IMPACTO DOS CUSTOS ECONÔMICOS DIRETOS MÉDICOS DE DOENÇAS TABACO-RELACIONADAS SOBRE O GASTO FEDERAL ANUAL EM SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

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O objetivo deste trabalho foi estimar o impacto econômico dos custos diretos médicos de doenças tabaco-relacionadas sobre o gasto federal anual em saúde pública no Brasil, efetuado no âmbito do SUS.

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  • FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DEPARTAMENTO DE CINCIAS ECONMICAS,

    ADMINISTRATIVAS E CONTBEIS DCEAC CURSO DE CINCIAS ECONMICAS

    IMPACTO DOS CUSTOS ECONMICOS DIRETOS MDICOS DE DOENAS TABACO-RELACIONADAS SOBRE O GASTO FEDERAL ANUAL EM SADE

    PBLICA NO BRASIL (VERSO FINAL)

    Leandro Pinheiro Vieira

    RIO GRANDE NOVEMBRO/2005

  • LEANDRO PINHEIRO VIEIRA

    IMPACTO DOS CUSTOS ECONMICOS DIRETOS MDICOS DE DOENAS TABACO-RELACIONADAS SOBRE O GASTO FEDERAL ANUAL EM SADE

    PBLICA NO BRASIL

    Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do grau de bacharel em Cincias Econmicas, pela Fundao Universidade Federal do Rio Grande.

    Orientador: Prof. Dr. Cassius Rocha de Oliveira.

    RIO GRANDE NOVEMBRO/2005

  • RESUMO

    O tabagismo constitui um dos mais (se no o mais) graves problemas de sade pblica da atualidade, que transcende apenas a questes sanitrias, uma vez que causa efeitos econmicos relevantes sobre as economias, os quais possuem carter ambguo. Por um lado, traz benefcios econmicos decorrentes da produo, industrializao e comercializao de tabaco (principalmente para os pases grandes produtores); E, por outro, causa uma srie de malefcios decorrentes do consumo desse produto que geram considerveis custos econmicos e ambientais s diversas economias nacionais, inclusive ao Brasil, os quais somente em termos de gastos em sade pblica j so significativos. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi estimar o impacto econmico dos custos diretos mdicos de doenas tabaco-relacionadas sobre o gasto federal anual em sade pblica no Brasil, efetuado no mbito do SUS. Utilizou-se um mtodo quantitativo de modelagem econmica, recorrendo-se, simultaneamente, com adaptaes, a um mtodo que faz parte da Metodologia dos Custos Econmicos da Doena (CdD) ou Costs of Illness. O custo direto mdico dessas doenas, apenas em termos de gastos com internaes, no ano de 2004, foi estimado, de forma conservadora (subestimada), em R$ 327.665.725,20, relativo cerca de 576.471 casos de internamento, o que representou cerca de 1,2% da despesa total em sade pblica efetuada pelo Governo Federal e a 0,6% dos gastos totais em sade pblica no pas, em 2003, e, indo-se mais alm, representou algo em torno de 0,02% do Produto Interno Bruto (PIB) do pas, em 2004. Concluindo-se, portanto, que, alm de serem uma causa importante de internao hospitalar no pas, tais enfermidades so tambm responsveis por um gasto considervel por parte do Governo Federal, e, assim, especulando-se que grandes volumes de recursos poderiam ser economizados, tornando possvel aferi-los a outros fins, caso se pudesse reduzir a prevalncia desse comportamento de risco no pas; E que, baseado nas evidncias disponveis, existe grande chance de que, efetivamente, os custos totais do tabagismo possam se igualar ou, at mesmo, superarem os benefcios econmicos gerados por ele s economias, inclusive no caso do Brasil. Palavras-chave: Custos Econmicos da Doena; Custos Diretos Mdicos; Tabaco-relacionadas; Tabagismo; Prevalncia; Brasil.

  • SUMRIO

    Pgina LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... vii

    LISTA DE QUADROS......................................................................................................... viii

    LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... ix

    LISTA DE GRFICOS......................................................................................................... x

    RESUMO.............................................................................................................................. xii

    1 INTRODUO.................................................................................................................. 1

    2 ASPECTOS GERAIS DO TABAGISMO......................................................................... 6

    2.1 Aspectos histricos....................................................................................................... 6

    2.1.1 Histria do tabaco/tabagismo no mundo.............................................................. 6

    2.1.2 Histria do tabaco/tabagismo no Brasil................................................................ 10

    2.2 Epidemiologia.............................................................................................................. 11

    2.2.1 Consumo de tabaco.............................................................................................. 11

    2.2.2 Prevalncia do tabagismo..................................................................................... 15

    2.3 Doenas tabaco-relacionadas......................................................................................... 19

    2.3.1 Substncias qumicas do cigarro........................................................................... 20

    2.3.2 Substncias qumicas da fumaa do cigarro.......................................................... 22

    2.3.3 Doenas associadas ao tabagismo.......................................................................... 25

  • 2.3.4 Morbidade e mortalidade atribudas ao tabagismo................................................. 30

    2.4 Aspecto Ambientais do tabaco....................................................................................... 33

    3 ASPECTOS ECONMICOS DO TABAGISMO.............................................................. 37

    3.1 Cenrio econmico do tabaco/tabagismo....................................................................... 37

    3.2 Benefcios econmicos do tabaco/tabagismo................................................................. 41

    3.3 Custos econmicos do tabagismo................................................................................... 49

    4 ECONOMIA DA SADE: UMA ABORDAGEM SOBRE OS CUSTOS ECONMICOS DA DOENA.............................................................................................

    53

    4.1 Custos econmicos da doena........................................................................................ 54 4.1.4 Referencial terico................................................................................................. 54 4.1.2 Aspectos metodolgicos........................................................................................ 60 4.1.3 Evidncia emprica................................................................................................ 64 5 MTODO............................................................................................................................ 69

    5.1 Abordagem..................................................................................................................... 70

    5.2 Fonte e natureza dos dados............................................................................................. 70

    5.2.1 Dados de gastos hospitalares.................................................................................. 71

    5.2.1.1 Limitaes................................................................................................... 73

    5.2.2 Dados sobre percentuais de risco atribuvel populao (RAP)............................ 76

    5.3 Clculo das estimativas.................................................................................................. 76

    5.4 Resultados estilizados..................................................................................................... 82

    6 CONSIDERAES FINAIS.............................................................................................. 91

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................................ 97

  • LISTA DE TABELAS

    Pgina TABELA 1 - CONSUMO DE RVORES NA FUMICULTURA (REGIO SUL) - SAFRAS 1990/91-1997/98.....................................................................................................

    35

    TABELA 2 - MAIORES PRODUTORES MUNDIAIS DE FUMO 2003.........................

    38

    TABELA 3 - PRINCIPAIS EXPORTADORES DE FUMO (VOLUME) (t) 1994-1998..

    40

    TABELA 4 - PRINCIPAIS IMPORTADORES DE FUMO (VOLUME) (t) - 1994-1998...

    41

    TABELA 5 - CIGARROS E OS IMPOSTOS (BRASIL) 2003..........................................

    46

    TABELA 6 - CIGARROS E AS MARGENS DE RECEITAS (BRASIL) - 2003................

    46

    TABELA 7 - DISTRIBUIO DA RENDA BRUTA (BRASIL) 2003............................

    47

    TABELA 8 - FATURAMENTO TOTAL DO SETOR FUMAGEIRO (BRASIL) 2003...

    47

    TABELA 9 - EMPREGOS NO SETOR FUMAGEIRO (BRASIL) - 2003-2004.................

    48

    TABELA 10 - INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS- 2004.......................................................................................................

    83

    TABELA 11 - CUSTOS DE INTERNAES COM DOENAS TABACO-RELACIONADAS - 2004......................................................................................................

    85

    TABELA 12 - NMERO E CUSTOS DE INTERNAES POR TODAS AS CAUSAS POR CATEGORIA DE PROBLEMAS DE SADE 2004................................................

    86

  • LISTA DE QUADROS

    Pgina QUADRO 1 - COMPARAO ENTRE DEPENDNCIA DE NICOTINA E DE OUTRAS DROGAS...............................................................................................................

    26

    QUADRO 2 - TIPOLOGIA DE CUSTOS EM AVALIAO ECONMICA....................

    60

    QUADRO 3 - DOENAS TABACO-RELACIONADAS CONSIDERADAS NO CLCULO E SEUS RESPECTIVOS PERCENTUAIS DE CASOS ATRIBUVEIS AO TABAGISMO ATIVO...........................................................................................................

    78

    QUADRO 4 - DOENAS TABACO-RELACIONADAS CONSIDERADAS NO CLCULO DE FORMA AGREGADA................................................................................

    80

  • LISTA DE FIGURAS

    Pgina FIGURA 1 - CONSUMO DE CIGARROS NO MUNDO - 1970-1992................................

    12

    FIGURA 2 - CONSUMO AGREGADO DE CIGARROS BRASIL - 1980-1996................

    13

    FIGURA 3 - NDICE DE CONSUMO DOS CIGARROS BRASILEIROS - 1983-1994....

    14

    FIGURA 4 - CONSUMO PER CAPITA DE CIGARROS NA POPULAO ACIMA DE 15 ANOS, BRASIL - 1980-2001.....................................................................................

    15

    FIGURA 5 - PREVALNCIA DE FUMO ESPECFICA POR GNERO E REGIES CONFORME A OMS - 1995.................................................................................................

    17

    FIGURA 6 - PREVALNCIA DE TABAGISMO (%) NO BRASIL POR SEXO, GRUPOS ETRIOS E ZONA URBANA/RURAL -1989....................................................

    18

    FIGURA 7 - PREVALNCIA DO USO DE TABACO NA VIDA ENTRE ESCOLARES DE 10 A 18 ANOS EM 10 CAPITAIS BRASILEIRAS - 1987-1988-1993-1997........................................................................................................................................

    19

    FIGURA 8 - NUS GLOBAL DE DOENAS E LESES ATRIBUIDAS AO TABAGISMO POR REGIO -1990.....................................................................................

    32

    FIGURA 9 - RECEITA DE TRIBUTAO SOBRE CIGARROS COMO PERCENTAGEM DO TOTAL DE RECEITA TRIBUTRIA DOS GOVERNOS DE PASES DA EUROPA E SIA CENTRAL..........................................................................

    45

  • LISTA DE GRFICOS

    Pgina GRFICO 1A - NMERO DE INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO TOTAL DE INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - NEOPLASIAS MALGNAS 2004................................

    87

    GRFICO 1B - NMERO DE INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO TOTAL DE INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - DOENAS DO APAR. RESPIRATRIO E DO DIGESTIVO 2004..............................................................................................................

    87

    GRFICO 1C - NMERO DE INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO TOTAL DE INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - DOENAS DO APAR. CIRCUL. E DO SIST. NERVOSO 2004................................................................................................................

    88

    GRFICO 2 - NMERO DE INTERNAES POR GRUPO DE PATOLOGIAS COMO PERCENTUAL (%) DO TOTAL DE INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - 2004...............................................................

    88

    GRFICO 3A - CUSTO COM INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO CUSTO TOTAL COM INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - NEOPLASIAS MALGNAS 2004............

    89

    GRFICO 3B - CUSTO COM INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO CUSTO TOTAL COM INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - DOENAS DO APAR. RESPIRATRIO E DO DIGESTIVO 2004...................................................................................................

