509
GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE MONTALEGRE, OUTUBRO DE 2008 GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE ISSN 0871 - 4061 Revista aqvae flaviae Revista aqvae flaviae N.º41 DEZEMBRO 2009 N.º41 DEZEMBRO 2009 CONGRESSO TRANSFRONTEIRIÇO DE ARQUEOLOGIA

Issn 0871 - 4061

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Congresso Transfronteiriço (Montalegre, 2009)

Citation preview

Page 1: Issn 0871 - 4061

GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE

MONTALEGRE, OUTUBRO DE 2008

GRUPO CULTURAL

AQVAE FLAVIAE

ISSN 0871 - 4061

Revista aqvae flaviae

Revista

aqvae flaviae

N.º41 DEZEMBRO 2009

N.º4

1 D

EZ

EM

BR

O 2

00

9

CONGRESSO TRANSFRONTEIRIÇO

DE ARQUEOLOGIA

Page 2: Issn 0871 - 4061

Publicação com o apoio de:

Capa:Castro de San Cibran de Lás - Ourense

Page 3: Issn 0871 - 4061

n.º1 - esgotada n.º2 - esgotada n.º3 - esgotada n.º4 - 3€ n.º5 - esgotada n.º6 - 3€ n.º7 - 6€

n.º8 - esgotada n.º9 - 8€ n.º10 - 6€ n.º11 - 6€ n.º12 - 6€ n.º13 - esgotada n.º14 - esgotada

n.º15 - esgotada n.º16 - esgotada n.º17 - esgotada n.º18 - 8€ n.º19 - 8€ n.º20 - esgotada n.º21 - esgotada

n.º22 - esgotada n.º23 - esgotada n.º24 - 8€ n.º25 - 8€ n.º26 - 8€ n.º27 - 8€ n.º28 - 8€

n.º29 - 8€ n.º30 - 10€ n.º31 - 10€ n.º32 - 10€ n.º33 - 10€ n.º34 - 10€ n.º35 - 15€

n.º36 - 18€ n.º37 - 15€ n.º38 - 20€ n.º39 - 20€ n.º40 - 20€

reviStaS PubLiCadaS

Page 4: Issn 0871 - 4061

iSSN: 0871-4061

GruPO CuLturaL aQvae FLaviae

REVISTA AQVAE FLAVIAE

ReV. aQVae FLaVIae CHaVes n.º41 P.1-512 deZ. /2009

Page 5: Issn 0871 - 4061

Grupo Cultural Aqvae Flaviae

Publicação SemestralPropriedade do grupo Cultural aqvae Flaviae

Sede e Redacçãosede do grupo Cultural aqvae Flaviae, Rua direita, 41 - 5400-220 Chaves

DirectorJúlio Montalvão Machado

Comissão Redactorialalípio Martins afonso, Firmino aires,

Isabel Viçoso, Júlio Montalvão Machado

Concepção Gráfica e Execução

nicola Papa sociedade de artes gráficas, Lda.

ISSN - 0871 - 4061

Depósito Legal - xxx

Tiragem

1100 exemplares

Preço15€

Os trabalhos enviados pelos colaboradores serão submetidos à apreciação daComissão redactorial que deliberará sobre a oportunidade e interesse da suapublicação.

Os originais devem ser dactilografados em a4, a dois espaços.

a colaboração assinada é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, nãorefletindo necessariamente as opiniões da revista ou do G.C.a.F.

Page 6: Issn 0871 - 4061

Índice

11 Práticas Funerárias da Idade do Bronze de Trás-os-Montes e da Galiza oriental

25 A recuperación dun contexto para un “tesouro” prehistórico: un proxecto de investigación e valorización patrimonial para O Monte Urdiñeira (Riós- A Gudiña, Ourense)

45 No limiar das ‘artes’? - questões em torno da permeabilidade de fronteiras temporais e espaciais da arte rupestre de Trás-os-Montes Ocidental

93 Dos enterramientos de la Edad del Bronce de la provincia de Ourense

107 Estudio de la cerámica del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro

123 Repensando el passado: Cambio social e iconografía guerrera en la edad del hierro del noroeste de la Península Ibérica

153 Cultura de frontera. O distrito de Vila Real e a zona meridional da província de Ourense na Idade do Ferro

161 Entre Lusos, Bibalos e Tamagani: a Arqueoloxía transfronteiriza de X. Taboada Chivite

183 Geo-historiografia do programa de investigação arqueológica de Santos Júnior – o Castro de Carvalhelhos

195 La Ocupación del Espacio Común y Privado en la Citania de San Cibran de Lás

209 O Crastoeiro e a ocupação da vertente Oeste do Monte da Senhora da Graça, Mondim de Basto (Norte de Portugal)

219 Generalidades e particularidades da ourivesaria castreja transmontana:Os torques flavienses

237 Patrones de situación de los asentamientos tipo castro en la Comarca de As Frieiras (Orense)

253 Trísceles, Tetrásceles e motivos afins em elementos arquitectónicos castrejos

Page 7: Issn 0871 - 4061

269 Características castrejas dos povoados do concelho de Vila Pouca de Aguiar

285 Minería romana en la cuenca meridional de los ríos Sil y Miño

303 A mineração romana no conjunto mineiro Chaves/Boticas/Montalegre

311 A exploração mineira nas Olgas (Redondelo, Chaves)

319 A la vera del Larouco: reflejos de la huella Galaico-Romana

333 El poblamiento Romano en la Galicia Oriental: Patrones y diferencias del sur lucense y el norte ourensano. La tierra de Lemos como paradigma

353 Tempos de ocupação castreja e romana em torno da ponte da Misarela e do rio Rabagão

375 A Necrópole Romana do Largo das Freiras em Chaves

385 Terra sigillata da necrópole romana do Largo das Freiras, Chaves

417 Resultados das escavações arqueológicas de 2007 e 2008 realizadas no complexo mineiro Romao de Tresminas e Jales

433 Sobre los orígenes y evolucion de las primeras iglesias rurales en la alta edad media: el caso de Terra de Celanova (Ourenese)

449 Fortificaciones de frontera y paisajes fortificados: Verín, Monterrei y Chaves

467 La Basílica de la Ascensión y Os Fornos (Allariz, Ourense)

479 El Monasterio de San Pedro de Rocas (Esgos, Ourense). La problemática de la datacion e interpretación de un edificio excavado en roca

489 Las distintas transformaciones espaciales y funcionales del Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xunqueira de Ambía (Xunqueira de Ambía, Ourense)

499 Silhas do antigo concelho de Ermelo: um projecto de estudo e valorização do património de Mondim de Basto

Page 8: Issn 0871 - 4061

Palavras Prévias

Tem sido a intenção dos responsáveis pela Revista Aquae Flaviae conti-nuar a proporcionar aos leitores que desde sempre nos têm acompanhado, e aquem devemos o apoio maior para o nosso trabalho, uma diversidade de temas,que relacionados com a área da Região do Alto Tâmega, possam abrangerigualmente o interesse variável de qualquer um. Mais do que isso, transcen-dendo esses limites, vamos alargando também o nosso interesse à velha Galiza,solar das nossas raízes históricas e sentimentos iguais.

É essa a razão porque desta vez abrimos a revista à divulgação dos traba-lhos que sob a égide do “Congresso Transfronteiriço de Arqueologia” se rea-lizaram na capital do Barroso, durante os passados dias 3 a 5 de Outubro de2008. A qualidade e o interesse que suscitaram entre o público de toda a regiãoe a natureza altamente meritória das intervenções, mereciam certamente a suapublicação, apesar do volume dos trabalhos expostos terem vindo modificar eampliar largamente as características habituais dos números anteriores da re-vista. Isso não poderia bastar, porém, para que deixássemos de reconhecer erespeitar a publicação de toda a obra expendida durante o decorrer do Con-gresso. Foi essa a nossa apreciação e com muito gosto a cumprimos.

Mas ainda, a Revista Aquae Flaviae gostaria de aproveitar este númeropara demonstrar o seu reconhecimento à Câmara Municipal de Montalegrepelo esforço que tem entregue a todas as iniciativas de carácter cultural que setêm desenvolvido na região, e o apoio que tem prestado a essas manifestações.Não seria igualmente justo se não deixássemos aqui expresso o favor igual quetemos merecido de todas as Câmaras da Região do Alto Tâmega, a quem cor-respondemos, pelo nosso lado, com uma total disponibilidade, que queremoscontinuar a dedicar a toda a sua actividade cultural. Só assim, e com a cons-tância e dedicação que os leitores nos têm demonstrado, tem sido possível con-tinuarmos esta caminhada e a realização do projecto, que há anos,conjuntamente, temos obrigação de manter.

Por tudo isso, a todos, o nosso reconhecimento.

Page 9: Issn 0871 - 4061
Page 10: Issn 0871 - 4061

Prólogo

O presente volume da Revista Aquae Flaviae publica de forma monográfica as actasdo “Congresso Transfronteiriço de Arqueologia: um Património sem fronteiras”, realizadoentre os dias 3 e 5 de Outubro de 2008 em Montalegre.

O congresso e o presente volume de actas pretendem ser um espaço de encontro ediscussão entre investigadores portugueses e espanhóis, limitado geograficamente ao actualterritório português de Trás-os-Montes Ocidental e à Província de Ourense na vizinha Galiza,dadas as afinidades culturais entre ambas regiões, com diversos temas abordados no âmbitodo Património Cultural.

Gostaria de começar por agradecer o apoio institucional e logístico da Câmara Muni-cipal de Montalegre, destacando o papel dos meus colegas do Ecomuseu de Barroso, DavidTeixeira e Carla Carvalho, pela disponibilidade, ajuda e interesse que puseram na organizaçãodo referido congresso.

Queria também agradecer o apoio financeiro dado pela Fundação para a Ciência e aTecnologia (FCT) no âmbito do Fundo de Apoio à Comunidade Científica (FACC), indis-pensável para a publicação do presente volume de actas.

Uma palavra de reconhecimento ao Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura,Espaço e Memória (CITCEM), cujo auxílio foi fundamental para a obtenção do apoio fi-nanceiro por parte da FCT e ao Laboratorio de Patrimonio (LaPa-CSIC), pela participação“massiva” no congresso e por todo o feedback dado.

Queria expressar também a minha gratidão à comissão científica do congresso cons-tituída por Felipe Criado Boado (Laboratorio de Patrimonio), Maria Manuela Martins (Uni-versidade do Minho) e Gonzalo Ruiz Zapatero (Universidad Complutense de Madrid), portodas as críticas construtivas que fizeram e por todo o apoio científico que nos deram.

Não posso deixar de agradecer a todos os assistentes e comunicantes que participarame colaboraram desinteressadamente para o êxito do congresso e, em particular, aos autoresque expõem aqui os seus trabalhos.

Por último, uma palavra de agradecimento ao Grupo Cultural Aquae Flaviae por seterem mostrado desde o início interessados na publicação das actas e pela oportunidade dadanesse sentido.

Esperamos que este volume contribua não só para a produção de conhecimento cien-tífico no âmbito do Património Cultural, mas que cumpra também a “função social” para aqual está igualmente orientado.

João Fonte

(Coordenador das actas)

Page 11: Issn 0871 - 4061
Page 12: Issn 0871 - 4061

PRáticAs FuneRáRiAs dA idAde do BRonze de tRás-os-Montes e dA GAlizA oRientAlBRONZE AGE FUNERARY PRACTICES OF TRÁS-OS-MONTES AND EASTERN GALICIA

Resumo: Com esta comunicação pretendemos, em primeiro lugar, efectuar uma síntesesobre os conhecimentos existentes relativos às práticas funerárias da Idade do Bronze da orlamais oriental do Noroeste peninsular. Em segundo, e a partir das materialidades conhecidas, en-saiar algumas interpretações sobre o papel social dos mortos, das oferendas e do funeral, nosdiferentes contextos cronológico-culturais e espaciais, discutindo, sempre que possível, algumaspremissas vulgarmente aceites. Em terceiro e último lugar preconizar o tipo de abordagem queconsideramos mais premente no contexto actual da investigação sobre a morte.

Concluímos que alguns mortos continuam agentes socialmente activos quer em termosreligiosos quer como referentes de memória e de identidade grupal, principalmente durante oBronze Inicial. A partir do Bronze Médio os cenários de promoção e negociação da identidadeparecem deslocar-se para a esfera dos vivos.

Palavras-chave: Noroeste Peninsular, Idade do Bronze, Práticas Funerárias, Importânciado funeral e do papel social dos mortos.

Abstract:In this paper we aim to, first, produce a synthesis of the existing body of knowl-edge concerning Bronze Age funerary practices in the easternmost edge of the northwest Iberia.Second, to propose, according to the materiality known, some interpretations on the social roleof the dead, the offerings and the funeral, in different cultural contexts, discussing, wheneverpossible, some commonly accepted assumptions. Thirdly and lastly we will express some con-siderations that we consider most significant in the context of the current investigation on deathin Prehistory.

We conclude that some deaths are still socially active agents or in religious terms or asrelated to memory and group identity, especially during the Early Bronze Age. From the MiddleBronze scenarios promotion and negotiation of identity seem to move to the realm of the living.

Keywords:North-west Iberia; Bronze Age; Funerary Practices; Importance of the funeraland the social meaning of the corpse.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 11

Ana M. S. BettencourtdePartameNtO de HiStória da uNiverSidade dO miNHO, CeNtrO de

iNveStiGaçãO traNSdiSCiPLiNar: CuLtura, eSPaçO e memória (CitCem); [email protected]

Page 13: Issn 0871 - 4061

1. introduçãoEste texto está dividido em três partes que

obedecem a objectivos distintos. Em primeirolugar, efectuaremos uma exposição sobre a baseempírica existente para o estudo das práticas fu-nerárias, durante a Idade do Bronze da orla maisoriental do Noroeste peninsular (Fig. 1). Em se-gundo, e a partir das materialidades conhecidasensaiaremos algumas interpretações sobre o papelsocial dos mortos, das oferendas e do funeral, nosdiferentes contextos cronológico-culturais e espa-ciais, discutindo, sempre que possível, algumaspremissas vulgarmente aceites. Em terceiro e úl-timo lugar preconizaremos o tipo de abordagemque consideramos mais premente, no contexto ac-tual da investigação sobre a morte.

2. A base empíricaEm relação à base empírica podemos dizer que, apesar de não muito abun-

dante, ela é já algo significativa e diversificada, principalmente para contextosdo Bronze Inicial (entre o último quartel do III milénio AC até cerca do séc.XVIII/XVII AC) e o Médio (entre séc. XVIII/XVII AC até finais do II milénioAC) sendo, ainda, muito escassa para o Bronze Final1.

Para o Bronze Inicial conhecem-se reutilizações de monumentos megalí-ticos, como se pode comprovar pelas datas do dólmen de Madorras 1, em Sa-brosa, reocupado entre os finais do século XX e os inícios do XVII AC (Cruz& Gonçalves 1994, 1995), prática que persiste no Bronze Médio, como se ve-rifica na Madorra da Granxa, Lugo, reutilizado entre os séculos XVII e o XVAC (Chao Alvarez & Álvarez Merayo 2000). A qualquer um destes dois pe-ríodos genéricos poderão pertencer o púcaro de colo alto e o vaso troncocónicodepositados nos dólmenes de Carvalhas Alvas, em Vila Pouca de Aguiar (Leis-ner 1958) e da Estante, em Alijó (Jorge 1982), respectivamente, assim comoos fragmentos de troncocónicos recolhidos na Mamoa de Outeiro de Cavaladre1, Muíños, Ourense (Eguileta Franco 1999). Existem, no entanto, outros mo-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 12

Figura 1. Mapa com a localizaçãogenérica da área de trabalho.

Page 14: Issn 0871 - 4061

numentos megalíticos frequentados durante a Idade do Bronze, cuja cronologiamais precisa se desconhece. Referimo-nos, por exemplo, à Mamoa de SantoAmbrósio, Macedo de Cavaleiros (Carvalho 2005) com fragmentos cerâmicosque parecem inscrever-se nos “mundos estilísticos” Cogeces/Cogotas I e àMamoa de Gendive, Boborás, Ourense onde foi depositado um vaso de largobordo horizontal (Bouza-Brey 1936) que tanto se poderá enquadrar no BronzeMédio como no Bronze Final.

Ao Bronze Inicial corresponderão, também, algumas sepulturas em fossasabertas no saibro como se testemunha pela existência de, pelo menos, um en-terramento em fossa, datada de entre os inícios do séc. XIX aos meados doXVII AC (Fábregas Valcarce 2001, Prieto Martínez et alii 2009b), no sítio deA Fraga do Zorro, em Ourense, onde se descobriram, além destas estruturas,valados e buracos de poste. Aqui, algumas fossasestavam seladas por acumulações de pedras ondese inseriam, por vezes, moinhos manuais.

Talvez a funções sepulcrais se possa atribuir,também, a fossa encontrada na base de Cameixa,Ourense, datada da 1ª metade do séc. XXI AC,onde se depositou um vaso, interpretado comourna funerária (Fig. 2), algumas pedras e um moi-nho movente (Parcero Oubiña 1997, CriadoBoado et alii 2000, Prieto Martínez et alii 2009a).

As cistas são outro tipo de sepulturas fre-quentes neste período. Se bem que abarcando todaa Idade do Bronze, apareceram na área em análisealgumas manifestação que poderão atribuir-se ao Bronze Inicial e ao BronzeMédio.

Ao Bronze Inicial parece ser possível inserir a necrópole de Lagares, emValbenfeito, na depressão de Macedo de Cavaleiros. Aqui, teriam aparecidovárias sepulturas e não apenas uma cista, como frequentemente se afirma, for-madas por lajes de xisto, da qual se conhece a descrição de uma, com 1,80mde comprimento, por 1m de largura e 1m de profundidade. No interior destafoi detectada uma espiral de ouro e fragmentos cerâmicos de forma desconhe-cida que desapareceram (Alves 1975, Cruz 2000). A mesma cronologia parece

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 13

Figura 2. Desenho do perfil dafossa de Cameixa (Parcero Oubiña

1997).

Page 15: Issn 0871 - 4061

poder atribuir-se à necrópole de Chedeiro, A Pe-drosa, Cualedro, Ourense, onde uma das sepultu-ras continha uma espiral de prata. Nas imediaçõesapareceram outras três cistas contendo, uma delas,três vasos troncocónicos e outra, dois púcaros decolo alto e um troncocónico (Fig. 3) (TaboadaChivite 1971, Delibes de Castro & Rodríguez Col-menero 1976, Vazquez Varela 1980).

Talvez nesta cronologia se possa inserir apossível necrópole da Praia da Rola, Mugueimes,concelho de Muiños, Ourense, no baixo Lima ga-lego, encontrada casualmente, na margem da bar-ragem das Conchas, em 16 de Setembro de 1996e escavada de emergência em 18 de Setembro domesmo ano. Aí foi detectada uma pequena cista

rectangular com 0,71 a 0,75cm de comprimento, por 0,43cm de largura e porc. de 0,30cm de profundidade, orientada de NNW para SSE. Esta foi construídacom pequenas lajes de granito: cinco formando a caixa, duas o chão e três acobertura, faltando uma no momento da intervençãoarqueológica, devido a perturbações recentes. Nocanto nordeste desta estrutura jaziam restos de ossoshumanos2, calcinados previamente à sua deposiçãoneste local, visto não se terem encontrado terras comcarvões no interior da cista. No canto sudeste, de-positado directamente sobre uma das lajes da base,encontrava-se um púcaro de colo alto3 (Fig. 4), si-milar aos detectados em Chedeiro4. Na zona, pare-cem ter existido mais quatro cistas a nordeste daidentificada, tendo em conta agrupamentos de ca-lhaus e de blocos de xisto e ao facto de aflorarem, àsuperfície, lajes prismáticas de granito “a xeito deesteios das cistas”5.

É provável que a cista de O Cubillón, Xer-made, Lugo, que continha restos de ossadas de um

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 14

Figura 3. Desenho de uma das cis-tas de Chedeiro e oferendas de di-

versas sepulturas (Suarez Otero2002).

Figura 5. Púcaro de colo alto de-tectado no interior da cista da

Praia da Rola (http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/g

alego/pezasmes/pm24.htm).

Page 16: Issn 0871 - 4061

adulto e um potinho ou vaso de tipo Taraio(Ramil Soneira & Vazquez Varela 1979,Vazquez Varela 1980) forma que, porvezes, se encontra associada a artefactosmetálicos do Bronze Inicial, se possa in-cluir, igualmente, nesta cronologia.

Ao Bronze Médio poderá atribuir-sea cista de A Forxa, Riós, Ourense, datadade entre os meados do séc. XVIII aos iní-cios do XVI AC, de tendência quadrangu-lar e onde apareceram quatro vasos troncocónicos (Fig. 5) (Méndez Fernández1995 in Fábregas Valcarce & Vilaseco Vázquez 1998, Prieto Martínez et alii2009a).

Tendo em conta este conjunto de paralelos é possível que a necrópole decistas das Cabriadas/Gorgolão, Vila da Ponte, Montalegre (Fig. 6) contendo,como oferendas, apenas vasos troncocónicos e um subcilíndrico (Sanches1980, Silva 1994, Baptista 1999) e a cista da Lomba (Fontela de Godim), ondeigualmente se depositou um vaso troncocónico, também em Vila da Ponte,Montalegre (Sanches 1980, Silva 1994, Baptista 1999) se devam inscreverentre o Bronze Inicial e o Médio, cronologia que está de acordo com as balizascronológicas defendidas por nós para os vasos troncocónicos do Norte de Por-tugal, ou seja, entre finais do III e o 2º quartel do II milénios AC, com base emcontextos datados pelo radiocarbono (Bettencourt 1999).

Talvez a cista de Biobra, O Barco de Valdeorras, Ourense (CaamañoGesto 2007: 83), se possa incluir nesta cronologia genérica, dada as semelhan-ças arquitectónicas com outras destes períodos.

Outros tipos de estruturas funerárias existentes durante a Idade do Bronzesão as sepulturas planas, de forma sub-rectangular ou oval, abertas no substratoe cobertas com saibro ou pedra.

Os melhores exemplos deste tipo de construção, para a fachada maisoriental do Noroeste, registaram-se na necrópole do Coto da Laborada, Calvosde Randín, Ourense, definida por dois grupos de sepulturas. No primeiro, en-contraram-se quatro sepulturas, de contorno oval, sem cobertura aparente, comdimensões que variavam entre 2m e 1,5m de comprimento, por 1,5m a 1m de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 15

Figura 5. Desenho da cista de A Forxa coma localização das oferendas cerâmicas

(Prieto Martínez et alii 2008a).

Page 17: Issn 0871 - 4061

largura e 0,50m de profun-didade (Fig. 7), contendopotinhos de colo muito fe-chado, potinhos de coloalto, púcaros, assim comovasos de largo bordo hori-zontal (Fig.8). No segundogrupo, a algumas centenasde metros a norte do pri-meiro, também existiamrecipientes cerâmicos cuja

forma desconhecemos (Lopez Cuevillas 1930, 1947; Lopez Cuevillas & Lo-renzo Fernández, 1930). Tendo em conta o acervo cerâmico, é possível queesta necrópole se possa inserir no Bronze Médio, dada as referencias cronoló-gicas que possuímos para os potinhos de colo alto (Bronze Inicial)6 e para osvasos de largo bordo horizontal no Norte de Portugal (Bronze Médio e BronzeFinal) (Bettencourt 1997 e no prelo).

Igualmente na Galiza cabe destacar a necrópole de sepulturas planas deMonte de Mesiego, O Carballiño, Ourense, onde foram detectados dois gruposde três sepulturas, tapadas com pedras, algumas delas com oferendas cerâmicas.Numa delas, jazia um pequeno machado votivo, um objecto de barro perfuradoe um vaso (taça?) de perfil carenado e de fundo plano (Lopez Cuevillas &Lamas 1958). Pelas características da jazida pensamos estar face a uma necró-pole organizada por núcleos, talvez do Bronze Médio ou Final, dado os paralelosconhecidos para as taças carenadas no Norte de Portugal (Bettencourt 1999).

As grutas e os abri-gos também foram ocupa-das como lugares deenterramento e de depósi-tos durante a Idade doBronze do Noroeste orien-tal. No território portuguêsdestacamos a Lorga deDine, Vinhais, Bragança,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 16

Figura 6. Reconstituição da primeira cista encontrada no Gorgolão (Baptista 1999).

Figura 7. Desenho do primeiro grupo de sepulturas planas doCoto da Laborada (Lopez Cuevillas & Lorenzo Fernández, 1930).

Page 18: Issn 0871 - 4061

sobranceira ao rio Tuela, onde parecem exis-tir indícios de tumulações (Harpsoe &Ramos 1985) desde, pelo menos, o Calcolí-tico regional, até à Idade do Bronze. As ocu-pações deste período evidenciam-se pelapresença de um vaso troncocónico e de vasoscarenados.

Salientamos, ainda, a série de grutasexistentes nas vertentes do Monte Ferreiros,Miranda do Douro, Bragança, sobranceirasa cursos de água, afluentes do rio Angueira,que terão servido como lugares sepulcrais,como a Gruta de Ferreiros e a GrutaGrande (Delgado 1887, Sanches 1992). NoMonte Geraldes, nas proximidades do anterior, cabe destacar a Gruta do Ge-raldo, onde teriam aparecido ossadas humanas, um machado plano e um pu-nhal triangular, em cobre, entre outro material cerâmica e ósseo. Ainda nocontexto do vale do Angueira há a destacar as Fendas do Monte Pedriço ondeapareceram ossadas de 2 esqueletos humanos incompletos, em associação comfragmentos de mós. É de salientar que não se conhecem povoados coetâneos,nas imediações destas grutas (Delgado 1887, Sanches 1992).

Também no Fragão da Pitorca, Chaves (Armbruster & Parreira 1993),associado a um eventual povoado, segundo apurámos recentemente (Fig. 9 e10), foram realizados enterramentos, provavelmente, desde o Calcolítico atéao Bronze Inicial. Aqui, a par de ossadas humanas, apareceram cerâmicas lisase decoradas, assim como uma espiral em ouro e um machado plano, aindacom rebarbas de fundição (Fig. 11a e 11b).

Já do Bronze Final será o provável enterramento do Abrigo 2 da Fraga dosCorvos, Macedo de Cavaleiros, onde foi descoberto um pendente decorado e umpequeno bracelete, em bronze, assim como uma fíbula de dupla mola, uma es-pátula e um fragmento de um cinturão, que pertenceriam ao mesmo contexto(Senna-Martinez et alii 2006; Senna-Martinez et alii 2007; Senna-Martinez in-formação oral7), um conjunto de ornamentos corporais e de espólio associadoao tratamento do corpo com paralelos nos enterramentos da Roça do Casal do

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 17

Figura 8. Potinho de colo muito fechado,vaso de largo bordo, potinho de colo alto e

púcaro do 1º grupo de sepulturas do Cotode Laborada (Fot. do Museu Arqueolóxico

Pronvincial de Ourense ).

Page 19: Issn 0871 - 4061

Meio, em Sesimbra, datados do Bronze Final (Spindler et alii 1973 – 1974).

3. As interpretaçõesA esta escala de análise podemos afirmar que existem materialidades as-

sociadas à morte para todos os períodos da Idade do Bronze, à semelhançado que ocorre na fachada mais litoral de todo o Noroeste Peninsular (Betten-court, no prelo). Do mesmo modo podemos concluir que há diversidade decontextos funerários, de soluções arquitectónicas, de ritos e de acções de âm-bito mortuário, pelo menos durante o Bronze Inicial e Médio.

Atestam-se, igualmente, desde os primórdios da Idade do Bronze as práticasda cremação a da inumação. A inumação comprova-se nalgumas Grutas dos Mon-tes de Ferreiro e Geraldes e é deduzível através das dimensões de algumas cistas(entre 1,80 a 1m), como em Lagares, Chedeiro, A Forxa, Biobra, Gorgolão e através

das dimensões das sepulturas planas, com as do Coto da Laborada (entre 2 a 1,5m). A prática da cremação está documentada na Galiza desde o Calcolí-

tico Final, conforme data de radiocarbono efectuada recentemente para oenterramento da cista pequena de Agro de Nogueira, na Corunha (Betten-court & Meijide Camessele 2009). No Bronze Inicial ocorre numa das fos-sas da Fraga do Zorro (indiciada pelas dimensões das ossadas e pela

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 18

Figura 9. Localizaçãodo do Fragão da Pitorca, no vale do Tâmega.

Figura 10. Interior do Fragão da Pitorca.

Page 20: Issn 0871 - 4061

característica dos sedimentos) (PrietoMartínez et alii 2009b) e, provavelmente,na fossa de Cameixa e na cista da Praia daRola8

À semelhança da orla ocidental do No-roeste também aqui se denota que apenas noBronze Inicial, por comparação com oBronze Médio, foram sepultados poucos in-divíduos com oferendas de grande valor má-gico-simbólico, como cremos que sejam osobjectos metálicos, em ouro ou em cobre.

Com exemplo destes casos excepcionais citaremos um inumado na ne-crópole de Lagares, outro na de Chedeiro, outro no Fragão da Pitorca e outro,ainda, na Gruta do Geraldo. Ora, colocando a tónica nos vivos, ou seja, nosagentes do funeral é provável que os enterramentos com oferendas excepcio-nais, correspondam a acções interligadas a um sistema religioso e social que,através da mitificação de determinados indivíduos, mantêm activo o seu espí-rito após a morte, fomentando-se assim a criação de um novo ancestral cujopapel poderá ter sido o da legitimação da ocupação dos novos territórios ouda reocupação de outros, durante o Bronze Inicial (Bettencourt 2008: 102).Dito de outro modo, alguns corpos teriam servido como materialidades aoserviço das novas ordens ideológicas e sociais, quer como legitimadores deocupação de territórios ou como elementos de controlo do passado incorpo-rando-o9 quer, como elementos em redor dos quais se criariam e afirmariamnovos laços de identidade grupal e se fomentariam novas ideologias e relaçõesde poder. Tal hipótese afasta-se da explicação processual que identifica estesenterramentos excepcionais como pertencentes a elites e chefes em vida, se-nhores de uma sociedade já muito hierarquizada, características que as restantesmaterialidades arqueológicas não confirmam. Nesta lógica processual, duranteo Bronze Médio, seria normal encontrarmos indícios de enterramentos igual-mente expressivos de hierarquia social. Tal não se verifica. Pelo contrário, oBronze Médio corresponde a um período em que este tipo de oferendas desa-parece quase abruptamente, quer na fachada oriental do Noroeste, quer aindana restante região. As oferendas, inexistentes ou muito padronizadas e discre-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 19

Figura 11a e 11b.. Espiral em ouro e ma-chado plano encontrados no Fragão da Pi-torca. (Fot. de Beatriz Comendador Rey).

Page 21: Issn 0871 - 4061

tas, compostas por vasos cerâmicos, parecem revelar, pelo menos no planosimbólico, pouca distinção social entre os indivíduos. É possível admitir queestaríamos perante uma situação em que, legitimada a posse dos territórios edos símbolos do passado, no Bronze Inicial, durante o Bronze Médio a morteteria sido gradualmente integrada no ciclo da vida diária, perdendo o cadávera sua importância como referente da memória social (Bradley 2000; Betten-court 2008), pelo que as materialidades e os cenários associados à identidadegrupal terão que procurar-se no mundo dos vivos.

Outra questão significativa é a do papel social a atribuir a locais delonga duração, ocupados desde o Calcolítico até à Idade do Bronze, ondese parecem praticar escassas práticas mortuárias, aparentemente distantesde povoados, e que dificilmente se poderão interpretar como simples ne-crópoles como, por exemplo, as grutas do Monte Ferreiros e as do Montede Geraldes, ambos no vale do rio Angueira, Miranda do Douro. Tendo emconta as suas particularidades geomorfológicas e cársicas talvez estes luga-res naturais se devam interpretar como cenários de excepção e de grandecarga mítica para as comunidades calcolíticas e da Idade do Bronze que vi-veriam nas suas imediações e que apenas excepcionalmente frequentariamestes locais, dado a pouca quantidade de corpos encontrados nas várias ca-vidades. Tal parece indiciar restrições mágico-simbólicas de acesso ao local,por parte dos agentes sociais que o controlaram, o que estaria de acordo coma hipótese do carácter religioso deste lugar. Na mesma ordem de ideias oscorpos poderão interpretar-se não como simples enterramentos mas comodeposições realizadas no âmbito de ritos mais complexos cujo significadotalvez fosse o de oferendas a estes espaços naturais de ampla significaçãosimbólica.

Por último, gostaria de chamar a atenção para o facto de que as interpretaçõesefectuadas apenas se poderão considerar fragmentos de uma construção complexa emultifacetada que urge continuar a questionar através de novos projectos de investi-gação que priviligiem uma perspectiva holística, pois o discurso da morte não repre-senta o reflexo da totalidade da sociedade, mas é apenas um deles a relacionar como estudo de outros discursos. Deste modo importa a sua inter-relação com os sítiosresidenciais, com os locais de depósitos metálicos, com os lugares de arte rupestre e

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 20

Page 22: Issn 0871 - 4061

com os contextos ou espaços naturais (tendo em conta factores como a geomorfolo-gia, a hidrologia, a geologia, os ciclos lunares e solares, etc.).

Para tal será necessário mudarmos, igualmente, a escala de análise e apos-tarmos em estudos particulares que possibilitem leituras sobre as contingênciasregionais.

BibliografiaARMBRUSTER, B. R, & R. Parreira (1993). Inventário do Museu Nacional de Arqueologia: Colecção deOurivesaria. Do Calcolítico à Idade do Bronze, Lisboa, Ed. IPM.ALVES, F. M. (1975). Memórias, vol. 9, Bragança, Ed. Museu o Abade de Baçal. BAPTISTA, J. D. (1999). As cistas de Vila da Ponte, Aquae Flaviae, 21, pp. 333-352.BETTENCOURT, A. M. S. (1997). Expressões funerárias da Idade do Bronze no Noroeste peninsular. Actasdo IIº Congreso de Arqueología Peninsular, Fundación Rei Afonso Henriques, Zamora, pp. 621 - 632.BETTENCOURT, A. M. S. (1999). A Paisagem e o Homem na bacia do Cávado durante o II e o I miléniosAC, 5 vols (Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, na área de Pré-História eHistória Antiga – policopiada).BETTENCOURT, A. M. S. (2008). Life and death in the Bronze Age of the NW Iberian Peninsula, in FredrikFahlander & Terje Oestigaard (eds.) The materiality of death – bodies, burials and beliefs, BAR InternationalSeries, Ed. Archeopress, pp. 99-104.BETTENCOURT, A. M. S. (no prelo). Estruturas e práticas funerárias do Bronze Inicial e Médio do NoroestePeninsular, in Javier Sanchez Palencia, Anthony Gilman & Primitiva Bueno (eds.) Livro de Homenaje aMaria Dolores Fernández-Posse y de Arnáiz, Bibliotheca Praehistorica Hispana (BPH), Ed. CSIC, Ma-drid.BETTENCOURT, A. M. S. & G. Meijide Camessele (2009). Agro de Nogueira, Melide, A Coruña: novosdados e novas problemáticas, Galaecia, nº 28, Santiago de Compostela, pp. 33-40.BOUSA-BREY, F. (1936). Vaso tumular de Gendive, Boletín de la Academia Gallega, nº 31 (261), pp. 236– 241.BRADLEY, R. (2000). An archaeology of natural places, Londres/Nova Iorque, Ed. Routledge.CAAMAÑO GESTO, J. M. (2007). O Calcolítico e a Idade do Bronce, in X. R. Barreiro Fernández & R.Villares Paz (coord.) A Gran Historia de Galicia. Prehistoria de Galicia I, vol. 2, A Coruña, La Voz de Ga-licia, pp. 8 – 223.CARVALHO, H. A. A. S. (2005). Mamoa de Santo Ambrósia, Vale da Porca, Macedo de Cavaleiros, Bra-gança: Resultados Preliminares, Cadernos “Terras Quentes”, 2, pp. 51 – 60.CHãO ÁLVAREZ, F. J.& I. A. Álvarez Merayo (2000). A Madorra da Granxa: o túmulo máis grande deGalicia? Brigantium, vol.12, pp. 41-63.COMENDADOR REY, B. (1999). Los Inícios de la Metalurgia en el Noroeste de la Península Ibérica, Bri-gantium, 11, A Coruña.CRIADO BOADO, F., X. Amado Reino, M. C. Martínez López, I. Cobas Fernández & C. Parcero Oubiña(2000). Programa de Corrección del Impacto Arqueológico de la Gasificación de Galicia. Un ejemplo degestión integral del património arqueológico, Complutum, 11, pp. 63 – 85.CRUZ, C. S. (2000). Paisagem e Povoamento na Longa Duração: O Nordeste Transmontano – TerraQuente, Braga, 3 vols (Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Sociais da Universidadedo Minho –Policopiada).CRUZ, D. J.& H. B. Gonçalves (1994). Resultados dos trabalhos de escavação da Mamoa 1 de Madorras(Sabrosa, Vila Real). Estudos Pré-históricos, 2, pp. 171 – 232.CRUZ, D. J.& H. B. Gonçalves (1995). Mamoa 1 de Madorras (Sabrosa, Vila Real). Datações radiocarbó-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 21

Page 23: Issn 0871 - 4061

nicas. Estudos Pré-Históricos, 3, pp. 151 – 159.DELGADO, J. F. N. (1887). Jazigos de mármore e de alabastro de Santo Adrião e das grutas compreendidasnos mesmos jazigos, Comissão dos Trabalhos dos Serviços Geológicos de Portugal, 2 (1), Lisboa.DELIBES DE CASTRO, G. & A. Rodríguez Colmenero (1976). Una nueva necrópolis de cistas en el nor-oeste peninsular, Letras de Deusto, 6, pp. 181 – 186.EGUILETA FRANCO, J. M. (1999). A baixa Limia galega na Prehistoria Recente. Arqueoloxía dunha pai-saxe na Galicia interior, Ed. Deputación Provincial de Ourense, Ourense.FÁBREGAS VALCARCE, R. (2001). Los petroglifos y su contexto: un ejemplo de la Galicia meridional.Ed. Instituto de Estúdios Vigueses. Vigo.FÁBREGAS VALCARCE, R. & X. I. Vilaseco Vázquez (1998). Práticas funerárias no Bronce do Noroeste,in R. Fábregas Valcarce (ed.), A Idade do Bronce en Galicia: novas perspectivas. Ed. Cadernos do Semináriode Sargadelos 77. Coruña. pp. 191 - 219.HARPSOE, C. H. & M. F. Ramos (1985). “Lorga de Dine” (Vinhais, Bragança), Arqueologia, 12, pp. 202– 204.JORGE, V. O. (1982). Megalitismo do Norte de Portugal: o distrito do Porto – os monumentos e a suaproblemática no contexto europeu, 2 vols (Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade doPorto – policopiada).LEISNER, V. (1958). Notas sobre um vaso transmontano, Arqueologia e História, 8ª série, 3, pp. 145 –153.LOPEZ CUEVILLAS, F. (1930). Novas cerâmicas das antas galegas, Trabalhos da Sociedade Portuguesade Antropologia e Etnologia, nº 4, pp. 263 – 282.LOPEZ CUEVILLAS, F. (1947). Los vasos semiovoides y la cronologia de los vasos de ancho borde hori-zontal, Boletin de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y artísticos de Orense, 16 (1), pp. 1 –12.LOPEZ CUEVILLAS, F. & X. Lorenzo Fernández (1930). Vila de Calvos de Randin. Notas Etnográficase Folklóricas, Ed. Seminário de Estudos Galegos, Santiago de Compostela.LOPEZ CUEVILLAS, F.& M. Chamoso Lamas (1958). Una necropolis de sepulturas planas. Cuadernosde Estudios Gallegos.13 (39), pp.273-283.MEIJIDE CAMESELLE, G. (1995). La necrópole del bronce inicial del Agro de Nogueira (Toques, A Co-ruña). Actas del XXII Congresso Nacional de Arqueologia. Vigo 2003, Vigo, vol. 2, pp.85-88.MEIJIDE CAMESELLE, G. (1996). La necrópolis del Bronce inicial del Agro de Nogueira (Piñeiro, Toques,A coruña) en el contexto funerário de su época, Homenaje a C. Alonso del Real, Universidade de Santiagode Compostela, vol. 1, pp. 215 – 239.PARCERO OUBIÑA, C. (1997). Documentación de un entorno castreño: trabajos arqueológicos en el áreade Cameixa, Trabajos en Arqueología del Paisaje - 1, Santiago de Compostela.PRIETO MARTíNEZ, M. P., O. Lantes Suárez & A. Martínez Cortizas (2009a). Dos enterramientos de laEdad del Bronce en la Província de Ourense (neste volume).PRIETO MARTíNEZ, M. P., O. Lantes Suárez, A. Martínez Cortizas & María Dolores Gil Agra (2009b).Estudio de la cerámica del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro (neste volume).RAMIL SONEIRA, J. & J. M. Vazquez Varela (1979). Enterramiento en cista de la edad del Bronce de “OCubillon”, Xermade (Lugo), El Museu de Pontevedra, 33, pp. 61 – 68.SANCHES, M. J. (1980). Alguns vasos cerâmicos do Museu de Antropologia do Porto, Arqueologia, 1,Porto, pp. 12-18.SANCHES, M. J. (1992).Pré-História Recente no Planalto Mirandês (Leste de Trás-os-Montes), Porto, Ed.GEAP.SENNA-MARTINEZ, J. C., José M. Q. Ventura, Hélder A. Carvalho & Elin Figueiredo (2006). A Fragados Corvos (Macedo de Cavaleiros): um sítio de habitat da primeira Idade do Bronze em Trás-os-Montesoriental. A Campanha 3 [2005], Cadernos Terras Quentes, 3, pp. 61 – 85.SENNA-MARTINEZ, J. C., José M. Q. Ventura & Hélder A. Carvalho (2007). A Fraga dos Corvos (Macedo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 22

Page 24: Issn 0871 - 4061

de Cavaleiros): um sítio de habitat da primeira Idade do Bronze em Trás-os-Montes oriental. A Campanha4 [2006], Cadernos Terras Quentes, 4, pp. 85 – 110.SILVA, M. A. (1994). A cista do Gorgolão (Vila da Ponte - Montalegre), Portugália, nov. série., 15, pp. 137- 146.SPINDLER, A. , A. C. Branco, G. Zbyszewski & O. V. Ferreira (1973-1974). Le monument à coupole del´âge du Bronze Final de la Roça do Casal do Meio (Calhariz), Comunicações dos Serviços Geológicos dePortugal, 57, pp. 91 – 154.SUÁREZ OTERO, J. (2002). Die Bronzezeit in Galicien, Madrider Mitteilungen, 43, pp. 1 – 21.TABOADA CHIVITE, J. (1971). Notícias arqueológicas de la región del Tâmega (Verín), Cuadernos deEstudios Galegos, tomo 26, nº 78, pp. 45 - 63.VAZQUEZ VARELA, J. M. (1980). Enterramientos en cista de la Edada del Bronce en Galicia. Pontevedra.0, pp. 23 – 40.

1 Os critérios que subjazem a esta cronologia genérica e naturalmente redutora, para todo o Noroeste, poderãoconsultar-se em A.M. S. Bettencourt (no prelo).2 Os restos que observámos eram muito pequenos ou pequenos. Alguns deles, um pouco maiores e com in-dícios de fumigação na face interna, parecem pertencer a ossos mais longos. Existiam, também, restos decrânio, na zona da sutura, dando a impressão de que se tratava de um esqueleto jovem. No entanto, só umaanálise antropológica poderá contribuir para uma melhor compreensão destes dados.3 Tratava-se de um recipiente manual, de pasta arenosa, de cor acastanhada no interior e exterior, mas commanchas, provavelmente devido à cozedura redutora. Esta parece ter sido deficiente dado o cerne conteruma tonalidade distinta. A superfície exterior foi apenas alisada com excepção do início do bordo e do colointerior que foi polido. Morfologicamente trata-se de um púcaro de colo alto, com bordo esvasado e lábioarredondado e asa de fita de secção sub-rectangular e de preensão vertical. Tem 18,6cm de altura, 8cm dediâmetro de boca e 5cm de diâmetro de base. Da observação que efectuámos não se notam manchas escurasou de fuligem, no interior ou exterior do vaso.4 A estrutura arquitectónica, os restos de ossadas, o recipiente de cerâmica assim como amostras de sedi-mentos encontram-se em depósito no Museu Arqueolóxico Pronvincial de Ourense. Agradecemos a Fran-cisco Fariña Busto, director desta instituição, a possibilidade de estudar, com mais pormenor, estasmaterialidades. Sobre o assunto ver o site: http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/ma-pour/galego/pezasmes/pm24.htm5 Segundo relatório manuscrito da intervenção arqueológica de Francisco Fariña Busto, datado de 21 deSetembro de 1996. 6 Não excluímos, no entanto, a possibilidade desta forma perdurar até ao Bronze Médio, como poderia sero caso desta necrópole. Para tal, necessitamos de aumentar o número de contextos datados, como seria ocaso da cista da Praia da Rola.7 Segundo informação do primeiro subscritor destes artigos, o que foi identificado como um provável dentehumano em J. C. Senna-Martinez et alii (2006) não foi comprovado por análise antropológica.8 (www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm24.htm).9 De notar, igualmente, que a reocupação ou apropriação simbólica de alguns lugares do passado efectua-se, durante o Bronze Inicial, não apenas, em termos dos monumentos megalíticos neolíticos, mas em termosde alguns santuários de arte rupestre onde se gravam, agora, artefactos metálicos, como as alabardas e ospunhais (Bettencourt 2008).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 23

Page 25: Issn 0871 - 4061
Page 26: Issn 0871 - 4061

A RecuPeRAción dun contexto PARA un “tesouRo”PRehistóRico: un PRoxecto de investiGAción evAloRizAción PAtRiMoniAl PARA o Monte uRdiñeiRA(Riós- A GudiñA, ouRense)1

THE RECOVERY OF THE CONTEXT OF A PREHISTORIC “TREASURE”:A RESEARCH PROjECT AND HERITAGE VALORIZATION FOR THEMONTE URDIñEIRA (RIóS- A GUDIñA, OURENSE)

“Alí hai un tesouro!...Se alguén vira eso xa o tiñan ido a buscar, digo eu!”

Resumo: O famoso “Tesouro da Urdiñeira”, un conxunto de dous brazaletes de ouro e undisco ou “botón” de bronce, foi atopado casualmente arredor do ano 1921 preto de Parada da Serra(A Gudiña, Ourense). Como no caso de outros “tesouros arqueolóxicos”, a historia da súa descubertaé a historia dun desentendemento, o que se dá entre “a ciencia oficial” e as xentes. Estes obxectosforon arrancados do seu acubillo e levados para o interior dunha vitrina vixiada, onde permanecenillados e mudos. A nosa proposta parte do proxecto de recuperación dun contexto para este conxuntoicónico en varios niveles. O obxectivo desta investigación non so é inserir o conxunto nun discursorelativo ao poboamento prehistórico da Urdiñeira, senón tamén sobre o contexto histórico do mundocontemporáneo no que foi recuperado. Por último, deséñase como unha estratexia de intervenciónen termos de valoración do patrimonio, dentro dun modelo de desenvolvemento sostible.

Palabras clave: Metalurxia. Idade do Bronce. Valoración do Patrimonio.

Abstract: The named treasure of Urdiñeira, a set of two gold bracelets and a bronzebutton or disk, was found by chance around 1921 near Parada da Serra (A Gudiña, Ourense).As with other archaeological treasures, the story of their discovery is the story of a misunder-standing between officer science and the people. These items were uprooted and taken from hishiding place and put into a controlled vitrine, where they remain isolated and voiceless. Ourproposal is based on a multi-level project for this iconic set. The objective of this research isnot only focus on the prehistoric settlement of A Urdiñeira, but also on the historical context ofthe contemporary world where it was recovered. Finally is designed as an intervention strategyin terms of cultural heritage enhancement within a sustainable development model.

Keywords: Metalworking. Bronze Age. Cultural Heritage Enhancement.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 25

Beatriz Comendador ReyÁrea de PreHiStOria. FaCuLtade de HiStOria. uNiverSidade de viGO;

[email protected] Méndez Fernández

LabOratOriO de reStauraCióN, muSeO arQueOLóxiCO PrOviNCiaL deOureNSe. CONSeLLería de CuLtura e dePOrte. xuNta de GaLiCia;

[email protected]

Page 27: Issn 0871 - 4061

1. tesouro da urdiñeira: un caso paradigmático de desentendementoO chamado “tesouro da Urdiñeira”, integrado por dous brazaletes de ouro e

un disco ou “botón” de bronce, foi atopado casualmente arredor do ano 1921cerca do lugar de Parada da Serra (A Gudiña, Ourense) (Anónimo, 1921). AComisión de Monumentos de Ourense interesouse polas pezas, pero carecía defondos para mercalos: daquela, os brazaletes foron adquiridos polo coleccionistasantiagués Ricardo Blanco Cicerón (Macías, 1921: 336) e posteriormente pasaroná colección de Álvaro Gil Varela. Finalmente, en 1974 ingresaron como depósito2

no Museo de Lugo (Balseiro, 1994), onde actualmente están expostos. Pola súaparte, a peza de bronce, considerada de menor entidade, foi separada do resto doconxunto e depositada no Museo Arqueolóxico Provincial de Ourense.

Nos primeiros momentos dise dos brazaletes que “son, sin duda, celtas”, adiferencia do “botón” de bronce que “parece ser da época romana” (Anónimo,1921). Os intelectuais da época, aínda que vacilantes en canto ás diferentes atribu-cións cronolóxicas e culturais, van salientar a importancia e singularidade do conx-unto en relación á ourivería europea (Macías, 1921: 336)3. Con respecto aosbrazaletes, algunhas citas en estudos xenéricos sobre a metalurxia da Idade doBronce farán referencia ao conxunto, especialmente para vinculalo con diferentestradicións ourives4, pero o “botón” de bronce terá que esperar a fines dos cincuentapara ser merecedor dun estudo pormenorizado (Cuevillas, 1958).

Xa nos anos noventa, o achado é recollido no catálogo de ouros europeos re-alizado por Pingel (1992, nº cat. 144), aínda que non son obxecto de estudo analítico.Os brazaletes serán incluídos no estudo sobre o ouro prerromano do Museo de Lugorealizado por Balseiro (1994), e van estar presentes na exposición sobre ouriveríaprehistórica de Galicia, celebrada no mesmo museo (Balseiro, 1995). Para estes tra-ballos recóllese a bibliografía anterior, sen grandes intentos de contextualización doconxunto, salvo o realizado por Bóveda (1995). Setenta anos despois do achado, oconxunto é circunstancialmente reunido con motivo da exposición Galicia noTempo, onde Suárez (1990: 140-141) escribe as fichas do catálogo situando as pezasdo conxunto a finais do Bronce Inicial ou incluso dentro do Bronce Pleno.

Nos últimos anos vai resultar de gran importancia o estudo directo daspezas da Urdiñeira por parte da investigadora alemana B. Armbruster (1999,2000) que, dende o punto de vista tecnolóxico, aporta argumentos para a súaatribución cronolóxica ao Bronce Final, no ámbito da ourivería tipo Villena/Es-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 26

Page 28: Issn 0871 - 4061

tremoz (Armbruster, 1999: 242). Finalmente, o contexto do achado vai serposto en relación coa arqueoloxía da Terra das Frieiras no traballo de Rivas eRodríguez (2002: 69; Rodríguez, 2007: 27).

O caso da Urdiñeira exemplifica un paradigma reiterado do tratamento de moitosdos chamados “tesouros” arqueolóxicos. É un achado casual antigo, no que as pezasson interceptadas pola intelectualidade da época e, na suposta procura da súa salva-garda, son compradas e pasan a formar parte de coleccións particulares. Os conxuntos,debido a cuestións diversas, frecuentemente tenden a ser separados entre os obxectosde maior e menor valor. Por último, aqueles obxectos esteticamente máis relevantesacaban expostos en vitrinas con escasa información ou ningunha, mentres que os obx-ectos relacionados simplemente son almacenados. Os achados poden chegar a acadarun certo impacto en sínteses da prehistoria europea, pero non no seu lugar de orixe5,onde pasan a se converter nun referente case mítico, como míticos son os museosonde están expostos. A historia recente ou memoria do tesouro non se valoriza, senónque se considera unha curiosidade anecdótica sen interese científico6.

A pesares da “popularidade” dalgúns destes tesouros, a escasa investigacióntampouco se traduce nunha boa divulgación. A inadecuada estratexia expositivanos museos, segundo o noso punto de vista (Comendador e Méndez, 2006), con-verte os obxectos en iconas estéticas, do que é ben significativo un xa clásicomerchandaising a base de postais nas que se ofrece unha bonita imaxe sobrefondo negro carente de contidos. Estas “escuridades” son aproveitadas parareenchelas de contidos alternativos e por tanto, poden ser obxecto de manipu-lación e de todo tipo de discursos interesados (Comendador, 2008).

Como síntese poderíamos dicir que esta concepción da arqueoloxía é aque descontextualiza os obxectos ao segregalos e elevalos ao limbo académico.Convérteos en iconas mudas polo seu valor estético e a súa incerta procedencia,secuestradas en vitrinas no mellor dos casos.

2. A proposta e os pasos dadosA nosa proposta é a de facer unha investigación crítica e con criterio. Para

iso, partimos do balance do estado da cuestión. Por unha banda, o conxuntopresenta un innegable interese dende a ollada da investigación arqueolóxica.Por outra banda, é manifesto o desentendemento entre a arqueoloxía e a so-ciedade, aínda que temos exemplos de tratamentos diferentes7.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 27

Page 29: Issn 0871 - 4061

. O noso fin non é o de construír un discurso arqueolóxico erudito dende opunto de vista da investigación científica co que vender postais. Nin sequera con-sideramos na nosa proposta expositiva a propia presenza material do conxunto, xaque non se pon en valor o tesouro como fetiche, senón o seu contexto de achado, otratamento que se lle deu ao longo do tempo e a súa interpretación. O principal obx-ectivo é reintegrar a memoria do tesouro entre as propias xentes de Riós - A Gudiña.

Unha vez valorados estes aspectos, establecemos os obxectivos xerais parao desenvolvemento deste proxecto (Táboa 1), os criterios xerais (Táboa 2), asícomo as propostas de investigación (Táboa 3) e de valorización patrimonial.

Quadro 1 *

A continuación exporemos algúns dos pasos dados nesta proposta.

2.1 A localización do achado e a memoria do tesouro

O Monte Urdiñeira é un estribo montañoso da parte sur do Invernadoiro,ao que se vencella polo norte por medio dos montes do Sanguñedo. Segundoreferencias, denomínase A Urdiñeira á ladeira NE cara a Parada da Serra(Romero, 1926). Queda delimitado polo regueiro de Parada ou Frieira, queverte as súas augas ao río Mente no Fondo da Follateira (Lam. 1).

Para a localización do achado, inicialmente revisamos a bibliografía. Se-gundo a versión recollida na época “…Al pie del monte Ordiñeira (Gudiña) ya orillas del río Frieira, que cruza la parroquia de Parada de la Sierra, comoa dos kilómetros del pueblo de su nombre, fueron hallados a bastante profun-didad oprimiendo una gruesa raiz de uz o brezo…” (Macías, 1921: 335-336),considerándose que rodarían pola pendente do monte (Anónimo, 1921), versiónque concorda coa de Romero (1926) que o sitúa “...No fondo da ladeira quecomenza ó pé da Cova das Choias...”. En referencias recentes refírese queapareceu “…ó pé do mesmo monte, na Ribeira de Parada (en Valmeo) a caróndunha fraga, frente ó chamado prado de Laureano (O Gaiteiro)…” (Rivas eRodríguez, 2002: 69).

Posteriormente acudimos ás testemuñas dos veciños de Parada da Serra,que emprazan o lugar exacto do achado na beira do río, no lugar chamado ARibeira, na confluencia entre o rego de Parada e o cavanco do Trabazón8.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 28

Page 30: Issn 0871 - 4061

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 29

Táboa 1. Obxectivos xerais do proxectoxñì »ª ñ¿ê¿»´ ì ±´ «ñ㫱 ª ê¿ê »´ ì ±´ ã»´ «± ï ñ ì »ù«»¿êü ê«ñ¿öêùê ï öóñ¿ñ´ «ñ≈ ´ ö…ñö≈uó¿ñì ñ¿ »´ ôê ª ñ¿≈ª ñì «ö…ê ï öóñ¿ñ´ «ñ ´ ê ö́ …ñ≈«öòêì öó´ ñª ±≈«ê ñ´ …êù±¿ ï »´ ? «ñ≈±»¿±@ O ñü ª ¿ñòê´ ï ± »´ ï ö≈ì »¿≈±êù«ñ¿́ ê«ö…±O êª ùöì êí ùñ ´ ±»«¿±≈ ª ¿±ãñì «±≈o´ «ñò¿ê¿ ´ ê …êù±¿êì öó´ ï ± ì ±´ã»´ «± ê ü ñü ±¿öê ¿ñì ñ´ «ñï ± êì ôêï ± ñ ê ö́ «ñ¿êì ì öó´ ≈±ì öêùvê¿«öì öª ê¿ ´ ê ¿ñì »ª ñ¿êì öó´ ï ê ≈öò´ öóöì êì öó´ ï ±ì ±´ ã»´ «± ´ ± ≈ñ» ù»òê¿ ï ñ ±¿öãñ

Táboa 2. Criterios xerais do proxectolêì ñ¿»´ ôê ö́ …ñ≈«öòêì öó´ ì ¿í«öì ê ñ ì ±´ ì ¿ö«ñ¿ö±kùöü ö́ 꿱 ì ±ü ª ±ññ´ «ñ óñ«öì ôö≈«êO ª ¿öü ê´ ï ± ±ö́ ü ê«ñ¿öêùs»ù«öª ùöì öï êï ñ ï ñ ´ ö…ñö≈ ´ ê ? ¿ñì »ª ñ¿êì öó´ ï »´ì ±´ «ñ㫱@o´ «ñò¿êì öó´ ï ê ö́ ó±¿ü êì öó´ ôö≈«ó¿öì ê ñ ñ«́ ±ò¿áóöì ês»ù«öª ùöì öï êï ñ ï ñ ´ ö…ñö≈ ´ ê ñ≈«¿ê«ñãöê ï ñ ª ±≈«ê ñ´…êù±¿gª ùöì êí öùöï êï ñ ï ± ü ±ï ñù± ´ ±»«¿±≈ ì ê≈±≈

Táboa 3. Propostas concretas de investigaciónContextualización no seu marcoP Üñ±ò¿áóöì ±P Üñ±ùóãöì ±P Éíê≈ ï ñ ª ê≈±

Contextualización etnográficaP i±´…ñ¿≈ê≈ ñ ö́ «ñ¿êì ì öó´Contextualización arqueolóxicaP iê¿êì «ñ¿ö“êì öó´ ï ± ì ±´ã»´ «±P r±ì êùP xñãö±´ êùñ ö́ «ñ¿¿ñãö±´ êù

* Quadro 1

Page 31: Issn 0871 - 4061

. Na parte superior localízase un pequeno esporón onde se atopa OPradiño do Trabazón, delimitado por dous cursos de auga, O Rego do Tra-bazón e o Rego das Leiras da Serra. Este prado é visible dende a Cova dasChoias, que conforma un abrigo natural de singular importancia no conxuntodas fragas, onde hai outros abrigos ou covas que reciben tamén o apelativo deburacos ou buracas. As conversas contextualizan o achado no marco da mi-crotoponimia, das vías de paso e das formas de vida, elementos necesarios paraa comprensión da paisaxe cultural. Cada lugar ten a súa historia mítica, e asíhai quen atribúe a forma das fragas a un meteorito, ou falan da existencia dediversas palas ou buracas, algunha tan grande “...que nunha treboada meteuseo pastor e as ovellas todas...”. Da Cova das Choias din que “foi feita” e nondubidan ao afirmar que nela viviron os mouros. A esta cova e a outros lugaresatribúense moitas lendas, algunhas recollidas da bibliografía previa9, e outrasrecuperadas nas propias conversas cos veciños de Parada da Serra10..

Con respecto ás condicións do achado, a memoria é que unha pastora,gardando as vacas, foi dar co conxunto a pouca profundidade ao remexer aarea cun pao; e os veciños falan tamén da aparición dun cacharro cerámicoque describen como unha “chocolateira”. Esta versión difire da dos textos ondetamén se fala da pastora, pero refírese que foron atopadas a “bastante profun-didade oprimiendo unha gruesa raíz de uz o brezo”, o que podería estar enrelación coa extracción de torgos de uz para a fabricación de carbón vexetal,actividade típica da zona e especialmente de Parada da Serra (Cerrato, 2002).

Igual de interesante é a información relativa ás circunstancias de recu-peración e venta do achado, o que chamamos a memoria do tesouro11, que re-sulta unha sorprendente fonte de información sobre a historia máis recente nomarco dunha economía de subsistencia, recuperando o contexto do caciquismo,o illamento, o analfabetismo e a emigración. Os veciños de Parada da Serradan testemuña deste e doutros tesouros sen dubidar, formando parte da mi-toloxía local e da súa xeografía.

2.2 Arqueoloxía do entornoOs traballos feitos amosan o interese da zona e xustifican a proposta dun

proxecto de prospección intensiva na serra da Urdiñeira, co obxectivo de docu-mentar aqueles xacementos que permitan unha mellor interpretación do contexto

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 30

Page 32: Issn 0871 - 4061

arqueolóxico do achado, a concentrar en diversos puntos: especialmente a Fragados Mouros, as fragas e a Cova das Choias, o pradiño do Trabazón, así como ocavanco do Trabazón, a Ribeira e Valmedo12 (Lam. 1). Nesta prospección é in-teresante a procura de arte rupestre, tanto de gravados, dos que hai referencias,13

como de pintura, porque as características da rocha e dos abrigos son similaresa outros con pinturas coñecidos na zona portuguesa como os Abrigos do Regatodas Bouças (Passos, Mirandela) (Sanches, 1997), situado xusto na zona do límitede arte esquemático no lado portugués (Bradley e Fábregas, 1996).

Dun xeito máis extensivo pódense integrar algúns xacementos e puntosxa referidos en catalogacións arqueolóxicas previas, tanto documentación dosconcellos ou da Xunta de Galicia14, como outros traballos publicados, sendo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 31

Page 33: Issn 0871 - 4061

moi de destacar o de Rivas e Rodríguez (2002). Entre eles estarían O Castrode Pedroso, ou O Castelo, posible poboado castrexo do que hai referencias dasúa muralla (Romero, 1926, Rivas e Rodríguez, 2002: 63), así coma outrospuntos indicados pola súa toponimia, como o lugar de Cavaixe da Meda(Parada da Serra) (Id, 2002: 55) ou a Corga das Parafitas (Id, 2002: 68).

En xeral diversos achados falan da ocupación durante a Idade do Bronce,sendo de salientar o recente da chamada Cista da Forxa (Vilariño das Touzas,Riós)15. Resultaría interesante a prospección dalgúns destes lugares con posibleocupación como Fraga da Moura (Castrelo de Cima) (Taboada, 1955: 338), AsMuradellas (á beira de Cabeza do Cichón) (Rivas e Rodríguez, 2002: 61) enlugar próximo de onde foi atopada a estela antropomorfa do Tameirón (Id.,2002: 75-77) (Lam. 1) ou sobre todo, A Corga da Mela (Erosa, Pentes) ondeforan atopados varios moldes de fundición relativos ás orixes da metalurxia debronce (Taboada,1973) e que nos últimos anos, por mor dos traballos agrícolas,ten aportado outros materiais de interese (Rivas e Rodríguez, 2002: 70). A im-portancia do conxunto xustificaría unha intervención arqueolóxica, sobre todotendo en conta os resultados que están dando xacementos próximos como o deFraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros), que fornece, entre outros aspectos,a documentación máis completa sobre a primeira producción de bronce binariodo noroeste peninsular (Senna-Martínez et alii, 2006).

2.3 A revisión do propio conxuntoA idea preconcibida, ao afrontar este traballo, era que os brazaletes esta-

ban ben estudados, mentres que a peza de bronce adoecía dun estudo a fondo(Lam. 2). A revisión da información para a recreación virtual das pezas veudemostrar a deficiente información publicada, da que nin sequera é posibletirar o desenvolvemento completo da decoración do brazalete aberto. Ademais,as medidas oscilan lixeiramente entre uns e outros autores.

A técnica de fundición dos brazaletes foi a cera perdida, aspecto xa sinal-ado por Bóveda (1995: 83) e Balseiro (1996: 107). Armbruster (2000: 209, Taf.98, 99) detalla que o brazalete aberto foi posteriormente cicelado, punzonado,perforado e dobrado, mentres que o pechado foi fundido coa mesma técnica,pero combinada co uso do torno rotativo na elaboración do modelo, para pos-teriormente ser decorado e aplicárselle a compresión aos bordes.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 32

Page 34: Issn 0871 - 4061

Con respecto á peza de bronce, non foi obxecto dun estudo en profundi-dade respecto da súa materia e/ou tecnoloxía de elaboración, e incluso apareceuerroneamente descrito como de materia vítrea ou pétrea (Cuevillas e BouzaBrey,1929: 68)16.

As análises realizadas17 amosan que está feita nunha boa aliaxe binariade bronce, con impurezas de ouro que poden ser observadas na estructura dometal (Lam. 2). Consideramos que está fundida tamén mediante a técnica dacera perdida. A peza está ben conservada18 e presenta un acabado coidado, sobretodo na parte convexa (Lam. 2).

Distintos autores apuntaron a súa hipótese cronolóxica e cultural baseadanas semellanzas con outras pezas de diferentes contextos da Prehistoria Europea,especialmente da Idade do Bronce. Pero é dende o punto de vista da tecnoloxíametalúrxica que pode encadrarse o conxunto no eido das produccións daourivería europea no Bronce Final. Os aspectos formais e da tecnoloxía de elab-oración dos brazaletes permitiron poñelos en relación coa ourivería Villena/Es-tremoz que aparece na fachada atlántica europea no Bronce Final (Armbruster,1999: 242). Non son os únicos brazaletes da rexión inseribles neste ámbito19.Tamén están os de Ourense, Toén, Alto da Pedisqueira (Chaves)20, e máis lonxeos de Melide e Monte da Saia (Braga). Outros, como os de Arnozela (Fafe), es-tarían feitos a partir de lingotes anulares mediante martelado e por iso poderíanser máis antigos; pola contra, o brazalete de Lebuçâo (Vila Real) é para Arm-bruster (1999: 242) unha estraña mostra de estes elementos de ourivería “ar-caica” xa nos inicios da Idade do Ferro (Lam. 1, Lam. 3). A reutilización destesobxectos en momentos posteriores podería verse tamén no brazalete de Can-tonha (Guimaráes), no que aparecen soldados por fundición adicional un braza-lete tipo Villena xunto con dous tipo Sagrajas/Berzocana. En todo caso son ítemsmoi elaborados que requiren unha manufactura especializada, e que poderíanser de producción local ou, máis probablemente, importados dun contexto cul-tural foráneo, o que podería revelar importante información sobre as alianzaspolíticas locais e/ou rexionais. Tamén podería falar da circulación de persoas.De calquera xeito, a súa integración no contexto local conta unha historia detransferencia no só de obxectos, senón tamén de tecnoloxía e de valores rituaise sociais. Unha artesanía dedicada á creación das identidades e a construccióndo poder entre a fin da Idade do Bronce e os inicios da Idade do Ferro.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 33

Page 35: Issn 0871 - 4061

2.4. A interpretación do conxuntoNo estado inicial do proxecto, podemos facer diversas valoracións sobre

a interpretación do conxunto da Urdiñeira. Non é aventurado considerar os ítemsdentro da categoría social dos bens de prestixio, emblemas de alto status.Poderían ser ítems persoais no caso de tratarse dun hipotético enxoval funerario,opción pola que se decantan Rivas e Rodríguez, (2002: 69) e tamén Suárez(1990: 141) tendo en conta a complementariedade das pezas. Outra posibilidadeé consideralas un acubillo ritual nun punto sinalado da paisaxe. Perea (2005:61-62) indica unha serie de achados de ouro ao longo da fachada atlántica du-rante a Idade de Bronce e a transición para a Idade do Ferro, que pertencen a uncódigo semántico que semella regularizado: depósitos contendo espirais oucadeas de espirais de ouro, depósitos con ourivería tipo Villena (Perea, 2005:Lám. 3) ou tipo Sagrajas/Berzocana. Tendo en conta estes aspectos, poden serpostos en relación con outros achados do noroeste peninsular, interpretadoscomo depósitos do Bronce Final e que presentan unha serie de característicascomúns (Comendador no prelo, Táboa 1, Figura 3). Outra opción a ter en contaé que no momento da súa deposición foran simples mercadorías.

En todo caso, son obxectos suntuarios, propios da cultura material das elitesen toda Europa por volta do primeiro milenio. En relación co disco de bronce,hai que sinalar una certa similitude decorativa co pendente ou pendeloque debronce decorado do abrigo 2 do xacemento trasmontano de Fraga dos Corvos(Macedo de Cavaleiros), onde apareceu xuntamente cunha fíbula de dobre re-sorte, feito que é interpretado como unha relación co mundo orientalizante(Senna-Martínez, et alii, 2006: 5; Figueiredo et alii, 2007) (Lam. 3). No mundodo Mediterráneo podemos buscar obxectos suntuarios similares, como por ex-emplo un revestimento de lámina de ouro con restos de verniz na base achadoen Troia, e interpretado como un posible remate de pomo para encabar (VV.AA.1996: Cat. 255); considérase que podería decorar un bastón de gala, un cetro, unmoble ou incluso estar relacionado co encabado de espadas (VV.AA, 1996: 221).Calquera destas posibilidades pode darse co disco de bronce21. Influenciasmediterráneas queren verse tamén na singular estela de Ategua (Córdoba), cunhaescena funeraria presidida pola representación heroica dun individuo coapanoplia de guerreiro (Celestino, 1990), na que aparece un obxecto indetermi-nado cunha decoración similar ao disco da Urdiñeira (Lám. 3).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 34

Page 36: Issn 0871 - 4061

Pero si ollamosao norte de Europa,tamén podemos atoparoutras analoxías.Suárez (1990: 142)sinala a proximidadeformal cos botóns deacibeche de depósitosescoceses, a similitudecoas decoracións dosdiscos de ouro irlan-deses do BronceAntigo ou a idénticadecoración da peza deouro do enxoval funer-ario de Upton Lovell(Witshire, Inglaterra)(Lam.3). A simboloxíadas rodas de carro oudos seus eixes naiconografía nórdica, éinterpretada como rep-resentación do discosolar, tal e como prop-uxo Cuevillas (1926)para a interpretación desta peza22. A presenza de obxectos deste carisma nos estri-bos dunha serra interior do noroeste peninsular, só pode ter que ver, dende o nosopunto de vista, co xurdimento de elites neste eido xeográfico, moi relacionadasco control do tránsito entre o litoral e a meseta, tanto de materiais coma de gandoou de bens. Esta interpretación é coherente co feito de que a Urdiñeira se atopenas proximidades do cruce de importantes rutas que conducen de Oeste a Este,cara á meseta, e rutas que conducen no eixo Norte-Sur, en relación coa direccióndos vales fluviais. En dirección Este-Oeste, estaría en relación coa vía natural polaque discorre o Camiño de Castela ou Verea23

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 35

Page 37: Issn 0871 - 4061

. En dirección Norte-Sur, debemos mencionar as propias vías naturaisde paso relacionadas co tránsito do Rego de Parada, Río Mente e finalmenteRío Rabaçal, no lado portugués, camiños en relación coas vías romanas (Ruíz-Gálvez, 1998) como amosa a aparición de diversos miliarios24 e a toponimia.Esto é coherente co achado de estatuas menhir datables tamén no Bronce Finalque presentan unha iconografía común e afinidades morfolóxicas que per-miten consideralas como pertencentes ao mesmo grupo estilístico e portadorasdunha simboloxía común (Bettencourt, 2005: 171-177)25. Sobre este tema vid.González, F.J. Repensando el pasado: cambio social e iconografía guerreraen la Edad del Hierro del Noroeste de la Península Ibérica, neste mesmo vol-ume.

. No val do Támega aparecen as de Faiôes, de Chaves e a de Muíño deSan Pedro (Verín); no val do río Mente - Rabaçal a de Bouça (Mirandela, Bra-gança) e a pouco coñecida do Tameirón (A Gudiña) (Rivas e Rodríguez, 2002:75-77); e no do Limia a de Vilar de Santos. Ruiz-Gálvez (1998: 171-179) tensinalado a súa presenza en zonas montañosas que responden ao mesmo patrón,pola súa localización en función de vías naturais e zonas de aproveitamentofundamentalmente gandeiro, asociadas a vías pecuarias. Bettencourt (2005:171) considera a ter en conta que aparecen sistematicamente en áreas ricas enminerais como o estaño. Sería este o caso do Tameirón na área de Vilar de Cer-vos e os famosos estaños de Monterrei. Prieto (1945-46: 121) mesmo recollea referencia de traballos antigos nos xacementos de casiterita de Valgrande (ABarxa), Pentes e Tameirón, así como as lendas asociadas26

.Podemos atopar analoxías formais nas mostras de metalurxia suntuariade toda Europa neste intre. Pero, tal e como sinalan Kristiansen e Larsson(2006) o interesante é saber se estamos a falar dunha semellanza de formas,ou dunha semellanza de significado de grande complexidade, que podería sux-erir a transmisión dunhas crenzas e a evidencia dunha conexión a longa dis-tancia. En síntese podemos concluír que, lonxe de ser obxectos illados(arqueolóxica e circunstancialmente), os ítems da Urdiñeira están en relacióncun contexto arqueolóxico local, rexional e intra- rexional que os dota de con-tido.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 36

Page 38: Issn 0871 - 4061

3. valorizaciónpatrimonial

Un dos obxectivosdeste traballo é a val-orización patrimonial doconxunto, pero seguindoos criterios establecidos,consideramos que nestavalorización deben pri-marse aspectos inmateri-ais máis que o propioconxunto arqueolóxicoen si.

Dentro das pro-postas, unha das que con-sideramos prioritarias é ainteracción social dentroda área de achado doconxunto, xa inicial-mente establecida através das conversas.Con respecto á divul-gación da investigación,do mesmo xeito que o

proxecto está pensado a distintos niveis, este aspecto debe seguir igual criterio.Dentro da categoría de publicacións científicas, para un ámbito social re-

strinxido, contémplase a realización dun estudo de compendio dos traballos.Lonxe de ser a única canle, a información recollida neste pode ser integradaen diversos recursos cunha linguaxe diferente. Neste sentido propomos a edi-ción dun conto ou historia ilustrada que recupere a historia do achado dotesouro, incorporando deste xeito o mundo contemporáneo no discurso. Taménpoderían ser empregadas as imaxes dentro dun audiovisual que recolla aspectosetnográficos, arqueolóxicos e históricos da Terra das Frieiras. A idea doscamiños e da comunicación no presente e no pasado, podería servir como dis-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 37

Page 39: Issn 0871 - 4061

curso integrador. Daquela, e tendo en conta o carácter de paso destas terrascara á meseta, unha posibilidade sería a disposición dun pequeno espacio oupunto informativo nunha das áreas de servicio de A-5227

Xa en relación ás propias pezas do tesouro, e dada a situación adminis-trativa na que se atopan, segundo temos explicado, a nosa proposta pasa polarecreación virtual do conxunto (Lam. 3) e a súa inserción ou exposición alter-nativa na rede (internet). A nosa idea principal é que se pode “sacar as pezasdas vitrinas sen roubalas”, porque o importante non é o fetiche, senón a infor-mación que transmiten. En todo caso, podería ser útil a realización de repro-duccións das pezas para unha función didáctica na interacción local,especialmente nos colexios de A Gudiña e Os Riós, inserindo unha recreacióndo proceso de elaboración. Non somos partidarios de repetir os mesmos fallosexpositivos que temos comentado, fabricando unhas copias que pechar en vit-rinas, xa que non sería coherente co resto do noso discurso. Aínda que seríaavaliable no caso de que unha demanda por parte da poboación local así o re-quirise28

4. o lugar da nosa miradaXa para rematar esta “declaración de intencións”, queremos reflexionar

sobre se sirve de algo recuperar o contexto dun tesouro prehistórico. Por quéo noso criterio é diferente? Acaso non estamos partindo dunha excepcionali-dade do rexistro arqueolóxico, dunha distinción da cultura material polo seucarácter suntuario? Non andamos a facer arqueoloxía de tesouros ao fin?Comezamos dicindo que a nosa proposta era a de facer unha investigacióncrítica e con criterio, o que para nós significa comprender a lóxica característicado conxunto na súa singularidade existencial e na súa convivencia cos que oacompañan, sen perder de vista a nosa participación decisiva en canto á inten-ción e orde do discurso (Lull, 2007).

Nos últimos anos, a política arqueolóxica da comunidade autónoma deGalicia ten incidido na valoración de catro tipos de xacementos: xacementosromanos, xacementos castrexos, monumentos megalíticos e arte rupestre, queforman parte da Rede Galega do Patrimonio Arqueolóxico (Tallón et alii,2004). Consideramos que a cultura material esencialmente metálica relativaao fenómeno dos depósitos da Idade do Bronce quedou fóra deste discurso de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 38

Page 40: Issn 0871 - 4061

posta en valor pola súa “invisibilidade” na paisaxe (salvando a propia arte ru-pestre), xa que precisamente responde a estratexias de ocultación. Nembar-gantes constitúe unha rica fonte de documentación e un patrimonioespecialmente singular (Comendador e Méndez, 2006) que non pode ser com-prendido de xeito illado, senón mediante a súa inserción nun contexto, e quemerece unha estratexia de posta en valor dinámica e diferente.

Mentres a arqueoloxía non responda a estas necesidades como práctica so-cial dende o presente, as vitrinas seguirán enchidas de fermosas xoias, mudas.

BibliografiaANONIMO. Brazaletes Celtas. El Progreso de Pontevedra, 13 de Xullo de 1921

ARMBRUSTER, B. 1998. Quelques aspects technologiques de l’orfèvrerie du Bronze final au début del’âge du Fer, au Portugal et en Galice. Les metaux antiques: travail et restauration. Ed. Monique Mergoil.Montagnac: 53-58.ARMBRUSTER, B. 1999. Techniques d’orfèvrerie prèhistorique des tôles d’or en Europe atlantique desorigines à l’introduction du fer. L’or dans l’antiquité, de la mine à l’objet. Supplement Aquitania: 237-249.ARMBRUSTER, B. 2000. Goldschmiedekunst und Bronzetechnik: Studien zum Metallhandwerk der At-lantischen Bronzezeit auf der Iberischen Halbinsel. Editions Monique Mergoil.BALSEIRO, A. 1994. El oro prerromano en la provincia de Lugo. Deputación Provincial de Lugo. Serviciode Publicacións. BALSEIRO, A. 1996. Brazalete de Urdiñeira. Pulsera de Urdiñeira. El oro y la orfebrería prehistórica deGalicia. Museo Provincial. Diputación Provincial de Lugo: 107BARANDELA, I., LORENZO, J.M. 2004. Petroglifos de Ourense: reflexións a un primeiro reconto da arterupestre prehistórica na provincia. Deputación Provincial. Ourense.BETTENCOURT, A. 2005. A estatuaria. En, J.M. Hidalgo (Coord.) Arte e Cultura de Galicia e Norte dePortugal. Arqueoloxía, Vol. 1, Nova Galicia, Vigo: 166-177.BLANCO FREIJEIRO, A. 1957. Origen y relaciones de la orfebrería castreña. Cuadernos deEstudos Galegos, XII, 36. Santiago de Compostela: 5-28.BÓVEDA, Mª.J. 1995. O nacemento do ouro en Galicia: un achegamento ó mundo do adorno persoal.Memoria de licenciatura inédita. Universidad de Santiago de Compostela.BRADLEY, R., FABREGAS, R. 1996. Petroglifos gallegos y arte esquemático. Complutum Extra, 6(11),1996: 103-110. Madrid.CELESTINO, S. 1990: Las estelas decoradas del SW Peninsular. En, La Cultura Tartésica y Extremadura.Cuadernos Emeritenses, 2. Mérida: 45-62CERRATO, A. 2002. Carboneros de las sierras del sureste de Orense. Revista de Folklore, 256, 22a: 123-132. Fundación Joaquín Díaz.COMENDADOR, B. (no prelo). Space and memory at the mouth of the river Ulla (Galicia, Spain). in AnaM. S. Bettencourt, M. Jesús Sánchez, Lara B. Alves e Rámon Fábregas Valcarce (eds.): Spaces and Placesfor Agency, Memory and Identify in prehistoric and protohistoric Europe, Proc. XV UISPP (Lisboa, 2006).COMENDADOR, B. 2008. COMENDADOR, B., MENDEZ, J.L. 2006. A Patina over time: ancient metals conservation in North-West-ern Iberia. Looking forward for the past: science and heritage (London, 2006). FERREIRA, E. 1988. Los caminos medievales de Galicia. Anexo, 9. Boletín Auriense. Ourense. FIGUEIREDO, E., SENNA-MARTíNEZ, J.C., SILVA, R.J.C., ARAUJO, M.F., VENTURA, J.M.Q. 2007.,Late Bronze Age metal artefacts from an orientalising burial (?) at “Fraga dos Corvos”.: A first archaeomet-allurgical approach. Proc. Archaeometallurgy in Europe. Associazione Italiana di Metallurgia. Milano.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 39

Page 41: Issn 0871 - 4061

HANSEL, A., HANSEL, B. 1997. Gaben and die Götter. Schätze der Bronzezeit Europas. Museo de Berlín.HERNANDO GONZALO, A. 1983. La orfebrería durante el Calcolítico y el Bronce Antiguo en la PenínsulaIbérica. Trabajos de Prehistoria, 40: 86-138. Consejo Superior de Investigaciones Científicas. Madrid.KRISTIANSEN Y LARSSON, 2006. La emergencia de la sociedad del Bronce. Viajes, transmisiones ytrasformaciones. Bellaterra. Barcelona.LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1925. Os oujetos argáricos do Museu d’Ourense. Algunhas consideraciós en colda primeira Idade dos Metáis na Galiza. Boletín de la Real Academia Gallega, nº 173: 96-107.LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1926. A Idade de Ferro na Galiza. Nos, nº 33: 13LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1958: Un disco solar. Cuadernos de Estudios Gallegos, tomo XIII, nº 41: 292-296. LÓPEZ CUEVILLAS, F. E BOUZA BREY, F. 1929. Os Oestrimnios, Os Saefes e a Ofiolatría en Galiza. LULL, V. 2007. Los objetos distinguidos. La Arqueología como excusa. Ediciones Bellaterra. Barcelona.MACíAS, M. 1921. Importante hallazgo arqueológico. Boletín da Comisión de Monumentos Históricos eArtísticos de Ourense. Vol. IV, número 140: 335-336.MONTEAGUDO, L. 1953. Orfebrería del noroeste hipánico en la Edad del Bronce. Archivo Español deArqueología, XXVI, nº 88: 269-312.NEEDHAM, S., PARFITT, K. VARNDELL,G. 2006. The Ringlemere Cup. Precious Cups and the Beginningof the Chanel Bronze Age. British Museum. London.PEREA, A. 2005. Mecanismos identitarios e de construcción de poder na transición Bronce-ferro. Trabajosde Prehistoria, 62, nº 2: 91-103.PEREA, A. 2008. Iberian Psycho. Deliberated destruction in Bronze Age Gold Hoards of the Iberian Penin-sula. C. Hammon, B. Quilliec (Eds.). Hoards from the Neolithic to the Metal Ages. Technical and codifiedpractices. BAR International Series, 1758. Oxford: 53-58.PINGEL, V. 1992. Die Vorgeschichtlichen Goldfunde der Ibersichen Halbinsel. Eine Archäologische Un-tersuchung zur Auswertung der Spektralanalysen. Instituto Arqueológico Alemán. Madrid.PRIETO, L. 1945-1946. Antiguas minas del río Camba. Comisión Provincial de Monumentos Históricos yArtísticos de Orense. Tomo XV: 116-121.RIVAS, E. e RODRíGUEZ, J. 2002. Terra das Frieiras. Deputación Provincial de Ourense.RODRíGUEZ, J. 2007. Terras de Riós. En Foxo, X.L. Cancioneiro das Terras do Riós. Escola Provincialde Gaitas. Deputación Provincial de Ourense: 15-37.ROMERO, A. 1926. Notas para un estudo da Urdiñeira. Nós. Nº 31: 36-41.RUIZ-GÁLVEZ, Mª 1984. La Península Ibérica y sus relaciones con el círculo cultural atlántico. UniversidadComplutense. Tesis policopiada. MadridRUIZ-GÁLVEZ, Mª. 1998. La Europa Atlántica en la Edad del Bronce. Un viaje a las raíces de EuropaOccidental. Editorial Crítica. Barcelona.SANCHES, Mª DE J. 1997. Prehistoria Recente de Tras-Os-Montes e Alto Douro. Sociedade Portuguesade Antropología e Etnología. 2 vols. Porto.SENNA-MARTíNEZ, J.C., VENTURA, J.M., CARVALHO, H.A., FIGUEIREDO, E. 2006. A Fraga dosCorvos (Macedo de Cavaleiros): un sitio de habitat do “Mundo Carrapatas” da primeira Idade do Bronzeem Trás-Os-Montes Oriental. Cadernos Terras Quentes, 2: 61-82.SUÁREZ, J. 1990. Botón e brazaletes da Urdiñeira (nº 45, 46, 47 do catálogo). En, Galicia No Tempo.Xunta de Galicia. Santiago de Compostela: 140-142.TABOADA CHIVITE, J. 1955. Carta arqueológica de la comarca de Verín. III Congreso Nacional de Ar-queología, Zaragoza, 1953. Diputación Provincial. Zaragoza: 333-352.TABOADA CHIVITE, J. 1973. Los moldes de Erosa. XII Congreso Nacional de Arqueología. Jaén,1971.Zaragoza: 227-235.TALLÓN, Mª,J., RODRíGUEZ, E., INFANTE, F. REY, JM. 2004. A Rede Galega do Patrimonio Arque-olóxico. Xunta de Galicia. Santiago de Compostela.VAZ DE FREITAS, I. 2006. Mercadores entre Portugal e Castela na Idade Media. Ediciones Trea. Gijón.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 40

Page 42: Issn 0871 - 4061

VVAA. 1996. El Tesoro de Troya. Museo Estatal de Artes Figurativas A.C. Pushkin. Ministerio de Culturade la Federación Rusa. Edit. Electa.

1 Para a presentación deste traballo temos que agradecer a súa axuda a moitas persoas: David Henández,de Arbotante S.A. fixo as recreacións virtuais do conxunto; Bárbara Armbruster (CNRS) ofreceunosfotos e aclaracións sobre a tecnoloxía dos brazaletes; Jesús Méndez e José Benito Rodríguez axudáronnoscoa microscopia electrónica no CACTI da Universidade de Vigo; Emilia Martínez Nieves recibiunos nasúa casa de Riós e respondeu ás nosas preguntas, aínda que “non lle tomamos nada”; Ana María VeigaRomero (Mara) do Museo Arqueolóxico de Ourense e o seu irmán Carlos foron o noso enlace en Paradae ofrecéronos o seu entusiasta apoio, como tamén fixeron Rosa Brañas, Ladislao Castro, Israel Barandela,Cristina Fernández e Víctor Vázquez. Tamén queremos agradecer a Joao Fonte o seu convite a participarnas xornadas de Montalegre, unha experiencia a repetir. Por último, ao propio Museo Arqueolóxico deOurense, que nos ofreceu todas as facilidades. Este traballo vai dedicado a Xosefa Gago Fernández e ásxentes da Urdiñeira.

2 28-02-1974 (Refs. CO-40 aberto e CO-41 pechado).

3 “Ninguno de los que se conservan en el Museo Arqueológico Nacional y en las colecciones particularesalcanzan mayor importancia histórica que éstos, pues todo en ellos hace suponer que se trata de joyasibéricas o preceltas, por analogía con las que Leite de Vasconcellos, Cartailhac, París y otros insignes ar-queológos, calificaron indubitablemente de tales” Macías (1921: 336).

4 Cuevillas (1925: 104; 1926: fig. 101) e Cuevillas e Bouza Brey (1929) inclúeno no Bronce II; BlancoFreijeiro (1957) supono de orixe hallstática; Monteagudo (1953: 302) considera a peza aberta coma unhapulseira de tiras similar á de Cícere, erro que recolle Hernando (1983) quen, ao igual que Ruíz-Gálvez(1984: 98), os considera dun momento tardío do Bronce Antigo.

5 Só o traballo publicado por Romero Cerdeiriña na revista NÓS en 1926, vai ter en conta o contextoorixinario do achado. Pertencente ao grupo fundador do Seminario de Estudos Galegos, debemos ter enconta a súa vinculación familiar coa zona, xa que era orixinario das Vendas da Barreira (Riós) .

6 A arqueoloxía ten reparado pouco sobre a propia idiosincrasia dos “tesouros”. O cualificativo “achadoillado” faise equivaler ao de recuperación “asistémica”. Nembargantes, salvo a utilización de detectoresde metais ou a pouco frecuente boa sorte, non se nos ocorre outro xeito de atopar estes elementos de cul-tura material que non sexa casual, porque os seus criterios de deposición levan implícito un patrón de in-visibilidade. Así pois, a arqueoloxía converteu o seu patrón de achado, o illamento, en algo que consideraresultado dunha mala práctica no mundo contemporáneo, negando deste xeito a integración desta infor-mación, salvo escasas tentativas.

7 O achado dunha xerra de ouro cun detector de metais en Ringlemere (Inglaterra) motivou o desenvolve-mento dun proxecto de investigación integral para o estudio deste achado e o seu contexto (Needham,Parfitt e Varndell, 2006).

8 Sinalado o lugar de difícil acceso, podemos ofrecer unhas coordinadas aproximadas. X: 645.358.84, Y:4653991.63 (Fuso 29) Lat. 42º 1’ 25.65’’ N; Lonx. 7º 14’ 39.51’’ W (http://sigpac.mapa.es/fega/visor/).

9 Algunhas destas lendas falan dun tesouro na Fraga dos Mouros, dunha Moura que se peitea ou que seatopou un coitelo de ouro. É de destacar a de "un home que estaba arrancando torgos cerca da Cova das

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 41

Page 43: Issn 0871 - 4061

Choyas viu vir cara el, chouchando pola ladeira abaixo, “un cubetiño que brilaba coma se fora de ouro” eque ó chegar ó medio de unha lameira que alí hai, enterrouse, facendo surtir un outísimo chorro de auga.Si o home non se asustase e lle votara enriba unha chaqueta de lá, o tesouro quedaría desencantado. Outrohome viu no mesmo sitio un grandísimo culebrón que era un tesouro encantado" (Romero, 1926:38). Pri-eto (1945-46: 121) recolle a dunha cidade destruída por unha invasión de formigas en Valmedo.

10 "Alí hai un tesouro! (na Fraga das Choias). E sabes que alí no alto dunha fraga, cando nace o sol,aquela fraga brilla! E se vai alí, estache unha colebra, unha culebra dibuxada! Se alguén vira eso xa otiñan ido a buscar, digo eu!" (Entrevista con Emilia Martínez Nieves, veciña de Riós).

11 Contan que o tesouro foi atopado pola pastora Xosefa Gago Fernández, que as pezas foron parar aopárroco de San Lucas de Parada, pola súa relación coa irmá desta nena, e que as vendeu pola suma de 150duros. A nena morreu pouco tempo despois e o seu pai (Silverio), dono da finca do achado, emigrou aArxentina. A familia só volveu para vender as súas propiedades.

12 Hai referencias á localización dun punzón de oso duns 5 cm. de longo con fiestra redonda na punta, ede feitío pouco acabado na Cova das Choias (Romero, 1926). Segundo Rivas e Rodríguez (2002: 69) “naladeira, á beira do prado do Delfín, atopouse fai anos un antigo puñal e algunhas moedas; hoxe non sesabe que foi delo”. Posibles mámoas en Valmedo, non lonxe de onde Taboada (1955: 335) fala dun cír-culo lítico.

13 Por exemplo a Pedra da Vidueira, preto de Navallo (Taboada, 1955: 336; Barandela e Lourenzo,2004).

14 Catálogo de Patrimonio Arqueológico (PXOM de A Gudiña. 2002); PXOM de Riós; Inventario deXacementos Arqueolóxicos depositado no Instituto de Conservación e Restauro de BB.CC., Xunta deGalicia.

15 Vid. Prieto, P. neste mesmo volume.

16 Posteriormente Cuevillas publica o “botón” en 1958 e descríbeo correctamente.

17 Microanálises realizadas mediante microscopia electrónica de varrido (SEM-EDS) no CACTI da Uni-versidade de Vigo cun equipo Philips XL30. http://webs.uvigo.es/cactiweb/s_microe/sem.pdf. En próxi-mos traballos trataremos estes aspectos en profundidade.

18 Creemos que López Cuevillas comete un erro cando a describe como “recubierto por una espesa pátinade carbonato, que no debió de dejar intacta ninguna porción de materia primitiva” (Cuevillas, 1958: 292),xa que si conserva unha boa parte do seu núcleo metálico baixo os productos de corrosión propios destasaliaxes de cobre.

19 Vid. Referencias en Pingel, 1992.

20O de Chaves está serrado, ao xeito dos de Villena, para os que Perea (2008) propón unha mutilación rit-ual.

21 Ruiz-Gálvez (984: 98) suxire que se trata do remate do pomo dun puñal.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 42

Page 44: Issn 0871 - 4061

22 Tamén a decoración de chevrons dun dos brazaletes ten sido vinculada na ourivería coa repre-sentacións dos raios solares.

23 ”...Pobre en documentos, pero muy bien estudiado por los historiadores del camino de Santiago, porser uno de los caminos secuandarios a Compostela, su trazado difiere muy poco de la actual carretera deVillacastín a Vigo… El camino sigue la carretera hasta el alto de Fumaces, y se desvía por unos kilómet-ros, hasta volver a entrar en ella, dejando a la izquierda los pueblos de Trasverea y Trasestrada. Sigue porla ermita de San Amaro, Touzas, Navallo, la Gudiña, siempre por la carretera, hasta desviarse…”. (Fer-reira, 1988: 181). Tamén en Vaz (2006: 46) e Rivas e Rodríguez (2002: 85).

24 Miliarios da Barxa (A Gudiña), A Esculqueira (A Mezquita), Tameirón (A Gudiña), Alberguería (OBolo) en relación coa vía romana chamada “Calzada das Minas” e a Vía XVI (Rivas e Rodríguez, 2002:79-80; 83).

25 Sobre este tema vid. González, F.J. Repensando el pasado: cambio social e iconografía guerrera en laEdad del Hierro del Noroeste de la Península Ibérica, neste mesmo volume.

26 “Existen dos galerías que tienen las bocas derrumbadas. Se dice que los moros sacaron oro de ellas yque lo cambiaron por leche, queso y trapos encarnados, a los que eran muy aficionados invitando altrueque con la frase: “Cristiana dame tu pobreza que yo te daré mi riqueza”. Vid. tamén Rivas e Ro-dríguez (2002: 93-96).

27 Na área de servicio de Erosa apréciase unha boa vista da serra da Urdiñeira. Podería constituír unpunto informativo que convide a posibles visitantes a coñecer a zona.

28 Foi o caso da reproducción do Tesouro das Silgadas para a Casa da Cultura de Caldas de Reis.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 43

Page 45: Issn 0871 - 4061
Page 46: Issn 0871 - 4061

no liMiAR dAs ‘ARtes’? - Questões eM toRno dAPeRMeABilidAde de FRonteiRAs teMPoRAis e esPAciAisdA ARte RuPestRe de tRás-os-Montes ocidentAlIN THE THRESHOLD OF ‘ARTS’? - ISSUES AROUND THEPERMEABILITY OF TIME AND SPACE FRONTIERS OF ROCK ART OFWESTERN TRÁS-OS-MONTES

Resumo: O Norte de Portugal vem sendo considerado por numerosos investigadorescomo uma área onde convergem duas tradições pré-históricas de ‘arte rupestre’ que se distribuemde forma diferenciada no espaço peninsular e permitem aferir conotações supra-regionais: ArteAtlântica e Arte Esquemática. Estes são conceitos generalistas que se fundamentam numa certahomogeneidade de índole morfo-tipológica mas que carecem de definição mais criteriosa noque respeita ao seu enquadramento no devir histórico das comunidades que marcaram simboli-camente a paisagem por meio da aposição de gravuras e pinturas sobre formações rochosas na-turais. Nesta perspectiva, Trás-os-Montes Ocidental configura uma área de transição (ou defronteira) entre as duas regiões de maior concentração de ocorrências pertencentes a ambas astradições: a Arte Atlântica é dominante no Noroeste português e Galiza e a Arte Esquemáticadominante em Trás-os-Montes Oriental, como prolongamento da realidade do interior peninsular.No entanto, o acervo documental actualmente disponível sobre a região ocidental de Trás-os-Montes, aportado por inúmeras referências esparsas e poucos estudos monográficos, revela aexistência de uma imensa diversidade temática e a presença de importantes descontinuidadesespacio-temporais que urge contextualizar. Pretende-se, assim, ensaiar uma primeira tentativade síntese sobre a realidade de Trás-os-Montes Ocidental, partindo de uma revisão bibliográficae de uma análise da evolução dos conhecimentos e enquadrando-a nas principais problemáticasque se colocam hoje à arte rupestre Holocénica do Norte de Portugal.

Palavras-chave: Norte de Portugal; Trás-os-Montes Ocidental; Arte rupestre.

Abstract: Northern Portugal has been considered by many researchers as an area of con-vergence of two Prehistoric rock-art traditions - Atlantic Art and Schematic Art- which echowider connections at an European scale. In North-western Iberia, their distribution seems to belargely complementary. Atlantic Art and Schematic Art are general concepts, grounded upon a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 45

Lara Bacelar Alves bOLSeira de PóS-dOutOrameNtO da FuNdaçãO Para a CiêNCia e teCNOLOGia.

uNiverSidade dO POrtO/uNiverSity OF SOutHamPtON/CeauCP-Cam (CeNtrOde eStudOS arQueOLóGiCOS daS uNiverSidadeS de COimbra e POrtO-CamPO

arQueOLóGiCO de mértOLa) /PavC; [email protected]ário Reis

ParQue arQueOLóGiCO dO vaLe dO Côa (PavC) /iGeSPar, i.P.; [email protected]

Page 47: Issn 0871 - 4061

certain similarity as far as motif designs are concerned, but lack a more accurate definition re-garding their integration in the historical development of the communities who symbolicallyshaped the landscape through painting or carving those images on rocks. Our study area, West-ern Trás-os-Montes, may be regarded as a ‘transition area’ between the two regions of greatestconcentration of occurrences of either tradition: Atlantic Art is dominant in North-west Portugaland Galicia (Spain) whereas Schematic Art paintings tend to concentrate in North-east Portugal,as an extension of the reality in the Iberian Central plateau- the ‘Meseta’. However, the rockart assemblage in Western Trás-os-Montes shows a substantial formal diversity, reflecting con-siderable spatial and chronological asymmetries, thus demanding a preliminary attempt of sys-tematisation. In addition, there are only a few monographic studies although site information isabundant but widespread. This paper aims to fulfil that task at some extent, starting from a lit-erature review and an analysis of the current state of knowledge, as a means to contextualisethe evidence within the wider debate on the post-glacial rock art in the North of Portugal.

Keywords: Northern Portugal; Western Trás-os-Montes; Rock art.

1. introduçãoDe tal modo é estruturante o Atlântico na leitura da Geografia do território

português que convencional e intuitivamente o percorremos no sentido poente-nascente. É, por isso, do senso comum conotar-se a expressão “Trás-os-Montes” com as terras que se estendem para além da muralha montanhosa queaparta a província “oceânica” litoral da extensão ocidental da peneplanície daMeseta (Lautensach, 1995). Contudo, sendo certo que essa asserção pode seraplicada à zona da Serra do Marão, no seu limite Sul, a verdade é que, tomandoem consideração os limites administrativos actuais, o ocidente de Trás-os-Montes coincide precisamente com a zona mediana dessa região geomorfoló-gica, composta por montanhas geralmente graníticas e conhecida por sistema“Galaico-Duriense». Este cordão montanhoso começa na fronteira das Astúriascom a Galiza e Leão, ruma no sentido SSW e atravessa a fronteira portuguesa(Lautensach, 1995: 13-14), inserindo-se em praticamente toda a sua extensãoaté ao Douro, dentro das fronteiras administrativas de Trás-os-Montes. Assimsendo, esta região não compreende apenas as terras para além dos Montes, mastambém os Montes propriamente ditos, absorvendo todas as propriedades destesistema montanhoso definidor de uma fronteira geográfica entre o PortugalAtlântico e o Portugal Continental. Por isso, convencionou-se dividir geogra-ficamente esta região em Trás-os-Montes Ocidental e Trás-os-Montes Oriental,o que se consubstanciou na separação administrativa entre os distritos de Bra-gança, a Leste, de planalto, e o de Vila Real, a Oeste, de montanha.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 46

Page 48: Issn 0871 - 4061

Este território de vincados contrastes no extremo Nordeste de Portugal,cedo adquiriu a reputação de região prodigamente fértil em vestígios de arterupestre (e.g. Alves, 1934). Uma das mais antigas referências escritas a umsítio com arte rupestre em Portugal surge na Corografia Portuguesa de Pe An-tónio Carvalho da Costa (1706-1712: 436) que menciona precisamente as pin-turas rupestres do Cachão da Rapa (Carrazeda de Ansiães)1. Mas é na obra deD. Jerónymo Contador de Argote, Memórias do Arcebispado de Braga e pos-teriormente em De antiquitatibus conventus bracaraugustani de 1738, que sedá à estampa uma belíssima gravura da autoria de António Debrie onde estãopatentes os motivos pintados na parede lisa dessa enorme fraga sobranceira aoRio Douro, no sítio então conhecido como ‘As Lettras’2 (Argote, 1732-1747,1738). A poucas centenas de metros a leste da confluência do Rio Tua com oDouro, pode considerar-se que o Cachão da Rapa se situa próximo da “área detransição” entre as regiões ocidental e oriental de Trás-os-Montes.

Os vestígios de arte rupestre parecem distribuir-se mais ou menos equi-tativamente por ambas as zonas. No entanto, do ponto de vista da investigaçãoarqueológica, esta abundância e a existência de vetusta bibliografia, não se tra-duziram necessariamente num continuum de investigação. É marcante o con-traste entre o elevado valor científico dos sítios e conjuntos de arte rupestre ea escassez de bons trabalhos de investigação, entre a riqueza das problemáticase a pobreza da informação disponível, entre os poucos sítios minimamente bemconhecidos e imensa quantidade de sítios virtualmente desconhecidos salvovagas referências toponímicas. Mas também é verdade que, no panorama na-cional, Trás-os-Montes Oriental foi, nas últimas duas décadas, palco de algunstrabalhos importantes com incidência em unidades de relevo específicas, comoa Serra de Passos (Sanches, 1997, 2001) e de campanhas de prospecções ar-queológicas em zonas até então pouco conhecidas sob o ponto de vista arqueo-lógico (e.g. Sanches e Santos, 1987, Sanches 1992) que permitiram um melhorconhecimento desta realidade. Porém, em Trás-os-Montes Ocidental, o statusquo não foi amplamente alterado desde a década de 1970, conforme veremosadiante.

Deve ressalvar-se que o principal objectivo deste trabalho não é aindatanto o de trazer novos sítios ou novas ideias à colação mas é, sobretudo, umaprimeira tentativa de sistematizar o complexo e multifacetado acervo existente.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 47

Page 49: Issn 0871 - 4061

Esta síntese, necessariamente embrionária, restringe-se à área de Trás-os-Montes Ocidental, circunscrevendo-se grosso modo pelas fronteiras do distritode Vila Real. É uma primeira leitura, com balizas cronológicas longas e fluidasque, por um lado, visa expor a realidade actual em termos dos diferentes tiposde sítios conhecidos e sua distribuição espacial e, por outro lado, procura ul-trapassar a ambiguidade dos pontos em mapas e perspectivar, à escala de umaregião que é, a todos os níveis central, de algumas problemáticas que norteiama investigação da arte holocénica no Noroeste Peninsular (e do Norte de Por-tugal, em particular). Procurar-se-á incidir nova luz sobre este acervo de modoa contribuir para a fundação de uma plataforma analítica e interpretativa quemotive e incentive futuros estudos.

2. Breve historiografia da investigação da arte rupestre de trás-os-Montes ocidental

As primeiras referências a sítios com arte rupestre em Trás-os-MontesOcidental surgem em finais do século XIX. Este primeiro grupo de escritos re-fere-se maioritariamente não a gravuras em afloramentos rochosos mas sobreoutros tipos de suportes, sobretudo provenientes de contextos megalíticos, em-bora apareçam já em 1908 as primeiras referências às “pedras castrejas” deAlijó (Fortes, 1908). Deste conjunto primevo destaca-se o espólio de pedrasgravadas das antas do Alvão (Rodrigues, 1895; Brenha, 1899-1903) que tantanotoriedade irá atingir nos princípios do século XX, até serem consideradasfalsificações e desaparecerem envergonhadamente da bibliografia arqueológicanacional. Não se conhecem hoje muito claramente os contornos da descobertae da polémica da falsificação, mas dentro do abundante conjunto de pequenasesculturas e pedras com peculiares motivos gravados, algumas poderão ser ge-nuínas (quem sabe se não terão inspirado os eventuais falsificadores, ao acei-tarmos esta tese!), designadamente um bloco granítico repleto de covinhas cujodesenho foi publicado por Leite de Vasconcelos (1897: 359). Será este mesmoautor o primeiro a dar notícia da existência de sítios com gravuras rupestresem afloramentos rochosos na região, referindo-se, nomeadamente, ao OuteiroMachado, em Chaves (1917: 166). A partir daqui começam a surgir, com maiorfrequência, publicações sobre arte rupestre naquela região, acompanhando aliásuma tendência nacional. Porém, a área de Trás-os-Montes Ocidental não me-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 48

Page 50: Issn 0871 - 4061

receu algo equivalente ao hercúleo labor de inventariação que o abade de Baçalrealizou no distrito de Bragança (Alves, 1934). As referências surgem de va-riadas fontes, mas será o próprio abade de Baçal, aquando da sua estadia comopároco em Mairos (Chaves) que revela, pela primeira vez, um sítio famoso nabibliografia, o Buraco do Jac-Mi-Jorge, no qual assinala a presença de “pinturasmegalíticas”, sem mais detalhes3 (Alves, 1931). Saliente-se também que foinesta altura dado à estampa o estudo do abrigo com pinturas rupestres da PalaPinta (Carlão, Alijó) (Santos Júnior, 1933). Assim, com o acumular de infor-mações, surgem as primeiras sínteses sobre a arte rupestre portuguesa, ondeTrás-os-Montes, a par do Entre-Douro-e-Minho, assume lugar de destaque.Evidenciam-se em 1929 os trabalhos de Mendes Corrêa (1929) e também deRui Serpa Pinto (1929) que serão grandemente ampliados pelo inventário queSantos Júnior elabora no âmbito da sua contribuição ao Congresso do MundoPortuguês (Santos Júnior, 1940).

Este panorama não sofrerá grandes alterações durante mais algumas de-zenas de anos. Diversas referências escritas irão aparecendo, em quantidadenão muito elevada e, em regra, de baixo teor informativo. Contudo, deve real-çar-se, no deserto de ideias, o artigo de Santos Júnior sobre o Outeiro Machado(1978), que oferece uma extensa descrição e o registo gráfico detalhado dasgravuras, uma clara excepção no panorama geral.

Com este artigo assinala-se simbolicamente também o fim de uma época,a da Arqueologia do Estado Novo, e o surgir de uma nova Era na Arqueologiaportuguesa. À semelhança de tantos outros aspectos da sociedade portuguesa,a Revolução de Abril de 1974 irá possibilitar a reorganização da Arqueologiaa nível estatal que aconteceu a par de uma profunda mudança epistemológica.Assiste-se a um aumento do número de praticantes e uma maior pujança da in-vestigação no meio académico, abrindo-se caminho a uma profissionalizaçãoda arqueologia, em contraste com o amadorismo até aí prevalente. Na décadade 1980, este panorama consolida-se com repercussões qualitativas que se re-flectem designadamente na bibliografia da arte rupestre de Trás-os-MontesOcidental, com o aparecimento de artigos, ainda que em número reduzido, fun-damentados cientificamente sob o ponto de vista teórico e técnico entre osquais se destacam os trabalhos de António Martinho Baptista sobre a Arte Ru-pestre do Norte de Portugal, que ainda hoje marca a reflexão teórica sobre o

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 49

Page 51: Issn 0871 - 4061

tema (1983-84, 1986). É certo que as referências escritas de teor mais amado-rista, ou seja, as notícias breves sobre sítios pontuais tão características da faseanterior, não desaparecem subitamente. Pelo contrário, aumentam, em parti-cular na região de Chaves, a qual, por esta razão, se irá destacar na quantidadede sítios inventariados, em grande medida pela prolífica actividade de JoãoBaptista Martins, descobridor ou revelador de numerosos sítios arqueológicos,e em particular de arte rupestre, publicados em bem mais de uma vintena detextos na imprensa regional (e.g. Martins, 1980; 1982; 1995, entre outros).

A segunda metade dos anos 90 do século XX e, particularmente, o ad-vento do século XXI, trazem novidades acrescidas, pois surgem em força novostipos de trabalhos arqueológicos. Por um lado, os projectos de investigação pa-trocinados pelo Estado, inscritos no âmbito do Plano Nacional de TrabalhosArqueológicos (PNTA), ainda que estes em Trás-os-Montes sejam em númeroreduzido face ao resto do país. Por outro, o advento de trabalhos de prospecçãoarqueológica em áreas até então pouco afloradas no âmbito dos Estudos de Im-pacte Ambiental (EIA). Por fim, a actividade da Extensão Territorial do Insti-tuto Português de Arqueologia (IPA) em Macedo de Cavaleiros, que leva acabo um trabalho de inventariação sistemática dos sítios arqueológicos de Trás-os-Montes. A conjugação das acções no terreno implementadas nos três âmbi-tos referidos foi responsável por um incremento muitíssimo importante naquantidade de sítios de arte rupestre inventariados, tanto no que concerne àreavaliação daqueles previamente conhecidos, como à revelação de novos sí-tios, muitos destes ainda inéditos, mas cujas informações mais relevantes seencontram em grande medida inscritas na base de dados dos sítios arqueológi-cos portugueses, designada por «Endovélico».

3. A evolução recente dos conhecimentos: alguns números… Assistimos, então, na última década, a um incremento notável da siste-

matização de informações sobre sítios arqueológicos em Portugal, incluindo aarte rupestre, como consequência da reestruturação da Arqueologia nacional,dos sectores público e privado, em meados da década de 1990, o que tambémteve as suas repercussões em territórios mais marginais ao ímpeto da pesquisatradicional, a exemplo da região visada nesta síntese. Por isso, se considera seragora o momento de fazer um ponto da situação relativamente à evolução e ao

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 50

Page 52: Issn 0871 - 4061

estado actual dos conhecimentos, partindo da leitura quantitativa dos dadospara uma aferição qualitativa do acervo. Mas, antes de mais, é necessário darconta dos limites e limitações desta análise de carácter preliminar mas que seespera ser um contributo para uma investigação futura que terá de passar sem-pre pela reavaliação dos sítios no terreno.

Assim, como exercício prévio à elaboração deste trabalho, procedeu-se àinventariação dos sítios com arte rupestre conhecidos na área em apreço, tendosido a recolha de informação sustentada, essencialmente, em dois tipos defonte: a bibliografia e os inventários patrimoniais. Este processo permitiu-nosalcançar, no final do ano de 2008, um total de 209 registos no distrito de VilaReal4.

Porém, são ainda muitos os factores impeditivos de um rigoroso trata-mento estatístico dos dados. Convém ter em conta o principal problema de-corrente da análise das fontes, sobretudo no que concerne à natureza muitoeclética das referências publicadas, o que se vai reflectir na qualidade e a quan-tidade de informação disponível, que é muitíssimo variável. Na verdade, agrande maioria dos sítios carece de uma publicação científica e há uma exces-siva percentagem de ocorrências sobre as quais nada mais se sabe para alémde uma vaga referência toponímica ou uma indicação genérica da sua locali-zação. Esta dissimetria do grau de informação também não permite, nesta faseembrionária da inventariação, discriminar entre sítios com arte rupestre isola-dos e agrupados, nem tampouco individualizar rochas ou achados que carac-terizam cada sítio/conjunto. Contudo, há já alguns casos, excepcionais, em queisso já sucede, como sejam os dez registos da Fonte Coberta, em Alijó, que in-cluem a anta com pinturas e gravuras e mais nove rochas, cada uma registadae inventariada de per si. Na face oposta temos, por exemplo, o sítio do Tripe,em Chaves, inventariado como um sítio mas que se sabe ser composto porcerca de trinta rochas historiadas (Baptista, 1983-84: 75). É, aliás, o sítio daregião com o maior número de superfícies gravadas conhecidas5.

Mas vejamos, pois, qual o contributo de cada um dos âmbitos de investi-gação acima mencionados para a constituição do acervo de que actualmentedispomos.

A principal fonte para o inventário de sítios de arte rupestre é, como seriade esperar, a bibliografia, responsável por 107 dos 209 sítios registados6. Ao

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 51

Page 53: Issn 0871 - 4061

todo, contabilizaram-se 128 diferentes referências escritas, incluindo artigoscientíficos em revistas da especialidade, um número apreciável de artigos naimprensa regional, com grande destaque para a zona de Chaves e algumas,poucas, monografias de sítio.

Os projectos de investigação plurianuais em Trás-os-Montes Ocidental,com uma incidência directa ou indirecta sobre “arte rupestre” são relativamenteescassos. Desde 1997, com a constituição do Plano Nacional de Trabalhos Ar-queológicos, contabilizou-se um total de sete projectos que permitiram a di-vulgação de 30 novos sítios. Destes projectos, a maioria versava sobre outrastemáticas e só acessoriamente trataram a arte rupestre, sendo no entanto dedestacar descobertas importantes, como as rochas insculturadas do Crastoeiroe de Campelo, em Mondim de Basto (Dinis, 2001), as do Campo de Caparinho,em Montalegre (e.g. Bettencourt et al., 2004) ou os penedos com gravuras ru-pestres associadas a monumentos megalíticos e as identificadas no interior dealgumas destas estruturas, na região entre o Corgo e o Tua (e.g. Sanches eNunes, 2005; Nunes, 2003, Sanches et al., 2005). Apenas dois projectos tinhamcomo objectivo central o estudo a arte rupestre, um deles, da responsabilidadede Maria de Jesus Sanches, versando sobre o estudo e valorização dos dois sí-tios da Botelhinha, em Alijó, sendo aliás responsável pela identificação de Bo-telhinha 2. O segundo mantém-se como o único projecto de abrangênciaregional dedicado exclusivamente a manifestações de arte rupestre, visando aregião de Valpaços, da responsabilidade do arqueólogo José Manuel FernandesRolão. Deste resultaram trabalhos sobre o importante sítio com Arte Atlânticado Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira, na aldeia de Lampaça, freguesia deBouçoais, ou das pinturas e gravuras rupestres do sítio de As Portas, no valedo rio Curros, em Carrazedo de Montenegro, entre outros, embora, tanto quantosabemos, os resultados não tenham sido ainda publicados.

Na última década e meia, foram realizados um número considerável deEstudos de Impacte Ambiental em Trás-os-Montes ainda que bastante menosque noutras regiões do pais. Porém, apenas onze destes aportaram informaçõessobre arte rupestre tendo sido responsáveis pela descoberta de 26 novos sítios.Estes são, na sua maioria, rochas ou pedras soltas com covinhas, destacando-se, contudo, as descobertas efectuadas na foz do Tua, num EIA da responsabi-lidade de Francisco Henriques e João Caninas. Referem-se a dois abrigos sob

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 52

Page 54: Issn 0871 - 4061

rocha, um dos quais ostenta pinturas rupestres de cariz esquemático e o outroguarda um conjunto apreciável de covinhas e “unhadas do diabo”. Este últimoé mesmo o único sítio identificado até agora em Trás-os-Montes Ocidental,embora sobre a fronteira oriental, com este tipo de gravuras tão peculiares (sul-cos lineares com perfil em V obtidos por abrasão, popularmente conhecidascomo “unhadas do diabo” dada a sua semelhança a marcas de garras de ani-mais) é tão bem conhecidas na região do Alto Douro português. Este sítio temum interesse acrescido porque as covinhas surgem tanto sobrepostas, como in-frapostas, às “unhadas do diabo”.

Uma das actividades fundamentais da Extensão de Macedo de Cavaleirosdo IPA7 foi o registo e inventariação sistemática dos sítios arqueológicos trans-montanos, desde logo os já conhecidos mas também sítios inéditos. No respei-tante à arte rupestre, a Extensão foi responsável, desde a sua criação, peladivulgação de 44 novos sítios8, entre os quais se destacam o achado de setedas nove rochas actualmente conhecidas em torno da Anta da Fonte Coberta(Alijó)9; os sítios do Cabeço, Cruz do Coro, Cruz de Cepos e Tojais (dos quaisse tratará com maior detalhe adiante) e, mais recentemente, as duas rochas doAlto do Lombo do Malho (Valpaços), a Pedra da Póvoa (Ribeira de Pena)10,ou as duas estelas do Alto da Lomba (Vila Real).

É, sem dúvida, notável verificar que o número de registos de sítios comarte rupestre em Trás-os-Montes Ocidental quase duplicou com as acções deprospecção arqueológica realizadas no âmbito dos projectos de investigaçãoplurianuais inscritos nos PNTAs, dos EIAs e daquelas decorrentes das compe-tências do IPA (Quadro 1). Tendo em conta que a maior percentagem dos re-gistos provenientes de fontes bibliográficas se referem, na sua grande maioria,a publicações com mais de duas décadas11, torna-se ainda mais evidente o subs-tancial crescimento do acervo num espaço de tempo relativamente curto quese pode balizar grosso modo entre 1997 e 2008. Porém, o Quadro 1 mostratambém o quão reduzido é o número de publicações científicas resultantes deprojectos de investigação arqueológica, um problema a que aludimos anterior-mente. Mas, no computo geral, parecem estar hoje reunidas todas as condiçõesnecessárias ao desenvolvimento de novos projectos nesta área geográfica dadoo enorme interesse científico do acervo e das problemáticas passíveis de seremtratadas pelos investigadores, e que este trabalho procurará apenas aflorar.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 53

Page 55: Issn 0871 - 4061

Quadro 1 - O contributo das principais fontes de informação sobre sítios com arte rupestre em Trás-

os-Montes Ocidental

Porém, é ainda muito díspar o conhecimento efectivo que existe sobreestes sítios. A informação coligida permite-nos concluir que há 145 ocorrênciaspara as quais se possuem indicações suficientemente rigorosas quanto à sualocalização12. Contudo, se este dado promete uma maior facilidade futura noestudo da região, não reflecte necessariamente um avanço qualitativo no co-nhecimento dos sítios. O Outeiro do Salto, Outeiro da Moeda, rochas vizinhasdo Tripe, em Mairos (Chaves) ou Lamelas (Ribeira de Pena) são exemplos desítios referidos amiúde na bibliografia e cuja relevância para o estudos das pro-blemáticas da Arte Rupestre do Norte de Portugal é indubitável mas que aindanão merecerem um estudo circunstanciado, nomeadamente o registo integraldas superfícies gravadas. Contabilizaram-se apenas 31 sítios que cumprem estacondição13.

A verdade é que o acervo encerra vestígios de carácter quase tão diversoquanto o são as temáticas que ele permite abordar. É, por isso, passível de múl-tiplos tratamentos que podem ser feitos quer no sentido do desenvolvimentode hipóteses interpretativas propostas pelos diversos autores que se têm debru-çado sobre a Arte Pré e Proto-histórica do Noroeste peninsular, quer na inves-tigação de novas problemáticas.

No que respeita às categorias dos sítios inventariados (Fig. 1) e caracte-rísticas morfo-tipológicas dos suportes da arte rupestre no distrito de Vila Realverificamos, não surpreendentemente, que as gravuras e pinturas rupestres emafloramentos rochosos são predominantes, constituindo 174 dos 209 registos.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 54

Page 56: Issn 0871 - 4061

Embora se trate de uma região essencialmente granítica, é entrecortada porgrandes extensões de xisto pontuadas por quartzitos e grauvaques, o que nãoexplica a manifesta disparidade que actualmente se observa no que respeita aosubstrato geológico da arte rupestre. Na realidade, contabilizam-se 190 registosem suporte granítico, contra apenas treze em xisto e quatro em quartzito. Estaassimetria é acentuada pelo vazio de informação que existe sobre toda a mar-gem direita do Douro entre Mesão Frio e Alijó, uma zona xistosa ocupada in-tensamente por vinhedos em socalcos artificiais cuja construção pode ter sidoresponsável pela destruição de muitos maciços rochosos. É, aliás, nesta zonaque se situam os três concelhos da região onde, até ao momento, não se registaum só sítio de arte rupestre: Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Pe-naguião.

No acervo em estudo surgem 16 registos de gravuras ou pinturas asso-ciadas a monumentos megalíticos, considerando-se aqui tanto os monólitosque formam a estrutura dos monumentos, como lajes ou blocos de rocha soltosencontrados no seu interior, ou seja, que de algum modo formam parte do con-texto arqueológico dos monumentos14. Registam-se igualmente nove sítios in-tegráveis na categoria da escultura ou estatuária Pré e Proto-histórica, umnúmero bastante apreciável para esta região. Algumas são já conhecidas delonga data, como as estátuas-menires de Chaves (Jorge e Almeida, 1980) eFaiões (Almeida e Jorge, 1979), a ‘estátua-estela’ do Marco (Vila Pouca deAguiar) (Lopes et al, 1994) ou a da Cruz de Cepos, embora esta não tenha sidoreconhecida como tal na primeira referência escrita a este monólito (Barreiros,1920: 71). Outras foram recentemente descobertas, caso do grande menir daPedra d’Anta (Ribeira de Pena) com duas cruzes (de termo?) gravadas, as duasestátuas do Alto da Lomba15 e a estela dos Tojais, dada agora à estampa. Porfim, estão registados dez lajes, monólitos ou pedras avulsas com gravuras, seisdos quais ostentam motivos ornamentais da chamada “arte castreja” cuja áreade maior concentração é o Entre-Douro-e-Minho, e as restantes são essencial-mente pedras com covinhas, como a Pedra do Castelo, em Jou (Murça) (San-ches, 2000) embora se inclua aqui também o marco fronteiriço de Xodreiros(Vila Pouca de Aguiar) que ostenta cruzes e inscrições.

Esta caracterização sumária da arte rupestre de Trás-os-Montes Ocidentalpermite-nos esboçar, ainda que em linhas gerais, algumas considerações sobre

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 55

Page 57: Issn 0871 - 4061

o seu longo devir mas, por ora, afastamo-nos conscientemente da determinaçãode uma sequência diacrónica rígida de manifestações que são, por natureza,fluidas no tempo. Procuraremos, contudo, traçar uma imagem ténue do queterá sido o papel das diversas “artes” na construção da paisagem, a forma comointeragem entre si, as convergências e divergências de tradições artísticas notempo e no espaço. Contemplam-se as grafias impressas em formações rocho-sas que moldam a superfície da terra, assim como as arquitecturas e esculturasque nela se erguem de forma mais ou menos visível, também elas recobertasou não uma película simbólica, e que criam entre si relações de ambivalênciae/ou complementaridade sobre e sob a ‘pele’ da Terra.

4. A invenção da tradição?16 - As primeiras manifestações artísticasdo pós-glaciar em trás-os-Montes ocidental

Dada a ausência, até ao momento, de vestígios de arte Paleolítica nestaregião, e mantendo-se ainda por resolver a questão do ‘grande hiato’ relativa-mente aos primeiros milénios do Holoceno, os mais antigos vestígios de arterupestre surgem, nesta região, no prolongamento dos dois milénios nos quaisa Arqueologia consegue detectar indícios materiais da passagem de comuni-dades essencialmente caçadoras e recolectoras para comunidades em que aprodução de alimentos começa a ter algum peso no seu modus vivendi (e.g.Sanches, 1997; Jorge, 1999). Parece ser então no contexto da emergência dearquitecturas pétreas monumentais e da criação de ‘santuários’ em abrigos ro-chosos que surgem as mais antigas manifestações de arte rupestre na região.

É importante salientar à partida que, embora não se registe um númerotão elevado, como em regiões limítrofes, de sítios com pinturas/gravuras nointerior das construções dolménicas, por um lado, ou de abrigos com pinturasrupestres, por outro, a informação disponível permite estabelecer relações deproximidade em termos estilísticos entre a iconografia presente nestas duas ca-tegorias de sítios que terão sido coevas pelo menos ao longo do IVº milénioa.C. Elas têm em comum a circunstância de constituírem ou criarem espaçosque reproduzem ambientes sub-térreos, em recessos envolvidos em pedra, deacesso limitado a um restrito número de pessoas, desde logo pela sua exigui-dade física (e.g. Sanches, 2001; Alves 2002). Estes espaços, construídos pormão humana ou naturais, foram intencionalmente imbuídos de carga simbólica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 56

Page 58: Issn 0871 - 4061

mediante a adição de signos visuais sobre a superfície rochosa que materiali-zaram o seu significado de forma duradoura.

Mas nem todos os monumentos megalíticos ostentam decoração plásticade natureza antrópica (o simbolismo poderia advir das propriedade e signifi-cado da pedra eleita para a sua edificação) e supõe-se que nem todos os ‘san-tuários’ em abrigos rochosos terão sido profusamente pintados ou gravados.Relativamente aos primeiros, há evidências representativas de cada uma dascategorias que comummente se associam às “artes” megalíticas, se conside-rarmos, para além da decoração plástica, a arquitectura e a escultura.

Devemos reflectir igual-mente sobre as formas pelasquais estas “artes” se articulamentre si na edificação de paisa-gens simbólicas. A este respeitopressentem-se, desde logo, algu-mas nuances do ‘megalitismo’em Trás-os-Montes Ocidentalque reflectem o seu carácter de«zona de transição» cultural eideológica desde tempos recua-dos. Há muito que se vem refe-rindo que é característica do‘megalitismo’ do litoral Norte atendência para a concentração deum número substancial de mo-numentos megalíticos, distribuídos de forma a moldar, com a sua presença eem densas aglomerações, os topos planálticos e chãs das serranias voltadas aoanfiteatro Atlântico. As necrópoles com maior número de monumentos locali-zam-se em Montalegre, Alvão e Aboboreira, esta já fora da nossa área de estudo(e.g. Jorge 1983/84). Por oposição, o desenvolvimento das prospecções naTerra Quente Transmontana (e.g. Sanches, 1987, 1992) parece atestar a escas-sez das grandes necrópoles dolménicas e a menor densidade de monumentosnaquelas conhecidas (e.g. Cruz, 1985), contudo, até à passagem do milénio,esta questão não mereceu uma estudo aprofundado. A investigação estava mais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 57

Figura 1. Mapa de distribuição dos sítios com arte rupes-tre em Trás-os-Montes Ocidental

Page 59: Issn 0871 - 4061

centrada nas características morfo-tipológicas das estruturas e dos contextosartefactuais, e acabou por valorizar, num quadro tendencialmente uniformiza-dor, aspectos gerais sobre arquitectura e espólio, impedindo a formalização deuma certa homogeneidade do megalitismo no Norte de Portugal. Em anos re-centes, o estudo da organização dos monumentos megalíticos na paisagemabriu novas perspectivas de análise, e ocorreu em paralelo com a valorizaçãode dicotomias estruturais entre o Ocidente e o Oriente português a norte doDouro e dos fenómenos de convergência nas regiões de fronteira. Os trabalhosque inauguram, de forma consubstanciada, esta leitura centram-se na zona li-minar entre o ‘megalitismo de planalto’ de Trás-os-Montes Ocidental e o dabacia depressionária de Mirandela (Sanches e Nunes, 2005). Partindo da cons-tatação da diferente intensidade com que os monumentos megalíticos marcama paisagem nas regiões ocidental e oriental de Trás-os-Montes, M. J. Sanchese S. A. Nunes procederam a uma análise, em três áreas de estudo, das relaçõesvisuais e topográficas dos monumentos nas necrópoles e da implantação destasúltimas relativamente aos contextos arqueológicos e formas do espaço naturalnas áreas envolventes (2005). Assertivamente se conclui que, entre as necró-poles estudadas, aquelas que se localizam no rebordo dos grandes planaltosgraníticos do sistema montanhoso Galaico-duriense, caso da do Alto das Ma-dorras-Pópulo, debruçada sobre a bacia de Mirandela e da de Sabrosa, nas fal-das meridionais da Serra da Falperra, assumem, em grande medida, e apesarda diversidade de situações observadas, as características daquelas situadasmais para o litoral, como são exemplo as necrópoles do Alvão, ou seja, con-templam uma grande densidade de monumentos, próximos e intervisíveis entresi, circunscritas pelas formas do revelo (Sanches e Nunes, 2005). Por oposição,sobre os relevos de xisto da bacia de Mirandela, à imagem dos núcleos do Cas-telo e Pedreira, surgem tendencialmente monumentos isolados, as necrópolessão mais exíguas (geralmente compostas por três ou quatro monumentos), eimplantam-se em pequenas colinas no interior de zonas deprimidas, revelandouma organização de tipo exógeno, cuja unidade estrutural pode ser apenas per-cepcionada desde o exterior (Sanches e Nunes, 2005).

Segundo as mesmas autoras, nesta região transmontana, «o “percurso” li-toral-interior é caracterizado por uma redução paulatina da tradição de marca-ção do território dominantemente pela construção de mamoas megalíticas ou

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 58

Page 60: Issn 0871 - 4061

somente mamoas (…)» (2005: 61). Esta afirmação reveste-se de especial inte-resse para consubstanciar algumas propostas que vêm sendo aventadas sobrea convergência, em Trás-os-Montes Ocidental, de distintas formas de inscriçãoda paisagem por meio das arquitecturas monumentais do IVº milénio a.C e quese poderá relacionar também, a uma escala de análise mais ampla, com a con-vergência de duas tradições artísticas Pré-históricas cujas áreas de distribuiçãopreferencial se situam a Oeste e a Leste do sistema montanhoso Galaico-du-riense e do seu prolongamento meridional até ao Vouga.

Mas vejamos os contornos que assume o conjunto das manifestações grá-ficas passíveis de serem associadas à construção daquelas “paisagens megalíti-cas” e o que revela a sua distribuição sobre esse percurso litoral-interior.Tomamos como representativas de um megalitismo mais característico da fa-chada Atlântica do Noroeste Ibérico, as necrópoles das alturas do Alvão. Dis-seminados pelos suaves relevos graníticos do planalto superior e das rechãsocidentais e setentrionais, os monumentos surgem em concentrações mais oumenos vastas formando mais de duas dezenas de registos (Cruz, 1985). Algunsdeles são intervisíveis entre si, caso da mamoa do Alto do Catorino que dominado cume de uma elevação proeminente o núcleo de Chã de Arcas (e.g. Jorge,1983/84: 38) onde foram, em finais do século XIX contabilizadas 21 mamoas(Rodrigues, 1895). Malgrado a inexistência de trabalhos arqueológicos secun-dados por metodologias de investigação modernas e rigorosas17 é (ainda) lícitoafirmar que toda esta vasta necrópole do Alvão está isenta de manifestaçõesiconográficas sobre a superfície dos monólitos que dão forma aos numerososmonumentos sob tumulus18, e mesmo sobre os quatro menires já identificados19,além do desconhecimento da existência de gravuras em formações rochosas aoar livre na área envolvente dos monumentos. Neste contexto, é excepcional adescoberta de uma laje de granito com covinhas num dos monumentos do grupode Frieiro20 exumada aquando das intervenções dos Padres José Brenha e Rap-hael Rodrigues, no Inverno de 1894 (Rodrigues, 1895: 349; Brenha, 1899-1903:698). Alguns meses volvidos, Leite de Vasconcelos, numa visita a Vila Poucade Aguiar, examinou a pedra à qual dedicará duas páginas nas Religiões da Lu-sitânia por as circunstâncias da sua descoberta lhe ter suscitado manifesto inte-resse21 publicando um desenho obtido sobre fotografia acompanhado de umadescrição detalhada da laje (1897: 358-360; Fig. 75). Sabemos, desta forma,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 59

Page 61: Issn 0871 - 4061

que a pedra mede 1,10m de comprimento e 0,84-0,55 m de largura, ostenta 32covinhas22 com dimensões entre os 0,8 e os 0,2cms algumas das quais unidaspor sulcos e que terá sido encontrada à entrada da câmara, à altura da base dosesteios, a 1m de profundidade, assente no solo natural e «com toda a superfíciecoberta de uma camada de cinza, misturada com ossos humanos (…)» (Vas-concelos, 1897: 359). O P.e Raphael Rodrigues afirma que aquela camada so-breposta à laje estava selada no interior da câmara e que foram exumados, dointerior das covinhas maiores, ao centro, ossos carbonizados misturados comcinza e carvão vegetal (1895; cf. Brenha, 1899-1903: 706).

Independentemente da cronologia da laje de Frieiro23 e do facto de tersido gravada in loco, reaproveitada ou exumada de um afloramento previa-mente gravado, a verdade é que não é estranha a associação das gravuras decovinhas aos monumentos megalíticos do Alvão. Nas faldas ocidentais daSerra, na necrópole de Gevancas (Bilhó, Mondim de Basto) surgem penedoscujas superfícies ostentam alinhamentos de covinhas e um bloco granítico comidênticas gravuras foi detectado na área envolvente dos monumentos de Chãdo Prado24 (Alvadia, Ribeira de Pena). A Norte, no sopé do Castro do Lesenho,surgem duas rochas com gravuras desta natureza, sobranceiras à área de im-plantação das duas mamoas do Reigal25. Entre a Serra do Larouco e a Veiga deChaves, recentes investigações no Campo de Caparinho (Vilar de Perdizes,Montalegre) permitiram identificar, entre outros vestígios, uma rocha com di-versas covinhas, ora alinhadas, ora unidas por sulcos, distribuídas entre de-pressões circulares de origem natural, apenas 15m a Noroeste de um pequenomonumento sob tumulus (túmulo 1) datado da primeira metade do IVº milénioAC (Bettencourt, 2006; Bettencourt e Dinis, 2007).

Voltando às serranias mais meridionais, mas agora a nascente do rioCorgo, assinala-se no planalto da Serra da Padrela, a presença de quatro covi-nhas sobre uma superfície granítica exposta poucos metros a Sul da anta doVale da Natoda26 (S. Tomé do Castelo, Vila Real). Verifica-se uma situação si-milar na necrópole do Alto do Lombo do Malho (Curros, Valpaços), localizadana vertente oriental da Serra da Padrela, numa zona de trânsito entre as alturasserranas e a bacia de Mirandela. Um grupo de quatro pequenas mamoas27 queocupam o topo de um esporão que se estende em sucessivas lombas sobre ovale encaixado do Rio Curros, dominando amplamente a paisagem recortada

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 60

Page 62: Issn 0871 - 4061

por elevações de xisto-quartzítico e o planalto, a oeste. Dois monumentos queconservam esteios e parte dos tumuli implantam-se no topo da colina mais ele-vada e avançada do esporão. Junto ao seu rebordo setentrional, a poucos metrosdas mamoas, ergue-se um afloramento que exibe, na superfície superior apla-nada e ligeiramente inclinada na direcção dos monumentos, um conjunto de 8covinhas com diâmetros e profundidades diversos e sulcos. (Fig. 2).

Neste esporão são relativamente escassas as massas rochosas que irrompemdo terreno, contudo, na colina a Sul do conjunto anterior, afloram dois pequenosmaciços de xisto quartzítico composto por um caos de grandes blocos de coravermelhada com manchas ferrosas e sulcados por filões lineares de quartzo.Num destes maciços, a poucos metros dos vestígios de uma outra mamoa dogrupo, foram identificadas três painéis com gravuras rupestres28: um círculo sim-ples com 10cms de diâmetro, um arco de círculo e uma composição complexaconstituída por dois círculos concêntricos envolvidos externamente por um anelincompleto e ladeado por linhas sinuosas, figura esta muito toscamente talhadana face subvertical de um painel encimado por uma covinha.

A associação recorrente de rochas com covinhas formando composiçõessimples e ocasionalmente unidas por sulcos, com monumentos megalíticos (algoque não é estranho ao megalitismo do litoral norte) leva-nos inevitavelmente alançar um novo olhar sobre a vasta parcela do planalto das Chãs, em Alijó, ondeforam identificadas essas típicas concavidades circulares em quase uma dezenade penedos graníticos (embora alguns contenham apenas um registo), todos elessituados a Sul e Sudeste da Anta da Fonte Coberta e, portanto, dentro do seucampo visual. Este monumento de grandes dimensões que se ergue, isolado, norebordo do planalto, é ainda hoje o ponto focalizador do olhar numa paisagemchã onde apenas os batólitos graníticos sobressaem, conferindo-lhe alguma tex-tura. Trata-se de um dólmen clássico, com câmara poligonal e “vestíbulo” dife-renciado, “corredor intratumular” e átrio (Carvalho e Gomes, 2000). Devesalientar-se que a presença deste tipo de monumento com antecâmara de tipo“vestibular”, com escassos exemplares a Noroeste, é relativamente frequenteno megalitismo da zona de Viseu (Carvalho e Gomes, 2000), ocorrendo tambémna Casa da Moura (Zedes, Carrazeda de Ansiães) que, tal como este, ostentapinturas esquemáticas. Mas a Anta da Fonte Coberta tem uma particularidadeintrigante: o “vestíbulo” e, no seu prolongamento, o “corredor intratumular”

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 61

Page 63: Issn 0871 - 4061

encontram-se descentrados relativamente a um eixo longitudinal aferido per-pendicularmente à laje de cabeceira. O vestíbulo orienta-se marcadamente paraLeste, enquanto a câmara se abre a Sudeste. Atendendo a este desvio, um ob-servador posicionado na área vestibular do monumentos tem, atrás de si, o únicoesteio da câmara que conserva vestígios de pinturas e, voltando-se para o exte-rior, o seu olhar recai frontalmente sobre uma rocha soerguida de perfil vaga-mente trapezoidal (Fig. 3). Aproximando-nos dela, podemos verificar que otopo aplanado do penedo, elevado c. de 1,60m do solo, ostenta cerca de 32 con-cavidades circulares e oblongas29. No seio da composição, entre as covinhas,podem observar-se pelo menos dois motivos definidos por um círculo rebaixadocom covinha central30. As gravuras de origem antrópica, actualmente bastanteerodidas, organizam-se na superfície por entre ‘bacias’ ou cavidades naturaisescavadas pelas águas da chuva e o gelo. É verdade que este tipo de gravuras éusualmente conotado com espaços a descoberto, abertos à paisagem, e mesmoquando vastas composições ocupam recessos rochosos, como no caso no san-tuário rupestre de El Pedroso, elas surgem preferencialmente em zonas abertasao exterior (e.g. Bradley, et al., 2005). Neste sentido, parece ser relevante ofacto de que, na própria estrutura pétrea da Anta da Fonte Coberta, ocorramestas concavidades circulares quer sobre a laje de cobertura, quer na face externade um dos esteios que ladeiam a entrada da câmara, mais precisamente no esteio8 que se encontra orientado para Leste, ou seja, para o penedo insculturadoacima descrito (Fonte Coberta 1- CNS: 19555).

A omnipresença desta temática em redor da Anta da Fonte Coberta, esobre a sua própria estrutura pétrea, levanta necessariamente algumas questõesde difícil resolução mas que poderão ser orientadoras de futuras pesquisas.Terão sido o esteio 8 e a laje de cobertura exumados de afloramentos previa-mente gravados e inseridos na estrutura do monumento? Podemos consideraro penedo com covinhas fronteiro à Anta como uma pré-existência que ditou oalinhamento do “vestíbulo” e “corredor intratumular” na sua direcção asso-ciando-a directamente a vestígios ancestrais? Serão as numerosas covinhasgravadas em quase todos os afloramentos mais elevados que se estendem pelorebordo do planalto para Sul e Sudeste da Anta anteriores, coevas ou posterio-res à construção do monumento? Terá a Anta sido erguida num espaço já pro-fusamente marcado por aqueles signos discretos ou as covinhas assinalam a

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 62

Page 64: Issn 0871 - 4061

aproximação a um espaço “sagrado” de agregação e memória?Um pouco mais concreta será a cronologia das pinturas e, eventualmente,

também das gravuras que o monumento guarda no interior da câmara megalí-tica. O esteio 4 ostenta o que podemos considerar dois motivos, provavelmenteincompletos, pintados a vermelho. O primeiro, na parte mais elevada, exibeum motivo antropomórfico no qual apenas a linha exterior do corpo é deli-neada, a traço fino, sem preenchimento interno. A figura é acéfala, o que poderáser intencional ou dever-se antes ao desgaste da superfície, amplamente trun-cada no quadrante inferior direito devido ao destacamento de uma placa su-perficial. O segundo motivo é formado por duas linhas, uma longitudinal eoutra transversal (Carvalho e Gomes, 2000).

Ora, atendendo à distribuição das gravuras e pinturas esquemáticas, fre-quentemente acompanhadas por figurações antropomórficas, quer no interiordas câmaras dolménicas, quer em formações rochosas naturais, verifica-se umaclara tendência para a sua presença no quadrante sudeste da nossa área de es-tudo, justamente aquelas que confinam com as áreas de maior concentraçãode Arte Esquemática pintada em abrigos rochosos, a Leste, e dos monumentosmegalíticos com pinturas esquemáticas, a Sul. No distrito de Vila Real, quatroabrigos com pinturas esquemáticas encontram-se sobre a fronteira administra-tiva. Os abrigos da Ribeira da Cabreira 3 e 11 pertencem ao complexo da Serrade Passos (Sanches, 1997); mais a Sul, o abrigo pintado da Pala Pinta abre-senuma encosta sobre uma ribeira tributária do Rio Tua (Santos Júnior, 1933) ejá próximo da foz deste mesmo rio foi recentemente descoberto um outroabrigo com pinturas rupestres a que aludimos anteriormente, ainda inédito, talcomo, aliás, o único registo desta natureza identificado numa zona mais inte-rior. Trata-se de um painel que exibe três motivos pintados a vermelho nas fra-gas quartzíticas que ladeiam as margens do Rio Curros, na vertente ocidentalda Serra da Padrela (Freitas, 2001: 410). Curiosamente, este painel, estudadorecentemente pela equipa responsável do projecto de investigação “Os Sítiosde Arte Rupestre da Região de Valpaços“, surge ainda associado a um vastoconjunto de covinhas.

