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HISTÓRIA DA MÚSICA PORTUGUESA António José Cabrita Natércia Lopes 5º Semestre - 2012 - 2013

HMP Resumo

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Historia da musica portuguesaresumo

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HISTRIA DA MSICA PORTUGUESA

Antnio Jos CabritaNatrcia Lopes

ndice

A unidade Curricular4Tema 1 - O final da Idade Mdia e a Renascena5Tema 2 - Sculos XVII e XVIII: o largo tempo do Barroco27Tema 3 - Sculos XIX e XX - Do Romantismo poca Contempornea36Sc. XIX37A pera e o teatro musicado37A hegemonia da pera italiana. Os Teatros de S. Carlos e de S. Joo37O teatro musicado, a opereta e outros gneros afins40As tentativas de criao de uma pera nacional41A reaco ao italianismo nos finais do sc. XIX: o wagnerismo e a influncia alem e francesa42As Associaes de concertos, a msica amadora e a instrumental. Joo Domingos Bomtempo43A msica religiosa44O ensino musical. A fundao do conservatrio e as vicissitudes da sua histria45Msicos portugueses no estrangeiro45A edio musical e o fabrico de instrumentos45Sociedades46Ensino46Biografias47Do sc. XX aos nossos dias49As tentativas de renovao da vida musical: as influncias germnicas e a msica instrumental49As associaes de concertos como ponto de partida para o desenvolvimento da msica instrumental50Jos Viana da Mota e a renovao da vida musical e do ensino50Lus de Freitas Branco e a introduo do modernismo em Portugal50Tendncias impressionistas, nacionalistas e neoclssicas51A msica no perodo do Estado Novo51Fernando Lopes-Graa (1906-1994)51A progressiva internacionalizao da vida musical no ps-guerra: a rdio, a reabertura do S. Carlos, as sociedades de concertos e os festivais51Dos anos sessenta aos nossos dias52Sociedades53Ensino53Biografias54Glossrio56ndice remissivo57

A unidade CurricularApresentao da Unidade Curricular

Os contedos programticos desta unidade curricular pretendem abordar os principais momentos da histria da msica em Portugal nas diferentes pocas (entre a Idade Mdia e a poca contempornea), em articulao com as outras expresses artsticas e contextos histrico-culturais.Competncias a Desenvolver

Pretende-se que, no final desta unidade curricular, o estudante seja capaz de: Reconhecer a importncia das principais figuras da histria da msica portuguesa nos variados contextos histrico-culturais; Identificar compositores, obras e correntes musicais dominantes; Conhecer os principais termos musicais empregues ao longo do tempo nas vrias pocas.Roteiro de contedos a trabalhar

Nesta Unidade Curricular sero trabalhadas as seguintes temticas:Tema 1 O final da Idade Mdia e a Renascena

Tema 2 Sculos XVII e XVIII - o largo tempo do Barroco

Tema 3 Sculos XIX e XX - Do Romantismo poca Contempornea

Bibliografia e outros recursos

BIBLIOGRAFIA: BRITO, Manuel Carlos de, CYMBRON, Lusa, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1992. (Manual adoptadoBibliografia Complementar:BRANCO, Joo de Freitas, Histria da Msica Portuguesa, 4 ed., Lisboa, Publicaes Europa-Amrica, 2005.NERY, Rui Vieira & CASTRO, Paulo Ferreira de, Histria da Msica (Snteses da Cultura Portuguesa), Lisboa, Comissariado para a Europlia 91 Portugal/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991.

Tema 1 - O final da Idade Mdia e a Renascena

O Tema 1 - O final da Idade Mdia e a Renascena pretende abordar as principais linhas de fora caracterizadoras da msica em Portugal entre o final da Idade Mdia e o tempo do Renascimento. As manifestaes precoces do esprito renascentista e da Ars Nova, sem esquecer a diferenciao entre a msica de carcter profano e a de carcter religioso so tpicos temticos em anlise durante as prximas semanas. Alm disso, a compreenso do fenmeno da msica de corte/palaciana, bem como do triunfo da msica polifnica em ambiente litrgico e popular constituir preocupao constante ao longo do presente tema.

Indicaes bibliogrficas:Manuel Carlos de BRITO e Lusa CYMBRON, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1994, pp. 20-77.Apenas o contedo patente nas registadas ser objecto de avaliao formativa e/ou finalOutras referncias bibliogrficas:Joo de Freitas BRANCO, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Publ. Europa-Amrica, 4 ed., 2005, pp. 68-192.Rui Vieira NERY e Paulo Ferreira de CASTRO, Histria da Msica, col. snteses da cultura portuguesa, Lisboa, INCM, 1991, pp. 18-75.

Os Antecedentes medievais p11A organizao musical litrgica. O estudo da histria musical do Portugal medieval baseia-se nas fontes (documentais e literrias) da histria geral.. A prtica musical erudita - em Portugal como em toda a Europa Ocidental - sobreviveu (aps a queda do Imprio romano) sobretudo no quadro da liturgia musical crist.. Entre o desmembramento do Imprio e a instaurao da monarquia visigtica, as autoridades eclesisticas ibricas desenvolveram um esforo de concertao (unificao hierrquica, doutrinal e litrgica da Igreja peninsular). J no Conclio de Toledo (633), as autoridades eclesisticas procuraram impor uma liturgia nica: padres comuns no formato das cerimnias, textos cantados e suporte meldico (admitindo algumas variaes locais). Rito galicano (Frana); rito sarum ou anglicano (Inglaterra); milans ou ambrosiano (Milo); romano antigo (Roma) e beneventano (Sul de Itlia).. Prtica mais ou menos unificada do chamado rito hispnico = rito visigtico = rito morabe esta liturgia ibrica especfica manteve-se em uso at 1080 (data em que o Conclio de Burgos decretou a substituio pelo rito romano hoje designado inadequadamente por gregoriano).A desenvolver: - entre 489 e 525 - em Mrtola, referncia actividade e um tal Andr, prncipe dos cantores. Primeira meno a um msico de igreja em toda a Europa, na opinio de Robert Stevenson.- Mosteiro do Lorvo- Mosteiro de Vacaria

. O facto de a maioria dos novos bispos das dioceses portuguesas serem de origem francesa facilita a aplicao da deciso de substituir o rito hispnico pelo romano (havendo indcios de que cada um aplicou livros litrgicos gregorianos copiados em Frana).. rito bracarense (conjunto de cerimnias, textos e melodias de exclusivo uso em Braga) ainda parcialmente em vigor. (datando provavelmente entre meados do sculo XII e o final do sculo XIII).. Com o Conclio de Trento, meados do sculo XVI movimento centralizador da Contra-Reforma desapareceram na sua maioria outros cenrios de variantes litrgicas.. Muitos dos mosteiros portugueses seguiam a Regra de S. Bento, pelo menos desde o Conclio de Coyana, (1050). Vrios foram caindo gradualmente sob a influncia da grande Abadia beneditina francesa de Cluny.

Ordem de Cluny . Mosteiros que aceitaram apenas a liturgia e os costumes cluniacenses: Mosteiro de Pendorada Mosteiro de Santo Tirso Mosteiro de Tibes Mosteiro de Pao de Sousa. Mosteiros que estabeleceram laos de dependncia da casa-me: So Pedro de Rates Santa Justa de Coimbra Nossa Senhora do Vimieiro

Ordem de Cister. A partir de 1140 esta ordem passou a fazer a penetrao da Influncia???? Mosteiros que transitaram para a influncia da Ordem de Cister (que viria a fundar a grande Abadia de Alcobaa Abadia Alcobaa): Mosteiro de Lafes Mosteiro de Tarouca Mosteiro do BouroPartidrios de uma liturgia de extrema sobriedade que marcaria alguns aspectos do desenvolvimento da Msica sacra portuguesa ao longo de toda a Idade Mdia, designadamente no que refere ao problema do emprego da polifonia.

Cnegos Regrantes. Seguiam a Regra dita de Santo Agostinho, definida por So Rufo de Avignon e que viriam a ser centros importantes de actividade msico-litrgica: Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra Mosteiro de So Vicente de Fora de Lisboa

Ordens Militares que dispunham de casas conventuais de grande dimenso: Templrios em Tomar Hospitalrios em Lea Ordem de Santiago em Palmela

Nos anos de 1940 a musicloga Solange Corbin identificou um conjunto disperso de manuscritos sobreviventes desde o sculo XI:. Apresentam notao de origem aquitana, primeiro utilizando neumas[footnoteRef:1] diastemticos ainda sem qualquer linha, depois recorrendo a uma linha a seco (ou vermelho, ou ocre) como ponto de referncia para a altura dos sons. [1: Melodia curta ou sinais de notao usados no cantocho, na Idade Mdia.]

. A partir de meados do sculo XIII aparece uma variante tipicamente portuguesa da notao aquitana (uso de uma nica linha abaixo ou acima da qual se dispes notas de forma quadrada que permitem a identificao clara dos vrios graus da escala) 3 p15. Este sistema notacional, de grande simplicidade de desenho, clareza de leitura e exiguidade de espao nos manuscritos, foi usado entre ns at ao sculo XV, em desfavor da notao por pauta que entretanto se fora generalizando noutros pases.. O processo de fabrico, lento e especializados, fazia dos livros litrgicos objectos preciosos, frequentemente mencionados em testamentos como legados de grande valor.. Durante o sculo XIX as coleces foram dispersas o que torna difcil a reconstituio da prtica musical especfica das vrias instituies religiosas medievais.

O repertrio profanoA par da Msica sacra desenvolveu-se (pelo menos desde a independncia do Reino) um gnero potico -musical de cariz aristocrtico, coligidos em trs grandes cdices manuscritos: O Cancioneiro da Ajuda (copiado nos finais do sculo XIII) O Cancioneiro da Biblioteca Nacional O Cancioneiro da Vaticana (ambos copiados no sculo XVI a partir de originais provavelmente coligidos no sculo XIV.. Divididas em trs gneros cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escrnio e maldizer. Tudo indica que este repertrio trovadoresco se destinava a ser cantado com acompanhamento instrumental (pode-se conjecturar a partir de descries literrias e das reprodues iconogrficas da poca).. De toda a produo musical dos trovadores galaico-portugueses apenas se conhece o Pergaminho Vindel (da qual constava um ciclo de sete cantigas, seis das quais com as respectivas melodias), e o pergaminho encontrado pelo investigador Sharrar no ANTT (cantigas do Rei D. Dinis, cujos poemas j eram conhecidos, mas nesta nova fonte aparecem com as suas melodias).

A tese litrgica procura explicar a ecloso do Movimento trovadoresco europeu como uma simples extenso da prtica potico musical religiosa. Esta tem sido repetidamente contestada. Ver 3 p17. Ligados actividade dos trovadores, mas tambm a uma cultura popular, estavam os jograis ou segris, msicos e poetas de origem plebeia que alm de se exibirem nas feiras e festas tradicionais nos surgem com frequncia referidos ao servio dos vrios monarcas peninsulares: Palea activo entre 1136 e 1154 ao servio de Afonso VII de Leo 1193 o nosso Rei, D. Sancho doava terras aos jograis Bonamis e Acompaniado () Ao longo do sculo XIV encontramos numerosas referncias presena na corte de Arago de jograis oriundos da corte portuguesa.

