69
2008 ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, DA COMUNIDADE, PRODUTORES DE β-LACTAMASES DE ESPECTRO ALARGADO MARIA MANUELA AFONSO VENTURA DA ROCHA MARQUES REGUENGO DA LUZ

ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

2008

ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, DA COMUNIDADE, PRODUTORES DE β-LACTAMASES DE ESPECTRO ALARGADO

MARIA MANUELA AFONSO VENTURA DA ROCHA MARQUES REGUENGO DA LUZ

Page 2: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

MARIA MANUELA AFONSO VENTURA DA ROCHA MARQUES REGUENGO DA LUZ

2008

Isolados clínicos de Enterobacteriaceae, da comunidade, produtores de β-lactamases de espectro alargado

Dissertação apresentada à Universidade do Porto para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Análises Clínicas, realizada sob a orientação científica da Prof.ª Doutora Helena Maria Neto Ferreira de Sousa, Professora Auxiliar da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Page 3: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

AGRADECIMENTOS

Aos meus filhos, pelo seu amor, compreensão e tolerância.

Ao meu marido, pelo desafio, entusiasmo e companheirismo incondicional.

À minha mãe e à minha irmã por tanto se preocuparem comigo.

A toda a restante família, pelo estímulo e apoio que sempre demonstraram.

À minha orientadora, Prof.ª Helena Maria Neto Ferreira de Sousa, pelo seu entusiasmo e disponibilidade constantes.

Ao Prof. Franklim Marques pela sua consideração.

Ao Dr. Miguel Pereira, Dr.ª Isabel Romão, Dr.ª Sameiro Sequeira e Dr. João Pessanha Moreira, por toda a colaboração prestada.

Ao Dr. Luís Vidal Pinheiro, por acreditar que o indivíduo se deve demarcar pela sua formação pessoal e profissional, pelo interesse demonstrado e compreensão da importância da realização deste trabalho.

Às minhas colegas de Mestrado, Daniela Gonçalves e Cristiana Ferreira pela sua colaboração.

Ao Nuno Oliveira e Cristina Sousa, pela sua colaboração.

A todos aqueles que de uma forma ou de outra me acompanharam nesta caminhada, os meus sinceros agradecimentos.

Page 4: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

I

Lista de abreviaturas

% Percentagem

β Beta

µg Micrograma

µl Microlitro

oC Graus Centígrados

ADN Ácido desoxiribonucleíco

AML Amoxicilina

AMC Amoxicilina/Ácido Clavulânico

AN Amicacina

ATB Antibióticos

ATCC American Type Culture Collection

ATM Aztreonamo

C Cloranfenicol

CAZ Ceftazidima

CIP Ciprofloxacina

CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute

CMI Concentração inibitória mínima

CTX Cefotaxima

CXM Ceufuroxima

DDST Double Disc Synergy Test

FEP Cefepime

EDTA ácido etilenodiamino tetra-acético

ESBL β-lactamase de espectro alargado

F Nitrofurantoína

FOX Cefoxitina

GEN Gentamicina

IMP Imipenemo

Kb Kilobases

MCK MacConkey

MH Mueller-Hinton

Min Minuto

ml Mililitro

NA Ácido nalidíxico

NAG N-Acetilglucosamina

NAMA Ác. N-Acetilmurâmico

NET Netilmicina

Page 5: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

II

PBP Penicilin Binding Proteins

pI Ponto isoeléctrico

PM Peso molecular

rpm Rotações por minuto

S Estreptomicina

SXT Trimetoprim

TE Tetraciclina

TSA Teste de susceptibilidade a antibióticos

TSB Caldo tripticase soja (Tryptic Soy Broth)

Page 6: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

III

Lista de tabelas

Tabela 1 Principais mecanismos de transferência de material genético nas bactérias 10

Tabela 2 Classificação de Ambler 12

Tabela 3 Classificação de β-lactamases segundo Bush, Jacoby e Medeiros 13

Tabela 4 Proposta de classificação de β-Lactamases de espectro alargado segundo Giske 24

Tabela 5 Teste de "Screening" de Enterobacteriaceae produtores de ESBL 38

Tabela 6 Isolados produtores de ESBL 39

Tabela 7 Testes de susceptibilidade a antibióticos β-lactâmicos dos isolados produtores de ESBL 42

Tabela 8 Testes de susceptibilidade a antibióticos não β-lactâmicos dos isolados produtores de ESBL 43

Tabela 9 Teste de adição de Ácido clavulânico - (1mg/ml) 44

Tabela 10 Focagens isoeléctricas das estirpes produtoras de ESBL 45

Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46

Tabela 12 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos não β-lactâmicos 47

Tabela 13 Focagens isoeléctricas das transconjugantes e respectivas bactérias dadoras 48

Page 7: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

IV

Lista de gráficos

Gráfico 1 Repartição de estirpes produtoras de ESBL 39

Gráfico 2 Eficácia dos antibióticos não β-lactâmicos testados nas estirpes produtoras de ESBL 51

Page 8: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

V

Lista de figuras

Figura 1 Estrutura molecular do anel β-lactâmico e antibióticos β-lactâmicos 6

Figura 2 Origens das amostras biológicas a partir das quais se isolaram as estirpes produtoras de ESBL 30

Page 9: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

VI

Lista de fotos

Foto 1 Amostra 77. Teste de adição de ácido clavulânico à cefepima 40

Foto 2 Amostras 27 e 156 - Teste de adição de ácido clavulânico 50

Page 10: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 1

ÍNDICE

Lista de abreviaturas I

Lista de tabelas III

Lista de gráficos IV

Lista de figuras V

Lista de fotos VI

1-RESUMO/ABSTRACT ................................................................................................................... 3

1.1 - Resumo .............................................................................................................................. 3

1.2 - Abstract ............................................................................................................................. 4

2-INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 5

2.1-Antibióticos β-lactâmicos .................................................................................................... 5

2.1.1-Definição e classificação dos antibióticos β-lactâmicos .............................................. 6

2.1.2-Mecanismo de acção dos antibióticos β-lactâmicos ................................................... 6

2.1.3-Vantagens da utilização dos antibióticos β-lactâmicos ............................................... 7

2.2 – Resistência aos antibióticos β-lactâmicos em Enterobacteriaceae .................................. 7

2.3-Património genético bacteriano e sua transferência .......................................................... 9

2.4 - β-Lactamases ................................................................................................................... 11

2.4.1-História das β-lactamases .......................................................................................... 11

2.4.2-Definição de β-lactamases e sua classificação ........................................................... 12

2.4.3-Definição de β-lactamases de espectro alargado (ESBL) ........................................... 14

2.4.4- Tipos de ESBL (TEM, SHV,OXA e CTX-M) ................................................................... 16

2.4.5- Comportamento das ESBL e importância da sua detecção laboratorial .................. 19

2.4.6-Testes de detecção de ESBL ....................................................................................... 20

2.4.7 – Factores de risco e medidas de prevenção e controlo ............................................ 21

2.4.8-Uma nova definição de β-lactamases de espectro alargado ..................................... 23

Page 11: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 2

2.4.9 - Impacto da transferência genética em Enterobacteriaceae produtoras de ESBL ... 25

2.4.10-Expansão clonal de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL .................................. 25

2.4.11- Perfis de multi-resistência em isolados produtores de ESBL .................................. 26

2.5-Contributo dos laboratórios de microbiologia do ambulatório ........................................ 27

3 - OBJECTIVO .............................................................................................................................. 29

7 - MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................................... 30

8 – RESULTADOS .......................................................................................................................... 38

9 - DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 49

10- CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 53

11 – BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 54

Page 12: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 3

1-RESUMO/ABSTRACT

1.1 - Resumo

A disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de β-lactamases de espectro alargado

(ESBL) para a comunidade é uma realidade descrita a nível mundial principalmente na

Europa, mas existem poucos registos desta realidade em Portugal.

O nosso estudo teve por objectivo a detecção de Enterobacteriaceae produtoras de

ESBL em isolados clínicos da comunidade da zona urbana do grande Porto, obtidos de

diferentes laboratórios privados.

Os nossos resultados demonstraram que Enterobacteriaceae produtoras de ESBL estão

presentes na comunidade condicionando as opções terapêuticas para o tratamento das

infecções da comunidade.

Esta detecção de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL isoladas de amostras clínicas

da comunidade é relevante em termos de qualidade de informação ao clínico e também

de importância em termos da informação epidemiológica acerca da disseminação desta

ameaça de resistência aos antibióticos.

Palavras-chave:

β-lactâmico, β-lactamase, β-lactamases de espectro alargado, Enterobatereaceae,

comunidade, disseminação de resistência a antibióticos.

Page 13: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 4

1.2 - Abstract

Dissemination of Enterobacteriaceae producing extended-spectrum β-lactamases

(ESBL) to the community is a reality described worldwide, mainly in Europe, but there

are few reports of this reality in Portugal.

The aim of our study was the detection of ESBL producing Enterobacteriaceae in

community clinical isolates of the great urban area of Porto, obtained from different

private laboratories.

Our results showed that ESBL producing Enterobacteriaceae are present in the

community conditioning the therapeutic options for treatment of infections of the

community.

ESBL detection on Enterobacteriaceae isolated from community clinical samples is

relevant in terms of the quality of information given to the clinician and also important

in terms of epidemiological information about the dissemination of this antibiotic

resistance threat.

Key-Words:

β-lactamic, β-lactamase, extended-spectrum β-lactamases, Enterobatereaceae,

community, antibiotic resistance dissemination.

Page 14: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 5

2-INTRODUÇÃO

O universo bacteriano dispõe de vários mecanismos de resistência aos antibióticos. A

produção de β-lactamases constitui no entanto, a vertente mais marcante dessa mesma

resistência. A produção natural de β -lactamases ocorreu desde sempre, como

consequência das interacções entre diferentes seres microbiológicos como bactérias e

fungos.

Desde os anos 40, aquando da introdução das penicilinas no uso clínico, começaram a

ser isoladas β-lactamases capazes de hidrolisar o anel β-lactâmico dos antibióticos,

inactivando-os.

À medida que novos antibióticos β -lactâmicos foram sintetizados e introduzidos na

rotina clínica, foram surgindo também novas β -lactamases. Hoje em dia, a lista de β-

lactamases é muito extensa, sendo estas enzimas capazes de hidrolisar penicilinas,

cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenemos (Livermore,2008).

O uso abusivo e indiscriminado de antibióticos β -lactâmicos tem sido o principal factor

estimulante da produção de β -lactamases, em particular as β-lactamases de espectro

alargado.

As β-lactamases de espectro alargado representam, sem dúvida, o principal mecanismo

de resistência em Enterobacteriaceae, sendo os plasmídeos apontados como os

principais responsáveis pela disseminação deste tipo de resistência, bem como à

aquisição de resistências a outros antibióticos. As β -lactamases de espectro alargado

têm a capacidade de inactivar penicilinas e cefalosporinas de espectro alargado

condicionando em muito as opções terapêuticas.

2.1-Antibióticos β-lactâmicos

A acção dos antibióticos é direccionada para alvos particulares nos microrganismos,

destacando-se os principais mecanismos: inibição da síntese da parede celular, alteração

da permeabilidade celular, inibição da síntese proteica e inibição da síntese de ácidos

nucleicos.

Page 15: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 6

Este tipo de actuação selectiva de alvo, minimiza o efeito tóxico das drogas anti-

microbianas sobre a espécie humana, sendo os β-lactâmicos um bom exemplo de

toxicidade bacteriana selectiva devido ao facto de actuarem numa molécula exclusiva

das bactérias, o peptidoglicano.

2.1.1-Definição e classificação dos antibióticos β-lactâmicos

Os antibióticos β-lactâmicos pertencem a uma família de antibióticos que se caracteriza

por possuírem um anel β -lactâmico ligado a um anel de tiazolidina e ainda uma cadeia

lateral variável. Estas moléculas são dotadas de acção anti-bacteriana (Fonzé,1995).

Esta família é constituída por penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos, cefamicinas

e carbapenemos (Gupta, 2007).

A integridade do anel β-lactâmico é imprescindível à sua actividade, a qual consiste

em inactivar um conjunto de transpeptidases que catalizam ligações cruzadas na fase

final da síntese do peptidoglicano (Sousa, 2001).

A hidrólise do seu anel β-lactâmico implica a sua inactivação.

2.1.2-Mecanismo de acção dos antibióticos β-lactâmicos

A biossíntese de peptidoglicano na fase parietal requer a quebra de ligações covalentes,

no peptidoglicano, para permitir a inserção de unidades de N-acetilglucosamina e ácido

N-acetilmurâmico (NAG-NAMA) recém-sintetizadas.

Figura 1 – Estrutura molecular do anel β-lactâmico e antibióticos β-lactâmicos

Page 16: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 7

Para crescer e se dividir, a célula bacteriana precisa de enzimas autolíticas e enzimas

com funções biossintéticas (glicosiltransferases, transpeptidases e carboxipeptidases),

localizadas no folheto externo da membrana citoplasmática. Estas enzimas funcionam

como alvos dos antibióticos β-lactâmicos e são designadas por PBP (Penicilin Binding

Proteins).

Os antibióticos β-lactâmicos acilam as PBP ficando estas sem actividade fisiológica. Os

antibióticos β-lactâmicos param, portanto, a síntese do peptidoglicano, mas exarcebam a

actividade das autolisinas bacterianas, ocasionando a morte e a lise da célula bacteriana.

São bactericidas (Sousa, 2001).

Em suma, os antibióticos β-lactâmicos actuam por inibição da síntese da parede celular

bacteriana, formada por peptidoglicano. Ligam-se às PBP´s impedindo a formação de

ligações cruzadas entre as unidades constituintes do peptidoglicano (cadeias adjacentes

do polímero NAG- NAMA). Em consequência disto, as bactérias ficam impedidas de se

multiplicar e lisam por falta de estabilidade na sua parede celular.

A sua acção é bactericida em bactérias em crescimento (Sousa, 2005).

2.1.3-Vantagens da utilização dos antibióticos β-lactâmicos

Estes fármacos são dotados de baixa toxicidade, existindo uma grande variedade de

compostos e formas disponíveis que são eficazes num grande número de infecções

frequentes na comunidade.

Por tal facto, não é de admirar que os antibióticos β -lactâmicos representem a opção

terapêutica anti-bacteriana mais frequente nas infecções da comunidade.

