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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Chui Sai On Cinco anos para cumprir promessas PUB PUB NOVO GOVERNO COM TRÊS CARAS NOVAS PUB Ter para ler SOCIEDADE PÁGINA 10 PÁGINAS 2-5 POLÍTICA PÁGINA 8 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 1 DE SETEMBRO DE 2014 ANO XIII Nº 3165 PÁGINAS 6-7 São todos funcionários públicos e todos falam português. É nestes cinco homens que Chui Sai On deposita a responsabilidade de mudar Macau. ELEIÇÕES CE2014 PRONTOS PARA MANDAR hojemacau MANIFESTAÇÃO HABITAÇÃO LEVA CERCA DE 300 AO PALÁCIO “REFERENDO” PRIMEIRO RESULTADO COM JASON CHAO EM PARTE INCERTA

Hoje Macau 1 SET 2014 #3165

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Hoje Macau N.º3165 de 1 de Setembro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 1 SET 2014 #3165

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

Chui Sai On Cinco anos para cumprir promessas

PUB

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NOVO GOVERNO COM TRÊS CARAS NOVAS

PUB

Ter para ler

SOCIEDADE PÁGINA 10 PÁGINAS 2-5 POLÍTICA PÁGINA 8

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 1 D E S E T E M B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 6 5

PÁGINAS 6-7

São todos funcionários públicos e todos falam português.É nestes cinco homens que Chui Sai On deposita a responsabilidade de mudar Macau.

ELEIÇÕES CE2014

PRONTOS PARA MANDAR

hojemacau

MANIFESTAÇÃOHABITAÇÃO LEVA CERCA DE 300 AO PALÁCIO

“REFERENDO” PRIMEIRO RESULTADO COM JASON CHAO EM PARTE INCERTA

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2 hoje macau segunda-feira 1.9.2014ELEIÇÕES CE2014

MudançaNormalmente, um governante usufrui de um período de estado de graça quando assume o poder. A população e as elites esperam para ver, sobretudo se as promessas eleitorais se desdobram em realidades no terreno.Neste caso, a situação está de tal maneira que nem Chui tem estado de graça, nem terá muitas hipóteses de fazer aquilo a que nos habituou no primeiro mandato, no que toca aos principais problemas da população: deixar andar.A pressão chegou a um tal ponto que, inclusivamente, o sector do Jogo atravessa tempos conturbados, com os trabalhadores regularmente na rua, em demanda de melhores salários, e ameaçando fazer greve. Ora quando uma área de tal modo estratégica da economia atinge este estado de sítio, a mudança não apenas se impõe: é obrigatória. Nas últimas semanas, quer Chui Sai On quer outros elementos próximos do Governo, como é o caso de Leonel Alves, têm insistido na conceito de mudança. Eles sabem que alterações no plano governativo são um bom modo de ganhar tempo, pois existirá alguma expectativa e, sobretudo, esperança em relação ao desempenho dos novos secretários.Daí que Chui Sai On tenha alterado todos os nomes possíveis. Vamos ter três novos secretários, mas os que permanecem não são publicamente contestados (ver página 6). Sangue realmente novo sobe ao Governo da RAEM. Resta saber se os novos responsáveis têm realmente um compromisso com a mudança, na medida em que tal significa pugnar por políticas distributivas mais justas, de modo a harmonizar uma sociedade que se encontra cada vez mais dividida e onde o fosso entre ricos e pobres tende a alargar-se. Sendo todos funcionários públicos, o que a população esperará destas novas caras é competência, dedicação, honestidade e, sobretudo, que aos poucos os interesses do povo se sobreponham aos das elites locais, algo que até hoje ainda não aconteceu e que está na origem da maior parte dos males que, algo inesperadamente, assolam esta sociedade.É preciso controlar a insaciável voracidade de quem parece preferir perder a partilhar um pequeno pedaço do bolo que, afinal, pertence a cada um nós. Veremos se este novo Governo tem garras para mudar e fazer frente aos sempre famintos tigres.

ANDREIA SOFIA [email protected]

O palco começou ontem a ser montado pouco passava das dez da manhã. Cerca de duas

horas depois, já 396 membros da Comissão Eleitoral tinham votado no único candidato ao cargo de Chefe do Executivo, sendo que quatro membros não compare-ceram. Sem novidades, Chui Sai On seria reeleito para um segundo mandato, o quarto da RAEM, com 380 votos, sendo que 13 deles foram brancos e três nulos.

Depois chegou a hora do agra-decimento. O homem que volta a governar Macau, a partir do dia 20 de Dezembro com uma nova equi-pa, agradeceu os votos que recebeu, considerando a eleição “um ponto de partida” para a execução “deste pesado cargo”.

Aos jornalistas, Chui Sai On desvalorizou o número de votos brancos. “Há pessoas que estão a

edi tor ia lCARLOS MORAIS JOSÉ

Tal como se esperava, o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo foi ontem reeleito para exercer o quarto mandato da RAEM com 380 votos, num universo de 396 votantes, e 13 votos brancos. Chui considerou a eleição um “ponto de partida” para um “pesado cargo”

Gabinete de Ligação “Processo de eleição é justo”

CHUI SAI ON REELEITO PARA SEGUNDO MANDATO COM 380 VOTOS

O PESO DO PODER

PEQUIM pronun-ciou-se ontem sobre

a eleição de Chui Sai On como líder do quarto mandato do Governo da RAEM. Num co-municado citado pela agência Xinhua, o Ga-binete de Ligação para os Assuntos de Hong Kong e Macau felicitou Chui Sai On e garantiu que todo o processo de eleição “é legal e mostra os princípios de abertura e de justiça”.

Foi ainda prometido que o processo de no-meação de Chui Sai On

por parte do Governo Central será iniciado quando da entrega do relatório oficial sobre eleições. Numa carta aberta, o mesmo or-ganismo lembrou que este foi o primeiro acto eleitoral para o Chefe do Executivo desde a reforma política reali-zada em 2012.

“Acreditamos que, com o apoio do Governo Central, o novo Chefe do Executivo e o novo Governo vão levar os residentes de Macau a ter aspirações sobre o futuro

e a partilhar a prosperi-dade”, pode ler-se.

Também o Delega-ção para os Assuntos Económicos e Culturais de Taiwan em Macau, através do seu director Lu Chang-Shui, disse esperar que os próxi-mos cinco anos sirvam para um reforço da cooperação jurídica e a luta contra o crime. CY Leung, Chefe do Execu-tivo de Hong Kong, deu os parabéns a Chui Sai On, falando da futura cooperação entre as duas regiões.

favor, outras contra. Há votos vá-lidos e brancos, isso é normal. Ter votos brancos é talvez pelo facto das pessoas quererem que eu faça melhor, é uma forma de fiscalizar o meu trabalho”, admitiu.

Questionado sobre a priorida-de para o novo Governo, Chui Sai On lembrou que “tem sido dada muita importância à simplifica-ção da máquina administrativa, a sua eficácia e a avaliação dos

resultados. Temos de ouvir pri-meiro as opiniões, e depois das associações da Função Pública, e depois levar os trabalhos passo a passo”, frisou.

“Vamos ter de assumir uma

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F ILHO da terra, onde nasceu em Janeiro de 1957, e des-cendente de uma família

antiga de Macau, Chui Sai On tem como tio-avô o ex-deputado e histórico da comunidade chine-sa Chui Tak Kei. O seu pai, já falecido, era construtor civil e a mãe doméstica.

Chui Sai On frequentou em Macau a escola Ling Nam após o que foi estudar, sozinho, para os Estados Unidos. Tinha ape-nas 16 anos quando chegou ao Hawai, para completar o curso secundário. Fez na Hawai Mis-sion Academy o último ano do liceu. Depois mudou-se para a Califórnia para tirar o curso de Medicina.

No seu caso, desde muito cedo optou pela especialização em Saúde Comunitária. Licen-ciou-se pela California State University, em Sacramento. Após a licenciatura, Chui Sai On mudou-se para Oklahoma, onde tirou o mestrado e o dou-toramento em Gestão de Saúde Pública.

Regressou a Macau em 1983 e, no ano seguinte, montava o seu próprio laboratório médico. Em 1989 diversificou a sua ac-tividade. Juntamente com a sua esposa, fundou a companhia de comércio BMW. Em 1992, far-se-ia notar, igualmente, no campo político, ao ser eleito deputado por sufrágio directo, para a Assembleia Legislativa, integrado na lista União para o Desenvolvimento (UPD), que foi a segunda mais votada e elegeu ainda Tong Chi Kin.

Durante toda a V legislatura (1992-96), Sai On distinguiu-se no hemiciclo da Praia Grande pelas preocupações sociais, de

Pensado terreno para a TDM

EM resposta a uma pergunta de uma jornalista da TDM, Chui Sai On prometeu estudar a localização de um terreno para a estação pública

de televisão nos novos aterros. “Gostaria que houvesse um espaço para ter o seu edifício, mas onde vai ser o local e quando vai ser, não sabemos. Vou estudar e ver onde poderá ficar na zona A dos novos aterros. Não tenho ainda esses dados mas gostaria que houvesse esse edifício para aumentar a eficiência e assegurar a qualidade dos serviços. A TDM é um canal televisivo muito importante para Macau”, defendeu.

Uma vida simples “Existem assuntos que temos de resolver com prioridade. Tem a ver com a vida da população, o desenvolvimento económico e a melhor forma elevar a eficiência administrativa. São esses os meus desafios para o futuro”CHUI SAI ON

Chui não comenta detenção de activistas

CONFRONTADO com as recentes detenções dos promotores do referendo civil, Chui Sai On garantiu pouco saber, não tendo feito

mais comentários. “Ao longo da semana eu também estava no papel de candidato, tenho partilhado algumas opiniões com vocês, mas só no dia 1 de Setembro é que voltarei a assumir as minhas funções e, por isso, é que vou inteirar-me do assunto. Claro que também vou prestar mais atenção quanto à questão e tentar saber o que se passou”, disse.

CHUI SAI ON REELEITO PARA SEGUNDO MANDATO COM 380 VOTOS

O PESO DO PODER16membros da Comissão Eleitoral

não votaram em Chui. Preferiram

o voto branco ou nulo

grande responsabilidade. Existem assuntos que temos de resolver com prioridade. Tem a ver com a vida da população, o desenvolvimento económico e a melhor forma elevar a eficiência administrativa. São es-ses os meus desafios para o futuro”, garantiu o candidato eleito.

DANÇA DE SERVIÇOS Chui Sai On não adiantou grandes pormenores de uma reforma ad-ministrativa que pretende levar já em Janeiro, mas levantou a ponta do véu.

“Posso dar alguns exemplos: muitas pessoas falaram do âmbito do turismo e da economia e a sua relação. A nível das Obras Públicas e dos Transportes, não será que deve ser só um serviço público

para tratar dos assuntos? E para além disso, a nível da concessão de terrenos, construções, com as novas tecnologias de comunica-ção, o tratamento dos contratos de concessão... e ao nível dos assuntos jurídicos: não será que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) deve ter maiores atribuições? Temos aprendido lições com os diversos diplomas e temos de olhar para a frente”, garantiu.

Lembrando que daqui a cinco anos não se poderá candidatar a um novo mandato, Chui Sai On frisou querer criar uma continuidade nas políticas. “Temos de garantir a igualdade no âmbito da formação de talentos na área da política. O essencial é ter igualdade de opor-tunidades no acesso ao ensino e também no ensino superior, isso é indispensável. E oportunidades de participação social. Irei estudar com os colegas sobre a possibilidade de fazer acções de formação sobre técnicas para usar a palavra, de liderança, e de outras oportunidades para que a população de Macau possa aprender mais”, defendeu.

saúde pública. Não se revelou um político profissional, sa-bedor dos truques próprios da carreira. Ao recandidatar-se em 1996, perdeu o lugar de deputado. Com desassombro, afirmou que o seu objectivo é servir o povo de Macau, e que esse desiderato não se esgotava no cargo de deputado.

Na altura, manteve os cargos, entre outros, de membro do Con-selho da Juventude e do Conselho do Ambiente, director-executivo da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, director da Associação de Beneficência Tong Sin Tong, Associação Juvenil dos Empregados do Hospital Kiang Wu e Associação do Pessoal de Enfermagem de Macau, reitor da escola primária Keng Peng e da Escola Técnica para Adultos, e director da Associação de Gestão de Macau.

Chui Sai On esteve também ligado à Federação da Juventude da China, Associação dos Jovens Empresários de Macau e à Asso-ciação de Apoio aos Deficientes de Macau.

Depois de quase 10 anos como Secretário dos Assuntos Sociais e Cultura – cargo que suspendeu para se candidatar ao posto de chefe do Governo – Chui Sai On foi eleito a 26 de Julho de 2009 como ‘terceiro’ líder do Governo depois de Edmund Ho ter cumprido os dois primeiros mandatos, tantos quantos a lei permite.

Quando, em 2009, chegou ao mais alto cargo da admi-nistração de Macau, Chui Sai On ‘levava’ consigo o título de ‘super-secretário’, uma avaliação feita pela abrangência das áreas que tinha a seu cargo – Assuntos Sociais, saúde, cultura, educação básica e ensino superior, desporto e turismo - já que, em termos do número de serviços sob a sua tutela, o ‘dono’ da pasta das Obras Públicas era o mais sobre-carregado.

Como Secretário dos Go-vernos de Edmund Ho e como líder do Executivo de Macau, Chui Sai On assumiu e assume também vários cargos como Pre-sidente do Conselho Consultivo da Reforma da Saúde de Macau ou chanceler da Universidade de Macau.

Depois de um primeiro man-dato, durante o qual a sociedade de Macau conheceu diversos desequilíbrios, apesar do imenso excedente financeiro, Chui Sai On tem agora a oportunidade de reparar alguns dos problemas que até agora não conseguiu resolver. Se o fizer, sairá pela porta grande da História. - H.M./Lusa

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DOIS dias antes da eleição de Chui Sai On como próximo Chefe do Executivo da

RAEM, a sede de campanha do candidato, localizada na avenida da Praia Grande, ainda fervilhava com a entrega de inquéritos por parte das associações locais.

À porta do edifício, Ho Sai Cheong, presidente da Associação dos Direitos dos Trabalhadores de Macau (ADTM), disse ao HM, em voz alta: “Apenas 400 pessoas podem votar, quando Macau tem 600 mil residentes. Desejo uma democracia, ele deveria ouvir as vozes da população”, disse, sobre Chui Sai On.

Um dia depois da eleição do

À saída do acto eleitoral, alguns membros da Comissão que elegeu o Chefedo Executivo desvalorizaram os 13 votos em branco e fizeram vários pedidosa Chui Sai On, na áreada economiae da habitação

MEMBROS DA COMISSÃO ELEITORAL DESVALORIZAM VOTOS EM BRANCO

Parabéns e muitos conselhos

CECÍLIA L [email protected]

À saída do acto eleitoral, no Dome, alguns membros da Comissão Eleitoral falaram à imprensa e,

mais do que apresentar sugestões para o próximo Governo, desvalori-zaram o número de votos em branco registados: 13.

“Não é possível ter todos os boletins de voto válidos”, defen-deu Lau Cheok Va, antigo presi-dente da Assembleia Legislativa

(AL) que, segundo o noticiário da TDM, pediu que Chui Sai On oiça melhor os residentes nos próximos anos.

Também referindo-se aos votos em branco, Lam Heong Sang, ac-tual vice-presidente da AL, frisou que “vários sectores têm opiniões diferentes do Governo”, tendo pedido que o candidato reeleito “promova o emprego de qualidade para os residentes locais”, por for-ma a “garantir que os funcionários de todos os sectores não sofrem o impacto dos Trabalhadores Não Residentes (TNR)”.

Jia Rui, o jovem atleta que representa o sector desportivo, considerou que o resultado das eleições “reflecte que o programa político foi reconhecido pelos membros da Comissão Eleitoral”, esperando que no futuro “Chui Sai On possa continuar a apoiar o desenvolvimento geral do sector desportivo”.

Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), frisou que “95% (de apoio) é um número caracte-

rístico”, sendo que “a percentagem até foi superior à das últimas eleições”. “Não se espera nada de radical com uma eleição do Chefe do Executivo, que é nomeado pelo Governo Central. A regra definida é esta”, apontou, lembrando que o novo mandato “não será muito diferente do anterior, dependendo das expectativas das pessoas. Mas há muita coisa a fazer”, defendeu.

CASAS PÚBLICASEM TODOS OS ATERROSOutro dos membros da comissão que falou aos jornalistas foi o de-putado nomeado Fong Chi Keong, que falou da “pressão” exercida pelo sector do jogo. “Os empre-sários da habitação estão a fazer especulação. Acho que nos novos aterros, sejam as áreas A, B ou C, podem ter casas públicas, não há problema nenhum.” Questionado sobre os terrenos desaproveitados, Fong Chi Keong admitiu que al-guns possam ser propriedade sua.

Já a deputada indirecta Ella Lei lembrou que existem “demasiados TNR” e que “há falta de regula-

mentação na economia”, uma vez que “o sector do jogo continua a ser o único a liderar a economia”. “As queixas dos residentes têm

sido cada vez maiores e o Governo deve rever a situação”, defendeu.

Ambrose So, CEO da Socieda-de de Jogos de Macau (SJM), disse

ANDREIA SOFIA [email protected]

FLORA [email protected]

“Espero que o novo Governo possa melhorar o problema da inflação, porque já é grande neste momento.”SAM LOI Cabeleireiro

VOX POPULI CHUI SAI ON APROVADO MAS COM MUITAS RETICÊNCIAS

“Não sabe das nossas dificuldades”único candidato ao lugar de Chefe do Executivo, o HM perguntou às pessoas se desejavam ter podido votar. Todos disseram que sim, mas não acalentam esperanças de que, num dia próximo, isso venha a acontecer. “Tenho esperança que um dia possa haver o sufrágio uni-versal para o Chefe do Executivo, mas acho que isso não é assim tão fácil de conseguir”, disse Sam Choi, cabeleireiro de 33 anos.

