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Jornalzinho feito pelos alunos do curso de Jornalismo de Moda para novas mídias, da Escola São Paulo, sob a coordenação da professora Carol Vasone.

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EXPEDIENTE

Escola São Paulo

Coordenação : Carolina Vasone

Equipe: Anna Victoria KacelnikCristiane Tamara Malicheski

Gabriela CastelhanoOrnaldo Casagrande

Renata Catarino

Design:Patrícia Neves

Escola São PauloRua Augusta 2239

FM 03

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

SUMÁRIO

03 Expediente05 Moda sustentável?06 O caminho contrário08 Kabíria : a moda Queniana10 Arte social13 Onde encontrar

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

Ao mesmo tempo que nossa geração se preocupa com o futuro das próximas, somos a geração que mais pensa em si. O individualismo cresceu e a moda, sinônimo de estilo, segue forte na criação de personalidades únicas. As tendências morreram e cada um cria a sua vontade. Reflexo disso são as fast fashions, lojas de tendências para 15 segundos de sucesso que serão substituídas na semana seguinte por uma nova coleção cada vez mais imperdível alimentando a sede de compradores pelas novidades. Fast fashion é mão de obra barata, roupas com qualidade reduzida e geralmente estilos que caem rapidamente no desgosto que também caem no lixo e faz processo não ser nada sustentável. O setor da moda hoje é um dos maiores produtores de lixo no mundo e por isso moda sustentável entra em cada vez mais em destaque, só que a preocupação não é só com o lixo que é o fim da cadeia, sustentabilidade é muito mais.

Quando pensamos em sustentabilidade e moda no Brasil não podemos pensar em outro nome a não ser Chiara Gadaleta, nome forte do movimento que trabalha para a informação "ecofashion". Com site, eventos e palestras ela se preocupa em explicar que a moda sustentável vai bem além do que pensamos. Em uma de suas

palestras ela explica os quatro pilares básicos da moda sustentável. Para ser ecologicamente correto, a produção desde seu início não pode gerar danos ao meio ambiente e deve-se minimizar a produção de resíduos com base no reaproveitamento dos materiais, além do cuidado com o descarte correto do que realmente não pode ser reaproveitado. O segundo pilar é ser socialmente justo, onde entra a valorização da mão de obra desde a produção da matéria prima e a preocupação com a condição de vida e trabalho dos envolvidos. O trabalho não é filantrópico, portanto ele precisa ser economicamente viável, ter planejamento e rendimento econômico para manter a marca e a produção sustentável ter continuidade. Por último, é necessário que seja Culturalmente Apropriado, o que significa estabelecer uma relação com a cultura local valorizando suas matérias primas e métodos de trabalho, além de produzir algo com a realidade da região. Com isso, o consumo passa a agregar outros valores que envolvem toda a cadeia desde seus princípios: onde foi feito, como foi feito, de que maneira aconteceu a distribuição. Sustentabilidade, afinal, pode ter seu custo, mas a preservação e preocupação com o que deixaremos para as futuras gerações vai além de uma etiqueta de preço.

MODA SUSTENTÁVEL?

por Ornaldo Casagrande

Ser sustentável na moda é preocupar-se além do produto, é pensar de onde vem e preocupar-se com os processos de produção da matéria prima e seus possíveis danos, é pensar nas condições de trabalho dos envolvidos e sua valorização, e é acima de tudo pensar em bens duradouros que evitem o descarte rápido e que tenham qualidade para durar.

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

O CAMINHO CONTRÁRIO por Patrícia Neves

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Com design marcante e uma ideia ousada nasceu, em 2014, na África, a KABIRIA. As roupas que carregam no seu DNA a força e a energia da comunidade cujo nome intitulou a marca são feitas por estudantes de costura africanos e idealizadas por uma brasileira que estava de passagem pela cidade, localizada no leste africano. O sonho de Renatha Lino era usar a sustentabilidade para ajudar refugiados de guerra a recomeçar suas vidas. De um ano para cá, ela passou a comercializar as peças da grife para amigos no Brasil e agora

acaba de inaugurar um site de vendas online. Sediada em Florianópolis (SC), a Kabiria se organiza como instituto sem fins lucrativos, reunindo voluntários para capacitação dos costureiros da comunidade no Quênia e desenvolvendo outras iniciativas e produtos no Brasil que contribuem para os custos administrativos do negócio. Os protótipos das peças são feitos por aqui, pela estilista brasileira Valéria Anzanello, e depois produzidos no Quênia.

A seguir, Renatha conta como está tornando essa conexão

entre África e Brasil um projeto cheio de futuro na moda e na sustentabilidade.

MARGINAL - Como tudo começou?RENATHA LINO - No Quênia a situação é desoladora, com os problemas políticos, a violência e a fome extrema. É nesse contexto que, na cidade de Nairóbi, na comunidade Kabiria, pensando em aumentar a renda dessas pessoas, surgiu a motivação de criar uma marca de roupas e levar esses produtos feitos por um grupo de africanos para o Brasil. Porém o grupo, por ser

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

KABÍRIA por Cristiane Tamara Malicheski

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iniciante e sem experiência, estava com problemas na qualidade e na confecção desses produtos, dificultando a produção e a venda no Brasil. Foi aí que a Lela (Valéria Anzanello, estilista da marca), que estava na África do Sul dando aulas de inglês para crianças carentes, leu uma reportagem sobre a Kabiria e foi de lá direto para o Quênia dar aulas de bordado, corte e costura para criar as novas peças para a nossa primeira coleção de moda. A história se espalhou na comunidade Kabiria e em alguns dias a sala de aula, que continha nove máquinas, estava lotada, com 32 pessoas - em um lugar que provavelmente cabiam no máximo 15. Nascia então a Escola Kabiria.