2.2 – Resistência aos antibióticos β-lactâmicos em Enterobacteriaceae

As Enterobacteriaceae escapam ao efeito bacteriolítico dos antibióticos β-

lactâmicos, por vários mecanismos:

a) Inactivação enzimática do fármacos antibióticos β-lactâmicos que são acilados e

desacilados por β-lactamases bacterianas, transformam-se em produtos sem

actividade anti-bacteriana (principal mecanismo de resistência bacteriana).De

um modo geral, os antibióticos resistentes às β -lactamases são fortes indutores

Page 17: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 8

enzimáticos e por esse motivo não devem ser associados a outros antibióticos β -

lactâmicos, sob pena destes serem inactivados pela super-produção enzimática.

b) A concentração das β-lactamases no periplasma é bastante importante e pode

condicionar a eficácia terapêutica, mesmo que os antibióticos sejam resistentes

às β -lactamases bacterianas. A interacção β-lactâmico-β-lactamase pode não

inactivar o antibiótico, mas este fica impedido de atingir as Penicilin Binding

Proteins (PBP), condição indispensável para a acção anti-microbiana (Sousa e

Prista, 1988).

c) Os Penicilin Binding Proteins (PBP) - São os alvos letais dos antibióticos β -

lactâmicos. Mutações bacterianas que alterem a estrutura de um ou todos os PBP

podem ocasionar resistências bacterianas aos antibióticos β -lactâmicos. No

entanto, a alteração dos PBP, como mecanismo de resistência aos antibióticos β -

lactâmicos, não assume ainda um elevado significado, em termos quantitativos.

d) Alterações da permeabilidade da membrana exterior - A membrana exterior da

parede celular das bactérias Gram negativo constitui uma barreira entre o

antibiótico β -lactâmico e os seus alvos letais localizados no folheto externo da

membrana citoplasmática. No entanto, o peso molecular e a natureza hidrofílica

da maioria dos antibióticos β -lactâmicos permitem o seu movimento para o

periplasma, através de canais de porina. Alterações na permeabilidade da

membrana exterior têm sido responsabilizadas pela redução da susceptibilidade

de bactérias Gram negativo aos antibióticos β -lactâmicos. Em alguns casos a

alteração da permeabilidade da membrana exterior apresenta-se associada a uma

hiperprodução de β-lactamases (Sousa e Prista, 1988).

e) Mecanismo de efluxo da droga do meio intracelular - As bactérias possuem

bombas biológicas de efluxo as quais estão implicadas na libertação de

antibióticos β-lactâmicos, entre outras substâncias, quer do periplasma quer do

citoplasma para o meio extracelular. É essencialmente um processo de

desintoxicação da bactéria. Este mecanismo faz diminuir a concentração do

antibiótico no meio intracelular bacteriano (Maiti, Babu et al., 2006).

Page 18: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 9

2.3-Património genético bacteriano e sua transferência

As bactérias possuem um único cromossoma circular, disperso pelo citoplasma,

composto por DNA (cadeia dupla), o qual contém a quase totalidade de informação

indispensável à sua sobrevivência.

Para além do património genético contido no cromossoma, muitas bactérias possuem

também pequenas moléculas de DNA, de cadeia dupla e de forma circular (“covalent

closed circular”) capazes de replicação autónoma, os plasmídeos. Estes, independentes

do DNA cromossómico, contêm genes não essenciais à sua vida mas muito importantes,

podendo codificar a resistência a antibióticos. Cerca de 80% de resistência aos

antibióticos é mediada por elementos de DNA extracromossómico. A produção de

exotoxinas e a produção de outras proteínas, conferem deste modo vantagem

competitiva (Sousa e Prista, 1988).

Estes elementos situam-se extracromossomicamente associados a locais específicos da

membrana citoplasmática.

Os plasmídeos podem ser conjugativos (PM: 30-600 Kb) e não-conjugativos (PM:1-

70Kb).

Nos plasmídeos não conjugativos, a replicação é “relaxada”, o número de cópias é

superior a 10 e por terem baixo peso molecular, só codificam resistência a uma ou duas

famílias de antibióticos. Não são auto-transferíveis, mas podem ser transferidos por

mobilização por um plasmídeo conjugativo.

Nos plasmídeos conjugativos: a replicação destes é estritamente regulada, o número de

cópias por células é baixo, são auto-transferíveis, contendo os genes de codificação das

proteínas necessárias à conjugação bacteriana (ex: pili sexuais). Aparecem

frequentemente em bacilos Gram negativo. Os plasmídeos conjugativos ao transferir as

suas próprias cópias para outras células, podem também transferir fragmentos de

cromossoma bacteriano (pouco frequente) ou também transferir, por mobilização,

plasmídeos não conjugativos (com elevada frequência).

Na estrutura dos plasmídeos participam diversos elementos genéticos nos quais se

destacam os genes que constituem sequências de inserção e os transposões. Estes

Page 19: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 10

últimos (“jumping genes”) são igualmente segmentos de DNA com a capacidade de se

auto-transferirem para estruturas como DNA plasmídico, DNA cromossómico e/ou

fagos) (Junior et al.,2004);(Rossolini et al, 2008).

Estes elementos genéticos têm a particularidade de se autoreplicarem e a propriedade de

se incorporarem noutros plasmídeos ou cromossomas, com os quais tem pouca ou

nenhuma homologia. Muitas das propriedades dos plasmídeos, como por exemplo a

resistência a antibióticos estão localizadas em transposões.

As bactérias podem conter dois ou mais plasmídeos por célula que são transferidos de

geração em geração (plasmídeos compatíveis), ou que não podem coexistir ao longo das

gerações (plasmídeos incompatíveis).

Apesar da transferência de plasmídeos entre células bacterianas ocorrer normalmente

por conjugação bacteriana, pode também ocorrer por transdução e por transformação

(Sousa e Prista, 1988).

Tabela 1 – Principais mecanismos de transferência de material genético nas bactérias. (adaptado de Júnior et al., 2004)

Quando os plasmídeos são conjugativos, (i.e. apresentam informação genética para o

processo de conjugação) possuem a propriedade de se transferir entre bactérias, levando

consigo características até então inexistentes nas bactérias receptoras. Uma vez que essa

transferência pode ocorrer entre bactérias da mesma espécie ou de espécies distintas,

favorece-se assim a disseminação de resistências intra e inter-espécies.

PRINCIPAIS MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE MATERIAL GENÉTICO: CONJUGAÇÃO: processo de transferência de genes que requer contacto célula a célula TRANSFORMAÇÃO: captação de DNA solúvel no meio , por células receptoras competentes

TRANSDUÇÃO: transferência genética com auxílio de bacteriófagos

TRANSPOSIÇÃO: transferência de genes dentro de uma mesma célula por intermédio de transposões (DNA)

Page 20: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 11

2.4 - β-Lactamases

2.4.1-História das β-lactamases

A produção de β -lactamases por bactérias Gram positivo e Gram negativo já acontecia

muito antes da introdução dos antibióticos β-lactâmicos no uso clínico.

No caso particular das bactérias de Gram negativo, estas possuem com frequência β -

lactamases nativas, ou constitutivas, mediadas por cromossomas. O seu aparecimento

pode dever-se à pressão selectiva de microrganismos do solo, produtores de β -

lactâmicos, tais como fungos e bactérias.

A descoberta da primeira β-lactamase plasmídica deu-se em 1965 (Datt e

Kontomichalou, 1965) e desde então a lista não parou de aumentar.

Nos últimos vinte anos, novos fármacos β -lactâmicos foram desenvolvidos, de modo a

resistirem à acção hidrolítica das β-lactamases.

Todavia o vasto uso, muitas vezes abusivo e indiscriminado de fármacos β -lactâmicos,

por certo tem ajudado à disseminação da resistência por β -lactamases, bem como à

diversidade das mesmas por pressão selectiva.

As oximinocefalosporinas (cefalosporinas de 3ª geração) começaram a ser amplamente

usadas no tratamento de infecções graves por bacilos Gram negativo na década de 80

(Medeiros, 1997).

Em consequência deste facto, não foi surpreendente o aparecimento de novas β -

lactamases, cujo espectro de acção se expandiu, incluindo as cefalosporinas de terceira

geração como seu substrato (Bradford, 2001).

Foram designadas β-lactamases de espectro alargado (ESBL), pelo facto de no seu perfil

de substratos estarem incluídas as cefalosporinas de 3ª geração e monobactâmicos.

Page 21: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 12

2.4.2-Definição de β-lactamases e sua classificação

A resistência aos antibióticos β -lactâmicos é um problema mundial que continua a

aumentar, sendo a produção de β -lactamases o mecanismo de resistência mais comum

em bactérias Gram negativo, a estes fármacos (Bradford, 2001).

As β-lactamases formam um grupo heterogéneo de enzimas capazes de hidrolisar o anel

β-lactâmico de penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenemos

(Livermore, 1995).

A eficácia das β -lactamases em conferir resistência aos bacilos Gram negativo é

condicionada por factores vários, como sendo: a sua localização, a sua eficiência

hidrolítica e a quantidade enzimática produzida (Livermore, 1995).

Vários esquemas de classificação têm sido usados baseados em critérios de: actividade

hidrolítica, susceptibilidade a inibidores, localização genética (plasmídica ou

cromossómica) e sequência de aminoácidos dos genes codificadores.

A primeira classificação proposta baseava-se na estrutura molecular destas enzimas

(Ambler, 1980).

Tabela 2 – Classificação de Ambler. (1)Em S. maltophilia, B. cepacia e E. faecium ; (2) em E. cloacae, S. marcescens, P. aeruginosa, C. freundii, M. morganii; (3) FOX-1, LAT-1, MIR-1, MOX-1. Adaptado de Sousa JC. Manual de Antibióticos Antibacterianos, p 128, 2005.

As β-lactamases dividiam-se em quatro classes: A,B,C e D. As β-lactamases das classes

A, C e D todas apresentavam serina no local activo das enzimas, enquanto que a classe

B era constituída por metalo-β-lactamases, sendo o zinco o metal presente no local

Localização Classe A Classe B Classe C Classe D

Cromossoma

SHV-1( K. pneumoniae) P. vulgaris C. diversus Bacteroides

Carbapenemases (1)

AmpC (2) OXA – 1 OXA – 2 PSE – 2 OXA – 10 OXA - 23

Plasmídeos, Transposões

Penecilinases estafilocócicas TEMs SHVs PSE – 1

IMP – 1 (…) AmpC (3)

Page 22: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 13

activo.No entanto, a classificação proposta por Bush, Jacoby e Medeiros, em 1995 tem

sido a mais usada (Bush et al., 1995).

Trata-se de uma classificação funcional, baseada em características estruturais e

bioquímicas e que divide as β -lactamases em quatro grupos de acordo com os seus

substratos e sensibilidade aos inibidores.

Classe funcional

Classe molecular

Inibido por Substracto preferido

Enzimas representadas AC EDTA

1 C - - Cefalosporinas AmpC, MIR-1

2ª A + - Penicilinas Penicilinases de

Gram +

2b A + - Penicilinas,

Cefalosporinas TEM-1, TEM-2 e

SHV-1

2be A + -

Penicilinas, Cefalosporinas (largo espectro,

Monobactâmicos

TEM-3 a TEM-26, SHV-2 a SHV-6,

K1 DE K. oxytoca

2br A ± - Penicilinas TEM-30 a TEM-

36, TRC-1

2c A + - Penicilinas,

Carbapenemos PSE-1, PSE-3 PSE-

4

2d D ± - Penicilinas, Cloxacilina

OXA-1 a OXA- 11, PSE-2

2e A + - Cefalosporinas Cefalosporinase induzível de P.

vulgaris

2f A + - Penicilinas,

Cefalosporinas, Carbapenemos

NMC-A de E. cloacae, SMC-1

de S. marcescens

3 B - + Todos os β-lactâmicos

L1 de X. maltofilia, CcrA

de B. fragilis

4 ? - ? Penicilinas Penicilinases de

B. cepacea

Tabela 3 - Classificação de β-lactamases segundo Bush, Jacoby e Medeiros

NOTAS ESPECÍFICAS: AC= Acido Clavulânico; (+) inibida; (-) não inibida; (±) pouco inibida. Adaptado de BUSH, K; JACOBI G.A.; MEDEIROS,A.A.. Antimicrobial Agents Chemoter, 1995

Page 23: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 14

Grupo 1: composto por cefalosporinases não inibidas pelo ácido clavulânico e

pertencentes à classe molecular C.

Grupo 2: composto por penicilinases, cefalosporinases e β-lactamases de espectro

alargado, sensíveis a inibidores, podendo pertencer às classes moleculares A ou D.

Grupo 3: composto pelas metalo-β-lactamases; hidrolisam penicilinas, cefalosporinas e

carbapenemos, são pouco sensíveis a inibidores β -lactâmicos, sendo no entanto inibidas

por EDTA; pertencem à classe molecular B.

Grupo 4: composto por penicilinases não inibidas pelo ácido clavulânico e pertencentes

à classe molecular D.

O grupo 2 pode ser subdividido em 2b (β-lactamases TEM-1, TEM-2 e SHV-1), 2be (β-

lactamases de espectro alargado ou ESBL), 2br (β-lactamase pouco sensíveis a

inibidores) e 2f (β-lactamases capazes de hidrolisar carbapenemos, fracamente inibidas

pelo ácido clavulânico e possuidoras de serina no local activo) (Bush et al., 1995).

2.4.3-Definição de β-lactamases de espectro alargado (ESBL)

As β-lactamases formam um grande grupo de enzimas capazes de hidrolisar o anel β-

lactâmico de penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e carbapenemos. De entre as

β-lactamases, destacam-se as β-lactamases de espectro alargado (“Extended-Spectrum

β-lactamases” ou ESBL). Estas têm a particularidade de hidrolisar muitas das

cefalosporinas de espectro alargado, como as oximinocefalosporinas (ex: ceftazidima e

cefotaxima), bem como monobactâmicos (ex: aztreonam). A produção de ESBL é

mediada por plasmídeos que conferem ampla resistência aos antimicrobianos que

contêm o anel β -lactâmico na sua estrutura. As ESBL rompem este anel β -lactâmico,

inactivando assim, o antibiótico. Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae produtoras

de ESBL são as espécies bacterianas mais comuns, embora a detecção destas enzimas se

tenha já observado noutras espécies de Enterobacteriaceae e Pseudomonaceae

(Bradford, 2001).

Pacientes com infecções por Enterobacteriaceae produtoras de ESBL não devem ser

medicados com antibióticos β -lactâmicos, pois há grande probabilidade de falha

terapêutica com consequente agravamento do quadro infeccioso, excepto os

Page 24: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 15

carbapenemos; contudo, o uso destes pode levar a resistência a estes últimos redutos da

terapêutica (Pitout e Laupland, 2008); (Júnior et al, 2004).

O trabalho do laboratório de microbiologia é imprescindível na detecção das

Enterobacteriaceae produtoras de ESBL. A detecção precoce destas bactérias multi-

resistentes é de grande importância para se instaurar tratamentos adequados e medidas

de isolamento dos pacientes, necessárias para se evitar a disseminação destes agentes

patogénicos em surtos comunitários e nosocomiais.

A detecção presuntiva de ESBL não acarreta custos adicionais ao laboratório, visto que

os anti-microbianos necessários para tal detecção podem compor o conjunto de discos

utilizados na rotina laboratorial em antibiogramas (Júnior et al, 2004).

As β-lactamases de espectro alargado (ESBL) clássicas são enzimas adquiridas, na sua

maioria derivadas das TEM e SHV, geralmente mediadas por plasmídeos,

predominantemente pertencentes ao grupo funcional 2be.

