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HOJE MACAU AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DEFICIENTES VISUAIS UMA LUTA INGLORIA DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 8 DE JULHO DE 2014 ANO XIII Nº 3126 hojemacau VOTO A GOSTO ELEIÇÕES CE ASSOCIAÇÕES PROMOVEM REFERENDO A exemplo de Hong Kong, também Macau vai ter um referendo não oficial sobre a eleição do Chefe do Executivo. Macau Consciência, Associação Novo Macau e Sociedade Aberta de Macau são as três associações que querem dar voz à cidadania. ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 PÁGINAS 12, 13, 14 E 16 PÁGINA 4 O presidente da associação que defende os direitos dos invisuais, Albert Cheong, acusa o Governo de falta de interesse e abandono dos portadores de deficiência visual. Confessa-se triste e cansado e pensa regressar aos EUA, onde foi porta-voz dos deficientes chineses. PUB Viagem Por Macau A visão estrangeira ´ As obras para as fundações do novo Centro Hospitalar que servirá a Taipa e Coloane foram adjudicadas. Os custos estão orçamentados em mais de 70 milhões de patacas e os trabalhos vão estar a cargo de uma empresa estatal chinesa. Saúde Primeiro passo para o novo hospital nas ilhas SOCIEDADE PÁGINA 6

Hoje Macau 8 JUL 2014 #3126

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Hoje Macau N.º3126 de 8 de Julho de 2014.

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HOJE

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

DEFICIENTES VISUAIS

UMA LUTA INGLORIA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 8 D E J U L H O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 2 6

hojemacau

VOTOA GOSTO

ELEIÇÕES CE ASSOCIAÇÕES PROMOVEM REFERENDO

A exemplo de Hong Kong, também Macau vai ter um referendo não oficial sobre a eleição do Chefe do Executivo. Macau Consciência, Associação Novo Macau e Sociedade Aberta de Macau são as três

associações que querem dar voz à cidadania.

ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3

PÁGINAS 12, 13 , 14 E 16

PÁGINA 4

O presidente da associação que defende os direitos dos invisuais, Albert Cheong, acusa o Governo de falta de interesse e abandono dos portadores de deficiência visual. Confessa-se triste e cansado e pensa regressar aos EUA,onde foi porta-voz dos deficientes chineses.

PUB

ViagemPor MacauA visão estrangeira“

´

As obras para as fundações do novo Centro Hospitalar que servirá a Taipa e Coloane foram adjudicadas. Os custos estão orçamentados em mais de 70 milhões de patacas e os trabalhos vão estar a cargo de uma empresa estatal chinesa.

Saúde Primeiro passo para o novo hospital nas ilhas

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hoje macau terça-feira 8.7.20142 ENTREVISTA

FIL IPA ARAÚJO [email protected]

Com quatros anos de exis-tência quais as maiores dificuldades sentidas pela Associação de Promoção dos Direitos aos Portado-res de Deficiência Visual (APDPDV) no apoio a estas pessoas?Todas! Tem sido muito difí-cil conseguir criar condições para ajudar as pessoas com problemas de visão, muito difícil. A nossa associação tem tentado chegar ao Go-verno e ao Instituto de Acção Social (IAS), mas as coisas não têm corrido bem e, por isso, estou muito triste e a deixar de acreditar nesta luta pelos direitos de quem mais precisa.

Na sua opinião, o que preci-sa o Governo de fazer para ajudar e para que a sua associação consiga auxiliar os deficientes visuais?É preciso criar condições para que as pessoas com de-ficiência, os seus familiares e toda a comunidade perce-bam que os cegos - ou quase cegos - são pessoas normais. Nós podemos cozinhar, ir à escola, andar de autocarro,

ALBERT CHEONG, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS AOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL

“O Governo não tem postura de inclusão,

ir às compras, trabalhar, ou seja, conseguimos fazer tudo, desde que sejamos prepara-dos para isso. O apoio que o Governo oferece às pessoas com este tipo de problemas é o chamado “caminho fácil”: oferece dinheiro e bens ali-mentares aos invisuais e às suas famílias e pensa que o problema fica resolvido Mas não fica. É preciso preparar a comunidade de Macau para dar formação, para ensinar os deficientes a viver com a sua condição. É necessário pres-tar apoio a nível emocional para que os próprios percam a vergonha do seu problema e tenham vontade de lutar e aprender. Sem desistir.

Considera que os invisuais a residir em Macau se sen-tem constrangidos devido ao seu problema?Claro que sim, muitos escon-dem-se e mentalizam-se que a vida acabou no dia em que perderam a visão. Isto não é verdade, ficar cego não é o fim da vida. Isso garanto eu e todos os membros da associação também. Nós podemos ser independentes, mas claro o Governo e os IAS precisam de nos ajudar.

Como?É preciso preparar a cidade para os invisuais. Imagine, como é que um cego conse-gue saber que está a entrar no autocarro certo? Onde está a indicação sonora do número do autocarro? Não consigo andar de autocarro, nem de táxi, porque não os vejo sequer. No caso dos jo-vens do secundário, como é o exemplo da aluna Ivy Kuok

que tornou o seu caso público nos últimos dias, como é que eles conseguem ver o que está escrito no quadro? Porque é que o Governo e os Serviços de Educação ainda não prepararam as nossas escolas com computadores adequados aos deficientes? Porque é que os restaurantes não incluem um menu em ‘braille’ ou apenas um com os caracteres maiores? E a pergunta principal: porque é que não existe um centro, sem contar com o único que existe em Macau, mas que só serve como se um lar de dia se tratasse, de apoio que

ensina os cegos a viver em co-munidade e a ser autónomos?

Tem respostas às suas perguntas?Tenho. O Governo não quer saber, não tem interesse nenhum em ajudar os cegos

e afasta-os da comunidade. Pense comigo: lembra-se de algum centro ou casa de apoio aos deficientes no centro de Macau ou da Taipa? Se pen-sar verá que não existe nada. Mas bancos, supermercados e todos os outros serviços exis-

tem em cada esquina, então, porque não estes serviços de apoio comunitário? O dinhei-ro não é desculpa, Macau não é pobre, antes pelo contrário, temos dinheiro para criar os serviços de apoio.

Esteve 20 anos nos EUA e foi o primeiro chinês re-conhecido como defensor dos direitos das minorias. Fale-nos um pouco sobre essa experiência.Sim, estive nos EUA 20 anos, foi lá que me formei em Acção Social, criei a minha família e estive di-rectamente envolvido com

O Governo não tem intenção de ajudar os invisuais, nem de mudar o sistema de Macau para os ajudar. Quem o diz é Albert Cheong, que acusa o Executivo de não querer saber de quem precisa e critica o facto de o único local para invisuais em Macau ser apenas um centro de dia e não dar formação aos portadores de deficiência visual

“O Governo não quer saber, não tem interesse nenhum em ajudar os cegos e afasta-os da comunidade”

“Durante os quatro anos na associação da qual sou presidente esforcei-me para que a conduta das entidades responsáveis se alterasse, mas estou cansado, pouco ou nada temos conseguido”

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3 entrevistahoje macau terça-feira 8.7.2014

“Sou um apoiante máximo à sua causa, a Ivy não procura dinheiro, ou seja, ela não quer receber subsídios do Governo, ela quer apenas que situações idênticas não se repitam”Sobre a aluna considerada como deficiente mental pelo Governo por ser cega

esconde os deficientes”grupo de trabalho social. Fui o primeiro chinês a ser nomeado pela Associação Americana das Pessoas Por-tadoras de Deficiência em Washington, como defensor dos deficientes, onde ganhei também o título de porta-voz chinês nos Estados Unidos. Durante todo o meu percurso lá estive directamente ligado a associações de apoio aos invisuais, em São Francis-co, na Califórnia, e outros sítios. O país americano permitiu-me abrir a mente para o meu problema. Eu próprio sou portador de um problema de visão desde os meus 13 anos e lá aprendi que poderia ser um cidadão comum, com uma vida igual à das outras pessoas. Eu cozinho, estudei, arranjei trabalho e foram estes cen-tros [de reabilitação] que existem por todo o país que me ajudaram a acreditar. Por isso, é importante que Ma-cau perceba isso também, apesar, confesso-lhe, de não achar que isso vá acontecer.

Não acredita que Macau pode mudar e trazer as con-dições necessárias para os portadores de deficiência?Não. Penso no futuro e vejo tudo negro, não vejo a luz ao fundo do túnel, perce-be? Deixei de acreditar que Macau e o Governo podiam melhorar e mudar. É muito triste e frustrante para mim, principalmente por ser pre-sidente da associação, mas esta falta de vontade do Governo provoca em mim uma vontade de abandonar Macau e voltar para os EUA.

Mas não foi essa a “missão” que o trouxe de volta ao local que o viu nascer?Sim, foi. Voltei a Macau por achar que estava na altura de transmitir tudo aquilo que aprendi durante o meu percurso nos EUA. Depois de ter sido considerado um defensor oficial achei que faria todo o sentido voltar. Vim com vontade de mudar Macau e a sua comunidade, abandonando a vida confor-tável que tinha, deixando o meu trabalho e os meus amigos. Durante os quatro anos na associação da qual sou presidente esforcei-me para que a conduta das

entidades responsáveis se alterasse, mas estou can-sado, pouco ou nada temos conseguido. Repare, nós não queremos enriquecer, não queremos ganhar di-nheiro à custa do Governo, queremos apenas mudar mentalidades, mudar a vida dos deficientes, para melhor. A nossa associação queria organizar uma conferência em Macau para Novembro sobre o tema, convidando a comunidade de Hong Kong e Taiwan, mas para a orga-nização e todas as questões burocráticas pedimos ajuda ao Governo que, apesar de não negar o nosso pedido, informou-nos que apenas poderia disponibilizar 20% do orçamento total.

Uma verba insuficiente para organizar o evento?

Claro que assim nós não conseguimos organizar nada. Hoje, eu e mais cinco mem-bros da nossa associação par-timos para os Estados Unidos para duas conferências, gas-tos que são completamente suportados por cada um de nós. A primeira conferência decorrerá de 11 a 19 de Julho em Las Vegas e é organizada pelo Conselho Americano da Cegueira e depois seguimos para Washington para assistir à segunda, que está agendada de 26 de Julho a 1 de Agosto e é da responsabilidade do Conselho Nacional da Vida Independente. A participação dos portadores de deficiência neste tipo de eventos é muito importante, porque consegue mudar a mente das pessoas, abrindo-as para outros mo-dos de encarar a deficiência, dando exemplos de casos

de sucesso e conseguindo ultrapassar a vergonha.

Vemos que insiste um pou-co nessa vergonha...Sim, porque é muito triste saber que as pessoas sentem vergonha pela sua questão de saúde. Aqui, em Macau, há casos que me deixam profundamente abatido, por exemplo, uma pessoa que conheço perdeu a visão aos 50 anos, neste momento tem 61... sabe há quanto tempo é que ele não sai de casa? Há 11 anos. Sim, esta pessoa nunca mais saiu de casa desde que teve o problema, perdendo tudo aquilo que construiu durante 50 anos, inclusive o seu casamento, porque a esposa não sabia como lidar com a situação e tudo se complicou. Não faz sentido uma pessoa esconder-se ou estar tran-cada em casa por ser cega.

Mas Macau tem um centro de apoio aos deficientes visuais.Sim tem, mas que funciona como um lar de dia, ou seja, não é uma escola para

pessoas com problemas de visão, não há formação, não se ensina o deficiente a ser autónomo. Poderiam existir aulas de cozinha, ensinar a ler em ‘braille’, muitas actividades que permitissem os portadores da deficiência criar a sua independência. O Governo não tem uma postura de inclusão, mas sim de esconder os nossos defi-cientes. Não lhe interessa ensinar os invisuais e as suas famílias, porque não quer ter trabalho e ir pelo caminho mais difícil que é mudar o sistema, preparar a cidade e aproximar a comunidade a esta minoria. Ele [Governo] precisa de nos dar esta opor-tunidade, sendo um membro activo nessa mudança de mentalidade e postura. Nós, os portadores de deficiência, precisamos de acreditar que conseguimos fazer tudo.

E relativamente ao caso da avaliação que o Governo e as entidades de acção so-cial fazem aos graus e tipo de deficiência, como vê os padrões?Na minha opinião não funcio-nam, caso contrário episódios como o da estudante Ivy não aconteceriam: uma pessoa portadora de deficiência vi-sual foi considerada deficiente mental e todo este erro fez com que ela perdesse tempo e anos de escola. Sou um apoiante máximo à sua causa.

“...nós não queremos enriquecer,não queremos ganhar dinheiro à custa do Governo, queremos apenas mudar mentalidades, mudar a vida dos deficientes, para melhor”

A Ivy não procura dinheiro, ou seja, ela não quer receber subsídios do Governo, quer apenas que situações idênticas não se repitam e para isso é preciso mudar as leis, os siste-mas de avaliação e, mais uma vez, as mentalidades.

Mas ao voltar para os EUA estará a desistir dessa mu-dança que defende...O que fazer quando ninguém está connosco? Estou muito desapontado com o Gover-no. Sinto-me cansado e triste por não ver a mudança a acontecer.

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hoje macau terça-feira 8.7.20144 POLÍTICAANDREIA SOFIA [email protected]

J ASON Chao já tinha prometido novas ac-ções desde o último protesto agendado

para o dia de eleições para o Colégio Eleitoral que vai escolher o próximo Chefe do Executivo e aí estão elas: a realização de um referendo. A organização está a cargo não só da Associação Novo Macau (ANM), como tam-bém da Sociedade Aberta de Macau (Open Macau Society) e da Juventude Dinâmica de Macau (Macau Youth Dinamics).

Antes da realização do referendo, o público poderá ainda participar numa con-sulta pública até ao dia 19, onde poderá expressar as suas opiniões sobre vários cenários possíveis para a vo-tação do Chefe do Executivo.

“O processo de obter um consenso por parte dos votan-tes é crucial durante o referen-do, por isso é que vamos lançar uma consulta pública sobre a forma como o vamos fazer”, disse Jason Chao.

“Este referendo foca-se em dois aspectos. O primeiro é sobre a eleição do Chefe do Executivo, se deveria ou não ser eleito por sufrágio universal em 2019. O outro aspecto é, se houver apenas um candidato, se os residentes

Gabinete de Relações Públicase Protocolo em funções até 2015O Gabinete de Protocolo, Relações Públicas e AssuntosExternos do Chefe do Executivo, criado em Agosto de 2012 e com existência prevista para um ano, vai continuar a exercer funções, pelo menos até Agosto do próximo ano. O anúncio foi feito ontem, em Boletim Oficial. Este gabinete – classificado como “equipa de projecto” – serve para organizar visitas do Chefe do Executivo (CE) ao exterior e de delegações estrangeiras a Macau. O organismo coordena ainda a realização de eventos e cerimónias oficiais do CE na RAEM e outros locais. No final de Fevereiro passado, esta equipa de projecto recebeu, por parte do Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, um fundo permanente de 288 mil patacas para os trabalhos a cumprir durante este ano, tendo o montante sido atribuído à comissão gestora do gabinete, que inclui Daniel Fung como presidente. – L.S.M.

Direitos de obras de valor cultural sob a tutela do Instituto Cultural

UM dos artigos do Regime do Direito de Autor e Direitos Co-

nexos vai passar a estar sob alçada do Instituto Cultural (IC), já a partir de hoje. Anteriormente a cabo dos Serviços de Alfândega e Direcção dos Serviços de Economia, o artigo referente às obras de valor cultural vai passar a ser tutelado pelo IC. A informação foi publicada ontem num despacho do Chefe do Executivo de 30 de Junho.

Ao HM, o Instituto Cultural ex-

plicou que a alteração da entidade responsável se deve ao facto do referido artigo dizer respeito a obras de valor cultural. De acordo com despacho do BO, o IC tem o dever de proteger as obras que tenham caído em domínio público, estando a entidade igualmente responsável por assegurar “a defesa das obras ainda não caídas no domínio públi-co que se encontrem ameaçadas na sua autenticidade ou integridade” depois da morte do autor ou no caso

das pessoas nomeadas para futuro cuidado não quererem assumir a responsabilidade. O diploma, que define os direitos de autor e as infrac-ções pela comercialização indevida de material original, foi alterado em Abril de 2012 de forma a integrar os elementos electrónicos. O decreto--lei é de 1999 e nele não vigorava a comercialização não autorizada no meio online, servindo a alteração do diploma para efeitos de adaptação das normas internacionais. - L.S.M.

“De certeza que esperamos ter mais de 400 pessoas, para que haja uma maior representatividade do que o sistema oficial de eleições” JASON CHAO

A Macau Consciência, a Associação Novo Macau e a Sociedade Aberta de Macau vão realizar um referendo sobre a eleição do Chefe do Executivo entre os dias 24 e 30 de Agosto, à semelhança do que aconteceu em Hong Kong. Os resultados só serão conhecidos depoisda publicação dos números da eleição oficial, dia 31

ELEIÇÕES CE ASSOCIAÇÕES PROMOVEM CONSULTA PÚBLICA E REFERENDO

Votações alternativas

confiam ou não nesse candida-to. Apesar de não ser oficial, o referendo dá a possibilidade dos residentes expressarem o seu direito de cidadania”, disse Jason Chao.

Ainda não existe um orçamento definido para o

referendo, mas Jason Chao garantiu que será “o mais bai-xo possível”, existindo apenas custos ao nível do aluguer de materiais e da promoção da actividade, sendo que exis-tirão muitos voluntários nos locais de voto.

Esperando uma forte ade-são das pessoas depois dos acontecimentos em Hong Kong onde foi também promovida uma acção seme-lhante - Jason Chao mostra-se confiante em relação aos resul-tados práticos do referendo.

“Há dois anos eu e Scott Chiang organizamos um referendo e tivemos pouco tempo para o promover. Nessa altura os meios de comunicação chineses fize-ram uma grande cobertura e tivemos cerca de três mil

votos. Estou muito optimista em relação a este referendo, porque vamos ter mais tem-po para o promover”, disse o responsável.

PARA TODOS A PARTIR DOS 16Os residentes, permanentes e não permanentes, que queiram participar nesta forma alternativa de elei-ção do chefe do Governo podem fazê-lo através da votação online ou de forma presencial, com boletins de voto disponíveis em três línguas.

