizada a confecção de peças artesanais para que, com seu projeto conceitual, haja uma maior valorização do produto devido o todos os aspectos estudados pelo design. Em um futuro próximo, há a possibilidade do projeto das peças desenvolvidas serem simplificadas e repassadas para grupos produtivos ligados ao Design Possível, ONG paulistana (onde trabalho atualmente) que trabalha com design economicamente viável e socialmente justo, com o intuito de melhorar ou criar uma geração de trabalho renda para os grupos, e, através do desenvolvimento de seus trabalhos, haja a valorização da figura humana, principalmente do ser humano e a cultura local.

*Nó na Garganta foi um projeto desenvolvido dentro do LabSol onde foram estudados maneiras de confeccionar adornos corporais utilizando resíduos de pré-produção de uma fábrica de meias de Araraquara. Esse projeto tornou-se oficina em diversas oportunidades e

artigos científicos publicados em congressos no Brail. E sempre foi o xodózinho da mamãe.

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ReceitadomeuboloOs conceitos básicos que norteiam a construção teórica do projeto Marjorie são as vivências e conhecimentos adquiridos no Laboratório de Design Solidário, LabSol, sobre sustentabilidade, ecodesign e economia solidária.Quando entrei na faculdade, minha visão sobre Ecodesign era bem limitada. Logo no começo das aulas, fui apresentada ao LabSol na Semana de Recepção ao Calouro (feita pela FAAC, meio engraçada). Para todos os lados da sala, haviam solzinhos de cor vinho, inclusive na blusa de algumas meninas na platéia, muita gente trabalhando em grupo, fazendo produtos que tinham um aspecto de natural (acho que era as texturas das fibras). Eu, no alto dos meus 18 anos (quando meu cabelo ainda era comprido e eu era magra), achei muito curiosa e interessante a proposta (do tal do) LabSol. Eles propunham fazer projetos de design com grupos de artesãos que trabalhavam com artesanato usando resíduos, e foi isso que entendi como Ecodesign: projetos que usam resíduos como matéria-prima.No fim das apresentações dos Laboratórios, já tinha decidido pra mim que era no LabSol que eu gostaria de participar durante a faculdade. Depois, descobri que não havia como entrar, a não ser que você fosse convidado para fazer parte do grupo. Rezava a lenda que o grupo era composto pelos melhores alunos do curso (e as meninas mais bonitas) e bixos só entrariam com o tempo, depois de provarem que tinham seu valor durante as aulas ministradas pelo (tal do Professor) Goya (com sua risada assustadora e comentários ácidos), Plástica I e Plástica II.Com o tempo você descobre essas verdades da vida como, por exemplo, o vestibular para Design não analisa seu talento e que nunca fomos alfabetizados visualmente na nossa vida inteira. Foram precisos

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sete meses para eu provar que tinha competência para trabalhar no LabSol. Foi então que comecei a aprender que Ecodesign não era só trabalho com resíduo. No começo, o LabSol não tinha uma base teórica muito forte, foi algo que fomos construindo com o tempo, devagar, achando textos e livros novos sobre nossas áreas de interesse. Todos os trabalhos realizados até então eram guiados pela metodologia de projeto em design, com conhecimentos superficiais sobre o que realmente estávamos lidando (amparados pelos vasto conhecimento do Goya em materiais e processos), fazendo experiências com materiais alternativos em um grande exercício de tentativa e erro, que foi nos mostrando qual era a melhor opção para fazer o que propunhamos. A luz maior sobre Ecodesign para mim veio em uma matéria que o Goya ministrou em 2009 chamada “Introdução ao Design Ecológico”. Foram leituras e leituras, refletindo conceitualmente sobre o que realmente era Ecodesign, que a essa altura, eu já não achava que era só trabalhar com resíduos, mas também não tinha noção da dimensão do todo ainda. Durante essa matéria, li o meu livro de cabeceira do design ecológico “Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: Os requisitos ambientais dos produtos industrais”, do Ezio Manzini e Carlo Vezzoli. Com ele, entendi que projetos sustentáveis são muito mais que reutilizar coisas, mas pensar a melhor maneira de fazer com que cada etapa do projeto seja o mais responsável e menos impactante para o meio ambiente.Lendo sobre todas as etapas a serem desenvolvidas durante cada projeto que fizermos, comecei a refletir sobre outra que coisa que nunca tinha parado pra pensar até então: como é grande a responsabilidade de projetar!Nós, designers, somos responsáveis (ou pelo menos deveríamos ser) pela construção de todo o mundo dos objetos. Alguma vez você já havia pensado sobre isso? E o que tem sido feito com essa responsabilidade? Nós estamos criando um mundo afogado em objetos. Nunca havíamos possuído tantas coisas como hoje, mesmo que a relação com a intensidade do uso seja inversa e não proporcional. Consumimos cada vez mais, tentando convencer a nós mesmo que compras são

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investimentos na família ou vida pessoal e não caprichos, alimentando a materialidade dos produtos, que são constantemente modificados para continuarem sendo consumidos. Como cita Deyan Sudjic em “A linguagem das coisas”, “Nem a volta da venda de indulgências, prática abandonada pela Igreja medieval e agora ressucitada na forma de pagamento pelo carbono emitido, está nos impedindo de trocar celular a cada seis meses”. O que me leva a outra citação, agora do Victor Papaneck logo no prefácio do “Design for the Real World”: “Design must become an innovative, highly creative, cross-disciplinary tool responsive to the true needs of men. It must be more research oriented, and we must stop defiling the earth itself with poorly designed objects and structures.”Quando entrei na faculdade, esse contexto que eu vivia me desmotivava: como seguir minha vocação, mas não contribuir para uma prática de Design que incentiva o consumo e a superficialidade? Então, descobri o lado humano do Design pelo LabSol (que FINALMENTE vou explicar o que é. Enrolo, mas não falho).O LabSol, Laboratório de Design Solidário é um projeto de extensão universitária vinculado ao Departamento de Design, da Faculdade Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP Campus Bauru e coordenado pelo (querido) Prof. Dr. Cláudio Roberto y Goya.Ele foi criado em 2007 com a finalidade de proporcionar aos alunos do curso de Design da Unesp a possibilidade de por em prática as teorias aprendidas no curso e as reais necessidades do mercado através de projetos embasados nos conceitos de Ecodesign, Economia Solidária e Sustentabilidade. O projeto procura desvincular as práticas do Design voltadas ao capital internacional e da produção em massa trabalhando com a otimização, revitalização e qualificação de produtos artesanal, tendo em vista a auto sustentabilidade das comunidades produtoras, através de projetos e ações entre o Design e o patrimônio cultural do artesanato.Além de estudantes de Design, o LabSol também conta com estagiários de outras áreas como o estudante de Relações Públicas. Ele atua no Laboratório desde 2009 e tem como função aprimorar a comunicação interna e externa do laboratório, participando da análise de propostas e projetos recebidos. As ações dos Relações Públicas incluem a criação

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de rede de contatos, organização de viagens, visitas, feiras, exposições e eventos. Já o estudante de Engenharia de Produção, contribui no processo de fabricação de novos produtos, pois estuda o conceito, estrutura, interface e manutenção, visando sempre eficácia e eficiência na utilização de recursos disponíveis e promovendo uma combinação entre funcionalidade e economia.A metodologia de trabalho do LabSol é simples, baseado na troca de conhecimentos. O primeiro contato costuma ser realizado pela comunidade, o que gera a organização de um programa de visita com todos os integrantes do laboratório, para que conheça-se individualmente os artesãos, sua realidade, materiais, técnicas e métodos de trabalho. Geralmente ocontece um workshop para que os integrantes do laboratório aprendam com o grupo quais são seus materiais, processos e métodos.Voltando ao laboratório, são realizados os primeiros estudos, que são submetidos à comunidade, e caso estejam de acordo, as peças passam pelo processo de desenvolvimento de produto em design, com todo o rigor necessário na elaboração de projeto, produção de modelos e protótipos até que se obtenham os produtos finais.Antes da apresentação dos resultados às comunidades, são realizadas feiras dentro e fora da universidade para a comercialização dos protótipos produzidos. Estas feiras possibilitam a análise da aceitação de mercado, o provável público alvo e a vendabilidade, ou seja, o perfil das características que o consumidor realmente deseja ver no produto. As feiras também são aproveitadas pelo laboratório para testar outros produtos produzidos pela equipe e para aumentar a visibilidade do projeto.Deve-se ressaltar que todo o desenvolvimento do projeto é um caminho de mão dupla, possibilitando a troca de saberes, a todo tempo é reconhecido que não existe uma hierarquia.

Na próxima página, figura 1: Aprendizado em grupo, montagem de exposição, desenvolvimento de projeto , participação em feiras, participação em congressos,

atendimento à grupos e desenvolvimento de demandas internas do LabSol.

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O desenvolvimento dos novos produtos a partir das demandas dos grupos atendidos é sempre visto como uma retribuição do Labsol ao conhecimento adquirido através do contato com os mesmos.A constante demanda das comunidades atendidas por novos projetos impeliram o laboratório a buscar um maior aprofundamento teórico e conceitual seja promovendo estudos sobre artesanato, ecodesign e economia solidária ou construindo uma biblioteca sobre estes temas.Apesar da proposta central do laboratório ser o atendimento da demanda das comunidades, toda a intenção de projeto de seus participantes são fomentadas. Assim, além dos projetos de atendimento, é desenvolvida uma grande quantidade de projetos de ecodesign. Resíduos de toda natureza chegam ao laboratório, tornando-se objetos de estudo, e posteriormente, transformados em produtos. Dentre os inúmeros materiais trabalhados, pode-se ainda citar: retalhos de jeans, malhas, pastas poliondas, galhadas de bambu, bagaço de cana, fibras vegetais, resíduos de lã, embalagens plásticas ou pet, garrafas de vidro, discos de vinil, papel e papelão, camisetas usadas, fios metálicos ou plásticos, chapas radiológicas, embalagens de isopor, resíduos da fabricação de meias, ou sementes e cascas de frutos do cerrado gerando inúmeros produtos, além do desenvolvimento de técnicas “verdes” utilizadas na recuperação de peças mobiliário.A discussão diária e coletiva para a resolução de problemas reforça o aprendizado do design de uma forma bastante orgânica, sendo a troca de informações permanente. Os alunos sentem-se livres para buscarem as informações necessárias para o desenvolvimento dos projetos, ajudando-se mutuamente. Nesta forma orgânica é interessante notar que cada aluno, naturalmente, toma para si a responsabilidade do desenvolvimento de um determinado produto. Este interesse despertado tanto por aptidão como por interesse individual, faz com que alguns dos projetos acabem tornando-se a base de projetos de iniciação científica. Fatos que refletem o comprometimento individual e do grupo e a consciência da necessidade de pesquisa e a produção de modelos e protótipos para a concretização de um bom projeto de design.O laboratório, sempre que possível procura publicar sobre seus projetos

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Figura2:Confecçãodetoyart,montagemdetapetedeCorpusChristi,montagemdepresépio,atendimentoagruposemIvinhema-MS,confraternizaçãoanualdosintegranteseex-integrantesdoprojeto.