Os escassos monumentos megalíticos que guardam pinturas e/ou gravurasPré-históricas nos seus recessos interiores encontram-se também no quadranteSudeste da nossa área de estudo. À excepção da Mamoa 1 de Madorras (Sa-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 63

Page 65: Issn 0871 - 4061

brosa), todos eles se situam no rebordo superior ou inferior (no caso da Mamoa1 do Castelo, em Murça), de planaltos que contornam a bacia de Mirandela.Atendendo às datações dos monumentos contendo decoração plástica, é pos-sível considerar que tenham sido parcialmente coevos durante a 2ª metade do4º milénio AC (Sanches e Nunes, 2005; Gonçalves e Cruz, 1994; Carvalho eGomes, 2000). Deste conjunto, apenas a cronologia das duas mamoas acimareferidas foram aferidas por datações radiocarbónicas. A primeira é a que ofe-rece cronologias mais antigas para a sua construção que, segundo Cruz e Gon-çalves (1995), terá ocorrido entre 3700-3000 a.C, havendo sido o monumentoencerrado entre 3300 e 2920 a.C. A Mamoa 1 de Madorras é também a únicaque apresenta uma relação estratigráfica entre motivos gravados e pintados.De facto, no esteio 7, observa-se um motivo pintado a preto formado por duasreticulas, de contorno quadrangular e rectangular com o interior segmentado,justapostas verticalmente e encimados por um eixo subtrapezoidal alongado.Este reticulado está sobreposto a uma ambígua composição gravada formadapela agregação de corpos de contorno curvilíneo (Gonçalves e Cruz, 1994).Comum aos quatro esteios decorados é a presença de pequenos círculos sim-ples, ora definindo conjuntos, ora isolados mas, tal como referem A. Huet B.Gonçalves e D. Cruz, estamos apenas perante elementos vestigiais de compo-sições que terão sido originalmente mais complexas e abrangentes (1994: 218).Todavia, e pese embora algum pendor generalista, é digno de nota o facto deque os pequenos círculos simples tendem a ocorrer sobretudo em monumentossituados na fachada Atlântica do Noroeste peninsular (e.g. Bello Diéguez,1995; Gonçalves e Cruz, 1994; Alves, no prelo a) enquanto que o reticuladopintado a preto nos remete para o universo gráfico da Arte Esquemática pintadaem abrigos rochosos, à semelhança dos que ocorrem na não tão longínqua Serrade Passos (e.g. Sanches, 1990, 1997; 2001).

Sobre a zona de transição entre os planaltos centrais e a bacia de Miran-dela, foram identificadas gravuras em 3 monumentos da necrópole do Alto dasMadorras, entre os quais se destaca a composição gráfica do esteio-estela daMamoa 4 que apresenta um círculo simples ao qual parcialmente se sobrepõeum pequeno arco que pertence a uma figura subquadrangular, tipo placa, sec-cionada internamente por barras horizontais (Sanches e Nunes 2005). Esta fi-gura apresenta afinidades com uma outra gravada no painel 4 da

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 64

Page 66: Issn 0871 - 4061

gruta-santuário de El Pedroso, emZamora, Espanha (Bradley, et al.2005: Fig. 5). Na realidade, a existên-cia de paralelos estilísticos entre aiconografia presente nas câmaras demonumentos megalíticos do interior-norte de Portugal e a ‘arte dos abri-gos pintados’ há muito que vemsendo valorizada31 (e.g. Baptista,1986; Sanches, 1997; 2001; Alves,2002), nomeadamente dada a pre-sença de figuras antropomórficas es-quemáticas, um dos elementoscaracterizadores daquela tradição. Naregião de Trás-os-Montes Ocidental,a Anta da Fonte Coberta é o únicomonumento onde se assinala clara-mente a presença de uma figura an-tropomórfica embora com aparticularidade, que a distancia dasrepresentações mais típicas, de apre-sentar apenas o contorno delineado sem preenchimento interno tal como ocorrena Pala da Moura (Carrazeda de Ansiães), na margem oposta do Rio Tua. Porseu lado, a superfície externa de um dos esteios da Mamoa 1 do Castelo, ostentaum conjunto de gravuras não figurativas, entre as quais, malgrado o seu estadode conservação, se destacam séries de barras paralelas, uma das quais encimadapor um sulco horizontal, que não deixam de lembrar algumas formas geomé-tricas que ocorrem nos abrigos pintados da Serra de Passos (Sanches e Nunes,2005; Sanches, 2001: 77).

Em suma, as mais expressivas manifestações gráficas que convergemneste espaço durante o IVº milénio a.C. têm em comum o facto de aderirem alugares ou recessos envoltos em pedra ou de marcarem cenários dramáticospela imponência das formações rochosas e confinados pelas formas do relevo.Em contraposição, em espaços naturalmente abertos é frequente encontrar ro-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 65

Figura 2. Alto do Lombo do Malho (Curros, Valpa-ços). 1. Perspectiva sobre o esporão no terminus doqual se situam dois monumentos megalíticos e arocha com covinhas. O afloramento rochoso que seavista na encosta nascente, à direita na foto, ostentao segundo conjunto de gravuras rupestres (ALM 6);2. Mamoa 2 do Alto do Lombo do Malho; 3. Combi-nação circular gravada num painel subvertical noAlto do Lombo do Malho 6.; 4. Rocha com covinhassituada nas proximidades dos dois monumentos me-galíticos ainda conservados (ALM 4) (fotos dos au-tores; Agosto 2008)

Page 67: Issn 0871 - 4061

chas com covinhas associadas a monumentos megalíticos e, mais raramente, aabrigos com Arte Esquemática. Estes tendem a organizar-se no espaço de formaa assinalar troços ou pontos específicos sobre cursos de água, em vales fecha-dos, ou a signar, de forma persistente e articulada, o interior de relevos mon-tanhosos, tal como acontece na Serra de Passos (e.g. Sanches, 2001). Por seulado, também as necrópoles megalíticas marcam vincadamente amplas unida-des geomorfológicas, neste caso, as alturas planálticas das Serras mais interio-res. Mas se as necrópoles se prolongam para oriente acompanhando asextensões dos planaltos elevados, também alguns abrigos pintados surgem emencostas ou fundos de vales que alongam, tentacularmente, a ‘Terra Quente’por entre as faldas ocidentais das serranias.

5. As grandes tradições artísticas da Pré-história Recente em trás-os-Montes ocidental

As “paisagens signadas” do Neolítico imprimiram uma carga simbólicade tamanha grandeza no território que os sítios com arte rupestre, assim comoas arquitecturas monumentais, se vão configurar como espaços-âncora na me-mória das comunidades que subsequentemente habitaram esse mesmo território.

No que respeita à arte Pré-histórica em formações rochosas naturais, di-versos autores têm vindo a relevar ofacto de que no Norte de Portugal,convergem duas tradições artísticasque ecoam afinidades supra-regio-nais: a Arte Atlântica, que surge aolongo da fachada europeia costeiranas Ilhas Britânicas e Península Ibé-rica, e outra, Arte Esquemática, dedistribuição mais interior com afini-dades na Europa do Sul (e.g. Bradleye Fábregas, 1996, 1997, 1999; Alves2003, no prelo a, no prelo b). É evi-dente que esta é uma asserção algogeneralista que deverá ser consubs-tanciada a diferentes escalas de aná-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 66

Figura 3. Anta da Fonte Coberta (Vila Chã, Alijó).Distribuição das rochas com gravuras rupestres naárea envolvente do monumento megalítico, à es-querda (extracto da Carta Militar de Portugal, escala1:25000, folha 103) e perspectiva sobre o penedocom covinhas que se situa no alinhamento do vestí-bulo do monumento, à direita (foto dos autores;Agosto 2008)

Page 68: Issn 0871 - 4061

lise espaciais, temporais e conceptuais, visto que, no Noroeste Peninsular,ambas as tradições assumem particularidades regionais e transmutações signi-ficativas no seu longo devir. Referimo-nos anteriormente à clássica expressãoda Arte Esquemática peninsular, que se materializa sob a forma de pinturas emabrigos sob rochas onde é recorrente a representação da figura humana e demotivos geométricos delineados a partir de linhas rectas, quebradas ou perpen-diculares (séries de barras verticais, zig-zags, escaleriformes, recticulados…)mas na qual pontualmente surgem motivos zoomórficos (essencialmente qua-drúpedes: cervídeos e capríneos). A Arte Atlântica peninsular, usando o con-ceito mais amplo, corresponde em grande medida ao que se convencionoudesignar, na Galiza, os “petróglifos gallegos” e, no Norte de Portugal, a “artegalaico-portuguesa”, termo hoje caído em desuso mas que corresponde ao queAntónio Martinho Baptista apelidou de grupo I da Arte do Noroeste. Tratam-se de gravuras em superfícies rochosas ao ar livre que, sob a sua forma clássica,oferecem um repertório de feição geométrica-abstracta, privilegiando os mo-tivos de contorno curvilíneo: entre as diversas tipologias de figuras circulares,surgem os típicos círculos concêntricos com covinha central, linhas ondulantese algumas espirais. No espaço peninsular, estas composições abstractas surgem,não raramente, associadas a representações de quadrúpedes e, em número di-minuto, a figurações de armas metálicas datáveis do Calcolítico e Bronze Ini-cial. Por seu lado, a Arte Esquemática tende a ocorrer em locais de acessorestrito, enquanto a Arte Atlântica abre-se à paisagem e interage com os seuselementos em locais que imaginamos seriam visitados no âmbito de actividadesdo quotidiano.

Parece ser hoje consensual que a presença da pintura Esquemática, pre-sente em praticamente todo o espaço peninsular, atinge o seu limite noroestena Terra Quente transmontana, enquanto a Arte Atlântica se dissemina desdeo litoral até às alturas do sistema Galaico-duriense, perseguindo as paisagens(e clima) de características Atlânticas atingindo, de acordo com os conheci-mentos actuais, a bacia do Rio Vouga. Ambas as tradições, na sua forma clás-sica - ‘pintura esquemática’ e as gravuras geométrico-abstractas da ArteAtlântica - parecem convergir ao longo de uma “área de transição” que cor-responde grosso modo ao cordão montanhoso que divide o Norte de Portugal,na qual se inscreve precisamente a região que é objecto deste estudo.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 67

Page 69: Issn 0871 - 4061

Todavia, consideramos que o principal objectivo da investigação de arterupestre é o de procurar compreender o papel que ela cumpriu no modus vi-vendi das comunidades que marcaram de forma indelével lugares especiais napaisagem por meio da aposição de linguagens de signos convencionadas. Paratal, deve manter-se acesa a discussão sobre se, nesta “área de transição”, háconvergência destas duas tradições no espaço corresponde, ou não, uma con-vergência, no tempo. Isto pressupõe que, no futuro, se prossiga a investigaçãodos contextos arqueológicos da arte rupestre. É hoje genericamente aceite queas origens da pintura esquemática reportam ao período correspondente ao Vº- inícios do IVº milénio a.C. prolongando-se a sua criação pelo menos até àprimeira metade do IIIº milénio a.C. (e.g. Sanches, 2001). Por oposição, a de-finição da cronologia das mais antigas manifestações da Arte Atlântica penin-sular está longe de ser consensual. Entre as propostas mais recentes para aregião da Galiza, salienta-se a de M. Santos Estévez que advogou, em termosgerais, uma cronologia adentro do IIº milénio a.C. estendendo-se até à primeirametade do milénio seguinte (1998, 2005), mantendo A. de la Peña Santos eoutros a defesa de uma cronologia curta entre finais do IIIº e inícios do IIº mi-lénio A.C. (2003: 361, 2005). Para o Norte de Portugal permanece em vigor aideia da sua inserção em fases adiantadas da Idade do Bronze (e.g. Bettencourte Sanches, 1998), cronologia há muito sugerida por António Martinho Baptistapara estas manifestações (1983-83, 1986) embora estudos recentes admitam apossibilidade de se aventar uma cronologia mais recuada para a sua génese emterritório peninsular (e.g. Alves, 2003).

O facto de se manter este debate (o que é salutar!) torna difícil, por umlado, precisar uma evolução diacrónica, linear ou não, daquelas tradições ar-tísticas no Norte de Portugal e, por outro lado, abordar a problemática da con-textualização da Arte Esquemática gravada em penedos ao ar livre, quecorresponde ao que Baptista designou grupo II do Noroeste, cuja área de dis-tribuição ultrapassa a da pintura esquemática e se expande para ocidente(1983/84, 1986).

Mas debrucemo-nos novamente sobre a realidade de Trás-os-Montes Oci-dental para tentar compreender de que modo uma análise mais fina, focalizadasobre a “área de transição”, poderá contribuir para a investigação destas temá-ticas. Atendendo ao estado actual dos conhecimentos, a distribuição das duas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 68

Page 70: Issn 0871 - 4061

grandes tradições artísticas pré-históricas parece espelhar, à escala da região,o cenário que genericamente se perspectiva para o Noroeste peninsular. Destemodo, a Arte Esquemática pintada em abrigos rochosos surge no quadranteSudeste, mas essencialmente na área que bordeja a bacia de Mirandela, en-quanto a Arte Atlântica (incluindo as manifestações de influência ou tradiçãoAtlântica) distribui-se segundo um arco que abrange os sectores oeste, centrale nordeste do concelho de Vila Real. Estão ausentes, por enquanto, os registosnas zonas mais meridionais, correspondentes ao vale do Douro e toda a áreanoroeste32 (Fig. 4). Os dois registos que se imiscuem na área de distribuiçãoda Arte Esquemática pintada não são exemplares clássicos da Arte Atlânticapeninsular mas onde se pressente um certo “ar de família” visto que algunsmotivos presentes apresentam afinidades tipológicas com outros que ocorremnas composições clássicas. Um destes sítios é o Alto do Lombo do Malho, des-crito anteriormente, onde ocorre, para além das covinhas, uma figura circularsimples e uma outra mais complexa com círculos/arcos de círculo concêntri-cos33, ambas abertas nas superfícies xisto-quartzíticas cuja rudeza na texturanão permite que seja alcançada a profundidade estética e impacto visual queestes motivos abstractos adquirem sobre rochas graníticas (Fig. 2). O segundoregisto corresponde à rocha 1 da Fonte Coberta, na qual uma observação pre-liminar da superfície permitiu visualizar dois (possivelmente três) círculos re-baixados com covinha central34.

O conjunto de Arte Atlântica situado mais a ocidente, muito próximo dafronteira com o distrito de Braga que aqui se estende ao longo de um troço docurso médio do Rio Tâmega, encontra-se na encosta meridional do Monte daSenhora da Graça (Mondim de Basto). Sobre as plataformas baixas deste montecónico que se eleva de forma verdadeiramente imponente sobre o vale, foiidentificado um vasto conjunto de rochas com gravuras de contorno circularna área de implantação do povoado do Castroeiro com ocupação da Idade doFerro e de época romana (Dinis 2001). Embora este núcleo esteja a ser actual-mente objecto de reavaliação que resultou na identificação de novas superfíciesgravadas35, foram já objecto de estudo um total de seis rochas gravadas (Cas-tiñeira e Soto-Barreiro, 2001). Todas as composições integram conjuntos decovinhas mais ou menos densos que se articulam ora com composições com-plexas de motivos circulares entre os quais se assinalam os círculos simples

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 69

Page 71: Issn 0871 - 4061

com covinha central e as am-plas combinações de círculosconcêntricos, a exemplo das ro-chas 1, 2 e 4 quer em composi-ções mais singelas, como nasrochas 3 e 6 (Castiñeira e Soto-Barreiro, 2001: 190-197).Cerca de 300m para poentedeste conjunto ergue-se o ma-jestoso rochedo de Campelo(Dinis, 2001) talvez um dosmais interessantes sítios de arteAtlântica conhecidos no Nortede Portugal, pelo modo comose insculpiram (ou esculpiram)as formas naturais do granitocom motivos circulares e linhassinuosas.

A Norte, nas faldas ocidentais da Serra do Barroso, numa zona baixa davertente setentrional do Castro do Lesenho, voltada à Chã do Lesenho/Reigal,Santos Júnior identificou duas rochas com pias circulares36, mas igualmenteuma terceira cuja superfície apresenta um grupo de covinhas a par de um mo-tivo bastante interessante composto por uma covinha inserida num círculo,com cerca de 15 cms de diâmetro, do qual partem três pequenos sulcos linearesem leque37 (1982: 261-262 e Figs 9 e 10). Numa visita por nós efectuada aolocal no âmbito deste trabalho foi confirmada a localização de um outro con-junto de 12 covinhas, cuja maioria se dispõe numa mancha vagamente circular,no topo recurvado de um batólito que se eleva do solo na base da encostaNorte38. Identificámos ainda outro penedo com covinhas cerca de 20m parapoente daquela. Nas imediações do castro, a aproximadamente 400m para nas-cente, na margem esquerda de um regato, a Corga do Fieiro, encontra-se umoutro penedo insculturado (Miranda Júnior, et al., 1985). Trata-se também umarocha oblonga, elevada do solo, com uma intrincada composição que combinacírculos simples com covinha central, arcos de círculos e extensas linhas si-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 70

Figura 4. Mapa de distribuição dos sítios com arte rupestrepertencentes às duas grandes tradições artísticas do No-roeste Peninsular

Page 72: Issn 0871 - 4061

nuosas que meandram pela superfície superior e pela face lateral voltada a Sul.Mas o mais interessante é que ela se desenvolve a partir de uma figura idênticaà de uma das rochas publicadas por Santos Júnior (1982: Fig. 10), ou seja, par-tem de um círculo com covinha central três linhas em leque que, neste caso, sevão alongar pela superfície e organizar a composição39.

Continuando o périplo pelos sítios com Arte Atlântica de Trás-os-MontesOcidental, vamos encontrar, a nor-nordeste do Lesenho, um outro conjunto nabase de uma elevação encimada por um povoado fortificado – o Cabeço (Bo-ticas) sobre o qual nos debruçaremos com mais pormenor adiante40.

Na região de Chaves, mais propriamente nas terras altas que ladeiam aveiga, foram referenciadas duas rochas que poderão hipoteticamente pertencera esta tradição. A Noroeste de Chaves, em Calvão, na base do cabeço do Outeirodos Mouros, J. B. Martins dá notícia de um penedo de forma circular, contendotrês círculos concêntricos gravados e três outros sulcos que, diz, «se assemelhama hastes de veado» (1980). A Nordeste, na freguesia de Águas Frias, o Penedodas Meias é descrito como uma rocha ostentando gravuras de 18 covinhas e sul-cos interligados (e.g. Martins, 1982; Baptista, 1983/84; 1995) 41.

O sítio com gravuras de Arte Atlântica mais oriental na área em estudositua-se na linha de relevos escalonados que descem até ao encaixado vale doRio Rabaçal, que aqui coincide com a fronteira administrativa entre os distritosde Vila Real e Bragança, numa paisagem granítica ainda a todos os níveis“Atlântica” apesar da longitude. Referimo-nos ao soberbo conjunto de super-fícies insculturadas que ocupam uma plataforma, aberta a Sul, no exterior dorecinto amuralhado do Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira (Amorim, 1952;Teixeira, no prelo). Sobre os extensos penedos graníticos pouco elevados dosolo que ressaltam da área de desaterro recente, surgem intrincadas composi-ções de covinhas, umas simples, outras rodeadas por um ou mais círculos con-cêntricos e linhas sinuosas, motivos tão típicos desta tradição, que envolvemas regulares superfícies rochosas. Entre diversas particularidades deste con-junto salienta-se, pelo seu ineditismo no contexto da Arte Atlântica no NoroestePeninsular, a figuração de longos sulcos rectilíneos que ornamentam, em doisdos maiores penedos, as faces laterais, as dobras e as largas brechas do granito,numa espécie de ‘horror ao vazio’, denotando um esforço de insculpir a tota-lidade dos espaços livres pelas composições circulares. Estes sulcos estão au-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 71

Page 73: Issn 0871 - 4061

sentes apenas num dos rochedos, precisamente aquele que detém algumas fis-suras naturais lineares que, tal como aqueles, divergem do topo para as faceslaterais. Este penedo aparenta ter sido afectado por trabalhos de extracção depedra (não sabemos quão antigos) visto que a metade poente desapareceu, trun-cando a composição da face superior ao longo de um eixo longitudinal. Inter-rogando-nos sobre a atribuição dos inauditos sulcos lineares a uma faseprimeva de gravação neste sítio, certo é que as grandes pias quadrangularesque mutilam as composições abstractas, denunciam o prolongado uso deste es-paço no tempo.

Os sítios com Arte Atlântica de Trás-os-Montes Ocidental a que nos re-ferimos até agora oferecem exclusivamente temáticas geométrico-abstractas42.Porém, ainda dentro dos sítios que exibem grafias de tradição Atlântica, há quedestacar a recentemente descoberta Pedra da Póvoa (Ribeira de Pena). Teste-munho eloquente de como foi perene a tradição da Arte Atlântica no NoroestePeninsular, neste monólito granítico com quatro faces regularizadas por talhe,foram gravados signos geométricos de contorno curvilíneo que nos remetempara a plástica decorativa da chamada “arte castreja”, a par de motivos circu-lares, uma possível espiral e uma figura de cervídeo (Fonte, et al. no prelo).

A ocorrência de motivos próprios desta tradição em estreita associação aelementos da plástica “castreja”, por um lado, e a presença de sítios com ArteAtlântica nas encostas de povoados onde se reconhecem ocupações da Idadedo Ferro, por outro, apela a uma análise mais circunstanciada destas evidências.

5.1 As “pedras castrejas”A “arte castreja” tem a sua máxima expressão no Noroeste Peninsular (Ga-

liza e Entre-Douro-e-Minho), associada à Proto-História e Romanização dessaregião. A grande maioria dos exemplares conhecidos encontra-se em pedras sol-tas, que na maioria dos casos integram ou integrariam construções arquitectóni-cas. O mesmo se passa em Trás-os-Montes, onde todos os exemplares conhecidosaté ao momento são monólitos decorados e não afloramentos rochosos e consti-tuem, maioritariamente, elementos de construção. Tal será o caso das quatro pe-dras do sítio das Cortinhas (São Mamede de Ribatua) e da pedra de Favaios(Fortes, 1908), assim como da de Meirinhos (Ribalonga), todas provenientes doconcelho de Alijó. Esta última, um dos casos mais interessantes, é um elemento

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 72

Page 74: Issn 0871 - 4061

de uma «Pedra Formosa»43 exuberantemente ornamentada, pertencente a um edi-fício de balneário castrejo, e é a única conhecida em Trás-os-Montes até ao mo-mento. No grande povoado fortificado da Cerca de Ribas, em Valpaços,encontraram-se mais três pedras com gravuras rupestres (Freitas, 1989; 2001),duas delas incorporadas nas próprias muralhas e que, embora fugindo um poucodo tipicismo da “arte castreja”, a gramática figurativa é suficientemente próximapara a incluirmos, de forma preliminar, neste grupo. Por fim, são provenientesdo povoado do Alto do Castelo (Salto, Montalegre) dois fragmentos de possíveisombreiras de porta com decoração cordada (Fonte, 2008).

Ao contrário dos restantes exemplares, a Pedra de Favaios44 e a Pedra daPóvoa não se associam directamente a um sítio arqueológico conhecido. Entreas demais, as quatro pedras das Cortinhas provêm de um grande habitat abertode Época Romana45, a Pedra Formosa de Meirinhos encontrava-se na base umpovoado da Idade do Ferro romanizado, tal como o é a Cerca de Ribas. Istopoderia sugerir a priori que estas peças teriam uma cronologia relativamentetardia dentro da Proto-história regional, integrando-se eventualmente na suapassagem para uma cultura sob influência da romanidade, hipótese esta queseria mais consentânea com as propostas de Calo Lourido (1994) e J. Alarcão(1986) de uma cronologia do século I d.C. para estas manifestações. No en-tanto, as duas pedras do Alto do Castelo, em Salto (Montalegre) foram reco-lhidas num povoado fortificado onde não se conhecem vestígios deromanização (Fonte, 2008: 68), o que contribui para enfatizar as palavras deC. A. Ferreira de Almeida que, diz, «Esta gramática figurativa nada deve à arteromana. (…) ela foi retirada da ornamentação da cerâmica e das peças debronze e de ouriversaria castrejas.» apontando, assim, para uma cronologia daépoca Júlio-Cláudia (1986: 164-166; 1983). Mais recentemente Gonzaléz Rui-bal (2004) defende que a génese desta gramática figurativa dever-se-á encontrarem plena Idade do Ferro, nos séculos II e I a.C., ainda que não se possa descurara hipótese de uma cronologia mais recuada, embora sem antes se proceder auma tão necessária sistematização desta temática (Fonte, et al., no prelo).

5.2. Arte dos castros ou Arte nos castros?A questão da datação relativa da arte rupestre com base na análise dos seus

eventuais contextos arqueológicos coloca-se com particular acuidade na análise

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 73

Page 75: Issn 0871 - 4061

das gravuras associadas a povoados fortificados da Idade do Ferro. Em Trás-os-Montes Ocidental é já apreciável quantidade de povoados em cujo entornosurgem gravuras rupestres, independentemente das suas características estilís-ticas. Os casos nos quais essa relaçãose verifica ascendem actualmente aum total de 2946. Uma análise da suadistribuição espacial mostra uma no-tória concentração na zona norte dodistrito de Vila Real, ou seja, emMontalegre, Boticas, Chaves e Valpa-ços. Não sabemos se isto correspondea uma tendência real ou se reflecte umconhecimento mais aprofundado da-queles povoados nestes concelhosmas é importante salientar que emTrás-os-Montes Oriental, onde os tra-balhos de prospecção arqueológica têmsido mais extensivos (Alves, 1934;Lemos, 1993), essa relação é inexpres-siva. Assim, parece que a distribuição dessas ocorrências no território seguegrosso modo a demarcação já sugerida para a chamada «cultura castreja» (e.g.Almeida, 1983; Silva, 1986) ou, mais prudentemente, para os grandes gruposregionais de povoados proto-históricos, tal como definidos por F. Sande Lemos(1993), a qual, em linhas gerais, coincide com a área de transição entre Arte Es-quemática pintada em abrigos rochosos e as gravuras de tradição de Arte Atlân-tica mas também das diferentes formas de marcação da paisagem através daconstrução de “monumentos megalíticos” que atrás referimos.

Retomando a problemática das relações cronológicas entre as duas gran-des tradições artísticas pré-históricas no Noroeste, uma das vias possíveis paraa sua investigação é a análise da sua associação directa ou indirecta a determi-nados contextos arqueológicos. No entanto, deve acautelar-se sempre a questãoda visibilidade/invisibilidade dos registos, evitando a tentação de associar aarte rupestre aos elementos mais imponentes ou perceptíveis na paisagem e terem conta que a real diacronia da maioria daqueles povoados não está bem de-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 74

Figura 5. Cruz do Coro (Vreia de Bornes, VilaPouca de Aguiar). Perspectiva sobre um painel gra-vado com motivos sub-quadrangulares e ‘escutifor-mes’

Page 76: Issn 0871 - 4061

finida. Sabemos que frequentemente têm ocupação romana e/ou medieval,sendo muito raros aqueles onde se conhece uma ocupação pré-histórica comoparece ser o caso da Cerca de Ribas (Freitas, 1989) ou exclusivamente umaocupação da Idade do Ferro. Com raríssimas excepções, as suas fases de ocu-pação são conhecidas apenas por observação superficial, e se as ocupaçõesmais recentes são normalmente fáceis de identificar, o mesmo não se podedizer das mais antigas, frequentemente ocultas e obliteradas pelas mais recen-tes, e não sendo raro que a ocupação Proto-histórica seja aferida unicamentepelo tipo genérico de sítio: “castro”47.

Em muitos casos, as gravuras rupestres associadas a povoados da Idadedo Ferro estão referidas muito sumariamente como contendo “covinhas e sul-cos”. Porém, uma análise mais atenta mostra que também esta realidade é eclé-tica. Em pelo menos quatro dos 29 sítios inventariados, as gravuras pertencemà tradição de Arte Atlântica designadamente, no sítio do Cabeço (Boticas), noCastroeiro (Mondim de Basto) ou no Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira, naaldeia de Lampaça, no Lesenho e, possivelmente, no Outeiro dos Mouros (Cha-ves).

O Lesenho é um caso paradigmático pois aí surgem, não só rochas comcovinhas mas também gravuras abstractas de contorno circular, numa relaçãoevidente com o povoado da Idade do Ferro. Porém, as gravuras encontram-sena encosta sobranceira à Chã do Lesenho ou Reigal, onde recentemente seidentificaram duas mamoas48. Mas, pelo contrário, nas proximidades do castrodo Alto da Subidade (Ribeira de Pena), conhecem-se duas rochas insculturadasque se inserem na tradição da Arte Esquemática gravada em penedos ao ar livre(J. Fonte, comunicação pessoal). Deve notar-se também que, no lado opostoda encosta, sobre a linha de acesso ao povoado, se encontra um conjunto demonumentos megalíticos. Então, perante estas duas situações, coloca-se umaquestão pertinente: com qual dos contextos arqueológicos deveremos relacio-nar as gravuras rupestres?

Estes exemplos ilustram a heterogeneidade tipológica e cronológicadas gravuras rupestres nos castros de Trás-os-Montes Ocidental mas, aindaassim, e considerando o restante conjunto inventariado, poder-se-á colocar ahipótese de haver um grupo estilístico de gravuras, onde predominam “covi-nhas e sulcos”, relacionável directamente com pelo menos uma das fases de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 75

Page 77: Issn 0871 - 4061

ocupação destes povoados? A resposta é, com prudência, talvez!As restantes ocorrências configuram um quadro aparentemente homo-

géneo. As covinhas abundam quer como temática exclusiva, caso do Castroda Curalha (Chaves) ou do povoado da Murada (Alijó) e Cidadonha (Valpa-ços) quer, o que é mais frequente, acompanhadas por sulcos, em regra longose ondulados, como sucede na Murada de Alvarelhos ou na Cerca de Ribas,ambos em Valpaços. Contudo, esta temática estende-se bastante para alémdos “castros”. Nos sítios de Queixoso/Condorca ou Alto do Outeiro (VilaReal), Fraga do Quelho (Vila Pouca de Aguiar), Casas de Castelões (Chaves),entre outras, existem rochas com “covinhas e sulcos” com características si-milares mas estão associadas a sítios arqueológicos de cronologia romana e/oumedieval.

Os cruciformes também surgem com alguma abundância, seja isolados,como na Coto da Moura (Boticas) ou acompanhando as restantes gravuras,como no Alto da Cerca/Cividade (Valpaços). Podem ainda pontualmente surgiroutros motivos, como o tabuleiro de jogo da Murada de Alvarelhos.

Se, como vimos, a maioria, se não mesmo todos os “castros” com estetipo particular de gravuras têm ocupações de Época Romana e/ou Medieval,torna-se muito tentador associar “covinhas e sulcos” não à Idade do Ferro masa períodos subsequentes.

É verdade que as “covinhas” são motivos intemporais, omnipresentes nocontexto da arte rupestre mundial e o seu significado específico é praticamenteinsondável na ausência de referências etnográficas sobre a sua criação mas,ainda assim, não devem ser negligenciadas.

6. A revisão dos sítios como factor essencial para o futuro estudo daarte rupestre da região: alguns exemplos

No âmbito da preparação desta síntese procedeu-se a uma reavaliação inloco de diversos sítios com arte rupestre em Trás-os-Montes Ocidental. Comalguma frequência os resultados foram surpreendentes, o que nos permite re-velar, ainda que de forma breve, algumas novidades e enfatizar a necessidadede efectuar uma revisão generalizada deste tipo de ocorrências no ocidente deTrás-os-Montes.

6.1 castro do cabeço (Granja, Boticas)

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 76

Page 78: Issn 0871 - 4061

O povoado do Cabeço é seguramente dos mais conhecidos sítios arqueo-lógicos do concelho de Boticas, embora isto não se traduza num prolíficoacervo de informação arqueográfica. É um monte granítico, imponente, no altodo qual se reconhece um monumental e complexo sistema defensivo relacio-nável com ocupações da Idade do Ferro e/ou de Época romana, desconhe-cendo-se, até ao momento, vestígios atribuíveis a outros períodos49.

No ano de 2004 identificaram-se ali, pela primeira vez, gravuras rupestres,mais precisamente no sopé sudoeste da elevação. Foi detectado um conjunto decovinhas e alguns sulcos que se distribuem pela superfície superior de um penedode forma elíptica, com o eixo maior virado a Sul, com cerca de cinco metros decomprimento e dois de largura e sobrelevado cerca de um metro e meio do solo.Aquando da nossa visita, em Agosto de 2008, beneficiando de boas condições deluminosidade, verificámos a existência de três outras rochas gravadas com idên-ticos motivos nas imediações da primeira, uma das quais ostenta um pequeno cír-culo rebaixado com covinha central e a outra uma combinação de três círculosconcêntricos também com covinha central. Dada a proliferação de batólitos gra-níticos por toda a encosta, parece-nos muito provável que possam existir outrasrochas com gravuras rupestres nesta área. Urge, portanto, aferir das reais dimen-sões deste conjunto, o que remetemos para uma futura pesquisa visto que a reali-zação de prospecções sistemáticas não se enquadrava no âmbito deste trabalho.A verdade é que estes achados alteram completamente a percepção que tínhamosdo sítio, uma vez que, na realidade, estamos perante um interessante conjunto derochas com gravuras rupestres integráveis na tradição de Arte Atlântica.

6.2. cruz do coro (vreia de Bornes, vila Pouca de Aguiar)As gravuras rupestres da Cruz do Coro foram inventariadas em 2001, se-

guindo indicações dadas pela população local (cf. Endovélico, CNS 18000).Ao contrário do que sucedeu com os restantes sítios que apresentamos nestasecção, a nossa visita não alterou de forma substancial sua primeira leitura eas informações de que dispúnhamos sobre as características técno-morfológicasdas gravuras rupestres, aumentou sim a quantidade de superfícies insculturadasou painéis reconhecidos e acentuou a nossa percepção do seu ineditismo nocontexto da arte rupestre regional.

As gravuras rupestres ocorrem num maciço rochoso, situado numa ín-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 77

Page 79: Issn 0871 - 4061

greme encosta da Serra da Padrela, que se destaca pela sua imponência e pelacor avermelhada das superfícies. Assemelha-se a um caos de grandes blocosque se encavalitam sobre o afloramento formando múltiplas superfícies apla-nadas. Em 2001, inventariaram-se aí seis painéis com gravuras, número subiupara catorze em 2008.

Este sítio destaca-se do restante acervo pela originalidade dos seus motivos.Surgem aqui duas grandes variantes tipológicas: motivos de contorno sub-rec-tangular e quadrangular que formam figuras abertas e fechadas, quase todos con-centrados no primeiro painel que se encontra ao descer a encosta (Fig. 5). Sobreos demais, ocorre o que se pode considerar o típico motivo desta estação queapresenta contorno subtriângular com diversas soluções de segmentação interna.

No concelho de Vila Real, conhece-se uma representação semelhante aos‘escutiformes’50 da Cruz do Coro na rocha da Quinta das Salgueirinhas (Cha-ves).

Embora a morfologia do sulco das gravuras da Cruz do Coro, o seu graude conservação e patina, pareçam indiciar uma relativa antiguidade, cremosser precipitado tirar grandes ilações neste momento sobre a sua cronologia. Éde referir igualmente que uma pequena superfície vertical que ocupa a zonamais alta do maciço exibe uma inscrição numérica em caracteres latinos, tos-camente gravada. De facto, a morfologia dos seus sulcos, distingue-se das de-mais representações pela rudeza do talhe e por apresentar arestas mais vivas.Curiosamente, no topo do maciço, foram abertas duas cavidades que poderãoter servido de base para o encaixe de algum tipo de elemento sinalizador dolocal, talvez uma cruz.

6.3. cruz de cepos (cervos, Montalegre)O monólito também conhecido por Cruz de Cepos ou Marco do Padrão

foi sumariamente referido por Barreiros (1919/1920) como um esteio cravadono chamado campo do Padrão. O mesmo autor descreve-o como «tendo oitopalmos acima do terreno, dois palmos e meio na base adelgaçando para a partesuperior, a espessura de palmo e meio, e três covinhas em linha recta na faceesquerda» (Barreiros, 1919/1920: 71). No desenho que apresenta de uma dasfaces pode observar-se um arco de círculo e uma figura formada por um X comas extremidades superiores unidas por uma linha ligeiramente arqueada e as

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 78

Page 80: Issn 0871 - 4061

inferiores por um sulco recto (Barrei-ros, 1919/1920: Fig. 10).

A Cruz de Cepos serve comomarco divisório dos termos de duasaldeias, Arcos e Cervos, situadas empleno planalto da Serra do Leiranco.A nossa recente visita permitiu-nosverificar que se trata efectivamentede um monólito afeiçoado, de con-torno antropomórfico, com os om-bros marcados e a cabeça esboçada(Fig. 6). É, de facto, uma estela an-tropomórfica, estilisticamente similar a outras estelas/estátuas-menires conhe-cidas na região, como a de Faiões (Chaves), a do Marco (Vila Pouca de Aguiar)e uma das recentemente descobertas em Vilarinho de Samardã ou Alto daLomba 1 (cf. Endovélico – CNS 30000).

O corpo é um bloco granítico talhado dos quatro lados, que apresenta gra-vuras no anverso e no reverso. A sua correcta visualização é difícil devida àespessa cobertura liquénica que a recobre actualmente embora possível obser-var, no anverso, covinhas com diferentes diâmetros e profundidades e um mo-tivo sub-rectangular alongado disposto na vertical, muito similar ao que seencontra numa das faces da estátua-menir de Faiões ou na estátua-menir daBouça, em Mirandela, situadas na fronteira oriental da nossa área de estudo.Por seu lado, as figuras representadas no reverso, a única face reproduzida porBarreiros, apresentam sulco bem conservado, largo e profundo, o que poderáindiciar que estamos perante representações de cronologia distinta.

Não é, obviamente, possível dizer se este monólito se encontra ainda insitu, ou se foi transportado para a sua presente localização. Certo é que serve,desde há muito, de referência à população local como marco delimitador doseu território. É também digno de nota o facto de o campo do Padrão se en-contrar próximo de uma antiga zona de passagem, assinalada pela presença, apoucas centenas de metros, de um conhecido troço da via romana XVII.

6.4. tojais (cervos, Montalegre)

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 79

Figura 6. As duas estelas de Cervos (Montalegre):Cruz de Cepos (à esquerda) e Tojais (à direita)

Page 81: Issn 0871 - 4061

A cerca de dois quilómetros de distância do sítio da Cruz do Coro, paraLeste, no término do planalto, a mesma estrada romana inicia a sua descidaabrupta da encosta da serra do Leiranco. A cerca de 50m daquela via, num ter-reno com o topónimo Tojais, foram identificados dois monumentos megalíti-cos, um dos quais mantém um esteio in situ e conserva parte do tumulus (cf.Endovélico CNS 13973 e 13974).

Nas imediações, inserido num muro construído em pedra solta e entre-cortado por alguns esteios fincados na vertical que circunscreve a propriedadeonde aquelas se encontram, foi identificado, através de informações orais, ummonólito decorado. Trata-se de um grande bloco granítico que foi aproveitadopara fazer um cunhal em 90º no muro, estando a face gravada voltada para oseu interior e, portanto, ocultada por pequenos blocos de pedra que a ela en-costam. Por essa razão, aquando da sua inventariação, em 1999, foi possívelobservar apenas uma ínfima parte da superfície que se apresentava regularizadae onde se percebeu existirem gravados dois traços subcirculares concêntricos(cf. Endovélico, CNS 13975). Assim, colocou-se, na altura, a hipótese de setratar de um esteio de anta ostentando, eventualmente, uma espiral gravada.

Quando, no Verão de 2008, se procedeu ao reconhecimento do sítio, con-siderou-se visualizar uma área mais extensa da face gravada e pudemos entãoconstatar que a suposta espiral se tratava, na verdade, da representação de umescudo! A figura, com um diâmetro de ca. 36cm, ocupa a quase totalidade dasuperfície operatória visível do suporte. É formada por uma covinha central etrês círculos concêntricos interrompidos pela representação da chanfradura la-teral em «V» (Fig. 6). Trata-se, pois, de um motivo iconográfica e estilistica-mente próximo daqueles que ocorrem nas estelas do Bronze Final do tipo IIou tipo “extremenho” (Almagro-Bash, 1966) bem conhecidas, em Portugal, naBeira Interior e pelos achados pontuais no Alentejo Central e Algarve. A dis-tribuição deste grupo tão particular de estelas atingia, até agora, o seu limitesetentrional, em território português, no Alto Côa. Com este achado, cujo es-tudo temos em preparação, a sua distribuição vê-se subitamente prolongadapara o Noroeste Peninsular.

Não podemos ainda afirmar peremptoriamente de que se trate de uma estelanem podemos oferecer uma descrição mais detalhada da morfologia desta peça,uma vez que não nos foi possível observar o monólito na sua totalidade. Reco-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 80

Page 82: Issn 0871 - 4061

nhece-se, na face gravada, uma forma subtriangular que poderá resultar de umprocesso de mutilação que atingiu parte do círculo externo da figura. Tambémnão sabemos qual a forma que o suporte adopta no seu prolongamento inferior. Eisto levanta outra questão, à semelhança da estela da Cruz de Cepos, que é saberse se encontra, ou não, in situ. Desde logo, é sugestivo o seu contexto arqueológicoe é também intrigante a maneira peculiar e destoante como se insere no muro,para além da profundidade a que a sua base aparenta estar enterrada. Dá ideia queo restante muro foi colocado de encontro a uma pedra já existente no local, apro-veitando o seu tamanho e solidez para ser utilizada como término e cunhal.

7. epílogoEsta síntese traz à luz um acervo de sítios rupestres em Trás-os-Montes

Ocidental cujo alcance estará ainda longe da realidade. Como vimos, as fontespara a sua constituição são muito diversas e com um grau de informação am-plamente diferenciado. Na impossibilidade de revermos todas as referênciascoligidas no âmbito deste trabalho, a análise fica inevitavelmente condicionadapela disparidade nos critérios de inventariação, cuja uniformização só será pos-sível com uma extensa reavaliação dos sítios no terreno. A realizar-se, estamosseguros que trará novidades e informações adicionais sobre muitas ocorrências,como tivemos amiúde ocasião de demonstrar na revisão que efectuamos.

Uma das ideias centrais que sobressai desta análise regional é a confir-mação de que Trás-os-Montes Ocidental parece funcionar como «área de tran-sição»/fronteira, a diversos níveis. Desde logo, o geográfico e climático, comofoi brilhantemente descrito por Orlando Ribeiro (1963). Na Pré-história Re-cente, esta ‘fronteira’ parece manifestar-se, desde logo, nas diferentes formasde marcação/construção do espaço por meio dos monumentos megalíticos ena transição e interpenetração de tendências culturais diversas, revelada, porexemplo, na convergência espacial de duas das grandes tradições artísticas pré-históricas do Noroeste Peninsular, a Arte Atlântica, cuja distribuição mostrauma maior incidência na região ocidental da área de estudo e a Arte Esquemá-tica pintada em abrigos rochosos, que tende a ocorrer a oriente. Esta fronteiraparece manter-se (ou renovar-se?) na Idade do Ferro, visto que se vem consi-derando a hipótese de que a separação entre os distritos de Bragança e VilaReal coincidirá, grosso modo, com fronteiras étnicas e culturais e que parece

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 81

Page 83: Issn 0871 - 4061

ter alguma confirmação na distribuição das manifestações artísticas ou grafiasda chamada “arte castreja”.

É importante também ressalvar que há um conjunto alargado de gravurasrupestres para as quais essa ‘fronteira’ parece não funcionar. Este grupo cons-titui uma parte muito substancial do acervo, até maioritária, mas é tambémconstituído pelos sítios para os quais a informação disponível é mais escassa eimprecisa. Para além das omnipresentes covinhas, é um grupo constituído, noessencial, por uma tríade de motivos cuja presença é assinalável no Norte eCentro de Portugal: cruzes, pegadas e ferraduras. De igual modo, a distribuiçãodas manifestações que se podem agregar genericamente sob a designação deArte Esquemática gravada em penedos ao ar livre e que corresponde ao reper-tório figurativo do grupo II proposto por António Martinho Baptista (1983-1984), perpassa aquela «área de transição» e estende-se a todo o Noroeste51.

Como se sabe, este mesmo autor atribuiu uma longa vigência temporalaos tipos mais característicos deste conjunto: os cruciformes. Qualquer inves-tigador destro e experiente reconhece o quão problemático é, muitas vezes,discernir entre representações de cronologia pré-histórica e histórica quandose depara com gravuras de cruzes, antropomorfos esquemáticos ou mesmo al-gumas figuras em “fi”, sobretudo se afectadas por um considerável grau deerosão. Isto explica a enorme dificuldade que há em definir, com rigor, a cro-nologia ou diacronia(s) dos sítios com Arte Esquemática gravada: por um lado,alguns motivos apresentam claros paralelos na pintura Neolítica-Calcolíticados abrigos, por outro lado, as figuras cruciformes, mais ou menos antropo-morfizadas, são apanágio da iconografia rupestre de época medieval e mo-derna. Do primeiro caso, poderia ser um bom exemplo a laje gravada daCorbela (Pena), uma laje granítica subtriangular, fracturada, ostentando um es-caleriforme e um motivo classificado por Pilar Acosta como um “halteriformepluricircular” cujos melhores paralelos se encontram, em território português,nas pinturas rupestres da Lapa de Louções (Portalegre) (Santos e Marques,1999). Porém, a verdade é que não sabemos efectivamente se se trata de umbloco destacado de um penedo ao ar livre ou, por exemplo, de um fragmentode um esteio de um monumento megalítico. Sabe-se apenas que foi descobertanas faldas meridionais da Serra do Alvão.

É verdade que a simplicidade estilística da cruz a dota de um carácter polis-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 82

Page 84: Issn 0871 - 4061

sémico, passível de adquirir, à semelhança das covinhas, novos sentidos ao longodo tempo, um aspecto que A. M. Baptista também salientou (1983-1984: 76-77).A ‘pré-existência’ de cruciformes simples e antropomorfos esquemáticos de tipo-logias diversas em sítios como o Tripe (Baptista, 1983-1984: 77 e Est. II; Jorge,1991: 362-363) ou a Botelhinha (Alijó) poderão ter sido, com o advento do Cris-tianismo52, apelativos para as comunidades rurais que, encontrando afinidadesmorfológicas com símbolos religiosos, ali gravaram e regravaram o mesmo tipode motivos, ‘reinventando’ o significado dos lugares53. Estes lugares terão fun-cionado como verdadeiras âncoras na manutenção da topologia simbólica daque-las comunidades. No Norte de Portugal, rochas com gravuras pré-históricas foramconvertidas em marcos territoriais e outras criadas ex novo com idêntico propósitodesde, pelo menos, a mudança de Era (e.g. Alves 1934: 579-584). Uma longa tra-dição, sem dúvida, visto que sabemos terem sido gravadas duas cruzes no topodo Penedo dos Lobos pelos presidentes das Juntas de Freguesia de Canedo e Vilar,do concelho de Boticas, nos alvores do IIIº milénio DC!

Em suma, é unanimemente aceite que a Arte Esquemática gravada ao arlivre tem uma génese pré-histórica e se filia na arte dos abrigos pintados (e.g.Baptista, 1983-1984, 1986; Jorge, 1991; Sanches, 1997) porém, diluídos ossignificados originais dos seus signos mais característicos (e dos sítios), as-siste-se, muitos séculos mais tarde, a uma reapropriação de referentes estilís-ticos ancestrais, processo impulsionado pelo carácter idiossincrático das formasgráficas mais simples. Neste contexto, é de realçar que são comparativamenteescassas as rochas com gravuras rupestres de tradição Atlântica que ostentammarcas de cristianização54. Todavia, tal como se assistiu a uma recuperação dereferentes estilísticos ancestrais em época histórica de alguma imagética daArte Esquemática pré-histórica não se deve descartar a hipótese de que o es-sencial da gramática figurativa da Arte Atlântica possa ter sido visada por umfenómeno semelhante ainda no Passado, Pré ou Proto-histórico. Embora im-porte compreender a génese e delimitar a amplitude temporal do repertório fi-gurativo característico destas tradições artísticas, a sua diacronia não temnecessariamente de ser perspectivada de forma linear.

Nesta síntese, pretendeu-se abordar problemáticas que são ainda incon-tornáveis no estudo da arte rupestre no Noroeste Peninsular, designadamentequestões relativas à convergência espacial e/ou temporal de tradições estilísti-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 83

Page 85: Issn 0871 - 4061

cas em áreas convencionalmente tratadas como sendo «de fronteira» mas sobreas quais escasseiam estudos circunstanciados, e o reconhecimento da extensabiografia de alguns sítios e signos que compõem o acervo. No fundamental,estas problemáticas são igualmente pertinentes na reflexão sobre os contextoshistórico-arqueológicos das estelas de Cervos que trazemos agora à estampa.Como vimos, também a estela antropomórfica de Cruz de Cepos ou Marco doPadrão assinala ainda hoje um limite de termo. Mas, o aspecto mais significa-tivo é o achado de um monólito gravado com uma representação de escudo ca-racterístico das estelas do Bronze Final pertencentes ao tipo II no extremoNorte de Portugal e a sua proximidade espacial com a Cruz de Cepos. Mas aesta convergência no espaço, corresponderá uma idêntica convergência notempo? Sim, se aceitarmos para a Cruz de Cepos a datação do Bronze Finalproposta para as estátuas-menir de Faiões e Chaves (e.g. Jorge, 1991: 367-368). Não, se prosseguirmos a cronologia do IIIº milénio a.C. sugerida para osexemplares espanhóis de Ataúde e Tremedal (e.g. Bueno, et al. no prelo) queapresentam o típico motivo sub-rectangular alongado representado no anversoda Cruz de Cepos. Esperamos que estas (e outras) interrogações permitam rea-nimar a investigação sobre estelas/estátuas-menires em estreita articulação comas restantes manifestações de arte Pré e Proto-histórica de Trás-os-Montes Oci-dental.

BibliografiaALMAGRO-BASH, Martin (1966). Las estelas decoradas del Suroeste peninsular. Biblioteca Praehistorica

Hispana, 8. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Madrid.ALARCãO, Jorge (1986). A Arte do Bronze Final e da Idade do Ferro, História da Arte em Portugal, vol. I, EdAlfa: 57-65.ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1983). Cultura Castreja. Evolução e Problemática. Arqueologia, 8, Porto,pp. 70-74.ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1986). Arte castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e re-sistência à romanidade. Arqueologia, nº 13: 161-172.ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; JORGE, Vítor Oliveira (1979). A Estátua-Menir de Faiões (Chaves). Tra-balhos do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, GEAP, 2, Porto.ALVES, Francisco Manuel (1931). Chaves. Apontamentos arqueológicos. Câmara Municipal de Chaves, Chaves.ALVES, Francisco Manuel (1934). Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança: arqueologia, et-nografia e arte. Emp. Guedes, Tomo IX, Porto.Alves, Lara Bacelar (2002). The Architecture of the Natural World – evidence from rock art in western Iberia, in C.Scarre (ed.), Monuments and Landscape in Atlantic Europe, chapter 4, Routledge, London. New York, pp. 51-69.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 84

Page 86: Issn 0871 - 4061

ALVES, Lara Bacelar (2003). The Movement of Signs. Post-glacial rock art in north-western Iberia. PhD Thesis.Department of Archaeology of the University of Reading (UK), 2 vols. (policopiada).ALVES, Lara Bacelar (no prelo a). O sentido dos signos - reflexões e perspectivas para o estudo da arte rupestredo pós-glaciar no Norte de Portugal”, in R. de Balbín Behrmann (ed), Arte Prehistórico al aire libre en el sur deEuropa, Junta de Castilla y Leon.ALVES, Lara Bacelar (no prelo b). Signs on a rock veil: work on rocks, ‘prehistoric art’ and identity in north-westIberia, in Gabriel Cooney, Blaze O’Connor and John Chapman (eds.), Materialitas: working stone, carving identity.Prehistoric Society Research Papers.AMORIM, João Vaz de (1952). Na citânia de Briteiros - Uma pedra enigmática? O nosso parecer. Revista de Gui-marães, 62:1-2; Guimarães, pp.143-151.ARGOTE, Jerónimo Contador de (1732-1747). Memorias para a Historia Ecclesiastica do Arcebispado de Braga,primaz das Hespanhas. Lisboa: Régia Officina Sylviana, 4 vols.ARGOTE, Jerónimo Contador de (1738). De antiquitatibus conventus bracaraugustani: libri quatuor, vernaculo,latinoque sermone conscripti. Lisboa: Régia Officina Sylviana.BAPTISTA, António Martinho (1981). O complexo de gravuras rupestres da Bouça do Colado (Parada, Lindoso).Giesta, 1 (4); Braga, pp. 1-16.BAPTISTA, António Martinho (1983-84). Arte rupestre do norte de Portugal: uma perspectiva. Portugália, Novasérie: 3-4; Porto, pp. 71-82.BAPTISTA, António Martinho (1986). Arte rupestre pós-glaciária. Esquematismo e abstracção, História da Arteem Portugal, vol.1, Alfa, Lisboa, pp. 31-55.BARREIROS, Fernando (1920). Materiais para a Arqueologia do concelho de Montalegre. O Arqueólogo Portu-guês, 1ª Série, Vol. 24, Lisboa, pp. 71.BRENHA, José (1899-1903) – Dólmens ou antas no concelho de Vila Pouca de Aguiar (Trás-os-Montes). Portu-gália, t. 1, fasc. 1-4, pp. 691-706.BELLO DIÉGUEZ, José Maria (1995). Arquitectura, arte parietal y manifestaciones escultoricas en el Megalitismonoroccidental, in F. P. Losada and L. Castro Pérez (eds.), Arqueoloxía e arte na Galicia Prehistórica e Romana,Monografias 7, A Coruña: Museu Arqueolóxico e Histórico de A Coruña.BETTENCOURT, Ana Maria Santos (2006). A transformação da paisagem e a construção de lugares de memóriadurante a Pré-história Recente do Norte de Portugal: o vale do Assureira, Actas das XVI jornadas Sobre a FunçãoSocial do Museu. Ecomuseu do Barroso - Identidade e Desenvolvimento, Minom-Mov. Internacional para umaNova Museologia, Ed. Câmara Municipal de Montalegre e Ecomuseu do Barroso, Montalegre, pp. 109 - 123.BETTENCOURT, Ana Maria Santos e SANCHES, Maria de Jesus (1998). Algumas questões sobre a Idade doBronze do Norte de Portugal, in R. Fábregas Valcarce (ed.), A Idade do Bronze en Galicia. Novas perspectivas.Cadernos do Seminário de Sargadelos 77. Edicios do Castro, A Coruña, pp. 13-45.BETTENCOURT, Ana Maria Santos; DINIS, António (2007). Arquitecturas e transformação de espaços naturaisna Pré-história Recente do Norte de Portugal: Campo de Caparinho, Vilar de Perdizes, Montalegre), in S. O. Jorge,A. M. S. Bettencourt, Figueiral, I. (eds.) A concepção das paisagens e espaços na Arqueologia da Península Ibérica.Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Faro, 14 a 16 de Setembro de 2004), Promontoria Monográfica08, Centro de Estudos de Património, Departamento de História, Arqueologia e Património (Universidade do Al-garve), pp. 121-130.BETTENCOURT, Ana Maria Santos; SANCHES, Maria de Jesus, DINIS, António; CRUZ, Carlos Simões (2004).The rock engravings of Penedo do Matrimónio in Campo de Caparinho, Vilar de Perdizes, Montalegre (NorthernPortugal). journal of Iberian Archaeology, vol. 6, ADECAP, Porto, pp. 61-82.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 85

Page 87: Issn 0871 - 4061

BRADLEY, Richard, FÁBREGAS VALCARCE, Rámon, ALVES, Lara Bacelar, VILASECO VÁZQUEZ, XoséIgnácio (2005). El Pedroso – A prehistoric cave in Castille, journal of Iberian Archaeology, vol.7, Porto, pp. 125-156.CALO LOURIDO, F. (1994). “A plástica da cultura castrexa galego-portuguesa”. Fundación Pedro Barrié de laMaza. A Coruña.CASTINEIRA, Josefa Rey; SOTO-BARREIRO, Maria José (2001). El arte rupestre de Castroeiro (Mondim deBasto – Portugal) y la problemática de los petroglifos en castros, in A. P. Dinis, O povoado da Idade do Ferro doCastroeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal), Cadernos de Arqueologia. Monografias. Unidade de Arqueologiada Universidade do Minho. ICS, Universidade do Minho, Braga, pp. 159-200.CARVALHO, Pedro Sobral; GOMES, Filipe Coutinho (2000). O Dólmen da Fonte Coberta (Alijó, Vila Real). Es-tudos Pré-Históricos, Vol. VIII. Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, p. 19-47.CORRÊA, A. A. Mendes (1929). Arte rupestre en Trás-os-Montes (Portugal). Revue Archaeologique, 29, pp. 126-136.COSTA, António Carvalho da (1712). Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Por-tugal. Lisboa, Officina de Valentim da Costa Deslandes, 3 vols.CRUZ, Domingos de Jesus (1985). A Necrópole Megalítica da Serra do Alvão. Trabalhos de Antropologia e Et-nologia, 25:2-4; Porto, pp. 396-406.CRUZ, Domingos Jesus da, GONÇALVES, A. Huet de Bacelar (1994). Resultados dos trabalhos de escavação daMamoa 1 de Madorras (S. Lourenço de Ribapinhão, Sabrosa, Vila Real), Estudos Pré-históricos, Vol. 2, Centro deEstudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, pp. 171-232.CRUZ, Domingos Jesus da, GONÇALVES, A. Huet de Bacelar (1995). Mamoa 1 de Madorras (Sabrosa, VilaReal). Datações de Carbono 14. Estudos Pré-históricos, Vol. 3, Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta,Viseu, pp. 151-158.DINIS, António Pereira (2001). O povoado da Idade do Ferro do Castroeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal).Cadernos de Arqueologia - Monografias. Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. ICS. Universidadedo Minho.ERVEDOSA, Carlos Manuel Nascimento (1991). Carta Arqueológica do Concelho de Vila Real. Vila Real.FONTE, João (2008). Duas Peças Decoradas “Castrejas” do Alto do Castelo (Salto, Montalegre) - In Fórum Va-lorização e Promoção do Património Regional, Vol. 3 – Do Paleolítico à Contemporaneidade (Vila Nova de FozCôa, 29 de Junho de 2007), Vila Nova de Foz Côa, pp. 62-79.FONTE, João, SANTOS ESTÉVEZ, Manuel, ALVES, Lara Bacelar, LÓPEZ NOIA, Raquel (no prelo). La Pedrada Póvoa (Trás-os-Montes, Portugal). Una pieza escultórica de la Edad del Hierro, Trabajos de Prehistoria, CSIC,MadridFORTES, José T. Ribeiro (1908). Ouros protohistóricos da Estella (Póvoa de Varzim). Portugália, Porto. 2, pp.605-618.FREITAS, Adérito Medeiros (1989). A Cerca de Ribas (Ribas, freguesia de Argeriz, concelho de Valpaços). Revistade Guimarães, 99 Jan.-Dez. 1989, Guimarães, pp. 319-367.FREITAS, Adérito Medeiros (2001). Concelho de Valpaços. Carta Arqueológica. Valpaços.GONÇALVES, A. A. Huet de Bacelar, CRUZ, Domingos J. da (1994). Resultados dos trabalhos de escavação damamoa 1 de Madorras (S. Lourenço de Ribapinhão, Sabrosa, Vila Real). Estudos Pré-históricos, vol. II, pp. 171-232.GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2004). Artistic expression and material culture in Celtic Gallaecia. e-Keltoi journal ofInterdisciplinary Celtic Studies 6. The Celts in the Iberian Peninsula: 113-166.JORGE, Susana Oliveira (1999). Domesticar a Terra. Gradiva, Lisboa.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 86

Page 88: Issn 0871 - 4061

JORGE, Susana Oliveira, JORGE, Vítor Oliveira (1991). Incursões na Pré-história. Fundação Eng. António deAlmeida, Porto.JORGE, Vitor Oliveira (1983-84). Megalitismo do Norte de Portugal: um novo balanço, Portugália, nova série,vol. IV/V, Porto, pp. 37-45.JORGE, Vitor Oliveira (1997). Mamoas do Norte de Portugal: Estado da questão em 1981- I. Minho e Trás-os-Montes. Revista da Faculdade de Letras – História, II Série, XIV, Porto, pp. 603-654.JORGE, Vítor Oliveira; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1980). A Estátua-Menir Fálica de Chaves. Tra-balhos do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, GEAP, 6, Porto.LAUTENSACH, Hermann (1995). A posição geográfica. Portugal no contexto Ibérico, in O. Ribeiro, H. Lauten-sach, S. Daveau (eds), Geografia de Portugal. Volume I: A Posição Geográfica e o Território, Ed. João Sá da Costa,Lisboa, pp.3-2.LEMOS, Francisco de Sande (1993). Povoamento romano de Trás-os-Montes Oriental. Braga, Dissertação deDoutoramento apresentada na Universidade do Minho (policopiada).LOPES, António Baptista, SILVA, Armando Coelho Ferreira da, PARENTE, João Ribeiro, CENTENO, Rui ManuelSobral (1994). A estátua-estela do Marco (Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar). Notícia preliminar. Portugália,Nova Série, vol. IV/V, Porto, pp. 147-150.MARTINS, João Baptista (1980). Outeiro dos Mouros de Calvão. Notícias de Chaves, Chaves, 6/06/1980.MARTINS, João Baptista (1982). Arte rupestre nas Meias de Casas de Monforte. Notícias de Chaves, Chaves,02/07/1982.MARTINS, João Baptista (1995). Arte Rupestre em Sanjurge. Revista Aquae Flaviae, n.º 13, Junho 1995, Chaves.MIRANDA JÚNIOR, Avelino; SANTOS, Joaquim Norberto dos, SANTOS JÚNIOR, J. R. (1985). Castros doConcelho de Boticas - II. Campanhas de 1984 e 1985. Anais da Faculdade de Ciências do Porto, 66:1-4; Porto,pp. 5-96.NUNES, Susana Andreia (2003). Monumentos sob tumulus e o meio físico no território entre Corgo e Tua (Trás-os-Montes): aproximação à questão. Porto. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto (policopiada).RIBEIRO, Orlando (1963). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Esboço de relações geográficas, Livraria Sáda Costa Editora. Lisboa.RODRIGUES, Raphael (1895). Dólmens ou antas em Villa Pouca de Aguiar. O Arqueólogo Português, 1ª série:1, Lisboa, pp. 36-37; pp. 346-352.SANCHES, Maria de Jesus (1990). Os abrigos com pintura esquemática da Serra de Passos – Mirandela, no con-junto da arte rupestre desta região. Algumas reflexões. Revista da Faculdade de Letras - História, 2ª série, vol. 7,FLUP, Porto, pp. 335-356.SANCHES, Maria de Jesus (1992). Pré-história Recente no Planalto Mirandês (Leste de Trás-os-Montes), Grupode estudos Arqueológicos do Porto. Monografias Arqueológicas 3, Porto.SANCHES, Maria de Jesus (1997). Pré-História recente de Trás-os-Montes e Alto Douro. O abrigo do Buraco daPala (Mirandela) no contexto regional. Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 2 vols.SANCHES, Maria de Jesus (2000). A pedra gravada do Castelo (Jou - Murça), Estudos Pré-históricos, vol VIII,Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, pp. 221-227.SANCHES, Maria de Jesus (2001). Spaces for social representation, choreographic spaces and paths in the Serrade Passos and surrounding lowlands (Trás-os-Montes, Northern Portugal) in Late Prehistory, ARKEOS (Territórios,Mobilidade e Povoamento no Alto Ribatejo III) Arte Pré-histórica e o seu contexto 12, Instituto Politécnico deTomar, Tomar, pp. 65-105.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 87

Page 89: Issn 0871 - 4061

SANCHES, Maria de Jesus, NUNES, Susana Andreia (2005). Monumentos em pedra numa região de Trás-os-Montes - Nordeste de Portugal. Sua expressão na paisagem habitada durante o 4º e 3º mil. BC. Revista da Faculdadede Letras - Ciências e Técnicas do Património, I Série, vol. IV, Porto, pp. 53-82.SANCHES, Maria de Jesus; NUNES, Susana Andreia; SILVA, Margarida Santos (2005). A Mamoa 1 do Castelo(Jou) – Murça (Trás-os-Montes): Resultados dos trabalhos de escavação e restauro dum Dólmen de Vestibulo. Por-tugália, Nova série, vol. XXVI, Porto, pp. 5-39.SANCHES, Maria de Jesus, SANTOS, Branca do C. T. O. (1987). Levantamento Arqueológico do Concelho deMirandela. Portugália, Nova Série, vol. VIII, pp. 17-56.SANTOS, André Tomás, MARQUES, João Nuno (1999). A rocha gravada da Corbela (Pena, Vila Real): notíciapreliminar e algumas considerações, Estudos Pré-históricos, Vol. 7, Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta,Viseu, pp. 301-302.SANTOS, P. M. (1995). O povoado do Alto de Sta. Ana, Chaves, S. O. Jorge (coord.) A Idade do Bronze em Por-tugal. Discursos de Poder (catálogo de exposição), Instituto Português de Museus / Museu Nacional de Arqueologia,Lisboa, pp. 117.SANTOS ESTÉVEZ, M. (1998). Los espacios del arte: el diseño del panel y la articulación del paisage en el arterupestre gallego, Trabajos de Prehistoria, 55, nº2, Madrid, pp. 73-88.SANTOS ESTÉVEZ, M. (2005). Sobre a cronologia del arte rupestre atlântico en Galicia, Archaeoweb, 7 (2) Se-tembro./Dezembro, disponível em Janeiro de 2009 no site http://www.ucm.es/info/arqueoweb.SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1933). O abrigo pré-histórico da «Pala Pinta», Trabalhos de Arqueologiae Etnologia, vol. 6 (1), pp. 33-43.SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1940). Arte rupestre em Portugal. Congresso do Mundo Português, vol.1, pp. 327-376.SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1978). As gravuras rupestres do Outeiro Machado. Trabalhos de Antro-pologia e Etnologia, 23, 2ª série, Porto, pp. 207-234.SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1982). 30ª Campanha de escavações no Castro de Carvalhelhos - Agostode 1981. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Porto. 24: 2, pp. 249-264.SERPA PINTO, Rui de (1929). Petroglifos de Sabroso e a Arte Rupestre em Portugal. Nós, 62, pp. 19-26.SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986). A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: MuseuArqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira.TEIXEIRA, Joana (no prelo). Between the engraving and the sculpture: a phenomenological approach to the pre-historic rock place of Lampaça (Valpaços - Northwest Iberian Peninsula), in Ana M. S. Bettencourt, M. J. Sanches,L. B. Alves, & R. Fábregas Valcarce (eds.), Conceptualising Space and Place. On the role of Agency, Memoryand Identity in the construction of Space from the Upper Paleolithic to the Iron Age in Europe, Proceedings of the15th Congress of the International Union for Prehistoric and Protohistoric Sciences, Lisbon, September 2006.VASCONCELOS, José Leite de (1897). As religiões da Lusitânia. Volume I. Imprensa Nacional. Lisboa.VASCONCELOS, José Leite de (1917). Coisas velhas - 5ª. Antiguidades do Distrito de Coimbra. O ArqueólogoPortuguês 22, 1-2, pp. 107-169.

1 Posteriormente, num manuscrito de 1721, Memórias de Anciães, da autoria de João Pinto de Morais e Antóniode Sousa Pinto, faz-se referência aos «caracteres» pintados numa fraga vertical e à existência de um «portal» pró-ximo daquela rocha, através do qual se acede a uma «grande salla com assentos á roda». Este texto terá servidode base à descrição publicada pelo Contador de Argote, segundo relata o Abade de Baçal (Alves, 1934: 635).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 88

Page 90: Issn 0871 - 4061

2 Trata-se, como se sabe, de um dos mais antigos registos gráficos publicados de um sítio com arte rupestre naEuropa Ocidental.3 Infelizmente, a fama restringe-se à bibliografia e este sítio será um bom candidato a dois títulos em simultâneo,o de sítio com a designação mais original e também o de sítio mais elusivo, já que posteriormente à visita efectuadapelo Abade de Baçal mais ninguém o conseguiu encontrar, apesar de algumas tentativas.4 Este número, tão preciso, deverá ser olhado com alguma prudência, naturalmente. Ele reflecte todas os registospresentes nas fontes que nos foi possível consultar, mas não garantimos em absoluto que tenhamos tido acesso àsua totalidade, designadamente àquelas dadas à estampa em publicações periódicas ou monografias locais deescassa divulgação, assim como às descobertas mais recentes decorrentes de investigações no âmbito do últimoPNTA ou Estudos de Impacte Ambiental. Quanto aos novos registos decorrentes da actividade da Extensão de Ma-cedo de Cavaleiros do ex-IPA, estamos mais seguros, uma vez que sabemos serem, de imediato, introduzidas nabase de dados “Endovélico”. Cremos, no entanto, que visámos grande parte das fontes, pelo que este número serábem representativo da realidade actual.5 À medida que o conhecimento sobre os diferentes sítios for progredindo, cremos que o ideal será registar gene-ricamente o sítio ou estação arqueológica e individualmente cada superfície decorada no caso dos conjuntos dearte rupestre em penedos ao ar livre e não duvidamos que será perfeitamente possível vir a desafiar a liderança doTripe em número de rochas.6 Para as considerações numéricas que aqui tecemos, tomou-se como fonte de identificação de um determinadosítio a que primeiro se refere a ele, embora possa ter sido visado em ulteriores publicações.7 As Extensões do Instituto Português de Arqueologia (IPA) foram extintas e as suas competências técnicas re-en-quadradas na actual Divisão de Arqueologia Preventiva e de Acompanhamento (DAPA) do Departamento de Sal-vaguarda do IGESPAR, I.P., organismo criado, em 2007, como resultado da fusão dos antigos IPA e IPPAR.Contudo, mantemos a referência à Extensão de Macedo de Cavaleiros já que todos os sítios de arte rupestre a quealudimos e que enformam o nosso inventário foram registados durante a vigência do IPA, entre 1997 e 2007.8 Não contabilizamos a inventariação dos sítios já conhecidos que, em muitos casos, se revestiu de fundamentalimportância para a existência de uma descrição minimamente adequada e uma localização precisa; por outro lado,se alguns destes sítios foram directamente descobertos pelos arqueólogos, na maioria dos casos a sua existência foiindicada pela população local.9 Das outras duas, uma foi identificada num EIA, da responsabilidade dos arqueólogos Miguel de Almeida e GinaDias (cf. Endovélico, CNS 21932), sendo a sua localização exacta por nós desconhecida, e a última foi descobertapelos signatários, numa visita ao local com revisão de todos estes sítios.10 A Pedra da Póvoa foi descoberta por Emanuel Ribeiro, técnico na área do Património da Câmara Municipal deRibeira de Pena que informou a Extensão de Macedo de Cavaleiros do ex-IPA tendo sido um dos seus técnicos,António Luís Pereira, responsável pelo seu registo na Base de Dados “Endovélico” (Fonte, et al., no prelo).11 Entre 1997 e 2007 foram publicados pouco mais de uma dúzia de artigos sobre a arte rupestre de Trás-os-MontesOcidental.12 Este é um número anormalmente alto e que reflecte a grande quantidade de informação veiculada recentementepelos projectos de investigação arqueológica, EIAs e pelos trabalhos de confirmação da localização de sítios ar-queológicos pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA.13 No âmbito da preparação deste trabalho foi efectuado o reconhecimento in loco de diversos sítios com arte ru-pestre, o que nos permitiu recolher informações inéditas sobre 28 ocorrências e actualizar informações sobre 60sítios num total de 209, cerca de 28% do total, o que nos parece bastante pouco e dá uma ideia do muito que aindahá por fazer!

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 89

Page 91: Issn 0871 - 4061

14 Para dotar o inventário da maior abrangência possível incluíram-se três dos monumentos da Serra do Alvão, Chãde Arcas 1, Penedos Alvos e Frieiro, mesmo tendo consciência dos problemas levantados em torno da autenticidadedas pequenas pedras com incisões geométricas e zoomórficas encontradas nos dois primeiros. Quanto aos esteiosou lajes de cobertura gravadas ou pintadas, não se faz ainda a distinção entre arte megalítica pré-histórica e eventuaisgravuras recentes, nomeadamente cruzes (como no dólmen 6 da Veiga, também conhecido por Toutiço da Veiga,em Meixedo, Montalegre (Barreiros, 1920: 75-76), pois na maioria dos casos não temos informação suficientepara proceder a uma caracterização rigorosa desses monumentos, à excepção, como é evidente, das duas antas compintura e gravura sobre os esteios - Fonte Coberta (Alijó) (Carvalho e Gomes, 2000) e Madorras 1 (Sabrosa) (Gon-çalves e Cruz, 1994), das gravuras presentes num esteio da Mamoa 1 do Castelo (Murça) e nos dos monumentosdo Alto das Madorras 4 e 7 (Alijó) (Sanches e Nunes, 2005).15 Identificadas, em 2007, pela Extensão de Macedo de Cavaleiros, constam já da base de dados patrimonial En-dovélico, com os CNS 30000 e 30001. A Pedra d’Anta foi inventariada, em 2003, e tem o CNS 19328.16 Não discretamente, o título desta secção alude a uma pertinente questão colocada por A. Martinho Baptista comque, aliás, encerra a sua síntese de 1983-84, estimulando simultaneamente a abertura de novas perspectivas: «…qual a influência do megalitismo (ou megalitismos) na génese ou desenvolvimento dos grupos do Noroeste? Aspectoparticularmente importante, a pesquisar em futuros trabalhos, pois será talvez aqui que tradição e invenção mais seconfrontam.» (1983-84: 81).17 Domingos Cruz elaborou, em 1985, um trabalho de inventariação com base em prospecções arqueológicas se-lectivas que permitiu incidir nova luz sobre o megalitismo no Alvão, sendo um dos últimos artigos de síntese sobreeste conjunto. A investigação mantém-se em áreas periféricas às grandes necrópoles, designadamente no concelhode Mondim de Basto, em projectos liderados por António Dinis.18 Embora o Padre Brenha assinale a presença de nódulos de colorantes no espólio de alguns dos monumentos poreles explorados (1899-1903).19 A Pedra d’Anta ostenta duas cruzes de época histórica, certamente associadas a actos de cristianização ou marcasde termo. Este grande menir, com cerca de 4,30m de comprimento, localizado na borda noroeste do planalto daAlvadia, ocupa o ponto central de uma suave baixa entre duas lombas, imediatamente a Norte da abrupta e profundafalha do rio Poio, a Oeste surge a encosta do planalto, para o baixo vale de Cerva e Limões. A Leste está o planaltode Alvadia, enquanto que a Sul se erguem os elevados cumes do planalto superior da Serra do Alvão. Pode consi-derar-se que este monumento se encontra no melhor acesso natural para todos estes lugares. De acordo com infor-mações obtidas localmente, a pedra foi há alguns anos retirada da sua posição erecta, encontrando-se actualmentedeitada no solo, ao lado de uma cavidade no terreno que assinala a sua posição anterior. Os outros três menires sãoo monumento Praina do Outeiro 3 (cf. Endovélico, CNS 16657), um outro menir de Ribeira de Pena, de origemdesconhecida (cf. Endovélico, CNS 19415), e um menir recentemente aparecido em Vila Real, de origem tambémdesconhecida (cf. Endovélico, CNS 30006).20 Trata-se de um dos cinco monumentos, assinalado com o nº 32 no mapa de distribuição publicado por R. Rodri-gues (1895).21 Ao ponto de ter adquirido a laje e o espólio osteológico a ela associado para a colecção do então Museu Ethno-graphico Português, actual Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcelos, 1897: 360, nota 1)22 Estas informações divergem um pouco daquelas fornecidas anteriormente por R. Rodrigues, que refere que alaje mede 1,30m de comprimento e 0,90m de largura e contem 36 covinhas (1895: 349).23 Perante o ineditismo de tal circunstância, Leite de Vasconcelos insiste em que a pedra provém de um monumentoonde o espólio era constituído por instrumental lítico tal como os restantes na região onde, à época, não havia sidoencontrado qualquer objecto metálico (1897) e reitera assim o parecer de R. Rodrigues. Contrariando esta insinua-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 90

Page 92: Issn 0871 - 4061

ção, Brenha afirma que «o estado de conservação dos ossos parece indicar que elles não datam da epocha neolithica»(1899-1903: 698). A favor da presença de indícios de re-utilização dos monumentos do Alvão em épocas subse-quentes ao seu primeiro período de funcionamento, existe a notícia do aparecimento de um vaso «de bocca larga,em fórma de tigela» contendo cinzas (Brenha, 1899-1903: 699) num dos monumentos de Penedos Alvos.24 O grupo de monumentos e o bloco granítico com covinhas da Chã do Prado foram identificados no âmbito deum EIA de um Parque Eólico (cf. Endovélico, CNS 23186, 23192, 23194, 23195), o mesmo acontecendo com arocha e os monumentos de Gevancas (cf. Endovélico, CNS 15673, 15674 e 15676).25 Inventariadas na base de dados patrimonial - Endovélico - com o CNS 21837.26 O monumento de Vale de Natoda foi mencionado por Ervedosa (1991). As covinhas foram detectadas no âmbitodos trabalhos de relocalização de sítios arqueológicos, pelos técnicos da Extensão de Macedo do IPA (cf. Endové-lico, CNS 6110).27 As mamoas e duas rochas com gravuras rupestres foram inventariadas, em 2007, no âmbito dos trabalhos deconfirmação da localização de sítios arqueológicos pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA (cf. Endovélico,CNS 27646, 27649, 27652, 27672). 28 Foram inventariadas neste local - Alto do Lombo do Malho 6 com o CNS 27673 - pelos técnicos do IPA em2007 uma espiral (que, no local, interpretámos como uma composição de círculos concêntricos) e um círculo.Outras duas gravuras foram detectadas aquando da visita dos signatários no âmbito da realização do presente ar-tigo.29 Esta rocha, designada por Fonte Coberta 1, encontra-se a 70 metros a Leste da Anta da Fonte Coberta e porquese encontra isolada, destaca-se bem na paisagem. O penedo eleva-se cerca de 1, 60m acima do solo, tem uma formavagamente triangular, com cerca de 6m de comprimento e 4m de largura.30 No sítio do Cabeço de que falaremos adiante, detectámos uma gravura deste tipo inserida num conjunto ondesurgem composições de círculos concêntricos e agrupamentos de covinhas.31 Assumindo-se como sendo decorrente de um movimento intrusivo de uma tradição iconográfica tipicamente vo-cacionada para formações rochosas naturais, cuja cronologia poderá arrancar no Vº milénio a.C., para o interior demonumentos construídos (Alves, 2002, 2003).32 A ausência na região de Montalegre dever-se-á alguma ausência de investigação dirigida à arte rupestre, emborasalvaguardemos os resultados do recente projecto de investigação do Campo de Caparinho (Montalegre).33 A caracterização das gravuras rupestres desta rocha, que se encontram muito erodidas, deverá ser aferida commaior rigor através da sua visualização com luz artificial.34 Como é evidente, esta observação apenas poderá ser confirmada aquando do estudo circunstanciado desta rocha.35 Cumpre-nos agradecer esta informação a António Dinis, assim como a sua disponibilidade para nos guiar pelasveredas sinuosas do inspirador Monte da Senhora da Graça nas diversas visitas realizadas por um de nós (LBA),em Julho e Outubro de 2008, aos sítios com arte rupestre de Mondim de Basto e o amável convite para integrar aequipa de investigação que procedeu ao levantamento das gravuras rupestres de Campelo.36 A primeira exibe apenas uma concavidade circular com 56cms de diâmetro e na segunda observam-se três con-cavidades com diâmetros entre os 43 e os 12 cms (Santos Júnior, 1982).37 No Verão de 2008, foi relocalizada esta rocha pela equipa de investigação que procedia a trabalhos de escavaçãoarqueológica no Lesenho. Nessa altura, João Fonte remeteu-nos algumas fotografias das gravuras rupestres, a quemmuito agradecemos. 38 Esta rocha havia sido inventariada pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA (cf. Endovélico, CNS 19723).39 Embora isto não seja perceptível no esboço muito incompleto que Miranda Júnior e outros apresentam na Fig.39 do seu artigo «Castros do concelho de Boticas» (1985: 68).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 91

Page 93: Issn 0871 - 4061

40 O Cabeço é um povoado sobejamente conhecido (cf. Endovélico, CNS 3739), enquanto a primeira rocha gravadafoi descoberta mais recentemente (cf. Endovélico, CNS 19738).41 O Outeiro dos Mouros não foi objecto de reavaliação em anos recentes. O Penedo das Meias poderá ter sido re-movido do local, visto que se mostrou infrutífera uma tentativa de o relocalizar (cf. Endovélico, CNS 3578).42 Embora esteja ainda por confirmar a alusão de Martins aos sulcos semelhantes a esgalhos de veado no Outeirodos Mouros (Calvão).43 Foi identificada em 2000 pela Extensão do IPA de Macedo de Cavaleiros (cf. Endovélico, CNS 15190) e encon-tra-se actualmente em exibição no Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.44 Desconhece-se a proveniência exacta desta peça mas, por ser um elemento arquitectónico, poderá ser oriunda dealgum sítio arqueológico da freguesia de Favaios, talvez o grande castro de Vilarelho, ou o sítio de Santa Bárbara,dentro da própria vila, um pequeno castro com um habitat romano na base.45 Mais concretamente, é-nos dito por José Fortes (1908) que duas vêm de Cortinhas e que as outras são provenientesde um sítio romano da mesma freguesia, que provavelmente também corresponderá às Cortinhas.46 Note-se que, para esta análise, apenas consideramos as rochas com gravuras rupestres que se situam no interiordo recinto amuralhado ou no seu entorno imediato, ou seja, na zona de acesso ou nas encostas. Excluem-se assimos casos onde se verifica apenas uma relação visual, por mais sugestiva seja, como sucede com a Fraga das Passadas(Valpaços), localizada numa encosta directamente em frente ao povoado do Alto da Cerca. A única excepção queadmitimos foi a Pedra Formosa dos Meirinhos (Ribalonga) encontrada no vale que se abre na base do castro deRibalonga.47 Um exemplo paradigmático de um povoado que havia sido identificado como contendo materiais arqueológicosdatáveis do Calcolítico e da Idade do Ferro é o do Alto de Sta. Ana (Outeiro Sêco, Chaves) mas no qual foi poste-riormente comprovada a existência de um nível de ocupação dos finais do século XIV e finais do século IX a.C.,e recolhidos fragmentos avulsos de cerâmica de tipo “Penha” (Santos, 1995).48 Cf. nota 26.49 Para mais informação sobre este sítio, cf. Endovélico, CNS 3739.50 Embora classifiquemos assim estes motivos, as características morfológicas das representações da Cruz do Coronão coincidem claramente com os conhecidos “escutiformes” que, na Galiza, acompanham as gravuras de armasatribuíveis ao Calcolítico e Idade do Bronze.51 Esta temática merece, sem dúvida, uma investigação aprofundada e Trás-os-Montes Ocidental constitui-se comouma das regiões mais favoráveis à sua prossecução. Não nos sendo possível alongar com uma análise preliminarsobre esta problemática por termos ultrapassado em muito o espaço disponibilizado para este nosso contributo,devemos remete-la para um trabalho futuro.52 Todavia, será pertinente investigar as eventuais funcionalidades destes lugares na Idade do Ferro, período que,segundo A. M. Baptista, coincide com o apogeu da criação dos ‘santuários’ do grupo II (1983-1984: 77).53 Um bom exemplo de reconversão simbólica de motivos Pré-históricos é o da Casa do Moro, mais conhecidacomo o ‘santuário’ de El Pedroso (Zamora, Espanha) (Bradley, et al. 2005).54 Uma das excepções, para citar um caso bem conhecido, é o Penedo do Encanto na Bouça do Colado (Baptista,981).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 92

Page 94: Issn 0871 - 4061

dos enteRRAMientos de lA edAd del BRonce de lA PRovinciA de ouRenseTWO BRONZE AGE BURIALS FROM OURENSE (NW OF IBERIANPENINSULA)

Resumen: Se presentan los resultados del estudio de dos enterramientos no monumentalesde la provincia de Ourense: la cista de A Forxa (Vilariño de Touzas, Riós, Ourense) y la fosa de Ca-meixa (Figueiroa, Boborás, Ourense). Aunque estos yacimientos ya han sido publicados parcial-mente, y el número de recipientes registrados es pequeño, cuatro vasos en A Forxa y uno en Cameixa,este trabajo es importante ya que se aportará toda la información de conjunto disponible hasta elmomento, dataciones, estudios formales y arqueométricos de los recipientes, ello nos permitirá en-marcarlos en un contexto regional más amplio.

Palabras clave: Enterramientos no monumentales, A Forxa, Cameixa, Cerámica, III y IImilenios BC, Arqueometría.

Abstract: We present the results of an archaeological study of two non-monumental buri-als from Ourense (NW of Spain): A Forxa cist (Vilariño de Touzas, Riós, Ourense) and theCameixa pit (Figueiroa, Boborás, Ourense). This work is important because we go to offer thewhole available information, although we will emphasize the pottery, only five vessels, from aformal and archaeometric point of view. This will allow us to relate these sites to the regionalcontexts.

Keywords: Non-monumental burials, A Forxa, Cameixa, Pottery, III and II milennia BC,Archaeometry.

introducciónEl objetivo de este trabajo es presentar dos enterramientos localizados en

la provincia de Ourense (fig. 1), la cista de A Forxa excavada en 1995 por F.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 93

M. P. Prieto MartínezLabOratOriO de PatrimONiO, PaLeOambieNte y PaiSaje. iNStitutO de

iNveStiGaCiONeS teCNOLóGiCaS, uNiverSidade de SaNtiaGO de COmPOSteLaO. Lantes Suárez

uNidade de arQueOmetría, riaidt - ediFiCiO CaCtuS, uNiverSidade deSaNtiaGO de COmPOSteLa

A. Martínez Cortizas dePartameNtO de edaFOLOGía y QuímiCa aGríCOLa, uNiverSidade de SaNtiaGO

de COmPOSteLa

Page 95: Issn 0871 - 4061

Médel Fernández, y la fosa de Ca-meixa excavada en 1997 por C. Par-cero Oubiña. Es la primera vez quese reune la información completa deambos yacimientos, ya publicadosparcialmente. Éstos pueden conside-rarse como ejemplos paradigmáticosde sepultura de la Edad del BronceInicial en Galicia. A partir de los di-ferentes datos disponibles, mostrare-mos que las teorías tradicionalescronotipológicas para el NW de la

Península Ibérica no funcionan en estos dos casos. Nos centraremos principal-mente en el ajuar cerámico, cuatro vasos en A Forxa y uno en Cameixa, su ele-mento más llamativo. Finalmente, trataremos el contexto regional en el que seinsertan.

A Forxa (Fx)A Forxa se localiza en Vilariño de Touzas (ayuntamiento de Riós), se situa

en la cuerda de una dorsal no muy alta (800 m.s.n.m.), de considerable anchuray bastante llana, que se inscribe en un dominio de valle amplio jalonado por elRío de Serranova. Se trata de una cista de forma rectangular, orientada E-W,formada por cuatro losas de pizarra, y tapada con, al menos, dos lajas delmismo material. Fue localizada por un vecino del lugar mientras realizaba la-bores agrícolas en su finca, así que únicamente se pudo documentar lo quequedaba de la cista, una vez dicho vecino avisó del hallazgo. Aún así, se cons-tató que su estructura de cuatro losas de esquisto, de 1,50 m en el eje E-W,0,90 m en el eje N-S y 0,60 m de profundidad, estaba construida sobre un fosoexcavado directamente en el sustrato mineral (Méndez 1995).

En su interior se recogieron los fragmentos de cuatro cacharros de cerá-mica que responden a un patrón formal muy homogéneo (fig. 2, izquierda).Todos ellos son de perfil troncocónico y su tamaño oscila entre 0,9 y 1,2 litros.Se aprecia la técnica de urdido en el modelado, junto con unas texturas com-pactas medias, en las que predomina la mica como desgrasante más visible y

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 94

Figura 1. Los yacimientos de A Forxa y Cameixa ysu localización en la región

Page 96: Issn 0871 - 4061

cuyo tamaño máximo es de 3 mm, el grano más pequeño es relativamente abun-dante y está distribuido de manera irregular en la mezcla arcillosa (fig. 2, cortetransversal, ver descripción más detallada de las dos muestras en el apartado deanálisis). El color superficial exterior es marrón claro con un acabado bruñidomedio, siendo más tosco en el interior. La fractura muestra una cocción oxidantebicroma, ya que en la parte exterior en rojiza y en la interior negruzca. En lasuperficie interior de los cuatro recipientes hay abundante materia orgánica car-bonizada que podría indicar una misma funcionalidad para los cuatro (Prieto1999a y 1999b) (fig. 2, superficie interna). El dueño de la finca informó haberlosrecuperado de la parte NW del interior de la cista. Este tipo de recipientes sonsemejantes a los encontrados en A Pedrosa (también en el S de Ourense) (Ta-boada 1971). Hay abundantes paralelos en el N de Portugal como los halladosen la cista de Gorgolâo (Silva 1994), Corvihlo ( Sanches 1982), Meixedo y Ma-moinha da Serra (Sanches 1981), Touredo, Lomba de Coimbró, Portela do Gor-gurâo (Sanches 1980), o la mámoa de Terranha (Bettencourt 1982).

Estos recipientes poseían abundantes restos carbonizados en el interior de susparedes, uno de ellos fue analizado, obteniéndose una cronología de 1746-1523 -2σ cal BC- (Ua-21691: 3370±45 BP) (Stuiver 2005), del Bronce Medio según unacronología tradicional. Además, se analizaron los contenidos de los recipientes 3y 4. Los resultados obtenidos en ambos fueron oxalato, almidones afectados porel malteado y el ataque enzimático, levaduras, fitolitos de cereales interpretadoscomo cerveza (Prieto et al. 2005), por lo que nos encontramos con los recipientesmás antiguos de Galicia con contenido de cerveza. Esta sustancia es frecuentementeencontrada en la Península Ibérica desde el Bronce Inicial, y en concreto para estemomento de la prehistoria es frecuente en vasos campaniformes profusamente de-corados (Juan-Tresserras 1997, Guerra 2006). En el Bronce Final se documentanincluso las diferentes fases de fabricación de este producto, como es el caso delyacimiento catalán de Genó (Maya, López y Juan-Tresserras 1999).

cameixa (cx)Cameixa se localiza en Figueiroa (Boborás), próximo al conocido Castro

de Cameixa, al pie de los Montes do Testeiro -Terra do Carballiño-, en unazona de valles interiores que vierte en el río Víñao, afluente del Miño. En con-creto se emplaza en un pequeño rellano a 407 m.s.n.m. situado en la ruptura

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 95

Page 97: Issn 0871 - 4061

convexa de la pendiente, bastante abrupta, que desciende hacia el río Viñao.Se trata de una fosa de forma subglobular achatada en altura, probable-

mente de planta circular, excavada directamente en la roca (granito base), de1,20 m de largo máximo conservado (1 m en la boca), 0,40 m de ancho con-servado y 0,75 m de profundidad. En su interior se pueden distinguir cuatrounidades estratigráficas con abundantes carbones de pequeño tamaño; en lasque aparecen fragmentos de cerámica hecha a mano y, casi apoyado directa-mente sobre el fondo de la fosa, un gran cacharro colocado inclinado bocaabajo (Parcero 1997). Aunque inicialmente se pensó que fuese un enterra-miento del Bronce Final, un sedimento del interior del recipiente proporcionóuna cronología de 2335-2039 -2σ cal BC - (UtCNr-7276: 3778±40 BP) (Criadoet al. 2000: 75), localizándola claramente en el Bronce Inicial, y en pleno des-arrollo del campaniforme en Galicia. Dado el contexto cerrado y perfectamentedelimitado del que procede, esta datación debe relacionarse con el proceso ori-ginal de deposición de este contexto, interpretado como una cremación.

Esta urna es de perfil bitroncocónico y 19,5 litros de capacidad (fig. 2, de-recha). La técnica de urdido en el modelado es tosca apreciándose churros deunos 30 mm de grosor, en algunas partes unidos defectuosamente, sobre todo

en la zona de la carena. Al igual queen A Forxa, posee texturas compactasmedias, en las que predomina la micacomo desgrasante más visible. Éstano supera los 3 mm, es abundante yestá distribuida de manera irregular,sin embargo, hay algún grano decuarzo excepcional que alcanza los 6mm (fig.2, corte transversal, ver des-cripción más detallada de la muestraen el apartado de análisis). El colorsuperficial exterior es marrón claroanaranjado muy irregular con un aca-

bado bruñido medio, siendo más tosco en el interior, igual que los recipientesde A Forxa. La fractura muestra una cocción oxidante muy irregular, según laparte del perfil posee uno, dos o tres nervios, resultado de una cocción despre-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 96

Figura 2. Dibujos de la cerámica de A Forxa y de Ca-meixa (hechos por Anxo Rodríguez Paz) y fotos de losrecipientes.

Page 98: Issn 0871 - 4061

ocupada de un recipiente grande con paredes anchas. En un nivel decorativo,destaca su diseño sencillo limitado a la parte superior de la urna realizado conuna llamativa aplicación plástica de una línea horizontal de mamelones delimi-tados por dos cordones (Prieto 2005). No hemos encontrado un paralelo en elNW peninsular para este recipiente. Aunque ese tipo de decoración se ha podidoencontrar en recipientes del NW que poseen un tratamiento técnico semejante,las morfologías son bien diferentes a las de Cameixa, y más bien se aproximana la forma de los vasos de A Forxa. Hay abundantes ejemplos, sobre todo enPortugal, de recipientes con mamelones –Corvihlo, Meixedo, Mámoa da Serra,Mámoa de Terranha, cista de Lomba de Coimbró, A Pedrosa, yacimientos cita-dos anteriormente-, o con cordones - fosas de Boucinhas (Bettencourt et al.2004), pero la combinación de ambos elementos decorativos en el mismo reci-piente son excepcionales, siendo todos ellos diseños únicos e irrepetibles, comopor ejemplo el troncocónico de la cista de Gorgolâo (Silva 1994), o algunos re-cipientes de Fraga do Zorro (en estas mismas actas, ver Prieto et al.). Si busca-mos en otras zonas próximas, encontramos el paralelo más próximo en Bretaña,en una urna documentada en los alineamientos de Saint-just de Cojou (Le Rouxet al. 1989) que posee una datación semejante a la de Cameixa, y en la actualBélgica en el denominado Horizonte Hilversum (Fokkens 2005).

Análisis físico-químicosEl análisis de XRD (fig. 3) desvela que el

mineral predominante del cacharro de Ca-meixa es el cuarzo (50%), seguido del feldes-pato potásico microclina (20%). Los otros tresminerales detectados son plagioclasa, mica,moscovita y haloisita con un 20, 11 y 10%, res-pectivamente. Los porcentajes se establecen enbase a la fracción cristalina de la cerámica.Esta composición encuadra la cerámica en unamineralogía granítica de tipo alcalino.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 97

Figura 3. XRD delas tres piezas anali-zadas

Page 99: Issn 0871 - 4061

Los cacharros de A Forxa analizados (01 y 03) son mineralógicamentesimilares, lo que apunta a que se trata de la misma pasta. El mineral principales el cuarzo con un 33% de abundancia, seguido de la plagioclasa que se sitúaen un 31 y 23%, respectivamente. Los feldespatos potásicos son menos abun-dantes que en Cameixa con valores de un 5 y 7% así como la mica con un 2 y5%, respectivamente. La proporción de haloisita se incrementa notablementea un 27 y 29% y aparece un mineral nuevo no detectado en Cameixa, el anfíbol,probablemente hornblenda con un 4 y 1% de abundancia. La presencia de fel-despatos potásicos asociados a anfíboles hace pensar en dos fuentes de materiaprima, ya que es muy poco frecuente que estos dos minerales aparezcan aso-ciados en estado natural. Esas dos fuentes podrían ser materiales de alteraciónderivados de granitos alcalinos y de anfibolitas o neises anfibólicos.

No se ha detectado caolinita en la composición de las piezas, ello indicaque las temperaturas de cocción tuvieron que superar los 550 ºC destruyéndoseeste mineral plástico.

El análisis de XRF de elementos ligeros (fig. 4, superior), traza (fig. 4,inferior) y el análisis CNSH permitieron detectar los principales elementos ma-yoritarios, minoritarios y traza de las muestras. En Cameixa los elementos ma-yoritarios son el silicio (23,6%), aluminio (15,3%), potasio (2,5%), hierro(1,6%) y carbono (2,4%). Los minoritarios son el calcio con un 0,04%, el tita-nio (0,23%) y el nitrógeno, fósforo y azufre (0,08, 0,55, 0,15%). El magnesio

se detecta pero muy próximo al límitede detección por lo que no se puedecuantificar. En relación a los elemen-tos traza (todos expresados en ppm oμg/g) se detectan: cromo (31), man-ganeso (304), níquel (2), cobre (22),zinc (54), galio (25), arsénico (149),bromo (19), rubidio (203), estroncio(79), itrio (18), circonio (107), niobio(10), plomo (75) y torio (6). Estascomposiciones elementales son cohe-rentes con la mineralogía identificada

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 98

Figura 4. XRF,ligeros (supe-rior) y traza (in-ferior) de lastres piezas anali-zadas

Page 100: Issn 0871 - 4061

destacando el alto valor del aluminio y silicio componentes principales de lossilicatos, el alto valor del potasio y bajo valor del calcio, ligado a la predomi-nancia de los feldespatos potásicos y la moscovita. El carbono podría provenirde residuos carbonizados de los cacharros. Los valores de los elementos trazason igualmente coherentes con la mineralogía.

En relación al análisis elemental de las piezas de A Forxa, el silicio esalgo inferior que en Cameixa (23,0; 20,1%) así como el aluminio (12,8;11,0%). El potasio se mueve en valores similares (2,4; 2,7) mientras que elhierro y el titanio se incrementan considerablemente (Fe: 8,5; 7,13%; Ti: 1,3,1,1%), incremento asociado a la presencia de los anfíboles. También es superiorel calcio (0,7; 0,54%) debido a la mayor concentración de plagioclasa y el car-bono (4,0, 3,4%) que probablemente también proceda de los restos carboniza-dos de las paredes de los cacharros. El nitrógeno, fósforo y azufre presentanvalores bajos y variables (N: 0,19; 0,09; P: 0,14; 0,06%; S: 0,13, 0,11%). Encuanto a los elementos traza, el cromo, manganeso y níquel aumentan respectoa los valores de Cameixa, pues están ligados a los anfíboles (todos en ppm oμg/g; Cr: 289, 159; Mn: 306, 225; Ni: 40, 15). El cobre (25, 20), cinz (57, 55),galio (29, 29), bromo (102, 140), estroncio (99, 88), itrio (26, 23), circonio(160, 160), niobio (9, 10) y torio (11, 9) presentan valores similares a Cameixa,mientras que el rubidio (102, 140) y el plomo (14,13) son inferiores, lo que seexplica por el menor contenido en feldespatos potásicos en A Forxa, ya queestos elementos están asociados a este mineral.

En cuanto a la textura (fig. 2 - cortes transversales), Cameixa tiene unamatriz arcillosa parda con desgrasantes de diferentes granulometrías que osci-lan entre 0,1 y 2 mm, es abundante, heterogéneo y relativamente anguloso.FX1 posee una matriz más oscura y más plástica, muy probablemente debidoa la mayor proporción de haloisita y la granulometría es más regular y fina(0,1-0,2 mm) presentando algún grano aislado de 1 a 2 mm. La textura de FX3es totalmente similar al FX1.

Si contrastamos los análisis realizados con la litología de la zona podre-mos obtener información sobre las procedencias más probables de las materiasprimas utilizadas en la elaboración de las cerámicas. En el caso del cacharrode Cameixa parece que no se hicieron mezclas en el desgrasante, ya que res-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 99

Page 101: Issn 0871 - 4061

ponde a las proporciones esperables en los materiales de alteracion del entorno,siendo coherente con la litología de rocas graníticas alcalinas de la zona en laque se localiza el yacimiento (Monteserín & Pérez 1981: IGME 186, Gonzálezet al. 1974: IGME 187), lo que indica una posible procedencia local (enten-diéndola dentro de un entorno aproximado de 10 km –Convertini y Querre1998). Esto coincide con los resultados de los análisis realizados hasta el mo-mento en todas las cerámicas de época campaniforme en Galicia (Martínez etal. 2008, Prieto et al. 2008).

Por el contrario, los cacharros de A Forxa son resultados de una mezclaartificial de desgrasantes provenientes de dos fuentes de materia prima dife-rentes, como se ha indicado anteriormente. La presencia de anfíboles permiteconcluir que su origen no es local, pues estudiada la litología en un radio de25 km (Nuño & López 1981: IGME 303) no se han encontrado mineralogíasanfibólicas. Aunque estamos pendientes de un estudio más detallado, no sedescarta, un origen de carácter comarcal (en un radio de unos 25-50 km haciael S, en el N de Portugal en el área de Bragança-Vinhais) o regional (hacia elNW a unos 100 km en la zona de Lalín) donde sí se encuentran rocas y mate-riales de alteración con anfíboles.

contextos de los recipientes, su distribución espacial y su marco tem-poral

En una escala regional del NW Ibérico, la cerámica de contextos funera-rios no monumentales presenta algunos aspectos que nos permiten hablar dehomogeneidad y estandarización. Uno de estos aspectos es el tratamiento dela pasta: la mayor parte de la cerámica es fabricada con las mismas técnicas,que son coincidentes con lo descrito para los recipientes de A Forxa y Cameixa.Un segundo aspecto que muestra una estandarización regional en el NW es larelación entre tipo de perfil y tamaño (esto se ha comprobado en otras zonasde Portugal, ver como ejemplo el estudio de Senna et al. 1984-5).

Pero la alfarería también ofrece rasgos diferenciadores que nos permitenestablecer dos sub-regiones en el NW: la morfología y la decoración. Éstos pa-recen el resultado de la selección consciente con una intención identitaria delterritorio. Si trazamos una línea imaginaria desde el N de la Península del Mo-rrazo y siguiendo el N de la provincia de Ourense se puede establecer una ‘fron-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 100

Page 102: Issn 0871 - 4061

tera’ entre el N de Galicia y el S, al que se suma el N de Portugal también (verlínea discontinua marcada en el mapa de la fig. 5):

(*) La zona norte está morfológicamente restringida a taraios y vasos, detamaños pequeños, inferiores al litro de capacidad. Éstos se pueden asociar acistas y a fosas insertadas en megalitos.

(**) En la zona sur hay una mayor variabilidad. Hay diversidad de mor-fologías, ya que se registran troncocónicos, bitroncocónicos, jarras, botellas yrecipientes con hombros. Los tamaños son más extremos, oscilando entre ellitro y los casi 20 litros. Y hay decoración plástica realizada con mamelones ycordones, en ocasiones combinados, y que adquiere gran tamaño y amplia dis-tribución en el cuerpo de los recipientes. Las cistas son las sepulturas más fre-cuentes, pero también se documentan algunas fosas y no se conoce lareutilización de megalitos con estos tipos de cerámica. Dentro de este territorio,la provincia de Ourense posee la mayor riqueza cerámica, sobre todo en el áreasur, próxima a la frontera portuguesa.

En relación con la cronología, es destacable que estos yacimientos sonlos primeros en Galicia con información radiocarbónica, y en ambos se rompendos tópicos. El primero, que las cistas se encuadran en el Bronce Inicial (en-tendiendo que éste no va más allá del 1800- 1700BC) y las fosas en el Bronce

Final. El resultado radiocarbónico se-ñala que la fosa es mucho más tem-prana que la cista. Y el segundotópico, que la inhumación es carac-terística del Bronce Inicial y la inci-neración del Bronce Final. En estecaso encontramos cremación a fina-les del III milenio, aunque no sabe-mos si Cameixa es una excepción oforma parte de la norma funeraria delNW Ibérico, como pasa en otraszonas de Europa para este período.Por lo tanto, ni la tipología de los ya-cimientos ni la de los recipientes fun-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 101

Figura 5. Distribución de enterramientos no monu-mentales en Galicia, y selección de recipientes repre-sentativos de ambas zonas (reproducidos en Autocadpor A. Rodríguez Paz)

Page 103: Issn 0871 - 4061

cionan en esta región. Si bien todavía no se conoce adecuadamente el registroarqueológico, y la casi total ausencia de dataciones impide reflexionar más alláde periodos largos de tiempo. Por ello preferimos hablar a grandes rasgos deBronce Inicial, entendiendo un abanico de tiempo amplio entre 2800/2600 y1600/1400 BC (Prieto 2005). Aunque aquí se incluye con coherencia la recientedatación del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro (presentada en las actas deeste mismo volumen), estamos a la espera de dataciones que puedan enriquecero modificar esta propuesta.

comentarios finalesLos recipientes de estas dos tumbas, al igual que los hallados en las fosas

y cistas gallegas del Bronce Inicial, parecen el resultado de una despreocupa-ción por hacerlos funcionales en la vida cotidiana. De hecho, parecen fabrica-dos específicamente para el enterramiento, ya que la apariencia finalrelativamente cuidada del recipiente y el interés por tener una mezcla de arcillasseleccionadas por su granulometría homogénea y angulosa no se correspondecon la mala calidad técnica del modelado (churros irregulares y casi mal pe-gados, sobre todo en Cameixa).

Así, el recipiente de Cameixa, cremación de finales el III milenio BC yde procedencia local, mantiene una tradición regional en el tratamiento de lapasta y en la decoración, pero en un nivel morfológico muestra influencias fo-ráneas lejanas, de la zona costera de Bretaña hasta Bélgica. Ello es coherentecon algunos indicios encontrados en otras zonas de Europa. y en particular, enel yacimiento de Forno dos Mouros (Toques, A Coruña), que hemos relacio-nado también con Bretaña (Prieto et al. 2008). Se está demostrando que lasideas se transmiten más fácilmente con el movimiento físico de algunas per-sonas (Salanova 2000) siendo una hipótesis general que el intercambio de mu-jeres puede ser una de las causas de esta transmisión (Vander Linden 2007).

Por otro lado, los recipientes de A Forxa, inhumación de mediados del II mi-lenio BC y de procedencia no estrictamente local, mantiene, en cambio, una tra-dición regional en el tratamiento de la pasta, como Cameixa, y sub-regional en sumorfología y tamaño. Expresa posiblemente el movimiento, los intercambios ylas relaciones entre diferentes comunidades ubicadas dentro de un territorio amplioy relativamente alejado del lugar en el que los recipientes fueron depositados.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 102

Page 104: Issn 0871 - 4061

Los recipientes de estos dos enterramientos nos están dando indicios defenómenos paralelos dentro de la misma sociedad. A Forxa se inserta dentrode un marco geográfico sub-regional, Ourense y N de Portugal, como indica-mos anteriormente, y señala una unidad territorial operativa ya en el II milenioBC que viene a estar representada a través de una cierta estandarización paralas sepulturas de este período en el NW Ibérico. La urna de Cameixa, aunqueno contradice el patrón estilístico, es formalmente más heterodoxa, presentaunas características originales para el NW Ibérico que parecen conectadas conáreas atlánticas europeas más alejadas y hacia el Norte.

ReconocimientosEste artículo está realizado en el marco del proyecto titulado “Aplicación

de técnicas arqueométricas ao estudo da cerámica antiga de Galicia” (código:PGIDIT07PXIB236075PR) concedido por la Dirección Xeral de Investigación,Desenvolvimento e Innovación (I+C+I), Xunta de Galicia dentro del Programade Promoción Xeral de Investigación do Plan Galego de Investigación, Des-envolvemento e Innovación Tecnolóxica (INCITE) de 2007.

BibliografíaBettencourt A.-M.-S., Dinis A.-P., Silva A., Veiga A.-M., Ribeiro E., Cardoso H., Boas L.-V., Amorim

M.-J. 2004. A estaçâo arqueológica das Boucinhas, Regueira, Vitorino de Piâes, Ponte de Lima (Norte dePortugal). Portugalia NS, XXV: 91-114. Porto.Bettencourt A.-M.-S. 1982. A propósito de um vaso tronco-cónico do Museu de Aveiro. Arqueologia, 5: 40-43. Porto.Convertini F., Querré G. 1998. Apports des études céramologiques en laboratoire à la connaissance du Cam-paniforme: résultats, bilan et perspectives. Bulletin de la Société Préhistorique Française, 95 (3): 333-341.Paris.Criado Boado F., Amado Reino X., Martínez López M. C., Cobas Fernández I., Parcero Oubiña C. 2000.Programa de Corrección del Impacto Arqueológico de la Gasificación de Galicia. Un ejemplo de gestiónintegral del patrimonio arqueológico. Complutum, 11: 63-85. Madrid.Fokkens, H. 2005. Le début de l’Âge du Bronze aux Pays-Bas et l’Horizon Holversum ancien. Bourgeois,J. et Talon M (eds.). L’Âge du Bronze du Nord de la France dans son contexte européen: 11-33. Paris: Édi-tions du Comité des Travaux Historiques et Scientifiques.González F., Iglesias M., Martínez J.-R. 1974. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hojanº (187, 6-10, Ourense). Publicaciones del I.G.M.E.Guerra Doce E. 2006. Sobre la función y el significado de la cerámica campaniforme a la luz de los análisisde contenidos. Trabajos de Prehistoria, 63 (1): 69-84. Madrid.Juan-Tresserras J. 1997. Preparación y procesado de productos vegetales. Aportaciones del estudio de fito-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 103

Page 105: Issn 0871 - 4061

litos, almidones y lípidos en yacimientos arqueológicos prehistóricos y protohistóricos del cuadrante NEde la Península Ibérica. Unpublished Doctoral Thesis. Barcelona University.Le Roux C.-T., Lecerf Y., Gautier M. 1989. Les megalithes de Saint-Just (Ille-et-Vilaine) et la fouille desalignements du Moulin de Cojou. Revue Archéologique de l’Ouest, 6: 5-29. Rennes.Martínez-Cortizas A., Prieto-Lamas B, Lantes-Suárez Ó, Prieto-Martínez Mª P. 2008 (en prensa). Análisiselemental y cromático de cerámica Prehistórica del Área Ulla-Deza (NW de la Península Ibérica). Actas delVII Congreso Ibérico de Arqueometría (Madrid 2007).Maya J. L., López-Cachero J., Juan-Tresserras J. 1999. Nuevos análisis de contenidos en recipientes cerá-micos del hábitat de Genó (Aitona, Lleida). In 3º Congresso de Arqueologia Peninsular (Vila Real, Sep-tember 1999): 27-28.Méndez Fernández, F. 1995. Informe valorativo sobre la excavación en la cista de A Forxa. Santiago deCompostela. Xunta de Galicia. Inédito.Monteserín V., Pérez A. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 186, 5-10,Puente Caldelas). Publicaciones del I.G.M.E.Nuño C., López M.-J. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 303, 8-13, Verín).Publicaciones del I.G.M.E.Parcero Oubiña, C. 1997: Documentación de un Entorno Castreño: Trabajos Arqueológicos en el área deCameixa, Ourense. TAPA 1. Santiago de Compostela: Grupo de Investigación en Arqueología del Paisaje.Prieto-Martínez, Mª P. 1999a. Forma, estilo y contexto en la cultura material de la Edad del Bronce gallega:cerámica campaniforme y cerámica no decorada. Tesis doctoral editada en CD-Rom (1999). Santiago deCompostela: Facultade de Xeografía e Historia, Departamento de Historia I, Universidade de Santiago deCompostela.Prieto Martínez M.-P. 1999b. Caracterización del estilo cerámico de la Edad del Bronce en Galicia: CerámicaCampaniforme y cerámica no decorada, Complutum, t. 10, p. 71-90. Madrid.Prieto Martínez M.-P. 2005. Ceramic style in Bronze Age societies in Galicia (NW Iberian Peninsula). Sim-ilarities and differences in patterns or formal regularity. In The Bronze Age in Europe and the Mediterranean:99-107. Oxford: BAR IS 1337.Prieto-Martínez M.-P., Juan-Tresserras J., Matamala J. C. 2005. Ceramic Production in the North-WesternIberian Peninsula: Studying the functional features of pottery by analyzing organic material. In M. I. Pru-dêncio, M. I. Dias y J. C. Waerenborgh (eds.). Proceedings of the 7th European Meeting on Ancient Ceram-ics- Understanding people through their pottery. Trabalhos de Arqueologia, 42: 193-199. Lisboa: InstitutoTecnológico e Nuclear (ITN), Ministério da Cultura e Instituto Português de Arqueología.Prieto Martínez M.-P., Lantes Suárez O., Martínez Cortizas A. 2008. O campaniforme cordado de Fornodos Mouros (Toques, A Coruña). Cuadernos de Estudios Gallegos, LV, 121: 31-51. Santiago de Compos-tela.Salanova, L. 2000. La question du campaniforme en France et dans les Iles anglonormandes: productions,chronologie et rôles d’un standard céramique. Coédition Société Préhistorique Française et Comité des Tra-vaux Historiques et Scientifiques. Paris.Sanches M.-J. 1980. Alguns vasos cerâmicos inéditos do Museu de Antropologia do Porto. Arqueologia, 1:12-9. Porto.Sanches M.-J. 1981. Recipientes cerámicos da Pré-história recente do Norte do Portugal. Arqueologia, 3:88-98. Porto.Sanches M.-J. 1982. Vasos da estaçao arqueológica do Corvilho-Santo Tirso. Arqueologia, 5: 56-61. Porto.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 104

Page 106: Issn 0871 - 4061

Senna-Martínez J.-C., García, M.-F.-S., Rosa M.-J.-O. 1984-5. Contribuçôes para uma tipologia da olariado Megalitismo das Beiras: olaria da idade do Bronze (I). Revista da Uniarch, 1: 105-138. Lisboa.Silva M.-A. 1994. A cista de Gorgolâo (Vila da Ponte – Montalegre). Portugalia NS, XV: 137-146. Porto.Stuiver M., Reimer P.-J., Reimer R. 2005. CALIB Manual (5.0.2). http://radiocarbon.pa.qub.ac.uk/calib/calib.html.Last modified: Wed, 09 Feb 2005 14:46:07 GMT.Taboada Chivite, X. 1971. Notas arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de EstudiosGallegos, 26: 45-63.Santiago de Compostela.Vander Linden, M. 2007. What linked the Bell Beakers in third millenium BC Europe? Antiquity, 81: 343-352.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 105

Page 107: Issn 0871 - 4061
Page 108: Issn 0871 - 4061

estudio de lA ceRáMicA del yAciMiento de FosAs deFRAGA do zoRRoCERAMIC STUDY OF THE SETTLEMENT PITS OF FRAGA DO ZORRO

Resumen: Se presenta el estudio de la cerámica del yacimiento de fosas, Fraga do Zorro(Abedes, Verín, Ourense). A partir de la presentación del yacimiento se mostrarán los resultadospreliminares del estudio de un material totalmente inédito, compuesto por 43 recipientes. Elconjunto ofrece formas desconocidas en el registro gallego hasta el momento, se realizará unestudio formal y se aportará la información arqueométrica disponible. La composición minera-lógica y elemental es muy variada (desde composiciones félsicas a máficas). Aunque la mayoríade los recipientes tienen una composición que apunta a un origen local (en particular los de com-posición félsica), una proporción relativamente alta (27%, con composiciones máficas) debenproceder de áreas alejadas. Esto abre al menos dos posibles alternativas: 1) que se transportenlos recipientes, o 2) que se transporten los materiales, con implicaciones diferentes.

Palabras clave: Fraga do Zorro, Necrópolis de fosas, II milénio, Cerámica, Estudio for-mal, Arqueometría.

Abstract: This paper presents preliminary results of the study of the ceramic of an ar-chaeological site composed by several pits, Fraga do Zorro (Abedes, Verín, Ourense). Both, for-mal and archaeometrical studies were performed on a completely inedit material, composed bya set of 43 recipients. The assembly contains previously unknown forms in the ceramic recordof Galicia (NW Spain). The mineral and elemental compositions are quite diverse. Although the

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 107

MP. Prieto Martínez LabOratOriO de PatrimONiO, PaLeOambieNte y PaiSaje, iNStitutO de

iNveStiGaCiONeS teCNOLóGiCaS, uNiverSidade de SaNtiaGO de COmPOSteLaA. Martínez Cortizas

dePartameNtO de edaFOLOGía y QuímiCa aGríCOLa, uNiverSidade de SaNtiaGOde COmPOSteLaO. Lantes Suárez

uNidade de arQueOmetría, riaidt - ediFiCiO CaCtuS, uNiverSidade deSaNtiaGO de COmPOSteLa

D. Gil AgraarQueóLOGa PrOFeSiONaL

Page 109: Issn 0871 - 4061

pastes of most recipients (those with felsic composition) may have a local origin, a realtivelyhigh proportion (27%, with mafic composition) may come from more distant source areas. Thisopens at least to alternative situations: 1) the transport of recipients, or 2) the transport of rawmater (particularly the temper), which have different implications.

Keywords: Fraga do Zorro, Pits necropolis, II millenium BC, Ceramic, Formal study,Archaeometry.

introducciónEl objetivo de este trabajo es presentar de manera preliminar la cerámica

del yacimiento fosas de Fraga do Zorro (Abedes, Verín, Ourense). El yaci-miento fue descubierto en 1995 durante los trabajos de seguimiento y controlarqueológico del subtramo de la autovía Rías Baixas: Fumaces-Estivadas, tra-bajo dirigido por M. González Méndez. Se recuperaron durante esta fase detrabajo 622 fragmentos (sólo 8 decorados) (Prieto 1998 y 2001), la mayor partede los cuales podían asociarse a la Edad del Bronce, pero el 8,6% (54 piezas)presentaban una adscripción medieval, moderna o indeterminada. Estos frag-mentos aparecieron en varias concentraciones localizadas en la ruptura de pen-diente cóncava de un escarpe y a los pies de un picacho rocoso, en unasuperficie muy amplia tanto sobre el trazado de la autovía como en las áreasde escombrera, con una extensión de unas 2,1 hectáreas.

El yacimiento fue excavado posteriormente por D. Gil Agra, una de las au-toras de este trabajo. Está situado en una ladera de fuerte pendiente orientada alnorte y presenta, al menos, cuarenta estructuras arqueológicas, entre las que des-tacan treinta fosas, una estructura de combustión, ocho agujeros de poste y unazanja (fig. 1). El yacimiento se extiende probablemente más allá de los límitesimpuestos por la obra. Estas estructuras se distribuyen en dos concentracionesbásicamente, una al NE y otra al SW. En el NE se concentran once de las estruc-turas: la zanja, siete fosas y tres agujeros de poste. La zanja no era de mucha pro-fundidad y tenía más de 9 m de longitud, con un trazado en S suave desde suremate en el SW continuando hacia el NE, donde se documentaron tres agujerosde poste insertados en la misma. En ese lado, se encuentraba interrumpida por elperfil de delimitación de la excavación. Ésta podría haber funcionado como de-limitación de espacios dentro del yacimiento o entre el yacimiento y su exterior.

La mayor parte de las estructuras, de tamaños muy variables, se agrupa-ban en el SW: veintitrés fosas, una hoguera y cinco agujeros de poste. Los agu-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 108

Page 110: Issn 0871 - 4061

jeros de poste estaban alineados y anejos a una de las fosas de mayor diámetrodel yacimiento, única superficie en la que se documentó material en el exteriorde las estructuras y sobre una capa fina de tierra apoyada sobre el xabre. En elresto del yacimeinto el material se recuperó en el interior de las estructuras.

Las fosas presentaban una boca de tendencia circular, sus secciones teníanun perfil con forma de saco, de base redondeada o de base plana -un poco másensanchada que el resto del cuerpo. Sus tamaños también varíaban entre 0,6m y 2 m de diámetro de boca, y 0,6 y 1,2 m de profundidad. En algunos casos,dos fosas parecían claramente superpuestas. Asimismo las fosas contenían re-llenos de piedra de tamaño mediano, que aparecían bien sellando el nivel su-perior, justo en su boca, o bien en la propia base de la fosa, en contacto con elxabre.

Una muestra de carbón vegetal recogida en el nivel inferior de una de lasfosas proporcionó una datación de 1881-1660 -2σ cal BC - (CSIC-1201:3438±43 BP) (calibración hecha a partir de Stuiver et al. 2005). Esta estructurase localizaba en la concentración SW, por lo cual podría estar datando el mo-mento de uso de las estructuras de este sector. Tanto la estratigrafía como losmateriales, apuntan a que el yacimiento ha sido ocupado en un mismo mo-mento. Si bien sería interesante poder datar otras muestras del yacimiento paraconfirmarlo.

La datación obtenida podría enmarcarse en una fase final del Bronce Ini-cial, en la que todavía la cerámica campaniforme es utilizada como parte delconjunto cerámico. Esta datación es coherente con los resultados obtenidos enla cista de A Forxa (a escasos kilómetros hacia el NE de Fraga do Zorro, Prietoet al. en este mismo volumen), y encaja con las dataciones de otros yacimientoscampaniformes gallegos como Devesa do Rei (Vedra, A Coruña) (Aboal et al.2005).

En esta fase de trabajo se recuperaron 553 fragmentos cerámicos, peroúnicamente el 15,5% de ellos (86 piezas) se conservaban bien como para poderhacer un estudio más completo reconstruyendo total o parcialmente recipientes.El total de recipientes documentados en la excavación es de 42. La cerámicaha sido estudiada siguiendo una metodología ya publicada (Prieto 1999a y1999b, Martínez-Cortizas et al. 2008 y 2009). La industria lítica está pendientede estudio.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 109

Page 111: Issn 0871 - 4061

caracterización formal del materialSe documentaron 42 recipientes, 24 lisos (57%) y 18 decorados (43%).

Asimismo, se han documentado 5 fichas de cerámica. Es el primer hallazgode este tipo documentado en un yacimiento prehistórico gallego, y por el mo-mento no se conocen paralelos en otras zonas. Las fichas son de forma circular,inferiores a 3 cm de diámetro y algo irregulares, poseen unas pastas semejantes

a las de los recipientes, y todo apuntaa que son reutilizaciones de panzas derecipientes. La reutilización de frag-mentos de panza rotos es muy fre-cuente en épocas posteriores, tantorealizadas a partir de recipientes cas-treños como de ánforas romanas.

En relación con las formas delos recipientes, se documentan seistipos y un grupo de recipientes deforma indeterminada. Cabe destacarque los recipientes son mayoritaria-mente cerrados, tanto los de perfiles

simples como los compuestos, tendencia que es diferente a la de los asenta-mientos del período (fig. 2):

Vasos: Se documentaron dos vasos de estilo campaniforme (4,7%).Ollas: Únicamente se registró una (2,3%).Floreros: Es la forma predominante del yacimiento con catorce recipientes

(33,3%). Sólo tres poseen decoración, un recipiente posee mamelones y dos, cor-dones. Son las formas predominantes de las cistas localizadas en el N de Galicia.

Jarras: Se identificaron ocho (19%); tres de ellas decoradas, una con cor-dón, otra con mamelones, y una tercera que combina mamelones y cordonesen diferentes orientaciones. Es una forma excepcional poco conocida en losyacimientos gallegos. Son las únicas formas que poseen asas, éstas son planas,y sólo en el caso del CA01 hay una nervadura en relieve en la parte central delasa y en el exterior que parece un cordón.

Cubiletes: con esta morfología se encontraron ocho recipientes (19%);todos ellos decorados: siete tienen mamelones y uno, cordones.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 110

Figura 1. Mapa, plano y o foto yacimiento si es posible

Page 112: Issn 0871 - 4061

Cuencos: se identificaron tres cuencos (7,1%). Uno de ellos con cordón.Formas indeterminadas: Se recuperaron seis recipientes (14,3%), cuyo

mal estado de conservación no ha permitido realizar una reconstrucción apro-ximada. Dos de ellos están decorados, uno posee digitaciones y el otro ungu-laciones sobre un cordón horizontal localizado en la parte superior delrecipiente, anejo al borde. Estas decoraciones son típicas de recipientes encon-trados en yacimientos del Bronce Inicial en Europa occidental.

En relación con las técnicas defabricación, se aprecia que los reci-pientes en su gran mayoría fueronhechos a mano empleando la técnicade churro; esto se puede ver especial-mente bien en el recipiente CA01. Engeneral hay una combinación aparen-temente aleatoria de acabados, textu-ras y tonos, ya que en todos losgrupos morfológicos con más de unrecipiente se puede observar hetero-geneidad. Así, las texturas son lasque ofrecen una mayor variedad, tanto compactas como porosas, predomi-nando la calidad media en todos los grupos y siendo la fina y la gruesa excep-cionales. Se han documentado sólo acabados alisados toscos y medios,predominando los toscos en todas las formas salvo en los vasos campanifor-mes. En relación con el color, hay tanto tonos claros (naranjas y marrones cla-ros) como oscuros (negros, marrones oscuros y grises). Si bien los vasoscampaniformes sólo presentan los primeros y la olla y los cuencos, los segun-dos. Asimismo hay una gran variedad de fracturas, las monocromas y en sand-wich predominan frente a las bicromas. Todas ellas pueden responder a unacocción tanto oxidante como reductora. Quizás esta variabilidad de combina-ciones es consecuencia de una despreocupación por la cocción, o una falta decontrol técnico de la estructura de combustión utilizada.

Si nos centramos en la decoración, se pueden definir tres grandes gruposde recipientes (fig. 3):

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 111

Figura 2. Relaciónde formas presentesen el yacimiento deFraga do Zorro (losdibujos fueron reali-zados por A. Rodrí-guez Paz)

Page 113: Issn 0871 - 4061

Cerámicas impresas: Se han podido reconstruir dos recipientes decoradoscon líneas horizontales y técnica de impresión de peine (CA25 y 26), su deco-ración es típica de los recipientes campaniformes estándar. Además, en lo tra-bajos de prospección se recuperaron tres fragmentos de un recipiente que tieneuna línea impresa horizontal ovalada y cuatro fragmentos de otro vaso campa-niforme puntillado del tipo Linear Variety -si bien estos dos no han sido incor-porados en el estudio que presentamos aquí.

Cerámicas con decoración plástica: En este grupo hay bastante variabili-dad, ya que tres poseen un cordón horizontal (CA05, 09, 17), nueve poseenmamelones (CA06, 22, 24, 28, 29, 30, 31, 32, 42), un recipiente posee cordoneshorizontales y verticales combinados (CA03) y otro combina cordones con di-ferentes orientaciones y mamelones (CA01).

Cerámicas impresas sobre decoración plástica: Sólo dos recipientes se in-cluyen en este grupo; poseen digitaciones (CA38) o ungulaciones (CA39) sobreun cordón horizontal. Estas piezas, desgraciadamente, están integradas en lasformas indeterminadas.

Cabe destacar que hay una cierta variedad de mamelones, que se puedenclasificar en tres tipos morfológicos: un grupo de mamelones de gran tamaño,planta circular y perfil redondeado (CA1 y 32); otro grupo de mamelones de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 112

Figura 3. Variantes decorativas de la cerámica del yacimiento de Fraga do Zorro (fotografías realizadaspor Y. Porto Tenreiro)

Page 114: Issn 0871 - 4061

pequeño tamaño, planta circular y perfil redondeado (CA6, 22 y 24); y un tercergrupo de mamelones de gran tamaño, planta circular y perfil plano (CA28, 29,30, 31 y 42). Los diferentes tipos de decoración no parecen asociados a unaforma específica, exceptuando el puntillado campaniforme, vinculado a laforma de vaso. Esta riqueza decorativa es sólo comparable a la encontrada enla necrópolis de A Pedrosa (Taboada 1971), al W del yacimiento.

En resumen, se documentó una gran cantidad y variedad de recipientesdecorados, un total de dieciocho, dos campaniformes, doce con decoraciónplástica simple, dos con decoración plástica compleja y dos combinando im-presión sobre cordón.

Análisis arqueométricosA partir de los rasgos formales de la cerámica y dada la variabilidad re-

gistrada, se seleccionaron 34 recipientes (el 84% de los recipientes del yaci-miento). Además se incluyó una ficha de cerámica (n480), una pieza que podríaformar parte de un crisol (n432), y una muestra de argamasa extraída del re-vestimiento de una de las fosas del yacimiento (h001). Todo el material selec-cionado se ha recuperado en la excavación.

El análisis mineralógico permitió identificar un total de diez minerales. Cincode ellos son muy frecuentes (presentes en todas o casi todas las piezas): cuarzo,feldespato potásico (microclina), plagioclasa, haloisita y mica; tres, anfíbol, cao-linita y clorita son frecuentes (identificados en un 15 a un 25 % de las muestras),y dos, hematita y talco, son ocasionales (<1% de presencia) (Tabla 1, parte supe-rior izquierda). En relación a la abundancia, definida como la concentración mediade un mineral en las cerámicas en las que está presente, se observa como el cuarzoy la plagioclasa son los minerales más abundantes (>25%), seguidos de la clorita,los feldespatos potásicos y la haloisita (≈10-15%). La mica, el anfíbol, la hematita,la kaolinita y el talco son poco abundantes (concentración media inferior al 10%).Es de destacar el caso de dos minerales, la clorita que es muy poco frecuente peroabundante, y la mica, que es muy frecuente pero su concentración en las pastases baja. El resto de los minerales siguen la tendencia de muy frecuentes y abun-dantes a poco frecuentes y poco abundantes. Hay que destacar la elevada desvia-ción típica de la abundancia mineral, lo que refleja una alta variabilidadcomposicional de las cerámicas que oscilan entre términos félsicos y máficos.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 113

Page 115: Issn 0871 - 4061

tabla 1. Mineralogía (% de la fase cristalina) y composición elemental (% y μg/g) de las piezas ce-rámicas. F: frecuencia, Ab: abundancia, d.t.: desviación típica. Clo: clorita, M: mica, Talc: talco, Anf: anfíbol,Kao: caolinita, Hal: haloisita, Q: cuarzo, FK: feldespato potásico, Pg: Plagioclasa, Hem: hematita.

El análisis mineralógico también aporta cierta información sobre la tem-peratura de cocción de las cerámicas. Las temperaturas debieron ser superioresa 550 ºC –temperatura de amorfización de la caolinita- e inferiores a 1000-1100 ºC –temperatura a partir de la cual micas y plagioclasas empiezan a re-accionar térmicamente. Para acotar mejor el rango sería necesario realizarensayos a temperaturas crecientes, lo cual permite determinar la temperaturaequivalente (Gosselain 1992, Curet 1997).

En la tabla 1 (parte inferior derecha), se presentan los datos del análisis ele-mental. Silicio y aluminio son los elementos químicos mayoritarios, tal y comoera de esperar por el caracter alúmino-silicatado de la mayoría de los minerales.El contenido de hierro, con una media de un 5%, es también relativamente ele-vado. Le siguen el potasio (3%) y el Ca (0,4%). Esto indica la predominancia decomposiciones alcalinas sobre las calcoalcalinas. Titanio, manganeso y fósforoaparecen como elementos minoritarios (0,5-1%), cromo, níquel, cobre, cinc,galio, arsénico, bromo, rubidio, estroncio, itrio, circonio, niobio, plomo y toriose detectaron en concentraciones traza, que oscilan entre 2 μg/g (bromo) y 300μg/g (rubidio), La desviación típica es elevada para la mayoría de los elementos(tabla 1), lo que concuerda con la alta variabilidad encontrada en la mineralogíay confirma la diversidad de composiciones en las pastas. Nótese que el análisiselemental nos da una idea de la composición total de la cerámica, mientras queel análisis de difracción de rayos X se circunscribe a la fracción cristalina.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 114

Page 116: Issn 0871 - 4061

El análisis estadístico (análisis factorial por componentes principales) delconjunto de datos de mineralogía y composición elemental reveló que el prin-cipal componente de variabilidad en las muestras es su carácter félsico o máfico(primer componente, F1, con un 26,4 % de la varianza total explicada) (fig.4). Así, los minerales cuarzo y feldespato potásico y los elementos silicio, po-tasio, rubidio, plomo, niobio, aluminio y torio tienen cargas negativas (lado iz-quierdo de la proyección F1-F2), mientras que la clorita, la plagioclasa, y elanfíbol, junto con elementos como manganeso, calcio, zirconio, cobre, estron-cio, níquel, cromo, hierro y titanio, tienen cargas positivas (lado derecho de laproyección F1-F2). En segundo componente, F2, hay una separación ligadaespecialmente a las cerámicas de composición félsica, entre pastas ricas encuarzo y feldespato potásico frente a pastas ricas en mica, haloisita, hematitay con concentraciones altas de aluminio, torio y, especialmente, arsénico. Lascerámicas máficas o de mineralogías básicas no presentan esta diferenciación.

La proyección F1-F2 de laspuntuaciones de las muestras permiteapreciar cinco grupos principales(fig. 5, superior):

- F-FK: grupo mayoritario(46% de las muestras) y muy biendefinido, rico en desgrasantes félsi-cos (cuarzo y feldespato potásico,sobre todo).

- F-M: grupo también de natu-raleza félsica, pero menos rico encuarzo y feldespato potásico (textu-ras más toscas) y más micáceo y ha-

loisítico (y con el desgrasante repartido más homogéneamente), con algunaspiezas que destacan por su alta concentración en arsénico. En este grupo eldesgrasante es menos conspicuo y la textura tiende a ser más fina. Contiene el16,2% de las muestras.

Se observa entonces una diferenciación en las proporciones relativas deldesgrasante añadido, siendo F-FK muy rico en desgrasante y F-M menos rico

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 115

Figura 4. Proyección F1-F2 de minerales y elemen-tos químicos.

Page 117: Issn 0871 - 4061

en desgrasante y relativamente más rico en minerales arcillosos. El grupo F-M es especialmente rico en arsénico, alcanzando las muestras CA15 y CA39valores superiores a 90 ppm. La pieza CA15 destaca también por contener altascantidades de hematita.

- MA: un tercer grupo es rico en desgrasantes máficos (con plagioclasa,clorita y anfíbol, siendo estos dos últimos exclusivos de este grupo) y poseecolores más claros en el corte transversal. La plagioclasa está siempre presentey en gran abundancia, el anfíbol también es abundante y está presente en lamayoría de las muestras mientras que la clorita es menos frecuente. La mayoríade los elementos químicos metálicos presentaron sus concentraciones más ele-vadas en las cerámicas de este grupo. Está formado por el 24,3% de las mues-tras analizadas.

- Mn-A: un cuarto grupo, tambiénmáfico, que no contiene anfíboles en lamezcla (Mn-A), y está representado porun número inferior de piezas (10,8% delas muestras).

- UM: y un quinto grupo, de cerá-micas de naturaleza ultramáfica, queestá compuesto por una sola pieza (laficha de cerámica n480). Esta pieza sesepara de las demás por contener talcoen su composicición, mineral asociadoa rocas ultramáficas y de distribuciónmuy localizada.

La comparación de la composiciónde las cerámicas con la distribución delos materiales geológicos en el entornodel yacimiento nos permite extraer in-formación acerca de la posible proce-dencia (ver mapas I.G.M.E. nº 303:Nuño y López 1981). La litología esbastante homogénea, siendo mayorita-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 116

Figura 5. En la parte superior: Grupos Geoquí-micogeoquímico-Mineralógicosmineralógicos.En la parte inferior se muestran los dibujos delos recipientes analizados agrupados según lageoquímica y la minreralogía

Page 118: Issn 0871 - 4061

rios los esquistos ácidos con mineralogías cuarcítico-moscovíticas (y en menorabundancia minerales asociados al metamorfismo) -el yacimiento se sitúa sobreellos-, y las rocas graníticas con cuarzo, feldespatos potásicos (microclina),plagioclasas y micas; también hay una amplia zona de sedimentos terciarios,formados por arcillas con cantidades variables de cantos de cuarzo.

Los grupos félsicos son coherentes con la mineralogía de los materialesdel entorno. Así, el área de sedimentos naturales ricos en arcillas podría ser elorigen del grupo félsico-arcilloso y las áreas de granitos alcalinos y esquistosácidos podrían ser el origen del grupo félsico-cuarzo-feldespático, sin descartarposibles mezclas intencionales en algunas muestras ricas en desgrasantescuarzo-feldespáticos. El grupo arcilloso-micáceo es especialmente rico en ar-sénico, lo que concuerda con los niveles encontrados en el área del estudio yen áreas próximas, donde en las zonas de contacto entre granitos y granodio-ritas con los esquistos se registraron concentraciones anómalas en As (Nóvoa,J. C.; comunicación personal) debido a mineralizaciones de arseniopirita y li-gado a minerales arcillosos y óxidos de hierro y aluminio cristalinos (Nóvoaet al. .2007). Así, las piezas CA07, CA15, CA20, CA39 y CA43, son las quetienen un origen local más probable, ligado a los niveles de arsénico del áreade estudio.

En lo que se refiere al grupo máfico anfibólico, encontramos una diver-gencia con la litología local ya que el anfíbol no se documenta en el entornodel yacimiento, Al igual que en el caso de dos de las piezas de A Forxa (cistalocalizada en la misma área litológica que Fraga do Zorro, Prieto et al. en estemismo volumen), las dos zonas más próximas con litologías que contengananfíbol son la zona de Lalín al NW y el área de Bragança-Vinhais al SE (enPortugal). Además, es destacable de este grupo la presencia de feldespato po-tásico y anfíbol en las mismas cerámicas, combinación mineralógica muy pocofrecuente en las rocas de Galicia (salvo en algunos gneises anfibólicos) y ensus materiales de alteración, lo que podría indicar una mezcla intencionadadesgrasantes de distinta procedencia.

El grupo máfico no anfibólico sí puede tener un origen local, si bien elalto contenido en plagioclasa apunta hacia una mezcla intencional del desgra-sante. La presencia de niveles de arsénico encontrados también es coherentecon la litología local.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 117

Page 119: Issn 0871 - 4061

Finalmente, la pieza ultramáfica se caracteriza por tener talco. Este mi-neral está presente en pocas zonas de forma natural, y no aparece en los mate-riales litológicos del entorno del yacimiento de Fraga do Zorro. La fuente máspróxima que conocemos se localiza en la comarca del Ulla-Deza, que tambiénpodría ser una de las posibles áreas fuente de anfíboles antes mencionadas. Porlo tanto, esta pieza, junto a las nueve piezas máficas-anfibólicas del yacimientoparecen proceder de zonas alejadas del yacimiento.

comentarios finalesDebemos resaltar la excepcionalidad de este yacimiento en la región. Es

un ejemplo único de necrópolis de fosas del Bronce Inicial en Galicia, exca-vado recientemente y bien contextualizado. Posee una datación que lo ubicaríaperfectamente en el Bronce Inicial gallego de contextos campaniformes y escoherente con las dataciones de algunos yacimientos tanto funerarios con do-mésticos.

En lo que se refiere a los materiales, el yacimiento muestra asimismo no-vedades interesantes para la región. Es la primera vez que se documentan fichascerámicas asociadas a un yacimiento de este tipo y de esta cronología tan an-tigua en el NW de la Península Ibérica. La variabilidad cerámica es enorme,documentándose nuevas formas desconocidas en yacimientos gallegos: lasmorfologías y las decoraciones plásticas ofrecen una cierta variabilidad, su-brayada por el predominio las formas que habitualmente son escasas en losasentamientos del mismo periodo y por el desarrollo de decoraciones plásticasque, nuevamente son escasas en los asentamientos y parecen tener un papelmás funcional que decorativo. La clasificación de la cerámica requiere esta-blecer grupos o bien a partir de las morfologías o bien a partir de los rasgosdecorativos.

Se observan ciertos indicios formales y técnicos en los recipientes quenos llevan a pensar que algunas de las fases de manufacturación responden auna cierta despreocupación por la calidad de los recipientes, como si éstos fue-sen fabricados con la intención de ser incorporados a las tumbas.

Las cerámicas se pueden clasificar, en base a su composición geoquímicay mineralógica en cinco grupos: los dos primeros félsicos, es decir, ricos enminerales característicos de granitos y esquistos y en sus elementos asociados.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 118

Page 120: Issn 0871 - 4061

El primero, F-FK, especialmente rico en cuarzo y feldespato potásico y el se-gundo, F-M, rico en mica y haloisita (más arcilloso). El tercer grupo es máfico(MA) y está caracterizado por ser muy metálico y rico en plagioclasa, anfíboly clorita. Se puede hacer un subgrupo (mayoritario) caracterizado por la pre-sencia de anfíbol. El último grupo, UM, que contiene una única pieza, tienetalco. No se ha encontrado ninguna relación directa entre los grupos composi-cionales y los grupos formales.

Finalmente, en relación con la procedencia de la materia prima, se puededestacar que si bien hay un número elevado de recipientes de probable origenlocal, un porcentaje (27%) relativamente alto de las cerámicas deben procederde áreas lejanas, como en el caso de la cista de A Forxa, donde dos de los cuatrorecipientes analizados responden a este mismo fenómeno de movilidad.

De hecho, si nos centramos en los recipientes que podrían proceder deáreas más o menos lejanas, se observa que en un nivel morfológico, técnico ydecorativo, éstos no muestran diferencias con el resto de los recipientes del ya-cimiento. Esto podría implicar que los recipientes son transportados, enten-diendo así, que el estilo cerámico abarca un espacio regional amplio, quizásmás extendido hacia el sur del yacimiento. Los recipientes de procedencia le-jana se harían de manera similar a los de la zona de Fraga do Zorro, por lo cualno se constatarían diferencias formales entre unos y otros.

Pero también podría ocurrir que lo que estuvo sujeto a movilidad es unaparte del desgrasante para fabricar los recipientes en la zona del yacimiento,el material anfibólico. Sin embargo este mineral, salvo para aportar color rojo(aunque no parece la intención en este caso), no manifiesta un comportamientotérmico especial conocido que haga más deseable su utilización frente a otrosminerales de origen local.

Si fuera el desgrasante lo que es transportado, la interpretación se hacemucho más compleja, ya que éste seguramente no sería más que un efecto se-cundario del transporte. Tendría más lógica que esta materia prima se usarapara la fabricación de industria lítica. Pero todavía está sin desarrollar una in-vestigación sobre este tema en la zona, y no se sabe si lo que se transporta esel lítico acabado o su materia prima, así que sólo podemos emitir hipótesis alrespecto. En este caso los mecanismos de circulación de la materia prima, o ladistribución para fabricación de útiles o uso de desgrasante para cerámica se-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 119

Page 121: Issn 0871 - 4061

rían mucho más complejos, e interesantes para desarrollar en trabajos futuros.Convendría analizar materiales cerámicos de otros contextos de la zona

y de la región para poder determinar hasta qué punto este patrón de movilidades semejante al encontrado en estos enterramientos o es completamente dife-rente. Es, dentro de este contexto global, donde podremos interpretar adecua-damente los resultados analíticos y formales de la cerámica.