Quem quiser deslocar--se aos cinco locais de voto poderá fazê-lo no dia 24 e 30 de Agosto, estando as urnas abertas dez horas por dia. Já a votação online começa a partir da meia noite do dia 24, encerrando no dia 30.

Os portadores do BIR com mais de 16 anos tam-bém podem participar nesta iniciativa.

“Há muitos adolescentes que não podem participar nas eleições e notámos que muitos participaram nas ac-tividades contra o regime de garantias. Muitos deles ain-da estão na escola secundária e pensamos que deveríamos oferecer-lhe esta oportuni-dade para expressarem a sua visão sobre o futuro sistema eleitoral”, explicou Bosco Wong, dirigente da Macau Open Society.

Uma vez que a comissão eleitoral que irá eleger o pró-ximo Chefe do Executivo é composta por 400 membros, Jason Chao espera mais eleitores.

“De certeza que espera-mos ter mais de 400 pessoas, para que haja uma maior representatividade do que o sistema oficial de eleições”, explicou o ainda presidente da ANM.

As eleições para o Chefe do Executivo estão marcadas para o dia 31 de Agosto. Chui Sai On é, para já, o único candidato.

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5 políticahoje macau terça-feira 8.7.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

A demissão do professor de Ciência Política da Universidade de São José (USJ), Eric Sau-

tedé, poderá trazer um impacto negativo não só na reputação da instituição privada de ensino, como poderá ainda causar um decrésci-mo do número de novos alunos.

A ideia é defendida por Rocky Chan, líder do movimento de apoio ao docente.

“Os estudantes sabem que há esta pressão e isso vai afectar as suas expectativas em relação à uni-versidade. Trata-se de uma grande questão”, disse ao HM.

Rocky Chan fala mesmo do caso de uns pais que mudaram de ideias em relação à USJ. “O filho queria entrar na USJ em Setembro e os pais escolheram a universidade

CECÍLIA L [email protected]

A deputada Angela Leong publicou ontem uma carta aberta onde critica a falta de recursos humanos na área

da saúde, afirmando “estar preocupada com o facto da falta de recursos humanos possam influenciar o serviço público de saúde”. A deputada, que também é directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), espera que o Governo possa melhorar os planos de gestão no futuro, por forma a satisfazer as necessidades dos cidadãos.

A deputada escreveu ainda que a so-ciedade já se queixou muitas vezes que os recursos humanos no serviço público não são suficientes, causando longas filas de espera. Contudo, os responsáveis dos SS parece que “não estão a ouvir” as queixas.

“Não há nenhuma mudança, o que me faz questionar se os recursos humanos que estão actualmente na Função Pública podem satisfazer as necessidades da população”, pode ler-se.

Angela Leong citou ainda dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)

Tri-Decade contra Planode Aquisição de Imóveis

O vice-presidente da Tri-Decade Union de Macau, Navy Cheong, mostrou-

-se insatisfeito relativamente ao Plano de Aquisição de Imóveis para Residentes de Macau. O responsável considera que o plano, que veio substituir a política ‘Terras de Macau, para residentes de Macau’, dá prioridade à classe média em detrimento da classe mais desfavorecida. Cheong diz que este plano não vai ser útil para aliviar os problemas da habitação, uma vez que vai permitir a construção de habitação privada nos novos aterros, quando, defende, deveriam ser retiradas quotas de terreno de prédios privados e não de habitação social.

A justificação, segundo o Instituto de Habitação, é que todos os terrenos já se destinam à construção de habitação social, não havendo mais espaço disponível e o plano tem, por isso, o objectivo de ajudar na compra de casa privada.

A Tri-Decade quer ainda que os even-tuais compradores sejam residentes de Macau que adquiram casa pela primeira vez e que não possuam terrenos há mais de dez anos. A implementação desta regra, diz, deverá diminuir o custo de especulação imobiliária. - F.F.

Rocky Chan, líder do movimento de apoio a Eric Sautedé, considera que a demissão do docente poderá ter impacto no número de admissões de alunos para o próximo ano lectivo

USJ CARTA À UCP DEVERÁ SER ENTREGUE PARA A SEMANA

Suspensão pode afectar admissão de alunos

“As pessoas na USJ devem ter o direito a expressar a sua opinião, mas penso que vão sofrer algumas pressões, por isso não dizem nada”ROCKY CHAN Líder do movimento de apoio a Eric Sautedé

por ser melhor do que as outras, por ser independente. O seu filho poderia ter uma maior liberdade nos estudos. Os pais assinaram a petição (entregue na sexta-feira), falaram comigo e disseram que estavam preocupados em relação ao seu filho, porque este caso tinha alterado as suas ideias”, contou.

No geral, Rocky Chan consi-dera que a demissão “irá afectar a reputação da universidade” e “afectar os académicos no seu tra-

balho”. O HM entrou em contacto com docentes, que optaram por não fazer qualquer comentário à saída de Sautedé e ao ambiente que se vive na USJ.

Uma coisa é certa: nenhum assinou a petição entregue na passada sexta-feira. “Não convidei especificamente nenhum professor da USJ para assinar esta petição, mas este caso afecta o pessoal e os estudantes. Estes precisam de falar para denunciar o caso, e quem não o fizer e mantiver o silêncio é porque concordam com a situação”, frisou.

Rocky Chan não duvida de que há uma “espécie de medo” por ex-pressar opiniões em relação a este caso. “As pessoas na USJ devem ter o direito a expressar a sua opinião, mas penso que vão sofrer algumas pressões, por isso não dizem nada”, acrescentou.

CARTA À UCP ENTREGUEPARA A SEMANA Na sua edição de ontem, o jornal Ponto Final avançou que o mesmo

8,5%percentagem de idosos

ANGELA LEONG PREOCUPADA COM RECURSOS HUMANOS NA SAÚDE

SS “parece que não estão a ouvir”que revelam que a população acima dos 65 anos ocupa 7% na sociedade, o que mostra a existência de uma sociedade envelhecida. “Os Censos de 2011 mostram que os idosos já representam 8,5%. Então, e tendo em conta os dados da OMS, Macau vai ter uma sociedade super envelhecida”, escreveu. A deputada frisou que esse envelhecimento poderá levar a uma cada vez maior procura pelos SS.

A directora - executiva da SJM questio-nou ainda o facto dos responsáveis falarem com frequência do recrutamento na área da saúde, mas não existirem novidades a esse nível. “Há ainda uma crise em relação aos actuais funcionários, que saem em qualquer altura, uma vez que o sector privado também precisa de recursos humanos. Então vai haver uma guerra”, defendeu a deputada.

Na carta apela-se ainda a que haja acções promocionais para que mais jovens entrem

para a área da saúde, especialmente para a área de enfermagem. “Deve-se ainda me-lhorar o reconhecimento dos certificados de universidades estrangeiras, bem como melhorar as leis relativas à formação. Só assim se pode resolver o problema da falta de recursos humanos nos SS.”

Angela Leong lembrou ainda que o Governo lançou o plano de recrutamento para os futuros funcionários dos SS, mas não avançou com nenhuma política especial nesta fase. A deputada espera, portanto, que a curto, médio e longo prazo se possam atrair mais talentos para a área da saúde, por forma a promover o desenvolvimento das carreiras profissionais.

movimento estaria a ponderar enviar uma carta ao Vaticano a denunciar o problema na USJ, por não estar satisfeito com a reacção de D.José Lai, Bispo de Macau, que não comenta o caso.

Rocky Chan garantiu ao HM que essa acção só será tomada depois de contactadas entidades académicas.

“Temos esta ideia, que partiu de uma sugestão. Vamos tentar enviar primeiro a entidades académicas porque são um dos poucos meios que podemos usar para denunciar o caso, porque são entidades que se preocupam com a liberdade académica”, disse Rocky Chan.

Em primeiro lugar está o Ins-tituto Internacional de Educação, depois serão mais organismos. Para a semana, a Universidade Católica Portuguesa (UCP), com ligações à USJ, deverá receber uma carta a denunciar este caso.

O responsável garantiu ainda que, caso o reitor Peter Stilwell mantenha o silêncio nos próxi-mos tempos, mais acções serão feitas.

“Esperamos que nos responda e também pensamos que, se não responder, precisamos de fazer mais”, garantiu. O HM tentou entrar em contacto com Eric Sautedé, mas até ao fecho desta edição não foi possível. Foi ainda feito um contacto junto da UCP, sem sucesso.

Eric Sautedé, recorde-se, foi despedido devido aos seus co-mentários políticos aos órgãos de comunicação social.

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6 hoje macau terça-feira 8.7.2014SOCIEDADE

CECÍLIA L [email protected]

A Nova Era está a ponderar pagar os salários com base no com-portamento dos condutores.

Isso mesmo disseram responsáveis da empresa numa conferência realizada no domingo à noite.

Daniel Fang, director-geral da empresa que substitui a Reolian, afirmou que, para melhorar as condições salariais dos condutores, vai ser lançada esta nova medida no final de Agosto. O responsável assegura que já na Reolian acontecia casos em que os condutores tinham salários diferentes, mesmo com o mesmo horário.

Em meados deste mês, a empresa vai “dialogar” com os motoristas, para perceber quais as opiniões sobre este sistema. Fang explica que a nova proposta tem como objectivo ligar o salário ao comportamento apresen-tado pelos motoristas, à capacidade de trabalho, antiguidade e atitude no trabalho. Ao mesmo tempo, explica

ainda, vai haver um mecanismo de promoção para os funcionários que atinjam determinados requisitos, para poderem ser promovidos. “Isso vai trazer mais justiça no salário e também ajudará a aumentar a qualidade dos serviços e segurança na condução.”

Fang não explica, contudo, se esta medida será aplicada antes ou depois do aumento de salarial de 5% prometido no início das operações. A Nova Era ficou com mais de 90% dos funcionários da Reolian.

OFICINA NA TORRENa conferência, foi ainda dito que a empresa está a pedir um local para a manutenção dos autocarros no parque onde, actualmente, são estacionados os autocarros, junto da Torre de Macau.

O pedido surge depois de um pequeno autocarro ter começado a deitar fumo. O autocarro não quei-mou, mas o director-geral da empresa afirma que a empresa se vai esforçar para a manutenção dos autocarros da empresa, tendo sido já feito um pedido à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) para que fosse adicionada “uma oficina” no local de estacionamento de autocarros.

A ideia é facilitar que à noite sejam feitos exames aos veículos, até porque os autocarros estão es-tacionados ao ar livre e as condições são “limitadas” para se fazer “um bom trabalho de exame ao veículo”. A empresa pediu à DSAT um local com tecto e electricidade.

Actualmente, a Nova Era tem cerca de 220 autocarros a circular e garante que são feitos exames de se-gurança antes de estes saírem à rua.

Os veículos têm também de fazer uma análise mais profunda a cada dez mil quilómetros, diz Fang, e terão regras obrigatórias que não existiam antes.

U M jovem de Macau, de 23 anos, foi recrutado pela Apple, nos EUA,

depois de ter recusado um convite oferecido pela NASA. De acordo com o jornal Cheng Pou, o jovem, Chio Iok Long, começa a trabalhar já este mês na parte técnica da gigante norte-americana.

Chio recebeu o prémio do Lótus da Direcção dos Servi-ços de Educação e Juventude (DSEJ), mal se graduou da escola secundária. O prémio

CONSULASIA FISCALIZA OBRAS DO TJBAs obras das novas instalações do Tribunal Judicial de Base (TJB) serão fiscalizadas pela empresa ConsulAsia, estabelecida em Macau em 2002. Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), a fiscalização deverá custar 9,8 milhões de patacas aos cofres do Governo, valor que será pago nos próximos três anos. Recorde-se que as novas instalações do TJB estão a ser concebidas pelo ateliê do arquitecto Carlos Couto, estando a empreitada orçamentada em 380 milhões de patacas. O novo TJB só deverá estar concluído em 2016.

Foi dado o primeiro passo para a construção do primeiro hospital público a servir Taipa e Coloane. A empresa responsável pelas obras de fundação do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas é uma estatal chinesa que também tem a seu cargo a construção de uma ilha artificial nos novos aterros e o novo Tribunal Judicial de Base

SAÚDE OBRAS DO HOSPITAL DAS ILHAS ADJUDICADAS A EMPRESA CHINESA

A ganhar forma?

NOVA ERA PAGAR SALÁRIOS COM BASE EM COMPORTAMENTOS

Oficina de reparação, precisa-seJOVEM DE MACAU RECRUTADOPELA APPLE E CONVIDADO PELA NASA

Talento exportado

JOANA [email protected]

E STÃO finalmente adjudicadas as obras de fundação para o novo hospital das

ilhas, que deverá entrar em funcionamento em 2017. A China Road and Bridge Corporation é a empresa responsável pelas obras, que vão custar mais de 70 milhões de patacas.

Num despacho ontem publicado em Boletim Ofi-cial (BO), o Chefe do Exe-cutivo autoriza a celebração

do contrato entre o Governo e a empresa do continente, responsável actualmente pela construção de uma ilha artificial nos novos aterros, num consórcio com outras duas empresas. Também a construção do novo Tribunal Judicial de Base está a cargo

da China Road and Bridge Corporation, ainda que tam-bém ao lado de outras duas empresas.

O Complexo de Cui-dados de Saúde das Ilhas vai ser o primeiro hospital público a servir Taipa e Coloane e o calendário do

Governo aponta para que a primeira fase da construção esteja concluída em 2017 e a segunda em 2019.

A concepção do hospital foi entregue ao ateliê de arqui-tectura de Eddie Wong, mem-bro do Conselho Executivo, sendo que o início das obras

estava apontado para 2011, passando posteriormente para 2014. Até agora, isso não aconteceu e foi, portan-to, só agora que as obras de fundação foram adjudicadas. A construção restante deverá começar em 2015.

A China Road and Bridge Corporation – empresa estatal da China – vai ser responsável pelo “tratamento de solos de fundação”, algo que deverá durar até 2016, de acordo com o despacho em BO. A empresa vai receber um total de 70,9 milhões de patacas de forma faseada, começando a primeira tranche – de 45 milhões – este ano.

O orçamento inicial do hospital estava fixado em 400 milhões de patacas. O novo hospital fica junto à Estrada do ISTMO, ao lado do reservatório.

é entregue a talentos e estu-dantes de honra.

O jovem foi depois para os EUA, onde estudou na Universidade de Berkeley. Foi com a ajuda da DSEJ que Chio conseguiu estudar fora, depois de ter recebido uma bolsa de estudo de 250 mil patacas por ano, uma bolsa dedicada a ajudar alunos a entrar nas melhores 50 universidades do mundo.

Em quatro anos, Choi Iok Long conseguiu obter a licen-ciatura e o mestrado, sendo que foi a sua tese de mestrado que chamou a atenção da NASA. O jovem foi, então, convidado para integrar um projecto da agência espacial, mas um amigo de Chio, que trabalha na Apple, conven-ceu o jovem a ficar na empresa. Chio conseguiu ultrapassar a competição – de mais de cem pessoas – e ficar com um cargo na empresa. - C.L.

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hoje macau terça-feira 8.7.2014 7 sociedade

CECÍLIA L [email protected]

O tecto de um edifício velho - situado na Rua Nova do Co-mércio – ruiu na

madrugada de domingo, algo que chamou a atenção da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). O orga-nismo quer, agora, criar uma base de dados para a monitorização de prédios em risco de ruína.

Actualmente, os edifícios em perigo de ruína estão classificados em três classes.

De acordo com o jornal Ou Mun, desde a zona da San Ma Lou até à zona do Porto Interior e de São Lourenço é onde se encontra a maior parte dos edifícios velhos e com estruturas de madeira, estando a maioria deles em risco.

Mesmo sem perigo à su-perfície, devido à estrutura de

D OIS homens pro-venientes da Chi-na continental,

de apelidos You e Guang, foram condenados pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a seis anos e três meses de prisão e três anos e nove meses de prisão, respecti-vamente, pelo furto de mais de 430 mil dólares de Hong Kong em aviões. Os furtos tinham lugar dentro das aeronaves, tendo o primei-ro arguido sido condenado pela prática de três crimes e o segundo apenas por um.

Trocas entre China e PLP aumentam mais de 9%

AS trocas comerciais entre a China e os países de

língua portuguesa atingiram 53,3 mil milhões de dólares entre Janeiro e Maio, um aumento de 9,28% face ao período homólogo do ano passado.

De acordo com estatísticas dos Serviços de Alfândega da China, divulgadas ontem pelo Secretariado Permanente do Fórum Macau, a segunda maior economia mundial comprou aos oito países lusó-fonos bens avaliados em 36,3 mil milhões de dólares – mais 11,63% – e vendeu produtos no valor de 17 mil milhões de dólares, reflexo de uma subida de 4,56% em termos anuais.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económi-co da China, com o volume global das trocas comerciais a ascender a 34,17 mil milhões de dólares até Maio – mais 8,58% comparativamente aos primeiros cinco meses de 2013.

Com Angola, o segundo parceiro chinês no universo lusófono, as trocas comerciais cresceram 8,46% para 16,49 mil milhões de dólares. Com Portugal, terceiro parceiro da China na lusofonia, o comér-cio bilateral cresceu 25,71% para 1,89 mil milhões de dólares – graças à forte subi-da das exportações chinesas (28,76%) que atingiram 1,23 mil milhões de dólares, numa balança comercial favorável a Pequim, já que Lisboa com-prou bens avaliados em 663,2 milhões de dólares, mais 20,42% em termos anuais homólogos.

Ao nível do comércio bi-lateral com a China, verifica-ram-se aumentos anuais com todos os países de expressão portuguesa entre Janeiro e Maio, destacando-se o cresci-mento das trocas comerciais com a Guiné-Bissau (134,8%) e com São Tomé e Príncipe (64,17%), num quadro em que apenas as trocas comerciais com os dois maiores parcei-ros – Brasil e Angola – não registaram um crescimento a dois dígitos. - Lusa

EDIFÍCIOS EM RISCO DSSOPT QUER CRIAR BASE DE DADOS

Alarme a soar

TRIBUNAL DOIS HOMENS DA CHINA CONDENADOS POR FURTO EM VIAGENS AÉREAS

Anda comigo ver os aviões

madeira e depois de quase um século de construção, a maioria já corre riscos, diz a DSSOPT, que assegura que quer construir “gradualmente” uma base de dados destes prédios. A ideia é que, através dos dados, sejam dadas sugestões de manutenção aos proprietários ou à comissão de gestão dos prédios. O sistema vai estar pronto o mais tardar “no próximo ano”.