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em congressos relacionados à área. Através das publicações, as pesquisas, os processos e técnicas empregadas são registrados de maneira sistematizada para consulta, principalmente para as gerações futuras do próprio Laboratório (isso é muito importante, sério). Além de possibilitar a propagação do conhecimento e divulgação do trabalho no meio acadêmico, é possível mostrar à sociedade acadêmica a qualidade dos trabalhos proveniente de extensão em design que englobando as premissas do Laboratório. Com a realização destas atividades, além da disseminação dos conceitos de ecodesign e design social, o LabSol proporciona aos alunos, a possibilidades de integrar atividades extra-curriculares e vivências diversas, tendo assim a confirmação prática da teoria acadêmica.O projeto também se tornou uma referência, principalmente dentro do Curso de Design na Unesp, em estudo e desenvolvimento técnico de projetos de ecodesign. Ele oferece apoio e suporte (material, técnico e metodológico) às disciplinas de Projeto, Introdução ao Design Ecológico e aos trabalhos de conclusão de curso relacionados ao assunto (como o meu). Naturalmente, ele transformou-se de laboratório de extensão em um projeto que envolve o tripé da experiência universitária: ensino, pesquisa e extensão.Há vários aspectos que são fertéis e necessários campos de pesquisa e estudo como a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias para o desenvolvimento de produtos envolvendo a manufatura e a produção artesanal, a preocupação com as questões ambientais, a ética e a responsabilidade social para o design e para o designer; sendo assim, a procura de uma organização social alternativa onde o trabalho e o saber fazer aprimoram e acrescentam algo de melhor ao ser humano ao invés de aliená-lo, através da promoção de produtos artesanais economicamente viáveis promovendo as comunidades produtoras e garantindo-lhes sustentabilidade.Como toda essa carga de ideológica, teórica e prática, comecei a acreditar e trabalhar por um Design ecologicamente correto e socialmente sustentável. Pontuando, entendo por sustentabilidade a capacidade de determinado grupo de manter-se em um meio

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sem causá-lo algum impacto violento. Assim, propõe-se que a forma de organização humana proceda de tal forma que não afete a biodiversidade e ecossistemas locais, criando uma convivência de forma pacífica com a natureza.A partir da busca pela sustentabilidade, surgem os princípios básicos do Ecodesign, que baseados nos objetivos conceitos de Life Cycle Design, que segundo Manzini e Vezzoli (2008, p. 100), “é o de reduzir a carga ambiental associada a todo o ciclo de vida de um produto”, promovem mudanças no desenvolvimento e processos de fabricação dos produtos, assim minimizando os impactos ambientais causados por eles. Essa redução ocorre devido a vários fatores pensados durante o pré-projeto como a minimização dos recursos empregados através de um melhor aproveitamento de material, escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental como preferência pela costura ao invés de uso de adesivos, pela otimização da vida dos produtos através de um projeto sem obsolescência programada, extensão da vida dos materiais através do reaproveitamento e a facilidade de desmontagem, se possível.“ No contexto do ciclo de vida, é também levado em consideração a possibilidade de reciclagem e/ou reutilização de seus materiais e/ou componentes, assim promovendo um aumento do ciclo de vida de seus materiais e produtos, conceitos utilizados como base para os estudos deste trabalho.Sendo assim, esse projeto foi concebido como um estudo empírico, de caráter prático, onde após o contato com resíduos urbanos como lona vínilica (banner), cd quebrado e pastas poliondas, foi realizada pesquisa de similares, baseada em pesquisa bibliográfica estabelecida, e utilizou-se da metodologia de projeto em design de produto para a elaboração de novos produtos dentro do conceito estabelecido. A coleção “Marjorie” é constituída por adornos corporais que foram confeccionado com materiais reutilizados, preferencialmente costurados procurando evitar o uso de adesivos, formulando conceitualmente os produtos e conferindo-lhe um novo valor comercial como produto ecologicamente correto.

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A DesignTUN nasceu em 2009, inspirada no movimento Dark, nome dado a subcultura gótica no Brasil, ocorrido a partir dos anos 1980. Na época, a artista plástica Lia Menna Barreto criou acessórios como anéis, brincos e colares recortando câmaras de pneu com tesoura, para uso próprio. O desenvolvimento do produto e da marca TUN foi iniciado pelo artista plástico Mauro Fuke, que somou sua experiência em processos digitais e introduziu o uso do corte à laser à marca, parceria que deu origem a novas peças. A DesignTun trabalha com vários tipos de adornos corporais como colares, brincos, anéis, todos de borracha cortadas a laser com desenhos irreverentes. O resultado são peças diferentes e supreendentes, sempre com uma pitada de humor ou crítica a alguma questão latente da sociedade.

Na próxima página, figura 3: colar Pauline, colar Fita Lara, brinco Barroco, anel Iara, anel Cabelão e colar Caveira. Na p ágina 28 figura 4: anel Ilha, ane Lebre Apaixonado e brinco

de princesa A, todas peças do DesignTUN.

Nãoestousozinha

DesignTUN

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Considerado o maior concurso de Design de Jóias em ouro do mundo, o AuDITIONS Brasil é um concurso bienal, promovido pelo AngloGold Ashanti, que premia idéias inovadoras que contribuam para o desenvolvimento do setor de jóias, promovendo o concurso e materializando em peças conceituais a fantasia, a ousadia e a experimentação proposta no concurso.Dividido em duas categorias, Designer e Revelação, o evento premia profissionais e estudantes da área. As melhores criações tornam-se parte de um museu mantido pela AngloGold Ashanti, juntamente às peças vencedoras na África do Sul, China, Índia e Emirados Árabes. Sempre achei bem interessanteesse posicionamento do concurso de peças mais conceituais. Tenho um preconceito assumido com a mesmice do Design de Jóias e acredito que iniciativas com o AuDITIONS inovam o mercado. A participação no corcurso é um projeto pessoal adiado para 2014 (ninguém disse que foi fácil terminar esse projeto).

Nas páginas 30 e 31, figura 5: peças selececionadas para a AuDITIONS Brasil nas edições de 2008 e 2010.

AuDICTIONS Brasil

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De 7 de março a 8 de abril de 2012, aconteceu no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo – SP, exposição que propunha uma integração entre o design de jóias do Brasil e Dinamarca. Foram selecionados 16 designers (de jóias) que apresentaram trabalhos únicos, mas com denominadores comuns: a influência do ambiente de origem em seus trabalhos, o desafio ao conceito tradicional daquilo que uma peça de jóia deveria parecer e a combinação de materiais triviais e cotidianos como papel moeda, plástico, metal, com outros tradicionalmente pertencentes ao campo da joalheria como ouro, prata e gemas preciosas (eu disse que aprendi algo na traumática experiência com design de jóias).As peças expostas propunham uma ruptura com o tradicional e buscavam redefinir parâmetros de funcionalidade, estética e atribuição de valor às jóias. Objetos de uso cotidiano como bexigas, bolas de pingue-pongue, escovas de banho, cabelos, - unhas-, entre outros, ganharam novas funcionalidades e assumiam significados diversos ao serem apropriados pela joalheria.O Brasil estava representado por Bettina Terepins, Brasília Faz Bem (coletivo composto por Carla Assis, Lígia de Medeiros e Fátima Bueno), Claudia Villela Salles, Flavia Amadeu, Joana Prudente (joanavp), Kika Alvarenga, Miriam Andraus Pappalardo e Renata Meirelles. Compondo o grupo de designers dinamarquesas presentes na mostra estavam Annette Dam, Karen Fly, Katrine Borup, Lene Hald, Lisbeth Nordskov, Marie-Louise Kristensen, Mette Laier e Trine Trier.

BrasilBettina Terepins: Apresentou peças da coleção de Papel Kraft, que iniciou em 2009 em parceria com Domingos Tótora. Utiliza papel

Exposição Jóias Contemporâneas: Brasil e

Dinamarca

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reciclado, feito a partir da mistura papelão, água, cola, e terra. Suas peças possuem coloração avermelhada.

Kika Alvarenga: Utiliza técnicas da joalheria indígena aliadas à transformação das matérias primas brasileiras. Suas peças são desenvolvidas tendo como referência o trabalho de fiação da fibra de tucum realizado pelos índios da tribo Krahô do Tocantins e a textura da pedra turmalina negra.

Figura 6: Peças de Bettina Terepins

Figura 7: Peças de Kika Alvarenga

Figura 8: Peças de Flavia Amadeu

Flavia Amadeu: Suas jóias orgânicas são feitas de borracha ecológica da Amazônia, um material natural proveniente do látex, produzido por comunidades seringueiras da região. A designer busca o aproveitamento máximo da borracha e sua valorização estética ao explorar as características próprias do material.

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Renata Meirelles: Ao trabalhar com tecidos, a artista cria peças que transitam entre os territórios da arte, joalheria e moda. Seu projeto recente, 1º lugar na categoria Têxteis do 25º Prêmio Design MCB, mistura técnicas artesanais e industriais: o tear e o corte à laser. Desta forma, a plena utilização da matéria-prima é a essência do seu processo criativo.

Figura 9: Peças de Miriam Andus Pappalardo;

Figura 10: Peças de Renata Meirelles;

Miriam Andraus Pappalardo: A artista apresenta jóias a partir do estudo e pesquisa de materiais, tramas e texturas, na construção de padrões gráficos e formas tridimensionais. Busca conjuntos de “iguais-diferentes”. Foi contemplada em 1º lugar, na categoria têxtil, do 23º Prêmio Design MCB.