“Espero que um dia cada residente possa votar no Chefe do Executivo, como o que vai acontecer em Hong Kong”, disse

ao HM um membro da ADTM. Outro residente diz mesmo ser “impossível” que um dia Macau tenha o sufrágio universal. Mónica

Yu, recém-licenciada do curso de língua portuguesa da Universidade de Macau (UM), admite que até gostava de votar para o Chefe do Executivo, mas adianta que “não pode decidir isso”, embora espera que um dia o sufrágio universal possa ser implementado.

A senhora Che, proprietária de um mini-mercado na zona da Praia Grande, mostra-se reticente quanto a uma mudança no sistema político. “Acho que cada residente devia poder votar, mas vai ser difícil haver o sufrágio universal para o Chefe do Executivo em

Macau. Se calhar só daqui a dez anos”, disse ao HM, sem deixar de analisar o ambiente social que se vivem nestas duas regiões. “O ambiente em Macau está melhor do que em Hong Kong, onde há tantos debates e discussões sobre os assuntos”, apontou.

CHEFE APROVADO,MAS QUESTIONADOQuestionados sobre o trabalho que Chui Sai On desenvolveu nos últimos cinco anos, e sobre as me-didas que ainda estão para vir, os residentes dão nota positiva, mas não esquecem o que ficou por fazer.

“Acho que na actual situação de Macau não existem outras pessoas qualificadas para este cargo. Chui Sai On foi um bom candidato, mas espero que ele cumpra as promessas que fez no seu programa político. Os preços dos imóveis estão muito altos e espero que Chui Sai On possa fazer algo melhor em relação à habitação no novo mandato e que construa mais habitações públicas”, disse o membro da ADTM.

“O ambiente em Macau está melhor do que em Hong Kong, onde há tantos debates e discussões sobre os assuntos”SENHORA CHE Dona de loja

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5 eleições ce2014hoje macau segunda-feira 1.9.2014

O presidente da Associa-ção de Advogados de Macau (AAM) acredita

que pouco ou nada vai mudar com os recentes protestos or-ganizados por associações do campo pró-democrata, bem como a realização do referendo civil. “Não são meia dúzia de pessoas que vão alterar as coi-sas. Podem fazer o barulho que quiserem, que não vão mudar nada. É um grupo de pessoas que acham que são os únicos detentores da verdade”, apontou à saída das eleições.

“Vejo duas ou três associa-ções que se multiplicam. São sempre as mesmas pessoas e isso já cansa. Estou farto de ouvir barulho que não se justi-fica, porque essas pessoas não representam nada. Se os mem-bros da Comissão Eleitoral não

AUSENTES COUTINHO “PROTESTA”, HO IAT SENG EM PEQUIMO deputado José Pereira Coutinho foi um dos quatro membros da Comissão Eleitoral que não compareceram nas eleições. Ao HM, Coutinho garante que a sua ausência foi “uma forma de protesto para mostrar descontentamento” pela forma de eleição do Chefe do Executivo, a qual deve ser mudada, segundo o deputado, já a partir do novo mandato. Em relação ao número de votos brancos e nulos, Coutinho considera que também representam “uma forma de protesto”, já que “têm o objectivo de pressionar o Governo a alterar a metodologia da eleição”. Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL), não compareceu por, segundo a imprensa chinesa, se encontrar em Pequim.

MEMBROS DA COMISSÃO ELEITORAL DESVALORIZAM VOTOS EM BRANCO

Parabéns e muitos conselhos

OU MUN COM EDIÇÃO ESPECIAL Poucas horas depois de se ter ficado a saber que Chui Sai On tinha sido reeleito Chefe do Executivo com 380 votos, já o jornal de língua chinesa Ou Mun fazia uma edição especial sobre o evento político mais importante da RAEM, com a primeira página a destacar uma publicidade da Associação das Empresas Chinesas de Macau. O diário de língua chinesa destacou ainda os pontos principais do programa político que o candidato apresentou nas últimas duas semanas.

NETO VALENTE DESVALORIZA DETENÇÕES

“Podem fazer o barulho que quiserem”

representam muito, apesar de tudo já representaram alguma coisa na sociedade de Macau. E essas pessoas que fazem barulho não representam nada. Têm as suas opiniões e que têm direito de as ter, mas não representam mais do que isso”, disse Neto Valente.

CHAMAR A ATENÇÃOSobre as detenções de Scott Chiang e Jason Chao, o presi-dente da AAM afirma que já estava tudo pensado para chamar a atenção. “O objectivo dos ma-nifestantes foi conseguido, que era fazer barulho. Conseguiram mediatizar isto”, disse.

“Não havia nada de ilegal em fazer sondagens, o Governo faz sondagens todos os dias. Não vejo que haja problema. Acho que os organizadores da sonda-gem, à qual chamaram referendo, obtiveram o que queriam, que foi projecção mediática. Quanto a essa história da detenção, já estava tudo previsto, e é evidente que iriam haver situações de provocação para serem detidos”, frisou, comentando ainda as notícias do pedido de dados do referendo por parte das autori-dades policiais.

“Penso que isso é mais propaganda do que outra coisa. Para fazer investigação a quem votou? Se for, acho um absurdo. Mas penso que a polícia não terá interesse nisso e é uma forma de criar mais mediatização”, considerou. - A.S.S.

PRETERIDAS E OFENDIDASNa passada sexta-feira a ADTM, em conjunto com a Associação dos Operários de Construção e a União das Forças dos Operários não conseguiram ter reuniões na sede de campanha de Chui Sai On. Segundo a Ou Mun Tin Toi, os motivos da recusa prendeu-se com o facto da sede de campanha ter ultrapassado o limite de inquéritos recebidos. Em declarações à rádio, as três associações falam de diferenças de tratamento entre associações e esperam que, depois da eleição de Chui Sai On, seja quebrada a primazia dada às grandes associações, por forma a “auscultar verdadeiramente as opiniões da população”.

VOX POPULI CHUI SAI ON APROVADO MAS COM MUITAS RETICÊNCIAS

“Não sabe das nossas dificuldades”Ho Sai Cheong vai ainda mais

longe e não cala a sua revolta. “Chui Sai On não sabe quais são as dificuldades que os residentes sofrem num dia normal”, frisou.

Para ele, não existe a necessi-dade de novos terrenos, pedindo clareza no processo de recuperação dos que já existem. “Se passearmos por Macau vemos que existem muitos terrenos desocupados. Isso é suficiente, não precisamos de mais terrenos. Não acredito que no novo mandato ele possa resolver esses problemas”, admitiu ao HM.

King, outro jovem cabeleireiro, dá uma nota positiva a Chui Sai On, mas espera que “possa fazer melhor” no próximo Governo, ao nível da saúde, educação, apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME) e diversificação económica.

Também Sam Choi “aprova” Chui Sai On para mais um man-

“Chui Sai On não sabe quais são as dificuldades que os residentes sofrem num dia normal”HO SAI CHEONG ADTM

dato, mas exige mais do candidato vencedor. “Espero que o novo Go-verno possa melhorar o problema da inflação, porque já é grande neste momento. Temos cada vez mais conflitos na sociedade de Macau e vemos que há cada vez mais diferenças entre as classes sociais, como em Hong Kong”, considerou.

IR ALÉM DOS CHEQUESA senhora Che considera que Chui Sai On foi um bom candidato e

admite que, como pertence à classe média e comprou casa há cerca de vinte anos, não sente de perto o problema da habitação. Mas frisa os problemas da sua classe: “não conseguimos comprar casa nem candidatarmo-nos a uma casa pública”.

Para a proprietária do pequeno supermercado, a grande questão a resolver pelo próximo Governo é a distribuição dos turistas. “Espero que a economia continue assim, próspera, mas também queria que os turistas não fossem apenas para a zona do Leal Senado e que fossem para as zonas antigas, para que fossem desenvolvidas”, pediu a senhora Che.

Ao contrário dos restantes residentes, a jovem Mónica Yu torce o nariz ao facto de Chui Sai On ir cumprir mais um mandato. “Ele não cumpriu as promessas que fez, tal como a construção de 19 mil casas económicas ou a cons-trução do parque de diversões. Era importante fazer isso para termos algo mais além dos casinos.”

A jovem de 23 anos lança ainda farpas ao Plano de Com-participação Pecuniária. “O novo Governo deve ajudar as pessoas que queiram comprar casas, não são apenas os cheques que resol-vem os problemas.”

que a política de diversificação económica “é uma boa direcção mas, se calhar, não será tão fácil de realizar”.

O PROBLEMA PMEFong Kin Fu, representante das Pe-quenas e Médias Empresas (PME) acusou o anterior Executivo de não ter feito um bom trabalho de apoio a esta parte do tecido empresarial, pedindo mais políticas de apoio nos próximos cinco anos. “Pelo menos que nos deixe fazer negócio também nas ruas principais e não apenas nas pequenas”, pediu, sem esquecer as dificuldades levanta-das pelas rendas elevadas e falta de recursos humanos.

Carlos Marreiros, arquitecto macaense, disse que os dirigentes do Governo “precisam de ser alte-rados”, enquanto que Ho Sio Kam, que já foi deputada nomeada, exi-giu a resolução da falta de espaço nas escolas e procura de vagas no ensino. Ho Kuok Meng, do sector dos serviços sociais, pediu mais recursos para lares de idosos e de portadores de deficiência.

HOJE

MAC

AU

São sempre as mesmas pessoas e isso já cansa. Estou farto de ouvir barulho que não se justifica, porque essas pessoas não representam nada.

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6 hoje macau segunda-feira 1.9.2014POLÍTICA

P REVIA-SE que, mais tarde ou mais cedo, se daria em Macau uma transição de poder das famílias mais importantes

e dos empresários para os funcionários públicos. Que esta mudança terá de ser feita, para que a sociedade local encontre alguma harmonia, precavendo-se da ambição desmedida da actual elite, parece não levantar muitas dúvidas a quem pensar no modo como o poder tem sido exercido na RAEM.Com efeito, se Pequim precisava do apoio das famílias tradicionais para assegurar uma transição sem sobressaltos, a verdade é que provavelmente não esperava que a cobiça e ambição fossem de tal modo desmedidas que a população de uma das regiões mais ricas do mundo se visse em dificuldades financeiras.Agora, passados que estão quinze anos, seria de esperar que se fosse dando uma inflexão desta curva de poder e a RAEM passe, talvez lentamente, a ser dirigida por administradores profissionais e servidores da causa pública, que coloquem o interesse da população acima dos interesses privados.A confirmar-se a composição do Governo que anunciamos, Chui Sai On fica a ser o último representante desse Macau já quase antigo e disfuncional. Assim, quase poderíamos prever que o Chefe do Executivo terá menos intervenção nos assuntos públicos, deixando para os secretários as tomadas de decisões. Na ausência de uma visão de futuro, se exceptuarmos as coordenadas estabelecidas por Pequim (diversificação económica, integração no Grande Delta e relações com os países lusófonos), caberá aos secretários resolver os problemas das pessoas, através de medidas que tenham em conta o bem comum e não os bens dos particulares.Já daqui a cinco anos, na próxima eleição para Chefe do Executivo, deveremos assistir ao aparecimento de candidatos igualmente ligados à Função Pública. Fala-se de Cheong U e de Alexis Tam. De momento, ambos têm pastas no próximo Governo e ambos terão a confiança de Pequim. Talvez tudo dependa, para variar, do modo como desempenharem o seu papel.No entanto, seja quem for o escolhido, tudo parece indicar que a RAEM está a dar um passo decisivo no seu desenvolvimento. Uma cidade de jogo, com um astronómico PIB, não pode estar à mercê de ambições individuais, sobretudo quando estas não encontram espaço para as ambições dos outros. daí que os nossos governantes tenham de ser cada vez mais pessoas ligadas ao serviço da coisa pública e não de interesses particulares. Aí sim, Macau teria a possibilidade de construir a Sociedade de Excelência que nos foi prometida por Edmund Ho. - C.M.J.

CHEONG KUOK VAEstabilidade rex

CHEONG UUm secretário na berlinda

OS 5 MAGNÍFICOSFuncionários ao poder

SE no caso da Segurança parece estarmos perante uma área sem

problemas de maior, tal não se poderá afirmar sobre a área que Cheong U tem tutelado. De facto, alguns dos proble-mas mais graves de Macau, como a Saúde, são da sua responsabilidade, embora não tenha sido claro até hoje até que ponto o secretário tem tido controlo sobre a distribuição dos di-nheiros públicos nessa área, até porque grande parte dele sai directamente da Fundação Macau.

É o caso das importantes somas de dinheiro que têm sido proporcionadas ao Hospital Kiang Wu e à Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla em inglês). Ambas as institui-ções, cada uma em seus contextos, têm usufruído de substanciais apoios governamentais. No caso da Saúde, é também voz corrente que tem havido um tratamento preferencial do Kiang Wu em relação ao hospital público, sen-do numerosas as vozes que relacionam tal facto às antigas ligações de Chui Sai On com o hospital privado.

Facto é que o nível da saúde públi-ca em Macau tem, inesperadamente, vindo a cair desde a transferência de soberania. Os sucessivos atrasos na construção do hospital das Ilhas é outro sintoma da pouca atenção que o Governo tem prestado a esta área. As

medidas que Chui Sai On implementou, como os cheques-saúdes, têm favore-cido fundamentalmente quem pratica medicina privada.

Falta agora saber se, neste mandato, Cheong U arranjará força suficiente para inverter esta tendência e dotar Macau de uma saúde pública de in-questionável qualidade.

Por outro lado, cabe-lhe também a responsabilidade de levar à Assem-bleia Legislativa a Lei da Violência Doméstica. No que concerne este pro-blema, Cheong U tem titubeado, não assumindo uma posição clara quanto à criminalização pública do acto, o que desqualifica o Governo da RAEM em termos internacionais e não exerce dissuasão suficiente junto de eventuais prevaricadores.

Seja como for, Cheong U chegou ao fim dos seus primeiros cinco anos com boa imagem junto da população. Para tal contribuiu a sua maneira de ser humilde e afável, que lhe vale a simpa-tia das pessoas com quem se cruza nas ruas e praças de Macau. Ao contrário de outros detentores do poderes, Cheong U não se furta a passeios pela cidade, durante os quais cumprimenta e ouve as pessoas. O seu nome foi igualmente falado para a pasta da Administração e Justiça mas, segundo as nossas fontes permanecerá onde está.

ASSIM, duas pastas permanece-rão sem alterações: Segurança

e Assuntos Sociais e Cultura. No pri-meiro caso, apesar de Cheong Kuok Va já ter atingido a possibilidade de reforma, terá sido extremamente difícil a Chui Sai On encontrar outro nome que reúna consenso – sempre difícil – no seio das Forças de Se-gurança.

Na origem deste problema estará a “natural” rivalidade entre as diver-sas cooperações. Será por isso que um dos nomes insistentemente refe-ridos para o lugar, Wong Sio Chak, actual director da Polícia Judiciária, terá sido preterido. Contudo, Wong deverá transitar para a chefia dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), substituindo no cargo Proença Bran-co, de saída para a reforma.

Sendo igualmente voz corrente que a área da Segurança não tem causado – antes pelo contrário – problemas relevantes a Macau, a recondução de Cheong Kuok Va não deverá encontrar oposição, quer no interior das corporações, quer junto da população. Tal não quererá dizer que Cheong não tenha espaço para melhorar, nomeadamente na forma-ção cívica das forças de segurança. Até porque, está na “disposição de servir a RAEM”.

Caberá aos secretários resolver os problemas das pessoas, através de medidasque tenham em conta o bem comum e não os bens dos particulares

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7 políticahoje macau segunda-feira 1.9.2014

A OUTRA HIPÓTESE

O quarto governo da RAEM está escolhido e Chui Sai On vai anunciá-lo no regresso de Pequim, daqui a cerca de duas semanas. Nos últimos dois meses têm percorrido os bastidores políticos de Macau numerosas especulações, como é comum em situações deste tipo. Vários nomes

têm sido avançados e outros eliminados. O HM conseguiu apurar, junto de fontes bem informadas, qual vai ser, salvo alguma alteração imprevista de última hora, a composição do novo Governo. Duas coisas em comum a todos os secretários: todos são funcionários públicos e todos falam português

HO VENG ONO regresso do delfim

ANDRÉ CHEONGFamiliar numa pasta estranha

ALEXIS TAMTudo pela diversificação

QUANDO, depois de ter servido durante dez anos

Edmund Ho como seu Chefe de Gabinete, muitos estranharam o facto de Ho Veng On ter sido destacado para liderar o Comis-sariado de Auditoria. Falou-se então de uma espécie de “afas-tamento político”, derivado do facto de Ho ser “demasiado próximo” do anterior Chefe do Executivo.

Contudo, a sua capacida-de organizativa e produtiva deram origem a relatórios “mortais” para o Governo. To-dos os anos foram apontadas numerosas falhas de gestão, organização e distribuição de fundos, entre outras. Não se mostrando preocupado em beliscar os poderes instalados, Ho Veng On deu um exemplo de coragem no Comissariado de Auditoria.

Agora transitará para a pasta da Administração e Justiça. provavelmente, a sua acção incidirá muito na reorganização dos serviços públicos e na tão badalada reforma das administração. Aliás, a sua anterior posi-ção ter-lhe-á proporcionado conhecimentos internos e experiência mais que sufi-cientes para levar a cabo a sua complicada tarefa.