    89

    GRFICO 3C - CUSTO COM INTERNAES POR PATOLOGIA COMO PERCENTUAL (%) DO CUSTO TOTAL COM INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS - DOENAS DO APAR. CIRCUL. E DO SIST. NERVOSO 2004......................................................................................................

    90

  • Pgina GRFICO 4 - CUSTO COM INTERNAES POR GRUPO DE PATOLOGIAS COMO PERCENTUAL (%) DO CUSTO TOTAL COM INTERNAES ATRIBUVEIS S DOENAS TABACO-RELACIONADAS 2004..............................

    90

  • 1 INTRODUO

    Os homens, desde os primrdios, fazem uso de plantas, sobretudo, daquelas que,

    supostamente, produzem efeitos medicinais, nesse sentido, TOSCANO JUNIOR (2001, p. 7)

    afirma que (...) em Shanidar, no norte do Iraque, h 60 mil anos, o homem de Neanderthal j

    tinha conhecimento de pelo menos oito plantas de comprovado valor medicinal. No entanto,

    atualmente, no necessariamente, o uso que se faz de determinadas plantas possui unicamente

    fins teraputicos (SOUZA, 2003).

    Encaixam-se neste ltimo tipo, o uso das plantas do gnero nicotiana, cujas folhas

    dessecadas constituem o tabaco ou fumo, o qual usado de diversas formas, mascado,

    cheirado, entre outras, mas que, seguramente, o modo mais difundido o fumado,

    constituindo, assim, o tabagismo (uso regular de tabaco, numa definio concisa) (BOEIRA e

    GUIVANT, 2003; SOUZA, 2003).

    Durante muito tempo, esse hbito foi visto como uma opo por um estilo de vida,

    porm, nos dias de hoje, reconhecido como uma doena causada pela dependncia de uma

    substncia, a nicotina, a qual leva milhes de pessoas a passarem anos se expondo a mais de

    4.700 substncias txicas que causam graves doenas incapacitantes e fatais, como o cncer,

  • as doenas cardiovasculares e as doenas pulmonares obstrutivas crnicas, constituindo-se,

    assim, em um dos mais graves problemas de sade pblica peculiar somente espcie

    humana (MENEZES, 2004; MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Isso pode ser corroborado pela ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE (OMS)

    apud ROSEMBERG (1987, p. 6) apud HACK [199?]1, que afirma: O tabagismo o maior

    problema de sade pblica do mundo atual e um dos maiores desafios com que se defronta a

    medicina preventiva do nosso tempo. O controle do hbito de fumar cigarros far mais pelo

    homem e pela sua expectativa de vida do que qualquer outra ao preventiva..

    E, ainda, segundo essa organizao, a cada ano morrem cerca de 5 milhes de pessoas

    mundialmente devido ao consumo tabagista, e estima-se que se a atual tendncia de consumo

    for mantida, nos prximos 30 a 40 anos, quando os fumantes de hoje atingirem a meia-idade

    essa pandemia ser responsvel por aproximadamente 10 milhes de mortes. No Brasil,

    segundo a ORGANIZAO PANAMERICANA DA SADE (OPAS), tal nmero de 200

    mil mortes ao ano (MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Contudo, os debates envolvendo o consumo de tabaco estendem a dimenso do

    problema para alm de apenas o aspecto da sade pblica, uma vez que sua produo e

    consumo tm um forte impacto nos recursos sociais e econmicos das naes (principalmente

    as grandes produtoras), passando aqueles a incorporarem tambm questes polticas, sociais,

    econmicas e ambientais, alm das sanitrias (BOEIRA e GUIVANT, 2003; HACK, [199?]).

    Assim, sob a tica econmica, no centro da discusso se encontra, de um lado, a

    contribuio do tabaco s vrias economias nacionais, incluindo gerao de emprego e renda,

    comrcio exterior e tributao; E, de outro, os custos econmicos dos malefcios por ele

    causados, como os gastos associados ao tratamento de doenas relacionadas ao seu consumo a

    1 Ao longo deste trabalho, em algumas referncias de datas foi usado o ponto de interrogao, devido ao fato

    de no ter se conseguido identificar a data certa desses documentos, sendo usado esse recurso principalmente para indicar dcada e ano provvel, por exemplo, [199?] e [2000?], respectivamente.

  • encargo dos governos desses pases, perdas econmicas, como queda de produtividade,

    aposentadorias precoces, incndios, entre outros, alm dos custos relacionados ao impacto

    ambiental, como poluio, desmatamento e degradao do solo (COMISSO EUROPIA,

    OMS e BANCO MUNDIAL, 2003a).

    Quanto a esses benefcios da produo, comercializao e consumo de tabaco, de

    forma bruta, inquestionavelmente eles existem e so relativamente fceis de serem obtidos em

    documentos oficiais e relatrios estatsticos. J a medio desses custos tem sido motivo de

    grandes debates e tentativas de quantificao em todo o mundo (principalmente nos EUA)

    (BARROS, 2001).

    No final das contas, de forma lquida, ser que os benefcios econmicos propiciados

    pelo consumo tabagista, ainda superam os custos causados por ele s economias e a

    sociedade?

    Com efeito, somente os custos de ateno direta sade decorrente do tabaco so

    considerveis, nos pases de alta renda, calcula-se que o gasto anual com assistncia sade

    conseqente de doenas causadas pelo tabagismo corresponda a um percentual entre 6% e

    15% do custo total em sade; Enquanto que nas naes de baixa renda, provavelmente por seu

    consumo ter iniciado mais tardiamente, esse gasto representa uma parcela inferior do custo

    sanitrio total (MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Especificamente, no caso do Brasil, estimativas realizadas pelo Instituto Nacional do

    Cncer (INCA) publicadas em 2000, evidenciaram que o governo brasileiro gastaria mais

    com doenas tabaco-relacionadas do que arrecadaria com impostos sobre o tabaco, na

    proporo de 1,5 para 1,0 (COSTA, [200?]).

    Nesse contexto, observa-se a importncia do problema de pesquisa, a partir da

    percepo de que atravs da estimao dos custos diretos mdicos, mesmo apenas em termos

    de gastos com internaes, de doenas relacionadas ao tabagismo que recaem sobre o sistema

  • pblico nacional de sade (Sistema nico de Sade - SUS), pode-se avaliar, pelo menos

    parcialmente, o nus que essa pandemia representa ao Governo Federal, em termos de gastos

    com sade pblica.

    Podendo, ainda, desde que tenha um prosseguimento para estimar valores menos

    conservadores (subestimados), um estudo deste tipo, vir a subsidiar anlises de custo-

    benefcio2 e de custo-efetividade3 de polticas e medidas em sade pblica que visem a

    reduzir o consumo tabagista no pas, alm de poder contribuir para, quem sabe, uma futura

    quantificao dos custos totais do tabagismo sociedade brasileira, podendo, assim,

    colaborar, de forma significativa, para uma futura avaliao dos custos e dos benefcios de

    todo o complexo produtivo do tabaco economia nacional (LUNES, 2004).

    Sendo assim, quanto o Governo Federal gasta anualmente com os custos econmicos

    diretos mdicos de doenas relacionadas ao consumo tabagista, e qual a significncia desses

    gastos em relao despesa nacional total em sade pblica no pas?

    Diante do problema exposto, este trabalho tem por objetivo, de forma geral, estimar o

    impacto econmico dos custos diretos mdicos de doenas tabaco-relacionadas sobre o gasto

    federal anual em sade pblica no Brasil, efetuado no mbito do SUS, e, mais

    especificamente, quantificar os custos diretos mdicos (somente com internaes) dessas

    doenas a encargo dessa esfera governamental, no perodo de um ano, e, em seguida, avaliar a

    significncia desses custos perante o gasto nacional total em sade pblica, no mesmo

    perodo.

    A fim de se atingir esses objetivos, utilizou-se um mtodo quantitativo de modelagem

    econmica, recorrendo-se, simultaneamente, com adaptaes, ao mtodo mais usado na

    2 Segundo LUNES, 2002, este tipo de instrumento destina-se a avaliar a viabilidade econmica de projetos

    sociais, tendo por objetivo mostrar a relao entre os custos totais de cada programa e os benefcios diretos e indiretos gerados.

    3 Segundo LUNES, 2002, este tipo de instrumento destina-se escolha da melhor estratgia para atingir um

    determinado objetivo, sendo sempre um estudo comparativo de alternativas de interveno diferentes para executar uma mesma ao.

  • literatura disponvel para estimao dos custos diretos mdicos de doenas, que consiste na

    considerao da proporo de co-morbidades (doenas derivadas) atribuveis a essa doena

    principal (ou fator de risco) e a multiplicao desses valores percentuais pelo custo de

    tratamento dessas doenas derivadas, este mtodo faz parte da Metodologia dos Custos

    Econmicos da Doena (CdD) ou Costs of Illness. Em seguida, analisa-se a

    representatividade desses custos comparando-os percentualmente com a despesa total em

    sade pblica.

    A organizao deste trabalho est disposta, alm deste captulo introdutrio, da

    seguinte forma:

    No segundo captulo, procurou-se descrever alguns aspectos gerais do tabagismo,

    expondo-se a sua origem e evoluo, seu consumo e prevalncia no mundo e no Brasil, as

    substncias constantes no cigarro e na fumaa dele, e as principais doenas tabaco-

    relacionadas, alm do impacto ambiental da produo e consumo de tabaco.

    O terceiro captulo expe os principais aspectos econmicos do tabagismo,

    evidenciando o atual cenrio produtivo e econmico do tabaco, os potenciais benefcios e

    custos do consumo desse produto.

    No quarto captulo, apresentou-se uma reviso da literatura de Economia da Sade

    referente aos custos econmicos da doena, abordando-se o referencial terico, os aspectos

    metodolgicos de estimao, assim como alguns trabalhos empricos disponveis sobre custos

    de enfermidades.

    No quinto captulo, buscou-se detalhar o mtodo empregado, demonstrando-se a

    seqncia metodolgica aplicada, bem como as estimativas obtidas, de forma estilizada.

    Por fim, o sexto captulo discute as constataes observadas ao longo do trabalho

    sobre o tabagismo, assim como os resultados obtidos nas estimativas.

  • 2 ASPECTOS GERAIS DO TABAGISMO

    Este captulo procura expor as origens e evoluo do tabagismo, seu consumo e

    prevalncia no mundo e no Brasil, as substncias constantes no cigarro e na fumaa dele e as

    principais doenas tabaco-relacionadas, alm do impacto ambiental do plantio e consumo de

    tabaco.

    2.1 Aspectos histricos

    2.1.1 Histria do tabaco/tabagismo no mundo

    A origem exata do tabaco ou nicotiana tabacum4 (nome cientfico), permanece

    desconhecida pelas pesquisas e histria, no entanto, existem pelo menos duas teorias

    pretendendo elucidar o surgimento e a difuso da fumicultura pelo mundo (SEFRIN, 1995).

    4 Esta denominao cientfica foi dada pelo botnico Jacques Dalchamp. A palavra nicotiana deriva do nome

    do embaixador da Frana em Portugal, Jean Nicot (considerado o difusor do tabaco pela Europa) em sua homenagem, enquanto o nome complementar tabacum vem do nome do instrumento utilizado para aspirar a fumaa pelos ndios do Haiti, o tabacum (SAIDEMBERG, 2001).