P - E como funciona a Escola? R - A regra para participar é simples: metade do dia se aprende a costurar e o resto do dia se pratica, fazendo roupas e peças que, ao serem vendidas, pagam pela estrutura e professores. Com algumas peças que são vendidas para amigos e conhecidos no Brasil, os costureiros ganham uma renda, recuperando a autoestima e passando a ter orgulho do que fazem.

P - Qual é objetivo da marca?R - Para um indivíduo evoluir e se fortalecer, ele precisa conquistar a capacidade de se realizar por si mesmo. Essa é a verdadeira riqueza, que a comunidade e a marca Kabiria querem ajudar a construir. Acredita-se na capacidade das pessoas, na educação e no trabalho como trampolim para a superação da pobreza criando oportunidades, por uma vida mais feliz. É o que nos motiva e nos inspira.

P - Como é o processo de criação da coleção? Quem assina os modelos?R - A Lela conta com contribuições de outros voluntários como o da estilista catarinense Munike Ávila na

área da modelagem, de artistas como Thipan e Rica (Alma) nas estamparias de camisetas e outras voluntárias da área da moda.

P - Aonde as peças podem ser compradas?R - Pelo site w w w . k a b i r i a . c o m . b r , inaugurado no dia 10 de junho passado.

P - Qual a contribuição da marca para a sustentabilidade?Trabalha-se com a perspectiva de que há recursos para todos, de que em rede e com colaboração não faltará nada para ninguém. Para os costureiros, sua cultura, a africana, é seu maior orgulho. Seus talentos e histórias de vida são incríveis, porém as condições financeiras do país impedem qualquer tipo de crescimento e autonomia. A maior parte da sua população ainda vive com menos de um dólar por dia e 40% da população está desempregada. O que se deve é estimular a autonomia e ao mesmo tempo possibilitar que tenham mais qualidade de vida através da geração de renda, fortalecimento dos laços da comunidade e estímulo das capacidades criativas.

A moda Queniana

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Para onde vai aquele monte de roupas que consumimos desenfreadamente nos dias atuais e que acaba sendo descartável? As tendências, que ficaram mais acessíveis e mais baratas, ocasionam uma alta no consumo e consequentemente, no descarte. Essa é a questão que tem levado os fashionistas mais antenados a deixarem de lado o mercado “fast fashion” e exercerem um tipo de consumo mais consciente e maduro. Nesse contexto é que vem se destacando o negócio exercido pelos brechós, que prometem vender roupa de qualidade com curadoria de moda alinhando-se ao pensamento sustentável. Exemplos como o Capricho à

Toa são cada vez mais frequentes; aberto há 24 anos, ele é um dos maiores brechós do país. Com foco em roupas e acessórios de marcas reconhecidas, a loja tem em exposição mais de 30 mil itens e repõe cerca de 1.500 peças por dia, únicas e exclusivas.

“A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos”,

comenta Natália Adachi, coordenadora de moda, marketing e imprensa,

demonstrando a reutilização e rotação de produtos.

O lixo que o consumo em massa de vestuário produz (nos EUA já são mais de 30 quilos de roupas por dia) pode demorar centenas de anos para se deteriorar. Além disso, a ONG Greenpeace já apontou que a indústria da moda tem sido responsável por 10% da emissão de carbono mundial além de ter grande papel na poluição de rios graças a perigosos produtos químicos lançados pelas fábricas.

Os brechós são uma das soluções mais efetivas para a questão ambiental na moda ao prolongar a vida útil das peças.

Com design marcante e uma ideia ousada nasceu, em 2014, na África, a KABIRIA. As roupas que carregam no seu DNA a força e a energia da comunidade cujo nome intitulou a marca são feitas por estudantes de costura africanos e idealizadas por uma brasileira que estava de passagem pela cidade, localizada no leste africano. O sonho de Renatha Lino era usar a sustentabilidade para ajudar refugiados de guerra a recomeçar suas vidas. De um ano para cá, ela passou a comercializar as peças da grife para amigos no Brasil e agora

acaba de inaugurar um site de vendas online. Sediada em Florianópolis (SC), a Kabiria se organiza como instituto sem fins lucrativos, reunindo voluntários para capacitação dos costureiros da comunidade no Quênia e desenvolvendo outras iniciativas e produtos no Brasil que contribuem para os custos administrativos do negócio. Os protótipos das peças são feitos por aqui, pela estilista brasileira Valéria Anzanello, e depois produzidos no Quênia.

A seguir, Renatha conta como está tornando essa conexão

entre África e Brasil um projeto cheio de futuro na moda e na sustentabilidade.

MARGINAL - Como tudo começou?RENATHA LINO - No Quênia a situação é desoladora, com os problemas políticos, a violência e a fome extrema. É nesse contexto que, na cidade de Nairóbi, na comunidade Kabiria, pensando em aumentar a renda dessas pessoas, surgiu a motivação de criar uma marca de roupas e levar esses produtos feitos por um grupo de africanos para o Brasil. Porém o grupo, por ser

Eles promovem uma nova distribuição de roupas que seriam descartadas e reaproveitam o que se tornaria lixo para gerar renda sem promover impacto negativo no meio ambiente. Possuem hoje então o papel de garantir um consumo mais consciente, sendo lugares ideais para quem quer peças exclusivas e preços bons.

