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Ewé O USO DAS PLANTAS NA SOCIEDADE IORUBÁ PlERRE FATUMBI VERGER ODEBRECHT ____as

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  • EwO USO DAS PLANTAS NA

    SOCIEDADE IORUB

    PlERRE FATUMBI VERGER

    ODEBRECHT

    ____as

  • Ainda h poucos dias algum me perguntou, muito a srio, se Pierre Verger realmente existia ou se era mais uma inveno baiana. Quem sabe, talvez, a tentativa de explicar o sincretismo de nossa cultura, de repente re-presentada no mais por uma divindade e, sim, por um ser humano.

    Nascido na Frana e, segundo consta, de famlia aristocrtica, cidado do mundo, fotgrafo dos confins do mundo, de Pequim a La Habana, jovem aventureiro nos caminhos do conhecimento e das emoes. Depois doutor em cincias no Centre de Recherches Scientifiques da Frana ao lado de Roger Bastide, um sbio.

    Na frica, quem quiser saber dele deve perguntar por Fatumbi, ttulo que lhe deram ialorixs e babalas e que ele incorporou a seu nome, pois a personalidade do professor e do pesquisador, homem da Universidade e do livro, se fizera mais rica de humanismo, e ele tornou-se homem igualmente, ou sobretudo, do peji, da camarinha, da roda-de-feita. Na frica, ensinou e aprendeu no apenas a rota completa dos navios negreiros, ainda mais a trajetria do mistrio. Fez-se feiticeiro: Pierre Fatumbi Verger.

    No terreiro do Ax Op Afonj, Me Senhora, a inesquecvel, sentada em seu trono de rainha, proclamou-o Ojuob, os olhos de Xang, aquele que tudo enxerga e tudo sabe. Nas casas de santo da Bahia fez-se figura familiar, o mestre de todos ns, o igual de cada um no respeito e na cordialidade da vibrao dos atabaques. Professor, pesquisador, fot-grafo, escritor, na Bahia ele Pierre Fatumbi Verger Ojuob.

  • Na Bahia se completou o sincretismo do conhecimento e da vida. A mistura do francs da rua Cardinal Lemoine, em Paris, com o africano de Dakar, Porto Novo, Oy, resultou no baiano definitivo e nico, aquele que de to extraordinrio mais parece uma inveno.

    No uma inveno a mais pois ele existe, trabalha, escreve, corre mundo. Feiticeiro, decerto. No h como esconder, como negar. Me Senhora costumava dizer Zlia, com um sorriso de amizade: "Cuidado com Verger, ele feiticeiro, tem poderes." Tem poderes, sabe das coisas.

    Jorge Amado

  • NDICE

    Nota introdutria.......................................................................................... 9Agradecimentos .......................................................................................... ^Prefacio .....................................................................................................Introduo ...................................................................................................

    A AO DAS PLANTAS E A PALAVRA ATUANTE

    Captulo 1 - A eficcia da palavra ............................................................... 29

    Sistema iorub de classificao das plantas ...................................... 29O verbo atuante nos of..................................................................... *~>Os signos odus de If ........................................................................ 4oSignificado mltiplo das palavras ..................................................... 54Ligaes entre os nomes.................................................................... -1'Nomes medicinais e mgicos ............................................................ "3

    Captulo 2 - Oposies................................................................................. 69

    Trabalhos malficos e benficos ....................................................... 69Estimulantes e tranqilizantes ........................................................... 78

    Captulo 3 - Os trabalhos mais desejados 87

  • RECEITAS MEDICINAIS E MGICAS

    Ogn, receitas de uso medicinal .................................................... 100Ibmo, receitas relativas gravidez e ao nascimento ....................... 270Ors, trabalhos relativos s divindades ........................................... 290Awre, trabalhos de uso benfico .................................................... 324Abili, trabalhos de uso malfico ...................................................... 402Idbb, trabalhos de proteo contra trabalhos malficos ........... 432

    ANEXOS

    Ilustraes.......................................................................................... 465Glossrio de plantas: nomes iorubs cientficos ......................... 509Glossrio de plantas: nomes cientficos iorubs ......................... 623Notas.................................................................................................. 739ndice das receitas............................................................................. 747ndice das ilustraes ........................................................................ 759Bibliografia ...................................................................................... 761

  • NOTA INTRODUTRIA

    Para aqueles que entram em contato com o iorub pela primeira vez, talvez seja interessante saber que este idioma originrio da frica ocidental, de regies que hoje fazem parte das repblicas da Nigria e do Benin, uma lngua milenar, com relatos de muitos sculos de histria antes da chegada dos europeus capital de seu reino, Il-If. Ao lado do hassa, o iorub uma das mais importantes lnguas da Nigria, sendo falado por aproximadamente 25 milhes de pessoas naquele pas e por milhes de descendentes de escravos africanos em pases onde houve algum espao para a cultura iorub sobreviver, como no Brasil, na forma conhecida como nag, e em Cuba.

    Alm de antiga, a lngua iorub oral tendo sido grafada no papel pela primeira vez apenas no sculo XIX, pelos etnlogos britnicos que chegavam frica para estud-la e tonai, sendo necessrio "cantar" suas palavras corretamente para se expressar por meio dela. Tais caractersticas abrem um formidvel campo de estudos e algumas dificuldades.

    O fascinante de uma lngua oral to antiga so seus mecanismos para a transmisso de conhecimentos, estruturados na forma de cantos, fr--mulas e narrativas repetidas de uma gerao para outra. O professor Fatumbi Pierre Verger conseguiu registrar um desses tipos de mecanismos, as frmulas e encantaes usadas para a cura de males fsicos e espirituais pelos babalas iorubs, penetrando em uma rea da cultura pouqussimo acessvel a europeus e at hoje fechada para os no iniciados. Seu trabalho

  • 10 - PIERRE FATUMBI VERGER

    fornece uma preciosa base para futuras pesquisas tanto das plantas medici-nais iorubs como daquela cultura em um sentido mais amplo.

    As dificuldades em lidar-se com uma lngua to diferente das europias so chegar-se a um acordo quanto aos smbolos que melhor possam transmitir suas caractersticas em um alfabeto latino e levar os relatos calcados na oralidade ao meio escrito, uma transcrio que mais se assemelha a uma traduo. O professor Fatumbi Pierre Verger cole-tou as fichas que deram origem presente obra por mais de quarenta anos, o que significa que alteraes de estilo so inevitveis. No entan-to, importante perceber que os jogos de palavras to bem descritos pelo autor so essenciais s frmulas e que as metforas e variaes sutis de sentido fazem parte da lngua, convidando o leitor a uma inter-pretao imaginativa de seu significado.

    Para que seja possvel uma leitura dos sons dessa lngua de certa forma to presente em nosso cotidiano, damos a seguir um guia resumido de pronncia do iorub.

    Grafia Pronncia Grafia Pronncia

    A A M MiB Bi N NiD Di 0 0E E 0 E E P PiF Fi R Ri (R brando)G Gui S Si

    GB Gbhi s XiH Hi (aspirado) T TiI I U UJ Ji w Wi (como emK Ki ingls)L Li Y li

  • NOTA INTRODUTRIA - 11

    Em combinao com o "n" temos ainda as vogais nasais, que se pronunciam:

    AN NEN ININ IN

    ON NUN UM

    Os sinais de acentuao, por outro lado, so uma indicao do tom daquela slaba, um dado to importante quanto a pronncia para a compreenso da palavra. O acento agudo (') representa a subida de um tom musical quase inteiro em relao ao "neutro" e o grave ) uma descida equivalente. Se a pessoa fala em r, por exemplo, as slabas sem acento devem ser ditas em r, as com acento agudo em mi e as com acento grave em d. Vogais longas so grafadas duplamente, como na palavra rin, e a ondulao de tom que por vezes ocorre durante a sua pronncia aparece como dois acentos diferentes, como na palavra er.