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DinamarcaKatrine Borup: Considera a jóia uma espécie site-specific. Ao buscar uma narrativa relacionada ao corpo e à identidade, a designer não se limita aos tipos convencionais de joalheria, desenvolvendo peças conceituais. A escolha de materiais foge aos padrões pré-concebidos e busca mover-se livremente entre diferentes objetos: luvas de borracha, raspas de sabão, panelas, papel fotográfico, papel-moeda, cera, cabelo e unhas humanas.

Lene Hald: Para a designer, cada peça possuiu um elemento surpresa que, necessariamente, implica em sua função ou expressão. Seu trabalho busca mostrar leveza, alegria e humor. As peças são feitas com ouro ou prata, combinados a outros materiais ou metais de outras cores.

Figura 11: Peças de Katrine Borup;

Figura 12: Peças de Lene Hald;

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Lisbeth Nordskov: Ao experimentar técnicas e materiais, novas combinações surgem para explorar e expressar uma nova dimensão para as joias. Para a artista, cada peça deve manifestar e enfatizar a personalidade do portador.

Figura 13: Peças de Lisbeth Nordskov;

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O trabalho que mais nos interessa de Noah Waxman são os Fe Wearable, acessórios compostos por tela de algodão orgânico, feltro de lã e imãs super poderosos, podendo ser configurado e reconfigurado de várias maneiras. Waxman partiu para esse projeto por acidente enquanto trabalhava em um projeto eletrônico da New York University. “Eu costumava usar os ímãs como uma ferramenta de prototipagem, mas depois adorei a maneira como os ímãs e se comportaram junto ao pano”, disse em entrevista ao Ecouterre.Seu conceito original de criar um vestido que se transformasse em formatos diferentes, como um modo de expressão criativa, sobreviveu em espírito, mesmo que os componentes elétricos não. “Eu desfiz o que eu estava fazendo e costurei um monte de ímãs em todos os tipos de pano”, diz ele. Até o final da semana, seus amigos estavam usando seus primeiros protótipos em toda a cidade.Além de uma produção inicial, Waxman gostaria também de experimentar. mais “Novos materiais. Novos tamanhos. Novas formas.”, diz ele. “Pode uma roupa toda feita dessa maneira? Plásticos, silicone, longas estreitas ímãs, elementos de pedra, elementos de madeira... Há um monte de idéias para o futuro!”.Quando vi o projeto dos acessórios, pensei: “É algo assim que quero fazer!”. O produto foi um excelente incentivo para que desenvolvesse algo diferente, recombinando materiais.

Noah Maxman

Figura 14: Fe Wearable;

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Mana Bernardes é uma jovem designer de jóias, poetisa e artista plástica. Tão múltipla que consegue circular entre o Chelsea Art Museum em Nova York e as ruas populares do Rio de Janeiro. Seus colares estão à venda em conceituadas lojas de design - como a Colette, em Paris e a Zona D em São Paulo. Já sua invenção, o “Magnomento”, um fecho magnético de imã que não pesa, é comercializado em larga escala para os fabricantes de bijuteria do Saara, no Rio. Ela ainda viaja pelo Brasil multiplicando em oficinas o seu trabalho.Mana nasceu no Rio de Janeiro e vem de uma família comprovadamente criativa. Seu pai é o cineasta Sérgio e o avô, o arquiteto Sergio Bernardes. Sua história profissional começou aos sete anos, quando fez seu primeiro colar. Aos 11, já criva peças para a loja carioca Cantão e também as tiaras da Babalu, personagem de Letícia Spiller da novela ‘Quatro por Quatro’. Seguiu inventando objetos. Tudo para expressar um conceito: ‘o poder de transformação é a jóia do ser humano’.Suas peças são chamadas de jóias pela maneira como ela enxerga a nobreza nos materiais. Assim, utiliza mini frascos, garrafas PET, palitos, grampos, pérola, prata e ouro, criando um resultado moderno e instigante. Desde os 14 anos, realiza oficinas e já formou mais de 300 adolescentes em arte e bijuteria no projeto social ‘D+ da Conta’, da Associação Ser Cidadão no Museu da República - RJ. Atualmente, desenvolve uma metodologia própria chamada ‘História de Vida Através do Objeto,

Mana BernardesFigura 15: Fe Wearable;

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Histórico do Objeto Através da Vida’. Além de suas coleções, trabalha em parceria com outros estilistas. Uma tampa de caneta transformadora em vasinho deu origem à ‘Flor de Bic’, que esteve na coleção da estilista Luisa Marcier. Em 2006, lança uma linha feita em parceria com a sua mãe, a artista plástica Rute Casoy para a loja Fuxique-Garimpo, em SP. Para a Nokia, produziu ‘Esfera’, pingente para celular. Sempre achei bastante interessante o trabalho da Mana Bernardes, mesmo antes de saber que eram dela. A maneira como ela trabalha materiais alternativos me fascina. Depois da conversa reveladora com o Goya, passei vários dias pesquisando tudo sobre ela, até descobrir que ela havia escrito um livro sobre seu trabalho. Fiquei muito animada com o livro, mas ele era um pouco mais caro do que eu podia na época. Comentei com o Goya sobre o livro e o quanto ele me pareceu bom e recebi um “Compra agora que eu pago e só apareça na sua orientação com ele”. Três dias antes da minha orientação. Esse foi um dos acontecimentos do ano: o livro é apaixonante! Ele fala sobre processo criativo, mostra rascunho e fotos do todas as frentes desenvolvidas pela Mana.Me identifiquei muito com ela, principalmente quando ela fala sobre sua percepção de jóia e a relação dela com esse trabalho. Em uma entrevista para Antonio Bernardo, também designer de jóias, ela diz acreditar que a jóia não é um fim, mas um meio de ela expressar o processo de mudanças que ela passa, uma forma de expressão de seus pensamentos e emoções.É exatamente isso que eu quero: falar sobre o que sentia e sinto para aceitar que sou múltipla, não fragmentos.

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Figura 16: Colar Indio Urbano, Colar Serpente, Colar Serpente Color, Colar Mandala, Colar Dança, Colar Brasil, Colar Joia Trabalhora e Brinco Brinquedo, Mana Bernardes;

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Históriadavidapeloobjeto,históriadoobjetoatravésdavida

Conceito “O homem existe – existere – no tempo. Está dentro. Está fora. Herda. Incorpora. Modifica, Porque não está preso a um tempo reduzido a um hoje permanente que o esmaga, emerge dele. Banha-se nele. Temporaliza-se. Na medida, porém, em que faz esta emersão do tempo, libertando-se de sua unidimensionalidade, discernindo-a, suas relações com o mundo se impregnam de um sentido conseqüente. Na verdade, já é quase um lugar-comum, afimar-se que a posição normal do homem no mundo, visto como não está apenas nele mas com ele, não se esgota em mera passividade. Não se reduzindo tão somente a uma das dimensões de que participa – a natural e a cultural – da primeira, pelo seu aspecto biológico, da segunda, pelo seu poder criador, o homem pode ser eminentemente interferidor. Sua ingerência, senão quando destorcida e acidentalmente, não lhe permite ser um simples expectador, a que não fosse licito interferir sobre a realidade para modificá-la.” (FREIRE, Paulo. Educação

como prática de liberdade , pág. 41)

Depois ter finalmente me convencido que adornos corporais poderia ser um tema bacana para se trabalhar, precisava lapidar o conceito. Como a idéia do projeto saiu da minha absoluta falta de habilidade de escolher algo que eu gostasse para me dedicar nesse trabalho onde eu poderia escolher o que fazer, resolvi que eu iria fazer uma coleção baseada em coisas que faziam parte mim e/ou eu gostava e

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tentar achar o que eu realmente era, mesmo sem perceber.Eu passei alguns dias pensando em como fazer isso, mas não listava as coisas. Um belo dia, voltei do Design Possível e percebi que estava sem a chave de casa. Tinha certeza que tinha caído no trabalho, mas àquela hora, não havia mais ninguém lá e nem ninguém na casa dos amigos que me hospedavam. O porteiro ligou para ele e a previsão de volta de alguém era no mínimo 21hr. Eram 17hrs.Já que estava trancada pra fora, fui pro Shopping Paulista, que era bem perto de lá para jantar e tentar adiantar algo. Comi um lanche no Subway, dei uma volta no Shopping e até comprei um protetor solar de uma marca de cosméticos homeopáticos que cheirava melancia (só porque estava com 45% de desconto). Passou uma hora e meia.Vendo que não tinha jeito, fui à papelaria, comprei uma caneta BIC e voltei para o prédio. Pedi pro porteiro duas folhas e fiquei no hall do prédio (chique e eu acampada), tentando listar idéias.Resolvi listar as coisas que eu fiz e as coisas que eu gosto, para ver se isso me ajudava. Fiquei mais de uma hora lá sentada, pensando em tudo que fiz e como isso de alguma forma me construiu, o que foi bastante divertido (e saudoso). Esse brainstorm improvisado não tinha somente o que eu havia feito ou gostava, fatos relacionados, características, lugares, tudo o que estava relacionado aquele gosto ou atividade.Depois de ter aquele monte de palavras rodeadas de círculos, comecei a procurar repetições de padrões ou características. Nas “coisas que eu fiz”, percebi que sempre fiz muitas atividades, principalmente física e/ou artísticas, o que me exigia esquematização e disciplina. Refletindo sobre isso, percebi que sempre procurava me organizar, criar rotinas, ter procedimentos estabelecidos para que minha rotina fosse prática e viável. Ser prática foi especialmente cultivada na época que fui escoteira, oito anos da minha vida, quando eu descobri que prender meu cabelo e estar com uma roupa confortável me tornava apta a realizar todas as tarefas que eu queria/ou precisava (e a faculdade me ensinou o valor do café). Então, entendi que com certeza, uma das características deveria ser a praticidade.Em uma segunda análise, percebi que desde pequena gostava de me fantasiar. Começou com fotografia divertida na minha escola primária, o