Mas será que esses negócios têm focado na sua capacidade e direcionado seus esforços para promover ainda mais esse novo modelo “slow fashion” de consumo? Em entrevista ao fanzine MARGINAL, Natalia comenta um pouco mais sobre o assunto.

MARGINAL - Vocês acreditam/enxergam que seus clientes possuem alguma preocupação com a sustentabilidade ao optar pela compra de produtos do brechó?NATALIA ADACHI - Sim. Apesar da maioria comprar roupa usada devido ao preço justo, hoje em dia muitos se preocupam com a questão da sustentabilidade. P - O brechó Capricho à Toa nasceu de um bazar que vendia peças de design próprio

da atual proprietária. A ideia de montar o negócio envolveu (ou envolve) uma preocupação de sustentabilidade? R - No início não, mas agora sim, o brechó veste essa bandeira, inclusive já fizemos ações de eco-bags de brinde para que os clientes evitem usar a sacola plástica e também garrafas tipo squeeze para que evitem usar copos plásticos. P - Hoje o Capricho à Toa é um negócio grande, tendo em seu acervo mais de 30 mil peças. De onde vem a maioria das

peças da loja e o que é feito com itens que ficam muito tempo "paradas" sem venda?R - As peças são vendidas por pessoas físicas, é feita uma avaliação na loja a cada três meses, peças que não vendem nesse tempo vão para a promoção (-50%) e se não sairem são doadas. Todo mês acontece uma doação, pois além de peças que não venderam, doamos também as que não passam pelo controle de qualidade.

P - O Capricho à Toa acredita que o brechó contribui para um consumo mais sustentável? De que forma?R - Sim. A pessoa pode vender suas peças aqui e retornar o dinheiro que recebe já em novas peças do brechó. Dessa forma terá sempre peças novas no seu closet, sem precisar buscar por produtos novos.

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iniciante e sem experiência, estava com problemas na qualidade e na confecção desses produtos, dificultando a produção e a venda no Brasil. Foi aí que a Lela (Valéria Anzanello, estilista da marca), que estava na África do Sul dando aulas de inglês para crianças carentes, leu uma reportagem sobre a Kabiria e foi de lá direto para o Quênia dar aulas de bordado, corte e costura para criar as novas peças para a nossa primeira coleção de moda. A história se espalhou na comunidade Kabiria e em alguns dias a sala de aula, que continha nove máquinas, estava lotada, com 32 pessoas - em um lugar que provavelmente cabiam no máximo 15. Nascia então a Escola Kabiria.

P - E como funciona a Escola? R - A regra para participar é simples: metade do dia se aprende a costurar e o resto do dia se pratica, fazendo roupas e peças que, ao serem vendidas, pagam pela estrutura e professores. Com algumas peças que são vendidas para amigos e conhecidos no Brasil, os costureiros ganham uma renda, recuperando a autoestima e passando a ter orgulho do que fazem.

P - Qual é objetivo da marca?R - Para um indivíduo evoluir e se fortalecer, ele precisa conquistar a capacidade de se realizar por si mesmo. Essa é a verdadeira riqueza, que a comunidade e a marca Kabiria querem ajudar a construir. Acredita-se na capacidade das pessoas, na educação e no trabalho como trampolim para a superação da pobreza criando oportunidades, por uma vida mais feliz. É o que nos motiva e nos inspira.

P - Como é o processo de criação da coleção? Quem assina os modelos?R - A Lela conta com contribuições de outros voluntários como o da estilista catarinense Munike Ávila na

área da modelagem, de artistas como Thipan e Rica (Alma) nas estamparias de camisetas e outras voluntárias da área da moda.

P - Aonde as peças podem ser compradas?R - Pelo site w w w . k a b i r i a . c o m . b r , inaugurado no dia 10 de junho passado.

P - Qual a contribuição da marca para a sustentabilidade?Trabalha-se com a perspectiva de que há recursos para todos, de que em rede e com colaboração não faltará nada para ninguém. Para os costureiros, sua cultura, a africana, é seu maior orgulho. Seus talentos e histórias de vida são incríveis, porém as condições financeiras do país impedem qualquer tipo de crescimento e autonomia. A maior parte da sua população ainda vive com menos de um dólar por dia e 40% da população está desempregada. O que se deve é estimular a autonomia e ao mesmo tempo possibilitar que tenham mais qualidade de vida através da geração de renda, fortalecimento dos laços da comunidade e estímulo das capacidades criativas.

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A designer, artista e poeta carioca Mana Bernardes já nasceu com criatividade, visão social e talento inspiradores. Filha de uma socióloga e de um diretor de cinema, neta de um arquiteto, passou sua infância em um sítio onde sua família cultivava uma horta para os vizinhos colherem o que quisessem, tendo a visão de comunidade como

forte referência em sua criação. Aos 7 anos, viajou com seu pai e passou dois meses com uma tribo de índios pataxós, experiência que se tornou marco inicial de seu trabalho. Mana viu como os índios aproveitam tudo o que a natureza oferece à sua volta. A partir daí, começou a viver sob a mesma perspectiva:

FM 10

ARTE SOCIAL

por Ornaldo Casagrande

Mana Bernardes se inspira na poesia para criar joias sustentáveis exibidas em atrizes globais e projetos de arte.

aproveitar o que era oferecido no seu entorno, desde as sobras das costureiras que eram suas vizinhas, que ela usava para fazer tiaras, até os sacos de pão da padaria que, reciclados, tornavam-se papéis de carta. Mana se considera uma “designer de relação”, pois é o contato social com as pessoas que conhece que fornece seus materiais de trabalho.