A Generalizao da prtica polifnica p18As origens da polifonia . Devido aos laos que uniram as igrejas portuguesa e francesa no de excluir a possibilidade de a polifonia ter sido conhecida e praticada em Portugal (pelo menos esporadicamente) no perodo medieval.. Mas o facto de ser a Ordem de Cister a mais influente, mas tambm a mais austera, talvez tenha sido uma barreira penetrao generalizada da prtica polifnica no nosso pas.. No h qualquer descrio documental de repertrio polifnico at ao ltimo tero do sculo XIV.. No reinado de D. Fernando surge a indicao da presena na corte portuguesa do compositor franco-flamengo Jehan Simon de Haspre (Haspois).. D. Joo I (13??) pelo seu casamento introduziu a influncia inglesa em termos musicais, pelo menos na primeira metade do sculo XV.. Os prncipes de Avis promoveram uma intensa actividade polifnica na corte portuguesa, imagem das principais cortes da Europa.. Ao longo dos sculos VX e XVI, a Rainha como todos os Infantes disporem no s de capelas prprias como de msicos de cmara (em nmero varivel) da sua dependncia pessoal.

Prtica litrgica centrada na Capela Real. Capela Real Rei D. Duarte ordenana detalhada onde se mencionam os quatro cargos directivos a da instituio, descriminam-se os naipes de cantores, recomendam-se normas de execuo musical e de disciplina. No estaria ainda institucionalizada a admisso de cantores castrados. p21. No reinado de D. Afonso V cargo de Mestre da capela Real desempenhado por: lvaro Afonso, Gomes Ayres, Joo de Lisboa Tristiano da Silva (autor de um tratado terico Los Amables de la Msica) Mateus de Fontes, Ferno Rodrigues, Joo da Vila Castim Bartolomeu Trozelo e Antnio Carreira. Cabia Capela Real celebrar missa diariamente, com diversos graus de solenidade e que durava entre meia hora e hora e meia conforme fosse rezada ou integralmente cantada. Contudo, grande parte destas cerimnias litrgicas decorria sem a interveno de msica nem a presena do monarca.. Livro da Cartuxa 1433

Prtica profana da actividade musical centrada na corte. Corte - Fanfarras de cariz militar serviam para dar um carcter solene e uma dimenso protocolar reforada a todos os rituais cortesos. Este tipo de msica era confinado aos instrumentos altos (charamelas, trombetas, atabales), cujos executantes estavam organizados em agremiaes de menestris de tradio medieval.. Relato de Damio de Gis p24

. Duques de Bragana (descrio de 1542). Vila viosa (descrio de 1571). Na casa Real, a par com os menestris, tanto a corte rgia como a dos Infantes e dos grandes titulares dispunham ainda de tangedores de cmara (encarregues da execuo de msica de dana e de um repertrio vocal e instrumental igualmente de carcter profano mas de maior sofisticao. Ver ex. p25. Pode no ter havido uma separao entre os tangedores ao servio da Capela real e os destinados execuo de Msica de Cmara.. Ao contrrio dos menestris - na maioria de origem popular, at mesmo escravos negros ou mouriscos -, os msicos de cmara eram frequentemente oriundos da pequena nobreza.. Na nossa literatura cortes quinhentista, (em especial no teatro vicentino) aprece com frequncia a figura do escudeiro jovem circulando no escalo mais baixo da nobreza de corte, capaz de cantar os seus versos acompanhando-se guitarra.. A actividade musical da corte portuguesa era intensa. A Msica era uma componente essencial dos autos e espectculos teatrais que se apresentavam perante a Famlia Real e um crculo restrito de cortesos, com destaque para o teatro de Gil Vicente.

O elemento musical , de facto, fundamental na obra do dramaturgo, na qual participa sob a forma de canes e danas intercaladas na aco e quase sempre identificadas de forma precisa pelo autor, o que nos permite ainda hoje identificar nas principais fontes peninsulares de polifonia profana alguma das peas em causa. p27

o caso de vilancetes ou do motete, mas tambm o caso de inmeras menes a danas populares ibricas como a folia, a chacota, a baixa ou a alta de que nos chegaram diversas verses () que revelam um conhecimento musical segurssimo da parte de Mestre Gil.

A polifonia renascentista p27Os cancioneiros profanos. Entre os sculos XV e XVI, no tocante poesia cortes portuguesa, verifica-se, como no perodo anterior, abundncia nas fontes literrias e escassez de fontes musicais correspondentes.. Provavelmente devido ao facto de o repertrio potico musicado ser transmitido por via oral e raramente passada a escrito, que se perdeu o suporte musical da poesia recolhida por Garcia de Resende no seu Cancioneiro Geral (1516). Uma grande parte destes poemas destinava-se a ser cantada em vez de lida ou recitada. O mesmo sucedeu com as obras de Bernardim Ribeiro, S de Miranda, Pro de Andrade Caminha, Lus de Cames e Diogo Bernardes.. Por outro lado este repertrio musical teve uma existncia efmera (no final do sculo XVI parece ter cado em desfavor), pelo que no houve o cuidado de preservar os manuscritos musicais.. S em 1940, Manuel Joaquim (pioneiro da Musicologia portuguesa) publicou o nosso primeiro cancioneiro musical renascentista sobrevivente. Este contm 65 canes polifnicas de texto vernculo do incio do sculo XVI (o manuscrito pertence Biblioteca Pblica Hortnsia.. Manuel Morais publicou: um cancioneiro (essencialmente religioso), com 19 obras profanas; uma vasta coleco de131 canes (54 polifnicas), copiadas em 1560 encontram-se em Paris; uma coleco de 18 peas em vernculo (possivelmente compostas entre 1560 e 1580) insertas numa miscelnea manuscrita quinhentista encontram-se me Belm no MNAE.. Este conjunto de mais de 150 obras permite traar a evoluo da cano polifnica profana em Portugal entre os finais do sculo XV e aos finais do sculo XVI, ou seja, desde a afirmao do Renascimento na cultura portuguesa ao pleno Maneirismo.. Todos estes cancioneiros so annimos ( possvel identificar o espanhol Juan del Encima e o portugus Pedro de Escobar).. A lngua predominantes o castelhano, idioma de culto nas cortes ibricas.. As formas dominantes so o vilancete, a cantiga e o romance.. Ver p30

A polifonia sacra em vora. Pedro do Porto o autor identificado da mais antiga obra polifnica portuguesa: o Magnificat (encontra-se na catedral de Tarrazona). Msico de uma capela e de uma catedral, Pedro do Porto o smbolo da transio da Msica Ibrica do seu tempo, que se caracteriza pelo alargamento gradual da prtica polifnica das capelas privadas dos monarcas e dos infantes s principais catedrais da Pennsula (que at ao ltimo tero do sculo XV parecem ter mantido uma liturgia baseada no cantocho).. O Cardeal infante D. Afonso, nomeado administrador do bispado de vora (1522) decidiu dotar a catedral de slidas infra-estruturas para a celebrao faustosa da liturgia musical, que inclua: Pagamento de ordenados capazes de atrair msicos de qualidade; Estabelecimento de um a escola para moos de coro (inclua formao completa).A combinao destas duas medidas garantiu, durante 150 anos, a formao de geraes de msicos de qualidade e o enraizamento de uma tradio musical com caractersticas estticas prprias.. Mateus de Aranda (Tractado de cato llano 1533; Tractado de canto mesurable 1535). Este pequenos manuais no sendo tericos, eram excelentes snteses de conhecimentos bsicos indispensveis correcta execuo do repertrio musical litrgico.. Separao das funes de Mestre de Capela com a criao de um novo cargo, Mestre da Claustra.. Em 1578 (quando o Cardeal D. Henrique deixou vora para ir ocupar o trono, em Lisboa, deixou a Claustra entregue a Manuel Mendes, que se viria a revelar um pedagogo notvel.

A polifonia sacra nas restantes Catedrais. A s de vora, pela sua ligao Casa Real, reunia condies especialmente favorveis implantao de uma liturgia musical (com grande solenidade e investimento). p34. Coimbra: Vasco Pires (documentado entre 1481 e 1509) Mestre da Capela da Catedral deixou vrias obras polifnicas (manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra). Ferno Gomes (documentado entre 1505 e 1532) Outros?Depois do mpeto inicial, a S de Coimbra, deixou de ser um centro de produo musical autnoma para se limitar rotina de execuo. Para tal dever ter contribudo a concorrncia, na mesma cidade, do aparato musical imponente do Mosteiro de Santa Cruz.. Braga: Miguel da Fonseca (documentado em 1544) Deste perodo parece datar uma vasta coleco de obras que variam entre 4 e 6 vozes. (continuam por editar, em grande parte). Baltazr Vieira Pro de Gamboa Loureno Ribeiro Ver p36. Lisboa Presena espordica do polifonista espanhol Alfonso Lopo de Borja. 1530 Criao do cargo de Mestre de Capela. S no sculo XII com Duarte Lobo, a Catedral de Lisboa atingiria um lugar de destaque no panorama polifnico portugus.Porto 1542 - Mestre de Capela Jorge Vaz (com remunerao e condies insignificantes)Viseu 1566 Mestre de Capela Ambrsio de Pinho (cantor da S de vora) 1583 Joo de Escalante Inicio do sculo XVII alcanou algum destaque no domnio da Msica Sacra com a nomeao de Lopes MoragoGuarda Em meados do sculo XVI - mestre de Capela D. Francisco de Santa MariaLamego S em 1606 se encontram referncias a Antnio Lucas (Cantor da Catedral de vora) .

Outros centros de actividade polifnicaHospital de Todos os Santos (Lisboa) e sobretudo os grandes Conventos e Mosteiros:. Cnegos Regrantes de Santo Agostinho Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Mosteiro de So Vicente de Fora de Lisboa (onde os monarcas assistiam com frequncia s cerimnias litrgicas).. Livro de constituies e costumes (Coimbra, 1558) complementado com um vasto nmero de regulamentos manuscritos:Cantor-mor . Todos os novios admitidos na Ordem recebiam aulas de msica durante vrios anos (incluindo estudo do Canto, prtica de uma ampla variedade de instrumentos musicais). Os dotados de melhor voz eram seleccionados para a capela polifnica. No coro do cantocho participava toda a congregao.Crzios que se distinguiram, no sculo XVI, pelos seus dotes musicais: D. Heliodoro de Paiva (+1552) D. Francisco de Santa Maria (+1597). A actividade musical no Mosteiro no se limitava composio litrgica. Apesar das restries conventuais compunha-se algumas canonetas e coros para tragdias neolatinas que se representavam no Mosteiro (por ex. a tragdia Sedicias, do jesuta Lus da Cruz, feita em 1570 quando da visita de D. Sebastio a Coimbra).

Universidade transferida de Lisboa para Coimbra, em 1537, por D. Joo III. Foi o prprio soberano que contratou para Lente da ctedra de Msica o Mestre de Capela da S de vora, Mateus de Aranda. Sucedeu-lhe Pedro Trigueiros (+1553), Afonso Prera Bernal e Pedro Correia. (s no sculo XVII passaria por um perodo fugaz de prestgio).

A msica instrumental. Instrumentos de corda dedilhada (viloa, viola de mo). Lus de Victoria e Alexandre de Aguiar serviram como tangedores de viola o Infante D. Lus e o Rei D. Sebastio.. Peixoto da Pena. Domingos Madeira. No nos chegaram quaisquer obras. Fazemos uma ideia atravs da produo publicada dos vihuelistas espanhis.. Tambm desapareceu a Arte de msica para tanger o instrumento de chamarelinha de Andr de Escobar- charameleiro das Ss de vora e Coimbra e mais tarde da Universidade.. Fomos muito penalizados quanto ao desaparecimento das fontes do nosso repertrio instrumental quinhentista, mas uma boa parte da msica deste gnero que se fazia na Pennsula, em especial a solstica, tinha um carcter improvisado e nunca chegava a ser passava a escrito.. Instrumentos de tecla. Desapareceu o manuscrito A arte de escrever por Cifra, do poeta e compositor Gregrio Silvestre, e o Livro de cifras de obras para tanger em tecla de Pero Pimentel.. Sobrevieram dois manuscritos provenientes do Mosteiro de Santa Cruz: um documenta a penetrao, em Portugal, do repertrio franco-flamengo do Renascimento; outro, a prtica de adaptao aos instrumentos de tecla (implicando o recurso a uma tcnica sofisticada e virtuosstica de glosa), e ainda o conhecimento do que de mais avanado se fazia ento na Europa, no repertrio para teclado.O desenvolvimento da prtica instrumental s foi possvel graas ao florescimento paralelo da construo e reparao de instrumentos no nosso pas. Existem ainda numerosas referncias documentais actividade dos violeiros. Particularmente interessante o facto de no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra se fabricarem os instrumentos necessrios prtica instrumental j referida.