    As palavras a seguir, por exemplo, dependem unicamente do tom para se distinguirem:

    ok - carro, espada oko - marido ok - enxada

    O ttulo Ew (folha), portanto, deve ser lido como "eu" com uma subida de tom ao final.

  • AGRADECIMENTOS

    Um sem nmero de pessoas colaboraram para que esta obra fosse publicada, cito aqui apenas as que posso neste espao: os servios botnicos do Departamento de Ref lorestamento de Ibadan e do Instituto Francs da frica Negra (IFAN), de Dakar, que fizeram as primeiras identificaes; o professor Portre do Museu de Paris que as confirmou; o doutor Burkill e todo o pessoal do jardim botnico de Kew Garden, de Londres, pela identificao das plantas e as ilustraes cedidas; Ulli Beier, por ter publicado meu primeiro livrinho sobre as plantas iorubs na Nigria, apresentado na poca pelo professor Akinjogbin; Thodore Monod que me convidou a pesquisar na frica; os amigos Caryb e Jorge Amado; a saudosa Maria Bibiana do Esprito Santo, Me Senhora, ialorix do Il Ax Op Afonj; Balbino Daniel de Paula, babalorix do Il Ax Op Aganju; o finado professor Alexandre Leal Costa; Araba de If, chefe supremo do culto de Orumil na frica; Oluwe Ojo Awo, meu mestre; o babala Iroko, meu serfa; os babalas Babalol, Aworinde e Adesokan, que me contaram tantas histrias de If; Adefolalu Adeyanju, que me ajudou a recolher e transcrever os primeiros dados recolhidos em campo; Solange Bernab, que traduziu minhas fichas de campo do ingls para o portugus; Fbio Arajo, que fez a reviso da nomenclatura cientfica; Eliana Miranda, pelas inmeras leituras de meu texto; Ayodele Fasoyin, pela reviso do iorub; Dione Arajo; Olga Regis do Alaketo; Jos Flvio Pessoa de Barros; Jean Marc Bonneau; o doutor Decanio e Isabel pela carinhosa

  • 14 - PIERRE FATUMBI VERGER

    cura realizada base de "ew brasileiras"; a professora Letcia Scarolino Scott Faria e ao professor Luciano Paganucci Queiroz por sua ajuda na obteno dos nomes vulgares e cientficos das plantas.

    AGRADECIMENTO ESPECIAL

    A Organizao Odebrecht, sem o patrocnio da qual no teria sido possvel a publicao deste livro.

  • PREFCIO

    Aprendi muito rapidamente a no fazer perguntas inteis, talvez por timidez ou por falta de curiosidade ou, ainda, em razo de uma certa dificuldade em compreender o sentido das explicaes que me eram dadas.

    Eu tinha tambm uma tendncia a no me interessar por coisas que, durante minha infncia, pareciam apaixonar meu crculo familiar: o roubo da Mona Lisa, a inundao de Paris em 1910, o naufrgio do Titanic, fatos tidos como sensacionais que figuravam entre as questes da Europa.

    Esta diferena congenial no era precisamente a qualidade mais requerida de um pesquisador, mas a sorte fez de mim um diretor de pesquisas no Centre de Ia Recherche Scientifique de Paris!

    Parece paradoxal que esta falta de curiosidade possa ter contribu-do para a publicao de uma obra sobre a utilizao medicinal e mgica das plantas entre os iorubs. De fato, minha indiferena no fingida a res-peito do saber guardado pelos adivinhos babalas e curandeiros onisegun foi o fator no premeditado que me trouxe o sucesso neste campo.

    Tive a chance de, a partir de 1948, poder fazer numerosas via-gens alternadas ao Brasil e frica. Isso me proporcionou uma acolhi-da favorvel em certos terreiros de candombl da Bahia e minha inte-grao entre os praticantes das religies tradicionais da frica. Que eu freqentasse esses ambientes sem fazer perguntas indiscretas e desse notcias sobre o que se passava no outro lado do Atlntico interessava de uma parte e de outra.

  • 16 - PIERRE FATUMB1 VERER

    Pude tambm mostrar na frica pranchas com amostras de plantas brasileiras conhecidas no ambiente do candombl por denomi-naes nag-iorub, o que facilitava a constituio de pranchas de her-brio dessas mesmas plantas na frica, assim como de numerosas ou-tras utilizadas para trabalhos medicinais e mgicos por meus amigos iorubs.

    Minha iniciao como babala na cidade de Keto, hoje na Repblica do Benin, frica Ocidental, em 1953 facilitou e oficializou minhas pesquisas, mesmo porque tomar conhecimento do uso das plan-tas para a preparao de receitas, remdios e "trabalhos" tradicionais constituram para mim no somente um direito, mas uma obrigao. As plantas eram-me entregues por meus confrades babalas acompanhadas de seus nomes iorubs e de frases curtas chamadas of, as quais enun-ciam, em termos muitas vezes poticos, suas qualidades.

    No princpio foi o aspecto literrio do conjunto desses of que chamou a minha ateno. Em 1967 eu j havia recolhidos vrios mi-lhares dessas frmulas e, graas iniciativa de Ulli Beier e do professor Akinjogbin, o Tnstitute of African Stories da Universidade, de If publicou oitenta desses curtos poemas em uma brochura, Awon ew sanyin (As folhas medicinais dos iorubs).

    No decorrer da coleta de plantas pensei, durante certo tempo, que meus colegas babalas estivessem troando de mim, pois em diver-sas ocasies recebi amostras de uma mesma planta com nomes iorubs diferentes. Mas houve um momento em que me dei conta de que as cur-tas frase of que definiam a ao esperada da planta em questo com-portavam um verbo geralmente monossilbico que figurava no nome da planta, servindo assim para auxiliar sua memorizao, e que este "verbo atuante" da encantao pronunciada tambm era uma das slabas do nome da planta utilizada.

  • PREFACIO- 17

    Desse modo, caso a slaba necessria para que um trabalho ou uma ao se cumprisse no figurasse no nome da planta, este era subs-titudo por outro nome onde a slaba (verbo atuante) estivesse presente e, por conseqncia, outro nome era dado mesma planta.

    Descobrir a existncia do verbo atuante no nome das plantas e nos of foi para mim semelhante Eureka de Arquimedes. O presente livro um extrato do que meus mestres e confrades babalas tiveram a boa vontade de me ensinar durante os numerosos anos em que vivi na frica.

  • INTRODUO

    Esta pesquisa foi realizada na frica, num universo cultural baseado na oralidade, onde a importncia dos valores de transmisso oral diferente da dos de uma civilizao baseada em documentos escritos.

    O estudo foi feito principalmente entre babalas, que na comunidade iorub fazem a adivinhao segundo um sistema denominado If, baseado em 256 signos chamados odus, sob os quais esto classificados os remdios tradicionais e os "trabalhos" tratados na presente publicao.

    Estes 256 odu If so signos duplos derivados de dezesseis signos simples1, que fazem par tanto consigo prprios para formar os dezesseis odus primrios2, quanto com cada um dos outros dezesseis signos simples para formar os 240 secundrios1.