SEM CONDIÇÕES DE HABITAÇÃOFoi às 3h25 do passado domingo que os bombeiros receberam pe-didos de ajuda e retiraram cinco

moradores que tinham ficado presos no prédio, devido à que-da, vendo-se obrigados a vedar a entrada do prédio de três andares depois.

Os funcionários da DSSOPT acreditam que o edifício já não dá para habitação, mas asseguram que não há problemas de estrutura no edifício. A causa da queda do tecto, dizem, é o facto de esta ser de madeira e estar podre.

Os bombeiros bloquearam as entradas do edifício e os funcioná-rios do Instituto de Acção Social já fizeram registo dos arrendatários, sendo que estes serão transferidos para o Centro de Sinistrados da Ilha Verde.

A DSSOPT aponta que as au-toridades vão reforçar as patrulhas junto dos edifícios degradados, uma vez que já chegou a época de chuvas e tufões.

Um idoso que já morava há 70 anos no prédio, de nome Chang, pagava uma renda de 70 patacas por mês por um quarto. Quando o tecto caiu, o senhor estava a dormir.

“Já sabia que este é um edifí-cio em risco, mas, embora tenha feito muitas queixas ao proprie-tário, este respondeu sempre que não há problemas com o edifício”, disse, citado pelo Ou Mun. Já o proprietário, contudo, assegura que nem sequer queria arrendar mais o prédio, mas que os arrendatários não queriam sair. Quando foi questionado sobre se tinha feito alguma manutenção ao edifício, o homem disse não se lembrar bem.

Os homens foram in-terceptados no dia 1 de Maio do ano passado pela Polícia Judiciária no aeroporto de Macau,

ao chegarem de um voo proveniente de

Banguecoque. Os cri-mes foram cometidos

entre Agosto de 2012 e Abril de 2013 e, de acor-do com acórdão do TJB, calcula-se que You tenha entrado no aeroporto de Macau entre cinco a 12 vezes, algumas vezes tendo mesmo deixado o

território e voltado no mesmo dia.

O primeiro indivíduo lesado – a quem You rou-bou 29 mil dólares de Hong Kong – é de nacionalidade sul-coreana e viu o seu dinheiro substituído por 49 notas falsas semelhantes às que são distribuídas em homenagem aos mortos, no dia dos finados. Os três furtos seguintes deram-se quando três passageiros do interior da China, ador-meceram durante uma travessia aérea. You furtou

157 mil, 98 mil e 154 mil dólares de Hong Kong aos três homens. Para não le-vantar suspeitas, o arguido substituiu os valores por notas falsas em cada um dos casos. Também Guang participou no último furto, com a preparação de 126 notas falsas, que foram colocadas na mala do lesado. Após a detenção, os dois arguidos foram então condenados pelo TJB pelos crimes, em forma consumada, de “furto por substituição”. - L.S.M.

Casa roubada, trancas na porta. Depois do colapso do tecto dum edifício na Rua Nova do Comércio, a DSSOPT quer criar um sistema para diagnosticar os prédios em perigo de ruína. As áreas de maior risco vão da San Ma Lou até à zona do Porto Interior e de São Lourenço

“Já sabia que este é um edifício em risco, mas, embora tenha feito muitas queixas ao proprietário, este respondeu sempre que não há problemas com o edifício”CHANG Morador do prédio que ruiu parcialmente

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8 hoje macau terça-feira 8.7.2014CHINA

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 308/AI/2014-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores ZHOU YU (portador do Bilhete de Identidade de Residente Não Permanente da RAEM n.° 14692xxx), WU DEBAO (portador do salvo-conduto para deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W51868xxx) e HU SUFANG (portadora do salvo-conduto para deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W37762xxx), que na sequência do Auto de Notícia n.° 58/DI-AI/2012 de 14.06.2012, levantado pela DST, por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Xangai, n.° 182, Edf. Hoi Kun Chong Sam (Centro Hoi Kun), 13.° andar F e utilizada para a prestação ilegal de alojamento, bem como por despacho da signatária de 27.06.2014, exarado no Relatório n.° 546/DI/2014, de 05.06.2014, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas), e ordenada a cessação imediata da prestação ilegal de alojamento no prédio ou da fracção autónoma em causa, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e n.° 1 do artigo 15.°, todos da Lei n.° 3/2010. ------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma. --------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro e no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. ---------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício �Centro Hotline�, 18.° andar, Macau. -----------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Junho de 2014.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 325/AI/2014-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor LIN GUOFANG (portador do Salvo-Conduto de dupla viagem da RPC n.° W66690XXX), que na sequência do Auto de Notícia n.° 84/DI-AI/2013, de 16.08.2013, levantado pela DST e por despacho da Directora dos Serviços de Turismo, Substituta, de 15.05.2014, exarado no Relatório n.° 328/DI/2014, de 08.05.2014, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório, por prestação ilegal de alojamento da fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Edf. Kam Yuen, 10.° andar D.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele Auto de Notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito. Nos termos do n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010 não é admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria constante daquele Auto de Notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, tal facto é punível nos termos no n.° 1 do artigo 10.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício �Centro Hotline�, 18.° andar, Macau. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Junho de 2014.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

A liberdade de imprensa em Hong Kong vive os seus “dias mais negros”, considera a Associação

de Jornalistas de Hong Kong (HKJA, na sigla em inglês) no seu relatório anual.

“O ano em análise tem sido o mais negro para a liberdade de im-prensa em várias décadas”, refere a HKJA no documento, divulgado este domingo, no qual o organismo prevê uma maior deterioração da liberdade de imprensa nos anos que se seguem perante o agudizar da tensão política com Pequim.

Os média em Hong Kong so-freram vários ataques, incluindo

Volkswagen Angela Merkel anuncia mais duas fábricas Xi Jinping Segunda visita à América Latina

A análise anual feita pela Associação de Jornalistas de Hong Kong descreve este ano como o pior em várias décadas e manifesta-se pessimista quanto ao futuro

HONG KONG RELATÓRIO SOBRE LIBERDADE DE IMPRENSA FALA EM “DIAS NEGROS”

Perspectivas sombrias

“Atendendo à deterioração, a HKJA anunciou o estabelecimento de uma comissão de monitorização de auto-censura para investigar queixas de elementos dos média...”

O fabricante automóvel ale-mão Volkswagen anunciou

ontem, em comunicado, os seus planos para construir duas novas fábricas na China, investindo, com o seu parceiro local, uma verba de cerca de 20 mil milhões de patacas.

O acordo entre a companhia e o fabricante chinês FAW para a construção de duas novas fábricas no maior mercado automóvel do mundo foi assinado na presença da chanceler alemã, Angela Merkel, e do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, segundo informou, em comunicado, a Volkswagen.

As duas firmas vão investir, em conjunto, cerca de 20 mil milhões de patacas para elevar a sua capacidade de produção, indi-cou o fabricante alemão, embora sem especificar o custo das novas unidades fabris em Tianjin e em Qingdao, ou com que montante entra cada uma das partes.

No comunicado, citado pela agência AFP, também não são facultados dados sobre a capaci-dade de produção anual das novas unidades nem datas para a sua entrada em funcionamento.

“Com estes investimentos, a Volkswagen está claramente a

manifestar o seu compromisso para com o mercado chinês”, afirmou o presidente e CEO do Volkswagen Group China, citado na mesma nota.

Angela Merkel cumpre uma visita oficial de três dias à China – a sétima desde que chegou ao poder em 2005 –, com as relações económicas no topo da agenda.

A chanceler faz-se ainda acompanhar por uma robusta delegação empresarial, composta nomeadamente por executivos da Siemens, Airbus, Lufthansa ou do Deutsche Bank, de acordo com a imprensa alemã.

O presidente chinês, Xi Jinping, visitará o Brasil, Argentina,

Venezuela e Cuba de 15 a 23 de Julho, na sua segunda viagem à América Latina em cerca de um ano, anunciou ontem o governo chinês.

O programa inclui a partici-pação na 6.ª Cimeira do bloco de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que decorrerá este ano no Brasil, nos dias 15 e 16 de Julho, indicou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang.

Xi Jinping, 61 anos, é também

secretário-geral do Partido Co-munista Chinês (PCC), o cargo político mais importante da China. É a segunda visita de Xi Jinping à América Latina desde Junho do ano passado, quando visitou o México, Costa Rica e Trinidad e Tobago.

Dois dos dez maiores investi-mentos de empresas estatais chine-sas fora da China em 2013, ambos na área da energia e superiores a mil milhões de euros, ocorreram no Peru e no Brasil.

A China tornou-se em 2009 o maior parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos da América.

físicos, nos últimos 12 meses, assi-nala a HKJA, citando, entre outros exemplos, o de Kevin Lau, antigo editor-chefe do jornal Ming Pao, que ficou gravemente ferido após ter sido esfaqueado em Fevereiro.

Em declarações à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), no domingo, a vice--presidente da HKJA, Shirley Yam, afirmou que o governo da antiga co-lónia britânica se tem tornado cada vez mais opaco na hora de lidar com os meios de comunicação social.

A HKJA contextualiza o período em que ocorre esta erosão, recordan-do o debate sobre o método de eleição do chefe do Executivo em 2017 e a

publicação do “Livro Branco” sobre Hong Kong, em que Pequim reafirma a sua soberania sobre o território, limitando aparentemente a sua auto-nomia ao instruir os representantes dos média sobre a necessidade de aumentarem a cobertura à oposi-ção ao movimento pró-democrata “Occupy Central” e de noticiarem o desenvolvimento económico do interior da China de forma objectiva e racional.

A CAIR NO RANKING“Este tipo de comentários engrossa a pressão sobre os média”, realça a HKJA num comunicado publicado no seu portal na Internet. “Estes desenvolvimentos restringem

ainda mais a limitada liberdade de imprensa que existe desde que Leung Chun-ying tomou posse em 2012. De facto, diferentes índices de liberdade de imprensa internacionais mostram que Hong Kong caiu no ‘ranking’”, assinala a HKJA.

O organismo recorda, aliás, que no primeiro índice sobre a liberdade de imprensa de Hong Kong – lançado pela própria en-tidade – os jornalistas atribuíram ao território 42 pontos – numa escala de 100 –, tendo manifes-tado preocupação relativamente à autocensura e à pressão exercida sobre os ‘donos’ e administradores dos média.

No relatório, a HKJA apela ao Governo de CY Leung para res-peitar plenamente a independência dos meios de comunicação social. Em particular, desafia o Governo a tomar todas as medidas ao seu alcance para prevenir actos de violência contra jornalistas e per-seguir os perpetradores, incluindo os mentores.

Os apelos da HKJA estendem--se aos proprietários e executivos de órgãos de comunicação social, a quem se pede que respeitem o direito dos jornalistas de exerce-rem o seu trabalho sem pressões. “Atendendo à deterioração, a HKJA anunciou o estabelecimento de uma comissão de monitorização de auto-censura para investigar queixas de elementos dos média, composta por jornalistas, académi-cos e advogados, a qual se com-promete a tornar públicos os casos confirmados de auto-censura, a fim de elevar a consciência pública para o fenómeno.

Page 9: Hoje Macau 8 JUL 2014 #3126

9REGIÃOhoje macau terça-feira 8.7.2014

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 311/AI/2014-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor 文兆炎(portador de salvo-conduto para deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W46469xxx), que na sequência do Auto de Notícia n.° 37/DI-AI/2012 de 25.04.2012, levantado pela DST, por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, Edf. I Chan Kok, 7.° andar D e utilizada para a prestação ilegal de alojamento, bem como por despacho da signatária de 27.06.2014, exarado no Relatório n.° 550/DI/2014, de 09.06.2014, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas), e ordenada a cessação imediata da prestação ilegal de alojamento no prédio ou da fracção autónoma em causa, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e n.° 1 do artigo 15.°, todos da Lei n.° 3/2010. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma. ------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro e no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. -------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício �Centro Hotline�, 18.° andar, Macau. ---------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Junho de 2014.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

O director regional para a Ásia e Pacífico do Programa da ONU para o Desenvolvimento, Hao-

liang Xu, realiza entre hoje e sábado uma visita a Timor-Leste para discutir o apoio ao país e encontros com as autoridades.

“O objectivo da visita é proporcionar a Haoliang Xu uma oportunidade para testemunhar a operações e programa do Programa da ONU para o Desenvolvi-mento (PNUD) em Timor-Leste e para discutir o programa para o país para o período entre 2015 e 2019”, refere em

O Dalai Lama rei- terou no do-mingo o apelo aos budistas de

Mianmar e Sri Lanka para que acabem com a violência contra os muçulmanos, quando fala-va para milhares de devotos num encontro para celebrar o seu 79.º aniversário.

Perante uma multidão, que incluía o actor Richard Gere, no norte da Índia, o Dalai Lama considerou inaceitável a violência nos dois países, maioritariamente budistas, contra minorias muçulmanas.

“Exorto os budistas des-tes países a pensarem numa imagem de Buda antes de cometerem esse tipo de cri-me”, disse o líder espiritual do Tibete nos arredores de Leh, nos Himalaias. “Buda prega o amor e a compaixão. Se Buda estivesse aqui, iria proteger os muçulmanos que os budistas atacam”, disse o Dalai Lama, exilado na Índia desde 1959, após uma revolta fracassada contra o domínio chinês do Tibete.

No mesmo discurso o líder religioso também se afirmou chocado com a onda de violência de mili-

O sul do Japão está sob alerta, prepa-rando-se para a

chegada, prevista para esta terça-feira, de um “super tu-fão”, que poderá ser um dos mais intensos das últimas décadas, advertiu ontem a Agência de Meteorologia do Japão (JMA).

O “Neoguri” deverá alcançar hoje a ilha de Miyako, na região de Okinawa, no extremo sul do Japão, podendo causar rajadas de até 270 quiló-metros por hora e ondas de até 14 metros de altura, informou o organismo no seu portal na Internet.

Para já, a JMA não decretou o nível máximo de emergência, embora esteja a analisar a possibi-lidade de o fazer nas próxi-mas horas, dependendo da evolução do tufão, disse um porta-voz da entidade.

“Poder-se-á tratar de um dos tufões mais for-tes registados em Julho”, afirmou Satoshi Ebihara,

“Se Buda estivesse aqui, iria proteger os muçulmanos que os budistas atacam”DALAI LAMA

ÍNDIA DALAI LAMA PEDE FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA MUÇULMANOS

Em nome da harmonia

JAPÃO ESPERA “SUPER TUFÃO”

País está emalerta máximo

do departamento de pre-visões meteorológicas da JMA, em conferência de imprensa.

Segundo declarações reproduzidas pela agência Kyodo, o especialista des-tacou ainda a importância de se manter a vigilância máxima perante a chegada do tufão, apelando à popu-lação para que se prepare para “chuvas intensas, fortes ventos e ondas de grande dimensão”.

De acordo com as pre-visões meteorológicas, o tufão deverá perder força ao longo do dia e deslocar--se posteriormente rumo a leste e alcançar a região de Kagoshima, que poderá registar ventos de até 90 quilómetros por hora.

O “Neoguri”, que é o oitavo tufão da tempora-da, vai passar por zonas afectadas no passado fim de semana por intensas chuvas, pelo que a JMA alertou para o risco de deslizamento de terras.

tantes sunitas contra outros muçulmanos, embora sem referir especificamente o Ira-que, onde desde 9 de Junho uma revolta de sunitas (que controlam já vastas áreas do país) que já alastrou à Síria provocou mais de duas mil mortes. O actor Richard Gere cumprimentou o Dalai Lama no palco e elogiou o líder religioso, em nome dos milhares de devotos estran-geiros presentes.

A violência entre co-munidades de Mianmar está a ofuscar as reformas políticas amplamente elo-giadas. Os muçulmanos têm sido o principal alvo dessa violência, que já provocou pelo menos 250 mortes. No mês passado, no Sri Lanka, quatro pessoas foram mortas e centenas de lojas e casas foram danificadas naquele que foi o pior episódio de violência religiosa na ilha nas últimas décadas.

O Dalai Lama come-morou o aniversário na sua residência, nos arredores de Leh, em Ladakh, uma região de maioria budista.

ONU DIRECTOR PARA ÁSIA E PACÍFICO EM TIMOR

Visita ao terrenocomunicado enviado à imprensa pela agência das Nações Unidas.

Durante a sua estadia no país, o director regional para a Ásia e Pacífico do PNUD vai reunir-se com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, o chefe da diplomacia, José Luís Guterres, ministro da Justiça, Dionísio Babo, ministra da Solidariedade Social, Isabel Guterres, e com o ministro da Administração Estatal, Conceição Teme.

O programa da visita, distribuído à imprensa, inclui também encontros com o comandante geral da Polícia Nacional de Timor-Leste, Longuinhos Monteiro, e com o antigo primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri.

Haoliang Xu esteve em Timor-Leste entre 2002-2004 como coordenador resi-dente do PNUD.

Em Timor-Leste, o PNUD desenvolve programas de assistência no âmbito da ca-pacitação das instituições, nomeadamente no sector da justiça e segurança, parla-mento, direitos humanos, anti-corrupção, desenvolvimento económico e gestão ambiental e de desastres naturais.

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10

OS NÚMEROS

15 o número de golos apontados por Miroslav Klose e por Ronaldo Nazário de Lima em fases finais do Campeonato do Mundo de Futebol. Os dianteiros possuem o recorde do maior número de tentos apontados na principal competição futebolística do planeta, mas o alemão ainda pode superar o brasileiro caso marque na próxima madrugada no Mineirão.

8 o número combinado de triunfos alcançados pelo Brasil e pela Alemanha no Campeonato do Mundo de Futebol. As duas formações levaram de vencida quase metade das dezanove edições da competição disputadas até agora. O Brasil procura em casa o seu sexto título. A Alemanha o seu quarto.