2. O perodo Maneirista

A gnese do Maneirismo Musical Portugus p46. A partir de meados do sculo XVI a poltica ultramarina portuguesa comea a sofrer importantes reveses. crise de identidade nacional que este processo de evidente desgaste poltico, econmico e social acarretou, somaram-se os efeitos da crise geral de valores que atravessa a conscincia europeia dilacerada pelos: 1-conflitos religiosos consequentes da Reforma; 2-pelas sublevaes camponesas violentamente reprimidas; 3-pelos efeitos desestabilizadores do capitalismo financeiro em ascenso; 4-pela ameaa turca cada vez mais preocupante.. 1536 Introduzida a Inquisio em Portugal (aps solicitao ao Papa por D. Joo III).. 1547 Publicao do primeiro Index de obras proibidas pela Igreja. A partir da qualquer livro editado em Portugal passar a necessitar de uma tripla licena de circulao: a da administrao rgia, a da autoridade eclesistica diocesana e a da Inquisio. 1540 Instala-se a Companhia de Jesus e estabelece colgios prprios em Coimbra e em Lisboa.1555 -lhe confiada a instituio mais prestigiada no ensino superior em Portugal, O Colgio das Artes da Universidade de Coimbra.1555 Tambm estabeleceram em vora o Colgio do Esprito Santo. Em 1559 passar a universidade, completando um verdadeiro monoplio jesutico dos estudos universitrios em Portugal.1564 Portugal seria o nico pas catlico em que as decises do Conclio de Trento seriam homologadas integralmente com fora de lei. A aco repressiva da Inquisio A produo ideolgica e o esforo pedaggico dos Jesutas A legislao tridentina, moldam uma nova ordem cultural em que a msica se integra naturalmente devido ao seu potencial efeito tico e formativo sobre a mente humana (na melhor tradio platnica e augustiniana).

. As recomendaes formais do Conclio de Trento no obrigaram os compositores portuguesas (assim como os seus colegas espanhis) a fazer grandes alteraes na sua prtica habitual. Os excessos contrapontsticos e a proliferao das Missas -pardia (construdos sobre temas profanos, tpicos da polifonia franco-flamenga posterior a Josquin) nunca tiveram grande eco entre ns pelo que, em Portugal no foi necessrio defender a supresso da polifonia no culto em favor do cantocho.. A preocupao pela transmisso clara do texto sagrado era j uma prtica consagrada na msica litrgica portuguesa.. Insere-se um extremo cuidado na escolha do texto utilizado em motetes novos, por vezes examinado por um telogo competente de modo a no incorrer em erros doutrinais, e, sobretudo, preferir os textos de teor emocional mais acentuado. . Verifica-se um interesse reforado nos textos marianos e outros explorando a gama de sentimentos intensos associados imagem da Virgem. O mesmo se passa com a liturgia da Semana Santa, de um potencial dramtico que vai de encontro aos valores do maneirismo assim como o contedo imagtico coincidente com as grandes dvidas e os grandes medos do Homem quinhentista (traio, medo, travas, dor, morte, ressurreio).. Predominncia assumida do texto logos sobre a msica melos. Sem ter destrudo o verdadeiro estilo josquiniano do Renascimento, o maneirismo imitou a forma de Josquin mas criou o seu prprio contedo. . Aparecem duas tendncias estticas paralelas e por vezes por vezes associadas (que abandonam o princpio renascentista do equilbrio formal):1. Busca deliberada do impacto emocional (atravs de efeitos expressivos uso de vrios tipos de cadncias, o cromatismo, a dissonncia, a modulao, o contraste de texturas todos utilizados quer como reforo semntico do texto, quer como estmulos emocionais autnomos).2. Aparente distanciao afectiva que procura acima de tudo impressionar por uma manipulao dos processos de escrita, com destaque para uma tcnica contrapontstica requintada em que est presente (de forma evidente) o prazer ldico da dificuldade, da proeza tcnica, do malabarismo.

As grandes escolas de polifonia sacra p49O impacto musical da Contra-Reforma. Damio de Gis humanista tambm msico, foi uma das mais famosas vtimas da Inquisio:1. A contemporaneidade esttica das suas obras em relao s tendncias da polifonia europeia do seu tempo;2. E o facto de o Santo Ofcio o acusar de se cantar nas sesses que organizava em sua casa com amigos, um repertrio diferente do costume, so sintomticos do isolacionismo da vida musical portuguesa (sob o impacto da Contra-Reforma).. Por imposio tridentina foram aceites, pelas igrejas portuguesas, as normas litrgicas unificadas aprovadas no conclave, abrindo excepes, designadamente, para o rito bracarense.. No pleno musical as resolues tiveram um impacto imediato pouco relevante, visto que nem o conclio nem as comisses especializadas conseguiram produzir uma verso unificada das melodias gregorianas, que pudesse ser imposta a toda a cristandade.. E 1575 D. Sebastio ter mandado vir de Roma cpia de parte dos livros litrgicos da Capela Papal, fazendo-os adoptar pela sua prpria Capela.. Tambm os Braganas (Vila Viosa - 1571) procuraram seguir letra os usos de Roma, mas a consulta dos livros litrgicos editados em Portugal nos sculos XVII e XVIII revela demasiadas variantes e discrepncias meldicas em relao aos livros romanos que nada nos garante que este esforo de importao musical tenha sido integralmente partilhado pela Igreja portuguesa no seu todo.. A partir do ltimo tero de quinhentos parece ter havido uma dicotomia entre: o repertrio das grandes catedrais, de natureza mais austera e simples, destinado a atrair um grande pblico assentando quase sempre numa escrita imitativa a quatro vozes; o repertrio exclusivo das capelas palacianas, destinado a uma elite dotada de formao musical sofisticada (demonstrando abertura a estticas mais diversas e a maior complexidade tcnica).. O mesmo fenmeno se passa em Espanha.

. Causas da decadncia acelerada da actividade musical profana da corte: A religiosidade profunda de D. Joo III nos ltimos anos da sua vida; A dependncia de D. Sebastio em relao aos seus confessores e conselheiros jesutas; A subida ao trono do Cardeal-Inquisidor D. Henrique; E o ambiente global de misticismo que tende a dominar a Cultura portuguesa.

Com a perda da independncia portuguesa; Sem soberano residente em Lisboa; Leva retirada geral dos altos signatrios da nobreza cortes para os solares na provncia; A vida musical das cortes do Vice-Rei e do Duque de Bragana reduzida s cerimnias litrgicas nas respectivas Capelas; Deixou de haver mercado e apoio para a msica secular; Surgiram as grandes catedrais como ultimas alternativas profissionais para os nossos msicos e compositores;Pelo que, o ltimo tero do sculo XVI, o essencial da Histria da Msica portuguesa veio a desencadear-se no domnio da polifonia sacra.

O Apogeu da Escola de vora p52A Escola de vora, pelo brilho que lhe trouxeram os seus principais discpulos, sobressai, naturalmente, no panorama da actividade polifnica em Portugal no perodo Maneirista. Primeira gerao. Manuel Mendes (+1605) Muitas das suas obras perderam-se; Mestre da Claustra eborense entre 1578 e 1589; Ao longo de 25 anos foi um grande pedagogo e formou largo nmero de discpulos (fr. Manuel Cardoso, Duarte Lobo e Filipe de Magalhes os maiores polifonistas portugueses da gerao seguinte).

Segunda gerao. Filipe de Magalhes (+1652) Sucedeu a Manuel Mendes como Mestre da Claustra da S de vora Ocupou o cargo de Mestre da Misericrdia de Lisboa Mestre de msica da Capela Real A sua obra editada em Lisboa em 1636 revela um dos maiores compositores de toda a polifonia portuguesa (conjuga uma carga lrica delicada com o domnio perfeito da tcnica contrapontstica OS seus discpulos no sendo to numerosos como a de Duarte Lobo, mas os trs alunos que se conhecem so os trs maiores polifonistas da gerao posterior: Estvo de Brito (+1641), Mestre da Capela da Catedral de Badajoz e mais tarde em Mlaga. As suas composies oscilam entre Motetes em que emprega com frequncia, figuraes rtmicas agitadas de carcter ornamental p58 Estevo Lopes (ou Estebn Lpez) Morago (1575), vasta produo polifnica donde se destacam os seus Motetes e Hinos a quatro vozes, onde um contraponto austero se combina com uma linguagem harmnica p58 Fr. Manuel Correia, vilancico religioso renascentista. Duarte Lobo (1564?) Formao musical que recebeu de Manuel Mendes Mestre da Capela do Hospital Real de Lisboa (Acumulou com Quartenrio e Reitor do Seminrio de S. Bartolomeu) Formou largo nmero de discpulos. Dos discpulos de Mendes, este foi o adquiriu mais reputao como pedagogo. Especialmente dotado no domnio terico Teve o privilgio de ver a sua obra publicada impressa por um dos editores de maior prestgio na Europa As obras que se conhecem demonstram um estilo grave, austero, de extremo rigor na manipulao da dissonnciao portugus mais prximo do estilo palestriniano. Joo Duzit Henrique de Faria Antnio Fernandes, um dos autores mais marcantes e mais originais no quadro limitado e conservador da Teoria musical portuguesa seiscentista. Autor de Arte de Msica (1626) sumrio das normas essenciais do cantocho e da polifonia p57 Fr. Joo Fogaa Nicolau da Fonseca Manuel Machado, cantor da Capela Real espanhola. Atingiu notoriedade como autor de repertrio vocal profano. Gonalo Mendes Saldanha, as suas obras circularam tanto na Pennsula como nas catedrais da Colmbia e do Mxico, distinguindo-se pelos seus vilancicos sacros. . fr. Manuel Cardoso (1566) Personalidade criativa mais original da escola de vora Mestre da Capela do Convento do Carmo O seu Livro de Vrios Motetes (1648), onde se incluem as Lies da Semana Santa que so por certo das obras mais comoventes do Maneirismo musical portugus. Perderam-se as suas obras policorais que existiam na Biblioteca de D. Joo IV, impedindo o estudo de uma faceta significativa da sua produo artstica.

A terceira gerao da Escola de vora tambm produziu msicos de qualidade atestada no s pelos contemporneos como pelos cargos que ocuparam, inclusive em Espanha, numa poca em que tinham que competir com alunos formados tanto pelas grandes Escolas das catedrais de Espanha como pela Capela Flamenga de Madrid dirigida por compositores e pedagogos notveis como Gry de Ghersem, Carlos Patino ou Matthieu Rosmarin.