  • A primeira teoria, mais difundida e aceita, afirma que essa planta teria sido originado

    nas Amricas. Enquanto a segunda defende que seria de origem asitica, onde o tabaco

    designaria de certas plantas j fumadas, provavelmente em cachimbos, desde o sculo IV

    (FERRARI, 2003).

    Segundo a primeira, verso mais aceita inclusive pela Associao Brasileira da

    Indstria do Fumo (ABIFUMO) e pela Associao dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA), as

    quais se baseiam principalmente nas pesquisas de NARDI (1985, p. 5) apud SOUZA (2003),

    que concluem: (...) a planta nasceu provavelmente nos vales orientais dos Andes Bolivianos

    e se difundiu no atual territrio brasileiro, atravs das migraes indgenas, sobretudo tupi-

    guarani. Ainda, existem indcios de que os indgenas americanos usavam o tabaco como

    planta sagrada nas cerimnias mgico-religiosas e em momentos de grande deciso, com os

    de guerra e paz (FERRARI, 2003).

    Essa verso corroborada por COSTA e SILVA (1990) apud SOUZA (2003), os quais

    defendem que o uso do tabaco surgiu aproximadamente no ano 1000 a.C., nas sociedades

    indgenas da Amrica Central, em rituais mgico-religiosos.

    Tais indcios demonstram, atravs de desenhos do sculo I d.C., o registro do fumo de

    rolos feitos com folhas de tabaco pelos povos da Amrica do Sul e Central. Igualmente,

    indicam que, bem antes, h 50 sculos a.C. na Guatemala j usavam o tabaco, e que no

    Mxico, os astecas e mexicas o teriam utilizado h aproximadamente 10 sculos a.C.

    (FERRARI, 2003).

    Por outro lado, conforme a segunda verso, o termo tabaco teria origem na sia do

    sculo IX da era atual, j que a palavra rabe tabbq designaria determinadas plantas j

    fumadas em cachimbos (ETGES, 1991 apud SOUZA, 2003).

    parte o mistrio que envolve sua origem, o fato mais certo que os europeus

    tiveram o primeiro contato com o tabaco quando os nativos ofereceram as folhas da planta a

  • Cristovo Colombo, no ano de 1492, e que a famosa carta enviada corte portuguesa por

    Amrico Vespcio descreveu, pela primeira vez na histria, o charuto e o uso do tabaco.

    Evidenciando que a histria do fumo nas Amricas, comeou bem antes da chegada desses

    povos (FERRARI, 2003; GIRARDI, 2003; SEFRIN, 1995).

    Quanto a isso, a OMS (1992, p. 21) apud SOUZA (2003) descreve:

    (...) na antiguidade existiam no Cone Sul numerosas espcies de tabaco, embora no tenham despertado muito interesse at cerca de 8000 anos, quando as mudanas ocorridas no consumo de alimentos foraram a populao a passar da caa e da coleta ao cultivo da terra. Nessa poca as populaes emigram das savanas abertas do sul do continente, pouco adequadas agricultura, para as selvas tropicais do Amazonas e regies ainda mais ao norte, incluindo Caribe. O tabaco passa a ser, ento, um dos cultivos habituais destes primeiros agricultores.

    Com relao s razes pelas quais se usava o tabaco, tambm existem algumas

    divergncias na literatura. Para NARDI (1985) apud SOUZA (2003), o fumo era utilizado

    para a iniciao dos pajs e nas cerimnias tribais. Afirmava que, esses ao fumarem, entravam

    em transe e em contato com os deuses, espritos, almas dos mortos, ou ainda prediziam o

    melhor momento para ir caa, viajar ou atacar o inimigo. Ainda, que a fumaa era

    considerada purificadora: protegia dos maus espritos o jovem guerreiro, a roa, a safra ou a

    comida. Como planta medicinal, o tabaco curava as feridas, as enxaquecas ou as dores de

    estmago.

    Ainda discorrendo sobre os usos do fumo, esse autor complementa que este era

    conhecido pela maior parte das tribos indgenas, as quais faziam um uso essencialmente

    mgico-religioso e medicinal. E que fumavam-no principalmente em charutos fabricados com

    folhas de milho ou outras (Amrica Central e Meridional) ou em cachimbos (Amrica do

    Norte), mas, era ainda mascado, bebido ou pitado.

    Pode se dizer que at pouco mais de quatro sculos atrs o tabaco era desconhecido

    pela maior parte da populao mundial, sua difuso na Europa ocorreu somente a partir do

    sculo XVI, quando comeou a ser cultivado e consumido, inicialmente em cachimbos

    (FERRARI, 2003; GIRARDI, 2003).

  • Embora, o crdito de sua difuso tenha sido dado ao embaixador francs em Portugal,

    Jean Nicot, que em 1959, utilizou as folhas de tabaco, vindas do Brasil e plantadas na

    embaixada, para fins medicinais. Tambm h relatos de difuso do tabaco por outros europeus

    como Andr Thevet, capelo da expedio Francesa, entre 1555 e 1567 e Sir Francis Drake,

    navegador ingls do sculo XVI, que perceberam que as suas folhas eram utilizadas de formas

    diversificadas pelos ndios e ampliaram seu uso em xaropes, extratos, blsamos, colrios,

    sucos, inalaes, emplastros, fumigaes, pomadas, etc. Assim, o tabaco foi indicado na

    tentativa de curar lceras, feridas, enxaquecas, reumatismos, hrnias, gota, sarna, doenas

    venreas e at mesmo asma e bronquite crnica. E, devido s suas virtudes curativas, em

    1650, j havia conquistado todos os continentes (FERRARI, 2003).

    No auge do sculo XVII, o hbito de fumar estava difundido na Europa. Em Paris

    surgem descries da nova moda de fumar, o cigarette, apreciado pelas mulheres nos sales

    galantes parisienses; Na Inglaterra Sir Walter Raleigh, sem a aprovao da rainha Elizabeth I,

    cultivou o tabaco e consagrou o cachimbo entre a nobreza, sendo esse sculo considerado a

    idade de ouro do cachimbo (SOUZA, 2003).

    No incio do sculo XVIII, espalhou-se a moda de aspirar rap (tabaco em p) em

    tabaqueiras nobres, fabricadas com ouro, chifres, madeira e marfim (assim, transformando-se

    em mais um smbolo de status), atribuindo-se a esse p propriedades medicinais (FERRARI,

    2003; SOUZA, 2003).

    J no incio do sculo XIX, o uso do charuto comeou a propagar-se, difundindo-se

    em todos os continentes e tornando-se praticamente universal e, no decurso desse sculo, aos

    poucos, o cigarro dominou o mercado, mas a grande expanso do hbito de seu consumo data

    da Primeira Guerra Mundial (1914/1918), espalhando-se de forma epidmica por todo o

    mundo a partir de meados do sculo XX (FERRARI, 2003; SOUZA, 2003).

  • Sendo seu consumo estimulado pela publicidade de forma direta e indireta (at

    mesmo, mediante o financiamento de produes cinematogrficas) pela indstria fumageira,

    associando o uso de cigarros ao glamour, classe e at virilidade, auxiliando, dessa forma, a

    manter hbitos, crenas e simbolismos do tabaco, determinando uma extraordinria expanso

    de seu consumo, representada pelo nmero mundial atual de fumantes, aproximadamente, 1,2

    bilhes de pessoas, desde o incio de sua difuso pelo mundo, ou seja, pouco mais de quatro

    sculos (CIGARRO: O FALSO ...., [200?]; FERRARI, 2003).

    2.1.2 Histria do tabaco/tabagismo no Brasil

    Relativamente origem do tabaco no Brasil, acredita-se que esse tenha chegado ao

    territrio brasileiro provavelmente atravs de migraes indgenas (anteriores a chegada dos

    europeus), principalmente de tribos tupis-guaranis (SOUZA, 2003; SEFRIN, 1995).

    No entanto, segundo FERRARI (2003), existem estudos sugerindo o uso do tabaco

    pelas tribos nambiquaras, h mais de 100 sculos a.C., na rea de Lagoa Santa (MG).

    Os ndios brasileiros tambm consideravam que o fumo possua carter sagrado e

    origem mstica, e, seu uso estava, geralmente, limitado a ritos mgico-religiosos e finalidades

    medicinais, reservado, somente, aos pajs e usado em cerimnias tribais (SEFRIN, 1995).

    Esses indgenas consideravam a fumaa do fumo purificadora, por suporem que essa

    os protegia contra os maus espritos. Alm de acreditarem que a planta curava feridas,

    enxaquecas e dores de estmago, etc. (SEFRIN, 1995).

    Quanto s formas de consumo do fumo, consta que esses ndios adotavam pelo menos

    seis usos diferentes, era comido, bebido, mascado, chupado, transformado em p e fumado,

    entretanto, dentre todas as formas, o hbito de fumar era, certamente, o mais usado (SEFRIN,

    1995).

  • A difuso da planta entre os colonos teve incio com estes adquirindo o fumo dos

    ndios, mediante um sistema de trocas. E a partir de, aproximadamente, 1570, devido a uma

    seqncia de guerras, aqueles mesmos comearam a cultiv-lo. Inicialmente seu objetivo era

    o consumo prprio, e, em seguida, o comrcio, instigados pelos comerciantes portugueses,

    com o intuito de abastecerem o mercado europeu (SEFRIN, 1995).

    Assim, em ritmo de franco desenvolvimento a produo de fumo veio a se acelerar,

    abrindo novas fronteiras, alm da Bahia (onde era cultivado inicialmente), comearam, assim,

    a aparecer reas fumageiras em MG, GO, SP e, de forma mais acentuada, no RS, com a

    chegada de imigrantes europeus de origem germnica. Em 1824, esse produto comeou a ser

    cultivado na colnia de So Leopoldo e, em 1850, na colnia de Santa Cruz, futura Capital

    Mundial do Fumo (SEFRIN, 1995).

    Por fim, deve-se destacar que o tabaco sempre foi um produto economicamente

    importante para o pas, de tal forma que, um de seus ramos foi incorporado, juntamente com o

    caf, no braso de armas do Imprio, tornando-se na Repblica um dos principais geradores

    de recursos tributrios (SEFRIN, 1995).

    2.2 Epidemiologia

    2.2.1 Consumo de tabaco

    Atualmente, sabe-se que ao ano, mundialmente, cerca de 6 trilhes de cigarros so

    consumidos, decorrentes da manufatura de quase 6 milhes de toneladas de folha seca de

    tabaco (ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

  • O consumo anual de cigarros por adultos no mundo foi maior na dcada de1980 em

    relao de 1970, mantendo-se relativamente estvel na dcada de 1990 (FIGURA 1).

    Comparando-se a evoluo desse consumo nos pases desenvolvidos com a nos pases

    menos desenvolvidos, observa-se situaes distintas. Os pases desenvolvidos, depois de um

    aumento de consumo de 1970 para 1980, demonstraram alguma reduo na dcada de 1990

    (ficando aquele nesta nessa ltima abaixo do verificado em 1970). Enquanto que os pases

    menos desenvolvidos registraram um maior aumento de consumo da dcada de 70 at a de 90

    (de 800 cigarros anuais por adulto para 1450 - ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?])

    de forma contnua.

    FIGURA 1 - CONSUMO DE CIGARROS NO MUNDO - 1970-1992

    FONTE: WORLD BANK PUBLICATION, 1999 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?])

    No Brasil, o consumo de cigarros registrado no ano de 1989 foi de 162,3 bilhes de

    unidades (um dos mais altos atingidos no perodo considerado), tendo havido uma reduo

    para cerca de 100 bilhes anuais, nos ltimos anos, apesar do crescimento populacional

    (FIGURA 2) (ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    Nesses dados, os quais so oficiais, o consumo calculado pela deduo da produo

    (se for considerado o quanto pode representar o contrabando de cigarros, possvel que esses

  • nmeros no correspondam realidade (ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?];

    VIEGAS, 2004).

    E, infelizmente, como o conhecimento do volume de contrabando muito pobre e

    incontrolvel (estima-se que esta fonte de cigarros possa chegar a 30% do total registrado), o

    que sempre dificultar uma anlise aprofundada do montante de consumo no pas

    (CHALOUPKA, 1999 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    FIGURA 2 - CONSUMO AGREGADO DE CIGARROS BRASIL - 1980-1996

    FONTE: INCA/FUNDAO GETLIO VARGAS - 07/96 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?])

    Dados nacionais mostram que o ndice de consumo de cigarros, semelhana de

    outros pases, est inversamente associado ao preo real mdio dos mesmos (FIGURA 3),

    indicando que um aumento de preos pode ser uma medida eficiente na reduo do tabagismo

    (MINISTRIO DA SADE, 1998 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    Essa relao representada na FIGURA 3 at 1992, entretanto, a partir de 1993 at

    1994, at 1994, tal relao no mais se evidencia. Talvez, esse ponto de ruptura e incio de um

    novo padro de relao entre preo mdio e consumo possa ser explicado como sendo

    resultado das campanhas anti-tabaco iniciadas pelo Ministrio da Sade em 1988, ou mesmo,

  • devido ao contrabando de cigarros que teve incio de forma significativa a partir de 1992

    (FIGURA 4), entretanto como no se obteve dados mais atuais, no se sabe se esse novo

    padro de relao permanece atualmente ou se foi temporrio.

    FIGURA 3 - NDICE DE CONSUMO DOS CIGARROS BRASILEIROS - 1983-1994

    FONTE: ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?])

    Quanto ao consumo per capita total no pas, entre 1980 e 2001, aquele apresentou uma

    reduo de aproximadamente 38%, baixando de 1.937 unidades, em 1980, para 1.194, em

    2001 (FIGURA 4) (INCA/CONPREV, 2002 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b).

  • FIGURA 4 - CONSUMO PER CAPITA DE CIGARROS NA POPULAO ACIMA DE 15 ANOS, BRASIL - 1980-2001

    FONTE: MS, SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL (SRF) apud MINISTRIO DA SADE (2004b)

    2.2.2 Prevalncia do tabagismo

    Apesar de todo o conhecimento cientfico acumulado sobre os riscos do tabaco

    sade, as tendncias mundiais de consumo possuem carter epidmico, o que evidencia

    elevada freqncia de dependncia ao tabagismo em ambos os sexos, tanto em pases

    desenvolvidos, como nos em desenvolvimento.

    No incio da dcada de 1990, cerca de 1,1 bilho de pessoas fumavam no mundo, em

    1998, esse nmero j era de 1,25 bilho, e, atualmente, atinge a astronmica cifra de 1,3

    bilho de fumantes, aproximadamente, um quarto da populao mundial (MINISTRIO DA

    SADE, 2004b; MENEZES, 2004). E, ainda, a OMS estima que no havendo uma mudana

    de curso da exposio mundial ao tabagismo, o nmero de fumantes em 2030 passar a ser de

    1,6 bilho de indivduos (TABAGISMO, 2002-2003).

  • Existem importantes diferenas no padro e tendncias do consumo de tabaco por

    gnero e por classe social no mundo. Com relao ao gnero, desde que o tabagismo foi

    introduzido na sociedade moderna, a proporo de homens fumantes tem sido mais elevada

    do que a de mulheres. Para se ter uma noo da supremacia do sexo masculino na referida

    proporo, dos 1,3 bilho de fumantes no mundo, apenas cerca de 300 milhes so mulheres e

    o restante, em nmero muito maior, aproximadamente 1 bilho, constitudo de homens

    (MENEZES, 2004; TABAGISMO, 2002-2003).

    Contudo, mais recentemente, tem se observado uma sutil reduo na prevalncia do

    tabagismo entre o sexo masculino, sobretudo nos pases desenvolvidos, embora tambm

    esteja ocorrendo em alguns pases em desenvolvimento. J a tendncia da prevalncia entre o

    sexo feminino apresenta-se de forma distinta daquela evidenciada nos homens, pois

    excetuando-se alguns pases desenvolvidos, como Austrlia, Canad, EUA e Reino Unido,

    nos quais se nota uma tendncia reduo do tabagismo, entre elas, nos demais pases, esta

    no tem sido encontrada, e sim, uma de aumento na proporo de fumantes correntes neste

    ltimo gnero (MENEZES, 2004; TABAGISMO, 2002-2003). Em termos percentuais, de

    forma geral, cerca de 9% das mulheres dos pases desenvolvidos e 22% dessas dos pases em

    desenvolvimento so fumantes de cigarros (MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Outra tendncia na atualidade refere-se a um aumento da freqncia de consumo do

    fumo entre adolescentes em vrios pases, evidenciando que a iniciao dos futuros

    dependentes de tabaco est ocorrendo de forma cada vez mais precoce (MENEZES, 2004).

    As estimativas de prevalncia e de percentuais de fumantes de 15 anos ou mais, por

    sexo, para as diversas regies do mundo, conforme a OMS, so apresentadas na FIGURA 5.

  • FIGURA 5 - PREVALNCIA DE FUMO ESPECFICA POR GNERO E REGIES CONFORME A OMS - 1995

    FONTE: WHO, 1997 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?])

    Quanto ao nvel socioeconmico, no incio de sua expanso em pases desenvolvidos,

    o tabagismo mostrava uma maior prevalncia entre pessoas de classes sociais mais

    favorecidas. Entretanto, nas ltimas trs ou quatro dcadas, esse panorama comeou a

    modificar-se (pelo menos entre os homens) e, principalmente, nesses pases, as pessoas de

    melhor situao econmica foram progressivamente abandonando o hbito de fumar e,

    atualmente, uma prevalncia mais elevada observada na populao de mais baixa renda e

    escolaridade (TABAGISMO, 2002-2003; ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    Assim, nos dias de hoje, so as classes de baixa renda as que tendem a fumar mais, e,

    estima-se que, atualmente, dos 1,3 bilho de fumantes existentes no mundo, 84% vivem em

    pases em desenvolvimento ou em pases com economias em transio, e essa proporo

    tender a aumentar para 88% em 2025 (mesmo admitindo um decrscimo de em 1% ao ano)

    (MINISTRIO DA SADE, 2004a).

    Um exemplo dessa inverso ocorreu na Noruega, onde a percentagem de homens

    fumantes de altos nveis econmicos caiu de 75% em 1955 para 28% em 1990, enquanto o

    declnio, nesse mesmo perodo, foi bem mais modesto entre homens de baixo nvel

    econmico, apenas de 60% para 48% (TABAGISMO, 2002-2003).

  • Sob a tica da escolaridade, na china, entre pessoas sem nenhuma escolaridade, a

    prevalncia do tabagismo 6,9 vezes maior do que entre pessoas com nvel mdio, e sobe

    para sete vezes se comparado com indivduos que possuem o terceiro grau. Corroborando, um

    estudo de prevalncia do tabagismo entre homens em Chennai (ndia) mostrou que, em 1997,

    a taxa mais alta foi encontrada entre os analfabetos (64%). E que esta prevalncia tende a

    diminuir na medida em que aumenta o nmero de anos de estudo, e que entre pessoas com

    mais de 12 anos de escolaridade chega a ser de 21%, ou seja, a tera parte da encontrada entre

    pessoas sem qualquer escolaridade (MINISTRIO DA SADE, 2004a).

    Segundo o BANCO MUNDIAL, quase 100.000 indivduos comeam a fumar a cada

    dia no mundo inteiro (destes, mais de 80.000 so jovens de pases em desenvolvimento).

    Afirma, ainda, que a idade mdia de iniciao no tabagismo 15 anos, o que fez com que a

    OMS passasse a considerar este como uma doena peditrica (WORLD BANK, 1999 apud

    MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    A nvel nacional, estima-se que, no pas, um tero da populao adulta seja fumante,

    sendo 16,7 milhes de homens e 11,2 milhes de mulheres. As duas principais pesquisas

    nacionais realizadas, uma em 1989 (Pesquisa Nacional sobre Sade e Nutrio - PNSN)

    apontou prevalncia de fumantes em 32% da populao brasileira, enquanto outra, em 2001,

    encontrou tal prevalncia em 20% da referida populao (MENEZES, 2004).

    FIGURA 6 - PREVALNCIA DE TABAGISMO (%) NO BRASIL POR SEXO, GRUPOS ETRIOS E ZONA URBANA/RURAL -1989

    FONTE: PNSN, 1989 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?])

  • Ainda, semelhana do contexto mundial, no pas, apesar das estatsticas de reduo

    do tabagismo, a experimentao de cigarros entre jovens tem aumentado. Com efeito, um

    estudo realizado em 10 capitais brasileiras, com aproximadamente 24.000 escolares, revelou

    que o tabaco a segunda droga mais consumida entre jovens, e que tal experimentao vem

    aumentando entre escolares de 10 a 18 anos de idade. Esse mesmo estudo tambm evidenciou

    que essa experimentao tem crescido entre as meninas (FIGURA 7) (MINISTRIO DA

    SADE, 2004b).

    FIGURA 7 - PREVALNCIA DO USO DE TABACO NA VIDA ENTRE ESCOLARES DE 10 A 18 ANOS EM 10 CAPITAIS BRASILEIRAS - 1987- 1988-1993-1997

    FONTE: MINISTRIO DA SADE (2004b)

    2.3 Doenas tabaco-relacionadas

    A fim de facilitar o entendimento do motivo de o fumo causar tantas doenas, nesta

    seo, procurou-se, primeiramente, expor superficialmente as substncias contidas no cigarro

    e em sua fumaa, para, ento, em seguida, descrever as principais patologias relacionadas ao

    consumo de tabaco, de forma ativa e passiva, constantes na literatura disponvel.

  • 2.3.1 Substncias qumicas do cigarro

    Na engenharia do cigarro, os fabricantes controlam uma ampla gama de fatores, como

    manter o cigarro aceso entre as baforadas, reduzir o desperdcio de tabaco, alterar o sabor do

    fumo e controlar as quantidades de substncias (alcatro e nicotina) medidas pelos rgos

    governamentais (HENNINGFIELD, 1988 apud BOEIRA e GUIVANT, 2003).

    Assim, costuma-se adicionar fosfatos ao papel para garantir uma queima constante,

    alm dos vrios aditivos j presentes no prprio tabaco e do prprio tipo deste e dos processos

    de curtio. Ainda, uma grande variedade de outras substncias adicionada nas mltiplas

    etapas de processamento, a exemplo de dietileno, d-sorbitol, glicol, glicerina, (a fim de

    reterem o umidade do fumo para que ele queime melhor), metais pesados (nquel e potssio),

    elementos radioativos (potssio-40), o chumbo-210 e o rdio-226 (provenientes do ambiente

    natural), aucares, xaropes, licores, blsamos, extratos de frutas, leos mentolados, coca,

    substncias aromticas e aditivos sintticos tambm so utilizados para controlar o sabor

    (BOEIRA e GUIVANT, 2003; SOUZA, 2003).

    A seguir, apresenta-se uma sntese das substncias qumicas usadas na fabricao dos

    cigarros, de acordo com dados do Departamento de Qumica da Universidade de So Paulo

    (BOEIRA e GUIVANT, 2003) e pesquisas do INCA (MINISTRIO DA SADE, 1997 apud

    SOUZA, 2003):

    i) Amnia (NN3) Produto usado em limpeza de azulejos. corrosiva para o nariz e

    para os olhos. Vicia. Facilita a absoro de nicotina pelo organismo;

    ii) Propilenogoglicol (C3H8O2) Usado em desodorantes. Faz a nicotina chegar ao

    crebro. Tambm utilizado como umectante para hidratar o tabaco;

  • iii) Acetato de chumbo [PB (CH3CO2)2] Presente na frmula de tinturas para

    cabelo, como o Grecin 2000. Cancergeno e cumulativo no organismo. Banido da

    gasolina;

    iv) Formol (CH2O) Conservante de cadver. Nos vivos, provoca cncer no pulmo,

    problemas respiratrios e gastrointestinais;

    v) Plvora Libera partculas cancergenas quando queimada. Facilita a combusto

    do cigarro e a produo de uma fumaa suave. Provoca tosse, falta de ar e irritao

    das vias respiratrias;

    vi) Methoprene Inseticida usado em anti-pulgas. Provoca irritaes na pele e leses

    no aparelho respiratrio;

    vii) Cdmio (Cd) Usado em pilhas e baterias. Metal altamente txico e cumulativo

    no organismo. Causa danos nos rins e no crebro. Corri o trato respiratrio,

    provoca perda de olfato e edema pulmonar. Leva at 20 anos para ser expelido;

    viii) Naftalina (C1OH8) usada para matar baratas. Gs venenoso sintetizado em

    forma de bolinhas. Provoca tosse, irritao na garganta, nuseas, transtornos

    gastrointestinais e anemia;

    ix) Fsforo (P4 ou P6) Usado na preparao de veneno para ratos, como o Racumin;

    x) Acetona (C3H6O) Usado em removedor de esmalte. Entorpecente e inflamvel.

    Irrita a pele e a garganta, d dor de cabea e tontura;

    xi) Terebentina Usado para diluir tintas a leo e limpar pincis. Txico extrado de

    resina de pinheiros. Quando inalado irrita olhos, rins e mucosas. Pode provocar

    vertigem, desmaios e danos ao sistema nervoso;

    xii) Xileno (C8H1O) Presente em tintas de caneta. Inflamvel e cancergeno.

    Quando inalado irrita olhos, causa tontura, dor de cabea e perda de conscincia;

  • xiii) Butano (C4H1O) Gs de cozinha. Mortfero e altamente inflamvel. Quando

    inalado, substitui o oxignio no pulmo e bombeado para o sangue. Causa falta

    de ar, problemas de viso e coriza.

    Atualmente, a tecnocincia tem viabilizado a manipulao qumica como arma

    comercial, e o caso mais conhecido o uso de amnia no processamento de cigarros para

    reduzir o efeito da acidez, tornando o fumo mais alcalino e, assim, liberar mais nicotina no

    organismo do fumante (ESPECIALISTAS...., 1998 apud BOEIRA e GUIVANT, 2003).

    2.3.2 Substncias qumicas da fumaa do cigarro

    A fumaa do cigarro contm cerca de 4.720 substncias volteis e elementos

    particulados suspensos, os principais so o monxido de carbono, amnia, acrolena, acetona

    e xidos de nitrognio, e, ainda, uma srie de substncias carcingenas (cancergenas), como

    alcatro, nitrosaminas, formaldedo e beno[a]pireno (FERRARI, 2003; GIRARDI, 2003).

    Contudo, certamente, as trs mais conhecidas so o alcatro, o monxido de carbono e a

    nicotina (SOUZA, 2003).

    Essa fumaa tem duas fontes, a corrente principal e a secundria; E formada por duas

    fases, uma a particulada e outra, a gasosa (GIRARDI, 2003; SOUZA, 2003).

    Com relao s suas fontes, a corrente principal corresponde a fumaa que sai do

    cigarro e tragada pelo fumante, enquanto que a secundria refere-se fumaa que sai da

    ponta do cigarro e vai para o meio-ambiente (HENNINGFIELD, 1988 apud SOUZA, 2003).

    Deve-se considerar que a fumaa da corrente principal e a da secundria so similares em

    termos de composio qumica, no entanto, diferem em relao concentrao dos

    componentes especficos. Nesse sentido, grande parte dos compostos orgnicos lesivos ao

    aparelho respiratrio e das substncias carcinognicas encontram-se na corrente secundria

  • em maiores concentraes, j que a queima do cigarro ocorre em temperatura inferior

    proporcionada pelas tragadas dos fumantes (GIRARDI, 2003).

    Quanto s fases dessa fumaa, a particulada rene vrias substncias denominadas de

    alcatro (este o total de partculas materiais menos as de gua e de nicotina, o qual s est

    presente no tabaco queimado5, ou seja, um produto da queima desse, melhor dizendo, da

    matria orgnica submetida combusto na presena do ar e da gua, numa temperatura

    suficientemente alta) (HENNINGFIELD, 1988 e HOLBROOK, 1998 apud SOUZA, 2003).

    Segundo HENNINGFIELD (1988) apud SOUZA (2003), o alcatro uma das maiores

    ameaas sade contidas no cigarro, uma vez que nele h vrios tipos de substncias

    cancergenas, como arsnico, nquel, benzo[a]pireno, sendo, por isso, causador de vrios tipos

    de cncer. Reforando-se, por exemplo, atualmente, sabe-se que o benzo[a]pireno um dos

    carcinognicos mais potentes entre todos os conhecidos (SILVA, 2004).

    J a fase gasosa, a qual representa cerca de 60% do total da fumaa do cigarro, rene

    inmeros gases, entre os quais, o nitrognio, oxignio, dixido de carbono, hidrognio,

    metano e o perigoso monxido de carbono (SILVA, 2004).

    O monxido de carbono (CO)6, quando inalado, combina-se com a hemoglobina do

    sangue, formando a carboxi-hemoglobina, que interfere na habilidade do organismo de obter a

    utilizar o oxignio, causando, desse modo, uma reduo na oxigenao dos tecidos, com

    efeitos deletrios principalmente no sistema nervoso central e circulatrio. Logo, o CO fator

    de risco relevante em muitas doenas associadas ao fumo e est, inclusive, relacionado a

    efeitos danosos sobre o desenvolvimento do feto quando a gestao acompanhada, direta ou

    5 Como o alcatro existe apenas no tabaco queimado, o rap (tabaco em p para cheirar) e o tabaco para

    mascar no o liberam (SOUZA, 2003). 6 Para se ter uma noo da quantidade de CO presente na fumaa do cigarro, segundo o INCA nessa ltima, a

    concentrao desse gs de 20 a 60 mil partes por milho (ppm), enquanto na fumaa do cano de descarga de um carro de 30 a 80 mil ppm, ou seja, equivalendo a quantidade na primeira, em mdia, a 75% de CO expelido pelo escapamento de automveis (BOEIRA e GUIVANT, 2003).

  • indiretamente, pela PTA (Poluio Tabgica Ambiental) (BOEIRA e GUIVANT, 2003;

    MAUCH e SILVA, 1999).

    Relativamente aos efeitos da nicotina (a qual um alcalide de frmula molecular

    C10H4N2, presente na folha do tabaco), estes so os mais complexos e ainda esto sendo

    matria de anlise, entre os conhecimentos mais consolidados, at agora, est o de sua relao

    com alteraes no sistema cardiovascular (infarto do miocrdio, por exemplo), com cncer e,

    especialmente, ao reforo da vontade de fumar (dependncia qumica, fisiolgica e

    psicolgica) (BOEIRA e GUIVANT, 2003; MAUCH e SILVA, 1999; SILVA, 2004).

    Ilustrando o efeito devastador dessa dependncia, ROIZEM (1999, p. 126) apud

    BOEIRA e GUIVANT (2003), afirma que dos 50 milhes de americanos que fumam, 70%

    querem parar e mais de um tero tenta, todo ano. S cerca de 3% tm sucesso.

    Um ltimo aspecto a se considerar que os efeitos txicos podem variar em

    intensidade de um produto para outro (cigarro artesanal, charuto e cachimbo, cigarros

    industrializados e cigarros industrializados de baixos teores) e, mesmo, em um mesmo

    produto de tabaco, conforme o uso feito pelo fumante (SOUZA, 2003).

    Por exemplo, os cigarros com baixos teores de alcatro e nicotina podem propiciar os

    mesmos teores que um cigarro tradicional, caso o fumante, para tanto, utilize apenas um dos

    mecanismos compensatrios em conseqncia da dependncia nicotina (fumar mais cigarros

    por dia, tragando mais vezes ou mais profundamente). Alm da complementao de aditivos

    qumicos, potencialmente nocivos sade, acrescentados queles primeiros em busca da

    obteno do cheiro e do gosto de que so desprovidos em razo da baixa quantidade de

    nicotina e alcatro, tornando-os to txicos quanto os ltimos (KROEFF, 2002; SOUZA,

    2003).

    Nesse sentido, corrobora o especialista HENNINGFIELD (1988, p. 20) apud BOEIRA

    e GUIVANT (2003), acrescentando que quem fuma cigarros de baixos teores acaba inalando

  • a fumaa mais profundamente, como forma de atingir a satisfao, o que pe por terra as

    vantagens desse tipo de cigarro.

    Concluindo-se, embora a nicotina tenha ao nociva sobre o organismo, a maior parte

    dos danos fsicos causados pelo cigarro advm do monxido de carbono e de constituintes do

    alcatro, mesmo assim, aquela substncia o principal alcalide do tabaco e o responsvel

    por seus efeitos psicoativos (dependncia) (FERREIRA, 2001 apud SOUZA, 2003).

    Por fim, apesar da ao dos elementos da fumaa do cigarro no metabolismo de cada

    clula do corpo humano ter comeado a ser desvendada pela cincia na gerao das doenas

    tabaco-relacionadas (alterao nos genes, carcinognese, aumento de radicais livres e da

    carboxi-hemoglobina, disfunes enzimticas, metablicas e hormonais, alteraes vasculares

    e brnquicas), o estudo da composio qumica desses elementos penetra em diversas reas

    do conhecimento, como a qumica orgnica e inorgnica, bioqumica, gentica, radioatividade

    e biologia molecular, entre outras, o que, sem dvida, tornar essa ao, ainda por muito

    tempo, objeto de inmeros estudos e pesquisas (FERRARI, 2003).

    2.3.3 Doenas associadas ao tabagismo

    O tabagismo, tanto ativo como passivo, tem sido considerado, baseado em incontveis

    estudos cientficos criteriosos de todo o mundo, alm de uma doena, resultante do uso da

    nicotina (no caso do ativo), um importante fator de risco para uma considervel gama de

    doenas (cerca de 50) e, por isso, um dos principais causadores de mortes prematuras no

    mundo atual (HACK, [199?]; COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL,

    2003b).