Os índios Ticunas se enfeitam pois acreditam que eles são o enfeite para o mundo, e esse é o conceito que orientou todo o trabalho da artista. Mana desenvolve brincos, pulseiras e anéis que são verdadeiras joias da sustentabilidade, seus acessórios de garrafa pet são cheios de personalidade e fogem dos ares de reciclado. Suas peças caíram no gosto de celebridades como Camila Pitanga, Mariana Ximenez, Adriana Calcanhoto e Vera Holtz. Os acessórios são fabricados em série, alguns limitados, todos vendidas no site manabernardes.com.br.

Além de seu trabalho autoral, a designer assina uma linha para a Tok&Stok que chega à segunda edição: em outubro serão lançadas mais 27 peças

entre móveis e objetos desenvolvidos pela artista, incluindo uma linha de perfumaria home. "Meu trabalho não surge do desenho, ele surge de um movimento poético”, conta Mana, também poeta. Os versos da designer decoram suas coleções e também são gravuras em série vendidas no site e em galerias de arte que representam a artista.

Não bastando todo o seu lado criativo, metade do trabalho de Mana Bernardes é voltado ao social, ela trabalha em projetos para fomentar métodos de desenvolvimento de processo autoral. Há mais de 10 anos ela segue uma metodologia que envolve "a história de vida

através do objeto, a história do objeto através da vida”, onde escuta a história de vida das pessoas e a partir disso ela ajuda para que comunidades carentes desenvolvam um processo autoral combinado com a produção de objetos que possam gerar renda. Só no ano passando ela atendeu cinco projetos em parceria com a rede ASTA e o coletivo Coca. Esses grupos inseriram garrafa pet ao seu artesanato, que gerou coleções que se transformam em renda e processo autoral representando

essas pessoas e seus potenciais artísticos.

O mais novo projeto de Mana é a parceria com a OIR (Outras Ideias Pro Rio), iniciativa com curadoria de Marcello Dantas, onde artistas vão criar intervenções artísticas para praças públicas na cidade do Rio de Janeiro. O trabalho de Mana ficará exposto por quatro meses na Praça do Ó, na Barra da Tijuca, e será uma escultura gigante de bambu, inaugurada em outubro próximo.

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A designer, artista e poeta carioca Mana Bernardes já nasceu com criatividade, visão social e talento inspiradores. Filha de uma socióloga e de um diretor de cinema, neta de um arquiteto, passou sua infância em um sítio onde sua família cultivava uma horta para os vizinhos colherem o que quisessem, tendo a visão de comunidade como

forte referência em sua criação. Aos 7 anos, viajou com seu pai e passou dois meses com uma tribo de índios pataxós, experiência que se tornou marco inicial de seu trabalho. Mana viu como os índios aproveitam tudo o que a natureza oferece à sua volta. A partir daí, começou a viver sob a mesma perspectiva:

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aproveitar o que era oferecido no seu entorno, desde as sobras das costureiras que eram suas vizinhas, que ela usava para fazer tiaras, até os sacos de pão da padaria que, reciclados, tornavam-se papéis de carta. Mana se considera uma “designer de relação”, pois é o contato social com as pessoas que conhece que fornece seus materiais de trabalho.

Os índios Ticunas se enfeitam pois acreditam que eles são o enfeite para o mundo, e esse é o conceito que orientou todo o trabalho da artista. Mana desenvolve brincos, pulseiras e anéis que são verdadeiras joias da sustentabilidade, seus acessórios de garrafa pet são cheios de personalidade e fogem dos ares de reciclado. Suas peças caíram no gosto de celebridades como Camila Pitanga, Mariana Ximenez, Adriana Calcanhoto e Vera Holtz. Os acessórios são fabricados em série, alguns limitados, todos vendidas no site manabernardes.com.br.

Além de seu trabalho autoral, a designer assina uma linha para a Tok&Stok que chega à segunda edição: em outubro serão lançadas mais 27 peças

entre móveis e objetos desenvolvidos pela artista, incluindo uma linha de perfumaria home. "Meu trabalho não surge do desenho, ele surge de um movimento poético”, conta Mana, também poeta. Os versos da designer decoram suas coleções e também são gravuras em série vendidas no site e em galerias de arte que representam a artista.

Não bastando todo o seu lado criativo, metade do trabalho de Mana Bernardes é voltado ao social, ela trabalha em projetos para fomentar métodos de desenvolvimento de processo autoral. Há mais de 10 anos ela segue uma metodologia que envolve "a história de vida

através do objeto, a história do objeto através da vida”, onde escuta a história de vida das pessoas e a partir disso ela ajuda para que comunidades carentes desenvolvam um processo autoral combinado com a produção de objetos que possam gerar renda. Só no ano passando ela atendeu cinco projetos em parceria com a rede ASTA e o coletivo Coca. Esses grupos inseriram garrafa pet ao seu artesanato, que gerou coleções que se transformam em renda e processo autoral representando

essas pessoas e seus potenciais artísticos.

O mais novo projeto de Mana é a parceria com a OIR (Outras Ideias Pro Rio), iniciativa com curadoria de Marcello Dantas, onde artistas vão criar intervenções artísticas para praças públicas na cidade do Rio de Janeiro. O trabalho de Mana ficará exposto por quatro meses na Praça do Ó, na Barra da Tijuca, e será uma escultura gigante de bambu, inaugurada em outubro próximo.