MUNDIAL hoje macau terça-feira 8.7.2014

MARCO [email protected]

A história é como o algodão: não en-gana. Em termos futebolísticos, a

Alemanha até pode ter outros rivais de estimação, mas o cal-canhar de Aquiles da Manns-chaft continua a encontrar no futebol jingão dos brasileiros o seu maior expoente em ter-mos de dificuldades. O jogo, tal como é interpretado pela selecção “canarinha” foi per-dendo os passes de mágica e os toque de samba que fizeram do “escrete” uma máquina de ganhar títulos, mas o Brasil continua a ser sinónimo de futebol promissor e o maior dos pesadelos do selecciona-do germânico.

A Alemanha cilindrou a selecção portuguesa no encontro de estreia do Mun-dial e bateu o pé à formação francesa nos quartos-de-final da competição, mas nenhuma das equipas com as quais a Mannschaft esgrimiu até agora argumentos se compara

BRASILEIROS E ALEMÃES LUTAM POR UM LUGAR NA FINAL DO MUNDIAL

Brasil, a besta negra da Mannschaft

Page 11: Hoje Macau 8 JUL 2014 #3126

LUSA

LUSA

11 mundial

JOGOBRASIL – ALEMANHAEstádio Mineirão, 04:00

• HISTORIALJ V E D GM – GS21 12 5 4 39 24

Pedro Proença mantém-se no MundialA FIFA anunciou os 15 árbitros que ficam para dirigir os últimos quatro jogos do Mundial 2014. Pedro Proença mantém-se nos elegíveis. Uma das partidas, a meia-final entre Brasil e Alemanha, já tem juiz nomeado: é o mexicano Marco Antonio Rodriguez Moreno. Assim, restam nomeações para mais três jogos. A semi-final entre Argentina e Holanda, o jogo de atribuição do terceiro lugar e, o mais esperado de todos, a final do Campeonato do Mundo.

Mascherano «A Holanda tem fome e sangue nos olhos»Javier Mascherano, de 34 anos, alerta os companheiros da Argentina para uma Holanda forte no contra-ataque, em conferência de imprensa. A selecção argentina está em Belo Horizonte a preparar o jogo da próxima quarta-feira das meias-finais do Mundial 2014. Desde 1990 que a selecção das Pampas não atingia as meias-finais. Mascherano destaca a ambição da equipa albiceleste: «Queremos ir um pouco mais adiante. Estas oportunidades não aparecem sempre.» É do orgulho ferido da selecção holandesa, derrotada na final do Campeonato do Mundo de 2010, que o jogador do Barcelona tem mais receio: «Vamos enfrentar uma equipe com experiência, que esteve na final passada e que tem muita fome, tem sangue nos olhos pelo que passou na África.» O atleta realça a força física do adversário: «A correr, eles são mais fortes do que nós.»

Di María Departamento médico mantém esperança Afinal, Ángel di María ainda não está fora do Mundial’2014. Quem o confirma é o departamento médico da federação argentina, pela voz do chefe do departamento Daniel Martínez. “O Ángel tem uma lesão muscular de grau 1 na parte anterior do quadriceps direito. É uma das lesões musculares menos graves, felizmente”, admitiu Martínez, em conferência de imprensa realizada no quartel-general da turma das pampas, em Belo Horizonte, onde deu ainda conta do optimismo quanto à recuperação a tempo de uma eventual presença na final. “Temos total optimismo para que possa regressar a tempo. Esperamos que possa estar na final, mas a evolução será feita dia a dia. Para já, está descartado para o jogo com a Holanda, mas depois iremos ver que possibilidades tem”, frisou. As boas notícias não param por aqui. Alejandro Sabella sabe também que poderá contar com Sergio Agüero. “Já fez três treinos e esperamos que continue esta excelente evolução. Está pronto para jogar”, garantiu Daniel Martínez.

Argélia Halilhodzic confirma saídaVahid Halilhodzic confirmou a saída do cargo de selecionador da Argélia. O bósnio liderou a equipa africana até aos oitavos de final do Mundial 2014, e o presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, tentou demover o técnico. Ainda assim, o bósnio não voltou atrás na decisão. «Obrigações familiares e a tentação de um novo desafio desportivo pesaram na minha escolha», assumiu Halilhodzic, cujo futuro pode passar pelo Trabzonspor, da Turquia.

hoje macau terça-feira 8.7.2014

U M dia depois de ter de-fendido duas grandes penalidades no jogo

com a Costa Rica e garantido o apuramento da Holanda para as meias-finais, o “he-rói” Tim Krul sentou-se ao lado do seu companheiro de baliza (e titular) Cillessen e ambos explicaram o que se passou pouco antes de chegarem ao fim os 120 minutos regulamentares do desafio, seguindo-se então os tais penáltis.

“Quando comecei a aquecer, todo o banco ficou espantado. Foi uma situação muito curiosa”, contou Krul.

“Franz [n.d.r. Hoek, o treinador de guarda-redes da seleção holandesa] já me tinha dito antes do encontro começar que eu entraria se o jogo fosse para penáltis. Disse-me no autocarro, mas pediu-me para não comentar nada com ninguém. Assim

BRASILEIROS E ALEMÃES LUTAM POR UM LUGAR NA FINAL DO MUNDIAL

Brasil, a besta negra da Mannschaft

KRUL «QUANDO FUI AQUECER FICOU TUDO ESPANTADO»

Guarda-redes sem angústia

ao Brasil no que toca ao ma-nancial de emoções que um embate entre ambas as forma-ções suscita junto dos adeptos alemães. Quatro semanas após o arranque do Campeo-nato do Mundo de Futebol, das trinta e duas equipas que rumaram ao Brasil sobram quatro e os candidatos que permanecem em terras bra-sileiras dificilmente poderiam prometer maior espectáculo, mas também uma maior inde-finição. Todas as oito equipas que marcaram presença nos quartos-de-final do Mundial remataram a primeira fase do certame na liderança dos respectivos grupos e às meias--finais chegam quatro das formações que integravam, antes do arranque da competi-ção, a lista de apostas de uma fatia esmagadora de quantos vibram com a maior prova do futebol mundial.

O ÚLTIMO OBSTÁCULOPara a Alemanha, o encontro da próxima madrugada é o único pormenor que separa a Mannschaft de uma inédita oitava final, mas o simples facto de confrontar os pupilos de Joa-chim Low com a “besta negra” do onze germânico limita em muito as aspirações da inefável máquina futebolística alemã. Nos 21 desafios já disputados entre brasileiros e alemães, a Alemanha apenas celebrou a vitória por quatro ocasiões.

Mais eficazes, os brasilei-ros bateram o seleccionado germânico por doze ocasiões, concedendo cinco empates. Em 21 encontros, a forma-ção “canarinha” marcou 39 golos e sofreu 24. Alemanha e Brasil são das selecções que ostentam um maior número de presenças na fase final do Campeonato do Mundo de futebol, mas uma tal frequên-cia não é sinónimo de uma profusão de encontros entre ambas as equipas na maior competição futebolística do planeta. A Mannschaft e o “Escrete” só se encontraram por uma única ocasião na fase final de um Mundial. A par-tida remonta ao Campeonato do Mundo da Coreia/Japão, em 2002, e o desafio -o mais decisivo dos encontros do certame - terminou com um triunfo sólido do Brasil por duas bolas a zero, com dois golos de Ronaldo Nazário de

Lima. A derrota não foi a única da selecção alemã em grandes torneios internacionais. A Alemanha já tinha perdido frente ao Brasil na edição de 1999 da Taça das Confede-rações e repetiu a derrota na mesma competição, seis anos depois.

IMPORTÂNCIA GEOGRÁFICAA última vitória alcançada pe-los alemães no frente-a-frente com os brasileiros ocorreu em 2011, num desafio amigável que colocou fim a um perío-do de dezoito anos de maus resultados frente ao próximo adversário. Os quatro triun-fos obtidos pela Alemanha têm todos um denominador comum, o facto de terem sido alcançados perante o seu próprio público. Já o Brasil não necessita de denomina-dores geográficos para se dar bem no frente-a-frente com o adversário: para além de ter triunfado por cinco vezes na Alemanha e de ter somado mais do que um triunfo em casa, a selecção “canarinha” celebrou vitórias frente aos alemães em destinos tão in-

suspeitos como o México, o Uruguai ou o Japão.

Invariavelmente, a Alema-nha é a única grande selecção europeia que se aparece acometer de uma estranha predisposição para a derrota sempre que defronta o Brasil. Em termos comparativos, tan-to a Itália (com 5 vitórias em catorze partidas disputadas) quanto a França (cinco vitó-rias também, mas em catorze encontros) apresentam uma maior margem de aprovei-tamento no que diz respeito aos embates com a selecção brasileira.

Num mar de estatísticas deprimentes, um dos maiores consolos da Alemanha face ao desafio da próxima madrugada prende-se com o facto de, mes-

mo a jogar em casa, o Brasil ainda não ter convencido. Com Neymar na equipa, o “escrete” não foi além de um empate com o México e alcançou um triunfo mais do que sofrido frente ao Chile para garantir a presença nos quartos-de-final do Mundial. Se é verdade que a história e as estatísticas não são tudo, não deixa também de ser um facto que, mesmo sem Neymar, o Brasil constitui o maior rival que a Alemanha vai eventualmente encontrar no presente Campeonato do Mundo. A Argentina, de Lionel Messi, pode ser cada vez mais a formação que mais adeptos vêm como campeã do mundo e a Holanda, de Arjen Robben e companhia até pode ser a selecção com um colectivo mais eclético, mas o Brasil é para os alemães o maior de todos os inimigos. Se a formação orientada por Joachim Low conse-guir na próxima madrugada chacinar a sua besta negra no Estádio Mineirão, tem meio caminho andado para levantar o troféu no próximo domingo no Maracanã.

fiz”, acrescentou o herói de Salvador, que sublinhou: “A partir do momento em que soube que poderia entrar, olhei para o jogo de forma diferente.”

Krul afirmou-se orgu-lhoso por o treinador apostar nele em momento tão crucial de um Mundial.

Já Cillessen reconheceu que o episódio causou-lhe

algum desconforto. “Quero jogar tudo, inclusivamente os penáltis, mas foi uma decisão do treinador e eu tenho de aceitar”, declarou, garantindo: “Todos nós, guarda-redes, estamos pre-parados e sabemos sempre como agir em caso de haver grandes penalidades.”

DESCONCENTRARKrul procurou sempre des-concentrar os adversários momentos antes de partirem para a marcação dos penál-tis. “Não me comportei de maneira agressiva, apenas quis dar a ideia de que os tinha estudado e que sabia para que lado iam rematar. E funcionou!”, esclareceu para depois justificar: “Numa situação de pressão máxima, tinha de utilizar tudo o que estava ao meu alcance para tentar desconcentrá-los. E funcionou!”

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12 hoje macau terça-feira 8.7.2014

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IDEI

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CeCília Jorge e rogério Beltrão Coelho

AQUI DEIXAMOS PARA

OS NOSSOS LEITORES A

INTRODUÇÃO AO LIVRO

“VIAGEM POR MACAU”,

ONTEM PUBLICADO

N UMA co-edição de Livros do Oriente com o Governo de Macau foram publicados, em 1997 e 1999, respectivamente, dois volumes de

uma obra que teve por título Viagem por Macau.Tal como se reafirmava na Introdução ao

volume de 1999, tratou-se de recolher, na bi-bliografia estrangeira, entre os séculos XVII e XIX “os textos que descrevem a cidade e que tecem considerações e comentários sobre a vida de Macau bem como os seus momentos políticos mais significativos”.

Excluiram-se os trabalhos históricos (Ljun-gstedt, Boxer, etc.), já conhecidos e suficiente-mente divulgados, limitando a recolha às obras publicadas em livro, por autores estrangeiros, o que deixou de fora “alguns manuscritos, em especial diários, inéditos uns e alvo de estudos académicos outros [embora], de uma forma ge-ral desconhecidos do grande público”.

Algumas das selecções feitas justificar-se--ão mais pela especial importância do autor e da sua obra, mormente quanto à informação relativa à China, dado que é escassa, ou pouco relevante, a que se refere a Macau. Pretendeu--se com o registo destes autores assinalar a sua passagem por Macau e salientar os seus breves comentários ou apontamentos mas, so-bretudo, recomendar a leitura e o estudo das obras completas. Estão neste caso, entre ou-tros, Linschotten (Vol.I, pp.20-23), Alexandre de Rhodes (Vol.I,pp.78-83), Louis le Comte (Vol.I,pp.98-110) ou Gemelli Careri (Vol.I, pp.111-114).

Não são também referidos autores já de-vidamente estudados e publicados como é o caso de Constantin de Renneville1, que, em Recueil des Voyages qui ont Servi à l’Etablissement de la Compagnie des Indes Orientales (1702-1705), inclui a descrição de Macau feita por Marc d’Avalo. Charles Boxer transcreveu-a integralmente em Macau na Época da Restauração, pelo que se não justifica que o seja em Viagem por Macau.

Os autores de Viagem por Macau deram iní-cio ao trabalho desta antologia baseando-se na sua própria biblioteca (constituída ao lon-go de 30 anos, abrangendo os séculos XVII a XIX e vocacionada para Macau e para a China, especialmente nas obras sobre o Império do Meio que incluem referências ao pequeno en-clave administrado então pelos portugueses). Desenvolveu-se, intensamente, na Bibliothè-que Nationale de France, na British Library – as que reúnem os melhores fundos sobre o Oriente – e em The Library of Congress (Wa-shington). Apesar de a tarefa de investigação e recolha se ter desenvolvido ao longo de três

anos, o acesso à informação era incomparavel-mente mais difícil e restrictivo, em finais do século XX, do que é hoje.

Actualmente, através de um computador ligado à Internet, o investigador pode desco-brir autores, “folhear” as suas obras, socorrer-se de Arquivos Nacionais, Enciclopédias e outras fontes de informação, em suporte digital.

Daí se justificar, plenamente, uma actuali-zação dos volumes de 1997 e 1999, ampliando e produzindo biografias em falta, acrescen-tando autores e respectivas obras dos séculos XVII a XIX e introduzindo bibliografia do sé-culo XX, até aos anos 60, o que dá um distan-ciamento de 50 anos em relação ao momento presente.

Para tornar possível uma iniciativa com esta dimensão pudemos contar com o Institu-to Cultural do Governo da RAEM como co--editor.

Nesta Introdução, ao abordarmos as carac-terísticas deste projecto, bem como ao alertar para o conteúdo e intenções (evidentes ou subliminares) dos textos, recorremos, pontual-mente às Introduções dos dois volumes da Via-gem por Macau, de 1997 e 1999 (devidamente actualizadas e editadas).

Cidade de estranho sortilégio esta! Cida-de desconhecida (ainda) num mundo imenso e que, no entanto, terá sido ponto de passagem de muitos milhões de viajantes, de residentes, em número muitas vezes superior ao que seria lícito esperar face à sua pequenez geográfica – começava assim a Introdução ao volume de Viagem por Macau, editado em 1999.

Macau ao longo de quase quatro séculos e meio, atraiu toda a sorte de gente: navegadores e mareantes, religiosos, missionários e merca-dores, militares e piratas, homens de ciência e das letras, amantes da arte e músicos, políticos e doutores em leis ou em Medicina, simples curiosos, emigrantes e espiões, refugiados, turistas e contrabandistas, jogadores e aventu-reiros no sentido original do termo. Terra de tufões e calmaria. Em períodos alternados, áu-reos e de decadência.

Não terá funcionado sempre como magne-to, mas foi, decerto, desde o início, porto de escala e ponto de passagem obrigatória entre Ocidente e Oriente para quem buscava um enriquecimento (material ou espiritual). Não deixou, depois, de ser “porto de aguada”, uma hipótese de paragem para restauro de forças, na travessia entre dois mundos.

Foi sempre “terra de passagem” para a maioria.

Depois de ter estado aberta ao intercâmbio comercial durante a dinastia Han (206 aC-220 aD) e posteriormente em finais do séculos XIII, princípios do XIV, a China fechara-se durante mais de 150 anos até à chegada dos primeiros portugueses em 1516. O acesso de estrangei-ros ao interior da China limitou-se a (poucos) missionários jesuítas e membros de algumas embaixadas tributárias.

O comércio europeu no Extremo Orien-te, dominado no século XVI por espanhóis e

portugueses, passou a ser controlado no século seguinte por holandeses e ingleses, cujas Com-panhias das Índias Orientais, foram estabeleci-das com a diferença de dois anos. (...)

Os holandeses começaram a exportar para a China em 1600, pouco depois da chegada da sua frota a Cantão, e os Ingleses tiveram que aguardar até 1613, negociando com os mer-cadores chineses através do Sião. As exporta-ções, limitadas no início à seda e às especia-rias, passaram a incluir o chá, artigos de laca e porcelanas.

A China viria a reabrir (forçada) os seus portos aos ocidentais a partir de meados do século XIX, e as imagens que persistiam então eram ainda as transmitidas por via dos relatos dos poucos viajantes. E muito influenciadas pelo artesanato trazido dessas paragens pelos mercadores: era ainda a mítica Catai descrita por Marco Polo, estereótipo dos pagodes de telhados revirados, torres de porcelana, dra-gões e plantas exóticas, que figuravam, muitas vezes, na pintura das sedas e porcelanas colo-cadas à venda.

No entanto, os portugueses foram os pri-meiros a estabelecerem-se no Extremo Oriente e Macau foi a última presença administrativa ocidental na China até ao último ano do século XX. Justifica-se, portanto, um registo do olhar dos forasteiros que por cá passaram, residiram e, nalguns casos, aqui repousam para sempre. Longe de ser imparcial ou objectiva, essa ma-neira de ver Macau pode, seguramente, ajudar a compreender muita coisa e a interpretar al-guns dos acontecimentos ocorridos no Territó-rio. É este o mundo imenso e que, no entanto, terá sido ponto de passagem de muitos milhões de viajantes, de residentes, em número muitas vezes superior ao que seria lícito esperar face à sua pequenez geográfica – começava assim a Introdução ao volume de Viagem por Macau, editado em 1999.

Macau ao longo de quase quatro séculos e meio, atraiu toda a sorte de gente: navegadores e mareantes, religiosos, missionários e merca-dores, militares e piratas, homens de ciência e das letras, amantes da arte e músicos, objectivo de Viagem por Macau. Sem perder de vista a re-comendação do Prof. Romero de Magalhães: “muito cuidado com a literatura historiográfica que das fontes se afasta”2.

