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• JAIME CARION AFIRMA Sem pressões de Ao Man Long nos lotes do La Scala PÁGINA 5 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 TERÇA-FEIRA 19 DE NOVEMBRO DE 2013 ANO XIII Nº 2977 • HABITAÇÃO ECONÓMICA Governo recebeu mais de 15 mil candidaturas PÁGINA 6 • ADVOGADOS DEFENDEM MAIS INDEPENDÊNCIA EM CASO DE ERRO MÉDICO PÁGINA 4 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Ella Lei considera que a liberalização do jogo não trouxe nada de positivo aos trabalhadores locais. Na verdade, a de- putada operária, eleita pela via indirecta, considera que os residentes continuam a ocupar as posições mais baixas nas hie- rarquias das empresas. A culpa, refere, é do Governo mas também das operadoras que preferem colocar trabalhadores vindos de fora, principalmente para os cargos de topo. A contratação de não-residentes é vista por Ella Lei como o último recurso. “Quando se importam trabalhadores isso não pode influenciar o emprego dos residentes locais. PÁGINAS 2 E 3 hojemacau APRENDER PORTUGUÊS “Cidadãos não sabem qual pode ser o seu futuro” PUB Ter para ler MAIS DE 3000 ALUNOS FREQUENTAM AULAS NO PÚBLICO E NO PRIVADO CENTRAIS Deputada indirecta aponta o dedo às políticas do Governo na área laboral

Hoje Macau 19 NOV 2013 #2977

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Edição do jornal Hoje Macau N.º2977 de 19 de Novembro de 2013.

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Page 1: Hoje Macau 19 NOV 2013 #2977

• JAIME CARION AFIRMA

Sem pressões deAo Man Long nos lotes do La Scala PÁGINA 5

PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 1 9 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 3 • A N O X I I I • N º 2 9 7 7

• HABITAÇÃO ECONÓMICA

Governo recebeu mais de 15 mil candidaturas

PÁGINA 6

• ADVOGADOS DEFENDEM

MAIS INDEPENDÊNCIAEM CASO DE ERRO MÉDICO

PÁGINA 4

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

Ella Lei considera que a liberalização do jogo não trouxe nada de positivo aos trabalhadores locais. Na verdade, a de-putada operária, eleita pela via indirecta, considera que os residentes continuam a ocupar as posições mais baixas nas hie-rarquias das empresas. A culpa, refere, é do Governo mas também das operadoras que preferem colocar trabalhadores vindos

de fora, principalmente para os cargos de topo. A contratação de não-residentes é vista por Ella Lei como o último recurso. “Quando se importam trabalhadores isso não pode influenciar o emprego dos residentes locais.

PÁGINAS 2 E 3

hojemacauAPRENDER PORTUGUÊS

“Cidadãos nãosabem qual podeser o seu futuro”

PUB

Ter para ler

MAIS DE 3000 ALUNOS FREQUENTAM AULAS NO PÚBLICO E NO PRIVADO

CENTRAIS

Deputada indirectaaponta o dedo às políticas

do Governo na área laboral

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2 hoje macau terça-feira 19.11.2013ENTREVISTA

CECÍLIA L [email protected]

A liberalização do jogo não trouxe a cereja que se esperava no topo do bolo. Ao invés de

serem directores e supervisores, os residentes continuam a ocupar as profissões mais baixas nas salas de jogo. A culpa, defende Ella Lei, é do Governo e das operadoras. Ao HM, a deputada indirecta, eleita pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), diz que a equipa liderada por Fer-nando Chui Sai On não tem feito o seu trabalho no sector laboral.

Há associações, como é o caso da Associação Novo Macau, que têm vindo a exigir que haja um salário mínimo para todos os sectores, e não apenas para as áreas da segurança e limpeza. Concorda?No fim, a lei tem que proteger todos os sectores. Segundo as experiên-

ELLA LEI, DEPUTADA DA FAOM, DEFENDE TRABALHADORES LOCAIS E APONTA QUE HÁ UM LONGO CAMINHO PELA FRENTE

“Passados 10 anos, ainda estamos a fazer trabalhos básicos nos casinos”

cias anteriores, e tendo em conta que a consulta pública já demorou imenso tempo, não podemos de-morar ainda mais para discutir a questão para todos os sectores. A experiência em Hong Kong mostra que podemos fazer uma legislação para as camadas sociais que mais precisam de protecção salarial, por isso no futuro podemos realizar uma revisão da lei.

No encontro com a FAOM, o Chefe do Executivo disse que não pode apresentar este ano a proposta de lei para o salário mínimo. Existe alguma ideia do calendário para esta legislação?O Governo não revelou o calendá-rio, nem sequer para a importação das empregadas domésticas.

Sobre essa questão da importa-ção de empregadas domésticas, a FAOM tem alguma proposta para o salário médio que estas pessoas devem receber? Não. No caso das empregadas do

continente estamos a falar de um mercado livre. É sempre diferente de outros trabalhadores, porque as empregadas estão envolvidas em outras questões, como a necessi-dade de alojamento e refeições. Contudo, entendemos que as cidades vizinhas podem oferecer valores mais altos para as empre-gadas. Para se trabalhar em Macau elas vão receber menos 20% por causa da taxa de câmbio entre o renminbi e a pataca, por isso se o salário oferecido pelos patrões na RAEM não for o ideal, nem vale a pena sair da terra natal. Desde que o secretário Francis Tam disse que este ano iam começar a ser impor-tadas empregadas do continente que não houve mais detalhes sobre esta política.

Qual a sua posição face à legis-lação que proíbe o acesso dos não-residentes a determinadas profissões? Muitos já disseram que estamos a dar demasiada protecção aos

trabalhadores locais. Mas acho que isso está a levar a uma mudança de foco. Acredito que a garantia de emprego não é apenas uma maneira de sobrevivência, mas é também uma forma de garantir a estabilidade social. Em todos os países, o Governo tem que garantir a prioridade de manter o emprego para locais. Não estamos a dizer que não deixamos os não--residentes entrarem no mercado, mas queremos que o Governo altere o mecanismo de gestão para a importação de trabalhadores.

Pode explicar melhor este me-canismo?Os trabalhadores não-residentes podem compensar a escassez de recursos humanos, bem como as profissões que os residentes não conseguem ocupar por não dominar a tecnologia utilizada ou os conhecimentos necessários. Apesar disso, tem de haver um mecanismo de escoamento de pessoas. O Governo queixa-se de que há falta de recursos humanos, mas realmente não está a deixar espaço para os profissionais. Os sectores não têm um desenvol-vimento saudável. Quando entro num restaurante, por exemplo, vejo que são todos não-residentes, e até os locais acham que não há pos-sibilidade de serem promovidos, porque os salários também não vão aumentar e o patrão prefere pagar menos. Há muitos sectores do mercado em que não existe um único membro nas equipas que seja residente. Há muitos engenheiros que se queixam dos projectos de

No geral, o Governo não tem feito bem o seu trabalho, porque os cidadãos não sabem qual pode ser o seu futuro em termos laborais

HOJE

MAC

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3 entrevistahoje macau terça-feira 19.11.2013

Os cargos de topo nas operadoras, por exemplo, são sempre ocupados por estrangeiros, e os patrões nem sequer tentam formar os funcionários

ELLA LEI, DEPUTADA DA FAOM, DEFENDE TRABALHADORES LOCAIS E APONTA QUE HÁ MUITO A FAZER

“Passados 10 anos, ainda estamos a fazer trabalhos básicos nos casinos”

casinos no Cotai, porque os resi-dentes não podem participar no núcleo de trabalho, uma vez que há sempre especialistas estran-geiros. Depois deixam Macau e os engenheiros locais acabam por não aprender nada.

O que é que o Governo pode fazer?Considero que o Governo deve fazer uma política para que as empresas possam contratar não--residentes apenas quando se verifique uma falta de recursos humanos. Porque quando se importam trabalhadores isso não pode influenciar o emprego dos residentes locais.

Isso significa que haverá profis-sões às quais os não-residentes não terão acesso. Sim. Quando se confirmar que há empregos sobre os quais as empre-sas não têm quotas para recrutar não-residentes, então aí devem começar a treinar os empregados

locais para dar resposta à procura. Essa é uma responsabilidade da empresa. O Governo pode dar uma orientação para que essas empresas criem incentivos de promoção nas carreiras. Por exemplo, um incentivo para que um cozinheiro participe em competições ou consi-ga criar novos pratos, para que seja mais qualificado. Contudo, penso que a política de importação dos trabalhadores não-residentes já é uma maneira de intervir no mer-cado de trabalho. Quando houver escassez de recursos humanos os trabalhadores locais podem discu-tir os salários com os seus patrões. Mas quando houver demasiados não-residentes isso pode causar problemas à promoção dos locais. Já vi muitos casos de residentes que sofreram despedimentos sem justa causa.

GOVERNO E OPERADORASTÊM A CULPA

Este fenómeno surgiu com a li-beralização do mercado do jogo?Em grande parte sim. Desde a abertura que a economia se de-senvolveu muito, mas os cidadãos sentem que esse desenvolvimento em nada tem a ver com a sua vida, porque embora os salários tenham aumentado, a inflação também aumentou. As casas não podem ser compradas e agora até os empregos podem vir a ser ameaçados por não-residentes. É por isso que as pessoas saem para a rua em protesto contra a política de importação para profissões que sempre estiveram reservadas aos locais, como é o caso do emprego de croupier. As queixas são enormes.

Quem tem as maiores responsa-bilidades sobre este fenómeno? Tanto o Governo como as em-presas, e especialmente as ope-radoras de jogo. Passaram 14 anos desde a transição, 10 anos sobre a abertura do mercado. Porque é que a questão da falta de profissionais ainda não foi resolvida? Numa análise geral pode-se dizer que o Governo nunca deu grande atenção para esta questão. Os cargos de topo nas operadoras, por exemplo, são sempre ocupados por estran-geiros, e os patrões nem sequer tentam formar os funcionários. E depois, o Executivo não faz uma política de incentivo, por isso as

empresas acham que nunca há motivos para apostar nisso.

A profissão de croupier é, de facto, o cargo ideal para os re-sidentes?Não posso dizer que seja o cargo ideal, mas a grande oferta de lugares pode resolver a questão de sobrevivência económica dos locais, especialmente os que são da classe média. Em Macau, este fenómeno ainda existe: quem pertence à classe média ainda tem

de fazer este trabalho, ou ainda, por exemplo, exercer o cargo de condutor profissional. Este tipo de empregos são considerados o pilar da economia familiar. O Governo deve garantir o direito de acesso a estes empregos, porque funcionam como forma de estabilidade social.

Mas muitos defendem que im-portar pessoas pode aumentar a competitividade dos locais. Não acho que a solução seja essa. Quando o mercado do jogo foi li-beralizado, Macau não tinha muitas pessoas que estivessem preparadas para trabalhar nos casinos, mas já deveríamos saber mais e ter mais capacidades. Infelizmente, hoje isso não se verifica. Passados 10

O Governo queixa-se de que há falta de recursos humanos, mas realmente não está a deixar espaço para os profissionais

anos, ainda estamos a fazer traba-lhos básicos nos casinos. Então de quem é a responsabilidade? Deveríamos pensar sobre isso seriamente. Estamos sempre a pedir que os cargos de direcção e de supervisão sejam dominados pelos residentes. Mas o problema é que temos capacidades, mas não temos oportunidades.

Que escolhas têm hoje os jovens para além da Função Pública e do sector do jogo? Há, de facto, mais escolhas? Aí falamos sobre o planeamento do emprego. O Governo ainda não fez grandes estudos sobre a falta de recursos humanos, e também falta transparência nas informações que são dadas. Agora, os alunos podem ver a base de dados dos recursos humanos (publicada no website do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior) para decidirem os seus estudos superiores. Podem também saber se o seu curso se adequa aos empregos existentes. O Governo parece ter um plano para o desenvolvimento da saúde, então os jovens podem esforçar--se nessa área. Mas no geral, o Governo não tem feito bem o seu trabalho, porque os cidadãos não sabem qual pode ser o seu futuro em termos laborais.

PROIBIR O FUMO JÁ

Falando agora da situação das salas de fumo nos casinos. Mui-tos croupiers queixam-se que a situação só piorou depois da nova lei. Concorda?A redução da área do fumo pode causar uma concentração do mes-mo para os trabalhadores. Podemos ver que os testes de qualidade do ar mostram que as zonas de fuma-dores só causam mais poluição e problemas de saúde. Então porque não implementar já a proibição total de fumo nos casinos? Acho que esse deve ser o destino da legislação.

Que leis deveriam, na sua opi-nião, ser aprovadas brevemente na Assembleia Legislativa?Sem dúvida a Lei da Violência Doméstica, porque ouvi o deputado Leonel Alves dizer que ainda há possibilidade de ser debatida nesta legislatura. Há também a Lei do Erro Médico. Mas tudo depende da eficácia dessa legislação. Ainda temos um caminho muito longo a percorrer. O Governo deveria rever as políticas da habitação pública, bem como a legislação relacionada com o crime de tráfico e uso de estupefacientes.

