24
O Ministério Público abriu um processo contra Jason Chao que se encontra com termo de identidade e residência, não se podendo ausentar de Macau por mais de cinco dias sem autorização. Yao Jing Ming O poeta em entrevista CORRUPÇÃO O grande caçador de tigres “REFERENDO” Os desobedientes HOJE MACAU Milhares de funcionários da indústria do Jogo saíram ontem à rua num protesto inédito contra todas as operadoras. A greve pode ser a última carta a ser lançada no jogo entre empregados e patrões. JOGO PERIGOSO TRABALHADORES ADMITEM RECURSO À GREVE PÁGINA 10 POLÍTICA PÁGINA 4 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 26 DE AGOSTO DE 2014 ANO XIII Nº 3161 hojemacau PÁGINAS 2-3 h PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB

Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Hoje Macau N.º3161 de 26 de Agosto de 2014

Citation preview

Page 1: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

O Ministério Público abriu um processo contraJason Chao que se encontra com termo de identidadee residência, não se podendo ausentar de Macaupor mais de cinco dias sem autorização.

Yao Jing Ming O poeta em

entrevista

CORRUPÇÃOO grande caçadorde tigres

“REFERENDO”

Os desobedientes

HOJE

MAC

AU

Milhares de funcionários da indústria do Jogo saíram ontem à ruanum protesto inédito contra todas as operadoras. A greve pode sera última carta a ser lançada no jogo entre empregados e patrões.

JOGO PERIGOSOTRABALHADORES ADMITEM RECURSO À GREVE

PÁGINA 10 POLÍTICA PÁGINA 4

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 2 6 D E A G O S T O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 6 1

hojemacau

PÁGINAS 2-3

h

PUB

AGÊN

CIA C

OMER

CIAL

PICO

28

7210

06

PUB

Page 2: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

FOTO

S HO

JE M

ACAU

2 hoje macau terça-feira 26.8.2014JOGO

Cerca de sete mil funcionários do jogo saíram ontem à rua para protestar contra todas as operadoras de jogo, mas a MGM e a Sociedade de Jogos de Macau acabariam por dominar o protesto. Apesar das queixas, nenhum responsável pelas empresas veio cá fora conversar com os manifestantes

MANIFESTAÇÃO FOREFRONT OF MACAU GAMING PONDERA GREVE

O DERRADEIRO TRUNFOCECÍLIA L [email protected]

O primeiro protesto ge-ral contra as operado-ras de jogo em Macau começou ontem às

cinco e meia da tarde junto ao Centro Cultural de Macau (CCM), mas antes, a Forefront of Macau Gaming (FMG) reuniu-se durante uma hora com os participantes.

“Quando o Governo decidiu proibir o fumo, disse que os casinos seriam a excepção. Porquê?”, ques-tionava Cloee Chao, secretária--geral da associação. “Não somos

seres humanos? Porque somos a excepção? Houve um deputado na Assembleia Legislativa (AL) que disse iríamos sempre fumar lá fora, mesmo sem fumo. Este discurso é o de um deputado que defende os nossos direitos?”, questionou a supervisora da Wynn.

Os aumentos salariais e as melhores condições de trabalho também foram o mote do protes-to. “Porque é que os funcionários públicos podem aumentar o salário todos os anos? O seu aumento salarial não vem do jogo? Vem de nós!”, disse também Cloee Chao.

“As empresas publicam todos os anos os aumentos das receitas, mas nunca publicam o nosso aumento salarial. Porquê”, ques-tionou novamente a trabalhadora. Mas nem só de salários mais altos se fez este protesto. Os croupiers pedem mais regalias, como a segurança social ou subsídios nocturnos.

“Durante as férias de Natal e

“Porque é que os funcionários públicos podem aumentar o salário todos os anos? O seu aumento salarial não vem do jogo? Vem de nós!”CLOEE CHAO Secretária-geral da Forefront of Macau Gaming

7000participantes, segundo a organização

Page 3: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

3 jogohoje macau terça-feira 26.8.2014

“A cada quatro anos ouve as exigências (Angela Leong), mas depois cumpre alguma?”FUNCIONÁRIO DA SJM

Ano Novo Chinês onde ficaram os croupiers? No trabalho! Não nos importamos de trabalhar durante as férias, mas o salário não pode ser igual e o tempo de descanso não pode ser apenas de um dia por semana”, apontou a responsável da FMG.

Em relação à importação de não residentes, os croupiers pedem mais do que discursos políticos e promessas no programa de Chui Sai On. “Não queremos que diga que no seu mandato não vai im-

portar não residentes. Queremos isso escrito na lei”, referiu Cloee Chao, que frisou: se isso acontecer, a consequência será a greve.

DA CALMA À EXCITAÇÃOO grupo começou a manifestação com calma, apesar do tom dos slogans nos cartazes. À chegada ao Star World, nos NAPE, a calma deixou de existir, porque os segu-ranças da empresa e os polícias não deixaram os manifestantes passar. À passagem pelo Wynn, os

“Durante as férias de Natal e Ano Novo Chinês onde ficaram os croupiers? No trabalho!CLOEE CHAO

funcionários da MGM começaram a querer ir para a frente do casino desta operadora. Os participan-tes, envergando roupas laranjas, queriam apenas sentar-se no chão a mostrar os seus pedidos, mas a PSP só permitiria isso depois de uma breve negociação com os organizadores do protesto.

Envergando o slogan “Que vergonha MGM”, o grupo acabaria por avançar em direcção ao Grand Lisboa. Os funcionários da Socie-dade de Jogos de Macau (SJM) tinham cartões que diziam “sou funcionário da SJM” e acabariam por parar três vezes à porta do alto edifício da operadora, onde gritaram “vergonha Ambrose So, vergonha Angela Leong”.

Um porta-voz dos funcio-nários, que não quis revelar o nome, disse que o ano passado, a administradora da SJM “ouviu” quase todas as opiniões dos fun-cionários, mas depois de vencer

“Não queremos que diga que no seu mandato (Chui Sai On) não vai importar não residentes. Queremos isso escrito na lei”CLOEE CHAO

as eleições não cumpriu nenhuma promessa. “A cada quatro anos ouve as exigências, mas depois cumpre alguma?”, questionou o funcionário.

Do CCM ao Governo foram quase três horas de vozes altas

1200participantes, segundo a polícia

e cartazes em punho. O protesto acabaria junto ao palácio do Go-verno, tendo a FMG entregue uma carta, antes de um encontro junto ao lado Nam Van.

Ficaria decidido que, no próxi-mo sábado, a SJM vai receber um novo protesto até ter uma resposta da empresa. Ieong Man Teng, que preside à FMG, disse que ainda vai negociar com os trabalhadores para ver se no final há mesmo greve do sector.

Page 4: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

HOJE MACAU

4 hoje macau terça-feira 26.8.2014POLÍTICA

LEONOR SÁ [email protected]

J ASON Chao encontra-se sob a imposição de termo de identidade e residência e não pode sair de Macau

durante mais de cinco dias sem

FLORA [email protected]

A agenda preenchida do can-didato ao cargo de Chefe do Executivo em altura de

campanha fez com que Chui Sai On não estivesse presente no encontro de ontem com a Associação Novo Macau (ANM). Acabaria por ser o mandatário Vong Hin Fai e o coordenador da sede de campa-nha, Leong Sio Pui, a reunir com Ng Kuok Cheong, Sou Ka Hou e Scott Chiang.

Sou Ka Hou, presidente da ANM, ficou desapontado por não poder falar directamente com Chui Sai On, “Se uma conversa significa a expressão de ideias de ambas as partes, então não discutimos nada, porque Vong Hin Fai e Leong Sio Pui responderam que vão apenas apresentar o pedido ao candidato”, explicou.

“Salientámos que não concor-damos com o actual sistema de eleição para o Chefe do Executivo, bem como o sistema dos deputados indirectos e nomeados. 2015 é a data adequada para iniciar a reforma

DE OLHOS POSTOS O “referendo civil” organizado por três associações locais – Sociedade Aberta de Macau, Macau Consciência e Juventude Dinâmica de Macau – deixou de ter impacto apenas a nível regional, para dar que falar um pouco por todo o mundo. O assunto chamou já a atenção do jornal francês Libèration, do norte-americano New York Times e do Wyborcza, da Polónia. Em geral, focam-se na questão da existência de um “referendo civil” e da forma como este tem sido perspectivado pelas várias partes, incluindo Governo, residentes e forças pró-democratas locais.

O activista e promotor do “referendo” está actualmente com termo de identidade e residência imposto pelas autoridades, não se podendo ausentar do território por mais de cinco dias sem autorização. O Ministério Público já abriu um caso contra o activista, argumentando crime de desobediência civil

REFERENDO JASON CHAO COM TERMO DE IDENTIDADE E RESIDÊNCIA

Com a porta fechada

DEZ MIL ASSINATURASPOR UMA MELHOR SAÚDEChan Kuok Sam, cuja filha esteve dez anos em estado vegetativo no hospital público, tendo falecido por erro médico em Março deste ano, apresentou cerca de dez mil assinaturas na sede de campanha, onde pede um melhor serviço público de saúde. “Recebi muitas assinaturas dos residentes durante 14 dias, espero que a sede as valorize e as entregue a Chui Sai On”, apontou.

NOVO MACAU QUERIA REUNIR MAS CHUI SAI ON NÃO APARECEU

Diálogo que não chegou a serpolítica porque não podemos chegar lá só com um passo. Devemos fazer com a população conheça bem o assunto e que o Governo ausculte largamente as opiniões”, disse ainda o presidente da ANM.

“Espero que através do en-contro de hoje se possa destacar a reforma política na campanha de Chui Sai On, porque em muitas acções anteriores quase não se falou disso. Neste período Chui Sai On tem ouvido muitas opi-niões, aproximando-se mais dos residentes. O sufrágio universal para o Chefe do Executivo, em que cada residente vota, pode levar a que haja confiança mútua entre as duas partes”, apontou ainda Sou Ka Hou.

Já Ng Kuok Cheong, deputado directo, disse que Chui Sai On cometeu “um erro”. “Apesar do Governo Central implementar os cinco passos para a reforma política, o primeiro passo deve ser do Chefe do Executivo, que irá apresentar uma proposta a Pequim. Chui Sai On não deve fugir da sua responsabilidade e deve dar o primeiro passo”, apontou.

Vong Hin Fai, em resposta às perguntas de associações e residentes, apenas referiu que, nos últimos dias, a sede de can-didatura de Chui Sai On “acolheu um grande número de opiniões”, estando prevista a publicação de um relatório sobre as mesmas no final deste mês.

a permissão das autoridades. O activista assegurou mesmo que tem um processo instaurado com si, pelo crime de desobediência civil. É que segundo o Ministério Público (MP), o representante do “referendo” teimou em não respeitar as regras determinadas pelo Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP).

“Perto das 15 horas [de ontem], o procurador responsável emitiu uma ordem para que o meu esta-tuto de suspeito se mantivesse. O MP decidiu abrir um caso a acusar-me de desobediência civil e tenho que avisar as autoridades se estiver fora do território durante mais de cinco dias”, começou Chao por explicar. “Apenas o tribunal tem poder para ordenar o encerramento e desmantelamento do website. Para além do sistema judicial, mais ninguém pode impedir que continuemos com a votação online”, disse Jason aos jornalistas.

De acordo com o departamento governamental, o comité organiza-dor da sondagem violou o artigo 5º da Lei de Protecção de Dados Pessoais em questões relacionadas com a votação online no website

oficial da actividade. “O período de interrogatório em si foi curto, mas esperei bastante tempo dentro de uma sala”, explicou o activista. Durante a manhã de ontem, Jason Chao esteve na esquadra da PJ para responder a mais questões sobre o seu envolvimento na orga-nização do “referendo”. Segundo declarações do activista, a polícia não ordenou o encerramento do website, mas pediu que lhe fosse permitido o acesso às informações da página virtual. “É claro que eu não atendi ao pedido”.

E A SEGUIR?Um dos próximos passos do ac-tivista pode passar por processar

o GPDP por abuso de poder, uma vez que o comité – e outras personalidades como o jurista António Katchi – consideram que as detenções de domingo não têm qualquer fundamento legal. Questionado sobre o sistema judicial de Macau, o também presidente da Sociedade Aberta de Macau confessou que está a deixar de acreditar no mesmo, tendo em conta as duas anteriores experiências depois da interpo-

5900votos até ontem à tarde

sição de dois recursos durante este mês.

O líder desconhece se há outros elementos envolvidos na questão, mas informa que, neste momento, a polícia “tem o direito de os in-terrogar, se quiser”. Além disso, Chao assegurou ainda que não foi formalmente acusado de qualquer crime, embora o MP pretenda fazê-lo, com base no desrespeito da ordem do GPDP.

Até ontem à tarde, contavam-se mais de 5900 votos, o que representa um número já superior ao inicialmen-te esperado pelas três associações organizadoras. Na noite do passado domingo, estimava-se uma média de 600 votantes a cada duas horas.

Page 5: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

QUESTÕES PREMENTES

5 políticahoje macau terça-feira 26.8.2014

NOVO MACAU QUERIA REUNIR MAS CHUI SAI ON NÃO APARECEU

Diálogo que não chegou a ser

CECÍLIA L [email protected]

N ÃO bastaram as ses -sões públicas em sede de campanha eleitoral. Ontem várias associa-

ções tradicionais entregaram a Chui Sai On os resultados dos inquéritos feitos aos seus mem-bros. A Associação dos Conter-râneos de Kong Mun de Macau (ACKMM), ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, a Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM) ou a Associação de Promoção dos Direitos dos Portadores de Deficiência Visual (APDPDV) apresentaram os seus pedidos.

Segundo a imprensa chinesa, o presidente da ACKMM, Liang Baijin, disse que os membros des-tacaram as questões do trânsito, saúde, habitação e utilização de terrenos, sendo que “a maioria dos membros concorda com o pro-

LEONOR SÁ [email protected]

O deputado José Pe-reira Coutinho quer saber se o Governo

tem algum plano de aprovei-tamento dos 2000 funcioná-rios públicos com qualifi-cações e conhecimentos de ensino superior, incluindo mestrado e doutoramento. Numa interpelação escrita, o deputado questionou o Executivo sobre qual o destino dos talentos locais formados no estrangeiro e se existe, ou não, uma estru-tura específica de inserção destas pessoas no mercado

• TRÂNSITO, SAÚDE, HABITAÇÃO, UTILIZAÇÃO DE TERRENOS E “REFERENDO” Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau (ACKMM), a partir de 10.270 opiniões apresentadas

• HABITAÇÃO, TRÂNSITO, CRIAÇÃO DE MAIS SERVIÇOS DE CRECHES E LARES DE IDOSOS E MEDIDAS PARA COMBATER A INFLAÇÃO Associação Geral das Mulheres de Macau, a partir de 12 mil opiniões

• RECURSOS E SERVIÇOS PARA QUE OS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA TENHAM ACESSO AO ENSINO SUPERIOR E IGUAIS OPORTUNIDADES DE EMPREGO Associação de Promoção dos Direitos dos Portadores de Deficiência Visual

Bastará assinarpor baixo?MAIS associações tradicionais,

como é o caso da Associação Comercial de Macau (ACM), a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM), a Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu ou a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) estão também a preparar os seus inquéritos.

A ACM já tem quatro propos-tas, sobre a importação de não residentes, as políticas de apoio às PME, a revisão da lei laboral ou maior cooperação regional.

Perante as propostas já feitas, os membros apenas assinam por baixo, sendo que no documento, consultado pelo HM, existe um espaço para que estes possam acrescentar mais opiniões.

No caso da UGAMM, os inquéritos já têm propostas previamente feitas, bastando os membros preencher os espaços. As propostas incluem o aumento da habitação pública, o limite do número de veículos ou o combate à inflação.

Tanto os inquéritos da ACM como da UGAMM contem uma frase que explica que “as infor-mações são preenchidas volunta-riamente”.

A situação já gerou queixas do grupo Macau Concelears, que acusam a FAOM de apresentar inquéritos que só necessitam de ser assinados pelos membros, sem espaço para a escolha dos pedidos. Um funcionário do Kiang Wu fez mesmo uma queixa ao grupo liderado por Jason Chao onde falou de uma conferência organizada por Fong Chi Keong, presidente da associação, com os funcionários do hospital e membros da organização. Estes teriam de concordar que o refe-rendo civil é “ilegal”, bem como aceitar o programa político de Chui Sai On.

ASSOCIAÇÕES INQUÉRITOS APRESENTADOS A CHUI SAI ON

Quem concorda com o quê?Várias associações tradicionais entregaram ao candidato a Chefe do Executivo inquéritos sobre o que deve e não deve ser feito em Macau

COUTINHO QUER APROVEITAMENTO DE QUALIFICADOS

Talentos sem alento

grama político de Chui Sai On”. As conclusões foram retiradas de um total de 10.270 opiniões apresentadas.

O mesmo inquérito fala ainda do referendo civil, referindo que é dado apoio ao conceito Um País, Dois Sistemas. “Algumas asso-

ciações estão a trocar o conceito da política e sem uma base legal tentam fazer um referendo civil. Esta acção é contra a Lei Básica e Constituição (do país)”, pode ler-se na proposta.