    O primeiro desses odus secundrios, resultado da associao dos dois primeiros signos simples ogb e yk, chama-se ogb alml, "ogi>-dono-da-variedade" ou "ogb-dono-da-diversidade".

    Durante a preparao de uma frmula, o babala estabelece uma ligao entre o remdio e o signo de If, sendo esse ltimo desenhado por ele no p, iyrsim4. A ligao feita atravs de elos verbais entre o nome da planta, o nome da ao medicinal ou mgica dela esperada e o odu, signo de If no qual classificada.

    Tais elos verbais so essenciais para ajudar o babala a memorizar as noes e conhecimentos transmitidos por tradies orais, tendo assim um carter coletivo e no individual.

  • A transmisso oral do conhecimento considerada na tradio iorub como o veculo do ax, o poder, a fora das palavras, que per-manece sem efeito em um texto escrito. As palavras, para que possam agir, precisam ser pronunciadas. O conhecimento transmitido oralmente tem o valor de uma iniciao pelo verbo atuante, uma iniciao que no est no nvel mental da compreenso, porm na dinmica do comportamento. baseada mais em reflexos que no raciocnio, reflexos estes induzidos por impulsos oriundos do fundamento cultural da sociedade.

    O conhecimento transmitido do babala ao omo awo, do mestre ao discpulo, atravs de sentenas curtas baseadas no ritmo da respirao5. Sendo repetidas constantemente, tornam-se esteretipos verbais que se transformam em definies aceitas com facilidade.

    Segundo Jean Pierre Vernant6, o mesmo se dava entre os anti-gos gregos, cujas regras de composio potica requeriam o conheci-

    20 - PIERRE FATUMBI VERGER

  • INTRODUO- 21

    mento prvio de uma tcnica de dico que empregava expresses tradicionais, compostas de esquemas de palavras j estabelecidos. Tambm os antigos chineses, segundo Mareei Granet7, possuam uma literatura que se baseava em expresses convencionais. Mesmo artistas mais originais, quando queriam provar ou explicar, narrar ou descrever, usavam histrias estereotipadas emprestadas da sabedoria popular.

    O uso de expresses estereotipadas no significava que pen-sassem de forma primria, mas que a forma correta de expressar as idias era inseri-las em frmulas conhecidas das quais elas tomavam toda a fora de influncia.

    Mais adiante veremos a importncia do elemento meldico dos tons da lngua iorub nas sentenas mgicas, onde assonncias e alite-raes tm um papel destacado.

    CLASSIFICAO

    Fazia-se indispensvel tambm conhecer os nomes cientficos das plantas, razo pela qual recolhemos espcimes e os submetemos a vrias entidades, tais como o departamento de botnica do IFAN em Dakar, o herbrio do Departamento Florestal de Ibadan, o professor Portre do laboratrio etnobotnico do Museu de Histria Natural de Paris e, finalmente, o professor H. M. Burkill do Royal Botanical Gardens de Kew, Londres. Este ltimo, sentindo-se atrado pelo humor de algumas das frmulas de emprego de plantas publicadas na brochura Awon ew Osanyin, incluiu-as na obra Useful plants of West Tropical frica, da qual dois dos cinco volumes previstos j foram publicados.

    Levantamos que os 3.529 nomes iorubs correspondem a 1.086

  • 22 PIlikRli IATUMBI VliRC.lR

    nomes cientficos. As razes desta discrepncia se devem diferena de critrios de classificao utilizados pelos iorubs e pelos botnicos ocidentais e sero melhor explicadas mais adiante. Mas conhecer os nomes cientficos das plantas utilizadas pelos iorubs no suficiente para avaliar sua riqueza. No fizemos experimentos para comprovar sua eficincia, mas temos certeza de que uma pesquisa sobre seus efeitos medicinais daria indicaes teis de seu valor farmacolgico.

    No esta a meta dessa publicao, que tem um enfoque etnolgico e no mdico. Aqui apontamos somente quais so as plantas usadas na farmacopia iorub e para que tipo de trabalho medicinal (ou mgico) so empregadas. Suas virtudes e valor medicinal no so fceis de descobrir, uma vez que raramente uma receita faz uso de apenas uma planta. Em geral, cada prescrio comporta de trs a seis plantas diferentes. Uma s planta talvez possa ser comparada letra de uma palavra: sozinha no tem significao, associada a outras contribui para o significado da palavra .

    Ao coletar alguns milhares de receitas, selecionamos 447, as quais foram distribudas em seis categorias:

    a) 219 receitas de uso medicinal (ogun), no conceito da medicina ocidental.

    b) 31 receitas relativas gravidez e ao nascimento (ibmo).c) 33 receitas relativas adorao das divindades iorubs (orix).d) 91 receitas de uso benfico (wre).e) 32 receitas de uso malfico (bil).f) 41 receitas de proteo contra as de uso malfico (idbb).

    Entretanto no fcil classificar todas as receitas por categoria. Por exemplo, um afrn para fazer com que as pessoas esqueam um

  • INTRODUO - 23

    caso no tribunal um wre para uma das partes, mas ao mesmo tempo um bilu para a outra.

    E tambm difcil traar uma linha de demarcao entre os assim chamados conhecimento cientfico e prtica "mgica". Isso ocorre de-vido importncia dada, em uma cultura tradicionalmente oral como a iorub, encantao, of, pronunciada no momento de preparao ou aplicao das diversas receitas medicinais, ogn.

    Se para a medicina ocidental o conhecimento do nome cientfico das plantas usadas e suas caractersticas farmacolgicas o principal, em sociedades tradicionais o conhecimento dos of, encantaes trans-mitidas oralmente, o que essencial. Neles encontramos a definio da ao esperada de cada uma das plantas que entram na receita.

    Existem vrias plantas cuja presena, primeira vista, parece ter somente um carter simblico mas que, na realidade, tm valor tera-putico. Este o caso de duas plantas aquticas, oj or (PISTIA STRA-TIOTES, Araceae, a alface d'gua) e sbt (NYMPHEA LOTUS, Nymphaceae, o ltus), que em seus of evocam a idia de superiori-dade e dominao nas frases que seguem:

    Oj or ni lk om. Oj or est sobre a gua.

    sbt ni lk od. sbt est sobre o rio.

    Seguidas da prazerosa meno:

    Fila ni lk or.O bon est sobre a cabea.

  • I IMERKEEATUMHI VERGER

    E uma ainda mais lisonjeira:

    Ti Oba ni lk or.O rei est acima de todos.

    Durante muito tempo acreditamos que essas duas plantas fos-sem usadas apenas por razes simblicas, mas recentemente lemos em um artigo escrito pelo professor Jean Marie Peite8 que no sbt encontram-se elementos sedativos.

    A primeira vista difcil perceber nas receitas qual a parte mgica (que mais respeitosamente deveremos chamar de ax, poder), e quais as virtudes testveis experimentalmente dessas plantas. Devemos ter em mente que, na lngua iorub, freqentemente existe uma relao direta entre os nomes das plantas e suas qualidades, e seria importante saber se receberam tais nomes devido s suas virtudes ou se devido a seus nomes determinadas caractersticas foram a elas atribudas, como um tipo de jogo de palavras (ou, mais respeitosamente, p/o).

    Essas encantaes-jogos de palavras tm uma grande importn-cia nas civilizaes de tradio oral. Sendo pronunciadas em oraes solenes, podem ser consideradas como definies e com freqncia so as bases sobre as quais o raciocnio construdo. Servem tambm como concluso e prova final nas histrias transmitidas de gerao a gerao pelos babalas, e expressam ao mesmo tempo o ponto de vista da cul-tura iorub e o senso comum de seu povo.

    No caso de nosso estudo, o importante saber se a interpretao corresponde realidade e se as qualidades atribudas s plantas baseiam-se em suas verdadeiras virtudes. Como dissemos antes, deixa-mos aos especialistas o estudo da validade de nossas suposies, fican-

  • INTRODUO - 25

    do nossa parte restrita enumerao das folhas usadas pelos babalas e curandeiros e a dar alguns detalhes sobre a preparao dos vrios ingredientes, assim como sobre o texto das encantaoes pronunciadas por eles durante esta tarefa.

    Nessas encantaoes, os nomes de folhas so acompanhados de duas ou trs linhas descrevendo suas qualidades naquele caso em particular. A uma certa folha podem ser atribudas virtudes diferentes segundo sua associao com um ou outro conjunto de folhas, pois elas entram na composio de diferentes preparaes medicinais.

    A despeito da diversidade de qualidades relacionadas s folhas segundo suas vrias associaes, existe uma certa constncia em seu simbolismo.

    Sabemos, por exemplo, que entre as folhas h quatro conhecidas como won ako ew mrin, as quatro folhas masculinas (por seu trabalho malfico): ew in (URERA MANII, Urticaceae), ew rgb (BRIDELIA ATROVIRIDIS, Euphorbiaceae), ew sis funfun (TRAGIA BENTHAMII, Euphorbiaceae), ew olyin (STRIGA ASITICA, Scro-phulariaceae); e quatro outras tidas como antdotos, bondade: ew dndn (KALANCHOE CRENATA, Crassulaceae, a folha-da-costa), ew tt (AMARANTHUS HIBRIDUS subsp. INCURVATUS, Amaranthaceae, a cauda-de-raposa), ew rinrin (PEPEROMIA PELLUCIDA, Piperaceae, o jabuti-membeca) e ew ikpr (DICHROCEPHALA INTEGRIFOLIA, Compositae).

  • A AO DAS PLANTAS E A PALAVRA ATUANTE

  • CAPITULO 1

    A EFICCIA DA PALAVRA

    SISTEMA IORUB DE CLASSIFICAO DAS PLANTAS

    O sistema iorub de classificao botnica, por ser diverso do elaborado por Lineu, usa diferentes caractersticas para a identificao e classificao das plantas. Na terra iorub, a nomeao das plantas leva em conta seu cheiro, sua cor, a textura de suas folhas, sua reao ao toque e a sensao provocada por seu contato, entre outras.

    Pluralidade de nomes cientficos para um s nome iorub

    E comum que um s nome iorub corresponda a vrios nomes cientficos. Aqui esto alguns exemplos:

    Ahn ekn, "lngua-de-leopardo", o nome dado a folhas cuja superfcie se mostra spera, apesar de sua forma ser diferente. De acordo com a classificao cientfica, elas so a HIBISCUS SURATTENSIS, Malvaceae; a HIBISCUS ASPER, Malvaceae (o cnhamo-brasileiro); a TETRACERA sp., Dilleniaceae; e a ACANTHUS MONTANUS, Acanthaceae (o falso-cardo).

    Amij, "estanca-sangue", chamada amj nl, "estanca-sangue grande", no caso da HARUNGANA MADAGASCARIENSIS, Rhizophoraceae, e amuj ww, "estanca-sangue pequena", no caso da BYRSOCARPUS COCCINEUS e da CNESTIS LONGIFLORA, ambas Connaraceae, so plantas com propriedades coagulantes.

  • M) l ' l i ;kRl i l 'A' l ' l ]MHI VERGER

    Bob wdi o nome dado tanto SOLANUM DASYPHYLLUM, Solanaceae, quanto CAPPARIS THONNINGII, Capparaceae, devido semelhana da forma de seus frutos, que se parecem com a berinjela.

    Bj o nome dado a plantas que so usadas na preparao de tatuagens e de tintura preta para cabelo, classificando-se como MORELIA SENEGALENSIS, Rubiaceae; ROTHMANIA WHIFFIELDII, Rubiaceae; ROTHMANIA LONGIFLORA, Rubiaceae; KEETIA LEUCANTHA, Rubiaceae; e SORINDEIA WARNECKEI, Anacardiaceae.

    Dgunr, "pra-guerra", o nome dado a plantas espinhosas de trs famlias diferentes: dgunr gogoro, "alta", para a ACANTHOSPERMUM HISPIDUM, Compositae (carrapicho-rasteiro); dgunr kker, "pequena", para a ALTERNANTHERA PUNGENS, Amaranthaceae (erva-de-pinto); e dgunr nl, "grande", para a TRIBULUS TERRESTRIS, Zygophyllaceae.

    knn, "garra", o nome dado a plantas que possuem espinhos, como knn adiye, "garra-de-galinha", para a PORTULACA QUADRIFIDA, Portulacaceae; knn ekn, "garra-de-leopardo", para a ARGEMONE MEXICANA, Papaveraceae (o cardo-santo); knn magbo para a SMILAX KRAUSSIANA, Smilacaceae; e knns adiye tanto para a STRYCHNOS SPINOSA, Loganiaceae quanto para a ZIZIPHUS MUCRONATA, Rhamnaceae.

    m um nome composto a partir do verbo m, "grudar", e as vrias plantas assim designadas possuem frutos aderentes, que grudam no plo dos animais e nas roupas. So elas a DESMODIUM CANUM, Leguminosae Papilionoideae; a CENCHRUS BIFLORUS, Gramineae; a SETARIA VERTICILLATA, Gramineae (capim-de-cabra); a PUPALIA LAPPACEA, Amaranthaceae; e a POUZOLZIA GUINEENSIS, Urticaceae.

    sisi a denominao dada a plantas cujas folhas e frutos so cobertos por plos urti-cantes, como a CNESTIS CORNICULATA, Connaraceae; a CNESTIS FERRUGINEA, Connaraceae; a MUCUNA

  • EFICCIA DA PALAVRA - 31

    PRURIENS, Leguminosae Papilionoideae (p-de-mico); a TRAGIA BEN-THAMII, Euphorbiaceae (urtiga-branca); a URERA MANII, Urticaceae; e a SIDA URENS, Malvaceae (guaxima). O mesmo nome dado tambm LAPORTEA AESTUANS (cansao) e LAPORTEA OVALIFOLIA, ambas Urticaceae, plantas no urticantes mas cujas folhas tm forma semelhante das folhas de urtiga.

    Ewro, "folha amarga", o nome das folhas de sabor amargo pertencentes a vrias famlias, como a VERNONIA AMYGDALINA (alum), a VERNONIA ADOENSIS, a VERNONIA COLORATA e a STRUCHIUM SPARGANOPHORA, todas Compositae; a SOLANUM WRIGHTII e a SOLANUM ERIANTHUM (fruta-de-lobo), ambas Solaneae; e a LUDWIGIA OCTOVALVIS, Onagraceae (cruz-de-malta).

    Uasa o nome dado a plantas que possuem em comum carac-tersticas mucilaginosas, como a ABELMOSCHUS ESCULENTUS, Malvaceae (quiabo), por seus frutos; a URENA LOBATA, Malvaceae (guaxima-roxa), por suas sementes; e a TRIUMFETTA RHOMBOIDEA, Tiliaceae (carrapicho-da-calada), por suas folhas.