tentar achar o que eu realmente era, mesmo sem perceber.Eu passei alguns dias pensando em como fazer isso, mas não listava as coisas. Um belo dia, voltei do Design Possível e percebi que estava sem a chave de casa. Tinha certeza que tinha caído no trabalho, mas àquela hora, não havia mais ninguém lá e nem ninguém na casa dos amigos que me hospedavam. O porteiro ligou para ele e a previsão de volta de alguém era no mínimo 21hr. Eram 17hrs.Já que estava trancada pra fora, fui pro Shopping Paulista, que era bem perto de lá para jantar e tentar adiantar algo. Comi um lanche no Subway, dei uma volta no Shopping e até comprei um protetor solar de uma marca de cosméticos homeopáticos que cheirava melancia (só porque estava com 45% de desconto). Passou uma hora e meia.Vendo que não tinha jeito, fui à papelaria, comprei uma caneta BIC e voltei para o prédio. Pedi pro porteiro duas folhas e fiquei no hall do prédio (chique e eu acampada), tentando listar idéias.Resolvi listar as coisas que eu fiz e as coisas que eu gosto, para ver se isso me ajudava. Fiquei mais de uma hora lá sentada, pensando em tudo que fiz e como isso de alguma forma me construiu, o que foi bastante divertido (e saudoso). Esse brainstorm improvisado não tinha somente o que eu havia feito ou gostava, fatos relacionados, características, lugares, tudo o que estava relacionado aquele gosto ou atividade.Depois de ter aquele monte de palavras rodeadas de círculos, comecei a procurar repetições de padrões ou características. Nas “coisas que eu fiz”, percebi que sempre fiz muitas atividades, principalmente física e/ou artísticas, o que me exigia esquematização e disciplina. Refletindo sobre isso, percebi que sempre procurava me organizar, criar rotinas, ter procedimentos estabelecidos para que minha rotina fosse prática e viável. Ser prática foi especialmente cultivada na época que fui escoteira, oito anos da minha vida, quando eu descobri que prender meu cabelo e estar com uma roupa confortável me tornava apta a realizar todas as tarefas que eu queria/ou precisava (e a faculdade me ensinou o valor do café). Então, entendi que com certeza, uma das características deveria ser a praticidade.Em uma segunda análise, percebi que desde pequena gostava de me fantasiar. Começou com fotografia divertida na minha escola primária, o

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Figura 17: “Brainstorm” de coisas relacioadadas a mim;

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“Pequeno Polegar”, alimentado pelas apresentações do balé, esquetes teatrais e festas temáticas do escoteiro, pelo constante aprimoramento de fantasias e maquiagens no Projeto Sorrir, projeto de voluntariado semelhantes ao Doutores da Alegria que eu participava em Bauru, e reforçadas (absurdamente) pelas festas na faculdade. Gostávamos de brincar na Casa da Praia que toda vez que saíamos, nós tínhamos que nos “montar” e sair todas divas. Era um tal de cílios postiços, maquiagens (várias ousadas), a plena representação do “Girls just wanna have fun”, da breguíssima Cindy Lauper. Anotada a segunda característica então: Glamour.Minhas reflexões sobre meu lado menina vaidosa, me fez lembrar que eu tenho preguiça de meninas muito meninas. Sabe aquelas cheias de frescuras e não me toque? Eu tenho uma dificuldade de lidar com elas, já que eu rolava na lama quando eu era escoteira.Não conseguindo ignorar meu lado masculino prático, pensei em juntar com a praticidadade, mas essa característica estava exatamente ligada ao oposto: eram propostas de ser feminina, mas sem complicações.Não obtendo sucesso nas excessivas tentativas de combinar as três idéias para a coleção, finalmente entendi que deveria ser três momentos separados. Sendo assim, a idéia era criar uma coleção, onde haveria três segmentos diferentes: a linha dia a dia, a linha noite e a linha masculina, explorando gostos percebidos na nuvem “coisas que gosto”. Separei os gostos de acordo com as linhas e fui desenhando. Tentei alguns desenhos, lia sobre o assunto, pesquisava referências, mas nunca conseguia ficar plenamente satisfeita com minhas peças. Nas minhas três orientações que tive com o Goya depois que mudei para São Paulo o comentário era sempre “Legal, só falta fazer.” A confusão continuava e eu não conseguia desenvolver linha nenhuma.Sempre tive uma pegada mais prática, de muitas vezes experimentar formas fazendo. O LabSol só reforçou essa minha facilidade de criar manejando. Na segunda orientação, o Goya me sugeriu começar a experimentar com o material as peças para ir lapidando a forma e conseguir fazer. Fez todo sentido para mim! Claro que procrastinei isso o máximo que pude, mas quando comecei a fazer testes, continuei não ficando satisfeita com nada que eu fazia. Achava tudo muito simples

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Figura 18: Primeiros testes de desenvolvimento;

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(hábito inclusive quando as coisas não são simples).Já era o último dia de abril, quando a Simone (das melhores amigas, irmã gêmea) puxou uma conversa com a patota da Casa da Praia por causa de um assunto aleatório. Nesse dia, a Jenifer perguntou como estava o TCC e falei que estava meio chateada com as peças, mas ia levando. Ela fez uma super terapia comigo, contando sobre a experiência do trabalho dela (que também foram adornos) e me incentivando a fazer algo “mais poético”, ou seja, conceitual.A princípio, queria que as peças fossem bastante comerciais e o tema fosse só um plano de fundo, mas como falar de crise de identidade sem fazer peças conceituais?Comentei também que tava pensando em mandar um recado para alguns amigos perguntando características minhas ou depoimentos para ver também como as pessoas me viam, mas acabei desistindo por insegurança de explicar meu tema, que em uma abordagem superficial, parece bastante egocêntrico. Ela me incentivou a mandar sim, e para amigos de época diferentes da minha vida para ver como fui mudando. Pedi os depoimentos e continue tentando criar algo experimenta materiais. Na última orientação, mostrei as peças para o Goya e ele não teve uma reação de ter gostado mesmo das peças. Eu sabia que isso aconteceria e fiquei bastante decepcionada porque, sinceramente, gosto de impressionar (coisas de quem tem como irmão mais velho Herisson Redi e muitos, mas muitos mesmo, amigos e colegas de faculdade talentosos).Depois da bronquinha do “Você está atrasada” (GOYA, C; parafraseando a lebre de março), recebi alguns conselhos de como melhorar as peças e terminar logo esse suplício. Voltei para São Paulo contrariada e pensando em como melhorar.

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Não adianta, quando invoco que algo não está bom, ficou pensando e querendo mudar até que faço acontecer algo diferente. No auge do meu descontentamento e sem a possibilidade de trancamento do trabalho, comecei a rever todo o material que eu já tinha juntado.Havia um tempo que eu acreditava que podia usar melhor os depoimentos que recebi dos amigos e, mais uma vez, comecei a ler todos. Era bastante claro o quanto eu mudei, principalmente durante a faculdade. E de repente, era isso! Queria falar sobre mudanças! Comecei a listar o que eu acreditava que eram fases da minha vida, a idade em que elas compreendiam, as características psicológicas e sentimentos da fase e o que ela me fazia lembrar.

Eu por vocês, vocês em mim

Figura 19: “Repensando”;

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Com os depoimentos que recebi, criei nuvens de palavras chaves para ver se reforçava algum conceito ou criava algum nova caminhos. As nuvens foram criadas de 180 a 15 palavras, que me ajudaram a enteder como eu era vista.

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49Figura 20: Nuvens de palavras chaves vindo dos depoimentos;

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Com todas essas informações, tentei listar formas e materiais que as fa- ses me lembrava e lugares do corpo onde poderiam ter adornos. Não adiantou nada. Voltei para as transformações durante as fases da vida e de repente consegui ver três fases diferentes bem claras: a infância, onde eu era apenas o reflexo (fragmentos) do meu ambiente, a adolescência, fase de conflito (confusão) sobre quem eu realmente era e o início da vida adulta, onde eu assumi realmente o que eu era ou não (concisão). A partir desse momento, a palavra linha não parecia boa. Eles pareciam mais momentos, fases, e tudo parecia claro pra mim.Falando melhor sobre os conceitos dos momentos, a representação da minha infância passou a chamar-se Fragmentos. Ela foi projetada a partir de banner, usado como base, e cds quebrado. Os banners são costurados, para diminuir o impacto caso seja descartado, e os cds quebrados serão colados com cola de contato, material eficiente para a colagem em banners. Esse momento é composto por três peças: o anel “Plural”, composto por quatro anéis individuais que podem ser usados em conjunto ou separadamente, o colar “Pocahonta”, que possui formato pontiagudo que tem um lado revestido de cd quebrado e outro não e o colar “de Brincar”, com formato arredondado, lado revestido de cd quebrado e outro não e possibilidade de armazenamento de objetos dentro do colar.

O cd quebrado foi um material bastante representativo para a fase, já que quando eu era pequena, eu era o reflexo das pessoas e do mundo em que eu convivia, foi onde fui moldada, pedaço por pedaço. A quebra do cd mostra os enfrentamentos causados pela educação

Figura 21: Desenvolvimento das peças da fase “Fragmentos;”

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que recebi confrontando com minhas percepções do mundo, sendo módulos impostos pela quebra.

Já representação da minha adolescência é a Confusão. Ela é feita principalmente de pasta poliondas velhas, doadas para o LabSol, e pequenas inserções de outros materiais. O material muda porque neste momento eu comecei a mudar e a perceber que talvez eu não fosse só reflexo dos outros, entendendo que mesmo sendo um material, não era bem aquilo que parecia na infância. O uso dos rolinhos foi uma opção pra representar o quanto eu sou enrolada (até hoje) e a disposição sugere confusão. Essa fase foi bem conturbada, cheia de enfrentamentos, problemas familiares, essas coisas todas.

Figura 22: Baner e cd quebrado, usado nas peças da fase “Fragmentos;”

Figura 23: Pasta Polionda, usada na fase “Confusão”;

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As peças atam as mãos, “pesam” no ombro, cobrem o rosto, tudo para mostrar o peso da fase, apesar de parecer (e ser de verdade) leve. Nessa linha, há um colar que é uma mistura de material da infância, que vira confusão e depois torna-se da adulta, seguindo o formato da linha.Esse momento é composta por três peças: o arquinho “Sinus”, feito de pasta polionda cobrindo o rosto, o colar “Bolero”, que possibilita várias maneira de uso envolvendo o usuário, o colar “Lab”, dando uma nova releitura do uso do banner, mostrando que ele pode ser algo diferente do que vinha sendo apresentado.