Não é também por acaso

que, logo após ser eleito, Chui Sai On sublinhou a necessidade de reformas na administração e levantou mes-mo a ponta do véu quanto à eventual transição de serviços entre Secretarias, chamando a atenção para a proximidade entre Turismo e Economia.

Já quanto à área da Justiça, propriamente dita, não se pode dizer que Ho Veng On seja um especialista, até porque não é licenciado em Direito, mas em Administração Pública. Contudo, também não será por acaso que Chui referiu, também ontem, a Direcção dos Serviços de Justiça, como um dos departamentos gover-namentais que terá de assumir mais responsabilidades. A produção legislativa tem sido uma das pechas do Governo e faltará agora saber outros no-mes para compreender como se organizará o Governo neste crucial sector.

Ho Veng On foi assessor de Jorge Rangel (pasta da Administração) antes de 1999, Chefe de Gabinete de Edmund Ho e Comissário da Auditoria, tendo deixa-do boas marcas por onde passou. Resta saber como vai agora lidar com uma das pastas mais sensíveis da RAEM.

O actual Chefe de Gabi-nete de Chui Sai On

deverá assumir a Secretaria para a Economia e Finanças, uma pasta importante para a diversificação económica de Macau, uma das linhas de for-ça estabelecidas por Pequim, mas que Francis Tam nunca soube pôr em andamento.

A presença de Alexis Tam nesta Secretaria exclui o nome de Leong Vai Tac, abundantemente referencia-do para o lugar. Contudo, não podemos esquecer que Leong é um empresário e não um funcionário público. Caso entrasse no Governo, sobre-tudo para esta pasta, muitos consideram que continuaria uma política mais voltada para os interesses dos empre-sários locais do que para os interesses da população. Não será essa a visão de Pequim neste momento.

Por outro lado, Alexis Tam tem demonstrado um

dinamismo e uma capacidade de trabalho que o tornam – também pelo facto de ser licenciado em Economia – numa escolha óbvia para o lugar. Quando se sentar na cadeira terá em mãos nume-rosos assuntos, entre os quais uma eventual renegociação dos contratos de jogo, bem como conter as fugas de infor-mação que a área de Francis Tam tem proporcionado (ou pretende proporcionar) a interesses estrangeiros.

A sua grande e hercúlea tarefa será lidar com o teci-do produtivio de Macau, de modo a diminuir a dependên-cia do sector do jogo, não em termos de contribuição para o PIB mas de emprego para as gentes da RAEM. Cabe a esta Secretaria dinamizar a economia de modo a que nem toda a população da cidade encontre unicamente nos casinos a possibilidade de orientar o seu futuro.

A permanência de Lau Si Io na pasta das

Obras Públicas e Trans-portes tem sido avançada como uma forte possibili-dade, até porque o actual secretário cumpriu apenas um mandato. Contudo, a sua prestação tem provo-cado numerosas críticas, praticamente de todos os sectores. A verdade é que a sua área tem sido uma das mais controversas, também porque fulcral para a qualidade de vida da população.

Tal por esta razão, talvez por uma questão de temperamento, as nossas fontes garantem que Lau deverá sair e que para o seu lugar existe a forte possibilidade de transitar André Cheong, actual director dos Serviços de Justiça.

A escolha de um ju-rista para chefiar as Obras

Públicas e os Transportes poderá, à partida, parecer desajustada, mas André Cheong tem surgido, algo surpreendentemente nos últimos meses, na resolução de problemas exactamente relacionados com essa área. Foi o caso dos anteneiros, dos auto-carros, etc..

Se nos mentideros, o seu nome surgiu como uma possibilidade para a pasta da Administração e Justiça, talvez a necessida-de de operar uma reforma profunda tenha colocado na linha da frente Ho Veng On. Contudo, a pasta das Obras Públicas e Trans-portes é vasta, complexa e fundamental, a precisar de uma “limpeza” e de uma mente organizada que resolva os problemas. E é isso que, provavel-mente, se espera de André Cheong.

EMBORA as nossas fontes nos assegurem ser esta a mais provável

composição do próximo Governo, o HM não pode garantir a 100% que realmente assim será. Por isso, dei-xamos aqui uma alternativa. Assim, segundo outras fontes, que avaliamos serem menos credíveis, Cheong U

poderia ocupar o lugar deixado vago por Florinda Chan, Alexis Tam ocupar a sua pasta, Lau e Cheong continuarem onde estão e Leong Vai Tac avançar para a Economia e Finanças.

Contudo, tal também não nos parece credível porque isso signifi-caria uma muito curta mudança go-vernamental, o que viria contradizer as recentes declarações do Chefe do Executivo e desapontar quem espera que as palavras de Chui se concretizem.

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HOJE

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8 política hoje macau segunda-feira 1.9.2014

Já são conhecidos os resultados das respostas à primeira pergunta. Um banho de “sins”. Jason Chao, entretanto, desapareceu...

O ‘referendo civil’ che-gou ao fim. No dia da eleição de Chui Sai On para o seu

segundo mandato como represen-tante máximo de Macau, também os pró-sufrágio directo obtiveram o resultado do seu “referendo”. Ul-trapassando os 8500 votos, a esma-gadora maioria (8249) respondeu que “sim” ao sufrágio universal directo do Chefe do Executivo em 2019. A oposição passou as duas centenas, fixando-se nos 231 votos e a abstenção recolheu 189 votos. Em branco ficaram apenas nove.

Curiosamente, a percentagem de “sim” no “referendo cívico” ronda os 97%, um número do mesmo tipo do obtido por Chui Sai On na Comissão Eleitoral para o Chefe do Executivo.

Depois de divulgados os números, as caras e porta-vozes

T REZE activistas en-volvidos com o movi-mento pró-democracia

juntaram-se ontem no exte-rior da Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental, onde decorria a eleição do chefe do Executivo, encenando um performance de protesto.

O académico Bill Chou, a professora Kam Sut Leng, bem como Sulu Sou, presi-dente da Associação Novo Macau, marcaram presença na encenação que pretendia demonstrar vergonha e apelar aos membros do colégio para um voto em consciência.

“Lemos os nomes dos 400 membros da Comissão

Eleitoral do Chefe do Exe-cutivo, apelando às suas consciências e não aos seus interesses privados ou privi-légios. Ajoelhamo-nos para lembrar as pessoas de Macau da vergonha, mas não para im-plorar nada aos membros da Comissão Eleitoral”, explica o manifesto.

Os participantes marcha-vam ao som de um tambor, e a cada quatro passos entoa-vam o nome de um dos 400 membros do colégio eleito-ral, enquanto se ajoelhavam.

“Gritámos por demo-cracia e liberdade, mas fomos acusados de plantar as sementes da desarmonia.

Encenámos manifestações, mas fomos acusados de destruir a ordem social. Alguns jovens pediram justiça; foram acusados de serem gananciosos. Alguns professores tentaram con-vencer outros sobre a actual desigualdade social, mas foram oprimidos e acusados de não terem qualidade para desempenhar funções de professor”, lembraram.

O manifesto lido pelo grupo afirmava que “em muitos países a democracia e a liberdade são tão naturais como respirar”, mas que em Macau são elementos “tão raros como o ar na lua”. – HM

Governo Electrónico Ho Ion Sang pede mais supervisão

O deputado Ho Ion Sang entre-gou uma interpelação escrita

ao Governo onde pede uma maior eficácia do sistema “Governo Electrónico”, por considerar que se trata de uma “tendência dos serviços públicos de Macau”. “Apesar de terem sido implemen-tados vários planos para uma Ad-ministração Electrónica há muitos anos, estes ainda estão numa fase inicial, o que não é conveniente para a população nem aumenta a eficácia da Função Pública”, apontou no documento.

Ho Ion Sang, que se senta no hemiciclo como deputado directo, defende que existe a falta de um departamento específico para a coordenação do “Governo Elec-trónico”, sendo que também não existe um regime que obrigue a essa criação. Por essa razão, Ho Ion Sang considera que o Governo não pode impulsionar a verdadeira criação do Governo Electrónico.

Por essa razão o deputado, que representa a União Geral das As-sociações de Moradores de Macau (UGAMM), pede a criação desse departamento e um mecanismo de “gestão e supervisão para o funcio-namento da eficácia da tecnologia no Governo”. - F.F.

REFERENDO SUFRAGISTAS RECOLHEM 97% DAS OPINIÕES

Jason e o voto de ouro

ACTIVISTAS DE JOELHOS NO COTAI

A “vergonha” de não votar

“A polícia é suspeita de abusar do seu poder e a Administração é também suspeita de uma má interpretação da lei, que infringe os direitos humanos e as liberdades civis dos residentes de Macau, que não fizeram nada de errado”BILL CHOU Activista

das três associações criadoras do “referendo civil” – à excepção de Jason Chao, presidente da Socie-dade Aberta de Macau – falaram à imprensa numa conferência à porta da sede do Governo.

Bill Chou, activista e ex--professor da Universidade de Macau mostrou-se satisfeito com os números atingidos e afirmou que espera “que o novo Chefe do Executivo tenha em consideração a opinião pública”. O activista espera que futuramente os resul-tados sejam uma parte importante de análise aquando a realização das consultas sobre o desenvolvi-mento político de Macau.

JASON CHAO AFASTOU-SE?Reflectindo sobre os últimos acontecimentos, Bill Chou, afirmou que, na sua opinião Jason Chao, “enfrenta muitos problemas” devido à detenção no domingo passado. O ex-professor garante que toda a situação criada em torno do ‘referendo civil’ trou-xe a Chao muitas consequências mesmo a nível pessoal e por isso ele terá decidido afastar-se.

O ex-professor pediu ainda

à comunidade internacional que colocasse os olhos na forma como todos os activistas foram tratados. “A polícia é suspeita de abusar do seu poder e a Administração é também suspeita de uma má in-terpretação da lei, que infringe os direitos humanos e as liberdades civis dos residentes de Macau, que não fizeram nada de errado”, afirmou.

DADOS DESTRUÍDOSTambém segundo afirmou o acti-vista à imprensa, todos os dados pessoais dos quase 9000 votantes “foram destruídos”. Bill Chou acredita que muita gente não participou no ‘referendo civil’ por medo de possíveis conse-quências, afirmando ainda que outras pessoas não participaram simplesmente por não saberem votar online.

Será já nesta terça-feira que as três associações que encabeçam o ‘referendo civil’ avançarão com novidades sobre a segunda per-gunta, que se dedica à confiança dos residentes no candidato ao cargo, ou seja, em Chui Sai On.

Até ao fecho desta edição,

Jason Chao não se mostrou dis-ponível para prestar declarações, sendo impossível perceber o porquê da sua não participação nas actividades encabeçadas pelos grupos pró-democratas no dia de ontem. – HM

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HOJE

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hoje macau segunda-feira 1.9.2014 9 política

LEONOR SÁ [email protected]

A Associação Novo Macau reuniu-se on-tem, frente às Ruínas de São Paulo, para

protestar em prol do sistema eleitoral por sufrágio universal, em 2019. De acordo com o depu-tado e membro da associação, Ng Kuok Cheong, a escolha do dia de ontem para a concentração tem precisamente que ver com o evento político realizado no mesmo dia. É que a ANM espera que ontem tenha sido a última vez em que o Chefe do Executivo de Macau é eleito apenas por “um pequeno círculo de pessoas”.

PROTESTO ANM MARCA DIA DAS ELEIÇÕES

A última vezEsperam que seja a última vez em que não votam para o Chefe do Executivo. Scott Chiang admite que modelo de Hong Kong é “um passo em frente”

Na ocasião, o vice-presidente da ANM, Scott Chiang, disse apoiar a implementação de um novo sistema eleitoral com base no sufrágio uni-versal. Questionado sobre o facto de Macau vir a seguir o exemplo de Hong Kong no que toca à reforma política, o activista referiu que essa é “uma das possibilidades”.

Chiang acrescentou que a votação individual da popula-

ção, ainda que apenas com três candidatos à disposição, é já “um primeiro passo” na evolução do sistema político da RAEM. “Uma experiência como essa em 2019 pode servir de projecto piloto para uma próxima votação diferente”, explicou Scott Chiang.

O vice-presidente da associação referiu ainda que esta é a melhor al-tura para lutar pela implementação do sufrágio universal. “Temos um PIB ridiculamente alto, as receitas brutas atingiram um pico e a eco-nomia está a crescer cada vez mais. Se não fizermos alguma coisa para mudar o sistema político agora, para que a maioria dos cidadãos possa votar no seu Chefe do Executivo, quando é que o faremos?”, questio-nou o activista.

O objectivo foi, de acordo com Chiang, usar o dia da eleição do Chefe do Executivo para mos-trar à população que “algo está mal” e apoiar a reforma política para que o sufrágio universal seja a prática escolhida nas próximas eleições do líder da RAEM, daqui a cinco anos. Sobre o ambiente de activismo cada vez mais prolífico em Macau, Chiang comenta que o número crescente de adesões se deve ao facto do Governo não ter conseguido suprir todas as necessidades e resolver os problemas sociais actuais.

PROIBIÇÃO “ INACEITÁVEL”O presidente da Associação de Assuntos Jurídicos e Sociais (AAJS), Caruso Fong, também esteve presente na concentração de ontem, mas no papel de membro da Associação Novo Macau.Ao HM, Caruso Fong falou sobre a proibição do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) para a realização de uma sondagem sobre o actual sistema eleitoral. “Num primeiro momento, foi-nos dada [à AAJS] autorização para fazer a sondagem com urnas na rua, mas a decisão alterou-se e não permitem a realização da

iniciativa este mês, justificando que há muitos transeuntes a circular nas ruas”, explicou o activista. Recorde-se que esta associação tinha já agendada a realização da sondagem para ontem, dia da eleição de Chui Sai On. “É preciso que haja cada vez mais pessoas informadas sobre os problemas de Macau, que esclareçam a população”, disse Caruso ao HM. O activista considera a justificação para a proibição da sondagem “inaceitável” e quer receber mais esclarecimentos por parte da entidade governamental.

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HOJE

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10 SOCIEDADE hoje macau segunda-feira 1.9.2014

As cerca de três centenas de manifestantes entregaram uma petição Palácio do Governo a pedir mais habitação económica

C ONTRARIAMEN-TE ao que se espe-rava – pela adesão à convocatória criada

na página do Facebook – a manifestação de sábado contra os elevados preços aplicados

A Polícia Judiciária (PJ) deteve, na passada sexta--feira, Roy Choi e Leung

Ka Wai, da publicação satírica, Macau Concealers, tendo ambos saído em liberdade no sábado. Na base da detenção está a alegada violação do uso de logótipos, neste caso, da PJ. Os dois activistas do periódico ligado à Associação Novo Macau foram detidos na tarde de sexta-feira, permanecendo sob custódia até ao dia seguinte, quando foram ouvidos pelo Mi-nistério Público (MP). Em causa está uma fotografia publicada no website oficial da Macau Concea-lers e que mostra a confirmação da

votação no “referendo civil” junto a um cartão com o logótipo da polícia. Assim, a imagem parece sugerir que o votante se trata de um funcionário da PJ.

À TDM, o vice-presidente da ANM disse que a detenção de Roy e Leung deixa de fazer sentido, a partir do momento em que o mesmo se passou há alguns meses e nada foi feito. “Em Maio, quando dezenas de milhares de cidadãos de Macau estavam a protestar contra a Lei de Garantias, naquela altura muitos funcionários públicos puseram o cartão de funcionário, com o logótipo na internet, sem quaisquer consequências negativas. Se isto

é criminoso, então o Governo e a polícia já deviam ter actuado nessa altura e não esperar até agora”, disse Scott Chiang.

O activista acrescentou ainda que este tipo de comportamento – as detenções – por parte do Executivo provoca a desconfiança das pessoas nos governantes. “Isto vai afectar os cidadãos que tentam confiar na nossa administração e na aplicação da lei”, frisou.

Em comunicado, o MP infor-mou que os telemóveis e tabletes dos suspeitos foram confiscados, mas devolvidos no sábado. O caso regressou às mãos da PJ para mais investigação.

PIB Aumento de 8,1% no segundo trimestre O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 8,1% no segundo trimestre de 2014 em comparação com o período homólogo do ano passado. De acordo com os dados revelados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a descida justifica-se com o “impacto do declínio das exportações de serviços do jogo, que conduziu ao abrandamento do crescimento económico”. Ainda assim, o crescimento manteve-se, devido, principalmente, ao aumento do investimento e das exportações dos outros serviços turísticos. Os serviços de estatística apontam ainda um acréscimo de 7% da despesa de consumo privado. A despesa de consumo final das famílias realizada no mercado local e no exterior subiu 7,3% e 6,6% respectivamente.

HABITAÇÃO MANIFESTAÇÃO COM POUCA ADESÃO

Poucos mas bons

De acordo com dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), foram transaccionadas quase 2500 casas no segundo trimestre deste ano, no valor de 17,6 mil milhões de patacas, excluindo lugares de estacionamento. Se, por um lado, o número de imóveis comprados e vendidos diminuiu, o valor do metro quadrado das habitações aumentou significativamente. Comparando os números da DSEC do segundo trimestre deste ano, o preço médio do metro quadrado aumentou 25% relativamente aos primeiros três meses anteriores. Assim, o preço do metro quadrado fixou-se nas 111,5 mil patacas “devido aos preços relativamente elevados dos novos edifícios vendidos neste trimestre [de Abril a Junho]”, explicou a

entidade. O preço do metro quadrado de prédios em construção aumentou 48% face aos três meses anteriores e mais de 70% em relação ao mesmo período de 2013.Cruzando estes dados com os números mais recentes da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sobre o número de empreendimentos construídos – bem como de projectos aprovados –, é seguro afirmar que há cada vez mais casas a ser construídas em Macau e cujo preço se torna significativamente mais elevado em termos trimestrais.O preço médio por metro quadrado das fracções destinadas à habitação em Macau atingiu 96.828 patacas em Julho, mais 46,1% ou 30.584 patacas do que em 2013.

