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Livro 2º ILPF

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Universidade Federal de Minas Gerais - UFMGInstituto de Ciências Agrárias - ICA

Integração lavoura-pecuária-floresta:potencialidades e técnicas de produção

1ª edição

OrganizadoresLeonardo David Tuffi SantosLeandro Ramalho MendesEduardo Robson DuarteJoana Ribeiro da GlóriaJúlia Maria de Andrade

Letícia Renata de CarvalhoNilza de Lima Pereira Sales

Montes Claros - MG2012

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Copyright© 2012: Instituto de Ciências Agrárias da UFMGReitor: Prof. Clélio Campolina DinizDiretor do ICA: Prof. Delacyr da Silva Brandão JuniorRevisão de texto: Eduardo Robson Duarte / Leandro Ramalho Mendes / Leonardo David Tuffi Santos / Letícia Renata de Carvalho / Nilza de Lima Pereira Sales / Joana Ribeiro da Glória / Júlia Maria de AndradeNormalização: Biblioteca Comunitária do ICA/UFMGRevisão: Bibliotecária Edélzia Cristina Sousa VersianiCapa: Gilson VieiraEditoração / Diagramação: Gilson VieiraImpressão / Acabamento: Gráfica UNI-SET Ltda.Tiragem: 400 exemplares

O conteúdo dos capítulos contidos nesta publicação é de inteira responsabilidade de seus autores.

Permitida a cópia, desde que citada a fonte.

ELABORADA PELA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO ICA/UFMG

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A publicação contou com o apoio da Comissão Organizadora do 2º ILPF - Simpósio de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, realizado no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus de Montes Claros. Os temas abordados durante o evento visam o aprimoramento e a capacitação de alunos, produtores e profissionais das ciências agrárias em tecnologias e experiências relacionadas à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

Equipe de organização do 2º ILPF

CoordenadorLeonardo David Tuffi Santos

Professores Eduardo Robson DuarteJoana Ribeiro da GlóriaJúlia Maria de AndradeLetícia Renata de CarvalhoMárcia Vitória SantosNilza de Lima Pereira Sales

Profissionais e Discentes do ICA/UFMGAna Beatriz SilvaAndré da cunha Peixoto Vitor Dalvânia Gomes BarrosoEdicarlos Batista de CastroIzabela Thais dos SantosJuliana Campos CarneiroLaísse Campos de Freitas SilveiraLeandro Ramalho Mendes Leandro Roberto da CruzMatheus Caldeira BrantPedro Augusto Pio e SilvaPedro Henrique Fulgêncio MichelRicardo Tuller MendesRodrigo Eduardo BarrosRodrigo Magalhães FariaSamuel Alves dos Santos

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Apoio e Patrocínios

• Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

• Instituto de Ciências Agrárias da UFMG - ICA/UFMG

• Mestrado em Ciências Agrárias (Produção Vegetal) do ICA/UFMG

• Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

• Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG

• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA

• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA

• Celulose Nipo-Brasileira - CENIBRA

• Associação Mineira de Silvicultura - AMS

• Sociedade Rural de Montes Claros

• Sindicato dos Produtores Rurais de Montes Claros

• Romero Maciel Decoração em Eventos

• Centro de Extensão (CENEX) do ICA/UFMG

• Programa de Apoio Integrado a Eventos - PAIE

• Pró-Reitorias Acadêmicas

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Agradecimentos

À Universidade Federal de Minas GeraisReitor Prof. Clélio Campolina Diniz

Ao Instituto de Ciências Agrárias da UFMGDiretor Prof. Delacyr da Silva Brandão JúniorVice Diretor Prof. Flávio Pimenta Figueiredo

Ao Centro de Extensão do Instituto de Ciências Agrárias da UFMGCoordenador Prof. Flávio Gonçalves de Oliveira

Aos autores dos capítulos pelo empenho naelaboração dos textos

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Apresentação

A competitividade dos mercados e a exigência social e ambiental por parte da população tem motivado o desenvolvimento de tecnologias mais apropriadas e sustentáveis nas atividades agrícolas, pecuárias e silviculturais.

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) mostra-se como tecnologia promissora e tecnicamente aplicável, desde que observadas as particularidades das espécies envolvidas e as aptidões da propriedade. Como toda nova tecnologia ainda são frequentes os questionamentos sobre a implantação, escolha das espécies, manejo dos seus componentes e comercialização de produtos e ativos ambientais da ILPF, tornando-se um desafio a técnicos e pesquisadores das ciências agrárias.

A presente obra traz as potencialidades da ILPF para o setor agrícola brasileiro e as tecnologias de produção para esses sistemas. Os capítulos fazem uma abordagem do estado da arte da ILPF no Brasil; os desafios no cultivo de culturas agrícolas e uso de plandio direto na palha na ILPF; os aspectos da implantação e manejo florestal, desde a escolha da espécie arbórea, tratos silviculturais, uso múltiplo de seus produtos e o fomento florestal; a produção e qualidade de forragem produzida no sistema e a ambiência animal, bem como o uso de espécies arbóreas para alimentação animal; além de aspectos sobre o manejo dos sistemas em geral, como desrama do componente arbóreo e o manejo de plantas daninhas.

Com a contribuição de renomados pesquisadores e as experiências adquiridas em diferentes regiões do país esta obra traz informações relevantes, de fácil entendimento e aplicabilidade, o que a torna ferramenta útil a produtores rurais, estudantes e profissionais das ciências agrárias.

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Sumário

O Estado da arte da Integração Lavoura Pecuária-Floresta (ILPF) no BrasilRamon Costa Alvarenga - Maria Celuta Machado Viana - Miguel Marques Gontijo Neto

Benefícios da ILPF para a pecuária e desafios no cultivo de grandesculturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palhaJoão Kluthcouski - Priscila de Oliveira

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidadeDomingos Sávio Campos Paciullo - Maria de Fátima Ávila Pires - Carlos Renato Tavares de Castro - Carlos Augusto de Miranda Gomide - Marcelo Dias Müller

Ambiência animal em sistemas silvipastorisMaria de Fátima Ávila Pires - Domingos Sávio Paciullo - Barbara Cardoso da Mata e Silva - Daise Ferreira Xavier - Carlos Renato Tavares de Castro - Marcelo Dias Muller

Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animalJosé Alexandre Agiova da Costa

Espécies arbóreas potenciais para sistemas integrados de produção(ILPF) no semiárido brasileiroMarcos Antônio Drumond

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usosJosé de Castro Silva

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptoculturaReynaldo Campos Santana - Christovão Pereira Abrahão

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPFLino Roberto Ferreira - Miler Soares Machado - Sílvio Nolasco de Oliveira Neto - Francisco Cláudio Lopes de Freitas - Giselle Lima Ferreira - Leonardo David Tuffi Santos

Produção e manejo de pastagens em sistemas agrossilvipastorisMárcia Vitória Santos - Fabiana Lopes Ramos de Oliveira - Leonardo David Tuffi Santos

Manejo de plantas daninhas em áreas florestaisLeonardo David Tuffi Santos - Lino Roberto Ferreira - Leandro Roberto da Cruz - Matheus Caldeira Brant - Edicarlos Batista de Castro

Plantio direto na palha: controle de plantas daninhas e calibração de pulverizadoresAbner José de Carvalho - Ignacio Aspiazú

Produção de mogno africano (Khaya ivorensis) no cerrado mineiroJoão Emilio Duarte Matias

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1Ramon Costa Alvarenga

Maria Celuta Machado Viana²

Miguel Marques Gontijo Neto¹

1 Introdução

O Brasil tem dado constantes provas de sua liderança e competência na modernização da agricultura tropical. O resultado destes esforços está na superação dos índices de produtividades conquistados na produção de alimentos, fibras e energia. Isto tem chamado a atenção no mundo inteiro sobre o tipo de agropecuária que aqui se pratica e, sobretudo, sobre a conquista de novos mercados, acirrando a disputa internacional por mercados de commodities agrícolas. Neste contexto, algumas considerações são pertinentes: somente Brasil e África ainda dispõem de terras passíveis de serem incorporadas à produção de alimentos, fibras e energia renovável; o Brasil possui mais de 50 milhões de hectares de pastos degradados passíveis de serem utilizados com sistemas integrados de produção; somente o Brasil tem clima, na maioria de seu território, que permite exploração intensiva nos doze meses do ano; adicionalmente, o Brasil dispõe da maior reserva de água doce do mundo que, eventualmente, poderá ser utilizada com irrigação. Portanto, acredita-se que, cada vez mais, a agropecuária irá desempenhar papel de destaque na visibilidade do Brasil frente a opinião internacional que, temendo a concorrência, aumentará as pressões, por exemplo, para conservação do meio ambiente. Por fim, o Brasil possui condições tecnológicas para desenvolver e ajustar, às condições edafoclimáticas regionais, sistemas agropecuários sustentáveis e competitivos e que ainda concorram para a preservação dos recursos naturais.

Exemplo do que foi dito anteriormente é a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Conceitualmente, a ILPF é definida por Barcellos et al. (2011) como sendo “estratégias que visam a produção sustentável por meio da integração de atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica”.

1 Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo - [email protected] 2 Pesquisadora da Epamig.

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Embora os sistemas agroflorestais (SAFs) sejam utilizados há bastante tempo em muitas partes do mundo, recentemente foram ajustados às condições brasileiras com a finalidade de intensificar o uso dos solos numa base sustentável e promover a recuperação de áreas degradadas, especialmente àquelas sob pastagens degradadas, sem perder de vista as vantagens agronômicas, econômicas e sociais que os SAFs proporcionam (ALVARENGA; GONTIJO NETO, 2012). Segundo Barcellos et al. (2011), a estratégia de ILPF contempla os seguintes sistemas: Integração Lavoura-Pecuária (Agropastori l), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (Agrossilvipastoril), Integração Pecuária-Floresta (Silvipastoril) e, Integração Lavoura-Floresta (Silviagrícola) que assemelham-se aos SAFs, entretanto, possuem classificação mais abrangente por incluir a Integração Lavoura-Pecuária.

Essa nova maneira de abordar esses sistemas, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), vem ganhando adeptos nas diversas regiões brasileiras. Além disso, o governo brasileiro tem depositado na ILPF a confiança de ganhos agronômicos, econômicos, sociais e ambientais importantes. Tanto é verdade, que, voluntariamente, assumiu compromisso internacional, durante a 15ª Conferência das Partes (COP 15), de reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) até 2020 entre 36,1% e 38,9%. Para alcançar este objetivo, dentro do Plano Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), instituiu o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (Plano ABC). Este programa está alicerçado no aumento de área cultivada em seis segmentos básicos a saber: 1) Recuperação de Pastagens Degradadas (15 milhões de hectares); 2) Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (4,0 milhões de hectares); 3) Sistema de Plantio Direto (8,0 milhões de hectares); 4) Fixação Biológica de Nitrogênio (5,5 milhões de hectares); 5) Florestas Plantadas (3,0 milhões de hectares) e 6) Tratamento de Dejetos Animais (4,4 milhões de m³). Percebe-se que a ILPF funciona como um “guarda-chuva tecnológico” sob o qual é possível abrigar os demais tópicos do programa, à exceção ao reflorestamento clássico.

Diante da visibilidade que a ILPF conquistou no cenário nacional, em função das inúmeras vantagens da sua adoção, é evidente que a responsabilidade do técnico no planejamento e na execução destes sistemas também aumentou. Não há espaço para improvisações e este deve estar ciente das demandas que irão ocorrer desde o planejamento até a maturação do projeto que, muitas vezes, poderá ser de mais de dez anos e, em alguns casos, ultrapassar vinte anos.

2 Correções químicas do solo

Em qualquer tipo de exploração agropecuária é fundamental adequar as características químicas do solo ao sistema produtivo. Em ILPF, a lavoura é o segmento mais exigente em fertilidade do solo, então, naqueles sistemas

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que envolvam lavouras, as correções químicas com calcário, gesso agrícola, potássio e fósforo devem atender as exigências destas. Em sistemas de Integração Pecuária-Floresta (Silvipastoril), cuja exigência é menor, o nível de correção química do solo será menor.

Por outro lado, cada componente do sistema deve receber fertilizações específicas conforme sua necessidade. Este é um ponto decisivo sobre o desempenho dos consórcios lavoura-pastagem-árvores. Lavouras bem nutridas têm maior retorno econômico com suas produtividades durantes os primeiros anos. Esta renda é importante para custear o sistema neste período inicial de maior custo. Além disto, são os fertilizantes residuais das lavouras que alavancarão a produtividade das pastagens em sucessão por maior tempo, não se esquecendo de que as árvores também se beneficiarão destes nutrientes.

Também é decisiva a escolha das espécies de lavouras. Durante o processo de construção da fertilidade do solo, devem-se selecionar espécies mais adaptadas aos diferentes graus de melhoria do ambiente edáfico. Assim, o arroz e a soja são melhores opções para o primeiro ano do que o milho ou o sorgo, de maior exigência, deixando estas espécies para a rotação no segundo ou terceiro anos, além do que, elas são melhores para consorciação com gramíneas forrageiras para formarem as pastagens de sucessão (ALVARENGA, 2006).

3 Manejo e conservação do solo e da água

Tão logo as correções químicas iniciais do solo sejam feitas, o sistema de manejo e conservação do solo e da água também deve ser instalado. A implantação deste sistema deve levar em consideração o conjunto de práticas de conservação de solo e água (terraceamento, bacias de armazenamento e infiltração, canais escoadouros, plantios em nível, adequação de estradas, etc.), além de outras ações que conferem segurança e deem estabilidade a todo este sistema, como o posicionamento de cercas no seu maior comprimento transversais ao declive, adoção do sistema de plantio direto, dentre outros.

4 Arranjos estruturais

A distribuição espacial das plantas é uma das primeiras etapas que deve ser estrategicamente analisada no planejamento, na implantação e no manejo dos sistemas agroflorestais. O sistema de ILPF admite diferentes formas de plantios das mudas de eucalipto na gleba que podem ser arranjadas em linhas simples, duplas ou mais linhas, deixando uma faixa entre as linhas de eucalipto onde serão plantadas as culturas agrícolas. Os espaçamentos e densidades utilizados para a cultura agrícola são os mesmos adotados no cultivo solteiro ou consorciado com as forrageiras, entre as faixas da espécie

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arbórea.

A definição do número de árvores/ha e dos espaçamentos entre as árvores depende dos objetivos do sistema a ser implantado, devendo levar em consideração vários fatores, como o uso da madeira, luminosidade nas entrelinhas, adequação à largura dos implementos agrícolas disponíveis, manejo com desbastes, interesse do agricultor e as limitações agronômicas e tecnológicas. No entanto, ao visar o plantio do eucalipto na ILPF deve-se levar em consideração o aumento do espaçamento entre as linhas de eucalipto, objetivando beneficiar a implantação de culturas anuais e da pastagem e a sua sustentabilidade ao longo dos anos. Assim, há diversos arranjos para atender diferentes finalidades. Em trabalho conduzido na região central de Minas Gerais, onde o eucalipto foi plantado em linhas duplas: de (3x2) + 20 m, (2x2) + 9 m e em linha simples: 9x2m no sistema de ILPF, foi observado que não houve influência dos arranjos sobre a produtividade e qualidade do capim-braquiária, no primeiro ano de implantação do sistema (VIANA et al., 2010).

As possibilidades de combinação entre os componentes do sistema são muitas e os ajustes se fazem necessários dependendo do interesse do produtor e dos aspectos edafoclimáticos e mercadológicos. Para energia (carvão), madeira para escoras, postes ou toras para serrarias, o número de árvores por unidade de área irá diminuindo, respectivamente, bem como aumentando os espaçamentos. Havendo maior interesse pela produção agrícola, é de se esperar maior espaçamento entre as linhas de árvores como forma de diminuir o sombreamento nas faixas de plantios das lavouras. O componente animal é o que apresenta maior flexibilidade dentro do sistema porque as pastagens se ajustam bem a diferentes arranjos das árvores. Entretanto, estas diferentes possibilidades não modificam a essência das tecnologias, podendo apenas interferir no período de ocupação de cada componente em particular dentro do conjunto das atividades agrossilvipastoris (ALVARENGA et al., 2010).

5 Alinhamento de plantio do componente arbóreo

Houve um tempo, ainda não muito distante, em que alguns técnicos recomendavam como único critério técnico o alinhamento dos renques das árvores no sentido leste-oeste. A justificativa era a de que neste alinhamento haveria maior entrada de luz nas faixas de terreno entre os renques de árvores, o que favoreceria as outras espécies, ao mesmo tempo em que era possível o plantio de maior número de árvores. Certamente que mais luminosidade nas faixas é desejável, entretanto, primeiramente deve-se considerar os critérios do manejo e conservação do solo e da água. No primeiro caso, alinhamento leste-oeste, corre-se o risco de que o alinhamento dos renques se dê no sentido da declividade (morro abaixo) o que contribui enormemente para que seja instalado um processo de erosão na gleba com sérios prejuízos ao empreendimento. Pior ainda, neste caso, é o fato de que o alinhamento das

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árvores vão direcionar os demais manejos na área no sentido morro abaixo, agravando o problema.

Então, recomenda-se que as linhas das árvores sejam marcadas em nível, de maneira que funcionem como barreiras ao escorrimento da água. Em casos onde a topografia seja irregular a largura das faixas intercalares às árvores seguindo o nível do terreno terão largura muito variável, dificultando as operações de manejo das lavouras. Nestes casos, para contornar este problema, lança-se mão do artifício de demarcação de linhas mestras que orientarão a demarcação das demais de maneira equidistante de tal forma que o manejo das lavouras seja menos dificultado. É aceitável pequenas retificações no alinhamento dos renques em terrenos de menor declividade (ALVARENGA et al., 2010).

Alinhamento das árvores no sentido leste-oeste deve acontecer somente em glebas com terrenos planos na sua maioria. Esta situação dificilmente será encontrada na prática, então, a solução para se aumentar a luminosidade nas faixas entre renques de árvores é aumentar os espaçamentos entre renques. Não se deve perder de vista que o principal objetivo é o de favorecer igualmente todos os componentes do sistema, ou seja, as lavouras, a pastagem e as árvores.

6 Planejamento multiuso do povoamento florestal

A primeira decisão é quanto a escolha da espécie florestal que será plantada. Nesta escolha deve-se levar em consideração a demanda do mercado, adaptação regional, características da espécie de convivência no consórcio com lavouras, pastagens e animais (alelopatia, fitotoxicidade, velocidade de crescimento, etc.). Existem diversas espécies que têm sido utilizadas (mogno, pinus, teca, barú, eucalipto, etc.), entretanto, a grande maioria das experiências é com eucalipto. Dentre as diversas espécies de arbóreas que podem ser utilizadas no sistema o eucalipto, ela se destaca pela facilidade de cultivo, adaptação a diferentes condições edafoclimáticas, rápido crescimento, potencial para usos múltiplos, boa fonte de renda para o produtor e principalmente por apresentar uma arquitetura de copa que permite a sua consorciação tanto com a cultura quanto com o pasto (OLIVEIRA NETO; PAIVA, 2010).

Um aspecto importante para com o manejo das árvores diz respeito a sua nutrição. É importante realizar fertilizações para um crescimento conforme o planejado. Fertilizações aquém das exigências da espécie ou em épocas inadequadas comprometem o desenvolvimento das árvores e podem contribuir para baixar a qualidade dos produtos madeireiros. Para exemplificar, cita-se o caso da demanda por boro no eucalipto. Deficiência deste micronutriente causa a morte de ponteiro e a bifurcação da planta. Esta planta bifurcada jamais produzirá um produto de maior valor agregado e será eliminada no desbaste. Chama-se a atenção ao fato de que deficiências

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nutricionais afetam a maioria das árvores do povoamento onde os prejuízos serão grandes, comprometendo todo um planejamento.

Em especial em um estado como Minas Gerais, existe grande demanda por carvão vegetal. Daí, depara-se com situações em que o sistema ILPF visa a produção de carvão oriundo de eucalipto. Então, tem-se implantado sistemas com um número de árvores de eucalipto próximo ao de povoamentos convencionais para produção de carvão. Nesta situação os espaçamentos entre e dentro das linhas de árvores são apertados, o que restringe o desenvolvimento dos demais componentes da ILPF. Entende-se como mais rentável a exploração multiuso das árvores nos sistemas ILPF e que para a produção somente de carvão deva ser preferida a povoamentos homogêneos com espécies especializadas para tal. Em adição, a viabilidade econômica mais favorável a sistemas ILPF em relação à produção de carvão em virtude do maior valor agregado da madeira para serraria em comparação ao carvão vegetal. Então, o número de mudas plantadas deve ser tal que permita desbastes periódicos com o propósito de renda intermediária e abertura de área para o adequado crescimento das remanescentes. Ao final, restará um menor número de árvores de grosso calibre, com alto valor agregado no mercado.

O cronograma de manejo do povoamento florestal pode ser feito como se segue sendo que o percentual de desbaste pode sofrer variação conforme o interesse ou a necessidade de renda intermediária.

Exemplificando:Ano 0 = Plantio de 650 árvores

Ano 4 = Desbaste de 130 árvores (20%)Escoras, lenha, postes cerca, etc.

Ano 6 = Desbaste de 130 árvores (20%) Postes cerca, esteios, lenha, etc.

Ano 8 = Desbaste de 130 árvores (20%)Esteios, postes, pilares, etc.

Ano 12 = Corte final de 260 árvores (40%)Serraria e postes.

Como o interesse por produtos madeireiros pode variar conforme a região, são esperadas variações no cronograma de manejo dos povoamentos consorciados com lavouras e pastagens. Durante a fase agroflorestal (lavoura-árvore) em que não são previstos desbastes, deve ocorrer, a partir de um ano de idade das árvores de eucalipto, a desrama com o objetivo de produção futura de toras sem nós, de maior valor comercial. Esta prática também melhora as condições de luminosidade para as lavouras. Embora as condições de luminosidade nas faixas de cultivos sejam melhoradas com a desrama, Viana et al. (2010) verificaram efeito negativo das árvores espaçadas de 9 e de 20 m sobre o desenvolvimento da cultura do milho a partir

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do segundo ano de cultivo sendo esta interferência bem maior no menor espaçamento.

7 Manejo da lavoura no sistema

O plantio da lavoura deve ser realizado no início do período chuvoso, levando em consideração que quando a forrageira é consorciada com a cultura é preciso que após a colheita da silagem ou grão ainda tenha chuva suficiente para a formação do pasto. No plantio, manter a distância de 1,5 m do eucalipto que deverá permanecer livre de concorrência de qualquer espécie, seja capim, plantas daninhas ou lavoura, nos primeiros dois anos.

O manejo das lavouras deve ser o mesmo de cultivos solteiros. A maior limitação é quanto ao uso de herbicidas cuja deriva pode causar danos às árvores. Por este motivo, esta operação deve ser revestida de cuidados extras para evitar prejuízos. O mercado já oferece o acessório antideriva para ser fixado nas barras de pulverização, que é conhecido vulgarmente como “Conceição”.

Algumas inovações podem ser feitas à semelhança do que observaram Alvarenga et al. (2011) em sistemas de ILP (lavoura-pecuária), depois que o solo tiver sua fertilidade construída. Estes autores recomendam para o consórcio lavoura-pasto a distribuição da adubação de plantio em sulco central na linha de plantio da lavoura + capim e em dois sulcos laterais paralelos ao central onde é semeado apenas capim, na proporção de ou ¼, ½, ¼. Então, quando o crescimento das árvores já começarem a interferir negativamente no crescimento das lavouras e suportarem a presença de animais, o consórcio lavoura-pasto pode ser executado conforme citado sem prejuízos à lavoura e com favorecimento sobre a pastagem a ser formada. Nesta pastagem, o capim da entrelinha é favorecido pelo fertilizante depositado na sua linha e não é abafado pelo situado na linha da lavoura. Como resultado, obtém-se maior número de plantas de forrageira por unidade de área o que contribui para maior produtividade da pastagem.

Espécies de crescimento mais lento permitem o cultivo de lavouras por maior número de anos em relação àquelas de crescimento mais rápido, considerando um mesmo espaçamento. Aumentar o espaçamento em espécies de rápido crescimento permite cultivar lavouras por maior número de anos. A estratégia do sistema é decidir até onde o cultivo de lavouras é econômico ao mesmo tempo em que criará melhores condições em qualidade do solo para as pastagens que a substituirão.

A primeira safra de milho é a que apresenta maior possibilidade de retorno econômico, já que no início de desenvolvimento do eucalipto, este compete menos com a lavoura, por nutrientes e luminosidade. Sendo assim, a colheita desta primeira safra de grãos ou silagem é fundamental para abater o custo de implantação do sistema de ILPF. Já na segunda safra, a pastagem

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deverá ser priorizada, pois a partir do segundo ano, a área, geralmente, já pode ser manejada com animais.

8 Manejo das pastagens

O primeiro pastejo deve ser iniciado somente quando não houver risco de os animais danificarem as árvores e deve ser feito utilizando bezerros para evitar quebra de árvores. A entrada do gado na área para pastejo ocorre aproximadamente 40 a 60 dias após a colheita da lavoura para ensilagem ou colheita mecanizada do grão. No caso de colheita mecanizada, é necessário que o pasto fique vedado para permitir a rebrota do capim e formação da pastagem. Se a colheita de grão for manual a entrada dos animais pode ser feita imediatamente, realizando um pastejo leve com a finalidade de estimular a rebrota do capim.

O manejo da pastagem deve ser feito de acordo com o que é estabelecido para a cultivar forrageira utilizada para compor o sistema, levando-se em consideração a altura de entrada e saída dos animais no pasto. Cuidado deve ser tomado no sentido de evitar o superpastejo, que pode levar à degradação do pasto e do sistema ILPF, principalmente se não for realizado a reposição de nutrientes na pastagem e no componente arbóreo.

Após a retirada da cultura do sistema o que vai prevalecer na área durante todo o desenvolvimento do eucalipto é a fase silvipastoril (pastagem-árvore). Portanto, um desafio ainda maior está relacionado com a manutenção da produtividade do pasto ao longo do tempo, principalmente naqueles sistemas em que esta fase pode ser mais longa objetivando produtos madeireiros de maior valor agregado. No início desta fase, o capim, e também as árvores, dispõem de maior conteúdo de nutrientes residuais das lavouras que serão consumidos no decorrer do tempo. Então, a produtividade das pastagens é alta e tende a diminuir na medida em que é utilizada, mesmo com a ciclagem de nutrientes que ocorre no sistema. A espécie forrageira também interfere nesta dinâmica. Ao longo do tempo, capins mais exigentes em fertilidade do solo, como os do gênero Panicum, têm queda mais acentuada na produtividade do que os do gênero Brachiaria. Mesmo dentro de um mesmo gênero há diferença entre espécies. Assim, o produtor deve estar atento para não errar no ajuste da carga animal. Tecnicamente, a adubação de pastagens permite maior taxa de lotação, mas exige critério rigoroso para avaliar seu benefício/custo.

Outro aspecto que pode propiciar ganhos de produtividade e na eficiência de utilização da forragem produzida é a utilização do método de pastejo rotacionado. Neste aspecto, os troncos das árvores podem funcionar como postes de cercas barateando bastante a sua construção. Frequentemente, o cercamento elétrico tem sido adotado nestes sistemas com bom desempenho

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9 Considerações finais

Sistemas ILPF são boas alternativas para melhorar o desempenho de propriedades rurais mediante aumento e diversificação da produção agrícola. Os governos, federal e estadual, têm incentivado a adoção destes sistemas, também, com a visão de redução da pressão de desmatamento. Mais recentemente, designaram uma linha de crédito específica para ILPF com o propósito de cumprir a promessa de redução na emissão de carbono feita durante a COP 15. A ILPF pode ser vista como mitigadora dos gases de efeito estufa (GEE), uma vez que promove a retenção de carbono no solo e na biomassa vegetal.

Para melhor desempenho, a ILPF deve ser conduzida de modo a privilegiar igualmente os segmentos lavouras, pastagens e árvores. É desejável o cultivo de pelo menos dois anos de lavouras a fim de melhorar as condições químicas do solo, importante para o segmento pastagem, principalmente. A exploração multiuso das árvores é recomendada como maneira de melhor retorno econômico do sistema.

A adoção da ILPF na propriedade rural não inviabiliza outros negócios e interesses do produtor, visto que pode ser realizada em apenas parte da fazenda, inclusive contribuindo para melhor aproveitamento da mão de obra durante todo o ano. Isto tem alcance social considerável devido à possibilidade de fixação do homem no campo.

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Referências

ALVARENGA, R. C. Potencialidades das culturas de milho e sorgo na Integração Lavoura-Pecuária. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 26.; SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A LAGARTA-DO-CARTUCHO, SPODOPTERA FRUGIPERDA, 2.; SIMPÓSIO SOBRE COLLETOTRICHUM GRAMINICOLA, 1., 2006, Belo Horizonte. Inovação para sistemas integrados de produção: palestras. [Sete Lagoas]: ABMS, 2006. 1 CD-ROM.

ALVARENGA, R. C.; GONTIJO NETO, M. M. Inovações tecnológicas nos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta - ILPF. In: SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, 8.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GADO DE CORTE, 4., 2012, Viçosa. Anais... Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2012. No prelo.

ALVARENGA, R. C.; GONTIJO NETO, M. M.; CASTRO, A. A. D. N.; COELHO, A. M.; ALMEIDA, E. de P. C. Rendimento do consórcio milho-braquiária brizantha afetado pela localização do adubo e aplicação de herbicida. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v. 10, n. 3, p. 224-234, 2011. 11 p.

ALVARENGA, R. C.; PORFÍRIO-DA-SILVA, V. ; GONTIJO NETO, M. M.; VIANA, M. C. M.; VILELA, L. Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: condicionamento do solo e intensificação da produção de lavouras. Informe Agropecuário, v. 31, n. 257, p. 59-67, 2010.

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sustentabilidade: Resumos expandidos... Goiânia: ABMS, 2010. 1 CD-ROM.

020

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 23: Livro 2º ILPF

Benefícios da ILPF para a pecuária e desafios nocultivo de grandes culturas em sistemas ILPFno Cerrado com uso de plantio direto na palha

1João Kluthcouski1Priscila de Oliveira

1 Introdução

O conceito de sustentabilidade é formado por princípios que regem a produção e consumo de bens e serviços no presente de modo a não comprometer as necessidades e escolhas das futuras gerações. Do ponto de vista de produção de alimentos vegetais, sustentabilidade pode ainda ser complementada com “...produzir em condições cada vez mais favoráveis”. Na exploração agropecuária sustentada deve-se manter ou melhorar a produção, com vantagens econômicas para os agricultores, sem prejuízos ao ambiente e em benefício de toda a comunidade.

Assim, na atividade pecuária, os principais desafios são a recuperação das pastagens degradadas, a produção sustentável de forragem para a entressafra e ganhos ainda maiores no melhoramento genético. Na exploração lavoureira, os principais desafios para tornar a atividade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta são: redução dos custos de produção; uso intensivo da área; diversificação de produtos dentro da propriedade agrícola e agregação de valor aos produtos, entre outros.

Sem dúvida, uma das melhores alternativas para se conquistar essas premissas, além do uso sistemático do Sistema Plantio Direto (SPD), é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Inúmeras opções de ILPF já foram disponibilizadas aos produtores, sejam eles grandes ou pequenos, lavoureiros ou pecuaristas. Aliás, foram os próprios produtores, grandes e pequenos, lavoureiros e pecuaristas que, desde a década de 60, estabeleceram a consorciação do arroz de terras altas com algumas espécies de Brachiaria, com os objetivos de tornar mais eficiente o uso da terra e reduzir os custos de formação das pastagens no Cerrado.

A ILPF abrange grande parte dessas premissas, ou seja, o uso da terra para pastagens, culturas anuais e árvores indica diversificação, que por sua vez, diminui os efeitos negativos dos riscos ao produtor, pois onde explorava-

021

Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

1 Pesquisador(a) Embrapa Cerrados - [email protected]

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se apenas uma cultura, agora esse espaço é ocupado por diversos tipos de plantas e também animais. Além disso, a melhoria do ambiente é marcante quando se trata de ILPF, pois não existe mais um período de “pousio” ou até mesmo de vegetação seca na entressafra, pois diversos sistemas de ILP permitem que se tenha pastagem verde o ano todo. Por fim, os benefícios das pastagens para as lavouras é algo muito grande, que nos permitiria dizer que a forma mais segura de se produzir grãos é após pasto.

Nas últimas quatro décadas, o setor agropecuário brasileiro teve crescimento em produção e produtividade inquestionável, admirado pelos povos de todo o planeta. Observa-se na Figura 1 que, na atividade lavoureira e para algumas espécies, as produtividades foram triplicadas. Melhor que isso é que ainda não atingimos o nosso potencial, visto que os bons produtores estão obtendo produtividades jamais imaginadas, isso porque, a maior parte dessa evolução ocorreu em solos tropicais, originalmente ácidos e de baixa fertilidade. Resumidamente, as principais inovações tecnológicas que proporcionaram todo esse desenvolvimento na agricultura nacional podem ser resumidas como: criação da soja tropical; desenvolvimentos de inúmeras novas e eficientes cultivares para as diferentes espécies cultivadas; adequação da fertilidade solo em termos de correção de acidez, equilíbrio da adubação e fixação biológica de nitrogênio (FBN); Sistema Plantio Direto (SPD); cultivos na safra e safrinha e a integração Lavoura Pecuária (ILP). Contudo, hoje somos o maior consumidor de agrotóxicos e mantemos sistemas inaceitáveis de rotação de culturas envolvendo apenas grãos, e ainda chamamos de plantio direto aquilo que verdadeiramente é denominado de cultivo mínimo.

Figura 1: Evolução da produtividade das principais culturas anuais no Brasil. (Várias fontes)

Na atividade pecuária, por sua vez, foi verificado nas últimas décadas

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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um crescimento significativo em termos de crescimento do rebanho, genética animal e produtividade e produção de carne (Figura 2), tanto que o país se tornou o principal exportador dessa commodity. Esse crescimento, no entanto, se deveu principalmente à adição de complementos alimentares no cocho - com alto custo energético, pois, na maioria casos, dependem de fontes fósseis de petróleo. Esses complementos dizem respeito principalmente à(ao): aumento significativo na suplementação mineral com ureia, proteinados e energéticos; suplementação com volumosos; aumento no cultivo de forrageiras de inverno; incremento de novas áreas com pastagem em regiões com melhor pluviosidade, tal qual na região amazônica; aumento das áreas com capineiras, principalmente de cana-de-açúcar; fenos e palhadas; entre outros. Portanto, todo esse crescimento não se deveu àquilo que é a maior vocação do país, ou seja, a produção do boi verde a pasto. Com essa situação, continuamos com milhões de hectares de pastagens degradadas e produção de carne de menor qualidade, em razão da idade dos animais na hora do abate, que, em média, é de quatro anos.

Figura 2: Índice de crescimento relativo (1975=100) da produção de carne bovina, área de pastagem e produtividade. (MARTHA JUNIOR et al., 2011).

Em síntese, no Brasil, a área sob lavoura é de aproximadamente 50 milhões de hectares e a sob pastagem aproxima-se dos 200 milhões de hectares, estimando-se que destas, cerca de 100 milhões estão degradadas. Só nessa área degradada, com a utilização da ILPF, podemos facilmente duplicar tanto a produção de grãos como a de carne e leite e ainda produzir energia e madeira sem a necessidade de abertura de novas fronteiras agrícolas.

023

500

400

300

200

100

0

Área de pastagem Produtividade Produção

1975 1980 1985 1996 2006

Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

Page 26: Livro 2º ILPF

2 Principais opções de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

A ILPF é um sistema de produção que integra os componentes agrícola, pecuário e florestal em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área, sendo que o componente lavoura restringe-se ou não à fase inicial de implantação do componente florestal (BALBINO et al., 2011). As principais alternativas de ILP nos Cerrados, considerando-se, sobretudo, as condições edáficas, são apresentadas a seguir (KLUTHCOUSKI; YOKOYAMA, 2003).

• Áreas com pastagem e solo degradados:Consorciação de culturas anuais com forrageirasSucessão anual lavoura-pastagem anual e/ou pereneRotação cultura anual-forrageira

• Áreas declivosas e/ou pedregosasConsorciação de forrageiras com arbóreas

• Áreas com pastagem degradadaConsorciação de culturas anuais com forrageirasRotação e sucessão de culturas anuais com forrageiras

• Áreas de Lavoura sob Solo CorrigidoConsorciação de culturas anuais com forrageirasSucessão anual cultura anual-forrageiraRotação cultura anual-forrageira pereneConsórcio de culturas anuais com forrageiras e arbóreas.

Mais recentemente, foi lançado o Sistema Santa Brígida, cujo objetivo é inserir leguminosas no sistema de produção, de modo a permitir um aumento do aporte de nitrogênio no solo, via fixação biológica do nitrogênio atmosférico e melhorar a qualidade nutricional das pastagens. O consórcio tríplice - milho ou sorgo, gramínea forrageira e leguminosa - não afeta a produção de grãos de milho, por exemplo. A cultura subsequente pode se beneficiar do nitrogênio proveniente das leguminosas, permitindo a redução no fornecimento de nitrogênio mineral. Ainda, pode-se citar como vantagens desse sistema a melhoria na qualidade das pastagens, quando no consórcio também se cultiva braquiárias e a diversificação das palhadas para o Sistema Plantio Direto. Essas técnicas já foram estudadas e descritas por Oliveira et al. (2010).

A implantação do consórcio da cultura granífera com a espécie forrageira pode ser realizada de várias formas. No caso de arroz, recomenda-se que o capim seja semeado cerca de 15 dias após a emergência da cultura granífera. Essa estratégia visa diminuir a competitividade do capim com o arroz. No caso de milho ou sorgo com espaçamento reduzido, utiliza-se semear o capim a lanço, imediatamente antes da semeadura da cultura granífera. Esse mesmo esquema pode ser seguido da semeadura da leguminosa nas entrelinhas do milho ou sorgo, no caso do Sistema Santa Brígida. Outra opção são as semeadoras-adubadoras que apresentam uma caixa de semente extra, destinada à forrageira - gramínea ou leguminosa. Por

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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fim, as forrageiras podem ser semeadas após a emergência da cultura granífera, não excedendo 15 dias após a emergência.

3 Principais limitações na produção pecuária e vantagens da lavoura para a pecuária no sistema ILP

Os principais limitantes da produção pecuária no Brasil, principalmente na região tropical, podem ser enumeradas como: uma vasta área com pastagem degradada; presença de erosão, principalmente em solos mais arenosos; utilização indiscriminada de queimadas, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste; baixa oferte e qualidade da forragem na entressafra; animais de baixa produtividade; fraco planejamento, controle e avaliação; baixa produtividade e qualidade da carne; alto custo de produção visando precocidade; entre outros, tudo isso estimulando novos desmatamentos.

Com isso, é possível estabelecer como prioridade a necessidade urgente de se elevar os índices zootécnicos via recuperação de pastagens degradadas; manutenção de pastagens produtivas principalmente intensificando a adoção da ILP; produção forrageira para a entressafra; inclusão de leguminosas forrageiras, principalmente no período de entressafra, e, ainda o melhoramento genético do rebanho.

Salienta-se que a ILP, ou a ILPF, é particularmente eficiente na recuperação de áreas e pastagens degradadas, na manutenção de pastagens produtivas, na redução dos impactos ao meio ambiente, na reconstituição da cobertura florestal, no aumento da eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, na geração de empregos e de renda, na melhoria das condições sociais no meio rural e, principalmente, na redução da abertura de novas áreas.

De modo sucinto, as três principais vantagens da lavoura para a pecuária são:

Rapidez e economicidade - A ILP torna mais fácil a recuperação (manter a mesma espécie forrageira) ou a renovação (troca da espécie forrageira) da pastagem, pois o retorno do capital investido é mais rápido, pelo fato de a agricultura possibilitar a produção de grãos em quatro a seis meses. Além disso, a formação da pastagem após a agricultura é rápida e a um custo menor. É conveniente salientar que quanto melhor for o solo, no que se refere a nutrientes, maior será a quantidade e a qualidade da forrageira produzida, seja no sistema consorciado, em sucessão ou rotacionado.

Fornecimento de adubo residual - As forrageiras em sucessão, rotação ou consorciação se beneficiam do residual dos nutrientes minerais adicionados às culturas anuais. No caso da sucessão ou rotação com a cultura da soja, a forrageira ainda pode se beneficiar do nitrogênio fixado simbioticamente pela leguminosa.

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Produção de forragem na época mais crítica do ano - Após a cultura anual de verão, pode-se semear forrageiras anuais, como milho forrageiro, sorgo silagem, sorgo pastejo, milheto e a aveia, nas regiões com inverno mais frio. Assim, produz-se alimento para o gado tanto sob pastejo (aveia, milheto e sorgo pastejo) como suplemento por meio do feno (aveia e sorgo) e silagem (milho e sorgo forrageiro). Pode-se também semear as forrageiras perenes após a cultura anual, na safrinha, sabendo-se que, nesse período, devido a fatores climáticos, os seus estabelecimentos serão parcialmente comprometidos, resultando em menor produção de forragem na estação seca. A experiência tem mostrado que as forrageiras perenes, principalmente as braquiárias, são mais produtivas no primeiro ano após a implantação, inclusive permanecendo verdes durante a maior parte do período seco. Como exemplo

-1 -1disso, Broch et al. (1997) obtiveram rendimentos de carne de 25 @ ha ano , -1 -1 -1 -115 @ ha ano e 9 @ ha ano no primeiro, segundo e terceiro ano de pastejo

após o cultivo de soja, respectivamente.

Outras vantagens da agricultura para a pecuária dizem respeito ao retorno mais rápido do capital investido, recuperação da pastagem, economia na implantação da pastagem perene e facilidade da troca da espécie forrageira.

Em síntese, um retrato do passado e uma predição do futuro para a pecuária brasileira: “O Brasil presenciou nas últimas décadas uma extraordinária verticalização da produção lavoureira, principalmente nos solos tropicais. A pecuária, por sua vez, com a introdução da braquiária nos anos 60, ampliou o rebanho, mas obteve pequeno ganho na produtividade. A partir dos anos 90, ao invés de melhorar as pastagens, optou-se pela suplementação no cocho (2,3 milhões de toneladas de suplementos em 2011), acrescida de silagem (1,5 milhões de hectares em 2011), forrageiras de inverno, cana-de-açúcar, etc. Com isso, somado a contribuição do melhoramento genético, a produtividade e a produção pecuária cresceram em mais de 280% entre 1985 e 2006, porém, à custa de alto dispêndio energético.

Mas, e as pastagens? São cerca de 100 milhões de ha degradados, -1 -1 -1suportando uma cabeça ha , produzindo, em média, 120 kg ha ano de peso

vivo e quatro anos para o abate.

A era de derrubar matas, implantar pasto, degradá-lo e partir para novas áreas estão por acabar. Existem pelo menos cinco forças indutoras de mudança que merecem destaque: mudanças climáticas; produção de bioenergia; contenção de desmatamento; barreiras sanitárias/tarifárias e o custo de produção. Como incentivo, aparecem o sistema de integração Lavoura - Pecuária, o Programa ABC e o crescimento das exportações, de modo que a recuperação de pastagem, a produção forrageira para a entressafra e o melhoramento genético serão as grandes metas. A farta oferta tecnológica à disposição dos pecuaristas, a imensidão de área já desmatada e a crescente demanda mundial por proteína animal são os instrumentos complementares que impulsionarão a pecuária brasileira.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 29: Livro 2º ILPF

Por outro lado, pecuaristas tecnofóbicos, amadores, especuladores e extrativistas - os criadores de cupins de monte e bois bravos - tenderão a desaparecer.”