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A designer, artista e poeta carioca Mana Bernardes já nasceu com criatividade, visão social e talento inspiradores. Filha de uma socióloga e de um diretor de cinema, neta de um arquiteto, passou sua infância em um sítio onde sua família cultivava uma horta para os vizinhos colherem o que quisessem, tendo a visão de comunidade como

forte referência em sua criação. Aos 7 anos, viajou com seu pai e passou dois meses com uma tribo de índios pataxós, experiência que se tornou marco inicial de seu trabalho. Mana viu como os índios aproveitam tudo o que a natureza oferece à sua volta. A partir daí, começou a viver sob a mesma perspectiva:

FM 12

aproveitar o que era oferecido no seu entorno, desde as sobras das costureiras que eram suas vizinhas, que ela usava para fazer tiaras, até os sacos de pão da padaria que, reciclados, tornavam-se papéis de carta. Mana se considera uma “designer de relação”, pois é o contato social com as pessoas que conhece que fornece seus materiais de trabalho.

Os índios Ticunas se enfeitam pois acreditam que eles são o enfeite para o mundo, e esse é o conceito que orientou todo o trabalho da artista. Mana desenvolve brincos, pulseiras e anéis que são verdadeiras joias da sustentabilidade, seus acessórios de garrafa pet são cheios de personalidade e fogem dos ares de reciclado. Suas peças caíram no gosto de celebridades como Camila Pitanga, Mariana Ximenez, Adriana Calcanhoto e Vera Holtz. Os acessórios são fabricados em série, alguns limitados, todos vendidas no site manabernardes.com.br.

Além de seu trabalho autoral, a designer assina uma linha para a Tok&Stok que chega à segunda edição: em outubro serão lançadas mais 27 peças

entre móveis e objetos desenvolvidos pela artista, incluindo uma linha de perfumaria home. "Meu trabalho não surge do desenho, ele surge de um movimento poético”, conta Mana, também poeta. Os versos da designer decoram suas coleções e também são gravuras em série vendidas no site e em galerias de arte que representam a artista.

Não bastando todo o seu lado criativo, metade do trabalho de Mana Bernardes é voltado ao social, ela trabalha em projetos para fomentar métodos de desenvolvimento de processo autoral. Há mais de 10 anos ela segue uma metodologia que envolve "a história de vida

através do objeto, a história do objeto através da vida”, onde escuta a história de vida das pessoas e a partir disso ela ajuda para que comunidades carentes desenvolvam um processo autoral combinado com a produção de objetos que possam gerar renda. Só no ano passando ela atendeu cinco projetos em parceria com a rede ASTA e o coletivo Coca. Esses grupos inseriram garrafa pet ao seu artesanato, que gerou coleções que se transformam em renda e processo autoral representando

essas pessoas e seus potenciais artísticos.

O mais novo projeto de Mana é a parceria com a OIR (Outras Ideias Pro Rio), iniciativa com curadoria de Marcello Dantas, onde artistas vão criar intervenções artísticas para praças públicas na cidade do Rio de Janeiro. O trabalho de Mana ficará exposto por quatro meses na Praça do Ó, na Barra da Tijuca, e será uma escultura gigante de bambu, inaugurada em outubro próximo.

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A sustentabilidade há algum tempo vem ganhando espaço na moda. Não há como falar sobre este tema no Brasil sem pensar na baiana Márcia Ganem. Há dezesseis anos no mercado de moda de luxo sustentável, a estilista possui grande experiência em tecnologia têxtil, aplicando

suas pesquisas em técnicas especiais utilizadas em seus desfiles e produções.Filha de costureira, Márcia não demorou para descobrir sua vocação para a moda. Acabou, porém, formando-se em administração de empresa na FBA (Faculdade Federal da Bahia) e trabalhou por dez anos

na área até que, em 1996, resolveu voltar às origens. Foi por meio da pesquisa de novos materiais têxteis que a paixão de Márcia por fazer roupas se concretizou. Ela descobriu a fibra de poliamida, usada em câmaras de pneus e cintos de segurança na indústria automobilística, e passou a

tecê-la com pedras para que fossem usadas como tecidos. Também desenvolveu um tecido a partir da gaze hidrófila, usada na indústria farmacêutica “É um trabalho superdelicado, totalmente diferente da fibra de poliamida, altamente resistente”, diz a estilista.A designer chegou a participar de semanas de moda como o Fashion Rio, o Dragão Fashion (Fortaleza) e também no Panamá, Filadélfia e Nova York. A partir de 2004, foi se aproximando de comunidades artesanais na própria Bahia e das rendeiras da cidade de Saubara, voltando seu interesse, cada vez mais, para o luxo sustentável. A partir daí as rendeiras começaram a produzir a renda de bilro com a fibra de poliamida. Criaram juntas novas técnicas, como a renda flor da maré. Em 2009 começou a trabalhar uma metodologia social chamada “Design Dialógico das Tradições Artesanais”, que estrutura a relação colaborativa entre designers locais e mundiais com as comunidades tradicionais. O objetivo é reforçar a identidade cultural das regiões. Os produtos dos designers são expostos na Casa de Castro Alves, em Salvador,

um espaço multicultural de arte, cultura e poesia. Lá também são apresentados não apenas estes trabalhos, mas da comunidade como um todo.Presidente do INDI, Instituto de Design Inovador que promove o encontro dos designers com as comunidades, Márcia viaja o Brasil e o mundo com palestras e cursos sobre esta metodologia e sua visão de design empreendedora.Numa visita a São Paulo, conversamos com ela sobre como transformou sua marca num marco de moda de luxo sustentável e seus planos de exportação da identidade brasileira.