MACAU CONCEALERS PJ DETÉM DOIS MEMBROS DE REVISTA

Uma questão de imagemAssociação pede fim do tabaco nos casinos em 2016A Associação dos Novos Trabalhadores do Jogo entregou na sexta-feira uma carta na sede do candidato Chui Sai On em que pede o fim do fumo nos casinos daqui a dois anos, bem como um reconhecimento das posições e salários dos trabalhadores de todas as operadoras. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Chan Chi Kin, presidente da associação, referiu que “o candidato Chui Sai On disse que a política de proibição total do fumo do tabaco será um assunto a tratar no novo mandato, mas no programa político nada foi mencionado”.

FALAM OS NÚMEROS

à habitação contou com a participação de três centenas de pessoas, segundo dados da organização, e duas centenas segundo a polícia.

Apesar de não corresponder à adesão esperada os activistas cumpriram o planeado e, per-correndo as ruas de Macau, terminaram o protesto junto ao Palácio do Governo onde entregaram uma petição em que é exigida mais habitação econó-mica, assim como a reserva de terrenos nos Novos Aterros para os residente de Macau.

O deputado Ng Kuok Cheong marcou presença na manifestação e reforçou que a população “está a pedir ao Governo que todos os aterros sejam para [construir casa para] os residentes de Macau”.

Para o deputado o assunto em causa “é muito impor-tante”. Ng Kuok Cheong salientou também que os 400 membros do colégio eleitoral que elege o chefe do Executi-vo, muitos deles empresários, “vão sempre usar os seus inte-

resses no sector imobiliário”, o que contribui para os preços elevados da habitação.

EM JEITO DE AVISOEm declarações à agência Lusa, uma jovem manifes-tante mostrou-se preocupada com a questão da habitação, considerando que não há sítio para viver”. “Acho que, nesta altura, devemos expressar os nossos desejos. Quero que o Governo oiça a minha voz. As casas são muito, muito caras”, disse.

“Este protesto é um aviso para Chui Sai On: por favor, deixe as pessoas de Macau partilharem a habitação e os terrenos”JOVEM MANIFESTANTE

“Este protesto é um aviso para Chui Sai On: por favor, deixe as pessoas de Macau partilharem a habitação e os terrenos”, apelou.

Ng Kuok Cheong acredita que o tema vai continuar a servir de mote para mais manifestações na cidade. “Os cidadãos estão muito preocupados”, sublinhou. - HM com Lusa

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TIAGO ALCÂNTARA

11 sociedadehoje macau segunda-feira 1.9.2014

ANDREIA SOFIA SILVA*[email protected]

T AXISTAS e membros do Governo parecem final-mente ter chegado a acordo sobre algo que vinha sendo

pedido há mais de um ano: o au-mento da bandeirada. Segundo a Rádio Macau e imprensa chinesa, o preço da tarifa inicial poderá subir duas patacas face às actuais 15 que são actualmente pagas.

Segundo Kuok Keng Man, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, chegou-se a acordo para uma proposta inicial de 17 patacas, sendo que depois a bandeirada poderá aumentar duas patacas a cada 270 metros. Prevê-se que até ao final do ano esta proposta possa ser executada. Recorde-se que a última vez que os taxistas viram a tarifa actuali-

NO arranque de mais um ano lectivo, que

começa oficialmente no próximo dia 8 de Setembro, o jardim de infância D. José da Costa Nunes irá manter o mesmo número de alunos que já tinha o ano passado: 120. A garantia foi dada ao HM por Vera Gonçalves, directora da instituição, que disse ainda que o aumento de alunos não aconteceu devido à não abertura de uma nova sala, algo que já foi pedido o ano passado.

“Não foi aberta uma

nova turma, e continuamos com seis turmas como o ano passado, daí não ter havido o aumento do número de alunos”, disse a directora, que destacou o aumento de alunos chineses. “Temos sem dúvida mais alunos chineses, filhos de pai e mãe chineses. Este ano houve um grande aumento”, adiantou.

Para o ano lectivo 2014\2015, Vera Gonçalves pretende continuar a apostar no ensino do inglês e do man-darim, idiomas que fazem parte do currículo.

“Vamos continuar a fazer o bom trabalho que eu julgo que fizemos até agora. Uma das coisas boas que conse-guimos fazer o ano passado, e que queremos continuar a fazer, é a possibilidade dos alunos terem natação duas vezes por semana. Vão continuar as actividades extra-curriculares, e para os pais que tenham de trabalhar têm essa possibilidade de se inscrever em actividades de apoio à família até às seis da tarde”, disse ainda Vera Gonçalves. - A.S.S.

DURANTE o fim-de--semana foi confir-

mado o primeiro caso do vírus Dengue a uma mu-lher de 62 anos, conforme anunciaram os Serviços de Saúde (SS). Internada no Hospital Privado Kiang Wu deste o dia 17 do presente mês a paciente encontra-se em situação clínica estável.

Por ser uma praticante de desporto habitual no Jardim de Camões, depois de detectado o vírus na manhã de Sábado, os SS

avançaram de imediato com uma acção de preven-ção no parque.

Para além desta acção, o Instituto para os Assun-tos Cívicos e Municipais realizou uma desinfes-tação no local. Folhetos informativos sobre o vírus foram também distribuí-dos pelos SS à população.

O mosquito portador do vírus, cujo ciclo de vida dura cerca de 30 dias, pode voltar a infectar as pessoas durante toda a sua vida, transmitindo

novos serótipos do vírus de Febre de Dengue, factor responsável por sintomas mais graves, tais como hemorragia grave ou eventualmente risco de morte. O vírus apresenta--se com sintomas de febre, dor de cabeça e erupção cutânea.

Os SS informaram que o Laboratório de Saúde Pública vai proporcionar gratuitamente o serviço de teste de Febre de Dengue a todas as instituições médicas. - HM

TÁXIS BANDEIRADA PODE PASSAR PARA 17 PATACAS

Braço de ferro chegou ao fim

A VERGONHA“A indústria dos táxis em Macau está actualmente num estado desastroso. Os taxistas mentem com frequência, roubam e enganam os clientes. A maioria deles é rude e alguns são violentos ao ponto de existirem pessoas hospitalizadas por causa disso. Nas horas de ponta esperam-se horas por um táxi. Os condutores recusam ligar o taxímetro e cobram dez vezes mais do que a taxa legal. Já chega! É tempo das pessoas de Macau lutarem!”, pode ler-se no comunicado.

141incidentes registados, uma média

de dois por dia

85%pertencem a más experiências

Costa Nunes Jardim de infância vai ter 120 alunos Dengue Confirmado primeiro caso em Macau

zada, também em duas patacas, foi em Julho de 2012 e era algo que vinha sendo reivindicado há bastante tempo.

Da reunião do conselho con-sultivo ficou ainda decidida a criação de um projecto-piloto para a alteração das tarifas dos parquímetros, sendo que a zona dos NAPE deverá servir de ponto de partida. Tudo para evitar que

os carros fiquem estacionados nas ruas, o que tem vindo a gerar “queixas por parte dos cidadãos”.

RELATÓRIO ENTREGUE HOJE À DSATTal como o HM já tinha anun-ciado, é hoje que o grupo cria-do no Facebook “Macau Taxi Driver Shame” (A vergonha dos condutores de táxi) entrega o seu relatório à Direcção para

Foi decidido no Conselho Consultivo de Trânsito que a tarifa inicial dos táxis poderá passar de 15 para 17 patacas já no próximo ano. Entretanto, a DSAT vai hoje receber o relatório do grupo “Macau Taxi Drive Shame”, que revela 85% de más experiências

os Assuntos de Tráfego (DSAT) depois de dois meses de recolha de histórias protagonizadas por passageiros e taxistas.

Segundo dados citados por um comunicado emitido por Andrew Scott, administrador do grupo, de um total de 141 incidentes registados, uma média de dois por dia, 85% pertencem a más experiências, com casos de vio-lência infringida por condutores, escolha de passageiros, recusa no transporte de pessoas ou cobrança excessiva de tarifas, entre outras situações. O grupo, que já conta com cerca de dois mil membros, fez as contas, e por cada experiên-cia boa com um taxista, acontecem seis más.

No relatório entregue à DSAT, há ainda uma lista com 88 táxis identificados e as respectivas ma-trículas, o que representa 7,5% de todos os táxis existentes em Macau, garante o comunicado. - * com C.L.

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hoje macau segunda-feira 1.9.201412 sociedade

A Direcção dos Serviços de Protecção Am-biental (DSPA)

e a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Trá-fego (DSAT) pretendem apresentar ainda este ano as novas normas regula-doras da emissão de gases poluentes, um ano depois do fim da consulta pública sobre o assunto.

Segundo um comuni-cado, “a DSPA e a DSAT analisaram as opiniões e efectuaram um estudo complementar, a fim de fornecer os fundamentos

Acidente Sem vítimas de MacauO Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) garantiu que não há vítimas residentes de Macau no acidente de autocarro de turismo, que aconteceu este fim-de-semana na auto estrada Coquihalla em direcção a Vancouver, Canadá. “Das informações recolhidas através da indústria turística de Macau, até ao momento, não há indicações de que residentes de Macau tenham sido afectados”, informam.

EMISSÃO DE GASES LEGISLAÇÃO AINDA ESTE ANO

Respirar é viver“O Governo tem que ter em conta as emissões dos 200 mil veículos que circulam em Macau, o que exige uma revisão dos padrões e o preenchimento da lacuna destes”COMUNICADO DA DSPA E DA DSAT

científicos para elaborar a proposta final. Em simultâ-neo, estas estão a elaborar o respectivo projecto do diploma, procurando que o mesmo seja finalizado em 2014”, pode ler-se.

O estudo para alcançar os fundamentos científicos em que se alicerça a proposta de lei sobre as emissões dos veículos em circulação chega mais de um ano depois de terminada a consulta pública sobre a matéria

O processo de consulta pública sobre a Elaboração de Normas de Emissão de Gases de Escape de Veículos em Circulação e o Aperfeiçoamento do Regime de Inspecções de

Macau ocorreu entre 14 de Dezembro de 2012 e 31 de Janeiro do ano passado, tendo o relatório final com as opiniões sido publicado a 26 de Julho de 2013.

Com o novo diploma, o Executivo pretende “além de controlar a importação, ou seja, a fonte de veículos a motor altamente poluen-tes”, “estabelecer padrões para a emissão de gases de escape de veículos em circulação”, bem como “aperfeiçoar o regime de inspecções vigente”. É ainda objectivo “melhorar a qualidade do ar, assegu-rar a saúde da população e promover a redução de emissões”.

“O Governo tem que ter em conta as emissões dos 200 mil veículos que circu-lam em Macau, o que exige uma revisão dos padrões e o preenchimento da lacuna destes. Tendo em conta o aumento da quilometragem e o desgaste das máquinas, as emissões dos veículos em circulação tornam-se problemáticas”, pelo que “se sugere ser aperfeiçoa-do o regime de inspecção existente, nomeadamente

a alteração do período entre a inspecção inicial e a inspecção periódica dos veículos existentes”.

O Executivo afirma ainda no comunicado que pretende “implementar o plano de apoio financei-ro para a eliminação de veículos altamente polui-dores para incentivar os proprietários a abater os mesmos”.

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16 hoje macau segunda-feira 1.9.2014EVENTOSSida Actrizes porno japonesas angariam fundosUm grupo de actrizes japonesas do cinema porno angariou este fim de semana cerca de 23.000 dólares ao integrarem uma acção de angariação de fundos para a prevenção da Sida. Até ao inicio da tarde de ontem, as actrizes permitiram a cerca de 2.300 fãs que tocassem nos seus seios, em troca do donativo de mil ienes (cerca de 10 dólares) e não sem antes desinfectarem as mãos. O evento, denominado “Boob Aid” é transmitido em directo por um canal de entretenimento para adultos e tem a duração de 24 horas com a partição de nove actrizes do cinema porno japonês. O evento, que já vai na sua 12.ª edição, terminou às 20:00 locais, sendo depois contabilizado o dinheiro angariado.

Cozinha deShandong no MGMEntre 11 e 18 de Setembro, o restaurante Grand Imperial Court do MGM vai apresentar o estilo de culinária Lu, também conhecido como cozinha de Shandong, que é uma das Oito Tradições Culinárias da China. Para o efeito, convidou o conceituado chefe Quhao, que juntamente com outros cozinheiros do MGM, vai apresentar pratos característicos deste tipo de culinária, reconhecido como parte do Património Intangível da China. Os clientes podem escolher várias pratos a-la-carte ou optar por menus pré-definidos que variam entre as 880 e as 980 patacas por pessoa. Os destaques vão para os pepinos-do-mar refogados com vieiras, o bacalhau refogado com molho de sutate picante e sopa de ovas de lula com coentros.

Televisão ApresentadoraJoan Rivers em comaJoan Rivers, conhecida como “a rainha da comédia norte-americana”, está em coma desde o passado sábado. A comediante e apresentadora do canal E! Entertainment tem 81 anos e está em coma induzido depois de ter tido uma paragem cardiorrespiratória. Rivers passou por alguns dos programas televisivos mais conhecidos dos EUA, como Tonight Show, na década de 60. A apresentadora foi uma das primeiras mulheres norte-americanas a fazer ‘stand up comedy’.

A primeira obra de Siza Viei-ra na China - um edifício de escritórios, desenhado em parceria com Carlos

Castanheira - foi inaugurada no sábado na província de Jiangsu, no leste do país, com a presença dos dois arquitectos portugueses.

“Foi uma grande cerimónia, com as autoridades locais e da província, e muitos jornalistas de revistas de arquitectura”, disse Carlos Casta-nheira à agência Lusa, acerca da inauguração.

O mesmo arquitecto contou que Siza Vieira foi objecto de “muitas honras” e “houve até um jornalista que lhe perguntou se ele se sentia ‘um embaixador de Portugal’”.

A obra inaugurada no sábado é um edifício de dois pisos e 300 me-tros de comprimento, encomendado por uma empresa de Taiwan instalada em Huaian, a Shihlien Chemical Industrial Jiangsu Co.

Está construída num lago artifi-

O arquitecto chegou entretanto a Macau, onde vai proceder à renovação de um hotel histórico

CHINA INAUGURADA PRIMEIRA OBRA DE SIZA VIEIRA

Embaixador de Portugal

“É uma produção portuguesa e só mostra que Portugal tem capacidade para exportar e há boa receptividade para os nossos produtos”SIZA VIEIRA

cial adjacente àquela unidade indus-trial e foi baptizada com o nome de “Edifício sobre a Água”.

Além do projecto arquitectónico, o mobiliário, os candeeiros e os tapetes do edifício foram também desenhados em Portugal.

“É uma produção portuguesa e só mostra que Portugal tem capacidade para exportar e há boa receptividade para os nossos produtos”, comentou Siza Vieira.

Siza Viera, 81 anos, ganhou o Prémio Pritkzer (o Nobel da Ar-quitectura) em 1992. Wang Shu, o único chinês distinguido até hoje com aquele galardão, considera-o “um mestre”.

REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL“Em todos os ateliers onde traba-lhei, associavam logo Portugal aos seus arquitectos mais conceituados, sobretudo Siza Vieira e, depois Souto Moura [que também ganhou o Pritzker Prize, em 2011]”, contou

o arquitecto português Nuno Baião, radicado há sete anos na capital chinesa.

“Partner”, da Saraiva & Asso-ciados, o único atelier português de arquitectura estabelecido em Pequim, Nuno Baião considera que a projec-ção de Siza Vieira “é um motivo de orgulho” para Portugal e “uma refe-rência” para os profissionais do sector.

“Toda a gente nos vê como um pequeno país que produz vinhos e

jogadores de futebol, mas afinal, tam-bém temos dos melhores arquitectos do mundo”, afirmou Nuno Baião.

Em declarações prestadas esta semana à agência Lusa, acerca da sua primeira obra na China, Siza Vieira disse ter encontrado “um ambiente de trabalho muito bom”.

“O cliente respeitou escrupulo-samente o projecto. Foi um prazer. Ultrapassou tudo o que eu esperava”, afirmou.

Siza Vieira e Carlos Castanheira, que se encontram na China desde há semanas, chegaram ontem a Macau, para desenvolverem um projecto de renovação de um histórico hotel da cidade, regressando a Portugal na próxima quinta-feira.

Entretanto, em Taiwan, inaugura-ram um edifício de apoio a um campo de golfe e, em Hangzhou, no leste da China, assistiram ao arranque da construção de um museu, dois projectos desenhados pela mesma parceria. - Lusa

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17 eventoshoje macau segunda-feira 1.9.2014

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

GOODBYE, COLUMBUS E CINCO CONTOS • Philip RothO primeiro livro de Philip Roth foi premiado e granjeou-lhe imediatamente a reputação de escritor de ironia explosiva, capacidade de observação impiedosa e compaixão pelas suas personagens, mesmo pelas mais desprovidas de sentido da realidade. Goodbye, Columbus é a história de Neil Klugman e da bonita e ousada Brenda Patimkin, ele da pobre Newark, ela do bairro suburbano de Short Hills, que se conhecem numas férias de Verão e mergulham numa relação que diz tanto das classes sociais e da suspeita como do amor. A novela é acompanhada de cinco contos cujo registo vai da iconoclastia à ternura sem reservas.

