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PERFIL CHOROCULTURA Vinte Anos de Brasilidade E D I Ç Ã O P A S S E E S T E J O R N A L A D I A N T E U B E R A B A / M G PALCO VITROLA AGENDA BAÚ BAMBOLÊ #11 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Jornal Cultural MUH! #11

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Décima primeira edição do Jornal Cultural MUH!, lançada em 12 de abril.

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PERFIL CHOROCULTURAVinte Anos de Brasilidade

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O • PASSE ESTE JORNAL ADIANTE • UBERABA/M

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PALCO VITROLA AGENDA BAÚ

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Procura-se: alguém que tenha tesão por cultura. Sem melindres, sem medo, sem vergonha, alguém que empreste corpo e alma para ela, sem

pudor, sem recalque. Gente disposta a sujar as mãos, pintar os braços, suar a cara, queimar de sol. Com urgência, para ontem.

Convenhamos, não há mais espaço e tempo para faltar vontade. Chegamos a certa altura do espetáculo que é necessário entrar em cena ou fechar as cortinas. Já sabemos que o público existe e está à espreita de ações culturais de qualidade.

Que sejamos menos melindrosos ao dialogar com os agentes culturais de nossa cidade. A consciência de coletividade precisa aflorar, urgente. A plateia, seja ela uma multidão ou uma pessoa, deve ser respeitada e defendida, assim como cada olhar cuidadoso sobre nossa cultura deve ser valorizado.

Nesse processo, a coragem é bem-vinda.Sem ela, nem o Jornal Cultural MUH!, nem nenhum outro projeto com proposta pensada um pouquinho além do comum, sobreviverá. Isso é sim um pedido de ajuda, um passo antes de começar a pensar que talvez não vá funcionar.

Aos que ainda defendem algum brado de cultura em Uberaba, que se apresentem e tomem seu lugar na cena. Toda pluralidade é bem-vinda e respeitada, desde que seja acompanhada de muita vontade de acontecer.

Jornalista responsável Ana Márcia de Lima MTB 12.724 – MG | Direção de redação Bruno AssisDireção de arte Law Cosci | Edição e coordenação de conteúdo Natália Escobar

Diagramação Jefferson Genari | Projeto gráfico Mari Comunicação Fotografia Guilherme de Sene | Apoio Livraria Alternativa Cultural

| Impressão Gráfica 3Pinti | Tiragem Mil Uberaba/MG . #11

muhcultural [email protected] desta edição: 6/4/2014 Anuncie no MUH! (34) 9184 6518

Editorial

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Literal

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O Fantasma do Ed. Regina

Madrugada sinistra, densa neblinaO choro de moça me foi acordar

O pranto tão triste da voz femininaLevantei inquieto e a fui procurar

Acendi com o fósforo a lamparinaSombras, névoas e moça a chorarPor que choras, voz de menina?Saibas que eu tos posso ajudar!

Cruzei Leopoldino, virei a esquinaE fui escutando o choro aumentarMadrugada gelada ardia a retinaSaibas menina, tos vou encontrar

Frente a um prédio, antigas ruínasEncontrei a moça estando a chorarNão era moça com’outras meninasEra alma tristonha pairando no ar

“Sou eu, uma, lembrança, de Minasescute senhor, tos vou lhe contar

Oi. Imagina, pode sentar. Amanda, e o seu? Venho sempre com minhas amigas. Assim você me deixa sem graça. Meu Facebook? Chame no chat. Oi. Temos gostos em comum. Também gosto de Almodóvar. Esse é o link para baixar o disco que te falei, do Marcelo Camelo. Aquele barzinho? Hoje? Pode ser. Oi, demorei? Um daiquiri, por favor. Você tem olhos bonitos. Estou sozinha esse final de semana, poderíamos beber algo em minha casa. Sim, são meus pais na foto. Venha conhecer meu quarto. Tenho certeza, me beija. Não para. Goza fora. Lindo. Dorme comigo. Quer uma omelete? Vem cá novamente, podemos tomar um vinho. Oi, boa noite. Esse disco que vou colocar é lindo. Essa é a melhor noite da minha vida. Mais! Mais! Não para! Vou gozar. Te amo. Já são dois meses, amor. Não atende minhas ligações. Você anda estranho. Amor? Amor? Vamos fale! Sabia, sabia, nunca gostei dela. Não me toca. Saia daqui. Te odeio. Amiga, estou arrasada. Não quero nunca mais uma relação. Barzinho é uma boa. Tequila, por favor. Um brinde à vida de solteira! Adoro essa música. Oi, Imagina, pode sentar. Amanda, e o seu?