As ESBL hidrolisam penicilinas, cefalosporinas de espectro reduzido, muitas das

cefalosporinas de espectro alargado, as oximinocefalosporinas (eg. ceftazidima e

cefotaxima) e monobactâmicos (eg. aztreonam).

No decorrer dos últimos anos, o termo ESBL tem-se alargado, incluindo também:

i) enzimas com espectro semelhante às mutantes de TEM e SHV mas com outra

origem, (e.g., CTX-M e VEB)

ii) mutantes de TEM e de SHV com actividade ESBL “borderline,”e.g.,TEM-12

iii) várias β-lactamases condicionando resistência superior à das enzimas que lhe

deram origem, mas que não se enquadram no grupo 2be, e.g., derivados de

OXA.

As estirpes produtoras de ESBL são geralmente sensíveis à acção dos inibidores de β -

lactamases, tais como ácido clavulânico, tazobactam e sulbactam. (Farkosh, 2008).

Actualmente, é importante frisar que a grande maioria de ESBL encontradas

clinicamente pertencem às famílias tipo TEM, SHV e CTX-M e portanto são também

estas que se devem procurar por rotina nos laboratórios de microbiologia. A sua

Page 25: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 16

disseminação, e em particular as do tipo CTX-M são uma preocupação de saúde pública

actual, pelo seu aumento e diversidade crescentes (Livermore, 2008).

2.4.4- Tipos de ESBL (TEM, SHV,OXA e CTX-M)

Actualmente existem mais de 90 ESBL do tipo TEM identificadas pela sua sequência

aminoacídica (

ESBL-TEM

Trata-se de um vasto grupo de β-lactamases de espectro alargado que contempla uma

série de enzimas resultantes de mutações pontuais na primeira β-lactamase detectada em

1965, a TEM-1, (Temoniera), originando substituições aminoacídicas específicas,

alterações do seu ponto isoeléctrico (pI) e alargamento do seu espectro de acção

hidrolítica. A TEM-3 foi a primeira β-lactamase isolada, apresentando um fenótipo

ESBL (Bradford, 2001).

http://www.lahey.org).

As substituições aminoacídicas nas enzimas TEM ocorrem num número limitado de

posições.

Destas novas combinações aminoacídicas resultam várias alterações subtis nos seus

fenótipos de ESBL, tais como a capacidade de hidrolisar oximino-cefalosporinas

específicas (e.g.ceftazidima e cefotaxima)ou alterações nos pontos isoeléctricos, os

quais podem variar entre 5.2 e 6.5.

Embora as ESBL tipo TEM estejam muito associadas a E.coli e K.pneumoniae, têm

sido detectadas noutros exemplos de Enterobacteriaceae tais como Enterobacter

aerogenes, Morganella morganii, Proteus mirabilis, Proteus rettgeri, Salmonella spp. e

ainda em bactérias não Enterobacteriaceae, como P.aeruginosa (TEM-42) e

Capnocytophaga ochracea (TEM-17) (Bradford, 2001).

A SHV-1 é a β -lactamase mais comummente encontrada na K. pneumoniae, sendo

responsável por cerca de 20% da resistência à ampicilina nesta espécie. Em muitas

estirpes desta espécie o gene blaSHV-1 ou um outro relacionado está integrado no

cromossoma bacteriano. Embora tenha sido posto como hipótese que o gene codificador

ESBL - SHV

Page 26: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 17

das SHV-1 existisse como parte de uma porção transponível, tal facto nunca foi

provado. Ao contrário de que acontece com as β -lactamases do tipo TEM existem

relativamente poucas β-lactamases do tipo SHV. As variações do gene blaSHV-1 que

promovem um aumento das SHV ocorrem num número relativamente pequeno de locais

do gene estrutural. A maior parte das SHV com fenótipo do tipo ESBL são

caracterizadas pela substituição na posição 238 de uma serina por uma glicina. Algumas

variantes relacionadas com a SHV-5 têm também uma substituição na posição 240 de

uma lisina por um glutamato. É interessante observar que ambas as substituições

Gly238Ser e Glu240Lys espelham o que acontece com as ESBL do tipo TEM. A serina

na posição 238 é crítica para uma hidrólise eficaz da ceftazidima, o mesmo acontecendo

com a lisina relativamente à hidrólise da cefotaxima. A maioria das β -lactamases do

tipo SHV possui o fenótipo ESBL. No entanto, a variante SHV-10 tem sido descrita

como tendo um fenótipo resistente a inibidores (inhibitor-resistant phenotype). Esta β-

lactamase aparenta derivar da SHV-5 e contém uma substituição de uma glicina por

uma serina na posição 130. É interessante o facto do fenótipo (inhibitor-resistant

phenotype) conferido pela mutação Ser140Gly se sobrepor ao fenótipo ESBL

normalmente observado noutras enzimas do tipo SHV-5 contendo as mutações

Gly238Ser e Glu240Lys. A maioria das ESBL do tipo SHV são observadas em estirpes

de K. pneumoniae. No entanto foram também descritas em C. diversus, E. coli e P.

aeruginosa ( Bradford, 2001);(Gupta, 2007).

ESBL - OXA

A definição de β -lactamases de espectro alargado restringe-se normalmente às enzimas

da classe A. Pode, no entanto, incluir oxacilinases de espectro alargado como as ESBL

tipo OXA.

As ESBL tipo OXA pertencem ao grupo 2d e são assim designadas devido à sua grande

capacidade em hidrolisar a oxacilina e cloxacilina.

À semelhança das ESBL SHV e TEM, as ESBL OXA parecem também ter evoluído de

enzimas progenitoras de espectro mais reduzido como OXA-10, OXA-13 e OXA-2.

Estas enzimas ocorrem preferencialmente em Pseudomonas aeruginosa, tendo sido

detectadas também em Enterobacteriaceae (Gupta, 2008).

Page 27: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 18

A sua capacidade em hidrolisar as cefalosporinas de espectro alargado não é, todavia,

muito marcada (Walther-Rasmussen e Hoiby, 2004).

Formam uma família composta por mais de 60 enzimas diferentes sub-divididas em 5

grupos filogenéticos (

ESBL - CTX-M

As β-lactamases do tipo CTX-M foram inicialmente descobertas durante a segunda

metade da década de 80 e a sua taxa de disseminação não tem parado de aumentar

drasticamente desde 1995 (Kingsley e Verghese , 2008).

http://www.lahey.org/studies/web.htm).

As β-lactamases do tipo CTX-M pertencem à classe molecular A e funcionalmente

caracterizam-se como β-lactamases de espectro alargado, uma vez que apresentam

resistência a penicilinas, cefalosporinas de espectro reduzido, cefalosporinas de espectro

alargado e a monobactâmicos. À semelhança das restantes β-lactamases de espectro

alargado, as β-lactamases do tipo CTX-M são também inibidas pelo ácido clavulânico,

sulbactam e tazobactam. (Walther-Rasmussen e Hoiby, 2004).

Ao contrário de outras ESBL, as β -lactamases do tipo CTX-M são geralmente mais

activas contra a cefotaxima do que contra a ceftazidima e exibem maior susceptibilidade

ao tazobactam do que ao ácido clavulânico (Pournaras et al., 2004).

A sua rápida emergência e disseminação mundial deve-se à existência de elementos

móveis e em particular sequências de inserção. Esta fácil mobilização associada a

escolhas terapêuticas ineficientes tem levado a um acentuado número de infecções

nosocomiais e comunitárias (Coque et al., 2008).

As CTX-M-ases têm sido detectadas predominantemente em Enterobacteriacae, como

em Escherichia coli, Salmonella typhimurium, Klebsiella pneumoniae e Proteus

mirabilis. Mas têm também sido reportados registos de isolados contendo CTX-M-ases

em Vibrio cholerae, Acinetobacter baumanii e Aeromonas hydrophila (Walther-

Rasmussen e Hoiby, 2004).

As CTX-M são agora prevalentes em E.coli e K.pneumoniae (Mendonça et al., 2007).

Page 28: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 19

De entre as variadíssimas enzimas que compõem a família CTX-M, a CTX-M-15

aparenta possuir a maior capacidade de disseminação, provavelmente devido a

rearranjos genéticos bem sucedidos. O seu gene (bla CTX-M-15) tem sido detectado em

vários continentes como Europa, África, América do Norte, América do Sul e Ásia

(Pournaras et al., 2004), (Mugnaioli et al., 2006), (Rossolini et al., 2008), (Machado et

al., 2006), (Machado et al., 2007), (Coque et al., 2008), (Kingsley e Verghese, 2008),

(Eckert et al., 2004).

2.4.5- Comportamento das ESBL e importância da sua detecção laboratorial

As ESBL hidrolisam cefalosporinas de espectro alargado (excepto cefamicinas) e

monobactâmicos, não têm no entanto a capacidade de hidrolisar carbapenemos (Júnior

et al., 2004).

Por vezes a selecção de estirpes produtoras de ESBL é promovida “in vivo”, durante o

tratamento. Esta situação pode ocorrer em consequência de: a) escolha de uma terapia

empírica (opção frequente, acarretando riscos inerentes), b) lenta produção de β -

lactamases “in vitro”, não tendo sido possível a sua detecção laboratorial (18-24h), c)

hiperprodução de β -lactamases “in vivo”, não estando ajustada a dosagem de fármaco

mesmo quando associado a um inibidor, (e.g.: amoxicilina/ác.clavulânico), d) presença

de outros mecanismos de resistência . Nestes últimos destacam-se estirpes

hiperprodutoras de β-lactamases do tipo AmpC (as quais reforçam a acção das ESBL) e

a redução da permeabilidade celular (por diminuição do número de porinas ou por

porinas não funcionais).

A leitura dos testes de susceptibilidade deve ser cuidadosa procurando-se sempre algum

indício de produção de ESBL quer pela redução dos halos de inibição às cefalosporinas

de 3ª e 4ª geração e monobactâmicos, quer pelos fenómenos de sinergismo com o ácido

clavulânico.

Em caso de resistência às cefalosporinas de espectro alargado, não se deve optar por um

antibiótico β-lactâmico, procurando-se fármacos alternativos de famílias distintas.

Evitar sempre que possível a escolha de tratamentos empíricos (Kader et al., 2007)

Page 29: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 20

Caso não se tenha em consideração estes aspectos, haverá sempre o risco de falha

terapêutica, com consequências graves para o doente e mais uma vez, contribuição para

uma pressão selectiva de estirpes produtoras de ESBL, na comunidade (Júnior et al.,

2004).

2.4.6-Testes de detecção de ESBL

2.4.6.1-Teste de Dupla Difusão ou Teste de Aproximação de Disco

Método idealizado por Jalier e colaboradores (Jalier et al., 1988) também denominado

de Double Disc Synergy Test (DDST).

A detecção de estirpes produtoras de ESBL pode ser feita mediante a visualização de

fenómenos de sinergismo. Trata-se de um método de difusão em agar utilizando uma

placa de Mueller-Hinton inoculadada com uma suspensão bacteriana ajustada à

concentração 0,5 da escala de MacFarland seguida da colocação de discos, com carga

padronizada, de cefalosporinas de espectro alargado, aztreonam e amoxicilina/ácido

clavulânico. Os discos devem distar 20 a 30 mm uns dos outros (Júnior et al., 2004).

O teste é considerado positivo sempre que se detectam fenómenos de sinergismo, i.e.

quando se observa um aumento no(s) halo(s) de inibição em redor do(s) disco(s) de

cefalosporinas de espectro alargado e/ou aztreonam ou ainda o aparecimento de uma

terceira zona de inibição de crescimento designada por “ghost zone”.

Esta técnica é de fácil execução e acessível a qualquer laboratório de microbiologia

clínica. Assim, este método pode ser utilizado na rotina laboratorial pelo baixo custo

que apresenta, fácil acesso à metodologia e pelo tempo de obtenção de resultados

(Júnior et al., 2004).

No entanto, em situações de baixa produção de ESBL pode haver necessidade de se

encurtar as distâncias entre os discos, implicando a repetição do teste. Há ainda que

contar com alguma experiência por parte do técnico que a realiza (Livermore e Brown,

2001).

2.4.6.2-Teste de adição de ácido clavulânico

Este método consiste em adicionar um inibidor de β-lactamases, o ácido clavulânico, a

antibióticos β -lactâmicos de espectro alargado (como a cefuroxima, a ceftazidima, a

Page 30: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 21

cefotaxima, a ceftriaxona) e ao aztreonam. Para cada conjunto de discos de 30µg

escolhido adiciona-se um disco extra de 30µg adicionado de 10µg de ácido clavulânico.

Comparam-se os diâmetros dos halos de susceptibilidade em torno de discos de

antibióticos e em torno dos discos de antibiótico adicionados de ácido clavulânico. Uma

diferença igual ou superior a 5mm indica que a estirpe é produtora de ESBL (CLSI,

2005).

2.4.6.3 - Métodos automatizados

Encontram-se comercializados vários sistemas automáticos para caracterização

fenotípica de Enterobactericeae. São exemplo, os sistemas BD Phoenix (BD Diagnostic

Systems, Sparks MD) e Vitek® System (bioMérieux, Marcy l´Étoile, França). A análise

fenotípica das Enterobactericeae por estes sistemas proporciona uma padronização e

rapidez de resultados em oposição aos métodos manuais, os quais são mais demorados

em proporcionar resultados (18-24 horas). Não obstante, os métodos automatizados

apresentam algumas desvantagens quando comparados com os métodos manuais de

difusão em agar. No caso de algumas Enterobacteriaceae de crescimento mais lento

(e.g. Proteus spp, Morganella spp, e Providencia spp) nem sempre é possível obter

resultados ao fim de 4-5 horas (Júnior et al., 2004).

Os métodos automatizados nem sempre detectam a presença de β -lactamases de

espectro alargado. Apresentam sensibilidades e especificidades variáveis, dependendo

das Enterobacteriaceae em questão, assim como da constituição das cartas usadas

(Donaldson et al., 2008), (Farber et al., 2008), (Wiegand et al., 2007).

2.4.7 – Factores de risco e medidas de prevenção e controlo

O principal factor de risco para se contrair uma infecção por Enterobacteriaceae

produtoras de ESBL, é sem dúvida, o internamento hospitalar. Este risco aumenta com

o tempo de permanência dos pacientes nos hospitais, principalmente nas unidades de

cuidados intensivos , pediátricas, cirúrgicas e oncológicas (Bisson et al., 2002); (Kim et

al.,2002);(Menache et al.,2001);(Luc et et al.,1996).Para além do tempo de

internamento, o risco aumenta também, quando associado à utilização de procedimentos

invasivos, (cateteres venosos centrais, arteriais, urinários e de drenagem biliar, para

além de entubações pulmonares e ventilação artificial) bem como a doenças crónicas

graves subjacentes (cardíacas ou oncológicas) (Dalmarco et al., 2006).

Page 31: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 22

Para além dos reservatórios hospitalares, as Enterobacteriaceae produtoras de ESBL

têm vindo também a ser detectadas em nichos particulares da comunidade, tais como

clínicas de reabilitação e lares de idosos (Livermore et al., 2008); (Dalmarco et al.,

2006).