GRANDES EXPLORADORES PORTUGUESES • Susana LimaHomens corajosos, aventureiros e muito inteligentes… mas que são de outros tempos, de outras épocas. Muitos serão automaticamente reconhecidos pelo leitor, outros nem tanto. Penso que nestes últimos a leitura terá um travo especial, desvendando em cada virar de página mais um mistério. São histórias cheias de emoção com personagens de carne e osso. Pessoas aparentemente comuns, mas que, em algum momento das suas vidas, se tornaram diferentes, especiais. Aventureiros por natureza, sem dúvida.» Pêro da Covilhã, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Cristóvão de Mendonça, Diogo Álvares Correia, António de Andrade, António Raposo Tavares, Hermenegildo Capelo, Gago Coutinho, Carlos Bleck, João Garcia.

A exposição “Obras Primas da Pintura dos Museus Nacio-nais de França”, patente no

Piso 2 do Museu de Arte de Macau, vai ser prolongada até ao dia 14 de Setembro para permitir que mais visitantes possam usufruir desta oportunidade de ver 12 obras-primas emprestadas pelo Museu do Louvre, Palácio de Versalhes, Museu d’Órsay e Centro Pompidou.

As doze pinturas apresentadas foram criadas por alguns dos mais famosos artistas da história, desde o iniciador do movimento moderno Picasso, ao pós-impressionista Bonnard de Les Nabis, o cubista Léger, o fauvista Matisse, os mes-tres da arte moderna e líderes do impressionismo Monet e Renoir, os mestres Rococo Fragonard, Boucher e Vertmuller - que com sucesso pintaram o lado mais ver-dadeiro da rainha Miaria Antonieta - o pintor favorito de Luís XIV Le

D E modo a celebrar o Festival da Lua, tam-bém conhecido como

Festival do Meio de Outono, festejado este ano a 8 de Se-tembro, vários restaurantes da Sands China conceberam um menu especial para assinalar o evento.

Assim, o restaurante “Nor-th”, especializado em culiná-ria do norte da China e situado no Venetian e no Sands Cotai Central, vai oferecer, a partir de hoje e até ao dia 10, um menu que inclui pato salga-do, bolos lunares à moda do Norte com carne picada e uma caçarola com almôndegas de porco e abalone. Os preços começam nas 88 patacas por pessoa.

Entretanto o restaurante “Canton”, localizado no Venetian, oferece até ao dia 10 de Setembro uma série de menus especiais com nove pratos cada, com preços que variam entre as 800 e as 1000 patacas por pessoa. Aqui o público pode apreciar bife “Wagyu” com aspáragos e picante, sopa de “matsutake” com abalone e “dumplings” de arroz glutinoso com pasta de feijão vermelho, servidos com bolo lunar e pasta de sementes de lótus.

Por sua vez, o restaurante do Hotel Conrad “Dinasty 8” oferece, entre 6 e 9 de Setembro, um menu especial apreçado em 880 patacas por pessoa. Aqui são de destacar pratos como vieiras fritas com camarões em molho de trufa, abalone em molho de ostra e sopa de amêndoa doce com “dumplings” de sésamo ser-vido com bolo lunar gelado.

Por fim, o “Golden Court” do Sands Macao propõe, desde hoje até ao dia 8, um menu para oito pelo preço de 2.388 patacas. As iguarias aqui oferecidas incluem pato assado, lagosta de Boston refogada com massa e galinha fria marinada.

MAM PINTURAS DE MUSEUS FRANCESES ATÉ 14 DE SETEMBRO

De Picasso a MatisseSANDS MENUS PARA O FESTIVAL DA LUA

Para todos os gostos

Brun, que criou inúmeros murais em Versalhes, o mestre barroco La Tour e o mestre da renascença Clouet.

Enquanto algumas destas obras são pinturas de género e naturezas--mortas, a maioria são retratos de figuras relevantes da história da França, incluindo Francisco I de

França, Luís XIV e a Rainha Maria Antonieta. Em conjunto os seus retratos transportam o espectador para a esplendorosa época da Realeza Francesa.

Passando por cinco séculos de cultura francesa, as pinturas nesta exposição possuem um enorme significado histórico e cultural e a maior parte delas está a ser exibida na China pela primeira vez, infor-ma o comunicado de imprensa da organização.

Organizada pelo Museu de Arte de Macau, sob a tutela do Insti-tuto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), o Consulado Geral de França em Hong Kong e Macau, e Reunion des Musées Na-tionaux - Grand Palais, a mostra, com entrada livre, é também um evento na comemorativo do 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a França.

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21CHINAhoje macau segunda-feira 1.9.2014

A proposta que o Comité da A s s e m b l e i a Popular Na-

cional (APN) traçou para o sufrágio universal em Hong Kong foi ontem apro-vada definindo assim que o Chefe do Executivo de Hong Kong será eleito em 2017, por sufrágio directo, pela primeira vez, mas os candidatos terão de ser nomeados por um comité de nomeação, composto por 1200 membros.

O modelo, contestado pelos partidos pró-demo-cráticos de Hong Kong, que o consideram “uma limitação à verdadeira democracia”, foi aprovado em Pequim pelo Comité Permanente da Assembleia

Três mortos em busca da políciaDe acordo com o “New Express Daily”, três suspeitos perderam a vida e um polícia ficou ferido durante uma busca policial em Dongguan na semana passada. De forma a assustar a polícia, que queria entrar na sua residência, os suspeitos ameaçaram deflagrar uma bomba, acabando por pegar fogo a um cilindro de gás por acidente. A polícia prendeu os sobreviventes, um homem e uma mulher, que acusaram consumo de estupefacientes depois de testados. Ao mesmo tempo, foram ainda encontradas drogas dentro da habitação.

Cocaína apreendida em XangaiAs autoridades da China, com a ajuda dos Estados Unidos, interceptaram 70 quilos de cocaína, com um valor superior a 6.5 milhões de dólares, naquela que é a maior apreensão dos últimos anos, revelou o “South China Morning Post”. A polícia chinesa recebeu uma denúncia da Drug Enforcement Agency (DEA) dos Estados Unidos acerca de um contentor suspeito proveniente do Peru. Depois de analisar conversas telefónicas e emails de um membro de um cartel mexicano que havia sido assassinado, a DEA avisou as autoridades chinesas que o contentor chegaria a Xangai no dia 18 de Agosto, de onde partiria de seguida para a Nova Zelândia. A polícia descobriu o carregamento quando fez uma busca ao barco em Xangai.

HONG KONG PROPOSTA PARA ELEIÇÕES APROVADA

A lei do mais forte

“A sociedade chinesa chegou à conclusão que será prejudicial para Hong Kong autorizar uma personalidade anti-Pequim a liderar a cidade”EDITORIAL DO GLOBAL TIMES

PRÓ-DEMOCRATAS AO ATAQUE

O plano para a eleição Chefe do Executivo de Hong Kong, delineado pela ANP, foi ontem aprovado. O sufrágio directo passará primeiro pela intervenção de um comité de nomeação que poderá indicar o máximo de três candidatos. Os pró-democratas já reagiram

Mas como advertiu na sexta-feira passada um jor-nal do Partido Comunista Chinês (PCC), a China “não permitirá” que aquela Região Administrativa Es-pecial do país seja governa-da por “uma personalidade anti-Pequim”.

“A sociedade chinesa chegou à conclusão que será prejudicial para Hong Kong autorizar uma per-sonalidade anti-Pequim a liderar a cidade”, pro-clamou o Global Times, publicação em inglês do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.

Num editorial intitu-lado “Extremistas não podem prevalecer em Hong Kong”, o jornal disse que a China “está psicologicamente prepa-rada para o agravamento das fracturas em torno da reforma política”, naquela antiga colónia britânica.

Nacional Popular da Chi-na, o “supremo órgão do poder de Estado” no país.

Até agora, o Chefe Executivo de Hong Kong tem sido eleito por um Comité de 1.200 membros seleccionados entre os cha-mados “quatro sectores” do território, nomeadamente líderes empresariais e delegados aos órgãos do poder central, em Pequim.

TRÊS, A CONTA QUE PEQUIM FEZA proposta agora aprovada define o número máximo de candidatos não pode ultrapassar os três, que terão que obter pelo menos 50% do apoio dos 1200 membros do comité, ou seja, mais de 600 votos válidos.

Considerada uma das economias mais livres do mundo, Hong Kong tem cerca de 7,2 milhões de habitantes, 72% dos quais com menos de 55 anos, e um Produto Interno Bruto per capita que ronda os 33.500 dólares, cinco ve-

zes superior ao da China continental.

Excepto nas áreas da de-fesa e das relações externas, que são da competência do governo central, Hong Kong goza de “um alto grau de autonomia” e é “governada por pessoas” do território.

O campo pró-democrático de Hong Kong, que este Verão organizou manifestações de rua com dezenas de milhares de pessoas, já tinha ameaçado promover novos protestos contra o que considera “uma falsa democracia” e votou ontem assumir o controlo do centro financeiro de Hong Kong, depois de Pequim insistir na nomeação dos

candidatos a líderes da região administrativa chinesa através de um comité especial. O grupo, denominado Occupy Central with Love and Peace (Ocupar o centro com paz e amor, na tradução em português), declarou que a decisão de ontem, por parte da China, retirou a esperança de se chegar a qualquer compromisso entre

os activistas pró-democracia e as autoridades de Pequim.“Lamentamos dizer que hoje todas as hipóteses de diálogo foram esgotadas e a ocupação do centro financeiro vai mesmo acontecer”, declarou o grupo num comunicado enviado por correio electrónico, mas sem especificar quando iria acontecer essa ocupação.

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22 china hoje macau segunda-feira 1.9.2014

Rede de prostituição desmanteladaA polícia de Xiangyang, em Hubei, prendeu o líder de uma rede de prostituição, assim como 14 outros suspeitos, anunciou o “Chutian Metropolis Daily”. O cabecilha, com 22 anos de idade, conhecia mulheres online para de seguida forçá-las à prostituição, tendo esta rede traficado cerca de 30 mulheres, com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos. Durante a operação, a polícia resgatou 12 raparigas menores de idade, estando ainda por apreender mais 12 suspeitos.

Taiwan quer novo sistema anti-mísseisTaiwan pretende gastar 19.4 mil milhões de dólares de Hong Kong durante os próximos nove anos para adquirir sistemas anti-mísseis de modo de modo a se salvaguardar contra ameaças da China, revelou um legislador citado pelo “South China Morning Post”. Lin Yu-fang, um membro do Comité de Defesa do Parlamento de Taiwan, disse que as forças armadas da ilha pretendiam comprar os mísseis terra-ar de fabrico local Tien Kung 3 (Sky Bow 3) entre 2015 e 2024 para substituir o sistema Hawk que está actualmente a ser usado. O orçamento para esta compra foi submetido para aprovação no parlamento na sexta-feira.

15 mortos em deslizamento de terras Pelo menos 15 pessoas morreram e oito outras estão dadas como desaparecidas em consequência de um deslizamento de terras que soterrou uma localidade da província de Guizhou, sudoeste do país, revelou na sexta-feira a agência Xinhua. O deslizamento de terras aconteceu às 20:30 locais na localidade de Yingping, quando cerca de metade de um monte com 600 metros de altura ‘partiu’ e soterrou quase todo o povoado. Além dos mortos e desaparecidos, 77 casas ficaram destruídas e 22 pessoas feridas, a maioria idosos e crianças. A região sul da China é, nos meses de Verão, palco de inundações e outros desastres naturais por influência da época de monções que provocam chuvas torrenciais e tempestades tropicais.

A medida já estava a ser anunciada e vai mesmo para a frente. Os cortes podem atingir os 70%

A liderança chi-nesa decidiu cortar os salá-rios dos exe-

cutivos das empresas es-tatais, numa nova medida para tentar reduzir a insa-tisfação popular acerca das desigualdades sociais no país, anunciou no sábado a imprensa oficial.

Os cortes poderão chegar aos 70% e, segundo adiantaram alguns jornais, e provavelmente será es-tabelecido um tecto anual de 600.000 yuan, o que corresponde a cerca de dez vezes mais do que o salário médio em Pequim.

A decisão, tomada sexta-feira pelo Politburo

O S jornalistas chineses deverão praticar “va-lores socialistas” no

seu trabalho, segundo as novas directrizes apresentadas este sábado pela Associação de Jor-nalistas da China.

“Devemos promover o sig-nificado dos valores fundamen-

Xangai Seis empregados da OSI presos

AS autoridades chinesas prenderam formalmente seis

empregados da fábrica de Xangai do grupo norte-americano OSI no âmbito do escândalo de venda de carne fora de prazo.

As autoridades tinham anun-ciado a detenção dos seis fun-cionários, não identificados, da Husi Food Co., subsidiária do grupo OSI, que tem uma fábrica na China onde foi detectado em Julho a mistura de carne fora de prazo com carne fresca.

Na China o grupo tem clientes como os gigantes McDonald’s, KFC, Pizza Hut, Starbucks, Burger King, 7-Eleven e Papa John’s Pizza.

“O grupo OSI confirma que seis empregados da fábrica de Xangai foram agora presos depois de detidos pelas autoridades”, refere uma nota da empresa que salienta toda a disponibilidade da companhia em continuar a cola-borar com as autoridades.

O escândalo alimentar foi conhecido através de uma re-portagem da televisão de Xangai porque as cadeias de restaurantes ocidentais são vistas como de-fensoras de padrões de qualidade elevados num país afectado por re-petidos escândalos alimentares.

PEQUIM VAI CORTAR SALÁRIOS DOS EXECUTIVOS

Equilibrar forças

600.000yuan, tecto anual que

deve ser estabelecido

XINHUA JORNALISTAS DEVEM PRATICAR “VALORES SOCIALISTAS”

Rumo à prosperidadetais socialistas e informar a população acerca dos últimos progressos neste sentido”, afir-ma a proposta, da qual alguns excertos foram divulgados neste sábado pela agência estatal “Xinhua”.

Os valores que os jornalistas devem promover incluem os

objectivos nacionais de prospe-ridade, democracia, civilidade e harmonia.

As directrizes da Associação de Jornalistas pedem aos profis-sionais da indústria que “resis-tam às vozes negativas, apoiem os princípios de autenticidade e rejeitem as notícias falsas”, acrescenta a “Xinhua”.

Estas directrizes foram anunciadas menos de duas se-manas depois de o presidente da China, Xi Jinping, assegurar que o país vai iniciar “vários novos tipos de meios de comunicação fortes, influentes e credíveis”.

Além disso, em meados de Agosto a Administração Estatal de Imprensa, Rádio, Cinema e Televisão, organis-mo encarregado da censura na China, ordenou que os canais de televisão nacionais emitam séries de conteúdo “patriótico” e “antifascista” em horário de máxima audiência durante Setembro e Outubro.

Estes meses estão ligados às celebrações pelo Dia Nacional da China (1 de Outubro), uma festividade de sete dias de du-ração na qual é celebrada a fun-dação da República Popular.

tral), através de um orga-nismo chamado SASAC, cujo anterior presidente, Jiang Jiemin, está preso por corrupção.

Desde que assumiu o poder, em Novembro de 2012, a nova liderança do PCC, encabeçada pelo secretário-geral do partido e Presidente da Repúbli-ca, Xi Jinping, prometeu atacar as principais cau-sas de descontentamento popular, nomeadamente a corrupção, as desigual-dades sociais e a poluição.

do Partido Comunista Chinês (PCC), prevê tam-bém restrições quanto ao uso de viaturas oficiais, recepções, dimensão dos gabinetes e viagens, den-tro e fora da China.

No topo de algumas empresas estatais, “há executivos com um ren-

dimento anual de milhões de yuan e que têm ainda os privilégios dos altos funcionários [da admi-nistração pública]”, disse o China Daily.

Oficialmente, a China é “um estado socialista liderado pela classe tra-balhadora” e as empresas

estatais, que constituem o sector dominante da eco-nomia, são “propriedade de todo o povo”.

Cerca de uma centena das maiores empresas estatais chinesas são di-rectamente tuteladas pelo Conselho de Estado (o executivo do governo cen-

Em Julho passado, pela primeira vez na história da República Popular da China, a Comissão Central de Disciplina do PCC anunciou que um antigo membro do Comité Permanente do Politburo, Zhou Yongkang, estava a ser investigado por suspei-ta de corrupção.

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hoje macau segunda-feira 1.9.2014

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Carlos Morais José

Título : “Filosofia Contemporânea Portuguesa em Macau – Introdução”Autor: Pedro BaptistaEditora: Livros do Meio; Macau, 2013

É a cidade de Macau, suspensa no delta do Rio das Pérolas, uma espécie de atopia histó-rica, de origem e crescimento

anómalos, se tivermos em considera-ção o normal curso da História. Local de passagem, de curta estadia, porto de vários embarques e desembarques, a cidade prefaciou avant la lettre, o que Marc Augé veio a definir, na pós-mo-dernidade, como não-lugar. Apesar des-

A DECIFRAÇÃO DO ABSURDOte este carácter atópico, sedimentou--se lentamente uma identidade, mais constituída pela repetição de práticas e fusão de costumes do que pela im-posição de valores específicos a uma ou outra cultura. Por outras palavras, surgiu aos poucos uma episteme difu-sa, cuja consistência não radicava na aplicação de dispositivos meramente reterritorializados mas, sobretudo, no seu confronto com a alteridade, uma compulsividade adaptativa, e mesmo, como explanará Pedro Baptista, um es-paço de dissidência. Mais do que um conjunto de conceitos e valores, esta episteme caracteriza-se pelo seu carácter desconstrutivo, pela abertura de possi-

bilidades; trata-se, se quisermos, de um pensamento de fronteira, onde a liber-dade, a demanda, o zigue e zague assu-mem um estatuto predominante.