ReconocimientosEste artículo está realizado en el marco del proyecto titulado “Aplicación

de técnicas arqueométricas ao estudo da cerámica antiga de Galicia” (código:PGIDIT07PXIB236075PR) concedido por la Dirección Xeral de Investigación,Desenvolvimento e Innovación (I+C+I), Xunta de Galicia dentro del Programade Promoción Xeral de Investigación do Plan Galego de Investigación, Des-envolvemento e Innovación Tecnolóxica (INCITE) de 2007.

BibliografíaAboal Fernández, R.; Ayán Vila, X.; Criado Boado, F.; Prieto Martínez, Mª P.; Tabarés Domínguez,

M. 2005. Yacimientos sin estratigrafía: DEV, ¿un sitio cultual de la Prehistoria Reciente y la Protohistoriade Galicia?. Trabajos de Prehistoria, 62 (2): 165-180.

Curet, L. A.. 1997. Technological changes in prehistoric ceramicsfrom eastern Puerto Rico: an ex-ploratory Study. journal of Archaeological Science, 24: 497-504.Academic Press Limited.

Gosselain, O. P. 1992. Bonfire of the Enquiries. Pottery Firing Temperaturas in Archaeology: WhatFor?. journal of Archaeological Science, 19: 243-259.

Martínez-Cortizas A., Prieto-Lamas B, Lantes-Suárez Ó, Prieto-Martínez Mª P. 2008 (en prensa).Análisis elemental y cromático de cerámica Prehistórica del Área Ulla-Deza (NW de la Península Ibérica).Actas del VII Congreso Ibérico de Arqueometría (Madrid 2007).

Martínez-Cortizas, A; Lantes-Suárez, O & Prieto-Martínez, P. 2009 (en prensa). Análisis Arqueomé-trico de la Cerámica prehistórica del Área Ulla-Deza. En M. P. Prieto-Martínez, F. Criado-Boado y A. Ro-dríguez Costas (Coords.): Autopista al pasado. Arqueología y paisaje en la ACEGA, entre Santiago y elAlto de Santo Domingo. Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio. Santiago de Compostela.

Nóvoa-Muñoz, J. C.; Queijeiro, J. M. G.; Blanco-Ward, D.; Álvarez-Olleros, C.; García-Rodeja; E.& Martínez-Cortizas; A. 2007. Arsenic fractionation in agricultural acid soils from NW Spain using a se-cuential extraction procedure. Science of the Total Environment, v. 378, p. 18-22. Elsevier.

Prieto-Martínez, Mª P. 1999a. Forma, estilo y contexto en la cultura material de la Edad del Broncegallega: cerámica campaniforme y cerámica no decorada. Tesis doctoral editada en CD-Rom (1999). San-tiago de Compostela: Facultade de Xeografía e Historia, Departamento de Historia I, Universidade de San-tiago de Compostela.

Prieto-Martínez M.-P. 1999b. Caracterización del estilo cerámico de la Edad del Bronce en Galicia:Cerámica Campaniforme y cerámica no decorada, Complutum, 10: 71-90.

Prieto-Martínez, M.-P. 2001. La Cultura Material Cerámica en la Prehistoria Reciente de Galicia:Yacimientos al Aire Libre. Trabajos en Arqueología del Paisaje, 20. LAFC. Santiago de Compostela.

Prieto Martínez M.-P., Lantes Suárez O., Martínez Cortizas A. 2008. O campaniforme cordado de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 120

Page 122: Issn 0871 - 4061

Forno dos Mouros (Toques, A Coruña). Cuadernos de Estudios Gallegos, 121: 31-51.Nuño C., López M.-J. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 303, 8-

13, Verín). Publicaciones del I.G.M.E.Taboada Chivite, X. 1971. Notas arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de Es-

tudios Gallegos, 26: 45-63. Santiago de Compostela.Stuiver M., Reimer P.-J., Reimer R. 2005. CALIB Manual (5.0.2).

http://radiocarbon.pa.qub.ac.uk/calib/calib.html. Last modified: Wed, 09 Feb 2005 14:46:07 GMT.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 121

Page 123: Issn 0871 - 4061

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 122

Page 124: Issn 0871 - 4061

RePensAndo el PAsAdo:cAMBio sociAl e iconoGRAFÍA GueRReRA en lA edAd delhieRRo del noRoeste de lA PenÍnsulA iBÉRicA*

RETHINKING THE PAST: SOCIAL CHANGE AND IRON AGE WARRIORICONOGRAPHY IN NORTHWEST OF THE IBERIAN PENINSULA

Resumen: El trabajo aquí presentado pretende, a través del análisis y estudio comparativo

de la denominada estela antropomorfa de Muíño de San Pedro (Oímbra, Ourense) y de su iden-

tificación como estatua-menhir equiparable a las piezas del mismo tipo del Norte de Portugal,

servir como ejercicio de reflexión sobre las formas de apropiación del pasado por parte de las

sociedades galaicas de la Edad del Hierro sometidas, ya, al influjo cultural romano. El objetivo

fundamental del trabajo consiste en presentar una hipótesis sobre cómo se produjo la negocia-

ción, dentro de las sociedades de Edad del Hierro del Noroeste peninsular, entre las formas cul-

turales indígenas, algunas de ellas muy antiguas y reutilizadas de etapas anteriores, y las nuevas

formas culturales romanas.

Palabras clave: Noroeste de la Península Ibérica, Edad del Bronce, Edad del Hierro, Es-

tatuas-menhir; epigrafía latina; hábito epigráfico; interacción cultural.

Abstract: This paper carries out the analysis and comparative study of the anthropomor-

phic stele from Muiño de San Pedro (Oímbra, Ourense, Spain) and proposes to identify it as

statue-menhir, similar to other items from Northern Portugal. Our work aims to present a model

of thinking on the ways Iron Age societies from Gallaecia, under roman cultural influence, as-

similated their own past. Our main purpose is to formulate a hypothesis on the cultural negoti-

ation between the old indigenous cultural traditions from this geographic area and the new

cultural ways introduced by the romans.

Keywords: NW Iberian Peninsula; Bronze Age; Iron Age; Statue-menhirs; Latin epigra-

phy; Epigraphic habit; Cultural interaction.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 123

Francisco Javier González GarcíauNiverSidad de SaNtiaGO de COmPOSteLa;

[email protected]

Page 125: Issn 0871 - 4061

1. introducciónEn las presentes páginas vamos a plantear un ejercicio de doble reflexión

sobre el pasado: Por una parte, a través del estudio de la estatua-menhir deMuiño de San Pedro (Oímbra, Ourense) nos replantearemos el uso que, en laEdad del Hierro galaica, se hizo de determinados elementos materiales proce-dentes de épocas anteriores; por otra, la revisión de la investigación sobre dichapieza nos permitirá, también, repensar la imagen que, desde la actualidad, noshacemos del pasado, corroborando, de ese modo, la famosa afirmación de B.Croce según la cual “toda historia es historia contemporánea” o, lo que es lomismo, que la historia, como ha señalado Roldán1, consiste, esencialmente, enver el pasado con los ojos del presente y a la luz de los problemas de ahora.Es, precisamente, en este último sentido en el que el trabajo que aquí presen-tamos se encuadra a la perfección dentro de la temática del presente congresoque pretende configurar un patrimonio cultural común a través de una arqueo-logía y una investigación transfronteriza y no, como ha venido sucediendo,hasta la fecha, como el resultado de dos tradiciones investigadoras nacionalesdistintas. Creo que las presentes páginas, ejercicio de reflexión realizado a par-tir de una pieza arqueológica aparecida en Galicia pero adscribible a tradicionesculturales bien conocidas en el N portugués, ofrece un magnífico ejemplo depatrimonio común y de investigación transfronteriza que puede contribuir aponer fin al tímido diálogo entre las tradiciones investigadoras gallegas y por-tuguesas que, como veremos, se reflejan a la perfección en las interpretacionesque ambas comunidades científicas han dado a la estatua-menhir de Muíño deSan Pedro.

La antigua dicotomía entre “sociedades calientes”, aquéllas que interio-rizan profundamente el devenir histórico para convertirlo en motor de su des-arrollo, y “sociedades frías”, aquéllas cuyas instituciones buscan la anulación,de manera casi automática, del efecto que los factores históricos podían tenersobre su equilibrio y su continuidad2, se puede dar por acabada, de tal modoque los objetos respectivos de la Historia y de la Antropología, el estudio, res-pectivamente, de las estructuras diacrónicas y de las sincrónicas, ya no tienerazón de ser. En la actualidad somos conscientes del carácter borroso que pre-senta la habitual distinción entre las “sociedades primitivas” con estructuraselementales y caracterizadas por vivir fuera de la Historia y las “sociedades

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 124

Page 126: Issn 0871 - 4061

avanzadas”, con estructuras complejas y conscientemente implicadas en el pro-ceso de transformación histórica3. Sabemos que dicha dicotomía derivaba, engran medida, del modelo utilizado por los antropólogos que excluía la posibi-lidad del desarrollo evolutivo de las sociedades que estudiaban, al suponer quelos sistemas que observaban siempre habían sido así desde tiempos inmemo-riales4. Así pues, el problema que nos plantean estos dos tipos de sociedad noradica tanto en su negación o aceptación del pasado sino en nuestra capacidadde reconstrucción del mismo y lo cierto es que, en el caso de la gran mayoríade las sociedades y culturas primitivas, nos resulta difícil, cuando no imposible,reconstruir su historia, entendida ésta, claro está, como la sucesión de aconte-cimientos vividos por dicha sociedad. Este hecho, sin embargo, no excluye quepodamos llegar a conocer, por superficial que sea, la historia de estas socieda-des; para ello hay que tener en cuenta que si un hecho se convierte en un acon-tecimiento, ello se debe a que depende de un contexto cultural dado, endefinitiva, de una estructura o de un sistema que lo determina5, y que dichasestructuras, en muchas ocasiones, sí que pueden llegar a ser captadas y com-prendidas por el investigador, pues, tal y como indicó Sahlins6, la persistenciade una estructura a través del tiempo y, podríamos añadir, los cambios que lamisma ha conocido durante ese mismo período también se pueden considerarcomo historia, de tal modo que la diferencias entre estructura e historia, entreestabilidad y cambio, no son, en modo alguno, alternativas excluyentes.

Estas reflexiones iniciales vienen a cuento porque mi interés, a lo largode estas páginas, se va a centrar en un ejemplo de reutilización de un materialantiguo por parte de una sociedad que podríamos calificar como primitiva yporque consideraré dicha reutilización como una manifestación, por parte deesa sociedad, de un proceso de re-semantización del pasado. Sabemos que, alo largo de la historia de la humanidad, han existido vestigios antiguos que,por diferentes motivos, entre ellos su monumentalidad, han captado la atenciónde las sociedades humanas. La curiosidad humana, así despertada, explica lagénesis de diversos relatos y narraciones, en muchos casos de origen mítico,con los que se pretende dar cuenta del origen de dichos monumentos, así comola reutilización y la consiguiente creación de un nuevo significado cultural demuchos de ellos ya desde tiempos prehistóricos7.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 125

Page 127: Issn 0871 - 4061

2. la estatua-menhir de Muiño de san Pedro: encuadramiento cro-nológico y cultural

El monumento que aquí centra nuestra atención es una piedra de granitode tamaño considerable, aparecida, en 1985, a orillas del Támega, en el lugarde Muiño de San Pedro, concello de Oímbra, cerca de Verín (Figura 1). Se tratade una pieza de sección ovoide y configuración antropomorfa que presentaunas medidas de 160 cm de altura y una sección que oscila, según las diferentespartes de la misma, entre los 91 y los 164 cms, esculpida en todo su perímetroy en la que, además, figura en su anverso una inscripción romana cuyo textoes el siguiente: Latroni / us Celt / iati ·F(ilius) / H(ic) S(itus) :E(st)8; junto a lainscripción, por encima de ella, la pieza del Muiño de San Pedro presenta unarepresentación gravada de una cabeza humana, con orejas, ojos y boca; en elreverso se representa un motivo geométrico subrectangular que corre desde laaltura de la nuca hasta la parte inferior de la pieza, mientras que la parte traserade la cabeza presenta una serie de estrangulamientos que conceden a la piezael aspecto de un glande9.

Este monumento, ya desde su descubrimiento y primera publicación, hasido interpretado por la investigación gallega como una estela funeraria antro-pomorfa romana, si bien siempre se ha puesto de manifiesto que, en ella, seaprecia un importante peso del componente cultural indígena10. Adscripcióncultural que ha quedado como un hecho fijo en la tradición investigadora ga-laica y que no ha sido revisada ni matizada, al contrario de lo que sucede conotras de sus características, como, por ejemplo, su tipología que, para Rodrí-guez Colmenero11, responda al tipo de estela bifronte.

La adscripción romana deriva, básicamente, de la presencia de la inscrip-ción; este es el motivo fundamental que lleva, a muchos autores, a considerarque todas las estelas antropomorfas con epígrafe romano datan, necesaria-mente, de época romana12. Una buena prueba de esta tendencia la ofrece eltexto de la ficha que sobre esta pieza figura en la página web del Museo Ar-queológico Provincial de Ourense13 en la que, explícitamente, se nos dice quesi no fuese por el hecho de presentar inscripción, la pieza sería relacionada di-rectamente con las estelas-menhir portuguesas, con la que presenta ciertos ele-mentos en común, para, a continuación, afirmar: “fora deses elementoscarecemos doutras indicacións que permitan unha identificación precisa como

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 126

Page 128: Issn 0871 - 4061

tal estela-menhir. De ahí que sen negar esa posible orixe, que consideramosmoi probable, teñamos que considerar a peza como propiamente enraizada nomundo galaicorromano”, hasta tal punto que se le atribuye, fundamentalmentea partir del epígrafe, una datación de mediados o finales del siglo I d.C. El es-tudio de esta pieza realizado por Rodríguez Colmenero14 se orienta, también,en esta misma dirección: dicho autor, partiendo del hecho de que el ejemplarde Muíño de San Pedro podría haber sido unaestatua-menhir reutilizada, ha buscado indi-cios, en la misma, de discontinuidades entresus diversas caras, concluyendo, como resul-tado de dicho análisis, que el bloque parecehaber sido labrado de una sola vez, hecho queconsidera de gran trascendencia pues estaría-mos ante una “estela bifronte romana, que em-pregaría na decoración do seu reverso motivossupostamente prehistóricos”, llegando a plan-tearse la posibilidad de rebajar la datación deeste tipo de piezas, tal y como, como veremos,hizo en su día Vázquez Varela para la pieza deTroitosende. Sin dudar del análisis visual de lapieza realizado por Rodríguez Colmenero meresulta difícil aceptar ese empleo de motivosprehistóricos en una pieza con datación enépoca romana cuando, como veremos, son mu-chos los elementos estilísticos que vinculan anuestra pieza con las estatuas-menhires del Nde Portugal; sería preciso, quizás, un análisismucho más detallado de los restos de labra de la pieza, sin descartar, tampoco,que el grabado prehistórico se haya visto muy alterado, en época romana, comoconsecuencia de las labores de preparación del campo epigráfico de la piedra,tal y como, por ejemplo, ha indicado Bettencourt15.

Creo que en esta asignación a época romana del ejemplar del Muiño deSan Pedro por parte de la investigación gallega también ha jugado un papelimportante, además de la presencia del epígrafe, la revisión realizada por Váz-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 127

Figura 1. Estatua-menhir de Muiño deSan Pedro, Oimbra, Ourense (fuente:Museo Provincial de Ourense 2002a)

Page 129: Issn 0871 - 4061

quez Varela de la estela de Troitosende (A Coruña)16, en la que defendía unadatación romana para un monumento que, hasta ese momento, había sido con-siderado como prehistórico, y denunciaba el abuso de los paralelismos en elestudio del arte prehistórico. Esta revisión ha influido hasta tal punto a la in-vestigación gallega que se ha llegado a explicar el aspecto claramente indígenade las piezas antropomorfas galaicas como un ejemplo de sincretismo entre lastradiciones indígenas y romanas, argumentando que se trataría de una tradiciónindígena que se retrotraería hasta las estatuas-menhir pero que se vería pro-fundamente alterada en época romana, como lo demostraría su utilizacióncomo estelas funerarias17.

Por lo que respecta a la calificación de la pieza de Muiño de San Pedrocomo estela creemos que se trata de una adscripción tipológica errónea. Sa-bemos que, con frecuencia, el término estela se utiliza como sinónimo de mo-numento funerario pero, en aras de un uso más correcto del léxico científico,consideramos, con Bonneville18, que el uso del término estela se debería li-mitar a aquellos monumentos cuyo grosor es inferior a un tercio del lado máspequeño de la cara anterior, que sean piezas exentas y que hayan sido reali-zadas para ser vistas frontalmente. Atendiendo a estas tres características, lapieza que aquí nos ocupa sólo cumple una de ellas, su carácter exento y, porello, difícilmente la podemos denominar como estela. De hecho, la pieza deMuiño de San Pedro presenta, con respecto a las restantes estelas antropo-morfas con las que Taboada Cid19 las vinculó (Paradela, Ouzande, Troito-sende, Tins y Bermes: Figura 2: a, c, d, e, f) una diferencia fundamental: elhecho de que, frente a la frontalidad de esas piezas, la estela de Muiño de SanPedro está esculpida en toda su superficie. Esta invasión del texto y la deco-ración por toda la pieza justifica, quizás, su consideración, por parte de Col-menero, como estela bifronte, tipología que, creo, tampoco conviene a la piezaaquí estudiada.

Como ya he dicho, la adscripción de la pieza a época romana deriva, fun-damentalmente, del hecho de contar con un epígrafe en latín en su anverso. Siprescindimos de dicho texto y observamos la pieza en su conjunto, ésta resultafácilmente identificable como una estatua–menhir, entendiendo como tal aque-lla pieza que representa a una figura humana esculpida en forma tridimensional,con independencia de que posea, o no, atributos decorativos20 y, por ello, se la

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 128

Page 130: Issn 0871 - 4061

puede considerar como una estatua-menhir, similar, como veremos, a otrosejemplos del N de Portugal, reutilizada en época romana para ser convertidaen epígrafe funerario21; incluso podríamos ir más allá y, siguiendo a Betten-court22, considerar que estamos ante un menhir fálico reconvertido en estatua-menhir a la que, posteriormente se le añadió un texto epigráfico en latín.

Aplicando al análisis de la pieza de Muíño de San Pedro unas cautelascomparativas similares a las aplicadas por Vázquez Varela23 en su estudio de laestela de Troitosende, es decir, centrándonos, simplemente, en paralelos próxi-mos que nos permitan encuadrar a nuestra pieza dentro de la evolución de lasformas propias del NO de la Península, no cabe ninguna duda que estamos anteuna estatua-menhir. Por su forma, recuerda las piezas portuguesas de Chaves yBouça (Figura 3: b y d) con las que se vincula, además, por el aspecto fálicoque todas ellas presentan24. La presencia, en nuestra pieza, del motivo geomé-trico del anverso, representación fácilmente identificable con los motivos de-corativos sub-rectangulares que aparecen en las piezas de Chaves25, Bouça26,Faiôes27 (Figura 3: c) o San Joâo de Ver28 (Figura 3: a) nos permite incluirladentro del grupo de las estatuas-menhir; si bien en este caso, y al igual que su-cede con el ejemplar de Bouça29, la pieza de Muiño de San Pedro, a diferenciadel resto de los ejemplos arriba citados, no presenta representaciones de armas.Esta inclusión de la pieza del Muiño de San Pedro dentro de la tradición de lasestatuas-menhir del N de Portugal no debe resultar sorprendente, dada la pro-ximidad geográfica de la zona orensana del hallazgo con la frontera portuguesay, también, por el hecho de no ser la única pieza de este tipo aparecida en laprovincia de Ourense que se puede encuadrar dentro de dicha tradición; así, porejemplo, en esta misma provincia se conoce la estatua-menhir de Vilar de San-tos30 o la, denominada, estela funeraria de Tameirón31 (Figura 4: a y b), piezasque parecen apuntar hacia la inclusión de un sector del territorio de la provinciade Ourense dentro de tradiciones culturales prehistóricas muy bien representadasen el norte portugués. En este sentido, la pieza de Muíño de San Pedro se en-cuadraría dentro del tipo 2 de estatuas-menhir del N de Portugal definido porSusana Oliveira Jorge32, el formado por algunas de las piezas ya mencionadasaquí, como Chaves, Faiôes o San Joaô de Ver y por otras como el ejemplar fe-menino de Ermida33. El carácter masculino de la pieza nos permitiría incluirladentro del conjunto de estelas masculinas y, en concreto, dentro del subgrupo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 129

Page 131: Issn 0871 - 4061

de estelas faliformes establecido por Almagro-Gorbea34 que, como el propioautor indica, presenta características comunes con las piezas carentes de soportefaliforme o con las piezas más claramente antropomorfas, similitudes que, prin-cipalmente, se basan en la presencia, en ejemplares de todos estos subtipos, delelemento sub-rectangular ya mencionado.

La presencia, en todas estas piezas, de ese enigmático motivo sub-rectan-gular creo que nos viene a poner de manifiesto, una vez más, el carácter pre-histórico de la factura del ejemplar del Muiño de San Pedro. Dicho elemento,

cuyo significado e identificación precisa se nos es-capan, ha sido interpretado como un símbolo es-tandarizado de poder35, como un elemento delvestuario, ceremonial, como la parte trasera de labandolera o “suspensorio” de fijación de las co-rreas que aseguraban las armas36 o como un collarapotropaico o kardiophylax, comparable con loscollares orientales tipo “keftiu”, símbolos de ri-queza y poder que aparecen en las estelas de laDaunia (Italia)37. Este tipo de motivos aparecen,también, en otras piezas peninsulares ajenas a estaárea geográfica, como es el caso, por ejemplo delas estelas de Preixana (Lleida)38 o Tremedal deTormes (Salamanca) si bien, en este último caso,aparece representado en el anverso de la pieza39

(Figura 5: a y b).Atendiendo a todos estos paralelos, el monu-

mento de Muíño de San Pedro se podría datar enel Bronce Final, datación que parece ser la que sepuede otorgar, pese a sus diferencias, a los ejem-plares de Ermida, Faiôes, Bouza y Chaves, o a ini-cios de la Edad del Hierro, período al que parece

corresponder el puñal de la estatua de Chaves o el casco de la pieza de SanJoâo de Ver40, elemento, este último que incluso se ha datado en un momentoposterior de dicho período, como los siglos V o IV a.C., tal y como defiendeQueiroga41. En este mismo arco cronológico se incluyen, también, los paralelos

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 130

Figura 2. Estelas antropomorfas ga-laicas: A. Paradela (fotografía:Marta Tamayo); B: As Coroas deReigosa (fuente: Arias Vilas 1981:262); C: Tins (fotografía: Marta Ta-mayo); D: Ouzande (fotografía:Marta Tamayo); E: Troitosende (fo-tografía: Marta Tamayo); F: Bermes(fuente: CIRG II: 183)

Page 132: Issn 0871 - 4061

peninsulares que presentan ese mismo motivo subrectangular; así, por ejemplo,el ejemplar de Preixana, según Almagro Basch42, se situaría, cronológicamente,en el Bronce Final, siendo también en la Edad del Bronce dónde se ubica, sinmayor precisión cronológica, la pieza de Tremedal de Tormes43.

Por lo que respecta al significado de estas piezas, Sousa44 ha indicadocomo, pese a la falta de contexto arqueológico de las mismas, la mayoría hanaparecido en proximidades de cursos de agua (Faiôes, Chaves, Bouça) o enzonas de frontera entre áreas de fuerte contraste geográfico y que, por tanto,sirvieron como zonas de paso (San Joaô de Ver). Esta misma característica sepuede hacer extensiva a la pieza de Muíño de San Pedro que, como indicó Ta-boada Cid45, apareció en las cer-canías del río Támega, en unárea transitada por dos vías ro-manas. Estas piezas, así pues, sepodrían interpretar como señali-zadores de caminos; de hecho,Sousa46 ha indicado que las pie-zas del grupo Chaves-Verín(Faiôes, Chaves, Bouça y Muíñode San Pedro) aparecieron, todasellas, en las proximidades decursos fluviales: la pieza de Cha-ves indicando, quizás, un pasodel Támega, la de Faiôes seña-lando el camino hacia el Nortedesde Chaves, situación quetambién parece convenir a lapieza ourensana de Muíño de San Pedro, mientras que el ejemplar de Bouçase ubicaba en las cercanías del río, en posición de predominio sobre la cuencadel Mirandela. Todo parece indicar, por tanto, que todas estas piezas podríanestar vinculadas con el establecimiento de caminos que estructuraban diferentesterritorios47, caminos que quizás hayan tenido que ver con la explotación delos recursos minerales48 o ganaderos de dichas áreas49. Estaríamos, así pues,ante la misma función que otros autores han atribuido a manifestaciones cul-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 131

Figura 3. Estatuas-menhir del Norte de Portugal: A. SanJoâo de Ver (fuente: Jorge, Jorge 1983: 45); B: Chaves:(fuente: Jorge, Almeida 1980: 16); C: Faiôes (fuente: Al-meida, Jorge 1979: fig. 7); D. Bouça (fuente: Sanches,Jorge 1987: 82, fig. 6)

Page 133: Issn 0871 - 4061

turales similares, como las estelas de SO, que han sido interpretadas como hitosde señalización de caminos o de delimitación de fronteras entre distintos terri-torios50.

Sea cual fuese el carácter de los personajes representados en estas piezas(divinidades, héroes, jefes, etc.), lo cierto es que esta estatuaria masculina por-tadora de armas o de insignias de prestigio, como podría ser el enigmático mo-tivo sub-rectangular, está dando cuenta del proceso de jerarquización queconocieron las sociedades prehistóricas peninsulares desde el Neolítico hasta

la Edad del Bronce, proceso que pa-rece haber estado estrechamente vin-culado con la actividad guerrera, taly como se deduce de la frecuente re-presentación de armamento en di-chas piezas51. En trabajos anterioreshemos indicado ya cómo, el BronceFinal del NO peninsular, parece ca-racterizarse por la aparición de unaelite guerrera que nos permite inter-pretar las sociedades desarrolladasen este sector geográfico desde laperspectiva de las “sociedades conguerreros” establecidas por Clas-tres52. La aparición de piezas comolas aquí estudiadas sería, en mi opi-nión, una clara manifestación de laaparición de estas aristocracias gue-

rreras y de la conformación social de los grupos humanos del NO peninsularcomo “sociedades con guerreros”.

Atendiendo a la aparición de estas aristocracias guerreras, Jorge53 ha in-dicado que la ubicación de las estatuas-menhir en zonas de paso o en límitesentre territorios nos puede estar señalando, precisamente, el cambio, ocurridodesde el Bronce Final, en los mecanismos de representación del poder, quedejan de estar incorporados en los espacios funerarios, en los que antaño seglorificaba al gobernante a través de su tumba, para pasar a ser integrados en

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 132

Figura 4. Estatuas-menhir de la provincia de Ourense:A. Estela de Tameirón (fotografía: Beatriz Comenda-dor y José Luís Méndez); B. Estatua-menhir de Vilarde Santos (fuente: Museo Provincial de Ourense2002b)

Page 134: Issn 0871 - 4061

esos nuevos espacios rituales en los que se asiste a la heroización de determi-nados individuos mediante la realización de otro tipo de rituales distintos alculto al muerto. En esta misma línea, Díaz-Guardamino Uribe54 ha señaladola posibilidad de que las estatuas-menhir sirviesen como marcadores de lugaresen los que se realizaban rituales de conmemoración a individuos ya fallecidos,a través de los cuales el grupo no sólo conservaba el recuerdo individual dedicho individuo sino también, lo que es más importante, su recuerdo socialcomo colectivo55.

A juzgar por todo lo expuesto en las presentes páginas, parece que a lapieza de Muíño de San Pedro se le puede conceder una vida mayor de la que,hasta ahora, le había venido otorgando la investigación gallega. Todo pareceapuntar, en conclusión, que estamos ante una estatua-menhir que conoció, enun momento posterior, una reutilización. A esta segunda etapa de la vida dedicha pieza dedicaremos las páginas finales de nuestro trabajo.

3. la reutilización de la piezaen época romana: un nuevo signi-ficado para una pieza antigua

La estatua-menhir de Muíño deSan Pedro, tallada en la Edad delBronce, conoció una reutilización, almenos, con posterioridad a la con-quista, por Roma, de los territorios delNO peninsular. No descartamos, si-guiendo, a este respecto a Betten-court56, que, al igual que otras piezasde este mismo grupo escultórico, lapieza de Muíño de San Pedro hayaconocido otras reutilizaciones anterio-res, tal y como parece haber sucedido,por ejemplo, con la estatua-menhir deChaves que, según Jorge y Almeida57, puede haber sido, en origen, un menhirfálico al que, posteriormente, se le grabaron distintos atributos antropomorfosy armas en dos momentos diferentes, hasta que, por último, fue, posiblemente,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 133

Figura 5. Estelas antropomorfas peninsulares conpresencia de motivo subrectangular: A. Preixana(fuente: Almagro Basch 1974: 25); B. Tremedal deTormes (fuente: López Plaza et al. 1996: 299)

Page 135: Issn 0871 - 4061

utilizado, en época romana, como material constructivo en las obras del puentede Chaves. Esta conversión de un menhir en una estatua-menhir y su posteriorreutilización es un fenómeno relativamente frecuente en la prehistoria peninsu-lar58.

Las historias paralelas de los dos ejemplares de Chaves y Muiño de SanPedro ejemplifican, a la perfección, el proceso de reutilización de este tipo demateriales en época romana y la importancia que, en dicho proceso, tuvo elcontexto cultural. Ambas piezas aparecieron a orillas del Támega, en la mismaárea, por tanto, y relativamente próximas. Este hecho, sin embargo, no contri-buyó a que ambas conociesen una misma suerte y, así, frente a la reutilizaciónde la pieza de Muíño de San Pedro, el ejemplar de Chaves, pieza cargada an-taño con un fuerte significado simbólico, tal y como lo manifiesta su transfor-mación de menhir fálico a estatua-menhir, fue, en época romana, utilizado,muy probablemente, como material de construcción. Estos dos ejemplos noshablan de dos planteamientos distintos, con respecto al pasado, por parte dedos grupos humanos coetáneos que ocupaban la misma zona geográfica: poruna parte, una ruptura cultural total, como sucede en el caso de la pieza deChaves, que resulta totalmente lógica dentro de un entorno urbano y fuerte-mente romanizado y, en el caso de Muiño de San Pedro, la resemantización deun elemento del pasado, comportamiento comprensible en un área rural ymucho más indígena en la que este tipo de elementos seguían resultando, si nocomprensibles sí, al menos, asimilables para la población. En contextos urba-nos y romanizados, como Chaves, este tipo de monumentos, muy distantes delgusto romano, carecían, ya, de valor y sólo serían apreciados como materiales,pétreo, en este caso, mientras que, en entornos rurales e indígenas, la poblacióntodavía podía dotar de significado cultural a este tipo de piezas59. Este procesode reutilización de estelas, estatuas o estatuas-menhir prehistóricas como so-portes de epígrafes en latín no resulta desconocido en la Península; de hechose conocen dos estelas de guerrero del SO que fueron utilizadas, en época ro-mana, para acoger sendos epígrafes en latín: las estelas de Ibahernando (Cáce-res) y de Chillón (Ciudad Real)60.

Como ya he indicado, desde un punto de vista formal, la pieza de Muíñode San Pedro, dejando a un lado su factura en un momento anterior, no se puedeconsiderar como romana, ni como propia del gusto romano. Del mismo modo,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 134

Page 136: Issn 0871 - 4061

si nos detenemos en realizar un análisis onomástico de su inscripción, los in-dividuos que en ella aparecen reseñados tampoco se pueden considerar, ate-niéndonos al origen de sus nombres, como romanos.

El nombre del difunto es Latronius o Latronus, divergencia de lectura delnombre debida al reconocimiento, en línea 1, de un nexo NI por parte de Ta-boada Cid61 que, en cambio, no reconocen el autor de la ficha de la pieza quefigura en la página web del Museo Arqueológico Provincial de Ourense62, niotros investigadores que han estudiado el epígrafe63. Sea cual sea la lectura quese acepte, no supone, desde el punto de vista onomástico, una diferencia con-siderable pues se trata de dos formas emparentadas. Se conocen formas simi-lares en variantes con -t- y con -d-. Las formas tipo Ladronus se handocumentado en los distritos portugueses de Viseu, Porto y Beja64. Según Al-bertos65 se trataría de una variante sonora de Latronus. La forma con -t- se do-cumenta en el distrito portugués de Vila Real y en la provincia española deCáceres66. Otras formas vinculadas con este antropónimo, como es el caso deLatro, cuentan con una dispersión mayor por el territorio peninsular, abarcando,así, las provincias españolas de Soria, León, Jaén, Burgos, Badajoz, Palencia,Ourense, Barcelona, Tarragona, Castellón y el distrito portugués de Vila Real.Pese al aspecto latino de la forma Latronus/Ladronus, Albertos67 considera, apartir de la aparición de esta onomástica en la regiones occidentales de la Pe-nínsula y de su aparición combinada con nombres indígenas, que se debe detratar de una forma indígena homófona a la latina68.

Celtiatus, el nombre del padre del difunto, es un antropónimo documen-tado en el distrito portugués de Vila Real, en concreto en Chaves69 y en la pro-vincia española de Cáceres. Palomar Lapesa70 lo considera derivado de Kéltioso Celtius que procedería del radical *kelt-, el mismo del que derivaría el etnó-nimo de los celtas71; de lo que no cabe duda es de que la forma onomásticaCeltius es típicamente peninsular, al no estar atestiguada fuera de Hispaniapero sí, en cambio, otros derivados del mismo radicial (Celtus, Celto, Celtillus,-a, Celtinus, etc.). En la Península Ibérica, las formas emparentadas con Celtius(entre ellas la aquí tratada, así como otras: Celtiaticus, Celtiatis, Celtiber, -a, -us, Celticus, Celtienus, Celtitanus) presentan una amplia dispersión y, así, apa-recen en las provincias españolas de Córdoba, Lérida, Burgos, Cuenca,Valencia, Barcelona, Badajoz, Cáceres, Pontevedra, Sevilla, Navarra, Vitoria

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 135

Page 137: Issn 0871 - 4061

y Zamora (esta última con ciertas dudas) y en los distritos portugueses de Viseu,Leiria, Portalegre, Castelo Branco, Vila Real, Guarda y Braga72. Albertos73 pro-puso, a partir de la dispersión por el área geográfica lusitano-vetona de la granmayoría de los nombres derivados de esta raíz que se podía tratar de antropó-nimos típicos de individuos de origen lusitano o vetón, adscripción étnica delantropónimo que Palomar Lapesa74 delimita al área Lusitana. Se trata, sin duda,de un antropónimo indígena de origen céltico que cuenta, además, con el pa-ralelo del etnónimo de los Celtici mencionados por las fuentes clásicas en elNO peninsular75 que, en opinión de Untermann76, sería la helenización o la la-tinización, por parte de los autores griegos o romanos, de un etnónimo indígena*keltikos que derivaría de la raíz kelt-.

A juzgar por los resultados de este análisis, estamos ante un epígrafe enlatín encargado por indígenas que, atendiendo a su onomástica, se revelancomo muy poco latinizados o romanizados, contexto sociológico que coincidemuy bien con el contexto rural de aparición de la pieza y que explicaría la reu-tilización de un monumento de aspecto tan poco romano en plena época ro-mana. Con relación a la datación del epígrafe, podemos situarla hacia mediadoso finales del siglo I d.C77. Esta datación parece confirmada por epígrafes simi-lares a este, tanto por el tipo de onomástica como por las fórmulas epigráficasutilizadas, como, por ejemplo, la estela de granito fragmentada, aparecida enAlcollarín (Cáceres) en la que también se menciona a un individuo denominadoCeltiatus, y que presenta letra capital, con las letras v, n y a redondeadas y queha sido fechada en el siglo I d.C.78 (Figura 6: b). Del mismo modo, el epígrafegrabado en la reutilización de la estela guerrero del SO peninsular de Chillón(Ciudad Real) fenómeno similar al aquí estudiado para el caso de Muíño deSan Pedro, también se sitúa cronológicamente, en opinión de sus editoras, amediados del siglo I d.C.79 (Figura 6: a). La presencia, en el epígrafe de Muíñode San Pedro, de la fórmula HSE sin el desarrollo STTL nos estaría indicando,quizás, una datación ligeramente anterior para nuestro epígrafe con respecto alos dos paralelos aquí citados.

Además del texto latino, la intervención, en época romana, sobre la piezatambién pudo haber consistido en el grabado del rostro humano. Para realizaresta afirmación nos basamos en la ausencia de este motivo en las dos piezasdel N de Portugal más parecidas a la estatua-menhir de Muiño de San Pedro:

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 136

Page 138: Issn 0871 - 4061

los ejemplares de Bouça y Chaves. Además, esta forma de representar el rostrohumano presenta paralelos con piezas galaicas de época romana como son, porejemplo, las estelas antropomorfas de Sta. María de Troitosende80, Santa Maríade Paradela81, San Lorenzo de Ouzande82 y As Coroas de Reigosa83 (Figura 2:a, b, d, y e). En todas estas piezas, el rostro humano, grabado de manera mástosca o más precisa, siempre aparece, al igual que sucede en el ejemplar deMuíño de San Pedro, enmarcado por una línea que representa a la cabeza84.Esta forma de representar la cabeza en la pieza aquí estudiada ha sido compa-rada por Rodríguez Colmenero85 con las esculturas de cabeza exentas o cabezascortadas y se trataría, en opinión de este autor, de una característica estilísticaque vendría a reforzar el carácter funerario de la pieza.

Parece, por tanto, que la intervención, en época romana, sobre la piezaconsistió en el grabado del rostro y del texto epigráfico. Esta intervención al-teró, profundamente, el significado cultural de la pieza que, a partir de estemomento, pasó a estar posiblemente vinculado con una función funeraria, ac-tuando como monumento conmemorativo de un personaje indígena, posible-mente un individuo perteneciente a la elite local.

La onomástica, marcadamente indígena, que presenta el epígrafe, el ca-rácter indígena del soporte y el contexto rural en el que fue hallado nos permi-ten realizar una serie de reflexiones sobre la introducción del “hábitoepigráfico” en Gallaecia. Al hablar de hábito epigráfico debemos tener encuenta no sólo la aparición de epigrafía latina en las áreas conquistadas porRoma, sino también la evolución posterior de dicha práctica con el paso deltiempo86. Para el caso del NO peninsular, la introducción de epigrafía funerariase puede interpretar como un claro testimonio del proceso de aculturación dela población indígena por el mundo romano pues se trata de tradiciones cultu-rales (escritura e indicación del enterramiento) y monumentales (la propia es-tela en sí) desconocidas hasta la época87; estamos, así pues, ante una prácticaromana que pasó a ser asumida por las poblaciones indígenas. Ejemplos comoel del epígrafe de Muíño de San Pedro vienen a poner de manifiesto, en miopinión, que a las poblaciones indígenas se les debe conceder un papel muchomás importante y activo del que, hasta la fecha, se les ha venido otorgando enel proceso de adopción de la práctica epigráfica. En la actualidad ya no se laspuede considerar como poblaciones aculturadas por Roma, simples receptores

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 137

Page 139: Issn 0871 - 4061

pasivos de las influencias ejercidas por una civilización superior. Esta hipótesis,derivada de la falsa creencia de que existía una cultura romana “estándar” queera adoptada por las distintas poblaciones sometidas al poder romano, resultainsostenible en la actualidad pues sabemos que han existido diferentes versio-nes de la cultura romana en las distintas provincias del Imperio88 y que, en di-chas versiones, jugó un papel fundamental la conservación, dentro de lasnuevas culturas provinciales, de antiguas tradiciones culturales indígenas89,dándose, así, un proceso que Webster ha calificado como “criollización”90. Eneste sentido hemos señalado, en otro lugar91, cómo, a nuestro entender, el in-flujo romano se debe considerar, ya desde sus primeras manifestaciones en elNO con anterioridad a la conquista, como el último elemento y, quizás, el másimportante de todos los que han contribuido a la caracterización histórico-cul-tural de las poblaciones de estas regiones ibéricas, marcando, en un primer mo-mento, la evolución socio-cultural de las sociedades del NO con anterioridada la conquista y, tras ésta y con la integración de estas regiones dentro del Im-perio, provocando, a lo largo de un proceso de varios siglos, la progresiva trans-formación de esas comunidades indígenas en una sociedad provincial romanacon unas manifestaciones culturales propias.

¿Cómo se explica, teniendo estos planteamientos en mente, la reutiliza-ción de una estatua-menhir de la Edad del Bronce en época romana por partede un individuo cuya onomástica parece revelar un escaso grado de romaniza-ción y en un contexto claramente rural? La única explicación posible pasa, ami entender, por la consideración de que nos encontramos ante una manifesta-ción, por parte de un individuo perteneciente a la elite indígena, de su situaciónde predominio social. El dedicante del epígrafe utiliza, para diferenciar al di-funto del resto de los miembros de su grupo y manifestar su carácter aristocrá-tico, procedimientos típicamente romanos como son la escritura y la epigrafíafuneraria y lo hace reutilizando una pieza de honda tradición indígena.

Anteriormente hemos mencionado cómo en el Bronce Final del NO pa-rece asistirse a la creación, siguiendo los términos acuñados por Clastres, deuna “sociedad con guerreros”, con elites especializadas en la actividad bélicaque parecen asumir el liderazgo de las comunidades. Durante el paso delBronce al Hierro y a lo largo de la I Edad del Hierro, en estas mismas regionesparece atestiguarse un proceso de reconversión social mediante el cual las an-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 138

Page 140: Issn 0871 - 4061

tiguas “sociedades con guerreros” se convierten en “sociedades guerreras”,aquellas en las que la guerra es una actividad social importante en la que par-ticipan todos los miembros de la comunidad sin que existan grupos de espe-cialistas que pueden acaba convirtiéndose en elites sociales y en el grupo socialdominante. Los cambios en la panoplia y, sobre todo, el proceso de fortificacióna que se asiste durante la I Edad del Hierro se pueden interpretar en este sen-tido92. En cambio, durante la II Edad del Hierro, como hemos argumentado enotros trabajos93, parece que se vuelve a recuperar la forma social de “sociedadescon guerreros”, de elites especializadas en la actividad bélica que llegan a ha-cerse con el control de los grupos humanos: la aparición de grandes asenta-mientos, la decoración plástica y la aparición de la estatuas de guerrerosgalaico-lusitanos parecen apuntar en esta dirección94.

Me gustaría detenerme, brevemente, en esta estatuaria de guerreros ga-laico-lusitanos, en tanto que indicio de este proceso de aparición de elites gue-rreras. Creo que dichas representaciones se deben entender, precisamente, eneste sentido, como manifestaciones de la aparición de una elite guerrera a partirde la II Edad del Hierro, dejando a un lado el debatido tema de si se trata deuna representación divinizada o heroizada de dicha elite95 o de auténticos re-tratos de guerreros o de príncipes indígenas históricos96 y, por supuesto, otrashipótesis mucho más difíciles de sustentar como aquella que presenta a estasimágenes como estatuas erigidas en honor de los indígenas “colaboracionistas”de los romanos97 u otras, ya abandonadas en la actualidad, como su supuestocarácter funerario98. Por lo que respecta a la datación de estas piezas podemosafirmar, a partir del análisis del armamento en ellas representado99, que se pue-den ubicar, cronológicamente, entre mediados del siglo II a.C. y mediado delsiglo I d.C.; vemos, por tanto, que se trata de un arco cronológico que coincide,dentro de la II Edad del Hierro, con la datación que hemos dado al ejemplarde Muíño de San Pedro y, por ello, considero que la reutilización de un materialdel Bronce Final que daba cuenta de la existencia de una elite guerrera en lasegunda Edad del Hierro se comprende, a la perfección, dentro de los mismosparámetros explicativos que nos permiten dar cuenta de la aparición de estaestatuaria de guerreros galaico lusitana: ambas son manifestaciones de una eliteque se presentaba a sí misma como guerrera y que era vista, como tal, por elresto de la población; se trata, en definitiva, de la plasmación, en piedra, de la

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 139

Page 141: Issn 0871 - 4061

aparición de esas “sociedades con guerreros” durante la II Edad del Hierro enel NO peninsular. Incluso hasta es probable, como ha señalado Höck100, quelas piezas en apariencia más recientes de esta estatuaria local anterior a la Edaddel Hierro, como el ejemplar de San Joâo de Ver, respondan a una misma tra-dición escultórica, indígena o, al menos, no romana, que las estatuas de gue-rreros galaico-lusitanos.

Y sin embargo, pese a estas similitudes y al hecho de que la reutilizaciónde la pieza de Muíño de San Pedro puede responder a las mismas exigenciassociales, aparición de una elite guerrera entre las sociedades indígenas del NOpeninsular, que las estatuas de guerreros, hay un elemento, al margen del hechode la reutilización en el caso de la pieza orensana, que las diferencia con totalclaridad: el epígrafe. De todo el conjunto de estatuas de guerreros catalogadashasta 2003101, sólo tres de ellas presentan epígrafes, las piezas de San Juliâo102,San Paio de Meixedo103 y Santa Comba104; se conoce, además, la referencia alepígrafe del guerrero, no conservado, del Castro de Rubiás (Celanova, Ou-rense)105. Cuatro de estos epígrafesson comparables al de Muíño de SanPedro (San Juliâo, los dos de San Paiode Meixedo y el del Castro de Rubiás)pues la lógica que parece haber regidoel grabado de la inscripción de SantaComba es otra totalmente distinta a laestablecida por el deseo de conservarel recuerdo de un individuo, ya falle-cido, a través de la inscripción y con-servación, para la posteridad, de sunombre. Parece, por tanto, que en elcaso de estas tres estatuas de guerre-ros podemos estar ante otros ejemplosde reutilización, posiblemente con fi-nalidad funeraria, de piezas que, enorigen, no habían sido creadas con talfinalidad106, lo que, en última instancia, viene a equipararlas a la pieza deMuïño de San Pedro.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 140

Figura 6. Epígrafes romanos: A. Estela de Chillón(fuente: Fernández-Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994:267); B. Alcollarín (fuente: Gamillo Barranco, Gi-meno Pascual 1990: fig. 8)

Page 142: Issn 0871 - 4061

La presencia del epígrafe en la pieza de Muíño de San Pedro, así comoen estas tres estatuas de guerreros, nos permite diferenciar estos ejemplares delresto de las estatuas de guerreros. Frente al carácter posiblemente anónimo delas estatuas de guerreros galaico-lusitanos, de ahí su interpretación como re-presentaciones divinizadas o heroizadas de la elite guerrera y no como retratosde personajes individuales, la introducción del texto en los ejemplos arribamencionados viene a individualizar a la pieza y a vincularla con el difuntocuyo nombre se recoge en el epígrafe y ello pese a que tanto la representaciónde Muíño de San Pedro como las que nos ofrecen los guerreros dotados de epí-grafes en latín no se pueden considerar como retratos de los respectivos indi-viduos a que se hace mención en el texto epigráfico107. Esta innovación, en miopinión, se debe considerar como la consecuencia directa de la influencia ro-mana a través de la introducción de la nueva práctica epigráfica y de la nuevatecnología comunicativa que con ella se introduce: la escritura.

Con este tipo de prácticas lo que se pretendía era, en definitiva, marcarlas diferencias existentes entre estos individuos indígenas y el resto de su co-munidad mediante su individualización. Para ello, se recurrió a una forma cul-tural romana, la epigrafía y la escritura, que, además, contribuía todavía más amarcar las diferencias entre ese individuo y su grupo pues lo aproximaba a há-bitos culturales romanos. La función principal del epígrafe funerario en elmundo romano venía dada por el deseo de conmemorar, guardar el recuerdode un muerto108 y, al mismo tiempo, hacerlo dando cuenta de quién había sido,de cuál había sido su papel dentro de su comunidad, es decir, dejando clara laidentidad del individuo fallecido109. De ahí el uso del texto que, como señalaWoolf110, sirve, junto con la imagen, como elemento que posibilita el recuerdo,en tanto en cuanto que la escritura permite comunicar cosas que resulta impo-sible precisar sólo con imágenes como, por ejemplo, el nombre del fallecido111.

En mi opinión, resulta totalmente lógico que algunos individuos pertene-cientes a las elites indígenas, influidos por la cultura romana, deseasen marcar,a través de prácticas culturales típicamente romanas, como el uso de la epigra-fía funeraria, sus diferencias con el resto de la población y cierto deseo de emu-lación del ciudadano romano. Se trata de una práctica común dentro del mundoromano y que, por ejemplo, se atestigua, en Britannia, en la epigrafía funerariade los soldados auxiliares o de las mujeres de soldados112 o en la epigrafía fu-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 141

Page 143: Issn 0871 - 4061

neraria de los libertos113. Este uso del texto epigráfico no implica, sin embargo,que el difunto o el individuo que haya encargado la pieza supiesen leer y es-cribir. El texto en sí mismo, en tanto que elemento gráfico que se graba en unapiedra, se convierte en un elemento de diferenciación social sin necesidad deque sea leído; ahora bien, el recuerdo individual y personal del muerto, se sepao no sepa leer, queda registrado para la posteridad a través de la escritura, loque constituye otro elemento de status114.

En conclusión, tras haber grabado un epígrafe funerario y un rostro hu-mano en una estatua-menhir de Edad del Bronce, el monumento de Muíño deSan Pedro dejó de ser un hito indicador de un camino, de una frontera o de unlugar de realización de ritos comunitarios para pasar a convertirse en el re-cuerdo de Latronus, en el elemento que dejaba constancia de la pertenencia dedicho individuo a una elite indígena ya influida por pautas culturales romanas.A través de la historia de este monumento se recorre, por tanto, la evoluciónde las sociedades del NO peninsular desde el Bronce Final, con su configura-ción como “sociedades con guerreros”, hasta su conversión, durante la I Edaddel Hierro, en “sociedades guerreras” sin elites especializadas en la actividadbélica, y la reaparición, en la II Edad del Hierro, de las “sociedades con gue-rreros” y sus aristocracias guerreras. Esta configuración social recibió, final-mente, el influjo romano que posibilitó la introducción de formas culturales,como la epigrafía y la escritura, que permitieron que esas elites indígenas pu-diesen, a través del uso de modelos culturales romanos, ahondar las diferenciasque existían entre ellas y el resto de la población indígena.

La reutilización de la pieza de Muíño de San Pedro nos ofrece, además,un magnífico ejemplo del juego entre acontecimiento y estructura al que, si-guiendo a Sahlins, hacíamos referencia al principio de estas páginas. Ante unamisma estructura, la conversión de las sociedades indígenas del Noroeste pe-ninsular en “sociedades con guerreros”, los grupos humanos de estos territoriosreaccionaron del mismo modo en dos momentos distintos, Bronce Final y Se-gunda Edad del Hierro: tallando representaciones de individuos pertenecientesa dicha elite, estatuas-menhir y estatuas de guerreros respectivamente; con laconquista romana, estos dos elementos plásticos se reutilizarán, de la mismaforma, cuando dicha elite quiera marcar, todavía más, sus diferencias con elresto de su comunidad, mediante la adopción de una práctica cultural foránea:

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 142

Page 144: Issn 0871 - 4061

la escritura y la epigrafía. Tenemos, así pues, acontecimientos idénticos queresponden, en ambos casos, a una misma estructura general y, sin embargo, di-chos acontecimientos, cuando se observan más de cerca, nos muestran, tam-bién, claras diferencias entre ellos: frente a una sociedad de la Edad del Bronceque, mediante la representación de héroes guerreros, busca defender su terri-torio, ubicando dichas representaciones en posibles zonas de frontera entre te-rritorios vecinos que, muy probablemente, acogían ritos colectivos mediantelos que el grupo se reafirmaba como tal, las sociedades de la Segunda Edaddel Hierro ubicaban a sus héroes guerreros, a los representantes de esa elite,como protectores de sus poblados amurallados. Vemos, por tanto, cómo, a pesarde las similitudes entre ambas estructuras y los acontecimientos que nos dancuenta de ellas, estamos ante dos historias diferentes, ante dos momentos his-tórico-sociales distintos: unas sociedades del Bronce en las que la sedentari-zación plena todavía no se ha producido, de ahí la ubicación de este tipo demonumentos en zonas de frontera y la búsqueda de protección para el territorio,y unas sociedades del Hierro II, plenamente sedentarizadas, en las que, a travésdel héroe, se busca la protección del poblado y con él, quizás, la de todo el te-rritorio.

BibliografíaAbascal Palazón, J. M. 1994: Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania. Mur-

cia.Alarcaô, J. de 2003: “As estátuas de guerreiros galaicos como representaçôes de príncipes no contexto daorganizaçâo político-administrativa do noroeste pre-flaviano”. Madrider Mitteilungen, 44. 116-126.Albertos Firmat, Mª L. 1966: La onomástica personal primitiva de Hispania. Tarraconense y Bética. Sala-manca.Albertos Firmat, Mª L. 1979: “La onomástica de la Celtiberia”. In: A. Tovar, M. Faust, F. Fischer, M. Koch(eds.) Actas del II Coloquio sobre lenguas y culturas prerromanas de la Península Ibérica. Salamanca: 131-167.Albertos Firmat, Mª L. 1985: “La onomástica personal indígena del noroeste peninsular (astures y galaicos)”.In: J. de Hoz (ed.), Actas del III Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas. Salamanca: 255-310.Albertos Firmat, Mª L.: 1985-1986: “La onomástica personal indígena en la región septentrional”. In: J.Gorrochategui, J. L. Melena, J. Santos (eds.), Studia Palaeohispanica. Actas del IV Coloquio sobre lenguasy culturas paleohispánicas. Veleia 2-3: 155-194.Almagro Basch, M. 1974: “Nuevas estelas decoradas de la Península Ibérica”. In: E. Ripoll (ed.). Misceláneaarqueológica. XXV Aniversario de los Cursos Internacionales de Prehistoria y Arqueología en Ampurias(1947-1971). Barcelona: 5-39.Almagro-Gorbea, M.1993: “Les stèles anthropomorphes de la Péninsule Ibérique”. In. J. Briard, A. Duval

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 143

Page 145: Issn 0871 - 4061

(dirs.), Les representations humaines du néolithique à l’âge du fer. París:123-139.Almagro-Gorbea, M., Lorrio, A. J. 1989: “Representaciones humanas en el arte céltico de la Península

Ibérica”. Actas. II Symposium de arqueología soriana. Soria. 409-451.Almeida, C. A. F. de, Jorge, V. O. 1979: “A estatura-menir de Faiôes (Chaves)”. Trabalhos do Grupo de Es-tudos Arqueológicos do Porto, 2: 5-24.Aparicio Casado, B. 1999: Mouras, serpientes, tesoros y otros encantos. Mitología popular gallega. Sada(A Coruña).Aparicio Casado, B. 2002: A Sociedade campesiña na mitoloxía popular galega. Santiago de Compostela.Arias Vilas, F., 1981: “Unha estela antropomorfa do castro de As Coroas de Reigosa (Pastoriza, Lugo)”.Brigantium, 2: 257-265.Baptista, A. M. 1985: “A estatua-menhir da Ermida”. O Arqueólogo Portugués. Serie IV, vol. 3: 7-44.Bettencourt, A., 2005: “As estatuaria”. In: J. M. Hidalgo Cuñarro (coord.) Arte e Cultura de Galicia e Nortede Portugal. Arqueoloxía, vol. 1, Vigo: 166 – 177.Bonneville, J. N. 1980: “Le monument epigraphique et ses moulurations”. Faventia 2/2: 75-98.Bradley, R. 2002: The Past in Prehistoric Societies. Londres-Nueva York. Bueno Ramírez, P. 1990: “Statues-menhirs et stèles anthropomorphes de la Péninsule Ibérique”. L’Anthro-pologie, 94: 85-110.Bueno Ramírez, P., Balbín Behrmann, R. de, Barroso Bermejo, R. 2005: “Hiérarchisation et métallurgie;statues armées dans la Péninsule Ibérique”. L’Anthropologie, 109: 577-640.Calo Lourido, F. 1983: “Arte, decoración, simbolismo e outros elementos da cultura material castrexa. Ensaiode síntese”. In: G. Pereira Menaut, (ed.), Estudos de cultura castrexa e de historia antiga de Galicia. Santiagode Compostela: 159-85.Calo Lourido, F. 1994: A plástica na cultura castrexa galego-portuguesa. A Coruña.Calo Lourido, F. 2003: “Catálogo”. Madrider Mitteilungen, 44: 6-32.CIRG II = Corpus de Inscricións Romanas de Galicia. II. Provincia de Pontevedra. Edición de G. BañosRodríguez. Santiago de Compostela.1994.Connerton, P. 1989: How societies remember. Cambridge.D’Ambra, E. 2002: “Acquiring an ancestor: the importante of funerary statuary among the non-elite ordersof Rome”. In: J. K. Hojte (ed.), Images of ancestors. Aarhus: 224-246.Díaz-Guardamino Uribe, M. 2006: “Materialidad y acción social: el caso de las estelas decoradas y esta-tuas-menhir durante la Prehistoria peninsular”. Actas del VIII Congresso Internacional de Estelas Funerá-rias. O Arqueólogo Portugués. Suplemento 3: 15-33.Fernández Ochoa, C., Zarzalejos Prieto, M. 1994: “La estela de Chillón (Ciudad Real). Algunas considera-ciones acerca de la funcionalidad de las “Estelas de Guerrero” del Bronce Final y su reutilzación en épocaromana”. In: C. de la Casa (ed.), Actas del Quinto Congreso Internacional de Estelas Funerarias. Soria:263-272.Franco Maside, R., Pereira Menaut, G. 2005: “Notas arqueolóxico-epigráficas en torno á morte en CallaeciaAntiga”. Semata. Ciencias Sociales y Humanidades, 17: 35-60. Galán Domingo, E. 1993: Estelas, paisaje y territorio en el Bronce Final del SO de la Península Ibérica.Complutum, nº extra 3.Gamallo Barranco, J. L., Gimeno Pascual, H. 1990: “Inscripciones del Norte y Sudoeste de la provincia deCáceres: revisión y nuevas aportaciones”. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Au-tónoma de Madrid, 17: 277-306.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 144

Page 146: Issn 0871 - 4061

García San Juan, L. 2005: “Las piedras de la memoria. La permanencia del megalitismo en el Suroeste dela Península Ibérica durante el II y el I milenios ANE”. Trabajos de Prehistoria, 61/1: 85-109.García San Juan, L., Wheatley, D. W., Fábrega Álvarez, P., Hernández Arnedo, M. J., Polvorinos del Río,A. 2006: “Las estelas de guerrero de Almadén de la Plata (Sevilla). Morfología, tecnología y contexto”.Trabajos de Prehistoria, 63/2: 135-152.García San Juan, L., Garrido González, P., Lozano Gómez, F. 2007: “Las piedras de la memoria (II). El usoen época romana de espacios y monumentos sagrados prehistóricos del Sur de la Península Ibérica”. Com-plutum, 18: 109-130.González García, F. J. 2008: “La guerra en la Gallaecia antigua: del guerrero tribal al soldado imperial”. Se-mata. Ciencias sociales y humanidades, 19: 21-64.González García, F. J. 2009: “Between warriors and champions: Warfare and social change in the later pre-history of the north-western Iberian peninsula”. Oxford journal of Archaeology, 28/1 (en prensa).González García, F. J., Parcero Oubiña, C. 2007: “Bases para el estudio de la etnogénesis galaica”. Pasadoy presente de los estudios céltcicos. Ortguera (A Coruña): 535-562.González García, F. J., Parcero Oubiña, C., Ayán Vila, X. en prensa: “Iron Age societies against the state.An account on the emergente of the Iron Age in the NW Iberian Peninsula”. T. Moore, X. Lois Armada(eds.). Atlantic Europe in the First Millennium BC: Crossing the divide, Oxford University Press, Oxford.González García, F. J., López Barja de Quiroga, P. en prensa: “La estela de Crecente: reflexiones sobre elproceso romanizador en la Galicia Antigua”. In: Arqueología, sociedad, territorio y paisaje. Estudios sobrePrehistoria reciente, Protohistoria y transición al mundo romano en Homenaje a MªDolores Fernández-Posse (Pachula), Madrid.González Ruibal, A., 2006-2007: Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica (1200A.C.- 50 D.C.). Brigantium. 18-19. A Coruña.Gosden, Ch. 2008: Arqueología y Colonialismo. El contacto cultural desde 5000 a.C. hasta el presente.Barcelona.Harrison, R.J., Marco Simón, F. 2004: “Reading the codes: symbols and meanings”. In: R. J. Harrison, Sym-bols and Warriors. Images of the European Bronze Age, Bristol: 81-121.Hingley, R. 1996: “Ancestors and identity in the Later Prehistory of Atlantic Scotland: the reuse and rein-vention of neolithic monuments and material culture”. World Archaeology, 28/2: 231-243.Hingley, R. 2005: Globalizing Roman Culture. Unity, diversity and empire. Routledge.Höck, M. 1999: “Breves reflexôes sobre os guerreiros lusitanos”. Revista de Guimaraes, vol. especial, I:89-92.Höck, M. 2003: “Os guerreiros lusitano-galaicos na historia da investigaçâo, a sua dataçâo e interpretaçâo”.Madrider Mitteilungen, 44: 51-66.Hope, V. M. 1997: “The interpretation of romano-british tombstones”. Britannia, 28: 245-258.Jorge, S. O. 1986: Povoados da Pré-história Recente da Regiâo de Chaves: Vila Pouca de Aguiar (Tràs-os-Montes Occidental): Bases para o conhecimento do IIIº e pricipios do IIº Milenios a.C. no Norte de Por-tugal, Porto, Faculdade de Letras, disset. de doutoramento. Jorge, S. O. 1999: “Bronze Age stelai and menhirs of the Iberian Peninsula: discourses of power”. In: K.Demakopoulou, Ch. Eluère, J. Jensen, A. Jockenhövel, J.-P. Mohen (eds.), Gods and Heroes of the EuropeanBronze Age. Londres: 114-122.Jorge, V. O., Almeida, C. A. F. de 1980: “A Estatua-menir fálica de Chaves”. Trabalhos do Grupo de EstudosArqueológicos do Porto, 6: 5-24.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 145

Page 147: Issn 0871 - 4061

Jorge, V. O., Jorge, S. O. 1983: “Nótula preliminar sobre uma nova estátua-menir do Norte de Portugal”.Arqueología, 7: 44-47.Jorge, V. O., Jorge, S. O. 1990: “Statues-menhirs et steles du Nord du Portugal”. Revista da Faculdade deLetras: História. Universidade do Porto. Serie II. Vol 7: 299-313.Lavagne, H. 1987: “Le tombeau, mémoire du mort”. In: Fr. Hinard (dir.): La mort, les morts et l’au-de-ládans le monde romain. Caen: 159-165.Leach, E. 1989: A diversidade da Antropologia, Lisboa..Lévi-Strauss, C. 1984: El pensamiento salvaje, México.López Plaza, M. S., Sevillano San José, M. C., Grande del Brío, R. 1996: “Estatua-menhir de Tormes (Sa-lamanca). Zephyrus, 49: 295-303.Martíns, M., Silva, A. C. da 1984: “A estatua de guerreiro galaico de S. Juliâo (Vila Verde)”. Cadernos deArqueología. Serie II, 1: 29-47.McMullen, R. 1982: “The epigraphic habit in the Roman Empire”, The American journal of Philology,103/3: 233-246. Museo Provincial de Ourense 2002a: “Xaneiro. Estela funeraria. Muiño de San Pedro”. Ficha de catálogohttp://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm29.htm.Museo Provincial de Ourense 2002b: “Setembro. Estatua-Menhir de Vilar de Santos”, Ficha de Catálogo:http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm35.htm.Nodar Nodar, C. 2004: “Estelas funerarias figuradas de época romana en Galicia”. Actas del VII CongresoInternacional de Estelas Funerarias, t. I. Santander: 209-224.Palomar Lapesa, Manuel 1957: La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania. Salamanca.Peña Santos, A. de la, 2003: Galicia. Prehistoria, castrexo e primeira romanización. Vigo.Petts, D., 2002: “The reuse of prehistoric standing stones in Western Britain? A critical consideration of anaspect of early medieval monument reuse”. Oxford journal of Archaeology, 21(2): 195-209.Polignac Fr. de, 1984: La naissance de la cité grecque. Cultes, espace et société. VIIe-VIIe siècles avant j.-C. París.Queiroga, F. M. V. R. 2003: War and Castros. New approaches to the northwestern Portuguese Iron Age.Oxford.Quesada Sanz, F. 2003: “¿Espejos de piedra? Las imágenes de las armas en las estatuas de los guerreros lla-mados galaicos”. Madrider Mitteilungen, 44: 87-112.Rivas Quintás, E., Rodríguez Cruz, J. 2002: Terra das Frieiras, Ourense.Robert, J.-N. 2008: Rome, la gloire et la liberté. Aux sources de l’identité européenne. París. Rodríguez Álvarez, M. P. 1981: “Sincretismo de la religión indígena y la religión romana visto a través delas estelas antropomorfas”. Brigantium, 2: 73-82.Rodríguez Colmenero, A. 1993: “Historia da Arte romana en Galicia. Escultura en relieve y bulto redondo”.In: Galicia. Arte. Arte Prehistórico y Romano .Tomo IX. A Coruña 1993: 375-475. Rodríguez Colmenero, A. 1997: Aquae Flaviae I. Fontes epigráficas da Gallaecia meridional interior. Cá-mara Municipal de Chaves. Chaves.Rodríguez Colmenero, A. 2002: “Epígrafes latinos sobre guerreros galaicos: una clave esencial para la in-terpretación de la estatuaria bélica del Noroeste Ibérico”. In: M. Romaní Martínez, Mª A. Novoa Gómez(eds.), Homenaje a josé García Oro, Santiago de Compostela: 267-285.Roldán, C. 1997: Entre Casandra y Clío. Una Historia de la Filosofía de la Historia, Madrid.Ruiz-Gálvez Priego, M. 1998: La Europa atlántica en la Edad del Bronce. Un viaje a las raíces de la Europa

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 146

Page 148: Issn 0871 - 4061

occidental, Crítica, Barcelona.Ruiz-Gálvez Priego, M., Galán Domingo, E. 1991: “Las estelas del SO como hitos de vías ganaderas y rutascomerciales”. Trabajos de Prehistoria, 48: 257-273. Sahlins, M. 1988: Islas de Historia. La muerte del capitán Cook. Metáfora, antropología e historia, Barce-lona.Sahlins, M. 2007: “Le retour de l’événement…à nouveau. Accompagné de quelques réflexions sur les débutsde la grande guerre fidjienne de 1843-1855 entre los royaumes de Bau et Rewa”. In: M. Sahlins, La décou-verte du vrai Sauvage et autres essais. París: 59-127Sanches, M. J., Jorge, V. O. 1987: “A “Estatua-menir” da Bouça (Mirandela)”. Arqueología, 16, 1987: 78-82.Sastre, I. 2004: “La epigrafía de las Médulas. Escritura y sociedad”. Cuadernos de la Fundación Las Mé-dulas, 4. León.Shaw, B. D. 1984: “Bandits in the Roman Empire”. Past and Present, 105: 3-52.Silva, A. C. F. Da, 2003: “Expressôes guerreiras da sociedade castreja”. Madrider Mitteilungen, 44: 41-50.Sousa, O. C. F. de 1996: Estatuária antropomórfica pré e proto-histórica do Norte de Portugal. Dissertaçaode Mestrado. Faculdade de Letras. Porto.Suárez Piñeiro, A. M. 2004: “Las estelas funerarias galaico-romanas a la luz de la nueva arqueología epi-gráfica”. Actas del VII Congreso Internacional de Estelas Funerarias, t. I. Santander: 195-205. Taboada Cid, M. 1988-1989: “Estela funeraria do Muíño de San Pedro (Verín)”. Boletín Auriense, 18: 79-93.Tranoy, A. 1988: “Du heros au chef. L’image du guerrier dans les sociétés indigènes du Nord-Ouest de laPéninsule Ibérique (IIe siècle avant J.-C. – Ier siécle après J.-C.)”. Le monde des images en Gaule et dans lesprovinces voisines. Caesarodonum, XXIII: 219-227.Untermann, J. 1993. “Anotaciones al estudio de las lenguas prerromanas del NO de la Península Ibérica”.Galicia: da romanidade a xermanización. Problemas históricos e culturais. Actas do encontro científico enhomenaxe a Fermín Bouza Brey. Santiago de Compostela: 367-397Untermann, J. 2004. “Célticos y túrdulos”. Paleohispanica, 4:199-214.Varela Gomes, M. 1997: “Estatuas-menires antropomórficas do Alto-Alentejo. Descobertas recientes e pro-blemática”. Brigantium, 10: 255-279.Vasconcelos, J. L. de 1989: Religioes de Lusitânia. Vol. III. Lisboa.Vázquez Varela, J. M. 1980: “La estela de Troitosende: uso y abuso de los paralelismos en el arte prehistó-rico”. Brigantium, 1: 83-91.Webster, J. 2001: “Creolizing the roman provinces”. American journal of Archaeology, 105/2: 209-225.Wells, P.S. 2001. The barbarians speak. How the conquered peoples shaped Roman Europe. Princeton yOxford.Woolf, G. 1996: “Monumental writing and the expansion of roman society in the Early Empire”. The journalof Roman Studies, 86: 22-39.Woolf, G. 1998: Becoming roman: the origin of provincial civilization in Gaul. Cambridge.

* Este trabajo no habría sido posible sin el apoyo de João Ponte, Raimon Graells, Pedro López Barja, Leo-nardo García Sanjuan, Beatriz Comendador, José Luis Méndez, Rosa Brañas, José Paulo Francisco, OrlandoSousa y Anna Bettencourt. Todos ellos, de un modo u otro, me han ayudado, guiado y orientado, en las dis-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 147

Page 149: Issn 0871 - 4061

tintas etapas de la realización de estas páginas, por los vericuetos del mundo de las estelas antropomorfasdel NO peninsular. La parte gráfica del mismo no habría sido posible sin la colaboración de Marta Tamayoque, gentilmente, me ha vuelto a ceder, una vez más, el uso del material gráfico de su autoría, y sin el buenhacer de Anxo Rodríguez Paz que, pacientemente, preparó todas las láminas que lo ilustran. Sin ellos, estetrabajo no habría llegado a buen fin. Muchísimas gracias.1 1997: 124.2 Lévi-Strauss 1984: 339 ss.3 Dicotomía que, como ha indicado Sahlins (2007: 59-61), también se puede resumir en la oposición entreestructura, propia de las sociedades “frías”, y acontecimiento, en tanto que elemento constituyente de la his-toria y, por ello, propio de las sociedades “calientes”.4 Leach 1989: 134.5 Sahlins 2007: 67-71.6 1988: 130 ss. 7 Sobre esta cuestión, en general, véase: Bradley 2002; con relación al caso concreto de reutilización de pie-dras hincadas, estelas, etc. hasta época medieval: Petts 2002. Para ejemplos peninsulares de este tipo de si-tuaciones: García Sanjuan 2005 y García Sanjuan et al. 2007; para otros casos europeos: Hingley 1996. Dehecho, la cultura tradicional gallega ofrece innumerables ejemplos de este proceso de apropiación cultural,siendo, quizás, el más destacado, las numerosas tradiciones populares que vinculan a personajes míticos,los mouros y mouras del campesinado gallego (Aparicio Casado 1999 y 2002) con diferentes restos arqueo-lógicos como monumentos megalíticos, castros, etc. 8 Taboada Cid 1988-1989: 819 Rodríguez Colmenero 1993: 441-442.10 Taboada Cid 1988-1989: 83-84.11 1993: 442.12 Nodar Nodar 2004: 217-218.13 Museo Provincial de Ourense 2002a.14 1993: 442-444.15 Bettencourt 2005: 175. Un testimonio evidente de los problemas que esta pieza plantea a la investigacióngallega nos lo ofrecen las afirmaciones que, con respecto a ella, ofrecen Franco Maside y Pereira Menaut(2005) quienes, tras incluirla dentro del grupo de las estatuas-menhir del N de Portugal (Franco Maside,Pereira Menaut 2005: 41-42), la incorporan, (Franco Maside, Pereira Menaut 2005: 40, n. 1), entre la relaciónde las estelas antropomorfas galaico-romanas, con las que, como indicaremos más adelante, poco tiene quever.16 Vázquez Varela 1980 17 Rodríguez Álvarez 1981: 80-81.18 1980: 78-79.19 1988-1989: 82.20 Sousa 1996: 12.21 Jorge, Jorge 1990: 309; Sousa 1996: 96.22 2005: 175.23 1980: 85.24 Jorge, Almeida 1980: 8; Sanches, Jorge 1987: 80.25 Jorge, Almeida 1980: 14.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 148

Page 150: Issn 0871 - 4061

26 Sanches., Jorge 1987: 80.27 Almeida, Jorge 1979: 1728 Jorge, Jorge 1983: 46.29 Sanches, Jorge 1987: 8130 Museo Provincial de Ourense 2002b.31 Rivas Quintás, Rodríguez Cruz 2002: 75-77.32 1986: vol.1, 953 ss.; tipología seguida, entre otros, por Bueno 1990: 94-95.33 Baptista 1985.34 Almagro-Gorbea 1993: 126-128.35 Jorge, Jorge 1990: 309.36 Almeida, Jorge 1979: 17-18; Jorge, Almeida 1980: 14; Sanches, Jorge 1987: 80-81.37 Almagro-Gorbea 1993: 126. 38 Almagro Basch 1974: 23-28.39 López Plaza et al. 1996: 297; para otros paralelos ibéricos ver ibid.: 301.40 Jorge, Jorge 1990: 309; Almagro-Gorbea 1993: 130-133; Jorge 1999: 121. 41 2003: 85. 42 1974: 28; Almagro-Gorbea 1993: 133.43 López Plaza et al. 1996: 301. 44 1996: 95. En este mismo sentido ver: Bettencourt 2005: 16645 1988-1989: 79-80. 46 1996: 96. 47 Sousa 1996: 97.48 Bettencourt 2005: 170.49 Ruíz Gálvez 1998: 177-178.50 Ruíz-Gálvez, Galán Domingo 1991: 260-269; Galán Domingo 1993: 72 ss.; García Sanjuan et al. 2006:149.51 A este respecto ver Bueno Ramírez et al. 2005.52 González García 2008: 33 ss.; González García, 2009; González García et al, en prensa.53 1999: 122. 54 2006: 21-23.55 Con respecto a esta función del ritual como mecanismo de recuerdo ver Connerton 1989: 45 ss. Se trataría,en última instancia, del establecimiento de un lugar ritual, llamémosle, por comodidad, santuario, en un áreaperiférica del territorio controlado por una comunidad. Estamos ante una práctica similar a la que se conoceen otras sociedades y épocas históricas como, por ejemplo, la Grecia arcaica: cf. Polignac 1984. Para el casohelénico, estos santuarios extra-urbanos y periféricos desempeñaban la función de marcas de frontera, indi-cadores de los límites de las tierras bajo control del grupo humano (Polignac 1984: 42 ss. y 166); se trataba,además, de fundaciones estrechamente relacionadas con la guerra y la función guerrera: como consecuenciade su ubicación periférica y fronteriza, este tipo de santuario siempre estaba expuesto a las posibles amenazasde agresión por parte de cualquier grupo vecino, de ahí la vigilancia a que eran sometidos por parte de lacomunidad que en ellos realizaba el culto, vigilancia que, en el fondo, no era más que una defensa de los lí-mites del propio territorio comunitario (Polignac 1984: 154 ss.). 56 2005: 175.57 1980: 21.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 149

Page 151: Issn 0871 - 4061

58 Varela Gomes 1997: 270 ss.59 Comportamiento que nos viene a confirmar la afirmación realizada por Petts (2002: 206), con relación alas reutilizaciones medievales de piezas prehistóricas en las Islas Británicas, de que “the decision to reusea monument was a meaningful action, not a random appropiation of any prhistoric monument”. 60.Fernández Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994: 269.61 1988-1989: 81; seguido por HEp 1993. nº 280.62 Museo Provincial de Ourense 2002a. 63 Rodríguez Colmenero 1997: 268.64 Abascal Palazón 1994: 394-395.65 1985: 285 y 309.66 Abascal Palazón 1994: 397. 67 1985-1986: 174.68 Albertos 1985-1986: 174.69 Rodríguez Colmenero 1997: nº 251, 246-247.70 1957: 63; Albertos 1966: 85.71 Para Albertos 1966: 84 sería la forma nominal personal Celticus la que compartiría radical con el etnó-nimo.72 Abascal Palazón 1994: 323-324.73 1985: 277.74 1957: 63.75 González García, López Barja en prensa76 1993, 385-386 y 2004, 200.77 Museo provincial de Ourense 2002a.78 Gamallo Barranco, Gimeno Pascual 1990: nº 7, fig. 8: Celtiatus / Veniati (filius)/ H(ic) · S(itus)· E(st)·S(it)· T(ibi)· T(erra) ·[L(evis)].79 Fernández Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994: 268: Procul / us. Touto / ni. F(ilii). An(norum). XL. H(ic) /S(itus).E(st).S(ic).T(ibi).T(erra).L(evis).80 Vázquez Varela 1980.81 A Estrada, Pontevedra, CIRG II nº 93,pp. 221-222.82 A Estrada, Pontevedra, CIRG II nº 94, p. 223.83 Pastoriza, Lugo, Arias Vilas 1981.84 He optado por considerar este procedimiento de representación del rostro como una intervención de épocaromana en la pieza pese a ser consciente, como señala, Bettencourt (2005: 167-168), que este tipo de repre-sentación de la cara aparece en ejemplares portugueses de datación anterior, como las estelas de Quinta deConquinho, Vide, Moncorvo, Bragança, Monte de Santa Luzia o Freixo de Espada à Cinta.85 1993: 445.86 MacMullen 1982.87 Suárez Piñeiro 2004: 197.88 Hingley 2005: 71 ss.; Robert 2008: 107 ss.; Woolf 1998: 127 ss.89 Wells 2001: 148-223.90 Webster 2001. Se trataría, por tanto, de una típica situación de colonialismo en “terreno neutral” como lasque, para el mundo romano, ha definido Gosden (2008: 125-135).91 González García, Parcero Oubiña 2007: 552.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 150

Page 152: Issn 0871 - 4061

92 González García et al., en prensa; González García 2009.93 González García 2008: 39-42;; González García 2009.94 González Ruibal 2006-2007, 393 ss. La ausencia de representación de armas en el ejemplar de Muíño deSan Pedro no mermaría, en mi opinión, carácter guerrero al individuo recordado en dicha pieza. Dejando aun lado la posibilidad de que la preparación del campo epigráfico haya podido eliminar cualquier represen-tación anterior de armamento, la onomástica de la inscripción apunta, desde mi punto de vista, hacia el po-sible carácter guerrero del individuo homenajeado a través del epígrafe: el nombre del personaje, Latronus,estaría indicando su posible especialización como guerrero, pues sabemos que dicho término era, en tantoque nombre común, la denominación utilizada por los romanos para referirse, en concreto, a los guerreroslusitanos (Leite de Vasconcelos 1989: 117-118, haciendo referencia a la mención de Livio sobre VIriato enPer. 52) y, en general, al mercenario o al guerrero perteneciente a un ejército no regular y caracterizado porno entrar en combate en formación cerrada (Shaw 1984: 6-7 y 26-27), características, ambas, que se adecuana la perfección a la práctica bélica de las poblaciones indígenas del Noroeste peninsular prerromano. 95 Tranoy 1988: 223; Almagro-Gorbea, Lorrio 1989: 418.96 Silva 2003: 47; Alarcâo 2003: 116.97 Calo, 1994, 685-686; Peña 2003, 175-176.98 Abandonada, en gran medida, como consecuencia de los hallazgos de ejemplares de este tipo de estatuasen poblados y no en necrópolis, tal y como sucedió, por ejemplo, con los pies descubiertos in situ en la en-trada del castro de Sanfins (Calo 1983: 180) o con el guerrero de San Juliâo, descubierto en una de las pla-taformas medias del monte en que se encuentra el yacimiento, en parte circundada por la segunda línea defortificaciones del mismo (Martíns, Silva 1984: 32). Höck (2003) ofrece una buena revisión historiográficasobre la investigación vinculada con esta estatuaria.99 Quesada 2003: 104-105.100 1999: 91.101 Calo 2003.102 Calo 2003: nº 24, p. 20: Malceino / Dovilonis F(ilio).103 Calo 2003, nº 25, p. 20-21; en este caso, la escultura presenta dos inscripciones, una frontal: Clodame /Corocavdi / f(ilio) Se [stio?], y otra lateral, sobre una pierna de la estatua: L(ucius). Sesti / vs. L(ucii). L(iber-tus?).Coroc / vdivs / Contv (bernalis?) / frater; ver: Martin, Silva 1984: 41. 104 Calo 2003: nº 28, p. 23, La lectura del epígrafe, según Martíns, Silva (1984: 40), sería Artifices Calubri-gens / es.e(x).Albinis / F(aciendum).C(uraverunt).105 Martíns, Silva 1984: 38; Adrono / Veroti f(ilio). Existen otros dos ejemplares que presentan una inscrip-ción; se trata de las estatuas de Monte Mozinho (Calo 2003: nº 17, p. 15), cuyo epígrafe, según Calo, resultabastante dudoso y el ejemplar de Santa Comba (Calo 2003: nº 29, p. 24) que presenta una inscripción deépoca moderna datada en 1612.106 Otros autores, en cambio, consideran muy probable que la talla de la escultura y la realización del epígrafesean coetáneas: Harrison, Marco Simón 2004: 120-121. Para la problemática vinculada con esta epigrafíasobre estatuas de guerreros ver Rodríguez Colmenero 2002.107 Este juego entre la individualización del recuerdo que introduce la escritura y el carácter anónimo del re-cuerdo implícito en la pieza prehistórica y anepígrafa también ha sido indicado por Petts (2002: 206) en suestudio de las estelas medievales irlandesas y la posible reutilización, en épca medieval, de piezas prehistó-ricas.108 Woolf 1996: 25; Lavagne 1987: 159.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 151

Page 153: Issn 0871 - 4061

109 Woolf 1996: 29. Estas conclusiones resultan perfectamente aplicables tanto al epígrafe del monumentode Muíño de San Pedro como a aquellos que figuran en las estatuas de guerreros, aún en el caso de que,tanto en una pieza como en las otras, no estemos ante monumentos funerarios sino, quizás, ante piezas decarácter votivo, tal y como, por ejemplo, señaló Rodríguez Colmenero (2002: 284), posibles cenotafios osimples monumentos conmemorativos. En este sentido recuérdese, por ejemplo, que el monumento de Muíñode San Pedro no ha aparecido en una necrópolis y que, la única estatua de guerrero con epígrafe que poseeun contexto arqueológico claro, la de San Juliâo, ha aparecido dentro de un núcleo de población y no en uncementerio.110 1996: 28.111 Introducción de la escritura que vendría a ahondar, todavía más, las diferencias entre el uso pasado delmonumento de Muíño de San Pedro, posiblemente vinculado, como vimos que planteaba Diez-Guardamino(2006), con la realización de determinados rituales y el recuerdo social que aquellos generaban y la nuevamemoria generada por la puesta por escrito. Transformación del significado de la que tampoco estaríanlibres las estatuas de guerreros dotadas de epígrafe, que dejan de representar a un ideal heroico para pasara convertirse en conmemoración de personalidades concretas. Con respecto a los cambios en las prácticasdel recuerdo que introduce la escritura véase Connerton 1989: 70 ss.112 Hope 1997: 258.113 D’Ambra 2002: 240-241.114 A este respecto véase Sastre 2004: 15-18.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 152

Page 154: Issn 0871 - 4061

cultuRA de FRonteiRA. o distRito de vilA ReAl e A zonAMeRidionAl dA PRovÍnciA de ouRense nA idAde doFeRRoCULTURE OF BORDER. THE DISTRICT OF VILA REAL AND THESOUTHERN ZONE OF THE PROVINCE OF OURENSE IN THE IRON AGE

Resumo: Desde uma perspectiva histórica e antropológica, as regiões fronteiriças são lu-gares especialmente interessantes pelas formas de cultura material híbrida que produzem. A áreade Trás-os-Montes ocidental e sul da província de Ourense é um bom exemplo de uma zonaentre zonas culturais no final da Pré-História, particularmente na Idade do Ferro. Neste trabalhocentrar-me-ei na cultura material distintiva desta região, propondo que esta peculiaridade podeser explicada como o resultado das muitas transacções culturais que tiveram lugar entre zonascultural e politicamente diferentes: a área do noroeste de Portugal, caracterizada na SegundaIdade do ferro por grandes oppida, e a área de Trás-os-Montes oriental, ocupada por pequenoscastros e com fortes influências da Meseta.

Palavras-chave: Fronteira, hibridização, cultura material.

Abstract: From an historical and anthropological perspective, frontier regions are es-pecially interesting places for the hybrid cultural forms to which they give rise. The area ofwestern Trás-os-Montes and southern Ourense province is a good example of buffer zone be-tween cultural areas during the Late Prehistory, especially the Iron Age. In this paper, I look atthe distinctiveness of the material culture of the region and propose that its peculiarity may beexplained as a result of the manifold cultural transactions that took place between culturallyand politically different zones: the area of north-western Portugal, characterised in the LateIron Age by large oppida, and the area of Trás-os-Montes to the east, occupied by small hillfortsand with strong influences from the Spanish Meseta.

Keywords: Frontier, hybridisation, material culture.

Há muito tempo que historiadores e antropólogos vêm chamando a aten-ção sobre a importância cultural e política das zonas fronteiriças (Kopytoff1987). Longe de ser lugares estáticos e marginais, onde nunca ocorre coisa ne-nhuma, as fronteiras são áreas sumamente dinâmicas, nas que têm lugar fenó-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 153

Alfredo González RuibaldePartameNtO de PreHiStOria, uNiverSidad COmPLuteNSe de madrid;

[email protected]

Page 155: Issn 0871 - 4061

menos históricos de primeira ordem, ás vezes chave para poder compreendero que sucede em regiões consideradas “nucleares”, desde um ponto de vistacultural ou político.

O comportamento histórico das áreas fronteiriças é variado e, em oca-siões, contraditório: reforçam-se ás vezes os elementos culturais e ideológicosdo núcleo, como uma reacção ante as ameaças reais ou fictícias do exterior;outras, a fronteira converte-se num lugar de relaxação dos costumes e dos prin-cípios culturais, pelo afastamento do centro, que não pode impor a sua lei eortodoxia. Em qualquer caso, é muito difícil não ter certo nível de hibridaçãoe mistura (Lightfoot e Martínez 1995). Mesmo nas fronteiras políticas aparen-temente mais fechadas e bem demarcadas, como o limes romano (Gardner2007), as transacções culturais e económicas entre os povos de um lado e dooutro da linha são numerosas e variadas. Estes intercâmbios acabam por geraro que se pode chamar uma “cultura de fronteira”: pensemos nas peculiares for-mas culturais e políticas que caracterizaram a fronteira por antonomásia, a doOeste Americano. É certo que no caso da Idade do Ferro não conhecemos asfronteiras das entidades políticas; entretanto, os limites das grandes áreas cul-turais podem ser mais ou menos desenhados pela distribuição diferencial dedeterminados artefatos, as características da arquitectura doméstica ou a cons-trução da paisagem. Utilizando estes critérios, podemos distinguir no Noroesteda Península Ibérica distintas áreas culturais, fortemente relacionadas as umascom as outras, mas com as suas próprias trajectórias históricas (González Rui-bal 2006-2007).

A investigação arqueológica no mundo castrejo tem-se centrado clara-mente nas áreas nucleares consideradas mais brilhantes e evoluídas: é dizer, onoroeste de Portugal e a zona das Rias Baixas na Galiza, que é onde encontra-mos os maiores castros e os objectos e estruturas geralmente mais espectacu-lares. É por isso que hoje temos uma grande quantidade de dados procedentesdestas regiões e bem poucos de áreas culturais menos chamativas, como a pro-víncia de Lugo, na Galiza, ou Trás-os-Montes, em Portugal. As áreas de con-tacto entre núcleos têm sido igualmente pouco estudadas.

Nesta comunicação, o meu interesse é simplesmente reivindicar a rele-vância das margens – as zonas intersticiais que adotam elementos de diversosmundos culturais. Para isso, vou apontar muito brevemente as possibilidades

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 154

Page 156: Issn 0871 - 4061

que oferece o sul de Ourense e o sul do distrito de Vila Real para prantear novasquestões sobre as fronteiras culturais na Pré-história.

A ampla região que se estende a leste e oeste da bacia do rio Tâmega podeser considerada uma difusa zona de fronteira cultural na Idade do Ferro. A cul-tura material que encontramos é substancial e significativamente diferente naárea compreendida entre a desembocadura do Douro e o Minho, de uma parte,e a de Trás-os-Montes, pela outra. A região compreendida entre o Baixo Douroe o sudoeste da Galiza vêm caracteriza-se nos finais da Idade do Ferro pelaemergência dos grandes povoados fortificados (os oppida), a instauração deuma nova economia política, a reestruturação dos territórios castrejos e a apa-rição de uma peculiar cultura material de poder, na que destacam a estatuáriae os relevos em pedra, a arquitectura doméstica baseada em casas-pátio e maisa ourivesaria. A região de Trás-os-Montes oriental e o leste de Ourense semelhao reflexo invertido desta situação: não tem oppida, os territórios castrejos se-guem a ser dominados por pequenos castros e não é fácil assinalar elementosde diferenciação social através da cultura material – casas, jóias ou importaçõesmediterrânicas. O mundo político do leste e o oeste, portanto, têm pouco quever: estados ou chefias complexas no oeste, tribos ou chefias simples no leste.Os romanos reconheceriam esta diferença e incluiriam o noroeste de Portugale sudoeste da Galiza na Callaecia Bracarense, organizada em civitates, e con-siderariam o Trás-os-Montes oriental como parte das Astúrias. Entre uma zonae a outra temos uma faixa de território que actua como fronteira e que coincideaproximadamente com o distrito de Vila Real e o centro-sul de Ourense.

O carácter de fronteira desta região adverte-se em determinados rasgos dacultura material como a paisagem, a organização do espaço habitado ou a ouri-vesaria. Coexistem aqui rasgos culturais pertencentes a diversas tradições. É in-teressante observar que por esta zona passa a divisória entre diferentesproduções materiais, nomeadamente a das estátuas de guerreiros castrejos e osberrões (Álvarez Sanchís 2003) (Fig. 1). As comunidades desta zona tiveramque afrontar decisões tecnológicas que não existiram em zonas nucleares. Édizer, para os moradores do castro de Santa Trega ou de Sanfins as possibilida-des de escolha entre distintos tipos de casas, torques, cerâmicas e mesmo deusesera muito mais limitada que para um morador de Lesenho, que quase se poderiadizer que convivia com outra tradição cultural diante do seu povoado. As deci-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 155

Page 157: Issn 0871 - 4061

sões de adoptar um ou outro elemento mate-rial, por tanto, são especialmente significati-vas na fronteira, porque nela pode-se escolhere na escolha está-se a manifestar certa identi-dade cultural e política (Lemonnier 1992: 17-19; Skibo e Schiffer 2007: 11).

Para compreender a lógica culturaldesta zona fronteiriça, porém, duas coisas têmque ser tidas em conta: em primeiro lugar,não é uma zona homogénea, o qual é quasesempre certo de toda região fronteiriça; emsegundo lugar, o nosso conhecimento é muitofragmentário e desigual, o que dificulta so-bremaneira as interpretações. A subárea queestá mais bem definida é a compreendidaentre o sul de Ourense e a zona ocupada apro-ximadamente pelos municípios portuguesesde Montalegre, Chaves, Boticas e Cabeceirasde Basto. É a esta subárea, portanto, a que me vou cingir principalmente.

Que classe de região de fronteira é esta? Provavelmente constitui umazona fronteiriça política e cultural, cujas origens poder-se-iam levar a Idadedo Bronze. Nesta zona deveu de existir existiu uma complexidade social maiorque no entorno. Assim o provaria, durante este período, a existência de depó-sitos metálicos e áureos, que estão ausentes mais ao leste. Já nos finais da Idadedo Ferro, destaca desde um ponto de vista político a importância dos seus op-pida, e nomeadamente o castro de Lesenho. Com as suas três linhas de muralhaconcêntrica e as quatro estátuas de guerreiro (Silva 1986: 305), Lesenho cla-ramente teve que desempenhar um papel de capital de um território político.Bem que conhecemos pouco do sítio, o castro aparenta-se claramente com osoppida bracarense e contrasta com o tipo de povoamento disperso que carac-teriza as terras mais para leste. Lesenho é mesmo um oppidum característicode mais. O que quero dizer com isto? Como apontava ao começo, uma atitudetípica de fronteira consiste em reforçar os valores do núcleo. A mim sempreme tem chamado a atenção que aqui, no limite oriental do mundo dos oppida

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 156

Figura 1. Áreas de distribuição dos ber-rões e dos guerreiros de pedra. Comoocorre no caso de outras manifestaçõesmateriais, a área de Trás-os-Montes oci-dental e o sul da Galiza ficam na divisóriaentre as duas tradições

Page 158: Issn 0871 - 4061

e as suas produções materiais, encontremos um povoado com o maior númerode estátuas de guerreiro e da melhor qualidade. A isto temos que adicionar amonumentalidade e grande elaboração das muralhas, que poderia revelar o de-sejo de projectar uma imagem de poder e fortaleça numa zona crítica. Em con-clusão, a espera de novos dados que clarifiquem a sua natureza, Lesenho podeser um exemplo do que eu chamaria “oppidum de fronteira”, situado na linhaque separa o Estado das sociedades sem - ou contra - o Estado (González Gar-cía et al., no prelo).

Lesenho, ademais, marca o limite entre a área dos guerreiros e dos ber-rões. Isto não é uma coisa fútil. Os dois tipos de esculturas estão a revelar for-mas bem diferentes de conceber a paisagem e a sociedade. Os berrões remetempara o mundo pastoril do ocidente castelhano, no que a riqueza e o poder ba-seiam-se na possessão de gado e no controle das vias de comunicação percor-ridas pelos animais. É um mundo bem diferente do dos oppida galaicos,baseado na possessão da terra, a acumulação de bens de prestígio, a gestão doconflito extra-comunitário e a casa como entidade material e imaterial.

A zona que tratamos, porém, não entrade cheio no mundo dos oppida ocidentais,nem dos guerreiros de pedra (Fig. 2). Ao con-trário, fica no meio da linha divisória, o quenos levaria a acreditar que a tal zona frontei-riça é, na realidade, duas áreas bem distintas:uma claramente galaica e outra transmontana.Contudo, existem outros elementos que sãocompartilhados ao longo deste território: umestilo de torques (Fig. 3), o uso dos santuáriosrupestres com pias escavadas na rocha (Fig.4), um tipo característico de fortificação e umapeculiar organização do espaço doméstico.Enquanto alguns elementos são orientais - ossantuários rupestres (Freitas 2001) - ou oci-dentais (punhais de antenas), outros nãopodem ser categorizados como orientais nemocidentais, senão próprio da região mesma:

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 157

Figura 2. Área de distribuição dos oppidae os castros

Page 159: Issn 0871 - 4061

aqui teríamos a ourivesaria flaviense (Silva1986: 236-237; Ladra 2005) e a organizaçãodo espaço (González Ruibal 2006-2007: 358).

A arquitectura do espaço doméstico éespecialmente interessante e reveladora, por-que embora recorra a elementos próprios doocidente (é dizer, da área dos oppida), comoas casas circulares e de paramentos elabora-dos, o fato é que articula o espaço de um jeitobem distinto, sem que existam arruamentosortogonais ou pseudo-ortogonais, nem con-juntos de habitação bem estruturados emredor de um pátio (Fig. 5). Isto é bem clarono caso de Saceda, um dos poucos povoadosdos que temos uma superfície notável esca-vada (González Ruibal 2005). Esta flexibili-dade do espaço é representativa de umasituação de fronteira, na que se importam ere-elaboram elementos alheios com a liberdade que proporciona o afastamentodo centro cultural. O castro de Sabrosa é possível que ofereça um caso seme-lhante, mais chama a atenção o encostamento das estruturas à muralha, carac-

terística que compartilha com o estranho castroda Curalha. Poderia ser este também um rasgo daflexibilidade e singularidade do uso do espaço naregião flaviense?

O carácter híbrido da cultura fronteiriça émais evidente talvez na arquitectura defensiva.Aparentemente as muralhas e fossos são muitosemelhantes os do ocidente castrejo. Mas algunselementos são especialmente típicos desta área enela podem ter a sua origem: acho que este é ocaso dos paramentos helicoidais, que têm a sua

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 158

Figura 3. Área dos torques dos oppida edos torques flavienses

Figura 4. Área de distribuição principal dos santuários escavadosna rocha

Page 160: Issn 0871 - 4061

melhor representação no distrito de Vila Real,onde achamos castros como Cidadelhe (Silva1986: est. CXXXIV) e S. Vicente da Chã, eem Ourense, com os povoados de S. Cibránde Las, Coto do Mosteiro e, mais o sul, Sa-ceda e S. Millán (González Ruibal 2006-2007: 306). A elaboração dos paramentosconverteu-se em um rasgo próprio dos castrosdesta região (Fig. 6), que talvez expresse me-taforicamente a relevância das defesas numentorno possivelmente conflituoso (lembre-mos mais uma vez os numerosos guerreirosde Lesenho). O mesmo sucede com as portasem forma de triângulo, que se repetem emcastros como Lesenho e Saceda, e que con-tribuem a reforçar e monumentalizar as en-

tradas aos povoados. Bem que estes elementos poliorcéticos são compatíveiscom o mundo dos oppida, outros são mais estranhos: é o caso dos campos depedras fincadas, que as comunidades de VilaReal adotam sem problemas apesar de de tra-tar-se de um rasgo alheio ao mundo galaico epróprio, entretanto, da área que poderíamoschamar astur.

Já para concluir, o que quer dizer tudoisto e que a área em questão, como sucedecom frequência com as terras fronteiriças,converteu-se na proto-história numa espéciede laboratório cultural, no que se adoptaramelementos de diversas tradições, de forma di-nâmica e criativa, e com eles construiu-seuma identidade híbrida muito particular, quenão pode ser reduzida por completo a uma ououtra entidade cultural. As perguntas quedevem orientar a pesquisa têm que ver com

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 159

Figura 5. Área das casas bracarenses a fi-nais da Idade do Ferro e área arquitectó-nica de Trás-os-Montes

Figura 6. Área onde predominam osmuros de aparelho helicoidal

Page 161: Issn 0871 - 4061

as decisões materiais das comunidades: porque alguns erigiram estátuas de ber-rões em vez de guerreiros? Porque algumas aldeias derivaram em oppida e ou-tras ficaram como aldeias sempre? Qual é o papel do conflito nas relações entreas diferentes comunidades? A resposta a estas perguntas ajudar-nos-á a com-preender a lógica social das sociedades fronteiriças.

BibliografiaÁlvarez-Sanchís, J. R. 2003. Límites y fronteras de la Edad del Hierro en la Meseta Occidental. Bo-

letín Auriense 33: 95-114Freitas, A.M. 2001. Carta arqueológica. Valpaços: Câmara Municipal de Valpaços.Gardner, A. 2007. Fluid frontiers: cultural interaction on the edge of Empire. Stanford journal of Archaeology5: 43-60.González García, F.J., Parcero Oubiña, C., Ayán Vila, X. no prelo. Iron Age societies against the state. Anaccount on the emergence of the Iron Age in the NW Iberian Peninsula. In T. Moore e L. Armada (eds.):Western Europe in the First Millennium BC: Crossing the divide. Oxford University Press.González Ruibal, A. 2005. El castro de Saceda y la jerarquización territorial de la Segunda Edad del Hierroen el noroeste ibérico. Zephyrus 58: 267-284. González Ruibal, A. 2006-2007. Galaicos. Poder y comunidad en el noroeste de la Península Ibérica (1200a.C. – 50 d.C.). A Coruña: Museo de San Antón.Kopytoff, I. 1987. The African frontier: The reproduction of traditional African societies. Bloomington: In-diana University Press.Ladra Fernandes, X.L. 2005. Análisis territorial de la distribución de hallazgos de torques áureos de la IIEdad del Hierro en el noroeste peninsular. Em Bronce Final y Edad del Hierro en la Península Ibérica (C.Cancelo, A. Esparza e A. Blanco, eds.). Salamanca: Universidad de Salamanca, 94-110Lemonnier, P. 1992. Elements for an anthropology of technology. Michigan, Ann Arbor, MI: Museum ofAnthropology, University of Michigan.Lightfoot, K.G. e Martínez, A. 1995. Frontiers and boundaries in archaeological perspective. Annual Reviewof Anthropology 24: 471-92.Skibo, J. e Schiffer, M. 2007. People and things. A behavioral approach to material culture. New York:Springer.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 160

Page 162: Issn 0871 - 4061

entRe lusos, BiBAlos e tAMAGAni: A ARQueoloxÍAtRAnsFRonteiRizA de x. tABoAdA chiviteBETWEEN LUSOS, BIBALOS AND TAMAGANI: THE BORDER ARCHAE-OLOGY OF X. TABOADA CHIVITE

La arqueología es campo amplísimo de investigación aun en zonas geográficas restrin-gidas. Como en las leyendas populares, hay siempre un tesoro escondido aguardando al bu-

ceador que pretende descifrar el enigma.X. Taboada Chivite (1971: 45).

Resumo: A través da obra arqueolóxica de X. Taboada Chivite abordamos unha análisecrítica da Arqueoloxía galega facendo fincapé na relación entre política e Arqueoloxía existentetanto na Arqueoloxía galeguista de preguerra coma na Arqueoloxía celtofascista da década de1940 e comezos de 1950. Asemade, serviranos para amosa-lo trasfondo ideolóxico no que sealicerza a estreita relación transfronteriza entre a Arqueoloxía galega e maila Arqueoloxía mi-nhota e de Trás-os-Montes ao longo do século XX. Este marco ideolóxico e político fundamenta,pola súa vez, a visión tradicional sobre a cultura castrexa nesta secular área limítrofe do NW daPenínsula Ibérica.

Palavras-chave: Idade do Ferro, X. Taboada Chivite, Arqueoloxía transfronteriza.

Abstract: In this article we develop a critical analysis of the Galician Archaeology usingas example the archaeological work of X. Taboada Chivite. We try to show the interaction be-tween Politics and Archaeology not only in the nationalist Archaeology of the 30’s but also inthe Celticist and fascist Archaeology in 40’s and 50’s. In this sense, we deal with the developmentof a strong relation along the XXth century between the Galician archaeology and northernPortuguese Archaeology. This ideological and political framework explains the predominantvision on Iron Age in this borderland of the Iberian Peninsula.

Keywords: Iron Age, Taboada Chivite, historiographical analysis, Galician Archaeology.

1. introduciónO presente congreso transfronteirizo que estamos a desfrutar na vila de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 161

Xurxo M. Ayán Vila LaPa-CSiC; [email protected]

Page 163: Issn 0871 - 4061

Montalegre bebe directamente dunha tradición de estreita colaboración entrea Arqueoloxía galega e maila Arqueoloxía do N de Portugal, participando, polotanto, dunha inercia histórica que sempre procurou supera-la artificial fronteirada raia seca. O propio lema do congreso, Um Património sem fronteiras,podemos consideralo coma un símbolo dese vello anceio transfronteirizo, re-actualizado no século XXI.

A presente comunicación tenta levar a cabo unha sintética reconstruciónhistórica desa arela transnacional a través da análise crítica da vida e obradunha figura senlleira da Arqueoloxía galega como foi a do verinense XesúsTaboada Chivite (1907-1976). Recentemente se lle ten adicado un amplo conx-unto de estudos co gallo do centenario do seu nacemento (vid. Boletín Auriense,37) e mesmo ten sido proposto como candidato para ser homenaxeado adicán-doselle o Día das Letras Galegas. En liñas xerais, a bibliografía que analisa asúa traxectoria louva a súa doble traxectoria como afeccionado erudito queloitou polo Patrimonio e maila cultura do país e como galeguista histórico, epí-gono da Xeración Nós. Esta perspectiva, en certa medida acrítica, prodígasenos estudos adicados por diferentes discípulos a recensiona-la vida e obra dosresponsables da Arqueoloxía en Galicia na postguerra e no tardofranquismo(Acuña Castroviejo 1992; Arias Vilas 1995; Rodríguez González 1996; LópezGómez 1999; Calo Lourido 2003).

Pola nosa banda, o presente traballo retoma a liña marcada por estudosprecedentes de carácter global (Fernández-Posse 1998; Marín Suárez 2004,2005) e insírese nun proxecto-marco de crítica historiográfica da tradición ar-queolóxica do NW vencellada ao estudo da Idade do Ferro que remarca arelación entre política, arqueoloxía e sociedade (Ayán 2006, 2008) unharelación artellada nun sistema de saber-poder que demos en chamar sistemagalaico-minhoto e que, na nosa opinión, mantén a súa influencia hoxendíacondicionando a maneira de enfoca-lo mundo dos castros. E un dos melloresrepresentantes dese sistema, para ben e para mal, cremos que foi X. TaboadaChivite.

2. A Arqueoloxía galeguista de preguerra (1923-1936)O desenvolvemento da investigación de carácter científico sobre a Pro-

tohistoria do NW vencéllase directamente coa organización do nacionalismo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 162

Page 164: Issn 0871 - 4061

galego como movemento político e cultural a partir de 1916 (Gonzalez Bera-mendi e Núñez Seixas 1995). A formación do grupo ourensán da Xeración Nósmarca o punto de inflexión, a ruptura epistemolóxica coa tradición erudita dec-imonónica e conleva o nacemento da arqueoloxía científica galega (ArmadaPita 1999: 249-53). Unha Arqueoloxía prehistórica que, coma no caso catalán,serviu aos intereses nacionalistas, centrados no estudo e recreación dun pasadooposto á visión españolista, centralizadora e uniformizadora da dictadura dePrimo de Rivera (1923-1929) (Díaz Andreu 1997: 411). Un enfoque que partíado concepto tradicionalista de nación manexado por Vicente Risco (1920), her-dado de A. Losada Diéguez (Bobillo 1981; González Beramendi 1985; Ayán2006) quen vía a Galicia coma un órgano natural, constituído por unha comu-nidade de intereses espirituais e materiais, coma unha entidade obxectiva con-formada por elementos describibles como a terra, a etnia, a raza, a lingua, ohábitat, os costumes, etc… (González Beramendi 2000). Esta concepciónorgánico-historicista é clave para comprendermos a xeografía de Otero Pe-drayo, a investigación arqueolóxica de Cuevillas, e a propia prática etnográficade Risco, responsábel de estuda-la Cultura espiritual do pobo galego, mentresque outros como Xaquín Lorenzo se centrarían na Cultura material. Asemadeinfluenciaría totalmente os estudos do Seminario de Estudos Galegos (1923-1936) e a formación de intelectuais polifacéticos, etnoarqueólogos que conti-nuarán coas súas investigacións nas décadas posteriores á guerra civil, comoF. Bouza Brey, Xesús Ferro Couselo, Antón Fraguas ou o personaxe que nosocupa, Xesús Taboada Chivite (García Martínez 2007).

Neste senso, o mozo erudito verinense participou de cheo na iniciativa doSEG de promover por primeira vez un proxecto de investigación arqueolóxicaintegral da Prehistoria e Protohistoria de Galicia, baixo a dirección indiscutiblede F. López Cuevillas. Deste xeito, participou nun programa de traballo que abran-guía diferentes liñas de actuación (Filgueira Valverde 1978: 34-5; García Martínez1978: 112-3; Prado Fernández 1997; Mato Domínguez 2001) claramente inter-relacionadas entre si, nas que se combinaba a sistematización dunha bibliografíae elaboración das primeira sínteses xerais de diferentes períodos da Prehistoria eProtohistoria galegas e o inventario e catalogación de xacementos de dez comar-cas galegas: Val de Vilamarín (1928), Celanova (1928), Carballiño (1930), Melide

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 163

Page 165: Issn 0871 - 4061

(1931), Lobeira (1933), quedandopendentes de publicación en 1936 osde Fisterra, O Saviñao, Santiago, Lugoe Deza. Taboada Chivite participou naxeira interdisciplinar por esta últimacomarca do interior de Galicia1

(Taboada Cid 1979: 11; Dasairas Balsa2006: 6-9; García Martínez 2007: 51-2), tras tomar contacto con membrosourensáns da Xeración Nós, na casaparticular de Vicente Risco (TaboadaChivite 1968: 319):

Coñecín a Cuevillas nos primeiros anos trinta na casa de Vicente Risco.Alí fun un día para consultar a iste unhas dúbidas referentes á historia da miñaterra de Verín, que andaba argallando entón, e alí estaban os dous. […] Alíme atenderon e aleccionaron con agarimo, e para solucioar unha dúbida,deume Cuevillas a Xeografía de Strábon. Dende aquela data quedéi prendidodefinitivamente ó seu maxisterio. Invitáronme a que seguise indo á casa deRisco, onde tiñan unhas reuniós, ás que asistitín namentras estiven en Ourense,e aínda dende Verín acudín adoito hasta o ano 1936. Díronme, cando meausentéi, cuestionarios, dos que conservo algún orixinal, para que precurasena miña bisbarra, cousas de Prehistoria e folklore, comezos dos meus inquéri-tos na comarca do Támega. No despacho de Risco orgaizábanse as xeiras doSeminario de Estudos Galegos, i eu, xa enrolado na Seición de Prehistoria conCuevillas, toméi parte en tódalas escursións que se fixeron. E gocéi dendeentón do maxisterio quente do gran meste. Lémbrome do primeiro viaxe polasterras de Deza. Ian connosco –con Xaquín Lorenzo, con Hermida, cós irmausColemán- os tres sabios ourensáns: Risco, Otero e Cuevillas […] Cuevillasamostrábame a min, primeirizo nistas lides, os outeiros, as encostas, as gán-daras, as estibadas, os cumes dos monticelos á beira da estrada, para que ade-viñase, ou dil adeprendese, onde había castros e cáles eran as súascaracterísticas. Logo, polos arredores de Lalín, corrimos a comarca, il AnxeloRamos Colemán, e máis eu, demandando notizas de castros, medindo os que

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 164

Figura 1. Xeira arqueolóxica polas terras do Deza naque participou un mozo X. Taboada Chivite (Arquivodo IEGPS)

Page 166: Issn 0871 - 4061

alcontrábamos, acadando ouservaciós do seu emprazamento, escoitando dospaisanos as léndas e tradicións que en col diles se contaban, anotando e rex-istrándoo todo

O papel dos investigadores ourensáns vencellados á Etnografía e mailaArqueoloxía na formación das xeracións máis novas tivo como consecuenciaque discípulos como Xaquín Lorenzo, Antón Fraguas, Mª Pura Lorenzana ouXesús Taboada Chivite acadasen un perfil híbrido no seu labor investigador.Todos eles participarán de cheo do programa de investigación das dúas sec-cións anteditas, e o que é máis importante, serán os encargados de continua-los estudos trala ruptura traumática da guerra civil, conformando o sistema desaber etno-arqueolóxico imperante en Galicia na época da dictadura, garantín-dose así un continuismo historiográfico da escola de Risco e Cuevillas, se bendentro dun contexto político moi distinto.

3. A Arqueoloxía celto-fascista de postguerra (1939-1954)

Es grato para Orense y especialmente para mi que haya coincidido la in-auguración de este Congreso de Arqueología con la fecha del 18 de julio, puesello quiere decir que vamos a iniciar las tareas en un día extraordinario, detan gran significación para todos los españoles, por lo que no nos gusta quepase desapercibido o simplemente con los actos protocolarios, sino que dese-amos que se singularice por algún especial acontecimiento que nos haga re-cordar en esta fecha que debemos hacer una positiva labor por la Patria [...]¡Qué agradable es realizar un Congreso en medio de una paz política y socialcomo la que en España disfrutamos! Y todo, gracias a este 18 de julio, cuyoexponente personal es nuestro Caudillo, que si ganó la difícil guerra y comogeneral consiguió que el Ejército Nacional llegara en un 1º de abril a sus úl-timos objetivos militares, ha ganado lo que para todos es mucho más, esta pazde España, que nos permite disfrutar de tranquilidad y abrir nuestra esperanzahacia el futuro, apoyada en ese pasado a cuyo estudio os dedicáis con la mayorilusión y con el más grande orgullo de españoles.

Fragmento do discurso inaugural do III Congreso Nacional de Arqueo-logía (1953) a cargo do gobernador civil de Ourense Alberto Rodríguez (enVV.AA. 1955: 9-11).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 165

Page 167: Issn 0871 - 4061

A instauración, tralo trunfo franquista en 1939, dunha dictadura fascistanacionalcatólica tivo unha notable incidencia na investigación arqueolóxica nadécada de 1940 e primeira metade dos anos 50 (Díaz-Andreu 1993, 1997a). Aeste respecto, prodúcese un troco institucional e académico (depuración, morte,exilio) que racha co sistema de saber-poder establecido e marca uns novos ob-xectivos nos estudos arqueolóxicos, sesgados pola nova ideoloxía política im-perante (Ayán 2008: 49-56). Na nosa opinión, o caso de Galicia exemplifica aexistenza dun proceso ambivalente de ruptura e continuidade. Deste xeito, oéxito do golpe de Estado de 1936 nas catro provincias galegas permitiu ás au-toridades militares insurrectas e ás partidas falanxistas levar a cabo unha re-presión sen cuartel co obxectivo preclaro de desmantela-lo movemento dogaleguismo político e cultural (de Juana e Prada 2006). Trala represalia siste-mática dos rojos separatistas, seguiu un rápido proceso de fascistización daUniversidade compostelá e o crucial desmantelamento do Seminario de Estu-dos Galegos (Mato Domínguez 2001: 233-6). Crebouse así, de xeito violento,o proceso de institucionalización da Arqueoloxía galeguista (Ayán 2006). Obaldeiro sería cuberto pola reorganización centralista na postguerra, coa crea-ción en 1940 do CSIC (Mora 2003: 96-9; Díaz-Andreu 1997: 548) e mailo Ins-tituto de Estudios Gallegos Padre Sarmiento, dependente de aquél, en 1944(Pardo de Guevara 2005). Neste proceso de reordenación institucional radicaa clave para comprendermos o continuismo na prática arqueolóxica de pos-tguerra (e na visión da Pre e Protohistoria galaicas).

A instauración desta Arqueoloxía que demos en chamar celtofascista su-puxo a organización dunha estrutura organizativa ao servizo do nacional-cato-licismo que canalizou a actividade arqueolóxica no país durante esas décadasiniciais da postguerra. O Estado nacionalcatólico e centralista utilizou as Hu-manidades e as Ciencias en xeral para a lexitimación da nova estrutura política,posicionando a arqueólogos afectos ao Rexime nos postos clave das novas en-tidades de xestión, investigación e docencia, como foron os paradigmáticosexemplos de Jose Mª Luengo, J. Filgueira Valverde. A. García y Bellido ou M.Almagro2. Para completa-lo novo sistema créase a Comisaría General de Ex-cavaciones Arqueológicas, dependente da Jefatura Nacional de Bellas Artes,cunha estrutura de comisarios provinciais encargados do que ocurrise na súa

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 166

Page 168: Issn 0871 - 4061

zona3. Nesta nova administración da arqueoloxía española, dominada polo fa-lanxista xermanófilo Julio Martínez Santa-Olalla (Castelo Ruano et al. 1997;Ruiz Zapatero 2003: 228), obsérvase un marcado dirixismo, cunha selecciónpara comisarios provinciais de escavacións arqueolóxicas de individuos poloxeral sen unha formación académica en arqueoloxía, pero que contaba cun per-fil de erudito local e/ou se atopaban integrados nos cadros políticos do novoréxime (Díaz-Andreu 2003: 46).

Neste novo contexto, tralos primeiros procesos de sancionamento polas novasautoridades franquistas (Prada Rodríguez 2007), a Arqueoloxía do galeguismo cul-

tural acada infiltrarse na Administra-ción, co nomeamento do xuíz F. BouzaBrey como Comisario Provincial dePontevedra (1941-1951), sempre hos-tigado polo falanxismo local, ou a de-tentación do mesmo posto para aprovincia de Ourense por parte do pro-pio F. López Cuevillas, expedientadopreviamente no seu cargo de funciona-rio de Facenda.

Esta reorganización provincial daprática arqueolóxica completousetamén na década de 1940 co reforza-

mento do papel xogado polos Museos Provinciais. Destacan de feito, os exemplosdo Museo de Pontevedra, dirixido por Filgueira Valverde (afecto ao Rexime quechegaría a ser alcalde de Pontevedra), coa súa publicación homónima, e do Museode Ourense. Nesta cidade, a instancias de Xesús Ferro Couselo, funcionario do Ar-quivo Provincial, créase por orde ministerial do 31 de decembro de 1941, o GrupoMarcelo Macías de Colaboradores del Museo e se inicia o Boletín do Museo Ar-queolóxico Provincial (1943). Os integrantes de ámbalasdúas entidades eran nome-ados pola Dirección General de Bellas Artes (González Pérez 2003: 157). Dentrodeste marco se canalizan as iniciativas investigadoras e culturais do colectivo dediscípulos de López Cuevillas, entre os que se atopa Taboada Chivite (ComisarioLocal de Excavaciones) e que conta coa colaboración expresa do Comisario Pro-vincial de Excavaciones, M. Chamoso Lamas (Rodríguez González 1996: 185).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 167

Figura 2. 1ª Asamblea de Comisarios de Excavaciones.12 de Janeiro de 1950 (en García Martínez 2007: 74)

Page 169: Issn 0871 - 4061

En definitiva, vemos como o novo sistema político e institucional fun-ciona dentro dun marcado dirixismo centralista e reordena a prática arqueoló-xica encadrándoa a escala provincial baixo a responsabilidade de comisariosque exercen como funcionarios do Estado. A ausencia dunha institución a nivelde Galicia, que leve a cabo unha estratexia de investigación global, como erao caso do extinto SEG, compénsase co traballo de colectivos locais, vencella-dos aos Museos Provinciais, e que establecen as súas propias prioridades anivel de investigación.

O labor de Taboada Chivite en Ourense exemplifica perfectamente estanova situación. Obivamente, xente como o erudito verinense ou López Cuevi-llas non eran fascistas, sufrindo incluso procesos de depuración administrativapolo seu ideario galeguista (Prada 2007). Sen embargo, a súa relación coa ver-tente nacionalista tradicionalista católica supuxo un auténtico salvoconducttopara poderen seguir traballando na Arqueoloxía do país na postguerra, dendeo Museo, o IEGPS e maila Comisaría de Excavaciones. Neste senso, podemoscomparti-la idea dunha Arqueoloxía posibilista nesas décadas da man do gale-guismo cultural (García Martínez 2007: 53, 72; Arias Vilas 2007: 100) maisnon cremos que se deba falar dunha Arqueoloxía de resistencia como se tenapuntado recentemente (García Martínez 2007: 72). Todo o contrario, é unhaArqueoloxía subvencionada, que depende do Estado, que se integra no novoaparato administrativo e que contribúe meritoriamente aos curricula de eruditoslocais e afeccionados. O novo proceso de institucionalización da Arqueoloxíaen Galicia é o que posibilita, acepta e promove a prática arqueolóxica da escolaourensá de Cuevillas. Como lembraba o propio Taboada Chivite (1969: 319):Rematada a guerra, principióu Cuevillas a recobrar os discípulos esparexidos:Un día recibíamos o nomeamento dun cargo, outro un tíduo honorífico, outrocartos para escavaciós, outro a carta dun investigador, que o faguía polo seumandado, precurando notizas de cousas que Cuevillas, muito millor ca nós,podería contestar; pro mantendo así, a nosa ilusión e azos arqueolóxicos.

Doutra volta, esta prática arqueolóxica non só se incardina neste novomarco institucional, senón que tamén reproduce o paradigma interpretativosancionado pola Arqueoloxía celtofascista oficial. Así pois, a visión chantadapor Martínez Santa-Olalla na súa síntese paletnolóxica da Península Ibérica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 168

Page 170: Issn 0871 - 4061

(Martínez-Santa Olalla 1946) e por A. García Bellido tralas súas escavaciónsno castro de Coaña (García y Bellido 1941, 1942) configurarán unha tese ofi-cialista sobre a Protohistoria segundo a cal os celtas arios constituían o únicoe auténtico sustrato hispánico (Ruiz Zapatero 2003: 227-9). Perspectivas desteestilo va ter unha incidencia notable, entre 1939 e 1954, na investigación sobreo mundo castrexo en Galicia e Asturias, axudando a explica-lo continuismo daArqueoloxía de base etnicista desenvolta por Cuevillas no marco dogaleguismo de preguerra. Como ten sinalado F. J. González García (2007) tras

la guerra civil se dio una cohab-itación céltica, un extraño matrimo-nio entre los celtas galleguistas yfranquistas, fenómeno que nos axu-dará a comprende-lo achegamentoaos castros galegos produto das es-cavacións desenvoltas nas décadasdos anos 40 e 50.

Non esquenzamos que no ano1953 López Cuevillas publica a súaobra La Civilización Céltica en Gali-cia e se celebra en Galicia o III Con-

greso Nacional de Arqueología, cuxa sesión inaugural tivo lugar en Ourense aemblemática data do 18 de xullo, momento que se aproveita para a aperturado Museo Provincial de Ourense (Rodríguez 1996: 185).

4. na procura do substratum: a pervivencia dunha Arqueoloxía esen-cialista

A ruptura a nivel institucional non supuxo, como xa apuntura A. Gilman(1995), unha creba epistemolóxica en sentido estricto, xa que a influencia his-toricista alemá continuaba marcando a axenda da investigación. O carácterfiloxermano e conservador dos referentes da Arqueoloxía dos 40 levou empar-ellada unha impermeabilización contra as correntes anglosaxonas e un predo-minio do positivismo e das interpretacións etnoculturais, situación que semanterá durante décadas. No caso galego, este proceso vese moi ben na inves-tigación protohistórica etnicista da postguerra, marcada polo continuísmo do

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 169

Figura.3. Carnet de Comisario Local de Excavacio-nes Arqueológicas de X. Taboada Chivite (en DesairasValsa 2006: 12)

Page 171: Issn 0871 - 4061

modelo de interpretación histórico cultural establecido por Cuevillas napreguerra (Díaz Santana 2002: 73-5). Toda a obra de X. Taboada Chivite re-flicte perfectamente esta continuidade dende o seu primeiro artigo sobre o cas-tro de Medeiros (1944) ate a súa contribución ao Colóquio Luso-Espanhol deCultura Castreja de Carvalhelhos de 1972 (Taboada Chivite 1973). O autor deVerín reproduce punto por punto os plantexamentos histórico-culturais do seumestre; a definición dunha cultura arqueolóxica a partir de elementos materiaise fósiles directores convértese en obxectivo esencial das súas pescudas sobrea cultura castrexa e a cultura dos verracos, as dúas formacións culturais queconviven no marco xeográfico obxecto de estudo. Os seus artigos aparecen in-zados de referencias a círculos culturais, irradiacións, notas diferenciais, cen-tro-periferia (1949: 5-6; 1950: 334; 1958: 308; 1959-60: 73), vías depenetración e límites culturais (1946: 122; 1955: 344).

Os seus traballos tipoloxizantes sobre a cultura material seguen partindoda base de que os obxectos definen esencialmente unha cultura e son proba doseu espallamento e difusión (Taboada Chivite e López Cuevillas 1959: 179)como queda ben claro nesta cita entresacada do artigo sobre as súas explo-racións en castros de Cabreiroá: Está por hacer un estudio sistemático de lacerámica castreña que podría demostrar si su identidad de temas decorativoscon otros muchos más antiguos, se debe a supervivencias o es originada porideas elementales (Elementargedanke) que surgen sin influencias en cualquierclase de cultura (Taboada 1950: 339). A cultura dos verracos, por exemplo,espállase por unha zona na que se documentan elementos definitorios como asestatuas zoomorfas, as pedras fincadas (1955: 77), as casas rectangulares (1944:286-7; 1946: 129-30), o aparello poligonal, as grandes murallas... Todas estasmanifestacións materiais só poden ser interpretadas en clave etnolóxica. A esterespecto, o seu artigo de 1949 reproduce fidelmente o contexto que vimos dereseñar: cita expresa das teses de Martínez Santa-Olalla (1949: 18) e aplicacióndun modelo difusionista, invasionista e etnicista en clave celtista: la culturade los verracos fue creada por los pueblos celtas de la primera invasión querefiere el Periplo de Avieno y cuya cronología se sitúa en el siglo VI a. C..Dicha cultura finalizó en las Cogotas hacia el siglo III antes de jesucristo (op.cit.: 16-7); De lo cual puede deducirse que los verracos gallegos sean super-vivientes del núcleo de las Cogotas que irradió de su centro originario a zonas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 170

Page 172: Issn 0871 - 4061

próximas de común fondo racial (op. cit.: 18); Por las manifestaciones artís-ticas de esta cultura y su área de expansión cabe admitir que fue introducidapor los celtas, pero con evoluciones locales e independiente personalidad elgrupo castellano del gallego (op. cit.: 25-6).

Esta Arqueoloxía de base etnicista percorre todo o labor investigador donoso autor: Outeiro de Baltar é un poboado celto-romano (1946: fig. 10); oscultos zoolátricos manifestados nos verracos son de orixe céltica (1949: 14); oestudo do hábitat e a tribu é un chanzo fundamental no estudo dun oppidum datribu dos bíbalos, produto da invasión céltica (1955: 72); o castro de Cabancadesentona entre os castros celtas nos que predomina a forma circular (1961:132); a Galicia histórica abrangue un substratum étnico de estirpe indoeuropea(1945: 31; 1968: 317; 1975: 101).

Esta visión esencialista de caste histórico-cultural, preside toda a pro-dución arqueolóxica de Taboada, compartindo de cheo os postulados verquidospor Vicente Risco na súa Historia de Galicia (1952) ou polo mestre Cuevillasna Civilización Céltica en Galicia (1953), tomando como obras de referenciaas aportacións do exiliado Pere Bosch Gimpera: Los celtas en la PenínsulaIbérica (Madrid, 1921), Etnología de la Península Ibérica (Barcelona, 1933)e La formación de los pueblos de España (México, 1945) (Martínez Risco1976: 251).

Pola súa vez, o autor de Verín reproduce a vertente esencialista na súa in-vestigación etnográfica; para Risco e os etnógrafos do SEG resultaba funda-mental a recolleita sistemática das manifestacións culturais do Volksgeitgalaico, evidencias materiais e espirituais da súa pervivencia ao longo dotempo. Na liña de Murguía, defendíase un continuismo esencialista entre a Pro-tohistoria e o folklore tradicional do campesiñado galego, facendo fincapié naspervivencias, fosilizadas no presente etnográfico (Calo 2004: 35-7). Taboadavai explorar esa vía de estudo, xunguindo Etnografía e Arqueoloxía, remitindocontinuamente a supervencias de antigos ritos orixinarios no substratum étnicogalaico (1949: 25-6; 1975: 101), xa fose céltico ou anterior, oemstrímnico, se-guindo a vella tese de Cuevillas e Bouza Brey (1929).

A coherencia e continuismo dos presupostos teóricos manexados poloautor verinés ao longo de toda a súa obra constátase tamén na vertente meto-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 171

Page 173: Issn 0871 - 4061

dolóxica, reproducindo a Arqueolo-xía de campo da súa etapa formativano SEG. Se, dende o punto de vistateórico, resulta evidente a perviven-cia do paradigma etnicista e histori-cista, a nivel metodolóxico seobserva, valla a paradóxica redun-dancia, a ausencia de método ou,cando menos, a continuación de prá-ticas propias da Arqueoloxía rexiona-lista precedente. As escavacións doscomisarios de escavacións seguíansendo realizadas por brigadas deobreiros (Taboada Chivite 1958: 304)

durante escasos días, sagazmente dirixidos por uns directores elitistas, que se-guían apostando na meirande parte das ocasións, por da-la orde de proceder áapertura de gabias exploratorias, cuxo obxectivo primordial era a documen-tación de muros ou estruturas definidas (Taboada Chivite 1949: 5; 1950: 343).Esta prática de exploración arqueolóxica, produto do contexto que estamosanalisando, non era só propia de Taboada senón que foi usual en Galicia atécomezos de 1970 (senón máis tarde, nalgúns casos) e a causante de que sexatan complicado levar a cabo un traballo de interpretación en clave social a partirdos desvestidos muros que quedaron ao aire tras multitude de intervenciónsdos anos 40, 50 e 60 que se adicaron a baldeirar estruturas sen rexistro estrati-gráfico de ningún tipo4. Neste punto resulta curioso como esta constatable eobxectivable ausencia de rigor metodolóxico non aparece sinalada pola críticahistoriográfica; todo o contrario, destácase, baixo os efectos da laudatio, o ca-rácter metódico e rigoroso desas escavacións, asumindo mimeticamente a pro-pia visión que aqueles arqueólogos tiñan do traballo de campo dos seuscolegas5.

Así pois, Taboada Chivite será un dos que retome as escavacións en cas-tros de Galicia, unha actividade de investigación que se verá complementadacoa realización de Cartas Arqueológicas Provinciales, sguindo as consignasestablecidas polo CSIC na década de 1950 (Rodríguez González 1996: 186),

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 172

Figura 4. Escavacións arqueolóxicas na Muradela di-rixidas por X. Taboada Chivite (en Rodríguez Gonzá-lez 2007: 98)

Page 174: Issn 0871 - 4061

empresa na que tamén se embarcará o investigador verinés (Taboada Chivite1955, 1971).

5. o sistema galaico-minhoto (e transmontano): unha etnoarqueoloxía

transfronteirizaDentro do contexto ideolóxico e institucional da Arqueoloxía galeguista, a cul-

tura protohistórica galega –trasunto da nación galega- era concebida coma un enteindividualizado, oposto ao mundo ibérico, marcado por un particularismo localistaque abrangue a Galicia histórica e mailo N de Portugal. Este enfoque rachaba decheo co precedente hermetismo da Arqueoloxía rexionalista galega cara ao desen-volvemento da Arqueoloxía lusa6, de aí que a obra de Martins Sarmento apenas foseconsiderada até o interese de Cuevillas pola cultura dos castros7 na década de 1920.A axenda do propio SEG privilexiou as relacións con investigadores do N. dePortugal, que colaborarán estreitamente en Arquivos e na Revista Nós (MendesCorrêa, Mario Cardozo, Serpa Pinto, Santos Junior, Jalhay, etc…). Dentro destecontexto, a junta para la Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicassufragara unha viaxe de estudos a López Cuevillas e Bouza Brey por terrasportuguesas para coñeceren de primeira man os xacementos e Museos de entre-Minho-e-Douro (Filgueira Valverde 1988). Como culminación deste procesode achegamento fructífero organizarase en Porto a Semán Cultural Galegaentre o 31 de marzo e o 6 de abril de 1935.

Esta rede establecida nos tempos da preguerra acabou consolidándose,malia o conflicto bélico español, da man da investigación etnográfica. Deses-truturada a vida cultural e a investigación en Galicia, retómase o contacto conantropólogos portugueses como Santos Júnior ou Mendes Corrêa, excolabo-radores do SEG. A partir de aquí a prática etnográfica lusa, fortemente tradi-cionalista e conservadora será un referente para autores como Taboada Chiviteou Xaquín Lorenzo, influenciados polo labor de Jorge Dias8 (1907-1973). Aincorporación definitiva da prática etnográfica alemá en Portugal a nivel insti-tucional prodúcese en 1945 coa creación na Universidade de Porto do Centrode Estudos de Etnologia Peninsular, que se ampliou a Madrid en 1947, insti-tución na que colaborou activamente Vicente Risco na súa segunda estanciamadrileña. Esta entidade binacional, acorde coa alianza salazarista-franquista

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 173

Page 175: Issn 0871 - 4061

na época máis crúa da autarquía e o aillacionismo internacional, deseñou unprograma de investigación centrado en tres liñas de traballo: a antropoloxíafísica, a evolución cultural dende a Prehistoria á Etnografía, o folklore e a psi-coloxía étnica dos pobos.

Desde 1947 Jorge Dias dirixiu a sé portuense e marcou durante décadasa orientación básica da Antropoloxía norteña portuguesa, que discurriu polocamiño do historicismo difusionista, con investigacións publicadas en revistascomo Douro Litoral ou Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologiae Etnologia. Dentro deste contexto histórico-cultural de influencia alemá, tantopara os etnoarqueólogos do galeguismo coma para os arqueólogos e antropól-ogos do N de Portugal, a historia era a cimentación do edificio cultural da na-cionalidade galega e/ou da rexión minhota/transmontana, así coma o elementobásico na construción do seu discurso etnográfico e arqueohistórico. Tanto aCultura material como a cultura espiritual (Taboada Chivite 1972) constitúena esencia da etnicidade dende a Prehistoria até o presente (Sierra Rodríguez eFernández Cerviño 2004: 16). Este marco ideolóxico compartido constitúe asuperestructura do sistema de saber-poder que demos en chamar galaico-min-hoto, asentado nunha tradición investigadora, nun marco institucional (Uni-versidade do Porto, Sociedade Martins Sarmento de Guimarâes, IEGPS deSantiago) e nunha rede de coñecemento na que se inseriu de cheo X. TaboadaChivite como discípulo de Cuevillas e como estudoso da zona fronteiriza doval do Támega. Probablemente, o autor verinés foi o investigador que mellormanexou a tradición etnográfica e arqueolóxica do N de Portugal, citando nosseus artigos referencias de Eugénio Jalhay, Afonso do Paço, José de Pinho,José Fortes, Ricardo Severo, Santos Júnior, Jorge Dias, Joaquim Fontes, MárioCardoso, Mendes Corrêa, Fernando de Castro Pires de Lima... Asemade, par-ticipou activamente nos congresos que reforzaron esa relación transfronteirizacomo, por exemplo, o Iº Coloquio Bracarense de Estudios Suévico-Bizantinos(1960), o Coloquio Internacional de Estudos Etnográficos Rocha Peixoto, dePóvoa de Varzim (1966), o Iº Congreso de Etnografía e Folklore de Santo Tirsoou o Coloquio Luso-Espanhol sobre a Cultura castreja en Carvalhelhos (1972)(Taboada Cid 1979: 10; Ogando 1980: 501).

Neste senso, o autor verinés contribuíu a consolidar esta rede científicagalaico-minhota coa súa obra, mais tamén axudou en grande medida a reafirma-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 174

Page 176: Issn 0871 - 4061

los seus alicerces politicos e ideolóxicos dende a súa posición (de grande capitalsimbólico) de continuador da obra de Cuevillas na sección de Prehistoria e Ar-queoloxía do IEGPS. Dende esta entidade, xunto con Bouza Brey, fixo perdura-la vella Arqueoloxía galeguista de corte histórico-cultural, caracterizada por unhaausencia total de pretensións teóricas, un celtismo a ultranza e un marcado her-metismo cara a influencias exteriores. Este inmovilismo teórico-metodolóxicolevou a reafirma-la visión chantada por Cuevillas9, á que simplemente se lle en-gadiron addendas froito da acumulación de dados por novas intervencións nasdécadas dos anos 50 e 60 (Taboada Chivite 1973a). A este respecto, a obra deTaboada Chivite, como a do seu amigo Santos Júnior do outro lado da raia, define

perfectamente o discurso reproducidodécada tras década polo sistemagalaico-minhoto-transmontano, undiscurso que permitía escavar durantetrinta anos nun castro sen mudar paranada o marco interpretativo nin os pre-supostos de partida, un discurso quefavorecía o feito de abordar nun colo-quio sobre cultura castrexa no ano1972 as mesmas preguntas, cuestións

e temáticas que as plantexadas, por poñer un exemplo, no III Congreso Nacionalde Arqueoloxía do ano 1953.

6. un Patrimonio sen fronteiras

Nace el Búbal en Galicia, corre luego por territorio portugués, paraleloy muy próximo a la frontera, que cruza más tarde para desaguar en el Támega,entre Vilaza y Verín. En su vertiente portuguesa está el concejo trasmontanode Montalegre, cuyos habitantes son conocidos con la denominación de ‘ba-rrosos’ y tienen fama de rústicos y de mal acomodados.

X. Taboada Chivite (1955: 69-70).

Esta cita (con valor etnolóxico de seu) amosa ben ás claras a ollada et-noarqueolóxica de Taboada Chivite, unha mirada que combina a estética da

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 175

Figura 5. Vicente Risco e X. Taboada Chivite po-sando cun rancho folklórico en Viana do Castelo,1958 (en Dasairas 2006: 17)

Page 177: Issn 0871 - 4061

paisaxe de Cuevillas e Otero Pedrayo e o interese polo perfil psicolóxico dopobo, na liña de Risco. Os anos de formación no SEG conferíronlle as ferra-mentas necesarias para aborda-lo estudo da terra de Verín individualizada comaun obxecto de estudo acotado por unha nidia fronteira, mais inserido nunhaárea doblemente fronteiriza, entre culturas no pasado e entre Estados no pre-sente. Botando man do comparatismo etnográfico, Taboada superou a raia secae fixo por coñece-la paisaxe, a xente, os costumes e os xacementos de Tras-os-Montes. A súa tentativa de reconstrución arqueoxeográfica do territorio ocu-pado polos bíbalos baseouse nun coñecemento da realidade arqueolóxica daparte portuguesa, do concello de Montalegre, sabendo dos 53 castros catalo-gados no seu día por Fernando Barreiros como a cidade de Grou en SantoAndré, Castrelos en Vilar de Perdices ou os de Coto e Castro en Cambezes(Taboada Chivite 1955: 73). Doutra volta, o folklore transmontano inza todose cada un dos seus estudos etnográficos, xa sexa sobre as lendas dos castros, oculto ás pedras e mailas encrucilladas, os xogos populares, o Antroido ou a to-

ponimia.Este enfoque transfronteirizo de

Taboada Chivite é froito da decisiónpersoal dun humanista e investigadorirrepetible, mais tamén é froito dunhaépoca e dunha tradición investi-gadora como tentamos de amosar napáxinas precedentes. En todo caso re-sposta a unha vella arela de su-peración de fronteiras artificiais, unanceio que, como Santos Júnior ouTaboada Chivite, tamén compartimos

@s arqueólog@s galegos e portugueses reunidos neste congreso de Montale-gre. Nós tamén somos fillos dunha nova época, sen alfándegas nin pasaportesou salvoconductos, formamos parte doutro sistema de saber-poder académico,avogamos por unha Arqueoloxía que, como prática política que é, tamén elab-ora discursos que lexitiman os intereses do presente. O xornais galegos de hoxeson ben claros ao respecto: “Aposta pola eurorrexión Galicia-Norte de Portu-gal” (portada do Galicia Hoxe, 23 de set.. de 2008), “Galicia y Norte de Por-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 176

Figura 6. visita de campo dos participantes no Colo-quio de Cultura Castreja en Carvalhelhos (outubro de1972) (en García Martínez 2007: 75)

Page 178: Issn 0871 - 4061

tugal afianzan su unión como agrupación pionera” (El Correo Gallego, 23 deset. de 2008). Quizais hoxe, máis ca nunca, fai falla unha Arqueoloxía trans-fronteiriza neste recanto da Penínusla Ibérica.