4 Principais limitantes na produção lavoureira e vantagens da pecuária (pastagens) para a lavoura

Apesar de toda a evolução que observamos na exploração lavoureira no país, muito temos que melhorar, principalmente no que diz respeito à “precisão na agricultura” antes mesmo de intensificar a adoção da “agricultura de precisão”. O sistema de rotação/sucessão grão-grão bem como a “rotação”/sucessão da mesma espécie são altamente prejudiciais por não valorizar a matéria orgânica do solo e intensificar os efeitos bióticos nocivos às plantas. Pouca valorização da matéria orgânica do solo e o uso de sementes contaminadas estão aumentando o risco de perdas por estiagem e resultando numa crescente dependência de uso de agrotóxicos, respectivamente. Aplicação preventiva de defensivos e a repetição excessiva de uma mesma molécula estão cada vez mais poluindo o ambiente e selecionando plantas e insetos resistentes aos agroquímicos, respectivamente. O manejo inadequado de fertilizantes minerais, principalmente dos potássicos e nitrogenados, além de reduzir suas eficiências, contribuem para redução da população de plantas e causam injúrias às raízes, abrindo espaço para a entrada de patógenos com origem no solo. A insuficiente palhada de cobertura do solo no SPD desconfigura os benefícios que esse sistema traz para o solo, produtor e ambiente, resultando principalmente na maior facilidade de compactação do solo e menor capacidade de reserva de água no solo. As plantas resistentes a herbicidas estão desconfigurando o SPD, como é o caso da buva (Conyza bonariensis e C. canadensis) no estado do Paraná. Manejo inadequado da dessecação no SPD, tal como o sistema aplique-plante com a utilização de glifosate está causando injurias às plantas não alvo, reduzindo a produtividade das principais espécies cultivadas, entre outros. Esses são alguns exemplos de como poderemos aumentar as nossas produtividades, nem sempre baseadas em aumento no custo de produção, mas sim com a utilização mais acurada da “tecnologia capricho”.

No caso das lavouras, a ILPF tem como viabilidade econômica a otimização dos recursos de produção da propriedade, sinergia entre as atividades de produção animal e vegetal, redução de custo, aumento da receita líquida e redução de riscos climáticos e maior estabilidade temporal.

Citam-se abaixo alguns dos benefícios das pastagens para a lavoura:

• Recuperação física, química e biológica do solo - A abundância e agressividade das raízes das forrageiras tropicais, a constante emissão de novas raízes e, ainda, a maior atividade biológica no solo promovem a reciclagem de nutrientes, a deposição de altas quantidades de matéria orgânica na superfície e no perfil do solo e a sua aração biológica, em

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Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

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profundidades que dificilmente seriam alcançadas por equipamentos convencionais. O melhoramento da estruturação do solo - condição física fundamental nos solos tropical - devido, principalmente, à matéria orgânica e exsudados das raízes, leva a uma melhor porosidade do solo, armazenamento de água e crescimento das raízes das culturas anuais.

• A rotação grão-grão não altera ou até mesmo diminui a matéria orgânica do solo e, na prática, uma das melhores opções para se elevar esse atributo no solo é o estabelecimento sistemático da rotação lavoura-pastagem. Stone et al. (2005) realizaram estudos em um Latossolo Vermelho distrófico, comparando dois ambientes sobre os atributos físicos e químicos do solo e produção de feijão no inverno- (I) sucessão milho + braquiária no verão e feijão no inverno e (II) feijão no verão e inverno. Nesse estudo, o consórcio de braquiária com milho foi implantado no mês de setembro, portanto, nove meses antes da semeadura feijão de inverno. Observa-se nas Tabelas 1 e 2, que no precedente braquiária, excetuando o pH, todos os demais atributos físicos e químicos do solo foram melhorados e o rendimento do feijão foi superior em 15,5%.

Tabela 1: Atributos físicos do solo, avaliados em diferentes horizontes, em função de dois ambientes antecessores. Unaí, MG. 2004

D=densidade do solo; Pt=porosidade total do solo; Mp=macroporosidade do solo; Ag2=agregados do solo maiores que 2 mm e DMP=diâmetro médio ponderado dos agregados.

Fonte: Stone et al. (2005).

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Horizontes(cm) Ambiente

D3

(Mg/m )Pt

3 3(m /m )

Mp3 3

(m /m )Ag2(%)

DMP(mm)

0 - 51,01 0,602 0,134 44,4 2,58Braquiária

Feijão 1,19 0,535 0,084 31,5 1,98

5 - 101,08 0,579 0,136 44,9 2,61Braquiária

Feijão 1,18 0,527 0,061 32,3 1,97

10 - 201,04 0,584 0,175 47,2 2,72Braquiária

Feijão 1,16 0,537 0,148 36,4 2,17

20 - 401,13 0,557 0,131 50,1 2,83Braquiária

Feijão 1,15 0,541 0,124 48,5 2,70

Page 31: Livro 2º ILPF

Tabela 2: Atributos químicos do solo, avaliados em diferentes horizontes, em função de dois ambientes antecessores. Unaí, MG. 2004

Fonte: Stone et al. (2005).

• Redução dos efeitos bióticos nocivos - A ILP exige maior frequência de rotação de culturas anuais e forrageiras, e isso proporciona redução de inóculos de pragas e doenças, inclusive quebrando seus ciclos, bem como o das plantas daninhas.

Costa, Rava (2003) mostraram que a palhada de braquiária tem a capacidade de reduzir os inóculos de fungos patogênicos com origem no solo, tais como Fusarium solani f. sp. phaseoli, Rhizoctonia solani e, principalmente, Sclerotinia sclerotiorum (Tabela 3).

Em relação ao mofo branco, tem-se observado em estudos em andamento da Embrapa Arroz e Feijão, que uma densa palhada de braquiária diminui a incidência de mofo branco em feijão. Os mecanismos de controle são barreira física, que diminui o contato dos esporos do fungo que habitam o solo com as plantas e, principalmente, aleloquímico, pois, a partir do terceiro ano de braquiária em uma área, a germinação dos escleródios causadores do mofo é reduzida significativamente. Assim, em uma área infestada, um bom manejo para a diminuição da infestação é rotacionar com pasto de braquiária.

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Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

Page 32: Livro 2º ILPF

Tabela 3: Influência da palhada de Brachiaria brizantha no controle do mofo-branco do feijoeiro, em Brasília, DF, 1999.

1 Valores seguidos pela mesma letra não se diferenciam estatisticamente, no nível de 5%, pelo teste de Tukey.

Fonte: COSTA, RAVA (2003).

No tocante às plantas daninhas, a palhada de braquiária pode tanto exercer impedimento físico como produzir substâncias alelopáticas, durante o processo de decomposição, reduzindo a germinação das sementes de invasoras (Figura 3).

2Figura 3: Número de plantas daninhas/m aos 15 dias após germinação do feijão em áreas em sucessão ao milho solteiro ou consorciado com Brachiaria brizantha. (COBUCCI et al., 2001).

• Armazenamento de água no solo - O armazenamento é maior em decorrência, principalmente, da aração biológica e do aumento do teor de matéria orgânica. Além disso, estudos recentes desenvolvidos na Embrapa Arroz e Feijão mostraram que há uma redução de até 30% da necessidade de água de irrigação quando se cultiva culturas graníferas sobre densa palhada de braquiária.

030

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Tratamento Severidade da doença

Brachiaria brizantha + fungicida (uma aplicação)1

2,0 b

Brachiaria brizantha 1,8 b

Fungicida (duas aplicações) 3,2 b

Controle 7,0 a

Amaranthushybridus

Euphorbiaheterophylla

Digitariahorizontalis

2P

lan

tas/m

100

80

60

40

20

120

0

7,1 3,5 7,1 4,5

97,2

8,1

Milho solteiro milho consorciado

Page 33: Livro 2º ILPF

• Cobertura do solo - Além da produção forrageira para os animais, as espécies forrageiras servem de fonte de cobertura no solo para o SPD no momento de transição para a agricultura. A palhada proveniente das forrageiras garante quantidade suficiente para a proteção de toda a superfície do solo, desde que devidamente manejadas, podendo, além de reduzir a evaporação da água, dificultar a emergência de plantas daninhas e o ataque de fungos sobre as plantas cultivadas.

Em estudo conduzido por Aidar et al. (2000), o cultivo de braquiária consorciado com milho e o de milho isolado produziram os maiores valores de

-1biomassa, chegando a 17 t ha de matéria seca (Tabela 4). Três meses após a dessecação ainda havia sobre o solo cerca de 9 t de resíduos. Nesse mesmo estudo, os maiores rendimentos do feijão irrigado foram obtidos no cultivo sobre cobertura morta de Brachiaria ruziziensis, seguido dos restos culturais de arroz, de B. brizantha, de soja e de milho. Os autores observaram também a ausência total de mofo-branco, Sclerotinia sclerotiorum, no feijoeiro cultivado sobre palhada de braquiária, enquanto na palhada de soja, milho e arroz houve severo ataque dessa doença. Broch et al. (1997) também verificaram melhor rendimento da soja quando cultivada sobre os resíduos de B. brizantha. Do primeiro para o terceiro ano de cultivo sucessivo de soja, em áreas anteriormente ocupadas com braquiária, o rendimento decresceu de 3.500 kg

-1para 3.100 kg ha .

Tabela 4: Matéria seca de diferentes fontes de palhada, remanescente na superfície do solo, em área cultivada com feijão, no Sistema Plantio Direto, no período de 107 dias.

1 2 3Semeadura do feijão em 23/05/99. Colheita em 05/09/99. Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não são significativamente diferentes no nível de

45% pelo teste de Tukey. Obtidos em cultivo consorciado

Fonte: AIDAR et al. (2000).

031

Fonte de resíduo

Matéria seca (t ha )-1

Após a

colheita2

Antes dasemeadura1 % redução

Soja 4,1 c3 1,6 c3 60

Milho 14,5 bc 6,3 ab 57

Arroz 6,0 c 4,2 bc 30

Milho + B. brizantha4 16,0 ab 8,8 a 46

Milho + B. ruziziensis4

17,6 a 9,3 a 47

CV(%) 28 25 -

Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

Page 34: Livro 2º ILPF

Outras vantagens da ILP podem ser visualizadas como: aumento na produção de grãos e carne; redução nos custos de produção; produtores mais capitalizados; melhoramento e conservação das características produtivas do solo; desenvolvimento do setor rural; maior estabilidade econômica; geração de empregos diretos e indiretos; sustentabilidade da agropecuária.

Cardoso (2000) destaca, ainda, algumas vantagens adicionais proporcionadas pelas braquiárias:

• Maior durabilidade da palhada de B. decumbens ao se decompor lentamente, no cultivo da soja em SPD.

• Maior competitividade da B. brizantha, observada no sul do Pará, para sufocar a rebrota da floresta precedente, em virtude das raízes fasciculadas formarem um emaranhado, sugerindo intensa competição na subsuperfície, inibindo outras espécies.

• Maior persistência e vigor vegetativo de pastos com a gramínea, sugerindo associações radiculares eventuais de bactérias, fungos ou algas que pudessem fixar o nitrogênio atmosférico.

• Áreas com B. decumbens têm conferido à batata inglesa um produto mais liso, de melhor qualidade.

• Produtores de morango têm preferido áreas de pasto de braquiária para o seu cultivo, por impedirem a formação de torrões no solo, devido às raízes abundantes.

Cardoso (2000) afirma que essas observações deixam poucas dúvidas de que o sistema radicular das braquiárias promove a melhoria das propriedades físicas do solo, tornando-o friável, solto e fofo, em benefício das culturas subsequentes, talvez pelo efeito benéfico complementar dos fungos a ela associados. Suspeita-se que a braquiária possa favorecer microrganismos fixadores de nitrogênio atmosférico, independentemente de simbiose. Então, como condicionadora do solo e fixadora de nitrogênio, as braquiárias beneficiam 50 milhões de hectares de terra por elas recobertos no Brasil.

5 Integração Lavoura-Pecuária com a inclusão da Floresta - mais diversificação e lucratividade para o produtor

A ILP com o componente florestal (ILPF) vem para agregar mais benefícios para os produtores e principalmente para o ambiente. Com essa modalidade de exploração obtêm-se o que se denomina de “conforto animal”, registrando-se, com isso, ganhos em peso e maior produção de leite, além do benefício econômico oriundo da madeira, seja para a produção de energia seja para produção de pranchas para inúmeros fins.

Os arranjos disponíveis dos sistemas ILPF são tantos quantos forem a criatividade humana. O que se deve ter em mente são algumas regras simples

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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de manejo e operacionalidade, como:

• O objetivo da produção de madeira rege tanto o espaçamento entre plantas no renque quanto o tempo até o corte da árvore. Quando o destino for energia, o espaçamento pode ser reduzido e a partir de quatro anos, no caso de eucalipto, pode-se colher madeira para carvão. No entanto, para que se tenha qualidade de madeira para serraria, a distância entre plantas deve ser mais espaçada e o corte ocorre em ciclos mais longos. Ressalta-se que, em uma mesma área, os renques podem ser explorados de diversas formas. Pode-se colher algumas árvores para carvão, fazendo um desbaste, ou seja, faz uma colheita intercalada na linha de árvores, de modo que as remanescentes, que desfrutarão de um espaçamento maior possam ser manejadas para serraria.

• A distância entre renques deve ser de, no mínimo, a largura do pulverizador (maior implemento) de modo que seja adicionado dois metros para a obtenção da largura final, deixando um metro de cada lado até a linha das árvores.

• Quanto ao direcionamento dos renques, deve-se obedecer, em primeira instância, o plantio em nível, e em seguida, na medida do possível, a orientação Leste-Oeste, o que permite maior incidência de luz solar no dossel da cultura anual.

É importante compreender que a partir do momento em que se opta pela inserção de espécies florestais no sistema, o planejamento deve ser de longo prazo. No caso do eucalipto, existe o manejo da rebrota, em que a partir da primeira colheita, mais comumente em torno dos sete anos, conduz-se novamente uma brotação, que pode ser colhida após sete anos. Esse mesmo processo pode ser repetido por mais um ciclo, o que significa uma exploração de 21 anos. A não escolha desse tipo de exploração levará à necessidade de manejar os tocos. Por isso, a escolha da gleba na qual será implantado o sistema completo deve ser bem pensada.

Em relação à espécie arbórea, o eucalipto tem sido o mais utilizado, principalmente em áreas de Cerrado. Algumas razões para a atual unanimidade dessa espécie na ILPF são: (I) disponibilidade de clones no mercado para diversas regiões do país; (II) mercado final menos arriscado quando comparado a outras espécies madeireiras; (III) rápido crescimento; (IV) disponibilidade de profissionais especializados na espécie; entre outros. Contudo, a utilização do eucalipto não é uma regra na ILPF, trata-se de uma questão mercadológica. Na região amazônica existem outras opções como teca, pau-de-balsa, paricá, acácia-mangio, contudo, o mercado muitas vezes ainda é incerto. Em relação a espécies frutíferas, tem sido estudado no nordeste do país o cajueiro em sistemas de produção de ovinos, e os resultados são positivos.

A ILPF também atua na prevenção do aquecimento global. A palhada de cobertura, geralmente amarela, reflete mais calor e ajuda a manter o

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Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

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ambiente resfriado. A cor mais clara reflete radiação solar de onda curta e não calórica, atravessando sem problemas a camada de gases de efeito estufa.

Pastagens de primeiro ano ou sua renovação frequente, por sua vez, promovem a cobertura verde mais intensiva do solo, mesmo durante a estação seca, resultando, entre outros, em maior fixação de carbono. Além disso, as árvores “imobilizam” grande quantidade de carbono em seus caules lenhosos, de modo que uma quantidade considerável de carbono que estaria na atmosfera passa a não mais influenciar negativamente o ambiente, pelo contrário, se traduz em lucro ao produtor quando da venda da madeira.

Outra grande vantagem da ILP ou ILPF é que esses sistemas podem ser implantadas em qualquer condição edafoclimática, independentemente do tamanho da propriedade e das máquinas e implementos agrícolas, pois atende à qualquer condição socioeconômica do produtor, uma vez que é passível de ajustes locais.

Resumidamente, a ILPF é um dos únicos sistemas de produção que promove benefícios agronômicos (recuperação e manutenção das características do solo); econômicos (diversificação, maiores rendimentos e qualidade a menor custo); ecológicos (redução da erosão, da biota nociva e do uso de defensivos agrícolas); e sociais (geração de empregos e distribuição mais uniforme da renda).

Além disso, os sistemas aqui descritos representam, ainda, alternativas para o produtor implementar grande parte das metas do Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), lançado pelo governo federal, em 2010, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Esse programa visa financiar, dentre outras ações, a recuperação de pastagens degradadas (15 milhões de hectares); a implantação do sistema ILPF (4 milhões de hectares); o Sistema de Plantio Direto na palha (8 milhões de hectares); e a fixação biológica de nitrogênio (5,5 milhões de hectares), no período de 2010 a 2020.

6 Considerações finais

Conclui-se, portanto, que o maior desafio para esse país é pertinente à extensionistas, professores e pesquisadores, é a de ampliar a adoção, por parte dos produtores, dos mais variados sistemas de ILP e ILPF já consagrados, e da mesma forma, ampliar ainda mais as opções de ILP e ILPF para as mais distintas regiões brasileiras.

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Referências

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Benefícios da (ILPF) para a pecuária e desafios no cultivo de grandes culturas em sistemas ILPF no Cerrado com uso de plantio direto na palha

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Produção de forragem na ILPF:produtividade versus qualidade

1Domingos Sávio Campos Paciullo1Maria de Fátima Ávila Pires1Carlos Renato Tavares de Castro1Carlos Augusto de Miranda Gomide1Marcelo Dias Müller

1 Introdução

Os sistemas de integração de lavoura-pecuária-floresta (ILPF) possuem grande potencial para proporcionar benefícios econômicos e ambientais tanto para os produtores como para a sociedade. Esse tipo de exploração se refere ao cultivo associado de plantas lenhosas perenes, plantas herbáceas (culturas agrícolas e/ou pastagens) e/ou animais, em uma mesma unidade de manejo e de acordo com um arranjo espacial, temporal ou ambos; nos quais deve haver tanto interações ecológicas como econômicas. De acordo com suas características os sistemas têm sido classificados de diferentes maneiras: lavoura-pecuária ou agropastoril; lavoura-pecuária-floresta ou agrossilvipastoril; pecuária-floresta ou silvipastoril e lavoura-floresta ou silviagrícola.

Esses sistemas possibilitam a intensificação da produção por meio do manejo integrado dos recursos naturais, evitando sua degradação. Alguns benefícios atribuídos ao uso desses sistemas: a) aumento da biodiversidade, ou seja, da variedade de organismos vivos habitantes da área em que forem implantados; b) melhoria das propriedades físicas e químicas do solo; c) contribuem para a conservação do solo por proporcionarem maior controle da erosão; d) melhoria do conforto térmico para os animais, ao fornecerem sombra para o gado e proporcionarem um ambiente com temperatura mais amena; e) melhoria do valor nutricional da forragem para os animais; d) possibilidade de suplementação alimentar para os animais por meio do pastejo, ou fornecimento no cocho, da forragem produzida pelas árvores e arbusto; e) obtenção de mais de um produto comercializável na mesma área (leite/carne + cultura agrícola + madeira) possibilitando aumento da renda do produtor.

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Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

1 Pesquisador da Embrapa Gado de Leite - [email protected]

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Nos últimos anos tem aumentado o reconhecimento dos benéficos potenciais gerados pelos sistemas agrossilvipastoris, de modo que vários tipos de sistemas em estudo em instituições de pesquisa do País começam a ser adotados em propriedades particulares e empresas comerciais. Nesse artigo são discutidos aspectos relacionados ao potencial de produção e à qualidade da forragem em sistemas de ILPF, com ênfase nos efeitos do sombreamento do componente arbóreo sobre o pasto e suas implicações sobre o crescimento de parte aérea e raízes, valor nutritivo das forrageiras, ingestão de forragem e desempenho animal.

2 Contribuição do componente lavoura para o sistema pecuário

Nos sistemas de integração em que a lavoura é um componente importante, o custo de produção do produto animal pode ser reduzido pela maior disponibilidade de alimentos em quantidade e qualidade, especialmente quando se refere à pecuária leiteira. Dois pontos merecem destaque. O primeiro refere-se à incorporação de culturas de grãos na fazenda ou na região produtora de leite. O custo do transporte de grãos das principais regiões produtoras para as fazendas de leite acentua o preço do concentrado fornecido às vacas, aumentando o custo de produção unitário. A proximidade ou a interação com a produção de grãos permitirá a adoção de subprodutos das culturas ou indústrias processadoras na formulação de concentrados. Gera-se, então, expectativa de maior redução nos custos com a suplementação concentrada.

O segundo ponto diz respeito à melhoria da quantidade e qualidade de forragem disponível nas pastagens. A maioria das pastagens brasileiras encontra-se abaixo do seu potencial produtivo, ou seja, em algum estágio de degradação. Como normalmente os pecuaristas não consideram a pastagem como uma lavoura, que deve ser cuidada e adubada, a tendência seria a redução cada vez maior do potencial produtivo das pastagens e dos solos. Com a adoção das modalidades de integração que consideram o componente lavoura, haverá maior disponibilidade de forragem de melhor qualidade para os animais, quer seja pela adubação residual das lavouras ou da própria pastagem.

Uma outra característica importante da ILP com reflexos positivos no aumento da competitividade da exploração leiteira é a existência de pastos recém-formados todos os anos, considerando a rotação com a lavoura. Nota-se que os pastos de primeiro ano mantêm-se verdes por mais tempo no início da estação seca, retardando a necessidade de suplementação volumosa no cocho. Como a escassez de alimentos nessa época do ano é um dos principais gargalos da produção de leite a pasto, a ILP poderá contribuir com sua viabilização na maior parte do ano, sem suplementação volumosa.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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3 O sombreamento e suas implicações no crescimento do pasto

A presença do componente arbóreo nos sistemas silvipastoris pode influir de maneira diferente no desenvolvimento do estrato vegetal herbáceo. O crescimento das forrageiras em associação com espécies arbóreas pode ser prejudicado ou favorecido, dependendo de fatores como a tolerância das espécies à sombra, o grau de sombreamento proporcionado pelas árvores e a competição entre as plantas, com relação à água e nutrientes no solo (RIBASKI et al., 2001). Em geral as forrageiras que apresentam algum grau de tolerância ao sombreamento apresentam alterações morfofisiológicas, quando cultivadas à sombra, que lhes confere maior capacidade de produção, quando comparado às espécies não-tolerantes em ambiente de luminosidade reduzida.

3.1 Morfofisiologia de forrageiras sombreadas

A redução da luminosidade disponível para as pastagens que crescem sob as copas das árvores afeta, de forma diferenciada, aspectos morfogenéticos determinantes da sua produtividade, dependendo tanto da espécie forrageira considerada, como do nível de sombreamento imposto pelas espécies arbóreas associadas.

Estudos com gramíneas tropicais indicaram que o aumento do sombreamento resultou em lâminas foliares e colmos mais longos e folhas de menor espessura (WONG; WILSON, 1980; WILSON; WONG, 1982; CASTRO et al., 1999). Esses resultados decorrem das maiores taxas de alongamento de folhas e colmos quando as plantas são submetidas à luminosidade reduzida, conforme observado em pastagem de B. decumbens em condições de sombreamento por árvores ou a sol pleno (PACIULLO et al., 2008). Aumentos da área foliar específica com a diminuição da luminosidade têm sido observados para gramíneas de clima temperado (KEPHART et al., 1992) e tropical (PACIULLO et al., 2007).

Um componente importante na produção de forragem em pastagens, fortemente influenciado pelos níveis de radiação, é o perfilhamento. Em geral, tem sido constatada redução da taxa de perfilhamento de gramíneas quando submetidas ao sombreamento (WILSON; WONG, 1982). A importância do nível de sombreamento neste fator foi demonstrada em pastagem de B.

2decumbens, cuja densidade populacional de perfilhos por m aumentou de 253 para 447, quando a intensidade de luz se elevou, respectivamente, de 35 para 65%, em relação à condição de sol pleno (PACIULLO et al., 2007).

As alterações no perfilhamento são induzidas por mudanças na intensidade e na qualidade da luz interceptada por plantas sombreadas (WILSON; LUDLOW, 1991). Segundo esses autores, a qualidade da luz que passa através das copas das árvores é alterada porque as folhas das mesmas absorvem preferencialmente luz da faixa 400-700 nm. As luzes azul e

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Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

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vermelha são reduzidas em comparação com verde e infravermelha, diminuindo a relação luz vermelha/luz infravermelha. A redução dessa relação, em condições de sombreamento natural, apresenta importantes efeitos sobre a morfogênese das plantas, principalmente diminuindo o perfilhamento das gramíneas (GAUTIER et al., 1999).

Outra modificação decorrente do sombreamento é a redução da produção de raízes (Figura 1), resultante da mudança no padrão de alocação de fotoassimilados pelas plantas cultivadas em ambiente de reduzida luminosidade, especialmente na camada de 0 a 40 cm de profundidade do solo (PACIULLO et al., 2010). Como conseqüência desse fenômeno, tem-se maior relação parte aérea/raiz em plantas cultivadas sob sombreamento.

Figura 1: Distribuição de raízes de B. decumbens no perfil do solo, em um sistema silvipastoril, conforme a intensidade de radiação fotossinteticamente ativa (RFA) incidente no pasto. Fonte: Adaptado de Paciullo et al. (2010).

Pro

fun

did

ad

e d

o s

olo

(cm

)P

rofu

nd

idad

e d

o s

olo

(cm

)

0-20

20-40

40-60

60-80

80-100

45% da RFA

Biomassa seca de raiz (kg/ha)

0 1000 2000 3000 4000

Época seca do ano

bb

a

ns

ns

ns

ns

80% da RFA 100% da RFA

0-20

20-40

40-60

60-80

80-100

Época chuvosa do ano

bb

a

b

ns

ns

ns

ba

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Em pastagem de B. decumbens calculou-se que a redução da biomassa aérea sob a maior percentagem de sombra (60% da radiação plena) foi de 29,7% em relação ao cultivo sob menor sombreamento (16% da radiação plena), enquanto a redução relativa na biomassa de raízes, causada pelo sombreamento, foi de 70,5% (PACIULLO et al., 2010). A diminuição mais acentuada da massa de raízes em relação à parte aérea refletiu-se numa maior relação parte aérea/raízes das plantas sob maiores percentagens de sombra, em relação àquelas crescendo sob menor efeito da sombra das árvores.

A marcada redução na biomassa de raízes pode resultar em maior vulnerabilidade do pasto aos estresses ambientais que exijam forte interferência do sistema radicular para o processo de rebrotação (DIAS-FILHO, 2000). Estudos mais detalhados são necessários, principalmente sobre as interações do sombreamento com a intensidade e a freqüência de pastejo e o regime de fertilização do pasto.

3.2 Intensidade de sombreamento versus tolerância de forrageiras à sombra

A intensidade de sombreamento imposto pelo componente arbóreo pode variar bastante dependendo da idade, espaçamento e arranjo das árvores na área. Sombreamentos variando entre 20 e 40% da radiação fotossinteticamente ativa têm sido considerados moderados, enquanto sombreamentos acima destas percentagens são considerados acentuados. Normalmente, níveis de sombra acima de 40-50% da luz solar plena têm sido prejudiciais ao crescimento e produção de forragem em sistemas agrossilvipastoris ou silvipastoris (CASTRO et al., 1999; ANDRADE et al., 2004; PACIULLO et al., 2007; PACIULLO et al., 2011). Resultados de pesquisa têm revelado que a B. decumbens se mostrou pouco tolerante ao sombreamento intenso (65% de sombreamento em relação à condição de sol pleno), considerando o baixo nível de produtividade obtido (Tabela 1). A diminuição do sombreamento de 65 para 35% resultou em aumentos da ordem de 65% para a massa de forragem (PACIULLO et al, 2007), evidenciando a tolerância dessa espécie ao sombreamento moderado. Castro et al. (1999) também observaram redução de 50% no rendimento forrageiro dessa espécie quando cultivada com 60% de sombreamento artificial. A espécie Brachiaria brizantha cv. Marandu também apresentou diminuição de 60% na taxa de acúmulo de MS quando cultivada sob 70% sombreamento artificial (ANDRADE et al., 2004).

Castilhos et al. (2003) avaliaram a produção de forragem de cinco cultivares de P. maximum a pleno sol e em um bosque de eucalipto com 15 anos de idade, plantado no espaçamento 3x3 m. Na sombra, foi observada redução acentuada da produção de todas as cultivares, em decorrência da alta densidade arbórea e, conseqüentemente, baixos níveis de radiação disponível

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Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

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para as gramíneas. A produção de matéria seca média obtida na sombra foi, aproximadamente, 25% da observada a pleno sol.

Tabela 1: Massa de forragem (kg/ha de MS) em pastagem de Brachiaria decumbens em condições de sombreamento por árvores ou a sol pleno.

Fonte: Paciullo et al. (2007).

A tolerância ao sombreamento é um aspecto importante de plantas forrageiras cultivadas em sistemas arborizados. De acordo com Wong (1991), tolerância de plantas ao sombreamento pode ser definida como o crescimento destas à sombra, sob a influência de desfolhações regulares, em relação àquele obtido em condições de luminosidade plena. A tolerância ao sombreamento, condição essencial em associações de pastagens com árvores, pode variar sensivelmente entre espécies. Na região de influência da Mata Atlântica, em Minas Gerais, Carvalho et al. (1997) observaram que a produção de matéria seca de seis gramíneas forrageiras estabelecidas em sub-bosque de angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa) foi afetada de modo diferente pelas condições ambientais prevalecentes, advindas da competição com a espécie arbórea. Na Costa Rica, Bustamante et al. (1998), ao avaliar oito espécies de gramíneas em monocultura e associadas à Erythrina poeppigiana, também constataram que a tolerância das gramíneas forrageiras à sombra foi bastante variável. Entretanto, a maioria delas foi beneficiada pela presença da leguminosa arbórea, produzindo mais biomassa por hectare que quando cultivada pura.

De acordo com Shelton et al. (1987) e Wong (1991) entre as espécies de gramíneas de tolerância média, estão algumas das forrageiras mais utilizadas para formação de pastagem no Brasil e em outras regiões tropicais e subtropicais, como Brachiaria spp., Panicum maximum e Setaria sphacelata. Informações disponíveis sobre a tolerância à sombra do capim-elefante (Pennisetum purpureum), sugerem que essa gramínea apresenta tolerância média a baixa (REYNOLDS, 1978; ERIKSEN; WHITNEY, 1981), refletindo talvez diferenças entre variedades. O capim-gordura é considerado pouco tolerante ao sombreamento, conforme Garcia et al. (1994).

Estudos realizados no Brasil, particularmente no Estado de Minas Gerais, têm confirmado os resultados de Shelton et al. (1987), de que algumas

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Sombreamento Tratamento

1 ano sombra de 65%º

2 ano sombra de 35%º

Sol pleno

1.501

1.260

Sombreamento

698

1.158

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gramíneas são tolerantes à sombra moderada, podendo manter ou até mesmo aumentar a produtividade em condições de sombreamento e baixo nível de nitrogênio no solo, quando comparado ao desempenho a sol pleno (CARVALHO et al., 1994; CASTRO et al., 1999; ANDRADE et al., 2004;PACIULLO et al., 2005). As gramíneas que têm apresentado os melhores resultados são B. decumbens, B. brizantha e P. Maximum. Segundo Castro et al. (1999), a espécie P. maximum foi uma das mais tolerantes ao sombreamento, atingindo, ao nível de 30% de sombreamento, 19% a mais da produção de matéria seca obtida a pleno sol.

A tolerância de leguminosas forrageiras ao sombreamento varia entre espécies. Entre as medianamente tolerantes encontram-se o Calopogonium mucunoides, a Centrosema pubenses, a Pueraria phaseoloides, dentre outras. O estilosantes (Stylosanthes guianensis) e o siratro (Macropitlium atropurpureum) foram considerados como de baixa tolerância ao sombreamento (SHELTON et al., 1987; WONG, 1991). A leguminosa Arachis pintoi teve bom desempenho em condições de sombra, sendo considerada por Andrade et al. (2004), tolerante ao sombreamento.

Pelo exposto, conclui-se que o grau de sombreamento imposto pelas árvores nos sistema silvipastoril sobre as forrageiras, assim como a capacidade dessas plantas continuarem produzindo, mesmo em condições de menor luminosidade, são condições básicas para o sucesso na exploração desses sistemas, especialmente quando se prioriza a produção animal. Dessa forma, o uso de densidade de árvores, de modo a promover apenas sombreamento moderado das forrageiras, além do plantio de espécies, pelo menos medianamente tolerantes à sombra, podem contribuir significativamente para o sucesso de sistemas de produção animal baseado no uso de pastagens arborizadas.

4 Valor nutritivo do pasto

4.1 Composição química e digestibilidade de forrageiras sombreadas

A sombra, geralmente, favorece o aumento da disponibilidade de nitrogênio no solo e estimula o crescimento das plantas (WILSON, WILD, 1990) e, consequentemente, induz aumentos na concentração de nitrogênio das gramíneas (SAMARAKOON et al. 1990; KEPHART; BUXTON, 1993; CARVALHO et al., 1994; BOTERO; RUSSO,1998; HERNÁNDEZ et al., 1998 e RIBASKI; MONTOYA, 2000).

Em pastagens de B. decumbens sombreadas ou não com leguminosas arbóreas os teores de proteína bruta foram influenciados pelas condições de luminosidade. Nas lâminas foliares o teor de proteína bruta (PB) foi 29% maior na sombra do que no sol (PACIULLO et al., 2007). A sombra possibilita maior retenção de água no solo, cujo efeito positivo sobre a atividade microbiana, resulta em maior decomposição da matéria orgânica e

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Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

Page 46: Livro 2º ILPF

ciclagem de nitrogênio.

Sobre os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) os resultados, embora contraditórios, indicam uma tendência de redução dos teores de FDN e aumento da DIVMS em condições de sombra (CARVALHO, 2001). Kephart e Buxton (1993) verificaram que, impondo 63% de sombra a cinco espécies de gramíneas forrageiras perenes, o conteúdo da parede celular decresceu em apenas 3% e o teor de lignina em 4%, fatores que contribuíram para um aumento da digestibilidade em 5%. À sombra, as gramíneas apresentam um ligeiro aumento da digestibilidade (1 a 3%), em virtude de sua menor concentração de parede celular. Entretanto, um aumento do teor de lignina foi reportado nas gramíneas cultivadas à sombra, em relação àquelas mantidas em pleno sol (SAMARAKOON et al., 1990).

Efeito significativo da condição de luminosidade foi observado sobre o teor de FDN da B. decumbens, o qual foi maior a pleno sol do que sob as copas das árvores (PACIULLO et al., 2007). Resultado semelhante foi encontrado para as espécies B. brizantha e Panicum maximum, cultivadas em diferentes níveis de sombreamento (DENIUM et al., 1996). De acordo com os autores, a maior concentração de FDN, a pleno sol, é conseqüência da maior disponibilidade de fotoassimilados, do que resulta aumento na quantidade de tecido esclerenquimático, com maior número de células e paredes celulares mais espessas.

A literatura mostra que o efeito do sombreamento na DIVMS é variável com a espécie, nível de sombreamento e condições climáticas, principalmente temperatura e umidade. Quatro anos após a introdução de nove espécies de leguminosas arbóreas em uma pastagem já formada de B. decumbens, foi observado que durante a estação seca ou em período de menores precipitações, em áreas de pastagem sob a influência da sombra, a B. decumbens apresentava melhor qualidade do que a forragem produzida nas áreas fora da influência das árvores (CARVALHO et al., 1999). O teor de PB da forragem foi mais elevado em regime de sombreamento do que a pleno sol, em ambas as estações. Durante a estação chuvosa, as condições de sombreamento não apresentaram efeito significativo na DIVMS da B. decumbens. Entretanto, durante a seca a forragem produzida na sombra apresentou valores de DIVMS maiores do que aqueles observados ao sol (Tabela 2).

Paciullo et al. (2007) verificaram maior DIVMS para lâminas foliares de B. decumbens desenvolvidas na sombra, quando comparada a sol pleno (Tabela 3). Os autores relacionaram o maior valor de DIVMS, ao maior teor de PB e menor de FDN obtidos em condições de sombreamento.

Denium et al. (1996) observaram efeito positivo da sombra para a Setaria anceps, negativo para P. maximum e ausência de efeito para B. brizantha. Sob sombreamento intenso (28% de transmissão de luz) foram verificados decréscimos nos valores de digestibilidade de várias gramíneas

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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forrageiras; mas em condições de sombra moderada (64% de transmissão de luz) a digestibilidade aumentou em comparação ao cultivo à luz solar plena.

Tabela 2: Efeito do sombreamento promovido por três espécies de leguminosas arbóreas sobre o teor de proteína bruta (%) e digestibilidade in vitro da MS (%) da forragem de B. decumbens, em dois períodos do ano.

Fonte: Carvalho et al. (1999).

Tabela 3: Teores de fibra em detergente neutro (FDN) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) da Brachiaria decumbens em condições de sol pleno ou sombreamento por árvores.

*significativo (P<0,05); **significativo (P<0,01).

Fonte: Paciullo et al. (2007).

Uma explicação para o aumento da digestibilidade em plantas sombreadas pode ser extraída dos relatos de Allard et al. (1991), segundo os quais as células do mesofilo foliar são mais esparsamente arranjadas, com maior quantidade de espaços intercelulares, em condições de sombreamento quando comparado a pleno sol, o que contribui para aumento das taxas de digestão em gramíneas forrageiras.

045

EspécieLocal de

Amostragem

EstaçãoSeca

A. angustissimaSol

Sombra

A. auriculiformisSol

Sombra

A. mangiumSol

Sombra

EstaçãoChuvosa

PB

4,4

7,5

4,3

8,8

4,3

7,3

DIVMS

35,6

45,1

40,0

50,9

34,7

48,7

PB DIVMS

5,5 42,2

6,2 42,1

5,4 43,9

5,8 43,6

5,3 43,4

7,6 50,2

CaracterísticaTratamento

FDN (%)

DIVMS (%)

75,9

47,6

Sol pleno Sombreamento

73,1

53,2

Significância

*

**

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

Page 48: Livro 2º ILPF

De forma consistente o sombreamento contribui para aumentos dos teores de PB e minerais na forrageira. A tendência de menores teores de FDN, decorrente da menor quantidade de fotoassimilados em condições de sombra, associada ao maior teor de PB, geralmente melhora a digestibilidade da matéria seca. Contudo, as variações positivas esperadas no valor nutritivo em forrageiras sombreadas depende da espécie, nível de sombreamento, fertilidade inicial do solo, estação do ano, entre outros.

4.2 Consumo de matéria seca em pastagens arborizadas

O efeito do sombreamento no consumo de forragens é contraditório na literatura. A ingestão por animais em regime de pastejo depende não só da composição química da forrageira, como também da estrutura do pasto. Do ponto de vista bromatológico, os maiores teores de PB e menores de fibra, contribuem para estimular o consumo de MS. Do ponto de vista estrutural, o maior alongamento de colmos de gramíneas em condições de sombreamento prejudicam a ingestão de forragem, pois nessas condições há redução do tamanho do bocado. Evidentemente, a magnitude do efeito da sombra no consumo, dependerá da combinação entre os fatores citados. Samarakoon et al. (1990) examinaram o consumo de forragem por carneiros em pastagens de Stenotaphrum secundatum e Pennisetum clandestinum submetidas, ou não, à sombra (50% de transmissão de luz), e verificaram que houve redução de 28 a 33% no consumo de P. clandestinum sombreado. Já Norton et al. (1991) não encontraram efeito consistente do sombreamento sobre o consumo voluntário de cinco gramíneas tropicais, em ensaio realizado com carneiros.

Paciullo et al. (2009) não observaram diferenças no consumo de novilhas leiteiras mantidas em sistema silvipastoril ou em pastagem exclusiva de B. decumbens na estação chuvosa. Utilizando-se n-alcanos nos cálculos de estimativas de consumo de matéria seca de forragem, verificou-se que as novilhas do SSP ingeriram, em média, 2,36% do peso vivo (PV), enquanto que o consumo daquelas mantidas em pastagem exclusiva de braquiária foi de 2,22% PV. No mesmo trabalho, não foi verificada diferença na composição química da forragem em sistema silvipastoril ou monocultura de B. decumbens, o que contribuiu para a semelhança na ingestão de forragem. Ressalta-se que a área da pastagem sob sombreamento representava aproximadamente 30% da área total do SSP, uma vez que as árvores estavam dispostas em faixas na pastagem. É possível que os efeitos benéficos das árvores sobre o valor nutritivo da braquiária crescendo no sub-bosque tenham sido diluídos nos valores médios obtidos em todo o sistema, principalmente, porque parte das amostras foi coletada na área de 30 m de B. decumbens, entre as faixas de árvores. Tal fato contribuiu para a semelhança dos valores obtidos no SSP e pastagem exclusiva de braquiária. Ademais, alguns trabalhos têm constatado interação entre a época do ano e sombreamento, na qual os principais efeitos da sombra na composição química e na DIVMS são percebidos durante a época da seca (CARVALHO, 2001).

046

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 49: Livro 2º ILPF

O consumo de MS e a composição botânica da dieta de vacas Holandês x Zebu, mantidas em sistema silvipastoril constituído por leguminosas arbóreas e pastagem de B. decumbens consorciada com Stylosanthes guianensis cv. Mineirão foi examinado por Aroeira et al. (2005), ao longo de dois anos. O maior consumo da gramínea foi observado em novembro de 2002 (1,91% PV), período em que a B. decumbens participou de 91,3% da dieta total. O consumo total de MS foi máximo em maio de 2001, coincidindo também com o maior consumo de estilosantes quando a percentagem desta na dieta foi de 24,1% (Tabela 4). Os menores teores de FDN e FDA do pasto em maio de 2001, assim como, a maior participação da leguminosa na dieta, podem ter contribuído para a maior ingestão total de MS. O consumo de leguminosa foi, em sua maior parte, constituída pelo S. guianensis, embora tenha sido observado visualmente, em todos os períodos de avaliação, ingestão dos ramos mais baixos das leguminosas arbóreas A. Mangium e M. arthemisiana pelos animais. Os resultados demonstraram que a quantidade de leguminosa na pastagem foi importante por influenciar no consumo total de forragem.

Tabela 4: Consumo total de matéria seca (MS), em % do peso vivo (PV) e diferenciado de gramínea (B. decumbens) e leguminosa, de acordo com o mês do ano.

Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Fonte: Aroeira et al. (2005).

4.3 Valor nutritivo de espécies arbustivas e arbóreas

O conhecimento do valor nutritivo de espécies arbóreas ainda é restrito. As avaliações desenvolvidas por Carneiro et al. (2003), com amostras das leguminosas arbóreas exóticas, Acacia angustissima, A. auriculiformis, A.

047

Consumo total de MS (%PV)

Consumo diferenciado (% do total)

1,50 b

1,91 a

1,56 b

1,59 b

1,64 b

1,57 b

Gramínea

82,6 b

75,9 c

86,5 b

84,5 b

83,1 b

91,3 a

Leguminosa

17,4 b

24,1 a

13,5 b

15,5 b

16,9 b

8,7 c

Mês/ano

Janeiro/2001

Maio/2001

Dezembro/2001

Janeiro/2002

Maio/2002

Novembro/2002

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

Page 50: Livro 2º ILPF

mangium e a nativa, Mimosa arthemisiana, mostraram o baixo valor forrageiro destas espécies (Tabela 5). Embora os teores de PB tenham sido elevados, destacam-se os baixos valores de digestibilidade, provavelmente decorrente dos altos teores de lignina.