Claro que, neste contexto, como disse Auden, aqui “nada de sério pode-rá acontecer”. Sobretudo, se tomarmos sério no sentido de sistemático, de cla-ro e transparente, de óbvio e apolíneo. E, contudo, muito por aqui aconteceu, outras formas de contar e dar conta da realidade, outras volutas do espí-rito, agora macerado pela distância e fascinado pelo estranho (o Unheimlich freudiano). Não há registo de obra fi-losófica de autor local, sustentada por numerosos volumes, ditada das cáte-

dras das universidades, criadora de sistema e seguidores. Como também escasseiam os ensaios contundentes, eivados de uma simples mas definitiva teoria, capazes de embasbacar a aca-demia. Mas, sob diversas formas, da poesia ao conto, do artigo ao romance, foram produzidas obras, ao longo de cinco séculos, onde operam dispositi-vos conceptuais, cujo estudo e crítica nos colocará na senda de uma história das ideias de Macau. Nesses trabalhos de-paramos com o esboroar lento de valo-res, de ideias transportadas, de práticas tidas por universais. Existe um ultramar

(Continua na página seguinte)

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24 hoje macau segunda-feira 1.9.2014h

do saber e da memória, que por vezes se confunde com reminiscências, como se a viagem implicasse um retorno a um estado primevo de liberdade, só antes pressentido ou lembrado como uma re-cordação de infância. Nessa nova ten-são, nesse confronto com a alteridade humana e geográfica, emergem novos seres, novos conceitos, talvez débeis, talvez titubeantes, certamente indica-dores de um pensamento a haver.

Trata-se de um trabalho que está por fazer, que tem sido preterido em favor da análise histórica que privi-legia os aspectos políticos, sociais e económicos. Até hoje ainda não foi efectuado um traba-lho de levantamen-to destes dispo-sitivos concep-tuais; quer os que foram trazidos pelos europeus — sobretudo o modo como aqui se explanaram no terreno; quer os que aqui existiam e fundamentavam a vida do povo chinês.

Este livro de Pedro Baptista pretende ser, como o título indica, uma introdução a este projecto. E, como tal, o autor lança o que entende serem os fundamentos teóricos e metodológi-cos que possibilitarão a pesquisa. Cla-ramente, esta “Introdução” assume-se como enquadramento teórico necessá-rio, justificando e explanando os argu-mentos que assistem à consideração do objecto. Prudentemente, Baptista faz questão elencar as formas sob as quais tem surgido a reflexão filosófica ou, de outro modo, sob as quais funcionam conceitos e valores que lhes impõem uma vectorialidade, um sentido, se quisermos, uma filosofia. Por outro lado, lança um inte-ressante repto aos ex-ploradores deste terre-no: segundo afirma, nas obras literárias, por exemplo, “está contida uma fi-losofia, mas não é uma filosofia”. Para ser uma filo-sofia, há que rea-lizar um proces-so de extracção que só pode ser, em si mesmo, uma realização filosófica. “Porque para extrair a

filosofia é preciso fazê-la”, escreve Pe-dro Baptista, implicando uma proacti-vidade que não poderá ser desligada de uma vertente crítica, na qual o trabalho genealógico servirá unicamente como ponto de partida para uma acção filo-sófica que, no limite, se quer presenti-ficada e audaz.

O volume está dividido em quatro capítulos: “Da génese à expressão do pensamento”; “Da poesia e da filosofia”; “Há ou não uma filosofia portuguesa?”; e “A filosofia portuguesa em Macau”. O

primeiro dá conta das roupa-gens da reflexão filosófica,

estabelecendo que não somente o tratado, o

ensaio, o comentá-rio ou o diálogo são passíveis de a transmitir. Deste modo, Baptista justifica a pes-quisa no caso de Macau, onde o pensamento fi-losófico pouco

existe na sua for-ma convencional,

mas onde a produ-ção literária, teológi-

ca e ensaística albergam precisamente os conceitos

e os valores que serão objec-to deste estudo.

O segundo capítulo pretende apro-fundar a relação entre poesia e filosofia, porque parece entender o Autor que tal é particularmente relevante no caso de Macau, embora tal não seja referido no texto. Baptista leva-nos numa breve ex-cursão teórica às relações que poesia e filosofia têm entretecido e como se re-velam dois olhares inseparáveis, ainda que distintos, “gémeas na frustração da relatividade”. Nesta relação, Baptista sublinha o papel do ritmo, imperial na poesia e, segundo as teses ritmanalíti-

cas de Pinheiro dos Santos, im-perial na matéria e no espí-

rito. Os ritmos silencio-sos ou dramáticos do

universo encontra-riam uma ressonân-cia pitagórica nos versos dos poetas, constituindo uma metafísica su-bordinada a esse Grande Ritmo, que pulsa incon-tinente deste o

princípio de tudo. A poesia seria a

permanente e eso-térica escrita desses

ritmos universais; a filosofia (e a ciência) assu-miria o traba-lho exotérico de interpreta-ção.

Para com-preender o pensamento que, eventual-mente, se terá produzido em Macau, entende Pedro Baptista, algo naturalmente, neces-sário aquilatá-lo com a fi-losofia portuguesa, começando por colocar a vetusta questão da sua existência enquanto corpus consisten-te, conjunto sistemático de conceitos, como se poderá dizer do logos grego, do racionalismo francês ou do idealis-mo alemão. Trata-se, como tantas ou-tras, de uma discussão que se pretende fechar com um sim ou um não, que nada de produtivo traria. Não sendo, em seus mais altos voos, a filosofia di-reccionada ao particular, mas ao uni-versal, dificilmente poderemos atribuir um pensamento a uma nação, se não se tiver dado o caso de aí ter sido pro-duzido um conjunto sistemático e rele-vante de ideias, mas cuja forma só ganhará estatuto filo-sófico surgir eivada de uni-ve r s a l idade e não se de-tiver em par-t icu lar i smos mais próprios dos sistemas de crenças do que da filosofia.

O pensamento português tem algumas particularidades em rela-ção aos seus parceiros europeus, mas não deixa de neles estar profunda-mente enraizado, independentemente da linha seguida. No sentido inverso, foram os portugueses a proporcionar à Europa o convívio com a alteridade, o que teve consequências enormes para o desenvolvimento, por exemplo, da Ética e da moral.

Baptista termina, ele próprio, por se afastar do debate, invocando o inte-resse mais elevado de reflectir sobre o conjunto de obras filosóficas ou para-fi-losóficas escritas em língua portuguesa,

em Portugal, no Brasil ou no mundo.

Finalmente, no quarto e último capí-tulo, Baptista abor-da o aparecimento das ideias filosófi-cas e do ensino da filosofia em Macau, pela mão dos jesuí-

tas, e sequente des-file de personalidades

literárias e académicas que por aqui viveram ou

passaram parte da sua vida. Serão precisamente estas obras

que poderão servir de objecto ao trabalho que este livro pretende ini-ciar. Nomes como José Gomes da Silva, Wenceslau de Moraes, Camilo Pessanha, Silva Mendes, entre muitos outros, são aqui referenciados.

Noutro sentido, é importante tam-bém compreender o modo como Macau foi sempre uma porta de entrada para a China de ideias vindas do Ocidente. E não se trata apenas de religião mas tam-bém das ciências, das artes, das matemá-ticas e da música. Foi nesta cidade que os primeiros contactos entre letrados

das duas civilizações se efectuaram. No Colégio de São Paulo ensi-

navam-se as línguas orientais e noções aprofundadas de

confucionismo, budismo e daoísmo. Na verdade, ainda estão por exu-mar estes encontros e ser feito um estudo crítico destas rela-ções silenciosas que, provavelmente, con-tribuíram mais para a nossa história do que aparentam.

Esta “Introdução” ao pensamento na lite-

ratura e filosofia de Ma-cau surge como uma obra

pioneira, mas que exige a prossecução de um trabalho,

a iminência de um projecto que decifre as teias por onde se enredou o pensamento português neste canto do Oriente, no qual a sua presença tem tanto de inexplicável como de absurdo. Aqui não apenas se divulgou (e talvez esse seja o aspecto menos interessan-te) como se operou uma transformação de ideias e valores: Oriente como espaço de dissidência. Ora talvez nessa decifração contemporânea se revelem alguns sen-tidos e se iluminem alguns caminhos, talvez essa leitura nos permita melhor entender e agir no absurdo, que tam-bém hoje por todo o lado nos cerca.

Page 25: Hoje Macau 1 SET 2014 #3165

25 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 1.9.2014

O CONTROVERSO COMENTÁRIO DE JOSÉ SARAMAGO DE HÁ ALGUNS ANOS DE QUE O ESPÍRITO DE AUSCHWITZ SE REPRODUZ EM ISRAEL FAZ HOJE MAIS SENTIDO DO QUE NUNCA

ACUSEMOS ISRAEL

Boaventura de SouSa SantoS

P ODEM simples cidadãos de todo o mundo organizar-se para propor em todas as ins-tâncias de jurisdição universal

possíveis uma acção popular contra o Estado de Israel no sentido de ser de-clarada a sua extinção, enquanto Esta-do judaico,  não apenas por ao longo da sua existência ter cometido reite-radamente crimes contra a humanida-de,  mas sobretudo por a sua própria constituição, enquanto Estado judaico, constituir um crime contra a humani-dade? Podem. E como este tipo de cri-me não prescreve, estão a tempo de o fazer. Eis os argumentos e as soluções para restituir aos judeus e palestinos e ao mundo em geral a dignidade que lhes foi roubada por um dos atos mais violentos do colonialismo europeu no século XX, secundado pelo imperialis-mo norte-americano e pela má cons-ciência europeia desde o fim da segun-da guerra mundial.

O termo sionismo designa o movi-mento que apoia o “regresso” dos judeus à sua suposta pátria de que também su-postamente foram expulsos no século V AC. Há, no entanto, que distinguir entre sionismo judaico e sionismo cris-tão. O sionismo judaico tem origem no anti-semitismo que desgraçadamente sempre perseguiu os judeus na Europa e que viria a culminar no holocausto nazi. O sonho de Theodor Herzl, ju-deu austríaco e grande proponente do sionismo, era a criação, não de um Es-tado judaico, mas de uma pátria segura para os judeus. O sionismo cristão, por sua vez, é anti-semita, e a ideia de um Estado judaico deveu-se a políticos bri-tânicos, sionistas e anglicanos devotos, como Lord Shaftesbury, que, acima de tudo, desejavam ver o seu país livre dos judeus-enquanto-judeus. Eram to-lerados os judeus cristianizados (como Benjamin Disraeli, que chegou a ser Primeiro Ministro), mas só esses. Esta tolerância estava de acordo com a pro-fecia cristã de que é destino dos judeus converterem-se ao cristianismo. O mesmo sentimento se encontra hoje entre os evangélicos norte-america-nos, que apoiam Israel como Estado judaico, bem como a sua desapiedada expansão colonialista contra os pales-tinos, por acreditarem que a redenção total ocorrerá no fim dos tempos, com a conversão dos judeus na Parusia (o regresso de Jesus Cristo).

Terá sido Lord Shaftesbury quem, ainda no século XIX, formulou o pen-samento “uma terra sem povo para um povo sem terra” que ajudaria mais tar-de a justificar a criação do Estado de Israel na Palestina em 1948. E alguns anos mais tarde, foi outro sionista não judeu (Arthur James Balfour) quem propôs a criação de “uma pátria para os judeus” na Palestina, sem consultar os povos árabes que habitavam esse território há mais de mil anos.  “Os Grandes Poderes” (Áustria, Rússia,

França, Inglaterra), lê-se no Memo-randum Balfour de 11 de Agosto de 1919, “estão comprometidos com o Sionismo. E o Sionismo, correto ou incorrecto, bom ou mau, tem as suas raízes em antiquíssimas tradições, em necessidades atuais e em esperanças futuras, que são bem mais importantes do que os desejos de 700.000 árabes que neste momento habitam aquele antigo território”. Urgia, pois, trans-formar esses árabes em um não-povo.

Em 1948, com o beneplácito dos

poderes ocidentais, especialmente da Inglaterra, foi criado o Estado de Israel numa Palestina povoada de árabes e 10% de judeus imigrantes.  Argumen-tava-se então que havia de se encon-trar um espaço para o povo judeu, que ninguém queria receber depois do genocídio alemão. Muito antes dessa catástrofe, os sionistas judeus tinham já pensado em vários locais para o seu futuro Estado. No final do século XIX, a região do Uganda, no que é hoje o Quénia, então colónia inglesa, foi pon-

derada como um possível local para o futuro Estado de Israel. Um espaço na Argentina chegou também a ser con-siderado. Mais tarde, auscultado sobre um local no norte de África (no que é hoje a Líbia), o rei da Itália, Victor Em-manuel, terá recusado, respondendo: “Ma è ancora casa di altri”.

Mas nenhum europeu, por mais preocupado com a situação dos judeus, jamais pensou num lugar dentro da própria Europa. Havia que inventar--se “uma terra sem povo para um povo

sem terra”. Mesmo que fosse necessá-rio obliterar um povo. E assim se vem paulatinamente eliminando um povo da face da terra desde há sessenta e seis anos. A Cisjordânia palestina vem sen-do desmantelada pelos colonatos ile-gais e a Faixa de Gaza transformada em prisão a céu aberto. A extrema-direita israelita é apenas mais estridente do que o governo ao reclamar que os “ára-bes fedorentos de Gaza sejam lançados ao mar”. O que é espantoso, comenta o historiador judeu israelita, Ilan Pappé em The Ethnic Cleansing of Palestine (2006), é ver como os judeus, em 1948, há tão pouco tempo expulsos das suas casas, espoliados dos seus pertences e por fim exterminados, procederam sem pesta-nejar à destruição de aldeias palestinas, com expulsão dos seus habitantes e massacre daqueles que se recusaram a sair. O controverso comentário de José Saramago de há alguns anos de que o espírito de Auschwitz se reproduz em Israel faz hoje mais sentido do que nunca.

Assim foi sacrificada a Palestina, invocadas razões bíblicas e históricas, que a Bíblia não sanciona e a história viria a desmistificar. Muitos judeus, como os que constituem a Jewish Voi-ce for Peace, não são sionistas e con-sideram que o Estado de Israel, nas condições em que foi criado (um ter-ritório, um povo, uma língua, uma re-ligião) é uma arcaica aberração colo-nialista fundada no mito de uma “terra de Israel” e de um “povo judaico”, que a Bíblia nem sequer confirma. Como bem demonstra, entre outros, o histo-riador judeu israelita, Shlomo Sand, a Palestina como a “terra de Israel” é uma invenção recente (The Invention of the Land of Israel, 2012). Aliás, ainda se-gundo o mesmo autor, também o con-ceito de “povo judaico” é uma inven-ção recente (The Invention of the Jewish People, 2009).

A criação do Estado judaico de Is-rael configura um crime continuado cujos abismos mais desumanos se re-velam nos dias de hoje. Declarada a sua extinção,  os cidadãos do mundo propõem a criação na Palestina de um Estado secular, plurinacional e intercul-tural, onde judeus e palestinos possam viver pacifica e dignamente. A digni-dade do mundo está hoje hipotecada à dignidade da convivência entre pales-tinos e judeus.

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hoje macau segunda-feira 1.9.201426 publicidade

Anúncio

O Pedido do Projecto de Apoio Financeiro do FDCTpara à 3ª vez do ano 2014

(1) Fins O FDCT foi estabelecido por Regulamento Administrativo nº14/2004 da

RAEM, publicado no B. O. N° 19 de 10 de Maio, e está sujeito a tutela do Chefe do Executivo. O FDCT visa a concessão de apoio financeiro ao ensino, investigação e a realização de projectos no quadro dos objectivos da política das ciências e da tecnologia da RAEM.

(2) Alvos de Patrocínio(i) Universidades, instituições de ensino superior locais, seus institutos e

centros de investigação e desenvolvimento (I&D);(ii) Laboratórios e outras entidades da RAEM vocacionados para actividades

de I&D científico e tecnológico;(iii) Instituições privadas locais, sem fins lucrativos;(iv) Empresários e empresas comerciais, registadas na RAEM, com actividades

de I&D;(v) Investigadores que desenvolvem actividades de I&D na RAEM.

(3) Projecto de Apoio Financeiro(i) Que contribuam para a generalização e o aprofundamento do conhecimento

científico e tecnológico;(ii) Que contribuam para elevar a produtividade e reforçar a competitividade

das empresas;(iii) Que sejam inovadores no âmbito do desenvolvimento industrial;(iv) Que contribuam para fomentar uma cultura e um ambiente propícios à

inovação e ao desenvolvimento das ciências e da tecnologia;(v) Que promovam a transferência de ciências e da tecnologia, considerados

prioritários para o desenvolvimento social e económico;(vi) Pedidos de patentes.

(4) Valor de Apoio Financeiro(1) Igual ou inferior quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00)(2) Superior a quinhentos mil patacas. (MOP$500.000,00)

(5) Data do PedidoAlínea (1) do número anterior Todo o anoAlínea (2) do número anterior A partir do dia 1 – Set. – 2014 até 31 – Out. – 2014 (O próximo pedido será realizado no dia 2 – Jan. – 2015 ao 2 –Mar. – 2015)

(6) Forma do PedidoDevolvido o Boletim de Inscrição e os dados de instrução mencionados

no Art° 6 do Chefe do Executivo nº 273 /2004,《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》, publicado no B. O. N° 47 de 22 de Nov., para o FDCT. Endereço do escritória: Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n° 411-417, Edf. “Dynasty Plaza” 9° andar, Macau. Para informações: tel. 28788777; website: www.fdct.gov.mo.

(7) Condições de AutorizaçõesPor despacho do Chefe do Executivo nº 273 /2004, processa o

《Regulamento da Concessão de Apoio Financeiro》.

