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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma 10ª aula: O governo dos juízes / Governo dos reis até Salomão Textos complementares GEAEL Aula 10 — Entre muitas, a lição que fica: A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. — Allan Kardec Revista Espírita, dezembro de 1868 Sessão Anual Comemorativa dos Mortos (Sociedade de Paris, 1° de novembro de 1868) DISCURSO DE ABERTURA PELO SR. ALLAN KARDEC 1 Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, aí estarei com elas. (Mateus, 18:20.) Caros irmãos e irmãs espíritas, Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à co‑ memoração dos mortos, para darmos àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invo‑ carmos sobre eles a bondade do Todo‑Poderoso. Mas, por que nos reunirmos? Não podemos fazer em particular o que cada um de nós propõe fazer em em comum? Qual a utilidade de assim nos reunirmos num dia determinado? Jesus no‑lo indica pelas palavras que referimos acima. Esta utilidade está no resultado produzido pela comunhão de pensamentos que se estabelece entre pessoas reunidas com o mesmo objetivo. Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão? Seguramente, até este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma idéia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito. Comunhão de pensamento quer dizer pensamento co‑ mum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspi‑ ração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força; mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreen‑ dê‑lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elemen‑ tos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no‑las ensina. O pensamento é o atributo característico do ser espiritu‑ al; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamen‑ 1 A primeira parte deste discurso é tirada de uma publicação anterior sobre a Comunhão de pensamentos, mas que era preciso relembrar, por causa de sua ligação com a ideia principal. to o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer‑se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros. Uma assembléia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma imen‑ sidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição. Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discor‑ dantes, também há pensamentos harmônicos ou discordan‑ tes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não ex‑ pressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimenta‑ rão um verdadeiro bem‑estar e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido. Tal é a causa do sentimento de satisfação que se expe‑ rimenta numa reunião simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios flu‑ ídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal‑estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs. A comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage sobre o moral; só o Espiritismo pode‑ ria fazê‑lo compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão.

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira · 2017-11-05 · contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreen

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma10ª aula: O governo dos juízes / Governo dos reis até Salomão

Textos complementaresGEAEL

Aula 10 — Entre muitas, a lição que fica:A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. — Allan Kardec

Revista Espírita, dezembro de 1868

Sessão Anual Comemorativa dos Mortos(Sociedade de Paris, 1° de novembro de 1868)

DISCURSO DE ABERTURA PELO SR. ALLAN KARDEC1

Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, aí estarei com elas.

(Mateus, 18:20.)

Caros irmãos e irmãs espíritas,

Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à co‑memoração dos mortos, para darmos àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invo‑carmos sobre eles a bondade do Todo‑Poderoso. Mas, por que nos reunirmos? Não podemos fazer em particular o que cada um de nós propõe fazer em em comum? Qual a utilidade de assim nos reunirmos num dia determinado?

Jesus no‑lo indica pelas palavras que referimos acima. Esta utilidade está no resultado produzido pela comunhão de pensamentos que se estabelece entre pessoas reunidas com o mesmo objetivo.

Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão? Seguramente, até este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma idéia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito.

Comunhão de pensamento quer dizer pensamento co‑mum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspi‑ração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força; mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreen‑dê‑lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elemen‑tos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no‑las ensina.

O pensamento é o atributo característico do ser espiritu‑al; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamen‑

1 A primeira parte deste discurso é tirada de uma publicação anterior sobre a Comunhão de pensamentos, mas que era preciso relembrar, por causa de sua ligação com a ideia principal.

to o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer‑se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

Uma assembléia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma imen‑sidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discor‑dantes, também há pensamentos harmônicos ou discordan‑tes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não ex‑pressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimenta‑rão um verdadeiro bem‑estar e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.

Tal é a causa do sentimento de satisfação que se expe‑rimenta numa reunião simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios flu‑ídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal‑estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs.

A comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage sobre o moral; só o Espiritismo pode‑ria fazê‑lo compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão.

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Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas forças morais; poder‑se‑ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas perdidas diariamente pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.

A esses efeitos da comunhão de pensamentos, junta‑se um outro que é a sua conseqüência natural, e que importa não perder de vista: é o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reuni‑dos. Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplica‑da pelo número dc vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número dos braços.

