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Ele ganha a Ivan Reis é um dos mais conceituados desenhistas, não só no Brasil, mas também nos EUA LINCOLN SPADA DA REDAÇÃO Os poderes do Superman, Mulher Maravilha, Batman, Aquaman, The Flash, Lanterna Verde e de uma legião de super-heróis passam atualmente pelas mãos de um brasileiro. “A cobrança, a pressão e a camisa pesam”, diz Ivan Reis, desenhista da Liga da Justiça, da DC Comics. Aos 36 anos, ele tem a responsabilidade de esboçar a trajetória de personagens com décadas de histórias consagra- das nos quadrinhos. Por exemplo, o Homem de Aço e o Homem-Morcego têm, respectivamente, 75 e 74 anos. “É um sonho poder ter a oportunidade de trabalhar com o que tenho prazer”, empolga-se Reis, que neste ano está envolvido na saga A Guerra da Trindade, que deve ser publicada a partir deste mês. Considerada a principal série da DC Comics de 2013, a saga reúne o embate de três gerações de heróis: a tradicional Liga da Justiça, a Liga da Justiça da América e a Liga da Justiça das Trevas. No epicentro da trama, três personagens misteriosos (Pan- dora, Questão e Vingador Fantasma) optam por conduzir cada uma das equipes nesta guerra ilustrada pelo brasileiro: “Para ser um bom desenhista, você tem que trabalhar como profissional e se divertir como fã”. Exemplifica o êxito ao detalhar sua carreira meteórica no universo dos quadrinhos. “CARREIRA SEM DINHEIRO” Nascido em São Bernardo do Campo, Reis passou a adoles- cência folheando a vida de Conan, o Bárbaro. As ilustrações de John Buscema enchiam os olhos: “pela questão estética, mesmo. Era preto e branco, diferente das outras revistas”. Logo decidiu se aventurar no mundo dos quadrinhos. Aos 14 anos, já desenhava as Histórias Reais de Drácula, da Bloch Editora, rodeado de contos de horror e de sensualida- de por dois anos. Ele ri: “Os moleques sempre pediam para desenhar mulheres na classe”. Aliás, vivia treinando esboços: “No colegial, rabisquei todo o meu caderno de filosofia”. Os pais se orgulhavam de sua vocação. “Eles me levaram até o escritório de um intermediário da editora, porque ele não tinha me pagado. Depois, me mandou uma carta, para desistir da carreira por não dar dinheiro”. Reis descartou o conselho e trabalhou com o Maurício de Sousa até os 19 anos. Define a experiência como uma faculdade. “Eu ficava feliz vendo os gibis na banca”. Uma boa lembran- ça do título infantil foi quando ilustrou o encontro da Turma da Mônica com o Superomão, Batimão e outros heróis parodiados: “O Anjinho salvava todos os heróis, no final, o Diabão o pegava e ele que era salvo pela Mônica. A moral era que todos têm seu anjo da guarda”. FUTURO RASCUNHADO De certa forma, sua narrativa favorita da Turma da Mônica era um rascunho de seu futuro: logo foi convidado para trabalhar no mercado norte-americano, passou quatro anos fazendo os traços da revista Ghost, da editora Dark Horse, e outros quatro de Lady Death, da Chaos!. Ao mesmo tempo, ilustrou sagas da Marvel, da Princesa Xena e d e O Máscara. Aos 27 anos, ganhou um contrato da DC Comics, sendo o primeiro brasileiro a desenhar regularmente o Homem de Aço. “Quando fui contratado, fiquei um mês inteiro dese- nhando o S, porque é o Superman. Ele está no inconsciente coletivo, tem um dos símbolos mais conhecidos do mundo”. Rabiscar o mais famoso kriptoniano foi a realização de um sonho infantil. “Eu cresci indo aos cinemas, naquelas salas enormes, vendo os filmes do Superman”. Aliás, ao contrário de muitos fãs, ele adora ver os heróis nas telonas: “As adaptações são necessárias. É impossível transportar para o cinema anos de história dos personagens”. Na DC, Reis também desenhou a saga do Lanterna Verde por quase cinco anos e, em seguida, escolheu realizar as páginas do Aquaman. “Era um desafio ir de um dos títulos mais importantes para a franquia do Aquaman, porque ele é considerado um herói menor”. Resultado: a revista foi uma das dez mais vendidas por dois meses, batendo as vendas de todas as tiragens da Marvel. Na época, até criou a Ya’Wara, uma heroína brasileira para acompanhar o rei dos mares. DOS SENTIMENTOS PARA OS TRAÇOS Apesar de ser desenhista das principais empresas dos Estados Unidos, Reis esboça os personagens dentro de sua própria casa, em São Paulo: “Em média, faço uma página por dia, que leva em torno de 6 a 8 horas”. Guiando-se no texto do roteirista Geoff Johns, o brasilei- ro literalmente dirige uma cena: “Quando vou desenhar, de certa forma, vou estar providenciando o elenco, o figurino, a luz, o enquadramento da câmera. Então tenho que saber desde moda até arquitetura”. Assim, repassa o “filme” para Joe Prado, responsável pela arte-final da publicação. Se na adolescência, tinha problema de desenhar mãos dos personagens, hoje, sua única dificuldade é traduzir sentimentos dos heróis em traços: “Essa é a magia dos quadrinhos”. vida com HQs Superman, no auge dos 75 anos FOTOS REPRODUÇÃO Aquaman, o rei dos mares Liga da Justiça a postos Aquaman, em outra ação Aquaman e a brasileira Ya’Wara Ivan desenha desde os 14 anos DIVULGAÇÃO E-4 Galeria A TRIBUNA Domingo 7 www.atribuna.com.br julho de 2013