O Presidente do C. A. do FDCT,

Tong Chi Kin

29 / 8 / 2014

Page 27: Hoje Macau 1 SET 2014 #3165

27 publicidadehoje macau segunda-feira 1.9.2014

FELICITA O

DR. FERNANDO CHUI SAI ON

PELA SUA REELEIÇÃO

COMO CHEFE DO EXECUTIVO

DA RAEM

FELICITA O

DR. FERNANDO CHUI SAI ON

PELA SUA REELEIÇÃO

COMO CHEFE

DO EXECUTIVO

DA RAEM

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RESULTADOS E CLASSIFICAÇÕES

28 DESPORTO hoje macau segunda-feira 1.9.2014

MARCO [email protected]

U M golo de Vinício Morais Alves, apontado já em período de descontos, garantiu ao Sport Lisboa

e Benfica de Macau o seu primei-ro triunfo na edição de 2014 do Campeonato de Futebol de Sete do território, a popular “Bolinha”. Depois de não ter conseguido ir além de um empate a uma bola na ronda inaugural do certame frente ao Lai Chi, a formação orientada por Bruno Álvares puxou dos ga-lões e arrancou a ferros um precioso triunfo sobre o Grupo Desportivo Lam Pak, emblema que se despe-diu na última temporada por mote próprio das lides do futebol de onze da RAEM.

A MARCAR POSIÇÃOCom um fio de jogo mais conso-lidado, o sete encarnado mostrou desde cedo uma maior dinâmica ofensiva e esteve sempre mais perto do golo. Os actuais campeões do território na variante de futebol de 11 ainda chegaram a marcar na primeira metade do desafio, mas a jogada – iniciada por Nicholas Torrão e concluída por William Carlos Gomes, a passe de Chan Pak Chun – foi anulada pelo árbi-tro assistente por alegada posição irregular do avançado brasileiro.

Sem o fulgor e o rigor de outro-ra, o Lam Pak só na segunda parte

2ª JORNADA• SÉRIE A •

Lai Chi 1 – 0 Ching Fung

Artilheiros 0 – 3 Taxi Chi Iao

FC Porto 2 – 1 Sporting de Macau

Benfica 1 – 0 Lam Pak

• SÉRIE B •

Monte Carlo 3 – 0 Sub-23 A

Ka I 4 – 0 Lam Ieng

Ngan Ieng 1 – 0 Wing Kei

Meng Ian 1 – 1 Polícia

CLASSIFICAÇÃO• SÉRIE A •

EQUIPA J V E D GM GS PONTOS

Taxi Chi Iao 2 2 0 0 5 0 6

FC Porto 2 1 1 0 2 1 4

Benfica 2 1 1 0 2 1 4

Lai Chi 2 1 1 0 2 1 4

Ching Fung 2 1 0 1 1 2 3

Lam Pak 2 0 1 0 0 1 1

Sporting 2 0 0 2 1 4 0

Artilheiros 2 0 0 2 0 5 0

• SÉRIE B •

EQUIPA J V E D GM GS PONTOS

Ka I 2 2 0 0 6 1 6

Monte Carlo 2 2 0 0 5 1 6

Polícia 2 1 1 0 4 1 4

Lam Ieng 2 1 0 1 3 5 3

Ngan Ieng 2 1 0 1 1 3 3

Meng Ian 2 0 1 0 2 3 1

Wing Kei 2 0 0 2 1 4 0

Sub 23 A 2 0 0 2 1 5 0

DRAGÕES DERROTARAM LEÕES EM NOITE DE GALA DE MAYCKOL SABINO

Benfica estreou-se a vencer na “Bolinha”

respondeu na mesma moeda aos comandados de Bruno Álvares, nas Rui Nibra mostrou-se inabalável na baliza encarnada e respondeu com uma defesa atenta ao remate de longe de Vernon Wong.

Apesar de um maior domínio, o Benfica só conseguiu chamar o si o triunfo na recta final da partida. O único tento do desafio chegou quase ao cair do pano, numa jogada que tem início numa reposição de bola por parte do guarda-redes encarnado. Rui Nibra entrega para a frente de ataque, para William Carlos Gomes; oportuno, o avan-çado brasileiro levou a melhor sem dificuldades sobre Lam Ka Pou e cruzou para o coração da área adversário. Solto na frente de ataque do Benfica, o macaense Vinício Morais Alves não teve dificuldade para bater o guarda--redes adversário, oferecendo às águias do território o seu primeiro triunfo na “Bolinha”.

LEÕES SEM VITÓRIASAinda sem vencer na presente edição da prova está o Sporting Clube de Macau. Os leões do terri-tório não tiveram argumentos para derrotar o renascido Futebol Clube do Porto em partida disputada na última quinta-feira, no sintético do Campo D. Bosco. A formação orientada por Pelé deve o seu primeiro triunfo na competição a Mayckol Sabino. O avançado brasileiro entrou para o lugar do

paraguaio Ronald Cabrera no pri-meiro minuto da segunda parte e acabou por revolucionar o marca-dor. O dianteiro, que representou na última época o Chao Pak Kei nas lides do futebol de onze, inaugurou o marcador aos 37 minutos, na sequência de uma jogada rápida de contra-ataque. Ainda sem Jardel na dianteira, o Sporting acabaria por repôr a igualdade no marcador aos 44 minutos, numa jogada em que um dos novos reforços dos leões para a nova temporada esteve em evidência. Mais forte no um con-tra um com Alex Sampaio, Jorge Tavares bateu Bruno Capitulé na baliza azul e branca com um remate bem colocado.

O empate perdurou no marca-dor até aos instantes finais do de-safio. O Sporting Clube de Macau dava o tudo por tudo para conseguir alcançar o tento da vitória, mas acabou por ser o Futebol Clube do Porto a marcar. Mayckol Sa-bino voltou a revelar-se uma peça preponderante na estratégia dos dragões do território, ao concluir com grande mestria uma nova jo-gada de contra-ataque. Libertado por um companheiro de equipa, o brasileiro levou a melhor sobre Pedro Maia antes de bater Juninho pela segunda vez na baliza da for-mação verde e branca.

PORTO A SUBIRCom o triunfo, o Futebol Clube do Porto ascendeu à segunda po-

sição da tabela referente às contas da Série A da competição, ainda que em igualdade pontual com as formações do Benfica e do Lai Chi. A classificação é liderada pelo sete do Taxi Chi Iao, com duas vitórias em outros tantos encontros disputados.

Na série B, as contas da segunda jornada encerraram com empate a um golo entre os setes do Meng Ian Club e do Grupo Desportivo da PSP. Finalista vencido da úl-tima edição do certame, o Meng Ian aproveitou a cobrança de um livre directo aos 14 minutos para inaugurar o placard. Marcou Ales-sandro Ferreira, num lance muito

contestado pelos elementos da formação das forças de segurança. O empate acabaria por surgir a menos de cinco minutos do fim, com Hoi Wai Tong a surpreender o guarda-redes adversário com um remate de longa distância.

As contas da série B da edi-ção de 2014 do Campeonato de Futebol de Sete de Macau são lideradas por Monte Carlo e Ka I, ambos com seis pontos. A formação “canarinha” derrotou a equipa A da Selecção de Sub-23 por três bolas a zero, ao passo que Ka I esmagou o Lam Ieng com um triunfo por quatro tentos sem resposta.

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T E M P O A G U A C E I R O S M I N 2 6 M A X 3 2 H U M 6 5 - 9 5 % • E U R O 1 0 . 5 B A H T 0 . 2 Y U A N 1 . 2

ACONTECEU HOJE 1 DE SETEMBRO

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

hoje macau segunda-feira 1.9.2014 (F)UTILIDADES 29

U M D I S C O H O J E

João Corvo fonte da inveja

Se vais à fonte, não te esqueças de trazer água.

Nasce Lobo Antunes, o escritor dos mitos reais• Hoje é dia de homenagear o escritor António Lobo An-tunes, que nasceu em Lisboa a 1 de Setembro de 1942. ‘Memória de Elefante’, ‘Os Cus de Judas’ e ‘Conhecimento do Inferno’, os seus três primeiros livros, revelaram desde logo o grande autor que se escondia num anónimo médico do Hospital Miguel Bombarda.António Lobo Antunes nasceu em Lisboa, licenciou-se em Medicina e optou pela Psiquiatria. De 1971 a 1973, participou na Guerra do Ultramar, em Angola, como tenente-médico do Exército.Enquanto exerceu no Hospital Miguel Bombarda (foi psiquiatra até 1985), escreveu três livros, aclamados como grandes obras pela crítica. ‘Memória de Elefante’, ‘Os Cus de Judas’ e ‘Conhecimento do Inferno’ – livros de um autor marcado pela guerra colonial – catapultaram Lobo Antunes para o centro da discussão literária.Já depois de deixar o Miguel Bombarda, prossegue a sua obra, com mais quatro livros (‘A Explicação dos Pássaros’, ‘Fado Alexandrino’, ‘Auto dos Danados’ e ‘As Naus’) que trespassam a história de Portugal, desde os Descobrimentos até à Revolução de Abril.Depois de revisitar estes factos, não da perspectiva do povo heróico, mensagem que sempre foi transmitida, Lobo Antunes faz uma visita à sua infância e adolescência, ao local onde viveu: o bairro de Benfica, em Lisboa. O autor junta factos e personagens que estão para além deste período da sua vida, representação de pessoas que também tiveram forte preponderância na sua vida, já como adulto.Das crises conjugais (o divórcio que superou) às con-tradições dos mitos dos Descobrimentos, dos traumas da guerra às memórias de infância, Lobo Antunes viaja pelo tempo, recorrendo às letras que os conhecimentos de psiquiatria lhe permitiram escolher.A dimensão do seu trabalho mereceu um sublinhado com alguns dos mais prestigiados galardões de literatura, como o Prémio Jerusalém (2005) e o Prémio Camões (2007). Em 2008, o Ministério da Cultura de França atribui a Lobo Antunes as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas.

Desse não gostoOs meus amigos gatos de Portugal ficam geralmente muito desapontados comigo por ser parco em miados quando me refiro à China. No entanto, já conheci gatos portugueses que são verdadeiros especialistas só porque comeram um restos de chao-min ou porque aqui estiveram um ou dois meses. Alguns chegam mesmo ao ponto de não se coibirem de perorar sobre tudo isto, demonstrando (pensam eles) um conhecimento profundo de Macau ou mesmo da maneira de pensar, viver e agir do povo chinês.Aqui no jornal é já um lugar-comum contar a história de quem vem para a China e na primeira semana escreve um livro, ao fim de um mês um artigo e depois de um ano fica calado porque compreende que não percebeu nada ou muito pouco.Talvez grande parte das pessoas não saiba mas o kitsch chinês, aquele dos móveis debruados a dourado e da cuidadosa talha que invade qualquer portal, foi concebido para vender aos Europeus, porque os chineses compreenderam na altura (pleno rococó) que era disso que eles gostavam. Também na pintura a ânsia de vender ao Europeu criou a cópia da cópia da cópia. Aos verdadeiros pintores chineses pouco interessava a perspectiva e a habilidade de copiar a natureza. Isso não fazia parte dos seus objectivos, dos seus quadros mentais, tal não consideravam verdadeira arte. E é por isso mesmo que a influência da pintura ocidental na China não foi muito além de algumas obras vendidas nos mercados de Cantão, exemplo dos famosos China Trade do século XIX, como hoje nas imensas cópias das lojas de Zhuhai.Há um Oriente do qual pouco gosto: o que emerge em algumas das opiniões de ocidentais apressados e que muito pouco tem a ver com a realidade. Pelo contrário, é feito de visões de diferença, de projecções de desejos, que dizem muito mais sobre as suas mentes do que propriamente sobre o que se passa neste lado do mundo.Não: desse Oriente não gosto.

TIAGO NA TOCA E OS POETASTIAGO BETTENCOURT (2008)

Na procura do consolo trazido pela distância, começa-se a semana a cantar em português. Tiago Bettencourt, em 2008, desafiado por uns e aconselhado por outros decidiu – no conforto da sua casa - produzir um conjunto de músicas “low-fi”, isto é, um álbum isento das máquinas de produção presentes no mercado actual. Tiago na Toca e os Poema é então um álbum que reúne poemas transformados em música. O artista escreveu, na altura, na sua página que depois de reunidos os poemas foi um “desafio desvendar emoções, de lhes dar sons, harmonias, novas roupagens… E para isto usar o espaço, a captação descomprometida, o improviso, o instinto”. Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, Florbela Espanca, Sofia de Mello Breyner, Afonso Lopes Vieira, Joaquim Pimentel, e tantos outros. Estão cá todos! – Hoje Macau

C I N E M ACineteatro

SALA 122 JUMP STREET [C]Um filme de: Phil Lord, Christopher MillerCom: Channing Tatum, Jonah Hill, Peter Stormare, Ice Cube14.30, 19.30

CAFE • WAITING • LOVE [B]FALADO EM MANDARIM E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Chiang Chin LinCom: Vivian Chow, Megan Lai, Pauline Lan, Lee Luo16.30, 21.30

SALA 2TEMPORARY FAMILY [B]FALADO EM CANTONÊS, LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊSUm filme de: Cheuk Wan Chi

Com: Nick Cheung, Sammi Cheng, Angelababy, Oho14.15, 16.05, 18.00, 21.30

LUCY [C]Um filme de: Luc BessonCom: Scarlett Johansson, Morgan Freeman19.50

SALA 3THE HUNDRED-FOOT JOURNEY [B]Um filme de: Lasse HallstromCom: Helen Mirren, Manish Dayal, Charlotte Le Bon, Om Puri14.30, 19.15

22 JUMP STREET [C]Um filme de: Phil Lord, Christopher MillerCom: Channing Tatum, Jonah Hill, Peter Stormare, Ice Cube16.45, 21.30

22 JUMP STREET

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30 OPINIÃO hoje macau segunda-feira 1.9.2014

A bordo do avião numa recente viagem à China, por cortesia da compa-nhia aérea estenderam--me o China Daily. Foi já num estado soporoso que cheguei à penúl-tima página do jornal oficial chinês em língua inglesa, onde dei com

o título em que se lia “A Lei Básica é a base”, escrito num inescapável negrito. Matutei o possível na redundância, indeciso entre apreciar o estilo ou reprovar o rodeio.

Tratava-se de um artigo de Rao Geping, “membro da Comissão da Lei Básica da Re-gião Administrativa Especial de Hong Kong da Assembleia Popular Nacional e professor de Direito na Universidade de Pequim”.

A propósito da discussão sobre o sufrágio universal em Hong Kong, em onze não mui-to extensos parágrafos o docente escreveu por onze vezes “amar a pátria e amar Hong Kong”, de cada vez para explicar o que quer dizer a expressão.

Defende Rao que este amor tem “base legal”, pois nesse contexto ele pode ser manifestado pelo facto de “os candidatos terem que satisfazer o requisito legal básico de ‘apoiar o retorno de Hong Kong à China’ e seguir a Lei Básica”, e qualquer candidato que aceita estes “factos legais” está a “aceitar as obrigações de amar a pátria”. Assim, “só quando um candidato ou candidata [note-se o progressismo] prometer e cumprir ‘amar a pátria e amar Hong Kong’ poderá satisfazer o requisito político básico de um candidato a Chefe do Executivo”.

Mas além da obrigação - apoiar o retorno da Região Administrativa Especial à China, algo que faz parte da lei e que pende sobre Hong Kong e Macau como um destino tra-çado -, não se descortina nesta declaração de amor, que terá que ser jurada, qualquer referência ao simples “querer bem”, ou ao mais complexo, mas não menos vago, “desenvolvimento”.

No caso de Hong Kong, existe no territó-rio uma sociedade que, por qualquer métrica ou indicador de desenvolvimento social e humano, está a anos-luz do que se passa na China e onde a reivindicação de uma reforma do sistema político deveria ser par-tilhada pelo próprio governo e pela própria Administração, que assim reconheceriam a necessidade de se adaptarem às mudanças naturais da sociedade e das circunstâncias.

Foi este o ponto que Alex Lo, colunista do South China Morning Post, defendeu recentemente: “O sucesso do princípio ‘um país, dois sistemas’ e a sua promessa de 50 anos sem mudanças tornou-se dependente de algumas instituições basilares. Mas essas mesmas instituições [a indexação do dólar de Hong Kong ao dólar americano, as políticas de habitação, saúde e educação, etc.], definidas noutro século, estão a provar-se desadequadas e estamos a fazer um péssimo trabalho em reconstruí-las. Um governo que funciona é

Pacto à Pequim

“Com esta forma de actuar que incute o medo e coíbe a mínima discordância em relação ao que as autoridades pretendem, Macau dá um grande salto atrás”

próximo or ienteHUGO PINTO

aquele que é capaz de fazer funcionar essas instituições, ao mesmo tempo que identifica as suas deficiências para as melhorar”.

Alex Lo não defende, pelo menos de forma explícita, que a reforma democrática é o caminho ou até que facilita a própria reforma das instituições, mas considera que a evolução do sistema político “só tem sentido no contexto institucional” em que funcionam os tais pilares. Ou seja, o maior desafio não é conseguir, através da reforma política, um fim em si, mas sim fazer com que as instituições que funcionam como pilares se adaptem às circunstâncias que mudam rapidamente.

Concordando-se, ou não, se em Hong Kong isso está, aparentemente, longe de acontecer, em Macau falham os adjectivos que sugiram a distância que falta.