BibliografíaAcuña Castroviejo, F. 1992. A Obra arqueolóxica de Fermín Bouza-Brey. En Filgueira Valverde, X., GarcíaMartínez, C., Acuña Castroviejo, F. e Enríquez, X. M.: Fermín Bouza Brey (1901-1973). Unha fotobiografía:291-99. Vigo: Edicións Xerais de Galicia.Acuña Castroviejo, F. 1998. As escavaciós galego-portuguesas no mundo castrexo no contexto dos intercam-bios culturais e científicos neste século. Cadernos do Museo Muncipal de Penafiel 2. Homenagem a C. A.Ferreira de Almeida: 29-36. Penafiel.Arias Vilas, F. 1995. Chamoso Lamas e a Arqueoloxía lucense, unha revisión. En Lugo no obxectivo deChamoso Lamas: 39-60. Lugo: Museo Provincial, Deputación de Lugo.Arias Vilas, F. 2007. Xesús Taboada Chivite e o galaico-romano: a lembranza dun home o e dunha intucióncientífica. Boletín Auriense, 37: 99-108.Armada Pita, X. 1999. Unha revisión historiográfica do celtismo galego. En Os Celtas da Europa Atlántica.Actas do 1º Congreso Galego sobre a Cultura Celta (Ferrol, agosto 1997): 229-72. Ferrol: Concello de Fer-rol.Armada Pita, X. 2004. Pericot e a Arqueoloxía galega. Ensaio de aproximación. Gallaecia, 23: 251-77. Sada:Ediciós do Castro.Ayán Vila, X. M. 2006. A citania de Montealegre e a xénese da arqueoloxía galeguista. En Aboal Fernández,R. e Castro Hierro, V. (eds.): O castro de Montealegre (Moaña, Pontevedra): 19-53. Noia: Toxosoutos.Ayán Vila, X. M. 2008. Neixón 1925: a prol da recuperación da memoria histórica da arqueoloxía galega. EnAyán Vila, X. M. (coord.): Os castros de Neixón II: de espazo natural a paisaxe cultural: 17-56. Noia: Tox-osoutos.Bobillo, F. 1981. Nacionalismo Gallego. La Ideología de Vicente Risco. Akal Universitaria, 36. Madrid: Akal.Calo Lourido, F. 2003. Evocación e encadramento cultural de don Xaquín. Boletín Auriense, 33: 9-35.Ourense: Museo Aequeolóxico Provincial.Calo Lourido, F. 2004. A formación teórica de D. Xaquín Lorenzo. Croa, Boletín da Asociación de Amigosdo Museo de Viladonga, 14: 27-39. Viladonga.Castelo Ruano, R.; Cardito Rollán, L.; Panizo Arias, I. y Rodríguez Casanova, I. 1997. Julio Martínez Santa-Olalla. Vinculación y contribución a los organismos e instituciones arqueológicas españolas de postguerra.En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalización del pasado: génesis y desarrollo del marco institu-cional de la Arqueología en España: 573-80. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.Dasairas Valsa, X. 2006. Xesús Taboada Chivite. Arqueólogo, historiador, etnógrafo e ensinante. Vigo: IrIndo.De Juana, J. E Prado, J. (coords.). 2006. Lo que han hecho en Galicia. Violencia política, represión y exilio(1936-1939). Barcelona: Crítica.Díaz-Andreu, M. 1993. Theory and Ideology in Archaeology: Spanish Archaeology Under the Franco Regime.Antiquity, 67: 74-82.Díaz-Andreu, M. 1997. Nación e Internacionalización. La Arqueología en España en las Tres Primeras Dé-cadas del siglo XX. En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalización del pasado: génesis y desarrollo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 177

Page 179: Issn 0871 - 4061

del marco institucional de la Arqueología en España: 403-16. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.Díaz-Andreu, M. 1997a. Prehistoria y Franquismo. En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalizacióndel pasado: génesis y desarrollo del marco institucional de la Arqueología en España: 547-552. Málaga:Universidad de Málaga, CSIC.Díaz Santana, B. 2002. Los celtas en Galicia. Arqueología y política en la creación de la identidad gallega.Noia: Toxosoutos.Fariña Busto, F. e Rodríguez, X. 2004. A propósito dos traballos arqueolóxicos de Don Xaquín Lorenzo. Bo-letín da Real Academiga Galega, 365: 57-91. A Coruña.Fariña Busto, F. e Rodríguez, X. 2004a. Dimensión arqueolóxica de X. Lorenzo. En Xaquín Lorenzo, 1907-1989. Unha fotobiografía: 225-234. Vigo: Xerais.Fernández-Posse, Mª D. 1998. La investigación protohistórica en la Meseta y Galicia. Madrid: Síntesis.Filgueira Valverde, X. 1978. O que foi o Seminario de Estudos Galegos. En VV.AA. Testemuñas e perspec-tivas en homenaxe ao Seminario de Estudos Galegos. Cuadernos do Laboratorio de Formas de Galicia, 5:31-38. Sada: Ediciós do Castro.Filgueira Valverde, X. 1988. La Comisión de Estudios en Galicia. En J. M. Sánchez Ron (Coord.): La juntapara la Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas, 80 años después, 1907-1987. Vol. II: 103-17.Madrid: CSIC.Fonte, A. L. 1974. Etnografía transmontana. Montalegre.García Martínez, C. 1978. Os Estudos Prehistóricos e Etnográficos no Seminario. En VV.AA. Testemuñas eperspectivas en homenaxe ao Seminario de Estudos Galegos. Cadernos do Laboratorio de Formas de Galicia,5: 111-3. Sada: Edición do Castro.García Martínez, C. 2007. Notas arredor de X. Taboada, arqueólogo. Boletín Auriense, 37: 47-76. Ourense.García y Bellido, A. 1941. El castro de Coaña (Asturias) y algunas notas sobre el posible origen de estacultura. Archivo Español de Arqueología, XV: 188-217. Madrid.García y Bellido, A. 1942. El castro de Coaña (Asturias). Nuevas aportaciones. Archivo Español de Arque-ología, XV: 216-44. Madrid.García Rollán, M. 1971. Memoria de la excavación arqueológica de Castromao (Caeliobriga). Archivo Es-pañol de Arqueología, 44: 172-211. Madrid.Gilman, A. 1995. Recent Trends in the Archaeology of Spain. En K. Lillios (Coord.): The Origin of ComplexSocieties in Late Prehistoric Iberia: 1-6. Archaeological Series, 8. International Monographs in Prehistory.Ann Arbor.González Beramendi, J. 1985. Antonio Losada: Tradición e nacionalismo. En Beramendi, J. G. (ed.) 1985.Losada Diéguez. Obra completa: 99-137. Vigo: Xerais.González Beramendi, J. 2000. O ideosistema singular de Vicente Risco. En Beramendi, J. (ed.): Vicente Risco.Teoría do nacionalimo galego: 9-53. Santiago de Compostela: Sotelo Blanco.González Beramendi, J. e Núñez Seixas, X. M. 1995. O nacionalismo galego. Historia de Galicia, 18. Vigo:A Nosa Terra.González García, F. J. 2007. Celtismo e historiografía en Galicia: en busca de los celtas perdidos. En GonzálezGarcía, F. J. (coord.): Los Pueblos de la Galicia Céltica: 9-130. Madrid: Akal.González Pérez, C. 2003. Xaquín Lorenzo Fernández ‘Xocas’ (1907-1989). Noia: Toxosoutos.González Reboredo, X. M. 2007. Nova lectura da obra etnográfica de Don Xesús Taboada Chivite. BoletínAuriense, 37: 279-26. Ourense.Júnior, J. R. dos Santos. 1985. A cultura dos berrôes proto-históricos fundamente radica em Tras-os-Montes.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 178

Page 180: Issn 0871 - 4061

Trabalhos de Antropologia e Etnologia, XXV (fasc. 1): 31-40. Porto.López Cuevillas, F. e Bouza Brey, F. 1929. Os Oestrimnios, os Saefes e a Ofilatría en Galiza. Arquivos doSeminario d´Estudos Galegos, II, Seizón de Prehistoria. Ed. Facsímil 1992. Santiago: Universidade de San-tiago de Compostela, Museo do Pobo Galego e Instituto de Estudios Galegos Padre Sarmiento.López Cuevillas, F. e Lorenzo Fernandez, X. 1986. Castro de Cameixa. Campañas 1944-46.Arqueoloxía/Memorias. Santiago: Xunta de Galicia.López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1946. Una estación galaico-romana en el Outeiro de Baltar. ArchivoEspañol de Arqueología, XIX, nº 63: 117-30. Madrid.López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1953. Noticias sobre da Cidá do Castro. Revista de Guimaraes,LXIII (1-2): 151-7. Guimaraes.López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1955. Un oppidum de la tribu de los Bibalos. Archivo Español deArqueología, XXVIII, nº 91: 67-89. Madrid.López Gómez, F. S. 1999. La sensibilidad arqueológica de D. José María Luengo Martínez y el casro deBaroña. En Luengo y Martínez, J. M.: Excavaciones en el castro céltico de Baroña. A Coruña: DeputaciónProvincial.Luengo y Martínez, J. M. 1954-55. Noticia sobre las excavaciones del Castro de Elviña (La Coruña). Noti-ciario Arqueológico Hispánico, III-IV: 90-101. Madrid.Luengo Martínez, J. Mª. 1971. Excavaciones en el castro céltico de Baroña (La Coruña) (Campañas de 1969-1970). Noticiario Arqueológico Hispánico 16: 245-264.Luengo y Martínez, J. Mª. 1999. Excavaciones en el Castro Céltico de Baroña. A Coruña: Diputación de ACoruña.Marín Suárez, C. 2004. Historiografía de la Edad del Hierro en Asturias. Complutum: 75-97. Madrid: Uni-versidad Complutense.Marín Suárez, C. 2005. Astures y Asturianos. Historiografía de la Edad del Hierro en Asturias. Serie Keltia,27. Noia: Toxosoutos.Martínez Risco, V. 1976. Manual de Historia de Galicia. Vigo: Galaxia. 3ª edición [ed. or. de 1952].Martínez Santa-Olalla, J. 1946. Esquema paletnológico de la Península Hispánica. Madrid: Publicacionesdel Seminario de Historia Primitiva. Madrid (2ª edición).Mato Domínguez, A. 2001. O Seminario de Estudos Galegos na documentación que garda o Instituto PadreSarmiento. Sada: Edicións do Castro, IEGPS, SEG.Mora, G. 2003. El Consejo Superior de Investigaciones Científicas y la Antigüedad. En F. Wulff Alonso yM. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 95-109. Málaga: CEDMA.Mora, G. y Díaz-Andreu, M. (Eds.). 1997. La cristalización del pasado: génesis y desarrollo del marco in-stitucional de la Arqueología en España. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.Pardo de Guevara y Valdés, E. 2005. O Instituto Padre Sarmiento de Estudos Galegos (1944-2004). 60 anosó servicio de Galicia. Santiago: IEGPS (CSIC-XuGa).Prado Fernández, O. 1997. Aportación do Seminario de Estudos Galegos a Arqueoloxía: Unha revisión. IPremio de Investigación l996 “Xesús Ferro Couselo”. Valga: Concello de Valga.Prada Rodríguez, X. 2007. O proceso de depuración administrativa de Xesús Taboada Chivite. Boletín Au-riense, 37: 29-46. Ourense.Rodríguez González, X. 1996. Don Xesús Ferro Couselo: investigación arqueolóxica. Boletín Auriense, XXI:179-189. Ourense.Rodríguez González, X. 2007. D. Xesús Taboada Chivite. Actividade arqueolóxica de campo a través da súa

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 179

Page 181: Issn 0871 - 4061

relación epistolar. Boletín Auriense, 37: 77-98. Ourense.Rodríguez González, X. e Fariña Busto, F. 1986. A Cidá do Castro de San Millán. Memorias de las excava-ciones arqueológicas. Boletín Auriense, XVI: 39-89. Ourense.Ruiz Zapatero, G. 2003. Historiografía y “uso público” de los celtas en la España franquista. En F. WulffAlonso y M. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 217-240. Málaga:CEDMA.Sierra Rodríguez, X. C. e Fernández Cerviño, M. J. 2004. A obra etnográfica de Xaquín Lorenzo. En Álvarez,R. (Cood.): Xaquín Lorenzo Xocas: 13-30. Santiago: USC.Soeiro, T. 2004. Menos mal que nos queda Portugal. Boletín de la Real Academia Galega, 365: 217-34. ACoruña.Taboada Chivite, J. 1944. El castro de Medeiros. Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos de Orense,XIV: 281-8. Ourense. Taboada Chivite, J. 1946. El castro de Florderrey Vello (Villardevós) y sus interesantes hallazgos. Boletíndel Museo Arqueológico Provincial de Orense, II: 37-43. Ourense.Taboada Chivite, J. 1948. Esculturas de verracos en Galicia. Archivo Español de Arqueología, 72: 291-4.Madrid.Taboada Chivite, J. 1949. La cultura de los verracos en el noroeste hispánico. Cuadernos de Estudios Gallegos,IV: 5-26. Santiago.Taboada Chivite, J. 1950. Exploración de los castros de Cabreiroá. Cuadernos de Estudios Gallegos, V: 331-44. Santiago.Taboada Chivite, J. 1955. Carta Arqueológica de la comarca de Verín. En VV.AA.: III Congreso Nacional deArqueología (1953, Galicia): 333-52. Zaragoza: Institución Fernando el Católico, Sección de Arqueología.Taboada Chivite, J. e López Cuevillas, F. 1959. Dos nuevas hachas de bronce encontradas en Galicia. Boletínde la Comisión de Monumentos de Orense, XVIII: 177-81. Ourense.Taboada Chivite, J. 1961. Algunos aspectos de los castros bíbalos. VIº Congreso Nacional de Arqueología(Oviedo, 1959): 95-101. Taboada Chivite, J. 1971. Noticias arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de EstudiosGallegos, XXVI, fasc. 78: 45-63. Santiago.Taboada Chivite, J. 1972. Etnografía galega: Cultura espiritual. Vigo: Galaxia.Taboada Chivite, J. 1973. La romanización del hábitat castreño. Trabalhos de Antropologia e Etnologia,XXII: 237-47. Porto.Taboada Chivite, X. 1973a. Addenda et Corrigenda. En R. Otero Pedrayo (dir.): Historia de Galiza. VolumeIII: 539-651. Buenos Aires: Nós.Taboada Chivite, X. 1973b. Notas necrológicas en recuerdo de cuatro insignes arqueólogos y etnógrafos:García Bellido, Bouza-Brey, pires de Lima, Jorge Días. Boletín Auriense, III: 93-203. Ourense.Taboada Chivite, X. 1975. A vida e a obra de Xesús Ferro Couselo. Boletín Auriense, V: 9-16. Ourense.Taboada Cid, M. 1979. Xesús Taboada Chivite (1906-1976). Gallaecia, 3-4: 9-17. Sada: Ediciós do Castro.Viana, A. 1959-60. Insculturas rupestres do Alto Minho. Boletín de la Comisión de Monuemntos de Ourense,tomo XX: 209-31. Orense.VV.AA. 1955. III Congreso Nacional de Arqueología (Galicia, 1953). Zaragoza: Institución Fernando elCatólico, Sección de Arqueología.Wulff Alonso e M. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 33-73. Málaga:CEDMA.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 180

Page 182: Issn 0871 - 4061

Xusto Rodríguez, M. 2007. Don Xesús Taboada e as ideas da romanización nos xacementos no val do Támega.Boletín Auriense, 37: 163-86. Ourense.

1 Apenas se teñen máis dados da participación de Taboada Chivite na xeira arqueolóxica á terra de Deza, xaque, segundo parece, eses materiais se perderon tralo desmantelamento do SEG (Taboada Cid 1979: 11;García Martínez 2007: 52). No intre de redactar esta comunicación estamos investigando nos fondos aíndanon catalogados do SEG que se conservan no IEGPS, onde existe diverso material disperso e inédito do laborarqueolóxico dos membros do Seminario (Ayán 2008: 44, fig. 19). Por outra banda, referencias ao labor decatalogación de castros da zona de Deza e a Estrada atópanse esparexidas tanto na obra arqueolóxica deCuevillas como na de Taboada Chivite. 2 Membros do stablishment ben situados na política arqueolóxica nesta etapa fascistoide do Novo Estado atéo cambio que acontece entre 1954-5. No III Congreso Nacional de Arquelogía celebrado en Galicia en 1953todos forman parte (agás Luengo) da Comisión Executiva do mesmo (VV.AA. 1955: 11). O Congreso erapresidido, coma sempre, polo Almirante Bastarreche, el hombre que salvó a Pontevedra (op. cit.: 26).3 Para levar a cabo escavacións arqueolóxicas dentro do sistema do Plan Nacional, obsérvase unha obedienciatácita cara ás consignas do novo centralismo que concede os permisos, se ben, por outra banda, vemos queas relacións e contactos personais son fundamentais para captar exiguas subvencións ou o simple interés doComisario General de Excavaciones Martínez Santa-Olalla.

4 Neste contexto as escavacións no castro de Cameixa de Xaquín Lorenzo e López Cuevillas (1986) e as deGarcía Rollán (1971) en Castromao son totalmente ecepcionais polo seu rexistro estratigráfico.5 Sirva de exemplo o propio comentario de Taboada Chivite louvando o quefacer arqueolóxico de X. FerroCouselo: Outra tarefa que precísase salientar é a realizada no ámeto da arqueoloxía prehistórica: Baixo asúa dirección e da do seu querido amigo Xaquín Lorenzo realizáronse escavacións prehistoricas coa máisestricta metodización en técnica no Castromao e noutros xacementos de Galicia (Taboada Chivite 1975: 13).6 O voluntarismo transfronteirizo nun intre no que non existe a Arqueoloxía académica entre eruditos minhotose galegos exemplifícase moi ben na seguinte cita de Abel Viana (1959-60: 209): Os nove anos decorridosentre 1922 e 1931, em que residi nas freguesias de Seixas e Lanhelas, na margen do rio Minho, tendo emfrente extenso panorama da Galiza, foram decisivos na delibraçao por mim tomada, quanto a dedicarmeparticularmente aos estudos arqueológicos. O meu contacto com o reducidísimo e pouco comunicativonúmero de arqueólogos portugueses era escasso. Entregue a un puro autodidatismo, só as minhas relativa-mente frecuentes relaçoes epistolares e a troca de artigos impresos com Hugo Obermaier, o Conde de laVega del Sella, juan Cabré, jesús Carballo e, sobretudo, com investigadores galegos, juan DomínguezFontela, Fermín Bouza Brey, Manuel Fernández Costas, Federico Maciñeira Pardo de Lama, joaquínLorenzo-Fernández, Pérez de Barradas e Florentino Cuevillas, prestaram o indirecto apoio científico ásfebrís jornadas que entâo eu realizava por montes e vales do Alto Minho [...] Foi, por tanto a estes prestimosose notáveis obreiros da arqueologia española que devi, e durante longo tempo, as primeiras substanciosasinformaçoes sobre a arqueologia peninsular e tambén os primeiros incentivos sinceros, fraternos, úteis, ver-dadeiramente operantes. En 1929, Cuevillas, ao oferecer-me un ejemplar de ‘Os Oemstrimnios, Os Saefes ea Ofiolatría na Galiza’, con várias notas marginais, do seu punho, dirixiu-me calorosa exortaçâo para queeu proseguisse em tal ramo de investigaçôes.7 Na área minhota, en 1919, investigadores vencellados á Universidade de Porto fundan a revista Trabalhosde Antropologia e Etnologia, introducindo por primeira vez nos seus estudios a representación cartográfica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 181

Page 183: Issn 0871 - 4061

de achados e estacións. Investigadores lusos como Mendes Correia (Os Povos Primitivos da Lusitania, 1924)e Rui de Serpa Pinto abordan o estudo dos pobos protohistóricos peninsulares integrándoos no ámbito penin-sular e europeo. Estes traballos de comezos dos anos 20 conlevarán la definición da Cultura Norte dos castrose a súa caracterización no ámbito da 2ª Idade do Ferro da Península Ibérica, plantexamentos retomados porCuevillas e transmitidos aos membros do SEG.8 Formado en Filoloxía Xermánica na Universidade de Coimbra, leitor en Alemania (1938-1944), doutorandoen Munich e que disfrutaría una estancia de lectorado en Santiago de Compostela (1944-1946) e Madrid(1946-47) (Taboada Chivite 1973b: 201-3; Soeiro 2004: 223)9 [...] pro Cuevillas remanece vivo nos eidos da discipliña prehistórica, onde fica en pé canto il escrebeu, eainda fiuzan e corroboran súas tesis, as modernas investigacións e as recentes descobertas (Taboada Chivite1968: 314).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 182

Page 184: Issn 0871 - 4061

Geo-histoRioGRAFiA do PRoGRAMA de investiGAçãoARQueolóGicA de sAntos JúnioR – o cAstRo de cARvAlhelhosGEO-HISTORIOGRAPHY OF THE ARCHAEOLOGICAL INVESTIGATIONPROGRAM OF SANTOS júNIOR – THE CARVALHELHOS HILLFORT

Resumo: Neste artigo iremos proceder a uma caracterização geo-historiográfica do pro-grama de investigação de J. R. Santos Júnior, especialmente no contexto da ‘Cultura Castreja’,segundo quatro níveis estruturais: i) o ‘passado do lugar’, no qual se explicitará a ordem empíricade constituição dos ‘factos’ relativos ao Passado da região; ii) a ‘regionalização teórica’, quepermitirá revelar a ordenação regional da teoria de Santos Júnior de acordo com os pontos deapoio empíricos apresentados; iii) a ‘topografia social’, em que se dará conta da estrutuaçãomútua dos lugares de relações sociais e científicas; iv) finalmente, o ‘lugar do Passado’, onde,finalmente, se pretende concluir do papel que uma determinada visão do Passado cumpre naépoca do autor, e na sua psicologia de pesquisa.

Palavras-chave: J. R. Santos Júnior; Geo-historiografia; Trás-os-Montes; Geografia his-tórica; História da Arqueologia.

Abstract: It is the aim of this study to characterize j R Santos júnior’s scientific pro-gramme of research in the context of the so called ‘Cultura Castreja’ [‘castro-culture’, I mil-lennium BC archaeology of the NW of Iberian Peninsula] along four structural levels of analysis:i) the ‘place of the past’, or the empirical evidence of the archaeological remains; ii) ‘theoreticalregionalisation’, or the regional ordering of the previously stated ‘facts’; iii) ‘social topography’,or the spatial ordering of the people and institutions with and within which the author relatesto; iv) finally, the ‘place of the past’, when we shall conclude of the role that the author’s viewsof the Past relates to and resonates his own time and psychology of research.

Keywords: j R Santos júnior; Geohistoriography; Trás-os-Montes (region of Portugal);Historical Geography; History of Archaeology.

Questões introdutóriasPode parecer estranho (e sei que o é para muitos) ver um geógrafo a tratar

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 183

José Ramiro PimentadePartameNtO de GeOGraFia da FaCuLdade de LetraS da uNiverSidade dO

POrtO, uNidade de arQueOLOGia da uNiverSidade dO miNHO;[email protected]

Page 185: Issn 0871 - 4061

de temas de história de Arqueologia; porém, todos os espaços de convivênciateórica entre as várias disciplinas que estudam o social são hoje benvindas eparticipam amplamente das várias inflexões a que a teoria social foi sendo sub-metida nas últimas décadas; uma geografia da Arqueologia pode fazer-se – eeu tenho a intenção de fazê-la – no domínio especial da geografia histórica ecultural da evolução do Pensamento arqueológico: porque se esta evolução temuma história, seguramente deverá ter também uma geografia.

O corpo central deste estudo debruça-se sobre a pesquisa arqueológicade Santos Júnior no castro de Carvalhelhos ao longo de três décadas, e dela seretirarão os diversos elementos necessários a todas as componentes da análisegeo-historiográfica antes referida. Na última parte tentar-se-á levantar algumashipóteses sobre o modo como o trabalho arqueológico de Santos Júnior remetepara o ambiente cultural e social do período histórico a que pertence, comoexemplar de uma proposição que cremos ser geral para as todas as formas deprodução científica e regimes políticos – a indissolubilidade das margens po-lítica e intelectual dos programas de pesquisa científica.

Nestas ‘questões introdutórias’ dedicarei algumas linhas a explicitar ummodelo de análise histórico-geográfica da produção do conhecimento científico(que desenvolvi para o meu próprio programa de doutoramento e a que chamei‘geo-historiografia’ quando se dirige à produção científica no âmbito das ciên-cias históricas como é o caso da Arqueologia) que toma em consideração nãoapenas a época em que um determinado saber se desenvolve mas também oslugares e territorialidades que a ele estão associados. São quatro as instânciasque podemos considerar na historicidade e geograficidade de um programa depesquisa científica, e que tomam uma expressão determinada no domínio dageografia histórica do Pensamento arqueológico: i) o ‘passado do lugar’ recolhetoda a vasta convocação de lugares que dizem respeito a uma obra ou conjuntode obras de interpretação arqueológica; ii) a ‘regionalização teórica’ diz res-peito à produção mais interpretativa e abstracta que é feita a partir do conjuntodos lugares enunciados em i) de modo a alocá-los diferencialmente a reapre-sentá-los sob a forma de conjuntos que estabelecem relações de identificaçãoe exclusão; iii) a ‘topografia social’ diz respeito à rede histórico-geográfica dosautores e instituições que submetem e caucionam um determinado programade pesquisa, o que é dizer, uma determinada interpretação do passado; final-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 184

Page 186: Issn 0871 - 4061

mente, iv) entende-se por ‘cronotope’ ou ‘lugar do passado’ a específica funçãocultural, social, económica, ideológica que essa mesma determinada interpre-tação do passado ocupa e cumpre na estrutura social mais vasta a que pertence,seja ela ‘situacionista’, a favor da perpetuação da estrutura de poder dominante,seja ‘oposicionista’, tendo em vista a sua destituição.

Como princípio geral do nosso próprio programa de investigação da geo-grafia histórica da Ciência, podemos afirmar que qualquer programa de inves-tigação possui uma ‘pegada histórica e geográfica’ que o caracteriza e pela qualpodemos começar a aceder à sua estruturação mais funda.

No caso da Arqueologia este tipo de convocação de lugares do ‘passado’costuma apresentar um aspecto muito específico e quase invariante: a implan-tação num mapa do conjunto dos ‘materiais’ que supostamente descrevem ouexprimem uma ‘cultura arqueológica’. A aparente inocência de uma distribui-ção assim expressa não deve fazer com que deixemos de tomar em considera-ção o carácter fortemente ‘artificial’ de um ‘constructo’ desta natureza – defacto nada há de ‘natural’ nesta organização geográfica dos materiais do pas-sado e com mais ou menos facilidade se podem identificar a técnica e a política(e a poética) de tais recolhas e assim facilmente reconhecer o seu carácter cir-cunstancial e motivado.

O arranjo dos materiais arqueológicos numa expressão ‘cartográfica’ deescalas variadas não constitui o fim dos programas de investigação em Arqueo-logia; de facto, nem mesmo as versões mais materialistas e empiricistas se dei-xam ficar por esta fase de investigação – e têm boas razões epistemológicaspara o não fazer, como se dirá mais à frente. O passo seguinte que invariavel-mente caracteriza a maior parte dos programas de pesquisa arqueológicos con-siste em subsumir o conjunto discreto de pontos que caracteriza o conjunto dosmateriais em ‘áreas’ culturais que os hierarquizam e relacionam a um nívelmais abstracto. Este é um passo epistemológico da maior importância porquenele incidem geografias ‘sociais’ e ‘culturais’ de que os autores podem nemsequer ter uma noção completa.

A alocação teórica da implantação espacial dos materiais em expressivas‘áreas’ culturais é inevitavelmente intermediada por uma geografia profunda-mente estruturada das relações sociais, a que chamamos ‘topografia social’.Não é sem consequências para a produção científica, cremos nós, a rede espa-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 185

Page 187: Issn 0871 - 4061

cial e regional dos autores e instituições relacionados com um determinadoprograma de pesquisa científico: as nações de origem e os lugares de reuniãodos investigadores; os lugares concretos de conservação, apresentação e trans-missão das suas generalizações simbólicas e expressões concretas, os museus,as universidades, as sociedades científicas, enfim todos os lugares de ‘produçãode ciência’ exibem-se concertadamente numa rede mais vasta que os organiza- esta topografia social repercute-se tanto no momento aparentemente mais‘neutro’ da recolha dos materiais arqueológicos, como, naturalmente, no daelaboração teórica das interpretações de maior abrangência.

O processo de ‘regionalização’ científica, suportado pela ‘evidência’ daorganização espacial dos materiais e pela mais ou menos ‘subterrânea’ estru-turação da ‘topografia social’ é justamente a principal instância em que se ex-prime a ‘geografia’ epistemológica dos programas de pesquisa e que remetenecessariamente para a geografia complexa das relações com o presente dosautores e das instituições. Deste modo, uma investigação cuidadosa de qualquerprograma de investigação arqueológica deverá sempre aproximar criticamenteos limites espaciais desenhados nas culturas do passado com as fronteiras, ób-vias ou menos óbvias, que estruturam o presente dos investigadores e das ins-tituições que os suportam.

É por todas estas razões que antes dizíamos serem boas as razões episte-mológicas que recusam às versões materialistas e empiricistas o pressuposto,que eventualmente defendem, de que a simples implantação dos materiais per-mite que eles ‘falem por si’.

Este estudo diz directamente respeito ao programa de investigação ar-queológica de Santos Júnior. Para acedermos à estruturação complexa de todasas instâncias histórico-geográficas presentes na epistemologia daquele inves-tigador, optámos por escolher a parte da sua bibliografia científica que se centrano castro de Carvalhelhos; claro está que é uma versão estrita do pensamentoarqueológico do investigador que só encontrará plena expressão quando o restoda sua obra científica for contemplada em estudos de natureza e propósito se-melhantes. O que faremos será afinal identificar neste caso concreto as mesmasinstâncias que antes caracterizamos de uma forma genérica para qualquer pro-grama de investigação científica e, especialmente, de investigação arqueológica- o ‘passado do lugar’, a ‘regionalização teórica’, a ‘topografia social’ e o ‘lugar

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 186

Page 188: Issn 0871 - 4061

do passado’; para mais tarde se deixará a inserção deste programa de pesquisano contexto mais vasto da época do autor, e especialmente as carcatrísticas quemais nitidamente o ligam aos fundamentos do Estado Novo, especialmente dasua fase final.

A figura 1 designa todos os lugares convocados por Santos Júnior aolongo das suas obras que dizem directamente respeito ao seu programa de in-vestigação arqueológica centrado no castro de Carvalhelhos. Como se podefacilmente constatar estes distribuem-se maioritariamente pelo Norte de Por-tugal, mais especialmente o Nordeste transmontano, havendo contudo algunslugares fora daquelas áreas. De fora do espaço português, apenas algumasvagas referências a lugares da Itália (sem especial importância, prendem-secom o problema da origem de materiais romanos de Carvalhelhos) e duas re-ferências no Sul de África: estas são‘geo-historiograficamente’ mais im-portantes, porque, apesar de não di-zerem directamente respeito à‘espessura material’ do programa deinvestigação, fazem-nos alertar paraas ligações entre a Arqueologia e aEtnografia colonial, ligações que,como veremos mais tarde, não sãosem significado.

A figura 2 consiste no mapa dos‘materiais’ que se recolhem dos textossobre o programa de investigação ar-queológica de Carvalhelhos. São,maioritariamente, lugares em que sereconheceram estruturas ou recolhe-ram materiais semelhantes àqueles quese foram reconhecendo também no castro referido. São por isso de especial impr-tância para a caracterização contextual da ‘cultura’ arqueológica, pelas relaçõesregionais que aparentemente desenham. É especialmente importante a distribuição‘transmontana’ do conjunto destes lugares, embora não seja sem significado a suaparte ocidental, sobretudo o conjunto Sanfins-Briteiros-Sabroso.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 187

Figura 1. A ‘convocação geo-historiográfica’ de Car-valhelhos

Page 189: Issn 0871 - 4061

Já antes nos referimos ao momento de ‘aloca-ção’ teórica do conjunto discreto dos lugares de ‘ma-teriais’ em agrupamentos de escala mais ou menosvariada e em diversos graus de articulação, i.e., a ‘re-gionalização teórica’ (figura 3). No caso do programade Santos Júnior em Carvalhelhos, esta operação teó-rica tem uma expressão bem nítida. São de dois tipos,de duas escalas, as ‘áreas culturais’ que vemos seremdelineadas na interpretação ‘geográfica’ do passadopor Santos Júnior: i) por um lado, e a uma escalamais abrangente, a caracterização de uma supostarealidade ‘étnica’ do passado, fixada ao ‘fundo-de-mapa’ sobretudo pelos lugares antes referidos de Bri-teiros-Sabroso-Sanfins. São os ‘Lusitanos’, realidadepartilhada pela Galiza e pelo Norte de Portugal, masque em nenhum lugar é problematizado sem que sejaautomaticamente identificada com as ruínas dos po-voados fortificados do Noroeste. ii) Por outro lado, ea uma escala regional infra-’lusitana’ (para usar da

nomenclatura de Santos Júnior), a especificidade queCarvalhelhos partilha com os castros a que o autorchama significativamente ‘transmontanos’ (nome quede resto ainda se mantém na actualidade), e que lhepermite delinear uma área de influência sub-regional,de que Carvalhelhos é um dos limites, o ocidental.

Para que a operação prévia de ‘regionalizaçãoteórica’ se compreenda inteiramente, não podemosdeixar de tomar em consideração a topografia socialque lhe anda associado e de que aquela é expressão(figura 4). Os lugares que se representam neste mapasão aqueles em que pudemos recolher referências ex-plícitas a lugares de instituições ou investigadores,isto é, as ‘pessoas’ concretamente convocadas para aimplementação deste programa de investigação. Não

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 188

Figuras 2 e 3. O ‘passado dolugar’ e a ‘regionalização teó-rica’ de Carvalhelhos

Page 190: Issn 0871 - 4061

cabe aqui pormenorizar em demasia todas as situa-ções recolhidas; porém, não pode deixar de apresen-tar-se três linhas de estruturação social que muitocontribuem para o produto final da investigação cien-tífica: i) em primeiro lugar, a Universidade; são bas-tantes as referências directas aos ‘colegas’ e‘assistentes’ que vão contribuindo, dentro de cadauma das suas áreas de especialidade, para a interpre-tação cumulativa dos enigmas de Carvalhelhos; ii) de-pois, a referência quase omnipresente à SociedadePortuguesa de Antropologia e Etnologia ou às insti-tuições associadas que com nomes diversos vãoacompanhando a produção de Santos Júnior. Trata-se,como é bom de ver, de uma estruturação funda,‘local’, portuense, da realidade social e cultural queanima as instituições e os investigadores de um certotempo e de um certo modo de fazer ciência e culturaque a cidade do Porto, ou parte importante dela, exer-ceu ao longo do período do Estado Novo, e que con-tou com importantes apoios por parte de diversasfaculdades da sua Universidade; iii) tendo a dar alguma importância a uma re-ferência velada que surge num dos escritos de Santos Júnior em que este in-vestigador alude à qualidade de algumas escavações em castros análogos aCarvalhelhos, e dá como exemplo Briteiros e Sanfins - trata-se afinal dos lu-gares de trabalho de Mário Cardoso e Afonso do Paço, personalidades cujosprogramas de investigação arqueológica têm bastantes traços em comum como do próprio Santos Júnior e são, quando considerados em conjunto, exemplosreplicados de um certo modo de fazer ciência e Arqueologia no Portugal deuma época.

Como já antes referimos, a ‘regionalização’ científica depende da orga-nização espacial dos materiais e da estruturação da ‘topografia social’. Nestecaso, atrevemo-nos a dizer que a organização teórica que Santos Júnior delineacom as suas regiões ‘lusitana’ e ‘transmontana’ é afinal a expressão de duaspreocupações metaparadigmáticas que estão presentes no seu espírito, e às

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 189

Figuras 4 e 5. A ‘topografiasocial’ e o ‘lugar do passado’de Carvalhelhos

Page 191: Issn 0871 - 4061

quais atribui, no contexto da sua própria mundividên-cia, o carácter de causalidades mais importantes nafundamentação da actividade humana e da sua evolu-ção: a ‘raça’ e o ‘meio’ (figura 5). Neste contexto, os‘Lusitanos’ e os ‘castros transmontanos’ são já maisdo que apenas expressões de ‘culturas’ ou ‘sub-cultu-ras arqueológicas’. São necessariamente a expressão- os ‘Lusitanos’ - de uma raça homogénea, caracteri-zada arqueologicamente, historicamente, pelos ‘cas-tros’; e são em especial - os ‘castros transmontanos’ -a expressão ‘ecológica’ da adaptação da raça a um‘meio’, a um ambiente natural específico em que elatambém se encontra.

comentários conclusivosHavíamos dito que na conclusão tentaríamos inserir a organização histó-

rico-geográfica do programa de investigação de Santos Júnior no contexto maisvasto da época a que pertenceu, e a natureza específica dessa relação. Três ins-tâncias são, creio eu, suficientes para a caracterizar, ainda que suspensas deposteriores adições ou revisões que a análise crítica da obra do investigador,ou da sua biografia, possam acessoriamente revelar. O Tempo é a essência dasciências históricas e portanto também da Arqueologia. O modo como os in-vestigadores têm acesso à sua problematização e o modo como a inserem nasua produção teórica é pois fundamental para a compreensão dos seus progra-mas de investigação. Na época e no lugar deste investigador em concreto, oTempo significa Evolução - será por isso ao redor desta equivalência, que queiremos delinear as três instâncias referidas, especificamente ‘belicismo’, ‘la-marckismo’, ‘totalitarismo’.

A ‘valentia’ é uma qualidade nunca suficientemente valorizada por umcerto tipo de mundividência de fundo naturalista e que conheceu desenvolvi-mentos extremados com a ‘Leibeskultur’ alemã das décadas que antecederama Segunda Guerra Mundial, e que conheceu desenvolvimentos semelhantes emPortugal pela mesma época. A possibilidade de estarmos em presença de umatradução mais ou menos directa do contexto belicista da propaganda de um re-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 190

Page 192: Issn 0871 - 4061

gime político e a adequação à sua expressão no interior de um programa de in-vestigação arqueológica poderá ver-se, talvez, na extensão e natureza das pro-postas de interpretação que o investigador de Carvalhelhos faz sobre as rampasde acesso que identifica naquele castro.

Com os notáveis estudos nela [‘Portugalia’] publicados, mostrou-se queas raízes da nacionalidade portuguesa se inserem nos castros e citânias ondeos nossos avoengos lusitanos hauriram a seiva das qualidades de valentia, co-rajosamente postas frente ao conquistador romano.i

A selecção natural, tal como Darwin a enunciou para a Natureza, implicaa transformação prévia das características ‘internas’ (ao tempo ainda não se cha-mavam, como mais tarde, - ‘genéticas’) da espécie e a sua posterior eficácia noambiente em que se dava, resultando por isso numa maior capacidade de so-brevivência e reprodução. Quando a metáfora naturalista é importada para aciência da Sociedade, aquele elemento específico da ‘transformação prévia’ foivoluntária ou involuntariamente menosprezado, vendo-se por isso com relativafrequência a defesa de teses ‘evolucionistas sociais’ que defendiam a possibili-dade de o ‘ambiente’ produzir directamente transformações somáticas nos in-divíduos e serem estas herdadas pelos seus descendentes: este elemento da teoriaevolucionista, retrógrado em relação à própria exposição de Darwin, é quetomou o nome de lamarckismo ou, para o diferenciar do seu original, neo-la-marckismo. Podemos ver como um elemento metaparadigmático fortementepresente no programa de investigação de Santos Júnior: a ‘raça’ (dos ‘Lusita-nos’, dos ‘Portugueses’, etc.) é não apenas a sedimentação do peso formidáveldos séculos através do meio ambiente, mas também e, arriscamo-nos a dizer,principalmente, a ‘educação’ social no intervalo de umas poucas gerações:

É claro que o facto inicialmente biológico, ou orgânico, que resulta domodo como a matéria viva do homem reage e se adapta às influências do meioambiente físico, pode transformar-se num facto histórico, tradicional, desdeque seja transmitido pelo exemplo, pelo ensino, e repetido pelo agregado social.Isto pode estar, e seguramente estará, na base de muitos aspectos da evoluçãohumana, e pode ser razão de hereditariedade de certos caracteres adquiridos.Herança pelo exemplo, pelo convívio, pela educação.ii

O ‘lugar do passado’ em Santos Júnior não é pois muito diferente do‘lugar da ciência’ num regime político totalitário. A ambos os anima uma con-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 191

Page 193: Issn 0871 - 4061

cepção da finitude, da totalidade, da desconfiança do vazio. A expressão maiscaracterística de um ‘lugar de ciência’ assim concebido é um ‘laboratório’, umlugar não de ‘experiência’ da Natureza, mas da sua ‘experimentação’, i.e., emque as perguntas que se levantam têm já os limites precisos das respostas an-tecipadas. É em suma, o lugar em que a uma ciência ‘descritiva’ da evoluçãonatural muitas vezes sucede uma ‘ciência’ prescritiva da ‘evolução’ social:

A Antropologia estuda o homem na sua morfologia externa (Somatolo-gia), na estruturação interna (Anatomia Humana, Esplancnologia), nas suascapacidades de ordem superior e intelectual (Filosofia, Psicologia Humana),nos problemas da origem do homem e da sua evolução (Paletnologia ou Pa-leontologia Humana), no estudo das civilizações (História, Política, Antropo-logia Social, Sociologia), nas suas múltiplas capacidades de expressão e decomunicação (Linguística), nos múltiplos problemas ligados às necessidadesvitais imediatas, comida, abrigo, propagação da espécie (Etnográfica ou An-tropologia Cultural, Económica e Política), nos problemas de ordem superiorque se ligam não só à origem e evolução da vida humana (Embriologia, Here-ditariedade, Genética), mas também ao problema transcendente e aguilhoantede além-da-vida, do postmortem (Religiões, Teologia).iii

Volto ao princípio, ao mapa com que se iniciou esta apresentação. Agora,uma vez efectuada a viagem epistemológica que se propôs, talvez ele já nosapareça aos nossos olhos de uma outra maneira, e expresse de que modo umprograma de investigação arqueológica é sempre uma convocação geográficade lugares com sentidos e fundamentos diversificados. E desejo que seja, acimade tudo, uma ilustração suficientemente capaz de demonstrar que o encontrotransdicisplinar fecundo entre a Arqueologia e a Geografia tem lugar na inves-tigação, e de que a história da Ciência e do Conhecimento – e assim tambémdo Pensamento arqueológico – fica fatalmente incompleta sem a sua corres-pondente geografia.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 192

Page 194: Issn 0871 - 4061

Agradecimentos: Gostaria de agradecer ao Dr. João Fonte o convite paraestar presente no ‘Congresso Transfronteiriço de Arqueologia’; também relem-brar o cumprimento que na altura dirigi ao co-orador da sessão, Alfredo Gon-zález Ruibal, cuja obra constitui uma impressiva marca na historiografia daArqueologia do I milénio do Noroeste da Península Ibérica, e cuja leitura re-presentou para mim um momento inesquecível da minha pesquisa com vistaao meu próprio doutoramento; finalmente agradecer às pessoas que estiverampresentes que espero tenham tido o mesmo gosto em ouvir as minhas ideiasquanto eu tive em apresentá-las.

i J. R. Santos Jr. (1969). ‘O Professor Mendes Correia, fundador e 2.º presidente da Sociedade Portuguesade Antropologia e Etnologia’.ii J. R. Santos Jr. (1971) Antropologia (amplitude e finalidade desta ciência).iii J. R. Santos Jr. (1971) Antropologia (amplitude e finalidade desta ciência).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 193

Page 195: Issn 0871 - 4061
Page 196: Issn 0871 - 4061

lA ocuPAción del esPAcio coMún y PRivAdo en lA citA-niA de sAn ciBRAn de lásOCCUPATION OF THE COMMON AND PRIVATE SPACE IN THE CITANIAOF SAN CIBRÁN OF LÁS

Resumen: El asentamiento de San Cibrán de Lás está vinculado al fenómeno localizado en el

Sur de Galicia y Norte de Portugal que genera una serie de castros de grandes dimensiones definidos

como citanias. Su morfología refleja la existencia de un nuevo modelo de ocupación del territorio cas-

treño en este espacio geográfico concreto enmarcado en una cronología que ubica el final de la ocu-

pación entre el siglo I-II d.C., y la fundación del poblado en un momento más antiguo, en torno al

siglo II a.C. Su construcción es consecuencia del movimiento de una gran cantidad de población que

se instala en este territorio seguramente como respuesta a la presión de la conquista romana en zonas

próximas del Sur de Galicia, situación que provoca los movimientos de población en este periodo.

En el yacimiento de San Cibrán de Lás se ha concentrado una comunidad de alrededor de 4.000

personas según las estimaciones realizadas en base al número de viviendas, lo que se traduce necesa-

riamente en la existencia de un mecanismo social que organiza y permite funcionar un grupo de per-

sonas de esta magnitud. Las nuevas intervenciones han permitido documentar, nuevas claves para la

interpretación de las construcciones y de los espacios públicos y privados. El análisis de todos los nue-

vos datos es de gran complejidad por lo que nos centramos principalmente en este breve estudio en la

morfología de los recintos que configuran el poblado castreño, en especial el recinto superior o croa y

su significado social.

Palabras clave: Cultura castreña, citania, croa, recintos, cambio de era, espacio público, lugar

social.

Abstract: The settlement of San Cibrán de Lás is link to the phenomenon located in southern

Galicia and northern Portugal that generates a series of large hillforts defined as citanias. Morphology

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 195

Yolanda Álvarez GonzálezLuís Francisco López González

Miguel Ángel López Marcosterra arQueOS SL; [email protected]

Page 197: Issn 0871 - 4061

reflects the existence of a new model of territorial occupation in this particular geographic area framed

by a chronology which places the end of occupation between the I-II century AD, and the founding of

the settlement at a time older in around the II century BC. Its construction is a consequence of the

movement of large numbers of people who settled in this land certainly as a response to pressure from

the Roman conquest in the surrounding areas of southern Galicia, which leads to population move-

ments in this period.

At the site of San Cibrán de Lás has focused a community of about 4,000 people according to

estimates based on the number of dwellings, which will necessarily translate into the existence of a

social mechanism that allows to organize and operate a group of people of this magnitude. Interven-

tions have enabled new data, new keys for the interpretation of buildings and public and private spaces.

The analysis of all new data is very complex and therefore we focus mainly on this short study on the

morphology of the precincts that make up the hillfort, especially the upper enclosure or croa and its

social significance.

Keywords: Castro culture, Citania, Croa, enclosures, changing era, public space, social place.

1. introducciónEl Castro de San Cibrán de Lás se sitúa al Sur de la provincia de Orense

y es un referente histórico para la etapa final de la cultura castreña en el Nor-oeste peninsular. El poblado estuvo ocupado desde el siglo II a.C. hasta el I-IId.C. En este contexto, en la zona meridional de Galicia y en el norte de Por-tugal aparece un fenómeno excepcional: la concentración de la población engrandes asentamientos o citanias como la de San Cibrán de Lás. Se trata de unyacimiento arqueológico que ha sido objeto de investigaciones desde los años20, y pese a ciertos intervalos de abandono, se han retomado los trabajos hastadesembocar en las recientes intervenciones de principios del presente siglo.

Las investigaciones realizadas llevaron a cabo la exploración de los puntosmás significativos del poblado, lo que supuso el conocimiento de las dimensio-nes y la morfología básica de la ciudad, como son la extensión y las caracterís-ticas principales de los sistemas defensivos, puertas, murallas, accesos, etc.

Desde el año 2000, se han reanudado los trabajos en una nueva fase deintervención promovida por la Consellería de Cultura de la Xunta de Galicia,que pretende la recuperación de los restos del yacimiento para su visita, obje-tivo que ha requerido la realización de nuevas excavaciones así como la con-solidación y estabilización de estructuras y el acondicionamiento de espacios.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 196

Page 198: Issn 0871 - 4061

2. la morfología del poblado de san cibrán de lásUna de las características particulares de San Cibrán de Lás es su gran

tamaño, superior a los valores máximos de superficie que tienen los castrosmás grandes de la Edad del Hierro no considerados citanias u oppidas. Sin em-bargo su gran superficie, se conjuga en este caso con un dato extraído de lasrecientes excavaciones arqueológicas, que le da un matiz a este dato. Nos re-ferimos al hecho de que el poblado se concibe desde su origen con las mismasdimensiones que presenta actualmente. Se construye desde un primer mo-mento con su estructura básica y espacios perfectamente definidos. Tenemospor tanto un poblado que tiene una superficie que ocupa tres o cuatro vecesmás espacio que un castro o comunidad castreña habitual1, y además ha sidoconcebido ya desde su fundación como un lugar de ocupación común.

Este hecho descarta la posibilidad de un crecimiento paulatino del poblado yconfirma el desplazamiento de una gran cantidad de población a este punto en unmismo momento. Es lícito suponer una relación de este desplazamiento con la pre-sión de la presencia dominadora romana existente desde finales del siglo II a.C.(pensemos por ejemplo, que en esta época Q. Servilio Cepión, gobernador de laUlterior, se dirigió en el 140 a.C. contra los galaicos y posteriormente Junio Bruto).Una circunstancia que podría apoyar esta hipótesis es que en el poblado de SanCibrán de Lás los sistemas defensivosestán muy desarrollados lo cual seríaun reflejo del temor de esta comunidada posibles enfrentamientos bélicos.

Volviendo a las característicasmorfológicas del poblado, además desus grandes dimensiones, destaca laexistencia de un gran recinto superioramurallado que ocupa la parte centraldel castro. La superficie total del re-cinto central o “croa” es de casi 1Ha.(unos 9.000 metros cuadrados) queen comparación con otros espacioscastreños representa la superficie queocupa un castro de pequeño tamaño.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 197

Figura 1. Vista aérea del Castro de San Cibrán de Lásen la que se distinguen los dos recintos concéntricos(2004)

Page 199: Issn 0871 - 4061

En torno a la croa existe una ronda exterior que aisla ésta de la zona deviviendas que se desarrolla alrededor. Tanto la muralla que rodea la croa comola ronda exterior tienen un propósito claro de proteger, defender y definir esteespacio superior, dentro del cual no se construyeron viviendas (según se de-ducía en antiguas campañas y se ha confirmado en las recientes excavaciones).

Respecto a la disposición de los dos recintos del castro de San Cibrán deLás, tanto el superior, como el dedicado a vivienda, es casi concéntrica, va-riando la longitud de sus ejes desde la croa. La ladera de la parte Oeste es demenor longitud que la Este, esto se debe a que la muralla del recinto interior(M1) en la parte Oeste se levanta aprovechando un afloramiento rocoso queatraviesa en sentido Norte-Sur el cerro. Sobre esta “cresta rocosa”, se construyela muralla de la croa, realzando la elevación de esta muralla en este lado Oestedel castro. Unido a este hecho acontece que la muralla (M2) que rodea el re-cinto exterior, se construye dejando el aljibe al interior de la misma, de modoque la banda ocupada de la ladera por este sector es menor.

La mayor anchura del recinto exterior se sitúa en el lado Sur hacia dondela superficie habitable se ensancha aprovechando la topografía más suave yllana en este sector. Esta circunstancia a su vez provoca que se proteja con unadoble muralla, construyendo en la línea más exterior una estructura desarrolladaen altura (cuyo zócalo fue excavado en el año 2005) a modo de torre o atalaya.Esta estructura, que no se ha conservado, permitía aumentar la visibilidad en lazona Sur más igualada topográficamente con el territorio del entorno.

3. el recinto interior o “croa”Es de especial interés la construcción del recinto central llamado “croa”,

puesto que no es un elemento foráneo, sino que en las descripciones morfológicasde los recintos castreños, es habitual una mención a los recintos centrales llamados“croas”, lo que lo convierte en elemento tradicional en la bibliografía de la Edaddel Hierro en Galicia. El problema aparece cuando queremos obtener algún datoque pueda ayudarnos a identificar estos recintos y también su funcionalidad.

La mayoría de las superficies definidas como “croas” que están documen-tadas, hacen referencia a distintos tipos de espacios. En los poblados castreñosen muchas ocasiones, existen plataformas superiores que configuran parte dela superficie habitable y que se distinguen en las descripciones como recintos

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 198

Page 200: Issn 0871 - 4061

internos centrales. Estas, en muchos casos están condicionadas por la morfo-logía del terreno, habitualmente en pendiente. En realidad se trata de espaciosque conforman un recinto superior al que se adosan espacios aterrazados entorno al mismo, con el objeto de conseguir superficie horizontal habitable.Estos casos no conforman realmente un recinto similar morfológicamente alde San Cibrán de Lás sino que son plataformas independientes pero yuxtapues-tas con un objetivo constructivo común: conseguir una superficie con mejorescondiciones de habitabilidad a partir de muros de contención o murallas.

Sin embargo, contamos con algún ejemplo de poblado castreño que presentaun recinto superior con algunas características muy similares al recinto centralde San Cibrán de Lás. Nos referimos al poblado castreño de O Castelo, situadoen Laias, a unos escasos 2 Km. en línea recta de San Cibrán de Lás. Para el aná-lisis de este elemento concreto contamos con los datos extraídos de la excavaciónrealizada en 1997, durante las obras de la Autovía Rias Baixas 2.

El yacimiento de O Castelo se sitúa en un cerro rocoso sobre la margenderecha del río Miño y estuvo ocupado durante toda la Edad de Hierro, hastaque entorno al cambio de era, se abandonan las viviendas de la parte superiordel cerro para ocupar las márgenes del río, a menor cota, en donde se registrannumerosos restos de esta ocupación ya con características romanas

La excavación del recinto superior amurallado del yacimiento castreñode O Castelo, permitió descubrir que albergaba únicamente zonas destinadasa la instalación de pequeños graneros o silos conservados en un estado excep-cional gracias a su combustión por causa de incendios sucesivos. El númeroy tamaño de los silos, determinó su carácter unifamiliar. Pudimos documentarincluso, en un sondeo realizado al interior de la muralla, una secuencia de silossuperpuesta, que asociada a fechas proporcionadas por análisis radiocarbóni-cos, permiten datar sucesivas ocupaciones del recinto superior que comienzanen la I Edad del Hierro y continúan hasta la II Edad del Hierro, hasta llegar afechas próximas al cambio de era.

El acceso a este recinto superior amurallado o croa de O Castelo, enLaias, se realizaba por una sola puerta de cara al Sur, hacia donde se extendíaal resto del poblado a lo largo de la ladera. Muy singular es también el hechode encontrarse muy separado de las zonas habitadas con un vacío de viviendas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 199

Page 201: Issn 0871 - 4061

o ronda al exterior de la muralla superior aligual que ocurre en San Cibrán de Lás.

No deja de ser curioso que morfológica-mente las características de este recinto supe-rior de San Cibrán de Lás sean semejantes alas del castro de O Castelo:

- Se trata de un recinto superior amura-llado en torno al cual, se ha planificado unaamplia ronda vacía de viviendas u otras es-tructuras para aislar este espacio del resto del

poblado y permitir defenderlo en caso de necesidad desde el interior o prote-gerlo en caso de incendio.

- Los accesos son mínimos y están protegidos y controlados. En el casode San Cibrán su acceso se realiza por dos puertas (como es lógico pensandoen la disposición del poblado de forma concéntrica), mientras que en Laias seabre una puerta hacia el lado de la ladera hacia donde se extiende el pobladoque funciona ejerciendo control para su acceso. En ambos casos los accesosno permiten el paso de carros pues poseen escalones para acceder a su inte-rior.

Si pensamos en O Castelo de Laias, la “croa” de San Cibrán de Lás senos semeja un espacio similar, y dejando a un lado su funcionalidad, pensamosque lo realmente importante en este caso es la trasposición de un modelo deconstrucción y definición previa de espacios, morfológicamente prerromanoque se puede confirmar para estos dos poblados. Las pequeñas diferencias deforma reflejan su adaptación a un entorno topográfico y a un contexto distinto.No vemos que este elemento del poblado (la croa o recinto superior) reflejeninguna semejanza con otro tipo de modelos foráneos que permitan denomi-narlo acrópolis o asimilarlo a una zona de viviendas privilegiada por su dis-posición como se ha querido sugerir.

Siguiendo con esta hipótesis de trabajo y aunque sea un mero apunte sinuna conexión documentada real, es licito hacer referencia a una característicaconfirmada en algunos poblados castreños prerromanos. En estos es normal laconfiguración del caserío en torno al interior de la muralla, utilizando estacomo eje para ordenar la ocupación, mientras en la parte central del poblado

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 200

Figura 2. Reconstrucción de la muralla yel acceso al recinto superior del castro deO Castelo en Laias (Dibujo: Miguel AngelLópez Marcos)

Page 202: Issn 0871 - 4061

se deja un espacio vacío que lógicamente cumple una función como espaciocomunitario. Es posible pensar en una monumentalización de ese espacio cen-tral que vemos como se articula en poblados castreños más pequeños y que enel caso de San Cibrán de Lás se construye de forma premeditada y que sin dudacumple una función importante para esta comunidad castreña como veremos.

Buscando paralelos morfológicos referentes a espacios similares al recintocentral de San Cibrán de Lás, contamos entre las citanias portuguesas con unejemplo muy similar, que es el recinto central que se dispone en el castro de MonteMozinho. Cronológicamente este poblado tiene un nivel de fundación anterior asu fase de ocupación de época romana, pero sin una datación clara. Tiene un re-cinto superior central, dispuesto de igual forma, al que se accede desde una calleempedrada como en el caso de San Cibrán de Lás. El recinto también se encuentraamurallado, sin embargo en este caso no existe una gran ronda entorno a este re-cinto reduciéndose este espacio a una calle concéntrica empedrada, quizás su as-pecto actual este condicionado por la mayor pervivencia en el tiempo del pobladoy la evolución de su estructura original. Según C.A.F. de Almeida3, se documen-taron en el interior del recinto superior de Monte Mozinho, abundantes fragmentosde TS y ánforas y restos de huesos quemados, por lo que parece que en este es-pacio se celebraron banquetes colectivos, y quizás reuniones públicas.

4. la croa de san cibrán de lasSi analizamos con detalle las características del recinto superior del castro

de San Cibrán de Lás podemos valorar algunos datos muy interesantes. Comohemos comentado anteriormente, el espacio que ocupa este recinto superior hasido generado de forma previa en la concepción del poblado y en su construc-ción. Ocupa una posición privilegiada, fácilmente accesible desde cualquierpunto del poblado y se encuentra protegida y aislada de las viviendas colin-dantes por una amplia ronda de circulación a su exterior (de 13 m de anchura)que se dispone de forma regular.

Los accesos están situados al Este y al Oeste comunicados directamentepor las dos vías principales que parten de los accesos de la muralla exteriorpor dos calles empedradas (las únicas vías empedradas conocidas del pobladohasta el momento), lo que lo convierten en un lugar de importancia para la co-munidad que concibe y construye el poblado. Estos dos accesos cuentan con

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 201

Page 203: Issn 0871 - 4061

tramos de escalera para acceder al in-terior de la croa. En los dos accesosse abren cuerpos de guardia en laspuertas. En el del lado Oeste, sólo seconserva uno de ellos y se encuentrareconstruido de antiguo, por lo queapenas conocemos su estado origi-nal, mientras que los de la parte Estefueron reexcavados en 19834.

La muralla del recinto superiortiene una anchura de casi 3 m., y su construcción es similar a la de la segundamuralla del poblado, si bien está reforzada al exterior con una zarpa o cimen-tación de gran anchura que en la parte Oeste, aparece cimentada con unos blo-ques pétreos de grandes dimensiones colocados formando un muro conparamento helicoidal que revestiría a la croa de un espectacular paramento,muy cuidado en su factura Al interior, la muralla posee varios tramos deescaleras imbricadas en los muros, de igual factura que las realizadas en la mu-ralla exterior. Dado que en el interior del recinto central no existen niveles deocupación habitacionales, los tramos de escaleras servían para acceder a laparte superior de la muralla y controlar visualmente el resto del espacio de po-blado. Existía por tanto una necesidad de amurallar este espacio y controlar elacceso pero esto no excluía el control visual continuo con el resto del pobladoy la circulación a través de la ronda exterior de la muralla hacia los distintossectores de la croa.

El espacio delimitado por la muralla es de casi 1Ha y la superficie interiorbascula hacia el lado Este, sugiriendo una preferencia por el control visualhacia la cuenca del Barbantiño, espacio que controla territorialmente el po-blado. En el interior de la croa, aparecieron algunos construcciones aisladasdurante las campañas de excavación de los años 20 y 50. F. López Cuevillas5

destaca en sus descripciones una de estas estructuras, cuadrangular, excavadaen la zona noroeste, en donde señala la existencia de un vano en la parte inferiordel muro que inmediatamente al exterior estaba asociado a una roca con unencaje labrado a modo de canal por donde se evacuaba algún líquido o agua.A pesar de no poder corroborar estos datos, las estructuras documentadas hasta

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 202

Figura 3. Reconstrucción de la Puerta Oeste de lacroa y la ronda exterior del Castro de San Cibrán deLás (Dibujo: Miguel Angel López Marcos)

Page 204: Issn 0871 - 4061

el momento en la croa han confirmado su carácter aislado y la inexistencia deniveles con ajuares domésticos pues apenas se documentan materiales arqueo-lógicos en su interior. Tampoco aparecen hogares ni otro tipo de elementos in-ternos de uso doméstico.

Las estructuras localizadas en la croa están construidas con muros debuena factura y los pavimentos se conservan gracias a que fueron realizadoscon una gruesa capa de argamasa o tierra apisonada o con enlosados, es decirexistió en su origen un interés en aislar bien su interior. En conexión con estedato hay que resaltar que no conservan entradas, por lo que pudieran encon-trarse éstas a mayor altura (la única abertura se encuentra reconstruida en unade las estructuras antiguas sin mucha precisión por lo que no pensamos quesea un dato muy fiable).

Las características constructivas de estas estructuras hacen pensar en unafuncionalidad asociada a lugares de almacenamiento, aunque en el caso de laconstrucción con el vano en la parte inferior del muro no sería muy adecuadapara este fin, por lo que seguimos teniendo ciertas dudas sobre su uniformi-dad.

Tampoco son muy esclarecedoras las dimensiones de estas dependenciasya que varían, si las comparamos con los pequeños almacenes que aparecenen todos las viviendas del poblado, dos de ellas son de mayor tamaño y otrastres presentan menor superficie. Siguiendo estas reflexiones acerca de la fun-cionalidad de este recinto amurallado, tenemos que destacar la documentaciónen las recientes excavaciones de hallazgos relacionados con dos elementos no-vedosos:

Por un lado la aparición en la campaña del año 2004 de dos elementos deescultura, localizados en el derrumbe del paramento del lado Norte de la cons-trucción situada más al Este. Esta estructura había sido sondeada en su interioren las primeras campañas de los años 20, y posteriormente se realizó tambiénun sondeo en 1983 6. En la campaña del 2004 se amplió el sondeo, documen-tándose entre el derrumbe dos piezas escultóricas que representan dos antro-pomorfos, uno entero y otro fragmentado. Estas representaciones puedenenmarcarse dentro de las estatuas documentadas en otros contextos castreñoscomo la de Vilapedre7 o la del Castro de Elviña8 (que se encontraba empotradaen una pared de un edificio elipsoidal interpretado como un lugar de carácter

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 203

Page 205: Issn 0871 - 4061

sacro), si bien en el caso de San Cibrán de Lás no están claramente definidoslos sexos en las figuras.

En relación con este hallazgo tenemos que destacar la aparición en estaúltima campaña de 2004 de una escultura antropomorfa de bulto redondo. Sedocumentó en la base de un muro, reutilizada como piedra de construcción enel muro de una vivienda del recinto exterior. La escultura posee unos rasgos

muy arcaicos destacando únicamente los elementos dela cara, y los brazos doblados con las manos sobre elvientre. Este mismo esquema se repite en otras escultu-ras, muy escasas, aparecidas en otros castros, como ladel Castro de Sendim, las de Logrosa o la del castro deBriteiros9 que repiten la representación de los senos ylos brazos que se unen en el abdomen y que pueden in-terpretarse como una representación de una deidad fe-menina sin duda relacionada con la fertilidad. Queremosdestacar que se encuentre reutilizada en un muro divi-sorio, ya que este hecho apoya la hipótesis de la exis-tencia de dos momentos de ocupación para el castro deSan Cibrán de Lás, cuestión que se rastrea en numerososelementos del análisis constructivo de las viviendas y

que esta siendo objeto de un estudio pormenorizado aún sin concluir. Otro dato novedoso obtenido en la campaña del año 2003 fue la aparición

de dos inscripciones en torno a un afloramiento rocoso que se sitúa en el puntomás alto de la croa, al norte de la Puerta Oeste. Este hito rocoso configura unpequeño afloramiento con bloques cuadrangulares de granito (fragmentadosen el sentido de las diaclasas) que quedan al aire y que semejan pequeños pe-destales o bases de roca. Entre estos bloques aparecieron las dos nuevas ins-cripciones. Destaca que las construcciones que se documentan en esta zonaoeste de la croa respeten esta zona rocosa e incluso se remarque la misma conla construcción de un muro perimetral que delimita por el Este el afloramiento.

Este punto más elevado se utiliza actualmente para delimitar los términosmunicipales de Punxín y San Amaro y se grabó sobre la roca más alta una cruzde término.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 204

Figura 4. Piezas escultóricasdocumentadas en las campa-ñas de 2003 y 2004 en SanCibrán de Lás (Dibujo: Mi-guel Angel López Marcos)

Page 206: Issn 0871 - 4061

En relación con las dos inscripciones documentadas10 debemos recordarque el hallazgo del ara dedicada a Bandua 11conservada en el Pazo de Eiras,fue recogida en la croa, en un lugar cercanoa la puerta Oeste durante los trabajos de F.Lopez Cuevillas, y posteriormente, XaquínLourenzo Fernández en 1949 documentaun fragmento de inscripción12 que describeestaba empotrado en el cuerpo de guardiade esta puerta Oeste del recinto interior.

Recientes estudios13 sobre el conjuntode las inscripciones halladas en la croa deSan Cibrán de Lás, (incluyendo el IOVIgrabado en la roca al pie de la muralla in-terior), destacan una singular perspectivasobre la coexistencia de lenguas (céltica,lusitana y latina) en los cuatro textos conmenciones teonímicas, enmarcados en unsistema gramatical de apariencia itálicaque, a su vez, se mezcla con fragmentosde latín.

Todos los hallazgos y característicasdefinidas en la croa del castro de San Cibrán de Lás vienen a incidir en su as-pecto comunitario y en su utilización diferente al uso doméstico. El hecho deque sean lugares asociados a rituales o actividades religiosas o simplementepuntos de reuniones comunitarias (o escenarios para la celebración de banquetescomos se deduce en Monte Mozinho), vienen a corroborar que nos encontramoscon un lugar de gran importancia para el desarrollo social de estas comunidadesprerromanas. En este recinto central común es donde se desarrollan actividadesligadas al mundo ideológico, un ámbito con menos posibilidad de registro ar-queológico. Sin embargo su investigación es fundamental pues unido al estudiogeneral del poblado puede aportar datos que reflejen esa diferenciación o jerar-quización social, (en el que el prestigio familiar tendría protagonismo), y quese manifiesta más claramente, una vez que estas comunidades se vinculan aldominio romano.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 205

Figura 5. Inscripciones documentadas en laparte más alta de la croa de en San Cibrán deLás (Dibujo: Miguel Angel López Marcos)

Page 207: Issn 0871 - 4061

Es importante no dejar de lado la visión de conjunto de estos grandes castrossituados en un espacio bastante concreto (al sur de Galicia y Norte de Portugal)con el rio Miño como posible “frontera” generalizada para este fenómeno. Paraentender la diferencia existente entre estas grandes comunidades, (que necesitande un claro elemento social organizador que a su vez es reflejo de una jerarqui-zación social), con el resto de poblados castreños de menor tamaño y distintamorfología, (castros segmentarios14), es lógico pensar que estas comunidadessituadas más al Sur y más próximas a la zona conquistada están por lo tanto in-fluenciadas desde fechas más tempranas por los contactos con Roma, donde laevolución de las comunidades castreñas parece que lleva otro ritmo, propiciadopor estos contactos o directamente marcadas por los intereses romanos.

Sin embargo a pesar de esta realidad quisiéramos remarcar la existenciade otros castros, que han aparecido en este contexto castreño y que marcan unestadio distinto al que planteamos de forma general para esta fase final delmundo castreño. El ejemplo que mejor conocemos es el Castro de O Castelo,en Laias, al que nos hemos referido en el texto como castro ocupado en la I yII Edad del Hierro. En este caso la morfología de este poblado castreño defineclaramente un recinto amurallado superior con un único acceso bien protegido,ocupado por silos unifamiliares. Este hecho refleja una dualidad en el sentidosocial, ya que por un lado se define como una comunidad con una identidadigualitaria, pero que actuaría ya desde fechas tempranas con una organizaciónpara estrategias comunes de forma muy desarrollada de cara a la concepcióny funcionalidad de sus espacios comunes y la distribución de los mismos.

Es necesario por tanto dejar un hueco en la investigación arqueológica parala posibilidad de localizar una serie de yacimientos castreños que pudieran tenerun mayor grado de organización interna, como demuestra la existencia de los es-pacios de funcionamiento común en el castro de O Castelo en Laias. Para el des-arrollo de estos poblados de mayor extensión un condicionante muy importantesería su localización en espacios donde el acceso y el aprovechamiento de los re-cursos básicos es más fácil y variado y por lo tanto contarían con una gran ventajaa la hora de su autoabastecimiento, desarrollando excedentes propios y una mayorevolución en la población y en los instrumentos sociales de organización.

En definitiva, el estudio morfológico del poblado de San Cibrán de Lásse asocia a un modelo que se repite en otras citanias del momento final de la

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 206

g5

Page 208: Issn 0871 - 4061

cultura castreña en un espacio concreto. A estas comunidades se les confiereun mayor grado de desarrollo social de las que deriva una jerarquización aso-ciada al ámbito del prestigio de una determinada familia o linaje.

Dentro de este contexto, remarcar la existencia de modelos de organiza-ción desarrollados en época prerromana como el que representa la existenciadel recinto superior amurallado de O Castelo en Laias, que morfológicamentese define con parámetros similares a los del castro de San Cibrán de Lás.

En San Cibrán de Lás, la existencia de un recinto de uso comunal reser-vado a la esfera socioreligiosa representa la plasmación de la necesidad físicade este lugar donde se desarrollan procesos culturales. A medida que las co-munidades evolucionan y se integran en los modelos económicos y socialesromanos los usos de este espacio se transformarían, conservando elementosprerromanos y a su vez adaptándose a otras nuevas necesidades.

BibliografiaALMEIDA, C.A.F. de, Escavaçoes no Monte Mozinho II. Centro cultural Penafidelis, Peñafiel

ÁLVAREZ, Y., L.F. LÓPEZ, M.A. LÓPEZ & P. LÓPEZ BARJA, Dos inscripciones inéditas del Castro deSan Cibrán de Las (San Amaro-Punxín, Ourense), Palaeohispanica 4, 2004, 235-244-ALVAREZ GONZÁLEZ, Y. Y LÓPEZ GONZÁLEZ, L.F.: “La secuencia cultural del asentamiento de Laias:evolución espacial y funcional del poblado”. Actas del 3º Congreso de Arqueología Peninsular. Volumen V,Protohistoria de la Península Ibérica. Porto ADECAP, 2000.BERNARDO STEMPEL, PATRIZIA DE, y MARCO V. GARCíA QUINTELA, Población trilingüe y divi-nidades del castro de Lansbriga (NO de España), Madrider Mitteilungen (Wiesbaden), 49, 2008, 254-290.CHAMOSO LAMAS, M: “Excavaciones arqueológicas en la Citania de San Cibrán de Lás y en el pobladoy la explotación minera de oro de época romana de Barbantes (Orense)“. Noticiario Arqueológico Hispánico,III-IV (1953-54). Madrid, 1956, 114-130. FARIÑA BUSTO, F. y XUSTO RODRIGUEZ, M.: “Coto de San Trocado (San Amaro-Punxín, Ourense)”.Arqueoloxía-Informes, 2. Campaña de 1988. Xunta de Galicia, Santiago 1991, 209-214.FERNANDEZ-POSSE, M.D.; SANCHEZ-PALENCIA, F.-J.; FERNANDEZ MANZANO, J.; OREJAS,A.,1994: Estructura social y territorio en la Cultura Castreña. Cuadernos de Antropología e Etnología XXXIV3-4. Porto. 191-208.FERNANDEZ-POSSE, M.D.; SANCHEZ-PALENCIA, 1998: Las comunidades campesinas en la culturacastreña. Trabajos de Prehistoria 55.2, 127-150.LOPEZ CUEVILLAS, F.: “A citania no monte A cibdade de San Cibrao das Lás”. Bol. de la Real AcademiaGallega, XIV, 1923-24, XV, 1925-26 y XVII, 1927-28.LÓPEZ GONZÁLEZ. L.F, M.A. LÓPEZ MARCOS, Y. ÁLVAREZ GONZÁLEZ, Definición y recuperaciónde estructuras en el Castro de San Cibrán de Las, CEG 51, 2004, 79-113.OREJAS, A; SANCHEZ-PALENCIA RAMOS, F.J.: “Arqueología de la conquista del Noroerste de la Penín-sula Ibérica. Actas del II Congreso de Arqueología Peninsular. Volumen IV, Arqueología romana y medieval.Zamora 1996 Madrid 23-37.PEREZ OUTEIRIÑO, B.: “Informe sobre las excavaciones arqueológicas de a Cidade de San Cibrán de Lás(San Amaro-Punxín, Orense)”. Noticiario Arqueológico Hispánico, 22. Madrid, 1985, 211-259.PEREZ OUTEIRIÑO, B: “A Cidade de San Cibrán de Lás. Objetivos e resultados das últimas instervencións

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 207

Page 209: Issn 0871 - 4061

arqueolóxicas”. Lucerna, Segunda serie, II, Porto, 1987, 15-39. RODRíGUEZ CAO, C, M. XUSTO RODRíGUEZ, F. FARIÑA BUSTO, A cidade de San Cibrao de Las,Vigo, 1993SASTRE, I.: Los procesos de la complejidad social en el Noroeste peninsular: arqueología y fuentes literarias.Trabajos de Prehistoria 61, nº2, 2004.

1 la superficie media de un asentamiento castreño no llega a 2 Ha.2 Alvarez González, Y. y López González, L.F.: “La secuencia cultural del asentamiento de Laias: evoluciónespacial y funcional del poblado”. Actas del 3º congreso de Arqueología Peninsular. Volumen V, Protohis-toria de la Península Ibérica. Porto ADECAP, 2000.3 Se documenta de forma clara en los castros leoneses occidentales, como el caso de San Juan de Paluezas enMédulas (Fernandez-Posse, M.D.; sanchez-palencia, F.-J.; Fernandez Manzano, J.; Orejas, A.,1994: Estructurasocial y territorio en la Cultura Castreña. Cuadernos de Antropología e Etnología XXXIV 3-4. Porto, 191-208).4 Almeida, C.A.F. de, Escavaçoes no monte Mozinho II. Centro cultural Penafidelis, Peñafiel.5 PÉREZ OUTEIRIÑO, B.: Informe sobre las excavaciones arqueológicas de A Cidade de San Cibrán de Läs(San Amaro-Punxín. Ourense).Noticiario Arqueológico Hispánico, 22. Madrid, 1985 (211-259).La excavación del acceso Este documentó en este sector ciertas peculiaridades excepcionales dentro del con-junto del poblado: Los cuerpos de guardia se habían protegido con muros perpendiculares en los que se abríandos puertas y en el interior se documentaron materiales asociados a la ocupación residual de época romanaque aparece en este sector puntualmente, al igual que las construcciones adosadas en este punto a la murallade la croa, reflejo de una ocupación residual más tardía.6 LÓPEZ CUEVILLAS, Fl.: A citania do monte A Cibdade en San Cibrao das Lás. Boletín de la Real Acade-mia Gallega, XVII, 1927-28 (1-9 e 51-57).7 Pérez Outeiriño, B.: Un singular resto arquitectónico en A Cidade de San Cibrán de Lás (San Amaro-Pun-xín. Ourense), Portugalia. Nova Sèrie, VI/VII. Porto, 1985/86 (29-40).8 Calo Lourido, F.: A plástica de la cultura castrexa galego-portuguesa, 2 vils. Fundación Pedro Barrie de laMaza, Conde de FENOSA, A Coruña, 1994.9 Luengo Martinez, J.M. (1955), Noticias sobre las excavaciones del castro de Elviña (La Coruña).NAH 3-4,90-101.10 Calo Lourido, F.: A plástica de la cultura castrexa galego-portuguesa, 2 vils. Fundación Pedro Barrie de laMaza, Conde de FENOSA, A Coruña, 199411 López González, L.F.; Álvarez González, Y., López Marcos, M.A., Lopez Barja De Quiroga, P. (2004): Dosinscripciones inéditas del Castro de San Cibrán de Lás (S. Amaro-Punxín, Ourense). Paleohispánica 4, 2004,Zaragoza, pp. 235-244.12 IRG vol. IV, provincia de Ourense, 1968, pieza nº89, pag. 92-93.13 IRG. Vol. IV, provincia de Ourense, 1968, pieza nº 129, pag.131.14 Patrizia de Bernardo Stempel,, Marco V. García Quintela, Población trilingüe y divinidades del castro deLansbriga (NO de España), Madrider Mitteilungen (Wiesbaden), 49, 2008, 254-290.15 Sastre, I.: Los procesos de la complejidad social en el Noroeste peninsular: arqueología y fuentes literarias.Trabajos de Prehistoria 61, nº2, 2004.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 208

Page 210: Issn 0871 - 4061

o cRAstoeiRo e A ocuPAção dA veRtente oeste doMonte dA senhoRA dA GRAçA, MondiM de BAsto (noRtede PoRtuGAl)THE CRASTOEIRO HILLFORT AND THE OCCUPATION OF THE WESTSIDE OF MOUNT OF SENHORA DA GRAçA, MONDIM DE BASTO(NORTHERN PORTUGAL)

Resumo: Desde 2005 que se vêm desenvolvendo no Crastoeiro trabalhos arqueológicosintegrados no projecto “Estudo e Valorização do Património Arqueológico da Vertente Oeste doMonte da Senhora da Graça, Mondim de Basto (Norte de Portugal)”, aprovado e financiadopelo IGESPAR e pela edilidade local, com o objectivo primordial de estabelecer a biografiadeste espaço natural (um dos acidentes geomorfológicos mais expressivos da região), desde aPré-História até à Época Contemporânea.

Com esta comunicação pretendemos apresentar os resultados das escavações arqueológi-cas realizadas no sítio do Crastoeiro, ocupado desde a Pré-História até à Romanização, com es-pecial destaque para os complexos de Arte Rupestre aí existentes e para as materialidades daIdade do Ferro. As nossas interpretações enfatizarão as problemáticas que se colocam tanto noâmbito da ocupação/utilização do sítio, como da sua relação espacial com o cume do Monte daSenhora da Graça/Monte Farinha, cuja configuração, altitude e visualização terão certamentetido especial importância na vida das comunidades que aqui existiram ao longo dos tempos.

Palavras-chave: Monte da Senhora da Graça/Monte Farinha, Mondim de Basto, Cras-toeiro, Arte rupestre, Idade do Ferro.

Abstract: Since 2005 archaeological works have been taking place in Crastoeiro under theproject “Estudo e Valorização do Património Arqueológico da Vertente Oeste do Monte da Senhorada Graça, Mondim de Basto (Northern Portugal)”. This project, that was approved and is beingfinanced by IGESPAR and the local Municipality, has the main objective of writing the history ofthe Hill of Nossa Senhora da Graça from Prehistoric to Contemporary Times.

With this paper we intend to present the results of the archaeological excavations carriedout in Crastoeiro, occupied from the Prehistory until the Romanization Period, with particularemphasis on the Complexes of Rock Art and the Iron Age materiality found there. Our interpre-tations will emphasize the problems that arise from the occupation and use of this archeologicalsite, as well as from its special relationship with the top of the Hill of Senhora da Graça, whoseconfiguration, altitude and view must certainly have had a big importance in the life of the com-munities that existed here over time.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 209

António Pereira DinisCitCem, dOutOraNdO da uNiverSidade dO miNHO;

[email protected]

Page 211: Issn 0871 - 4061

Keywords: Monte da Senhora da Graça / Monte Farinha, Mondim de Basto, Crastoeiro,rock art, Iron Age.

1. introduçãoO Monte de Nossa Senhora da Graça, também designado por Monte Fa-

rinha localiza-se no distrito de Vila Real, no concelho de Mondim de Basto,sendo partilhado pelas freguesias de Atei, Mondim de Basto e Vilar de Ferrei-ros.

O nome por que popularmente é conhecido está relacionado com a exis-tência, no seu cume, de um santuário mariano, dedicado a Nossa Senhora daGraça, sendo um dos locais religiosos mais venerados na região.

De aspecto imponente pela altitude e pela configuração cónica, com pen-dentes particularmente abruptas até à cota dos 500-450m, o Monte da Senhorada Graça desfruta de um domínio visual de 360º devido à sua implantação noremate de um maciço montanhoso, com orientação NE-SO e altitude média de900 metros, que serve de separador entre os vales dos rios Tâmega e Cabril.Pelas mesmas razões é visível de muitos quilómetros, constituindo-se comoum verdadeiro marcador da paisagem (Fig. 2).

Ocupado desde o Calcolítico Regional (finais do IV e grande parte do IIImilénio AC) o monte alberga um número significativo de sítios arqueológicos,representativos de uma ampla diacronia (DINIS, no prelo) destacando-se doconjunto o Crastoeiro, tema desta comunicação, pelos complexos de arte ru-pestre Galaico-Portuguesa que encerra e por ser a única estação alvo de traba-lhos de escavação sistemática.

2. o crastoeiroO Crastoeiro implanta-se num pe-

queno morro que se destaca na meia encostada vertente Sudoeste do Monte da Senhorada Graça, sobranceiro ao vale da ribeira deCampos, com excelente visibilidade para aserra da Lameira e da Cabreira.

Administrativamente, integra a fre-guesia de Mondim de Basto, concelho de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 210

Figura 1. Localização do Crastoeiro na Penín-sula Ibérica

Page 212: Issn 0871 - 4061

Mondim de Basto, distrito de Vila Real, sendo as suas coordenadas geográficas,de acordo com a carta militar de Portugal 1:25 000 (folha 87), as seguintes:

Lat. – 41º24’58’’ NLong. – 7º55’41’’ WAlt. - 453 m (ponto mais elevado)O acesso faz-se a partir da povoação de Campos, pelo caminho lajeado

para o depósito de água dos Castoeiros ou desde a Cainha, pelo estradão queliga à estrada que conduz ao santuário da Senhora da Graça.

De contorno ovalado e topografia descendente no sentido N-S, o Cras-toeiro apresenta na parte superior uma plataforma, circuitada por muralha pé-trea em 2/3 do seu perímetro, onde se organizam diversos recintos,desnivelados e delimitados por afloramentos graníticos, muitos deles com gra-vuras abstractas.

Os trabalhos de investigação iniciaram-se em 1984 tendo-se realizado,até ao momento, dez campanhas de escavação, integradas em diversos projec-tos programados para o local. Os resultados dos trabalhos das Fases I e II dainvestigação, correspondendo às seis primeiras campanhas que compreendemo período entre 1984 e 2000 foram já divulgados em publicações da especia-lidade (DINIS 1986a; DINIS 1986b; DINIS 1987; DINIS 1993-94; DINIS1994; DINIS 2001; DINIS 2005).

As escavações demonstraram a ocupação permanente do local a partir daIdade do Ferro Antigo (séc. IV a.C. segundo datas radiométricas), materializadanum conjunto de cabanas feitas com materiais perecíveis e fossas abertas nosaibro, descobrindo uma população ligada às práticas agro-silvo-pastoris e aotrabalho da metalurgia do ferro. Cerca do séc. II a.C. foi construída uma mu-ralha de pedra e, um pouco mais tarde, apareceram as primeiras casas de gra-nito, de planta circular ou sub-rectangular. A romanização foi comprovada pelaexistência de edifícios quadrangulares e rectangulares, alguns deles utilizandomuros comuns e divisórias. Presume-se que o sítio tenha sido abandonado noséc. I d.C. sendo possível uma curta reocupação na Idade Média.

Em 2005 iniciou-se a III fase de investigação no Crastoeiro, no âmbitodo projecto “Estudo e valorização do Património Arqueológico da vertenteOeste do Monte das Senhora da Graça”, aprovado e financiado pelo IPA/IGES-PAR e pela autarquia local. Os trabalhos recentes, em desenvolvimento desde

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 211

Page 213: Issn 0871 - 4061

aquela data, além de proporcionarem informações que corroboram os dadosanteriores têm revelado novas materialidades que permitem afinar tanto o qua-dro da ocupação e organização interna do sítio como melhorar a compreensãoda sua utilização e da relação espacial com o cume do Monte da Senhora daGraça. Neste contexto, destaca-se o reconhecimento de novas gravuras, a juntaràs anteriormente identificadas, perfazendo o conjunto um total de mais de meiacentena de rochas gravadas, distribuídas por cinco espaços que designamospor complexos. Neste trabalho iremos apenas abordar os Complexos I e II, osúnicos onde se realizaram sondagens arqueológicas.

2.1. complexo iO Complexo I ocupa uma área com profusão de blocos graníticos, delimi-

tada a Sul e a Oeste por escarpas rochosas e a Este pelo Monte da Sr.ª da Graça.Para Norte, estende-se uma área aplanada, pontuada por caos de blocos, algunsgravados apenas com covinhas e com degraus e patamares de acesso a penedosde ampla visibilidade (Complexos III e IV), permitindo a comunicação com oComplexo II. Aqui identificaram-se 20 rochas com gravuras efectuadas por pi-cotagem e abrasão, 14 delas unicamente com covinhas. Nas restantes, conjugam-se covinhas, círculos simples e concêntricos, sulcos, pontos, uma espiral, etc.

Neste conjunto evidenciamos um dos afloramentos, que pelo tamanho,composição decorativa e posicionamento, parece constituir o epicentro desterecinto. Trata-se da rocha 1, aplanada e com ligeira pendente para Oeste, cujasgravuras se iluminam de forma intensa quando o sol nasce, no Verão, por detrásdo Monte, embora também sejam visíveis durante o ocaso (Fig. 4).

Pelos lados Este e Sudeste da rocha 1 e a cotas mais elevadas distribuem-se 10 rochas gravadas, configurando uma espécie de anfiteatro, individuali-zando-se uma delas pela protuberância cónica do suporte onde se gravaramcírculos concêntricos e covinha no centro.

O conjunto destas características topográficas, a complexidade e orienta-ção dos motivos da rocha 1, delimitados a oeste por um sulco, aberto, como sede uma porta de entrada se tratasse, assim como uma pia cavada num pequenoafloramento que ladeava a Sul esta rocha, indiciam a sua importância hierár-quica e uma cenografia de utilização de frente para as gravuras e para o monteque lhes serve de “pano de fundo”.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 212

Page 214: Issn 0871 - 4061

As escavações, ainda em curso, puseram a descoberto, além da pia refe-rida, um pavimento que encosta à rocha 1, pelos lados Norte e Noroeste (Fig.5), indiciando um espaço de circulação ainda não totalmente definido e ondese distribuíam duas lareiras.

A área adjacente, com fossas abertasno saibro e nos sedimentos e estruturas pé-treas, de planta circular e quadrangular, édelimitada por um muro de pedra asso-ciado às irregularidades topográficas e ele-mento organizador da passagem nesteespaço. Todas estas materialidades abar-cam um período entre os séc. IV-I a.C.

2.2. complexo iiO complexo II, com 10 penedos gravados, fica a cerca de 30m para Norte

do I, sendo delimitado a Oeste pela escarpa rochosa e a Sul e a Este por aflo-ramentos de cota mais elevada. É também a Este que fica o cume do Monte.Para Norte e Noroeste desenvolve-se uma área aplanada, que designámos porcomplexo V, onde detectámos mais 4 rochas com motivos abstractos, duasdelas caracterizadas pela protuberância cónica dos suportes.

Neste recinto evidencia-se a rocha 1,localizada a Este, com superfície boleadaonde se gravou a composição mais com-plexa do conjunto, distribuída pelo topo ependente sudeste (Fig. 8). Esta caracterís-tica e o facto das gravuras ficarem melhoriluminadas no ocaso indicia que seriamobservadas de costas para o monte. Poréma visualização total da composição apenaspode ser efectuada de cima de um aflora-mento, que se lhe adossa a Este, e ondecabem apenas 3 ou 4 pessoas. De notaraqui uma estratigrafia horizontal e verticalde motivos.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 213

Figura 2. Monte da Senhora da Graça no re-mate do maciço montanhoso

Figura 3. Localização do Crastoeiro na CMP,1:25 000, fl. 87

Page 215: Issn 0871 - 4061

As rochas 2 e 3 apareceram durante as escavações de 2007, sob uma ocu-pação de cronologia medieval. A 2 foi parcialmente gravada com duas covinhasisoladas e dois conjuntos de semi-círculos concêntricos sobre duas protube-râncias cónicas (Fig. 9), separadas por uma fissura bem marcada. A 3, quaseencostado à anterior, foi apenas gravada por covinhas.

Também aqui foi encontrada uma pia, cortada num bloco de granito (Fig.7), colocada a sul da rocha 2, o que indicia a abordagem destes dois penedosde frente para a montanha e para a rocha 1, cujos motivos não seriam total-

mente observáveis a partir deste ângulo.As rochas 4 e 5, a oeste, com círculos

simples e concêntricos, sulcos e covinhasparecem determinar um olhar sobre amontanha e as rochas 1, 2, 3.

As escavações desta área revelaram,no recinto prefigurado pelas gravuras, umaúltima utilização destas, durante os Finaisda Idade do Ferro, através de resquícios depavimentos com o negativo de uma lareira,co-relacionável com a pia já referida. Sob

estas materialidades e na área adjacente, a Norte e Noroeste, ocorrem estruturasem negativo e em materiais perecíveis, palimpsestos de fossas (Fig. 6) e edifíciosem pedra, de planta circular e sub-rectangular, que colocam a utilização ou reuti-lização das gravuras desde os séculos IV/III até ao séc. I a.C., segundo datas ra-diométricas (DINIS & BETTENCOURT, no prelo) e paralelos.

Não se detectaram níveis estratigrá-ficas mais antigos na área, mas a recolhade alguns fragmentos de cerâmica dos fi-nais do IV aos meados do III milénio ACe outros da Idade do Bronze, no enchi-mento de fossas da Idade do Ferro, admitesupor ocupações destes períodos a Sul eEste deste recinto.

3. considerações Finais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 214

Figura 4. Rocha 1, do Complexo I, iluminadaao nascer do sol

Figura 5. Pavimento adossado à rocha 1, doComplexo I

Page 216: Issn 0871 - 4061

Os resultados dos trabalhos realiza-dos nos complexos I e II do Crastoeiromostram a sua utilização durante a Idadedo Ferro, ao longo de mais de quatro sé-culos, se bem que a presença de cerâmicaspré-históricas descontextualizadas e o re-conhecimento de sobreposições e adiçõesde motivos gravados, nalgumas rochas,possam indiciar que a construção desteslugares se iniciou muito antes, talvez du-rante o Calcolítico regional (finais do IV

a meados do III milénios AC). Deste modo, as gravuras do Crastoeiro teriamsido usadas e, possivelmente, reinterpretadas durante 2500 a 3000 anos.

A ausência de escavações e de data-ções radiométricas, essenciais à contextua-lização dos sítios com arte, torna abusivoextrapolar a realidade do Crastoeiro à ArteAtlântica do Noroeste da Península Ibé-rica, já que é importante ter em atenção ascontingências ou a biografia de cada lugar.De salientar, a propósito, que as gravurasdo Crastoeiro são das mais orientais quese conhecem no Norte de Portugal, peloque o seu uso, até tarde, poderá resultar defortes arcaísmos existentes nesta região,

facto já relevado a propósito das arquitecturas (DINIS 2001, 121-123).Em termos sócio-ideológicos e baseados na premissa de que as gravuras

rupestres evidenciam e/ou enfatizam o significado pré-existente dos locais ondese distribuem, possibilitando, deste modo, a compreensão de como as comu-nidades interagiram e se implicaram com os elementos fixos da natureza, es-tabelecemos as seguintes hipóteses sobre o Crastoeiro:

- Que o monte da Senhora da Graça integraria o mapa cognitivo das popu-lações da Idade do Ferro regional, sendo possível que algumas rochas, particular-mente as que exibem protuberâncias, expressassem a projecção mental do monte;

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 215

Figura 6. Fossas abertas no saibro, no interiordo Complexo II

Figura 7. Pia recolhida junto da rocha 2, doComplexo II

Page 217: Issn 0871 - 4061

- Que o patamar situado entre os 450-500m, onde se localiza o Crastoeiro(assim como outros loci com arte rupestre, nomeadamente Campelo, Pegadi-nhas e Recheiras) seria o espaço privilegiado na execução de “performances”relacionadas com o monte sagrado, assumindo-se como uma área simbólicade limite entre o vale acessível e o cume de difícil acesso;

- Que a relação entre os ciclos do sol e da lua, o monte e as gravuras pa-rece ser igualmente significativa, podendo ter existido complementaridade deritos e celebrações entre os vários loci com arte rupestre;

- Que o fogo deverá ter tido um papel importante nas cerimónias da últimafase de uso destes lugares;

E, finalmente, que é preciso rever a atribuição de simples povoado aoCrastoeiro (DINIS 2001) e reinterpretar as suas estruturas, particularmente asfossas abertas no saibro, porque a função de simples estruturas de armazena-gem parece ser redutora.

BibliografiaALVES, L. B., 2003. The Movement of Signs. Post-glacial rock art in north-western Iberia. PhD

Thesis. Department of Archaeology. University of Reading, 2 vols. (policopiado).BETTENCOURT, A. M. S., 2005. Gravados rupestres ao aire libre do denominado “Grupo Galaico” ou do“Grupo I do Noroeste” (Norte de Portugal). In: Hidalgo Cuñarro, J. M. (coord.), Arte e Cultura de Galiciae Norte de Portugal. Arqueoloxía, vol. 1, Nova Galicia Edicións, Vigo, pp. 161 – 165.DINIS, A., 1986a. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1984. Informação Arqueológica, 6,IPPC, Lisboa, pp. 74 - 75.DINIS, A., 1986b. (1986). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1985. Informação Arqueo-lógica, 7, IPPC, Lisboa, pp. 93 - 96.DINIS, A., 1987. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1986. Informação Arqueológica, 8,IPPC, Lisboa, pp. 97 - 99.DINIS, A., 1993/1994. Contribuição para o estudo da Idade do Ferro em Basto: o Crasto do Crastoeiro. Ca-dernos de Arqueologia, 8/9, Braga, pp. 261 - 278.DINIS, A., 1994. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1987. Informação Arqueológica, 9,IPPC, Lisboa, pp. 33 - 34.DINIS, A., 2001. O povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto), Norte de Portugal. Ca-dernos de Arqueologia – Monografias, 13, UAUM, Braga.DINIS, A., 2005. A ocupação do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal) no Ferro Inicial. Actasdo Colóquio “Castro um lugar para habitar”. Cadernos do Museu, 11, Penafiel, pp. 75 – 87.DINIS, A., no prelo. O Monte da Senhora da Graça (Mondim de Basto, Norte de Portugal), como sítio dememoria através dos tempos. Estudos Transmontanos e Durienses, 14, Arquivo Distrital de Vila Real, VilaReal, 2008.DINIS, A. & BETTENCOURT, A.M.S., no prelo. A Arte Atlântica do Crastoeiro (Norte de Portugal): Con-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 216

Page 218: Issn 0871 - 4061

textos e significados. Gallaecia, Santiago de Compostela.INGOLD, Tim, 2000. The perception of the environment. Essays in the livelihood, dwelling and skill. Lon-dres, Routledge.KNAPP, A.B. & ASHMORE, W., 1999. Archaeological landscapes: constructed, conceptualized, ideational.In: KNAPP, A.B. & KNAPP (Eds.), Archaeologies of landscape. Contemporary perspectives. Ed. Blackwell,Oxford, pp. 1 - 30.PEÑA SANTOS, A. & REY GARCíA, J. M., 1993. El espacio de la representación. El arte rupestre galaicodesde una perspectiva territorial. Revista de Estudos Provinciais, 10, Pontevedra, pp. 12 – 50.REY CASTINEIRA, J. & M. José Soto-Barreiro (2001). El arte rupestre de Crastoeiro (Mondim de Basto– Portugal) y la problemática de los petroglifos en castros, in A. Dinis (ed), O Povoado da Idade do Ferrodo Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal). Cadernos de Arqueologia – Monografias, 13, Braga,UAUM, pp. 159 - 200.SANTOS ESTÉVEZ, M. & CRIADO BOADO, F., 1998. Espacios rupestres: del panel al paisaje. Arque-ologia Espacial, 19-20, pp. 579-595.TILLEY, C., 1994. A phenomenology of landscape. Place, paths and monuments. Ed. Oxford, Berg.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 217

Figura 8. Rocha 1, do Complexo II Figura 9. Suporte proeminente da rocha 2, do Com-plexo II

Page 219: Issn 0871 - 4061
Page 220: Issn 0871 - 4061

GeneRAlidAdes e PARticulARidAdes dA ouRivesARiAcAstReJA tRAnsMontAnA: os toRQues FlAviensesGENERAL AND SPECIFIC FEATURES OF IRON AGE jEWELLERY FROMTRÁS-OS-MONTES: THE “FLAVIENSES” TORCS

Resumo: Apreséntase unha primeira achega de conxunto á ourivesaria castrexa trans-montana da Segunda Idade do Ferro. Sinálanse os principais recursos áureo-arxentíferos exis-tentes na rexión, os antecedentes formais datábeis en momentos calcolíticos e da Idade doBronce, as producións da Segunda Idade do Ferro e as características materiais, técnicas e for-mais da mesma, con especial referencia aos torques da denominada Escola Flaviense.

Palavras-chave: Cultura Castrexa, Idade do Ferro, Trás-os-Montes, Ourivesaria, Torques,Escola Flaviense.

Abstract: An up-to-date overview about the goldwork dating from the Late Iron Age inthe portuguese region of Trás-os-Montes is offered here. We try to understand the material back-ground of these productions, the local sources of gold and silver and the main trends that explaingold and silver objects, specially torcs.

Keywords: Castro Culture, Iron Age, Trás-os-Montes, Goldwork, Torcs.

1. introducciónDentro das manifestacións materiais que contan con maior tradición histo-

riográfica na investigación da Proto-história do Noroeste Hispánico, a denomi-nada ourivesaria castreja amósase actualmente como un amplo campo de estudo,cheo de puxanza e de aportacións específicas, nomeadamente nas duas últimasdécadas. Porén, relativamente á zona transmontana poucos son os traballos quese teñen debruzado recentemente verbo desta cuestión particular. Con este pe-queno contributo preténdese ofrecer unha primeira achega monográfica ao estudoda ourivesaria transmontana da denominada Segunda Idade do Ferro, semprenecesitada, como resulta óbvio, de periódicas e desexábeis revisións.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 219

Lois LadraLúNuLa - PatrimONiO CuLturaL e arQueOLOxía; [email protected]

Page 221: Issn 0871 - 4061

Na tradición historiográfica galaico-portuguesa vários autores teñendefendido para as fases avanzadas da Cultura Castrexa a existéncia de pro-ducións rexionais designadas no seu momento como “Escola de Laúndos”,“Grupo ortegalés”, “Escola flaviense”, “Escola asturiana”, “Tipo astur-norcalaico”, “Tipo ártabro”, “Tipo norteño”, “Tipo nordoriental-galaico”ou “Tipo bracarense litoral”, todos eles en función da área xeográfica ondese concentran certos achados (LADRA, 1999 e 2003).

Por razóns evidentes, será principalmente a referida “Escola flaviense”a que mereza unha maior atención no presente estudo, principalmente fo-calizado na ourivesaria transmontana da que poderiamos denominar “fasede plenitude” da denominada Cultura Castrexa.

Antes de encetar propiamente o estudo da ourivesaria transmontanada Segunda Idade do Ferro deberemos proceder a delimitar o ámbito temá-tico, espacial e temporal da presente análise. Abordaremos as produciónsmateriais elaboradas en metais nobres actualmente coñecidas para a deno-minada rexión transmontana durante a segunda metade do I milénio a. C.Como mais adiante teremos ocasión de comprobar, estas producións, polasua cantidade, cualidade e variedade material, formal, tecnolóxica e orna-mental aportan información suficiente como para poder entender a singu-laridade e orixinalidade da ourivesaria transmontana no contexto daProto-história mais recente do Noroeste penisular.

A área aquí obxecto de estudo correspóndese aproximadamente coarexión interior de Portugal ao Norte do rio Douro que, baixo a designaciónde Trás-os-Montes, inclúe os distritos de Vila Real (Trás-os-Montes Oci-dental) e Bragança (Trás-os-Montes Oriental). Evidentemente, estes “lími-tes xeográficos” non se deben considerar como algo fechado; antes diso,deben ser entendidos a xeito de “marco operacional” necesariamente fle-xíbel, tendo sempre como base as ideas de interioridade e septentrionali-dade en relación co território portugués. Por esa mesma razón, sempre queo consideremos oportuno, faremos referéncia pontual ás rexións inmediatasá devandita área de estudo.

Para levar a cabo unha caracterización preliminar da ourivesaria trans-montana da Segunda Idade do Ferro consideramos que resulta indispensá-bel abordar as seguintes cuestións: disponibilidade de recursos minerais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 220

Page 222: Issn 0871 - 4061

específicos –nomeadamente ouro e prata– susceptíbeis de seren aproveita-dos polas comunidades locais en época pré-romana; antecedentes da ouri-vesaria rexional, especialmente no que se refere á primeira metade do Imilénio a. C.; marco tecnolóxico da produción, distribución dos achadosactualmente coñecidos e caracterización xeral de todos os elementos rexis-trados.

2. Recursos áureo-arxentíferos da rexión transmontanaActualmente carecemos dun estudo pormenorizado sobre os recursos

minerometálicos específicos da rexión transmontana. Porén, contamos conalguns traballos que referen en maior ou menor medida a existéncia de ouroe prata en numerosos locais da área obxecto de análise (CARDOZO, 1954;CAVALHEIRO e SANCHES, 1995: 173-177; MARTINS, 1996: 77; CO-MENDADOR, 1998: 161-167; MARTINS, 2008). Das informacións deri-vadas destes textos destacariamos principalmente as ocorrénciasáureo-arxentíferas das zonas de Chaves, Bragança, Vila Pouca de Aguiar eMirandela, moitas delas explotadas intensivamente en época romana.Mesmo así, convén lembrar que a presenza destes minerais non sempre im-plica a sua explotación en época proto-histórica, pois en moitos casos atecnoloxía extractiva disponíbel non permitía o aproveitamento de certosrecursos por mor das suas limitacións intrínsecas. Sexa como for, a inves-tigación aponta a hipótese de que todas as manufacturas áureas do Noroestedatábeis en momentos pré-romanos foron elaboradas con ouro procedentedo bateo dos placeres fluviais móbiles ou non consolidados (SÁNCHEZ,1983). Na rexión transmontana existen vários rios auríferos da conca doDouro: o Tua, o Sabor, o Curros, o Tinhela e o Rabaçal. En alguns delesestá documentada a explotación artesanal até o século XIX.

Actualmente podemos afirmar con un elevado grao de seguranza que ascantidades de metais nobres necesárias para a confección dos elementos de ou-rivesaria coñecidos para toda a produción transmontana pré-romana ben po-derian ter sido obtidos localmente, sen necesidade de recorrer a mecanismosde importación foránea para abastecer a demanda rexional de matéria-prima.Obviamente, esta disponibilidade real non exclúe unha eventual circulación

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 221

Page 223: Issn 0871 - 4061

complementar de metais e obxec-tos áureos ou arxénteos a nível in-terrexional.

3. ourivesaria transmon-tana anterior à segunda idadedo Ferro

Actualmente contamos condiversas evidéncias arqueolóxicasque nos permiten caracterizargrosso modo as primeiras produ-cións de ourivesaria pré-históricarecuperadas a Norte do rio Douro.Os achados de elementos típicosda ourivesaria calcolítica e daIdade do Bronce na rexión de

Trás-os-Montes xa teñen sido estudados por diversos autores (ARMBRUSTERe PARREIRA, 1993; COMENDADOR, 1998), co cal non serán agora obxectopormenorizado da nosa atención.

No que respecta ao traballo do ouro, convén lembrar que todo ao longodo Calcolítico e da Idade do Bronce, a maior parte das manufacturas coñecidashoxe para o Noroeste peninsular permiten establecer a existéncia de paralelosformais praticamente idénticos noutras rexións atlánticas, con producións tancaracterísticas destas zonas como poden ser os diademas, as láminas de tiras,as lúnulas, os apliques discoidais, os espiraliformes, os brazais de arqueiro eas doas bitroncocónicas.

A nível tecnolóxico é importante lembrar que estas producións amostranunha dilatada tradición tanto no que respeita aos traballos sobre lámina comoá obtención de obxectos dotados de maior volume por fundición e posteriorvazado en molde. Así, por exemplo, poderiamos lembrar pontualmente o moisignificativo caso do Buraco da Pala, en Mirandela, onde se constata, xa naprimeira metade do III milénio A. C., a presenza nun mesmo abrigo de diversoselementos áureos, como son un pequeno fragmento de lámina e várias contas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 222

Figura 1. Ocorréncias de ouro e prata na rexión transmon-tana

Page 224: Issn 0871 - 4061

macizas perfuradas (CAVA-LHEIRO e SANCHES, 1995).

Todo isto indica que a ouri-vesaria do Noroeste hispánico du-rante estas primeiras etapas dametalurxia estaria caracterizadaxenericamente pola sua variedadeformal e tecnolóxica, confor-mando un dinámico foco de pro-dución e circulacion de obxectosde ouro no marco global do cír-culo cultural atlántico, no que arexión de Trás-os-Montes se inse-

riria, compartindo recursos, ideas e produtos elaborados en metais nobres.Por outra banda, alguns investigadores apontan o feito de que, para alén

destas estreitas relacións culturais da rexión transmontana co ámbito atlántico,tamén habería que considerar a existencia de contactos co denominado focomeseteño, ainda que neste caso estaríamos a falar das producións de obxectosde cobre e bronce, e non propriamente da ourivesaria (COMENDADOR,1998: 247).

En momentos mais avanzados da proto-história rexional, concretamentedurante o denominado Bronce Final Atlántico e a Primeira Idade do Ferro, po-deriamos dicir que fican establecidas algunhas das principais bases do marcotecnolóxico das futuras producións clásicas da Segunda Idade do Ferro, sennegar con isto que as comunidades locais sexan receptivas a diversos influxoseventualmente orixinários das rexións periféricas mais cercanas.

Actualmente apenas contamos con meia dúcia de obxectos de ouro datá-beis xenericamente na primeira metade do I milénio a. C. para a zona de Trás-os-Montes. Por outra banda, semella que as ourivesarias mais característicasdo Bronce Final Atlántico, os denominados “ámbitos tecnolóxicos”Sagrajas/Berzocana (S/B) e Villena/Estremoz (V/E), apenas se encontran re-presentadas na zona estudada, nomeadamente o primeiro deles. Existe unhareferéncia antiga relativa ao achado dun bracelete en Alijó (Cc. Vila Real, Ds.Vila Real), ao parecer de aro macizo fechado, do que praticamente nada mais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 223

Figura 2. Formas características da ourivesaria atlánticado III e II milénios a. C.

Page 225: Issn 0871 - 4061

sabemos (CARDOZO, 1929-30: 47, Fig. 3 e pp. 49 e 56). Así pois, a caracte-rización desta ourivesaria amósase como un labor moi difícil.

Porén, podemos destacar a presenza de determinados tipos de obxectosáureos - tanto volumétricos como laminares - entre os que sobrancean os tra-dicionalmente denominados “braceletes” –que en moitas ocasións deberiamosconsiderar mais propiamente como pulseiras– e un único colar articulado abase de placas laminares con decoración estampada de motivos exclusivamentexeométricos.

Relativamente aos braceletes-pulseira, contamos con diversas evidénciasmateriais de exemplares recuperados na rexión de Trás-os-Montes Ocidentala finais do século XIX e comezos do XX, sempre en circunstáncias pouco cla-ras e amostrando formas tanto abertas (Telões) como fechadas (Alto da Pedis-queira, Torgueda e Vinhós). Todos eles son datados xenericamente no BronceFinal pola maioría dos autores, sempre sobre a base das suas carcterísticas ma-teriais, técnicas e formais.

O bracelete-pulseira de telões (Cc. Vila Pouca de Aguiar, Ds. Vila Real)caracterízase por amostrar un aro macizo de ouro, elipsoidal, aberto, liso, pu-lido, de sección poligonal, engrosado na zona central e con un peso aproximadode 60 gr. (SEVERO, 1905-08: 109-110 e 120 + Fig. 1). Este exemplar pode-ríase relacionar con senllos elementos homólogos atopados en Monte Airoso(Cc. Penedono, Ds. Viseu) e Baralhas (Cc. Vale de Cambra, Ds. Aveiro), ac-tualmente depositados no MNA de Lisboa (ARMBRUSTER e PARREIRA,1993: 120-121, n.º 58 e n.º 59).

O bracelete-pulseira do Alto da Pedisqueira (Cc. Chaves, Ds. VilaReal) ten sido descrito como unha peza que no seu estado orixinal estaría cons-tituída por unha lámina de ouro de 121,2 gr., fechada en todo o seu perímetro,conformando un cilindro, liso no interior e con unha ornamentación exteriorcomposta por dez nervuras lonxitudinais paralelas, seis delas imitando “umcordão” e catro dotadas de puas que “formam uma serrilha de pequenos den-tes” (CARDOZO, 1944: 22-25 e Fig. 2). Para alguns autores este obxecto per-tencería, xunto cos relativamente cercanos achados de Toén e da província deOurense ao denominado grupo Villena/Estremoz (ARMBRUSTER e PEREA,1994: 74, Fig. 1). Trátase de pezas anulares que en orixe serian perfectamentecilíndricas por teren sido realizadas con recurso sistemático ao emprego do

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 224

Page 226: Issn 0871 - 4061

torno primitivo de eixo horizontal, con vazado en molde á cera perdida e pre-senza eventual de ornamentación na superficie exterior, frecuentemente a basede molduras, perfuracións e/ou puas (ARMBRUSTER e PEREA, 1994: 73).Este tipo de obxectos é normalmente datado pola maioria dos investigadoresa finais do denominado Bronce Final Atlántico, á volta dos séculos VIII e VIIa. C. (ARMBRUSTER e PEREA, 1994: 84; ALMAGRO, 1969: 287).

O bracelete-pulseira de torgueda (Cc. Vila Real, Ds. Vila Real), porveces tamén designado como de Moçães, consiste nun aro liso e fechado deouro, de 35,2 gr., de sección rectangular, fundido en molde e posteriormentemartelado e pulido superficialmente (ARMBRUSTER e PARREIRA, 1993:102-103, n.º 42). Consérvase no MNA de Lisboa.

O bracelete-pulseira de vinhós (Cc. Peso da Régua, Ds. Vila Real)amóstrase, o mesmo que o anterior, como un aro liso e fechado de ouro, de 17,5 gr., fundido en molde e posteriormente martelado e pulido, ainda que de sec-ción cóncavo-convexa, (ARMBRUSTER e PARREIRA, 1993: 102-103, n.º43). Tamén se conserva no MNA de Lisboa. Ambos exemplares relaciónanseentre si a nível material, formal e tecnolóxico, así como con outros achadossemellantes de zonas periféricas “atlánticas”, nomeadamente as Beiras e o Li-toral Bracarense.

Para alén dos devanditos braceletes-pulseiras, na zona de estudo apenascontamos para esta época co colar articulado da Malhada-campeã (Cc. VilaReal, Ds. Vila Real). Trátase dun colar composto, de 59,93 gr., do que se con-serva pouco mais de meio cento de placas decoradas con pontos e círculos con-céntricos estampados, xenericamente datado nos séculos VII-VI a. C. eaparecido nun contexto pouco preciso, eventualmente funerário (SILVA, 1986:251, n.º 505). Consérvase no MNA de Lisboa.

A análise deste reducido grupo de obxectos ofrece unha série de conside-racións materiais, formais, técnicas e ornamentais que poden axudar a com-prender mellor as producións características da ourivesaria da Segunda Idadedo Ferro na rexión de Trás-os-Montes.

En primeiro lugar, a nível material e no estado actual dos nosos coñeci-mentos, convén destacar que para os momentos anteriores á Segunda Idade doFerro só podemos falar de ourivesaria transmontana realizada en ouro, poisdescoñecemos a existéncia de calquer manufactura arxéntea datábel con ante-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 225

Page 227: Issn 0871 - 4061

rioridade á segunda metade do I milénio a. C. Consecuentemente, a dia de hoxepodemos afirmar que a disponibilidade local de prata non implicou o seu apro-veitamento directo durante a maior parte da pré-história transmontana. Sor-prende bastante este “vacio distributivo”, pois en áreas periféricas moi cercanascoñécense obxectos en prata xa desde os primeiros momentos da metalurxia,nomeadamente as denominadas espirais, como a da cista de Chedeiro, a docairn de Meninas do Crasto 4 e a da mamoa 1 de Outeiro de Gregos. Coidamosque non seria estraño que nun futuro este tipo de pezas aparecesen no rexistroarqueolóxico transmontano, inserindo así, de facto, esta rexión no contexto dasproducións arxénteas típicas da pré-história atlántica do Noroeste. Para a zonade Trás-os-Montes Oriental o vacio distributivo afecta tanto aos obxectos deprata como aos elaborados en ouro.

En segundo lugar, o bracelete-pulseira afirmase con total rotundidadecomo a morfoloxía claramente dominante no rexistro arqueolóxico da ourive-saria transmontana da primeira metade do I milénio a. C., con catro achadosdocumentados sobre un total de cinco. Os exemplares de Telões e do Alto daPedisqueira apontan para unha ampla série de paralelos típicos do Bronce FinalAtlántico, con referéncia específica no segundo caso ao denominado ámbitotecnolóxico Villena-Estremoz, no que o uso de torno primitivo e o vazado enmolde á cera perdida se afirman como recursos técnicos característicos destasproducións. Na rexión estudada ainda non se constata o uso da unión por soldade vários elementos. O colar da Malhada representa nesta zona un novo tipode pezas, laminares e articuladas, con uso de matrizes para a estampaxe seriadade motivos ornamentais xeométricos, algo que será moi típico da SegundaIdade do Ferro.

4. A ourivesaria da segunda idade do Ferro em trás-os-MontesPara o estudo das producións en ouro e prata da segunda metade do I mi-

lénio a. C. na rexión transmontana debemos considerar os seguintes elementose achados: Tesouro de Lebução, Tesouro de Guiães, Tesouro de Paradela doRio, un torques de Cortinhas, un torques de Codeçais, un torques de Rendufe,dous torques do Norte de Portugal conservados no British Museum, dous tor-ques conservados no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, un terminalde torques de Tourém, unha arrecada de São Martinho de Antas, unha bráctea

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 226

Page 228: Issn 0871 - 4061

e unha fíbula de Bragança. Para alén destes obxectos referiremos ainda un parde pulseiras de cobre recentemente recuperadas nas escavacións do Crasto dePalheiros, en Murça.

O denominado tesouro de lebução (Cc. Valpaços, Ds. Vila Real) cor-responde a un achado casual realizado en local indeterminado da freguesiahomónima, que se produciu en 1899. Componse dun bracelete galonado ouarmilha profusamente decorada, un torques completo –ainda que fragmen-tado– e restos parciais de outros dous. O peso total deste conxunto de ele-mentos áureos alcanza os 459,9 gr. (FORTES, 1905-08a: 1). Actualmente,as pezas consérvanse no Museu da Sociedade Martins Sarmento de Guima-rães.

O tesouro de Guiães (Cc. Vila Real, Ds. Vila Real) apareceu casual-mente en circunstáncias pouco claras en 1908. Ao parecer, encontrouse unhataza de prata que contiña no seu interior un bracelete e vários centos de moedasarxénteas, entre as que se puideron identificar numerosos denários romanos deépoca republicana, alguns deles de emisións datadas entre os anos 90 e 73 a.C. O recipiente e a manilla foron adscritos ao Ferro Recente, mais concreta-

mente entre os séculos IV e I a. C.(PARREIRA e PINTO, 1980: 6-7 e16). somando un peso total de 308,8gr. Actualmente, a taza, o bracelete ealgunhas das moedas consérvanse noMuseu Nacional de Arqueologia deLisboa.

O tesouro de Paradela do Rio(Cc. Montalegre, Ds. Vila Real) foirecuperado acidentalmente en 1958durante a realización dun pronun-ciado desmonte para as obras de aper-tura da estrada que une as freguesiasde Paradela e Outeiro, no concello de

Montalegre. Componse de tres torques de ouro en perfecto estado de conser-vación que soman un peso total de aproximadamente 386,5 gr. (CARDOZO,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 227

Figura 3. Bracelete do denominado Tesouro de Le-bução

Page 229: Issn 0871 - 4061

1959). Actualmente todos estes elementos se conservan no Museu Nacionalde Arqueologia de Lisboa.

O torques de cortinhas, tamén referido como de São Mamede de Riba-tua (Cc. Alijó, Ds. Vila Real) foi dado a coñecer a comezos do século pasadosen indicación algunha sobre o local exacto e as circunstáncias do achado. Per-tenceu á “Colecção Marciano Azuaga” de Vila Nova de Gaia, ainda que hoxesemella estar completamente ilocalizabel (GUIMARãES et al., 2006: 29). Tra-tábase dun colar ríxido de prata formado por tres grosos fios lisos, torcidos he-licoidalmente en grupo. Carecia de terminais por estar partido nos cabos ealcanzaba un peso de 144 gr., aos que eventualmente haberia que engadir oitomais, correspondentes aos fragmentos de unha “delgada chapa ornamental” deprata coa mesma procedéncia (FORTES, 1905-08b: 117-119).

O torques de codeçais (Cc. Chaves, Ds. Vila Real) foi recuperado poracaso en plena veiga flaviense no ano 1941, correspondendo o achado a unexemplar áureo completo, en moi bon estado de conservación e con un pesototal de aproximadamente 212,2 gr. (CARDOZO, 1942: 95). Este torques vin-cúlase claramente á designada como escola flaviense e nos discos exterioresdos terminais amostra unha decoración de tipo xeométrico pre-deseñada a com-pás, que consiste nunha circunferéncia perimetral con rosácea hexapétala ins-crita, toda ela estampada con punzón complexo e dotada de glóbulos soldadosnos extremos das follas. Actualmente consérvase no Museu Nacional de Ar-queologia de Lisboa.

O torques de Rendufe (Cc. Valpaços, Ds. Vila Real), ainda hoxe necesi-tado dun bon estudo monográfico, foi sumariamente referido como un exem-plar de ouro, en perfecto estado de conservación e con decoración xeométrica,do que ignoramos o seu valor ponderal absoluto e as circunstáncias orixinaisdo achado (SILVA, 1986: 249, n.º 497). Exponse actualmente no Museu de Ar-queologia e Numismática de Vila Real.

O torques de vilas Boas (Cc. Vila Flor, Ds. Bragança), verdadeira operaprima da ourivesaria transmontana da Segunda Idade do Ferro, constitúe sendúbida algunha un dos elementos mais espectaculares da proto-história penin-sular (MACHADO, 1965). Con unhas dimensións fora do cumun e unha cua-lidade técnica e ornamental excepcional, atópase depositado no MNA deLisboa nun estado de conservación moi bon, alcanzando os 387,3 gr. de peso

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 228

Page 230: Issn 0871 - 4061

(PARREIRA e PINTO, 1980: 17, n.º132).

Os dous torques flavienses deprocedéncia descoñecida e hoxe con-servados no British Museum de Lon-dres foron recuperados en data econtexto imprecisos, ainda que direc-tamente vencellados á fronteira his-pano-portuguesa, eventulmente á raiagalaico-transmontana. Trátase dedous exemplares áureos, en relativobon estado de conservación, adscribí-

beis á denominada escola flaviense e con un valor ponderal próximo aos 250,11gr. (ALMAGRO, 1962: 197).

Os dous torques, eventualmente procedentes de Chaves, conservados noMNA de Lisboa consisten en senllos exemplares de ouro, en perfecto estadode conservación, ambos con decoración de tipo xeométrico nos planos exte-riores dos terminais. Nun destes colares ríxidos, con un peso de 206,44 gr., oscitados motivos ornamentais son senllos pentasqueis a xeito de ondas mariñasrealizadas por estampaxe con punzón complexo (ALVES et al., 2002), mentresno outro se trataria de duas rosáceas hexapétalas, unha delas moi semellante ádo torques de Codeçais. Ignoramos o peso deste segundo exemplar e as cir-cunstáncias orixinais do(s) achado(s).

O terminal de torques de tourém (Cc. Montalegre, Ds. Vila Real) apa-receu en local e circunstáncias indeterminadas, posibelmente na década doscorenta do pasado século. Estivo en mans privadas durante moitos anos, até asua recente adquisición por parte do Museu Nacional de Arqueologia de Lis-boa.Trátase dun terminal laminar, de perfil campanular, incompleto e amol-gado, con un peso aproximado de 10,3 gr. (CARDOZO, 1943: 109).Pertenceria a un torques de ouro e a sua forma orixinal completa poderia serreconstituída sen maiores dificuldades, relacionándose claramente con outrosexemplares homólogos, como os dos castros de Santa Tegra e Lanhoso.

A arrecada de são Martinho de Antas (Cc. Sabrosa, Ds. Vila Real)tamén foi recuperada en circunstáncias pouco claras, atopándose a mediados

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 229

Figura 4. Exemplo prototípico de torques flaviense:Rendufe

Page 231: Issn 0871 - 4061

do século pasado en mans dun particular. Trátase de unha peza áurea aparen-temente completa na sua estrutura principal, ainda que ignoramos o seu valorponderal. Alguns investigadores teñen proposto para este exemplar unha cro-noloxía xenericamente situada entre os séculos V e II a. C. (SILVA, 1986: 261,n.º 531) ou mais especificamente por volta da segunda centuria a. C. (PÉREZOUTEIRIÑO, 1982: 186).

A bráctea áurea de Bragança constitúe un elemento de singular interesepara o estudo que nos ocupa, pois representa a chegada á rexión transmontanade unha moeda siracusana datada no século IV a. C. que, carente xa do seuvalor fiduciário orixinal, seria modificada formalmente até ser convertida nunobxecto laminar destinado a exercer funcións de aplique ornamental, por voltados séculos III ou II a. C. Ofrece un peso aproximado de 9,23 gr. Achada ca-sualmente nos arredores de Bragança en 1840 e actualmente conservada noGabinete Numismático da Câmara Municipal do Porto (CARDOZO, 1957: 27e Est. X, Fig. 18), en opinión de Blanco Freijeiro esta peza representaria a exis-téncia de contactos efectivos entre os ourives do Noroeste e o círculo culturalgrego, nomeadamente na fase helenística (BLANCO, 1976).

A fíbula áurea de Bragança (Ds. Bragança), hoxe depositada no BritishMuseum de Londres, trátase dun “unicum” pola sua elevadísima cualidade téc-nica e formal, seguramente debida ao feito de que, case que con total probabi-lidade, podemos afirmar que non seria un elemento de fabricación local, senónmais ben unha importación, confeccionada orixinariamente por un ourive deformación helenística contra o seculo III a. C. (PENA e ERIAS, 2006: 30). In-felizmente, malia ao seu excepcional estado de conservación, ignoramos o seuvalor ponderal.

Finalmente, non queremos rematar este “inventário” resumido da ouri-vesaria presente na rexión transmontana ao longo da segunda metade do I mi-lénio a. C. sen aludir, sequera sexa pontualmente, a duas pulseiras recuperadasdurante as recentes escavacións levadas a cabo no Crasto de Palheiros (Cc.Murça, Ds. Vila Real). Trátase de dous elementos metálicos elaborados en ligade cobre que, se ben estritamente non se poden considerar como pezas de ou-rivesaria ao non estaren confeccionados en metais nobres, constitúen clara-mente unha amostra de “obxectos de enfeite” que, polas suas interesantescaracterísticas formais e ornamentais, patentizan a existéncia de contactos coa

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 230

Page 232: Issn 0871 - 4061

Submeseta Norte española nos séculos finais do I milénio a. C. (PINTO, 2005).Unha vez expostas as evidéncias fornecidas polo rexistro arqueolóxico

para poder efectuar o estudo da ourivesaria transmontana da Segunda Idadedo Ferro, a continuación expoñemos unha série de consideracións xerais sobreas principais características definitórias da mesma.

Relativamente aos aspectos materiais, destaca a aparición novidosa eaparentemente “revolucionária” de manufacturas elaboradas en maior oumenor medida en prata, que irrompen por primeira vez na pré-história trans-montana, así como a continuidade na tradición de confeccionar a maior partedos elementos coñecidos en ouro.

Como dado orientativo podemos indicar que, segundo os nosos cálculos,a ourivesaria transmontana da primeira metade do I milénio a. C. alcanzariaun valor ponderal de aproximadamente 293,8 gr. –sempre exclusivamente enouro– mentres que a da Segunda Idade do Ferro suporia un peso total de maisde 2.500 gr., dos que pouco mais de 2000 serian de ouro e 460,8 de prata.

Como formas xenéricas presentes na ourivesaria transmontana da se-gunda metade do I milénio a. C. encontraremos os enfeites para o brazo xa co-ñecidos na fase anterior e outro tipo de elementos novidosos como poden seros adornos ríxidos para o pescozo ou para as orellas, así como os broches ouprendedores, as aplicacións ou revestimentos laminares e a vaixela de luxo,seguramente de uso ritual. Concretizando un pouco mais o que vimos de sina-lar, esta diversidade formal inclúe torques, braceletes/pulseiras, tazas, arreca-das, brácteas e fíbulas. Mais adiante encetaremos a cuestión da rexionalizaciónde algunhas morfotipoloxias específicas para os primeiros.

Ao nível dos coñecimentos tecnolóxicos e das solucións estéticas postasen prática polos ourives transmontanos da Segunda Idade do Ferro, convénlembrar agora algunhas das novidades importantes que ofrece o rexistro ar-queolóxico. En primeiro lugar, para alén dos recursos procedimentais herdadosda tradición anterior, aparecen agora as técnicas de eventual orixe mediterráneaque teñen a solda como protagonista, tanto ao nível estrutural, coa unión dediversos elementos entre si, como a nível ornamental, coa introdución da fili-grana e do granulado. Amais disto, constátase o uso deliberado de aliaxes ebaños superficiais con propósitos eventualmente económicos e estéticos, a in-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 231

Page 233: Issn 0871 - 4061

corporación de novas ferramentas como o compás e o punzón complexo e airrupción xeralizada das gramáticas ornamentais baseadas en motivos xeomé-tricos isolados ou eventualmente seriados. As decoracións tórnanse requintadase barroquizantes, con profusión de figuracións puncionadas complexas.

Verbo das relacións con outros ámbitos culturais e tecnolóxicos resultaevidente que a ourivesaria transmontana da Segunda Idade do Ferro ten comoponto de partida esencial o rexistro arqueolóxico propio da tradición culturaldo Noroeste. As orixes mais inmediatas desta ourivesaria poden apreciarse per-fectamente no bracelete de Lebução –seguramente confeccionado a partir dunmolde elaborado en cera con torno primitivo de eixo horizontal– onde resultapatente a herdanza tecnolóxica e formal dos exemplares ondulados típicos doBronce Atlántico, vg. Arnozela (ARMBRUSTER, 1998: 55-56). O torques deTourém relaciónase directamente coas producións homólogas do litoral braca-rense e os exemplares flavienses atopan paralelos formais nos remates de al-guns torques recuperados no interior da Galiza e nas Astúrias (LADRA, 2003).As producións en prata e cobre remeten para os círculos culturais ibérico e cel-tibérico, respectivamente. Os paralelos mais claros para o torques de Cortinhastémolos en exemplares ibéricos datados entre os séculos IV e I a. C. (BAN-DERA, 1987-88: 545; NICOLINI, 1994: 443, nota 56). As pulseiras de cobredo Crasto de Palheiros manifestan eventuais relacións formais e ornamentaiscoa ourivesaria da Submeseta Norte (PINTO, 2005). A fíbula e a bráctea deBragança constitúen claros exemplos de importacións procedentes do ámbitohelenístico, adoptadas aos gostos locais.

Finalmente, en relación cos contextos deposicionais destes achadostemos que constatatar, infelizmente, que a grande maioria das descobertas seproduciron á marxe de escavacións arqueolóxicas controladas e moitas delasen datas ben antigas. Porén, xunto cos obxectos isolados tamén se documentoua presenza frecuente de depósitos complexos formados por vários elementos,usualmente designados como “tesouros”: Tesouro de Lebução (un torques com-pleto, restos de outros dous e un bracelete galonado), Tesouro de Guiães (unhataza, unha manilla e centos de denários republicanos de prata) e Tesouro deParadela do Rio (tres torques).

5. os denominados torques flavienses

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 232

Page 234: Issn 0871 - 4061

A denominada escola flaviense foi definida orixinalmente por Mário Car-dozo a partir das particularidades específicas de unha série de elementos deourivesaria recuperados nas cercanias de Chaves (CARDOZO, 1942). Poste-riormente, esta clasificación será recollida e ampliada por diversos autores(LÓPEZ CUEVILLAS, 1951: 51; SILVA, 1986: 236-237; PÉREZ, 1990: 145;GONZÁLEZ, 2006-07: 424).

As principais características formais dos torques flavienses, originalmenteconfeccionados na rexión transmontana, serian a presenza de unha haste - sem-pre de sección cuadrangular - dotada de dous terminais volumétricos en duplaescócia. Tecnoloxicamente constátase o recurso á solda, filigrana, granulado epolvillado. Nos casos en que a decoración por estampaxe está presente, estaadoita manifestarse a xeito de figuracións xeométricas individuais ou agrupa-das, realizadas con várias matrizes.

O recurso sistemático ao uso do punzón complexo amósase como a prin-cipal especificidade ornamental dos torques flavienses, fáceis de recoñecer esensibelmente diferentes aos seus homólogos galegos e asturianos. Os motivosque aparecen representados con maior frecuéncia son os seguintes: rosáceashexapétalas, circunferéncias, follas lanceoladas, ondas, pentasqueis, triángulos,

círculos concéntricos con pontocentral, semicírculos, cenefas de“SSS” ou “888” e zigue-zagues.

Actualmente coñecemos unhadúcia de exemplares corresponden-tes a esta morfotipoloxia, incluindoo denominado torques dos ornito-morfos, unha posibel manufacturade orixe transmontana, hoxe depo-sitada no Museu Provincial de Lugo(BALSEIRO, 1994: 66-91). A rela-ción completa de torques flaviensesque actualmente temos rexistradoestaria integrada polos seguintesexemplares: Lebução (2), Paradela(2), Codeçais (1), Rendufe (1), Vilas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 233

Figura 5. Pormenor do disco exterior dun torques fla-viense

Page 235: Issn 0871 - 4061

Boas (1), British Museum (2), Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa (2)e Museu Provincial de Lugo (1).

A traverso do estudo pormenorizado dos torques flavienses podemos es-tablecer a existéncia de eventuais imitacións ou influéncias destes facilmenteaprezábeis nas semellanzas formais presentes noutros exemplares do Noroeste,tanto da zona litoral portuguesa (Estela), como do interior da Galiza (Castroda Terra de Melide, Castro de San Lourenzo do Pastor…) e mesmo das Astúrias(“Colección Soto Cortés”, Museo Arqueológico de Astúrias, Campu de Villa-bona…). De todo isto dedúcese que os torques flavienses estarian a evidenciara existéncia de eventuais interrelacións simbólicas que incumbirian a moitasdas diversas comunidades pré-romanas do NO.

Así pois, vimos de comprobar que a ourivesaria transmontana da SegundaIdade do Ferro amóstrase como unha realidade arqueoloxicamente incontor-nábel, dotada de unidade, variedade, coeréncia e personalidade suficientescomo para ser singularizada entre as diversas ourivesarias da proto-história doNoroeste. A máxima expresión desta singularidade transmontana estaria repre-sentada polos denominados torques flavienses, que actualmente representanmais do 75 % do peso total das manufacturas en ouro coñecidas para a segundametade do I milénio a. C. en Trás-os-Montes. Outros elementos –vg. o braceletede Lebução– tamén formarian parte desta escola.

O estudo da ourivesaria trans-montana da Segunda Idade do Ferro,con toda a sua riqueza e diversidade dematices, permítenos defender a hipó-tese de que tamén nas rexións interio-res relativamente afastadas do litoral,o dinamismo cultural manifestouse através de diversos mecanismos, entreeles seguramente os próprios da trocade ideas, materiais, formas, técnicas,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 234

Figura 6. Pormenor da decoración do bracelete deLebução

Page 236: Issn 0871 - 4061

imaxes, elementos e sensibilidades. Estas conclusións veñen a refrendar a vi-sión actual da denominada Cultura Castrexa como un fenómeno mais rico,aberto, dinámico e variado que o que até non hai moitos anos estábamos afeitosa aceptar, cando resultaba frecuente atopar cualificativos despectivos para re-ferirse a estas comunidades como grupos afastados entre si, isolados ou fe-chados.

BibliografíaALMAGRO, M.ª J. (1962): “Dos nuevos torques de oro, de tipo gallego, ingresados en el Museo

Británico”, Ampurias, XXIV: 196-201.ALMAGRO, M. (1969): “De orfebrería céltica: el depósito de Berzocana y un brazalete del Museo Arqueo-lógico Nacional”, Trabajos de Prehistoria, XXVI: 275-287. ALVES, L. C.; ARAÚJO, M.ª F. e SOARES, A. M. M. (2002): “Estudo de um torques proveniente do no-roeste peninsular”, O Arqueólogo Português, Série IV, 20: 115-134.ARMBRUSTER, B. (1998): “Quelques aspects technologiques de l’orfèvrerie du Bronze final au début del’âge du Fer, au Portugal et en Galice”, en G. Nicolini e N. Dieudonné-Glad, Les metaux antiques: travailet restauration, pp. 53-58.ARMBRUSTER, B. e PARREIRA, R. (1993): Inventário do Museu Nacional de Arqueologia. Colecção deourivesaria. 1º volume: do Calcolítico à Idade do Bronze. Lisboa, Ed. Instituto Português de Museus.BALSEIRO, A. (1994): El oro prerromano en la provincia de Lugo. Lugo, Ed. DPL.BANDERA, M.ª L. (1987-88): “Estudio crítico de los torques ibéricos”, Habis, 18-19: 531-563 + IX Est.BLANCO FREIJEIRO, A. (1976): “El carnero de Ribadeo”, Rev. Bellas Artes, 53: 3-7.CARDOZO, M. (1929-30): “Jóias arcaicas encontradas em Portugal”, Nós. Boletín Mensual da CulturaGalega, 72: 207-218 e 75: 43-63.CARDOZO, M. (1942): “Uma notável peça de joalharia primitiva”, Anais da Faculdade de Ciências doPorto, XXVII: 89-100.CARDOZO, M. (1943): “Antiguidades transmontanas”, Revista de Guimarães, LIII (1-2): 109-116.CARDOZO, M. (1954): “A propósito da lavra do ouro na província de Trás-os-Montes durante a época ro-mana”, Revista de Guimarães, LXIV (1-2): 113-141.CARDOZO, M. (1957): “Das origens e técnica do trabalho do ouro e a sua relação com a joalharia arcaicapeninsular”, Revista de Guimarães, LXVII (1-2): 5-46 + XIX Est.CARDOZO, M. (1959): “Um novo achado em Portugal de jóias de ouro proto-históricas”, Revista de Gui-marães, LXIX (1-2): 127-138 + 11 Fig.CAVALHEIRO, J. e SANCHES, M.ª J. (1995): “Um caso de metalurgia primitiva de ouro na 1.ª metade do3.º milénio AC: o abrigo do Buraco da Pala – Mirandela”, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, XXXV(4): 167-182 + V Est. COMENDADOR, B. (1998): Los inicios de la metalurgia en el Noroeste de la Península Ibérica. A Coruña,Ed. Museu Arqueolóxico.FORTES, J. (1905-08a): “O Tesouro de Lebução (Traz-os-Montes)”, Portugália, II (1): 1-14.FORTES, J. (1905-08b): “Museu Municipal Azuága-Notícias”, Portugália, II (1): 117-119.GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006-07): Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 235

Page 237: Issn 0871 - 4061

(1200 a. C. – 50 d.C.). A Coruña, Ed. Museu Arqueolóxico.GUIMARãES, J. A. G. et al. (2006): “Objectos arqueológicos e outros de Trás-os-Montes e Alto Douro naColecção Marciano Azuaga”, Côavisão, 8: 25-40.LADRA, L. (1999): Contribuciones para un estudio historiográfico y ponderal de los torques castreños delNoroeste. Madrid, UCM (Tese de licenciatura. Policopiada).LADRA, L. (2003): Ourivesaria, arqueologia e paleoetnologia. A distribuição territorial dos torques áureosda Segunda Idade do Ferro do Noroeste peninsular e a sua relação com as unidades étnicas indígenas.Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Dissertação de Mestrado em Arqueologia. Polico-piada).LÓPEZ CUEVILLAS, F. (1951): Las joyas castreñas. Madrid, Ed. CSIC.MACHADO, J. L. S. (1965): “O torques de ouro de Vilas Boas de Trás-os-Montes”, Ethnos, IV: 313-318 +6 fig.MARTINS, C. M. B. (1996): A ourivesaria proto-histórica de Portugal. Influências Mediterrânicas. Porto,FLUP (Dissertação de Mestrado em Arqueologia. Policopiada).MARTINS, C. M. B. (2008): “Exploração aurífera romana em Portugal”, Férvedes, 5: 413-422.NICOLINI, G. (1994): “Relations entre les orfèvreries celtique et ibérique”, Aquitania, XII : 431-446.PARREIRA, R. e PINTO, C. V. (1980): Tesouros da Arqueologia Portuguesa no Museu Nacional de Ar-queologia e Etnologia. Lisboa, Ed. IPPC-MNAL.PENA, A. e ERIAS, A. (2006): “O ancestral Camiño de peregrinación ó fin do Mundo”, Anuario Brigantino,29: 23-38.PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1982): De ourivesaria castrexa. I. Arracadas. Ourense, Ed. Museu ArqueolóxicoProvincial.PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1990): “Achega tipolóxica para o estudo dos torques áureos do NW”, Gallaecia,12: 139-151.PINTO, D. C. B. (2005): “Os artefactos metálicos do Crasto de Palheiros (Murça, Trás-os-Montes) e suasrelações com a Proto-história peninsular”, Bronce Final y Edad del Hierro en la Península Ibérica, pp. 111-130. Salamanca, Ed. US [CD-Rom].SÁNCHEZ-PALENCIA, F. J. (1983): La explotación prerromana del oro del Noroeste de la Península Ibé-rica”, Boletín Auriense, XIII: 31-67.SEVERO, R. (1905-08): “Novas descobertas de ourivesaria proto-histórica” e “O bracelete d’ouro de Tel-lões”, Portugália, II (1-2): 109-110 e 120.SILVA, A. C. F. (1986): A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. 1.ª Ed. Paços de Ferreira, Ed. MuseuArqueológico da Citânia de Sanfins.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 236

Page 238: Issn 0871 - 4061

PAtRones de situAción de los AsentAMientos tiPo cas-

tro en lA coMARcA de As FRieiRAs (oRense)CASTROS SETTLEMENT PATTERNS IN THE REGION OF AS FRIEIRAS(ORENSE)

Resumen: En este artículo se estudian los asentamientos tipo castro existentes en la Co-marca de As Frieiras, en el sureste de la provincia de Orense, Galicia. A través de un sistema detrabajo fundamentado en el análisis espacial se pretende un acercamiento a los patrones de si-tuación de este tipo de asentamientos, utilizando para ello una herramienta SIG con la cual seexaminan distintas variables: tipología formal de los emplazamientos, altitud relativa, visibilidad,accesibilidad, tipos de suelos del entorno y proximidad a rutas de tránsito probables. Por últimose realiza una valoración crítica de los resultados obtenidos como medio para avanzar en el es-tudio de las pautas de relación de estos yacimientos con el entorno en el área de trabajo y en elconocimiento de las realidades socioculturales que subyacen bajo esta relación.

Palabras-clave: asentamiento tipo castro, análisis espacial, SIG, patrones de situación,As Frieiras (Orense).

Abstract: This paper studies the type settlements castro in the Region of Frieiras, in thesoutheast of the province of Ourense, Galicia. Through a system of work based on the spatialanalysis an approach is expected to the patterns of situation of this type of settlements, usingfor it a tool GIS with which different variables are examined: formal typology of the emplace-ments, relative altitude, visibility, accessibility, types of soils of the environment and proximityto probable routes of transit. Finally a critical evaluation of the results obtained is realized likeway to advance in the study of the rules of relation of these sites with the environment in thework area and in the knowledge of the sociocultural realities that underlying under this rela-tion.

Keywords: Settlement type castro, spatial analysis, GIS, patterns of situation, As Frieiras(Ourense).

1. introducciónLa Comarca de As Frieiras se localiza en el extremo suroriental de la pro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 237

Alberto José Pungin GarcíaLabOratOriO de arQueOLOGía de La uNiverSidad de viGO;

[email protected]

Page 239: Issn 0871 - 4061

vincia de Orense, en el límite natural que suponen con la meseta las estriba-ciones finales de las Sierras y Depresiones Orientales y Surorientales de Gali-cia, presentando unas características de altitud, pendiente, clima y densidad dela población que la encuadran dentro de la alta montaña gallega.

La zona se caracteriza por una morfología topográfica bastante contras-tada, con gran variabilidad de altitudes en un marco espacial reducido (máximade 1660 m, mínima de 545 m y media de 950 m) y por lo tanto con pendientesmedias elevadas (entre 15-17%). Esta conformación contrastada permite esta-blecer tres sectores geográficos bien diferenciados: sector de sierras, localizadoen el cuadrante noreste del área de trabajo y caracterizado por la presencia demacizos muy vigorosos con altitudes máximas que superan los 1600 m.; sectorde penillanura, en la zona centro-oriental del marco de referencia se conformauna superficie de aplanamiento ligeramente inclinada hacia el sur en la cual sesuceden resaltes montañosos de escasa entidad y valles apenas excavados endirección NO-SO; sector de valles encajados, ocupa prácticamente la mitadoccidental de la zona de estudio, se trata de una antigua superficie de aplana-miento situada entre dos sistemas montañosos y profundamente alterada porla acción de la red de drenaje, lo que genera un espacio muy irregular en elque se alternan pequeñas alineaciones montañosas y altiplanicies reducidascon una sucesión de valles profundamente encajados en dirección N-S primero(sector septentrional) y O-E después (sector meridional).

La red de drenaje se caracterizapor pertenecer a la cuenca del ríoDuero y se estructura en torno a dos co-lectores principales: hacia el oeste elrío Mente y en los sectores central yoriental, el río de A Ribeira. Se trata decorrientes pequeñas, de cabecera, conun caudal muy variable y dependientede las precipitaciones líquidas, for-mando valles abiertos en la mitad estey profundos y escarpados en la zonaoccidental.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 238

Figura 1. Área de estudio

Page 240: Issn 0871 - 4061

La zona aparece dominada por dos grandes complejos litológicos: elcomplejo granítico en el área oriental, dominando casi toda la penillanuramesquitense y en el sector occidental el complejo metamórfico. Sobre estosgrupos litológicos dominantes se desarrolla una cobertura edafológica carac-terizada por un predominio de suelos de las clases ránker y tierra parda,acompañados de pequeñas extensiones de pseudogley y vega parda alóc-tona.

Desde el punto de vista climático esta región presenta característicaspropias del clima oceánico de montaña, si bien con matices ya mediterráneosfundamentados en el paso brusco del frío al calor y en la abundancia de pre-cipitaciones invernales frente a la escasez de estas en el verano. Este pano-rama general ofrece ciertos matices según zonas, por lo que se puedenestablecer aún tres variantes microclimáticas: dominio subhúmedo frío (zonade sierras); dominio subhúmedo fresco (zona de penillanura); y dominio secotemplado (zona de valles encajados).

En esta región se localizan 14 yacimientos arqueológicos cuya tipologíaresponde al modelo de asentamiento tipo castro, objeto de nuestro trabajo deinvestigación para la obtención del Diploma de Estudios Avanzados , y delque este artículo es un resumen detallado, si bien con ciertos matices deriva-dos de la revisión de aquellos primeros resultados. Este estudio se abordódesde la perspectiva del análisis espacial de los yacimientos y su entorno,utilizando para ello un Sistema de Información Geográfica y tomando comoreferencia los principales trabajos que analizan la temática castreña desde unenfoque espacial . El trabajo tenía una orientación fundamentalmente prác-tica, sin entrar en ningún momento a valorar ni los aspectos teóricos relacio-nados con los análisis espaciales en arqueología, ni los aspectos conceptualesque cimientan las variables utilizadas. Como consecuencia los resultados ob-tenidos y aquí presentados han de ser tomados con cautela, algo a lo queobliga tanto esa falta de contenido teórico como la reiteración en el uso devariables sin el pertinente enfoque crítico de las mismas y sin la necesariaadaptación a las circunstancias propias de cada caso . Con todo, estos resul-tados deben de ser entendidos como hipótesis de trabajo fundamentadas enargumentos expositivos que sirvan como base de un trabajo posterior demayor consistencia.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 239

Page 241: Issn 0871 - 4061

2. Análisis espacialEl análisis espacial por medio de una herramienta SIG constituyó la parte

fundamental y más laboriosa del trabajo realizado. El punto de partida fue lacreación de una base de datos de referencia cuyas fuentes se situaron en la re-visión del material bibliográfico, cartográfico y arqueológico asociado al áreade trabajo, base de datos que se define desde un enfoque dual: geográfico (to-pografía y tipos de suelos) y arqueológico (yacimientos). La interrelación entreambos contextos constituye el fundamento del recurso a un SIG y tiene comoelementos de conexión las distintas variables de análisis.