MARGINAL - Sendo uma marca de luxo sustentável, quais são os critérios básicos para mantê-la no mercado por tanto tempo?MÁRCIA GANEM - Resiliência, determinação, amor e diversificação. Economia plural, formas híbridas de promover a sustentabilidade. Por exemplo, as rendeiras, se vão comercializar as rendas de bilro vão fazer o receptivo, comercializar o saber delas, fazer workshops, falar sobre as rendas, comercializar sua riqueza gastronômica, turismo, isso é híbrido. Sair de uma visão

monofocal, onde só têm roupas, por exemplo, para vender.

P - Quais são os maiores desafios que você acredita que a Eco Fashion enfrenta até hoje?R -Todos estamos já há oito anos imersos numa crise. Você saber a importância da diferenciação, que é extremamente necessário se criar essa moda identitária, que

TUDO É POSSIVEL PARA A MODApor Renata Moraes CatarinaA estilista baiana, Márcia Ganem, fala sobre moda, sustentabilidade e cultura.

carregue valores, que criem um campo de profundidade nessa ação de moda. Como, por exemplo, você imaginar que nossos valores tradicionais vão morrer se a gente não fizer um empreendimento que pense essa moda diferenciada, mas que abrace também os nossos valores tradicionais.

P - O setor têxtil é um dos maiores produtores de lixo no mundo. Li em seu site que no INDI é feito um trabalho de reaproveitamento do material das rendas. Qual a forma de descarte de materiais utilizada?Em meu trabalho? (ela sorri) R -Quase nenhum. Não tem descarte. Eu trabalho basicamente com a fibra, a gaze, a renda, as tramas e tudo é 100% utilizado. Aproveito o que é descartado e utilizo plenamente.Qual é o mercado que a Eco Fashion ocupa hoje?Existem produtos Márcia Ganem no Oriente Médio, Tóquio, Espanha, Londres, Estados Unidos. Tem sempre algumas maisons que têm interesse nesse design que é diferenciado. Falo de uma solução que dá um resultado e que tem um valor de mercado, porque não é só fazer um produto que tem essa

preocupação com sustentabilidade social, tem essa preocupação com materiais, sustentabilidade ecológica, mas tem que ter uma solução de design, que seja atraente para o público a que você se propõe. As pessoas estão interessadas numa proposta que tenha esses valores da economia criativa mesmo, mas também estão interessadas na beleza do produto que irão comprar.Em sua opinião, o público em geral está consciente sobre a sustentabilidade?Vivemos num momento em que as pessoas tem se conscientizado mais. E não estou te falando de commodity. Se você quer comprar uma peça que irá custar 10, 15 reais, ou um produto chinês, você não será aquela única pessoa no mundo que fará isso. Mas estou falando de uma coisa especial. Por isso quando você pergunta “mas por que você posiciona isso num mercado de luxo?”, por exemplo, é o luxo da consciência.Como você se vê levando o nome do Brasil para o mundo, com seu lindo trabalho de moda, além de seus projetos sociais?Eu adoro! Mas falta muito para

imaginar que eu consegui tecer uma teia de Brasil, tenho muita vontade de tecer essa teia de América Latina. Adoro, por exemplo, trabalhar com a renda de nhanduti, técnica trazida de Tenerife, nas Ilhas Canárias na Europa, adotada pelas índias, sendo usada por outros designers de lá. Tenho vontade de saber dessa nossa história com o mundo. Além disso, os projetos ainda enfrentam muitos desafios de entendimento para o trabalho colaborativo, desafios do entendimento e direitos de criações. Estarei lançando um livro explicando um pouco sobre toda essa metodologia, pois certas vezes tudo fica lindo no discurso, mas na pratica é muito difícil.

FM 13

Imagem: divulgação

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A sustentabilidade há algum tempo vem ganhando espaço na moda. Não há como falar sobre este tema no Brasil sem pensar na baiana Márcia Ganem. Há dezesseis anos no mercado de moda de luxo sustentável, a estilista possui grande experiência em tecnologia têxtil, aplicando

suas pesquisas em técnicas especiais utilizadas em seus desfiles e produções.Filha de costureira, Márcia não demorou para descobrir sua vocação para a moda. Acabou, porém, formando-se em administração de empresa na FBA (Faculdade Federal da Bahia) e trabalhou por dez anos

na área até que, em 1996, resolveu voltar às origens. Foi por meio da pesquisa de novos materiais têxteis que a paixão de Márcia por fazer roupas se concretizou. Ela descobriu a fibra de poliamida, usada em câmaras de pneus e cintos de segurança na indústria automobilística, e passou a

tecê-la com pedras para que fossem usadas como tecidos. Também desenvolveu um tecido a partir da gaze hidrófila, usada na indústria farmacêutica “É um trabalho superdelicado, totalmente diferente da fibra de poliamida, altamente resistente”, diz a estilista.A designer chegou a participar de semanas de moda como o Fashion Rio, o Dragão Fashion (Fortaleza) e também no Panamá, Filadélfia e Nova York. A partir de 2004, foi se aproximando de comunidades artesanais na própria Bahia e das rendeiras da cidade de Saubara, voltando seu interesse, cada vez mais, para o luxo sustentável. A partir daí as rendeiras começaram a produzir a renda de bilro com a fibra de poliamida. Criaram juntas novas técnicas, como a renda flor da maré. Em 2009 começou a trabalhar uma metodologia social chamada “Design Dialógico das Tradições Artesanais”, que estrutura a relação colaborativa entre designers locais e mundiais com as comunidades tradicionais. O objetivo é reforçar a identidade cultural das regiões. Os produtos dos designers são expostos na Casa de Castro Alves, em Salvador,