julhode2013 Eleganhaa vidacomHQs · Os poderes do Superman, Mulher Maravilha, Batman, Aquaman,TheFlash,LanternaVerdeedeumalegiãode super-heróis passam atualmente pelas mãos de

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Page 1: julhode2013 Eleganhaa vidacomHQs · Os poderes do Superman, Mulher Maravilha, Batman, Aquaman,TheFlash,LanternaVerdeedeumalegiãode super-heróis passam atualmente pelas mãos de

Ele ganhaaIvan Reis é um dos mais conceituados desenhistas,não só no Brasil, mas também nos EUA

LINCOLNSPADA

DAREDAÇÃO

Os poderes do Superman, Mulher Maravilha, Batman,Aquaman,TheFlash,LanternaVerde edeuma legiãodesuper-heróis passam atualmente pelas mãos de umbrasileiro. “A cobrança, a pressão e a camisa pesam”,dizIvanReis,desenhistadaLigadaJustiça,daDCComics.Aos 36 anos, ele tem a responsabilidade de esboçar a

trajetóriadepersonagenscomdécadasdehistóriasconsagra-das nos quadrinhos. Por exemplo, o Homem de Aço e oHomem-Morcegotêm,respectivamente,75e74anos.“É um sonho poder ter a oportunidade de trabalhar como

que tenho prazer”, empolga-se Reis, que neste ano estáenvolvido na saga A Guerra da Trindade, que deve serpublicada a partir deste mês. Considerada a principal sérieda DC Comics de 2013, a saga reúne o embate de trêsgerações de heróis: a tradicional Liga da Justiça, a Liga daJustiçadaAméricaeaLigadaJustiçadasTrevas.Noepicentrodatrama,trêspersonagensmisteriosos(Pan-

dora, Questão e Vingador Fantasma) optam por conduzircada umadas equipes nesta guerra ilustrada pelo brasileiro:“Para ser um bom desenhista, você tem que trabalhar comoprofissional e se divertir como fã”. Exemplifica o êxito aodetalharsuacarreirameteóricanouniversodosquadrinhos.

