Flaco - Fílon de Alexandria

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  • 8/11/2019 Flaco - Flon de Alexandria

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    Universidade de Lisboa

    Faculdade de Letras

    Departamento de Estudos Clssicos

    Flon de Alexandria

    FlacoTraduo, Introduo e Notas

    Tatiana Jos Rodrigues Faia

    Dissertao de Mestrado

    Orientada pela Prof. Dr. Cristina !branc"es #uerreiro

    Mestrado em Estudos Clssicos

    Edio e $raduo de $e%tos Clssicos

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    Resumo

    Esta mono)rafia consiste numa traduo deFlacode F*lon de !le%andria+ a partir do

    te%to fi%ado por ,. -eiter -eimer+ /erlim+ (0(12+ acompan"ada por uma introduo e

    notas.

    Palavras-cave

    F*lon de !le%andria+ Flaco+ $raduo+ 3uda*smo na !nti4uidade+ 5mp6rio -omano

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    !ummar"

    $"e present mono)rap"7 consists in a translation of P"ilo of !le%andria8s treatise

    Flaccus+ based upon t"e te%t establis"ed b7 ,. -eiter -eimer+ /erlin+ (0(12+

    accompanied b7 an introduction and notes.

    #e"$ords

    P"ilo of !le%andria+ Flaccus+ $ranslation+ 3udaism in !nti4uit7+ -oman Empire

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    Agradecimentos e %edicat&ria

    !o Professor Manuel !le%andre 39nior+ coordenador do pro:ecto Flon de

    Alexandria nas Origens da Cultura Ocidental+ pro:ecto em cu:o ;mbito esta tese seescreveu+ pela sua inestimvel orientao em vrios momentos do meu estudo da obra

    de F*lon.

    < Professora Cristina !branc"es #uerreiro+ min"a orientadora. Pela sua

    paci=ncia e amabilidade. Por todo o tempo 4ue dedicou a pensar comi)o as diferentes

    vers>es deste trabal"o. Com ela aprendi uma preciosa forma de reflectir sobre os

    in9meros factores 4ue influenciam as decis>es de um tradutor.

    < Professora ,ofia Frade+ 4ue+ de O%ford+ me permitiu o acesso a obras e

    documentos fundamentais sobreFlaco.

    < Professora !na !le%andra ,ousa+ 4ue aceitou ler partes deste trabal"o.

    !os de Clssicas. !os meus.

    Para 3os6 Pedro+ meu marido+ meu irmo+ min"a casa.

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    'ndice

    ( Introduo( (. F*lon de !le%andria)) &. O conte%to "ist?rico deFlaco

    )) &.(. ! comunidade :udaica de !le%andria no per*odo anterior a @A d.C.)* &.&. Os primeiros anos de soberania romana sobre !le%andria)+ &.@. !ltera>es nas estruturas econ?micas e sociais) @. ! primeira parte deFlaco) @.(. Flaco+ )overnador de !le%andria e do E)ipto. @.&. !)ripa em !le%andriaB o in*cio da perse)uio* @.@. O decreto de Flaco e o apo)eu da perse)uio+ @.. O decreto promul)ado pela comunidade :udaica e a priso de Flaco . ! se)unda parte deFlaco*. 1. Embaixada a Gaio*. 1.(. Uma se4uela paraFlaco* 1.&. Uma esttua no $emplo de 3erusal6m** 1.@. ! 9ltima audi=ncia concedida embai%ada*/ G. O imperador Cludio e a resoluo do conflito*/ G.(. Edictos promul)ados por Cludio+ novos tumultos em !le%andria*+ G.&. ! carta de Cludio aos !le%andrinos e a pacificao da cidade*( H. Flaco e o corpus filoniano*( H.(. Os tratados "ist?ricos de F*lon/) H.&. O t*tulo do con:unto de tratados "ist?ricos/ H.@. O lu)ar de Flaco no corpus filoniano/* H.. Os diferentes t*tulos deFlaco

    // H.1. O )6nero literrio deFlaco/0 A. Publicao deFlaco/0 A.(. Data de composio e publicao/+ A.&. Destinatrios deFlaco/+ 0. O te%to deFlaco/+ 0.(. Manuscritos/1 0.&. Os e%certos citados por 3oo Damasceno/ 0.@. 5nd*cios de lacunas emFlaco/ 0.. Edio cr*tica utiliIada e outras edi>es0. ('. Concluso0* Flon de Alexandria2 Flaco

    ).0 3i4liogra5ia).0 (. Edi>es cr*ticas+ comentrios e tradu>es de F*lon).0 (.(. Edi>es cr*ticas+ comentrios e tradu>es deFlaco).+ (.&. Edi>es cr*ticas+ comentrios e tradu>es de outras obras de F*lon).+ &. Edi>es cr*ticas e tradu>es de outros autores clssicos e biIantinos). @. Outras fontes). . Estudos sobre F*lon eFlaco))) 1. Estudos de carcter )eral))( Anexos))( !ne%o (B !l)umas fi)uras "ist?ricas deFlaco))( (. !)ripa 5

    )) &. Dion*sio)) @. Flaco

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    )* . 5sidoro)/ 1. L;mpon)0 G. Macro)+ H. ,e:ano) !ne%o &B Corpus Papyrorum Judaicarum+ n.J(1@

    )** !ne%o @B K NQQRS

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    Introduo

    )6 Flon de Alexandria

    F*lon de !le%andria+ "omem em tudo notvel+ irmo de !le%andre+ o alabarca+

    e no ine%periente em mat6ria de filosofia. Eis al)umas das palavras de 4ue Flvio

    3osefo se socorre 4uando descreve F*lon num dos dois par)rafos 4ue l"e dedica em

    Antiguidades Judaicas(.

    Esta informao 6 tanto mais valiosa+ 4uanto #aio 39lio F*lon+ em tudo o 4ue

    escreveu e ocorpusfiloniano 6 bastante abundante2+ nos falou muito pouco acerca de si

    pr?prio. !s informa>es 4ue encontramos noutros autores so+ tamb6m elas+ escassas&.

    F*lon+ de acordo com a Suda+ descendia de uma lin"a)em de sacerdotes e nasceu

    em !le%andria+ onde residia a maior comunidade de 3udeus fora da Palestina+ e onde

    ter vivido a maior parte do tempo+ dedicandoTse ao estudo da filosofia@. O 9nico

    acontecimento da sua vida de 4ue temos not*cia 6 uma via)em feita pelo autor a -oma+

    como responsvel pela embai%ada 4ue a comunidade :udaica enviou ao imperador #aio

    Cal*)ula2+ muito provavelmente no Outono de @A+ de 4ue a sua obra Embaixada a

    Gaio Legatio ad Gaium2 nos d testemun"o.

    Contudo+ como bem nota ,c"artI1+ se atentarmos no conte%to "ist?rico em 4ue

    F*lon viveu e nas informa>es de 4ue dispomos acerca da sua fam*lia+ podemos

    aprender um pouco mais sobre eleB como o seu pai era cidado romano+ desde a

    inf;ncia+ F*lon )oIou das vanta)ens de uma educao enraiIada na cultura )re)aG.

    5sto reflecteTse na sua obraB o autor dominava de forma irrepreens*vel a l*n)ua e

    os estilos literrios )re)os e con"ecia bem os autores e fil?sofos dos Velenos. Wo

    corpus filoniano mencionaTse autores como !rist?teles+ /o6cio+ Dem?crito+ Di?)enes+

    Xs4uilo+ Eur*pides+ Veraclito+ Ves*odo+ Vip?crates+ Vomero+ Yon+ Pan6cio+ P*ndaro+

    Plato+ ,?lon+ Zenofonte+ [eno... Wo sabemos se falava o "ebraico.

    (!"#$ % &&& '$() *+ ,-$*. /$01213 4"52-$0)16 *5 *17 '".8-)916 '05":;3 :?"1@1:!.3 1=B,5?)13 AJ+ (A. &10T&G'2.&Como por e%emplo Eus6bio ED 55+ .&2\ ,uda+ s.v. N]^_`.@Cf. ,uda+ s.v.N]^_`.,obre a autencidade dos relatos de uma se)unda via)em de F*lon a -oma+ como membro de umase)unda embai%ada+ e do seu encontro com o ap?stolo Pedro feitos por Eus6bio inE 55 (H.( e (A.A2+ cf.

    /o% (0@0B %%i+ n. 02.1n amesar &'('B 02.GCf. C. Mond6sert inVorbur7 et al& (0002.

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    !le%andre era+ : se disse+ alabarca em !le%andria+ o 4ue 6 um ind*cio do

    prest*)io da sua fam*lia+ por4ue o alabarca era um dos responsveis pela comunidade e

    uma das suas fun>es+ desde o tempo dos Ptolemeus+ seria cobrar impostos.

    ,abemos tamb6m 4ue era uma fam*lia muito abastada 3osefoHconta 4ue o irmo

    de F*lon+ em certa ocasio+ emprestou ao rei !)ripa 5 uma soma de duIentas mil

    dracmas2 e 4ue tin"a li)a>es casa imperialB !le%andre foi procurador de !nt?nia+

    me do imperador Cludio. Um dos seus fil"os+ Marco+ )eria importantes ne)?cios com

    pa*ses na Iona da !rbia e da Yndia e casou com /erenice+ fil"a de !)ripa 5A. ! morte

    prematura de Marco ps fim a este casamento.

    Wo temos 4ual4uer not*cia de 4ue F*lon ten"a tido mul"er e fil"os+ mas

    sabemos 4ue !le%andre tin"a outro fil"o+ $ib6rio 39lio !le%andre+ 4ue+ tendo

    renunciado reli)io dos seus antepassados0+ desempen"ou+ entre outros+ os car)os de

    )overnador da 3udeia em G A+ )overnador do E)ipto durante o principado de Wero+

    comandante de $ito durante a )uerra na 3udeia('e prefeito do Pret?rio em -oma.

    uanto a F*lon+ ele refereTse a si mesmo como sendo um ancio no primeiro

    par)rafo da Embaixada a Gaio. ! via)em a -oma descrita neste tratado ter ocorrido

    ca& @A@0 d.C. EstimaTse 4ue o autor ten"a nascido ca& &' (' a.C. 5nfereTse esta data a

    partir do seu dilo)o Sobre os Animais e Animalibus2&Wele+ F*lon sur)e como um

    adulto : maduro envolvido numa discusso com o seu sobrin"o+ $ib6rio 39lio

    !le%andre+ claramente um :ovem.

    Ora+ em & d.C.+ este sobrin"o tin"a idade para desempen"ar o car)o de subT

    )overnador da $ebaida+ mas+ em H'+ era ainda vi)oroso o suficiente para e%ercer

    fun>es como )eneral de $ito no cerco de 3erusal6m.

    ,e o nosso autor se descreve a si pr?prio como um ancio em ca& @A d.C.+ e se

    se infere 4ue ele era um "omem maduro na 6poca em 4ue escreve Sobre os Animais+

    tornaTse plaus*vel 4ue a data de nascimento de $ib6rio se:a ca&(1 d.C+ e da* &'T(' a.C.ser uma data provvel para o nascimento do seu tio.

    Wo sabemos 4uando morreu F*lon. O facto de o autor se referir a um

    acontecimento 4ue sucedeu : durante o principado de Cludio Legat. &'G2 dTnos

    como terminus post uem o ano de ( d.C. Mas Mond6sert((estima 4ue F*lon ten"a

    morrido ca& de 1'+ muito provavelmente pelo facto de+ em Sobre os Animais1A+ o autorHAJ+ (A. (10T(G'.AAJ+ (0. &HGTH.0AJ+ &'. (''.('HJ+ 1. 1TG+ G. &@H.((nVorbur7 et al&(000B AHA2

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    descrever uma corrida de cavalos 4ue 6 tamb6m relatada por Pl*nio+ em istIria

    aturalAB (G'T(G(+ onde se diI 4ue esta teve lu)ar durante os :o)os de Cludio+ em H

    d.C.

    Em Sobre as Leis Especiais e Specialibus Legibus2 @. (T@+ F*lon 4uei%aTse de

    ter sido afastado do estudo da filosofia pelos cuidados da pol*tica. Wo temos not*cia de

    4ual4uer envolvimento seu na vida p9blica e%cepo da4uele 4ue 6 atestado em Flaco

    n Flaccum2 e Embaixada a Gaio. Ora+ estes dois tratados+ pelo seu carcter

    "istorio)rfico e apolo)6tico+ ocupam um lu)ar e%cepcional no con:unto do corpus

    filoniano+ maioritariamente constitu*do por obras de natureIa filos?fica e e%e)6tica.

    ,e estas obras possuem um carcter to e%cepcional num corpus to vasto+ 6

    :usto inferir 4ue o seu conte9do estar+ tamb6m ele+ relacionado com acontecimentos

    e%cepcionais na vida do autor.

    6 7 contexto ist&rico de Flaco

    6)6 A comunidade 8udaica de Alexandria no 9erodo anterior a * d6:6

    Flacorelata a perse)uio de 4ue os 3udeus de !le%andria foram v*timas+ no ano

    de @A d.C.(&+ por parte das comunidades )re)a e muito provavelmente2 e)*pcia da

    cidade.