Estabelecido este ponto, concebe‑se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos, haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indiví‑duo isolado. Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma homo‑geneidade perfeita de pensamentos, que se deve à imperfeição da natureza humana na Terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se mesclam elementos heterogêneos, que pa‑ralisam a ação dos bons elementos, e que são como grãos de areia numa engrenagem. Não sucede assim nos mundos mais adiantados, e tal estado de coisas mudara na Terra à medida que os homens se tornarem melhores.

Para os espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Temos visto o efeito desta co‑munhão de homem a homem; prova‑nos o Espiritismo que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire força pelo nú‑mero, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão e ao isolamento. Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras von‑tades poderá resistir, conforme o axioma: A união faz a for‑ça, axioma verdadeiro, tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.

Por outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada; seus eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar‑se‑ão so‑bre os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em benefício de todos, conforme a lei de caridade. Descerão sobre eles como línguas de fogo, para nos servirmos de uma admi‑rável imagem do Evangelho.

Assim, pela comunhão de pensamentos os homens se as‑sistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos. As relações entre os mundos visível e in‑visível não são mais individuais, mas coletivas e, por isto mes‑mo, mais poderosas em proveito das massas e dos indivíduos. Numa palavra, estabelecem a solidariedade, que é a base da fraternidade. Cada qual trabalha para todos, e não apenas para si; e trabalhando para todos, cada um aí encontra a sua parte. É o que o egoísmo não compreende.

Graças ao Espiritismo, compreendemos, então, o poder e os efeitos do pensamento coletivo; explicamo‑nos melhor o sentimento de bem‑estar que se experimenta num meio ho‑

mogêneo e simpático; mas sabemos, igualmente, que se dá o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como uma nuvem de perfume. Os que são felizes experimentam maior alegria por esse concerto harmonioso; os que sofrem sentem maior alivio.

Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria. Infelizmente, a maioria se afasta deste princípio à medida que a religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pes‑soal, por sua própria conta e, na maioria das vezes sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos ou‑tros assistentes; fica isolado em meio à multidão e só pensa no céu para si mesmo.

Por certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas.” Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum; mas não se pode estar reuni‑do em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, sua doutrina. Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e ações. Mentem os egoístas e os orgulhosos, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discí‑pulos.

Chocados por esses abusos e desvios, há pessoas que ne‑gam a utilidade das assembléias religiosas e, em conseqüên‑cia, a das edificações consagradas a tais assembléias. Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir asilos do que templos, uma vez que o templo de Deus está em toda parte e em toda parte pode ser adorado; que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, enquanto os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.

Mas, porque cometeram abusos, porque se afastaram do reto caminho, devemos concluir que não existe o reto caminho e que tudo quanto se abusa seja mau? Não, certamente. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembléias religio‑sas; é ignorar as causas que a provocam. Concebe‑se que os materialistas professem semelhantes idéias, já que em tudo fazem abstração da vida espiritual; mas da parte dos espiritu‑alistas e, melhor ainda, dos espíritas, seria um contra‑senso. O isolamento religioso, assim como o isolamento social, con‑duz ao egoísmo. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, largamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não necessitem ser revigoradas num foco co‑mum, é possível; mas não é assim com as massas, por lhes fal‑tar um estimulante, sem o qual poderiam se deixar levar pela indiferença. Além disso, qual o homem que poderá dizer‑se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos seus interesses futuros? bastante perfeito para abrir mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir‑se por si mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos di‑

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 3

retos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Incontestavelmente, tais ensinos podem ser dados em toda parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo; mas por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as questões celestes, como os têm para as terrenas? Por que não teriam assembléias religiosas, como têm assembléias políticas, científicas e industriais? Aqui está uma bolsa onde se ganha sempre. Isto não impede as edificações em provei‑to dos infelizes. Dizemos, ademais, que haverá menos gen‑te nos asilos, quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu.

Se as assembléias religiosas — falo em geral, sem aludir a nenhum culto — muitas vezes se têm afastado de seu objetivo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamen‑to; se o ensino ali ministrado nem sempre tem acompanhado o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não progridem todos ao mesmo tempo. O que não fazem num período, fazem em outro; à proporção que se esclarecem, vêem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna‑se insuficiente numa etapa mais avançada, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, não exigindo de uma época mais do que ela pode dar.

