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TWKliek Karen Marie Moning Fever 05 Karen Marie Moning ShadowFever ShadowFever ShadowFever ShadowFever Série Fever 05 "O mal é uma criatura totalmente diferente, Mac. O mal é o mau que acredita que é bom." Mackayla Lane era somente uma menina quando ela e sua irmã Alina, foram dadas em adoção e levadas da Irlanda para sempre. Vinte anos depois, Alina está morta e Mac voltou ao país que as expulsou para caçar o assassino de sua irmã. Mas depois de descobrir que descende de uma linha de sangue com bênçãos e maldições, Mac mergulha em uma história secreta: um antigo conflito entre humanos e imortais que permaneceu escondido entre nós há milhares de anos. O que segue é uma cadeia de acontecimentos chocantes, com consequências devastadoras, e agora Mac se esforça para aguentar a dor, enquanto continua com sua missão de adquirir e controlar o Sinsar Dubh...um livro sombrio, com magia proibida, escrito pelo mítico Rei Unseelie que contém o poder de criar e destruir mundos. Em uma batalha épica entre humanos e Fae, o caçador se converte em caça quando o Sinsar Dubh ataca Mac, e começa a cortar um caminho mortal contra aqueles a quem ama. A quem pode recorrer? Em quem pode confiar? Quem é a mulher que frequenta seus sonhos? Mais importante, quem é Mac e qual é o destino que vislumbra nos desenhos negros e carmesins de uma antiga carta de tarô? Do luxo do apartamento de cobertura de Lorde Master, às sórdidas profundidades de uma boate Unseelie, da erótica cama de seu amante, à aterradora cama do Rei Unseelie, a jornada de Mac irá forçá- la a encarar a verdade de seu exílio, e fazer uma escolha entre salvar o mundo... ou destruí-lo.

Karen Marie Moning ShadowFever · que contém o poder de criar e destruir mundos. Em uma batalha épica entre humanos e Fae, o caçador se converte em caça quando o Sinsar Dubh ataca

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  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    Karen Marie Moning

    ShadowFever ShadowFever ShadowFever ShadowFever Série Fever 05

    "O mal é uma criatura totalmente diferente, Mac.

    O mal é o mau que acredita que é bom."

    Mackayla Lane era somente uma menina quando ela e sua irmã Alina, foram dadas em adoção

    e levadas da Irlanda para sempre. Vinte anos depois, Alina está morta e Mac voltou ao país que

    as expulsou para caçar o assassino de sua irmã. Mas depois de descobrir que descende de uma

    linha de sangue com bênçãos e maldições, Mac mergulha em uma história secreta: um antigo

    conflito entre humanos e imortais que permaneceu escondido entre nós há milhares de anos. O

    que segue é uma cadeia de acontecimentos chocantes, com consequências devastadoras, e

    agora Mac se esforça para aguentar a dor, enquanto continua com sua missão de adquirir e

    controlar o Sinsar Dubh...um livro sombrio, com magia proibida, escrito pelo mítico Rei Unseelie

    que contém o poder de criar e destruir mundos. Em uma batalha épica entre humanos e Fae, o

    caçador se converte em caça quando o Sinsar Dubh ataca Mac, e começa a cortar um caminho

    mortal contra aqueles a quem ama. A quem pode recorrer? Em quem pode confiar? Quem é a

    mulher que frequenta seus sonhos? Mais importante, quem é Mac e qual é o destino que

    vislumbra nos desenhos negros e carmesins de uma antiga carta de tarô? Do luxo do

    apartamento de cobertura de Lorde Master, às sórdidas profundidades de uma boate Unseelie,

    da erótica cama de seu amante, à aterradora cama do Rei Unseelie, a jornada de Mac irá forçá-

    la a encarar a verdade de seu exílio, e fazer uma escolha entre salvar o mundo... ou destruí-lo.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    2

    Equipe de Revisão TWKliek

    Capítulo 1 Revisão Inicial: Cris C

    Revisão Final: Danielle

    Capítulo 2 Revisão Inicial: Cris C

    Revisão Final: Danielle

    Capítulo 3 Revisão Inicial: Maria João

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 4 Revisão Inicial: Hanne

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 5 Revisão Inicial: Cacau Rocha

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 6 Revisão Inicial: Renata Cabral

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 7 Revisão Inicial: Cacau Rocha

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 8 Revisão Inicial: Danielle

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 9 Revisão Inicial: Renata Cabral

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 10 Revisão Inicial: Danielle

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 11 Revisão Inicial: Cacau Rocha

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 12 Revisão Inicial: Danielle

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 13 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Bianca Martins

    Capítulo 14 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Bianca Martins

    Capítulo 15 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 16 Revisão Inicial: Débora

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 17 Revisão Inicial: Débora

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 18 Revisão Inicial: Cris C

    Revisão Final: Danielle

    Capítulo 19 Revisão Inicial: Elaine

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 20 Revisão Inicial: Elaine

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 21 Revisão Inicial: Fatima

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 22 Revisão Inicial: Cris C

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 23 Revisão Inicial: Renata Cabral

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 24 Revisão Inicial: Renata Cabral

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 25 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 26 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 27 Revisão Inicial: Cacau Rocha

    Revisão Final: Danielle

    Capítulo 28 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 29 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 30 Revisão Inicial: Bianca Martins

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 31 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Cacau Rocha

    Capítulo 32 Revisão Inicial: Bianca Martins

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 33 Revisão Inicial: Maria João

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 34 Revisão Inicial: Elaine/Bianca

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 35 Revisão Inicial: Bianca Martins

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 36 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 37 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 38 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 39 Revisão Inicial: Débora

    Revisão Final: Carol Maia

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    3

    Capítulo 40 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 41 Revisão Inicial: Débora

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 42 Revisão Inicial: Débora

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 43 Revisão Inicial: Danielle

    Revisão Final: Cacau

    Capítulo 44 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 45 Revisão Inicial: Carol Maia

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 46 Revisão Inicial: Fatima

    Revisão Final: Greicy

    Capítulo 47 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 48 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 49 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 50 Revisão Inicial: Iris Nunes

    Revisão Final: Kimie

    Capítulo 51 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 52 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 53 Revisão Inicial: Kimie

    Revisão Final: Carol Maia

    Capítulo 54 Revisão Inicial: Kimie Revisão Final: Carol Maia

    Envio de Arquivo: Gisa

    Finalização e Imagens internas: Bianca Martins

    Formatação: Greicy

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    4

    Deseja me conhecer?

    Coloca-se a si mesma como uma cabeça de alfinete situada no centro de um caleidoscópio e tente

    compreender que o tempo é como um fragmento de cor que irrompe frente a si mesmo ante uma

    multiplicidade de dimensões que constantemente se expandem, cada vez maiores e sempre mutáveis,

    infinitas; Saber que pode escolher e aumentar ainda mais a qualquer das incontáveis dimensões e que, com

    cada opção, está criando e mudando de novo, complicando-se infinitamente mais.

    Entendo que não há nada como a realidade: seu falso Deus adora seus impulsos de devoção cega.

    Sua realidade implica em só uma possibilidade. Me acusa de ser uma ilusão. Você e sua absurda ideia de um

    tempo linear. Que maneira de se prender a um ato, a uma prisão de relógio, de relógios e calendários, de

    barras forjadas com horas e dias, mas colocando um cadeado na porta que leva ao passado, ao presente e

    ao futuro.

    Mentes insignificantes em covas insignificantes.

    Não pode contemplar a verdadeira face do tempo, a única coisa que pode fazer é me ver.

    Deve compreender que é o centro, e de maneira simultânea perceber todas as combinações de todas

    as possibilidades, deve escolher se mover em qualquer direção... “Direção” é um método muito limitado

    para tentar transmitir um conceito que não tem palavra equivalente em seu mundo... Isso é o que sou.

    — Conversa com o SINSAR DUBH —

    Capítulo 1

    A esperança fortalece. O medo mata.

    Alguém realmente inteligente me disse isso uma vez.

    Cada vez que penso que estou ficando mais sábia, controlando mais minhas ações, dou de

    cara com uma situação que me faz terrivelmente consciente de que tudo o que consegui fazer é

    trocar um grupo de ilusões por um novo grupo mais elaborado e atraente das mesmas - essa sou

    eu, a Rainha do Autoengano.

    Agora mesmo me odeio. Mais do que alguma vez pensei que fosse possível.

    Me abaixo na beira do abismo, gritando, amaldiçoando o dia em que nasci desejando que

    minha mãe biológica tivesse me afogado quando nasci. A vida é muito dura, difícil de suportar.

    Ninguém me disse que haveria dias como estes. Como ninguém pode me advertir que haveria dias

    como estes? Como puderam me permitir crescer assim, feliz, perfeita e estúpida?

    A dor que sinto é pior que algo que o Sinsar Dubh me tenha feito alguma vez. Pelo menos

    quando o Livro está me esmagando, sei que não é minha culpa.

    Este momento?

    Minha culpa. Do principio ao fim, com tudo o que implica, é minha responsabilidade, e

    nunca haverá nenhuma possibilidade de me esconder desse fato.

    Pensei que havia perdido tudo.

    Como eu era ignorante. Ele me avisou. Eu tinha muito mais a perder! Eu quero morrer. É a

    única maneira de parar a dor.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    5

    Meses atrás, numa noite infernalmente longa, em uma gruta sob o Burren, eu queria morrer

    também, mas não era a mesma coisa. Mallucé ia torturar-me até a morte, e morrer era a única

    chance que eu tinha de negar-lhe o prazer da tortura. Minha morte era inevitável. Pouco me

    importava desenhá-la para fora. Eu estava errada. Eu já tinha desistido e quase morri por causa

    disso. Eu teria morrido se não fosse por Jericho Barrons.

    Ele foi o único que me ensinou essas palavras. Esse ditado é simples, somos mestres de cada

    situação, cada escolha. A cada manhã nós acordamos, e temos de escolher entre a esperança e o

    medo e aplicar uma dessas emoções para tudo o que fazemos. Será que devemos saudar as coisas

    que surgem em nosso caminho com alegria? Ou suspeita?

    Esperança fortalece...

    Nem uma vez, vou deixar de sentir alguma esperança sobre a pessoa deitada de bruços em

    uma poça de sangue. Nem uma única vez que eu usei para fortalecer o nosso vínculo, eu deixei o

    ônus de nossa relação descansar em ombros mais largos. Medo. Suspeita. Desconfiança estava em

    cada ação minha. E agora é tarde demais para tomar qualquer volta. Eu parei de gritar e comecei a

    rir. Eu ouço a loucura nele

    Eu não me importo. Minha lança para cima, um dardo cruel, zombando de mim.

    Eu me lembrei de roubá-lo.

    Por um momento, eu estou de volta no escuro, nas úmidas ruas de Dublin, descendo para o

    sistema de esgoto com Barrons, quebrando a caixa forte com os artefatos religioso de O'Bannion.

    Barrons estava vestido com jeans e uma camiseta preta. Músculos ondulavam em seu corpo,

    quando ele recolheu a tampa do esgoto com facilidade, como um homem jogando uma Frisbee no

    parque.