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4 hoje macau terça-feira 19.11.2013POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

A proposta de Lei do Erro Mé-dico só agora começou a ser analisada pelos deputados, mas já gerou reacções diferentes.

Enquanto que muitos médicos dizem que o diploma de nada serve e que pode gerar um rol de queixas, os deputados já afirmaram que a lei é importante mas que não é urgente.

A origem dessa falta de urgência prende-se com o facto dos Códigos Civil e Penal já conterem normas sobre este tipo de casos. No Código Penal há re-gras sobre a “intervenção ou tratamento médico-cirúrgico arbitrário”. Caso um médico aplique um tratamento “sem consentimento eficaz do paciente” pode

Lei sobre violência doméstica pronta “em breve”O director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), André Cheong, disse ontem à Rádio Macau que “o processo legislativo sobre a violência doméstica está na fase final”. “Vai em breve ser finalizado e quando tiver condições vai ser apresentado. Está mesmo na fase final, estamos a esforçar-nos para que seja o mais breve possível”, acrescentou, à margem de uma conferência integrada no Programa de Cooperação na Área Jurídica entre Macau e a União Europeia. André Cheong não quis ainda comentar a situação causada pelo chumbo do mesmo projecto do deputado Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa, em que, segundo o actual Regimento da AL, poderá adiar a apresentação do diploma no hemiciclo.

Escolas com novas regrasem tempo de tufãoNovas regras para as escolas, em dias de tufão, vão ser aplicadas a partir do próximo dia 1 de Dezembro. Foi ontem publicado em Boletim Oficial que quando o sinal de chuva intensa estiver içado às 6h30, ou sendo emitido entre as 6h30 e as 9 horas, as turmas de todos os níveis de ensino e do ensino especial suspendem as actividades programadas para o dia. Se o sinal de chuva intensa for cancelado antes das 11h30, as turmas do ensino secundário retomam as actividades programadas para a parte da tarde. Se o sinal estiver içado às 11h30, ou sendo emitido entre as 11h30 e as 14 horas, as turmas de todos os níveis de ensino e do ensino especial suspendem as actividades programadas para a parte da tarde. Nos dias em que o sinal número 3 de tempestade tropical estiver içado às 6h30, as turmas dos ensinos infantil, primário e especial suspendem todas as actividades programadas para o dia. Mantêm-se as actividades do ensino secundário. Estando içado o sinal número 3 de tempestade tropical às 11h30, as turmas dos ensinos infantil, primário e especial suspendem as actividades programadas durante a parte da tarde, mantendo-se as actividades programadas para o ensino secundário. Quando o sinal número 8 de tempestade tropical estiver emitido às 6h30, as turmas de todos os níveis de ensino e do ensino especial suspendem todas as actividades programadas para o dia e, mesmo que seja substituído pelo sinal número 3 ou inferior, ou sejam retirados todos os sinais de tempestade tropical, depois das 6h30, não serão retomadas. As novas regras ditam ainda que estando içado o sinal número 8 ou superior de tempestade tropical às 11h30, as turmas de todos os níveis de ensino e do ensino especial suspendem todas as actividades programadas para a parte da tarde.

Viriato Lima continua juiz do TUIFoi ontem publicado um despacho em Boletim Oficial que determina a renovação do cargo de juiz a Viriato Lima no Tribunal de Última Instância (TUI) por mais dois anos, sendo que a renovação entra em vigor a partir do próximo dia 20 de Dezembro.

Programa “Simplegis” pode ser aplicado em MacauSegundo a Rádio Macau, a jurista portuguesa Diana Ettner defende que o programa “Simplegis”, de simplificação de leis, e que foi aplicado em Portugal entre Maio de 2010 e Junho de 2011, poderia ser introduzido na RAEM. “Há, com certeza, muitos aspectos que aqui implicarão uma actuação diferente, mas podemos ver e discutir o que pode ser aproveitado”, disse a antiga Adjunta do Gabinete do Secretário de Estado da Justiça e do Gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, durante os governos de José Sócrates.

Um médico acusado de homicídio por negligência ou de aplicar tratamento sem consentimento do doente pode sofrer uma pena de prisão até três anos, mas há outras situações. Dois advogados defendem mais independência, pois um hospital envolvido num caso pode nomear um funcionário para efectuar peritagem

ERRO MÉDICO O QUE DIZEM OS CÓDIGOS PENAL E CIVIL?

Normas gerais numsistema complexo

ver ser-lhe aplicada pena de prisão até três anos, ou uma pena de multa.

Casos de “negligência grosseira” ou de mudança de tratamento sem ter garantias de consentimento, o médico pode sofrer até seis meses de prisão ou multa de 60 dias. Contudo, o Código avisa que “o procedimento penal depende da queixa”.

Ainda no Código Penal, constam os artigos de “homicídio por negligência”, que podem levar a penas de prisão até três anos. “Negligência grosseira” vai até cinco anos. Na “ofensa ao corpo e saúde” que “vier a produzir a morte” as penas de prisão variam entre dois a oito anos, ou cinco a 15 anos, conforme os casos.

Quanto ao Código Civil, tem diver-sos artigos que versam sobre a “impu-

tabilidade”, “culpa”, “responsabilidade pelo risco” ou “dever de indemnizar”.

MAIS SEPARAÇÃOENTRE TRIBUNAL E HOSPITALPara além destas normas, existe, desde 1991, o regime da responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas, o qual abrange apenas o serviço público de saúde.

Actualmente, em tribunal, cabe a cada uma das partes do processo nomear um perito em medicina para avaliar o caso. Mas segundo disse uma advogada ao HM, que pediu para não ser identificada, existe o risco do perito ser nomeado pelo hospital onde trabalha, mesmo que o hospital seja arguido no caso.

Essa mesma advogada afirma que já venceu a maioria dos casos de erro médico. “Há muita coisa em causa e o sistema é complexo. Há muitos casos. O problema é que muitas vezes (os peritos) são médicos inseridos dentro da mesma hierarquia, os hospitais são os mesmos, e nestas coisas os médicos são muito solidários. Mas, de facto, os erros existem.”

Com a nova proposta de Lei do Erro Médico, esses peritos irão constituir a futura comissão de perícia, que se quer independente e que irá analisar as quei-xas dos pacientes, bem como elaborar relatórios.

Miguel de Senna Fernandes concorda com a independência. “Aí os tribunais entram numa total contradição. Numa situação em que o hospital está no banco dos réus, o tribunal não tem conhecimen-tos técnicos para avaliar a veracidade dos factos. Vai ter de perguntar novamente ao hospital. É necessário que haja uma organização independente para testar a existência ou não de um caso concreto, de um erro médico.”

O advogado considera que os Códigos “têm normas muito genéricas”, e que é precisa uma lei que defina o que é o erro médico. “Vai ter mesmo que abordar esta matéria porque caso contrário será uma coisa inócua, porque o erro médico vai trazer como consequência multa ou privação de liberdade. Mais importante seria encontrar a definição legal deste mesmo erro.”

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5 políticahoje macau terça-feira 19.11.2013

JOANA [email protected]

J AIME Carion garante que nunca teve qualquer indi-cação de Ao Man Long, ex-secretário para as Obras

Públicas e Transportes, no que diz respeito à aprovação da transmis-são dos lotes de terreno em frente ao aeroporto à Moon Ocean. Em mais uma audiência do chamado

E M mais uma audiência do caso das ETAR, que decorre no Tribunal

Judicial de Base, duas teste-munhas arroladas pela defesa de Luc Vriens – o responsável da Waterleau a ser julgado por alegada corrupção activa – garantiram que a escolha da empresa belga recaiu na qua-lidade da tecnologia oferecida.

A acusação diz que a Wa-terleau – que concorria em consórcio com a Companhia

Nem directa, nem indirectamente. Jaime Carion, director das Obras Públicas, afirmou ontem que nunca foi pressionado por Ao Man Long no que diz respeito aos lotes do La Scala. Carion confirmou ainda que não foi o ex-secretário quem deferiu pedidos posteriores da Moon Ocean, mas sim Lau Si Io, sendo que Ao Man Long pediu inclusive que se aperfeiçoassem propostas da empresa até que estas estivessem em concordância com a legislação

LA SCALA JAIME CARION NEGAQUAISQUER PRESSÕES DE AO MAN LONG

Lau Si Io é que aprovou pedidos da Moon Ocean

ETAR TESTEMUNHAS TENTAM DEMONSTRAR QUE WATERLEAU FOI ESCOLHIDA PELA TECNOLOGIA

Sem concorrência e com invenções própriasde Construção e Engenharia da China e com a ATAL Engineering – subornou o ex-secretário para que este

lhes adjudicasse a constru-ção, gestão e operação das ETAR do Parque Transfron-teiriço e da segunda fase da

de Coloane. Ontem, Pedro Redinha tentou demonstrar mais uma vez que foi a tecnologia de ponta que a Waterleau usava na altu-ra dos factos que ditou a escolha da empresa. Dois funcionários da empresa belga, entre os quais o vice--presidente, Eddie Frans, deram força à tese da defesa. “Fazemos exposições em todo o mundo para demons-trar as nossas tecnologias.

A nossa força no mercado era isso e investimos muito em colaborações com uni-versidades, temos edifícios para fazer testes-piloto, é uma das razões por que somos grande sucesso”, referiu Frans. “Muitas em-presas conseguem construir tanques de cimento, mas acredito que, na altura, não tínhamos concorrência [face à nossa tecnologia].”

Essa tecnologia passava,

por exemplo, por invenções feitas pelo próprio Luc Vriens. Além disso, acres-centou ainda Frans, a Wa-terleau tinha métodos para conseguir colocar tanques de grande capacidade em espaços pequenos, como é o caso de Macau.

Na sessão de ontem, as testemunhas afirmaram ainda que é normal arranjar parceiros locais nos vários países onde a Waterleau tem projectos – e que são quase uma centena – e que era Luc quem contactava directamente com os gover-nos a parte comercial destes projectos. – J.F.

caso La Scala, o director das Obras Públicas foi chamado a depor como testemunha pela defesa de Steven Lo, o empresário de Hong Kong responsável pelo empreendimento de luxo.

Lo e Joseph Lau, outro empre-sário, vêm acusados de ter suborna-do Ao Man Long para ficarem com as terras em frente ao aeroporto, que pertenciam à empresa Lei Pou Fat - privada, mas maiorita-riamente detida pelo Governo. A tese da defesa, contudo, é que se o ex-secretário tivesse favorecido a Moon Ocean – empresa de Steven Lo -, então também o teria feito com outros pedidos da companhia, relacionados com os mesmos lo-tes. Contudo, conforme dito pela acusação e ontem confirmado por Jaime Carion, isso não aconteceu. “Em 2006, foi pedida a alteração da finalidade do terreno e foi subme-tido um plano de aproveitamento, mas a Autoridade de Aviação Civil de Macau deu um parecer negati-vo e não foi autorizado”, frisou Carion. O pedido dizia também respeito ao aumento das alturas das torres do La Scala. O director das Obras Públicas, que era também, à altura dos factos, presidente da Comissão de Terras, assegura que se recorda de diversas reuniões sobre estes pedidos, por haver “questões prementes” a ponderar. Entre elas, o facto de o radar dos Serviços Meteorológicos e Geofí-sicos (SMG) poder ser tapado com os prédios.

Foi só depois de pareceres de diversas entidades - entre as quais a CEM, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, a Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau, os SMG – que os requerimentos feitos pela Moon Ocean foram aprovados. E Jaime Carion explicou pormenorizada-mente a tramitação do processo. “Foi apenas em princípios de 2007 que se aprovou. Nunca houve reuniões com o dono da obra, só com os projectistas. Entre Janeiro a Março, culminou com um parecer positivo, depois fiz

um parecer meu e entreguei-o ao secretário.” Este, contudo, não era Ao Man Long.

NAS MÃOS DE EDMUND HO Um dos pontos que tem sido rebatido pela defesa de Lo e de Lau é que foi Lau Si Io, o actual secretário para as Obras Públicas e Transportes, que aprovou os pedidos da Moon Ocean. “Nunca houve deferimentos de Ao Man Long. Nunca houve aprovações antes, certo?”, atirou Jorge Neto Valente, defesa de Steven Lo. Jaime Carion assentiu. “Nunca vi nenhum despacho de [Ao Man Long]. Creio que não houve, apesar de não poder garantir com toda a certeza que não houve [despacho de deferimento].”

Jaime Carion afirmou que Ao Man Long – já condenado, recorde--se, por corrupção passiva – se limitou a concordar com pareceres enviados pela Comissão de Terras que davam, portanto, aval negativo às modificações do terreno e das alturas e frisou mesmo que as in-tervenções do Chefe do Executivo e do ex-secretário nas questões dos terrenos eram mínimas até chegar à parte da autorização. “Nunca houve nada [de pressões], directa ou indirectamente, seja por telefone ou pessoalmente. Entendi que havia matérias que deveriam ser rectificadas [antes da aprovação dos pedidos] e disse ao ex-secretário. Como tudo foi feito pelo Gabinete de Desenvolvimento de Infra-Estruturas, ele disse-me para falar com os técnicos para aperfeiçoar as propostas até estas estarem em concordância com a legislação em vigor.”