A existência de pacientes ambulatórios portadores de infecções crónicas constitui de

igual modo factor de risco, sendo estes, potenciais transmissores de Enterobacteriaceae

produtoras de ESBL. Estes portadores crónicos poderão muito bem ter contraído a

infecção durante um internamento hospitalar anterior, tendo sido submetidos a

antibioterapia variada, nomeadamente cefalosporinas de espectro alargado, a qual

constitui um importante factor de pressão selectiva das estirpes infecciosas. Estes

pacientes passam assim a constituir um veículo de transmissão deste tipo de

microrganismos do meio hospitalar para a comunidade e vice-versa (Bradford et

al.,1995);(Rasmussen et al.,1993);(Einhorn et al.,2002).

Estes reservatórios não hospitalares nem sempre têm sido alvo da devida atenção por

parte dos laboratórios de análises e dos clínicos. Apenas nos últimos anos se têm

realizado estudos nesse sentido, havendo ainda no entanto muito a fazer.

Em termos de medidas de prevenção e controlo de pacientes com infecções por

Enterobacteriaceae produtoras de ESBL, deve-se ter sempre em mente o isolamento

destes doentes, cuidados de assepsia (lavagem das mãos e na manipulação dos

pacientes). O uso de antibioterapia (β-lactâmica ou não β-lactâmica) deve ser criterioso.

É assim essencial evitar a auto-medicação (Júnior et al., 2004).

Há ainda que tentar erradicar as situações de infecções crónicas com estirpes produtoras

de ESBL.

Deve-se incentivar os estudos de vigilância e controlo de estirpes produtoras de ESBL

na nossa comunidade de modo a termos conhecimento o mais exacto possível das

ameaças bacterianas aí existentes (Pitout et al., 2005).

Em suma, vivemos num ciclo vicioso de transmissão de infecções provocadas por

Enterobacteriaceae produtoras de ESBL oriundas do meio hospitalar e/ou da

comunidade. Este ciclo vicioso, enquanto não for quebrado, fomentará a crescente

Page 32: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 23

disseminação de infecções provocadas por Enterobacteriaceae produtoras de ESBL na

nossa sociedade.

2.4.8-Uma nova definição de β-lactamases de espectro alargado

Tem vindo a ser necessária uma reavaliação da terminologia aplicada às ESBL, pois ao

longo dos anos foram sendo descobertas novas β-lactamases de espectro alargado, mas

cuja inclusão nesta vasta família tem sido por vezes discutível (Bush et al, 1995).

O termo ESBL tornou-se demasiado abrangente, e enzimas do tipo AmpC´s plasmídicas

ou carbapenemases não deveriam, ser contempladas nesta família por possuírem

características divergentes das ESBL clássicas.

De acordo com a nova terminologia proposta por Giske e colaboradores (Giske et al.,

2008), o “grupo ESBL” restringir-se-ia à clássica classe funcional 2be (classe molecular

A), sendo constituído exclusivamente por β-lactamases inibidas pelo ácido clavulânico e

com actividade contra oximino-β-lactâmicos, tomando a designação de ESBLA.

Por sua vez, as β-lactamases do tipo AmpC plasmídicas e as cefalosporinases tipo-

OXA ficariam reunidas na classe ESBL M (“miscellaneous ESBL”), podendo esta, por

sua vez, ser dividida em ESBL M-C (AmpC´s plasmídicas; classe C) e ESBL M-D

(ESBLs tipo-OXA; classe D). Seriam certamente necessárias abordagens genotípicas e

fenotípicas para a detecção e diferenciação de β -lactamases do tipo ESBL M.

Relativamente às carbapenemases, estas passariam a constituir uma classe distinta,

designada por ESBLCARBA (i.e.: ESBL com actividade hidrolítica contra carbapenemos),

seguida de uma subdivisão em sub-classes (A, B e D). O estabelecimento de subclasses

torna-se essencial a uma maior precisão por parte do comunidade científica.

As três principais categorias acima descritas seriam provavelmente suficientes para uso

clínico. Esta nova terminologia poderá vir a constituir um incentivo à adesão por parte

dos comités de metodologia nacionais e internacionais (Giske et al., 2008) (Tabela 4).

Page 33: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 24

Proposta de classificação de β-Lactamases de espectro alargado β-lactamases adquiridas com actividade hidrolítica contra cefalosporinas de espectro alargado e/ou carbapenemos

Classe de β-Lactamases

ESBLA ESBLM ESBLCARBA ESBLs de alta prevalência

ESBLM-C (AmpC´s mediadas por

plasmídeos

CTX-M ESBLs tipo TEM ESBLs tipo SHV VEB PER

CMY FOX MIR MOX DHA LAT BIL ACT ACC

ESBLCARBA-A

KPC GES-2, -4, -5, -6, -8 NMC SME IMI-1, -2

ESBL-A de baixa prevalência

ESBLM-D (OXA-ESBL) ESBLCARBA-B (MBL)

GES-1, -3, -7, -9 SFO-1 BES-1 BEL-1 TLA IBC CMTa

Grupo OXA-10 Grupo OXA-13 Grupo OXA-2 OXA-18 OXA-45

IMP VIM SPM-1 GIM-1 SIM-1 AIM-1

ESBLCARBA-D (OXA carbapenemases) Grupo OXA-23 Grupo OXA-24 OXA-48b Grupo OXA-58

Definição operacional

Não susceptíveis a cefalosporinas de largo espectro e inibidas pelo ácido clavulânico

Não susceptíveis a cefalosporinas de largo espectro e detecção fenotipica (ESBL M-C) ou genotipica (ESBL M-D)

Não susceptíveis a cefalosporinas de largo espectro e detecção por métodos fenotipicos ou genotipicos

Tabela 4 - Proposta de classificação de β-Lactamases de espectro alargado segundo Giske

Proposta de classificação de classes de ESBLs classe A, ESBLs miscelânea (ESBLM) e ESBLs com actividade hidrolítica para carbapenemos (ESBLCARBA).

a) Resistentes à inibição pelo ácido clavulânico

b) “in-vitro” os isolados produtores de OXA-48 podem-se comportar como susceptíveis às cefalosporinas (Adaptado de Giske et al.,2008)

Page 34: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 25

2.4.9 - Impacto da transferência genética em Enterobacteriaceae produtoras de

ESBL

Actualmente, a alta prevalência de genes codificadores de ESBL (genes bla ESBL) em

várias regiões europeias deve-se à transferência horizontal de plasmídeos entre clones

epidémicos e outros clones não relacionados, quer a nível nacional quer a nível

internacional (Coque et al., 2008).

A transmissão plasmídica desempenhou um papel importante na disseminação e

persistência de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL.

Como exemplos mais flagrantes deste fenómeno de transferência, destacam-se:

• Aparecimento e persistência de CTX-M-3 na Europa de Leste (Polónia e Bulgária) (Empel et al., 2008); (Markoska et al., 2008); (Baraniak et al., 2002)

• Persistência de TEM-4, CTX-M-10, CTX-M-9 e CTX-M-14 em Espanha (Valverde et al., 2008); (Diestra et al., 2008)

• Disseminação de SHV-5 em toda a Europa, em especial na Bósnia e Herzegovinia, Croácia, Grécia, Polónia e Hungria (Empel et al., 2008); (Damjanova et al., 2007); (Oteo et al., 2008); (Psichogiou et al., 2008); (Uzunovik-Kambevoric et al., 2007)

• Disseminação de plasmídeos codificadores de CTX-M-2 ( Bélgica e França), de CTX-M-15 (vários países europeus:França, Grécia, Itália, Noruega, Portugal, Espanha Suiça, Turquia e Reino Unido) e de CTX-M-32 (zona mediterrânica)(Novais et al., 2008); (Bertrand et al., 2003); (Cloeckaert et al., 2007); (Pedrosa et al., 2008); (Coque et al., 2008); (Novais et al., 2007); (Gonullu et al., 2008)

• Disseminação de TEM-24 e TEM-52 na Bélgica, França, Portugal e Espanha (Machado et al., 2007); (Galas et al., 2008); (Arpin et al., 2007); (Novais et al., 2008); (Costa et al., 2006); (Machado et al., 2008); (Cloeckaert et al., 2007)

2.4.10-Expansão clonal de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL

A disseminação de clones específicos e plasmídeos epidémicos na comunidade e em

ambiente hospitalar tem sido a principal razão para o aumento da disseminação de

Page 35: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 26

estirpes produtoras de ESBL pertencentes às famílias TEM, SHV e CTX-M na Europa

(Coque et al., 2008).

O abuso de utilização de antibióticos em pessoas e animais, a cadeia alimentar,

comércio e migração humana, e infecções cruzadas a nível hospitalar parecem ter

contribuído de algum modo, para a recente disseminação de ESBL. No entanto a

influência de cada um destes factores é variável e associada à epidemiologia local

(Coque et al., 2008).

É sabido que certos clones de Enterobacteriaceae se podem expandir, adquirindo vários

plasmídeos codificadores de ESBL. Estes clones parecem ter favorecido a expansão de

ESBL no nosso continente. A E.coli O25:H4-ST131, por exemplo, é apontada como

sendo a responsável pela disseminação pandémica de CTX-M-15 (Coque et al., 2008).

A frequência de estirpes bacterianas endémicas capazes de adquirir plasmídeos

codificadores de ESBL, tipo-SHV (SHV-5 ou SHV-12), TEM-24, CTX-9, CTX-14,

carbapenemases (KPC,VIM ou OXA) e β-lactamases do tipo AmpC, alerta para a

necessidade de identificar e controlar os clones existentes na Europa. Devem ser

tomadas medidas de vigilância, controlo e prevenção, visando a sua contenção (Carrer

et al., 2008); (Psichogiou et al., 2008); (Tsakris et al., 2008); (Tato et al., 2007);

(Cagnacci et al., 2008).

2.4.11- Perfis de multi-resistência em isolados produtores de ESBL

É comum, as Enterobacteriaceae serem resistentes a outros grupos de antibióticos para

além dos antibióticos β-lactâmicos, tais como fluorquinolonas, aminoglicosídeos e

trimetoprim. Tratam-se de estirpes multiresistentes, persistindo no meio hospitalar,

podendo ser encontradas na comunidade.

A proporção de isolados produtores de ESBL resistentes às fluorquinolonas tem vindo a

aumentar, inicialmente em K. pneumoniae e mais tarde em E. coli.

Aparentemente, este aumento deu-se em paralelo com o aumento de certos mecanismos

de resistência mediados por plasmídeos.

Page 36: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 27

a) Proteínas qnr (qnrA, qnrB ou qnrS). Os genes qnr, na sua maioria, encontram-se

associados a enzimas dos grupos CTX-M-9 ou CTX-M-1 (Iabadene, Messai et

al. 2008); (Cattoir et al., 2007).

b) Acetilases que podem afectar a actividade de fluorquinolonas e.g. o gene

aac(6’)-Ib-cr muito ligado aos isolados de CTX-M-15 (Machado et al., 2007).

c) Sistemas de efluxo de fluorquinolonas (qepA). A hiper expressão de bombas de

efluxo em clones que já possuíam mutações cromossómicas (gyrA e parC)

(Coque et al., 2008).

d) Genes que codificam resistência aos aminoglicosídeos (ArmA metilase), ao

trimetoprim ou às sulfonamidas. Localizam-se em vários elementos genéticos

como: Integrons classe 1,2 ou 3 ou elementos transponíveis (Canton et al, 2008);

(Cambar et.al, 2006).

e) Plasmídeos que codificam ESBL que expressam um baixo nível de resistência

aos antibióticos β -lactâmicos, ou múltiplos genes silenciosos de resistência

antibiótica (Coque et al., 2008).

Em suma, a vasta representação de enzimas CTX-M, a vasta disseminação de alguns

clones com plasmídeos multi-resistentes, o número crescente de Enterobacteriaceae

produtoras de ESBL, metalo-β-lactamases (MLs) e AmpC´s, o mecanismo de

resistência existente em algumas estirpes de E. coli produtores de ESBL e contendo o

gene aac(6’)-Ib-cr nos seus plasmídeos, são sem dúvida factores que contribuem em

muito para o recente aumento de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL na Europa

(Novais et al., 2008).

2.5-Contributo dos laboratórios de microbiologia do ambulatório

Os laboratórios de rotina em Microbiologia têm um papel primordial na detecção e

avaliação de isolados produtores de ESBL.

Embora a maioria das situações se verifiquem a nível hospitalar, é já preocupante o

facto de ocorrerem infecções graves na comunidade, em que não tão raramente como se

desejaria, se detectam estirpes produtoras de ESBL. Também aqui o laboratório de

rotina pode e deve dar um contributo precioso para a detecção destas situações.

Page 37: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 28

Mesmo na rotina, e sem custos adicionais, o laboratório tem de ter a preocupação de

incluir nos testes de susceptibilidade, discos estandardizados de β-lactâmicos de

espectro alargado (ceftriaxona, ceftazidima, cefotaxima, cefpodoxima) bem como de

associações destes com inibidores de β-lactamases). Na gama dos antibióticos não β -

lactâmicos devem ser incluídos representantes dos aminoglicosídeos (e.g. tobramicina e

netilmicina) e fluorquinolonas (e.g. norfloxacina e ciprofloxacina), isto porque, não

raramente, se verifica co-resistência a fármacos não β-lactâmicos.

Este contributo do laboratório de rotina é valioso para o clínico. O laboratório pode e

deve passar a informação acerca da presença de ESBL, reforçar a noção de ineficácia da

terapêutica com β-lactâmicos nestas situações e propor alternativas terapêuticas válidas,

sempre que possível.

Actuando deste modo, reduz-se a probabilidade de falha terapêutica por falta de

informação ao clínico.

Por outras palavras, o laboratório de microbiologia clínica deve alertar para as possíveis

falhas terapêuticas de diversos antibióticos β -lactâmicos em doentes com infecções por

bactérias produtoras de ESBL, optando pela sua detecção rotineira na população do

ambulatório (Júnior et al., 2004).

Page 38: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 29

3 - OBJECTIVO

O grande objectivo deste trabalho é alertar os laboratórios de análises clínicas para a

necessidade de detecção rotineira de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL e para a

grande relevância clínica desta detecção para a saúde do paciente, além da sua enorme

importância no controlo das infecções comunitárias causadas por estirpes produtoras de

β-lactamases de espectro alargado.

• Isolamento e identificação de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL, em

isolados clínicos variados (urinas, fezes, exsudados vaginais, pús de ouvido e

pús de ferida), provenientes de pacientes do ambulatório de quatro Laboratórios

de Análises Clínicas na região do grande Porto, entre Março e Setembro de

2008.

• Determinação da prevalência de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL nessa

região.

• Relação entre a presença de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL e a

natureza da amostra clínica apresentada.

• Evidenciação das ESBL produzidas pelas estirpes estudadas, recorrendo à

determinação do seu ponto isoeléctrico (pI).