En primer lugar se generó la información referida a la topografía, hidrografíay vías de comunicación. La información de base fue la cartografía digital a escala1:5000 de la Xunta de Galicia (Consellería de Política Territorial, Obras Públicase Vivenda), tomando como referencia las hojas 265 (57-58-67-68-77-78-87-88),266 (51-52-53-54-55-61-62-63-64-65-66-71-72-74-75-76-81-82-83-84-85-86),303 (17-18-27-28-37-38) y 304 (11-12-13-14-15-21-23-24-25-31-33-34-35), ge-nerando a partir de estas archivos vectoriales en el programa informático referidosa altimetría, hidrografía y vías de comunicación. A partir de los datos de altimetríase derivó el Modelo Digital de Elevaciones (MDE) de la zona de estudio en for-mato raster con una resolución de celdilla de 5 m de lado. Este MDE sirvió acontinuación como base para la creación del Modelo Digital de Pendientes.

En segundo lugar se modeló la información referida a tipos de suelo segúnpotencial productivo. La base se situó en el trabajo de F. Díaz-Fierros Viqueiray F. Gil Sotres (1984), que contiene una distribución de tipos de suelos paratoda Galicia sobre una cartografía a escala 1:200000. En este caso hubo querecurrir a un tratamiento digital previo del mapa E4, suministrado en ese tra-bajo, para poder importarlo al SIG, primero como archivo vectorial con ele-mentos poligonales y después como archivo raster con celdas o pixeles coninformación referida al tipo de suelo al que representan.

Una vez definida la base de datos geográfica, abordamos la definición dela capa temática de asentamientos. Esta fase está considerada como una de lasmás problemáticas dentro de los proyectos relacionados con la aplicación deSIG en arqueología (Espiago y Baena 1999: 39). De hecho, en la representaciónde los yacimientos entran en juego distintos factores relacionados con los datosde partida, la escala de análisis y la tipología de las propias entidades arqueo-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 240

Page 242: Issn 0871 - 4061

lógicas. La localización de estas se puede realizar a través de diversas fuentes,destacando entre las más frecuentes las utilización de las coordenadas recogidasen los catálogos e inventarios oficiales de bienes arqueológicos. Sin embargo,diversos factores relacionados con los distintos sistemas de coordenadas, lafalta de formación de los arqueólogos en materia cartográfica y errores tipo-gráficos o de otra índole, provocan que en muchos casos esas coordenadas con-tengan serios errores. Por otro lado, la abstracción de la realidad arqueológicapara convertirla en un elemento gráfico con el que poder trabajar en un pro-grama informático, es otro factor a tener en cuenta, pues la representación delos elementos arqueológicos se puede realizar por medio de puntos, líneas opolígonos según sea su tipología y la escala a la que se trabaje. Como conse-cuencia, es recomendable y necesario detectar y corregir posibles errores asícomo precisar que tipo de modelo de representación resulta más adecuado, yaque esto puede influir de manera notable en los resultados finales1.

Para el caso que nos ocupa las fuentes para la localización de los asenta-mientos fueron los Inventarios Arqueológicos de los ayuntamientos de A Mez-quita y A Gudiña y el Plan General de Ordenación Municipal del ayuntamientode Riós. De estas fuentes se tomaron lascoordenadas de localización puntual delos yacimientos, detectando y corri-giendo errores en seis de los casos. Porúltimo se definió, a partir de estos pun-tos de localización, la superficie hipoté-tica de los poblados (considerados comoentidades poligonales) utilizando comoelementos indirectos de referencia la fo-tografía aérea y los planos de localiza-ción de áreas arqueológicas protegidas de los Planes Generales de OrdenaciónMunicipal de A Gudiña y Riós.

Una vez configurado el modelo de referencia sobre el que realizar el aná-lisis espacial, compuesto por esas dos características de la realidad considera-das, los elementos geográficos y los elementos arqueológicos, se procedió acontinuación con la definición de las variables de análisis. Estas hacen refe-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 241

Figura 2. MDE y localización de los asenta-mientos

Page 243: Issn 0871 - 4061

rencia a una serie de procesos que son nota común en la mayor parte de losanálisis espaciales con herramientas SIG (Espiago y Baena 1999: 48), si bienen el caso que nos ocupa el grupo de variables escogidas depende directamentede las principales referencias metodológicas de este estudio. Así de los trabajosde M. Xusto (1993) sobre la zona de Viana, Carballo Arceo (2002) en la Co-marca de Deza, y C. Parcero Oubiña y P. Fábrega Álvarez (2006) en diversaszonas de las provincias de A Coruña, Pontevedra y Lugo, se tomaron las si-guientes variables de análisis:

Perfiles topográficos. El estudio de los perfiles topográficos se proponedesde la caracterización topográfica de los emplazamientos de los poblados,con el objetivo de determinar tipologías que pudiesen ser comparadas con otrasáreas. Para ello se realizaron perfiles de los lugares en los que se ubican losasentamientos, considerando dos radios de actuación: uno menor de 200-300m a partir del yacimiento para valorar la tipología del emplazamiento; y otromayor, 1 Km., para definir a esta dentro de un contexto general.

Altitud Relativa. El análisis de esta variable es un método que permitevalorar el carácter dominante de los poblados con respecto al medio físico enel que se sitúan. Sus fundamentos están en el concepto de monumentalidadaplicado a este tipo de asentamientos, y más en concreto en la idea de visuali-zación como elemento clave en la elección del emplazamiento de este tipo deyacimientos (Parcero 1995: 135-6). Para valorar este aspecto se propusierondiferentes entornos, uno inmediato de 800 m y otro de alcance medio en unradio de 2000 m, y se tomaron como fórmulas de análisis las propuestas porC. Parcero Oubiña y P. Fábrega Álvarez (2006: 77-8) para determinar la Me-dida Simple y la Tendencia de la Altitud Relativa.

visibilidad. Partiendo del supuesto de que el control visual del medio yde los recursos que en él se encuentran constituye un aspecto de especial rele-vancia en la elección de la ubicación de los asentamientos castreños, se proce-dió al análisis de las cuencas visuales teóricas o potenciales de cada yacimiento,entendiendo estas como “el conjunto de todas las localizaciones o puntos deun territorio que son visibles desde un punto de observación especifico, dadauna distancia máxima de visión, y en base únicamente a la topografía” (GarcíaSanjuán et al. 2006: 184). En función de esto se definió como punto de obser-vación al asentamiento, mientras que la distancia de visión se estableció en

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 242

Page 244: Issn 0871 - 4061

tres intervalos: 800 m, contexto inmediato; 2000 m, contexto a media distancia;y 30 Km., contexto a larga distancia.

Accesibilidad. El concepto de ‘accesibilidad’ se entiende en este trabajocomo el “grado potencial de interacción entre un espacio determinado con elresto de una unidad territorial de escala mayor a la que pertenece” (D.E.G.U.2003: s. v. ‘accesibilidade’), y puede medirse mediante la relación de movilidady a través de unas infraestructuras y medios de transporte específicos. Puesbien, en este caso el interés se centró en comprobar esa interacción en base avalores como la capacidad productiva del entorno, la potencialidad defensivao la proximidad a rutas de tránsito. Para ello se creó un modelo de análisis enel cual la superficie topográfica se consideró como único condicionante parala movilidad y se establecieron los resultados finales en forma de valores tem-porales a partir de la referencia de la velocidad de una persona andando sobreuna superficie llana, calculada generalmente en 5 Km/h (Carballo Arceo 2002:205; Fábrega 2004: 17; Ruestes 2006: 29).

tipos de suelos. De manera general se asume que la proximidad a deter-minados tipos de terreno pudo ser un a factor de importancia en la elección delos lugares de asentamiento de ciertos modelos de ocupación (Martín et al2004: 217), por lo tanto el análisis de esta variable se muestra como un caminointeresante para determinar los patrones de situación de determinados asenta-mientos. No se trata de valorar la potencialidad productiva del entorno comomedio para establecer posibles estructuras de producción, sino simplementede analizar la proximidad a los distintos tipos de tierras considerando que lasrespuestas observadas pueden ser válidas para el estudio de las pautas de loca-lización. Análisis de proximidad que se realizó a partir de radios fijos en tornoal yacimiento y del espacio visible y accesible desde el mismo, tomando comoelemento de referencia el Modelo Digital de Tipos de Suelos anteriormentecreado. Para poder llevar a cabo los análisis fue necesario definir un marcooperativo comparativo, en él que los distintos tipos de suelos existentes en elárea fuesen reducidos a unas categorías básicas. F. Diaz-Fierros y F. Gil (1984)establecen una definición de los suelos de Galicia por medio de una leyendadel tipo AL11s a partir de los datos disponibles sobre sitio, clima y suelo. To-mando como referencia el primer elemento de la leyenda, que define los datosde sitio y suelo, se crearon en este trabajo tres categorías sobre la capacidad

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 243

Page 245: Issn 0871 - 4061

de uso agrícola de la tierra: capacidad de uso agrícola normal, tierras que pre-sentan buenas aptitudes para el cultivo pues tienen aceptables condiciones dependiente y profundidad, aunque en algunas áreas presenten ciertas limitacio-nes (fertilidad, heladas, régimen hídrico); capacidad de uso agrícola mode-rado, tierras con limitaciones moderadas a altas (pendientes <20%,afloramientos rocosos <25%, riesgos de erosión medio-altos), pero con pro-fundidad suficiente para el enraizamiento de especies que no necesitan de en-raizamiento profundo (50-100 cm.); capacidad de uso agrícola nula, losrestantes tipos de suelos.

Rutas de tránsito. El análisis de las rutas de tránsito se formula comomedio para valorar las relaciones de los asentamientos con aquellas zonas queofrecen mayores posibilidades para el tránsito a través del territorio. Esta con-sideración parte del supuesto de que el cálculo de rutas óptimas de desplaza-miento entre una serie de puntos distribuidos regularmente por el exterior dela zona de estudio, puede ofrecer como resultado las rutas más adecuadas paraatravesar el territorio y, en consecuencia, aquellas con mayor potencialidad deuso (Bermúdez 2006: 94-5).

3. Patrones de situación El análisis espacial llevado a cabo permite un acercamiento a los patrones

de situación de los asentamientos tipo castro en la Comarca de As Frieiras.Desde una perspectiva macroespacial, la relación de estos asentamientos conel marco geográfico global en el que se circunscriben nos mostró una serie decaracterísticas interesantes:

Se observa en general que los poblados se ubican en zonas de altitudesabsolutas medias o medio-bajas, evidenciándose una tendencia a la reduccióndel número de asentamientos según aumenta la altitud. Este carácter selectivodel hábitat se muestra también en relación con las pendientes del terreno, des-tacando el interés por ocupar zonas de pendientes medias y medio-altas, puesestas son en principio las que ofrecen las mejores condiciones a nivel estraté-gico, económico y ocupacional.

Se evidencia una relación clara entre los castros y la red de drenaje prin-cipal, manifestada tanto a nivel espacial, es decir de distancia a esa red, comotemporal. En este sentido, tan sólo uno de los asentamientos presenta una re-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 244

Page 246: Issn 0871 - 4061

lación de proximidad con los cursos de agua principales bastante mala, dadoque se sitúa a más de 2 km. y de 1 hora de distancia del curso de agua principalmás cercano.

La conexión con las tierras potencialmente más aptas para el desarrollode labores agrícolas parece clara a nivel general. Así aproximadamente un 65%de los poblados presenta en sus inmediaciones este tipo de tierras, porcentajemás que significativo si tenemos en cuenta que el total de la superficie ocupadapor estas tierras se sitúa en torno al 20% del área de trabajo. Además aquellosasentamientos que no presentan este tipo de tierras en las inmediaciones, ofre-cen por el contrario un amplio control estratégico de las mismas.

Por último, se observa también una interconexión clara entre la localiza-ción de los asentamientos y las rutas potenciales de tránsito a través del terri-torio. 10 de los 14 asentamientos estudiados presentan dentro de su entornoinmediato una zona de muy alta probabilidad de tránsito, mientras que los res-tantes ofrecen por término medio con respecto a estas zonas un amplio controlvisual.

Ante este panorama global, el análisis individual de cada asentamientoy su entorno reveló la existencia de matices particulares en cada caso, maticesque agrupados en forma de tendencias similares permitieron establecer distin-tos patrones de situación de los asentamientos:

Primer patrón. Agrupa a asentamientos que presentan una localización sobrelugares bastante destacados del entorno, con índices de altitud relativa positivostanto en el intervalo inmediato (800 m) como en el intervalo de alcance medio(2000 m). Ubicación que favorece notablemente la visibilidad a larga distancia,siendo muy selectiva en los intervalos iniciales (controlan visualmente una porciónconcreta del territorio en detrimento de las restantes). En cuanto a la accesibilidad,estos asentamientos destacan por presentar una relación de mala a regular accesi-bilidad al entorno, presentándose además esta más desarrollada en alguna de lasdirecciones. Todo esto favorece un distanciamiento notable de las tierras poten-cialmente más adecuadas para el desarrollo de labores agrícolas. Así, aunque dentrode los radios de distancia inmediatos de alguno de los asentamientos aparecen estetipo de tierras, lo hacen siempre en porcentajes mínimos y bajo intervalos de ac-cesibilidad malos (a partir de 30‘). Sin embargo estas tierras ofrecen un interés des-tacado para los poblados pues son preferentes dentro de los campos visuales. Por

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 245

Page 247: Issn 0871 - 4061

último en la relación con las rutas óptimasde tránsito se observa también un distan-ciamiento espacial y temporal notable y uncontrol visual amplio. Pertenecerían a esteprimer patrón los yacimientos de O Cas-telo Pequeno, O Castelo y O Cabezo.

segundo patrón. Está formadopor yacimientos localizados general-mente en posiciones dominantes conrespecto al entorno inmediato, peromucho menos prominentes a medida

que aumenta la distancia. La visibilidad del entorno suele ser amplia e intensaen las zonas más próximas, perdiendo peso relativo en los contextos a mediay larga distancia, mostrando además como característica fundamental la ho-mogeneidad en torno al yacimiento. El espacio accesible es por norma, aunquecon alguna excepción, amplio y homogéneo en todos los intervalos, presen-tando este grupo los niveles más altos de accesibilidad. Por otro lado, y al con-trario de lo que ocurre con el patrón anterior, este grupo de asentamientos secaracteriza por una relación de proximidad con las tierras de mejor calidad,proximidad que se manifiesta tanto a nivel espacial como temporal. Caracte-rística esta que aparece también con respecto a las rutas óptimas de tránsito através del territorio, pues todos los asen-tamiento presentan en el intervalo dedistancia inmediato (800 m) alguna zonade tránsito muy probable (por allí se en-cauzan 5 o más rutas óptimas de trán-sito), presencia que se confirma (exceptopara un caso) además dentro de los in-tervalos de buena accesibilidad (-30‘).Se englobarían dentro de este patrón desituación los yacimientos de A Cabe-ciña, A Cabeza, A Touza, A Torre daPousa y O Castro de Barxa.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 246

Figura 3. Visibilidad en el radio de 2000 m delasentamiento de O Castelo Pequeño

Figura 4. Isócronas de accesibilidad en 15’,30’, 45’ y 60’ para el asentamiento de A Torreda Pousa

Page 248: Issn 0871 - 4061

tercer patrón. Se puede observar aún la existencia de un tercer patrón,con valores de prominencia de los asentamientos sobre el entorno variados yun control visual del medio que ofrece en general valores medio-bajos sobretodo en los intervalos de alcance medio y a larga distancia, siendo la distribu-ción de los ángulos visuales poco uniforme sobre todo a partir del radio de 800m. Los datos de accesibilidad ofrecen también valores medio-bajos, predomi-nando en alguna dirección la distribución espacial de las distintas isócronastemporales, coincidiendo algunas veces con la zona de máxima visibilidad yotras con la menos visible. En lo referente a la relación con las mejores tierras,aunque la variedad es más notable en este punto, no se observan ni unos valoresde proximidad tan elevados como en el segundo patrón ni tampoco un distan-ciamiento tan marcado como ocurre en el primer patrón. Respecto a las rutasde tránsito estos asentamientos muestran en todos los casos una ruta de tránsitoóptima a través del territorio en el entorno de 800 m o en el límite del mismo,destacando para tres de los casos las presencia en este contexto de una zona dealta probabilidad de tránsito (5 o más rutas óptimas por el mismo lugar). Porúltimo conviene señalar la relación existente entre tres de los asentamientos yyacimientos mineros de probable explotación antigua. Se agrupan en este tercerpatrón los yacimientos de A Cabeciña do Souto, O Circo, A Ribeira, Tras doCastro, O Castro de S. Lourenzo y As Cabarquellas.

4. consideraciones Finales Los patrones de situación observados sirven como soporte para proponer

un primer marco interpretativo del poblamiento castreño y galaico-romano enla Comarca de As Frieiras, propuesta que surge fundamentalmente a raíz de lacomparación con los modelos observados en otras áreas.

Se puede plantear una primera hipótesis de trabajo articulada en torno aun modelo de hábitat propio del Hierro I bien diferenciado de un segundo mo-delo asociado al Hierro II y a la época de ocupación romana. Los patrones desituación aquí observados presentan ciertas semejanzas con los detectados porC. Parcero y P. Fábrega (2006) en diversas áreas de Galicia. Estos autores plan-tean a partir de los patrones observados un doble modelo sobre las formas deconstrucción del paisaje en la Edad de Hierro:

El paisaje de la producción en el Hierro I: localización de los asentamien-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 247

Page 249: Issn 0871 - 4061

tos en zonas con terrenos aptos para una explotación extensiva del medio ydistanciamiento de los terrenos de explotación intensiva; inaccesibilidad; do-minio visual del entorno; posiciones dominantes y visibles sobre todo a mediay larga distancia.

El paisaje de la producción en el Hierro II: proximidad a terrenos de ex-plotación intensiva; accesibilidad amplia y homogénea al entorno; prominenciafísica y visual limitada al contexto más inmediato sin extenderse a larga dis-tancia.

En base a esto se puede asociar el primer patrón de situación detectadoen nuestra área de trabajo con un modelo de producción del Hierro I, mientrasque el segundo y tercer patrón presentarían ciertas trazas de un modelo propiodel Hierro II, en el que no se detectarían en principio grandes signos de rupturaentre lo castreño prerromano y lo castreño romano. Sin embargo este últimoaspecto constituye un elemento especialmente relevante, pues si bien hay cier-tos autores que argumentan una continuidad más o menos marcada entre lospatrones territoriales de lo castreño prerromano y romano (Carballo 2002; Par-cero 2000), otros en cambio critican tal continuidad y defienden la existenciade una ruptura clara que precisamente se puede observar en los modelos deocupación y explotación del territorio, ruptura que no tiene que circunscribirsenecesariamente a las zonas mineras, lugares en los cuales, eso si, esta es másintensa y nítida (Fernández-Posse 2002; Sánchez Palencia et al. 2002; Rodrí-guez Fernández 1994; Xusto 1993). Ante este debate, que centra su punto deinterés en el complejo problema de los efectos de la ocupación romana del nor-oeste peninsular, se hace necesario replantearse críticamente el planteamientoanterior, máxime si tenemos en cuenta que esa ruptura se observa bastante bienen zonas próximas a la aquí estudiada2.

Por todo ello se puede platear aún una segunda hipótesis de trabajo, quepone el énfasis precisamente en esa ruptura y que parte del presupuesto de queuna de las consecuencias de la conquista es que lo indígena pasa de ser centroa ser periferia, de autorreferenciarse a hacerlo en función de otros (RodríguezFernández 1994:168).

Esta propuesta mantendría en esencia las valoraciones anteriores, concre-tadas en torno a un primer modelo de ocupación relacionado con el Hierro I,que estaría representado por los asentamientos de O Castelo Pequeno y O Cas-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 248

Page 250: Issn 0871 - 4061

telo, y un segundo modelo característico del Hierro II en el que se agruparíanlos asentamientos de A Cabeciña, A Cabeza, A Cabeciña do Souto, Torre daPousa e As Cabarquellas. El asentamiento de O Cabezo ofrece ahora dudasimportantes para su interpretación, dado que si bien por un lado presenta unascaracterísticas propias de los modelos de ocupación propios del Hierro I, porotro lado ofrece un tipo de emplazamiento asimilable a los Tipo A de L. X.Carballo Arceo (2002: 102), M. Xusto (1993: 141) y X. Agrafoxo (1992: 65),lo que llevaría a considerarlo dentro de un patrón de localización propio delHierro II.

Como novedad se argumenta un tercer modelo de ocupación definido porA Touza, O Circo, A Ribeira, Tras do Castro, Castro de Barxa y Castro de S.Lourenzo, que marcaría una sustancial diferencia con los modelos anterioresfundamentada en esa idea de que el castro deja de ser el elemento referencialdel paisaje. Las bases que permiten plantear esto se centran en los valores deprominencia y visibilidad de los asentamientos, pues estos asentamientos pre-sentan valores de altitud relativa muy bajos o negativos ya desde el contextoinmediato, ocupando lugares que no destacan notablemente en el contorno delterritorio y con unos valores totales de visibilidad que se centran esencialmenteen el espacio inmediato y de alcance medio.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 249

Figura 5. Evolución de la visibilidad (en km²) de losasentamientos en los distintos intervalos espaciales

Page 251: Issn 0871 - 4061

Las propuestas anteriores han de entenderse necesariamente como hipó-tesis de trabajo provisionales y en ningún momento como tesis definitivas sobreel poblamiento castreño y galaico-romano en la región estudiada. Hipótesisque esperamos poder tratar en estudios futuros para validar su viabilidad, uti-lizando para ello una base teórica más consistente e intentado ampliar el áreade trabajo a zonas adyacentes.

BibliografíaAgrafoxo Pérez, X. 1992. O hábitat castrexo no Val do Barcala, Amaía e Val do Dubra. Noia: Se-

menteira.Baena Preysler, J.; Ríos Mendoza, P. 2006. Realidad y abstracción: límites de la integración de datos en losSIG. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15:15-27. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.Bermúdez Sánchez, J. 2006. El análisis de las redes viarias en la antigüedad a partir de las posibilidades queofrecen los SIG. Rutinas para el Cálculo Acumulado de vías óptimas con el Programa Idrisi. En Grau Mira,I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 91-7. Alicante: Pu-blicaciones Universidad de Alicante.Carballo Arceo, L. X. 2002. A Cultura Castrexa na Comarca de Deza. Colección Deza Básicos, nº 4. Lalín:Seminario de Estudios do Deza.Chapa Brunet, T.; Bermúdez Sánchez, J.; Mayoral Herrera, V.; Vicent García, J. M. 2004. Aplicación de losSistemas de Información Geográfica a la Investigación y Gestión del Patrimonio en el Bajo Jarama (Madrid).En Martín de la Cruz, J. C.; Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional InformáticaAplicada a la Investigación y Gestión Arqueológicas: 151-68. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Uni-versidad de Córdoba.Díaz-Fierros Viqueira, F.; Gil Sotres, F. 1984. Capacidad productiva de los suelos de Galicia. Mapa 1:200000.Universidad de Santiago de Compostela.Diccionario Enciclopédico Galego Universal. 2003. Vigo: Ir Indo Edicións.Espiago, J.; Baena, J. 1999. Los Sistemas de Información Geográfica como tecnología informática aplicadaa la arqueología y a la gestión del patrimonio. En Baena Preysler, J.; Blasco Bosqued, C.; Quesada Sanz, F.(eds.). Los S.I.G. y el análisis espacial en arqueología: 7-66. Madrid: Ediciones de la Universidad Autónomade Madrid.Fábrega Álvarez, P. 2004. Poblamiento y Territorio de la Cultura Castreña en la comarca de Ortegal. CAPA(Cadernos de Arqueoloxía e Patrimonio), 19. Santiago de Compostela: Laboratorio de Patrimonio, Paleoam-biente e Paisaxe.Fernández Cacho, S. 2004. Nuevas Tecnologías en la Gestión de la Información de Patrimonio Arqueológicoen Andalucía. Problemas Detectados y Soluciones Adoptadas. En Martín de la Cruz, J. C.; Lucena Martín, A.Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investigación y Gestión Ar-queológicas: 169-86. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.Fernández-Posse, Mª. D. 2002. Tiempos y espacios en la Cultura Castreña. En Blas Cortina, M. A. de; VillaValdés, A. (eds.). Los poblados fortificados del Noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo dela Cultura Castreña. Coloquios de Arqueología en la Cuenca del Navia. Homenaje al Prof. Dr. josé ManuelGonzález y Fernández-Valles: 81-95. Navia: Ayuntamiento.García Sanjuán, L. 2004. La Prospección Arqueológica de Superficie y los SIG. En Martín de la Cruz, J. C.;Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investigación

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 250

Page 252: Issn 0871 - 4061

y Gestión Arqueológicas: 185-210. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.García Sanjuán, L.; Metcalfe-Wood, S.; Rivera Jiménez, T.; Wheatley, D. W. 2006. Análisis de pautas de vi-sibilidad en la distribución de monumentos megalíticos de Sierra Morena Occidental. En Grau Mira, I. (ed.).La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 181-200. Alicante: Publi-caciones Universidad de Alicante.Lemos, F. S. 1993. Poboamento romano de Trás-os-Montes Oriental. Braga: Universidade do Minho.Martín de la Cruz, J. C.; Bermúdez Sánchez, J.; Perlines Benito, M. R. 2004. Los Sistemas de la InformaciónGeográfica Aplicados a la Campiña de Córdoba: Sincronías y Diacronías Poblacionales. En Martín de la Cruz,J. C.; Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investi-gación y Gestión Arqueológicas: 211-35. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.Parcero Oubiña, C. 1995. Elementos para el estudio de los paisajes castreños del noroeste peninsular. Trabajosde Prehistoria, 52 (1): 127-44. Madrid.Parcero Oubiña, C. 2000. Tres para dos. Las formas del poblamiento en la Edad del Hierro del Noroeste Ibé-rico. Trabajos de Prehistoria, 57 (1): 75-95. Madrid.Parcero Oubiña, C.; Fábrega Álvarez, P. 2006. Diseño metodológico para el análisis locacional de asenta-mientos a través de un SIG de base ‘raster’. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueologíadel Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 69-90. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.Rodríguez Fernández, T. 1994. El fin del mundo fortificado y la aparición de las «aldeas abiertas». La evi-dencia del Centro-Oriente de Lugo (Samos y Sarria). Espacio, Tiempo y Forma, Serie I, Prehistoria y Ar-queología, t. 7: 153-89.Ruestes i Bitrìa, C. 2006. El poblamiento ibérico y romano en la Layetania Litoral (del río Besòs a la Rierade Teià). Aplicación arqueológica de un SIG. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueo-logía del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 227-45. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.Sánchez-Palencia, F. J.; Orejas, A.; Sastre, I. 2002. Los castros y la ocupación romana en zonas mineras delNoroeste de la Península Ibérica. En Blas Cortina, M. A. de; Villa Valdés, A. (eds.). Los poblados fortificadosdel Noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo de la Cultura Castreña. Coloquios de Arqueo-logía en la Cuenca del Navia. Homenaje al Prof. Dr. josé Manuel González y Fernández-Valles: 241-59.Navia: Ayuntamiento.Xusto Rodríguez, M. 1993. Territorialidade Castrexa e Galaico-romana na Galicia Suroriental: A Terra deViana do Bolo. Boletín Auriense, anexo 18. Ourense: Museo Arqueolóxico Provincial.

1 El trabajo lleva el título Introducción al poblamiento castreño y galaico-romano en la Tierra de As Frieiras(Orense): análisis espacial de los asentamientos tipo «castro» y fue leído en la Universidad de Vigo en sep-tiembre de 2007.2 El software utilizado fue Idrisi32 de Clark Labs.Los trabajos de referencia utilizados fueron: Agrafoxo (1992), Carballo (2002), Fábrega (2004), Parcero

(1995 y 2000), Parcero y Fábrega (2006) y Xusto (1993).3 Problemática esta que ya ha sido señalada por algunos autores como uno de los elementos claves en la in-tegración entre SIG y estudios arqueológicos (Baena y Ríos 2006: 17). De todas maneras en este trabajo seentendió que este era un riesgo aceptable en función de los resultados perseguidos.4 Distintos aspectos relacionados con la definición de la capa temática de yacimientos y posibles casos deaplicación pueden verse en Baena y Ríos (2006), Chapa et al (2004), Espiago y Baena (1999), FernándezCacho (2004), García Sanjuán (2004). 5 Como parece advertirse en el trabajo de M. Xusto (1993) en la zona de Viana do Bolo. También en el áreaportuguesa de Tras-os-Montes oriental F. S. Lemos (1993) observa esa ruptura entre lo castreño prerromanoy romano, caracterizando a este último como “directamente derivado de los castros”. Asimismo en una revi-sión crítica del trabajo de A. Esparza sobre los castros zamoranos, Mª. D. Fernández-Posse (2002: 92) observala posibilidad de distinguir claramente entre castros prerromanos y romanos en función de los “materiales,situación y estructura”.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 251

Page 253: Issn 0871 - 4061
Page 254: Issn 0871 - 4061

tRÍsceles, tetRásceles e Motivos AFins eM eleMentosARQuitectónicos cAstReJosTRISKELES, TETRASKELES AND RELATED MOTIFS IN IRON AGE AR-CHITECTURAL ELEMENTS

Resumo: Alguns elementos arquitectónicos da Cultura Castreja apresentam motivos como trís-celes, tetrásceles e outros afins, cujo estudo sistemático se torna difícil por diversas razões. Aolongo dos escassos estudos aprofundados até agora realizados destacam-se principalmente duasproblemáticas: a cronologia destas peças, que na sua maioria têm aparecido fora do seu contextooriginal, e a questão de se tratar de motivos simbólicos ou apenas decorativos. Nesta comunicação o autor apresenta uma síntese de alguns anos de investigação sobre esta te-mática, tentando contribuir para lançar mais alguma luz sobre as problemáticas referidas.Palavras-chave: Trísceles, tetrásceles, Cultura Castreja, simbolismo.

Abstract: Some architectonic elements of the Hillfort’s Culture have motifs like triskelestetraskeles and others similar, whose systematic study becomes difficult due to several reasons.After the few developed studies made until now two questions can be stressed: the chronologyof these artefacts, which in their majority have appeared outside their original context, and thesubject matter of being symbolic motifs or only decoration.In this paper the author presents the synthesis of some years of research about this theme, tryingto contribute to spread some more light about the mentioned questions.

Keywords: triskeles, tetraskeles, Castro Culture, symbolism.

1. introduçãoOs motivos que aqui abordamos são variantes de braços curvos do sím-

bolo denominado suástica, um signo milenar utilizado por inúmeras culturaspelo menos desde o VII milénio a.C. Existem em grande número na CulturaCastreja, surgindo em castros da Galiza (Províncias de Lugo, Pontevedra e

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 253

Fernando Augusto CoimbraGruPO QuaterNÁriO e Pré-HiStória

CeNtrO de GeOCiêNCiaSuid73 FCt; [email protected]

Page 255: Issn 0871 - 4061

Orense) e do Norte de Portugal (Distritos de Viana do Castelo, Braga, VilaReal, Bragança e Porto).

Até hoje não tivemos conhecimento de exemplares na Província da Co-ruña, o que não significa que não venham a aparecer, pois o diadema do Castrode Elviña apresenta suásticas de quatro braços curvos.

A área de maior concentração destes elementos é a que corresponde àsProvíncias de Orense (48 exemplos) e de Pontevedra (31 exemplos), do ladogalego, e aos Distritos de Viana do Castelo e de Braga, do lado português, com15 casos cada. Em termos gerais, a maior parte das peças estudadas encontra-se na Galiza (65, 4%) distribuindo-se as restantes por castros do Norte de Por-tugal (34, 6%).

Trísceles, tetrásceles e outros motivos afins1, surgem quer em habitaçõesquer em monumentos destinados a banhos rituais. Neste artigo abordamos ape-nas os pertencentes à casa castreja, pois os outros, devido à especificidade dasconstruções onde se encontram, necessitariam de um desenvolvimento incom-patível com o limite de páginas estipulado para o presente trabalho. Este im-perativo levou-nos também a reduzir a lista bibliográfica que consultámos,sendo apresentada apenas uma selecção da mesma2.

Entretanto torna-se necessário referir, ainda que sinteticamente, quais asestações arqueológicas de onde provêm tais peças de modo a obter um melhorenquadramento.

Como referimos, a Província de Orense é a região onde surge o maior nú-mero de suásticas curvas que se distribuem pelos sítios arqueológicos seguin-tes: Castro de Armea, Outeiro de Baltar, Barbantes, Castro de Castromao,Castro de Cerdeira, Castelo de Monterrey, Castro de Rubiás, Outeiro de S.Marcos, Cidade de San Cibran das Lás e o Castro de Santomé.

As peças encontram-se todas à guarda do Museu Arqueológico Provincialde Orense, excepto as provenientes do Castro de Cerdeira, que estão na possede um particular.

Relativamente à Província de Pontevedra, as peças que aqui estudamossurgem distribuídas por cinco castros que são os seguintes: Castro de Rioxa,Cidá de Sabanle, Castro de Santa Tecla, Cividá de Tortoreos e Castro de Troña.

Na Província de Lugo até hoje apenas se encontraram três trísceles, todosprovenientes de Castillós (concelho de Pantón), complexa estação arqueológica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 254

Page 256: Issn 0871 - 4061

constituída por um castro, um assentamento romano e uma necrópole paleo-cristã (CALO LOURIDO, 1994a).

No Distrito de Viana do Castelo existem variantes da suástica provenien-tes de oito sítios arqueológicos que são os seguintes: Cividade de Âncora (Ca-minha), Monte da Assunção (Monção), Correlhã (Ponte de Lima), Favais(Paredes de Coura), Cividade de Paderne (Melgaço), Riba de Mouro (Monção),Citânia de Santa Luzia (Viana do Castelo) e Castro de Vilar (Arcos de Valde-vez).

No distrito de Braga elas surgem em quatro estações arqueológicas: Ci-tânia de Briteiros (Guimarães), Castro de Monte Redondo (Braga), Castro deSabroso (Guimarães) e Castro de Santo Ovídio (Fafe).

No Distrito de Vila Real até hoje apenas se encontraram dois trísceles,ambos provenientes do Castro de Cortinhas, encontrando-se depositados nacolecção Marciano Azuaga, no Solar Condes de Resende, em V. N. de Gaia.

De Bragança conhece-se apenas um hexásceles, proveniente do concelhode Vimioso (VASCONCELOS, 1913).

Por fim, no Distrito do Porto, que apresenta os exemplares situados maisa sul, os mesmos são provenientes do Monte Mozinho (Penafiel), da Citâniade Sanfins (Paços de Ferreira) da Cividade de Terroso (Póvoa de Varzim) dedo castro de Vandoma (Paredes).

2. trísceles, tetrásceles e outros motivos afinsOs motivos que aqui estudamos totalizam actualmente mais de 130 exem-

plares, distribuindo-se por 34 sítios arqueológicos. O seu inventário e descriçãojá foram por nós efectuados em outro trabalho ainda não publicado (COIM-BRA, 2007).

Os Castros que contribuem com o maior número de peças são: Santa Tecla(La Guardia, Pontevedra) com vinte e sete casos, Castromao (Orense) comquinze, Armea (Orense) com treze, Briteiros (Guimarães, Braga) com onze,Rubiás (Orense) com sete e Monte Mozinho (Penafiel, Porto) com seis. Emtodos os outros sítios o número de exemplos é igual ou inferior a quatro.

Relativamente ao número de braços predominam os trísceles, com setentae sete exemplos, seguindo-se os tetrásceles com vinte e dois e os hexáscelescom dezasseis. Os elementos arquitectónicos com cinco, oito, nove e mais bra-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 255

Page 257: Issn 0871 - 4061

ços são muito menos fre-quentes, como se pode ob-servar pelo seguinte gráfico:

Para esta análise quanti-tativa, contabilizámos tam-bém as peças de proveniênciadesconhecida, mas não in-cluímos os exemplares comnúmero de braços duvidosodevido a má conservação.

Uma vez que se tornaimpraticável abordar aquitodos os exemplares existen-

tes, apresentamos seguidamente apenas alguns casos mais emblemáticos. Alguns trísceles apresentam aberturas intercaladas entre os seus braços,

de modo a deixar passar o ar, como acontece com seis exemplares de Castro-mao3, três de Santa Tecla, dois de Santa Luzia, dois de Briteiros (Figura 1) eum de Mozinho. Nestes casos deveriam ter um valor funcional, para além dassuas possíveis características simbólicas, servindo como eventuais ventilado-res. Martins Sarmento, A. Viana, M. Oliveira, M. Cardozo e Fátima Silva cha-mam a estas peças “trísceles vazados” (SARMENTO, 1899-1903; 2; VIANAe OLIVEIRA, 1954: 63; CARDOZO, 1976: 40; SILVA, Mª F. 1986: 47).

Dentro da variante denominada trísceles existem alguns sobre fundo re-baixado, que produzem um belo efeito estético, como acontece com um exem-plar de S. Cibran das Lás, pertencente à colecção do Museu ArqueológicoProvincial de Orense. Um motivo muito semelhante foi encontrado no Castroda Assunção em Monção (MARQUES, 1985).

Em Favais, Paredes de Coura, encontrou-se um trísceles com uma tipo-logia pouco vulgar quando comparado com outros exemplares, pois os braçosdo motivo enrolam-se sobre si mesmos (Figura 2).

Relativamente aos tetrásceles existem também exemplares executadossobre fundo rebaixado, como acontece com peças provenientes de Briteiros,Paderne e do Castro de St.º Ovídeo (Fafe), entre outras, surgindo em pedras

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 256

Quadro 1-Número de braços das suásticas curvas existen-tes em elementos arquitectónicos

Page 258: Issn 0871 - 4061

de secção cilíndrica ou de secção quadrangular.Alguns destes motivos encontram-se inseridosnuma moldura circular em relevo.

No Castro de Santa Tecla apareceramsuásticas curvas que denominamos como te-traespirais (Figura 3) e pentaespirais, não exis-tindo peças com esta tipologia nas pedrasdecoradas de outras estações da Cultura Cas-treja. Curiosamente, este tipo de suástica surge em punhais de Micenas (MÜL-LER, 1886: 7) e em espadas e fivelas de cinturão da Idade do Ferro do Norteda Europa (WILSON, 1894: Fig. 208-209), apresentando um losango no cen-tro, tal como naquele castro do Noroeste peninsular.

No âmbito dos tetrásceles é ainda de considerar o denominado Nó de Sa-lomão (Figura 4). Trata-se de uma variante da suásticaque utiliza simultaneamente braços rectos e curvos.Alguns autores chamam-lhe “suástica do Alto Minho”o que é incorrecto, pois este motivo surge em mosai-cos romanos por todo o Império (COIMBRA, 1999b).

Quanto aos hexásceles, alguns apresentam um pe-queno orifício no centro, transmitindo ao símbolo umaideia de rotação em torno de um eixo, sendo estes moti-vos designados por alguns autores como “suástica fla-mejante” (VASCONCELOS, 1913; CARDOZO, 1980).Exemplos deste tipo podem ser vistos no Museu Muni-cipal de Caminha, provenientes da Cividade de Âncora.

As suásticas curvas de seis braços surgem querem pedras de secção quadrangular (Castro de Armea,San Cibrán das Lás, etc.), quer de secção cilíndrica (Ci-vidade de Âncora, Santa Tecla e Rubiás, entre outros).

3. A problemática da cronologiaAs dificuldades de datação dos elementos arqui-

tectónicos com suásticas de braços curvos assentamno facto de a maioria ter aparecido fora de contexto,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 257

Figura 1. Trísceles vazados de Briteiros

Figura 2. Trísceles de Favais(segundo SILVA, 1992)

Figura 3. Suástica curva te-traespiral (segundo TAMUXE,1987a)

Page 259: Issn 0871 - 4061

reutilizados como material de construção, ou em es-cavações antigas, mal documentadas. Todavia, Car-ballo Arceo apresenta argumentos extremamentecoerentes que clarificam um pouco esta questão e quenão podemos deixar de transcrever. Diz o autor:

“Resulta dificilmente fundamentável que, que-réndose datar a orixe da plática castrexa no cámbiode era, cinquenta ou setenta anos despois, desapareza.Isto último non poderia explicar, en primeiro lugar, oporqué da sua grande dispersión, número e arraigo,nen, en segundo lugar, a sua grande similitude formal coa decoración da cerá-mica e orfebrería prerromana” (CARBALLO ARCEO, 1996: 69). De facto,não faz sentido atribuir uma vida de apenas sessenta ou setenta anos a uma arteque tem inúmeros exemplares dispersos pelo Noroeste Peninsular. Refira-seque, só no caso das suásticas, elas são mais de cento e trinta, existindo na plás-tica castreja motivos muito diversos como rosáceas, espinhas de peixe, círculos,entrelaços e SS, entre outros, que aqui não contabilizamos. Para além disso,os castros ainda não escavados são em número muito maior que aqueles quetiveram trabalhos arqueológicos, sendo de prever que a longo prazo apareçammais pedras decoradas.

Continuando a citar Carballo Arceo, este investigador questiona se a artecastreja em pedra aparece no séc. I d.C., por influência romana, como algunspretendem, por que razão a decoração arquitectónica e os guerreiros só existemna sub-área meridional da Cultura Castreja e não na setentrional? (CAR-BALLO ARCEO, 1996). Para aquela datação estar correcta, seria lógico quetambém existissem exemplos no restante território da cultura referida, o quenão se verifica.

Para Calo Lourido (1994a), a plástica castreja é apenas arte provincial ro-mana datada do séc. I d.C., opinião defendida também por C. A. Ferreira deAlmeida (1986). Todavia, este último, embora atribua uma cronologia Júlio-Cláudia para os elementos estudados nesta secção, refere que “toda esta gra-mática decorativa nada deve à arte romana. Sem dúvida que ela foi retirada daornamentação da cerâmica e das peças de bronze e de ourivesaria castrejas”.(ALMEIDA, 1986: 164). De facto, a utilização de suásticas curvas na fase final

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 258

Figura 4. Nó de Salomão pro-veniente da Cividade de Ân-cora

Page 260: Issn 0871 - 4061

da cultura castreja parece ser uma sobrevivência de tradições mais antigas quedevem remontar, pelo menos, à Idade do Bronze.

No Monte Mozinho têm aparecido pedras decoradas castrejas reutilizadascomo material de construção em época Flávia (SOEIRO, 1984). Calo Lourido(1994a) utiliza este facto como fundamental para datar esta arte da primeirametade do séc. I d.C. Todavia, no mesmo castro encontraram-se elementos deplástica castreja em níveis augustanos e, em outros povoados, estes elementosarquitectónicos surgem como material de construção logo em época Júlio-Cláu-dia. É um facto que contradiz os autores que referem que a elaboração destaspeças não pode ser anterior à época de Augusto.

Por outro lado, para L. X. Carballo Arceo, “certas pezas e temas da es-cultura castrexa teñen cronoloxia prerromana ainda que perviven ata comenzosda nosa Era” (CARBALLO ARCEO, 1996: 65). De facto, encontraram-se pe-dras decoradas no Castro da Forca (Pontevedra), cuja derradeira fase de ocu-pação está compreendida entre os finais do séc. II a.C. e os finais do séc. I a.C.,portanto com anterioridade à conquista romana do Noroeste (IDEM, IBIDEM).Para além disso, em 1979, apareceu in situ na Cividade de Âncora uma pedrade secção cilíndrica com um hexásceles. O seu descobridor, A. C. F. da Silvaatribui-lhe uma “cronologia adequada à fase IIIA anteriormente às reformasocorridas a partir da época de Augusto” (SILVA, 1986a: 63). Ora, para esteautor, a referida fase estende-se precisamente entre os finais do séc. II a.C. eos finais do séc. I a.C., cronologia contemporânea do último período de ocu-pação do Castro da Forca, onde aparece plástica castreja. Curiosamente, CaloLourido (1994a) refere muito sinteticamente esta peça, indicando como biblio-grafia a Tese de Doutoramento de A. C. F. da Silva, mas não indica a página63, que é aquela que fornece os dados mais esclarecedores e propõe uma cro-nologia pré-romana para este elemento arquitectónico.

Para além dos exemplos do Castro da Forca e da Cividade de Âncora,existe o caso do Castro de Sabroso, que nunca foi romanizado, e forneceu umtrísceles que, nesse caso, terá que ser obviamente pré-romano. 4

Calo Lourido não tem aceite as datações atribuídas à plástica castreja en-contrada nestes três castros, insistindo numa cronologia do séc. I d.C. Contudo,em 1997, escavações em Castromao revelaram um elemento arquitectónicocom trísceles encontrado em associação com cerâmica castreja, sendo, de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 259

Page 261: Issn 0871 - 4061

acordo com análises laboratoriais, o conjunto datado de 62 a.C. (Figura 5)5.Em 2001, novas escavações revelaram outro trísceles que poderá ser datadodo séc. I a.C.6.

Estes importantes achados trazem mais luz sobre a questão da cronologiadestas peças, pois podem ser um contributo decisivo para resolver a proble-mática da datação das pedras castrejas com suásticas, pelo menos no que serefere à sua origem pré-romana. De facto, já antes destes achados CarballoArceo referia que “é certo que existen datos para afirmar que en boa parte daprimeira metade do séc. I d.C. a plástica castrexa estivo plenamente en vigor,pero o que non existen son razóns para negar que (...) determinadas pezas etemas da escultura castrexa, como a decoración arquitectónica, son de orixeprerromana” (CARBALLO ARCEO, 1996: 69).

Como já referimos, o problema da datação da escultura arquitectónicacastreja tem a ver com o facto de a maioria dos casos não ter contexto arqueo-lógico seguro. Todavia os novos achados de Castro-mao, juntamente com os exemplos do Castro daForca, da Cividade de Âncora e de Sabroso são im-portantes contributos para a datação destas produçõesartísticas.

4. Motivos simbólicos ou apenas decorativos?As suásticas curvas tratadas neste artigo terão

valor simbólico ou serão meramente ornamentais?Vejamos a opinião de alguns dos mais importantes es-tudiosos 7 da cultura castreja:

Martins Sarmento, analisando as suásticas existentes em alguns castrosdo Norte de Portugal considera-as “um grupo de sinais simbólicos compreen-didos por estes povos do extremo ocidente (…) formando um corpo de tradi-ções ainda vivas” (SARMENTO, 1933: 21). Leite de Vasconcelos referiu asobrevivência destes motivos nas lápides funerárias luso-romanas e concluiuque as suásticas “postas em paredes de edifícios, ou nas pedras das campas (…) protegiam, ao que parece, os vivos e os mortos contra a influência dos espí-ritos malignos, ou attrahiam os espíritos benévolos” (VASCONCELOS, 1913:80). Para Lopéz Cuevillas, “estos signos grabados ou esculpidos en las piedras

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 260

Figura 5. Fragmento de trísce-les vazado de Castromao (fotode Luís Orero)

Page 262: Issn 0871 - 4061

conserbavan un valor profiláctico que se evidencia en su perduración en estelassepulcrales de época romana” (LOPÉZ CUEVILLAS, 1953: 455). Mário Car-dozo alude por diversas vezes ao carácter simbólico das pedras com suásticasaparecidas na Citânia de Briteiros (CARDOZO, 1976; IDEM, 1980). ParaAlain Tranoy, “les svastikas abondent en effet parmi les motifs de décorationdes pierres des castros et, plus qu’un élèment de décor, ces symboles exprimentle rôle religieux du soleil dans la mentalité des peuples des castros” (TRANOY,1981: 118). Armando Coelho F. da Silva refere que “as soleiras, ombreiras epadieiras de algumas portas são ornamentadas com elementos característicosque evocam uma simbologia religiosa de fundo ancestral, utilizando a decora-ção geométrica típica da cultura castreja, em corda, espinha (…), tríscelos, si-nais cruciformes, serpentiformes ou motivos congéneres” (SILVA, 1999: 14).Outros autores portugueses e galegos manifestam a mesma opinião.

Por outro lado, para F. Calo Lourido (1993; 1994a), A. de la Peña Santose Bello Diéguez (1995), a arte castreja é apenas decorativa. Este dois últimosautores referem que, “pese a la gran cantidad de hipótesis que se han venidobarajando para comprender la simbología de esta temática, en la actualidadcobra auge la idea de que, al menos en la época en que aparecen en el mundogalaico las piezas localizadas hasta el presente, casi con total seguridad su valorera meramente ornamental” (BELLO DIÉGUEZ e PEÑA SANTOS, 1995).Todavia, estes investigadores não indicam em que factos ou em que estudosse baseiam para chegar a essas conclusões, tratando-se assim de ideias muitodiscutíveis e subjectivas que não demonstram, de modo nenhum, nada do queafirmam, pois não apresentam nem exemplos nem argumentos sólidos. Uni-camente decidiram, apenas em dezoito linhas de texto e de modo muito sub-jectivo, que não existia simbolismo, sem recorrer a uma análise profunda dosmotivos em questão. Para além disso, o facto de se afirmar “casi com total se-guridad”, sem apresentar argumentos, não é aceitável numa linha de arqueo-logia interpretativa post-processual. Para Shanks e Hodder, “final and definitiveinterpretation is a closure wich is to be avoided, suspected at the least(SHANKS e HODDER, 1995: 6).

Relativamente à ideia de que a arte castreja não tem valor simbólico torna-se necessário referir que alguns dos motivos representados em elementos ar-quitectónicos surgem também em arte rupestre da mesma época. Por exemplo,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 261

Page 263: Issn 0871 - 4061

em Santa Tecla existiu um Nó de Salomão insculturado numa fraga, entretantodestruída, mas do qual existem imagens. No Castro de Guifões encontrou-seum tetrásceles associado a outras gravuras rupestres como covinhas e “gan-chos” (COIMBRA, 1999c). No Monte Mozinho descobriu-se uma suásticagravada numa rocha (SOUSA, 1998) que, tal como os dois exemplos prece-dentes, não tem valor ornamental, pois a arte rupestre é actualmente conside-rada pela maior parte dos especialistas como tendo característicassimbólico-religiosas.

Para além disso, como muito bem escreveram Ruth e Vincent Megaw, “toassume, therefore, that elements are ‘decorative’ or ‘ornamental’ simply be-cause they are not openly representational or narrative, is a culture-bound in-terpretation which is not universally applicable” (MEGAW e MEGAW, 1994:294-295).

Em suma, deve-se evitar afirmar que tal motivo é simbólico ou apenasornamental só por afirmar. Torna-se necessário contextualizar essas referênciase não lançar frases avulsas, independentemente de um contexto histórico e ar-queológico. Como referem Renfrew e Bahn, “los arqueólogos processual-cog-nitivos (…) creen que las teorías han de ser contrastadas con los hechos”(RENFREW e BAHN, 1993: 452). Nós pensamos do mesmo modo.

Para nós, as pedras dos castros com suásticas curvas são elementos de ca-rácter profiláctico, destinadas a proteger as casas. O comprimento de algumasdelas mostra que se destinavam a ficar bem salientes das paredes, em posiçãode destaque8, “como sobresalian también las cabezas porcinas de Paderne y deVila de Sen, pudiendo pensarse (…) en la existencia de una especie de religiónde la casa, destinada a proteger a esta contra los males de que aun no hacemucho las amparaban los cuernos de carnero y herraduras colocadas cerca delas puertas de la vivienda” (LÓPEZ CUEVILLAS, 1953: 456).

Em apoio destas ideias podemos referir uma gravura rupestre da Rocha29 de Foppe di Nadro, em Valcamónica, onde existe uma suástica em frenteda representação de uma cabana datada do final da Idade do Ferro. Elena Mail-land, arqueóloga que estudou estas gravuras, refere-se à associação destes mo-tivos como tendo “significato apotropaico di conferimento di prosperità all’abitazione” (MAILLAND, 2005: 58; Fig.11-Fig.11bis).

Outro estudo recente, da autoria de A. González-Ruibal (2006), coloca

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 262

Page 264: Issn 0871 - 4061

em evidência o carácter simbólico da casa durante a Idade do Ferro. O autorrefere que “some elements point to the importance of houses from a ritual pointof view: the most striking feature (...) is the presence of quite elaborate stonecarvings with an obvious cosmological meaning: triskels and swastikas areamong the most recurrent symbols depicted in Iron Age domestic sculptures(...). Swastikas and triskels are well known Indoeuropean motives (...) withapotropaic functions” (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2006: 157).

Ora, se a própria casa é considerada simbólica, é natural que as suásticascurvas que nelas aparecem também o sejam, uma vez que no seio da mesmacultura encerram simbolismo quando surgem em fivelas de cinturão, em arterupestre e em saunas rituais, entre outros exemplos (COIMBRA, 2007).

A necessidade de protecção do lar observa-se em pleno Período Romano,onde era costume enterrar machados neolíticos de pedra polida junto aos ali-cerces de uma nova casa, com o objectivo de a proteger dos raios provocadospor uma trovoada. Curiosamente, ainda hoje, na região de Alcobaça, aquelesmachados são conhecidos por “pedra de raio”, acreditando os camponeses quepossuem poder efectivo de protecção durante uma tempestade, (informaçãopessoal de um habitante da Freguesia de Évora de Alcobaça). Trata-se, por-tanto, de uma crença que sobrevive ao longo de quase dois mil anos, existindooutros exemplos no campo da utilização de símbolos diversos.

Entretanto deve-se sublinhar que no Noroeste da Península Ibérica a uti-lização de suásticas remonta pelo menos à Idade do Bronze (PEÑA SANTOS,1987), surgindo com carácter simbólico, e não decorativo, em diversas lajesinsculturadas (COIMBRA, 1999b). Uma vez que é um dado comummenteaceite que a Cultura Castreja tem a sua génese em culturas autóctones doBronze Final, é racional admitir que o simbolismo da suástica tenha sobrevi-vido até à Idade do Ferro. Um facto inegável é que o mesmo tipo de suásticasde braços curvos presentes nos castros (trísceles, tetrásceles e hexásceles) so-brevive, simbolicamente, em pleno séc. II e séc. III d.C. nas lápides funeráriasde indivíduos com nome indígena, descendentes dos seus avós castrejos(COIMBRA, no prelo). Deste modo é lógico aceitar a ideia de simbolismo paraos elementos arquitectónicos castrejos com suásticas curvas, sendo os mais re-centes apenas cerca de um século mais antigos que algumas daquelas lápides.

Para além disso, verifica-se que inúmeros autores atribuem carácter sim-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 263

Page 265: Issn 0871 - 4061

bólico às suásticas existentes nas “Pedras Formosas” (COIMBRA, 2007).Sendo assim, esses mesmos motivos que surgem lavrados em pedras perten-centes a habitações particulares devem ter um significado semelhante aos re-presentados naqueles monumentos, não se tratando apenas de decoração comoalguns têm pretendido.

5. considerações finaisDurante a Idade do Ferro na Península Ibérica, trísceles, tetrásceles e mo-

tivos afins em elementos arquitectónicos são temas específicos da Cultura Cas-treja, não existindo paralelos em outras regiões, à excepção de apenas trêscasos: duas grandes “estelas” existentes no Museu de Prehistória e Arqueologiade Santander, cada uma com um pentásceles, sendo ambas provenientes deLombera (Cantábria); uma pedra prismática com vários trísceles, que obser-vámos em 2003 no Museu de São Telmo (Bilbau).

Fora do âmbito geográfico aqui estudado, as suásticas curvas surgem emartefactos como pontas de lança, espadas, capacetes, escudos e placas de cin-turão, datados da Idade do Ferro9, presença que faz pensar num valor de pro-tecção durante a guerra, no seio de povos onde os guerreiros teriam umdestacado papel na sociedade.

Estes exemplos reforçam a ideia de carácter profiláctico dos motivos es-tudados neste artigo, que seriam símbolos protectores das casas e dos seus ha-bitantes. Para González-Ruibal, as casas provavelmente seriam vítimas de“mau-olhado”, sendo desse modo necessário protegê-las com os mesmos ta-lismãs que guardavam as pessoas (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2006).

Os “mais civilizados” romanos também utilizavam amuletos para protec-ção das suas habitações, acontecendo ainda o mesmo actualmente com as fer-raduras penduradas atrás da porta de entrada de algumas casas como símbolopropiciador de boa sorte e remédio contra o mau-olhado. De facto, como es-creveu Ernst Cassirer (citado por RENFREW, 1994) o homem é um animalsymbolicum.

Todavia, a interpretação detalhada de símbolos em arqueologia necessitade um método de abordagem cuja explanação não se torna possível nestas pá-ginas. É por esta razão que não apresentamos nenhuma hipótese interpretativaaprofundada sobre os motivos aqui estudados. Os interessados num maior de-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 264

Page 266: Issn 0871 - 4061

senvolvimento poderão consultar a metodologia e a interpretação contextuali-zada que propomos na nossa tese de Doutoramento (COIMBRA, 2007).

Agradecimento: Queremos manifestar aqui o nosso sincero agradeci-mento ao Dr. Luís Orero Grandal, director das escavações em Castromao, pelacedência de fotografias e informações diversas sobre materiais ainda não pu-blicados. Agradecemos também a autorização para reproduzir a foto que apre-sentamos na Fig.5, até então inédita.

BibliografiaALMEIDA, C. A. F. de (1975) – Influências meridionais na Cultura Castreja. Actas do XIII Congreso

Nacional de Arqueologia, Zaragoza: 491-498. ALMEIDA, C. A. F. de (1986) – Arte Castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e resistênciaà romanidade. Arqueologia, 13. GEAP, Porto: 161-172.BELLO DIEGUEZ, J. M. e PEÑA SANTOS, A. de la (1995) – El Mundo Castrexo Galaico, in Historia deGalicia, Tomo I. Via Láctea Ed. (versão on-line) www.elpater.com/cap8.html: 1-18. CALO LOURIDO, F. (1993) – A Cultura Castrexa. Promoções Culturais Galegas, Vigo: 147-151. CALO LOURIDO, F. (1994a) – A Plástica da Cultura Castrexa Galego-Portuguesa, vol. I e II. FundaciónPedro Barrié de la Maza Conde de Fenosa, La Coruña: 63-498; 509-666.CALO LOURIDO, F. (1994b) – Manifestacións da Plástica Castrexa na Província de Lugo. Croa, 4. Aso-ciación de Amigos do Museo do Castro de Viladonga, Castro de Rei: 10-11.CALO LOURIDO, F. (1998) – Peculiaridades plásticas do Monte Mozinho. Cadernos do Museu, 2. MuseuMunicipal de Penafiel: 155-157; 183-184.CARBALLO ARCEO, L. X. (1989) – Catálogo dos materiais arqueolóxicos do museu do Castro de SantaTrega: Idade do Ferro. Diputación Provincial de Pontevedra: 108-111; 146-150.CARBALLO ARCEO, L. X. (1996) – Notas en torno á cronoloxía do Castro da Forca e da plástica castrexa.Minius, V. Revista do Departamento de História, Arte e Xeografía. Universidad de Vigo, Campus de Ourense:65-75.CARBALLO ARCEO, L. X. e GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2003) – A Cultura Castrexa do NW da PenínsulaIbérica en Galicia. Boletín Avriense, XXXIII. Museo Arqueolóxico Provincial, Ourense: 44-75.CARDOZO, M. (1976) – Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso: Notícia Descritiva (7ªedição). SociedadeMartins Sarmento, Guimarães: 26-42; Est. XVI-XX.CARDOZO, M. (1980) – Especímenes de Suásticas do Museu Arqueológico de “Martins Sarmento” emGuimarães (Portugal). Companhia Editora do Minho. Barcelos: 3-24.COIMBRA, F. A. (1999a) – A Swastika durante a Idade do Ferro na Faixa Ocidental Atlântica da PenínsulaIbérica: uma nova proposta de interpretação, in Actas do II Congresso de Arqueologia Peninsular. Univer-sidade de Alcalá/Fundación Rey Afonso Henriques, Zamora: 365-373. COIMBRA, F. A. (1999b) – Algumas considerações sobre a Arqueologia da Suástica, in Centenário da So-ciedade Arqueológica da Figueira 1898-1910. Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz: 81-92.COIMBRA, F. A. (1999c) – A Suástica do Castro de Guifões e alguns paralelos europeus. Matesinus, nº 3.Gabinete de Arqueologia e História de Matosinhos: 107-112.COIMBRA, F.A. (2007) – A suástica em Portugal e na Galiza, desde a Idade do Bronze ao fim do PeríodoRomano: problemática da origem e da interpretação (policopiado). Dissertação de Doutoramento apresentadaà Universidade de Salamanca e à Universidade Autónoma de Lisboa.COIMBRA, F. A. (no prelo) – Lápides funerárias romanas com suástica em Portugal e na Galiza. AnuárioBrigantino, 30. Arquivo e Biblioteca Municipais de Betanzos (A Coruña).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 265

Page 267: Issn 0871 - 4061

COIMBRA, F. A.; TOSANA, M. (2007) – Il Nodo di Salomone nella Penisola Iberica. Dall’arte castreña aitempi moderni: approccio preliminare. Actas do Congresso Simboli nei Millenni (Cdrom). DipartimentoValcamonica del Centro Camuno di Studi Preistorici, Brescia.CONDE-VALVIS FERNANDEZ, F. (1950-51) – La “Cibdá” de Armea, en Santa Marina de Aguas Santas.Boletin del Museo Arqueológico Provincial de Orense, VI. Museu Arqueológico Provincial de Orense: 42-45.GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2005) – Artistic Expression and Material Culture in Celtic Gallaecia. E-Keltoi,6. University Wisconsin Milwaukee, www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes.html: pp. 1-38.GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2006) – House societies vs. kinship-based societies: An archaeological casefrom Iron Age Europe. journal of Anthropological Archaeology, 25. Elsevier, s/l: 155-158.LÓPEZ CUEVILLAS, F. (1953) – La Civilización Céltica en Galicia. Porto y Cia. Editores, Santiago deCompostela: 455-458.LÓPEZ CUEVILLAS, F. e LORENZO FERNANDEZ, J. (1946) – Las Habitaciones de los Castros. Cua-dernos de Estudios Galegos, 2, Santiago de Compostela: 53-62.MAILLAND, E. (2005) – Età del Ferro in Valcamonica: nuove acquisizioni. Contributo della roccia 29 diFoppe di Nadro, in Foppe di Nadro Sconosciuta-Dalla cartografia GPS alle analise più recenti. Atti della Iªgiornata di studio sulle incisioni rupestri della Riserva Regionale di Ceto, Cimbergo e Paspardo. Morphosis,Monza: 51-58. MARQUES, J. A. T. M. (1985) – Castros do Concelho de Monção. Trabalho realizado no âmbito das provasde capacidade científica e aptidão pedagógica. Faculdade de Letras da Universidade do Porto: 125-126;Fig.44. MARTINS, M. (1991) – O povoado de Santo Ovídio (Fafe). Resultados dos trabalhos realizados entre 1980-1984, in Cadernos de Arqueologia – Monografias. Universidade do Minho, Braga: 7-8; 89-90; 99; Fig. 64MARTíNEZ TAMUXE, X. (1987a) – Citânia y Museo Arqueológico de Santa Tecla (2ª edição). SociedadePro-Monte, La Guardia: 117-122. MARTíNEZ TAMUXE, X. (1987b) – Aportación al Estudio de la “Típica esvástica del Alto Miño” Luso-Galaico. Museo y Archivo HistóricoDiocesano de Tuy, 4. MAHDT, Tuy: 405-418.MEGAW, R. e MEGAW, V. (1994) – Through a window on the European Iron Age darkly: fifty years ofreading early Celtic art. World Archaeology, 25, n.º 3. Institute of Archaeology, University College, London:287-303.MÜLLER, S. (1886) – L’ origine de l’ Âge du Bronze en Europe. Matériaux pour l’Histoire Primitive etNaturelle de l’Homme, série 3, Vol. XX. Reinwald, Librairie, Paris : 7.ORERO GRANDAL, L. (2008) – Intervención arqueolóxica no xacemento de Castromao, Campo de traballoarqueolóxico, Celanova (Ourense). Actuacións Arqueológicas 2006. Xunta de Galicia: 29-30.PEÑA SANTOS, A. de la (1987) – Cuatro conjuntos de grabados rupestres en la Paroquia de Tourón (Pon-tevedra). Cuadernos de Estudios Galegos, XXXVII Santiago de Compostela: 11-25.RENFREW, C. (1994) – The archaeology of religion, in The ancient mind. Cambridge University Press,

Cambridge: 47-54.RENFREW, C. e BAHN, P. (1993) – Arqueologia. Teorias, Métodos y Práctica. Ediciones Akal, S. A., Ma-drid: 355-387; 425-455.SARMENTO, F. M. (1899-1903) – A Arte Mycenica no Noroeste de Hispanha. Portugália, vol.I. Porto: 1-12.SARMENTO, F. M. (1933) – Arte Pré-romana, in Dispersos. Imprensa da Universidade, Coimbra: 19-21.SHANKS, M., e HODDER, I. (1995) – Processual, Postprocessual and Interpretive Archaeologies, in In-terpreting Archaeology. Routledge, London: 3-18.SILVA, A. C. F. (1983-84) – A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal: Habitat e cronologias. Portugalia,Nova Série, 4-5. IAFLUP, Porto: 121-129. SILVA, A. C. F. (1986) – A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal. Museu Arqueológico da Citânia deSanfins, Paços de Ferreira: 31; 48-67; 231-251; 286-316.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 266

Page 268: Issn 0871 - 4061

SILVA, A. C. F. (1999) – A Cultura Castreja no Norte de Portugal. Actas do Congresso de Proto-históriaEuropeia, Revista de Guimarães, Volume Especial I. SMS, Guimarães: 111-132.SILVA, M.ª de F. M. da (1986) – Subsídios para o estudo da Arte Castreja. Revista de Ciências Históricas,I. Universidade Portucalense, Porto: 31-68.SILVA, M.ª de F. M. da (1987) – Subsídios para o estudo da Arte Castreja: Arte Decorativa Arquitectónica.Revista de Ciências Históricas, II. Universidade Portucalense, Porto: 121-147.SILVA, Mª. F. M. (1992) – Documentos para a Carta Arqueológica de Paredes de Coura: Tríscele e mós ro-tativas de Favais (Moselos). Cadernos de Arqueologia e Património, 1. Câmara Municipal de Paredes deCoura: 33-36.SOEIRO, T. (1984) – Monte Mozinho. Apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em épocaromana. Penafiel, Boletim Municipal de Cultura, 3ª série, nº 1. Câmara Municipal de Penafiel: 265; Est.XXI.SOUSA, O. (1998) – Monte Mozinho: os petróglifos. Cadernos do Museu, 2. MuseuMunicipal de Penafiel: 119-123.TRANOY, A. (1981) – La Galice romaine: recherches sur le Nord-Ouest de la Péninsule Ibérique dans l’An-tiquité. Diffusion de Boccard, Paris: 176-177; 317; 332; 347-361.VASCONCELOS, J. L. de (1913) – Religiões da Lusitânia, Vol. III. Imprensa Nacional, Lisboa: 71-80; 428-435.VASCONCELOS, J. L. de (1933) – Castros lusitanicos I. Cividade de Paderne. O Arqueólogo Português,XXIX. Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos, Lisboa: 37-38.VIANA, A. e OLIVEIRA, M.S. (1954) – “Cidade Velha” de Santa Luzia (Viana do Castelo). Revista deGuimarães, LXIV, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães: 48-55; 63; Est.IV. WILSON, T. (1894) – The Swastika: the earliest known symbol and its migrations. Report of the U. S. Na-tional Museum, Washington (versão on-line). www.northvegr.org/swastika/index.php

1 Trísceles, do grego τρισχελής (triskeles), palavra derivada de tria skelia, que significa “três pernas”; tetrásceles,também do grego τετρασχελής (tetraskeles) palavra derivada de tetra skelia, “quatro pernas”; pentásceles dogrego πέυτασχελής (pentaskeles) derivada de penta skelia, “cinco pernas” e assim sucessivamente. 2 Uma lista bibliográfica mais completa sobre este tema pode ser vista em COIMBRA, 2007. 3 Cinco deles encontrados em escavações realizadas entre 1997 e 2008 (comunicação pessoal de Luís Orero), es-tando todos inéditos à excepção de um, publicado recentemente (ORERO GRANDAL, 2008).4 As sondagens de A. C. F. da Silva em Sabroso indicam, segundo o autor, “um período final de ocupação quenão entra na fase IIIB” (SILVA, 1986a: 31), ou seja, que não entra no câmbio de era. 5 Informação pessoal de Luís Orero, arqueólogo responsável pelas escavações referidas.6 Entre 1997 e 2008 encontraram-se em Castromao cinco trísceles vazados e outros dois com outra tipologia, es-tando apenas um publicado (ver nota 3).7 Mencionamos apenas alguns dos estudiosos da Cultura Castreja que abordaram as suásticas curvas com umcerto desenvolvimento e não aqueles que lhes fazem referências unicamente pontuais.8 Um dos trísceles de Armea tem 76 cm de comprimento, ficando bastante saliente do paramento da parede.9 Exemplos detalhados podem ser vistos em COIMBRA, 2007, p.584 e ss.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 267

Page 269: Issn 0871 - 4061
Page 270: Issn 0871 - 4061

cARActeRÍsticAs cAstReJAs dos PovoAdos do conce-lho de vilA PoucA de AGuiARHILFORTS FEATURES OF THE MUNICIPALITY OF VILA POUCA DEAGUIAR

Resumo: Os períodos da Idade do Bronze e da Idade do Ferro são os grandes desconhe-cidos da arqueologia aguiarense. Com efeito, a única referência aos castros do concelho, comcarácter científico, é muito sintética. Para além de uma referência genérica a 6 castros da Idadedo Ferro no concelho, inseridos na tese de Armando Coelho Ferreira da Silva (SILVA, 1986, p.93), nada mais constava que existisse no concelho. O inventário do Endovélico, realizado em2001 e 2002 pelo IPA, referenciou 12 castros da Idade do Ferro no concelho, porém, sem espe-cificação das suas ocupações cronológicas, ou seja, ou eram indeterminados ou da Idade doFerro, interrogados, ou ainda da Idade do Ferro de uma forma genérica. Na prospecção realizadapara a Carta Arqueológica do Concelho de Vila Pouca de Aguiar, foi efectuada a caracterizaçãodos povoados um por um, de modo a permitir uma afinação cronológica, baseada na estruturaçãodas suas muralhas e nos parcos materiais recolhidos à superfície, dado que nestes nunca foramrealizadas escavações arqueológicas. Foi possível apurar algumas das suas características de-fensivas e caracterizar alguma da sua cerâmica e objectos metálicos encontrados. Mas ficammuitas questões por responder, como seja: como se estruturam as habitações castrejas? Serãocasas redondas, como as do Noroeste da Península Ibérica ou serão de planta quadrangular comoas da Meseta? Que objectos usavam? Como era a sua cerâmica? São apenas da Idade do Ferro,ou apresentam também ocupação doutros períodos? Alguns estariam ligados à mineração? Sãoquestões que só através de escavações arqueológicas é possível dar resposta, mas enquanto elasnão acontecem, apresenta-se nesta comunicação um ponto de situação relativo ao que se conhecesobre eles.

Palavras-chave: Idade do Ferro, povoados fortificados, Vila Pouca de Aguiar.

Abstract: The Bronze Age and the Iron Age are the great-unknown ages of Vila Pouca deAguiar archaeology. In fact, the only reference of ancient hill forts in this council, of a scientificcharacter, is very scarce. Apart from a generic reference to six Iron Age hill forts in this council,the Endovélico inventory, elaborated by IPA in 2001 and 2002, made reference to 12 Iron Agehill forts. In the prospection undertaken for the archaeological guide to the Council of VilaPouca de Aguiar, the characterization of the settlements was done one by one, to permit a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 269

Carlos BatataOzeCaruS – ServiçOS arQueOLóGiCOS, Lda.; [email protected]

Page 271: Issn 0871 - 4061

chronological fine-tuning, based on the structure of it’s walls and the few materials gathered atthe surface. It was possible to find some of it’s defensive characteristics and to characterizesame of the ceramic and metallic objects found. But many questions are left unanswered. Arethey round houses, like the ones in the North-East of the Iberian Peninsula or are they of a quad-rangular plan like those of the Meseta? Which objects did they use? What were their ceramicslike? Are they only from the Iron Age, or do they also show occupation from other periods too?Were some linked to mining? These are questions that can only be answered through archaeo-logical excavations, but while these excavations do not happen, we present this communicationas a report of what we know about this.

Keywords: Iron Age, fortified settlements, Vila Pouca de Aguiar.

1. introduçãoNeste artigo vamos evidenciar as características que mais se destacam

dos povoados proto-históricos do concelho de Vila Pouca de Aguiar (Fig. 1).As observações foram efectuadas quando procedíamos à prospecção para arealização da Carta Arqueológica, apesar dos vários condicionalismos existen-tes. Por um lado, a densa vegetação, não permitiu observar o solo em boas con-dições e a recolha de cerâmicas foi escassa; por outro, a falta de bibliografiasobre os castros aguiarenses e de escavações arqueológicas, também tornarambastante limitada a nossa per-cepção das características des-ses povoados. Uma descriçãomais completa poderá ser con-sultada na Carta Arqueológicade Vila Pouca de Aguiar, editadaem 2008 (BATATA et alli).

2. caracterização dosPovoados

2.1 cactelo dos Mouros,cidadelha de Jales

Área dos vestígios: 1 ha.Características: Duas li-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 270

Figura 1. Distribuição espacial dos cas-tros do concelho de Vila Pouca de Aguiar

Page 272: Issn 0871 - 4061

nhas de muralhas construídas, a inferior, em aparelho poligonal nalguns pontos,e pedra de granito de tamanho médio noutros; a superior é constituída por pedraregular de granito nos paramentos exteriores, sendo o interior preenchido compedra de xisto. A defesa é complementada no flanco, que se prolonga para su-doeste, na zona de mais fácil acesso, por um fosso largo escavado no aflora-mento e dois mais estreitos, paralelos ao primeiro. Nos espaços entre fossospoderão existir pedras fincadas, situação ainda não confirmada.

Materiais: Tégula e cerâmica da Idade do Ferro.cronologia: Bronze Final (?), Idade do Ferro e Romano.

2.2 três castelos, Bornes de AguiarÁrea dos vestígios: 1,5 ha.Descrição: Povoado fortificado, de fracas condições defensivas naturais,

com duas linhas de muralhas. A de topo, sobre um morro granítico, onde aindase vê parte da muralha da provável acrópole. Tem um fosso a defendê-lo dolado oeste, ou seja, o lado de mais fácil acesso. A segunda muralha estende-sepela encosta abaixo. As muralhas são integralmente construídas em pedra degranito de tamanho médio.

Materiais: Cerâmica manual e de torno.Cronologia: Bronze Final (?) e 2ª Idade do Ferro .

2.2 castro de s. Martinho, Bornes de AguiarÁrea dos vestígios: 1, 5 ha.Descrição: Povoado fortificado sem boas condições defensivas naturais,

tendo um único acesso natural pelo lado sul, defendido por um duplo fosso.Do lado sul, no ponto mais alto do cabeço, inicia-se a linha de muralha, detec-tável facilmente por um elevado talude, que circunda o cabeço, formando umrecinto elíptico ou circular (acrópole). Numa cota inferior apresenta a 2ª linhade muralhas.

Materiais: 1 frag. de cerâmica e ponta de dardo em ferro.Cronologia: Idade do Ferro e Romano (?).

2.4 Monte do castelo, capeludosÁrea dos vestígios: 0,5 ha.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 271

Page 273: Issn 0871 - 4061

Descrição: Povoado sobranceiro à actual aldeia de Capeludos de Aguiar,num monte-ilha, Não apresenta fosso defensivo e aparenta ter apenas uma mu-ralha defensiva em aparelho poligonal de granito.

Materiais: Estátua de Guerreiro, cerâmica castreja e cerâmica negra deNantes.

cronologia: Idade do Ferro e Romano.

2.5 crasto de Pensalvos, PensalvosÁrea dos vestígios: 0,5 ha.Descrição: O povoado fortificado desenvolve-se numa encosta de acen-

tuada inclinação e tem muralhas em granito de pedra de tamanho médio. A mu-ralha de topo protege o acesso ao povoado, constituindo uma acrópole que éantecedida por um fosso. Uma segunda linha de muralha detectada acompanhao relevo da encosta, com troços unindo penedos.

Materiais: Cerâmica manual.Cronologia: Bronze Final (?) e Idade do Ferro .

2.6 Paredes dos Mouros, PensalvosÁrea dos vestígios: 0,5 ha.Descrição: Povoado fortificado. O acesso mais fácil e de mais fraca de-

fensibilidade situa-se a sul, onde existe um fosso. Parece ter uma única linhade muralha, com 1,5 m de largura, de pedra partida de xisto.

Materiais: Cerâmica manual Bronze Ferro.Cronologia: Bronze Final (?).

2.7 castelo de Pensalvos, PensalvosÁrea dos vestígios: 0,5 ha.Descrição: Povoado fortificado. Do lado sul, onde se situa o acesso ao

povoado, existe um fosso defensivo. Foi possível verificar a existência de duaslinhas de muralhas ciclópicas em aparelho poligonal: uma que circunda um es-paço mais elevado que corresponde à acrópole, muito rochosa e outra, maisabaixo, com um maior diâmetro, que circunda uma área menos pedregosa.

Materiais: Cerâmica manual grosseira e fina (polida) e de torno.Cronologia: Bronze Final (?), Idade do Ferro e Romano.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 272

Page 274: Issn 0871 - 4061

2.8 Povoado do castelo de Aguiar, telõesÁrea dos vestígios: 1 ha.Descrição: Povoado aberto (?) na Pré-história e fortificado (Idade do

Ferro) a meia-encosta da Serra do Alvão. Devido à construção de um estradão,que pôs várias camadas arqueológicas à vista no talude, foi objecto de uma in-tervenção arqueológica (JORGE, 1986), nos anos de 1982, 1983 e 1984, numaárea de 107 m2, tendo sido detectados vários níveis de ocupação da Pré-históriaRecente, uma do Bronze Final e uma de Época Romana. Foram registados vá-rios buracos de poste, estruturas habitacionais, um alinhamento de grandes pe-dras que poderá corresponder a uma estrutura defensiva do Bronze Final, euma muralha provavelmente da Idade do Ferro. A estação pré-histórica terásido ocupada na 2ª met. do IIIº Milénio a. C. e nos início do IIº milénio.

Materiais: Cossoiros, pesos de tear, 2 denários republicanos de 46-45 e49 a.C. A bibliografia dá conta da existência de uma inscrição romana que vemno ILER e EE. 318: IOV[I]? / FIL / […] SE?.

Cronologia: Pré-história, Bronze Final, Idade do Ferro e Romano.

2.9 castro de telões, telõesÁrea dos vestígios: 1 ha.Descrição: Povoado fortificado com duas muralhas. A acrópole é constituída

por muralha de pedra, construída com blocos regulares de granito assentes em seco,com aparelho em fiadas regulares, que intersecta grandes batólitos O resto do po-voado parece desenvolver-se pela encosta, onde deveria existir uma 2ª muralha.

Cronologia: Idade do Ferro.

2.10 cidadelha, cidadelhe de AguiarÁrea dos vestígios: 1 ha.Descrição: Povoado fortificado, num cabeço aplanado e pouco pronun-

ciado Apresenta uma única linha de muralha de pedras de granito de tamanhomédio. A muralha só existe na parte norte e este, sendo naturalmente defendidopor batólitos de granito e encostas mais inclinadas dos outros lados. Foi cons-truída com troços ligando rochedos.

Materiais: Frag. de cerâmica com pega mamilar.Cronologia: Bronze Final.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 273

Page 275: Issn 0871 - 4061

2.11 castelo da Ferramenta, vreia de BornesÁrea dos vestígios: 0,5 ha.Descrição: Povoado fortificado localizado num cabeço em esporão. Tem

excelentes condições de defesa natural, com vertentes inclinadas dos lados nas-cente, norte e poente. O acesso natural fica a sul, mas mesmo aqui a vertentedo cabeço é bastante inclinada. Tem duas linhas de muralhas, feitas com blocosde granito de tamanho médio. A de topo, mais pequena, assenta sobre grandesmassas de afloramentos. Não parece ter fosso.

Cronologia: Idade do Ferro.

2.12 Murada da Quintã, vreia de Jalesárea dos vestígios: 0,5 ha.descrição: Povoado fortificado situado num cabeço rochoso em esporão.

Existem duas linhas de muralha, formando uma delas a acrópole, e no sectoroeste, parece haver uma entrada, protegida por um possível torreão, que dáacesso à acrópole. As muralhas são constituídas por troços de muralha ligandoafloramentos rochosos graníticos. Dada a configuração do morro, é provávelque não tenha fosso defensivo.

cronologia: Bronze Final (?) e Idade do Ferro.

3. trabalho de campoOs trabalhos de sondagem e escavação, inseridos no projecto “Caracte-

rização Arqueológica da Exploração Romana de Tresminas ” foram realizadosnos seguintes locais: Castro da Ribeirinha ou Castelo Redondo, em 2007 e Cas-tro de Cidadelha de Jales (Castelo dos Mouros), em 2008.

3.1 castelo Redondo (Ribeirinha) Povoado pouco provável. Tem boas condições defensivas naturais, sendo

acessível facilmente apenas pelo lado sul, onde se situa o colo do esporão. Éuma das zonas agrícolas, por excelência, da povoação de Ribeirinha. Os talu-des, sucessivos e concêntricos, são plataformas agrícolas. Não se detectarammateriais de superfície, nem mesmo na pequena parte do povoado que se en-contra agricultada, exceptuando alguns pequenos e incaracterísticos fragmentosde telhas finas. A sondagem arqueológica aí realizada, de 2 x 3 m, não revelou

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 274

Page 276: Issn 0871 - 4061

quaisquer materiais ou estruturas antigas.A sondagem arqueológica foi implantada junto ao talude norte. Verificou-

se que, apesar da potência de solo ser significativa (cerca de 1 m de profundi-dade), não existiam materiais arqueológicos ou estruturas junto ao afloramento,sendo este constituído por blocos de afloramento bastante irregulares. Verifi-cou-se também que não existia nenhuma muralha, sendo o talude apenas ummuro de suportes de terras, para diminuir a inclinação do terreno e criar umsocalco apto para a agricultura.

3.2 castelo dos Mouros Com o intuito de perceber a relação existente entre este povoado e as ex-

plorações mineiras de Tresminas e Jales, efectuou-se em 2008, uma campanhade sondagens, logo abaixo da plataforma superior, num local onde era visível(através da imensa vegetação) a rocha de xisto afeiçoada formando uma parederectilínea, de cantos arredondados. As sondagens foram genericamente orien-tadas a norte. Depois de limpa a área da vegetação que a cobria verificou-seque, sobre a pouca espessa camada arqueológica, encontravam-se algumas pe-dras de média e grande dimensão, em xisto e em granito, que fariam parte dasparedes das casas castrejas. Por razões metodológicas, toda a área intervencio-nada foi quadriculada em quadrados de 2 x 2 m e numerada com uma letra eum número, para identificação espacial das estruturas e do espólio existente.A 1ª sondagem realizada (QK 31) revelou apenas uma camada de terra humosae por baixo uma camada de terra fina e muito solta, de escorrimento, apare-cendo por baixo o afloramento afeiçoado que formava o piso da casa. Os ma-teriais encontrados resumiram-se a dois fragmentos de cerâmica quartzítica,muito friável, de torno, em posição descontextualizada e travada por algumaspedras que se encontravam junto ao afloramento. Verificou-se que se tratavade escorrimentos do topo da plataforma.

Com este panorama de fundo abriram-se os restantes quadrados, até definira área de uma casa quadrangular, com as dimensões de 3 x 3,5 m, tendo o pisoafeiçoado, bem como a parede sul e parte das paredes este e oeste (Fig. 6). Dolado norte encontrou-se os fundamentos do muro que fechava a casa pelo ladonorte. NO QL31, junto ao muro e no meio das lascas de xisto provenientes doafeiçoamento da rocha, e que constituíam o enchimento para formação do piso,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 275

Page 277: Issn 0871 - 4061

encontrou-se um bordo de um grande pote, em cerâmica micácea castanho-es-cura, de torno lento, integrável na 1ª Idade do Ferro. Porém, os parcos materiaiscerâmicos de escorrimento encontrados no interior da casa (cerâmica quartzí-tica) podem ser inseridos em meados, ou na 2ª metade do 1º milénio A.C.. NoQK30 encontrou-se ainda pequenos fragmentos de prováveis tégulas.

Do lado este encontrava-se também rocha afeiçoada (parede sul) e aflo-ramento à superfície também afeiçoado, formando o piso da casa. Depois dequadriculado todo o espaço, veio a encontrar-se também uma casa com as mes-mas características da anterior, porém, de formato rectangular e de maiores di-mensões (6 x 4 m) (Fig. 6). Do lado norte, encontrou-se um robusto muro quefechava o compartimento.

4. ResultadosApesar das sondagens

realizadas não foram escava-das a totalidade das duascasas. Na Casa I ficou poridentificar a parte oeste, ouseja, o local onde se situará aporta de entrada. Na Casa II,ficou por definir o muro este.

As cerâmicas encon-tradas, quer na Casa I querna II, têm as mesmas carac-terísticas, ou seja, por umlado são cerâmicas de escorrência, por outro são cerâmicas de torno, quartzí-ticas, de tom amarelo e cinzento-claro.

A evidência e semelhança com cerâmicas encontradas em algumas pe-quenas fossas (como as da Cova I) do povoado mineiro de Tresminas são no-tórias. Não encontrámos, nestes primeiros trabalhos, potes de bordo comorelhas perfuradas, como as encontradas no Povoado Romano de Tresminas,mas a área escavada não foi grande.

Existe também afinidade entre um peso de tear de xisto, encontrado su-perficialmente no castro e os pesos de xisto encontrados em Tresminas.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 276

Figura 2. Castro de Murada da Quintã, implantação em monte-ilha

Page 278: Issn 0871 - 4061

A presença romana no castro é um dado adquirido, embora se tratem defragmentos muito pequenos de tégulas. Mas, dada a proximidade e a evidênciaepigráfica, com a existência de muitos antropónimos indígenas na área de Tres-minas e na própria necrópole (pote com o nome de ALLIVS ARRV), estamosem crer que uma boa parte da mão-de-obra da exploração mineira era consti-tuída por indígenas locais.

Tal como este, existem outros castros nas redondezas (como o castro daMurada da Quintã e Castro de S. Martinho) que poderão ter fornecido mão-deobra para as explorações mineiras romanas.

Por outro lado, dada a pequena dimensão dos povoados existentes nas re-dondezas, e consequentemente, com uma população que rondaria algumas cen-tenas de habitantes, é de equacionar a hipótese de muitos outros castros dazona terem fornecido mão-de-obra para o mesmo efeito.

5. conclusões possíveis

5.1 características constitutivas dos povoadosTodos os povoados são fortemente fortificados.Mais de metade destes povoados (Paredes dos Mouros, Castelo de Pen-

salvos, Crasto de Pensalvos, Três Castelos, Castro de S. Martinho, Povoadodo Castelo de Aguiar e Castelo dos Mouros) desenvolve-se em encosta e nãono topo de cabeços, o que parece constituir uma característica arcaizante, aindamuito ao estilo dos povoados calcolíticos que se desenvolvem a meia-encostada Serra do Alvão, como é o caso dos povoados pré-históricos de Rebordochãoe Povoado do Castelo de Aguiar. Apresentam pouco destaque na paisagem (Fig.2) e todos apresentam fossos defensivos do lado mais vulnerável, bem comofortes muralhas.

Os restantes estão situados em cabeços destacados (montes-ilha) (Fig. 3),não parecendo apresentar fossos defensivos. No entanto, apesar da forte defen-sibilidade natural que apresentam não dispensam o uso de muralhas defensivas.

Os povoados de cabeços destacados (Cidadelha de Aguiar, Monte do Cas-telo, Castelo da Ferramenta, Murada da Quintã e Castro de Telões) apresentamuma linha de muralhas (os dois primeiros castros) e os restantes duas linhas demuralha.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 277

Page 279: Issn 0871 - 4061

Os povoados de meia-encosta apresen-tam todos duas muralhas defensivas, sendoa que está mais no topo, por vezes uma pe-quena acrópole. Destes povoados, e aindano que respeita aos fossos defensivos, todostêm um fosso defensivo, com excepção doCastro de S. Martinho, que apresenta doisfossos paralelos, e o Castro do Castelo dosMouros que apresenta três fossos (um maislargo e dois mais estreitos; entre a muralhae o 1º fosso (o mais largo) apresenta umaplataforma que, eventualmente poderá con-ter “cavalos de frisa”. Nos espaços entrefossos poderão existir também pedras fin-cadas.

Quanto ao aparelho constitutivo dasmuralhas, este é geralmente constituído porpedras de média dimensão de granito nãoafeiçoadas (Fig. 5). Existem, no entanto, al-guns povoados que apresentam algumascaracterísticas diferentes.

Assim, o Castelo de Pensalvos apre-senta apenas aparelho poligonal ciclópicofacetado (Fig. 4), em rochas retiradas do local, de base xisto-grauváquica.

O Castro de Paredes dos Mouros apresenta muralha com pedras de médiadimensão, não facetadas, do mesmo tipo da anterior por se situar na mesmaunidade geológica.

O Castro do Monte do Castelo apresenta aparelho poligonal facetado emgranito.

Por último, o Castelo dos Mouros apresenta a realidade mais complexa. Si-tuado na zona de contacto dos xistos com o granito, sendo a base rochosa emxisto, apresenta troços de muralha em aparelho poligonal facetado em xisto, tro-ços em pedra de tamanho médio em granito e troços (especialmente na muralhade topo), paramentados em pedra de tamanho médio em granito e miolo em xisto.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 278

Figura 3. Castro de Paredes dos Mouros,implantação em esporão sem grandes defe-sas naturais

Figura 4. Castro do Castelo de Pensalvos,muralha em aparelho poligonal afeiçoado

Page 280: Issn 0871 - 4061

No que respeita à espessura das mura-lhas, a falta de trabalhos arqueológicos nes-tes povoados não permite obter muitasinformações. Foi registada uma muralhacom 1,5 m de espessura no Castro de Pare-des dos Mouros, bem como a largura e al-tura excepcional da muralha de topo doCastelo dos Mouros com cerca de 10 m delargura por 3 de altura.

5.2 cronologias possíveisO sub-período arqueologicamente me-

lhor conhecido no concelho, de momento,é o Bronze Final. Os dados foram obtidosno Povoado do Castelo de Aguiar, onde Su-sana Oliveira Jorge encontrou, para além daocupação calcolítica, também ocupação doBronze Final.

Quanto aos restantes povoados a faltade materiais e a falta de trabalhos arqueoló-gicos não permite avançar muito quanto àcronologia dos mesmos e os investigadoresque a eles se dedicaram mantiveram umapostura cautelosa na sua apreciação.

Só em cinco casos se admite a existência segura de ocupação da IIª Idadedo Ferro. Trata-se do Castro do Castelo dos Mouros que, para além de apresentarmuralhas arcaicas (do Bronze Final, se tivermos em conta que o machado deduas aselhas achado na mina romana de Jales poderá ter vindo daqui), apresentamuralhas com aparelho poligonal e cujas cerâmicas apresentam evidentes se-melhanças com as encontradas no povoado mineiro romano de Tresminas. Paraalém disso, foram encontradas tégulas no castro, o que demonstra uma sobre-vivência no tempo, relacionada com a exploração mineira de Jales e Tresminas.

O Castelo de Pensalvos, com as suas muralhas ciclópicas, arrancadasda rocha existente no centro do povoado, para além de ocupação do Bronze

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 279

Figura 5. Castro do Castelo dos Mouros,aparelho de pedras de granito de tamanhomédio

Figura 6. Castro do Castelo dos Mouros,casas II e I parcialmente escavadas na rocha

Page 281: Issn 0871 - 4061

Final/Iª Idade do Ferro, poderá também ter tido ocupação na IIª Idade doFerro, tendo em conta a cerâmica de torno aí encontrada, típica deste pe-ríodo.

O povoado calcolítico escavado por Susana Oliveira Jorge, apresentavapor cima da ocupação pré-histórica uma muralha de aparelho de pedras médiasde granito e materiais de Época Romana.

O Castro de Três Castelos apresenta também um fragmento de cerâmicacom desenhos concêntricos estampados no colo.

Do Castro de Monte do Castelo é proveniente uma estátua de guerreiro ena sua base existem vestígios romanos e visigóticos. A cerâmica recolhida écastreja e seguramente da 2ª Idade do Ferro.

Os restantes castros não parecem ter conhecido uma ocupação para alémda Iª Idade do Ferro.

Desta listagem deve ser eliminado o sítio do Castelo Redondo (Ribeiri-nha), dado que, apesar da sua situação em esporão e de ter um espesso muro asul feito com pequenas placas de xisto aparentando ser uma muralha, a faltade cerâmicas em terrenos constantemente lavrados em volta do seu topo e aausência de qualquer artefacto na sondagem ali realizada, são fracos indicado-res para a existência de povoamento antigo neste local.

Além destes 12 castros, encontra-se no concelho uma estela-estátua(Marco), datada estilisticamente deste período pela maior parte dos investiga-dores que sobre ela escreveram, e uma pulseira em ouro maciço, encontradano vale de Vila Pouca de Aguiar (Veiga da Ousadinha), numa encosta muitosuave, que se tem relacionado com as estações romanas do Cheínho e Poçariasque lhe ficam próximas. Poderá, no entanto, pelas suas características estilís-ticas, ser uma pulseira do Bronze Final, proveniente de uma quinta situada emzona de vale, não fortificada.

6. contextualização regionalAs características dos povoados fortificados do concelho de Vila Pouca

de Aguiar são comuns a outros povoados fortificados existentes nos concelhosvizinhos. Apenas foram visitados alguns dos castros, e certamente existirãomuitos mais que poderão ter características semelhantes a estes. No concelhode Boticas, o Castro de Carvalhelhos apresenta muralhas de pedra de tamanho

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 280

Page 282: Issn 0871 - 4061

médio granítica, situa-se numa encosta com fraca defensibilidade do lado sul,o qual é defendido por três fossos e nos espaços intermédios por pedras finca-das (SANTOS JÚNIOR, 1981, p. 140-147). Devido às escavações efectuadaspor Santos Júnior, podem-se observar casas redondas e casas quadrangularesou rectangulares. O sistema defensivo apresenta semelhanças com o do Castelodos Mouros, onde também é provável a existência de pedras fincadas, nos es-paços entre-fossos.

No concelho de Chaves, o Castro de Curalha, encontra-se num esporão,com três muralhas de pedra granítica de tamanho médio. A única semelhançacom os castros de Vila Pouca de Aguiar prende-se com a existência de umamuralha (acrópole) ligando batólitos, o que parece evidenciar algum arcaísmo.

Em Vila Real, o Castro de Luvares, é um lugar estranho, pois o castro foiassente sobre um manto granítico que o torna, de imediato, defensável a estee a oeste, não tendo, por isso, muralhas nestes pontos. As muralhas apenasexistem a sul e a norte, que são os pontos mais vulneráveis. Apresenta seme-lhanças com o Castro de Cidadelha de Aguiar que apresenta apenas muralhanos lados norte e este.

O Castro de Sabrosa apresenta duas muralhas graníticas de pedra de ta-manho médio, sendo a mais pequena e no ponto mais elevado, uma pequenaacrópole. Desenvolve-se também pela encosta, no que apresenta semelhançascom os castros de Vila Pouca de Aguiar, tendo dois fossos a defendê-lo noponto mais frágil da sua defesa que se situa a sul. Como foi escavado nos anosde 1967-68 e 1970-71, por Santos Júnior (ERVEDOSA, 1981, p. 147-151), épossível visualizar casas redondas e outras de formato rectangular.

O Castro do Pópulo (Alijó), assente num monte-ilha, apresenta também duasmuralhas graníticas, com troços de aparelho poligonal afeiçoado e troços de pedrade tamanho médio, apresentando semelhanças com o Castelo dos Mouros.

Por último, o Castro de Palheiros (Murça), apresenta algumas caracterís-ticas que o aproxima dos castros de Vila Pouca de Aguiar, nomeadamente, noque diz respeito às muralhas ligando afloramentos quartzíticos, associado àIdade do Bronze (SANCHES, 1997, p. 389-399), no que poderia constituirum paralelo para uma boa parte dos castros atrás referidos que apresentam,também, troços de muralhas, ligando diversos afloramentos.

Desde há muito que é sabido que existe uma diferença grande entre no-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 281

Page 283: Issn 0871 - 4061

roeste peninsular (geralmente associado à casa redonda e às citânias de grandeextensão) e a zona interior (a oriente da Serra do Marão) que apresenta pa-drões e modelos de povoamento substancialmente diferentes. Sobre as carac-terísticas dos povoados pouco é apresentado, sendo uma das diferençasapontadas, a existência neste espaço de muitas representações zoomórficas,em contraponto às representações de guerreiros mais comuns na fachada atlân-tica (FABIãO, 1993, p. 198-199). Também é evidenciado o facto de ser umarealidade muito pouco conhecida, do ponto de vista arqueológico. A referênciaàs actividades mineiras como um dos modos de subsistência, senão o princi-pal, embora muito genérica e intuitiva, espelha uma realidade que começa atomar forma.

Muitos destes pequenos povoados fortificados, situados em encostas de-clivosas e em zonas xisto-grauváquicas pobres e de contacto com os granitospoderá ter explicação na necessidade de se situarem perto de zonas mineiras.

Para Tresminas e Jales, começam a surgir os primeiros sinais da ligaçãodos povos indígenas à mineração (neste caso o ouro), talvez ainda antes dachegada dos Romanos. No outro extremo do concelho, os povoados de Crastode Pensalves, Paredes dos Mouros e Castelo de Pensalvos poderão estar rela-cionados com a existência de minas de estanho, numa área onde foram explo-radas minas de volfrâmio e onde, com frequência, ocorre o estanho.

BibliografiaBATATA, Carlos e BORGES, Nélson (2006), Relatório Final da Escavação Arqueológica de Re-

bordochão, Vila Pouca de Aguiar, IP 3 – Sub-lanço E1: Falperra – Pedras Salgadas, Relatório aprovado.BATATA, Carlos; BORGES, Nelson; CORREIA, Heitor e SOUSA, Albertino, Carta Arqueológica do con-celho de Vila Pouca de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar, Abrantes, 2008.CORTEZ, Fernando Russell (1947), Panóias. Cividade dos Lapiteas. Subsídios para o estudo dos cultosorientais e da vida provincial romana na região do Douro, Anais do Instituto do Vinho do Porto. Porto.ERVEDOSA, Carlos (1981), Campanha arqueológica no Castro de Sabrosa em Setembro de 1980. Traba-lhos de Antropologia e Etnologia, 24. SPAE, Porto.FABIãO, Carlos (1993), O Passado Proto-Histórico e Romano. História de Portugal, Antes de Portugal,(Direcção de José Mattoso). Editorial Estampa.JORGE, Susana Oliveira (1986), Povoados da Pré- História Recente (III.º - Inícios do II.º Milénios A. C.)da Região de Chaves - V.ª P.ª de Aguiar (Trás-os-Montes Ocidental), Dissertação de doutoramento, 3 Vols.Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto . SANTOS JÚNIOR, J. R. dos (1981), 29ª Campanha de escavações no Castro de Carvalhelhos, 1980. Tra-balhos de Antropologia e Etnologia, 24. SPAE, Porto

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 282

Page 284: Issn 0871 - 4061

PEREIRA, António Luís (2001), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Extensão do IPA- Macedo de Cavaleiros.PEREIRA, António Luís e SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2001), Relocalização, identificação einspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.PEREIRA, António Luís e SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2002), Relocalização, identificação einspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.SANCHES, Maria de Jesus (1997), O Crasto de Palheiros-Murça. Notícia preliminar das escavações de1995 e de 1996. Actas do II Congreso de Arqueología Peninsular, Tomo II, Fundación Afonso Henriques,Zamora.SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986), A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira:Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira.SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2001), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Ex-tensão do IPA - Macedo de Cavaleiros. SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2002), Relocalização, iden-tificação e inspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2003), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Ex-tensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.SOUSA, Albertino Saraiva de (2005), Terra de Aguiar da Pena, Das Origens ao Povoamento e à Formaçãodo Concelho. Contributo para uma monografia do concelho de Vila Pouca de Aguiar. Livraria e PapelariaAguiarense, Vila Pouca de Aguiar.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 283

Page 285: Issn 0871 - 4061
Page 286: Issn 0871 - 4061

MineRíA RoMAnA en LA cuencA MeRidionAL de Los Ríos siL y Miño*

ROMAn Mining in The SOuTheRn BASin OF The RiveRS SiL And MiñO

Resumen: Se presenta el análisis general de las zonas mineras auríferas pertenecientes ala actual provincia de Ourense y parte de la de Lugo, con especial hincapié en el caso de Os Mi-lagros do Monte Medo (Baños de Molgas), tanto por la relevancia como visibilidad de las es-tructuras mineras. Este análisis se enmarca en un estudio de amplio alcance sobre el papel delas zonas mineras en la estructuración del territorio tanto en época julio-claudia como flavia.

Palabras clave: Minería aurífera romana, ríos Sil y Miño, estructuración del territorio,Arqueología del Paisaje.

Abstract: We present a general analysis of the gold mining areas located in the currentprovince of Ourense and part of Lugo, with special emphasis on the case of Os Milagros doMonte Medo (Baños de Molgas), both the relevance and visibility of the mining structures. Thisanalysis is part of a comprehensive study on the role of mining areas in the territorial structuringboth in Julio-Claudian and Flavian era.

Keywords: Roman gold mining, rivers Sil and Miño, territorial structuring, LandscapeArcheology.

1. Labores mineras y sistemas de explotaciónLos claros indicios de labores mineras antiguas en las cuencas medias de

los ríos Sil y Miño son bien conocidos desde antiguo (Schulz 1930, 162 s y166 s; González Lasala 1877, 16-21; Díez Sanjurjo 1905, 322 y 1906, 50 y 68)ya que entre ellos se encuentran algunas de las minas de época romana másespectaculares, como Las Médulas. Por otra parte la fama aurífera de ambaszonas fluviales se ha mantenido por la permanencia a lo largo del tiempo deuna explotación artesanal en varios puntos de sus cauces, que se ha utilizado

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 285

F. J. Sánchez-Palencia; I. Sastre; B. Currás; D. Romero

CCHS. CSICC/ AlbASAnz 26-28. 28037 MAdrId

Page 287: Issn 0871 - 4061

incluso con fines etnoarqueológicos para valorar la explotación en época pre-rromana (Vázquez Varela 1995: 160; Sánchez-Palencia y Fernández-Posse1998: 238 s). Por supuesto han sido recogidas por los autores que se han ocu-pado de ellas en época más reciente (Nespereira 1978: 24, 25, 37 y 39 s; Do-mergue 1987: I, 310-311 y II, 348-353, 407-415; Perea y Sánchez-Palencia,106-109; Sánchez-Palencia et alii 1996: 27-29 y 32-34).

Aun a sabiendas de lo discutible que es la delimitación de los tramos decuencas fluviales, se entiende aquí como cuenca media del río Sil el sectorcomprendido aproximadamente desde Las Valdeorras hasta su confluencia conel río Miño (Fig. 1). Se incluyen por lo tanto dentro de ella las cuencas de losafluentes que recibe por la derecha y la izquierda, entre los cuales el Lor, elCabe y el Bibei y su afluente el Camba poseen importantes explotaciones au-

ríferas de época romana. El caráctersinuoso en general del curso fluvialy las continuas angosturas por lasque discurre han sido los impedimen-tos naturales que han privado al Silde ser el nexo de unión por excelen-cia entre Galicia y León, de formaque las principales vías de comuni-cación históricas no han seguidonunca al curso de forma continuada,sino sólo parcialmente. Los únicossectores de paso obligado han sido yson los valles de las Valdeorras y de

Quiroga - San Clodio; dichos valles han estado bastante poblados a lo largo dela Historia, tanto por esa función de enlace, como por su propia fertilidad. Lascuencas del Lor y del Bibei también poseen una orografía muy accidentada,mientras que los sectores medio y bajo de la cuenca del Cabe se hallan ya den-tro de la fosa de Monforte, amplia y fértil y por ende apropiada para el esta-blecimiento de abundantes núcleos de población; su relieve llano ha hecho deella un nexo de unión entre las cuencas medias del Miño y Sil y el Norte deGalicia, juntamente con la otra fosa sedimentaria situada algo más arriba, lade Sarria.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 286

Figura 1. Mapa de distribución de labores mineras au-ríferas (puntos rojos) y civitates en la cuenca meridio-nal de los ríos Sil y Miño

Page 288: Issn 0871 - 4061

La gran mayoría de las explotaciones romanas se situaron sobre yaci-mientos secundarios o aluvionares. De época terciaria son los aluviones mio-cenos que quedaron encerrados en las cuencas sedimentarias o algunos retazosde menor volumen que no fueron eliminadas por la fuerte erosión remontantedel río Sil, quedando sobre el cauce del río, a bastante altura; pero la mayoríason de época cuaternaria, con mayor potencia y explotados más extensamenteen la confluencia de los ríos o en los múltiples meandros del río.

En los yacimientos primarios beneficiados, la mineralización aurífera estáligada a los filones o venillas de cuarzo que de forma más o menos diseminadaencajan entre los esquistos y cuarcitas del Precámbrico y del Cámbrico - Or-dovícico. Una vez que el curso del río Sil se adentra en los terrenos del dominiogranítico, aguas abajo de Quiroga, no se detecta ya explotación alguna en sucuenca, evidenciando así la asociación de la mineralización aurífera con laszonas cuarcíticas antes mencionadas, de donde proceden también los aluvionesbeneficiados.

Las labores sobre yacimientos primarios incluyen desde trincheras hastagrandes cortas de minado. Las únicas galerías existentes en la zona, en O Cau-rel por ejemplo, han de interpretarse como trabajos de prospección o sondeosen el mineral aurífero. Los restos de las redes hidráulicas documentados enestas zonas de yacimientos primarios proporcionan interesantes datos para elestudio de su trazado y del sistema de explotación en sí y para el estudio deldesarrollo de las labores.

En los yacimientos secundarios, el esquema de explotación aplicado escasi siempre el mismo. Se combinan las zanjas-canales, para iniciar el procesode extracción del conglomerado, con las cortas de arrastre, que sirven para es-quilmarlo en su totalidad. La explotación por cortas de minado o ruina montiumpudo llegar a practicarse en las grandes labores de As Borreas de Caldesiños,en la cuenca del Bibei. También se aprecia en algunos casos la aplicación deseries de surcos convergentes para beneficiar sedimentos de poca potencia ygran extensión; cabe resaltar en este sentido uno de los yacimientos hasta ahoracasi desconocido, el de Os Medos o Cha do Castro (A Proba de Brollón) en laCuenca del Cabe. También hay que resaltar por su fama y por ser el ejemplomás claro de la desviación de un curso de agua para beneficiar placeres fluvia-les el túnel de Montefurado.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 287

Page 289: Issn 0871 - 4061

Se considera aquí como Cuenca Media del Miño (Fig. 1) el tramo com-prendido entre Os Peares y aguas un poco más abajo de Ribadavia, así comolos afluentes que confluyen en dicho tramo, fundamentalmente el Avia por laderecha y el Arnoia por la izquierda. Esto equivale prácticamente al centro ycuadrante noroccidental de la actual provincia de Ourense, las zonas más den-samente pobladas ya desde la Antigüedad.

Para este trabajo en concreto, pueden distinguirse a su vez tres zonas deespecial interés: la tierra de Carballiño, el propio valle del Miño y la cabeceradel río Arnoia.

La tierra de Carballiño está regada por una amplia red hidrográfica, entrela que destacan los ríos Arenteiro y Viñao, afluentes del Avia. Su orografía secaracteriza por los contornos redondeados y suaves y los valles son abiertos yferaces. Geológicamente existe un dominio de los granitos hercínicos en elsector oriental y de los esquistos precámbricos o paleozoicos en el occidental.La mineralización aurífera está estrechamente unida al contacto entre ambasmasas rocosas de forma que todas las labores se alinean en sus alrededores.Las partículas de oro aparecen ligadas en especial a las arsenopiritas que llevanlos filones o lentejones de cuarzo diseminados entre la roca encajante. Cuandoel filón adquiría cierta potencia, los romanos buscaban esos lentejones de ar-senopirita y los explotaban en donde existiesen, como ocurrió en el entorno deIrixo, donde aparecen diversas trincheras, continuadas parcialmente por gale-rías subterráneas, a lo largo de un afloramiento filoniano de 1’5 Km. aproxi-madamente. No obstante, lo más común era que explotasen masivamente todala zona con diseminación de filoncillos de cuarzo o stockwerk, tanto por serestos muy poco potentes e irregulares, como por existir una mineralizaciónentre la roca encajante.

Las explotaciones del valle del río Miño se hallan en su totalidad sobre pla-ceres cuaternarios consolidados. La construcción del embalse de Castrelo doMiño, el cultivo de las tierras de la rica ribera y en general las transformacionessufridas a causa del denso poblamiento de la zona enmascaran bastante las labo-res romanas que ya localizó Schulz en el siglo pasado. En este caso, es más queprobable la existencia del beneficio de los placeres fluviales en época prerro-mana, a partir del cual los romanos desarrollaron la explotación a gran escalamediante lavados superficiales, series de surcos convergentes y zanjas-canales.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 288

Page 290: Issn 0871 - 4061

La cabecera del río Arnoia es una zona de paso entre la cuenca del Sil ylos valles de los ríos que discurren hacia Portugal, Limia y Támega. Al oestede Maceda y Baños de Molgas existe una masa sedimentaria atravesada par elrío Tioira. Se trata de aluviones del Cuaternario y Plioceno. En sus inmedia-ciones existen una serie de yacimientos de estaño y de wolframio, entre losque también se encuentran arsenopiritas y otros tipos de mineralizaciones deoro. Se sitúan en el contacto entre los granitos hercínicos, dominantes en todala zona y una masa de cuarcitas y pizarras del Ordovícico Inferior y del Ordo-vícico Silúrico (IGME 1982: hoja 17, Orense, indicios 134-146). Estos últimosterrenos son también drenados por la vertiente opuesta por el río Camba,afluente del Bibei, donde también existen yacimientos auríferos secundariosexplotados en época romana, por lo que deben estar estrechamente ligados ala mineralización aurífera primaria, como ocurre en el resto del Noroeste pe-ninsular.

Así pues, en los aluviones pliocuaternarios situados al O de Baños deMolgas y Maceda pudieron explotarse tanto placeres auríferos como estagní-feros, aplicando el mismo sistema de explotación utilizado comúnmente sólopara oro. Serían unas alutiae, minas da oro donde también se encontraba y seexplotaba estaño, según refiere el propio Plinio (NH, XXXIV, 157). Los ro-manos las beneficiaron fundamentalmente con lavados superficiales y zanjas-canales, aunque las más espectaculares de todas las labores, Os Milagros doMonte Medo y las labores de su entorno inmediato fueron explotadas mediantegrandes series de surcos convergentes en su mayoría, aunque también se apli-caron los sistemas de zanjas-canales y cortas de arrastre. Sin duda, el nivelbuscado preferentemente sería el de contacto con la roca subyacente dondequedaban acumulados los placeres de estaño y oro en razón del elevado pesode ambos metales.

Como resumen de lo dicho, las tres áreas diferenciadas en la cuenca mediadel Miño se corresponden a su vez con tres tipos de yacimientos auríferos; aso-ciados a rocas intrusivas (granitos) en la tierra de Carballiño; sobre las terrazasfluviales en el valle del Miño, entre Puga y Ribadavia, y sobre aluviones plio-cuaternarios en la cabecera del Arnoia.

Es evidente que el conjunto de las labores comprendidas dentro de ambascuencas fluviales, del Miño y del Sil, estaban interrelacionadas entre sí y tam-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 289

Page 291: Issn 0871 - 4061

bién lo es que la vía XVIII fue un importante elemento de articulación entreellas (fig. 1). El proceso de prospección y explotación minera debió desarro-llarse paulatinamente y contando seguramente con la red fluvial como principalvía de progreso hasta los diversos yacimientos, cumpliendo los placeres flu-viales la labor de indicio que les otorgó el propio Plinio (NH, XXXIII, 67).Ahora bien, aun contando con los posibles conocimientos de la riqueza auríferafluvial desde época prerromana, todo el proceso de reconocimiento y puestaen valor de esos recursos mineros implicaba una labor sistemática en épocaromana y un total control del territorio que la hiciese posible (Sánchez-Palenciaet alii 2006: 268-281). Esta afirmación no sólo se basa en la lógica que se puededesprender de los sistemas de explotación de yacimientos auríferos en generalo de lo que puede deducirse al leer a autores clásicos como Plinio, sino queencuentra su principal apoyo en el propio terreno cuando las labores se exa-minan dentro de su contexto histórico. Los casos más paradigmáticos son losde aquellas zonas mineras y aquellas minas que, por su extensión, han tenidoque pasar necesariamente por un largo proceso de explotación. Un ejemplomuy significativo al respecto es el de las labores conocidas como Os Milagrosdo Monte Medo (fig. 2-6) y las inmediatas de Vilardecás, Lamelas, Sarreaus,Arroyo de Celeirón y Corno (Sánchez-Palencia et alii 1996: MM-14 a MM-19). Se encuentran al suroeste de Maceda y al oeste de Baños de Molgás, aambos márgenes de un amplio mean-dro del río Tioira, afluente al Arnoia,y ocupan una amplísima extensión(algo más de 5 y 3 km de longitud ylatitud). Os Milagros do MonteMedo es la denominación de un fa-moso santuario que domina por el su-roeste el mencionado meandro(abajo, a la izquierda en la fig. 2; fig.3 y 4) y que seguramente sacraliza laimportante actividad minera de lazona.

El estudio secuencial que precisan estas labores para conocer su cronolo-gía relativa hace imprescindible acudir a su documentación por estudios de es-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 290

Figura 2. Zona minera de Os Milagros do MonteMedo en el Vuelo Americano (1956) y su situación ac-tual tras ser cubiertos por monte de repoblación (Or-tofoto del SixPac)

Page 292: Issn 0871 - 4061

tereoscopia sobre fotografías aéreasverticales. En casos como el que nosocupa es de sumo interés contar convuelos de varias épocas, especial-mente cuando se han producido im-portantes transformaciones en el usodel suelo, como son las repoblacio-nes forestales. Como puede apre-ciarse en la fig. 2, en Os Milagros hasido fundamental el uso del vueloamericano de 1956 para obviar elproblema reforestador. Aparte de unaserie de desmontes aislados (FI enfig. 3 y 4), el análisis estereoscópicopermite diferenciar claramente untotal de cuatro fases en la zona másimportante (F1 a F4 en fig. 3 y 4). Suidentificación no ofrece mayoresproblemas y puede hacerse medianteun análisis secuencial de estratigrafíahorizontal. Como se muestra en lafig. 5, la intersección y superposiciónlas diversas estructuras mineras: la-bores de extracción con sus corres-pondientes frentes de laboreo,canales de evacuación y acumulacio-nes de estériles (a ellos habría queañadir los restos de la red hidráulica,de la que sólo se han identificadoahora los últimos depósitos de agua:D en fig. 3 y 4), permiten estableceruna cronología relativa y definircómo se produjo el avance de los tra-bajos. Aunque este tipo de estudio

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 291

Figura 3. Representación sobre un Modelado Digitaldel Terreno de las fases de explotación de Os Milagrosdo Monte Medo

Figura 5. Detalle del proceso de explotación en unsector de la mina de Os Milagros do Monte Medo

Figura 4. Representación sobre la fotografía aérea delVuelo Americano (1956) de las fases de explotaciónde Os Milagros do Monte Medo

Page 293: Issn 0871 - 4061

precisa de su comprobación sobre elterreno, los restos visibles a pie detierra son de tal envergadura (fig. 6)que sólo con mucha dedicación y es-fuerzo permitirían alcanzar resulta-dos satisfactorios.

En fin, aunque es poco menosque imposible establecer una data-ción absoluta de las diversas fases deexplotación, aquí como en otrasminas semejantes, sí resulta patentetras el análisis secuencial y la dimen-sión de las labores, que se trata de una actividad de largo plazo, imposible deejecutar en cortos períodos de tiempo. Esto es lo que ahora queremos resaltaren esencia.

2. La minería en la estructuración territorial y administrativa du-rante época julio-claudia y a partir de época flavia

Nuestro interés a la hora de abordar el estudio de las estructuras minerasno se limita a la caracterización de las mismas, elemento sin duda indispensablepara entender las técnicas extractivas y el impacto en la configuración del pai-saje, sino que va más allá, hacia la comprensión de las minas como factores decambio histórico. Para ello, es necesario, como hemos dicho, tener en cuentala integración de la minería en el marco territorial y administrativo romano.Las minas, uno de los recursos de propiedad estatal fundamentales para enten-der las formas que toma el dominio romano en el Noroeste, tuvieron un papelimportante tanto en la política de los julio-claudios como en la de los flavios,aunque con algunas diferencias en los dos periodos. Esto queda bien ilustradotomando como ejemplo el caso de las minas de la cuenca meridional del Sil yel Miño, que acabamos de analizar.

Las visiones tradicionales sobre los procesos de cambio del Noroeste his-pano hacen hincapié en la relevancia de la época flavia como momento esencialde cambio (Tranoy 1995-96: 31), como una inflexión histórica fundamental apartir de la cual florecen las nuevas realidades sociales y económicas, y las co-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 292

Figura 6. Imágenes de las labores de explotación enOs Milagros do Monte Medo. Vista desde el S de lasdistintas salidas de los canales de evacuación (imagensuperior). Series de surcos convergentes que se puedenapreciar sobre una zona recientemente talada

Page 294: Issn 0871 - 4061

rrespondientes nuevas formas de organización del territorio y el poblamiento,impulsadas por la dominación (sociedad galaico o astur – romana). De estemodo, el siglo I es considerado una época de transición marcada por al man-tenimiento de antiguas estructuras residuales pero útiles al dominio romano.Algunos autores, incluso, consideran el siglo I como una fase más de la culturacastreña, una fase en la que se empieza a percibir la disolución de esta sociedadal tiempo que, según ellos, se documenta el florecer de algunas de sus mani-festaciones culturales. Fernández-Posse (1998: 198-204) ha analizado con granlucidez esta cuestión de los “tiempos” de la cultura castreña, identificando va-rias actitudes ante la época tardía que van desde la idea de un progreso endó-geno que fue truncado por la conquista (Martins y Jorge 1992), hasta la ideade una “fase de apogeo” (Peña 1993) o, más asépticamente, castreño-romana(Peña y Vázquez 1996) que coincide con la dinastía Julio-Claudia.

Esta idea se ve reforzada además desde la perspectiva de los estudios dela dominación romana. Es bastante frecuente la idea de que la estructura ad-ministrativa romana se implantó de una manera bastante directa sobre la es-tructuración étnico-política prerromana que, al parecer, resultaba muy útilcomo punto de partida de la realidad administrativa de las civitates, algo quese ha argumentado desde variados puntos de vista y con múltiples presupuestosinterpretativos (García Quintela 2002: 46-7; Alarcâo 1995-96). Algunos autoresplantean que esta situación prerromanizante se mantiene durante todo el sigloI hasta la definitiva creación de civitates en época flavia (Alarcâo 1995-96).También se ha defendido el papel de los conventus, fundaciones augusteas,como mecanismos de control fundamentales durante el siglo I en un contextode fragmentación, dispersión del poblamiento y ruralidad (García Fernández1996: 160)

Hace tiempo que defendemos una visión diferente de este proceso. Sinduda debemos contar con una enorme variabilidad regional dentro de la cuáljuegan un papel importante las zonas mineras. Pero partimos de la base de quela intervención romana desde el mismo momento de la conquista impulsó unconjunto de cambios, que tuvieron como eje la imposición del sistema tributa-rio, que afectaron a todo el Noroeste y a todas sus poblaciones y que supusie-ron, desde los primeros años, la disolución de las formaciones socialesprerromanas. Si bien la minería no se pone en marcha en estos primeros mo-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 293

Page 295: Issn 0871 - 4061

mentos post-conquista, sí parece claro que la reordenación administrativa, te-rritorial y fiscal que se documenta en este primer periodo fue la base sobre laque se hizo posible la explotación minera.

Esto puede argumentarse a diversos niveles. Para empezar, a partir de lapropia concepción imperial de Augusto.

El gobierno de Augusto es el momento en el que se procede a hacer el“inventario del mundo” (Nicolet 1988) tal y como reflejan las recomendacionesde Mecenas al emperador recogidas por Dion Casio (LII 28 ss.): hacer una es-timación global de los recursos disponibles, incluyendo las minas, e imponeruna tributación regular en todo el Imperio. Esto se contextualiza en una nuevaidea de la dominación provincial en la que la explotación del imperio comoeconomía de guerra (Ñaco 2003) es sustituida por una ordenación sistemáticay regular de la tributación imperial dentro de la que se abren camino formasde sumisión que no son necesariamente la esclavitud mercancía (Plácido 2005;Sastre y Plácido 2005). La integración de nuevos territorio a través de civitatesperegrinas, que tributan globalmente por su suelo, puede considerarse carac-terístico del gobierno de Augusto (Orejas y Sastre 1999; Sastre 2001; Orejas2002), y de hecho Frontino considera este modelo como característico del suelotributario1.

En el Noroeste hispano se documenta la implantación de un sistema decivitates tributarias desde el momento inmediatamente posterior a la conquista.Así queda de manifiesto en documentos como el Edicto del Bierzo, del 15 a.C.(Sánchez-Palencia y Mangas 2000). No es posible entrar ahora a analizar ex-haustivamente este texto ni las variadas interpretaciones de los diversos auto-res, pero sí merece la pena indicar que las medidas relativas a la inmunidadtributaria están teniendo en cuenta ciertas entidades, las gentes gigurrorum ySusarrorum, con un papel activo en cuanto que sujetos fiscales. Así mismo, seemplea el término civitas como sinónimo de gens, algo que de todos modosestá atestiguado también por la temprana mención de estas mismas civitatescomo origines en varias inscripciones2.

Otros documentos epigráficos permiten vislumbrar también la tempranaarticulación del territorio en civitates, bien delimitadas y sin duda convenien-temente recogidas en los censos administrativos. En época de Claudio se datanlos hitos terminales que delimitaban los pratae legionarios y los territorios de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 294

Page 296: Issn 0871 - 4061

las civitates de los bedunienses y los lugones encontrados en Soto de la Vegay Castrocalbón (León; IRPL 304-312). Y de época anterior (2-3 d.C.) son lostermini augustales de la provincia de Salamanca que indicaban los límites entrelas civitates de Mirobriga, Salmantica y Bletisama (CIL II 857, 859, 857;5033). Conviene indicar la existencia de otras inscripciones tempranas quemencionan civitates, como es el caso de la Tabula Lougeiorum (1 d.C.; Dopico1988; Balbín 2006, 201 nº 49)3.

Las medidas tomadas por Augusto indican, por lo tanto, una intervenciónactiva sobre territorios y poblaciones, orientada por las necesidades de la tri-butación imperialista. Estas intervenciones imperialistas directas unidas a loscambios que se derivaron de la propia crisis que supuso la guerra de conquistapusieron en marcha procesos históricos que explican las nuevas formas de ocu-pación del territorio durante el siglo I. Las civitates, las nuevas entidades re-gionales con funcionamiento político, fueron la base de la nueva estructuraterritorial y del nuevo encuadramiento de las poblaciones, facilitando la con-solidación de una sociedad de clases con grupos dominantes dóciles y útiles alimperialismo romano, y mano de obra campesina local encargada de producirlos excedentes en productos y trabajo para la tributación.

En estos momentos iniciales de la organización imperial, cuya fecha másantigua documentada es el año 15 a.C., sin duda el gobierno romano era cons-ciente ya de la riqueza en oro de algunas de las regiones del Noroeste. Tal vezbajo el propio gobierno de Augusto se inició la extracción del oro, aunque loselementos de datación de la misma remiten a la época de Tiberio/ Claudio comolas más antiguas (en el caso de la Valduerna, Domergue y Sillières 1977). Loque sí puede afirmarse es que la reestructuración administrativa de época deAugusto fue el sustrato sobre el que se pudo desarrollar una explotación mineradirectamente controlada por el Estado y basada en la mano de obra suminis-trada por las poblaciones indígenas en el contexto del sistema tributario (Sán-chez-Palencia ed. 2000).

Los cambios de la época flavia son herencia y reorientación de los pro-cesos del siglo anterior, no una ruptura respecto a los mismos. En algunos as-pectos, los cambios desarrollados durante el siglo I eclosionan a partir del sigloII haciéndose plenamente perceptibles en la morfología del poblamiento y enlas formas de ocupación del territorio, pero esto es una derivación del proceso

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 295

Page 297: Issn 0871 - 4061

anterior, nunca un quiebro de ese mismo proceso. Al mismo tiempo, es nece-sario afirmar que las reformas flavias tuvieron un peso específico indudable.La aplicación del ius Latii, unida a la realización de un censo en torno a losaños 71-73 actuaron como base para una nueva reordenación de poblacionesy recursos y para pulir los aspectos de la organización territorial que se consi-deraron necesarios para los intereses fiscales de la nueva dinastía. Pero estono puede ser considerado como el pistoletazo de salida del auténtico procesoromanizador, a no ser que manejemos modelos excesivamente unidireccionalesy monolíticos sobre el impacto romano en las provincias. En este contexto laminería tuvo, sin duda, un lugar fundamental, sobre todo cuando se tienen encuenta las implicaciones fiscales de las reformas flavias, movidas por “une vo-lonté de rentabilisation maximale des ressources de l’hispania et un idéal ad-ministratif parfaitement adapté à cette exigence” (Guichard 1990: 66).

Dado lo temprano de la implantación administrativa en territorios mar-cadamente mineros como el Bierzo parece poco probable que esta primerareorganización territorial tuviera ya en cuenta unas áreas mineras que fuerondescubriéndose y explotándose de manera progresiva y sobre una base emi-nentemente empírica y no basada en unos conocimientos de lo que hoy en-tendemos por geología. Los frentes y los desmontes mineros fueronavanzando de acuerdo con las exigencias de la propia explotación. Y con-forme se producía este avance los territorios mineros se irían convirtiendoen ager publicus, en un contexto generalizado de suelo provincial o pere-grino, algo que parece coherente con los resultados de los principales estudiosjurídicos y que hemos abordado en otras ocasiones (Sastre y Sánchez- Pa-lencia 2002; Sánchez-Palencia y otros 2007; Sastre e.p.). Hemos defendidola idea de territorios de civitates horadados por explotaciones mineras, civi-tates que debían atender a esas explotaciones con el suministro de mano deobra tanto para los frentes de explotación como para la construcción, cuidadoy vigilancia de la red hidráulica. Un ejemplo de esto puede ser el caso de lacivitas gigurrorum, ya documentada en el Edicto del Bierzo, que se identificacon la actual comarca de Valdeorras. Se trata de una región atravesada por elSil en un tramo completamente lleno de explotaciones auríferas que debieronponerse en marcha de manera progresiva a lo largo del siglo I. Algo parecidopodría ocurrir con las civitates de las regiones de la Valduerna y Valderia.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 296

Page 298: Issn 0871 - 4061

Pero este modelo de civitas con minas puede definirse de una forma algomás precisa. Si bien es poco probable que en época augustea las minas (aúnmuy incipientes) pesaran en la organización territorial, en época flavia sin dudafueron un elemento esencial. En este momento las explotaciones auríferas pue-den considerarse a pleno rendimiento, su carácter estatal parece fuera de todaduda, y es de suponer que serían un factor de primer orden a la hora de plantearlos cambios introducidos por Vespasiano y sus sucesores. No vamos a entraren detalle en la trascendencia histórica de la llamada “reforma flavia”, pero síconsideramos oportuno hacer algunas reflexiones sobre la organización admi-nistrativa. Sande Lemos y Morais en un artículo sobre la relación entre vías yexplotaciones mineras presentado en un congreso relativamente reciente sobrela Via Nova (Sande Lemos y Morais e.p.), defienden que el trazado de estamisma se relaciona estrechamente con las explotaciones mineras y que esto noes en realidad una novedad flavia sino la consolidación de un trazado que yaestaba activo en época anterior. Igualmente es posible que ya en época anterioren algunas regiones funcionara ya otra tendencia de carácter territorial queahora se hace más activa o consciente: la ubicación de zonas mineras en los lí-mites entre civitates (Fig. 1). Esto no debe ser considerado como una normageneral, dado que la propia entidad de los trabajos mineros impone una enormevariabilidad regional. Pero sí parece estar presente al menos en relación conalgunas zonas mineras de parte de la región galaica.

Para valorar adecuadamente la afirmación anterior -y no convertirla enun axioma demasiado mecanicista- hay que partir de la base de que la ubicacióngeneral de los yacimientos auríferos se relaciona en muchas ocasiones conzonas elevadas o montañosas que son ya de por sí límites aptos para definirentidades comarcales con coherencia geográfica como para funcionar comocivitates. En este sentido las zonas mineras y regiones limítrofes parecen coin-cidir de una manera “espontánea”. Otros casos pueden resultar más ambiva-lentes como ocurre con los ríos, que en muchas ocasiones constituyen los ejesvitales de estas entidades territoriales o geográficas pero en otras ocasionespodrían actuar como elementos claros de delimitación.

A continuación presentaremos la información caso por caso con algunasinterpretaciones en cuanto a la definición de las civitates que pretenden sermás una propuesta para la discusión que una definición cerrada o completa.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 297

Page 299: Issn 0871 - 4061

Ya se ha visto para el caso gigurro el hecho de que al menos durante el sigloI parece claro que las minas atravesarían la civitas formando un cinturón marcadopor el río Sil. Algo semejante ocurriría con los susarros, localizados en la comarcadel Bierzo Alto. Una cuestión que se plantea en relación con el territorio delBierzo es el momento en el que se definió la civitas Bergidensis. A modo de hi-pótesis podemos afirmar que puesto que no hay mención de ella durante el sigloI, y que porta el epíteto Flavium, podría darse el caso de ser una civitas de fun-dación flavia, articulada en torno al curso alto del Sil, con una misión clara comocentralizadora de una actividad minera que se ubicara en sus regiones limítrofes.Esto iría en menoscabo del territorio de los susarros4, con los cuales parece ocurrirexactamente lo contrario que con los bergidenses, es decir, las menciones epi-gráficas se sitúan todas en momentos anteriores a mediados del siglo I (CIL III2016; IRL 55; Edicto del Bierzo). La civitas Susarrorum y/o la civitas Bergido-flaviensis limitarían con los gigurri y los Lougei por medio del área minera enla que se ubican, entre otras explotaciones, Las Médulas.

Coincidiendo con este momento de posible reorganización del territorio delBierzo Bajo a partir de una nueva civitas, se produce en las regiones vecinas asturesy galaicas el fenómeno de eclosión de los fora. En relación con los gigurri de Val-deorras a forum gigurrorum se han vinculado varios asentamientos, fundamental-mente A Proba, con sus cloacas de saneamiento, sus calles pavimentadas, aceras ysoportales (Pérez Losada 2002: 199 ss) y A Cigarrosa, donde además de los restosde posibles villae tardías se documenta el epitafio en mármol de un militar y curatorfisci con origo gigurro Calubrigensis (CIL II 2610) datable en el siglo II.

Respecto a las otras civitates que se corresponden con la región objeto deestudio parece confirmarse esta tendencia a identificar zonas limítrofes y zonasmineras. Así:

- Tiburi (civitas articulada por el río Bibei) y gigurri podrían compartircomo área limítrofe la zona minera de Terra do Bolo. Así mismo, esta zonaminera parece ubicada en el límite norte de los Tamagani, civitas articuladageográficamente por la cuenca del Támega.

- La zona minera de Salientes (cabecera del Arnoia), a su vez, parece lo-calizarse entre los Tiburi (al este), la posible civitas Aurensis al oeste, los Le-mavi (al norte) y los Limici (al sur).

- A su vez, la zona minera de Carballiño parece situarse entre la posible

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 298

Page 300: Issn 0871 - 4061

civitas relacionada con Lais, Laias y San Cibrán, y las civitates occidentalesprevias a la costa, en las que ya no vamos a entrar. Así mismo, en parte podríacoincidir con el límite entre la indicada civitas y la civitas Aurensis que podríadiscurrir por el Miño.

- Por último, la pequeña zona minera de Cexo-Fontechid podría ubicarseen el límite meridional de los Coelerni.

Posiblemente, algunos fenómenos cómo la aparente bipolaridad de algu-nas civitates (Limici con Nocelo da Pena/ Xinzo de Limia; Tiburi con TrivesViejo/ Castro Caldelas) se relaciona, como ya han visto varios autores, con estareestructuración territorial iniciada en época flavia (Pérez Losada 2002). Deigual manera, la definición de la civitas Aurensis puede formar parte de estanueva reestructuración orientada a la articulación territorial de las minas deCarballiño y del Alto Arnoya y los posibles cambios que pudieron tener lugaren relación con una posible debilitación del castro de San Cibrán, que pudoser un lugar central durante el siglo I y tal vez dejó de serlo a partir de épocaflavia (López y otros 2004).

Esta situación limítrofe de algunas de las principales zonas mineras ga-laicas pudo resultar beneficiosa para la administración romana. Por una partela ubicación periférica facilitaba la implicación de varias civitates en las ex-plotaciones, de modo que varios gobiernos locales debían repartirse las obli-gaciones relativas al suministro de mano de obra, labores de mantenimiento,etc. El personal adscrito a los procuratores imperiales tendría un papel claveen la supervisión de esta necesaria coordinación regional, debilitándose conello el papel de cada entidad local en un proceso de explotación aurífera cla-ramente estatal, situada en los márgenes tanto físicos como políticos de las ci-vitates. Así mismo, el carácter de las minas como ager publicus cobra unamayor entidad en un sentido espacial y administrativo, al formar parte activaen la división del ager provincialis entre las diferentes comunidades.

BibliografiaALARCÂO, J. (1995-6): “As civitates do Norte de Portugal”, Cadernos de Arqueologia, II série, 12-13,

25-30.BALBÍN, P. (2006): hospitalidad y patronato en la Península ibérica durante la Antigüedad, Valladolid.DÍEZ SANJURJO, M. (1904-1908): “Los caminos antiguos y el itinerario nº 18 de Antonino en la provincia deOrense”, Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos de Orense 2 (1904), 221-228 y 269-275, 3 (1906),49-53 y 65-75, 3 (1907), 107-111 y 152-156, 3 (1908), 202-208 y 236-240.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 299

Page 301: Issn 0871 - 4061

DOMERGUE, C.; SILLIÈRES, P. (1977): Minas de oro romanas de la provincia de León i, Excavaciones Ar-queológicas en España 93, Madrid.DOPICO, D. (1988): La tabula Lougeiorum. estudios sobre la implantación romana en hispania, Vitoria.FERNÁNDEZ-POSSE, M.D. (1998): La investigación protohistórica en la Meseta y galicia, Madrid.GARCÍA FERNÁNDEZ, E. (1996): “El desarrollo de la municipalización latina: la Bética y el Noroeste”, enS. Reboreda, P. López Barja (eds.), A cidade e o mundo: romanización e cambio social, Xinzo de Limia: 147-164.GARCÍA QUINTELA, M.V. (2002): La organización socio-política de los populi del noroeste de la Penínsulaibérica. un estudio de antropología política histórica comparada, Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio(TAPA) 28, Santiago de Compostela.GONZÁLEZ LASALA, J. (1877): “Informe sobre el reconocimiento de los principales terrenos auríferos de lacuenca del Sil, en las comarcas del Vierzo y las Valdeorras”, Mems. Facultativa, y económico-administrativa,referentes a la explotación de las minas de oro existentes en las márgenes del Sil, por la Sociedad Montañesa-galaico-Leonesa. Santander.GUICHARD, P. (1990): “Politique flavienne et fiscalité en hispania”, Mélanges de la Casa de velázquez, 26.1,45-73.IGME (1982): Mapa Minero-metalogénico de galicia. escala 1:400.00, Madrid.LóPEZ, L. F.; LóPEZ, M. A; ÁLVAREZ Y. (2004): “Definición y recuperación de estructuras en el Castro deSan Cibrán de Lás”, en Cuadernos de estudios gallegos, 117, 79-113.MARTINS, M.; JORGE, S.O. (1992): “Sustrato cultural das etnias pré-romanas do Norte de Portugal”, en M.Almagro-Gorbea – G. Ruiz Zapatero (eds.), Paleoetnología de la Península ibérica. Complutum, Extra, 2-3,347-372.NESPEREIRA IGLESIAS, X. (1978): “Síntesis sobre yacimientos auríferos gallegos”, Braña, 1, 18-48.ÑACO, T. (2003): vectigal incertum. economía de guerra y fiscalidad republicana en el Occidente romano: suimpacto histórico en el territorio (218-133 a.C.), BAR International Series 1158, Oxford.OREJAS, A. (2002): “El territorio de las civitates peregrinas en los tratados de agrimensura. Las civitates delNoroeste hispano”, habis, 32, 389-406.OREJAS, A.; SASTRE, I. (1999): “Fiscalité et organisation du territoire dans le Nord-Ouest de la PéninsuleIbérique : civitates, tribut et ager mensura conprehensus”, dialogues d’histoire Ancienne, 25.1, 159-188.PEÑA, A. de la (1992): “El primer milenio a.C. en el área gallega: génesis y desarrollo del mundo castreño a laluz de la arqueología”, en M. Almagro-Gorbea – G. Ruiz Zapatero (eds.), Paleoetnología de la Península ibérica.Complutum, 2-3, 373-394.PEÑA, A.; VÁZQUEZ, J.M. (1996): “Aspectos de la génesis y evolución de la Cultura Castreña de Galicia”,homenaje al Profesor Manuel Fernández- Miranda, Complutum Extra 6(I), Madrid, 255-62.PEREA CAVEDA, A.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J. (1995): Arqueología del oro astur. Orfebrería y minería,Oviedo.PÉREZ LOSADA, F. (2002): entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secundarios”romanos en galicia, Brigantium, 13, A Coruña.PLÁCIDO, D. (2005): “La théorie de l’égalité des êtres humains et l’évolution des formes de dépendance”,XXXe colloque du giReA, Besançon: 467-473.SÁNCHEZ- PALENCIA, F.J. ed. (2000): Las Médulas (León). un paisaje cultural en la Asturia Augustana.León.SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; ÁLVAREZ GONZÁLEZ, Y.; LóPEZ GONZÁLEZ, L. F. (1996): “La mineríaaurífera en Gallaecia”, el Oro y la Orfebrería Prehistórica de galicia, Lugo, 9-40.SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; FERNÁNDEZ-POSSE, MªD. (1998): “El beneficio del oro por las comunidadesprerromanas del noroeste peninsular”, Minerales y metales en la Prehistoria reciente. Algunos testimonios desu explotación y laboreo en la Península ibérica. (G. Delibes de Castro, coord.) Studia Archaeologica, nº 88,Valladolid, 227-246.SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; OREJAS, A.; SASTRE, I; PÉREZ, L.C. (2006): “Las zonas mineras romanas

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 300

Page 302: Issn 0871 - 4061

del noroeste peninsular. Infraestructura y organización del teritorio.”, en nuevos elementos de ingeniería romana.iii Congreso de las Obras Públicas Romanas, Astorga, 265-285.SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; MANGAS, J. coords. (2000): el edicto del Bierzo. Augusto y el noroeste de his-pania, Ponferrada.SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; OREJAS, A.; SASTRE, I (2007): “Roman gold mines: legal and territorial prac-tices”, en Sfruttamento tutela e valorizzazione del territorio. dal diritto romano alla regolamentazcione europeae internazionale. (Nápoles, noviembre 2005), 181-193.SANDE LEMOS, F.; MORAIS, P. (e.p.): “Vias augustas y mineraçao aurifera” Actas del Colóquio internacional“vias do império” (marzo- abril 2006).SASTRE, I. (2001): Las formaciones sociales rurales de la Asturia romana, Madrid.SASTRE, I. (e.p.): “Las zonas mineras auríferas en el sistema provincial altoimperial: el caso del Noroeste his-pano”, en Actas del coloquio internacional sobre Minería antigua: estudios regionales y temas de investigación.Homenaje al Prof. Claude Domergue (Casa de Velázquez, Madrid, noviembre 2005).SASTRE, I; PLÁCIDO, D. (2005): “deditio in fidem and peasant forms of dependence in the Roman provincialsystem: the case of Northwestern Iberia”, XXXe colloque du giReA, Besançon: 501-9.SASTRE, I.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J. (2002): “La red hidráulica minera del Noroeste: aspectos jurídicos,administrativos y políticos”, Archivo español de Arqueología 75: 215-234.SCHULZ, G. (1930): Obras completas. descripción geológica de Asturias (con un atlas) [1838]. descripcióngeognóstica del reino de galicia (con un mapa petrográfico de este País) [1835]. Madrid.TRANOY, A. (1995-96): “La route, image et instrument du pouvoir impérial dans le nord-ouest ibérique”, Ca-dernos de Arqueologia, 12-13: 31-37.VÁZQUEZ VARELA, J.M. (1995): “Etnoarqueología de la extracción del oro de los ríos en el noroeste de laPenínsula Ibérica”, Trabajos de Prehistoria, 52, 2: 157-161.

* Este trabajo se inserta en el proyecto “Formación y disolución de la civitas en el Noroeste peninsular. Relacionessociales y territorio” (HAR 2008-06018-C03-01/ HIST) financiado por el Ministerio de Ciencia e Innovacióny desarrollado en el CCHS del CSIC (Madrid).1 Ager est mensura conprehensus, cuius modus universus civitati est adsignatus, sicut in Lusitania Salmanti-censibus aut hispania citeriore Palantinis et in conpluribus provinciis tributarium solum per universitatem po-pulis est definitum (Frontino, Agr. Qual. Th. 1-2)2 En relación con los susarri, Tabla de El Caurel (iRPLugo 55; Balbín 2006: 204, nº 50), CIL III 2016 de Dal-macia.3 Así mismo, otras civitates mencionadas por medio de origines durante el siglo I son –sin ánimo de ser exhaus-tivos- los Lemavi (AE 1982: 575); los Celtici Supertamarci IRPL 104 y 109; los Limici (CILA 1, 24). Todosestos ejemplos están datados por la presencia del signo É. 4 O bien la civitas Susarrorum pasa a convertirse en Bergidum Flavium, aunque esto no es más que una meraconjetura.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 301

Page 303: Issn 0871 - 4061

A MineRAção RoMAnA no conjunto MineiRo chAves/Bo-ticAs/MontALegReROMAn Mining in The Mining SeT ChAveS/BOTiCAS/MOnTALegRe

Resumo: A área em estudo estende-se essencialmente pelos concelhos de Chaves, Bo-ticas e Montalegre, procurando inventariar-se os locais de exploração mineira em época ro-mana.

