Text of Literatura Colonial Brasileira: Arcadismo (1768 – 1836) Tânia Valéria
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Literatura Colonial Brasileira: Arcadismo (1768 1836) Tnia
Valria
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As manifestaes artsticas do sculo XVII (Arcadismo ou
Neoclassicismo) refletem a ideologia da classe aristocrtica em
decadncia e da alta burguesia, insatisfeitas com o absolutismo
real, com a pesada solenidade do Barroco, com as formas sociais de
convivncia rgidas, artificiais e complicadas. As mudanas estticas
tero por base uma revoluo filosfica: o Iluminismo. Em seu primeiro
momento, os iluministas conciliaro os interesses da burguesia com
certas parcelas da nobreza, atravs da celebrao do despotismo
esclarecido - valorizando reis e prncipes que se cercavam de sbios
para gerir os negcios pblico. Mas o aspecto revolucionrio do
pensamento de Voltaire, Montesquieu, Diderot e outros a afirmao de
que todas as coisas podem ser compreendidas, resolvidas e decididas
pelo poder da razo. Arcadismo e Iluminismo Voltaire, filsofo
iluminista
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Os criadores do Iluminismo (ou Ilustrao) j no aceitam o
"direito divino dos reis", tampouco a f cega nos mandatrios da
Igreja. Qualquer poder ou privilgio precisa ser submetido a uma
anlise racional. E agora a razo (e no mais a crena religiosa ) que
aparece como sinnimo de verdade. Por oposio ao sculo anterior,
procura-se, no sculo XVIII, simplificar a arte. E esta simplificao
se dar na pintura, na msica, na literatura e na arquitetura pelo
domnio da razo, pela imitao dos clssicos, pela aproximao com a
natureza e pela valorizao das atividades galantes dos freqentadores
dos sales da nobreza europia. Arcadismo e Iluminismo Montesquieu,
filsofo iluminista
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Na pintura e escultura: Temas clssicos: romanos ou gregos
Figuras vistas de longe Expresses frias e neutras Equilbrio na
distribuio dos elementos O rapto das Sabinas O Rapto das Sabinas,
por Jacques Louis David, 1796/99, leo sobre tela, 330 X 425 cm
Arcadismo= Neoclassicismo
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Na pintura e escultura: Temas clssicos: romanos ou gregos
Figuras vistas de longe Expresses frias e neutras Equilbrio na
distribuio dos elementos O rapto das Sabinas O Rapto das Sabinas,
por Jacques Louis David, 1796/99, leo sobre tela, 330 X 425 cm
Arcadismo= Neoclassicismo
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O nome dessa escola uma referncia Arcdia, regio buclica do
Peloponeso, na Grcia, tida como ideal de inspirao potica.
Frases-chave: Carpe diem Tempus Fugere Inutilia Truncat Aurea
Mediocritas Urbem Fugere Locus Amoenus
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1) BUSCA DA SIMPLICIDADE A frmula bsica do Arcadismo pode ser
representada assim: Verdade = Razo = Simplicidade Mas se a
simplicidade a essncia do movimento - ao avesso da confuso e do
retorcimento barroco - como pode o artista ter certeza de que sua
obra integralmente simples? A sada est na imitao (que significa
seguir modelos e no copiar), tanto da natureza quanto dos velhos
clssicos. Arcadismo: caractersticas
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2) IMITAO DA NATUREZA Ao contrrio do Barroco, que urbano, h no
Arcadismo um retorno ordem natural. Como na literatura clssica, a
natureza adquire um sentido de simplicidade, harmonia e verdade.
Cultua-se o "homem natural", isto , o homem que "imita" a natureza
em sua ordenao, em sua serenidade, em seu equilbrio, e condena- se
toda ousadia, extravagncia, exacerbao das emoes. O bucolismo
(integrao serena entre o indivduo e a paisagem fsica) torna-se um
imperativo social, e os neoclssicos retornam s fontes da
antiguidade que definiam a poesia como cpia da natureza. Arcadismo:
caractersticas
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Literatura Pastoril: O Arcadismo uma festa campestre,
representando a descuidada existncia de pastores e pastoras na paz
do campo, entre ovelhinhas. Porm, essa literatura pastoril no surge
da vivncia direta da natureza, ao contrrio do que aconteceria com
os artistas romnticos, no sculo seguinte. Pode-se dizer que uma
distncia infinita separa os pastores reais dos "pastores" rcades. E
que sua poesia campestre meramente uma conveno, ou seja, uma espcie
de modismo de poca a que todo escritor deve se submeter. Sendo
assim, estes campos, estes pastores e estes rebanhos so artificiais
como aqueles cenrios de papelo pintado que a gente v no teatrinho
infantil. No devemos, pois, cobrar dos rcades realismo do cenrio e
sim atentar para os sentimentos e idias que eles, porventura,
expressem. No exemplo abaixo, de Toms Antnio Gonzaga, percebemos
que o mundo pastoril apenas um quadro para o poeta refletir sobre o
sentido da natureza: Enquanto pasta alegre o manso gado, minha bela
Marlia, nos sentemos sombra deste cedro levantado. Um pouco
meditemos na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A
sbia natureza.