• Investigação da transferência de resistências por conjugação.

• Avaliação do perfil de susceptibilidade das estirpes de Enterobacteriaceae

produtoras de ESBL a antibióticos não-β-lactâmicos.

• Comparação entre métodos automatizados e métodos manuais no que diz

respeito à detecção de estirpes produtoras de ESBL.

Page 39: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 30

7 - MATERIAL E MÉTODOS

Durante os meses de Março a Setembro de 2008 foram recolhidas amostras de várias

origens tais como urina, fezes, exsudados vaginais, pús de ouvido e pús de ferida,

provenientes de utentes do ambulatório de quatro Laboratórios de Análises Clínicas da

cidade do Porto e gentilmente cedidas para este trabalho. Dado que estes laboratórios

possuem diversos postos de colheita fora da cidade do Porto, a área geográfica

abrangida por este estudo estendeu-se aos distritos do Porto e de Braga, consoante se

pode visualizar na figura.

Foi condição desta recolha, amostras em que tinham sido isoladas Enterobacteriaceae.

As amostras foram previamente isoladas nos meios normalmente usados na rotina dos

laboratórios participantes e possuíam na sua grande maioria, identificação do agente

microbiano, bem como perfil de susceptibilidade aos agentes anti-microbianos usados

em sistema automático (Vitek-Bio-Merieux). Na falta desta informação, procedeu-se à

identificação de alguns isolados microbianos recorrendo ao Método API 20E (Bio-

Figura 2 – Origens das amostras biológicas a partir das quais se isolaram as estirpes produtoras de ESBL. 1- Porto; 2- Matosinhos; 3- Penafiel; 4- Guimarâes; 5- Póvoa do Lanhoso; 6- Paços de Ferreira; 7- Galegos; 8- Buelhe; 9- Recesinhos; 10- Alpendurada, 11- Peroselo; 12- Valbom.

Page 40: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 31

Mérieux) manual, bem como à execução de antibiogramas segundo o método de difusão

em agar com discos de antibiótico, de acordo com indicações do CLSI (CLSI, 2007).

Os isolados foram preservados em alíquotas de 500µL de TSB com glicerol a 15% e

congelados a -20ºC .

Selecção dos isolados potencialmente produtores de ESBL – teste de “screening”

Todos os isolados foram sujeitos a um teste inicial de “screening”. Este teste consistiu

na sementeira em três placas de cultura sendo uma delas selectiva para bacilos Gram

negativo e outras duas selectivas para bacilos Gram negativo que apresentem redução de

susceptibilidade aos antibióticos incorporados: meio de MacConkey, meio de

MacConkey adicionado de cefotaxima (2µg/mL) e meio de MacConkey adicionado de

ceftazidima (2µg/mL).

A escolha destes antibióticos foi a seguida pelas recomendações do CLSI, uma vez que

se pesquisou a presença de β-lactamases de espectro alargado.

Para além dos isolados em estudo, foi também semeada uma estirpe de E. coli ATCC

25922 nas mesmas condições, como controlo negativo do crescimento nos meios com

antibiótico.

Procedeu-se a uma incubação a 37ºC/durante18h.

Seleccionaram-se os isolados viáveis que apresentaram crescimento em meio de

MacConkey adicionado de antibiótico (CTX e/ou CAZ). Desta forma, por este método

de despiste, seleccionou-se uma população de isolados que apresentava redução de

susceptibilidade a cefalosporinas terceira geração.

De cada um dos ”screenings” positivos fez-se uma repicagem e inoculação em 500µL

de meio TSB com 15% de glicerol e congelação a -20ºC , para uso posterior e

paralelamente prosseguiu-se o estudo.

Apesar da informação previamente fornecida acerca do perfil de susceptibilidade,

procedeu-se à execução de antibiogramas dos isolados positivos pelo teste de triagem,

ou seja os que apresentaram crescimento em pelo menos um dos meios selectivos

contendo antibiótico.

Page 41: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 32

Detecção de ESBL

Foram executados antibiogramas a todos os isolados considerados positivos pelo teste

de triagem com o objectivo de detectar fenómenos de sinergismo entre os oximino-β-

lactâmicos e o aztreonam, e a associação amoxicilina/ácido clavulânico bem como

detectar co-resistência a antibióticos não β-lactâmicos.

Nesta metodologia usaram-se antibióticos β-lactâmicos e não β-lactâmicos

β-lactâmicos: Amoxicilina (10μg), Amoxicilina com Ácido Clavulânico (30μg/10μl),

Cefuroxima (30μg), Cefoxitina (30μg), Cefotaxima (30μg), Ceftazidima (30μg),

Cefepime (30μg), Aztreonamo (30μg) e Imipenemo (30μg).

A disposição dos discos foi a seguinte: 1-Aztreonam (30 µg ); 2-Cefuroxima (30 µg );

3-Cefotaxima (30 µg); 4-Cefoxitina (30µg); 5-Ceftazidima (30µg); 6-Imipenemo

(10µg); 7-Cefepima (30µg); 8-Amoxicilina (30 µg ) . O disco de Amoxicilina/Ácido

Clavulânico(30 µg /10 µg) foi estrategicamente colocado ao centro das placas de modo

a possibilitar a detecção de fenómenos de sinergismo com os restantes antibióticos. As

distâncias entre os discos foram cerca de 20 a 30 mm.

Não β-lactâmicos: Ácido Nalidíxico (30µg), Norfloxacina (30µg), Nitrofurantoína

(30µg), Tetraciclina (30µg), Cloranfenicol (30µg), Trimetoprim-Sulfametoxazol

(1,25µg/23,75µg), Netilmicina (30µg) e Estreptomicina (10µg).

Procedeu-se à leitura dos halos de inibição, manualmente, registando todas as situações

em que ocorreram reduções de susceptibilidade e/ou fenómenos de sinergismo.

Em caso de interpretação duvidosa de cada uma das situações acima descritas, optou-se

por proceder a um outro teste de confirmação: o teste de adição de ácido clavulânico de

acordo com as indicações do CLSI (CLSI, 2005).

Teste Confirmatório - Estudo da acção do Ácido Clavulânico

Foram escolhidas as estirpes que apresentavam as características acima descritas. Cada

uma dela foi semeada em meio de Mueller-Hinton segundo o método de difusão em

agar.

Page 42: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 33

Os antibióticos foram criteriosamente escolhidos, caso a caso. Para cada antibiótico

oximino- β-lactâmico (30μg) escolhido , adicionou-se um disco extra, adicionado de

10μl de ácido clavulânico (CLAV a 1000μg/ml).

Os antibióticos escolhidos foram a cefuroxima, a cefotaxima, a ceftazidima, o cefepime

e o aztreonam. Seguiu-se uma incubação a 37 oC/18-24h. Registaram-se os halos de

inibição de crescimento obtidos na presença e ausência de ácido clavulânico,

registando-se a diferença de diâmetros de halo, em milímetros.

Foram seleccionados os isolados que apresentavam uma diferença > /= a 5 mm na

presença do ácido clavulânico para, pelo menos, um dos oximino-β-lactâmicos

estudados.

A partir desta avaliação, ficou-se em presença de uma população muito mais restrita em

número, tendo como característica comum a confirmação da produção de β -lactamases

de acordo com as directrizes do CLSI (CLSI, 2005). O passo seguinte consistiu na

produção de extractos para detecção e caracterização bioquímica das β -lactamases por

focagem isoeléctrica.

Produção de extractos

Foram preparados volumes de 40ml de Tripticase Soy Broth (TSB) inoculados com

cada uma das bactérias em estudo. Estas suspensões foram incubadas a 37º C/18-24h.

Após esta incubação, as suspensões foram submetidas a centrifugação refrigerada

(3800rpm/4ºC/10mn) em centrífuga refrigerada Sigma 6K15. Após decantação do

sobrenadante, procedeu-se a uma lavagem com água estéril e submeteu-se a nova

centrifugação nas mesmas condições. Rejeitaram-se os sobrenadantes, ficando assim os

“pellets” de células bacterianas onde se procedeu à extracção das β -lactamases em

estudo. Estes “pellets” foram fransferidos para tubos de “ eppendorf” e congelados a -

20oC. Recorreu-se a 5 pulsos de congelação e descongelação, variando entre -20ºC e

+37oC, de modo a maximizar a libertação de β-lactamases do espaço periplasmático.

Aferiu-se a qualidade dos extractos obtidos, mediante o Teste do Nitrocefin.

Page 43: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 34

Avaliação prévia da presença de β-lactamases no extracto

Impunha-se a avaliação da qualidade dos extractos no que diz respeito à concentração

aproximada em β-lactamases. Esta avaliação foi feita recorrendo ao Nitrocefin, o qual

por possuir um anel β-lactamâmico fica facilmente sujeito a hidrólise na presença de β -

lactamases. Tratando-se de uma cefalosporina cromogénica, permite a verificação da

degradação do anel β-lactâmico.

Em placa de petri esterilizada foram debitados volumes de 10µl de solução de

Nitrocefin (500 μg/ml). A cada um destes volumes adicionou-se 10 µl de cada extracto

e avaliou-se o intervalo de tempo em que ocorreu variação de côr do Nitrocefin e

portanto a sua hidrólise. O período de tempo óptimo para essa hidrólise deveria ser até 5

segundos, aceitável até 10 segundos.

Focagem isoeléctrica

Usámos o equipamento Phast System-Pharmacia, películas de gel de poliacrilamida

com uma mistura de anfólitos que gera um gradiente de pH entre 3 e 9, permitindo a

separação de β-lactamases.

Usou-se um padrão de β -lactamases com pontos isoeléctricos conhecidos (pI=5,4;

pI=7,6 e pI=8,4), TEM-1, SHV-1 e MIR-1.

Cada um dos extractos foi centrifugado a 10.000 rpm/2 min e aferida a sua qualidade

pelo Teste do Nitrocefin.

Foram aplicados volumes de 5μl de cada amostra e procedeu-se à separação

electroforética em função do ponto isoeléctrico das proteínas, seguida de revelação

selectiva das bandas de β-lactamase com solução de Nitrocefin (500 μg/ml) .

Avaliação da transferência do gene codificador de ESBL por conjugação

A conjugação bacteriana consiste num fenómeno de transferência de características

genéticas entre bactérias, sendo estas da mesma espécie ou de espécies diferentes,

através de plasmídeos conjugativos. Pretendeu-se com este processo, mostrar que é

possível e mesmo real, que esta transferência ocorra no nosso dia a dia, contribuindo

Page 44: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 35

largamente para a disseminação e aumento da resistência bacteriana na nossa

comunidade, nomeadamente pela produção de β-lactamases de espectro alargado.

“In vitro”, promoveu-se a conjugação, recorrendo à seguinte técnica:

a) usou-se uma estirpe de laboratório (E.coli: HB101) como sendo a nossa bactéria

receptora; esta era susceptível a todos os nossos antibióticos em estudo excepto

à estreptomicina

b) como candidatas a bactérias dadoras, escolheram-se todas as que apresentavam

susceptibilidade à estreptomicina e resistência à cefotaxima e à ceftazidima.

Suspenderam-se as bactérias, receptora e dadoras, cada uma “per se”, em volumes de

20ml de TSB. Incubaram-se a 37ºC/18-24h.

Usaram-se placas de Mueller-Hinton agar (MH) para a inoculação seguinte. Em cada

placa foi dispensado um volume de 100μl de suspensão de TSB, contendo a nossa

estirpe receptora.

A cada placa foi também dispensado, de modo sobreposto, um volume de 100μl de cada

uma das nossas suspensões em estudo (estirpes dadoras).

Procedeu-se a nova incubação a 37ºC/18-24h.

Recolheu-se a massa cultural obtida em cada placa, sendo cada uma delas suspensa em

1ml de soro fisiológico estéril. De cada uma das suspensões em soro fisiológico foram

pipetados volumes de 200μl e procedeu-se ao plaqueamento de meios de MacConkey

suplementados com cefotaxima (2μg/ml) e/ou ceftazidima(2μg/ml) e estreptomicina

(500μg/ml). As unidades formadoras de colónias (UFC) de prováveis transconjugantes,

tinham como características o facto de serem lactose (-), serem resistentes à

estreptomicina e apresentarem redução de susceptibilidade à cefotaxima/ceftazidima.

A conjugação bacteriana é um processo que pode apresentar uma baixa eficácia, pelo

que nem sempre é possível a obtenção de transconjugantes a partir de todas as bactérias

dadoras, ou a transferência pode mesmo não ocorrer.

Page 45: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 36

Testes de confirmação de presença de ESBL nas bactérias transconjugantes

As unidades formadoras de colónias obtidas por conjugação bacteriana foram sujeitas a

testes confirmatórios da presença de β -lactamases, tal como ocorrera com as respectivas

bactérias dadoras. Executaram-se testes de difusão em meio sólido, o “DDST”(“double

disc synergy test”), usando-se para tal , o mesmo leque de antibióticos escolhidos para

os DDST das bactérias dadoras.

Compararam-se os fenótipos das bactérias transconjugantes e respectivas bactérias

dadoras.

Mais concretamente, avaliou-se: a) manifestação de fenómenos de sinergismo, à

semelhança do que acontecera com as bactérias dadoras; b) resistência a antibióticos

não β-lactâmicos.

Por último, procedeu-se à focagem isoeléctrica dos extractos das bactérias

transconjugantes em paralelo com as suas dadoras, a fim de se evidenciar a presença

da(s) β-lactamase(s) transferida(s).

Focagem isoeléctrica das bactérias transconjugantes

Os extractos dos transconjugantes foram obtidos pela mesma metodologia experimental

já referida para os isolados dadores.

Procedeu-se a focagens isoeléctricas, usando-se películas de gel de poliacrilamida com

anfólitos (Phast Gel 3-9; GE Healthcare), gerando um gradiente de pontos isoeléctricos

entre 3 e 9.

Nestas focagens foram aplicados, para além do padrão, os extractos das bactérias

transconjugantes em paralelo com os extractos das bactérias dadoras.

Mais uma vez se recorreu ao Nitrocefin como agente revelador de β-lactamases.

Compararam-se as bandas presentes com as bandas do padrão, bem como as bandas

relativas às transconjugantes e suas bactérias dadoras.

Page 46: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 37

Registaram-se as situações em que ocorreu transferência de ESBL; por outras palavras,

sempre que estavam presentes bandas respeitantes às bactérias dadoras e às

transconjugantes com pontos isoeléctricos iguais.

Page 47: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 38

8 – RESULTADOS

1. Dos 424 isolados estudados, todos apresentaram crescimento em MCK, tendo 45

isolados (10,6%) apresentado também crescimento em MCK adicionado de

cefotaxima e/ou ceftazidima pelo método de despiste.

2. Destes 45 isolados foram realizados antibiogramas com fármacos β -lactâmicos e

não β-lactâmicos (Tabela 5).