Tabela 5: Teores (%) de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, lignina, proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS, %) de leguminosas arbóreas.

Fonte: Carneiro et al. (2003).

Contudo, diferentes espécies arbustivas podem fazer parte da alimentação de ruminantes nos trópicos. Entre as diferentes opções destacam-se as leguminosas cratília (Cratylia argentea), leucena (Leucaena leucocephala) e gliricídia (Glyricidia sepium). Essas são forrageiras tropicais utilizadas na alimentação animal, constituindo importante fonte de forragem, principalmente na época seca do ano (XAVIER et al., 1990; LASCANO et al., 1995; MURGUEITIO et al., 2000; JINGURA et al., 2001). Outra alternativa para alimentação de ruminantes consiste no uso da amoreira (Morus alba), uma espécie que apresenta comprovado valor forrageiro (BENAVIDES, 2000; MARTIN et al., 2000).

Estudos realizados por Aroeira et al. (2003) indicaram que a gliricídia e a amoreira foram as forrageiras de maior potencial, seguidas pela leucena e cratília (Tabela 6). As espécies avaliadas podem ser componentes de sistemas silvipastoris, contribuindo para o fornecimento de energia/proteína aos animais.

Resultados obtidos em pastagens arborizadas têm indicado que, a presença de leguminosa herbácea, além da arbórea, pode induzir aumento da massa de forragem na pastagem, tanto pela sua própria produção, como pela disponibilização de nitrogênio, estimulando o crescimento da gramínea. Efeitos positivos da leguminosa na massa de forragem total (Tabela 7) foram observados em pastagem consorciada de B. decumbens com S. guianensis cv. Mineirão (PACIULLO et al., 2003).

048

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Espécie FDN FDA Celulose Lignina PB DIVMS

A. mangium 54.8 42.5 15.7 24.9 16,6 21,1

A. angustissima 45.4 30.0 13.2 13.9 23,6 22,0

A. auriculiformis 57.7 42.3 17.6 23.7 16,2 21,0

M. arthemisiana 52.1 34.4 16.1 18,6 20,6 14,6

Page 51: Livro 2º ILPF

Tabela 6: Teores (%) de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, lignina, digestibilidade in vitro da MS (DIVMS, %) e proteína bruta (PB) de diferentes forrageiras.

Fonte: Aroeira et al. (2003).

Tabela 7: Massa de forragem (kg/ha de matéria seca) da Brachiaria decumbens em monocultura e consorciada com Stylosanthes guianensis de acordo com o mês do ano.

Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.

Fonte: Paciullo et al. (2003).

4.2 Desempenho animal

Ainda são escassos na literatura os resultados sobre desempenho animal, especialmente sobre a produção de leite em animais mantidos em sistemas agrossilvipastoris comparados com aqueles em monoculturas de gramíneas.

049

Espécie FDN FDA Celulose Lignina PB DIVMS

G. sepium 44,8 27,9 16,1 12,2 19,6 60,5

L. leucocephala 42,6 28,3 16,2 12,7 28,9 56,2

C. argentea 59,0 36,6 18,1 16,7 21,4 48,3

M. alba 45,3 29,6 20,5 6,4 14,8 60,0

Mês/ano Monocultura Consórcio Média

Janeiro/01 2.034 2.737 2.386 A

Março/01 1.543 2.426 1.985 AB

Maio/01 1.645 2.561 2.103 AB

Outubro/01 271 1.207 740 C

Dezembro/01 1.698 2.011 1.855 AB

Janeiro/02 1.696 2.007 1.852 B

Média 1.436 b 2.158 a 1.797

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

Page 52: Livro 2º ILPF

Os ganhos de peso de novilhas leiteiras Holandês x Zebu em sistema silvipastoril foram comparados, por com aqueles obtidos em pastagem de braquiária solteira (PACIULLO et al., 2011). No primeiro e terceiro anos experimentais da época chuvosa foram observados maiores ganhos de peso no sistema silvipastoril do que no monocultivo (Tabela 8). Os autores consideraram que o maior teor de PB no sistema silvipastoril pode ter contribuído para melhoria da qualidade da dieta das novilhas na pastagem arborizada, favorecendo o desempenho animal. Considerando o consumo médio de MS na época chuvosa do ano foi de 2,3% do PV (PACIULLO et al, 2009) e os teores de PB do pasto em cada sistema (8,9% para o silvipastoril e 7,8% para o monocultivo), durante o período chuvoso, foi calculado um consumo médio de 69 g/dia/novilha de PB a mais no SSP, quando comparado ao sistema em monocultivo. Da mesma forma, concluiu-se que a amenização ambiental conferida pela sombra das árvores no sistema silvipastoril pode ter contribuído para o melhor desempenho das novilhas leiteiras, especialmente durante a época chuvosa, quando as temperaturas alcançaram valores próximos de 30°C. Sabe-se que os animais mestiços de raças Europeu x Zebu são mais susceptíveis às elevadas temperaturas dos trópicos que os animais das raças puras Zebu, embora mais tolerantes ao calor que os animais provenientes de clima temperado (PIRES et al., 2008).

Tabela 8: Desempenho de novilhas (g/animal/dia) durante a época chuvosa, de acordo com o sistema de recria.

Médias seguida por diferentes letras, na linha compara sistema de recria, são diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Fonte: Adaptado de Paciullo et al. (2011).

Da mesma forma, os ganhos médios por área indicam vantagem para o sistema silvipastoril (Tabela 9). O que pode ser relevante para sistemas de

050

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Anoexperimental

Sistema de recria

Silvipastoril Monocultivo

Peso Final

2004/2005 234 336 722 a

2005/2006 270 342 647 a

2006/2007 283 349 628 a

Peso inicial

Peso Final

237 324

261 324

293 347

624 b

563 a

515 b

Ganho de peso

Ganho de peso

Peso inicial

Page 53: Livro 2º ILPF

pecuária leiteira, considerando que a aceleração no crescimento poderá contribuir para redução da idade à primeira concepção e, conseqüentemente, ao primeiro parto das novilhas.

Tabela 9: Ganho de peso por area (kg/ha), durante a época chuvosa, de acordo com o sistema de recria.

Médias seguida por letras diferentes, na linha compara sistema de recria, são diferentes (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Fonte: Adaptado de Paciullo et al. (2011).

Um experimento conduzido na região sudeste da Austrália mediu a produção de leite de vacas holandesas, em pastagens consorciadas de alta qualidade, tendo acesso ou não à sombra de árvores (SILVER, 1987). Após oito semanas de pastejo, a produção média de leite aumentou em 1,45 l/vaca/dia nos animais que tinham acesso à sombra. Além disso, a qualidade do leite das vacas sem acesso à sombra foi inferior. Esse resultado parece mais relacionado com o efeito da sombra sobre o animal, do que das árvores sobre a pastagem, uma vez que se tratava de pastagem melhorada e as árvores não eram distribuídas em toda a área da pastagem, mas dispostas em pequenos bosques.

Pires et al. (2009) avaliaram a massa e o valor nutritivo da forragem, o consumo de matéria seca e a produção de leite de vacas Holandês x Zebu em pastagens arborizadas e com maior percentual de leguminosas herbáceas ou não-arborizadas e com baixo percentual de leguminosas herbáceas. Os resultados demonstraram que a produção de leite foi maior na pastagem arborizada do que na pastagem não-arborizada. Considerando que as ofertas de forragem e os consumos de MS foram semelhantes entre os dois tipos de pastagem, a diferença na produção de leite foi atribuída a outros fatores. Primeiro, à maior diversidade de espécies forrageiras e, principalmente, à maior porcentagem de leguminosas na pastagem arborizada, as quais apresentaram maiores teores de proteína bruta que o campim-braquiária. O consumo de leguminosas pelas vacas provavelmente influenciou

051

Anoexperimental

Sistema de recria

2004/2005

2005/2006

2006/2007

298 a

242 a

258 a

Silvipastoril Monocultivo

256 b

230 a

211 b

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

Page 54: Livro 2º ILPF

positivamente na qualidade da dieta, permitindo maior produção de leite. Os autores concluíram que o sombreamento pelas árvores, também pode ter proporcionado um ambiente com temperaturas mais amenas e, conseqüentemente, condições de conforto térmico mais adequadas às vacas em pastejo.

5 Considerações finais

Um dos grandes desafios da pesquisa agropecuária é manter a produção de alimentos em níveis tais que sustentem uma população em crescimento sem, com isto, contribuir para aumentar a degradação do meio ambiente. Os sistemas de ILPF ou agrossilvipastoris são uma modalidade de exploração que podem trazer benefícios para o setor pecuário brasileiro, tendo em vista as potencialidades de melhorias do solo, da qualidade da forragem e do desempenho animal, além de se constituir em uma alternativa viável para diversificação e aumento de renda para o produtor rural. A sombra e a biomassa das árvores têm potencial para aumentar a disponibilidade de nitrogênio e outros nutrientes no solo, promovendo reflexos positivos para a produção e o valor nutritivo da forragem e a temperatura ambiente reduz em condições de sombreamento, contribuindo para melhorar o conforto térmico de animais em pastagem. Em condições tropicais as melhorias do teor protéico da forragem em condições de sombreamento moderado podem ter reflexos positivos no desempenho de animais, especialmente os de raças mais especializadas européias ou seus cruzamentos.

Entretanto, as evidencias indicam que a boa produtividade do sistema silvipastoril depende do cultivo de forrageiras que apresentem tolerância ao sombreamento e uso de densidade de árvores, que permita apenas sombreamento moderado da pastagem.

Face à diversidade de opções para implantação de sistemas silvipastoris, no que diz respeito à escolha de espécies, arranjo espacial e densidade arbórea, se torna fundamental um bom planejamento das atividades, com previsão da cobertura arbórea ao longo do anos de desenvolvimento do sistema, considerando a dinâmica de crescimento das árvores com o passar do tempo.

052

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 55: Livro 2º ILPF

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055

Produção de forragem na ILPF: produtividade versus qualidade

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Page 59: Livro 2º ILPF

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

Maria de Fátima Ávila Pires1Domingos Sávio Paciullo2Barbara Cardoso da Mata e Silva1Daise Ferreira Xavier1Carlos Renato Tavares de Castro1Marcelo Dias Muller

1 Introdução

Quando analisamos a taxa média de crescimento anual da produção de leite no Brasil, na ultima década, verifica-se que a expansão da fronteira agrícola muito contribuiu para o alcance deste índice e que, em muitos casos, isto significou aumento de áreas desmatadas principalmente na região do cerrado e recentemente, na Amazônia.

Diante do impasse entre aumentar a produção de leite e preservar o meio ambiente surge como opção os sistemas agroflorestais. Os Sistemas Silvipastoris (SSP), uma modalidade dos sistemas agroflorestais têm sido estudados e utilizados na agropecuária tropical, visando a otimização destas áreas, uma vez que permitem a adaptação de várias espécies forrageiras ao cultivo em consórcio com espécies arbóreas (SOARES et al., 2009). O componente florestal no sistema SSP, além das razões econômicas (madeira e alimento para o gado), conservacionistas (proteção do solo, absorção de água, alimento para a fauna) e contemplativas (embelezamento da paisagem), fornece também o grande benefício de proporcionar conforto térmico provendo sombra aos animais (ROCHA et al., 2010). Quando o sistema silvipastoril é associado ao pastejo rotacionado intensivo, obtém-se um sistema de produção alternativo, capaz de apresentar índices produtivos mais elevados e conferir, em função do sombreamento disponível nas pastagens, maior conforto aos animais (MORAIS JUNIOR et al., 2010)

O conforto faz parte dos critérios de bem estar animal e, talvez o principal e mais importante fator a ser considerado para se tentar melhorar o bem estar dos animais em países localizados nas regiões tropicais e

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

1 Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite - [email protected] 2 Doutoranda em Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.

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subtropicais, é minimizar a ação do clima, ou seja, evitar que os animais sofram os efeitos de um processo conhecido como estresse calórico.

Em pastagens com poucas ou ausência total de árvores, os bovinos, principalmente os de origem européia e seus mestiços, sofrem nas horas mais quentes do dia diminuindo o tempo de pastejo diurno (FRANKE; FURTADO, 2001). Neste contexto, o fornecimento de sombra é um dos primeiros passos a ser dado no sentido de proteger o animal do excessivo ganho de calor proveniente, principalmente, da radiação solar. As árvores, além de serem cada vez mais necessárias para melhorar a produção, a qualidade e a sustentabilidade das pastagens, contribuem para o conforto dos animais, pela provisão de sombra. A principal função das árvores é interceptar a radiação solar atenuando, assim, as temperaturas extremas, contribuindo também para diminuir o impacto de chuvas e vento, servindo de abrigo para os animais (CARVALHO, 1998)

2 O que é estresse calórico?

Ambientes quentes e úmidos, freqüentemente encontrados em regiões tropicais e subtropicais como é o caso do Brasil, podem tornar-se extremamente desconfortáveis para as vacas leiteiras, principalmente para aquelas em lactação e de alto potencial para produção de leite. O desempenho produtivo e reprodutivo destes animais diminui consideravelmente, principalmente durante o verão, quando a temperatura ambiente e umidade relativa do ar atingem o pico, como pode ser constatado no zoneamento bioclimatológico realizado pela Embrapa Gado de Leite (PIRES et al., 2003). Estes fatores ambientais aliados à produção de calor metabólico (calor produzido pela ingestão, deglutição, digestão dos alimentos, movimentação, outras reações químicas, etc) reduzem a capacidade dos bovinos de eliminar o calor corporal, resultando em uma condição conhecida como estresse calórico (LA SOTA et. al., 1996)

Existe uma faixa de temperatura situada entre a 4° a 26°C, conhecida como zona de conforto ou zona termoneutra, na qual os bovinos alcançam a eficiência máxima no desempenho produtivo e reprodutivo. Esta zona termoneutra possui uma temperatura superior crítica de, aproximadamente, 26°C para as vacas da raça Holandesa, 29°C para as Jersey e Pardo Suiço e de 32 a 35°C para os animais mestiços ou zebuínos. Quando a temperatura ambiente ultrapassa estes limites, o processo de homeostase do animal fica comprometido pelo estresse calórico, levando a uma série de alterações fisiológicas e de comportamento com a finalidade de manter o balanço térmico e as suas funções orgânicas. Dentre os distúrbios mais comumente observados podemos citar a redução no consumo de alimentos e na taxa metabólica, aumento da freqüência respiratória, da temperatura retal e do consumo de água, alterações nas concentrações hormonais, aumento da sudorese e alterações nas necessidades de mantença (YOUSEF, 1985). Estes

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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mecanismos resultam em redução na produção de leite, baixas taxas de concepção e atraso no crescimento de animais de reposição, ocasionando perdas econômicas significativas para o produtor.

2.1 Indice de conforto térmico

Alguns índices têm sido desenvolvidos e usados para avaliar o impacto ambiental sobre o gado de leite, ou seja, para predizer o conforto ou o desconforto térmico dos bovinos leiteiros submetidos á diferentes condições climáticas. De modo geral, quatro parâmetros ambientais têm sido considerados: a temperatura do termômetro de bulbo seco, a umidade relativa do ar, a velocidade do vento e a radiação solar.

O índice de conforto mais comum é o Índice de Temperatura e Umidade (ITU), originalmente desenvolvido para humanos e adaptado para bovinos que engloba os efeitos combinados da temperatura e da umidade do ar, e que pode ser obtido pela equação:

ITU = 0,72(Tbs + Tbu) + 40,6onde:

ITU = índice de temperatura e umidade, adimensional;oTbs = temperatura do termômetro de bulbo seco, C; (Fig. 1)\

oTpo = temperatura do termômetro de bulbo úmido, C. (Fig. 1)

Quando o ITU ultrapassa o valor de 72, considera-se que o animal se encontra em estresse pelo calor, já que este ponto representa o limite superior da zona termoneutra para vacas em produção. Para vacas leiteiras, o estresse térmico, de acordo com a variação do ITU, é classificado em ameno ou brando (72 a 78), moderado (79 a 88) e severo (89 a 98) (ARMSTRONG, 1994).

No entanto, como os processos reprodutivos mostram-se mais sensíveis aos efeitos das altas temperatura, umidade e radiação solar, considera-se que valores de ITU em torno de 68 possam afetar o desempenho reprodutivo e comprometer a fertilidade do rebanho.

É importante ressaltar que as raças diferem nas suas respostas fisiológicas e de adaptação ao ambiente térmico. Vacas Holandesas mostraram maiores freqüências respiratória e cardíaca, bem como temperatura retal mais elevada que animais das raças indianas e mestiças, em condições climáticas semelhantes. Trabalhos recentes realizados na Embrapa Gado de Leite identificaram valores limites do ITU para manutenção da normotermia (temperatura retal em níveis normais) de vacas mestiças HXZ produzindo em média 10kg/leite/dia. Vacas 1/2 sangue, 3/4 e 7/8 conseguem manter a normotermia com o ITU igual 80; 77 e 75, respectivamente. Acima destes valores observou-se aumento da temperatura retal destes animais indicando que se encontram sob um processo de estresse calórico (AZEVEDO et al,. 2005).

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

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3 Importância da sombra para gado de leite

Nos meses quentes do ano, durante grande parte dos dias o ambiente é considerado estressante para os animais, uma vez que as variáveis climatológicas (temperatura, radiação solar, umidade, etc.) apresentam níveis acima da zona de conforto para vacas em lactação. A primeira medida para amenizar esse problema é proteger os animais da ação direta do sol.

Numerosos estudos, em diferentes regiões do mundo, têm demonstrado os benefícios da sombra, reportando aumentos entre 12 a 15% na produção de leite, 20% na taxa de concepção, e uma redução de quase 50% no número de serviço/concepção dos animais que tiveram acesso à sombra. Esses trabalhos mostram também que o ambiente é sensivelmente menos estressante sob sombra que a céu aberto, indicando uma diferença de 10ºC entre os dois ambientes. Naturalmente, os benefícios obtidos vão depender do tipo de sombra utilizado, da raça dos animais, da alimentação disponível e do estágio da lactação, entre outros fatores.

As árvores são uma fonte excelente de sombra, e, em condições de livre escolha, os animais geralmente procuram a sombra das árvores em lugar de estruturas artificiais feitas pelo homem. A sombra natural fornecida pelas árvores é uma alternativa das mais efetivas, não só porque diminui a incidência de radiação solar, como também reduz a temperatura do ar através da evaporação de suas folhas. Além disso, permite uma movimentação adequada do ar sob sua copa. É deste modo, um modo eficiente de incrementar o conforto dos animais evidenciado por redução na diferença da temperatura retal e do ritmo respiratório obtidos pela manhã e à tarde. Assim, a arborização das pastagens deveria estar incluída no planejamento do manejo das fazendas, priorizando sempre os sistemas agroflorestais como os sistemas silvipastoris.

3.1 A sombra nos Sistemas Silvipastoris (SSP)

Provisão de sombra é uma das primeiras medidas a ser usada para amenizar o estresse calórico constituindo, assim, um elemento essencial para melhorar o conforto dos animais. Neste contexto, os SSP têm-se apresentado como uma alternativa pela integração do componente arbóreo às pastagens.

Nas pastagens sem sombra, os animais apresentam sintomas de estresse calórico que se manifestam por movimentação excessiva, agrupamento nos extremos do piquete e ingestão freqüente de água. Quando o solo está mais frio que o corpo do animal, estes permanecem mais tempo na posição deitada, caso contrário, o caminhar excessivo visa otimizar o resfriamento do corpo pela evaporação do suor. Essas vacas podem então mostrar-se exaustas para pastejar e deitam-se nas horas frescas do final da tarde, quando vacas com acesso à sombra começam a pastar. Pelo agrupamento com as companheiras do rebanho, os animais tentam reduzir a

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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área da superfície corporal exposta ao ambiente. Esta reação tem sido chamada de termorregulação sócial (CURTIS, 1981).

O efeito das variáveis ambientais sobre os hábitos de pastejo e a utilização da sombra por vacas secas, foi estudada na Embrapa Gado de Leite. Neste experimento, observou-se, baseado no ITU, que o ambiente, no inverno, mostrou-se termicamente confortável, enquanto que, no verão, na parte da tarde, o ITU elevado (Tabela 1) pode significar estresse moderado para os animais (LEME et al., 2005).

Tabela 1: Médias do Índice de Temperatura e Umidade (ITU) e Temperatura do Globo Negro, por época, observadas pela manhã e à tarde, nos dias em que foram realizadas as medições do padrão comportamental.

Fonte: LEME et al. (2005).

Analisando o comportamento dos animais verificou-se que no inverno, a radiação solar, provavelmente, não constituiu um fator desencadeante do estresse calórico, uma vez que os animais preferiram manter-se ao sol enquanto deitadas e, na posição de pé (conseqüentemente pastejando na maior parte do tempo), permaneceram tanto ao sol quanto à sombra (Tabela 2) indicando que estavam em conforto térmico. Já a preferência geral pela sombra durante o verão, independentemente da postura do animal (em pé ou deitado), sinaliza que as condições climáticas nesta estação podem ser termicamente estressantes, o que confirma a necessidade de prover sombra para os animais.

No verão, no período da tarde, houve uma diferença aproximada de 6°C na temperatura do globo negro, obtida ao sol e à sombra (Tabela 1). Esta diferença pode significar um aumento de 1°C na temperatura retal e quase o dobro dos movimentos respiratórios (COLLIER et al.,1982). Além disso, o ITU atingiu um valor considerado acima do limite (72), de conforto térmico para os animais. Esses resultados encontram amplo suporte na literatura (ARMSTRONG,1994 ; PIRES, 1997 e PIRES et al., 2001).

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

Época Período ITUGlobo Negro (°C)

Inverno61,3 (1,4)Manhã

Tarde 70,1 (0,3)

Verão72,6 (0,8)Manhã

Tarde 80,0 (0,5)

Sol

17,9 (2,1)

30,2 (1,2)

29,7 (2,1)

38,2 (1,4)

Sombra

16,9 (1,7)

26,9 (0,6)

26,4 (1,7)

32,7 (0,9)

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Tabela 2: Percentual médio de tempo dedicado pelos animais em posição deitada ou em pé, ao sol ou à sombra, por época.

Fonte: LEME et al. (2005).

Pode-se considerar que, em geral, para o gado de leite, o osombreamento representa uma redução de 0,5 C na temperatura retal e de, no

mínimo 30 movimentos respiratórios por minuto além de um incremento de 1,5 a 2,0 litros de leite/vaca/dia (MELLACE, 2009).

Reafirma-se, assim, a idéia que os SSP poderão propiciar um ambiente de conforto térmico para os animais, facilitando a realização de atividades essenciais para a maximização do desempenho em sistemas de produção de leite em pasto.

Segundo Leme et al. (2005), em um sistema silvipastoril com árvores espaçadas de 10x10m, as espécies preferidas pelos animais, como provedoras de sombra, foram a Acacia mangium, seguida pela Acacia auriculiformis e pela Acacia angustissima, independentemente da época do ano (Tabela 3). Isso ocorreu pela tendência dos animais selecionarem árvores de porte mais alto e com copa maior e mais aberta.

As demais espécies existentes no piquete (Anadenanthera sp., Eritrina sp., Leucaena sp., Enterolobium contortisiliquum, Caesalpinea ferrea, Albizia lebbek, Dalbergia nigra, Gliricidia sepium, Enterologium contortisiliquum e Piptedenia sp) foram usadas, no conjunto, apenas 1,8 e 1,9% do tempo, no inverno e no verão, respectivamente. Desta forma, decidiu-se apresentar os resultados das mesmas em conjunto.

Na Tabela 4 pode-se ver a preferência das vacas pelas espécies arbóreas, arranjadas em faixas de quatro linhas e com a inserção do eucalipto no grupo. No inverno, os animais preferiram a sombra da Mimosa artemisiana, Acacia mangium e do Eucalyptus grandis. A Acacia angustissima foi pouco usada. Durante o verão, a Acacia angustissima, Acacia mangium e o Eucalyptus grandis foram as espécies preferidas pelas vacas. A sombra da Mimosa artemisiana não foi usada durante o verão, talvez pelo porte mais baixo apresentado na época da coleta de dados. A sombra da Leucena foi pouco utilizada tanto no inverno quanto no verão, provavelmente pelo pequeno porte alcançado durante esse trabalho, pois essa espécie foi muito apreciada

Deitada (%) Em pé (%)Época

Inverno

Verão

Sol Sombra

19,3 6,2

5,0 17,5

Sol

38,2

26,4

Sombra

36,4

51,1

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 65: Livro 2º ILPF

como alimento pelos animais, o que dificultou seu desenvolvimento.

Tabela 3: Percentual médio de tempo de uso da sombra das árvores pelas vacas secas, por época.

Fonte: LEME et al.(2005)

Tabela 4: Percentual médio de tempo de uso da sombra das árvores distribuídas em fileiras, por época.

Fonte : LEME et al. (2005).

Embora trabalhos recentes monitorando o comportamento e ao parâmetros fisiológicos de ruminantes, com acesso ou não á sombra, estejam disponíveis (PEREZ et al., 2008; TUCKER et al., 2008; FERREIRA, 2010; MORAIS JUNIOR et al., 2010; SILVA et al., 2010; SILVA et al., 2011; CAROPRESE et al., 2012) ainda são escassos na literatura os resultados sobre o desempenho destes animais, especialmente sobre a produção de leite em animais mantidos em sistemas silvipastoris comparados com aqueles em monoculturas de gramíneas.

Neste contexto, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

Espécie Inverno (%) Verão (%)

Acacia mangium 54,9 52,4

Acacia auriculiformis 23,6 37,36

Acacia angustissima 10,4 6,8

Albizia guachapelle 9,3 1,7

Outras espécies 1,9 1,8

Espécie Inverno (%) Verão (%)

Acacia angustissima 3,0 34,8

Acacia mangium 32,0 30,9

Eucalyptus grandis 27,2 32,5

Mimosa artemisiana 34,1 0

Leucena sp. 3,6 1,8

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Page 66: Livro 2º ILPF

conduziram um estudo visando conhecer o desempenho de vacas mestiças Holandês X Zebu em pastagem de Brachiaria decumbens com acesso ou não á sombra natural. Foram avaliadas a massa e o valor nutritivo da forragem, o consumo de matéria seca e a produção de leite por vacas em pastagens arborizadas e com maior percentual de leguminosas herbáceas ou não-arborizadas e com baixo percentual de leguminosas herbáceas. Os resultados, em dois anos de experiento, demonstraram que a produção de leite foi maior na pastagem arborizada do que na pastagem não-arborizada. Considerando que as ofertas de forragem e os consumos de MS foram semelhantes entre os dois tipos de pastagem, a diferença na produção de leite foi atribuída a outros fatores. Primeiro, à maior diversidade de espécies forrageiras e, principalmente, à maior porcentagem de leguminosas na pastagem arborizada, as quais apresentaram maiores teores de proteína bruta que o campim-braquiária. O consumo de leguminosas pelas vacas provavelmente influenciou positivamente na qualidade da dieta, permitindo maior produção de leite. Os autores concluíram que o sombreamento pelas árvores, também pode ter proporcionado um ambiente com temperaturas mais amenas e, conseqüentemente, condições de conforto térmico mais adequadas às vacas em pastejo (PACIULLO et al., 2009a) .

Em outro estudo foram avaliados os ganhos de peso de novilhas leiteiras mestiças em sistema silvipastoril comparados, por com aqueles obtidos em pastagem de braquiária solteira (PACIULLO et al., 2009b). Os maiores ganhos foram observados no sistema silvipastoril, provavelmente devido a diferenças nutricionais da forragem a favor da pastagem arborizada e ao conforto térmico.

Neste experimento, verificou-se, em condições de sombreamento, no período da tarde, uma atenuação de 1°C da temperatura do ar em relação aos valores aferidos sob sol pleno (Tabela 5). A mesma tendência foi observada nos valores da Carga Térmica Radiante (CTR) sob sombra, evidenciando que o fornecimento de sombra na pastagem é um método eficiente para reduzir a radiação incidente sobre o animal, melhorando seu conforto térmico

Segundo Morais (2002), a CTR traduz o total de energia térmica trocada entre o indivíduo e o ambiente e, deveria ser a menor possível, para se obter conforto térmico. Assim, a autora, em seu experimento, considerou como altos os valores entre 666 a 801. Observando a tabela 5, nota-se que todos os valores da CTR obtidos sob sombreamento e no período da manhã, sob sol, apresentaram-se abaixo do limite inferior mencionado por Morais (2002) para o conforto térmico. Ressalta-se também que no sistema silvipastoril, o microclima a pleno sol, representado pelos valores da CTR, apresentou-se mais adequado às condições de conforto térmico do que nos piquetes de braquiária solteira nas mesmas condições de insolação, o que ressalta a importância de provisão de sombra para animais em pastejo.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Tabela 5: Médias da temperatura ambiente (TA), Carga Térmica Radiante (CTR), Índice de Temperatura do Globo e Umidade (ITGU) em sistema silvipastoril e em pastagem de B. decumbens, registradas às 9:00 e 15:00 horas.

Fonte: Adaptado de PIRES et al. (2008).

O Índice de Temperatura e Umidade (ITGU), é a variável que melhor traduz a sensação térmica imposta ao animal e, neste experimento, foi influenciado pela arborização das pastagens (Tabela 5). Sob a sombra, o ITGU manteve-se, no período da manhã, dentro dos limites de conforto térmico e, no período da tarde, reduziu-se a valores próximos dos considerados indicativos de ambiente confortável (até 74). Bunffington et al. (1983) obtiveram correlações mais altas entre ITGU e respostas fisiológicas dos animais do que entre essas mesmas respostas e os elementos climáticos isolados, confirmando ser o ITGU o mais preciso na caracterização do conforto térmico ambiental. O fato de grande parte da área da pastagem arborizada ser sombreada permitiu aumento no número de horas de pastejo e ruminação (Tabela 6), diminuindo ainda a temperatura da superfície corporal dos animais (Tabela 7) em relação ao grupo de novilhas que foi mantido em pastagem sem árvores, não sombreada.

Considerando que a quantidade de forragem nas pastagens e seu valor nutritivo tenham sido semelhantes nos dois tratamentos, pode-se inferir que o fornecimento de sombra no sistema silvipastoril contribuiu para o conforto térmico dos animais, uma vez que o tempo de pastejo foi maior nos piquetes arborizados, quando comparado com aquele observado na pastagem de braquiária a sol pleno.

O tempo de ruminação das novilhas na pastagem de braquiária não-arborizada foi menor do que aquele no sistema silvipastoril, enquanto o tempo de ócio foi maior indicando que os animais, na ausência de sombreamento, reduziram o tempo dedicado às atividades ingestivas (pastejo e ruminação), na tentativa de diminuir a produção de calor metabólico, permanecendo mais

SISTEMAS

T A (°C)

CTR 2(W.m )

ITGU

SILVIPASTORIL

SOMBRA SOL

9hs 15hs

21,5 27,4

477 516

71 76

9hs 15hs

21,9 28,5

585 671

78 85

BRAQUIÁRIA

SOL

9hs

21,9

644

80

15hs

28,5

707

85

065

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

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tempo em ócio (Tabela 6). A sombra pode reduzir em 30% ou mais a carga de calor radiante permitindo que os animais mantenham seu padrão normal de comportamento.

Tabela 6: Tempo médio em minutos despendido por novilhas mestiças Holandês X Zebu nas atividades de pastejo, ruminação e ócio em sistema silvipastoril e braquiária.

Fonte: Adaptado de PIRES et al.(2008).

Roman-Ponce et al. (1977), verificaram padrão semelhante no comportamento alimentar de animais com acesso ou não à sombra. Segundo os autores, as vacas, embora livres para se movimentarem, permaneceram sob a sombra durante o dia, com alimento e água disponíveis, mas se locomoveram para uma área relvada adjacente, ao entardecer e à noite, mantendo o ciclo normal de pastejo. Já os animais do lote sem acesso à sombra, usualmente deitavam no pasto ou em locais úmidos durante as horas quentes do dia. Assim, o padrão de comportamento diferiu consideravelmente e as vacas sem sombra preferiram alimentar no final da tarde e à noite reduzindo o tempo de pastejo. Estes dados, mais uma vez, comprovam a viabilidade dos SSP na criação dos bovinos em pasto. Nestes sistemas, durante os períodos mais quentes do dia, os animais terão disponibilidade de gramíneas sob a sombra permitindo manter padrão normal de pastejo e de consumo.

Os dados apresentados na tabela 7 obtidos no experimento já mencionado, realizado na Embrapa Gado de Leite, sobre o comportamento e desempenho de novilhas mestiças manejadas em SSP e braquiária solteira, permitem concluir que, em ambos os tratamentos, a FR das novilhas, observada no período da manhã foi inferior à observada no período da tarde e permaneceu dentro dos valores considerados normais (60 mov/min). A menor FR na parte da manhã pode ser conseqüência das condições climatológicas favoráveis neste período do dia (Tabela 5). No entanto, os animais que permaneceram nas pastagens sombreadas, conseguiram manter a FR dentro dos níveis normais (Tabela 7), inclusive na parte da tarde, considerado o período mais quente do dia (Tabela 5). Hahn (1999) comenta que com a

COMPORTAMENTO SISTEMA

SILVIPASTORIL BRAQUIÁRIA

pastejo 459,2 433,5

ruminação 128,7 103,5 ocio 142,0 193,3

TOTAL 729,9 730,3

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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frequência respiratória em torno de 60 mov/min., o animal encontra-se em ausência de estresse térmico ou que este é mínimo. O sombreamento das pastagens contribuiu para a redução da FR provavelmente por fornecer um ambiente com melhor conforto térmico. Essa redução na FR indica que os animais empregaram menos os mecanismos termorreguladores e isso pode fazer com que haja maior direcionamento de energia da dieta para o crescimento dos mesmos.

Tabela 7: Médias da frequência respiratória (FR), temperatura de superfície (TSC) e taxa de sudação (TS) de novilhas leiteiras em sistemas silvipastoril (SSP) e braquiária

Fonte: Adaptado de PIRES et al. (2008).

O reflexo da CTR do ITGU e da temperatura ambiente no sistema sem sombreamento (Tabela 5) pode ter contribuído para os valores mais elevados da temperatura da superfície corporal (TSC) dos animais neste sistema, tanto de manhã (32,9°C) quanto à tarde (31,3°C), comparada à TSC dos animais manejados no sistema silvipastoril: 28,2 °C de manhã e 27,0 °C à tarde (Tabela 7) provavelmente em razão do maior aquecimento da superfície corporal nos animais que não dispunham de sombra por estarem mais expostos à radiação solar. Do mesmo modo, houve uma tendência de maior taxa de sudação (TS)

2nos animais em pastagens sem sombreamento (243,7 g/m /h) comparada com 2novilhas em sistemas silvipastoril (197,5 g/m /h).

Bunffington et al. (1983) também mostraram os benefícios do sombreamento quando comparam dois grupos de vacas: as vacas com acesso à sombra apresentaram freqüência respiratória e temperatura corporal mais baixas, produziram aproximadamente 11% a mais de leite, a taxa de concepção foi 19% maior e a incidência de mamite 10% abaixo dos índices apresentados pelos animais do grupo sem sombra.

4 Considerações finais

O conhecimento das relações funcionais entre o animal e o meio ambiente, contribui na adoção de procedimentos que elevam a eficiência da

Ambiência animal em sistemas silvipastoris

braquiária

FR

TSC

Sistema silvipastoril

MANHÃ TARDE

40,3 51,35

28,2 27,0

MANHÃ TARDE

43,5 60,7

32,9 31,32TS(g/m /h) 197,5 243,7

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Page 70: Livro 2º ILPF

exploração leiteira. Estratégias de manejo podem atenuar os efeitos do estresse térmico, entre elas cita-se como prioridade a modificação física do ambiente, com intuito de reduzir a radiação incidente via provisão de sombra, reduzindo a carga calórica recebida pelo animal. Dentro deste contexto, os Sistemas Silvipastoris possuem grande potencial para proporcionar benefícios econômicos e ambientais tanto para os produtores como para a sociedade. A integração do componente arbóreo nestes sistemas além de melhorar a produção, qualidade e a sustentabilidade das pastagens, contribui para o conforto dos animais, pela provisão de sombra, atenuando as temperaturas extremas, diminuindo o impacto de chuvas e vento e servindo de abrigo para os animais. O efeito positivo da arborização das pastagens sobre o conforto térmico dos animais pode ser confirmado nos estudos conduzidos na Embrapa Gado de Leite nos quais se observou aumento das atividades relacionadas ao comportamento ingestivo, redução nas variáveis fisiológicas e incremento no desempenho de fêmeas bovinas leiteiras com acesso á sombra natural. Por outro lado, a maior taxa de sudação observada nos animais manejados em piquetes sem sombreamento indica um maior estoque de calor corporal nestes animais, havendo necessidade, por esta razão, de lançar mãos de mecanismos evaporativos para dissipação do calor excedente. A mobilização elevada e prolongada destes mecanismos pode contribuir para agravar o quadro de estresse calórico comprometendo ainda mais o conforto e bem estar dos animais.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Espécies arbóreas e arbustivas como fonteestratégica para alimentação animal

1José Alexandre Agiova da Costa

1 Introdução

O uso de espécies arbóreas e arbustivas na alimentação animal tem se intensificado com o aumento da adoção de sistemas integrados de produção, os agrossilvipastoris, silvipastoris e agroflorestais. A inclusão do componente arbóreo nesses sistemas exige planejamento, pois a destinação comercial da árvore demanda abordagens distintas na implantação, tanto para a produção de madeira com diversos fins quanto para a alimentação animal e outras finalidades. A produção de forragem (folhas e ramos finos) comumente é utilizada na alimentação animal nos períodos críticos, quando as pastagens param de produzir. Além de forragem, as árvores podem suprir os sistemas com nitrogênio, frutos, fibra, casca, etc, transformando-se em alternativas de renda que podem contribuir significativamente para a viabilidade econômica de uma empresa rural. No caso da produção de madeira para fins de energia, celulose ou madeira para indústria, o uso dos sistemas, com animais, restringe-se ao consumo do pasto ou plantio de lavouras. É importante salientar que, para qualquer um desses usos, as árvores e arbustos proporcionam sombra e abrigo do vento, atenuando as condições climáticas (temperatura, umidade, radiação solar), o que aumenta o conforto térmico dos animais em pastejo.

De forma geral, os sistemas integrados de produção animal exploram a sinergia decorrente do uso concomitante da terra com árvores e animais, sendo a forma de uso da terra um dos indicadores mais importantes da sustentabilidade de sistemas agrícolas (BUNGENSTAB, 2011).

2 Espécies arbóreas e arbustivas na alimentação animal

Uso de árvores e arbustos no forrageamento do rebanho justifica-se pelo alto custo de suplementos comercias (GONZAGA NETO, 2004), pela capacidade de prolongar a disponibilidade e a qualidade de alimento na época seca do ano (SANTOS et al., 2008), e também por mitigar os gases de efeito estufa, devido à maior fixação de carbono (ou equivalente carbono) nos

Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

1 Pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos Núcleo Regional Centro-Oeste - [email protected]

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sistemas integrados de produção (LEITE et al., 2010).

A qualidade dos alimentos é, em parte, devida ao fato de que árvores e arbustos nos trópicos são fonte de proteína para os ruminantes, permanecem verdes durante o período seco e mantêm percentuais relativamente altos de proteína bruta (KREBS et al. 2007), sendo a produção total de biomassa maior que em monocultivos. Na Ásia em que há necessidade de aumentar a oferta de alimentos e implantar sistemas sustentáveis, Devendra (1991) descreve sistemas de forrageamento compostos por três estratos com uso de gramíneas e leguminosas rasteiras ao nível do solo, leguminosas arbustivas no segundo estrato e árvores forrageiras no estrato superior. A oferta de forragem foi aumentada com uso de Stylosanthes, Centrosema, Acacia, Gliricidia e Leucaena o que aumentou as taxas de lotação de 2,1 UA para 3,2 UA e por consequência os ganhos de peso vivo de 122 kg/ha/ano para 375 kg/ha/ano, além de aumentar a produção de lenha e reduzir a erosão do solo. Embora o êxito nesses sistemas Almeida et al. (2011) fazem ressalva sobre à dificuldade de se manter leguminosas herbáceas nos sistemas integrados devido à baixa tolerância ao sombreamento, destacando o amendoim forrageiro (Arachis pintoi) como tolerante e a centrosema (Centrosema pudescens), calopogônio (Calopogonium mucunoides) e pueraria (Pueraria phaseoloides) como medianamente tolerantes. Assim, mesmo que se implantem sistemas integrados de produção visando o uso de árvore e arbustos na alimentação animal, também se deve planejá-los com vista a manejar os estratos inferiores, aumentado a sustentabilidade dos sistemas pela inclusão de leguminosas, e usufruir as vantagens sinérgicas que surgem das interações entre os componentes.

A espécie arbórea mais utilizada é a leucena (Leucaena leucocephala) e as arbustivas são o guandu (Cajanus cajan) e a cratília (Cratylia argentea), embora haja um potencial praticamente ilimitado de inclusão de outras espécies, sejam leguminosas ou não.

A implantação do sistema é realizada por sementes, em semeadura direta ou quando a pastagem estiver formada, pela semeadura em covas e coroadas. Plantios feitos no início das chuvas deverão estar em condições de pastejo em maio, sendo utilizadas como estratégia de forrageamento no período seco.

2.1 Leucena

A leucena é originária da América Central, adapta-se aos trópicos e subtrópicos até 500 m de altitude, desde que cultivada em solos férteis e bem drenados, em que as precipitações médias anuais fiquem entre 600 a 1.700 mm, com épocas curtas de estiagem. Desenvolvem-se melhor em locais onde chove, mas suportam diferenças de precipitação, luminosidade, salinidade, inundações periódicas, fogo, geadas leves e secas. É empregada na produção de forragem, madeira, carvão vegetal e melhoramento do solo, podendo

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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produzir grande quantidade de proteína para uso na alimentação animal (SEIFFERT; THIAGO, 1983).

É sugerido o plantio em solos profundos com baixa saturação de alumínio e teores médios de cálcio, magnésio, fósforo, potássio, enxofre e dos micronutrientes zinco, cobre, boro e molibdênio. A nodulação e o crescimento são afetados negativamente em pH abaixo de 5,5.

A calagem pode não ser suficiente para o desenvolvimento do sistema radicular, sendo necessária a gessagem nas áreas de plantio para proporcionar o aprofundamento das raízes, o que aumenta a resitência à falta de água. Experimentos conduzidos em Campo Grande (MS), em latossolo vermelho escuro, com pH de 5,5 e com teor de alumínio 0,3 a 0,5, Seiffert, Thiago (1983) mostraram que aplicações de 4 t de calcário dolomítico/ha e adubação de 450 kg de superfosfato simples mais 40 kg de FTE-Br 16/ha, permitiram produções de 5,5 a 6,0 t de forragem (folhas + vagens + hastes finas)/ha. No entanto, em anos de seca acentuada, a produção de outono foi bastante baixa (1,5 a 2,0 t de MS/ha). A fração forragem, mistura de aproximada de metade de folhas e vagens e outra metade de hastes finas, apresentou teores médios entre 14,7 e 16,5% de PB. Posentti et al. (2008) utilizando feno de leucena, obtiveram 16,81% de PB, 0,8% de Ca e 4.071 cal/g de EB.