    Pela forma pormenoriIada como F*lon narra os acontecimentos+ infereTse 4ue ele

    viveu de perto pelo menos al)uns dos factos 4ue descreve+ o 4ue torna esta obra+ em

    con:unto com a sua se4uela+ Embaixada a Gaio+ uma fonte primria para a sua

    bio)rafia+ mas tamb6m para a "ist?ria dos 3udeus desta 6poca e para o principado de

    #aio.

    ! not*cia desta perse)uio 6 um pouco surpreendente+ por4ue+ durante oreinado dos Ptolemeus+ no temos 4ual4uer re)isto de comportamentos "ostis para com

    a comunidade :udaica+ embora ten"amos atesta>es do envolvimento de 3udeus em

    4uerelas pol*ticasB por e%emplo+ entre (A( e (1 a.C.+ mercenrios e colonos 3udeus

    (&,abemos 4ue esta 6 a data da perse)uio por4ue F*lon nos diI Flac. 1G2 4ue as oficinas dos 3udeusestavam fec"adas em sinal de luto por Drusila 4uando a multido as pil"ou. Esta irm de #aio morreu em(' de 3un"o de @A. $endo em conta o intervalo de tempo necessrio para 4ue as not*cias c"e)assem a!le%andria+ o per*odo de luto ter decorrido durante o in*cio de 3ul"o. F*lon diITnos ainda Flac. A(24ue

    foram torturados 3udeus no teatro durante o aniversrio de #aio @( de !)osto2 e 4ue os dist9rbioscontinuaram para l desta data. Flaco 6 preso durante a Festa dos $abernculos Flac&((G2+ 4ue nesseano ter decorrido em meados de Outubro. Por esta altura+ : a perse)uio tin"a terminado.

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    tiveram um papel militar2 influente nas disputas dos Ptolemeus tomarem determinado

    partido implicava 4ue se tornassem inimi)os de outro.

    Mas+ de um modo )eral+ 6 se)uro afirmar 4ue 4ual4uer animosidade 4ue pudesse

    e%istir no seria motivada por 4uest>es raciais+ mesmo tendo em conta relatos como o

    4ue encontramos em @Kacabeus+ de resto bastante inveros*mil+ ou o tipo de discurso

    4ue 3osefo atribui a M;neton @'' a.C.2+ 4ue+ 4uer se:a aut=ntico ou for:ado

    posteriormente+ no deve ser entendido como si)nificativo+ pois 6 4uase certo 4ue no

    teria circulao fora de um c*rculo restrito de sacerdotes e)*pcios. ,? nas primeiras

    d6cadas do s6c. 5 d. C.+ com os escritos de autores como Lis*maco+ uer6mon e pion+

    6 4ue sentimentos "ostis aos 3udeus ad4uiriram verdadeira e%presso literria(@.

    !o atentarmos nas principais fontes 4ue re)istaram esta perse)uio(+

    apercebemoTnos de 4ue nen"uma delas nos refere as suas causasB 3osefo limitaTse a

    diIer+ numa aluso muito breve aos acontecimentos+ 4ue+ no ano de @A+ "ouve tumultos

    entre os 3udeus e os #re)os de !le%andria. F*lon+ 4ue em Flaco nos dei%ou um relato

    bastante pormenoriIado dos acontecimentos+ nunca nos descreve as suas causas mais

    profundas.

    Este autor falaTnos de um rancor ancestral e+ de certa forma+ inato contra os

    3udeus(1+ mas nunca nos e%plica 4uais as ori)ens deste rancor. $amb6m 3osefo(Galude

    a este tipo de sentimento e+ tamb6m ele+ omite as suas ori)ens.

    !pesar deste rancor inato+ os 3udeus "abitaram a cidade praticamente desde a

    sua fundao(H e+ durante o reinado dos Ptolemeus+ per*odo 4ue abran)e

    apro%imadamente treIentos anos+ "abitaramTna 4uase sempre de um modo pac*fico(A.

    (@,obre o florescimento deste tipo de literatura no E)ipto cf. #a)er (0A1B @0T12.(O pr?prio F*lon emFlac& e Legat& Flvio 3osefo+ escrevendo mais tarde+ alude a estes acontecimentosapenas num passo AJ(A. &1H2 e fala sobre este per*odo de modo disperso em HJ e CA. ! estas fontes

    :untaTse o papiro de uma carta 4ue Cludio enviou para !le%andria Corpus Papyrorum Judaicarum vol.

    &+ n.J (1@2+ de 4ue adiante falaremos mais pormenoriIadamente. Da obra de $cito+ principal "istoriadordos principados dos 39lioTClaudianos+ no se conservou na sua totalidade o te%to referente vida de #aio.Wo caso de D*on Cssio e ,uet?nio+ estes acontecimentos parecem estar para l das suas esferas deinteresse. !s fontes 4ue nos poderiam dar uma verso )re)a dos acontecimentos+ os c"amados ActaAlexandrinorum ouActos dos Krtires PagMos+cu:a parte 4ue se refere ao per*odo 4ue nos interessa esteditada em CPJ+ &+ (1'+ (1+ (1G a+ b+ c+ d2+ c"e)aram at6 n?s num estado demasiado fra)mentrio+embora al)uma da informao conservada se:a preciosa para uma mel"or compreenso dosacontecimentos relatados por F*lon.(1Flac& &0.(GCA (. &@(H3osefo diITnos 4ue o pr?prio !le%andre concedeu aos 3udeus o direito de "abitar na cidade+ atribuindoTl"es os mesmos privil6)ios 4ue aos Maced?nios CA &.@12. F*lon afirma Flac&+ G2 4ue os 3udeus"abitavam al)umas col?nias desde a sua fundao+ para a)rado dos seus fundadores+ o 4ue poderia ser

    o caso da cidade de !le%andria.(A,o+ de facto+ escassas 4uais4uer indica>es de tumultos entre 3udeus e outras comunidades at6 @A d.C.Em CPJ+ &+ ((+ re)istaTse um caso+ datado da primeira metade do s6c. 5 a.C.

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    ,o ind*cios da sua inte)rao o facto de ter sido necessrio produIirTse a verso )re)a

    da /*blia Vebraica "abitualmente denominada Septuaginta2+ bem como o

    florescimento de toda uma literatura :udaica escrita em l*n)ua )re)a (0. ! somar a estes

    dados+ actualmente estimaTse 4ue+ no final do s6c. 5 a.C.+ cerca de cem mil 3udeus

    viveriam na cidade&'.

    ,e esta comunidade viveu em paI+grosso modo+ durante os 4uase treIentos anos

    em 4ue a dinastia fundada por Ptolemeu ,?ter reinou sobre !le%andria e o E)ipto+ 6

    le)*timo inferir 4ue as mudanas nas rela>es entre 3udeus e #re)os tero sido+ no

    m*nimo+ influenciadas+ pela passa)em da soberania sobre a cidade para mos romanas.

    ,abemos 4ue -oma se comeou a envolver na pol*tica de !le%andria a partir de

    &H@ a.C.+ 4uando o senado concedeu a Ptolemeu 55 a amicitia romana. ,o vrios os

    e%emplos de interven>es de -oma em assuntos de pol*tica interna do E)ipto+ mas

    interessaTnos apenas o per*odo a partir de 11 a.C.+ altura em 4ue ocorreram os

    primeiros acontecimentos 4ue foram causa de tenso entre as comunidades :udaica e

    )re)a.

    Wo ano de 11 a.C.+ #ab*nio+ le)ado de Pompeio+ comandou um e%6rcito num

    ata4ue contra o E)iptoB a )uarnio :udaica encarre)ada da defesa de Pel9sio+ posio

    estrat6)ica no Delta do Wilo+ cedeuTl"e passa)em. Pompeio tin"a sido aconsel"ado por

    Verodes !nt*patro+ av de Verodes+ o #rande+ a tomar esta deciso&(.

    Em AH+ um es4uadro militar :udaico proveniente de Veli?polis e um outro+

    oriundo de M=nfis+ a:udaram Mitridates a libertar 39lio C6sar+ 4ue se encontrava detido

    em !le%andria devido a uma revolta da populaoB este au%*lio foi prestado apesar da

    oposio da multido de !le%andria+ 4ue via a presena de C6sar na cidade como um

    press)io da con4uista romana&&.

    66 7s 9rimeiros anos de so4erania romana so4re Alexandria

    Em @' a.C.+ Octaviano con4uistou o E)ipto+ pondo fim era dos Ptolemeus e

    convertendo a re)io em prov*ncia do 5mp6rio -omano. !s altera>es foram in9merasB

    o e%6rcito foi dissolvido e substitu*do por le)i>es romanas+ o palcio dos Ptolemeus

    passou a ser ocupado por sucessivos )overnadores+ 4ue eram escol"idos entre os

    (0! este respeito cf. Collins &'''B &0TG@2.

    &'Para uma discusso mais pormenoriIada desta 4uesto cf. Delia (0AA2.&(,obre estes acontecimentos cf. 3osefo+AJ (. 0AT00\ /arcla7 (00GB 'T(2.&&Cf. 3osefo+AJ(. (&HT(@&.

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    membros da ordem e4uestre e cu:a autoridade era emanada de um imperador 4ue se

    encontrava distante.

    Em suma+ !le%andria+ 4ue outrora fora a capital cultural e financeira do

    Mediterr;neo+ convertiaTse a)ora em capital de prov*ncia. /o% (0@0B %v2 comenta 4ue+

    se os !le%andrinos desconfiavam de !nt?nio no tempo em 4ue ele era vivo+ depressa se

    devem ter apercebido da diferena de tom entre este romano e os 4ue se l"e se)uiram.

    $odavia+ importa notar 4ue Octaviano+ apesar de !le%andria ter apoiado Marco

    !nt?nio+ poupou a cidade&@e concedeu aos seus "abitantes uma s6rie de privil6)ios. O

    territ?rio de !le%andria no estava su:eito a impostos e os terrenos 4ue os !le%andrinos

    possu*ssem dispersos pelo E)ipto estavam su:eitos ao pa)amento de ta%as menores. Os

    cidados estavam isentos da ".1N).:.+ o imposto cobrado sobre a populao. Os

    sucessivos imperadores mantiveram+ como at6 ento+ o acesso cidadania ale%andrina

    como um privil6)io e%clusivo de determinados sectores da populao.

    ! somar a isto+ e a :ul)ar pelo 4ue nos diI Pl*nio+ o Moo &+apenas os cidados

    de !le%andria no os E)*pcios2 podiam re4uerer cidadania romana. E%istem in9meros

    e%emplos de !le%andrinos 4ue se tornaram cidados de -oma+ 4ue prosperaram ao seu

    servio e 4ue ocuparam lu)ares cimeiros na corte e na administrao imperiais.

    Contudo+ at6 ao tempo de Caracala no temos not*cia de 4uais4uer !le%andrinos 4ue

    ten"am ocupado o car)o de senador de -oma.

    $alveI estes dados a:udem a e%plicar por 4ue motivo+ em !le%andria+ s? temos

    not*cia de uma sublevao contra os -omanos+ lo)o imediatamente a se)uir ocupao+

    em &0 a.C.&1. Wo entanto+ al)uns sectores da populao eram "ostis nova autoridade.

    Um dos motivos 4ue pode e%plicar esta "ostilidade poder ser a corrupo de al)uns

    dos -omanos 4ue administraram a cidade durante os sucessivos principados.

    Mas esta animosidade no se traduIia pelo recurso viol=nciaB os !le%andrinos

    preferiam desautoriIar ou escarnecer dos seus )overnadores. /o% (0@0B%vii2 apontacomo e%emplo paradi)mtico deste tipo de comportamento o epis?dio 4ue F*lon narra

    em Flac& (@AT(@0&GB 5sidoro+ um #re)o 4ue ocupava um lu)ar de desta4ue na sua

    comunidade e era um dos c"efes da faco mais "ostil a -oma+ encoleriIado com o

    )overnador+ por se ter apercebido 4ue no )oIava de 4ual4uer ascendente sobre ele

    &@Cf. D*on Cssio+ 1(. (H. @T.&Ep&('. 1TH+ ('.&1Estrabo+ (H. 1@. &0.&GO relato de ,6neca em ial. (&. (0+ G constitui outro e%emplo e gespasiano foi alvo de insultossemel"antes D*on Cssio+ G1. AT02.

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    se)undo F*lon2+ enc"eu o )insio com um )rupo de desocupados Flac&@A2 4ue o

    insultaram em verso.

    ! comunidade :udaica de !le%andria+ pelo contrrio+ ne)ociou prontamente com

    o invasor+ o 4ue no ter sido bem aceite pelos estratos da comunidade )re)a mais

    adversos ao dom*nio romano. Como resultado destas ne)ocia>es+ os privil6)ios 4ue

    C6sar concedera aos 3udeus foram mantidos por !u)usto+ 4ue os ter mandado )ravar

    numa coluna de mrmore e eri)ir na cidade&H.

    ! Dispora+ vivendo em diferentes re)i>es do 5mp6rio -omano e estando su:eita

    s suas leis+ de um modo )eral+ )oIaria do direito de se reunir eou de possuir locais

    para reunio i&e&+sina)o)as2\ de cumprir o costume dosabbat\ de consumir comida de

    acordo com os seus costumes\ de deliberar sobre os assuntos internos da comunidade e

    de enviar o imposto anual para o $emplo em 3erusal6m&A+ sendo 4ue esta permisso de

    4ue emissrios via:assem com to vastas somas de din"eiro+ por todo o imp6rio+ era

    privil6)io e%clusivo das comunidades :udaicas.

    !l6m destas vanta)ens+ sabemos 4ue os 3udeus de !le%andria possu*am um

    consel"o de ancios N5)[email protected] pr?prio+ 4ue at6 (( a.C. foi liderado por um etnarca+ e

    4ue )eria as 4uest>es relacionadas com a comunidade&0. X poss*vel defender 4ue a

    e%ist=ncia deste consel"o ter sido uma forma de o primeiro imperador a)radecer os

    servios prestados na )uerra contra Cle?patra.

    Contudo+ 4uando os !le%andrinos+ ou se:a+ os #re)os cidados de !le%andria+

    pediram a !u)usto 4ue concedesse cidade o direito de ter um senado pr?prio+ este foiT

    l"es ne)ado@'. Os -omanos muito provavelmente temiam 4ue+ se e%istisse um consel"o

    )re)o+ os seus membros encora:assem subleva>es e actos de viol=ncia na cidade.

    O facto de os -omanos terem concedido aos 3udeus um senado pr?prio+ mas no

    aos !le%andrinos+ ter )erado tens>es entre ambas as comunidades. Uma parte dos

    #re)os e dos E)*pcios entenderia 4ue esta concesso era um sinal de 4ue os 3udeustin"am desempen"ado um papel no decl*nio da cidade e do resto da re)io e estavam

    a)ora a ser recompensados pela autoridade a 4uem tin"am prestado au%*lio.

    &HCf. 3osefo+AJ(. (AA\ CA&.G'. 3osefo atribui erradamente a promul)ao dos direitos da comunidade:udaica a C6sar. ,obre esta 4uesto cf. van der Vorst &''@B &(2.&A,abemos 4ue os 3udeus da Dispora )oIavam destes privil6)ios atrav6s de decretos 4ue foram emitidosem seu favor e 4ue se conservaram. Para mais informao sobre esta 4uesto cf. E. P. ,anders in Fine(000B &2.&0Para uma discusso mais pormenoriIada desta 4uesto cf.Flac. H+ nota ad locum.@'Os pedidos da parte dos !le%andrinos para 4ue !u)usto l"es concedesse um senado esto atestados em

    CPJ+ &+ (1' &'T(0 a.C.2. D*on Cssio 1(. (H+ &2 diITnos 4ue !u)usto ordenou aos !le%andrinos 4ue se)overnassem sem senadores. X mais provvel 4ue !u)usto ten"a proibido a eleio de um novo consel"odo 4ue dissolvido um : e%istente.

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    6*6 Altera;es nas estruturas econ&micas e sociais

    $odavia+ a comunidade :udaica de !le%andria poder no ter sido to

    beneficiada pela mudana de poderes como primeira vista poderia parecer. ! presena

    dos -omanos tornou necessrio reor)aniIar as estruturas econ?micas e sociais do

    E)ipto. Este processo veio acentuar as diferenas entre os E)*pcios+ aut?ctones+ e os

    "abitantes de ori)em )re)a. ! tentativa de estabelecer uma descrio da populao+ por

    natureIa "etero)6nea+ 4ue constitu*a o E)ipto+ era uma tarefa ur)ente+ por4ue estava

    relacionada com a cobrana de impostos.

    Em & &@ a.C.+ !u)usto su:eitou a maioria da populao do E)ipto ao

    pa)amento de um imposto+ a ".1N).:.+ de 4ue cidados romanos e )re)os estavam

    isentos ou pa)ariam apenas uma ta%a reduIida.

    Este imposto+ al6m do pesado encar)o financeiro 4ue comportava+ implicava

    tamb6m uma certa de)radao para 4uem era ta%ado+ uma veI 4ue acentuava as

    diferenas entre a4ueles 4ue possu*am o estatuto de cidados e os 4ue no o possu*am.

    Com a introduo deste imposto+ tamb6m a comunidade :udaica ter ficado su:eita a

    discriminar o seu estatuto c*vico.

    Ora+ os 3udeus )oIariam de autonomia reli)iosa e social+ mas no de direitos de

    cidadania completa. EraTl"es permitido manter uma or)aniIao pol*tica pr?pria+ 4ue

    durante o per*odo de dom*nio romano encontrou a sua e%presso m%ima na e%ist=ncia

    do conc*lio de ancios 4ue acima referimos. Os 3udeus usufruiriam+ ainda+ do direito de

    :ul)ar as suas causas em tribunais pr?prios+ bem como do de construir sina)o)as e de

    educar os seus descendentes se)undo as tradi>es dos seus antepassados.

    Com a concesso destas prerro)ativas+ a autoridade romana permitiu

    comunidade :udaica de !le%andria viver de acordo com os seus costumes e tradi>es

    ancestrais+ como de resto sucedera na 6poca ptolemaica. Os 3udeus ocupavam+ portanto+um estatuto interm6dio+ entre os #re)os com cidadania plena e os E)*pcios+ de mais

    bai%o estatuto.

    O centro da or)aniIao c*vica :udaica era o ,1"*56Q.+ uma forma de autoT

    )overno+ de 4ue usufru*am diversas comunidades dispersas pelo 5mp6rio -omano+ e no

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    apenas a :udaica@(. ! e%ist=ncia desta or)aniIao permitia aos 3udeus )arantir a

    manuteno dos direitos 4ue acima descrevemos.

    uer F*lon 4uer 3osefo se referem em diferentes passos a este ,1"*56Q. como

    ,1"?*5.@& e desi)nam os seus membros por,1"R*.? cidados2. Wo entanto+ ,1"R*.? 6

    tamb6m utiliIado para desi)nar cidados de pleno direito2 da ,"?3+ de modo 4ue este

    uso dos vocbulos por ambos os autores )erou uma ambi)uidade 4uanto ao verdadeiro

    estatuto pol*tico dos membros da comunidade :udaicaB seriam eles ,1"R*.?apenas em

    relao ao ,1"*56Q.:udaico ou o termo ,1"R*.? indicava tamb6m 4ue eles pertenciam

    ao n9mero de membros da ,"?3h

    !l)uns 3udeus teriam sem d9vida estatuto de cidados+ mas estariam no topo da

    pir;mide social :udaica. ! fam*lia de F*lon+ por e%emplo+ seria um destes casos.

    Contudo+ a cidadania+ em sentido tradicional+ implicava participao nos cultos c*vicos

    de !le%andria e isto estava vedado aos 3udeusB era idolatria@@.

    Este facto ter contribu*do para )erar mais tenso entre #re)os e 3udeus+ pois os

    primeiros deveriam encarar a con:u)ao do pleno usufruto do estatuto da cidadania

    ale%andrina e a manuteno dos costumes reli)iosos :udaicos como uma

    impossibilidade. Por6m+ o sur)imento da ".1N).:. ter encora:ado al)uns 3udeus a

    pedirem cidadania ale%andrina.

    ConservaramTse documentos 4ue atestam esta situao. Um papiro do ano 1

    a.C.@6 o rascun"o de uma petio de um 3udeu c"amado Veleno+ fil"o de $r*fon+ feita

    ao )overnador romano do E)ipto. Westa petio+ Veleno+ ento com mais de sessenta

    anos+ 4uei%aTse de 4ue+ apesar de ter recebido uma educao )re)a+ l"e estava a ser

    ne)ada a cidadania ale%andrinaB 4ueriam cobrarTl"e o imposto 4ue era cobrado aos".1+

    aos nativos+ a".1N).:.&Weste documento+ 6 ainda di)no de nota o facto de Veleno se

    ter descrito a si pr?prio como !le%andrino e de o escriba ter riscado este termo e o ter

    substitu*do pela e%presso 3udeu de !le%andria.,c"artI@1defende 4ue+ muito provavelmente+ a primeira formulao era a 4ue

    Veleno dese:ava e a se)unda foi a 4ue o escriba l"e imps. Como nota este estudioso+ o

    papiro 6 um testemun"o+ tanto mais valioso por4ue contempor;neo de F*lon ainda 4ue

    @(,obre o ,1"*56Q.:udaico de !le%andria cf. 3osefo+ AJ(+ ((H\ Carta de Aristeias+ @('. ,obre outrascomunidades 4ue constitu*am ,1"?*5TQ.*. dispersos pelo 5mp6rio UideV. ,tuart 3ones (0&GB &HT&A2\sobre o sistema de )overno do ,1"*56Q. e as altera>es 4ue sofreu ao lon)o dos s6culos Uide Fer)usMillar inE. ,c"rer et al. @ (0AGB 0&T02.@&Cf.+ por e%emplo+Flac&+ 1@.@@Cf. @Kac&&+ &AT@&\ /arcla7 (00GBH'2.@Cf. CPJ+ &+ (1(.@1namesar &''02.

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    ele fosse muito :ovem nesta data2+ da tentativa empreendida por al)uns membros da

    comunidade :udaica de ad4uirir o estatuto de cidadania.

    Um outro documento 4ue nos demonstra 4ue esta era de facto uma causa de

    tenso entre #re)os e 3udeus 6 um dos papiros 4ue inte)ram o corpus desi)nado por

    Actos dos Krtires Alexandrinos@G. Weste te%to+ um portaTvoI dos #re)os de !le%andria

    insiste 4ue os 3udeus deviam pa)ar a".1N).:.+ pois no tin"am o mesmo carcter dos

    !le%andrinos e viviam da mesma forma 4ue os E)*pcios.

    Embora a maior parte dos membros da comunidade :udaica no se envolvesse

    nestas disputas@H+ estas tero contribu*do para piorar as rela>es entre viIin"os.

    *6 A 9rimeira 9arte de Flaco

    *6)6 Flaco, governador de Alexandria e do

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    abertamente o partido de #6melo+ neto natural de $ib6rio+ 4ue+ 6poca+ l"e ter

    parecido um candidato mais provvel a tornarTse o novo imperador.

    ! morte de #6melo e em se)uida a de Macro foram )olpes devastadores para

    Flaco&+ 4ue dei%ou de ser capaI de lidar com os assuntos de estado com a ener)ia 4ue

    at6 4uele momento revelara. !percebendoTse da posio vulnervel do )overnador+

    al)uns dos a)itadores mais influentes da comunidade )re)a souberam tirar partido da

    situao@.

    De acordo com o relato de F*lon+ os membros da comunidade )re)a mais "ostis

    aos 3udeus eram Dion*sio+ 5sidoro e L;mpon+ responsveis tamb6m pela oposio )re)a

    autoridade romana. Mas entre estes estariam+ ainda+ pion e uer6mon+ nunca

    referidos por F*lon+ mas 4ue fariam parte da embai%ada )re)a enviada a #aio. #a)er

    (0A1B 02 defende 4ue estes 9ltimos ocupariam um n*vel de import;ncia mais elevado

    do 4ue os outros tr=s.

    Este )rupo de "omens ter persuadido Flaco a ser c9mplice dos actos 4ue

    planeavam praticar contra os 3udeus+ sob o prete%to+ talveI al)o fr)il+ de 4ue a sua

    coniv=ncia iria a)radar cidade de !le%andria e !le%andria+ sendo uma cidade amada

    pelo novo imperador+ o podia favorecer aos ol"os deste.

    $er sido nesta ocasio 4ue os 3udeus confiaram a Flaco o decreto

    con)ratulat?rio 4ue a comunidade tin"a promul)ado em "onra de #aio+ 4uando este

    ascendera a imperador+ com o ob:ectivo de 4ue o )overnador o enviasse para -oma.

    Flaco no o enviou e ter sido esta a primeira arbitrariedade 4ue cometeu contra a

    comunidade :udaica.

    Contudo+ no 6 poss*vel avaliar 4ual o )rau de responsabilidade de Flaco nos

    acontecimentos descritos por F*lon+ nem determinar 4uo parcial 6 o seu relato. Varjer

    &''AB (@2 ar)umenta 4ue+ se o )overnador dissolveu clubes e associa>es )re)os+ 6

    poss*vel 4ue medidas semel"antes+ tomadas em relao comunidade :udaica+ ten"amsido entendidas por F*lon como um sinal de "ostilidade para com os 3udeus e no 6

    provvel 4ue o )overnador+ dispondo de le)i>es 4ue se encontravam estacionadas em

    Wic?polis+ nada tivesse feito para pr fim a uma perse)uio 4ue se prolon)ou por um

    per*odo to e%tenso como o 4ue o relato de F*lon su)ere.

    O mesmo autor defende a "ip?tese de os -omanos terem intervindo para pr fim

    aos incidentes e de retalia>es de ambas as partes terem )erado mais viol=ncia. Wo

    &Flac&D('\Flac&D(G.@Flac&D(AV&0&Cf.Flac.+ &@+ n. (G e (H.

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    entanto+ tudo leva a crer+ como abai%o veremos+ 4ue os 3udeus no possu*am armas para

    atacar de forma eficaI os seus viIin"os.

    Em relao ao facto de Flaco ter mantido em seu poder o edicto 4ue a

    comunidade :udaica l"e confiou a pedido de membros da comunidade )re)a+ o mesmo

    autordiITnos 4ue estes pactos entre oficiais romanos e elites locais eram uma prtica

    atestada no 5mp6rio -omano e d e%emplo do cretense Cludio $imarco+ 4ue se )abava

    de depender da sua vontade os )overnadores receberem ou no o cumprimento da

    assembleia de prov*ncia1.

    $odavia+ a deciso de Flaco de reter em sua posse o decreto promul)ado pelos

    3udeus+ tanto 4uanto nos parece+ no 6 da mesma *ndole do e%emplo citado+ ainda 4ue

    este se:a paradi)mtico em relao influ=ncia 4ue certos elementos das elites locais

    pudessem ter sobre oficiais romanos.

    *6 Agri9a em Alexandria2 o incio da 9erseguio

    Wo gero de @A+ !)ripa 5 aportou em !le%andria. -e)ressado de -oma+ F*lon

    afirma 4ue o rei estaria apenas de passa)em+ pois preparavaTse para tomar posse do seu

    novo reino na Palestina.

    Embora o autor insista na ideia de 4ue o monarca tudo feI para 4ue a sua curta

    estada em !le%andria permanecesse inc?)nita+ bem como no facto de ter sido por

    su)esto do pr?prio #aio 4ue !)ripa tomara a4uela rota+ por4ue era a mais rpida+

    contudo+ 6 poss*vel ar)umentar 4ue e%iste uma contradio no relato de F*lon.

    EmFlac& &AT&0+ o autor demoraTse a e%plicar todas as precau>es tomadas pelo

    soberano para 4ue no o vissem a desembarcar em !le%andria. Por6m+ em Flac. @'T@&+

    contaTse 4ue os #re)os procuraram e%plorar a inse)urana do )overnador e espicaar a

    sua inve:a contra o rei+ diIendoTl"e+ entre outras coisas+ 4ue a passa)em de !)ripa pelacidade implicava 4ue ele+ en4uanto )overnador da prov*ncia+ fosse ultrapassado em

    considerao e aviltado Flac& @(2.

    Por6m+ a dado momento+ os interlocutores de Flaco afirmam 4ue o rei atra*a as

    aten>es de tantos 4uantos viam o e%6rcito de lanceiros da sua )uarda pessoal a

    desfilar com as suas armas adornadas de prata e ouro Flac& @'2. ,e 6 poss*vel

    interpretar estas palavras como um e%a)ero+ proferido com o prop?sito de influenciar o

    )overnador contra a comunidade :udaica uma veI 4ue F*lon as coloca na boca de 4uem1$cito+Ann&(1.&'.

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    teria esse ob:ectivo2 6 tamb6m poss*vel entend=Tlas como contradit?rias em relao

    descrio do desembar4ue discreto de !)ripaB se os #re)os sabiam 4ue os lanceiros da

    )uarda pessoal de !)ripa possu*am armas adornadas de prata e ouro+ 6 bem provvel

    4ue o rei tivesse feito notar a sua presena.

    Outro ar)umento a favor desta "ip?tese 6 o facto de+ em Flac&+ @GT@0+ se narrar

    4ue os !le%andrinos levaram o louco da cidade+ Carabs+ para o )insio e 4ue+ uma veI

    a*+ o disfararam de rei+ parodiando em se)uida um corte:o real. Wo meio da confuso+ o

    louco 6 invocado pelo t*tulo deKarin+ o termo aramaico para desi)nar o soberano da

    Palestina. X bem poss*vel 4ue toda esta teatraliIao faa eco da recepo 4ue a

    comunidade :udaica poder ter feito a !)ripa.

    ,e os 3udeus+ de facto+ receberam o rei de forma entusistica+ ou pelo menos

    vis*vel+ isto poder ter inspirado o desa)rado de al)uns #re)os e E)*pciosB a atitude dos

    3udeus ter sido entendida como um sinal da lealdade :udaica a um rei estran)eiro+ em

    detrimento da considerao devida cidade 4ue os acol"era. O facto de a multido

    empre)ar o termo aramaico indica no s? 4ue o alvo do insulto era+ indubitavelmente+

    !)ripa+ mas si)nificar tamb6m 4ue os #re)os entendiam 4ue kt"e 3es8 first lo7alt7

    as to t"e !ramaicTspeajin) ruler of PalestineG.

    Weste ponto do te%to comeam a definirTse os tr=s elementos 4ue sero+ mais

    tarde+ responsveis pela perse)uio aos 3udeusB Flaco\ os responsveis pela oposio

    autoridade romana 4ue+ ao mesmo tempo+ eram tamb6m "ostis comunidade :udaicaHe

    4ue+ ocupando lu)ares proeminentes na comunidade )re)a+ persuadiram o )overnador+

    con4uistando a sua cumplicidade 5sidoro+ L;mpon+ Dion*sio+ e eventualmente outros+

    4ue F*lon no nomeia\ a multido+ 4ue se limitou a se)uir estes 9ltimosA.

    Flaco no foi capaI de punir+ ou no puniu+ os responsveis pela imitao do

    corte:o real. Mas este acto+ aparentemente bastante inofensivo+ no era+ de todo+

    desprovido de )ravidade. Por um lado+ !)ripa era um rei cliente de -oma+ o 4ue ocolocava sobre a proteco directa desta autoridade\ mas+ por outro+ 6 muito provvel 0

    4ue a multido estivesse ao corrente do motivo da anterior passa)em do rei por

    !le%andriaB em fu)a dos seus credores+ !)ripa diri)iraTse cidade para pedir um

    GL. V. Feldman (00GB ((12.HO uso do termo antiTsemita para este per*odo seria anacr?nico. Muitos autores discutem 4ual omel"or termo para desi)nar este sentimento 6poca. Wide Daniel (0H02 sobre o anacronismo do termoantiTsemita e #a)er (0A1B (@T&@2 sobre antiTsemitismo vs. antiT:uda*smo.

    AEsta multido correspondia a um )rupo espec*fico dos "abitantes da cidade+ e no sua totalidade+ cf.Flac&+ (.0Como nota /arcla7 (00GB 1@2.

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    empr6stimo de duIentas mil dracmas a !le%andre+ irmo de F*lon 1'. gan der Vorst

    &''@2+ por e%emplo+ defende 4ue o rei desembarcou em !le%andria+ em @A+ para pa)ar

    uma parte ou a totalidade desta d*vida1(.

    ,e esta era de facto a situao+ para al)uns sectores da populao noT:udaica de

    !le%andria seria bastante tentador escarnecer do monarca. Contudo+ como recorda

    F*lon+ mesmo 4ue no se tratasse de um insulto di)nidade de um rei+ !)ripa era ainda

    um ami)o pessoal de #aio e al)u6m 4ue fora distin)uido pelo senado romano com as

    ins*)nias de pretor1&.

    Flaco deveria ter tomado medidas para punir os responsveis e para restabelecer

    a ordem. Mas fec"ou os ol"osB tendoTo feito+ deu motivos aos responsveis por este

    primeiro insulto para esperar 4ue a impunidade continuasse a vi)orar+ perdendo desta

    forma a autoridade1@ 4ue outrora l"e permitira manter o controlo sobre a instvel

    multido de !le%andria.

    F*lon diITnos 4ue+ levada pela impunidade 4ue l"e fora concedida1+ a multido

    em f9ria passou deste ata4ue indirecto e relativamente inofensivo a violentos actos de

    perse)uio contra os 3udeus.

    /o% (0@0B %liii2 defende 4ue o acto 4ue se se)uiu foi premeditado e 4ue teve a

    sua )6nese na tentativa de encobrir o insulto a !)ripa. Como e%plica este autor+ 4uando

    os ;nimos se acalmaram um pouco+ 6 poss*vel 4ue os responsveis pela comunidade

    )re)a se ten"am apercebido da )ravidade do acto 4ue fora praticado. !)ripa podia

    muito bem denunciar ao imperador o 4ue acontecera+ ar)umentando 4ue o insulto 4ue

    l"e fora feito constitu*a tamb6m um insulto autoridade 4ue o tin"a investido do poder

    r6)io.

    Er)uer esttuas de #aio nas sina)o)as poderia parecer uma forma de faIer

    es4uecer a )ravidade do acto praticado. Por um lado+ esse )esto seria interpretado pelo

    imperador como um sinal de lealdade da comunidade )re)a\ por outro+ dei%ava os3udeus com um problema muito mais )rave em mos do 4ue o facto de !)ripa ter sido

    1'Cf. 3osefo+AJ(A. (@T&@0.1(Para uma discusso mais pormenoriIada das poss*veis motiva>es da passa)em de !)ripa por!le%andria cf.Flac&D &A+ n. (10.1&Flac&D '.1@F*lon afirma 4ue Flaco fora comprado a troco de "onras miserveis Flac&D '2+ o 4ue corresponder concesso de al)um tipo de "onras c*vicas. Em CPJ+ &+(1+ encontraTse preservado um papiro P& Oxy&('A02 4ue narra uma reunio+ aparentemente secreta+ entre o )overnador e entre dois #re)os+ 5sidoro eDion*sio+ 4ue teve lu)ar no ,erapeu. Este encontro 6 por veIes relacionado com o acordo feito entre Flaco

    e esta faco para 4ue ele l"es concedesse impunidade em 4ual4uer acto praticado contra os 3udeus. Parauma discusso mais pormenoriIada desta 4uesto cf. ,mallood (0G(B T12.1Flac&D '.

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    insultado11. !inda 4ue os direitos dos 3udeus l"es permitissem praticar o culto imperial

    em moldes diferentes dos restantes "abitantes de !le%andria+ uma veI eri)idas esttuas

    de #aio nas sina)o)as+ seria sempre insultuoso remov=Tlas+ por4ue eram uma

    representao do imperador1G. ! somar a isto+ o acto de er)uer esttuas nas sina)o)as

    implicava a sua profanao1H. Em al)umas sina)o)as foram de facto eri)idas esttuas de

    #aio+ mas outras acabaram por ser incendiadas ou demolidas pela multido em f9ria1A.

    *6*6 7 decreto de Flaco e o a9ogeu da 9erseguio

    Wa se4u=ncia dos factos referidos+ F*lon narra 4ue Flaco emitiu um decreto em

    4ue declarava os 3udeus de !le%andria estran)eiros e imi)rantes 10+ o 4ue abolia os

    seus direitos mais importantes e a sua constituio como ,1"*56Q.G'. X muito provvel

    4ue os #re)os ten"am pressionado Flaco a clarificar o estatuto c*vico dos 3udeus e 4ue

    este decreto ten"a sido a sua resposta+ ou mesmo 4ue ele o ten"a promul)ado sob a

    influ=ncia dos #re)os+ se)uindo uma sua indicao e%pressa. F*lon diITnos 4ue+ aos

    3udeus+ no foi concedido se4uer o direito de se defenderem de modo a tentarem

    revo)ar o decreto e 4ue+ pouco tempo depois+ Flaco concedeu impunidade a 4uais4uer

    actos de pil"a)em praticados contra a comunidadeG(.

    ! partir deste momento+ a perse)uio atin)iria o seu apo)eu. Como nota

    /arcla7 (00GB1@2+ no 6 poss*vel ordenar no tempo a se4u=ncia dos acontecimentos+

    11/arraclou)" (0A2 defende 4ue 6 provvel 4ue a multido ten"a sido movida mais pelo dese:oirresponsvel de insultar os 3udeus to abertamente 4uanto poss*vel do 4ue pelo receio de uma eventual

    punio de #aio. Uma "ip?tese no e%clui necessariamente a outra.1G! este respeito cf.Flac.+ (+ n. ([email protected] se e%plica emFlac.+ A+ e como #aio observa em Legat&D @1H+ os 3udeus sacrificavam a Deus eminteno dos imperadores. O espao da sina)o)a era por isso indispensvel a esta prtica ritual. Por6m+

    uma veI profanado+ dei%ava de ser um local de culto.1ACf.Legat&D (@&T(@1.10&&&2X$163 =.> Y,Z"60.3&&& Cf.Flac.+ 1+ nota ad locum.G',mallood (0G(B &'2 defende 4ue+ atacando o ,1"*56Q.+ Flaco ter retirado aos 3udeus o estatuto de=[*1?=1? estran)eiros com direito de resid=ncia2+ rele)andoTos para o de 2X$1?. Com este estatuto os3udeus tin"am direito a residir apenas num dos 4uarteir>es+ a4uele 4ue fora atribu*do aos seusantepassados e 4ue era desi)nado como 4uarteiro :udaico. /arraclou)" (0AB @&2 discorda e defende4ue talveI os termos deste decreto no fossem to severos 4uanto F*lon 4uer faIer crer e 4ue este ata4uese poder dever ao facto de os 3udeus serem em n9mero suficiente para viverem apenas num 4uarteiroda cidade. Contudo+ o 4ue F*lon nos diI no 6 4ue os 3udeus foram concentrados num 4uarteiro dacidade+ mas numa parte muito pe4uena de um ...5\3 ]$;3 Q1R).$ 8).96*[*^$&&&+Flac.+ 112. ! descrioapresentada emLegat&D (&T(&1 remeteTnos para a noo de 4ue os 3udeus foram de facto confinadosnum pe4ueno espao de um 4uarteiro+ onde mal podiam respirar+ e no simplesmente reconduIidos a

    uma seco da cidade onde tivessem espao suficiente para "abitar.G(O facto de os bens dos 3udeus terem sido pil"ados leva L. V. Feldman a su)erir 4ue o verdadeiromotivo da perse)uio foi econ?mico. ! este respeito cf. Feldman (00GB ((1T((H2.

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    proemin=ncia dada ao pormenor do tipo de c"icote utiliIado para punir a N5)16@.

    demonstra 4ue a 4uesto central+ para F*lon+ seria observar se os 3udeus seriam tratados

    como !le%andrinos ou como E)*pcios do mais bai%o estatuto Flac&DA'2+ o 4ue+ para

    este autor+ demonstra 4ue a 4uesto da cidadania estava no centro do conflito. Wo

    entanto+ F*lon poder ter destacado este pormenor para enumerar mais uma das

    implica>es do decreto promul)ado por Flaco. F*lon no nos diI de 4ue eram acusados

    os membros da N5)16@. 4ue foram presos e+ embora a "ip?tese defendida por /arcla7

    se:a bastante plaus*vel+ o autor tamb6m no alude a 4ual4uer tentativa 4ue a

    comunidade ten"a feito para se defender dos ata4ues 4ue sofrera.

    ,aber se os 3udeus se defenderam ou no poderia alterar a nossa leitura dos

    acontecimentos. X muito provvel 4ue al)uns se ten"am defendido+ mas sabemos 4ue

    no possu*am armas 4uando foram atacados pelos seus viIin"os. EmFlac&D A'+ narraTse

    4ue o )overnador ordenou 4ue as casas dos 3udeus fossem revistadas em busca de

    armas e 4ue nen"uma foi encontrada. O facto de+ em ( d.C.+ depois da morte #aio+ os

    3udeus terem+ de facto+ em sua posse armas+ 4ue utiliIaram para se vin)ar dos seus

    viIin"osG@+ torna muito provvel 4ue+ se em @A tamb6m as tivessem+ o mesmo tivesse

    acontecido.

    Em se)uida+ F*lon conta 4ue as mul"eres tamb6m no escaparam viol=ncia.

    Esta primeira aluso s mul"eres da comunidade Flac.+ A02 6 sempre citada+ em

    con:unto com Spec&+ @. (G0+ 4uando se trata de discutir a condio da mul"er no

    3uda*smo durante a !nti)uidade. O autor diITnos 4ue+ 4uando as "abita>es dos 3udeus

    foram revistadas+ as suas esposas+ cu:as vidas eram passadas em recol"imento dentro de

    casa no se apro%imando se4uer do limiar da porta2 e as suas fil"as solteiras

    confinadas aos aposentos das mul"eres+ evitando por pudor os ol"ares de "omens2 se

    viram e%postas aos ol"ares dos soldados.

    !lston (00HB (H&2 nota 4ue a invaso das casas dos 3udeus corresponde violao da4uilo 4ue eles teriam de mais privadoB era uma afirmao da autoridade de

    estran"os no 9nico espao 4ue at6 ento l"es tin"a estado vedado. ! e%posio das suas

    mul"eres+ 4uase sempre mantidas lon)e dos ol"ares dos "omens+ corresponderia

    passa)em para uma esfera p9blica da4uilo 4ue "averia de mais privado.

    F*lon diITnos+ em Spec. @.+ (G0+ 4ue a presena em espaos p9blicos+ lu)ares de

    concentrao de muita )ente+ era ade4uada apenas a "omens e 4ue as mul"eres deviam

    G@$c"erijover CPJ+ (+ GA2 conclui 4ue entre @A e ( os 3udeus tero contrabandeado armas e enviado umreforo de "omens para !le%andria. 3osefo AJ(0+ &HAT&H02 afirma 4ue os 3udeus pe)aram em armascontra os seus viIin"os.

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    manterTse em casa+ em recol"imento+ sobretudo a4uelas 4ue no eram casadas. gan der

    Vorst &''@B (A'2 discute+ a prop?sito deste passo+ at6 4ue ponto esta vida em recluso

    das mul"eres no corresponderia a uma formulao meramente idealiIada da realidade+

    ainda 4ue esta viso se:a defendida por F*lon e por outros contempor;neos seus. O

    referido estudioso ar)umenta 4ue a restrio da liberdade de movimentos imposta s

    mul"eres no era um trao pr?prio da cultura de !le%andria no tempo de F*lon+ onde

    elas fre4uentemente desempen"avam um papel activo na vida p9blica. gan der Vorst

    diITnos ainda 4ue no 3uda*smo+ nesta 6poca+ e%istia uma )rande variedade de opini>es

    acerca do papel e da posio da mul"er dentro desta comunidade. Por isto mesmo+ a

    viso de F*lon poder espel"ar apenas uma entre muitasG.

    Em Flac.+ 01+ narraTse 4ue tamb6m as mul"eres+ tal como os "omens+ se

    tornaram v*timas dos acontecimentosB tendo sido+ semel"ana de outros elementos da

    comunidade+ e%postas no teatro+ as 4ue aceitaram provar carne de porco+ foram

    libertadas+ mas as 4ue se mostraram mais resolutas+ e se recusaram a ser submetidas a

    esta "umil"ao+ acabaram por ser torturadas.G1 Este 6 o 9ltimo acto de viol=ncia

    re)istado por F*lon.

    *6/6 7 decreto 9romulgado 9ela comunidade 8udaica e a 9riso de Flaco

    Wos par)rafos 0HT('H+ o autor menciona uma informao importante 4ue sur)e

    de forma al)o tardia na estrutura do tratadoGGB o facto de Flaco no ter+

    deliberadamente+ enviado a #aio o decreto 4ue a comunidade :udaica promul)ara em

    sua "onra+ 4uando este ascendera a imperador.

    Weste decreto+ redi)ido e aprovado certamente antes dos tumultos na cidade+ os

    3udeus de !le%andria con)ratulavam oficialmente #aio pela sua ascenso a imperador e

    enumeravam as "onras 4ue a comunidade l"e iria prestar em substituio daparticipao re)ular no culto imperial+ de 4ue estava isentaGH.

    O decreto foi confiado ao )overnador e os 3udeus pediramTl"e 4ue o fiIesse

    c"e)ar s mos de #aio. Flaco prometeuTl"es 4ue o faria e 4ue o documento seria

    acompan"ado de uma carta sua 4ue daria testemun"o da lealdade :udaica ao imperador+

    G,obre o tema da condio da feminina em F*lon Uide,l7 (00'2.G1!l)uns autores ar)umentam 4ue F*lon narra o epis?dio da tortura das mul"eres de forma deslocada naestrutura da narrativaB este passo pertenceria+ cronolo)icamente+ aos acontecimentos narrados em A1T01.

    Para uma discusso mais pormenoriIada desta 4uesto cf.Flac.+ 01+ nota ad locum.GG$ardia em relao cronolo)ia real dos acontecimentos.GHCf.Flac.+ 0H+ n. &G@.

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    mas+ na verdade reteveTo em sua posse. Citando ,mallood (0A(B &@H2+ ka 7ear later

    t"e 3es discovered to t"eir "orror t"at it as still in "is office at !le%andria. Wo se

    sabe de 4ue forma F*lon estava informado de 4ue o documento permanecera na posse de

    Flaco.

    O facto de o )overnador no ter enviado o decreto para -oma dei%ava os 3udeus+

    numa situao de incumprimento para com #aio+ por4ue+ embora isentos do culto

    imperial+ os 3udeus+ como comunidade estran)eira residente no 5mp6rio+ tin"am o dever

    de "omena)ear o novo imperador.

    $emendo 4ue isto causasse a #aio a impresso de 4ue a comunidade l"e era

    desleal+ os 3udeus pediram a !)ripa 4ue+ na 4ualidade de ami)o pessoal+ l"e fiIesse

    c"e)ar uma c?pia do decreto. X bem poss*vel 4ue ten"a sido o pr?prio F*lon+ ou o seu

    irmo+ a faIer este pedido ao reiGA.!)ripa e%pediu a c?pia+ acompan"ada de uma carta

    em 4ue e%plicava os motivos do atraso.

    Em meados de Outubro+ F*lon contaTnos 4ue os membros da comunidade

    :udaica no tin"am recuperado ainda o ;nimo para celebrar a Festa dos $abernculos.

    Mas+ :ustamente nessa ocasio+ c"e)ou de -oma um destacamento de soldados 4ue

    prendeu Flaco. F*lon no nos indica+ por6m+ 4ue acusa>es sobre ele pendiam.

    ,mallood (0A(2 defende 4ue+ se as not*cias dos tumultos em !le%andria

    tivessem entretanto c"e)ado a -oma+ 6 provvel 4ue Flaco estivesse a ser acusado de

    m administrao da prov*nciaG0. $amb6m 6 poss*vel 4ue as acusa>es fossem de cariI

    pol*tico+ relacionadas ou com as suas li)a>es a ami)os de $ib6rio ou com o seu apoio a

    #6melo.

    Outra "ip?tese 6 a de 4ue Flaco tivesse sido detido por no ter enviado o decreto.

    !inda 4ue se admita 4ue #aio pudesse entender a perse)uio como um assunto da

    compet=ncia do )overnador+ o 4ue o dispensava de intervir+ ou 4ue fosse+ ele pr?prio+

    movido por sentimentos de "ostilidade contra os 3udeus como defende F*lon emEmbaixada a Gaio2+ ainda assim+ Flaco suprimira um documento 4ue l"e era diri)ido.

    Em -oma+ os acusadores de Flaco foram 5sidoro e L;mpon Flac&D(&12H'+ 4ue se

    contavam entre a4ueles 4ue o "aviam insti)ado contra os 3udeus em !le%andria. Estes+

    muito provavelmente+ teriam partido para -oma pouco tempo antes da priso do

    GA,obre esta 4uesto cf.Flac&D('@+ n. &G0.G0,obre acusa>es de m administrao de prov*ncia e seu en4uadramento :ur*dico cf. P. !. /runt ([email protected]',obre 5sidoro e L;mpon cf. !ne%o (. . e 1.

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    )overnadorB Millar (0HHB 2 aventa a "ip?tese de terem sido enviados na 4ualidade

    de embai%adores de !le%andria.

    /6 A segunda 9arte de Flaco

    O relato de como o anti)o )overnador foi :ul)ado+ condenado ao e%*lio e+

    finalmente+ morto por ordem de #aio ocupa toda a se)unda parte do tratado. Wele+ F*lon

    narra com todos os pormenores+ mesmo a4ueles 4ue ele no teria meio de saberH(+ o

    sofrimento de Flaco+ desde o momento em 4ue 6 condenado at6 aos seus 9ltimos dias de

    e%*lio na il"a de !ndros.

    !utores como Colson (0GH2 e Pelletier (0H&2 tendem a ver esta 9ltima parte

    da obra como uma ab:ecta demonstrao de compraIimento da parte de F*lon+ em

    relao punio do )overnador+ em clara contradio com passos da obra como Flac&

    (&(+ onde se ne)a 4ue e%ista 4ual4uer sentimento de ale)ria pelo sofrimento infli)ido a

    um inimi)oB a ale)ria nasceria antes da miseric?rdia e da piedade demonstradas por

    Deus+ 4ue afastou um inimi)o do seu povo.

    Wum arti)o intitulado kScaden_reude c"eI P"ilon d8 !le%andrieH&+ galentin

    WijiproetIj7 prop>e uma leitura diferente. Este autor considera 4ue+ apesar de ser

    poss*vel ler toda a se)unda parte como uma demonstrao de compraIimento pelo

    sofrimento de Flaco+ no entanto+ a e%presso deste sentimento serve+ sobretudo+

    pressupostos teol?)icosB ver um seu inimi)o+ 4ue tanto dano l"es causara+ cair em

    des)raa+ num momento em 4ue as suas v*timas tin"am ainda bem presentes os males

    4ue "aviam sofrido Flac.+ (&2+ 6 interpretado por F*lon como um sinal evidente de

    provid=ncia divina e como a mais indubitvel prova de 4ue o povo :udeu no "avia

    sido privado do au%*lio de Deus Flac.+ (0(2.

    Portanto+ este compraIimento poder ser entendido no tanto como um fim em sipr?prio+ mas como servindo o prop?sito de fomentar um sentimento de esperana e

    confiana numa comunidade 4ue nos 9ltimos meses tin"a sido severamente molestada+

    em )rande parte devido aco de Flaco.

    gan der Vorst &''@B &'&2+ defendendo a mesma posio+ afirmaB k$"eir :o7 is

    not about t"e miser7 of an individual person+ it is about t"e meanin) and implication of

    H(Como+ por e%emplo+ al)uns dos 9ltimos discursos de Flaco Flac&D (1H e se)s.2.H&g. WijiproetIj7 (00GB 0GT('02.

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    t"is+ namel7 t"e merciful intervation of )od. 2 "at "e aims at in t"is treatise is not

    to demonstrate a triump" of reven)e but of divine :ustice.

    Esta afirmao ser tanto mais vlida se tivermos em conta 4ue+ composio

    de Flaco+ sub:aIem preocupa>es de *ndole teol?)ica e filos?fica+ para al6m das de

    *ndole "istorio)rfica. ,e)undo WijiproetIj7+ a pr?pria estrutura do tratado parece

    pensada para reflectir estas preocupa>es+ uma veI 4ue narrativa da perse)uio

    sofrida pelos 3udeus+ narrada na primeira parte+ corresponde uma se)undaB a4uela 4ue 6

    sofrida por Flaco.

    ,o muitos os passos em 4ue se estabelece um paralelo entre o sofrimento

    e%perimentado pelo )overnador e a4ueles de 4ue os 3udeus padeceramB depois de uma

    via)em e%tremamente penosa+ Flaco 6 acusado em -oma pelos mesmos "omens 4ue em

    !le%andria o incitaram contra a comunidade :udaica. #aio 6 para ele o mesmo :uiI

    parcial 4ue ele fora para os 3udeus. $al como estes "aviam sido e%propriados dos seus

    bens+ tamb6m Flaco o 6. Parte da rota 4ue o leva il"a de !ndros 6 comum 4ue o

    conduIiu a !le%andria na 6poca em 4ue se tornou )overnador da cidade o espectculo

    em 4ue Flaco se converte para as cidades costeiras do Peloponeso+ medida 4ue estas

    iam sendo informadas da sua sorte+ prefi)ura outroB o do desfile dos membros da

    N5)16@.+4ue+ acorrentados ou amarrados+ foram conduIidos ao teatro de !le%andria.

    $al como os membros da comunidade :udaica se viram e%postos no teatro+ tamb6m o

    anti)o )overnador foi e%ibido como e%ilado na assembleia de !ndros pelos soldados

    4ue para a* o escoltaram. Os )olpes 4ue recebe ao morrer so e4uivalentes ao n9mero de

    3udeus 4ue por sua causa pereceram.

    O destino de Flaco+ como relatado por F*lon+ pertence mais ao dom*nio da

    criao literria do 4ue ao da "ist?ria. ! estrutura sobre a 4ual a aco de Flaco 6

    narrada diITnos 4ue+ embora o seu autor tivesse descrito factos "ist?ricos+ a sua

    principal preocupao 6 de ordem teol?)icaB as 9ltimas palavras da obra sero eco danoo de 4ue o fim de Flaco 6 narrado desta forma no por um sentimento de

    compraIimento pelo sofrimento infli)ido a um inimi)o+ mas como forma de afirmar a

    noo de 4ue o povo :udeu no "avia sido privado do au%*lio divino.

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    06 Embaixada a Gaio

    16)6 =ma >se?uela@ 9araFlaco

    Embora+ em Flaco+ se narre a morte do )overnador+ F*lon no relata o 4ue

    aconteceu a se)uir perse)uio. X num seu outro tratado+ Embaixada a Gaio+ 4ue o

    autor nos d a relao de al)uns dos acontecimentos ocorridos a se)uir ao ano de @A.

    O )overnador 4ue sucedeu a Flaco+ gitrsio Polio+ ter conse)uido instituir um

    ambiente de relativa paI na cidade e a comunidade :udaica recuperou prosperidade

    suficiente para sacrificar "ecatombes em inteno do sucesso da campan"a de #aio na

    #erm;niaH@+ o 4ue nos permite inferir 4ue muito provavelmente os 3udeus tero

    re)ressado a suas casas e iniciado a reconstruo das sina)o)as. Wo entanto+ continuou a

    serTl"es ne)ado o recon"ecimento oficial do seu estatuto reli)ioso e c*vico.

    Duas embai%adas+ uma representando a comunidade )re)a e outra a :udaica+

    foram enviadas a -oma+ com o ob:ectivo de e%por perante o imperador as

    reivindica>es de ambos os partidos. Os #re)os tero partido com o ob:ectivo de ne)ar

    4ual4uer responsabilidade nos dist9rbios de @A e de e%i)ir 4ue o estatuto c*vico da

    comunidade :udaica permanecesse nos termos para 4ue fora rele)ado pelo edicto de

    Flaco. !os emissrios :udeus+ animavaTos+ muito provavelmente+ o intuito de recuperar

    para a comunidade o seu anterior estatuto de ,1"*56Q.&

    Concedida a autoriIao do novo )overnador+ no 5nverno de @AT@0+ ou de @0T

    'H+ as duas embai%adas partiram para -oma. ! embai%ada :udaica era liderada por

    H@Legat.+ @1G.74F*lon diITnos 4ue os emissrios 3udeus fiIeram a sua via)em 95?Q`$13 QX@16+no meio do 5nverno+Legat&(0'2. Muito provavelmente tamb6m os #re)os tero via:ado nesta altura. ! data mais provvel 6a de @A0. #aio passou o gero de @0 na Camp;nia D*on Cssio+ 10.(H2+ mas no esteve em 5tlia entre oOutono de @0 e Maio de '. ,e as embai%adas partiram em @0'+ ento a primeira data para a reuniocom o imperador seria Maio de '. Os dist9rbios causados pela ordem de #aio para 4ue se er)uesse aesttua no $emplo teriam de ter acontecido durante a se)unda metade de '. 5sto entra em conflito comos relatos de F*lon e 3osefo. F*lon refere Legat.+ &02 4ue os 3udeus protestaram contra o pro:ecto de#aio numa data 4ue coincide com a Primavera de '. E a data em 4ue 3osefo nos diI 4ue #aio nomeouPetr?nio )overnador da ,*ria e l"e confiou a misso de construir e er)uer a esttua coincide com o

    Outono de @0. Por isso+ o mais provvel 6 4ue os 3udeus ten"am partido em @A@0. Para uma discussomais pormenoriIada desta 4uesto e para ar)umentos a favor das diferentes datas cf. ,mallood (0G(BHT1'2 e Varjer &''AB (2. ,e)uimos a4ui a data proposta por Varjer+ 4ue nosparece a mais provvel.

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    F*lon e a )re)a por pionH1. Wo 6 certo 4ue tamb6m o irmo de F*lon+ !le%andre+ se

    contasse entre os embai%adoresHG.

    C"e)adas a 5tlia+ ambas as embai%adas tiveram de a)uardar 4ue o imperador

    re)ressasse da sua campan"a na #erm;nia. uando finalmente se reuniram com ele+

    descobriram 4ue #aio seria muito influenciado por V6licon+ um dos seus libertos+ 4ue

    F*lon identifica como E)*pcio mas 4ue seria um #re)o de !le%andria e+ como tal+

    favorvel aos #re)os. Os membros da embai%ada )re)a tero pa)ado um suborno a

    V6licon Legat.+ (H&2+ para 4ue ele persuadisse #aio a mostrarTse "ostil para com os

    3udeus. $amb6m a embai%ada :udaica ter+ recorrendo aos mesmos ar)umentos dos

    #re)os+ procurado propiciar este liberto+ mas no foi bem sucedidaHH.

    Por esta altura+ os embai%adores 3udeus resolveram redi)ir um decreto em 4ue

    se apresentava uma relao do 4ue tin"am sofrido e da4uilo 4ue consideravam :usto 4ue

    l"es coubesse em sorteLegat.+ (HA2. Weste documento+ deveria re4uererTse 4ue fosse

    restitu*do comunidade o direito de iseno de participar no culto imperial+ bem como

    o restabelecimento dos direitos c*vicos de 4ue )oIavam antes do decreto de Flaco.

    $endo em conta a ambi)uidade das palavras de F*lon em Legat&D (HAHA+ ,mallood

    (0A(B &@2 defende a possibilidade de este decreto conter mais do 4ue um simples

    re4uerimento de reinstaurao do estatuto de 4ue anteriormente )oIavamB poderia

    incluir tamb6m um pedido+ feito em nome de toda a comunidade+ de 4ue l"es fosse

    H1O n9mero de emissrios 4ue nos 6 fornecido por 3osefo AJ(A. &1HTG'2+ tr=s+ estar incorrecto. F*lonLegat.+ @H'2 afirma 4ue a embai%ada :udaica era composta por cinco elementos. Wo 6+ de todo+ provvel4ue os #re)os tivessem enviado emissrios em n9mero menor. ,mallood (0A(B &&2 defende 4ue+apesar de F*lon e 3osefo no referirem a presena de L;mpon 5sidoro 6 referido+ ainda 4ue apenas umaveI+ emLegat.+ @11+ e de uma forma 4ue leva a crer 4ue ele teria um papel proeminente2 entre o n9merode embai%adores )re)os+ 6+ contudo+ muito plaus*vel 4ue tamb6m ele inte)rasse a embai%ada+ por4ue+4uando em ( !le%andria torna a enviar embai%adores a -oma+ ele no se encontrava entre os elementosda dele)ao )re)a+ o 4ue su)ere 4ue no estaria na cidade para ser escol"ido para esta misso e torna

    plaus*vel 4ue : tivesse sido enviado.HG3osefo AJ(0. &HG2 refere 4ue !le%andre tin"a sido preso por #aio+ talveI por ocasio desta embai%ada.,mallood (0A(B &@+ n. AH2 nota 4ue o sil=ncio de F*lon sobre um acontecimento como este seria al)osurpreendente. gan der Vorst &''@B 2 defende a possibilidade de !le%andre ter sido preso antes doenvio da embai%ada a -oma. 5sto poderia e%plicar por 4ue motivo foi F*lon nomeado responsvel pelaembai%ada+ e no o seu irmo+ 4ue ocupando um car)o como o de alabarca+ seria talveI o "omem maisindicado para a c"efiar. !cresce a este ar)umento o facto de+ tanto 4uanto sabemos+ o nosso autor nuncater ocupado car)os p9blicos e c"e)ar mesmo a 4uei%arTse Spec&+@+ (T@2 de ter dei%ado de ter tempo parase ocupar da filosofia+ devido inve:a+ 4ue o lanara a um mar de cuidados civis. Ora+ F*lon diITnos 4ue ainve:a :$132 6 o sentimento 4ue est na ori)em da viol=ncia contra a comunidade :udaica cf. Flac&D&0T@'2+ o 4ue nos permite inferir 4ue este passo ser uma aluso s implica>es 4ue os dist9rbios de @AT( tiveram na sua vidaB se o seu irmo estivesse preso+ F*lon dificilmente se poderia recusar a ser o c"efeda embai%ada.

    HHCf.Legat.+ (HA.HAN).QQ.*5R1$ N+) /0125$ '$.017$.? . =5:.".?0^ *T,1$ ,5)?X91$ f$ *5 Y,[1Q5$ =.> f$ *695R$2?17Q5$Legat&D (HA2.

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    concedida a cidadania )re)a+ uma veI 4ue era o imperador 4ue decidia 4uem podia

    inte)rar o con:unto de cidados de !le%andria.

    066 =ma esttua no Tem9lo de Jerusalm

    !o c"e)ar a -oma+ #aio concedeu embai%ada de F*lon uma primeira audi=ncia

    muito breve+ como de resto sucedeu com todas as outras embai%adas 4ue entretanto se

    acumularam a)uardando o seu re)resso. Por6m+ 4ual4uer aspirao 4ue a comunidade

    :udaica tivesse de alcanar um estatuto i)ual ou superior 4uele de 4ue anteriormente

    "avia )oIado foi severamente posta em causa 4uando+ durante o gero e ainda espera

    de 4ue o imperador l"es concedesse uma se)unda audi=ncia+ receberam a not*cia de 4ue

    #aio tencionava eri)ir uma esttua sua no $emplo de 3erusal6m+ convertendoTo assim

    num altar do culto imperial.

    Esta resoluo colocava ainda em causa a den9ncia 4ue a embai%ada devia

    apresentar sobre a vandaliIao das sina)o)as de !le%andria. O )rupo de embai%adores

    por 4ue F*lon era responsvel encontravaTse a)ora numa posio e%tremamente

    precria. Como podiam os seus membros informar o imperador de 4ue o espao sa)rado

    das suas sina)o)as tin"a sido violado e pedir iseno do culto imperial+ se o pr?prio

    imperador pretendia eri)ir uma esttua sua no templo em 3erusal6mh

    Embora a deciso de #aio possa nascer do dese:o 4ue o imperador alimentava de

    ser venerado como um deus+ 4ue l"e 6 atribu*do por F*lonH0 e por outras fontesA'+

    importa conte%tualiITla. Esta resoluo ter sido imposta Palestina+ em primeiro

    lu)ar+ como punio pelos dist9rbios 4ue ocorreram na cidade de 3amnia+ onde al)uns

    "abitantes+ 4ue no eram de ori)em :udaica+ resolveram er)uer um altar a #aioA(.

    X poss*vel 4ue al)uns elementos da populao tivessem sido movidos pelo

    mesmo dese:o de provocar os seus viIin"os 3udeus 4ue ori)inou os dist9rbios de @A em!le%andria. Mas+ 6 i)ualmente provvel 4ue+ se este altar foi eri)ido no 5nverno de @0T

    '+ os )entios de 3amnia o tivessem er)uido em inteno de uma boa campan"a de #aio

    na #erm;nia. Contudo+ os 3udeus+ indi)nados com um )esto 4ue+ para eles+ si)nificava

    a violao do carcter sa)rado da Palestina+ demoliram o altar Legat.+ &'&2.

    O imperador foi informado deste incidente numa altura em 4ue : sabia 4ue os

    3udeus de !le%andria se opun"am a 4ue se eri)issem esttuas suas nas sina)o)as.

    H0Legat.passim&A'Cf.+ por e%emplo+ D*on Cssio+ 10. &G+ 1\ ,uet.+ Cal. &&.A(Legat&D&''.

    32

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    ,mallood (0G(B &G2 defende 4ue+ se estes dois acontecimentos+ isolados+ podiam ser

    vistos como uma li)eira perturbao da paI+ os dois :untos+ tendo ocorrido com cerca de

    deIoito meses de diferena+ podem muito bem ter sido entendidos por #aio como sinais

    da deslealdade :udaicaB o imperador poder ter tomado esta deciso como forma de

    punir o 4ue entendeu ser um acto de insurreio.

    Wo entanto+ Petr?nio+ ento )overnador da ,*ria+ ter de imediato compreendido

    4ue a conse4u=ncia de se eri)ir uma esttua de #aio no $emplo seria a revolta dos

    3udeus da prov*nciaA&. Perante este dilema+ o )overnador adoptou a soluo mais

    prudenteB contemporiIar. Ponderando os riscos 4ue isto representava para si pr?prio e

    para a re)io por 4ue era responsvel+ atrasou o mais 4ue pde o processo de construo

    da esttua+ at6 4ue o rei !)ripa+ por meio de uma carta+ conse)uiu demover o imperador

    da sua intenoA@.

    Pouco tempo depois do seu re)resso a -oma para a ovao de @( de !)osto+ em

    "onra das suas campan"as na #lia e na #erm;nia+ e muito provavelmente : depois

    de ter revo)ado as ordens 4ue tin"a dado para 4ue se er)uesse a esttua no $emplo+

    #aio concedeu aos 3udeus a se)unda audi=ncia 4ue l"es "avia prometido.

    16*6 A Bltima audiCncia concedida D em4aixada

    F*lon descreveTnos este se)undo encontro com #aio como uma farsa+ com as

    embai%adas a se)uirem o imperador de um lado para outro+ en4uanto ele e%aminava as

    suas propriedades entre Mecenas e L;miaAe discutia as altera>es 4ue nelas planeava

    faIer.

    Contudo+ como notou ,mallood (0A(B &2+ o imperador de facto ter

    procurado escutar al)umas das 4uest>es 4ue l"e foram colocadas e Varjer &''AB (H2

    defende 4ue as palavras de F*lon em Legat.+ @GHA1su)erem 4ue o imperador confirmoua iseno dos 3udeus do culto imperial.

    F*lon contaTnos 4ue+ temendo pela vida+ a embai%ada foi traIida presena do

    imperador para e%pr o seu caso. #aio interpelouTos+ afirmando 4ue pertenciam ao povo

    4ue se recusava a recon"ec=Tlo como um deus+ 4ue+ em veI de l"e diri)irem os seus

    sacrif*cios+ sacrificavam a uma outra divindade em sua inteno e per)untouTl"es+ em

    A&Legat.+ &'0.A@

    Legat.+ @@@.ALegat.+ @1(.85!piedandoTse de n?s+ Deus abriuTl"e o corao miseric?rdia.

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    se)uida+ por4ue se abstin"am eles de comer carne de porcoAG. ,atisfeito com a resposta

    4ue l"e foi dada+ de 4ue diferentes povos tin"am diferentes costumes+ pediuTl"es ento

    4ue o elucidassem sobre as suas reivindica>es+ mas tornou a distrairTse com assuntos

    relacionados com a remodelao das suas propriedades. ,e)undo F*lon+ o imperador

    dispensouTos+ concluindo 4ue eles no eram "omens perversos mas sim infeliIes e

    tolos por no acreditarem na sua natureIa divinaAH+ sem c"e)ar a conceder uma

    audi=ncia apropriada embai%ada e sem proferir 4ual4uer veredito.

    +6 7 im9erador :ludio e a resoluo do con5lito

    +6)6

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    4ue no causassem novos dist9rbios. Um outro edicto+ nos mesmos termos+ foi enviado

    para a ,*ria+ uma veI 4ue tamb6m na cidade de !ntio4uia se tin"am re)istado

    acontecimentos semel"antes aos de !le%andria0(.

    Por meio deste edicto+ os direitos reli)iosos e pol*ticos de 4ue os 3udeus

    )oIavam+ antes de o decreto de Flaco os revo)ar+ eram restabelecidos+ mas nele no

    e%iste 4ual4uer refer=ncia concesso de direitos de cidadania )re)a aos 3udeus+ muito

    provavelmente por4ue apenas um sector da comunidade teria esta aspirao e por4ue+

    para a pr?pria embai%ada e para !)ripa+ seria mais ur)ente a restaurao do estatuto de

    ,1"*56Q.&

    Wo entanto+ 3osefo+ ao reproduIir o edicto de Cludio+ afirma 4ue nele se

    promul)avam para os 3udeus direitos i)uais aos dos !le%andrinos0&. ! carta 4ue

    Cludio envia para !le%andria contradiI esta afirmao.

    Embora o imperador+ al)uns meses depois+ ten"a emitido um novo edicto+ de

    natureIa semel"ante a este e 4ue se aplicava a todas as comunidades 3udaicas dispersas

    pelo imp6rio+ edicto esse 4ue tamb6m ter sido enviado para !le%andria0@+ contudo+ a

    tenso entre as comunidades persistiu e+ por essa altura+ os 3udeus atacaram os seus

    viIin"os.

    Como acima referimos+ depois de o )overnador pr fim viol=ncia+ os #re)os

    pediram para enviar a -oma uma nova embai%ada+ de modo a denunciarem perante o

    imperador este novo ata4ue. Os 3udeus tin"am a)ora raI>es para temer 4ue Cludio l"es

    retirasse o seu apoio e enviaram+ tamb6m eles+ uma ou duas novas embai%adas0.

    Estas embai%adas representariam diferentes sectores da comunidade :udaica+

    diferentes at6 da4uele a 4ue a embai%ada de F*lon daria voI. Como aponta /arcla7

    (00GB 1H2+ se a "ostilidade )re)a tin"a fal"ado em cumprir in9meros ob:ectivos+ no

    fal"ara+ contudo+ em dividir os 3udeus. Provavelmente+ o atraso de #aio em proferir

    uma deciso ter )erado desconfiana em al)uns sectores da comunidade. 5sto+ aliado sua deciso de eri)ir uma esttua no templo em 3erusal6m+ ter sido um sinal do

    fracasso da embai%a liderada por F*lon e ter dividido a opinio da comunidade em

    0(AJ(0+ &H0.0&AJ(0+ &A(.0@AJ (0+ @('.0,abemos+ pela carta4ue Cludio posteriormente envia para !le%andria+ 4ue duas embai%adas :udaicascompareceram perante o imperador. Uma "ip?tese defensvel+ mas menos provvel em face da irritaode Cludio perante o facto+ 6 a de 4ue a se)unda embai%a :udaica se ten"a cruIado com a embai%ada de

    F*lon+ ainda em -oma. Outra possibilidade+ e a mais plaus*vel+ 6 a de 4ue a primeira embai%ada+ enviadaa #aio+ entretanto tivesse re)ressado e a comunidade+ demasiado dividida entre si+ tivesse enviado duasembai%adas+ em representao de cada uma das partes ento em lit*)io.

    35

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    relao eficcia de uma liderana moderada e e%ercida por 3udeus socialmente

    aculturados.

    O violento ata4ue contra os seus viIin"os+ bem como a opo pelo envio de uma

    se)unda embai%ada+ podem ser entendidos como sinais da nova disposio a)ressiva

    4ue ento deveria )rassar entre al)uns sectores da comunidade.

    !dmitindo 4ue os 3udeus+ demasiado divididos entre si+ enviaram duas novas

    embai%adas+ ,mallood (0A(B &A2 defende 4ue uma delas representaria a minoria

    "eleniIada 4ue teria aspira>es cidadania )re)a e 4ue a outra daria e%presso

    maioria ortodo%a+ 4ue pretenderia apenas manter ostatu uo de 4ue tin"a usufru*do at6

    ento.

    uanto nova embai%ada )re)a+ esta impressionava pelo n9mero de elementos

    4ue a compun"am+ doIe+ e pela cultura dos seus embai%adores. Os seus nomes

    encontramTse conservados no papiro 4ue 6 uma c?pia da carta 4ue Cludio enviou para

    !le%andria. ! maior parte deles fre4uentava o c*rculo de intelectuais )re)os de

    !le%andria e vrios estavam li)ados ao Museu. ,eis eram cidados romanos e dois

    deles muito provavelmente ascenderam cidadania depois de terem feito parte desta

    embai%ada01.

    +66 A carta de :ludio aos Alexandrinos e a 9aci5icao da cidade

    Ouvidas as embai%adas+ a resposta de Cludio foi dada numa carta0G

    posteriormente enviada para !le%andria+ de 4ue se conservou uma c?pia 4ue 6 talveI o

    mais importante documento 4ue possu*mos sobre a "ist?ria da comunidade :udaica no

    E)ipto0H.

    Esta carta foi primeiro lida em !le%andria e depois copiada e enviada para o

    resto do E)ipto. Uma das c?pias foi preservada e descoberta na re)io do Faium. Ote%to preservouTse entre os documentos de um E)*pcio "eleniIado+ de nome Wem6sio.

    Wem6sio era um colector de impostos na cidade de Filad6lfia e no tin"a 4uais4uer

    li)a>es cidade de !le%andria. Wo entanto+ vrios dos seus ami)os e concidados

    tin"am ne)?cios nesta cidade e um deles revela fortes sentimentos contra os 3udeus0A.

    01Para uma descrio mais pormenoriIada dos elementos desta embai%ada cf. Varjer &''AB &HT&02.0G-eproduIimos a carta em ane%o+ na edio de $c"erijover Fujs CPJ+ &+ (1@2. Cf. !ne%o &.0HCPJ+ &+ (1@ P& Lond&(0(&2. Este documento foi publicado pela primeira veI em (0&+ por V. 5. /ell+

    em Jehs and Cristians in Egypt. Para uma lista da biblio)rafia sobre o documento subse4uentementepublicada cf. CPJ+ &+([email protected]+ &+ (1&.

    36

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    Varjer &''AB &12 defende 4ue o facto de Wem6sio ter copiado a carta ser um

    ind*cio de 4ue a "ist?ria das embai%adas )oIava de )rande popularidade e de 4ue a

    populao do resto do E)ipto+ no apenas a de !le%andria+ tin"a um interesse activo em

    se)uir a disputa entre #re)os e 3udeus.

    ! c?pia foi feita a t*tulo privado+ no verso de um papiro 4ue : tin"a sido usado

    para re)istar impostos. O )re)o foi copiado de forma descuidada e 6 em muitos pontos

    amb*)uo ou ininteli)*vel. !l)umas omiss>es+ como por e%emplo a do nome dos

    embai%adores :udeus+ su)erem 4ue a carta poder ter sido editada para apresentar em

    desta4ue as partes mais favorveis aos #re)os.

    ! data do documento 6 omitida+ mas no edicto em 4ue L. Em*lio -ecto ordena a

    sua afi%ao+ e 4ue ocupa as primeiras treIe lin"asDest assinalado o dia ( deeos

    Sebastos+ ou se:a+ ( de Wovembro de (2.

    !s lin"as iniciais so ocupadas pela enumerao dos doIe elementos 4ue

    compun"am a se)unda embai%ada )re)a e pelas tradicionais f?rmulas de cortesia

    diplomtica. O imperador refereTse em se)uida s "onras 4ue l"e "aviam sido

    concedidas pela cidade e aos pedidos 4ue os !le%andrinos l"e tin"am endereado. Wo

    sur)e+ contudo+ 4ual4uer aluso a 4uais4uer ofertas de cortesia diplomtica 4ue tamb6m

    os embai%adores :udeus devem ter apresentado. Wa parte central da carta+ Cludio

    ocupaTse dos 9ltimos dist9rbios 4ue tin"am ocorrido na cidade.

    O imperador comea por admoestar ambos os partidos+ declarandoTse indi)nado

    com a4ueles 4ue "aviam renovado o conflito. Os !le%andrinos so e%ortados a

    comportaremTse de forma )entil para com os 3udeus+ 4ue " muito "abitavam na mesma

    cidade. XTl"es ordenado 4ue respeitem os seus costumes ancestrais e 4ue l"es permitam

    viver se)undo as suas tradi>es+ uma veI 4ue este era um direito 4ue remontava ao

    tempo de !u)usto e fora por este sancionado.

    O imperador 6 tamb6m claro e firme nas suas disposi>es 4uanto aos 3udeusBestes no deveriam tentar obter mais do 4ue : possu*am00nem procurar participar nas

    provas atl6ticas or)aniIadas no )insio(''. 5sto si)nificar 4ue 4uais4uer aspira>es 4ue

    00&&&.>j160X1?3 0k B$*?=)63 =5"5T#? Q^0X$ ,"Z#? f$ ,)1*X)1$ /@91$ ,5)?5)N[5@*.?&&& O sentido destafrase depende+ evidentemente+ do estatuto de 4ue os 3udeus )oIassem antes de a carta ser emitida+ mas4uase certamente a4uilo 4ue parte da comunidade dese:aria obter era a cidadania.(''$c"erijover defende 4ue e%istem tr=s motiva>es poss*veis para Cludio proibir os 3udeus de participarem concursos presididos por )imnasiarcas e cosmetasB por4ue estes eram reservados apenas a cidados\como forma de impedir os 3udeus de participar na eleio destes ma)istrados\ para impedir os 3udeus deatacar a populao 4ue estivesse a assistir aos :o)os. O autor considera esta 9ltima "ip?tese como a menos

    provvel das tr=s+ uma veI 4ue o verbo utiliIado+ Y,?@,.5?$+ 6 demasiado moderado para desi)nar actosde viol=ncia. Considerando 4ue a educao no )insio era um dos re4uisitos de acesso cidadania+ o mais

    plaus*vel 6 4ue al)uns dos membros da comunidade :udaica estivessem a tentar forar a sua admisso

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    parte da comunidade :udaica tivesse em aceder cidadania+ Cludio as ne)ava

    peremptoriamenteB os 3udeus deveriam contentarTse em usufruir+ numa cidade 4ue no

    era a sua Y$ '""1*) ,"5?2+ de uma abund;ncia de todas as coisas boas.

    Por 9ltimo+ no deveriam traIer ou convidar 3udeus da ,*ria e do resto do E)ipto

    para a cidade+ sob pena de suscitarem no imperador a suspeita de estarem a alimentar

    uma pra)a('( para o mundo inteiro+ o 4ue o foraria a tomar medidas contra a

    comunidade.

    O modo imparcial como+ nas lin"as finais+ Cludio admoesta ambas as

    comunidades+ no tomando e%pressamente 4ual4uer partido+ 6 visto pela maioria dos

    estudiosos como a atitude mais eficaI para pr fim ao ciclo de viol=ncia 4ue vi)orava

    em !le%andria.

    ,mallood (0A(B &1'2+ por6m+ observa+ na forma como a carta foi redi)ida+

    ind*cios de uma certa irritao de Cludio para com os 3udeusB a advert=ncia de 4ue no

    tornassem a enviar duas embai%adas+ como se vivessem em diferentes cidades+ a aluso

    final suspeita de 4ue elementos desta comunidade pudessem ser responsveis pela

    tentativa de levar a cabo actos sediciosos por todo o 5mp6rio e a firmeIa do seu aviso+

    4uer a #re)os 4uer a 3udeus+ podero reflectir a indi)nao do imperador por entretanto

    ter tido de lidar com dist9rbios causados por 3udeus em -oma('&.

    Wo 6+ contudo+ de descartar a possibilidade de a irritao de Cludio se diri)ir a

    ambos os partidos e+ num momento posterior+ a carta ter sido+ como : referimos+

    editada para parecer mais favorvel aos #re)os.

    < parte isto+ ao clarificar e reinstaurar o estatuto c*vico e reli)ioso de 4ue os

    3udeus )oIavam antes de @A+ esta carta 6 uma resposta clara da autoridade romana aos

    problemas colocados pelas rela>es tumultuosas entre a comunidade :udaica e os seus

    viIin"os.

    Competiria a #aio ter tomado medidas imediatas para 4ue o estatuto dacomunidade :udaica em !le%andria fosse clarificado e para 4ue se resolvesse o

    problema da e%ploso de viol=ncia de 4ueFlaco e+ em parte+ aEmbaixada a Gaio nos

    do not*cia. Ou o imperador pretendia faI=Tlo in loco+ na visita 4ue tin"a planeado a

    !le%andria+ e da* a sua contemporiIao+ ou foi em parte parcial e em parte ne)li)ente+

    como nos su)ere o te%to daEmbaixada.

    nesta instituio. /arcla7 (00G2 su)ere 4ue o facto de em se)uida se afirmar 4ue os 3udeus "abitavamnuma cidade 4ue no era a sua confirma esta leitura.

    ('(O termo empre)ue 6 $@13+ 4ue num conte%to pol*tico pode assumir o sentido de @*[@?3. ,obre este usodo termo cf. CPJ+&+ p. 1.('&Cf. D*on Cssio G'. G+G\ ,uet.+ Cl& &1. .

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    De 4ual4uer forma+ de acordo com os dados de 4ue dispomos+ 6 atrav6s dos

    edictos promul)ados por Cludio e desta carta 4ue se p>e fim ao ciclo de

    acontecimentos iniciado em @A. ! restituio aos 3udeus do estatuto de 4ue

    anteriormente )oIavam corresponderia reparao pelos males 4ue tin"am sofrido e

    -oma mantin"a a sua pol*tica de proteco comunidade. Contudo+ a cidadania

    ale%andrina continuaria a ser um privil6)io 4uase e%clusivamente da comunidade )re)a.

    ! ordem na cidade s? aparentemente+ por6m+ re)ressava ao 4ue fora. E+ talveI

    nen"um estudioso ten"a compreendido to bem o verdadeiro impacto dos

    acontecimentos de @A e das decis>es tomadas por Cludio em relao ao futuro da

    comunidade :udaica como 3o"n /arcla7 (00GBG'2+ ao afirmar+ na mesma esteira do 4ue

    6 defendido por $c"erijover('@B

    5n t"at little p"rase+ 8in a cit7 not t"eir on8+ as sounded t"e deat" jnell to t"eir lon) and

    successfull attempts to inte)rate into t"e social and political life of t"e cit7. !lt"ou)" )aranteed reli)ious

    freedom+ t"e7 ere no denied permission to )ive t"eir c"ildren t"e educational and social advancement

    t"e7 "ad t"emselves en:o7ed. $o P"ilo and t"ose of "is social class it as a disaster. 5n effect Claudius

    "ad "alted t"e social and cultural inte)ration of suc" 3es at least as lon) as t"e7 identified t"emselves

    as 3es. !s far as e jno+ P"ilo8s p"ilosop"ical enterprise+ and all it represented in cultural

    accomodation it" Vellenism+ as tajen no furt"er in t"e ne%t )eneration. $"e leaders"ip of t"e 3eis"

    comunit7 passed into t"e "ands of men "ose "oriIons "ere narroer and "ose social ambition asnecessaril7 restrict. $"e violent events of GG CE and t"e total ar of ((GT((H CE demonstrate t"e tra)ed7

    of t"is fatal c"an)e of conditions in t"e !le%andrian comunit7.

    16 Flaco e o corpus5iloniano

    16)6 7s tratados ist&ricos de Flon

    Wo e%iste um consenso 4uanto e%tenso ori)inal do con:unto de tratados

    "ist?ricos de F*lon de 4ue Flaco e Embaixada a Gaio faIem parte. $amb6m no 6

    poss*vel saber ao certo 4ue lu)ar ocupariam estas obras na se4u=ncia )eral dos tratados

    e se estariam de facto inte)radas neste con:unto.

    Com efeito+ de acordo com aistIria Eclesistica &. 1+(2 de Eus6bio+ 4ue foi

    publicada ca& de @&1+ F*lon ter relatado em cinco livros o sofrimento dos 3udeus no

    ('@CPJ+ (. H@TH.

    39

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    tempo de #aio('. Esta afirmao est de acordo com a4uilo 4ue o in*cio de Flacoe o

    final daEmbaixadaparecem su)erirB a e%ist=ncia de outros tratados.

    Flaco comea com a afirmao de 4ue o novo )overnador deu continuidade

    pol*tica de ,e:ano na sua "ostilidade para com os 3udeus('1+ o 4ue su)ere 4ue este livro

    seria precedido por outro+ onde se relataria a perse)uio por este empreendida. Wo final

    da Embaixada afirmaTse 4ue+ e%postas as raI>es do ?dio de #aio+ era necessrio

    proceder a uma palin?dia('G. Da4ui se infere 4ue um outro livro se l"e se)uiria+ ou 4ue

    estaria pelo menos planeado.

    5sto pode ser interpretado como ind*cio de 4ue ambas as obras seriam parte de

    uma se4u=ncia. X poss*vel reconstituir a ordem do con:unto total dos tratados a partir de

    refer=ncias semel"antes a estas.

    Morris (0AHB AG'2 toma como ponto de partida uma nota na CrInica de

    Eus6bio('H+ em 4ue se afirma 4ue a perse)uio a ,e:ano foi relatada no se)undo dos

    cinco livros+ e defende 4ue esta informao implica 4ue Flaco fosse o terceiro livro da

    se4u=ncia uma veI 4ue F*lon nos diI 4ue Flaco sucedeu a ,e:ano2+ a Embaixada a

    Gaio o 4uarto e a se4uela 4ue o final desta obra anuncia+ o 4uinto.

    Poderia e%istir um problema em defender esta ordem cronol?)ica+ uma veI 4ue

    Eus6bio nos diI+ no passo daistIria Eclesisticaacima citado+ 4ue F*lon escreveu

    cinco tratados sobre o sofrimento dos 3udeus no tempo de #aio. Ora+ ,e:ano no

    sobreviveu a $ib6rio. Contudo+ emE&. 1+H+ o autor corri)eTse+ afirmando 4ue+ em

    primeiro lu)ar+ F*lon relatou os esforos de ,e:ano para pre:udicar a comunidade

    :udaica e o ata4ue de Pilato ao $emplo de 3erusal6m.

    Como defendem Morris idem2 e van der Vorst &''@B G2+ 6 muito provvel 4ue+

    se Eus6bio tivesse not*cia deste ata4ue de Pilato apenas por meio de alus>es nas

    restantes obras+ no o referisse. Como tal+ 6 poss*vel considerar 4ue o primeiro tratado

    da se4u=ncia versasse sobre Pilato.Outra diviso+ proposta por ,c"rer('A+ 6 a de 4ue o primeiro tratado seria uma

    introduo aos temas da perse)uio e da provid=ncia+ o se)undo versaria sobre as

    ('.> 0( *+ =.*+ [1$ 1*13 j160.1?3 @6Q8[$*. ,X$*5 8?8"1?3 ,.).00#@? E&.1.(2.('15T*5)13 Q5*+ q^?.$;$ "[==13 416""?13 0?.0X95*.? *($ =.*+ *`$ j160.#$ Y,?816"Z$ Flac&D(2.('G5=*X1$ 0X =.> *($ ^q`]` Legat&D @H@2. ,obre o si)nificado deste termo cf. ,mallood (0G(B@&2.('H,e)undo ,o 3er?nimoB Seianus Prae_ectus iberiiD ui apud eum plurimum poteratD instantissime

    coortatur ut gentium Judaeorum deleat& Filo meminit in libro legationis secundoed. ,c"oene vol. &+ pp.(1'T(1(2.('An e istory o_ te Jehs in te ime o_ Jesus Crist+ vol. @.(.+ pp. 1&T@.

    40

  • 8/11/2019 Flaco - Flon de Alexandria

    41/154

    perse)ui>es 4ue ocorreram no tempo de $ib6rio e Pilato+ o terceiro seria Flaco+ o

    4uarto aEmbaixada a Gaioe o 4uinto seria a palin?dia sobre o fim de #aio.

    Uma outra possibilidade 6 a de 4ue aEmbaixada a Gaio se:a uma compilao do

    4uarto e do 4uinto livros+ de forma 4ue apenas a parte final+ ou se:a+ o relato da

    palin?dia estaria em falta. Morris (0AHB AG&2 defende 4ue isto 6 su)erido pela

    e%tenso invul)armente lon)a deste tratado e pelo facto de este apresentar al)umas

    lacunas.

    H66 7 ttulo do con8unto de tratados ist&ricos

    O t*tulo da )rande obra 4ue conteria estes tratados oscila. De acordo com a

    passa)em da CrInica 4ue referimos+ este circularia com o t*tulo de )5@85.. EmE

    &. 1+ G+ Eus6bio torna a afirmar 4ue foi este o t*tulo dado obra completa. Contudo+ em

    E&. G+ @+ o autor diITnos 4ue F*lon descreve os sofrimentos dos 3udeus de !le%andria

    durante o principado de #aio ...Y$ 056*X) @6NN)[QQ.*? v Y,XN).:5 ,5)> ')5*`$&&&+ o

    4ue parece su)erir 4ue foram escritos dois tratados diferentes.

    Por6m+ 6 bastante improvvel 4ue o autor tivesse escrito dois con:untos de obras

    separados e 4uase certo 4ue 5)> 4)5*`$ ser o t*tulo correcto para o con:unto das

    cinco obras+ pois Eus6bio torna a referiTlo no seu catlo)o das obras de F*lon('0+ 4ue 6+

    de um modo )eral+ bastante fivel.

    Wo 6 mencionado 4ual4uer outro tratado relacionado com estes acontecimentos.

    Morris considera por isso 4ue 6 plaus*vel 4ue 056*X) se:a uma insero de um copista

    4ue no conse)uiu relacionar os t*tulos em &. 1+ G e &. G+ @ e 4