Como as plantas, é preciso que as idéias amadureçam, para que seus frutos sejam colhidos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque na Natureza nada se opera de maneira brusca e instantânea.

Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônima de opinião; implica uma idéia particular: a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política. Ora, os homens podem filiar‑se, por interesse, a um partido, sem ter fé nesse partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste à custa dos maiores sacrificios, e é a abnegação dos interesses pessoais a verdadeira pedra‑de‑toque da fé sincera. Todavia, se a renún‑cia a uma opinião, motivada pelo interesse, é um ato de des‑prezível covardia, é, não obstante, respeitável, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava; é, então, um ato de abnegação e de razão. Há mais coragem e grandeza em reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor‑próprio, no que se sabe ser falso, e para não se dar um desmentido a si próprio, o que acusa mais obstinação do que firmeza, mais orgulho do que razão, e mais fraqueza do que força. É mais ainda: é hipocrisia, porque se quer parecer o que não se é; além disso é uma ação má, porque é encorajar o erro por seu próprio exemplo.

O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu

objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgên‑cia e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma reli‑gião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples con‑venção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Na‑tureza.

Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a pa‑lavra religião é inseparável da de culto; porque desperta ex‑clusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar‑se com um titulo sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.

As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosa‑mente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode‑se mes‑mo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembléias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada idéia.

Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.

A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verda‑deiro espírita sem caridade.

Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá‑la e defini‑la, é que, pro‑vavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.

O campo da caridade é muito vasto; compreende duas

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grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar‑se pelas expressões caridade beneficente e carida‑de benevolente. Compreende‑se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

O que é preciso, então, para praticar a caridade benevo‑lente? Amar ao proximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar‑se‑o‑á muito; agir‑se‑á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no‑lo fizessem.

Amar ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vin‑gança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de pre‑judicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as pôr em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superiori‑dade; não desprezar ninguém pelo orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a carida‑de é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condena‑ção, tanto neste quanto no outro mundo.

Quantas coisas haveria a dizer sobre este assunto! Que belas instruções não nos dão os Espíritos incessantemente! Não fosse o receio de alongar‑me em demasia e de abusar de vossa paciência, senhores, seria fácil demonstrar que, em se colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoísta, se se quiser, porque nem todos os homens estão ainda maduros para uma completa abnegação, para fazer o bem unicamente por amor do bem, digo que seria fácil demonstrar que têm tudo a ganhar em agir deste modo, e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o mal atrai o mal e abre a porta à malevolência dos maus.

Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruí‑na de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser des‑mascarado; aquele que abandona os bons Espíritos por estes é abandonado e, de queda em queda, finalmente se vê no fundo do abismo, ao passo que os bons Espíritos erguem e amparam aquele que, nas maiores provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum pensamen‑to oculto de vaidade ou de interesse pessoal. Assim, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do seu livre‑arbítrio, pode escolher a sorte que quer correr, mas não poderá queixar‑se senão de si mesmo pelas conseqüências de sua escolha.

Crer num Deus Todo‑Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência

da alma como única justificação do presente; na pluralida‑de das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfei‑ção; na equitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre‑arbítrio do homem, que lhe deixa sem‑pre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solida‑riedade que religa todos os seres passados, presentes e futu‑ros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, em vista de um futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e obras na mais larga acepção do termo; esforçar‑se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando toda imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre‑exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais ir‑racionais que nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar‑se com to‑dos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comu‑nhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males inumeráveis, que nascem da dis‑córdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo, da ambição, da inveja e de todas as imperfeições da Humanidade.

O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a sua felicidade aqui na Terra, porque lhes ensina a se conten‑tarem com o que têm. Que os espíritas sejam, pois, os primei‑ros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.

Os Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atra‑ídos pelo objetivo que nos propusemos ao nos reunirmos, a fim de dar aos nossos pensamentos a força que nasce da união. Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada um re‑colha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar.

Allan Kardec

Revista EspíritaJornal de Estudos Psicológicos

Ano XI, nº 12, dezembro de 1868

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 5

Preâmbulo1. Necessidade de afinação vibratória na corrente.2. Pensamento e energia ‑ a palavra.3. Trabalho e renovação.