um espaço multicultural de arte, cultura e poesia. Lá também são apresentados não apenas estes trabalhos, mas da comunidade como um todo.Presidente do INDI, Instituto de Design Inovador que promove o encontro dos designers com as comunidades, Márcia viaja o Brasil e o mundo com palestras e cursos sobre esta metodologia e sua visão de design empreendedora.Numa visita a São Paulo, conversamos com ela sobre como transformou sua marca num marco de moda de luxo sustentável e seus planos de exportação da identidade brasileira.

MARGINAL - Sendo uma marca de luxo sustentável, quais são os critérios básicos para mantê-la no mercado por tanto tempo?MÁRCIA GANEM - Resiliência, determinação, amor e diversificação. Economia plural, formas híbridas de promover a sustentabilidade. Por exemplo, as rendeiras, se vão comercializar as rendas de bilro vão fazer o receptivo, comercializar o saber delas, fazer workshops, falar sobre as rendas, comercializar sua riqueza gastronômica, turismo, isso é híbrido. Sair de uma visão

monofocal, onde só têm roupas, por exemplo, para vender.

P - Quais são os maiores desafios que você acredita que a Eco Fashion enfrenta até hoje?R -Todos estamos já há oito anos imersos numa crise. Você saber a importância da diferenciação, que é extremamente necessário se criar essa moda identitária, que

carregue valores, que criem um campo de profundidade nessa ação de moda. Como, por exemplo, você imaginar que nossos valores tradicionais vão morrer se a gente não fizer um empreendimento que pense essa moda diferenciada, mas que abrace também os nossos valores tradicionais.

P - O setor têxtil é um dos maiores produtores de lixo no mundo. Li em seu site que no INDI é feito um trabalho de reaproveitamento do material das rendas. Qual a forma de descarte de materiais utilizada?Em meu trabalho? (ela sorri) R -Quase nenhum. Não tem descarte. Eu trabalho basicamente com a fibra, a gaze, a renda, as tramas e tudo é 100% utilizado. Aproveito o que é descartado e utilizo plenamente.Qual é o mercado que a Eco Fashion ocupa hoje?Existem produtos Márcia Ganem no Oriente Médio, Tóquio, Espanha, Londres, Estados Unidos. Tem sempre algumas maisons que têm interesse nesse design que é diferenciado. Falo de uma solução que dá um resultado e que tem um valor de mercado, porque não é só fazer um produto que tem essa

preocupação com sustentabilidade social, tem essa preocupação com materiais, sustentabilidade ecológica, mas tem que ter uma solução de design, que seja atraente para o público a que você se propõe. As pessoas estão interessadas numa proposta que tenha esses valores da economia criativa mesmo, mas também estão interessadas na beleza do produto que irão comprar.Em sua opinião, o público em geral está consciente sobre a sustentabilidade?Vivemos num momento em que as pessoas tem se conscientizado mais. E não estou te falando de commodity. Se você quer comprar uma peça que irá custar 10, 15 reais, ou um produto chinês, você não será aquela única pessoa no mundo que fará isso. Mas estou falando de uma coisa especial. Por isso quando você pergunta “mas por que você posiciona isso num mercado de luxo?”, por exemplo, é o luxo da consciência.Como você se vê levando o nome do Brasil para o mundo, com seu lindo trabalho de moda, além de seus projetos sociais?Eu adoro! Mas falta muito para

imaginar que eu consegui tecer uma teia de Brasil, tenho muita vontade de tecer essa teia de América Latina. Adoro, por exemplo, trabalhar com a renda de nhanduti, técnica trazida de Tenerife, nas Ilhas Canárias na Europa, adotada pelas índias, sendo usada por outros designers de lá. Tenho vontade de saber dessa nossa história com o mundo. Além disso, os projetos ainda enfrentam muitos desafios de entendimento para o trabalho colaborativo, desafios do entendimento e direitos de criações. Estarei lançando um livro explicando um pouco sobre toda essa metodologia, pois certas vezes tudo fica lindo no discurso, mas na pratica é muito difícil.

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Fashion Rio - Inverno 2009

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A sustentabilidade há algum tempo vem ganhando espaço na moda. Não há como falar sobre este tema no Brasil sem pensar na baiana Márcia Ganem. Há dezesseis anos no mercado de moda de luxo sustentável, a estilista possui grande experiência em tecnologia têxtil, aplicando

suas pesquisas em técnicas especiais utilizadas em seus desfiles e produções.Filha de costureira, Márcia não demorou para descobrir sua vocação para a moda. Acabou, porém, formando-se em administração de empresa na FBA (Faculdade Federal da Bahia) e trabalhou por dez anos

na área até que, em 1996, resolveu voltar às origens. Foi por meio da pesquisa de novos materiais têxteis que a paixão de Márcia por fazer roupas se concretizou. Ela descobriu a fibra de poliamida, usada em câmaras de pneus e cintos de segurança na indústria automobilística, e passou a