Nº Seq. ID Estirpe PRODUTO MCK CTX CAZ ESBL 24 10905635 E.coli URINA + + + 26 45000644 K.pneum URINA + + + ESBL(+) 27 44115573 E.coli URINA + + + ESBL(+) 52 16590 E.coli URINA + + + ESBL(+) 63 16573 K.pneum URINA + + -

R72 10705596-B E.coli URINA + + + ESBL(+) R77 10205938 E.coli PÚS FERIDA + + pc+ ESBL(+) R78 10205938 P.mirabilis URINA + pc+ + R79 10907078 E.coli URINA + pc+ pc+ 75 44905605 K.pneum URINA + - pc+ 87 44115680 E.coli URINA + + - ESBL(+) 96 10301218 E.coli URINA + + - ESBL(+)

R120 10401627 K.oxytoca URINA + + + ESBL(+) 134 44604920 E.coli URINA + + + ESBL(+) 135 R10907316-2 M.morganii URINA + + + 137 R10706322 P.mirabilis URINA + - pc+ 143 R11102744 E.coli URINA + + + 147 16791 E.coli URINA + + + ESBL(+) 156 44214558 E.coli URINA + + + ESBL(+) 273 44403451 E.coli URINA + + - ESBL(+) 284 44905842 K.pneum URINA + + + ESBL(+) 287 17133 C.freundii URINA + + + ESBL(+) 317 12600323 E.coli URINA + - pc+ 319 44605059 E.coli URINA + + + ESBL(+) 437 10206750 K.pneumoniae URINA + - + ESBL(+) 244 44515848 C.koseri URINA + - pc+ 349 44116045-1 E.coli URINA + + + ESBL(+) 424 10907285 P.mirabilis URINA + - pc+cf. 498 10304380 E.coli URINA + - pc+ 431 10206242 E.coli URINA + - pc+ cf. 432 10304415 E.cloacae URINA + + pc+ cf. 433 11102742 E.coli URINA + + - 435 10706345 E.coli URINA + + - 436 11306741 P.mirabilis URINA + + - 490 10706357 E.coli URINA + + - 438 10206282 E.coli URINA + + + 500 10507116 K.pneumoniae URINA + - pc+ 501 10304458 P.mirabilis URINA + - pc+ 446 12400635 C.koseri URINA + pc+ - 447 10206292 E.coli URINA + pc+ - 450 11102749 E. cloacae URINA + pc+ - 451 10206227 E.coli URINA + pc+ - 453 10206329 E.coli URINA + - pc+ 508 10402475 E.coli URINA + - + 455 10907394 E.coli URINA + - pc+

Tabela 5- Teste de "Screening" de Enterobacteriaceae produtores de ESBL – MCK – MacConkey;

CTX – MacConkey com cefotaxima (2µg/ml); CAZ – MacConkey com ceftazidima (2µg/ml); ESBL – β-lactamase de largo espectro; (+) – crescimento; (pc+ ) – pouco crescimento; (-) – ausência de crescimento

3. Foram seleccionadas 17 estirpes como sendo Enterobacteriaceae produtoras de

ESBL 16 isolados urinários e 1 isolado de um pús de ferida de decúbito (Tabela

6).

Page 48: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 39

4. Foram executados testes de susceptibilidade a antibióticos β-lactâmicos e não β-

lactâmicos (tabela 7 e 8).

5. Foi isolada uma estirpe de E.coli num pús de ferida de decúbito (amostra 77).

Esta estirpe, apresentou um resultado positivo no teste de “screening” e

realizado o teste de adição com ácido clavulânico, apresentou uma variação nos

NºSEQ.: Nº ID IDENTIFICAÇÃO DATA PACIENTE PRODUTO INFECÇÕES ANTERIORES

26 45000644 K.pneumoniae 27.03.08 M/77 URINA 27 44115573 E.coli 29.03.08 F/81 URINA

52 16590 E.coli 02.04.08 F/65 URINA 03.05.08

P.mirabilis 11.07.08

E.coli 72 10705596 E.coli 23.06.08 F/71 URINA

77 10205938 E.coli 17.07.08 F/77 PÚS FER.

87 44115680 E.coli 09.04.08 F/84 URINA 02.05.07

E.coli 96 10301218 E.coli 10.04.08 F/51 URINA

120 10401627 K.oxytoca 13.06.08 M/83 URINA

134 44604920 E.coli 17.04.08 F/58 URINA 28.09.07

E.coli

147 16791 E.coli 21.04.08 M/74 URINA 02.02.07 E.faecalis

156 44214558 E.coli 24.04.08 F/78 URINA 273 44403451 E.coli 10.05.08 F/54 URINA

284 44905842 K.pneumoniae 17.05.08 M/71 URINA 24.11.07

E.coli 287 17133 C.freundii 17.05.08 M/64 URINA

319 44605059 E.coli 28.05.08 F/58 URINA

17.04.08 E.coli

349 44116045 E.coli 02.06.08 F/69 URINA 437 10206750 K.pneumoniae 02.09.08 F/19 URINA

Tabela 6 - Isolados produtores de ESBL

Gráfico 1 – Repartição de Estirpes produtoras de ESBL

Page 49: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 40

diâmetros dos halos de inibição respeitantes à FEP e FEP/CLAV de 5mm. Não

foi possível a obtenção da respectiva focagem isoeléctrica.

6. De entre as 17 estirpes produtoras de ESBL, 12 estirpes (70.6%) eram E.coli, 3

estirpes (17.6%) K.pneumoniae, 1 estirpe (5.9%) K.oxytoca e 1 estirpe (5.9%)

C. freundii.

7. Destas 17 estirpes, 13 apresentaram sensibilidade ou sensibilidade intermédia à

amoxicilina/ácido clavulânico.

8. No teste de susceptibilidade a antibióticos β -lactâmicos, a amostra 156 só

apresentou susceptibilidade aos antibióticos: imipenemo (IPM), nitrofurantoina

(F) e cloranfenicol(C).

9. A estirpe C. freundii apresentou comportamentos sobreponíveis nos 2 testes de

susceptibilidade aos antibióticos β -lactâmicos (meio de Mueller-Hinton com e

sem suplemento de cloxacilina 500µg/ml.

10. Houve 10 isolados que no teste de susceptibilidade a antibióticos β -lactâmicos

apresentaram fenómenos de sinergismo entre o ácido clavulânico e cefotaxima

Foto 1 – Amostra 77. Teste de adição de ácido clavulânico à cefepima

Page 50: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 41

(6 casos), ceftazidima (4 casos), cefepime (6 casos), aztreonam (9 casos) e

cefuroxima (1 caso) (Tabela 7).

11. No teste confirmatório de adição de ácido clavulânico, as manifestações de

sinergismo repartiram-se do seguinte modo: 2 casos para CXM (12,5%), 13

casos para CTX (81,3%), 14 casos para CAZ (87,5%), 8 casos para FEP (50%)

e 5 casos para ATM (31,3%) (Tabela 9).

12. As 17 estirpes apresentaram resistência a um ou mais antibióticos não β -

lactâmicos.A repartição de resistência a esses antibióticos foi a seguinte: ácido

nalidíxico (88,2%); norfloxacina (70,6%); nitrofurantoína (29,4%); tetraciclina

(29,4%); cloranfenicol (35,3%); trimetoprim (76,5%); netilmicina (17,6%) e

estreptomicina (88,2%) (Tabela 8).

13. A partir das 17 estirpes produtoras de ESBL realizaram-se focagens

isoeléctricas. Obtiveram-se 16 resultados, não tendo sido possível a obtenção da

focagem relativa à amostra 77. Os resultados das focagens isoeléctricas

encontram-se representados na tabela 10.

14. Procedeu-se à conjugação bacteriana. Oito estirpes apresentavam o perfil de

candidatas a bactérias dadoras, tendo a conjugação ocorrido com sucesso em 4

casos.

15. Realizaram-se testes de sensibilidade às estirpes transconjugantes, usando o

mesmo leque de antibióticos aplicados às bactérias dadoras (Tabelas 11 e 12).

16. Produziram-se extractos das bactérias transconjugantes obtidas, seguido de

execução de focagens isoeléctricas dos mesmos. Dos 17 isolados testados foram

obtidos 2 como comprovadamente produtores de ESBL (Tabela 13).

Page 51: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 42

Nºsequen Produto Agente AML AMC CXM FOX CTX CAZ FEP ATM IPM pI Δ CLAV(mm)

26 URINA K.pneumoniae 6 17 18 22 15 10 26 10 34 5.4+7.6 >5 :CTX CAZ

27 URINA E.coli 6 8 6 32 6 18 11 16 34 7.6+>8.0 >5 :CTX CAZ FEP

52 URINA E.coli 6 20 6 23 13 20 21 17 30 5.4+>8.0 >5 :CTX CAZ ATM

72 URINA E.coli 6 11 6 19 6 6 6 6 22 5.4+>8.0 >5 :CTX CAZ

77 PÚS FERID E.coli 6 19 22 20 32 30 30 36 32 =5 :FEP

87 URINA E.coli 6 19 6 20 12 27 22 22 28 >8.0 >5 :CTX FEP ATM

96 URINA E.coli 6 18 6 12 8 21 11 12 30 5.4+>8.0 >5 :CTX CAZ FEP ATM

120 URINA K.oxytoca 7 18 11 16 19 9 25 7 28 5.4+>8.0 >5 :CTX CAZ ATM

134 URINA E.coli 6 20 15 26 19 20 24 23 28 5.4+>8.0 >5 :CTX CAZ

147 URINA E.coli 6 12 6 23 6 8 10 7 25 5.4 >5 :CTX CAZ

156 URINA E.coli 6 6 6 9 6 6 6 6 28 5.4+7.4+>8.0 >5 :CTX CAZ FEP

273 URINA E.coli 6 21 6 25 11 26 14 19 30 >8.0 >5: CTX CAZ

284 URINA K.pneumoniae 6 14 11 18 22 9 19 6 26 5.4 >5: CTX CAZ

287 URINA C.freundii 6 15 12 9 14 10 18 12 22 7.6 >5: CXM CAZ FEP ATM

319 URINA E.coli 6 >>> 10 16 12 13 33 29 >>> >8.0 >5: CXM CTX CAZ FEP

349 URINA E.coli 6 6 6 10 15 12 21 19 23 >8.0 >5: CAZ FEP

437 URINA K.pneumoniae 6 6 18 28 28 11 15 24 25 7.6

Tabela 7 – Testes de susceptibilidade a antibióticos β-lactâmicos dos isolados produtores de ESBL. Δ CLAV – Diferença de halos de inibição no teste de adição de ác. clavulânico

manifestação de sinergismo (aumento do halo de inibição e/ou "ghost zone")

Page 52: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 43

Nºidentif./Nº sequenc. Produto Agente NA NOR F TE C SXT NET S

45000644 26 URINA K.pneumoniae 6 6 9 6 6 6 15 6 44115573 27 URINA E.coli 6 22 27 25 32 30 24 12

16590 52 URINA E.coli 7 6 16 6 6 6 16 6 10705596 72 URINA E.coli 6 6 8 6 19 6 9 9

10205938 77 PÚS FERID E.coli 6 6 18 23 6 6 17 10

44115680 87 URINA E.coli 6 18 18 23 22 27 19 12 10301218 96 URINA E.coli 6 6 17 6 24 6 20 11 10401627 120 URINA K.oxytoca 6 7 9 6 7 10 21 15 44604920 134 URINA E.coli 6 11 16 9 25 6 19 9

16791 147 URINA E.coli 6 6 21 6 26 24 11 6 44214558 156 URINA E.coli 6 6 23 6 24 6 9 9 44403451 273 URINA E.coli 7 21 21 9 22 6 21 9 44905842 284 URINA K.pneumoniae 6 6 6 6 6 6 18 6

17133 287 URINA C.freundii 6 8 19 7 23 6 10 6 44605059 319 URINA E.coli 6 12 19 7 23 7 22 8 44116045 349 URINA E.coli 22 26 11 10 6 6 22 6 10206750 437 URINA K.pneumoniae 27 26 19 6 24 25 16 13

Tabela 8 – Testes de susceptibilidade a antibióticos não β-lactâmicos dos isolados produtores de ESBL

- susceptibilidade a antibióticos não β-lactâmicos

Page 53: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 44

Nº ID NºSEQ.: IDENTIFIC PACIENTE PRODUTO CXM CXM/CLAV CTX CTX/CLAV CAZ CAZ/CLAV FEP FEP/CLAV ATM ATM/CLAV

45000644 26 K.pneum M/77 URINA 15 28 8 22 8 22

44115573 27 E.coli F/81 URINA 9 26 17 28 12 37

16590 52 E.coli F/65 URINA 12 31 21 32 16 34

10705596 72 E.coli F/71 URINA 6 22 6 22

10205938 77 E.coli F/77 Fer.decúbito 28 29 26 28 24 29

44115680 87 E.coli F/84 URINA 12 29 24 35 23 33

10301218 96 E.coli F/51 URINA 8 28 19 27 10 28 14 31

10401627 120 K.oxytoca M/83 URINA 22 32 12 25 27 30 11 29

44604920 134 E.coli F/58 URINA 17 33 20 30

16791 147 E.coli M/74 URINA 6 30 11 28

44214558 156 E.coli F/78 URINA 6 24 6 21 6 23

44403451 273 E.coli F/54 URINA 14 31 24 31

44905842 284 K.pneum M/71 URINA 24 31 9 38

17133 287 C.freundii M/64 URINA 9 20 6 22 7 25 6 20

44605059 319 E.coli F/58 URINA 13 27 16 26 19 30 22 32

44116045 349 E.coli F/69 URINA

10206750 437 K.pneum F/19 URINA Tabela 9 – Teste de adição de Ácido clavulânico - (1mg/ml); CXM – cefuroxima (30 µg); CTX – cefotaxima (30 µg); CAZ – ceftazidima (30 µg); FEP – cefepime (30 µg); ATM – aztreonam (30 µg); CXM/CLAV – cefuroxima /ác. clavulânico (30 µg/10µl); CTX/CLAV – cefotaxima/ác. clavulânico (30 µg/10µl); CAZ/CLAV – ceftazidima/ác. clavulânico (30 µg/10µl) ; FEP/CLAV – (30 µg/10µl); ATM/CLAV – aztreonam (30 µg/10µl).

manifestação de sinergismo

Page 54: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 45

NºSEQ. Nº IDENT ESTIRPE ORIGEM (∆ t seg) NITROC

pI β-lactamase

26 45000644 K.pneum URINA 5 5.4, 7.6 27 44115573 E.coli URINA 5 7.6, >8.0 52 16590 E.coli URINA 3 5.4, >8.0 72 10705596 E.coli URINA 3 5.4, >8.0

77 10205938 E.coli PÚS DE FERIDA

25 --------

87 44115680 E.coli URINA 3 >8.0 96 10301218 E.coli URINA 5 5.4, >8.0

120 10401627 K.oxytoca URINA 7 5.4, >8.0 134 44604920 E.coli URINA 7 5.4, >8.0 147 16791 E.coli URINA 3 5.4 156 44214558 E.coli URINA 5 5.4, 7.6, >8.0 273 44403451 E.coli URINA 4 >8.0 284 44905842 E.coli URINA 10 5.4 287 17133 C.freundii URINA 8 7.6 319 44605059 E.coli URINA 15 >8.0 349 44116045 E.coli URINA 5 >8.0 437 10206750 K.pneum URINA 4 7.6

Tabela 10 – Focagens isoeléctricas das estirpes produtoras de ESBL.