Pode ser utilizada em sistema de pastejo rotacionado, subdividindo-se a área em sete partes iguais e pastorear cada uma por sete dias, a cada 42 dias. Nos anos subsequentes ao plantio, o piquete deverá sofrer algum pastejo controlado também durante o período das chuvas, para evitar que as cresçam demasiadamente, acima de 2-3 metros de altura. Porém, para garantir acúmulo de forragem para o período seco, deve-se vedar o pasto a partir de março. Para uso como legumineira (acesso por algumas horas por dia) veda-se de 20% a 30% da área total do sistema. Um estande de leucena bem estabelecido, em condições adequadas de solo e bem manejado, deverá persistir por longo tempo, proporcionando ganhos de peso de até 750 g/cab/dia no período seco (SEIFFERT; THIAGO, 1983).

2.2 Guandu

O guandu é uma leguminosa com origem provável na África Tropical Ocidental e na Índia. Atualmente é cultivado em aproximadamente 50 países da Ásia, da África e das Américas, principalmente em consórcio com cereais. Foi introduzida no Brasil pela rota dos escravos procedentes da África, tornando-se largamente distribuída e seminaturalizada, assumindo importância como fonte de alimento humano, produção de forragem e também como adubo verde. Adapta-se a solos de baixa fertilidade, às altas temperaturas e à condição de seca (SEIFFERT et al., 1988). Segundo Seiffert;Thiago (1983) apesar de ser uma planta adaptada à região tropical, tolera geadas leves e cresce em faixa ampla de precipitações, de 500m a 1500

Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

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mm/ano, desenvolvendo-se bem em faixa de temperatura entre 20 e 40°C.

A produção é satisfatória na seca porque o guandu possui sistema radicular pivotante, que consegue buscar água nas camadas mais profundas do solo. Porém, não tolera encharcamento e necessita de alta luminosidade durante a formação das vagens. Tem um ciclo vegetativo anual, bienual ou semi-perene de vida curta, de 3 a 4 anos, dependendo do manejo, pode apresentar caule lenhoso (SILVA, 2009).

Trabalhando com épocas de corte e variação na composição bromatológica, Favoretto (1979) obteve alto valor proteico nas folhas (26,25% a 30,67%) e baixo teor de fibra bruta (19,79% a 20,03%), o que resultou na produção total de PB variando de 499,02 a 585,13 kg/ha, em apenas um corte. A produtividade de matéria seca variou de 2,98 a 4,82 t/ha, correspondendo a cortes efetuados aos 60 e 90 dias respectivamente, indicando assim a possibilidade do aproveitamento do guandu como leguminosa para fenação.

Em experimento de comparação de acessos que possibilitaram o lançamento do guandu Mandarim pela Embrapa Pecuária Sudeste em 2008, Godoy et al. (1997) obtiveram acessos que variaram de 34 a 70% a proporção de folhas em relação ao total colhido, sendo que um dos acessos se destacou pela alta produtividade, baixo teor de tanino e alto percentual de nitrogênio. Na Embrapa Gado de Corte, o guandu Mandarim tem sido usado em pastejo direto, com boa rebrota no período seco e tem mostrado persistência superior a três anos nessas condições (Figura 1).

Figura 1: Bovinos em pastejo em guandu (Cajanus cajan cv. Mandarim). Embrapa Gado de Corte. Campo Grande-MS. Fevereiro 2012.

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Para formação de legumineiras utilizam-se seis sementes por metro linear e espaçamento de 2 a 3 m entre linhas, necessitando de 4,5 kg de sementes/ha, ou em semeadura mais adensada de 1,5 m entre linhas, necessita-se 8 a 10 kg de sementes/ha (SEIFFERT et al., 1988).

2.3 Cratília

A cratília é uma leguminosa arbustiva nativa, de ocorrência no Cerrado da Região Centro-Oeste. Possui extrema adaptação a solos ácidos e resistência à seca. O valor nutricional é superior às demais leguminosas no período seco, devido ao profuso sistema radicular que permite maior retenção de folhas. Nas avaliações do CIAT a faixa de precipitações de cultivo variam de 997 mm a 4.000 mm, com ausência de seca até 6 meses de período seco. O consumo por bovinos é sazonal, ocorrendo na seca (ARGEL; LASCANO, 1998; RAMOS et al., 2003).

Para a semeadura não há necessidade de escarificação da semente. Sendo semeada a 2 cm de profundidade. Nodula com rizóbios do caupi, embora a inoculação com as estirpes de Bradyrhizobium CIAT 2561 ou 3564 seja benéfica, em particular em solos ácidos com alta saturação de alumínio (ARGEL; LASCANO, 1998). Pode ser cortada pela primeira vez, quatro meses após o plantio; tolera cortes frequentes em intervalos de 50-90 dias a uma altura de 30-90 cm acima do solo, mesmo na estação seca. A produção de matéria seca é alta com rendimentos de 2-5 t MS / h em 8 semanas de rebrota. É prontamente consumido pelo gado, embora a ingestão por ovelhas seja baixa (ARGEL et al., 2001). O valor nutritivo está entre os maiores relatados para as leguminosas arbustivas adaptadas a solos ácidos, variando de 18% a 30% de PB na matéria seca, com DIVMS entre 60-65%. Contém apenas vestígios de taninos, diferentemente de outras leguminosas arbustivas tropicais (CIAT, 2001).

2.4 Outras forrageiras arbóreo-arbustivas utilizadas ou com potencial de uso em sistemas integrados de produção

Em países da América Central é comum a utilização da ramagem das árvores existentes para forrageamento do gado. As árvores podem estar presentes nas propriedades rurais em diferentes tipos de combinações, incluindo bancos forrageiros, cercas e mourões vivos, em faixas associadas ao plantio de culturas e de pastagens ou dispersas nas pastagens (NICODEMO et al., 2004).

Nas condições ambientais do Centro-Oeste Gama (2008) conduziu experimento utilizando cinco espécies leguminosas arbustivas e arbóreas (Albizia lebbeck, Cajanus cajan, Cratylia argentea, Gliricidia sepium e Leucaena leucocephala) em Neosolo Quartzarênico, visando obter o valor nutritivo e a produtividade para uso como banco de proteína. Nos cortes

Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

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realizados em março e setembro (1ª época), e abril e outubro (2ª época), obteve valor nutricional das folhas, entre 19,8 a 21,2% e entre 20,0 a 21,1% de PB, entre 48,5 a 63,8% e 49,3 a 64% para FDN e 46,6 a 55,2% e 41,7 a 52,3% para DIVMS, respectivamente para 1ª e 2ª épocas, para todas as espécies. A produtividade de MS para 1ª e 2ª épocas foi, respectivamente, de 9,9 e 9,4 t/ha para A. lebbeck foi de, de 9,3 e 7,1 t/ha para C. cajan, de 12,8 e 11,5 t/ha para C. argentea, de 8,3 e 7,7 t/ha para G. sepium. Mesmo com diferenças significativas entre as espécies, os valores obtidos mostram o potencial de produtividade das espécies no período seco, com destaque para a produtividade do guandu. O estande de leucena não possibilitou o segundo corte, provavelmente pela baixa fertilidade do solo, sendo este um problema a ser sanado antes da introdução desta espécie no sistema.

Em condições de semiárido Araújo et al. (2006) citam estudos que a participação acima de 70% das espécies botânicas da caatinga na composição da dieta dos ruminantes domésticos, sendo as herbáceas, acima de 80% no período chuvoso. A medida a que a estação seca progride, os arbustos e árvores se tornam cada vez mais importantes na dieta dos animais, principalmente dos caprinos. As espécies nativas destacam-se pela alta resistência à seca, por já fazerem parte dos sistemas, pelo alto nível protéico (acima de 12%) e pelo fato de a maioria produzir outros produtos, como madeira e frutos. Segundo os autores elas têm algumas desvantagens, como alto teor de tanino, não devendo compor dietas exclusivas. As principais espécies são caatingueira (Caesalpinia pyramidalis; C. bracteosa), umbuzeiro (Spondias tuberosa), maniçoba (Manihot spp.; M. pseudoglaziovii), camaratuba (Cratylia mollis), mamãozinho (Jacaratia corumbensis), e as cactáceas nativas mandacaru (Cereus jamacaru) e facheiro (Pilosocereus pachycladus).

A Embrapa Semiárido desenvolveu um sistema de produção com base na caatinga, com a incorporação do capim buffel e de uma área plantada com leguminosas destinada à produção de volumoso, inicialmente utilizando a leucena, por isso de sistema CBL (caatinga, buffel, leucena), mas que hoje utiliza também o guandu, a gliricídia (Gliricidia sepium), ou a maniçoba (Manihot pseudoglaziovii), que não é uma leguminosa, mas que deixou de ser considerada planta tóxica para se tornar forrageira lenhosa importante, devido às pesquisas na Embrapa Semiárido. Essas espécies introduzidas, apesar de um pouco susceptíveis às secas prolongadas, destacam-se pelo alto nível proteico, produtividade, aceitabilidade e baixo nível de tanino (ARAÚJO et al., 2006). Segundo os autores em um modelo físico do sistema CBL envolvendo cria-recria a taxa de parição das vacas foi 76,2%, quase duas vezes a taxa obtida nos sistemas tradicionais, o que é um indicativo bastante promissor das potencialidades do sistema. Araújo Filho (1985) em pastejo combinado de bovinos, caprinos e ovinos em caatinga raleada obteve valores médios de 109,4 kg/cab/ha para bovinos, 15,5 kg/cab/ha para caprinos e 20,1 kg/cab/ha para ovinos, mostrando o potencial produtivo do sistema.

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3 Modificações provocadas pela presença da árvore

As árvores e arbustos promovem modificações micro-climáticas que afetam as plantas forrageiras e os animais domésticos que fazem parte dos sistemas integrados de produção. Em geral essas mudanças são positivas promovendo melhorias de ordem zootécnica e ambiental, sendo a alta temperatura o principal fator a interferir na produção animal (ALVES, 2011). Dessa forma, o sombreamento diminui as temperaturas e afeta a produção vegetal, diminuindo a produtividade de MS/ha, devendo-se então utilizar espécies adaptadas ao sombreamento para manter a lotação. Uma vantagem é que o sombreamento aumenta o valor nutritivo da forragem.

3.1 Valor nutricional da forragem produzida em sistemas integrados

De acordo com Carvalho et al. (2002) o sombreamento natural do angico vermelho (Anadenanthera macrocarpa), retardou o florescimento das gramíneas avaliadas (Brachiaria brizantha cv Marandu, Panicum maximum cvs. Aruana, Makueni, Mombaça e Tanzânia, e Cynodon dactylon, cv. Tifton 68), sendo efetivo nas cultivares de panicum e braquiária, pois o tifton 68 morreu devido ao sombreamento. Os autores comentaram que a produtividade foi afetada pela quantidade (40%) e qualidade da luz transmitida. Sendo a produção de MS na sombra entre 42 e 56% menor que no sol e a concentração de nitrogênio o dobro para o capim-marandu e pelo menos 1,5 vezes maior nos panicuns mantidos à sombra em relação ao mantidos no sol. Também Almeida et al. (2011) obtiveram maior valor nutricional para capim-piatã sombreado em sistema agrossilvipastoril no período seco, em que componente arbóreo é eucalipto (Eucalyptus grandis). Os teores de PB nas folhas e colmos, nas áreas de sombra e sol, foram de 11,4% e 8,5%, e de 2,8% e 1,9%, respectivamente. Nessas condições a taxa de lotação média foi 1,76 UA/ha e o ganho de peso vivo 115 kg/ha.

3.1.1 Taninos condensados

Taninos condensados estão presentes em apenas algumas espécies vegetais. Em geral, forrageiras arbustivas e arbóreas tendem a ter maior teor de taninos que as plantas forrageiras herbáceas e as forrageiras tropicais por sua vez têm geralmente teores mais elevados de taninos do que as temperadas (LENG, 1997). Estes são substâncias produzidas com o objetivo de proteger a planta contra o ataque de microorganismos e contra a herbivoria. Podem ter efeitos antinutricionais, provocar intoxicação nos animais ou aumentar a eficiência nutricional, dependendo dos teores e da composição química dos taninos presentes nas plantas utilizadas nos sistemas de produção. Segundo Oliveira e Berchielli (2007) os efeitos benéficos são representados pelo melhor aproveitamento da fração protéica da dieta e aumento na eficiência de síntese microbiana no rúmen, o que leva também à

Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

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possibilidade de usar os taninos para redução da metanogênese, e os deletérios (quando presentes de 6 a 12% na MS da dieta) são a redução no consumo voluntário, a menor eficiência do processo digestivo e menor produção animal.

Barry e McNabb (1999) citam que concentrações moderadas entre 2 a 4% de taninos condensados na MS da dieta, como em Lotus pedunculatus, faz com que se liguem às proteínas da dieta durante a mastigação, protegendo a proteína de ataque microbiano no rúmen.

Sendo assim, nos sistemas integrados de produção deve-se utilizar espécies forrageiras com baixos teores de tanino e ter oferta abundante de forragem herbácea para os animais comporem a dieta, quando as forrageiras arbóreas apresentem altos teores de taninos.

3.2 Ambiência e conforto animal

Segundo Porfírio da Silva (2009) sistemas silvipastoris são de grande aplicabilidade devido às dimensões ocupadas por pastagens e às possibilidades em termos de serviços de proteção dos rebanhos e das pastagens contra extremos climáticos. Nas condições do noroeste paranaense, Porfírio da Silva et al.. (1998), registraram na posição sob as copas de renques arbóreos em noite de inverno, temperaturas do ar mais elevadas em até 2°C, e as temperaturas do ar atingiram até 8°C de diferença entre as posições sombreadas e ensolaradas. As árvores aumentam o conforto térmico para o rebanho.

A zona de conforto térmico é a faixa de temperatura ambiente dentro da qual os animais não necessitam usar mecanismos de termorregulação. Os zebuínos são mais resistentes ao calor e a outros estresses ambientais (p.e., temperatura e umidade) que os taurinos, mas a faixa a zona de conforto térmico está entre 10 e 27°C. A partir dos 35°C, a termorregulação começa a falhar, aumentando a temperatura retal e diminuição no consumo. Como na maior parte do Brasil as temperaturas estão acima da zona de conforto, os bovinos estão sujeitos ao estresse calórico. Por isso os animais preferem pastejar sob a copa das árvores nas pastagens arborizadas (ALVES, 2011).

Os bovinos alteram o comportamento sob estresse de calor, mudam a postura para aproveitar a dissipação de calor pelo vento, ficam mais quietos e com movimentação reduzida, com objetivo de diminuir o calor gerado pelos movimentos. Também modificam o padrão de ingestão de alimentos incluindo redução no tempo de ingestão e tempo dedicado à ruminação, afetam a produtividade do animal. Passam as horas quentes do dia descansando e ruminando e, por volta do meio-dia, a maioria das atividades é interrompida, alterando o pastejo para o período noturno. Para animais criados nos trópicos o pastejo noturno pode representar até 60% do tempo total dedicado à alimentação (FERREIRA, 2005).

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Desta forma, segundo Ferreira (2005) os sistemas silvipastoris são uma forma de fornecer conforto térmico aos animais devido à sombra natural proporcionada pelas árvores, o que promove redução na frequência respiratória e aumento na produção de leite. O mesmo ocorre com diferentes espécies de animais domésticos (Figura 2).

Figura 2: Cordeiros Pantaneiros à sombra, em pastagem de braquiária (Brachiaria brizantha cv Marandu). Núcleo Regional Centro-Oeste para Caprinos e Ovinos. Terenos-MS. Maio 2010.

3.3 Mitigação de gases efeito estufa

A sustentabilidade da produção animal é ameaçada pelos sistemas de produção baseados em monocultivos, geralmente braquiárias, o que favorece a degradação. Sistemas mais complexos promovem o acúmulo de carbono no solo, a eficiência de uso da água e a preservação de recursos hídricos (COSTA; GONZALEZ, 2011).

A degradação decorre da instabilidade dos sistemas, em que os fatores desfavoráveis são de caráter biótico (pragas, doenças, manejo inadequado, plantas indesejáveis) e físico-químico (mineralização da matéria-orgânica, erosão e lixiviação do solo e alteração de micro-clima) (PORFÍRIO DA SILVA, 2009).

Nos sistemas formados com pastagens a fertilidade do solo afeta a produção de biomassa aérea e radicular, o que aumenta a quantidade de resíduos depositados no solo seqüestrando carbono. Estudos realizados em

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Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

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diversas países estimaram que as práticas de manejo que aumentam a fertilidade do solo sob pastagens podem aumentar de 50 a 150 kg/hectare a quantidade de carbono seqüestrada, bem como a ausência de adubação nitrogenada e a utilização menos freqüente da pastagem resultaram em perda

2para a atmosfera de 57 g C/m /ano (PAULINO; TEIXEIRA, 2009). Os autores concluíram que a conversão de terras aráveis em pastagens perenes teve efeito positivo sobre o balanço de C nos sistemas, mesmo que o efeito tenha sido mais pronunciado nos três primeiros anos após a conversão. Sendo assim Paulino, Teixeira (2009), utilizando dados de Pedreira, Primavesi (2008), estimaram o balanço em equivalente carbono, para um bovino adulto mantido exclusivamente em pastagen e consumindo somente sal mineral, para as condições brasileiras, em seqüestro de 61.712 kg/ha/ano.

Informações para sistemas integrados de produção são escassos e mais ainda nas condições tropicais. Müller et al. (2009), estimaram o acúmulo de carbono em sistema silvipastoril na Zona da mata Mineira, em sistema composto por 105 árvores/ha, sendo 60 arv./ha Eucalyptus grandis e 45 arv./ha Acacia mangium , com o estrato herbáceo formado por Brachiaria decumbnes. Aos 10 anos de cultivo da floresta e 4 da pastagem, obtiveram 14,29 Mg/ha de C.

Esses trabalho mostram que a presença de árvores e arbustos incrementam o seqüestro de carbono, mitigando os gases efeitos estufa.

4 Considerações finais

As espécies arbóreas e arbustivas são excelentes fontes de alimento para uso no período de escassez de forragem. Apesar de pouco utilizadas sistemas implantados ou naturais manejados, permitem aumentar a produção animal, pela produção constante (carne, leite, lã, etc) distribuída ao longo do ano. Os sistemas silvipastoris são os que apresentam maior facilidade de implantação e para uso nos mesmos, cultivares de árvores e arbustos forrageiros, como guandu Mandarim (GODOY et al., 1997), gliricídia e leucena (ARAÚJO et al., 2006) e cratília (CIAT, 2001), são indicadas. As leguminosas fixam nitrogênio, contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas, e fornecem sombra, proporcionando conforto animal. A mitigação de gases efeito estufa é significativa tornando os sistemas mais sustentáveis e com potencial futuro de acréscimo de renda para a empresa rural.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Espécies arbóreas e arbustivas como fonte estratégica para alimentação animal

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Espécies Arbóreas Potenciais para Sistemas Integradosde Produção (ILPF) no Semiárido Brasileiro

1Marcos Antônio Drumond

1 Introdução

A região semiárida do Brasil está compreendida entre os paralelos 3 e 218º latitude sul e 35 e 46º longitude oeste, ocupando cerca de 900 mil km . A

precipitação média anual varia de 400 a 800 mm, concentrada nos meses de fevereiro e março (GOLFARI; CASER, 1977). A temperatura média varia de 22 a 28ºC, com umidade relativa entre 50 e 70%. A insolação média é alta (2.800

-1horas por ano), com taxas de evaporação em torno de 2.000 mm ano (EMBRAPA, 1979). Os solos formam um verdadeiro mosaico, com predominância dos LATOSSOLOS VERMELHO-Amarelo e LUVISSOLO; são geralmente rasos, chegando a apresentar afloramentos rochosos, de baixa capacidade de retenção de água, com baixos teores de nutrientes e matéria orgânica.

A vegetação existente é uma formação arbórea arbustiva, com pequena diversidade de espécies arbóreas denominada Caatinga, caracterizada pela baixa capacidade para produção de lenha e forragem. Quanto à produção madeireira, o volume médio encontrado varia de 7,3 a 14,2

-1m³ ha (TAVARES et al., 1970; LIMA et al., 1979), enquanto a demanda por -1madeira é, em média, 6,7 m³/pessoa.ano , consumidos ou comercializados

pela população rural (RIBASKI, 1986). Para a pecuária, a capacidade de suporte da vegetação nativa é, em média, 17 ha para cada bovino adulto (SALVIANO, 1982) e de 1 a 3 ha para unidade caprina (GUIMARÃES FILHO; SOARES, 1988).

Nos últimos anos, a região Semiárida brasileira tem passado por um processo acelerado de degradação ambiental e socioeconômica, especialmente pela escassez de água. Milhares de hectares foram abandonados e excluídos do sistema produtivo, como resultado da degradação. Outra consequência danosa deste processo foi o aumento dramático do desemprego na região, levando boa parte da população a viver em condições de miséria.

O estudo de seleção de espécies de uso múltiplo em áreas de elevado déficit hídrico, conduzido pela Embrapa Semiárido, demonstrou o potencial da

Espécies Arbóreas Potenciais para Sistemas Integrados de Produção (ILPF) no Semiárido Brasileiro

1 Pesquisador da Embrapa Semiárido - [email protected]

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região para os sistemas agroflorestais. Estes têm sido realizados em diversos países, principalmente nos menos desenvolvidos, visando solucionar problemas ambientais e socioeconômicos. Os sistemas agroflorestais têm como principal característica a inclusão de espécies arbóreas em associação com culturas agrícolas e, ou, produção agropecuária, combinando, simultânea ou sequencialmente, culturas de ciclo anual, perenes ou semiperenes com plantas de floresta e com a criação de animais, aplicando práticas de manejo que são compatíveis com os padrões culturais da população local. Além disto, as associações de culturas perenes, anuais e espécies nativas nos sistemas agroflorestais apresentam diversos elementos de sustentabilidade ecológica. Entre eles, podem ser citados a redução da erosão do solo, o aumento do teor de matéria orgânica e umidade no solo, a redução da variação de temperatura do solo e a utilização mais eficiente dos distintos comprimentos de onda da energia luminosa. Apesar de os sistemas agroflorestais serem mais produtivos e sustentáveis em regiões de solos férteis, estas práticas tem igualmente um alto potencial para manter e melhorar a produtividade em áreas acometidas pelas adversidades climáticas, que apresentam problemas de baixa fertilidade ou escassez de umidade nos solos. Para atender à demanda dos sistemas agroflorestais no semiárido brasileiro, destacam-se as espécies potenciais e de múltiplo uso. As espécies consideradas neste trabalho foram aquelas testadas pela Embrapa Semiárido, que apresentaram bom desenvolvimento silvicultural em áreas dependentes de chuva, com precipitação média anual variando de 500 a 600 mm (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1: Médias de altura, diâmetro (DAP), volume de madeira, incremento médio anual (IMA) e sobrevivência de algumas espécies arbóreas na região de Petrolina-PE.

1 2Fonte: Lima, (1986) e Drumond, (1992).

Integração lavoura-pecuária-floresta:

EspécieIdade(anos)

Sobrev.(%)

Altura(m)

DAP(cm)

Volume-1(m.ha )

3IMA

m³/ha.ano

Eucalyptus crebra1

5 94 5,1 6,5 24 5,0

Leucaena leucocephala

1 4 90 4,5 4,2 18 4,5

Prosopis juliflora1

5 98 3,2 3,2 15 3,0

Gliricidia sepium2 4,5 100 4,0 4,4 17 3,8

Anadenanthera colubrina

2 8 93 3,7 4,7 9 1,1

Miracroduon urundeuva

2 8 89 3,9 4,1 12 1,5

Mimosacaesalpiniifolia

2 8 92 5,8 7,5 39 4,9

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Page 89: Livro 2º ILPF

3Tabela 2: Densidade básica da madeira (g.cm ), rendimento gravimétrico de carbonização (%) a 420±20°C, Tteor de carbono fixo, teor de cinza através da analise química imediata do carvão (base seca).

Fonte: Drumond et al. (1984) e *Jesus et al. (1988).

2 Espécies arbóreas de múltiplo uso cultivadas na região Semiárida

As informações contidas neste trabalho são resultantes de um levantamento bibliográfico sobre as espécies arbóreas de múltiplo uso cultivadas na região semiárida e estudadas pela Embrapa Semiárido: leucena [Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit.], gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.], algarobeira [Prosopis juliflora (Sw.) DC.], sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) e eucalipto (Eucalyptus sp.), que apresentaram bom desenvolvimento silvicultural em áreas dependentes de chuva, com precipitação média anual variando de 500 a 700 mm.

2.1 Leucena - Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit.

A Leucena (Figura 1) é uma espécie de rápido crescimento, chegando a atingir até 3m de altura no primeiro ano, com grande capacidade de regeneração. O destaque da espécie recai sobre sua multiplicidade de usos: como madeireira-forrageira e como planta melhoradora dos solos, especialmente quando consorciada com outras culturas. Quando plantada em curva de nível com captação de água in situ, sua produtividade chega a duplicar.

Como madeireira, as variedades K8 e K72 de L. leucocephala basicamente não diferem entre si, apresentando densidade básica da madeira

Espécies Arbóreas Potenciais para Sistemas Integrados de Produção (ILPF) no Semiárido Brasileiro

EspéciesDensidade

3(g.cm )Carvão

(%)Carbono

(%)Cinza(%)

Eucalyptus urophylla* 0,54 35,8 81 0,5

Leucaena leucocephala* 0,62 34,7 81 1,0

Prosopis juliflora 0,85 43,0 74 1,6

Anadenanthera colubrina 0,78 42,2 70 5,8

Miracroduon urundeuva 0,66 38,4 72 4,8

Mimosa tenuiflora 0,83 41,9 72 1,7

Mimosa caesalpiniaefolia 0,86 41,1 73 1,8

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-3 -3(620 kg m ) superior à do Eucalyptus urophylla (540 kg m ) (JESUS et al., 1988). O valor de conversão de carvão é de 34,7% sobre o peso básico, com 81,0% de carbono fixo e 1,5% de conteúdo de cinzas.

Figura 1: a) Leucena como recuperadora de áreas degradadas pela deposição de rejeitos finos da mineração de cobre aos seis meses de idade, b) leucena plantadas em curva de nível para produção de estacas e lenha.

Fotos: Marcos Antonio Drumond.

Como forrageira, a leucena é altamente palatável e de grande valor nutritivo (Tabela 3). A produção de matéria seca comestível da leucena é constituída de folhas e caules finos, e a produção anual de matéria seca no Nordeste brasileiro é variável de local para local, conforme resultados obtidos

-1por Silva (1992), de 1.311 a 7.043 kg ha em Petrolina-PE; por Sousa et al. -1(1998), de 1.248 a 3.157 kg ha em Sobral-CE; e por Farias et al. (2002), de

-111.641,8 a 1.929,6 kg ha em Barra de Santa Rosa-PB.

A folhagem e os frutos mais novos chegam a apresentar teores protéicos de 35%, enquanto na folhagem mais velha este teor fica em torno de 25%. Alguns estudos desenvolvidos na Austrália relatam que a folhagem de leucena é tóxica quando ministrada como alimento único por período prolongado, pela grande quantidade de mimosina existente na sua composição. Entretanto, a ocorrência de intoxicações é praticamente inexistente no Brasil, devido à presença de bactérias que digerem, satisfatoriamente, a mimosina no rúmen dos animais.

Integração lavoura-pecuária-floresta:

a b

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Page 91: Livro 2º ILPF

(1)Tabela 3: Análise bromatológica de forragem usada na alimentação de bovinos com base na matéria seca de leucena e gliricídia.

1Análises realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do CPATC-EMBRAPA, 2Valores calculados conforme LATIN AMERICAN TABLES OF FEED COMPOSITION, University of Florida, 1974.

Como melhoradora dos solos, a espécie associa-se, simbioticamente, -1com bactérias do gênero Rhizobium, que fixam até 500 e 600 kg ha por ano de

nitrogênio para as variedades K8 e K341, respectivamente, (GUEVARRA, 1980), podendo associar-se também com fungos do gênero Mycorrhizae, que viabilizam a utilização do fósforo não disponível para a maioria das culturas.

2.2 Gliricídia - Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.

A gliricídia (Figura 2) ocorre naturalmente do México até a Colômbia, Venezuela e Guianas, tendo sido introduzida e naturalizada ao longo das regiões tropicais (DUQUE, 1998). Segundo Dunsdon et al. (1991) e Hughes, citado por Parrotta (1992), esta leguminosa é uma espécie de grande interesse comercial/econômico pelas suas características de uso múltiplo, sendo cultivada em diversos países tropicais. A gliricídia destaca-se por apresentar rápido crescimento, alta capacidade de regeneração, resistência à seca e facilidade em propagar-se sexuada e assexuadamente.

Como cercas-vivas, para sustentação de arames farpados, é uma das espécies mais utilizadas nos trópicos, especialmente pelos pequenos produtores; como forrageira, sua folhagem é palatável e de alto valor protéico, podendo ser consumida por bovinos, ovinos, suínos, caprinos e aves. Essa espécie produz forragem durante todo o ano, apesar de apresentar folhas decíduas no período seco; este problema pode ser contornado através de podas, alterando sua fenologia. Como madeireira, é considerada de excelente

-1qualidade para lenha, possuindo poder calorífico da ordem de 4.900 kcal kg .

Espécies Arbóreas Potenciais para Sistemas Integrados de Produção (ILPF) no Semiárido Brasileiro

ComposiçãoSilagem deleucena (%)

Silagem degliricídia (%)

Matéria seca 36,29 30,97

Proteína bruta 19,18 22,82

Fibra bruta 16,30 16,97

Extrato etéreo 5,95 4,19

Resíduo mineral 10,07 8,57

Nutrientes digestíveis totais(2)

71,89 63,80

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Como planta medicinal, é utilizada no tratamento de doenças da pele (úlceras, tumores, icterícia e alergias em geral), feito à base de compressas com as pontas verdes dos ramos e banhos de infusão das folhas; como alimento, suas flores são utilizadas na forma de uma farinha muito rica em proteínas. Quanto à conservação dos solos, a espécie é recomendada no controle de erosão e estabilização de terraços de rodovias, em função de sua alta sobrevivência e resistência ao fogo, bem como por rebrotar com muita facilidade, podendo ser utilizada também, como adubo verde e para o sombreamento de cacau e café, muito comum no sul da Bahia. É indicada como planta melífera e repelente de determinados insetos, sendo considerada uma espécie tóxica para equinos, caninos e roedores.

Figura 2: A gliricídia como cercas vivas, para sustentação de arames farpados, é uma das espécies mais utilizadas no trópico, especialmente pelos pequenos produtores. Foto: a) Marcos Antonio Drumond e b) Orlando Monteiro de Carvalho.

No Nordeste brasileiro, há vários anos esta espécie é cultivada na zona cacaueira da Bahia, para o sombreamento do cacau, tendo sido introduzida na região semiárida dos estados de Pernambuco e Sergipe em 1985 pelo pesquisador Marcos Drumond da Embrapa Semiárido, sendo introduzida simultaneamente em Petrolina-PE e em Nossa Senhora da Glória-SE.

Foram avaliadas a sobrevivência, a altura, e o diâmetro à altura do peito (DAP) de todas as árvores centrais das parcelas aos 28, 38 e 48 meses de idade. Observou-se que a sobrevivência das plantas manteve-se em 100% até os 48 meses. O crescimento em altura apresentou ligeira estagnação do terceiro para o quarto ano, enquanto que em Petrolina o diâmetro apresentou um incremento superior a 50% (Tabela 4). Numa avaliação posterior, aos nove anos de idade, observou-se uma alta taxa de mortalidade, atribuída à ausência de manejo adequado da cultura.

a b

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Tabela 4: Comportamento silvicultural de Gliricidia sepium nos municípios de Petrolina-PE e Nossa Senhora da Glória-SE, aos 28, 38 e 48 meses de idade.

DAP = Diâmetro a altura do peito; Volume= volume cilíndrico, IMA=Incremento médio anual, M=meses

Comparando os dados de crescimento nas duas localidades, verificou-se que a espécie apresentou excelente desempenho silvicultural nas condições semiáridas testadas.

Em 1988, a gliricídia foi introduzida em outras localidades do Nordeste, sob diferentes condições edafoclimáticas, no espaçamento de 3,0x2,0m e sem adubação de fundação: em Aracajú, em Tianguá-CE, em Parnaíba-PI e em Limoeiro do Norte-CE. Hoje se encontra bem difundida na região Semiárida do Nordeste brasileiro, especialmente no Estado de Sergipe, onde já faz parte dos programas agrícolas do governo estadual, como espécie forrageira por excelência.

Pela análise bromatológica da silagem de gliricídia, constatou-se valores similares àqueles apresentados para leucena (Tabela 3).

2.3 Algarobeira - Prosopis juliflora (Sw.) DC.

A algarobeira (Figura 3) é uma árvore xerófila, com altura variando de 4 a 8m; em condições ótimas chega a apresentar 18m de altura e 80 cm de diâmetro. A espécie vegeta desde o nível do mar até altitudes de 1.500m, com precipitação de 150 a 750 mm por ano (GOOR; BARNEY, 1976). Sua introdução no Brasil ocorreu a partir de 1942, em Serra Talhada, Pernambuco, com sementes originárias da região de Piura, no Peru (AZEVEDO, 1961; GOMES, 1961), e na década de 1980 em Petrolina-PE (LIMA, 1999).

Na região Nordeste do Brasil, a espécie é encontrada em populações cultivadas e subespontâneas, sendo considerada como de crescimento rápido. Sua frutificação inicia-se a partir do 2º ano e é facilmente multiplicada por sementes. Pelo fato de as sementes possuírem dormência tegumentar, o tratamento mais simples para sua germinação é a imersão em água fervente durante 2 minutos, ou em água fria por 24 horas.

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Figura 3: a) algarobeira é uma espécie produtora de estacas e lenha de boa densidade básica, b) melífera, recuperadora de áreas salinizadas, produtora de sombra e forragens na época em que a maioria das outras plantas nativas está sem folhas ou frutos. Fotos: Marcos Antonio Drumond.

A importância da cultura da algarobeira, como mais uma alternativa para as áreas secas, é evidenciada pelas múltiplas utilizações em uma propriedade rural. Dentre elas se destacam: como produtora de madeira com

-3densidade de 0,85 g cm (DRUMOND et al., 1984), presta-se para lenha, carvão, cerca, construções rurais, tacos e móveis, com a produção madeireira

-1 -1variando de 3,5 t ha por ano (LIMA, 1994) a 9,4 t ha por ano (ZAKIA et al., 1989); e como forrageira, as vagens em qualquer estádio de maturação, juntamente com as folhas, são utilizadas para alimentação de bovinos, caprinos, ovinos e equinos. A produção de vagens na Região Nordeste varia de

-13 a 8 t ha por ano, supondo existir uma correlação entre as condições de sítio com a produção de vagens, onde em áreas com acentuada deficiência hídrica tem-se observado, independentemente do bom desenvolvimento das plantas, baixa produção de vagem, enquanto em áreas com bom suprimento de umidade observa-se elevada produção. A algarobeira pode ser usada como: a) planta melífera; b) recuperadora de áreas degradadas, especialmente daquelas com problemas de salinização; c) planta sombreadora, excelente nos sistemas silvipastoris; e d) produtora de álcool e outros produtos químicos. Outra vantagem da algarobeira no semiárido é que ela fornece forragem na época em que a maioria das outras espécies está desfolhada.

2.4 Sabiá - Mimosa caesalpiniaefolia Benth.

A espécie sabiá (Figura 4) ocorre naturalmente desde o Estado do Maranhão até o Estado de Pernambuco. Foi introduzida com êxito em regiões úmidas dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, sendo que nesses locais a espécie é conhecida como sansão-do-campo. Ela ocorre espontaneamente em áreas de “Caatinga” semi-úmidas, com precipitações variando de 600 a 1.000 mm. Todavia, ocorre também em áreas mais secas, onde as

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temperaturas médias estão entre 20 e 28°C, e o déficit hídrico entre 200 e 1.000 mm. Neste caso, apresenta uma forma mais arbustiva com tronco polifurcado. Cresce preferencialmente em solos profundos. Plantado em solos férteis, ao término do terceiro ao quarto ano, já pode fornecer madeira para estacas para cercas. Tem apresentado bom desenvolvimento também em solos mais pobres. Entretanto, nesses casos, é importante suprir as plantas, por meio de adubação orgânica ou química, para obter melhores resultados em termos de produção de madeira.

Figura 4: a) a espécie sabiá tem um crescimento cespitoso e geralmente dotadas acúleos e b) cultivada em cercas vivas e produtora de forragem com média de 17% de proteína bruta. Fotos: Marcos Antonio Drumond.

A espécie se destaca como uma das principais fontes de estacas para cercas no Nordeste, em especial no Estado do Ceará. A madeira também é

3utilizada para energia, apresentando peso específico em torno de 0,87 g.cm e um teor de carbono fixo de aproximadamente 73%. Estas características qualificam a espécie como uma boa opção para a produção de lenha e carvão. Atualmente, nas áreas irrigadas do Vale do Rio São Francisco, no semiárido nordestino, as estacas têm sido amplamente comercializadas e utilizadas, principalmente, como tutores para apoio e sustentação das plantações de uvas (Vitis vinifera L.).

As folhas, verdes ou secas, assim como as vagens, são forrageiras. Sua folhagem é considerada uma valiosa fonte de alimento para grandes e pequenos ruminantes, principalmente na época seca. As folhas possuem alto valor nutricional, contendo aproximadamente 17% de proteína. As flores são melíferas e a casca tem sido usada em medicina caseira. A espécie também é utilizada como quebra-vento ou cerca-viva. Na região Sudeste do país é comum a sua utilização para cercar sítios, fazendas, indústrias, loteamentos e

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áreas de mineração. Nesta última, tem a função de minimizar alguns impactos gerados pela atividade, tais como o impacto visual e a poeira. As cercas-vivas oferecem proteção como se fossem um “muro”, que impossibilita a visualização do empreendimento e a entrada de pessoas estranhas e animais, além do aspecto paisagístico.

Para as condições do semiárido brasileiro, é considerada uma espécie de rápido crescimento, com incremento médio de 1m de altura por ano. Em plantios utilizando espaçamento de 3 x 3m com 7 anos de idade, apresenta, em média, 6 m de altura e 6,5 cm de DAP (diâmetro à altura do peito). A produção de madeira varia em função da zona ecológica em que a espécie é plantada.

3No Nordeste, em região sub-úmida, obteve-se um volume médio de 46,5 m por hectare em plantações com seis anos de idade, com espaçamento de 2 x

3 -12m (aproximadamente 7,7 m /ha.ano ). Em regiões de clima semiárido quente, em solos ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELOS e espaçamentos

3 -1mais amplos (3 x 2m), a produção é em torno 5 m /ha.ano . A produção de estacas varia entre 4.000 e 9.000 unidades por hectare, em plantios com 8 anos de idade. As cercas vivas, quando plantadas adensadas, atingem quatro metros de altura em dois anos. Após o terceiro ano a barreira, ou cortina vegetal, pode alcançar altura de quatro a oito metros.

A multiplicação pode ser feita por sementes ou por estacas. O número de sementes por quilo é de 22.400 a 33.000 unidades. As sementes, por apresentarem problemas de dormência de tegumento, necessitam de tratamento para a sua ruptura, podendo ser por processos físicos ou químicos. Recomenda-se a prática de imersão das sementes em água recém-fervida por um minuto. Com este processo de quebra de dormência a germinação tem início 3 a 5 dias após a semeadura e pode-se obter cerca de 80% de sementes germinadas. A formação de mudas pode ser realizada em sacos plásticos, sendo utilizado como substrato uma mistura de terra e esterco na proporção de 1:1. É conveniente colocar duas sementes por recipiente, deixando-se posteriormente a de maior vigor ou a central. A plantação definitiva deve ser feita quando as mudas alcançarem cerca de 20 cm de altura, o que ocorre 3 a 4 meses depois da semeadura. O tamanho das covas, para plantios definitivos no terreno, devem ter 20x20x20 cm, distanciadas em 3x2m ou 3x3m e devem receber adubação (orgânica ou química), com o objetivo de favorecer o rápido desenvolvimento das raízes. A plantação desta espécie pode ser realizada isolada ou associada a outros cultivos.

Podas e raleios (desbastes) devem ser operações indispensáveis no manejo dos plantios com a finalidade de obtenção de estacas para cercas. Na utilização como cercas-vivas recomenda-se que a espécie seja plantada adensada, utilizando um metro entre plantas, ou ainda em linhas, com espaçamento de 10 cm entre plantas, o que suprime o uso de arame. Ao contrário, quando for usado o arame, será necessário utilizar espaçamentos mais amplos entre plantas (2 a 3 metros), fazendo-se, nesse caso, a condução das mesmas.

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2.5 Eucalipto - Eucalyptus sp.

No mundo as espécies de eucalipto são cultivadas em aproximadamente 100 países tropicais e subtropicais, mas são poucas aquelas plantadas comercialmente. Provavelmente, não mais de 20 espécies e algumas outras poucas resultantes da hibridação interespecífica vêm sendo utilizadas, em escala comercial, nesses países (PINTO JUNIOR; AHRENS, 2010). Segundo Global, (2009) existe mais de 20 milhões de hectares de florestas plantadas com eucaliptos na Ásia (40,78 %), nas Américas (36,41 %), África (11,65 %), Europa (6,31 %) e Oceania (4,85 %), sendo o Brasil o de maior extensão territorial plantada com espécies do gênero Eucalyptus (21%) seguido de Índia (19%) e China (13%).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2010, o Brasil possuía 519,5 milhões de hectares de florestas nativas, representando seus distintos biomas e 6,9 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 475,6 milhões com espécies do gênero Eucalyptus. (Anuário Estatístico da ABRAF, 2011).

As espécies do gênero Eucalyptus têm sido as mais plantadas no Brasil, devido ao seu rápido crescimento e fácil manejo e adaptação às diferentes condições edafoclimáticas existentes no país (BERGER et al., 2002).

Estas características indicam o eucalipto como uma espécie alternativa capaz de suprir a demanda por madeira na Chapada do Araripe, especialmente, pela utilização de híbridos de Eucalyptus de alta produtividade associados a espaçamentos adequados às condições locais.

Na região do Araripe, maior pólo gesseiro do país, consome-se anualmente cerca de dois milhões de metros estéreos de lenha (lenha empilhada). Considerando a necessidade forrageira e energética de madeira para a exploração e a queima da gipsita e o efetivo consumo da mesma (90%) realizado por fábricas que atuam na região, estudos devem ser direcionados visando minimizar os impactos sobre a vegetação nativa cujos números indicam que pelo menos 70% dessa vegetação já foi devastada por desmatamento.

Dentro do Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta o plantio do eucalipto com culturas adaptadas a região, como a mandioca e feijão caupi pode ser realizado com o intuito de amortizar os investimentos feitos para a implantação de florestas energéticas, bem como incentivar o consorcio de espécies arbóreas de rápido crescimento com forrageiras adaptadas à região a fim de garantir a estabilidade da produção e elevar a produtividade da terra, diversificar a produção, melhorar a fertilidade do solo e aumentar a oferta de forragem de boa qualidade. O uso de espécies arbóreas garante a circulação de nutrientes e o aporte significativo de matéria orgânica, condições essenciais para se cultivar, de maneira continuada, os solos tropicais.

A escolha do espaçamento de plantio ideal para uma determinada

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espécie ou clone, do ponto de vista silvicultural, é de alta relevância por condicionar a quantidade de recursos naturais disponíveis ao crescimento de cada árvore o que influencia as taxas de crescimento, a sobrevivência das plantas e a produtividade de madeira por hectare, afetando as práticas de manejo e colheita e os custos de produção florestal (SILVA, 2005).

Para atender essas demandas forrageira e energética o plantio de eucalipto consorciado com feijão caupi até aos 90 dias e o capim digitaria (Digitaria decumbens Stent.) depois do primeiro ano de plantio do eucalipto pode viabilizar a produção de madeira, feijão e forragem de forma sequenciada, na Chapada do Araripe (Figura 5).