Na audiência de ontem ficou ainda registado que era Edmund Ho, então Chefe do Executivo, quem tinha a palavra final sobre as autorizações. A transmissão de terras foi homologada por Edmund Ho e, confirmou ainda Carion, este teria o direito de não autorizar nada caso não concordasse com os pareceres das comissões ou do ex-secretário. Lau Si Io

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6 política hoje macau terça-feira 19.11.2013

RITA MARQUES [email protected]

E MBORA as informações em detalhe só sejam reve-ladas amanhã, o Instituto de Habitação (IH) adiantou ao

HM que deram entrada nos serviços 15031 candidaturas com intenção de adquirir uma habitação econó-mica. Nesta lista provisória, saber--se-á quantos serão os agregados familiares que estão qualificados e preenchem todos os requisitos. Esta nova corrida às casas públicas, que decorreu entre 27 de Março e 26 de Julho, mostra ainda, um acréscimo face ao número de candidatos registados no concurso de 2010, onde 12 mil residentes ficaram em lista de espera.

E mais habitação pública vem a caminho. Ontem ficou a saber-se, por meio do Boletim Oficial (BO), que foi adjudicada à Companhia de Fomento Predial Sam Yau a empreitada de construção dos lotes E e F do Fai Chi Kei, blocos com 30 e 33 pisos, respectivamente, que se situam no terreno à Rua do Comandante João Belo, com uma área de mais de 33 mil metros quadrados. O empreendimento irá fornecer um total de 436 fracções habitacionais - 336 T2 e 100 T3.

D EPOIS de Chui Sai On ter dito na As-sembleia Legislativa

(AL) que 80% da popula-ção residente possui casa própria, eis que a deputada Kwan Tsui Hang voltou a acusar o Executivo de “não ter qualquer política para responder às preocupações da população sobre a habi-tação económica”.

Os dados, divulgados posteriormente pelo Gabine-te de Estudo das Políticas, di-zem respeito a 2011 e, segun-do a deputada, não só dizem respeito aos últimos Censos

IMOBILIÁRIO COMPRA E VENDA DE CASAS CAIU 51%

Kwan Tsui Hang volta a criticar dados da habitação

HABITAÇÃO ECONÓMICA SAM YAU FOI A ESCOLHIDA PARA CONSTRUIR NO FAI CHI KEI

IH recebeu mais de 15 mil candidatosOs números dos candidatos qualificados às fracções económicas são conhecidos amanhã. No entanto, sabe-se já que foram entregues 15 mil boletins de residentes com intenção de adquirir um destes apartamentos. A Companhia de Fomento Predial Sam Yau ficou encarregada de construir a nova obra pública no Fai Chi Kei no valor de mais de 416 milhões de patacas

RESERVATÓRIO TERÁ NOVO TRAJECTO PEDONAL. BOMBEIROS COM NOVO POSTOA Empresa de Construção e Obras de Engenharia Tak Fat Kin Ip, Limitada vai realizar, pelo valor de mais de 21,5 milhões e patacas, a empreitada da passagem entre a Estrada da Bela Vista e a Avenida de Venceslau de Morais. O projecto só deverá estar concluído em ano e dois meses e espera-se que beneficie o trânsito nos próximos eventos automobilísticos. A mesma empresa foi, igualmente, autorizada a executar a empreitada da ampliação do posto operacional de bombeiros, junto ao Lago Sai Van, por um montante acima das 24,8 milhões de patacas. Os anúncios foram conhecidos ontem em Boletim Oficial.

como “não correspondem à realidade”. “O Governo só analisa a problemática do imobiliário na perspectiva do investimento”, escreveu na sua interpelação escrita, citada pela Rádio Macau.

Entretanto foram ontem divulgados novos dados so-bre as casas transaccionadas em Macau no terceiro tri-mestre. Segundo a agência Lusa houve uma queda de 51% em termos trimestrais para 3.193 unidades geran-do um valor global de 13,84 mil milhões de patacas menos 59%.

Os dados, dos Serviços de Estatística e Censos do Governo de Macau, são baseados no imposto de selo cobrado na transmissão de imóveis, sustentam também que o preço das 90 habitações vendidas em edifícios em construção gerou um valor global de 900 milhões de patacas, menos 95% do que no trimestre anterior. Do total das fracções autónomas vendidas, 1.908 eram habita-cionais. Já o preço médio do metro quadrado das fracções autónomas habitacionais caiu de 88.957 patacas no se-

gundo trimestre para 66.936 patacas no terceiro trimestre, uma quebra de 25%, valores registados devido ao “decrés-cimo notável das fracções autónomas habitacionais de edifícios em construção que foram transaccionadas com preços elevados”, justificam os serviços.

Os Serviços de Estatística justificam a quebra dos pre-ços e das transacções com a entrada em vigor do regime jurídico da promessa de transmissão de edifícios em construção e da lei da activida-de da mediação imobiliária.

PLANO DE PAGAMENTOS À SAM YAU

2013 104.148.422,25 patacas

2014 90.000.000,00 patacas

2015 206.823.000,00 patacas

2016 15.622.266,75 patacas

A proposta foi a seleccionada dentre outras 12 admitidas pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) e não se sabe qual o prazo exacto que levará a erguer o empreendimento. Contudo, a obra foi adjudicada por um montante de cerca de 416,6 milhões de patacas - um valor intermédio aos orçamentos propostos pelas 12 empresas, que variavam entre as 389 e 489,9 milhões de patacas - e a sua exe-

cução irá prolongar-se por mais de um ano económico. O orçamento será escalonado em quatro anos, sendo suportado pelo plano orça-mental da RAEM. Prevê-se que a empreitada venha a criar cerca de 400 postos de trabalho.

No mês passado, foram postas à venda as fracções dos aparta-mentos T2 com valor entre as 835,2 mil e as 1,056 milhões de patacas.

Este ano, foi igualmente ad-judicado à Sam Yau a empreitada de remodelação de equipamentos sociais na habitação pública de Seac Pai Van, no valor de 89,9 milhões de patacas; a obra de re-estruturação do Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior, com um orçamento previsto em 87 milhões de patacas e, ainda, a empreitada de alteração e alarga-mento do Centro de Recuperação de Doenças Infecciosas no Alto da Montanha de Coloane, no valor de 319 milhões de patacas.

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GONÇ

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LOBO

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7SOCIEDADEhoje macau terça-feira 19.11.2013

JOANA [email protected]

O S três cachorros que estavam no canil à espera de serem adop-

tados adoeceram antes de conseguirem chegar a uma nova casa. De acordo com um comunicado enviado ao HM por Cláudia Ferreira - a portuguesa membro do gru-po SOS Animals in Macau, que tem acompanhado o caso e que denunciou tari-fas exageradas na adopção dos animais - os três cães poderão estar com esgana e a responsabilidade poderá ser do Instituto Cívico para os Assuntos Municipais (IACM).

Segundo Cláudia Ferrei-ra, todos os animais comiam de forma normal até ao dia 6 deste mês, mas um dos cães terá começado com sintomas de febre. “De acordo com a Dra. Wu [veterinária do canil], foram feitos novos testes, confirmando a pre-sença de Esgana em todos, aparentemente, e desde então que estão a ser medi-cados”, começa por explicar a portuguesa ao HM.

O problema é que Cláu-dia assegura que todos os

A TÉ ao final de Outubro de 2013, registaram-se mais de 5.700 membros

aderentes ao Programa de Pontos Verdes. Esta semana foram lan-çadas as actividades da segunda fase do Programa - acção para efectuar a separação de resíduos - no qual uma equipa de guias irão prestar o serviço de guia de visita na Zona Ecológica do COTAI, desenvolvendo a função pedagógica.

IACM ACUSADO DE SER RESPONSÁVEL POR DOENÇAS CONTRAÍDAS POR ANIMAIS CAPTURADOS

Canil fatal

PROGRAMA DE PONTOS VERDES CONTA COM MAIS DE 5000 MEMBROS

Ambiente mais solidariamente ecológico

animais se encontravam em bom estado de saúde antes de irem para o canil. “No dia 31 [de Outubro] fizeram testes que deram negativo para todas as doenças e iniciaram um tratamento à progenitora que estaria com uma infecção. Confirmou-se a minha suspeita: a cadela foi capturada a 24.10.2013 e até ao dia 31.10.2013 nada havia sido feito ou testado. Na segunda-feira, dia 11 [de Novembro], foi confirmado que um outro cachorro esta-va com febre e com diarreia e explicaram que os primeiros testes que deram negativos, poderiam ser falsos negati-vos. Pelas minhas contas, e tendo em conta o período de incubação (1 a 3 semanas), o mais provável é que estes três cães tenham chegado ao Canil saudáveis e no período em que estiveram nas instalações contraíram o vírus, quase sempre mortal.”

Cláudia diz ter “suspeitas bastante realistas” de que os animais tenham adoecido no canil. Isto, porque não há condições de higiene suficientes para separar os animais capturados doentes dos saudáveis. E dá exem-plos: “a Mãe encontra-se numa [jaula] sozinha, mas

perspectiva de tentar afastar os animais do local que julgo ser um foco de doenças e na esperança de poder salvar pelo menos dois dos três animais doentes”, refere.

SEM RESPOSTASAté agora, nada foi respon-dido. Cláudia assegura que o IACM deveria ser mais responsável no que diz res-peito à higiene dos animais. “O IACM e o canil municipal têm como objectivo a saúde pública dos residentes e, para isso, capturam os animais que vagueiam pelas ruas. O facto de recolherem todos os animais que encontram e de os meterem num espaço com condições limitadas, permite que animais saudáveis vivam num foco de infecções. O IACM é responsável pela captura de três animais sau-dáveis que contraíram uma doença fatal no próprio Canil e cujo destino será muito provavelmente a morte, não contabilizando aqui os gastos que entretanto o Governo tem tido com estes cães, ignoran-do as nossas tentativas e in-clusive da ANIMA de resgate dos mesmos. Se os cães não recuperarem de saúde, essas responsabilidades merecem ser apuradas.”

Ao HM não foi possível obter esclarecimentos do IACM, devido ao adiantado da hora, relativamente à questão do controlo da saúde dos animais, mas as questões foram enviadas por email e aguardam resposta.

contigua à do outro filho. Estão separados para não se contagiarem mais, mas no entanto podem respirar, espirrar, cheirar através das

grades. O que, a meu ver me parece ridículo, tendo em conta que nem estão juntos, nem estão realmen-te isolados para prevenir

contágios.” A portuguesa pediu os relatórios médicos dos cachorros, para conse-guir transferi-los para uma instituição veterinária “na

O programa é feito com o apoio da União Geral das Asso-ciações dos Moradores de Macau (UGAMM), com vista a aproveitar “vigorosas redes comunitárias”, explica a DSPA. Numa primeira fase, recrutaram-se já cerca de 40 pessoas, que são estudantes, trabalhadores em actividade e reformados, por forma a juntar as forças verdes das diferentes camadas sociais, a trabalharem solidariamente na linha de frente.

A DSPA tem vindo a promover o curso de formação específica para os “fãs ambientais”, tendo sido destacado um trabalhador para proporcionar todas as infor-mações e ensinar as matérias sobre conhecimentos ecológicos, tais como os tipos de aves e plantas mais conhecidas de Macau e co-nhecimentos de ecologia básicos, dando, ainda, formação no local, na Zona Ecológica.

Há mais de 10 postos de re-

colha de resíduos recuperáveis espalhados pelo território, onde se recolhem, periodicamente, três tipos de materiais recicláveis - papéis, garrafas de plástico e latas de alumínio e ferro -, por forma a articular com a iniciativa “redução de resíduos a partir da fonte”, que é parte importante da política de ambiente do Governo da RAEM, impulsionando a comunidade a proceder à reciclagem selectiva de resíduos.

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8 hoje macau terça-feira 19.11.2013CHINA

T AIWAN anunciou ontem oficialmente a ruptura dos laços diplomáticos com a

Gâmbia, depois do fracasso de uma tentativa de última hora para os salvar com o envio àquele país africano de uma delegação de alto nível.

O anúncio foi feito em Taipé, durante uma confe-

P ELO menos 13 norte-coreanos foram detidos na cidade fron-teiriça de Kunming, no sul da

China, quando tentavam chegar à Coreia do Sul, informou ontem a imprensa sul-coreana.

A polícia chinesa deteve os 13 norte-coreanos quando tentavam entrar num autocarro para se dirigi-rem para outro país a sul da China, de acordo com a agência noticiosa sul-coreana Yonhap, que cita fontes sul-coreanas que defendem a causa dos refugiados do norte.