Zé Alfredo Ciabotti nasceu em Uberaba. Publicou “Doses da vida” (2010), “Histórias invisíveis” (2011) e “Instantes quaisquer” (2012) ambos de forma independente. Texto retirado de “Instantes quaisquer”. O livro

encontra-se à venda na Alternativa Cultural, ou diretamente com o autor. Contato: [email protected]

Roda Gigante

meu choro é eterno e nessas ruínasSofro saudades dos tempos de lá..

Neste prédio nasci. Meu nome: ReginaEra grande hotel que meu pai foi criar

Aqui fui feliz como ninguém imagina...Por isso sozinha, choro hoje, eu cá...

Foram tempos de ouro, glórias divinasMais de 100 quartos para se hospedarPorcelanato e prata tão fartas e finas...Por isso hoje, choro as misérias de cá...

O hotel de meu pai hoje está em ruínasVidraçaria quebrada e gesso a mofarPor isso chorar, hoje é minha sina

De saudade dos tempos que não hão de voltar”.

Nesse momento o sol, no horizonte se inclina...A imagem da moça foi sumindo no arO fantasma da moça chamada ReginaDos tempos do café e do boi guzerá

- João Fernandes

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Baú

Desde fins do século XIX, Uberaba vem firmando seu papel de cidade polo do Brasil Central; conquistas como a instalação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (1889), Jornal Lavoura e Comércio (1899), inauguração da energia elétrica (1905) e o início das exposições de gado bovino (1906) – um dos motores econômicos da cidade – evidenciam ainda mais tal premissa, alçando Uberaba à categoria de capital do Brasil Central.

Tal evidência alcançada – em especial no campo político - é somada também a um discurso de auto-afirmação da cidade como tal, sendo que este se manifesta nas mais variadas formas. E uma das mais expressivas, com certeza, é a arquitetura.

Desde o início do século

URBANIZAÇÃO DE UBERABA: DISTOPIAS

podemos observar a imponência de suas construções, em especial as que se localizavam na parte central, sempre alinhadas com as tendências da capital à época, Rio de Janeiro. Dessa forma, os típicos casarões coloniais, remanescentes do período de formação do município vão dando espaço às edificações em arquitetura moderna, destacando-se em especial por suas ricas ornamentações.

Assim, podemos notar, através das suas construções ao longo desse período, não só um desejo de se firmar como uma urbe moderna e desenvolvida, mas também, de ser referência para as demais cidades da região.

Entretanto apesar do município de Uberaba nas primeiras décadas do século XX integrar-se como a

terceira maior economia do estado de Minas Gerais, graças ao primeiro processo de modernização advindo do comércio e das comunicações, é evidente a formação de uma privilegiada elite econômica; ou seja, embora haja um processo modernizador e higienizador, esse desenvolvimento se restringiu à determinadas áreas e camadas sociais da cidade, mais especificamente a região central.

Ainda com inúmeros problemas infraestruturais (energia elétrica, pavimentação, saneamento) e sociais (aumento da violência e mendicância), essa imagem tão presente ficou a margem da realidade propagada.

- Anna Li - Pesquisadora e Professora da Rede Municipal de Ensino

Praça Rui Barbosa, 1916. Ao fundo é possível perceber os casarões, reflexo de opulência e prosperidade.

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Vitrola

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Tempos atrás (nem tanto tempo assim), estava fumando um cigarrinho, tranquilo, na área de fumantes de uma casa noturna em Uberaba (MG), quando fui apresentado, muito a contragosto, a um roqueiro de Franca (SP). A pessoa que me apresentou fez questão de frisar que eu era um “roqueiro das antigas” e o cara se sentiu na obrigação de demonstrar sua indignação contra a sociedade e a favor de uma cena unida.

Quem me conhece sabe que, apesar de paciente, não sou nada tolerante. Sou a favor de argumentos inteligentes, não circulares. Entretanto, não acreditei que essa conversa seria interessante. Ouvi-lo seria no mínimo respeitoso, então ok.

Dizia o cara que “temos que unir a cena, que a união traria a força necessária ao Rock e que, quando isso acontecesse, todos se beneficiariam”. Eu lhe disse que não, que ele estava enganado, que união de cena não existe no Rock, por ser um estilo (musical ou comportamental) com muita variedade em si, e

que o que era necessário era respeito entre as várias cenas.