DAS EXPEDIÇÕES EXPLORATÓRIAS ÀS VIAGENS TURÍSTICAS

Quando, a partir de finais do século XVI – e após o estabelecimento dos Portugueses em Macau – o Mundo despertou para a China, sucederam-se as expedições europeias à des-coberta do Cathay, das suas potencialidades e das perspectivas comerciais. Neste sentido, Franceses e Ingleses enviaram missões cientí-ficas para conhecer o Mundo e, em especial, o Império do Meio, seguidas de missões di-plomáticas, nalguns casos conhecidas como “diplomacia do canhão”, já que os seus embai-xadores se faziam transportar em navios forte-mente armados.

Lord Anson, por exemplo, na sua viagem à volta do Mundo entre 1740 e 1744, encontrou alguns obstáculos quando quis ir de Macau para Cantão. Na obra do seu capelão Richard Walter, que relata a viagem (editada em Ams-

terdam e Leipzig, em 1751), refere-se um epi-sódio elucidativo a este respeito:

Quando se preparava para embarcar para lá [Cantão], o Hoppo, ou chefe da alfândega chinesa de Macau recusou a permissão para a partida da chalupa [chinesa] e proibiu aqueles que a iriam tripular de soltar amarras. O comandante tratou logo de conseguir que o Hoppo levantasse a proibição e o Governador usou, para esse efeito, os seus bons ofícios junto do Hoppo, mas esse homem era inflexível na sua resolução, e o sr. Anson declarou- lhe que no dia seguinte iria armar as chalupas para fazer essa viagem, perguntando-lhe, ao mesmo tempo, se se achava suficientemente forte para o impedir. Esse tom ameaçador conseguiu logo o que os pedidos não haviam logrado fazer. A chalupa chinesa obteve permissão para partir e levar o sr. Anson a Can-tão. (Vol.I, p.181).

Entre os séculos XVII e XIX passaram por Macau navegadores, cientistas e aventureiros famosos, bem como missionários católicos e protestantes. Franceses, Ingleses, Holandeses, Italianos, Austríacos, Alemães, Húngaros, Rus-sos e, mais tarde, Americanos, dos quais o mais importante foi o comodoro Perry na expedição à China e ao Japão, nos anos 1852 a 1854.

Macau foi, também, ao longo dos anos, alvo da apetência de franceses e ingleses e tes-temunha do confronto entre eles. Foi também ponto de encontro entre os protagonistas de diversas expedições, que coincidiram nas datas de permanência em Macau. Mas foi, acima de tudo, o porto de abrigo obrigatório antes de qualquer viagem para o interior da China.

Tal como acontece na actualidade – embo-ra, naturalmente, à dimensão da época – a Chi-na era um mercado apetecível para as potências ocidentais e, daí, algumas das suas expedições terem por objectivo (para além de puras acções de espionagem...) um levantamento exaustivo dos costumes, das gentes e as suas potenciali-dades e necessidades comerciais. Algumas das obras – como é o caso de Louis Le Comte, Du Halde, François Valentjin, entre outros – cons-tituíram verdadeiros tratados sobre a China.

Na primeira metade do século XIX, Fran-ceses e Americanos assinaram tratados de Ami-zade e Comércio (mais tarde conhecidos por tratados iníquos) que pretendiam ultrapassar obstáculos e criar formas de cooperação.

O insucesso das embaixadas inglesas, que visaram idêntico objectivo, viria a ser ultrapas-sado – uma vez mais – pela força, na sequência das Guerras do Ópio e da ocupação de Hong Kong.

As limitações de permanência das Compa-nhias das Índias Orientais em Cantão fizeram de Macau um entreposto comercial e porto obrigatório de passagem para a China. Muitos personagens da História, da Igreja e da Ciên-cia, bem como comerciantes de todo o Mundo por aqui passaram, mas nem a todos – mesmo com obras publicadas – Macau mereceu mais do que estar assinalado na sua estada ou iti-nerário.

A partir da segunda metade do século XIX começam a escassear relatos de embaixadas e de longas viagens, para dar lugar aos teste-munhos dos missionários, dos viajantes e dos expatriados que passam a livro as suas próprias experiências.

Mas é, sobretudo, no século XX que a bi-bliografia com referências a Macau passa a ser, quase exclusivamente, fruto de meras viagens

UMA VIAGEM POR MACAUIntrodução

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13 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 8.7.2014

turísticas, de maior ou menor dimensão, e de textos jornalísticos ou (quase) literários.

Jornalistas de prestígio, pelo seu conhe-cimento do Oriente (particularmente da In-dochina e da China), alguns dos quais domi-nando as línguas desses países, deixaram vasta obra, não esquecendo Macau. Estão neste nú-mero, entre outros, os franceses Victor Tissot (Vol. III, pp.432-437), Paul Bonnetain (Vol. III, pp.438-451) e Alfred Raquez (Vol.IV, pp.6-21); o suíço Fernand Gigon (Vol.IV, pp.182-196); e os americanos Samuel Wells Williams (Vol.III, pp.426-431) e Archie Bell (Vol.IV, pp.103-117).

De entre os escritores, no passado recente, destacam-se o espanhol Vicente Blasco-Ibañez (Vol.IV, pp.118-143), autor de best-sellers e cuja obra mereceu a atenção de Hollywood; e Ian Lancaster Fleming (Vol.IV, pp.269-293), o fa-moso criador de James Bond. A ambos, Macau mereceu atenção e sentido crítico.

Ibañez descreve a cidade: A nossos pés, es-praia-se a cidade, a massa apertada dos seus telhados, escuros como os da Europa. De vez em quando, surgem no meio deles telhados chineses e ornamentos dos telhados de pagodes budistas. Muitas fachadas estão pintadas de cor-de-rosa ou de azul, cores ternas que dotam de uma alegre juventude as construções antigas.

Para lá da cidade, ilhas e canais repetem-se até ao infinito, como se a terra toda fosse uma sucessão de bra-ços de água que rodeiam picos emersos. Nestes canais de margens altas, que têm uma metade longitudinal da sua faixa líquida negra como o ébano e a outra metade dourada pelo sol, baloiçam sob a brisa da tarde dúzias e dúzias de juncos de velame recurvado, como o telhado dos pagodes. Todos eles vêm até Macau ou regressam a portos cujos nomes arrevesados só os seus tripulantes conseguem pronunciar. A vista tropeça no “lombo” escu-ro de uma montanha, julgando que é o limite do horizon-te. Para lá da sua linha oblíqua, existe algo que brilha como uma poça de metal em fusão. É mais um canal do estuário, um estreito navegável pelo qual passam outros juncos e sampanas, apequenados pela distância. Mais além, uma nova montanha, que é outra ilha; depois, um fragmento de canal, em terceiro ou quarto plano; e novos terrenos insulares, até que todo este mundo submerso e emergente se esfuma, por acção da distância, confundin-do-se o azul das montanhas distantes com o azul das águas e do céu. (Vol.IV, p.133)

Fleming chega a Macau em pleno período do negócio do ouro e comenta os interesses instalados: Retemperámo-nos no Macau Inn (Pousa-da de Macau), no cruzamento da marginal com a Tra-vessa do Padre Narciso. Ali contactámos com o “Nosso Homem em Macau” e bebemos gins tépidos debaixo de uma figueira de Bengala, enquanto me identificava com os quatro “Grandes Senhores” que, com o Governo Por-tuguês como pano de fundo, controlam muito bem tudo o que se passa neste enigmático território. Na América, este quatro homens seriam apelidados de “Sindicato”, mas aqui são apenas amistosos homens de negócios que cooperam para o manter dentro dos canais certos. Estes eram, na altura e por ordem de importância, o já men-cionado Dr. P. J. Lobo, que toma conta do ouro; o Sr. Foo Tak Yam, que se encarrega do jogo e actividades associadas que poderemos descrever genericamente por “diversões”, e que é o dono do Hotel Central, de que fa-larei mais tarde, o Sr. C. Y. Leung, um sócio silencioso, e o Sr. Ho Yin, intermediário-chefe nos negócios com a China Comunista. (Vol.IV, p.275)

Macau mereceu também a atenção da escritora inglesa Archibald Little (Vol.IV, pp.22-28) que, na China, desenvolveu intensa campanha contra a prática dos pés atados das mulheres (“lótus de ouro”); da baronesa inglesa Anna (Allnutt) Brassey (Vol.III, pp.452-459) que, no seu iate Sunbeam, viajou pelo Mundo, com a família e um total de 43 tripulantes, durante onze meses; e das americanas Leola Crawford (Vol.IV, pp.95-102) – uma turista “excêntrica” – e Leila Hadley (Vol.IV, pp.197-209), protagonista, aos 20 anos, de uma via-gem de dois anos à volta do Mundo.

As curiosidades de Viagem por Macau não dispensam que se assinale, entre os autores es-trangeiros de textos sobre Macau, a presença de dois antigos Governadores de Hong Kong.

Sir John Francis Davis, diplomata e sinó-logo, que governou Hong Kong, de forma po-lémica, entre 1844 e 1848 (demitiu-se devido aos confrontos com os mercadores britânicos) tinha visitado Macau, em 1831, e incluiu as

suas observações sobre o território na obra The Chinese: General Description of the Empire of China and its Inhabitants, publicada em Londres em 1836 (Vol. II, pp.94-99), e a que Sir Rutherford Al-cock (também incluído no Vol.III, pp.318-329 desta Viagem...) atribuiu o epíteto de autor da melhor e única obra popularizada de que dispomos sobre o Império Chinês, e a primeira que conseguiu divulgar o tema junto do público em geral.

Acerca de Macau, Sir John Francis Davis, afirma que o comércio está num estado de deses-perada decadência e o total das receitas alfandegárias que, em 1830, atingia apenas 70.000 taéis, é insuficiente para cobrir as despesas.

Anos mais tarde, Sir Henry Arthur Blake, 12.o governador de Hong Kong, de 1898 a 1903 (chegado à colónia britânica meses de-pois do aluguer dos Novos Territórios à Chi-na, por um período de 99 anos), assina o texto do livro China do pintor britânico Mortimer Menpes (Vol.IV, pp.58-64). Sir Henry Blake descreve um interessante festival do dragão em Macau.

CHOQUE DE CULTURAS, PRECONCEITO E INTERESSES POLÍTICOS

O respeito pelas diferenças culturais, patente em Bougainville, não faz regra na literatura sobre a China dos séculos XVI a XIX. Uma boa parte dos autores franceses manifestam respeito pela cultura chinesa, como por exem-plo Théophile Ferrière Le Vayer (Vol.III, pp. 78-119), com um texto quase poético: Macau apresentava-se muito graciosamente, ao pé de um anfi-teatro de montanhas, umas, ao fundo, cinzentas, cor de pérola, as outras, castanhas e com maciços de verdura, à esquerda e à direita da cidade, cujas casas brancas pa-reciam mergulhar no mar. À superfície das águas via-se grande quantidade de barcas, juncos, fastboats, goletas, que se inclinavam e saltavam sobre as vagas, abrindo umas à brisa as suas velas europeias e outras as suas esteiras em forma de leque.

Mas outros reflectem o choque de culturas, como o reverendo George Wright, bispo de Cloyne, que refere os templos chineses como o lugar onde acontecem todas essas horríveis pa-lhaçadas que respeitam à teoria do budismo (Vol. II, p.377).

Por vezes, também, a percepção e trans-missão da realidade na China (e em Macau) pelos autores ocidentais foi, muitas vezes, for-temente influenciada pelos seus preconceitos, ou simplesmente pela sua estrutura mental. E a informação que transmitiam estava como que sujeita a uma auto-censura, perante o esparti-lho da sociedade muito convencional e conser-vadora da época.

Casos há, ainda, em que os interesses po-líticos das nações impunham uma certa mani-pulação dos relatos em benefício de objectivos a curto ou a médio prazo. Nesta ordem de ideias, é compreensível que a quase totalidade dos escritos publicados por altura do “apare-cimento” de Hong Kong sejam devastadores relativamente a Macau...

Só uma leitura comparada de diversos au-tores, numa mesma época, permitirá avaliar, sempre com alguma margem de risco, a isen-ção dos relatos e filtrar a informação indispen-sável a um melhor conhecimento de Macau ou do Império do Meio. Por outro lado, a Histó-ria tem-se vindo a encarregar de interpretar o comportamento das potências estrangeiras, em especial nos séculos XVIII e XIX, em relação a Macau e à China.

De uma forma geral, as descrições e retra-tos de Macau são generalistas, com algumas referências personalizadas. É o caso do go-vernador Ferreira do Amaral e de um ou outro dirigente chinês, como Ki-Ying, referido nos muitos relatos que a embaixada de Lagrené (1844) produziu. Também algumas “figuras públicas” das diversas épocas se destacam nas descrições de ingleses, franceses e americanos (normalmente por compatriotas), como Chin-nery, o Padre Amyot, Thomas Beale (dono de um aviário que deslumbrava os visitantes), o Dr. Robert Morrison, o Dr. Thomas Richar-dson Colledge (fundador do Hospital Oftal-mológico em Macau, na primeira metade do século XIX), entre outros.

Todos, como não poderia deixar de ser, se referem, por vezes desenvolvidamente, à figu-ra de Luís de Camões, a propósito da visita à gruta que ninguém deixou de fazer. Há unani-midade de opiniões, de todos os quadrantes, favoráveis ao mais famoso dos poetas portu-gueses, o mesmo não se podendo dizer, das obras de beneficiação do jardim e da gruta, “de gosto duvidoso”, que a dada altura foram intro-duzidas pelo proprietário da “Casa”.

Perceptível é, também, em muitos relatos, a presença e forte influência de informadores – ou “formadores de opinião” – que manipu-lam, propositadamente ou não, a imagem que o autor leva e reproduz da realidade macaense, com prejuízo da desejável isenção.

Macau, Macao, Maccaw, Negao Men, etc., como quer que lhe tenham chamado ao longo dos séculos os autores que se limitaram a re-produzir a transcrição do nome que ouviam, temperada pela pronúncia do interlocutor, recolhe, como cidade, a unanimidade de opi-niões em todos os autores transcritos. As vi-vências de Macau, a cidade como protagonis-ta, como cenário, local de refúgio e de escape; o romantismo sombrio das suas ruínas e o tipi-cismo lusitano da sua arquitectura; a inconfun-dível barafunda organizada e colorida (de sons e cheiros) do seu bazar chinês; a solenidade das suas muitas igrejas e a beleza do recorte da Praia Grande; marcaram, profundamente, todos os relatos. Também o clima privilegiado de Macau, em contraste com o de Cantão e de Hong Kong, não deixa de ser exaltado nos diversos escritos, enquanto outros abordaram questões mais sensíveis como a pirataria, o trá-fico dos cules e do ópio.

Mas todos, de uma forma geral – e particu-larmente nos relatos mais remotos – deixaram um contributo de informação, sob o ponto de vista antropológico e etnográfico, que escapa (ou é de menor importância) para os histo-riadores, e sem o qual pouco se saberia hoje acerca dos usos, costumes, vivências e mesmo sobre o desenvolvimento urbano de Macau.

Alguns destes textos levarão a perceber, embora não em toda a sua extensão (pelo dis-tanciamento temporal), as razões porque Car-los Augusto Montalto de Jesus, historiador e escritor macaense, se abalançou a escrever o Historic Macao3 para, em seu entender, repôr a verdade sobre esta cidade e os seus habitan-tes. As razões da amargura que transparece na edição de 1926 (e que, por estas e outras ra-zões, foi apreendida e mandada queimar pelas autoridades portuguesas de Macau) reforçam, ainda mais, este estado de espírito.

Não será esta, decerto, uma pesquisa com-pleta embora se pretenda o seja o mais pos-sível. A dificuldade, muitas vezes surgiu de se estar praticamente a desbravar terreno em áreas onde, se trabalhos anteriores houve, não foram decerto suficiente e condignamente di-vulgados. Estão os autores conscientes e infor-mados da existência de mais obras que ainda não foram divulgadas e que, decerto, poderão vir a figurar em Suplementos a esta edição. A investigação e recolha de autores e obras para Viagem por Macau incidiu sobre originais em espanhol, francês, inglês, italiano, alemão e neerlandês, sendo que as traduções são livres, prevalecendo a versão original (saliente-se, no entanto, que esta edição foi alvo de apurada revisão das traduções). Falta, naturalmente, e pelo menos, tratar os originais em chinês, ja-ponês e em russo. Mas isso é tarefa ciclópica que fica em aberto.

A fechar o terceiro volume desta Viagem reuniram-se alguns dos extractos mais signi-ficativos do único diário de um estrangeiro a residir em Macau por período considerável. Trata-se de Harriet Low, que viveu em Macau de 1829 a 1833, e cuja filha, Katherine Hillard, editou, em Boston, no ano de 1900, sob o tí-tulo My Mother’s Journal, as memórias (parciais) da mãe. Novas edições (ampliadas) foram pu-blicadas posteriormente, mas apenas na língua original.

Convém não deixar de referir um outro diário – o da americana Rebecca Chase Kins-man –, que viveu em Macau de 1843 a 1847, constituído por cartas escritas durante a sua

permanência no território, mesmo depois da morte do marido, Nathaniel Kinsman (em 1847, aos 48 anos), que se encontra sepultado no cemitério protestante de Macau.

Muito mais rico em informação sobre fac-tos, pessoas e o ambiente de Macau, do que o diário de Harriet Low, o de Rebecca Chase não está publicado em livro, pelo que não consta desta Viagem. O boletim do Essex Institute of Historical Collections, publicou, pela primeira vez em 1950, ao longo de várias edições, al-gumas das suas cartas sob o título “Letters and Diary of Rebecca Kinsman of Salem”, incluídas na série “The American Mission to China”.

Os diários de Rebecca Kinsman merece-ram a atenção dos autores desta Viagem..., na British Library, durante o traballho de inves-tigação selecção e recolha para o volume de 1997. Pelas razões referidas, o seu diário não foi incluído. Mas, em Setembro de 2002, na edição inglesa da revista MacaU, Rebecca Kinsman foi alvo do destaque merecido (even-tualmente, pela primeira vez em Macau), com a transcrição de excertos de algumas das suas cartas4.