    Ele é perturbadoramente sexual, para homens e mulheres igualmente, de um modo que

    define os dentes na borda.

    Com Barrons, você não tem certeza se você está indo para ser fodido ou virado do avesso e

    deixando uma nova pessoa irreconhecível, à deriva, sem amarras, em um mar sem fundo e sem

    regras. Eu nunca fui imune a ele. Havia apenas graus de negação.

    Minha folga é muito breve. Desaparecendo a memória e eu estou novamente confrontada

    com a realidade que ameaça destruir a minha esperança de sanidade.

    O medo mata... Literalmente.

    Eu não posso falar. Eu não posso pensar nisso. Eu não posso começar a absorvê-lo. Abraço

    os meus joelhos e balanço-me. Jericho Barrons está morto. Ele está com seu estômago, imóvel. Ele

    não tem se movido ou respirado durante a pequena eternidade em que eu tenho gritado. Eu não

    posso senti-lo em minha pele.

    Em todas as outras ocasiões, eu fui capaz de senti-lo na vizinhança, elétrico, maior que a

    vida, a vastidão amontoada em um pequeno recipiente. Como um gênio em uma garrafa.

    Esse é o poder mortal de Barrons, pare de reprimi-lo.

    Balanço-me para frente e para trás. A pergunta de um milhão de dólares: O que é você,

    Barrons? Sua resposta, nas raras ocasiões em que ele dava uma, era sempre a mesma.

    — O que nunca vai deixar você morrer. — Eu acreditei nele. Maldito.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    6

    — Bem, você errou, Barrons. Estou sozinha e estou com um problema sério, então levanta!.

    Ele não se movia. Havia muito sangue. Alcanço os meus sentidos sidhe-seer.

    Não sentia nada na beira do precipício, além de mim. Eu gritava.

    Não me admira que ele dissesse para nunca ligar para o número no meu celular que ele

    havia programado como IYD-se você está morrendo, a menos que eu realmente estivesse. Depois

    de um tempo eu comecei a rir de novo.

    Ele não é o único que faz burrices. Eu também. Eu joguei e orquestrei esse fiasco sozinha?

    Pensei que Barrons era invencível. Eu continuo esperando ele se mover. Rolar-se. Sentar-se.

    Magicamente e se curar. Lançar-me um daqueles olhares duros e dizer: "agarre-me com firmeza,

    Sra. Lane. Eu sou o Rei Unseelie. Eu não posso morrer".

    Esse era um dos meus maiores medos, sempre que eu estava me entregando em qualquer

    uma de mil sobre ele: que ele era o criador de Sinsar Dubh para começar com isso, despejando

    todo o seu mal nele, e ele o queria de volta, mas por alguma razão poderia ele mesmo prendê-lo.

    Em um ponto ou outro, eu consideraria tudo: fae, metade fae, lobo, vampiro, ancião amaldiçoado

    desde a aurora dos tempos, talvez ele e Christian já tentasse há muito tempo, o convocar no

    halloween no castelo Mackeltar, a parte fundamental é ser imortal, como alguém que pode ser

    assassinado.

    — Se levanta Barrons — eu gritei. — Mexa-se, maldito seja!

    Eu tenho medo de tocá-lo. Com medo, de que se eu fizer isso, eu sentirei o frio visível em

    seu corpo. Eu vou sentir a fragilidade de sua carne, a mortalidade de Barrons. "Fragilidade",

    "Mortalidade" e "Barrons" todas embaladas juntas em um mesmo pensamento, soam como uma

    blasfêmia perambulando e martelando nas paredes da minha cabeça.

    Eu dou dez passos longe de seu corpo e me agacho, chego mais para trás, porque se eu

    chegar mais perto, eu vou ter que rolá-lo e olhar em seus olhos, será que eles estão vazios como

    os de Alina estavam?

    Então eu saberei que ele se foi, assim como eu sabia que ela tinha ido, muito além do meu

    alcance para sempre ouvir a minha voz novamente, me ouvir dizer.

    — Desculpe-me Alina, eu gostaria de ter ligado mais vezes, eu desejava que você tivesse

    falado a verdade sob nossa conversa irmã insípida, eu desejava ter vindo para Dublin e lutado ao

    seu lado, ou me enfurecido com você, porque estava agindo com medo, também, Alina, não

    desejamos tudo, ou você teria confiado em mim para ajudar você.

    Ou talvez apenas desculpas Barrons, por ser muito jovem para ter minhas prioridades

    refinadas, como você, por eu não ter sofrido qualquer inferno que você sofreu e, em seguida te

    colocar contra a parede e te beijar, até que não possa respirar, fazer o que eu queria ter feito no

    primeiro dia em que eu vi você lá na sua sangrenta e condenada livraria.

    Perturbá-lo como me perturbou fazer você me ver, fazer você querer-me cor-de-rosa!

    Quebrar seu autocontrole fazê-lo cair de joelhos diante de mim, embora eu mesma tenha

    dito que eu nunca iria querer um homem como você, que estava velho demais, carnal, mais

    animal que homem, com um pé no pântano e não desejo de vir todo o caminho, quando na

    verdade era que eu estava apavorada com o que você me fazia sentir. Porque os caras não faziam

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    7

    as meninas sentirem, sonhos de futuro com cercas e bebês, eram mais frenéticos, perdidos, era

    como se você não pudesse viver sem esse homem dentro de você, em torno de você, a todos os

    momentos com você e só importa o que ele pensa sobre você.

    E o resto do mundo pode ir para o inferno, até então eu não sabia que poderia mudar.

    Quem quer estar em torno de alguém para poder mudá-la? Também, é muito poder para

    dar a uma só pessoa. Foi mais fácil lutar contra você, do que admitir que houvesse lugares

    desconhecidos dentro de mim, que ansiavam por coisas que não eram aceitas em qualquer tipo de

    mundo, eu sabia, e o pior de tudo é que você me acordou do meu mundo de garota Barbie, e

    agora estou aqui, e estou bem acordada, seu bastardo, eu não poderia estar mais acordada do que

    você me deixou...

    Acho que vou gritar até que ele se levante.

    Foi ele quem me disse para não acreditar que nada estava morto até que eu queime, remexa

    em torno de suas cinzas, então esperarei um dia ou dois para ver se alguma coisa nascia em cima

    dele.

    Certamente eu não devo queimá-lo.

    Eu não acho que existem circunstâncias em que eu poderia fazer isso.

    Agacho-me e grito.

    — Ele vai se levantar. — Ele odeia quando eu sou melodramática.

    Enquanto espero por ele reviver, eu escuto os sons de deslize na borda do penhasco.

    Eu não esperava Ryodan arrastar seu corpo, quebrado sangrento por cima da borda.

    Talvez ele não esteja realmente morto, tampouco. Apesar de tudo, estamos em Fadas,

    talvez, ou pelo menos dentro do espelho, quem sabe que reino é este? A água aqui pode ter

    poderes de rejuvenescimento?

    Devo tentar para obter Barrons a ele? Talvez nós estejamos no Sonho esta coisa terrível que

    aconteceu foi um pesadelo, e eu vou acordar no sofá da Barrons Livros e bijuterias e o

    proprietário, ilustre e irritante irá levantar uma sobrancelha e me lançar aquele olhar, me dizendo

    algo cheio de significado, e a vida será linda, repleta de monstros e chuva novamente, do jeito que

    eu gosto.

    A subida por entre as pedras argilosas não era difícil. O homem com a lança cravada não se

    movimentava. Meu coração está cheio de buracos.

    Ele deu a vida por mim. Barrons deu sua vida por mim. Seu autocontrole, arrogância, burrice

    constante foi à pedra constante debaixo dos meus pés, disposto a morrer para que eu pudesse

    viver. Por que diabos ele faria isso? Como posso viver com isso?

    Um pensamento terrível me ocorreu e por alguns momentos ofuscou a minha dor: eu nunca

    o teria matado se Ryodan não tivesse aparecido. Será que Ryodan armou para mim? Ele veio aqui

    para matar Barrons que não era invencível, mas, apenas difícil de matar? Talvez Barrons só

    pudesse ser morto na forma animal, e Ryodan sabia que ele viria me proteger. Foi esta uma

    artimanha elaborada que não tinha nada haver comigo? Ryodan trabalha para o Lord Master, e

    eles queriam Barrons fora do caminho, para que ficasse mais fácil de lidar, e o rapto de meus pais

    foi uma distração?

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    8

    Olhem lá, enquanto nós matamos o homem que ameaçava a todos nós, ou talvez tivesse

    sido Barrons amaldiçoado a viver uma fase infernal e só podia ser morto por alguém de sua

    confiança, e ele confiou em mim. Por baixo de toda fria arrogância, escárnio e atrevimento

    constante ele havia aberto a parte mais privada de si mesmo para mim: uma confiança que nunca

    tinha ganhado, porque eu não poderia ter comprovado ser mais seguramente do que se eu o

    tivesse esfaqueado pelas costas?

    Oh! Puxa espere não fui eu, na verdade Ryodan sozinho se voltou contra ele.

    A acusação de traição nos olhos da besta não tinha sido uma ilusão, tinha sido Jericho

    Barrons, ali, me olhando por trás dos traços pré-históricos, mostrando suas presas com censura, e

    ódio ardentes nos seus selvagens olhos amarelos. Eu tinha quebrado nosso pacto, Ele tinha sido

    meu tutor demoníaco, e eu o havia matado. Se ele me desprezou por não ver através da besta que

    havia usado para esconder o homem em seu interior? Veja-me Quantas vezes ele disse isso para

    mim? Veja-me quando você olha para mim!

    Não importa, eu estava cega. Ele perseguia-me a cada passo tratando-me com essa

    característica do Barrons uma “combinação de agressão e posse animal”, e eu não havia

    reconhecido. Ele vem a mim de uma forma bárbara, desumana, para me manter viva. Ele colocou

    como IYD independentemente do que poderia custar-lhe, sabendo que ele seria transformado em

    um estúpido, uma besta capaz apenas de matar tudo em seu caminho, menos uma coisa, eu!

    Deus, que olhar!

    Cubro meu rosto com as mãos, mas a imagem não vai embora: a besta e Barrons, sua pele

    escura como ardósia e rosto exótico escondem e mostram suas características primordiais.

    Aqueles olhos antigos que viram tanta coisa e perguntam queimando com desprezo: — Não foi

    possível você ter confiado apenas uma vez? Você não poderia ter esperado o melhor, apenas uma

    vez? Porque você escolheu Ryodan e não a mim? Eu estava mantendo- a viva. Eu tinha um plano.

    Eu já te decepcionei?

    — Eu não sabia que era você — eu queria arrancar as palmas das minhas mãos com as

    unhas. Elas sangraram por um breve momento e então se curaram.

    Mas a Besta/Barrons em minha mente continua me torturando.

    — Eu vim até você. Eu segui o seu suéter. Eu cheirei você e lhe concedi passagem. Eu

    consegui carne macia e fresca para você, eu girei ao seu redor. Mostrei-lhe desta forma, como em

    qualquer outra, que você é minha e eu cuido do que é meu.

    As lágrimas me cegaram. Eu me dobrei em dor e eu não consiga respirar, não conseguia me

    mover. Eu soluçava, como se tivesse uma onda dentro de mim, balançando-me.

    Além da dor, se é que há um lugar, além disso, eu ainda sei de algumas coisas: de acordo

    com Ryodan (se ele não é um traidor, e se ele ainda esta vivo de alguma maneira, eu vou matá-lo

    como matou ao Barrons) tenho uma marca na parte de trás do meu crânio colocada ali pelo LM,

    que, provavelmente, ainda tem os meus pais, porque Barrons está aqui e então obviamente ele

    nunca chegará até Ashford.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    9

    A menos que... o tempo passe de forma diferente nos espelhos e ele teve tempo para chegar

    antes de mim em Ashford e enviou IYD para cá na sétima dimensão. Eu estive uma vez no corredor

    mestre, um corredor escorregadio que levava a Dublin.

    Eu não tenho ideia de quanto tempo eu estive no salão todos os dias, ou quanto tempo se

    passou no mundo real, enquanto tomava sol com Christian no lago. Uma vez por cortesia de

    V’lane eu passei uma única tarde em uma praia no reino Fae, com a ilusão de minha irmã, e isso

    me custou um mês inteiro no mundo humano. Quando voltei, Barrons estava furioso. Ele tinha me

    algemado a uma pilastra em sua garagem. Eu estava vestindo um biquíni rosa forte. E nós lutamos.

    Eu fechei os meus olhos e abracei a memória. Ele estava furioso, cercado por agulhas e

    tintas, para me tatuar, ou melhor, dizendo ele que tinha me tatuado, mas eu ainda não sabia

    disso, para que ele pudesse me localizar se eu resolvesse fazer algo tão estúpido, como concordar

    em permanecer no reino Fae por qualquer período de tempo de novo. Eu disse a ele, que se me

    tatuasse nos romperíamos completamente. Eu o acusei de nunca sentir algo além de ganância e

    zombaria, sendo incapaz de amar.

    Eu o chamei de mercenário, culpando-o por ele perder a paciência, quando ele não podia me

    encontrar destruindo a loja, e quando eu o fulminei e disse a ele que a única maneira dele ter uma

    ereção ocasionalmente seria sem dúvida para algo como dinheiro, artefatos ou um livro – nunca

    para uma mulher.

    Lembro-me exatamente de cada palavra de sua resposta:

    — Sim, eu já amei Sra. Lane, e apesar de nenhum dos seus negócios, eu perdi. Muitas coisas.

    E eu não sou como qualquer outro jogador neste jogo e eu nunca serei como V’lane, e eu fico de

    pau duro com mais frequência do que ocasionalmente. Às vezes é mais uma garotinha mimada do

    que uma mulher em tudo. E sim, eu destruí a livraria quando não consegui encontrá-la. Você terá

    que escolher um novo quarto também. E me desculpe se no seu pequeno mundo não há burrices,

    mas todo mundo faz e você também fará. É o caminho que irá tomar que definirá você.

    Em retrospecto, eu vejo através de mim com uma patética facilidade, lá estou eu,

    acorrentada a uma pilastra, quase nua e sozinha com Jericho Barrons, um homem que está além

    da minha compreensão, mas Deus, ele me excita!

    Ele planeja trabalhar devagar e com cuidado sobre a minha pele nua durante horas. Seu

    corpo é coberto por tatuagens que formam uma promessa tácita de iniciação em um mundo de

    segredos que eu não posso nem começar a imaginar, e eu quero que ele trabalhe em mim por

    horas. Desesperadamente. Mas não para me tatuar. Instigá-lo com o melhor da minha

    ingenuidade. Eu quero que ele tire de mim o que me falta à coragem de oferecer. Quão

    complicado, ridículo e autodestrutivo é esse sentimento! Com medo de pedir o que quero. Com

    medo de possuir até meus próprios desejos.

    Motivados pelas circunstâncias de sobrevivência não de natureza. Eu não vim para Dublin

    para usar algemas. Foi à natureza, tentando me ensinar a mudar. Como eu: disse graus de negação

    Ele se inclinou sobre mim, naquela garagem, sexo e violência mal controlados, e quando eu

    senti o tesão dele, isso fez eu me sentir tão viva e selvagem por dentro, que mais tarde eu tive que

    arrancar o meu biquíni e tratar de me enfiar debaixo do chuveiro de novo e de novo, fantasiando

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    Fever 05

    10

    um resultado muito diferente naquela garagem. Um que tomaria toda a noite. Disse a mim mesma

    que era porque eu havia passado um dia nas proximidades de um Fae morto por-sexo.

    Outra mentira ele apenas desencadeou, eu me deixei levar. Se eu fosse acorrentada aquele

    pilastre agora, eu não teria nenhum problema em dizer-lhe exatamente o que eu queria. E não

    envolveria desencadeamentos. Pelo menos não em primeiro lugar. Concentro-me através das

    minhas lágrimas. Grama. Árvores. Ele.

    Ele está virado para baixo. Eu preciso ir até ele. A terra está molhada, lamacenta por causa

    da chuva da noite passada e de seu sangue. Eu preciso limpá-lo ele não pode ficar uma bagunça,

    Barrons não gosta de ser confuso. Ele é meticuloso, cômodo, sofisticado, requintado. Embora eu

    tenha esticado as mãos algumas vezes, era apenas uma desculpa para tocá-lo. Pisar no seu espaço

    pessoal, exercitando uma familiaridade, deixando claro que eu tinha o direito. Imprevisível como

    um leão faminto ele poderia ser temido por todos, mas ele nunca arrancou a minha garganta, só

    me lambeu, algumas vezes, a sua língua estava um pouco áspera às vezes, mas valeu à pena andar

    ao lado do rei da selva.

    Meu coração vai explodir.

    Eu não posso fazer isso. Eu só fiz isso com a minha irmã, lamentos, oportunidades perdidas,

    más decisões. Luto.

    Quantas pessoas mais terão que morrer antes que eu aprenda a viver? Ele estava certo. Eu

    sou uma catástrofe.

    Eu apalpo meus bolsos e pego meu telefone. A primeira coisa que faço é discar o numero do

    Barrons. A chamada não completa, eu aperto IYCGM, a chamada também não completa, disco IYD

    e prendo a respiração, observando Barrons atentamente. A chamada não completa. Como o

    próprio homem, todas as linhas estavam caídas. Eu começo a tremer. Não sei por que, mas o fato

    dos telefones celulares não funcionarem me convence mais do que qualquer outra coisa, que as

    coisas estão além do meu alcance.

    Abaixo a cabeça, colocando meu cabelo para frente e, embora me leve algumas tentativas

    para obter sucesso, para levar um tiro na nuca. Se já não fosse duas tatuagens. A marca de

    Barrons é um dragão com um Z no centro que brilha com uma fraca luminescência.

    A esquerda de sua tatuagem há um circulo preto repleto de símbolos estranhos que não

    reconheço. Parece que Ryodan estava dizendo a verdade. Se a tatuagem foi posta ali pelo LM

    explicaria muita coisa: o porquê do Barrons ter colocado tantas guardas mágicas no sótão ao que

    me arrastou quando me converti em Pri-ya, em por que LM me encontrou na abadia uma vez que

    havia runas pintadas nas paredes, como ele me encontrou novamente na casa de Dani e como me

    seguiu até a casa de meus pais em Ashford.

    Peguei um pequeno punhal que trouxe da BB&B. Minha mão tremia. Eu poderia acabar com

    a minha dor. Eu poderia apunhalar-me e sangrar ao lado dele. Seria tudo mais rápido. Talvez eu

    ainda tenha alguma chance em algum outro lugar. Talvez ele quisesse reencarnar como no filme

    “What dreams may come”, que eu e Alina odiávamos tanto porque o marido e as crianças

    morriam e logo em seguida a esposa cometia suicídio. Eu amo esse filme agora, agora eu entendo

    a ideia de ir para o inferno por alguém, vivendo em loucura, porque você prefere ficar insano a

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    11

    suportar a vida sem esse alguém. Eu fiquei olhando para lâmina, ele morreu por isso, e por isso

    gostaria de viver.

    — Maldito seja! Eu não quero viver sem você!

    — Ah, cala boca, você iria? Você está morto, cale a boca!

    Mas uma verdade terrível rasgou meu coração. Eu sou a menina que gritou “lobo”. Fui eu

    quem pressionou IYD, eu sou a única que achava que não poderia sobreviver a um javali, sozinha!

    E adivinhem?

    Eu fiz.

    Eu já estava segura quando Barrons apareceu e eu cai em cima dele. Eu realmente não tinha

    morrido depois de tudo e ele morreu por mim sem necessidade. Eu exagerei. E agora ele está

    morto. Eu fico olhando para o punhal, me matar seria uma recompensa, eu mereço essa punição.

    Fico relembrando a imagem da parte de trás da minha cabeça, se Lord Master me encontrasse

    agora não tenho certeza se lutaria pela minha vida, considero tentar fazer uma cirurgia no meu

    crânio, então me dou conta de que não estou no meu melhor estado de espírito para isso. Eu

    mesma poderia cortá-lo, é próxima a coluna vertebral, seria uma saída fácil.

    Eu começo a esfregar a lâmina na terra, para que eu possa usá-la. O que ele pensaria de

    mim? Que o tinha matado e então me matei? Covarde.

    O que ele pensaria de mim não me incomodava, o que me incomodava era o fato de que a

    morte dele teria sido em vão. Um homem como ele merecia uma morte muito melhor que essa.

    Seguro outro grito. Dentro de mim agora enfiado no fundo da minha barriga, queimando o

    fundo da minha garganta tornando-se doloroso de engolir.

    Consigo ouvi-lo em meus ouvidos, embora minha boca não emita nenhum som.

    É um grito silencioso, do pior tipo. Eu vivi uma vez isso, quando Alina morreu, para que papai

    e mamãe não soubessem que a morte dela estava me matando também.

    Eu sei o que vem a seguir e sei que vai ser pior do que da última vez, vai ser pior, muito pior.

    Eu me lembro das cenas de morte que Barrons, havia me mostrado em sua mente, eu as entendo

    agora, entendo o que pode conduzir uma pessoa a ela. Eu me ajoelhei ao lado de seu corpo nu e

    sangrento. A transformação em animal deve ter destruído a sua roupa e explodido o bracelete de

    prata que havia em seus pulsos. Quase dois terços do seu corpo estavam cobertos por runas de

    proteção vermelha e preta.

    — Jericho — eu digo. — Jericho, Jericho, Jericho.

    Porque eu nuca pude dizer seu nome? ”Barrons” sempre foi uma parede erguida entre nós e

    se uma fratura me aparecesse às pressas erguia uma argamassa de medo em cima dela. Fecho os

    olhos e escuto. Quando abro novamente, envolvo minhas mãos ao redor da lança e tento puxá-la

    de suas costas, mas ela não sai, está presa no osso, tento lutar para tirá-la, paro e recomeço outra

    vez. Eu choro. Mas ela não se move.

    Eu posso fazer isso, eu posso, eu puxei e a lança estava livre. Depois de um longo momento

    eu rolei sobre ele, e se havia ainda alguma dúvida em minha mente de que ele não estava morto,

    ela desapareceu. Seus olhos estão abertos e vazios. Jericho Barrons não estava mais aqui.

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    Fever 05

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    Eu abri meus sentidos sider-seer ao meu redor, e eu não podia senti-lo. Estou sozinha nesse

    precipício, eu nunca estive tão sozinha.

    Eu pensei em tudo o que fosse possível para tentar trazê-lo de volta à vida.

    Lembro das carnes Unseelie guardadas em minha mochila, antes de sair da Livraria para

    enfrentar ao LM.

    A maior parte dela está lá, se eu soubesse o que sei agora, que a próxima vez em que eu

    visse o Jericho Barrons ele estaria morto. Que as últimas palavras proferidas por ele seriam “E o

    Lamborghini”, com aquele sorriso de lobo e com a promessa de que sempre estaria respirando nas

    minhas costas me mantendo coberta.

    O contorcido pedaço de carne de Rhino-boy encontrava-se perfeitamente guardado no pote

    de comida para bebês, poderia forçá-lo entre seus lábios inchados e ensanguentados, mantendo

    sua boca fechada. Quando vi os cortes irregulares em torno de seu pescoço meu grito preso quase

    me ensurdeceu. Eu não estou pensando claramente. O pânico e a dor voltaram. Barrons diria:

    “controle suas emoções Sra. Lane, coloque-se acima deles. Pare de reagir e aja". Não era ele,

    falando comigo novamente.

    O que eu não faria por ele? Nada é demasiado nojento ou bárbaro demais. Este é o Barrons.

    Eu o quero inteiro novamente.

    Ryodan o tinha esfolado do intestino ao peito, antes de cortar sua garganta. Eu

    cuidadosamente descasquei a carne de seu abdômen tatuado, e coloquei a carne Unseelie em seu

    estômago fatiado. As vísceras caíram e eu pensei em costurá-las para dentro, então seu corpo

    seria forçado a digerir a carne do Fae escuro, e me perguntei se iria trabalhar nele, mas me

    faltavam linhas e agulhas para isso, ou qualquer outro meio de reparação para sua carne rasgada.

    Eu tentei enfiar suas entranhas para dentro do seu corpo, organizá-las para ter alguma

    aparência de ordem, vagamente consciente de que isso não seja uma coisa normal e sadia de se

    fazer.

    Uma vez ele disse: — Fique dentro de mim, veja quão profundo você pode ir. — Com minhas

    mãos em seu braço, aqui estou, um pouco tarde.

    Eu uso a minha recém adquirida proficiência no uso da Voz e ordeno-o que se levante.

    Ele me disse uma vez que alunos e professores desenvolviam imunidade uns para com os

    outros, isso me alivia. Eu estava com medo da voz fazê-lo um zumbi, reanimado, mas não

    realmente vivo.

    Eu pensei em cortar meus pulsos e sangrar até a morte, eu tenho que cortá-lo profundo para

    que o corte se mantenha sangrando, senão eu me curarei rapidamente.

    Eu procurei o lugar sidhe-seer em minha mente, talvez aja uma magia para curar, eu não

    tenho ideia das consequências desse poder em meu interior. De repente eu estava furiosa. Como

    ele podia ser mortal? Como ele ousa ser mortal? Ele nunca me disse que era mortal! Se eu o

    tivesse conhecido, as coisas poderiam ter sido diferentes!

    — Levanta, levanta, levanta!

    Seus olhos ainda estão abertos, eu os odeio por isso, pois estão abertos, vazios e em branco,

    mas fechando-se em reconhecimento, uma aceitação que não há em mim.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    — Eu nunca vou fechar os olhos do Jericho Barrons.

    Eles foram abertos em vida e ele ia querê-los abertos na morte. Rituais seriam desperdícios

    para ele. Barrons sempre iria rir se eu tentasse algo tão simples como um funeral. Pequeno demais

    para um homem tão grande.

    Colocá-lo numa caixa? Nunca!

    Enterrá-lo? De jeito nenhum.

    Queimá-lo? Isso também seria uma aceitação, uma admissão de que ele estava morto. Nuca

    vai acontecer.

    Mesmo na morte ele parece indomável, seu enorme corpo tatuado em vermelho e preto,

    um gigante épico abatido em combate, liquidado no chão, eu levantei suavemente a sua cabeça,

    coloquei sua cabeça sobre minhas pernas e cobri o seu rosto com os meus braços.

    Lágrimas quentes não param de cair sobre minha blusa, quero lavar a sujeira de seu sangue

    e limpá-lo ternamente.

    Aspereza sobre esse lindo e proibido rosto.

    Quero tocá-lo, traçá-lo com meus dedos, até as mais sutis nuances de cada plano e ângulo,

    até que eu pudesse esculpi-lo em pedra se fosse cega.

    Quero beijá-lo.

    Deitei e me estiquei ao seu lado, me apertando junto ao seu corpo e o segurando, querendo

    mantê-lo, como eu nunca me permiti fazer quando ele estava vivo.

    Dizer todas as coisas que nunca disse.

    Por um tempo eu não tenho a ideia de onde ele acaba e eu começo.

    Diário da Dani – 91 dias AWC1...

    Consiga seu destruidor de sombras!!!

    LEIAM TUDO SOBRE ISSO!!!

    Sim, você me ouviu direito! Os feckers2 PODEM ser mortos! Informado a você pelo “O Diário

    de Dani”, sua ÚNICA fonte para todas as notícias AWC (After the Wall Crash, idiotas. E eu não vou

    continuar soletrando coisas para vocês).

    Dani “Mega” O’Malley DESTRUIDOR DE SOMBRAS:

    • 1 pedaço de carne Unseelie.

    • Estopim.

    • Pó para ignição. Use apenas mistura pirotécnica padrão industrial. NÃO use clorato ou

    enxofre. São ALTAMENTE instáveis. Confie em mim, eu sei do que estou falando!

    1 AWC – Depois da queda dos muros.

    2 Feckers – Termo usado pelos irlandeses que geralmente significa filho da puta.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Faça uma bomba. Coloque no centro da carne. Ajeite o estopim. Modele a carne de Unseelie

    em uma forma redonda que é mais fácil de rolar. Encurrale uma Sombra, jogue o DESTRUIDOR DE

    SOMBRAS, e cubra seus ouvidos! Os feckers são canibais!!! Assista a Sombra devorar seu

    lanchinho e se desintegrar quando a bomba explodir dentro dela. Se ela come LUZ, ela morre!

    ADVERTÊNCIA!

    * Crianças abaixo de 14: Não façam isso sem ajuda. Não irá fazer bem a ninguém se você

    explodir suas mãos. Precisamos de você na luta. Seja legal. Inteligência está na moda.

    * Você tem que ser rápido! Se encontrar um ninho especialmente mau, escreva o endereço

    dele num exemplar do Diário de Dani, pregue-o na parede dentro do G.P.O., O’Connell Street,

    Dublin 1, e eu cuido disso pra você. (Não me chamam de MEGA a toa!)

    * NÃO use ENXOFRE! Faz a mistura TOTALMENTE instável. Minhas sobrancelhas e os pelos

    do meu nariz ainda estão crescendo novamente.

    *Ajuste a bomba para explodir antes que a Sombra a coma. Algumas delas são estúpidas o

    bastante para comer logo que você jogar na direção delas.

    RESPONSABILIDADE LEGAL!

    O Diário de Dani (TDD, LLC) e afiliados NÃO são responsáveis por injúrias e danos colaterais

    causados por acidentes!

    Capítulo 2

    As pessoas são engraçadas dizendo coisas quando alguém morre.

    Ele está em um lugar melhor.

    Como você sabe?

    A vida continua.

    Supõe-se que eu tenho que me conformar? Estou dolorosamente ciente que a vida continua,

    dói cada maldito segundo. Como adorável é saber, que isso continuará formulando. Obrigado por

    me lembrar.

    O tempo cura.

    Não, não. No melhor dos casos, o tempo é um grande nivelador, fechando tudo em caixões.

    Encontrando maneiras de nos distrair da dor. O tempo não é um bisturi ou uma bandagem. É

    indiferente. O tecido da cicatriz não é bom. É apenas mais um lado da ferida

    Eu vivo com o espectro de Alina todos os dias. Agora, convivo com o fantasma de Barrons,

    também. Andando entre eles: um à minha direita, outro à minha esquerda.

    Falo incessantemente: — Nunca fugir, a pé sobre uma ponte, que contém falhas...

    O dia está ficando mais frio, pelo tempo que eu fiquei sem me movimentar. Eu sei o que isso

    significa. Significa que a noite está prestes a cair, batendo com a precisão de algumas persianas de

    aço na fachada de vidro, de uma loja de luxo, localizado em um bairro marginal. Tento deixá-lo. Eu

    não quero. Faço uma dúzia e meia de tentativas para me sentar. Minha cabeça dói, de tanto

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    chorar, minha garganta arde por causa dos gritos. Quando eu me sento, apenas uma parte do meu

    corpo se movimenta. Meu coração ainda está lá no chão ao lado de Jericho Barrons. Bate mais

    uma vez, em seguida, para.

    Finalmente a paz.

    Eu cruzo as pernas rigidamente empurrando debaixo de mim. Fico em pé, como se eu

    tivesse cem anos, com cada um dos meus ossos rachando.

    Se o Lorde Master está me caçando, é perigoso ficar sentada na beira do precipício por um

    determinado tempo.

    O Lord Master, Darroc, líder dos FAE escuros, o bastardo que derrubou os muros no

    Halloween, liberou as hordas de Unsellie que agora está no meu mundo.

    O filho da puta que começou tudo: Seduziu, assassinou Alina, ou participou da sua morte. Eu

    fui estuprada pelos Príncipes Unseelie, lobotizada e transformada em uma escrava prestativa;

    Sequestrou meus pais e forçou-me a entrar nos espelhos, levou-me a borda do presente

    precipício, onde eu matei Barrons.

    Se não fosse por um maldito ex- Fae, determinado em recuperar a graça perdida e exigindo

    remuneração, nada disto tinha acontecido. A vingança nunca será suficiente. Vingança deve ser

    rápida. Não é para satisfazer as complexidades das necessidades da criatura em que eu me tornei,

    enquanto eu estava aqui deitada, segurando-o.

    Eu quero tudo de volta.

    Tudo que eu havia perdido.

    Uma bomba de raiva explodiu dentro de mim, penetrando todos os cantos e recantos

    ocupados pela minha dor. Parabenizo-me, crio coragem, e me curvo ao meu novo Deus. Eu me

    batizo mesmo em sua fúria. Eu me ofereço. Reclama-me, me leve, apropria-te de mim, eu sou sua.

    Sidhe-seer tem apenas alguns pontos fora de Ban sidhe: o prenúncio da morte do meu país

    de nascimento, esta criatura mítica que grita impulsionado pela raiva. Notei que o lago escuro veio

    em minha mente. Eu estou na praia de cascalho negro. A runas flutuando sobre a superfície

    brilhante de ébano, brilhando com o poder.

    Eu me ajoelho, arrastando os dedos sobre a água negra, pegando dois punhados, e

    oferecendo ao lago sem fundo, uma profunda reverência de agradecimento.

    Ele é meu amigo. Agora eu sei. Ele sempre tem sido.

    Minha indignação é grande demais para cantos e recantos. Eu não tento contê-lo, eu deixei

    construir uma melodia escura e perigosa. Eu jogo minha cabeça para trás, aumentando o espaço.

    Incha, explode até a minha garganta, colocando para fora até o meu rosto. Quando irrompe meus

    lábios, é um grito desumano que sobe acima das árvores, rasga no ar, e quebra a tranquilidade da

    floresta.

    Lobos despertam assustados em suas tocas, uivando em um coro fúnebre; guincho de

    javalis; eu e a criatura à qual não posso nomear gritamos. Nosso show é ensurdecedor

    A temperatura cai e a mata ao redor, é abruptamente coberta em um espesso revestimento

    de gelo, desde a menor folha de grama, até o galho mais alto.

    As aves congelam e morrem, com seus bicos separados, alimentando seus bebês.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Os esquilos congelam-se na metade dos seus saltos, caindo como pedras no chão, onde

    quebram em pedaços.

    Eu olho para minhas mãos, elas são uma mancha negra, as palmas das minhas mãos estão

    prateadas.

    Agora eu sei onde Barrons termina e eu começo.

    Barrons acabou quando eu comecei.

    Sim.

    Mac O'Connor.

    A Sidhe-seer que um determinado príncipe Seelie disse que o mundo deveria temer.

    Eu me ajoelho e beijo Barrons pela última vez.

    Não enterro ou realizo qualquer ritual. Seria para mim, não para ele. Só há uma coisa a fazer

    por mim.

    Logo, nada disso importa de qualquer maneira.

    Eu tinha que ser rasgada ao meio, para parar de sentir como se eu fosse divida ao meio.

    Divida sim, sem saber em quem confiar.

    Agora eu sou uma mulher com uma única ambição.

    Eu sei exatamente o que fazer.

    E eu sei como fazer isso.

    Capítulo 3

    Depois de ter deixado o corpo de Barrons, viajei em direção do meu demônio guardião que

    estava me pastoreando. Eu acredito que ele deve querer que eu vá nesta direção por algum

    motivo.

    Eu confio nele na morte como nunca confiei em vida.

    Que bela peça que eu sou.

    Segui o rio por vários quilômetros. Quando ele desapareceu atrás de mim eu também

    desapareci. Cada passo que eu dava eu despia outra parte de mim. As partes fracas. As partes que

    não me deixariam completar os meus objetivos. E se essas forem as tão faladas partes humanas,

    oh, bem. Eu não consigo sentir e ainda sobreviver depois de tudo o que tenho passado.

    Quando eu tive a certeza que estava pronta, parei e esperei pelo meu inimigo.

    Ele não decepciona.

    — Pensei que nunca iria chegar até aqui — disse eu, a minha voz rouca de gritar. Dói falar.

    Eu saboreio a dor. É o que eu mereço.

    O LM ainda está distante, escondido na floresta, mas eu vejo as sombras que se movem

    muito sinuosamente para serem projetadas por uma árvore.

    — Mostre-se. — Recostei-me contra uma árvore, uma mão no bolso em meu quadril e a

    outra na minha cintura. — Eu sou o que você quer, não é? Por quem você veio até aqui. O que

  • TWKliek Karen Marie Moning

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    tudo isto se trata. Porque hesitar agora?

    A minha lança está no coldre debaixo do meu braço, a minha adaga na minha cintura. E a

    bolsa de couro preta, coberta de runas que continha as três pedras, que o LM queria – três –

    quartos daquilo que todos desejamos formarão um tipo de jaula para o Sinsar Dubh, estava

    devidamente guardada na minha mochila, que pendia no meu ombro.

    Formas surgiram na escuridão: LM e os últimos dois Príncipes Unseelie.

    Jack e Rainey Lane não estavam com eles.

    Isso me incomoda, exceto que a Mac que amava seus pais, ficou nesses pedaços que eu

    deixei para trás com o corpo de Barrons. Barrons estava morto. Era culpa minha. Eu não tinha pais.

    Não tinha amor. Não tinha fraquezas. Nem um só raio de sol em minha alma.

    Sinto-me imensamente mais leve e forte.

    Darroc – não o chamarei mais de LM; até a abreviatura do seu título presunçoso implica

    superioridade – comeu uma grande quantidade de carne de Unseelie. O poder engrossava o ar

    entre nós. Não tenho certeza o que vem dele ou o que sai de mim. Gostaria de saber o que os seus

    seguidores acham dele os canibalizar. Talvez o que seja abominável na Corte de Luz é comum na

    Corte das Trevas, algo aceitável no que dizia respeito a ser Unseelie.

    Enquanto ele se aproximava do círculo de luz prateada onde eu estava, os seus olhos

    entrecerram infinitamente.

    Eu ri, um ronronar gutural. Eu sei qual a minha aparência. Eu tinha me lavado depois de

    deixar Barrons e me preparei com cuidado. O meu sutiã estava na minha mochila. O meu cabelo

    estava suavemente encaracolado e solto ao redor do meu rosto. Demorei algum tempo para tirar

    a mancha negra das minhas mãos. Não há nada em mim que não seja uma arma, um recurso,

    alguma coisa para alcançar o que eu desejo e isso inclui o meu corpo. Eu aprendi uma ou duas

    coisas com o Barrons: O poder é sexy. Molda a minha coluna, inflama o acenar da minha mão.

    Eu não fiquei devastada pela morte do Barrons. A alquimia da dor forjou um novo metal.

    Eu fui transformada.

    Só havia uma forma de fazer a sua morte bem. Desfazê-la.

    E enquanto isso desfazer a morte de Alina também..

    Cada pessoa que encontrei conhecia algo sobre o Sinsar Dubh que era enigmático sobre isso.

    Ninguém me dizia exatamente o que continha. Tudo o que me diziam era que era imperativo que

    eu o encontrasse e depressa, porque podia ser usado para evitar que as barreiras caíssem.

    Bem, as barreiras já caíram. É tarde demais.

    Considerando que eu tenho estado caçando este Livro com toda a dedicação por meses, é

    surpreendente o quão pouco pensei em seu conteúdo. Eu engoli o que me disseram e

    obedientemente o persegui.

    Suspeito agora que todos estavam me mantendo bem focada no meu objetivo de encontrá-

    lo, para manter as paredes no lugar, por isso eu nunca pensei muito seriamente nos outros

    possíveis usos para o Sinsar Dubh.

    E ali estava eu, caçando um objeto de poder incalculável, rodeado de pessoas que o queriam

    por varias razões e eu nunca pensei para mim: Espera um minuto, o que isto poderia me oferecer?

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Darroc disse-me que o Sinsar Dubh poderia trazer Alina de volta. Ele disse que ele queria

    reclamar a sua essência Fae e extrair a vingança.

    V’lane disse que o Livro Negro continha todo o conhecimento do Rei Unseelie, todo e cada

    maldito pedaço. Disse que o queria para a Rainha Seelie, para que ela o pudesse usar para

    restaurar a sua raça à antiga glória e para aprisionar novamente os Unseelie. Ele acreditava que

    continha fragmentos da Canção de Criação, perdida para a sua raça a muito tempo e a rainha

    conseguiria utilizá-lo para recriar a melodia antiga. Não sei exatamente o que a Canção de Criação

    é ou o que faz, mas parece ser o topo dos poderes dos Fae.

    Era o que Barrons mais me tinha dito. Ele disse-me que o Sinsar Dubh continha feitiços para

    fazer e desfazer mundos. Alguma coisa a ver com fragmentos da Canção. Ele nunca iria me dizer

    por que o queria. Disse que era um colecionador de livros. Certo. E eu sou o Rei Unseelie.

    Deitada ali, segurando o corpo do Barrons, eu contemplei os potenciais usos do Sinsar Dubh,

    pela primeira vez numa maneira muito pessoal.

    Especialmente a parte de fazer e desfazer mundos.

    Isso tudo tornava-se perfeitamente claro para mim.

    Com o Sinsar Dubh, uma pessoa podia criar um mundo com um passado diferente e com um

    futuro diferente.

    Essencialmente, a pessoa podia voltar no tempo.

    Apagar tudo o que não gostasse.

    Substituir as coisas que não podia suportar ter perdido, incluindo pessoas que não poderia

    viver sem.

    Eu afastei-me do corpo do Barrons com um propósito.

    Conseguir o Sinsar Dubh e quando conseguisse não iria entregá-lo a ninguém. Iria ser meu.

    Eu o iria estudá-lo. O luto tinha me focado como uma mira. Eu podia aprender alguma coisa. Nada

    ia ficar na minha frente. Eu ia reconstruir o mundo na maneira em que eu quisesse.

    — Anda. — Sorri. — Junte-se a mim. — Meu rosto irradiava só calor, convite, prazer com a

    sua presença. Eu era a última coisa que ele esperava. Ele acreditava que iria encontrar uma garota

    aterrorizada e histérica.

    Não sou nem nunca serei novamente.

    Ele manda os príncipes para trás e dá um passo casual para a frente, mas eu vejo a graça

    estudada no movimento. Ele estava receoso. E ele devia estar.

    Os olhos de Fae acobreados encontram os meus. Como podia Alina ter se enganado ao não

    ver que aqueles olhos não eram humanos, não interessa o quão humano o corpo dele parecia?

    A resposta era simples: Ela sabia. Foi por isso que ela mentiu-lhe, disse-lhe que não tinha

    família, que era órfã. Protegeu-nos desde o primeiro momento. Ela sabia que havia alguma coisa

    de perigoso nele, mas ela queria-o da mesma forma, queria provar daquele tipo de vida.

    E eu não a culpo. Nós tínhamos muitas falhas. Devíamos ter sido expulsas da Irlanda para o

    bem de todos.

    Ele me avalia. Eu sei que ele passou pelo corpo do Barrons. Tentando entender o que se

    tinha passado, mas tinha pouca vontade de perguntar. Eu suspeito que nada o convenceria mais

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    19

    que ver o corpo morto do Barrons que a MacKayla com que ele julgou estar lidando já não existia

    mais. O olhar dele caiu para as runas cinzentas recortadas no chão que me circulavam, banhando-

    me na luz fria e estranha. Os olhos abriram novamente enquanto ele parece espantado.

    — Bom trabalho. — O olhar dele oscila entre as runas e a minha cara. — O que são?

    — Não as reconhece? — Eu me oponho. Eu sinto a trapaça. Ele sabe o que são. Eu não. Eu

    gostaria de saber.

    O que vi a seguir foram os seus olhos acobreados fixarem-se nos meus e uma vibrante luz

    negro-azulada que lhe saia do punho. Eu não o vi tirar a Relíquia de dentro de sua camisa.

    — Sai de dentro do círculo, agora — ele ordenou.

    Ele não estava usando a Voz. Ele estava segurando o amuleto, um das quatro Relíquias

    Unseelie, uma gargantilha com uma pedra de material desconhecido do tamanho de um punho. O

    rei tinha criado para a sua concubina, para que ela pudesse dobrar a realidade a sua vontade. O

    amuleto reforça a vontade épica de uma pessoa. Há alguns meses eu estive num leilão muito

    exclusivo num abrigo anti-bombas e vi o velho Welshman pagar muito dinheiro por ele. E foi uma

    competição dura. Mallucé tinha matado o velhote e levado-o antes que eu e o Barrons tivéssemos

    conseguido roubá-lo. Mas o aprendiz de vampiro não conseguiu usá-lo.

    Darroc podia. Eu acredito que eu também podia – se eu conseguisse tirar dele.

    Eu tive-o uma vez e ele respondeu-me. Mas como muitas coisas Fae, o tempo incutia um

    grau de conhecimento e isso exigia-me algo – uma cobrança, um compromisso. Eu não entendia –

    ou não tinha vontade de entender e tinha medo do que isso ia me custar. Eu tinha perdido a

    Relíquia para o Darroc quando ele usou a Voz em mim para que eu lhe entregasse, ainda antes de

    ter aprendido como usar a Voz eu mesma. Eu não tinha remorsos sobre o desejo de explorar o

    amuleto. Nenhum preço seria alto demais.

    Senti o irradiar do poder preto-azulado, lançando o seu comando com compulsão. A pressão

    é imensa e eu queria sair do circulo. Podia respirar, comer, dormir e viver sem dor para sempre, se

    apenas eu saísse do circulo.

    Eu ri.

    — Atira-me o amuleto agora. — Voz explode de mim.

    As cabeças dos Príncipes Unseelies giram para olhar para mim. É difícil de entendê-los, mas

    de repente eles me acham muito interessante.

    Um arrepio sobe pelas minhas costas. Não sobrava medo dentro de mim. Não sobrava

    terror, mas aquelas… coisas.. aquelas coisas geladas, não naturais, aberrações.. eles mesmo assim

    conseguiam me afetar. E mesmo sem eu ter olhado diretamente para eles.

    Darroc aperta a mão sobre o amuleto em chamas.

    — Sai do círculo! — A pressão é esmagadora. Ela pode ser atenuada apenas pela obediência.

    — Atire-me o amuleto!

    Ele recua, levanta a mão, rosna e empurra-a de volta para baixo.

    Durante os próximos minutos, ele e eu tentamos dobrar o outro à nossa vontade, até que

    finalmente somos obrigados a admitir que estamos num impasse. Minha voz não funciona nele.

    Nem a voz, nem amuleto funciona em mim. Estamos em sintonia. Fascinante. Eu sou igual a ele.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Meu Deus, em que criatura me tornei. Ele me rodeiam, e me viro para ele, um sorriso curvando os

    meus lábios, meu olhos brilhantes. Eu estou recarregada. Estou exultante. Eu estou cheia de poder

    das minhas runas. Estudam-me como se estivessem diante de uma nova espécie.

    Eu ofereço minha mão, um convite para passar para meu lado. Ele olha para as runas.

    — Eu não sou um idiota tão grande. — Sua voz é profunda, musical. Ele é lindo. Eu entendo

    porque minha irmã o queria. Alto, pele dourada, existe um erotismo sobrenatural sobre ele que

    apesar de ter sido feito mortal pela sua rainha, esta não conseguiu erradicar. A cicatriz no rosto

    desenhava o olho, parece que pede ao dedo para seguir-lhe a linha, saber a história por trás dela...

    Eu não poderia simplesmente perguntar como uma grande tola, porque seria admitir que não sei

    o que as minhas runas são.

    — O que aconteceu com Barrons? — Diz ele depois de um tempo.

    — Eu o matei. — Ele procura no meu rosto, e sei que ele está tentando chegar a qualquer

    cenário que pudesse explicar a forma como Barrons foi mutilado e morto. Se ele examinou o

    corpo, viu o ferimento da lança, ele sabe que eu a trago comigo. Ele sabe que eu o esfaqueei pelo

    menos uma vez.

    — Porquê?

    — Eu estava cansada de sua grosseria incessante. — Eu dou uma piscadela. Deixa que ele

    pense que sou louca. Eu sou. Em todos os sentidos da palavra. — Eu não acho que ele devia ter

    sido morto. Os Fae há muito que o temiam.

    — Acontece que a lança era seu ponto fraco. É por isso que nunca quis tocá-la.

    Ele absorve as minhas palavras e eu sei que ele está tentando descobrir uma arma Fae que

    poderia matar Jericho Barrons. Eu também gostaria de saber. Teria sido a lança que deu o golpe

    mortal? Será que ele teria morrido da ferida, eventualmente, independentemente de Ryodan ter

    cortado sua garganta?

    — No entanto, ele armou você com ela? Espera que eu acredite nisso?

    — Como você, ele pensou que eu era toda fofa e sem dentes. Muito estúpido para ter uma

    suspeita de valor. 'Cordeiro para o matadouro’ era como ele gostava de dizer. O cordeirinho

    matou o leão. Acho que eu mostrei-lhe, não?

    Eu pisco novamente.

    — Eu queimei seu corpo. Não resta nada além de cinzas.

    Olha o meu rosto com cuidado.

    — Bom.

    — Se houvesse alguma forma que ele puder subir, agora nunca irá acontecer. Os príncipes

    espalharam suas cinzas em uma centena de dimensões. — Seu olhar era penetrante agora.

    — Eu deveria ter pensado nisso. Obrigado por terminá-lo tão bem.

    Minha mente divaga sobre o novo mundo que pretendo criar. Eu já disse adeus a este.

    Estreita o olhar acobreado brilhante com desdém.

    — Você não matou Barrons. O que aconteceu? Do que você está jogando?

    — Ele me traiu — minto.

    — Como?

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    — Não é nada contigo. Eu tinha os meus motivos.

    Eu o vejo me observar. Ele se pergunta se a violação dos Príncipes Unseelie e a frequência no

    Salão de Todos os Dias me enlouqueceram. Ele pergunta-se se eu sou desequilibrada o suficiente

    para ter ficado louca e realmente ter matado Barrons apenas por ter me irritado.

    Quando ele olha para baixo, para as runas novamente, eu sei que ele pensa que eu tenho

    bastante poder retirado de lá.

    — Sai do círculo. Tenho os teus pais e vou matá-los se não me obedecer.

    — Eu não me importo. — Eu zombei.

    Ele observa-me. Ele ouviu verdade em minhas palavras. Eu não me importo. Uma parte

    essencial de mim está morta. Eu não lamento isso. Este já não é o meu mundo. O que acontece

    aqui não importa. Nesta realidade, eu já estou em tempo de prolongamento. Vou reconstruir um

    novo, ou morrer tentando.

    — Eu sou livre, Darroc. Eu sou realmente e verdadeiramente livre. — Eu encolho os ombros,

    abano a cabeça e começo a rir.

    Ele suga em uma respiração rápida quando eu digo seu nome e riu e eu sei que o lembro da

    minha irmã. Ela terá dito essas palavras para ele alguma vez? Será que ele ouve a alegria no meu

    riso, como ele já ouviu no dela?

    Ele espreita um círculo em volta de mim, os olhos apertados.

    — O que mudou? Nos dias desde que eu sequestrei os teus pais e hoje, o que aconteceu

    contigo?

    — O que aconteceu comigo começou a acontecer há muito tempo. Você devia ter mantido

    Alina viva. Eu te odiei por isso.

    — E agora?

    Eu olho para ele e para baixo.

    — Agora é diferente. As coisas estão diferentes. Nós somos diferentes.

    Ele oscila entre os meus olhos, rapidamente.

    — O que está dizendo?

    — Não vejo nenhuma razão, para não podermos ser amigos... — Ele tenta a palavra.

    — Amigos? — Eu aceno.

    Ele contempla a possibilidade de eu ser sincera. Um ser humano nunca iria entender a

    noção. Fae são diferentes. Não importa quanto tempo eles passam entre nós, eles simplesmente

    não adquirem as sutilezas da emoção humana. É essa diferença que eu estou contando. Quando

    saí depois de Barrons, tudo que eu queria era esperar por Darroc, usar as minhas runas e meu

    recém amigo negro-vítreo para matá-lo no momento que ele aparecer.Eu vou exorcizá-lo

    rapidamente. Este ex-Fae que virou humano sabe mais sobre as cortes Seelie e Unseelie, e os

    livros que estou determinada a possuir, do que ninguém. Quando ele me contar tudo o que sabe,

    eu vou gostar de matá-lo. Eu tinha considerado aliar-me com V'lane e quando eu terminar de

    tomar tudo que eu preciso de Darroc, eu ainda posso. Afinal, vou precisar da quarta pedra.

    Mas V'lane parece não ter nenhum conhecimento real sobre o livro, além de algumas lendas

    antigas. A melhor aposta é o Unseelie saber mais sobre o Livro Negro do que a mão direita da

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    22

    Rainha Seelie. Talvez até mesmo onde encontrar a profecia. Como Barrons, Darroc realmente viu

    páginas do volume arcano. Eu fui forçada a admitir que a caça ao Sinsar Dubh foi um exercício fútil

    até que eu descobri como controlá-la. Mas Darroc nunca parou sua busca. Por quê? O que ele

    sabe que eu não sei?

    Quanto mais cedo eu bisbilhotar os segredos dele, quanto mais cedo eu aprender a conter e

    usar o Sinsar Dubh, quanto mais cedo eu puder parar de viver nesta realidade angustiante, eu não

    tenho nenhuma hesitação em destruir a substituir o meu mundo. O caminho certo. Quando tudo

    termina feliz para sempre.

    — Amigos de trabalho com objetivos comuns — diz ele.

    — Como a caça de livros — eu concordo.

    — Amigos confiam uns nos outros. Eles não escondem nada uns aos outros. — Ele olha para

    os meus pés.

    As runas vieram de dentro de mim. Formaram meu círculo. Ele não sabe disso. Eu chuto-os

    de lado. Eu me pergunto se ele se esqueceu da minha lança. Como fortemente atada com

    Unseelie como ele é, uma única picada iria sentenciá-lo à mesma morte lenta e horrível que

    Mallucé tinha sofrido.

    Quando eu saí, ele me olha lentamente para cima e para baixo.

    Eu vejo os pensamentos que brilham através de seus olhos enquanto eles viajam pelo meu

    corpo: matá-la / foder com ela / violá-la e prendê-la / explorar para seu uso? É preciso muito para

    fazer um homem matar uma mulher bonita com quem ele ainda não dormiu. Especialmente se ele

    gostava de sua irmã.

    — Amigos não tentam coagir o outro — eu digo com um olhar apontando para o amuleto.

    Ele inclina a cabeça e desliza-o de volta para dentro de sua camisa.

    Eu ofereço minha mão com um sorriso. Barrons ensinou-me bem. Mantém os seus amigos

    por perto...

    Darroc aceita-a, inclina-se para colocar um leve beijo nos meus lábios. A tensão entre nós é

    uma coisa palpável. Um movimento repentino de qualquer um de nós e vamos estar um sobre o

    outro, tentando matar um ao outro, e nós sabemos disso. Ele mantém seu corpo flexível. Eu

    infundo meus membros com languidez. Nós somos dois escorpiões com cauda enrolada, tentando

    se acasalar. Não é mais do que mereço, a punição de deixá-lo tocar-me assim. Eu condenei

    Barrons à morte.

    Coloco os meus lábios nos dele, mas discretamente, os dentes permanecem de guarda. Eu

    exalo um suave sussurro de respiração em sua boca. Ele gosta disso. E seus inimigos mais próximos

    ainda...

    Atrás de nós, os Príncipes Unseelie tocam uma campainha suave com o cristal escuro.

    Lembro-me do som. Eu sei o que precede. Eu aperto a minha mão sobre a dele.

    — Eles nunca. Nunca mais.

    Darroc volta para eles e dá-lhes vozes duras de comando em uma linguagem que machuca

    meus ouvidos. Eles desaparecem. O momento que eu já não sei onde eles estão, se eles podem se

    lançar sobre mim, eu procuro minha lança. Se foi, também. Os Príncipes Unseelie não podem se

  • TWKliek Karen Marie Moning

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    desmaterializar dos Espelhos com qualquer previsibilidade. Darroc me diz que é um jogo de dados

    cada vez que tentam.

    Digo-lhe que as pedras não são melhores, independentemente da dimensão em que

    usamos, uma vez descoberta, em um esforço para devolver as pedras cobertas de azul-preto-runa

    para as falésias da prisão gelada Unseelie de onde eram esculpidas.

    Estou surpresa que ele não saiba disso e conto-lhe isso.

    — Você não entende como é a vida na corte Seelie, MacKayla. Aqueles que têm o verdadeiro

    conhecimento, memórias verdadeiras de nosso passado, guardam-no com zelo. Existem versões

    como muitos dos velhos tempos e contos conflituosos de nossas origens, há dimensões para

    escolher dentro da sala. Os Unseelie que jamais vimos foram aqueles no dia em que o rei lutou

    contra a rainha e a nossa rainha matou o rei. Desde então, temos bebido do caldeirão inúmeras

    vezes.

    Ele se move ao longo da borda do penhasco com fluidez e graça natural. Os Fae movem-se

    com elegância majestosa como predadores, nascida da certeza absoluta que nunca podem

    morrer, ou pelo menos muito raramente e apenas em circunstâncias especiais. Ele não perdeu a

    arrogância, ou talvez ele esteja recuperando-a, de todos os Unseelie que ele está comendo. Ele

    não veste o manto vermelho que uma vez me apavorava. Alto, graciosamente musculoso, ele está

    vestido como um homem de outdoors em um anúncio da Versace, com cabelo comprido

    prateado-lua. Ele é inegavelmente sexy. Em seu poder e confiança, ele lembra-me Barrons.

    Eu não pergunto porque eles bebem. Eu entendo. Se eu encontrasse o caldeirão, e bebesse

    dele, iria apagar toda a dor e permitir-me começar uma nova vida, uma lousa em branco. Eu não

    poderia sofrer por aquilo que eu não lembro de alguma vez ter. Isso implica que eles bebem em

    algum nível sentimento Fae. Se não a dor, desconforto, pelo menos, algo significativo.

    — Então como vamos sair daqui? — Eu pergunto.

    Sua resposta me dá um súbito arrepio, uma sensação de algo mais vasto e incompreensível

    de um déjà-vu inevitável finalmente se manifestar.

    — A Mansão Branca.

    Capítulo 4

    Na noite em que as paredes desabaram, eu me agachei em um campanário, minha única

    meta era sobreviver até o amanhecer.

    Não tinha ideia se o mundo sobreviveria comigo.

    Pensei que era a noite mais longa da minha vida. Estava errada.

    Esta era a noite mais longa da minha vida, andando lado a lado com meu inimigo,

    lamentando por Jericho Barrons, afogando-me em minha própria cumplicidade.

    O tempo estendia-se adiante. Vivi mil horas em alguns momentos. Contei até sessenta

    debaixo de minha respiração, repetidas vezes, conferindo os minutos, pensando se podia colocar

  • TWKliek Karen Marie Moning

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    distância suficiente entre eles e minha morte, se a dor não me entorpecesse poderia respirar

    calmamente, sem uma faca cravada em meu coração.

    Não fizemos pausa para comer ou dormir. Ele mantinha a carne de Unseelie em uma bolsa e,

    periodicamente, mastigava-a enquanto viajávamos, o que significava que ele podia continuar por

    muito mais tempo do que eu, que em algum ponto seria obrigado a descansar. O pensamento de

    abandonar a consciência em sua presença não era agradável.

    Tenho armas em meu arsenal que ainda não tentei usar com ele. Não tenho nenhuma

    dúvida de que ele está escondendo armamentos, também. Nossa trégua é um piso de cascas de

    ovos e estamos ambos usando botas de combate.

    — Onde está o rei Unseelie? — Pergunto, esperando que a distração pudesse fazer com que

    o tempo passasse mais rápido. — É o seu livro que está solto por aí. Ouvi dizer que ele quer que

    seja destruído. Por que então não está fazendo algo sobre isso? Posso também embarcar em uma

    expedição de pesca em Unseelie, lançando minhas redes em qualquer coisa que possa usar. Até

    que eu saiba o quão poderoso é Darroc e entenda melhor do que ninguém o meu lago escuro e

    vítreo, a sutileza é o nome do meu jogo. Não farei nenhum movimento que ponha em perigo

    minha missão. A ressurreição de Barrons depende disto.

    O outro dá de ombros.

    — Ele sumiu há muito tempo. Alguns dizem que é louco demais para se importar. Outros

    acreditam que não pôde deixar a prisão Unseelie e está envolto em um túmulo de gelo negro,

    eternamente adormecido. Ainda há outros que afirmam que a prisão não o conteve, para começar

    e que o remorso pela morte de sua concubina era o único elo que jamais permitiu.

    — Isso implica em amor. Um Fae não ama.

    — Discutível. Eu me reconheço em você e acho que é... irresistível. Faz-me sentir menos

    sozinho.

    Tradução: sirvo como um espelho e o Fae pode desfrutar de sua própria reflexão.

    — Isso é desejável para um Fae – estar menos só?

    — Poucos Fae podem suportar a solidão. Alguns imaginam que a energia molda-se em um

    ethos que não reflete ou repercute, permitindo assim que a energia se dissipe até que nada resta.

    Talvez seja uma falha.

    — Como bater palmas para Sininho. — Eu zombo. — Um espelho, validação.

    Ele me dá uma olhada.

    — É disso que os Fae são feitos? Energia?

    Ele me dá outro olhar que me lembra V'lane, e sei que nunca irá discutir do que um Fae é

    composto comigo, um mero humano. Seu complexo de superioridade em nada foi diminuído pelo

    tempo vivendo como um mortal. Pelo contrário, suspeito que tem crescido. Ele conhece os dois

    lados. Isso lhe dá uma vantagem tática sobre as outras fadas. Ele entende o que nos motiva e é

    mais perigoso por causa disso. Arquivei a ideia de energia para estudá-la depois. Ferro afeta um

    Fae? Por quê? Eles possuem uma espécie de energia que poderia sofrer "curto-circuito"?

    — Você admite falhas? — O pressionei.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    — Nós não somos perfeitos. Que Deus é? Examine o seu. De acordo com o mito, ele estava

    tão decepcionado com seus esforços iniciais criando a sua raça que tentou novamente. Pelo

    menos nós assumimos nossos erros. Seu Deus lhes permitiu vagar livremente. Em alguns poucos

    milhares de anos, os mitos da sua criação será muito mais absurdo que o nosso. No entanto, você

    quer saber porque não conseguimos lembrar nossas origens, que datam de um milhão de anos ou

    mais.

    Conversando, tornávamo-nos mais próximos um do outro e ambos percebemos isso ao

    mesmo tempo. Imediatamente recuamos, recuperando distância suficiente entre nós, a fim de

    vermos caso o outro atacasse. Parte de mim achava isso divertido.

    Os príncipes ainda não reapareceram. Pelo que sou grata. Apesar de já não me impactar

    sexualmente, eles têm uma presença profundamente terrível. Fazem-me sentir estranha,

    bidimensional, menos essencial, culpada, traída de uma maneira que não consigo entender e

    querer. Não sei se sinto isso porque estou mais uma vez debaixo deles, com todo o meu bom

    senso sendo despojado de minha pele e ossos, ou se eles são, fundamentalmente, um anátema

    para todos os seres humanos. Me pergunto se as "coisas" dais quais foram feitos pelo rei Unseelie

    é tão estranha e horrível para nós que eles são o equivalente a um buraco negro psíquico. O fato

    de serem indescritivelmente belos só piora tudo. A perfeição é o horizonte de eventos a partir do

    qual não há escapatória. Tremo.

    Lembro.

    Nunca esquecerei. Três deles e um quarto invisível, movendo-se sobre mim, em mim.

    Porque Darroc mandou. Isso, também, que nunca esquecerei.

    Pensei que ter sido estuprada por eles era terrível, que haviam me machucado em locais

    profundos, mudado a minha composição inata. Não sabia nada da dor, da mudança

    transformadora. O faço agora.

    Nós atravessamos a floresta, e o terreno que começava a descida. Com a lua iluminando

    nosso caminho, caminhamos através dos prados escuros.

    Desisti de minha expedição de pesca por agora. Minha garganta está doendo de tanto gritar,

    e colocar um pé na frente do outro, além de manter uma expressão impassível no rosto leva toda

    minha concentração. Trabalho arduamente durante uma vida de inferno na escuridão

    interminável antes do amanhecer.

    Repetia a cena do penhasco em minha cabeça mil vezes, fingindo que acabava de alguma

    outra forma.

    Espessas gramíneas e juncos delgados farfalhavam em minha cintura, escovando a parte de

    baixo de meus seios. Se havia animais na mata densa, mantinham distância. Se eu fosse um

    animal, ficaria longe de nós também. O clima ficava mais temperado, o ar aquecendo- se com o

    perfume exótico da noite, jasmins e madressilvas.

    Tão abruptamente como a noite cai aqui, já era madrugada. O céu em um momento estava

    negro, rosa, depois azul. Três segundos, a noite agora era dia.

    Fiz isso durante a noite. Respirei profunda e cuidadosamente.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Quando minha irmã morreu, descobri que a luz do dia tinha um efeito de alívio irracional na

    tristeza. Não tenho ideia do porquê. Talvez seja apenas algo em que nos escoramos para que

    possamos sobreviver à noite, sozinhos novamente.