    Orbja, "veneno-pega-peixe", como so conhecidas a TEPHROSIA VOGELII, Leguminosae Papilionoideae, e a DIOSPYROS PHYSOCALYCINA, Ebenaceae, plantas cujas folhas e vagens so usadas para deixar lentos os peixes de rios e lagos.

    dndn o nome dado KALANCHOE CRENATA, Crassulaceae (folha-da-costa) e EMILIA COCCINIEA, Compositae (pincel), sendo esta ltima tambm chamada de dndn etidf, dndn olkun e dndn od. A bmod ou BRYOPHYLLUM PINNATUM, Crassulaceae (milagre-de-so-joaquim) tambm conhecida como er dndn, "escravo-de-odundun".

    Patonm, "mantm-as-coxas-fechadas", o nome dado a plantas cujos fololos se fecham ao menor contato. aplicado MIMOSA PUDICA,

  • M I M I i R R I i FATUMBI VERGER

    Leguminosae Mimosoideae (dormideira); MIMOSA PIORA, Leguminosae Mimosoideae (unha-de-gato); e BIOPHYTUM PETERSIANUM, Oxalidaceae. Saworo, "sininho", o nome dado TRILEPISIUM MADAGAS-CARIENSE, Moraceae; s CARDIOSPERMUM GRANDIFLORUM (ensacadinha) e CARDIOSPERMUM HALICACABUM, Sapindaceae; e CROTALARIA sp., Leguminosae Papilionoideae, todas plantas com frutos cujas sementes ficam soltas na vagem e chocalham quando sacudidas.

    Pluralidade de nomes iorubs para um s nome cientfico

    Se h vrios nomes cientficos para um s nome iorub, o inverso tambm verdadeiro. Seguem alguns exemplos:

    A BRIDELIA MICRANTHA, Euphorbiaceae, corresponde a trs nomes em iorub: s, usada numa proteo contra os inimigos (idbb lw t) com o ofo As l' n k'bi k' ma s fn mi, "As diz que o mal deve fugir [s] de mim"; ira, cuja casca, em casos de gravidez que supostamente se prolongam de um a trs anos (oyn rr), usada com o of Epo ira k' r orno n w, "Casca de ir, faa a criana se arrastar para fora" (frmula 249); e fon fon, usada numa receita para eliminar vermes (ogn ejonu), com o of Fon fon b wa fo ejonu, "Fon fon, leve [expulse] os vermes para fora".

    A FLABELLARIA PANICULATA, Malpighiaceae, tambm tem trs nomes em iorub: jdr, "acordando-segura-fortuna", usada para obter honradas e glria (wre ol nn) com o of Ew jdr di ire gbogbo w, "Folha de jdr, despache todas as coisas boas para c" (frmula 319); pnklo, usada em trabalhos para obter virilidade (aremo) com o of Apnklo k orno wy, "Apnklo, traga crianas ao mundo"; e lagblagb, usada em trabalhos para alcanar boa sorte

  • EFICCIA DA PALAVRA - 33

    (wre orire) com o of Lagblagb Ia n're fn mi, "Lagblagb, abra a estrada da boa sorte para mim".

    A IPOMOEA HEDERIFOLIA, Convolvulaceae (jitirana), tem dois nomes em iorub: et olgb e kaw kaw. Et olgb, "orelha-de-gato", (por causa de sua forma) usada para obter dinheiro (wre ow) com o of Et olgb, 1 ' n ma gb 'w w, "Et olgb disse que voc traz dinheiro [para mim]"; para proteger contra a morte (idbb Vw ik) com o of Et olgb l' n k' gb, "Et olgb disse que ele dever chegar velhice"; e ainda para atrair a simpatia das pessoas (wre frn niyr) com o of Et olgb ' ngbogbo yn frn mi, "Et olgb diz que todos vocs devem me amar" (frmula 350). A kaw kaw, "conta-dinheiro", usada em duas preparaes para conseguir dinheiro (wre ow) com seus respectivos of Kaw kaw n jk m kaw, "Kaw kaw diz que eu realmente deverei contar dinheiro", e Kaw kaw ki j k' m kaw, "Kaw kaw nunca acorda sem contar dinheiro".

    A JATEORHIZA MACRANTHA, Menispernaceae, tem cinco nomes em iorub: l elw onka meta, "folha-dona-de-trs-dedos", (devido sua forma), usada para encontrar trabalho (wre im'ni rs) com o of Al elw onka meta ni p k won fi ire temi l mi, "Al elw onka meta disse que eles sugerem sucesso para mim"; al elw nl, "dono-da-grande-folha", usada para conseguir um ttulo de chefe tribal (im'ni joy) com o of Al elw nl 1 ' n e fire ila temi l mi, "Al elw nl disse que voc sugere grande honra para mim"; lfohn, "moer-e-no-falar", usada para se obter vitria contra um inimigo (wre isgun t) com o of lfohn m j k t mi fohn, "lfohn, no deixe meu inimigo falar"; nmnm, "completamente", usada para se ganhar um processo na justia (wre afrn) com o of Nmnm mo m rn yije, "Eu pego este processo e o como completamente"; e br, "vindo-facilmente", usada para que as mulheres grvidas tenham

  • 34 - PIERRE PATUMBI VERGER

    um parto suave (awb) com o "ofBr Vnk'ya ma b br, "Br disse que a minha mulher ter criana facilmente".

    A CAMPYLOSPERMUM FLAVUM, Ochnaceae, corresponde a trs nomes em iorub: ajbpo, "acordando-procura-o-azeite-de-dend", usada para obter proteo contra as feiticeiras (dbb Vw ymi snrng)' com o of Ajbpo ni b aj, "Ajbpo implora s feiticeiras"; fsosj, "fazer-sangue-com-uma-fruta", usada para ajudar a mulher a engravidar (mbnrin lyn), com o of Fsosj k' s'j d'orno, "Fsosj faz o sangue se tornar uma criana" (frmula 235); e fj shin, "com-sangue-faz-as-costas", usada para tratar dores nas costas (ogun hin ddun), com o of Fj shin b mi w hin sn, "Fj shin, ajude-me a curar as minhas costas" (frmula 12).

    A PLEIOCERAS BARTERI, Apocynaceae, tambm corresponde a pelo menos trs nomes iorubs: f, usada para proteger as pessoas contra aci-dentes, particularmente motoristas que, ao us-la, supostamente so levados de volta para casa sos e salvos (idbb Vw ijhba) com o of f gb mi f nn ibi, "f, afaste-me do mal [acidente]" (frmula 433); dgb, "para-ficar-velho", ou seja, continuar vivo, tambm usada para agradar as feiticeiras (ww iyn iymi) com o of Ew dgb n dor iymi /e, "A folha de dgb sempre guia as feiticeiras [para proteger-mej" (frmula 274); e olgbkyn, "o-gato-sada-as-pessoas", usada para obter dinheiro (wre ow nn) com o of Olgbkyn gbw w, "Olgbkyn, traga dinheiro para c" (frmula 297).