Figura 24: Desenvolvimento das peças da fase “Confusão;”

Figura 25: Varal de PET, usada na fase “Concisão”;

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O início da vida adulta é a Concisão. Ela retoma os materiais (banner, varal, pérola) de outras fases, em um formato diferente e mais leve. Essa foi a fase onde pesei toda minha vivência e fui descobrindo e me afirmando como realmente sou (ou acredito ser) de verdade. Os desenhos são de partes maiores, que dão uma impressão de maior consistência, mas com um caimento menos incomodo que a última fase. Esse momento é representado por três peças: o colar “Baden” e “Iansã”, que mistura varal de pet, banner e pérolas imperfeitas, apresentando formatos novos como tiras sobrepostas e/ou trançadas e o colete “Borboleta”, todo confeccionado em banner em módulo triangulares, em formatos irregulares com várias possibilidades de recombinação.Foram escolhidas nove peças do desenvolvimento das propostas para a coleção, sendo três de cada linha para produção, mas confeccionadas apenas sete. Só faltava dar um nome.

Figura 24: Desenvolvimento das peças da fase “Confusão;”

Figura 26: Desenvolvimento das peças da fase “Concisão;”

Figura 25: Varal de PET, usada na fase “Concisão”;Figura 27: Peças escolhidas para apresentação;

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Bem no início do processo, dei o nome do projeto de Marjorie. Tudo começou quando comçei a morar com a Thanile. Convenhamos que Thanile não é o nome mais comum do mundo e as pessoas tem uma dificuldade imensa de acertar o nome dela. O mais comum de ela ser chamada é Thamíris. A cada entrega ou telefonema, a expectativa para ver como haviam escrito o nome dela era enorme, fazia partes das pequenas diversões da nossa casa. O campeão era o guarda noturno que sempre escrevia nos comprovantes de pagamento “tamili”.Eu adora perturbá-la chamando de todas as derivações que conseguia inventar do seu nome até que um dia ela virou e falou sarcasticamente “É sim, MARJORIE!”. Caímos na risada e de repente, tinhamos apelidos: a Thanile era Thamíres, a Ana virou Lana, Simone virou Solange, a Plum (a cachorrinha de casa) virou Pum, o Goya virou seu Glória e eu, a Marge virei Marjorie. A Marjorie era um heterônimo divertido e surgiu bem nesse momento que indica outra fase: o fim da graduação e início da vida de formada e, por isso, tornou-se nome do projeto por ser uma ótima representação de tudo isso.

Execução de ProtótiposA execução dos protótipos foi recheada de emoção, a começar pelo prazo curto para a execução de todas as peças: 35 dias para a entrega do projeto e apresenação da banca.Quando mudei tudo a um mês da entrega, fiz um álbum e enviei para o Goya. Liguei para ele falando que tinha uma boa e uma má notícia. A

Figura 28: Peças escolhidas para apresentação;

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boa era que finalmente eu estava feliz com minhas peças e a coleção estava decidida, a má era que eu tinha mudado tudo. Ele simplesmente respondeu ok e desligou. Depois, recebi uma ligação dele perguntando se eu queria matar ele do coração e falando que estava muito velho pra isso. A notícia boa era que ele falou que havia gostado (muito) e era para “eu mandar bala”.Então, comecei a esquematizar a produção para tentar viabilizar o máximo de peças possíveis nesse tempo. Viabilizar conciliando com meu estágio de seis horas durante a semana. Acreditei também que procurar dentro do projeto fazer com que as peças fossem costuradas, além de causar menos impacto no meio ambiente, também fosse me dar tranqüilidade para fazer outras peças, considerando que eu terceirizaria o trabalho para um grupo produtivo de costureiras.Como tinha um pouco mais de um mês e sabia que o trabalho não era tão demorado assim, afinal eram quatros peças e alguns detalhes (na verdade sete peças, considerando que o anel são quatro perfis individuais), fui levando devagar. Resolvi produzir na Cooperaldeia, cooperativa de artesanato e costura localizada em Americanópolis, São Paulo, com quem o Design Possível tem parceria em um projeto. Costumava ministrar aulas de Mídias Sociais (quem disse que eu não poderia viver disso?!) pela manhã e a marcamos de a tarde conversar sobre as peças para ver se elas estavam dispostas e conseguiam produzir. Passei uma tarde conversando com a Inês e a Cida (Aparecida) sobre como eram as peças, pedindo conselhos e testando alguns moldes que já havia feito de papel.Como não conseguimos terminar, combinamos na tarde do mesmo dia na semana seguinte para fazermos todas as peças. Desde o começo me prontifiquei a estar presente na produção para ela ser o mais tranqüila e rápida possível e isso foi aceito.Na semana seguinte, a Cida pode me ajudar com as peças. Aparentemente, ela teve um desentendimento com outra cooperada, ficou bastante tempo desconcentrada e parou algumas vezes para ver outras coisas. Eu, com toda falta de material causada pela minha mudança, tive bastante dificuldade de fazer os moldes certo para que fossem feitas as peças. Fiz mais ou menos certo o molde de papel, marquei o banner e tentei cortar. Conclusões: meu corte e precisão com

Figura 28: Peças escolhidas para apresentação;

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uma tesoura não tão ótima foi mediano.Depois de perceber que iria estragar e desperdiçar banner, deixei para fazer isso na Cooperaldeia. Quando fomos começar a trabalhar, contei que não havia conseguido nem fazer um molde nem cortar bem. A Cida sugeriu de acertarmos na própria peça (erada) o corte e conseguimos acertá-las razoavelmente bem. Tive alguns problemas com um dos moldes, que avisei que estava torto, e quando eu pedia pra Cida acertar ela falava que o molde estava torto como se eu não tivesse avisado, a culpa fosse minha e não houvesse reparo. Protagonizamos várias conversas sem sentido na produção dessas peças, sempre porque mesmo eu avisando que meu molde estava errado, quando eu pedia para acertarmos a peça, ela dizia que seguiu meu molde e ele estava errado.Passado o período da tarde, conseguimos fazer o colar “de brincar”, o colar Pocahonta e os módulos para fazer a Borboleta. Às 17 horas tivemos que parar porque senão a Cida não pegaria o ônibus que costuma pegar. Fiquei de mandar uma foto de como seria a Borboleta montada, ela costuraria em casa e eu pegaria na outra semana de manhã. Foi ai que começou a confusão: a Cida falou que faria a peça domingo; fiquei fazendo outras coisas, tive que editar a foto no photoshop e acabei mandando só no domingo de manhã para ela.Quando cheguei na Cooperaldeia terça e perguntei se ela havia deixado algo, a resposta foi negativa. Tivemos que descobrir o telefone dela (não tinham anotado na cooperativa) para eu poder ligar e conversar com ela. Liguei em seguida e a resposta que tive foi “Recebi visita domingo e não deu tempo de fazer”. Falei que precisava das peças para no máximo o fim da semana porque uma amiga (a Simone) viria de outra cidade para fotografar e não podia desmarcar. Combinamos que sexta feira eu pegaria as peças.A Cida falou que qualquer problema me avisaria pelo facebook e como estava com o telefone dela, estava mais tranqüila. Já tinha me programado para ligar cobrando na quinta, mas não tive tempo. Estava no escritório do Design Possível quando a Deli, que encabeça a cooperativa, me liga dizendo que a Cida queria falar comigo. “Não estou conseguindo fazer a peça! Não encaixa!”. Eu sabia que talvez ela precisasse que eu acompanhasse a montagem pela complexidade

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da peça, então me prontifiquei a marcar. Eram 14:15h. Ela disse que ou eu fosse naquela hora ou só segunda feira. COMO ASSIM SÓ SEGUNDA FEIRA? E não houve o que fazer! Tentei negociar de ir no dia seguinte, mas ela disse que tinha compromisso e só podia segunda feira de manhã.Segunda feira é o dia das mil e uma reuniões de alinhamento no Design Possível, não podia faltar de maneira nenhuma. A única opção que tive para conseguir viabilizar o processo foi sair do escritório no meio da tarde, largando tudo o que estava fazendo para conseguir ajudar a costureira com a agenda lotada. Claro que desliguei o telefone e chorei de raiva (e recebi um abraço da Erica). Claro que eu fiquei muito brava e fui bufando para cooperativa. Apesar disso, fiquei tentando por os pensamentos no lugar, já que sabia que isso poderia acontecer, ainda precisaria ajudar na montagem da peça e ficar estressada não era uma boa opção.Chegando lá, fomos montá-la juntas. De fato, o desenho não estava com encaixe perfeito e a Cida disse que não queria mudar nada por seu meu desenho, o que era bom já que não sairia algo totalmente diferente, mas ruim porque a falta autonomia dela me fez me deslocar para o outro lado da cidade no meio do meu expediente.Montamos a peça e mais dois módulos simples em uma hora e meia, mas tivemos ruídos no diálogo novamente. Como educadora do grupo, tentei conversar falando que prazo era prazo, que as outras pessoas também têm problemas e que não tinha achado ruim estar lá para fazer a peça porque sabia que era difícil, mas sim com a falta de comprometimento com o combinado. Por mais que eu explicasse, a Cida falou várias vezes “Se está difícil com você aqui, imagina sem! Não ia conseguir fazer!”. Eu explicava novamente que não havia problema nenhuma ter que ir lá, só que o prazo que combinado já havia passado a nove dias e precisava fotografar as peças, ela continuava a tentar botar transferir a culpa. Até a hora em que ela falou para a Deli e eu falei com severidade, o que já havia repetido cinco vezes: Prazo é prazo, eu também tenho compromissos e estava lá para fazer dar certo. Apesar disso, as peças deram certo e voltei para casa com tudo costurado.Por mais que estivesse do lado, pedindo para que ela passasse o