O objectivo deste trabalho, ainda em curso, consiste em efectuar a correlação entre as di-ferentes frentes mineiras e o povoamento proto-histórico no Norte de Portugal, para o qual exis-tem já numerosos trabalhos de síntese e parcelares como os de A. C. Silva (2007), F. Queiroga(1992), F. S. Lemos (1993) e R. Teixeira (1996).

Ao mesmo tempo torna-se indispensável comparar a distribuição dos novos aglomeradosde fundação romana (vici, villae, e outros habitats rurais), e a conjugação da exploração mineiracom outros recursos económicos como sejam a agricultura e a pastorícia.

Palavras-chave: Mineração, época romana, estanho, ouro.

Abstract: The study area embraces the municipalities of Chaves, Boticas and Montalegre;we tried to make the inventory of the places of mining exploration at the Roman time.

The aim of this work, still in study, is to realise the correlation between the different miningfronts and the proto-historical settlement in the north of Portugal, for which numerous worksof synthesis already exist, such as those of A.C. Silva (2007), F. Queiroga (1992), F.S. Lemos(1993) and R. Teixeira (1996).

At the same time it is indispensable to compare the distribution of the new settlementswith Roman foundation (vici, villae, and others), and the mining exploration with other economicresources.

Keywords: Mining, Roman time, tin, gold.

1. introduçãoNa área correspondente aos concelhos de Chaves, Boticas e Montalegre

(Fig. 1), integrada no convento Bracarense, existe um grande número de ex-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 303

Carla Maria Braz Martins

InveStIgAdorA dA U.M. e ColAborAdorA externA dA FeUP. bolSeIrA dA FCt(bPd); [email protected]

Page 304: Issn 0871 - 4061

plorações mineiras, de época romana, cujo alvo principal era a extracção doouro e da cassiterite (esta última para obtenção do estanho).

Neste trabalho pretende-se abordar a exploração mineira, tendo em contaas características geomorfológicas da área referida, articulando os recursos mi-neiros com os aglomerados populacionais, mais especificamente a detecção depovoados mineiros com possível estatutode vicus.

Na região de Chaves predominamdepósitos mais recentes elúvio-aluviais doHolocénico, que preenchem os fundos dasprincipais depressões com níveis de sedi-mentos finos e areno-argilosos (Pereira2006: 47). Tal facto dá origem a uma assi-metria muito grande: do lado Oeste váriospatamares escalonados entre a superfíciemais elevada da serra do Larouco contras-tando com a base da depressão de Chaves(Pereira 2006: 9); a bacia de Chaves, ouChaves-Verín, prolonga-se para território espanhol, tendo uma extensão de 50km e largura até 10 km. Em termos mineralógicos predomina a associação deSn, Ta, Nb, Au, W e Ti em jazigos primários com sedimentações clásticas (alu-viões) (Pereira 2006: 79), que se localizam predominantemente nas bacias hi-drográficas; os jazigos associados a rochas granitóides, aplitopegmatíticos comSn, Ni e Ta, que ocorrem na zona de S. Lourenço / S. Julião de Montenegro(Pereira 2006: 91) e os jazigos com filões de quartzo com mineralização deAu e/ou Ag que surgem com um grande domínio na zona de Carvela-Tresmun-des.

Os concelhos de Boticas e Montalegre são dominados por uma paisagemgranítica com altos-relevos. Sob o ponto de vista geológico toda a área em es-tudo é muito heterogénea, predominando os granitos de formação Hercínica;em Montalegre, Pondras, Borralha, Rebordelo, os granitos de grão médio a gros-seiro, essencialmente biotíticos; na serra da Cabreira, Larouco e Boticas os gra-nitos de grão médio de duas micas; na barragem de Pisões e Alturas de Barrosoo granito de grão grosseiro de duas micas; e também nas Alturas de Barroso o

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 304

Figura 1. Localização dos concelhos de Cha-ves, Boticas e Montalegre

Page 305: Issn 0871 - 4061

granito de grão médio a grosseiro porfiróide de duas micas (Pereira 2006: 52).Pertencentes ao Complexo Parautóctone, de formação Paleozóica, existem tam-bém os xistos cinzentos com intercalações de xistos negros, ampelitos e líditos,em alternância com os pelitos, psamitos, grauvaques e tufos vulcânicos, pre-sentes nas regiões de Morgade, Venda Nova, Dornelas e Curros.

Na região de Boticas a mineralização é de quartzo, arsenopirite, pirite,blenda, galena, ouro e arsenatos, enquanto na região de Montalegre predominao Sn-W, podendo no entanto ocorrer percentagens mínimas de ouro e prata.

2. caracterização da área mineira chaves, Boticas e MontalegreA área mineira de Chaves, Boticas e Montalegre apresenta diferenças

acentuadas quanto à natureza das explorações, que obviamente se relacionamcom as características geomorfológicas da paisagem.

Chaves mostra um conjunto de explorações mineiras que se aglutinamem certas partes do concelho:

- a Nordeste de Chaves, em jazigos primários, predomina a exploraçãodo estanho, principalmente em Cima de Vila de Castanheiro (Ao Estanho),Águas Frias (Devesas) (Fig. 2), Bobadela (Poulas da Costa de Lobos e Laba-gueiras) e Tronco (Portela). O sistema de exploração é a céu aberto, consubs-tanciando-se em trincheiras e cortas, algumas de grandes dimensões.

- a Sudeste de Chaves, em jazigos primários, o minério explorado erao ouro e prata, numa vasta área entre as freguesias de Carvela e Tresmundes,podendo mesmo obter-se percentagensapreciáveis dos metais referidos, até 48,3g/t Au e 27,3 g/t Ag (na arsenopirite).Em relação a estas minas os registos con-temporâneos referem-nos cinco grandescortas exploradas em época romana (Fig.3), precisando a sua localização, dasquais quatro foram alargadas a partir dosanos 50.

- a Sudoeste de Chaves, em jazigosprimários com uma associação de W-Sn-Au, na região de Olgas / Mosteirão (Re-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 305

Figura 2. Corta mineira em Devesas, ÁguasFrias, Chaves

Page 306: Issn 0871 - 4061

dondelo), coexistindo uma exploração a céu aberto – cortas e trincheiras, comuma subterrânea – galerias.

- a Noroeste de Chaves, nas zonas de Outeiro Seco, Outeiro Machado(Fig. 4) e Bustelo, em jazigos secundáriosonde o ouro foi amplamente explorado, acéu aberto compreendendo trincheiras ecortas; em Outeiro Machado (Valed’Anta), para além das cortas existentes, adetecção de cinco galerias entulhadascomprovam a exploração subterrânea(facto descrito nos relatórios geológicosde 1966).

É óbvio que maioritariamente os tra-balhos observáveis no terreno são deépoca contemporânea, no entanto em ne-nhuma das zonas apontadas existem dúvi-das da exploração romana. De salientarque os quatro eixos de mineralização su-pramencionados coincidem com o traçadoda via XVII do Itinerário de Antonino (esuas variantes), e nas imediações de cadaum dos conjuntos mineiros existem po-voados romanos que foram consideradosmineiros. Muito provavelmente, os deTronco, povoado em Vilarelho com 3,5 hae materiais datáveis do séc. I d.C. (Tei-xeira 1996: 54 nº 315), e Cimo de Vila daCastanheira, povoado no sopé do castro deS. Sebastião com cerca de 1 ha (Teixeira1996: 55 nº 319), terão um estatuto de vicus, dado o aparecimento de aras aJúpiter.

Boticas revela uma concentração de explorações em torno de uma pro-vável falha com um filão quartzoso (N20-30E da serra do Ferro) que vem desdeVilarelho da Raia (Chaves), passando por Vilela Seca, Soutelo, Poço das Frei-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 306

Figura 3. Corta mineira descaracterizada emCarvela-Tresmundes, Chaves

Figura 4. Trabalhos mineiros em Valed’Anta, Outeiro Machado, Chaves

Page 307: Issn 0871 - 4061

tas, Sapiãos, Pinho e termina perto de Curros. Esta área a Sudeste da serra deLeiranco, e ao longo do Vale Superior do Terva, revela numerosas frentes deexploração, podendo tratar-se de uma área mineira autónoma (Lemos e Mei-reles 2006: 177). A frente de exploração mais conhecida é sem dúvidas o Poçodas Freitas, Bobadela, que abrange uma vasta área de cerca de 40 ha compreen-dendo uma série de trincheiras, muitas delas inundadas, em que a maior terá100 m de comprimento e 80 m de largura; está-se perante uma zona de subs-trato granítico em que os filonetes de quartzo impregnados de sulfuretos deouro se destacam facilmente, daí ser possível a utilização do processo RuinaMontium, consubstanciando-se nas arestas e pirâmides residuais visíveis napaisagem (Martins 2005: 143). A exploração a céu aberto, trincheiras, conjuga-se com a exploração subterrânea (poços e galerias). Em Bobadela existem maisduas frentes de exploração: uma na Lagoa do Brejo (Fig. 5), com exploraçãoa céu aberto, cortas e trincheiras, e subterrânea através de galerias, e a outrano Alto do Picão a céu aberto (cortas); e em Ardãos uma nova frente – Batocascom conjugação de exploração a céu aberto (trincheiras) e subterrânea (galeriase poços). No castro de Sapelos também existiram trabalhos mineiros a céuaberto sobre a encosta Sudoeste, comgrandes trincheiras, e sobre a encosta No-roeste, com desmontes superficiais e pe-quenas trincheiras.

Apesar dos numerosos povoados mi-neiros em torno desta área, a possibilidadede existir um povoado na aldeia de Sape-los parece relevante, principalmente de-vido ao aparecimento de uma ara a Júpiter.Deste modo, poder-se-á colocar a hipótesede ser um vicus relacionado quer com aexploração mineira, quer com a rede viáriaexistente.

Em Montalegre as frentes de exploração espalham-se um pouco pelo con-celho, aparecendo um caso interessante que é o do castro de Codeçoso, VendaNova; este pequeno povoado no meandro do rio Rabagão, com dois fossos euma linha de muralhas visíveis, apresenta na encosta Oeste vários desmontes

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 307

Figura 5. Trincheira na Lagoa do Brejo, Bo-ticas

Page 308: Issn 0871 - 4061

de filão de quartzo superficiais, e a Sul uma trincheira com 14 m de largura quecorta o pequeno istmo de Este a Oeste num comprimento de 200 m. A tipologiadesta trincheira, tendo em conta que começa e termina nas águas do rio, poderápressupor uma utilização das águas para ajudar o seu desmonte, dada a consti-tuição sedimentar das terras. Existem ainda pequenas cortas, quase de desmontesuperficial. O tipo de jazigo é primário, mas relacionado com sedimentaçãoclástica (aluviões). Este tipo de ocorrência localiza-se essencialmente em de-pósitos recentes das bacias hidrográficas, resultando da desagregação dos filõese massas aplitopegmatíticas mineralizadas em cassiterite e de filões quartzososcom arsenopirite e ouro ou com tungstatos (Pereira 2006: 79).

No entanto, é de supor que as frentes de mineração mais importantes se con-centrem no triângulo Gralhas – Santo André – Vilar de Perdizes. De salientar ocastro de Gralhas, com numerosas cortas (Fig. 6) e trincheiras onde foram des-montados os filões quartzosos e pegmatíticos, com W-Sn; associado a estes tra-balhos estará o povoado mineiro de Ciada, de grandes dimensões. Também naCidade do Mel, Penedones (Chã), existem desmontes superficiais dos filões quart-zosos numa área de contacto de granitos de grão médio a grosseiro de duas micascom xistos pelíticos.

Articulando-se com esta área mineira,está o povoado da Veiga, Vilar de Perdizes,relacionado com um santuário, onde foramencontrados alicerces de construções, colu-nas, pedras lavradas, cerâmica de constru-ção, e duas aras: uma a “iuppiter OptimusMaximus” e outra a “Larouco d(eo)Max(umo)” (Alarcão 1988: 4 nº 1/57), e quepoderá corresponder a um vicus ligado à ex-ploração mineira e à rede viária. O povoadode S. Vicente de Chã também será um vicusligado à rede viária, e que não dista muitoda frente da exploração de Penedones.

3. considerações finaisNo que diz respeito à área mineira de Chaves, existe um duplo sistema

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 308

Figura 6. Corta mineira da Vinha do Santo,Gralhas, Montalegre

Page 309: Issn 0871 - 4061

de produção extensivo (dominante nos jazigos secundários) e selectivo, en-quanto que em Boticas e Montalegre, o sistema de produção é extensivo, deacordo com a geologia existente; em Montalegre a rocha apresenta-se maisdura sendo os filões desmontados a pico, enquanto em Boticas, nas áreas refe-ridas, a rocha podre permite a utilização de água para uma mais fácil desagre-gação e do processo ruina montium, já que os teores de Au também não sãomuito elevados, tendo em conta os do Poço das Freitas – 0,3 g/t.

Em termos cronológicos, quer em Chaves quer em Boticas os materiaisarqueológicos existentes apontam para uma cronologia em torno do séc. I d.C.,apesar da mineração ter continuado pelos séculos posteriores.

O traçado da via XVII que liga Bracara Augusta a Asturica, passandopor Aquae Flaviae, compreendendo também as suas variantes principalmenteno concelho de Chaves, confirma o papel relevante da mineração do estanhoe ouro na economia romana, a ponto de alguns povoados mineiros poderemter tido um estatuto de vicus.

BibliografiaALARCÃO (1988), J., Roman Portugal. vol II (1). England: Aris & Phillips Ltd.

COLMENERO, A.R.; SIERRA, S. F. e ASOREY R.D.A. (2004), Miliarios e outras inscricións viarias ro-manas do noroeste hispânico. Lugo: Consello da Cultura Galega.LEMOS, F.S.; MEIRELES, C.A.P. (2006), “Mineração aurífera no conventus de Bracara Augusta”. In 3ºSimpósio sobre mineração e metalurgia históricas no Sudoeste europeu. Porto: SEDPGYM e IPPAR. p.169-183.MARTINS (2005), C.M.B., A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Porto: Fa-culdade de Letras da Universidade do Porto (dissertação de doutoramento policopiada).MARTINS (2008), C.M.B., Dois exemplos de mineração aurífera no Convento Bracarense: Monte Furado,Vila Nova de Cerveira, e área mineira de Boticas e Montalegre. In v Simposio internacional Minería y Me-talurgia históricas en el Suroeste europeu. León: Sociedad Española para la Defesa del patrimonio Geoló-gico y Minero / Universidad de Leon (comunicação apresentada).PEREIRA (2006), E. (coord.), Carta geológica de Portugal na escala 1/200000. notícia explicativa dafolha 2. Lisboa: Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação.QUEIROGA (1992), F.M.V.R., War and castros. Oxford: University of Oxford (dissertação de doutoramentopolicopiada).SILVA (2007), A.C.F., A cultura castreja. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de Ferreira.TEIXEIRA (1996), R.J.C.M.A., de Aquae Flaviae a Chaves. Povoamento e organização do território entrea Antiguidade e a idade Média. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (dissertação de mes-trado policopiada).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 309

Page 310: Issn 0871 - 4061

A exPLoRAção MineiRA nAs oLgAs (RedondeLo, chAves)The Mining in The OLgAS (RedOndeLO, ChAveS)

Resumo: O local, vulgarmente conhecido por Olgas, situa-se na freguesia de Redondelo,concelho de Chaves. Localizado sobre a margem direita do rio Tâmega, e rodeado por váriosafluentes do mesmo, tem uma posição privilegiada sobre a paisagem envolvente.

Neste sítio localiza-se um povoado romano, com uma dispersão de materiais numa áreacorrespondente a 2 ha; em prospecção detectou-se com muita abundância material de construção,cerâmica comum e sigillatae.

Na sua proximidade existem diversos trabalhos de mineração; o minério extraído seria acassiterite para obtenção de estanho.

É certo que a maior parte dos trabalhos visíveis são de época contemporânea; a primeiraconcessão data de 30/10/1918 para extracção de volfrâmio, e a segunda de 09/10/1954 para ex-tracção de estanho e volfrâmio.

No entanto, dada a imponência do local e o povoado contíguo, que consideramos um po-voado mineiro, será certo que desde época romana houve exploração mineira correlacionadacom a rede viária.

Palavras-chave: Povoado mineiro, mineração, vias romanas.

Abstract: The place, known as Olgas, is located in Redondelo, Chaves, on the right edgeof the river Tâmega, having a privileged position on the involving landscape.

here, there is a Roman settlement, with a dispersion of materials in a corresponding areaof 2 ha; in prospection, it was detected with abundance construction material, common ceramicsand sigillatae.

in its proximity there are diverse mining works; the extracted ore was the cassiterite forattainment of tin.

it is certain that most of the visible works are contemporaneous; the first concession datesof 30/10/1918 for the extraction of wolfram, and the second one of 09/10/1954 for the extractionof tin and wolfram.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 311

Carla Maria Braz Martins

InveStIgAdorA dA U.M. e ColAborAdorA externA dA FeUP. bolSeIrA dA FCt(bPd); [email protected]

Paula Morais

ArqUeólogA; [email protected]

Page 311: Issn 0871 - 4061

however, given the magnificence of the place and the contiguous settlement, that we con-sider a mining settlement, it is certain the mining exploration since Roman times connected withthe road netting.

Keywords: mining settlement, mining works, roman road netting.

1. introduçãoNa freguesia de Redondelo, concelho de Chaves, foram detectados trabalhos

mineiros de época romana e contemporânea, no sítio denominado Olgas, associa-dos a um povoado mineiro (fig. 1).

O local encontra-se situado numa zona de contacto entre xistos e granitos deépoca Silúrica, onde se encontram filões quartzosos com uma orientação N-S ouE-W, com espessuras que variam entre os 0,10 e 0,30 m (Teixeira et al., 1974: 30).Estes filões contêm predominantemente estanho e volfrâmio, e também ouro. O mi-nério principal explorado terá sido diferente consoante as épocas em questão; de-signadamente, o ouro e cassiterite (paraobtenção de estanho) em época romanae o volfrâmio em época contemporânea.

Toda a área em questão tem umbom enquadramento hidrográfico, jáque se localiza a Noroeste do rio Tâ-mega (margem direita) e entre peque-nos afluentes do referido rio.

A exploração mineira mais visívelna paisagem está relacionada com aépoca contemporânea. No entanto,existem trabalhos que seguramenteforam efectuados em época romana eque se encontram articulados com umpovoado mineiro contíguo aos mesmos.

O povoado mineiro apresentavestígios de materiais de construçãoromanos, assim como cerâmicos: ce-râmica comum romana e uma sigillatahispânica.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 312

Figura 1. Localização dos povoados e explora-ção mineira nas Olgas e no Mosteirão

Page 312: Issn 0871 - 4061

2. exploração mineiraO local apresenta numerosos vestígios de trabalhos mineiros contemporâ-

neos, que remontam aos inícios do séc. XIX; nomeadamente, no ano de 1878foi efectuado um primeiro registo de «… uma mina de volfram e outros metaesque costumam acompanhar aquelle, no sitio da Olga, à Campina, …» (TRDM,24/07/1878: f.2). A prospecção casual, realizada na altura, a nível do solo e sub-solo revelou uma associação mineralógica de volfrâmio, sulfuretos de arsénicoe outros metais, que se estendiam não só por este local (Olgas), mas tambémpelas propriedades adjacentes. Tal facto, levou a que em 1918 fosse registada aprimeira concessão para extracção de volfrâmio (Campina 1) e em 1954 paraestanho e volfrâmio (Campina 2) (MCC, s.d.: 68 nº 818 e 182 nº 2967).

Por entre alguns dos trabalhos acima mencionados, subsistem ainda res-quícios de mineração de época romana bastante descaracterizada pelos primei-ros. Contudo, foram detectados os seguintes trabalhos de mineração:

Trincheira com 11,70 m de comprimento, largura de 3,60 m e altura de1,80 m; apresenta uma galeria com tecto aboba-dado e hasteais aprumadas. Localiza-se a 7º 33’41,75’’ W, 41º 41’ 36,72’’ N e a uma altitude de524 m. Tem uma orientação N/S com a galeriavoltada a Norte (fig. 2).

Três trincheiras paralelas, com 11,50 m decomprimento e 5,10 m de largura; o espaço entretrincheiras é de 2,20 m. Localizam-se a 7º 33’40,85’’ W, 41º 41’ 35,32’’ N e a uma altitude de488 m. Têm uma orientação N/S.

Trincheira com 11 m de comprimento e 4,50m de largura. Localiza-se 7º 33’ 39,55’’ W, 41º41’ 34,32’’ N e a uma altitude de 502 m. Tem umaorientação E/W, apresentando ainda os restos defilão que foi desmontado, sendo visíveis pequenosfilonetes com cerca de 2,5 cm de espessura.

Trincheira muito entulhada com vegetação, não tendo sido possível apuraras suas dimensões. Localiza-se a 7º 33’ 40,65’’ W, 41º 41’ 35,02’’ N e a umaaltitude de 494 m. Tem uma orientação E/W.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 313

Figura 2. Trincheira nº 1 com gale-ria

Page 313: Issn 0871 - 4061

Trincheira muito entulhada com vegetação,não tendo sido possível apurar as suas dimen-sões. Localiza-se a 7º 33’ 41,49’’ W, 41º 41’34,72’’ N e a uma altitude de 492 m. Tem umaorientação E/W.

Trincheira com 17 m de comprimento e 9m de largura; apresenta uma galeria com tectoabobadado. Localiza-se a 7º 33’ 41,75’’ W, 41º41’ 37,12’’ N e a uma altitude de 506 m. Temuma orientação E/W.

O tipo de exploração encontra-se assimconsubstanciado numa exploração a céu aberto,compreendendo trincheiras de pequena enverga-dura e desmontes superficiais, e eventualmentenuma exploração subterrânea através de galerias.

O sistema de produção terá sido selectivo,desmontando-se o estritamente necessário para remoção do filão do minério.

Associado a estes trabalhos de época romana, existe nas suas imediaçõesum pequeno povoado com cerca de 2 ha e comnumerosos vestígios de materiais da época refe-rida (fig. 3).

Este povoado foi considerado como mi-neiro devido à sua proximidade com a explora-ção romana, tendo-se aí processado atransformação do minério, desde a britagem,moagem, desengrossamento, até à obtenção dometal, resultado das operações metalúrgicas, aavaliar pelos inúmeros fragmentos de quartzo eescórias encontrados.

As análises efectuadas a amostras dequartzo com restos de encosto revelaram a pre-sença de ouro, enquanto que as escórias são pra-ticamente só ferro. Isto demonstra o elevado graude depuração do processo metalúrgico, daí que

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 314

Figura 3. Povoado das Olgas

Figura 4. Escórias recolhidas no po-voado das Olgas

Page 314: Issn 0871 - 4061

as escórias contenham unica-mente o não desejável.

A presença de fragmentosde barro com restos de escória(fig. 4) parece comprovar aexistência de um forno no local.

Esta exploração mineiraterá ganho uma certa amplitudee importância, expandindo-separa as áreas limítrofes com amesma caracterização minera-lógica, embora com substratosgeológicos diferentes. É o queacontece com a zona do Mos-teirão (granitos Hercínicos), onde se observa uma trincheira com cerca de 16m de comprimento, localizada 7º 33’’ 23,10’’ W, 41º 41’ 54,31’’ N e a uma al-titude de 477 m.

Assim sendo, a necessidade de se criar um povoado de maiores dimen-sões, coloca a hipótese do existente no Mosteirão, com cerca de 5 ha, estar ar-ticulado com a exploração mineira das Olgas e como tal, o povoado mineiropassar a ter uma função específica no tratamento do minério. Na realidade, opovoado do Mosteirão (7º 33’ 11,15’’ W, 41º 41’ 58,83’’ N a uma altitude de463 m) tem uma localização estratégica sobre o vale do rio Tâmega, contro-lando visualmente uma vasta área, como seja o castro de Curalha.

Em prospecção foram achados materiais de construção e cerâmica comumromana.

3. correlação do local com a via xvii e o conjunto mineiro do valedo terva

Toda a área mineira correspondente ao local das Olgas e Mosteirão en-contra-se a Sudeste da falha com um filão quartzoso (N20-30E da Serra doFerro) que vem desde Vilarelho da Raia (Chaves), passando por Vilela Seca,Soutelo, Poço das Freitas, Sapiãos, Pinho e termina perto de Curros (Boticas).A sua relativa proximidade às frentes de exploração ao longo da referida falha

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 315

Figura 5. Localização da via XVII do Itinerário de Antonino

Page 315: Issn 0871 - 4061

e do Vale do Terva, nomeadamente, Poço das Freitas (Bobadela), Batocas (Bo-badela), Batocas (Ardãos), Lagoa do Brejo (Bobadela) e castro de Sapelos (Sa-piãos), e de um mesmo minério a ser explorado, o ouro, leva a crer que todaesta zona fosse autónoma do ponto de vista da mineração (Lemos e Meireles,2006: 177). O povoado romano de Sapelos deverá ter sido o aglutinador destaárea mineira, onde foi encontrada uma ara a Júpiter (Colmenero, 1997: 85 nº49), admitindo-se ter existido um vicus relacionado com a exploração mineira,e com uma variante do traçado da via XVII entre Bracara Augusta e Asturica(por Aquae Flaviae) que a cruzava em toda a sua extensão.

O traçado da via XVII, nesta zona, levanta ainda grande problemática,colocando-se até ao momento uma hipótese de via principal com uma variante(fig. 5). Deste modo, existirá uma variante a Norte, que vem desde o Pindo(Montalegre), passando por Ardãos (Boticas), Seara Velha (Chaves), Valdanta(Chaves) e Chaves, considerada normalmente como o traçado principal, tendoem conta que apresenta um traçado de menor extensão e topograficamente maisequilibrado, conservando troços continuados de via, sendo portanto mais rápidaa deslocação a Aquae Flaviae (Morais, 2005).

A localização da grande frente de exploração aurífera do Poço das Freitase o miliário de Augusto achado na vertente ocidental da Serra da Pastoria, ape-sar de reutilizado como sarcófago, e como tal deslocado da sua posição origi-nal, poderão constituir indícios da passagem da via por um traçado diferenteda proposta Ardãos /Seara Velha.O novo traçado sendo, mais ex-tenso aproveita contudo uma por-tela natural na bacia do Tervaentre a povoação de Sapelos e Sr.dos Milagres (Boticas) em direc-ção a Redondelo (Chaves), CasasNovas (Chaves) (fig. 6), Curalha(Chaves), Cando (Chaves), Casasdos Montes (Chaves) e Chaves. Opercurso entre o Alto do Pindo(Montalegre) e a zona de Boba-dela (Boticas), em direcção ao

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 316

Figura 6. Visualização de troço da via na zona de CasasNovas

Page 316: Issn 0871 - 4061

Poço das Freitas apresenta, no entanto, algumas dificuldades, sobretudo no querespeita ao traçado correspondente à ligação Alto do Pindo – Castro da Malhó.A constante desmatação e abertura ou reaproveitamento de caminhos ao longoda encosta de acentuado declive em direcção ao Alto do Pindo, impossibilitoua definição rigorosa do seu traçado antigo. No entanto, a norte do Castro daMalhó são ainda visíveis os vestígios de um caminho que mostra cortes pro-fundos no afloramento granítico, claramente indicativos de uma utilizaçãoconstante (Morais, 2005).

A existência desta segunda variante estará correlacionada com a explora-ção mineira aurífera, recurso vital para a economia romana, e com o estabele-cimento posterior de um vicus situado em Sapelos. Assim sendo, a suaimportância terá sido maior que a primeira, não querendo significar que estaúltima tenha deixado de ser utilizada, uma vez que seria útil para deslocaçõesmais rápidas, como para os exércitos.

4. considerações finaisA exploração mineira nas Olgas e Mosteirão (Redondelo) encontra-se in-

tegrada no conjunto mineiro que agrega as explorações do Vale do Terva.A importância de toda esta área é atestada por uma intensa procura do

minério ouro, articulando-se a exploração dos recursos mineiros com os traça-dos das vias romanas, já que por Redondelo passa uma variante da via XVIIque liga o Pindo (Montalegre) a Aquae Flaviae.

Aquae Flaviae será uma civitas de fundação mineira que dominará todaesta região (Lemos e Martins, 2008).

BibliografiaCOLMENERO, A.R. (1997) – Aquae Flaviae 1. Fontes epigráficas da gallaecia Meridional inte-

rior. Chaves: Câmara Municipal de Chaves.COLMENERO, A.R.; SIERRA, S. F.; ASOREY, R.D.A. (2004) – Callaeciae et Asturiae itinera romana.Miliarios e outras inscricións viarias romanas do noroeste hispánico. Santiago de Compostela: Conselloda Cultura Galega.FONTES, L.F. de; ANDRADE, F.J.S. de (2005) – Revisão do inventário arqueológico do concelho de Bo-ticas. Braga: Universidade do Minho/Câmara Municipal de Boticas.LEMOS, F.S.; MARTINS, C.M.B. (2008) – Civitates e exploração aurífera romana no noroeste da Penín-sula ibérica. Comunicação apresentada no V Simposio Internacional Minería y Metalurgia Históricas en elSuroeste Europeu (León).LEMOS, F.S.; MEIRELES, C.A.P. (2006) – Mineração aurífera no conventus de Bracara Augusta. In 3ºSimpósio sobre mineração e metalurgia históricas no Sudoeste europeu. Porto: SEDPGYM e IPPAR, p.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 317

Page 317: Issn 0871 - 4061

169-183.LEMOS, F.S.; MORAIS, P. (2004) – Vias augustas e mineração aurífera. Forum 36, Braga, p. 15-56.MARTINS, C.M.B. (2005) – A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Porto:FLUP (dissertação de Doutoramento policopiada).Minas concedidas no continente desde Agosto de 1836 a dezembro de 1962 (MCC). Lisboa: Ministério daEconomia, Secretaria de Estado da Indústria, Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, s.d..MORAIS, P. (2005) – via romana. O traçado da via Xvii do itinerário de Antonino, via Bracara-Asturicapor Aquae Flaviae. Chaves: Câmara Municipal de Chaves (policopiado).TEIXEIRA, C.; ASSUNÇÃO, C. T. de; COELHO, A.V.P. (1974) – Carta geológica de Portugal na escalade 1/50000, notícia explicativa da folha 6-B Chaves. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal.Termo de Registo do descobrimento de Minas (TRDM). Chaves e Paços do Concelho (com início a 16 deJunho de 1868).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 318

Page 318: Issn 0871 - 4061

A LA veRA deL LARouco: ReFLejos de LA hueLLAgALAico-RoMAnAneARBY LAROuCO: ReFLeCTiOnS OF The CALAiCi-ROMAn“FOOTPRinT”

Resumen: En el estudio que sigue tratamos de abordar cuestiones sustanciales relativasa las etnias que poblaban en la antigüedad las llanuras meridionales y próximas al Larouco,sobre todo en lo que respecta a la civitas de los Caladuni. Al mismo tiempo, se tratan brevementelos importantísimos vestigios arqueológicos y epigráficos atribuíbles a esta misma etnia, talescomo las dedicatorias al dios Larouco y los santuarios de Pena Escrita y Remeseiros, en Vilarde Perdizes.

Palavras clave: Larouco, Caladuni, Galaico-Romano.

Abstract: in the following study we try to address substantive issues relating to ethnicgroups that lived in ancient times in the southern plains close to Larouco, especially in regardto the Caladuni civitas. At the same time, we also briefly addressed the important archaeologicaland epigraphical remains adscribed to this same ethnic group, such as the dedications toLarouco god and the shrines of Pena escrita and Remeseiros in vilar de Perdizes.

Keywords: Larouco, Caladuni, Calaici-Roman.

No intentaremos en esta ocasión trazar una síntesis completa del devenirhistórico-arqueológico de la comarca hispano-portuguesa articulada en tornoa la vertiente meridional del Larouco durante la antigüedad sino ofrecer, tansólo, trazos sueltos de la rica problemática que la envuelve, sobre todo en loque atañe a las épocas castreña y romana, comenzando por la determinacióndel pueblo o civitas que la poblaba en aquellas datas.

1. Los caladuniEl hecho de que el Itinerario de Antonino situe, al detallar la vía XVII, la

mansión de Caladunum a sólo 18 millas al oeste de Chaves, la Aquae Flaviae

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 319

Antonio Rodríguez Colmenero

UnIverSIdAd de SAntIAgo de CoMPoStelA;[email protected]

Page 319: Issn 0871 - 4061

romana1, y de que Ptolomeo llame polis (ciudad) a la mencionada mansión, amediados de la segunda centuria de la era 2, llevó a la generalidad de los autoresa identificarla, o con una simple, si bien importante, población romana, comohace Contador de Argote, al situarla erroneamente, puesto que por allí no pasala vía XVII, en las inmediaciones de Gralhas, o, en el mejor de los casos, comocapital de los Callaeci, desplazando su ubicación al castro de Lezenho (Boti-cas), como durante algún tiempo sostuvo el que esto escribe, admitiendo, sinla debida crítica, la teoría, entonces al uso, del doble ramal de la vía XVII entrePraesidium y Ad Aquas3. Sin embargo, una investigación posterior más demo-rada nos ha obligado a reconsiderar la cuestión en dos direcciones: afirmando,por primera vez, la naturaleza de los Caladuni o Caladunenses como civitas,y buscando, después, su capital en las inmediaciones de O Pindo, Arcos, dedonde procedería el mencionado miliario con la milla 59, a partir del cual secontabilizarían 18 más hasta Ad Aquas, precisamente las que el Itinerario deAntonino señala entre ambas mansiones, según ya queda indicado. Se trata,por lo tanto, de dos cuestiones diferentes, que conviene tratar por separado.

A la constatación de que los Caladuni constituían una civitas habíamosllegado personalmene en estudios anteriores, fundamentándonos en la ex-presión de la origo territorial de varios individuos emigrados desde el ám-bito de este pueblo prehistórico a lugares más o menos alejados de lamisma4. Por otra parte, el emplazamiento aproximado de su núcleo urbano,a la vez polis tolemaica y mansión viaria, como ya se dijo, sólo puede ha-cerse actualmente a través del estudio de la vía XVII y, sobre todo, en loque respecta a su mansión de Caladunum, que menciona el itinerario alu-dido. Y, como quiera que ya en otros trabajos se ha demostrado que la va-riante sur entre Praesidium y Ad Aquas de la mencionada vía resultainadmisible5, sólo queda aferrarse a la variante septentrional, que es la queofrece, tanto la imprescindible sucesión de miliarios, vector definitivo parala detección de una vía romana, en algunos casos marcando la correspon-diente milla, como sectores estructurales, en diversos parajes de su decurso,de la vía romana originaria. Es preciso, por lo tanto, situar en el entorno deO Pindo la mansión de Caladunum debido a las razones antes expresadas.

Ahora bien, los restos romanos hasta ahora hallados en las proximidadesde O Pindo no nos ayudan, en absoluto, atendiendo a su modestia6, a tener que

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 320

Page 320: Issn 0871 - 4061

suponer la existencia, bajo los mismos, de mansión importante alguna, por loque, de momento, no cabe otra alternativa que ampliar las posibilidades de atri-bución a yacimientos un poco más alejados. Y, en esa tesitura y como hipótesis,nos ha parecido sugerente atribuir al castro de Pedrario, situado unos tres ki-lómetros al norte de la vía, el honor de haber dado nombre a la mansión de laque hablamos debido, tanto a su imponencia, como al sufijo –dunum del topó-nimo, indicador de su posición defensiva. Imponente resulta este gran estable-cimiento castreño, tanto por su extensión y sus tres recintos de murallas todavíabien conservadas, como por los amplísimos horizontes que desde él se oteanhacia los cuatro puntos cardinales. Se nos objetará que la vía XVII no pasaríapor el lugar sino tres kilómetros más al sur, pero ello no impediría que la man-sión tomase nombre de esta fortaleza mientras las instalaciones mansionariasimprescindibles se encontrarían a la orilla de la vía, en un lugar situado entreO Pindo y la mentada aldea de Arcos. Y ello tanto más cuanto que podríamosaventurar, incluso, que sería este castro el posible caput (capital) de dicha ci-vitas, cuyos dominios se extenderían desde el Larouco y el curso alto del Cá-vado hasta, más o menos, el curso del río Beça, de norte a sur, y desde la Serrade Barroso hasta la Portela de Lucenza, de oeste a este, de tal manera que seríanlas laderas occidentales del valle de Monterrei las que marcarían la fronteraentre Caladuni y Tamacani. Por el norte, limitarían los Caladuni con los Limici,a noroeste con los Quarquerni, al oeste con los Callaeci y al sur con los Aqui-flavienses, coincidiendo,a grandes rasgos, su área de expansión con la actualcomarca de Barroso, más la española septentrional al río Búbal. No es válido,por tanto, el intento de atribuir las tierras altas de Medeiros, Flariz, San Cris-tobo, San Millao, Lucenza y A Xironda a los Bíbalos o Tamaganos, como enotro tiempo hicimos casi todos, siguiendo la communis opinio. Por el contrario,nos parece que este primer gran balcón meridional del Larouco gallego pudohaber pertenecido al ámbito de los Caladuni, como ya hemos insinuado en es-tudios anteriores, y no al de los Bibali, a los que hemos dado un posible aco-modo al norte del Miño, en tierras regadas por otro río Búbal tributario deaquél7, pudiendo relacionarse,también en este caso, hidrónimo y etnónimo. Endefinitiva, son las tierras de penillanura de esta gran plataforma, agrandadashacia occidente y mediodía con la comarca portuguesa de Barroso, que podrí-amos atribuir al ámbito territorial de los Caladuni.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 321

Page 321: Issn 0871 - 4061

No se olvide, al respecto, sin embargo, que la unidad de esta comarca,hoy día dividida por una frontera política, no sólo se halla avalada como tal enla antigüedad, como acabamos de indicar, sino incluso hasta el siglo XII,puesto que el límite entre las diócesis de Braga y Ourense avanzaba, desde OGerez, por la cumbre del Larouco hasta la portela de Lucenza, para proseguirdespués rumbo al Monte Mísero, como relata el Liber Fidei de la Santa IglesiaCatedral de Braga8. Así se explicaría que, una vez restaurada definitivamentela diócesis de Braga, sea su primer arzobispo, don Pedro, quien consagre, du-rante un mismo viaje pastoral, las iglesias de Vilar de Perdizes y Lucenza,según documento que obra en el archivo de la Catedral de Ourense9. Lustrosdespués, llegaría la rectificación de las fronteras eclesiásticas al compás deldictado de las oscilantes fronteras políticas entre reinos. La unidad histórico-comarcal, por tanto, de una parcela del ámbito de los Caladuni, articulada entorno al curso alto del Búbal, con tierras de uno y otro lado de la actual frontera,resulta un hecho constatado, como lo es también su legado cultural, especial-mente en la vertiente histórico-arqueológica, de la que vamos a ocuparnos, tansólo con ejemplos puntuales atribuidos a ambas partes, a continuación, ya que,intentar hacerlo pormenorizadamente, a lo largo y ancho del territorio, daríapara una amplia tesis doctoral.

No cabe duda, además, de que la civitas de los Caladuni se subdividiríaen castella, según ha corroborado recientemente el bronce de Bembibre10; yde los núcleos capitales de los mismos, los abundantes castros de la comarca,haremos más tarde expresa mención. Sin embargo, la investigación, aliada conla suerte, quiso que no lejos de Pena Escrita, en Vilar de Perdizes, y en la orillaizquierda del regato de As Andurinheiras, descubriésemos en su momento11,sobre una roca, dos inscripciones terminales dispuestas, de alguna manera, entorno a una gran T, de Terminus, labrada sobre la cima de la peña, que mencio-naría la divisoria entre dos posibles grupos sociales o gentilicios, en uno de loscasos seguidos de una C invertida, hoy día semidesaparecida. El nombre deambos limitáneos es Ripani o Ripau(m), en este caso en genitivo, y Puau(m).¿Se trata de grupos gentilicios pertenecientes a los cercanos castros de Pedrarioo Castro da Mina, que habrían tenido que redefinir la frontera entre sus respe-tivos territorios, según consta también en áreas portuguesas no alejadas de esta?Es posible.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 322

Page 322: Issn 0871 - 4061

2. La montaña que resultó ser un dios: el LaroucoEl monte Lorouco, cuya altura máxima alcanza los 1525 m. sobre el nivel

del mar, y que en esta comarca de los Caladuni lo ha dominado todo y regu-lado todo, dada su imponencia, en las diversas épocas, desde el clima a los pas-tos para los rebaños o la leña de brezo para quemar, fue percibido como undios por nuestros antepasados. Lo supimos cuando, metidos en temas epigrá-ficos, fuimos descubriendo que a uno y otro lado de sus laderas existían, porlo menos, tres altares a él dedicados, que hacían suponer la existencia de otrostantos santuarios erigidos a esta divinidad. El primero en Santo Antonio deMonforte, en realidad Curral de Vacas, cerca de Chaves, desde donde el La-rouco se divisa majestuoso en la lejanía, erigido por una señora, Ama, hija dePitilo, que intercede ante el dios por su marido12. Es posible que el epígrafeperteneciese a un santuario dedicado a esta divinidad, pero no poseemos delmismo vestigio alguno.

Por otra parte, y todavía más cerca, en las respectivas llanuras de los ladosnorte y sur de la montaña, se han descubierto importantes vestigios del cultoancestral a la misma.

En lo que respecta al lado sur, hemos llegado a la conclusión de que elsantuario rupestre de Pena Escrita, Vilar de Perdizes, dado a conocer en primerainstancia, juntamente con los epígrafes que aparecieron en sus inmediaciones,por nuestro gran amigo el Padre Fontes13 y reestudiado posteriormente en de-talle por quien esto escribe, juntamente con su descubridor14, es un santuariodedicado al Larouco. Poseería en su evolución dos fases, por lo menos: unaprehistórica y otra romana. La primera estaría presente en las cazoletas artifi-ciales, seguidas de surquillos de la misma naturaleza, que recubren una peñaaquillada emplazada en la llanura y rodeada de tierras de labor, así como otraindependiente, por el noroeste, si bien contigua a ella en la que también se des-cubren asociaciones de cazoletas y otros símbolos. Durante la segunda fase seprocedería a la monumentalización del santuario prehistórico, imprimiendo alaltar la forma de capitel de un ara, pero respetando todas las piletas anteriores,a excepción de la central, que se agrandaría a modo de foculus gigante. Lo cu-rioso es que las nuevas caras cenitales que se abren ahora en torno a la cornisase decoran con alineaciones de crecientes incisos o, si se quiere, herraduras, loque corrobora la persistencia de este icono prehistórico durante la época ro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 323

Page 323: Issn 0871 - 4061

mana. Creímos en un principio que se trataba de letras, lo que corroboraría eltopónimo Pena Escrita con el que se conoce el lugar, y hasta ensayamos a lasazón algunos intentos de lectura (15) que en trabajos posteriores hemos des-echado, por cuanto llegamos a la conclusión de que se trata de simples cre-cientes colocados en diferentes posiciones.

Sin embargo, la atribución que del santuario hacemos a Larouco derivadel hallazgo de dos altares casi idénticos en las inmediaciones del de Pena Es-crita en los años setenta de la pasada centuria, que dimos a conocer el P. Lou-renço Fontes y yo mismo en el segundo congreso de arqueología peninsularde Guimaraes (16). Uno de ellos se halla dedicado a Júpiter óptimo Máximopor Capito Carminius y el otro a Larouco, dios máximo y , a la vez, montañamáxima, bajo la expresión pedroni maximo, sin que conste el dedicante, yaque las terminaciones de los posibles vocablos que podían sugerirlo no avalanesta posibilidad17. A nuestro modo de ver, por tanto, y dada la identidad en lasmedidas, así como la de la fórmula de consagración, amén de la semejanzaformal exterior, se trata de una ofrenda doble de dos altares casi gemelos porparte de Capito Carminius, quien en esta ocasión, y debido a la falta de espacio,no considera necesario plasmar su nombre en una dedicatoria que todos le atri-buirían, por evidente. Ahora bien, ¿qué pretendería el oferente con esta doblededicatoria conjunta? En nuestra opinión, identificar a dos divinidades sobe-ranas, el Júpiter romano y el Larouco indígena, efectuándose un acto eviden-tísimo de interpretación y asimilación de poderes de dos divinidades denaturaleza idéntica y sólo diferente en cuanto al teónimo. Y a ello vendría elatribuir a Larouco el epíteto de Máximo, exclusivo de Júpiter, por partidadoble: por ser dios supremo y porque, además, es una imponente montaña gra-nítica, en realidad un auténtico horst emergido de la penillanura en el terciario,que le permite asimilarse con la divinidad suprema de Roma. No soy ajeno aque la lectura ped(roni), derivado de petra/petro, posee sus dificultades, perono encuentro otra posible ni coherente con el resto del texto. Como paralelohomologable, todos conocemos el caso del Gran Saxo italiano, ese macizo ape-nínico, asimismo divinizado en el antigüedad; pues bien, saxum es el equiva-lente semántico de nuestro petro, en este caso con la t ya sonorizada, y eladjetivo Grande, que le precede, el paralelo de magno o máximo. Por otra parte,y a propósito de asociaciones de montes con divinidades de la primera función,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 324

Page 324: Issn 0871 - 4061

no se olvide que el monte Teleno, en León, también divinizado en la antigüe-dad, aparece en una inscripción de sus mismas proximidades asociado, en estecaso, con el Marte romano, también un dios, en este caso de la segunda funcióndumeziliana18.

Pero no acaban aquí las dedicatorias a esta divinidad. Al otro lado de lamontaña, en la capilla de la Asunción, de Baltar, se conservan otros dos altares,uno de ellos claramente dedicado a d(eo) Reve Larauco por vallius Aper de-bido a un voto que había hecho. Procederían, a buen seguro, del cercano castrode Santantuíño, también denominado Outeiro de Baltar19. En este caso, sin em-bargo, la interpretatio se daría entre dos divinidades indígenas, Reva, deidadde amplio radio, y por tanto con atributos universales, y Laraucus mismo, alque se consideraría también como un dios supremo.

3. un silvano indígena: el dios Ráncero de Remeseiros, vilar de Per-dizes

La presente gran inscripción rupestre fue dada a conocer inicialmente porThomé de Távora y Abreu, en el siglo XVIII, quien la envió para su publicacióna Contador de Argote20. Transcurridos dos siglos y medio ha sido redescubiertaen los años setenta de la pasada centuria por Lourenço Fontes21, siendo varioslos que posteriormente nos hemos ocupado repetidamente de su interpreta-ción22. En cuanto a la segunda parte del texto, extremadamente críptica y di-fícil, se fue perfeccionando progresivamente su lectura, a través de los añosdesde entonces transcurridos, sobre todo después de la obtención, por nuestraparte, de un calco directo en 1993. En lo que se refiere a las formalidades dela inscripción, y pese a nuestra interpretación inicial como pacto entre dos pue-blos al creer, siguiendo la opinión de Tovar, que el Ranceroi final de la ins-cripción estaba en nominativo plural, todos, al fin, hemos coincidido en lo queya Contador de Argote intuyó en el siglo XVIII, esto es, que se trata de unasunto de arrendamiento de tierras, con distintos matices según los autores23.Sin embargo, Contador no acierta a transmitir más que un segmento de la pri-mera parte del epígrafe. Por ello, las divergencias se hacen insalvables en loque respecta al fondo histórico, puesto que, mientras G. Pereira y seguidoresinsisten en que se trata de una locatio conductio de tierras pertenecientes alestado romano al inicio de la presencia de Roma en el Noroeste, que arrendaría

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 325

Page 325: Issn 0871 - 4061

a comunidades indígenas o, en este caso, a particulares, otorgándoles, no lapropiedad sino la posesión24, por nuestra parte, y tras ir cambiando paulatina-mente de parecer, al compás de los avances epigráficos, tanto propios comode otros, hemos acabado por concluir, primero, que la inscripción es muy tar-día, posiblemente ya del Bajo Imperio, atendiendo a las peculiaridades del latínempleado25 y al criterio mismo de un especialista tan renombrado en la materiacomo Carnoy26) y, segundo, que el que la promueve no se llama Allius sinoCallida, por tanto una mujer. Por eso, en el último de nuestros estudios sobreel tema27, nuestra conclusión era de que se trataría del arrendamiento de unvalle o una cañada, nombres ambos femeninos para poder concordarlos con elsupuesto demostrativo (h)ac , por parte de una señora llamada Cálida, a alguienque no se menciona. Pero lo importante sería que, más que de un acto jurídicode locatio/conductio, arrendamiento, que, por supuesto, se supone realizadoanteriormente, se trataría de una defixio o conjuro realizado ante el altar ru-pestre del dios del lugar, equivalente a Silvano, la deidad romana de los bos-ques, para lograr el buen suceso del alquiler de un saltus, si se tienen en cuentalas características del paraje, y como para corroborar el éxito del acto jurídicode arriendo con anterioridad realizado, según se supone. Sin renunciar a nin-guna de aquellas ideas, sólo querríamos añadir en este trabajo que hoy día nosparece que ese ac que se repite por dos veces podría ser, con más derecho queun demostrativo femenino, la abreviatura de ac(ta), pero no en plural, pese aantecederle in, y con el significado de actos jurídicos, sino en singular, y comoapócope de ac(ta), que según los diccionarios, significa orilla o ribera de unacañada. Posiblemente, Cálida sería la dueña de un pequeño latifundio pastoril,una de cuyas laderas arrendaría. Ahora bien, en dicha propiedad existirían, ade-más del terreno mismo, pastos, esquilmes, árboles y leña, alguno de cuyos ele-mentos podría haberse reservado para sí, por ejemplo la madera. Por ello,traducir la p, seguida de punto, de la tercera línea por p(artem) y no porp(ascua), pastos, como habíamos hecho en la última de nuestras publicaciones, nos parece lo más adecuado. Dicho lo que antecede, nuestra versión actualdel texto, que viene a matizar ligeramente otras anteriores, sería la siguiente:

Callida Rebu^rri. (filia) rogo deu(m). adiutorem/ in ac(ta) conducta. Con-servanda/. Si q(u)is in ac(ta) conducta p(artem) migi au^t m^eis/ involaverit.si r(estaret) quaecunqua^e res f(urtum) miis/ it(erum) a(fferat)

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 326

Page 326: Issn 0871 - 4061

si s(olet) si l(iquet) si quit. ea p^r(a)es(ens) v(otum) s(olvit) l(ibens)v(olenti) d(eo)/ Ranceroi.

“Yo, Cálida, hija de Reburro, ruego al dios auxiliador que me conservela ribera de esta cañada que he arrendado.Si alguien robase alguna parte (de laribera arrendada), a mi o a mis descendientes, si faltase en el futuro cualquiercosa (de la misma), que lo sustraído lo reintegre (el ladrón) a mis posesiones,siempre que sea de ley, esté claro y pueda hacerlo.

Presente ella misma, en persona, ante el altar, ofreció (por este motivo)su voto, con complacencia, al benevolente dios Ráncero”.

En nuestra opinión, por tanto, y como ya se ha insinuado, la protagonistasería una mujer, Callida, y no un varón, Allius, como dice el resto de tratadistasdesde Contador de Argote. Ello, aparte de ser evidente a través de los rasgospaleográficos que se conservan, viene a confirmarse por la necesidad de con-cordar el género de la oferente con el ea p^res(ens) del final, por cuando es unsujeto femenino el que impetra al dios ayudador en la primera línea y ofreceel voto al mismo, ya llamado Ráncero, en la última.

Resulta, por otra parte, imprescindible interpretar coherentemente el sig-nificado de distintas siglas seguidas de punto para que el texto tenga sentido.Ya tal respecto, y después de múltiples ensayos, creemos que la p. solitaria deltercer renglón no significa possesio, posesión, como afirmaba Pereira y cola-boradores, ni siquiera pascua, pastos, como nosotros mismos habíamos pro-puesto, sino partem, parte. Pero todavía resulta más difícil identificar la letraentre puntos del segmento final de la cuarta línea. Se trata de una F peculiar, yla clave para poder reconocerla nos la han suministrado dos inscripciones fu-nerarias de Riós y Vigo y una rupestre de Chaves. Lo mismo sucede con elpronombre sustantivado miis, al final de ese mismo renglón, que sería el dativoplural de mea, mearum, las cosas mías.

Otras siglas posteriores resultan de más difícil interpretación, como es elcaso de las del inicio de la quinta línea. Sin embargo, el significado que se lesatribuye parece perfectamente verosímil. En todo caso, en este mismo renglón,se hace preciso descubrir un triple nexo p^r^e, con la r subyugada bajo el re-dondel de la p, en el vocablo pr(a)esens, por otra parte intuíble a través delanálisis de los rasgos.

Finalmente, que no extrañe el dativo en –oi de la divinidad. Se trata de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 327

Page 327: Issn 0871 - 4061

reminiscencias de la lengua lusitana, visibles también en el Tongoenabiagoide la Fonte do Ídolo de Braga y en los Coeliobrigoi y demás dativos de la ins-cripción de Lamas de Moledo28.

Y, dicho lo que antecede, no está por demás que, con los datos obtenidos,intentemos diseñar el contexto histórico dentro del que se genera la inscrip-ción.

Retraigámonos al siglo IV avanzado. En el entorno de Pena Escrita, aloeste del actual Vilar de Perdizes, existiría un gran poblado romano cuyos ves-tigios son todavía reconocibles hoy día. Allí, o en un fundo próximo, viviríacon su familia una rica mujer, Cálida, hija de Reburro, la cual, por no poderexplotarla directamente, habría arrendado, no sabemos a quien, ya que noconsta en el documento que hoy conocemos, la ladera septentrional de la pro-funda cañada de Remeseiros, a la que parte en dos un arroyo, cubierta de ar-bolado, monte bajo y pastos, tal como aún hoy día se percibe. Efectuada laceremonia jurídica romana de la locatio-conductio, la arrendataria sería presadel temor de que pudiesen engañarla y arrebatarle parte de su propiedad o, enel mejor de los casos, los árboles o pastos que se había reservado para sí. Poreso recurre al dios que protege el lugar, Ráncero, que no es otro que el dios in-dígena de la floresta, equivalente al Silvano de la religión romana, quien mo-raría en este nemus o templo naturista objeto del arrendamiento en cuestión,y cuyo altar sería, además, el penedo de Remeseiros, en el que se advierten to-davía cazoletas cultuales, posiblemente prerromanas ya, en el que mandaríagrabar la inscripción. Ejecutada esta con la impetración al dios para que supropiedad no mermase o, en el caso de que se efectuase algún robo, se descu-briese la fechoría y se reintegrase, de nuevo, a sus bienes lo robado.Y despuésde dar por buena la oración al dios auxiliador Ráncero, seguiría el sacrificioofrecido por ella misma devotamente ante el altar de la divinidad, asimismonaturista, puesto que se trata de una roca informe. La mujer menciona, de al-guna manera, a sus descendientes, por lo cual, suponer que estaba casada oviuda no constituye temeridad alguna.

En resumen, la presente inscripción no constituye propiamente una lo-catio/conductio, como comunmente se afirma, aunque la supone y es conse-cuencia de ella. Por otra parte, y en rigor, tampoco se trataría de una defixio omaldición, impetrando al dios el castigo violento de los ladrones, pese a las

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 328

Page 328: Issn 0871 - 4061

reiteradas condicionales del quinto renglón, sino, más bien, de una especie deplegaria para que la tierra arrendada no sufriera merma o, en caso de que esoaconteciese, se procediese a la devolución con arreglo al código vigente.

Y concluímos, por hoy. En el tintero quedan sin tratar temas de tanta tras-cendencia como el castro de Pedrario, la línea de fortificaciones castreñas delBúbal, con ejemplares tan monumentales como Grou, Castro da Mina, Castrode San Millán, Cidá da Madanela, Muralla do Búbal o el Castelo das Chás,por no citar la joya de la corona, actualmente, que es el Castro de Saceda, yaextensamente excavado y a punto de ser puesto en valor. También hubiésemosquerido referirnos a los extensos poblados romanos de Pena Escrita, Gralhas,Carvas, en A Xironda, San Salvador de Medeiros y, sobre todo, Santa Marta,en Lucenza, tambien parcialmente excavado en su momento, así como a lasvillas romanas de Viduedo, Villerma, Moimenta o Grou mismo, pero tendránque quedar para otra ocasión.

En fin, como estudioso enamorado de esta tierra, que es la mía, hice loque pude en mis años de novel investigador. Después, y distraído por otras ta-reas más apremiantes, tuve que irme ausentando de ella. Y, a fé que lo lamento,porque este es uno de los paraísos de la arqueología, hoy día llamada del pai-saje. Espero que las generaciones de jóvenes arqueólogos actuales o del futurotomen con entusiasmo el relevo.

BibliografíaBLÁZQUEZ, J.M.,Religiones Primitivas de hispania.Salamanca, 1962.

CARNOY,A.J., Le latin d´espagne daprés les inscriptions.New York, 1972, 2ª edic.COELHO FERREIRA DA SILVA,A.A cultura castreja no noiroeste de Portugal.Paços de Ferreira, 1986.CONTADOR DE ARGOTE, FR. J.,Memórias para a história eclesiástica do arzebispado de Braga.Lisboa,1732.DÍAS BAPTISTA,, j.,”Vía prima, a vía imperial romana de Braga a Astorga”,Revista Aquae Flaviae, 3,1990.DÍAS BAPTISTA,J.,”Ubi Caladunum et Praesidium”, Revista Aquae Flaviae, 7, 1992..DOPICO CAINZOS,D.-PEREIRA MENAUT,G., “ La gran inscripción de Remeseiros (CIL, II, 2476).Sobrela forma jurídica de la tenencia de la tierra entre los indígenas bajo dominio romano”,Actas del segundocongreso peninsular de historia antigua.Coimbra, 1994.DOS SANTOS,L.-LEROUX, P.-TRANOY, A.inscriçoes romanas do museu Pío Xii em Braga.Braga, 1983.DURO PEÑA, “Diferencias de límites entre las diócesis de Braga y Orense en el siglo XII”, Archivos Leo-neses,1972.GóMEZ MORENO, M.,Catálogo Monumental de españa. Provincia de León. Madrid, 1921.GARCÍA, J.M., Religioes Antigas de Portugal.Lisboa, 1991.GONZÁLEZ FERNÁNDEZ,J., Corpus de inscripciones latinas de Andalucía, vol. i.huelva.Sevilla, 1989.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 329

Page 329: Issn 0871 - 4061

LOURENÇO FONTES, A,”Culto ao deus Larouco, Júpiter e Ategina”, Actas do ii Seminario de Arqueologíado noroeste Peninsular.guimaraes,1980, III, 5-20.PEREIRA MENAUT,G.-FERREIRA DE ALMEIDA,C.A.,”a Grande inscriçao de Remeseiros,Vilar de Per-dizes, Montalegre (CIL, II, 2476).Arqueologia, iv. Porto, 1981.RODRÍGUEZ COLMENERO, A.,”Los divoi y devai icémicos receptores de un pacto de hospitalidad entredos grupos gentilicios de la Gallaecia romana”.Primera Reunión de estudios Clásicos. Santiago de Com-pòstela, 1981.RODRÍGUEZ COLMENERO, A. Aquae Flaviae i. Fontes epigráficas (1ª edic.).Braga, 1987. (Câmara Mu-nicipal de Chaves).RODRÍGUEZ COLMENEROA., Aquae Flaviae.i.Fontes epigráficas da gallaecia meridional interior.San-tiago de Compostela,, 1997( Câmara Municipal de Chaves).RODRÍGUEZ COLMENEbRO, A., Lucus Augusti i.el amanecer de una ciudad. A Coruña, 1996 (FundaciónPedro Barrié de la Maza).RODRÍGUEZ COLMENERO A.- FERRER SIERRA,S.-ÁLVAREZ ASOREY, R.D.,Miliarios e outras ins-cricións viarias romanas do noroeste hispánico. Santiago de Compostela, 2004 (Consello da Cultura Ga-lega).RODRÍGUEZ COLMENERO,a.,”Los castella de Susarros y Gigurros en el Noroeste Hispánico y sus pri-meras relaciones con Roma a través del Bronce de Bembibre y otros documentos de reciente aparición”, enGrao Lobo,L-Hoyas, J.L.(coord.), el bronce de Bembibre, un edicto del emperador Augusto .León, 2001.RODRÍGUEZ COLMENERO,A “Corpus-Catálogo de inscripciones rupestres de época romana del cua-drante noroeste de la península ibérica”, en A. Rodríguez colmenero-l.gasperini, Saxa Scripta ( inscripcionesen roca).Actas del simpòsio internacional íbero-itálico sobre epigrafía rupestre.Santiago de Compostela ynorte de Portugal, 29 de Junio a 4 de Julio de 1992. A Coruña, 1993 (Anejos de Larouco, II).RODRÍGUEZ COLMENERO, A.,”Montanhas sagradas no Noroeste Hipánico:Larouco, Marao e Teleno”,en Religioes da Lusitania.Saxa Loquuntur.Exposición conmemorativa del centenario de Leite de Vascon-celos. Lisboa, 2002.RODRÍGUEZ COLMENERO-LOURENÇO FONTES, “El culto a los montes enre los Galaico-romanos”,ii Seminario de Arqueologia do noroeste Peninsular.guimaraes, 1980.TÁVORA Y ABREU, T., noticias geográficas e históricas da provincia de Tras Os Montes, 1722-1723.Mss,bibl. Lisboa,, fp. 221.TRANOY,A.,La galice Romaine.Paris, 1981.

1 itin. Ant.,42,-3-5.2 II, 6,38:Kalándonon. 3 Rodríguez Colmenero, A.,Aquae Flaviae…, 28-29,; Lucus Augusti i…229 (mapa), rectificando varios añosmás tarde, hacia el emplazamiento que le damos hoy día ( Rodríguez Colmenero- Ferrer Sierra-ÁlvarezAsorey, Miliarios…,124-125).4 Claramente expresiva resulta una inscripción de Chaves, hoy día perdida, que da a conocer por primeravez Távora (noticias,109) y Contador de Argote (Memorias…,394), recogida posteriormente en CIL, II,2477 y Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae…, 368, con el texto: Laucia Maturi f(ilia) Caladuma > Saqua…, en donde se percibe nítidamente la mención de la civitas seguidade la expresión de la unidad subordinada, en este caso precedida de la c invertida. Lo mismo en EE, VIII,20; Tranoy, galice…,249:…..elica…/eltici…./adun(ensis)..Igual de nítido en L.Santos-P. Le Roux-A. Tranoy,inscriçoes…,19:….Cundenae f(ilius) Caladu[n]us….; y definitivo en J. González, Corpus….,[M(arcus)Anton[nius] M(arci) f(ilius) c[ala]dunus > Ca[ …]o annorum XX…., de nuevo con la expresión, mediantec invertida, de la unidad subordinada.5 Rodríguez Colmenero A.-Ferrer Sierra-Álvarez Asorey, R., Miliarios e outras inscriçoes…,113-114, adhi-riéndose a la teoría anteriormente sustentada por Días Baptista, ubi Caldunum…69, y via Prima…,145.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 330

Page 330: Issn 0871 - 4061

6 Efectivamente, Diaz Baptista, via Prima ,153, sitúa dicha mansión en Arcos, pero no ofrece el debido so-porte arqueológico. Por nuestra parte, hemos localizado entre Arcos y O Pindo, al lado mismo del decursode la vía, el topónimo Miumentos correspondiente a unas fincas de labor en donde se descubre cerámica ro-mana, según se nos ha informado. Deducimos que el topónimo podría hacer alusión a enterramientos anti-guos y esta necrópolis ser indicio de la existencia de una instalación viaria.7 Rodríguez Colmenero, A.,Aquae Flaviae….,22, dándoles como capital el castro de San Cibrán das Lás, alnorte del Miño.8 Costa,Liber fidei…,379.9 Duro Peña, E., “Diferencias de límites entre las diócesis de Braga y Orense en el siglo XII”, Archivos Le-oneses, 1972.10 Rodríguez Colmenero, A., “Los castella de Susarros y Gigurros en el Noroeste Hispánico y sus primerasrelaciones con Roma a través del bronce de Bembibre y otros documentos de reciente aparición”, en L.Graou Lobo y José L. Hoyas (coord.),el bronce de Bembibre.un edicto del emperador Augusto. (Junta deCastilla-León).León, 2001, 67-96.11 Rodríguez Colmenero, A., Aquae Flaviae..,457-458.12 Rodríguez Colmenero A., Aquae Flaviae…,147, con bibliografía más o menos completa.Nuestra inter-pretación es allí Larocuo/ Ama Pitil/i filia libe(nte) animo vo/tum retuli(t)/ pro marito su(o). 13 Lourenço Fontes, A., “ Culto ao deus Larouco,Júpiter e Ategina”, Actas do Seminario de Arqueologia donoroeste Peninsular.Guimaraes, III, 1980, 5-20.14 Rodríguez Colmenero, A.-Lourenço Fontes, A.,”El culto a los montes entre los Galaico-romanos”, Actasdel Seminario de Arqueología del noroeste Peninsular. Guimaraes, 1980, 21 ss; A. RodríguezColmenero,”Corpus-Catálogo de inscripciones rupestres de época romana del cuadrante noroeste de la pe-nínsula ibérica “, en A. Rodríguez Colmenero-L. Gasperini, Saxa Scripta (inscripciones en roca).Actas delSimposio internacional ibero-itálico sobre epigrafía rupestre.Santiago de Compostela y norte de Portugal,29 de Junio a 4 de Julio de 1992 (Anejos de Larouco, 2), 190-193; “Montanhas sagradas no Noroeste His-pánico: Larouco, Marao e Teleno” en religioes da Lusitania.Saxa Loquuntur.Exposición conmemorativodel centenario de Leite de Vasconcelos, Lisboa, 2002,33-38. 15 Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae…(1ª edic.).Braga, 1987,193-194.16 Cit. nota anterior y A. Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae, 65 y 148.17 Hay autores que se resisten a leer pedroni maximo, absteniéndose de emitir opinión.Otros, como J.M.García, religioes Antigas de Portugal.Lisboa, 1991, 334-335 quieren ver el dedicante en el primerMax(imus), siendo Ped( ) su complemento.Pero como quiera que el segundo Maxumo, en dativo o ablativo,es incontestable, se arma un gran lío tratando de conciliar dos epítetos idénticos y aplicados al mismo dios.Ennuestra opinión, la única manera de poder atribuir a la inscripción un dedicante sería interpretar después delLarauco inicial d(ecimus) Max(imus) , con lo cual sí que podrían atribuirse al dios los atributos ped(ronimaxumo.Pero ello tiene el inconveniente de que el grupo nominal del dedicante se ienterpondría entre elnombre del dios y sus epítetos, cosa que no puede admitirse, por insólita, además de tener que interpretarseped como nosotros lo hacemos.18 Gómez Moreno, M.,Catálogo Monumental de españa. Provincia de León. Madrid, 1925, 65; Blázquez,J.M.,Religiones Primitivas de hispania.Salamanca, 1962,126; Rodríguez Colmenero, Montanhas sagra-das…36.19 Rodríguez Colmenero,Aquae Flaviae…,149.20 Contador de Argote, Memorias…,III, 1325. También CIL, II, 2476.21 Cit. nota. 11.22 Rodríguez Colmenero A., “ Los divoi y devai icémicos receptores de un pacto de hospitalidad entre dosgrupos gentilicios de la Gallaecia romana”, Primera Reunión general de estudios Clásicos. Santiago deCompostela, 1981; Pereira Manaut, G.-Ferreira de Almeida, C.A.,” A grande inscriçao de Remeseiros, Vilarde Perdizes, Montalegre ( CIL, II, 2476).Arqueologia, iv.Porto, 1981; Rodríguez Colmenero, La gran is-ncripción…, Arqueología, iv, 1985; A. Coelho Ferreira da Silva,A cultura castreja no noroeste de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 331

Page 331: Issn 0871 - 4061

Portugal.Paços de Ferreira, 1986,287; A. Rodríguez Colmenero,Aquae Flaviae….,2ª edic., 1997, 448-454.;Corpus-Catálogo….,136-140.23 Estas son las palabras de Argote: “…donde venho a conjecturar que esta inscriçao foi posta a respeito dealguma fazenda alugada, e por pessoa que meia lhe robasen algums dos frutos dela.Iso é o que posso per-ceber”24 G.Pereira-C.A. Ferreira de Almeida, A grande inscriçao…,142 ss; D. Dopico-G. Pereira, “La gran ins-cripción de Remeseiros(CIL, II, 2476).Sobre la forma jurídica de tenencia de la tierra entre los indígenasbajo dominio romano”, Actas del segundo congreso peninsular de historia antigua.Coimbra, 1994, 653 ss25 El migi, por mihi, de la tercera línea es una de las pruebas más evidentes. 26 A.J. Carnoy,Le latin d´espagne daprés les inscriptions..New York, 1971 (2ª edic.), 246 ss.27 Rodríguez Colmenero, A., Aquae Flaviae…,446-454.28 Dicha palabra es polisémica, pudiendo significar ribera o playa. (Cic., Verr. 5. 63; 594. Virgilio, En. 5,613) o, en otra versión, actos jurídicos, leyes (F. Gaffiot, Dictionarire latin-francais. Paris 1934, 25.).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 332

Figura 1. Ara de Pena Escrita(Vilar de Perdizes) dedicada a Jú-piter

Figura 4. Detalle de la inscripcióndel Penedo de Remeseiros (Vilarde Perdizes)

Figura 5. Otro detalle de la ins-cripción del Penedo de Remeseiros(Vilar de Perdizes)

Figura 2. Ara de Pena Es-crita (Vilar de Perdizes) de-dicada a Larouco

Figura 3. Inscripción del Penedode Remeseiros (Vilar de Perdizes)

Page 332: Issn 0871 - 4061

eL PoBLAMiento RoMAno en LA gALiciA oRientAL:PAtRones y diFeRenciAs deL suR Lucense y eL noRteouRensAno. LA tieRRA de LeMos coMo PARAdigMAROMAn SeTTLeMenT in eASTeRn gALiCiA: PATTeRnS AnddiFFeRenCeS OF The nORTh And SOuTh OF OuRenSe. TieRRAde LeMOS AS A PARAdigM

Resumo: El poblamiento de la gallaecia interior en época romana presenta unas singularidadescon respecto a otras zonas del Noroeste antiguo que la determinan como una entidad bien defi-nida. El norte ourensano y el sur lucense presentan una similitud en la articulación del territorioque debe ser explicado por la suma de las peculiaridades de las comunidades prerromanas y delos intereses concretos del estado romano en dicha zona.El paisaje común es un mundo rural de base agropecuaria en la que Roma aplicará un modelodistinto de integración y asimilación al no poder llevar a cabo el paradigma clásico de romani-zación basado en la ciudad y el modo de producción esclavista. Explicar por qué no fue posibleaplicar dicho modelo, qué caracterizó a las medidas llevadas a cabo por Roma para integrar ensus redes administrativas y socio–políticas a esta zona y cómo afectó este proceso a la red depoblamiento y a la explotación del territorio, serán las cuestiones que vamos a intentar dilucidar.Los resultados del análisis arqueológico del paisaje en conjunto con las fuentes escritas seránnuestros argumentos. Palavras-chave: Arqueología del Paisaje, Territorio, Historia Antigua, Romanización.

Abstract: The settlement of the gallaecia interior in Roman times presents some unusual com-pared with other areas of the former northwest that determine a well-defined entity. The northof Ourense and south of Lugo have a similarity in the articulation of the territory that must beexplained by the amount of the peculiarities of communities pre-Romans and the specific interestsof Roman rule in that area.The landscape is common in rural agricultural base in Rome that apply a different model of in-tegration and assimilation by not being able to perform the classical model of Romanizationbased in the city and slavery. explain why it was not possible to implement such a model, whichcharacterized the actions carried out by Rome to integrate their networks in administrative andsocio-political in this area and as this process affected the network of settlement and exploitationof the territory, will be the issues that we’re going to try to elucidate. The results of the analysisof the archaeological landscape together with the written sources will be our arguments.Keywords: Landscape Archaeology, heritage, Ancient history, Romanization.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 333

Manuel Grande Rodríguez

lAborAtorIo de ArqUeoloxíA dA UnIverSIdAde de vIgo; [email protected]

Page 333: Issn 0871 - 4061

1. introducciónLa romanización del Noroeste fue un proceso complejo y variado que

afectó de diferente manera a las distintas zonas que lo conformaban. Esto sedebió a que el modelo de integración y asimilación aplicado no fue el denomi-nado “clásico”, basada en la implantación de la ciudad y el modo de producciónesclavista. Sin embargo, la integración de las comunidades indígenas del Nor-oeste se realizó siguiendo distintos modelos, en base a dos factores: las propiaspeculiaridades de las comunidades locales; y los intereses de Roma, funda-mentalmente económicos.

La peculiaridad de proceso histórico apenas se transluce en las fuentes li-terarias que son demasiado parcas al relatar dicho proceso. Sin embargo la lec-tura del paisaje como registro arqueológico del mundo antiguo, si puedeacercarnos a esa realidad pasada, y a los cambios producidos durante la inter-acción entre indígenas y conquistadores. Las fuentes clásicas no registran ladiversidad existente dentro del Noroeste protohistórico, caso de la gallaeciainterior1. Sin embargo, la administración romana diferencia a los Callaicos enLucenses y Bracarenses. Una división que traza dos unidades administrativascon una geografía bien definida: los primeros al norte de la línea imaginariaque trazarían el río Sil y el Lérez hasta el mar Cantábrico, y los segundos alsur de la misma hasta el Duero.

Las comunidades y pueblos de la gallaecia antigua no poseían una homo-geneidad suficiente que respondiera a una división radical, ya que al igual quela propia denominación atribuida, los romanos inventaron una identidad co-lectiva y administrativa que per se no existía. Esto no quiere decir que no hayasimilitudes significativas entre estas comunidades, algunas de carácter étnico-cultural bastante palpables.

La investigación sobre el sur lu-cense y el norte ourensano viene acompletar la visión del poblamiento ypaisaje antiguo de la gallaecia inte-rior (Fig. 1) en época prerromana y ro-mana. Intentaremos averiguar cualesfueron las claves a la hora de ocuparel espacio, los patrones de pobla-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 334

Figura 1. Localización dela gallaecia interior (SurLucense y Norte Ouren-sano) y la Tierra de Lemos(TDL) con respecto alNoroeste castreño

Page 334: Issn 0871 - 4061

miento y la explotación del territorio, y las posibles diferencias con otras re-giones de la gallaecia antigua. Pese a pertenecer a conventus iurídice diferen-tes, tanto el sur lucense como el norte ourensano son regiones con muchassimilitudes patentes en su común paisaje agrario antiguo de pequeñas comu-nidades rurales.

La zona nuclear sobre la que se centra la investigación es la Tierra deLemos (TDL en adelante), aunque se han extendido los estudios por su periferiaoccidental (Fig. 1) –tierras de Chantada y Carballedo en Lugo–, septentrional–Sarria– y meridional –Terras de Caldelas y Nogueira de Ramuín–. La TDLes una región guarda una patente homogeneidad geográfica y cultural, com-partimentada por unas fronteras naturales bien delimitadas2, conformando unaunidad específica desde antiguo, con un poblamiento similar en base a unospatrones análogos. La actual comarca de TDL parece forjarse sobre la pretéritacivitas Lemavorum, unidad administrativa definida por el estado romano3. Estehecho nos permite analizar la dinámica del poblamiento, territorialidad y ex-plotación del territorio no sólo en el cambio de la Cultura Castreña y el dominioromano, sino, sobretodo, dentro de la célula básica de la administración en elNoroeste: la civitas. Es obvio que no se puede reconstruir con total exactitudel territorio de dicha entidad administrativa, pero eso no evita que los resultadosde la exploración de la TDL muestren hipótesis e inercias válidas y significa-tivas, acerca de la naturaleza y grado de romanización del interior galaico.

El resultado es una investigación diacrónica del poblamiento y explotacióndel territorio de la actual TDL desde el pasado protohistórico (Ier Milenio a.E.),del cual conocemos el nombre del pueblo que habitó esta zona, los Lemavi,hasta la Alta Edad Media (V–IX/X) certificando el desarrollo y las peculiari-dades de dicho proceso, en donde el estado romano jugó un papel fundamentaly catalizador de muchas transformaciones tanto en la estructura de poder comola articulación del poblamiento.

2. el poblamiento protohistórico en en interior galaico: el caso de la tierrade Lemos

El poblamiento del interior galaico en el I Milenio a.E. se desarrolla dentrode la denominada Cultura Castreña y está protagonizado en su última fase (Hie-rro II) por el pueblo de los Lemavi (Grande Rodríguez 2008) mencionados por

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 335

Page 335: Issn 0871 - 4061

las fuentes clásicas (Plinio, naturalis historiae III, 18; y Ptolomeo,gheografía, Tabla II capítulo 6, 25).

Las comarcas de la gallaecia interior que cuentan con estudios arqueoló-gicos espaciales muestran semejanzas significativas entre sí, en cuanto al po-blamiento prerromano de esta zona. La TDL puede ser un buen ejemplo de lascaracterísticas del mundo interior ya que coincide con otras zonas de las quetenemos datos –Terra Chá, Trasdeza, Lugo, Chantada, Sarria, Samos, Tierrasde Caldelas…–.

En la zona interior de la gallaecia antigua, el tamaño y la ubicación topo-gráfica de los castros, presentan notables diferencias con respecto a otras zonasdel Noroeste. El modelo de poblamiento protohistórico en la TDL es diferente –a veces muy diferente– de otras regiones de la gallaecia, que asimismo se suelenasumir como prototípicos de la Cultura Castreña (caso de la zona meridional ycostera bracarense). El patrón de poblamiento que resume dichas característicasevidencia la naturaleza de la territorialidad y la organización social de esta zona.

El gran número de castro de la TDL, (100 aprox.), y la falta de cronologíasexactas de los mismos, hace muy difícil una lectura precisa de su dinámica depoblamiento. Pero la concreción de catálogos cada vez más sistemáticos y lasprospecciones espaciales y superficiales tratadas con mejores herramientas –como los SIG–, hacen posible la confección de un patrón de poblamiento y desus bases económicas, de carácter genérico pero representativo.

La mayoría de los castros no supera la hectárea de extensión, y dentro deestos, casi dos tercios ni siquiera alcanzan la media hectárea (Grande Rodríguez2007) en época pre-rromana. Hechoanálogo a otras re-giones del interiorgalaico (CarballoArceo 1986; FerrerSierra y GonzálezFernández 1996).Algunos de los quepresentan dimensio-nes más amplias –

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 336

Figura 2. Mapa de ubicaciónde los castros de la TDL enrelación a los usos del suelo.Nótese la mayor densidaddel sector occidental y cen-tral fruto de la colonizaciónagropecuaria

Page 336: Issn 0871 - 4061

más de 1´5 Ha.– cuentan con grandes y complejos sistemas defensivos o difi-cultades orográficas que limitan muy mucho la superficie habitable. La con-clusión extraída de este examen, es la existencia de comunidades de reducidotamaño y escasa complejidad social.

Su emplazamiento y distribución documentan una ocupación parecida aotras zonas de la Cultura Castreña, pero con notables singularidades. El po-blamiento en general muestra una dinámica de ocupación progresiva de lasmejores tierras de régimen agropecuario (Fig. 2) por lo que se manifiesta undescenso gradual desde la ubicación en las cumbres más destacadas (ca. 600–700 metros de altitud) hacia las tierras más fértiles de la cuenca sedimentaria(ca. 350–500 metros de altitud).

A diferencia de otras regiones, las grandes cuencas hidrográficas (Fig. 6)de los ríos que atraviesan esta comarca –el río Miño al oeste, y el Sil al sur–no muestran una ocupación sistemática de sus valles interiores. Ni siquiera lared secundaria de drenaje –Cabe, Saa, Lor…– presenta una gran densidad depoblados. La preferencia es localizar el hábitat en dos zonas bien determinadas:las zonas amesetadas del interior periféricas a la cuenca sedimentaria y quebordean el cañón del Sil y del sobretodo del Miño. Son zonas de penillanurade cierta altitud (450–550 metros), creciente hacia el norte de la comarca, yque ocupan un alto porcentaje de las tierras de la TDL. Este modelo se repro-duce en las regiones vecinas del norte ourensano y del sur lucense, en dondelos extensos altiplanos –que rodean al Miño y al Sil– también ostentan la ma-yoría del poblamiento castreño.

La otra ubicación preferente es el entorno de pequeños ríos afluentes de lared primaria y secundaria –Miño, Sil, Cabe, Lor…–, y arroyos de escaso calado.Son estos pequeños valles más encajados donde se encuentran una serie de asen-tamientos de escasas dimensiones y funcionalidad agro-silvo-ganadera.

La distribución del poblamiento –según la función de Poisson y la estadís-tica del vecino más próximo de Clark\Evans (Hodder y Orton 1990: 45)– de-nota cierta aleatoriedad pero con una tendencia a la regularidad del patrón. Lazona preferente de poblamiento de la TDL es la penillanura occidental que bor-dea el cañón del Miño, algo que también sucede en la zona de Sarria, al nortede la TDL, o de Chantada al oeste del Miño y Caldelas al sur del Sil. Una zonaamesetada, de cierta altitud –sobre los 500/550 metros de altitud– que reúne

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 337

Page 337: Issn 0871 - 4061

buenas condiciones de visibilidad, fertilidad y control del territorio inmediato.Así el sector occidental es el más poblado, aunque también destacan por ladensidad del poblamiento la zona septentrional y central de la cuenca sedimen-taria. Por el contrario, la penillanura meridional que antecede al cañón del Silpresenta una escasa densidad de hábitats, hecho todavía más acusado en el sec-tor oriental, la cuenca del Lor y parte del Saa, en donde el número de castrosdesciende hasta casi desaparecer4.

Dos son las razones aparentes a la hora de trazar el poblamiento protohis-tórico. Por un lado las razones topográficas donde a su vez hay una amplia pa-noplia de variables que se manejan al ubicar un castro: cumbres escarpadas ycon amplio dominio territorial/visual (poblados ultraprotegidos); laderas me-dias de vocación agroganadera y deficiencias defensivas solventadas con tra-bajos de delimitación (aldeas fortificadas agropecuarias); y laderas bajas opequeños oteros en llanura que explotan las tierras agrícolas más óptimas (al-deas agrarias). El poblado se nutre del territorio circundante en unos 2 km. o45 minutos andando, aproximadamente.

La otra razón fundamental para la ubicación espacial del poblamiento cas-treño es la tradición/inercia en el poblamiento rural de la zona. La penillanuraoccidental y la zona septentrional y central de la cuenca sedimentaria concen-tran gran número de túmulos y megalitos, que además de tumbas colectivastambién funcionan como aprehensión del territorio e hito del paisaje (algo se-mejante al papel del castro). Ya decíamos al principio de este apartado, que elpoblamiento castreño era más denso en la zona occidental de la TDL, justo enlas mismas unidades morfológicas en donde dominan las estructuras megalíti-cas.

La lectura diacrónica del paisaje protohistórico permite establecer una re-lación –indirecta– entre el poblamiento de las sociedades megalíticas prece-dentes y las castreñas, en donde estas siguen un camino similar en la ocupacióndel territorio. Evidentemente no hay una continuidad, ya que han cambiado lasbases del poblamiento, pero si una coincidencia que demuestra que el sectoroccidental y centro-septentrional ha sido el más poblado desde época megalí-tica hasta el cambio de era, hecho que la dominación romana va a acrecentar.Esta dinámica de poblamiento se corresponde con un aprovechamiento agro-pecuario intenso del territorio, ya que se habitan las mejores tierras cultivables

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 338

Page 338: Issn 0871 - 4061

y con una topografía propicia. El proceso de fortificación del hábitat que comienza en el Bronce Final se

fragua sobre la aprehensión del territorio y la protección frente a otras comu-nidades vecinas por la tensión social generada por la definitiva sedentarizaciónde las sociedades protohistóricas. Cuando se asienta el proceso de territoriali-zación de las comunidades castreñas, el objetivo principal del hábitat cambia5.De poblados ultraprotegidos se pasa a poblados agroganaderos, que progresi-vamente se van especializando en conseguir mejores rendimientos agropecua-rios hasta lograr un excedente del que apropiarse o con el que comerciar.

Las conclusiones acerca de la estructura social que podemos extraer de estemodelo de poblamiento son claras. El castro está formado por pequeñas co-munidades campesinas autosuficientes y autárquicas, que explotan de maneramultivariada –segmentaria– el paisaje que seleccionan para establecer su há-bitat. Un paisaje rural en el que las mejores tierras son el objetivo, una vez quela protección va perdiendo importancia. El resultado es una sociedad compleja,en la que las distintas comunidades o miembros de cada poblado, se dedican afunciones diversas y complementarias según sus bases económicas, pero queno conforman una sociedad jerarquizada.

3. Poblamiento romano del sur Lucence y norte ourensano. La tierra deLemos como paradigma

Las diferencias socio-económicas y de articulación del poblamiento del in-terior galaico durante el Hierro II van a demarcar una integración en las es-tructuras del Imperio romano singular. Sin grandes asentamientos (tipo oppida)ni contactos tan intensos con el mundo meseteño y mediterráneo, como sucedeen el espacio bracarense entre el Duero y el Miño y las Rías Baixas, el territoriooriental interior galaico se configuracomo una doble periferia que pre-senta formas de explotación econó-mica y organización socialplenamente rurales.

La existencia de un poblamientoprerromano basado en pequeñas co-munidades campesinas dedicadas a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 339

Figura 3. Po-b l a m i e n t oabierto ro-mano urbano yprotourbanodel Noroeste,y su relaciónjerárquica.

Page 339: Issn 0871 - 4061

la subsistencia, conlleva que las actuaciones de la administración romana parafomentar el control e integración de la población no puedan ser efectuadas através de la ciudad clásica, ni de la organización social cívica. La ciudad noera viable en la gallaecia interior oriental6 (Fig. 3) a causa del escaso potencialeconómico y demográfico para amparar la creación y sustentación de un pro-ceso de urbanización, lo que implica la utilización de un modelo de “romani-zación” alternativo al acostumbrado.

No obstante, pese a la falta física de urbs, podemos encontrar “centros depoder” local y regional (Fig. 3), en asentamientos con algunos rasgos de mor-fología urbana –o protourbana– que articulan –o no– el poblamiento (PérezLosada 2002: 20), que funcionan a modo de ciudades, pero sin una organiza-ción social cívica. Considerar a estos núcleos protourbanos desarrollados comocapital central de cada sus civitates, debe ser probado a través de un análisisespacial del poblamiento antiguo.

Este modelo alternativo tuvo como referencia la civitas, entendida no comouna urbs sino como una comunidad político–administrativa–fiscal reconocibley con un territorio determinado (Martins et Alii 2005: 281). El interior galaicoorganizado en civitas se define como un espacio rural no urbanizado productode la situación jurídico–administrativa resultante de la conquista e integraciónen el Imperio, conformando un conjunto de pueblos y comunidades rurales quese convirtieron en estipendiarios7.

La nueva estructura de poder impuesta por Roma a la gallaecia interior tuvouna repercusión en el modelo de poblamiento y organización social que se va adesarrollar al paso de la romanización. En cuanto al primero, destaca la apariciónde un poblamiento disperso abierto y jerárquico que no tiene relación con el po-blamiento prerromano ya que funciona a escala regional y no sólo local –comolo hacía el castro–; y en cuanto a la organización social, la substitución de unasociedad no estratificada y segmentaria unida por lazos de parentesco, por unasociedad de clases liderada por una doble jerarquía, los conquistadores y la aris-tocracia local colaboracionista, que se impone a la inmensa mayoría campesinadependiente. No sabemos hasta que punto hubo resistencias indígenas localesen este proceso, pero desde la conquista se certifica la rápida creación de espaciospolíticos comunes, frente a la autarquía protohistórica de cada aldea/castro.

Una de las singularidades del poblamiento romano galaico es la pervivencia

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 340

Page 340: Issn 0871 - 4061

del castro como entidad física de hábitat. Decimos física porque el castro quedamarginado a un simple continente de población pero vaciado del contenido or-ganizativo del poblamiento y de la sociedad, como tenía antaño. No da formay concreción a los lazos comunitarios de cada grupo de población. Ha perdidotodo su protagonismo como forjador de las formaciones sociales prerromanas.

El castro permanece dentro de los ejes de poblamiento, a veces como su-plemento, en otras como algo más que un complemento, de los hábitats abiertosrurales romanos. Por los hallazgos y su disposición espacial, tres son las fun-cionalidades combinadas de los poblados fortificados en altura: centros agro-pecuarios, situados en tierras óptimas para la agricultura; centros mineros,sedes de explotación de los beneficios mineros o complementando a estos–; ybastiones defensivos/viarios, aquellos situados a pie de vía, en puntos estra-tégicos/de control que eligen oteros o espolones representativos.

En relación a la jerarquía de la red de poblamiento nacida tras las accionesadministrativas romanas, destaca el valor que pueden alcanzar algunos de estoscastros. Dos son los tipos representativos: los castros que podríamos denominar“oppida” –con todas las reservas– ya que son los de mayor tamaño de la región,que “crecen” con la romanización, ya que muchos de ellos muestran un pasadoprerromano, y se convierten en centros de poder local que pueden crear unared de poblados integrados a modo de lugar central. Es el caso del castro deVilar de Ortelle, de Santalla de Licín o de S. Vicente do Pino.

Y los castros que pueden ser categorizadas como pequeños centros pro-ductivas tipo aldea, cuya producción puede estar orientada a productos agra-rios, ganaderos, manufacturas, mineros…

En definitiva, los cambios operados en los castros de época romana sonalgo más que los aparentes cambios topográficos, constructivos y de ubicaciónen el paisaje producto de la conquista y la administración romana. La nuevaterritorialidad abandona la autosuficiencia de las pequeñas comunidades seg-mentarias y supone algo más traumático y revolucionario. Es el fin de la so-ciedad protohistórica y el relevo de la estructura económica y políticatradicional del mundo castreño por una nueva articulación socio–política regidapor los modos e intereses romanos.

Si el hábitat tradicional del Noroeste sufrió cambios revolucionarios y sig-nificativos, mas impactante en la estructura del poblamiento y la articulación

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 341

Page 341: Issn 0871 - 4061

del territorio fue la introducción de nuevos hábitats abiertos que desde el sigloI d.E. empiezan a ocupar la geografía del interior galaico en general, y de laTDL en particular. Este poblamiento rural romano abierto suele restringirse alas unidades de poblamiento individual de grandes dimensiones tipo villa. Peroen la TDL –y la gallaecia interior por extensión– las villae no son el tipo dehábitat más representativo ni numeroso8, algo que las fuentes literarias tambiénreflejan (Pérez Losada 1996: 194). La realidad del poblamiento rural galaico-rromano es algo más compleja y diversa que una simple división entre castrosy villae (idem: 189).

El análisis de diversos arqueositios galaicorromanos en base a su topogra-fía, a la dispersión de materiales en superficie, la capacidad productiva de lastierras, las estructuras visibles o exhumadas, calidad de los materiales mueblese inmuebles, su relación viaria, etc.… permite descubrir una variada tipologíade asentamientos que junto a los castros que perviven en el paisaje antiguo,protagonizan el poblamiento y la articulación del territorio.

Este nuevo poblamiento presenta un patrón totalmente diferente del mundoprerromano. Primero porque estos asentamientos rurales abiertos forman partede un poblamiento disperso, no concentrado, de carácter familiar, aunque dedistinta índole y tamaño (estructura familiar extensa, estructura unifamiliar ofamilia nuclear). A su vez, conforman una red de poblados dispersos entrama-dos de una manera lineal fruto del desarrollo de la red caminera regional ro-mana9. En último lugar, porque constan de una morfología –poblados abiertosunifamiliares de distinto desarrollo constructivo– y una topografía –penillanu-ras, explanadas, pequeñas llanuras a media ladera…– opuestas a las caracte-rísticas de los hábitats fortificados en altura. Presentan una variada tipologíaque responde a la dinámica socio-económica y administrativa trazada en el in-terior galaico10. Por orden jerárquico (rango/tamaño), la cúspide de la pirámidede poblamiento serían los denominados Aglomerados Secundarios romanos,o en terminología latina vici (Pérez Losada, 2002: 21).

A diferencia del convento Bracarense meridional, donde se desarrollan au-ténticos aglomerados urbanos supra–regionales como Aquae Flaviae, Tude oTongobriga, en la región interior galaica, estos son centros de poder regionalo local cuya morfología puede confundirse con una villae, pero que funcionacomo un enclave a medio camino entre la ciudad y la aldea. Son núcleos con

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 342

Page 342: Issn 0871 - 4061

una reducida morfología urbana o protourbana, pero de menores dimensiones(3–5 Ha) que en la zona bracarense (8–10 Ha.). Cumplen funciones productivas–tanto agropecuarias como manufactureras–, comerciales –venta y consumode mercancías– y administrativas –control y ordenación del territorio–, pu-diendo actuar en algunos casos como caput civitas. Las principales vías regio-nales y locales pasan por sus inmediaciones –no más de 400 metros dedistancia–.

El yacimiento de S. Vicente deCastillós (Fig. 4), en la TDL (ayun-tamiento de Pantón), se amolda aeste modelo, al igual que en las co-marcas aledañas pueden ser OBurgo en Castro Caldelas o Trivesen el norte ourensano, y posible-mente Vilar de Sarria en Sarria yQuinta da Ágrade en Chantada.Todos ellos son puntos representa-tivos dentro de la ruralidad de las civitates galaicas orientales.

El siguiente tipo de enclaves englobarían al modelo tipo villae, pero queen el mundo rural meridional lucense y septentrional ourensano no es equipa-rable al modelo del resto de hispania o incluso de la zona bracarense. Son há-bitats más pequeños y modestos pero que intentan imitar a aquellos. Selocalizan en amplias penillanuras o explanadas que constituyen su fundus, ro-deados de tierras de óptima capacidad agrícola y buena disponibilidad de re-cursos hídricos. Su pars urbana alcanza los 800–1000m2 pero la zona dedispersión de materiales arqueológicos puede llegar a la hectárea o inclusomás, demostrando la clara romanidad de sus estructuras –mosaicos, hipocaus-tos, peristilos…–, su prestigio, monumentalidad y calidad. A su vez pueden es-tablecer una relación jerárquica con hábitats de orden inferior de susinmediaciones como casales, capanas o aldeas/castros de pequeñas dimensio-nes. Espacialmente, parecen tomar una cierta distancia de las vías principales,conectando con ellas por senderos de buena accesibilidad que cubren una es-casa distancia –ca. 500 metros–.

El caso de Proendos, en el ayuntamiento de Sober parece ser un caso sin-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 343

Figura 4. Ya-cimiento ga-laicorromanode Castillós:dispersión dehallazgos yposible área deocupación

Page 343: Issn 0871 - 4061

tomático de este apartado, aunque por sus dimensiones, la dispersión de losrestos y los últimos hallazgos en sus inmediaciones, tampoco sería descabe-llado que alcanzara en algún momento del Bajo Imperio la categoría de Aglo-merado Secundario.

El tercer escalafón lo ocuparían las denominadas villae de tamaño medio(sobre los 500m2 en la pars urbana). Los hallazgos aparecen dispersos alrede-dor de unos 800–400m2. La naturaleza de los restos encontrados denota unmayor indigenismo y un menor poder adquisitivo y su distancia con respectoa la red caminera es de 500 a 2000 metros. Posibles yacimientos que cumplencon esta tipología pueden ser Leira da Viña en Sober, A Ponte en Brollón o Ve-leigán y Vilariño de Fión en O Saviñao.

Por último, el tipo de hábitat de menor entidad y jerarquía serían los deno-minados Casales11 –o capanna en terminología portuguesa, menos amoldable anuestra región– (Pérez Losada 1996: 87), de escaso desarrollo arquitectónico,menor dispersión de sus vestigios (alrededor de 400–300 m2) y una ocupaciónsemejante a dicha difusión. Este tipo de arqueositios son los más habituales enla TDL (entre 5–10 yacimientos pueden ser definidos de este modo12), demar-cando el carácter rural y productivo de la estructura social y de poblamiento deesta región en época antigua.

A nivel topográfico (Fig.5), tanto Aglomerados Se-cundarios coma villae degran tamaño tienen un pa-trón de poblamiento comúne identitario: zonas de peni-llanura, abiertas, de cierta al-titud, conectados a lasprincipales calzadas localesy regionales, con una óptima

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 344

Figura 5. Mapa del poblamiento romanode la TDL en relación a la pendiente delterreno. Obsérvese los cambios entre elpoblamiento castreño prerromano y ro-mano, así como entre este y los núcleosrurales abiertos.

Page 344: Issn 0871 - 4061

insolación y visibilidad, rodeados de amplios terrenos fértiles para la confec-ción de grande explotaciones de cultivos de secano y de regadío, por su proxi-midad tanto a pequeños ríos y arroyos, como a emergencias acuíferas.

Mientras villae de tamaño medio y casales, poseen unas características co-munes que los diferencian de los precedentes: laderas terminales de menor al-titud y bien resguardadas, con tierras que combinan el labradío y los pastos demenor valor productivo, situadas en el borde de la cuenca sedimentaria centralde Monforte o hacia los valles del Miño o del Sil, con una buena orientacióny próximos a arroyos de pequeño calado.

Espacialmente, muchas son las conclusiones a las que podemos llegar. Lasfunciones de distribución y densidades de Poisson y del vecino más próximode Clark–Evans (Hodder y Orton 1990: 55) definen como ordenado/regular laubicación de estos arqueositios, en donde las variables para articular el pobla-miento es la explotación integral del territorio comarcal según los recursos dis-ponibles, y cuyo objetivo último es la tributación. El resultado de la dominaciónromana (Fig. 5) es un cambio en la ocupación del espacio debido a la intensi-ficación de la producción agropecuaria en el sector occidental y meridional(sobre todo en las penillanuras periféricas a los valles del Sil y del Miño), laintensificación ganadera en el sector septentrional y oriental, y por supuesto,la explotación a gran escala de los recursos mineros de este último sector, endonde el poblamiento se densifica con respecto al mundo prerromano. La in-tensificación de la producción del policultivo agrario y de la ganadería tienecomo objetivo ya no solo la simple subsistencia sino el pago del tributo im-puesto y el acaparamiento de excedente por parte de la oligarquía dirigente ysu comercialización a través de las redes distributivas del Imperio. La intensi-ficación en la explotación de los recursos mineros, repercutiría de manera di-recta en el Estado.

S. Vicente de Castillós es el asentamiento rural abierto romano más im-portante de la TDL. Además de sus prolijos vestigios, que caracterizan comoAglomerado Secundario, a nivel arqueológico territorial presenta una jerarqui-zación y pseudocentralización de la estructura de poblamiento de la civitas.

Decimos pseudocentralizado porque la articulación del poblamiento de laTDL revela al menos dos zonas dinámicas muy diferenciadas bajo el poder deRoma. El sector oriental –el ayuntamiento de Pobra de Brollón y una parte del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 345

Page 345: Issn 0871 - 4061

de Monforte– es una micro–región esencialmente minera y con un poblamientogalaicorromano basado en el castro, relacionado con los trabajos extractivos.Si recordamos datos del mundo prerromano, era una zona apenas poblada, oal menos con una menor densidad de castros en su interior. En esta zona nocontamos con un poblamiento rural romano abierto –solo A Ponte en Brollónestá próxima– y este espacio parece articularse a sí mismo con un único obje-tivo: la rentabilidad efectiva de la minería, permaneciendo al margen de losprocesos de hábitat y de la ordenación del poblamiento del sector occidental.La dinámica de articulación que se establece en el valle del Lor por ejemplo,relaciona a los castros de fondo de valle y castros de ladera o cumbre, optimi-zando la explotación de las bases económicas de la cuenca fluvial, es decir, losrecursos mineros como objetivo principal y el suplemento agroganadero paracubrir las necesidades de la población centrada en los trabajos mineros. El cas-tro en esta zona es algo más que un complemento, es la base de la explotacióndel territorio y de la estructura de poblamiento. Eso sí, un castro que no tienenada que ver con el prerromano. Es solo un continente en manos del poder yla organización romana, que ya no refleja la estructura social y política de sushabitantes.

En cambio el sector occidental contiene a la práctica totalidad del pobla-miento rural romano abierto13. No obstante el castro no desaparece en épocaromana en esta zona. El aumento de poblados de una u otra naturaleza, provocauna mayor intensidad de los trabajos agrícolas, como muestra la topografía delos nuevos y viejos asentamientos situados en las mejores y más fértiles tierrasde cultivo.

El resultado de esta bipolarización territorial de la TDL en dos zonas muydinámicas (Fig. 5) queda patente en el paisaje, con un sector occidental de baseagropecuaria con poblamiento intercalar (disperso y concentrado), y un sectororiental cuyo hábitat fundamental es el castro y su propósito la explotación mi-nera. Cuando el interés de Roma en la minería decae, repercute en el pobla-miento que también decae en intensidad, hecho que va a caracterizar elpoblamiento altomedieval de la TDL.

La combinación de un hábitat concentrado (tipo castro) y disperso (pobla-dos abiertos rurales) crea una red de poblamiento intercalar (Fig. 5) que es laimagen de la nueva organización socio–política y de las nuevas formas de de-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 346

Page 346: Issn 0871 - 4061

pendencia social, fruto de los cambios estructurales tras la conquista. Por lado,poblados que concentran a la población en base a una organización suprafa-miliar; y por otra parte, poblados dispersos ex novo, unifamiliares (excepto talvez los vici), que albergan estructuras familiares simples o complejas, segúnsu posición socio–económica, reflejada en el prestigio de sus hogares.

El diseño de la red de poblamiento se efectúa de manera lineal, estable-ciendo una relación intensa entre los poblados del sector occidental gracias auna espesa red viaria de carácter regional y local, cuyo centro y paso obligadoen muchos casos es S. Vicente de Castillós. Este posible Aglomerado Secun-dario muestra una posición excepcional con respecto al resto de núcleos dis-persos y con los más importantes poblados castreños galaicorromanos delsector occidental. Tanto por su rango/tamaño, la importancia y prestigio de loshallazgos en sus inmediaciones, su situación estratégica y central aprovechandouna elección topográfica óptima, así como por su posible ascendencia sobre elresto de enclaves, podemos concluir que Castillós debió ser el núcleo centraljerárquico de la articulación del poblamiento rural galaicorromano de la TDL.Es decir, este enclave representa una factible caput civitas de la antigua TDL,la civitas lemavorum. Un centro con un desarrollo cronológico amplio en épocaromana (s. I–V d.E.) y con facultades administrativas (¿incluida la gestión fis-cal?) y comercial, como muestran algunos de sus hallazgos (Pérez Losada2002: 189). Si bien es cierto, el enclave de Proendos también ejemplifica unaascendencia y jerarquía sobre el territorio meridional de la TDL, pero puedeque en una cronología más avanzada que Castillós, como muestra su ergología(s. III–V).

En general, se documenta un aumento de la densidad de poblados (y de lapoblación) que afecta al sector nuclear (occidental) del poblamiento de la TDLdesde época prerromana (y megalítica), pero también, y en mayor medida enlas zonas periféricas a aquel sector, es decir, la zona meridional, oriental y sep-tentrional. El auge de la población parece ser un hecho consumado, que ademásse ve interconectado con una redistribución general de la población sobre elterritorio de la TDL, y en la que la minería juega un papel esencial.

El mundo rural de la gallaecia oriental hubo de articularse desde sí mismo,con un modelo social y territorial autónomo, sin tener que asumir el modeloclásico de romanización basado en la ciudad y en la sociedad cívica.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 347

Page 347: Issn 0871 - 4061

4. La inercia tardorromana y altomedieval: indicios del doblamiento du-rante la antigüedad tardia en la tierra de Lemos

El poblamiento de la TDL en época tardorromana y altomedieval certificaen la mayoría de los casos una continuidad desde el pasado inmediato romano.Más del 50% de los asentamientos romanos tienen indicios de permanecer ha-bitado en los siglos posteriores, aunque no siempre con las mismas estructurasmuchas veces abandonadas u ocupadas por necrópolis altomedievales. Su cris-tianización también es evidente, tanto en la creación de iglesias y capillas deculto, como de cementerios parroquiales que se van fosilizando en el entornode los antiguos asentamientos romanos y las parroquias rurales. El resultadoes un poblamiento agregado al galaicorromano, como certifican las funcionesde distribución y densidades de Poisson y Clark–Evans.

Algún que otro castro también se mantiene en activo como hábitat, con-vertido en castronela o bastión defensivo (Castelo pequeño, p.ej.) dentro de unpaisaje político mucho más inseguro y controvertido que en el mundo galai-corromano. La naturaleza de cada una de esas re–ocupaciones de estos pobla-dos aún está por determinar.

Se ha hecho hincapié en muchas investigaciones que tras el fin del dominioromano, la tradición indígena se hace patente en el poblamiento altomedievalpor las presuntas concomitancias entre la topografía y la territorialidad castreñay de las parroquias altomedievales. La construcción de iglesias en el entorno/in-terior de los castros (Fig. 6) es entendida como muestra de la pervivencia delcastro como hito de referencia del poblamiento.

Pero los datos de laTDL nos acercan a otrarealidad. La estructurade poblamiento romanase mantiene, aunque nopermanece inmóvil sinoque sufre cambios signi-ficativos. El primero queel sector oriental–mi-nero pierde importanciadentro de la comarca al

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 348

Figura 6. Mapa de yacimien-tos castreños con estructurascristianas en su interior o cer-canía.

Page 348: Issn 0871 - 4061

abandonarse la explotación a gran escala de los recursos mineros. Solo los en-claves con una vocación agropecuaria o comercial en relación a la red viaria,perviven en el territorio pero con una escasa presencia.

El sector occidental sigue siendo el más poblado de la TDL y los asenta-mientos romanos mantienen su función de hábitat como los demuestran los ha-llazgos cerámicos o las necrópolis de su entorno. Una continuidad que enalgunos casos es directa, pero en otros indirecta, con un salto o prolongacióndel hábitat hasta el s. IX–X. Las parroquias altomedievales que cuentan conun poblado rural abierto galaicorromano enlazan directamente con estos, de-mostrando el hábitat encadenado entre una época y otra. Y muchos de los cas-tros que tienen en sus inmediaciones una iglesia o capilla que pueda tener unorigen altomedieval14 (caso de Licín en O Saviñao, o Sucastro en Bóveda) pre-sentan una clara e importante ocupación romana (Fig. 6).

Es evidente el papel destacado del castro en el paisaje rural gallego durantetoda época histórica, pero sus caracteres territoriales/políticos hace tiempo quehabían desaparecido.

La territorialidad y la articulación del poblamiento romano siguen patentesde una manera inercial en la Alta Edad Media, sancionada y admitida por lanueva élite social, los dirigentes hispano–godos y la jerarquía eclesial. El po-blamiento altomedieval se diseña desde el mundo galaicorromano, no desde elprerromano. Solo a partir del siglo VIII–IX parece documentarse una rupturadefinitiva con el modelo de poblamiento establecido por los intereses de Roma,que sobrevivieron de manera rutinaria en la antigüedad tardía. Esta dinámicase basa en una estructura de poder que no ha mutado radicalmente, a diferenciadel proceso sufrido con la conquista romana, ya que no se produjo una disolu-ción de las formas sociales romanas sino una transformación o canalizaciónlenta y progresiva que ya había comenzado durante el Bajo Imperio, cuando seempieza a documentar el aumento de los domini que asientan su poder en susposesiones rurales, la dependencia del campesinado mediante el colonato y laascendencia de las instituciones cristianas15 sobre la sociedad y el poblamiento.

El proceso traumático del fin del Imperio de Occidente no estuvo relacio-nado en el interior galaico con una crisis de la ciudad clásica, que sustentabaparte de su progreso y desarrollo en el aprovechamiento del monopolio terri-torial–comercial del Mediterráneo.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 349

Page 349: Issn 0871 - 4061

5. conclusionesEl proceso de conformación del paisaje rural gallego es un proceso largo

y lineal pero no rectilíneo. Es un camino dilatado y sinuoso con muchas tran-siciones y alguna que otra discontinuidad. Una de las rupturas más transcen-dentales –aunque con pervivencias– lo supuso en el interior galaico, laconquista y dominación romana. La desaparición de la organización socio–po-lítica y territorial prerromana substituida por los intereses y modelos romanosde integración y asimilación, supuso una transformación radical del pobla-miento en particular, y del paisaje en general.

La cantidad y magnitud de los cambios producidos en la zona interior dela gallaecia antigua demuestran que si entendemos la romanización comocambio, el interior galaico fue una de las zonas donde se produjeron transfor-maciones de mayor calado.

Sin embargo la trayectoria del poblamiento romano hasta la Alta EdadMedia no puede ser definida como una ruptura traumática. Hay una continui-dad difusa entre uno y otro período histórico, que no puede explicarse desdela territorialidad castreña sino desde el pasado más inmediato, galaicorromano.Un pasado en donde el mundo pre-feudal encuentra sus bases y fundamentos,sobretodo la nueva élite que está afianzando su poder político y territorial demanera definitiva.

El fin del ciclo histórico de la romanización de Occidente no se cerró conel retorno a la situación protohistórica precedente, sino que fue la raíz del na-ciente régimen feudal.

BibliografíaALARCÂO, J. (1996): “Aglomerados urbanos secundarios romanos de Entre-Douro-Minho”. A ci-

dade e o Mundo: Romanización e cambio social, ed. Concello de Xinzo de Limia: 167–179, Xinzo de Limia.CARBALLO ARCEO, L. X. (1986): Poboamento castrexo e romano da terra de Trasdeza, Ed. Xunta deGalicia. Santiago.FERRER SIERRA, S.; GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, E. (1996), “Sustrato poboacional prerromano de LucusAugusti” en Lucus Augusti. 1. el amanecer de una ciudad, Edita Fundación Pedro Barrié de la Maza, p.329-419. A Coruña.GRANDE RODRÍGUEZ, M. (2007): “Aproximación á romanización da Terra de Lemos”. Revista Miniusnº XV, p. 117-135. Vigo.GRANDE RODRÍGUEZ, M. (2008): “Os lemavi a traversa das fontes literarias e epigráficas”. Revista Mi-nius, nº XVI, p. 135-163. Vigo.HODDER, I. y ORTON, C. (1990): Análisis espacial en arqueología. Crítica, Barcelona.MARTINS, M.; LEMOS F.S.; PÉREZ LOSADA, F. (2005): “O poboamento romano dos GalaicosBracarenses”, iii Coloquio internacional de gijón. unidad y diversidad en el Arco Atlántico en época ro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 350

Page 350: Issn 0871 - 4061

mana. Ed. Fernández Ochoa, C. y García Díaz, P.: p. 279–296. GijónPÉREZ LOSADA, F. (1996): “Hacia una definición de los asentamientos rurales de la gallaecia: poblados(vici) y casas de campo (villae)”, Los Finisterres Atlánticos en la Antigüedad, p. 189–197. Gijón.PÉREZ LOSADA, F. (2002): entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secun-darios” romanos en galicia. Brigantium, A Coruña.

1 Muchas veces los pueblos de la gallaecia son equiparados al resto de comunidades de la cornisa cantábrica(Astures y Cantabros) en sus orígenes, tradiciones o costumbres. Lo que ha dado como resultado incómodosclichés y tópicos sobre estas comunidades norteñas.2 Las fronteras actuales de la TDL, que han funcionado tradicionalmente como límites de este espacio, serían:el cañon del Sil al sur, el valle del Miño al Oeste, la cuenca del Lor al este y las afloraciones montañosasseptentrionales que separan Lemos de Sarria.3 Varios documentos altomedievales certifican la identificación de Lemos con el territorio de los lemavi (vid.Grande Rodríguez 2008). 4 Este es un acontecimiento paradójico, porque el sector oriental de la TDL es la zona más rica en yacimientosauríferos primarios y secundarios, al mismo tiempo que cuenta con otras emergencias metalíferas como elestaño o el hierro, explotados a gran escala bajo autoridad romana.5 Este proceso se observa desde el Hierro I hasta el Hierro II: se va perdiendo altitud, protección e intervi-sibilidad, a cambio de ganar potencialidad agropecuaria, a través de la colonización de las laderas mediasen los valles fluviales y los sectores elevados de la cuenca sedimentaria. Esta tendencia será aprovechadapor Roma, fomentando en algunos casos la vocación agropecuaria de algunas aldeas.6 Solo Lucus Augusti se diseña como una autentica ciudad, cúspide del ordenamiento político–administrativode su convento. Pese a ser poseer el máximo rango en la jerarquía de poblamiento, tal vez no articule de unamanera integral el espacio rural que tiene a su alrededor (Ferrer Sierra y González Fernández 1996: 330),aunque aparezcan asentamientos relacionados con el comercio y provisión bidireccional entre la capital con-ventual y dichos núcleos rurales de su entorno.7 Estos quedaron supeditados al imperio mediante la deditio (rendición) que puso fin a la conquista, y supusola pérdida de la propiedad de sus hábitats y sus tierras, que le fueron devueltos en régimen de explotación acambio del pago de impuestos y contraprestaciones. 8 La causa de esa visión simplista es la identificación mecánica del hallazgo de tegulae y materiales de cons-trucción romana con la existencia de una casa de campo residencial de la élite social galaicorromana, apli-cando esquemas historiográficos que asumen el modelo clásico mediterráneo.9 En el norte ourensano la Vía XVIII va a revolucionar los primeros pasos del poblamiento romano y dife-renciará este sector del resto de la región interior debido a su importancia administrativa, económica y co-mercial.10 Para analizar dichas entidades tomaremos como referencia la terminología aportada por Pérez Losada(1996) arraigada en sus amplios estudios sobre el poblamiento de la gallaecia y que entran en consonanciacon otros esquemas sobre el poblamiento rural romano del norte de hispania (Alarcâo 1996; Martins et Alii2005).11 Son sitios productivos de escaso desarrollo arquitectónico y tamaño –sobre 400 m2–, que en algún casoson juzgados como alpendres, cabaña, hornos o molinos familiares que podrían formar la pars rustica deuna villa de mayores dimensiones (Alarcâo 1996: 175).12 Algunos de estos posibles casales pueden ser S. Xulián de Tor en Pantón, Souto Chanteiro, Agro das Me-dorras y As Pedras en Sober o Souto en Bóveda. Casos que presentan una problemática mayor son Santallade Licín en O Saviñao, donde hay un castro con presencia romana, estructuras destruidas de una posibleedificación romana de escasa entidad y un cancel marmóreo de un probable templo o mausoleo paleocris-tiano; y As Eirexas, en Pantón, que se sitúa cerca de una mina romana próxima de escasa entidad.13 Esta dinámica es curiosa, ya que es un tópico que las zonas mineras sufrieron una más rápida y profunda

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 351

Page 351: Issn 0871 - 4061

romanización, sin embargo observamos como en la TDL, la micro–región minera oriental tiene un pobla-miento basado exclusivamente en la tipología de hábitat tradicional indígena, mientras que el sector occi-dental, con base agropecuaria y de menor importancia minera, posee una estructura fundamentada en hábitatsrurales abiertos de tradición romana.14 Otras muchas iglesias o capillas que se encuentran dentro o en las cercanías de un castro, no representanuna continuidad entre dichas estructuras de hábitat. Son entidades eclesiales que se erigen más tarde, en els. X–XII o en el XVII–XVIII (algunas con una clarísima advocación post-trentina), fruto de la colonizacióneclesial del rural en la Plena Edad Media, o de la efervescencia religiosa barroca.15 Este hecho es fundamental para explicar la supervivencia de la estructura de poblamiento y explotacióndel territorio del interior galaico durante la tardorromanidad (s.V–VI a.E.) y la Alta Edad Media (s. V/VI–IX/X). Los cargos eclesiásticos copian y mantienen la estructura administrativa romana, identificándosecomo continuadores del mundo clásico. Además, los cargos eclesiásticos pertenecen en la mayoría de loscasos a la élite social de tradición galaicorromana, y con intereses en la continuidad del status quo social yterritorial. Algo que expresa a la perfección la obra y el personaje de Hidacio de Chaves.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 352

Page 352: Issn 0871 - 4061

teMPos de ocuPAção cAstRejA e RoMAnA eM toRno dAPonte dA MisAReLA e do Rio RABAgãoiROn Age And ROMAn OCCuPATiOn AROund The MiSAReLABRidge And The RABAgãO RiveR

Resumo: A região do Barroso congrega uma série de características naturais que constituiudesde tempos remotos uma força de atracção para a fixação das mais variadas populações, emdiferentes conjunturas políticas, económicas e sociais. Foi escolhido o território em torno do rioRabagão e da sua bela ponte da Misarela, nomeadamente algumas freguesias dos concelhos deVieira do Minho e Montalegre (Ruivães, Campos; Ferral, Salto e Venda Nova) e sumariamenteanalisado o seu povoamento castrejo e romano, de modo a compreender de que forma se alteroua disposição do habitat.Palavras-chave: Rabagão, povoamento, diacronia.

Abstract: The Barroso’s region together a set of natural features that attracted since long timesdifferent settlements, related to various political, economical and social scenarios. it was chosenthe territory around the Rabagão river and it’s Misarela bridge to analyze the iron’s age androman settlements and understands which changes have occurred.Keywords: Rabagão, settlement, diachronic.

1. contextualização morfológica e ambiental do território em torno daPonte da Misarela e do rio Rabagão

A medieval ponte da Misarela foi construída sobre o rio Rabagão, servindoa antiga estrada real que ligava Chaves a Braga. Terá constituído uma alternativaà romana ponte do Arco e ao percurso viário da XVII e constituído um caminhomais directo às povoações que entretanto tinham emergido, como foi o caso dapovoação de Montalegre, fundada por Afonso III em carta de foral em 12731.

A ponte foi elevada próxima da foz do Rabagão, que desagua no mais longorio português, o rio Cávado, com cerca de 135km de extensão e caudal mode-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 353

Marta Miranda Marques

doUtorAndA eM ArqUeologIA PelA FACUldAde de letrAS dA UnIverSIdAde do Porto; [email protected]

Page 353: Issn 0871 - 4061

rado. Nasce entre as Serras do Larouco e do Barroso e corre de Nordeste paraSudoeste e inflecte para Noroeste no seu término, antes de desaguar no Cávado.A edificação das barragens ao longo do seu curso alterou gravemente a fisio-nomia do Rabagão, tendo criado grandes lagos artificiais que submergiramáreas florestais e inúmeros vestígios arqueológicos, certamente relacionadoscom a via XVII, como é o caso da ponte do Arco e do traçado viário até Code-çoso, inundados pela barragem da Venda Nova, ou a extensa zona entre Pisõese Montalegre, inundada pela barragem do Alto Rabagão.

O rio Rabagão actua como marco fronteiriço administrativo entre os con-celhos de Vieira do Minho e Montalegre. Na margem esquerda estão as fre-guesias minhotas de Ruivães e Campos; da margem direita estão as freguesiasjá transmontanas de Ferral e Venda Nova. O Rabagão separa igualmente duaspaisagens: a passagem de uma morfologia de planalto, pontuada com algumaselevações com altitudes médias de 700-800m, gradualmente adensada paracotas que ultrapassam facilmente os 950m há medida que se erupciona a cadeiamontanhosa barrosã. Os horizontes visuais dividem-se, assim, entre a cadeiamontanhosa do Barroso, a Nordeste, e a Serra da Cabreira, a Sul. Dada a dife-rença altimétrica, os caminhos que serviram as populações ao longo dos séculostiveram de serpentear as montanhas, paralelamente ao Rabagão, de forma aminimizar os atritos provocados pela topografia: um bom exemplo é a via ro-mana oficial vulgarmente designada por XVII.

A área em torno da Misarela é contígua à zona do Barroso, tema de estudodeste Congresso e que está enquadrada no maciço Galaico/Duriense, sendo de-limitado pelas serras do Gerês (1.434m) a Oeste, do Larouco (1.525m) a Nor-deste, da Cabreira (1.262m) a Sudeste, das Alturas (ou Barroso) (1.279m) aSul e do Leiranco (1.156 m) a Nordeste/Sudeste2. Em termos climáticos, hámedida que se caminha para o interior, o clima vai passando de feição atlânticapara continental. Poderá dizer-se que o território em torno da ponte da Misarelaé ainda de transição, apesar de já contar com inúmeras características conti-nentais, como o rigor do Inverno, o calor excessivo no Verão3 e grandes am-plitudes térmicas durante o dia. A pluviosidade é moderada, o que permite aalimentação dos inúmeros cursos de água, como o Rabagão, e o vigor da ve-getação selvagem e agrícola. A temperatura média anual desta zona oscila entreos 11 e os 12ºC4. De facto, a abundância de água, somada à óptima exposição

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 354

Page 354: Issn 0871 - 4061

solar, criam um cenário de sucesso na actividade agrícola, tendo sido sem dú-vida uma das motivações para a ocupação contínua do espaço desde há milé-nios.

A vegetação da região é bastante rica, existindo ainda uma razoável varie-dade de espécies autóctones, como o castanheiro ou o carvalho. Ao nível dosarbustos, detectam-se tojos, zimbros, carqueijas e urzes. Nalgumas zonas maishúmidas, encontram-se amieiros e teixos5. Infelizmente, algumas espécies in-trusivas como as acácias ou os eucaliptos proliferam um pouco por toda a parte,degradando grande parte dos solos florestais e agrícolas.

Em termos geológicos, a área em estudo apresenta um panorama geológicoplutónico, constituído por granito biotítico de grão médio, porfiróide, commega cristais menores que 5cm: o designado Granito da Borralha. Junto à fozdo Rabagão notam-se geoformas de morfologias diversas dada a erosão fluvial.Nalgumas zonas, como na freguesia de Campos ou Zebral, existem vestígiosde formação de xistos inferiores. Já a maior parte do território de Ruivães ouFerral são ricas no designado “granito dos Anjos”, de grão grosseiro (designadono Norte por granito “dente-de-cavalo”). A abundância de granito na região éainda hoje uma enorme vantagem para a construção civil: esta matéria-primafoi amplamente usada nas construções quotidianas, como habitações, sistemasdefensivos, estradas, abrigos, pontes, etc. Um pouco por toda a área se registamfilões de básicos, aplitos ou quartzos. Nas aldeias de Zebral ou de Campospodem-se ainda hoje registar alguns testemunhos da exploração do volfrâmioque se intensificou durante a Segunda Guerra Mundial 6. O Couto Mineiro daBorralha abrangia as freguesias de Campos, em Vieira do Minho, de Salto ede Venda Nova, em Montalegre, e dedicou-se à exploração intensiva de vol-frâmio e tungsténio7. A construção de uma via oficial romana a unir Bracaraa Astorga por Chaves poderá ser explicada pela proximidade regional de umasérie de minas de ferro (Serra do Marão) e de ouro (Jales, Tresminas, Limari-nho, Valdanta).

2. A transição do povoamento proto-histórico para o romano no noroestepeninsular

A integração do Noroeste peninsular no império romano significou umamudança radical dos esquemas conceptuais governativos, territoriais e culturais

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 355

Page 355: Issn 0871 - 4061

que vigoraram durante milénios. A partir do séc. I a.C., as comunidades detodo o Noroeste peninsular entraram inevitavelmente num sistema de interac-ção, mais ou menos pacífico, com a cultura romana, que se instala como “po-tência militar”. Sabemos que o processo de romanização não significou asubstituição automática para outra realidade cultural: a cultura foi aprendida,pois é dinâmica, um todo estruturado, assumida e instrumental8.

A conquista terrestre do espaço não foi simples e mais complexo terá sido a“latinização” das populações locais, procedimento cauteloso, gradual e estratégicobaseado em pactos e alianças. Sem dúvida que a conivência dos chefes locais, se-duzidos com cargos de poder e estatutos sociais, foi decisiva para a inclusão dospopuli nas grandes áreas artificiais dos conventus, por sua vez unidades mais pe-quenas de grandes províncias imperiais. A economia ultrapassa a subsistência re-gional para um sistema de amplo espectro, motivada pelas necessidades de umimpério imenso e extenso. As contribuições passam a ser pagas não à figura dochefe local, para o bem imediato da população, mas para um Estado ubíquo, re-presentado por figuras militares e encarnado em urbes, que alteram o conceito dehabitat e territorialidade até então existentes. As trocas de informação interculturalreflectiram-se na alteração da fisionomia dos povoados castrejos, na sua remode-lação, e transformação da vida quotidiana das populações. São construídas viasde comunicação oficiais, estabelecendo eixos de mobilidade rápida e eficaz entreos centros urbanos de poder. Nascem novas formas de habitat que extravasam oconceito de povoado em altitude amuralhado, direccionados para actividades eco-nómicas específicas: investigadores como Ferreira de Almeida como Brochadode Almeida concordam que a emergência dos “castros agrícolas” pode ser reflexoda política de Augusto de exploração do ager 9.

Alguns povoados ganham proporções “citadinas”, numa reorganização es-pacial e arquitectónica, com a adopção de novos materiais de construção, linhasde projecção de edificação e arruamentos. O habitat indígena adapta-se às in-fluências romanas, numa passagem gradual em que “os principais agentesdessa transformação parecem ser, antes de mais, os próprios indígenas querevelam (…) uma assimilação original do modo de vida romano”10. As comu-nidades castrejas estavam já integradas num sistema hierárquico, que dividialugares centrais e castros secundários, e estabelecia subordinações aos povoa-dos mais influentes e poderosos. Enquanto este sistema organizativo perdurasse

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 356

Page 356: Issn 0871 - 4061

e não colidisse com os interesses romanos, ele foi mantido e até aproveitadopela administração de Roma para submeter os chefes locais, numa espécie demanutenção da “tradicionalidade governativa castreja”.11 Ao mesmo tempo,há povoados que perdem populações, em detrimento de novas estratégias depovoamento patrocinadas pela administração romana. O abandono dos castrosnão parece ter partido de uma directa obrigação imposta pela administraçãoromana mas sim como uma consequência de uma nova política de repartiçãoda terra, a partir da atribuição do ius latii, a título individual e não apenas a tí-tulo colectivo, como acontecia com as estruturas tradicionais castrejas. A partirda dinastia dos Flávios há o desmoronamento dessas estruturas tradicionais,provocando ou o abandono dos povoados ou o empobrecimento demográficodos mesmos.12 Em simultâneo, nascem habitats de origem romana, como asvillae, dedicadas à exploração extensiva das áreas agrícolas e de diferentes re-cursos, terá dado origem às villae, unidades autónomas de exploração de dife-rentes recursos, com ampla função abastecedora dos núcleos urbanos, que seimplantam nas imediações destes centros e seguem o traçado da rede viária.

A integração do Noroeste peninsular no Império latino obrigou a um con-junto global de mutações, não apenas da estrutura política, social e mental daspopulações indígenas, mas também dos pressupostos físicos que incorporavamo território. O domínio romano do espaço ocupado só poderia ser eficazmenteconsolidado através de condições viárias que permitissem a circulação rápidados corpos militares, da moeda e dos produtos. A construção de vias terrestresmostrava-se impreterível para a mobilidade de pessoas e bens, para a modifi-cação de ritmos, para a aproximação dos espaços e para a transformação daprópria noção do habitat.

A integração do território na organização imperial, terá provocado uma re-qualificação das estruturas funcionais locais para servir uma economia de es-tado, em detrimento de uma economia de mercado. O investimento na varianteimperial designada por Xvii poderá ter decorrido da importância da actividademineira, ao longo da primeira metade do séc. I13: com efeito, relativamentepróximas da nossa área de estudo encontram-se as minas de ferro da Serra doMarão ou as ricas minas de ouro em Jales (Vila Pouca de Aguiar). Os metaisrapidamente circulariam em estradas secundárias até à segura estrada imperiale daí seriam rapidamente escoadas para as capitais dos conventus para serem

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 357

Page 357: Issn 0871 - 4061

transformados ou distribuídos. A estrada de âmbito imperial não tinha por ob-jectivo cobrir as necessidades imediatas das populações, mas sim servir o Es-tado, o exército e todos os serviços essenciais para a manutenção da pax e dariqueza do império. Daí a obvia necessidade de ligar os mais importantes cen-tros de decisão e poder por viações rápidas e seguras. Obviamente existiameixos viários secundários, que faziam a ponte entre os povoados e que serviamdirectamente a economia local; no entanto, esses não integravam o cursus pu-blicus. Os serviços estatais necessitavam de estradas de qualidade e velocidade,dotadas de infra-estruturas de apoio como mansiones e mutatios14: os promo-tores concentravam assim investimentos públicos na construção e reparaçãodestas vias15. É claro o fenómeno de “obsessão” pela acessibilidade que a ad-ministração romana incutiu no nosso território, à semelhança do que se passouno resto do Império: obrigou à adaptação do modus vivendi castrejo, nomea-damente na alteração das concepções físicas dos habitats, por um conjunto deinovações arquitectónicas e funcionais, entre elas a abertura, a uma escala par-ticular do interior dos povoados, de eixos carrários, preconizados em arrua-mentos ortogonais (Sanfins, Briteiros, S. Lourenço, Sta. Luzia).

3. ocupações proto-históricas e romanas nos territórios em torno da Mi-sarela e do rio Rabagão

A identificação de ocupações proto-históricas e romanas nos territórios emtorno do Rabagão foi já realizada por inúmeros investigadores, que as indicaramnos seus estudos. A estes locais somamos mais dois, como meras possibilidadesde ocupação humana, pela sua insinuação toponímica. De realçar o mais recenteestudo organizado pela Universidade do Minho no que toca à inventariação dopatrimónio arqueoló-gico e arquitectónicode Vieira do Minho.

3.1 castro doouteiro do vale16

O povoado estásituado num montedesignado Outeiro do

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 358

Page 358: Issn 0871 - 4061

Vale, situado na freguesia de Ruivães, no lugar de Vale. Nesta pequena elevação,com uma altitude máxima de 615m, foi construída uma capela dedicada à NossaSenhora da Saúde, pelo que se acede com grande facilidade ao seu topo graças aum bom caminho.

A exposição solar é excelente, as terras em redor são de boa qualidadeagrícola e os solos contam com uma boa irrigação dada a proximidade dosrios Saltadouro e Cávado. O controlo visual do território envolvente cobre amargem direita do Cávado, nomeadamente sobre a topografia montanhosa daSerra do Gerês, para Norte, e para as actuais freguesias de Cabril e Ferral. ASudeste, têm-se ainda uma panorâmica sobre a área de São Cristovão. Do ladoNorte, virado para o Cávado, e do lado Sul, o terreno é relativamente escar-pado, constituindo uma boa defesa natural. Em termos de enquadramento ocu-pacional, este povoado poderá assemelhar-se aos castros do Grupo A, modeloproposto pela investigadora Manuela Martins, implantados em topografiasproeminentes e com territórios de exploração a cerca de uma hora de distância,em área de plataforma de aluvião17. Tal contextualização coaduna-se com asinformações de que neste local foram identificadas cerâmicas castrejas de fa-brico manual. Os vestígios superficiais de ocupação humana são muito rarose praticamente invisíveis: a espessa camada vegetal que cobre o monte e ocrescimento selvagem da flora rasteira impedem a recolha de fragmentos ce-râmicos e a identificação de alinhamentos de construções.

Parte do lado Norte do monte do Outeiro do Vale está actualmente a ser interven-cionada para a colocação de novos postes de alta tensão. Todavia, a observação dasterras removidas não detectou qualquer vestígio cerâmico ou pétreo que possa indiciara uma ocupação humana, apesar dos relatos de aí se encontrarem fragmentos cerâmi-cos manuais.

3.2 castro de codeçoso18

O povoado castrejo de Code-çoso é há muito conhecido19, ape-sar de nunca aí se ter efectuadouma intervenção arqueológica.Situado numa pequena elevaçãotopográfica de 726m de altitude,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 359

Page 359: Issn 0871 - 4061

o castro de Codeçoso foi construído numa posição altamente estratégica, apesarda morfologia actual da sua envolvente estar muito alterada com a inundaçãoprovocada pela construção da barragem da Venda Nova. Se houver um esforçode abstracção da paisagem actual, pode-se imaginar o excelente controlo visualque este povoado teria sobre o rio Rabgão. Actualmente, as águas da Venda Novainundaram os terrenos envolventes até uma cota de cerca de 690m de altitude,pelo que o castro de Codeçoso está hoje situado num esporão artificial. Para alémda alteração morfológica, a subida do nível das águas isolou o povoado dos ter-ritórios a Norte e a Oeste, impedindo um estudo global da sua envolvente.

Apesar dos condicionalismos, o castro de Codeçoso tem todas as condiçõespara ser alvo de intervenções arqueológicas, pois é dotado de excelentes aces-sos e a vegetação que o cobre é rasteira. De facto, graças à vegetação menosdensa, foi possível identificar parte do sistema defensivo e provavelmente, ves-tígios de habitações. Uma observação mais atenta da vertente Sul do pequenomonte permitiu identificar três linhas de muralha consecutivas, antecedidaspor três fossos. As muralhas acompanham o pendor do terreno e são separadaspor fossos escavados que, de pouco profundos, são o suficiente para dificultarbastante o acesso à acrópole. Foram construídas com pedras de grauvaquemuito toscas, aparelhadas em seco, sem qualquer tipo de argamassa e conso-nante o seu pendor, pelo que o miolo parece ser de terra e pedra miúda: no en-tanto, apenas uma sondagem arqueológica permitiria traçar com rigor o métodoconstrutivo dos alinhamentos defensivos. Curiosamente, não foram detectadosos mesmos alinhamentos nas vertentes Norte, Oeste e Este: talvez a construçãodo caminho em terra batida que circunda o povoado tenha destruído algunsvestígios. A real percepção dos elementos defensivos do castro só poderá con-cretizar-se num momento em que o terreno estivesse livre de vegetação arbus-tiva.

Na parte mais elevada do monte, onde infelizmente a vegetação é maisdensa, detectou-se uma concentração anómala de pedras de contorno levementecircular, que provocou a suspeição da eventualidade de ali se ter localizado aárea habitacional. Não foram detectados vestígios cerâmicos superficiais, oque dificulta a contextualização temporal do povoado. Não sabemos por issose quando a administração romana promove a construção da via Bracara-As-turica (XVII), que passaria mesmo ao lado de Codeçoso, a povoação castreja

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 360

Page 360: Issn 0871 - 4061

estaria já desactivada e a sua população adaptada a novas formas de habitat,ou se pelo contrário, teria persistido no tempo, integrado no sistema imperial.

3.3 castro de cabanasEste povoado localiza-

se num cabeço, situado aNorte do planalto de Linha-relhos, na freguesia deSalto. Está coberto por umaespessa mancha vegetal quedificulta a leitura do ter-reno. Deverá ser um dos po-voados da Idade do Ferroexistentes na freguesia, mencionados já no início do séc. XX por FernandoBarreiros.20 O acesso ao castro é relativamente fácil, pelo que os últimos 300mtêm de ser feitos a pé. A morfologia da vertente Oeste parece indiciar a exis-tência de uma linha de muralha, mas tal só pode ser confirmado com um corteda densa vegetação.

3.4 são cristóvãoO lugar de São Cristó-

vão, na freguesia de Rui-vães, terá sido ocupado apartir dos finais do BaixoImpério, prolongando-sepela Alta Idade Média.Não diz respeito a uma to-pografia única e elevada,mas espalha-se por terrenos com uma cota média de altitude de cerca de 650m.Pensa-se que daqui terá nascido a povoação de Ruivães, do medieval núcleo deSão Martinho de Vilar das Vacas, referido nas Inquirições de 1258, que entretantoevolui para S. Martinho de Ruivães21. Segundo os testemunhos da população deBotica, aqui terá existido uma igreja, da qual proveio a pia baptismal fragmentadaque se encontra abandonada, junto a um conjunto de sepulturas antropomórficas,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 361

Page 361: Issn 0871 - 4061

uma das quais tem gravado um jogo de tabuleiro conhecido por “trilha” ou “jogodo moinho”. Um pouco por toda a parte se descobrem fragmentos de cerâmicasde cobertura, como tegula e imbrex, ou ainda de cerâmicas de uso doméstico,como dolia. No entanto, sabemos que a utilização de tegula se prolongou no tempopara além da ocupação romana, pelo que a sua mera existência não pode ser umíndice cronológico imutável. Nada mais verosímil que uma ocupação romananeste local: o local é bom em termos de qualidade agrícola e é rasgado por umalinha de água. Além disso, a via XVII passava mesmo ao lado, pelo que faz todoo sentido que aqui tivesse nascido uma povoação ou um conjunto de infra-estru-turas de apoio que servissem a estrada principal. Muitas destas ocupações são viá-rias, no sentido em que são geradas por e para os caminhos, situadas sobre otraçado das vias, sobretudo em locais de paragem obrigatória22. Alguns investi-gadores colocam a hipótese da ocupação romana do povoado de São Cristóvãocorresponder à mansio Salacia23.

3.5 santa Marinha (?)Uma das povoações que constituem Ferral designa-se de Santa Marinha,

nome do orago protectorda freguesia e cuja igrejaé-lhe dedicado. Curiosa-mente, nalgumas locali-dades do litoral norte,nomeadamente nos con-celhos de Esposende eBarcelos, existem tem-plos dedicados a SantaMarinha construídos sobre ou muito próximos de ocupações romanas. O lugarde Santa Marinha é muito fértil, pela forte irrigação, e poderá ter sido ocupadopor uma unidade de produção romana. Em torno do templo dedicado a SantaMarinha, foram realizadas obras de construção civil muito profundas, pelo quenão se encontram vestígios superficiais. Contudo, o lugar de Santa Marinhacongrega em si várias características que pressupõem uma ocupação agráriaanterior: óptima exposição solar, protecção dos ventos de norte das montanhasdo Barroso, proximidade de solos agrícolas e de uma linha de água. A melhor

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 362

Page 362: Issn 0871 - 4061

altura para aí se realizar uma prospecção arqueológica frutífera será quando searrotearem os terrenos, de forma a detectar-se vestígio de ocupação anterior.

3.6 Facho (?)Na freguesia de Campos, existe um pequeno morro, cujo topónimo é

Facho. Segundo Carlos Alberto Ferreira de Almeida, há um conjunto de topó-nimos que indiciam realidades de carácter defensivo. Facho, almiara, atalaia ecustóias são nomes usados para “designar postos de vigia e de lançamento desinais por meio do fogo, fumo ou sons” localizados “em lugares dominantes,perto de vias ou foz de rios”24. Efectivamente, o pequeno morro de 890m dealtitude é a topografia mais elevada numa área de 5km em seu redor, tendo umbom controlo visual para os quatro pontos cardeais, sobretudo sobre a área deplanalto de Ruivães e Campos. Curiosamente, do Facho consegue-se ver as to-pografias onde foram construídos os povoados castrejos da Castra, em Ferrale do lugar de Cabanas, já em Salto, ou as ocupações tardo-romanas e altime-dievais de São Cristóvão. Além disso, domina visualmente o trajecto da viaXVII, pelo que a sua origem enquanto posto de vigia poderá remontar à épocaromana.

Todavia, apesar da riqueza toponímica e das aptidões visuais que tem,não foram descobertos fragmentos de cerâmica ou entalhes na penedia que per-mitam dizer com certezas que neste local tenha existido um posto de vigia ter-ritorial.

3.7 via romana Bracara-Asturica “xvii” No percurso Bracara-Asturica,

a via XVII rasga parte dos actuaisconcelhos de Vieira do Minho eMontalegre no sentido Oeste-Este edepois para Norte, na direcção deChaves. Será uma das vias mais an-tigas do conventus bracaraugusta-nus25, dada a identificação de marcosmiliários, em S.Martinho do Zebral,Ruivães/Vieira do Minho, que iden-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 363

Page 363: Issn 0871 - 4061

tificam Augusto como promotor: o facto não é de estranhar, tendo sido Bracarae Asturica duas urbes criadas por iniciativa do imperador. Este eixo terá sidoterminado já em dinastia Júlio-claudiana, dadas as inscrições de alguns marcosque nos remetem para a governação de Tibério (um em Padrões, VendaNova/Montalegre) e de Cláudio (em Sagunhedo, Montalegre)26.

A via saía de Bracara em direcção a Este, passando a Norte da Serra da Ca-breira, aproveitando a morfologia plana do terreno, penetrando pelas actuais fre-guesias de Ruivães e Campos. Em Ruivães, a via passava pelo local de SãoCristóvão, uma pequena elevação que foi intensamente ocupada nas épocas ro-mana e medieval, e dirigia-se para Sudeste, em direcção a actual freguesia deCampos. Continuando a aproveitar a planície, já que a Norte o terreno vai des-cendo há medida que se aproxima das margens do Rabagão, a via talvez seguisseou a Norte de um pequeno cocuruto curiosamente designado por “Facho” ou aSul deste, já que são os locais cuja cota altimétrica proporciona mais conforto demobilidade. Certa é a orientação ligeiramente Nordeste que ela teria de seguirpara o lugar de Padrões, em Venda Nova, cujo topónimo é evidente da existênciade uma estrada romana nas suas imediações e os marcos aí encontrados corrobo-ram a riqueza desse topónimo. Terá passado pela zona do Arco, em Cambedo,local onde foi encontrado um marco miliário, próximo da suposta Ponte do Arco,que teria origem romana mas que ficou submersa com a construção da barragem.Passaria junto ao Castro de Codeçoso a montante do rio Rabagão e seguiria paraNordeste ao longo do deste, passando certamente na actual freguesia de Vila daPonte. Em Vila da Ponte, os investigadores suspeitam da elevada possibilidadede nas suas imediações se situar a mansio Praesidium, referenciada no Itineráriode Antonino27: com efeito, esta mansio vem localizada a “m.p. XXvi” (sensivel-mente 38 km de distância de Bracara Augusta), coincidindo com o marco miliárioencontrado perto do Castro de Codeçoso, referente a Cláudio, e que marca amesma distância. Segundo Sande Lemos, há referências de António Dias e deLuís Fontes que indicam a existência de povoados romanos nas proximidades deVila da Ponte, nomeadamente em Corga Seca28.

4. Possíveis estratégias de povoamento castrejo e romanoAo longo dos tempos, as estratégias de domesticação e humanização do

território foram díspares. A diversidade locativa dos habitats espelha as con-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 364

Page 364: Issn 0871 - 4061

junturas políticas, económicas e sociais. Tal é bem patente na alteração dos pa-drões de assentamento que se verifica aquando da romanização do Noroestepeninsular, como tentaremos aqui expor.