“Estamos absolutamente contra esta acção que traz con-fusão à sociedade, especialmente os mais velhos, que sabem o que aconteceu no período de transi-ção. Os dias de hoje são preciosos e não aceitamos que alguém venha perturbar a sociedade. Estão a levar os mais jovens para o caminho errado”, afirmou o presidente da ACKMM. Em relação à detenção de voluntários do referendo civil, a associação considera que a polícia fez uma “acção justa e legal”.

OUTRAS VOZES Da parte das mulheres, a AGMM entregou os resultados do inquéri-to feito a 12 mil membros, estando os pedidos a Chui Sai On focados nas políticas de habitação e trân-sito, a criação de mais serviços de creches e lares de idosos, bem como medidas para combater a inflação.

Já a associação que defende os direitos dos cegos considera que a política de dar dinheiro às instituições de reabilitação não é suficiente. “Devem aumentar os recursos e serviços, para que os portadores de deficiência também tenham acesso ao ensino superior e iguais oportunidades de empre-go”, refere a carta assinada por Albert Cheong, presidente da associação.

de trabalho, de modo a que possam exercer funções de acordo com o seu nível de estudos e conhecimento.

“Vai o Governo criar uma estrutura oficial es-pecífica para a recepção e encaminhamentos dos talentos formados no estran-geiro dotados de variadas especialidades para evitar que os referidos talentos sejam desperdiçados ou que tomem a decisão de abando-

nar Macau por falta de reco-nhecimento oficial das suas capacidades?”, questionou Pereira Coutinho.

Sobre este assunto, o de-putado Chui Sai Peng havia referido, em Maio deste ano, que ainda não existe qual-

quer plano concreto para a colocação em prática do mo-delo de formação de talen-tos. O deputado classificou a questão como um “beco sem saída”, justificando que o sector do jogo absorveu a grande maioria dos recursos humanos disponíveis, hoje em dia escasseando pes-

soal qualificado em outras áreas. De acordo com Chui Sai Peng, a formação de quadros bilingues – portu-guês e chinês – é uma das questões mais importantes. “Para promover o desen-volvimento e diversificação da economia, (Macau) não pode ter falta de talentos para as diversas áreas, e especialmente talentos bi-lingues. Contudo, há falta de talentos em Macau, e a maioria dos recursos hu-manos vai trabalhar para a indústria do turismo, do jogo e outros sectores relaciona-dos”, referiu o deputado, há menos de quatro meses.

MAC

AU C

ONCE

LEAR

S

Page 6: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

GONÇ

ALO

LOBO

PIN

HEIR

OHO

JE M

ACAU

6 política hoje macau terça-feira 26.8.2014

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 412/AI/2014-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZHANG LE (Portadora do Passaporte da R.P.C. n.° G43776xxx), que na sequência do Auto de Notícia n.° 10.1/DI-AI/2012 de 07.02.2012, levantado pela DST, por quem angariar pessoa com vista ao seu alojamento na fracção autónoma situada na Rua de Xiamen n.° 18-G, Edifício Nam Fong, 16.° andar I, Macau e utilizada para a prestação ilegal de alojamento, bem como por despacho da signatária de 20.08.2014, exarado no Relatório n.° 700/DI/2014, de 28.07.2014, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $20.000,00 (vinte mil patacas), nos termos do n.° 2 do artigo 10.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma. ---------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro e no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. --------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício �Centro Hotline�, 18.° andar, Macau. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 20 de Agosto de 2014.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

PUB

Início das inscrições: 11 de Agosto de 2014Fim das inscrições: 12 de Setembro de 2014

Em relação aos Regulamentos Desportivos das corridas, favor de redigir à Página Electrónica do Grande Prémio de Macau:www.macau.grandprix.gov.mo

Local das inscrições: Associação Geral de Automóvel de Macau - ChinaAvenida da Amizade, n.° 207,

Edifício do Grande Prémio

Horário de funcionamento: De Segunda-feira a Sexta-feira, das 09:30hàs 13:00h, 14:30h às 18:30h.(excepto aos Sábados, Domingose feriados Públicos)

Para informações poderá ligarpara o seguinte número de telefone:(853) 28726578

INSCRIÇÕES PARA AS PROVAS DO 61.º GRANDE PRÉMIO DE MACAU

FLORA [email protected]

O dia de campanha de Chui Sai On ficou ontem marcado por mais um encontro com

membros da Comissão Eleitoral, desta vez com aqueles que perten-cem ao sector industrial, comercial e financeiro. A indústria do jogo e a reforma política acabariam por dominar o debate.

Fong Chi Keong, deputado no-meado à Assembleia Legislativa (AL), empresário da construção civil e presidente de uma asso-ciação do mesmo sector, sugeriu que mais pessoas de diferentes sectores participem na política, incluindo em cargos do Governo, por forma a “criar um mecanismo justo de participação na política”.

CINCO ANOS COMCROUPIERS LOCAISChan Sio Hong, da Associação Comercial de Macau, disse que a promessa do candidato em não importar trabalhadores para o cargo de croupier é uma política “atrasada”. “Para além de agravar a pressão dos outros sectores ao nível dos recursos humanos, não beneficia a promoção dos jovens no mercado de trabalho. O novo Chefe do Executivo terá de rever as políticas quanto a esse assunto.” Mas Chui Sai On não concordou. “Não concordo que isso vá influenciar a promoção dos jovens, nem com a ideia de que a importação de croupiers faça com que os jovens fiquem desapontados porque têm de escolher outro emprego. Prevejo que esta política se mantenha nos próximos cinco anos”, frisou.

Em mais um encontro da campanha de Chui Sai On, o deputado nomeado pede que mais profissões estejam representadas no Executivo. Chan Weng Lam pediu um abrandamento no desenvolvimento do sector do jogo

CE2014 FONG CHI KEONG PEDE MAIS PROFISSÕES NA ADMINISTRAÇÃO

Jogo, não residentes e outras políticas“Não acho que ainda haja uma expansão. No passado a economia desenvolveu-se muito por causa deste sector, mas acho que as receitas do jogo vão entrar numa fase estável e é normal existir um ajustamento”

“Será um tema importante para pensar e analisar, para fazer com que mais residentes de várias classes possam participar na política”CHUI SAI ON

O deputado questionou ainda Chui Sai On quanto à promoção do desenvolvimento de uma economia diversificada através das cooperações com Guangdong e Zhuhai.

Chui Sai On mostrou concor-dância. “Será um tema importante para pensar e analisar, para fazer com que mais residentes de várias classes possam participar na políti-ca”, disse, frisando que o Governo anterior já fez esforços para que as Pequenas e Médias Empresas (PME) locais entrem no mercado chinês.

ARREFECIMENTO PRECISA-SEChan Weng Lam, presidente da Associação Comercial e Profis-sional de Desenvolvimento Predial de Macau, disse que a indústria do jogo tem estado em expansão,

mas pediu medidas ao próximo Governo para “arrefecer” o sector, uma vez que os restantes sectores de actividade podem sofrer con-sequências.

Chui Sai On deu uma resposta semelhante à que já tinha dado aquando da apresentação do pro-grama eleitoral. “Não acho que ainda haja uma expansão. No passado a economia desenvolveu--se muito por causa deste sector, mas acho que as receitas do jogo vão entrar numa fase estável e é normal existir um ajustamento. O problema é que se o sector ficar congelado, podem existir riscos e será uma dificuldade para o Governo. A indústria e as receitas são grandes, o número de traba-lhadores é enorme. Espero que o sector se possa desenvolver de forma saudável, mas mantendo um plano de desenvolvimento”, apontou o candidato.

Chui Sai On disse ainda que o Executivo pouco pode fazer na área dos investimentos privados. “É impossível que o Governo garanta a segurança dos investimentos, não temos essa capacidade. Os investi-dores devem fazer uma análise das empresas, mas isso não depende da Administração nem das suas políticas”, frisou.

AMBROSE SO PERGUNTA SE GOVERNO VAI CEDER TERRENOSO director executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e membro da Comissão Eleitoral, Ambrose So, voltou a falar da medida anunciada por Chui Sai On no seu programa político. “Na revisão das licenças devem ser considerados os elementos jogo e não jogo. Além disso, disse no seu programa político que as operadoras se devem responsabilizar-se pelo alojamento e transporte dos não residentes. Isso significa que o Governo vai conceder terrenos para construir esse alojamento?”. Contudo, Chui Sai On não deu qualquer garantia, frisando que as empresas devem, de facto, assumir essas responsabilidades.

Page 7: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

7SOCIEDADEhoje macau terça-feira 26.8.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

“T ODOS os estudantes de licenciatura pertencem a uma residência estudan-til”. A frase consta no

regulamento do novo campus da Universidade de Macau (UM) na Ilha de Hengqin, e serve de intro-dução à novidade introduzida este ano lectivo. Todos os alunos que entrem pela primeira vez na UM, independentemente de serem de Macau, do exterior ou do continen-te, têm de viver nas residências no primeiro ano do curso.

“Para o ano lectivo de 2013\14, os estudantes têm a opção de escolher se querem viver nas residências estudantis. Mas os estudantes admitidos no ano académico de 2014\2015 têm de viver nas residências no primeiro ano académico, sendo este um dos requisitos para a graduação. Os estudantes dos anos seguintes podem escolher se querem viver nas residências”, pode ler-se no regulamento, disponível no web-site da universidade.

O HM sabe do exemplo de uma aluna que possui residência na Taipa, onde vive com a famí-lia, e que se mudou esta semana para o novo campus. Jacky Wong, caloiro do curso de Direito, parti-lha o quarto e diz não concordar com esta medida, apesar de, até agora, tudo estar a correr bem. Só se queixa de uma coisa. “Os autocarros deveriam passar com maior frequência. Mas o primeiro dia foi bom”, disse ao HM.

No mesmo regulamento, a UM explica a decisão no regu-lamento, defendendo que “as residências permitem os estu-dantes experienciar uma vida académica preenchida, que os motiva a aprender uns com os outros”. O novo campus terá

CADA RESIDÊNCIA COM AS SUAS REGRAS

Os alunos locais têm de viver em residências no novo campus da Universidade de Macau no primeiro ano de licenciatura, mesmo que tenham casa no território. Dois tutores dizem que a nova medida serve para queos estudantessejam mais independentes

UM CALOIROS LOCAIS OBRIGADOS A VIVER NO NOVO CAMPUS

Prova de maioridadeentre oito a doze residências, que albergarão entre 400 a 500 alunos cada uma.

EM NOME DA INDEPENDÊNCIACada residência tem um “mestre”, responsável pelos alunos. Ted Qiang, vindo da China, está a frequentar o mestrado em tradu-ção de inglês-português, depois de uma licenciatura no Instituto Politécnico de Macau (IPM). Em

declarações ao HM, diz concordar com esta nova medida, lembrando que, no velho campus, eram raros os alunos de Macau que optavam por viver numa residência.

“É importante fazer com que os

estudantes sejam independentes. Todos os estudantes podem estudar à sua maneira em vez de viverem com as suas famílias. Penso que a universidade também pretende que os estudantes locais se relacionem

mais com os estudantes da China, para fomentar a ligação de diferen-tes culturas e aprendam entre si, o que é importante”, disse ao HM.

Ted Qiang explicou ainda que muitas vezes os alunos têm de saltar de aula em aula consoante as disciplinas que estejam a estudar, o que não ajuda à ligação entre alunos de uma turma.

Kaman Chan, também “mes-tre” de uma residência, defende esta medida. “Penso que é bom para os alunos de Macau terem experiências diferentes em relação à escola secundária. Na verdade eles podem deixar a residência e ir a casa como de costume, não há nenhuma regra que os proíba de ir a casa”, disse a estudante ao HM.

No arranque de mais um ano lectivo, muitos alunos já começaram a mudar-se para Hengqin, apesar de, como disse Ted Qiang, nem tudo estar ainda a 100%. “Vivemos numa espécie de ilha isolada e a distância é grande em relação ao sítio onde os estudantes vivem”, apontou o aluno de mestrado. “As infra-estruturas ainda estão no caminho para estarem totalmente concluídas e equipadas. Mas temos um supermercado, um banco, cabines telefónicas. Então é conveniente para os estudantes”, disse ainda Ted Qiang. Em relação às regras de convivência nas residências, o estudante explica que variam. “Cada master da residência tem a sua própria maneira de pensar e trabalhar e há diferentes regras para estudantes. Algumas residências

pedem que os locais partilhem quarto com os estudantes do continente, enquanto que outras não pedem isso. Por exemplo, na residência que estou a gerir não obrigamos a que os estudantes locais e do continente tenham de partilhar um quarto. Permitimos que dois locais partilhem um quarto, e outros dois estudantes da China partilhem outro, mas devem viver no mesmo apartamento”, garantiu. Ted Qiang frisou que ainda não recebeu queixas sobre o facto dos locais terem de se mudar para Hengqin. “Estou no curso de mestrado e a maioria dos alunos tem um trabalho, por isso temos aulas ao final do dia. Muitos têm queixas quanto à localização e distância entre edifícios, sentem-se completamente perdidos”, concluiu.

8-12residências

400-500alunos em cada uma

Page 8: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

8 sociedade hoje macau terça-feira 26.8.2014

LEONOR SÁ [email protected]

O ano lect ivo 2014-2015, que começa já em Setembro, traz

mais vagas para os cursos de licenciatura em língua portuguesa e espanhola e mestrados em Ensino do Português e Espanhol, que são agora mais duas do que anteriormente, totalizando doze. Foram ainda abertas mais cinco vagas ao abrigo do Plano de Financiamento para a Frequência de Cursos de Docência de Português e de Línguas, que é destinado a professores locais. Segundo o comunicado da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), está ainda planeada a realização de mais de 400 acções de formação para docentes dos ensinos primário, básico e secundário.

Estas medidas foram anunciadas ontem em comu-nicado, onde a DSEJ lembrou ainda a chegada da reforma do sistema educativo não su-

O deputado Leong Veng Chai questionou o Governo acerca da

liberalização do mercado das telecomunicações, detido pela Companhia de Telecomunica-ções de Macau (CTM), através de um acordo assinado entre o Governo e a empresa, em Novembro de 2009. Segundo o Contrato de Concessão do Serviço Público de Telecomuni-cações, a CTM, após 2011, teria

João Francisco Pintonovo presidente da ABUO director de Informação e Programas dos Canais Portugueses da TDM, João Francisco Pinto, foi eleito o novo presidente do News Group da ABU (Asia Pacific Broadcasting Union). Segundo a Rádio Macau, a votação decorreu durante uma reunião de três dias realizada na semana passada em Istambul. Conquistando a unanimidade dos mais de 50 participantes da ABU, foram também eleitos Kenji Kohno da NHK-Japão e Lee Jae-kang da KBS-Coreia para ocupar os lugares de vice-presidentes. O novo presidente irá cumprir um mandato de três anos e será responsável pela gestão da plataforma de troca de notícias que agrega 30 televisões da Ásia cobrindo uma região que se estende do Médio Oriente até ao Pacífico.

2,5mil milhões de patacas

para os três principais

subsídios escolares

EDUCAÇÃO GOVERNO DÁ MAIS DINHEIRO PARA A FORMAÇÃOO subsídio atribuído no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo para este ano lectivo vai ser de 6000 patacas, mais mil do que no ano anterior. Esta ajuda financeira destina-se a residentes locais que pretendam aprofundar os seus conhecimentos nas mais variadas áreas, podendo ser paga a propina de um curso superior, por exemplo. O aumento do valor está a ser pensado desde o ano passado e foi finalmente anunciado ontem, num comunicado dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), sobre a reformulação do ano lectivo. “A DSEJ desenvolverá uma série de trabalhos de optimização, incluindo o melhoramento e optimização do mecanismo de apreciação, autorização e fiscalização, a fim de elevar o sucesso da aplicação”, lê-se no comunicado.

Os Serviços de Educação e Juventude prevêem um ano 2014-2015 cheio de novidades, começando com a implementação da já conhecida reforma educativa, que engloba alterações no plano curricular e mais horas de aulas. Para além disto, as vagas em cursos de licenciatura e mestrado em línguas vão aumentar

DSEJ MAIS VAGAS E MAIS FINANCIAMENTOS

De tudo um pouco

CTM LEONG VENG CHAI QUESTIONA FALTA DE LIBERALIZAÇÃO

Monopólio para todosde transferir todos os activos dessa mesma concessão, isto é, tudo o que está relacionado com a prestação dos serviços públicos de telecomunicações.

“Após a liberalização de alguns serviços da CTM, as receitas fiscais passaram de 9% para 5%, portanto, mesmo com a liberalização do merca-do das telecomunicações, as receitas fiscais não aumen-taram, por isso, o público

entende que o mercado das telecomunicações ainda não foi totalmente liberalizado”, defende o deputado.

Posto isto, Leong Veng Chai pretende que o Executivo esclareça quais os planos que tem para a questão apresentada. O deputado pergunta assim ao Governo se este irá “definir polí-ticas e medidas sobre a utilização dos activos pelas operadores, por forma a criar um ambiente con-correncional justo”, lançando ainda a questão se o Executivo irá disponibilizar esses mesmos activos às actuais operadores.