Figura 5: a) eucalipto consorciado co feijão caupi aos 90 dias, b) eucalipto aos 18 meses espaçamento 3x3m, c) eucalipto com capim digitaria após desbaste aos 27 meses, d) lenha produzida do desbaste de um ILPF ais 27 meses.

Fotos: Marcos Antonio Drumond.

Aos trinta e seis meses de idade o número médio de 500 plantas por hectare foi capaz de apresentar boa produtividade madeireira e excelente ocupação do capim digitaria, evidenciando não existir, ainda pouca competição entre as plantas até o período avaliado (Figura 6).

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Figura 6: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, capim digitaria consorciado com eucalipto no espaçamento de 6x6m aos 35 meses de idade, na Chapada do Araripe, Pernambuco. Foto: Marcos Antonio Drumond

3 Considerações finais

Na região semiárida brasileira, o comportamento silvicultural das espécies leucena, algarobeira e gliricídia em áreas de sequeiro destaca-se em relação ao das demais espécies cultivadas, especialmente das nativas, principalmente quando são levados em consideração o rápido crescimento, a densidade da madeira, o rendimento gravimétrico de carbonização e os teores de carbono fixo e cinza apresentados pela leucena e pela algarobeira. A boa adaptação das espécies às condições semiáridas do Nordeste brasileiro, aliada ao bom desenvolvimento silvicultural, em face de sua característica de múltiplo uso, torna a leucena, a gliricídia, a algarobeira, o sabiá e o eucalipto excelentes alternativas energéticas e forrageiras para as condições de baixo índice pluviométrico. O uso dessas espécies proporciona as seguintes vantagens: a) preservação das espécies nativas da região com características silviculturais limitantes; b) produção de forragem, em quantidade e qualidade, superior às da pastagem nativa e de gramíneas introduzidas na região; c) produção de lenha em menor espaço e tempo; e d) utilização em sistemas agroflorestais.

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A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

1José de Castro Silva

1 As origens do eucalipto

O nome eucalipto deriva do grego: eu (= bem) e kalipto (= cobrir), referindo-se à estrutura globular arredondada de seu fruto, caracterizando o opérculo que protege bem as suas sementes. O eucalipto pertence à família das Mirtáceas e é nativo da Austrália, onde cobre 90% da área do país, formando densos maciços florestais nativos. Segundo Davidson (1998), o Flora of Australia já identificou mais de 700 espécies. A maioria das espécies é considerada endêmica no oeste da Austrália e muitas são consideradas arbustivas. Desse total de espécies, apenas duas não têm ocorrência natural na Austrália. O Eucalyptus urophylla ocorre em algumas regiões do arquipélago de Sunda, na Indonésia, e mais intensamente nas ilhas de Timor e Wetar e algumas ilhas próximas, como Adonara, Alor, Flores, Lomblen e Pantar; a outra espécie, o Eucalyptus deglupta ocorre nas Ilhas Britânicas, Papua Nova Guiné e nas ilhas de Mindanao, Ceram e Sulawesi.

Os historiadores mencionam que, por volta de 1774, o eucalipto teria sido introduzido na Europa e, em 1788, foi descrito pela primeira vez pelo botânico francês L’Héritier de Brutelle, no Sertum Anglicarum, em Paris, valendo-se do material recolhido em expedições no território australiano. Na América do Sul, o Chile teria sido o primeiro país a introduzir o eucalipto, em 1823.

É difícil se determinar, com segurança, a data de introdução do eucalipto no Brasil. Até há algum tempo, tinha-se como certo que os primeiros plantios aconteceram no Rio Grande do Sul, em 1868, Segundo José Barbosa Rodrigues, em seu “Hortus Fluminensis”, o Frei Leandro do Sacramento, que foi diretor do Jardim Botânico, entre 1824 e 1829, o pioneiro no plantio de eucalipto no Brasil, ao plantar dois exemplares de Eucalyptus gigantea, na parte posterior do jardim. Tais árvores constam no Catálogo das Plantas Cultivadas no Jardim Botânico. Até o princípio do século XX, o eucalipto foi plantado como árvore decorativa, pelo seu extraordinário desenvolvimento como quebra-vento ou por supostas propriedades sanitárias. Pouquíssimas foram as plantações com fins industriais e caráter florestal. Deve-se à Companhia Paulista de Estradas de Ferro e ao Dr. Edmundo Navarro de Andrade a expansão da eucaliptocultura. Em função do escasseamento das

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1 Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa - [email protected]

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matas nativas, o eucalipto foi sendo adotado como espécie alternativa para o suprimento de madeira. Até 1966, as estimativas davam conta de uma área total plantada de, aproximadamente, 400 mil hectares; a partir desta data, o governo brasileiro instituiu, um programa de incentivos fiscais para aumentar a área plantada para atendimento dos futuros projetos industriais, que precisavam de muita madeira. Atualmente, a área plantada supera 4 milhões de hectares.

Estudos mais recentes indicam que existem mais de 20 milhões de hectares plantados com as espécies do gênero Eucalyptus, em todo o mundo destacando-se a Índia, Brasil, África do Sul, Chile, Espanha; quase cem países têm áreas plantadas com o gênero Eucalyptus.

2 Aspectos ambientais

Quem nunca ouviu falar sobre os efeitos danosos da cultura do eucalipto sobre o solo, a água, a fauna, a monocultura e a extinção da biodiversidade, a extinção de empregos, os efeitos alelopáticos... A sua natureza exótica causa arrepios naqueles ambientalistas e nacionalistas mais eufóricos e chegam, mesmo, a questionar sobre a existência de alguma espécie nativa que pudesse substituir a espécie “alienígena”. Com certeza, os países asiáticos não contestam a presença da Hevea brasiliensis, genuinamente brasileira, conhecida como seringueira, que faz a riqueza daqueles países, mas que é exótica para eles, como o eucalipto o é para nós.

Quando se comparam as implicações ambientais das espécies agrícolas e florestais, há uma duplicidade esdrúxula de juízo e valores. No Brasil, as grandes culturas agrícolas são consideradas exóticas, mas não sofrem quaisquer contestações. Apenas para lembrança, segue uma lista de produtos que fazem parte do nosso cotidiano, sem nunca nos preocuparmos com as suas origens: Milho (Planaltos do México), arroz (Sudeste da Ásia), feijão (Grécia e Peru), soja (Norte da China), alface (Ásia e Leste do Mediterrâneo), beterraba (Costa do Mediterrâneo e Oeste da Ásia), tomate (Peru e México), repolho (Costa do Mediterrâneo, Ásia Menor e Costa Ocidental Européia), couve (Mediterrâneo e Ásia), cacau (México, América Central e Brasil); inhame (África), laranja (Malásia, Índia e China), manga (Índia e Filipinas), cebola (Ásia Central), batata (Sudeste do Peru), cenoura (Afeganistão), goiaba (América tropical), maracujá (América do Sul e Central), caqui (China, Coréia e Japão), conde (Antilhas), ameixa (China e Japão), banana (Sudeste Asiático), alho (Deserto da Sibéria), limão (Sudeste da Ásia), suíno (Europa e Norte da áfrica), galinha (Continente asiático), boi (Europa e Ásia), eucalipto (Austrália).

Além do exotismo dessas culturas, não se contesta o seu impacto quanto à elevada demanda de nutrientes minerais e de irrigação, do uso intensivo do solo, da perda de solo por erosão, do uso de pesticidas, da adoção de monoculturas extensivas etc. Aliás, o conceito de espécie exótica não deve

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ter limites políticos, mas apenas se estabelecer dentro de limites estritamente ecológicos. Existem muitas controvérsias sobre os impactos ambientais relacionados às plantações florestais. Até um tempo atrás, falava-se que certas espécies, como o eucalipto e o pinus, eram os responsáveis por muitos danos ambientais. Hoje em dia, as críticas e questionamentos ainda persistem, mas estão concentradas sobre as práticas de plantio e manejo das florestas. Em todas as partes do mundo, a agricultura ou a atividade florestal intensiva, com fins produtivos, qualquer que fosse a sua modalidade, sempre exigiu modificações nos ecossistemas naturais, provocando certos impactos, de variada magnitude. Tal medida se tornou indispensável para que se pudesse colher uma maior quantidade de produtos, de uma mesma superfície de terreno, principalmente alimentos e fibras, tão essenciais à sobrevivência e ao conforto do próprio homem. A agricultura e a silvicultura surgiram, assim, para cumprir a finalidade de se aproveitar mais da natureza, em quantidade e qualidade, do que dela se poderia extrair por puro extrativismo. Especialistas do setor falam que um hectare de florestas plantadas corresponde, em produtividade de biomassa, a quinze hectares de florestas nativas. Caberão ao fazendeiro ou empresário florestal o discernimento e o bom senso na escolha correta das espécies, na adoção de técnicas corretas de implantação, manejo e colheita da madeira, bem como um respeito aos componentes naturais que garantem a sustentabilidade da produtividade florestal. Os impactos ambientais resultantes das florestas plantadas, na maioria das vezes, são decorrentes das práticas incorretas utilizadas no seu plantio e manejo. O homem é o principal agente de todo o processo e as respostas ambientais são decorrentes de suas práticas e decisões. Respeitando as regras mínimas de convivência com a natureza, o homem será capaz de obter lucros e, ao mesmo tempo, garantir a sobrevivência dos componentes do ambiente.

Em 2011, as plantações brasileiras de eucalipto ocupavam uma área de cerca de 4,1 milhões de hectares, correspondente a apenas 2,1% da área total de terras utilizáveis e a menos de 0,6% da área do território nacional. A área utilizada com reflorestamentos, envolvendo as espécies de eucalipto, está muito aquém das necessidades nacionais e é inferior às áreas de outras culturas.

Basta dizer que as áreas ocupadas com a cultura de soja no Brasil, em 2010, superaram em quase dez vezes a área ocupada com plantios de eucalipto. Situação mais grave é a área de pastagens que ocupava uma área quase quarenta vezes maior que aquela ocupada com plantios florestais e especialistas argumentam que mais de 60% dessas áreas de pastagens se encontravam em estágio adiantado de degradação. Comparando-se a área plantada com eucalipto e com outras culturas, percebe-se que as culturas agronômicas e, principalmente, as pastagens têm sido as principais responsáveis pelo desmatamento e formação de imensas áreas degradadas em todo o mundo.

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Segundo alguns pesquisadores, as alterações provocadas pelas atividades de reflorestamento, no entanto, são bastante pequenas se comparadas às monoculturas agrícolas, como o café, soja, arroz, milho, algodão etc. As monoculturas agronômicas são de ciclo curto, exigem preparação constante do solo e larga utilização de fertilizantes e defensivos. A movimentação excessiva do solo, a necessidade de irrigação e uso de biocidas colocam todas as culturas agronômicas tradicionais em evidente desvantagem, sob o ponto de vista ambiental, quando se compara com uma monocultura, envolvendo uma espécie florestal.

A demanda por água e nutrientes nas plantações de eucalipto é relativamente alta, porém da mesma ordem de grandeza daquela apresentada por plantações de outras espécies florestais de rápido crescimento, e muito menor do que a demanda normalmente apresentada por culturas agrícolas.

Segundo Poggiani (1979), uma floresta implantada e bem manejada nunca pode ser prejudicial ao solo, uma vez que as árvores o protegem da erosão mais do que qualquer outro tipo de cultura e os seus vastos sistemas radiculares retiram os nutrientes das camadas mais profundas do solo e os depositam na superfície, através da queda das folhas e dos demais componentes biológicos que constituem a manta florestal. Estudos realizados em várias empresas florestais comprovam que quase tudo o que o eucalipto tira do solo, ele o devolve através de seus componentes. Após a colheita, as cascas, folhas e galhos, que possuem 70% dos nutrientes da árvore, permanecem no local e incorporam-se ao solo como matéria orgânica. Além de contribuir para a reposição (ciclagem) de nutrientes, essa espessa camada de resíduo florestal contribui, também, no controle da erosão. Quando se faz o corte raso das árvores, podem ocorrer perdas de nutrientes muito elevadas, através da exportação da biomassa (retirada da madeira). Além disso, a exposição prolongada dos solos à luz solar provoca um calor excessivo levando a uma perda considerável da matéria orgânica acumulada; tal perda traz sérias deficiências nutricionais, uma vez que essa matéria orgânica está intimamente associada aos aspectos físicos, químicos e biológicos do solo.

3 A importância da madeira de eucalipto para o Brasil3O Brasil consome atualmente 350 milhões de m / ano, o que significa

8% do consumo mundial de madeira. Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade e estímulo para a implantação de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a preços competitivos. Mais recentemente, os estados da Bahia e Mato Grosso do Sul vêm se destacando na implantação de grandes áreas reflorestadas e grandes projetos industriais de celulose. Da madeira de eucalipto, em 2010, se produziram, no setor de celulose, 10 milhões de toneladas de celulose, representando mais de 70,0% da produção nacional; número também impressionante é o setor de carvão vegetal, com uma

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produção anual de 18,8 milhões de metros cúbicos, representando mais de 70,0% da produção nacional; outro setor importante é o de chapa de fibra, com uma produção anual de 558 mil metros cúbicos, representando 100.0% da produção nacional; o setor de painéis (MDP e MDF) produziu 2.5 milhões de metros cúbicos, representando quase 80,0% da produção nacional. O setor de celulose e papel foi o principal consumidor de madeira, absorvendo cerca de 37,5 % do total de madeira; a lenha industrial, 25,2%; indústria madeireira, 19,3%; siderurgia a carvão vegetal, 9,1%, e os painéis reconstituídos, 7,8% (ABRAF, 2011). O número de empregos formais gerados pelo setor florestal como um todo, em 2009, foi de 615.947, com destaque para a indústria moveleira (172.740) e a indústria de celulose e papel (163.182), que geraram o maior número de empregos formais (ABRAF, 2011).

A indústria brasileira de base florestal é constituída de 255 fábricas de papel e celulose, pertencentes a 205 empresas, distribuídas em 16 estados; cerca de 10.000 serrarias, 300 laminadoras, 450 unidades de secagem de madeira, 18.240 empresas de móveis, 12 empresas de painéis aglomerados (MDP), 9 empresas de MDF, 1 empresa de OSB, 2 empresas de chapas de fibras, 391 empresas de preservação de madeira, 151 altos-fornos, pertencentes a 82 empresas siderúrgicas e metalúrgicas, além de um sem-número de pequenas empresas que processam pequenos objetos de madeira.

Quando se pensa em espécies de rápido crescimento como alternativa para produção de madeira, o gênero Eucalyptus se apresenta como uma espécie potencial das mais importantes, não somente por sua capacidade produtiva e adaptabilidade a diversos ambientes, mas principalmente pela grande diversidade de espécies, tornando possível atender aos requisitos tecnológicos dos mais diferentes segmentos da produção industrial. A Tabela 1 dá uma idéia comparativa da potencialidade das principais espécies utilizadas em reflorestamento, em vários países.

As árvores são diferentes umas das outras e cada uma possui propriedades e características próprias. Por causa disso, a madeira é diferente, apresentando diferentes usos. Em termos gerais, o uso múltiplo é entendido como a possibilidade de se poder destinar à madeira mais de uma aplicação ou dela se obter mais de um produto. Por exemplo, a mesma madeira pode ser utilizada para móveis ou produção de carvão vegetal ou estacas de cerca. A multiplicidade ou versatilidade de uso pode ser determinada através do conhecimento das características da floresta e da madeira propriamente dita. O potencial de utilização múltipla da madeira cresce sobremaneira se todas as possibilidades de uso forem utilizadas. Alguns usos tradicionais já estão bem consolidados, como lenha, carvão, mourões e celulose. Existem, no entanto, muitos outros usos para a madeira, como postes, dormentes, construção civil, movelaria, componentes estruturais etc, que não são tradicionais e que poderão exercer importante papel dentro da cadeia produtiva, com vantagens econômicas e ambientais muito interessantes.

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Tabela 1: Capacidade produtiva das principais espécies utilizadas em reflorestamento.

4 O conceito de qualidade da madeira

É bem fácil imaginar o sem-número de produtos e subprodutos que têm a madeira como fonte principal de matéria-prima. Desde o palito de picolé, o brinquedo para crianças, o lápis de escrita, o mobiliário domiciliar e de escritório, os assoalhos, as esquadrias, os postes para eletrificação, os dormentes para ferrovias, os cavacos para produção de celulose, as estruturas para telhados, os fundos para carrocerias de caminhão, as caixotarias, energia para uso doméstico, caldeiras ou carvão siderúrgico e, até mesmo, as urnas mortuárias. Cada utilização requer exigências próprias de qualidade; consequentemente, não existe menor ou maior qualidade num sentido amplo e não existem parâmetros universais para se medir qualidade. Durante o processo de formação da árvore, numerosos fatores de ordem interna e externa da árvore levam à variação do tipo, número, tamanho, forma, estrutura física e composição química dos elementos da madeira. Até certo ponto, pode-se modificar, controlar, minimizar ou melhorar os fatores relacionados à qualidade da madeira, através de seleção e melhoramento genético, bem como a utilização de tratos silviculturais, quando a árvore estiver em fase de formação e crescimento, ou ainda, na fase de processamento da madeira, após o corte, como desdobro e secagem.

A qualidade da madeira engloba o somatório de todas as características e propriedades que afetam o seu rendimento em produtos finais e sua adequação para as aplicações pretendidas. Dependendo da

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ESPÉCIE PRODUTIVIDADE

Pinus taeda 25

Pinus tropical 35

Eucalipto (sementes) 30

Eucalipto (clones) 50

Pinus radiata 25

Pinus taeda 12

Pinus patula 19

Picea abies 5

PAÍS

Brasil

Brasil

Brasil

Brasil

Chile

Estados Unidos

África do Sul

Escandinávia

Suécia Coníferas 3

ROTAÇÃO

20

20

5 /10 /15

5 /10 /15

20

20

30

60

60

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posição do usuário de madeira, o conceito de qualidade pode ter avaliações diferentes. Para o produtor de madeira, “boa qualidade” significa uma matéria-prima de dimensões desejáveis, boa forma do tronco, isenção de defeitos (nós, podridão), bom rendimento volumétrico, casca pouco espessa etc. Para o operador de serraria, “boa qualidade” significa madeira retilínea, cilíndrica, alta taxa de conversão em produtos serrados, maior possibilidade de aproveitamento, baixa quantidade de resíduos, ausência de defeitos (nós, podridão, rachaduras etc). Para o industrial de móveis, “boa qualidade” significa alta estabilidade dimensional, resistência, rigidez, usinagem e acabamento desejáveis e propriedades organolépticas (sensoriais) desejáveis (coloração, cheiro, gosto, tato etc). Pelo visto, definir a qualidade da madeira não é, assim, tão fácil; no entanto, é essencial definir as características do produto final desejado e o sistema de produção a ser utilizado, procurando-se correlacionar as características da árvore, da madeira, do sistema de processamento e dos produtos finais desejados.

A grande maioria das florestas no Brasil foi manejada para produção de madeira em rotações curtas (cinco a sete anos), visando à produção de celulose, carvão vegetal e painéis. Tais florestas foram implantadas, na sua maioria, levando em consideração apenas a produção de biomassa e o rendimento volumétrico. Apesar de a maior parte de suas florestas estar comprometida com a produção de madeira para os denominados usos tradicionais (celulose, painéis, carvão vegetal e lenha), espera-se que uma parcela possa ser destinada a outras aplicações madeireiras. O estoque de madeira de eucalipto, com idades e diâmetros maiores, atualmente disponível, é escasso e remanescente dos plantios antigos. Conclui-se que existem diferentes espécies para um mesmo uso e diferentes usos para a mesma espécie; a grande tarefa é identificar a melhor vocação e o melhor uso. A agregação de valor implica na melhor utilização da madeira.

O potencial do eucalipto, em relação ao grande número de espécies (mais de setecentas), proporciona também um importante leque de alternativas para a obtenção de madeiras, com diferentes características tecnológicas. Por certo, serão encontradas espécies que substituirão, com vantagens, as madeiras atualmente em uso. Vem daí o crescente interesse pelos conhecimentos existentes sobre o eucalipto, diante do chamado uso múltiplo da madeira.

O setor industrial de base florestal tem sido marcado por um processo de utilização crescente de madeiras provenientes de reflorestamento, colocando o Brasil em sintonia com a ordem mundial, que enfatiza a preservação das florestas naturais e incentiva a implantação de florestas renováveis. O eucalipto se apresenta como grande alternativa para a produção de madeira nos próximos anos e a indústria já aposta na sua disponibilidade para os futuros suprimentos de matéria-prima. O descompasso crescente entre oferta e demanda de madeira nos mercados interno e externo tenderão a favorecer o quadro de substituição das madeiras nativas pela madeira de

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reflorestamento. A utilização crescente dessas madeiras tem se tornado mais evidente nos últimos anos, sobretudo em razão dos questionamentos existentes em relação à exploração irracional das nossas florestas nativas, quer seja por razões ecológicas, quer seja pela elevação dos preços de suas madeiras, devido às dificuldades da exploração da floresta tropical e às grandes distâncias entre as zonas de produção e de consumo. A indústria dos produtos à base de madeira tem-se defrontado com desafios que estão provocando drásticas mudanças. O primeiro grande desafio é a crescente expansão dos mercados para a “madeira ambientalmente correta”, exemplificado pela crescente força mercadológica dos “selos verdes” em todo o mundo. Um segundo desafio é a globalização dos mercados consumidores, com a conseqüente necessidade de aumento na produtividade e o atendimento a padrões de qualidade cada vez mais exigentes. Este cenário tem estimulado a exploração da madeira de reflorestamento.

O principal fator que sempre atrasou o emprego bem sucedido do eucalipto em marcenaria e carpintaria foi a abundância de madeiras nativas de excelente qualidade e a preços reduzidos. A própria literatura de engenharia civil e de tecnologia de madeira utiliza exaustivamente exemplos baseados em madeiras nativas, como o cedro, peroba, imbuia, ipê e jacarandá. O que se viu ao longo dos anos foi a exploração desenfreada das florestas nativas de todo o território brasileiro. As conseqüências diretas têm sido a grande elevação dos preços e a perda de sua qualidade, com a diminuição da oferta e com as grandes distâncias entre as fontes de produção e as fontes de consumo, com fretes mais caros que a própria madeira, forçando a substituição de fontes mais nobres de outrora por espécies de menor qualidade, além de grande heterogeneidade do material (é prática comum a mistura de espécies parecidas sob o mesmo nome comercial).

A alternativa mais viável, a curto prazo, para substituir a madeira de espécies nativas é o eucalipto. Excelentes produtividades em amplas áreas reflorestadas, pleno domínio das tecnologias de produção de sua madeira e a certeza de gerar grandes volumes que atendam às indústrias madeireiras e ao mercado moveleiro, conferem uma posição ímpar ao eucalipto.

O Brasil é considerado o país que detém as tecnologias mais avançadas no desenvolvimento de floresta de eucalipto e as plantações mineiras ocupam mais da metade de todo o reflorestamento nacional com esta madeira. O Estado de Minas Gerais poderá contribuir e se beneficiar muito no sentido de cumprimento das metas a serem alcançadas para a indústria de base florestal nacional. Minas Gerais tem tradição em plantar florestas, e, sem dúvida, poderá vir a ser num futuro, um importante supridor de matéria-prima florestal, não somente para as indústrias locais, mas para outros estados brasileiros e conquistar importante fatia no mercado internacional.

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5 A experiência com o eucalipto

A madeira de eucalipto é freqüentemente utilizada a uma idade tenra, em geral de cinco a sete anos, para fins de produção de celulose, chapa de fibras, painéis de madeira aglomerada, lenha e carvão. Apenas uma proporção muito reduzida das plantações de eucalipto é normalmente manejada para a produção de madeira para serraria, requerendo rotações mais longas, geralmente a partir dos 15 a 20 anos.

Até o presente momento, a grande experiência silvicultural brasileira se resumiu na produção de florestas jovens, de ciclo curto e de rápido crescimento. Nos últimos quarenta anos, observou-se um vasto e bem sucedido programa de reflorestamento, com algumas espécies do gênero Eucalyptus, visando atender, principalmente, às necessidades de matéria-prima para os setores de celulose, carvão e painéis. Para atender a tais demandas, a seleção de espécies envolveu, inicialmente, programas de melhoramento e algumas práticas silviculturais, como espaçamento e fertilização, objetivando-se ganhos imediatos de crescimento, forma do tronco, regeneração e resistência a pragas e doenças; numa segunda etapa, tais programas foram complementados com a busca de ganhos nas propriedades da madeira, como massa específica, teores de casca e composição química.

A indústria moveleira e de construção civil já estão avaliando seriamente a possibilidade de utilização intensiva da madeira de eucalipto e alguns resultados têm-se mostrado bastante satisfatórios. O tratamento adequado à sua madeira é o grande segredo de sua versatilidade, comprovando que vários de seus problemas podem ser contornados com a utilização correta da espécie, procedimentos e equipamentos. Por certo, há uma necessidade de esforços cada vez maiores, no sentido de adequação das tecnologias de processamento e utilização das espécies já introduzidas. Existe unanimidade entre os pesquisadores que a qualidade da madeira pode ser melhorada, modificada ou ter alguns fatores minimizados ou controlados, em considerável extensão, através de tratos silviculturais e, principalmente, do melhoramento genético.

Ao se pensar na utilização da madeira para fins mais nobres, como a produção de móveis e o seu uso em decorações e construção civil, torna-se necessário aprimorar, ainda mais, as características de ordem silvicultural e incorporá-las a vários programas de melhoramento genético e de manejo da floresta, como desbaste e desrama, além de avaliar outros aspectos da madeira, como a ausência de nós, bolsas de resina e outros defeitos superficiais, níveis de tensões de crescimento, madeira juvenil, estabilidade dimensional, resistência mecânica, trabalhabilidade, desenhos e coloração. Tratamentos especiais também deverão ser dispensados à madeira nas fases de processamento primário (desdobro e secagem), bem como nas fases de usinagem e acabamento. O grande segredo da tamanha versatilidade da madeira de eucalipto será exatamente o tratamento especial a ela dispensado.

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Os principais direcionadores de preços e consumo para a madeira de eucalipto são a ausência de defeitos, dimensões adequadas ao uso final, estabilidade dimensional do produto e a sua disponibilidade no mercado. As principais características desejáveis para o produto foram apontadas como a resistência mecânica, trabalhabilidade, estabilidade dimensional e a aparência. A integração perfeita da cadeia produtiva - madeira versus processo versus mercado - é de extrema importância para se consolidar o produto junto ao público.

Para produzir a madeira serrada de eucalipto, de forma competitiva, a indústria brasileira terá que oferecer, ao mesmo tempo, preço, competitividade e qualidade. Produzir com qualidade é gerar produtos de acordo com especificações elaboradas, de forma a atender as necessidades do mercado consumidor. A existência de normas de classificação é importante para se definir certos padrões de qualidade de um produto, bem como atender a certas exigências do mercado internacional. Segundo Marques (1998), as principais características da árvore que provocam impacto direto na produtividade da unidade industrial são identificadas como: a) diâmetro; b) retidão; c) circularidade; d) ausência de nós; e) tensões internas de crescimento. Segundo o mesmo autor, as principais propriedades físicas e mecânicas da madeira que provocam o impacto na qualidade do produto final a ser produzido são identificadas como: a) resistência mecânica; b) massa específica aparente; c) estabilidade dimensional. Definidas as características e propriedades da madeira desejada é necessário identificar quais os processos tecnológicos a serem utilizados. A Tabela 2 aponta os principais impactos da tecnologia nas características da madeira.

Para Kikuti et al. (1996), a madeira de melhor qualidade é aquela que apresenta menos defeitos, que podem ser considerados intrínsecos à madeira ou resultantes do processo de produção e beneficiamento da madeira. A escolha de material genético adequado, a adoção de técnicas corretas de silvicultura e manejo e a adoção de procedimentos corretos de corte, transporte, desdobro, secagem e usinagem da madeira de eucalipto podem torná-la uma matéria-prima muito próxima do ideal para a indústria moveleira e de marcenaria. Os mesmos atores relacionam os defeitos da madeira e suas principais causas, apresentados na Tabela 3.

Marques (1998) afirma que estão ocorrendo mudanças muito rápidas no suprimento de madeira, com uma migração do hemisfério norte para o hemisfério sul, devido à crescente escassez neste primeiro e à utilização crescente de madeira oriunda de plantios em substituição às madeiras nativas. O mesmo autor faz uma análise profunda sobre o processo e verifica que já é uma realidade a utilização crescente de toras de menor diâmetro e de madeiras mais jovens, e uma busca constante de procedimentos para otimizar este processamento por diversas empresas do setor. Quanto ao mercado, a utilização de peças coladas ou reconstituídas, em substituição à madeira maciça, vem-se tornando imperativo, tanto pela tecnologia desenvolvida,

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quanto pela escassez de madeira sólida. Os principais direcionadores de preços e consumo para a madeira de eucalipto são a ausência de defeitos, dimensões adequadas ao uso final, estabilidade do produto e a disponibilidade; as principais características desejáveis para o produto foram apontadas como a resistência mecânica, trabalhabilidade, estabilidade dimensional e a aparência. O autor conclui que a integração perfeita da cadeia produtiva - madeira versus processo versus mercado - é de extrema importância para a sustentabilidade de qualquer empreendimento industrial de base florestal. As mudanças e tendências citadas direcionam a oportunidade para a utilização de madeira oriunda de reflorestamento, principalmente o eucalipto.

Tabela 2: Impacto da tecnologia nas características da madeira

Fonte: Marques (1998).

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

Característica da matéria- prima

Melhoramento Florestal

Manejo Florestal

Diâmetro das toras XX XX

Circularidade das toras X XX

Conicidade das toras X XX

Ausência de nós X XX

Retidão das toras XX XX

Tensões internas de crescimento XX -

Trabalhabilidade - -

Resistência mecânica XX -

Massa específica aparente XX X

Estabilidade dimensional XX -

Aparência (cor) XX -

Facilidade de serrar e laminar - -

Facilidade de secar X -

Facilidade em colar X -

Acabamentos (tintas e vernizes) - -

Processo Industrial

-

-

-

-

-

XX

XX

X

X

XX

X

XX

XX

XX

XX

XX : Grande influência X: Média influência ( - ): pouca influência ou fator desconhecido

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Tabela 3: Principais defeitos da madeira e suas possíveis causas.

Fonte: Kikuti et al. (1996).

Segundo Hillis e Brown (1978), para a produção de madeira para serraria, as árvores de eucalipto devem ter diâmetros avantajados e fustes longos e retos e produzirem madeira com critérios de qualidade bem definidos em questão de uniformidade, resistência, estabilidade e trabalhabilidade. Kikuti et al. (1996) afirmam que a idade de corte das árvores é um dos fatores preponderantes na qualidade da madeira serrada. Não basta obter árvores de

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DEFEITOS

Causas dos defeitos

Rachadura de topo X X X

Rachadura de superfície X

Nós X

Medula X

Furo de insetos

Esmoado X

Empenamento X X

Bolsa de resina X

Inclinação da grã X

Desbitolamento X

Podridão

Encruamento X

Colapso X

Cor X

Relação cerne/alburno X

Característicasfísico-mecânicas

X

Intrínsecos à madeira

Desdobro Secagem Fatores externos

X

X

X

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grande diâmetro, mas árvores com madeira adulta, para se garantir estabilidade e a resistência necessárias.

No Brasil, principalmente, existe uma crença bastante arraigada entre produtores e usuários de que a madeira de eucalipto não oferece condições para o aproveitamento como madeira serrada, produção de lâminas e produtos acabados. Acreditam que as peças acabadas sofrem empenamentos e outras distorções e que o estigma de que o móvel é de eucalipto certamente é causa suficiente para desvalorização do produto. Tal crença se deve, em parte, à presença de certas características desfavoráveis da madeira, tais como elevada retratibilidade, propensão ao colapso durante a secagem e à presença de tensões de crescimento, que levam a rachaduras e empenamentos. Tais características não são exclusivas do eucalipto, uma vez que a maioria das espécies nativas também apresenta problemas de processamento e usinabilidade. A verdade é que a tamanha versatilidade escondida na madeira de eucalipto reside no tratamento adequado dispensado no processo de formação da árvore e no processamento da matéria-prima.

6 Eucalipto, boi e a soja - a agrossilvicultura

A agrossilvicultura é vista como uma alternativa muito promissora para os produtores rurais dos países do Terceiro Mundo e dos países em desenvolvimento. Pela integração da floresta com as culturas agrícolas e com a pecuária, o sistema oferece uma alternativa para enfrentar os problemas crônicos de baixa produtividade, de escassez de alimentos, de degradação ambiental generalizada e de redução de riscos de perda de produção pela diversificação de cultura. Além disso, torna-se possível o retorno do investimento de uma forma mais rápida e possibilita ao agricultor a obtenção de renda até que a floresta cresça e produza madeira para a comercialização. Através desse sistema, pode-se obter ganhos em eficiência, através dos seguintes aspectos: agronômico (melhoria das condições do solo), econômico (diversificação da produção), ecológico (melhoria da biodiversidade, da hidrologia e do microclima, além do social (benefícios sociais diretos indiretos).

O sistema agroflorestal ou agrossilvicultural apresenta grandes vantagens em relação aos sistemas convencionais de uso da terra, pois permite maior diversidade e sustentabilidade. Do ponto de vista ecológico, a coexistência de mais de uma espécie numa mesma área permite uma melhor utilização da água e dos nutrientes. A ciclagem dos nutrientes tende a ser mais rápida e os nutrientes são melhor aproveitados pelas culturas intercalares. Do ponto de vista agronômico, deve-se levar em conta as demandas que as árvores e as culturas agrícolas detêm em termos de espaço, nutrientes e água e é necessário que se façam os cálculos de como as árvores poderiam interferir na produção agrícola. Os resultados desses cálculos devem permitir a avaliação de que o consórcio das duas espécies produz mais do que seria obtido se as duas espécies fossem cultivadas separadamente

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

113

Page 116: Livro 2º ILPF

O eucalipto se comporta como uma espécie florestal de múltipla utilização, podendo proporcionar madeira, sombra, abrigo, mel e óleo essencial; apresenta, ainda, alta produtividade e alta capacidade de rebrota, além de apresentar copa relativamente rala, deixando penetrar a luz. Mediante o controle adequado da densidade do plantio de eucalipto, pode-se obter um retorno econômico significativo, através do consórcio com culturas agrícolas. Além disso, o sistema agroflorestal reduz as perdas de nutrientes do solo, melhora a proteção do solo durante a fase crítica de estabelecimento das mudas, quando o solo permanece desprotegido, além da redução nos custos de preparação do solo. O sistema adotado tem apresentado resultados extremamente positivos, tanto para o uso do solo, como para a auto-sustentabiidade econômico-financeira do empreendimento. O consórcio utilizado prevê o plantio seqüencial de várias espécies e híbridos de Eucalyptus, intercalado com cultivos anuais de grãos nas entrelinhas, nos dois primeiros anos de estabelecimento da floresta, seguido da semeadura de forrageiras perenes para engorda de gado de corte, a partir do terceiro ano, até atingir dez anos de idade, quando se completa a rotação econômica do povoamento florestal.

Além das vantagens econômicas, tais resultados evidenciam as importantes respostas ambientais que alguns leigos e pseudocientistas teimam em ignorar sobre o comportamento e o efeito da cultura do eucalipto sobre outras culturas. Tais respostas mostram que todas as culturas em questão (eucalipto, arroz, soja e braquiária) se beneficiaram do sistema de consórcio. O sistema agroflorestal praticado pela Companhia Mineira de Metais é inovador pela concepção de desenvolvimento sustentável e está em sintonia perfeita com os anseios e apelos sociais dos sistemas produtivos, usando, de maneira mais eficiente e racional, os recursos naturais e utilizando espaços simultâneos para produção de alimentos, fibras e energia. O sistema constitui uma alternativa para amortizar os custos iniciais de implantação e manutenção das plantações florestais, permitir um fluxo de caixa constante ao longo do período de maturação da floresta, além de fornecer rendas complementares para o empreendedor florestal.

7 Como produzir madeira de qualidade para serraria?

1. Escolha correta da espécie - o gênero Eucalyptus possui mais de setecentas espécies, com uma grande variação entre elas; cada uma possui propriedades muito peculiares e inúmeras opções de uso. Considerando-se os seus principais usos no Brasil, destacam-se as principais espécies, apresentadas na Tabela 4.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Tabela 4: Relação dos principais usos e espécies recomendadas no Brasil.

Atualmente, os híbridos ocupam uma grande parcela da área plantada no Brasil. Os híbridos “urograndis” (Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophylla) e, mais recentemente, “urocam” (Eucalyptus urophylla e Eucalyptus camaldulensis) surgem como uma grande promessa por apresentar rápido crescimento inicial, atribuído ao vigor híbrido. O “urograndis” apresenta madeira com propriedades intermediárias entre o E. urophylla e o E. grandis. É indicada para usos gerais e muito utilizada em laminação, componentes estruturais para construção, movelaria, caixotaria, mourões, escoras, celulose e papel, chapas duras, painéis, lenha e carvão. Em função das múltiplas possibilidades de uso e adaptação em quase todo o território brasileiro, mais da metade dos plantios atualmente realizados utiliza material desse híbrido. Na maioria das regiões do Brasil já se utilizam mudas clonais; embora elas apresentem custo inicial um pouco mais elevado, inúmeras vantagens se destacam em relação às mudas produzidas com sementes: uniformidade em relação às características silviculturais e tecnológicas; boa adaptação às adversidades ambientais; maximização do ganho em produtividade.

É de extrema importância a escolha criteriosa da espécie a ser trabalhada, levando-se em conta a variabilidade da madeira resultante, a adaptabilidade às condições ambientais locais e os padrões de qualidade desejados para os vários produtos. Para tanto, fazem-se necessários o conhecimento dos atributos da madeira e os hábitos da cultura, suas necessidades e exigências de clima, solo e tratos culturais, bem como a sua adaptação ao local de cultivo. Para cada espécie florestal, existe um ambiente ecológico ótimo, no qual todas as funções são harmonicamente ajustadas, propiciando-lhe um bom desenvolvimento. O material de propagação, oriundo de plantas clonadas apresenta maiores vantagens (maior seleção genética,

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

USOS

Papel e celulose

Mobiliário

Postes, dormentes, moirões

Energia

Estruturas e construção civil

ESPÉCIES

E. grandis, E. saligna, E. urophylla, E. urophylla x E. grandis (“urograndis”)

E. grandis, E. saligna, E. urophylla x E. grandis (“urograndis”)

E. citriodora, E. cloeziana, E. paniculata

E. grandis, E. citriodora, E. camaldulensis, E. cloeziana

E. citriodora, E. globulus, E. robusta

115

Page 118: Livro 2º ILPF

maior homogeneidade, maior rendimento); em contrapartida, são maiores as exigências quanto às condições ambientais, em relação ao material oriundo de sementes. Considerando-se os seus principais usos no Brasil, destacam-se as principais espécies: E. grandis, E. saligna, E. urophylla e o híbrido “urograndis” (E. urophylla versus E. grandis), com uma densidade variando entre 550 a 700

3 kg/m , adequadas para produção de celulose, painéis e indústria moveleira. Outras espécies conhecidas, como E. cloeziana, E. camaldulensis, E. paniculata e Eucalyptus citriodora podem ser utilizadas na produção de carvão, postes, dormentes, moirões, componentes estruturais dos móveis, telhados, bem como em assoalhos, batentes de portas e janelas. Estas

3espécies possuem densidade mais alta (700 a 900 kg/m ), as madeiras são mais pesadas, apresentam maior resistência à biodeterioração e alguma dificuldade nas operações de secagem, usinagem, colagem e acabamento.

2. Práticas silviculturais - as práticas rotineiras são a utilização da adubação adequada para cada tipo de solo, capinas periódicas e controle de formigas. A madeira de eucalipto é freqüentemente utilizada numa idade mais nova, em geral de cinco a sete anos, para produção de celulose, chapa de fibras, painéis de madeira aglomerada, lenha e carvão. Utiliza-se o sistema de corte raso e aproveita-se a brotação para a segunda rotação. Para a obtenção de toras de maior diâmetro para serraria, laminação, postes e dormentes, além das práticas convencionais citadas, utilizam-se outras bem específicas. Apenas uma parte pequena das plantações de eucalipto é normalmente manejada para a produção de madeira para serraria, requerendo rotações mais longas, geralmente a partir dos quinze a vinte anos. Para essas rotações mais longas, utilizam-se métodos complementares de manejo que possibilitam a produção de madeira com maiores diâmetros e isenta de nós e outros defeitos.

a) Desbaste - Os desbastes são cortes parciais feitos em povoamentos imaturos, com o objetivo de estimular o crescimento das árvores remanescentes e aumentar a produção de madeira de melhor qualidade. Os desbastes são executados por diversos motivos, entre eles: incrementar a produção de madeira, melhorar a qualidade do produto final, aumentar a rentabilidade da floresta, bem como diminuir os riscos de prejuízos causados por ventos, incêndios de copas, ataques de pragas e doenças. Através de cortes intermediários, é possível obter madeira, gerando renda para manter a cultura, por um tempo maior e, no corte final, ter uma madeira madura, de excelente qualidade. O método consiste em se fazer duas a três intervenções na floresta, aproximadamente, aos 5, 8 e, quando possível, aos 10 anos de idade, retirando-se 40, 30 e 30%, respectivamente, das árvores. Deve-se retirar as árvores dominadas, tortuosas, mais finas, bifurcadas, com defeitos, privilegiando as melhores árvores. Algumas empresas vêm realizando desbastes em suas florestas, visando à produção de madeira de qualidade para serraria e laminação. A Tabela 5 apresenta uma proposta de manejo de florestas feita por algumas empresas.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 119: Livro 2º ILPF

Dentro de uma área a ser implantada, pode-se conseguir diferentes tipos de florestas para cada um dos produtos a serem obtidos. Além do mais, cada compartimento da árvore poderá transformar-se num produto de uso específico. As primeiras toras da base poderão ser utilizadas para serraria e laminação; as peças intermediárias poderão servir para celulose, postes e moirões e as pontas para lenha e carvão. Haverá, então, a possibilidade de se explorar todo o potencial do gênero Eucalyptus, que prima pela enorme amplitude de opções de utilização e pela qualidade de suas madeiras, já comprovada em muitas situações. Outra operação muito importante é a desrama.

Tabela 5: Proposta de manejo de florestas por algumas empresas

b) Desrama - A desrama ou poda consiste na eliminação de parte dos ramos laterais do tronco da árvore, com o objetivo de produção de madeira livre de nós. A definição da freqüência e a intensidade da desrama deve seguir algumas regras básicas:

• A desrama é uma operação de altos custos e deve estar acompanhada de desbastes, pois são atividades complementares.

• As desramas devem ser verdes e realizadas o mais cedo possível.

• A primeira desrama segue o ritmo de crescimento do povoamento e, não necessariamente, a sua idade, que pode variar de 1,5 a 3 anos; a operação é feita até 2 ou 3 m de altura, o que corresponde a cerca de 40 a 50% da copa, retirando-se todos os galhos secos.

• A intensidade da desrama pode envolver até 2/3 da copa, sem comprometer o crescimento das árvores e inibir o crescimento.

• A segunda desrama não deve ultrapassar os 6,5 m de altura e deve ser feita aos 3,5 a 4 anos.

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

Número de árvores

5

9

Desbaste

Corte final 20

Usos

energia, celulose, carvão

celulose, carvão, madeira preservada

celulose, carvão e madeira preservada

serraria, laminação

Idade(anos)

Inicial

1.400

560

224

corte sobra

840

336

224

560

224

0

Volume(m3/ha)

76

164

250

350

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• As operações de desrama devem ser feitas na primavera, a fim de promover a rápida cicatrização das feridas.