O Dong-A Ilbo, um jornal de Seul, também deu conta destas detenções, mas refere 15 detidos. Já o Ministério da Unificação sul--coreano indicou que estava a tentar confirmar estas informações.

Cerca de 25 mil norte-coreanos fugiram do seu país para se refu-giar na Coreia do Sul desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53). A

maior parte foge a pé para a China, de onde tenta depois chegar a um país terceiro, geralmente a Tailân-dia através do Laos, para chegar à Coreia do Sul.

Se forem detidos na China e enviados novamente para a Coreia do Norte, os norte-coreanos arris-cam a prisão e até a morte, segundo associações de refugiados, deputa-dos sul-coreanos e testemunhos de norte-coreanos que conseguiram fugir. De acordo com a Amnistia Internacional, alguns são enviados para campos de trabalho.

Pequim, vizinho e aliado de Pyongyang, considera os fugitivos norte-coreanos como imigrantes económicos e tem por política prende-los e enviá-los novamente para a Coreia do Norte, apesar dos apelos de organizações internacio-nais, entre as quais a ONU, para não o fazer.

O presidente da China, Xi Jinping, reuniu-se ontem em Pequim com o ex-líder

dos Estados Unidos, Bill Clinton. Na ocasião, Xi Jinping elogiou a contribuição que Clinton deu ao

TAIWAN ANUNCIOU RUPTURA DE LAÇOS DIPLOMÁTICOS COM A GÂMBIA

Não há mais conversas

Com o corte de relações diplomáticas com a Gâmbia, Taiwan fica com 22 aliados diplomáticos, dos quais apenas três em África, nomeadamente a Suazilândia, São Tomé e Príncipe e Burkina Faso, e um na Europa, a Santa Sé. Os outros situam-se na Oceânia (Ilhas Marshall, Ilhas Solomon, Kiribati, Nauru, Palau e Tuvalu) e nas Américas central e do sul (Belize, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, República Dominicana, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas)

TREZE NORTE-COREANOS DETIDOS EM KUNMING

Regresso ao infernoPRESIDENTE CHINÊS REÚNE-SE COM EX-PRESIDENTE BILL CLINTON

Debater desafios em comum

rência de imprensa, por um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e três dias depois de o Pre-sidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, ter anunciado em Banjul a sua decisão de cor-tar as relações diplomáticas com Taipé. “Para salvaguar-dar a dignidade nacional, de acordo com os princípios da diplomacia, terminam-se

os laços diplomáticos com a República da Gâmbia”, afirmou o porta-voz do Mi-nistério taiwanês.

O mesmo porta-voz salientou que a China não teve qualquer papel nesta situação, tendo-se tratado de uma decisão pessoal do Presidente da Gâmbia.

Taiwan enviou uma de-legação a Banjul para tentar

convencer Jammeh a não romper os laços diplomá-ticos, mas o Presidente da Gâmbia não a recebeu, tendo designado o vice-presidente para tal.

O corte de relações tem como efeito o encerramento da embaixada da Gâmbia em Taiwan e da missão técnica taiwanesa naquele país africano, bem como

a suspensão de todos os programas bilaterais de cooperação.

A Gâmbia tem mais de 200 estudantes em Taiwan através de bolsas concedidas pelo governo taiwanês.

Com o corte de relações diplomáticas com a Gâmbia, Taiwan fica com 22 aliados diplomáticos, dos quais ape-nas três em África, nomea-damente a Suazilândia, São Tomé e Príncipe e Burkina Faso, e um na Europa, a Santa Sé.

Os outros situam-se na Oceânia (Ilhas Marshall, Ilhas Solomon, Kiribati, Nauru, Palau e Tuvalu) e

nas Américas central e do sul (Belize, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Para-guai, República Dominica-na, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas).

Apesar de o Governo taiwanês afirmar que esta ruptura não está associada à actual diplomacia do Pre-sidente Ma Ying-jeou e à sua declaração unilateral de não disputar novos aliados diplomáticos com a China, a oposição da ilha alerta para um possível efeito dominó noutros países parceiros.

longo do seu mandato ao desen-volvimento das relações entre os dois países. Xi agradeceu, em par-ticular, a luta do norte-americano contra a pobreza da China já após ter deixado a presidência.

No encontro, Xi Jinping afir-mou que, apesar da China e os Estados Unidos terem passado por “ventos e chuvas”, têm pro-curado seguir a direcção certa. Os dois lados devem trabalhar juntos para acrescentar “tijolos e telhas” ao “arranha-céus das relações sino-norte-americanas”, disse ainda o presidente chinês, referindo-se também ao presente acordo da China e dos EUA para a construção de um novo modelo de relação entre os dois.

Pequim e Washington enfren-tam desafios semelhantes, tais como as alterações climáticas e se-gurança energética, sublinhou Xi.

O ex-presidente norte-ame-ricano, por sua vez, manifestou interesse em continuar a promo-ver o intercâmbio nos sectores da saúde, novas energias, ecologia e alterações climáticas.

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9 chinahoje macau terça-feira 19.11.2013

U MA empresa luso--chinesa vai abrir um restaurante português em Pe-

quim no fim de Novembro, “centrado na churrascaria” e destinado a cativar o paladar da nova classe média local, anunciou ontem à agência Lusa um dos responsáveis do projecto. “Queremos dar a conhecer novos sabores. Sabemos que há uma nova classe média chinesa que gosta de jantar fora e de ex-perimentar coisas novas”, disse o gerente do “Dom Frango”, Alexandre Prata.

O restaurante tem um ‘chef’ português, Armindo Alves, e, além de “frango

Governo chinês faz ‘mega-encontro’ para incentivar namoro na meia-idadeO governo chinês realizou um evento de encontros amorosos para homens e mulheres de meia-idade em Xangai, como resposta ao crescimento do número de divórcios no país. No ano passado, o evento atraiu mais de 30 mil participantes e, para incentivar as pessoas a continuarem a namorar, e evitar o que o governo define como instabilidade social, o Estado tomou diversas medidas, incluindo a realização destes “mega-encontros”.

Coreia do Sul Colaboração do Norte para ligação ferroviária com a EuropaA Presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, pediu ontem à Coreia do Norte para dialogarem sobre o projecto da “Rota da Seda Express”, uma ligação ferroviária com a Rússia e a Europa, através do território norte-coreano. “Espero que a Coreia do Norte cumpra as suas promessas à comunidade internacional e dê um passo em frente no sentido do diálogo e da cooperação”, disse a Presidente sul-coreana num discurso no parlamento local. No caso de se alcançar um entendimento, apontou, a Coreia do Sul poderá “ligar-se com a rede de caminhos-de-ferro da Eurásia e abrir a ‘Rota da Seda Express’, a partir de Busan e até à Europa, através da Rússia, China e Ásia central”. Abrir uma rota ferroviária com outras nações da Ásia e Europa é uma aspiração antiga da Coreia do Sul, cuja única fronteira terrestre é com a Coreia do Norte. Na semana passada, o Presidente russo, Vladimir Putin, visitou Seul e assinou um memorando de entendimento com Park para estreitar a cooperação e estudar o projecto ferroviário como uma iniciativa a longo prazo.

Filipinas Número de vítimas do tufão Haiyan aproxima-se das 4.000As autoridades das Filipinas elevaram ontem para 3.976 o número de mortos na sequência da passagem do tufão Haiyan pela região central do país. De acordo com o mais recente balanço do Conselho Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres filipino, o tufão causou ainda 18.175 feridos e 1.598 desaparecidos. O mesmo organismo indicou que 10,3 milhões de pessoas foram afectadas pelo tufão, das quais 353.862 estão alojadas em 1.550 centros de abrigo. Pelo menos 288.922 casas foram destruídas e outras 282.884 sofreram danos em 574 municípios, estando os danos causados pelo tufão calculados em cerca de 1.7 mil milhões de patacas. Dois navios de guerra norte-americanos e um avião britânico com mais ajuda humanitária chegaram no domingo à zona afectada. O Haiyan, com ventos de até 315 quilómetros por hora, foi o tufão mais forte já registado e o terceiro desastre mais mortífero na história recente das Filipinas.

Índia Jovens atacadas com ácido por recusa de proposta de casamentoDuas jovens foram atacadas com ácido no oeste da capital indiana, Nova Deli, depois de uma delas ter recusado uma proposta de casamento, informou ontem a polícia local. O homem acusado de ser o autor do ataque, identificado como Manoj, terá atirado ácido sobre Parvati, de 18 anos, por esta se ter negado a casar com ele, e sobre a sua amiga Gayatri, de 16 anos, no domingo, quando se dirigiam para um mercado, disseram fontes policiais à cadeia de televisão NDTV. Parvati sofreu queimaduras em 50% do corpo e Gayatri em 20%, encontrando-se ambas hospitalizadas. O suspeito, que está casado com outra mulher, encontra-se a monte. Uma nova lei indiana, em vigor desde Março, castiga os ataques com ácido com oito a 12 anos de prisão.

Estudo sobre os futuros serviços de televisão de MacauRecolha de opiniões

Com o objectivo de definir o planeamento dos futuros serviços de televisão de Macau, a Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações convidou uma equipa de estudo académica interdisciplinar da Universidade de Macau para rever e analisar globalmente os serviços de televisão de Macau, estudando, a partir dos vários aspectos, o modelo dos futuros serviços de televisão de Macau e apresentando as respectivas propostas, por forma a prestar ao Governo informações que lhe sirvam de referência para a elaboração das estratégias do desenvolvimento futuro da televisão de Macau.

Caso os cidadãos queiram conhecer os pormenores deste estudo, podem consultar as respectivas informações na página electrónica dedicada a este estudo (macautv.fst.umac.mo), criada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau, apresentando as suas opiniões antes do dia 6 de Dezembro do corrente ano, através das vias seguintes:

1) Fax: (853)2883-8314;2) E-mail: [email protected];3) Envio por correio para o Laboratório de Comunicação Sem Fios, sito na Av. Padre Tomás Pereira, Edifício de Investigação e Desenvolvimento, sala n.° R408, Universidade de Macau, Taipa, Macau.Telefone de contacto: (853)8397-8059.

Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações 18 de Novembro de 2013

NOVO RESTAURANTE PORTUGUÊS EM PEQUIM TENTA CATIVAR CLASSE MÉDIA EMERGENTE

Outros sabores

REGIÃO

no churrasco”, servirá pol-vo grelhado, arroz de pato, sapateira recheada e outros pratos típicos portugueses.

Sede de um município com cerca de vinte milhões de habitantes, Pequim tem apenas um restaurante português, o “Camões”, situado num hotel de cinco estrelas. “Dom Frango” assume-se como “um res-

taurante de massas, mas com qualidade”.

O novo restaurante, com cerca de 80 lugares, fica num centro comercial junto à 3.ª Circular de Pequim, uma das artérias mais movimentadas da capital chinesa. “A ideia, que já tem alguns anos, é lançar aqui uma cadeia de restaurantes de culinária

portuguesa”, adiantou Ale-xandre Prata.

Nos últimos anos, e sobretudo desde os Jogos Olímpicos de 2008, abriram em Pequim centenas de restaurantes estrangeiros, nomeadamente coreanos (a maior comunidade de expatriados), japoneses, ita-lianos, indianos, franceses, espanhóis e mexicanos.

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10 hoje macau terça-feira 19.11.2013EDUCAÇÃO

RITA MARQUES [email protected]

H Á neste ano lectivo 3.103 estudantes nas escolas públicas e privadas que frequentam aulas em lín-

gua portuguesa. Os número foram avançados, ao HM, pela Direcção dos Serviços de Educação e Juven-tude (DSEJ). “O total de alunos que frequentam as escolas oficiais que leccionam cursos de língua

O total de alunos que frequentam as escolas oficiais que leccionam cursos de língua portuguesa é de 2.511 e os alunos que frequentam as escolas privadas cuja língua veicular principal é o português totalizam 592DIRECÇÃO DOS SERVIÇOSDE EDUCAÇÃO E JUVENTUDE

Existem 3.103 estudantes que frequentam as escolas de Macau cuja língua veicular é o português. Mas existem também outros alunos que frequentam cursos extracurriculares de língua portuguesa, sobretudo, no privado. A EPM fornece, há seis anos, cursos pós-lectivos para alunos de outras escolas e, este ano, conseguiu registar o maior número de inscritos, tendo inclusive rejeitado mais pedidos

EXISTEM MAIS DE 3.000 A ESTUDAR PORTUGUÊS NO ENSINO OFICIAL E PRIVADO

EPM bate recorde de alunos em cursos extracurriculares

portuguesa é de 2.511 e os alunos que frequentam as escolas privadas cuja língua veicular principal é o português totalizam 592.”

No entanto, não foi possível apu-rar se os alunos em questão dizem respeito apenas ao ensino básico e secundário ou também ao infantil, isto porque, a única instituição particular que ensina português é a Escola Portuguesa de Macau (EPM), que este ano tem matriculados 514, segundo dados confirmados pela

própria direcção do estabelecimento de ensino.

