Levi-strauss - Totemismo Hoje

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    1/111

    .Ce.ntro de

    n y e s t i g a ~ u o

    e i y u l g n ~ a o

    Publirar;uo CID

    Textos dilssicos do pensamento lllunanoj3

    Coordenadores:

    .-lrniJtgeio R Bu::::i

    LeO JCGmo

    Boff

    f tCIIA

    CATALOGILU ICA

    PrrptJTadiJ pelo Centro de

    CatalogQ¢o 1U1. /onte do

    Si1fdtcGto NacforuJl doa Bdftorea de Lff11'o GB

    1b1-8traua, Claude.

    lMtt TotAemtIlJlO

    hoje; t r d ~

    de Malcolm Bruce

    :r

    Conte.

    Petr6poUs,

    Vor.es, 1975

    11lp. 21cm ~ clUs1cos

    do

    penaamento

    bu1mDo,

    3).

    Do ortctual em francA.:

    Le

    toWm Bme au·

    jourd bul.

    Bibliop afia.

    1. ADtropoJocia 1IOCiaI 2. Totemiamo.

    I. TI·

    tulo.

    U

    h1e.

    ODD - 301 2

    299.7

    CDU - 397

    291.211.0

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    2/111

    CLAUDE LEVI STRAUSS

    TOT MISMO

    HOJ

    r a d u ~ i i o e

    M LCOLM

    RUCE

    CORRIE

    DITORA VOZ S LTDA.

    PETRoPOLIS/1975

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    3/111

    © 1962 by

    Presses Vniversitaires de France

    Titulo do original fr DC :

    Le Totemisme AujOUl d'Hui.

    ©

    1975, d

    t r d u ~ i o

    portuguesa

    EDITORA VOZES LTDA.

    ua Frei Luia, 100

    25.600 PetrOpolia,

    RJ

    rui l

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    4/111

    SUMARIO

    NOTA

    DO

    TRADUTOR

    7

    INTRODUQAO

    l J

    C PiTUW PRIMEIRO

    A ILUSAO T O T ~ M I C

    2. ;

    CAPi rULO SEGUNDO

    o NOMINALISMO

    USTR LI NO

    4

    CAPiTULO TERCEIRO

    TEORI S FUNCION

    LIST S

    DO TOTEMISMO

    69

    CAPiTULO QUARTO

    A CAMINHO DO INTELECTO

    79

    CAPiTULO QUINTO

    o TOTEMISMO VISTO DE DENTRO

    97

    BIBLIOGRAFIA

    1 9

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    5/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    6/111

    NOT

    O

    TR DUTOR

    o PHESENTE

    ESTU O

    sobrc 0 totemismo foi publicado a pri

    rndra vez

    pOl

    Clande Levi-Strauss em 1962, alraves de

    Presscs Univer.'iitaires de France, em Paris. Nas palavras

    cia pl'lipl'io (llltor, Le

    Totemisme

    aujourd hui e «uma espe

    de de introdurao hisMriea e crifiea» a La pensee

    sauvage

    (Pion, Paris,

    1962

    e foi preeedi,do

    pOl

    obras

    tambem

    clas

    sicas na antropologia, como

    Les

    Structures

    elementaires de

    n parente (PUF, Paris, 1949 e Anthropologie

    structurale

    (Pion, Paris, 1958 . La Pen

    see

    sauvage, tambem publieada

    ('m 1062,

    d i s c l 1 h ~

    0

    problema

    do

    totemismo a partir de

    Le

    Totemisme

    e sr eoloca ao lado das grandes obras anlropo

    hJgicas

    adma

    Mas c o r l f ~ risco de fica I a sombra delas.

    Portanto,

    Le Totemisme

    niio so retoma um dos problemas

    mais

    .arduos da lzist6ria .da teoria antropologiea,

    mas

    ain

    da sublinlza 0 papel da pr()pria antropologia na histOria do

    pensamento, tanto selvagem quanta cientifieo. Assim, sua

    importilllcia reside na erifiea que faz a posit;6es areaieas

    denlro da propria diseiplina, e

    no

    horizonte novo que abre

    para a antropologia no campo d a ~ ciencias humanas.

    Po

    s,

    desvendando a «ilusfio» da teoria totemiea,

    Le

    Totemisme

    traz

    uma

    nova motivat;iio

    0 0

    eslu.do do

    homem

    universal:

    como na

    t€.oria

    freudiana

    da

    histeria, onde a distint;uo en

    tre

    0

    normal

    e

    0

    patologieo

    se

    perde

    numa

    penumbra,.i ...

    totemismo de Claude Levi-Strauss questiona

    a

    distcincia en

    tre JL] lllJSamento dlto Sel12flgem e

    0

    do civilizado, do pro

    p-rio

    pesquisador._

    £ sempre uma honra estar associado, mesmo no papel de

    tradutor, a obra de

    um

    mestre como Claude Levi-Strauss.

    Agradecemos assim a permissiio ooneedida pelo autor para

    essa primeira impressiio

    em

    lingua portuguesa do Le

    Tote-

    misme aujourd hui.

    Esta tradurfio realizou-se com

    a

    eolaborat;iio dos seguin

    tes I?articipantes do seminario de antropologia realizado no

    lnstltuto Filosofieo-Teologieo Franciscano de Petropolis:

    Francisco Augusto Ortiz, Anselmo Brand, Francisco de As

    sis Dornelas Cerqlleira, Pedro lVibbelt, EMi Dionisio

    PioQ,

    7

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    7/111

    Enock da Rocha Arazljo, Fi/ipe Schillings, Jose Carlos

    Timmermann.

    Contamos tambem com a valiosa c o l a b o r a ~ i i o na r e d a ~ i i o

    o texto final, de Iza Celina Rodrigues de Menezes, aluna

    do Curso de

    p 6 s g r a d u a ~ i i o em Literatura da Pontificia

    Universidade Cat6lica do Rio de Janeiro.

    o m e ~ a m o s o

    estudo da obra

    em

    agosto de

    1973

    com

    uma t r a d u ~ i i o em fita da versiio inglesa, por Rodney N eed

    ham. Continllamos conI uma t r a d u ~ i i o do original frances,

    e estudamos as duas versoes em seminario, utilizando a tra

    d u ~ i i o

    do Ingles como segundo ponto de referencia na in

    t e r p r e l a ~ a o

    do eonteudo da obra. Terminamos com

    uma

    nova t r a d u ~ a o portllguesa do original frances, sendo esta

    tambem estudada em seminario. Assim, a obra foi tradu

    zida para

    0

    portugues tres vezes: esperamos

    e{)m isso

    ter

    atingido maior fide Ii-dade

    ao

    original.

    Tres principios fundamentaram este ~ s t u d o : primeiro,

    fidelidade absoluta ao eonteudo teorico e empiric.o; onde

    a ambigiiidade pareee estar

    contingenteao

    estilo - de fato,

    a poesia - do original, proeuramos mante-la tambem na

    versiio portuguesa; on-de citw;oes de obras nao francesas

    se encontram no texto, procuramos os originais para evitar

    t r a d u ~ o e s

    de segunda

    mao;

    segundo,

    0

    estilo do autor foi

    mantido onde possivel, isto e, onde a versiio portuguesa

    pudesse transmitir fielmente

    0

    conteudo sem .desviar da

    mesma

    o r g a n i z a ~ i i o

    e. rtilistica; terceiro, onde 0 portugues

    simpiesmente niio permitia exprettsar J conteudo sem modi

    f i c a ~ o e s estilisticas e sintaticas, assumimos risco e a res

    pon,abilidade de tai. r m o d i f i c a ~ o e s .

    Esperamos assim que 0 proprio alltor se sinta bem repre

    sentado e a antropoiogia brasileira enriquecida com mais

    uma obra de Claude I.JPr}i-Strauss em ventii.o portuguesa.

    8

    MALCOLM BRUCE CORRIE

    orientador antropo16gico.

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    8/111

      £.3 le is 16gicas que ajinal governam

    )

    'mundo intelectual sao, por sua natureza

    essencialmente invariaveis e comuns, niio s6

    para todos s tempos mgares,

    mas

    tambem para todos

    e

    quaisque'l' a8B1t7Uo8

    sem nenhuma d i s t ~ t i o , mesmo entre aqlteles

    que consideramos reais e quimericos:

    as leis 16gicas se observam, no un.oo,

    ate nos sonhos "

    AUGUSTE COMTE.

    Cours de philosop/z.ie positive

    (52.

    l e ~ o n .

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    9/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    10/111

    TOT MISMO

    O

    J

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    11/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    12/111

    INTRODUCAO

    1

    SUCEIJE

    ao

    loteruislllO

    que

    sucede a histeria. Quando co

    m e ~ m o s

    a duvidar

    que

    podemos isolar

    arbitrariamente

    certos fenomenos e agrupa-Ios

    entre

    si para torna-Ios sinais

    diagn6sticos de

    Ulna

    d o e n ~ ou de

    uma i n s t i t u i ~ a o

    objetiva

    os

    sintomas

    ja nao existem ou

    se

    mostram rebeldes a inter

    p r e t ~ o e s unificadoras. No caso da «grande»

    histeria esta

    m u d n ~ se explica

    as

    vezes como urn efeito da evolu«;8o

    social que deslocou da esfera sOlna tica para a psiquica

    a

    expressao simb6lica

    das

    p e r t u r b ~ o e s

    mentais. Mas a conl

    p r ~ o

    com

    totenlismo

    sugere

    uma r c l ~ o de

    outra

    or

    denl

    entre

    as teorias

    cientificas C 0 estado de c i v i l i z a ~ a o ,

    on de espirito

    dos

    sabios

    interviria

    tanto

    e

    mais que

    espirito

    dos

    honlens estudados: como

    se sob

    pretexto

    de

    objetividade cientifica os primeiros procurassem incons

    eientemente representar os segundos mais iferentes do que

    eles realmente sao quer se

    trate

    de doentes

    mentais

    ou

    de

    pretensos «primitivos». As modas da histeria e do tote

    luismo

    sao

    contemporaneas.

    Surgiram

    no mesmo

    contexto

    de c i v i l i z a ~ a o ; c seus

    infortunios

    paraIeIos se explicam ini

    cialmente peIa tendencia comum de muitos ramos da cien

    cia peIos fins do secuIo XIX de constituir separadamente

    - sob a

    forma

    de

    unla «natureza»

    poderiamos

    dizer

    - os

    fenomenos

    humanos

    que

    os sflbios

    preferiam considerar

    exteriores

    a seu l1niverso moral a fim de proteger a boa

    consciencia

    que

    sentiam em face deste.

    A primeira

    l i ~ a o que tiramos da

    critica a

    histeria

    de

    Charcot

    feita

    pOl

    Freud foi nos

    convencer

    de

    que nao

    existe d i f e r e n ~ essencial entre os estados de

    sanidadee

    · d o e ~ mentllls; que 4e urn estado a outro se produz

    q : u a n . < . ~ . l l l U i ~ \ ~

    1 ~ ~ ~

    __

    . 1 _ 0 ( _ l E ~ ' l ( a o ~ ~ _

    desenvolvimento

    de.

    o p e r ~ o e t geraIS que caaa urn pode

    ohservar

    »or sua

    r -

    ~ i i a · - c o n q

    e que

    pOl

    conseguinte doente e nosso

    irmao.

    pills se distillgue

    de

    nos

    apenus por uma

    i n v o l u ~ o - me

    nor

    na

    sua

    natureza

    contingente na sua forma arbitraria

    na

    sua

    d e f i n i ~ i i o ,

    e ao menos de direito temporaria - de

    13

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    13/111

    lUll

    desenvolvunento hist6rico,

    que

    e

    fundamentalnlente

    aquele de toda existencia individual. Era mais comodo ver

    no

    doente nlental

    un1

    ser de uma especie

    rara

    e singular,

    o produto objetivo de fatalidades

    externas

    ou

    internas

    co-

    1110 por

    exeulplo a

    hereditariedade 0

    alcoolismo

    ou

    a

    debilidade.