Ouvi que o engano era meu, e que, se eu tinha certeza, que deveria provar o que dizia. Fácil essa, aproveitando a camiseta do Metálica (ou Megadeth, não me lembro bem) que o sujeito vestia, falei pra ele imaginar um festival com duas bandas de trash, duas de punk rock 77 e duas de pop rock. Sua reação não foi outra senão em dizer: punk tudo bem, mas pop rock, isso não…

Calmamente lhe disse que se ele quer excluir alguém do jogo, não pode lutar por união, mas deve respeitar quem toca/ouve/faz músicas que não são do seu próprio gosto.

O assunto mudou, o cara adentrou numa senda pior…. Me disse que Uberaba era uma terra cuja sociedade o olhava diferente só porque ele se vestia de preto, era cabeludo, usava pulseiras de tachinhas (e eu de camisa florida…) e que esse tipo de atitude não era aceitável.

Antes de dar as costas

e voltar pra escuridão reconfortante da parte interna da casa noturna, disse pro sujeito: Cara, eu me visto diferente dos outros para ser notado, pra mostrar ao mundo que não gosto ou quero ser igual, se você não gosta que te olhem, faça o seguinte: vista-se igual!

- Guilherme Diamantino Roqueiro, discotecador, vocalista da banda DCV, produtor e proprietário da Sapólio Rádio Produções

O ROQUEIRO E O CARA DE CAMISA FLORIDA

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Palco

O TEATRO RESISTENTE E O TEATRO DE RESISTÊNCIA

Resistir significa não ceder ao choque de outro corpo. Opor força à força, defender-se: resistir aos ataques do inimigo. Conservar-se firme, não sucumbir, não ceder. Essa é a representação básica do Teatro, que vem durante os séculos resistindo ao descrédito, às novas tecnologias, à alienação.

Viajando no panorama mundial, o que vemos é o resistir de uma das mais belas formas de comunhão entre os seres vivos. É um espaço de sinergia, troca, doação onde todos saem ganhando.

Em Uberaba não é diferente, o Teatro Resistente veio de encontro a artistas que batalham dia após dia pela arte. Esse teatro onde o ator empresta seu corpo, sua voz, seus sentimentos para uma personagem, faz de grupos e atores independentes na cidade a insurgência do Teatro de Resistência.

Hoje, não lutando mais contra a ditadura de

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outrora. Mas lutando para dar continuidade à história teatral de Uberaba que, para muitos, morreu em meados de 1980. E, ainda lutando contra o preconceito com a classe, a desvalorização, a falta de políticas culturais. Esse Teatro de Resistência que ressurge é prova viva de que o Teatro

resiste. E unidos pela Arte os atores uberabenses tomam o palco, invadem as ruas, mostram a cara, resgatando o teatro, que por muitas vezes é colocado às sombras. Unidos, atores seguem contando uma nova história do cenário teatral uberabense. Em resistência.

-Luana RodriguesAtriz e produtora cultural

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Ao entrar numa livraria e transitar pelos corredores com prateleiras enormes, e ter a sua retina fixa naquela preciosidade que as compõe... Impossível pensar que o papel vai acabar. Ali você se encanta a cada olhar que dispensa a um livro!

E a cada dia que passa, todos podem presenciar atitudes que levam por água abaixo esta teoria. Muitos, mas muitos mesmo, não “sabem” ler na tela de um computador, mas precisam de um livro, jornal ou revista nas mãos para que esta leitura seja prazerosa . E vamos combinar... Até mesmo um flyer... Digital não tem graça. Tem que ter na mão. Sentir...Bom, mas o que me faz cada vez mais acreditar no papel, é o advento “vamos publicar... Afinal, fez sucesso no blog ou facebook.” Explico com três grandes exemplos.

Manual Prático de Bons Modos em Livrarias - Lilian Dorea

Este livro que hoje é um grande sucesso nas livrarias, surgiu devido a um blog homônimo, criado em 2011 pela livreira Lilian Dorea. Contando

VAI ACABAR... ISTO É O QUE DIZEMAS “MÁS LÍNGUAS”

BambolÊ

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experiências em atendimentos em livrarias, ela disparava no blog histórias hilárias. Para o sucesso editorial foi um pulo. E aí vai a dica. Para quem é frequentador, assíduo, ou não, de uma livraria, não deixe de comprar este manual para que não se torne um protagonista deste livro.