A implantação do habitat obedece a uma série de critérios, como a proximidadeaos recursos indispensáveis à sua subsistência, à sua protecção e ao bom controloterritorial. Os habitats castrejos em estudo parecem ter escolhido topografias comaltitudes entre os 600 e 850m, ao longo das bacias do Rabagão ou do Cávado, emmeios favoráveis à prática das actividades de subsistência. A premissa defensivaterá sido certamente importante, todavia, há que admitir que “os motivos que pre-sidiam à escolha dos sítios onde deveriam ser implantados os habitats extravasamas meras concepções defensivas”29. A altitude não era premissa obrigatória para aescolha do local, pois nem todos os castros se situavam em topografias elevadas.Se a altura é um critério essencial para a defesa do povoado e para o controlo visualdo território, a proximidade dos cursos de água era-o ainda mais para a sobrevi-vência do habitat. Poderá ser falaciosa a criação de tipologias hierarquizantes combase apenas na altitude. A melhor estratégia de implantação e exploração do terri-tório é aquela que é compensatória em termos da minimização de esforços.

Cada povoado implanta-se no território de acordo com a morfologia local,com a disponibilidade dos recursos e não há uma norma locativa. No caso dopovoado em estudo, os castros identificados implantaram-se nos locais quereuniam as melhores condições de irrigação, estando dotados de um ou doiscursos fluviais e consequentemente dos melhores solos agrícolas, expostos àluz solar mas protegidos dos ventos de norte. De facto, os castros de Outeirodo Vale, Cabanas e Codeçoso foram construídos em zonas extremamente irri-gadas, como ainda hoje se pode constatar, pela pujança da vegetação, e cujaszonas de exploração agrícola estão a uma distância de cerca de 30 minutos apé. O castro de Outeiro do Vale é alimentado tanto pela ribeira de Saltadourocomo pelo rio Cávado, e tem em seu imediato redor uma mancha de terra ará-vel. O castro de Cabanas está sobranceiro à ribeira de Amiar e os terrenos agrí-colas do planalto de Linharelhos estão a menos de 1km de distância, ou seja,a menos de 30 minutos a pé. O castro de Codeçoso é vizinho do rio Rabagãoe sobreviveria certamente da exploração dos terraços fluviais a cerca de 300m.A proximidade aos cursos de água, que alimentam os terrenos e fornecempeixe, é uma característica que os une.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 365

Page 365: Issn 0871 - 4061

O castro de Outeiro do Vale é o habitat castrejo cuja altitude é mais baixa(615m), face aos 867m de altitude de Cabanas e 726m de Codeçoso. Pela sua al-titude, está assim mais próximo das áreas de cultivo do que os restantes, sendomenor o tempo dispendido nas viagens para a actividade agrária. Numa primeiraabordagem, este povoado enquadrar-se-ia mais rapidamente no conceito de “cas-tro agrícola”, no sentido em que teria sido construído ao longo do séc. I a.C. ounos primeiros decénios do séc. I, provavelmente por moradores dos castros tradi-cionais, que se deslocam e fixam na orla dos territórios de exploração desses mes-mos povoados30. Todavia, os vestígios cerâmicos de fabrico manual superficiaisdetectados durante uma prospecção recente realizada pela Universidade doMinho31 refutam a possibilidade do povoado ter sido criado entre o séc. I a.C. e oséc. I., já em pleno contexto cultural romano. Além disso, não foi ainda possíveldeterminar com exactidão qual o sistema defensivo deste povoado, pelo que nãose pode estabelecer ainda qualquer paralelismo com as composições de muralhaem terra, talude, duplo fosso e parapeito32. O povoado cujo sistema defensivo émais perceptível a olho nu é o do castro de Codeçoso: três muralhas, duas empedra de grauvaque e uma terceira possivelmente de terra, intercaladas por trêsfossos artificiais, orientadas a Sul. Numa primeira abordagem, esta parece ser adefesa mais complexa detectada entre os três povoados. Apesar do desconheci-mento dos sistemas de defesa dos povoados castrejos em estudo, podemos afirmarque os seus habitantes não descuraram o aspecto defensivo natural, pelo que sefixaram nos topos de montes, onde poderiam ter um óptimo controlo visual doterritório circundante. Como é demais conhecido, visão e defesa eram dois pres-supostos que condicionavam a localização do habitat castrejo: ver e ser visto den-tro de uma concepção territorial de conjunto. O povoado mais alto, neste caso ode Cabanas, teria uma extraordinária vista sobre o rio Rabagão, a Norte/Nordeste,sobre o povoado de Outeiro do Vale, a uma distância de cerca de 6,5km em linharecta para Noroeste e sobre o castro de Codeçoso, a 4km de distância para Nor-deste. O castro de Cabanas, sendo o mais alto, seria o povoado mais “controlador”deste território, já que visualizava dois povoados em seu redor.

Em termos da exploração económica local anterior à ocupação romana,certamente que as actividades seriam orientadas para a auto-subsistência, nãosignificando contudo que não pudessem haver produções excedentárias para oexterior dos territórios de influência dos povoados. Os territórios agrários se-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 366

Page 366: Issn 0871 - 4061

riam aproximados dos habitats, possivelmente parcelas pequenas, exploradascom o objectivo de abastecer localmente o seu povoado e nutrir alguma carên-cia dos povoados vizinhos. Ainda hoje em dia a área envolvente ao castro deOuteiro do Vale é composto por minifúndios explorados familiarmente. Possi-velmente, a exploração mineira foi a actividade mais rentável e a que melhorbeneficiou as populações locais: os inúmeros achados metálicos descobertosnas redondezas, como machados de talão (Castro de Medeiros, Chã, Montale-gre/ Castro de Nogueira, Bobadela, Montalegre33) e pontas de lança (Outeirodo Rego, Chã, Montalegre/ Vale Travasso, Solveira, Montalegre34) sugeremuma exploração activa do bronze; e a descoberta de adereços em ouro, comotorques cuidadosamente manipulados e ricamente decorados (Paradela do Rioe Tourém, Montalegre) indiciam que desde épocas proto-históricas que o pre-cioso metal era estimado e trabalhado com distinção, mesmo que a uma escalamenor se comparada com o furor mineiro romano.

A maior evidência arqueológica de ocupação humana baseia-se na cerâ-mica e os povoados fortificados teriam à sua disposição zonas de barro para asua produção: abaixo de Ruivães encontra-se o topónimo Barroca, que indiciaexistência de barreiros.

A existência de cerâmicas de fabrico ou acabamento manual no castro deOuteiro do Vale e a moderada altitude a que se encontram os povoados anali-sados levam a crer que estamos perante habitats cuja formação poderá ter ini-ciado no período castrejo médio35, provavelmente ainda em meados do séc. IIa.C. No entanto, será plausível que estes habitats tenham sobrevivido e perdu-rado a partir do séc. I a.C., com as primeiras aproximações entre os mundosindígena e romano, gradualmente absorvidos no quadro político latino. Urge aescavação destas povoações, para determinar cronologias sólidas.

Curiosamente, a via XVII é bastante próxima dos povoados de Outeiro doVale, Cabanas e Codeçoso: nenhum destes castros parece ter nascido como con-sequência directa da política administrativa romana, mas sim a via oficial ter de-calcado um percurso pré-existente. Assim, natural é que estes dominem visual efisicamente o próprio percurso oficial, enquanto pré-existências mantidas durantea ocupação romana enquanto uma estratégia de fixação e controlo do povoa-mento indígena. De tal forma que não seria de estranhar que estes povoados ti-vessem sobrevivido à margem da XVII, numa longa diacronia ocupacional,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 367

Page 367: Issn 0871 - 4061

precisamente se o programa económico romano se baseasse na intensificação ecrescimento das actividades anteriormente desenvolvidas pelas populações, comoa mineração ou a agricultura, mas numa macroescala nunca antes efectuadas.

A estratégia de assentamento romana era bem diferente da castreja, privile-giando a especialização económica das unidades de povoamento, dentro da lógicade mercado já referida e a dispersão pelo ager. Terá, todavia, inteligentementeaproveitado as estruturas indígenas existentes e estimulado a inovação das mesmas:os povoados teriam continuado a existir, até perderem naturalmente as suas popu-lações. Possivelmente algumas das ocupações castrejas terão ainda assistido à cons-trução da via oficial e às modalidades das estruturas de apoio que surgem ao longodo cursus publicus: nalguns locais do Noroeste peninsular ocorreram fenómenos,já no Baixo Império, de reocupação de povoados fortificados, num mesmo mo-mento de expansão de habitats rurais romanos, como as villae36. Muito possivel-mente os povoados de Outeiro do Vale e Codeçoso perduraram no tempo oupoderão ter sido reocupados dentro de uma nova lógica administrativa e económicado espaço. Parece plausível que a construção da XVII vem substituir os rios en-quanto eixos umbilicais que condicionavam a implantação territorial das ocupa-ções. Talvez durante o Baixo Império, estes povoados fortificados tivessem jáperdido grande parte da sua população para outras modalidades de povoamentodisperso, como aconteceu em São Cristóvão e, possivelmente, em Santa Marinha.Contudo, existe igualmente uma elevada probabilidade de se terem mantido acti-vos, e inclusive desenvolvido, graças à política de intensificação agrária e mineiraque o Estado romano impôs. Se houve grupos que optaram pela descida do po-voado para as áreas agrícolas de planalto (como poderá ter acontecido com a po-pulação do castro de Cabanas, atraídos para a área de planalto de Linharelhos oua população de Santa Marinha), outros poderão ter optado pela permanência nohabitat tradicional, mesmo que empregados nas explorações mineiras romanas dasproximidades, como as minas de ouro e prata de Jales (Vila Pouca de Aguiar), Tres-minas (Vila Pouca de Aguiar), Valdanta37 (Chaves) ou Limarinho (Boticas). O pró-prio topónimo “Ferral” poderá sugerir alguma reminiscência mineira de ferro. Aadministração romana terá sido conivente com a manutenção das estruturas tradi-cionais de povoamento dos populi, em detrimento do desenvolvimento pacíficoda economia: existia um circuito viário oficial cuja segurança e paz era fundamentalmanter, de modo a que as matérias-primas pudessem circular dentro e fora do con-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 368

Page 368: Issn 0871 - 4061

ventus, mais especificamente o tão precioso ouro, cuja exploração era exclusiva-mente de tutela estatal. A via XVII não teria sido construída ao acaso e a ligaçãoentre capitais conventuais teria como maior motivação a circulação aurífera. AXVII terá sido a primeira viae publicae a estabelecer ligação entre os conventusasturica e bracaraugustanus, mas com certeza que o seu traçado teria aproveitadouma via proto-histórica anterior, que alguns investigadores sugerem poder ter sidoa “Rota do Ouro”38. Assim, não seria de estranhar a existência de casais agrícolasromanos ou aldeias agro-pecuárias de reminiscência indígena39 nos territórios emredor da via ou outros elementos indirectos de ocupação humana, como necrópoles.Talvez os vestígios romanos do lugar de São Cristóvão sejam referentes a umamansio ou mutatio, criadas aquando da abertura da via. Muitos são os topónimosdispersos pela área analisada e que poderão ainda ser fruto dessas alterações nomodelo locativo: venda e botica sugerem a existência de estabelecimentos comer-ciais, quintã indicia a possível localização de uma casa agrícola, fornos velhos po-derá ter uma fundação romana. Na estratégia de assentamento romana, o trajectoentre a ligação às capitais administrativas pautava-se de núcleos populacionais devariadas importâncias e funções. Há que atentar na existência de vias secundáriasnão calcetadas ou de vias privadas que seriam fundamentais na ligação entre ospovoados de origem indígena, as novas modalidades agrárias de ocupação e asocupações de funções especializadas na prestação de serviços administrativos, fis-cais e comerciais, que auxiliariam os eixos urbanos mais próximos, nomeadamentea capital conventual Bracara e a capital “regional” de Aquae Flaviae. Face às ne-cessidades de comunicação pelo crescente movimento na rede de povoamento, élógico que tenham sido lançadas vias que intercomunicavam com a via XVII40:possivelmente a própria estrada que passa na ponte da Misarela em direcção aMontalegre será originalmente um acesso secundário romano.

5. conclusõesÁ semelhança do que se passou em todo o Noroeste peninsular, também

neste território fronteiriço como a região do Barroso ocorreram transformaçõesfortíssimas no modus vivendi da população local com a romanização, nomea-damente nas concepções do habitat, do território, da economia e da mobilidade.A construção da via XVII terá sido um importante motor de desenvolvimentode uma região que, apesar de já anteriormente rica, conheceu uma nova dinâ-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 369

Page 369: Issn 0871 - 4061

mica humana, financeira e administrativa. Demonstra ainda o poder de atracçãoe de prosperidade que uma via oficial exercia, ao provocar o nascimento juntodela de pequenos pólos habitacionais ou serviçais e ainda a deslocação a umaescala nunca antes vista de pessoas e bens. Contudo, este trabalho teórico sópoderá ser mais exaustivo com dados práticos de intervenções arqueológicasnos locais, absolutamente fundamentais para a sua compreensão e correcta con-textualização temporal, pois apenas assim se podem afinar cronologias e asso-ciar os habitats, permitindo assim traçar com maior rigor a transição dasmodalidades de povoamento nesta área, completando o estudo já iniciado porunidades académicas de investigação.

BibliografiaALARCÃO, Jorge, SANTOS, Álvaro Miranda, “Aculturação – aspectos gerais da interpenetração

de culturas”, Editorial L.I.A.M., Lisboa, 1961ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras daUniversidade do Porto, Porto, 1968ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “O castrejo sob domínio romano: a sua transformação”; Estudosde Cultura Castrexa e de Historia Antiga de Galicia, Santiago de Compostela, 1983ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “A casa castreja ”, Memórias de História Antigua, vol.VI,Oviedo,1984ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto, vol.VII, Porto, 1996AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações na hu-manização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Letrasda Universidade do Porto, Porto, 1993BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006BARREIROS, Fernando Braga, “ensaio de inventario dos castros de Montalegre” , O Archeólogo Portu-guês, Lisboa, vol.XX, 1915COSTA, João Gonçalves da , “Montalegre e Terras de Barroso”, MontalegreCOSTA, Avelino de Jesus da, “O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga”, BiBLOS, XXXIV,Universidade de Coimbra, Coimbra, 1958DAVEAU, Suzanne, “Mapas climáticos de Portugal: nevoeiros e nebulosidade, contrastes térmicos”, Me-mórias do Centro de Estudos Geográficos, Lisboa, nº7, 1985.FONTES, Luís Fernando de Oliveira, “inventário de Sítios e Achados Arqueológicos da vertente Alta daSerra da Cabreira”, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga 1998.LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Guima-rães, vol. 110, Guimarães, 2000MARTINS, Manuela, “O povoamento proto – histórico e a romanização da bacia média do Cávado”, Dis-sertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990MORENO GALLO, Isaac, “vias romanas de Astorga”, “Nuevos Elementos de Ingeniería Romana- III Con-gresso de las obras públicas romanas”, Junta de Castilla e Léon, Astorga, 2006NORONHA, Fernando, “Cabreira- Serra granítica”, Geologia no Verão, Câmara Municipal de Vieira doMinho, Setembro de 2003PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 370

Page 370: Issn 0871 - 4061

110, Guimarães, 2000SILVA, Armando Coelho Ferreira da; “A Cultura Castreja no noroeste de Portugal”, Dissertação de Dou-toramento em Pré-História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,Porto, 1986SILVA, Armando Coelho Ferreira da, “A Cultura Castreja no norte de Portugal”, Revista de Guimarães,Volume especial, I, Guimarães, 1999SILVA, Paula Carla Machado, “inventariação do Património geológico do concelho de vieira do Minho esua utilização com fins didácticos”, Mestrado em Património Geológico e Geoconservação, Universidadedo Minho - Escola das Ciências, 2007

WebsitesLevantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universidadedo Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do MinhoInstituto Português de Meteorologia

1 BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 182 COSTA, João Gonçalves da , “Montalegre e Terras de Barroso”, Montalegre, pág.523 BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 194 DAVEAU, Suzanne, “Mapas climáticos de Portugal: nevoeiros e nebulosidade, contrastes térmicos”, Me-mórias do Centro de Estudos Geográficos, Lisboa, nº7, 1985.Informação do website do Instituto de Meteorologia (www.meteo.pt)5 BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 546 SILVA, Paula Carla Machado, “inventariação do Património geológico do concelho de vieira do Minhoe sua utilização com fins didácticos”, Mestrado em Património Geológico e Geoconservação, Universidadedo Minho - Escola das Ciências, 2007, pág.39-497 NORONHA, Fernando, “Cabreira- Serra granítica”, Geologia no Verão, Câmara Municipal de Vieira doMinho, Setembro de 2003, pág. 228 ALARCÃO, Jorge, SANTOS, Álvaro Miranda, “Aculturação – aspectos gerais da interpenetração de cul-turas”, Editorial L.I.A.M., Lisboa, 1961, pág.31-32 9 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto, vol.VII, Porto, 1996, pág. 16510 MARTINS, Manuela, “O povoamento proto – histórico e a romanização da bacia média do Cávado”,Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 21611 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto, vol. VII, Porto, 1996, pág.230-2312 idem, ibidem, pág.279-30713 LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.2714 PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.110, Guimarães, 2000, pág.13015 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras daUniversidade do Porto, Porto, 1968, pág.1616 Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universi-dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho17 MARTINS, Manuela, “O povoamento proto- histórico e a romanização da bacia média do Cávado”, Dis-sertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 212

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 371

Page 371: Issn 0871 - 4061

18 idem, ibidem19 BARREIROS, Fernando Braga, “ensaio de inventario dos castros de Montalegre” , O Archeólogo Por-tuguês, Lisboa, vol.XX, 1915, pág.211-21320 idem, ibidem21 Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de Vieira do Minho, realizado pela Universi-dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do MinhoCOSTA, Avelino de Jesus da, “O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga”, BiBLOS, XXXIV,Universidade de Coimbra, Coimbra, 1958, pág.10922 PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.110,Guimarães, 2000, pág.12723 FONTES, Luís Fernando de Oliveira, “inventário de Sítios e Achados Arqueológicos da vertente Alta daSerra da Cabreira”, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga 1998.

24 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras daUniversidade do Porto, Porto, 196825 Idem, ibidem, pág.29LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Guima-rães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.2326 Idem, ibidem, pág.29-3027 LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.31ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras daUniversidade do Porto, Porto, 1968MORENO GALLO, Isaac, “vias romanas de Astorga”, “Nuevos Elementos de Ingeniería Romana- III Con-gresso de las obras públicas romanas”, Junta de Castilla e Léon, Astorga, 2006, pág. 26-2828 LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.3329 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”,Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto, Porto, 1996, vol. VII, pág. 7030 ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, “Alterações no povoamento indígena no início da romanização.Ponto da situação no conventus bracaraugustanus”; Separata del Tomo XXXIII del Boletín Avriense; Ou-rense; 2003, pág.8431 Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universi-dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho32 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto; Porto; 1996; vol. VII, pág.16933 SILVA, Armando Coelho Ferreira da; “A Cultura Castreja no noroeste de Portugal”, Dissertação de Dou-toramento em Pré-História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,Porto, 1986, Est.IV34 idem, ibidem, Est. VIII35 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “A casa castreja ”, Memórias de História Antigua, Oviedo, 1984,vol.VI, pág.35

36 AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações nahumanização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Le-tras da Universidade do Porto, Porto, 1993, pág.15437 idem, ibidem, pág.171

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 372

Page 372: Issn 0871 - 4061

38 LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-marães, vol. 110, Guimarães, 2000pág.21-2239 PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.110, Guimarães, 2000, pág.128-13140 AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações nahumanização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Le-tras da Universidade do Porto, Porto, 1993, pág.175

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 373

Page 373: Issn 0871 - 4061

A necRóPoLe RoMAnA do LARgo dAs FReiRAs eM chAvesThe ROMAn CeMeTeRY OF The FReiRAS SQuARe in ChAveS,PORTugAL

Resumo: A escavação em área do Largo das Freiras em Chaves revelou a presença deuma necrópole romana baixo imperial escavada num nível de abandono que se sucedeu a umaárea urbana da cidade de Aquae Flauiae. Depreende-se das evidências apresentadas uma con-tracção urbana no séc. III. A Localização desta necrópole é enquadrada em outros achados ro-manos de cariz funerário conhecidos na cidade.

Palavras-chave: Necrópoles Romanas, Baixo-império, Contracção urbana, Séc. III d.C.,Sidónio Apolinário.

Abstract: The open area excavation of a Square in the city centre of Chaves revealed thepresence of a late roman cemetery dug on a sterile layer that deposited over a 2nd. century A.d.wall. The evidence presented allows us to infer an urban contraction during the 3rd. CenturyA.d. The location of this site is analysed in conjunction with the other known roman burial sitesin the city.

Keywords: Roman Cemeteries, Late empire, urban contraction, 3rd. Century A.d., Sido-nius Apollinarius.

introduçãoA intervenção arqueológica no Largo General Silveira em Chaves, vul-

garmente conhecido como Largo das freiras, teve lugar entre Maio de 2000 eSetembro de 2001, em sequência do projecto de construção de um parque deestacionamento subterrâneo promovido pela autarquia.

Com o objectivo de minimizar o impacte sobre o património, foi elabo-rado um plano de intervenção que consistia na abertura de sondagens préviaspara a avaliação estratigráfica do local, seguidas de escavação em área.

Na primeira das sondagens préviasplaneadas, detectámos a presença de uma

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 375

Sérgio Fiadeiro Guerra Carneiro

ArqUeólogo do MUnICíPIo de CHAveS; [email protected]

Page 374: Issn 0871 - 4061

sepultura estruturada emtégulas formando duaságuas (S1[5]=A1[50]),pelo que se optou por avan-çar de imediato para a es-cavação em área, seguindoo método vulgarmente co-nhecido por Barker/Harris1

de grande parte da placacentral do Largo (vide fig.1: Planta de Localização).

Dado que existia umaterro de saibro colocadoem 1930 aquando da cons-trução dos edifícios doquartel dos bombeiros e doLiceu, começámos por oremover mecanicamente,sob o qual encontrámos aseguinte sequência de ocu-pação.

Fases de ocupação:1. Contemporânea:

vestígios de um muro de divisão de propriedades ([1]); solo agrícola anteriorao aterro de 1930 ([2]).

2. Moderna: conduta de saneamento com paredes em alvenaria pobre depedras e argamassa amarela torrada, fundo em calçadinha de seixos e pedras gra-níticas pequenas e tampas compostas por grandes pedras graníticas toscas, estaconduta integra-se nas obras de reforço da Praça-forte posteriores à Restauração;valas de lixo e restos de combustão e respectivos enchimentos relacionados como convento que deu o nome à praça, mais tarde transformado em Liceu.

3. Romano baixo imperial: sepulturas estruturadas em tegulae e laterae,sepultura simples em covacho e respectivos enchimentos.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 376

Figura 1. Planta de localização

Page 375: Issn 0871 - 4061

4. Fase de abandono: camada estéril onde foram escavadas as sepulturas.5. Romano alto imperial: camada; muro, e respectivos derrubes.Debruçamo-nos em seguida sobre as fases 3 a 5, respeitantes ao período

romano enquadrando-as no conhecimento existente sobre a cidade de AquaeFlauiae.

A ocupação Baixo-imperial: necrópole e área não edificada adjacenteEm toda a área escavada apenas foram detectados três enterramentos, con-

centrados no extremo Norte, um dos quais em covacho simples (u.e. [53]), amais humilde das formas de inumação presentes nas necrópoles romanas destetipo (TOYNBEE, 1971, p. 101) e dois sob a forma de sepulturas estruturadasem tégula. Destas, uma ([50]) era composta por quatro tégulas de cada lado for-mando duas águas e duas de fecho nas extremidades, num total de dez, sendoque a da extremidade SE havia sido deslocada para uma deposição secundária,como explicaremos mais abaixo; e a outra ([51]) constituída por uma caixa desecção quadrangular com três tégulas formando cada um dos lados, duas tégulasinteiras e dois fragmentos servindo de cobertura, duas inteiras e um fragmentoformando o fundo e uma tégula de fecho em cada um dos extremos. Este tipode inumações, recorrendo a tégulas para a estruturação da sepultura, e, em es-pecial as de secção prismática, é recorrente por todo o império, e especialmentegeneralizada a partir do séc. IV, da sepultura q da necrópole do Vaticano, pertodo túmulo de S. Pedro (TOYNBEE e PERKINS, 1956, p. 143, fig. 12) às ne-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 377

Figura 3. Desenho das sepulturas

Page 376: Issn 0871 - 4061

crópoles de York (RCHMY, 1962, est. 28, em cima) ou a Rheinzabern (KOEPPe DREXEL, 1924, est. 37, fig. 2). No actual território português, podemos citar,pela sua proximidade, os casos da Sepultura E1 - zona D3- e da E3 - zona 15,no núcleo da Cangosta em Braga, esta última de secção quadrangular (MAR-TINS e DELGADO, 1989/90, p. 107, figs. 51 e 53); ou a sepultura C6 (49) deGulpilhares (LOBATO, 1995, p. 37, est. XXXV, fig. 1).

Nenhuma das três sepulturas identificadas continha já espólio osteológico,apenas se percebendo uma coloração ligeiramente mais clara, grão mais finoe consistência mais compacta na parte do enchimento das sepulturas onde es-tariam os ossos.

Nenhuma das sepulturas continha mobiliário funerário de cariz votivo ou deadorno e o escasso número de pequenos fragmentos cerâmicos exumados estãoassociados ao preenchimento pós-deposicional das estruturas provindo, portanto,da camada anterior à abertura das valas sepulcrais e não nos servindo para datar asmesmas. Foi encontrado um prego proveniente do topo Este de [52] (enchimentoda sepultura [51]), entre as tégulas t3 e t7 (vide fig. 3) que, por ser um caso isolado,não podemos interpretar como vestígio de um eventual ataúde em madeira.

No momento de atribuirmos uma cronologia a este conjunto de sepulturas,estamos, assim, limitados à sua tipologia e ritual de enterramento. Em primeirolugar, o facto de estarmos perante uma necrópole de inumação dá-nos um ter-minus ante quem do séc. II d.C., altura em que este tipo de ritual se generalizoupelo império (Cf. MORRIS, 1992 pp. 42-69). Mas outros factores podem dar-nos uma cronologia mais fina, como a ausência de deposições votivas e a uti-lização de tégulas formando duas águas. Ambas as características são típicasdo baixo Império. Nas necrópoles de Braga, MARTINS e DELGADO(1989/90, p. 107) atribuem uma cronologia do séc. IV às sepulturas deste tipo,baseando-se para tal em paralelos de Tarragona.

As três sepulturas desenvolvem-se ao longo do mesmo eixo (aprox. NW-SE), o que parece indicar uma organização do espaço em função de uma viaou de um limite urbano. Não existe em nenhum dos casos uma diferenciaçãoda cabeceira, o que, na ausência de restos osteológicos, nos impede de perceberpara que lado estariam voltados os indivíduos.

Como dissemos anteriormente, a tégula de fecho SE da sepultura [50] en-contrava-se encostada à tégula T6 de [51] (vide fig. 3 e foto em fig. 2). Quando

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 378

Page 377: Issn 0871 - 4061

da escavação da vala de implantaçãoda sepultura [51], os “coveiros” terãodado com o extremo SE da sepultura[50] e removido cuidadosamente a té-gula de fecho, sem a partir, e, apósconstruírem a sua sepultura, recolo-cado a tégula ao lado da nova estruturasepulcral e tapado a vala. Desta re-constituição das acções deposicionaispodemos inferir:

- Que a sepultura [50] já nãotinha qualquer modo de identificação,fosse uma estela ou um simples montede terra, quando se abriu a sepultura[51].

- Que o sentido de pietas dos construtores da sepultura [51] estava aindaplenamente dentro do mos romanorum, e em respeito (ou temor) à lei.

Esta situação pouco comum permite-nos vislumbrar um pouco para alemda aridez habitual dos resultados de escavação das necrópoles desta época e en-trar no território habitualmente vedado dos comportamentos e mentalidades.

Numa das suas cartas (epist., III, 12), dedicada ao seu sobrinho Segundo eescrita cerca de 469 d.C. (segundo a cronologia estabelecida por LOYEN 1970,vol. 2), Sidónio Apolinário (DALTON, 1915, pp. 63-86) descreve uma situaçãoque nos traz alguma luz sobre o que se terá passado: A caminho de Arvernum(ou Augustonemetum Arvernorum, actual Clermont-Ferrand), Sidónio presenciaum espectáculo que o enche de dor: um grupo de pessoas está prestes a enterrarum corpo na mesma necrópole e no preciso local onde jaz o seu avô Apolinário,prefeito das Gálias. A sepultura está já parcialmente aberta quando Sidónio seprecipita para o local e administra sumariamente a justiça aos ímpios espan-cando-os2, ainda que admita que estes não tinham sido movidos por má fé, jáque a necrópole estava, havia muito, abandonada por já estar cheia de cinzas deincinerações (bustualibus favillis) e corpos inumados (cadaveribus). Além disso,a sepultura do avó de Sidónio já não tinha nada que a diferenciasse, por as chuvase o peso das neves terem suavizado a elevação de terra que a demarcava. A carta

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 379

Figura 2. Ilustração das sepulturas

Page 378: Issn 0871 - 4061

prossegue com o seu objectivo principal, ou seja, apresentar o poema que Sidóniopretende que seja colocado na estela funerária do seu avô, mas o que nos interessaquanto ao quadro mental da época no que se refere a enterramentos secundáriose à importância do respeito pelas sepulturas, fica também dito.

Para além desta necrópole, existem outras quatro áreas de enterramentode cronologia romana referenciadas para a cidade de Chaves (vide fig. 1 –Planta de Localização):

- A Necrópole Romana da Pensão Jaime, inventariada pelo Instituto Por-tuguês de Arqueologia com o nº CNS14291, foi detectada nas escavações pre-ventivas das obras de ampliação do estabelecimento hoteleiro epónimo. Aintervenção foi dirigida por João Paulo Guinea Barbosa e infelizmente não seencontra ainda publicada. Da ficha de sítio presente na base de dados do Mi-nistério da Cultura (Endovélico) podemos inferir que se tratava de uma necró-pole de incineração e inumação, o que pode indicar uma longa diacronia deutilização do espaço.

- RODRÍGUEZ COLMENERO (2000, pp. 60 a 66) refere a existência deuma Necrópole Romana no alto da Petisqueira, sem no entanto avançar maispormenores. Trata-se da proveniência atribuída de três inscrições funerárias cujoparadeiro se desconhece: a) Inscrição a Pictelancea. Inventariada pelo IPA como nº CNS24392. Referida inicialmente por BARROS (1919 [Ms. Original de1549]), sem indicar a procedência do monumento, e posteriormente publicadapor ARGOTE (1732) como sendo oriunda da Petisqueira3; b) Inscrição a Laucia.Inventariada pelo IPA com o nº CNS24393. Referida por BARROS (Op. Cit.)como procedendo da Petisqueira4; c) Inscrição a Colena. Inventariada pelo IPAcom o nº CNS24394. Referida por ARGOTE (op. cit.) como tendo vindo da Pe-tisqueira5. Não há notícia de terem aparecido enterramentos no local.

- Na mesma obra RODRÍGUEZ COLMENERO (2000, idem) avança apossibilidade da localização de uma outra necrópole romana na Rua da Trin-dade, por aí ter aparecido uma inscrição funerária durante uma escavação desalvaguarda, no âmbito da reconstrução de uma casa, dirigida por ArmandoCoelho da Silva e Rui Centeno. Tanto quanto pudemos apurar, na referida in-tervenção (mais uma vez, por publicar) não se detectou qualquer sepultura,correspondendo a referida epígrafe, provavelmente a uma reutilização comomaterial de construção.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 380

Page 379: Issn 0871 - 4061

- Nas recentes escavações do balneáriotermal romano do Largo do Arrabalde, pornós dirigidas apareceu uma sepultura de inu-mação romana estruturada em caixa de tégu-las, escavada nos destroços da ruína daabobada que cobria uma das piscinas do edi-fício. Dado que a sepultura estava ao lado deuma das valas de violação do sítio e que apa-receram outros esqueletos sob os escombrosda referida abobada, interpretamos este en-terramento como um caso circunstancial re-lacionado com a derrocada do edifício termale não como correspondendo a uma área denecrópole habitual da cidade romana.

Assim, se descartarmos como necrópo-les as do Alto da Petisqueira e da Rua daTrindade, possíveis locais de deposição se-cundaria de epígrafes funerárias, e se puser-mos de lado o Largo do Arrabalde,enterramento isolado e circunstancial, res-tam-nos duas necrópoles comprovadas: a daPensão Jaime e a do Largo das Freiras, loca-

lizadas nos extre-mos Norte e Suldo mesmo eixoda cidade ro-mana.

os níveis e estruturas Alto-imperiaisSob a camada de terra argilosa castanha amare-

lada onde foram abertas as sepulturas, detectou-se ummuro com cerca de doze metros e meio de compri-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 381

Figura 4. Desenho [67] e [68]

Figura 4. Foto [67] e [68]

Page 380: Issn 0871 - 4061

mento por uma média de sessenta centímetros de lar-gura, constituído por dois paramentos de pedras graní-ticas de tamanho médio toscamente aparelhadas na faceexterior e preenchidos com pedras pequenas, fragmen-tos de cerâmica e vestígios de argamassa pobre de baseargilosa (vide fig. 4).

Apenas se conservava uma fiada das pedrasdeste muro, que embora se assemelhasse em largurae fábrica a muitos outros de arquitectura civil romana

encontrados nas diversas escavações da cidade (Cf. CARNEIRO, 2003 e 2005),constituía, pelo seu comprimento inusitado e pela ausência de subdivisões ouvestígios de vãos, uma realidade diferente da divisão em insulae detectada nou-tras partes da cidade.

Os materiais encontrados nas camadas associadas a esta estrutura encon-travam-se muito erodidas e roladas, provavelmente devido ao facto de o localse encontrar no thalweg entre o Alto da Petisqueira e a colina do Castelo o queterá exposto o local a enxurradas periódicas. A própria estrutura, que apresen-tava, como se disse, uma única fiada de pedras conservada, estava interrompidano ponto mais baixo do terreno, sensivelmente a meio do alinhamento, encon-trando-se as pedras dessa lacuna depositadas em escorrimento no sentido des-cendente, o mesmo se passando com a maioria dos derrubes de pedras efragmentos de cerâmica de construção em cujo contexto foram recuperadosnumerosos fragmentos de terra sigillata com uma cronologia que vai do últimoquartel do séc. I d.C. às primeiras décadas do séc. II d.C. (vide o art. de RuiLopes neste volume).

Surgiram, ainda, nos mesmos derrubes, tesselas cerâmicas em losangocom cerca de cinco centímetros de lado (vide fig. 6a, com uma proposta demontagem), que indicam a presença de um pavimento tesselado, e uma pontade lança em ferro (fig. 6b) que individualmente é pouco fiável como indicadorde um contexto militar (sobretudo não se tratando de um pilum, o tipo de lançamais comum nos corpos regulares o exército).

Trata-se, provavelmente, do muro de delimitação de uma área aberta, para a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 382

Figura 6. Tesselas e dardo

Page 381: Issn 0871 - 4061

extrapolação de cuja funcionalidade não dispomos de elementos suficientes, masque estaria ainda, de acordo com o espólio encontrado, dentro da área urbana.

conclusõesOs dados apresentados permitem-nos inferir que, nesta área da cidade ro-

mana de Aquae Flauiae, ocupada no final do séc. I, inícios do II d.C. por umaextensa construção, houve um período de abandono a que se seguiu a locali-zação de uma necrópole, provavelmente em torno ao séc. IV.

Dado que os enterramentos no interior das cidades estavam proibidospelas XII tábuas, esta havia-se tornado uma área exterior à urbe romana.

Fica, assim, demonstrada uma contracção da cidade entre os séculos II eIV d.C., repetindo a imagem que temos do pano de fundo do séc. III d.C., so-bretudo nas províncias ocidentais do Império (Cf. CAMERON, 1993, p. 10 epara a Hispânia: GóMEZ FERNÁNDEZ, 2006). Ao nível regional, podemoscitar o caso de Lucus Augusti (ARIAS VILAS, 1977), que vê construídas assuas muralhas nesta altura, e consideravelmente reduzida a área urbana.

BibliografiaARGOTE, Jerónimo Contador de (1732), Memórias para a história ecclesiástica do Arcebispado

de Braga, Primaz das hespanhas, LisboaARIAS VILAS, F. (1977), “Excavaciones arqueológicas en la ciudad de Lugo, agosto 1973” in noticiarioArqueológico hispánico, V, pp. 47-53, Madrid.BARKER, Philip (1993), Techniques of Archaeological excavation, 3ª ed., Londres.BARROS, João de (1919) [Ms. Original de 1549], “Geographia d’Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes”in, Colecção de Manuscriptos inéditos Agora dados à estampa, Porto.CAMERON, Averil (1993), The Later Roman empire, Harvard.CARNEIRO, Sérgio (2005), “Sondagens no Interior da Cerca Medieval da Cidade de Chaves”, in AquaeFlaviae, n.º 33, pp. 11 a 65.2003, “Excavations in the County Gaol of Chaves”, in VILA, Xurxo M. Ayán, et aliae, Archaeotecture –Archaeology of Architecture, BAR International Series 1175, Oxford.DALTON, O. M. (ed. & trad.) (1915), The Letters of Sidonius, Oxford.GóMEZ FERNÁNDEZ, Francisco José (2006), “La decadencia urbana bajoimperial en la diócesis Hispa-niarum: la primacía del argumento del declive, sobre el de la metamorfosis ciudadana” hispania Antiqua,Número 30.HARRIS, Edward C. (1989), Principles of Archaeological Stratigraphy, 2ª ed., Londres.KOEPP, Friedrich e Friedrich DREXEL (1924), germania Romana. ein Bilder-Atlas, 2ª ed., Bamberg.LOBATO, Maria José (1995), “A Necrópole Romana de Gulpilhares (Vila Nova de Gaia)”, in Portugalia,nova série, vol. XVI, Porto.LOYEN, André (1970), Sidoine Apollinaire. Poémes et lettres, ParisLUETJOHANN, Christianus (ed.) (1887), gai Sollii Apollinaris Sidonii epistulae et carmina, recensuit etemendavit, Berlim.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 383

Page 382: Issn 0871 - 4061

MOMMSEN, Theodor (ed.) (1905), Theodosiani Libri Xvi, Cum Constitutionibus Sirmondianis, Berlim.MARTINS, Manuela e Manuela DELGADO (1989/90), “As necrópoles de Bracara Augusta A. Os dadosarqueológicos.”, in Cadernos de Arqueologia, Série II, Volumes 6/7, Braga.MORRIS, Ian (1992), death Ritual and Social Structure in Classical Antiquity, Cambridge.RCHMY, Royal Commission on Historical Monuments (England) (1962), eburacum, Roman York, an in-ventory of the historical Monuments in the City of York, 1, Londres.REECE, Richard (1977), “Burial in Latin Literature: Two Examples” in, Burial in the Roman World, pp. 44– 45, CBA Research Report, Nº 22, Londres.RODRIGUES COLMENERO, António (1997), Aquae Flaviae. i – Fontes epigráficas da gallaecia Meri-dional Romana, Chaves2000, Aquae Flaviae. ii - O Tecido urbanístico da Cidade Romana, ChavesTOYNBEE, J. M. C. (1971), death and Burial in the Roman World, Londres.TOYNBEE, J. M. C. e J. B. Ward PERKINS (1956), The Shrine of St. Peter and the vatican excavations,Londres.

1 BARKER (1993) HARRIS (1989).2 O Código Teodosiano proscreve o suplício para este crime, MOMMSEN (1905, Vol. I, pt. ii, pp. 463 eseg.; II, p. 114). Sidónio administra a justiça pelas próprias mãos justificando-se com uma figura legal dasXII tábuas: o iure Coesus (Si aliquis occidit, iiure coesus esto), citada frequentemente por autores latinoscomo Tito Lívio, Tácito, Séneca, etc. Trata-se do direito de um cidadão a matar um ladrão que entre em suacasa durante a noite e seja apanhado em flagrante delito.3 pictelancea pictelanci filia a(nnorum) / xxxx h(ic) s(ita) e(st) emelus f(aciendum) c(urauit)ae / rar(io).frater modestus / p(osuit). Leitura de RODRÍGUEZ COLMENERO (1997).4 laucia maturi f(ilia) caladua / saqua a(nnorum) l h(ic) s(ita) e(st) f(rater) f(aciendum) c(urauit) ma / xumuss(it) t(ibi) t(erra) l(evis). (id.).5 d(iis) m(anibus) / visala reburri (filia) <> ambau(m) colen(ae) / filiae pientissimae et neopotibus / suisd(e) s(uo) fec(it). (id.).

Revista Aquae Flaviae, N.º40 - Chaves 2009 Pág. 384

Page 383: Issn 0871 - 4061

teRRA sigiLLAtA dA necRóPoLe RoMAnA doLARgo dAs FReiRAs, chAvesTeRRA SigiLLATA FROM The ROMAn CeMeTeRY OF The “FReiRASSQuARe”, ChAveS

Resumo: A terra sigillata, objecto desta publicação, integra a totalidade dos fragmentosde terra sigillata da escavação arqueológica realizada em 2000 pela Câmara municipal de Cha-ves no Largo General Silveira, vulgarmente conhecido como Largo das Freiras, do centro his-tórico da Cidade de Chaves, sob a direcção do Dr. Sérgio Carneiro. A maioria dos fragmentosanalisados provem de unidades estratigráficas preservadas, o que nos permite contextualizarcronologicamente os vestígios exumados. Neste estudo é feita a análise pormenorizada de 778fragmentos de terra sigillata, a identificação da forma e a descrição exaustiva de cada peça, oque permite indicar as cronologias e a proveniência das importações.

Palavras-chave: Terra Sigillata; Formas; Cronologia; Aquae Flaviae.

Abstract : The object of this publication is the terra sigillata assemblage from the archeolog-ical excavations carried through in 2000 by city council of Chaves at the General Silveira square,commonly known as “Largo das Freiras”, under the supervision of Sérgio Carneiro. Most of the frag-ments under study come from archaeological features found in situ. This study analyses the 778 frag-ments in detail, identifying the form and thoroughly describing each one, allowing the chronologicalcontextualization of the features excavated and shedding light on the imports of Aquae Flaviae.

Keywords: Terra Sigillata; Forms; Chronology; Aquae Flaviae

1. Metodologia1.1. Proveniência e composição da amostraNo presente trabalho foram inseridos a totalidade dos fragmentos prove-

nientes da intervenção arqueológica realizada em 2000 no Largo General Sil-veirai do centro histórico de Chaves.

A necessidade do estudo destes materiais deve-se ao facto deste tipo dematerial permitir em comparação com outros uma datação pormenorizada das

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 385

Rui Lopes

CâMArA MUnICIPAl de CHAveS, [email protected]

Page 384: Issn 0871 - 4061

unidades estratigráficas. Por outro lado há uma preocupação em dar continua-ção ao estudo anterior sobre as sigillatas, também de intervenções arqueológi-cas do centro histórico (CARNEIRO e LOPES, 2005). Estes tipos de estudospermitem comparar a percentagem dos vários fabricos, pois estes dados sãoimportantes sobretudo quando comparados com outras localidades.

Esta amostra é composta por 778 fragmentos de sigillata, dos quais 753são de fabrico hispânico e 25 de fabrico sudgálico. Todos os fragmentos estãoreferenciados pelo nº de peça, pelo acrónimo dado à intervenção arqueológicae pela unidade estratigráfica.

1.2. critérios de quantificação Existem diversos métodos de quantificação de sigillatas, uns dão mais

importância à classificação tipológica como é o caso de S. Cucufate, onde foiinserido no estudo apenas as peças que permitiram a identificação da forma(ALARCÃO; ÉTIENNE; MAYET, 1990), no caso de Represas foram conta-bilizados os fragmentos que permitiram uma atribuição de forma, mas tambémos fragmentos de bordo e pança indeterminados (LOPES, 1994). Neste trabalhotal como no anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005) inserimos todos os frag-mentos de sigillata provenientes das escavações, mesmo aqueles mais dimi-nutos. Todos estes fragmentos provêm de contextos estratigráficos preservados.

1.3. A ficha Para facilitar o acesso à informação do inventário cerâmico e o manuseamento

da mesma elaborou-se uma ficha para cada peça. Esta funcionou como uma espéciede “bilhete de identidade” da peça, que permitiu a criação de uma base de dados,a qual contêm os elementos fundamentais para a caracterização de uma peça.

A ficha é composta por vários campos ordenados de acordo com o graude importância dos elementos de caracterização. No primeiro campo teve-seem conta a identificação da peça, o sítio e o local de armazenamento, de acordocom o registo do inventário geral do Gabinete de Arqueologia de Chaves. Osegundo campo destina-se à descrição da peça, onde consta o fabrico, a possí-vel cronologia, o nº de fragmentos, a descrição da pasta e verniz, a classificaçãotipológica, os elementos decorativos/grafitos, a oficina e por fim a descriçãomorfológica da peça.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 386

Page 385: Issn 0871 - 4061

Através destas fichas foi possível criar uma base de dados que possibilitouum estudo mais aprofundado sobre o espólio e a estratigrafia do local inter-vencionado e por fim a elaboração do catálogo deste trabalho.

1.4. A descrição da sigillata (pastas e vernizes) Para a descrição da terra sigillata elaborou-se um grupo de pastas e vernizes

de acordo com os vários tipos de fabricoii. Na identificação dos diferentes fabricosde sigillata observamos a pasta e o verniz à luz solar, recorrendo sempre a umalupa e à tabela de cores Munselliii, para a pasta privilegiamos a compacticidade,o grau de dureza, a porosidade, a textura e a cor, para o verniz tivemos em contaa cor, o brilho, a espessura, o grau de aderência e por fim a conservaçãoiv.

Dentro de cada fabrico houve a necessidade de criar vários grupos de pas-tas e vernizes, sempre recorrendo ao código de cores do Munsell. Para a terrasigillata sudgálica criámos três grupos de pastas e quatro de vernizes:

Pasta (s1): é dura, fina e compacta um pouco esponjosa de fractura con-coidal com pequenos e finos elementos não plásticos de calcite, com vaçouloscirculares, de cor castanho/vermelho queimado (10R/5/6);

Pasta (s2): é medianamente dura, compacta, esponjosa, de fractura polidacom frequentes elementos não plásticos visíveis a olho nu, mas sempre em pe-quenas dimensões. A sua cor é muito mais clara que a anterior, próximo dovermelho claro (10R/6/8);

Pasta (s3): é dura, fina, com pequenos elementos não plásticos, com rarosvaçoulos, algo esponjosa, de fractura recta de cor vermelho alaranjado (2.5YR5-4/8);

Verniz (s1): é fino, brilhante e espesso, resistente, de boa qualidade, decor vermelho coral (10R/4/8);

Verniz (s2): é pouco brilhante por vezes mesmo baço, algo estaladiço, deespessura média, com fraca aderência, encontra-se normalmente já em fase dedecomposição, de cor vermelho acastanhado (10R/5/8);

Verniz (s3): é de bom fabrico, pouco brilhante não tão resistente como overniz (s1), de espessura média e a sua cor é vermelho e varia entre (2.5YR/4/4)e (2.5YR/4/6);

Verniz (s4): é de fraco fabrico, baço, de espessura média e encontra-semuito mal conservado de cor vermelho alaranjado (2.5YR 5-4/8).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 387

Page 386: Issn 0871 - 4061

Para a terra sigillata hispânica criámos nove tipos de pastas e sete tiposde vernizes:

Pasta (h1): é fina, dura, de fractura recta com alguns vaçoulos circulares,com pequenos elementos não plásticos bem distribuídos, a cor é vermelho claro(2.5YR/6/4)

Pasta (h2): é fina, muito dura, de fractura irregular com pequenos e finoselementos não plásticos de calcite e feldspato, com poucos vaçoulos, a corvaria entre rosada (2.5YR/4/6) e bege rosado (5Y/6/3);

Pasta (h3): é dura, por vezes medianamente dura, fina, homogénea, umpouco esponjosa de compactez média de fractura algo rectilínea, com elemen-tos não plásticos moderadamente bem distribuídos com a abundância de pe-quenas partículas de feldspato e calcite com poucos e pequenos vaçouloscirculares, de cor vermelho pálido (2.5YR/6/6);

Pasta (h4): é medianamente dura, de grão médio, de fractura um poucoirregular e grosseira com elementos não plásticos em quantidade média à basede feldspato, calcite de pequenas e médias dimensões por vezes tem pequenaspartículas de quartzo, com vaçoulos de forma alongada, de cor vermelho ala-ranjado claro (2.5YR/5/6);

Pasta (h5): é esponjosa, medianamente dura por vezes branda de médiaqualidade, fractura irregular de médio grão, com elementos não plásticosabundantes de feldspato, calcite e mica, sendo estes de média dimensão, comfrequentes vaçoulos alongados, a cor é vermelho alaranjado forte(2.5YR/6/8);

Pasta (h6): tem a cor semelhante à anterior apenas é mais alaranjada emais clara, (2.5YR/5/6) e (2.5YR/6/8), é dura, fina, esponjosa com pequenoselementos não plásticos de calcite de fractura regular;

Pasta (h7): é compacta com muitos elementos não plásticos de pequenae média dimensão, compostos por calcite, micas e quartzo, a nível de dureza apasta é branda, por vezes pode ser um pouco mais consistente e porosa, de corvermelha rosada alaranjada (2.5YR 5-4/8):

Pasta (h8): é compacta com vaçoulos de reduzida dimensão de formaalongada, muito depurada com raros elementos não plásticos ( sendo os pre-sentes na maioria de calcite), de fractura ondulada e porosa de cor castanho ti-jolo (10R 5/6). Por vezes a cor pode variar com salmão (h8b);

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 388

Page 387: Issn 0871 - 4061

Pasta (h9): de cor castanha queimada alterada por contacto pelo lume, defractura recta, dura de boa qualidade;

Verniz (h1): é espesso, fino, liso, homogéneo de excelente qualidade, comboa aderência, moderadamente brilhante e por norma encontra-se bem conser-vado, de cor vermelho claro com pequenas tendências para o laranja(2.5YR/6/6);

Verniz (h2): é moderadamente brilhante, semelhante a alguns vernizes daterra sigillata sudgálica, liso de média espessura, de boa qualidade e aderênciade cor vermelho fosco (10R/4/8);

Verniz (h3): é pouquíssimo brilhante, bem conservado de espessuramédia, com boa aderência, de cor vermelho alaranjado (2.5YR/4/8). Por vezeseste torna-se mais homogéneo e brilhante (h3b);

Verniz (h4): é moderadamente brilhante, homogéneo de fina espessura,com média aderência, cor castanho avermelhado (10R/4/6). Por vezes o vernizpode ser opaco (h4b);

Verniz (h5): é de média qualidade pouco brilhante ou mesmo opaco, pornorma o verniz encontra-se mal conservado, de cor vermelhoalaranjado(2.5YR/5/6);

Verniz (h6): é bastante alaranjado (2.5YR/5/8), de média espessura comum moderado brilho, e encontra-se bem conservado;

Verniz (h7): é vermelho escuro, algo estaladiço e encontra-se alterado porcontacto com o lume (10R/5/8);

2. caracterização das sigillatas sudgálicas

A sigillata sudgálica surgiu devido à fraca produtividade das oficinas itálicassendo esta virada sobretudo para o interior. Terá surgido no último quartel do séculoI nas oficinas de Bran, Narbonne, Montans e La graufensenque (QUARESMA,2002: 12), inicialmente para abastecimento local e militar. Segundo Polak foi nesteperíodo inicial que muitos artífices das oficinas itálicas migraram para o sul daGália, onde reproduziram as formas já conhecidas (POLAK, 2000: 33). A difusãodestes produtos na península Ibérica só aconteceu entre 20 e 40 d.C..

Os principais centros oleiros desta zona são La graufesenque e Montans,estes chegaram a todos os pontos do império romano, desde a Germânia até à His-pânia (BELTRÁN LLORIS, 1990: 89). Todos os fragmentos de fabrico sudgálico

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 389

Page 388: Issn 0871 - 4061

aqui identificados são do centro produtor La graufesenque, este localizava-se naregião Narbonense, na margem do rio Tarn, e está em plena actividade até ao rei-nado de Trajano, tendo o seu apogeu a nível de exportações entre 60 a 80 d.C..

2.1. A sigillata sudgálica do Largo das FreirasOs fragmentos identificados no Largo das Freiras são todos provenientes do

centro produtor de La graufesenque. No total recolheram-se 25 fragmentos, dosquais se identificaram três formas lisas, o prato Drag. 15/17 o mais vezes identi-ficado, e as tigelas Drag. 24/25 e Drag. 27, cronologicamente estas formas foramfabricadas entre o início e o final do séc. I d.C. Identificou-se ainda 3 fragmentosdecorados, e 16 pequenos fragmentos indefiníveis para além do tipo de fabrico.

distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata sudgálica

2.1.1. As formas lisas2.1.1.1. drag. 15/17

A forma Drag. 15/17 é uma das formas mais vulgares, está aqui represen-tada por quatro fragmentos. Este prato apresenta o bordo e as paredes verticaiscom uma intensa e repetida molduração exterior, no interior possui uma molduraem quarto de círculo (meia cana) na ligação entre a parede e o fundo, deriva daforma Consp. 21 itálica (VIEGAS, 2003: 110), situa-se cronologicamente entrea década de 30 d.C. e o final do séc. I juntamente com a tigela Drag. 24/25 foi oprato mais importante da primeira metade do séc. I, mas a partir da década de 60foi diminuindo a sua produção (POLAK, 2000. 86).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 390

Page 389: Issn 0871 - 4061

Os quatro fragmentos aqui encontrados são muito diminutos no entanto évisível em todos eles a molduração externa, cronologicamente estes fragmentossituam-se em meados do séc. I, mas poderão ser ligeiramente anteriores.

A forma Drag. 15/17 é a mais representada das produções do sul da Gália,tal como acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:92) e Represas (LOPES, 1994: 37), no entanto, em Santarémv e Mirobrigavi perdeposição para o prato Drag. 18/31 e o Drag. 18. De salientar ainda que nas son-dagens realizadas no balneário termal de Chaves foi identificado um bordo destaforma datado do período Nero-Vespasiano (CARNEIRO e LOPES, 2005: 102).

2.1.1.1.2. drag. 24/25Esta tigela hemisférica é uma das mais frequentes, apresentando grande

variedade de perfis e diâmetros, tem a sua origem também nos modelos itálicos,deriva da forma Loeschcke 12 (QUARESMA, 2002: 127), caracteriza-se porter o bordo vertical e uma moldura externa bem marcada na parede. A produçãodesta forma situa-se entre Tibério/Cláudio a 60 d.C. (VIEGAS, 2003: 106).

O único fragmento desta forma é um bordo vertical com guilhoché, delábio fracturado. De salientar o facto do verniz ser pouco brilhante, quase baço,algo estaladiço de espessura média, com fraca aderência, que segundo algunsautores corresponde às peças mais tardias (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 87).

De maneira geral esta forma costuma surgir em muitas quantidades, so-bretudo associado ao prato Drag. 15/17. Em Conímbriga esta tigela está pre-sente em muitos fragmentos, dos quais alguns contêm marca de oleiro, quepermite situar estas peças num momento cronológico mais precisovii (DEL-GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 92). Em Santarém e Mirobriga são a se-gunda forma mais vezes identificada no grupo das tigelas.

2.1.1.1.3. drag. 27Esta tigela de lábio e bordo semicircular de parede biconvexa, deriva da

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 391

Page 390: Issn 0871 - 4061

forma itálica Loeschcke 11 (QUARESMA, 2002: 131), e foi produzida desdeTibério até aos finais do séc. I.

Esta forma existe em grandes quantidades em locais com ocupação altoimperial, no entanto aqui apenas foi identificado um fragmento.

2.1.2 As formas decoradas2.1.2.1. Fragmentos decorados indeterminadosNas produções do sul da Gália não se consegue identificar nenhuma forma

decorada, no entanto existem três fragmentos decorados.Destes, destaca-se a peça nº 390 que contem a cruz de Santo André que

pode pertencer à forma Drag. 30, os restantes apenas contêm pequenos ele-mentos decorativos, como se pode constatar no quadro.

3. caracterização das sigillatas de Tritium Magallum

A partir de certa altura iniciou-se em vários locais da Hispânia o fabrico de terrasigillata, imitando inicialmente as formas sudgálicas e itálicas, a principal questãosobre estes novos centros produtores está relacionada com o início e o fim da produ-ção, uma vez que os dados estratigráficos são algo duvidosos e pouco seguros.

Segundo Mayet o início da difusão em grande escala destes produtos dá-se na época de Cláudio (41-54 d.C.), (MAYET, 1984: 93), baseando-se na ca-mada VII de Pamplona que é considerada a mais antiga, datada entre Cláudioe os Fláviosviii. No entanto Mayet não descarta a hipótese destas oficinas teremcomeçado a produção no tempo de Tibério (14-37d.C.), ainda que com muitasinfluências itálicas e gálicas em pequena escala (MAYET, 1984: 94), funcio-nando numa fase experimental como um pequeno mercado virado, sobretudopara o norte interior peninsular, (BELTRÁN LLORIS, 1990: 111).

O apogeu das exportações é atingido nos finais do séc. I, início do II, masas dúvidas persistem quanto ao encerramento destes centros produtores, so-bretudo quanto à sua continuidade ao longo do séc. III, devido mais uma vez

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 392

Page 391: Issn 0871 - 4061

à falta de contextos arqueológicos seguros, infelizmente continua a ser a es-tratigrafia de Pamplonaix que serve de referência para a evolução cronológicadestas produções hispânicas (VIEGAS, 2003: 139).

As oficinas de Tritium Magallum foram as que tiveram uma maior importânciae influência em toda a Hispânia, localizavam-se no norte de Espanha no vale do Ebrox,onde haviam vários centros produtores como o de La Rioja, Tricio, Nájera, Bezares,Sótes, e Arenzana de Arriba e de Abajo (MEZQUÌRIZ, 1985: 114), que exportarampara toda a Península Ibérica com maior incidência na área ocidental, e norte.

3.1. A sigillata hispânica do Largo das Freiras No Largo das Freiras, existem 753 fragmentos de sigillata hispânica, dos

quais 82% são formas lisas, sendo os restantes decorados. Foram identificadas9 formas lisas e 4 decoradas. O prato Drag. 15/17, a tigela Drag. 27 e a taçaDrag. 29 foram as formas mais vezes identificadas. Das formas típicas das pro-duções hispânicas existem 3 fragmentos do prato da forma Hisp. 5, todos comguilhoché no bordo. Com base em alguns estudos (MAYET, 1984), (MEZQUÌ-RIZ, 1985) sobre a cronologia de algumas formas, estes materiais situam-secronologicamente em duas fases distintas, a mais antiga com início na décadade 40/50 do séc. I d.C, a segunda entre os meados e o fim do séc. II, podendochegar ainda ao séc. III.

Deste conjunto temos seis marcas de oleiro das quais três permitem umaleitura correcta da oficina, com igual número temos os grafitos.

distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata

hispânica

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 393

Page 392: Issn 0871 - 4061

3.1.1. Formas lisas3.1.1.1. Ritt 8Esta forma caracteriza-se por ser uma taça hemisférica, cujo bordo pode

apresentar-se de uma forma recta ou introvertida (QUARESMA, 2002: 126).É uma forma que segue os protótipos sudgálicos, que os centros produtoreshispânicos produziram e exportaram para toda a península Ibérica. Com basena estratigrafia de Pamplona, Mezquíriz situa esta forma entre o início do séc.I e o séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 146).

A taça Ritt.8 foi identificada por 11 fragmentos, que comparado com o es-tudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108-109), onde existia apenas um, éalgo significativo. Os fragmentos identificados têm diâmetros que variam entre99mm e 210mm, e foram produzidos entre o final do séc. I e os meados do II.

É uma forma rara em muitos locais romanizados, como Conímbriga(DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 183), Santarém (VIEGAS, 2003:114) e Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 198).

3.1.1.2. drag. 15/17Este prato é a forma mais abundante e surge com duas variantes nas pro-

duções hispânicas. A mais antiga segue o protótipo sudgálico e itálico, apre-sentando as paredes com moldurações externas. A outra variante é a maiscomum das produções hispânicas, caracterizando-se pelas paredes lisas e aber-tas, com meia cana no interior da peça que liga o fundo às paredes.

Foram identificados em 51 fragmentos, dos quais 9 pertencem à variantemais antiga, que na maioria tem duas molduras externas. Esta versão mais an-tiga situa-se entre o final do 2º quartel e o 3º quartel do séc. I.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 394

Page 393: Issn 0871 - 4061

A outra versão é sem dúvida a predominante, onde abundam os frag-mentos de bordo e de carena com uma meia cana na parte interna, que sesitua entre o final do 3º quartel do séc. I e o final do séc. II /início do séc. III.

As dimensões do prato Drag. 15/17 são bastante variáveis, sobretudose tivermos em conta as duas variantes, onde o diâmetro do bordo da formamais antiga é mais estandardizado, com valores entre os 140mm e 165mm,enquanto na versão mais recente o bordo é mais variável entre 125mm e250mm. De referir ainda o facto de ser a forma com mais marcas de oleiroidentificadas, como se pode constatar mais à frente.

Segundo Mayet o prato Drag. 15/17 começou a ser produzido em mea-dos do séc. I, não possuindo grandes certezas quanto ao seu final (MAYET,1984: 71).

Relativamente aos fragmentos em estudo destaca-se a peça 538 que seencontra queimada, facto que pode estar relacionado ou com a sua cozeduraou com qualquer fenómeno pós-deposicional.

Tal como no balneário das termas de Chavesxi (CARNEIRO e LOPES,2005: 104-105) no Largo das Freiras a forma Drag. 15/17 é a mais vezes iden-tificada, o mesmo não acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET;ALARCÃO, 1975: 184), Santarém (VIEGAS, 2003: 145-146) e Represas(LOPES, 1994: 55), onde a mais vezes identificada é a Drag. 27.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 395

Page 394: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 396

Page 395: Issn 0871 - 4061

3.1.1.3. drag. 18A forma Drag. 18 é um prato com uma parede levemente curvada, de

maior ou menor inclinação, tem por norma um lábio de secção em meio circuloe uma moldura de união na parte interna entre o fundo e a parede, no entantoé uma forma rara nas produções hispânicas. Foi produzida entre a época fláviae os inícios do séc. II (MAYET, 1984: 71).

Foram identificados 10 fragmentos, dos quais sete são bordos, com diâ-metros que variam entre 140mm e 221mm. O único fundo identificado tem96mm de diâmetro.

A pouca produção desta forma é visível também em Mirobriga (QUA-RESMA, 2002: 183), Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:184) e Represas (LOPES, 1994: 55).

3.1.1.4 drag. 24/25Esta tigela segue o perfil das produções do sul da Gália e aparece em

Aqvae Flaviae na versão mais comum com guilhoché no bordo.A produção desta forma é datada mais uma vez pela estratigrafia de Pamplona,

onde surge nos níveis mais antigos, ou seja, na primeira metade do séc. I, mas surgemalgumas dúvidas quanto ao fim da sua produção. Mezquíriz, propõe para os meadosdo séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 149), no entanto outros historiadores (ROCA e FER-NÁNDEZ, (1999) situam cronologicamente o fim desta forma no séc. III.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 397

Page 396: Issn 0871 - 4061

Esta forma evolui nas produções hispânicas uma vez que nos exemplaresmais tardios o seu perfil altera-se, tal como o guilhoché que tende a desaparecer.

Foram identificados 6 fragmentos dos quais quatro são bordos, todos comguilhochéxii, com diâmetros entre 126mm e 139mm. Os fragmentos identifi-cados situam-se entre o 3º quartel do séc. I e o início do séc. II.

Em Santarém (VIEGAS, 2003: 147), em Conímbriga (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 184), Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991:198-199) e Represas (LOPES, 1994: 55) esta forma surge também em pequenasquantidades.

3.1.1.5. drag. 27A forma Drag. 27 é a mais comum das formas produzidas nas oficinas

hispânicas, fabricada inicialmente segundo o modelo sudgálico, mas à medidaque o tempo avança evolui, nas peças mais tardias os dois quartos de círculotendem a apresentar dimensões idênticas, com um diâmetro bastante largo, massem lábio (MAYET, 1984: 85).

Cronologicamente é uma forma que perdurou num longo período (meadosdo séc. I a IV), como se constata na estratigrafia de Pamplona (MESQUÍRIZ,1985: 152). Mayet por falta de contextos estratigráficos fiáveis recua o finalda produção para os inícios do séc. III (MAYET, 1984: 72-73).

No Largo das Freiras em Chaves existem 33 fragmentosxiii, nestes são pre-dominantes os bordos e os fragmentos do final do séc. I, no entanto situam-seno geral, entre o 3º quartel e o final do séc. II. Os diâmetros são variáveis,desde peças com diâmetros diminutos de 81mm até 170mm, mas na maioriados casos situam-se entre 100mm e 146mm. De salientar ainda que num fundose identificou um caixilho de marca de oleiro de leitura indefinível.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 398

Page 397: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 399

Page 398: Issn 0871 - 4061

Em comparação com outros sítios de referênciaxiv constata-se que a formaDrag. 27 de maneira geral existe em grande quantidade, tal como aconteceuno estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 106-107).

3.1.1.6. drag. 35A taça Drag. 35 segue as linhas das peças produzidas nas oficinas do sul da

Gália. Muitas vezes é confundida com o prato Drag. 36, sobretudo quando são frag-mentos muito diminutos, o que as distingue é o diâmetro e a altura das paredes.

Foi produzida nas oficinas hispânicas desde a segunda metade do séc. Iaté meados/final do séc. II (MESQUÍRIZ, 1985: 154).

A taça Drag. 35 caracteriza-se pelo bordo extrovertido e pelas paredes arre-dondadas, tendo na maioria dos casos decoração sob o bordo em forma de folhade água em barbotina, como é o caso de três fragmentos dos quatro identificadosno Largo das Freiras. Destes apenas dois possibilitaram calcular o diâmetro(126mm e 155mm).

Em Conímbriga esta forma existe em bastante quantidade (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 196-198), já em Belo e Santarém são poucos osexemplares.

3.1.1.7. drag. 36Este prato caracteriza-se por ter um grande diâmetro com o bordo extro-

vertido em aba levemente descaído e as paredes abertas e oblíquas, na maioriadas vezes tem decoração em folha de água em barbotina sob o bordo.

Mezquíriz propõe para esta forma uma produção de longa duração, desdea segunda metade do séc. I até ao séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 155), no entantoalguns autores recuam o fim da produção para meados do séc. II.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 400

Page 399: Issn 0871 - 4061

Dos 3 fragmentos identificados apenas 2 possibilitaram calcular o diâmetro(178mm; 188mm). Em Conímbriga esta forma é pouco abundante (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 185) tal como em outros centros de consumo.

3.1.1.8. drag. 46A taça Drag. 46 é uma peça pouco homogénea quanto às suas dimensões

e caracteriza-se pelo bordo em aba inclinado com a parede oblíqua, ligeira-mente rectilínea.

Sobre esta forma recaem muitas dúvidas quanto ao início da sua produ-ção, no entanto alguns historiadores defendem que deve ter sido produzidapelos oleiros hispânicos a partir do final do séc. I (LOPES, 1994:56).

Em Conímbriga esta forma é pouco representativa na amostra (DEL-GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185). Nas termas de Chaves foi identifi-cado um fragmento (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108).

3.1.1.9. hisp.5A forma Hispânica 5 é uma taça com o bordo em aba horizontal ligeiramente

descaído, com ou sem decoração em guilhoché e com as paredes curvilíneas. Estatem como característica principal diâmetros mais pequenos que a forma Hispânica 4.

A cronologia apontada para a sua produção é de meados do séc. I a mea-dos do séc. II (ROCA e FERNANDES, 1999). É também uma forma poucoabundante nos vários locais de referência já mencionados.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 401

Page 400: Issn 0871 - 4061

3.1.2. As formas decoradas3.1.2.1 drag. 29A forma Drag. 29 é uma das taças mais comuns das produções hispânicas

decoradas, e segue os modelos do sul da Gália. Esta apresenta por norma umacerta monotonia de perfis, caracteriza-se por ter o bordo aberto e moldurado,com a pança decorada com uma carena.

A decoração é variada e nalguns, raros, existe guilhochéxv no bordo.Estão presentes vários estilos decorativos nos fragmentos identificados,nos mais antigosxvi predominam as grinaldas, os festões, as volutas, e mo-tivos florais/vegetais. Em alguns fragmentos começa a haver uma pre-sença de círculos combinados com métopas e linhas onduladas verticais.Os valores dos diâmetros dos bordos calculados variam de 122mm a200mm.

De acordo com Mayet, esta forma foi produzida num período relativa-mente curto, desde os meados do séc. I até à década de setenta/oitenta(MAYET, 1984: 94).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 402

Page 401: Issn 0871 - 4061

No estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 112) foram identificados3 fragmentos desta forma, todos de locais distintos, já em Conímbriga foi a se-gunda forma decorada mais vezes identificada, tendo estas nas partes decoradasos estilos mais antigos (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 157-158).

3.1.2.2. drag. 30O vaso Drag. 30 surge como a segunda forma decorada mais vezes iden-

tificada. Este vaso de bordo oblíquo de paredes quase verticais aparece repre-sentado pelos estilos decorativos de imitação: linhas de óvulos duplas, arcos,linguetas, festões, pontas de setas, rosetas com figuras humanas, vegetais, flo-rais e animais isolados ou com cenas.

É uma forma que seguiu ligeiramente o modelo sudgálico, no entanto ad-quiriu uma forma mais cilíndrica que a anterior, perdendo também o bordovertical para um oblíquo.

Esta forma terá sido fabricada nas oficinas hispânicas desde a segundametade do séc. I podendo ter chegado ao início do séc. IIxvii (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 158). Os materiais aqui apresentados não che-gam a ultrapassar o final do séc. I, um indicador disso é a ausência de mo-tivos circulares típicos das peças do primeiro quartel do séc. II (MAYET,1984: 83).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 403

Page 402: Issn 0871 - 4061

Em Conímbriga este vaso aparece em baixas quantidades, o mesmo acon-tece em Santarémxviii e em outros locais de Aquae Flaviae (CARNEIRO eLOPES, 2005: 113-114).

3.1.2.3. drag. 37A forma Drag. 37 é uma taça hemisférica de bordo espessado vertical ou

encurvado com decoração na pança, que neste grupo das decoradas perde po-sição em relação ao último estudo de sigillata de Aquae Flaviaexix (CARNEIROe LOPES, 2005:114).

Esta forma tem duas/três variantes, a Drag. 37A, de bordo espessado verticalou encurvado, com diâmetro de abertura menor, entre 110mm a 200mm, com umacronologia situada entre o final do séc. I e o séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 169-170),nesta variante podemos englobar a Drag. 37 de bordo simples, que é mais rara evistosaxx. A outra variante é a Drag. 37B, com diâmetros de maior abertura entre250mm e 300mm, com o bordo de perfil amendoado, o período de produção destaforma foi relativamente curto, situando-se no último quartel do séc. Ixxi.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 404

Page 403: Issn 0871 - 4061

A mais abundante é a taça Drag. 37A, com 10 fragmentosxxii, esta temdiâmetros entre os 142mm e 184mm. Da outra variante apenas temos um frag-mento de bordo.

Há uma clara e predominante presença da decoração de círculos, sendoestes muitas vezes concêntricos, segmentados ou ondulados, Mayet situa cro-nologicamente este tipo de decoração entre o final do séc. I, início do II(MAYET, 1984: 83).

Ao contrário do que acontece aqui, em Conímbriga esta forma está notopo das formas decoradas identificadas DELGADO; MAYET; ALARCÃO,1975: 159), o mesmo sucede em Santarém (VIEGAS, 2003: 154) e Represas(LOPES, 1994: 57).

3.1.2.4. drag. 29/37Esta forma é uma espécie de conjugação da forma Drag. 29 com a Drag.

37, é uma taça carenada, com o bordo espessado ligeiramente aberto. Do pontode vista cronológico situa-se entre a segunda metade do séc. I e o séc. II (MEZ-QUÍRIZ, 1985: 168).

Os dois fragmentos identificados fazem parte do bordo, no entanto nãose conservou a decoração, os seus diâmetros são 138mm e 157mm.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 405

Page 404: Issn 0871 - 4061

3.1.2.5. Fragmentos decorados indeterminadosAs formas decoradas das oficinas hispânicas identificadas poderiam ser

muito mais se fosse possível identificar o extenso conjunto de fragmentos de-corados. Os estilos decorativos destes fragmentos são dominados pelos círcu-losxxiii juntamente com as métopas alternadas com linhas verticais onduladas,no entanto existem outros estilos como figuras antropomórficas, vegetais, flo-rais, volutas e arcadasxxiv.

Neste grupo existem 3 fragmentos que podem pertencer à forma Mesq.20A decoração desta é composta por métopas combinadas com linhas verticaisonduladas e com mais alguns elementos de difícil interpretação, no entanto de-cidiu-se não qualificá-la como tal.

Como se pode observar existe uma predominância de círculos na decora-ção dos fragmentos, típicos do final do séc. I, início do II, existe ainda a pre-sença dos estilos da segunda metade do séc. I.

3.1.3. As marcas e grafitos3.1.3.1. As marcasDo total da amostra foram identificadas seis peças com marca de oleiro, mas

destas, três foram consideradas ilegíveis por não possibilitarem uma leitura cor-recta, uma por apenas ter o caixilho e as outras duas por se encontrarem fracturadas.

Neste pequeno conjunto o oleiro LAPiLLivs está presente em doisexemplares da forma Drag. 15/17, este produziu em Tricio na segunda metadedo séc. I (VIEGAS, 2003:159). A presença deste oleiro é muito frequente emEspanha, como por exemplo em Astorga, Tricio, Iruña, Cabriana, Ibiza, Cór-dova, Valência, hontalba (Toledo), navatajera (Léon), S. Juan de Tabagón (ElRosa, Pontevedra), Merida, Villaverde (Madrid), Tarragona, Villa-franca delos Barros, Herrera de Pisuerga (BELTRÁN, 1990:114). Esta oficina teve tam-bém uma difusão considerável no actual território português, como é o caso

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 406

Page 405: Issn 0871 - 4061

de Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 206, nº 383-386,est. LIX), Santarém (VIEGAS, 2003: 159), Aramenha, Torre de Palma(MAYET, 1973: 26-34) Monte Mozinho (CARVALHO, 1993: 94), Belo (BEL-TRÁN, 1990:114) e Bracara Augusta (DELGADO; SANTOS, 1984, 63,nº24)xxv. Foi uma das oficinas com maior sucesso e maior área de influênciados seus produtos na Hispânia.

Estas duas marcas têm ambas letras arredondadas, mas estão inseridas em cai-xilhos distintos, sendo um de linhas rectangulares e outro de linhas arredondadas.

A outra marca identificada é da oficina de cAntABRi ou Cantaber, tam-bém muito difundida por toda a Hispânia, podendo-se encontrar em sítioscomo, Barcelona, Tarragona, Vareia, Sagunto, Alicante, Itálica, Merida, Villade la Concosa, Sevilha, Arenzana de Abajo, Celsa e Valência (BELTRÁN,1990:114). No actual território português está presente em Alcácer do Sal(DIAS, 1978), Represas (Beja) (LOPES, 1994, nº480 e nº5728), Torre dePalma e Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 205, nº378-380, est. LIX). Este oleiro tinha a sua oficina estabelecida em Arenzana deAbajo, situada a 1,5km de Tricio junto a uma linha de água. Solevera datoucronologicamente o seu início no primeiro quartel do séc. I e manteve-se se-gundo ele em actividade até ao final do séc. III/ início do IVxxvi.

Como marcas ilegíveis temos um ex[…], também de um prato Drag. 15/17, noentanto é insuficiente para atribuir uma oficina, uma vez que existem várias com estasduas letras, o mesmo acontece à outra marca que possui apenas um carácter muito des-gastado ([..]A[…]). Por fim temos uma marca da qual resta apenas o caixilho..

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 407

Page 406: Issn 0871 - 4061

3.1.3.2. os grafitos Os grafitos existentes nesta colecção são de sigillata hispânica do centro

de produção de Tritium Magallum. O facto destes grafitos aparecerem apenasna sigillata de Tricio, mostra bem a sigillata predominante em Aqvae Flaviae,período que coincide com a quebra das produções gaulesas e com o início dasimportações do vale do Ebro.

O significado dos grafitos nem sempre é compreensível, no entanto umgrafito é sempre uma marca de propriedade plena, conferida pelo uso fre-quente das peçasxxvii. O grafito é uma marca pessoal que é identificada e re-conhecida pela comunidade onde circula, facto pelo qual por vezes surgemletras ou símbolos soltosxxviii, trata-se de uma linguagem codificada. Estasmarcas pessoais podem indicar o nome do proprietário, como é o caso doPA[…] do prato Drag. 15/17.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 408

Page 407: Issn 0871 - 4061

BibliografiaALARCÃO, J.; ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (1990), Les villes romaines de São Cucufate (Portugal),

Paris, Dif. de Boccard.ATLANTE DELLE FORME CERAMICLE (1981), “Ceramica Fine Romana nel Bacino Mediterraneo(medio e Tardo Impero)”, I, supl. de la enciclopedia de la Arte Antica, Roma. BELTRÁN, M. (1990), guía de la Cerámica Romana, Zaragoza, Libros Pórtico.BOURGEOIS, A.; MAYET, F. (1991), Les sigillées, Fouilles de Belo, VI. Paris, Publ. de la Casa de Veláz-quez, 14.CARNEIRO, André.; SEPÚLVEDA, E. (2004), “Terra Sigillata Hispânica Tardia do concelho de Fronteira:exemplares recolhidos entre 1999 e 2003”, vol.7, nº2, Lisboa, in Revisa Portuguesa de Arqueologia, pp.435-458CARNEIRO, Sérgio; LOPES, Rui (2005), “Terra Sigillata das Intervenções de emergência no Centro his-tórico de chaves (1999-2000)”, nº33, Revista Aquae Flaviae, Vila Real, Minerva Trasmontana, pp.92-130.CARVALHO, T. P. (1993), “As Marcas de oleiro da sigillata de Mozinho”, Cadernos de arqueologia, Braga,série 2, 10-11, p.91.CARVALHO, T. P. (1998), A terra sigillata de Monte Mozinho. (Contributo para a História económica doPovoado), Cadernos do Museu, 3, Penafiel, Museu Municipal.DELGADO, M.; SANTOS, L. dos (1984), “Marcas de oficinas de sigillatas encontradas em Braga”, I, Ca-dernos de Arqueologia. Braga. Série II, 1, pp. 49-70.DELGADO, M; MAYET, F; ALARCÃO, A. M. (1975), “IV Les sigillés”, In ALARCÃO, J; ÉTIENNE, R,(dir.,), Fouilles de Conímbriga, Paris Diffusion E. De Bocca .DIAS DIOGO, A. M., (1980), Cerâmica Romana de Alcácer do Sal, Lisboa, G.E.C.A.DIAS, L. F. (1978), “As marcas de Terra sigillata do Castelo de Alcácer do Sal”, Setúbal Arqueológica. Se-túbal. IV, pp.145-154.DIOGO, A. M. (1984), “O material romano da 1ª campanha de escavações na Alcáçova de Santarém”, Co-nímbriga, Coimbra, 23, pp. 111-141.FERNANDEZ GARCIA, M. Isabel ; ROCA ROUMENS, Mercedes, (2008), “Producciones de Terra Sigil-lata Hispánica”,Cerámicas hispanorromanas, Editado con motivo del XXVI Congreso Internacional de laAsociación Rei Cretariae Romanae Fautores, pp.333-342.MORAIS, Rui (2004), Autarcia e Comércio em Bracara Augusta no período Alto-imperial: contribuiçãopara o estudo económico da cidade, Universidade do Minho - Instituto de Ciências Sociais.

i Conhecido localmente por Largo das Freiras.ii Tal como aconteceu no último estudo das sigillatas, (CARNEIRO; LOPES, 2005).iii MUNSELL, Soil Color, (1975), Evanston, Soiltest.iv Este critério tem pouca importância na análise geral da peça, uma vez que este pode variar de acordo comtipo de solo em que estão inseridas.v (VIEGAS, 2003: 104).vi (QUARESMA, 2002: fig.5).vii Como é o caso de algumas marcas de oficinas que se mantiveram em produção até ao ano 70 d.C., quepõem em causa a cronologia proposta para o fim desta forma.viii O mesmo acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 337).ix Camada IV que é composta por níveis de destruição.x Factor fundamental a ter em conta, pois o Vale do Ebro é ponto estratégico, quer a nível geográfico, quera nível de matérias-primas (argilas-calcárias e linhas de água), no entanto não se pode esquecer a rede viáriaterrestre e fluvial que facilitou a circulação dos seus produtos.xi Onde o prato Drag. 15/17 é a forma lisa mais vezes identificada.xii O facto de possuírem no bordo guilhoché poderá estar relacionado com o início da produção, como sugere

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 409

Page 408: Issn 0871 - 4061

Catarina Viegas para os fragmentos de Santarém também com guilhoché (VIEGAS, 2003: 147).xiii Sem contar alguns duvidosos que decidimos excluirxiv Como em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185), Belo (BOURGEOIS; MAYET,1991:199-200), Represas (LOPES, 1994: 55), Santarém (VIEGAS, 2003: 147-148) e Mirobriga (QUA-RESMA, 2002: 182-183) onde é a forma lisa mais vezes identificada.xv Como é o caso da peça 380, que tem no bordo guilhocléxvi Estes estilos estão presentes em algumas peças a partir da u.e. [54].xvii Isto acontece em Conímbriga onde os materiais são datados entre a segunda metade do século I e o iníciodo II.xviii (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 158); (VIEGAS, 2003:153).xix Onde a taça Drag. 37 era a forma mais vezes identificada.xx Da qual contamos um fragmento desta variante da Drag. 37.xxi Datado pela estratigrafia de Pamplona segundo Mayet (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 159).xxii Apesar destes serem fragmentos de pequena dimensão.xxiii Estes aparecem de variadas maneiras, ondulados, segmentados, lisos, concêntricos, etc.xxiv Sendo estes últimos estilos predominantes nas peças mais antigas.xxv Esta marca está presente nas duas capitais de conventus (Bracara Augusta e Astorga) mais próximas, li-gadas pela via XVII do Itinerário Antonino que passava por Aqvae Flaviae.xxvi Citou Maria Fernández (FERNANDEZ, 1998: 148).xxvii A marcação de uma peça através de um grafito mostra um cuidado em salvaguardar um objecto pessoal,ainda que este altere o aspecto inicial da peça, apesar de haver uma preocupação em disfarçar o grafito co-locando-o muitas vezes em zonas menos visíveis, como por exemplo na parte externa do fundo.xxviii Como é o caso da maioria dos grafitos aqui apresentados

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 410

Prancha i – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha ii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iv – Terra Sigillata Hispânica lisa e decorada

Prancha v – Terra Sigillata Hispânica decorada

Prancha vi – Terra Sigillata Hispânica decorada, marcas e grafitos

Page 409: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 411

P-I

Page 410: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 412

P-II

Page 411: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 413

P-III

Page 412: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 414

P-IV

Page 413: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 415

P-V

Page 414: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 416

P-VI

Page 415: Issn 0871 - 4061

ResuLtAdos dAs escAvAçÕes ARQueoLógicAs de 2007 e2008 ReALiZAdAs no coMPLexo MineiRo RoMAno de tRÊs-MinAs e jALesReSuLTS OF The ARChAeOLOgiCAL eXCAvATiOnS CARRY OuT in2007 And 2008 in The ROMAn Mining eXPLORATiOn OF TRÊSMinASAnd JALeS

Resumo: A exploração mineira romana de Trêsminas encontra-se razoavelmente carac-terizada do ponto de vista da sua funcionalidade, tendo o investigador Jürgen Wahl localizadoalguns canais de transporte de água, duas barragens de terra, a cisterna e algumas lavarias. Apesarde ter realizado sondagens no povoado e necrópole, os dados obtidos não permitiram caracterizarcada espaço intervencionado.

O objectivo primordial do presente projecto de investigação é fazer a caracterização ar-queológica da exploração, através da escavação do povoado mineiro, do recinto consideradopor uns um acampamento militar e por outros como um anfiteatro, da necrópole e das lavarias.Os resultado já obtidos, nas campanhas de 2007 e 2008, traduzem-se em novas descobertas esão bastante interessantes, como seja a existência de cerâmicas indígenas (datáveis dos sécs. II/Ia. C.) no povoado romano, demonstrando a ligação da exploração romana com o mundo indí-gena, entre outros.

Palavras-chave: Mineração, época romana, complexo mineiro de Trêsminas e Jales.

Abstract: The Trêsminas roman mining exploration is reasonably characterized by func-tionality; the investigator Jürgen Wahl located some water transport channels, two earth reser-voirs, a cistern and some washing areas. Although having surveyed the settlement and thenecropolis, the data obtained did not permit the characterization of every intervened space. Theprimordial objective of this investigation project is to obtain the archeological characterizationof this exploration, through the excavation of the mining settlement, the enclosure consideredby some to be a military camp and by others an amphitheatre, the necropolis and washing areas.The results that have already been obtained, from the 2007 and 2008 campaigns, appear to benew and quite interesting discoveries, as per the existence of indigenous ceramics (dated cen-turies ii/i B.C.) in the roman settlement, showing the link between the roman and indigenousworld, among others.

Keywords: Mining, Roman epoch, Trêsminas and Jales mining complex.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 417

Carlos Batata

ozeCArUS - ServIçoS ArqUeológICoS, ldA.; [email protected]

Page 416: Issn 0871 - 4061

1. introduçãoO projecto de inves-

tigação “CaracterizaçãoArqueológica da explo-ração Romana de Três-minas” surgiu da sinergiaentre a Câmara Munici-pal de Vila Pouca deAguiar e o signatário,dado que a primeira pre-tende potenciar o Com-plexo Mineiro deTrêsminas e Jales (Fig. 1)como pólo turístico da re-gião, e o segundo, desenvolver projectos de investigação sobre mineração,tema que vem desenvolvendo há já vários anos.

2. trabalho de campoOs trabalhos de son-

dagem e escavação foramrealizados nos seguinteslocais:

- Acampamento mi-litar, anfiteatro ou hipó-dromo (2007 e 2008);

- Necrópole da Vei-ga da Samardã (Cemité-rio dos Mouros) (2007 e2008);

- Aqueduto (2008).- Povoado da Veiga

da Samardã (2007 e2008);

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 418

Figura 1. Área do Complexo Mineiro e vestígios encontrados

Figura 2. Planta de Jürgen Whal actualizada com os novos vestígiose áreas de escavação

Page 417: Issn 0871 - 4061

2.1 Acampamento militar, an-fiteatro (Fig. 2)

Este local, situado na zona planaa sul e entre as cortas de Covas e Ri-beirinha, e denominado Alto do Cimodos Lagos, apresenta um talude semi-circular no lado oeste e taludes para-lelos a sul e a norte. Tem decomprimento cerca de 70 m e de lar-gura cerca de 50. Foi considerado poruns como acampamento militar, poroutros como anfiteatro e cisterna e pornós como um provável hipódromo.

Com o intuito de esclarecer dúvidas quanto à sua tipologia, foram reali-zadas duas sondagens na parte plana interior do recinto e três sobre os taludes.As duas sondagens do interior, com uma potência de solo de cerca de 20 cm,revelaram-se completamente estéreis. As sondagens dos taludes revelaram aexistência de dois muros paralelos de pedra de xisto ligadas com barro amare-lado, distantes entre si cerca de 2,5 m e com preenchimento com terra, ro-deando todo o recinto (Fig. 4). No canto sudeste, revelou a existência de ummuro maciço com cerca de 2 m de largura.

Os materiais são parcos e resumem-se a um fragmento de cerâmica rudeincaracterística e a cerca de 1 kg de cavilhas de ferro, encontradas na base deum dos muros delimitativos, no que parece ser um ritual de fundação.

2.2 necrópole da veiga da samardã (cemitério dos Mouros) (Fig. 2)Neste local foram realizadas três sondagens de 2 x 2 m em 2007, com o

intuito de verificar a existência de sepulturas romanas.O solo xistoso apresentou pouca potência e os resultados foram negativos

numa boa parte das sondagens. A Sondagem A apenas revelou uma cova nosubstrato geológico, não integralmente escavada em 2007 dado que parte delase encontrava fora da quadrícula. A sondagem foi alargada em 2008, abran-gendo a totalidade da cova, tendo aparecido um único fragmento de cerâmica.

A Sondagem E (escavada em 2008) revelou a presença de uma sepultura,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 419

Figura 4. Duplo muro sob o talude do Recinto

Page 418: Issn 0871 - 4061

superficialmente muito remexida pelos arados, com algumas pedras de xistodesconexas. Por baixo encontrou-se uma larga sepultura escavada no xisto,pouco profunda, repleta de ossos humanos calcinados, cavilhas de ferro, umpote negro alisado no exterior e com a inscrição ALLIVS ARRV, fragmentosde um pote de tamanho médio em cerâmica comum e 6 contas de colar de boafactura.

O ritual de incineração encontra-se bem evidenciado. A presença de gran-des carvões de madeira e as cavilhas, dizem-nos que a incineração foi feita insitu com estrutura de madeira armada onde foi depositado o cadáver. Todo omaterial incinerado caiu directamente dentro da larga sepultura, encontrando-se ainda alguns ossos calcinados em conexão anatómica.

2.3 Aqueduto (Fig. 2)Na encosta a norte e fronteira à Corta de Covas, encontram-se uma série de

estruturas alinhadas pela encosta abaixo que Jürgen Whal interpretou como lavaria.Em 2008 realizou-se a escavação de uma dessas estruturas, tendo-se re-

velado como uma plataforma de assentamento de pilares. A inexistência detanques inviabiliza a hipótese de se tratar de uma lavaria. A rocha é visível aolho nu e não apresenta tanques de decantação escavados na rocha ou cons-truídos em alvenaria.

A estrutura possui, do lado sul, um forte embasamento de grandes blocosde quartzito travados nos cantos, onde assenta um muro corrido com 50 cm delargura (Fig. 5). Nas partes laterais apresenta pequenas bases quadradas paraassentamento de barrotes. A norte, a uma distância de 5 m, corre um muro idên-tico, paralelo ao anterior, mas com função diferente: devido à forte inclinaçãodo terreno, este muro destinava-se provavelmente a contenção de terras eáguas, de modo a impedir a destruição da sapata de suporte dos pilares. Notou-se a existência de três alinhamentos de sapatas na encosta que parecem cor-responder a três aquedutos diferentes. Estes aquedutos estão direccionados paraa boca da Galeria do Pilar, onde são visíveis restos de uma provável lavaria.

2.4 Povoado da veiga da samardã (Figs. 2 e 3)O povoado mineiro apresenta uma área de cerca de 2 ha de dispersão de

vestígios arqueológicos. Jürgem Wahl realizou sondagens arqueológicas em

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 420

Page 419: Issn 0871 - 4061

quatro áreas do povoado, tendo encontrado diversas estruturas habitacionais,dois tanques e uma construção de grandes dimensões.

As escavações realizadas na 1ª Campanha (2007) incidiram sobre a “Zonade escavações 2”, lado sul, de Jürgem Wahl. Nelas, encontrou o investigadordiversos compartimentos. Quando iniciámos os trabalhos, as sondagens en-contravam-se preenchidas por areão granítico para proteger as estruturas,muros, lareiras e fossas.

No total foram reabertos 9 quadrados, orientados numa única fiada, orien-tados de sul para norte, grosso modo. Todas se encontravam separadas por tes-temunhos de 1 m de largura.

Em termos de descrição do trabalho realizado, faremos, em relação a cadasondagem, a descrição do que encontrámos e o que foi escavado por JürgenWahl, e os trabalhos que realizámos em cada sondagem.

2.4.1 sondagem A Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico.Neste existia um muro bastante destruído com orientação norte-sul e uma pe-quena fossa escavada no xisto. Os trabalhos que realizámos para poder docu-mentar a realidade arqueológica resumiu-se à fotografia, desenho do muro efossa e desenho do corte este.

2.4.2 sondagem B Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado não havia sido escavado na totalidade até ao aflo-ramento geológico. No canto sudeste havia sido deixado parte do pavimentode barro esverdeado e do lado norte a camada de destruição composta por pe-dras dos muros, tégulas e imbrices. Ao centro havia os restos muito destruídosde um muro de sentido norte-sul. Os trabalhos que realizámos, para poder do-cumentar a realidade arqueológica, para além da fotografia, desenho do planoe corte este, consistiu no desmonte do derrube. Por baixo deste encontrava-seos restos de uma lareira, embasada com tégulas, tendo nós definido o limitenorte. O restante da lareira havia já desaparecido com os trabalhos arqueoló-gicos da década de 80 do séc. XX.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 421

Page 420: Issn 0871 - 4061

2.4.3 Banqueta norte da sondagem AProcedeu-se ao desmonte integral do testemunho, verificando-se a exis-

tência de um muro de sentido este-oeste, encaixado no afloramento rochoso ea uma cota superior à dos restantes muros que encaixavam neste.

2.4.4 sondagem c Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado não havia sido escavado na totalidade até ao aflo-ramento geológico. Na parte sul encontrava-se a camada de destruição, bemcomo do lado este. O resto do quadrado encontrava-se escavado até ao pavi-mento. Para além da fotografia, desenho do plano e do corte este, removeu-sea camada de destruição e escavou-se o pavimento de terra batida até ao aflora-mento, tendo-se deixado um testemunho no canto sudeste. A escavação até aoafloramento revelou, na parte norte, xisto muito polido. No centro do quadradoencontrava-se uma mancha de terra cozida (lareira), ao nível do pavimento. Noresto da superfície do quadrado, o xisto estava rebaixado, apresentando 7 bura-cos de poste. Pensamos que se trata de uma construção anterior, cujas dimensõessó será possível obter após a abertura dos quadrados QK5 e QJ5.

2.4.5 Banqueta norte da sondagem BCom o desmonte da camada de destruição surgiu um muro de sentido

este-oeste, de pedras de xisto e reutilizando grande quantidade de fragmentosde mós de granito, na metade este. Poderá corresponder a uma reformulaçãodos muros, o que só se poderá confirmar em futuras campanhas.

2.4.6 sondagem d Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico,com excepção do lado norte, onde existia alguma aglomeração de pedras depequeno e médio tamanho, em cota abaixo do afloramento.

2.4.7 Banqueta norte da sondagem cO desmonte da banqueta revelou a existência dos restos de um muro de

sentido este-oeste, em muito mau estado de conservação.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 422

Page 421: Issn 0871 - 4061

2.4.8 sondagem e Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o mesmo havia sido escavado na totalidade até ao afloramentogeológico. Do lado este apresentava uma pedra com uma depressão redondamuito polida, que talvez possa ser interpretada como o apoio de um fuso. Nocanto sudeste existia uma fossa cavada no xisto. Os trabalhos que realizámospara poder documentar a realidade arqueológica resumiu-se à fotografia, de-senho do plano e do corte este.

2.4.9 Banqueta norte da sondagem dO desmonte da banqueta revelou a existência da continuação do aglome-

rado de pedras em cota abaixo do afloramento e que se havia já detectado naSondagem D. Após a remoção das pedras e algumas tégulas, verificou-se queexistia um canal de água, com as dimensões de 120 cm de profundidade e 90cm de largura. Os últimos 70 cm apresentavam pedras de grandes dimensões.No fundo apresentava uma camada de lodo esverdeado com cerca de 20 cmde espessura. Nas paredes, e especialmente no fundo, eram visíveis as marcasde pico da sua construção. Na metade este, junto ao topo, apresentava aindauma cavidade de cada lado destinada a encaixar um barrote de madeira, inter-pretado como uma ponte de madeira que permitia a passagem sobre o canal.Não sabemos a largura desta ponte e se se tratava de uma ponte pedonal ou setambém permitia a passagem de carros. Estes dados só poderão ser clarificadoscom a escavação do quadrado QI5.

2.4.10 sondagem F Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico,apenas na parte sul do quadrado e uma estreita faixa do lado oeste. Do ladoeste apresentava uma fossa que não se encontrava escavada até ao fundo (FossaI). Sobre parte desta fossa encontra-se os restos de um muro de sentido este-oeste que fazia canto com um de sentido norte-sul. Os trabalhos que realizámospara poder documentar a realidade arqueológica para além da fotografia, de-senho do plano e do corte este, incidiu na escavação da profundidade total dafossa, na metade visível no quadrado, já que ela se prolonga para o quadrado

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 423

Page 422: Issn 0871 - 4061

QG5, e na escavação da depressão central do quadrado que apresentava umrebaixamento do xisto (Compartimento I). Esta depressão estava nivelada comum pavimento de terra ao nível do afloramento de xisto. A depressão apresentaformato rectangular e corresponde a uma construção anterior que se prolongapara a Sondagem G. A escavação desta depressão até ao afloramento rebaixadorevelou a presença de várias manchas de cinzas e duas pequenas fossas repletas,uma, a do lado este, com fragmentos de mós de granito para dar consistênciaao terreno e a outra, do lado oeste, com terra e 4 pesos de tear de formato ar-redondado e perfuração excêntrica.

Em 2008, foram escavadas as manchas de cinzas e retiradas os fragmentosde mós, tendo revelado, a das mós, uma depressão polida, interpretada comolocal de farinação de metais. A mancha de cinzas central revelou a existênciade um pequeno forno de fundição de ferro (o fundo apresentava escória deferro e pequenos fragmentos de cobre agarrado à rocha), de tradição indígena,com canal para arrefecimento do metal.

A escavação do QG5, para além de permitir obter a planta da Fossa I, re-velou a presença de pequenos canais escavados no xisto interligando váriasfossas, no que se poderá interpretar como fossas de decantação. Infelizmente,não foram encontrados sedimentos ou materiais cerâmicos que as caracteri-zassem.

Tanto a Fossa I como o Compartimento I foram nivelados com um pavi-mento de barro esverdeado, aquando da construção de uma casa romana (Com-partimento II).

A escavação completa dos QG5 e QF5 revelou a presença de uma casaromana, onde se praticava a tecelagem, a avaliar pelo elevado número de pesosde tear que surgiram (alguns em xisto). Associado a esta actividade surgirammuitos nódulos de resina junto de uma lareira. Por baixo, junto ao afloramento,e por baixo do pavimento de barro esverdeado, surgiu um covacho (Cova I)onde se encontravam fragmentos cerâmicos quartzíticos muito friáveis, idên-ticos aos recolhidos no Castelo dos Mouros.

A esta casa, e à actividade aí desenvolvida, associa-se o apoio de fuso daSondagem E.

2.4.11 Banqueta norte da sondagem e

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 424

Page 423: Issn 0871 - 4061

O desmonte do testemunho não revelou a existência de qualquer estruturaarqueológica.

2.4.12 sondagem g Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado havia sido escavado apenas até ao pavimento deterra batida (Compartimento III). Do lado norte e este, apresentava dois murosfazendo ângulo entre si. Assim, para além dos trabalhos de fotografia, desenhodo plano e do corte este, apenas pusemos à vista as pedras que se revelaramcomo sendo um muro formando canto, de uma fase anterior à deste comparti-mento, pois encontrava-se coberto com o pavimento. Este compartimento(Compartimento II) encontra-se quase completo, faltando apenas a parede oesteque se encontra nos quadrados QF7 e QE7, a escavar em anos próximos.

Em 2008, foi removido o pavimento de barro esverdeado, tendo sido dei-xado um testemunho a norte. Por baixo surgiu uma grande fossa que pareceser a continuação da Fossa II, existente na Sondagem H. Foi apenas parcial-mente escavada, tendo revelado nos entulhos iniciais, fragmentos de um pe-queno pote negro, com paredes exteriores espatuladas, com semelhançasevidentes com o pote achado na necrópole romana. Deverá datar do séc. I d.C..

Ao lado foi escavado o QE5 que revelou a existência de mais uma fossaescavada no xisto (Fossa IV). As camadas superficiais de entulho revelaramuma moeda de prata de Tibério, que nos data o entulhamento das fossas no seureinado ou, quanto muito, no reinado de Cláudio.

Os quadrados G5, F5 e E5, revelaram ainda um arruamento romano entreas casas, com uma canalização escavada no xisto e coberta com lajes de xistoe mós gastas. O pavimento difere dos das casas, pois é constituído por diversascamadas de estéril da mina, composto por quartzo leitoso fragmentado em pe-quenos pedaços.

2.4.13 Banqueta norte da sondagem FO desmonte do testemunho revelou a existência de um muro de sentido

este-oeste e que liga ao muro da Sondagem F. Para além disso, existia aindarestos da camada de destruição, composta por pedras, tégulas e imbrices.

2.4.14 sondagem h

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 425

Page 424: Issn 0871 - 4061

Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadradoverificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento. Apresen-tava uma grande fossa no canto sudeste, com cerca de 80 cm de profundidade,anterior aos muros existentes sobre ela (Fossa II). No quadrado existem trêsmuros, dois de sentido este-oeste e outro de sentido norte-sul, definindo várioscompartimentos. Do lado norte, ao nível do pavimento, existe uma base qua-drangular em granito, cuja função não é perceptível. O pavimento foi removidoquase na totalidade, nas escavações anteriores, tendo restado apenas um teste-munho. Os trabalhos que realizámos, para poder documentar a realidade ar-queológica, resumiu-se à fotografia, desenho do plano e corte Este.

2.4.15 Banqueta norte da sondagem gO desmonte do testemunho revelou a existência de dois muros paralelos

mas ligeiramente divergentes de sentido este-oeste e outro de sentido norte-sul e que tem continuidade na Sondagem H. Trata-se de muros de muito boaqualidade e com cerca de 50 cm de altura. Assentam sobre fossas existentespor baixo destes, pertencentes a uma fase anterior do povoado. O espaço entreos muros revelou grande quantidade de cerâmica indígena, misturada com si-gilatas e cerâmica comum romana. Na parte oeste, por baixo da camada dedestruição apareceram quatro moedas de bronze, inseríveis no Alto Império.

2.4.16 sondagem i Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado

verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento, na partesudeste, incluindo uma fossa de grandes dimensões (Fossa III). Do lado oestee norte, a escavação de Jürgen Whal foi apenas feita até ao pavimento do com-partimento oeste, tendo sido ainda realizada uma sondagem de 1 x 1 m até aoafloramento, verificando-se existir camadas arqueológicas por baixo do pavi-mento. Este pavimento difere de todos os outros já que apresenta uma cor aver-melhada e é composto por quartzo leitoso partido em pedaços muito pequenose que parece ser um aproveitamento de materiais provenientes da mina. Os tra-balhos que realizámos, para poder documentar a realidade arqueológica, resu-miu-se à fotografia, desenho do plano e cortes este e oeste. O desenho do corteoeste, para além de documentar várias fases de ocupação deste compartimento,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 426

Page 425: Issn 0871 - 4061

constituía também o limite do QC7 que foi por nós integralmente escavado.

2.4.17 Banqueta norte da sondagem hO desmonte do testemunho revelou a existência da continuação da Fossa

III para debaixo da banqueta. Foi integralmente escavada, não tendo reveladomateriais arqueológicos que ajudassem à sua datação. A fossa continua paraeste, para o quadrado QC5.

2.4.18 Qc7 Foi o único quadrado escavado integralmente durante a 1ª Campanha Ar-

queológica (2007). Permitiu obter a quase totalidade do compartimento oesteda Sondagem I. Todo o quadrado estava repleto com a camada de destruiçãocomposta por pedras de xisto, tégulas, imbrices e algumas peças arqueológicas,entre as quais se destaca uma lucerna. Abaixo, encontrava-se o pavimentoquartzítico que não foi desmanchado nesta campanha. No centro apresentavauma depressão sem pavimento que pode corresponder ao embasamento de umatrave, dado termos encontrado sobre o pavimento um bloco de granito partidoem dois com uma cavidade ao centro. O muro oeste do compartimento apre-senta, no canto noroeste apenas o embasamento do muro, enquanto o restanteapresenta uma altura de 40 cm, e que corresponde a uma porta.

Em 2008 foram integralmente escavados os QC7 e QB7, tendo o QD7sido escavado apenas até aos pavimentos de barro do corredor e do comparti-mento do QD7.

A escavação destes 3 quadrados permitiu obter uma leitura da complexaorganização estratigráfica deste espaço, com sucessivas remodelações para finsdistintos. Começando pela última ocupação do espaço (talvez do séc. II d. C.)verificámos que o pavimento de quartzo leitoso correspondia ao pavimento deum átrio parcialmente coberto: a existência de um buraco de fixação de umbarrote encimado por uma pedra de granito a fazer de capitel, na metade nortedo átrio, sugere que aí havia uma cobertura. O átrio dava para 5 compartimen-tos diferentes e para um corredor. Nesta fase, todos os compartimentos adja-centes e o corredor apresentavam as paredes rebocadas com argila avermelhadacom alguma cal como agregante.

Depois de removido este pavimento, surgiu uma camada de terra esver-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 427

Page 426: Issn 0871 - 4061

deada com algumas sigilatas sudgálicas. No centro do átrio existia uma lareira,composta por tégulas viradas ao contrário, numa posição mais ou menos cen-tral. As paredes ainda eram rebocadas.

Abaixo da lareira existia outro pavimento de quartzo leitoso (estéril damina), o que sugere que o espaço era, nessa fase, descoberto. Nenhuma dasparedes se encontrava rebocada.

Abaixo deste pavimento, surgiu o afloramento xistoso, nos extremos sul enorte. A zona central era ocupada por uma grande fossa, continuação da FossaIII encontrada na Sondagem I. A fossa encontra-se dividida em duas secções: asecção oeste (que se prolonga para o QC8, ainda não escavado), com cerca de 1m de profundidade e com o fundo curvilíneo bastante alisado, e a secção esteque é a continuação da Fossa III da Sondagem I, com cerca de 2 m de profundi-dade e paredes pouco uniformes. Nos bordos da fossa foram encontrados diver-sos buracos de poste, escavados no xisto, que devem ter pertencido a umaestrutura de madeira montada sobre a fossa. A sua funcionalidade é desconhecida.

A encimar os entulhos que foram lançados para colmatar a fossa e porbaixo da lareira de tégulas, surgiu um muro em L, de constituição muito toscae frustre que foi cortado pelas construções romanas. No bordo da fossa (ladonorte) surgiu uma lareira ovalada, cuja base é composta por lascas de xisto co-berto com uma camada de barro. Em volta, encontravam-se as cinzas. Paraalém de algumas cavilhas de ferro, esta camada revelou a presença de um frag-mento de taça com engobe vermelho no interior, comum em meados do 1º mi-lénio a. C.

3. Materiais ArqueológicosOs materiais arqueológicos recolhidos confirmam em parte as conclusões

a que Jürgen Wahl chegou, ou seja, que as moedas mais antigas datam o po-voado (e consequentemente o início da exploração mineira), da época de Cláu-dio, embora se admita que a exploração possa ter começado com Augusto.Entre os materiais encontram-se os materiais clássicos recolhidos em todas asescavações de período romano como seja lucernas, sigilatas, moedas, pesos detear. Como aspecto inovador, refira-se o prolongamento da baliza cronológicaestabelecida por Jürgen que datava o fim da exploração no final do séc. II d.C..O aparecimento de uma moeda forrada a prata, datando de meados do séc. III

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 428

Page 427: Issn 0871 - 4061

d.C., é sinal de que a exploração mineira se prolongou no tempo. Os materiaisindígenas e a existência de uma estruturação urbanística anterior, bem como aexistência de fossas e materiais de filiação indígena apontam para um provávelinício da exploração ainda em época indígena. É certo que estes materiaispodem ainda encontrar-se no séc. I d.C., logo após a conquista da penínsulapor Augusto.

Registe-se o escasso material anfórico encontrado (apenas o bico de umaânfora), o que não deixa de ser estranho numa exploração mineira estatal e queestaria guardada por legiões militares.

LUCERNA: do tipo Firmalampen, muito frequentes em acampamentosromanos. Em Asturica Augusta encontraram-se moldes, de qualidade poucoapurada como esta (SEPÚLVEDRA et ali, 2001,p. 237-280). Têm uma crono-logia entre meados do séc. I e o séc. II d.C. Dadas as características muito sim-ples e pasta pouco apurada e tendo em conta que se encontrou uma sigillatahispânica, dataríamos esta do séc. II d.C. A sigillata hispânica encontrada podeser datada entre o fim do séc. I e meados do séc. II d. C. (DELGADO et ali,1975, p. 159).

ALGUIDAR: de bordos revirados, encontrado entre os dois muros poderádatar de época flaviana, se tivermos em conta paralelos iguais encontrados emConimbriga (ALARCÃO, 1975, Prancha 26 e Apêndice I). Os potes com ore-lhas no bordo com furos de suspensão, são claramente indígenas, com crono-logias dos sécs. II/I a. C (SILVA, 1986, Estampas 55 e 81 e RUIBAL, 1980, p.495), bem como o cossoiro encontrado. A cerâmica com cordão aplicado comincisões (RUIBAL, 2006-07, p. 507), poderá ser datada de finais do séc. I a.C.e inícios do séc. I d.C..

PEÇAS DE JOGO (pretas, brancas e uma azul): encontram paralelos emConimbriga (ALARCÃO et ali, 1976, p. 209-210 e Estampa 46), datadas daépoca de Trajano. As peças podiam ser usadas no ludus calculorum, no luduslatrunculorum ou no duodecim scripta. Estes jogos foram muito frequentesdurante o séc. I d.C. (GOBERNA et ali, 1997).

DISCO EM CHUMBO: pouco maior que um asse, com a marca X emambos os lados, eram muito usados em acampamentos militares. A sua crono-logia é difícil de precisar, mas poderá datar do séc. I d.C.

4. conclusão

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 429

Page 428: Issn 0871 - 4061

Em 2008, foram alargadas as sondagens arqueológicas de Jürgen Whal,apenas numa das áreas do povoado, tendo-se podido caracterizar as casas comosendo compartimentos de boa qualidade, compostas por muros de pedra tendocomo ligante o barro, telhado de telhas romanas e pavimentos de barro, comlareiras centrais. Por baixo detectou-se uma ocupação com cerâmicas da Idadedo Ferro que apontam para a possibilidade de a exploração das minas de ouroter sido iniciada por povos indígenas. Os materiais arqueológicos encontradossão abundantes e entre eles encontram-se moedas em bronze e uma forrada aprata, taças e pratos de sigillatae, inúmeros pesos de tear, ligados a actividadesde fiação e uma lucerna (candeia de iluminação).

Por baixo do povoado romano, existemmuitas fossas escavadas no xisto, de diversostamanhos e profundidades (Fig. 6). Muitas têmpequenos canais escavados no xisto, interli-gando várias fossas. Pensamos estar peranteuma zona industrial de tratamento do ouro,dado que esta unidade se encontra bastantepróxima da Corta de Covas (Fig. 3).

No centro do povoado surgiu um canal detransporte de água para a zona da lavaria da ga-leria Esteves Pinto, tendo-se detectado a suaponta terminal, em terrenos baldios e cobertosde silvas.

Todos os dados obtidos nas escavações ar-queológicas dos anos de 2007 e 2008, apontampara que o povoado romano, no início da exploração se confinasse ao morro que sesitua a norte. Com o desenvolvimento da exploração, com maior número de mineirose consequente crescimento do povoado, houve necessidade de desactivar esta unidadeindustrial e proceder ao entulhamento do canal. Por esta altura, a lavaria da GaleriaEsteves Pinto estaria já desactivada, dado que a profundidade atingida na Corta deCovas ultrapassaria em muito a profundidade desta galeria que se situa nos 30 mabaixo do topo da Corta. Provavelmente seria a Galeria do Pilar (situada 50 m abaixodo topo da exploração) que faria o escoamento do material pétreo.

Em que época é que se deu esta expansão do povoado? A moeda de prata

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 430

Figura 6. Povoado Mineiro (Sond.I/QC7) – Estruturas romanas e fossasescavadas no xisto

Page 429: Issn 0871 - 4061

de Tibério foi encontrada no topo de uma das fossas entulhadas, no meio deentulhos aí depositados. Uma taça de paredes finas da 2ª metade do séc. I d.C.,encontrada também nas camadas de topo de entulhamento da Fossa III, pareceapontar para uma fase mais tardia. É necessário continuar a escavação, paradelimitação e compreensão total desta área industrial, e calibrar, se possível,com novos artefactos, a altura em que se deu tão importante alteração.

BibliografiaALARCÃO, A. Moutinho e PONTE, Salete da (1984), Colecções do Museu Monográfico de Co-

nimbriga. Coimbra: Gráfica de Coimbra;ALARCÃO, Jorge de (1975), La Ceràmique Commune Locale e Régionale. Fouilles de Conimbriga, 5.Paris: Diffusion E. de Boccard;ALARCÃO, Jorge de, DELGADO, Manuela, MAYET, Françoise, ALARCÃO, Adília Moutinho e PONTE,Salete da (1976), Céramiques diverses et verres. Fouilles de Conimbriga, 6. Paris: Diffusion E. de Boccard;DELGADO, Manuela, MAYET, Françoise e ALARCÃO, Adília Moutinho (1975), Les Sigillés. Fouilles deConimbriga, 4. Paris: Diffusion E. de Boccard;GOBERNA, Fernando Javier Costas e CUÑARRO, José Manuel Hidalgo (1997), Los juegos de tablero engalicia, Aproximación a los juegos sobre tableros en piedra desde la Antigüedad Clásica al Medievo. Vigo;SEPÚLVERDRA, Eurico de e SOUSA, Vítor R. Cordeiro de (2001), Cerâmicas finas romanas do MuseuMunicipal de Torres vedras: as Lucernas. Conimbriga, 40. Coimbra: instituto de Arqueologia da FLuC;SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986), A Cultura Castreja no noroeste de Portugal. Paços de Ferreira:Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira;RUIBAL, Alfredo González (2006-07), Galaicos, Poder y comunidad en el Noroeste de La Península Ibérica(1200 a.C. - 50 d.C.). Brigantium, 19, Boletín do Museo Arqueolóxico e Histórico da Coruña;WAHL, Jurgen (1986), Resultados das pesquisas arqueológicas, efectuadas de 4/8 a 10/11/86, na zona dasminas de ouro romanas de Três Minas (conc. vila Pouca de Aguiar, distr. vila Real). Vila Pouca de Aguiar.p. 28.WAHL, Jurgen (1986a), Minas Romanas de Tresminas (1986), Escavação, Trabalhos Anteriores ao IPA.WAHL, Jurgen (1998), Aspectos tecnológicos da indústria mineira e metalúrgica romana de Três Minas eCampo de Jales (Concelho de vila Pouca de Aguiar), Actas do Seminário “Museologia e Arqueologia Mi-neiras” (Outubro 1998). Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, p. 57-68. WAHL, Jurgen (1988a), Três Minas. vorbericht uber die archaologischen untersuchungen im bereich desromischen goldbergwerks 1986/87), Madrider Mitteilungen. Madrid. 29. WAHL, Jurgen (1988b), Minas Romans de Tresminas (1988), Relatório Aprovado.WAHL, Jurgen (1993), Três Minas. vorbericht uber die archaologischen Ausgrabungen im Bereich desromischen goldbergwerks 1986/87, Montanarchaologie in europa. Montanarchaologie in Europa. Berichtezum Internationalen Kolloquium “Fruhe Erzgewinnung und Verhuttung in Europa” in Freiburg im Breisgau,vom 4, bis.7, Oktober 1990, p. 123-152.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 431

Page 430: Issn 0871 - 4061

soBRe Los oRígenes y evoLución de LAs PRiMeRAsigLesiAs RuRALes en LA ALtA edAd MediA: eL cAso deteRRA de ceLAnovA (ouRense)On The ORiginS And evOLuTiOn OF The FiRST RuRALChuRCheS in The eARLY MiddLe AgeS: The CASe OF TeRRA OFCeLAnOvA (OuRenSe)

Resumen: En esta comunicación pretendemos reflexionar brevemente sobre las raíces ycaracterísticas de las primeras edificaciones cristianas en el mundo rural de la Galicia medieval,atendiendo especialmente a su organización espacial y a su relación con elementos previos dela estructura territorial. Se trata de un tema complejo y poco estudiado hasta el momento, perofundamental para comprender no solo el paisaje tardoantiguo y medieval y las comunidades quele dieron forma sino también la estructura territorial del mundo rural tradicional gallego que hallegado hasta nuestros días. Para ello nos centraremos en la comarca orensana de Terra de Ce-lanova, donde a través de la unión de datos arqueológicos con otros documentales y geográficos,podemos observar la nítida relación de las primeras iglesias rurales con los ejes de articulaciónterritorial de época galaicorromana y con los espacios sagrados previamente existentes de lascomunidades locales. Igualmente, esta perspectiva nos ayudará a estudiar el progresivo y fun-damental papel articulador del poblamiento rural del entorno que estas primeras iglesias van ad-quiriendo entre los siglos V y X.

Palabras-clave: iglesias, necrópolis, territorio, alta edad media.

Abstract: in this work we intend to reflect briefly on the origins and characteristics ofthe first christian buildings in the rural world of medieval galicia, with particular regard totheir spatial organization and their relationship with elements of the previous territorial struc-ture. This is a complex and scarcely studied issue, but crucial to understand not only peasantscommunities and landscape in Late Antiquity and Middle Age but also the territorial structureof the traditional rural world in galicia that still survives nowadays. To do this we will focus onthe region of Terra de Celanova, in Orense, where by means of the union of archaeological,documentaries and geographical data, we can see the strong relationship between the first ruralchurches, territorial articulation of roman period and previous sacred spaces of local commu-nities. Alike, this perspective will help us to study the progressive and vital role of settlementarticulation that these first churches take between v and X centuries.

Keywords: churches, necropolis, territory, early middle age.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 433

José Carlos Sánchez Pardo

UnIverSIdAd de SAntIAgo de CoMPoStelA. [email protected]

Page 431: Issn 0871 - 4061

1. introducciónEn las siguientes líneas trataremos de presentar brevemente algunas ideas

sobre la introducción, papel y significado de las primeras edificaciones cristianasrurales en la Galicia altomedieval, es decir, entre los siglos V y X. Consideramosque se trata de un tema de gran relevancia y potencialidad para conocer mejorno solo la sociedad medieval sino también las raíces de la organización rural tra-dicional gallega que ha llegado hasta nuestros días. Sin embargo, a pesar de dichaimportancia, esta cuestión ha sido hasta el momento muy poco estudiada, espe-cialmente desde una perspectiva amplia e interpretativa. Esta falta de trabajos escausa y consecuencia a la vez de la escasez de datos para abordar este tema, es-pecialmente de aquellos de tipo arqueológico que son los que en estos momentosmás podrían hacer avanzar las investigaciones.

Hay que señalar desde ahora que en este pequeño trabajo pesará siempreesa importante falta de datos sólidos de partida. Sin embargo, consideramosque es posible mitigarla en parte superando las tradicionales divisiones disci-plinares e integrando la mayor cantidad de fuentes disponibles, tanto arqueo-lógicas como documentales como geográficas. Concretamente nos centraremosen el territorio de la actual comarca de Terra de Celanova (Ourense) del cualhemos realizado un vaciado lo más exhaustivo posible de dichas fuentes de in-formación1 que nos permitirán plantear algunas hipótesis sobre el origen, papely evolución de las primeras iglesias rurales entre los siglos V y X. Obviamente,dados los límites de esta comunicación, nopodemos realizar un estudio detallado deeste amplio y complejo tema sino simple-mente apuntar una serie de ideas de trabajosobre el mismo desde el plano de la orga-nización espacial. En ese sentido, nos cen-traremos principalmente en tres grandescuestiones a partir del estudio del caso deTerra de Celanova: la cronología y ritmo dedifusión de las primeras iglesias rurales, suimplantación concreta a escala local y ladefinición de su papel articulador territo-rial.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 434

Figura 1: Mapa de situación general de la co-marca de Terra de Celanova

Page 432: Issn 0871 - 4061

2. cronología y difusión de las primeras iglesias ruralesLos primeros testimonios cristianos en gallaecia se pueden remontar al

s. IV y están ligados, como en otras zonas del imperio (Ripoll; Velázquez 1999;p. 101-104) a los ámbitos más romanizados: núcleos urbanos y sobre todo aglo-merados secundarios. Desde estas áreas más romanizadas y culturalmente másdinámicas el cristianismo se extenderá, al igual que sucedió también con elproceso de romanización, hacia otras zonas más “periféricas”, de manera queno será hasta finales del V e inicios del VI cuando comience la verdadera ylenta difusión del cristianismo por el ámbito rural (Armada Pita 2003, p. 388;López Quiroga 2005, p. 193-200). En este proceso de expansión, la iglesia seadapta plenamente a la estructura organizativa romana, de manera que existiráuna nítida y fuerte relación entre la articulación territorial tardorromana y laintroducción y organización de la iglesia en gallaecia2.

En este contexto de expansión del cristianismo por el mundo rural la ma-yoría de las primeras edificaciones cristianas corresponderían a fundacionesprivadas de templos o monumentos dedicados a mártires, constatados en His-pania ya desde el s. IV (Ripoll; Velázquez 1999, p. 101-110). Entre los siglosVI y VII se multiplicarían estas fundaciones de basílicas por particulares, desdegrandes reyes hasta pequeños propietarios y por ello los concilios tratarán deregularlas, poniéndolas bajo su jurisdicción (García Rodríguez 1966, pp. 359-365), algo que no siempre lograrán. Detrás de este movimiento de fundaciónde iglesias por parte de las élites se encuentran motivaciones religiosas, factoreseconómicos de atracción de patrimonio así como la búsqueda de reconoci-miento y prestigio social. Por ello, durante estos primeros siglos no debemosver tanto un fenómeno de consciente planificación de la implantación eclesiás-tica en el territorio, ni la búsqueda de funciones parroquiales para las comuni-dades. Se trataría más bien de una ofrenda, de una construcción privada eindividual por parte de una persona de cierto rango en la sociedad local que,sin embargo, dado el carácter de la nueva religión cristiana, conlleva en símisma (desde sus inicios o al cabo de poco tiempo) una función religiosa co-lectiva, comunitaria. Por otro lado hay que tener en cuenta que durante estosprimeros siglos, muchas de estas edificaciones no tendrían demasiada regula-ridad en su uso y sufrirían frecuentes etapas de abandono así como restaura-ciones (García Rodríguez 1966, p. 363).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 435

Page 433: Issn 0871 - 4061

En el caso concreto de Terra de Celanova desconocemos la cronologíaprecisa de aparición de las primeras iglesias en esta comarca, ya que no pose-emos evidencias directas hasta el siglo IX3. Sin embargo, sí podemos estableceralgunas hipótesis de trabajo a partir del análisis del Parroquial Suevo. Este fa-moso texto, cuya autenticidad básica fue probada por P. David (1947, p. 1-82)se remonta a finales del siglo VI y consiste, una vez liberado de añadidos pos-teriores, en una lista de trece sedes episcopales junto a sus “iglesias”, que segúnP. Díaz Martínez, se deben interpretar como “iglesias públicas”, no privadas,es decir, aquellas pertenecientes a la sede episcopal (Díaz Martínez 1994, p.35-38).

A pesar de que se ha subrayado en repetidas ocasiones el nivel relativa-mente alto de organización eclesiástica del Reino Suevo a finales del siglo VIque este parroquial refleja (Díaz Martínez 1994; 1997, p. 266), así como sucapacidad de adecuación a las estructuras y realidades preexistentes de cadazona de Galicia, debemos matizar que, en lo que se refiere a la implantaciónconcreta de las iglesias en el ámbito rural, y especialmente en el espacio de laactual Galicia, parece tratarse de un número de iglesias todavía muy pequeño(aun teniendo en cuenta que en él no se recogen las edificaciones religiosasprivadas). Concretamente, el Parroquial Suevo apenas ofrece información re-lativa a nuestro territorio de estudio, ya que no se cita de ningún modo en él,y tan solo podemos averiguar que estaría integrado en una “parroquia” relati-vamente amplia, como sería la parroquia de Auria (David 1947, p. 39), lo cualno nos garantiza que existiese alguna iglesia concretamente en nuestro territorioa finales del s. VI.

Cuando, tres centurias más tarde, la documentación monástica comienzaa iluminar paulatinamente esta zona, en la segunda mitad del siglo IX, obser-vamos diversos casos de restauraciones de iglesias que estaban abandonadaso arruinadas, lo que nos indica una cierta antigüedad para las mismas (GarcíaÁlvarez 1955) ¿Qué antigüedad exactamente? No podemos decirlo, pero loque parece desde luego evidente es que el siglo anterior, el VIII, dado el con-texto político en esta zona al Sur del Miño tras la invasión musulmana –al mar-gen totalmente de consideraciones sobre el alcance socioeconómico de laruptura tradicionalmente asociada a este momento- no debió ser un momentoespecialmente favorable para la creación de iglesias por parte de las élites, ni

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 436

Page 434: Issn 0871 - 4061

en general, para la intensificación y consolidación de la estructura eclesiástica,teniendo por ejemplo en cuenta que la sede orensana no se restauraría hastaaproximadamente el año 877 (García Álvarez 1955, p. 135-142). Además lacausa precisamente de muchos de esos abandonos parece estar en el contextode la invasión musulmana. Por tanto, podemos pensar que muchas de esas igle-sias que se restauran a lo largo del s. IX en Orense tenían su origen, no en elsiglo VIII sino en los siglos VI y más probablemente, según lo antes señaladosobre el Parroquial Suevo, en el s. VII.

En efecto, el documento más antiguo que menciona una iglesia en la co-marca de Terra de Celanova, ya en el año 889 (Andrade Cernadas 1995, doc.36), se refiere precisamente a la restauración de dicha iglesia, que es el actualtemplo de San Salvador de Paizás, el cual existía ya pero se encontraba en es-tado ruinoso. Dado este estado ruinoso que provendría de un tiempo indeter-minado pero probablemente lejano, y según lo anteriormente expuesto,podríamos pensar que esta iglesia dataría como mínimo de finales del sigloVII. Otro caso que quizá podría remontarse a esa cronología es el de la iglesiade San Martín, actualmente desaparecida, pero que existía y tenía ya gran an-tigüedad cuando San Rosendo decide fundar su monasterio en el 936 en la Villade villare, tal y como se recoge en la Vida de San Rosendo de Ordoño de Ce-lanova (Díaz y Díaz; Pardo Gómez; Vilariño Pintos 1990, p. 141-145). El restode las iglesias que podemos rastrear en la documentación más temprana relativaa la comarca de Celanova parecen ser fundaciones (y no restauraciones, queen su caso sí se especifican, como sucede con San Salvador de Paizás) datadasa partir del último cuarto del siglo IX, como veremos más adelante.

Por supuesto podrían haber existido algunas otras iglesias de época visi-goda en esta comarca de las cuales no han quedado rastros, ni documentalesni materiales. Con un carácter hipotético podríamos señalar dos de estas posi-bles iglesias en Terra de Celanova que podrían tener origen ya en época visi-goda según la suma de varios indicios (aunque ninguno concluyente). Una deellas sería la iglesia de Santa Baia de Portela, mencionada ya en el año 1007(Andrade Cernadas 1995, doc. 203, p. 284-285), en el interior de la cual fuehallada un ara romana. Aunque la asociación entre elementos de culto religiosoromano e iglesias cristianas es muy frecuente y no implica un origen necesa-riamente antiguo de dicha iglesia, en este caso hay que añadir también los in-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 437

Page 435: Issn 0871 - 4061

dicios provenientes de su antigua advocación, a Santa Eulalia (Armada Pita2003), y de su ubicación a los pies del paso de la vía romana entre el campa-mento de Aquis Querquenis, Auria y Lucus Augusti. Un caso similar seria elde San Pedro da Mezquita, citada en el año 1012 (Andrade Cernadas 1995,doc. 548, p. 756-757) en la cual según López Quiroga (2004, p. 564) fueronlocalizados una lauda de estola y diversos enterramientos de época altomedie-val. Igualmente esta iglesia, de advocación especialmente antigua, se encon-traría muy próxima al paso de una vía romana.

Por tanto, a la luz de estos (por desgracia escasos) indicios podemos pen-sar que las primeras edificaciones cristianas en Terra de Celanova surgiríanquizá a lo largo del siglo VII, en zonas cercanas a las ya antiguas vías de co-municación de época romana y que aún permanecerían en uso. En todo caso,a inicios del siglo VIII estaríamos ante un número aun muy reducido de iglesiasen este territorio.

Sin embargo, a partir del sigloVIII parece comenzar un cambio en elcarácter de las fundaciones de iglesias,pasando de ser un acto ligado princi-palmente al prestigio y contexto patri-monial de un aristócrata, a ser cadavez más, un fenómeno controlado porlas jerarquías eclesiásticas y dirigidoal encuadramiento de las comunidadesrurales en la vida religiosa de la Iglesiacatólica. Se trata de un cambio funda-mental tanto a nivel de la articulaciónterritorial como en general, en la orga-

nización de la vida de la sociedad galaica de estos siglos.Lógicamente, se trató de una transformación lenta y progresiva. En este

sentido, a mitad del siglo IX, como indica F. López Alsina (1988, p. 163) aunse recordaba el antropónimo del primitivo fundador de algunas iglesias de ladiócesis de Iria. Sin embargo, progresivamente estos indicios del antiguo ca-rácter de las iglesias parecen ir desapareciendo de manera que las iglesias men-cionadas en la documentación en el siglo X se describen ante todo por la

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 438

Figura 2: Datos sobre las primeras iglesias ruralesen Terra de Celanova (ss. V-X)

Page 436: Issn 0871 - 4061

comunidad rural a la que pertenecen, es decir, por la villa en la que se encuen-tran. De este modo, progresivamente las iglesias irán tomando las diferentesfunciones de un centro de culto aldeano, que siguiendo a J. Escalona Monge(1994, p. 575-584) podríamos concretar en cinco: función de culto, funcióneconómica, de polarización del hábitat, de necrópolis y de referencia espacial.La iglesia por tanto, se convierte en un centro de referencia de la comunidad,en el que no solo se celebran los sacramentos y se desarrolla la vida religiosa,sino que también es el lugar en el que se entierran los difuntos, se reúnen losvecinos, se dirimen pleitos o se organiza la recaudación fiscal (Pallares Mén-dez; Portela Silva 1998, p. 40-42).

La importancia de esta transformación en el papel de la iglesia, en con-sonancia con los cambios que experimenta toda la sociedad, se refleja a nivelespacial en un importante aumento del número de iglesias rurales. En efecto,a lo largo de los siglos VIII y X, parece producirse un auténtico auge construc-tivo de iglesias en Galicia y el verdadero inicio de su territorialización y orga-nización espacial conjunta, al igual que se constata en otras zonas. Aunque estared eclesiástica no se completará y consolidará hasta los siglos XI y XIII, esahora cuando se asientan y definen las bases que la caracterizarán y que semantendrán hasta la actualidad.

En el caso concreto de Terra de Celanova, el aumento del número de igle-sias durante este período parece un fenómeno evidente e indudable. Frente alas tres, cuatro, cinco o seis iglesias que quizá podrían existir en esta comarcaa principios del siglo VIII, observamos que a finales del siglo X está testimo-niada documentalmente en esta comarca la existencia de 14 iglesias; cifra queposiblemente fuese mayor en la realidad pues como sabemos es muy probableque muchas de las iglesias que se citarán por primera vez en la documentacióncon posterioridad al año 1000 existiesen ya a finales del siglo X. Se trata delas iglesias de Bobadela, Paizás, Albos, Ourille (tanto San Pedro como la ca-pilla de San Vicente), Cexo, Celanova, San Martiño de Berredo, Vilanova dosInfantes, Mourillós, Rabal (tanto San Salvador como la capilla de San Paio),Redemuíños y, con un carácter más hipotético, la capilla de Santa María enPenosiños4.

En todo caso, como ya hemos apuntado, se puede pensar en un cierto ra-lentizamiento en el proceso de creación de iglesias en toda la zona Sur de la

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 439

Page 437: Issn 0871 - 4061

actual provincia de Orense en el siglo VIII en comparación con el resto de Ga-licia debido a la inestabilidad política introducida en esta zona tras la invasiónmusulmana, y las posibles rupturas en la organización eclesiástica que, segúnC. Baliñas Pérez (1992, p. 528-532) se produjeron por causa de la misma.Como sabemos, las iglesias son un importante reflejo de la presencia y actua-ción de poderes sobre las comunidades, y por tanto parece plausible que du-rante esta etapa de “inestabilidad política” (que no necesariamente social nieconómica) se creasen pocos nuevos templos en esta zona, a diferencia delresto de Galicia donde dicho proceso se habría desarrollado de forma más in-tensa. En este sentido podemos interpretar el proceso de restauración de anti-guas iglesias (García Álvarez 1955) y sobre todo de construcción de otrasnuevas, que observamos desde la segunda mitad del siglo IX en la zona surorensana, y que tendrá especial intensidad en el siglo X, como muestra delnuevo fortalecimiento de los poderes en este territorio.

De este modo el gran auge constructivo de iglesias en Terra de Celanovaparece haberse desarrollado principalmente a lo largo del siglo X, como lo de-mostraría el alto número de edificaciones religiosas realizadas en el tradicio-nalmente llamado estilo mozárabe, característico de este momento. A esterespecto es muy interesante la observación de Rivas Fernández (1971), sobreel mozárabe en la zona de Celanova: “este estilo (...) ha tenido gran importanciaen esta zona, sujeta al radio de influencia del monasterio de Celanova y quetuvo en tiempos de San Rosendo su máxima preponderancia arquitectónica.Debieron ser numerosas las edificaciones mozárabes en distintos puntos cer-canos especialmente a la villa de Celanova”. Este autor cita diversos vestigiosde arte mozárabe en varias iglesias de esta zona: San Martiño de Pazó, San Ci-brao de Pardavedra, San Munio de Veiga, San Mamede de Sorga, San Miguelde Celanova, San Adrián de Amiadoso, Santa María de Vilanova dos Infantes,Santa Eufemia de Ambia, etc... considerando que “todos nos recuerdan la épocamozárabe, solamente en un espacio de unos 130 km2, densidad que en este as-pecto no puede presentar ninguna región peninsular” (Rivas Fernández 1971,p. 109). Todo esto sin duda nos está indicando un intenso proceso de edifica-ción de iglesias en el siglo X que compensaría y nivelaría, al menos en parte,el anterior estancamiento en el plano de la organización territorial político-re-ligiosa en estas zonas más meridionales de Galicia.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 440

Page 438: Issn 0871 - 4061

3. La implantación de la iglesia a escala localVamos a centrarnos ahora más concretamente en la implantación ecle-

siástica a escala local, es decir, al nivel de la vida de las propias comunidades.Para ello, teniendo en cuenta que la iglesia en sus inicios, como ya hemosdicho, se adapta a estructuras preexistentes, creemos que debemos empezar re-montándonos a la geografía religiosa del período galaicorromano.

Como señalan diversos autores, apenas hay datos en Galicia de edifica-ciones específicamente religiosas durante la época romana, lo cual parece in-dicar que, en general, la religiosidad no estaba ligada tanto a templos como auna serie de espacios de culto, generalmente en plena naturaleza, especialmenteaquellos asociados a baños y culto a las aguas (Pérez Losada 2002, p. 335).En cambio, sí hay numerosos datos de otro tipo de espacio sagrado de épocagalaicorromana: las necrópolis. En efecto, a diferencia de la cultura castreña,para la cual no se conocen apenas aspectos del mundo funerario, Roma traeconsigo una nueva concepción de la muerte bajo la cual empiezan a aparecera partir de los siglos I-II múltiples manifestaciones funerarias antes inexisten-tes. A medida que estos nuevos usos funerarios se van asentando en la sociedadindígena, ya a partir del siglo III y como una parte más del proceso de roma-nización, se irán definiendo para cada comunidad o grupo de comunidadesunas áreas de enterramiento específicas y estables; necrópolis que presentanen muchos casos una gran continuidad durante los siglos siguientes e inclusohasta la actualidad. Estas áreas de enterramiento se encontrarían en una zonaexterior a los lugares de habitación, como es usual en el mundo romano. Po-demos pensar que sería un espacio comunitario que progresivamente tomaríaun carácter sacro para los habitantes del entorno.

En la Alta Edad Media las necrópolis seguirían situándose en lugares pró-ximos pero aislados del espacio de asentamiento, a veces en una posición cen-tral respecto a diversos asentamientos del entorno, acogiendo a difuntos devarios poblados. Será precisamente en estos lugares con una connotación sa-grada en el ámbito local donde podemos encuadrar la creación de las primerasiglesias en el mundo rural por parte de aristocracias y élites locales.

En efecto, en Galicia no tenemos constancia de edificaciones religiosasen el seno de grandes villae latifundistas, como en otras áreas de la PenínsulaIbérica. En cambio, a la luz de los datos disponibles actualmente, se puede

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 441

Page 439: Issn 0871 - 4061

pensar que los espacios de enterramiento, y por tanto, los lugares con un ca-rácter sacro, y las primeras basílicas están muy ligados (Escalona Monge 1994,p. 577-583; Armada Pita 2003, p. 388). Obviamente, no se trata de un axiomade absoluto cumplimiento sino que existen casos donde la nueva iglesia notiene relación con espacios de enterramiento sino con otro tipo de lugares defunción pública (quizá antiguos fora o lugares de reunión) o simplemente secrea en un lugar sin ninguna connotación o función precedente. Sin embargo,según los datos disponibles, como veremos a continuación, pensamos que exis-tió una importante asociación entre iglesias y necrópolis.

Efectivamente, los ejemplos de esta asociación son numerosos en todaGalicia. En el caso de Terra de Celanova, la mayor parte de los restos materialesde enterramientos de época tardorromana y altomedieval que se conocen enesta comarca están asociados a iglesias que continúan en uso. Así, como señalaJ. López Quiroga (2004, p. 547), bajo los muros de la actual iglesia románicade Santa Eufemia de Milmanda (Celanova) habría varias tumbas excavadas enroca que podrían datarse en este período. También en la capilla de la Ascensión,en la parroquia de Gontán (Verea), hay un sepulcro antropomorfo excavado enun bloque de granito trapezoidal. Por otro lado, en el entorno inmediato de laiglesia parroquial de San Pedro de A Mezquita (A Merca) se conoce la exis-tencia de una lauda sepulcral con motivo de estola, varias tumbas excavadasen la roca y otro sarcófafo no definido (López Quiroga 2004, p. 564). Igual-mente en el lugar de Outeiro do Castro, en la parroquia de Corvillón (A Merca),hay una necrópolis formada por sepulcros antropomorfos excavados en la rocay por sepulcros rectangulares realizados con lajas de piedra hincadas en elsuelo, cubiertos por ladrillos o losetas de piedra, en el mismo lugar donde hastahace poco existía una capilla.

En algunos casos el carácter sagrado previo del lugar donde se emplazarála iglesia se ve reflejado, además de en los enterramientos, en la presencia deantiguos elementos de culto religioso como aras romanas. Este es el caso de laiglesia parroquial de Santa Eulalia de Portela (Verea) o de Santa María de OCondado (Padrenda), bajo cuyos altares se han encontrado aras de época ro-mana (Bouza Brey 1948). Aunque es probable que en algunos casos estas arashayan sido movidas de su contexto original, se puede pensar que por lo menoshan estado asociadas al templo cristiano desde su inicio, como sucede por ejem-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 442

Page 440: Issn 0871 - 4061

plo en el interesante caso de San Mamede de Urrós (Allariz), en las cercaníasde la comarca de Terra de Celanova. En esta iglesia parroquial existía un aravotiva datable entre los siglos I-III d. C, en cuyo focus superior se custodiabaun relicario de madera con una copia de un pergamino de la consagración dela iglesia por el obispo Martiño de Orense en 1147 (Pérez Outeiriño 1979). Laasociación del focus y el relicario nos indica que seguramente cuando se fundóla iglesia (que por lo menos se remonta al siglo XII si bien podría existir algunaanterior) ya se cobijaba en ella el ara, probablemente con un cierto valor sacraly en ella se guardaría el relicario como símbolo fundamental de la iglesia, yaque todo ello estaba justamente debajo del altar, lugar principal y más sagradodel templo. Por otro lado, también hay referencias, según los vecinos, al ha-llazgo de “cajas de ladrillos” en el cementerio que corresponderían con ente-rramientos romanos probablemente en relación con el ara, probando laexistencia de un lugar sagrado más antiguo. Un caso similar es el de la vecinaiglesia de San Miguel de Taboadela, en cuyo entorno también se han halladorestos de enterramientos tardorromanos y un ara dedicada a los lares viales.

De este modo, podemos decir que las primeras iglesias que van apare-ciendo en Galicia se implantarían en el centro de varias comunidades, en lu-gares comunes y aislados de las zonas de habitación, aunque bien comunicadoscon ellas, que muchas veces tenían ya un carácter sagrado previo debido a sufunción cementerial. La iglesia se constituye así progresivamente en un lugarde encuentro y reunión de los habitantes de los cada vez más numerosos lugaresde habitación del entorno, contribuyendo a forjar en ellos un sentimiento decomunidad más estrecho.

4. Las iglesias rurales altomedievales y su papel en la articulación te-rritorial

Otra importante cuestión que podemos plantearnos con respecto a las igle-sias altomedievales gallegas es la de su papel en la articulación territorial, ypor ende, en la organización y diferenciación de las comunidades campesinas.Se trata de un tema de gran interés para el cual, sin embargo, apenas poseemosdatos directos que nos permitan abordarlo con una cierta precisión. Por elloúnicamente trataremos de nuevo de presentar aquí algunas ideas de trabajo apartir de diversos indicios indirectos.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 443

Page 441: Issn 0871 - 4061

En ese sentido consideramos que puede ser útil, siempre que se tome conprecaución, el análisis de la morfología actual del espacio rural tradicional ga-llego, y concretamente la relación entre las iglesias altomedievales que han per-vivido hasta nuestros días (que son la mayoría de las constatadas) y las aldeasde su entorno. Partimos para ello de la hipótesis básica del mantenimiento, en lí-neas generales, de la estructura de organización espacial rural gallega entre, porlo menos, la Plena Edad Media y la actualidad; idea que parece compartida pornumerosos autores (Pallares Méndez; Portela Silva 1998; Bouhier 2001, p. 1219-1224). No se trata en absoluto de una idea de total fosilización, sino más biendel mantenimiento de una proporción y equilibro general entre las distintas piezasque componen la estructura del poblamiento rural gallego, a pesar de su creci-miento o de posibles cambios individuales, desde al menos la Plena Edad Media.

Partiendo de esta hipótesis, observamos que actualmente la gran mayoría(en torno a un 80%) de las iglesias que parecen nacer durante la Alta Edad Mediaen Terra de Celanova se sitúan en una posición aislada o separada de los lugaresde habitación. Aunque la distinción entre aislamiento o integración en el centroaldeano no es siempre sencilla ni exacta, y por otro lado, es probable que el cre-cimiento y urbanización recientes -a pesar de que se han intentado tener en cuentaen este análisis- hayan hecho irreconocible la antigua relación entre la iglesia ylos lugares de habitación, en general, basándonos en dicha premisa del manteni-miento mayoritario de la estructura aldeana tradicional gallega, consideramosque esta tendencia al aislamiento de la iglesia altomedieval con respecto a loslugares de habitación es muy evidente y significativa.