    Não sabia que estávamos em uma alta planície, até que de repente na borda do planalto, me

    assustei com o vale afastando-se abruptamente ante mim. Atrás daquele vale, em uma ondulação

    oceânica do morro, ela aparecia. Subindo. Estendendo-se por quilômetros em todas as direções.

    A Mansão Branca.

    Mais uma vez fico com aquela estranha sensação de inevitabilidade que, de uma forma ou

    de outra, a vida não teria me levado para longe daqui, que, em qualquer realidade, eu teria feito

    as mesmas escolhas que me levavam à sua porta.

    A casa da amada concubina do rei Unseelie por quem ele matou a rainha Seelie, é tão

    grande que confunde a mente. Viro minha cabeça para os lados, para cima e para baixo, tentando

    visualizar tudo dentro do que se pode esperar contemplar apenas de longe, como estamos agora.

    Era pra esse lugar que Barrons havia tentado me levar? Se sim, porquê? Tinha Ryodan mentido

    quando me encontrou na beira do precipício e me disse que o caminho de volta para Dublin era

    através de um IFP, uma Caverna de Fada interdimensional, como eu tinha apelidado as lascas da

    realidade Fae, que dividia o mundo, agora que as paredes caíam por terra?

    As paredes eram de alabastro, refletindo o sol, com brilho e fogo de tal forma que estreitei

    meus olhos em fendas. O céu além da casa – não posso pensar nisso sem ser como uma capital, é

    muito mais do que uma mera residência inserida em um azul deslumbrante que só existe no país

    das fadas, uma sombra que nunca será vista no mundo humano. Há certas cores que só existem

    na dimensão das fadas, compostas de uma miríade de sutilezas sedutoras sobre a qual o olho

    possa persistir por incontável tempo. O céu é tão viciante como o chão de ouro no Salão de Todos

    os Dias.

    Forço meu olhar de volta para a mansão. Exploro as suas linhas, da fundação ao telhado, do

    terraço a torre, da fonte do jardim a torre. Uma fita de Möbius3, estruturas em camadas sobre

    uma paisagem escheresque4, girando sobre si mesmo, aqui e ali, contínua e ininterruptamente,

    em constante mudança e desenvolvimento. Estiquei o olho, testa e a mente. Mas já vi Fae em sua

    forma verdadeira. Acho que é... reconfortante. Em meu morto coração negro, sinto alguma coisa.

    Não entendo como alguma coisa poderia mexer lá dentro, mas o faz. Não o peso total de um

    sentimento, mas o eco de uma emoção. Desfalecer ainda era inegável.

    Darroc me assiste. Finjo não perceber.

    — Sua raça nunca construiu uma coisa de tal beleza, complexidade e perfeição - diz ele.

    — Nem a minha criou o Sinsar Dubh — revido.

    — Pequenas criaturas criam pequenas coisas.

    — Os egos das grandes criaturas são tão grandes que não veem as coisas pequenas que vem

    — murmuro. Como armadilhas, não digo.

    3 Möbius – É um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma fita, após efetuar meia volta numa delas.

    4 Paisagem Escheresque – Obras caracterizadas por explorações do infinito, arquitetura e mosaico.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

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    Ele intui isso. Ri e diz: — Lembrarei desta advertência, MacKayla.

    Depois de ter encontrado os dois primeiros Espelhos em um leilão em Londres, Darroc me

    diz, teve que aprender a usá-los. Levou dezenas de tentativas para estabelecer um vínculo estático

    para os reinos Fae, então, uma vez que estava dentro dos Espelhos, levava meses tentando

    encontrar um caminho para a prisão Unseelie.

    Há orgulho em sua voz quando fala de suas provações e triunfos. Despojado de sua essência

    Fae, não só sobreviveu, quando sua raça não acreditou que o faria, mas cumpriu o objetivo que

    perseguia como Fae, a mesma coisa pela qual havia sido banido. Ele se sentia superior aos outros

    da sua espécie.

    Escuto, analisando tudo o que ele me diz, procurando frestas em sua armadura. Sei que um

    Fae pode ter "sentimentos", como arrogância, superioridade, ironia e condescendência. Ouvindo-

    o, acrescento o orgulho, a vingança, a impaciência, regozijo, e diversão para a lista.

    Conversamos por algum tempo, analisando o outro atentamente. Contei a ele sobre como

    era crescer em Ashford, minhas primeiras impressões de Dublin, meu amor por carros rápidos. Ele

    me contou mais sobre sua queda da graça, o que fez, porque fez. Nós competíamos em desarmar

    um ao outro com confidências triviais que não traíam nada de importante.

    Quando cruzamos o vale, eu digo:

    — Por que ir para a prisão Unseelie? Por que não a corte Seelie?

    — E dar a Aoibheal a oportunidade de acabar comigo para sempre? A próxima vez que vir a

    cadela, ela morrerá.

    Foi por isso que ele tinha tomado a minha lança para matar a rainha? Pegou-a sem a minha

    consciência, assim como V'lane tinha feito. Como? Não era mais um Fae. Será que tinha comido

    tanto Unseelie que agora era um mutante com habilidades imprevisíveis? Lembro-me de estar na

    igreja, imprensada entre o Príncipe Unseelie, girando a lança, jogando-a, golpeando o pedestal de

    uma bacia, a água benta espirrando, o assobio de vapor. Como ele me fez jogá-la fora, então?

    Como a tomou de mim agora?

    — A rainha está na corte Seelie agora? — Lancei minha rede novamente.

    — Como eu poderia saber? Fui banido. Supondo que eu encontrasse uma entrada, o

    primeiro Seelie que me visse me mataria.

    — Você não tem aliados na corte Seelie? V'lane não é seu amigo?

    Ele bufa desdenhosamente.

    — Nós nos sentamos juntos no Conselho Superior. Embora ele fala da boca para fora da

    supremacia Fae, além de falar de andar livremente pela terra novamente sem o odioso acordo a

    nos governar, como se os seres humanos pudessem governar seus deuses! Quando se trata de

    ação, V'lane é um cachorrinho de Aoibheal e sempre será. Agora que “sou” humano, de acordo

    com meus mais justos irmãos, eles me desprezam.

    — Pensei que você houvesse dito que eles te adoravam como a um herói pronto para

    derrubar abaixo as paredes e libertá-los.

    Seus olhos estreitaram-se.

    — Eu disse que eles irão pensar isso. Logo, serei anunciado como o salvador da nossa raça.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    28

    — Então você foi para a prisão Unseelie. Isso foi arriscado. — Planejo mantê-lo falando.

    Enquanto está falando, posso me concentrar em suas palavras, em meus objetivos. O silêncio não

    vale ouro, é mortal. É um vazio que se enche de fantasmas.

    — Precisava dos Caçadores. Como Fae, eu poderia chamá-los. Como um mortal, tinha que

    procurá-los fisicamente.

    — Estou surpreso que não o mataram assim que o viram. Caçadores odeiam os seres

    humanos. Pele negra, demônios alados não tem amor por nada, a não ser por eles próprios.

    — A morte não é um encanto do Caçador. Ponto final.

    Uma lembrança chameja por seus olhos, e sei que quando os achou, eles fizeram-lhe coisas

    que o fizeram gritar por muito tempo.

    — Eles concordaram em me ajudar em troca da liberdade permanente. Me ensinaram a

    comer Unseelie. Após o rastreamento de deficiências nos muros da prisão, onde Unseelie tinha

    escapado antes, os remendei.

    — Para tornar-se o único jogador na cidade.

    Ele acena.

    — Se meus irmãos escuros iam ser libertados, me agradeceriam por isso. Descobri como

    ligar aos Espelhos e criei uma passagem para Dublin, através da Mansão Branca.

    — Por que aqui?

    — De todas as dimensões, que explorei, esta continua a ser a mais estável, além de alguns...

    inconvenientes. Parece que a maldição de Cruce teve pouco efeito sobre esse reino, uma vez que

    além das dimensões as lascas são facilmente evitadas.

    Eu os chamo de IFPs, mas não digo isso a ele. Isso fez sorrir a Barrons. Poucos fizeram sorrir

    a Barrons. Acho que estou sob controle, que estou despojada de todas as fraquezas. Que se

    comprometer com a minha missão me fez impermeável. Estou errada. O pensamento de Barrons

    sorrir me traz outros pensamentos.

    Barrons nu.

    Dançando.

    A cabeleira negra jogada para trás.

    Rindo.

    A imagem não está “delicadamente nadando na minha mente”, numa espécie de sonho,

    como já vi em filmes. Não, esta bate em minha cabeça como um míssil nuclear, explodindo em

    meu cérebro em detalhes gráficos. Sufoco-me em uma nuvem de dor.

    Não posso respirar. Aperto meus olhos já fechados.

    Dentes brancos piscando em seu rosto escuro. Sou derrubada, mas me levanto de novo.

    Você nunca irá me controlar.

    Cambaleio.

    Mas ele não se levanta, o bastardo. Permanece abaixo.

    Com a minha lança nas costas. Como é que vou encontrar meu caminho a cada dia sem ele

    aqui pra me ajudar? Não sei o que fazer, como tomar decisões.

    Não posso sobreviver a esta dor! Tropeço e caio sobre um joelho. Aperto minha cabeça.

  • TWKliek Karen Marie Moning

    Fever 05

    29

    Darroc está ao meu lado, me ajudando a suportar. Seus braços estão em volta de mim.

    Abro os olhos.

    Ele está tão perto que vejo os salpicos de ouro em seus olhos cor de cobre. As rugas dobram-

    lhe nos cantos. Marcas de cansaço nas linhas de sua boca. Será que ele ri muitas vezes em seu

    tempo como um mortal? Minhas mãos fecham-se em punhos.

    Suas mãos são suaves em meu rosto quando ele empurra meu cabelo para trás.

    — O que aconteceu?

    Não há imagem nem dor fora do meu cérebro. Não posso funcionar neste estado. Em

    momentos, estarei de joelhos, gritando de dor e fúria, e minha missão irá direto para o inferno.

    Darroc verá minha fraqueza e me matará, ou pior... De alguma forma tenho que sobreviver. Não

    tenho ideia de quanto tempo vai levar-me a encontrar o livro e aprender a usá-lo. Molho meus

    lábios.

    — Beije-me, — digo. — Duro.

    Sua boca se aperta.

    — Não sou um tolo, MacKayla.

    — Basta fazê-lo, — rosno.

    Vejo que ele pensa sobre a ideia. Dois escorpiões. Ele é cético. Está fascinado.

    Quando ele me beija, Barrons desaparece da minha cabeça. A dor regride.

    Nos lábios do meu inimigo, amante da minha irmã, meu amante assassino, sinto o gosto da

    punição que mereço. Sinto o gosto do esquecimento.

    Faz-me fria e forte novamente.

    Tenho sonhado com casas toda a minha vida. Tenho um bairro inteiro em meu

    subconsciente que posso obter apenas enquanto durmo. Mas não consigo controlar minhas visitas

    noturnas mais do que alguma vez fui capaz de evitar o frio lugar de meus sonhos. Às vezes estou

    garantido passagem e às vezes não estou. Algumas noites as portas abrem com facilidade,

    enquanto outros estou fora, a entr