De forma simples, explica-se, assim, o triplo défice que era identificado, então, em meados da década de 1990: “O défice democrático, o défice corporativo e o défice de cidadania social”, em que “a estrutura do poder real limitava e restringia o exercício da democracia representativa”, em que havia “um enorme desequilíbrio nas organizações sectoriais de interesses”, com umas muito mais fortes do que outras e com muito maior acesso à Administração, e, finalmente, com o défice de cidadania a caracterizar-se pela “procura sócio-jurídica frustrada (nomeada-mente no domínio da habitação, do ambiente e dos estatutos pessoal e de residente) e nas áreas de procura social suprimida, ou apenas emergente, dos direitos sociais e direitos laborais”. Hoje, como ontem. O que mudou?

À estagnação podemos, talvez, sobrepor o crescente desfasamento da realidade (sobre-tudo em relação aos problemas que afectam a vida da população), que é particularmente evidente nas vozes “oficiais”, Governo e de-putados. Não é verdade, por exemplo, como se ouve na Assembleia Legislativa, que os trabalhadores não residentes são demasiado protegidos pela lei - basta conferir o que dizem os tratados internacionais, alguns dos quais até ratificados por Macau, para perceber que o que se passa é exactamente o contrário: são discriminados, muitas vezes de forma desumana. E também não é verdade, como diz o Governo, que ao escolher não interferir no mercado imobiliário se está a proteger o seu livre funcionamento. Não, o “laissez faire” não corresponde ao que se passa, pois o Governo intervém, mas apenas no sentido de permitir que a elite económica local continue a negociar terrenos entre si e a lucrar à custa de ainda não haver um plano de urbanização, enquanto boa parte da população é prejudicada ao ser remetida para uma habitação pública com cada vez menos qualidade, quando não é atirada para fora da cidade, forçada a viver em Zhuhai.

Tirando as campanhas de divulgação de leis que insistem no tom de um infantilizado autoritarismo paternalista e o surto de consul-tas públicas maniqueístas e ineficazes, cujos resultados vão sendo manipulados consoante a conveniência, o que foi feito nos últimos 20 ou 15 anos para combater os défices que persistem? O que mudou na acção centraliza-dora da Administração, na atitude burocrática da liderança das instituições públicas ou na dependência das associações - o pretexto usa-do pelos grupos económicos para elegerem deputados pela via indirecta - em relação aos subsídios, cada vez mais chorudos?

Mas alguma coisa mudou. Mudou, por exemplo, a dureza com que as autoridades respondem ao aparecimento de grupos di-vergentes das orientações que as chamadas “forças tradicionais” seguem para conti-nuarem a dominar isoladas a vida política, social e económica de Macau.

Nos últimos dias, com as detenções dos promotores do referendo civil sobre o sufrágio universal, que, nunca é demais lembrar, o Tribunal de Última Instância disse ser “efectivamente, uma sondagem sobre opiniões dos cidadãos”, e com as detenções de dois elementos da publicação satírica “Macau Concealers”, assistimos a um ataque sem precedentes à liberdade de expressão, um direito básico manifestado na Declaração Conjunta de Portugal e da China sobre Macau e consagrado na Lei Básica.

Com esta forma de actuar que incute o medo e coíbe a mínima discordância em relação ao que as autoridades pretendem, Macau dá um grande salto atrás, e, em vez de estarmos a debater o mérito ou não de conceder a cada residente direitos básicos de cidadania, somos deixados às portas de um tempo de má memória com um lembrete retirado da promoção de um filme de terror: tenham medo, tenham muito medo. Com o silêncio que se ouviu da parte de associações de jornalistas, juristas, académicos e de quase todos os deputados enquanto assis-tíamos à erosão de uma liberdade fundamental, parece que a estratégia funcionou.

O outro silêncio que fica é o de Chui Sai On, que inicia, em Dezembro, um novo mandato para o qual foi nomeado, depois de, na espécie de campanha que fez, ter estado apenas uma vez na rua com a população. Foi durante cinco minutos, mas terão bastado e todas as outras arruadas previstas foram canceladas. “Para não afectar a vida de bairro dos moradores”, justificou o mandatário da única candidatura.

E de forma quase simbólica, nesta reser-va, neste autoinfligido resguardo, Chui Sai On expõe como, ao enfraquecer a sociedade civil, o Governo volta-se contra si próprio e as suas instituições, passando a ser vítima de uma igual debilidade, tornando-se o problema. O que esperar? No mínimo, é um mau augúrio para os próximos cinco anos.

Então e o amor? Deixemos de lado os lentes de Pequim e atentemos no que nos ensina Camões: “É um não querer mais que bem querer”. E vencidos ficamos de amor, diria ainda o vate. Mas não convencidos.

Aqui, vem de longe a acção da República Popular da China no sentido de “neutralizar qualquer foco de oposição à sua política”, escreviam, no estudo “Macau, o Pequeníssi-mo Dragão”, os investigadores Boaventura Sousa Santos e Conceição Gomes, notando ao mesmo tempo que a Administração por-tuguesa agia em “consonância”, “nunca se mostrando interessada em incentivar qual-quer movimento democrático que emergisse na sociedade”.

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31 opiniãohoje macau segunda-feira 1.9.2014

E M 15 de Agosto, o jornal de Hong Kong “Ming Pao” publicou um artigo escrito por Andrew Li Kwok-nang, ex-Presidente do Tribunal de Última Instância de Hong Kong (e líder do sistema judi-ciário do território vizinho). Neste artigo foi discutido o estado de direito e a indepen-

dência judicial. Andrew disse que “o Livro Branco emitido pelas autoridades chinesas em Junho levantou dúvidas quanto à inde-pendência judicial de Hong Kong, e que essas preocupações são justificadas.” Ao mesmo tempo, o magistrado salientou que a versão inglesa do documento inclui juízes entre aqueles “que administram Hong Kong”. Nesta cidade, com a separação de poderes entre o executivo, o legislativo e o judiciário, estas podem ser consideradas como três áreas distintas do Governo, em termos gerais. As duas últimas não fazem parte do Executivo.

Porque é que Andrew pôs tanta ênfase nesta separação de poderes, especialmente no que diz respeito ao sistema judiciário? Uma das respostas para esta pergunta é o estado de direito mencionado neste artigo. Sobre isto, Andrew comentou que “o es-tado de direito com um sistema judiciário

Livro branco e independência judicialmacau v is to de hong kongDAVID CHAN*

[email protected] • http://blog.yahoo.com/legalpublications

obedecer às ordens dadas pelos seus superio-res. Neste caso, como poderiam as disputas ser resolvidas com imparcialidade? Este é uma das grandes preocupações de Andrew.

No dia 16 de Agosto, o sucessor de An-drew, Geoffrey Ma Tao-li, discursou numa conferência da Sociedade de Assuntos de Hong Kong e da China da Universidade de Cambridge. Durante a sua intervenção, Geoffrey disse que a sua opinião sobre a independência do sistema judiciário e o estado de direito era a mesma do que o seu antecessor. Durante esta sessão, o magis-trado mencionou ainda que “o público pode determinar se os nossos tribunais continuam independentes através de quatro factores: a opinião dos profissionais legais sobre este tópico; a transparência dos tribunais; as sentenças aplicados a casos controversos, es-pecialmente aqueles envolvendo o Governo;

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e se os julgamentos efectuados obedeceram aos princípios legais”.

Os comentários de ambos geraram preo-cupações nos advogados de Hong Kong relativamente ao Documento Branco. Aliás, uns dias antes destes depoimentos, a “Law Society” de Hong Kong passou um voto de não-confiança ao seu presidente, Ambrose Lam San-keung, após este se ter manifestado a favor do documento.

Porém, o caso não ficou por aí. No dia 27 de Agosto, Wang Zhenmin, o presidente da Faculdade de Direito da Universidade de Tsinghua, fez um discurso sobre o Livro Branco no “Foreign Correspondents Club”, em que mencionou que “o Livo Branco destina-se a explicar aos cidadãos da China e da Hong Kong como deve ser implementado o princípio ‘um país, dois sistemas’. Além disso, pretende gerar uma discussão sobre o direito de auto-governação”. Ao mesmo tempo, o académico admitiu que a tradução de chinês para inglês do “Livro” continha algumas imprecisões e até erros.

“Parte do conteúdo foi omitido. Na versão chinesa, está explícito que o sistema judiciário é independente, de acordo com a lei. Porém esta declaração não está presente na versão inglesa. A palavra ‘independente’ não pode ser omitida”.

Estas declarações são muito impor-tantes, pois Wang fez parte do Comité de Preparação da Lei Básica.

Não seria de esperar que uma pequena omissão na tradução do Livro Branco viesse a criar tamanha discórdia em Hong Kong. Tanto o antigo como o actual Presidente do Tribunal de Última Instância vieram a públi-co manifestar as suas opiniões, assim como um académico chinês, e a polémica levou à demissão do Presidente da “Law Society”. Mas no fundo, todos os intervenientes são da opinião que o estado de direito é muito importante. Ninguém quer que esta discussão se prolongue, pois isto prejudica as relações entre Hong Kong e a China e quebra a har-monia do território vizinho. O princípio “um país, dois sistemas” é novo tanto na China, como em Macau e Hong Kong. Desde o princípio que eram de esperar algumas dificuldades. Mas o estado de direito e a independência judicial são partes integrantes deste princípio. Para resolver esta questão, temos de aceitar pontos de vista diferentes. O melhor seria que as partes intervenientes parassem de discutir e que, em vez disso, partilhassem pontos de vista diferentes de modo a promover uma discussão racional sobre a questão.

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

independente é reconhecido universalmente como um pilar da nossa sociedade debaixo do princípio “um país, dois sistemas”. É um valor fundamental que está no cerne da separação entre os dois sistemas”.

Esta questão envolve dois princípios fundamentais. Primeiro, no estado de direito, tanto aqueles que governam como aqueles que são governados estão sujeitos às mesmas leis. Isto em contraste àquelas sociedades em que uma pessoa, ou grupo de pessoas, governa arbitrariamente.

Em segundo lugar, as disputas entre cidadãos e entre estes e o Governo são re-solvidas de uma maneira justa e imparcial por um poder judiciário independente. A independência judicial é parte integrante do estado de direito e esta independência assenta em dois pressupostos: que o poder judicial é institucionalmente independente do poder executivo e legislativo e que cada juiz também actua de forma independente, mesmo que faça parte de um colectivo de juízes.

Este segundo principio é suficientemente claro. Um sistema judiciário independente pode resolver disputas entre o Governo e os seus cidadãos de uma maneira justa e imparcial. Se o aparelho judiciário fizesse parte das autoridades executivas, teria de

“Um sistema judiciário independente pode resolver disputas entre o Governo e os seus cidadãos de uma maneira justa e imparcial”

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hoje macau segunda-feira 1.9.2014

cartoon por Stephff BOTA RUSSA

MONTES GOLÃ REBELDES E CAPACETES AZUIS FILIPINOS EM CHOQUE

História de confrontosA região concentra desde 1974 um contingente das Nações Unidas que integra 1.200 militares de países como a Índia, Irlanda, Nepal e Holanda

O S capacetes azuis filipinos, das Na-ções Unidas, retidos nos Montes Golã,

entraram este fim-de-semana em confrontos com os rebeldes sírios, disse o ministro da Defesa das Filipinas, Voltaire Gazmin, avançou a agência francesa AFP.

Numa mensagem de tele-móvel enviada aos jornalistas, o ministro filipino declarou que alguns soldados do país conse-guiram libertar-se de um dos dois pontos onde se encontravam, mas que outro grupo “se encontra sob ataque” dos rebeldes.

O governante referia-se aos dois postos ocupados pelas tro-pas filipinas nos Montes Golã, e onde ficaram cercados pelos rebeldes sírios.

Gazmin confirmou que ao início do dia de sábado os rebeldes

IACM Serviço de cremação em ColoaneO Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) anunciou na última sexta-feira que a partir de hoje vai passar a ser disponibilizado um serviço de cremação de corpos no cemitério municipal de Coloane, não só para “facilitar os residentes” como para “aproveitar o espaço do cemitério público”, lê-se na imprensa chinesa. Segundo o IACM, nos primeiros seis meses os residentes estão isentos do pagamento das despesas de uma cremação, no valor de 300 patacas. Actualmente os cemitérios públicos recebem uma média de 500 serviços de enterro, sendo que, sete anos depois, os restos mortais têm de ser exumados e cremados.

Grand Lisboa 600 fizeram greveA possibilidade dos trabalhadores da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) de realizarem uma greve acabou mesmo por acontecer no passado sábado, quando cerca de 600 trabalhadores não compareceram ao trabalho, tendo sido substituídos por outros croupiers, escreve a imprensa chinesa. Ieong Man Teng, presidente da Forefront of Macau Gaming (FMG), que tem liderado os recentes protestos, referiu que a SJM começou a oferecer benesses aos funcionários, como o “subsídio de vida” ou o pagamento do salário a triplicar para quem trabalhasse nesse dia.

Vulcão Nova erupção encerra espaço aéreo O Instituto de Meteorologia islandês, responsável pelo controlo da actividade vulcânica, elevou para vermelho o nível máximo de alerta para a aviação, após a entrada em erupção do vulcão pelas 06:00 TMG, na mesma zona em que se registou uma erupção anterior, na sexta-feira. Esta interdição sucede dois dias depois da reabertura do espaço aéreo islandês.Na sexta-feira, a Islândia reabriu o espaço aéreo, interditado na madrugada desse dia na sequência da entrada em erupção do vulcão Bardarbunga, e baixou o nível de alerta de vermelho para laranja. Apesar de o vulcão Bardabunga ter entrado em erupção na madrugada de sexta-feira, forçando a interdição do tráfego aéreo na zona do vulcão, os aeroportos da ilha não foram encerrados.

sírios e os capacetes azuis filipinos se envolveram em confrontos armados, e um porta-voz militar garantiu que as tropas estão em segurança, escusando-se a acres-centar mais informações sobre o incidente.

DE PEDRA E CALA agência espanhola EFE adian-tou que o chefe do Estado Maior das Filipinas, o general Pio Cata-pang, frisou sábado, em declara-ções a um jornal do país, que os capacetes azuis filipinos não se vão render aos rebeldes sírios e que vão permanecer no local até Outubro, quando terminam a sua missão de paz.

Além dos cerca de 70 sol-dados filipinos impedidos de abandonar as instalações que ocupam, depois dos rebeldes terem assumido o controlo da passagem de Quneitra, que liga as partes síria e israelita dos Mon-tes Golã, há ainda 44 capacetes azuis das ilhas Fiji capturados pelos rebeldes, mas as Nações

Unidas já garantiram que estes se encontram em segurança e sem problemas de saúde.

Esta passagem, único ponto de contacto entre Israel e a Síria, já tinha caído nas mãos dos re-beldes em Junho do ano passado, mas acabou por ser reconquistada pelo exército sírio.

A passagem é sobretudo usada por habitantes drusos da parte dos Golã ocupada por Israel, para irem estudar, trabalhar ou casar na Síria.

Israel está oficialmente em guerra com a Síria e ocupa, desde 1967, cerca de 1.200 quilómetros quadrados do planalto dos Golã, que anexou, numa decisão que nunca foi reconhecida pela co-munidade internacional. Perto de 510 quilómetros quadrados estão sob controlo sírio.

Os soldados integram as forças das Nações Unidas que, desde 1974, são responsáveis pela monitorização da região e que tem actualmente cerca de 1.200 militares de países como a Índia, Irlanda, Nepal e Holanda.

Iraque Exército recupera Amerli As forças iraquianas derrubaram ontem o cerco de Armeli e entraram na cidade xiita turcomana onde milhares de habitantes estavam retidos há mais de dois meses pelos jihadistas, segundo fonte dos serviços de segurança. “As nossas forças entraram em Armeli e derrubaram o cerco” imposto desde 18 de Junho pelo Estado islâmico (EI), declarou o porta-voz dos servições de segurança, Qassem Atta, citado pela agência France Presse. As forças armadas norte-americanas lançaram na madrugada passada ajuda humanitária na cidade iraquiana de Amerli, casa de milhares de xiitas turcomanos impedidos pelos rebeldes “jihadistas” de receberem água, alimentos e medicamentos. John Kirby, secretário de imprensa do Pentágono, explicou que, a pedido do Iraque, os Estados Unidos lançaram ajuda humanitária de emergência na cidade Amerli. A operação foi desencadeada em conjunto com aviões norte-americanos, franceses, australianos e do Reino Unido.

Tailândia Rei aprova novo Governo militarO rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej, aprovou ontem o novo Governo do país, no qual 11 generais, no activo e aposentados, ocupam os lugares chave, adiantou a agência EFE. O general Prayuth Chan-ocha, responsável pelo golpe de Estado pacífico de 22 de Maio, apresentou o seu Governo uma semana depois de ter sido eleito primeiro-ministro pela Assembleia Nacional, formado essencialmente por personalidades próximas da junta militar. O Governo inclui aliados do primeiro-ministro, como o chefe das Forças Armadas, o general Tanasak Patimapragorm, como o vice-primeiro-ministro responsável pela pasta dos Negócios Estrangeiros, ou o general Prawit Wongsuwan, também vice-primeiro-ministro e titular da pasta da Defesa. O antigo líder do exército, Anupong Paochinda, ficou com o cargo de ministro da Administração Interna. A EFE recorda que a carreira e alianças de Prayuth estão condicionadas pelo início do percurso formativo na Academia Preparatória das Forças Armadas, onde estabeleceu uma amizade com Anupong Paochinda. Nos últimos meses Prayuth Chan-ocha reuniu em si todo o poder, ao acumular os cargos de chefe do Estado Maior do Exército, líder da junta militar e primeiro-ministro. Reconhecendo existirem vários problemas com a segurança e legislação que deve ser actualizada, o novo primeiro-ministro prometeu trabalhar no interesse do país e na reconciliação nacional.