En ocasiones se trata de iglesias ubicadas a las afueras de una entidad depoblamiento, aunque manteniendo una cierta relación con ella, tanto espacial,como morfológica, como a través de caminos que los unen directamente. Estesería el caso, por ejemplo, de las iglesias de Cexo, Rabal, Mourillós o Vilanovados Infantes. En cambio, en otros casos los templos llegan a estar totalmenteaislados y alejados de cualquier núcleo de habitación como sucede con las igle-sias de Ourille, San Martiño de Berredo o Albos.

¿A qué se debe este aislamiento de la iglesia? Por un lado, lógicamente, setrata de una consecuencia de su relación con lugares que previamente poseían uncarácter sagrado y comunitario como eran principalmente áreas cementeriales,que sobre todo en época antigua y altomedieval se emplazaban en lugares sepa-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 444

Page 442: Issn 0871 - 4061

rados del poblamiento. Pero por otro lado podemos pensar que el carácter aisladode la iglesia responde a la propia estructura polinuclear del poblamiento gallegode todo este período. En efecto, como hemos analizado en otros trabajos (SánchezPardo 2008, p. 450-452), la tendencia a la multiplicación de los núcleos y lugaresde habitación a lo largo de un espacio común parece una de las características de-finitorias del poblamiento gallego altomedieval, como adaptación a unas condi-ciones geográficas que propician esta dispersión para un mejor aprovechamientode las capacidades productivas del suelo y de los recursos del entorno. Como essabido, en Galicia no abundan los núcleos de habitación claramente compactos yjerárquicamente predominantes en el entorno, en los que se reúnen la totalidad omayoría de los habitantes de la zona, como sucede en otras partes de la PenínsulaIbérica. Por otro lado, como ya hemos dicho, el papel de la iglesia se va definiendocada vez más claramente en este período como centro religioso de la comunidadde manera que su situación debe ser la más adecuada para que el máximo númerode fieles del entorno puedan acudir a ella de manera fácil y rápida. Por ello es ló-gico que mientras que en zonas de poblamiento concentrado, la iglesia ocupe unaposición integrada e incluso central en medio del vecindario, en áreas como laque estamos analizando, en las que el poblamiento se distribuye a lo largo de pe-queños núcleos cercanos, la posición idónea de la iglesia para acoger y reunir alos fieles sea precisamente su ubicación aislada en un lugar relativamente central.

Obviamente hay que señalar que existen diferencias, también dentro deTerra de Celanova, entre zonas más montañosas o de geografía más áspera, dondela concentración del asentamiento e integración de la iglesia en él es mayor, yzonas de valle de rasgos más suaves donde la dispersión del poblamiento provoca

dicha separación y bús-queda de un lugar centralde la iglesia. En todocaso, debemos subrayarque no existen asociacio-nes automáticas, sino quese trata únicamente detendencias.

Por tanto, podemosdecir que las diferentes

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 445

Figura 3: Ejemplos del papel articulador de las iglesias en Terra deCelanova

Page 443: Issn 0871 - 4061

iglesias que nacen a lo largo de este período asumirán ya desde sus primerosmomentos un papel central en la organización espacial de las comunidades ru-rales. A la vez que las iglesias rurales desempeñan sus funciones más especí-ficas como centros religiosos de dichas comunidades, también ejercen, deforma más indirecta, un papel central en la articulación territorial, convirtién-dose en elementos de unión y referencia, en polos que cohesionan un espaciode poblamiento cada vez más disperso.

En estrecha relación con este papel articulador, la iglesia altomedieval vadefiniendo progresivamente un territorio de actuación e influencia propio.Hasta el siglo IX, como han puesto de manifiesto diversos autores (López Al-sina 1999, p. 264-270; Ripoll; Velázquez 1999) no existiría aun una territoria-lidad definida de cada iglesia, sino más bien una zona de actuación de cadauna, con un carácter más o menos difuso que con frecuencia estaba más ligadoa comunidades concretas que a un territorio. Todas estas iglesias con sus terri-torios en proceso de definición se agruparían en territorios eclesiásticos másamplios, las antiguas parrochiae -o “preparroquias”, en términos de J. LópezQuiroga (2005)-. Cada uno de estos territorios tendría una iglesia principal,con un “abbas” al frente, y diversas iglesias “secundarias”. Esta iglesia princi-pal se definía y diferenciaba ante todo por poseer baptisterio (Ripoll; Velázquez1999, p. 108-113).

Sin embargo, a partir del siglo IX, a medida que se va haciendo más densala red eclesiástica, se van delimitando y consolidando los territorios de cadaiglesia y naciendo por tanto los términos parroquiales. Así, como indica F.López Alsina (1988, p. 167-171), a principios del X cada una de estas iglesiasrurales tendría ya un territorio estable que comprendía un número variable devillae (“villa concurrente ad ecclesia…”). Cada una de las iglesias rurales dabalugar a una “feligresía” (“filii ecclesiae”), una comunidad que concurría en lamisma iglesia. En este sentido, encontramos ya en la documentación del sigloX la definición de los territorios de algunas iglesias, algunos de los cuales se-rían ya muy similares a los actuales límites parroquiales.

5. conclusionesComo señalábamos al inicio, la cuestión del origen y características de

las primeras iglesias rurales precisa aun de muchos estudios de base, especial-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 446

Page 444: Issn 0871 - 4061

mente de tipo arqueológico, que permitan avanzar en la comprensión e inter-pretación de un elemento histórico y también patrimonial fundamental en Ga-licia. En todo caso, a partir del análisis conjunto de una serie de distintosindicios disponibles actualmente, hemos podido esbozar algunas propuestassobre la evolución y rasgos de estas primeras edificaciones cristianas en elmundo rural gallego.

En general debemos subrayar que el proceso de creación de iglesias ru-rales no supuso ninguna ruptura ni corte con respecto a la organización espacialprecedente sino que parece haberse adaptado, especialmente en sus primerosmomentos, a los polos y ejes de articulación de época galaicorromana, comoson las vías de comunicación y lugares con una connotación sagrada para lascomunidades como las necrópolis. Se trató de un proceso lento y progresivoiniciado quizá a finales del siglo V y que se va acelerando a medida que avan-zamos en el tiempo, siendo especialmente intenso entre los siglos IX y X. A lavez que aumenta su número, las iglesias rurales adquieren un mayor papel enla definición, cohesión y articulación de las comunidades campesinas hastaconfigurarse como el elemento central en la organización espacial rural gallegaque ha mantenido su vigencia hasta nuestros días.

BibliografíaANDRADE CERNADAS, J. M. (1995). O Tombo de Celanova: estudio introductorio, edición e índices

(ss. iX-Xii). Santiago de Compostela.ARMADA PITA, X. L. (2003). “El culto a Santa Eulalia y la cristianización de gallaecia: algunos testimonios ar-queológicos”. habis. N. 34. Sevilla. pp. 365-388.BALIÑAS PÉREZ, C. (1992). do mito á realidade: a definición social e territorial de galicia na Alta idade Media(seculos viii e iX). Santiago de Compostela.BOUHIER, A. (2001). galicia. ensaio xeográfico de análisis e interpretación de un vello complexo agrario. San-tiago de Compostela.BOUZA BREY, F. (1948). “El ara romana de Santa María del Condado (Orense) y otra del Museo de Lugo”.Boletín de la Comisión provincial de Monumentos históricos y Artísticos de Lugo. T. III. Lugo. pp. 113-115.DAVID, P. (1947). Études historiques sur la galice et le Portugal du vie au Xiie siècle. Coimbra-Paris.DÍAZ MARTÍNEZ, P. C. (1994). “El Parrochiale suevum: organización eclesiástica, poder político y poblamientoen la Gallaecia tardoantigua”. homenaje a José María Blázquez. Madrid. pp. 35-47.DÍAZ Y DÍAZ, M. C.; PARDO GóMEZ, M. V.; VILARIÑO PINTOS, D. (1990). Ordoño de Celanova: vida ymilagros de San Rosendo. A Coruña.ESCALONA MONGE, J. P. (1994). “Problemas metodológicos en el estudio de los centros de culto como elementoestructural del poblamiento”. Burgos en la Plena edad Media. iii Jornadas burgalesas de historia. Burgos. pp.573-598.GARCÍA ÁLVAREZ, M.R. (1955). “Notas al episcopologio auriense del siglo IX”. Boletín de la Comisión pro-vincial de Monumentos históricos y Artísticos de Orense. Tomo XVIII. pp. 117-144. Orense. pp. 117-144.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 447

Page 445: Issn 0871 - 4061

GARCÍA RODRÍGUEZ, C. (1966). el culto de los santos en la españa romana y visigoda. Madrid.LóPEZ ALSINA, F. (1988). La ciudad de Santiago en la Alta edad Media. Santiago.LóPEZ ALSINA, F. (1999). “Parroquias y diócesis: el obispado de Santiago de Compostela”. del Cantábrico alduero. Trece estudios sobre organización social del espacio en los siglos viii al Xiii. Santander. pp. 263-312.LóPEZ QUIROGA, J. (2004). el final de la antigüedad en la gallaecia: la transformación de las estructuras depoblamiento entre Miño y duero (siglos. v al X). A Coruña.LóPEZ QUIROGA, J. (2005). “Los orígenes de la parroquia rural en el Occidente de hispania (siglos IV-IX)(provincias de gallaecia y Lusitania)”. Aux origines de la paroisse rurale en gaule Méridionale (ive - iXe siècles).Paris. pp. 193-228.PALLARES MÉNDEZ, M. C; PORTELA SILVA, E. (1998). “La villa por dentro. Testimonios galaicos de lossiglos X y XI”. Studia historica. historia medieval. N. 16. Salamanca. pp. 13-43.PÉREZ LOSADA, F. (2002). entre a cidade e a aldea. estudio arqueo-histórico dos “aglomerados secundarios”romanos en galicia. A Coruña.PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1979). “Ara procedente de San Mamede de Urros (Allariz)”. Boletín Auriense. IX.Orense. pp. 295-300.RIPOLL, G.; VELÁZQUEZ, I. (1999). “Orígen y desarrollo de las parrochiae en la Hispania de la AntigüedadTardía”. Alle origine della parrocchia rurale (iv-viii secolo). Atti della giornata tematica dei Seminari di Arche-ologia Cristiana (ecole Françoise de Rome 19 Marzo 1998). Città del Vaticano. pp. 101-165.RIVAS FERNÁNDEZ, J. C. (1971). “Algunas consideraciones sobre el prerrománico gallego y sus arcos de he-rradura geminados”. Boletín Auriense. T. I. Orense. pp. 61-125.RIVAS FERNÁNDEZ, J. C. (1976). “Un inédito e interesante vestigio de la iconografía visigótica en Galicia, pro-cedente de la iglesia prerrománica de San Martiño de Pazo”. Boletín Auriense. T. VI. Orense. pp. 169-182.SÁNCHEZ PARDO, J. C. (2008). Territorio y poblamiento en galicia entre la Antigüedad y la Plena edad Media.Tesis doctoral. Santiago de Compostela.

1 Para una presentación y descripción detallada de este territorio y los datos de su evolución histórica entre lossiglos I y XIII vease Sánchez Pardo (2008).2 Un claro ejemplo es la asociación entre la difusión del cristianismo y el trazado viario romano en Galicia (ArmadaPita 2003, p. 387-388; López Quiroga 2005, p. 204). Aun sin querer caer en asociaciones simples o superficiales,no parece casualidad que en los principales nudos viarios de época galaicorromana se emplacen, tiempo después,algunas de los centros eclesiásticos más importantes de la Galicia altomedieval. Podríamos incluso pensar que seaprecisamente el grado de conectividad y centralidad de la iglesia en esa red viaria el que decida su jerarquía e im-portancia en la organización eclesiástica, lo que a su vez nos indica la pervivencia del uso e importancia de estasvías en los siglos altomedievales. Los ejemplos podrían ser muchos: Santa Comba de Bande, el monasterio de Ce-lanova (Sánchez Pardo 2008, p. 512-513), el monasterio de Sobrado, el monasterio de Samos, la propia iglesia deSantiago de Compostela, y las primeras sedes episcopales gallegas, que se emplazarán en los principales aglome-rados de época romana, que constituían los epicentros de la red viaria: Lugo, Tuy, Iria y Orense.3 El caso más cercano a nuestro ámbito de estudio de una iglesia que podría datarse materialmente en época visigodaes el de San Martiño de Pazó (Allariz), fuera ya de la comarca de Terra de Celanova, pero muy cerca de sus límites.En esta iglesia y en la aldea de igual nombre fueron encontrados, según Rivas Fernández (1976), restos de un asen-tamiento tardorromano (que él interpreta como un palatio) y de un anterior templo de época visigoda que en elsiglo X estaría en ruinas y sería totalmente reedificado en estilo mozárabe.4 Las menciones documentales se refieren a una “Ecclesiola”, sin ofrecer más datos directos sobre su localización;si bien, según el contexto de las diferentes referencias consideramos que podría tratarse de esta capilla en la parroquiade Penosiños.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 448

Page 446: Issn 0871 - 4061

FoRtiFicAciones de FRonteRA y PAisAjesFoRtiFicAdos: veRín, MonteRRei y chAves1BORdeR FORTiFiCATiOnS And FORTiFied LAndSCAPeS: veRín,MOnTeRRei Y ChAveS

Resumen: Durante el s. XVII se produce un fenómeno de fortificación a lo largo de lafrontera entre España y Portugal, mediante la construcción de una serie de arquitecturas que si-guen los planteamientos de la fortificación abaluartada, con motivo de la Guerra de la Restau-ración Portuguesa (1640-1668). Se analizará este fenómeno en la zona localizada entreVerín-Monterrei en Galicia y Chaves en Portugal. Este análisis, realizado desde los planteamien-tos teórico-metodológicos de la arqueología de la arquitectura y la arqueología del paisaje, derivade los trabajos llevados a cabo inicialmente en un solar de la Villa de Verín, para posteriormenteampliarse a la totalidad del casco urbano y el territorio que lo circunda. Como se verá, los pro-cesos de transformación urbana que ha sufrido Verín están directamente relacionados con la for-tificación de frontera a partir del año 1640.

Palabras-clave: Arqueología del Paisaje, Arqueología de la Arquitectura; ProspecciónArquitectónica; Fotointerpretación; Fortificación de Frontera; Paisaje Urbano; Arquitectura Aba-luartada; Época Moderna; SE de Galicia; NE de Portugal; Guerra de la Restauración Portuguesa.

Abstract: during the 17th century a fortification phenomenon along the border betweenSpain and Portugal takes place on the occasion of the Portuguese War of Restoration (1640-1668), with the construction of a series of architectures that follow the lines of the bastionedfortifications. This phenomenon is studied in the area located between verín-Monterrei in galiciaand Chaves in Portugal. The analysis, made from the theoretical-methodological approach ofthe archaeology of the architecture and the archaeology of the landscape, starts in the workscarried out in a plot of land in villa de verín first, and then it spread to the built-up area and tothe land surrounding it. As we will see, urban changing processes in the city of verín are directlyrelated to the fortification of border after 1640.

Keywords: Landscapes Archaeology, Archaeology of Architecture; ArchitecturalProspecting; Photointerpretation; Fortification of Border; urban Landscape; Fortified Archi-tecture with bastioned fortifications; Modern Age; Se of galicia; ne of Portugal; PortugueseWar of Restoration.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 449

Rebeca Blanco-Rotea

lAPA-CSIC; [email protected]

Page 447: Issn 0871 - 4061

introducciónLa villa de Verín se localiza en el SE de la provincia de Ourense. Pertenece

a la comarca de Monterrei. El municipio está atravesado por el río Támega, quenace en la Serra de San Mamede. De su emplazamiento caben destacar dos as-pectos que influirán en su historia durante el periodo que nos interesa para elpresente trabajo: su localización a los pies del Castillo de Monterrei y su proxi-midad a la frontera con Portugal, concretamente de Chaves dista unos 25 km.

Con motivo de la elaboración de un proyecto de intervención arqueológica2

en un solar de esta villa se inició, una vez finalizado éste, una investigación sobrela influencia que la Guerra de la Restauración había tenido tanto en Verín comoen su entorno inmediato, haciendo especial hincapié en la evolución arquitectó-nica de los elementos que habían sido objeto de este fenómeno, en la evoluciónurbanística de la villa o en la articulación de la arquitectura de defensa en la partegallega de la frontera y su relación con su homóloga portuguesa.

El estudio de esta zona se realizó desde los planteamientos teórico-meto-dológicos de la arqueología de la arquitectura y la arqueología del paisaje, com-binando varias técnicas de registro y análisis que han permitido obtener unconocimiento exhaustivo del fenómeno fronterizo, así como recuperar la evo-lución del paisaje urbano en la villa de Verín. Además, se ha puesto en relacióncon Monterrei, al que está estrechamente vinculado desde época medieval y,posiblemente con anterioridad a ésta, y con la villa de Chaves, principales ciu-dades abaluartadas en este momento con motivo de la defensa de la frontera.

AntecedentesLa intervención arqueológica se orientaba al estudio de los posibles restos

de un baluarte localizado en un solar de la Villa de Verín, en el que se habíaplanteado la demolición de las estructuras que en él se conservaban. Los obje-tivos de esta intervención eran documentar y registrar estas estructuras arqui-tectónicas; analizar su técnica constructiva, secuencia constructiva yfuncionalidad; datar las estructuras; e intentar delimitar el conjunto fortificadoen su entorno inmediato.

Con anterioridad a este trabajo Taboada Chivite, en los años 40 del s. XX,había realizado un estudio en el que apuntaba que estos muros correspondíana un baluarte que formaría parte de la fortificación de la villa. Además, Taboada

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 450

Page 448: Issn 0871 - 4061

(1949) propone el trazado de la muralla que circunscribiría lo que actualmentese considera el casco histórico de la villa, aunque ampliándolo por el E, el NWy el lado N, con un trazado prácticamente rectangular cuyo lado más largo seorientaría en sentido E-W.

Únicamente el estudio de Taboada, algunas referencias puntuales, la to-ponimia de alguna calle o la memoria oral y el entusiasmo de algunos estudio-sos y vecinos comprometidos3, habían permitido que el papel que Verín habíajugado durante la Guerra de la Restauración Portuguesa no cayese en el totalolvido. La intención última de nuestra investigación era intentar reconstruirese pasado atendiendo, fundamentalmente, a la arquitectura que de esta épocase podía conservar y a cómo había influido en el trazado urbano de Verín ycómo se articulaba con su entorno.

el punto de partida. el solar nº 14 de la calle elle: de torreón a Bo-dega

Como veremos más adelante, los restos conservados en el solar constitu-yen el elemento de mayor entidad que se conserva de la fortificación de Verínen época moderna. La intervención llevada a cabo en ellos, fundamentalmentelos sondeos arqueológicos y el análisis estratigráfico de alzados, han permitidorecuperar la evolución de este solar, que empezaría con los restos de un torreónvinculado a unas posibles defensas anteriores y finalizaría con la construcciónde varias edificaciones dedicadas a almacenamiento y procesado de vino.

un torreón de época bajome-dieval

De la fase i se conservan losrestos de un torreón. La estancia enla que se localizan presenta unaplanta cuadrangular, la única regularde toda la edificación. Actualmenteestá dedicada a bodega, pero reco-gemos la mención que se hace a untorreón en un documento de 1853: “[...] y desaze si el enrejado de la bo-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 451

Figura 1. Reconstrucción de las fases identificadas enel interior del solar

Page 449: Issn 0871 - 4061

dega que cae a la huerta de mi defendida objeto de la cuestion fue denunciado;y que aquella fue construida de cimiento ha un año poco mas o menos sin queantes hubiere alli edificio alguno, y si un torreon. [...]” , según el cual la bodegahabría sido construida en los años 50 del siglo XIX, donde antes existía un to-rreón.

No hemos localizado ninguna información sobre la existencia de un sis-tema defensivo en Verín en época bajomedieval. Sin embargo, algunos datosnos han llevado a plantear la hipótesis de que en esta época podría existir algúntipo de sistema defensivo o bien algún punto de control representado en la fi-gura de los torreones.

La torre como elemento defensivo es anterior al sistema de fortificaciónabaluartada, es decir, mientras la torre es un elemento fundamental en la forti-ficación neurobalística, el baluarte lo es en la pirobalística. Por lo tanto, se creeque existen algunas evidencias para plantear la hipótesis de que Verín contabacon algún tipo de defensa anterior a su abaluartamiento realizado a mediadosdel siglo XVII.

el Baluarte de elleAntes de proceder a definir los elementos que se conservan de este pe-

riodo en el solar analizado, creemos que es importante hacer una caracteriza-ción del tipo de fortificación al que corresponde el Baluarte de elle, a fin decomprender, por una lado, la transformación que debió suponer para la villaesta construcción y, por otro, la relevancia de este elemento dentro del conjuntode la misma.

Como consecuencia de los progresos en el uso de la pólvora y las armasmecánicas, el tipo de defensa característica de época medieval (que se componefundamentalmente por torres y murallas) es superada por la potencia ofensivay deben mejorarse los recintos amurallados anteriores, para lo cual se adosanal recinto torres cuadradas y posteriormente circulares y se completa la defensaexterior con un foso que dificulta la aproximación del enemigo al recinto. Elsiguiente avance será la sustitución de las torres circulares, ya que permiten alenemigo ocultarse, por un nuevo elemento, el bastión, en forma de flecha queelimina los puntos muertos de este tipo de torres.

Ya en época moderna, como consecuencia de la introducción de la pólvora

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 452

Page 450: Issn 0871 - 4061

y la artillería, es necesario buscar nuevos modelos en la arquitectura militarque resistan el impacto de la nueva artillería, que permitan una rápida recons-trucción y que se adapten al terreno (Sanz 2002: 53). Esta nueva tipología defortificación corresponde a un recinto poligonal y al uso del bastión, que in-tentan neutralizar los efectos producidos por las balas metálicas.

Las soluciones adoptadas son la disminución de la altura de las murallas,la construcción de terraplenes por el interior sobre los que situar la artillería,que es ahora más ligera, y la sustitución de los matacanes de la parte superiorde las murallas por parapetos macizos más resistentes. Estas transformacionesobligan a reforzar las murallas desde la base, construyéndose por el exterioren talud y avanzando los bastiones hacia el exterior, de manera que se impidela aproximación del enemigo. Los bastiones, finalmente, acaban evolucionandoen una nueva forma denominada baluarte, que dará nombre al tipo de fortifi-cación que se generaliza en este periodo, la fortificación abaluartada. En ellajuegan también un papel muy importante las defensas exteriores, antesala dela plaza fuerte y de cuyo diseño depende, en gran medida, que el enemigo nopenetre en el interior de la fortaleza. A lo largo de los siglos XVII y XVIII estatipología será objeto de diferentes cambios, buscando nuevos modelos cadavez más perfeccionados que se encaminan a la mejor defensa de las plazas.

Para Porras Gil (1995: 50) el aspecto más importante para el diseño deuna fortificación era su planta, que debía adaptarse de la mejor manera posibleal lugar en el que se emplazase. Estas plantas se basaban con frecuencia en eluso de polígonos irregulares, como sucede en Verín, motivado por la propiatopografía del terreno o incluso la existencia de defensas de épocas anteriores;sin embargo, la tendencia era, por lo general, intentar regularizar estos polígo-nos.

Independientemente del tipo de figura que se emplease, todas ellas cons-taban de unas partes esenciales. Nos detendremos únicamente en una de estaspartes, por ser la que caracteriza este tipo de fortificación: el baluarte. Se tratade un elemento saliente sobre la muralla que tiene una forma en punta de flechay que se dispone en los ángulos del recinto. De su magnitud y construccióndepende buena parte de la defensa del recinto.

El baluarte representa un avance con respecto a los anteriores elementoscomo el cubo o el bastión. Desarrolla “una forma avanzada y dinámica en fi-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 453

Page 451: Issn 0871 - 4061

gura triangular, lo que permitía el empleo de sus dos caras exteriores para ladefensa de las cortinas y el apoyo en su enfrentado para lanzar fuego cruzado.Su propia defensa partía de los flancos y orejones.” (Porras Gil 1995: 53). Secompone de las siguientes partes:

- cara: lados más avanzados que desembocan en un ángulo capital (partemás avanzada del baluarte).

- Flanco: lados menores del baluarte que unen las caras con las cortinas.- gola: es la línea imaginaria que une los dos puntos donde confluyen los

baluartes con las cortinas.En el caso de Verín, en torno al año 1646 se lleva a cabo la construcción

de la fortificación de la villa, a la cual corresponde el Baluarte de elle, que re-presenta la fase ii dentro de la evolución constructiva del solar. El sistemaconstructivo del baluarte documentado en aquellas zonas que se han identifi-cado como originales se compone de las siguientes partes:

Durante la excavación se registra una cimentación constituida por treselementos: fosa de cimentación, depósito de piedras que colmatan la fosa ydoble banqueta que sobresale sobre la cortina, con un perfil en talud, formandoun sistema combinado de banquetas y rellenos que afianzan el terreno húmedosobre el que se asienta la muralla.

Las caras y flancos se componen alexterior de un muro realizado en mampos-tería de gran tamaño con tendencia a la re-gularidad con un perfil en talud. Lasesquinas son en ángulo obtuso y están rea-lizadas con grandes bloques de granito, dis-puestos a soga y tizón, con la aristabiselada. Al interior presenta un aparejomás desconcertado en el que algunos ma-teriales sobresalen del muro. Hacia el án-gulo capital el muro se abre dando lugar auna planta curvada.

El adarve está formado por un para-peto que sobresale unos 20 cm de la cortina

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 454

Figura 2. Fotografías del exterior e interiordel baluarte; reconstrucción del Baluarte deelle en el que se han indicado las partes quelo constituyen; y croquis con la sección de losdos sondeos realizados en la cara SE, que per-mite ver el sistema constructivo documentado

Page 452: Issn 0871 - 4061

y presenta un perfil recto. Está realizado en mampostería, con bloques funda-mentalmente de granito, dispuestos formando hiladas horizontales. Y un paseode ronda realizado con bloques de granito dispuestos horizontalmente a modode losas.

Finalmente, estaba colmatado al interior por una serie de rellenos com-puestos de tierra arenosa y cantos rodados que se corresponden con el terra-plén. La irregularidad en la factura del interior de las caras del baluarteposiblemente estaría pensada para conseguir un mejor agarre de estos relle-nos.

La documentación y análisis de todos estos elementos, y su comparacióncon este tipo de figura descrita más arriba, nos llevaron en su momento a rati-ficar la propuesta de Taboada de que efectivamente se trataba de un baluarte.El problema siguiente era relacionar esta figura con la fortificación que enépoca moderna debió defender Verín. Hasta el momento hemos localizado úni-camente la representación de la villa fortificada en el Mapa de las Minas deestaño del valle de Monte Rey del año 1786. En este mapa se dibuja esquemá-ticamente la fortificación abaluartada de Verín. Sin embargo, gracias a esta re-presentación y a las descripciones posteriores que se conservan, se sabe que lafortificación discurría por el W, paralela a la ribera del río. En ese caso, la uniónentre el flanco W y la cortina existente hasta el siguiente baluarte no se efec-tuaría en ángulo, sino siguiendo una línea recta o casi recta. Como ya hemosindicado, uno de los aspectos principales de este tipo de fortificaciones era lanecesidad de adaptar su planta a la topografía de los lugares en los que se cons-truían y a la existencia de otras defensas anteriores. En este caso ambos factoreshabrían entrado en juego.

Hacia la parte E del baluarte la fortificación se abría hacia el SE. En estazona se ha localizado mediante fotointerpretación la presencia de un baluartede mayores dimensiones, por lo que el flanco E del Baluarte de elle debía estarunido con una cortina que giraba hacia el SE, hasta encontrase con este otrobaluarte.

La primera bodegaLa fase iii (1851) se corresponde con la construcción en el interior del

baluarte de una bodega con antebodega hacia el N en el año 1851 siendo pro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 455

Page 453: Issn 0871 - 4061

pietario Don Ramón Santa Mariña. Para la construcción de la bodega se reuti-lizaron parte de los alzados del torreón de la fase I y en la fachada N se emple-aron, a modo de respiraderos, las saeteras que antes tenían un fin defensivo.

Reformas en el baluarteEn la fase iv, fechada en torno al año 1885, se reforma el flanco W y la

cortina que se unía a éste.

La casa con patín y la segunda bodegaDurante la fase v (1892-1914) las construcciones del solar van adoptando

la planta que actualmente se conserva. En esta fecha el propietario de la fincaes don Gabriel Bazal Romero. Teniendo en cuenta la relación de los bienes queposeía en el año 1892, en esta fecha únicamente existía en el solar la bodegacon antebodega, mientras que en el año 1914 se le concede el permiso de cons-trucción de la Casa de los Bazales (fase VI). Se le concede también un permisoen el año 1901 para la reconstrucción del muro de cierre de la finca por el ladodel río. Es decir, entre 1892 y 1914 hemos documentado, gracias a la lecturaestratigráfica de alzados, toda una serie de reformas y ampliaciones que con-sistieron en: la construcción de un segundo piso sobre la bodega con antebo-dega con un patín abierto que corta y se adosa al terraplén que rellena elbaluarte; la reforma de la cortina W inmediata al Baluarte de elle para la aper-tura de una puerta que comunica el solar con la ribera del río Támega; y, final-mente, la ampliación de la bodega hacia el W con un gran espacio articuladoen dos plantas, para cuya construcción se vacía parte del terraplén que se ado-saba al flanco W del baluarte.

La casa de los BazalesEsta casa se construye en la fase vi (1914-1919), momento a partir del

cual se cierra el solar por el E. El edificio cuenta con un doble uso: se destinana lagares las estancias de la planta baja y a vivienda la planta alta del edificio.

Las últimas ampliaciones de la bodegaFinalmente en la fase vii (década de los años 60 del siglo XX) se llevan

a cabo algunas reformas y ampliaciones, sobre todo en la fachada E de la cons-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 456

Page 454: Issn 0871 - 4061

trucción, orientadas a la explotación vitivinícola, en las que se han empleadolos mismos materiales y técnica constructiva. Cabe destacar el cierre del patínincorporando este espacio a la bodega y la construcción de una estancia desti-nada a alambique en la cual se abre una lareira que corta el flanco E del ba-luarte.

el paisaje urbano de la villa de verín en época modernaAunque el proyecto arqueológico se ceñía inicialmente al solar de la calle

Elle, creíamos que era importante entender qué papel había jugado éste en lafortificación general de la villa. Sin embargo, la configuración urbana actualde Verín no dejaba entrever la preexistencia de una fortificación. Tan sólo elbaluarte, los nombres de algunas calles o la memoria de algunos vecinos quetodavía recordaban topónimos como el de las Puertas de Madrid, hacían refe-rencia a este elemento. Por este motivo decidimos extender el estudio a la to-talidad del casco histórico, combinando varias metodologías como laprospección arquitectónica, la fotointerpretación de fotografías aéreas4 y desatélite y la revisión de la toponimia del callejero actual o proveniente de fuen-tes históricas u orales.

Los resultados de estos trabajos fueron comparados con la representaciónde la fortificación de Verín recogida en el Mapa de las Minas de estaño de 1786,que, aunque no reproducía con precisión la planimetría de la villa, sí permite ob-servar la configuración urbanística de Verín, enmarcada dentro del trazado de unamuralla abaluartada, así como las principales vías de comunicación que partíande la villa y la conexión entre ésta y el Barrio de San Lázaro. Todos estos elemen-tos fueron digitalizados y superpuestos sobre una fotografía satélite de Verín.

La prospección arquitectónica delcasco urbano proporcionó escasas evi-dencias materiales del trazado de la for-tificación, correspondiéndose, por otrolado, a dos periodos cronológicos distin-tos. La primera estructura era un murorealizado en un aparejo de sillería irre-gular de granito en el que se conserva

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 457

Figura 3. Detalle del Mapa de las Minas de Es-taño del Valle de Monte Rey. 1786, AGS (ArchivoGeneral de Simancas)

Page 455: Issn 0871 - 4061

una saetera, abocinada al interior, situado muy próximo al solar analizado an-teriormente, en el que se habían identificados los restos de un torreón. Ambasse han puesto en relación por su proximidad y la tipología de sus saeteras y sehan identificado como torreones que podrían funcionar de forma conjunta pro-tegiendo el paso sobre el río Támega.

Por otra parte, en la calle Mariano Carrero, próxima a las Puertas de Ma-drid, se localizó un muro realizado en un aparejo de mampostería con un perfilen talud que fue reutilizado en la construcción de una casa. Este muro sigue eltrazado de la muralla de época moderna, con la que se ha puesto en relacióntanto por su perfil como por su localización.

Finalmente, se han localizado otros dos elementos reutilizados en sendasconstrucciones de la calle Muralla, que siguen el trazado de la muralla modernay han sido reutilizados en construcciones contemporáneas. En este caso, suvinculación con la fortificación es más dudosa.

En cuanto a los resultados de la fotointerpretación, se pueden destacarvarios elementos representativos de la existencia de la fortificación abaluartadaque ha condicionado, en cierta medida, las características urbanas actuales deVerín.

La muralla abaluartada de época moderna, según se desprende de estostrabajos, estaba circunscribiendo un espacio añadido a la villa hacia el S delcasco antiguo. En los terrenos de cultivo de esta zona S se ha identificado unaforma que podría corresponder con un baluarte. Comparando esta forma conel Mapa de las Minas de estaño se observa cómo éste se sitúa siguiendo el tra-zado circular abaluartado de la cerca allí representada. De tal manera, este ba-luarte estaría en conexión con el de Elle y quizá con otros de los que no hayrestos materiales pero sí vestigios en el trazado urbano. La delimitación de ca-minos parece estar contorneando el espacio que pudo haber estado ocupadopor los baluartes.

En la zona N de la villa también se conserva una configuración que podríaestar manteniendo la traza de diferentes cercas o murallas que también habríanido ampliando el espacio urbano anterior. En las imágenes de 1957 se observanlos restos de la cerca como delimitación de las parcelas, cierres éstos de mayorenvergadura en el recorrido lineal que el resto de los muros de cierre de laspropiedades en el entorno de la Calle Foso. Por otra parte, la línea trazada hace

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 458

Page 456: Issn 0871 - 4061

ligeros quiebros en aquellos puntos desde los que parten los caminos, hechoque podría estar relacionado con la existencia de algunas estructuras para laprotección de las entradas. Podría ser ésta entonces la traza de la muralla mo-derna, posiblemente correspondiente a las obras exteriores que circundarían laPlaza Fuerte, cuyo trazado en esta época estaría reutilizando y ampliando elespacio urbano medieval, y que fue repuesta, reparada y reutilizada para el cie-rre de las propiedades hasta la segunda mitad del siglo XX.

A su vez, esa muralla pudo estar reaprovechando, en el frente W, el vol-cado hacia el Río Támega, el trazado de otra anterior, el cual abarcaría un es-pacio menor intramurallas y podría corresponderse con la planta de un primerasentamiento delimitado o cercado. En el Catastro de ensenada la Alamedaqueda recogida dentro de la segunda cerca como “Alameda de Adentro”5, to-pónimo que hace referencia a la existencia de un elemento delimitador.

Resulta difícil contrastar los resultados obtenidos de la fotointerpretación,tanto por los cambios físicos que desde 1957 hasta la actualidad ha sufridoVerín como por la imposibilidad de acceder a algunas propiedades privadas.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 459

Figura 4. Fotografías aéreas de Verín con la localización de la toponimia y estructuras documentadas y re-construcción hipotética del entramado urbano medieval y moderno y la delimitación de la fortificación mo-derna

Page 457: Issn 0871 - 4061

Lo mismo sucede con aquellas informaciones orales o toponímicas que hacenreferencia a diferentes estructuras relacionadas con la muralla y que no ha sidoposible identificar en las imágenes fotográficas. Es el caso de la localizaciónde las posibles puertas que desde la muralla darían acceso a los terrenos delConvento de la Merced o de los topónimos relacionados con puertas, portilloso accesos, recogidos en el Catastro de Ensenada. Por ello, creemos que debe-mos ser bastante cautelosos a la hora de establecer la delimitación de la forti-ficación moderna y plantear únicamente, por el momento, una reconstrucciónhipotética de su trazado (ver figura 3) que habrá que verificar a través de otrotipo de actuaciones arqueológicas.

una vía de tránsito fortificada. entre verín-Monterrei y chavesHasta aquí hemos analizado la fortificación de Verín a un nivel micro (en

relación a algunas de las partes que la componen) y semi-micro (en cuanto ala configuración de la fortificación). Nos queda ahora encuadrarla en un con-texto territorial más amplio y en el papel que jugó en el desarrollo de la Guerrade la Restauración Portuguesa en esta zona de la frontera.

Según se desprende de los informes realizados en los años 1644 y 16456

sobre las fortificaciones de Monterrei y Verín, en torno a mediados del s. XVIIVerín era una villa cuyo perímetro estaría atrincherado, pero no abaluartado,que servía como apoyo logístico a Monterrei, ya que se sitúa en el acceso a lafortaleza desde el valle del Támega, en una zona que suponía un cruce de ca-minos entre Portugal, Castilla y otras zonas de Galicia.

En las menciones que hace Fernández Alonso7 en su relato sobre la GuerraHispano-Lusitana (id. 1893)8, Verín siempre se vincula a la fortificación de Mon-terrei, uno de los principales bastiones fronterizos de la provincia. Son de interéspara el presente estudio las referencias constantes que hace Alonso a lo largo delrelato a la villa de Verín y la plaza de Monterrei, lugares frecuentemente amena-zados por las tropas portuguesas que, acuarteladas en la plaza de Chaves, plane-aban la toma de la llanuras de Verín para luego apoderarse de la fortaleza deMonterrei. Para contribuir a la defensa de esta zona de la raya, desde los ejércitosgallegos se mandaban constantemente tropas, lo que conllevaba la necesidad decontar con almacenes y cuarteles así como tener que proporcionar armas y avi-tuallamiento a los soldados. Suponía, también, el reclutamiento constante de pai-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 460

Page 458: Issn 0871 - 4061

sanos y la continua recaudación de tributos (Fernández 1893: 72-73).La dilatada duración de la guerra hacía necesaria una constante reparación

de las fortificaciones de ambas villas. En torno a 1644-16469 se decide reforzarlas defensas de Verín siguiendo los planteamientos de la fortificación abaluar-tada. En la inscripción reutilizada en el Baluarte de elle está grabada la fechade 1646. Como ya comentamos, hasta estas fechas la fortificación de la villapodría, por una parte, reutilizar elementos conservados de algún sistema ante-rior y, por otra, componerse de trincheras, tal vez construidas a medida queavanzaba la Guerra, como corresponde a una fortificación de campaña.

No obstante, aunque en torno al año 1646 pudiera haberse iniciado el aba-luartamiento de Verín, no debió concluirse, ya que se han documentado refe-rencias en fechas posteriores en las que se sigue haciendo mención a lanecesidad de fortificar la villa. De todo ello se desprende que la fortificaciónde Verín fue creciendo, consolidándose y reparándose de forma constante conel propio discurrir de la guerra. En todo caso, en algún momento situado entremediados del s. XVII y principios del XVIII, Verín queda completamente aba-luartado.

Chaves en Portugal yMonterrei en Galicia constitu-yen las plazas fuertes principa-les de esta parte de la frontera yambas se rodean de una serie defortificaciones que protegen elacceso a las mismas y las de-fienden desde una zona elevada.Nos interesa, en este punto, vercómo se articularía la defensaen torno a Monterrei, principalfortificación del sistema encuyo entorno inmediato se for-tifican otros enclaves.

En el valle se localiza Veríndefendiendo el acceso a Monte-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 461

Figura 5. En la imagen de la izquierda se presentan los ca-minos medievales de Verín y su entorno, extraído del mapade los caminos medievales de la provincia de Ourense segúnElisa Ferreira (1988); en la imagen de la derecha se represen-tan las poblaciones situadas entre Monterrei y Chaves, asícomo aquéllas en las que se constata la presencia de una for-tificación

Page 459: Issn 0871 - 4061

rrei desde el N, Ey S, concreta-mente los accesosdesde Portugal yCastilla. En laruptura de la dor-sal se sitúa el Cas-tillo de Monterrei,que ocupa el pro-montorio más ele-vado, aunque lasdefensas y recin-tos se han ido am-pliando con eltiempo, formandoun polígono irre-gular con variosmedios-baluartesy un hornabequeen la zona N.

La Atalaia esuna construcción de planta cuadrangular que se sitúa a unos 420 m al NNW delcastillo y se orienta hacia la entrada al valle desde Portugal, aunque al situarse enuna cota inferior no permite ver el valle del Támega, situado al E de la dorsal.Desde ella se defiende el flanco más débil de la plaza y la fuente de agua potableque quedaría fuera del recinto principal de Monterrei. Comienza a construirse en1640 y se remata en 1664 (Dasairas Valsa, 2008: 19).

La última fortificación se sitúa a 1.600 m al NNW de Monterrei, en elAlto de San Salvador. Se trata de un fuerte de planta estrellada de cinco ba-luartes (ver figura 6). Según Dasairas (2008: 19) este fuerte se proyectó peronunca llegó a construirse. Sin embargo, se ha documentado gracias a la fotoin-terpretación y todavía hoy pueden verse los restos del mismo.

conclusiones

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 462

Figura 6. Fotografías de las fortificaciones localizadas en la dorsal: Fuerte deSan Salvador, Atalaia y Castillo de Monterrei

Page 460: Issn 0871 - 4061

De todo lo expuesto anteriormente se desprende, por un lado, la presenciaen Verín de dos sistemas defensivos correspondientes a distintos periodos his-tóricos. Por otro, la constatación de la existencia de un sistema fortificado máscomplejo en la zona de Monterrei que el que anteriormente se conocía. Final-mente, el importante papel que tanto Verín como Monterrei jugaron en la Gue-rra de la Restauración Portuguesa en esta zona de la frontera.

En cuanto a la existencia de un sistema defensivo de época medieval enVerín, podemos decir que los elementos analizados, aunque escasos, son signifi-cativos y se reflejan en la figura de los torreones, cuya presencia se constata tantoen los restos materiales analizados como en la toponimia recogida o en las refe-rencias documentales. La ubicación de los topónimos y los restos materiales hayque relacionarla con la presencia, en el casco histórico de la villa, de dos ejes prin-cipales (NNW-SSE y NE-SW) en un recinto de planta almendrada (que se co-rresponde con el actual casco antiguo). Posiblemente los torreones estuvieranprotegiendo los dos accesos principales a este recinto. Debemos recordar que notenemos elementos suficientes para poder poner en relación los torreones con unrecinto cercado, considerándose, por el momento, como elementos aislados.

Aunque no es el objetivo del presente trabajo, hay que indicar que debenponerse también en relación estos ejes con la presencia de un urbanismo ante-rior de época romana, como se desprende de los trabajos de Pérez Losada,quien identifica Verín con un “aglomerado secundario” en relación con su ubi-cación sobre el trazado de una importante vía secundaria de la red oficial queconduce de Chaves a Orense por Xinzo (Pérez Losada 2002: 233). Por lo tanto,ambos ejes podrían tener un origen anterior, aunque no así la configuración al-mendrada del casco histórico, que claramente sería de época medieval. Porotra parte, el papel de Verín dentro de la red viaria se mantiene en época me-dieval como así lo refleja Elisa Ferreira quien apunta el entrecruzamiento detres caminos en la villa (Id. 1988: 176).

En todo caso, existiera o no una cerca en época medieval, estallada laguerra en 1640 se hace patente la necesidad de mejorar las defensas de Verín,que debe adaptarse a los nuevos tiempos, lo cual debió suponer un importanteimpacto urbanístico ya que la fortificación abaluartada determina enormementeel desarrollo de las ciudades. Por ello, muchas de las defensas modernas acabandesapareciendo una vez consideradas inútiles, como es el caso de Verín en el

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 463

Page 461: Issn 0871 - 4061

siglo XIX, con la subasta de los terrenos de la fortificación.Como se puede apreciar en la figura 3, la hipótesis plateada es que, por

una parte, en este periodo se amplía el entramado urbano medieval hacia el E,continuando la forma almendrada anterior. Posiblemente esta zona acabe cons-tituyendo la plaza fuerte de Verín. Además, se construiría un segundo recinto,ya abaluartado, que englobaría esta plaza fuerte y que crecería, fundamental-mente hacia el S y hacia el NW. La zona W no podría ampliarse por la presenciadel río y en la E se habría ampliado el entramado urbano, como ya apuntamos.En cierto modo, la propuesta de Taboada englobaba el trazado medieval y partedel trazado de época moderna.

Finalmente, en cuanto al papel que tendría Verín dentro de la fortificacióntransfronteriza, lo primero que debemos tener en cuenta es que el valle de Mon-terrei era uno de los accesos principales desde el SE a Galicia. En esta zona se lo-caliza un acceso que desde Chaves penetra por Verín en su camino hacia la ciudadde Ourense. El Castillo de Monterrei contaba con unas defensas naturales que ha-bían sido reforzadas en épocas medieval y moderna por distintas líneas de muralla,que en este segundo periodo se combinan además con otras construcciones (comola Atalaya, el fuerte de San Salvador y el propio Verín). Es decir, en la actualidadperviven en Monterrei dos sistemas distintos de fortificación.

El caso de Verín difiere bastante del de Monterrei al emplazarse en unazona llana. Es precisamente por ello y por su situación a los pies de este castillopor lo que creemos que debió considerarse necesaria su fortificación en un pe-riodo en el que las luchas entre España y Portugal eran constantes, tanto durantela Guerra de la Restauración Portuguesa como con posterioridad a ésta.

Verín habría funcionado como una primera defensa del Castillo de Mon-terrei en el paso hacia éste sobre el río Támega, además de servir de zona dealojamiento y avituallamiento de las tropas, con motivo de la escasez de espa-cio en Monterrei.

BibliografíaBARREIRO MARTÍNEZ D., 2001, Sistemas de Prospección Arqueológica, En Amado Reino, X. (coord.)

2001. inventario y Catalogación del Patrimonio Cultural. Curso de especialización en gestión arqueológicadel Patrimonio Cultural. Módulo 3, Pp. 57-61, Santiago de Compostela: Laboratorio de Arqueoloxía e For-mas Culturais, IIT, USC.BLANCO ROTEA R., GARCÍA RODRÍGUEZ S., 2005, Paisaje arquitecturado y arquitectura en el paisaje: la fortificacióndel territorio en Época Moderna en el Baixo Miño, Revista electrónica ArqueoWeb, 7 (2) (Sept. / Dic. 2005),

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 464

Page 462: Issn 0871 - 4061

http://www.ucm.es/info/arqueoweb/.CABALLERO ZOREDA L., 1995, Método para el análisis estratigráfico de construcciones históricas o “lectura deparamentos”, informes de la Construcción, 453: 37-46, Madrid: CSIC.CABALLERO ZOREDA L., 1996, El análisis estratigráfico de construcciones históricas. En Curso de Arqueología dela Arquitectura (Burgos, Junta de Castilla y León, 1996), 55-74, Salamanca: Europa Artes Gráficas, S.A.CARRERAS CANDI F. 1980, geografía general del Reino de galicia, Volumen XI, Tomo II: Vicente Risco, LaCoruña.DASAIRAS VALSA X., 2008. Libro guía de Monterrei, Verín.FERNÁNDEZ ALONSO B., 1893, guerra hispano-Lusitana, OrenseFERREIRA PRIEGUE E., 1988, Los caminos medievales de galicia. Boletín Auriense, Anexo 9, Ourense.MADOZ P., 1894, diccionario geográfico estadístico histórico de españa y sus Posesiones de ultramar, TomoXV.MAÑANA P., BLANCO R. Y AYÁN X., 2002, Arqueotectura 1: Bases teórico-metodológicas para una Arqueologíade la Arquitectura. TAPA (Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio) 25, Santiago de Compostela: Laboratorio dePatrimonio, Paleoambiente y Paisaje (IIT, USC).PARCERO C., MÉNDEZ F., BLANCO. R., 1999, el registro de la información en intervenciones Arqueológicas, CAPA(Criterios e Convencións en Arqueoloxía da Paisaxe), nº 9, Santiago de Compostela.PEREIRA M., 1994, Da torre ao baluarte, En TÁVORA F. eT ALLi., 1994, A Arquitectura militar na expansâo portu-guesa. exposiçao, Porto, Castelo de S. Joâo da Foz (Junho-setembro de 1994), pp. 35-42, Lisboa.PÉREZ LOSADA F., 2002. entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secundarios” ro-manos en galicia. Brigantium, V. 13. A Coruña.PORRAS GIL C., 1995, La organización defensiva española en los siglos Xvi-Xvii desde el Río eo hasta el vallede Arán, Valladolid.QUIRóS CASTILLO J. A. y GOBBATO S., 2003, Prospección y Arqueología de la arquitectura, Trabajo inédito ela-borado en el marco del proyecto de investigación financiado por a UPV 1/UPV 00155.130-H-13989/2001.SANZ MOLINA S. E., 2002, Tres fortificaciones en nueva españa. estudio arquitectónico-constructivo, UniversidadPolitécnica de Cataluña, Tesis doctoral, Extraída http://www.tdx.cesca.es/TDX-1031102-125229/#documents.SORALUCE BLOND J.R., 1985, Castillos y fortificaciones de galicia. La arquitectura militar de los siglos Xvi-Xviii, La Coruña.TABOADA CHIVITE J., 1947, Monterrey: Resumen histórico y arqueológico, Boletín del Museo Arqueológico Pro-vincial de Orense, Tomo III, pp. 3-19.TABOADA CHIVITE X., 1949, Verín y sus murallas, Boletín de la Comisión de Monumentos de Orense, Tomo XVII,1, pp. 61-72.

1 El artículo se escribe en colaboración con Sonia García Rodríguez (LaPa, CSIC) [email protected] 2 Ficha Técnica: Título Proyecto: Actuación arqueológica en el solar nº 14 de la Calle de elle, verín (Ourense).Periodo de realización: mayo de 2005 a marzo de 2007. Código de expediente: CJ 102A 2005/260-0. Promotor:Xunta de Galicia, Consellería de Cultura, Comunicación e Turismo, Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Di-rectora: Rebeca Blanco Rotea. Ayudante de dirección: Sonia García Rodríguez. Equipo técnico: Noemí CalvoValcarce, Cristina Cancela Cereijo. Fotografía: Sonia García, Rebeca Blanco. Topografía: Miguel Grueiro Méndez.Vaciado documental y fotointerpretación: Sonia García. Delineación y dibujo: Anxo Rodríguez Paz, Sonia García,Rebeca Blanco. Tratamiento de la Información: Matilde Millán Lence. Estudio y procesado de la Cultura Material:Cristina Cancela. Estudio de la litología de la muralla: Manuela Costa Casais.3 Queremos mostrar nuestro agradecimiento a aquellos vecinos de la villa de Verín que amablemente nos ayudaron,nos proporcionaron información o nos permitieron consultar sus archivos particulares durante el transcurso deestos trabajos, sobre todo a D. Alberto Vega y muy especialmente a D. Eduardo Castro.4 1851-1855, documentación del proceso de litigio: demanda del Licenciado don Ramon Santa Mariña vecinode verin contra doña estrella noboa sobre construcción de nueva obra en el sitio titulado elle, del Juzgado del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 465

Page 463: Issn 0871 - 4061

Ayuntamiento de verín, Archivo particular.5 Sanz Molina lleva este tipo de fortificaciones hasta el s. XV (id. 2002: 51-7).6 La generalización del uso de la pólvora se produce principios del siglo XVI (Sanz 2002: 53).7 Datos extraídos a través de un documento fechado entre 1851-1855 correspondiente al proceso de litigio entredon Ramón Santa Mariña y doña Estrella Noboa.8 Las fotografías aéreas fueron adquiridas en el Centro Cartográfico y Fotográfico del Ejercito del Aire. En elcaso del Vuelo Americano se trata de la Hoja de Zona 379. Fecha: 20 de abril de 1957 (10:30 am), Número 38287-38288, serie B, hoja 303. Escala 1:33000 aproximadamente; en el caso del Vuelo del Instituto Geográfico Nacio-nal: Hoja de zona 5424. Fecha: abril 1985 (09:30 am). H.M.N. 303, Pasada K, Números 0001, 0002 y 0003.Escala 1.30000.9 En esta zona la toponimia mantiene fuertes referencias a la existencia de una fortificación, como son las callesMuralla y del Foso.10 CATASTRO DE ENSENADA, Libro de Legos. 1753. En este documento se recoge una abundante toponimia quehace referencia a la existencia de una fortificación: Muralla, Alameda de Afuera, A Portta, Atrás Murallas, CalleMuralla, de Adentro, de Fora, entre Murallas,…11 Soraluce Blond 1985: 191-192.12 Cronista de la Provincia de Ourense.13 Este relato narra los hechos acaecidos en la provincia entre los años 1640 y 1713, relacionados con las guerrasmantenidas entre España y Portugal.14 Que debían abandonar sus trabajos cotidianos desatendiendo así la propia economía de sus casas y haciendas15 En una inscripción reutilizada en el Baluarte de elle está grabada la fecha de 1646.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 466

Page 464: Issn 0871 - 4061

LA BAsíLicA de LA Ascensión y os FoRnos (ALLARiZ,ouRense)The BASiLiCA OF ASCenCión And OS FORnOS (ALLARiz,OuRenSe)

Resumen: En el año 2007 la Dirección Xeral de Patrimonio Cultural encarga al arquitectoManuel Seoane la elaboración de un proyecto arquitectónico en la Basílica da Ascensión y OsFornos (Allariz, Ourense), cuya finalidad era la consolidación de este conjunto monumental yla adecuación de su entorno. Con anterioridad al desarrollo de este proyecto, se solicita al LaPa-CSIC el estudio del conjunto, que se articuló en dos tipos de intervenciones: el levantamientotopográfico con Láser Escáner y la lectura estratigráfica de alzados. Una vez llevado a cabo esteestudio se han podido establecer nuevas hipótesis sobre el conjunto y ratificar alguna de las yaexistentes sobre el origen, la funcionalidad y los momentos constructivos tanto de la basílicacomo del Forno.

Palabras clave: SE de Galicia; Arqueología de la Arquitectura; Lectura estratigráfica dealzados; Arquitectura Castrexa; Arquitectura Medieval; Santa Mariña.

Abstract: in 2007 the Cultural heritage Management general Office asked architectManuel Seoane to carry out an architectonic project in the Basilica of the Ascension and in OsFornos (Allariz, Ourense). The purpose of this project was the consolidation of this monumentalset and the adaptation of its surroundings. Before the development of this project, LaPa-CSiCwas asked to study the set. Two types of interventions were made: the topographical survey withScan Laser and the stratigraphic reading of walls. Once this study was carried out it was pos-sible to establish new hypotheses on the set and to confirm some of the already existing hypoth-esis about the origin, the functionality and the constructive moments of the basilica as well asof the Forno.

Keywords: Se of galicia; Archaeology of Architecture; Stratigraphic Reading of Walls;iron Age Architecture; Medieval Architecture; Santa Mariña.

introducciónEl presente artículo es el resultado de los trabajos arqueológicos realiza-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 467

Rebeca Blanco-Rotea, [email protected] Mañana-Borrazás, [email protected]

Cristina Mato-Fresán, [email protected] Rodríguez-Costas, [email protected]

lAPA – CSIC

Page 465: Issn 0871 - 4061

dos en el conjunto formado por la Basílica de la Ascensión y Os Fornos, en laparroquia de Santa Mariña de Augas Santas (Allariz, Ourense). Dichos trabajosse corresponden con la fase previa a la intervención arquitectónica que se ibaa llevar a cabo en el edificio y su entorno por parte del arquitecto Manuel Se-oane. Ésta consistía básicamente en: el desmontado y recolocación de un tramodel alzado N del ábside; la consolidación de los muros de la basílica; el acon-dicionamiento de los accesos al monumento; y la señalización del conjuntomonumental.

El conjunto histórico-arqueológico formado por la Basílica da Ascensióny el Forno da Santa1 está emplazado en una pequeña vaguada, delimitada ensu margen W por un regato conocido popularmente como O Regueiriño. Sesitúa sobre una terraza posiblemente de origen antrópico, próxima al Castro o“Cibdá de Armeá”2 denominado tradicionalmente Monte de As Muradellas oCasarellas.

A la hora de abordar el estudiode este edificio es necesario tener encuenta la doble dimensión del con-junto: por un lado, la relación quetiene con el castro de Armeá y la pre-sencia en la cripta de los restos de unposible Monumento con Forno y, porotro, su vinculación con la leyendadel martirio de Santa Mariña. No esposible comprender la realidad de laBasílica y el Forno obviando este as-pecto y así lo demuestran las diferen-tes aproximaciones que distintosautores han realizado hasta la fecha.La presencia de Santa Mariña es es-pecialmente relevante, de maneraque se dispersan por la parroquia

toda una serie de lugares destacados vinculados a la leyenda de la Santa, queaún hoy perviven como espacios importantes de culto y tradición.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 468

Figura 1. Situación de la Basílica da Ascensión y OsFornos en relación con los lugares de Augas Santas yArmeá, el Castro de Armeá y las vías de tránsito

Page 466: Issn 0871 - 4061

La intervención arqueológicaLa intervención consistió en realizar el levantamiento topográfico con es-

cáner 3D y el análisis estratigráfico de los alzados de todo el conjunto3. El ob-jetivo de esta intervención era doble: por una parte, documentar y registrar lasestructuras que forman parte del conjunto y establecer su secuencia construc-tiva y, por otra, recuperar la volumetría del edificio a partir del registro de losdatos topográficos.

El levantamiento de alta definición (HDS) permite obtener un archivo en3D del edificio así como recuperar su volumetría real, lo que supone la posi-bilidad de poder analizar aspectos relacionados tanto con la construcción comocon su estructura, así como plasmar en él los resultados de la investigación yobtener reconstrucciones tridimensionales. Las herramientas empleadas hansido un Láser Escáner Terrestre, una Estación Total Topográfica y un GPS paraposicionamiento global. El proceso de trabajo consta, en líneas generales, detres pasos: la toma de datos topográficos en campo mediante el escaneado dela construcción; la unión de los diferentes datos obtenidos en un único archivoy el tratamiento de la información obtenida a partir de esos datos topográficos(dibujos 3D y 2D, ortoimágenes, secciones, perspectivas, etc.).

La volumetría generada ha permitido constatar la conexión entre la basí-lica y la cripta. Por otra parte, se ha obtenido la geometría de las bóvedas y de

los arcos fajones de la cripta contotal precisión, manifestando las de-formaciones e irregularidades quepresentan, así como las relacionesentre los elementos que las compo-nen. Del mismo modo, se ha podidodocumentar hasta donde ha sido po-sible medirla y representar la canali-zación que discurre bajo la cripta ysobrepasa el monumento.

La segunda parte del trabajoconsistió en realizar la lectura estra-tigráfica de alzados cuyo objetivo

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 469

Figura 2. Imagen de las plantas de la basílica y lacripta superpuestas; planta de sectores; y perspectivadibujada sobre el escaneado 3D

Page 467: Issn 0871 - 4061

fue, como ya se comentó, recuperar la secuencia estratigráfico-constructiva deledificio, lograr su datación y determinar las variaciones producidas en su con-figuración espacial a lo largo del tiempo. El análisis estratigráfico de alzadoso lectura de paramentos adapta el estudio estratigráfico-arqueológico a lasconstrucciones históricas a través del denominado método Harris. Compren-diendo el edificio como una realidad estratificada, el trabajo se encamina a es-tablecer la sucesión continua de acciones, tanto constructivas comodestructivas, que conforman la secuencia estratigráfica y que permite interpre-tar la evolución constructiva del edificio. Actualmente se están desarrollandolos procesos de síntesis, correlación, periodización e interpretación de los datosobtenidos a lo largo de este trabajo, por lo que todavía es pronto para hablarde resultados definitivos y concluyentes, aunque sí podemos ofrecer un avancesobre la evolución y secuencia constructiva del edificio.

Se han documentado tres grandes fases históricas, así como algunas re-formas puntuales en época contemporánea. La mayor complejidad estratigrá-fica se localiza en la zona de la cripta, ya que este espacio ha sido reutilizadoy ampliado en varias ocasiones, enmascarando las fases iniciales del edificio.Finalmente, debemos indicar que sin acudir a otro tipo de intervenciones, comola excavación arqueológica del suelo o el estudio pormenorizado de los mor-teros identificados en las distintas fases, resulta bastante difícil por el momentoapuntar una cronología absoluta para esta secuencia.

hipótesis sobre la evolución constructiva de la Basílica da Ascensióny os Fornos

Fase i: Época castreñaDe esta primera fase se conservan un horno de planta semicircular cerrada

realizado en un aparejo de mampostería, una canalización que en parte está ex-cavada en la roca y en parte construida con muros de mampostería, una granlosa a modo de pontella situada sobre la canalización y los restos de un muroconstruido sobre la roca cortada con un aparejo similar al de los dos elementosanteriores. Estos elementos se consideran coetáneos por la similitud existenteentre los aparejos con los que están realizados y las relaciones estratigráficasque entre ellos se establecen.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 470

Page 468: Issn 0871 - 4061

Como ya han apuntado varios autores, po-siblemente el origen del conjunto hay que bus-carlo en la cripta. En ella se conservan una seriede elementos que por su forma, estructura y ti-pología son sintomáticos de un monumento conforno. Sin embargo, alguno de ellos no man-tiene ningún tipo de relación estratigráfica conaquéllos que sí pertenecen con seguridad a lafase I, nos estamos refiriendo a la Pedra For-mosa y el depósito de agua. En el caso de laPedra Formosa creemos que ésta ha sido mo-vida de su posición original y reutilizada en unafase posterior, aunque su origen estaría clara-mente vinculado con un monumento con forno.

Fase ii: Posiblemente época Alto Me-dieval

A esta etapa pertenece la estancia rectan-gular que se dispone delante del horno aunquela bóveda que la cubre es posterior. Cierra estahabitación por el E la Pedra Formosa que,como decíamos, se habría reutilizado en estafase. Además, en este momento se agrandaría

el vano que presentaba esta Pedra, como se puede apreciar por las huellas decorte que presentan las jambas y el arco de remate y los rebajes practicados ensu frente E para la colocación de una puerta. Hacia el lado N de la Pedra For-mosa se dispone un muro de mampostería irregular en el que se reutiliza unalosa de granito con una cruz grabada. Sin embargo, hacia el S y al exterior deesta estancia se construye un depósito de agua con grandes losas de granito;estas losas se emplean también en los alzados de esta zona.

Sobre el depósito, y desde el frente E de la estancia, vierte agua un cañosituado entre la pedra formosa y las losas4. Aun así, la conducción de agua síparece ser la original dado que tanto las losas como toda la estructura que con-forma la canalización, realizada en piezas de granito que van encajando unas

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 471

Figura 3. En esta imagen se presentan va-rias fotografías de la cripta; en la imagensuperior se observa en primer término elalzado E de la Pedra Formosa que da ac-ceso a la zona del horno, a la izquierda selocaliza el depósito de la Fase II; en laimagen inferior izquierda, el alzado W dela Pedra Formosa; y en la imagen inferiorderecha el espacio al que se accede desdela Pedra Formosa, la estancia de la FaseII y el horno de la Fase I

Page 469: Issn 0871 - 4061

en otras y disminuyendo de tamaño a medida que nos adentramos en el muro,se encuentran in situ.

Se documenta también en esta fase una segunda canalización de seccióncuadrangular cubierta con losas de granito, con algunos materiales reutilizados,que corta la canalización de la fase I. Esta segunda canalización parte del de-pósito descrito en el párrafo anterior y parece tratarse del desagüe de éste.

Hemos puesto en relación este segundo momento constructivo con la di-fusión de la leyenda de Santa Mariña en esta zona, de manera que la reutiliza-ción del espacio de la cripta estaría asociada al proceso de cristianización queconllevó la reforma de la estructura anterior.

Fase iii: entre el s. x y el xiiA esta etapa correspondería el abovedamiento de la estancia construida

en la fase II, con una bóveda de cañón de medio punto, realizada en sillería degranito que descansa sobre una moldura de bodoques, decoración característicadel románico gallego. La construcción de esta bóveda obliga a realizar varios

cortes y reformas sobre las estructuras pree-xistentes. Por un lado, se eleva el alzado E delhorno continuando el muro con un aparejo demampostería irregular en el que se reutilizauna moldura achaflanada. La técnica cons-tructiva imita la empleada en el horno, aunqueen este caso destaca la ausencia de mortero.Las piezas de sillería de la bóveda pasan porencima del remate de este muro. Por otrolado, para poder encajar las piezas de granitosobre las que se apoya la bóveda se corta laPedra Formosa y las losas que se localizan enel lado S de la misma.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 472

Figura 4. Distintas vistas del exterior e interior de la Basílicada Ascensión. En la imagen inferior se observa una de las puer-tas de acceso a la cripta

Page 470: Issn 0871 - 4061

Fase iv: Finales del s. xiii – principios del s. s. xivEn este momento se construye la Basílica de la Ascensión sobre las es-

tructuras previas. La mayoría de autores fechan esta construcción entre finalesdel s. XIII y principios del s. XIV, teniendo en cuenta las técnicas, el sistemaconstructivo y la decoración del edificio. Hemos distinguido dentro de estafase dos etapas, ya que se han detectado ligeras diferencias, pero que no pare-cen variar el programa constructivo inicial.

etapa ivaA esta etapa correspondería, dentro de esta fase, la construcción de la basílica.

Para ello, se amplía el espacio de las estructuras compuestas por el horno y la es-tancia que lo antecede, creando una cripta sobre la que se construye propiamente labasílica. La planta soterrada se amplía hacia el E con una estancia dividida en trestramos, cubiertos por bóvedas de cañón apuntado que incluyen dos escaleras de ba-jada a la cripta. En la planta superior se construye un edificio absidiado, de cabecerarecta y una sola nave, ambas con columnas acodilladas. A través de la ventana delábside se puede observar cómo la fábrica es unitaria en las dos alturas, aspecto delque también dejan constancia las marcas de cantero, la decoración o el aparejo. La

fábrica estáinconclusa,tanto en lazona W comoen la cubri-ción, ya quese construyóúnicamentehasta la alturade los capite-les.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 473

Figura 5. Fases I aIV de la cripta, in-dicadas sobre laplanta y la ortoima-gen del alzado N

Page 471: Issn 0871 - 4061

etapa ivbSe documentan en los alzados y las bóvedas del sector 25 una serie de

cortes en los que se encajas unos arcos fajones apuntados. El espacio resultanteentre los arcos fajones y las bóvedas se calza con pequeños ripios. Ambos he-chos nos han llevado a concluir que las bóvedas y los arcos no son coetáneos,sino que éstas se reforzaron con posterioridad a su construcción. Da la impre-sión de que inicialmente estos arcos no se habían previsto y que una vez fina-lizado el edificio se decide reforzar la cripta tal vez por el peso que estabadestinada a soportar. Este dato puede ponerse en relación también con el hechode que no se haya concluido la planta superior, a la espera de abovedarla en elmomento en que la cripta estuviera reforzada, proyecto que, sin embargo, nose finaliza.

Fase iv: edad contemporáneaA esta fase pertenecen una serie de reparaciones puntuales que no suponen

grandes alteraciones en la construcción. La intervención más importante deesta fase es la excavación de una zanja perimetral que rodea los alzados S y Ede la basílica y que un epígrafe fecha en 1962. El muro W de la Basílica, quees en realidad el muro de cierre de una finca, también se ha enmarcado en estemomento.

el origen de la Basílica da AscensiónTeniendo en cuenta la secuencia constructiva que acaba de describirse,

la cripta, y más concretamente, el horno, se manifiesta como el espacio claveen este conjunto arquitectónico y, de hecho, es el origen de toda la estruc-tura. La bibliografía sobre Augas Santas recoge numerosas opiniones gene-ralmente enfocadas a plantear hipótesis sobre su cronología, funcionalidady momentos de uso. Así, para Lorenzo Fernández (1948) la cripta sería unmonumento protohistórico lógicamente vinculado al castro vecino, que iden-tifica como un espacio de sacrificios y de cremaciones humanas. Posterior-mente se reutilizaría como ninfeo en época romana y como baptisterio apartir de la cristianización. Conde Valvís, quien excavó el Castro de Armeáen sendas campañas en 1951 y 1959, identifica la cripta como unas termasromanas y el castro como la Mansio Aquis Salientibus de la Vía Nova. En

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 474

Page 472: Issn 0871 - 4061

1955, Chamoso Lamas, retomando a Lorenzo Fernández, insiste en la im-portancia del agua en el monumento, proponiendo un uso higiénico o salu-tífero de la misma y señalando su paralelismo estructural con las termas.

Las monografías más recientes (FariñaBusto 2000) destacan el origen de la criptacomo un monumento con forno, aludiendoespecialmente a cuestiones morfológicasdestacadas que se repiten en estas estructu-ras identificadas en el NW peninsular, comoreseñábamos al hablar de la fase I. La pre-sencia en la cripta del horno con las dosgrandes lajas de acceso, la Pedra Formosa,el depósito, la canalización, los muros cons-truidos sobre la roca madre y la pontella ra-tifican esta hipótesis, a pesar de que elanálisis estratigráfico no permita establecercomo originarios todos estos elementos,dadas las numerosas reformas que el monu-mento ha sufrido a lo largo de su historia.

Asumiendo el origen castreño de lacripta, como un Monumento con Forno, lafuncionalidad de estas construcciones no estásin embargo completamente clara. Para Al-magro y Moltó tendrían una funcionalidadsimbólica, relacionada con los ritos iniciáti-cos de guerreros de la sociedad castreña, algoque sin duda ratificaría la cercana presenciadel Castro de Armeá. También se ha plante-ado la hipótesis de que estos monumentostengan un origen romano, aprovechando unatradición castreña preexistente, y que funcio-nasen efectivamente como termas (Calo Lou-rido 1994, Ríos González 2000).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 475

Figura 6. Fotografías de la Basílica da As-censión y su entorno. La fotografía superiordel año 1924 (Fariña Busto 2002: 18) repre-senta un momento de la Procesión de SantaMariña, en lo alto del outeiro ondean los pen-dones. La fotografía central (Fariña Busto2002: 58) recoge una vista de la basílica y ellugar de Armeá al fondo desde lo alto del Ou-teiro dos Pendóns. La fotografía inferior re-fleja el simbolismo del lugar de AugasSantas, representado por la fuente, el carba-llo y la cabecera de la Iglesia Parroquial alfondo

Page 473: Issn 0871 - 4061

En relación a la doble dimensión del conjunto, a la que se hacía referenciaal comienzo de este artículo, la presencia de la leyenda de Santa Mariña ratificala importancia del lugar y el asentamiento y la materialización de la misma enla geografía de la parroquia de Augas Santas. Así, el outeiro en el que se asientael Castro recibe también el nombre de Outeiro dos Pendós, con motivo de laprocesión que se celebra el día de Santa Mariña que finaliza en este lugar, dondese colocan los pendones en los agujeros practicados en las rocas para este efecto.Del mismo modo, al NW de la Basílica de la Ascensión se encuentran las píasen las que supuestamente San Pedro sumergió a la Santa tras salvarla del fuego.Del martirio queda también constancia en las tres fuentes ubicadas en el exteriorde la Iglesia Parroquial de Augas Santas, que la leyenda relaciona con cada unode los botes que dio la cabeza de la Santa Mariña una vez decapitada, ya que enel lugar en que éstos se produjeron habría brotado una fuente.

De alguna manera, los restos arqueológicos e históricos o la toponimia yla memoria oral de los vecinos de la parroquia de Augas Santas discurren endos direcciones, vinculados al origen castreño de la cripta y a la cristianizacióndel territorio, aspectos que de alguna manera han quedado plasmados en la se-cuencia cronológica del conjunto.

BibliografíaALMAGRO GORBEA, M., MOLTó, L. 1992. Saunas en la Hispania prerromana, espacio, tiempo

y forma, Serie II, 5, Madrid. BANDE RODRÍGUEZ, E. Y ARMADA BANDE, O. 2002. evolución do conxunto histórico-artístico deSanta Mariña de Augas Santas. Ourense.BLANCO-ROTEA, R. 2008 Levantamiento volumétrico y lectura de alzados del conjunto formado por laBasílica da Ascensión y O Forno da Santa (Allariz, Ourense), LaPa-CSIC. Informe Inédito.CHAMOSO LAMAS, M. 1955. Santa Marina de Augas Santas. Cuadernos de estudios gallegos X-20, pp.41-88. Santiago de Compostela.CALVO, F. 1913. Recuerdos de Augas Santas. Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos históricosy artísticos de Orense, Tomo IV, núm. 91. pp. 321-389. Orense.CONDE-VALVÍS FERNÁNDEZ, F. 1955. Las termas romanas de la “Cibdá” de Armea en Santa Mariñade Augas Santas, actas del III Congreso Nacional de Arqueología(1953), Institución Fernando el Católico,CSIC, pp.432-447. Zaragoza.CONDE-VALVÍS FERNÁNDEZ, F. 1959. Dos villas romanas de la Cibdá de Armea, en Santa Mariña deAugas Santas. Revista de guimarâes 69, pp. 472-500.FARIÑA BUSTO, F. 2002. Santa Mariña de Augas Santas. guías do Patrimonio Cultural, 7. Santiago deCompostela.LORENZO FERNÁNDEZ, J. 1948. El monumento protohistórico de Augas Santas y los ritos funerarios delos Castros. Cuadernos de estudios gallegos III-10, pp. 157-211. Santiago de Compostela.RÍOS GONZÁLEZ, S. 2000. Consideraciones funcionales y tipológicas en torno a los baños castreños del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 476

Page 474: Issn 0871 - 4061

NO de la Península Ibérica, gallaecia, 19, pp. 93-125. Santiago de Compostela.

1 También denominado Os Fornos.2 Entre el castro y la basílica distan 108 m.Ficha Técnica:Promotor: Xunta de Galicia, Consellería de Cultura e Deporte, Dirección Xeral de Patrimonio CulturalArquitecto: Manuel SeoaneDirectora Intervención Arqueológica: Rebeca Blanco RoteaAyudante de dirección: Sonia García RodríguezEquipo técnico: Patricia Mañana-Borrazás, Cristina Mato-Fresán, Alberto Rodríguez -CostasFotografía: Rebeca Blanco, Alberto Rodríguez CostasTopografía: Patricia Mañana BorrazásDelineación y dibujo: Patricia Mañana Borrazás, Anxo Rodríguez PazTratamiento de la Información: Alberto Rodríguez Costas3 Este caño ha sido restaurado con posterioridad a la segunda mitad del s. XX, ya que en una fotografía deesta época la boca del caño estaba rota (Lorenzo Fernández 1948: Lámina III) y actualmente está en perfectoestado de conservación. Además, se aprecian unos cortes en las losas, practicados para introducir la nuevapieza.4 La zona ampliada en la cripta en la etapa IVa.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 477

Page 475: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 478

Page 476: Issn 0871 - 4061

eL MonAsteRio de sAn PedRo de RocAs (esgos,ouRense). LA PRoBLeMáticA de LA dAtAcion einteRPRetAción de un ediFicio excAvAdo en RocAThe MOnASTeRY OF SAn PedRO de ROCAS (eSgOS, OuRenSe).PROBLeMATiC OF The dATing And The inTeRPReTATiOn OF ABuiLding eXCAvATed On ROCK

Resumen: El Monasterio de San Pedro de Rocas se ha destacado por la especial construc-ción de las capillas de su iglesia, labradas en la roca madre. Este hecho podría responder a unasentamiento eremita cuya evolución en el tiempo habría dado lugar a la fundación de un ceno-bio. Esta primera arquitectura determina las reconstrucciones que ha sufrido el edificio. Por otraparte el propio enclave en que se encuentra el conjunto monástico determinó la reutilización delsolar, eliminando así las huellas en altura de cada fase. El registro arqueológico y la lecturacrítica de las fuentes nos llevan a determinar los vacíos materiales y, con ellos, las diversas for-mas de acercarse al edificio tanto para conocerlo como para su puesta en valor.

Palabras clave: Galicia; Restauración Arquitectónica; Arqueología de la Arquitectura;Análisis Estratigráfico; Análisis Histórico; Arquitectura Monástica; Arquitectura Rupestre.

Abstract: The Monastery of San Pedro de Rocas is outstanding by the special constructionof the chapels of its church, worked on the rock. That fact could respond to an establishmenthermit whose evolution in the time would give rise to the foundation of a monastery. This firstarchitecture determines the reconstructions that the building has undergone. On the other handthe own enclave in which is the monastery set determined the reusability of the lot, eliminatingtherefore the tracks in height of each phase. The archaeological record and the critical readingof the sources take to determine the material emptiness and, with them, the diverse forms to usto approach the building as much to know it as for their putting in value.

Keywords: galicia, Architectonic Restoration, Archaeology of Architecture, StratigraphicAnalysis,historical Analysis, Monastic Architecture, Rock Architecture.

AntecedentesLa necesidad de realizar una intervención en las cubiertas del Monasterio

de San Pedro de Rocas para la reposición de las techumbres, planteó a la Di-rección Xeral de Patrimonio Cultural de la Consellería de Cultura e Deporte de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 479

Sonia García Rodríguez, [email protected] Rodríguez Paz, [email protected]

Cristina Cancela Cereijo, [email protected]

Page 477: Issn 0871 - 4061

la Xunta de Galicia laposibilidad de efectuarun estudio de la con-strucción desde losplanteamientos teórico-metodológicos de la Ar-queología de laArquitectura. Se pre-tendía así conocer laevolución espacial delas dependencias con-

servadas y con ello ayudar a que la planificación futura fuera acorde con los re-sultados de dicho estudio. La intervención se basó en el levantamientotridimensional del edificio, el análisis de la documentación histórica y bibli-ográfica y la lectura estratigráfica de alzados.

El Monasterio de San Pedro de Rocas está considerado uno de los ele-mentos materiales de la implantación del cristianismo en Galicia. Las espe-ciales características que le confiere el estar excavado directamente en roca yla ubicación en él de una lápida fundacional fechada en el año 573, han hechoque sea considerado un asentamiento anacoreta. De aquella supuesta imagenprimigenia hasta hoy ha habido un largo proceso del cual permanecen la Igle-sia, con tres capillas rupestres y unanave transversal, el Cementerio delsiglo XX, un Campanario sobre ungran bolo granítico y la Casa Rec-toral. Todas estas estructuras son re-sultado de diversas reformas debidasa las necesidades y especificidadesque cada uno de los períodos mar-caba.

Las diversas aproximaciones,análisis e interpretaciones que de élse han hecho, ya desde el siglo XI, le

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 480

fig1

Figura 1. Ámbito de visibilidad y ubicación del Mo-nasterio.

Page 478: Issn 0871 - 4061

otorgaron en 1923 la categoría de Monumento Nacional después de controver-tidas opiniones sobre el merecimiento de este título. Desde entonces se han ll-evado a cabo estudios e intervenciones que han dado lugar a informacionessesgadas sobre un conjunto complejo y aglutinador de referentes materialesdel proceso monástico.

trabajos realizadosLos trabajos planificados para el registro de la Iglesia estaban encamina-

dos a la realización de una planimetría de detalle y la obtención de las fasesconstructivas. Para ello se llevaron a cabo los protocolos de trabajo habitualesde la metodología arqueológica: registro fotográfico y exhaustiva topografíadel edificio para recuperar su volumetría y posibilitar la representación gráficade los datos obtenidos en los diferentes análisis. Con ello se realizaron los fo-tomontajes y planimetrías 3D.

En un segundo paso se llevó a cabo la doc-umentación y registro de las estructuras que for-man el monasterio actualmente: se dividió deledificio en sectores para facilitar la descripcióne interpretación de resultados, se hizo la lecturaestratigráfica y se elaboró un registro de lasunidades estratigráficas que componen cadaconstrucción. Una vez revisada esta informa-ción, se realizaron los diagramas concronologías relativas y secuencias constructivas.

Terminados los trabajos de campocomenzó la revisión de las fuentes primariasen archivos y fuentes bibliográficas. Se hizouna revisión crítica de los datos obtenidos deese vaciado y, con ello, se correlacionaron conlas informaciones revertidas del propio edifi-cio. Así se plantean las posibles fases construc-tivas de la iglesia y las funcionalidades de cadauna de las estructuras que la circundan.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 481

Figura 2. Fotografías de la iglesia en lasque se observan reformas del siglo XX Fi-gura 2. Fotografías de la iglesia en las quese observan reformas del siglo XX (Museodo Pobo Galego, Archivo Histórico Pro-vincial de Ourense, Revista Vida Gallegay de la Real Academia Gallega de BellasArtes)

Page 479: Issn 0871 - 4061

Debido a la especial ubicación del monasterio en un paisaje marcado por lacompleja orografía, se planteó la posibilidad de analizar el ámbito de visibilidadpotencial a larga distancia desde las partes más altas del edificio. La finalidad úl-tima era la de presentar el amplio control visual como característica principal y ala hora de la elección de este enclave para la ubicación de la edificación monástica.Debido a los cambios sufridos en el paisaje agrario en la segunda mitad del sigloXX, las posibilidades actuales del edificio son diferentes a aquellas en la que secontrolaban tanto los terrenos propios, como las vías de tránsito naturales y lasaldeas más cercanas, pero también las tierras más lejanas como las de Celanova,Carballiño o amplias zonas del Ribeiro. Como en otros edificios de la denominadaRibeira Sacra, la ubicación en puntos con amplio control visual es uno de los el-ementos principales, aprovechando así las condiciones orográficas.

ProblemáticasLas necesidades surgidas en el año 2006 condujeron a la realización de

los trabajos presentados, pero las especiales características del inmueble y lascondiciones en las que se encontraba generaron una serie de problemáticas queimposibilitan la consecución de dataciones absolutas e interpretaciones cer-radas sobre el cenobio. Se plantearon una serie de circunstancias desfavorablespara poder llevar a cabo un análisis íntegro, algunas de ellas comunes a los es-tudios e intervenciones que sobre el Patrimonio Construido se realizan desdelos planteamientos arqueológicos e históricos.

En este caso, aunque se trata de un conjunto monástico, la intervencióny análisis no contem-plaba la Casa Prioral,que quedó fuera de lamisma al estar gestion-ados ambos edificiospor diferentes organis-mos gubernamentales.Por otro lado, debido ala urgencia de la inter-vención en los tejadosy la especificidad del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 482

Figura 4. Exteriores del Monasterio: iglesia, rectoral, estancia en el se-gundo piso, cementerio y acceso al campanario

Page 480: Issn 0871 - 4061

proyecto, no se estudió el entorno inmediato en el que, probablemente,habrían estado situadas las construcciones adjetivas del monasterio. Abordarsólo una parte de las estructuras que pertenecen al monasterio hace que lainformación sobre el mismo sea parcial e incompleta por el momento.

La aplicación de la Arqueología de la Arquitectura como práctica previaa intervenciones en edificios y restos arqueológicos no es exigida por la legis-lación, por ello este tipo de disciplina está condicionada por las posibilidadesde cada caso y, salvo excepciones, se desarrolla fuera de proyectos específicosde investigación. Sólo en casos puntuales los estudios se planifican con ante-rioridad a la propia intervención arquitectónica. De esa manera, el proceso deregistro se complica al englobarse dentro de los mismos plazos de la reformay al intento de no ralentizar la obra. En este caso la realización de los estudiosde alzados en paralelo al proceso de reposición de cubiertas conllevó diversosproblemas en el registro, ya que los andamios no permitían una visión de con-junto de todos los alzados exteriores. Este hecho generó diferentes inconve-nientes en la representación gráfica de resultados, ya que ni la fotografía ni latopografía pudieron ser realizadas con la precisión necesaria, hecho que im-plicó la revisión y repetición del trabajo una vez que los andamios fueron re-tirados.

Otra de las acciones planificadas fue la revisión de las fuentes primariasy secundarias. En el caso de la información reflejada en los informes de las in-tervenciones realizadas más recientemente en el edificio, hay que decir queéstos no aportan datos significativos que ayuden a la comprensión y dataciónde la estratigrafía muraria, en unos casos por ser acciones particulares hechassin los controles oportunos1 y, en otras, como las excavaciones hechas en 1987-1988 en el interior de la iglesia, porque sus someros datos no han podido cote-jarse con la información de los alzados.

En el caso de la documentación histórica original, ésta se encuentra dis-persa en diversos archivos, alguna de ella sin catalogar o de acceso restringido.La vinculación administrativa de San Pedro de Rocas al Monasterio deCelanova en gran parte de su historia ha dejado en un segundo lugar la docu-mentación del priorato frente a la relevancia de un centro del que sí han sidocatalogadas, estudiadas y publicadas la mayor parte de sus fuentes documen-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 483

Page 481: Issn 0871 - 4061

tales. Las vicisitudes que el edificio sufrió pueden también ser las causantesde la pérdida de gran parte del archivo propio, y siendo éste un lugar menor enla administración económica monacal, no se han conservado los registros, vis-itas, contabilidades, etc. Las fotografías que se han localizado, fechadas desdeprincipios del siglo XX, perpetúan la figura del campanario como símbolo pro-tagonista de la mayoría de las mismas, ya sean particulares o de los especial-istas que en cada momento se acercaron al edificio. El conjunto de imágenes,tanto las publicadas como las inéditas, han ayudado a fechar las reparacioneshechas en el último siglo.

A todas estas casuísticas generales se añade aquí la problemática fun-damental a la hora de abordar el análisis, que es el propio origen de la edifi-cación eclesiástica formada mediante la excavación de las capillas de lacabecera en la roca madre. Este hecho condicionó totalmente las diversasrefacciones que, tras varios abandonos, ha sufrido el edificio. El propio en-clave en que se encuentra el conjunto monástico, con fuertes pendientes yafloramientos graníticos de gran tamaño, determinó la reutilización del solar.Se destruyeron en cada período lasestructuras innecesarias para con-struir en el mismo espacio lasnuevas, eliminando así las huellasen altura de cada fase. Habitual-mente en las construcciones históri-cas encontramos restos de lareutilización de materiales y muroscomo forma de economizar en lasreparaciones o reconstrucciones,sobre todo en el caso de los proyec-tos con menor poder económico.Pero San Pedro de Rocas es un edi-ficio restringido en su crecimientopor la orografía. De esta manera, loshiatos o vacíos son tantos como losrestos materiales conservados. Laelección en el origen del complejo

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 484

Figura 5. Interiores de la iglesia: nave transversal, ca-pillas excavadas en roca y estancia en el segundo piso

Page 482: Issn 0871 - 4061

arquitectónico actual de un lugar con unas características físicas complejasimposibilitó en cierta manera la construcción de un monasterio que siguieselas planificaciones habituales para este tipo de centros en cada momento.Parece claro pues que la sacralización de este lugar y la relevancia del mismofueron más que suficientes para condicionar la práctica habitual en temasedilicios y seguir manteniendo el uso religioso de un enclave tan singularhasta fecha reciente. En este sentido se plantea la necesidad de analizar enprofundidad las características espaciales y de ubicación de las edificacionesreligiosas que jalonan la Ribeira Sacra, más allá de las meras característicasestilísticas de cada uno de los edificios religiosos que componen este régimende asentamiento.

Otro de los problemas que genera actualmente la disposición de gran partede la iglesia excavada en la roca es la humedad constante dentro del edificio.Desconocemos cómo era el ambiente en el interior del templo en los momentosde uso del mismo, pero actualmente el grado de humedad se sitúa por encimadel 85% en muchos puntos. Las diversas acciones que se han llevado a cabodentro de las capillas y nave en los últimos años pueden incidir en el aumentode la saturación, ya que la eliminación del enlosado y las tumbas bajo el mismohan dejado la roca madre a la vista en casi la totalidad del suelo del edificio.Se ha perdido el aislamiento que proporcionaban aquellos rellenos y con ellolas características interiores han variado de tal manera que se incrementa laproliferación de musgos, líquenes y hongos, viéndose alteradas las propiedadesfísicas del granito, tanto en la cantería como en la roca madre. Esto imposibilitadeterminados análisis de visuales de morteros y acabados pétreos que, encondiciones normales, aportarían datos para el registro y consecución de fasesconstructivas.

En el caso de la datación de las capillas excavadas en roca serían opor-tunos análisis específicos con el fin de determinaran las ampliaciones que hansufrido y la erosión que actualmente tienen las marcas de herramienta utilizadasen la construcción. Sería fundamental conocer el grado de alteración de la rocaque compone las diferentes capillas. Los análisis de las pátinas y coloniza-ciones biológicas y de los morteros y restos de pinturas en los alzados podríanaportar conocimiento eficaz para saber qué ha ocurrido dentro de la iglesia.Con lo que se sabe hasta el momento no se puede asegurar una fecha de origen,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 485

Page 483: Issn 0871 - 4061

mucho menos si ésta se vincula a la aparición de un elemento mueble. De talmanera serían necesarios análisis comparativos con la estela y ara que fueronlocalizadas en la iglesia y con el resto de esculturas y relieves que hoy semantienen en ella.

Por último, podemos apuntar la posibilidad de descontextualización dematerial propio de este monasterio y su uso o reutilización en lugares del en-torno como elementos decorativos o constructivos. Este hecho se repite en todotipo de edificios de cierta relevancia constructiva, ya que es práctica comúnutilizarlos de cantera una vez que no están en uso. En este caso, la ubicaciónen un lugar aislado daría lugar a la dispersión de los elementos en un amplioterritorio desde el cual acudirían los vecinos a buscar piedra. De nuevo seplantea la necesidad de realizar estudios territoriales para la comprensión totalde los procesos constructivos-destructivos de éste y otros edificios de la zona.

ResultadosLo que hoy día se conoce de este monasterio se centra principalmente en

los edificios que permanecen en pie, pero, como se ha apuntado, sería necesarioel estudio del entorno inmediato y de un territorio más amplio con el fin de lo-calizar y conocer la envergadura real del conjunto monástico.

Centrándonos en lo estudiado hastael momento podemos apuntar que el áreaque hoy ocupa la nave transversal de laiglesia fue utilizada, probablemente, parala prolongación en dirección este-oeste delas capillas de cabecera. Es significativa laaparición de unos escalones de acceso alespacio en que se sitúa la capilla norte,oblicuos a la misma, que marcan una con-figuración del espacio muy diferente a laactual y que podrían estar en relación conlos primeros momentos del edificio.

Debido a la reutilización de materialdecorativo, la datación estilística de las ar-querías de acceso a las capillas pétreas,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 486

Figura 6. Secciones de la iglesia: este-oesteatravesando la capilla central y la estancia delsegundo piso, y sección norte-sur de la navetransversal en la que se observa la totalidaddel panel pétreo de acceso a las capillas

Page 484: Issn 0871 - 4061

mantenida hasta ahora para estos espacios por los especialistas, no está direc-tamente relacionada con el momento de colocación de las piezas que las com-ponen. Este hecho nos lleva de nuevo a la necesidad de una revisión crítica deese tipo de analíticas y a la comparación con otras perspectivas de estudio. Laubicación en la capilla pétrea situada al norte de un mural con un mapamundi,fechado en torno al siglo XII, determina el momento de conformación generalde la triple cabecera del modo en que hoy aparece.

En el panel pétreo que conforma el alzado de acceso hacia las capillas,aparecen diferentes rebajes y mechinales que parecen encajar con la colocaciónde techumbres a dos aguas, bien para cubrir las naves longitudinales a las capil-las pétreas o bien a modo de atrio que pudiera cerrarlas en el lado oeste. Eneste panel también permanecen las marcas dejadas por el coro alto que se man-tuvo en uso hasta el incendio de 1923.

Tanto la nave transversal como la cabecera de la misma, situada al norte,tuvieron un segundo piso. Esta segunda altura debió estar conectando elMonasterio, del cual existen referencias documentales sobre la destrucción degran parte del claustro por una piedra caída del monte en torno al año 1745,con la estancia superior ubicada sobre las capillas y otras desaparecidas de lasque se observan restos en la parte exterior noreste. Todo ello apunta a la pérdidade gran parte de las construcciones que podrían arrojar mayor conocimientosobre la que posiblemente fue la época de apogeo. El lienzo sur de la navetransversal, hecho a finales del siglo XV según la inscripción, muestra soluciónde continuidad con la estancia superior, y de ésta se conservan los alzados sury este, que podrían fecharse así en ese momento. Esto indica la existencia deun edificio de al menos dos pisos, claustral, unido a las estancias que sobre lacapilla se sitúan.

Uno de los elementos más significativos es el gran bolo granítico sobreel que se sitúa el campanario. En el suelo entre éste y el cementerio aparecenrestos de diferentes estructuras adosadas al alzado de la roca que podrían es-tarnos apuntando la posibilidad de que el bolo granítico no fuese el lugar orig-inal en el que se ubicaba el campanario y sí parte de otro tipo de estancia,cerrada y con más de un piso como muestran las escaleras labradas en él.

Nos parece fundamental en este punto hacer una revisión del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 487

Page 485: Issn 0871 - 4061

conocimiento que del edificio se transmite al visitante. Las especiales carac-terísticas del mismo, la exhumación de las tumbas y la falta de datos objetivoshan dado lugar a un discurso realmente alejado de los restos materiales con-servados. Por ello, como en otros bienes arqueológicos, es fundamental la rea-lización de un programa de puesta en valor específico y alejado de falsos mitos.

BibliografíaBenito de la Cueva. 1997. Historia de los Monasterios y Prioratos Anejos a Celanova. Granada: Uni-

versidad de Granada.Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artísticos de Ourense.1898-1960. Xuntade Galicia-Grupo Marcelo Macias.Duro Peña, E. 1972. El Monasterio de San Pedro de Rocas y su Colección Documental. Ourense: Institutode Estudios Orensanos Padre Feijoo. Malingre Rodríguez, A. M. 2001. Monasterio de San Pedro de Rocas. León: Edilesa.Sá Bravo, H. 1982. el Monasterio de Celanova. León, Editorial Everest. Sáez, E. y Sáez, C. 1996. Colección diplomática del monasterio de Celanova). Alcalá de Henares; Univer-sidad de Alcalá de Henares.

1 El Grupo Evangélico Ciudad de los Muchachos ocupa desde 1965 estos edificios en los que han realizadosdiversas limpiezas y reparaciones.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 488

Page 486: Issn 0871 - 4061

LAs distintAs tRAnsFoRMAciones esPAciALes yFuncionALes deL PAZo PRioRAL de LA coLegiAtA desAntA MARíA de xunQueiRA de AMBíA (xunQueiRA deAMBíA, ouRense)diFFeRenT SPATiAL And FunCTiOnAL TRAnSFORMATiOnS OF ThePAzO PRiORAL OF The COLegiATA OF SAnTA MARíA deXunQueiRA de AMBíA (XunQueiRA de AMBíA, OuRenSe)

Resumen: El Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xunqueira de Ambía estásiendo sometido desde hace varios años a un proyecto de rehabilitación, encaminado a la recu-peración del edificio y a su adecuación a un uso cultural. Dentro de la segunda fase de la restau-ración, se planteó la realización de un estudio integral con la finalidad de determinar cuál habíasido su secuencia constructiva y contribuir a la elaboración del proyecto de rehabilitación. Através de la información obtenida se ha podido recuperar la evolución del Pazo Prioral, reinter-pretar su funcionalidad y abrir nuevas vías de estudio sobre la interpretación de su evoluciónespacial y funcional.

Palabras clave: SE de Galicia; Rehabilitación Arquitectónica; Arqueología de la Arqui-tectura; Lectura Estratigráfica de Alzados; Análisis Histórico; Control Arqueológico; Arquitec-tura Monástica.

Abstract: The Pazo Prioral of the Colegiata of Santa Maria de Xunqueira de Ambía hasbeen undergoing a restoration project during the last few years aimed at recovering the buildingand giving it a cultural use. Within the second phase of the restoration, the execution of an in-tegral study with the purpose of determining its constructive sequence and of contributing tothe elaboration of the restoration project was considered. Through the data obtained, it hasbeen possible to recover the evolution of the Pazo Prioral, to reinterpret its functionality and toopen new ways of study on the interpretation of its space and functional evolution.

Keywords: Se of galicia; Architectonic Restoration; Archaeology of Architecture; Strati-graphic Analysis; historical Analysis; Archaeological Control; Monastic Architecture.

introducciónDesde el año 1995 el Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xun-

queira de Ambía (Ourense) ha sido objeto de diferentes proyectos de restaura-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 489

Nieves Amado Rolán Arqueóloga profesional; [email protected] Blanco-Rotea; rebeca.blanco-rotea@iegps,csic.es

Sonia García Rodríguez sonia; [email protected] Rodríguez Paz; [email protected]

lAPA-CSIC

Page 487: Issn 0871 - 4061

ción arquitectónica cuya finalidad es la rehabilitación del edificio para desti-narlo a un uso cultural. La restauración se ha desarrollado, hasta el momento,en tres fases: 2003-2004, 2005 y 20071.

Durante la 2ª fase se lleva a cabo un estudio exhaustivo del edificio, cuyos ob-jetivos eran documentar, analizar e interpretar las fases del edificio, establecer su cro-nología, la funcionalidad de cada fase y aportar información para el desarrollo delproyecto de restauración. Para ello, se realizaron los siguientes estudios: investigaciónetnográfica sobre usos y toponimia de los edificios del patio llamado “El Palacio”;análisis del estado de la cuestión entre diferentes investigadores relacionados con elconjunto monumental de Xunqueira de Ambía; revisión de fuentes publicadas co-nocidas; consulta de fuentes originales manuscritas en los archivos Histórico Pro-vincial de Ourense (AHPO) y Diocesano de Ourense (AHDO); control arqueológicode remoción de tierras; y, finalmente, análisis estratigráfico de alzados.

Los resultados obtenidos han permitido recuperar su evolución construc-tiva, reinterpretar su funcionalidad y abrir nuevas vías sobre la interpretaciónde su evolución espacial y funcional.

El presente texto, además de recoger los resultados de los estos trabajos, incor-pora también los avances de las investigaciones que los autores han determinado conposterioridad a dicha intervención. Además, se corresponde con el póster que bajoeste título se presentó en el Congresso Trans-fronteiriço de Arqueologia: “um Patrimóniosem Fronteiras” (Montalegre, Octubre de2008).

ProblemáticaUno de los aspectos que nos gustaría

resaltar antes de proceder a presentar losresultados de esta investigación, es la pro-pia problemática del edificio, ya que resultade gran ayuda para entender tanto algunosaspectos que se plantearán más adelante,como la imposibilidad de ratificar algunashipótesis sin ampliar los trabajos arqueoló-gicos realizados hasta el momento.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 490

Figura 1. Planta de la Colegiata de SantaMaría de Xunqueira de Ambía

Page 488: Issn 0871 - 4061

A principios del s. XX se eliminó parte del ala S del Pazo Prioral paraconstruir una Casa Episcopal2; de esta manera, el edificio que actualmente seconserva del antiguo Pazo Prioral pierde la conexión e interrelación estratigrá-fica con el resto del conjunto monumental, lo cual impide que podamos rela-cionar de manera directa Pazo Prioral y Colegiata.

Por otra parte, al analizar únicamente una parte del conjunto monumentalse obtiene un conocimiento parcial del Pazo Prioral, ya que muchas de las cla-ves interpretativas se despejarían al estudiarlo en su totalidad. De hecho, visi-tando otras zonas de la Colegiata se documentan paralelismos con las fases IIy III del edificio estudiado.

Además, algunas zonas del Pazo no pudieron estudiarse en la 2ª fase de res-tauración por no ser objetivo de la misma, como las plantas baja y segunda delcuerpo S, o por encontrarse ocultas por estructuras que se habían ido adosandoa sus muros a lo largo de tiempo. Una de las propuestas que se realizaron unavez finalizada esta actuación fue continuar trabajando en esta zona, denominada“Torre”3, y poder despejar así algunas hipótesis sobre la evolución del edificioen época medieval. Hemos de indicar, sin embargo, que durante la última fasede intervención (2007) sí se han realizado otras intervenciones arqueológicas,como la excavación de la totalidad del suelo de la estancia de mayor tamaño ola realización de algunos sondeos en el espacio que comentábamos, todas ellasdirigidas por M. Anxo López-Felpeto Gómez. Gracias a estas intervenciones seha podido comprobar la continuidad del empedrado localizado por N. Amadoen el 2005, así como documentar la existencia de un corte que no se había iden-tificado anteriormente, gracias a la exhumación de parte de la cimentación delinmueble que permite acotar parcialmente la planta del edificio de la fase II yreinterpretar los muros pertenecientes a la fase III4. En definitiva, hemos podidocorroborar alguna de las hipótesis planteadas inicialmente5 y abrir otras nuevas.

Finalmente, debemos decir que el uso continuado a lo largo del tiempo y lastransformaciones sufridas en los edificios históricos, conllevan, por lo general, la pér-dida de material. A veces son más las ausencias que las presencias. Teniendo en cuentaeste hecho, queremos hacer hincapié en la necesidad de cotejar las informacionesextraídas en intervenciones de este tipo, en las que los trabajos se acometen en dis-tintas fases y de la mano de distintos equipos. Sólo así podremos llegar a alcanzar unconocimiento lo más exhaustivo posible de nuestras edificaciones históricas.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 491

Page 489: Issn 0871 - 4061

ResultadosRecientemente, los autores de este póster han publicado un artículo sobre

el Pazo Prioral de Santa María de Xunqueira de Ambía6, en el que se trata endetalle la evolución constructiva de dichaedificación. Por ello, en el presente textoúnicamente haremos mención a los as-pectos más destacables dentro de cadafase constructiva y a las transformacionescon respecto a fases anteriores, ya quepreferimos tratar aquí los avances obteni-dos sobre la investigación del edificiodesde la fecha de entrega de ese artículo.

Fase i: anterior al s. xiiDe esta fase se conserva únicamente

un alzado, al que se abrazan los muros delas fases II y III (figura 2). Presenta unasillería regular a soga y tizón con las jun-tas a hueso y abundantes marcas de can-tero7, diferentes a las documentadas en lasfases siguientes. Desconocemos cómosería la configuración de este primer edi-ficio ya que posiblemente se desmontó en1902 para construir la Casa Episcopal.

Fase ii: anterior o coetánea al s. xii De este momento, se conservan en

la planta baja dos muros aislados entre sí,pero que por la similitud de su aparejo ysu orientación se han incluido dentro dela misma fase (figura 2). Corresponden a los restos de las fachadas E y S de unedificio, cuyo perímetro desconocemos, aunque por el N era de mayores di-mensiones que el actual ya que se prolongaba con esta orientación. Únicamenteconocemos su límite SE. Se conservan algunos de los canecillos de la fachada

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 492

Figura 2. Planta de las fases I, II, III y IV delPazo Prioral

Page 490: Issn 0871 - 4061

E y una saetera. Elementos delmismo tipo se han registrado en la fa-chada S del conjunto monumentalque vierte a la zona denominada An-tiguas Escuelas (figura 1).

Fase iii: s. xiiDe las tres fases medievales ésta

sería la única que, hasta la fecha, sepuede datar con seguridad, gracias ala decoración conservada en una mo-cheta de una ventana balconera, quehay que poner en relación con losmodelos empleados por los talleresmateanos que irradian del foco com-postelano. En todo caso, las similitu-des entre los aparejos y las marcas decantero documentadas en las fases IIy III, apoyan la hipótesis de que no sealejen mucho en el tiempo.

Se construye un edificio con unaplanta en L, de dos alturas en el brazolargo y tres en el corto, para el cual seaprovechan los muros de las fases I yII (figura 2). La zona que vierte al ac-tual patio estaba porticada, dato que seconoce gracias a los mechinales de

obra para vigas documentados. Los canecillos son ahora en nacela y de mayoresdimensiones que los de la fase II.

Fase iv: 1513-1544Esta fase se corresponde con las reformas realizadas en Xunqueira por el

Prior Alonso de Piña (figura 2). Los aspectos más destacados de las mismasson, por un lado, la reestructuración espacial de la planta baja del brazo mayor

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 493

Figura 3 Planta de las fases V a XI del Pazo Prioral

Page 491: Issn 0871 - 4061

de la “L” en dos habitaciones de distintas dimensiones, separadas por un muro.En cada estancia se construyen grandes pilares que soportan una nueva vigue-ría. La de mayores dimensiones se dota de un suelo empedrado, suelo que,como ya comentamos, fue descubierto inicialmente gracias a la intervenciónde Amado en la zona NW de la estancia, y que acabó de excavar en su totalidadLópez-Felpeto.

Por otro lado, se reforma la fachada W, sustituyendo el pórtico de maderade la fase anterior por uno de piedra, soportado por pilares también de piedra.La planta alta tendría al menos los laterales cerrados.

Finalmente, se desplazaría la escalera de subida a la segunda planta del pór-tico, ubicándola ahora sobre la puerta principal, obligando a construir un paso abo-vedado, del que se conserva el alzado S. Tanto el empedrado de la estancia comoel paso abovedado habría que ponerlos en relación con el nuevo uso de este espacio,posiblemente destinado ahora a caballerizas, como se puede documentar en otrosmonasterios de Galicia en los que las caballerizas se ubican en los claustros desti-nados a Hospedería y presentan un tratamiento similar a este tipo de espacios8.

Fase v-vi: 1544-1594

Posiblemente porproblemas estructurales sedota de contrafuertes la fa-chada E (figura 3). Éstos seconstruyen en dos fases,siendo más antiguos los ex-teriores. Al contrafuerte Sse adosa una letrina (verimagen superior derechade la figura 4) y en el ladoN se conservan las huellasde haber existido un muroadosado a la fachada, porlo que creemos que sobre

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 494

Figura 4. Distintas imágenes de los exteriores del pazo Prioral: enla fotografía superior izquierda se recoge una vista del patio deno-minado “El Palacio”; en la superior derecha las fachadas E y S delPazo Prioral. En la fotografía inferior izquierda la fachada N, en lacentral la esquina entre la fachada N y la W del Pazo Prioral1 asícomo la fachada del garaje que daba servicio a la Residencia Epis-copal y en la derecha la fachada W

Page 492: Issn 0871 - 4061

los contrafuertes se situaría un balcón, cerradoen los laterales.

Fase vii: 1594-1620En estas fechas se datan las reformas rea-

lizadas en Xunqueira por el Prior Martín deCórdoba. En esta fase el Pazo adquiere su con-figuración exterior actual (figura 3).

Se cierra totalmente el pórtico de las fasesIII y IV y se adelanta la fachada hacia el W. Estenuevo espacio se divide en dos pisos y acogeuna escalera de mayores dimensiones que la dela fase IV. Además, tiene lugar la apertura y mo-dificación de varias puertas, siguiendo todasellas los mismos planteamientos estilísticos.Estas reformas tienen que ver con la reconfigu-ración espacial interior del inmueble.

Hemos de indicar que uno de los indica-dores cronológicos empleados para fechar las distintas fases constructivas hansido los vanos documentados (figura 5), ya que los que se adscribían a la mismafase constructiva presentaban las mismas características, por ejemplo, los vanosvinculados a la fase VII, que son adintelados al exterior, rematados en un arcoescarzado dovelado al interior y abocinados también al interior9.

Fase viii: 1837-1853En el año 1837 tiene lugar la Desamortización de Mendizábal, tras la cual el

Pazo queda en un total abandono hasta que en 1853 se emprende una reforma im-portante, promovida por el arcipreste de Ourense Rafael Calabozo. A partir de estafecha el edificio se destina a Rectoral y la planta baja se reserva para cuadras.

Los aspectos más destacables de esta reforma son: la reconstrucción dealgunas zonas caídas, como la parte alta de la fachada E; la reconfiguración dela totalidad del interior del edificio, habilitando nuevos espacios gracias a laconstrucción de medianeras, lo cual conllevó la necesidad de abrir nuevas puer-tas y cerrar otras; la construcción de un altillo abierto en la segunda planta del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 495

Figura 5. Fotografías de algunas puer-tas del Pazo Prioral que se correspon-den con distintas fases constructivas

Page 493: Issn 0871 - 4061

brazo mayor de la L de la fase III; la realización de una nueva reforma y des-plazamiento de la escalera de subida al segundo piso.

Fases ix-x-xi: 1902-década de los 60 del s. xxEn estas tres fase se han incluido las reformas documentadas a lo largo del s. XX

Entre 1902 y 1906 tiene lugar la construcción del Pa-lacio Episcopal y se cierra la esquina SW para construir ungaraje que da servicio al Palacio.

En el interior se acorta el altillo y se hacen muros conmateriales perecederos en toda la planta alta. Además, seasegura la fachada E del edificio con la construcción deunos muros en talud entre dos de los contrafuertes. El balcónubicado sobre los contrafuertes se refuerza con hormigón yse construye un muro de mampostería que recoge las aguassucias de la letrina.

La última fase representa el estado actual del Pazo Prioral, una vez reali-zadas las intervenciones de los años 2003-2004, 2005 y 2007.

hipótesis sobre la configuración de la zona e de la colegiataEl Pazo Prioral cierra por el SE un patio de grandes dimensiones que com-

parte el ala E del Claustro de la Colegiata, la cabecera de su iglesia y la CasaEpiscopal. Esta zona, denominada por los vecinos “El Palacio”, constituye la

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 496

Figura 6. Reconstruc-ción hipotética delPazo Prioral en la faseIII realizada por A.Rodríguez Paz. Paraesa fase no se han do-cumentado huellas deescaleras interiores,por lo tanto, la comu-nicación entre ambospisos debía hacersedesde el exterior.Hemos dispuesto lasescaleras en aquellazona donde no se handocumentado mechi-nales relacionados conel pórtico y balcón querecorrería la fachada.Del mismo modo, nohemos terminado estaestructura en el edifi-cio llamado “Torre” yaque los mechinalestambién se documen-tan en otras fachadasde este patio, conti-nuando por ellas la es-tructura porticada

Page 494: Issn 0871 - 4061

parte civil de la Colegiata, como centro de poder del señorío eclesiástico juris-diccional.

En la fachada W del Pazo Prioral, la que vierte a “El Palacio”, se han do-cumentado una serie de mechinales que corresponden a distintas épocas, perotodos ellos son testigos de la existencia en esta zona de un espacio porticadoque se va transformando a lo largo del tiempo. Al revisar otras fachadas me-dievales de la colegiata situadas en este patio se observa que se repiten elmismo tipo de mechinales y que se sitúan a la misma altura que los que nosllevaron a suponer la existencia de un pórtico en la fase III.

En este sentido, se abren dos hipótesis: la primera se basa en la existenciade un corredor porticado en todas las fachadas del patio hasta la altura de lacabecera. Teniendo en cuenta los datos con los que contamos, parece la másacertada. A ella corresponde la reconstrucción de la fase III (figura 6).

La segunda, que se apoya además en otros elementos que ya hemos co-mentado, como el empedrado o el paso abovedado en el Pazo Prioral, o la pre-sencia de un paso en el ala E del Claustro de la Colegiata que lo comunica conel patio (y que repite el esquema utilizado en otros monasterios gallegos fe-chados en esta misma época para los pasos interclaustros), apunta a la existen-cia de un segundo espacio claustral, tal vez abierto, que funcionaría comoClaustro de la Hospedería. Sin embargo, sin poder efectuar una excavación enárea del patio, es imposible conocer con exactitud los límites de las edifica-ciones que aquí se emplazaban10.

Ya a finales del siglo XVI, con las intervenciones de Don Martín de Cór-doba, el patio adquiere una nueva articulación, cerrándolo con un gran arcopor el N, magnificando de esta manera la entrada al recinto.

BibliografíaAMADO ROLÁN, N., informe histórico-Arqueolóxico sobre o Pazo Prioral da Colexiata de Sta. Mª A

Real de Xunqueira de Ambía, informe inédito 2005.AMADO ROLÁN, N., BLANCO-ROTEA, R., GARCÍA RODRÍGUEZ, S. 2008. La Colegiata de Santa Maríala Real de Xunqueira de Ambía: la recuperación de su Pazo Prioral. Cuadernos de estudios gallegos, Lv, Nº121, pp. 139-172. Madrid.BARROS GUEDE, J., historia y Arte de Xunqueira de Ambía, A Coruña 2004.BLANCO ROTEA, R. – GARCÍA RODRÍGUEZ, S., Lectura de alzados del Pazo Prioral de la Colegiata deSanta María de Xunqueira de Ambía (Ourense), Laboratorio de Patrimonio, Paleoambiente e Paisaxe (IIT, USC),informe inédito 2006.CRESPO POZO, J. S., “El priorato de Santa María la Real de Junquera de Ambía”, Revista estudios, (1964-1967).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 497

Page 495: Issn 0871 - 4061

FERNÁNDEZ ALONSO, B., “Junquera de Ambía”, Comisión Provincial de Monumentos de Orense, 2, 43-44(1905), 329-33, 345-50.FERRO COUSELO, J., “Don Alonso de Piña, fundador de la villa de Junquera de Ambía”, La Región, (1970),Ourense.GONZÁLEZ GARCÍA, M. A., “Don Alonso de Piña, Chantre de Ourense, Prior de Xunqueira de Ambía, mecenasy hombre de gobierno”, escritos dedicados a José María Fernández Catón. Centro de estudios e investigación“San isidoro”, León 2004, 571-95.PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial deMonumentos de Orense, 11-240 (1938a), 417-30.PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial deMonumentos de Orense, 11-241 (1938b), 440-50.PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial deMonumentos de Orense, 11-242 (1938c), 479-88.VÁZQUEZ NÚÑEZ, A., “La ex-colegiata de Junquera de Ambía”, Boletín de la Comisión de Monumentos deOrense, 1-17 (1900), 297-301.

1 Ficha técnica:Promotor: Xunta de Galicia, Consellería de Cultura e Deporte, Dirección Xeral de Patrimonio CulturalArquitectos: Recuna y Mendizábal S.C.Directora intervención arqueológica 2ª Fase: Nieves Amado RolánDirectora lectura de alzados 2ª Fase: Rebeca Blanco RoteaEquipo técnico lectura de alzados: Nieves Amado Rolán, Sonia García RodríguezFotografía: Nieves Amado, Rebeca Blanco, Sonia García, Anxo Rodríguez Delineación y dibujo: Rebeca Blanco, Sonia García, Anxo RodríguezReconstrucciones: Anxo Rodríguez PazTratamiento de la información: Matilde Millán LenceDirector intervención arqueológica 3ª Fase: M. Anxo López-Felpeto Gómez2 La Casa o Residencia Episcopal fue mandada construir por el obispo Pascual Carrascosa entre 1902 y 1906(Amado Rolán 2005; Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 147 y 149).3 Amado Rolán 2005.4 Véase la diferencia entre las plantas de fase correspondientes a las fases II y III que presentábamos en AmadoRolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez (2008: 153, figura 8) y las que se recogen en este texto.5 Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008.6 Op. Cit. 5.7 Se trata del aparejo más cuidado de todos los documentados en el Pazo Prioral.8 Ejemplos similares los encontramos en el Monasterio de San Clodio o de Santa María de Melón. Para esteúltimo caso ver la interpretación de Blanco Rotea y Fernández González, sobre la función de las estancias de losdistintos espacios claustrales presentado en Los efectos del Terremoto de Lisboa en el Monasterio de Santa Maríade Melón (Melón, Ourense), Tercera Reunión de la Red Temática de Patrimonio histórico y Cultural del CSC“Técnicas de Conservación del Patrimonio” (Madrid 19-20 de junio de 2003), organizada por el Instituto de Ge-ología Económica (CSIC-UCM).9 Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 161-2, figura 16.10 Ya comentamos anteriormente que el edificio de la fase II continuaba hacia el N. Por otra parte, durante elcontrol arqueológico de una zanja abierta en este patio realizado por Amado en el 2005, se documentaron unaspiezas decoradas próximas a la actual fachada E del Pazo Prioral que podrían estar formando parte de una estruc-tura mayor (Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 151-2, figura 6).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 498

Page 496: Issn 0871 - 4061

siLhAs do Antigo conceLho de eRMeLo: uM PRojectode estudo e vALoRiZAção do PAtRiMónio de MondiMde BAsto“SiLhAS” OF The FORMeR MuniCiPALiTY OF eRMeLO: A CASeSTudY And vALORizATiOn OF MOndiM de BASTO heRiTAge

Resumo: Conhecer, valorizar, proteger e divulgar as Silhas de Mondim de Basto são ob-jectivos de um projecto em desenvolvimento no concelho, integrado numa lógica assumida pelaautarquia que visa a recuperação e promoção do património construído, disperso pelo território,de modo a incrementar a sua fruição numa perspectiva pedagógica e multidisciplinar.

Iniciado em 2007, no âmbito da actualização de dados para a revisão do PDM, neste pro-jecto já se identificaram e cartografaram 11 silhas e recolheram-se informações orais e toponí-micas que fazem acreditar na existência de mais alguns exemplares.

Como nota significativa, é de referir que a distribuição geográfica deste património seconfina à área montanhosa, de origem xistosa, próxima às serras do Alvão e Marão, dispersando-se por diversos lugares de Ermelo, Pardelhas e Campanhó, freguesias que integraram o antigoconcelho de Ermelo.

Palavras chave: Serra do Alvão; Mondim de Basto; Ermelo; Silhas.

Abstract: The aims of this current project are to identify, protect and make more widely-known the “silhas”1 within the municipality of Mondim de Basto. This is part of the localcouncil’s programme to restore various heritage sites throughout its area and to increase theuse made of them for cross-curricular educational purposes.

Since 2007, when the project started for the purpose of up-dating the records of the PdM,11 “silhas” have been identified and mapped. Based on oral evidence collected and the studyof place names, there is reason to believe there are several other examples in existence.

it is significant to note that the geographical distribution of the “silhas” is restricted tothe schist mountainous region near the Alvão and Marão ranges, and that they are dispersedthroughout the parishes of ermelo, Pardelhos and Campanhó, which historically formed theold municipality of ermelo.

Keywords: Serra do Alvão; Mondim de Basto; ermelo; “Silhas”.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 499

António Pereira Dinis

CItCeM, doUtorAndo dA UnIverSIdAde do MInHo;[email protected]

Rui Bastos

António Mário Dinis

CâMArA MUnICIPAl de MondIM de bASto

Page 497: Issn 0871 - 4061

1. introduçãoInstituído no reinado de D. Sancho I (1196)2 e extinto durante a Regene-

ração (1853)3, o concelho de Ermelo, originariamente constituído pelas fre-guesias de Ermelo e Bilhó, veio a ocupar uma extensa área da Serra do Alvão,abrangendo além daquelas freguesias as de Vilar de Ferreiros, Campanhó ePardelhas, do actual concelho de Mondim de Basto e Lamas de Olo, Campeã,Vila Cova e Quintã, do de Vila Real (JORGE 1996, 13).

Região sobremaneira montanhosa, com um clima agreste que se manifestaem prolongados Invernos e Verões muito secos, ostentava no passado grandesextensões de bosque de folhosas, com azevinho, carvalho, teixo, castanheiro epirliteiro, a par de manchas de medronheiro, habitadas por corços, gamos, ja-valis, lobos, raposas, veados e ursos.

A grande diversidade geológica, com alternância do granito, do quartzitoe do xisto, é outra das particularidades do território daquele antigo concelho,facto que condicionou o fácies arquitectónico das suas aldeias.

O relevo acidentado e os solos com fraca apetência agrícola determinaramos modos de vida das suas populações, fazendo depender a sua sobrevivênciada exploração de uma gama variada de recursos onde se salientaram a pasto-rícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e estanho, dametalurgia do ferro e da produção de cal.

2. As silhasAs silhas, também chamadas muros de abelhas, colmeais e apiários, são

estruturas primitivas, construídas em alvenaria de granito ou xisto, implantadasem zonas de forte declive ou sobre morros de difícil acesso, destinadas a al-bergar os enxames de abelhas, protegendo-os dos ataques de predadores, par-ticularmente do texugo (Meles meles) e do urso pardo (ursus arctus)4.

De planta subcircular ou ovalada, com perímetro e altura variáveis, po-dendo esta atingir os 4m e aquela mais de 80m, são providas de um estreitovão de acesso e estruturam no seu interior várias plataformas horizontalizadas,pavimentadas com lajes de xisto (que os habitantes denominam “estradoilas”),servindo de suporte aos cortiços das abelhas.

Desconhecendo-se a sua introdução na paisagem rural portuguesa, masadmitindo-se que seriam já abundantes na Época Medieval, as silhas deverão

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 500

Page 498: Issn 0871 - 4061

ter começado a perder a sua principal função, no séc. XVIII, com a extinçãodo maior predador das colmeias5. Um relato das Memórias Paroquiais de 1758,da autoria de João Álvares de Azevedo, abade da igreja de S. Tomé de Paradado Gerês (concelho de Montalegre) dá conta que “há quem se lembre de humhomem da freguesia de Cabril que matou no ditto gerês hum urso. Certificahavê-los nesse tempo por se verem de presente sinaes de muros de colmeassobre pedras altas para se livrarem delles” (CAPELA et alii 2006, 344).

Desde então e até meados do séc. XX, a utilização das silhas foi regre-dindo, acabando por se manterem algumas estruturas, apenas em regiões muitoisoladas, nomeadamente nas serras d’Arga, Peneda/Gerês, Montesinho, Ca-breira e Alvão/Marão, provavelmente num contexto de reprodução de práticasancestrais e de aproveitamento do potencial ecológico dos locais onde se im-plantaram, nas encostas voltadas a Sul e Poente, abrigadas dos ventos domi-nantes, com farto coberto vegetal e próximas dos cursos de água.

O declínio progressivo da apicultura e a falta de manutenção dos murosditará o abandono e o esquecimento das silhas, sendo hoje praticamente resi-dual a memória de uma actividade que teve tão grande peso sócio-económiconas comunidades de montanha. É curioso verificar que já há mais de um séculoque em algumas regiões de Basto se perdeu a memória sobre a funcionalidadedestas construções. Com efeito, nos finais do século XIX, numa visita ao Ou-teiro da Cilha, na freguesia de Pedraça (Cabeceiras de Basto), Francisco Mar-tins Sarmento interrogava-se sobre a serventia de um muro com altura de trêspalmos que circuitava o topo do outeiro e que segundo ele, atendendo às di-mensões, não podia ser uma fortificação (SARMENTO 1999, 146-147)6.

Relacionando as informações fornecidas pela documentação antiga, pelacartografia e pelos dados arqueológicos, chegamos à conclusão que no muni-cípio de Mondim de Basto a produção de mel e cera teve grande significadosócio-económico desde a Idade Média, ocupando largos sectores da populaçãodurante séculos, destacando-se, neste território, a região da Serra do Alvão,coincidente com o antigo concelho de Ermelo. Na Población general de es-paña, escrita em 1695, é nomeada a “villa de ermelo, tres leguas de villa Rialy su comarca, tomò sitio en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algunpan” (LOPES 1996, 38), relato que destaca a apicultura, cujo valor pode seraferido pelo Livro de usos e Costumes da igreja de ermelo, datado de 1707,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 501

Page 499: Issn 0871 - 4061

que releva a obrigação dos fregueses pagarem dízimo da cera, dos enxames edas colmeias que possuíam (LOPES 2000, 259), encargo que parece atestar,no séc. XVIII, o grande peso daquela produção no contexto económico da terra.

A importância da apicultura em Mondim de Basto ficou gravada parasempre na iconografia do brasão novecentista do município (com representaçãode oito abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram), na toponímiaconcelhia, que contempla Muro, Muradal, Alto da Cilha de Cima e Abelheira(todas na freguesia de Ermelo) e na conservação de muitas estruturas, já car-tografadas no território daquele antigo concelho, cujas dimensões subentendema protecção de muitas centenas de cortiços.

No panorama actual, o conjunto de silhas identificado no município deMondim de Basto (com mais de uma dezena de exemplares, no geral em mauestado de conservação), assume-se como um inegável valor patrimonial, umvalioso documento revelador das estratégias de exploração dos recursos locaise das técnicas de construção arcaicas que urge preservar e divulgar.

3. catálogoNo território considerado, cartografámos, até ao momento, onze exem-

plares de silhas, todas inéditas, a maior parte delas já abandonadas e em pro-cesso de ruína, distribuídas pelas freguesias de Campanhó (silhas deLongarinho, com 2 exemplares), de Ermelo (silhas de Fontão, Arjuiz e Rio deSião) e de Pardelhas (silhas de Toutiço, Pinchadouro e Requeixo, com 4 exem-plares).

Para facilitar a leitura do catálogo que segue, uniformizámos a informaçãoapresentada associando a cada exemplar um número de ordem (que ajudará àlocalização na cartografia anexa), a identificação pelo nome mais comum oupelo topónimo do lugar e os dados relativos à localização (com referência àfreguesia, indicação da altitude absoluta e das coordenadas geográficas - sem-pre em relação ao meridiano internacional - tomadas das cartas dos S.C.E., naescala 1.25.000) e às vias de comunicação de acesso. Um segundo bloco dedados alude à implantação (relevando a topografia do local), meio físico e eco-lógico circundante, descrição do monumento (em particular a planta e estrutu-ras visíveis), estado de conservação e uso.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 502

Page 500: Issn 0871 - 4061

3.1 silhas de Longarinho (tejão , campanhó)Conjunto de dois monumentos, implantados na encosta voltada a No-

roeste sobre o rio Olo, junto da ribeira da Longarinha, em terreno baldio deutilização florestal.

O acesso é feito por caminho de pé posto, a partir da aldeia de Tejão nadirecção da Tapada das Víboras.

3.1.1 - silha 1Lat. 41° 20’ 37’’ NLong. 07° 56’ 30’’ WAlt. 450m (CMP, fl. 100)Construção de planta subcircular, construída com muros em alvenaria de

xisto, apresentando-se arruinados em grande extensão.

3.1.2 - silha 2Lat. 41° 20’ 37’’ NLong. 07° 56’ 30’’ WAlt. 430m (CMP, fl. 100)Semelhante à Silha 1, da qual dista poucos metros, em melhor estado de

conservação e albergando, ainda, algumas colmeias.

3.2 silha de Arjuiz (ermelo)Lat. 41° 21’ 07’’ NLong. 07° 52’ 34’’ W Alt. 540m (CMP, fl. 101)O acesso é feito a partir do Km 151.5 da E.N. 304, descendo na direcção

da antiga estrada que seguia para a ponte da Várzea.Implantação no sopé da encosta, na vertente Oeste do monte, junto ao ri-

beiro do Moiro, em terreno baldio, de apetência florestal, actualmente despidopor incêndio recente.

Construção de planta sub-circular, com perímetro totalmente definido pormuro de alvenaria de xisto, conservando cerca de 2m de altura e algumas lajesdo antigo capeamento. Do lado NO. é protegida pela ravina criada pelo ribeiro.No interior, com acesso por porta rasgada de poente, estruturam-se quatro pa-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 503

Page 501: Issn 0871 - 4061

tamares horizontalizados, com “estradoilas” para assentamento das colmeias.Alguns paramentos da silha foram reconstruídos recentemente, tendo sido

repovoada com colmeias pertencentes a Avelino Henrique, de Ermelo.

3.3 silha de Fontão (ermelo)Lat. 41° 22’ 04’’ NLong. 07° 51’46’’ WAlt. 450m (CMP, fl. 101)Acesso a partir da capela de S. João do Ermo, por caminho de pé-posto

que segue para o Fontão, atravessando a ribeira da Fervença a vau.Implantação no sopé da encosta, na vertente Sul do monte, junto à ribeira

da Fervença, afluente do rio Olo, em terreno particular, de apetência florestal(integrado na área do Parque Natural do Alvão), actualmente despido de vege-tação. Na mesma encosta, à cota de 590m, fica um abrigo composto por duascavidades abertas no afloramento rochoso, denominado a Lapa do Urso7.

Construção de planta sub-circular, com cerca de 7m de diâmetro e vão deentrada voltado a poente, com perímetro definido por muro de alvenaria dexisto, integrando os afloramentos rochosos do local. Do lado nascente é pro-tegida pela ravina criada por uma linha de água que corre para a ribeira. Nointerior estruturam-se quatro patamares horizontais, com “estradoilas” para as-sentamento das colmeias.

A silha foi abandonada há cerca de nove anos, na sequência de um grandeincêndio florestal, encontrando-se parte dos muros já caídos. No interior ob-servam-se, ainda, restos dos antigos cortiços e pudemos constatar que um en-xame regressou ao local e ocupou uma colmeia velha.

Segundo informação de Manuel Marinho da Costa, o seu pai, proprietáriode Ermelo, há cerca de 40 anos ainda colocava abelhas neste cercado.

3.4 silha de Rio de sião (ermelo)Lat. 41° 20’ 22’’ NLong. 07° 51’ 53’’ WAlt. 620m (CMP, fl. 101)O acesso faz-se a partir do Km 153.2 da E.N. 304, descendo por caminho

de pé-posto, na direcção do rio do Sião.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 504

Page 502: Issn 0871 - 4061

Implantação no sopé da encosta, na vertente Sul do monte, junto da con-fluência do ribeiro do Bouço com o rio de Sião, em terreno baldio de apetênciaflorestal.

Construção de planta circular, com cerca de 14m de diâmetro e perímetrodefinido por muro de alvenaria de xisto, com espessura variável entre 0.50 e0.60m, no geral derrubados. No interior estruturam-se três patamares commuros de xisto a segurar os socalcos, sendo os pavimentos lajeados com “es-tradoilas”, de xisto.

O que resta dos muros e das plataformas foi recentemente limpo da ve-getação que os ocultava, tendo sido colocados alguns cortiços pertencentes aAvelino Henrique, de Ermelo. Segundo este informador, cabem nesta silhaentre 50 e 60 cortiços.

3.5 silha de Pinchadouro (Pardelhas)Lat. 41° 19’ 46’’ NLong. 07° 54’ 15’’ WAlt. 530m (CMP, fl. 101)O acesso faz-se por caminho de pé-posto, a partir da aldeia de Paço na

direcção de Freixieiro.Implantação na encosta voltada a SE., sobranceira ao ribeiro do Chão do

Rosso, afluente do rio Freixieiro, em terreno baldio, muito pedregoso, ondecresce apenas alguma vegetação rasteira.

Construção de planta subcircular, com muros de alvenaria xisto, partedeles já arruinados, a curta distância da silha de Toutiço.

3.6 silha de toutiço (Pardelhas)Lat. 41° 19’ 41’’ NLong. 07° 54’ 03’’ WAlt. 496 (CMP, fl. 101)O acesso faz-se por caminho de pé-posto, a partir da aldeia de Paço na

direcção de Freixieiro.Implantação na vertente SE. de um morro pedregoso que se ergue num

meandro do ribeiro do Chão do Rosso, em terreno baldio coberto com algumavegetação rasteira.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 505

Page 503: Issn 0871 - 4061

Construção de planta subcircular, com muros de alvenaria de xisto, a curtadistância da silha de Pinchadouro.

Há cerca de 50 anos, ainda eram colocadas dezenas de cortiços de abelhasnesta silha.

3.7 silhas de Requeixo (Pardelhas)Conjunto de quatro monumentos, construídos em alvenaria de xisto, im-

plantados na encosta voltada a poente, sobre o ribeiro da Moura, afluente dorio Freixieiro, em terreno baldio, pedregoso, onde cresce alguma vegetaçãorasteira constituída por urze e carqueja.

Enquanto as Silhas 1 a 3 formam um conjunto alinhado, encostaabaixo, paralelamente a um regato que drena para o ribeiro da Moura, aSilha 4 está isolada, separada daquelas pela linha de água, ao longo daqual, entre castanheiros, carvalhos, amieiros, salgueiros e medronheiro,crescem muitos pirliteiros, escalheiros ou escambroeiros (numa visita rea-lizada no mês de Setembro estavam em fruto proporcionando uma visãode invulgar beleza), espécie de interesse florístico pela sua raridade. Naenvolvente Norte existe denso pinhal e na outra margem do ribeiro, nossocalcos do lado de Pardelhas, cultiva-se milho e erva onde pasta o gadobovino.

O acesso é feito a partir da estrada asfaltada para Pardelhas, através deum carreiro estreito rasgado na encosta.

3.7.1 - silha 1Lat. 41° 20’ 19’’ NLong. 07° 52’ 58’’ WAlt. 530m (CMP, fl. 101)Construção de planta tendencialmente circular, sendo a mais pequena e a

melhor conservada do conjunto. Os muros de Norte ainda mantêm uma alturaconsiderável e possuem capeamento no topo, constituído por lajes colocadasobliquamente. O interior organizado em vários patamares revela, ainda, algunslajeados com “estradoilas” onde assentam três cortiços e duas caixas com abe-lhas. O lado voltado ao regato apenas tem o muro de contenção da plataforma,criado para vencer o desnível existente.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 506

Page 504: Issn 0871 - 4061

3.7.2 - silha 2Lat. 41° 20’ 17’’ NLong. 07° 53’ 01’’ WAlt. 490m (CMP, fl. 101)É a maior construção do conjunto, com cerca de 25m de diâmetro, si-

tuando-se entre as silhas 1 e 3.Tem planta em forma de ferradura, estando o segmento de muro, em se-

micírculo, já bastante destruído e a parte recta voltada ao regato, funcionandocomo sapata de contenção.

O interior é muito rochoso e já não se distinguem os patamares. É visível,do lado voltado a Sul, uma entrada com uma ombreira bem definida.

3.7.3 - silha 3Lat. 41° 20’ 16’’ NLong. 07° 53’ 05’’ WAlt. 460m (CMP, fl. 101)Construção de planta, sub-quadrangular, com cantos arredondados, de pe-

quenas dimensões, integrando, do lado Sul, grande penedia que torna mais di-fícil o acesso. Possui muros em alvenaria de xisto, com altura aindaconsiderável e capeamento bem conservado, o que lhe confere o aspecto de“fortaleza”. No interior, distribuídos por vários patamares, assentam cortiços,cobertos com lousas. No lado junto ao regato o muro é relativamente baixo,assumindo-se como sapata de contenção do talude.

3.7.4 - silha 4Lat. 41° 20’ 15’’ NLong. 07° 53’ 00’’ WAlt. 500m (CMP, fl. 101)Construção de planta semi-circular, implantada sobre um morro com es-

carpa impressionante, que cerra parcialmente o cercado. É a mais pequena e amais degrada das quatro silhas do conjunto. Possui muros em alvenaria dexisto, com pedras dispostas a seco.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 507

Page 505: Issn 0871 - 4061

4. outras evidênciasEmbora ainda não confirmadas no terreno, e por conseguinte não incluí-

das no catálogo, parece existirem pelo menos uma dezena de outras constru-ções, hipótese que é aventada pela toponímia fixada na cartografia e peloinquérito oral que sistematicamente temos realizado junto das populações lo-cais, com preferência pelos indivíduos mais idosos ou aqueles que contactarammais directamente com a natureza, devido à sua actividade profissional (agri-cultores, guardas-florestais, pastores, etc.).

Relativamente à primeira situação, registamos na CMP, fl.101, o sítio doAlto da Cilha de Cima, topónimo que poderá indiciar mais do que uma cons-trução, a Norte de Carrazedo, na freguesia de Ermelo.

Através do inquérito oral, anotamos os micro-topónimos Muro, Muradale Abelheira, todos em Ermelo, este último localizado na encosta voltada aoRio Olo, cuja função tem sido atestada por diversas pessoas da aldeia que re-cordam, ainda, ver dezenas de cortiços com abelhas nesta silha.

De acordo com informações de António Dinis, residente no lugar de Pa-dronelo, apontamos mais quatro silhas na freguesia de Ermelo, a saber:

- silha de Serzedo, já destruída, por cima do lugar de Padronelo;- silha da Várzea, a jusante da ponte da Várzea, à margem esquerda da

antiga via para Paradança;- silha do Catulo, perto de Fervença;- silha, mais acima desta, no regato do Ervedeiro.O mesmo informador, antigo guarda-florestal na casa do Coto, em Cam-

panhó, referiu-nos três construções nesta freguesia, denominadas muro do Ci-dral, silha do Motorto e silha das Malhadas.

Na freguesia de Pardelhas referenciámos mais duas estruturas, segundo infor-mações de José Agostinho Rodrigues, Presidente da Junta local. Trata-se da silhada Ribeira e da silha de Torneiros, ambas localizadas sobre o ribeiro da Ribeira.

Ainda dentro do município, se bem que uma delas já fora do território doantigo concelho de Ermelo, registamos mais três silhas que aproveitamos aoportunidade de referenciar. Uma construção na freguesia de Paradança, se-gundo notícia do Sr. Eng. Alfredo Mendonça e duas estruturas perto da Caínha,na freguesia de Vilar de Ferreiros, de acordo com informações de um pedreiroda aldeia.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 508

Page 506: Issn 0871 - 4061

5. considerações finaisO trabalho de actualização de dados para a revisão do PDM de Mondim

de Basto fez sobressair um conjunto de estruturas monumentais, construídasem alvenaria de xisto, denominadas localmente como muros de abelhas e des-tinadas a proteger os enxames dos seus grandes predadores – texugos e ursos.

Concentrando-se na área confinante à serra do Alvão, no território per-tencente ao antigo concelho de Ermelo, estas construções atestam a importânciada apicultura, ao longo dos séculos, neste micro-espaço da região de Basto.

Na ausência de trabalhos de escavação arqueológica que possam contex-tualizar estas construções, a inserção cronológica das silhas, tal como ocorrecom a maioria das estruturas conectadas com as práticas agro-silvo-pastoris,torna-se praticamente impossível, face ao conservadorismo das técnicas cons-trutivas e à utilização dos mesmos cercados ao longo de séculos, cuja diacroniasó se torna perceptível pelas marcas de reparações dos estragos que o tempoimpôs. Por isso, não obstante a grande importância que as silhas de Mondimde Basto poderiam assumir no conhecimento da evolução da arquitectura ver-nacular e na história económica e social local e regional, a informação que éapreendida resulta parca. Resta-nos, no entanto, a relação que é lícito fazerentre estas estruturas e a permanência de ursos na região, servindo-nos da ex-tinção destes mamíferos como referencial cronológico para a implantação dasconstruções em estudo.

Independentemente da falta de respostas para as muitas dúvidas que gos-taríamos ver solucionadas, a monumentalidade destas construções e a sua re-levância no contexto da arqueologia municipal justificam uma acçãoconcertada tendente à sua salvaguarda. Assim sendo, impõe-se que estas me-mórias, sejam objecto de proposta de classificação como Imóveis de InteressePúblico, depois de devidamente valorizadas -através do arranjo dos acessos eda envolvência, da colocação de informação nos locais e de placas identifica-doras nas vias de comunicação- e passem a integrar os roteiros turísticos, porforma a tornarem-se espaços de aprendizagem e bens de fruição pública.

BibliografiaCAETANO, Paulo & FERREIRA, Joaquim Pedro (2003). ibéria Selvagem, Ed. Má-Criação, s/l.

CAPELA, José Viriato (2003). As freguesias do distrito de Braga nas Memórias paroquiais de 1758. Aconstrução do imaginário minhoto setecentista, Braga.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 509

Page 507: Issn 0871 - 4061

CAPELA, José Viriato; BORRALHEIRO, Rogério & MATOS, Henrique (2006). As freguesias do distritode vila Real nas Memórias paroquiais de 1758. Memórias, história e Património, Braga.DINIS, António Pereira (no prelo). Carta Arqueológica de Mondim de Basto, Mondim de Basto.JORGE, Luísa (1996). Retratos. ermelo 1196 – 1996, Instituto de Conservação da Natureza e Parque Naturaldo Alvão, Lisboa.LOPES, Eduardo Teixeira (1996). ermelo - história há 800 anos, Ed. de autor, Mondim de Basto.LOPES, Eduardo Teixeira (2000). Mondim de Basto - Memórias históricas, Ed. de autor, Mondim de Basto.SARMENTO, Francisco Martins (1999). Antiqua, Apontamentos de Arqueologia, Sociedade Martins Sar-mento, Guimarães.

1 “Silhas” are stone enclosures which protect beehives from wind and predators.2 Em Abril de 1196, D. Sancho I doou Carta de Aforamento aos povoadores de Ermelo e Bilhó. Em Marçode 1218, D. Afonso II confirmou aquele documento.3 Em 31 de Dezembro de 1853 o concelho de Ermelo foi extinto e anexado ao de Mondim de Basto.4 Em 1758, Custódio José Leite, abade da igreja paroquial de S. João do Campo do Gerês (concelho deTerras do Bouro), em resposta a um inquérito que lhe foi solicitado, diz que “O mesmo padre [Joseph deMattos Ferreira] me deu noticia que em hum lugar da serra [do Gerês] no anno de mil e seiscentos e cin-coenta, em hum sitio chamado a Quelha da urça se matara huma destas feras ao que dou credito em rezaode eu ocularmente ter visto alguns ou varios rapados de altura de mais de quinze palmos e outros por cimade penedos por causa desta fera destruir os cortiços das abelhas os coais levando-os ao rio nos braços eafogados lhes comiam o mel” (CAPELA 2003, 416).5 Embora se considere, oficialmente, que o último urso existente no nosso território tenha sido morto naserra do Gerês, em 1650, tal facto é contestado por alguns investigadores que admitem que este predador setenha mantido entre nós por mais algumas gerações após aquela data. Documentação histórica e relatos deavistamentos dão conta da presença esporádica de ursos, nas regiões fronteiriças de Portugal, durante os sé-culos XIX e XX. Há mesmo a referência à morte de um exemplar, no planalto de Castro Laboreiro, em 1946(CAETANO & FERREIRA 2003, 29 - 31).6 Não obstante o sugestivo topónimo Cilha, o sábio vimaranense dizia na circunstância que “o outeironão podia ser uma fortificação [mas] atinar com a sua serventia, não era coisa fácil”.7 O topónimo assinala a existência neste local do maior predador das colmeias, razão que terá levado as po-pulações a construir a silha implantada no sopé da encosta.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 510

Figura 3. Silha do Toutiço

Figura 4. Silhas 1 e 2 de Requeixo

Figura 5. Silha de Arjuiz

Figura 6. Silha 3 de Requeixo, pormenor do aparelho e do ca-peamento

Figura 7. Silha de rio de Sião, patamares com cortiços

Page 508: Issn 0871 - 4061

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 511

Figura 1. Localização de Mondim de Basto no Nortede Portugal

Figura 2. Distribui-ção de silhas no ter-ritório de Mondim deBastoLegenda: 1. Silhas deLongarinho (2 exem-plares), 2. Silha deArjuiz, 3. Silha deFontão, 4. Silha derio de Sião, 5. Silhade Pinchadouro, 6.Silha de Toutiço, 7.Silhas de Requeixo(4 exemplares)

3 4 5

6 7

Page 509: Issn 0871 - 4061

This file was created by the DEMO version of PDF COMPLETE.

For Evaluation Only. Not for commercial use.

Informatik Inc www.informatik.com