O modelo utilizado em várias empresas florestais recomenda a utilização da desrama apenas em terrenos de boa qualidade e apenas nos plantios conduzidos para serraria e laminação. A operação é realizada em todas as árvores do povoamento, exceto nas árvores comprovadamente deficientes, como tortas, bifurcadas e localizadas na bordadura, uma vez que estas serão fatalmente eliminadas. Na operação, os galhos são cortados rentes à casca, evitando-se deixar “chupetas” ou tocos de galhos, bem como ferir a casca das árvores. A Tabela 6 apresenta o sistema de desrama utilizado nas empresas.

Tabela 6: Sistemas de desrama adotados nas empresas

Fonte: Sella (2001).

Idade(meses)

Alturatotal (m)

Alturadesrama

20 – 30 5,00 – 6,00 50%

Desrama

Primeira

Segunda 36 – 48 Até 10,00 50%

Númeroárvores

100%

100%

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 121: Livro 2º ILPF

Referências

Anuário estatístico da ABRAF 2011: ano base 2010. Brasília, 2011. 130 p.

DAVIDSON, J. “Ecological aspects of eucalyptus plantation”. Proceedings regional expert consultation on Eucalyptus, v. I, 4-8, oct. 1993.

HILLIS, W. E.; BROWN, A. G. Eucalyptus for wood production. Melbourne: CSIRO, 1978, 434p.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE MINAS GERAIS - INDI. A indústria moveleira em Minas Gerais . Minas Gera is , 2003. 69p. D isponíve l em <http:/www.indi.mg.gov.br/publicacões/moveleiro. Acesso em 12 de março de. 2012.

KIKUTI, P.; FIER, I. S. N.; CALORI, J. V. .Produção de madeiras de reflorestamento de alta qualidade. In: SEMINÁRIO SOBRE PROCESSAMENTO E UTILIZAÇÃO DA MADEIRA DE REFLORESTAMENTO, 1996, Curitiba. Anais.... Curitiba: ABPM/SBS, 1996. p. 53-58.

MARQUES, C. G. Aspectos tecnológicos para definição do projeto TECFLOR. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUTOS SÓLIDOS DE MADEIRA DE ALTA TECNOLOGIA, Belo Horizonte, 1998; ENCONTRO SOBRE TECNOLOGIAS APROPRIADAS DE DESDOBRO, SECAGEM E UTILIZAÇÃO DA MADEIRA DE EUCALIPTO, 1., 1998, Belo Horizonte. Anais.... Viçosa: SIF/UFV/DEF. 1998, p. 119-124

POGGIANI, F. - Ciclo de nutrientes e produtividade de floresta implantada. Silvicultura, São Paulo, v.1, n.3, p. 45-48, 1976.

SELLA, R. L. Técnicas silviculturais e de exploração para a obtenção de madeira de qualidade para a laminação e serraria. In: SEMINÁRIO MADEIRA DE EUCALIPTO:TENDÊNCIAS E USOS, 2001, Curitiba Anais..., Curitiba: FUPEF. 2001, p.19-24.

A madeira de eucalipto e seus múltiplos usos

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Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

1Reynaldo Campos Santana1Christovão Pereira Abrahão

1 A desrama e os aspectos silviculturais

A qualidade e a perspectiva do uso de uma árvore estão intrinsecamente relacionadas às propriedades físicas e químicas da madeira que são requeridas para usos industriais. Neste sentido as práticas silviculturais irão influenciar o crescimento da árvore e a alocação de carbono. Todo trato cultural tem um objetivo específico e deve ser escolhido em função do produto final e do retorno econômico pretendido. Os tratos silviculturais iniciais em um povoamento equiâneo visam homogeneizar e maximizar o crescimento da floresta, como por exemplo, o preparo do solo, o controle de matocompetição, as fertilizações, o combate a pragas, etc.. Outras práticas visam definir o padrão de crescimento da floresta, ou seja, a taxa de crescimento inicial e a alocação de carbono, a definição e o arranjo do espaçamento, a desrama e o desbaste. Quando o objetivo é produzir madeira para serraria deve-se considerar os tratos silviculturais para homogeneizar e maximizar o crescimento da floresta e planejar a desrama e o seu desbaste. Assim, a qualidade da madeira destinada à serraria é dependente de seus fatores genéticos, silviculturais e tecnológicos (Figura 1). Neste capítulo serão abordados principalmente alguns aspectos da desrama que influenciam a qualidade da madeira. Quanto aos fatores relacionados ao desbaste sugere-se a leitura deste assunto em Campos e Leite (2009).

Qualquer característica física que limita o desdobro de uma da árvore reduz o seu valor comercial por danificar a madeira ou por aumentar o custo de produção. De forma geral as árvores que possuem maior valor possuem maior crescimento em diâmetro, único fuste, formato cilíndrico, propriedades físico-mecânicas adequadas para a indústria moveleira, com mínima quantidade de nós e sem defeitos causados por fatores bióticos ou abióticos. Os principais fatores que reduzem o valor de uma árvore são: nós, bifurcações, exudados, buracos, fendas, galhos vivos e mortos, superfície danificadas, rachaduras e emendas, podridão, bolsas de resina, orifícios causados por insetos, larvas e pássaros, superfícies irregulares, cor indesejável, objetos presos/perfurantes, etc. A maioria destes fatores pode ser observada externamente e deve ser

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

1 Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM - [email protected]

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Page 124: Livro 2º ILPF

relatada no inventário florestal realizado com objetivo de se identificar as árvores que serão destinadas à produção de madeira para serrraria.

Figura 1: Fatores que influenciam a qualidade da madeira para serraria e indústria moveleira.

De forma bem simplificada pode-se dizer que o crescimento das árvores ocorre, simultaneamente como cones empilhados, em diâmetro e em altura (Figura 2a). O mesmo ocorre com os galhos que são a continuação dos tecidos do tronco, sendo que o nó é a base do galho, ainda dentro do tronco (Figura 2b). Este tem início na medula e cresce do centro para a periferia. Para se efetuar a desrama de forma correta deve-se realizar a poda do galho rente à casca (Figura 3a) para que se obtenha um nó vivo ou nó fixo, consequentemente, aumentando a formação de madeira livre de nó ou madeira limpa. A desrama incorreta é realizada quando se poda o galho longe da superfície da casca (Figura 3b), neste caso, tem-se a formação do nó morto ou nó solto que reduz a qualidade e a resistência da madeira comprometendo várias operações de usinagem, como furação, o aplainamento, etc.

Figura 2: Crescimento das árvores e formação do nó. Fonte: Abrahão C.

Integração lavoura-pecuária-floresta:

QUALIDADE

Genética• Espécie• Clone

Silvicultura• Solo• Mudas• Adubação• ...• Desrama/Desbaste

Tecnologia da Madeira• Serraria• Secagem• Classificação• Utilização

a b

122

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Figura 3: Formação de madeira limpa após desrama realizada rente (a) e distante (b) da casca. Fonte: Abrahão C.

A permanência do galho causa alterações físicas e anatômicas na madeira. Quando este não é retirado pela desrama ele permanece e os tecidos da planta o envolvem (Figura 4a), formando o chamado nó morto. Caso ele seja arrancado, fica um orifício na madeira (Figura 4b) com exsudados resinosos que podem ser observados em detalhe na extremidade do galho arrancado (Figura 4c). Estas imperfeições, depois de formadas, irão comprometer a qualidade da madeira, mesmo que elas sejam cobertas por novos tecidos que irão cicatrizar as injúrias. Futuramente, quando se usinar as peças desta madeira os efeitos serão facilmente observados como nós mortos ou soltos.

Figura 4: Efeito da permanência do galho na madeira bruta. Fotos: Santana, R.C.

O nó morto é indesejável e no processamento da madeira poderá permanecer na peça (Figuras 5a, b) ou, simplesmente, se soltar (Figura 5c) quando a madeira se contrai ao perde umidade. Outro fator prejudicial consequente da presença do nó é o desvio da grã da madeira do tronco em torno da base do galho. Este fato é facilmente observado no aplainamento de uma tábua. Nota-se claramente que a qualidade do aplainamento na região ao

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

a b

a b c

123

Page 126: Livro 2º ILPF

a b c

redor do nó tem um aspecto áspero ou rugoso (Figuras 5b, c), o que é resultado dos diferentes ângulos de contato entre as facas da plaina e o eixo das fibras. Este fator compromete a qualidade do trabalho e para se melhorar o aspecto desta região torna-se necessário dispender mais tempo, energia, maquinário e mão de obra no processamento da madeira, lançando mão de operação de lixamento. Outra operação difícil de ser realizada na região do nó é a furação, pois a broca também encontra as fibras inclinadas de forma diferente em relação ao seu gume, oferecendo diferentes resistências ao corte, o que resulta em furos não cilíndricos e com paredes de superfícies irregulares. Os nós vivos ou fixos são aqueles cujos galhos estavam vivos quando a madeira foi formada ao seu redor e não prejudicam sobremaneira o uso da madeira, exceto pelos inconvenientes causados pelo desvio de grã (Figura 6a, b, c).

Figura 5: Efeito da permanência do galho na madeira usinada: desrama inadequada com formação de nó morto ou solto. Fotos: Santana, R.C.

Figura 6: Efeito da desrama apropriada na madeira usinada com formação do nó vivo ou fixo. Fotos: Santana, R.C.

A qualidade da madeira é classificada, dentre outros fatores, em

Integração lavoura-pecuária-floresta:

a b c

124

Page 127: Livro 2º ILPF

função da sua aparência, sendo as tábuas livres de nós as mais valorizadas (Figura 7). A madeira serrada de eucalipto pode ser empregada em muitas aplicações como: móveis, estruturas para telhados, paletes, casas pré-fabricadas, assoalhos, lambris, forros, batentes, escadas, cruzetas para postes de transmissão, passarelas, etc.. Existem dois tipos de desrama, a natural e a artificial. A natural é consequência da senescência, morte e posterior desprendimento dos ramos da base da árvore imposta por efeito de competição principalmente pela luz, comum de ser observada em floresta nativa. Quando não há competição por luz os galhos tendem a permanecer por mais tempo nas árvores e desenvolver copas com maior diâmetro. Para que ocorra com sucesso e elimine o ferimento na árvore é necessário que haja a formação de uma camada de abscisão na base do galho, ejeção total do galho e a completa oclusão do ferimento, fatos de difícil observação sem a intervenção humana. A desrama artificial consiste no corte de galhos vivos rente ao tronco para facilitar a cicatrização do ferimento e aumentar o conteúdo de madeira “livre de nós” para agregar maior valor ao produto final. Entretanto, a eliminação dos galhos vivos implica também na redução da área fotossinteticamente ativa e, se realizada de forma inadequada, comprometerá o crescimento da árvore. Existem relatos na literatura de que o eucalipto suporta entre 20 a 80 % de redução da copa realizada em diferentes idades e condições edafoclimáticas. De forma geral, não se recomenda eliminar na primeira desrama mais do que 40 % da copa limitando-se a três metros de altura em plantas com, aproximadamente, um ano de idade. A segunda desrama ocorre no ano subsequente até a altura de seis metros. Dependo do material genético e custos, a desrama pode atingir nove metros de altura no terceiro ano.

Figura 7: Valoração da madeira em função de sua qualidade. Esquema: Abrahão, C. e Santana, R.C.

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

1ª classe 2ª classe 3ª classe 4ª classe

125

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Quando se pretende definir a idade de se realizar a desrama deve-se conhecer o comportamento silvicultural do material genético cultivado para as condições edafoclimáticas locais. Muitas vezes os fazendeiros florestais plantam determinados materiais genéticos visando a produção de madeira para serraria, mas os mesmos não possuem características físico mecânicas apropriadas para a produção de madeira serrada. A figura 8a apresenta um clone que não possui forma desejável, apesar de possuir madeira de densidade adequada para serraria e produtividade média na região do cerrado

3 -1 -1de 40 m ha ano . Para evitar estes problemas, quando se pretende plantar um material genético deve-se obter junto do fornecedor das mudas um atestado sobre as qualidades deste material que descreva as suas principais características tecnológicas e exigências edafoclimáticas. Normalmente regiões com melhores condições para crescimento florestal produzem árvores maiores sem defeitos e com melhor forma. Regiões susceptíveis ao déficit hídrico acentuado podem comprometer a qualidade da madeira se cuidados silviculturais para evitar a seca de ponteiros não forem tomados (Figura 8b, c). A consequência da seca de ponteiros se expressa fortemente na árvore com um efeito em formato de “j” invertido.

Figura 8: Efeito do material genético e da seca de ponteiros na forma da árvore. Fotos: Santana, R.C.

126

Integração lavoura-pecuária-floresta:

a

b c

Page 129: Livro 2º ILPF

É muito comum haver questionamentos sobre uma idade padrão para se realizar a desrama em povoamentos de eucalipto. Entretanto, o que define o momento é o crescimento/desenvolvimento do material genético em campo, ou seja, altura de copa, diâmetro de galhos basais, queda de folhas do terço inferior da copa, etc. Na figura 9 a e b são apresentados, respectivamente, o crescimento em diâmetro e altura de diferentes clones de eucalipto na região de Turmalina-MG até 90 meses de idade. As amplitudes de crescimento são bastante distintas apresentando, aos seis meses, DAP variando entre 3 e 6 cm e altura dominante entre 1,9 e 9 m. Aos 24 meses observam-se variações entre 8,3 e 10,3 cm para o DAP e 11,8 e 15,1 m de altura dominante (Tabela 1).

Figura 9: Crescimento em diâmetro e altura de diferentes clones de eucalipto na região de Turmalina-MG.

Tabela 1: Amplitudes do crescimento em altura e diâmetro de diferentes clones de eucalipto na região de Turmalina-MG até 24 meses de idade.

Neste sentido é essencial que se realize, antes de se definir as árvores que serão desramadas, o inventário florestal para se conhecer as distribuições diamétrica e de altura, além de se avaliar a dinâmica do desenvolvimento da copa e qualificar as árvores do povoamento quanto a problemas bióticos e/ou abióticos. De forma geral em povoamentos florestais equiâneos opta-se pela desrama em árvores dominantes e codominantes quando o objetivo é a produção de madeira de maior volume.

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

127

DAP médio (cm) Altura dominante (m)Idade

6

12

18

24

< >

6,1 3,0

7,5 5,0

9,0 6,9

10,3 8,3

< >

9,0 1,9

11,1 5,5

13,1 8,9

15,1 11,8

0

5

10

15

20

0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 84 90

DA

Pm

éd

io(c

m)

Idade (mês)

224 42 242 601 182 144 953 63 100

a

05

101520253035

0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 84 90A

ltu

rad

om

ina

nte

(m)

Idade (mês)

224 42 242 601 182 144 953 63 100

b

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O nível tecnológico empregado no plantio irá influenciar a qualidade da floresta e consequentemente a escolha dos indivíduos a serem desramados e o custo da operação. Na figura 10 são apresentadas florestas com distintos níveis tecnológicos, ou seja, de qualidade inferior (Figura 10a) a superior (Figura 10c). Para facilitar a visualização, linhas contínuas brancas dão destaque à forma das árvores. É importante acrescentar que árvores cujos troncos cresceram encurvados, além de resultarem em baixo rendimento em serraria, apresentam um tipo de anomalia anatômica chamada “madeira de reação”, que compromete em muito a qualidade da madeira.

Figura 10: Influência do nível tecnológico na qualidade das plantas de eucalipto. Fotos: Santana, R.C.

A previsão do investimento com a desrama irá variar em função do custo da mão de obra e do número de árvores que serão desramadas. Considerando-se o salário de R$ 622,00 mais 100% de encargos, 20 dias de trabalho por mês com jornada de 8 horas, custo do transporte igual a R$ 2,20 por hora trabalhada, uso do serrote de poda e espaçamento de plantio de nove metros quadrados por planta, o investimento para a desrama de 0 a 3 metros de altura seria de R$ 0,72 por árvore e de 3 a 6 metros ficaria em R$ 0,96 por árvore (valor atual do dólar US$ 1,00 = R$ 1,85). Entretanto, este custo sofre alterações dependendo do percentual de árvores a ser desramada, da altura da desrama e do espaçamento de plantio (Tabela 2) que são decisões a serem tomadas pelo fazendeiro florestal. Ressalta-se que estes valores podem ser substancialmente alterados se houver investimentos em equipamentos que melhorem o rendimento operacional.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

a b c

Page 131: Livro 2º ILPF

Tabela 2: Investimento na desrama em função do percentual de árvores a ser desramada por hectare.

2 Considerações finais

De forma geral a desrama em eucalipto é uma prática recente e incipiente. Os resultados obtidos são provenientes de trabalhos de pesquisa isolados sem considerar variações edafoclimáticas ou mesmo efeito comparativos entre materiais genéticos. Muitos são referentes a avaliações realizadas em idades menores do que dez anos. Esta avaliação pode ser substancialmente modificada ao se considerar um ciclo de corte de pelo menos 20 anos. As diferenças estatísticas, muitas vezes demonstradas pelos autores, são de pequena magnitude e tendem a perder o efeito ao longo dos anos, principalmente quando se realiza desbastes sucessivos. São inexpressivos os trabalhos cujos resultados comparam e/ou apresentam as características tecnológicas dos principais materiais genéticos de eucalipto plantados no Brasil. O desenvolvimento de novos equipamentos, estudos sobre ergonomia, rendimento operacional e segurança dos operadores nas atividades de desrama ainda necessitam evoluir expressivamente.

Desrama - Aspectos silviculturais para a eucaliptocultura

129

Altura dadesrama (m)

% de árvores desramadas/ha

20 40 60 80 100

R$/ha

160 320 480 640 8000 a 3

3 a 6 213 427 640 853 1067

Espaçamento2(m /planta)

9

6240 480 720 960 12000 a 3

3 a 6 320 640 960 1280 1600

Page 132: Livro 2º ILPF

Referências

CAMPOS, J.C.C.; LEITE, H.G. Mensuração Florestal: Perguntas e Respostas. Viçosa, 2009, 548p.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 133: Livro 2º ILPF

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

1Lino Roberto Ferreira2Miler Soares Machado3Sílvio Nolasco de Oliveira Neto4Francisco Cláudio Lopes de Freitas5 Giselle Lima Ferreira 6Leonardo David Tuffi Santos

1 Introdução

Os plantios florestais, em diferentes regiões do mundo, são necessários para garantir o suprimento de madeira para as variadas necessidades da crescente população mundial, gerando oportunidades de negócio em escala industrial, bem como a nível de propriedades rurais, principalmente quando áreas ociosas são utilizadas para os plantios florestais (OLIVEIRA NETO et al., 2007). Nesse sentido, o interesse por espécies de rápido crescimento e elevada produção de madeira, tem crescido nos últimos anos, visto ser uma atividade lucrativa e que contribui para a redução dos impactos sobre os remanescentes florestais nativos (FONTAN, 2007).

Devido aos investimentos necessários para a implantação dessas florestas e ao longo período para obter retorno financeiro, têm-se buscado diversas alternativas para amortizar esse custo. Entre estas alternativas, a utilização dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) associados ao plantio direto tem sido uma opção (BERNARDINO, GARCIA, 2009). Esse sistema permite a obtenção do produto florestal, mantendo-se as atividades agrícolas e pastoris, além de respeitar os princípios básicos do manejo sustentável (OLIVEIRA NETO et al., 2007).

Por se tratar de um consórcio entre espécies, os sistemas integrados são mais complexos, assim como as práticas culturais aplicadas (FERREIRA et al., 2010; OLIVEIRA NETO; PAIVA, 2010). Dentre as práticas culturais

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

1 Professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa - [email protected] Doutorando do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.3 Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa.4 Professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Semiárido.5 Mestranda do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal do Semiárido.6 Professor do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais.

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Page 134: Livro 2º ILPF

importantes nos sistemas consorciados, destacam-se o manejo integrado das plantas daninhas, que nesse caso, torna-se mais difícil em razão da diversidade de espécies de plantas daninhas e culturas envolvidas.

Nesse sentido, propôs-se, neste capítulo, discorrer sobre algumas técnicas de manejo de plantas daninhas nos diferentes tipos de consórcios, que podem ser utilizadas na ILPF.

2 Fatores que influenciam o balanço da interferência entre plantas daninhas

Os efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e na produtividade das culturas em razão da presença de plantas daninhas, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição imposta por essas, mas resultantes das pressões ambientais de ação direta, como competição, alelopatia, efeitos na colheita e outras. A esse efeito global denominou-se interferência, referindo-se, portanto, ao conjunto de ações impostas a uma cultura em decorrência da presença da comunidade infestante num determinado local. Os fatores que influenciam o grau de interferência entre plantas daninhas e as espécies cultivadas podem ser observados no modelo esquemático adaptado por Pitelli (1985), apresentado a seguir (Figura 1).

Figura 1: Fatores que influenciam o grau de interferência entre as espécies florestais e a comunidade infestante.Adaptado Pitelli (1985).

Época Duração

Período deconvivência

Manejo

Ambiente

CulturaGrau de

InterferênciaPlantas

daninhas

Espécie

Densidade

Espaçamento

Densidade

Espécie

Distribuição

Solo Clima

132

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 135: Livro 2º ILPF

O grau de interferência depende das manifestações de vários fatores ligados à própria cultura (espécie, variedade, espaçamento e densidade de plantio), à comunidade infestante (composição específica, densidade e distribuição), à época e extensão do período de convivência. Além disso, pode ser alterado pelas condições climáticas e edáficas e pelos tratos culturais (PITELLI; KARAM, 1988).

A complexidade dessa interação fica evidente, pois todos os componentes e condições variam, em graus diversos, com o tempo e de região para região. Alguns variam pouco, ao passo que outros, significativamente.

Espaçamentos de plantio mais amplos e espécies florestais com copas que favorecem a passagem de radiação solar são estratégias de manejo importantes para os sistemas integrados (ILPF), visando fornecer melhores condições de luminosidade para as espécies que compõem a ILPF. Nestas condições, verifica-se maior disponibilidade de radiação solar no sub-bosque, favorecendo a competitividade e o crescimento de espécies forrageiras e também, maior infestação de plantas daninhas.

Os métodos de controle de plantas daninhas são os mais variados possíveis e abrangem desde o arranquio das plantas com as mãos, o controle exercido pela cultura, controle mecânico, uso de herbicidas, até sofisticados equipamentos como micro-ondas ou descargas elétricas (SILVA et al., 2007). Nos sistemas integrados, o controle mecânico de plantas daninhas, através da capina manual ou das roçadas representam boas alternativas, sobretudo em regiões montanhosas e áreas de pequenos produtores. A maior limitação desse método de controle, principalmente em áreas mais extensas, é a dificuldade de encontrar mão de obra no momento necessário e na quantidade desejada (MACHADO et al., 2010). Outro fator limitante ao uso da capina mecânica na ILPF é a capacidade de rebrota do componente forrageiro, possibilitando a reinfestação da área por plantas cortadas superficialmente (CHIOVATO et al., 2007).

Em monoculturas, o uso de herbicidas tem sido um método de controle de plantas daninhas amplamente empregado (FERREIRA et al., 2010). Porém em cultivos integrados, como a ILPF, existe a carência de produtos registrados e pesquisas para a utilização nessa modalidade de cultivo, o que dificulta e muitas vezes até inviabiliza o controle químico das plantas daninhas.

3 Dessecação

Para implantação das culturas na ILPF sob sistema de plantio direto, é necessário fazer o controle da vegetação presente na área por meio da aplicação de herbicidas dessecantes. Esta operação substitui as operações de aração e gradagem, realizadas no plantio convencional, com a vantagem de proteger o solo da erosão e melhorar a infiltração e retenção de água no solo, além da manutenção e incorporação de matéria orgânica na sua superfície.

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

133

Page 136: Livro 2º ILPF

A escolha dos herbicidas e da dose a ser aplicada deve ser em função das espécies de plantas daninhas presentes na área e do estádio de desenvolvimento dessas. Para isso deve-se consultar um profissional habilitado e a recomendação deve ser feita por meio do receituário agronômico (FERREIRA et al., 2010).

Em geral, o momento para aplicação dos produtos para dessecação deve ocorrer após as primeiras chuvas, quando a vegetação estiver vigorosa e em pleno crescimento, apresentando área foliar suficiente para absorção e translocação dos herbicidas. A recomendação é diferente para algumas espécies de difícil controle, como a grama-batatais (Paspalum notatum), que apresentam rizomas ou outras estruturas de reservas. Tem sido observado que a dessecação dessa espécie é mais eficiente quando é antecipada para o final do outono (maio/junho), época em que as plantas ainda possuem boa área foliar e vão passar por um período de estresse hídrico e com temperaturas amenas, dificultando sua rebrota.

No caso de implantação do sistema em área com forrageiras remanescentes, recomenda-se um pastejo de curta duração utilizando alta taxa de lotação no final do período seco ou uma operação de roçada. Esse manejo irá estimular a brotação da forrageira, deixando-a mais propicia à ação dos herbicidas. Para que isso aconteça é necessário esperar o início das chuvas, para o bom desenvolvimento da vegetação existente antes da dessecação.

A aplicação dos herbicidas deve ser feita, preferencialmente, nos períodos com temperaturas mais amenas (nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer) e com ventos de baixa intensidade, evitando-se baixa umidade relativa do ar e temperaturas elevadas, o que facilita a volatilização da gota pulverizada. O tempo mínimo sem chuva necessário, depois da aplicação de herbicidas dessecantes também é muito importante, varia de 0,5 a 6 horas. Por isso, deve-se estar atento as previsões do tempo e a formulação a ser usada, para evitar perdas.

Na Tabela 1 estão listados os herbicidas utilizados para dessecação da vegetação no plantio direto. Embora ainda nenhum deles seja registrado para a integração lavoura-pecuária-floresta, os herbicidas mais utilizados são os à base de glifosato, podendo em alguns casos utilizar-se a mistura glifosato + 2,4-D, ou outras que estão surgindo no mercado, principalmente no caso de haver infestação de plantas daninhas de folhas largas na área e, principalmente, aquelas tolerantes ao glifosato.

A dessecação deve ser realizada entre 7 e 30 dias antes do plantio. O ideal é que no momento do plantio a vegetação já esteja morta e acamada. Caso ocorra a reinfestação da área antes da semeadura, recomenda-se uma nova dessecação. Nesse caso, pode-se usar herbicidas de contato como paraquat, amônio-glufosinato ou mesmo glyphosate em menor dose.

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

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Tabela 1: Herbicidas com potencial de uso para dessecação da vegetação, antes da implantação da ILPF.

4 Manejo de plantas daninhas após implantação

O sucesso na adoção de sistemas consorciados está relacionado também ao correto manejo das plantas daninhas. Para que o manejo das plantas daninhas em culturas consorciadas com forrageiras seja eficiente, práticas como adubação mais concentrada de nitrogênio no início do ciclo, para favorecer o crescimento inicial da cultura em relação às plantas daninhas e à forrageira e, ou, a redução do espaçamento entre as fileiras das culturas, visando o rápido fechamento da área, são necessárias.

Na ILPF o manejo integrado das plantas daninhas, associando o controle cultural (bom desenvolvimento inicial das culturas) com o controle mecânico (capina, coroamento e roçada) e controle químico, é fundamental para o sucesso da implantação do sistema.

Na cultura do eucalipto, no início do desenvolvimento, o coroamento ou a capina na linha de plantio é o mais recomendado. Também é comum a aplicação de herbicida em pré-emergência na faixa de 1 m de cada lado na linha de plantio: isoxaflutole (Fordor), oxyfluorfen (Goal), sulfentrazone (Solara) e flumioxazin (Flumisin). Pode-se também aplicar herbicidas não seletivos, geralmente à base de glyphosate, fazendo-se a proteção da muda para evitar intoxicação. Esse manejo das plantas daninhas é de suma importância principalmente no primeiro ano da implantação do sistema, a fim de garantir o rápido desenvolvimento do componente arbóreo, que permitirá a utilização do pasto mais precocemente.

A estratégia de manejo de plantas daninhas nas culturas agronômicas vai depender da espécie explorada e se ela está sendo cultivada em monocultivo ou consorciada com forrageiras. Das culturas utilizadas em consorciação com as forrageiras, a que melhor se adapta é o milho, devido ao seu rápido crescimento inicial e ao porte da planta, que a torna mais competitiva e favorece a colheita mecanizada.

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

Diversos 360 a 720 360 a 1800 1 a 5

Diversos 670 a 720 500 a 1100 0,8 a 1,5

Gramoxone 200 300 a 600 1,5 a 3,0

Gramocil 200 + 100 400 a 600 + 200 a 300 2,0 a 3,0

Nome Comercial

Concentração-1(g e.a.ha )

-1ou (g i.a .ha )

Dose-1(g e.a.ha )

-1ou (g i.a.ha )

Dose comercial-1(L ha )Nome Técnico

Glyphosate

2,4-D

Paraquat

Paraquat + Diuron

Amônio-glufosinato Finale 200 400 a 800 2,0 a 4,0

135

Page 138: Livro 2º ILPF

No caso do plantio simultâneo de eucalipto, milho e braquiária, o mais indicado é aplicar um dos herbicidas recomendados para eucalipto em pré-emergência na linha, numa faixa de 1 m de cada lado da muda, isso se tiver feito o preparo do solo, com aração ou subsolagem na linha de plantio, uma vez que os herbicidas aplicados em pré-emergência funcionam melhor em solos mais bem preparados. Pode-se, também, fazer com enxada uma coroa com diâmetro de 2,0m em torno das plantas de eucalipto (MACHADO, 2011). No restante da área com milho e braquiária aplicar em torno de 20 - 30 dias após o plantio, a mistura no tanque de atrazine (diversos produtos comerciais) com subdose de nicosulfuron (Sanson), ou da mistura formulada foramsulfuron + iodosulfuronmethyl-sodium (Equip-plus). Esse manejo tem proporcionado bom controle das plantas daninhas, sem comprometer a formação do pasto

-1após a colheita. O atrazine, na dose de 1,0 a 2,0 kg ha do ingrediente ativo é eficiente no controle de espécies daninhas dicotiledôneas (folhas largas) e pode ser aplicado em pós-emergência, quando estas estiverem com até dois pares de folhas. No caso do controle das espécies gramíneas, recomenda-se a aplicação de subdoses (aproximadamente 1/5 da dose comercial) de nicosulfuron, ou da mistura comercial foramsulfuron + iodosulfuronmethyl-sodium, para controlar as gramíneas (plantas daninhas) e retardar o crescimento da espécie forrageira, porém sem alterar seu desenvolvimento após a colheita do milho. A dose recomendada dos graminicidas vai depender do estádio de crescimento da forrageira e das plantas daninhas. A tolerância da forrageira às sulfonilureias (nicosulfuron, foramsulfuron + iodosulfuronmethyl-sodium) aumenta com o desenvolvimento da planta (JAKELAITIS et al., 2004; FREITAS et al., 2005, FERREIRA et al., 2007).

Outra cultura potencial para a consorciação simultânea com forrageiras, embora em áreas menores, por impossibilitar a colheita mecanizada, é o feijoeiro.

No caso do plantio do feijão faz-se a dessecação em área total, ou na linha de plantio, planta-se o eucalipto no início do período chuvoso e na época ideal para o cultivo do feijão, faz-se nova dessecação da área, protegendo as plantas do eucalipto da deriva do herbicida dessecante e planta-se o feijão consorciado com a forrageira. Para o controle das plantas daninhas no feijão, pode-se usar o fomesafen (Flex), bentazon (Basagran 600) ou outro herbicida recomendado para o controle das plantas daninhas de folhas dicotiledôneas em feijão (SILVA et al., 2004; 2006). Para o controle das gramíneas o cuidado tem que ser redobrado, pois os herbicidas inibidores da ACCase como fluazifop-p-butil (Fusilade), sethoxydim (Poast) e outros também poderão intoxicar ou até matar as plantas de braquiária (forrageira). Nesse caso as doses utilizadas não poderão ultrapassar a 1/5 da dose recomendada. Trabalhos preliminares desenvolvidos na UFV (Dados ainda não publicados) com culturas trangênicas resistentes ao glyphosate, indicam, também, a possibilidade de uso de sub-doses desse herbicida, que vão variar de acordo com o estádio de desenvolvimento da forrageira.

136

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 139: Livro 2º ILPF

O controle das plantas daninhas torna-se, ainda mais difícil quando se pretende substituir a gramínea forrageira, como por exemplo trocar a Brachiaria decumbens pela Brachiaria brizantha. Nesse caso, a forrageira anterior pode se tornar a planta daninha mais importante no consórcio, pois normalmente ambas têm a mesma tolerância aos herbicidas. Além disso, a Brachiaria decumbens, possui grande banco de sementes no solo, que, devido à dormência, germinam em diferentes épocas, dificultando o controle. Recomenda-se nestes casos a rotação de culturas, como por exemplo, plantar milho ou soja por pelo menos dois anos, visando reduzir o banco de sementes da forrageira inicial, para em seguida fazer o semeio da nova forrageira.

O plantio das espécies no sistema ILPF pode acontecer simultaneamente ou não. Isso, com certeza, influencia o manejo de plantas daninhas no sistema. Quanto mais culturas estiverem sendo cultivadas ao mesmo tempo, mais atenção tem que ser dada ao manejo das plantas daninhas.

Admitindo-se que no primeiro ano deseja-se plantar eucalipto e arroz, no segundo ano soja e no terceiro ano milho consorciado com braquiária, deixando-se a partir daí o eucalipto e a pastagem, o manejo das plantas daninhas tem que ser bem específico. Assim, no primeiro ano deve-se controlar as plantas daninhas na linha do eucalipto, manualmente com enxada ou com os herbicidas recomendados para o eucalipto. Entre estes, o isoxaflutole, oxyfluorfen, sulfentrazone e flumioxazim, aplicados em pré-emergência das plantas daninhas, sobre as mudas recém plantadas ou glyphosate aplicado em pós emergência de forma dirigida às plantas daninhas, sem nenhum contato com as plantas de eucalipto. Na cultura do arroz o controle das plantas daninhas pode ser realizado com os herbicidas específicos, aplicado conforme recomendação de cada um, tomando-se o cuidado especial com a deriva para não atingir as plantas de eucalipto.

No segundo ano, manter limpa uma faixa ou uma coroa de dois metros de diâmetro no eucalipto. Isso pode ser feito com enxada ou com aplicação dirigida de glyphosate, que neste caso é mais fácil, pois o risco do herbicida atingir as folhas do eucalipto é muito pequeno, principalmente se nessa época já foi realizada a primeira desrama. No caso da cultura da soja, deve-se fazer o controle de plantas daninhas com os herbicidas recomendados para cultura.

No terceiro ano, manter a linha do eucalipto livre de plantas daninhas da mesma forma do ano anterior e aplicar uma mistura de herbicida seletiva para o consórcio de milho e forrageira. Nesse caso uma das possibilidades é a

-1 -1aplicação de atrazina (1,0 a 2,0 kg ha ) mais nicosulfuron (8 a 12 g ha ). A mistura comercial de iodosulfuronmethyl-sodium + foransulfuron pode substituir o nicosulfuron, também com 1/5 da dose recomendada. É muito importante aplicar esses herbicidas na fase inicial de desenvolvimento das plantas daninhas, ou seja, na pós-emergência precoce.

No caso do uso de herbicidas é muito importante o cuidado com a

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

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Page 140: Livro 2º ILPF

deriva, porque os herbicidas usados no eucalipto provocam intoxicação nas outras culturas, assim como os herbicidas usados nas outras culturas provocam intoxicação no eucalipto, principalmente no primeiro ano. Na Tabela 2 pode se observar o efeito da deriva simulada de vários herbicidas sobre as plantas de eucalipto. Verifica-se que, para os herbicidas listados nessa Tabela, 3% da dose aplicada já é suficiente para causar intoxicação em plantas de eucalipto, o que ressalta a importância dos cuidados com a deriva, especialmente no primeiro ano, quando as plantas de eucalipto apresentam muitas folhas sujeitas a receber a deriva.

Tabela 2: Porcentagem de redução de matéria seca em relação à testemunha em função da porcentagem da dose recomendada

Fonte: Tibúrcio (2010).

Na escolha de espécies anuais a serem plantadas na ILPF, deve-se dar preferência àquelas que tenham um crescimento inicial rápido e que possuam ciclo mais curto. Nesse sentido, quanto menor o ciclo e mais rápido se proceder à sua colheita, maior será o período de tempo para o completo desenvolvimento da forrageira e do componente arbóreo naquele ano agrícola e, consequentemente, o aproveitamento do pasto pelos animais (FERREIRA et al., 2007).

As culturas do feijão (SILVA et al., 2006) e do milho (JAKELAITIS et al., 2004; FREITAS et al., 2005) são boas competidoras com forrageiras do gênero Brachiaria, por fecharem rapidamente o solo, causando redução da luz disponível para a forrageira e diminuindo sua taxa de crescimento. Alguns trabalhos têm demonstrado que a cultura do feijão apresenta elevada capacidade competitiva, devido ao rápido acúmulo inicial de biomassa (PASSINI et al., 2003; PROCÓPIO et al., 2004), menor espaçamento entre fileiras e arquitetura foliar favorável à cobertura do solo, bloqueando a passagem de luz.

Na Figura 2 observa-se que a braquiária quando consorciada com o

Dose (%)

Atra-zine

Foransulfurom + iodosulfurom-

metílico

Fluazifop-p-butyl+

fomesafen

Nicosul-furon

Tembo-trione

3% 2,77 2,15 1,67 11,56 4,97

6% 6,38 5,90 7,32 20,97 6,29

12% 15,79 13,44 28,22 66,6 9,68

138

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 141: Livro 2º ILPF

milho tem seu crescimento limitado, o que garante a vantagem competitiva com o milho.

Figura 2: Curva de crescimento de milho e braquiária consorciados ou em monocultivo. Fonte: Jakelaitis et al., (2004).

5 Manejo da espécie florestal

Em espaçamentos de plantios mais amplos, como os adotados nos sistemas integrados (ILPF), as interações entre as espécies consorciadas são diferentes quando comparados aos monocultivos florestais, podendo haver maior disponibilidade de água no solo (LEITE et al., 1997) e principalmente maior entrada de radiação solar no dossel do sistema. Essa maior quantidade de radiação disponível, necessária para o adequado crescimento da forrageira, geralmente espécies com metabolismo C4, passa a ser um fator importante nesses sistemas (OLIVEIRA NETO et al., 2007), aumentando sua competividade. As espécies forrageiras utilizadas na ILPF apresentam certa tolerância ao sombreamento, mantendo uma boa capacidade produtiva (ANDRADE et al., 2003).

Nesse sentido, para promover bom crescimento do eucalipto, é necessário manter uma faixa de controle da forrageira durante o primeiro ano de cultivo, fornecendo condições favoráveis ao crescimento inicial das plantas de eucalipto. Na Figura 3, pode-se observar que diâmetro de coroamento em torno de 2,0 metros foi suficiente para promover bom crescimento do eucalipto,

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

-2B

iom

assa s

eca (

g m

)1800

1500

1200

900

600

300

0

15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165

Milho em MonocultivoMilho em ConsórcioBraquiária em MonocultivoBraquiária em Consórcio

Dias após a emergência do milho

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se aproximando do crescimento máximo observado e com menor comprometimento da área, que será ocupada pela forrageira (MACHADO, 2011).

Figura 3: Estimativa da biomassa seca de parte aérea das plantas de eucalipto na integração pecuária e floresta submetidas a diferentes diâmetros de coroamento. Fonte: Machado (2011).

Se para o controle das plantas daninhas no componente florestal optar-se pelo uso de herbicidas em detrimento a capina manual, deve-se evitar o contato destes com a espécie florestal, visto que, para essa modalidade de aplicação não existem produtos seletivos. Nesse sentido, a retirada dos galhos mais baixos através da desrama precoce pode reduzir, ou até mesmo eliminar, a intoxicação das plantas por esses produtos. Entretanto, segundo Machado (2011) essa desrama deve ser vista com cautela, uma vez que, mesmo com baixa remoção de galhos, aos 640 dias após essa desrama ainda se observa efeitos negativos dessa operação, embora seja notório uma tendência de recuperação do crescimento das plantas com passar do tempo.

Em contra partida para se tomar essa decisão, deve-se considerar que, mesmo com cautela, é comum quando se aplica um herbicida, o jato atingir diretamente os ramos baixeiros das plantas, sendo essa forma de contato considerada a principal causa de intoxicação das plantas (TUFFI SANTOS et al., 2010) podendo causar, em função da quantidade de produto que atinge a planta, a morte do ápice caulinar (TUFFI SANTOS et al., 2005), o que pode provocar a bifurcação e a diminuição da produção e da qualidade da

Maté

ria s

eca (

Kg

/pla

nta

)8

7

6

5

4

3

00,0 1,0 1,5 2,0 3,0

Diâmetro de coroamento (m)

140

Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 143: Livro 2º ILPF

madeira. Nesse sentido, avaliando as circunstâncias, às vezes é preferível perder um pouco o vigor do crescimento inicial das plantas de eucalipto por causa da desrama precoce do que ter problema de intoxicação por glyphosate, cujos danos são ainda maiores.

6 Manejo da pastagem

O manejo correto das pastagens e dos animais é fundamental para a sustentabilidade de qualquer sistema de criação a pasto. Em pastagens bem manejadas, a forrageira normalmente apresenta crescimento vigoroso, protege melhor o solo e compete com vantagens com as plantas daninhas, resultando em menor custo no controle e manutenção das áreas. O manejo correto dos animais, com taxas de lotação compatíveis com a capacidade de suporte das pastagens, aliado a correta adubação de manutenção vai evitar o aparecimento de plantas daninhas.

Caso haja necessidade de controlar as plantas daninhas, isso pode ser feito através de roçada ou por meio da aplicação de herbicidas seletivos, com baixo efeito residual, como o 2,4-D. Não podem ser usados herbicidas com longo efeito residual, como aqueles à base de picloram, pois eles poderão interferir no crescimento das árvores.

A adoção do manejo da pastagem em lotação rotativa auxilia na condução dos sistemas consorciados, por permitir o controle dos animais na área e o ajuste na taxa de lotação, reduzindo a incidência de plantas daninhas no sistema.

7 Considerações finais

O manejo das plantas daninhas na ILPF, apesar de ser uma atividade complexa, por envolver o consórcio entre pelo menos três culturas é fator determinante no sucesso do sistema.

Após o estabelecimento, a recuperação ou renovação, é fundamental o correto manejo do pasto e dos animais em pastejo para não comprometer o potencial produtivo deste ecossistema, assegurando assim alta longevidade e produtividade de forragem, sem a presença das plantas daninhas.

O manejo integrado de plantas daninhas no sistema de ILPF é dinâmico e necessita de pesquisas constantes para acompanhar a evolução dessa técnica. Como é uma área relativamente nova, os problemas vão surgir com a expansão da área cultivada e o pessoal da pesquisa deve-se empenhar para desenvolver soluções e aprimorar as tecnologias.

Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

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Page 144: Livro 2º ILPF

Referências

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Manejo de plantas daninhas em sistemas de ILPF

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Produção e manejo de pastagens emsistemas agrossilvipastoris

1Márcia Vitória Santos2Fabiana Lopes Ramos de Oliveira3Leonardo David Tuffi Santos

1 Introdução

Nas últimas décadas, a revolução capitalista tem levado a intensificação dos sistemas de produção agropecuários em todo o mundo, impulsionada pela contínua demanda de alimentos, urbanização e poder aquisitivo das pessoas. A aplicação e adoção progressiva de métodos intensivos, focados exclusivamente em uma meta produtivista, desconsideram a conservação e a sustentabilidade dos sistemas de produção.