    Quanto ao aspecto da dependncia, em 1988, o Ministrio da Sade dos Estados

    Unidos publicou um amplo relatrio sobre estudos que comprovaram a capacidade do tabaco

    de caus-la, o que levou a comunidade cientfica mundial a reconhecer o tabagismo como

  • uma dependncia qumica, constatando que (U.S. SURGEON GENERAL, 1988 apud

    MINISTRIO DA SADE, 2004b):

    i) O cigarro e outros derivados do tabaco causam dependncia;

    ii) A nicotina a droga presente no tabaco que causa a dependncia;

    iii) Os processos farmacolgicos e comportamentais que determinam a dependncia

    do tabaco so similares aos que determinam a dependncia de drogas, como

    herona ou cocana.

    Como conseqncia, em 1993, a OMS passou a incluir o tabagismo no grupo dos

    transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substncias psicoativas

    (Captulo V) na Dcima Reviso da Classificao Internacional de Doenas (CID-10), sob o

    cdigo F17 (transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo) (SLADE, 1993

    e OMS, 1997 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b; CID 10- DATASUS).

    O QUADRO 1 compara a dependncia de nicotina com a dependncia de outras

    drogas em termos de capacidade de causar dependncia, de letalidade, de acesso e de

    precocidade do uso, evidenciando uma supremacia do tabaco.

    QUADRO 1 - COMPARAO ENTRE DEPENDNCIA DE NICOTINA E DE OUTRAS DROGAS

    SUBSTNCIA

    ACESSO

    CAPACIDADE DE CAUSAR DEPEND. (1)

    LETALIDADE

    PRECOCID.(2)

    Nicotina Grande 80 Alta 15,5

    Herona Pequeno 35 Mdia 19,5

    Cocana Mdio 22 Alta 21,9

    Sedativos (3) Mdio 13 Mdia 19,5

    Estimulantes (3) Mdio 12 Alta 19,3

    Maconha Mdio 11 Baixa 18,4

    Alucingenos Grande 9 Baixa 18,6

    Analgsicos Mdio 7 Mdia 21,6

    lcool Grande 6 Mdia 17,4

  • Tranqilizantes (3) Mdio 5 Mdia 21,2

    Inalantes Grande 3 Mdia 17,3

    FONTE: PESQUISA NACIONAL DOMICILIAR SOBRE O USO DE DROGAS NOS EUA (2001) - NATIONAL HEALTH INSTITUTE apud REVISTA SUPER INTERESSANTE, (JANEIRO 2002- EDIO 172) apud MINISTRIO DA SADE ( 2004b)

    (1) % de usurios que se tornam dependentes.

    (2) Idade mdia do primeiro uso.

    (3) Uso no mdico.

    Sob a tica dos riscos sade, considerando o consumo ativo, o tabagismo (uso

    regular de tabaco, numa definio concisa) est relacionado a vrias doenas agudas e

    crnicas, como doenas cardiovasculares, respiratrias crnicas, diversos tipos de cncer,

    entre outros grupos de patologias (BOEIRA e GUIVANT, 2003; FERRARI, 2003; SOUZA,

    2003).

    Seguindo nessa linha, primeiramente, uma grande quantidade de dados

    epidemiolgicos indica que o uso de tabaco exerce vrios danos ao sistema cardiovascular

    conduzindo arteriosclerose, doenas isqumicas do corao, doenas vasculares perifricas e

    doenas cerebrovasculares (FERRARI, 2003).

    Alm dessas doenas mencionadas, o tabagismo ainda est relacionado cardiopatia

    isqumica, hiperteno arterial, degenerao miocrdica, aneurisma da aorta, Infarto Agudo

    do Miocrdio (IAM) e outras cardiopatias (COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO

    MUNDIAL, 2003b).

    A tromboangete obliterante (gangrena de membros), ou Doena de Buerguer, a

    doena inflamatria arterial que apresenta a mais ntida associao com o uso do tabaco, j

    que, 99% dos indivduos que a desenvolvem so fumantes (FERRARI, 2003; SOUZA, 2003).

    Sendo, assim, o tabagismo a principal causa de cardiopatias isqumicas e de doena

    coronariana, expondo os fumantes a aumentarem o risco de sofrerem Acidente Vascular

    Cerebral (AVC) (FERRARI, 2003; MAUCH e SILVA, 1999; SOUZA, 2003).

  • Por fim, acredita-se que entre 20% a 30% dos casos de doenas cardiovasculares podem

    ser conseqncia do tabaco (SOUZA, 2003), e, segundo a COMISSO EUROPIA, OMS e

    BANCO MUNDIAL (2003), o fumo responsvel por 22% de todas essas doenas.

    Relativamente s doenas respiratrias, como o sistema respiratrio recebe todo o

    impacto dos componentes da fumaa de forma direta nele que se observa uma maior

    incidncia de doenas tabaco-relacionadas (FERRARI, 2003).

    Figuram, entre doenas relacionadas ao fumo: bronquite crnica, enfisema

    (aproximadamente 85% dos casos) bronquiectasias, fibroses, discinesia ciliar e cncer de

    pulmo (aproximadamente 90% dos casos). Alm dessas, o tabagismo ainda est relacionado

    tuberculose pulmonar, asma, pneumonia e outras doenas respiratrias, e, ainda, cerca de

    38%de todas as doenas respiratrias podem ser atribudas a esse fator de risco (FERRARI,

    2003; COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b).

    No que tange s doenas cancergenas, considera-se que a fumaa do tabaco seja um

    carcingeno (cancergeno) completo, contm cerca de 60 produtos cancergenos, os quais

    contribuem para a carcinognese (formao de cncer) (FERRARI, 2003).

    Assim, acredita-se que o tabaco tenha relao causal com vrios tipos de cncer (esfago,

    laringe, lngua, glndulas salivares, lbios, boca, faringe, bexiga, colo do tero, pncreas e

    intestino), e, sobretudo, o cncer de pulmo (GOMES, 2003; COMISSO EUROPIA, OMS

    e BANCO MUNDIAL, 2003b). E que nas reas do organismo onde ocorre grande impacto da

    fumaa, h maior relao na causalidade do cncer: 90% nos brnquios e pulmes em homens

    e 79% em mulheres, 91% na cavidade oral de homens e 61% em mulheres, 70 a 90% na

    laringe, faringe e esfago, e que, mesmo canceres mais distantes da via de entrada da fumaa

    so mais comuns entre fumantes do que em no fumantes (30% dos casos), como os referidos

    canceres de bexiga, dos rins e do pncreas. Ainda, existe relao entre tabagismo e outros

  • tipos de cncer, como de estmago e leucemia mileide (FERRARI, 2003; GOMES, 2003;

    COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b; SOUZA, 2003).

    Finalizando, ainda existe evidncia de associao entre o uso do tabaco e vrias outras

    doenas, como catarata, osteoporose, diminuio da fertilidade em ambos os sexos,

    impotncia sexual, infeces respiratrias, surdez, gastrite e lceras ppticas (gstricas e

    duodenais), psorase (doena cutnea inflamatria que descama a pele). Alm de outros

    efeitos nocivos causados, em parte, pelo tabagismo sade, a exemplo da doena de Crohn,

    periodontite, ambliopia por tabagismo, degenerao macular relacionado ao envelhecimento,

    feto de tamanho reduzido (COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b;

    SOUZA, 2003).

    Tambm se faz necessrio considerar as conseqncias do tabagismo para os fumantes

    passivos (indivduos que se expe fumaa de cigarros ou PTA). Segundo KROEFF (2002),

    pessoas que passam 80% do tempo em ambientes fechados juntamente com fumantes podem

    chegar a respirar o equivalente a 10 cigarros por dia, passando a correr o risco de ter as

    mesmas doenas que o fumante, embora no fumem.

    Das quase 5 mil substncias encontradas na corrente principal (fumaa que o fumante

    inala) cerca de 400 foram identificadas na corrente secundria (a que polui o ambiente), em

    quantidades comparveis com a corrente principal, contudo, algumas delas como a amnia,

    benzeno, monxido de carbono (CO), nicotina, nitrosaminas e outros cancergenos podem ser

    encontrados na fumaa que polui o ambiente em quantidades mais elevadas do que na fumaa

    tragada pelo fumante (IARC, 1986 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Atualmente est comprovado que os efeitos imediatos da exposio PTA no so

    apenas de curto prazo, como irritao nasal e nos olhos, dor de cabea, irritao na garganta,

    vertigem, nusea, tosse e problemas respiratrios, uma vez que eles tambm se relacionam ao

  • aumento, entre os no fumantes, do risco de cncer de pulmo e de vrias outras doenas

    relacionadas ao tabagismo (MINISTRIO DA SADE, 2004b)

    Recentes estudos de meta-anlise mostram que, entre no fumantes expostos de forma

    crnica poluio tabgica ambiental, o risco de desenvolver cncer de pulmo 30% maior

    do que entre os no fumantes no expostos e os riscos de doenas so 24% maior do que entre

    os no expostos (HACKSHAW et. al., 1997 e LAW et. al., 1997 apud MINISTRIO DA

    SADE, 2004b).

    Concluindo-se, as mulheres so particularmente afetadas por enfermidades ligadas s

    suas prprias condies biolgicas, assim, mulheres fumantes tm mais probabilidade de

    sofrerem aborto, placenta prvia, acidente vascular cerebral, dentre outras doenas tabaco-

    relacionadas. E, ainda, alguns estudos sugerem que as mulheres podem ser mais suscetveis

    aos efeitos dos carcingenos do tabaco do que os homens, ao demonstrarem que embora

    fumando o mesmo nmero de cigarros que os homens, o grupo feminino apresenta taxas mais

    elevadas de cncer de pulmo (WHO, 2001b apud MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Ainda, a nicotina provoca uma deficincia estrognica na mulher, concorrendo para a

    menopausa precoce, infertilidade e osteoporose (a densidade ssea de 5% a 10 % menor em

    mulheres tabagistas quando comparado com as outras, aumentando, assim, o risco de fraturas)

    e aquelas primeiras tm uma probabilidade maior de sofrerem derrame cerebral (MAUCH e

    SILVA, 1999).

    2.3.4 Morbidade e mortalidade atribuveis ao tabagismo

    Atualmente, o tabaco considerado um dos principais responsveis pela carga de

    doenas no mundo, causando cerca de uma em cada oito mortes, sendo considerado o

    tabagismo, juntamente com a AIDS, a causa de morte de maior crescimento no mundo

  • (GOMES, 2003; COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b;

    TABAGISMO, 2002-2003).

    Com efeito, milhares de estudos acumulados at o presente demonstram que ao

    consumo de tabaco podem ser atribudas 45% das mortes por doena coronariana (infarto do

    miocrdio), 85% das mortes por DPOC (enfisema), 25% das mortes por doena crebro-

    vascular (derrames) e 30% das mortes por cncer e no caso de cncer de pulmo, esse

    percentual sobe para 90% (MINISTRIO DA SADE, 2004b). Nos pases industrializados,

    entre pessoas de 35 a 69 anos de idade, estima-se que o tabagismo seja responsvel por 28%

    de todas as mortes (CONFERNCIA SANITRIA PAN-AMERICANA, 1998).

    Assim, segundo a OMS, anualmente, morrem cerca de 5 milhes de pessoas no mundo

    devido ao consumo desse produto, e, ainda, essa organizao tambm estima que, se a atual

    tendncia de consumo for mantida, nos prximos 30 a 40 anos, quando os atuais fumantes

    jovens atingirem a meia-idade, a epidemia tabgica ser responsvel por 10 milhes de mortes

    por ano (BANCO MUNDIAL, 1999 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b). Ilustrando,

    estima-se que o tabagismo cause cerca de 8,8% das mortes e 4,1% de IAAVs7 (59,1 milhes).