A DSEJ explica, porém, que há mais alunos a estudar a língua por-tuguesa este ano no ensino privado. “Para além disso, quatro escolas privadas realizaram cursos de lín-gua portuguesa através do plano de desenvolvimento das escolas, frequentados por 915 estudantes. (...) Cinco escolas privadas, também através do plano acima mencionado, organizaram e realizaram várias ac-tividades de aprendizagem da língua portuguesa, com a participação de 2.778 alunos”, frisa o organismo dirigido por Leong Lai.

Só este ano, de acordo com dados oficiais, foram enviados pela DSEJ docentes da disciplina de língua portuguesa para 17 escolas privadas, apoiando-as na realização de cursos do idioma inseridos na educação regular e complemento curricular de português, com a participação de um total de 1658 alunos.

Mas a grande aposta está no apoio integral garantido à EPM para leccionar cursos pós-lectivos de três anos - divididos em nível de iniciação, intermédio e avançado - a alunos de outras escolas. “Temos

166 alunos que são oriundos de 21 instituições escolares da RAEM. Cinco turmas na iniciação, duas de nível intermédio e outras duas no avançado”, revela Zélia Mieiro, vice-presidente da direcção da EPM.

Estes números traduzem-se num recorde. Este ano, pela pri-meira vez, houve mais uma turma aberta comparativamente ao ano lectivo 2012/2013 e mais oito alunos

inscritos. “Nunca tivemos tantas inscrições desde o primeiro ano”, afiança Sabrina Monteiro, coorde-nadora destes cursos da DSEJ. De facto, há seis anos (em 2007/2008) os cursos começaram com apenas três turmas, que comportavam um total de 58 alunos.

Este ano, por ter apenas nove professores destacados para leccio-nar estes currículos e sem querer sobrecarregar as turmas, a EPM acabou por não conseguir satisfa-zer todos os pedidos. “Houve mais pedidos de inscrição mas, logica-mente, tornava-se incomportável e a DSEJ teve de seleccionar alunos para frequentarem estes cursos que visam a língua mas também a cultura portuguesa”, salienta a vice--presidente da direcção da EPM, sem fechar portas a um acréscimo de vagas para o ano.

Esta formação tem aberto portas aos alunos, que frequentam o ano lectivo escolar em escolas de língua veicular chinesa, nas instituições de ensino superior locais mas também no exterior, sobretudo, em Portugal. As áreas de Direito e de Tradução são as mais seguidas. Muitos dos alunos, em boa parte, frequentam

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11 educaçãohoje macau terça-feira 19.11.2013

EXISTEM MAIS DE 3.000 A ESTUDAR PORTUGUÊS NO ENSINO OFICIAL E PRIVADO

EPM bate recorde de alunos em cursos extracurricularesantes o curso de Verão da EPM que faz uma abordagem sociocultural e linguística.

MENOS ALUNOSE MAIS PROFESSORES NO ENSINONuma apreciação ao ensino mais geral, o número de estudantes na RAEM sofreu uma leve quebra – 2,7% -, quando comparado com o ano lectivo anterior. Actualmente, são 71 mil os que frequentam as escolas locais. “Existem cerca de 3.000 estudantes a aprender nas escolas públicas e 68 mil em esta-belecimentos de ensino privado”, indica a DSEJ ao HM.

Por sua vez, foram este ano re-crutados cerca de 6.000 docentes, registando-se uma aumento de 4% face ao biénio 2012/2013. “Desde a implementação do Quadro-Geral do pessoal docente das escolas par-ticulares do ensino não-superior, a DSEJ tem vindo a assumir diferentes apoios e um trabalho de acompa-nhamento. Com a cooperação das escolas, o Quadro-Geral tem vindo a ser implementado de forma bem sucedida. Como não há qualquer política importante que contribui para o aumento ou diminuição

dos períodos lectivos semanais de professores em 2013/2014, não há necessidade de contratar um grande número de professores”, esclareceu o organismo.

CRIANÇAS NÃO INSCRITASNAS ESCOLAS SÃO INCÓGNITASegundo a DSEJ, no ano lectivo passado foram enviadas cerca de 322 notificações aos alunos dos ensinos infantil, primário e secundário - res-peitantes aos anos de escolaridade obrigatória - para apurar com os encarregados de educação a razão pela qual não estavam inscritos em qualquer escola local. “A maior parte obteve resposta, sendo que alguns alunos já se encontram a frequentar as escolas em Macau ou no exterior, e outros irão frequentar escolas na China. Os casos daqueles que não responderam foram entre-tanto transferidos para o ‘serviço de aconselhamento a alunos em situação de abandono escolar’ para acompanhamento.”

Contudo, o organismo não re-velou quantos são os casos nesta situação, limitando-se a dizer que continua a acompanhar o seu an-damento.

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12 publicidade hoje macau terça-feira 19.11.2013

Open Tender Notice

Request for Proposal – MIA - Joint Sealant Replacement Works for MIA Runway – RFQ-154

1. Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)2. Tendering method: Open tendering3. Objective: To select a qualified contractor to perform the joint sealant

replacement work in the runway of Macau International Airport. 4. Request for tender documents:

Tender Notice and Tender Document can be downloaded from the website www.macau-airport.com and www.camacau.com until 7 days prior to the deadline for submission of Bidders’ tenders. Please regularly check the website for any clarification or changes/modification/amendment of the Tender Document.

5. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders:Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, MacauBefore 12:00(noon) on 26 February 2014 (Macau Time)The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee. The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted.

6. CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons.

-END-

Horário da Desmontagem das barreiras metálicas do 60º Grande Prémio de Macau

Foi iniciada após o fim das corridas a Comissão do Grande Prémio de Macau, durante as horas da madrugada, as obras de desmontagem das barreiras metálicas, e as primeiras obras foram concluídas na madrugada do dia seguinte das corridas, diminuindo os transtornos causados à população. Estima-se a terminação das obras de desmonstagem, no dia 28 de Novembro

Data Hora Local

18-20/11/2013 08:00 até 22:00 (1) Desmontagem dos portões metálicos(2) Desmontagem das barreiras metálicas

junto aos portões metálicos

18-22/11/2013 08:00 até 22:00 Desmontagem das barreiras metálicas desde a Avenida da Amizade até à Curva do Reservatório

21/11/2013 a 28/11/2013

08:00 até 22:00 Desmontagem das barreiras metálicas desde a Rua dos Pescadores até à Curva do Reservatório

23/11/2013 a 28/11/2013

08:00 até 22:00 Desmontagem das barreiras metálicas na troço inferior da Colina da Guia

A Comissão do Grande Prémio solicita a todos os condutores a melhor compreensão por eventuais transtornos causados, bem como o respeito pela sinalização provisória instalada e pelas instruções da Brigada de Trânsito.Para informações, é favor de ligar para o número de telefone: 28-728482.

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13EVENTOShoje macau terça-feira 19.11.2013

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

30 ANOS DE MAU FUTEBOL • João PombeiroUma fabulosa recolha das frases mais extravagantes do futebol português nos últimos trinta anos. Um anedotário onde figuram presidentes de clubes como Pinto da Costa ou Sousa Cintra, treinadores como Artur Jorge, Octávio Machado ou Jaime Pacheco, jogadores como Paulo Futre ou João Pinto, e árbitros como Jorge Coroado ou Veiga Trigo. Tudo o que um dia tiveram coragem de dizer.

100 MITOS SOBRE O MÉDIO ORIENTE • Fred HallidayUma breve prospecção, rigorosa e acessível, dos lugares-comuns e das falácias que povoam a historiografia da região. Halliday põe em causa, desconstrói e reinterpreta grande parte dos mais generalizados preconceitos acerca do Médio Oriente.

A escritora britânica Doris Lessing, que recebeu em 2007 o Nobel da Literatura, morreu este

domingo aos 94 anos.Autora de mais de 50 romances

e com uma obra diversificada, Lessing foi descrita pela Academia Sueca, que lhe atribuiu o Prémio Nobel da Literatura em 2007, como “uma épica da experiência feminina que, com cepticismo, fogo e poder visionário, sujeitou uma civilização ao escrutínio”.

Doris Tayler, que como es-critora veio a adoptar o apelido do seu segundo marido, Lessing, nasceu a 22 de Outubro de 1919 em Kermanshah, no Curdistão iraniano, então integrado no reino da Pérsia. O pai, o capitão Alfred Tayler, tinha perdido uma perna na primeira guerra e conhecera a futura mãe de Doris, a enfermeira Emily McVeagh, no hospital onde recuperava da amputação. Quando Doris nasceu, os pais viviam em Kermanshah, onde o ex-militar conseguira emprego, trabalhando como escriturário num banco.

Em 1925, a família mudou-se para a colónia britânica da Rodésia do Sul, onde Tayler acreditava po-der enriquecer plantando e venden-do milho. Investiu as poupanças na compra de uma grande extensão de terreno, mas o negócio revelou--se ruinoso e a família passou dificuldades. Doris estudou numa escola dominicana, em Salisbúria (hoje Harare, no Zimbabwe), mas abandonou os estudos aos 14 anos, tendo continuado a sua instrução por conta própria, lendo romancis-tas ingleses e russos.

Um ano depois abandona tam-bém a casa paterna e sobrevive trabalhando como enfermeira, criada, telefonista, secretária. Aos 19, casa com Frank Wisdom, um funcionário público, de quem terá dois filhos. O casamento não dura muito.

Em 1943, já divorciada, fre-quenta as reuniões do Left Book

Feira de Arte e Cultura de Macau a partir de sexta-feiraA Galeria IaoHin abre as portas da Feira de Arte e Cultura de Macau na próxima sexta-feira, a partir das 11h, para uma mostra de peças de arte que decorrerá durante o fim-de-semana. Em exibição estarão 24 trabalhos dos artistas Jacques le Nantec (França), Pedro Besugo (Portugal), Carlos Farinha (França/Portugal), ReD Orgnita (Filipinas), Chan Hin Io e Lei Ieng Wei de Macau, que podem ser vistos entre as 11 e as 19h, sexta e sábado, e entre as 11 e as 18h, no domingo.

MORREU DORIS LESSING, UMA CONTADORA DE HISTÓRIAS DE INTELECTO FEROZ E CORAÇÃO AFECTUOSO

Mais um Nobel que se perde

Club, um clube do livro organiza-do por intelectuais comunistas e adere ao Partido Comunista, então proibido na colónia do Rodésia do Sul. Este período de militância clandestina aparecerá mais tarde reflectido em A Ripple From the Storm (1958), um dos cinco ro-mances do ciclo The Children of Violence, que Lessing inicia em 1952 com A Revoltada (Martha Quest).

É neste meio que conhece o seu segundo marido, o alemão Gottfried Lessing, então dirigente do Partido Comunista da Rodésia. Em A Ripple From the Storm, Les-sing chamar-se-á Anton Hesse, e em The Golden Notebook (1962) dará pelo nome de Willi Rodde. O casal divorcia-se em 1949 e Les-sing virá a tornar-se embaixador

da Alemanha no Uganda, onde é assassinado em 1979, no âmbito de uma revolta contra Idi Amin.

Com dois casamentos falhados atrás, Doris Lessing chega a Lon-dres apenas com o filho que tivera do segundo casamento, Peter – os dois filhos mais velhos tinham ficado com Frank Wisdom –, e durante algum tempo divide um apartamento com uma mulher sul--africana, que tem alguns quartos alugados a prostitutas, cenário que lhe dará material para In Pursuit of the English (1961).

Mas, nesta altura, o objectivo da escritora é publicar o seu romance de estreia, uma história situada na Rodésia e centrada numa mulher casada com um colono branco, po-bre e fraco. A protagonista, espécie de Lady Chatterley inter-racial,

tem uma aventura com o seu criado africano, Moses, que acabará por a matar. O romance, publicado em 1950 com o título The Grass is Singing (A Erva Canta na edição portuguesa), foi atacadíssimo na Rodésia e na África do Sul. Mesmo no Reino Unido, Doris Lessing só atinge algum sucesso comercial e consagração crítica nos anos 60, com livros como The Golden Note-book, ousada experiência ficcional em torno de uma mulher, Anna Wulf, que procura uma espécie de honestidade radical, que a liberte da hipocrisia e da anestesia emocional que vê na sua geração.

Da sua vastíssima bibliografia, que lhe valeu, em 2007, o Pré-mio Nobel da Literatura, podem destacar-se ainda O Verão antes das Trevas (1973), a pentalogia de

ficção científica Canopus em Argos (1979-1983) ou A Boa Terrorista (1985), relato perpassado de ironia da vida de uma militante de esquer-da, no qual Lessing mostra como a fronteira entre as convicções ideo-lógicas e a prática terrorista pode tornar-se perigosamente delgada.