O REGISTO ICONOGRÁFICO:DA ILUSTRAÇÃO À FOTOGRAFIA

Ponderada a dimensão geográfica de Macau, pode considerar-se rica a sua iconografia. Tal circunstância deve-se, em grande parte, à in-clusão de artistas nas embaixadas e expedições à China, com carácter mais ou menos cientí-fico, que, obrigatoriamente, faziam a viagem por Macau, onde, segundo o seu testemunho, eram sempre bem recebidos pelo governador. George Anson, chega mesmo a confessar que iria apresentar cumprimentos a S. Exa. e pedir-lhe, ao mesmo tempo, o seu parecer sobre a maneira como se de-veria conduzir para não chocar os chineses... (Vol.I, p.177)

A sua tarefa era registar, pela imagem ou pela palavra (e para divulgação) todos os as-pectos da paisagem, dos povos, fauna e flora dos locais visitados. Tais artistas (que acaba-vam por ser também narradores) foram sempre uma constante nas comitivas dos exploradores e embaixadas enviadas ao Oriente a partir do século XVII quer se servissem do lápis e das aguarelas, quer, a partir de meados do século XIX, da fotografia. Os desenhos e os esboços eram fundamentais para complementar infor-mações náuticas, plantas, mapas, mas a inven-ção da fotografia e a utilização do daguerreó-tipo cedeu ao fotógrafo o papel de registador de imagens.

A demanda de artistas e narradores-via-jantes intensificou-se no século XVIII, face ao ressurgir do interesse pelo conhecimento em-pírico e/ou enciclopédico do mundo que deu origem à recriação das instituições artísticas e científicas. Estas financiaram e enviaram bate-dores (cientistas e artistas) por todo o mundo para registar e fazer o relato sobre as paragens mais recônditas, para fins de recreio e peda-gogia dos seus associados. Os trabalhos eram depois aproveitados para conferências acadé-micas, exposições e, sobretudo, para ilustração de livros científicos ou de viagens.

Johan Nieuhoff fez parte da falhada mis-são diplomática holandesa que, de 1655 a 1657, tentou estabelecer relações comerciais regulares com a recém-instalada dinastia man-chu, e foi talvez um dos primeiros e o maior responsável pelo retrato que os europeus seus contemporâneos e até ao século XVIII tinham da China e dos chineses, ao complementar as suas descrições com numerosas gravuras feitas a partir dos seus esboços e desenhos.

As ilustrações de Nieuhoff (com as suas torres de porcelana, telhados dourados, inte-riores em laca, jardins interiores fantasiosos com pedras ornamentais e bonsais) constituí-ram o primeiro importante registo pictográfico da China feito por um artista ocidental, e aju-daram a alimentar a loucura pela chinoiserie que assolou a Europa, afectando a arquitectura, o design e até a filosofia.

Praticamente na mesma altura de Nieu-hoff, Peter Mundy, considerado um dos mais famosos viajantes oriundos da costa ocidental

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da Inglaterra pelas suas muitas viagens pela Europa e Ásia, quase ininterruptas até ao ano de 1667, produziu um manacial de informa-ção, em texto e imagem, sobre a China. Parte dos seus diários, reunidos em volumosos ma-nuscritos, estiveram quase dois séculos anos esquecidos no Bodleian Library (com escassas referências, anteriores à última metade do sé-culo XIX), até serem editados por Sir Richard Carnac Temple, a partir de Junho de 1907, em obra adaptada, aditada e comentada, com o patrocínio da Hakluyt Society: The Travels of Peter Mundy in Europe and Asia (1608-1667), em 5 volumes.

Mais tarde, em 1793, outro artista ociden-tal, William Alexander “desenhador” contra-tado para a embaixada de Lord Macartney a Pequim, deu novo alento à curiosidade face ao exotismo oriental que começava a desvanecer, ao divulgar imagens do quotidiano do povo chinês, plenas de minúcia, de beleza e colo-rido, registadas no interior da China. William Alexander, passou por Macau e deixou-nos al-gumas ilustrações entre mais de 1.000 esboços e desenhos que produziu durante a missão, ou pouco depois do seu regresso a Londres.

Publicou três livros com ilustrações e im-pressões sobre a China e os chineses, e o seu trabalho foi aproveitado para ilustrar diversas obras, servindo de inspiração a outros artistas que, contemporâneos ou posteriores, copiaram os seus esboços, como foi o caso de Thomas Allom.

George Chinnery e Auguste Borget produ-ziram igualmente retratos da China e de Macau que permitem, ainda que plenos de pitoresco, imaginar o que seria o quotidiano de então. Borget demorou-se pouco tempo no território, mas Chinnery, que chegou em 1825, residiu nestas paragens durante 27 anos, até à sua mor-te, estando sepultado no cemitério protestante de Macau. (Também Chinnery e Borget estão suficientemente divulgados, em Macau e no es-trangeiro, através de conferências, exposições e edição de livros, não se justificando, por isso, a sua presença em Viagem por Macau).

É certo que, nalguns casos, o poder ficcio-nal se sobrepõe ao rigor científico e, noutros, o facto de se tratar da execução de originais baseados em esquiços fornecidos pelos via-jantes deturpa a informação, mas também é verdade que, por exemplo, as plantas de Ma-cau divulgadas pelo holandês François Va-lentjin, em 1724-1726, não só assumem uma qualidade e um pormenor que, para a época, não deixa de causar surpresa como, decerto, visariam objectivos de pura espionagem... Como diz Thomas Daniell, na introdução ao seu “álbum” A Picturesque Voyage to India by the Way of China (1810): Cabe ao artista reivin-dicar a sua participação nessas espoliações inócuas do transporte para a Europa da beleza pitoresca dos reinos por ela bafejados (...) É objectivo deste trabalho apoiar a imaginação no seu voo errático: delinear é o único meio que possibilita a descrição fidedigna de imagens perceptíveis: o lápis é narrativa para o olhar, e mesmo que seja minucioso nesse relacionamento, muito raramente se torna monótono. As suas representações não estão sujeitas aos lapsos de memória, ou aos juízos enganadores da fantasia. O que quer que comunique é transcrito da natureza. (Vol.II, pp.6-11)

Entretanto, com o aparecimento da foto-grafia, Jules Itier (Vol.II, pp.418-434) registou, em daguerreótipos, as mais antigas imagens de Macau, datadas de 1844, que resistiram até aos nossos dias. Sucederam- -lhe outros gran-des fotógrafos, como John Thomson (Vol.III, pp.474-483) ou Harry Redl (Vol.IV, pp.264-268), cujas obras constituem documentos indispensáveis para conhecer a evolução de Macau.

INCORRECÇÕES E OLHARES MENOS OBJECTIVOS

Nas referências a Macau, que se distribuem pelos quatro volumes da presente colectânea de Viagem por Macau, está patente o olhar do forasteiro ou do residente estrangeiro. Na maior parte, a visão e o entendimento terão sido toldados por circunstâncias a que não fo-ram alheios:– o eurocentrismo enraizado (que incapacitou,

por exemplo, o(s) autor(es) de entender(em) a realidade chinesa, ou determinados traços mais universalistas);– a mentalidade colonialista vigente e a intole-rância (religiosa ou racial);– os muitos interesses económicos e intuitos políticos envolvidos (de que é exemplo mais gritante o estabelecimento de Hong Kong e a necessidade de propagandear as vantagens da colónia em detrimento da posição enfraque-cida de Macau), assumidos pelos autores nos seus escritos ou justificados pelos objectivos das edições.

Em muitos textos incluídos nesta antologia se encontram incorrecções e inexactidões, di-tadas sobretudo pelo conhecimento insuficien-te da realidade tratada, face ao pouco tempo de permanência na cidade (alguns dos autores “mais prolixos” foram visitantes por apenas al-gumas horas...) que não permitiu interpretar, de forma mais objectiva e isenta, a realidade e as suas circunstâncias.

O desconhecimento da língua (chinesa e portuguesa) e/ou a falta de oportunidade ou de interesse em contactar a população autóctone responderá igualmente pela falta de referências sócio-culturais nos relatos escritos, ou, quando existem, pelos “tratos de polé” a que, de um modo geral, são submetidos os portugueses de Macau – em especial os macaenses (sempre re-feridos como mestiços, no sentido de sangue “impuro”) – e os chineses de um modo geral.

Terminamos da mesma forma que o fize-mos na Introdução ao volume de 1999:

“O retrato de Macau não se esgota, porém, neste projecto, que se apresenta apenas como uma pequena contribuição, ainda que empe-nhada, para traçar o enorme quadro da longa permanência dos portugueses em Macau.

Viagem por Macau pretende ser apenas uma ferramenta – um trabalho de divulgação séria e fundamentada – uma arca de sótão onde se guardam as recordações... Cabe agora aos in-vestigadores da História, aos sociólogos e an-tropólogos, e aos estudiosos em geral, fazer a análise dos textos e tirar as conclusões necessá-rias à compreensão de um qualquer momento da História de Macau e dos comportamentos dos que a viveram.

A ‘viagem por Macau’ continuará a fazer--se, pois a vocação do Território será sempre a de terra de passagem. Ponto de confluência cultural entre o Oriente e o Ocidente. Sem deixar de ter presente que os visitantes passam, mas a cidade permanece”.

PS – Passados mais de 15 anos, os autores ti-veram a grata compensação de verificar que o trabalho realizado em Viagem por Macau serviu de apoio a muitos estudos e escritos. Mesmo quando, na maior parte dos casos, os seus au-tores tenham omitido a origem da informação, valeu a pena.

Notas 1 René-Auguste-Constantin de Renneville

(1677-1723) – Escritor francês, nasceu em Caen em 1677 e morreu em 1723. Serviu nos Mosqueteiros e foi alto funcionário em Carentan. Como reformista passou pela Holanda em 1699 e regressou a França, em 1702, sob o nome de Chamillart. Denunciado como espião, permaneceu na Bastilha até 1713, ano em que foi libertado por intervenção da rainha. Fugiu para Inglaterra e publicou uma Histoire de la Bastille que provocou grande celeuma. Para além de Recueil des Voyages qui ont Servi à l’Etablissement de la Compagnie des Indes Orientales (1702-1705)publicou ainda Recueil de Poésies Chrétiennes (1715).

2 Do “Prefácio” de Política e Comércio dos Portugueses na Insulíndia.../Manuel Lobato. - Macau: Instituto Português do Oriente, 1999. - iv, 406 p.

3 Publicado em inglês nas duas edições de 1902 e 1926, e em português, por Livros do Oriente, em 1991

4 Cecília Jorge, “Rebecca Chase: an American in Macau”, in revista MacaU, September 2002, pp.38-53

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WWW. IACM.GOV.MO

14 hoje macau terça-feira 8.7.2014h

Notificação

Acusação, por exploração sem licença da actividade de vendilhão, contra os respectivos infractores

Considerando que não se revela possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício ou outra forma, nos termos dos artigos 10.º, 58.º e do n.º 2 do artigo 72º do C.P.A., aprovado pelo D.L. n.º 57/99/M, relativamente aos actos ilícitos de “exploração sem licença da actividade de vendilhões”, exarados nos autos de notícias, constantes da lista abaixo discriminada, notificam-se os indivíduos abaixo indicados do seguinte:

Após investigação do IACM e confirmação por provas bastantes, os indivíduos abaixo indicados infringiram os n.os 1 e 7 do artigo 3.º da “Postura dos Vendilhões, Artesãos e Adelos da Cidade de Macau”, de 1 de Junho de 1987, e n.º 4 do artigo 10.º do “Código de Posturas Municipais do Concelho das Ilhas”, de 6 de Fevereiro de 1974, pelo que o signatário, no uso das competências conferidas pelo Despacho n.º 08/PCA/2013, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.° 30, II Série, de 24 de Julho, e pelo Despacho n.° 05/PCA/2014, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.° 20, II Série, suplemento, de 15 de Maio, os notifica de que lhes é presente a respectiva acusação.

Os interessados podem apresentar a sua defesa por escrito, no prazo de 10 dias, a contar da publicação do presente aviso, nos termos do n.º 1 do artigo 94º do C.P.A. Caso um interessado não apresente defesa por escrito dentro do prazo referido, o IACM poderá tomar a decisão sancionatória nos termos da legislação em vigor.

Para mais informações, incluindo a consulta do processo, queira ligar, durante as horas de expediente, para a Divisão de Vendilhões, através do telefone n.º 8598 6852.

NomeNº do

documento de

identificação

N.º do auto de notícia

Data da prática do acto ilícito

NomeNº do

documento de

identificação

N.º do auto de notícia

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SIS/2014 2014/1/15 LEONG SAO KENG 12963**(*) 291/DVD/

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SIS/2013 2013/5/23 LIO FONG IENG 13080**(*) 233/DVD/

SIS/2013 2013/9/23

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SIS/2014 2014/1/21 LIU JIAN XING W35784*** 38/DVD/

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SIS/2013 2013/8/1

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SIS/2013 2013/12/31

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HAO MEI CHU 74288**(*) 181/DVD/

SIS/2013 2013/7/19 SOU SAI MUI 56125/I10*** 272/DVD/

SIS/2013 2013/11/27

HAO MEI CHU 74288**(*) 180/DVD/

SIS/2013 2013/7/19 SOU SAI MUI 26870/I10*** 147/DVD/

SIS/2013 2013/6/1

HO TENG HONG 71999**(*) 277/DVD/

SIS/2013 2013/12/12 TRINH THI HOA B7408*** 229/DVD/

SIS/2013 2013/9/20

HUANG SONG MEI W32756*** 40/DVD/

SIS/2014 2014/2/25 TU RUN ZHEN W47213*** 273/DVD/

SIS/2013 2013/11/29

IEONG KAT SANG 73326**(*) 275/DVD/

SIS/2013 2013/12/4 TU RUN ZHEN W47213*** 270/DVD/

SIS/2013 2013/11/25

IEONG KAT SANG 73326**(*) 144/DVD/

SIS/2013 2013/5/31 WONG SEK PUI 74090**(*) 01/DVD/

SIS/2014 2014/1/3

IP KIN CHONG 14107**(*) 28/DVD/

SIS/2014 2014/1/25 YU JIU GEN W61287*** 145/DVD/

SIS/2013 2013/5/31

LAM WAI SENG 72259**(*) 27/DVD/

SIS/2014 2014/1/25 ZHANG XIN YE E05324*** 203/DVD/

SIS/2013 2013/8/19

LAW TAI KAN 12284**(*) 45/DVD/

SIS/2014 2014/3/11 ZHANG XIN YE E05324*** 202/DVD/

SIS/2013 2013/8/19

LEI IAO LAN 9631/I10*** 43/DVD/

SIS/2014 2014/3/9 ZHANG XIN YE E05324*** 175/DVD/

SIS/2013 2013/7/7

LEI KUAI IENG 74068**(*) 274/DVD/

SIS/2013 2013/12/2 ZHOU WEI FENG

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295/DVD/SIS/2013 2013/12/31

LEI KUAI IENG 74068**(*) 162/DVD/

SIS/2013 2013/6/22

Macau, aos 30 de Junho de 2014.

O Chefe dos Serviços de Inspecção e Sanidade

De Campos Pereira, Albino

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A frequência do bar Conví-vio Agradável (no original francês Rendezvous) pres-supõe uma primeira apro-

ximação corajosa. A sua vista, que do colorido lobby do hotel facilmente se obtém, não é encorajadora. Esta con-tinua o desenho saloio que o lobby impõe com agressividade.

Mas, como acontece tantas vezes em Macau, um abandono do precon-ceito pode trazer recompensas inespe-radas. É um saber que se constrói na cidade, decorrente da necessidade, o de ultrapassar a imperfeição ou uma primeira impressão desgostosa para se chegar à qualidade. É uma das técnicas que é preciso dominar para sobreviver numa cidade que se formulou apenas como artifício e simulacro. Não é uma escolha que seja muito dolorosa ou di-fícil de fazer.

Este é um lugar de surpresas, mas o enigma que o envolve é de decifração fácil. Desenhado para agradar a uma clientela própria, o Convívio Agra-dável não abandonou totalmente a tradição hospitaleira da marca Sofitel que o distingue historicamente. Esta é uma estalagem propositadamente feia mas cheia de subtis mimos. Estes dis-tinguem-se na qualidade dos cremes dos lavatórios, na delicadeza do seu restaurante chinês, ou na qualidade do serviço dispensado a quem mostrar saber apreciá-lo. Pode pensar-se que este é um dos melhores hotéis feios da região.

Quando, por volta das sete horas, as luzes do bar tomam uma intensida-de mais romântica escondem-se algu-mas das mais agudas imperfeições do seu desenho. O seu modo floral, em constante fluorescência vítrea, escon-de-se um pouco. Tudo tende, por esta altura, a amenizar-se e a suavizar-se, mesmo antes do concurso de uma das competentes misturas de que as fun-cionárias do bar são capazes.

Não há insuficiências a este nível, os Martinis, as Margaritas, os Negro-nis e outros clássicos não apresentam falhas. Acrescentam-se a eles várias criações próprias, algumas delas sazo-nais. Um Martini femíneo, com adi-ção de água de rosas, feito a pensar, se não me engano, no Dia Internacional da Mulher, encontrou neste provador e sua companhia (muito exigente) fa-

15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 8.7.2014

a revolta do emir Pedro Lystmann

BAR CONVÍVIO AGRADÁVEL

PONTE 16

vores inesperados. Permanece, “fora de estação”, um favorito. Existe no Rendezvous uma atenção de géne-ro: há um mojito para senhoras e um mojito para cavalheiros, com canela e cravo-da índia. Nele, à leveza tradi-

cional junta-se uma pequena densida-de oriental.

Em Julho oferece-se um conjunto de 5 misturas próprias à época, uma comovente atenção baseada em vo-dka.

A lista permanente de bebidas é mais do que suficiente, sem luxos ou exageros que não sejam os da compe-tência na sua compilação. Disponibi-liza 13 chás, de camélias assâmicas e chinesas; cafés; um número decente de maltes; as bebidas brancas do cos-tume onde se inclui um Haswell gin, uma marca menos ocorrente e, nos vo-dkas, 2 marcas mongóis, um Legend of Kremlin e o Ciroc (francês, não um vodka tecnicamente mas uma eau--de-vie que tem sido comercializada como vodka). Há uma lista de vinhos que se obtém à parte, generosa.