Eu me chamo Antônio - Pedro Gabriel

Assim como no exemplo anterior, “Eu me chamo Antônio” veio das telas do computador, é uma página no facebook criada por Pedro Gabriel em 2012. Desaguou nas páginas de um livro. Veja só!!! Sucesso editorial. O personagem é frequentador assíduo de bares, despeja comentários sobre a vida em desenhos e frases escritas em guardanapos, com grandes

doses de irreverência e poesia. Entre a tela de um computador e folhear este livro, fico com a segunda opção.

Armandinho Zero – Alexandre Beck

Este autor de Florianópolis começou a desenhar quando criança. Mas foi através do blog http://tirasbeck.blogspot.com.br/, que seu trabalho ficou conhecido e... reconhecido!!! Armandinho é um menininho lindo, sapeca, inteligente e engraçado. São tirinhas com extremo humor e inteligência, que vale a pena conferir. Mais um exemplo que saiu das telas do computador, pra fazer sucesso na sua prateleira, leitor. Ah!!! E além dos livros “Armandinho Zero” e “Armandinho Um”, Beck publica suas tiras em dois jornais catarinenses.

Tudo papel... E aí, ainda acha que é o fim do papel? Não !? Então pega aquele pedaço de papel e vá (que tal na Alternativa Cultural?) comprar seu exemplar. Afinal, só pra te lembrar... Como diria Arnaldo Antunes: “Dinheiro é um pedaço de papel.”

- Pituca Ferreira

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Chorocultura:Vinte Anos de Brasilidade

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A música do Chorocultura é do tipo que nos faz pensar como o professor doutor na UEL (Universidade Estadual de Londrina), André Azevedo da Fonseca, que, em 2002, enquanto aluno de Jornalismo da Uniube, escreveu no Jornal Revelação: “dificilmente temos coragem de confessar que o chorinho é a coisa mais certa e mais gostosa para acender uma lâmpada em nossa ofuscada autoconsciência”.

No mês de abril é comemorado o Dia Nacional do Choro, no dia 23. Em Uberaba, prestes a completar 20 anos, o grupo Chorocultura é motivo para comemorar a data. O grupo é formado hoje por: Álvaro Walter (sax tenor), Reynaldo de Vitto (violão de sete cordas), Fausto Reis (cavaquinho), José Gilberto Silva - “Gibinha” (bandolim), Osmar Baroni (pandeiro) e a cantora Irene Daprile. O

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Reportagem Ana Márcia de Lima

Fotografia Guilherme de Sene

A MEMÓRIA DO CHORINHO EM

UBERABA

grupo representa a cidade de Uberaba, rendendo elogios, vindos de pessoas simples ou entendedores de música.

“Levamos a bandeira do Choro, mas tocamos samba, bolero, valsa... enfim, música brasileira, de boa qualidade”, resume Fausto Reis. O grupo tem um CD gravado com 20 faixas. É um misto de composições próprias, com regravações de mestres como Pixinguinha, Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim.

Tudo começou em 1994, quando, inspirado pela biografia de Noel Rosa, Osmar Baroni chamou Reynaldo de Vitto e decidiram fazer homenagem ao sambista. Juntaram outros amigos, e fizeram uma apresentação no Cine Teatro Vera Cruz.

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O grupo original contava, além de Baroni, com Reynaldo no violão 7 cordas, Fausto no cavaquinho, Maestro Paulinho Constâncio na clarineta, “Pernambuco do Pandeiro” e Jarbas Curi. Como consequência da apresentação, os músicos ouviram pedidos para que continuassem. Mas alguns, como Jarbas Curi, e Paulinho Constâncio, não podiam continuar, então entraram Álvaro Walter no sax, e Gilberto Silva, conhecido como

“Gibinha” no bandolim, e, depois que Pernambuco do Pandeiro se afastou, Baroni assumiu o instrumento.

Ainda sem nome, o grupo passou a fazer apresentações em festas, aniversários, reuniões particulares, e sempre eram apontados como representantes da Cultura brasileira. De tanto ouvir a palavra, juntaram com “Choro” e o nome ficou sendo Chorocultura.

