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Roma, a poesia e o exílio h Carlos Ascenso André Quando se discute o Regime de Credenciação dos assistentes sociais, as representantes da Associação Comunitária Kai Fong e também profissionais da área, falam das necessidades de um sector onde as exigências são cada vez maiores e os recursos humanos escasseiam. Um trabalho diário no apoio a quem mais precisa que é desconhecido pela generalidade da população. GONÇALO LOBO PINHEIRO Na linha da frente hojemacau ENTREVISTA PÁGINAS 2-3 MICHI LAM | LAU WING SZE DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 30 DE JANEIRO DE 2015 ANO XIV Nº3263 PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB SAÚDE Idas ao privado com ajuda pública VIAS ÚNICAS Em Agosto com hora fixa POLÍTICA PÁGINA 4 AUTOCARROS PÁGINA 8

Hoje Macau 30 JAN 2015 #3263

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Hoje Macau N.º3263 de 30 de Janeiro de 2015

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Page 1: Hoje Macau 30 JAN 2015 #3263

Roma,a poesiae o exílio

h Carlos Ascenso André

Quando se discute o Regime de Credenciação dos assistentes sociais, as representantes da Associação Comunitária Kai Fong e também profissionais da área, falam das necessidades de um sector onde as exigências são cada vez maiores e os recursos humanos escasseiam. Um trabalho diário no apoio a quem mais precisa que é desconhecido pela generalidade da população.

GONÇ

ALO

LOBO

PIN

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Na linhada frente

hojemacau

ENTREVISTA PÁGINAS 2-3

MICHI LAM | LAU WING SZE

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E X TA - F E I R A 3 0 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5 • A N O X I V • N º 3 2 6 3PU

BAGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUBSAÚDE Idas ao

privado com ajuda pública

VIAS ÚNICAS Em Agosto com hora fixa

POLÍTICA PÁGINA 4 AUTOCARROS PÁGINA 8

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FOTOS GONÇALO LOBO PINHEIRO

2 ENTREVISTA hoje macau sexta-feira 30.1.2015

Carente de recursos humanos, as associações comunitárias precisamde assistentes sociais, que muitas vezes são seduzidos pelas melhores condições de trabalho na função pública. A aposta numa maior comunicação entre sectores e um justo reconhecimento são pontos de solução defendidospelos dois membrosdos Kaifong

LAU WING SZE, VICE-PRESIDENTE DA UNIÃO GERAL DAS ASSOCIAÇÕES DOS MORADORES DE MACAU (KAIFONG) MICHI LAM, CHEFE COORDENADORA DO DEPARTAMENTO DOS SERVIÇOS SOCIAIS E TAMBÉM MEMBRO DOS KAIFONG

“A população em geral não conhece nem reconhece a nossa profissão”

FLORA [email protected]

O Regime de Credenciação e Inscrição para o Exercício de Função de Assistente Social está em período de consultas públi-cas. Sendo também profissionais da área, quais são suas opiniões sobre este regime?Lau Wing Sze - Desde a primeira fase da consulta pública em 2012 até ao momento, o sector tem tido várias opiniões sobre o documento de consulta. No início, achava-se que não havia regulamento do re-gime, mas desta vez, conseguimos efectivamente ver que o Governo ouviu as opiniões do sector. Apesar disso, ainda existem algumas preo-cupações, tais como a criação da Comissão Profissional e o número de membros também ainda não está claro. É suposto chegar-se a uma forma de eleição directa de todos os assistentes sociais, algo que ainda não é contemplado no regime. Na minha opinião, como primeiro passo deve ser criada a comissão, enquanto se ouve as opiniões do sector, tendo em conta que a proporção da participação dos profissionais da área deve ser maior.

O director do Instituto de Acção Social (IAS), Iong Kuong Io, refe-riu recentemente que espera que durante a 2ª sessão da comissão, os membros representantes do sector possam ser eleitos pelos próprios profissionais. Qual a sua opinião?

LWS - Defendo que haja um perío-do de transição. Acho que primeiro deve ser criada a comissão de forma rápida e depois decidir que tipo de eleição colocar em prática, adaptando a escolha às práticas de Macau.

Que outras falhas há no regime? LWS - A maioria dos assistentes

sociais acha que no documento existem muitas limitações. Porque é que eles acham isto? Talvez por não se sentirem protegidos. Por isso considero que o regime possa ter mais atenção e debruçar-se mais à área de desenvolvimento da carreira dos profissionais. É preciso notar que nas associações comunitárias não existe, em termos gerais, um desenvolvimento fixo, portanto deduz-se que nas peque-nas associações possa ser pior. Falo tanto no apoio no âmbito jurídico, como na segurança de aposentação, alguns pontos que mais preocupam os profissionais. Para mim, quando

o regime entrar em vigor, estes aspectos devem ser resolvidos permitindo a aproximação entre a função pública e as associações comunitárias.Michi Lam - Apesar deste regime contemplar a supervisão, existe al-guma incerteza na parte das infrac-ções. Concordo com o mecanismo de supervisão proposto, mas acho que é necessário adicionar uma cláusula que garanta a protecção jurídica. Actualmente, nós assis-tentes sociais, trabalhamos na linha frente, as exigências dos residentes são cada vez mais altas, algumas até não são de ordem física, são menos concretas, por exemplo, questões éticas. E, claro, quando não conseguimos satisfazer, eles ficam descontentes.

Um assistente social apontou que não existe um mecanismo para queixas quando os assistentes sociais são maltratados. Isto é verdade?LWS - Sim, os estudantes de Assistência Social chegaram até nós com esse pedido, que seja implementado um mecanismo para se queixarem, argumentando que na necessidade apresentar uma reclamação não têm a quem recorrer. Espero que esse tipo de mecanismo seja implementado no grupo de Comissão Profissio-nal, que ficará responsável pelas queixas de todo o tipo de situações

Há idosos que querem ir ao hospital e não conseguem apanhar táxis, os serviços médicos de duas associações em Macau estão cheios, não há mão-de--obra. Na discussão da proposta de lei, o Governo deve considerar a questão das instalações. Caso contrário a protecção dos idosos será apenas nas palavras, mas não atingeos seus objectivosLAU WING SZE

Actualmente,nós assistentes sociais, trabalhamosna linha frente,as exigências dos residentes são cada vez mais altas, algumas até nãosão de ordem física, são menos concretas, por exemplo, questões éticas. MICHI LAM

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3 entrevistahoje macau sexta-feira 30.1.2015

As associações são cada vez mais alvo de supervisão por parte do Executivo, e as exigências são cada vez maiores. Somos nós que enfrentamos a pressão, e que devemos saber controlar essa mesma pressão canalizando-apara a resoluçãodos problemasda sociedadeMICHI LAM

O IAS ainda não legislou a Lei de Bases de Direitos e Garantias dos Idosos. Considera que é urgente implementar essa lei?ML - Para mim, deve-se apostar na ideia “primeiro educar, depois legislar”. Temos de fazer bem as coisas na área da educação cívica e promover os cuidados aos idosos, bem como desenvolver as suas capacidades. É preciso uma lei para os idosos, porque prevê-se que, até 2036, essa fatia da população represente 20,7% da sociedade. Nessa altura, cada três jovens vão ter de cuidar de um idoso. Temos de pensar em desenvolver a formação e o apoio suplementar para estas pessoas. LWS - Ouvimos com frequência a ideia de que o envelhecimento da população vai ser uma coisa terrível e que vai trazer muita pressão para a sociedade. Mas se estivermos preparados para isso não vai ser uma coisa assim tão terrível. No documento de consulta pública sobre a lei, inclui-se questões como a prevenção, saúde, a participação da sociedade, entre outros, que podem ajudar a resolver os problemas que possam surgir. Será que todos os direitos e cuidados dos idosos devem estar sob alçada do Governo? Penso que sim, mas não só: fará mais sentido se impulsionarmos pessoas de diferentes áreas da sociedade a participar nesse apoio.

LAU WING SZE, VICE-PRESIDENTE DA UNIÃO GERAL DAS ASSOCIAÇÕES DOS MORADORES DE MACAU (KAIFONG) MICHI LAM, CHEFE COORDENADORA DO DEPARTAMENTO DOS SERVIÇOS SOCIAIS E TAMBÉM MEMBRO DOS KAIFONG

“A população em geral não conhece nem reconhece a nossa profissão”

Idosos Pensar reforma com antecedência “evita pressão”

e claro pessoas, profissionais, alunos e até utentes.

Pela sua experiência, quais são as dificuldades dos assistentes sociais neste momento?ML - Actualmente o sector está carente de recursos humanos, talvez devido ao interesse por parte dos profissionais em pertencer à função pública, pois podem candidatar-se a todos os tipos de posição. Quando os assistentes sociais das associações comunitárias saíram para ir trabalhar para o Governo, nós não consegui-mos recrutar mais ninguém, ou seja, neste momento um único assistente

está responsável pelo trabalho de dois. Isso provoca um descontenta-mento geral nos profissionais, que muitas vezes sofrem de pressão das próprias famílias. Além disso, as associações são cada vez mais alvo de supervisão por parte do Executivo, e as exigências são cada vez maiores. Somos nós que enfrentamos a pres-são, e que devemos saber controlar

essa mesma pressão canalizando-a para a resolução dos problemas da sociedade. Por isto mesmo, a ideia sonhadora do trabalho de assistente social, desvanece-se, algo que pode influenciar o profissionalismo e o desenvolvimento do trabalhador. LWS - Pela minha experiência, a população em geral não conhece nem reconhece a nossa profissão, o

nosso trabalho. Os assistentes sociais que trabalham nas escolas, não são valorizados pelas próprias entidades de ensino. Este tipo de profissionais tem imenso trabalho, são os casos de alunos e professores, as actividades e grupos de trabalho, fora todos os trabalhos extra. Além disso, com-parando com os assistentes sociais da função pública, os poderes são

totalmente diferentes, o que com-plica a vida às próprias associações comunitárias. O reconhecimento é importante, é preciso por isso apostar numa maior comunicação entre todas as entidades e tipos de assistentes sociais, porque na realidade, esse conhecimento e comunicação só vai ajudar a resolver melhor e de forma mais rápida as questões das vítimas.

Será que todos os direitos e cuidados dos idosos devem estar sob alçada do Governo? Penso que sim, mas não só: fará mais sentido se impulsionarmos pessoas de diferentes áreas da sociedade a participar nesse apoioLAU WING SZE

Actualmenteo sector está carente de recursos humanos, talvez devido ao interesse por parte dos profissionais em pertencer à função pública, pois podem candidatar-sea todos os tiposde posiçãoMICHI LAM

Como é que devem então ser promovidos os direitos e cuidados aos mais velhos?LWS - Se questionarmos os idosos se conhecem os seus direitos, se calhar não sabem. Devemos ensiná-los a esse respeito e também aos seus familiares, e também a sociedade. Porque se todos os familiares tratarem bem dos seus idosos, nem é necessária toda a responsabilidade do Governo. Inclusivamente os idosos querem que os seus familiares lhes dêem mais apoio.

ML - De forma geral, todas as famílias têm um parente idoso. Mas muitas vezes os familiares podem não saber como cuidar deles, ou não sabem procurar o apoio, o que se torna numa pressão. Podem surgir situações de violência para com os idosos ou uma má relação com os filhos.

O IAS respondeu ao deputado Si Ka Lon que poderia ser criado um sistema de gestão dos casos dos idosos, bem como um plano de elogios a idosos que se destaquem na sociedade. Como avaliam estas medidas?ML - É viável, sobretudo para os idosos que vivem sozinhos. É adequado criar um sistema que acompanhe a vida deles. Deve ligar-se o sistema aos recursos existentes e planear bem com as instalações sociais das diversas zonas, porque actualmente os lares de idosos da zona norte estão cheios. Há ainda idosos que querem mais espaços para se divertir ou para participar na sociedade, mas esses lugares não existem. LWS - Se for criado um sistema, é importante ver como serão analisados os dados recolhidos. Deve-se fazer uma análise para que os serviços possam ser melhorados, e não basta apenas olhar para a demografia, mas deve ver-se o que falta em termos de instalações suplementares. Há idosos que querem ir ao hospital e não conseguem apanhar táxis, os serviços médicos

de duas associações em Macau estão cheios, não há mão-de-obra. Na discussão da proposta de lei, o Governo deve considerar a questão das instalações. Caso contrário a protecção dos idosos será apenas nas palavras, mas não atinge os seus objectivos.

Falaram antes da diversidade dos idosos. Em que sentido?ML - Actualmente os idosos são activos na área da educação. Conhecemos uma idosa com 90 anos que vive sozinha, estudou no nosso instituto e tirou 20 cursos. Outro idoso estudava e tornou-se professor. Estudaram para passar o tempo, mas aproveitaram as suas capacidades. Diz-se que os idosos já perderam capacidades, mas dizemos sempre que ainda as têm. Podem ter perdido juventude e anos, mas ganharam experiências com as quais podemos aprender. LWS - Mesmo que uma parte dos idosos esteja isolada, ainda há muitos que aproveitam as suas capacidades depois da reforma. Só precisam de uma forma de fazer isso. Planear a velhice com antecedência é importante. Considerando a minha saúde e situação financeira, posso pensar já se compro uma casa com elevador. Posso arranjar as minhas coisas para não depender de ninguém quando me aposentar.

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4 hoje macau sexta-feira 30.1.2015POLÍTICA

O Governo vai pagar a cada residente 110 patacas por consulta externa e 230 patacas

por um atendimento de urgência, no caso dos pacientes optarem por se dirigir ao serviço privado de saúde. A medida, anunciada ontem, pretende ser a primeira de muitas para combater a lista de espera verificada no hospital

Governo já aprovou contratação de 529 profissionais de saúde

“O tempo de espera é longo e com esta medida os pacientes poderão dirigir-se a outros locais. Os recursos são os mesmos e não vamos ter qualquer aumento de orçamento. Mas nada nos impede que não tenhamos de acrescentar outros serviços”LEI CHIN ION Director dos SS

CRIADA“APP” PARA VER TEMPO DE ESPERAJá está a funcionar, apenas no sistema android, a nova aplicação que permite ver o tempo de espera nas consultas externas e nas urgências. A nova “app” estará a funcionar em chinês e português, estando a ser equacionada a tradução para inglês. Alexis Tam revelou estar “muito feliz por ver este resultado ser alcançado em tão pouco tempo”. Foi ainda criada uma linha “hotline” para verificar o tempo de espera dos serviços de saúde em rede.

Os residentes que já têm acesso a cuidados de saúde gratuitos poderão optar por ser atendidos nas urgências ou ter consultas externas no sector privado, incluindo professores e funcionários públicos. O Governo vai subsidiar estes casos para reduzir tempo de espera. Associações temem que número de pacientes possavir a aumentar

CONSULTAS E IDAS ÀS URGÊNCIAS VÃO SER SUBSIDIADAS NO PRIVADO

Pagar para não esperar

ANDREIA SOFIA [email protected]

FLORA [email protected]

Conde de São Januário. A nova política abrange residentes que já têm acesso gratuito aos cuidados de saúde, tal como os idosos, por-tadores do cartão do Instituto de Acção Social (IAS), deficientes, crianças e grávidas, mas passa também a abranger funcionários públicos e os seus familiares e ainda professores. Quem é portador do cartão de acesso a cuidados de saúde emitido pelo São Januário está também incluído. Cada pessoa só poderá usufruir do montante num prazo de 48 horas, em casos considerados “não urgentes”.

Lei Chin Ion, director dos Ser-

viços de Saúde (SS), garantiu que, para já, esta medida não deverá levar a um grande aumento do orçamento.

“O tempo de espera é longo e com esta medida os pacientes poderão dirigir-se a outros locais.

É mais um passo para a resolução da falta de

recursos humanos no sector público de saúde em Macau. O Secretário para os Assun-tos Sociais e Cultura, Alexis Tam, garantiu ontem que a proposta de contratação de 529 profissionais já foi aceite e que cabe agora aos Serviços de Saúde (SS) acelerarem os processos.