    Sua rpida evoluo epidmica pode ser percebida comparando-se as estimativas para 2000

    com as de 1990, no primeiro ano havia, pelo menos, um milho de mortes a mais atribuvel ao

    tabagismo, com aumento mais acentuado nos pases em desenvolvimento (COMISSO

    EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b).

    Ainda, calcula-se que, durante todo o sculo 20, 100 milhes de mortes foram

    atribudas ao uso de tabaco (JHA, 2000 apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]), e

    que, se as tendncias se mantiverem, este nmero poder duplicar, chegando a um bilho de

    mortos no sculo 21 (ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    7 IAAV refere-se a Incapacidade Ajustada por Anos de Vida, mede o peso da doena na populao. Associa

    Anos de Vida Perdidos (AVPs) e Anos Vividos com Incapacidade (AVIs) (COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL, 2003b).

  • A FIGURA 8 destaca o impacto do tabagismo procurando medir sua distribuio por

    regies geoeconmicas do mundo.

    FIGURA 8 - NUS GLOBAL DE DOENAS E LESES ATRIBUIDAS AO TABAGISMO POR REGIO -1990

    FONTE: MURRAY e LOPEZ apud ACHUTTI, MENEZES e MALCON ([199?]) NOTAS: AVP equivale a Anos de Vida Perdidos por morte precoce; AIP equivale a Anos Perdidos por Incapacidade;

    DALYs equivale a Anos de Vida Perdidos por Incapacidade e Morte Ajustados (Disability Adjusted Lost Years). Novo ndice introduzido pelo Banco Mundial em 1993, em seu registro anual, hoje adotado para medir o real impacto das doenas e leses.

    interessante observar que medida que o consumo de tabaco cresce entre as

    mulheres, a mortalidade por doenas causadas pelo tabaco, nesse grupo, tambm aumenta.

    Assim, nos pases desenvolvidos, nos quais as mulheres j vm fumando a muito tempo, a

    taxa de mortalidade devido a doenas tabaco-relacionadas corresponde a 25%-30% de todas

    as mortes femininas na meia-idade. E, mundialmente, mais de meio milho de mulheres

    morrem a cada ano em decorrncia do tabagismo (BANCO MUNDIAL, 2001 apud

    MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    No Brasil, so estimadas mais de 200 mil mortes anuais decorrentes do tabagismo

    (OPAS, 2002 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b). E calcula-se que, no pas, nos ltimos

    30 anos, um milho de mortes sejam atribuveis ao tabagismo (410 mil por doenas

  • cardiovasculares, 300 mil por cncer de pulmo e 380 mil por diversas outras causas)

    (ACHUTTI, MENEZES e MALCON, [199?]).

    Ilustrando, o INCA constatou que o crescimento do consumo de cigarros no Brasil em

    1945, 30 anos depois, em 1975, foi acompanhado pelo crescimento da taxa de mortalidade

    por cncer de pulmo entre homens (INCA, 1996 apud BOEIRA e GUIVANT, 2003).

    2.4 Aspectos ambientais do tabaco

    Alm dos custos sociais e econmicos, o tabagismo tambm provoca enormes custos

    ambientais. Quanto a estes custos, destaca-se a poluio por pesticidas e fertilizantes durante

    o plantio, bem como o rpido e excessivo empobrecimento do solo gerado pelo tabaco e,

    sobretudo, o desflorestamento necessrio para a cura da folha de tabaco (TABAGISMO,

    2002-2003).

    Com relao ao desflorestamento, para sua industrializao, depois de colhido como

    uma folha verde, o tabaco passa por um processo de secagem artificial denominado cura, a

    qual tem o objetivo de preservar as folhas para a armazenagem, transporte e processamento, e,

    atravs desse processo que o tabaco ganha as caractersticas de sabor, aroma e cor. E, na

    maioria dos pases em desenvolvimento, utiliza-se madeira para alimentar os fornos onde se

    processa a cura, assim como a infra-estrutura para construo dos fornos, que tipicamente tm

    de ser reconstrudos em dois ou trs anos (CAMPAING FOR TOBACCO FREE KIDS, 2001,

    apud MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Com efeito, pesquisas recentes indicam que a situao de desmatamento devido

    fumicultura crtica. Mais de 30 pases, como Coria do Sul, Uruguai, Bangladesh, Malawi,

  • Jordnia, Paquisto, Sria, China e Zimbabwe, lideram a lista dos que possuem o mais elevado

    percentual de desmatamento relacionado ao tabaco. S no sudeste da frica, estima-se que

    140 mil hectares de florestas foram devastados anualmente para a cura do tabaco,

    contribuindo com 12% do desmatamento na regio. Em uma regio da Malsia, onde os

    fumicultores correspondem a apenas 3% dos agricultores locais, cerca de 80% das rvores

    cortadas na regio so para a cura do tabaco. As taxas anuais de desmatamento nos trs

    maiores pases produtores de tabaco no sul da frica Zimbabwe, Malawi e Tanznia so

    quase 60% mais altas do que a mdia africana de 0,7% ao ano (CAMPAING FOR

    TOBACCO FREE KIDS, 2001 op. cit. apud MINISTRIO DA SADE, 2004b). Ainda, em

    alguns pases em desenvolvimento, o desflorestamento para a cura do tabaco atinge 5% do

    desflorestamento total (TABAGISMO, 2002-2003).

    Corrobora esses nmeros o fato de que cada mil estufas queimarem cerca de 50 mil m3

    de rvores nativas ou reflorestadas, por safra, de acordo com informao de tcnicos das

    empresas que orientam os produtores (BOEIRA e GUIVANT, 2003).

    No Brasil, na Regio Sul, o total de estufas passou de 94.942 para 116.559, com um

    aumento de 21.617, entre 1995 e 1998 (LOCATELLI, 1992 apud BOEIRA e GUIVANT,

    2003). Em 1992, a Souza Cruz informou que a safra catarinense consumiria cerca de 9

    milhes de rvores (naquele ano, o programa empresarial Clube da rvore registrou plantio

    de 2 milhes de mudas na Regio Sul) (BOEIRA e GUIVANT, 2003).

    Os percentuais de produo de tabaco por Estado oscilam muito pouco, por exemplo,

    na safra 1999/00, foram os seguintes: Santa Catarina 37%, Rio Grande do Sul 51% e Paran

    12%. Tomando-se esses percentuais como referncia, concluiremos que em 1992/93 o

    consumo foi de 24 milhes de rvores, na Regio Sul, aproximadamente, mas a TABELA 1

    aponta para um nmero maior, de 37, 5 milhes (BOEIRA e GUIVANT, 2003).

  • TABELA 1 - CONSUMO DE RVORES NA FUMICULTURA (REGIO SUL) - SAFRAS 1990/91-1997/98

    SAFRA NMERO DE RVORES HECTARES 1990/01 27.405.000 18.440 1991/92 33.405.000 21.040 1992/93 37.505.000 22.760 1993/94 32.640.000 18.740 1994/95 30.080.000 16.580 1995/96 39.053.200 18.370 1996/97 41.032.000 19.270 1997/98 45.411.708 19.490 FONTE: PERFIL... (1992, 1996, 1999) apud BOEIRA e GUIVANT (2003)

    Embora existam programas de reflorestamento para reposio da lenha utilizada no

    processo de cura das folhas de tabaco, cabe observar que toda queima de rvore gera poluio,

    que as queimadas, tradicionais entre os fumicultores, tambm reduzem a biodiversidade e que

    as matas nativas no so garantidas pelo reflorestamento (PERFIL..., 1999 apud BOEIRA e

    GUIVANT, 2003).

    Assim, tcnicos da Souza Cruz informam que, em certas propriedades, agricultores

    derrubam rvores nativas para plantar espcies de rpido crescimento, podendo, assim,

    utiliz-las como combustvel, ou mesmo vend-las. Com efeito, a maioria (59,1%) dos

    fumicultores utilizava rvores nativas da Mata Atlntica em 1998, no Vale do Itaja, SC,

    segundo pesquisa junto aos tcnicos dessa empresa (BOEIRA, 2000 apud BOEIRA e

    GUIVANT, 2003).

    Ainda, em um recente estudo, 59% dos fumicultores disseram que usam lenha de mata

    nativa e reflorestada. Isto mostra que o processo produtivo de tabaco continua causando o

    desflorestamento da mata nativa no Rio Grande do Sul (ETGES et. al., 2002 apud

    MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Alm disso, o tabaco uma planta que empobrece rapidamente o solo. Estudos

    mostram que o tabaco utiliza mais nitrognio, fsforo e potssio do que outros tipos de cultivo

    e que o impacto da depleo do solo maior em pases tropicais onde o teor de nutrientes no

  • solo baixo. Por isso, a cultura do tabaco requer uso intenso de fertilizantes (CAMPAING

    FOR TOBACCO FREE KIDS, 2001 apud MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    E, essa enorme quantidade de elementos qumicos utilizados no plantio e cultivo,

    tende a alterar a composio do solo e da gua. E, ainda, a OMS considera a fumaa do

    cigarro como sendo a maior e mais perigosa fonte de poluio ambiental domstica da

    atmosfera, j que ela contm entre 20 mil a 60 mil ppm de monxido de carbono, sendo que a

    mdia da atmosfera de 1,3 ppm (FERRARI, 2003).

  • 3 ASPECTOS ECONMICOS DO TABAGISMO

    Este captulo procura descrever os principais aspectos econmicos do tabagismo,

    expondo o atual cenrio produtivo do tabaco e os benefcios e custos econmicos trazidos

    pelo seu consumo s economias, mundial e do Brasil.

    3.1 Cenrio econmico do tabaco/tabagismo

    O tabaco , atualmente, a principal planta no alimentcia cultivada em mais de 100

    pases, e sua produo anual est em torno de 6,6 milhes de toneladas (AFUBRA)

    movimentando numerrios considerveis (cerca de 20 bilhes de dlares, de acordo com

    FERRARI, 2003).

    O pas lder do setor a China (TABELA 2), que produz cerca de 39,6% do total de

    tabaco produzido no mundo. ndia, Brasil e EUA, conjuntamente, correspondem por

    aproximadamente 25,7%, e Turquia, Indonsia, Malawi, Itlia, Grcia, Argentina plantam

    outros 13,1%. Assim, 10 pases produzem quase 90% do tabaco do mundo, e, segundo a

  • COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL (2003a), cerca de 70 outros pases em

    desenvolvimento plantam tabaco em pequenas quantidades.

    A contribuio brasileira isoladamente tem sido avaliada em 9,6% da produo

    mundial, segundo a AFUBRA, ocupando ora o terceiro, ora o segundo lugar, revezando-se

    com a ndia.