tecê-la com pedras para que fossem usadas como tecidos. Também desenvolveu um tecido a partir da gaze hidrófila, usada na indústria farmacêutica “É um trabalho superdelicado, totalmente diferente da fibra de poliamida, altamente resistente”, diz a estilista.A designer chegou a participar de semanas de moda como o Fashion Rio, o Dragão Fashion (Fortaleza) e também no Panamá, Filadélfia e Nova York. A partir de 2004, foi se aproximando de comunidades artesanais na própria Bahia e das rendeiras da cidade de Saubara, voltando seu interesse, cada vez mais, para o luxo sustentável. A partir daí as rendeiras começaram a produzir a renda de bilro com a fibra de poliamida. Criaram juntas novas técnicas, como a renda flor da maré. Em 2009 começou a trabalhar uma metodologia social chamada “Design Dialógico das Tradições Artesanais”, que estrutura a relação colaborativa entre designers locais e mundiais com as comunidades tradicionais. O objetivo é reforçar a identidade cultural das regiões. Os produtos dos designers são expostos na Casa de Castro Alves, em Salvador,

um espaço multicultural de arte, cultura e poesia. Lá também são apresentados não apenas estes trabalhos, mas da comunidade como um todo.Presidente do INDI, Instituto de Design Inovador que promove o encontro dos designers com as comunidades, Márcia viaja o Brasil e o mundo com palestras e cursos sobre esta metodologia e sua visão de design empreendedora.Numa visita a São Paulo, conversamos com ela sobre como transformou sua marca num marco de moda de luxo sustentável e seus planos de exportação da identidade brasileira.

MARGINAL - Sendo uma marca de luxo sustentável, quais são os critérios básicos para mantê-la no mercado por tanto tempo?MÁRCIA GANEM - Resiliência, determinação, amor e diversificação. Economia plural, formas híbridas de promover a sustentabilidade. Por exemplo, as rendeiras, se vão comercializar as rendas de bilro vão fazer o receptivo, comercializar o saber delas, fazer workshops, falar sobre as rendas, comercializar sua riqueza gastronômica, turismo, isso é híbrido. Sair de uma visão

monofocal, onde só têm roupas, por exemplo, para vender.

P - Quais são os maiores desafios que você acredita que a Eco Fashion enfrenta até hoje?R -Todos estamos já há oito anos imersos numa crise. Você saber a importância da diferenciação, que é extremamente necessário se criar essa moda identitária, que

carregue valores, que criem um campo de profundidade nessa ação de moda. Como, por exemplo, você imaginar que nossos valores tradicionais vão morrer se a gente não fizer um empreendimento que pense essa moda diferenciada, mas que abrace também os nossos valores tradicionais.

P - O setor têxtil é um dos maiores produtores de lixo no mundo. Li em seu site que no INDI é feito um trabalho de reaproveitamento do material das rendas. Qual a forma de descarte de materiais utilizada?Em meu trabalho? (ela sorri) R -Quase nenhum. Não tem descarte. Eu trabalho basicamente com a fibra, a gaze, a renda, as tramas e tudo é 100% utilizado. Aproveito o que é descartado e utilizo plenamente.Qual é o mercado que a Eco Fashion ocupa hoje?Existem produtos Márcia Ganem no Oriente Médio, Tóquio, Espanha, Londres, Estados Unidos. Tem sempre algumas maisons que têm interesse nesse design que é diferenciado. Falo de uma solução que dá um resultado e que tem um valor de mercado, porque não é só fazer um produto que tem essa

preocupação com sustentabilidade social, tem essa preocupação com materiais, sustentabilidade ecológica, mas tem que ter uma solução de design, que seja atraente para o público a que você se propõe. As pessoas estão interessadas numa proposta que tenha esses valores da economia criativa mesmo, mas também estão interessadas na beleza do produto que irão comprar.Em sua opinião, o público em geral está consciente sobre a sustentabilidade?Vivemos num momento em que as pessoas tem se conscientizado mais. E não estou te falando de commodity. Se você quer comprar uma peça que irá custar 10, 15 reais, ou um produto chinês, você não será aquela única pessoa no mundo que fará isso. Mas estou falando de uma coisa especial. Por isso quando você pergunta “mas por que você posiciona isso num mercado de luxo?”, por exemplo, é o luxo da consciência.Como você se vê levando o nome do Brasil para o mundo, com seu lindo trabalho de moda, além de seus projetos sociais?Eu adoro! Mas falta muito para

imaginar que eu consegui tecer uma teia de Brasil, tenho muita vontade de tecer essa teia de América Latina. Adoro, por exemplo, trabalhar com a renda de nhanduti, técnica trazida de Tenerife, nas Ilhas Canárias na Europa, adotada pelas índias, sendo usada por outros designers de lá. Tenho vontade de saber dessa nossa história com o mundo. Além disso, os projetos ainda enfrentam muitos desafios de entendimento para o trabalho colaborativo, desafios do entendimento e direitos de criações. Estarei lançando um livro explicando um pouco sobre toda essa metodologia, pois certas vezes tudo fica lindo no discurso, mas na pratica é muito difícil.

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ONDE ENCONTRAR

Mana Bernandes Responsável pelo atendimento:

Cláudia Vieira+55 21 990120171

[email protected] [email protected]

Brechó capricho à toa Rua Heitor penteado , 1096 ,

casa 8 - perdizes SP www.rechocaprichoatoa.com.br

Márcia Ganem Rua das Laranjeiras, 10

Pelourinho, Salvador – BA - [email protected]: @marciaganemFacebook: marciaganemCell: +55 (71) 3322 2423

Kabíriawww.kabiria.com.br

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