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menos de costura possível, não cortasse o banner em qualquer lugar e procurasse fazer tudo para parecer mais limpo possível, a qualidade das peças não ficaram extamente do jeito que gostaria. Algumas estão com furos que pedi para desmanchar e fazer a costura mais linear, alguns lugares ficavam “bolos de linha” e outros várias costuras uma em cima da outra. Quanto mais eu pedia para tomar cuidado e refazer, menos parecia sair certo, até a hora que desisti. Se eu tivesse mais tempo, com certeza teria feito outros protótipos melhorados. Como o tempo não tornava essa possibilidade viável, conferi a peças, fiz um controle de qualidade e cobrarei esses detalhes em uma produção posterior, como um melhor acabamento na costura.Com as peças costuradas prontas, comecei a fazer as outras intervenções necessárias. As peças da linha Fragmentos foram todas costuradas e receberam a colagem de CDs quebrados em uma de suas superfícies. O trabalho da confecção do “mosaico” não era difícil, na verdade, era bastante relaxante, mas demandava um tempo que estava além da minha ansiedade. Para terminar as peças a tempo da apresentação do trabalho, chamei alguns amigos para me ajudar nessa tarefa divertida, mas demorada. Trabalharam com mosaico de CD o Maurício, a Simone e a Joelma. O que pude aproveitar também com essa ajuda foi ver se o método que havia criado funcionava para outras pessoas. Eu gostava de ficar brincando de quebra cabeça montando os CD’s, escolhendo qual ficava melhor em determinado lugar. Já o Maurício, encaixava de um lado e acertava onde queria cortar com ajuda de um alicate. As duas técnicas mostraram-se bastante válidas, ficando a critério de quem estava produzindo a escolha de qual empregar. Engraçado para mim foi ninguém reclamar do trabalho da montagem, o que me faz acreditar que realmente era relaxante.Eu já tinha claro desde o começo que quanto menos a produção das peças dependesse de terceiros, maior era a chance de eu terminá-las no prazo. Essa minha crença mostrou-se verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Se eu dependesse da falta do tempo normal da Cooperaldeira, por exemplo, realmente eu teria problemas, mas sem a ajuda de amigos, eu também não teria terminado igualmente as peças. A produção da linha Confusão foi feita em processos caseiros. Como a maioria das peças era de recorte de pasta polionda, material

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descartado e doado ao LabSol, comecei a testar como poderia usá-la. O projeto previa que fizesse “rolinhos” com tiras da pasta, aproveitando a textura criada pelo interior da pasta. A primeira opção era costura, mas seria necessário passar linha, de náilon para ficar menos aparente, atravessando todo o rolinho, o que se mostrou complicado.A segunda opção foi usar cola de contato. Primeiro, como não conseguia visualizar bem como o módulo “se enrolava”, tentei passar só de um lado e não deu certo. Então, aproveitei o processo que aprendi no Estúdio de fazer módulos do projeto “Sushi”, que era bastante semelhante ao que eu suponha que desse certo. Passei cola dos dois lado (um de cada vez, esperando secar) e ao tentar enrolar, os módulos funcionaram. A medida de largura dos rolinhos era de 5 mm e o comprimento indefinido, já que era possível emendar. Para cortar, o bom e velho estilete (mesmo, aquele de toda graduação). Esse processo de corte das tiras, aplicação de cola e enrolamento era menos demorado do que o processo do mosaico de CD. Para fazer as peças, furava com uma agulha no lado do rolinho e emendava com náilon, dava alguns nós e queimava com isqueiro. Fazendo ele amarrado só nas pontas, ele também ficava articulado. Não houveram grande problemas no processo dessas peças, fora cortes de tiras tortas e no meu dedo, devido a um sono excessivo durante as madrugadas.Já na linha Concisão, o que não foi costurado, foi atado por nós “corrente” entre varal de PET e banner. Fiz alguns testes tentando passar tiras de banner dentro do varal, mas foi bastante complicado conforme fui passando longe da ponta do varal. As tentativas de expansão da corda do varal não foram tão bem sucedidas quanto eu esperava (como a Mana faz isso??).Tente expandir o varal inserindo arame dentro da corda e banhando-a em água quente, mas não consegui aumentar muito a área. Essa é uma questão a aprimorar.A peça que mais deu trabalho com a Borboleta, na confusão já narrada anteriormente, mas com algumas modificações, todas as peças mostraram-se viáveis. Apesar dos pequenos problemas nos processos, nenhuma peça mostrou-se impossível de ser confeccionada. Algumas necessitaram pequenos ajustes, como a inserção de pérolas no varal, como previsto em projeto, mas no geral, elas funcionaram.

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Figura 29: Primeira etapa de desenvolvimento de protótipos em parceria com a Cooperaldeia (e da Alice, a gata);

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Figura 30: Segunda etapa de desenvolvimento de protótipos em parceria com a Cooperaldeia;

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Figura 31: Produção de figurino para fotos por Simone Domingos e dos outras peças da linha com a ajuda da Joelma;

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Figura 32: Confecção de módulos pra fase Confusão e de mosaico da linha Fragmentos;

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FinaldanovelaDepoisdemuitaesforço,aspeçasficaramprontas.Apesaremdenãoconsiderá-lasprotótiposdefinitivos,elascumpriramsuamissãodetestaroquerealmenteeraviávelounão.Comaspeçasprontas,aindatinhaquetirarfotos.Comtodoolevantamentoquefizsobreminhavida,meusgostoseatividades,essetrabalhotornou-setãopessoalquenãoviaaopçãodepedirparaoutrapessoasermodelodasminhasfotos,tinhaquesereueminhaspeças.Tendoissoclaro,nãofoidíficilsaberquemmeajudaria:aminhasuperamigaeirmãdecoração,Simone,quealémdetudo,fotografabemesabiaqueficariaavontadeparafazerasfotosindependentementedecomoelasfossem.EmumdosmeusdiasdeagoniadoTCC,abrioYoutubeparaassistiroclipede“Dogdaysareover”,dabandaFlorence+TheMachine,quecostumameanimaremqualquersituação.Começeiaassistirepensaremváriascoisasaleatóriascomodesdequevireiruivaqueriamefantasiardessefigurinodoclipe,comoasroupaseramlegais,comoaenergiaeraboa.Derepente,percebiqueeraisso:eupodiaterminarmeusdiasdecãodoTCCrealizandoosonhodemefantasiarassim!Ligueiimediatamente(gritando,inclusive)paraaSimone,quenãoentendeunada,masmeapoioedissevamoslá!Apósisso,fizumapesquisadereferênciasepedipraSimone,alémasfotos,desenvolverumadasroupasparaasfotos.Oresultadosjuntoàspeçasfoidefazermeusolhinhosbrilharem!

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Figura 33: Florence no clipe “Dog days are over ’;

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Figura 34 e 35: Florence no clipe “Dog days are over ’;

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Figura 36 e 37: Preparação para o primeiro ensaio com as peças;

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Figura 38 e 39: Anel Plural, do momento “Fragmento”;

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Figura 40 e 41: Bolsa de Brincar, do momento “Fragmento”;

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Figura 42 e 43: Colar Pocahonta, do momento “Fragmento”;

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Figura 44 e 45: Colar Bolero, do momento “Confusão”;

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Figura 46 e 47: Colar Lab, do momento “Confusão”;

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Figura 48 e 49: Colete Borboleta, do momento “Concisão”;

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Figura 50 e 51: Colete Borboleta, do momento “Concisão”;

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Eu consegui. Eu sou uma sobrevivente (parafraseando a minha diva Beyoncé). Mais uma vez pude exercitar e pensar sobre as responsabilidades e o que eu acredito ao projetar e também a relação Projeto de Design x Tempo, algo que constantemente temos que exercitar e tornar viável. Gostaria de ter melhorado alguns aspectos, o que poderia ter sido feito com mais algumas experiências até que o resultado foi positivo, o que não foi possível por conseqüência das minhas escolhas, o que inclui a mudança da coleção a trinta e cinco dias da entrega. Apesar disso, não me arrependo de nenhuma delas. É importante ressaltar que os produtos só deram certo em tão pouco tempo devido ao acúmulo de experiências teóricas e práticas, principalmente sobre Ecodesign, que obtive durante minha graduação e permanência no LabSol. Acredito também que o processo de prototipagem teria sido mais fácil se tivesse havido tempo para as costureiras contribuirem e se apropriarem do processo, talvez esse tenha sido o maior problema do relacionamento com elas.Como intenção secundária, esse projeto irá sofrer algumas modificações, em que alguns aspectos estéticos que cumpriam alguma função dentro do conceito e processos de confecção serão facilitados, para que as peças sejam mais fácil de produzir, para que possa ser feito um trabalho em parceria com grupos produtivos como forma de geração de trabalho e renda.Outra possibilidade é que o projeto Marjorie vire uma marca e ser um empreendimento a ser desenvolvido. O tema adornos corporais me interessa muito e seria muito divertido criar peças e ganhar dinheiro com isso (porque a magia da vida é essa: pagar as contas com o que você gosta de fazer).Meu único arrependimento real com o desenvolvimento desse projeto é não ter proposto nenhuma ruptura maior de valores visando a sustentabilidade. Eu sei que poderia ter feito algo mais. Numa tentativa de tentar minimizar impactos (e minha culpa), os relatórios do projeto serão entregues para a banca avaliadora em pen drives, com um programa de edição de pdf, caso desejem fazer observações online e

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um bloquinho de notas, destinados a observações, mas que a proposta é que seja reaproveitado pelos professores.Com essas medidas, mais ou menos seiscentas folhas deixaram de ser usadas, minimizando muito impactos de input e output de energia dentro do processo desse trabalho.

Eagora?Fico extremamente feliz de ter chego ao fim desse processo e projeto. Com certeza, ele fez parte de um grande amadurecimento que me fez fazer o certo: chegar ao fim da graduação com o máximo de dignidade que pude. Não sei se foi o meu melhor projeto, mas com certeza foi o mais importante (até hoje).Com o tempo, acabei entendendo que o que eu sou não tem só a ver com os lugares de onde minha família viveu, o que ela passou, essa é a história da minha família. O que eu sou, a minha cultura está diretamente ligada ao que eu vivi, vivo e viverei. Eu sou a Natália, que nasceu em Bauru, foi uma criança feliz, uma adolescente revoltada e uma adulta confusa, mas perseverante. Fui a bailarina, pianista, tenista, jogadora de vôlei, escoteira, voluntária, unespiana, labsolete, pró-ativa. Hoje eu sou a Natália, que mora em São Paulo, trabalha no Design Possível, cuida da Alice e já tem um monte de planos pra amanhã.O fim desse projeto também veio com o fim e começo de um novo ano de vida e ganhei de um veterano e amigo querido o que precisava para começar essa minha nova fase. Faço as palavras do “Banana”, minhas.

“Feliz aniversário moça bonita. Acho que o que mais convém esse ano é te desejar sucesso nessa transição acadêmica que você está passando. Acredito que esse sucesso não está relacionado somente à academia, ou a um pulo de um diploma a outro.