    A RAULWOLFIA VOMITORIA, Apocynaceae, corresponde a pelo menos sete nomes em iorub. A maioria dos trabalhos que se espera desta planta destina-se a acalmar a loucura (ogn wr). Os of dos quatro primeiros nomes tem este propsito: Apawr pa wr yi sn, "Apawr, mate [e cure] esta loucura"; Awowr b mi w wr mi yi sn, "Awowr, ajude-me a sarar de minha loucura"; Dd [dd] V n

  • li. PIKKKR PATUMBI VERGER

    agir, devem ser pronunciadas. Entre os iorubs, os of so frases curtas nas quais muito freqentemente o verbo que define a ao esperada, o verbo atuante, uma das slabas do nome da planta ou do ingrediente empregado. Tal o caso de uma receita para tratar de dor nos f lanos (ogn lha ddr) (frmula 15), na qual se usam folhas de oy j (CORCHORUS AESTUANS, Tiliaceae, o caruru-da-bahia) e aws (PLUKE-NETIA CONOPHORA, Euphorbiaceae), penas de agbe (galinhola azul africana) e de lk (galinhola vermelha africana). Durante a preparao desse remdio, deve-se pronunciar o seguinte of:

    Oy j w yo riin kr n 'h aws sa rim h Io aghe gb rim ih kr lk k rim ih Io

    Oy j, ajude-me a remover a doena do flanco. Aws, pegue a doena do flanco e a leve embora. Agbe, carregue a doena do flanco. Alk, leve a doena do flanco.

    Em cada verso, o verbo atuante repetido em uma das slabas do nome da planta ou do objeto empregado. Se nesse exemplo alguns dos tons no parecem corretos, devemos lembrar que os iorubs por vezes usam trocadilhos e jogos de palavras, uma questo sobre a qual falaremos mais adiante. Veremos abaixo mais alguns exemplos de of em que os tons so mais respeitados.

    Em seu livro sobre If, William Bascom3 nos d um exemplo do mesmo gnero e faz as seguintes observaes: "um tipo particular de tro-cadilho contribui para dar uma conexo interna [a essas palavras]. Esses trocadilhos so de natureza mgica e neles o nome do objeto sacrificado

  • EFICCIA DA PALAVRA - 37

    lembra palavras que exprimem o resultado desejado". O autor menciona um trabalho feito para encontrar onde ficar, tedo (iwr mji). Ele indica a oferenda a ser feita e a encantao apropriada: um pilo (od) usado para encontrar onde acampar (d); folhas de tt para encontrar onde descansar (te); folhas gbgb para encontrar onde morar (gb).

    Tais tipos de of so muito numerosos. Aqui seguem mais alguns exemplos. Numa receita para acabar com a tosse (ogun ik), devem-se pilar folhas de j (QUASSIA UNDULATA, Simaroubaceae), mistur-las com suco de rorhb ww (ClTRUS AURANTIFOLIA, Rutaceae, a lima-da-prsia), tomar trs colheres dessa preparao todas as manhs e pronunciar o of:

    j j ik kr I 'rn. Orrnbo b ik kr Vrn.

    j, arranque [j] a tosse da garganta. rmbo, descasque [b] a tosse da garganta.

    Freqentemente, o verbo atuante de uma preparao o mesmo para todas as folhas nela empregadas, e a mesma slaba encontrada em cada um dos nomes. E o caso, por exemplo, de uma receita para tratar lepra (ogun t) (frmula 202), em que a slaba pa encontrada nos nomes das folhas ikpupa, oparun e rpa, e na encantao, que tambm a mesma para as trs: b mi pa rn t, "ajude-me a matar a lepra".

    O mesmo acontece com uma receita para tratar convulses (ogun giri) (frmula 204). A encantao se baseia na slaba ,s das diferentes plantas invocadas para fazer a doena "correr" (.si).

    Em um trabalho para se chamar a boa sorte (wre orre) deve-se usar ajif b l (IPOMOEA CAIRICA, Convolvulaceae) e folhas de f (no identificada), s quais se adicionam afar oyin (favos de mel), queiman-

  • HX - IMIiRRIi 1'ATUMBI VERGER

    do-se tudo at se obter um p preto, que misturado com azeite de dend e lambido por aquele que deseja a boa sorte. O verbo atuante f (rer), "para trazer boa sorte", uma slaba includa em todos os nomes dados.

    J em um trabalho para se conquistar o corao de uma mulher (wre ifrn obinrn) (frmula 337), o verbo atuante nos diferentes versos m, "capturar", uma slaba includa nos nomes das plantas usadas mas acentuada de forma diferente.

    Essas diferenas de tons s vezes aparecem nas encantaes pronunciadas durante os trabalhos em que a folha ir (HOLARRHENA FLORIBUNDA, Apocynaceae) intervm. Assim, para curar algum da varola (ogn ilgbn), deve-se desejar ire m j k r mi, "Ir, no deixe a varola me encontrar fraco [r]". Mas caso se deseje obter os favores de uma mulher, o of ser Ir n k e b mi r, "Ir diz que voc faz amizade [re] comigo". O tom do verbo atuante baixo no primeiro caso (r) e alto no segundo (re).

    O nome da folha lml (CSSIA AREREH, Leguminosae Caesalpinioideae) relaciona-se tanto com a idia de manter algum em casa, ml (w), quanto com a de pegar um ladro, m ol. Assim, usada para fazer com que uma mulher infiel fique em casa (iid obinrin dr s'l) com o of Lml b mi m obinrin temi wl, "Lml traz a minha esposa para casa", e tambm para a proteo contra ladres (idbb Vw ol) com o of Lml ba mi m ol s'l, "Lml, prenda o ladro para mim".

    O elo entre o nome da folha e a ao esperada, invocada atravs do of, no se limita apenas ao verbo, mas pode aparecer em uma frase curta ou longa. Em um trabalho feito para se ter sangue vigoroso, que se expressa em iorub por im j p Vara, "para ter muito sangue no corpo", devem-se empregar as folhas de apj (no identificada) e amj (HARUNGANA MADAGASCARIENSIS, Rhizophoraceae), torr-las at

  • EFICCIA DA PALAVRA - 39

    se obter um p preto, adicion-lo a um aca e misturar com gua. Deve-se ento tomar o preparado aps dizer:

    Ew apj p j pp w si ara mi. Ew amuj m j wa si ara mi.

    Folha apj, chame muito sangue para dentro do meu corpo. Folha amuj, traga sangue para o meu corpo.

    Trata-se, alis, de um caso de falsa etimologia, pois amuj pode tambm ser traduzido como "estanca-sangue", "bebe-sangue" ou "traz-virtude", e a planta est provavelmente sendo usada de forma equivoca-da em uma receita para "melhorar o sangue" em caso de anemia.

    Em um trabalho de proteo contra os inimigos (idbb lw t) (frmula 446), pronuncia-se o of Amw (que significa "tire-a-mo-do-corpo") ay kr w mw t kr Vara mi, "Amw ay kr, venha e tire as mos do inimigo de meu corpo".

    Para deixar leve o corpo de uma grvida, esta deve lavar-se com a preparao dada na frmula 231, pronunciando a encantao Ew amara fy ["faa-o-corpo-leve"] b w m ara fy, "Folha de amara fy, ajude-nos a deixar o corpo leve".

    O verbo atuante da frmula encantatria tambm pode ser encontrado em mais de uma slaba do nome da planta. Um exemplo: quando prgn (DRACAENA FRAGRANS, Agavaceae, o coqueiro-de-vnus-nativo) usada em trabalhos para se obter boa sorte (wre orre), o elo criado a partir de pr, com o of Prgn pe rere w, "Prgn, chame a sorte [rere] para c" (frmula 333); mas quando usada em trabalhos para agradar as feiticeiras (ww iyn iymi), o elo se baseia em gn, com o of Prgn n k ay mi gn, "Prgn manda que a minha vida seja reta [gn]" (frmula 275).

  • 40 - PIERRE FATUMBI VERGER

    Plantas e nomes de origem estrangeira

    O sistema de elos entre o nome de uma planta e o verbo atuante baseado em uma slaba de seu nome aplica-se tambm a algumas plantas que foram introduzidas mais ou menos recentemente na frica e cuja denominao deriva de palavras estrangeiras.

    Ilm (CITRUS AURANTIFOLIA, Rutaceae, a lima-da-prsia), derivada de lime em ingls ou de lima em portugus, usada em um trabalho para obter dinheiro (wre ow) com o of Ilm m ow w, "Ilm, traga dinheiro".

    O fumo, tb, cujo nome deriva da palavra inglesa tobacco (NICOTIANA TABACUM, Solanaceae), usado como remdio contra o inchao do corpo (ogn ara ww) ou contra convulses (ogn giri), com o of Tb ta run dnii, "Tb, empurre [ta\ a doena para fora" (frmula 205).

    Para rwy (COCHLOSPERMUM TINCTORIUM, Cochlospermaceae), derivada de rawaya em hassa, os elos se baseiam em diferentes slabas de seu nome. Em um trabalho para obter dinheiro (wre ow nn) deve-se pronunciar o of Rwy b mi w ow temi fn mi, "Rwy, ajude-me a conseguir o meu dinheiro" (frmula 298). J em um trabalho feito para se permanecer no mundo (ip 1 'y), o of Rwy gbogbo wa l'a y, "Rwy, todos ns [wa] devemos ficar vivos [y]".

    O nome gb deriva do portugus goiaba (PsiDlUM GUAJAVA, Myrtaceae), fruta levada do Brasil. Suas folhas so usadas para tratar irritaes da garganta e da boca (ogn igbld) e seu of aparece com uma leve nasalizao da primeira vogai: Gb ikok m m guri ab, "Gb, que a hiena no possa subir na minha cabana [gun ab]'\

    A ojsj (PETIVERIA ALLIACEAE, Phytolacaceae) tambm

  • EFICCIA DA PALAVRA - 41

    foi levada para a Nigria do Brasil, sendo aqui conhecida como erva-de-alho, erva-da-guin, raiz-da-guin ou simplesmente guin, nome dado antigamente a toda a costa ocidental da frica. Em iorub, ojsj significa favoritismo, parcialidade, respeito por uma pessoa. Seus of podem basear-se tanto em isj, "favor", quanto em isaj, "que-precede". Devemos lembrar que em certas partes da Nigria, como Oshogbo, a pronncia do s assoviado quase no se diferencia do s chiado. Outros of derivam da sentena s oj, "curar os olhos". Vejamos trs exemplos de of baseados nesse elos possveis.

    Em um trabalho para obter a compaixo das feiticeiras (iyn iymi), o of Ojsj 1 ' n k e fire gbogbo se isj mi, "Ojsj diz que voc me far um favor [isj] ou me trar boa sorte". J em um trabalho para se ter boa sorte (wre orre), o of Ojsj m rere se isj mi, "Ojsj, favorea-me [isj] com a sorte" (frmula 332). Em uma receita para tratar a dor nos olhos (ogn oj ddn), o of Ojsj b mi s oj jo, "Ojsj, cure os meus olhos [s oj]" (frmula 163).

    Um caso interessante o da gbdo, nome iorub do milho (ZEA MAYS, Gramineae), planta originria da Amrica e introduzida na frica em tempos recentes. As vrias partes do milho entram na composio de trabalhos pertencente sobretudo ao campo mgico. As folhas (ew gbdo) so usadas em um trabalho para trazer boa sorte (wre orre), que se classifica no od iwri fn, tambm chamado iwri gbdo. Seu of deriva do seguinte provrbio:

    Orire ni f gbdo. gbdo rin hh d'ko. O k re b w 'l.

  • 42 - PIERRE FATUMBI VERGER

    O milho tem boa sorte.O milho vai nu para o campo.Ele pega a boa sorte e volta para casa com ela.

    Um outro provrbio :

    Kni gbdo m b? igba orno kni gbdo m b? igba aso.

    O que o milho traz para casa? Duzentas crianas. O que o milho traz para casa? Duzentas roupas.

    So aluses semente de milho plantada no solo, que mais tarde produz pesadas espigas, envoltas em palha, trazendo opulncia e riqueza.

    Tambm as folhas do milho so usadas em um trabalho para se obter favores de feiticeiras (iyn iymi), sendo queimadas com ew ata krurko (CAPSICUM ANNUUM, Solanaceae, o pimento), ew sinknrnmini (BARLERIA sp., Acanthaceae) e eyel (um pombo) at se obter um p preto a ser tomado com aca frio todos os dias. O of dessa preparao :

    -rin-y ma ni t 'gbdo Ata krurko 'ki bni j j ki bn sinknrnmini Eyel ki b onl nn.

    O milho caminha com alegria.Ata krurko no odeia a feiticeira.A feiticeira no odeia sinknrnmini.O pombo no provoca o dio do dono da casa.

  • EFICCIA DA PALAVRA - 43

    A espiga de milho inteira, odidi gbdo, usada em uma receita para ajudar a mulher a ter um bom parto (awb), classificada no odu que trata do nascimento de crianas, conforme j foi mencionado, ogb trpn ou ogb tn orno pn, "ela-coloca-uma-criana-nas-costas-novamente". A espiga moda com ew ahr (MOMORDICA CABRAEI, Cucurbitaceae), iyr (PIPER GUINEENSE, Piperaceae) e kn-n bll (potssio concentrado) numa preparao que a mulher deve tomar com aca quente todas as manhs, pronunciando o seguinte of:

    gbdo b wa gb orno w l Ew ahr mj k oyn h Kn-n bll Ia n fmo.

    Milho, ajude-me a fazer a criana descer.A folha de ahr no deixa que a gravidez atrase.Potssio concentrado, abra o caminho para a criana.

    O sabugo de milho (ppr gbdo) usado em trabalhos para se sair vitorioso de uma luta (isgun ijkad), classificado no odu s mji ou s onj, "se-que-gosta-de-briga", cuja modo de preparo descrito na frmula 312. O of desse trabalho :

    A rsr n kan b mi gb t sub. Ppr gbdo k b olko dimj. Atat ni ti gbgi.

    O sabugo de milho nunca briga com o fazendeiro.[Que o inimigo seja to fraco nas mos do lutador quanto osabugo nas mos do fazendeiro.]Gbgi no pode ser derrubado.

  • 44 - PIERRE FATUMBI VERGER

    A expresso rsr n kan o incio do seguinte provrbio:

    A rsr n kan k i sasn b niyn k l rkan, rkan r l olwar ni.

    Ns no corremos no capinzal cortante em vo; se corremos atrs de alguma coisa [ porque] alguma coisa [perigosa] est correndo atrs de ns.

    O milho gerou provrbios tambm em outras lnguas. Os hassas o chamam de tofa e os fulanis de soyo4. Seus respectivos provrbios so: "Voc deve andar ao redor e no atravs de um campo de tofa", e "Um homem precisa de sapatos para andar no soyo", enfatizando a urgncia do que possa levar algum a correr (descalo) por um milharal.