(∆ t seg) NITROC – teste de Nitrocefin; pI – ponto isoeléctrico

Page 55: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 46

ANTIBIÓTICOS β-LACTÂMICOS

AG. MICROBIANO IDENTIFIÇÃO Nº SEQ. AML AMC CXM FOX CTX CAZ FEP ATM IPM

E.coli 10705596 72 6 11 6 19 6 6 6 6 22 TRANSCONJUGANTE T72 6 12 6 30 12 22 26 19 >>>

E.coli 10301218 96 6 18 6 12 8 21 11 12 30 TRANSCONJUGANTE T96 6 11 6 26 15 30 17 21 30

E.coli 44604920 134 6 20 15 26 19 20 24 23 28 TRANSCONJUGANTE T134 6 11 13 30 19 20 22 24 32

E.coli 44403451 273 6 21 6 25 11 26 14 19 30

TRANSCONJUGANTE T273 6 11 6 30 19 36 14 29 34 Tabela 11 – Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos. AML – amoxicilina (30 µg); AMC – amoxicilina/ ác. Clavulânico (30 µg/10 µg);

CXM – cefuroxima (30 µg); FOX – cefoxitina (30 µg); CTX – cefotaxima (30 µg); CAZ – ceftazidima (30 µg); FEP – cefepime (30 µg); ATM – aztreonam (30 µg); IPM – imipenem (10 µg);

esboço de sinergismo

Page 56: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 47

ANTIBIÓTICOS NÃO β-LACTÂMICOS

AG. MICROBIANO IDENTIFIÇÃO Nº SEQ. NA NOR F TE C SXT NET S

E.coli 10705596 72 6 6 8 6 19 6 9 9 TRANSCONJUGANTE T72 28 34 36 28 26 32 30 6

E.coli 10301218 96 6 6 17 6 24 6 20 11 TRANSCONJUGANTE T96 26 36 34 26 26 6 27 6

E.coli 44604920 134 6 11 16 9 25 6 19 9 TRANSCONJUGANTE T134 26 33 32 25 27 21 26 6

E.coli 44403451 273 7 21 21 9 22 6 21 9 TRANSCONJUGANTE T273 30 40 40 34 30 6 33 6

Tabela 12 - Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos não β -lactâmicos. NA - ácido nalidíxico (30 µg); NOR – norfloxacina (30 µg); F – nitrofurantoina (30 µg); TE – tetraciclina (30 µg); C – cloranfenicol (30 µg); SXT – trimetoprim-sulfametoxazol (1,25 µg/ 23,75 µg); NET – netilmicina (30 µg); S – estreptomicina (30 µg);

Page 57: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 48

ESTIRPE IDENTIFICAÇÃO Nº SEQ.

pI:

E.coli 10705596 72

5,4 7,6 >8,0 TRANSCONJ T72 T72

xxx xxx xxx

E.coli 10301218 96

5,4

>8,0 TRANSCONJ T96 T96

5,4 >8,0

E.coli 44604920 134

5,4

>8,0 TRANSCONJ T134 T134

5,4 >8,0

E.coli 44403451 273

>8,0

TRANSCONJ T273 T273

xxx xxx xxx

Tabela 13 – Focagens isoeléctricas das transconjugantes e respectivas bactérias dadoras.

Page 58: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 49

9 - DISCUSSÃO

1. A maioria das infecções provocadas por Enterobacteriaceae produtoras de

ESBL ocorreu em pacientes do sexo feminino (12 casos correspondendo a

70,6%) e em pacientes com idade superior a 50 anos (16 casos correspondendo

a 94,1%).

2. De entre as Enterobacteriaceae produtoras de ESBL, 12(70,6%) eram E.coli,

3(17,6%) K.pneumoniae , 1(5,9%) K.oxytoca e 1(5,9%) C.freundii. De onde se

conclui que a detecção de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL não deve

ficar limitada às estirpes de E.coli e K.pneumoniae.

3. As amostras de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL eram todas amostras

urinárias com a excepção da amostra nº77 (10205938) a qual se tratava de um

pús de ferida de decúbito. Embora não tenha sido possível a realização de

focagem isoeléctrica do seu isolado, em tempo útil, este foi positivo pelo teste

de “screening” e confirmado pelo teste de adição de ácido clavulânico. Assim

sendo, a estirpe em causa tem alta probabilidade de se tratar de uma E. coli

produtora de ESBL. Tal facto, alerta para a possibilidade de ocorrência de

estirpes de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL em isolados comunitários

não urinários.

4. O uso de várias cefalosporinas de espectro alargado no teste de adição de ácido

clavulânico permite uma maior sensibilidade na detecção de estirpes produtoras

de ESBL complementando assim o teste de despiste. O uso de cefepime

constituiu uma mais-valia na avaliação de certas estirpes (Foto 2)

Page 59: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 50

Foto 2 – Amostras 27 e 156 - Teste de adição de ácido clavulânico.

CTX-Cefotaxima; CTX/CLAV – Cefotaxima /Ácido Clavulânico; FEP – Cefpime; FEP/CLAV – Cefpime/ácido clavulâmico; CAZ – Ceftazidima; CAZ/CLAV- Ceftazidima/Ácido Clavulâmico

Page 60: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 51

5. O imipenemo foi o único antibiótico que apresentou actividade contra as 17

estirpes produtoras de ESBL, (100%), mas dado não se tratar de um antibiótico

do ambulatório, a sua administração obriga a internamento hospitalar.

6. Para além do imipenemo, houve antibióticos não β-lactâmicos que apresentaram

actividade contra algumas destas 17 estirpes produtoras de ESBL: netilmicina,

14 casos (82.3%); nitrofurantoína, 12 casos (70.6%); cloranfenicol, 11casos

(64.7%); norfloxacina, 5 casos (29.4%); trimetoprim, 4 casos (23.5%);

tetraciclina, 3 casos (17.6%) e estreptomicina, 2 casos (11.8%).

Gráfico 2 – Eficácia dos antibióticos não β-lactâmicos testados nas estirpes produtoras de ESBL. NA - ácido nalidíxico (30 µg); NOR – norfloxacina (30 µg); F – nitrofurantoina (30 µg); TE – tetraciclina (30 µg); C – cloranfenicol (30 µg); SXT – trimetoprim-sulfametoxazol (1,25 µg/ 23,75 µg); NET – netilmicina (30 µg);

S – estreptomicina (30 µg);

7. As 17 estirpes produtoras de ESBL, apresentaram perfis de co-resistência a um

ou mais antibióticos não β -lactâmicos. Muito possivelmente, durante os

fenómenos de conjugação bacteriana poderá também haver transferência de

genes codificadores de ESBL bem como de genes codificadores de outras

resistências.

8. O cruzamento de informações obtidas pelos métodos manuais aqui realizados e

as fornecidas pelo sistema automático Vitek®(bioMérieux) revela grande

sobreposição no que diz respeito à detecção de estirpes produtoras de ESBLs.

No entanto, a amostra 349, reportada pelo Vitek® como uma estirpe de E.coli

não produtora de ESBLs foi considerada positiva pelo teste de despiste e

confirmada pelo teste de adição de ácido clavulânico (ΔCLAV>5mm para os

antibióticos CAZ e FEP). Este exemplo realça a possibilidade dos sistemas

Page 61: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 52

automatizados reportarem resultados falsamente negativos (Donaldson et

al.,2008) ,(Farber et al.,2008), (Wiegand et al.,2007).

9. A estirpe 287 (C.freundii) apresentou comportamentos fenotípicos sobreponíveis

nos dois testes de sensibilidade realizados em meio de Mueller-Hinton com e

sem adição de cloxacilina (500µg/ml). É conhecido o facto das β -lactamases do

tipo AmpC, quando presentes conjuntamente com as β-lactamases do tipo

ESBL poderem mascarar o fenótipo destas últimas, sendo todavia inibidas pela

cloxacilina.

10. Pelo processo de conjugação obtiveram-se 2 casos de transconjugantes com

resistência ao SXT (T96 e T273). Durante o processo de conjugação houve

transferência de genes codificadores da resistência ao SXT.

11. A amostra 156 é uma estirpe multirresistente. Apresenta unicamente

susceptibilidade ao Imipenem ( IPM), à Nitrofurantoina (F) e ao Cloranfenicol

(C) .A focagem isoeléctrica revela a presença de 3 bandas com pI´s: 5.4, 7.4, e

>8.0. Este fenótipo é muito sugestivo do fenótipo apresentado por um clone

existente em Portugal e restante Europa. Trata-se de um clone de E. coli

produtor das β-lactamases TEM-1 (pI:5,4), OXA-1(pI:7,4) e CTX-M-

15(pI:8,6), e possuidor do gene aac6’Ibcr

12. Neste estudo, a prevalência de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL foi de

4%. Este valor é superior aos encontrados em estudos efectuados em países do

Norte da Europa mas definitivamente inferior aos referidos para a América

Latina (Villegas et al., 2008).

que condiciona redução de

susceptibilidade às fluorquinolonas (Machado et al., 2006).

Page 62: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 53

10- CONCLUSÃO

A presença de Enterobacteriaceae produtoras de β-lactamases de espectro alargado em

amostras clínicas da comunidade, é uma realidade da zona urbana do grande Porto que

deve ser tida em conta pelos laboratórios de análises clínicas públicos e privados desta

zona do país.

É urgente a racionalização do uso de antibióticos β-lactâmicos.

É fundamental investir-se em estudos de detecção e vigilância de Enterobacteriaceae

produtoras de ESBL.

É essencial que os laboratórios de análises clínicas incluam métodos de detecção de

Enterobacteriaceae produtoras de ESBL, na sua rotina.

Este contributo ajudará em muito os clínicos na escolha do tratamento a instaurar,

reduzindo-se assim a ocorrência de falhas terapêuticas por falta de informação

Page 63: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 54

11 – BIBLIOGRAFIA

Arpin C, Coulange L, Dubois V, Andre C, Fischer I, Fourmaux S, et al. “Extended-spectrum-beta-lactamase-producing Enterobacteriaceae strains in various types of private health care centers.” Antimicrob Agents Chemother. 2007;51(9):3440-4.

Baraniak A, Fiett J, Sulikowska A, Hryniewicz W, Gniadkowski M. “Countrywide spread of CTX-M-3 extended-spectrum beta-lactamase-producing microorganisms of the family Enterobacteriaceae in Poland.” Antimicrob Agents Chemother. 2002;46(1):151-9.

Bertrand S, Weill FX, Cloeckaert A, Vrints M, Mairiaux E, Praud K, et al. “Clonal emergence of extended-spectrum beta-lactamase (CTX-M-2)-producing Salmonella enterica serovar Virchow isolates with reduced susceptibilities to ciprofloxacin among poultry and humans in Belgium and France (2000 to 2003).” J Clin Microbiol. 2006;44(8):2897-903.

Bisson, G., N. O. Fishman, et al. (2002). "Extended-spectrum beta-lactamase-producing Escherichia coli and Klebsiella species: risk factors for colonization and impact of antimicrobial formulary interventions on colonization prevalence." Infect Control Hosp Epidemiol 23(5): 254-60.

Bradford, P. A. (2001). "Extended-spectrum beta-lactamases in the 21st century: characterization, epidemiology, and detection of this important resistance threat." Clin Microbiol Rev 14(4): 933-51, table of contents.

Bradford, P. A. (2001). "What's New in beta-lactamases?" Curr Infect Dis Rep 3(1): 13-19.

Bradford, P. A., C. Urban, et al. (1995). "SHV-7, a novel cefotaxime-hydrolyzing beta-lactamase, identified in Escherichia coli isolates from hospitalized nursing home patients." Antimicrob Agents Chemother 39(4): 899-905.

Bush, K., G. A. Jacoby, et al. (1995). "A functional classification scheme for beta-lactamases and its correlation with molecular structure." Antimicrob Agents Chemother 39(6): 1211-33.

Cagnacci, S., L. Gualco, et al. (2008). "Bloodstream infections caused by multidrug-resistant Klebsiella pneumoniae producing the carbapenem-hydrolysing VIM-1 metallo-beta-lactamase: first Italian outbreak." J Antimicrob Chemother 61(2): 296-300.

Cambau, E., C. Lascols, et al. (2006). "Occurrence of qnrA-positive clinical isolates in French teaching hospitals during 2002-2005." Clinical Microbiology and Infection 12(10): 1013-1020.

Canton, R., M. I. Morosini, et al. (2008). "IRT and CMT beta-lactamases and inhibitor resistance." Clin Microbiol Infect

Cattoir, V., L. Poirel, et al. (2007). "Multiplex PCR for detection of plasmid-mediated quinolone resistance qnr genes in ESBL-producing enterobacterial isolates."

14 Suppl 1: 53-62.

J Antimicrob Chemother 60(2): 394-7.

Page 64: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 55

CLSI (2007). “Performance standards for antimicrobial susceptibility testing: seventeeth informational supplement”. CLSI document M-100-S16.

Cloeckaert A, Praud K, Doublet B, Bertini A, Carattoli A, Butaye P, et al. “Dissemination of an extended-spectrum-β-lactamase blaTEM-52 gene-carrying IncI1 plasmid in various Salmonella enterica serovars isolated from poultry and humans in Belgium and France.” Antimicrob. Agents Chemother. 2007;51(5):1872-5.

Conceição, T., A. Brizio, et al. (2005). "First description of CTX-M-15-producing Klebsiella pneumoniae in Portugal." Antimicrob Agents Chemother 49(1): 477-8.

Coque TM, Novais A, Carattoli A, Poirel L, Pitout J, Peixe L, et al. “Dissemination of clonally related Escherichia coli strains expressing extended-spectrum beta-lactamase CTX-M-15.” Emerg Infect Dis. 2008;14(2):195-200.

Coque, T. M., F. Baquero, et al. (2008). "Increasing prevalence of ESBL-producing Enterobacteriaceae in Europe." Euro Surveill 13(47).

Costa D, Poeta P, Saenz Y, Vinue L, Rojo-Bezares B, Jouini A, et al. “Detection of Escherichia coli harbouring extended-spectrum beta-lactamases of the CTX-M, TEM and SHV classes in faecal samples of wild animals in Portugal. “ J. Antimicrob. Chemother. 2006;58(6):1311-2.

Dalmarco, E. M., S. L. Blatt, et al. (2006). "Identificação Laboratorial de β-Lactamases de Espectro Estendido (ESBLs) - Revisão." Revista Brasileira de Análises Clínicas 38(3).