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Felizes são aqueles designers que conseguem ver no mundo universitário uma brecha para colocar seus projetos à beleza da luz do sol. A faculdade é só um lugar onde todos os seus projetos têm a chance de encontrar outros projetos e respeitar toda a pureza que reside nas intenções das suas particularidades, das suas mãos. E, se você tem claro, que o mundo acadêmico é só o lugar em que você decide estar durante esse processo pessoal e lindo (que aconteceria também em qualquer outro lugar que você estivesse), então o seu projetar vai ser livre e luminoso. Celebre esse momento de finalização da graduação com tristeza nenhuma, mas sim com aquele mesmo sentimento relacionado às boas lembranças de um parquinho da sua infância. Porque no fim é isso que a UNESP é: mais uma caixa de areia na sua infância. Infância que não acaba e que está prestes a encontrar um novo espaço que permita o seu brincar.

Feliz aniversário.Lucas Odahara”

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NaminhacabeceiraAuDITIONS Brasil 2012, 2012. Disponível em: <http://www.auditionsbrasil.com.br/>. Acesso em 02 jun. 2012.

BERNARDES, Mana. Mana e Manuscritos. Editora Aeroplano.

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SUDJIC, Deyan. A linguagem das coisas. Trad. Adalgisa Campos da Silva. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

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Agradeço aos meu pais, Lúcia e Paulo, pelo pelo amor incondicional e apoio; sem vocês eu não seria nada. À vó Erminda pelos cuidados da vida inteira, a paciência com minha adolescência e por me ensinar a gostar de costura; Á vó Rita por me emprestar a sua santa padroeira, comer uva na parreira comigo e ter me ensinado grande lições.Aos meus irmãos de sangue, Juliana e Paulo Henrique, por serem meus companheiros e tornarem minha vida muito mais divertida.Aos meus padrinhos, Célia e Paulo, pelo jeito peculiar de me amar, me apoiarem e incetivarem.Agradeço ao Goya pela orientação, pelo grande investimento de tempo na minha educação, conselhos, viagens, mimos, broncas e pela paciência (quando dava). Com certeza você se tornou muito mais do que um professor e além de um grande amigo, você é meu segundo pai. Sempre sentirei muita falta de ter por perto.Agradeço ao André pelo companheirismo, (infinita) paciência, apoio, constantes aprendizados e pelo melhor cafuné ever; Á Simone, por ser minha irmã gêmea e tão presente na minha vida, vivendo comigo sem titubiar os extremos dela; Ao Nardinho pela companhia diária em toda graduação, recheada de bordões, cantorias no meio da sala de aula, trabalhos, festas e cumplicidade; À República Casa da Praia e suas moradoras, Ana, Laura, Thanile, Caju, Yendry e Simone, por ter me proporcionado o ano mais recheado de emoções, risadas e aprendizado sobre ser gente grande. Vocês são muito especiais; Ao Herisson por ser o irmão mais velho que não tive, sempre presente, sendo meu exemplo e apoiando a minha vida pessoal e profissional. Ao LabSol por ter me proporcionado grande crescimento e mudanças, pessoais e profissionais, em três anos do mais diverso e maluco trabalho; Ao Marcelo, Camila, Luiza, Homer, Herisson, July, Rodrigo, Julia, Gui, Celeste e outros, pela amizade e por fazerem de 2009 o ano mais divertido, intenso e cheio de trabalhos. Aos LabSoletos Regina por ser um exemplo e sempre ter ótimos conselhos, a Jenifer por ter se tornado

Agradecimentos

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sempre um divisor de águas com sua opinião forte, ao Montinho por ser o maluco mais legal que conheci, Banana por ter sido o veterano mais malvado e o amigo mais sensível, o Dai pela melhor risada e danças em festas, a Tchutchu pela amizade inesperada, ao Tibúrcio por estar presente desde o vestibular. A Gi, Büll, Carlutti e Camilinha por fazerem a diferença na minha vida com o jeitinho e espontâneo de serem vocês.Aos meus Lababies, Ana, Mayara, Rodrigo, Júlia e Tati, por serem minhas crias profissionais e me ensinarem muito mais do que ensinei a vocês.Aos amigos queridos Cassio, Joelma, Dyh, Arvo, Maurício, Totti pela amizade, risadas, crescimento e companherismo. A todos meus veteranos e bixos que de alguma forma participaram desses quatro anos, especialmente ao Netinho, Nirtu, Bozo, pelos conselhos, ajudas e ótima companhia e ao Itu, Carol, Junior, Rômulo que me fazem continuar acreditando que tudo continuará bem encaminhado no curso.Ao Ivo e o Design Possível por serem facilitadores de mudanças na minha vida e apoio desse projeto. Agradecimento especial a Veronica e A dor amores por ter ajudado na figuração das fotos mais divertidas que fiz até hoje.Por último, mas não menos importante, obrigada a todos os amigos que fiz em encontros de Design e me ensinaram como são multiplas e válidas diferentes formas de fazer design e contribuir para meu crescimento pessoal e profisional. Agradecimento especial para Verena que me ajudou na diagramação desse relatório e o Fabrício pela horas de conversa no skype que sempre me acalmaram.Obrigada a todos vocês que contribuiram para que esse trabalho fosse possível. Com a ajuda de você, hoje eu me formo! :)

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Falando pela vivência que tive com você, principalmente dentro do Labsol, eu gostava bastante da sua espontaneidade, tanto pra conversar, quanto pra criar. E acho que isso não é um ponto negativo, mas as vezes te achava um pouco “mandona”.

Naty! Com todo prazer! Nos conhecemos bem pitucas, provavelmente aos 11 anos, que foi quando entrei no (Colégio) Preve! Você me lembra São Paulo, porque pelo que lembro, você foi morar por lá por um tempo né? E claro, vôlei, que acho que é o que tínhamos mais em comum. Em 2007, você foi minha companhia diária. Desenhos me lembram você. E, cabelos!! Sempre diferentes: rosa, amarelo, vermelho, azul, comprido, curto, liso, enrolado...Lembro até de uns tererês. E Olhos azuis, sorriso que fecha o olho e coisas japonesas.

Lembro de você sendo mamãe! Veterana chata, mas não por ser implicante e sim por querer nosso bem, porque acredita em nós. Lembro também como uma pessoa que trabalha muuuuuuito, que às vezes reclama demais, mas nunca diz não para o trabalho duro. Alguém que luta pelo que quer e aguenta muita porrada antes de desmoronar.

Tem a inocência de uma criança, mas o instinto protetor de uma mãe

Falaqueeuteescuto

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e que sempre busca o melhor dos amigos, mesmo que eles mesmo não acreditem nisso.É também alguém que adora abraços, contato humano e isso eu admiro muito! Que não se importa de perder a hora, desde que seja para aproveitar as coisas boas da vida!Aaaaaaaaah! E gosta da natureza, de ver eclipses e tomar chuva que nem eu!!uhul lol

Natalia Toledo é o nome da menina que impõe respeito quando chega nos lugares!Devo admitir que fiquei assustado quando alguém baixinha, ruivinha e lindinha tinha toda aquela força dentro dela. Logo pensei “ essa menina não é fraca não, hein”. E não é!Ao longo do tempo, fui percebendo que assim como eu, ela era bastante persistente com seus propósitos, aliás, ela era ainda mais do que eu, pois eu dentro de todos os meus projetos e de querer bem a todos me perco, mas essa menina não, ela não se perde ela nos encontra e nos lembra sempre de não nos perdermos.Lembro como se fosse hoje. Ela virou e falou: “Ei, Fabricio, senta aqui que quero conversar com você”. Pensei “Ai meu Deus, ela vai reclamar comigo”, mas pra minha surpresa, ela virou e falou: “Vai, me conta ai o que tá rolando em Salvador, como está ta o movimento estudantil por lá? Assim de perto ela não parecia tão má. E ainda tem olhos bonitos.E assim começou uma amizade que por muitas coincidências (ou não), acabamos percebendo que somos muitos parecidos e que tínhamos um papo muito legal um com o outro. Adotamos pelo Design a fraternidade como ponto focal e hoje somos irmãos. Acredito que ela seja a irmã mais velha que eu queria ter tido: amiga, companheira, conselheira, realista e obstinada.às vezes é também mandona, maluquinha e viciada em japas, mas tudo bem.

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De princípio, você me pareceu uma “patricinha bacana”, faladeira e baladeira, mas eu não prestei atenção com mais proximidade de início. O que eu vejo hoje é uma pessoa totalmente diferente. Diferente porque assim como eu “escolho o livro pela capa”, algo que particularmente é bem designer de se fazer, eu não daria meu amor pra você

de início porque você me projetou o perfil de uma pessoa comum. Talvez a faculdade tivesse te libertado após o primeiro momento que eu olhei pra você ou talvez seja defeito meu. Não leve a mal hoje eu olho pra você e você me grita. Quando falo grita, quero dizer que é impossível de ignorar. E por ser impossível de ignorar, eu quero dizer que se você não tem uma personalidade forte, é melhor sair correndo de perto de você. Eu vejo uma mulher que me lembra a forma como eu me vejo. Se descrevessem sua personalidade pra mim, eu diria que você é uma mulher negra. E quando eu digo isso, quero dizer que para mim assim são as mulheres negras: donas de si, de aparência fabulosa e histérica e que não costumam levar desaforos para casa. Vamos lá vamos nos organizar. Vamos falar de roupas (eeeeeeeeeeeeba): A primeira Marge que eu vi, era minha bixete que tinha viajado para MANAUS e ela se vestia como uma adolescente, tinha um cabelo totalmente boring pra mim (mas que para as pessoas na rua era um cabelo lindão). O que eu podia dizer sobre ela? Nada. Nada mesmo porque olhar pra ela e pra qualquer outra menina era o mesmo do que olhar uma sala cheia de japoneses (fui racista? Perdão).Maquiagem:A primeira Marge não usava maquiagem ou usava uma quantidade que para mim era o mesmo que nada, mas isso é uma coisa normal para meninas bonitas quando elas saem do colegial. A Marge de hoje pra mim surgiu na festa Dolce de D.I.. Por quê? Bom, porque ela estava

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toda arrumada com um cabelo irreverente e me dando ordens! Poucas pessoas me dão ordens. Aí eu pensei: “Menina abusada”. Na verdade, se você trocar a palavra menina pela palavra “biscate”, aí sim seria o que eu pensei. Mas depois de 2 minutos eu pensei: “Taí, gostei dessa biscatchy!”. E ela continuou brigando comigo over and over... Eu sempre sentindo um apreço enorme por ela (tá meio Nelson Rodrigues isso, né?). Na verdade, é que cada vez que a nova Marge quebrava com a imagem da velha Marge na minha cabeça eu achava que a verdade estava ali. A Marge de hoje é muito briguenta e defensora da própria opinião, mas ao mesmo tempo, muito meiga! Coisas que eu admiro e invejo: Poder de ação. Pensa, faz e acontece. Organiza festas, organiza eventos, organiza a ordem de quem limpa a cozinha, organiza a própria vida. Usa sombra azul e não faz photoshop na foto de perfil do facebook. Isso pra mim é puro poder, bebê!Se você fosse uma cor, você seria vermelho. Se você fosse um animal, você seria algum tipo de felino, mas mais selvagem que um gato doméstico. Se você fosse um personagem histórico, você seria Joana D’Árc. Se você fosse um tipo de música, você seria um rock. Se você fosse um elemento natural, você seria fogo.