De início apenas instrumental, sentiu-se falta de um cantor. Geraldo Barão foi convidado. Falecido recentemente, permaneceu por muitos anos como cantor, e, depois que foi para Curitiba (PR), a cantora Irene Daprile foi convidada, e permanece até hoje. Sua entrada no grupo se deu quando, em uma noite em que assistia a uma apresentação no bar Arquimedes, ela, já cantora conhecida em São Paulo, cidade em que morou com o marido antes de voltar a Uberaba, acompanhou Barão e o grupo cantando a música “Flor Amorosa”.

Apesar da música não ser o ganha-pão oficial dos integrantes do Chorocultura, inclusive alguns tem outras profissões, como Gibinha, conhecido dentista, todos levam o grupo de maneira séria e responsável. A isso, Fausto atribui o sucesso do grupo. Para se ter uma ideia desse sucesso, o Chorocultura tem show agendado já para o ano de 2015.

Recentemente, a Fundação Cultural colocou dentro do calendário o Dia da Seresta, na Concha Acústica, toda segunda terça-feira do mês. É uma oportunidade que o público uberabense tem de ver seus shows. Além do Chorocultura, outros grupos se intercalam na seresta.

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Um grupo formado por bons músicos só podia mesmo dar certo. Muitos começaram cedo na música, como Gibinha, que começou a estudar aos 8 anos, tocando cavaquinho e violão, ficou sem tocar por 30 anos, e depois voltou, mudando para o bandolim. Álvaro Walter na mesma idade tocava trompa, e aos 14 anos passou para o sax. Fausto Reis também começou cedo, com 10 anos, sempre no cavaquinho .

Todos se referem a si mesmos como uma família, e são, acima de tudo, amigos. Gibinha mostra o tempo que estão juntos ao lembrar, entre risos, de Fausto, o mais jovem do grupo: “Hoje o Fausto é dois palmos mais alto do que eu, mas quando o conheci, ele batia um pouco acima da minha cintura, quer dizer, o conheço há muito tempo, desde que ele era menino”, conta, com uma expressão feliz.

O Choro é para todas as idades. Para os mais velhos, para os jovens, e

até para as crianças. Osmar Baroni relembra um fato que marcou a trajetória do grupo, acontecido há cerca de 10 anos: “Certa vez o pai de uma jovem que iria fazer 15 anos nos procurou porque queria dar de presente uma serenata para a debutante. Eu fiquei meio desconfiado, ‘será que vai agradar mesmo?’, mas o pai da garota então contou que falava muito de serenata para a filha, mas não conseguia explicar em palavras, queria mostrar. O dia chegou e foi emocionante. A menina chorou ao abrir sua janela” – conta Baroni, com brilho no olhar.

É esse brilho no olhar que vemos em todos

os seis integrantes do Chorocultura. Eles se reúnem para tocar a música por amor, alegria de estarem juntos e poder proporcionar aos ouvintes bons momentos. Cabe a nós, ouvintes, reconhecer e parabenizar o Chorocultura pelos seus quase 20 anos de sucesso, e torcer para que continuem por muito tempo ainda encantando corações com o som do violão, sax, cavaquinho, pandeiro e bandolim em total harmonia, despertando toda nossa brasilidade.

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A CHAVE DO NOVO MUNDOOpiniÃo

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Victor Hugo certa vez falou que não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou. O homem habita o planeta Terra há 200 mil anos e agora vivemos uma era na qual nunca houve tamanha possibilidade de interação. Um mundo de possibilidades está aberto à geração Z, que aliada à tecnologia são os verdadeiros agentes de mudança. No Brasil são 11,6 milhões dos chamados nativos digitais, conhecidos como a geração do final da década de 90 até o ano de 2010 que nasceu sob o advento da internet e do boom tecnológico.

Jovens, dentro de movimentos estudantis, historicamente sempre estiveram alinhados a grandes lutas. Em 1960 um movimento estudantil levou à renúncia do presidente da Coréia do Sul, Syngman Rhee, abrindo espaço para uma rápida d e m o c r a t i z a ç ã o que culminou no chamado Milagre do rio Han. Em duas décadas houve um acelerado crescimento econômico. O país investiu maciçamente em

educação e foi o primeiro país do mundo a equipar todas as escolas primárias e secundárias do país com Internet de banda larga. Com esta infra-estrutura, o país também foi pioneiro em desenvolver livros didáticos digitais. O país das cinzas da Guerra da Coreia, que apresentava níveis sociais e econômicos comparáveis aos países mais pobres da Ásia, milagrosamente se transformou num país rico e altamente desenvolvido na atualidade.As circunstâncias