No Brasil, de forma análoga, o uso exacerbado de tecnologias intensivas associado às políticas governamentais de incentivos ao desenvolvimento agrícola no país culmina em uma acelerada perda de recursos naturais, comprometendo as gerações futuras (ALONSO, 2011).

Deste modo, frente à crescente demanda por alimentos, bioenergia e produtos florestais, em contraposição à necessidade de redução de desmatamento e mitigação da emissão de gases de efeito estufa, faz-se necessário à adoção de técnicas e alternativas que permitam incentivar o desenvolvimento socioeconômico, sem comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais, imprescindíveis a produção animal (VILELA et al., 2011).

Os sistemas de produção de ruminantes no país fundamentam-se, na sua quase totalidade, na utilização dos recursos das pastagens. Entretanto, grande parte destas áreas é caracterizada pelo processo de degradação.

Comumente encontra-se em todo território brasileiro a ocorrência de pastagens degradadas com baixa capacidade de suporte e baixa produção de carne e leite. Tendo entre as várias causas da degradação a adoção de práticas de manejo inadequadas na formação e manutenção dos pastos, como uso constante do fogo, ausência de adubação, manejo ineficiente de plantas

Produção e manejo de pastagens em sistemas agrossilvipastoris

1 Professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural da Amazônia [email protected] Doutoranda do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa.3 Professor do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais.

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daninhas, pragas e doenças, bem como o manejo incorreto dos animais em pastejo, sobretudo o superpastejo (DIAS FILHO, 2005).

A visão sistêmica dos ecossistemas de pastagens, associada à conscientização do uso racional dos recursos naturais podem resultar em maior eficiência dos sistemas de produção pecuários a pasto e contribuir para harmonização desses ecossistemas degradados. É nesse cenário, que a estratégia de sistemas agrossilvipastoris, também conhecida como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que contempla o consórcio de cultura agrícola, árvores e forrageiras vêm sendo apontada como alternativa para reversão do processo de degradação das pastagens.

A associação de espécies em sistemas integrados como a ILPF, juntamente com o uso de práticas conservacionistas, como a adoção do sistema de plantio direto, desponta como opção viável e promissora. Contudo o sucesso da ILPF depende do conhecimento e entendimento das interações entre os diversos componentes destes ecossistemas, bem como destes com o meio ambiente, permitindo o planejamento e ajustes no manejo da pastagem e dos animais em pastejo, o que resulta em melhor aproveitamento do potencial produtivo das espécies forrageiras e sustentabilidade do sistema de produção.

Diante ao exposto, apresenta-se no presente capítulo sobre a produção e manejo de pastagens nos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta.

2 Formação de pastagens em ILPF

O sucesso da integração lavoura-pecuária-floresta depende de um correto planejamento do estabelecimento do sistema, como a escolha das espécies a serem utilizadas, o preparo adequado do solo, sementes e mudas de alta qualidade, plantio e adubação de acordo com sistema de produção. O planejamento inicia-se com o diagnóstico da área, que deve elucidar as limitações e potencialidades do modelo a ser implantado e manejado, de acordo com as características de cada propriedade e interesse do produtor (FERNANDES et al., 2006). Concomitantemente, faz-se necessário um bom plano de manejo no controle de pragas, plantas daninhas, doenças e animais durante todos os ciclos das diferentes espécies envolvidas.

A escolha das espécies depende do objetivo da produção, poder econômico do produtor, mercado, adaptação às condições edafoclimáticas e relevo, e capacidade de consorciação.

Nos sistemas de ILPF a espécie forrageira sob condições de sub-bosque é influenciada principalmente pelo sombreamento proporcionado pelo componente arbóreo, dependendo assim, de alguns fatores para o sucesso da produção da forrageira neste ecossistema, bem como sua perenidade e longevidade. Dentre os fatores destaca-se a adoção de espécies tolerante ao sombreamento, utilização de práticas que favoreçam a maior interceptação de

Integração lavoura-pecuária-floresta:

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luz no dossel forrageiro, bem como a persistência das gramíneas no sub-bosque (TORRES, 1982; WONG; STÜR, 1993).

A quantidade de luz necessária para o crescimento das plantas forrageiras depende da espécie, do espaçamento e da idade das árvores. As árvores a serem utilizadas num sistema silvipastoril e/ou ILPF devem apresentar, de preferência, copas que permitam passagem de luz suficiente para o crescimento das forrageiras. Tendo como exemplo o eucalipto (Eucalyptus ssp.), que permite uma incidência de luz satisfatória para o desenvolvimento do sub-bosque, apesar das diferenças marcantes dentro desse gênero, e mesmo dentro de genótipos da mesma espécie.

No que se refere aos animais, à entrada dos mesmos deve ser planejada desde o estabelecimento. Espécies arbóreas de rápido crescimento possuem vantagens quanto à utilização da área a curto tempo para o pastejo.

A formação do pasto foi apresentada neste manuscrito de forma sucinta. Entretanto, este assunto pode ser melhor visualizado nos trabalhos de Ferreira et al. (2008) e Oliveira Neto et al. (2010).

3 Influência dos fatores abióticos na produção de forragem

Os fatores climáticos são determinantes no processo de desenvolvimento e crescimento das plantas forrageiras e, consequentemente, para acúmulo de forragem. A produção forrageira se traduz por ciclos estacionais de alta e baixa produção que coincidem com as épocas de verão e inverno, ocasionando um dos principais problemas enfrentados na pecuária nacional, a sazonalidade de produção.

A água é um dos fatores determinantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas, sendo a principal condução de transporte de nutrientes para todas as partes da planta, atribuindo turgidez aos tecidos e mantendo em equilíbrio a temperatura da planta (GALETI, 1982). A maioria dos processos fisiológicos na planta como a expansão e o alongamento de folhas, a abertura e fechamento estomático e a fotossíntese são regulados pela pressão de turgescência das células (TAIZ; ZEIGER, 2004). A demanda evaporativa da atmosfera determina o gasto de água pelas plantas forrageiras, este por sua vez dependente da área foliar, distribuição e profundidade do sistema radicular, além de sua habilidade em utilizar a água armazenada no solo e a capacidade de controlar as perdas pelo complexo estomático (MATZENAUER; SUTILI, 1983).

A produção da forragem é gerida pela assimilação e alocação de carbono e N e pela evapotranspiração. Assim, o estresse hídrico pode prejudicar o crescimento do pasto e reduzir a absorção de N e de outros nutrientes (RODRIGUES; RODRIGUES, 1987). A deficiência hídrica afeta drasticamente a expansão foliar, cessando o alongamento de folhas e raízes muito antes dos processos de fotossíntese e divisão de células serem afetados

Produção e manejo de pastagens em sistemas agrossilvipastoris

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(TIESZEN; DETLING, 1983). O comportamento de uma planta cultivada, em situação de déficit hídrico, dependerá do estádio de desenvolvimento, do genótipo e da duração e severidade da restrição hídrica (PETRY et al., 1999).

Outro fator é a temperatura, que estabelece um importante fator abiótico da distribuição, adaptabilidade e produtividade das plantas, em função de sua capacidade em manter a fotossíntese líquida sob variações térmicas supraótimas, ou acima do ótimo requerido para a fotossíntese líquida máxima (COSTA et al., 2011). Além do processo fotossintético, as reações enzimáticas de todos os demais processos metabólicos na planta podem ser afetados, uma vez que estas têm sua ação catalisada pela temperatura, influenciando na taxa de crescimento e acúmulo de forragem.

Nas pastagens com pouca ou nenhuma presença de árvores, os bovinos - principalmente os de origem européia e seus mestiços - apresentam desconforto térmico evidente e redução no tempo de pastejo durante o dia, principalmente em regiões quentes. Desta forma, as árvores, ao proporcionar sombra, quebra-vento e abrigo, diminuem o estresse climático, com aumento na produção animal.

Além disso, a temperatura influencia na qualidade da forragem produzida. Nos sistemas arborizados, como ILPF, o microclima favorece a retenção de umidade e a reciclagem de nutrientes, resultando no prolongamento do período de produção e na melhor qualidade da forragem. De fato, maior teor de umidade no solo, associado à temperatura mais moderada sob sombra, pode aumentar as taxas de mineralização do nitrogênio, de decomposição da matéria orgânica e de reciclagem do nitrogênio em comparação ao que ocorre na condição de pleno sol, o que tem efeito positivo na qualidade da forragem produzida (HUMPHREYS, 1994; WILSON, 1996).

Estudos têm indicado que o sombreamento influencia positivamente o valor nutritivo do pasto, pela diminuição dos seus percentuais de parede celular e aumento dos teores de proteína bruta, o que reflete no aumento da digestibilidade (GARCIA, COUTO, 1997). Paciullo et al. (2007) observaram teores de PB 29% maiores da B. decumbens sob sombreamento quando comparado aos do cultivo em pleno sol, além de redução nos teores de FDN e aumento na DIVMS. Semelhantemente, Soares et al. (2009) relataram maiores teores de PB e menores de FDN da B. decumbens sombreada, em relação ao cultivo ao sol pleno. De acordo Deinum et al. (1996), os maiores teores de FDN, em condições de alta luminosidade, podem ser associados à maior proporção de tecido esclerenquimático, cujas células apresentam paredes mais espessas do que em condições de sombreamento.

Além disso, as árvores possuem sistemas radiculares profundos que absorvem nutrientes e água em camadas indisponíveis para as gramíneas em consórcio. Partes desses nutrientes serão disponibilizadas para as plantas forrageiras através da decomposição e mineralizaçao da serapilheira. A

Integração lavoura-pecuária-floresta:

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incorporação gradativa de nutrientes ao sistema solo/pastagem, por meio da biomassa das árvores, é um importante meio de enriquecimento do solo (OVALLE; AVENDAÑO, 1984; NAIR, 1999). Esse enriquecimento pode ser maximizado pelo uso de espécies leguminosas que possibilitam o aporte de nitrogênio atmosférico ao ecossistema, além do potencial forrageiro de algumas espécies.

Outro fator ambiental de fundamental importância na produção de plantas forrageiras de clima tropical é a radiação solar, que é a fonte primária de toda a energia na Terra, a qual é convertida em energia química através da fotossíntese (LARCHER, 1975). Sua captação pelas plantas forrageiras depende do índice de área foliar (IAF); geometria, tamanho, ângulo de inserção e idade da folha; arranjo de plantas; época do ano e nebulosidade (VARLET-GRANCHER et al., 1989).

Além da quantidade de luz, sua qualidade descrita pela relação V/Ve (vermelho/vermelho extremo), influencia principalmente a densidade populacional de perfilhos e consequentemente, a produção de forragem (PACIULLO et al., 2007). Em condições de sombreamento do dossel forrageiro, como encontrado nos sistemas em ILPF, a ativação das gemas axilares e a produção de novos perfilhos são inibidas pela menor relação V/Ve. Entretanto, o manejo correto do componente arbóreo, por meio da adoção de maiores espaçamentos entre árvores, bem como práticas como desrama e desbaste são fundamentais em pastagem arborizadas por favorecer a maior interceptação luminosa no dossel forrageiro, potencializando o perfilhamento e a produção de forragem.

Diversos trabalhos relatam as influências positivas das árvores na produção de forrageiras em detrimento às pastagens em pleno sol. Sousa et al. (2007) reportaram que em sistema arborizado com Zeyheria tuberculosa e Brachiaria brizantha cv. Marandu, o aumento da precipitação e umidade relativa intensificou a produtividade de forragem e o teor de proteína bruta. Essa constatação também foi descrita por Nunes et al. (1985) que afirmam que o desempenho de B. brizantha cv. Marandu está relacionado à precipitação e à umidade relativa do local onde é cultivada. Resultados similares foram encontrados por Anderson et al. (1988), que verificaram que o solo sob a copa de árvores apresenta maior teor de umidade e que em sistemas silvipastoris ocorre diminuição da demanda evapotranspirativa das plantas herbáceas e rasteiras do sub-bosque, em face das condições climáticas amenas e da menor velocidade dos ventos.

O conhecimento das interações de plantas em resposta as condições ambientais é fundamental para o ajuste no manejo da pastagem após o estabelecimento do sistema de ILPF.

Produção e manejo de pastagens em sistemas agrossilvipastoris

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4 Práticas de manejo após estabelecimento

Dentre as principais práticas de manejo da pastagem após o estabelecimento do sistema de ILPF destaca-se o controle de plantas daninhas, pragas e doenças; a adubação de manutenção; desrama e desbaste do componente arbóreo e o manejo do pastejo.

Um problema incidente nos sistemas pecuários arborizados é a infestação por plantas daninhas, causando grande interferência, visto que provocam decréscimos acentuados na produtividade decorrentes da competição direta pelos recursos de crescimento. As perdas na produção de forragens podem chegar até 80% em função da interferência das plantas daninhas e do seu grau de infestação (SILVA et al., 2002). Além disso, essas plantas reduzem o crescimento e desenvolvimento do componente arbóreo prolongando o tempo para entrada dos animais em pastejo, necessitando seu controle.

Os métodos de controle podem ser divididos em: preventivo, cultural, mecânico, físico e químico. Recomenda-se à associação de dois ou mais métodos para atingir o nível desejado, constituindo-se, nesse caso, no manejo integrado, cujo principal objetivo é reduzir os danos causados pelas plantas daninhas, os custos de controle, a energia gasta com tratos culturais, a erosão do solo e, sobretudo proporcionar o mínimo de impacto ambiental. Dessa forma, segundo Victoria Filho (2000), o manejo de plantas daninhas pode ser definido como a combinação racional de medidas preventivas associadas a medidas de controle em um determinado agroecossistema. O controle ideal é aquele que, economicamente, elimina os prejuízos causados pelas plantas daninhas, resguarda os seus aspectos benéficos e não causa danos à forrageira, aos animais e ao solo (SILVA et al., 2004).

O controle de plantas daninhas na linha de cultivo, ou cova das plantas arbóreas, pode ser realizado com herbicidas seletivos em pré-emergência das plantas daninhas e aplicados sobre as plantas arbóreas (como exemplo o oxyfluorfen e isoxaflutole aplicado sobre plantas de eucalipto). Também pode ser realizado com herbicidas não-seletivos, geralmente à base de glyphosate, sendo neste caso necessária a proteção da muda para evitar intoxicação do componente arbóreo. Outra opção é o uso da capina mecânica. Essas práticas são de suma importância para garantir o rápido desenvolvimento do componente arbóreo, o que permite a utilização do pasto mais precocemente.

Além do controle de plantas daninhas, é fundamental o manejo de pragas e doenças para sustentabilidade do sistema, destacando dentre as pragas, principalmente, formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns) e cupins como agentes danosos aos componentes dos ecossistemas com ILPF.

Uma das práticas importantes para garantir produtividade ao longo dos anos é a adequada adubação de manutenção. Embora, os sistemas arborizados, como ILPF, apresentem maior ciclagem de nutriente em detrimento às pastagens em monocultivo, o que se deve pela grande

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quantidade de serapilheira produzida (Figura 1), grande parte destes nutrientes são exportados do ecossistema, na forma de produto vegetal (grãos, fibras, madeira, frutos) e animal (carne, leite e derivados), necessitando sua reposição por meio do uso de fertilizantes. Andrade et al. (2001) comprovaram que o elevado sombreamento em sistemas consorciados de eucalipto com Panicum maximum, cultivar Tanzânia, pode não ser o único fator que compromete a produção de forragem, sendo a adubação de manutenção essencial para garantir o sucesso desses sistemas, principalmente em solos pobres, como os com pastagens na região de Cerrado.

Figura 1: Serapilheira depositada em Sistema Agrossilvipastoril (ILPF) com eucalipto + Acacia mangium + Brachiaria decumbens, 38 meses após estabelecimento e 34 meses após colheita de milho cultivado, no município de Viçosa - MG.

Em estudo de produção de serapilheira em Sistema Agrossilvipastoril (ILPF) com diferentes componentes arbóreos, Freitas et al. (2011), reporta a importante contribuição significativa das árvores para maior deposição de serapilheira sobre o solo (Tabela 1).

Outras práticas recomendadas em ILPF referem-se a desrama e desbaste das árvores, com o intuito de aumentar a incidência de luz no dossel forrageiro, potencializando o perfilhamento, crescimento e produção de forragem, além de proporcionarem maior rentabilidade na venda da madeira produzida. A desrama é realizada pela retirada de galhos plagiotrópicos, sendo

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galhos finos e que normalmente são retirados para produção de madeira de melhor qualidade. Já os desbastes consistem no derrubada de algumas árvores, eliminando árvores defeituosas e, ou, em excesso, permitindo mais espaço para o desenvolvimento das melhores e aumentando a produção de madeira de melhor qualidade (toras) e, consequentemente de maior valor econômico (OLIVEIRA NETO; PAIVA, 2010).

-1Tabela 1: Produção de serapilheira total (kg ha ) em Sistema Agrossilvipastoril (ILPF) com eucalipto (SASP-E) e com eucalipto e acácia (SASP-EA), e em monocultura de pasto (MP) de Brachiaria decumbens, entre 34 e 43 meses após plantio, em Viçosa, MG

Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%.

5 Manejo do pastejo

Um enfoque maior será disposto neste item, reconhecida sua relevância na longevidade e perenidade da pastagem.

Em sistemas consorciados de pastagens com espécies arbóreas, deve-se esperar determinado período de tempo para a entrada dos animais na área, definido basicamente pelo desenvolvimento do componente arbóreo. Assim, após a colheita de grãos, a forragem produzida pode ser colhida e fornecida no cocho, “in natura”, conservada na forma de silagem ou feno, ou ainda, pastejada por animais de pequeno porte.

No caso de espécies arbóreas que possuem crescimento lento, recomenda-se o cultivo em consórcio com culturas agrícolas nos primeiros anos, otimizando o uso das áreas e dos recursos do ecossistema pastagem em ILPF até o desenvolvimento adequado do componente arbóreo para a entrada dos animais. Nesse caso, a forrageira produzida no primeiro ano pode ser usada na formação de palhada para o plantio direto no próximo cultivo de grãos e forrageira, na produção de feno ou também utilizada para o pastejo

Integração lavoura-pecuária-floresta:

ILPF

-1Serapilheira (Kg ha )

SASP-E

SASP-EA

MP

Componente

arbóreo

2.525,75 b

3.401,47 a

-

Forrageira

1.015,31 b

913,34 b

1.832,25 a

Total

3.541,07 b

4.314,81 a

1.832,25 c

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direto por animais de pequeno porte.

A escolha de espécies arbóreas de rápido crescimento e a definição do momento de entrada de animais na área são considerações importantes para o sucesso da implantação. A entrada de animais em momento inadequado pode resultar em danos ao componente arbóreo, inviabilizando-o (SANTOS et al., 2008).

Após exploração do sistema ILPF ao longo dos anos, caso observada a redução do vigor e produtividade das plantas forrageiras pode-se retornar com o cultivo agrícola visando à recuperação da fertilidade do solo (Figura 2).Entretanto, deve-se considerar que a produtividade da cultura agrícola tende a ser reduzida pelo maior sombreamento imposto pelo componente arbóreo.

Uma vez observado o desenvolvimento adequado das árvores na ILPF, os animais são manejados no pasto a partir da adoção de um dos métodos de pastejo, lotação contínua e, ou, intermitente. Todavia, após a entrada dos animais na pastagem, deve-se observar se os mesmos não causam danos ao componente arbóreo.

Nos últimos anos tivemos grande evolução em relação ao manejo do pastejo para espécies gramíneas de clima tropical, cultivadas em monocultivo. Essa evolução resultou principalmente a partir dos estudos da estrutura das plantas pela morfogênese em associação a ecofisiologia e ecologia do pastejo.

Atualmente, dispomos de metas mais precisas no manejo dos animais em pastejo, tais como altura de pré e pós pastejo para diversas espécies forrageiras mantidas em lotação intermitente e, faixas de altura para diversas espécies mantidas em lotação contínua.

As práticas adotadas no manejo do pastejo em monocultivos devem ser seguidas para os sistemas de ILPF, porém respeitando as particularidades destes sistemas, tais como a menor taxa de crescimento das plantas forrageiras, o que refletirá na necessidade de ajuste da freqüência e intensidade de pastejo. Nesse enfoque, o que se espera em sistemas sombreados, é o aumento do período de descanso em pastos manejados por lotação intermitente e a necessidade de redução da taxa de lotação em pastos com lotação contínua.

Entretanto, estudos nesse enfoque em sistemas consorciados, como ILPF, ainda são incipientes. Acredita-se que este conhecimento possa contribuir para a melhor interpretação das interações entre as plantas associadas, bem como suas respostas aos fatores bióticos e abióticos, o que possibilitará decisões mais precisas no manejo da pastagem e dos animais em pastejo, com reflexos no maior desempenho dos animais e sustentabilidade desses agroecossistemas.

Produção e manejo de pastagens em sistemas agrossilvipastoris

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Figura 2: Retorno do cultivo agrícola na renovação de pastagem em um Sistema Agrossilvipastoril implantado a 4 anos no município de Viçosa - MG. Pastagem em estádio de degradação antes da renovação pelo sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (A); dessecação química antes da semeadura (B), semeadura direta após dessecação (C); 40 dias após a semeadura do milho e Brachiaria brizantha cv. Marandu (D); florescimento do milho 70 dias após plantio (E); milho no ponto de colheita para silagem, aos 114 dias após semeadura (F).

a b

c d

e f

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Integração lavoura-pecuária-floresta:

Page 157: Livro 2º ILPF

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1 Professor do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.3 Graduando em Agronomia do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais.

Manejo de plantas daninhas em áreas florestais

1Leonardo David Tuffi Santos2 Lino Roberto Ferreira3 Leandro Roberto da Cruz3 Matheus Caldeira Brant3 Edicarlos Batista de Castro

1 Introdução

O uso de diferentes métodos de controle das plantas daninhas é um dos fatores responsáveis pelos ganhos de produtividade e na ecoeficiência dos agroecossistemas. Esses devem ser adotados de forma combinada, sempre almejando à eficácia na operação, o baixo impacto ambiental e a redução dos custos de produção.

A interferência das plantas daninhas com as espécies florestais deve-se principalmente à competição por recursos do meio, sendo mais expressiva nos dois primeiros anos de implantação da cultura, além das dificuldades impostas na realização de tratos silviculturais e colheita. Entre as espécies daninhas consideradas problemáticas nos plantios comerciais, destacam-se aquelas da família das Gramíneas, representadas por importantes forrageiras como a Brachiaria decumbens e Panicum maximum. Estas espécies são extremamente competitivas e ocorrem com elevada freqüência devido à crescente substituição de pastagens por plantios de florestas homogêneas. Também merecem atenção plantas de difícil controle como cipós, samambaias, Cyperaceas, a própria rebrota da cultura florestal e inúmeras dicotiledôneas perenes comuns nos subosques de plantios de florestas homogêneas.

O correto manejo das plantas daninhas é fundamental visando o ótimo desenvolvimento da cultura e a máxima produtividade.

No caso das empresas florestais, onde as áreas cultivadas são geralmente extensas, a escassez de mão-de-obra, aliada à necessidade de

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atingir elevados índices de produtividade, dentro de padrões econômicos aceitáveis, tem promovido aumento da área tratada com herbicidas, principalmente com glyphosate. Apesar das tecnologias existentes e do empenho de técnicos e trabalhadores envolvidos com o manejo de plantas daninhas no setor florestal essa atividade apresenta ainda grandes problemas de ordem operacional e técnica, além dos custos elevados e do gasto excessivo de herbicidas.

Ao longo deste capítulo serão abordados os principais pontos referentes à biologia de plantas daninhas em áreas florestais, as interferências dessas plantas com as atividades, os métodos de controle e os principais problemas encontrados nas operações.

2 Fatores que influenciam o balanço da interferência entre as plantas daninhas e as espécies florestais

Os efeitos negativos observados na produtividade de uma espécie florestal, devidos à convivência com plantas daninhas, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição imposta por estas, mas resultante das pressões ambientais de ação direta (competição, alelopatia, efeitos na colheita e outras). A este efeito denominou-se “interferência”.

O grau de interferência depende do conjunto de vários fatores ligados à própria cultura (genótipo, espaçamento e densidade de plantio), à comunidade infestante (composição específica, densidade e distribuição), à época e extensão do período de convivência. Além disso, pode ser alterado pelas condições climáticas, edáficas e dos tratos culturais (PITELLI, KARAM, 1988). A complexidade dessa interação é marcante, pois os componentes e condições variam, em graus diversos, em função do tempo e de região para região.

2.1 Principais espécies de plantas daninhas encontradas em florestas plantadas

Na Tabela 1 são apresentadas algumas das principais espécies de plantas daninhas que são encontradas, com maior freqüência, em plantios florestais. É válido ressaltar que a flora infestante de determinada região pode ser totalmente distinta de outras. Em geral tem-se uma influência natural do ambiente e das ações do homem referente ao uso da terra. Isolando-se o fator ambiente encontram-se espécies daninhas diferentes em projetos florestais localizados na região do cerrado, quando comparada com a flora presente nos cultivos que sofrem influência do bioma da Mata Atlântica. O uso da terra anterior ao empreendimento florestal influencia fortemente as espécies daninhas presentes. Assim os problemas de infestação em talhões implantados em áreas de pastagens serão distintos daquelas encontradas em áreas implantadas em sucessão a cultivos agrícolas ou a vegetação nativa.

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Em algumas áreas a vegetação de subosque é formada praticamente por cipós e brotações de espécies perenes, geralmente espécies de difícil controle e com poucos estudos a respeito de sua interferência com as culturas bem como de métodos para o seu controle. Nessas situações o sombreamento imposto pelo componente arbóreo favorece a permanência de eudicotiledôneas e espécies perenes adaptadas à sucessão ecológica em ambientes sombreados, em detrimento a outras espécies como as gramíneas, que em geral necessitam de maior disponibilidade de luz por apresentarem Metabolismo Fisiológico C .4

Tabela 1: Algumas das principais espécies de plantas daninhas encontradas na silvicultura, no Brasil

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O manejo racional de plantas daninhas necessita de avanços sobre o conhecimento da biologia das espécies, sobretudo da dinâmica das comunidades infestantes em plantios florestais diante dos diferentes manejos aplicados. Estudos ligados à biologia de espécies daninhas em áreas de plantios homogêneos e integrados de essências florestais são incipientes, constituindo-se numa vasta área a ser explorada pela pesquisa.

2.2 Competição

As plantas daninhas competem por luz, água e nutrientes. A competição por luz, indubitavelmente, é uma das modalidades de interferência que provoca maior impacto sobre o crescimento de espécies arbóreas. Em algumas situações, as plantas daninhas também podem modificar a característica de crescimento das espécies florestais, promovendo estiolamento e proporcionando suporte mecânico. Esta situação permite que a planta ganhe altura rapidamente e reduza o espessamento do caule, tornando-se mais suscetível ao tombamento, quando a comunidade infestante for controlada. A competição por luz imposta pelas plantas daninhas é forte nas primeiras semanas de implantação da floresta, dado ao crescimento lento da cultura e aos espaçamentos exigidos para a obtenção de altas produtividades.

As plantas daninhas possuem grande capacidade de extrair do ambiente os elementos essenciais ao seu crescimento e desenvolvimento e, em consequência disto, exercem forte competição com as culturas pelos nutrientes essenciais, os quais quase sempre estão em quantidades inferiores às necessidades das culturas em nossos solos. Devido à grande variação em termos de recrutamento dos recursos minerais do solo apresentado pelas diferentes espécies daninhas, a competição por nutrientes depende, em alto grau, da flora presente. Quando se trata de analisar a capacidade de uma espécie daninha em competir por nutrientes, deve-se considerar, com muito maior ênfase, a quantidade extraída do que os teores que ela apresenta na massa seca.

No plantio de árvores recomenda-se a adubação localizada para facilitar a nutrição da planta frente à competição por plantas daninhas. Uma adubação coerente com a espécie cultivada e o plantio em épocas favoráveis ao crescimento da árvore são medidas fundamentais para o bom desenvolvimento do componente arbóreo.

Com o crescimento das árvores os indivíduos se tornam mais competitivos, dado ao seu porte e volume/profundidade de raízes tornando o que contribui positivamente na obtenção de recursos do ambiente.

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2.3 Alelopatia

As plantas superiores desenvolveram notável capacidade de sintetizar, acumular e secretar grande variedade de metabólitos secundários, denominados aleloquímicos, que não parecem relacionados diretamente com nenhuma função do metabolismo primário, mas provavelmente estão associados com mecanismos ou estratégias químicas de adaptação às condições ambientais e defesa das plantas. Os aleloquímicos, quando lançados no ambiente, promovem interação bioquímica entre plantas com efeitos deletérios ou benéficos sobre outro organismo, ou sobre a própria planta.

A redução no desenvolvimento inicial de mudas de eucalipto plantadas em antigas pastagens de capim-braquiária (Brachiaria decumbens e B. brizantha) tem sido reportada por vários produtores e técnicos, com especulação da ocorrência de possíveis efeitos alelopáticos dessas forrageiras sobre a cultura. Em áreas altamente infestadas, com grande quantidade de massa verde, recomenda-se um intervalo maior entre a dessecação, preparo do solo e do plantio do eucalipto. Por outro lado, o efeito alelopático de espécies como o eucalipto, pinus, acácia mangium sobre as espécies daninhas também deve ser considerado, sobretudo em cultivos já estabelecidos e quando da reimplantação da cultura após o corte raso.

3 Faixas de controle de plantas daninhas nos cultivos florestais

A distribuição das plantas daninhas na área cultivada é outro importante fator que influencia o grau de interferência entre a comunidade infestante e as espécies florestais, principalmente em relação à proximidade entre determinados indivíduos da comunidade com a planta cultivada. Em Pinus taeda a eliminação de todas as plantas daninhas num raio de 1,5 m ao redor da cultura reduziu a competição por água quando comparados ao tratamento com a presença das plantas daninhas (CARTER et al., 1984). Para a cultura do eucalipto recomenda-se faixa de 2 m (1 m de cada lado da planta) de controle para o bom desenvolvimento da cultura, quando da infestação de Brachiaria decumbens (TOLEDO, 1998; TOLEDO et al., 1996). Em Pinus taeda a eliminação de todas as plantas daninhas num raio de 1,5 m ao redor da cultura reduziu a competição por água quando comparados ao tratamento com a presença das plantas daninhas (CARTER et al., 1984).

Nos casos em que as espécies daninhas presentes são de porte baixo e nos cultivos com maior espaçamento entre as linhas de plantio, como observado em cultivos destinados a extração de madeira para serraria ou nos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, o manejo apenas na linha torna-se mais atrativo. Com a adoção desta prática além da diminuição nos custos de controle e menor impacto ambiental, pode-se aproveitar os benefícios que as plantas daninhas podem trazer para o ambiente, como: manutenção da cobertura do solo, ciclagem de nutrientes, hospedeira de

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inimigos naturais e insetos benéficos, produção de mel e pastoreio para animais domésticos. A manutenção de faixas de plantas daninhas na entrelinha da cultura pode trazer grandes benefícios no manejo integrado de pragas, como por exemplo, na constituição de alternativa de alimento para insetos desfolhadores bem como da manutenção da biodiversidade do sistema.

4 Métodos de controle de plantas daninhas utilizados em áreas florestais

4.1 Manejo Integrado de Plantas Daninhas

Sistema baseado na adoção de técnicas que promovam a redução da interferência das plantas daninhas em uma cultura até um nível no qual as perdas pela interferência sejam iguais ao incremento no custo do controle. Um bom programa de manejo de plantas daninhas pode ser resumido em três situações básicas: máxima produção no menor espaço de tempo, com máxima sustentabilidade do agroecossistema e mínimo risco para o ambiente como um todo.

O nível de controle das plantas daninhas a ser definido em uma lavoura dependerá da espécie infestante, da capacidade competitiva da cultura, do período crítico de competição, dos métodos empregados e das condições ambientais. Muitas vezes faz-se necessária a associação de dois ou mais métodos de controle para se atingir este objetivo.

Para o planejamento de uma estratégia de manejo de plantas daninhas na implantação de espécies florestais, na maioria das vezes, leva-se em consideração apenas o tipo e grau de infestação das plantas daninhas da área no momento da aplicação das medidas de controle. São escassos os estudos sobre a biologia das espécies daninhas, seu comportamento na área ou seu histórico ao longo do ciclo.

Os métodos de controle de plantas daninhas são os mais variados possíveis, porém em áreas de florestas plantadas o controle cultural, o controle mecânico e o químico são os mais utilizados.

4.2 Controle Cultural

O controle cultural consiste no uso de práticas comuns ao bom manejo da água e do solo, como rotação de culturas, variação do espaçamento da cultura, uso de cobertura verde, uso de mudas vigorosas, adubação localizada, genótipos de rápido crescimento, etc. Essas práticas contribuem para impedir o aumento de determinadas espécies daninhas. Na silvicultura a busca por espécies mais adaptadas as diferentes regiões contribui para o melhor desenvolvimento da floresta plantada em detrimento das plantas daninhas.

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4.3 Controle Mecânico

São métodos mecânicos de controle de plantas daninhas: a capina manual, a roçada e o cultivo mecanizado. A capina manual é geralmente utilizada em pequenas propriedades e/ou quando a infestação de plantas daninhas na linha de cultivo é intensa. A roçada tem sido utilizada para o manejo de plantas perenes comuns no subosque dos plantios, bem como em associação com o controle químico para o controle da rebrota e de espécies de difícil controle. O uso de cultivadores, grades ou arados na entrelinha praticamente não é usado. Por outro lado pode ser uma alternativa em cultivos consorciados como os sistemas agroflorestais, nos casos em que o revolvimento do solo ou a incorporação dos restos culturais sejam necessários.

4.4 Controle Químico

O controle químico consiste no uso de produtos químicos, os herbicidas, que em concentrações adequadas têm a finalidade de inibir o desenvolvimento ou provocar a morte de plantas daninhas.

Vantagens do uso do controle químico:

• Menor dependência da mão-de-obra, que é cada vez mais cara, difícil de ser encontrada no momento certo e na quantidade e capacitação necessária.

• Mesmo em épocas chuvosas, o controle é eficiente.

• Pode ser usado no controle de plantas daninhas na linha de plantio sem afetar o sistema radicular da cultura.

• Permite o cultivo mínimo.

• Pode controlar plantas daninhas de propagação vegetativa e gramíneas, cujo controle mecânico apresenta baixa eficiência.

Apesar dessas vantagens os herbicidas não devem ser usados como único método de controle, mas sim como uma ferramenta auxiliar no programa de manejo integrado de plantas daninhas. Para o correto uso dos produtos, necessita-se de treinamento da mão-de-obra, e observação das normas técnicas, instruções dos fabricantes e leis governamentais que regulamentam os seus usos.

4.4.1 Equipamentos utilizados na aplicação de herbicidas

Pulverizador tratorizado com barra - É o mesmo pulverizador utilizado nos cultivos agrícolas, com comprimento da barra variando de acordo com as

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condições da área. Pode ser usado em áreas planas nas operações de dessecação para o preparo da área. Existe opções de mercado com barras curtas e pontas de pulverização de longo alcance, ideais para florestas adultas e com maior densidade de árvores.

Pulverizador tratorizado com barra protegida - Apresenta redução no comprimento das barras, proteção contra deriva e afastador de saia (aplicação de herbicidas não seletivos). Pode ser usado em áreas planas e nas situações em que o porte e a projeção da saia da cultura permitem.

Pulverizador costal manual - É o principal equipamento utilizado para áreas declivosas de povoamentos florestais e em pequenas áreas. Aumenta os custos e a dependência de mão de obra.

Pulverizador carregado por animal - Neste sistema o operador pode se ocupar apenas da aplicação do produto, deixando o transporte do pulverizador para o animal. Tem maior rendimento que o pulverizador costal e permite maior proteção das plantas no caso da aplicação de herbicidas não seletivos.

5 Herbicidas utilizados nos povoamentos florestais

No Brasil existe carência de herbicidas registrados para áreas florestais, o que limita a tomada de decisão na escolha de princípios ativos para o manejo de plantas daninhas. A rotação de princípio ativo é fundamental para um bom manejo de plantas daninhas, já que permite o controle de plantas específicas, diminui a pressão de seleção e o risco de dominância de espécies tolerantes e resistentes a determinados herbicidas.

Os herbicidas registrados junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e a cultura em questão são apresentados na Tabela 2.

Frente à escassez de produtos registrados a adoção de outros métodos de controle, ou a conciliação desses é favorável ao bom manejo de plantas daninhas em áreas florestais.

Em sistemas consorciados em que pastagens e ou culturas agrícolas são cultivadas nas entrelinhas das árvores as opções de herbicidas a serem usados dependerá das culturas conviventes com o componente florestal. Ressalta-se, porém, o risco de intoxicação da espécie arbórea no caso de produtos não seletivos aplicados no componente agrícola ou na forragem. No caso de produtos não seletivos as espécies arbóreas deve-se atentar para aplicações dirigidas e com equipamentos apropriados para evitar o contato indesejado com as árvores.

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Tabela 2: Relação de herbicidas registrados no Ministério da Agricultura para utilização em áreas de floresta plantada de acordo com a espécie implantadaFonte: AGROFIT (consulta realizada em abril de 2012).

5.1 Herbicida glyphosate

O ghyphosate é o herbicida mais usado nas áreas florestais. Se destaca por exercer efetivo controle sobre um grande número de espécies daninhas. É um herbicida sistêmico, não seletivo e altamente solúvel em água. Possui baixa toxicidade aos mamíferos, à vida aquática e é rapidamente inativado no solo. No cultivo mínimo ou no preparo convencional, pode ser aplicado em área total antes do plantio para limpeza da área. Também é usado após o plantio, em pós-emergência das plantas daninhas, em faixas ou nas entrelinhas, porém em aplicação dirigida.

Dependendo da formulação utilizada, é necessário um período mínimo de trinta minutos a seis horas sem chuva após a aplicação para evitar a

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perda de ação do produto por lavagem. A planta precisa estar em boas condições fisiológicas para absorver e translocar o produto.

Em aplicações dirigidas de produtos não-seletivos, como no caso do glyphosate, a própria cultura pode ser afetada por diferentes formas de contato, o que pode ocasionar intoxicação, redução no crescimento e até a morte das plantas (TUFFI SANTOS et al., 2005; 2007).

Várias formulações a base de glyphosate são registradas para o uso florestal, sendo este o princípio ativo mais usado no setor. Tal fato pode ser atribuído ao efetivo controle sobre um grande número de espécies e ao baixo custo, quando comparado a outros herbicidas. Apesar da baixa volatilidade do glyphosate e de sua característica de produto sistêmico, que permite o uso de pontas de pulverização que produzam gotas grossas, é comum ocorrer o contato indesejado desse herbicida com as árvores. Dentre as formas de contato do glyphosate com plantas de eucalipto podemos citar:

1 - Aplicação da calda com herbicida diretamente sobre os ramos;

2 - Contado com gotas arrastadas pelo vento (deriva);

3 - Contato com plantas daninhas recém tratadas;

4 - Exsudação radicular do glyphosate por plantas daninhas tratadas e subsequente absorção do produto pelas raízes do eucalipto;

5 - Contato com o produto acumulado na calça do EPI do aplicador.

6 Considerações Finais

A interferência de plantas daninhas tem sido um dos grandes problemas na implantação e manutenção em florestas homogêneas com altos custos operacionais, demanda de mão-de-obra especializada e alto potencial de impacto ambiental, o que justifica a preocupação com seu manejo.

É fundamental que os estudos sobre matocompetição se intensifiquem e ultrapassem os limites dos Centros de Pesquisa e Universidades, sendo executados pelas empresas florestais que objetivam informações adequadas ao seu ambiente específico e para as diferentes espécies florestais de interesse econômico e ambiental.

O cultivo de grãos e pastagens em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, com entrada de animais nas áreas por períodos variáveis, tem proporcionado vantagens para o manejo integrado de plantas daninhas. Nesse sentido destaca-se a rotação de métodos de controle e de principio ativo herbicida, a ocupação de nichos ecológicos por espécies de interesse e redução da competição devido ao pastejo.

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Manejo de plantas daninhas em áreas florestais

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Plantio direto na palha: controle de plantasdaninhas e calibração de pulverizadores

1Abner José de Carvalho1Ignacio Aspiazú

1 Introdução

O sistema de plantio direto (SPD) foi introduzido no Brasil no início dos anos 70, na Região Sul. Apesar do crescimento inicial pouco expressivo, a partir da década de 1990 ocorreu grande expansão da adoção deste sistema de cultivo no Brasil, difundindo-se praticamente por todas as regiões do País, especialmente para a Região dos Cerrados. Atualmente a área mundial ocupada pelo SPD é de cerca de 117 milhões de hectares. Os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil são os três países com maior área cultivada com SPD no planeta. No Brasil são cultivados cerca de 25,5 milhões de hectares sob plantio direto (FAO, 2012), o que representa cerca de 50% dos mais de 52 milhões de hectares cultivados com culturas anuais no País na safra 2011/2012 (CONAB, 2012).

O não revolvimento do solo e o acúmulo progressivo de restos culturais, a gama de espécies de plantas utilizadas na rotação de culturas, a maior conservação de umidade do solo, o aumento no teor de matéria orgânica, entre outros aspectos, fazem com que áreas sob plantio direto apresentem algumas características próprias que, portanto, exigem um manejo diferenciado em relação à fertilidade do solo, ao manejo de pragas, doenças e de plantas daninhas.

No plantio direto, com uso de herbicidas sistêmicos usados como dessecantes em pré-plantio, aliado ao não revolvimento do solo, têm-se observado excelentes resultados no manejo de plantas daninhas com propagação vegetativa. Além disso, a barreira criada pela cobertura morta proporcionada pela palhada, aliada ao rápido crescimento inicial da maioria das culturas anuais, como é o caso do milho, do feijão e da soja, criam uma vantagem competitiva em favor das espécies cultivadas e em detrimento das plantas daninhas. Desta forma, desde que seja corretamente planejado e executado, o manejo das plantas daninhas em SPD pode ser mais eficiente, racional e econômico, possibilitando o uso de menores doses de herbicidas sem que haja prejuízos à eficiência de controle e gerando menor impacto ao

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1 Professor do Departamento de Fitotecnica da Universidade Estadual de Montes Claros [email protected]

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ambiente, menor custo de produção e maior rentabilidade das culturas.

2 Princípios básicos do plantio direto

Iniciado e difundido mais como medida de controle à erosão do que como um sistema de cultivo propriamente dito, o SPD foi implantado sem que houvesse informações básicas capazes de orientar os componentes envolvidos no sistema, principalmente no que se refere aos princípios básicos do sistema de cultivo. Assim, a simples ausência de revolvimento do solo na fase de pré-plantio de culturas anuais era, e, muitos casos, ainda é, interpretada como uma ação de adoção ao plantio direto.

Com a evolução e difusão do SPD, que passou a ser cada vez mais utilizado pelos produtores, ficou claro que para se pudesse realmente alcançar os seus objetivos e benefícios, aliando boa produtividade com sustentabilidade, era preciso entendê-lo como um sistema de manejo planejado e executado a longo prazo, e não como um simples modo de preparo de solo em que o mesmo não é revolvido. Desta maneira, foram estabelecidos três princípios básicos para a correta adoção do SPD: o revolvimento mínimo do solo, apenas no sulco de plantio onde as sementes são depositadas; a rotação de culturas; e a manutenção de resíduos orgânicos sobre o solo, seja através de restos culturais ou pelo cultivo de plantas para formação de palhada.