Os activos da Concessão em causa incluem as condu-tas subterrâneas, instalações, tais como, redes locais, redes ópticas internacionais, entre outros. - Hoje Macau

perior, conhecida em meados deste ano. A uniformização do currículos de estudos, a extensão do período lectivo

para 195 dias, a obrigatorie-dade de prática desportiva e a implementação de taxas fixas de chumbos permitidos são apenas algumas das medidas do Executivo.

NINGUÉM FICA DE FORADe entre as várias medidas estão algumas destinadas a facilitar a vida dos pais de alunos do ensino especial,

incluindo a oferta de refei-ções saudáveis e o transporte gratuito de casa para a escola. Também os alunos que aban-donaram o ensino terão mais apoios por parte do Governo, com a abertura de mais nove centros de aconselhamento pedagógico. A DSEJ estima ainda que haverá cerca de 212 profissionais desta área a prestar apoio nas mais de 500 escolas de Macau. Os Servi-ços de Educação e Juventude avançaram ainda que está planeada a realização de um estudo sobre os indicadores de avaliação da política de juventude em Macau, bem como a criação de actividades de fomento ao voluntariado.

CONTAS FEITASDe acordo com os dados da DSEJ, foram gastas quase 2,5 mil milhões de patacas

nos três principais subsí-dios escolares. Os números incluem 180 milhões no subsídio de aquisição de manuais escolares (mais de 15% do que no ano lectivo anterior), 520 milhões no

de propinas, que aumentou 6,4% e, finalmente, mais de mil milhões de patacas no financiamento de escolari-dade gratuita – que cresceu quase 9% em relação ao período homólogo.

Page 9: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

MÃO-DE-OBRA CONTINUAA FALTAR

9 sociedadehoje macau terça-feira 26.8.2014

A falta de mão-de-obra

em Macau continua a

ser um problema no

território. Isso mesmo

confirmam os dados dos

Directores dos Serviços

de Estatísticas e Censos

(DSEC), divulgados

ontem, que mostram

que ficaram vagas por

preencher nos vários

sectores alvos do

inquérito realizado pela

entidade.

Contrariando a

tendência, o sector

do jogo foi a única

área que registou uma

melhoria no final do

mês passado, com

menos 62 vagas por

preencher do que no

período homólogo de

2013, ficando assim

com 1529 postos por

completar. O lugar

por preencher que

apresentou a maior

descida foi o cargo de

croupier, com menos

319 postos.

Por sua vez, o sector

“comércio por grosso

e a retalho”, deixou em

aberto um total de 5762

vagas, mais duas mil

vagas do que em Junho

do ano passado, das

quais 3600 pertenciam

à área do comércio a

retalho.

Também a área das

“actividades de

segurança” registou

um aumento no número

de vagas por preencher,

fixando-se nos 281

postos.

Em jeito de análise,

a DSEC afirma que

“a taxa de vagas

permaneceu elevada,

o que significa que

a perda de recursos

humanos não melhorou

expressivamente nestes

sectores”.

U M inquérito levado a cabo pela Direc-ção dos Serviços de Estatísticas e

Censos (DSEC) dedicado às necessidades de mão--de-obra e às remunerações mostra que, de forma geral, o número de trabalhadores aumentou, assim como a remuneração média.

Em estudo estiveram cinco áreas profissionais: lotarias e jogo; comércio por grosso e a retalho; transportes, armazenagem

TNR SÃO 40% DA POPULAÇÃO ACTIVAIDIOMAS E FORMAÇÃO No mesmo estudo é possível constatar ainda que para além do cantonense, o mandarim e o inglês são idiomas expressivamente exigidos nos vários sectores. Na área das lotarias e outros jogos de aposta 85,5% das vagas requer o mandarim e 72,1% o inglês. Também o sector do comércio a retalho exige o mandarim em 85% das suas vagas e a língua inglesa em mais de 62% dos postos disponíveis. No que diz respeito à formação, os dados indicam que mais de 36 mil pessoas, dos diversos sectores, participaram em cursos de formação, onde se destaca o sector do jogo que ultrapassou os 50% do bolo total de formandos.

DSEC MAIS TRABALHADORES E MAIORES SALÁRIOS

Acerto de contase comunicações, actividades de segurança e actividades de tratamento de resíduos sólidos e líquidos públicos.

Agora divulgados pela DSEC, os dados indicam que foi na área de segurança que o número de traba-lhadores mais aumentou no segundo trimestre do presente ano, registando uma subida de 23,7% em termos anuais. Seguem-se os trabalhadores do comér-cio por grosso e a retalho que atingiram os 48.717

funcionários, isto é, mais 14,2% comparativamente ao período homólogo do ano passado. Neste sec-tor, que atingiu os 48.717 funcionários, um total de 30.859 trabalham no comércio a retalho. Com um aumento de apenas 4% estão os profissionais da área dos transportes, armazenagem e comunica-ções, e logo atrás ficaram os trabalhadores do sector da lotaria e jogo com uma subida de 3,5%, ultrapas-

sando os 57 mil funcioná-rios, onde mais de 25 mil são “croupiers”.

O sector das actividades de tratamento de resíduos sólidos e líquidos públicos foi o único a apresentar um decréscimo no número de trabalhadores, registando apenas 723, ou seja, menos 1,2%, em termos anuais.

REMUNERAÇÕESNo que diz respeito às remu-nerações médias, os dados divulgados permitem perce-ber que todas os sectores em estudo registaram uma subida.

Entre os 11% e 12% estão os sectores dos transportes, armazenagem e comuni-cações e as actividades de segurança que se fixaram nas 19.200 patacas e as 9.770

O número de trabalhadores não residentes (TNR) de Macau representa 40% da população activa do território, conforme indicam dados tornados públicos ontem. Segundo o Gabinete para os Recursos Humanos, o número de trabalhadores do exterior que faz parte do mercado de trabalho fixa-se nos 158,234 mil, isto é, 40,5% da população activa e um quarto da população total de Macau. Os números agora divulgados mostram que o território

recebeu uma média de 98 TNR por dia que ao final de um ano se manifestou num aumento de mais de 36 mil trabalhadores. No que diz respeito à origem, os TNR do interior da China são os que atingem grande parte da fatia do bolo, registando um total de 64,6%, ou seja mais de 100 mil trabalhadores. Os filipinos ocupam o segundo lugar da tabela com mais de 20 mil TNR, seguindo-se os vietnamitas com cerca de 13 mil.

patacas, respectivamen-te. A remuneração média (excluindo os prémios e subsídios) dos trabalhado-res, a templo completo, no sector do jogo, atingiu as 20.160 patacas em Junho de 2014, aumentando assim 6,7% comparativamente a Junho de 2013, exactamen-te o mesmo aumento que a remuneração média dos trabalhadores do comércio por grosso e a retalho que se cifrou nas 11.800 patacas.

Sem conseguir atingir as 15 mil patacas de remuneração média estão os trabalhadores do sector das actividades de tratamento de resíduos sólidos e líquidos públicos, que apesar de um aumento de 4,7% se fixaram nas 14.780 patacas. - Hoje Macau

Page 10: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

10 CHINA hoje macau terça-feira 26.8.2014

LINGLING WEI E BOB DAVISThe Wall Street Journal

Q UANDO Wang Qi- shan, chefe do apa-relho anti-corrupção do Partido Comunista

da China e principal caçador de corruptos do país, enviou dezenas de investigadores à cidade de Nanchang, no ano passado, a sua mensagem foi clara: os investiga-dores deveriam causar “choque e pavor” entre as autoridades locais, segundo uma declaração colocada no website do governo.

Em poucos dias, centenas de moradores faziam fila para contar as irregularidades das autoridades corruptas locais. As queixas chega-ram também pela internet, segundo algumas fontes.

Yang Peng, dono de um res-taurante, disse aos investigadores que foi preso e torturado por causa da sua ligação a um inimigo de um importante funcionário local acusado de facilitar a venda de uma empresa siderúrgica em troca de subornos. “Foram sete meses infernais”, disse ao “The Wall Street Journal”. Um ano depois, o funcionário foi demitido e colo-cado sob investigação pela equipa anti-fraude de Wang.

O Partido Comunista da Chi-na está a realizar o mais amplo combate à corrupção desde que o país abriu a economia em 1978, medida que tirou milhões de chi-neses da miséria, mas que também permitiu que membros do partido acumulassem fortunas através de ligações políticas.

CASO SÉRIOA repressão - iniciada em 2012 - é supervisionada por Wang, de 66 anos, um dos sete membros do Comité Permanente do Politburo e amigo do chefe do partido, Xi Jinping, desde que os dois foram banidos para a região de Yan’an durante a Revolução Cultural.

A escolha de Wang, conhecido como um dos líderes seniores mais experientes e eficientes, é uma indicação da seriedade com que Xi está a lidar com a repressão,

A figura que lidera o combate à corrupção na China é um velho amigo de Xi Jinping,desde os temposem que foram banidos para a região de Yan’an durante a Revolução Cultural

CORRUPÇÃO O HOMEM POR DETRÁS DA GUERRA

Terapia de choque

mesmo sabendo que o combate anti-corrupção pode afectar a economia da China.

Wang já fez um impressionante número de vítimas: colocou sob investigação Zhou Yongkang, ex--chefe do aparelho de segurança chinês e membro do Comité Per-manente do Politburo; Xu Caihou, um dos principais generais do exér-cito; e Jiang Jiemin, alto executivo do sector estatal de petróleo, que foram detidos, mas não acusados.

Desde o início da campanha anti-corrupção, dezenas de au-toridades com cargos de vice--ministro ou ainda mais elevados foram detidos sob alegação de corrupção. Só em 2013, cerca de 182.000 membros do partido foram investigados, segundo cálculos do professor de direito Jiang Ming’an, da Universidade de Pequim, contra os cerca de 10.000 a 20.000 inves-tigados por fraude no ano antes de Xi assumir o poder, em 2012.

Até agora, a campanha parece

estar a ser popular na China. Se-gundo uma investigação feita em 2013 pelo “Pew Research Center”, de Washington, 53% dos chineses viam a corrupção como “um grande problema”, contra 39% em 2008. “Os líderes sabem que se não aca-barem com a corrupção massiva, o regime ficará arruinado”, diz Huang Jing, especialista em China da Uni-versidade Nacional de Singapura.

A OUTRA FACE DA MOEDAMas a repressão tem os seus críticos. Alguns observadores dizem que está a ajudar Xi a livrar-se de pessoas que poderiam tornar-se seus rivais e limitar a sua autoridade. E alguns grupos de direitos humanos alertam

que alguns dos investigados estão a ser isolados, sem acesso a advogados ou familiares. As tácticas usadas para as confissões também estão a ser criticadas. Seis investigadores chineses foram condenados por afogar uma autoridade local durante um interrogatório, o que levou Wang a encorajar a sua equipa a depender mais de análise de dados e não de confissões, dizem as autoridades chinesas.

Nem todas as milhares de pessoas investigadas enfrentam acusações sérias. Segundo Jiang, cerca de 25.000 pessoas foram pu-nidas por terem um “estilo de vida extravagante”, como usar recursos públicos para comprar carros de luxo ou pagar grandes funerais, o que, segundo Jing, não é conside-rado um crime. As punições são advertências, rebaixamentos ou demissões. Para casos de crime, a pena pode ser a prisão perpétua.

Wang não pode ser contactado para comentar este artigo. Os assesso-

res de imprensa da Comissão Central de Inspecção Disciplinar, que chefia, e do Conselho de Estado, também não quiseram comentar.

A actuação de Wang pode gerar oposição entre as autoridades do partido que se preocupam com os danos para economia da China e para a reputação dos líderes do país.

Lu Ting, economista chinês do Bank of America Corp., estima que a repressão está a cortar cerca de 0.6 a 1.5 pontos percentuais ao produto interno bruto da China deste ano, com a queda na venda de produtos e imóveis de luxo, transacções que poderiam atrair a atenção dos inves-tigadores de Wang. Os investimentos públicos foram também reduzidos porque os governos locais temem que novos projectos suscitem mais acusações de corrupção.

A longo prazo, dizem os eco-nomistas, o combate à corrupção produz ganhos económicos porque os recursos públicos são investidos de forma mais eficiente. Prender altos executivos das empresas esta-tais também pode ajudar a coibi-los de tentar bloquear os planos de Xi de introduzir mais competitividade nos sectores dominados por essas estatais.

WANG , O JUSTICEIROPara evitar que as investigações sejam resolvidas localmente, Wang tem exigido que os investigadores locais comuniquem as suas desco-bertas ao seu escritório em Pequim. As equipas de Wang vasculham também registos de transacções financeiras locais e internacionais em busca de activos escondidos e outras provas de irregularidades. Foi criado um novo departamento para trabalhar com governos es-trangeiros para caçar autoridades corruptas chinesas no exterior.

Wang é apelidado de “o bom-beiro” pela média chinesa devido à sua longa experiência em lidar com emergências. Os seus fãs colocam mensagens nas redes so-ciais comparando-o a uma figura histórica chinesa, o justiceiro Bao, que castigava pessoas poderosas corruptas. Estes destacam frequen-temente que Wang é casado, mas não tem filhos e, pela lógica local, tem menos incentivos para roubar e enriquecer a família.

Em 2003, por exemplo, Wang foi convocado para combater a epidemia da síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês, tendo ajudado a conter o pânico ao aparecer na televisão vi-sitando mercados e hospitais. Como presidente da Câmara de Pequim, Wang ajudou a organizar os Jogos Olímpicos de 2008. Promovido a vice-primeiro-ministro responsável pelas relações económicas em 2008, assegurou aos Estados Unidos e à Europa que a China continuaria a comprar os seus títulos soberanos durante a crise financeira global, uma medida importante para impul-sionar a confiança. As autoridades

182.000membros do partido investigados

em 2013

Page 11: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

11 chinahoje macau terça-feira 26.8.2014

PUB

Muitas férias por gozarMais de 80% das 1.000 pessoas que responderam a um inquérito online do “Chongqing Morning Post” disseram que não conseguiam que os seus empregadores lhes deixassem gozar as férias a que tinham direito, avançou o jornal. Além disso, 13% dos inquiridos afirmaram que não desfrutavam de nenhumas férias anuais. As respostas fazem parte de um inquérito sobre as datas e destinos de viagens dos habitantes de Chongqing.

Dongyuan Disparo mortalInvestigadores decretaram que um polícia que matou um toxicodependente a tiro em Dongyuan, na província de Guangdong, agiu em defesa própria, segundo o “Guangzhou Daily”. A polícia foi chamada quando o indivíduo começou a atacar pessoas com uma faca, no mês passado, sendo o polícia forçado a usar a sua arma depois de ser atacado.

Nanjing Ténia no cérebroMédicos de um hospital em Nanjing removeram uma ténia do cérebro de uma mulher que sofria de tremores e desmaios desde o principio do ano, anunciou o “Yangtse Evening Post”. A mulher, uma estudante universitária em Suzhou com 20 anos de idade, foi diagnosticada com epilepsia quando desenvolveu os primeiros sintomas, só vindo a descobrir a verdadeira razão quando se submeteu a exames médicos em Nanjing no início deste mês. Os médicos indicaram que a paciente pode ter comido vegetais ou carne de porco contaminada com ovos de ténia, vindo esta a se alojar no seu cérebro depois de viajar pelo sistema sanguíneo. A mulher foi entretanto permitida a regressar a casa onde está a recuperar.

A central de ciclo com-binado do Soyo, na província angolana

do Zaire, vai custar 985.2 milhões de dólares, com a construção a cargo de uma empresa chinesa, segundo um despacho presidencial a que a Lusa teve ontem acesso.

A informação consta do despacho presidencial 154/14, de 11 de Agosto, que justifica este investimento com as “projecções de crescimento da procura de energia eléctrica no país” no médio e longo prazo.

O contrato em causa prevê um investimento de

americanas dão-lhe crédito pelo iní-cio da flutuação do yuan em Junho de 2010, uma medida desejada há muito tempo pelos EUA.

Wang continua a reunir-se com importantes autoridades americanas e internacionais. Nestes encontros não entram gravatas, tem poucos assessores e as discussões focam-se sobre os contornos mais amplos da economia global, dizem os partici-pantes. O responsável usa também o tempo para explicar a campanha anti-corrupção, que preocupa os EUA por criar a possibilidade de prejudicar a economia chinesa.

Lidar com Wang pode ser enlouquecedor, dizem as autori-dades ocidentais, porque este tem uma língua afiada. Num encontro com líderes empresariais europeus durante a crise financeira, Wang disse que as suas queixas não fa-ziam diferença porque sabia que, de qualquer forma, iriam sempre investir na China, dizem partici-pantes da reunião.

Wang também deixa claro em declarações públicas a autoridades do partido que acha a repressão uma medida temporária até que a China melhore o seu sistema jurídico e de investigação. Mas, por enquanto, os investigadores continuarão a concentrar-se em casos individuais de corrupção.

Angola Chineses constroem central de ciclo combinado985,2 milhões de dólares e será celebrado, segundo esta autorização presidencial, entre o Ministério da Energia e Águas e a empresa chinesa “China Machinery Enginee-ring Corporation” (CMEC).