Mesmo antes de receber o Nobel, Lessing já recebera vários prémios, e tentaram mesmo dar--lhe o título de “dama”, ou, por extenso, dama do Império Britâ-nico (dame of the British Empire), honra que recusou, argumentando que não existia qualquer império britânico, também não se mostrou particularmente agradecida pelo Nobel. Numa entrevista ao New York Times, em 2008, diz que “os suecos não têm uma grande tradição literária, e por isso tentam aproveitar ao máximo o Nobel”. E ironiza com a declaração do júri, que a considerou uma “épica da experiência feminina”. Afirmando não se rever no retrato, diz que imagina o sueco responsável pela frase a pensar para si próprio: “O que é que raio havemos de dizer desta? Ainda por cima não gosta que lhe chamem feminista. E então escrevinharam aquilo”.

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14 hoje macau terça-feira 19.11.2013

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS luz de inverno Boi Luxo

JIA ZHANG KEAVENTURAS NO PLANETA CHINA

NESTE MUNDO DOS PEQUENINOS AS PESSOAS

PARECEM ANDAR ÀS VOLTAS DENTRO DO

PRÓPRIO PARQUE SEM CONSEGUIR PARTIR, APENAS

ENCENANDO A SUA FICÇÃO: DE AVIÃO, DE SKY-TRAIN,

DE ELEVADOR, A CAVALO, A PÉ. PERCEBE-SE É QUE NÃO

VÃO A LADO NENHUM

C ONFESSO QUE não me co-movo com facilidade. Não são muitos os filmes chineses que têm sido feitos ultimamente,

seja a que geração pertençam, à quinta ou à sexta ou a qualquer outra, que me tenham deixado recordações perenes ou criado en-tusiasmos que ultrapassem o decoro. Pelo menos individualmente, uma vez que é inevitável que se reconheça que enquanto “movimento”, se este existir, estamos pe-rante um conjunto de filmes que se vê com um sentido de aventura, com um sentido de descoberta que não víamos desde que o cinema chinês se começou a relançar por volta dos inícios dos anos 80. O que é infinitamente interessante é que o que es-tes filmes mostram ou parecem pretender mostrar, é algo próximo da realidade, algo de programaticamente realista. No entan-to, o que muitos destes filmes parecem ter descoberto (ou criado) é algo que está para além disso, que é o sentido fantástico e fan-tasmagórico de uma certa realidade. Neste caos que é a ditadura chinesa há uma ver-dadeira liberdade. Caos begets liberdade.

Deve haver poucos países no mundo, actualmente, sobre os quais apetece tanto falar. Imagine-se o que se pode fazer com uma câmara na mão, numa altura em que o peso da mão autoritária e os peso das câ-maras se vai tornando cada vez mais leve.

Depois de três filmes em que a exibi-ção do real é um dos seus propósitos mais óbvios, e em que toma pequenas cidades de província como cenário, este The World passa-se em Pequim, quase na sua totalida-de num parque temático com réplicas de monumentos famosos de várias partes do mundo chamado World Park. Desta vez, é neste mundo, em que tudo é falso, que se desenvolvem uma série de histórias pesso-ais paralelas (histórias de amor também). Pode pensar-se que é isto que acontece em filmes anteriores de Jia Zhang Ke (talvez menos em Platform, em que o peso do en-quadramento histórico é mais intenso) e é mesmo. O que muda neste filme é o que está por trás das pessoas. Em vez dos fun-dos típicos dos seus outros filmes, em vez dos cenários de destruição, de construção e desolação de cidades de província em profunda mudança e da cocofonia que os acompanha, temos um cenário limpo, aca-bado, por um lado quase agradável à vista, por outro lado perturbante na sua intensa artificialidade. No fundo, o absurdo está em todo o lado, está no real e está neste mundo quase hiper real.

Outro elemento do “falso” são os núme-ros musicais que acompanham a visita aos vários lugares do parque, números musicais que ajudam a afastar o filme do ambiente

Parte IThe World, 2004

realista dos filmes anteriores e a aproximá--lo da representação, quase mesmo do operático. De certo modo são também ele-mentos que vêm de trás, dos outros filmes, em que a representação em palco ou o ka-raoke estão sempre presentes, se bem que nunca com esta pompa e nunca para este tipo de público.

Intercaladamente aparecem (a marcar ainda essa busca da artificialidade) trechos de animação, em geral ligados à utilização dos telefones móveis. É um outro artifício que funciona como modo de afastar este filme das imagens realistas dos outros fil-mes deste realizador e de vincar um motivo também já familiar, o da falta de comunica-ção num mundo em rápida transformação e em processo de globalização (uma obses-são de algum cinema asiático contemporâ-neo).

À falta de comunicação que a obsessão com os telefones espelha, vem juntar-se, ironicamente se pensarmos na temática do parque onde o filme se desenrola, a falta de uma verdadeira mobilidade. A globaliza-ção e o acesso às novas tecnologias de co-municação vêm tornar penetrante, por via mais uma vez da ironia, a verdadeira falta de diálogo e o vazio da existência destes funcionários do parque, oriundos de várias zonas da imensa China.

As migrações laborais põem em con-tacto trabalhadores de variadíssimas partes do país e ao uso dos vários dialectos vem sobrepor-se a necessidade de usar o man-darim (a língua comum, tão artificial como o parque), um exercício linguístico que es-bate as diferenças e o peculiar na grande massa incaracterística e vazia da cidade que não lhes pertence e não os recebe. Mas se o mandarim é o traço que une estes traba-lhadores, é, também, ao serem obrigados a uma língua que não é a primeira, a recorda-ção constante da sua deslocação. Por isso é que este é um filme sobre linguagens, as linguagens que unem os trabalhadores ou que lhes trazem a saudade, ou a própria lin-guagem do parque.

Como acontece noutros filmes do mes-mo realizador, neste não se percebe bem onde é que as pessoas vão. Neste Mundo dos Pequeninos estas parecem andar às vol-tas dentro do próprio parque sem conse-guir partir, apenas encenando a sua ficção: de avião, de sky-train, de elevador, a cavalo, a pé. Percebe-se é que não vão a lado ne-nhum. Vejam-se os planos da carrinha que atravessa avenidas desertas e enormes, dum vazio que fazem lembrar Antonioni.

Mais irónico e doloroso é que os funcio-nários deste parque que exibe maravilhas de todo o mundo empreendem apenas a via-gem doméstica que lhes permitiu vir dos

seus locais de origem até à grande cidade. Estes funcionários do Mundo não têm passa-porte (“não conheço ninguém que já tenha andado de avião”, diz Tao, uma das perso-nagens). Do mesmo modo, os visitantes do parque, que não parecem ser muitos, olham esta substituição do mundo com a inocên-cia triste de quem vê View Master, o seu de-sejo de ali estar muito pouco pronunciado.

De um ponto de vista estrutural, sente--se que o filme é um pouco desgarrado, tal-vez demasiadamente ambicioso, como já se notara em Platform. Depois de ter realizado

três filmes em que há uma certa unidade formal, a pressão em fazer algo de diferente pode ter levado o autor a uma certa perda de pé. Formalmente pode tratar-se de uma proposta interessante enquanto exercício, ou pode tratar-se do menos interessante dos seus filmes, mas os perigos quase ób-vios de um regresso, ou recuo, à linguagem anterior, vêm revelar-se infundados peran-te o esplendor poético do filme que se lhe segue, Sanxia Haoren (Still Life), o episódio seguinte e o episódio nuclear das Aventuras no Planeta China.

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15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 19.11.2013

A destruição tão rápida de uma cidade com 2000 anos é simplesmente inimaginável. É como se tivesse havido uma invasão extraterrestre.

Jia Zhang Ke

U MA CIDADE com 2000 anos de história demolida em 2 anos. Se o ponto de partida dos seus filmes não é aberta-

mente político ou crítico, torna-se, nas pa-lavras do próprio realizador, difícil falar-se hoje em dia da China sem referir as suas políticas e as mudanças que afectam a sua população. De qualquer maneira, nos seus filmes o modo de mostrar nunca se fica por aí, ultrapassando este, através da sua esté-tica, o literal.

Depois de The World (2004), e dos seus cenários limpos e artificiais, regressamos ao estilo e aos quadros anteriores de Jia Zhang Ke, aos seus quadros de destruição e cons-trução e a uma linguagem mais próxima do documentário. No entanto, neste episódio das Aventuras no Planeta China já não es-tamos perante retratos de uma pequena cidade de província mas perante um local que se tornou num emblema da deslocação forçada e da prepotência oficial, Fengjie, uma cidade à beira do Rio Yangtze prestes a ser demolida e posteriormente engolida pelas águas do rio como parte do projecto da Barragem das Três Gargantas, a maior central hidroeléctrica do mundo.

Quase que parece que The World foi criado para ser contraposto a este Sanxia Haoren. Afinal o surreal não é o mundo fictí-cio do Parque de Diversões (e as suas cenas animadas) mas a própria realidade carrega consigo o mesmo sentido.

Neste filme seguimos o trajecto de dois personagens. De uma enfermeira, Shen Hong (de novo Zhao Tao), que se deslo-ca a Fengjie em busca do marido que não vê há dois anos, e de um homem chamado Sanming, um mineiro de Shanxi, que se desloca igualmente a à cidade de Fengjie em busca da ex-mulher que o deixara há 16 anos (uma mulher comprada que a polícia entretanto resgatara). Os dois em busca de parte dos seus passados numa cidade pres-tes a perder o seu.

Através da ex-mulher aquele espera ver a sua filha. Contudo, ao chegar a Fengjie apercebe-se de que a rua onde a mulher morava se encontra já submersa pela água do rio que tudo vem tomar e engolir. Tal como noutros filmes de Jia Zhang Ke, as pessoas esbarrram constantemente com a impossibilidade de se deslocarem ou de chegarem a um lugar ou, então, esbatem-

O QUE JIA ÀS VEZES FAZ (...) É TORNAR TUDO RASO, COMO SE TUDO NA VIDA FOSSE REDUZIDO A

UMA MESMA DIMENSÃO, ESMAGADO E INDIFERENCIADO POR UM IMENSO VIDRO CÓSMICO E A VIDA

SE TORNASSE NUM QUADRO VISTO DE FORA, NUMA CURIOSIDADE, SEM CATEGORIAS DIFERENTES,

SEM DIFERENCIAÇÕES MORAIS, SEM JUÍZOS DE VALOR

Parte IISanxia Haoren (Still Life), 2006

-se num quotidiano sem direcção e onde a comunicação se torna difícil ou inexistente - mais uma vez aqui também devido à dife-rença na proveniência destes personagens que coloca em confronto utilizadores de pronúncias ou dialectos diferentes. Estas duas histórias fundem-se na sua ideia ini-cial, a de duas pessoas que chegam a Fen-gjie em busca de algo que lhes falta ou, nes-te mundo em vertiginosa transformação, em busca de uma certeza ou equilíbrio.

Enquanto espera pela chegada da ex--mulher Sanmimg arranja trabalho junto de um grupo de demolição de edifícios. Esta pode ser uma das duas dimensões mais interessantes do filme. O trabalho de de-molição decorre num ambiente sufocante e fechado. Grupos de homens em tronco nu encarregam-se, em silêncio, de demolir a cidade de dois mil anos.

Estas imagens de sítios feios ganham um som bestial quase épico. Um bramir primordial parece soltar os últimos sinais de vida, como se de uma enorme besta se tratasse.

A certa altura aparecem em cena, acom-panhados de um fundo musical solene, qua-se imperceptível, um sinistro grupo de ho-

mens vestidos de branco, de outro mundo (sim, como no E.T.), a desinfectar os pré-dios em processo de demolição. O tom não é crítico nem nostálgico, antes o de uma poética da demolição justa e dura, quase transparente na sua sinceridade. Como já referira a propósito de outros filmes, a im-parcialidade do vídeo só vem ajudar a não se perceber onde é que se coloca o autor. O que Jia às vezes faz (estou longe de pensar que ele o faça deliberadamente) é tornar tudo raso, como se tudo na vida fosse re-duzido a uma mesma dimensão, esmagado e indiferenciado por um imenso vidro cós-mico e a vida se tornasse num quadro visto de fora, numa curiosidade, sem categorias diferentes, sem diferenciações morais, sem juízos de valor. A nova tecnologia vídeo, com a sua nova profundidade de campo, a isto vem ajudar.

Se mais uma vez o ponto de partida é um sentido de total deslocamento e des-pertença, o de chegada é o modo distan-ciado e doloroso como Jia Zhang Ke fil-ma tudo isto. Volta-se a um cinema puro, como o de Xiao Wu ou Ren Xiao Yao, mas um cinema que entretanto ganhou um novo requinte e a passos parece mesmo que uma

certa nostálgica malícia. Sejamos abertos à poesia desta impermanência.

A parte do díptico que diz respeito a Sanming prende-se mais ao retrato dos tra-balhadores manuais e da demolição. A par-te que respeita a Shen Hong retrata uma camada mais afluente e poderosa da cidade, que habita outra margem do rio e frequenta hotéis e bailes, mas onde vamos encontrar a mesma secura, a mesma indiferença e a mesma falta de comunicação. Os planos que introduzem esta segunda estória fazem lembrar a justeza do título do filme em in-glês, Still Life, e estas naturezas mortas, com o impacto do seu silêncio, vêm, de par com alguns planos mais longos, criar um mal es-tar sinistro.