A msica polifnica noutras instituies p58. Alm de vora, outras instituies musicais destacam-se tendo alcanado uma elevada qualidade na prtica musical (com caractersticas distintas dos polifonistas eborenses):Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra A sua vida musical mantm-se, pelo menos at ao final do sculo XVII, com o mesmo esplendor. Os crzios contavam com uma pliade notvel de msicos nos seus claustros (desde cantores e instrumentistas a tericos e compositores).D. Pedro de Cristo (+ 1618) Mestre da Capela de Santa Cruz e de So Vicente de Fora. Produo polifnica subsistente mais de duzentas obras: seis vilancicos sacros e o resto situa-se no mbito da polifonia sacra de texto latino, na qual se revela um contrapontista notvelp59D. Pedro da Esperana (+ 1660)D. Gabriel de So Joo ()

. Uma larga parte da produo dos crzios, no perodo seiscentista, surge nos manuscritos sem identificao de autoria.. Desta produo destaca-se um vasto nmero de vilancicos e obras similares em vernculo.. Estes manuscritos encontram-se preservados na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.. Trata-se de um repertrio riqussimo que revela uma prtica polifnica inovadora, recorrendo a efeitos como a policoralidade, a monodia (cano plangente executada por uma voz, sem acompanhamento) acompanhada (logo diferente, segundo o dic.) e a escrita instrumental obrigada as obras dos Mestres eborenses no contemplavam.

Capela Real. Apesar dos efeitos negativos, que a ausncia de um soberano residente em Lisboa provoca na sua actividade, apesar disso uma instituio de grande relevo :Antnio CarreiraFrancisco GarroFilipe de MagalhesMarcos Soares Pereira

Capela do Pao dos Duques de Bragana, Vila Viosa. Centro de actividade polifnica particularmente influente ao longo do domnio filipino.. Desde a criao do ttulo obtiveram do Papa inmeros privilgios para o funcionamento da instituio.Antnio PinheiroFrancisco Garro. Roberto Tornar estudou em Madrid com Gry Ghersem e Mattieu Rosmarin (Capela Real espanhola e discpulos preferidos de Philippe Rogier), a expensas da casa de Bragana, o que revela uma predileco pela escola flamenga de Madrid, conhecida pela extrema complexidade contrapontstica da sua escrita para textura vocais de 6, 8, 12 e mais vozes. Tambm foi o responsvel pela educao musical do futuro Rei D. Joo (1604-1656).. Em 1609 foi institudo pelos Duques o Colgio dos Santos Reis Magos, destinado preparao musical de Moos de Coro (em moldes semelhantes Escola da S de vora) o que garantia a presena de vozes infantis qualificadas na Capela Ducal.. D. Joo herdou o Ducado de Bragana em 1630 e dedicou-se grandemente aquisio de Msica para a sua Capela. A dimenso deste esforo foi-se alargando, adquirindo praticamente tudo o que de novo era editado no mercado musical europeu. Tal esforo continuou, j Rei, atravs de contactos diplomticos e de ordens rigorosas para a aquisio de novos livros de msica para a Biblioteca do monarca. Esta tornou-se a maior da Europa o seu catlogo parcial impresso em Lisboa em 1649 contava com dois milhares de volumes impressos e aproximadamente quatro mil peas de Msica manuscrita. Este imenso esplio viria a ser totalmente destrudo pelo Terramoto de 1755 sem ter tido qualquer influncia marcante nos destinos da Msica portuguesa (pelo facto de ter sido reservado ao Rei e a poucos msicos do seu circulo mais ntimo).. D. Joo IV foi compositor e terico musical. Mas a duas peas de sua autoria que nos chegaram esto incompletas e as que circulam sob seu nome s sero aceites com muitas reservas. Sublinhe-se que o famoso Adeste Fideles que se canta em todo o mundo na quadra natalcia e com frequncia atribudo ao monarca foi composta quase um sculo aps a sua morte. Dos dois tratados tericos que chegaram at ns: o primeiro defende a tradio do contraponto, tal como fora evoluindo a partir dos mestres renascentistas (contar os intuitos revivalistas que propunham o regresso aos princpios da msica da Antiguidade; o segundo em que se justificam a aparentes desvios pureza do sistema modal gregoriano cometido por Palestrina na obra em causa. Trata-se de obras de reduzido valor terico para l do retrato das orientaes esttico-musicais do Rei radicadas na fidelidade tradio polifnica ibrica sem no entanto excluir uma constante evoluo criativa. . D. Joo IV biblifilo monumental, protector incansvel da musica e dos msicos portugueses que procurou estimular e divulgar. Msicos protegidos: Joo Loureno Rebelo, cujas obras o Rei mandou imprimir em Roma. Esta obra constitui o nico exemplo impresso da nossa polifonia Maneirista que se afasta do repertrio de esttica mais tradicionalista ver p63

O repertrio Instrumental p63Como toda a vida musical portuguesa neste perodo, tambm a prtica instrumental tende agora a centrar-se no servio do culto, quer como acompanhamento quer como uma segunda componente da liturgia.D. Pedro de Esperana (+ 1660) De acordo com os preceitos tridentinos () admitiu-se a substituio de algumas rubricas litrgicas cantadas por verses instrumentais, a solo ou em conjunto. Nos momentos em que o desenrolar das cerimnias se prolongavam para l das rubricas estabelecidas tornou-se habitual a insero de peas puramente instrumentais. muito provvel que as vrias sries de Concertados (dcadas de 1630 e 1640) da autoria de compositores crzios () se destinassem a estas ocasies. So cerca de uma centena - imitativas em torno de um cantus firmus de cantocho nelas se notam j algumas mudanas estilsticas que apontam para o Barroco musical portugus.Domnio do rgo neste perodo Maneirista: os portugueses tm um nico teclado e ausncia de pedaleira. Tem uma faceta original: a diviso do teclado e do someiro em duas metades distintas. A partir das primeiras dcadas do sculo XVII aparece outra caracterstica prpria da tradio organaria ibrica: registos () colocados horizontalmente ao longo da frontaria do instrumento.Mestres:Antnio Carreira (+1589ca) cantor na Capela Real, Mestre dos Moos, Mestre de Capela. As suas obras revelam um gosto acentuado por um cromatismo transcendente (...) por todos os efeitos expressivos que lhe permitem criar um ambiente emocional carregado, por exemplo: Com qu la lavar la flor de le mi cara, uma obra-prima indiscutvel de todo o maneirismo instrumental europeu.Fr. Antnio Carreira (+1599) -filhoManuel Rodrigues Coelho Flores de Musica para o instrumento de tecla e harpa (Lisboa, 1620) primeiro volume impresso de musica instrumental portuguesap67Gaspar dos Reis Mestre da S de Braga, o compositor dominante no segundo tero do sculo XVIIPedro de ArajoFr. Diogo da ConceioAntnio Correia BragaJos Leite da CostaFr. Carlos de S. JosD. Agostinho da Cruz

Os compositores portugueses e espanhis do Maneirismo procuraram utilizar este mesmo tipo de efeitos (p69) em obras de msica sacra alusivas ao combate mstico entre o Bem e o Mal.Pedro de Arajo - Mestre do Coro e professor de msica no seminrio conciliar de Braga, compositor de maior relevo em todas as formas mencionadas -p69: jogos de contraste, riqueza dos efeitos pictricos das suas Batalhas, virtuosismo pelos desenhos rtmicos dos seus Tentos () levam Arajo aos limites ltimos do Maneirismo.

Instrumentos de cordaContrastando com a riqueza do repertrio organstico, encontramos um relativo vcuo no que respeita msica para os restantes instrumentos. Dom Agostinho da Cruz Mestre da Capela do Mosteiro de So Vicente de Fora. Lyra de arco ou Arte de Rebequinha, o seu manuscrito perdido seria hoje um dos mais antigos mtodos de execuo do violino.Antnio Jacques de Laserda Arte da viola de arco.Instrumentos de corda dedilhada - Nicolau Doizi de Velasco Portugus, msico de cmara de Filipe IV de Espanha. Chegou-nos um nico exemplar Nuevo Moda de cifra para taner la guitarra (ainda no foi objecto de estudo).

Dos ltimos cancioneiros ao Vilancico religioso p69. Decrscimo do nmero de obras a trs vozes (inclusive atravs do acrscimo de uma quarta parte a obras anteriormente compostas a trs).. Desaparecimento das frmulas cadenciais mais arcaicas (as chamadas cadncias de Landini e Borguinh).. A escrita musical torna-se o reforo do contedo semntico do texto e que tanto mais ntido quanto os poemas escolhidos tendem a ser de natureza fortemente emocional, explorando sentimentos extremos como a dor, a saudade, o desespero. . A par do vilancete, a cantiga e o romance tradicionais surgem novas formas potico-musicais, designadamente o soneto (casos de O ms dura que mrmor a mis quejas, do Cancioneiro de Belm e o celebrrimo Sete anos de pastor Jacob servia de Cames) e o madrigal (Dulce suspiro mio).Com o manuscrito do Museu de Arqueologia e etnologia parece encerrar-se o ciclo dos cancioneiros seculares portugueses. . Em Espanha o desenvolvimento da cano profana prossegue no sculo XVII atravs da tradio do chamado Tono Humano, preservada em numerosos manuscritos, e curiosos constatar que nela se distinguem diversos msicos portugueses activos naquele pas.. Em Portugal, pelo contrrio, aparece um hiato de mais de 50 anos na composio de canes profanas. J na segunda metade do sculo XVII, em pleno reinado de D. Afonso VI, que surgem as primeiras referncias ao reacender do interesse por este gnero com a edio das Obras Mtricas (1665) de D. Francisco Manuel de Melo, com a indicao de terem sido musicados pelos compositores Fr. Filipe de Madre de Deus, Fr. Lus de Cristo, Gaspar dos Reis, Antnio Marques Lsbio, Joo Loureno Rebelo, Estvo de Faria ().. curioso constatar que longe de desaparecer por completo a tradio do vilancico, da cantiga e do romance, vai sobreviver agora num novo contexto, a partir do ltimo tero do sculo XVI?????, medida que se vai desvanecendo na esfera secular, comeando pouco a pouco a ser admitida na prpria Igreja. Surpreendentemente no o faz num ambiente extra litrgico como acontecera ao longo da Idade Mdia com outras manifestaes culturais de origem profana absorvidas pelo culto mas penetrando no prprio seio da Missa e do Ofcio.. A razo desta penetrao talvez tenha sido a tentativa das autoridades eclesisticas portuguesas e espanholas de encorajar a afluncia popular s cerimnias litrgicas (recorrendo tctica catlica tradicional de reforar o lado espectacular do ritual e a estratgia protestante de recorrer a textos em lngua verncula facilitando a identificao dos fiis com culto).Fr. Manuel Correia (+1653) Mestre da Capela da Catedral de SaragoaFr. Francisco de Santiago (+1644) Mestre da Capela da Catedral de Sevilha (D. Joo IV possua na sua Biblioteca mais de 600 vilancicos de sua autoria).Antnio Marques Lsbio (+1709) Mestre da Capela Real, cujo vilancico Ayrecillos mansos constitui uma das obras-primas do gnero em toda a Pennsula.

Tema 2 - Sculos XVII e XVIII: o largo tempo do Barroco

O Tema 2 - Sculos XVII e XVIII: o largo tempo do Barroco pretende abordar as principais linhas de fora caracterizadoras da msica em Portugal desde o sculo XVII e o apelidado barroco autctone e a expresso do barroco joanino e rococ. O entendimento da cultura eclesistica e da tradio de raiz ibrica, bem como o estilo Romano na msica sacra, a introduo da pera e o desenvolvimento das mesmas durante os reinados de D. Jos I e D. Maria I sero alguns temas abordados ao longo deste perodo lectivo.Indicaes bibliogrficas:Manuel Carlos de BRITO e Lusa CYMBRON, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1994. (em pdf)Apenas o contedo patente nas registadas ser objecto de avaliao formativa e/ou finalOutras referncias bibliogrficas:Joo de Freitas BRANCO, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Publ. Europa-Amrica, 4 ed., 2005, pp. 194-283.Rui Vieira NERY e Paulo Ferreira de CASTRO, Histria da Msica, col. snteses da cultura portuguesa, Lisboa, INCM, 1991, pp. 76-109.