    TABELA 2 - MAIORES PRODUTORES MUNDIAIS DE FUMO - 2003 PAS POSIO PRODUO (t) PARTICIPAO

    (%) China 1 2.617.040 39,6 ndia 2 660.000 10,0 Brasil 3 635.820 9,6 EUA 4 403.520 6,1 Turquia 5 171.310 2,6 Indonsia 6 170.150 2,6 Malawi 7 157.290 2,4 Itlia 8 125.000 1,9 Grcia 9 124.000 1,9 Argentina 10 116.000 1,8 Outros 93 1.427.700 21,6 TOTAL 103 6.607.830 100,0

    FONTE: USDA/AFUBRA apud www.afubra.com.br

    Quanto ao perfil geogrfico da produo no Brasil, a Regio Sul responde por 96,4%

    da produo nacional de fumo, este percentual corresponde a fumos claros destinados

    exclusivamente para o fabrico de cigarros (apenas o Estado do RS responde por 43% da

    produo nacional), ao passo que no Nordeste (Bahia e Alagoas) so produzidos fumos

    escuros prprios para a fabricao de charutos e cigarrilhas. Enquanto as demais regies

    brasileiras cultivam somente o fumo de corda, cujos volumes produzidos so inexpressivos

    (AFUBRA, 2002-2003; MINISTRIO DA SADE, 2004b).

    Na Regio Sul, a cultura do fumo desenvolvida em 700 municpios dos trs Estados

    do Sul, e na safra 2002/2003 foram aproximadamente 190.000 famlias de pequenos

    agricultores, que em geral possuam propriedades inferiores a 18 hectares, dos quais somente

  • 2 hectares, em mdia, eram utilizados para o plantio de fumo, o restante de suas reas era

    ocupado para o cultivo de milho, feijo, pastagens, reflorestamento, entre outras atividades

    (AFUBRA, 2002-2003).

    Nessa Regio, desde 1918, a fumicultura desenvolvida pelo Sistema Integrado de

    Produo, no qual as indstrias fornecem assistncia tcnica aos agricultores integrados,

    atravs de aproximadamente 1.500 tcnicos, entre engenheiros agrnomos e tcnicos

    agrcolas, prestam assistncia financeira, coordenam e custeiam o transporte da produo

    desde a propriedade at as usinas de beneficiamento e garantem a compra integral da

    produo por preos negociados entre representantes dos agricultores e da indstria, com base

    em levantamentos de custo de produo (AFUBRA, 2002-2003).

    Ainda, segundo a AFUBRA, as indstrias repassam aos produtores os insumos

    certificados e autorizados para uso na fumicultura, orientam e incentivam o correto uso,

    manejo e conservao do solo, diversificao de culturas e o reflorestamento.

    Assim, de acordo com a referida Associao, o fumo pode ser considerado um dos

    nicos produtos agrcolas brasileiros que tem seu preo negociado entre produtores e

    indstria. Negociao que baseada em levantamentos dos custos de produo, que so

    pesquisados por ambas as partes entre um universo representativo de produtores. Essas

    negociaes de preo levam em considerao tambm os aspectos mercadolgicos de oferta e

    demanda internacional, bem como uma margem de lucratividade sobre o custo de produo.

    Entretanto, segundo o MINISTRIO DA SADE (2004a), nesse Sistema de Produo

    Integrado, cada fumicultor faz contrato exclusivo com uma companhia de tabaco, que financia

    os custos do plantio, garante a compra da colheita e define os preos, que, geralmente, esto

    abaixo do valor de mercado. E, ainda, esses agricultores so obrigados a usarem tecnologia,

    sementes, fertilizantes e pesticidas fornecidos pelos tcnicos da indstria de tabaco, e a

    assumirem os custos dos insumos e infraestrutura exigidas (a construo de fornos de tijolos

  • para a cura e os custos do reflorestamento para a reposio da madeira como lenha utilizada

    nos fornos).

    Esta estratgia organizacional tem permitido que a indstria do tabaco se mantenha

    conectada com a produo agrcola, e exera um absoluto controle sobre o processo de

    produo de tabaco e as atividades dos fumicultores (ERDMANN & PINHEIRO, 1998 apud

    MINISTRIO DA SADE, 2004a).

    Assim, a folha de tabaco proveniente do Brasil conhecida internacionalmente como

    de boa qualidade e de baixo preo, devido aos baixos custos internos de sua produo os quais

    tem como fatores contribuintes: a no mecanizao da lavoura que, apesar de resultar em

    baixo rendimento da cultura, fornece uma maior qualidade ao produto, que recebe cuidado

    manual maior do que o fumo produzido em processo mais mecanizado (MINISTRIO DA

    SADE, 2004a)

    O que garante que esse pas ocupe o primeiro lugar no ranking internacional como

    exportador desde 1993 (TABELA 3), considerando-se apenas volumes, tal desempenho

    atribudo a essa excelente qualidade do fumo brasileiro, a qual responsvel pela conquista de

    novos mercados (AFUBRA). Contudo, em termos de valores, esse pas perde por muito se

    comparado aos EUA, primeiro como exportador em valor, devido ao fato dos fumos crus e

    beneficiados deste pas terem um preo muito mais elevado, em termos de paridade, e

    primeiro como importador em volumes (TABELA 4) (FERRARI, 2003).

    TABELA 3 PRINCIPAIS EXPORTADORES DE FUMO (VOLUME) (t) 1994-1998 PASES 1994 1995 1996 1997 1998

    Brasil 275.500 256.270 282.360 318.000 305.600 EUA 196.792 209.482 222.316 222.000 210.000 Zimbbue 200.831 174.289 176.619 175.000 177.610 Turquia 112.411 136.392 130.000 156.000 151.000 Malsia 77.331 99.057 95.555 111.449 110.550 Grcia 110.000 133.000 130.250 110.000 105.000 FONTE: ABIFUMO apud FERRARI (2003)

  • TABELA 4 - PRINCIPAIS IMPORTADORES DE FUMO (VOLUME) (t) - 1994-1998 PASES 1994 1995 1996 1997 1998

    EUA 264.390 199.088 326.454 306.000 274.500 Alemanha 182.785 209.761 208.000 250.000 230.000 Rssia 143.080 143.598 150.005 149.000 178.000 Reino unido 97.578 141.467 102.450 131.000 132.000 Pases Baixos 86.546 89.075 89.000 98.000 108.000 Japo 135.543 115.072 124.000 96.000 91.500 FONTE: ABIFUMO apud FERRARI (2003)

    3.2 Benefcios econmicos do tabaco/tabagismo

    Sendo produzido em larga escala em diversos solos e climas, o tabaco se tornou uma

    atividade agrria de grande importncia para muitas economias nacionais, inclusive para o

    Brasil. E, corroborando, segundo a AFUBRA, o fumo constitui hoje um dos fatores mais

    importantes da economia dos 103 pases que exploram tal cultura, devido s contribuies

    desse s vrias economias nacionais, em termos de empregos gerados e rendas auferidas,

    comrcio exterior e tributao advindas do plantio, processamento, industrializao,

    exportao (fonte de divisas) e impostos.

    Considerando-se esses potenciais benefcios, de acordo com FERRARI (2003), o

    fumo, por se constituir em cultura de mo-de-obra intensiva, responsvel pela criao e

    manuteno de cerca de 33 milhes de empregos nas lavouras mundiais, aproximando-se de

    100 milhes o nmero de pessoas ocupadas direta ou indiretamente na atividade fumageira.

    Entretanto, segundo o MINISTRIO DA SADE (2004a), nesse universo de 33

    milhes de empregos, podem estar includos fazendeiros que cultivam outros produtos alm

    do tabaco, trabalhadores (operrios) temporrios, membros de famlia e outros trabalhadores

    de servios avulsos, assim o Banco Mundial sugeriria maior cuidado para refletir, nessa

    estimativa, apenas o nmero de plantadores que dependem da produo de tabaco em tempo

  • integral, j que este nmero seria bem menor do que o acima citado, representando somente

    1/3 deste.

    Ainda assim, indiscutivelmente, o setor fumageiro envolve milhes de pessoas no

    mundo, entre fumicultores, transportadores, funcionrios das indstrias de beneficiamento e

    das fbricas de cigarros, postos de venda, fabricantes e distribuidores de insumos agrcolas,

    alm dos fornecedores de matria-prima (AFUBRA), o que assegura uma grande relevncia

    nos cenrios econmicos desses pases produtores de fumo.

    Alm disso, o tabaco considerado o mais estvel e de maior rentabilidade, por rea

    cultivada, entre os 30 produtos agrcolas de maior expresso mundial, garantindo um nvel de

    renda agrcola mais elevado. Suas plantaes ocupam apenas 0,3% das reas atualmente

    cultivadas, o que corresponde a menos da metade da rea destinada ao plantio de caf, por

    exemplo, que de 0,7% (FERRARI, 2003).

    Para ilustrar, a COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO MUNDIAL (2003a)

    defendem que mesmo nos pases de maior produo de tabaco (China, Brasil, ndia, Indonsia

    e Turquia) apenas 0,25%-1,5% de toda a terra cultivada usada no plantio de tabaco,

    enquanto que Malawi e Zimbbue, pases cujas economias so muito dependentes do fumo,

    usam respectivamente 6% e 3% de suas terras frteis nessa cultura.

    Com efeito, um estudo feito no Zimbbue em janeiro de 2001 verificou que o tabaco

    era uma lavoura muito lucrativa para grandes e pequenos fazendeiros, dando um retorno

    consideravelmente maior que lavouras alternativas, mas que mesmo nas melhores regies

    agro-ecolgicas, a lavoura de fumo era onerosa, com custos iniciais elevados e grande

    necessidade de mo-de-obra. E, estudos na ndia concluram que o plantio misto de tabaco,

    com outras lavouras, propiciaria maior retorno lquido que o plantio dessa cultura

    exclusivamente, contudo, os fazendeiros se estimulariam com o retorno bruto dado pelo fumo,

  • em vez de compararem os retornos lquidos (COMISSO EUROPIA, OMS e BANCO

    MUNDIAL, 2003a).

    Quanto ao comrcio exterior, de acordo com a COMISSO EUROPIA, OMS e

    BANCO MUNDIAL (2003a), muitos pases tm um dficit comercial lquido proveniente do

    tabaco e de seus produtos derivados, o que significa que gastam mais ao importar do que

    ganham ao exportar tais produtos, o que ocasiona queima de reservas em moeda estrangeira.

    E para alguns poucos pases, a balana comercial favorvel quanto exportao de tabaco

    (Bolvia, Venezuela, Crocia e Hungria), contudo, para nenhum deles o fumo uma

    importante fonte de receitas.

    Ainda, segundo essas instituies, os pases em desenvolvimento que possuem balana

    comercial positiva para o tabaco so: Argentina , Brasil, Chile, Colmbia, Guatemala, ndia,

    Qunia, Macednia, Malawi, Mxico, Moambique, Tanznia, Tailndia, Turquia e

    Zimbbue, os quais efetivamente possuem um ganho lquido proveniente do tabaco, traduzido

    em supervit daquela em relao a esse produto. E mesmo em pases grandes produtores, a

    exportao da folha de tabaco contribui apenas modestamente para o total da receita de

    exportao (5-6% na Bulgria, Repblica Dominicana, Quirziquisto e Tanznia, 1-2% no

    Brasil e Turquia, e bem abaixo de 1% em outros pases produtores desse produto), exceto na

    Malsia e em Zimbbue onde representa, respectivamente, 60% e 20-30%.

    Cabe ressaltar ainda que, como j referido anteriormente, esses dois ltimos pases

    possuem em suas economias uma grande dependncia ao tabaco, o que corroborado por

    FERRARI (2003) que afirma terem esses pases nesse produto e em seus derivados a mais

    significativa fonte de gerao de empregos e o mais importante produto na carteira de

    exportaes, correspondendo, esse na primeira economia, por 14% e, na segunda, por 6% do