Da reunião da demolição e da construção resulta, nesta paisagem que se quer realista, um sentimento do irreal e do fantástico. Não são apenas os sinistros homens de branco que fazem pensar em ficção científica e no absur-do. Vê-se passar um objecto voador que eu, pelo menos, não consigo identificar, e a dada altura, deste planeta louco, o Planeta China, descola uma nave espacial. Fica-se mais uma vez na ignorância quanto ao seu destino e ao sucesso da sua missão.

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16 DESPORTO hoje macau terça-feira 19.11.2013

JOÃO VALLE [email protected]

O centauro era uma figura mí-tica da Antigui-dade, metade

homem e metade cavalo. No séc. XXI e neste cam-peonato mundial de xadrez um outro tipo de centauro emergiu: uma criatura não mítica mas real, desta vez metade homem e metade máquina: o ‘challenger’ para o campeonato do mundo de xadrez Magnus Carlsen. É que as partidas 5 e 6, que se realizaram sexta-feira e sábado passados, colocaram o campeão do mundo e o mundo xadrezista em estado de choque, quando, mais uma vez, Magnus Carlsen, abaste-cido de incrível energia vital e conhecimento de finais de partida sem paralelo, depois de neutralizar as tentativas de Anand em alcançar uma posição vantajosa e de no tabuleiro ficar uma posição limitada às torres, alguns peões e respectivos reis, igual em termos técnicos e com computadores e co-

MUNDIAL DE XADREZ CARLSEN LIDERA APÓS DUAS VITÓRIAS CONSECUTIVAS

O centauro implacávelmentadores a apontarem sem excepção para um empate à vista, Carlsen foi sempre mantendo a pressão, acabando por alcançar uma vantagem minimalista, a porfiar, a moer, a reposicionar incessantemente as peças mantendo aquela mini-vanta-gem, numa autêntica tortura psicológica para Anand, que foi cometendo pequeninas inexactidões, sem grande importância para a alteração da posição de empate técnico que estava no tabuleiro até que, de repente, aparece desenhado no tabuleiro um caminho conducente à vitória de Carlsen.

Magnus tem esta virtu-alidade de exaurir todos os recursos de uma posição, espremê-la até à última gota, tantalizando o adversário, descobrindo e redescobrin-do pequenos elementos que

mantêm a partida em curso quando a maioria dos gran-des-mestres de topo já teria encerrado as hostilidades e acordado no empate. São inúmeras as suas vitórias nos mais diversos torneios que seguem este roteiro.

Mas o que é impressio-nante nestas duas partidas é que quando chegou a altura da conferência de imprensa, ninguém, nem os próprios adversários, conseguia apontar em que lance específico é que Anand tinha passado de um empate técnico para uma derrota técnica. Só os computado-res, monstros de silício em serviço, esses sim, tinham imediatamente saltado de uma avaliação de empate, para uma avaliação de vitó-ria de Carlsen a partir de um lance em concreto (a jogada: 45...TC1, na partida cinco e

a jogada 60. TC4, na partida seis). É por isto que Carlsen aparece como um centauro do séc. XXI, metade huma-no, metade computador, por-que é verdade que jogou com precisão absoluta, maquinal e implacável, explorando essas jogadas do campeão do mundo, simples humano, e que nenhum humano con-seguiu de imediato detectar.

GOLPES E CONTRA-GOLPESO desenrolar e o desfecho das duas partidas foram verdadeiros sucedâneos uma da outra, com a diferença de que na partida cinco Carlsen jogou de brancas e na partida cinco foi Anand. Uma vez mais, Carlsen usou a Aber-tura Reti quando conduziu as peças brancas e optou pela Defesa Berlinense quando conduziu as peças negras. Em ambas as partidas, de-

corrida a abertura a posição estava igualada, no meio jogo seguiram-se alguns golpes e contra-golpes pou-co agudos desembocando numa liquidação de material por ambos os adversários e, uma vez dissipado o fumo da pólvora, uma posição de final de partida com torres e peões de empate técnico apareceu no tabuleiro. Nova-mente, todos, computadores, comentadores, espectadores, apenas aguardavam pelos lances finais e pelo acordo no empate. Todos? Não, restava Carlsen e a sua imagem de marca: porfiar em vantagens minimais, manter a pressão, descobrir novos problemas em posições aparentemente desérticas, incessantemente, até que Anand, mais uma vez, olha e, sem perceber como, está perdido. Na análise da conferência de imprensa,

uma vez mais, apontam-se algumas inexactidões, al-gumas alternativas a este ou àquele lance, mas ninguém consegue ver onde é que aconteceu o erro decisivo. Só Carlsen o pressentiu, só os computadores o descobri-ram, aquele lance que parecia normal ou pouco importante mas que ditou a mudança de avaliação da partida, de empate técnico, para derrota de Anand.

Alguém conseguirá pa-rar este novo e híbrido espécimen? Ainda faltam seis partidas, o centauro não é imbatível, perdeu poucos mas já perdeu jogos. Anand é um dos poucos capazes de o conseguir, mas para tal, terá que estar em ao seu melhor, terá que acreditar que é possível e terá que encontrar a receita certa. Será, sem dúvida, uma tarefa hercúlea mas, como disse Anand na conferência de imprensa após esta partida. “Não vou negar que esta derrota foi um golpe fortíssimo, que deixa marcas. Agora, só posso tentar jogar o meu melhor nas próximas partidas.”

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C I N E M ACineteatro

hoje macau terça-feira 19.11.2013 FUTILIDADES 17

TEMPO POUCO NUBLADO MIN 18 MAX 24 HUM 40-70% • EURO 10.7 BAHT 0.2 YUAN 1.3

João Corvo

O maior milagre grego não foi o logos mas tornar o país, por algum tempo, mais pobre que Portugal.

fonte da inveja

SALA 1ENDER’S GAME [B]Um filme de: Gavin HoodCom: Hailee Steinfeld, Ben Kingsley, Viola Davis, Abigail Breslin14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 2 LIBRARY WARS [C](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Shinsuke SatoCom: Junichi Okada, Fukushi Sota, Eikura Nana14.30, 19.15

SALA 3INSIDIOUS CHAPTER 2 [C]Um filme de: Kees van OostrumCom: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Lin Shaye16.45, 21.30

EUA tem igreja cristãem formato de pénis• A comunidade cristã EUA ficou chocada ao descobrir que a sua igreja é em forma de pénis vista do céu (via Google Earth). Os moradores de Dixon, Illinois, nos Estados Unidos, descobriram horrorizados que sua igreja cristã local, inaugurada recentemente, tem o formato de um pénis, se você olhar para ele de cima. A descoberta “chocante” foi feita graças ao Google Earth. A fachada do edifício não tem nada de estranho, mas a vista de satélite revela que o formato do edifício é semelhante a um membro do sexo masculino. Muitos paroquianos disseram estar estupefactos, mas os líderes da Igreja levaram a coisa com humor e até encontraram uma solução: recorrendo ao Photoshop, coloquem uma folha de parreira sobre a vista aérea da Igreja.

Demitida por escola após participar em videoclipesexy de rapper• A funcionária de uma escola católica na França, Veronique Bonazzola, de 50 anos, foi demitida por aparecer em poses sexy num videoclipe do rapper Novia. Veronique trabalhava no colégio Notre Dame de la Tramontane. O vídeo mostra o rapper a derramar champanhe nos seios de Veronique numa banheira de hidromassagem. A cena provocou a revolta dos pais de alunos. O director da escola, Claude Backes, disse que o comportamento de Veronique era “incompatível com o seu trabalho e as regras da instituição”.

CORPO DE METER INVEJA AOS 37 ANOS

A actriz e modelo Luana Piovani posou por diversas vezes nua nos últimos dois anos. E as fotos não mentem: Luana tem um corpo de fazer inveja. É mesmo caso para dizer que a brasileira, evangélica não-praticante, possui umas curvas quase tão perfeitas como as do Circuito da Guia. Talvez por isso, tenha tido um rol extenso de ex-namorados de onde se destaca os conhecidos Rodrigo Santoro e Marcos Palmeira.

Pu YiPOR MIM FALO

Quer talentos? Não os mande embora

M A C A U [ S Ã ] A S S A D OA MOTA MAIS SEGURA DE MACAU Foto: Kelsey Wilhelm

• Até onde vai a publicidade? Pelos vistos, por cá, vai bem longe. Esta é a mota mais segura de Macau que se fia na conhecida marca de preservativos Durex. A mota dura, dura, dura...

O Chefe do Executivo chega à AL e pede mais de trinta vezes talentos. O Governo de Macau quer talentos. Talento para isto, talento para aquilo, talento aqui, talentos ali. E eu pergunto-me: já viu bem Macau? Não é só a pedir talentos que se consegue arranjar talentos. Nem é apenas a ir às escolas e tirar os meninos com as melhores notas... Quem tem talento para escrever, pode ser um zero a matemática. Quem tem talento para cantar – e viram-se muitos este domingo nos Lagos Nam Van – pode ser uma nódoa a gramática. O que Chui Sai On se esquece é que quer ter em Macau aquilo que já teve e todos os dias deixa escapar. Os talentos não ficam por cá, senhor Chefe do Executivo. Não ficam, porque, no que toca a manter os

talentos na terra deles, Macau não é perito. É um aluno das suas elites (como agora anda a obsessão da formação das elites) que irá levar o nome de Macau lá fora? Não, não é. Ele vai lá para fora e fica lá. E não pense que o nome de Macau vai ser hasteado como uma bandeira. Ele é chinês e a menos que se goste de casinos, ou se seja dos PLP ninguém sabe onde Macau fica. Se quer talentos, caro chefe, tem de olhar primeiro para a sua relva. Veja o que tem por cá e faça crescer os talentos que Macau não apoia. Talentos na arte, na música, no cinema, na literatura. Faça Macau ser conhecido pelos talentos das suas gentes (ora, aí está um slogan do Governo) e repare como eles farão chegar o nome de Macau além mar.

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18 OPINIÃO hoje macau terça-feira 19.11.2013

José Pacheco Pereirain Público

J Á que há por aí abundantes “pres-sões” para que o Tribunal Constitu-cional não aplique a Constituição, venho aqui “pressioná-lo” para que a aplique.

Não é por razões jurídicas, nem de interpretação constitucional, para que não pretendo ter competência, mas por razões de política e demo-cracia, que é a razão suprema pela

qual temos uma Constituição e um Tribunal Constitucional. É pela Constituição escrita e pela não escrita, aquela que consiste no pacto que a identidade nacional e a democracia significam para os portugueses como comu-nidade. É por razões fundadoras da nossa democracia e de todas as democracias e não conheço mais ponderosas razões que essas, porque são os fundamentos do nosso contrato social e político que estão em causa, muito para além das causas daqueles que se revêem na parte programática da Constituição.

Eu revejo-me em coisas mais fundamen-tais, mais simples e directas, que também a Constituição protege e de que, por péssimas razões, hoje o Tribunal Constitucional é o último baluarte. O Tribunal Constitucional é hoje esse último baluarte, o que por si só já é um péssimo sinal do estado da democracia, porque todas as outras instituições que de-viam personificar o “bom funcionamento” da nossa democracia ou não estão a funcionar, ou estão a funcionar contra. Refiro-me ao Presidente da República, ao Parlamento e ao Governo. E refiro-me de forma mais ampla ao sistema político-partidário que está no poder e em parte na oposição. Quando falha tudo, o Tribunal Constitucional é o último baluarte antes da desobediência civil e do resto. Se me faço entender.

Há várias coisas que num país democrá-tico não se podem admitir. Uma é a teoriza-ção de uma “inevitabilidade” que pretende matar a discussão e impor uma unicidade na decisão democrática. Tudo que é importante nunca se pode discutir. A nossa elite política fala com um sinistro à-vontade da perda de soberania, do protectorado, da “transmissão automática” de poderes do Parlamento para Bruxelas, sem que haja qualquer sobressalto nacional, até porque são aspectos de uma agenda escondida que nunca se pretende legitimar democraticamente, mesmo que atinja os fundamentos do que é sermos portugueses. É um problema para Portugal como país e para a União Europeia enquanto criação colectiva em nome da paz na Europa e que está igualmente presa numa agenda escondida, a que deu a Constituição Europeia disfarçada de Tratado de Lisboa, o Pacto Orçamental para “pôr em ordem” os países do Sul, e a que permite a hegemonia alemã e das suas políticas nacionais transformadas em ‘Diktat’. Uma parte da perda de demo-cracia e da soberania em Portugal, com a constituição de uma elite colaboracionista,

Não é “defender” a Constituição, é “defender” o Tribunal Constitucional

Em muitos momentos da História foi o falhanço do sistema judicial último que permitiu o fim das democracias

vem do contágio de uma União Europeia cada vez menos democrática.