De fato, o não atendimento aos requisitos básicos do SPD é um dos principais entraves para uma adoção deste sistema de cultivo pelos agricultores brasileiros. O revolvimento do solo apenas no sulco de plantio possibilita o contato das sementes com o solo para promover a germinação, sem causar a desestruturação e compactação subsuperficial ocasionadas pelas operações de aração e gradagem realizadas no plantio convencional. Desta forma, o SPD contribui para conservação do solo, reduzindo sobremaneira as perdas de solo e água nos sistemas de produção agrícolas.

A rotação de culturas consiste em alternar espécies vegetais no correr do tempo, numa mesma área agrícola, amenizando os problemas fitossanitários nas espécies destinadas à produção de grãos. As espécies escolhidas devem ter propósito comercial e de manutenção ou recuperação do meio-ambiente. Para a obtenção de máxima eficiência da capacidade produtiva do solo, o planejamento de rotação deve considerar, além das espécies comerciais, aquelas destinadas à cobertura do solo, que produzam grandes quantidades de biomassa, cultivadas quer em monocultivo ou em consórcio com culturas comerciais. Assim, a seleção de espécies para compor um esquema de rotação de culturas deve basear-se na diversidade botânica. Plantas com diferentes sistemas radiculares, hábitos de crescimento e exigências nutricionais podem ter efeito na interrupção dos ciclos de pragas e doenças, na redução de custos e no aumento do rendimento das culturas (EMBRAPA, 2011).

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De acordo com Denardin (2012), dos 25,5 milhões de hectares cultivados em SPD no Brasil, menos de 10,4 milhões correspondem à premissa preconizada pelo Sistema Plantio Direto, que é a diversificação de culturas com, pelo menos, dois cultivos por ano. Ainda de acordo com o pesquisador, entre os produtores predomina o enfoque à Semeadura Direta, por inúmeras razões, tanto de natureza técnica, pertinentes à geração, difusão, transferência e apropriação de conhecimentos e de tecnologias prontas para uso, como de ordem social e econômica, relativas ao grau de instrução do produtor rural, à estrutura fundiária dominante com problemas de escala de produção, ao mercado de grãos centrado em soja e milho que inibe a diversificação de espécies cultivadas, dentro outros aspectos. Desta maneira, a não utilização do SPD dentro das suas premissas básicas está comprometendo esta técnica como ferramenta da agricultura conservacionista com potencial para imprimir sustentabilidade ao campo.

A cobertura vegetal também tem papel importantíssimo em áreas sob SPD, que pressupõe a cobertura permanente do solo, seja pelos restos da cultura antecessora ou por culturas de cobertura do solo. É importante observar que a palhada para plantio direto deve ser produzida com qualidade e em quantidade adequada para promover boa proteção ao solo. De acordo com

-1Alvarenga et al. (2001) são necessários cerca de 6 t ha para uma boa cobertura do solo para o plantio direto.

Espécies produtoras de grande quantidade de palha e raiz, além de favorecer o sistema de semeadura direta, a reciclagem de nutrientes e estabelecer o aumento da proteção do solo contra a ação dos agentes climáticos, promove a melhoria do solo nos seus atributos físicos e biológicos. Esta cobertura deverá resultar do cultivo de espécies que disponham de certos atributos como: grande produção de massa seca, elevada taxa de crescimento, tolerância à seca e ao frio, a não infestação de áreas, fácil manejo, sistema radicular vigoroso e profundo, elevada capacidade de reciclagem de nutrientes, fácil produção de sementes, elevada relação C/N, entre outros. Além disso, a diversificação da cobertura vegetal constitui-se em processo auxiliar no controle de plantas daninhas, principalmente nos primeiros anos de implantação da semeadura direta (EMBRAPA, 2011).

3 Fatores limitantes ao plantio direto

De acordo com Landers (2005), a maioria das limitações à expansão do sistema de plantio direto não é técnica, e sim organizacional e política. O autor destaca como principais fatores limitantes ao plantio direto: persistência da monocultura; maior predisposição a doenças e pragas e incremento em certas plantas daninhas; compactação do solo; retaguarda da pesquisa; disponibilidade de assistência técnica; desconhecimento pela sociedade e ambientalistas dos benefícios do SPD; disponibilidade inadequada de

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sementes de plantas de coberturas; e o abandono do SPD pela adoção apressada da nova tecnologia do SPD, sem o devido embasamento. O autor destaca ainda, que devido às condições edafoclimáticas, na região do cerrado brasileiro, de clima tropical, a adoção do plantio direto encontra dificuldades adicionais às encontradas na Região Sul do País, de clima subtropical (Tabela 1).

Tabela 1: Diferenças edafoclimáticas das regiões tropical (cerrado) e subtropical (Região Sul) do Brasil e sua influência na adoção do plantio direto.

Fonte: Landers (2005).

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Tropical (cerrado) Subtropical (Região Sul)

Chuvas de inverno não sustentam culturas rentáveis

Chuva de inverno permite culturas econômicas

Geadas ausentes ou esporádicas, apenas no inverno, são insuficientes para

controlar inços de verão

Controle significativo de inços de verão por geada em

inverno

Maiores temperaturas de verão oxidam resíduos mais rápido

Menores temperaturas de verão ajudam a conservar os

resíduos

Apenas 7% de solos eutróficos no Cerrado e Amazônia, portanto alta dependência em adubos e calcário (muito caro na Amazônia)

Incidência significativa de solos eutróficos, com menor

demanda de adubo

Solos em geral altamente erodíveis, porém com topografia

suave

Solos mais argilosos, mais resistentes à erosão, porém de

topografia mais acidentada

No Nordeste as regiões semi-áridas ainda nãotem iniciado o PD em função das grande limitantes

agronômicas, do baixo índice pluviométrico,altas temperatura e uso generalizado da

palhada para animais fora da época das culturas

O regime pluviométricopermite alta geração de palha,parte da qual pode ser utilizada

para animais semprejudicar a cobertura do solo

No Cerrado e parte da Amazônia o custo de transporte é

muito caro

Áreas produtivas perto de portos e mercados

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4 Instalação do sistema de plantio direto

Por possuir características bastante distintas, como o não revolvimento do solo por longo período, a necessidade de se manter boa cobertura vegetal sobre o solo e de se adotar um esquema de rotação de culturas eficiente, a implementação do sistema de plantio precisa ser feito com base em alguns cuidados e critérios importantes. Entre os principais cuidados a serem observados para a adoção do SPD podemos destacar a necessidade de utilização de implementos e equipamentos apropriados para o SPD, como pulverizadores e semeadoras; necessidade de utilização de mão-de-obra qualificada; eliminação de camadas compactadas do solo antes da implantação; drenagem e nivelamento do solo; correção da acidez e fertilidade do solo; necessidade de compensação dos nutrientes imobilizados pelos microrganismos responsáveis pela decomposição da palhada; necessidade de boa disponibilidade cobertura vegetal; alternância de herbicidas utilizados na dessecação e em pós-emergência.

Landers (2005) destaca como pré-condições o SPD, a motivação dos produtores para mudanças fundamentais; começar com pequena proporção da área da fazenda; correção química do solo; correção das limitações físicas do Solo; eliminação de inços difíceis; plantadeira adequada para plantio direto e pulverizador totalmente revisado; assistência técnica, treinamento e capacitação do pessoal envolvido; readequação de estradas, com a instalação de bacias de sedimentação; plano de adoção plurianual; consciência de que os ganhos a longo prazo são mais significativos que os imediatos.

5 Principais benefícios proporcionados pelo plantio direto

O plantio direto transformou a forma de se fazer agricultura nos países tropicais. È consenso entre os pesquisadores e produtores que trabalham com o SPD que este sistema de cultivo traz uma série de benefícios em relação ao sistema de preparo convencional do solo. Entre os principais benefícios proporcionados pelo SPD, podemos destacar o menor impacto ambiental proporcionado pela maior conservação do solo e da água; o aumento do teor de matéria orgânica no solo; a maior atividade dos organismos vivos do solo; a maior ciclagem de nutrientes; a redução da erosão e do escoamento superficial; a proteção do solo contra os efeitos nocivos dos raios solares; a maior conservação da umidade do solo; a redução da temperatura e da amplitude térmica do solo; a maior eficiência no controle de plantas daninhas; a maior eficiência energética, proporcionada pela menor utilização de tratores e máquinas por ocasião do preparo do solo em pré-plantio; e a redução do custo de produção.

De acordo com Denardin (2012), os maiores e mais relevantes benefícios resultantes da implementação do Plantio Direto no Brasil estão relacionados à redução da intensidade da erosão hídrica, à redução dos custos de produção e à otimização do tempo dedicado às atividades do

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estabelecimento rural. Lavouras conduzidas sob o Plantio Direto apresentam custeio inferior e rendimento de grãos superior ou equivalente àquelas conduzidas sob preparo convencional ou preparo reduzido. A redução de mão-de-obra, do consumo de combustível, de hora-máquina e do custo de manutenção e de depreciação de máquinas e implementos agrícolas tem sido reconhecida como o principal componente alavancador da expansão do Plantio Direto. Além de auxiliar o agricultor, o Plantio Direto reduz as perdas por erosão, melhora a qualidade do solo e da água, contribui para elevar o seqüestro de carbono da atmosfera no solo, assim como a redução das perdas de nutrientes e melhoria da fertilidade biológica, física e química do solo.

Huggins e Reganold (2008) afirmaram que o plantio direto requer de 50% a 80% menos combustível e de 30% a 50% menos mão-de-obra que a agricultura com aração convencional, diminuindo significativamente os custos de produção por hectare. Apesar de o equipamento para a semeadura de plantio direto ser caro, com algumas semeadoras chegando a custar mais de US$ 100 mil, essa técnica dispensa a utilização e manutenção de outros equipamentos na lavoura, diminuindo em até 50% o capital total e os custos de operação do maquinário necessário para a realização da colheita. Com essas economias, em tempo e dinheiro, os agricultores podem ser mais competitivos em escalas menores, ou podem expandir e cultivar mais hectares, às vezes chegando a duplicar o tamanho da lavoura, empregando o mesmo equipamento e a mesma mão-de-obra.

A redução de perdas de água e de solo em sistemas de plantio direto também são significativas. Oliveira et al. (2002) verificaram em solos de igual declividade, que o SPD reduz em cerca de 75% as perdas de solo e em 20% as perdas de água, em relação às áreas onde há revolvimento do solo.

A maior eficiência no controle de plantas daninhas, principalmente quando há reprodução por propagação vegetativa, merece destaque entre os principais benefícios do SPD. Jakelaitis et al. (2003) verificaram que num prazo de dois anos é possível obter redução nos níveis populacionais de plantas daninhas consideradas problema, como a tiririca, a favor do plantio direto, em relação ao plantio convencional, da ordem de 90 a 95%, sendo que em três anos a redução no banco de tubérculos no solo pode chegar a mais de 90% .

Os maiores benefícios do sistema de plantio direto no manejo de plantas daninhas são obtidos devido à integração do controle químico proporcionado pelo uso do herbicida sistêmico para dessecação da vegetação em pré-plantio, ao controle cultural exercido pela falta de revolvimento do solo e consequente ausência de fragmentação das estruturas vegetativas de algumas plantas daninhas e à adoção de culturas altamente competitivas, principalmente por luminosidade, como as culturas do milho, do feijão e da soja. Dessa forma, os níveis populacionais da tiririca podem ser diminuídos, principalmente no período de desenvolvimento das culturas sensíveis à interferência das plantas daninhas, ou seja, aproximadamente 45 dias após a emergência, a ponto de não acarretar reduções de produção das culturas

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infestadas. Além disso, a capacidade de brotação dos tubérculos de tiririca coletados sob o solo no sistema integrado é diminuída com o passar do tempo, permanecendo dormentes.

5.1 Manejo integrado de plantas daninhas

Segundo Silva et al. (2007), a maneira integrada de cultivo que considera todos os fatores que podem proporcionar à planta maior e melhor produção permite o aproveitamento eficiente dos recursos do meio. Dentro desse contexto se insere também o manejo integrado das plantas daninhas (MIPD). As premissas que alicerçaram a proposta de manejo integrado podem ser bem sintetizadas em: garantia de qualidade do produto colhido, incluindo a isenção de resíduos de defensivos nos alimentos; sustentabilidade ambiental, incluindo a não-degradação do solo e contaminação do ar e da água; sustentabilidade econômica e social na produção, mantendo ou aumentando a produtividade; e garantia de melhor qualidade de vida para o agricultor no que tange ao retorno econômico e à maior segurança nas atividades que envolvam a utilização de defensivos agrícolas.

As estratégias para o manejo integrado em diferentes espécies vegetais daninhas podem ser divididas como de curto ou de longo prazo. Medidas como utilização da capina ou emprego direto de herbicidas (controle químico) podem ser considerados como de curta duração, sendo responsáveis por controle apenas temporário, havendo necessidade de novas aplicações a cada estação de cultivo. Em se tratando das medidas consideradas de longo prazo, o emprego das práticas culturais e controle por outros agentes biológicos, tem caráter permanentes e levam em conta mudanças mais pronunciadas nas diferentes práticas agronômicas. Disso resulta o manejo integrado devendo integrar a prevenção e outros métodos de controle que promovam controle a curto (métodos mecânicos e químicos) e a médio e longo prazos (métodos cultural e biológico).

5.2 Controle preventivo

De acordo com Silva et al. (2007), o controle preventivo de plantas daninhas consiste no uso de práticas que visam prevenir a introdução, o estabelecimento e, ou, a disseminação de determinadas espécies-problema em áreas ainda por elas não infestadas. Estas áreas podem ser um país, um estado, um município ou uma gleba de terra na propriedade.

Em níveis federal e estadual, há legislações que regulamentam a entrada de sementes no país ou estado e sua comercialização interna. Nestas legislações encontram-se os limites toleráveis de semente de cada espécie de planta daninha e também a lista de sementes proibidas por cultura ou grupo de culturas.

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Em nível local, é de responsabilidade de cada agricultor ou cooperativas, prevenir a entrada e disseminação de uma ou mais espécies daninhas, que poderão se transformar em sérios problemas para a região. Em síntese, o elemento humano é a chave do controle preventivo. A ocupação eficiente do espaço do agroecossistema pela cultura diminui a disponibilidade de fatores adequados ao crescimento e desenvolvimento das plantas daninhas, podendo ser considerado uma integração entre a prevenção e o método cultural.

As medidas que podem evitar a introdução da espécie são: utilizar sementes de elevada pureza; limpar cuidadosamente máquinas, e implementos; inspecionar cuidadosamente mudas adquiridas com torrão e também toda a matéria orgânica (esterco e composto) proveniente de outras áreas; limpeza de canais de irrigação; quarentena de animais introduzidos.

A falta desses cuidados tem causado ampla disseminação das mais diversas espécies. Como exemplo, tem-se a tiririca (Cyperus rotundus), que possui sementes muito pequenas e tubérculos que infestam novas áreas com grande facilidade, por meio de estercos, mudas com torrão, etc., o picão-preto (Bidens pilosa) e o capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), além de outras espécies, se espalham por novas áreas por meio de roupas e sapatos dos operadores, pêlos de animais, etc. Já o capim-arroz (Echinochloa sp.) e o arroz-vermelho (Oryza sativa) são distribuídos junto com as sementes de arroz.

5.3 Controle cultural

Segundo Silva et al. (2007), o controle cultural consiste no uso de práticas comuns ao bom manejo da água e do solo, como rotação de culturas, variação do espaçamento da cultura, uso de coberturas verdes etc. Essas práticas contribuem para reduzir o banco de sementes de espécies daninhas. Consiste, então, em usar as próprias características ecológicas das culturas e das plantas daninhas, visando beneficiar o estabelecimento e desenvolvimento das culturas. A seguir são destacadas as principais estratégias de controle cultural:

• Rotação de culturas: cada cultura agrícola geralmente é infestada por espécies daninhas que possuem exigências semelhantes às da cultura ou apresentam os mesmos hábitos de crescimento; exemplos: capim-arroz (Echinochloa sp.), em lavouras de arroz; apaga-fogo (Alternanthera tenella), em lavouras de milho; mostarda, em lavouras de trigo; e caruru-rasteiro (Amarantus deflexus), em cana-de-açúcar. Alguns problemas que podem ser facilmente resolvidos com a prática da rotação: infestação de maria-pretinha (Solanum americanum) e joá-de-capote (Nicandra physaloides) nas culturas de tomate e batata tratadas com o herbicida metribuzim. Em todos esses casos, a rotação quebra o ciclo de vida das espécies daninhas, impedindo seu domínio na área. Quando são aplicadas as mesmas técnicas culturais

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seguidamente, ano após ano, no mesmo solo, a interferência destas plantas daninhas aumenta muito. Quando o principal objetivo é o controle de plantas daninhas, a escolha da cultura em rotação deve recair sobre plantas com hábito de crescimento e características culturais bem contrastantes.

• Variação do espaçamento: a variação do espaçamento entre linhas ou da densidade de plantas na linha pode contribuir para a redução da interferência das plantas daninhas sobre a cultura, dependendo da arquitetura das plantas cultivadas e das espécies infestantes. A redução entre linhas geralmente proporciona vantagem competitiva à maioria das culturas sobre as plantas daninhas sensíveis ao sombreamento. Nesse caso, com a redução do espaçamento entre fileiras, desde que não exceda o limite mínimo, há aumento da interceptação de luz pelo dossel das plantas cultivadas. Esse efeito é dependente de fatores como o tipo da espécie a ser cultivada, características morfofisiológicas dos genótipos, espécies de plantas daninhas presentes na área e época e condições climáticas no momento de sua emergência, além das condições ambientais. Balbinot Jr. e Fleck (2005), trabalhando com cultivares de milho, verificaram que à medida que o espaçamento entre fileiras foi reduzido, o aumento em produtividade foi dependente da infestação de plantas daninhas e da cultivar avaliada.

• Coberturas verdes: as coberturas verdes são culturas geralmente muito competitivas com as plantas daninhas. Tremoço, ervilhaca, azevém anual, nabo, aveia e centeio são usadas na região Sul do Brasil. Nas regiões subtropicais predominam mucuna-preta, crotalárias, guandu, feijão-de-porco e lab-labe. O principal efeito é a redução do banco de sementes aliado à melhoria das condições físico-químicas do solo; entretanto, estas plantas podem possuir também poder inibitório sobre outras e podem reduzir as infestações de algumas espécies daninhas após a dessecação ou serem incorporadas ao solo, devendo ser bem escolhidas para cada caso. A presença da cobertura morta cria condições para instalação de uma densa e diversificada microbiota no solo, principalmente na camada superficial com elevada quantidade de microrganismos responsáveis pela eliminação de sementes dormentes por meio da deterioração e perda da viabilidade.

• Adubação equilibrada: plantas bem nutridas são mais competitivas. A cultura deve receber todos os nutrientes essenciais em níveis adequados, de modo a permitir um rápido crescimento e fechamento da área. Dessa forma, diminui a quantidade de radiação fotossinteticamente ativa que atinge o solo e, consequentemente, diminui a emergência de plantas daninhas.

5.4 Controle químico

Segundo Oliveira Jr. et al. (2006), as estratégias mais comuns utilizadas no manejo tanto das culturas de cobertura quanto da vegetação infestante nas áreas de plantio direto resumem-se a três: a dessecação imediatamente antes da semeadura, entre sete e dez dias antes da semeadura

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ou a dessecação antecipada. Esses autores realizaram um trabalho que objetivou avaliar a interação entre sistemas de manejo e de controle de plantas daninhas em pós-emergência na cultura da soja com essas três estratégias. Concluíram que, embora a dessecação nos diferentes sistemas de manejo tenha sido eficiente, a antecipação da dessecação no manejo antecipado favoreceu a emergência e o desenvolvimento inicial da soja, proporcionando maiores ganhos de produtividade, nas condições de infestação apresentadas. O sistema de manejo afetou também o fluxo de emergência das plantas daninhas após a emergência da soja, com menos reinfestações no sistema de manejo antecipado, em função do controle dos fluxos iniciais proporcionado pela segunda aplicação deste sistema de manejo. O manejo realizado na data da semeadura e dez dias antes prejudicou o desenvolvimento da soja, resultando em menor produtividade, enquanto o manejo antecipado proporcionou maior produtividade da soja.

Procópio et al. (2006), realizaram trabalho no qual compararam os efeitos de sistemas de manejo no controle das plantas daninhas Digitaria insularis, Synedrellopsis grisebachii e Leptochloa filiformis, antes da semeadura direta de soja. Os autores verificaram controle satisfatório e impedimento de rebrota de D. insularis e L. filiformis quando o glyphosate foi aplicado cinco dias antes da semeadura da soja ou quando foi realizada aplicação sequencial de glyphosate e paraquat + diuron. Aplicações sequenciais da mistura paraquat + diuron não foram eficientes no controle e no impedimento da rebrota de D. insularis e L. filiformis e a planta daninha S. grisebachii mostrou-se tolerante ao glyphosate.

A utilização de um herbicida não residual como o glyphosate falha por não controlar plantas daninhas emergidas após a aplicação, e que acabam por produzir sementes que podem facilmente realimentar bancos de sementes (PURICELLI; TUESCA, 2005). Misturar um herbicida residual com o glyphosate pode ser um manejo de controle consistente das daninhas na medida em que vão germinando e promove atividade de longo prazo que controla as que emergirem tardiamente. O efeito da aplicação exclusiva de glyphosate e glyphosate em combinação com herbicidas residuais na densidade de espécies e composição florística de plantas daninhas em culturas de verão foi estudada ao longo de dois anos (TUESCA; PURICELLI, 2007). Os experimentos consistiram de três rotações, incluindo soja e milho resistentes ao glyphosate em dois sistemas de plantio. Os autores verificaram que, independentemente do sistema de plantio, tanto a aplicação do glyphosate isolado e em combinação com herbicidas residuais tiveram um enorme impacto sobre a redução na densidade e riqueza de plantas daninhas herbáceas anuais, mas o efeito foi maior com glyphosate em combinação com herbicidas residuais.

É importante lembrar, porém, que essa dependência do herbicida pode acabar tornando a atividade menos viável economicamente e, principalmente, aumentar o potencial de aparecimento de plantas daninhas

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resistentes a determinados princípios ativos (RAMSDALE et al, 2006). Deve-se procurar sempre a integração dos métodos de controle, de modo a minimizar o uso de moléculas que, se mal utilizadas, podem ser prejudiciais tanto ao ambiente quanto ao aplicador.

6 Experiências aplicadas ao sistema de plantio direto

O sucesso da implementação do sistema de plantio direto numa área vai depender de herbicidas que estejam disponíveis e sejam eficientes na dessecação e manejo e também após a implantação da cultura. A dessecação antes da adoção deste sistema é crucial para que as culturas se desenvolvam plenamente. Eliminar as plantas daninhas antes do plantio permite que a cultura se desenvolva e cresça rápida e vigorosamente (ALMEIDA, 1991).

A grande variedade de herbicidas disponíveis tem sido fundamental para o desenvolvimento bem sucedido e ampla adoção deste tipo de sistemas, mais simples, mais econômicos e que conservam melhor o solo (LYON et al., 1996). Segundo Silva et al. (2007), a escolha do método de controle das diversas espécies de plantas daninhas presentes na área de interesse deve levar em conta as condições locais de mão-de-obra e de equipamentos, sem se esquecer dos aspectos ambientais e econômicos.

Algumas espécies como a tiririca (Cyperus rotundus) em condições tropicais, têm rápida infestação em grande parte dos solos agrícolas. Áreas com alta incidência de tiririca podem se tornar desvalorizadas, devido ao elevado custo para o seu controle. Entretanto, tem se obtido excelentes resultados no manejo da tiririca na cultura do milho e do feijão pela adoção do sistema de plantio direto e conhecimentos da biologia das espécies envolvidas. Feijão e milho promovem rápida cobertura do solo exercendo forte sombreamento nas plantas de tiririca que, por possuírem metabolismo “C ”, 4

são exigentes em luz, portanto têm diminuída a capacidade competitiva. Dessa forma, com a adoção do sistema de plantio direto utilizando herbicidas sistêmicos para dessecação, aplicados no momento correto, aliado ao controle cultural, consegue-se ótimo manejo integrado da tiririca, transformando esta espécie daninha extremamente problemática em uma espécie comum.

Na área de biotecnologia estão sendo conduzidas pesquisas, visando o melhoramento de culturas para resistência a herbicidas, por exemplo a criação de cultivares de soja resistentes ao glyphosate; de milho, ao imazaquin; de arroz, ao amônio-glufosinato. No entanto, não há dúvidas de que o extremo dessa tecnologia está no lançamento de cultivares de milho e soja resistentes ao glyphosate e a todo o grupo de herbicidas inibidores da ALS, ou seja, praticamente todos os produtos desse gênero aplicados nessas culturas. O impacto dessa informação ainda não foi avaliado pela maioria dos pesquisadores brasileiros. A possibilidade de cultivar milho e soja sem qualquer interferência de plantas infestantes atrai o agricultor brasileiro, no que

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se refere ao aspecto econômico, haja vista que os danos resultantes da competição podem chegar ao extremo de perda total da produção. Em contrapartida, a utilização incorreta dessa tecnologia poderá, em poucos anos de cultivo, selecionar espécies de plantas daninhas com tolerância e algumas com resistência à maioria dos herbicidas, ou ainda, como consequência muito mais negativa, causar a eliminação de várias espécies vegetais, devido ao controle da quase totalidade das espécies vegetais das áreas de plantio. Esses, no entanto, seriam os efeitos negativos diretos da utilização dos herbicidas. Enfocando a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, o cultivo de espécies geneticamente modificadas resistentes a herbicidas seria, em outras palavras, o monocultivo absoluto, a máxima redução da biodiversidade vegetal em uma área.

É importante lembrar que esse enfoque negativo é facilmente contestável quando, associado a esses cultivos, promove-se o MIPD. Daí a importância da pesquisa na área de estudo referente aos impactos da utilização de transgênicos na agricultura, pois toda e qualquer técnica de manejo de plantas daninhas somente terá sucesso se for aplicada com base em conhecimentos detalhados da biologia e ecologia das plantas infestantes da área, envolvendo, principalmente, conhecimentos nas áreas de morfologia, fisiologia e ciclagem de nutrientes.

O controle de plantas daninhas, da maneira como está sendo implementado na maior parte do território nacional, tem sido uma atividade predatória no que se refere à sustentabilidade do sistema. Com as novas tecnologias, se o MIPD não for adotado urgentemente, esse fato tende a se agravar, pois em regiões tropicais e subtropicais a degradação do solo é mais intensa, devido às condições climáticas favoráveis aos vários tipos de erosão. Esse fato, aliado à ideia de eliminar quase todas as espécies de daninhas competidoras a ponto de deixar o solo descoberto, terá consequências negativas para a agricultura brasileira, sendo praticamente impossível sua recuperação nos sistemas convencionais de manejo adotados.

É fundamental que se conheça a capacidade da espécie infestante, em relação à cultura, de competir por água, luz e nutrientes, que são os fatores responsáveis pela redução da produtividade. Além disso, não se pode desprezar a capacidade que determinadas espécies daninhas têm de dificultar ou impedir a colheita, reduzir a qualidade do produto a ser colhido e hospedar pragas e vetores de doenças e de inimigos naturais. Por outro lado, torna-se necessário conhecer quais os tipos de relacionamentos entre plantas cultivadas e infestantes permitem sua convivência passiva. Nesse sentido, é fator determinante também no MIPD conhecer a densidade e a distribuição das plantas daninhas na área, bem como o momento da emergência dessas em relação à cultura. Normalmente, plantas daninhas que emergem após o solo já estar coberto pela cultura não causarão dano econômico para o agricultor durante o desenvolvimento da espécie cultivada. Todavia, algumas espécies, mesmo germinando após esse período em algumas culturas, podem

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inviabilizar a colheita ou depreciar o produto colhido. Além disso, caso não sejam observadas as características positivas e negativas das plantas infestantes, até mesmo uma tecnologia de última geração, como os cultivares geneticamente modificados resistentes a herbicidas, se usados de modo irresponsável, pode comprometer seriamente a sustentabilidade da agricultura.

Deve-se ressaltar que no MIPD o herbicida é considerado apenas uma ferramenta a mais na obtenção do controle que seja eficiente e econômico, preservando a qualidade do produto colhido, o meio ambiente e a saúde do homem. Para isso é necessário associar os diversos métodos de controle disponíveis (preventivo, mecânico, físico, cultural, biológico e químico), levando-se em consideração as espécies daninhas infestantes, o tipo de solo, a topografia da área, os equipamentos disponíveis na propriedade, as condições ambientais e o nível cultural do proprietário.

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Referências

ALMEIDA, F.S. Controle de plantas daninhas em plantio direto. Londrina: IAPAR, 1991.34p. (IAPAR Circular, 67).

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Plantio direto na palha: controle de plantas daninhas e calibração de pulverizadores

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Produção de mogno africano(Khaya ivorensis) no cerrado

1João Emilio Duarte Matias

1 Introdução

O mogno africano (Khaya ivorensis), também conhecido como “ouro verde” foi introduzido no Brasil, por um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) localizada em Belém no Pará em1976. Devido à exploração predatória de árvores nativas, o mogno começou a ser produzido no país em 1989 como uma alternativa para o fornecimento de madeira nobre, provenientes de reflorestamento, para as indústrias moveleiras.

A madeira possui uma coloração castanho-avermelhada de elevada durabilidade, além de se parecer muito com o mogno nativo. Ela possui peso de densidade satisfatório para a fabricação de móveis de luxo, acabamento de interiores, construção civil e naval, instrumentos musicais, entre outros (MATHIAS; CARVALHO, 2010).

Seu alto valor comercial, cerca de mais de R$ 2,3 mil por metro cúbico de madeira, e uma média de 300 a 500 metros cúbicos por hectare; crescimento rápido e resistência maior às pragas, fazem do mogno africano uma cultura que desperta o interesse de produtores rurais brasileiros.

Outra vantagem da utilização do mogno é a possibilidade de consorciar a floresta a outras atividades rurais que sejam do interesse do produtor, como a pecuária ou cultivos agrícolas.

Baseado nas projeções de mercado nacionais e internacionais, a Fazenda Atlântica Agropecuária LTDA, localizada em Pirapora-MG, implantará 500 hectares até o final de 2012, com o Khaya ivorensis, destinados á produção de madeiras nobres. Neste capítulo apresentamos as experiências práticas adquiridas com a cultura de modo a auxiliar produtores e técnicos na implantação e manejo do mogno africano.

Produção de mogno africano (Khaya ivorensis) no cerrado

1 Engenheiro Agronômo, Gerente Geral da Fazenda Atlântica Agropecuária Ltda - [email protected]

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2 Produção de mudas

2.1 Produção de mudas no sistema de tubetes

A escolha do sistema a ser utilizado na produção de mudas determina o tipo de irrigação, o manejo do viveiro e a capacidade de produção anual.

Dos diversos tipos de recipientes com possibilidade de utilização, o sistema de tubetes tem sido utilizado para a produção das mudas na Fazenda Atlântica Agropecuária Ltda.. Com este tipo de recipiente, tem-se diminuindo o custo do transporte das mudas do viveiro à área a ser cultivada em função do montante transportado.

O tubete ainda propicia a qualidade do sistema radicular, evitando o enovelamento e direcionamento das raízes pela presença de estrias longitudinais do topo à base (MACHADO et al., 2012).

Vale a pena ressaltar que o bom desenvolvimento da muda também é dependente da escolha do substrato. Um bom substrato, deve permitir 30% de umidade e 20% de ar, para proporcionar uma drenagem e aeração das raízes.

Existe no mercado, adubos de liberação lenta, que irão fornecer nutrientes à planta por 90 a 120 dias, sendo uma boa alternativa para enriquecimento do substrato.

2.2 Produção de mudas por sementes

Inicialmente a escolha da matriz é o primeiro critério a se observar na produção de mudas por semente. As sementes desta matriz devem apresentar-se saudáveis e vigorosas, já que o mogno africano possui semente recalcitrante, ou seja, possui uma alta suscetibilidade de perder água. Deste modo, a umidade interna da semente favorece o ataque de microorganismos e a ocorrência de germinação durante o armazenamento comprometendo o desenvolvimento da muda.

Em um mesmo lote, haverá sementes com vigor diferente o que refletirá na qualidade da muda. Tal fato deve ser levado em consideração na escolha das mudas que irão ser plantadas.

No entanto, vale a pena ressaltar que sementes menos vigorosas, não são descartáveis, porém demandam um tempo diferenciado para o seu desenvolvimento pleno. A muda de semente, em condições ideais, leva cerca de 90 a 100 dias para ficar pronta.

2.3 Produção de mudas clonais

A implantação esbarra em uma limitação fundamental para a produção do mogno africano, a falta de mudas e sementes e consecultivamente, o preço elevado dessas.

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A produção de mudas clonadas, a partir das melhores árvores, resolve o problema da falta de semente e também garante plantios uniformes, com melhor rendimento. Outro beneficio do clone é poder plantar no início das chuvas, outubro e novembro, o que fica difícil com a propagação seminifera dada a época da produção das sementes.

O processo de clonagem do mogno africano é similar ao processo de obtenção do clone do eucalipto, onde se tem uma primeira etapa que é fase de jardim clonal. Nesta fase, deve-se estar atento quanto à escolha da matriz, já que ela ira repassar 100% de sua carga genética para as futuras mudas, o seja, a matriz deve ter características desejáveis para que possa transmití-las ás filhas.

A segunda fase, é chamada de fase de estufa ou enraizamento. Nesta etapa o controle de temperatura e umidade é indispensável para o desenvolvimento da muda. Outro cuidado, nesta fase, é a sanidade do ambiente, pois altas temperaturas e umidade são fatores propícios para proliferação de fungos e bactérias.

A fase vegetativa é considerada como terceira fase, que ocorre na casa de sombra. Neste período a planta ganha altura e desenvolve suas folhas, passando a receber irrigação direta e adubação de cobertura. A muda pronta para o plantio deve conter quatro folhas bem definidas.

2.4 Semente versus clone

O preço das mudas, prontas para o plantio, gira em torno de R$ 5,00/unidade a R$ 7,00/unidade provenientes de semente e clonadas respectivamente.

Em um levantamento realizado em cultivo comercial, com 75 dias pós plantio mostrou que a área de mudas por sementes possuía 0,45m de altura em média, ao passo que a área de clones possuía 0,79m de altura. Deste modo, a área de clone apresentou um crescimento 43% superior em relação à área de semente, indicando o potencial dessa tecnologia para o mogno.

Após um ano de plantio foram realizadas novas medições, nas mesmas áreas, e os resultados demonstraram que a área de semente possuía 1,90 m e a área de clones 2,30 m, apresentando uma superioridade de 18% em relação à área plantada por meio de sementes.

Esses resultados são preliminares e devem ser vistos com cautela. São necessárias pesquisas e avanços na escolha das matrizes e no melhoramento da espécie para avaliar o real potencial da clonagem do mogno frente à resistência a doenças, qualidade e produtividade de madeira.

Produção de mogno africano (Khaya ivorensis) no cerrado

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2.5 Qualidade da água

A água do viveiro de mudas deve ser de qualidade e quantidade suficiente para atender a demanda da espécie em todo seu estágio de desenvolvimento.

Portanto, ao se dimensionar a quantidade de água necessária à irrigação, deve-se considerar sobra de água e energia, para que durante a fase de viveiro não haja o comprometimento das mudas.

3 Plantio

O sucesso da floresta está diretamente relacionado ao seu plantio, sendo umas das operações mais importantes. A escolha do sistema requer a definição clara dos objetivos e o que se espera de sua floresta.

Para garantir melhor índice de sobrevivência das mudas, a implantação florestal depende, dentre outros fatores, da escolha de mudas saudáveis, com bom diâmetro de colo, raízes bem formadas, relação parte aérea/sistema radicular equilibrada, e nutridas adequadamente.

Para uma planta bem estabelecida e obtenção de povoamentos produtivos e com madeira de qualidade, são necessárias algumas operações e um bom planejamento.

3.1 Preparo do solo

O resultado econômico da atividade é dependente das áreas destinadas ao cultivo do mogno, que devem receber cuidados especiais. O principal objetivo do preparo da área é oferecer condições adequadas ao plantio e estabelecimento das mudas no campo.

Pode-se considerar como cuidados especiais, a redução da competição por plantas daninhas, melhoria das condições físicas do solo, pela ausência de compactação e presença de resíduos como folhas e galhos devidamente trabalhados para não prejudicarem as operações que demandam uso de máquinas.

O preparo do solo pode ser realizado em faixas ou em área total. Entretanto, o preparo do solo em área total, embora torne o custo inicial de implantação mais oneroso em relação ao plantio em faixas, promove ganhos indiretos a longo prazo, justificando o investimento.

O preparo do solo em área total nivela o terreno, proporcionando agilidade nas operações de manutenção diminuindo, os custos de máquinas e implementos, já que as operações de manutenção ocorrerão até o 12° ano.

Neste momento, é onde se aproveita para corrigir o solo, utilizando 2.500 Kg a 3.000 Kg de calcário dolomítico e 600 Kg a 700 Kg de gesso/h,

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conforme o resultado da análise do solo e receituário agronômico.

3.2 Subsolagem

Consiste no rompimento da camada superficial do solo, possibilitando maior sobrevivência e o crescimento das mudas uma vez que propicia o alcance das raízes a maiores profundidades, alem de promover menor exposição do solo, reduzindo perdas por erosão (GAVA, 2002).

Por ser uma operação que revolve o solo em profundidade, neste momento aproveita-se para realizar a adubação fosfatada.

Caso tenha realizado a correção do solo adequadamente, recomenda-se uma fonte de fósforo mais solúvel como o super fosfato simples, super fosfato triplo ou MAP. Caso contrário, utiliza-se fosfato natural reativo. Para ambos os casos, recomenda-se 30g de P O por metro linear.2 5

3.3 Preparo das covas

O preparo das covas é similar às banquetas que se fazia para o plantio de café, neste momento, poderá ser aplicado 5 litros de esterco de galinha ou 10 litros de esterco bovino, 250 g de MAP e 150 g de termofosfato.

A adubação é feita diretamente na cova de plantio, tendo-se o cuidado de misturar bem o adubo com a terra antes de plantar a muda. Isso evita a alta concentração de adubo próximo à raiz da muda, o que pode lhe causar a morte.

A cova precisa ser de no mínimo 50 cm x 50 cm x 50 cm, e depois de preparada, deve esperar 5 dias para plantar, pois o esterco precisa estabilizar.

3.4 Irrigação

Apesar de o Khaya ivorensis ser rústico, a irrigação potencializa o desenvolvimento da floresta sendo de vital importância para o desenvolvimento da espécie na região de cerrado mineiro.

Na fazenda Atlântica Agropecuária LTDA, a irrigação está dimensionada da seguinte forma: 10 litros de água/planta/dia. Entretanto, como o sistema é por gotejamento, o ideal é que se forneça 40 litros de água a cada 4 dias, isto é importante para que ocorra o aprofundamento do bulbo molhado.

Vale a pena ressaltar que para cada região há uma necessidade, portanto um técnico especializado deve ser consultado.

Produção de mogno africano (Khaya ivorensis) no cerrado

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3.5 Fertirrigação

Fertirrigação consiste na aplicação simultânea de fertilizantes e água, por meio de um sistema de irrigação. É uma das maneiras mais eficientes e econômicas de aplicar fertilizante às plantas, uma vez que, aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior freqüência, é possível se manter um teor uniforme de nutrientes no solo durante o ciclo da floresta, o que aumentará a eficiência do uso de nutrientes pelas plantas.

Nas condições de solo da Fazenda Atlântica LTDA, Pirapora - MG, a quantidade de adubo que se aplica em 1ha de mogno africano, é a mesma quantidade aplicada em 1ha de café, uma vez que não existe parâmetros literários de adubação para o Khaya ivorensis. Portanto, a quantidade aplicada de adubo é de 270 Kg/ha de Nitrogênio, 270 Kg/ha de K O e 90 Kg/ha de P O , 2 2 5

além de micronutrientes. Toda a adubação é parcelada em 12 vezes ao ano.

Vale a pena ressaltar, que o mogno é exigente em magnésio, logo, recomenda-se a aplicação de calcário dolomítico, para que haja o abastecimento constante de Mg e efetiva correção do solo.

3.6 Plantio propriamente dito

Baseado em dois trabalhos experimentais realizados na Embrapa-PA e Altamira-PA o espaçamento recomendado é o 6m x 6m mostrando-se mais promissor no volume/ha e maior rendimento de madeira serrada.

O plantio deve ser realizado no início do período chuvoso.

Após a marcação das covas, as mudas do mogno africano são distribuídas manualmente e em seguida essas são acomodadas nas covas, chegando terra até a altura do colo da planta.

4 Controle de plantas daninhas

Como o Khaya ivorensis é plantado em espaçamentos maiores, espera-se o controle do mato até os 8 anos.

Nas condições de cerrado, não é difícil se ter dias com temperaturas máximas de 35°C. Nestas temperaturas, o solo descoberto potencializa a morte das raízes, deste modo, uma faixa de cobertura vegetal entre as linhas é interessante.

Na linha de plantio, o ideal é que se mantenha livre de plantas daninhas uma faixa de 2m (1m de cada lado).

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5 Pragas e Doenças

As principais pragas do mogno africano no Brasil são as formigas e as abelhas arapuá, que atacam árvores quando ainda jovens.

Na fase adulta tem ocorrido em algumas árvores a incidência do cancro, provocado por fungos, que causam lesões na casca do tronco. Não chega a danificar a madeira se combatida logo após a ocorrência, entretanto, com o passar dos anos, compromete o transporte da seiva, prejudicando a árvore. Logo, ao menor sinal da doença, é preciso retirar à parte machucada com uma ferramenta de corte e aplicar um fungicida a base de cobre.

6 Desbrota

Eventuais desbrotas, são necessárias. O ideal é que seja realizada o quanto antes, logo que identificado, uma vez que é fonte de dreno, podendo causar também danos à madeira.

A desbrota é necessária aos plantios florestais quando se deseja obter toras de diâmetros elevados ao final da rotação. Tem como objetivo eliminar também árvores mal formadas, tortas, bifurcadas e doentes, mesmo que apresentem dimensões elevadas.

Deve-se evitar a retirada de grupos de árvores e procurar manter uma distribuição uniforme quanto ao espaçamento entre as árvores remanescentes, evitando formação de clareiras e o crescimento de plantas danihas entre as árvores.

7. Custos

Conforme apresentado na tabela 1, na Fazenda Atlântica Agropecuária LTDA., os custos para a implantação e manutenção de 1 hectare de mogno africano até a época de corte, fica em torno de R$ 33.945,00.

Tabela 1: Custo de cultivo por hectare

Fonte: Arquivo Pessoal.

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CUSTO TOTAL

Implantação R$ 7.659,00

Ano: 2-5 R$ 9.656,00

Ano: 6-12 R$ 15.820,00

Ano: 13-15 R$ 810,00

TOTAL R$ 33.945,00

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Com o manejo adotado na Fazenda, espera-se uma produtividade de 3 320m de madeira serrada por hectare ao final do ciclo. Sendo os preços atuais

3para o Khaya ivorensis, de R$ 2.300,00 por m , a Atlântica Agropecuária LTDA. objetiva um faturamento R$ 735.000,00/ha ao final de 15 anos.

8 Considerações finais

A demanda por madeiras de reflorestamentos é crescente enquanto a oferta mundial diminui. O Khaya ivorensis além de gerar alto retorno por hectare, diminui o desmatamento na Amazônia, com o oferecimento de madeiras ecologicamente corretas e certificadas, o que possibilita aos produtores se credenciarem a receber créditos de carbono que podem ser trocados ou vendidos no mercado internacional.

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Referências

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Produção de mogno africano (Khaya ivorensis) no cerrado

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