- Lara Guimarães

estão a nosso favor, no século que a geração Z tem em mãos o poder de mudança. O grande desafio dessa geração, no entanto, é ter ciência do atual cenário político, social e econômico para ter legitimidade para mudar. Idealistas estão espalhados pelo mundo e o uso das tecnologias e das redes sociais veio para uní-los. Alfred Nobel, ao inventar a dinamite, tinha intenção de facilitar os trabalhos de grandes construções tais como túneis

e canais. Infelizmente, a finalidade do explosivo foi

desvirtuado, sendo usado em guerras, mortes

e destruição. O nível tecnológico

que chegamos neste começo de século deve ser usado a favor da humanidade, uma vez que veio para selar a união com a geração Z. Todos

têm a oportunidade de ser a mudança, usar a gestão da

mudança e criar a gestão da mudança

para vencer resistências declaradas ou veladas nas transformações globais.

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Agenda

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Festival de Jazz chega à Uberaba com 13 dias de programaçÃo

30 de abril Victor Biglione20h - Concha Acústica

1º de maioZaca Maretzky, Pedro Amuí, Gringo e Cajú21h30 - Esquina do Didi

2 de maioGroove Express 17h - Parque Fernando CostaPaulo Gazela Blues Band 20h - Centro de Cultura José Maria Barra

3 de maioGroove Express 17h - Parque Fernando CostaPó de Café Quarteto com Rubinho Antunes20h - TEU Carlos Valeriano, Zeca Maretzky, Eduardo Coelho e Kelvi Balbino21h - TEU Jam Session 22h - Esquina do Didi

4 de maioTúlio Araújo11h - Concha AcústicaPó de Café Quarteto com Rubinho Antunes12h - Concha AcústicaGroove Express17h - Parque Fernando Costa

5 de maioGroove Express17h - Parque Fernando Costa Tulio Araújo21h - Archimedes

6 de maioGroove Express17h - Parque Fernando Costa Raphel P.H21h - Esquina do Didi

7 de maioGroove Express17h - Parque Fernando Costa

8 de maioGroove Express17h - Parque Fernando Costa

Edson Junior Quarteto 19h30 - TEUSamba em seis20h30 -TEU

9 de maioGroove Express17h - Parque Fernando Costa TriUnity21h - José Maria Barra

10 de maioDjalma Lima20h30 - TEUBob Wyatt, Eduardo Machado e Zé Emílio22h - Bistrô do Sesi

11 de maioAlex Reis Quarteto 11h - Concha Acústica

12 de maioAlex Reis Trio21h - Archimedes

O Festival Internacional de Jazz e Música Instrumental de Uberaba, o Festival Cerrado Jazz, está em sua segunda edição em 2014. De 30 de abril a 12 de maio, em locais diferentes, várias atrações de expressão do Jazz e da música instrumental no Brasil fazem shows. São esperadas oito mil pessoas.Com produção de Lívia Ferolla e Ricardo Moraes, o Festival Cerrado Jazz começa na quarta-feira, dia 30, com apresentação do músico Victor Biglione, na Concha Acústica. Além dele, mais de 20 artistas também fazem shows na cidade. Até o fechamento deste jornal, ainda existia a possibilidade de mais lugares e artistas entrarem para o Festival. Confira a programação completa e, para mais informações, acesse http://www.cerradojazz.com.br.

muhcultural

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ACONTECE NA LIVRARIA ALTERNATIVA CULTURAL

Rua Major Eustáquio, 500Centro – Uberaba/MG

(34) 3333-6824alternativacultural.com.br

Olhares Digitais

Mais uma turma do percurso de fotografia digital com o professor Fabiano Oliveira. Mas corram: são apenas oito vagas. Esperamos vocês!

Conversas Terapêuticas

O encontro é gratuito, sempre às segundas-feiras, das 19h às 20h30.

Tradições Nórdicas - Runas de Odin:

Um oráculo para o seu a u t o c o n h e c i m e n t o , com Denis Magnus. Aos sábados, das 9h às 12h. R$45,00 Duração da leitura: aproximadamente 1h. É necessário agendamento prévio.

Maracanã Coral Infantil

C o o r d e n a ç ã o das musicistas Rosana Caetano e Cristina Arruda.Ensaios aos sábados, das 9h às 10h30. Público-alvo: Crianças de 8 a 13. Interessados em participar podem agendar entrevistas pelo telefone (34) 3333 6824.