    Dn meSIlla lllaneira,

    para

    que

    0

    academisIllo pict6rico

    pudesse dorIllir

    UIlI

    sono tranqiiilo,

    era

    necessario

    que

    EI

    Greco nao fosse unla pessoa

    normal

    capaz de

    recusar

    cer

    tas lllaneiras de

    representar 0

    mundo,

    mas

    sim

    unl

    doente,

    cujas

    figuras alongadas

    provavanl

    somente a rna

    f o r n l a ~ a o

    do globo

    ocular

    Neste,

    conlO

    no

    outro

    caso, consolidava

    mos

    na

    ordeln

    da natureza

    nlodos

    da cultura

    que, se tives

    sem sido reconhecidos como tais,

    teriam

    logo

    determinado

    a

    p a r t i c u l a r i z a ~ a o

    de outros, aos

    quais

    se

    atrihuia urn va-

    -

    lor

    universal.

    Transformando

    0

    histerico

    ou 0 pintor

    ino

    vador

    em

    anormais, nos nos d.avamos

    ao luxo

    de

    crer que

    eles nao nos dizianl respeito e que pelo simples fato de

    sua

    existencia nao colocavam enl jogo

    uma ordem

    social, mo

    ral

    ou intelectual aceita.

    Encontramos a influencia dos nlesnlOS lnotivos e

    0

    vesti

    gio dos mesmos

    recurs

    os

    nas e s p e c u l a ~ o e s

    que deram ori

    gem

    it

    ilusao totemica. Nao se

    trata mais

    diretamente da

    natureza

    (embora, como veremos,

    0

    apelo a

    c r e n ~ a s

    ou

    ati

    tudes cinstintivas»

    a p a r e ~ a

    freqiientemente). Mas a

    n o ~ ~ o

    Ie totemismo poderia ajudar a distinguir as sociedades de

    maneh:a quase radical, senao

    rejeitando

    sempre algumas

    dentre elas

    na natureza

    (aspecto

    que ilustra

    bern

    0 termo

    NaiurvOlker ao menos classificando-as em

    f u n ~ a o

    de

    sua

    atitude

    para com

    ela,

    tal

    como se

    exprime

    pelo

    lugar

    des

    tinado ao homem

    na

    serie animal, e pelo conhecimento ou

    suposta ignorancia do mecanismo

    de

    p r o c r i a ~ a o .

    Portanto,

    se

    Frazer

    associou

    0

    totemismo e a ignorancia da paterni

    dade fisiologica,

    nao

    foi urn

    mero

    acaso: .0

    $ ~ l l i ~ D o ap:fO-

    xima

    0

    hom

    em

    c Q _ ~ ~ ~ L l _ ~ I ~ g . ~ d ~ _ ) g ~ _ o ~ ~ ~ a

    do

    p ~ e l

    _ ~ o _ - ' p . ~ ~ __ , l ~ ~ ~ _ C ~ ) ? _ ~ _ ~ . Q r ~ ~ ~ g ~ . _ . ~ ~ s t i . t u l r o g ~ ~ l l t o i ~ h i i m a n <

    por e s p I r l t o s _ ~ ~ s _ " p ~ < ? . ~ o ~ __ . l l s l ~ Q _ a s _ J o r ~ ~ _ ~ naturais. Este

    c iispeCio

    da natureza:.

    era conlO uma pedra de

    toque

    que

    permitia, no proprio seio da cultura

    isolar 0

    selvagem do

    civilizado.

    -

    Para

    conservar

    na

    sua

    integridade, e ao mesmo tempo

    fundamentar, os modos de pensamento do homem normal

    branco e adulto, nada poderia, pois, ser mais comodo do

    que

    reunir

    costumes e

    c r e n ~ a s

    exteriores a seu mundo -

    na verdade muito heterogeneas e dificilmente

    iso18.veis

    -

    ao redor dos quais viriam se cristalizar, em massa inerte,

    4

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    14/111

    ideias

    que

    fossenl

    menos

    inofensivas, caso hou esse n e ~

    sidade de reconhecer sua

    presenc;a e

    atividade em

    todas as

    civiliza

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    15/111

    o

    totemis/i/U

    j6 p1 OVOCOll

    a so,[Jacidadc e a engenhosidade de

    U/It

    bom

    numero

    de estudiosos,. el/(I,

    motivos

    suficientcs pa1'a c r e 1 1 n o . ~ que

    continuan a faze1' meS11lO durante n t n 1 · t o . ~ anos.

    o prognostico se explica, pois foi

    pronunciado

    alguns

    anos apos a publicfU;iio da IllOllulllental obra de Frazer

    Totcmislll nd

    E.rogmny

    anos

    durante

    os quais a revista

    illternacional Allt/zropos abrira unla secc;ao pennanente so

    bre toteluisnlo, que

    ocupava

    UIlI

    lugar

    importante

    enl

    cada llllnwro. Elltretallto, seria dificil haver Uln

    Inaior

    en

    gano. 0 Ih-ro de Van Gennep devia ser a ultima obI a de

    conjunto consagrada a esta questao, e,

    pOl

    isto, permanece

    indispensavel. Mas, longe de

    represelltar

    a

    primeira etapa

    de

    luna

    sintese destillada a

    ser

    seguida, foi

    antes

    0 canto

    de cisne das especulac;oes sobre

    0 totemismo.

    E

    na

    linha

    dos primeiros trabalhos de Goldenweiser [1], desprezados

    por Van

    Gennep,

    que

    0

    esforc;o de desagregac;ao,

    hoje

    vito

    rioso, seria conduzido senl descanso.

    Para

    0

    nosso trabalho, comec;ado

    em

    1960,

    0

    ano de 1910

    fornece unl ponto de partida comodo: a distancia e exata-

    lnente de nleio seculo, e C eln 1910

    que

    apareceram

    duas

    ohras de diInensoes nluito diferentes, se bern que, no fim

    das cOlltas, as 110 pagillas de Goldenweiser [1] 1 devessem

    exercer uma influencia teorica mais

    duravel que

    os quatro

    volumes de

    Frazer

    com

    suas

    2.200

    paginas...

    Ao

    mesmo

    tempo

    em

    que Frazer depois de reuni-Ios, pUblicava a tota

    lidade dos fatos entao conhecidos

    para

    fundamentar

    0

    tote

    misrno como sistema e

    para explicar

    a sua origem, Golden

    weiser contestava que se tivesse

    0 direito

    de superpor tres

    fenomenos: a organizac;ao

    em

    clas, a atribuic;ao de nomes

    ou de ernblemas animais e vegetais aos clas, e a crenc;a

    num

    parentesco entre 0 cla e seu totem, uma vez

    que

    os

    seus contornos so coincidem

    nunla minoria

    de cas os, e po

    dendo cada urn deles estar presente sem os demais.

    Assim, os indios do rio Thompson tern totens, mas nao

    tern clas, os iroqueses tern clas com nomes de animais que

    nao

    sao totens,

    enquanto

    os

    youkhagir que

    estao divididos

    em clas, tern crenc;as religiosas onde os

    animais

    desempe

    nham

    urn

    papel

    rnuito

    importante mas

    por interrnedio de

    -

    xamas

    individuais e

    nao

    de grupos sociais. pretenso tote

    misrno escapa a todo esforc;o de definic;ao absoluta. Con

    siste,

    quando muito, numa disposic;ao contingente de ele

    mentos

    nao

    especificos.

    E

    urna

    reuniao

    de

    particularidades

    cmpiricamente ohserv,aveis num certo nurnero de casos,

    1 Vel bibliografia, infra p. 1098B

    16

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    16/111

    seln que resultenl oai, neceSSariaIllente, proprieoades ori

    ginais; mas nao e uma sintese

    organica,

    urn objeto da natu

    reza social.

    Apos a

    critica

    de Goldenweiser, 0 lugar consagrado

    ao

    problema totemico nos tratados aIllericanos nao cessara de

    diminuir com 0 passar dos anos.

    Na

    tradw;ao francesa de

    Primitive Society, de Lowie, 8 paginas

    ainda

    sao reserva

    das

    ao totemismo:

    prinleiro, para condenar 0

    empreendi-

    111ento de Frazer, em seguida, para

    resumir

    e aprovar as

    priIneiras ideias de Goldenweiser e ainda com a ressalva

    de que sua definic;ao de totemismo como «socializac;ao

    de

    valores elnocionais» e ambiciosa denlais e

    por

    demais gene

    rica:

    enquanto

    os indigenas de Buin tenl uma atitude qua

    se religiosa para

    com

    seus totens, os dos kariera da Aus

    tralia

    Ocidental

    nao

    sao

    objeto de nenhunl tabu e

    nem

    sao

    venerados .

    Mas Lowie

    critica

    Goldenweiser

    sobretudo

    por

    ele ter voltado parcialmente atras no

    seu

    ceticismo e por

    ter admitido uma conexao

    empiric

    a

    entre

    0 totemismo e a

    organizac;ao em

    clas:

    enquanto

    que

    os crow,

    hidatsa,

    gros

    ventre

    e

    apaches

    tern clas sem nomes totemicos, os aran

    da tern grupos totenlicos distintos de seus clas. Lowie con

    clui

    entao:

    Declaro que niio estou converwido, apesa1 d perspicacia e

    da

    enuli-

    ~ o

    que

    tem

    sido dispensadas a este fim, de que a realidade

    do

    fen -

    meno totemico foi demonstrada (p. 151 .

    Dai em

    diante

    a eliminac;ao se acelera. Basta comparar

    as duas

    edic;oesdo

    Anthropology de Kroeber. A edi«;ao de

    1923 contem ainda numerosas

    referencias,

    mas 0 problema

    nao

    e abordado senao para distinguir os clas e as

    meta

    des como metodo de organizac;ao social e 0 totemismo co

    mo sistema simbolico.

    Nao

    ha uma conexao necessaria

    en

    tre

    os

    dois. Ha

    no

    m:aximo uma conexao

    fatual que

    colo

    ca urn

    problema

    nao resolvido. E,

    apesar das

    856 paginas

    da

    edic;ao

    de 1948, 0 indice

    - que

    conta cOm 39

    paginas

    - nao contem mais que uma

    referencia;

    e, a m disso, se

    trata ainda

    de

    uma

    observac;ao casual a respeito de uma

    pequena tribo

    do

    Brasil central,

    os

    canela:

    segundo

    PM

    de 1netades niio diz respeito a

    l i ~ s m t -

    moniais:

    e

    totemico -

    em

    outras palavras: certos animais ou ob;etos

    naturais servem para representar simbolicamente cada metade (p. 396).

    Voltemos a Lowie: no An Introduction to Cultural .4n-

    thropology 1934) ele discute 0

    totemismo

    em uma meia

    pagina, e em seu segundo tratado de sociologia

    primith·s,

    Social Organization 1948), menciona a palavra «totemis-

    Totemismo

    Ee 3051 - 2

    7

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    17/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    18/111

    'vizinita, 'Inas

    tambiln

    com a i n t e l l ~ i i . o tic di ;tinyuiJ--;:;e deta.