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3) IMITAO DOS CLSSICOS Processa-se um retorno ao universo de
referncias clssicas, que proporcional reao anti-barroca do
movimento. O escritor rcade est preocupado em ser simples,
racional, inteligvel. E para atingir esses requisitos exige-se a
imitao dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os
pastoris. Diz um rcade portugus: O poeta que no seguir os antigos,
perder de todo o caminho, e no poder jamais alcanar aquela fora,
energia e majestade com quem nos retratam o formoso e anglico
semblante da natureza. Arcadismo: caractersticas
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Pintam, Marlia, os poetas a um menino vendado, com uma aljava
de setas, arco empunhado na mo; ligeiras asas nos ombros, o terno
corpo despido, e de Amor ou de Cupido so os nomes que lhe do.
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3) AUSNCIA DE SUBJETIVIDADE A constante e obrigatria utilizao
de imagens clssicas tradicionais acaba sedimentando uma poesia
despersonalizada. O escritor no anda com o prprio eu. Adota uma
forma pastoril: Cludio Manuel da Costa Glauceste Satrnio, Toms
Antnio Gonzaga Dirceu, Silva Alvarenga Alcino Palmireno, Baslio da
Gama Termindo Siplio. Quando o poeta declara seu amor pastora, o
faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras
desse jogo exigem o respeito etiqueta afetiva. Assim, o seu "amor"
pode ser apenas um fingimento, um artifcio de imagens repetitivas e
banalizadas. Arcadismo: caractersticas
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PALAVRAS-CHAVE: -Marqus de Pombal: despota portugus. -Corrida
do Ouro: Minas Gerais. -Tropeiros paulistas. -Vida urbana em Minas
Gerais. -Integrao de Nordeste, Sul e Sudeste. -Literatura cm funo
social: saraus. -Expulso dos Jesutas. -Inconfidncia Mineira.
Arcadismo no Brasil: Contexto
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Arcadismo no Brasil: Autores CLUDIO MANUEL DA COSTA (1729 -
1789) Nasceu em Mariana, filho de um rico minerador portugus.
Estudou com os jesutas no Rio de Janeiro e formou-se em Direito na
cidade de Coimbra. Voltando para o Brasil, estabeleceu-se em Vila
Rica, exercendo a advocacia. Ocupou altos cargos na mquina
burocrtica colonial. Quando foi preso por suposta participao na
Inconfidncia, pela qual manifestara vagas simpatias, era um dos
homens mais ricos e poderosos da provncia. Deprimido e amedrontado,
acabou suicidando-se na priso. Obras: Obras poticas (1768), Vila
Rica (1839)
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Cludio Manuel da Costa um curioso caso de poeta de transio. Ele
reconhece e admira os princpios estticos do Arcadismo, aos quais
pretende se filiar, mas no consegue vencer as fortes influncias
barrocas e camonianas que marcaram a sua juventude intelectual.
Racionalmente um rcade, emotivamente um barroco, conforme ele mesmo
confessa no prlogo de Obras poticas : (...) Bastar para te
satisfazer, o lembrar-te que a maior parte destas Obras foram
compostas ou em Coimbra ou pouco depois (...) tempo em que Portugal
apenas principiava a melhorar de gosto nas belas letras.
infelicidade confessar que vejo e aprovo o melhor, mas sigo o
contrrio na execuo. Arcadismo no Brasil: Autores
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soneto XXII Neste lamo sombrio, aonde a escura Noite produz a
imagem do segredo; Em que apenas distingue o prprio medo Do feio
assombro a hrrida figura Aqui, onde no geme, nem murmura Zfiro*
brando em fnebre arvoredo, Sentado sobre o tosco de um penedo*
Chorava Fido a sua desventura. s lgrimas, a penha enternecida Um
rio fecundou, donde manava D'nsia mortal a cpia derretida; A
natureza em ambos se mudava; Abalava-se a penha comovida; Fido,
esttua de dor, se congelava. *lamo: rvore de grande porte *Penha:
rocha *Zfiro: vento suave *Penedo: rocha do penhasco
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TOMS ANTNIO GONZAGA (1744-1810) Vida: Filho de um magistrado
brasileiro, nasceu, no entanto, em Porto, Portugal. A famlia
retornou ao Brasil quando o menino contava sete anos. Aqui estudou
com os jesutas, na cidade da Bahia. Com dezessete anos foi para
Coimbra estudar Direito. Por algum tempo exerceu a profisso de
advogado em terras portuguesas, mas em 1782 foi nomeado Ouvidor de
Vila Rica, capital de Minas Gerais. Ocupou altos cargos jurdicos e
em 1787 tratou casamento com Maria Joaquina Dorotia de Seixas, a
futura Marlia dos poemas. Ele tinha mais de quarenta anos e ela era
pouco mais do que uma adolescente. A deteno (ser?) pelo
envolvimento na Conjurao Mineira impediu o enlace. Ficou preso trs
anos numa priso no Rio de Janeiro e depois foi condenado a dez anos
de degredo em Moambique. L se casou com a filha de um rico
traficante de escravos e voltou a ocupar postos importantes na
burocracia portuguesa. Morreu na frica em 1810. Obras: Marlia de
Dirceu (Parte I - 1792; Parte II - 1799; Parte III - 1812), Cartas
Chilenas (1845) Arcadismo no Brasil: Autores
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Uma das obras lricas mais estimadas e lidas no pas, Marlia de
Dirceu permite duas abordagens igualmente vlidas. A primeira
mostra-a como o texto rcade por excelncia. A segunda aponta para
sua dimenso pr-romntica. O pastoralismo, a galanteria, a clareza, a
recusa em intensificar a subjetividade, o racionalismo neoclssico
que transforma a vida num caminho fcil para as almas sossegadas,
eis alguns dos elementos que configuram o Arcadismo nas liras de
Toms Antnio Gonzaga, especialmente as da primeira parte do livro,
produzidas ainda em liberdade As vinte e trs liras iniciais de
Marlia de Dirceu so autobiogrficas dentro dos limites que as regras
rcades impem confisso pessoal, isto , o EU no deve expor nada alm
do permitido pelas convenes da poca. Assim um pastor (que o poeta)
celebra, em tom moderadamente apaixonado, as graas da pastora
Marlia, que conquistou o seu corao:
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Tu, Marlia, agora vendo Do Amor o lindo retrato Contigo estars
dizendo Que este o retrato teu. Sim, Marlia, a cpia tua, Que Cupido
Deus suposto: Se h Cupido, s teu rosto Que ele foi quem me
venceu.
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O Desejo da Vida Comum ("Aurea Mediocritas") Na verdade, o
pastor Dirceu um pacato funcionrio pblico que sonha com a
tranqilidade do matrimnio, alheio a qualquer sobressalto, certo de
que a domesticidade gratificar Marlia. Por isso, ele trata de
ressaltar a estabilidade de sua situao econmica: Eu, Marlia, no sou
algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de
expresses grosseiro, Dos frios gelos, e dos sis queimado. Tenho
prprio casal* e nele assisto; D-me vinho, legume, frutas, azeite.
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas ls, de que me
visto. Graas, Marlia bela, Graas minha Estrela!
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Desvios Sensuais Estando ligado s concepes rgidas do Arcadismo,
Toms Antnio Gonzaga tende generalizao insossa dos sentimentos e ao
amor comedido e discreto. Mas h vrios momentos, em Marlia de
Dirceu, que indicam um desejo de confidncia e onde aparecem
atrevimentos erticos surpreendentes. So momentos de emoo genuna: o
poeta lembra que o tempo passa, que com os anos os corpos se
entorpecem, e convoca Marlia para o "carpe diem" renascentista:
Ornemos nossas testas com as flores, E faamos de feno um brando
leito; Prendamo-nos, Marlia, em lao estreito, Gozemos do prazer de
sos Amores. Sobre as nossas cabeas, Sem que o possam deter, o tempo
corre; E para ns o tempo, que se passa, Tambm, Marlia, morre.
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Arcadismo no Brasil: Autores Cartas chilenas Sob o pseudnimo de
Critilo, Toms Antnio Gonzaga ironiza nas Cartas chilenas a
prepotncia e os desmandos do governador Lus da Cunha Meneses,
apelidado no texto de Fanfarro Minsio. Ainda h algumas dvidas a
respeito da autoria desta obra satrica, mas todos os indcios
apontam para o autor de Marlia de Dirceu. O que j se tornou
consenso o carter pessoal dos ataques, no havendo nenhuma insinuao
nativista ou desejo de sublevao revolucionria nos mesmos.
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Amigo Doroteu, prezado amigo, Abre os olhos, boceja, estende os
braos E limpa das pestanas carregadas O pegajoso humor, que o sono
ajunta. Critilo, o teu Critilo quem te chama; Ergue a cabea da
engomada fronha, Acorda, se ouvir queres coisas raras. "Que coisas
( tu dirs ), que coisas podes Contar que valham tanto, quanto vale
Dormir a noite fria em mole cama, Quando salta a saraiva nos
telhados E quando o sudoeste e outros ventos Movem dos troncos os
frondosos ramos?" doce este descanso, no to nego.
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Toms Antnio Gonzaga Fez Marlia de Dirceu Cludio Manuel da Costa
Vila Rica escreveu So poetas do Arcadismo Que em Minas Gerais
nasceu Arcadismo campo, pastor, bucolismo Mimese dos gregos,
neoclassicismo Arcadismo campo, pastor, bucolismo Mimese dos
gregos, racionalismo Grande Baslio da Gama Escreveu O Uraguai Frei
Santa Rita Duro Fez Caramuru, uai! Lembre de Cartas Chilenas Que
traz crticas sociais