Leitura de I Ching

O livro das Mutações é um antiquíssimo l i v r o - o r á c u l o (muito utilizado por Carl Jung) que clareia dúvidas, abre caminhos e estabelece rotas em harmonia com a natureza profunda em nós e no Todo. Por Laura Louise Richardson. Agende seu horário!

A Alternativa Cultural funciona de segunda a sexta das 10h às 19h e aos sábados das 9h às 13h.

+ Cultural + Divertida

Acompanhe a agenda cultural de Uberaba na página do MUH! muhcultural

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Todas as edições do Jornal MUH! são lançadas em um evento, hoje chamado de Sarau MUH!. Costuma ser no primeiro ou segundo sábado do mês, durante a manhã, começando por volta de 10h30 e indo até às 13h, com entrada franca, na Livraria Alternativa Cultural. É sempre um encontro descontraído, uma celebração à arte. Procuramos fazer homenagens à personalidade que estampa a capa da vez. Artistas, músicos, profissionais ou amantes da música, preenchem o ambiente de som, e o microfone fica aberto a recados, declamações de poemas, qualquer comunicação. Junto com música e literatura, tudo pode acontecer: um varal literário, uma exposição de fotos, ou pinturas, telas, ilustrações. Acontecem apresentações de teatro, dança. Isso tudo enquanto os visitantes da livraria estão ali com seus amigos, folheando o jornal, bebericando um café ou mesmo uma cerveja gelada. Nós, da equipe do MUH!, agradecemos aos amigos, parceiros e convidados, que todo mês nos ajudam a fazer essa festa.

Contraponto OpniÃo

São tristes os dias atuais. A violência parece ter deixado o confortável status de notícia, de algo que acontece em algum lugar bem longe de mim, para assumir seu posto de realidade crua e desagradável, como aquele chá de boldo amassado com água gelada que tomamos nas manhãs de ressaca.

Mas antes fosse um copo de boldo, amargo, mas que alivia. A violência chega nos gritos dos vizinhos espancados, nos conhecidos assassinados, nos filhos de olhos vagos, imersos no vício no roubo, no furto, no assalto que nos violenta. E de tanto sofrermos a violência, estamos nos contaminando com ela. Gritamos nosso ódio e nossa vontade de esganar tudo: o vizinho funkeiro, o cachorro que fez xixi no portão, o garoto de aba reta no shopping, o bandidinho, o político, o policial, a presidente. Até a nós mesmos queremos matar, espancar, tacar na parede, jogar do alto da ponte.

Não adianta bater, espancar, fazer a tal justiça com as próprias mãos. Não vai resolver o problema. Só vai nivelar o tal “homem de bem” com o criminoso. Serão

então dois criminosos onde antes apenas um. A sensação que tenho é que o povo é induzido a lutar contra o próprio povo. Como um câncer onde as células crescem e se devoram.

O epidemiologista americano Gary Slutkin afirma que a violência é uma doença contagiosa e que o erro está no diagnóstico que temos feito dela. O erro está em tentar tratar a violência, atacando seus efeitos, ao invés de se combater suas causas.

O tratamento ideal, assim como o tratamento de uma tuberculose é lento e exige persistência. Mas na nossa urgência ainda não conseguimos aceitar nossa participação nesse tratamento longo e que exige mais de nós do que um simples comentário no Facebook. Afinal é tão mais fácil vociferar e acusar aqueles que estão mais doentes do que nós. Os menores infratores são os leprosos do nosso tempo. Estamos todos doentes. Não sei quanto a vocês, mas eu quero me curar, antes que essa epidemia de violência me transforme em estatística.

A VIOLÊNCIA QUE NOS CONSOMESarau MUH!

- Jessica de Paula

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Ilustra

Guerreira da MataNascida no interior das Minas Gerais

No cantinho serrado do glorioso cerradoEm suas matas percorri, busquei, explorei

Firmei raízes onde me encontrei

De pedra em pedra sigo saltitando Nos galhos secos tortuosos me retorço

Com as águas correntes cristalinas me desaboMas após o fogo devastador sempre renasço

Caminhei na calmaria de campos limpos Sentindo a matinal brisa refrescante

Sou guiada pela flor sutil de velhos temposPelo entoo doce do pássaro cantarolante

Cerrado meu amadoMe traz fé, me traz afago

Vem da terra sua força ascendenteMe ensina a ser forte, resistente

Natália da Costa Carneiro

+ Literal

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