“Os SS têm uma verba para a contratação de pessoal e a proposta já foi aprovada pelo Governo. Agora cabe aos SS agir, que tem uma verba para a contratação de pessoal. Se não conseguir utilizar essa verba, é uma

pena. Cabe à Direcção tra-balhar mais”, disse ontem durante uma conferência de imprensa.

Dos mais de 500 profis-sionais, 386 serão pessoal médico, onde se incluem 14 especialistas nas mais diversas áreas da saúde, 18 médicos de clínica geral, 28 farmacêuticos e 161 enfer-meiros. O Executivo deverá ainda recrutar 77 auxiliares, 45 técnicos superiores e 143 administrativos. Tal como já tinha sido anunciado, um ano será a data limite para a vinda destes profissionais para o território.

“Vamos acelerar o re-

crutamento de médicos e enfermeiros para que, em um ano, possamos melhorar os aspectos mais graves. Dentro de alguns anos po-derão ser necessários mais profissionais para melhorar o sistema”, apontou o Se-cretário.

Para além de Taiwan e do interior da China, Alexis Tam confirmou a vinda de profissionais portugueses. “O Governo vai continuar a contratar médicos e enfer-meiros de Portugal, temos aqui uma grande comunidade de portugueses e temos de servir essas pessoas”, defen-deu. - A.S.S.

Os recursos são os mesmos e não vamos ter qualquer aumento de orçamento. Mas nada nos impede que não tenhamos de acrescentar outros serviços”, disse na conferên-cia de imprensa de ontem.

Lei Chin Ion apresentou ainda alguns dados sobre o elevado fluxo registado no serviço de urgência. Só no ano passado, 65% dos pa-cientes que foram às urgências fo-ram classificados como casos não urgentes no processo de triagem. No total, 280 mil pessoas foram às urgências, sendo que 20 mil tem acesso a cuidados de saúde gratuitos.

PRESSÃO PODE ACONTECER Para além do hospital Kiang Wu, os residentes poderão deslocar--se a alguns centros de saúde administrados por associações ou entidades sem fins lucrativos. O HM contactou duas delas para perceber o impacto desta medida em termos de recursos humanos. Afirmam que, para já, chegam, mas não sabem se terão de contratar mais pessoas.

“A medida dos SS será conve-niente para os residentes, porque podem receber os serviços na zona onde vivem. A política ainda está no início e não sei qual será o resultado, mas prevejo que, para já, as 80 pessoas que temos serão suficientes. No caso do número de pacientes aumentar, vamos precisar de aumentar o pessoal”, explicou Ao Chi Ieong, chefe da clínica da Federação das Asso-ciações dos Operários de Macau (FAOM).

Chan Tak Seng, presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, que tem dois centros mé-dicos, acredita que o problema dos recursos humanos vai acontecer.

“A mão-de-obra ainda é sufi-ciente, mas se enfrentarmos um grande número de utentes no serviço, é preciso analisar”, disse ao HM.

O responsável teme ainda que, com a vaga de contratação do Governo, muitos profissionais optem por ir para a Função Pública. “O Governo deve considerar que pode haver pressão nas clínicas comunitárias, porque não se podem comparar os salários”, referiu Chan Tak Seng, pedindo um período de transição para que as clínicas se possam adaptar à nova política.

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5 políticahoje macau sexta-feira 30.1.2015

ANDREIA SOFIA [email protected]

O fumo vai mesmo ser eliminado em todos os casinos de Macau, mes-mo nas salas VIP. A ga-

rantia foi dada ontem por Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, no âmbito da apresentação de um relatório elaborado pelo Executivo (ver caixa). O Secretário não conse-guiu dizer quando é que essa medida será uma realidade, mas prometeu apresentar uma proposta de revisão da actual lei ainda este semestre.

“A nossa ideia é apresentar uma proposta de lei em que não é permi-tido fumar em todos os locais. Agora não posso avançar uma data, porque tudo dependerá da aprovação da As-sembleia Legislativa (AL). Queremos apresentar a proposta o mais depressa possível. O objectivo é claro: a proibi-ção total do fumo nos casinos”, disse Alexis Tam.

Para o Secretário, a medida surge por uma questão de justiça: se as sau-nas, bares e outros espaços nocturnos não podem ter espaços de fumo, os casinos também não podem. “Os casinos também são prestadores de serviços e não podemos oferecer um tratamento desigual”, frisou. Alexis Tam disse mesmo que vai pensar sobre o fecho da sala para fumado-res no Aeroporto Internacional de Macau, garantindo que o terminal marítimo também não vai ter salas para esse efeito.

Alexis Tam garante ter reunido com os representantes das seis ope-radoras de Jogo, que lhe pediram a manutenção das salas para fumadores. Mas o Governo manteve a sua proposta até ao fim.

“As seis operadoras manifes-taram expectativas mas mostrei a posição do Governo, que é o controlo do fumo. As operadoras pediram salas de fumo mas a parte laboral não concordou. No Gover-no da RAEM somos unânimes no que toca à proibição total do fumo nos casinos. Algumas operadoras já disseram que houve quebra nas receitas e que pode haver mais por causa desta medida, mas o Governo não vai alterar a política para ter mais receitas de Jogo e com isso prejudicar a saúde dos trabalhado-res, população e turistas. Não vamos pagar esta factura”, reiterou.

CONSULTAS E IDAS ÀS URGÊNCIAS VÃO SER SUBSIDIADAS NO PRIVADO

Pagar para não esperar

“Algumas operadoras já disseram que houve quebra nas receitas e que pode haver mais por causa desta medida, mas o Governo não vai alterar a política para ter mais receitas de Jogo”

O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura garantiu ontem que o Executivo vai apresentar ainda este semestre uma proposta preliminar para rever a actual lei de controlo e prevenção do tabagismo. O fumo nos casinos vai mesmo acabare Alexis Tam não está preocupado com a queda das receitas

GOVERNO VAI MESMO ACABAR COM FUMO NOS CASINOS E SALAS VIP

“Não vamos pagar esta factura”

TODOS DE ACORDO Segundo os dados que constam no relatório de acompanhamento e avaliação da legislação, desde a entrada em vigor das novas proibições, mais de 70% dos residentes inquiridos defendem que o fumo deve mesmo ser eliminado nos casinos, ideia também aceite por 80% dos trabalhadores do Jogo. Quanto aos turistas, 85% não se opõe ao fim do fumo, sendo que 60% dos turistas fumadores também não estão contra a nova medida. Na calha está também o aumento das multas para quem não cumprir a lei, tendo em conta que 42,1% dos inquiridos considera que os actuais valores são insuficientes. “Todos acham que o Governo deve ser mais firme e ter mais determinação para acabar com o tabaco. Sabemos que vai haver muita discussão sobre isso”, concluiu o Secretário.

IMPOSTOSSOBRE TABACO VÃO AUMENTARSegundo o relatório, 60% dos residentes defendem que o imposto sobre o tabaco deve aumentar, que actualmente é de 33%. O aumento poderá ser de 70%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Vamos apresentar uma proposta para um aumento significativo do imposto sobre o tabaco, para trazer mais encargos para fumadores. O imposto é muito baixo, talvez o mais baixo da região da Ásia-Pacífico. Por isso vamos apresentar uma proposta de lei e seguir a proposta da OMS”, disse Alexis Tam.

LEI CHIN ION COMENTAMULTA DAMELCO CROWNO director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, comentou ainda a multa de 100 mil patacas aplicada à operadora Melco Crown, que detém o City of Dreams (COD). “Aplicámos a multa máxima por a operadora não ter afixado a etiqueta de proibição do fumo. O COD reclamou da aplicação da multa mas achámos que não tinha provimento e aplicámos a sanção máxima. Seguimos o que a lei prevê”, apontou.

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PUB

HOJE

MAC

AU

hoje macau sexta-feira 30.1.20156 política

A deputada Wong Kit Cheng questionou o Executivo sobre a existência do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, cujo prazo legal de funcionamento acabou há dois meses. Entretanto, a lei continua por fazer

Raimundo do Rosário ausculta sector energéticoO Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, visitou ontem o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE), por forma a inteirar-se dos trabalhos feitos pela entidade coordenada por Arnaldo Santos. Raimundo do Rosário referiu, segundo um comunicado, que “a estabilidade no fornecimento dos produtos energéticos, como a electricidade e combustíveis, são extremamente importantes para o desenvolvimento contínuo da electricidade de Macau”. O Secretário pediu ainda mais diálogo por forma a “melhorar os trabalhos de planeamento do sistema de electricidade bem como da rede de combustíveis das zonas novas e velhas” do território. Raimundo do Rosário visitou também os Serviços de Protecção Ambiental (DSPA).

PRAZO DO CONSELHO CONSULTIVO DOS BAIRROS ANTIGOS “CADUCOU”

O órgão público que não se vê

“O Chefe do Executivo, através do seu despacho de 8 de Novembro de 2011, prorrogou por mais três anos a duração do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, ou seja, até 8 de Novembro de 2014. O estranho é que esse prazo já caducou há dois meses e, atéao momento, ainda nada se ouviu sobre esse órgão”

ANDREIA SOFIA [email protected]

H Á muito que a so- ciedade pede o re- gresso do regime jurídico de reor-

denamento dos bairros antigos à Assembleia Le-

gislativa (AL) mas, anos depois, não só o diploma está por concluir como o conselho consultivo criado para esse fim deixou de ter existência legal.

O aviso é feito pela deputada directa Wong Kit Cheng, numa interpelação

escrita ao Governo. “O Chefe do Executivo, através do seu despacho de 8 de No-vembro de 2011, prorrogou por mais três anos a duração do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, ou seja, até 8 de Novembro de 2014. O estranho é que esse prazo já caducou há dois meses e,

to e ouvir as opiniões da sociedade”.

“No futuro, esse con-selho vai existir ou irá desaparecer? Quais são as estratégias do Governo na implementação dos planos de reordenamento jurídico”, questionou ainda.

A QUESTÃO DA ZONA AWong Kit Cheng, que se senta no hemiciclo em representação da União Geral das Associações de Moradores (UGAMM, ou KaiFong), questiona ainda o Executivo sobre a dimensão dos terrenos na zona A dos novos aterros que servirão de permuta aos espaços dos bairros antigos.

“O Chefe do Executivo referiu que os trabalhos de reordenamento dos bairros antigos irão conjugar-se com os trabalhos da zona A dos novos aterros, re-correndo à figura da per-muta para promover esse ordenamento. A área da zona A é apenas de 138 hectares. Qual é a área que o Governo vai disponibilizar nesta zona para a permuta de terrenos referentes ao reordenamento dos bairros antigos”, aponta a deputada.

Wong Kit Cheng não esquece ainda o facto do diploma estar por legislar desde 2011, altura em que foi anunciado, entregue ao hemiciclo e depois retirado, em 2013. “Alguns prédios do bairro do Iao Hon já têm 50 anos. Muitos mo-radores esperam, através do reordenamento, ver melhorado o ambiente do bairro. A população espera que haja mais planos para a construção de mais fracções habitacionais”, conclui a deputada.

até ao momento, ainda nada se ouviu sobre esse órgão”, apontou a deputada.

Wong Kit Cheng quer, portanto, saber, se o conse-lho “já foi extinto ou se o Governo tem outras ideias”. “Se foi extinto, pergunto como é que o Governo vai continuar a promover os trabalhos de reordenamen-

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7 políticahoje macau sexta-feira 30.1.2015

O deputado Au Kam San dis-corda da limi-tação às repro-

vações das escolas primárias, assim como se mostrou contra o exame unificado para as quatro universidades do ter-ritório. O deputado justifica, relativamente às reprovações, que é importante recuperar a base de conhecimento dos estudantes que não estiveram atentos, e por isso não apren-deram, durante o ano.

Defende Au Kam San que se o aluno não tem essa base, não aprende e segue com menor conhecimento. No programa “Macau Talk”, do canal chinês de Rádio Macau, o deputado conside-ra que retirar as reprovações ao ensino primário é uma “política de avestruz”, ape-nas para esconder ou tapar um problema que efectiva-mente existe no território.

Recorde-se que taxa de reprovação de 2013 bateu recordes, pela negativa, em Macau. Fixando-se nos 9,4% marcando-se assim a mais elevada taxa de reprovação no ensino do território. Os da-dos fornecidos pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) mostra-ram que no ensino secundário complementar o valor desceu para 4%, enquanto no ensino primário fixou-se nos 3,2%. Sinal de um ligeiro decrés-cimo comparativamente aos últimos anos. Relativamente à taxa de abandono escolar o valor residiu nos 0,18%. Dedicando à possibilidade de limitar as reprovações, recomendação do Conselho de Educação, o subdirector da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Wong Kin Mou, afirmou, em Setembro passado, que a direcção ainda estava em “fase de discussão” para esta medida.

“Quando não há uma repetição do ano, ao aluno que não aprendeu, as di-ficuldades dos estudantes ficam escondidas e tapadas, como a cabeça da avestruz. Sou um defensor da forma-ção de talentos em Macau, devendo sempre procurar pelos alunos notáveis, mas tendo sempre em conta os estudantes com dificuldades, por isso é mais importante alargar os recursos e apoios para estes últimos, ajudan-do-os a recuperar a sua base

LEONOR SÁ [email protected]

O S deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) querem

mais igualdade de tratamento entre os trabalhadores com e sem direito a transporte da empresa e que, em

Au Kam San não está contente com as medidas avançadas pelo Governo no Ensino. Esconder um problema e condicionar os alunos é o que o deputado defende que estas políticas podem trazer

O deputado considera que retirar as reprovações ao ensino primário é uma “política de avestruz”

FIL IPA ARAÚJO [email protected]

FLORA [email protected]

ENSINO AU KAM SAN CONTRA NOVAS ALTERAÇÕES

Não, não e não!de conhecimento, bem como a melhorar as suas notas”, defendeu o deputado.

COMPETITIVIDADE ENFRAQUECIDARelativamente ao ‘Exame Unificado de Acesso das Quatro Instituições de Ensino Superior de Macau, Au Kam San considera que esta medida vai impulsionar os alunos para um só caminho, que pode não ser positivo. “Acho que é melhor cada escola secundária definir uma meta de ensino, e não caminhar toda para um só exame. Assim é possível formar estudantes para que possam frequentar o ensino superior estrangeiros e não os formatar só para Macau”, argumentou.

Apesar de admitir que este exame faz “com que todas as escolas se esforcem para a candidatura nas uni-versidades do território, isto poderá enfraquecer a com-petitividade dos estudantes locais quando quiserem, se quiserem, estudar no estran-geiro”, argumentou.

Recorde-se que o exame unificado é uma medida implementada pelo Governo

ACIDENTES LABORAIS DEPUTADOS ACUSAM GOVERNO DE “TRATAMENTOS INJUSTOS”

Igualdade em dias de tufão

que envolve quatro institui-ções de ensino superior do território – a Universidade de Macau (UM), o Instituto Politécnico (IPM), o Instituto de Formação Turística (IFT) e a Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST).

A ideia é terminar, assim, com os vários exames de acesso ao ensino superior para reunir os conhecimen-tos em apenas um, dividido em quatro disciplinas: Por-tuguês, Chinês, Matemática e Inglês. A partir de 2017, os alunos terão que fazer um exame, escolhendo as disci-plinas, para se candidatarem a qualquer uma destas quatro instituições.

dias de tufão 8, são obrigados a ir trabalhar. Actualmente, todos gozam do direito de um seguro por aciden-tes de trabalho e que é obrigatório para as empresas. Neste momento discute-se o caso específico do au-mento coercivo da taxa de seguro em dias de sinal 8 de tufão. Em cima da mesa está o agravamento

do seguro obrigatório comum em 0,3% exclusivamente neste caso em que uma tempestade tropical tenha lugar.