Análise1. Objetivo dos trabalhos da FTRC/CLN1 ‑ auto‑realização espiritual.2. Método ‑ autodisciplina para aprendizagens de despertamento espiritual.3. Necessidade de testar os métodos na vivência para avaliá‑los.4. Impossibilidade de criticar o que se desconhece em termos de experiência própria.5. Necessidade de silenciar para não tumultuar o próprio aprendizado e o de outros.6. Buscar esclarecimento junto aos irmãos que podem dar Assistência Espiritual.

Conclusãoa) Segurança dos elos da corrente;b) Abster‑se de criticar ‑ o argueiro e a travec) Diferença entre autoridade e autoritarismo:

Autoritarismo Autoridade‑ autocracia; ‑ democracia;‑ fruto da imposição; ‑ resulta de vivência de auto‑disciplina;‑ improvisação sem base; ‑ demonstração prática;‑ exige sem ter semeado; ‑ esclarece e apóia a aprendizagem;‑ extravasa e se sobrepõe à lei; ‑ baseia‑se na lei ou norma estabelecida;‑ cobra prematuramente; ‑ exige no tempo certo;‑ alimenta‑se dassituações de ‑ impede a subversão da ordem;

exceção; ‑ coloca obstáculos à atuação ‑ estimula o crescimento orgânico

geral; segundo as normas previstas;‑ necessita impor‑se com ‑ tanto mais eficiente quando

freqüência menos invocada.

Rebelar‑se contra a autoridade é desperdiçar oportuni‑dades sagradas de evolução por falta de HUMILDADE.

Preâmbulo

É do conhecimento de todos os irmãos da FTRC que o trabalho espiritual baseia‑se na qualidade da vibração emitida pelo pensamento dos componentes do grupo para a formação da corrente. Daí decorre o grande cuidado com que têm sido recomendadas as disciplinas mentais como fonte de renovação permanente de nossos propósitos de evangelização ou de aprimoramento do espírito imortal que em nós habita. Da renovação constante do padrão vibratório produzido por pensamentos e sentimentos depende o tipo de envolvimento 1 Fraternidade do Triângulo, da Rosa e da Cruz / Comunidade Lar Nicanor.

espiritual que desce sobre todos, criando condições para a perturbação ou para o esclarecimento geral.

Considerando que o pensamento é a energia básica destinada a controlar os estados emocionais para a busca do necessário equilíbrio, cumpre a cada membro do Círculo Interno depurar sistematicamente a fonte da energia mental, a fim de não permitir a poluição do seu campo energético, o que fatalmente acarretaria problemas de natureza negativa para toda a corrente. Isso constitui a primeira lição de solida‑riedade fraterna a que os membros do grupo são submetidos e que possui a natural decorrência prevista pela Lei – a de um autobenefício imediato quando nos disciplinamos para vibrar no Amor de nossos semelhantes, no interesse da coo‑peração fraterna.

Num trabalho que se encontra em renovação constante, procurando desse modo refletir na Terra a grande Lei do Amor que se constitui de um dinamismo perene, os irmãos componentes do grupo encontram‑se solicitados a um perma‑nente exercício de orai e vigiai”, alertando‑se constantemente contra as tendências ao estacionamento gerado pela inércia espiritual. Surgem então as insatisfações, os pensamentos negativistas e, finalmente, os comentários onde a palavra invígilante amplia os efeitos do pensamento anticristão, atin‑gindo as mentes que se sintonizem na mesma faixa obscura.

É então que surgem as interrogações cheias de perplexi‑dade que, como onda destruidora, desgastam a confiança e o equilíbrio que haviam sido alcançados pela atividade dedica‑da e sincera de anos de esforços dos trabalhadores dedicados da Terra e do Espaço. E os primeiros a serem atingidos são sempre os mais invigilantes, que cederam mais depressa às pressões de sua própria mente acoplada às mentes conturba‑das que assediam os trabalhos do Amor na Terra.

Nas grandes renovações a que todos somos chamados nesses “tempos que são chegados” precisamos agir como o Cristo nos ensinou. Para exemplo dos Apóstolos temerosos e aflitos na barca que ameaçava naufragar diante da tempes‑tade, o Mestre ordenou que a borrasca silenciasse e assim foi feito. Transpondo o exemplo para o mundo interior de cada aprendiz, desejou Ele alertar‑nos para a necessidade de mobilizarmos TODAS as nossas energias pois mesmo as mais ameaçadoras forças instintivas de nossa mente inferior recolhem‑se passivas se mobilizarmos a energia latente em nossa Centelha de Vida.

Não há pois como desculpar‑nos de resvalar para o Cenário do pânico, da má‑vontade ou do menor esforço, espe‑cialmente quando, como acontece com os irmãos da FTRC, já houvermos recebido tanto, com tanto Amor, dos Planos Superiores da Vida.

O trabalho intensificado não representa uma tempestade fatídica ameaçando‑nos de submersão. Ao contrário, cons‑titui o meio de renovação profunda que em nossas preces solicitamos ao Senhor da Vinha.

Autodisciplina e autoridade

6 10ªaula:Ogovernodosjuízes/GovernodosreisatéSalomão

Análise

Para que a criança desenvolva potencialidades latentes, recebe os meios representados pelos jogos infantis associados às lições recomendadas pela cultura em que irá atuar. Do mesmo modo, ao espírito encarnado, são oferecidos estímulos e correções para subir cada degrau de sua ascensão espiritu‑al. Porém, na vida como no trabalho espiritual, o aprendiz costuma valorizar as recompensas imediatas e rejeitar as disciplinas e austeridades necessárias ao próprio crescimento.

Tal reação, entretanto, não pode mais ser aceita por espíritos que se comprometeram a ingressar nas fileiras dos “trabalhadores de última hora”. A meta prevista quando se propuseram, no Espaço e na Terra, a aceitar o Mestre por ins‑piração, foi a mesma que se propuseram todos os candidatos à iluminação espiritual em todos os tempos – o compromisso de respeitar disciplinas árduas auto‑impostas, visando a auto‑realização espiritual.

Na FTRC, ao desembocardes hoje na tarefa abençoada de viverdes como uma comunidade cristã, oferece‑se a vós a oportunidade de um mundo novo a ser criado, como testemu‑nho de vossos propósitos renovadores, que apagarão milênios de sombras espirituais em vossa aura, individual e coleti‑vamente. Porém, tal efeito só poderá ser obtido mediante a firme disposição de MUDAR não só conceitos espirituais por demonstrardes conhecimento das lições do Evangelho sob todos os ângulos em que os tendes estudado. Esta é a hora de VIVER tais ensinamentos no silêncio do coração, fazendo‑os transbordar em trabalho de Amor ao ideal de SERVIR.

Parece‑nos, no entanto, que o objetivo está claro pois todos recebem com bons olhos a meta de aprender a servir. O que lhes parece complicar a situação é a escolha dos métodos, que desafia o discernimento geral. E, por mais que se pesqui‑se e discuta, desemboca‑se sempre na mesma conclusão – a tarefa exige esforço. E cada qual se pergunta se estará dispos‑to a esforçar‑se suficientemente, numa arrancada gigantesca de energias que julga não possuir.

E nós responderemos: como poderíeis possuir aquilo para cuja conquista vos dispusestes a descer à Terra?

Em seguida surgem as dúvidas sobre se seriam esses métodos os mais adequados ou outros quaisquer dos quais o aprendiz não consegue obter uma perfeita idéia.

A que atribuir tantas vacilações num grupo onde tanto ensinamentos respondem antecipadamente às questões pre‑vistas?

Certamente porque só a vivência realizada com empenho nos permite usufruir os benefícios dos métodos adotados. E quando nos referimos à “vivência”, não citamos as tentativas esporádicas ou intermitentes de quem recua perante os rigo‑res do aprendizado. O fruto maduro da renovação interna surge na “estação” própria, após longas e deliberadas provas de persistência, que terminam por fazer ruir a barreira da inércia espiritual dos estágios menores da evolução. Para que não surja o desencorajamento existe o “manto do Amor” que vela pelo aprendiz e o ampara na proporção exata de seus esforços constantes.

Entretanto, há um obstáculo que é o maior no caminho do prendiz – a impaciência gerada pela inconformação com o ritmo

natural do crescimento do espírito. Como decorrência e revolta, a crítica destrutiva, que condena os métodos cansativos, únicos capazes de darem tempo à renovação desejada. E, sem mesmo se submeter ao teste da vivência, o neófito repele a oportunidade de tornar‑se o que um dia havia sonhado. A realidade de suas dificuldades internas é áspera e ele prefere ignorá‑las.

Todo esse panorama de lutas interiores representa o natural processo de despertamento a que todos somos sub‑metidos. E, por serem tão previsíveis, tais reações não dispen‑sam o cuidado constante de removê‑las.

Compreende‑se que a crítica às disciplinas espirituais surge como decorrência natural do desconhecimento dos bons resultarios que seriam obtidos caso o aprendiz se hou‑vesse dedicado a praticar as sadias recomendações capazes de lhe proporcionarem a necessária renovação interior.

Tendo em vista tais circunstâncias, consideramos opor‑tuno relembrar os ensinamentos que nos alertam contra os efeitos destruidores dos comentários negativistas em relação aos trabalhos (ler A Arte do Silêncio), se desejamos resguardá‑los por considerá‑los benéficos e se sabemos que de nós depende atrair renovadas energias positivas ou forças deletérias que facilmente se congregam no astral inferior à invigilância dos elos imprevidentes da corrente. Cumpre aos irmãos mais esclarecidos alertarem cristãmente os mais inexperientes, para que toda a corrente conjugue esforços no sentido de preservar o patrimônio espiritual herdado. Os esforços de todos produzirão uma reação em cadeia capaz de neutralizar as penetrações existentes como resultado da invigilância anterior.

Da utilização adequada dos ensinamentos que preservam e valorizam os bens espirituais alcançados, depende a quali‑dade das realizações futuras. Para isso é preciso que o irmão que se sente assediado recorra à ajuda dos que se encontram autorizados no momento a esclarecê‑lo, preservando‑se dos maus efeitos de entregar‑se a comentários improdutivos com os companheiros que poderão perturbar‑se também, esten‑dendo‑se a perder de vista a cadeia de desarmonias endereça‑das ao trabalho do Senhor, na casa que Lhe pertence.

Longas preleções e estudos demorados não valem a decisão sadia de perseverar no aprendizado de auto‑renovação constan‑te. Orar e Vigiar precisa ser o lema de nossa corrente para que não se percam pelo caminho os frutos de longas vigílias espiritu‑ais daqueles que velam por nossas conquistas no Espaço.

Conclusão

De longa data vindes aprendendo que cada irmão da FTRC representa um elo de uma corrente destinada a vibrar PAZ e AMOR a todos os seres criados. Seria essa tarefa compatível com os pensamentos de descontentamento e rejeição das disciplinas renovadoras, capazes de garantir o efeito de harmonização espiritual tão ansiosamente desejado?

Enquanto o espírito alimentar os pensamentos de desânimo, má‑vontade, incapacidade e inconformação permanecerá impermeável à ajuda espiritual que invoca de lábios, mas que não sabe buscar pelo coração tornado dócil aos esforços indispensáveis ao seu crescimento interior. E preciso lembrar que é esse crescimento que permite a

EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 7

sintonia, sem a qual tudo o mais fica invalidado em termo de progresso do espírito. Mesmo que a compaixão do Mais Alto o atinja, seus efeitos serão momentâneos se o esforço interior for insuficiente para resguardar os bens recebidos.

Considerai que o fato de estardes participando do acervo de Amor acumulado pela FTRC já representa COMPAIXÃO do Senhor. Fazei‑vos dignos dela para que Ele vos possa dizer como há dois milênios: “Vai, a tua fé te curou”.

Torna‑se necessário valorizar suficientemente os bens acumulados pela FTRC nos trinta anos de sua existência na Terra. Os processos de amadurecimento vivenciados pela instituição na Terra conferem‑lhe autoridade suficiente para servir ao crescimento espiritual de todo aquele que realmente deseje renovar‑se com o Senhor.

Assim, torna‑se oportunono analisar um tema bastante atual e que surge como fonte de grandes e prejudiciais equívocos.

Os seres humanos, às vésperas da maioridade espiritual do planeta, sentem a necessidade de revisar conceitos estabelecidos, o que representa um fator de progresso, caso essa revisão seja realizada com o critério do discernimento claro e sem distorções.

É preciso preservar os bens conquistados, não permitindo que eles sejam incinerados pelos afoitos reformadores que lançam à mesma fogueira os males de permeio com os benefícios, por não serem suficientemente esclarecidos para separar o joio do trigo.

Em Dharma, como em qualquer corrente espiritual ou mesmo nos meios culturais respeitáveis, uma natural atitude de apreço é endereçada à autoridade que emana do ser que vivenciou os ensinamentos, amadurecendo‑os a benefício geral. Diz‑se então que tal pessoa ou instituição possui autoridade na área a que se dedica. Foi desse modo que os servos fiéis do Senhor em todos os tempos atuaram como divisores de águas ou como fiéis da balança junto a seus irmãos menos esclarecidos e mesmo quando sacrificados e aparentemente rejeitados sua função de marcos espirituais para a orientação geral da Humanidade cumpriu‑se plenamente perante a Vida Superior. Lamentavelmente, o hábito da contestação imatura da grande massa humana pouco esclarecida não consegue fazer distinção entre o autoritarismo e a autoridade legítima, capaz de servir como ponto de referência credenciado para a evolução do espírito.

Para nós, entretanto, torna‑se indispensável definir tais pontos de referência, pois ao ingressarmos em nova etapa de testemunhos redentores, precisamos possuir parâmetros claros pelos quais possamos medir o grau de coerência de nossos atos com os ideais abraçados.

A grande comunidade universal possui uma LEI, segundo a qual todo o conjunto vibra e se desenvolve – é a LEI DO AMOR.

Considerando que ela não pode ser captada em toda a sua grandiosidade, a não ser ao longo do processo evolutivo, por etapas sucessivas, forma‑se a grande cadeia do Amor, segundo a qual os mais experientes amparam o aprendiz na medida em que esse se torna suficientemente esclarecido para perceber suas necessidades e crer em suas potencialidades, dando origem ao real sentimento da HUMILDADE através do qual todo aprendizado se inicia. Desse modo, a fraqueza do ser menos

evoluído bem‑intencionado e receptivo torna‑se um estímulo ao crescimento próprio e à atuação amorável dos que estão a sua vanguarda. E, na cadeia de Amor que se forma entre esses e o aprendiz, a legítima autoridade da LEI manifesta‑se clara e generosa, “cobrindo a multidão dos pecados”, sem nunca, porém, contribuir com a mínima parcela de estímulo à rebeldia perante os legítimos objetivos do processo geral.

A autoridade legítima está baseada na LEI e toda agremiação, para servir ao bem geral, precisa possuir uma lei, por mais rudimentar que possa ser, a fim de que a autoridade impessoal da norma adotada se constitua na forma de vigilância e na diretriz a ser seguida por todos. Essa é a origem da grande atração que a democracia exerce sobre os espíritos esclarecidos, que sentem nela um substitutivo da LEI que rege a Vida, embora as leis concebidas pela mente humana não sejam ainda capazes de refletir a amplitude da Grande Lei.

Considerando a belíssima oportunidade que se abre diante de nossos espíritos com a criação de uma comunidade cristã, torna‑se indispensável que mediteis sobre o valor e a importância da aquisição da verdadeira autoridade, decorrente da vivência profunda dos ensinamentos do Senhor, que se tornaram para nós a legítima exemplificação da LEI. E, respeitando e amando os que caminham à nossa vanguarda, honremos neles a Verdadeira Vida que já conseguem de algum modo refletir. Sem essa atitude de sabedoria, o aprendiz dificilmente conseguirá ultrapassar os primeiros estágios de sua própria invigilância.

Meditai especialmente na circunstância de que para o crescimento orgânico da comunidade torna‑se indispensável que possais refletir na Terra o mecanismo universal do Amor, segundo o qual o TODO depende das partes e essas se apóiam no TODO. E se um só pensamento alimentardes de desarmonia em relação ao TODO ou a uma das partes estareis destilando venenos mentais sobre o próprio organismo ao qual pertenceis, como a criança imatura que desperdiça e polui o alimento que lhe é oferecido.

Finalmente, ao meditarmos sobre os benefícios da autoridade enraizada no progresso do espírito realizado segundo a LEI, cumpre recordar que a criança insensata que rejeita a educação proporcionada por seus pais, não consegue em nada diminuir o valor dos esforços de seus progenitores. Ao contrário, pela persistência no cumprimento estrito de seus deveres, esses se aprimoram e evoluem.

Assim, que cada qual se exercite ao máximo nos bens do serviço por Amor, deixando ao tempo a tarefa das reformulações de profundidade que se produzem no silêncio da alma fiel ao ideal exemplificado pelo Mestre Jesus. E que, na autoridade de Seu Amor esclarecido e justo, possamos todos sempre inspirar‑nos. Reunidos em Espírito e Verdade em torno de Sua figura bem‑amada, estejamos certos de que nada nos poderá faltar se fiéis permanecermos na prática constante do orai e vigiai. Caminhai enquanto há luz no caminho.

Paz a DharmaVosso servo e amigo,

RAMA ‑SCHAIN

Evangelho, Psicologia, IogaAmérica Paoliello Marques

10. Um sentimento de piedade deve guiar sempre o cora‑ção dos que se reúnem sob o olhar do Senhor, e imploram a assistência dos bons espíritos. Purificai, pois, os vossos cora‑ções, e não deixeis que neles persista qualquer intenção mun‑dana ou fútil. Elevai o vosso pensamento até aqueles a quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias condições, possam lançar em profusão as sementes que devem germinar em vossos corações, e neles produzir frutos da cari‑dade e da justiça.

Não acrediteis, porém, que incitando‑vos sem cessar à prece e à evocação mental, queremos vos obrigar a levar uma vida mística, que vos mantenha fora das regras da sociedade em que sois obrigados a viver. Não! Vivei como os homens de vossa época! Vivei como devem viver os homens! Mas renun‑ciai às exigências e futilidades do dia‑a‑dia. E fazei isso com um sentimento puro, que possa santificá‑las.

Se fostes designados a estar em contato com outros seres

de natureza diferente da vossa, e de ca‑ráter oposto, não magoeis nenhum deles. Sede alegres, felizes, com a alegria que a consciência tranquila proporciona, com a felicidade do herdeiro do Céu que conta os dias que o aproximam de sua herança.

A virtude não consiste em adotar um aspecto severo e sombrio, em rejei‑tar os prazeres que a condição humana vos permite. Basta que harmonizeis to‑dos os atos de vossa vida pelas leis do Criador, que vos deu a vida. Basta elevar o pensamento a esse mesmo Criador e pedir‑Lhe, fervorosamente, Sua proteção quando tiverdes uma obra a executar, ou Sua bênção para uma obra concluí‑da. Não importa o que façais; ligai vosso pensamento à Fonte Suprema de todas as coisas. Jamais façais nada sem que a lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos.

Como disse Jesus, toda a perfeição está contida na prática da caridade ab‑soluta. Mas os deveres da caridade se

estendem a todas as posições sociais, desde os mais simples aos mais abastados. O homem não teria como praticar a ca‑ridade se vivesse só. É somente no contato com seus seme‑lhantes, nas lutas mais difíceis, que ele tem oportunidade de praticá‑la. Portanto, quem se isola priva‑se voluntariamente do meio mais poderoso de aperfeiçoamento, pois, tendo de pensar apenas em si, sua vida passa a ser a de um egoísta. (Veja capítulo 5, número 26, desta obra).

Não imagineis, então, que para viver constantemente em comunicação conosco, para viver sob o olhar do Senhor, é pre‑ciso martirizar‑se e cobrir‑se de cinzas. Não! Mais uma vez, não! Sede felizes, conforme as necessidades humanas. Mas, que em vossa felicidade jamais esteja presente um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus ou entristecer os que vos amam e vos guiam. Deus é amor, e abençoa a quem ama com pureza. (Um Espírito protEtor, Bordéus, 1863).

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona‑se esta divina obra;faz‑se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega‑se este admirável código moral ao esquecimento.

O Evangelho Segundo o EspiritismoCapítulo 17 ‑ “Sêde perfeitos”