O Barroco autctone do Sculo XVIIDo Maneirismo ao Primeiro BarrocoA produo musical portuguesa da segunda metade do sculo XVII assenta fundamentalmente nos gneros que herdou do sculo anterior:Na msica sacra: a Missa, o Motete e o Vilancico;Na msica instrumental: o Tento e a Fantasia;Mas faltam por completo alguns dos gneros fundamentais do Barroco Italiano seiscentista:No plano vocal: a pera, a Cantata e a Oratria;No plano instrumental: a Sonata e o Concerto.. Encontramos na nossa msica: - A persistncia da polifonia imitativa (4 a 6 vozes) - Na Teoria musical estagnao (as normas do contraponto quinhentista e o sistema dos 8 modos gregorianos, transitam de tratado em tratado, independentemente da qualidade pedaggica destes tratados). - A noo de forma continua a ser subordinada a uma lgica simples de contraste permanente e sequncia dos efeitos expressivos da linguagem musical (determinados por razes de natureza textual do que de ordem musical).

Verificamos:1 - Ao longo de todo o sculo XVIII (e em particular na segunda metade) a msica portuguesa encontra-se num processo constante de evoluo;2 - H fortes indcios de que as inovaes formais e estilsticas dos italianos foram sendo conhecidas no nosso pas;3 - Esse conhecimento afectou a evoluo da msica portuguesa (por vezes essa influncia no obvia).Aspectos da evoluo:O uso cada vez mais heterodoxo do sistema modal tradicional (em contraste com os manuais escolares);Emprego dos novos modos do L e do D (introduzido por Glareano em meados do sculo XVI e nunca reconhecidos pelos nossos tratadistas. ()H ainda contraponto imitativo mas sente-se j que na escrita interferem cada vez mais as noes de acorde, inverso e de resoluo harmnica.Obras em tal transparece: Motetes inditos de Joo Tavares de Andrade (1645) Mestre da Capela da S de Viseu;- Salmos policorais de Joo Loureno Rebelo (onde a oposio antifonal entre os diversos coros obriga a uma escrita cordal mais clara;- Cromatismo intenso nas obras de Francisco Martins (+1680) Mestre da capela da S de vora, j no encaixa no quadro contrapontstico modal () p78- Diogo Dias Melgs (+1700) Mestre da Capela da S de vora.

. No existe pera, em Portugal, no sculo XVII;. Com a morte de D. Joo IV em 1656 renasce o interesse da corte portuguesa pelos espectculos msico-teatrais (que remontava a Gil Vicente e ao teatro neo-latino dos jesutas mas que desde o casamento do monarca tinha sido banidos da corte).. No reinado de D. Afonso VI houve vrios ttulos de comdias representadas na corte (a maioria com componente musical significativa). Embora no de natureza opertica representa uma sensibilidade renovada para com a interpretao dramtica entre texto, aco cnica e msica que afinal um dos pilares do Barroco.. Pode-se admitir a existncia de um primeiro Barroco portugus j desde a dcada de 1630.. Aparecem as primeiras serenatas italianas cantadas na corte portuguesa na dcada de 1720.

O fim de uma tradio

. O perodo que medeia entre as dcadas de 1670 e 1720 , em termos estilsticos, um prolongamento de um Barroco seiscentista de raiz ibrica e a penetrao macia dos modelos italianos a partir da segunda dcada do sculo XVIII.. Esta penetrao fez-se sobretudo atravs da Capela Real e apanhando de surpresa a maioria dos msicos portugueses, provocou as atitudes mais variadas, desde a fidelidade absoluta aos modelos peninsulares, aceitao em bloco dos novos padres importados, ou forma hbridas de difcil classificao.- Fr. Manuel dos Santos (+1737) distingui-se pelas suas paixes de So Mateus e So Joo;- Manuel Soares Compositor associado S de Lisboa. Noutros casos, um mesmo compositor escreveu paralelamente em ambos os estilos, o antigo e o moderno como Monteverdi, no sculo anterior.- Fr. Anto de Santo Elias (+1748). Um elemento decisivo nesta transformao ser (em plena dcada de 1720) a introduo gradual dos instrumentos de corda na msica litrgica a exemplo do sucedido na Capela Real.. Nos ttulos das composies desse perodo menciona-se explicitamente a utilizao de novos conjuntos instrumentais, mesmo quando a escrita vocal tem ainda caractersticas tradicionais. o caso das obras de Joo da Silva Morais Mestre da Capela da S de Lisboa, onde aparece a referncia com Rabeca. Ou a Missa policoral de D. Francisco Jos Coutinho, com indicao de com clarins, timbales e rabecas.. no Vilancico religioso que se nota uma evoluo mais evidente das formas barrocas italianizantes.Libretistas: Lus Calixto da Costa e Faria e Julio Marciel.Compositores: D. Francisco Jos Coutinho, Francisco Costa e Silva, Estvo Ribeiro Francs () p83D. Jaime de la T y SAgu cantatas humanas (cantatas seculares e religiosas). Estas partilham j muitas das caractersticas da Cantata italiana. . Em Lisboa - Florescimento do teatro musical espanhol nas duas primeiras dcadas do sculo XVIII.. 1704 Era representada em Vila Viosa perante o rei D. Pedro II, a zarzuela Hazer cuenta sin ya husped de autor annimo.. 1708 Os moos da Capela Real acolhiam no Pao a Rainha D. Mariana da ustria representando a comdia Eligir el enemigo do compositor Fr. Pedro da Conceio () Ver p83. A partir da dcada de 1730 o gosto da corte e do pblico orientou-se gradualmente para a nova pera italiana (entretanto chegada a Portugal) e o teatro da tradio ibrica desapareceu de cena ditando o fim de um processo de evoluo de um Barroco musical de razes peninsulares.

O Barroco Joanino p84O absolutismo e a cultura eclesistica

. A subida ao trono de D. Joo V, em 1707, marca o incio de um processo de mudana profunda na sociedade e na cultura portuguesas. Passa pela afirmao do absolutismo rgio e moldada directamente pela personalidade lcida, energtica, interveniente, autoritria, idiossincrtica e, em ltima anlise, contraditria do prprio monarca. Este contava com a paz e a sua aco poltica orientou-se para o fim do relativo isolamento em que Portugal cara desde a Restaurao. Contou com uma base de apoio em que se conjugavam alguns membros da alta aristocracia tocada pelas primeiras correntes iluministas e um ncleo de intelectuais originrios de diversos grupos sociais mas todos eles formados directa ou indirectamente sob a influncia racionalista francesa.. Este projecto passava tambm pela renovao ideolgica: recusa do pensamento escolstico e da lgica aristotlica dominantes, bem como a preponderncia eclesistica que lhe estava associada (jesutica em especial). . Defesa do esprito cientfico, abandono da pedagogia escolstica no ensino, do formalismo gongrico[footnoteRef:2] na literatura, do desequilbrio formal maneirista nas artes. [2: Estilo pretensioso, muito abundante de ornamentos e trocadilhos.]

. Necessidade da construo de uma representao simblica monumental do poder rgio (tal como sucedera em todos os regimes absolutistas europeus), no como mero capricho megalmano do soberano mas como condio essencial para a eficcia da implantao do novo modelo do estado.. Para se instalar com sucesso, o absolutismo joanino precisava de subordinar o aparelho eclesistico autoridade da coroa (a Igreja tinha adquirido uma autonomia desmedida em termos polticos, econmicos e culturais desde a implantao da Contra-Reforma, em meados do sculo XVI).. Para tal tratava-se de reforar a prpria unidade e disciplina internas dotando-a de uma estrutura hierrquica reforada, mas essa cpula teria que estar ela prpria dependente da autoridade rgia.. D. Joo V comeou por engrandecer a sua prpria Capela Real que em 1710 foi promovida a Colegiada.. As preocupaes musicais de D. Joo V esto viradas para a liturgia. Procura reformular a pratica musical da Capela Real moldando-a com as orientaes estticas e as dimenses monumentais da Capela do Papa.

. A tradio do vilancete religioso excluda da liturgia da Capela Real logo a partir de 1716 (embora ainda sobreviva durante alguns anos em algumas igrejas de Lisboa de pendor litrgico mais conservador como a de So Vicente da S de Lisboa, mas em 1723 o Rei probe a sua utilizao em todas as igrejas do pas). Esta deciso de extinguir a mais enraizada das tradies litrgico-musicais autctones herdadas do sculo anterior (XVII) o marco da transio definitiva para a fase do Barroco italianizante.

O estilo Romano na msica sacra

. A preocupao do monarca pela qualidade musical das cerimnias litrgicas das Capela Real manifestou-se atravs de: Importao de msicos profissionais do mais alto nvel europeu; Criao de estruturas pedaggicas adequadas formao dos msicos portugueses.. Os contactos com Roma (Capela Pontifica cujo fausto era o modelo que o soberano procurava) foram facilitados: 1716 - opulenta embaixada de D. Rodrigues de Meneses (Marqus-Embaixador) com presentes magnficos oferecidos por D. Joo V ao Papa Clemente XI. Os salrios vultuosos permitiram contratar para o servio da Capela Real portuguesa diversos cantores de grande prestgio (alguns da prpria Capela Papal).. Domenico Scarlatti em 1719 abandonou o seu cargo e aceitou ser Mestre da Capela Real portuguesa onde alm da direco da Capela, a superviso de toda a actividade litrgica daquela instituio. A par do repertrio religioso concertante que ter certamente introduzido na liturgia da Capela, o Mestre italiano tinha ainda sob a sua responsabilidade a execuo do cantocho, agora feito todo ele a partir de livros copiados, por ordem do Rei, dos da Capela Papal.. Em 1713 D. Joo V estabeleceu, na dependncia da capela Real, um seminrio especializado para garantir o ensino adequado aos jovens msicos portugueses. Mais tarde viria a dar origem ao Seminrio da Patriarcal cujo mbito seria a Msica religiosa do estilo concertante.. Em 1729 o soberano decidiu criar uma segunda instituio pedaggica dedicada especialmente ao cantocho, estabelecida no Convento de Santa Catarina de Ribamar que confiou ao Mestre Giovanni Giorgi.. D. Joo V enviou como bolseiros para Itlia alguns discpulos particularmente dotados do Seminrio da Patriarcal: - Antnio Teixeira (excelente Te Deum policoral com amplo acompanhamento orquestral). Viria a ser cantor na Patriarcal. - Joo Rodrigues Esteves (solidez contrapontstica da Missa a 8 e a riqueza concertante do Magnificat). Que se tornaria Mestre de msica do Seminrio da Patriarcal. - Francisco Antnio de Almeida (expressividade apaixonada da oratria La Giuditta que estreou em Roma em 1726). Viria a ser organista na Patriarcal.. Os jovens compositores foram enviados para Roma e foram assim formados sob a gide do Barroco eclesistico romano, na tradio de Benevoli, Carissimi e mais recentemente Orazio Pittoni.