O crescimento nacional leva à “necessidade de expan-são acentuada da capacidade de produção” de electricidade no país, lê-se ainda no despa-cho assinado pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Daí a “importância fun-damental” da construção desta central, que vai produzir

electricidade através de gás natural angolano e que pro-porcionará “vários benefícios e uma contribuição significa-tiva para o desenvolvimento económico e social do país”, acrescenta o despacho.

Além de aprovar o pro-jecto da central de ciclo combinado do Soyo, no norte de Angola, o despacho, que entrou em vigor a 11 de Agosto, valida igualmente a minuta do contrato de construção e instalação desta infra-estrutura, na modalida-de “chave-na-mão”, com o grupo CMEC. - Lusa

Page 12: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

12 hoje macau terça-feira 26.8.2014EVENTOS

O Instituto para os Assuntos Cívi-cos e Munici-pais, em colabo-

ração com o Museu de Artes e Ofícios de Xangai, apresenta a exposição “Dança de Luz e Sombras” nas Casas-Museu da Taipa entre 27 de Agosto e 14 de Setembro.

A mostra de lanternas de flor reúne 46 obras distintas, 18 da autoria de He Keming e 28 criadas individualmente por quatro dos seus her-deiros – Xiao Pinjiang, Lu Xiezhuang, Liu Yi e He Weifu

As lanternas de flor têm sido popularizadas a par do desenvolvimento das artes e costumes populares, sendo usadas durante festivais tradicionais, casamentos e celebrações para realçar a atmosfera festiva. O costume levou ao desenvolvimento de várias técnicas de execução de lanternas, em diferentes regiões. Existe uma grande variedade de padrões, co-

P ARA celebrar o 65º aniversário da República Popular da China, o Grupo Acrobático da Província de Shandong

vai apresentar o espectáculo “Lenda da Mon-tanha” no Fórum de Macau, nos dias 30 de Setembro e 1 de Outubro, pelas 20:00 horas.

O espectáculo de acrobacia misturada com drama, música e novas tecnologias retrata uma história de amor entre um ser humano e o espírito de uma raposa. Esta lenda da Dinastia Qing, em que o mundo etéreo colide com a realidade humana, retrata a luta entre o bem e o mal e a força do amor, que não tem limites.

O Grupo Acrobático da Província de Shandong, que vai trazer 80 participantes a Macau, foi fundado em Junho de 1959. Durante a década de 90 começou a actuar extensivamente no estrangeiro, tendo até à altura visitado mais de 40 países.

Durante os seus mais de 50 anos de car-reira, o grupo acumulou também uma série de prémios nacionais e internacionais. São de realçar os três prémios “Gold Clown” recebidos no Festival Internacional de Circo de Monte Carlo (em 1984, 1997 e 2010), o prémio “Golden Lion” do Festival Interna-cional de Acrobacia de Wuqiao (em 1995) e o prémio “Bronze Bear” do Festival Inter-nacional de Circo de Moscovo (em 1996). Em 1998, o grupo deslocou-se à Europa para participar nas cerimónias de abertura do filme “Mulan” da Walt Disney, e mais recentemente participou na 84º edição dos

Óscares, realizada em 2012. Detém ainda um recorde no Livro Guinness dos Recordes pela sua pirâmide humana em cima de uma bicicleta.

DOIS MIL ANOS DE HISTÓRIARegistos históricos, assim como gravuras e murais encontrados em sepulturas da Dinastia Han em Chendu, revelam que a acrobacia chinesa está presente no país há mais de dois milénios. A arte prosperou durante a Dinastia Qin e atingiu o seu ápice durante a Dinastia Huan, vindo a ser conhecida como o “Espectáculo dos Cem Talentos” devido às diversas modalidades que engloba, que vão desde o malabarismo ao equilibrismo.

Depois da criação da República Popular da China em 1949, a acrobacia recebeu um grande apoio do Governo, que decidiu criar grupos acrobáticos em todas as províncias, assim como nas principais cidades do país. Nestes grupos, o treino fica a cargo das gerações mais velhas, o que vai garantindo uma infusão de sangue novo.

Os bilhetes para o evento, organizado pelo IACM e pelo Departamento de Cultura e Educação do Gabinete de Ligação, custam 200 patacas e estão disponíveis através da Rede Kong Seng. Contudo, estudantes e idosos, assim como portadores do BIR de Macau que comprem os ingressos antes do dia 12 de Setembro, podem adquirir os bilhetes por apenas 50 patacas cada.

U MA academia de arte de Hangzhou, na costa leste da China, vai cons-

truir um museu desenhado pelo arquitecto português Álvaro Siza Vieira, em par-ceria com o atelier de Carlos Castanheira, disse ontem à Lusa fonte ligada ao projecto.

“O projecto está concluído e as obras já começaram”, confirmou Siza Vieira à agên-cia Lusa, explicando que o

FÓRUM DE MACAU ACROBATAS REVISITAM CONTOS CHINESES

Luta entre o bem e o mal

ACADEMIA DE ARTE ESTÁ A CONSTRUIR MUSEU DESENHADO PELO ARQUITECTO

Siza Vieira desenvolve segundo projecto na Chinafuturo museu terá uma área semelhante ao de Serralves, no Porto.

Esta será a segunda obra de Siza Vieira e Castanheira na China, depois do edifício de escritórios de uma fábrica de produtos químicos de HuaiAn, na província de Jiangsu, que vai ser inaugurada no próximo sábado com a presença dos dois arquitectos portugueses.

O futuro museu, que

deverá estar concluído em 2016, tem cerca de 15.000 metros quadrados, “uma área sensivelmente igual à de Ser-ralves”, adiantou Siza Vieira.

Trata-se de uma encomen-da da China Art Academy de Hangzhou, cuja escola de ar-quitectura é dirigida por Wang Shu, o único arquitecto chinês galardoado com o Pritzker Prize, em 2012. “Temos con-tado com o apoio da equipa de

Wang Sho”, salientou Carlos Castanheira.

Hangzhou é a capital da província de Zhejiang, uma

das mais prósperas da China, pouco maior do que Portugal e com cerca de 55 milhões de habitantes.

O museu desenhado por Siza Vieira irá acolher no-meadamente “uma grande colecção” de peças da famosa escola alemã de arte Bauhaus, fundada em 1919 pelo arqui-tecto Walter Gropius.

O Pritzker Prize, conside-rado o Nobel da Arquitectura,

já foi também atribuído a Siza Vieira, em 1992, e a Eduardo Souto Moura, em 2011, e aos brasileiros Óscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, em 1988 e 2006, respectiva-mente.

Entre os outros arquitectos já distinguidos com o Pritzker Prize figuram I.M.Pei, Frank Gehry, Renzo Piano, Rem Koolhaas, Norman Foster e Tadao Ando. - Lusa

A mostra reúne quase meia centena de obras que ganharam protagonismo em actividades festivas como casamentos e festivais tradicionais e que são actualmente uma forma de artesanato cada vez mais sofisticada

CASAS-MUSEU DA TAIPA LANTERNAS DE FLOR DE XANGAI

O mestre e os seus herdeiros

res e formas de lanternas, integrando este tipo de arte diferentes materiais, artesa-nato e técnicas decorativas, tendo-se tornado, ao longo dos anos, numa forma de entretenimento cultural.

Segundo a organização, as lanternas exibidas em Ma-cau “apresentam estruturas complicadas e abstractas, ricas ornamentações e formas

animadas e vivas, estando ligadas à cultura e artes clássicas da China. Com a passagem de testemunho e o desenvolvimento de geração em geração, as lanternas de flor, de hoje, mostram grande variedade e são uma forma de artesanato cada vez mais sofisticada”.

O MESTREConhecido como o “Rei da Lanternas de Jiangnan”, He Keming (1894-1989) foi pioneiro da arte de lanterna de flor de Xangai. Nascido nessa mesma cidade, dedicou--se a este ofício desde a sua juventude.

Em 1956, ingressou no Instituto de Pesquisa de Artes e Ofícios de Xangai, com 62 anos de idade, para realizar investigações e trabalhos criativos no âmbito da arte das lanternas de flor, que marcou o período de desenvolvimento das “Lanternas de Flor de He Keming”.

Page 13: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

hoje macau terça-feira 26.8.2014 13 eventos

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

“PAUL CÉZANNE”, seguido de “O QUE ELE ME DISSE...” • Joachim Gasquet, Élie FaureÉlie Faure (1873-1937) um médico, mas sobretudo escritor que em jornais, revistas e livros pensava a arte, toda a arte, como “o grande mis-tério da transposição lírica”, e os homens como “construtores” obscuros com um esforço colectivo ignorado, responsável pelo aparecimento dos espíritos superiores no mundo. […] O texto “Paul Cézanne” é de 1914 e está entre os que dedicou a notáveis “construtores do mundo”, ou seja, a autores de “um trabalho de organização esboçado numa sociedade

destruída”. Joachim Gasquet (1873-1921) deixou na literatura francesa uma imagem quase esquecida de poeta lírico, tendo chegado a dizer-se que a mais forte desde Victor Hugo. […] Só era um dia mais velho do que Élie Faure, mas os seus pulmões – roídos pelo gás clorídrico dos ataques químicos da primeira Guerra Mundial – reduziram-lhe a vida a quarenta e oito anos, os últimos passados numa luta sem êxito pela sobrevivência. […] Embora Cézanne fosse amigo de infância do seu

pai, Joachim só o conheceu em Abril de 1896 (o ano do retrato onde hoje o vemos, exposto na Galeria de Arte Moderna de Praga e com um aspecto difícil de associar aos vinte e três anos de idade que nessa altura ele tinha). Entre os dois houve um convívio intenso, os quatro anos de encontros e cartas que veremos reflectidos em “O Que Ele Me Disse…”, aos quais outros se sucederam de relativo afastamento até ao desacordo político que em 1904 definitivamente os separou.

IC Apoio a longas metragens

Cinema Morreu actore realizador Richard Attenborough

O Instituto Cultural (IC) concluiu o processo de

avaliação do Programa de Apoio à Produção Cinemato-gráfica de Longas Metragens 2013, tendo seleccionado para receber financiamento as longas metragens “Sweet Home”, “Cliché”, “The Island of Heart” e “Passing Rain”. Cada candidato apro-vado vai receber um subsídio do IC, no valor máximo de 1.5 milhões de patacas, para a produção e comercializa-ção da sua longa metragem, podendo igualmente contar com pareceres profissionais

dos membros do Painel de Adjudicação sobre a produ-ção e comercialização dos seus filmes.

A iniciativa recebeu um total de dezasseis candidatu-ras, e após um processo de análise dividido em duas fa-ses - análise inicial e segunda análise – viu o seu Painel de Adjudicação seleccionar os quatro projectos benefi-ciários do subsídio: “Sweet Home”, de Choi Ian Sin; “Cliché”, de Ivo M. Ferreira; “The Island of Heart”, de Ho Fei; e “Passing Rain”, de Chan Ka Keong.

O actor e realizador britâ-nico Richard Attenbo-

rough morreu aos 90 anos, disse no domingo o seu filho ao canal britânico BBC.

Attenborough, um dos mais importantes actores do Reino Unido, morreu ao meio-dia de domingo, de acordo com a estação pú-blica de televisão britânica.

O actor e realizador, ir-mão do famoso antropólogo e apresentador de documen-tários David Attenborough, protagonizou filmes como “A Grande Evasão” ou “Parque Jurássico”.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, já prestou homenagem a Richard Attenborough, atra-vés da rede social Twitter, assinalando que morreu “um dos grandes do cinema” e recordando o seu desempe-

nho “brilhante” no filme “O pior dos pecados” (1947) e a realização “surpreendente” de “Gandhi”, filme de 1982 pelo qual ganhou dois Ós-cares de Hollywood.

Segundo o jornal bri-tânico “The Guardian”, Richard Attenborough vivia há um ano num lar de idosos, na zona oeste de Londres, já só se movimentando com o auxilio de uma cadeira de rodas, desde que sofrera um ataque cardíaco que o deixou em coma durante dois dias e do qual nunca recuperou totalmente.

Nascido em Cambridge, em 1923, Richard Atten-borough, que entrou no mundo do cinema logo aos doze anos, era casado com a actriz Sheila Sim, de quem teve um filho e duas filhas. - Lusa

CASAS-MUSEU DA TAIPA LANTERNAS DE FLOR DE XANGAI

O mestre e os seus herdeiros

Ousados e inovadores, os seus trabalhos absorveram a arte da escultura ocidental. As estruturas das armações assumem formas de animais, e

o papel enrugado é envolvido com fios de metal em vez das fibras de bambu tradicionais. Desta forma, a estrutura da ar-mação pode ser mais precisa, e as formas e posturas mais realistas. As suas obras são consideradas o cerne da arte da lanterna de flor de Xangai, tendo mesmo sido incluídas

na Lista de Protecção do Património Cultural Imate-rial Nacional da República Popular da China.

OS HERDEIROSXiao Pinjiang nasceu em Junho de 1936 em Xangai. Ingressou no Instituto de Pesquisa de Artes e Ofícios de Xangai em Novembro de 1956 para aprender a arte sob a orientação de He Keming. Xiao é o aluno mais velho deste mestre, fazendo parte da segunda geração de herdeiros

das “Lanternas de Flor de He Keming”, até se retirar em 1999.

Lu Xiezhuang nasceu em Novembro de 1954 e inscre-veu-se no mesmo instituto em Outubro de 1971, igualmente para estudar com o “Rei da Lanternas de Jiangnan”, tendo sido aclamada herdeira do “Património Cultural Imate-rial de Xangai – Lanternas de Flor de He Keming” em 2008.

Liu Yi, que foi admitida na mesma instituição académica em 2010, trabalha e estuda actualmente sob a orientação de Lu Xiezhuang.

Por último, He Weifu nas-ceu em Xangai em Outubro de 1949 e é neto de He Keming. Em 1983 entrou no Instituto de Pesquisa de Artes e Ofícios de Xangai para estudar esta arte, sendo considerado como parte da terceira geração do mestre.

Page 14: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

14 hoje macau terça-feira 26.8.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS Raquel abi-SâmaRa

Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming, é o nome com que assina seus poemas, escritos tanto em chinês quanto em português. Yao Jingming é o nome com que assina seus ar-tigos e ensaios académicos. Ao traduzir um poema, seja do português para o chinês, ou vice-versa, quem traduz? Yao Jingming ou Yao Feng? A pergunta abrange um aspecto explícito e outro implícito. Com relação ao aspecto explícito: qual o nome do tradutor, nas fichas catalográficas e nas capas dos li-vros de poesia que traduziu do português para o chinês? Com relação ao aspecto im-plícito: é o académico Yao Jingming ou o poeta Yao Feng que actua, quando traduz um poema? Por outras palavras: o que de-termina a qualidade e o bom resultado de uma tradução de poema? O conhecimento específico sobre a teoria da tradução e/ou a experiência do ofício poético (e aqui refiro--me tanto à experiência do poeta quanto do leitor assíduo de poesia)?Então é assim: eu não gosto muito do meu nome chinês quando assino os meus poe-mas. Primeiro, porque é um nome extenso, composto por três caracteres (姚京明), e depois, é um nome tão normal, nada poéti-co, por isso não gosto de usá-lo ao publicar meus poemas em chinês. Mas a comunida-de de língua portuguesa, no caso, conhece Yao Jingming. Por isso publiquei livros de poemas assinados por Yao Jingming, como por exemplo A noite deita-se comigo (Pedra Formosa, Guimarães, 2001). Há dois anos, publiquei In Brief, um livro de poemas meus traduzidos para o inglês por um grupo de estudantes da Universidade de Macau, e usei meu pseudónimo, Yao Feng, para assi-nar não só os poemas como também as fo-tos contidas no livro. Actualmente, quando publico, seja em português ou em chinês, gosto cada vez mais de dar os créditos a Yao Feng. A tradução chinesa que fiz recente-mente do livro do poeta português Eugé-nio de Andrade, Branco no Branco (Livros do Meio, Macau 2012), está com o nome Yao Feng. Mas essa questão dos nomes tem sido realmente um pouco confusa. No início de Junho, fui convidado pela Universidade Nova de Lisboa para participar de um se-minário sobre a minha poesia. O título do evento era: “Uma leitura ecológica dos poe-mas de Yao Feng,in Brief”. No poster de di-vulgação, o título do seminário vinha acom-panhado de uma foto minha. Amigos meus

YAO Jingming1* é professor associado

no Departamento de Português da Universidade de Macau (UM), onde actua sobretudo no Mestrado em Estudos da Tradução (chinês-português). Começou a traduzir literatura de expressão portuguesa na década de 1980, logo após concluir a graduação em Língua Portuguesa no Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim, actual Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. As suas primeiras experiências com tradução de poesia aconteceram também naquele momento, em que se sentia, como vai dizer numa de suas reflexões sobre seu papel de tradutor, corajoso o suficiente para assumir uma tarefa considerada impossível, “tal como diz um provérbio chinês: ‘o bezerro recém-nascido não teme o tigre’. Sem medo, e com um grande entusiasmo pela poesia, dediquei-me de todo o coração ao trabalho como uma formiga a roer um osso duro. Embora duro consegui concretizá-lo” (Jingming: 2011, p. 147). Refere-se à publicação de sua primeira antologia de poetas portugueses, que reuniu Mário Sá-Carneiro, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, entre outros. Esses poetas, conta Yao, “começaram a habitar a língua chinesa pela minha mão ainda frágil. Para eles, será habitável esta terra nova? Não faço a mínima ideia, mas o certo é que eles continuam a respirar ali porque até hoje ainda não apareceu outra versão nova