Em nome de um “estado de emergência financeira” que umas vezes é dramatizado quando convém e outras trivializado quando convém, seja para justificar impostos, cortes de salários e pensões, na versão “estado de sítio”; ou para deitar os foguetes com o 1640 da saída da troika e do “milagre económi-co”, na versão “já saímos do programa”, considera-se que nada vale, nem leis, nem direitos, nem justiça social.

ou 20 anos da vida dos portugueses sem que estes sejam alguma vez consultados. Aliás, é mais do que evidente que a pressão sobre o PS para que valide a política do Governo e da troika, e que assuma compromissos de fundo com um “programa cautelar”, que pelos vistos antes existia, mas agora não existe, destina-se a tirar qualquer valor ao voto dos portugueses. A ideia é que votando-se seja em quem for, a não ser que houvesse uma maioria PCP-BE, a política seria sempre a mesma. Esta transformação das eleições e do voto em actos simbólicos de mudança de clientelas, sem efeito sobre as políticas, é o ideal para os nossos mandantes e para os nossos mandados, e é uma das suas mais perigosas consequências.

Eu revejo-me numa democracia que as-sente num pacto social, justo e redistributivo, que é a essência do conteúdo do programa do PSD e do pensamento genético de Sá Carneiro, que se traduz numa sociedade em que a “confiança” garanta os contratos, seja para o mundo do trabalho, dos pensionistas e reformados, como o é para a defesa da proprie-dade contra o confisco. O que não aceito é que se considere que a “confiança” valha apenas para os contratos “blindados” das PPP, para os contratos swaps, para proteger os bancos, para dar condições leoninas nas privatizações e taxas disfarçadas para garantir que um go-verno que prometeu privatizar a RTP faça os portugueses pagar mais para controlar parte da comunicação social. Ora, escrito ou não escrito na Constituição, o espírito de uma Constituição de um país democrático tem de proteger esses princípios, que são mais do que isso, são valores numa democracia.

Fora disso, o que há é uma lei da selva que a equipa de velhos ricos habilidosos, dedicados a proteger a “família” e as suas

posses, habituados a mandar em todos os governos, em coligação com meia dúzia de yuppies com retorno assegurado a todos os bancos e consultoras financeiras, e com uma classe política de carreira, deslumbrada e ig-norante, todos entendem que nessa selva são grandes predadores e que se vão “safar”. Ha-bituados à lei da força do dinheiro, da cunha, da “protecção” e da impunidade, eles querem atravessar os ‘dire straits’ da actual situação com o menor custo possível. Um aspecto decisivo desta lei da selva é a desprotecção dos mais fracos, daqueles cuja vida pode ser destruída por despacho, os ‘expendables’, aqueles cujos direitos são sempre um abuso, e para quem as garantias não estão “blinda-das”. Se o Tribunal Constitucional não nos defende do retorno a esta lei da selva, todos os dias vertida em leis escritas por aqueles que acham que estão acima das leis, então ninguém a não ser a força nos defende do abuso da força. Que se chegue a este dilema é o pior que se pode dizer dos dias de hoje.

Eu sou a favor de uma revisão cons-titucional profunda. Muito daquilo que a esquerda louva na Constituição, por mim não deveria lá estar. Acho o Preâmbulo absurdo. Sou contra a “universalidade” da “gratuitidade”, mesmo nesse eufemismo do “tendencialmente gratuito”. Tinha preferido que, após o memorando, PS e PSD tivessem mudado a Constituição, permitindo que na Educação e na Saúde quem mais recursos tivesse mais pagasse, até se chegar nalguns casos aos custos reais, mesmo que isso sig-nificasse acrescentar novos ónus à função redistributiva dos impostos dos que mais rendimentos têm. Entendo que a ideia de “universalidade” e “gratuitidade” é pura-mente ideológica, mas socialmente injusta e que algumas alternativas às políticas “ine-vitáveis” passassem por aí. Por isso, quem isto escreve não o está a fazer em defesa de muito que está na Constituição, ou se pensava que estava, visto que já se viu que a Constituição protege menos do que o que se dizia. Esse equilíbrio, resultado de decisões moderadas do Tribunal Constitucional e que, contrariamente ao que o Governo diz, têm em conta a situação financeira actual, torna ainda mais vital que um núcleo duro de direitos e garantias permaneça intocável.

A principal decisão do Tribunal Constitu-cional, seja sobre que matéria for das que lhe forem enviadas, sejam as pensões, as reformas, os salários, seja a legislação laboral, seja a “convergência” do público e privado, seja o que for, terá sempre um essencial pressuposto anterior: está o Tribunal Constitucional dispos-to a permitir o “vale tudo” que lhe é exigido pelo Governo e os seus amigos nacionais e internacionais, ou coloca-lhe um travão em nome da lei e da democracia?

É a mais política das decisões? É. E em muitos momentos da História foi o falhanço do sistema judicial último que permitiu o fim das democracias. O melhor exemplo foi o da Alemanha diante dos nazis e do seu ostensivo desprezo pela lei face à força.

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A teorização da “inevitabilidade” tem relação com a chantagem sobre o que se pode discutir ou não. Que um ministro irres-ponsável resolva avançar com números dos juros pré-resgate, isso só se deve à completa falta de autoridade do primeiro-ministro, traduzida na impunidade dos membros do Governo. Mas, quando se considera que os portugueses não devem discutir seja o resgate eventual, seja o chamado “programa caute-lar”, está-se no limite de uma outra e mais perigosa impunidade: a de que os “donos do país”, a elite do poder, os ‘cognoscenti’, mais os seus ‘consiglieri’ no sentido mafioso do termo, na alta advocacia e consultadoria financeira, o sector bancário e financeiro, o FMI, o BCE, a Comissão Europeia, podem decidir o que quiserem sobre os próximos dez

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19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau terça-feira 19.11.2013

SUAVIZAR O ‘FILHO ÚNICO’cartoonpor Stephff

J Á lhe chamaram de tudo. Ópio do povo, veículo de promoções e de propaganda, indústria poderosa e até religião com mais futuro!

De tudo isto tem um pouco. Contudo, as pessoas/dirigentes que o gerem são cidadãos comuns, primeiros anónimos e passado algum tempo verdadeiras per-sonagens públicas, tamanha é a

visibilidade, que a comunicação social lhes dispensa. Pode perguntar-se: donde vem essa importância?

Um trabalho publicado na revista do semanário Expresso, no passado dia 10 de Novembro, a propósito do que é – a felici-dade e o que contribui para ela – entre as trinta e cinco perguntas feitas, ouve dois que chamaram a minha atenção.

A número 34 perguntava aos inquiri-dos, se os resultados do clube de futebol da sua simpatia os afectavam psicologi-camente?

A conclusão foi elucidativa: 55% dos homens admitiram sentir-se afectados pelos resultados do seu clube, contra os 15% por parte das mulheres. Litoral Norte e grande Porto são as zonas do País mais influenciadas pelo futebol.

Assim podemos concluir, que nestas coisas de futebol, os resultados positivos do clube que se ama, diz-se ser mais fácil mudar de partido do que de clube, podem fazer esquecer a crise, que ataca implaca-velmente desde há quase três anos, isto para os que ganham, para os que perdem têm pelo menos, uma semana negra, que os afecta psicologicamente.

De facto este estudo/sondagem, não é uma surpresa total uma vez que, basta ter em conta as tiragens dos três diários desportivos e as audiências dos programas, que as televisões passam antes, durante e depois dos jogos, espremendo o sumo, as cascas e os caroços dos jogos.

No último Benfica - Sporting, a “no-vela” começou logo pela manhã, muito embora o jogo só tivesse lugar há entrada da noite.

O futebol é uma espécie de religião, com crentes fervorosos, cuja dedicação cega leva tantas vezes a actos irracionais, de violência pela violência, como se está novamente a assistir, não só em Portugal como noutros países. Há dias, vi uma gran-de reportagem na televisão, que dava conta deste fenómeno recente, protagonizado por grupos de dissidentes das claques oficia-lizadas - chamados “casuals”, - em países como Espanha, Itália, Alemanha, Ucrânia e Rússia e, novamente, em Inglaterra. A violência e a destruição são os objectivos desses novos bandoleiros.

desporto e não sóFERNANDO VINHAIS GUEDES

55% dos homens admitiram sentir-se afectados pelos resultados do seu clube, contra os 15% por parte das mulheres

Futebol, essa “ditadura democrática”Voltando ao estudo publicado pela re-

vista do Expresso, neste caso à pergunta número 35 que era: praticar exercício físico regularmente deixa-o feliz ou muito feliz? Resultados, 13% respondeu “nem feliz nem infeliz”. 22,7% respondeu “infeliz” e 48,6% respondeu “nunca terem praticado desporto”!

Era conhecida a pouca percentagem da população que pratica com regularidade uma qualquer modalidade desportiva, contudo quando se trata de futebol, matéria de que todos sabem, ou pensam saber, não há café ou barbearia onde não haja gente de todas as profissões e extractos sociais a “botarem faladura” vestindo a “pele” de treinadores, árbitros e até de jogadores.

Ao ser uma prática nacional e transversal a todas as classes sociais, culturais e reli-giosas, o futebol é em relação às restantes modalidades desportivas, uma espécie de “ditadura democrática”, que monopoliza todas as atenções a começar pela comuni-cação social da especialidade.

FRAN

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O HOJE MACAU ERROU

hoje macau terça-feira 19.11.2013

Ontem, na entrevista aos directores da Escola Portuguesa de Macau, Manuel Machado e Zélia Mieiro, foi, por lapso gráfico, unida uma pergunta com uma resposta de Manuel Machado, o que acabou por induzir os nossos leitores em erro. Na verdade, o presidente da direcção da EPM em nenhuma altura assumiu abertamente a

existência de casos de ‘bullying’ como dava a entender a sua resposta, que na verdade era uma pergunta do jornalista. A resposta correcta de Manuel Machado foi: “Não há situações significativas de ‘bullying’ aqui. Felizmente não temos recebido queixas”. Ao envolvido e aos estimados leitores, as mais sinceras desculpas.

MARCO [email protected]

A próxima temporada do Campeonato do Mundo de Carros de

Turismo poderá levar Henry Ho Wai Kun à Argentina, aos Estados Unidos, ao Japão e à República Popu-lar da China. O piloto do território, que no domingo terminou a segunda man-ga da derradeira etapa do WTCC na décima posição, foi convidado pela Liqui Moly Team Engstler para disputar as cinco últimas tiradas da próxima edição do Mundial de Carros de Turismo.

Ho, que competiu no fim-de-semana na Guia ao volante de um BMW 320si, marcou este ano presença nas três últimas etapas da competição. Para além de ter disputado a corrida do território, o piloto de 31 anos, competiu pelo ter-ceiro ano consecutivo na etapa japonesa do World Touring Car Championship e estreou-se no início do mês em Xangai, tendo encerrado a participação na tirada chi-nesa do Mundial de Carros de Turismo com um 25.º

WTCC PILOTO PODERÁ DISPUTAR CINCO ETAPAS

Engstler quer Henry Hoposto na primeira corrida e um 23.º lugar na segunda. Em Macau, Henry Ho so-breviveu quase incólume à sequência de acidentes que caracterizou a segunda manga da Corrida da Guia e conquistou os primeiros pontos no Campeonato do Mundo de Carros de Turis-mo desde 2009, ano em que participou na competição pela primeira vez.

Henry Ho estreou-se ao volante de um carro de turis-mo no circuito da Guia pela mão da Liqui Moly Team Engstler em Novembro de 2009 e a escuderia germâni-ca liderada por Franz Engs-tler está agora apostada em fazer do piloto do território um dos rostos regulares da equipa, mas a possibilidade de Henry Ho Wai Kun poder competir nas cinco últimas corridas da edição de 2015 do WTCC esbarra na sem-pre problemática questão do financiamento. Ho diz que o convite feito pela formação alemã o honra, mas adian-ta que sem patrocínios a presença nas cinco últimas rondas do Mundial não é mais do que uma miragem: “Fui convidado a conduzir um dos carros da equipa a

partir da Corrida da Argen-tina, no início de Agosto. O meu objectivo sempre foi o de fazer as etapas asiáticas do Campeonato do Mundo e era nesse sentido que pensava preparar a próxima temporada, mas este convite acabou por me vir baralhar um poucos as contas”, sustenta Henry Ho. “O apoio financeiro dado pelo governo de Ma-cau cobre uma parte das despesas, mas não cobre nem de longe nem de perto tudo e não é fácil convencer eventuais patrocinadores. Este ano tive o apoio de uma operadora de jogo. Pode ser que estejam dispostos a apoiar-me de novo, mas ainda é muito cedo para dizer”, explica o piloto de 31 anos.

Henry Ho Wai Kun venceu por quatro ocasiões o Campeonato de Macau de Carros de Turismo. O pi-loto conquistou a prova em 2005, em 2006, em 2009 e em 2010. Em 2006, Henry Ho triunfou também na classe ST4 do Japanese Su-per Taikyu Championship, ao vencer quatro das provas que integravam o cartaz competitivo da categoria.