O despontar da pera p91

. Durante o reinado de D. Joo V apenas se apresentaram na corte 7 espectculos msico-teatrais que se possam identificar de natureza opertica. Desde 1716 que por ocasio dos aniversrios (do Rei, Rainha, infantes e at mesmo soberanos estrangeiros) se apresentavam na corte serenatas italianas dedicadas a essa efemrides, substitudo as antigas comdias e zarzuelas em espanhol que eram tradicionalmente produzidas no mesmo tipo de ocasies.. no Carnaval de 1728 que se regista a produo do primeiro espectculo de cariz opertico. Trata-se da representao de trs intermezzi a 6 vozes sob o ttulo Il Don Chisciotte della Mancia num teatro improvisado montado no Pao da Ribeira. Poucos privilegiados puderam assistir s rcitas (a msica era provavelmente de Scarlatti).. Tratava-se de espectculos de opera buffa. A opera seria o gnero mais representativo do Barroco opertico italiano da primeira metade do sculo no chegou a penetrar na corte portuguesa.. Em 1727 o Rei proibiu as tradicionais representaes de comdias promovidas pelo Hospital de Todos os Santos.. A partir de 1731 h referncias execuo de serenatas em saraus musicais realizados nos sales de diversos particulares.. Em 1735, uma companhia de cantores italianos Paquetas dirigida por Alessandro Paghetti (Violinista da Real Cmara) -apresentaria o seu primeiro espectculo de pera pblico perto do Convento da Trindade (Farnace, uma opera seria de Gaetano Maria Schiassi). O sucesso obtido foi tal que esta Academia da Trindade seria transferida, em 1738, para um novo teatro na Rua dos Condes (edificado em terrenos pertencente ao Conde da Ericeira). At 1742 representaram-se diversas intermezzi, operas serias, contando com elencos de prestgio.. Ao mesmo tempo tinham lugar outros tipos de representaes msico-teatrais de carcter hbrido:. Prespios combinavam-se elementos da velha tradio vicentina com as comdias castelhanas mais recentes.. Em 1733, numa sala que ficaria conhecida como Teatro do Bairro Alto, dava-se incio a um espectculo de marionetas (ou bonifrates, maneira da ballad opera inglesa) com um nmero musical de recorte italianizante. . Foi possvel uma comunicao reforado com o publico garas utilizao da lngua portuguesa.. Tambm foi importante o facto de os textos de Antnio Jos da Silva, o Judeu (na tradio de Gil Vicente e Lopes da Vega chegaria a Goldoni e Beaumarchais) terem uma evidente carga satrica (prepotncia da nobreza, abusos da justia, hipocrisia dos cdigos morais vigentes).. Foram representadas 8 peras de Antnio Jos da Silva (msicas de Antnio Teixeira?) at sua priso e morte s mos do Santo Oficio, em 1739. . As peras italianas da Trindade e da Rua dos Condes seriam frequentadas pela aristocracia crist (havendo sesses privadas em que as senhoras nobres contratavam para os seus convidados). Enquanto que no Teatro do Bairro Alto atrairia um publico burgus, mais avesso ao uso da lngua italiana e mais sensvel stira social e s graas por vezes brejeiras dos textos do Judeu.. A sade do Rei levou-o a um terror religioso e f-lo depender cada vez mais de personalidades eclesisticas conservadoras, levando ascenso dos sectores mais intolerantes da Igreja. Em 1742 forma proibidos os espectculos teatrais em Lisboa, em 1746 foram proibidos os bailes pblicos ou privados. At sua morte, em 1750, a corrente opertica italianizante manifesta-se apenas de formas encapotadas (lembrando a passagem do vilancico secular ao mbito da liturgia no quadro da Contra-Reforma).

Tema 3 - Sculos XIX e XX - Do Romantismo poca Contempornea

O Tema 3 - Sculos XIX e XX: do Romantismo poca Contempornea pretende abordar os movimentos musicais entre o Romantismo e as tendncias dominantes da Idade Contempornea em Portugal. A expresso romntica e o nacionalismo (com a crise da msica de corte e o crescimento da pera), at ao modernismo musical (Lus de Freitas Branco e Lopes Graa e a vanguarda dos anos 60) sero aspectos abordados ao longo das prximas semanas.Indicaes bibliogrficas:Manuel Carlos de BRITO e Lusa CYMBRON, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1994. (em pdf)Apenas o contedo patente nas registadas ser objecto de avaliao formativa e/ou finalOutras referncias bibliogrficas:Joo de Freitas BRANCO, Histria da Msica Portuguesa, Lisboa, Publ. Europa-Amrica, 4 ed., 2005, pp. 285-322.Rui Vieira NERY e Paulo Ferreira de CASTRO, Histria da Msica, col. snteses da cultura portuguesa, Lisboa, INCM, 1991, pp. 113-182.

Sc. XIX

Objectivos Reconhecer a vida musical portuguesa como dominada pea actividade dos teatros de pera e pela influncia italiana a partir da ltima dcada do sc. XVIII Identificar a importncia e descrever a actividade dos teatros de S. Carlos e S. Joo na vida musical do sc. XIX. A importncia de Marcos Portugal na msica do seu tempo; Definir o papel, o estatuto e o reportrio dos teatros da R. Condes, do Salitre e do Bairro alto como palcos de diversos tipos de teatro musicado; Nomes e produo dos diversos compositores de pera portugueses; Processos pelos quais a pera francesa e alem penetraram no meio musical portugus, a partir das ltimas dcadas do sc. XIX; Explicar figura e obra de Joo Domingos Bomtempo na sua poca e no ambiente musical de ento; Definir os moldes em que surgiu o Conservatrio e conhecer a sua histria; Explicar a decadncia das Ss e da produo de msica religiosa; Como se processava o ensino da msica a partir de 1834; Identificar os irmos Francis e Antnio de Andrade como interpretes consagrados internacionalmente;

A pera e o teatro musicadoA hegemonia da pera italiana. Os Teatros de S. Carlos e de S. JooA vida musical portuguesa foi dominada pela actividade dos teatros de pera que surgiram nas duas maiores cidades do pas e constituram o eixo principal de toda a vida musical ao longo do sc. XIX.Toda a msica instrumental, bem como as demais manifestaes musicais, foram colocadas na posio de meros satlites da cultura opertica italiana, assim como os compositores nacionais numa posio total de subalternizao em relao a um gnero e actividade musical essencialmente importados.A abertura em Lisboa (17393) e no Porto (1798) dos Teatros de S. Carlos e de S. Joo marca o aparecimento de casas de espectculo pblicas, decalcadas do modelo arquitectnico italiana.Construdos por sociedades de capitalistas ou por subscries pblicas, eram alugados a empresrios que montavam toda a temporada e dirigiam a companhia lrica.So considerados teatros de primeira aos quais se viria a juntar o D. Maria II, depois de 1846.A pera ocupava o topo de uma pirmide, na qual o teatro declamado, o musicado e outros tipos de espectculos se afiguravam inferiores. Dentro do prprio gnero lrico a hierarquia existente dava primazia ao gnero srio ou melodrama e s depois ao semi-srio e ao cmico ou buffo. Contudo no teatro italiano no caso portugus, j no existe, pelo menos a partir da segunda metade do sc. essa diferenciao, mas apenas um certo predomnio do melodrama ou pera sria.Teatro S. CarlosInaugurado em 1793, at 1798, o reportrio do S. Carlos era constitudo quase exclusivamente por peras cmicas, comeando a incluir a partir dessa data tambm opera serie. O nico compositor portugus representado durante os primeiros cinco anos de funcionamento Antnio Leal Moreira, na altura seu director musical.A primeira dessas obras (1794 e 1795) apresenta um compromisso entre a forma e o estilo da pera cmica e a veia popular de raiz nacional ou extica, em que os dilogos declamados alternam com rias, duetos, recitativos e conjuntos vocais em estilo italiano, lado a lado com modinhas ou peas populares. Era tambm comum a incluso de bailados entre os dois actos de cada pera e nos dias em que no havia pera, uma companhia dramtica apresentava teatro declamado em portugus.Em 1796 inaugurado um salo no primeiro andar, designado hoje em dia por salo nobre, destinado apresentao de oratrias e outras peas de msica sacra durante a Quaresma, altura em que no era autorizada a representao de peras.Em 1799, o S. Carlos apresenta pela primeira vez uma pera de Marcos Portugal, compositor j celebre em vrios pases da Europa, nomeadamente em Itlia.O reportrio das peras levadas cena na primeira dcada do sc. XIX continuar a ser dominado pelas produes italianas, quer do gnero srio quer do buffo, e por algumas peras francesas mas cantadas em italiano.A primeira apresentao entre ns de uma pea de Mozart acontece em 1806, mas no verdadeiramente uma excepo ao restante reportrio pela concepo formal e estilstica desta obra.Fechado em 1808, depois da expulso dos franceses, reabre na temporada de 1815-16, apresentando as primeiras obras de Rossini, que dominaro todo o reportrio at 1824, quando aparecem outros compositores mais jovens. Encerrado de novo durante os anos da guerra civil, aps a vitria Liberal far ouvir um reportrio assente nos trs grandes nomes da primeira metade do sc. XIX, Rossini, Donizetti e Bellini.Entretanto, em 1838, o Conde de Farrobo tornara-se seu empresrio e conduziu o teatro a um dos perodos mais brilhantes da sua histria. Contratou para o compositor italiano Pietro Antnio Coppola (1793-1877), que esteve entre ns de 1839 a 1843.Em 1843 d-se uma nova viragem com a estreia do Nabucco de Verdi, a qual inaugura um predomnio das produes verdianas inabalvel durante quarenta anos, situao lamentada na poca, nomeadamente por panfleto annimo ainda em 1872. Todavia, e apesar das crticas, a nossa situao era um espelho do que acontecia em Itlia, onde o reportrio germnico era em geral mal aceite e at 1871 nunca se ouviu nenhuma produo wagneriana.Teatro S. JooNo ano seguinte inaugurao do S. Carlos, surgem no Porto, por iniciativa de Francisco de Almada e Mendona, os primeiros projectos para a construo de um teatro lrico, cujo nome seria atribudo em honra do prncipe regente e futuro D. Joo VI. Seria inaugurado em 1798.Nas suas primeiras temporadas o reportrio seguiu as tendncias do congnere de Lisboa. Considerando o incndio que o destrui em 1908 a documentao acerca do seu funcionamento escassa. Sabe-se que em 1805, j depois da morte de Almada e Mendona, passou para as mos de uma administrao situao que se iria manter ao longo de quase todo o sculo.A nvel do reportrio e dos cantores o S. Joo surge-nos como um parente pobre do S. Carlos, pela enorme falta de meios com que a administrao se debatia, pelos inferiores subsdios do Estado e pelo preo dos bilhetes, o que impossibilitava a contratao de cantores de primeira categoria ou a montagem de algumas peras mais dispendiosas.Durante todo o sc. XIX o S. Joo manteve-se como a principal casa de espectculos do Porto, acumulando as funes de teatro lrico e de teatro declamado, ao contrrio de Lisboa, onde nunca se construiu um teatro dedicada a este ultimo gnero.Uma nica alternativa espordica ao S. Joo ir surgir com o Palcio de Cristal, onde na temporada de 1869-1870 se apresentou uma companhia de pera italiana que levou cena a estreia nacional da pera Don Carlos de Verdi.Teatros privadosA situao da nobreza portuguesa durante o Antigo Regime, com excepo da Casa de Bragana, viveu sempre dependente da corte, no favoreceu o aparecimento de centros musicais privados ou de teatros particulares. O mais importante teatro privado portugus ir ser construdo j no primeiro quartel do sc. XIX, por uma famlia burguesa nobilitada que pretendia copiar o fausto das grandes casas senhoriais.Joaquim Pedro Quintela, mais tarde Conde de Farrobo, mandou construir na sua Quinta das Laranjeiras um teatro, inaugurado em 1825 e destrudo por um incndio em 1862, finalmente foi recuperado em finais 2012, curiosamente espao candidato a importante prmio internacional de arquitectura em 2013, aps 150 anos de abandono. O Teatro das Laranjeiras ou Teatro Thalia foi palco de espectculos de pera em que participavam tanto cantores profissionais como amadores. Depois de interregno imposto pelas foras miguelistas, as rcitas recomearam em 1833 e prolongaram-se at finais dos anos cinquenta. Inclua no seu reportrio alm de peras italianas e de autores franceses, pequenas peras de compositores portugueses, provavelmente cantadas em italiano, de Antnio Lus Mir e Joo Guilherme Daddi.A existncia de teatros lricos fora das duas grandes cidades do pas, alm de vagas e dispersas, datam j da segunda metade do sc. XIX. Sabe-se que em alguns teatros de provncia, como lamego ou Aveiro, actuaram companhias de pera geralmente provenientes do Porto. Trs teatros nos Aores e Madeira, mais concretamente em Ponta Delgada, Angra do herosmo e Funchal tiveram alguma actividade opertica.O teatro musicado, a opereta e outros gneros afinsDurante o primeiro quartel do sc. XIX, e em paralelo com a actividade opertica do S. Carlos, o reportrio do teatro musicado em portugus era cultivado em Lisboa nos Teatros da Rua dos Condes e do Salitre, do sc. passado, e ainda o Teatro do Bairro Alto, construdo em 1814, em S. Roque. A se representavam alm de dramas muitas vezes traduzidos, peas ligeiras que tinham uma larga tradio em Portugal, tais como farsas, entremezes ou comdias, todas eles com msica, e ainda adaptaes portuguesas de peras cmicas de autores italianos, bem como serenatas alusivas aos aniversrios reais.Com a segunda metade do sculo juntaram-se a estes teatros outras casas de espectculo. Como o Ginsio, o Dom Fernando o e o Trindade, que alm do teatro declamado se dedicavam aos gneros da pera cmica, do vaudeville, da pera burlesca, da burleta, da opereta e da zarzuela.Para estes vastos e esquecidos reportrios contriburam entre outros, Antnio Jos do Rego, Antnio Lus Mir, Francisco Alves Rente, Francisco de S Noronha, Joo Guilherme Daddi (1813-1887), Jos Cndido e principalmente Joaquim Casimiro Jnior (1808-1862). Muitos destes autores trabalharam tambm para o teatro declamado, escrevendo nmeros de msica vocal e instrumental para as peas que continuavam a subir cena nos teatros da Rua dos Condes e do Salitre e principalmente ao D. Maria II.Interessa ainda referir o intercmbio entre os teatros portugueses e brasileiros, que possibilitou a familiarizao dos nossos compositores com gneros estrangeiros como o vaudeville, servindo tambm de enquadramento a toda a actividade profissional de msicos como Francisco de S Noronha e Antnio Maria Celestino (1824-1871).Papel idntico ao dos teatros secundrios da capital tem no Porto o Teatro Baquet, inaugurado em 1859. Nesse teatro S Noronha e Antnio Maria Celestino tentaram criar em 1861 uma companhia e pera Cmica Nacional com tradues em portugus, em alternativa s companhias espanholas ou s de pera italiana que se apresentavam no S. Joo.O ltimo quartel do sc. XIX v surgir vrias outras salas de espectculos dedicados pera cmica ou zarzuela, algumas das quais prolongaro a sua actividade at ao incio do sc. XX. No Porto Teatros D. Afonso e Carlos Alberto; em Lisboa o Teatro Avenida. Importante nesta poca o contributo de Augusto Machado (1845-1924) que escreveu um grande nmero de operetas portuguesas e que tentou tambm criar uma tradio nacional de opereta baseada em temas histricos.Em 1888, Ciraco Cardoso organizou uma companhia de pera cmica que acabou tragicamente com o incndio do Teatro Baquet nesse mesmo ano. Veio a retomar essa iniciativa em Lisboa em 1891 com grande xito.As tentativas de criao de uma pera nacionalO teatro lrico, at ao incio dos anos sessenta, tendo sido excludo do projecto de reforma do teatro portugus, de Almeida Garrett, raras tentativas teve na criao de peras de raiz nacional e ainda menos na utilizao da lngua portuguesa.Alm das obras de Antnio Leal Moreira e de Marcos Portugal, nos finais do sc. XVIII, as estreias de outras peras de autores portugueses durante a primeira metade do sc. XIX so verdadeiramente espordicas e tentam sempre integrar-se no restante reportrio de concepo italiana, como o caso de Egilda di Provenza, cantada no S. Carlos em 1827 com msica de Joo Evangelista Pereira da Costa (1798-1832).A partir de 1835 sero ouvidas no S. Carlos peras da autoria de Antnio Lus Mir, Manuel Inocncio Liberato dos Santos (1805-1887) e Francisco Xavier Mignoni (1811-1861), mas apenas duas delas, num conjunto de oito, se baseiam em temas portugueses.Apenas um exemplo relevante a mencionar, no campo das tendncias nacionalistas, o drama lrico Os infantes em Ceuta, com msica de Antnio Lus Mir sobre libreto de Alexandre Herculano representado na Academia Filarmnica de Lisboa em 1844, margem dos circuitos comerciais da pera.Francisco de S Noronha o primeiro compositor portugus a inspirar-se directamente em fontes pr-existentes da nossa literatura romntica, particularmente na obra de Almeida Garrett, um dos reformadores do teatro nacional, aps a revoluo de 1834, e produz assim duas peras deste autor em 1863 e 1867. Esta escolha deriva do ter assistido no Brasil tentativa de criao de uma pera nacional. O seu estilo enquadra-se na concepo de melodrama italiano, com profunda influncia verdiana.Em 1865, no ano em que Noronha finaliza a sua segunda pera garrettiana, anunciada a composio Eurico de Miguel ngelo Pereira (1843-1901), baseada no romance de Herculano, pera que s viria a ser estreada em 1870, seguindo-se no final do sc. as experincias de Alfredo Keil (1859-1907) com Donna Bianca (1888) e Serrana (1899).O caso da Serrana, inspirada em Camilo Castelo Branco, tradicionalmente considerada como a primeira pera nacionalista portuguesa, mas que se afasta assim tanto de outras composies, pois verifica-se que deve ter sido escrita sobre uma verso italiana do libreto portugus, o que a coloca em igualdade de circunstncias com as obras de outros compositores como S Noronha, podendo apenas afirmar-se que foi a primeira obra a ser impressa em portugus.Todas estas obras constituram tentativas isoladas de intervir numa rea de prestgio mas dominada por produtos importados, uma vez que a preocupao mxima de um compositor portugus na altura era a de estrear uma pera, o que no permitia criar uma slida tradio de pera portuguesa.A reaco ao italianismo nos finais do sc. XIX: o wagnerismo e a influncia alem e francesaA partir dos anos 80 do sc. XIX, o Teatro de S. Carlos entra numa nova fase, que se caracteriza pela partilha do reportrio entre as produes italianas e as peras francesas, cantadas no entanto em italiano, e pelas primeiras audies das peras de Wagner, sendo a primeira Lohengrin (1883) a que melhor aceitao teve entre o pblico. Contudo, a aparente transformao do reportrio vai ser rapidamente contrariada com a nova corrente italiana, o verismo.Com a abertura do Coliseu dos Recreios em 1890, cria-se uma alternativa ao Teatro S. Carlos, agora num palco de concorrncia.Na primeira dcada do sc. XX, a par do domnio italiano e de uma nova ascenso do reportrio francs, a presena da obra de Wagner afirma-se cada vez mais, nomeadamente com a estria do Der Ring des Nibelungen em 1909, j prximo do encerramento oficial do teatro. Na temporada 1908-09 d-se o fim do monoplio das companhias italianas, e assim, o fim de uma hegemonia que marcou toda a vida do teatro.As Associaes de concertos, a msica amadora e a instrumental. Joo Domingos BomtempoEm contraste com toda a actividade opertica e msico-teatral, a msica instrumental e os concertos pblicos e privados ao longo da primeira metade do sc. XIX tiveram uma existncia muito mais modesta e precria. H conhecimento de vrios concertos tanto aristocratas como burgueses que reuniam msicos profissionais e amadores, que tm afinal maior importncia do que se supunha.A msica instrumental portuguesa dominada pela figura do pianista e compositor Joo Domingos Bomtempo (1775-1842) que personifica as transformaes ocorridas na passagem do sc. XVIII para o XIX. Teve um papel preponderante, mas tambm isolado, na tentativa de pr termo ao reinado exclusivo da pera e para a introduo entre ns da msica instrumental de raiz germnica, bomia e francesa e para a reforma do ensino musical. Os resultados da sua influncia, sobretudo pela criao da Sociedade Filarmnica (1822) ainda se podiam observar nos finais do sc. XIX entre os msicos amadores que eram netos e bisnetos dos membros daquela Sociedade.Nunca chegou a ser apreciado pela maioria do pblico, cuja predileco pela msica teatral era invencvel.Os quinze anos que o separam de Marcos Portugal representam o intervalo entre dois sculos. Enquanto Marcos estudou no Seminrio da Patriarcal, onde se formaram os principais compositores do sc. XVIII, Bomtempo obteve essa formao com o seu pai. Se em 1792 Marcos escolhera Itlia, para a iniciar uma bem-sucedida carreira de operista, para Paris que Bomtempo se dirigir em 1801, um ano depois de Marcos regressar a Portugal coroado de xito. Nos dezanove anos seguintes Bomtempo alternar entre Paris, Londres e Lisboa, na procura de estabilidade profissional que as circunstncias politicas no iro favorecer dada a sua fidelidade ao ideal liberal.Regressa a Portugal em 1814, no final das guerras peninsulares com o novo modelo da profisso, como musical livre.Compe e publica em Paris, em 1819, a sua obra mais conhecida o Requiem dedicado memria de Cames.Regressa a Portugal em 1820 com a proclamao da Constituio e apresenta em Lisboa algumas das suas composies que tm um significado mais poltico do que religioso, tal como a Missa em obsquio da Regenerao Portugueza de 1821.Depressa se transforma no compositor oficial do novo do regime, integrando sua volta um grupo de amadores, entre eles o futuro Conde de Farrobo. Criada a Sociedade Filarmnica, foi esta probida por fora da Vila-Francada e novamente com a Abrilada. Com a vitria libera em 1834, ser nomeado director do novo Conservatrio de Msica, posteriormente integrado como Escola de Msica no Conservatrio Geral de Arte Dramtica, criado por iniciativa de Almeida Garrett.Deixou-nos duas sinfonias, seis concertos para piano e orquestra e diversas sonatas, fantasias e variaes para piano. As suas obras vocais mostram tambm uma tendncia de influncia germnica e francesa afastando-se assim do estilo opertico italiano.Sobre presidncia do Conde Farrobo viriam a surgir em Lisboa duas outras sociedades de concertos. A Academia Filarmnica (1838) e a Assembleia Filarmnica (1839), com actividades ligadas ao reportrio opertico italiano.A msica religiosaA revoluo liberal de 1834 teve consequncias para a msica de igreja, tambm ela afectada pela laicizao da vida social aps a queda do Antigo Regime.At 1834 continuaram a existir capelas musicais em quase todas as dioceses mas o processo de decadncia havia j comeado e por esta altura os msicos eram apenas os necessrios, normalmente contratados, para garantir os servios litrgico-musicais. A partir desta data a decadncia definitiva, privadas dos dzimos e de outros proventos ou ajudas. Com a extino das ordens religiosas muitos frades msicos passaram ao clero secular.Muitas obras desse perodo se conservam ainda hoje. Algumas crticas negativas se fizeram pela semelhana com o reportrio italiano, afinal estilo comum e por vezes de alta qualidade, mas tambm devido s perspectivas do protestantismo. A ligao com o idioma opertico feita com o facto de muitos dos compositores ter formao j no nas antigas escolas de msica religiosa, entretanto extintas.

O ensino musical. A fundao do conservatrio e as vicissitudes da sua histriaO ano de 1834 marca uma nova poca no ensino musical pelo encerramento das ordens religiosas e da extino do Seminrio da Patriarcal. A reduo de rendimentos tambm causou o encerramento de escolas catedrais e conventuais, passando o ensino de msica religiosa a ser feito nos seminrios, mas quase restringido ao cantocho. Nas cidades onde existe um bispo tinham Seminrios de Msica e msica vocal e instrumental, como so os casos de Coimbra, no Colgio da S e em Lisboa na S.Depois de 33 a Casa Pia e o Colgio dos Nobres tinham aulas de msica. Nesta a escola funcionar at 1838. Na primeira, por decreto de 1835, criado o Conservatrio de Msica ligado quela instituio, mas que regista a ligao com o passado por ter recebido todo o corpo docente do extinto Seminrio da Patriarcal, apesar do seu primeiro director Joo Domingos Bomtempo.S em 1844 surge uma instituio que ir constituir um novo marco no ensino da msica em Lisboa, a Academia dos Amadores de Msica

Msicos portugueses no estrangeiroAlm de Bomtempo, outros msicos portugueses realizaram carreira internacional, como os irmos Francisco (bartono) e Antnio de Andrade (tenor) que se evidenciaram internacionalmente pelos palcos principais da Europa. Temos ainda a soprano Maria Augusta Correia da Cruz (1869-1901) e o bartono Maurcio Bensade (1863-1912).Outro aspecto que contribui para a projeco dos msicos portugueses no estrangeiro a apresentao de peras suas em teatros lricos de outros pases, como so os casos de Alfredo Keil e Augusto Machado

A edio musical e o fabrico de instrumentosA debilidade da burguesia durante todo o sc. XIX no permitiu a formao de um pblico musicalmente culto e activo o que teve impacto na actividade editorial tal como na produo musical, nas sociedades de concertos, no fabrico de instrumentos pela falta de massa critica e da dita cultura.

Sociedades

Sociedade Filarmnica (1822) Joo Domingos BomtempoAcademia Filarmnica (1838) Conde de FarroboAssembleia Filarmnica (1839)Conde de FarroboAcademia Melpomenense (1845)Joo Alberto Rodrigues da Costa (1798-1879)

Ensino

Conservatrio de Msica (1834)Ligado Casa Pia; Primeiro director:Joo Domingos Bomtempo;1836 Integrao no Conservatrio Geral de Artes Dramticas;1845 - Assume a direco o Conde de Farrobonica escola de msica oficial em todo o pas durante o sc. XIX;Conservatrio Geral de Artes Dramticas (1836)Reforma de Almeida GarrettColgio dos Nobres (17xx-1838)Academia dos Amadores de Msica (1844) Lisboa

BiografiasAlfredo Keil (1850-1907) interessou-se muito pelo teatro musicado, tendo escrito a partitura de vrias peas, de que destacaremos as peras "Susana", "Dona Branca", "Irene" e "Serrana", esta a melhor de todas; tinha o objectivo de criar uma tradio nacional em que o texto cantado fosse escrito em lngua portuguesa; escreveu msica do hino nacional, "A Portuguesa", vigorosa manifestao de protesto por motivo do ultimato de 1890 e Henrique Lopes de Mendona encarregou-se de elaborar o poema; foi tambm importante coleccionador de instrumentos musicais antigos, reunindo um acervo respeitvel que constituiu o fundo do que veio a ser o Museu do Conservatrio Nacional de Lisboa; foi arquelogo muito competente e interessou-se por outros ramos da Etnografia, mveis, trajos, moedas, objectos de adorno e decorao, etc.Antnio Leal Moreira (1758-1819) era aparentado com Marcos Portugal, devido a ter casado com uma irm deste; foram condiscpulos, durante os estudos musicais que ambos fizeram em Lisboa; Antnio Leal Moreira exerceu as funes de organista e mestre de capela, na s patriarcal e na capela real; ao inaugurar-se o Teatro de So Carlos, foi nomeado seu director, o primeiro a ocupar este lugar e a desempenhar tais funes; apesar de seguir o gosto italianizante, cultivou tambm o estilo e os temas nacionais, no se deixando desenraizar completamente; escreveu diversas peras e muita msica sacra; era da autoria de sua autoria a missa executada nas festas da aclamao da rainha D. Maria I.Antnio Lus Mir (1815 - 1853) Nasceu em Granada a 25 de Julho de 1815. Veio para Portugal muito novo. Em Lisboa foi discpulo de Domingos Bomtempo e de Fr. Jos Marques, comeando por ganhar fama de excelente pianista. No entanto, foi como compositor teatral que ficou mais famoso. Peas suas eram representadas no Teatro das Laranjeiras, no Teatro de S. Carlos, no Teatro de D. Maria. Devem-se-lhe tambm duas missas, matinas e outros trechos religiosos. Em 1849 vai viver para o Brasil, onde acabou por falecer em Maio de 1853.Antnio Maria Celestino (1824-1871), que actuou em vrios pases da Europa e nos do cone sul da Amrica, distinguiu-se nos meados desta centria pelos seus dotes artsticos, como bartono de mrito invulgar; veio a morrer no Brasil, vtima de uma agresso pessoal; quase contempornea de Antnio Celestino foi a cantadeira Maria Severa, figura lendria da vida bomia lisboeta, que serviu a Jlio Dantas para sobre ela elaborar o conhecido romance e a pea teatral de ttulos iguais ao seu nomeAugusto de Oliveira Machado (1845-1924) aperfeioou-se em Paris, onde conviveu com figuras salientes do meio musical; cultivou a modalidade de msica ligeira e debruou-se tambm sobre a opereta e a pera; como curiosidade, informamos que este autor escreveu a partitura para o texto de Jlio Dantas da comdia de costumes intitulada "Rosas de todo o ano"; tambm se interessou pelo aperfeioamento dos mtodos de ensino, podendo afirmar-se que, em grande parte, se ficou devendo sua actuao o que de bom apresentou a reforma do Conservatrio Nacional de Msica, em 1901Francisco de S Noronha (Viana do Castelo, 1820 - Rio de Janeiro, 1881) foi um violinista, e compositor portugus. Entre as suas obras destacam-se as peras Beatrice di Portogallo (1863), e Tagir (1876). Refira-se ainda o Arco de Sant'Anna (1867), com libreto baseado no romance homnimo de Almeida Garrett, publicado em duas partes, em 1845 e 1850. Esta pera estreou em 1867 no Teatro de So Joo, no Porto, e foi levada cena no Teatro de So Carlos, em Lisboa, no ano seguinteJoo Domingos Bomtempo (1771-1842) outro nome grande, talvez to grande como o de Marcos Portugal, se no at maior do que o dele; um astro saliente do panorama nacional e obreiro de um projecto que se desenvolveu nos anos futuros a remodelao e modernizao dos estudos musicais, a partir da fundao do Conservatrio Nacional de Msica, de Lisboa, de que foi o primeiro director; entre as suas numerosas obras, uma delas merece destaque especial, o Requiem " memria de Cames"; o seu valor tem sido reconhecido pelos musiclogos mais competentes e o seu prestgio tem crescido muito nas ltimas dcadas; assou longas temporadas de exlio na Frana e na Inglaterra, por razes polticas e tambm com o objectivo de aperfeioamento artstico; o seu valor era muito apreciado naqueles pases, onde teve amigos e protectores; em Portugal, tomou sobre os seus ombros a tarefa de reformar o sistema do ensino da msica, obtendo razoveis resultado; se mais no fez, foi porque no encontrou colaboradores actualizados, tendo de servir-se de mestres formados nas antigas escolas; procurou combater a influncia da msica italiana, valorizando os temas nacionaisMarcos Antnio da Fonseca Portugal (1762-1830) estudou em Lisboa, aluno de Sousa Carvalho no Seminrio da Patriarcal; tem incio de carreira em 1785 com a direco musical do Teatro do Salitre; sete anos depois parte para Itlia onde se aperfeioa e consegue uma bem-sucedida carreira de compositor de pera, a partir da estreia em 1793 em Florena. As suas obras so apresentadas em todos os grandes teatros italianos, europeus e na Rssia. com uma sua pera que Napoleo reabre em paris em 1801 o Thtre Italien. considerado o compositor portugus cuja obra mais se internacionalizou, devido em boa parte incluso de rias soltas nos programas de concertos de clebres cantores e cantoras da poca. Em 1800, ao estabelecer-se em Lisboa, substitui o cunhado Antnio Leal Moreira no lugar de director musical do Teatro de S. Carlos, assumindo igualmente a direco da Capela Real . Parte para o Rio de Janeiro em 1810 para se juntar corte portuguesa.Miguel ngelo Pereira (1843-1901) residiu durante alguns anos no Brasil, onde estudou; prestou particular interesse msica sacra e msica de teatro, segundo os hbitos do tempo; tinha temperamento muito difcil e isso prejudicou-o enormemente; morreu pobre e atacado de debilidade mental; mesmo assim, bastante lhe ficou devendo a cultura musical!

Do sc. XX aos nossos diasObjectivos Processos pelos quais o plo central da vida musical portuguesa se deslocou do teatro lrico para a msica instrumental desde finais do sc. XIX; O aparecimento de Sociedades de Concertos e suas actividades Papel da Real Academia de Amadores de Msica na promoo e divulgao musical Caracterizar a aco de Bernardo Valentim Moreira de S enquanto violinista, maestro, pedagogo e musicgrafo Importncia de Jos Viana da Mota como artfice da mudana operada no inicio do sc. a nvel do ensino e do gosto publico A aco de Lus de Feitas Branco como o introdutor do modernismo em Portugal As formas que assumiram as tendncias impressionistas, nacionalistas e neoclssicas e respectivos compositores Obra de Lopes Graa luz das tendncias que representou Politica musical do Estado Novo Compositores mais relevantes no panorama musical contemporneo Papel da Fundao Calouste GulbenkianAs tentativas de renovao da vida musical: as influncias germnicas e a msica instrumentalNo plano cultural a dcada de setenta do sc. XIX marca o inicio de um novo perodo com a Gerao de 70 e com a ligao do pas ao exterior atravs de ligao ferroviria Europa, com uma nova aproximao, mais aprofundada e actualizada, cultura francesa.Uma das consequncias o desenvolvimento da investigao histrica e etnolgica da msica portuguesa com ligao divulgao de ideias positivistas pelos nomes de Sousa Viterbo ou Ernesto Vieira. A principal mudana na vida musical portuguesa reside na deslocao do seu plo central do teatro lrico para a msica instrumental, o que se verifica particularmente em Lisboa e Porto. Em Coimbra no existia pblico em nmero suficiente para permitir o desenvolvimento do gnero, mantendo-se essencialmente ligado ao meio bomio e estudantil.Um factor determinante a aproximao dos msicos portugueses msica alem que se transformar na formao base dos msicos na transio do sc. XIX para o sc. XX. Assim, encontramos Bernardo Valentim Moreira e S e Alexandre Rey Colao que estudaram naquele pas.

As associaes de concertos como ponto de partida para o desenvolvimento da msica instrumentalO aparecimento de sociedades de concertos acentuou-se a partir dos anos 60.A mais importante instituio lisboeta em finais do sc. seria a Real Academia dos Amadores de Msica em 1884. A Academia tinha como objectivos difundir o gosto pela msica atravs do ensino, de concertos e de conferncias. Paralelamente desenvolveu uma importante aco pedaggica, vindo a transformar-se numa espcie de Conservatrio paralelo, sendo de realar a formao germnica de vrios dos seus professores. academia esteve tambm ligado Alexandre Rey Colao, pianista e compositor que mais tarde se dedica especialmente ao ensino quer no Conservatrio quer na Academia de Amadores.

Jos Viana da Mota e a renovao da vida musical e do ensinoSmbolo do germanismo na msica portuguesa. Atravs da sua actividade como pianista, compositor, pedagogo e musicgrafo opera uma verdadeira mudana, nas primeiras dcadas do sc. XX, tanto ao nvel do ensino musical como do gosto do pblico.Com a sua formao germnica tenta criar um estilo nacional atravs da ideia de recriao do nosso folclore nacional. De concepo oitocentista, pretende assim in