Muito ao fundo, entre os prédios degradados mas históricos do Porto Interior, vê-se a República Popular da China. Este bebente, olhando a Chi-

na, teima em não considerar os vo-dkas caros melhores que outros mais correntes, uma entre outras discussões que no Rendezvous se levantaram uma tarde cubista.*

A todos estes confortos junta-se um outro que muitos bares do território não dispensam: abre às 11 da manhã, um luxo útil a quem não pode esperar por uma hora socialmente mais aceitá-vel para usufruir dos seus serviços.

Da fealdade, quando acompanhada da qualidade do serviço e dos produ-tos oferecidos, retira-se (ou é-se atin-gido com) uma poderosa imunidade contra a presunção. Assim se cria uma tolerância e uma benevolência que nasce, em parte, dum adormecimento dos sentidos mas também de uma dis-posição bondosa.

Esta disposição, horizontal e pre-guiçosa, cumpre-se com mais estabi-lidade quando, como acontece neste bar do Sofitel, se aproveita o conforto do seu mobiliário, bem disposto em semi-círculos próprios para a conversa ou as mesas junto às janelas, que ofe-recem à vista uma zona da cidade po-bre mas animada de trânsito e povo. O balcão tem poucas cadeiras mas ofere-ce bem estar.

Por vezes, o Convívio Agradável abriga exposições de fotografia e pe-quenos concertos. O seu frequentador encontra aí algumas revistas e jornais, o que o eleva a uma estação muito própria para um bebente solitário. Não é a Bibliothèque Nationale mas demonstra um empenho bem coloca-do. No fundo só uma objecção aqui se levanta, a do gosto, uma que se ultra-passa facilmente com a ajuda da bene-volência que este lugar inspira através da sua inclinação floral.

*Um artigo recente constante do SCMP (4 de Julho) narra com detalhe a impressão que causou junto de um painel de 6 provadores um conjunto de 10 vodkas de preço diverso. No fim conclui-se que as variações são mínimas e que as diferenças de preço espelham mais estratégias de marketing que verdadeiras dissemelhanças de qualidade. Este autor, que tem esta opinião, atreve-se a estendê-la a outras bebidas brancas com maior excepção para uma que contém um número muito elevado de botanicals e que permite muitas variações – o gin.

DA FEALDADE, QUANDO

ACOMPANHADA DA

QUALIDADE DO SERVIÇO

E DOS PRODUTOS

OFERECIDOS, RETIRA-

SE (OU É-SE ATINGIDO

COM) UMA PODEROSA

IMUNIDADE CONTRA A

PRESUNÇÃO

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16 EVENTOS hoje macau terça-feira 8.7.2014

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

SOUL NOTES• Aurea (Numa viagem)Nesta viagem que se oficializou há dois anos com a edição do álbum de estreia, que atingiu a marca de Dupla Platina, Aurea amadureceu e a sua música evoluiu com ela. Após dois anos de digressão contínua, a artista finalizou recentemente uma etapa com uma actuação em Macau no dia 26 de Outubro de 2012, no âmbito do 26º Festival Internacional de Música. Com a edição do novo álbum ‘Soul Notes’, Aurea inicia uma nova etapa do seu percurso!

OBRIGADO • Teresa SalgueiroEstreia a solo da interprete dos Madredeus, Obriga-do! apresenta 14 colaborações gravadas entre 1990 e 2005, com participações de Orfeão Dr. Edmundo Machado de Oliveira, Carlos Maria Trindade, Jah Wobble, Angelo Branduardi, Carlos Nuñez e Zeca Baleiro entre outros.

RICARDO [email protected]

T EVE ontem lugar, pelas 18:30, na Fundação Rui Cunha, a apresentação do livro “Viagem por Ma-

cau”, da autoria de Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho. A obra compila, ao longo de 1666 páginas distribuídas por quatro volumes, textos da autoria de estrangeiros que passaram na sua maioria por Macau entre o século XVII e o século XX.

Os excertos descrevem a ci-dade e a sua população e tecem várias considerações e comentá-rios sobre a vida de Macau bem como os seus momentos políticos mais significativos.

E NTRE 8 e 9 de Agos-to, o mágico Franz Harary apresenta três

espectáculos no City of Dreams. Intitulado “Franz Harary Mega Magic 2014”, o espectáculo acontece um ano após a última visita de Franz Harary a Macau. O ilusionista regressa agora ao território acompanhado de Christopher Hart, Les Arnold e Dolly Kent.

De acordo com o co-municado de imprensa, Franz Harary foi reco-nhecido como o “Ilusio-nista da Década” pela Sociedade Internacional de Magia. Especialista em “ilusões de grandes dimensões”, os seus mais famosos truques incluem o desaparecimento do Taj Mahal na Índia e da

Masamichi Exposição de cerâmica em MacauEntre 13 de Julho e 2 de Agosto, tem lugar a exposição do ceramista japonês Masamichi Yoshikawa na Galeria de Cerâmica Sky & Earth, localizada no 5º andar do Edifício Iao Son. Após ter completado os seus estudos na Academia de Design do Japão em 1968, Masamichi mudou-se para Tokoname para estudar cerâmica. A sua especialidade são porcelanas do estilo ‘seihakuji’, caracterizadas por cores azuis e brancas, em formas finas com um vidrado de características ‘celadon’. Este artista reinterpreta o estilo, visto as suas esculturas serem grossas, expressivas e imperfeitas. O ceramista já recebeu inúmeros prémios internacionais, destacando-se o primeiro prémio na Bienal Internacional de Cerâmica de Taiwan, em 2004, e já expôs no Victoria & Albert Museum, Museum of Arts & Design e no American Craft Museum. A mostra, com admissão gratuita, está aberta diariamente entre as 12h00 e as 19h00 - excepto aos domingos.

Hong Kong Carnaval Internacional de Artes Entre 11 de Julho e 17 de Agosto vai ter lugar mais uma edição do Carnaval Internacional de Artes de Hong Kong. Artistas de todo o mundo vão comparecer no evento, que engloba espectáculos de música, dança, acrobacia, comédia, teatro e cinema, a ter lugar um pouco por toda a cidade. Um deles é, por exemplo, o Grupo de Música Tradicional da Croácia, que vai actuar no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong entre 11 e 13 de Julho. Este grupo, composto por 50 músicos, dançarinos e vocalistas, apresenta as tradições da Croácia através dos seus trajes tradicionais e composições musicais únicas. Os duetos da Península de Ístria fazem mesmo parte da Lista de Património Intangível da UNESCO. Os bilhetes custam entre 160 e 380 dólares de Hong Kong.

“VIAGEM POR MACAU” APRESENTADO NA FUNDAÇÃO RUI CUNHA

Uma “arca de sótão”

MAGIA FRANZ HARARY DE VOLTA AO CITY OF DREAMS

A grande ilusão em Macau

Depois de ter sido primeiramente lançada em dois volumes, em 1997 e 1999, a nova obra revista e ampliada, é uma compilação de textos de autores estrangeiros que passaram por Macau ao longo de quatro séculos

“Viagem por Macau” inclui registos de diários, relatórios, cartas e crónicas de navegadores, cientistas, aventureiros, missio-nários católicos e protestantes, assim como textos de jornalistas nas versões originais (em francês, inglês, espanhol, italiano, alemão e neerlandês) acompanhadas da tradução em português.

A obra foi primeiro lançada em dois volumes, em 1997 e 1999, limitando a recolha de textos a finais do século XIX. O trabalho original baseou-se na biblioteca dos próprios autores (constituída ao longo de 30 anos) e na pesquisa por estes realizada na Biblio-thèque Nationale de France, na British Library e na Library of Congress, em Washington.

A nova obra revista e ampliada abrange relatos do século XX e fornece relatos consideravelmen-te mais extensos sobre os séculos anteriores, inserindo notas biográ-ficas de todos os autores citados.

Segundo os autores, este tra-balho “pretende ser apenas uma ferramenta – um trabalho de divul-gação séria e fundamentada – uma arca de sótão onde se guardam as recordações… cabe agora aos investigadores da História, aos sociólogos e antropólogos, e aos estudiosos em geral, fazer a análi-se dos textos e tirar as conclusões necessárias à compreensão de um qualquer momento da História de Macau e dos comportamentos dos que a viveram.”

O livro, uma co-edição Livros

do Oriente/Instituto Cultural, foi apresentado por Yao Jing Ming, vice-presidente do Instituto Cul-tural, e pela historiadora Tereza Sena, investigadora do Centro de Estudos Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico.

Durante o lançamento, Tereza Sena salientou a importância da obra, que espera ser “um projecto em construção”, descrevendo-a como “um importante auxiliar de trabalho para quem estuda a presen-ça dos estrangeiros em Macau”. Por sua vez, Yao Jing Ming, considera que o livro apresenta “uma imagem de Macau e da China muito interes-sante”, através dos relatos destes viajantes, apesar destas descrições “serem filtradas pela subjectivida-de” dos observadores.

Esfinge no Egipto, assim como a transformação de um elefante num carro no Jardim Zoológico de Singapura.

Desde a sua colabora-

ção com Michael Jackson no ‘Jackson’s Victory Tour’ de 1984, o mágico tem vindo a introduzir ilu-sões nos concertos de Janet Jackson, Justin Bieber,

Justin Timberlake e Usher, entre outros. De acordo com o mesmo comunica-do, os espectáculos locais chegam na sequência de audiências esgotadas na Índia e na China, podendo o público local esperar tru-ques que vão da levitação à transformação.

Christopher Hart, que é conhecido como a mão dos filmes da Família Adams, recebeu recente-mente o primeiro prémio no “Grand Prix Monique” e foi reconhecido como o “Mágico do Ano em Palco” pela Hollywood Magic

Castle. Les Arnold, com a sua filha Dazzle, apresenta uma magia misturada com comédia, enquanto que a argentina Dolly Kent - que recebeu recentemente o prémio europeu ‘Man-drake” - vai interpretar diversas personagens que aludem aos anos de ouro do cinema, realça a orga-nização.

A primeira actuação terá lugar às 20h00 do dia 8, seguido de dois espec-táculos no dia 9 – um às 17h30 e outro às 20h30. Os bilhetes custam entre 530 e 1230 patacas.

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TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 28 MAX 33 HUM 70-95% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE 8 DE JULHO

João Corvofonte da inveja

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

Nasce La Fontaine,o autor das fábulas sábias• ‘A Lebre e a Tartaruga’ é uma das fábulas eternas, guar-dadas na Literatura e partilhadas ao longo de séculos, ao longo de gerações. Hoje é dia de recordar La Fontaine, que nasceu a 8 de julho de 1621, em França. Jean de La Fontaine nasce a 8 de julho de 1621, numa pequena cidade chamada ‘Chateau-Thierry’. Iniciou os estudos em Teologia e Direito, em Paris, ainda que a Literatura tenha, desde muito cedo, sido a sua principal paixão.La Fontaine casa aos 14 anos, por imposição do pai, e nunca foi feliz nessa relação, da qual nasce uma criança. Em 1652, assume o cargo do pai, que era inspector de águas e florestas. Mais tarde, trabalha com o ministro das Finanças Nicolas Fouquet, um mecenas de vários artistas.Entra definitivamente nas Artes, e escreve ‘Os Amores de Psique e Cupido’, obra reconhecida. Nesta altura da sua vida, tinha um relacionamento próximo com Molière, bem como com as duquesas de Bouillon e de d’Orleans.Somente em 1668 lança os trabalhos que o notabilizaram e que o tornaram célebre (mundialmente, no dias de hoje). O volume ‘Fábulas Escolhidas’ reunia 124 fábulas, num trabalho dedicado ao filho do rei de França, Luís XIV.As fábulas de La Fontaine relatam histórias de animais, de forma única e apaixonante, sempre com um princípio moral – como a fábula da ‘Lebre e da Tartaruga’, por exemplo. Os animais comportam-se como seres humanos e representam os hábitos e vícios de sua classe. A escrita, atractiva, cativa inúmeros leitores e o reconhecimento, catapultando o autor para a elite da escrita. La Fontaine torna-se, em 1683, membro da Academia Francesa.Diversas edições as eternas fábulas de La Fontaine viriam a ser publicadas, ainda com o autor vivo, sendo que novas narrativas eram acrescentadas. A sua obra era enriquecida, o seu nome engrandecido. Foi considerado um “mago da poesia pura, através de linguagem cristalina e de ingenui-dade inimitável”.

C I N E M ACineteatro

TRANSCENDENCE( WALLY PFISTER, 2014)

Até onde iria para manter vivo o amor da sua vida? E se tudo o que fizesse, se voltasse contra si? E se o amor da sua vida fosse afinal outra pessoa? ‘Transcendence’ coloca-nos estas e muitas outras questões. Recentemente nos cinemas, o filme – que coloca Johnny Depp no papel do cientista Will Caster – é a mistura perfeita entre o possível e quase possível, numa era onde a tecnologia está cada vez mais perto. Will Caster é um investigador cientista, da área da inteligência artificial, que tem de enfrentar extremistas anti-tecnologia devido às suas descobertas. Quando Caster morre – pelo menos fisicamente -, a sua consciência mantém-se ao lado da mulher Evelyn (Rebecca Hall) e colega cientista Max Waters (Paul Bettany). O que inicialmente se torna numa forma de manter por perto quem amamos, depressa se torna numa luta para parar quem começa a fazer o papel de ‘Deus’. Até onde vai o limite do certo e errado? - Joana Freitas

hoje macau terça-feira 8.7.2014 (F)UTILIDADES 17

SON OF GOD

H O J E H Á F I L M E

Um mundo diferenteQuando falamos de mudança em Macau, já não nos concentramos apenas na mudança económica, mas olhamos também para a mudança na mentalidade dos residentes. Qual é a maior diferença, querido residente, que sente? Antes sempre se dava ajuda um a outro, aos vizinhos... Será que hoje em dia já perdemos cada vez mais a paciência e confiança uns nos outros? Acho que a sociedade de Macau mudou muito, principalmente no que diz respeito à coragem. Eu sou jovem, mas sei que hoje em dia é diferente: cada vez mais há coragem em falar - sejam deputados, sejam jovens e até operários. Olhem, um dos deputados que pode servir de exemplo que fala, fala, fala é o Fong Chi Kong - fala muito directamente, quer concorde, quer discorde de algum assunto. Seja bom, seja mau, o deputado lá tem a sua liberdade de expressão, quando, até agora eram apenas os jovens a divulgar os seus discursos na Internet. Mas, ainda não ouvi nenhuma crítica a esta “figura política”. Pelo contrário, as críticas aos jovens, especialmente aos membros da Associação Novo Macau (ANM), são sempre feitas pelos políticos. No início, foi o deputado que sempre foi gozado pelos jovens, tendo até instado à Assembleia Legislativa (AL) que apenas os jornalistas registados pudessem entrar na sala do hemiciclo. Depois, os jovens que não conseguiram entrar na AL fizeram protestos do lado de fora e acusaram os deputados que não são eleitos pelos votos directos de não representaram os residentes. Deviam ter “vergonha”, disseram. A guerra não parou ainda. Este ano, os jovens da ANM protestaram fora de estação de voto para contra a votação para os membros da Comissão Eleitoral de Chefe do Executivo, a quem chamam “um pequeno grupo”. E, desta vez, já não são apenas os jovens a falar, mas também os políticos a queixarem-se e as mulheres. A antiga deputada indirecta do sector da educação, Ho Sio Kam, e a presidente dos Kai Fong, queixaram-se no Facebook que tanto elas, como os seus colegas foram “chateados” fora da estação de voto pelos jovens da ANM e consideraram mesmo que a acção não representava em nada a democracia. Bom, na cultura de Macau, apreciamos mais harmonia do que conflito. Às vezes não discutimos porque não queremos ter lutas. Hoje em dia, sejam os “democratas”, sejam os “conservadores”, já ninguém se cala mais. Eu gosto que se fale. Macau, assim, tem uma discussão saudável, em vez de ficar em silêncio total ou lutar inutilmente. Só assim a sociedade se desenvolve.

SALA 1TRANSFORMERS: AGE OF EXTINCTION [B]Um filme de: Michael BayCom: Mark Wahlberg, Nicola Peltz, Jack Reynor, Li Bingbing14.30, 21.00

TRANSFORMERS: AGE OF EXTINCTION [3D] [B]Um filme de: Michael BayCom: Mark Wahlberg, Nicola Peltz, Jack Reynor, Li Bingbing18.00

SALA 2HOW TO TRAIN YOUR DRAGON [A]Um filme de: Dean DeBlois14.15, 16.00, 19.30

HOW TO TRAIN YOUR DRAGON [3D] [A]Um filme de: Dean DeBlois17.45

SALA 2TRANSFORMERS: AGE OF EXTINCTION [3D] [B]Um filme de: Michael BayCom: Mark Wahlberg, Nicola Peltz, Jack Reynor, Li Bingbing21.15

SALA 3MALEFICENT [B]Um filme de: Robert StrombergCom: Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley19.30

SON OF GOD [B]Um filme de: Christopher SpencerCom: Diogo Morgado14.30, 16.45, 21.30

Passei uma ou dez mil montanhas... nenhum número basta para contar as vezes que estás em mim.

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18 OPINIÃO hoje macau terça-feira 8.7.2014

E XISTE uma vasta literatura sobre os factores que determi-nam a felicidade das cidades e dos seus residentes. Num texto que remonta a 2010, em 2013 publicado na Regional Studies (47:4, 613-627), que tem por título The Hapiness of Cities, R. Florida, C. Melander e P. Rentfrow, analisaram algumas

dessas questões. A existência de uma forte correlação entre o nível de rendimentos e os índices de satisfação das nações já tinha sido identificada por alguns, havendo con-clusões no sentido de que aqueles que têm um nível de rendimentos elevado estão em regra mais satisfeitos do que os que têm rendimentos baixos. A razão fundamental é facilmente apreensível por todos: quem tem rendimentos satisfaz de forma mais célere as suas necessidades básicas em matéria de alimentação, água ou alojamento. Nada que o cidadão comum não tenha a noção.

Sem colocar em causa a relação entre níveis de riqueza e satisfação, um outro autor (Graham, 2008) veio afirmar que essa relação é relativa na medida em que, embora as pessoas também possam ser felizes com baixos níveis de rendimentos, tornam-se in-felizes quando surgem factores de incerteza quanto ao futuro, salientando que a relação entre a riqueza e a felicidade depende de percepções, mas igualmente de factores de natureza social e económica.