Yao Jing Ming A poesia, a tradução, a viagem entre culturas

“TEMOS DE EVITARO ESTEREÓTIPO”

que vivem em Lisboa, e que me conhecem como Yao Jingming, dirigiram-se à organi-zação do evento para dizer que havia um erro na divulgação, pois o poeta que apa-recia na fotografia era Yao Jingming, mas o nome que ali constava era de Yao Feng. (Risos). Isto gera muita confusão. Por isso agora tenho a tendência de uniformizar, de passar a assinar, sempre que possível, como Yao Feng. Como poeta chinês, tenho apare-cido sempre com essa “etiqueta”, Yao Feng, uma espécie de marca. (Risos)

Como tradutor de poesia, tem então obras assinadas por Yao Feng e também por Yao Jingming? Em chinês, sobretudo na década de 1980, publiquei várias traduções de poemas, sem-

pre assinadas portanto como Yao Jingming, como é o caso da antologia Uma coletânea de poemas modernos de Portugal (em parceira com Sun Chengao, China Translation & Publishing Corporation, Beijing, 1992). Se calhar, comecei a usar o pseudónimo Yao Feng a partir de 2001. Daí comecei a com-por e a publicar muitos poemas na China continental, e assim os chineses ficaram a conhecer um poeta de Macau que se chama Yao Feng, em vez de Yao Jingming. Aliás, na China ninguém conhece o poeta Yao Jingming. Ah, e para brincar com os leito-res online, em 2003 e 2004, também usei o nome Hei Zhongming, que pode ser tradu-zido literalmente por “Luz dentro da escu-ridão” (Hei/黑=escuro, Zhong/中=dentro, no meio do escuro e Ming/明=luz ). Por

YAO FENGO POETAEM PROCESSO

ANTÓ

NIO

FALC

ÃO

Page 15: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 26.8.2014

(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)

para os acolher.” (idem) Essas primeiras experiências despertaram seu gosto pela tradução de poesia, e foram apenas os primeiros passos deste que é considerado actualmente um dos mais prestigiados tradutores de poesia de língua portuguesa para o chinês. Desde os anos 1980, Yao Jingming vem dedicando-se continuamente à prática e à reflexão da tradução poética. O seu livro mais recente de poemas traduzidos foi lançado em 2012, com o título (白色上的白色) (Branco no Branco, de Eugénio de Andrade, Editora Livros do Meio, Macau).Como todo tradutor é um sujeito histórico, assim como define Henri Meschonnic em sua perspectiva histórico-materialista da tradução, Yao Jingming e sua proximidade com a cultura lusófona não deixa de contar parte de um capítulo da história da China. Yao nasceu em Pequim, em 1958, onde viveu até o início dos anos 1990, quando se muda e se estabelece em Macau. Aos nove anos de idade, ao terminar os estudos primários, Yao “foi escolhido” por professores, conforme conta, para estudar espanhol em uma escola secundária subordinada ao Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim. Havia quatro opções de idiomas na escola: russo, inglês, francês e espanhol. Yao e mais cerca de 30 alunos foram destinados, por assim dizer, ao estudo de língua espanhola. “Eram aulas de cor vermelha”, conta Yao, com bastante humor. A primeira frase que aprendeu em espanhol foi: “Viva el Presidente Mao !” O contexto era a Revolução Cultural na China (1966-

isso minha poesia, na internet, ficou conhe-cida inicialmente sob esse nome.

Mas esse nome tem três caracteres, parece que não gosta de nome com três caracte-res…Mas nenhum chinês tem esse nome. Hei/黑 (escuridão), quer dizer preto, portanto nin-guém tem “escuro” ou “preto” como sobreno-me. Portanto, é um nome literário, não existe como apelido.

Disse que pretende uniformizar, ou seja, passar a assinar, sempre que possível, como Yao Feng. Isso valeria também para artigos académicos e publicações de tradução de poesia? Não pensei, mas gostaria. Não é preciso Yao Jingming e ora Yao Feng. De facto, já publiquei trabalhos académicos em que assi-no como Yao Feng, sobretudo artigos sobre poesia.

Tem uma coluna sobre poesia num jornal chinês em Macau, correcto? Ela é assina-da também por Yao Feng ou por Yao Jing-ming?Sim, eu tenho uma coluna mensal chamada “Leitura de poemas por Yao Feng” (姚风). Ela já existe há 5 anos, no jornal Diário de Macau (澳門日報), o maior jornal chinês de Macau. Escolho um poema de que gosto ou de não gosto para comentar, sim, e assino Yao Feng.

O livro de poemas Um barco remenda o mar, que reúne dez poetas chineses contempo-râneos (SP: Martins Fontes, 2007), foi or-ganizado por Régis Bonvicino e Yao Feng. Um dos dez poetas incluídos na antologia é o próprio Yao Feng, uma das vozes poé-ticas de maior expressividade no quadro atual da poesia chinesa, ao lado de Bei Dao e Yu Dian, entre outros. Nesse livro, Yao Feng, além de poeta, figura como um dos principais tradutores e também como um dos dois organizadores. Por que, nesse caso, a tradução e a edição/organização do livro é de Yao Feng e não de Yao Jingming? Já faz parte de seu desejo de uniformização da sua assinatura como poeta, tradutor, en-saísta, académico e também editor?Então tenho de começar por falar do outro editor desse livro, Régis Bonvicino. Eu co-nheci esse poeta paulista online, por acaso, e a partir daí passamos a nos comunicar por e--mails. Ele conheceu-me portanto como Yao Feng, ele não sabia, mas agora sabe, quem era Yao Jingming (risos), por isso, claro, tive que trabalhar com ele como Yao Feng (risos).

Quais os poetas de língua portuguesa que traduziu para chinês?Traduzi Fernando Pessoa, Eugénio de An-drade, Ramos Rosa, Carlos Drummond de

Andrade (gostei imenso dele, queria traduzi--lo mais), Sophia de Mello Breyner Andre-sen. Fiz uma antologia de poemas de Sophia Andresen, (索菲娅诗选/ Poemas de Sophia Andresen,) publicado pelo Instituto Cultural de Macau junto com uma editora chinesa. O livro faz parte de uma colecção chamada “Biblioteca básica de autores portugueses”. O livro de Eugénio de Andrade, Outro nome da terra, que reúne 50 poemas (este livro tem no total 50 poemas), integrou a mesma colec-ção. Na década de 1980, traduzi junto com meu professor de português, na ocasião, Sun Chen Ao 孙成敖), uma antologia de poesia moderna portuguesa, que reunia mais de 30 poetas, entre eles, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Miguel Torga. Cada poeta tinha cerca de quatro poemas. Se calhar, foi a primeira antologia de poetas portugueses publicada em chinês.

Que poetas brasileiros traduziu?Traduzi Drummond, mas nenhum livro, cer-ca de 20 a 30 poemas, entre eles, “Retrato da família” e o poema curto “Há uma pedra no meio do caminho”, sobre o qual escrevi um pequeno artigo. Esse poema e artigo pro-vocaram discussões no âmbito da literatura chinesa, no sentido de “o que quis dizer esse poeta?”. Quando não se conhece o contexto do poeta, assim como do modernismo bra-sileiro, fica mesmo difícil compreendê-lo. E o poema às vezes é tão simples, não é mes-mo? Eu tentei fazer uma leitura própria desse poema.

Os poemas de Carlos Drummond de An-drade, que traduziu para chinês, foram pu-blicados na internet ou em jornal? Foram publicados numa revista chamada “Ler poesia” (讀詩), online e depois em pa-pel. Gosto muito de Drummond. Traduzi também algumas frases dele sobre literatura, sobre amor, ele é impecável, é um poeta que tem que ser traduzido para o chinês. Ele es-creve em português, mas é tão diferente com relação aos poetas portugueses, é uma lin-guagem muito própria e, ao mesmo tempo, representa aquilo que pertence aos brasilei-ros, tem um sabor, sem dúvida uma coisa que é muito própria do Brasil, sua posição face à vida, face à morte, ao amor, é muito inte-ressante, difere da poesia portuguesa. Não é uma poesia necessariamente leve, mas é es-crita de uma forma leve, tem uma máscara muito alegre, mas é uma poesia profunda. Olha portanto aquele poema “Epígrafo/ epí-teto” (No mármore de tua bunda) foi escrito de uma forma tão divertida, algo como “se eu faço a minha epígrafe nas suas ancas bo-nitas, assim então você sempre leva a minha morte”(risos), como se vê, a morte foi tratada de uma forma tão divertida. E também ele tem poemas interessantes sobre poética. Em um deles, diz que fazer um poema é cons-

truir uma casa, mas não é um templo e nem um palácio, essa casa é construída para que você entre, por favor. Gosto das reflexões e do humor de Drummond.

Há algum aspecto da poesia de Drummond que tenha sido mais desafiador ao ser tra-duzido para chinês? Eu traduzi esse conjunto de poemas e primei-ro coloquei-os online. A tradução teve uma re-cepção muito positiva. As pessoas gostaram muito desse poeta moderno, que não conhe-ciam ou então que conheciam muito pouco. Daí então alimento a ideia de continuar a traduzi-lo. Enfim, quando traduzo esse poe-ta, sinto que ele é mesmo brasileiro, não é americano, não é português, é brasileiro, na maneira de ser, é muito brasileiro. Perguntou de aspecto desafiador na tradução de Drum-mond, mas em que sentido?

Por exemplo, a língua chinesa, como você mesmo menciona em seu livro A poesia clás-sica chinesa: uma leitura de traduções portuguesas (Universidade de Macau, 2001, p.34), apresenta grande fluidez morfológica, per-mitindo assim que uma palavra funcione como verbo ou substantivo ou adjectivo, conforme o contexto. Essa plasticidade, essa flexibilidade morfológica e sintáctica do chinês, além de outras especificidades linguísticas que não acontecem no idioma português, interferem positiva ou negativa-mente quando você traduz um poema de Drummond? Ou ainda, há especificidades linguísticas do idioma português e/ou sin-gularidades na poesia drummondiana que se ofereçam como barreiras (ou desafios) no processo de tradução para o chinês?Essa característica da língua chinesa às vezes pode tornar um poema de Drummond até mais divertido, como por exemplo, traduzi aquele poema “Quadrilha” (João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria...) que em chinês funciona muito bem, porque em chinês o verbo já não se conjuga, então não se sabe se Maria amava ou ama Joaquim, por exemplo, o que potencializa a ambiguidade do poema, e o torna ainda mais interessante.

Mas há alguma dificuldade de que se lem-bre nessa transcriação de um poema de Drummond para chinês?Como aprendi português europeu, de Por-tugal, então há alguns termos que, no con-texto do português brasileiro, podem mudar, podem ganhar outros significados, mas eu conto consigo quando tiver alguma dúvida (risos).

Além do conto “Nova Califórnia”, de Lima Barreto (1881-1922), publicado em chi-

Page 16: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

hoje macau terça-feira 26.8.201416 h

1976), anos de grande conturbação política. Os textos de leitura e todo material didáctico usado nas aulas de espanhol eram de temática comunista, preconizando a eliminação dos latifundiários, repugnando a opressão dos operários, da classe trabalhadora etc. Foram sete anos de estudo secundário nessa escola. Ao final, todos os alunos graduados foram levados para o campo rural, próximo de Pequim, a fim de serem reeducados pelos camponeses, os “mestres da vida”. Foi uma experiência de um ano no campo, trabalhando junto com os colegas no plantio de arroz, sob orientação de uma camponesa idosa, que os acordava às cinco horas da manhã, para o início da jornada. O final de sua estada no campo coincide com a reforma política na China, ao final da Revolução Cultural. Logo a seguir, Yao presta os exames nacionais para ingressar na universidade. “Somente os politicamente correctos tinham o direito de fazer esses exames”, lembra Yao. Na universidade (Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim) gradua-se em Língua Portuguesa, e, ao concluir o curso, já começa a trabalhar, por seis anos, no Instituto de Literatura Estrangeira de Pequim, onde vai realizar suas primeiras traduções profissionais de prosa e poesia de língua portuguesa. Segue para Lisboa no final dos anos 1980, para trabalhar na Embaixada da China. Lá publicou seu primeiro livro de poemas em português, Nas asas do vento cego (1989). Ao voltar de Lisboa, vive ainda um ano em Pequim, em actividades ainda ministeriais, antes de se mudar para Macau. Começou a leccionar na Universidade de Macau, onde fez mestrado em Língua e Cultura Portuguesas. Sua dissertação de mestrado, A poesia clássica chinesa: uma leitura de traduções portuguesas, foi publicada pela Colecção Estudos de Macau (Universidade de Macau: 2001). Doutorou-se em Literatura Comparada

nês na revista “Riacho de Flores” (花溪, 1984), traduziu outras obras narrativas?Traduzi três ou quatro contos brasileiros, um inclusive era de um futebolista que jogava muito bem, e a crítica central do conto era a de que o governo brasileiro gostava de usar o futebol especialmente para distrair o povo (Adeus, Maracanã). Outro conto era sobre um homem que se casava sem parar, sempre com mulheres pouco saudáveis, sendo que todas morriam ao darem à luz, e então o ho-mem tira partido disso, em relação a compa-nhias de seguro, para enriquecer (Viúvo, de Monteiro Lobato)

Qual a diferença, para você, entre traduzir prosa e traduzir poesia?Como sou poeta, sinto mais agrado quando traduzo um poema, me dá mais prazer do que traduzir prosa, apesar de eu gostar muito de ler romances, ficção. Traduzir poesia, para mim, é uma aprendizagem, o que é muito vantajoso para a minha escrita. A tradução de um poema exige uma leitura aprofundada de cada termo, é preciso trabalhar detalha-damente cada palavra, cada pausa.

Vamos voltar agora à primeira pergun-ta desta entrevista, quanto à questão do aspecto implícito em suas traduções de poemas: é o académico Yao Jingming ou o poeta Yao Feng que traduz poemas do português ao chinês? Retomando a per-gunta: o que determina a qualidade e o bom resultado de uma tradução de poe-ma? Basta ser um bom conhecedor de teo-ria da tradução, ou precisa haver alguma experiência mais intensiva com relação à leitura e/ou à escrita da poesia? Nesse sen-tido, pergunto, quem traduz: Jao Jingming ou Yao Feng?É o poeta Yao Feng que está a traduzir. Na realidade, a teoria da tradução não me é nem um pouco desconhecida, de facto dediquei--lhe muito do meu tempo. Sei que traduzir poesia é uma tarefa deveras difícil, como diz o poeta americano Frost, “poesia é aquilo que se perde na tradução”. Concordo par-cialmente com essa afirmação, de facto, no âmbito da poesia, há coisas que são intradu-zíveis, sim, isso existe, dadas as diferenças enormes entre culturas diversas, sobretudo quando se trata da cultura chinesa com rela-ção a qualquer cultura ocidental, o que torna a tradução de poesia uma tarefa muito difícil, um desafio muito grande para qualquer tra-dutor, seja chinês, americano ou brasileiro. Acredito que para traduzir bem um poema, a experiência como poeta conta muito, e também a sensibilidade desse poeta, desse tradutor-poeta, sim, no meio de um jogo tão complexo entre duas línguas, a língua de partida e a língua de chegada, que envolve aspectos polissémicos, sonoros, visuais, grá-ficos etc. Portanto, é importante que o tradu-tor de poesia tenha experiência consistente e real entrada no mundo da poesia, e ainda, sensibilidade, consciência da subtileza das línguas, não só isso, mas também um conhe-cimento profundo das duas culturas com que está a trabalhar, além, claro, do indispensável conhecimento da teoria da tradução. Este úl-timo, no entanto, não é um factor decisivo para garantir uma boa tradução, mas pode tornar essa tarefa mais praticável, mais pavi-mentada, por assim dizer.

O facto de o tradutor ser um poeta, por si só, que conheça bem os dois idiomas, mas sem o conhecimento específico do ofício da tradução poética, pode garantir a qualida-de e um bom resultado do poema tradu-zido?Não, nada é absoluto, olha, portanto, será que qualquer poeta pode garantir a quali-dade de uma tradução de poema? Sempre depende quem é esse poeta. Será que esse poeta é um bom poeta ou não? Por isso é complicado.