Este é, para já, o maior ponto de discórdia entre o Governo e os de-putados da comissão que discutem a proposta de revisão do Regime de Reparação dos Danos Emergentes de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais. No entanto, fica já definida a obrigatoriedade de um seguro por parte das empresas para o caso de funcionários que sejam obrigados a trabalhar em dias de tufão em que é içado o sinal 8. Outra das alterações já acordada é a mudança de duas para três horas de intervalo entre o momento em que o sinal baixa até à chegada ao local de trabalho.

UM BOCADINHO A PÉ, OUTRO ANDANDODe acordo com a presidente da comissão da AL, Kwan Tsui Hang, está em causa o “tratamento in-justo” prestado aos funcinários que, nestes dias, são obrigados a trabalhar e não usufruem de transporte da empresa. “Parece que as políticas do Governo estão a cuidar dos interesses das grandes empresas”, disse Kwan em nome do colectivo, referindo o facto dos maiores grupos terem mais

capacidade de fornecer transporte aos seus trabalhadores. O diploma actualmente em vigor dita que o seguro é válido no local do trabalho e “na ida para o local de trabalho ou no regresso deste, quando for utilizado meio de transporte for-necido pelo empregador”, sendo precisamente a última parte desta premissa que os deputados querem ver alterada. Para o colectivo, todos os funcionários obrigados a trabalhar em dias de tufão 8 devem estar salvaguardados por um seguro, independentemente de terem direito ao transporte da empresa.

A taxa de seguro difere entre profissões e tipos de trabalho, devendo estar abrangidos pela alínea do tufão todos aqueles que trabalham em estabelecimentos e empresas abertas 24 horas ou precisem de desempenhar tarefas urgentes para o bom funciona-mento do local. Exemplo disso são funcionários de operadoras de Jogo ou profissionais da área da construção civil ou reparação, como electricistas.

A revisão deste regime foi aprovada na generalidade em No-vembro do ano passado, estando a ser discutido pela comissão desde essa altura.

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8 hoje macau sexta-feira 30.1.2015SOCIEDADE

FIL IPA ARAÚ[email protected]

“C ONTAMOS que a obra esteja concluída na sua totalidade em Agosto, mas algumas

vias vão estar prontas antes disso”, informou a Direcção dos Servi-ços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), numa conferência de imprensa que decorreu na tarde de ontem.

Em causa está a construção de uma via – ou apenas obras de melhoria em algumas estradas de Macau – criando um corredor da zona da Barra até às Portas do Cer-co que, num horário já estipulado pela DSAT, será exclusivo para autocarros.

Tal como na região vizinha, Hong Kong, Macau quer com esta construção “dar prioridade aos transportes públicos no uso da rodovia, nas horas de ponta”, sendo então possível a todos os outros veículos circulam no pe-ríodo restante.

Lucros da Sands China aumentaram 15% em 2014A Sands China anunciou lucros líquidos de 2.550 milhões de dólares em 2014, uma subida de 15% face ao ano anterior. De acordo com os dados revelados pela empresa, ao longo do ano passado, a receita líquida cresceu apenas 6,8% para 9.570 milhões de dólares. Apesar do resultado positivo em 2014, o último trimestre do ano traduziu-se numa queda de 18% dos lucros líquidos para 535,3 milhões de dólares, com a receita líquida a descer 16% para os 2.120 milhões de dólares. Os casinos de Macau encerraram 2014 com uma queda de receitas de 2,6% para 351.521 milhões de patacas, a primeira descida desde que os novos operadores chegaram ao mercado em 2004.

Turismo Macau com destaque em feira da Índia A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) está presente na feira internacional ‘South Asia’s Travel and Tourism Exchange’, que inaugurou ontem, na cidade de Nova Deli. Esta semana ficou igualmente marcada pela abertura, na passada quarta-feira, do novo escritório da DST na capital indiana, desta feita com um novo representante. “A Índia é um importante mercado de visitantes internacionais de Macau e a DST está a aumentar os esforços promocionais no país, tendo nomeado um novo representante para o mercado indiano”, disse Cecilia Tse, subdirectora do organismo governamental local. É já a 27ª edição desta feira, que conta este ano com 650 expositores de 50 países e que dura três dias.

AUTOCARROS VIA EXCLUSIVA EM AGOSTO COM HORÁRIO FIXO

Deixem passar a carreira

O corredor será exclusivo para autocarros em dois turnos, um de manhã, das 07h30 às 09h30, e outro à tarde, das 17horas às 20horas

Assim sendo, afirmou a DSAT, aquando o seu funcionamento em pleno, o corredor será exclusivo para autocarros em dois turnos, um de manhã, das 07h30 às 09h30, e outro à tarde, das 17horas às 20horas.

A via vai começar na zona da Barra e irá, percorrendo todo a área do Porto Interior, até às Portas do Certo, estando então divida em três partes. “O Governo empenha--se em concretizar, tanto quanto possível, o troço entre a Barra e a Doca do Lam Mau do referido

corredor”, o troço contará, com principalmente, três secções: da Rua do Almirante Sérgio até ao Largo do Pagode da Barra em direcção à Barra, da Rua do Almi-rante Sérgio até à Praça de Ponte e Horta em direcção à Doca do Lam Mau e a secção da Rua da Ribeira do Patane – saída do Auto-Silo Pak Kong, até à Avenida Marginal do Lam Mau.

Na conferência, a DSAT escla-receu que vários trabalhos têm sido realizados, seja de melhoramentos e ordenamentos rodoviários, “para conseguir concretizar o troço do corredor entre a Barra e a Doca de Lam Mau”.

CONTAS MAL FEITASRelativamente ao orçamento em causa do corredor exclusivo, a DSAT não avança qualquer valor. “Como não se trata apenas de uma obra, mas sim de várias e até de melhoramentos, não sabemos os valores”, afirmam. Apesar da in-sistência por parte dos jornalistas, a DSAT recusou-se a referir o que

foi gasto até ao momento e quanto pensam que será preciso gastar até a obra estar concluída.

No que toca ao lugares de estacionamento postos em causa por causa da construção da via, a DSAT informa que serão apenas 34 lugares e que só vão estar con-dicionados durante o período de circulação exclusiva. “Depois do horário os carros podem voltar a estacionar nos lugares, claro que há alguns lugares, pouco, que terão que deixar de existir”, esclarecem, garantindo que não será posta em causa a necessidade de espaço para estacionar.

TÁXIS FORA DO BARALHOQuestionados sobre a permissão de tomada e largada de passageiros para o serviços de táxis, os res-ponsáveis esclarecem que numa primeira fase isso não acontecerá. “Depois de nos debruçarmos e reflectirmos sobre o assunto, foi decidido que neste período expe-rimental – com duração de seis meses - , nesta primeira fase do corredor, será proibida a paragem para pegar ou largar pessoas ou mercadorias, durante o período exclusivo para os autocarros”, esclarecem.

Numa previsão geral, a DSAT prevê, com a criação da via exclusi-va, “um aumento de cerca de 18% no total volume de passageiros dos autocarros públicos, podendo este volume ainda ser maior, por um aumento apropriado do número de veículos de exploração”. A direcção informou ainda que es-pera, com esta medida, melhorar o funcionamento e rapidez dos transportes “entre cinco a dez minutos”.

Agosto é o mês apontado pelo Governo para o funcionamento em pleno da via para os autocarros. Nascida para melhorar o congestionamento do tráfego e aumentar a confiança da população quanto aos transportes públicos, a via funcionará de forma exclusiva

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

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9 sociedadehoje macau sexta-feira 30.1.2015

Em causa está o chefe de um departamento da Faculdade de Ciências Sociais acusado por várias alunas, segundo o All About Macau, de as ter assediado

FLORA [email protected]

H Á suspeitas de mais um caso de assédio sexual por parte de um docente da Universidade de Macau

(UM) a várias estudantes. Perante a situação, o reitor da instituição, Zhao Wei, em uníssono com Alexis Tam, Secretário para Assuntos So-ciais e Cultura, defende “tolerância zero” para este tipo de casos.

Depois da polémica sobre um professor que “abraçou” uma estudante, tendo sido multado e suspenso por 12 dias de trabalho, surge um novo caso. Segundo o All

LEONOR SÁ [email protected]

O Tribunal de Últi-ma Instância (TUI) condenou um resi-

dente de Macau, de apelido Wong, a pagar um milhão de patacas por danos sofridos pelos pais de uma jovem que morreu por afogamento na Piscina do Carmo, na Taipa.

O caso teve lugar no dia 26 de Junho de 2006, quando Ho, uma jovem de 26 anos se afogou neste es-paço. Segundo o acórdão do TUI, a jovem esteve vários minutos em sofrimento e não foi auxiliada por Mok, o nadador-salvador de ser-viço naquele momento, que

UM ESTUDANTES, REITOR E SECRETÁRIO DEFENDEM TOLERÂNCIA ZERO A ASSÉDIO SEXUAL

O medo regressa ao campus

“Seja quem for o culpado, isto deve ser comentado pela instituição. Caso contrário, os rumores espalham-se, alimentam-se e os estudantes não sabem qual a gravidade dos assuntos”KIANG HAOCHI Director da União de Estudantes da UM

TUI CONCESSIONÁRIO DE PISCINA CONDENADO EM UM MILHÃO DE PATACAS

A culpa é de quem manda

About Macau, várias estudantes da UM apontaram que o chefe de um departamento da Faculdade de Ciências Sociais as assediou sexualmente. Nas declarações o caso nunca chegou ao reitor Zhao Wei, tendo apenas chegado ao director da faculdade em causa, amigo do docente acusado.

SILÊNCIO QUE INCOMODASobre o caso, o director da União de Estudantes da UM, Kiang Hao-chi, afirmou ao mesmo meio de comunicação, que a universidade devia publicar todas as informa-ções possíveis para protecção dos direitos dos próprios estudantes.

“Tanto sobre o caso do ex--professor, Bill Chou, como dos dois casos de assédio sexual já registados, a universidade nunca publicou qualquer nota justifica-tiva, nem sequer uma mensagem aos alunos. Seja quem for o culpa-do, isto deve ser comentado pela instituição. Caso contrário, os ru-mores espalham-se, alimentam-se e os estudantes não sabem qual a gravidade dos assuntos”, confirma.

Alexis Tam mostrou-se des-contente quando o canal chinês de Rádio Macau o questionou sobre o caso de assédio sexual. O Secretário salientou que não permite que este tipo de situações

aconteçam, seja em que instituição for, indicando, por isso mesmo, uma investigação rigorosa para perceber o que aconteceu. Alexis Tam explicou que “se o caso for real, a pessoa em causa deve ser sancionada”.

DEIXEM-NOS TRABALHARSobre as várias tentativas de entre-vistar o reitor da UM, o Secretário aconselhou ao representante máxi-mo da instituição e a todos os outros governantes mostrarem-se mais abertos aos jornalistas. “Deixem os jornalistas fazerem as perguntas que quiserem, até que não tenham mais nada para perguntar”, disse.

Respondido ao conselho de Alexis Tam, o reitor da UM afir-mou que se irá “esforçar mais em coordenar com os meios de comunicação”.

Relativamente ao assédio se-xual, Zhao Wei reforçou a postura oposta a este comportamento, subli-nhando a “tolerância zero”. “Vamos investigar seriamente, e com rigor, conforme fazemos em todos os processos”, garantiu o reitor.

Zhao Wei revelou ainda que des-de o ano 2008, a UM recebeu quatro casos de assédio sexual, três dos quais recebidos na segunda metade de 2014, e por isso ainda estão na fase inicial da investigação. O reitor acrescentou ainda que existe um “regime de controlo”, que permite garantir, no caso de conflitos, que os investigadores e os investigados não se cruzem noutro tipo de situações, não levantando assim qualquer tipo de suspeita para com a investigação em curso.

alega não ter testemunhado a fase inicial do afoga-mento. O caso foi então reencaminhado para o Mi-nistério Público, que acusou o jovem de homicídio por negligência, tendo os pais da vítima pedido uma in-demnização. Em 2010, o Tribunal Judicial de Base (TJB) acabou por absolver o nadador-salvador da in-demnização requerida pelos pais, tendo estabelecido o pagamento de mais de 3,4 milhões de patacas a Wong,

concessionário de serviços de salvamento da piscina, e ao Governo da RAEM por despesas de funeral, perda de direito à vida da vítima, danos não patrimoniais, dores sofridas pela falecida, entre outras razões.

RECUSO PARA O TSIWong, não se conformou com a decisão e interpôs recurso para o Tribunal de Segunda Instância. Um ano depois do sucedido, o mesmo organismo decidiu

excluir o Executivo de qualquer pagamento, mas aumentou, em 200 mil pata-cas, o valor compensatório a pagar por Wong.

No entanto, o caso não acaba aqui. Novamente inconformados, os pais da vítima e o responsável pela concessão de vigilância da piscina recorreram ao TUI, que finalmente decidiu que Wong terá que pagar um milhão de patacas por danos patrimoniais e falecimento da vítima, mantendo os mesmos valores estabeleci-dos pelo TSI relativamente a danos sofridos pelos pais da vítima, de um acórdão anterior ao do TUI, agora publicado.

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10 hoje macau sexta-feira 30.1.2015CHINA

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 24/2015

-----Não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o senhor LAM KENG CHONG, titular da licença do “RESTAURANTE CANTO”, situado na Rua de Sanches de Niranda n.° 6A, edifício Mei Fong r/c, loja A, Macau, que na sequência do Auto de Notícia n.° 142/DI/2013, levantado pela DST a 05.04.2013, e por despacho da signatária de 28.05.2014 exarado no Relatório n.° 445/DI/2014, de 16.05.2014, foi desencadeado procedimento sancionatório. ---------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 5 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 3 do artigo 95.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril----------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria daquele Auto de Notícia constitui infracção ao n. o 3 do artigo 35.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril – “O disposto no número anterior aplica-se no caso de alteração das tabelas.”, punível com multa de $2 500,00 (duas mil e quinhentas patacas), nos termos do artigo 73.° do citado diploma. ----------------------------------------------------------------------- -----O processo administrativo poderá ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.o andar, Macau. -----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 20 de Janeiro de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 26/AI/2015

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor LAM SOI KAI(portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 50456xxx), que na sequência do Auto de Notícia n.° 45/DI-AI/2013, de 04.05.2013, levantado pela DST e por despacho da signatária de 23.01.2015, exarado no Relatório n.° 23/DI/2015, de 06.01.2015, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório, por controlo da fracção autónoma situada na Rua de Luis Gonzaga Gomes, n.os 210-212, Edf. Kam Fung Tai Ha � Kam Fung, Bloco 2, 3.° andar K, utilizada para prestação ilegal de alojamento. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele Auto de Notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito. Nos termos do n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010 não é admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo. -------A matéria constante daquele Auto de Notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, tal facto é punível nos termos no n.° 1 do artigo 10.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício �Centro Hotline�, 18.° andar, Macau. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 23 de Janeiro de 2015.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

O Ministério do Comércio da China advertiu ontem que o

programa de compra de dívi-da do Banco Central Europeu (BCE) pode desencadear uma “depreciação competitiva” das moedas em todo o mundo.

O BCE anunciou, na se-mana passada, uma decisão

O oleoduto que une a Birmânia ao sudoeste da China, proporcionando uma rota al-ternativa mais rápida para a chegada de

petróleo ao gigante asiático, começou a funcio-nar na quarta-feira, informou ontem a imprensa oficial chinesa.

A infra-estrutura, com um orçamento superior a 2.450 milhões de dólares, operada pela Corpo-ração Nacional de Petróleo da China (CNPC), tem capacidade para transportar anualmente 22 milhões de toneladas.

A conduta, que entra em funcionamento um ano e meio depois da inauguração do gasoduto, figura também como um complemento ao porto de descargas da ilha de Maday, na cidade birmanesa de Kyaukpyu, na costa oeste do país.