Desconheço que estudos desta natureza foram recentemente feitos em Macau, nem se alguma vez foram realizados. Porém, será consensual que a RAEM não tem di-mensão que permita fazer a extrapolação de estudos sobre países ou regiões mais vastas, assumindo-se como uma cidade de média dimensão, embora com um crescimento acelerado e um PIB per capita extraordinaria-mente elevado (quarto em termos mundiais). Admitindo como válido este pressuposto, é natural que aquelas que são as preocupações comuns dos habitantes de cidades de idêntica dimensão ocupem também o espírito dos seus residentes. E, quanto a essas, um dos factores que influencia de modo decisivo a satisfação dos residentes de uma cidade, constituindo relevante indicador da sua qualidade de vida – vista como a “expressão do grau de satisfação ou insatisfação sentida pelas pessoas sobre aspectos da sua vida” (Abrams, 1973), ou como “a extensão de prazer e satisfação que caracteriza as suas vidas como um todo” (Andrews, 1974), é a habitação. Se existe um factor comum a múltiplos autores quanto aos indicadores de avaliação de qualidade de vida de uma cidade ou de uma população, a habitação, qualquer que seja a denominação da variável, está presente.

A habitação, em rigor o seu custo, é neste momento um factor crucial de insatisfação da população de Macau. Não sei se os que vivem rodeados de seguranças e assessores servis têm essa percepção, mas hoje em dia

Quem tem a responsabilidade de governar tem de ter consciência de que sem uma intervenção que leve em consideração os interesses da generalidade da população e da própria RAEM, será difícil garantir nos próximos anos condições de satisfação dos residentes que sustentem um crescimento saudável com estabilidade política e social

Começar por algum lado1

Sérgio de AlmeidA CorreiA

até em estratos mais favorecidos em termos profissionais e de estatuto social, em que o nível de rendimentos permite desfrutar de condições de bem-estar superiores à da generalidade da população, é latente um sentimento de insatisfação pelos preços do imobiliário, seja na perspectiva da aquisição ou do arrendamento. A situação actual tem consequências graves do ponto de vista social e do sentimento de segurança das gerações mais novas que agora entram no mercado de trabalho e pretendem tornar-se independentes em termos familiares.

Todavia, o desconforto com os preços atingidos não esgota esse sentimento ge-neralizado de insatisfação, mais vincado nos trabalhadores por conta de outrem com baixas e médias qualificações que auferem salários na metade inferior da escala. É fácil perceber que a este nível, se há quatro anos para um agregado familiar com um rendimento de 25 ou 30 mil patacas era suportável uma renda de 8 ou 10 mil dólares de Hong Kong (como escreveu há anos um ilustre juiz-conselheiro, a moeda da SAR de HK tem curso quase legal em Macau, pelo que quem ganha em patacas tem sempre de fazer a conversão!), é evidente que hoje com aquele rendimento não é possível viver com a qualidade anterior, satisfazendo as mesmas necessidades, sabendo que a renda de casa

em dois anos pulou 50% e que ao fim de quatro anos subiu mais 25%. Os valores dos aumentos excedem largamente os valores da inflação e não há rendimentos, numa família que vive do seu trabalho, e não do jogo ou expedientes vários, que consigam reproduzir-se a esse ritmo, começando já a tornarem-se comuns situações em que metade ou mais do rendimento disponível de uma família está reservado para pagar encargos com a habitação. Neste momento já há casais que repartem apartamentos por os preços se terem tornado incomportáveis, o que constitui um indicador de agravamento da situação social.

A insatisfação com os preços de venda dos imóveis ou dos destinados ao arren-damento prolonga-se depois pela péssima qualidade das construções, por vezes ainda disfarçada de habitação de luxo mas que de luxo só tem o nome do edifício, pelo escandaloso comportamento das agências de mediação e pelo valor usurário das comissões praticadas, cujos aumentos acompanham a vertigem dos preços das fracções e o desin-teresse dos senhorios na manutenção destas.

A perspectiva nos dias que correm de quem não tem casa própria e (ainda) não é suficientemente pobre para merecer a caridade da RAEM, é de que dois em dois anos será necessário procurar outro local

para viver, arcar com os custos inerentes a sucessivas mudanças e reinstalações e, last but not least, ir derretendo poupanças em comissões de agências que, sem prestarem na maior parte dos casos qualquer serviço visível, limitando-se a fazer telefonemas, continuarão a lucrar com o caos. Acresce que a actual situação potencia conflitos fa-miliares, desestrutura a economia doméstica e introduz factores de instabilidade, inse-gurança e desconforto nos filhos menores, obrigados a diariamente acompanharem o drama da casa, da renda, da mudança e das conversas associadas, com eventuais refle-xos negativos nos resultados académicos e no seu equilíbrio psicológico.

Impõe-se que sejam criados limites ao valor das comissões de mediação das agências imobiliárias, responsabilizando os proprietários que recorrem aos seus serviços para obtenção de arrendatários para as frac-ções, obrigando-os a suportarem os custos do serviço que lhes é prestado por aquelas, ao invés do que sucede hoje em que são os desgraçados dos inquilinos que, sob pena de ficarem na rua, arcam com o respectivo pagamento à cabeça. Tal poderá ser feito sem prejuízo de um eventual reembolso ou ajustamento em sede fiscal, pondo termo ao comportamento vergonhoso de alguns agentes que quando sabem da aproximação do termo dos arrendamentos são os primeiros a contactar proprietários, incentivando-os a aumentarem o valor dos arrendamentos em curso e desaconselhando-lhes a respec-tiva renovação, com a promessa de novo inquilino e de um substancial aumento da renda, dessa forma garantindo a renovação por valores acrescidos das suas comissões.

Os enganadores resultados estatísticos, nalguns casos fruto de dados errados, noutros de resultados obtidos em termos médios sem correspondência com a realidade, como é o caso dos astronómicos valores do PIB per capita dos residentes, mascaram valores de rendimentos líquidos de largas parcelas da população que seriam motivo de desonra numa sociedade responsável e equilibrada. Esses resultados, de que há quem se orgulhe em vez de se preocupar, têm servido para a acrítica e servil contemporização com um es-cândalo a que dão o nome de “mercado”, coi-sa aqui inexistente e que serve para acentuar desigualdades que todos sabem beneficiar sempre a mesma meia dúzia de abastados, normalmente aparentados entre si, e umas quantas empresas nas mãos daqueles e dos seus amigos de Hong Kong, numa espécie de conluio entre agiotas “patrocinado” pelos poderes formais e informais de Macau.

Se for do interesse do Executivo da RAEM apostar na melhoria dos padrões de qualidade de vida e de satisfação da popu-lação, convém pensar que a construção de casinos não será eterna, que os lucros destes não continuarão a crescer nos próximos dez ou vinte anos ao ritmo actual, havendo a certeza de que um dia estabilizarão antes de começarem a descer para patamares

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19 opinião

a outra faceCARLOS MORAIS JOSÉ

hoje macau terça-feira 8.7.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Filipa Araújo; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

consentâneos com os padrões de uma cidade civilizada onde existe uma outra vida para além do jogo e das actividades associadas, legais e ilegais.

Numa cidade que precisa urgentemente de gerar riqueza à margem da indústria do jogo, sem que para tal se recorra a práticas corruptivas, a falta de condições de transpa-rência e regulação do mercado imobiliário, a elevada especulação e a instabilidade associada à ausência de um local de resi-dência estável e de uma moradas condigna para todos, são factores de desincentivo ao estabelecimento e à permanência dos tão apregoados “ talentos”, que sem condições de segurança para si e as suas famílias procurarão fixar-se em locais mais aprazí-veis, em termos climáticos e ambientais, e social, económica e financeiramente mais previsíveis.

Centremo-nos por agora apenas no problema da habitação, deixando de fora outras questões não menos sérias como a da qualidade do ar, dos transportes, do estacionamento na cidade ou o escândalo da gestão de condomínios. Quem tem a responsabilidade de governar tem de ter consciência de que sem uma intervenção que leve em consideração os interesses da generalidade da população e da própria RAEM, colocando no seu devido lugar o “mercado” e acautelando a função social da propriedade, será difícil garantir nos próximos anos condições de satisfação dos residentes que sustentem um crescimento saudável com estabilidade política e social.

Escuso de recordar o que se segue à insatisfação e à convulsão social geradas por desequilíbrios sociais e de qualidade de vida. Que no caso de Macau será agravado pela percepção pública de quem governa não o faz em benefício dos destinatários – vd. as recentes manifestações, as palavras de ordem nelas proferidas e os cartazes exibidos –, mas antes em prol de uma pequena elite em relação à qual muitos formaram a ideia, consequência de decisões infelizes e vários casos de polícia, que se tem reproduzido em circuito fechado e à sombra de negócios pouco transparentes que fogem recorrente-mente ao escrutínio público.

1 - As linhas que se seguem não resultam de um qualquer trabalho ou estudo académico sobre a matéria tratada, nem sobre a mesma possuo formação específica que me habilite à discussão de questões de natureza técnica com quem faz delas a sua profissão ou objecto de investigação. As linhas que deixo são o resultado de percepções, de uma breve reflexão e o repositório de algumas preocupações que enquanto cidadão da RAEM me assolam o espírito. É com o sentido desta advertência que deverão ser lidas.

cartoon por Stephff

O aparecimento de um Li-vro Branco dedicado a Hong Kong parece estar a provocar alguma inveja ou mesmo ressentimento aqui do lado de Macau. Isto é, há quem veja esta ausência como um sinal de que Pequim não nos liga nenhuma e só quer saber

ali dos meninos do lado. É preciso que se saiba que aqui na RAEM estamos fartos deste tratamento preferencial! Queremos que o nosso chefe do Grupo de Ligação nos fale grosso como faz ali ao lado! Que o representante do MNE chinês nos puxe as orelhas! E que o Conselho de Estado nos ponha em sentido!

Afinal, há que demonstrar o interesse, o amor, e não olhar para o lado e assobiar quando os meninos se portam mal. Se zurzem na ex-colónia britânica, por que razão não sobram umas pauladas, aqui para a malta deste lado do delta do Rio das Pérolas? Ou a gente não é gente? Ou as nossas costas não são costas merecedoras de bambu?

É claro que os dois livros não pode-riam ter conteúdos semelhantes, porque tal não se justificaria. Por exemplo, em Hong Kong debatem-se problemas cons-titucionais, políticos, puros e duros, algo que em Macau não faria o menor sentido. Ao debruçar-se sobre a RAEM, o Go-verno Central imediatamente descobriria que o Livro Branco teria de incidir sobre

Por um Livro Branco de Macau

Faz-nos falta o livro cuja alvura iluminaria o caminho para a harmonia e o desenvolvimento. Na escuridão encontrarás apenas o caminho dos senhores. E dos doutores, por vezes

questões de governação. A questão é rara e bicuda. É que, como local único que é, em Macau comprovou-se, na prática, aquele ditado popular, difícil de acreditar, altamente contrário aos padrões culturais

contemporâneos, segundo o qual dinheiro não traz felicidade.

A verdade é que raramente neste re-dondo planeta tinha sido experimentada uma situação real em que uma pequena cidade, com os cofres a abarrotar de di-nheiro, não consegue, depois de 15 anos de experiências várias, proporcionar con-dições sociais mínimas aos seus cidadãos, nem organizar-se de forma racional. Dito isto, e apresentados os números numa conferência internacional de sumidades, tal faria contorcer as carantonhas dos ilustres presentes em esgares de franca incredulidade. Como é isto possível? Mas, olaré, cá está Macau para provar que o improvável é possível e que o impossível consegue mesmo acontecer.

Detectada esta falha existencial na RAEM (que, provavelmente, nos ins-creve uma vez mais no Guiness), seria importante que Pequim nos iluminasse com um Livro Branco, uma espécie de manual de instruções, de leitura simples e em caracteres complexos, para uma governação mediana. Um volume em que se ensinasse a tornar a habitação acessível aos cidadãos e a pôr na ordem os taxistas. Um breviário para organizar o tráfego numa pequena cidade e outro para apressar obras públicas. Enfim, talvez umas notas sobre a compostura mínima de quem ocupa um lugar de deputado e como não desanimar quem pretende fundar uma pequena empresa. Por outro lado, seria também útil enviar para aqui uns formadores na caça ao tigre, que o safari parece que ficou no adro.

Todos estes tópicos, entre outros, de-veriam constar no nosso Livro Branco. E é, de facto, um enorme desleixe da parte de Pequim não nos motivar com as suas sábias palavras e agónicos éditos. Este abandono, bem vistas as coisas, olhando bem para o fundo, revela um desinteresse que nos atinge profundamente e magoa a sinceridade do nosso coração. Para além disso, levanta-nos piedosas dúvidas que espetam aceradas facas em nossos dispo-níveis peitos: Que mal teremos nós feito ao Céu? Não enviámos o dízimo? O dízimo não era suficiente?

Para os de Hong Kong são Livros Brancos, educação patriótica, referên-cias constantes nos jornais nos discur-sos de Estado, uma nítida, lamentável e reprovável preferência. Para nós, nada. Está mal. Faz-nos falta o livro cuja alvura iluminaria o caminho para a harmonia e o desenvolvimento. Na escuridão encontrarás apenas o caminho dos senhores. E dos doutores, por vezes. E dos predadores, doutras.

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hoje macau terça-feira 8.7.2014

Alunos “heróis” escolhemuniversidades em JiangxiSegundo o jornal Ou Mun, os dois alunos que pararam um ataque com facas na província de Jiangxi, na China, já decidiram que vão estudar em universidades da terra natal. Embora a Universidade de Macau tenha tentado recrutar os dois alunos, duas universidades em Jiangxi, vão ser quem fica com os “heróis”. Um deles, Liu Yanbing, disse que a Universidade de Nanchang foi a primeira universidade a oferecer a admissão e, dizem, toda a família está “comovida”. Além disso, a universidade é considerada a melhor na província. O outro aluno, Yi Zhengyong, também integrou uma universidade de Jiangxi, a Universidade de Finanças e Economia de Jiangxi.

DSPA alerta para falso funcionário A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) alertou ontem os cidadãos para a possibilidade de fraude envolvendo o Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética. Em comunicado à imprensa, a DSPA explica que um cidadão denunciou aos serviços a possibilidade de existirem pessoas que fingem ser “funcionários da DSPA para promover o Fundo”. A suspeita surgiu depois de uma pessoa se apresentar numa loja de artigos de iluminação fazendo-se passar por um funcionário da DSPA e promovendo o Fundo em causa, conseguindo com que o funcionário lhe cedesse vários documentos pessoais. Depois da queixa apresentada à DSPA, o caso está a ser investigado.

S.Paulo Futebol Clube quer abrirfilial em Cantão em 2015A escola de futebol do São Paulo Futebol Clube, instalada em Macau em Abril, pretende abrir uma unidade na província chinesa de Cantão no próximo ano, indica um comunicado. A escola em Macau resultou de um projecto em regime de concessão entre investidores locais e o clube brasileiro, e o interesse na entrada na China foi declarado no âmbito da feira de ‘franchising’ que decorreu em Macau este fim-de-semana, de acordo com a nota do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). “O próximo passo é a China Continental, começando em Guangzhou já em 2015, através de Macau”, que será a base para a expansão da marca no mercado chinês, disse em comunicado o treinador principal da escola, José Arlindo Filho, conhecido no futebol de Macau por Josecler. O São Paulo F.C. já teve uma escola de futebol na Tailândia, mas Macau é actualmente a sua única representação em regime de concessão na Ásia.

Comércio livre União Europeiae Japão em negociações A União Europeia (UE) e o Japão iniciaram ontem, em Tóquio, a sexta ronda de negociações para um Tratado de Livre Comércio, o qual deverá prever a facilitação de exportações de ambos designadamente de produtos alimentares. Nesta nova fase de conversações, o bloco dos 28 procura conquistar avanços com vista à flexibilização do acesso ao mercado japonês por parte de empresas europeias produtoras de vinho, queijo e carne de porco, bem como das ligadas ao sector ferroviário, indicaram fontes comunitárias à agência Efe. A ronda, iniciada ontem em Tóquio e que se vai estender até à próxima sexta-feira, é a primeira desde que a UE avaliou de forma positiva os progressos registados durante o primeiro ano de negociações, que arrancaram em Abril de 2013, decidindo dar continuidade às mesmas.

A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou on-tem “graves” as

acusações de que um agente dos serviços secretos ger-mânicos fez espionagem para os Estados Unidos, exigindo um esclareci-

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O caso sensível de um possível agente duplo que pode trazer mais tensão às relações entre os EUA e a Alemanha

AGENTE ALEMÃO ACUSADO DE ESPIAR PARA WASHINGTON

Merkel considera acusações “graves”

mento rápido por parte de Washington.

Merkel falava durante uma conferência de im-prensa conjunta com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Pequim, no quadro da sua visita à China, a sétima desde que chegou ao poder em 2005.

“Se as informações estiverem correctas, tratar--se-ia de um caso grave”, afirmou Merkel, realçando que, a confirmarem-se as suspeitas em torno do duplo agente, isso significaria “uma clara contradição” face àquilo que considerou ser uma cooperação de confiança entre agências e parceiros.

Na sexta-feira, o jornal diário Süddeutsche Zeitung, as radiotelevisões regionais

NDR, WDR e a agên-cia alemã DPA

a v a n ç a -ram com

a notícia da detenção de um co-laborador

dos servi-ços secretos da

Alemanha por sus-peita de ter espiado

para os Estados Unidos.No dia anterior, o pro-

curador-geral federal tinha anunciado a detenção de um alemão de 31 anos, acusado de espionagem para um serviço estrangeiro, mas não tinha precisado para que serviço o suspeito poderia estar a trabalhar.

MEA CULPADurante os interrogatórios, o colaborador dos serviços secretos alemães confes-sou ter fornecido informa-ções a um serviço secreto norte-americano, segundo a NDR.

As relações entre os Es-tados Unidos e a Alemanha ficaram mais tensas depois das revelações feitas pelo ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden sobre um vasto programa de es-pionagem que visava em grande parte a Alemanha, incluindo o telefone de Angela Merkel.

A Alemanha é particular-mente sensível a questões de espionagem no seu próprio território, já que é um país que ficou marcado pelas acções da Stasi, a polícia secreta da antiga República Democrática da Alemanha (Alemanha de leste, comu-nista), que espiava os seus cidadãos.