E concorda que um poeta, para se tornar um bom poeta, e potencialmente, um bom poeta-tradutor, precisa construir vasto conhecimento de poesia, já que a maioria dos melhores poetas e poetas-tradutores, na história da poesia e da tradução oci-dental, por exemplo, chegaram a um pa-drão diferenciado na sua poesia (e nas suas traduções) não somente pelo seu talento e sensibilidade como também pela leitura sistemática de poesia e de toda a sua for-tuna crítica? Por outras palavras, concorda que é preciso conhecer bem a poesia para fazer bem a poesia, assim como é preciso conhecer bem a tradição da poesia e das traduções poéticas para que se possa fazer boas traduções de poemas? Sim, por isso então, para garantir a qualidade da tradução do poema, há vários factores, mas conheço muitos tradutores que são ao mes-mo tempo poetas. Alguns são poetas muito bons, mas se calhar, como ainda não domi-nam totalmente a língua de partida, também falham na sua tradução; isso também acon-tece comigo. O bom tradutor é aquele que conhece muito bem as duas línguas (a língua fonte e a língua alvo), essa é uma condição básica, e também precisa ter sensibilidade e conhecimentos culturais, poéticos e tradu-tológicos. Aliás, outra coisa: traduzir poesia tem muito a ver com a personalidade e os gostos estéticos do tradutor. Não concordo que um tradutor seja capaz de traduzir todos os poetas. O bom tradutor é capaz de tradu-zir bem aqueles poetas com os quais tenha afinidades. Se calhar, pode haver até uma se-melhança de estilos de escrita, do tradutor e do poeta, um gosto ou um sabor parecido nas suas escritas. Pelo menos essa é a minha experiência: quando traduzo um poeta de que gosto imenso, então posso traduzi-lo bem, porque eu gosto, porque há algo que me fascina, que me leva a trabalhar, a polir cada palavra, o ritmo, as cores das palavras, e também o silêncio, que reina nas sílabas, nos caracteres. Por isso de facto ao traduzir, quando traduzo um verso, não penso tanto, há sempre uma sensibilidade, uma subtile-za qualquer, que pode ser uma associação de ideias, uma espécie de intuição poética que me orienta, às vezes de forma instinti-va, intuitiva mesmo, naquele momento eu não penso em teoria, mas sigo alguma sen-sibilidade (tanto de ordem musical quanto imagética) que me diz que tenho de traduzir assim, em vez de seguir outro caminho, outra maneira. Claro, essas “ordens” intuitivas que recebo não são nada mais que resultados da minha experiência, das minhas leituras, dos meus conhecimentos acumulados ao longo da prática e da vida. Por isso, estou sempre muito atento, quando viajo e também na minha vida diária, gosto de observar e de

avaliar tudo à minha volta, um edifício que tenha um feitio muito bonito ou feio... como aqui em Macau, por exemplo, acho o Hotel Grand Lisboa muito feio. De facto, não fica muito bem naquele espaço apertado. Essa e outras observações ajudam-me a treinar a sensibilidade. Há coisas belas, mas temos de ser sensíveis para vê-las. Acredito que sensi-bilidade é um factor muito importante para o tradutor de poesia. Essa sensibilidade, aliada ao conhecimento e à prática persistente da tradução, pode tornar o tradutor mais cora-joso, mais apto a reimaginar, a reinventar, a transcriar (estou aqui tomando emprestado alguns termos do tradutor Haroldo de Cam-pos) um poema de forma interessante. Se calhar, há termos muito bonitos, muito poé-ticos na língua de partida, mas que ao serem passados para o chinês, para a minha língua materna, ficam um bocado vulgares, medío-cres, nesse caso, cabe ao tradutor tomar uma decisão corajosa, criar ou cortar esse termo na sua língua materna.

Então entende o tradutor, teoricamente fa-lando, como um transcriador?Sim, traduzir é criar, claro. E nesse processo tradutório de recriação, o tradutor, ao longo do seu trabalho, tem sempre de ponderar, sopesar, numa prática contínua de tomadas de decisões, como mostra o teórico Jiri Levy. Em alguns casos, basta fazer uma tradução à letra, uma tradução literal, o resultado já fi-cará muito bom, óptimo, mas, noutros casos, o tradutor precisa criar uma coisa nova. Se calhar, uma imagem ou um verso na língua fonte é uma novidade para a língua alvo, e o tradutor, na medida do possível, deve trazer essa novidade para a língua de chegada.

Que estratégias ou pensamentos teóricos a priori orientam o tradutor Yao Feng quando vai traduzir um poema?Sempre que possível, procuro manter a forma do poema, por ser um dos aspectos essenciais, o corpo do poema, por assim dizer. Essa seria uma das estratégias. A outra, não menos im-portante, consiste em entender o poema como um conjunto coeso, nos seus diferentes níveis de entendimento, uma unidade, construída a partir de uma série de relações internas, sejam semânticas, sonoras, evocativas, gráficas etc. Outra estratégia é estar atento à letra, aos re-cursos que podem ser ricamente explorados a partir da literalidade do poema fonte. Em relação à manutenção da forma, claro, como há diferenças linguísticas tão grandes entre o chinês e o português, ao traduzir um soneto de língua portuguesa, por exemplo, não há como manter todas as regras rímicas e rítmicas no chinês com fidelidade. É quase impossível mas, apesar disso, o tradutor não pode ignorar a forma e, sobretudo, os efeitos musicais que esse poema traz e produz no leitor que possa lê-lo no original. Se calhar, se não for possível recriar efeitos e formas similares na língua de chegada, é preciso ao menos conseguir efeitos que correspondam, na língua de chegada, a as-pectos que o tradutor possa ter percebido no poema de partida. Mesmo se não for possível manter a forma, essa é uma faceta do poema que o tradutor não deve ignorar.

Falou da importância dos efeitos musicais, da questão fónica, sonora na transcriação de um poema noutro idioma. Para per-

Page 17: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

17 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 26.8.2014

e Literatura Universal pela Universidade de Fudan, Shangai. Yao Jingming, além de tradutor e académico, é um poeta bastante prestigiado na China. Acaba de ser indicado para receber o Prémio de Poesia Aurora na China. No entanto, como poeta, é conhecido não como Yao Jingming, mas sim como Yao Feng, pseudónimo que passou a usar para assinar seus poemas a partir de 2001. Nos últimos anos vem assinando Yao Feng não só nos poemas como também em suas traduções de poesia, artigos e ensaios académicos sobre tradução e poesia. Desde 2012, Yao atua como vice-presidente do Instituto Cultural de Macau (ICM), importante órgão de divulgação e preservação da cultura de expressão portuguesa e de promoção do diálogo entre a cultura lusófona e a cultura chinesa. Apesar de ser um poeta contemporâneo, Yao Feng não deixa de seguir uma tradição de grandes poetas clássicos chineses, que, assim como Bai Juyi (772-846), ocuparam postos elevados no funcionalismo estatal na China. Obviamente Yao Feng não precisou prestar os exames imperiais para entrar na vida pública, mas seus conhecimentos e sensibilidade para poesia, arte e cultura lusófonas e chinesas decerto contribuíram para que fosse requisitado a ocupar o actual posto. Os exames imperiais na China clássica, como se sabe, que permitiam a entrada no funcionalismo e a ascensão ao mandarinato, exigiam dos candidatos que fizessem duas provas: uma sobre os Cinco Clássicos confucianos (Ming Jing), outra sobre Textos Literários (Jin Shi). Este último, explica o tradutor de Bai Juyi para o português, António Graça de Abreu, “incluía a composição de alguns fu, versos irregulares rimados, questões sobre princípios da moral de Confúcio e teses sobre gestão e administração estatal” (Abreu: p. 16). Yao Feng não compõe fu, mas sim versos livres. A liberdade

ceber esses efeitos na língua fonte e para transpô-los ou reinventá-los na língua alvo, é fundamental que o tradutor saiba “escu-tar” atentamente o poema, mesmo que (e aqui copio uma expressão de Hans-Georg Gadamer, ao comentar os poemas de Paul Celan) somente com o “ouvido interior”. Ou seja, a questão da sensibilidade audi-tiva, sonora do tradutor revela-se como um aspecto de extrema relevância na tra-dução poética. Você comentava sobre o grande distanciamento linguístico entre o português e o chinês, e tomou o soneto como um exemplo para falar da dificuldade e, por vezes, da impossibilidade de se criar no poema traduzido efeitos similares aos do poema fonte. Vamos pensar agora numa ou-tra forma fixa de poema, mas pertencente à poesia chinesa, já que também traduz do chinês para o português, ou seja, tem as duas experiências como tradutor, do portu-

guês para o chinês e vice-versa. Se pegar-mos uma das formas tradicionais da poesia clássica chinesa, como o lüshi/律诗, desen-volvido no esplendor poético da Dinastia Tang (619-960), que mantém esquemas ri-gorosos não somente em termos de número regular de caracteres e de versos (oito ver-sos de comprimento regular divididos em duas quadras compõem o poema, sendo cada verso de 5 ou então de 7 caracteres), como também em termos de paralelismo de versos e – o que parece mais desafia-dor numa tradução – a cadência e o ritmo criados a partir de inúmeros esquemas de contraponto tonal, que são seguidos à risca por poetas como Du Fu, Li Bo e Bai Juyi. No caso, como trabalha as sequências cria-das a partir dos quatro tons do chinês (tom uniforme e tons oblíquos) numa tradução para um idioma como o português, que desconhece essas regras prosódicas? Como faz essa adaptação musical de um lüshi para o português? Como funciona aí, na prática,

essa sensibilidade musical do poeta, que você mencionou como sendo fundamental para o tradutor? De facto para mim, traduzir da minha língua materna para o português é mais difícil ain-da porque, conforme a teoria da tradução, o tradutor deve traduzir mais de uma língua estrangeira para a sua língua materna. Por isso, sim, quando eu era jovem, se calhar, ti-nha mais coragem para traduzir um poema chinês para português. Hoje, com a idade, fiquei com mais medo de traduzir da minha língua materna para o português; de facto, é difícil. Então, se quisermos discutir a tradu-ção de um lüshi, acabaremos a falar novamen-te daquilo que se perde na tradução, pois essa forma poética, como já mencionou, se-gue regras rigorosíssimas. Para atingir um ní-vel de perfeição, isto é, para compor um lüshi perfeito ao nível da forma, o poeta precisa ser treinado durante muito tempo. Portanto,

ao traduzir um poema chinês, rigoroso na sua forma, para o português, se o tradutor al-meja recriar padrões formais muito similares na língua alvo, isso, sim, é impossível. Passar forçosamente padrões tonais para o portu-guês não vai funcionar de forma alguma. É semelhante ao que acontece na tradução de um soneto, uma das formas clássicas da lírica portuguesa, para a língua chinesa. As rimas, o esquema de estrofes do soneto, entre ou-tros elementos, engendram um jogo muito harmonioso, perfeito, mas difícil de ser tra-duzido, porque o soneto não deixa de ser um fruto das características específicas da língua portuguesa, e o mesmo eu diria da relação do lüshi com a língua chinesa. São raros os casos de sucesso nessas traduções de poesia clássi-ca que procuram manter, de forma muito ri-gorosa, os mesmos paralelismos dos poemas originais. Portanto, quase sempre há grandes perdas nessas traduções e por isso o tradutor deve estar atento para conseguir também ga-nhar nesse processo. Na verdade, a tradução

é mesmo um jogo de perdas e de ganhos e o tradutor tem que ter a coragem de perder alguma coisa mas também de ganhar noutro aspecto, para compensar o jogo que, quando se trata da tradução de um poema clássico, é muito mais difícil de ser jogado. Como a nossa língua não é alfabética, cada sílaba é em si uma palavra; por isso, se um verso clás-sico apresenta sete caracteres ou sete pala-vras cheias, sem preposições, por exemplo, será complicado conseguir recriá-lo com sete palavras em apenas sete sílabas no por-tuguês... E ainda sem mencionar as típicas omissões de sujeitos, de advérbios, etc., nos poemas clássicos chineses, que quase sempre são irrecriáveis em português. Mas, se esti-vermos a falar da poesia moderna, quando traduzo um poema de Carlos Drummond de Andrade, que é um poeta moderno, não preciso respeitar essas regras, economia vo-cabular e o rigor do lüshi, já que o ritmo da

poesia moderna é livre, não necessariamente ditado por padrões rígidos de composição. Na poesia moderna, cada poeta tem o seu ritmo próprio, a sua respiração, é mesmo como um ritmo de respiração, há poetas que procuram fazer versos muito longos, com fôlego maior, muito prolongado, se calhar, ele gosta de respirar assim. Eu quase sempre componho versos curtos, quando um verso ultrapassa 15 caracteres já sinto dificuldades de respirar (risos). Ao traduzir um poema moderno, vou procurar recriar o ritmo e as formas que percebo no poema original, vou buscar manter minha tradução o mais pró-ximo possível do poema original, mas, em caso de necessidade, permito-me alterar a forma ou o ritmo. Outro ponto, com relação às rimas: ao traduzir, com frequência tenho de abrir mão das rimas, pois rimar, por ve-zes, é perigoso. Se o tradutor não rimar bem,

(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)

ANTÓ

NIO

FALC

ÃO

Page 18: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

hoje macau terça-feira 26.8.201418 h

e a fluidez dos seus versos, de notável leveza e subtil ironia, aparecem tanto nos poemas que compõe como nos que traduz. As suas reflexões sobre tradução de poesia são, por vezes, também poéticas: recorrem frequentemente a imagens para falar da teoria e da praxis de tradução. E encerra-se aqui esta apresentação do tradutor Yao Feng com uma passagem do seu texto “Traduzir um poema: por ser poema e para ser poema”:

Diz-se que o tradutor é um escravo a servir os dois reis: a língua de partida e a língua de chegada. Uma missão difícil! Como é que um escravo se pode manter fiel simultaneamente aos dois reis sem trair um ou outro? Felizmente, os reis em questão não são totalitários, não acusam nem matam o escravo quando são mal servidos, apesar de tal facto ocorrer com muita frequência. Um escravo que mantém a dupla fidelidade deve conhecer bem a alma e o corpo de ambos. No entanto, pela minha experiência como escravo, mesmo que queira servi-los de igual boa vontade, na prática não consigo ser imparcial, e afinal o que consigo fazer é servir bem um com o objectivo de servir melhor o outro; neste caso, normalmente é a minha língua materna que na maioria dos casos é a língua de chegada. Enfim, são os leitores da língua de chegada que acordam a tradução com a sua leitura. Contudo, durante o processo de descodificação, codificação e harmonização dos dois aspectos aparentemente inconciliáveis, não me apetece ser escravo absolutamente fiel, passivo e obediente. Dentro das fronteiras e do possível, o tradutor precisa de gozar de certa autonomia. (Yao: 2012, p.148-9)

1- * Yao Jingming assina seus trabalhos poéticos e criativos, e parte de seus ensaios e artigos acadêmicos, com o pseudônimo Yao Feng

o poema pode tornar-se um pouco ridículo, pelo menos em chinês. Nesse caso, procuro compensar nos comprimentos dos versos e no ritmo do poema, nas pausas entre as pala-vras e as linhas. Quanto ao poema moderno chinês, por exemplo, se um verso tem muitas palavras, provavelmente será preciso quebrá--lo em sua versão portuguesa, criar uma linha adicional.

Tinha falado da importância da sensibilida-de do tradutor-poeta ao fazer uma tradu-ção de poema, e contou que, quando viaja, procura aproveitar ao máximo o visual, as coisas que vê ao seu redor, a arquitectura, a publicidade, pois a percepção e a leitura desses elementos contribuiriam para apurar sua sensibilidade. Certo, mas até aí refere--se a uma sensibilidade visual, às imagens. E quanto à sensibilidade auditiva, sonora, como pode ser treinada, desenvolvida pelo tradutor? Se calhar, não sou tão sensível para esse as-pecto sonoro, porque não tenho jeito para cantar, para dançar... (risos)

No papel de tradutor, como lida com as di-ferenças entre uma língua fonética, como o português, e uma língua que apresenta uma etimologia visual, como o chinês? Ao ler um poema em chinês ou ao traduzir um poema para o chinês, qual a importância das imagens gráficas possivelmente con-tidas nessa escrita chinesa que, para Fe-nollosa, consiste num meio para a poesia? Gostaria de saber se costuma explorar esse aspecto visual dos caracteres ao traduzir e ao escrever um poema.A nossa língua chinesa gosta muito de recor-rer às imagens, às metáforas para expressar uma ideia. Por exemplo: quando se descreve a beleza feminina – uma mulher muito es-belta, com bom corpo, boas linhas e gestos muito bonitos–, em geral, isso é feito por meio de metáforas, como a do peixe. Esta mulher, com linhas, roupas e gestos tão bo-nitos, pode ser descrita como o peixe que mergulha no fundo da água. Por isso, quan-do escrevo um poema ou quando traduzo, essas imagens, essas marcas, embora não de forma tão directa, podem aparecer na minha escrita.