Damjanova I, Toth A, Paszti J, Jakab M, Milch H, Bauernfeind A, et al. “Epidemiology of SHV-type β-lactamase-producing Klebsiella spp. from outbreaks in five geographically distant Hungarian neonatal intensive care units: widespread dissemination of epidemic R-

plasmids.” Int J Antimicrob Agents. 2007;29(6):665–71

Datta, N. and P. Kontomichalou (1965). "Penicillinase synthesis controlled by infectious R factors in Enterobacteriaceae." Nature 208(5007): 239-41.

Diestra K, Juan C, Curiao T, Moya B, Miro E, Oteo J, et al. “Characterisation of plasmids encoding blaESBL and surrounding genes in Spanish clinical isolates of Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae. “ J Antimicrob Chemother. 2008 Nov 6. [Epub ahead of print].

Donaldson, H., M. McCalmont, et al. (2008). "Evaluation of the VITEK(R)2 AST N-054 test card for the detection of extended-spectrum {beta}-lactamase production in Escherichia coli with CTX-M phenotypes." J Antimicrob Chemother.

Eckert, C., V. Gautier, et al. (2004). "Dissemination of CTX-M-type beta-lactamases among clinical isolates of Enterobacteriaceae in Paris, France." Antimicrob Agents Chemother 48(4): 1249-55.

Einhorn, A. E., M. M. Neuhauser, et al. (2002). "Extended-spectrum beta-lactamases: frequency, risk factors, and outcomes." Pharmacotherapy 22(1): 14-20.

Page 65: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 56

Empel J, Baraniak A, Literacka E, Mrowka A, Fiett J, Sadowy E, et al. “Molecular survey of beta-lactamases conferring resistance to newer beta-lactams in Enterobacteriaceae isolates from Polish hospitals.” Antimicrob Agents Chemother 2008;52(7):2449-54.

Farber, J., K. A. Moder, et al. (2008). "Extended-spectrum Beta-lactamase detection with different panels for automated susceptibility testing and with a chromogenic medium." J Clin Microbiol 46(11): 3721-7.

Farkosh, M. S. (2008). "Extended-Spectrum beta-lactamase Producing Gram Negative Bacilli." from http://www.hopkinsmedicine.org/heic/ID/esbl#Top.

Fonze, E., P. Charlier, et al. (1995). "TEM1 beta-lactamase structure solved by molecular replacement and refined structure of the S235A mutant." Acta Crystallogr D Biol Crystallogr 51(Pt 5): 682-94.

Galas M, Decousser JW, Breton N, Godard T, Allouch PY, Pina P; et al. “Nationwide study of the prevalence, characteristics, and molecular epidemiology of extended-spectrum-beta-lactamase-producing Enterobacteriaceae in France.” Antimicrob Agents Chemother. 2008;52(2):786-9.

Giske, C. G., A. S. Sundsfjord, et al. (2009). JAC Advance Access originally published online on October 28, 2008, "Redefining extended-spectrum beta-lactamases: balancing science and clinical need." J Antimicrob Chemother 63(1): 1-4.

Gonullu N, Aktas Z, Kayacan CB, Salcioglu M, Carattoli A, Yong DE, et al. “Dissemination of CTX-M-15 beta-lactamase genes carried on Inc FI and FII plasmids among clinical isolates of Escherichia coli in a university hospital in Istanbul, Turkey.” J Clin Microbiol. 2008;46(3):1110-2Gupta, V. (2007). "An update on newer beta-lactamases." Indian J Med Res 126(5): 417-27.

Iabadene, H., Y. Messai, et al. (2008). "Dissemination of ESBL and Qnr determinants in Enterobacter cloacae in Algeria." J Antimicrob Chemother 62(1): 133-6.

Kader, A. A., A. Kumar, et al. (2007). "Fecal carriage of extended-spectrum beta-lactamase-producing Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae in patients and asymptomatic healthy individuals." Infect Control Hosp Epidemiol 28(9): 1114-6.

Junior, M. A. d. S., E. d. S. Ferreira, et al. (2004). "Betalactamases de Espectro Ampliado (ESBL):um Importante Mecanismo de Resistência Bacteriana e sua Detecção no Laboratório Clínico." Newlab 63.

Kim, Y. K., H. Pai, et al. (2002). "Bloodstream infections by extended-spectrum beta-lactamase-producing Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae in children: epidemiology and clinical outcome." Antimicrob Agents Chemother 46(5): 1481-91.

Kingsley, J. and S. Verghese (2008). "Sequence analysis of bla CTX-M-28 , an ESBL responsible for third-generation cephalosporin resistance in Enterobacteriaceae, for the first time in India." Indian J Pathol Microbiol 51(2): 218-21.

Page 66: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 57

Lau SH, Kaufmann ME, Livermore DM, Woodford N, Willshaw GA, Cheasty T, et al. “UK epidemic Escherichia coli strains A-E, with CTX-M-15 {beta}-lactamase, all belong to the international O25:H4-ST131 clone.” J Antimicrob Chemother. 2008;62(6):1241-4.

Livermore, D. M. (1995). "beta-Lactamases in laboratory and clinical resistance." Clin Microbiol Rev 8(4): 557-84.

Livermore, D. M. and D. F. J. Brown (2001). "Detection of {beta}-lactamase-mediated resistance." J. Antimicrob. Chemother. 48(suppl_1): 59-64.

Livermore DM, Canton R, Gniadkowski M, Nordmann P, Rossolini GM, Arlet G, et al. “CTX-M: changing the face of ESBLs in Europe.” J Antimicrob Chemother. 2007;59(2):165-17.

Livermore, D. M., R. Hope, et al. (2008). "Non-susceptibility trends among Enterobacteriaceae from bacteraemias in the UK and Ireland, 2001-06." J Antimicrob Chemother 62 Suppl 2: ii41-54.

Lucet, J. C., S. Chevret, et al. (1996). "Outbreak of multiply resistant Enterobacteriaceae in an intensive care unit: epidemiology and risk factors for acquisition." Clin Infect Dis 22(3): 430-6.

Machado, E., T. M. Coque, et al. (2006). "Dissemination in Portugal of CTX-M-15-, OXA-1-, and TEM-1-producing Enterobacteriaceae strains containing the aac(6')-Ib-cr gene, which encodes an aminoglycoside- and fluoroquinolone-modifying enzyme." Antimicrob Agents Chemother 50(9): 3220-1.

Machado, E., T. M. Coque, et al. (2007). "High diversity of extended-spectrum beta-lactamases among clinical isolates of Enterobacteriaceae from Portugal." J Antimicrob Chemother 60(6): 1370-4.

Machado E, Coque TM, Canton R, Sousa JC, Peixe L. “Antibiotic resistance integrons and extended-spectrum {beta}-lactamases among Enterobacteriaceae isolates recovered from chickens and swine in Portugal.” J Antimicrob Chemother. 2008;62(2):296-302.

Maiti, S. N., R. P. K. Babu, et al. (2006). “Overcoming Bacterial Resistance: Role of β-Lactamase Inhibitors” Topics in Heterocyclic Chemistry, Springer Berlin / Heidelberg. 2: 207-246.

Markovska R, Schneider I, Keuleyan E, Sredkova M, Ivanova D, Markova B, et al. “Extended-spectrum beta-lactamase-producing Enterobacteriaceae in Bulgarian hospitals.” Microb Drug Resist. 2008;14(2):119-28.

Medeiros, A. A. (1997). "Evolution and dissemination of beta-lactamases accelerated by generations of beta-lactam antibiotics." Clin Infect Dis 24 Suppl 1: S19-45.

Menashe, G., A. Borer, et al. (2001). "Clinical significance and impact on mortality of extended-spectrum beta lactamase-producing Enterobacteriaceae isolates in nosocomial bacteremia." Scand J Infect Dis 33(3): 188-93.

Page 67: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 58

Mendonca, N., J. Leitao, et al. (2007). "Spread of extended-spectrum beta-lactamase CTX-M-producing Escherichia coli clinical isolates in community and nosocomial environments in Portugal." Antimicrob Agents Chemother 51(6): 1946-55.

Mugnaioli, C., F. Luzzaro, et al. (2006). "CTX-M-type extended-spectrum beta-lactamases in Italy: molecular epidemiology of an emerging countrywide problem." Antimicrob Agents Chemother 50(8): 2700-6.

Nicolas-Chanoine MH, Blanco J, Leflon-Guibout V, Demarty R, Alonso MP, Canica MM, et al. “Intercontinental emergence of Escherichia coli clone O25:H4-ST131 producing CTX-M-15.” J Antimicrob Chemother. 2008;61(2):273-81.

Novais A, Canton R, Moreira R, Peixe L, Baquero F, Coque TM. “Emergence and dissemination of Enterobacteriaceae isolates producing CTX-M-1-like enzymes in Spain are associated with IncFII (CTX-M-15) and broad-host-range (CTX-M-1, -3, and -32) plasmids.” Antimicrob Agents Chemother. 2007;51(2):796-9.

Novais A, Canton R, Machado E, Curiao T, Baquero F, Peixe L, Coque TM. International dissemination of a multi-resistant IncA/C2 plasmid containing blaTEM-24, Tn21 and Tn1696 among epidemic and non-epidemic Enterobacteriaceae species. 18th European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID) Barcelona, April 2008. Abstract:http://registration.akm.ch/einsicht.php?XNABSTRACT_ID=62501&XNSPRACHE_ID=2&XNKONGRESS_ID=73&XNMASKEN_ID=900

Novais, A., R. Cantón, et al. (2008). International dissemination of a multi-resistant IncA/C2 plasmid containing blaTEM-24, Tn21 and Tn1696 among epidemic and non-epidemic Enterobacteriaceae species. 18th European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID) Barcelona, April 2008.

Nyberg SD, Osterblad M, Hakanen AJ, Huovinen P, Jalava J, The Finnish Study Group For Antimicrobial Resistance. “Detection and molecular genetics of extended-spectrum beta-lactamases among cefuroxime-resistant Escherichia coli and Klebsiella spp. isolates from Finland, 2002-2004.” Scand J Infect Dis. 2007;39(5):417-24.

Oteo J, Garduno E, Bautista V, Cuevas O, Campos J; Spanish members of European Antimicrobial Resistance Surveillance System. “Antibiotic-resistant Klebsiella pneumoniae in Spain: analyses of 718 invasive isolates from 35 hospitals and report of one outbreak caused by an SHV-12-producing strain.” J Antimicrob Chemother. 2008;61(1):222-4.

Pedrosa A, Novais A, Machado E, Canton R, Peixe L, Coque TM. “Recent dissemination of blaTEM-52 producing Enterobacteriaceae in Portugal is caused by spread of IncI plasmids among Escherichia coli and Klebsiella clones.” XVIII European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID) Barcelona

Pitout, J. D. and K. B. Laupland (2008). "Extended-spectrum beta-lactamase-producing Enterobacteriaceae: an emerging public-health concern."

, April 2008. Abstract available from:http://registration.akm.ch/einsicht.php?XNABSTRACT_ID=66706&XNSPRACHE_ID=2&XNKONGRESS_ID=73&XNMASKEN_ID=900

Lancet Infect Dis 8(3): 159-66.

Page 68: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 59

Pournaras, S., A. Ikonomidis, et al. (2004). "CTX-M enzymes are the most common extended-spectrum beta-lactamases among Escherichia coli in a tertiary Greek hospital." J Antimicrob Chemother 54(2): 574-5.

Pournaras, S., A. Ikonomidis, et al. (2004). "CTX-M-type beta-lactamases affect community Escherichia coli treatment, Greece." Emerg Infect Dis 10(6): 1163-4.

Psichogiou, M., P. T. Tassios, et al. (2008). "Ongoing epidemic of blaVIM-1-positive Klebsiella pneumoniae in Athens, Greece: a prospective survey." J Antimicrob Chemother 61(1): 59-63.

Rasmussen, B. A., P. A. Bradford, et al. (1993). "Genetically diverse ceftazidime-resistant isolates from a single center: biochemical and genetic characterization of TEM-10 beta-lactamases encoded by different nucleotide sequences." Antimicrob Agents Chemother 37(9): 1989-92.

Rossolini, G. M., M. M. D'Andrea, et al. (2008). "The spread of CTX-M-type extended-spectrum beta-lactamases." Clin Microbiol Infect 14 Suppl 1: 33-41.

Sanders, W. E., Jr. and C. C. Sanders (1997). "Enterobacter spp.: pathogens poised to flourish at the turn of the century." Clin Microbiol Rev 10(2): 220-41.

Sousa, J. C. (2001). Antibióticos bacterianos, ANF - Associação Nacional de Farmácias.

Sousa, J. C. and L. Prista (1988). Antibióticos Inibidores da Biossíntese do Peptidoglicano, Ordem dos Farmacêuticos.

Taneja, N., P. Rao, et al. (2008). "Occurrence of ESBL & Amp-C beta-lactamases & susceptibility to newer antimicrobial agents in complicated UTI." Indian J Med Res 127(1): 85-8.

Tato, M., T. M. Coque, et al. (2007). "Complex clonal and plasmid epidemiology in the first outbreak of Enterobacteriaceae infection involving VIM-1 metallo-beta-lactamase in Spain: toward endemicity?" Clin Infect Dis 45(9): 1171-8.

Tsakris, A., I. Kristo, et al. (2008). "First occurrence of KPC-2-possessing Klebsiella pneumoniae in a Greek hospital and recommendation for detection with boronic acid disc tests." J Antimicrob Chemother 62(6): 1257-60.

Uzunovic-Kamberovic S, Bedenic B, Vranes J. “Predominance of SHV-5 betalactamase in enteric bacteria causing community-acquired urinary tract infections in Bosnia and Herzegovina.” Clin Microbiol Infect. 2007;13(8):820-3.

Valverde A, Grill F, Coque TM, Pintado V, Baquero F, Canton R, et al. “High rate of intestinal colonization with extended-spectrum-beta-lactamase-producing organisms in household contacts of infected community patients.” J Clin Microbiol. 2008;46(8):2796-9.

Villegas, M. V., J. N. Kattan, et al. (2008). "Prevalence of extended-spectrum beta-lactamases in South America." Clin Microbiol Infect 14 Suppl 1: 154-8.

Page 69: ISOLADOS CLÍNICOS DE ENTEROBATERIACEAE, … · Tabela 11 Perfis de sensibilidade das bactérias transconjugantes a antibióticos β-lactâmicos 46 Tabela ... 1.1 - Resumo

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO DE ANÁLISES CLÍNICAS 60

Walther-Rasmussen, J. and N. Hoiby (2004). "Cefotaximases (CTX-M-ases), an expanding family of extended-spectrum beta-lactamases." Can J Microbiol 50(3): 137-65.

Wiegand, I., H. K. Geiss, et al. (2007). "Detection of extended-spectrum beta-lactamases among Enterobacteriaceae by use of semiautomated microbiology systems and manual detection procedures." J Clin Microbiol 45(4): 1167-74.

Yumuk Z, Afacan G, Nicolas-Chanoine MH, Sotto A, Lavigne JP. “Turkey: a further country concerned by community-acquired Escherichia coli clone O25-ST131 producing CTX-M-15.” J Antimicrob Chemother. 2008;62(2):284-8.