    Por

    agensfh/

    setembro, general-izou-se

    0

    usa de wna

    insignia

    na forma de um

    arCQ

    iris, upesur da cren{:u de que

    0

    u ~ o de insignias distintit'as originara-

    se de uma puni{:ii.()

    imposta

    a

    uma

    unidade

    vencida. Isto continw)u

    au

    que, no fbn da gue'rra, 0 corpo expeclicioncl,rio americano estat'u orga-

    1lizado em uma serie de

    grUl)OS

    bem definic10s e

    ( l . ~

    t'ezes

    mutuamente

    CiOSO 3 de si, e cada

    um

    se caracie'l-1za t a ]Jor It HI

    l'onjunw

    particular

    de

    id6ic1-8

    e

    prat1:cc{,t;" (p.

    298).

    0 auWr

    cnulllc,-u·;

    1)

    A di-visao

    e'/11,

    gnl.1JQS

    conscientes de illdividzw'/idadc.

    2)

    0 uso,

    1)0'1'

    cada Jrupo, de

    Itm

    nome de (mimni, objeto, ou /enO

    l1wno natural.

    S) 0 ?lSO ~ e s t e

    nome como tC1 11l0

    de

    identificfu;{io

    nas

    conliersa,roc8

    com estrangetros.

    4)

    0

    uso de Unt emblem,a desenhado nus anllf1S coleti1.·us e

    nos

    equi

    pamenws, ou para

    a

    o r n a m e n t a ~ i i o

    pessoal, com

    mn tabu

    correspon

    dente

    sobre

    0

    usa do emble11la por Qutros grupo 'J.

    5) 0 respeito

    ao "])atrono" e

    a

    sua representa{:iio desenhada.

    6)

    A crenga

    confusa

    no

    S'eu

    papel

    protewr

    e no

    m

    valor

    de

    pres8agw.

    Praticamente

    nao h pesquisaclor que, encontrando este estado de

    coisas

    numa p o p u l a ~ a o

    nao civilizada, hesita'ria em

    ligar U'Jn tal

    con

    iunto de crengas e de costum.es

    au

    complexo

    totemico... Sem

    duvida.

    o conteUdo aqzti e pobre, U) compar6t-lo com

    0

    totemism.o altamente de

    $envolvido dOB

    uustralianos ou

    meluneS'io8,

    mas

    e tao rico como 08 com

    plex08 wUmicoB das tribos norte-a1nericanas. A

    dif

    r e n ~ a principal,

    em

    r ~ o ao verdadeiro totem.ismo, se relere

    a

    ausencia de regras de

    ca

    samenw, de c r e ~ a s na descendincia. ou relacionmnenw de consangiii

    nidade com 0

    tote'm,". Contudo [observa Linwn], concf:uindo: estas

    c r ~ s

    sao

    antes

    lunfao

    da

    o r g a n i z ~ { i . ( )

    que

    do

    totemismo

    propriamente

    dito, pois

    nunca

    0 acompanham.

    3

    Todas as criticas evocadas ate 0 presente sao

    anlericanas;

    nao porque

    damos it etnologia americana un1 lugar pri

    vilegiado, mas

    porquc

    e urn fato hist6rico que a desinte

    g r a ~ a o

    do

    problema

    totemico

    c o m c ~ o u

    nos Estados Unidos

    apesar de alguDlas paginas profeticas de

    Tylor

    que

    nao

    enconfraraln ressonancia, e as

    quais

    voltarel1l0S nlais abai

    xo e

    porque la

    tal d e s i l 1 t e g r a ~ a o foi tenaZlnente persegui

    da.

    Para

    se COllvencer de que nao se trata somente de urn

    dcsenvolviInento local, basta

    considerar

    rapidamente a evo

    ltu;ao das ideias na Inglaterra.

    Em

    191·1 unl

    dos Iuais ilustres te6ricos do totelnisDlo,

    W.

    H. R. Rivers, definiu-o

    pela

    c o n j u n ~ i i o

    de tres elemen

    tos. Urn· elemento social conexao de uma especie animal

    ou vegetal ou de urn objeto

    in

    animado, ou ainda de uma

    classe de objetos

    inanimados,

    com

    unl

    grupo definido da

    comunidade,

    ~ . . tipicamcnte, com urn grupo exogamico ou

    cIa. Umclemento

    p s i c ~ 1 6 g i ~ o : c r e n ~ a numa

    relacao de pa

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    19/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    20/111

    Rivers. ponto 2 (cren .;a num parentesco com totem)

    desapareceu;

    os pontos 1 e 3 (conexao

    entre

    classe

    natural

    e

    grupo

    «tipicamente» exogamo,

    p r o i b i ~ a o

    alimentar co

    mo

    forma

    tipica do respeito) sao relegados a

    c o n d i ~ e

    subsidhirias

    juntamente

    com

    outras

    eventualidades. No seu

    lugar,

    as Notes

    nd

    Queries

    enumeram: a existencia, no

    pensamento

    indigena, de

    uma

    dupla serie,

    uma

    «natura",

    e a outra social; a homologia das r e l a ~ o e s entre

    06

    ter

    mos

    das duas

    series; a constancia destas

    r e l a ~ o e s .

    Em ou

    tras

    palavras: do totemismo, ao

    qual

    Rivers

    queria

    dar urn

    conteudo,

    so retivelllos

    uma

    pura

    forma:

    o

    termo totemismo se aplica a uma forma

    de

    organizcu;iio 80Cial e

    de pratica magico-religiosa, caracterizada pela associcu;iio de certo8 gru

    pos habitualmente cllis ou linhagens) dentro

    de

    um tribo, com certas

    classes de coisas animadas ou inanimadas, cada

    um dos gruP08

    e8tando

    associado a

    um

    cla. ]se

    distinta

    (ibid.).

    Mas esta prudencia face a

    uma

    no .;3.o que so nos confor

    mamos

    em

    conservar

    depois de te-Ia esvaziado da

    sua

    subs

    tancia, e,

    de alguma

    forma, desencarnado, so vern refor

     .;ar a

    advertencia

    geral de Lowie aos inventores de ins

    t i t u i ~ o e s

    :

    E preciso saber se comparamo. ] realidades culturais ou somente fan

    tasmas resultantes

    de

    nossos

    modo. ]

    l6f}iC08

    de

    classificCU;iio

    LowIE

    [4], p. 41 .

    4

    .A

    passagem

    de uma

    d e f i n i ~ a o

    concreta ~

    uma d e f i n i ~ o

    formal

    do totemismo remonta de fato a -Boas. Desde 1916,

    -visando atingir tanto Durkheim quanta Friu er, Boas con

    testo ll

    que

    os fenomenos culturais pudessem

    ser

    reduzidos

    it unidade.

    A

    n o ~ a o

    de «mito» e

    uma

    categoria de nosso

    pensamento que

    utilizamos

    arbitrariamente para reuoir,

    sob

    o

    mesmo

    vocabulo, tentativas

    de e x p l i c a ~ a o

    de fenomenos

    naturais,

    de obras de

    literatura oral, de

    e s p e c u l a ~ o e s

    filo

    soficas, e

    de

    casos de aparecimento de processos lingiiisti

    cos

    na

    consciencia do

    suj

    eito.

    Da

    mesma J9rm8,

    0_ tote-

    mismo

    e

    uma unidade_artificial que

    e;dste- somente

    no

    pen

    samento

    do antrop610go e

    it

    qual nada

    de especlfico cor

    _ . ~ ~ p g n d ~ _ n a realid:ide.

    Quando se

    fala de totemismo, confundem-se, com efeito,

    dois problemas. primeiro e a

    i d e n t i f i c a ~ o

    freqiiente

    de

    seres humanos

    com

    plantas ou

    animais

    e que se

    refere

    a

    visoes

    muito

    gerais sobre

    as

    r e l a ~ o e s

    do

    homem com

    a

    2

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    21/111

    natureza;

    ( ~ t a s

    rl'lat;oes

    ll

    kressalll

    it aric e it llwgia tanto

    quanta soeiedade l it rl'ligiuo. 0 segulldo prohlcIllU a

    d e n o m i n a ~ a o dos gnlpos 1'1lndados no parentesco, a qual

    pode sel'

    feita llw

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    22/111

    ~ a o de alguns dell'S,

    Na

    allsel1eia de lllll

    mecanislllo

    insti-

    tudonal

    pcrmitindo

    a divisao dos grllpos t'm

    l'xpansao.

    u

    quc restaheleeeria °equilihrio, esta evolu,ao chega rit a so-

    eiedades

    rcdllzidas

    a dois grllpos exogfunkos, Isto poderia

    SCI'

    uma

    origem

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    23/111

    ~ a o

    do

    homem com

    a

    natureza

    e a

    caracterizQ(;ao

    de

    gru-

    pos socia is que

    Boas

    julga

    contingente e

    arbitraria,

    so

    pa-

    rece

    assinl

    porqne

    a

    l i g a ~ a o real entre as duas ordens

    e

    indireta, passando

    pelo pensalnento. Isto postula

    uma

    ho

    nlologia

    nao

    tanto

    no

    seio

    do

    sistema denotativo,

    mas

    entre

    os elementos diferenciais

    que

    existem, de urn lado,

    entre

    a especie X e a especie Y e, de outro,

    entre

    0

    cHi

    A

    e

    0

    clii

    B

    Sabe-se que

    0 inventor

    do totemismo

    no plano

    teorico

    foi

    0

    escoces McLennan nos sens artigos

    da Fortnightly

    Rt'view

    intitulados «The

    Worship

    of

    Animals and Plants»

    on

    de se encontra a celebre

    formula:

    0

    totemismo e feti

    chisnlo nlais exogamia e descendencia

    matrilinear.

    Mas

    apenas

    30 anos

    foram

    necessarios

    para

    que

    fossem

    formu-

    lados,

    nao

    so

    uma

    critica,

    proxima ate

    nos termos,

    daquela

    de Boas,

    mas

    tambem

    os desenvolvimentos

    que

    e s b o ~ a m o s

    no finl do par,agrafo precedente.

    Em

    1899,

    Tylor

    pUblicava

    dez

    paginas

    sobre totemismo: suas

    « o b s e r v a ~ o e s » teriam

    evitado

    muito

    benl

    d i v a g a ~ o e s

    antigas ou recentes, caso

    nao

    se tivessem encaminhado assim para a contracorrente. An

    tes de Boas, avaliando

    lugar

    e a importancia do totemis

    rno,

    Tylor

    sugeriu

    que:

    . it s necessary to consider the tendency

    of mankind

    to

    classify

    out

    the

    universe

    (p.

    143);

    (e necessario considerar a tendencia

    do

    homem

    de lazer surgir 0 universo atraves de suas classificagoes).

    Deste ponto de vista, 0 totemismo pode

    ser

    definido co

    mo

    a

    a s s o c i a ~ a o

    de

    uma

    especie

    animal

    e de urn

    cla hu-

    mano. Mas, continua

    Tylor:

    Niio

    hesiw

    em protestar contra a maneira pela qual os totens tim

    sido colocados quase na base da religiiio. 0 t o t ~ m i s m o assumido como

    loi, a saber, como

    um

    campo secundtirio, a partir da hist6ria

    do

    di-

    f'eiw e considerado sem referencia suficiente ao quadro imenso da reli-

    giiio primitiva ( early ), se

    viu

    cercado de

    uma

    importancia des pro-

    porcional a

    sua

    magnitude teol6gica real (p. 144 .