Nesse caso, da metáfora do peixe para des-crever a beleza de uma mulher, isso pode-ria aparecer no seu poema dado ao facto de ter escolhido caracteres chineses relaciona-dos graficamente a imagem do peixe?Não, mas é assim, às vezes temos de evitar o estereótipo. Essas metáforas, já discutidas em tantos ensaios e artigos, podem ser interes-santes para vocês, mas para nós, como já são imagens tão recorrentes, se calhar, devem ser evitadas, pois já não trazem nenhuma novidade para a nossa língua. Pode ser que essa imagem, em português, seja tão gira, tão diferente, que bastaria fazer uma tradução directa para mantê-la. Sim, como acontece em algumas traduções minhas, a exemplo de um poema de Eugénio de Andrade, em que descreve as gaivotas pairando no céu como se fossem uma coroa. É uma imagem lindíssi-ma, por isso então fiz uma tradução literal e funcionou muito bem em chinês. Os poemas de Eugénio de Andrade são muito musicais e eu procuro recriar esse aspecto na minha

língua materna. Essa imagem da coroa foi muito elogiada pelos leitores chineses, por ser uma imagem bonita, surpreendente e nova. Quanto às imagens contidas na escrita chinesa, somente uma percentagem pequena dos caracteres são pictogramas, como pás-saro, montanha, água etc. Alguns caracteres incorporaram ideogramas. Os ideogramas junto com caracteres tornam um caractere novo, como o mar (海), que é composto por 3 traços curtos, referentes à água e a um outro elemento qualquer, que juntos então viram “mar”. A névoa é uma composição de montanha mais vento (岚), nuvem na mon-tanha, é uma névoa que rodeia uma monta-nha, um termo lindíssimo, tudo isso portanto dá uma visão, uma imagem visual, mas, na tradução, não é uma questão a que sempre dou importância. São meros caracteres, por-tanto, eu não escolho esse ou aquele ideo-grama porque poderá trazer uma imagem gráfica. Não, a minha preocupação é mais ao nível semântico.

Ao nível semântico e também ao nível mu-sical?Sim, o aspecto semântico e sonoro, como no português, que se pode escolher entre pássaro, ave ou passarinho, o que tem de ser considerado de acordo com o contexto. Ave pode ser melhor, pois é mais curto, tem menos sílabas, mas, noutro contexto, pássaro pode soar melhor do que ave.

Sim, então a questão visual dos caracteres, quando faz a tradução de um poema, não é a mais importante?Não é. Para vocês, se calhar, é uma coisa de exotismo mas, no nosso dia-a-dia, não é uma questão muito importante, então, pássaro é pássaro, esse caractere tem uma imagem visual, mas para nós não é uma coisa muito importante.

Um poema que escreva ou traduza para o chinês será lido por pessoas de diferentes dialectos por toda a China. Um chinês de Macau ou da região de Cantão, que tenha o cantonês como seu dialecto, mesmo que

conheça bem o mandarim (adoptado na China como dialecto oficial), dará a esse seu poema, mesmo que não o leia em voz alta, a sonoridade do cantonês, que tem seu sistema tonal próprio e é um dialecto tão diferente do mandarim. Você, ao escre-vê-lo, projectou os seus esquemas sonoros e tonais em mandarim, que é o seu dialecto nativo. O seu poema, lido por esse chinês de Cantão, resultaria num outro poema? Ainda que os sentidos e as imagens con-tidas em seu poema possam ser perfeita-mente compreendidas por esse chinês, sua recepção sonora será outra, e a unidade do poema, como se sabe, resulta de um con-junto de imagens, formas, entre diversos outros elementos, e... som. Não, não, não, não seria outro. Seria o mes-mo poema, só que poderia ser declamado em diferentes formas.

O facto do seu poema ser declamado em diferentes dialectos, como o cantonês e o hokkien, por exemplo, poderia torná-lo in-ferior ou até mesmo superior do que quan-do declamado em mandarim?Não. Acho que não afecta muito, pois em geral um poema é lido sem voz, então um poema bom é um poema bom. Ele não de-pende de ser lido por uma voz muito boa para que se torne bom, não.

Mas se tiver trabalhado com rimas internas no seu poema ou mesmo rimas em finais de versos, para dar um exemplo simples, esses efeitos podem-se perder quando o poema é lido por exemplo em cantonês, não acha?Sobre esse aspecto sonoro, no entanto, não só eu, mas todos os poetas chineses, talvez tenhamos de nos esforçar mais para tornar-mos um poema melhor, porque esse é um aspecto quase sempre negligenciado.

Mas quando está a escrever um poema, Yao, certamente está “escutando” o que es-creve, o que cria, está imprimindo cadên-cia, ritmo, silêncios etc., ou seja, o som não parece em hipótese alguma negligenciado.Sim, o som é importante, mas eu não tra-balho muito com esse aspecto. Portanto, é assim: primeiro eu penso nas imagens e no que quero dizer num poema e depois então de completar aquilo que quis dizer, a minha ideia, é que passo a pensar no aspecto sono-ro do poema como, por exemplo, o primei-ro verso, em vez de ter oito caracteres, deve ter quatro, etc. Um poema muito medíocre, mesmo que lido por uma voz bonita, conti-nua medíocre. O som ajuda a tornar o poema mais bonito, ao ser ouvido, mas hoje, em vez de ouvir, sentimos os seus aspectos sonoros. De facto, estamos a perder essa tradição de declamar, de recitar poesia.

Bibliografia

Traduzir um Poema: Por Ser Poema e Para Ser Poe-ma, in Textos e Pretextos Nº 15, University of Lisbon/Livro do Dia, Lisbon, 2012: 147-149.

Cem Portuguese Phrases Practices, World Book Press, Shanghai, 2006.

A Poesia Chinesa Clássica: Uma Leitura das Versões Portuguesas, University of Macau, Macau.

ARQU

IVO

Page 19: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

T E M P O A G U A C E I R O S M I N 2 6 M A X 3 2 H U M 6 5 - 9 5 % • E U R O 1 0 . 5 B A H T 0 . 2 Y U A N 1 . 2

ACONTECEU HOJE 26 DE AGOSTO

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

hoje macau terça-feira 26.8.2014 (F)UTILIDADES 19

João Corvo fonte da inveja

Ser de direita implica acreditar na superioridade de alguns. Normalmente de gente da pior espécie.

Estar presonão é um pesadelo Quando pensamos na possibilidade de estarmos presos, normalmente não sorrimos, porque não é uma notícia boa. Mas os activistas que estão a organizar o referendo civil pensaram que isso nunca iria acontecer, pelo menos até serem presos pela polícia. Mas para qualquer activista, ser preso é bom sinal, porque assim são considerados heróis. No Facebook já há muitos comentários a questionar a acção da polícia, em relação à verdadeira legalidade do caso. Os activistas constituem uma ameaça? A sua prisão é um aviso? No inicio, o Tribunal de Última Instância (TUI) disse que o referendo não tinha base legal, mas depois veio o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) dizer que os activistas violaram, efectivamente, a lei. Penso que aquilo que o Governo deveria fazer seria ignorar este referendo, porque com maior oposição todos vão prestar-lhe atenção. Os jornalistas de fora vão noticiar esta detenção e isso irá servir para publicitar ainda mais este referendo. Esperemos para ver o que acontece ao longo desta semana.

Nascem Madre Teresade Calcutá e Antoine Lavoisier• A 26 de Agosto, recordam-se Madre Teresa de Calcutá, missionária católica, e Antoine Lavoisier, o pai da química moderna. Neste dia, morre Carlos Paião, cantor e compositor português.Madre Teresa nasceu em 1910 na República da Macedónia, naturalizou-se indiana e é considerada a grande missionária do século XX, tendo sido beatificada pela Igreja Católica em 2003.O reconhecimento mundial pela sua obra – da qual se destaca a fundação da congregação ‘Missionárias da Caridade’ – concretizou-se com o Prémio Nobel da Paz, a 17 de Outubro de 1979.Em 1997, aos 87 anos de idade, morreu de ataque cardíaco, quando preparava uma oração em memória da Princesa Diana, que falecera num acidente de automóvel em Paris.E foi precisamente em Paris, também no dia 26 de Agosto, mas em 1743, que nasceu Antoine Lavoisier, um químico francês, considerado o pai da química moderna.Lavoisier foi o primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria. Por outro lado, identificou e bap-tizou o oxigénio, descobrindo que a água é uma substância composta, formada por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio: H2O.Este conhecimento que Antoine Lavoisier trouxe ao mundo da química revelou-se extremamente importante para a época, numa altura em que prevalecia a teoria de Tales de Mileto, segundo a qual a água era um dos quatro elementos terrestres primordiais, a partir da qual outros materiais eram formados.O francês Antoine Lavoisier ficou célebre pelas suas pesquisas sobre a conservação da matéria. Ficou ainda mais célebre pela autoria da célebre frase: “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Morreu na capital francesa, em 1794.

U M D I S C O H O J EDAVID BOWIE

CHRISTIANE F, 1981

A adolescente viciada em heroína das ruas de Berlim, protagonista do livro nada ficcionado “Os Filhos da Droga”, era fã de David Bowie. Quando o filme sobre a sua vida foi feito, Bowie fez a banda sonora. Um disco que merece ser ouvido não apenas por aqueles que ficaram apaixonados pela história de vida de

Christiane, mas pela genialidade do músico. - Andreia Sofia Silva

C I N E M ACineteatro

SALA 1TEMPORARY FAMILY [B]FALADO EM CANTONÊS, LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊSUm filme de: Cheuk Wan ChiCom: Nick Cheung, Sammi Cheng, Angelababy, Oho14.15, 16.05, 18.00, 21.30

LUCY [C]Um filme de: Luc BessonCom: Scarlett Johansson, Morgan Freeman19.50

SALA 2CAFE • WAITING • LOVE [B]FALADO EM MANDARIM E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Chiang Chin LinCom: Vivian Chow, Megan Lai, Pauline Lan, Lee Luo14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3LUCY [C]Um filme de: Luc BessonCom: Scarlett Johansson, Morgan Freeman14.15

DORAEMON THE MOVIE: NOBITA IN THE NEWHAUNTS OF EVIL-PEKO AND THE FIVE EXPLORERS [A]FALADO EM CANTONÊS E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Yakuwa Shinnosuke16.00

INTO THE STORM [B]Um filme de: Steven QualeCom: Richard Armitage, Alycia Debnam-Carey, Matt Walsh18.00, 19.45, 21.30

TEMPORARY FAMILY

Page 20: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

20 publicidade hoje macau terça-feira 26.8.2014

Page 21: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

21 publicidadehoje macau terça-feira 26.8.2014

Page 22: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

22 OPINIÃOdire i to de resposta

hoje macau terça-feira 26.8.2014

Considerando o comunicado publicado no Jornal Hoje Macau do dia 19 de Agosto de 2014, na página 15, e melhor identificado pelo título “Maldita incom-petência!.....Bendita paciência”, uma vez que o mesmo contém factos inverídicos e equívocos, afectando, desta forma, o bom nome da Administração Pública da RAEM, e em particular da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, venho pela presente exercer o direito de resposta previsto no artigo 19.º da Lei n.º 7/90/M, de 6 de Agosto – Lei de Imprensa, - nos seguintes termos:

À Direcção da APOMAC:

1 – O Governo da RAEM tem-se pautado pelo princípio do respeito pela separação de poderes, tendo desde sempre acatado e cumprido as decisões do poder judiciário de Macau, independentemente de eventuais opiniões divergentes entre o Governo e os Tribunais e independentemente dos destinatários dessas decisões.

2 – É, por esse facto, lamentável que esse respeito pela separação de poderes e o acatamento das decisões do venerado Tribunal de Última Instância tenha levado a Direcção da APOMAC a ataques pessoais ao Director do SAFP, de uma forma deselegante e completamente desproporcionada.

3 – Assim, e em resposta ao comunicado da APO-MAC, passa a transcrever-se a notícia publicada na página electrónica dos Tribunais da RAEM a qual, não só resume de forma clara e inequívoca a posição dos diversos acórdãos do TUI quanto à matéria dos aposentados que transferiram a responsabilidade pelo encargo e pagamento das pensões de aposentação para a Caixa Geral de Aposentações, como dá resposta às questões colocadas pela Direcção da APOMAC.

“Não têm direito ao subsídio de residência os trabalhadores dos serviços públicos que foram apo-sentados antes do retorno

Tendo a Lei n.º 2/2011 entrado em vigor em 1 de Abril de 2011, uns funcionários públicos que, antes do retorno de Macau à Pátria, já tinham sido aposen-tados e transferido a responsabilidade do pagamento das suas pensões de aposentação para a Caixa Geral de Aposentações de Portugal (CGA) apresentaram requerimentos à Direcção dos Serviços de Finanças, pedindo que lhes fosse atribuído o subsídio de residência nos termos do art.º 10.º da Lei n.º 2/2011. A Senhora Directora dos Serviços de Finanças indeferiu os seus requerimentos, invocando que os requerentes já recebe-ram passagens de avião e subsídios para regressarem a Portugal e ali fixarem residência. Inconformados, os requerentes interpuseram recursos hierárquicos necessários para o Senhor Secretário para a Economia e Finanças, que, por sua vez, indeferiu os recursos hierárquicos com o mesmo fundamento, mantendo a decisão posta em causa. De tal decisão, os recorrentes interpuseram recursos contenciosos para o Tribunal de Segunda Instância.

Sintetizando os fundamentos invocados pelos recor-rentes nos diferentes processos, foram imputados ao acto recorrido principalmente os vícios a seguir indi-cados: 1. Falta de audiência prévia antes da decisão; 2. Violação do disposto nos art.ºs 2.º, 4.º, 5.º e 7.º da Lei n.º 8/1999; 3. Violação do disposto no art.º 10.º da Lei n.º 2/2011; 4. Violação do princípio da igualdade.

Os Mm.ºs Juízes do Tribunal de Segunda Instância analisaram, um após outro, os fundamentos supraci-tados:

Da falta de audiência prévia antes da decisão. (...)Ainda por cima, na apreciação e aprovação dos

pedidos de subsídio de residência deduzidos pelos recorrentes, a Administração não goza do poder dis-cricionário. Pelo contrário, tal poder de apreciação e aprovação consiste num poder vinculado: se estiverem preenchidos os requisitos previstos na lei, a Admi-nistração terá que deferir o pedido, caso contrário, terá que o indeferir, sem nenhuma margem para a discricionariedade. Daí que a opinião dos recorrentes ou a da Associação dos Aposentados em que eles se integram não possam alterar a decisão tomada pela Administração nos termos legais. Nesta circunstância, a não realização da audiência prévia não constitui vício de nulidade ou de anulação. Por outras palavras, improcede o recurso nesta parte.

2. Da violação do disposto nos art.ºs 2.º, 4.º 5.º e 7.º da Lei n.º 8/1999. Há recorrentes que entendem que, em sintonia com os art.ºs 2.º, 4.º, 5.º e 7.º da Lei n.º 8/1999, se presume que os portadores de Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Macau residem habitualmente em Macau, independentemente de residirem em Macau ou noutra parte do mundo. Sobre isso, alguns Juízes consideram que, embora os recorrentes possam, de facto, residir em qualquer parte do mundo, o “local de residência” ora em análise não é o “local de residência legal”, mas sim o “local de residência efectiva”, que se presume a partir do facto de os recorrentes terem rece-bido o subsídio de transporte (de pessoas e bagagens), visto que, em primeiro lugar, estipula expressamente o n.º 4 do art.º 17.º do Decreto-Lei n.º 14/94/M que o exercício do direito a transporte pressupõe a fixação de residência em Portugal, e que, em segundo lugar, atenta a cobertura deste subsídio (cobre não só o transporte das pessoas do requerente e seus familiares, como também o transporte de bagagens), pode ver-se que se trata de um subsídio de transporte abonado para efeitos de fixação de residência em Portugal, e não para custear simples viagens ou destacamentos. Tendo recebido o subsídio de transporte, os recorrentes já não têm direito ao subsídio de residência, por deixarem de reunir o requisito de “continuar a residir em Macau” exigido pelo Decreto-Lei n.º 96/99/M.

3. Da violação do disposto no art.º 10.º da Lei n.º 2/2011. Segundo os Mm.º Juízes, a questão crucial traduz-se em saber como se interpreta e se aplica, de forma precisa, a previsão do art.º 10.º da Lei n.º 2/2011. Aliás, na interpretação e na aplicação do n.º 1 do art.º 10.º da Lei n.º 2/2011, não se pode negligenciar o âmbito de aplicação delimitado no n.º 1 do art.º 1 do mesmo diploma legal, isto é, “A presente lei regula o regime do prémio de antiguidade e dos subsídios de residência e de família dos trabalhadores dos serviços públicos da Região Administrativa Especial de Macau.” Nota-se que o legislador utiliza aqui a designação específica “Região Administrativa Especial de Macau” (adiante designada por RAEM), que deve ser olhada no seu sentido específico e contexto histórico. Como todos sabem, a RAEM só se estabeleceu em 20 de Dezembro de 1999. Sendo assim, tendo em vista o âmbito de apli-cação definido no art.º 1.º, n.º 1 do referido diploma, os indivíduos mencionados no seu art.º 10.º, n.º 1 do referido diploma, os indivíduos, mencionados no seu art.º 10.º, n.º 1 devem ser “os trabalhadores dos serviços públicos que se encontrem em efectividade de funções

ou desligados do serviço para efeitos de aposentação, bem como os aposentados” após o estabelecimento da RAEM, ou seja, os que mantêm vínculos com o regime da função pública da RAEM, nos quais não se incluem obviamente os trabalhadores dos serviços públicos que, antes do estabelecimento da RAEM, tenham sido aposentados e transferido a responsabilidade do paga-mento das suas pensões de aposentação para a CGA, uma vez que já não existe qualquer vínculo entre estes e o regime da função pública da RAEM.