“CARREIRASEMDINHEIRO”

Nascido em São Bernardo do Campo, Reis passou a adoles-cência folheando a vida de Conan, o Bárbaro. As ilustraçõesde John Buscema enchiam os olhos: “pela questão estética,mesmo.Erapretoebranco,diferentedasoutrasrevistas”.Logodecidiu se aventurar nomundodos quadrinhos. Aos

14 anos, já desenhava as Histórias Reais de Drácula, daBlochEditora, rodeado de contos de horror e de sensualida-de por dois anos. Ele ri: “Os moleques sempre pediam paradesenharmulheresnaclasse”.Aliás,vivia treinandoesboços:“Nocolegial, rabisquei todoomeucadernodefilosofia”.Os pais se orgulhavam de sua vocação. “Eles me levaram

até o escritório de um intermediário da editora, porque elenão tinha me pagado. Depois, me mandou uma carta, paradesistir da carreira por não dar dinheiro”. Reis descartou oconselhoe trabalhoucomoMauríciodeSousaatéos19anos.Defineaexperiênciacomoumafaculdade.“Euficavafelizvendoosgibisnabanca”.Umaboalembran-

çado título infantil foi quando ilustrouoencontrodaTurmada Mônica com o Superomão, Batimão e outros heróisparodiados: “O Anjinho salvava todos os heróis, no final, oDiabãoopegavae ele que era salvopelaMônica.Amoral eraquetodostêmseuanjodaguarda”.

FUTURORASCUNHADO

De certa forma, sua narrativa favorita da Turma daMônicaera um rascunho de seu futuro: logo foi convidado paratrabalhar nomercado norte-americano, passou quatro anosfazendo os traços da revistaGhost, da editoraDarkHorse, eoutros quatro de LadyDeath, da Chaos!. Aomesmo tempo,ilustrousagasdaMarvel,daPrincesaXenaedeOMáscara.Aos 27 anos, ganhou um contrato da DCComics, sendo o

primeiro brasileiro a desenhar regularmente o Homem deAço. “Quando fui contratado, fiquei um mês inteiro dese-nhando o S, porque é o Superman. Ele está no inconscientecoletivo, temumdossímbolosmaisconhecidosdomundo”.Rabiscaromais famosokriptoniano foi a realizaçãodeum

sonho infantil. “Eu cresci indo aos cinemas, naquelas salasenormes, vendo os filmes do Superman”. Aliás, ao contrário

de muitos fãs, ele adora ver os heróis nas telonas: “Asadaptações são necessárias. É impossível transportar paraocinemaanosdehistóriadospersonagens”.Na DC, Reis também desenhou a saga do Lanterna

Verdeporquasecincoanose,emseguida,escolheurealizaras páginas do Aquaman. “Era um desafio ir de um dostítulos mais importantes para a franquia do Aquaman,porque ele é considerado um herói menor”. Resultado: arevista foi uma das dez mais vendidas por dois meses,batendo as vendas de todas as tiragens da Marvel. Naépoca, até criou a Ya’Wara, uma heroína brasileira paraacompanharoreidosmares.

DOSSENTIMENTOSPARAOSTRAÇOSApesar de ser desenhista das principais empresas dosEstadosUnidos,Reis esboça ospersonagensdentro de suaprópria casa, em São Paulo: “Emmédia, faço uma páginapordia,que levaemtornode6a8horas”.Guiando-senotextodoroteiristaGeoff Johns, obrasilei-

ro literalmente dirige uma cena: “Quando vou desenhar,de certa forma, vou estar providenciando o elenco, ofigurino, a luz, o enquadramento da câmera. Então tenhoque saber desde moda até arquitetura”. Assim, repassa o“filme” para Joe Prado, responsável pela arte-final dapublicação.Se na adolescência, tinha problema de desenhar mãos

dos personagens, hoje, sua única dificuldade é traduzirsentimentos dos heróis em traços: “Essa é a magia dosquadrinhos”.

vida comHQsSuperman,no augedos 75 anos

FOTOSREPRODUÇÃO

Aquaman, orei dos mares

Liga da Justiçaa postos

Aquaman, emoutra ação

Aquamane a brasileiraYa’Wara

Ivan desenhadesde os 14 anos

DIVU

LGAÇÃO

E-4 Galeria ATRIBUNA Domingo 7www.atribuna.com.br julho de2013