Colapsode edifício universitáriofaz um mortoe 18 feridos Um operário morreu e outros 18 ficaram feridos, na madrugada de ontem, na sequência do desabamento de um edifício universitário em construção na província de Jiangxi, no sudeste da China, informaram as autoridades. O acidente ocorreu perto da 01:00 quando um edifício, de oito andares, em construção desabou, deixando os operários presos sob os escombros, confirmou o governo provincial citado num despacho da agência oficial Xinhua. O incidente ocorreu no campus de Ciência e Tecnologia da Universidade Normal de Nanchang, capital da província de Jiangxi. As equipas de resgate utilizaram cães para tentar localizar os trabalhadores encurralados, os quais foram deram entrada no hospital de manhã. Três das vítimas continuavam ontem hospitalizadas em situação grave. As autoridades chinesas estão a investigar as causas do acidente.

O alerta chega do Ministério do Comércio chinês que adverte para a incerteza que a medida de compra de dívida do Banco Central Europeu pode causarnos fluxosde capitais

OLEODUTO QUE UNE BIRMÂNIA E CHINA ENTROU EM FUNCIONAMENTO

A nova rota do petróleo

PEQUIM PROGRAMA DO BCE PODE CAUSAR “DEPRECIAÇÃO COMPETITIVA”

Pau de dois bicos

de compra mensal de 60.000 milhões de euros de dívida pública e privada a partir de Março e até, pelo menos, Setembro de 2016 (num total de 1,14 biliões de euros), uma medida justificada pela entidade com o persistente nível de inflação muito baixo verificado na zona euro.

“O ‘quantitative easing’ europeu pode piorar a depre-ciação das moedas de vários países, aumentando ainda

mais as incertezas relativa-mente aos fluxos de capital transfronteiriços”, disse, em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério do Comércio chinês, Shen Danyang, garantindo que vão “monitorizar de perto” a situação.

Embora as medidas ve-nham a tornar as exportações europeias mais baratas e talvez ajudar a impulsionar a confiança nos mercados e

o crescimento na zona euro a curto prazo, permanecem incertos os efeitos que terá a longo prazo, acrescentou.

“Não é ainda claro se a médio/longo prazo o ‘quantitative easing’ poderá impedir a economia da zona euro de escorregar para uma estagnação a longo prazo e concretizar uma recupera-ção e crescimento amplos”, disse o porta-voz chinês.

DUPLO IMPACTOA União Europeia é o maior parceiro comercial da China, figurando como a principal fonte das importações de Pequim e o segundo maior mercado para as suas ex-portações.

Shen Danyang afirmou que o impacto do estímulo no comércio bilateral vai

ser, ao mesmo tempo, “bom e mau”, uma vez que vai “empurrar o euro para uma maior desvalorização, o que provavelmente levará as empresas chinesas a au-mentarem as importações e a baixaram os seus custos de investimento na Europa”.

Contudo, “ao mesmo tempo, o enfraquecimen-to do euro vai afectar as exportações das empresas chinesas e o actual investi-mento das firmas chinesas na Europa vai também deparar--se com os riscos de sofrer prejuízos”, argumentou.

O volume do comércio bilateral entre a China e a UE aumentou 9,9% para 615,1 mil milhões de dólares em 2014, face ao ano anterior, de acordo com dados oficiais chineses.

Esta sexta-feira chegará ao porto de Kyaukpyu o primeiro navio petroleiro carregado com 300 mil toneladas de crude, sendo que o novo oleoduto foi projectado para fazer chegar à China, mais do que o petróleo birmanês, o de países terceiros e, em particular, os do Golfo Pérsico.

O oleoduto, que atravessa 771 quilómetros em território birmanês e outros 1.631 na China, permitirá que parte do petróleo que a segunda maior economia mundial compra aos países do Golfo chegue a solo chinês evitando o Estreito de Malaca.

FUGA AO TRÁFEGOActualmente, o Estreito de Malaca concentra 80% do tráfego das importações chinesas de hidrocarbonetos.

Especialistas consideram que a nova rota permi-

tirá diminuir em cerca de 30% o tempo de chegada à China do crude proveniente do Médio Oriente.

Além disso, a CNPC está a construir uma refinaria na província de Yunan, no sudoeste do país, na fronteira com a Birmânia, com capacidade para processar dez milhões de toneladas de crude anualmente, segundo o jornal China Daily.

Espera-se que cerca de metade do petróleo transportado pelo oleoduto passe por essa refinaria.

“O nível de segurança dos oleodutos é muito maior do que o dos carregamentos efectuados pela via marítima, o que assegura um estável abastecimento de energia à China”, disse a directora de estratégia da consultora ICIS-C1 Energy, Li Li, ao mesmo diário.

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hoje macau sexta-feira 30.1.2015 11REGIÃO

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O Japão vai con-tinuar a aplicar a pena de morte face ao apoio de

mais de 80% da população, afirmou a ministra da Justiça nipónica, Yoko Kamikawa, em declarações citadas on-tem pela imprensa local.

Samsung Lucros anuais caempela primeira vez em três anosA Samsung Electronics, maior fabricante mundial de ‘smartphones’, anunciou ontem ter registado, pela primeira vez em três anos, uma diminuição dos lucros líquidos anuais, pouco tempo depois do arqui-rival Apple ter dado conta de resultados históricos. O gigante sul-coreano, cujas operações-chave ao nível dos telemóveis têm enfrentado intensa concorrência atendendo aos baixos preços praticados pelos rivais chineses, também advertiram que estimam que o ambiente de negócios em 2015 seja “tão desafiante como o de 2014”. A Samsung comunicou lucros líquidos de cerca de 19 mil milhões de euros, menos 23,2% do que em 2013, a primeira quebra desde 2011. Pyongyang pode estar prestes a reiniciar reactor nuclear

Os resultados da última sondagem efectuada não deixam margem para dúvidas: mais de 80% da população é a favor da pena capital

JAPÃO VAI MANTER PENA DE MORTE

A voz do povo

“A maioria das pessoas acreditaque [a execução] é inevitávelpara aqueles que cometeram crimes extremamente graves”YOKO KAMIKAWA Ministra da Justiça nipónica

A titular da pasta da Justiça fez referência à mais recente sondagem, realizada pelo Governo, cujos resul-tados mostram que 80,3% dos inquiridos são a favor da pena capital, contra 9,7% que defendem que deve ser abolida.

Yoko Kamikawa qua-lificou de “positivos” os resultados e disse que vão continuar a ser aplicadas medidas “cuidadosas e rigorosas” na hora das exe-cuções, assegurando que não tem intenção de rever essa política a curto prazo, apesar de ter equacionado a eventual introdução da pri-são perpétua sem liberdade condicional.

“A maioria das pessoas acredita que [a execução] é inevitável para aqueles que cometeram crimes extrema-mente graves”, frisou, citada pelo jornal Asahi.

BILHETE DE IDENTIDADEA ministra japonesa também aludiu à tendência global de abolição da pena de morte e aos pedidos dos activistas para que seja adoptada pelo

Japão, onde foram executa-dos 12 condenados desde a chegada ao poder do actual Governo, em Dezembro de 2012.

A seu ver, trata-se de uma questão associada à identi-dade do país, pelo que “é um assunto que diz respeito ao povo japonês”.

O Japão e os Estados Unidos são os únicos paí-ses democráticos e desen-volvidos que continuam a

aplicar a pena capital. Em Março do ano passado, o debate em torno da pena capital voltou a ser rea-berto devido ao caso de Iwao Hakamada, que foi libertado após passar 46 anos no corredor da morte, depois de um tribunal ter decidido rever a condena-ção tendo em conta novas provas relacionadas com o múltiplo homicídio que lhe foi imputado.

IMAGENS de satélite sugerem que a Coreia do Norte poderá estar prestes a

reiniciar um reactor nuclear, considerado a principal fonte de plutónio, segundo especialistas norte-americanos.

O reactor de cinco megawatts do com-plexo nuclear de Yongbyon é capaz de produzir anualmente cerca de seis quilo-gramas de plutónio, quantidade suficiente para uma bomba nuclear, de acordo com estimativas de especialistas.

A Coreia do Norte realizou três ensaios nucleares, a última vez em Fevereiro de 2013, e recentemente ameaçou levar a cabo um quarto.

Recentes imagens de satélite mostram uma retoma da actividade em Yongbyon, a qual parece traduzir “os primeiros passos” com vista “à reactivação do reactor”, refere o Instituto EUA-Coreia da Universidade

Johns Hopkins no seu portal 38 North. Os investigadores ressalvam, contudo, que a actividade em curso “é muito limitada” para determinar com certeza o momento em que o reactor poderá ser testado e tornar-se operacional.

O reactor de Yongbyon esteve encer-rado em 2007 no âmbito do diálogo a seis para a desnuclearização que previa ajuda como moeda de troca. Contudo, a Coreia do Norte deu início aos trabalhos de renovação, depois de realizar o último ensaio nuclear.

Pyongyang propôs, no início deste ano, suspender a realização de testes nucleares em troca da suspensão das manobras militares conjuntas dos Estados Unidos e Coreia do Sul.

Uma proposta que foi, porém, rejeitada por Washington.

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MAT

THEW

HOL

LER

12 hoje macau sexta-feira 30.1.2015EVENTOS

O MISTÉRIO DO CADERNO CHINÊS • Pierdomenico Baccalario, Alessandro GattiAnnette e Fabò têm um quebra-cabeças para resolver: tudo começa com a descoberta do misterioso diário de uma dama parisiense do século XIX. O antiquário que o possuía foi assassinado e o diário contém pistas para revelar a identidade do criminoso! Mas qual será a ligação entre as desventuras de uma dama que viveu há mais de um século e um crime cometido na Paris de hoje?

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

M ACAU prepara-se para receber este sábado aquela que é consi-derada uma das mais

importantes vozes do Jazz nos dias de hoje. Jane Monheit, apontada por muitos como a “Diva do Jazz” vai actuar no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). Antes, o público terá a oportunidade de compreender melhor este estilo musical assistindo a uma tertúlia, em cantonense, moderada por Mars

O Festival Internacional de Banda Desenhada

de Angoulême teve ontem início em França, mostran-do o melhor desta arte, numa edição que ficará marcada por homenagens ao jornal francês Charlie Hebdo, alvo de um ataque no passado dia 7 de Janeiro.

O festival contará com várias exposições, lança-mentos editoriais e obras em competição, mas a direcção decidiu dedicar parte da programação à liberdade de expressão e ao jornal satírico Charlie Hebdo, pela morte de dez pessoas, entre as quais car-

U MA das colecções do Museu de Arte de Ma-

cau (MAM) actualmente em exposição dedica-se a retratos datados dos séculos XIX e XX sob a forma de pinturas. De acordo com a curadora res-ponsável, Weng Chiao, estarão em exposição um total de 26 retratos, sendo que oito deles foram feitos por Lam Qua e seus colaboradores, ficando os restantes 18 a cargo de outros 14 artistas chineses e estran-geiros. Lam foi um pintor de Cantão que ficou célebre

pelas suas ‘pinturas médicas’, que retratavam pacientes em tratamento médico.

Contudo, o autor não ficou apenas reconhecido na China, mas sim em todo o mundo e alguns especialistas e histo-riadores acreditam mesmo que Lam se juntou ao físico norte-americano Peter Parker, que desempenhava a função de médico missionário na China. De acordo com Weng, o con-ceito de ‘retrato’ passou a ser entendido como uma imagem que regista a intervenção do

artista na personalidade de quem está a ser retratado, im-putando ao conceito um tom mais pessoal.

Algumas das pinturas expostas são feitas a óleo, elemento introduzido na China com a chegada de missionários jesuítas a Macau. Os retratos patentes no MAM têm, na grande maioria, uma forte in-fluência realista, mas também um toque de expressionismo e impressionismo, duas outras marcantes fases da arte mo-derna.

JANE MONHEIT ACTUA ESTE SÁBADO NO CENTRO CULTURAL DE MACAU

“A diva do Jazz” chega ao Oriente

Para além de ter trabalhado com grandes trompetistas como Terence Blancharde Tom Harrell, Jane Monheit entra também na onda da música brasileira, cantando muitas canções do compositor Ivan Lins

Lei, crítico musical. A iniciativa pretende “introduzir o público a diferentes tipos de Jazz através de uma abordagem ao conteúdo do espectáculo”.

Na primeira vez que a artista visita o território, a sua presença terá o apoio de “uma banda de topo” que promete “oferecer arranjos únicos num espectáculo sedutor”. Trata-se de “uma oportunidade para apreciar um concerto íntimo e sensual de uma artista que está a caminho de se tor-

A cantora Jane Monheit actua este fim-de--semana em Macau e promete oferecer ao público um “concerto intimista” no grande auditório do Centro Cultural de Macau. Antes do concerto haverá ainda uma tertúlia moderada pelo crítico musical Mars Lei

MAM Museu apresenta retratos dos séculos XIX e XX BD Festival de Angoulême homenageia Charlie Hebdotoonistas e jornalistas da publicação.

Angoulême vai atribuir, a título excepcional, um Grande Prémio especial semanário, “pelo conjunto da obra”, e criou o “Pré-

mio Charlie da liberdade de expressão”, para dis-tinguir autores que lutem “por preservar os valores fundamentais da liberdade de expressão”.

No festival estará patente uma exposição dedicada ao Charlie Hebdo e será lançado o livro “La BD est Charlie”,

com a participação de mais de 150 autores de BD e cartoonistas, entre os quais Milo Mana-ra, Lewis Trondheim, Zep, Robert Crumb, Guy Delisle e Frederik

Peteers.O festival de An-

goulême, que conta

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13 eventoshoje macau sexta-feira 30.1.2015

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

MARIA ATRAVESSA O ATLÂNTICO • Maria João Lopo de Carvalho, Margarida Fonseca SantosA Maria vai estudar um ano para os Estados Unidos da América e deixa para trás uma família muito ansiosa e um namorado que não aguenta nada bem a sua ausência! Um mundo de emoções e muita agitação aguarda-a nesta sua inesquecível experiência do outro lado do Atlântico. Por um lado, a novidade: os bailes, as festas, as aulas, os novos professores, os colegas, a família e, quem sabe, uma nova paixão… Por outro, aquela dor no coração que não a deixa esquecer o seu Portugal, a sua família, os seus amigos… Como irá a Maria resolver este desafio tão complicado, quando tem apenas 17 anos?

N OVE projectos de arquitectos portu-gueses, entre eles

Álvaro Siza e Pedro Cam-pos Costa, foram ontem incluídos na lista de 70 finalistas ao prémio inter-nacional Building of The Year 2015, promovido pela plataforma ‘online’ Archdaily, dedicada à ar-quitectura.

Nesta sexta edição do prémio, atribuído pelo público que visita a plata-forma, estavam disponíveis para votação - que terminou

IC Seleccionadas 21 marcas para vender na Casa do MandarimO Instituto Cultural (IC) seleccionou 21 entidades para venderem os seus produtos na loja de recordações da Casa do Mandarim. O objectivo passar por promover o espaço museológico e as empresas e artistas responsáveis pelas criações à venda. A selecção das 21 entidades tem o prazo de um ano, permitindo-lhes comercializar os seus produtos até final deste ano. Alguns exemplos são lembranças alusivas à Casa do Mandarim e ao património local em geral. Entre as empresas escolhidas pelo IC estão Absolute Friends Club, Tumbler Ville, Crazy Craft Macau, entre outras. “Os produtos criativos à venda em regime de consignação são muito variados, incluindo produtos em couro, artesanato e artigos decorativos, CDs de música pop e livros e publicações, entre outros”, explica o instituto em comunicado.

PRÉMIO BUILDING OF THE YEAR NOVE PROJECTOS PORTUGUESES ENTRE 70 FINALISTAS

Armada lusitana luta por um lugar ao sol

nar uma lenda de jazz neste século”, afirma o CCM, em comunicado.

MUITO TEMPO, MUITOS PRÉMIOSJane Monheit começou nestas lides há cerca de vinte anos, tendo gravado o seu primeiro álbum, “Never Never Land”, em 2000. O seu mais recente trabalho chama-se “The Heart of the Matter” e conta com a colaboração de Gil Gols-tein, produtor que já trabalhou com grandes nomes da música como Wayne Shorter, Gil Evans ou Pat Metheny.

Ao longo da sua carreira, Jane Monheit já recebeu vários prémios que lhe reconhecem o talento, incluindo duas nomeações para os Grammy, em 2003 e 2005. Para muitos, a cantora consegue levar o público a recordar as décadas de ouro do Jazz, onde o swing enchia as salas de cabaret. Cantoras como Ella Fitzgerald ou Peggy Lee eram as protagonistas. Anos depois, Jane Monheit é “descrita como uma das mais distintas e refrescantes vozes do jazz contemporâneo”. “Home”, nono álbum da artista, consagrou-a nesse papel, onde a sua voz revela uma “maturidade profunda”.

Para além de ter trabalhado com grandes trompetistas como Terence Blanchard e Tom Harrell, Jane Mo-nheit entra também na onda da música brasileira, cantando muitas canções do compositor Ivan Lins. Temas dos Beatles ou de cantores pop contem-porâneos, como é o caso de Michael Bublé e Randy Newman, também ganham uma nova roupagem com a voz da cantora. - A.S.S.

modelação, escritórios e espaços comerciais.

Na lista de 70 finalis-tas há nove projectos de arquitectos portugueses desenhados para o país ou para o estrangeiro.

E O VENCEDOR É...Entre os finalistas estão, na categoria Casas, a Sambade House do ‘atelier’ portu-guês Spaceworkers, na categoria Moradias surge a DM2 Housing do atelier

OODA, e na categoria de Hospitalidade está o White Wolf Hotel, do atelier AND RÉ, a Casa no Tempo dos arquitectos Aires Mateus e de João e Andreia Rodri-gues, e o Ozadi Hotel, de Pedro Campos Costa.

Também em Portugal são finalistas os projectos JA House, de Filipe Pina e Maria Inês Costa na ca-tegoria de Remodelação, e o Centro de Artes Nadir Afonso/Louise Braverman.

Há ainda projectos de portugueses no estrangeiro, nomeadamente, na categoria de Escritórios, “The Building on the Water”, de Álvaro Siza e Carlos Castanheira, desenhado para a China, e na categoria de Arquitectura Cultural, o Fogo Natural Park Venue, em Cabo Verde, do atelier português OTO.

Os vencedores do prémio Building of the Year 2015 vão ser escolhidos ‘online’ até 05 de Fevereiro.

ontem - cerca de 3.000 projectos de todo o mundo.

Fundada em 2008, a Archdaily é uma platafor-ma online de informação e divulgação da arquitectura que contabiliza 350 mil visitas diárias e atribui anualmente este prémio a projectos que se destacam pela inovação espacial, social, material e técnica.

São escolhidos cinco projectos finalistas por cada uma das 14 categorias, que abrangem desde desporto, cultura, hotel, casas, re-

BD Festival de Angoulême homenageia Charlie Hebdo

“The Building on the Water” de Álvaro Siza e Carlos CastanheiraCentro de Artes Nadir Afonso/Louise Braverman

FERNANDO GUERRA

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anualmente com mais de 200.000 visitantes, terá este ano três grandes ex-posições: Uma dedicada ao autor norte-americano Bill Watterson, criador da série “Calvin & Hobbes”, que recebeu o Grande Prémio 2014, ao japonês Jirô Taniguchi e ao norte--americano Jack Kirby, falecido em 1994.

Este ano os finalistas ao Grande Prémio de Angou-lême são o autor japonês Katsuhiro Otomo, criador da série de BD “Akira”, o argumentista britânico Alain Moore e o autor belga Hermann.

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hARTE

S, L

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IDEI

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A sua obra, pelo menos grande parte dela, é dedicada à cultura clássica, so-bretudo latina. Depois da experiência de contacto com o mundo clássico, que valores encontrou que, no âmbito desta entrevista, seja possível abordar?Quando entro na antiguidade clássica já tinha feito uma experiência comple-tamente diferente, por ter sido aluno de Direito. Depois interrompi, por ra-zões que não vêm ao caso, e mais tar-de, quando retomei, resolvi fazer um curso de línguas e literaturas clássicas. À medida que fui avançando, comecei a apaixonar-me cada vez mais pelos valores da cultura clássica e como eles me apareciam, naquilo que ainda hoje continua a ser o objecto de predilec-ção em tudo quanto estudo: a literatu-ra. Os valores da cultura grego-romana ainda hoje são a base de sustentação da sociedade ocidental. Os valores da dig-nidade humana, da democracia, com as suas diferenças – porque estamos a fa-lar de 2000 anos de diferença; 2500 se recuarmos até à Grécia no seu apogeu. Os valores de uma sociedade demo-craticamente organizada são os valores fundamentais da sociedade ocidental. A filosofia greco-romana ainda hoje é a base da filosofia ocidental, mesmo em alturas que a contestam. Se for estudar os grandes pensadores do século XX... Há um estudo muito interessante num congresso realizado em Coimbra, sobre as humanidades (...) um estudo lon-guíssimo, do professor Miguel Baptista Pereira, que analisa os fundamentos, as bases do pensamento, de uma parte dos vencedores do Prémio Nobel na área das ciências: Química, Física e Medici-na. Descobriu que o pensamento deles é um pensamento filosófico helénico.

Sim, todas as questões que ainda hoje colocamos foram colocadas pelos gregos e até todas as histórias, na li-teratura e nos mitos, foram contadas pelos gregos. Mas, no entanto, houve transformações ao longo da história e iluminações de aspectos importantes da cultura...

CARLOS ASCENSO ANDRÉ, POETA E ESPECIALISTA EM CULTURA CLÁSSICA

“O EXÍLIO E A POESIA PORTUGUESA TÊM LAÇOS INSOLÚVEIS”

Publicamos a segunda parteda entrevista com Carlos Ascenso André, dedicada à cultura clássicae à poesia.

E houve subversão. A organização do poder na Grécia, em Roma, com tudo o que tem de contestável, são orga-nizações democráticas. Os princípios curiosos, mesmo em Roma, que é uma sociedade sui generis, o princípio que o cônsul tem o poder em Roma, mas não tem o poder militar. Isso é interessante. A impossibilidade do poder militar ser exercido na República, na Urbis, é um conceito muito interessante.

Como estudante de Antropologia, di-ria que existem tribos ditas “primitivas” que têm exactamente o mesmo concei-to, tendo um chefe de paz e um chefe de guerra, que só tem poder fora do espaço da tribo.Sim.

Mas no mundo ocidental (romano) isso foi verdade, embora depois não tenha sido respeitado.De cada vez que um titular de poder em Roma usou o exército em direcção a Roma, a democracia converteu-se em ditadura. Foi o caso de César. E quando o Imperador Augusto assumiu o poder imperial, também subverteu, apesar de continuar a haver cônsules. Mas o outro princípio de organização, com os pode-res separados, em que havia um cônsul que exercia o seu poder na cidade e ou-tro que exercia o seu poder fora, e uma organização representativa das várias classes, é muito aristocrático. Mas falan-do de valores morais, se ler tratados, po-deria ir à Grécia e falar de monstros do pensamento ocidental, ou experimente ir a Roma e analisar o pensamento de Cícero, num livro espantoso que é o “Tratado da Amizade”.

Ia falar disso. Dos valores que já não têm a ver com a res publica, o espa-ço público, mas os valores do espaço privado. Por exemplo, a amizade, que era uma coisa fundamental no mundo clássico, e que se perdeu no mundo cristão.Isso foi subvertido, como a forma de ra-cionalização do eu. Às vezes recomen-do, vício meu, recomendava aos meus alunos, sobretudo aqueles que tinham tendências depressivas, recomendava “as Tusculanae Disputationes de Cícero”. Foi onde aprendi algumas regras de sobrevi-vência. A racionalização da morte.

Mais uma vez estamos a dizer que o Logos é uma herança fortíssima da cul-tura clássica.É. A capacidade de pensar tudo.

E como é que vê isso no mundo ac-tual? Hoje temos tantos impensáveis.Nós hoje não relativizamos as coisas da mesma forma. Eles relativizavam. Dou--lhe um exemplo, em Cícero, que diz sobre a dor, “basta pensar que há sempre uma dor superior à minha, ou que posso sofrer muito mais”. Isso está nas “Tuscu-lanae de Cícero” e é assim que ele relati-viza a morte e o sofrimento. Tudo pode

ser relativizado. Hoje a tendência é no sentido do individualismo e para super-lativarmos o nosso próprio sofrimento e a nossa própria dor. Mas considero que Cícero não é um individualista mas sim um narcísico. Somos indivíduos afoga-dos na nossa imagem ao espelho.Curiosamente estamos a apontar o exemplo de alguém que, em teoria, de-fende os grandes valores do ser humano, mas na prática ele é o mais narcisista dos romanos que eu estudei até hoje (risos). A doutrina... ele não fabricou nada. É muito difícil dizer que Cícero foi um fi-lósofo. Foi sobretudo um depositário do

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Carlos Morais José[email protected]

(Continua na página seguinte)

pensamento que ele estudou de forma aprofundada e que soube organizar em dois ou três livros de grande peso que publicou em alguns momentos de pausa da sua vida, muito agitada, até ser as-sassinado. Dou-lhe outro exemplo. Um escritor como Virgílio, que era um epi-curista e abominava a vida pública. Se ler a epopeia virgiliana, uma das obras primas da literatura da humanidade, não é possível encontrar em outras epopeias do mundo ocidental uma história como a daquele estranho Eneias. No fundo é o espelho de Augusto, uma antevisão.

Uma justificação da linhagem sagrada de César e Augusto.Exacto. Ele pretende divinizar o impe-rador dando-lhe como ascendente o he-rói e sua mãe Vénus, mas aquele Eneias é o herói mais anti-herói e humano de toda a história da literatura. É a primei-ra vez que vemos um herói a fundar um império, mas a primeira vez aparece-nos

a chorar. Portanto este convívio com as lágrimas, esta dimensão humana de cada pessoa, mesmo de alguém que tem uma origem divina, só se encontra na cultura clássica. Mas essa é talvez uma das característi-cas da literatura clássica é que nos dá o ser humano em todas as suas dimen-sões. Os heróis têm sempre um lado negro.São sobretudo muito humanos.

E choram muito. Ulisses passa a Odis-seia toda em lágrimas.Choram e sofrem muito mais do que acontece na humanidade. A grande

criação dos gregos é que os seus mitos são uma forma de explicação das fragi-lidades dos homens. De cada vez que o ser humano não encontra explicação racional para o problema, o mito resolve o problema.

Eu gosto da ideia de Nietzsche, quan-do diz que o mito grego é uma forma de interpretação do mundo através da arte. Por não ter uma pretensão à ver-dade, acaba por ter uma holística ainda maior sobre o real do que se fosse o pensamento socrático.Acho que o mito grego é assumidamen-te uma ficção, que resulta da fragilidade do ser humano de encontrar explicações para si próprio. Constrói naquela ficção o complemento que lhe falta para uma verdade que não tem.

Mas mito a mito são paradoxais, como Lévi-Strauss explicou são sinfonias que podem repegar o tema ou contra-dizê-lo.No seu conjunto harmonizam-se numa explicação para o universo.

Mas não uma explicação unívoca.Não, nem para as coisas do universo. Os pormenores, factos e problemas existem e muitas vezes são insolúveis em termos individuais. No macrocosmos, macro-cefalia desta organização do universo, os mitos encontram uma explicação ló-gica, mas é global. A ordem que os mi-tos proporciona é uma ordem cósmica, mas não é individual.

Mas no mito grego, o homem parece ter pouca influência na vida dos deu-ses. É mais ao contrário. Já na mito-logia hindu, temos inúmeros casos em que o homem interfere no desenrolar da vida divina. Sempre achei interes-sante a questão do Fado, do Destino, a que até os deuses têm de obedecer. Que percepção é esta do mundo?Na minha leitura, há uma diferença en-tre a cultura grega e romana. Enquanto na cultura grega, Zeus tem um poder grande sobre o destino, na cultura roma-na Júpiter é essencialmente um gestor do destino. O Fado está antes e depois. Ele conhece-o e os deuses conhecem--no, podem fazer-lhe mudanças adjecti-vas, mas não mudanças substantivas. A esse respeito Virgílio tem um verso que acho espantoso: “os fados encontrarão o seu caminho”. E sabe-se que será sempre as-

sim. A Eneida é também um exemplo: quando Júpiter dá um murro na mesa e diz: “Acabou, vamos cumprir”.

Foi na Eneida que li esse episódio e fiquei espantado, não é o deus criador, chamou-lhe gestor ou rei. Não é o im-perador.Na Ilíada também há um episódio seme-lhante, em que Zeus a certa altura diz: “Acabou”. Tem de se cumprir. Mas na leitura da Ilíada fico sem a certeza se diz “acabou” e cumpre-se o que mandam...

Mas será um Fado quase já não divini-zado, que é mais physis, mais Natureza.Está para além de tudo. Ele antecede a existência do próprio poder divino.

Como disse no princípio desta conver-sa, podemos encontrar na cultura clás-sica, as figuras que prefaciam depois toda a cultura ocidental.Sem dúvida nenhuma. Não nos podemos esquecer que nasce à beira do Mediter-râneo. Quando se fala muitas vezes na cultura ocidental como a herdeira de uma cultura judaico-cristã não é por acaso. A civilização judaico-cristã inclui toda a ba-cia do Mediterrâneo e é aquele berço fan-tástico de cultura. Se olharmos o patrimó-nio construído, percebemos que aquele núcleo chamado Mediterrâneo é fantásti-co. É o pai do maniqueísmo, da distinção entre a noite e o dia, do mal e do bem. Tudo isso se traduz numa dualidade mui-to grande, própria daquele mundo.

Para mim, o maniqueísmo é persa.E onde é que está o império persa? (Risos)

Penso que naquele deserto onde nas-ceram os monoteísmos, onde só pode-riam ter nascido, onde se tem a sensa-ção do Um.Mas não é contaminado por aquela teo-ria onde a divindade se mistura com o escuro e o inferno. E isso também é do norte de África, dos fenícios. São os an-tigos fenícios e povos daquela região. Mas herdámos mais o conceito de luz.

Vejo a luz como ligada ao Logos e ao pensamento grego. Não vejo o lado negro da Grécia, que foi oculto, nos mistérios de Eleusis...Isso vem do Egipto.

Mas a Grécia vem do Egipto.Acho que é mais o contrário.

Dizem que foi no Egipto que Pitágo-ras aprendeu... é complicado.O contacto entre a Grécia e o Egip-

OS VALORES DE UMA SOCIEDADE DEMOCRATICAMENTE ORGANIZADASÃO OS VALORES FUNDAMENTAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL. A FILOSOFIA GRECO-ROMANA AINDA HOJE É A BASE DA FILOSOFIA OCIDENTAL

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to escapa-nos muito. E não podemos ignorar que elas fundiram-se: um dos grandes impérios da cultura gre-ga é o Alexandrino. A certa altura, confundem-se e a religião romana, a partir do século I a.C, é fortemente invadida pela cultura egípcia. Foi tão perseguida em Roma como a religião cristã e uma foi perseguida por causa da outra. Digamos que esse mundo é de paradoxos. Mas queria falar-lhe da harmonia que existe no mundo ocidental e desta fusão da mais-valia de tudo isto. Mas, já que estamos a falar de religião, se olhar para as teo-gonias das religiões do mediterrâneo, vai verificar que se cruzam muito. A teogonia bíblica, no principio era o caos,  depois o nascimento até chegar ao mundo físico.

Mas não é um deus antropomórfico.Não, é um deus anterior a tudo. En-quanto que na teogonia grega, do caos nasceu a noite e o dia. Mas há sempre esta dualidade, entre a noite e o dia. Na teogonia bíblica, também há uma duali-

dade. Sempre por obra de uma mulher, que introduz o mal. Uma Eva na religião judaico-cristã, uma Pandora na mitolo-gia grega.

É pela importância que dá aos concei-tos e às raízes dos clássicos que na sua poesia usa as referências clássicas?O que eu agarrei do mundo clássico fo-ram valores que não são materiais nem físicos. O apego enorme à beleza, que já vem da Grécia, a fusão do bom e do belo. Os romanos souberam incorporar razoavelmente estes conceitos. Herdo, além de uma quantidade de valores que já falamos nesta conversa, este valor da palavra e a sua beleza. Quando, um dia, não sei como, começo a escrever poesia, começo a dar-me conta que a poesia é a palavra elevada à mais pura beleza, mas conservando sempre a sua essência do indizível. De cada vez que concebo um poema, imagino que diz o que lá está. Será tanto mais perfeito quanto mais esconder algo que, se o disse, não o vejo.

Mas isso é porque procura uma lingua-gem que exprime mais do que aquilo que é perceptível.Mas só consigo perceber a poesia se procurar essa linguagem. Um dia um

aluno perguntou-me o que era poesia, e eu disse a brincar: “é magia”. E ele: “e o que é magia?”. E eu respondi a brincar: “magia é uma coisa muito simples, é um coelho e una cartola.” São duas coisas vulgares, mas não estão associadas. E o que faz a beleza da poesia são coisas que não estão associadas. É uma palavra significar algo que normalmente não significa.

A ideia de que existiria uma linguagem curta, com poucos vocábulos, que ex-primiriam o mundo de forma sintética.Às vezes podem ser vocábulos muito simples.

A sua ordem e musicalidade...Olhemos para aquele dístico do odeio e amo. Este paradoxo fantástico. “Por-que o faço, perguntarás talvez. Mas sei que o faço e isso atormenta-me”. Não diz mais nada. É muito difícil dizer de uma forma tão breve e explícita os pa-radoxos do amor. Estes dois versos não têm substantivos em latim, têm sete verbos. Dito assim é uma concentração

de prazer, dor, ódio e incerteza. Diz--se tudo em duas linhas pequeninas, é um exemplo do que a poesia pode ser. E aquelas palavras são absolutamente vulgares.

Também tem na sua poesia a procura de alguma síntese estética, um grande cuidado com a escolha das palavras, aquelas que poderiam estar e não es-tão.E a tentativa de sugerir algo para além daquilo que lá está. Aquilo que leu são, na sua essência, poemas de amor. Embo-ra aquela poesia tenha a roupagem dos cinco elementos.

Ia falar-se sobre isso, porque é curioso ter lá os quatro elementos, mas depois em vez de ter o Éter, tem a noite.O Éter está lá na brisa.

Depois tem a noite, na introdução.O livro está deliberadamente ao contrá-rio. Porque a noite aparece a abrir, e a archê aparece a fechar.

Mas está-nos a falar da noite primor-dial, como o próprio Pessoa diz, de onde nascem todos os deuses.É. Os poemas têm, todos eles, uma di-vindade que mexe connosco.

CÍCERO RELATIVIZA A MORTE E O SOFRIMENTO. TUDO PODESER RELATIVIZADO. HOJE A TENDÊNCIA É NO SENTIDO DO INDIVIDUALISMO E PARA SUPERLATIVARMOS O NOSSO PRÓPRIO SOFRIMENTOE A NOSSA PRÓPRIA DOR

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 30.1.2015

Mas é dessa noite que emergem aque-las figuras todas.Quase todas clássicas.

Embora divididas por elementos gre-gos...Identificáveis com o fogo, as figuras do amor e da paixão física.

Penso que tem lá duas figuras cristãs...Modernas tenho, seguramente. Uma delas é a Gioconda, do Leonardo da Vinci, tudo figuras femininas que me-xeram comigo e algumas desconhe-cidas. Quase ninguém se apercebe da Ana, irmã de Dido, uma figura da Eneida da qual ninguém fala e que para mim é uma das mais fantásticas. É a única que, afinal, padeceu a tragé-dia. Depois há uma interpretação mui-to interessante destes mitos num livro de uma senhora francesa, “As Rainhas Negras”, um romance com três rai-nhas, todas africanas. Mas a poesia é isso. O que tentei colher ali e é o que normalmente faço, é colher aquilo que a cultura clássica me dá como semente. E dá-me esta crença em coisas que não são materiais.

Mas a sua escrita, em termos clássicos, é mais apolínea do que dionísica. Mais perto de um Ricardo Reis.Aquela. Tenho uma coisa em prepara-ção onde aqui e ali aparecem algumas aflorações que são tudo menos apo-líneas. Isso tem a ver com estados de alma, porque a essência da poesia é um estado de alma, não se fabrica do nada. Se não for um estado de alma, deixa de ser poesia e passa a ser uma obra de marcenaria.

Como Victor Hugo.Ou o nosso Alexandre Herculano, um excelente escritor, mas a sua poesia são obras de marcenaria. Já não é (Almeida) Garrett.

Citei há poucos tempo Fernando Pes-soa, a propósito do Antero de Quen-tal, que disse que nos permitiu acre-ditar que escrever poesia não significa ser imbecil. Que introduz a filosofia, o pensamento metafísico na poesia...É capaz de ser ele, na poesia portuguesa. Depois temos o Camilo Pessanha. Há alguns estetas modernos que nos obri-gam muito a pensar, mas esses dois são magníficos. Sem esquecer o Camões. É talvez o primeiro poeta-filósofo portu-guês.

Falando de poesia portuguesa, o seu trabalho abordou várias vezes o tema do exílio. Este conceito tem um papel especial na poesia portuguesa?O exílio e a poesia portuguesa não se conseguem desligar, têm laços in-solúveis. Veja que os grandes poetas

portugueses ou viveram ou cantaram essa experiência. Há duas formas de lidar com o exílio na literatura. A for-ma odisseica, onde o exílio na terceira pessoa, na narrativa, em que poeta ou escritor canta a experiência em ou-trem. A forma ovidiana é daquele que celebra a sua própria experiência de exilado. Na poesia portuguesa existem ambas as situações, embora me pareça que as mais sensíveis são de quem vi-veu essa experiência. Mas não se con-segue compreender a poesia medieval portuguesa sem a experiência de au-sência. Ela não existe sem isso. Posso dar-lhe imensos exemplos, os poemas mais bonitos.

É sempre sem a presença do ser ama-do.Se olhar para a literatura medieval, percebe que ela não é compreensível sem essa ausência. A primeira gran-de obra do século XVI é “Menina e Moça” do Bernardino Ribeiro, a expe-riência de ausência. O nosso Camões só é compreensível na sua condição de peregrino vago e errante. As pa-lavras são dele, não minhas. O nosso Camões escreve-se na elegia onde ce-lebra Ovídio, desterrado, nas costas do que é hoje a Roménia, e depois compara-se e conta a sua experiên-cia. Mesmo Os Lusíadas só podem ser compreendidos assim.

Sempre a ideia do desterrado.Aliás Garrett, no seu Camões, celebra a figura do poeta com esse retrato. Se nós percorrêssemos a literatura portuguesa em geral, conseguíamos encontrar mui-to essa experiência. Até José Saramago, em “O ano da morte de Ricardo Reis”, fala do regresso de Ricardo Reis a Por-tugal.

Mas porque é que isso acontece? É mais ou é só na literatura portuguesa? São razões históricas ou culturais?Há um autor que diz que a melhor lite-ratura só é compreensível numa dimen-são de exílio. Às vezes sou tentado a pensar que assim é. Penso que em Por-tugal tem a ver com algo que Eduardo

Lourenço descreve e que é: só somos capazes de nos imaginarmos de trou-xa às costas e vivendo no labirinto da saudade.

Cito Gilberto Freire, que cita duas tendências: o ulissismo e outra que identifica com o Velho do Restelo, de apego à terra, “daqui não saio, ou se vou para outra terra, ela passa a ser minha, já não saio de novo”.Os portugueses nunca conseguiram ser assim: quando partem, querem voltar. Portugal é capaz de ser um dos países onde as pessoas mais querem ser sepul-tadas na terra pátria.

A frase do Padre António Vieira: “para viver o mundo, para viver Portugal”.E ele quis viver no Brasil (risos). É um exemplo contraditório, porque a certa altura o Padre António Vieira cortou as raízes com Portugal.

Acontece a muito boa gente, como Jorge de Sena.Mas Jorge de Sena é contraditório. Há um poema de Eugénio de Andrade, de homenagem, sobre quando Jorge de Sena morreu, em que ele fala que “di-zias que não tinhas pátria, que as pá-trias se despiam”. Eugénio de Andrade deixa perceber e desmascara Jorge de Sena, onde diz “pobre de ti”, e des-creve Jorge de Sena como um sujeito mais apegado do que aquilo que pa-recia. Todos os portugueses quiseram mesmo voltar, ainda que vivessem a contradição do regresso. A partir do momento em que eles partem, ficam desapossados da sua identidade. Não é por acaso que o Ulisses e o Romeiro, do Almeida Garrett (personagem da peça Frei Luís de Sousa), se identifi-cam.

Quem não tem território tem a litera-tura como território único, finalmente.O escritor consegue encontrar um ter-ritório único na literatura, mas mesmo aí é contraditório. Isto porque quando o escritor busca a sua pátria na literatu-ra descobre que não é uma verdadeira pátria, então de repente situa-se numa

“no man island”. Ainda que queira assu-mir um projecto literário num país que não é um seu, nunca deixará de tentar regressar à terra.

Os portugueses estão muito influen-ciados por essa mitologia judaica que é a obrigação de devolver à mãe o pa-raíso perdido.Mas os judeus foram os primeiros a vi-ver o êxodo. (Risos) O grande exílio da história da humanidade é bíblico. Se quiser procurar o poema matriz da poesia do exílio é o “Canto sobre os rios que vão”, da Bíblia, o Salmo 136. Que deve ter mais de 100 paráfrases no mundo inteiro, só em Portugal in-ventariei mais de duas dezenas. É o canto dos deus exilados na Babilónia. Não inventámos nada, estão lá todos esses elementos. A incapacidade da linguagem, a dualidade dos territó-rios, a incapacidade de criar raízes no território presente. Mas depois há esse paradoxo da literatura: “Como queres que cante as cantigas que cantava em Sião?”. “Eu bem quero, mas não sou ca-paz de cantar”. Camões diz tudo isso nas redondilhas. Este paradoxo existe em muitos escritores. Há duas figuras que são paradigmáticas, uma delas é um dos vultos da literatura francesa do século XX e que não é francês, é checo: o Milan Kundera. Assumindo--se como um escritor francês, regressa à sua Praga. Sempre. São romances sistemáticos de apego à Pátria e ao momento da partida. O português é o Manuel Alegre, que é um exilado que nunca voltou. Voltou em 1974, mas em boa verdade nunca regressou.

Na sua literatura continua a vê-lo as-sim.Ele diz isso.

A ideia será que esse Portugal terá de ser construído fora do espaço de Por-tugal?Não tenho a certeza. Hoje questiono--me muito sobre se isto é a essência da literatura portuguesa ou se são alguns escritores que são escritores de dester-ro. Em Portugal há um chamado exílio psicológico.

Isso acontece com o Antero, por exem-plo.Quem me dá um exemplo muito claro disso é o Jean-Paul Sartre. Numa obra diz: “exílio é estar ausente do sítio onde eu queria estar”. Não tenho a certeza de que isso seja característico da literatu-ra portuguesa. Penso que seja caracte-rístico de muita outra literatura. E dou exemplos muito kitsch, que as pessoas vão compreender: os nosso grandes he-róis, dos 12 e 13 anos, são desterrados. O Tarzan, o Super-Homem, o Robinson Crusoe. 

O QUE EU AGARREI DO MUNDO CLÁSSICO FORAM VALORESQUE NÃO SÃO MATERIAIS NEM FÍSICOS. O APEGO ENORME À BELEZA,QUE JÁ VEM DA GRÉCIA, A FUSÃO DO BOM E DO BELO

O MITO GREGO É ASSUMIDAMENTE UMA FICÇÃO, QUE RESULTADA FRAGILIDADE DO SER HUMANO DE ENCONTRAR EXPLICAÇÕES PARA SI PRÓPRIO. CONSTRÓI NAQUELA FICÇÃO O COMPLEMENTO QUE LHE FALTA PARA UMA VERDADE QUE NÃO TEM

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18 DESPORTO hoje macau sexta-feira 30.1.2015

SÉRGIO [email protected]

R ODOLFO Ávila tem tudo bem encami-nhado para competir

pela sétima consecutiva temporada na Taça Porsche Carrera Ásia. O piloto por-tuguês, que nos últimos seis anos defendeu as cores do Team Jebsen, o braço des-portivo do Grupo Jebsen, quer continuar a senda de bons resultados no troféu da marca alemã e deverá continuar na mesma equi-pa. “Ainda faltam acertar alguns pormenores, mas está tudo bem encaminhado para que volte a correr na Taça Porsche Carrera Ásia em 2015 e com o Team Jebsen”, afirmou Ávila ao HM. “O Team Jebsen tem ao longo da história apostado sempre em pilotos locais e os resultados que temos conseguidos juntos provam que a aposta tem sido correcta.” Ávila, que foi vice-campeão em 2011, terminou na quarta posição em 2014, resultado que quer melhorar este ano. “2014 foi uma temporada difícil, porque representou a intro-dução de um novo carro, o 991, e em comparação com os nossos adversários directos, fomos aqueles que menos testamos na

ÁVILA QUER REPETIR TAÇA PORSCHE CARRERA ÁSIA

Tudo bem encaminhado

“A Taça Porsche vai ser sem dúvida a minha prioridade. Contudo, tal como em anos anteriores, vou tentar aproveitar oportunidades que surjam”

pré-época. Felizmente, conseguimos dar a volta por cima rapidamente e fomos uma presença constante no pódio na segunda metade da época”, afirma o piloto de 27 anos, que acrescenta que “este é um campeonato que continua muito forte e que tem captado a atenção da comunicação social es-pecializada na China, para além do nível de pilotos ser do melhor que se pode encontrar na região. Por exemplo, o campeão dos dois últimos anos, o Earl Bamber, foi promovido a piloto oficial da Porsche”. Com o desporto automóvel em pleno crescimento no continente asiático, Ávila

não coloca de parte parti-cipar noutras corridas ao longo da temporada 2015.

CAMINHO BEM DEFINIDO“A Taça Porsche vai ser sem dúvida a minha prioridade. Contudo, tal como em anos anteriores, vou tentar apro-veitar oportunidades que surjam. O ano passado gos-tei muito de fazer a corrida de resistência de Fórmula Renault em Zhuhai e a hi-pótese de voltar a competir no campeonato da Malásia com um sport-protótipo também é uma ideia que não está abandonada”, con-cluiu o ex-campeão asiático de Fórmula Renault e GT.

A Taça Porsche Carrera Ásia deverá arrancar no fim-de-semana de 9 e 10 de Março com os três dias oficiais de testes e apresen-tação à imprensa no circuito de Sepang, na Malásia. A competição monomarca da casa de Weissach para o Sudeste Asiático terá este ano sete provas, incluin-do provas de apoio dos Grande Prémio da China e Singapura de Fórmula 1. Um regresso ao Grande Prémio de Macau, depois da passagem na edição do 60º aniversário do evento da RAEM, não faz parte dos planos da Taça Porsche asiática a curto prazo.

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19hoje macau sexta-feira 30.1.2015 (F)UTILIDADESTEMPO MUITO NUBLADO MIN 15 MAX 20 HUM 65-98% • EURO 9 .0 BAHT 0 .2 YUAN 1 .3

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

João Corvo

ACONTECEU HOJE 30 DE JANEIRO

H O J E H Á F I L M E

A classe trabalhadora transformou-se no esqueleto que os esquerdistas sentem problemas em carregar.

Data do ‘Bloody Sunday’ que marca luta pelos direitos humanos• Corria o ano de 1972 quando o exército britânico mata 13 católicos em Londonderry, na Irlanda do Norte, durante uma manifestação em defesa dos direitos humanos. O Domingo Sangrento [‘Bloody Sunday’] é recordado hojeOcorreu em Londonderry. Um grupo de manifestantes católicos é assassinado, num episódio que interrompe uma luta pacífica em defesa dos direitos civis, contra o governo da Irlanda do Norte.O Batalhão do Regimento de Pára-quedistas do exército britânico pôs termo à manifestação, derramando sangue de 13 vítimas, que perderam a vida. O Domingo Sangrento, eternizado numa música dos U2, é recordado hoje.No dia em que o Papa Clemente VIII é eleito, em 1592, Adolf Hitler é nomeado chanceler alemão, em 1933. Também a 30 de Janeiro, um hindu mata Mahatma Gandhi, em 1948. Exactamente 21 anos depois acontece a derradeira aparição pública dos Beatles, antes de se separarem.A 30 de Janeiro de 1995, é apresentado o Microsoft Bob, interface gráfica da Microsoft que acabou por ser um tremendo fracasso. Em 2007, também, a Microsoft apresenta o sistema operativo Windows Vista.Nasceram no dia 30 de Janeiro Franklin Roosevelt, 32.° presidente dos EUA (1882), Olof Palme, político sueco (1927), Dick Cheney, político norte-americano, e Phil Collins músico inglês, ex-baterista e vocalista dos Genesis (1951).Morreram Damião de Góis, historiador português (1574) e Ferdinand Porsche, engenheiro de automóveis austríaco, fundador da Porsche (1951).

• HojeBUFFET DE VINHO E CERVEJA E ESPECTÁCULOS AO VIVOSoho, City Of Dreams, a partir das 19hBilhetes a 150 patacas

SEMINÁRIO “MEMÓRIA COLECTIVA, MULTIDISCIPLINARIDADE, SOCIOLOGIA POLÍTICA: AS ILHAS DE CONTENÇÃO DA CHINA E DO JAPÃO”, POR TIM LIAO Universidade de Macau, 15h às 16h30Entrada livre

• SábadoDIVA DO JAZZ - JANE MONHEIT EM CONCERTOCentro Cultural de Macau, 20hBilhetes a 100, 150, 200 e 250 patacas

LADIES NIGHT COM DJ KANGOL, DJ MAHONY E DJ KENSHOKam Pek Bar, 23hEntrada livre para mulheres

• DiariamenteEXPOSIÇÃO “PONTO DE PARTIDA: PINTURAS DE DENNIS MURREL E DOS SEUS ARTISTAS” (ATÉ 31/01)Fundação Rui Cunha, 18h30Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE SÂNDALO VERMELHO (ATÉ 22/03)MGM ResortEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “KOREAN ART”, COM OH YOUNG SOOK E KIM YEON OK (ATÉ 15/02)Galeria Iao HinEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE DESIGN DE CARTAZES “V•X•XV:” (obras de 1999, 2004 e 2009) [até 15/03]Museu da Transferência da Soberania de Macau, 10h00 às 19h00Entrada livre

EXPOSIÇÃO “TRANSMUTATION” E “FOAM TIP” (PINTURA E PORCELANA, POR CAROL KWOK E ARLINDA FROTA) Signum Living Store, 18h30 (até 31/01)Entrada livre

“SELF/UNSELF” – EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DE ARTISTAS HOLANDESES (ATÉ 15 DE MARÇO)Centro de Design de MacauEntrada livre

RETRATOS A ÓLEO DOS SÉCULOS XIX E XX: COLECÇÃO DO MUSEU DE ARTE DE MACAUMuseu de Arte de Macau, das 10h às 19h (até 31/12)Entrada livre

ILUSTRAÇÕES PARA CALENDÁRIO, DE GUAN HUINONG (ATÉ 10/05)Museu de Arte de Macau, das 10h às 19hEntrada livre

“BEYOND THE SURFACE” DE MIO PANG FEI (DE 04/02 A 01/03)Albergue SCM, das 12h às 20hEntrada livre

“THE WAY WE DANCE”(ADAM WONG SAU PING, 2013)

Fleur adora Hip-hop e o seu talento é claro já desde a infância. Infeliz-mente, o seu sonho de dançarina foi mantido em segredo devido aos conceitos de família tradicionais, que obrigavam a uma maior atenção ao estudo escolar. Finalmente, ao entrar na universidade, Fleur conseguiu entrar no clube de dança de hip-hop, tornando-se na ‘nova estrela’ do grupo. ‘The Way We Dance’ foi aclamado pelo sector de cineastas de Hong Kong por trazer uma atitude positiva e enaltecer o lema ‘tudo por um sonho’. O filme tem ainda uma boa dose de cenas de dança, ideal para quem não consegue ficar quieto. - Flora Fong

C I N E M ACineteatro

SALA 1BLACKHAT [C]Um filme de: Michael MannCom: Chris Hemsworth, Viola Davis, Tang Wei, Wang Leehom14.15, 16.45, 19.15, 21.45

SALA 2NIGHTCRAWLER [C]Um filme de: Dan Gilroy

Com: Jake, Gyllenhaal, Rene Russo, Riz Ahmed, Bill Paxton14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3AMERICAN SPINER [C]Um filme de: Clint EastwoodCom: Bradley Cooper, Sienna Miller14.15, 16.45, 19.15, 21.45

NIGHTCRAWLER

fonte da inveja

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20 OPINIÃO hoje macau sexta-feira 30.1.2015

O desenvolvimento saudável de uma cidade depende de os seus jornalistas terem consciência, pois a rela-ção entre os dois é muito estreita.

Neste último sábado e domingo tiveram lugar sucessivas manifestações na Praça do Tap Seac.

Apesar de as razões que as originaram serem diferentes, torna-se claro que Macau está a ser afligido por problemas sociais que não foram ainda resolvidos. Enquanto a compo-sição da estrutura da Assembleia Legislativa permanecer inalterada, com o número de lugares directamente eleitos a preencher menos de metade do número total de lugares, torna-se impossível fiscalizar efectivamente o desempenho do Governo. Os deputados nomeados só devem explicações ao Chefe do Executivo e o público em geral não tem nenhuma maneira de supervisionar o seu desempenho, não tendo sequer o direito de os escolher. Assim sendo, a habilidade destes deputados em deliberar sobre as políticas do Governo vai enfraquecendo com o tempo. Isto quer dizer que o nível de deliberação da Assembleia Legislativa nunca vai poder ser reposto. Enquanto o sistema político corrente permanecer inalterado, a opinião pública não pode ser canalizada da melhor forma nem pode ser garantida a qualidade das propostas de lei apresentadas. Exemplo

*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

um gr i to no desertoPAUL CHAN WAI CHI*

A consciência dos jornalistasdisso são a proposta de Lei de Protecção dos Animais e a proposta de Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica, que mesmo debaixo de exame na especialidade pela Comissão Permanente não dão garan-tias à população sobre a qualidade desse mesmo exame. Foi por esta razão que uma associação de defesa dos animais organizou um protesto no domingo passado.

Todavia, uma prática prejudicial tem vindo a ser desenvolvida em Macau nos últimos anos, que visa alterar intencionalmente alguns pontos de vista da população enquanto que critica ou se torna hostil para com os movimentos cívicos. Esta táctica de desinformação da opinião públi-ca tem distorcido o curso do desenvolvimento social ao mesmo tempo que alguns jornalistas se limitam a repetir a retórica oficial sobre as políticas governamentais, acabando assim por tomar o lado do Governo e conjuntamente explorar as camadas mais desfavorecidas da população, o que é verdadeiramente assustador.

Durante o programa de rádio destinado a responder às perguntas dos membros do público, um dos ouvintes sugeriu que se abandonasse a prática de nomeação de depu-tados para a Assembleia Legislativa, já que aqueles que exercem funções por esta via têm pior desempenho do que os outros nas reuniões plenárias. O locutor deste mesmo programa respondeu por sua vez que se tal situação se verifica torna-se então necessá-rio abdicar do sistema de eleição directa. Como é possível o locutor de um programa

Será legítimo usar qualquer tipo de meio para garantir a estabilidade? E será então aceitável representar incorrectamenteos factos de forma a obter fama e fortuna?

de rádio ter uma resposta tão inapropriada? Este é sem dúvida a maldição de Macau e das suas gentes. Qualquer pessoa com bom senso sabe muito bem que se o desempenho de um deputado eleito por via directa for insatisfatório, as hipóteses deste vir a ser reeleito nas próximas eleições fica nas mãos dos eleitores. Mas os eleitores nada podem fazer em relação aos deputados nomeados com mau desempenho, pois apenas o Chefe do Executivo pode fazê-los parar de desem-penhar as suas funções. Para ter o seu próprio programa, um indivíduo tem de ser capaz e de estar bem informado. Assim sendo, temos de acreditar que há uma qualquer outra razão especial para o locutor ter respondido desta maneira tão pouco inteligente.

Saliento também a existência de um jornalista de um jornal local que costuma criticar pessoas por terem pontos de vista discordantes. O seu estilo de escrita não é

mau, mas costuma apresentar argumentos fracos e optar por aplicar o que se chama de sofisma, que é um raciocínio falso com aparências de verdadeiro. Apesar de eu considerar o seu trabalho como prejudicial para a sociedade, o jornal para que trabalha sobrevive devido a subsídios do Governo. Os membros da gestão deste jornal gozam de alto prestígio e estatuto pois gozam da protecção de pessoas poderosas dentro do Governo. Será legítimo usar qualquer tipo de meio para garantir a estabilidade? E será então aceitável representar incorrectamente os factos de forma a obter fama e fortuna? Este tipo de pessoas não merecem o título de jornalistas pois não passam de cães-de--guarda do Governo. A única diferença entre estes e o “Partido dos 50 Cêntimos” (os comentadores da internet pagos pelo Estado chinês) é que são muito mais bem pagos.

“Salvaguardar a moralidade e a justiça com uma integridade de ferro enquanto que somos implacáveis com a nossa escrita” é o ethos dos jornalistas mais velhos na China, que são altamente exigentes de si mesmos. Hoje em dia a nossa sociedade precisa cada vez mais de jornalistas dotados de ideais. Se assim não acontecer, o público deixa de ter plataformas para expor as suas opiniões, e isso permitiria que a nossa sociedade fosse controlada por demónios.

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21 opiniãohoje macau sexta-feira 30.1.2015

A B. tem 45 anos de vida e 22 de permanência em Macau. Veio para cá como poderia ter ido para outro sítio qualquer – a diáspora do país onde nasceu é do tamanho da carência do país. No caso de B., po-dia ter sido Hong Kong, onde a mãe viveu durante

duas décadas. Calhou Macau. Foi Macau e continua a ser.

Nesta Macau que lhe saiu na sorte conheceu o marido, também ele por cá à procura de uma vida melhor. A B. casou, teve dois filhos, dois filhos que nasceram em Macau, no hospital onde nascem os filhos de quem tem filhos nascidos em Macau. A B. não quis os filhos criados à distância por familiares, num país onde as crianças morrem por motivos estranhos. Os filhos ficaram em Macau, estudam em Macau e têm amigos em Macau.

Os filhos de B. falam a língua da mãe e do pai, o dialecto da mãe e do pai, falam chinês, falam inglês e percebem português. Andam na escola em Macau e não querem ir embora, apesar de saberem que um dia lá terá de ser – a universidade local é demasiado cara para a economia familiar. Os filhos de B. são de cá, mas não têm direito a ser de cá.

A B. pediu residência uma, duas vezes. E uma, duas vezes, não conseguiu. A B. orgulha-se de nunca ter sido despedida, de só ter mudado de patrões quando os patrões se foram embora. A B. sustenta os filhos, a B. manda dinheiro para a família, a B. organiza-se para que nada falte em casa. A B. é uma mulher que anda de cabeça erguida, habituada que está a ser diferente numa terra onde conta a cor do documento de identificação. O dela é azul.

A B. não tem direito a ficar doente. Os filhos da B., que são muito mais de Macau do que eu e do que metade das pessoas que cá vivem, também não têm direito a adoecer. A doença sai cara, demasiado cara para as apertadas contas familiares. A B. paga 160 por cento da taxa cobrada aos residentes se for ao hospital público. Os filhos pagam 50 por cento por serem estudantes – mais 50 por cento do que os menores com a bênção da residência. Os medicamentos, tanto no caso da B. como dos filhos dela, são pagos na totalidade.

Os filhos de B. também não têm direito a estudar – só o fazem porque os pais têm a cabeça no sítio e as contas aos avos muito bem feitas. O Governo de Macau não com-participa as propinas de crianças como os filhos de B.. As despesas são pagas na tota-lidade e a opção é a escola mais em conta. Não é a escola melhor, é a escola possível. Os filhos de B. são mais de cá do que metade das pessoas que andam na rua, mas não são de cá para efeito algum. São miúdos sem terra, que a terra não quer saber deles.

A B. existe. Não é uma personagem desencantada para efeitos de crónica. A B.

contramãoISABEL [email protected]

Da pequenezA total falta de respeito por quem não é de cá – e sobretudo por quem, não sendo de cá, pertence a classes sociais desfavorecidas, sem direito à residência e sem direito ao voto – é perigosa. Mais perigosa é quando sentida e manifestada por alguém com poder político

é uma mulher real, viva, que ri e chora, que tem um trabalho, preocupações, angústias, felicidades, filhos e marido. A B. existe, como outras mulheres e homens vindos do mesmo país, para efeitos de estatística e para fazerem aquilo que mais ninguém quer fazer. E também para aquilo que mais ninguém sabe fazer.

Volto a este assunto com cansaço – não me apetecia mesmo escrever sobre a peque-nez das pessoas. A culpa da minha repetição temática é da exclusiva responsabilidade da deputada Kwan Tsui Hang, mulher que alegadamente defende os direitos dos tra-balhadores – dos trabalhadores com BIR, aqueles que não vivem com a incerteza do cartão azul.

Veio Kwan Tsui Hang defender, esta semana, que os não residentes devem pagar mais pela saúde do que os residentes. Não sei se a deputada sabe quanto é que as pessoas como B. pagam pela saúde, mas parece-me que alguém a deverá já ter informado a esta altura do campeonato. Não tenho a certeza de que a deputada saiba quanto é que as pessoas como B. ganham por mês, mas presumo que sim, parto do princípio de que é conhecedora desse pormenor – deverá ter alguém como B. por perto, que não estou

a imaginá-la a limpar as casas de banho do apartamento antes da reunião matinal da comissão permanente a que preside.

Mas sei que a deputada, porque é depu-tada há muitos anos, sabe que existe uma coisa chamada direitos humanos. E outra que dá pelo nome de direitos, liberdades e garantias. E ainda outra que é o respeito pela condição humana. E já agora, numa perspectiva mais economicista da coisa, há

também as receitas públicas, que a deputa-da conhece. Que no caso em concreto são gordas. Mas e que não fossem.

A total falta de respeito por quem não é de cá – e sobretudo por quem, não sendo de cá, pertence a classes sociais desfavorecidas, sem direito à residência e sem direito ao voto – é perigosa. Mais perigosa é quando sentida e manifestada por alguém com poder político, com um lugar na Assembleia Legislativa.

As declarações de Kwan Tsui Hang foram feitas na semana em que se assinalaram os 70 anos da libertação de Auschwitz. Sei que na maioria das escolas de Macau não se ensina o Holocausto, que não se explica o que foi Auschwitz, porque é um passado de outro sítio, de outra gente, pelo que não interessa.

Longe de mim comparar as declarações de Kwan Tsui Hang ao que aconteceu há 70 anos. Mas há uma noção entre aquele passado e este presente que é comum, assustadoramente comum: a ideia de que há pessoas melhores do que outras, de que há pessoas que merecem mais cuidados do que outras, de que existem pessoas que merecem ser tratadas e outras não. Pessoas que são superiores a outras, porque calhou nascerem num sítio e não noutro. Eu não quero Macau assim.

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Rui TavaRes*in Público

22 opinião hoje macau sexta-feira 30.1.2015

N O segundo semestre de 2011, a situação na zona euro tornou-se crítica. O resgate grego tinha-se dado pouco mais de um ano antes, o português durante o pri-meiro semestre, o irlandês entre ambos. Mas os resga-tes não só não conseguiam acalmar os juros nos merca-

dos da dívida soberana, como até os excitavam mais ainda. Após cada país que caía, a aposta era sobre qual seria o próximo a cair. E os próximos seriam a Espanha, e a Itália, e depois a França. E com isso seria o fim desordenado do euro, uma coisa pouco bonita de se ver.

Em Setembro desse ano escrevi uma crónica chamada “Onde estamos”, onde de-fendi a implementação de uma solução para a crise do euro baseada na “Modesta Proposta para Salvar o Euro”, de Yanis Varoufakis e Stuart Holland. Ao contrário das anteriores propostas baseadas na mutualização da dívi-da, politicamente bloqueada, a proposta de Varoufakis e Holland baseava-se na emissão directa de títulos pelo Banco Central Europeu e na reciclagem da dívida soberana num prazo longo, ao passo que o Banco Europeu de Investimentos financiaria um plano de recuperação e relançamento da economia, em particular nos países do Sul e da periferia.

Não havia tempo a perder. Era preciso que Varoufakis e Holland viessem a Bruxelas

Ouçam este homemCoisa rara num economista [Varoufakis], não pretende sacrificar os empregos e prejudicar as vidas de milhões de pessoas só para provar que tem razão. Está longe, muito longe, de achar que o euro é perfeito, mas prefere melhorá-lo do que lançar o seu país e a Europa no desconhecido

explicar a proposta deles aos líderes do parla-mento europeu. Começámos imediatamente a trabalhar nessa viagem, que ocorreu no fim de Novembro de 2011.

Para ultrapassar a primeira crise europeia do século XXI, precisamos de um tipo espe-cial de europeus. Gente que entenda o papel do seu país na Europa, e o papel da Europa no mundo. Que queira reformular com as pessoas e não contra elas. Que tenha noção das consequências de um novo fracasso. Que esteja mais interessado em novas soluções do que velhos dogmas.

Yanis Varoufakis é certamente um desses europeus. É também um dos poucos eco-nomistas a não encarar esta crise como um mero economista. Onde outros se limitam a proclamar as suas equações e a desconsiderar o resto, Varoufakis entende a necessidade po-lítica de procurar soluções que não dependam de fazer de conta que o eleitorado alemão não exista ou que os tratados europeus possam ser ignorados. Coisa rara num economista, não pretende sacrificar os empregos e prejudicar as vidas de milhões de pessoas só para pro-var que tem razão. Está longe, muito longe, de achar que o euro é perfeito, mas prefere melhorá-lo do que lançar o seu país e a Europa no desconhecido.

Após aquela visita a Bruxelas em No-vembro de 2011, um outro economista cosmopolita do Sul — Mario Draghi que acabara de tomar posse no BCE — conseguiu estancar a fase aguda da crise do euro, mas os problemas estruturais estão ainda todos connosco. Mais de três anos passaram, e as mentes estão mais disponíveis para os outros elementos da Modesta Proposta. Os países do Sul continuam a precisar de um “Projecto Ulisses” que partilhei em conversa numa cafetaria, para grande entusiasmo de Varoufakis e de Stuart Holland (ver o resul-tado em projetoulisses.net).

Varoufakis está do lado da civilização e, com as suas capacidades de ironia e persuasão, será capaz de convencer uns quantos colegas no Conselho Europeu. Para bem de todos nós, esperemos que o consiga.

*Historiador, dirigente do Livre

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PROXIMIDADEScartoonpor Stephff

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hoje macau sexta-feira 30.1.2015 23PERFIL

MADALENA SALDANHA, ARQUITECTA

“PRIMEIRO ESTRANHA-SE, MAS DEPOIS ADMIRA-SE”

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Eloy; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

LEONOR SÁ [email protected]

F OI com o tempo que Madalena Saldanha, uma jovem arquitecta, aprendeu a gostar de Macau, o sítio onde vive, faz agora

quatro meses. “O meu namorado já cá estava há dois anos e vim por motivos pessoais, mas senti que seria uma boa oportunidade de uma experiência profissional fora de Portugal”, começa Madalena por explicar. Sorte ou não, a verdade é que arranjar emprego não foi um problema de maior. “Não foi tão difícil como pensei que fosse ser”, admite.

A jovem de 26 sente-se bem com o que faz e, de certa forma, “em casa”, já que o atelier de arquitectura onde trabalha é, na grande maioria, composto por profissionais lusos. “Cá consigo fazer projectos bastante diferentes daqueles que fazia lá [em Portu-gal], o que é um novo desafio para mim”, explica. É que, por um lado, os empresários endinheirados que por cá andam abrem portas para uma imensidão de projectos de grande envergadura que de outra forma não seriam exequíveis. “São numa escala

que nunca teria oportunidade de fazer lá, porque os clientes têm mais dinheiro e ideias diferentes, além de que se utilizam também outros conceitos, materiais e formas de construir”, diz. De um modo geral, o modo de vida asiático não agrada – como bem se sabe – a gregos e troianos, mas a jovem alfacinha acabou não só por se habituar à cultura maioritariamente chinesa, mas também por ser capaz de a admirar. “As comidas e o cheiro que paira nas ruas são um choque inicial, mas depois começa-se a entrar no espírito e até mesmo a admirar este modo de viver”, conta ao HM.

UMA CASA QUE É UM LARTal como para qualquer emigrante sozinho no estrangeiro, são a família, os amigos e o lar que mais falta fazem, mas nem isso faz com que Madalena queira voltar para terras lusas. Pelo menos, não para já. A coisa mais difícil? “Arranjar casa, sem dúvida”, responde a arquitecta, sem hesitações. “Fiz questão de arranjar uma casa que sentisse que era realmente um lar e o facto de me dar com outros portugueses também ajuda a estar

mais perto de quem gostamos. Além disso, faço questão de continuar a experimentar restaurantes com comida portuguesa”, continua a jovem. Outro dos segredos para se aproximar de Lisboa passa por integrar antigos hábitos no novo quotidiano, como são as sessões de ginástica, por exemplo.

É que tudo por estes lados encarece com o tempo e é preciso algum tempo e muitas visitas infelizes para encontrar um tecto sobre o qual nos sintamos em casa. Fora do horário de expediente, que preenche cinco dos sete dias da sua semana, Madalena gosta de se reunir com os amigos que já fez, quase todos eles portugueses e que trazem o cheirinho a casa, “essencial para matar as saudades”. O local predilecto é, sem hesitações, a ilha de Coloane, onde gosta de passear e almoçar para “repor as energias” de uma semana longa e atarefada.

“A ESTRANHA AQUI”Como tantos outros emigrantes estrangeiros na China, também Madalena se apercebeu que estava em terras asiáticas quando experimentou um autocarro público local

pela primeira vez. Entre pessoas, malas e o cheiro de sopas requentadas, a jovem rapidamente percebeu que era “a estranha aqui”. Contudo, engane-se quem julga que Madalena é novata por estas bandas. A arquitecta tem vindo a Macau uma vez por ano desde 2012 e a primeira vez, con-fessa, fica apenas na memória como “um calor insuportável” e alguma dificuldade na orientação pelas ruas. “Da segunda vez [2013] já me sentia muito melhor, porque conhecia os sítios por onde andava e pas-seava sozinha... Gostei bem mais do que da primeira visita”, lembra. No fundo, a vinda para o território deveu-se, em grande parte, às primeiras duas experiências em férias, pois sabia já com o que contar.

Embora a distância seja muita e as sau-dades apertem, Madalena sabe destacar as qualidades de viver nesta parte do mundo. “Uma coisa boa de estar aqui é poder viajar para um país asiático, nem que seja um fim de semana”, diz. Por enquanto, este é o seu poiso, mas se há coisa imprevisível é o futuro e esse pode mudar a qualquer momento.

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hoje macau sexta-feira 30.1.2015

O vice-presidente da Associação de Fu-tebol de Macau, Da-niel Sousa, escusou-

-se ontem a revelar o sentido de voto da sua organização na escolha do próximo presidente da FIFA, mas desejou “boa sorte” a Luís Figo.

“Desejamos a melhor sorte à candidatura de Luís Figo, mas por norma não costumamos revelar o sentido do nosso voto na eleição do presidente e não o vamos fazer agora”, disse Daniel Sousa em declarações à agência Lusa.

O vice-presidente garantiu ainda a participação de Macau no congresso do organismo do futebol mundial no final de Maio, em Zurique, onde será escolhido o próximo líder da FIFA.

Luís Figo justificou na quarta-feira a sua candidatura à presidência da FIFA, nas elei-ções que vão decorrer a 29 de Maio, com a ambição de mudar o organismo e retribuir o que o futebol lhe deu.

“Devo o futebol o que sou e sinto que chegou a hora de retri-buir tudo o que recebi, ao longo de tantos e tantos anos. Decidi candidatar-me a presidente da FIFA, foi uma decisão ponde-rada, assente na vontade de mu-dança, numa visão reformadora e na necessidade de dar mais transparência a uma instituição

O consórcio chi-nês COSCO (China Ocean

Shippping Company) continuará a gerir dois terminais de contentores do Pireu, disse a imprensa oficial chinesa ontem, um dia depois de o novo governo grego ter decidi-do travar a privatização daquele porto.

“O carácter público do porto do Pireu será mantido. A privatiza-ção pára aqui e agora”, anunciou o novo mi-nistro grego do setor, Theodoros Dritsas, após a primeira reunião do executivo liderado pelo partido de esquerda anti--austeridade Syriza.

A COSCO, a maior multinacional chinesa do sector da navegação, que desde 2010 opera dois terminais daquele estratégico porto dos arredores de Atenas, era um dos candidatos à compra de 67% do capital da Autoridade Portuária do Pireu que o anterior governo grego pretendia privatizar.

Um alto funcionário da COSCO citado pela agência noticiosa oficial chinesa Xinhua disse que o ministro Dritsas estava a referir-se ao Cais n.1 e a outras instalações do porto do Pireu, e não pro-priamente aos Cais n-º2 e n.º3, cuja exploração

foi concessionada aquele grupo estatal chinês por um prazo de 35 anos.

Segundo o relato da Xinhua, Theodoros Drit-sas disse que “a comuni-dade local é toda contra o plano de privatização” do porto, mas referiu tam-bém que “o povo grego está ligado ao povo chi-nês por laços de amizade e solidariedade”.

ANGÚSTIA A ORIENTEEm Pequim, o ministé-rio chinês do Comércio manifestou-se ontem “extremamente preocu-pado” com o anúncio do governo grego acerca da privatização do porto do Pireu.

“Tencionamos exor-tar o governo grego a proteger os direitos e interesses legais das sociedades chinesas na Grécia, incluindo a COS-CO”, declarou o porta--voz do ministério, Shen Danyang.

Utilizado anualmen-te por mais de 24.000 navios, o Pireu é consi-derado um dos maiores portos marítimos do Mediterrâneo e emprega cerca de 1.500 pessoas.

A extensão do cais n.º3 do porto, orçada em 230 milhões de eu-ros, foi inaugurada há uma semana pelo então primeiro-ministro grego, Antonis Samaras.

Pelos números avan-çados na imprensa ofi-cial chinesa, o COSCO já investiu cerca de 4.500 milhões de euros no Pireu.

“O porto do Pireu pode tornar-se uma por-ta de entrada da China na Europa. O porto do Pireu é como uma pé-rola no Mediterrâneo””, disse o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Junho passado, durante uma visita à Grécia.

A União Europeia é o maior parceiro comer-cial da China e cerca de 80% das exportações e importações entre os dois blocos são feitas por mar.

Open da Austrália Serena Williams está na final e confirma número umSerena Williams confirmou esta quinta-feira o regresso à final do Open da Austrália cinco anos depois, garantindo que vai terminar o torneio na liderança do ranking mundial, resistindo à ameaça de Maria Sharapova mesmo que perca a final com a russa, no sábado. Nas meias-finais, Williams superou a mais jovem compatriota Madison Keys, de apenas 19 anos, por 7-6(5) e 6-2, num que contou com espectacular ténis de ataque, com as duas jogadoras a dispararem mais de uma dezena de ases e winners de todos os lados do court. Esta é a sexta final de Serena Williams em Melbourne. A norte-americana de 33 anos venceu todas as cinco que disputou: 2003 (V. Williams), 2005 (Davenport), 2007 (Sharapova), 2009 (Safina) e 2010 (Henin). Serena torna-se na mais velha finalista de sempre deste torneio na Era Open. Williams encara na final do primeiro Grand Slam da temporada a russa Maria Sharapova, número dois mundial, naquele que será o 19.º encontro entre as duas. Serena comanda o confronto directo por 16-2 e a última vitória da russa de 27 anos foi em Novembro de...2004.

Vietname Polícia apreende milhares de gatos importados ilegalmente da China

M ILHARES de gatos vivos im-portados ilegalmente da China

para consumo foram esta semana apreendidos pela polícia do Vietname, onde a carne destes animais é muito apreciada, divulgaram ontem as auto-ridades locais.

Apesar do consumo de carne de gato, animal conhecido localmente pelo nome de “pequeno tigre”, ser oficialmente proibido no país, deze-nas de restaurantes especializados na capital vietnamita, Hanói, oferecem este produto, que é considerado como uma iguaria nacional.

Os animais foram encontrados em caixas dentro de um camião.

O condutor do camião, preso na terça-feira, confessou que tinha com-prado os animais na província de Quang Ninh, na fronteira com a China.

Os gatos estavam destinados “ao consumo” em restaurantes em Hanói, segundo explicou a polícia local.

“Não sabemos ainda o que fazer, devido ao elevado número de animais”, afirmou um elemento da polícia, referin-do que a lei vietnamita exige a destruição de todos os produtos de contrabando.

Na cidade de Hanói é muito raro ver gatos nas ruas, uma vez que os donos dos animais temem que estes sejam roubados e vendidos a restaurantes.

A falta de gatos no país, mas também de cães (a carne também é muito apreciada no Vietna-me), tem originado o tráfico ilegal de animais provenientes de territórios vizinhos como a China, Tailândia e Laos.

FIFA MACAU NÃO REVELA VOTO, MAS DESEJA “BOA SORTE” A LUÍS FIGO

A tradição ainda é o que era

“Ao longo das últimas semanas, meses e até anos, assisti a uma acentuada degradaçãoda imagem da organização e sintoque é tempo de inverter esta realidade”LUÍS FIGO

GRÉCIA GRUPO CHINÊS VAI GERIR APENAS PARTE DO PORTO DO PIREU

“A privatização pára aqui e agora”

que vai perdendo credibilidade e a sua capacidade mobilizadora”, afirmou Luís Figo.

Luís Figo, de 42 anos, é o sexto candidato à presidência do organismo que rege o fute-

dependente francês, e o príncipe Ali bin Al Hussein da Jordânia, vice-presidente da FIFA.

RECUPERAR CREDIBILIDADEO antigo jogador de Sporting, FC Barcelona, Real Madrid e Inter de Milão, vencedor da Bola de Ouro de 2000 e eleito melhor jogador do mundo em 2001, revelou, na mesma mensagem divulgada pela FPF, a sua von-tade de mudança na FIFA.

“Olho para a reputação da FIFA e não gosto do que vejo, o futebol merece melhor, ao longo das últimas semanas, meses e até anos, assisti a uma acentuada degradação da imagem da orga-nização e sinto que é tempo de inverter esta realidade. A FIFA tem de voltar a ser uma institui-ção respeitada e acarinhada em todo o mundo”, referiu.

Figo recorreu ainda à sua experiência futebolística para sustentar a sua capacidade de mudar a FIFA, para a qual exige que o “jogo” volte a ser a prin-cipal preocupação.

“O futebol, o jogo, tem de voltar a ser o foco da FIFA. Falei com muitas pessoas no futebol - jogadores, treinadores e presi-dentes de federações - e todos pensam que algo tem de ser feito. Fui jogador profissional, trabalhei no jogo a todos os níveis ao longo da minha vida e penso que sei o que é bom para ele”, salientou.

bol mundial, depois de Joseph Blatter, actual presidente, Mi-chael van Praag, presidente da federação holandesa, David Ginola, ex-jogador francês, Je-rome Champagne, candidato in-