Por outro lado, crê-se que a este preceito subjaz a intenção do legislador de estar de acordo com as correspondentes disposições da Lei Básica (art.º 98.º, n.º 2) e da Declaração Conjunta Luso-Chinesa (Anexo I, parágrafo VI), segundo as quais, a RAEM não res-ponde pelo pagamento das pensões de aposentação ou de sobrevivência, nem de outros benefícios sociais dos funcionários públicos que tenham sido aposentados antes do estabelecimento da RAEM. Por isso, mostra--se infundada a pretensão dos funcionários que foram aposentados antes do retorno de Macau à Pátria de, com base no Decreto-Lei n.º 96/99/M, manter o direito ao subsídio de residência nos termos do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau, porque o Decreto-Lei n.º 96/99/M contraria evidente-mente os respectivos preceitos da Declaração Conjunta Luso-Chinesa e da Lei Básica, não podendo continuar a vigorar, segundo o art.º 8.º da Lei Básica e o princípio da prevalência do direito internacional sobre o direito interno/regional. Improcede também este fundamento.

4. Da violação do princípio da igualdade. Alguns recorrentes ainda referiram que, aqueles que foram aposentados antes do retorno e que não optaram pela CGA nem disseram nada também não estabeleceram nenhuma relação jurídica com a RAEM, como é o caso dos recorrentes, mas que gozam eles do direito ao sub-sídio de residência, violando-se assim o princípio da igualdade. Conforme indicaram os Mm.ºs Juízes, os indivíduos supra identificados (no total, 90 pessoas), não estão a receber o subsídio de residência nos termos da Lei n.º 2/2011, mas sim ao abrigo das normas próprias dos seus regimes e dos diplomas que não se mostrem revogados. O legislador, ao criar o novo regime, não quis marginalizar os que serviram o Território e fica-riam sem amparo se a RAEM não lhes desse a mão, situação de desamparo que já não se observa com os recorrentes, que optaram por se integrar no quadro de Portugal e que se encontram protegidos por este último. Sendo duas situações desiguais, não se viola o princípio da igualdade.

Face ao exposto, os diferentes Tribunais Colectivos julgaram improcedentes os recursos contenciosos in questio , mantendo, assim, o acto recorrido.

Importa apontar que, submetidos ao Tribunal de Segunda Instância mais de cem recursos semelhantes a esses, agora, os cinco Juízes da secção de processos em matérias civil e administrativa deste Tribunal decidiram unanimemente rejeitá-los por serem improcedentes, o que não obsta a que os recorrentes possam recorrer de tais decisões para o Tribunal de Última Instância no prazo legalmente fixado.”

O Director do SAFP,

José Chu

Exmo.º Senhor Director do Jornal Hoje Macau:

Page 23: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

23 opiniãohoje macau terça-feira 26.8.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

H Á 130 anos eclodira a primeira guerra franco-chinesa ou a guerra de Tonquim, onde a força naval gaulesa traçara uma linha estratégica de de-fesa que compreendia entre a orla marítima chinesa de Fuzhou a norte até Tonquim a Sul, incluindo as ilhas da Formosa e dos Pescadores.

Mais de um século volvido, a diplomacia económica francesa para a China, já não se atrevendo basear-se à força da canhoneira, está então assente numa estratégia total que integra o tecido empresarial francês e uma extensa rede de agentes de influência, sejam eles culturais, académicos ou políticos para consolidar a marca “França”.

Para os leitores de formação mais idealista, crendo mais no que deve ser, do que no que é, de certeza que farão a apologia dos amanhãs cantantes e diferentes do passado, mas a realidade é mais crua e mostra exactamente que no plano dos interesses nacionais, forma-tados pela história e pela geografia, além da localização dos recursos, a iluminada França mantém vivas e em total grau de prontidão o vector estratégico que percorre a costa chine-sa, de Norte a Sul, até ao que se chama hoje de Vietname, tal como no passado.

No momento em que se celebram os 50 anos das relações diplomáticas entre a República Francesa e a República Popular da China, recordando que só após a perda da Indochina Francesa, onde Pequim apoiou a guerra de libertação, tensões e jogos de sombras entre os dois países mantêm-se, em nada augura um momento áureo das relações franco-chinesas. Por causa dos franceses, há 130 anos a cidade de Hong Kong foi palco de um dos mais marcantes protestos contra ocidentais, em protesto aos massacres da Ma-rinha Francesa perpetrados contra chineses, assunto que o Cônsul-Geral não quis aflorar junto de um semanário de Hong Kong, e no ano de 2008 pudemos testemunhar de novo um levantamento nacional chinês de boicote aos produtos franceses na China. Além disto, se a V Coluna francesa está estacionada entre as Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e a de Macau, sendo esta a maior coluna civil gaulesa fora do espaço euro-atlântico, estes espaços geoestratégicos constituem ainda para Paris umas verdadei-ras plataformas de projecção de capacidade de influência, ou de poder na Ásia. A França mantém os mercados na ilha da Formosa em exploração e a parceria estratégica e militar com o Vietname.

o monóculo, a pena e a espadaVITÓRIO ROSÁRIO CARDOSO*

*Membro da Associação de Jovens Auditorespara a Defesa, Segurança e Cidadania de Portugal

(DECIDE Portugal)

Das ligações francesas às ligações perigosas no Oriente I

“A estratégia da diplomacia económica francesa a longo prazo centra-se cada vez mais na conquista de mentes e de corações sobretudo das gerações mais jovens”

Antes de analisarmos as implicações macroscópicas regionais da presença e acção francesas, importa entender organicamente a presença dos franceses na China e de suas dinâmicas, importa ainda reconhecer que a França, hoje, é descrita por vários meios de comunicação internacionais como extrema-mente eficiente e agressiva nas operações de inteligência industrial e económica.

Os conselheiros para o comércio externo da França são cerca de 25 entre as duas RAE’s e têm a função de informar e acompanhar activamente os processos sensíveis relacio-nados com o comércio externo francês, são ainda considerados especialistas nos seus sectores e a viver no coração do comércio internacional. O governo francês só fará as suas opções e tomará as suas decisões depois de analisadas as informações, conselhos e recomendações destes conselheiros. Não obstante, o circuito de relacionamentos dos agentes de apoio ao comércio externo francês alargam-se ainda a outras instituições no terreno, como a DGT, a Ubifrance, a Câma-ra de Comércio, a MEDEF Internacional, COFACE, OSEO, entre outras, tudo para o alargamento do espectro do conhecimento e da informação sobre o mercado.

Outra estratégia para o enraizamento no terreno do Conselho para o Comércio Externo é a promoção de estágios de de-senvolvimento internacional em empresas francesas para jovens voluntários locais, o que ajudará a um melhor entendimento do

terreno e para melhor afinar as estratégias de exportação e de internacionalização.

A estratégia da diplomacia económica fran-cesa a longo prazo centra-se cada vez mais na conquista de mentes e de corações sobretudo das gerações mais jovens desses mercados em questão, promovendo intercâmbios tanto atra-vés do Campus France Chine como através do Club France, mas também enviando cerca de seis mil jovens franceses para zonas onde não estejam ainda presentes empresas francesas. A expansão é total.

Em relação a áreas estratégicas de ele-vado interesse para a França, passa também pela construção de um centro de investigação franco-chinês na China, de entre os quais um Laboratório de Biossegurança, em Wuhan, para investigar infecções virológicas, in-cluindo o Ébola, com a presença do Centro de Investigação Pasteur na Universidade de

CHAR

LES

BART

ON, A

BBOT

T AN

D CO

STEL

LO M

EET

FRAN

KENS

TEIN Hong Kong, do Laboratório Internacional

ROCADE, para o estudo das ciências bioló-gicas, do Laboratório Molecular da Medicina Tradicional, entre outras unidades científicas e de Investigação e Desenvolvimento.

Para a França, não há diplomacia económica sem cultura, pois é através da disseminação da cultura francesa que se ajuda o país consolidar a marca da França, por isso, o Estado gaulês con-centrou esforços no estabelecimento de outros centros de investigação para se estudar a China contemporânea, tal como o Centro Francês para a Investigação da China Contemporânea (CEFC), com presenças não só em Hong Kong mas também em Taipei, ainda a Escola Francesa de Estudos Orientais (EFEO), o Liceu Francês, em Pequim, a Alliance Française com presenças em Pequim, Xangai, Tianjin, Dalian, Qingdao, Jinan, Nanjing, Xian, Hangzhou, Wuhan, Chengdu, Chongqing, Cantão, Ma-cau e Hong Kong (Jordan e Wanchai) ou as Escolas Internacionais Francesas, que ajudam a formatar ao longo de gerações de chineses a proximidade cultural à França.

Segundo pensamento de António Gramsci que é através da cultura que se tomam os meios de produção para o controlo do capital, nesta linha de pensamento adapta-se à dinâmica e as ligações francesas que apostam na influência através dos meios de comunicação e dos meios de publicação científica, o “softpower”. Assim, a França vai publicando a “China Perspectives”, a “COTE Magazine” edição de Hong Kong, a “Hong Kong Echo”, o “Lepetitjournal.com”, a “Paroles” e ainda a revista mensal “Trait d’Union”.

Já o associativismo francês em Hong Kong está organizado da seguinte forma, através do ”The Légion d’Honneur Club Hong Kong Chapter”, do “Club de la Légion d’Honneur, Chapitre de Hong Kong”, da “The French Alumni Association”, da “Enfants du Mékong”, do “Les Boules - Café Pétanque”, da “Hong Kong Theatre Association”, do “Hong Kong Petanque Club”, da “Hong Kong Accueil”, da “Association démocratique des Français de l’étranger (ADFE)”, e ainda do “Union des Français de l’Étranger/ Overseas French Association of Hong Kong”.

A iminência da rota de conflito entre os interesses franceses na China com os inte-resses franceses, nomeadamente energéticos e militares, no Mar da China Meridional com o Vietname, será assunto a aflorar em próximo artigo.

Page 24: Hoje Macau 26 AGO 2014 #3161

cartoonpor Stephff

DESAFIOS

hoje macau terça-feira 26.8.2014

Pequim Vistos para Portugal aumentam mais de 60% O número de vistos concedidos pela Embaixada de Portugal na China cresceu mais de 60% este ano, para cerca de 4.200 em sete meses e meio, ilustrando o crescente relacionamento bilateral nas áreas do turismo, educação e investimento. “Até meados de Agosto já tínhamos concedido mais vistos do que em todo o ano passado”, disse ontem fonte diplomática à agência Lusa, a propósito da abertura de um novo centro de atendimento de vistos de Portugal em Pequim. Os “vistos gold” garantem a autorização de residência e livre circulação no espaço Schengen a quem compre uma casa no valor igual ou superior a 500.000 euros, faça um depósito de um milhão de euros num banco português ou constitua uma empresa que crie pelo menos dez postos de trabalho. Portugal concedeu 476 “vistos gold” em 2013, cerca de 80% dos quais a cidadãos chineses, indica o relatório anual do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), difundido em Junho passado.

Porcos atirados ao rioO “Wuhan Evening News” revelou que 12 carcaças de porco foram encontradas a flutuar numa fonte de água potável num subúrbio de Wuhan. As pessoas que encontraram os animais no sábado julgam que alguém levou as carcaças para uma ponte de modo a poder atirá-las para a água. O rio em questão é uma fonte de água potável, mas as autoridades disseram que a qualidade da água não deve ter sido afectada porque os animais foram descobertos longe do sítio onde a água é extraída.

França PM demite-see Hollande pedenovo GovernoO Presidente francês, François Hollande pediu ao primeiro-ministro Manuel Valls, que ontem se demitiu, para que até terça-feira apresente um novo Governo, anunciou a presidência francesa. «O chefe de Estado pediu-lhe para constituir uma equipa coerente com as orientações que definiu para o nosso país», referiu a presidência em comunicado. A decisão surgiu na sequência de uma crise política e económica que abalou o Governo francês e num momento de queda da popularidade de Valls, que menos de seis meses depois de chegar ao cardo tem o apoio de apenas 36% dos franceses, segundo as sondagens. A renovação do executivo deverá incluir a saída do ministro da Economia, Arnaud Montebourg, que na semana passada atacou o que definiu como a «redução dogmática» do défice.

F ALECEU este domingo de madrugada, no Hospital Central de Maputo, o poeta moçambicano Eduardo

White, um dos nomes mais sig-nificativos da actual literatura moçambicana e autor de uma extensa bibliografia, inaugurada há 30 anos com “Amar sobre o Índico” (1984). Tinha 50 anos.

A morte de Eduardo White ocorreu às 3h da manhã, segundo uma mensagem colocada por fa-miliares na página de Facebook do escritor, que algumas horas depois

“Tenho uma janela amarela virada para Oriente. Docemente e sem assombro. Todos os dias me sento defronte dela para a olhar. E o vento que a

bate faz-me um incêndio para a escrever, desce devagar a rampa por onde a vou saltar. Minha e sem fim esta natureza fresca dos seus vidros, a luz que por ela é uma magia tão puríssima. Tenho a janela num quarto que amo, unido como o san-gue verde do vale que dela eu vejo, dos livros fechados em seus destinos, dos jor-nais aos montes e sem notícias. O ar deste quarto está de sorrisos e de surpresas, de desgostos que irão viver, cheio de lugares que ainda não sou. Oiço músicas dentro dele, caladas e brancas de repente, oiço cores inces-santes e um poeta que pressinto esteja a morrer. Leio as palavras que o são. Frias. Concretas. Óbvias e desertas. E a morte é um murmúrio por detrás de tudo o que gri-tam sem dizer. Um sibilar envenenado e arrepiante, um voar rasante e precipitante. A morte desenha-lhe as mãos que daqui posso ver a tremerem. E, por isso, fica o quarto mais cinzento, mais frio, severo como a pedra num deus. (pp.13-14)[…] Levanto-me.Vou supor-me a resistir. Lentamente até fugir.

Descubro corridas as cortinas das janelas deste quarto virado para Oriente. Afasto-as, e os olhos navegam pelos telhados das casas lá em baixo. São inú-meras e quadradas. Unidas como se quisessem cuidados umas das ou-tras. Talvez por dentro nem transpirem assim tanta solidariedade. Mas eu pen-so nas presenças que as tornam vivas e humanas, nas conversas que esconde-rão, nas crianças debruçadas para o beijo ou para a música, as refeições ace-sas pelos fogões. Afinal, hoje é do -mingo e toda a gente é um horizonte de si. Estão felizes com certeza, e se não estão tentam, por decerto terem pou-co do que rir nou-tros dias. O domingo é quase tétrico de nos vermos tão ni--tidamente. É, no fundo, como a morte onde se prevê aquele poeta. (pp.15-16)[…] Ai, meu grande e belo Médio Oriente de onde ve-jo África das suas janelas e oiço ru-gir uma fera nas savanas de Moçambique. Ali que é para onde devo ir. Definitivamente regressar. Nada nos é belo se for demasiadamente claro. Nada interessará. Portanto, arrumo, aqui, as ferramentas deste trabalho, desta paixão que te-nho pelas visões que encerro, pelo motor que as leva à minuciosa observa-ção dos espaços. E ainda assim sinto que me pesa tanto inconhecimento, tanta denotada fragilidade. Eu nada sabia desta remota possibilidade, deste lírico fer-vor que guardo pela imaginação. Gostaria imenso de falar-me disto, destas alegrias pacientes de que sou um exímio fazedor. Como sucedo que olho para o que a pensar direi melhor.”

O poeta moçambicano, filho de mãe portuguesa e pai inglês, era uma das principais figuras literárias do país tendo contribuído de forma decisiva nos anos 80 para a renovação da literatura nacional

FALECEU EDUARDO WHITE, POETA DAS LETRAS LUSÓFONAS

Até amanhã coração

já tinha mais de centena e meia de mensagens lamentando o desapa-recimento do autor de “Poemas da Ciência de Voar” e da “Engenharia de Ser Ave” (1992), “Janela para Oriente” (1999) ou “O Manual das Mãos” (2004).

Eduardo Luís de Menezes Costley-White nasceu a 21 de No-vembro de 1963 em Quelimane, de mãe portuguesa e pai inglês. É um dos poetas ligados à fundação da revista bimestral Charrua, da Associação de Escritores Mo-çambicanos (AEMO), que em

meados dos anos 80 contribuiu para renovar a literatura do país.

Em 2001, foi considerado a figura literária do ano em Mo-çambique, e três anos depois re-cebeu o Prémio José Craveirinha, atribuído ao seu livro “O Manual das Mãos”. Em 1992, já recebera o Prémio Nacional de Poesia por “Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave”.

Além de poesia, publicou tam-bém novelas e outros textos em prosa. Entre os seus livros mais recentes incluem-se “O Homem a Sombra” e a “Flor e Algumas Cartas do Interior” (2004), “Até Amanhã Coração” (2007), “Dos Limões Amarelos do Falo às Laranjas Vermelhas da Vul-va” (2009), “Nudos” (2011), antologia da sua obra poética, “O Libreto da Miséria” (2012), “A Mecânica Lunar” e “A Escri-ta Desassossegada” (2012), “O Poeta Diarista e os Ascetas De-siluminados” (2012), e “Bom Dia, Dia” (2014), recentemente lançado pela chancela portuguesa Edições Esgotadas.

EXTRACTO DO LIVRO “JANELA PARA ORIENTE”: