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Jornal Laboratório da Faculdade Cearense | Curso de Jornalismo | Quinto Semestre 2012.1 | Turno Noite A arte e o social se misturam Crianças e adolescentes da cidade encontram perspectiva em projetos sociais. Mais ainda, na arte. PÁG. 03 Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça A arte usada para prostestar e demonstrar indignação. Conheça os Aparecidos Políticos, que querem dar nome aos que merecem. PÁG. 06 e 07 À moda antiga ou com tecnologia de ponta, o importate é ler. PÁG. 09 Porque todo mundo tem algo a dizer sobre arte a arte tem um significado diferente para cada um de nós. P. 02 A arte nas salas de aula Do ensino de educação artística aos cursos nas universidades, a arte é institucionalizada e ensinada. PÁG. 04 EDUCAçãO OPINãO A arte transformista Travestis: fazem arte ou não? P.ÁG 12 DIVERSIDADE nas Artes Foto: Andrea Araujo Muro da Reitoria da Universidade Federal do Ceará Travestis que trabalham na noite de Fortaleza Sustentável e ecologicamente correto, a arte feita com materiais reciclados é fonte de renda. PÁG. 05 Reciclar é fazer arte Cordéis ou E-Books MEIO AMBIENTE LITERATURA Foto: Nilo Saraiva 13° edição do Dragão Fashion Brasil Foto: Internet Foto: Internet

Focas nas Artes 2012.2

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Jornal Laboratório da Faculdade Cearense | Curso de Jornalismo | Quinto Semestre 2012.1 | Turno Noite

A arte e o social se misturamCrianças e adolescentes da cidade encontram perspectiva em projetos sociais. Mais ainda, na arte. PÁG. 03

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteçaA arte usada para prostestar e demonstrar indignação. Conheça os Aparecidos Políticos, que querem dar nome aos que merecem. PÁG. 06 e 07

À moda antiga ou com tecnologia de ponta, o importate é ler. PÁG. 09

Porque todo mundo tem algo a dizer sobre artea arte tem um significado diferente para cada um de nós. P. 02

A arte nas salas de aula

Do ensino de educação artística aos cursos nas universidades, a arte é institucionalizada e ensinada.PÁG. 04

Educação

opinão

A arte transformistaTravestis: fazem arte ou não? P.ÁG 12

divErsidadE

nas artes

Foto: Andrea Araujo

Muro da Reitoria da Universidade Federal do Ceará

Travestis que trabalham na noite de Fortaleza

Sustentável e ecologicamente correto, a arte feita com materiais reciclados é fonte de renda. PÁG. 05

Reciclar é fazer arte

Cordéis ou E-Books

MEio aMbiEntE

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Foto: Nilo Saraiva

13° edição do Dragão Fashion Brasil

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Focas nas ArtesJornal Laboratório02

Definições, parâmetros e regras não dão conta de explicar a arte. Ela é dinâmica, é social, é econômica e é

histórica. É isso que o Focas traz nesta edi-ção: a arte sob vários enfoques na cidade de Fortaleza.

A arte que procura os desaparecidos políticos da ditadura. A arte dos travestis quebrando os padrões. A arte institucio-nalizada das universidades. A arte dos projetos sociais que colocam pra dançar as crianças da periferia. Qualquer arte e em qualquer parte.

Quando uma comunidade utiliza o lixo, dentre outros utensílios, para produzir arte e esta vira renda, essa ação ultrapassa categorias e vira item econômico, item social, além de item artístico.

Focas nas Artes traz ainda a reflexão so-bre esta arte que está espalhada em todo lugar, por quem ela é feita; além da trans-formação que ela pode trazer para a vida das pessoas. E é papel nosso, todos os dias, questionar esta arte, para quem ela serve e de onde ela vem.

Começa daí a tal definição de arte que os teóricos ou críticos tanto desejam. A arte só faz sentido se entendida dentro do processo histórico e social no qual ela foi gerada. É arte contextualizada.

Boa leitura.

*Este jornal foi produzido durante o semestre 2012.1, sendo sua impressão viabilizada

somente em novembro de 2012.

Um jornal laboratório é antes e mais nada espaço de experimentação. Momento em que a linha tênue

que separa o acerto do erro desaparece. O certo é fazer o bom jornalismo. O errado é não dar vazão à pluralidade de opiniões, ao confronto de ideias, à apuração preci-sa, à edição sedutora e jornalísticamente ética. Os bancos da sala de aula nos dão o norte. As leituras, os debates, a formação ofertada pela instituição e seus professo-res servem-nos de bússula a nos sinalizar o caminho. O Focas é um desses espaços oportunizado aos alunos da Faculdade Cearense. No entanto, é preciso mais.

A edição que escolheu como tema a ARTE é um exemplo claro de que os muros da universidade não dão conta da pluralidade da rua, da vida e também

do que se chama arte. Alguns textos são tão iguais ao que foi enviado pelas fontes oficiais que chegam a divulgar o telefone da assessoria de imprensa, como no caso do texto sobre o Cuca. O texto jornalístico pulsante também deve ser mais do que o que já está disponivel aos olhos dos mais atentos. É preciso personalizar nossos textos.

Quando ocupamos o jornal com aspec-tos históricos que estão em fontes secun-dárias, como internet ou os livros, perde-mos a oportunidade de pulsar o cotidiano. Jornalismo é cotidiano. Este aspecto não é tão simples, atualmente. Em tempos de jornalismo sentado, um telefone e o aces-so à rede parecem resolver tudo, mas não resolvem. Além disso, é preciso apreço pela edição. Cuidar das imagens e do títu-

los, legendas e quadros/boxes é tão impor-tante quanto apurar.

Esta edição do Focas traz a rebeldia que a experimentação permite. Em suas falhas, mas também em seus méritos. Porque desconstrói o conceito clássico de arte. Traz o marginal para o protagonis-mo. Dá voz às minorias e comemora o belo na sua versão radical. Quando leio sobre a arte e sua relação com a ditadura, com a rebeldia, com a transgressão penso: ah! esses são os meus meninos, são os meus focas queridos e interessados. Vida longa a este projeto que tive a alegria de dar iní-cio e que festejo cada nova fase.

Joana D’arc DutraJornalista, professora e mãe da Ana Sofia

EDITORIAL

Arte em todo lugar

OMBUDSMAN

EXPEDIENTEFocas nas Artes é uma publicação da disci-plina Laboratório de Jornalismo Impresso, da Faculdade Cearense. Os textos assina-dos refletem o trabalho jornalísticos dos estudantes da disciplina.

conselho editorialAndréa Araújo // Fábio Nobre // Fidel Relson // Girlane Arruda // Joyce Marçal // Rhodinelles Braga

projeto gráficoAndré Luís Cavalcanti

diagramaçãoThiago Bezerra

ombudsmanProfa. Joana D’arc Dutra

orientação e revisão da ediçãoProfa. Klycia Fontenele

coordenador do curso de JornalismoProf. Edmundo Benigno

Gestor acadêmicoProf. Marco Antonio

diretor GeralProf. José Luiz Torres Mota

tiragem: 500 exemplares

Faculdade cearense - campus i: Av. João Pessoa, 3884 Damas. Fortaleza - Ceará. Fone: (85) 3201.7000.www.faculdadescearenses.edu.br

Vernissages, esculturas da Roma antiga, Matisse, Mondrian, Monet. A arte dos museus é a arte que se vê atrás da vitrine. A arte que está nos catálogos e nos livros de história da arte. Famosos escultores, artistas renomados e muito dinheiro envolvido.

Quando se pensa em arte, se pensa nessa arte maior. Maior porque a colocaram num pedestal, explico. Maior em espaço no mundo. Mas onde está localizada a arte dos grafiteiros e dos músicos dos metrôs? Onde encaixar, em qual catálogo estará a música dos guetos, que ecoam a realidade social da maioria dos que vivem nesse mundo moldado pela arte ‘oficial’? Deixa de ser arte porque não está exposto ao lado da Monalisa de Da Vinci?

A arte é arte em todo lugar. Arte no sentido amplo. Arte que é feita nas ruas ou nos ateliês. É inspiração vinda de todo lugar e feita por qualquer pessoa. O que muda é o discurso dessa arte. Arte que está sempre vestida de classe social.

ondE Mora a artE?

Andrea Araujo

a artE QuE vEncEu o MEdoInês Alves da Silva

Aos vinte e três anos Maria Sofia da Silva teve coragem para enfrentar os medos e porque não dizer os fantasmas que povoam a mente humana. Ela buscava no palco um espaço para atuar como atriz e descobriu que até para ser artista era necessário passar por aprovações, não só físicas, mas também psicológicas vindas de si mesma.

Quando houve uma seleção para um grupo de teatro no colégio Fênix Caixeral, um grande número de cearenses se inscreveu e a jovem convicta dos seus objetivos não ia deixar essa chance passar, pois quem fosse aprovado naqueles testes teria a chance de fazer um curso de teatro gratuitamente.

No final do processo seletivo, veio a surpresa. Sofia, com apenas 23 anos, tinha sido aprovada para atuar nos palcos do Theatro José de Alencar. A notícia veio acompanhada de uma grande emoção, pois ela alcançou o seu ideal. Hoje, Sofia não vive do teatro, mas ama a arte de representar.

O QUE SE DIZ POR AÍ

Arte é viajar pelo mundo das cores, da comunicação através de sinais, de símbolos ocultos. De alguns que gritam com toda a força e vontade de expor sua opinião, seus pensamentos, sua visão de mundo. Outros representam os seus receios, sua vontade de libertar sentimentos, de viver, de descobrir novos horizontes, vivenciar novos mundos, ideias, realizar sonhos e planos. Um misto de sentimentos desordenados, que percorre passado, presente e sem dúvida fará parte de um futuro não muito distante.

Linguagem que nos leva à reflexão, que nos faz pensar sobre nossos atos; os caminhos que surgem diante de nossos pés, o destino traçado para alguns, o acaso buscado por outros. Vidas saltando de tintas, sons, imagens, desenhos. Vidas sendo construídas e um passado muito presente sendo representado por esses elementos que ajudam a construir um futuro quem sabe melhor.

É difícil definir o sentindo de Arte, mas como ela é tão complexa e abrangente, podemos considerar como algo que junta emoção e perplexidade, a paz e o belo, a harmonia e a desordem. Uma forma de representar o tempo, de contar histórias e encantar a vida.

Arte é ser, sentir, pensar e agir. Arte é viver o ontem como se ele fosse o hoje. O amanhã como se ele não tivesse fim.

a LibErdadE ocuLta

Thaíla Cavalcante

Quer falar conosco?! [email protected]

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Focas nas ArtesJornal Laboratório 03

BCAD - Bailarinos de Cristo Amor e Doações

EDISCA

VIDANÇAA arte que transforma vidas

Cuca Barra do Ceará é referência na vida de jovens e adolescentes

Edisca (Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes) é uma organização não-governamental

sem fins lucrativos. Desde 1991, promove o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens que se encontram em circunstân-cia de vulnerabilidade social.

Através da educação centralizada na arte, a ONG já atendeu 400 crianças e adolescen-tes diretamente, além de outras 2,4 mil pes-soas da comunidade, indiretamente.

Oferece cursos que vão desde o ensino de dança, teatro, artes plásticas até informática e programas de estágios. “Eu era muito tímida, mas com as aulas de dança consegui me soltar.”, conta Alessandra Alves (12).

Informações:Edisca: Rua Des. Feliciano Ataíde, 2309. Luciano

Cavalcante. Fortaleza/CE. Tel. 3278-1611

O projeto Vidança (Associação Vidança Cia. de Dança do Ceará) é um ponto de cultura localizado no bairro Vila

Velha em Fortaleza. Trabalha com crianças e jovens desde 1981, realizando trabalhos com dança. Sob a direção da coreografa Anália Timbó, também oferece diversos cursos como percussão, corte e costura, bordado, carpintaria, artes manuais, hip hop e capoeira.

O projeto vem mudando os pensamentos de crianças e jovens do bairro e adjacências. John Vitor (13) é um dos exemplos. Apren-deu a bordar nas aulas do projeto, que para a maioria dos meninos de sua idade “é coisa para meninas”.

Além das aulas de dança, a ONG trabalha com a leitura, música e o desenvolvimento da cidadania para as crianças. Mantém, ain-da, uma biblioteca comunitária.

Informações:Vidança: Av. Francisco Sá, 7880. Barra do

Ceará. Fortaleza/CE. Tel. 3485-3435

Fundado em 1994 pela professora de balé e coreógrafa Janne Ruth, o BCAD é des-tinado à prestação de serviços gratuitos

para comunidade nas imediações da entidade. A forma de realizar os espetáculos é através dos festivais, mostras de dança e teatro, que trans-formam a vida dos participantes.

O objetivo do projeto é proporcionar educa-ção, arte e cultura a comunidades carentes de Fortaleza, através da dança, teatro, manifesta-ções culturais, bem como, através das diversas modalidades de esportes.

Durante os 11 anos de existência do projeto, 150 premiações foram conquistadas no Brasil e no exterior. Dentre elas, o Prêmio de Melhor Expressão Corporal no V Festival Internacional de Danza de Mar del Plata (Uruguai).

Tainá França integra o corpo docente do projeto. Ela começou a fazer balé no BCAD em 2004 e, com esforço e dedicação, passou a en-sinar baby class em 2011. Na Instituição, cerca de 400 crianças já frequentaram o espaço, diz Tânia Fonseca, secretária da Cia. de dança.

Informações:BCAD: Rua Paraná, 3. Bela Vista. Fortaleza/CE

Tel. 3482-0510

CoM EDUCAção, LAzER E TRABALho, oRgANIzAçõES SoCIAIS MUDAM A vIDA DE JovENS E CRIANçAS PoBRES DE FoRTALEzA

Crianças e adolescentes em apresentação do grupo BCAD

Centro Urbano de Cultura e Arte (Cuca) da Barra do Ceará

Foto: Arquivo BCAD

Foto: Internet

proJEtos sociais

claudyane oliveiradiego amorim

roberta santos

Os projetos sociais têm por finalidade formar cidadãos para uma sociedade melhor; capacitando e envolvendo

o jovem ou adolescente em atividades que o façam refletir e pensar. O Cuca da Barra do Ceará é um exemplo disso. O primeiro Centro Urbano de Cultura e Arte municipal foi inaugurado pela Prefeitura de Fortaleza em 10 de setembro de 2009.

Desde a sua inauguração, tem oferecido cursos gratuitos para todos os jovens da comunidade nas áreas de: teatro, cinema, fotografia, dança e música. Conta, ainda, com

um ginásio, teatro, anfiteatro, pistas de esportes radicais, piscina semiolímpica campo de futebol de areia, salas de aula e laboratórios de fotografia, vídeo e rádio.

Tornou-se um espaço recreativo onde os jovens se encontram para estudar, praticar esportes e passar o tempo. Projetos como esse têm contribuído para o desenvolvimento de jovens que poderiam estar marginalizados. No Cuca, eles ocupam o tempo aprendendo a fazer arte e praticando esportes.

O Cuca foi criado para beneficiar jovens de todas as classes sociais. Atualmente, possui 14 mil jovens matriculados. O Centro funciona de segunda à sexta, de 8h às 18h; e aos sábados de 8h às 12h. Para participar basta, ter ente 15 e 19 anos. Mais informações: 3237 4688.

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Focas nas ArtesJornal Laboratório04

Educação

Em 1964, aos doze anos de idade, Holanda teve a oportunidade de conhecer a música através de um projeto artístico

do Colégio Piamarta, no qual os alunos tinham aulas de música e participavam da banda instrumental da escola. Garoto de família humilde, jamais pensou que um dia se tornaria um grande maestro.

Nos anos 60, o Piamarta trouxe para Fortale-za uma nova proposta de educação, educar por

intermédio da arte, além de atender a crianças carentes. "Para participarmos da banda tínha-mos que ser bons alunos, pois ter disciplina era fundamental para aprendermos a tocar os ins-trumentos. Com a banda tivemos a oportunida-de de conhecer outros estados e países, viven-ciamos um intercâmbio cultural inesquecível.”, relembra Holanda.

Aluno aplicado, Holanda apaixona-se pela música e aos 15 anos é convidado pelo padre Luis Repuffini, um dos fundadores da escola, para auxiliar o maestro Antônio Estanilau de Oliveira que, na época, regia a banda. Em 1972, torna-se maestro da banda Dona Luíza Távora,

projeto ligado à escola Piamarta, com o qual se apresentou em todo o Brasil e no mundo.

Francisco José Costa Holanda é mestre em música pela Interinstitucional de Música Min-ter Educacional. Há 29 anos é professor do curso técnico de música do Instituto Federal de Edu-cação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). O músico foi maestro da banda do Colégio Pia-marta até 2010. “A música transformou a mi-nha vida e me deu a oportunidade de fazer o mesmo com os meus alunos. Alguns deles não tinham boas perspectivas de vida e através da banda, se tornaram grandes músicos e me dão muito orgulho.”, finaliza Holanda.

Maestro Costa holanda no seu momento de descanso

Foto

: Tob

ias Saldan

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regina Lúcia

• Antes das leis

Antes, os professores que lecionavam Educação Artística e Arte não possuíam formação acadêmica na área, as atividades focavam em trabalhos manuais e na prática de eventos em datas comemorativas.

• Lei nº 9.394 (de 20/12/1996)

O artigo 26ª determina que, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, é obrigatório o ensino de História e Cultura Afrobrasileira (Incluído pela Lei nº 10.639, de 09/01/2003).

Art. § 26. 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Entre os conteúdos para desenho destacam-se: linhas retas e suas combinações, princípios de desenho, circunferências, polígonos, rosáceas estreladas, curvas, desenho de figura, desenhos do natural e de paisagem.

• Lei nº 11.769 (de 18/08/2008)

O presidente Lula sancionou lei Nº 11.769 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. Para música, constam cânticos escolares, conhecimento e leitura de notas, compassos, claves, cânticos e coro.

LEIS A FAVOR DA ARTE

Karine alencar

Arte também se aprende na universidade

U niversidade Federal do Ceará (UFC) é uma das instituições que oferece o maior número de cursos no estado.

São ao todo nove cursos disponíveis para quem pretende ingressar na área da arte. A UFC disponibiliza os cursos de cinema, teatro, música e design de moda, porém, a demanda

maior na procura é pelo curso de artes cênicas.Em julho de 2003, surge o ICA – Instituto de

Cultura e Arte. Desde então, o órgão passa a reunir projetos e grupos de extensão na área artística. Para o diretor do ICA, Sandro Gouveia, “os cursos na área da arte nas universidades surgem para não apenas formar os artistas, mas para trazer uma nova visão do que é a arte, é o saber interpretar, criar, e ler seu próprio pensamento”.

Designado como unidade acadêmica, o ICA

desenvolve atividades de ensino (graduação e pós-graduação), pesquisa e extensão nos cursos de cultura e arte. Hoje esses cursos apresentam disciplinas específicas para cada área e os alunos recebem aulas teórico-científicas e cadeiras práticas para a formação e atuação no mercado de trabalho. A professora, Inês Cândido diz que “ser professora de arte e artista ao mesmo tempo é buscar os sentidos da alma. É fugir dos estilos tradicionais e fazer a leitura do mundo a partir da paixão”.

A faculdade pioneira de arte no Brasil foi a Academia Imperial de Belas-Artes, criada através de decreto-lei datado de 1816. Em março do mesmo ano, chegaram ao Rio de Janeiro vários artistas com o objetivo de fundar e colocar em prática a Escola Real de Ciência, Artes e Ofícios que, depois da Proclamação da República (1889), teve seu nome mudado definitivamente para Escola Nacional de Belas-Artes.

Um marco importante da arte no Brasil foi caracterizado, a partir do movimento

da Arte Moderna de 1922, cujo ápice foi a Semana de Arte Moderna, realizada nos dias 13 a 17 de fevereiro, em São Paulo, no Teatro Municipal. O evento reuniu acontecimentos e pensamentos importantes, que mais tarde contribuiriam para o ensino da arte como livre-expressão. O evento é considerado, por muitos historiadores, um dos movimentos definidores da cultura brasileira.

Na época, intelectuais do Brasil tiveram ideias revolucionárias após a experiência vi-venciada com as vanguardas artísticas euro-

peias, destacando o futurismo, o surrealismo e o expressionismo. Vale ressaltar, também, que o ensino da arte como livre expressão no Brasil teve forte influencia da psicanálise de Sigmund Freud.

Influenciados pelo boom destes evento históricos e impulsionados pelo imperativo da inovação e adaptação de novos cursos para ingressar no ensino superior, faculdades particulares e públicas aderem a novos bacharelados e novas modalidades de cursos voltados à arte.

DA TRAJETÓRIA hISTÓRICA Do ENSINo DA ARTE No BRASIL Ao CURSo SUPERIoR NAS UNIvERSIDADES CEARENSES

Um pouco da história

Um Maestro da VidaMEMÓria

Hsiu Lin Hwang

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Focas nas ArtesJornal Laboratório 05

Criar objetos com material reciclado é como ter duas aventuras ao mesmo tempo. Uma leva a cuidar do planeta,

diminuindo a poluição gerada por plásticos, vidros e outros materiais que podem ser reciclados. A segunda aventura é a capacidade de usar a criatividade e imaginação para dar uma nova função e forma a estes materiais. Este trabalho é reconhecido por muitos como uma forma de arte.

Em Fortaleza, a arte realizada com materiais recicláveis é uma atividade que vem crescendo. Ela traz o objetivo de garantir o sustento de fa-mílias e comunidades e também de preservar a natureza pensando em uma cidade melhor.

O homem moderno se relaciona com a na-tureza, apropriando-se, muitas vezes de forma predatória, transformando os recursos naturais. Isso é característico do modelo de desenvolvi-mento econômico do sistema capitalista. Foi por meio da reciclagem que o descarte de mate-riais passou a servir para ser reconsumido, não causando problemas para o meio ambiente.

A Sociedade Comunitária de Reciclagem de Lixo do Pirambu (Socrelp), que atua desde 1994, trabalha com a coleta seletiva. Eles contam com a ajuda de diversos parceiros como a Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Semace). Assim, papéis e papelões se transformam em blocos, cartões, álbuns de fotografia e pastas para even-tos. Garrafas pet em fios para fazer blusas e cal-ças jeans. Bacias e baldes, garrafas de detergente e desinfetante voltam ao mesmo formato como

novas embalagens. As atividades garantem ren-da a mais de 60 famílias (cerca de 300 pessoas) da comunidade.

A produção na associação ainda é pequena. Mesmo pequena, há uma produção interna para venda local e sob encomenda, inclusive, produtos já foram exportados para a Europa. “Já chegamos a enviar blocos para a Itália e fornecemos embalagens e papéis para duas lojas de shoppings da cidade.”, revela Francinete Cabral Lima, tesoureira e fundadora da Socrelp Negócios

Pequenos empresários vêm investindo no estado em produtos ecológicos, gerados pelo artesanato de reciclagem. O investimento em sustentabilidade gera bons resultados para empresas de pequeno porte. Os produtos com materiais reciclados têm uma clientela cada vez maior.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas (Sebrae) vem ajudando esses empreendedores a transformarem boas ideias em negócios lucrativos. Além da inovação de produto, não é só o interesse no lucro que a maioria destas empresas está interessada. Elas apostam em despertar a consciência ecológica nos clientes.

Com o investimento de microempresários na área de artesanato com material reciclável, Fortaleza se consolida como uma cidade que se destaca nessa atividade. Para atender à deman-da de consumidores que é cada vez maior, exis-tem lojas de artesanato por toda a cidade. Os dois melhores locais para se pesquisar preços e fazer compras dos trabalhos artísticos realiza-dos na cidade são a Feirinha da Beira-Mar e o Mercado Central de Artesanato.

Arte com materiais recicláveis gera lucro e renda no CearáFAMÍLIAS E CoMUNIDADES vEEM, No ARTESANATo CoM MATERIAL RECICLÁvEL, A oPoRTUNIDADE PARA gARANTIR o SUSTENTo E PRESERvAR o AMBIENTE

MEio aMbiEntE

EntrEvista

Moda que se mistura à arte

Foto

: Samia Saraiva

Foto

: Nilo

Sar

aiva

Francinete Cabral, fundadora da Socrelp, exibe com orgulho alguns dos trabalhos realizados na associação

A moda cria peças e tendências, mas o que se pode observar hoje no mundo da moda é sua união com a

sustentabilidade. Em sua 13ª Edição, o Dragão Fashion Brasil veio em mais um ano com esse objetivo. Um evento de moda que tem como característica o Ceará como arte e expressão, é um verdadeiro exército de materiais ecológicos que fazem brotar ideias maravilhosas em cabeças pensantes, visando à diminuição do impacto ambiental.

É possível ver um mundo de criatividade dentro de um só lugar. Obras de arte com mate-riais recicláveis nos fazem ter uma reflexão so-bre o que tudo aquilo quer nos mostrar. Como artistas conseguem fazer de um simples pote de isopor de sorvete, uma obra que faz com que todos fiquem admirados.

O tema do DFB esse ano foi “Consciência Criativa”, o que estilistas e artistas conseguiam fazer com um tema que envolve a criativida-de com a simplicidade dos materiais. Tendo a moda como exemplo, podemos utilizar dessa ideia “Ecofashion” e transformar peças e obje-tos que não são mais utilizados, em algo novo.

Moda sustentávelEliza Fontes

Fábrica que é do bemA Fábrica do Bem é um projeto socioambiental do Shopping Benfica que, desde 2005, ensina

através de cursos gratuitos, a reciclagem como arte. Os voluntários aprendem a fazer materiais artesanais com garrafas Pet e ajudam na preservação do meio ambiente, descobrindo uma nova forma de renda e os benefícios para o ecossistema.

Focas: como surgiu a intenção do projeto?Fábrica do bem: Inicialmente o projeto tinha uma intenção cultural, mas adquiriu uma for-ma social pela integração entre os participantes, estimulando a solidariedade, através dos vo-luntários, do sentimento de fraternidade, autoestima e da possibilidade de renda extra.

Focas: Quais os objetivos principais da Fábrica do bem?Fábrica do bem: Os principais são a conscientização da população, promovendo a reciclagem, contribuir para a redução do lixo nas ruas, valorizar a criatividade, através da arte de reciclar e aumentar a renda familiar. Os produtos transformados em artesanatos não são expostos à venda e sim doados para instituições carentes.

Focas: Qual o público que procura pelo curso gratuito? como os interessados podem participar?Fábrica do bem: A grande parte da procura é feita por mulheres que desejam aumentar a ren-da familiar. Em segundo lugar, percebemos o interesse na arte como terapia. O curso é total-mente gratuito e os interessados podem nos procurar de segunda à sexta, das 14hs às 22hs, no 1º piso do Shopping Benfica (Av. Carapinima, nº 2200, Benfica, em Fortaleza.Tel: 85 3243.1000).

Focas: Qual o tipo de material utilizado? vocês recebem doações?Fábrica do bem: Nosso principal material são as garrafas Pet, sacos plásticos, tampas de garra-fas e outros produtos que possam ser reciclados e transformados em artesanato. As doações são muito importantes já que contribuem para nosso trabalho que é gratuito.

rhodinelles bragasamia saraiva

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Focas nas ArtesJornal Laboratório06

Nascido em 18 de junho de 1943, o pintor, escultor, escritor e músico cearense Descartes Gadelha nos

mostra que a arte transforma. Ao produzir várias obras retratando problemas sociais de Fortaleza, afirma que a sua produção não sur-ge do nada, como se fosse mera inspiração.

Na exposição Catadores do Jangurussu, de 1989, o pintor conta que na tentativa de pin-tar um pôr do sol para presentear uma ami-ga, sentiu um cheiro de azedume na região. Perguntou para uma criança de onde vinha aquele mau cheiro e o menino apontou para o lixão do Jangurussu. “Resolvi ir até o local e quando me deparei com aquela realidade me senti no mundo de Dante, em seus livros. Era

inacreditável ver aquelas pessoas comendo os restos de comida dentro do próprio saco de lixo foi chocante.”, relembra.

Profundamente sensibilizado, Descartes morou um ano no lixão, retratando a vida da-quelas pessoas que moravam ali. “De alguma forma queria ajudá-las... mas, na verdade, fo-ram elas que me ensinaram a ser mais forte e amar ao próximo.”, conta.

Além dos Catadores, Descartes expôs outras obras que mostravam pessoas à margem da sociedade cearense. Com linguagem expres-sionista, pintou De um Alguém para Outro Alguém (1990), Cicatrizes Submersas (1997), Iracemas, Morenos e Coca-colas (2004). Parti-cipou de exposições coletivas em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Venezuela. Apaixona-do pela arte, ele finaliza dizendo que “a arte é uma forma de viver. Ela é minha família, mi-nha religião, meu alimento.”.

Intervenção e protestoMas o que a política não consegue explicar ou

resolver, a arte tenta. Quando as liberdades são limitadas, seja em qualquer época, a arte toma lugar de importância ao dar voz aos que não se conformam com a violação de qualquer direito. A luta pela verdade não precisaria estar institu-cionalizada numa Comissão com ares de lei. É o caso do coletivo de artistas Aparecidos Políti-cos, que usa a arte como intervenção social e de protesto.

Formado por estudantes de artes visuais e au-diovisuais de Fortaleza, o grupo surgiu em 2010 com o intuito de fazer intervenções urbanas com arte ativista. “Acreditamos que a arte não é somente um instrumento de política, ela é a própria política.”, diz Alexandre de Albuquerque Mourão, integrante do grupo. A ideia de montar o grupo surgiu quando os restos mortais do ce-arense Bergson Gurjão, morto na guerrilha do Araguaia, chegou a Fortaleza no dia 6 de outu-bro de 2009. Alexandre ficou sensibilizado ao ver a nova sepultura do guerrilheiro após 37 anos de sua morte e decidiu que algo precisaria ser dito sobre essas mortes e esses casos ainda sem solução.

Na primeira intervenção, espalharam na cida-de colagens, retratos de desaparecidos políticos e pedaços de madeira com formato de partes do corpo humano – fazendo alusão aos ex vo-tos religiosos. “No Ceará é muito comum que os devotos, quando conseguem um milagre, façam oferendas aos santos como um testemunho pú-blico de gratidão. Queríamos fazer uma crítica às graças não alcançadas, como o aparecimento dos corpos dos desaparecidos políticos.”, explica Gelirton Almeida, artista integrante do coletivo.

Os 21 anos de Ditadura Militar, regime que comandou o Brasil de 1964 a 1985, ainda são motivo de entrave para o

atual processo de democratização e de bus-ca pela identidade do país. Os fantasmas da tortura e dos crimes políticos ainda vagam e arrastam correntes. Mas, um passo à frente foi dado no dia 16 de maio deste ano, com a instalação da Comissão da Verdade pela pre-sidenta Dilma Rousseff. Segundo a lei 12.528, que rege a Comissão, o objetivo é “examinar e esclarecer graves violações de direitos hu-manos”.

Sete membros compõem a comissão: Gil-son Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Paulo Cavalcanti Filho, ex--presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Rosa Maria Cardoso da Cunha, doutora em Ciência Política, Paulo Sérgio Pinheiro, relator da Infância da Co-missão Interamericana de Direitos Huma-nos, Cláudio Fonteles, membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa, Maria Rita Kehl, doutora em Psicanálise e José Carlos Dias, conselheiro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.

No momento em que é anunciada a Comis-são, alegram-se os que lutam pela causa e se enchem de esperanças os que ainda hoje ten-tam achar os corpos – ou esclarecer as con-dições reais das mortes – de seus parentes. Tema delicado e polêmico, ainda há muito que se explicar e entender sobre esse recente passado histórico.

Arte nos porões da memória“PARA QUE Não SE ESQUEçA, PARA QUE NUNCA MAIS ACoNTEçA” É o LEMA DoS QUE LUTAM PARA vER oS FAToS DA ÉPoCA DA DITADURA MILITAR DESvELADoS. SEJA CoM A CoMISSão NACIoNAL DA vERDADE oU CoM A ARTE DoS APARECIDoS PoLÍTICoS, Não hÁ SILÊNCIo NoS TAIS PoRõES

intErvEnção

pErFiL

Arte-intervenção do grupo Aparecidos Políticos na Av. 13 de Maio

Descartes: o artista expõe suas vivências

andrea araujoJoyce Marçal

andrea araujoJoyce Marçal

obra do artista inspirada em La Pietá de Michelanelo, a Pietá do Lixo | Foto: internet

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Focas nas ArtesJornal Laboratório 07

Focas: você viveu a ditadura militar?Ápio pontes - Quando a ditadura acabou eu ti-nha 20 anos . Mas ainda vivi essa época. Senti mais os reflexos e efeitos dela depois do fim.

Focas: como funcionava a censura?Ápio pontes - Havia uma liberdade restrita. Até para entrar no cinema havia aqueles homens de paletó do Juizado de Menores, regrando a entrada de cada pessoa. Quem tentasse burlar a idade para assistir a filmes impróprios sim-plesmente era preso. E nos programas de TV e rádio não se falava tudo que pensava, como hoje em dia. Havia também risco de prisão. As palavras tinham triplo sentido e o governo mi-litar regrava o que se dizia, o que se escrevia e até as expressões e os gestos. Por um lado era bom, por outro ruim. Ninguém saía às ruas depois das 22 horas. Por outro lado, havia uma certa segurança que hoje já não existe.

Focas: como as pessoas protestavam através da música?Ápio pontes - As letras das músicas tinham duplo sentido. Havia um movimento chama-do Tropicália em que participavam Caetano Veloso, Maria Bethania, Tom Zé, Gil, Gal Costa. No conteúdo dessas músicas, sempre havia um protesto escondido em relação aos militares.

Focas: como os jovens se comportavam pe-rante a política? Ápio pontes - Eu participei de vários protes-tos contra a ditadura militar. Eu era filiado ao

PCdoB. Um partido que era totalmente contra os partidos da época, como Arena e MDB. Lula liderava o PT e a história dele todo mundo sabe. Na época da Ditadura, havia políticos que batalhavam por melhores dias. Hoje, vivemos uma época de vale-tudo. Desapareceram os grandes homens públicos, foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem en-riquecer a qualquer preço. Garantidos pela im-punidade, sabem que se forem apanhados têm sempre uma banca de advogados regiamente pagos para livrá-los de alguma condenação. Essa é a verdade. E isso reflete nas músicas, que não têm mais o mesmo teor que tinham. Hoje, a juventude está ligada em forró e gêneros mu-sicais que só fazem alienar as pessoas.

Focas: Então, quer dizer que era para haver postura dos jovens de hoje perante a política?Ápio pontes - Hoje não se vê mais motivos, não se vê protestos. Quer dizer, era pra haver... Mas a juventude está alienada com outros motivos, não se pensa mais em mudanças como pensa-va a juventude dos anos 80. Hoje é cada um por si e Deus por todos.

Arte nos porões da memória“PARA QUE Não SE ESQUEçA, PARA QUE NUNCA MAIS ACoNTEçA” É o LEMA DoS QUE LUTAM PARA vER oS FAToS DA ÉPoCA DA DITADURA MILITAR DESvELADoS. SEJA CoM A CoMISSão NACIoNAL DA vERDADE oU CoM A ARTE DoS APARECIDoS PoLÍTICoS, Não hÁ SILÊNCIo NoS TAIS PoRõES

opinião

Quando chegou à Escola Municipal Antônio Diogo Siqueira, no Bom Sucesso, em agosto de 2011, a professora Patrícia Forte foi informada que os alunos não tinham aula de educação física há mais de um ano. A quadra era utiliza-da para o lazer das crianças, mas as condições eram precárias. Pintura desgastada, problemas de infiltração. Não era um ambiente agradável para nenhuma atividade.

Patrícia, então, teve a iniciativa de estimular seus alunos do 6º ao 9º ano a fazer arte na qua-dra do colégio. Em fevereiro deste ano, a pro-fessora reuniu os alunos para fazer grafites nas paredes internas da quadra. Cada série teve um espaço para grafitar temas relacionados à saúde e ao meio ambiente.

“O objetivo era tentar mudar o hábito dos alunos que já usavam o local para a pichação, usando sua habilidade para algo produtivo. Va-leu à pena. Todos conseguiram captar a ideia, passando a respeitar o espaço.”, diz Patrícia. O curioso é que nenhum aluno assinou sua obra. Eles entenderam o ato como uma produção co-letiva da escola e da comunidade.

Aparecidos políticos: intervenção urbana

Professora Patrícia e seus alunos: unidos pela arte

Aula de arte e cidadania

Caminhando contra o ventoÁPIo PoNTES É MÚSICo, CoMPoSIToR E PESQUISADoR

EntrEvista

andrea araujoJoyce Marçal

Joyce Marçal

Litay Montenegro

Os Aparecidos Políticos ousaram mais ainda. Em 2011, decidiram rebatizar as instituições que levavam nomes de militares. O Centro Social Urba-no Presidente Médici foi renomeado como Edson Luís, estudante assassinado pela Ditadura em mar-ço de 1968; e a praça do 23º Batalhão de Caçadores, o 23BC, na Av. 13 de Maio, ganhou novo nome: Pra-ça do Preso Político Desaparecido.

Sobre a Comissão Nacional da Verdade, o coleti-vo faz críticas sérias. “A comissão dá nome aos tor-turadores, mas os anistiam, logo, é de meia verda-de.”, protesta Marcos Venícius, artista que assina suas obras com o nome do desaparecido político Mariano Joaquim. Prática, inclusive, adotada pe-los demais integrantes do grupo.

O desaparecido político Bergson Gurjão em-presta seu nome ao artista Gelirton, já Oswaldão nomeia o artista Alexandre. Lúcia Petit é o codi-nome de Viviane e Arildo Valadão tem o nome nas obras de Bruno Mosquito. Eles usam pseudô-nimos para homenagear os desaparecidos políti-cos, como se assim pudessem trazê-los de volta.

Foto: Inês Alves

Foto: Inês Alves

Foto: Inês Alves

Caetano e gil na Tropicália

Ilustração: Pedrinho da Rocha

“A arte existe porque a vida não basta”, essa frase do grande poeta Ferreira Gullar nos leva a uma reflexão. O que seria da vida humana sem a arte? Ela é a forma mais bela que o ho-mem tem para expressar a sua subjetividade, o seu universo particular e coletivo.

Vivemos em um sistema que nos leva a sermos objetivos e individualistas fazendo com que sejamos engolidos pelo nosso cotidiano, sem questionarmos o que nos é imposto. Quando produzimos ou consumimos a arte seja na literatura, pintura, música, dentre outras expressões artísticas, nos tornamos seres mais completos e produtivos.

A arte também é uma preciosa ferramenta para manifestarmos nossas indignações, questionamentos e reflexões quanto ao mundo em que vivemos. Um país que investe nas artes tem uma cultura mais rica e uma sociedade atuante, pois seus cidadãos conseguem enxergar além da sua realidade e aprendem a conviver com a diversidade humana. Através da arte o homem e a mulher constroem um mundo melhor de se viver.

a vida nEcEssita da artE

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Focas nas ArtesJornal Laboratório08

Setenta anos e alguns problemas ocasio-nados por uma queda não permitem que o compositor, cantor e apaixonado

por sanfona Messias Holanda consiga “Trepar no pé de coco”. Porém, nada consegue tirar des-se artista o amor que ele sente pelo autêntico forró.

Com 31 anos de vida, Jorge Levi Lopes Holan-da teve o primeiro contato com a sanfona aos 11 anos de idade. Jamais ousou imaginar que o amor pelo instrumento seria tão intenso.

Focas - o que a sanfona significa pra você?Messias Holanda – A sanfona é uma cultura original, bem nordestina. Não gosto de teclado, o som não é a mesma coisa. Esse instrumento faz parte da minha vida. Pra mim, o mais im-portante é minha mulher, meus filhos e minha sanfona. Hoje, tô em pé graças ao meu amor pela música.

Jorge Levi – Ela faz parte da minha vida! É como se fosse a minha cabeça, meu coração. Se estou ruim, consequentemente, ela está e se estou feliz passo a minha emoção. Ela é meu trabalho.

Focas - você já passou por alguma situação ruim em cima do palco?Messias Holanda – Sim, depois do acidente tive um problema urinário. Tive que parar no meio do show e explicar que precisava ir ao banheiro. Quando voltei, as pessoas me aplaudiram. Deu pra resolver.

Jorge Levi – Já, várias! A sanfona quebrar no

meio do show. Ter crises de enxaqueca for-tíssimas a ponto de ir parar no hospital. Dis-cussão antes de começar o show por conta de passagem de som, enfim. Focas - Quais são os maiores desafios que a música regional do nordeste, dita de raiz, tem pela frente?Messias Holanda – Esses desafios na verdade já estão acontecendo. O nosso forró não é tão va-lorizado como antes. Acho que o grande desafio será não deixar a sanfona cair.

Jorge Levi – Esse desafio já existe a algum tempo devido ao forró eletrônico que con-quistou e vem conquistando espaço entre o público forrozeiro e também pela falta de ar-tistas que preservem o forró de raiz. Acredito ainda que o forró estilo “de raiz” possa voltar a conquistar seu espaço, sem prejudicar o espa-ço dos outros, pois é nesse forró que vemos a verdadeira cultura nordestina.

Focas – como você se sente ao lembrar que já fez muito sucesso?Messias Holanda – Me sinto muito feliz em sa-ber que as pessoas gostavam das minhas músi-

cas. É inexplicável a emoção de subir ao palco e ouvir aplausos de pessoas que realmente gostavam do meu trabalho. Minha carreira hoje não é a mesma de antes, as pessoas esqueceram um pouco daquele velho forró. Mas mesmo assim, continuo me dedicando. Ape-sar de tudo, ainda existem pes-

soas que gostam.

Focas – Qual foi a maior experiência na sua vida musical?Jorge Levi – Já toquei com Dorgival Dantas, Forró Real, Banda do Pirata, Forró do muído entre outras. Já tenho alguns anos de estra-da, já passei por muitas coisas. Mas algo que marcou minha carreira profissional foram mi-nhas viagens para outros países, como Cabo Verde, França, Espanha, Portugal e Argentina. Porque pude levar a cultura do nosso Nordes-te e aprender a cultura desses países.

Focas - você costuma sair muito e curtir um bom forró?Messias Holanda – Quando era novo saía mui-to. Hoje, já não consigo fazer isso. Minha idade não permite... me sinto cansado quando passo a noite em um forró. Só vou a trabalho, para ga-nhar dinheiro.

Jorge Levi – Como eu tenho uma vida agitada por conta do trabalho, quando chego em casa, meu destino é fazer programas mais tran-quilos. Tocar minha sanfona enfim, nada de muita bagunça. No início, tudo é muito bom, os lugares, as pessoas. Mas, quando você tem muitos anos de estrada, tudo fica mais cansa-tivo, sem graça... e o melhor lugar do mundo é sua casa, a sua cama.

A obra do artista, pintor e gravador Rai-mundo Cela procura retratar as carac-terísticas e o trabalho dos viventes do

seu local de origem, Sobral, e Camocim, terra que o escritor adotara como sua segunda ci-dade nos últimos dias de sua vida.

Depois de concluir os estudos em Fortaleza, Raimundo parte para o Rio de Janeiro onde encontrará o caminho no qual vai desenvol-ver suas técnicas e inclinação para o mundo das artes. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre.

São temas constantes em sua produção as paisagens, os tipos populares e o trabalho de vaqueiros e pescadores de sua terra natal.

Artista premiado em diversas categorias, tanto no Brasil, como na Europa, Raimundo Cela, para muitos estudiosos da arte, tanto aqui, como no exterior, é reconhecido como

um dos maiores pintores do século XX. Entre suas obras consagradas estão moti-

vos regionais cearenses – pescadores, janga-deiros, beiras de praias com coqueiros, tipos nordestinos – tratados com grande realismo, com auxílio de um desenho correto e de um colorido subordinado à realidade.

Certo rústico expressionismo se evola dessas obras sólidas, que estilisticamente se situam à margem do modernismo, mas que ainda assim conseguem convencer pelo que possuem de íntima energia, de sinceridade e de emoção.

Falar em Arte cearense deve conter a obra de Raimundo Cela. Seus feitos, além de bem escritos e produzidos, retratam perfeitamente o sertão nordestino e os seus trabalhadores da região.

Esses registros rodaram o mundo e hoje, quando alguém falar das artes nordestinas, certamente se lembrará das pinturas e gravuras feitas por esse artista e pintor sobralense.

cuLtura popuLar

A arte de Raimundo Cela

No Brasil, a sanfona é conhecida por vá-rios nomes populares, como por exemplo: fole ou acordeom, pé de bode substantivos de um mesmo elemento que contagia di-ferentes gerações. Dos extremos do nosso país a sanfona é o instrumento mais ‘espe-rado’ num salão de festa. Tornou-se muito popular devido seu tamanho e beleza. Em qualquer lugar faz levantar poeira, junto ao ritmo típico nordestino, que é o forró. E uma das figuras mais importantes que faz lembrar de um arrasta pé é o Rei do Baião- Luiz Gonzaga. Maior influência que tive-mos na música popular brasileira. Autor de Assum-preto, Cintura fina, Baião, bem como outras que contam a história de um povo que com bravura sobrevive na seca.

Luiz Gonzaga, homem simples, traba-lhou na lavoura quando menino e nas suas folgas, ia aprender tocar sanfona com o pai, o imortalizado Januário da canção.

Gonzagão revelou ao Brasil um ritmo nordestino em que na época era muito preconceituoso. No sul do país era um mo-mento de urbanização em que o ‘cabeça chata’ era encarado como o peão de obra.

O Rei do Baião fez sucesso nos anos 50 aos 80. Ele criou a ideia de chamar o forró de “pé-de-serra”. E apesar dos inúmeros gêneros que se tem conhecimento, Luiz Gonzaga faz manter através de seus fãs, o forró autêntico que temos.

Santo Luiz Gonzaga! Hoje temos grandes artistas,

descendentes de Gonzagão que é sucesso. O negócio é ouvir a sanfona e dançar ao ritmo da sanfona.

“TOQUE” SANFONEIRO

Histórias de sanfoneirosoS MÚSICoS MESSIAS hoLANDA E JoRgE LEvI FALAM SoBRE UM MESMo AMoR: A SANFoNA

tobias saldanha

caroline GuimarãesMelka sampaiorafaela Lira

gleydes Sales

Título: Pescador, pintado em 1944

Foto: Internet

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Focas nas ArtesJornal Laboratório 09

No Ceará, temos grandes autores que com seus textos poderiam encantar e ganhar grande desta-

que regional e nacional. Mas , por questões financeiras, a maioria dessas obras ficam apenas em gavetas. Este é o caso do profes-sor universitário, Paulo Paiva, que após es-crever o livro “Uma vida sem segredos” se deparou em não ter condições financeiras para fazer cópias de seu livro. Segundo ele, o valor é muito alto e o retorno talvez pode não ser o esperado, já que é muito difícil ter o apoio de alguma editora.

Atualmente para que um autor possa fazer cópias de sua obra, é necessário de-sembolsar uma quantia entre 6 e 12 mil reais. Valor que varia de acordo com a quantidade de páginas e exemplares. Se-gundo representante de uma das maiores editoras do Ceará, cada vez mais fica difícil as editoras lançarem obras da literatura cearense, pois o investimento é alto, já que a venda de livros cearenses representa apenas 15% da venda de todos os livros vendidos.

Foi na arte de criar textos que grandes autores da literatura cearense foram se reunindo e obtendo

grande destaque e uma forte repercussão nacional.

O movimento foi ganhando adeptos e em 1892 nascia a Padaria Espiritual, uma espécie de agremiação cultural formada por jovens rapazes intelectuais, que preco-nizava que seu objetivo era “fornecer pão de espírito aos sócios em particular e ao povo em geral.”.

A época em que viviam os jovens rapa-zes definiria o regulamento do movimen-to em que era proibido o uso de expres-sões estrangeiras ao vernáculo e vetava as obras literárias que fizessem referência a animais ou plantas estranhas à flora e a fauna brasileira.

Com ironia e irreverência a padaria cri-ticava a sociedade burguesa e as institui-ções que mantinham uma apreciação ide-ológica. Os padeiros eram, em sua maioria, das classes média e baixa da população cearense e se mostravam insatisfeitos com a classe burguesa, por vários motivos, em especial pelo seu exagero à cultura europeia. Desse movimento participaram grandes nomes da literatura cearense.

Antônio Sales (fundador e idealizador do programa de instalação); Lívio Barreto, Adolfo Caminha, Raimundo Teófilo de Moura, Lopes Filho e muitos outros. Todos os sócios, ou seja, todos os “padeiros” assinavam suas obras com pseudônimos. Assim, Lívio Barreto era Lucas Bizarro, Adolfo Caminha era Félix Guanabarino, Antônio Sales era Moacir Jurema. Ao longo de toda a sua trajetória, foram 34 autores, cada um com um pseudônimo.

A Padaria se preocupava também com a educação cearense e por isso previa em seu regulamento, a nomeação de comis-sões para averiguar as condições dos esta-belecimentos de instrução pública e parti-cular de Fortaleza. A Padaria manifestava também o desejo de “criar aulas noturnas para a infância desvalida”.

Sabendo que as dificuldades seriam muitas, os integrantes se comprometiam a lutar pela obrigatoriedade de instrução pública primária. A primeira fase da Pada-ria durou seis anos onde foram produzi-dos 36 exemplares d’O Pão, jornal que era produzido pelos integrantes do movimen-to. Composta por 20 rapazes, essa primei-ra fase traz nomes como Antonio Sales e Adolfo Caminha.

Com o tempo, alguns integrantes mu-daram para o Rio de Janeiro, outros in-gressaram na carreira política e alguns mergulharam no anonimato. Desde essa época já se verificava as dificuldades que os grandes autores enfrentavam para di-vulgar suas obras. Mesmo assim, conse-guiram ter repercussão nacional no eixo Rio-São Paulo.

“Eu sou dE umA TErrA quE o Povo PAdEcE // mAs nuncA EsmorEcE, ProcurA vEncê, // dA TErrA AdorAdA, quE A bELA cAbôcA // dE riso nA bôcA zombA no sofrê.”

Com 420 mil usuários cadastrados em seu banco de dados, o Skoob é a primeira rede social brasileira voltada para

leitura. Fundada em janeiro de 2009, pelo desenvolvedor Lindenberg Moreira, o Skoob (livros em inglês escrito ao contrário) permite que seus usuários criem a sua estante virtual por meio de cadastro no site. Cadastrado, o leitor automaticamente tem o seu perfil no sistema onde é possível listar o que está lendo no momento, o que já leu e o que pretende ler, ou até mesmo o que está relendo e quais leituras foram abandonadas, formando assim uma estante virtual.

Dentro do seu perfil, o leitor discute sobre obras literárias, opina sobre clássicos, e escreve resenhas dos livros favoritos. A interativida-de com outras redes sociais, como Facebook e Twitter, também é possível, expandindo dessa forma o círculo de leitores e as possíveis ami-zades que cada usuário pode fazer por meio da leitura. Outro fator positivo de estar nessa rede, é que ela contribui para a divulgação de novos autores. Possibilita ainda que cada leitor adicione exemplares que ainda não estejam cadastrados no banco de dados do site.

O Skoob proporciona conhecimento sobre

livros que você ainda não leu, a partir do depoi-mento de pessoas que já os leram, consequen-temente despertando seu interesse. Além disso, pode compartilhar sua opinião sobre obras que já conhece e compará-las com a de outros leito-res. "O mais legal de tudo é também conhecer novas pessoas, que se interessam por assuntos semelhantes.”, diz a jornalista Talita Cavalcan-te, usuária da rede.

Para Viviane Lordello, co-fundadora do Skoob, a plataforma foi criada para atender a um grupo de amigos que queriam uma alternativa online para falar de livros. Logo na primeira semana conseguiu mais de 2,5 mil usuários cadastrados e fecharam o primeiro mês com mais de 7,6 mil usuários cadastrados. Foi nesse momento que Viviane Lordello e Lindenberg Moreira perceberam que o Skoob poderia se tornar um negócio.

A proximidade com os usuários desde o início faz com que o desenvolvimento da rede seja voltado às necessidades deles. Muitas das funcionalidades existentes hoje foram sugeridas pelos próprios usuários, como o sistema de trocas de livros, que, com apenas três meses, já viabilizou mais de 18 mil transações.

A visão futura dos fundadores para o sbook, é disponibilizar meios de acesso em celulares e tablets. Isso pode aumentar o acesso à rede, já que os usuários podem acessar a plataforma em qualquer local.

O trecho do poema Sou cabra da Peste de Patativa do Assaré é um exemplar da literatura de cordel. Essa

literatura se tornou cada vez mais popular, principalmente na região Nordeste. O nome cordel se deu porque eles eram expostos para venda pendurados em corda. Com uma linguagem bem popular e escrita em forma de rimas, o cordel tem um baixo custo e geralmente é vendido pelos próprios autores.

Eles retratam fatos da vida cotidiana, re-giões e pessoas, como brigas políticas, seca, festas e milagres. São nomes de destaque no cordel cearense: Cego Aderaldo, Patativa do Assaré, Expedito Sebastião da Silva, Raimun-do Santa Helena.

Mas, existem várias formas de literatura. Atualmente, existem os E-Books, livros digi-talizados. Foi criado um aparelho para que se possa editar textos: o Rocket E-Book (TM), pioneiro para livros eletrônicos. Logo depois, surgiram novos aplicativos. Tudo foi se mo-dernizando, chegando hoje ao novo sucesso de mercado, o Tablet. Qualquer pessoa, de

qualquer lugar do mundo pode ler um livro diante do computador. Para isso, basta estar conectada à internet.

Para autores que não conseguem ter suas obras publicadas, os E-Books podem ser a melhor ferramenta e a melhor maneira de divulgar e ver sua obra lida. Uma das carac-terísticas dos E-Books é a sua portabilidade. Eles são facilmente transportados em pen--drives e cartões de memória. O preço tam-bém abre vantagem em cima de livros tra-dicionais que ficam em torno de 80% mais caros que os eletrônicos.

Cordeis e E-books fazem parte não só da nossa história como também do nosso coti-diano. Mesmo sendo dois modelos distintos de leitura, eles se interligam quando o assun-to é a literatura.

Mesmo sendo um modelo antigo de litera-tura, os cordéis ainda são produzidos e sem-pre podem ser encontrados em vários locais de Fortaleza, sem esquecer que a leitura é super divertida. Os E-Books são encontrados na internet, com uma vasta lista de títulos. Mas independente do que você escolher, o importante é o trabalho feito por esses artis-tas que unem palavras e fazem textos diver-sos, deixando os leitores fascinados.

LitEratura MEMÓria

Do Cordel ao E-Book

Rede social para leitores permite que usuários criem a sua estante virtual

“O E-Book é mais fácil de carregar. Não ocupa espaço e você pode ter vários livros em uma pequena pasta.” - rochelle de araújo

“Prefiro o impresso pelo fato de que no mundo de hoje é muito arriscado andar com aparelho eletrônico. Em pou-cos lugares temos liberdade de mostrá-lo.” - Marcos costa

“Adoro tecnologia. Acho o E-Book mais rápido, prático e instantâneo, leio livro e depois acesso a internet.” - sara ribeiro

MERCADO É RESTRITO PARA ESCRITORES CEARENSES

O que eles pensam sobre o E-Book

PADARIA ESPIRITUAL: ESCRITA QUE ALIMENTA A ALMA CEARENSE

Fábio nobreGirlane arrudatamires rodriguesthyliana Lima

Fábio nobreGirlane arrudatamires rodriguesthyliana Lima

Girlane arruda

Girlane arruda

Ilustração: internet

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Focas nas ArtesJornal Laboratório10

Iracemas em um céu de Ishtar

No vídeo de clipes que anima o salão, Cindy Lauper estava no auge. Das in-visíveis caixas de som sua voz afirma

que “garotas querem apenas se divertir”. Os la-sers iluminam e dançam com o escuro onde homens e mulheres se refugiam. Mulheres do Centro de Fortaleza se misturam com a ficção do Céu de Suely

O ofício é muitas vezes chamado de “a pro-fissão mais antiga da humanidade”. Afirma--se que no templo da deusa Astarte, também conhecida como Belili ou Ishtar, na antiga Ba-bilônia, todas as mulheres deviam pelo menos uma vez em vida sentir a luxúria e o desconhe-cido, entregando-se a outro homem em troca de uma moeda de ouro.

Atualmente, a prostituição feminina deixou os templos, ocupou as estradas, postos de combustível, casas de massagem, boates, cabarés, calçadões e está presente em anúncios de classificados.

Mulheres que vendem seus corpos, por pra-zer ou necessidade, são sedutoras ao olhar dos artistas. Observadores da realidade ou criado-res de sonhos, descrevem e representam essas “filhas de Ishtar” em suas obras, traduzindo o prazer e a dor que o oficio exige.

Na vida real, a jovem Patrícia (22) se prostitui na Praia de Iracema. Enquanto se prepara para a noite, come um espetinho de carne. De salto alto e blusa apertada que mal esconde o sutiã vermelho, descreve com olhar carregado que não assume como “ganha a vida” para seus vizinhos em Maracanaú. Mas a fofoca rende e gera preconceitos.

Ainda assim, a jovem afirma que seus filhos entendem o esforço de mãe para sustentá-los. A dor maior vem do fato de sua mãe não falar

mais com ela. “Quando passei uma barra, ela não me apoiou. Tenho três filhos, um mora comigo e os dois com minha mãe que mora na casa atrás da minha.”, diz. Patrícia não usa drogas e nem se orgulha do ofício, faz curso de costura e pretende “arrumar a vida”.

Na arte, o filme Ceú de Suely (2006) do co-nhecido e premiado diretor cearense Karim Aï-nouz, narra a história da personagem Hermila cujo nome de guerra é Suely. Após ser abando-nada por seu companheiro, Suely acaba por ri-far para os homens de Iguatu, cidade cearense, uma noite “no paraíso”. Seu intuito é comprar uma passagem para o Rio Grande do Sul.

“Xuxinha” já fez programas e ainda sonha com o amor. Está grávida, levou um tiro de ras-pão e é dependente química. Os braços magros tatuados e o short rosa trazem sinais de quem já foi presidiária. Sua história parece um filme e pode se dizer que como Suely, a ex-prostituta, de olhar agitado, parece sempre estar em busca de uma história de paixão. Chega até a falar em casamento.

No filme em trama paralela, Suely vive às voltas com um velho romance com um moto-taxista. A história tem correspondência com a

realidade. Em frente à boate Scalla, no Centro de Fortaleza, mototaxista há cinco anos, Via-ney* afirma que vez por outra amigos seus de ofício acabam se apaixonando por mulheres de programa. “Um amigo meu se apaixonou e não conseguia mais trabalhar. Ficava a noite cuidando dela”, conta o trabalhador da noite, Vianey.

Também em frente ao Scalla, arte e realida-de se misturam quando a ex-prostituta Mirela* declara que assistiu a Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída. “É muito triste o filme, a forma como ela se droga e sente a necessidade de entrar nessa vida.”. Relembra, séria, ao con-versar sobre o assunto, que demonstra conhe-cer com propriedade.

Mirela escapou do cenário que a incomoda. Agora vende churrasquinho em frente à boate e fez curso de cabeleireira. Relata que muitas conhecidas entraram na prostituição por causa de drogas como pó e crack. “São as mais usadas”, afirma a mulher que aprecia outra obra dos ci-nemas: Gia – Fama e Destruição. São esses os segredos da noite.

*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados.

cinEMa

MULhERES Do CENTRo DE FoRTALEzA SE MISTURAM À FICção Do FILME CÉU DE SUELY

Boate no centro de Fortaleza

Cena do filme Céu de Suely

O Morro Santa Terezinha é o ponto natural em Fortaleza mais próximo do céu. Em suas vielas, a morena adolescente de corpo ainda por desenvolver caminha e vive sua história. Se fisicamente lhe falta, em sonhos, há fartura.

Seu nome é Rania. Nome também do primeiro longa-metragem da cineasta ce-arense Roberta Marques. Em sua jornada, a jovem deseja o balé como expressão de seu corpo. Mas por conta de uma realida-de mais complexa e dura, a jovem alcança outro norte: através de sua inseparável amiga Zizi, ela passa a frequentar o “Sereia da Noite”, uma boate onde farra, dança e dinheiro se misturam.

Rania participou do Festival do Rio, onde foi eleito o melhor filme da mostra Novos Rumos e do International Film Festival em Rotterdam. Com locações no próprio Santa Terezinha, Praia do Mucuripe e Centro da cidade, o filme foi exibido na mostra com-petitiva do 22º Cine Ceará 2012. Após For-taleza, a produção segue para Los Angeles, para participar do Hollywood Brazilian Film Festival.

Existência, desejos e carne. Balé e boa-tes. O que Raina quer dizer, seja próximo do céu ou do purgatório, é que a arte segue seu caminho pelos altos e baixos da vida. Como em um passo de dança. Como em um passe de mágica.

Esdras Gomes

antônio Laudenir

A NOVA ESTRELA É RANIA

Foto: Magno da Silva

Foto: Internet

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Focas nas ArtesJornal Laboratório 11

Arte que constrói o centro de uma cidade Construções mostram o passado e o con-

temporâneo de um povo que vive sob várias influências. Verifica-se claramen-

te este aspecto, através das contradições entre grandes e pequenos; novos e antigos prédios que enfeitam o grande Centro.

O bairro Centro é símbolo histórico da ca-pital cearense. Lá estão as principais constru-ções que relembram as décadas de 30 e de 40 que iniciaram a arte cearense nos bordados e rendas expostos no Mercado Central e nas va-riedades de frutas e peixes que caracterizam o estado, comercializados no Mercado São Se-bastião.

No Museu de Arte do Ceará, os visitantes fa-zem uma viagem no tempo, começando pelo Império até hoje, para entender como se deu o crescimento de um povo simples, mas cheio de humor e inteligência para se fazer como a própria história de sua cidade. Está localizado próximo à Catedral.

A crença também faz parte da arte, aquela que emociona no olhar as imagens e admira a vista daqueles que a visitam. É a terceira maior Igreja do país. Sua construção finali-zou-se em 1978.

Ao falar de prédios artísticos o Theatro José de Alencar é o principal representante desta te-mática. Foi inaugurado em 1910 e sua história de 102 anos está repleta de grandes espetácu-los e movimentos que caracterizam o cearense e demarcam a Terra do Sol, como é conhecida Fortaleza.

Como qualquer outro município, Fortale-za possui inúmeros locais públicos, contudo, alguns marcaram épocas, como as praças do Centro. Praça dos Leões possui a estátua da renomada escritora cearense Rachel de Quei-roz. A José de Alencar abriga o grande TJA, a da Bandeira já foi cenário de muitos movimentos do povo a favor de seus direitos.

A Praça do Ferreira é símbolo da boemia e descontração. Até hoje, pessoas a frenquentam com o simples motivo do descanso e da obser-vação do considerado coração de Fortaleza. Por fim, a Praça dos Mártires também retrata os tempos da ditadura no país. O Forte caracteri-za o sistema militar e a segurança da cidade na época da imigração dos holandeses em busca da cana-de-açúcar e do algodão.

Preservação

O órgão do governo responsável pela pre-servação de patrimônios culturais é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Preocupa-se em elaborar programas e projetos que integrem a sociedade civil com os objetivos do Instituto e busca linhas de finan-ciamento e parcerias para auxiliar na execução das ações planejadas.

Atualmente, alguns desses patrimônios mencionados, como a Praça José de Alencar, o TJA e a Catedral, já foram restaurados pelo ór-gão referido.

São inúmeras as obras de arquitetura que de-notam a cultura cearense. Estes foram os que, por algum motivo, ocasião especial, show de algum ídolo ou um simples encontro, ficaram gravados na memória daqueles que moram e visitam a Terra do Sol, ou como já disse o can-tor: “O lugar perfeito, um paraíso.”.

arQuitEtura

visita guiada ao Theatro

O TJA está aberto à visitação guiada de terça à sexta, de 8h às 16hSábados, domingos e feriados a partir das 13h às 16hInclui a edificação de 1910, os jardins de Burle Marx e o Centro de Artes Cênicas do Ceará – Cena, anexo ao prédio histórico.R$ 2,00 (meia) e R$ 4,00 (inteira)Visitação gratuita para grupos de escolas públicas, ongs e projetos sociais previamente agendados: 3101.2567 com Tito ou Ana Marlene.

visita guiada à Catedral

Rua Sobral 01 – Centro – 3231 4196Missas a partir de terça 12h e 17h / Sábados 12h / Domingo 8h30, 10h30, 12h, 18h30 e 20h

Endereço IPhANRua Liberato Barroso, 525 - Praça José de Alencar - Centro. Fortaleza-CETelefones: (85) 3221-6263 | 3221-2180

SERVIÇOS

o TJA teve fortes influências europeias em sua construção

Fotos: Tobias Saldanha e Camila Sara

o Museu do Ceará retrata toda a história do povo cearense o Passeio Público é ponto de encontro para amigos e familiares nos fins de semana

com 286 Anos dE hisTóriA, forTALEzA rEfLETE suAs rAízEs nAs obrAs DE ARQUITETURA QUE PoSSUI

Fidel relsonrafaele silva

Page 12: Focas nas Artes 2012.2

Focas nas ArtesJornal Laboratório12

A comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) possui uma grande diversidade de artistas

inseridos em diversos campos de atuação. Esta arte está presente e muitas vezes é banalizada e julgada. Mas existem aqueles que deixam o preconceito de lado para conhecer o trabalho que eles realizam.

“Às vezes quando falamos a palavra travesti as pessoas levam logo para um âmbito ruim, pensam em prostituição, desrespeito. E no GRAB (Grupo de Resistência Asa Branca) eu pude perceber também que muitas vezes as pessoas podem até seguir um caminho ruim por conta da exclusão da sociedade, da pró-pria família e amigos.”. Relata Weilla Lee (19) assistente de cobrança e ex- participante do GRAB .

O GRAB foi fundado em 1989. É uma das mais antigas organizações LGBT existentes no Brasil. Lee conta qual a sua visão sobre a Arte Travesti. “Sim eu considero uma Arte, porque uma pessoa ter coragem de todos os dias, ao

acordar, fazer tudo o que eles fazem em uma só noite ou no dia, é fantástico. Então, pra mim existe Arte na maquiagem, na dança, em tudo.”

Já, para Francisco (50), heterossexual e ge-rente de vendas, depende do trabalho e do que eles fazem. “Se for dublagem não é arte, mas se for outros trabalhos criados por eles mesmos, é arte sim.”.

arte ou EntretenimentoO membro do Conselho de Política Cultural

de Fortaleza e professor de Comunicação So-cial, Henrique Rocha, explica que existe um espaço tanto para aqueles que atuam com performance e dublagem, como para aqueles que fazem suas próprias criações.

Para o estudioso, independente de opção se-xual, podem exercer um bom trabalho. “A pos-tura do artista, independente da opção sexual, é a mesma. E mesmo aqueles que trabalham na área [LGBT] podem também atuar em ou-tras coisas e não só com dublagens. Tem os que trabalham com música como cantor, com-positor ou um pintor. Existem várias formas de Arte.”, avalia.

Segundo o professor, arte seria qualquer for-ma de mostrar a criação de um trabalho, que, toca direta ou indiretamente alguém. Existem diferentes maneiras de manifestar esse dom e

ser um artista ultrapassa qualquer barreira de tempo, mundo, geração, cor ou opção sexual. Então, ainda para Henrique Rocha, tudo que for criado pelos Transformistas e Travestis – fi-gurinos, maquiagens e coreografias – é consi-derado arte, mas ao copiarem outros artistas não estão fazendo arte e sim a reproduzindo.

Evelin (22), lésbica e atendente de telema-rketing diz que é arte sim. “A maquiagem, a dança, as performances, tudo reflete arte e é criação deles.”. Mas Thaís (24), heterossexual e gerente de vendas acredita que não, pois é, “apenas dublagem e imitação.”.

A dublagem e imitação que alguns travestis exibem em seus shows e apresentações são como uma representação de artistas que têm destaque e influência artística nessa comu-nidade. Portanto, é bastante questionado se o que eles realizam nessa área seria arte ou não. Rocha explica que essa forma de atuação não se encaixa no conceito de arte. Seria algo mais voltado para o entretenimento.

Em Fortaleza, é comum encontrarmos, em shows noturnos em boates ou eventos LGBTs, travestis dublando e criando papéis que reú-nem teatro, dança e canto. É a junção desses fatores que prende a atenção do público e di-verte a todos que querem descontração sem preconceitos.

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Travestis fazem da arte sonhos de liberdade e igualdade socialPERUCA, MAQUIAgEM E FIgURINoS CoLoRIDoS. CoM ESSES INSTRUMENToS, TRANSFoRMISTAS E TRAvESTIS São hoMENS QUE SE TRAvESTEM DE MULhER

artE transForMista

QUARTA CULTURAL LGBT

A Quarta Cultural LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) existe a pouco mais de três anos e é um evento itinerante orga-nizado pela Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza. Sendo realizada na segunda e na última quarta-feira de todos os meses.

Segundo Flávia Fontenelle, transformis-ta, atriz e participante da Quarta LGBT o evento possui temas diferenciados como: divas negras, transexualidade, entre outros. Dependerá da criatividade dos artistas e conta com apresentações de dança, dubla-gens e desfiles com figurinos produzidos pelos próprios artistas.

Para ela este evento visa ao aumento do mercado de trabalho dos Transformistas e Travestis; que as pessoas que trabalham na noite, em boates e casas de show saiam da zona de conforto e procurem novos pú-blicos e principalmente para combater a lesbofobia, a homofobia e a transfobia* na cidade de Fortaleza.

* Preconceito contra lésbicas, homossexuais, travestis ou transexuais.

grupo de teatro “Fabrica de Travestis” encena a peça “Engenharia Erótica”

Foto: Divulgação

Monalisa vasconcelosrodrigo duartesuyane costathaíla cavalcante