Quando te conheci, você tinha cabelo curto com luzes loiras. Lembro de você um dia usando só preto e all star branco. Você era bem séria.Um fato marcante foi você dizer que queria me ver no N (Design) pra me abraçar porque você tinha gostado de mim, achei muito fofo.Ai nos aproximamos mais e no Cone (Design), você estava de cabelo ruivo e e foi a chata do Cone S2S2S2. Finalmente alguém falou o que tinha que falar. E Continuava usar legging preta.

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Eu conheço a Marge na festa pós prova de DI. Ela só passou porque ela foi na festa, uma super dica minha! Na época ela namorava o Henrique... Uma versão bauruense minha. Ficava um pouco eclipsada por ele, devido ao amor adolescente pelo mocinho mais velho.Não tinha muito estilo, como a maioria das

bixetes, mas com o decorrer do curso, ela explodiu a wonder woman nela e agora ela arrasa na pintura do cabelos e nas makes. Desde sempre foi muito atenciosa e gentil com todas as pessoas de todas as classes sociais e culturais. Intimamente foi tomando conhecimento de sua competência e eficiência e se tornou uma lenda no curso de Design. Contaminou-se um pouco pelo blasé dos Labsoletos, mas pelo seu poder ela tem esse direito. Sempre ligada no Ecodesign e na Sustentabilidade, ela é a Marina Silva caucasiana da Faac, James Cameron da Unesp, Al Gore de Bauru, mas sempre a minha pequena bixete preferida que me abanou a mão dentro da sala de matrícula, confirmando a profecia que para passar em DI tem q ir nas festa pós prova! Arrasa beeeeeeeee!

Falar de você é algo complexo. Porque você não é pessoa comum ou pasteurizada como muitas que vejo e que lido/lidei. Você tem um brilho próprio e um modo de ser que faz a diferença. Bem, mas o episódio é aquele de sempre de fevereiro de 2008.Eu estava saindo do Tempero Maneiro da (Av.) Duque com meu ex-marido e meu amigo. Em frente ao restaurante tinha um bandinho de bixos fazendo toda a farra que é de esperar, mas havia um ser que pedia dinheiro com um megafone.De repente este ser começou a me seguir e falar com o megafone atrás de mim falando “Dá um dinheirinho... estamos entrando na faculdade...sabe como é...”. Ignorei solenemente, também porque sentia uma

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vergonha extrema. Quase indo para o outro quarteirão, a menina com megafone desistiu de mim. Comentei com as pessoas que estavam comigo: “Quanto vocês querem aposta que este megafone estará na minha aula ?”E não deu outra! Em 10 dias, estava entrando em sala, em um dia de chuva, toda a sala sentadinha e esperando o professor da segunda aula. Durante a apresentação, quem eu vejo sentada????? O megafone.E foi assim que eu te conheci e fiquei durante um semestre dando aula para a menina do megafone. Depois se tornou minha amiga, frequentou minha casa e desejou juntamente com o Nardo uma das minhas canecas de Mickey.

Você foi a primeira pessoa que conheci da Unesp e a segunda de Bauru. Aliás, em Bauru e Bauruense, o que não é tão facil de encontrar. Com todo respeito, te achei e acho LINDAAAAA! Você usava um dos adornos do LabSol lilás no pescoço, casaco preto, short boyfriend, uma meia calça preta e allstar, mas o mais

incrível foi seu nível de simpatia!Falamos sobre minha ida para Bauru, trajetória no Design e você achou legal e tal. Ai você comentou que era como se fosse a filha do lendário Goya, que até então pra mim era apenas uma lenda, um mitos dos corredores da Unesp. Minha primeira impressão foi essa: menina linda, simpática, estilosa, unespiana e inteligente. Uma coisa muito BOA que conversamos foi sobre gatos, adornos independentes de nós (acabei de inventar essa). Temos adornos que fica preso em nós, mas os gatos não obedecem nossa vontade. Falamos sobre isso: como eles são sutis, carinhosos, mas são sempre verdadeiros. É legal, tem haver com você. Lembro que chegamos a conclusão de que são bichos mais fieis que cachorros, conversa que depois puxamos em seu aniversario junto com a Simone.Lembro também das conversas quando fomos para Pederneiras e vocês estava falando sobre pessoas necessitadas e eu CURTI MUITOOOOOOOOOOOOO sua visão: sobre como pensar design e

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suas criticas sobre o SEBRAE aplicando um modelo pronto e engessado em todos os lugares.Eu concordava porque estava com uma visão tão cansada de mercado que foi interessante sua visão. De não se deixar contaminar, de acreditar no design como ponte para beneficio social, algo como posso ser feliz pagando minhas contas e viver bem sendo design sem por arma na cabeça de ninguém (não sei se vai entender essa linguagem agora, foi tão FAVELA)Mas acho que foi umas das melhores visões que tive sobre você foi dentro desse discurso, senti que você tinha algo muito humano. Vou te confessar que por alguns minutos pensei “Po, ela deve tá falando isso agora porque não entrou no mercado e não viu o veneno que é crescer, ganhar grana e ter vários escraviários obedecendo ordens”, mas te considerei uma pessoa transparente.E com muito sabedoria para cobrar e falar do que pensa, vi que estava enganado: você é realmente o que fala. A prova está ai, trabalhando com a galera da periferia.Não convivemos tanto, mas as oportunidades foram bem legais. Se fosse dar um item principal para vocês seria HUMANA! Aquela que sofre mas sofre mesmo, aquela que luta e luta mesmo Lembro da montagem do tapete São Manoel, lá eu vi você sofrendo, sempre usando de sabedoria. Você estava enroladíssima, com sua animação da gatinha, mas foi ajudar dar o gás que tinha pela causa, com seu colar branco. E depois no dia, começou a pingar sangue no tapete e não parou de trabalhar. Tem uma coisa que achei muito legal no dia que estávamos montando a coisa a noite lá no teatroe quis brincar com ela mesma no fim e foi algo bem maneiro porque você tem malemolência.Não lembro bem, mas foi engraçado porque foi uma indireta tão direta que falei putz mandou muito bem, tenho que admitir.Você e Lara tinham as melhores tiradas do LabSol, cada uma no seu estilo. Só que o seu é fofinho tipo vou dar um fora nele, mas não vou fazer bulliyng porque a pessoa pode ficar traumatizada e eu sou HUMANA, não posso fazer isso, mas que ele merece.

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Resumindo Naty em 2011 foi a primeira UNESPIANA, BAURUENSE que conheci LINDA,INTELIGENTE, ESTILOSA! HUmANA e VISIONARIA que conheci com uns 3 a 4 adornos fixos e um independente. Ah! Lógico, você tem uma coisa meio mamãeona! Tipo a Akina e todos os frascos e comprimidos venham para as minhas asas que eu vou explicar como se faz as coisas, mas não vai fazer anda além do que ensinei senão vocês vão tomar bronca.Mas você tem mais poder do que imagina. Considerando essa sua visão pro mundo em olhar o próximo, se eu fosse te dar um conotação mística, você seria a guardiã da esperança (não estou drogado), é um espírito nato de liderança. Fico feliz que nesse sentido você tenha se encaminhado para algo bem dentro do que é humanitário. Geralmente as pessoas que são assim, vão mais para o lado de “vou ganhar o mundo e dinheiro não importa como”.

Pra mim, sua personalidade é sinônimo de força. Forte em todos os sentidos: para vencer desafios e superar obstáculos, para tomar iniciativas, para ser líder, para expressar seus pontos de vista e, por que não, para brigar com alguém sempre que necessário.Acho que por isso mesmo, por toda essa força, não tivemos um bom começo quando nos conhecemos. Acho que eu não gostava de vc, acho que eu ficava na defensiva, justamente porque percebi que vc tinha uma personalidade forte, que vc não se intimidava facilmente.Mas nossa amizade foi se desenvolvendo, e percebi que essa sua força faz muito bem aos que estão à sua volta. Por ser forte, vc é como um porto seguro. Não preciso nem dizer que vc foi a primeira pessoa que conseguiu me fazer chorar, né?Lógico que ser o porto seguro de alguém sempre pode ser um fardo bastante pesado. É como se todos esperassem muito de você, como se todos esperassem que vc demonstrasse força o tempo todo. É como se não tivesse direito de ficar triste, ou de ter momentos pra baixo.

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Uma vez eu recebi uma tirinha de você que era mais ou menos assim: Calvin, “Ah, que raios estou fazendo aqui dentro neste dia lindo? A vida é uma só!” (personagem sai correndo loucamente \o/ ). Avó, “Da proxima vez experimente tomar um copo d’água e respirar fundo.” (Avó trazendo Calvin de volta para dentro pelo colarinho).

Se trocar “Calvin” por “Simone” e “Avó” por “Naty” temos um retrato da nossa realidade. Não foi a toa que começaram a chamar a gente de super gêmeas, conseguimos equilibrar o lado emocional de uma com o racional da outra, a sensatez de uma com a insanidade da outra, não necessariamente nessa ordem.Te admiro muito pela dedicação, pelo foco e pela energia boa que você traz com um sorriso lindo. Te amo, sis!

Ela é a minha menina maluquinha! Com tudo de bom e surpreendente que isso possa trazer!