    E conclui Tylor:

    Seria melhor adiar certos inqueriws... ate que 0 totem

    seja

    reduzido

    cl s

    BU08

    p r o p o r ~ o e 8 nos esquemas teo16gic08 da humanidade. Nao tenho

    mai8 a inten¢o de empreender uma discussM detalhada dos resultados

    sociais

    a

    base dos quais 0 wtemismo reclama uma importancia socio-

    togica ainda maior que no plano religioso... A exogamia pode existir,

    e existe de fawl., sem wtemismo... mas a freqiUncia de

    sua

    combi-

    n ¢o

    sabre os

    /4,

    da

    terra mostra

    qUM

    antiga

    e eficaz

    loi

    a

    ~ o

    dos

    totem para consolidar os cliis e aliarlos ate

    formar

    0 circuM>

    mais

    am-

    plo

    d

    tribo (p. 148 .

    I

    0 que

    e uma maneira

    de colo

    car problema

    do

    poder

    logico dos sistemas denotativos tornados de

    emprestimo

    aos

    reinos naturais.

    24

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    24/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    25/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    26/111

    J'enbmcnos) c

    lllll

    gl'upo cultural (mctadc,

    scc

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    27/111

    2

    Snbe-sc qut.' It pulnvrll lotf)m foi fOl mndn H pnrtir do

    ojibwu. lingua algonldn in l l gHio no

    norte

    dos Gl undes

    Lngos

    da

    Amerirn do Norte. A cxpressi io

    otoif>man,

    que

    significa aproxinuHimllente «de C

    ,de

    Ininhn parentela», se

    rlcl olupoe

    em:

    0

    inidnl,

    sufixo dn

    31 1

    pesson,

    t

    cpcntcsc

    (para cvitUl a ronlcsc(-nl iu dus vognis),

    -m-

    possessivo, -an

    sufixo In

    3'

    J>csson; cnfim, -otc- que

    exprime

    0 parcntesco

    t ntre Ego C lUll parente consungiiinco, mncho ou fClnen,

    definindo

    pois 0 grllpo cxogi llnico no nivel de

    ~ e r a c a o

    do

    snjeito. Expl ilnin-se nssim n f i l i n ~ ~ i i o nos cliis:

    makwa

    lli

    dotem: «0

    urso

    men

    di i»;

    l ,illdikrll

    nindotem: «cntra,

    meu

    irmao

    dc

    da»,

    etc. Os ellis oJibwa,

    pOl'

    eonseguinte, possuem

    na

    maioria nomes nnimnis, fnto

    quc

    Thuvenct - missiona

    rio frances que

    vivcu no Cnnadll

    no

    fim

    ,do

    seculo XVIII

    e no infcio do seculo XIX - cxplicnvn pela lembranc;a que

    cada cUi preservarn de um nnimnl do pais de origem co

    mo 0 mais belo, 0 rnais amigo, 0 mnis temido, 0 mais

    comum,

    ou nindn, nquelC hnhitnnhnente c ~ n d o

    (CuoQ,

    p.

    812 't'J13)

    Este sistema de dcnorninnC;ao coletivn nao deve ser con

    fundido

    com

    a crenc;a, professada pclos meSlnos ojibwn,

    de que cada

    individuo

    pode

    entrar

    em

    relac;ao

    rom

    um

    animal que se tornara sen espirito guardiao. 0 unico t( l -

    rno atestado que design a cste esplrito guardiao individun 1

    foi transcrito pOl urn viaj an te dn meta,de do seculo XIX,

    como

    n;gulmes:

    ele

    nao

    tern, pOl tanto, nadn a ver rom n

    palavra

    totem ou outrn expressao do IneSlno tipo. Dc fato,

    as pesquisas sobre os ojibwa demonstram que a primeira

    d e s c r i ~ o da pretendida i n s t i t u i ~ i i o

    do dotemismo» -

    dada

    ao

    negociante e interprete ingIes Long, 110 fhn do seculo

    XVIII - origina-se

    de uma

    confusao

    entre

    0

    voenbu19.rio

    dos cIas (oode os

    nomes

    nnimais correspondem n denomi

    nac;oes coletivas) e as c r e n ~ u s relativas aos espfl itos ~ u r ·

    diies (que sao protetores illdividuuis)

    (Handbook

    of North

    American Indians.

    nrt. «Totemism»). Isto apareccra melhor

    a partir de uma unalise dn sociedade ojibwa.

    Parece que estes indios

    estavam

    organizados em algumas

    dezenas de elaa patriIineares e patrilocais,

    ,dos quais

    cinco

    poderiam

    ter

    sido

    mais

    velhos

    que

    os outros, ou,

    em

    todo

    ca80, gozavam de urn prestigio

    particular.

    m

    mito

    _pUcCI que e8te8 Oi7UlO ol8s "primiti'V08" remontam

    I 88is

    • rt

    olwenGttwaie cmtlropomor 08, BQ ld08 do 0080,11.0

    paA Q,

    mistU'M'r8m

    I

    GO,

    hOtMM. Um deles tinkQ

    08

    olkoB

    cobert08

    0

    n40 OUSQ,'VQ, olka'l'

    o. ' dios.

    lJe

    bem

    que demonBtrasse orQ nde desBlo em

    lUI·lo.

    InOQ fJlU d.

    28

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    28/111

    controlWI -H(l

    levnntmt alill 1l

    U

    IH:U

    e

    HeU olilftr

    CUIU

    Hob,.e

    I t '

    J w ~ ,

    que m,orreu

    inHtantmwn.ment(

    como que

    lulminado. Pois, apelJO '

    tIG

    diBpOHiC(jCS mnitl(i'vciH

    do

    1JiHiUtntf',

    HeU

    oillar

    era

    forte

    ckmo.ilJ.

    S

    companheiroR obrigaram-no

    1Jois a

    voltar ao /unM dOB

    nu:we

    ••

    o.

    OKtf'O'

    cinco

    1Jermancceram

    entre 8

    fnelioH e foram causa

    de muito.. ~

    1Jara elcH. liHtes eHUio

    na

    origem dOH grandeR dtiH

    ou

    toUM:

    .uee.

    {/rou, mergulluio, urso, nlce O1L nwrta

    (WARREN,

    p. -,3-H).

    Esle

    lllilo,

    npesnr

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    29/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    30/111

    les du curpu uu animal do dfl: cabe\,iI, parte trasdrtl. ;;1 1 -

    dura

    suhculfUlca, clc.

    Heuninuo c eomparando as

    i n f o r n l ~ o c s

    IU'U\'Cuil'nlt·s I

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    31/111

    sumir tal carne ou tal parte do corpo de Uln

    animal, pOl

    cxeulplo, a carne do porco-espinho, a lingua do alee, etc.

    anitnal yisado

    nao

    figura

    necessariamente

    na lista das

    i e n o m i n a ~ o e s totemicas.

    SISTEMA

    MANIDO

    grande

    espIl ito

    sol,

    lua

    trov oes

    pontos

    cal deais

    SISTEMA aguia, pato,

    genio

    das aguas,

    solha,

    esturjao,

    etc.

    TOTEM

    serpentes

    ctonianas

    etc.

    Da 111eSrna nlaneira, a a q u l s l ~ a o de

    unl

    espirito

    guardiao

    vinha coroar urn empreendimento

    estritamente individual,

    a que moc;as e

    rapazes eranl encorajados

    ao se

    aproxima

    rem da

    puberdade. Em caso de sucesso ganhavam urn pro

    tetor sobrenatural, cujas caracteristicas, e as circunstancias

    da

    sua

    aparic;ao, eram iguaimente indicios que informavam

    aos interessados sobre suas aptidoes e sua voeac;ao. Estas

    vantagens porem estavam garantidas somente

    sob a eon

    d i ~ a o

    de se dirigirem

    ao

    protetor com obediencia e diseri

    c;ao.

    Apesar

    de

    todas estas diferenc;as, a

    confusao eometida

    pOl Long, entre totem e espirito guardiao, se

    expliea

    em

    parte pelo fato de este

    ultimo nunea ser:

    um m.amifero ou pas8aro particular, t l como se podia ve-lo

    de

    dia em tor o do

    wigwam, m as

    um ser sobrenatural que representava

    toda a especie (JENNESS, p. 54 .

    3

    Transportemo-nos

    agora para uma outra parte do mun

    do, seguindo Raymond Firth,

    eujas analises

    muito eontri-

    32

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    32/111

    buira111 para irazer

    a luz a

    extrema

    complexidade e 0

    cara

    teI

    heterogeneode c r e n ~ a s

    e costumes, reunidos depresaa

    demais

    sob a

    etiqueta

    totenlica. Estas analises sao

    muito

    mais

    demonslrativas por

    se

    referirem

    a uma regiao - Ti

    kopia - que, conforme pensava Rivers, of

    ereceria

    a

    me

    Ihor

    prova

    da

    existencia do totemismo

    na

    Polinesia.

    Todavia, observa Firth, antes

    de afirmar urna tal pre

    tensao,

    . e lJreciso suber se, no que diz 1 .espeito aos Iwmens, a relaycio [com

    especies

    au

    objetos natnrais] engloba a populaf}ao no seu

    WM, 014 e

    se refere s01nente a

    algumas

    pessoas, e, - no que diz respeito aos ani

    l1wis au

    vegetais

    - se se trata de especies tom.adas em bloco ou de

    individuos particulares; se objeto natural e considerado como

    um

    representante, ou como

    um.

    emblema do grupo humano; se se Verific.a

    sob uma ou outra forma a nOf}iio duma identidade (por

    um

    1ad

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    33/111

    1 os) e 0

    ritual

    agrkola se npl'l'scnla primeirulllcnte como

    uma

    s o l k i t n ~ a o

    do ttl US. 0 pupd do chefe do cIa e, pois,

    cnt prhneiro lugar.

    « l o n t r o l n r ~ ullla especie

    animal. f:

    ne

    ('cssal io

    ainda

    fazl'r umn distiIH;iio

    cntre

    as cspecics: a

    1 ) l u n t a ~ a o c a l'olhcita do inhume

    e

    do

    taro e

    a coIhcita

    tIn

    fruta-pao

    sao

    dc

    curilier

    cstacional. Niio

    ocone

    0

    lUcsmo

    l 0111

    os c()(IUciros. que se lllultiplicnm cspontaneamcnte c

    l ujos

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    34/111

    POI

    mais

    diferentl

    que

    estc milo

    sl ja

    daquele

    dos

    OJI

    bWH, oferccl

    contudo alguns

    pontos

    comuns

    com cle,

    que

    e

    preciso sublinhar.

    Primeiramente

    notar-se-il a

    mesma

    oposi

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    35/111

    getal c deus

    e

    de cHrilter pcrmuncnle. Dcsle ultiIno ponto

    de vistn, qunse se Jlodcrin dizcr quc a lllctonimia corres

    ponde U ordcnl do ncontcl'imcnto; n lllct,{lfora

    it

    ordem

    dn

    cstrutura (l f. sobrc cstc ponto JAI{()BSON c

    HALLE,

    cap. V).

    J

    Qm.

    us

    pInntns c nniInuis eOlllcstivcis nao sao de uses, e

    l'onfirmado

    pOl

    unln outra

    o p o s i ~ a o

    fundmnental: aquela

    entre

    atua

    c uliIllento. Nn vcrdndc, as peixcs, insetos e rep

    leis uao cOInestiveis e que sao -dcsigllados

    COIn

    a

    palavra

    atua:

    pl'ovnvchncntc, sugere Firth, pOl'que «us criaturas hn

    proprius ao

    conSUlllO

    nao emcrgenl

    du

    ordenl norDlal da

    naturezu no cuso dos uninulis, nao sao as alimentos co

    mestivcis,

    mas

    os nao cOIncstiveis que sao associados com

    os seres sobrenaturais» (p. 300).

    Se,

    pois, continua

    Firth:

    . . . devemo8 tratar

    tocios

    estes fenomenos

    CO InO

    constitutivos

    do

    tote-

    mismo. 8ma

    neCe8Sano reconhece l que em Tikopia h6 duas formas

    distmtaB

    da

    relenda

    i n s t i t u i ~ a o : uma

    positiva, que se I elaciona com

    08

    alimentos vegetais e que da enfase a fe l tilidade; outra, negativa,

    91 6 diz respeito aos animais e que privilegia aqueles que nao servem

    de

    ali1Mnto (FIRTH, [1], p 901 .

    A ambivaIencia

    atribuida

    aos aniInais surge

    ainda

    bern

    maior, porque os deuses assunlcnl diversas formas de en

    c a r n a ~ o animal. Para os sa tafua

    0

    deus de cla e

    uma

    en

    guia que faz

    amadurecer

    os frutos dos coqueirais

    de

    seus

    fieis;

    mas pode talnbem metalnorfosear-se em morcego

    e, como tal,

    destruir

    os

    pahneirais

    dos outros clas. Daf a

    p r o i b i ~ a o alimentar

    visando os morcegos, bern como a gali

    nba dos pantanos e outros passaros;

    pOl

    ultimo os peixes,

    que estao

    em r e l a ~ a o

    particularmentc estreita com certas

    divindades. Estas

    p r o i b i ~ c 3 e s

    que podem

    ser

    gerais, ou res

      ritas a urn cla ou linhagem, nao

    apresentam

    contudo ca

    rater

    totemico:

    0

    pombo, ligado intimamente ao cia tau

    mako, nao e consumido, mas nao se tern escrupulo em rna

    ta-Io porque ataea os jardins. Alem do mais a

    p r o i b i ~ i o

    e

    restringida aos mais velhos.

    Alrss

    das

    c r e n ~ a s

    e das

    l r o i b i ~ o e s

    particulares, se esbo

    ~ a

    urn

    e ~ e m f u n d a m ~ n t a ~ C l j a s

    propriedades formais

    subsistem; independentemente das

    r e l a ~ o e s entre

    tal espe

    de animal ou vegetal e tal clii, subcla ou linhagem, atraves

    dos quais se manifesta.

    Nesta perspeetiva notal'-se-' que os do is mitos de origem

    do

    tote

    miamo que aeabamos de resumir e comparar tambem podem ser

    con-

    aicleraclo8

    como mitos de origem da metatora. E,

    como

    a estrutura me-

    taf6riea , em

    pral

    0 proprio. doB mitos, estes constituem,. portanto,

    metMoraa de

    I8gundo grau. . . .

    36

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    36/111

    Assim, 0 delfinl possui uma afinidade especial corn ~

    linhagenl

    korokoro

    do cia

    tafua. Quando um animal ficc.

    encalhado

    nn

    praia, os membros deste

    grupo

    de parentt sco

    levuln-lhe

    uma

    oferenda de

    alimento vegetal fresco, cha

    Inado putu, «oferenda sohre 0 tlllllUlo de urn reeentcmente

    falecido». A carne e enl seguida cozida c

    repartida entre

    os clas, conI

    e x c e ~ a o

    do

    grupo

    de

    parentesco em

    questao,

    para

    0 qual a carne e tapu uma vez

    que

    0 delfim e a en

    c a r l l a ~ a o preferida do seu atua.

    As regras

    de

    d i s t r i b u i ~ a o

    atribuem

    a c a b e ~ a aos fanga

    rcre, a cauda

    aos tafl1H

    a parte da frente do corpo aos

    taumako,

    e a parte

    de

    trils aos kafika. Os dois cHis

    euja

    especic

    vegetal

    (inJulnle e taro

    e

    Ulll «corpo» de deus tern

    assiIn direito a

    partes

    «coq>o», c os dois cuj a especie (coco

    e

    fruta-pao

    e unla « c a h e ~ a » de deus recebem as exlremi

    dades

    c a b e ~ a

    e

    cauda .

    A

    forma

    de urn sistema de rela

    ~ o e s e estendida de maneira coerente a uma s i t u a ~ a o que,

    it prhneira vista, pareeeria ser-lhe completamente estranha.

    E, asshn

    como

    entre os

    ojibwa,

    urn segundo sistema de re

    l a ~ o e s

    com

    0 Inundo

    sohrenatural,

    envolvendo p r o i b i ~ o e s

    alimentares,

    se cOlnbina

    COl11

    uma

    estrutura

    formal, perrna

    nccendo

    no cntanto nitidamente distinta, enquanto que a

    hipotese totenlica

    levaria

    a confundi-los. As especies divini

    zudas,

    objeto

    destas

    p r o i b i ~ o e s

    constituem sistemas

    separa

    dos daquele das f l 1 n ~ o e s de

    cHis

    elas mesmas relacionadas

    COIn

    a a l i m e n t a ~ n o vegetal; assim,

    0

    polvo, assemelhado it

    rnontullha, cujus

    torrentes

    sao como tent.aculos, e, peJo mes

    rno 1l1OtivO ao sol com seus raios; e as ellgl1ias, lacustres

    e nlar1nhas, que sao 1110tiVO de Ulna p r o i b i ~ a o alinlentar

    tao severa que

    as

    vezes 0 so olhar para elas provoca vomito.

    Conto

    Firth,

    pode-se

    conduir que

    em

    Tikopia

    0 animal

    nao e eOllcehido nelll como lim emblema,

    nem

    como urn

    ancestral,

    nelll ('Onl0

    unl parente.

    0

    respeito e

    as

    p r o i h i ~ o e s

    que

    ceream certos animais se explicam, de modo complexo,

    por estas

    tres ideias:

    grupo se origin a de urn

    ancestral;

    o deus

    se

    encarna nunl allinlal; e existiu nos tempos miti

    cos urna

    r e l a ~ a o

    de a l i a n ~ a

    entre

    0

    ancestral

    e 0 deus. 0

    respeito para COIU 0 animal the advem indiretamente.

    Por outro Iado, as atitudes para

    eOlU

    as

    plantas

    e anirnais

    se

    opoem

    entre si.

    Ha rituais

    agricolas, mas nenburn rito

    de

    pesea

    ou

    de

    c a ~ a

    Os

    atua

    se manifestam

    aos

    homens

    sob forma

    animal,

    nunea sob forma vegetal. As p r o i i ~

    alimentares, quando exist em, referem-se aos anima s, nio

    aos vegetais. A r e l a ~ a o dos deuses com as especies vegetais

    e

    simb6lica,

    sua r e l a ~ a o com

    as

    especies

    animais real

    no caso dos vegetais, a r e l a ~ a o se estabelece

    8

    nivel cia

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    37/111

    espccu: , cnquHlltu

    que

    uma espeCIC

    animal nUllCU

    e uluu

    nUlS apenas tal animal, em tais circunstancias particulares.

    Enfinl,

    as

    plantas

    «marca

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    38/111

    das a afirmar a cOlllpatibilidade. A razao que os auimai ,

    os

    vcgetais

    e os minerais sao

    verdadeiramelltc

    concehid(J'

    como ancestrais pelos lllaori e

    nao podem

    deseI11penhar f

    papel

    de

    totens. Como nos Initos «evolucionistas» dc

    Samoa.

    uma serie, forl11ada de elementos

    dependentes

    das tres gran-

    des

    ordens

    naturais, e concebida

    em continuidade

    sob du

    plo

    ponto

    de

    vista:

    genetico e diacronico. Ora, se

    seres ou

    elenlentos naturais estao em r e I a ~ a o de ancestrais c de des

    cendentes, uns elll r e l a ~ a o aos outros, e, todos

    juntos,

    em

    r e I a ~ a o aos honlens, cada

    unl

    deles torna-se inca

    paz

    de dc

    senlpenhar sozinho papel de

    ancestral

    frente a um grupo

    hmnano

    determinado.

    Para

    empregar uma terminologia mo

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    39/111

    o sentido

    de mana tem

    muito

    em comum

    com

    sentido de

    tupu

    mas dilerem ttJtalmente em um ponto significativo. Os dois termos evo-

    cam

    desdobramenro, a

    atividade

    e a vida,'

    mas, enquanto

    tupu

    e £

    e::rpresso o

    da natureza das

    COiIW

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    40/111

    C PiTULO SEGUNDO

    o NOMINALISMO AUSTRALIANO

    1

    M lH20, VAN GENNEP ( onstatoll

    quarenta

    e

    uma teorias

    diferenles do totemismo, das quais, sem duvida alguma, as

    Inais

    importantes

    e as mais recentes

    foram edificadas

    ten

    do

    pOl

    hase

    os ratos

    anstralianos.

    Nao

    e

    pois

    surpreendente

    (lue seja a

    partir

    dos Jnesmos fatos que eminente especia

    Jista contemporfmeo

    an

    Australia A. P. Elkin tentou reto

    mar

    prohlema, inspirando-se

    no mesmo tempo num me

    todo empirico e descritivo enos

    quadros

    analiticos defini

    dos alguns anos

    antes

    por Radcliffe-Brown.

    Elkin

    segue tao

    de perto

    a

    realidade

    etnogr

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    41/111

    do dc vcstigios U perifcria do continente, ou -   que e

    nlais p r o \ ~ l \ c 1 - COUIO lUll resultado da desagregac;ao mar-

    ginal

    dos sistenms de classes.

    As

    sodcdades

    de

    nlctades

    nlUtrilinearcs selu secc;oes,

    Ill IlI

    subsec«;oes) tenl

    uma

    distribuic;ao

    nleridional;

    ocupanl

    IUHci«;aIncnte

    0

    sudeste suI de Queensland, Nova Gales do

    SuI,

    Yid6ria

    e

    0

    leste dn

    provincia

    Iueridional);

    e tanl

    henl uma pequella zona costeirn a sudoeste da

    provincia

    ocidentnl.

    As sociednc.les de metndes pntrilinenres conI secc;oes ou

    suhsec«;oes) se situmn nn regiao

    norte

    do continente desde

    a terra de Dnnlpier ate t\ peninsula do cabo York.

    Encon trmuos enfinl as organizac;oes de 4 secc;oes a noroes

    te (a regino dos desertos e ate a costa ocidental) e a nor-

    deste

    (Queensland),

    de alubos os lados da regiao central

    que

    e

    ocupada

    1)elas organizac;oes de 8 subsecc;oes (desde

    a

    terra

    de

    Arnhenl

    e

    da

    peninsula do cabo York

    ate it

    re-

    gino do lago

    Eyre

    ao

    sui).

    Lembrenlos rapidanlente eln

    que

    consistem estas

    organi-

    za

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    42/111

    Passa-sc a l l l sistema

    de

    8 subse

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    43/111

    rna categoria que seu ayo e neto, ao

    passo

    que

    0 pai

    e os

    filhos pertenccrao a ontra

    categoria.

    1\1a5 ser{l

    impossivcl

    interpretar esta c l a s s i f i c a ~ a o a

    menos que

    vejamos

    ai

    uma

    conseqiiencia,

    direta

    Oll

    indireta,

    resultando do jogo de re-

    gras

    de

    casamento

    I.

    de

    descendencia

    ja

    complexas.

    Logi

    camente, nao podemos torna-Io urn fenomeno primeiro.

    Pelo

    conh ario, toda sociedade ordenada, qualquer

    que

    seja sua

    o r g n i z ~ o e seu grau de

    complexidade,

    deve se definir

    de uma ou de

    outra

    111aneira, em termos de residencia; e,

    pois, legitimo recorrer a n111a regra particular de

    residen-

    cia como a um

    principio

    estrutural.

    Em

    segundo lugar,

    a interpreta\ao baseada llUllla dialeti-

    e da residcncia

    e da filia

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    44/111

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    45/111

    outros l oshllllrs

    on

    i l l s t i l n i ~ c . ) r s

    Sl

    assrmclluuu aos dos

    kurnni. Tmnbt m

    entre os aranc.la

    as

    luulheres h ~ 1 1 1 ils ve

    Zl S

    a

    illidativa:

    nOl lualllll ntl

    para

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    46/111

    ..

    .

    1; . r - ~ - - r ' . - ' ~ . ' - - ; ; ' J ( ) km

    WAOJEAI

    AUSTRALIA

    OCIDENTAL

    o I tHIO/l

    )(O(;/lI1A

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    I

    YtlNr;MAN

    AINHIN(;A

    WfliHIAMIJNGA

    TERRIToRIO DO

    NORTE KAITISH

    /lI1ANDA

    [ ~ r e i t o

    QU

    L ________ _

    --_.&.----,

    AUJnIDJA

    PITJANJAAA II.DRITJAI

    f ~ l I d l ~ Raia

    Au'tf,all&.H1il

    ----l.. MACIIMAA :

    WAII'-'

    I

    I.IV') f i re

    I

    Ollnl

    t---

    :

    I

    :

    N

    I D

    I

    I

    --

      .

    0\

    il> I

    i

    • ,

    \ ,\\r

    , , ~ ~

    loculllar;lio das Iribos aU llraliuna \ m a i ~ 1 Irnqlicnlcmonlo cllada l.

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    47/111

    tOkllS sao associados a certos lugares especificos e nao a

    grupos

    socia

    is,

    as

    coisas

    yenl

    a dar 110

    l11esnlO,

    grac;;as

    a

    cllgc11hosa tCOI ia de

    que

    os espiritos

    fetais

    senlpre sc preo

    cupall1 ell1 fazer ll10I'ada 110 ventre de

    lU11a

    ll1ulher

    da

    sub

    sec\,ao

    dese

    jada, para que a coincideneia tearica

    entre

    to-

    teln sllhscc\,ao

    seja

    respeitada,

    1::

    l'Olllpletmncntc

    diferentc

    entre os kaitish, os al anda

    sdentrionais

    e os

    loritja

    do

    Noroeste.

    Seu

    totel11is1110

    e «eon-

    cepcional», isto

    e

    0 totelll atribuido a cada crian

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    48/111

    eo c gralha,

    on

    falcao c gralha; no Leste, segundo duas

    variedades de cacatl1a, branca e preta

    respectivamente,

    etc.

    Esle

    dualisulo esteude-se a

    toda

    a

    natureza,

    pois, ao

    me-

    nos teoricaInente,

    todos os seres e todas as

    m a n i f e s t a ~ 6 e s

    sao repartidas

    entre as

    duas llletades:

    tendencia

    ja latente

    entre

    0 s

    aranda,

    porqnc

    seus

    totens

    enumerados, ultrapas-

    sando eln lllUilo 400,

    sao

    reagrupados em lunas 60 catego

    rias. As Inelades

    naD sao necessarialnente

    exoganlicas,

    con

    tanto quc

    sejmn

    rcspeitadas

    as

    regras de exoganlia totenli

    l a loeal

    c

    dc parentesco. EnfiIn,

    as nletadcs

    podem existir

    sozinhas, conlO e

    0

    l aso nas soeiedades perifcricas, ou acom-

    panhadas de s e c ~ 6 e s ,

    de

    s u b s e c ~ 6 e s ,

    ou

    destas duas

    formas.

    Assiln, as tribos da

    regiao

    de Laverton teln s e c ~ 6 e s mas

    n a ~

    tenl

    llletades, neUI

    s u b s e c ~ 6 e s ;

    na

    terra

    de

    Arnhem

    nolmnos tribos de Inetades e de s u b s e c ~ 6 e s , mas sem sec

    ~ o e s

    Enfiln, os nangiOlneri tenl somente s u b s e c ~ 6 e s , sem

    nletades nenl s e c ~ o e s

    Parece

    pois

    que

    as

    nletades nao

    sur-

    genl de luna

    serie genetica, fazendo

    delas uma

    c o n d i ~ a o

    necessaria das

    seq;6es

    (conlo

    estas

    pOl

    sua

    vez seriam a

    c o n d i ~ a o

    das s u b s e c ~ 6 e s ; que sua f u n ~ a o nao

    seja, neces

    s[lria c autOlnalicanlente, a de

    regulanlentar

    os casamentos;

    e

    que

    seu car[lter Inais constante

    esteja

    en1

    r e l a ~ a o com

    0

    totenlisulo pela

    b i p a r t i ~ a o

    do universo

    em duas

    categorias.

    4

    ConsidereUlos

    agora

    a fOrIlla

    de

    totenlisnlo

    que

    Elkin

    cha-

    Ina «to telnisnlo de cHi». Os clas australianos podem ser pa-

    trilineares

    ou

    Iuatrilineares ou

    ainda

    «concepcionais», isto

    e

    agrupando

    todos os individuos supostamente concebidos

    no

    nleSIno lugar. Qualquer que seja tipo

    do

    qual depen-

    daIll os clas, estes sao nornlalnlente totenlicos, isto e, seus

    111enlbros obSerVaIll

    p r o i b i ~ o e s aliJnentares

    COIn

    r e l a ~ a o

    a

    lun ou a vilrios totens, e tenl priviIegio ou a o b r i g a ~ a o

    de celebrar ritos para garantir a n U l l t i p l i c a ~ a o da especie

    totenlica. A r e l a ~ a o que une os membros do cUi a seus

    totens e

    definida,

    segundo as

    tribos, conlO

    genealogica

    (sen

    do

    0

    totenl ancestral do

    cIa), ou local

    quando

    uma

    hor-

    da e ligada a seus

    totens

    pOI

    intermedio

    de

    seu

    territorio,

    onde se encontranl os sitios totemicos, lugares nos

    quais

    se

    iInagina que

    residenl os espiritos,

    saidos do

    corpo do

    ances-

    tral

    Initko).

    A r e l a ~ a o para conI

    0

    totenl pode mesmo ser

    silnplesnlente

    lnitica,

    como

    no

    caso

    das

    o r g a n i z a ~ o e s

    de

    sec

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    49/111

    h0111Clll

    pCl lcncc

    il

    mesilla

    s c c ~ i i o

    quc

    0 pai

    dc scu pal

    C

    possui os

    llll SIllOS

    totcns

    quc

    clc.

    Os

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    50/111

    dos pais.

    1

    POl outro

    Judo, nao existe l nu

    r e J a ~ i i o

    ~ I l t r ~

    totemismo e a tcoria indigcna da procl-ia

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    51/111

    Dl'pois

    (Ie

    UUlU longn llmilisl'. rl lOlunc.ln

    l

    l ompldutin pOl'

    outros h'uhnlhos C ({Ut' uqui S() l'(.'sumimos l'Olllcntnmos

    hrt'\'Clllt'uh'. Elkin l'onl'lui qUt l'xistcm nn Austl'llliu fOl'lllnN

    h c t l I O ~ r n t n s

    tit toh.'mismo, Estns podcm

    Sl'

    lH lUnullll : UN-

    s.hu.

    0..'

    dil'l'i.

    (lut,'

    yin lll no nOl'Ol'stl' tin Austl'l'alin

    M l ~ l i -

    diolUal.

    l)ll... \Su(,1ll

    simultnnt,'nllll'nh'

    um

    toh'mislll() dc meindl',

    UIll

    totl'lllislllO st,'xnnl. um toll'mislllo dl' l'hl lllntl'ilinl'nl'

    UUl toh.'mismo l'ultuul ligndo

    1\ l l s i c l ~ n d n

    pntl'iIOl'nl.

    AU'Ill

    disso, culrl' l'slcs intllgl'lUls,

    )

    totl'lll ('ullunl do il'mao tin

    mie l t'spt'itndo pt'lo filho tin it'mil, ('omo tnlllbcm 0 dc

    seu

    pai (0 t\nit'o

    qUt' dc.'

    ml'smo tl'nnsmitil'.tl n s(.'us filhos).

    No nortE

    de

    Kimhl'l'lev ('lll'ontl'Umos

    ussodndos 10lcmisl110S

    de

    metac.ie til

    hordu pntl'ilint'm' 10l'nl e de souho. Os

    nl llll

    da

    do sui

    teUl

    l'Ultos totrmil'os pntl'ilinenl'cs

    (que

    se

    ~ O l l -

    fundenl l'Onl os to lens de sonho) c cullos toteluicos herdn

    dos

    do irmiio

    dft

    mae l'nqunnto quc, entre os outros

    nrandn,

    eneontl'anlOS um

    totrmismo

    roncepl'ional individual, asso

    dado

    ao

    rt'speito ao totem

    mn

    lerna.

    Con\'em pois rlistingllir «esperies»

    irredutivcis: 0

    tote

    mismo individuul;

    0 totemismo soriul, no scio do qual dis

    tinguire.Jnos. l'omo tuntas val'iedudes, os totelllismos sexual,

    de metade, de

    sec-;iio, de suhsel'-;ao e

    de

    cla (quer patrili

    near,

    quer matrilinear); 0

    toteluislllO

    cultual, de

    essencia

    religiosa.

    que ronlporta

    dURs

    val'iedades:

    UlnR

    patrilinear,

    outra concepcional; e finalnlente, 0 totemislllo de sonho que

    pode

    SCI'

    social ou individual.

    5

    Como se ve, a tenlativn de Elkin prindpia COlno Ulna

    S8

    r e ~ i o contra

    as

    a s s o c i a ~ o e s imprudcntes ou inlpudentes

    us

    quais os te6ricos do 10temiSlno rcrorrelll para constitul-Io

    sob

    fonna

    de

    i n s t i t u i ~ i i o

    tmira

    e

    prcscnte

    nUlU

    grande

    Utl-

    mero

    de

    sociedades. Niio h8 dllvida

    algunla que 0

    ilnenso

    e s f o ~ o de i n v e s t i g a ~ i i o

    em preendido pelos antl'op610gos

    auatralianos,

    seguindo

    Radcliffe-Brown, e

    cspecialmente pOI'

    Elkin permanece como a base indispcns8vel

    de

    toda

    nova

    i n t e r p r e t ~ i o dos fatos australianos. Scm faltar com a ad

    m i r ~ i o Ii qual

    tem dircito uroa

    das mais fccundas

    esco

    las

    antropol6giras

    contenlpori'inclls, e n scu ilustrc chefc,

    podemos

    perguntar-nos

    se cstc,

    no plano

    tc6riro

    assim

    co

    mo

    no metodol6gico, nao se deixou

    aprisionar

    num

    dile

    ma que

    de

    modo algum era sem s o l u ~ i i o .

    Ainda que seu eltudo Ie 8IE1:ente sob urna forma obje

    ti . e empirica, pareee

    que

    in huseR reconstruir sobre

    o terreno devastado pela crltica americana. Sua atitude

    52

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    52/111

    t'l'l'nll'

    It n n < l l ' l i f f l ~ - B l ' o w n I.

    mnis t'quivol'u. Como veremoa

    llUlis ndinnk Hntil'lifl'l'-Bl'OWll

    st

    prOIlUllcioll sobre tote

    mislllo l'm 1

    H2U ( Ill

    it 1 1ll0S tilo I l l gn tivos l'omo os de' Boas:

    illsistiu lllnis, l'lltl'l'tnnto, nos fntos nustrnlinnos,

    propondo

    d i s l i n ~ t ) e s qUl ]ll'nticnllH'ntc silo ns nH'smus qlH 8S retoma

    dns pOl' Elldn. MilS, ('nqunnto Rnddiffe-Brown utilizava

    CShlH

    d j s t i n ~ o ( ' s

    pnru

    fnZl l

    ('stournr. sc ossim podemos di

    zer, n n o ~ ' i i o tit' tott'mismo, Elkin toma outro

    rumo:

    a

    par-

    tir dn divl'l'sidndc tills 1'o1'mns nU8t1'alianns de totemismo,

    l'le nuo l'ollclui, upos Tylol', Bons l' nps proprio Rad

    clifi'l'-Brown,

    qUl'

    n n o ~ ' i i o de tolcmismo

    ·

    inconsistente e

    ({ue

    umn 1'cvisi\o nlentn dos futos levarin n dissolve-Ia. Li

    mitn-se n ( 'ontestlll' 8ltH unidndc eomo se ucreditussc que

    podel'in snlvnr n rcnlidnde do totemismo, redl,zindo-o a

    umn lllultiplieidndr

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    53/111

    Elll

    que

    estado, portanto,

    Elkin cncontrou

    a

    etnografia

    australiana ? Scm din ida algllnla cIa cstava prestes a su·

    cUlllbir as denlstat.;ocs do cspirito de

    s i s t e m a t i z a ~ a o Era

    pOl

    demais

    tcntador, j {l dissemos,

    considerar

    somente as

    formas que pareciam

    luelhor organizadas,

    dispo-Ias

    em

    or

    dem de

    complexidade

    crescente, enfim, subestimar resolu

    tamente aqueles

    aspectos seus que - como totemismo

    aranda - cram dificilmente integraveis.

    Mas, diante de uma situa

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    54/111

    6

    Voltenlos a progressao aritmetica das classes porque tudo

    parte dai. Muitos autores a

    interpretaraIll

    como uma serie

    genetica, como j,a temos lembrado.

    Na realidade as

    coisas

    nao sao tao sinlples, pois as

    metades nao

    se

    « l r n s f o r m m ~

    enl

    secc;6es,

    nem

    as secc;6es

    em

    subsecc;6es. 0

    esquema

    logi

    co nao consiste enl tres

    etapas

    que poderiamos

    supor

    su

    cessivas: 2,

    4,

    8; e antes do tipo:

    (0)

    :\Ietadcs

    I

    I

    0)

    SCCI;OCS

    J

    SubsCCl;oCS

    Em

    outras

    palavras:

    as

    organizac;oes podem ser constitui

    das apenas

    de meta

    des, ou de sccc;6es, ou de subsecc;6es,

    ou ainda pOI'

    duas quaisquer

    destas formas, excluindo da

    terceira como Elkin demonstrou. Mas e necessario concluir

    dai que a razao tlltima de ser dcstes modos de agrupa

    lnento

    nao pode ser encontrada

    no plano sociol6gico e

    que

    e necessario procura-la no plano rcligioso ?

    Consideremos

    em prinleiro lugar 0 caso

    mais

    simples. A

    teoria das organizac;oes dualistas foi, pOl' muito tempo, vi

    tima de unla grande confusao entre os sistemas de

    meta

    des, empiricamente dados c observ.aveis ao nivel

    de

    insti

    tuiC;ao, e 0 esquema dualista sempre implicado nas organi

    zaC;oes de

    meta

    des, mas que se lnanifesta tambem em outro

    Iugar sob formas desigualmente objetivadas, e que

    podc ';

    ria

    mesmo ser universal. Ora, este esquema dualista

    est::i

    subjacente nao so nos sistemas de metades

    mas

    tambenl

    nas secc;oes e

    nas

    subsecc;oes; c se manifesta ja no fato

    de as

    secc;oes e subsecc;oes

    serem sempre

    multiplos

    de

    2.

    t

    po s urn falso problema perguntar-se se as organizac;oes

    de

    nletades precederam

    necessariamente

    no tenlpo

    s

    for

    mas

    mais complexas. Isto foi possivel onde

    0

    esquema ja

    se

    concretizou

    em

    instituic;oes;

    mas

    0

    esquema dualista

    pade tornar tambern

    imediatamente

    no plano institucional

    unla

    forma mais desenvolvida. E pois concehivel que con

    forme

    as

    circunstancias a forma simples nasce pOl'

    reab

    sorc;5.o da forma cornplexa, ou que a precedeu no tempo.

    55

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    55/111

    A primeira hipotese foi favorecida

    pOl

    Boas \ mas cerla-

    mente nao corresponde ao lmico

    modo

    possivel

    de

    genese,

    uma vez que nos mesmos viIuos uma organizaC;ao dualis

    ta se compoI soh nossos olhos, entre os

    nambiquaras

    do

    Brasil Central, nao

    pOl

    reduC;ao de grupos precedentemen-

    te

    mais

    llumerosos,

    mas

    pOl

    cOluposiC;ao de

    duas unidades

    socia is simples e anterionnente isoladas.

    o dualismo nao pode pois

    ser

    concebido como

    uma

    es

    trutura social primithoa ou anterior a outras. Ao lnenos es

    (IUematicamente fornece 0 substrato conlum as organiza

    c;oes

    de nletades, de secc;oes e suhsecc;oes. Contudo, nao e

    cerlo

    que

    0 raciocinio possa

    ser

    estendido a estes liltinlos,

    pois -

    diferentemente

    do dualisl110

    nao

    existe

    esquelua

    de

    quatro, nenl

    de oito

    partes

    no

    pensamento

    dos aborigi

    nes australianos inde

    pen entemente

    da ) instillliroes c llcre-

    las

    que lnanifeslam eslruturas deste tipo. Os autores nao

    citanl senao

    urn caso, enl toda a Australia, em que a dis

    tribuic;ao enl ({ualro secc;oes cada uma

    designada

    pelo no

    me

    de

    uma

    especie diferente de gaviao) podeda

    proceder

    de uma divisao, exaustiva e sisteluatica, eln quatro partes.

    POI outro lado, se as divisoes eln secc;oes e subsecc;oes fos

    sem independentes

    de

    sua

    func;ao sociologica,

    deveriam

    ser

    encontradas em numero indeterminado.

    Dizer

    que

    as sec

    c;oes sao

    sempre

    quatro, as subsecc;oes sempre oito

    seria

    tautologico, uma vez que seu nUlnero faz

    parte

    de

    sua

    de

    finiC;ao; mas e significativo que a sociologia australiana

    nao

    necessitou criar outros ternlos para caracterizar os sis

    temas de t1 oca restrita. Ja assinalanlos na Austr,alia orga

    nizac;oes de seis classes: sao 0 resultado de sociedades de

    quatro secc;oes que, pelos freqiientes casamentos entre seus

    membros, foram levadas a designar duas de suas respecti

    vas

    secC;oes

    com 0 mesmo nome:

    SOJ;IEOADE I

    ...

    u

    b

    c =

    e)

    d =

    f)

    SOCIEOAoE II

    g

    r

    E

    verda

    de que Radcliffe-Brown mostrou que,

    para

    a re-

    g u l m e n t ~ o dos casamentos, os

    kariera

    se

    preocupam

    me-

    nos com pertencereln

    it

    s e c ~ o conveniente, do que com

    o grau de parentesco. E,

    entre

    os wulamba anteriormente

    1 Cf.

    maiB

    acima,

    p. 228.

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    56/111

    chmllados

    nIurngin)

    da

    terra

    de

    Arnhem,

    as

    subsec

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    57/111

    )Ias - l OlllO

    0 mostrnmos em

    outro Iugar - erl ariamos

    no l ollduir qUl':

    .

    ( oPltrariame nte a opiniiio

    dOl;

    antigolJ autor elJ

    lJilJtema

    das sec

    rOt S e dalJ subsecroes

    ?lao

    reuulamenta

    08

    casament08... lJorque e a

    relarcio de parentesco entre homem e

    mulher

    que, no final das contas ,

    determina

    com

    quem

    8e

    casarao...

    entre os

    murnuin

    um

    homem

    e8-

    posa uma mulher B1 ou B2 se ele mes?no e A1 ou A2 (ibid., p. 122-123).

    Provavelmente. Mas:

    1 Elc nao

    po

    de

    esposar

    uma outra, C 0 sistema exprimc

    pois, t\ sua

    maneira,

    a r e g u l a m e n t a ~ a o dos casamentos ao

    nivel

    das s e l ~ o e s , senao das

    s u b s e c ~ o e s .

    2) :\Iesmo ao nivel das s u b s e c ~ o e s , a coincidencia se en

    contra

    l'estabelecida

    entre

    classe e r e l a ~ a o de parentesco,

    l'om a (mica

    c o n d i ~ a o

    de

    admitir

    que

    os dois tipos

    de

    ca

    samento sejam praticados alternadamente.

    :J)

    «A opiniiio dos antigos autores» se baseava na consi

    d c r a ~ a o de gl'upos que, se

    nao

    conceberam

    sistema das

    s u b s e c ~ o e s com todas

    as suas i m p l i c a ~ o e s sociologicas, ao

    menos

    0

    assimilaram perfeitamente. Niio e

    0

    caso dos

    murn

    gin, que nao podem sel' colocados no mesrno plano.

    Nao

    hu, portanto,

    nenhuma

    razao, cremos nos, para vol

    tar

    it

    c o n l e p ~ a o

    tradicional das

    classes

    rnatrimoniais.

    em sistema de quatro s e c ~ o e s nao pode ser explicado

    na origem senao como urn pl'ocedimento de i n t e g r a ~ a o so

    ciologica de urn

    duplo dualismo

    (sern

    que seja necessario

    que urn seja historicamente anterior ao outro) e urn sis

    tema de oito s u b s e c ~ o e s como

    uma

    r e d u p l i c a ~ a o do rnes

    mo

    procedimento.

    Pois, se nada

    impoe

    que as o r g a n i z a ~ o e s

    de

    quatro s e c ~ o e s foram pl'imeil'amente o r g a n i z a ~ o e s de me

    tades,

    parece-nos

    razoavel

    admitil'

    uma

    l ela«.;iio

    genetica

    en

    tre

    o r g a n i z a ~ o e 8 de 8

    8 u b s e c ~ o e s e ol'ganiza«.;oes de 4 sec

    ~ O e s : primeiro porque,

    se

    nao

    fosse assim,

    deveriamos

    ob

    servar

    o r g a n i z a ~ o e s

    dotadas de

    urn numero indeterminado

    de subdivisoes; e

    em

    seguida

    porque,

    se a dupla dualidade

    e ainda

    uma

    dualidade,

    a tripla dualidade

    faz

    intervir urn

    novo

    principio. Este

    e decifravel nos sistemas

    de

    6 classes

    do tipo Ambrym-Pentecostes. Mas justamente estes siste

    mas nso sao encontrados nn Austr,alia \ onde os sistemas

    , Sustentou-se 0 contl'ario (Lane), mas, embol'a urn sistema do tipo

    chamado karadjel'i pudesse, teoricamente, funcional' com tr@s linhagens

    IIOmente, nada, nos fatoa obsel'vados, sugere uma t l i p a r t i ~ i o efetiva,

    detde

    que Elkin estabeleceu a exist@ncia de uma qual 'ta linhagem

    (ELKIN

    [8], e d i ~ i o de 1961,

    p.

    77-79).

    58

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    58/111

    de 8 subsec

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    59/111

    Os dois

    110

    III

    ens

    do sill f 0 1 (111/.

    culo( arlu:-;

    e

    n

    classes di/erente8 1)0 1

    estcs

    rcccm-c le.qados, jlorqll'c II /II

    deles eSjJ08uuIW/(t.

    mulhe1' originaria

    de lOll, g1 IIpO de

    8 < : / ( l I s e c ~ i j e s

    c

    (( font.

    0 cwwmento tinha sido

    legn-

    li::ado

    nos te1 1I1OS de limn teoria. estnl11,C1ei1 (t,

    Eles

    (tcabanmL de

    (((W-

    Ille

    e.':rta,.;: e;I"}llica(ih's /onlll(/(/I/ l lu .

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    60/111

    POl h .us das categorias empJl lCaS de Elkin, entretanto,

    nao podelllos acaso perceber 0

    e s b o ~ o

    de

    um

    sistema? Ele

    opoe, COIn justa razao, 0 totelnislllo dos

    das

    matrilineares

    c dos cHis patl ilineal es. No prilneiro caso 0 totem e «car

    ne»; no segundo e «sonho». POl tanto, ol ganico e

    material

    nunl

    caso, espiritual e incorporeo no

    ontro.

    Alem

    do

    mais,

    o lotelllislno

    lllatrilincar

    atesta

    a continuida

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    61/111

    Ulas toda filosofia c toda religiiio, quaisquer que sejam,

    que

    ofereceUI os caracteres pclos

    quais

    Elkin pretende

    defini-Io:

    . u.ma filosofia que engendra aquela te e s p e r a n ~ a e coragem que

    o homem dcve ter o se confrontar com suas necessidades cotidianas,

    a

    lim

    de perseverar e persistir tanto como individuo quanto como mem-

    bro da socieclade ELKIN [.2], p. 181 .

    Serium necessarias tantus o h s e r v a ~ o e s tantos

    inqueritos

    para chegur a semclhante conclusao Entre as

    ricas

    e pe

    netralltcs amUises de Elkin c esta sintese smnaria nao per-

    cehemos

    nenhuma l i g a ~ a o

    0 vazio

    que rein

    a entre os dois

    pIanos evoca irresistivelmentc aquele que,

    no

    seculo XVIII,

    se criticava

    ua

    harmonia de Gretry, dizendo que

    entre

    seus

    altos e haixos se poderia

    fazer passar

    uma

    carruagem.

    6

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    62/111

    CAPiTULO TERCEIRO

    TEORIAS FUNCIONALISTAS DO T O T E ~ I I S I O

    1

    ACABAMOS

    DE VER COUIO Elkin

    tentou salvaI'

    0 totclllisnlo:

    abrindo seu dispositivo, para deixar passar a

    ofens va alne

    dcana, enquanto reagrupava suas f o r ~ a s em dois

    flancos,

    unl

    dos

    quais

    se

    ap6ia

    nUllla

    analise

    Inais fina,

    outro nu

    Ina sintese nlais bruta

    que

    as de seus

    predecessores.

    Mas,

    em

    verdade, esta estrategia reflete as influencias nlaiores

    que ele

    sofreu,

    e que 0 atiram

    enl

    d i r c ~ o e s opostas: de

    Hadcliffe-Brown recebeu

    lun

    nletodo de o b s e r y a ~ a o cscru

    puloso e 0 gosto pela c l a s s i f i c a ~ a o ; enquanto que 0 exem

    plo de Malinowski impele as g e n e r a l i z a ~ o e s

    apressadas

    e

    as s o I u ~ o e s ecleiicas.

    As

    amllises

    de Elkin se inspiram nas

    l i ~ o e s

    de Radcliffe-Brown; sua tentativa

    de

    sintese

    junta

    se

    a

    de Malinowski.

    lVIalinowski admite, com efeito, a realidade do totemislno.

    Contudo, s·ua resposta as criticas americanas nao consistc,

    como a

    de

    Elkin, em

    recolocar

    0 totemismo sobre os fatos,

    conI

    risco de

    fragment.a-Io elll

    entidades

    distintas,

    nlas

    em transcender

    primeiro

    nivel

    da

    o b s e r v a ~ a o , para

    apren

    der intuitivanlente totenlismo na

    sua

    unidade e na

    sua

    simplicidade reencontradas.

    ConI este objetivo,

    Malinowski

    adota uma perspectiva

    mais

    bioI6gica e psicol6gica, que

    propriamente antropol6gica. A interpreta«,;ao que propoe e

    naturalista, utilHaria e afetiva.

    Para

    ele, pretenso problelna totenlico se reduz a tres

    questoes de facil

    resposta, quando tomadas separadamente.

    Primeiro: POl' que 0

    totemismo

    utiliza animais e

    plantas?

    pOI'que estes dao ao homenl seu alimento e porque a

    necessidade de alimento ocupa priIlleiro Iugar na CODS-

    ciencia

    do

    primitivo,

    despertando e m o ~ o e s intensas

    e \ a

    riadas. Nao ha que

    estranhar

    que urn

    certo

    Dumero de es

    pecies animais e vegetais, que constitueIll a a l i m e n t a ~ a o

    basica da tribo, tornem-sc

    para

    seus nlembros

    urn

    centro

    de m,aximo

    i n t e r e ~ s e

    6

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    63/111

    Curto e ( alliin/to que comiuz rltt floresta vi1 gem

    ao

    estomago, e

    dai a

    mente

    do

    seivagem: mundo se oferece a este como

    um, quad1 o

    c O l l f u ~ )

    no

    qual sc destacam as especies animais e vegetai8 l deis

    e,

    em primeiro lugar, as comestive1 s

    (MALINOWSKI

    [1] p.

    27).

    PerguntarenlOs a seguil 0 que

    fundanlenta

    a

    c r e n ~ a

    nu

    ma afinidade do homem

    COIn

    as plantas e os aniInais, os

    rilos de

    m l i l t i p 1 i c a ~ a o ,

    as proibif;;oes

    alhnentares

    e as for

    llU1S sacramentais

    de conSlllllO, A afinidade

    entre 0 hOll1enl

    e animal { facilmente verificilvel: como 0 hOInem, 0 ani

    mal Sl dl sloca, emite sons, cxpriIlle e I 1 1 0 ~ O C S , possui lun

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    64/111

    condi«.;oes naturais». Na sua origen1 e nas suas m a n i f ~ s t ~ -

    «.;oes, ele surge da biologia e da psicologia, nao da etnolo

    gia. A questao jo nao e saber pOl que 0

    totemismo

    erute

    onde ele existe nas diferentes formas e cuja

    o b s e r y a ~ o ,

    descri«.;ao e analise so of ere cern urn interesse secund.ario.

    o

    unico

    problenla

    que se poderia levantar - mas

    nao

    e

    levantado,? - seria cOlllpreender por

    que

    ele nao existe

    em toda

    a

    parte

    Cuidemos, poren1, de nao imaginal que com alguns pas-

    ses de magica - nluito leves e superficiais - da

    fada

    Ma

    linowski, totemismo tenha desaparecido como uma

    nu-

    vern. 0 problema e simplesmente inverso. E do cenario

    bern

    poderia

    tel desaparecido so a etnologia com

    todas as

    suas

    conquistas,

    seu

    saber e metodos.

    2

    Ao fim da vida, Radcliffe-Brown contribuiria

    de modo

    decisivo para

    resolver

    problema totemico, conseguindo

    isolar

    e revelar os

    problemas reais

    que se

    dissimulavam

    pOI tras das fantasmagorias dos teoricos. A esta chama-

    remos sua segunda teoria. Mas e indispensavel

    examinar-

    mos

    inicialmente

    a

    primeira,

    cujo desenvolvimento, em

    principio muito mais analitico e rigoroso do

    que

    0 de Ma

    linowski, chegou, contudo, a conclusoes muito

    pr6ximas.

    Embora Radcliffe-Brown nao admita voluntariamente,

    seu ponto de partida se

    confunde

    com 0 de Boas. Como

    este, ele se pergunta se «0 totemismo, como termo

    t t ~ c n i c o

    nao sobreviveu a sua utilidade». Como Boas, e quase nos

    mesmos termos, ele anuncia seu projeto que

    sera

    recondu-

    zir

    0

    pretenso totemismo a um caso

    particular

    das

    rela-

    «.;oes entre

    0 homem e as especies naturais, tais como as

    formulam

    os

    mitos

    e

    0

    ritual.

    .

    A no«.;ao de totemismo foi forjada conl elementos torna

    dos de

    emprestimo

    a institui«.;oes diferentes. Somente na

    Australia, devemos distinguir varios totemismos: sexual, lo

    cal,

    individual;

    de

    meta

    de, de

    sec«.;ao,

    de s u b s e c ~ a o , de cIa

    patrilinear e

    matrilinear),

    de horda, etc.:

    A unica.

    cois a.

    que estes sistemas totemicos tim em comum

    e um

    tendencia. geral

    a

    caracterizar os segmentos da sociedade pela aBs0ci6-

    t}ao

    de

    cada.

    segmento com algumas especies naturais

    ou

    com

    uma

    parte da. natureza. Esta. associat;iio pode assumir

    um

    dentn as

    m.vi

    tas formas diferentes

    (RADCLIFFE-BROWN

    [I] p.

    1 1 ~ .

    Ate

    0

    presente tentou-se sobretudo remontar it origem

    de

    cada forma.

    Mas, como ignoramos

    tudo

    ou quase

    tuoo

    do passado

    das

    sociedades indigenas,

    empreendimento

    permanece conjetural e especulativo.

    Totemismo

    Ee)

    30[il - Ii

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    65/111

    Radcliffc-Bro\vn prctcndc substituir as

    i n y e s t i g ~ o e s

    his

    toricas pOl'

    l

    11u todo indutiyo, inspirado

    nas

    ciencias na

    turais. Atras

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    66/111

    las eshio prcscnlcs, accssiycis,

    fadhnenlc

    significayeis. Pet-

    ra

    DurkheiIn, pOl conseguinte, 0 lugar que 0 totemismo dit

    aos

    aninlais

    e aos vegetais constitui uma especie de CeDO-

    nleno que se

    retardou.

    Era natural

    que

    ele se produzisse,

    mas nao oferece nada de essencial. Hadcliffe-Brown, ao

    contrcirio, afirma que a ritualizu

  • 8/20/2019 Levi-strauss - Totemismo Hoje

    67/111

    tuais

    (ua

    lingllagenl dc

    Durkhehu:

    «sagrados»),

    porque

    fo

    ranI

    priIueiralnente chalnados

    para servir

    de

    emblemas

    so

    ciologil os. Para Radcliffe-Brown a

    natureza

    e antes incor

    porada

    que

    subordinada

    ll

    ordeln social. De fato, a esta

    etapa

    do desenvolvinleuto de seu pensamento, Radcliffe

    Brown «llatllraliza», se assinl se pode dizer, pensamento

    de DurkheiIu. Ele

    nao

    pode

    admitir que

    urn metodo, osten

    sivameute tOlna do de elnprestinlo as ciencias naturais,

    con

    duzisse ao resultado

    paradoxal

    de constiluir 0 social sobre

    unl plano separado. Para ele, dizer

    que

    a etnologia pode

    ser

    julgada

    pelo

    n u ~ t o d o

    das ciencias

    naturais

    equivale a

    afir

    mar que

    a etnologia e unla ciencia natural. Nao

    basta por

    tanto

    - como fazem as ciencias naturais,

    mas

    em

    outro

    nivel - observar, descrever e classificar:

    proprio objeto

    de

    o b s e r v a ~ a o

    pOI

    menor que

    seja,

    deve

    surgir da natu

    reza. A

    i n t e r p r e t a ~ a o final

    do totemismo

    pode dar prefe

    rencia it s e g m e n t a ~ a o

    social em vez

    da

    s e g m e n t a ~ a o

    ritual