    A palha (hrh) que envolve a espiga de milho usada em uma receita para ajudar a mulher grvida a sentir o corpo leve (im ara fy ou im ara gg) (frmula 230), classificada no odu ogb tr ou ogb also funfun, "ogb-dono-da-roupa-branca", em aluso palha que envolve o milho. Seu of :

    Ahr 1 ' ni k ara fy. Ara gg ni ti hrh. Er Io ru ara fy.

    Ahr diz que o corpo deve ficar leve. Hrh tem o corpo leve. Er, v e deixe o corpo leve.

    E por fim os gros de milho torrados (gbdo snsur) so usados cm trabalhos para fazer um processo judicial cair no esquecimento (wrc afrn ou idbb Vw e/o), pertencendo ao odu ogb tr

  • EFICCIA DA PALAVRA - 45

    ou ogb klj, "o^-no-tem-processo-na-justia". Para obter-se tal resultado, queimam-se diversos ingredientes, colocando-os dentro de um sr, um tipo de chocalho, juntamente com vinte gros de milho, trinta de feijo e outras sementes. Este sr deve ser sacudido todas as manhs, acompanhado do of:

    Ase-mr 1 ' n k gbogbo ej mi yi r.K won o m bi mi m.K'rn n m h m.Agbdo ti a b sim ki h.Er ti a b sun ki h.Ok bb ti a b sun ki h m.Ataare sisun ki i h.Jnjk l' nk'rn n jk.K won m rnti r m.

    O-poder-do-desaparecimento disse que todos os meus processos[na justia] desaparecero.Que o caso [na justia] no aparea mais.O milho torrado no cresce.O feijo torrado no cresce.O milho-da-guin torrado no cresceJnjk ["deixa-me-sentar"] disse que o caso vai assentar.Eles no vo mais lembrar dele.

    Ou seja, o processo na justia no ir progredir, da mesma forma como os gros no podem germinar depois de torrados.

    Este of pode estar relacionado maneira pela qual o milho importado da Amrica do Sul se disseminou na terra iorub. Conta-se que o proprietrio do primeiro campo onde as sementes foram plan-

  • 46 - PIERRE FATUMBI VERGER

    tadas vendeu o produto de sua colheita apenas depois de torrado, para que ningum mais pudesse cultiv-lo. Um de seus empregados, porm, conseguiu engan-lo: alimentou algumas galinhas com milho cru e as enviou a fazendeiros de outros lugares. Estes imediatamente as destri-param e plantaram as sementes contrabandeadas. Dessa maneira, o cul-tivo do milho pde se espalhar por toda a terra iorub.

    OS SIGNOS ODUS DE IF

    Todas as receitas e trabalhos mgicos feitos com plantas so classificadas pelos babalas em 256 signos (odus) de If, o que com freqncia estabelece elos entre ps nomes das receitas, os nomes das plantas e os nomes dos odus de If, sobretudo com o segundo nome dado a cada odu.

    Um babala raramente emprega os nomes dos odus em sua forma original, dando preferncia aos nomes derivados dele fonetica-mente, s vezes por acrscimo de um prefixo e um sufixo, que lhe con-ferem uma significao particular. Dessa maneira o babala tem maior facilidade para encontrar o simbolismo e o contexto das histrias (itn) e remdios classificados naquele odu. Eis alguns exemplos:

    Ogb d pode tambm ser chamado de ogb dn dn, logb-bloqueia-o-caminho", ou ogb dimdim, "ogb-agarrou".Irosin gnd pode ser chamado de irosun gd, "irosn-casa-de-rato" (gn ed).Ownrn s pode ser chamado de wnrn wes, "wnrn-lava-ps".

  • EFICCIA DA PALAVRA - 47

    Obr irosn pode tornar-se br kosun, "r-esfrega-osim" ou "bra-no-dorme".gnd d tambm pode ser denominado gnd gdi igbn,"gi/nc/-corta-o-fundo-do-caracol", em aluso tranqilidade,uma vez que o lquido que flui da concha do .caracol usado napreparao de um tranqilizante.gnd s tambm chamado de gnd ms, "gnd-no-corre, ele--corajoso", sendo tambm chamado gnd ms 'ojo, "gnc/-no--covarde".fn s chamado tambm de fn slsn, "ofi/n-esfrega-com-giz" ou "fn-esfrega-com-p-vermelho-de-camwoocf';pode ser chamado ainda de fn sawo, "fi/n-aplica-um-remdio".yk wnrn pode ser chamado de y wn rin mi, "y-se-quebra-em-pequenos-pedaos-de-ferro-e-os-engole".Ik c/pode ser denominado nkl nkdi, "colhendo-o-quiabo-colhendo-as-ndegas", em aluso anedota de um camponsque, colhendo quiabos no campo e sentindo-se incomodado porcomiches, coca as ndegas e provoca o comentrio irnico dovizinho: "em lugar de colher os quiabos, ele colhe as ndegas".

    Nos trabalhos para se obter favores de feiticeiras (iyn iymi), o odu s mji torna-se s ly, "s-dono-do-pssaro", e ogb gnd torna-se ogb iymi.

    Entre as 69 frmulas que nos foram dadas para obter favores de feiticeiras ou agrad-las, dezessete se classificam no odu s mji, tambm chamado s ly por ser ly outro nome dado s feiticeiras e o odu sob o qual elas, iymi srhg, vieram ao mundo. Onze das frmulas classificam-se no odu ogb gnd, tambm chamado ogb

  • 4X - PIERRE FATUMBl VERGER

    iyn, "ele-ajuda-[algum a ser]-agradado", ambos tendo elos com iyn iymi. Vejamos trs destes trabalhos:

    Pertencendo ao odu s lye, temos um trabalho cujo modo de preparo dado na frmula 271, acompanhado do of:

    Aj n k kra kra.Wn n y r l wl.kr os ki j k j k pa os.Aj kbl n k eye m b mi.

    Feiticeiras gritam alto.Elas dizem que o pssaro do mal j entrou na cidade.O acar do feiticeiro no deixa as feiticeiras matarem o feiticeiro.Feiticeira-no-se-empoleira-em-mim diz que aquele pssaro [dafeiticeira] no se empoleirar em mim.

    Pertencendo ao odu ogb iyn temos uma receita que manda moer as folhas ew igbgb (SOLANUM sp., Solanaceae), ew oy (CORCHORUS OLITORIUS, Tiliaceae, a juta) e ew kk (CYNOMETRA MANNII, Leguminosae Caesalpinioideae), mistur-las com r (BUTYROSPERMUM PARADOXUM, subsp. PARKii, Sapotaceae, o limo-da-costa) e esfregar a preparao no corpo, pronunciando o of:

    Ogb iyn j k in j y si mi. Igbgb gb mi 1 'w j. Oy n k won yn si mi. Ekk n k ibi won k dn.

    Ogb iyn, permita que as feiticeiras fiquem satisfeitas comigo. Igbgb, tire-me das mos da feiticeira. Oy disse que elas ficaro satisfeitas comigo. Ekk disse que a maldade delas vai sumir.

  • EFICCIA DA PALAVRA - 49

    Por fim, pertencendo ao mesmo odu ogb iyn, temos uma receita que manda colocar em um prato as folhas ew ojsj (PETIVERIA ALLIACEA, Phytolacaceae, a erva-de-alho), ew oyy (CORCHORUS OLITORIUS, Tiliaceae, a juta), ew n (VITEX THYRSI-FLORA, Verbenaceae) e ew agog gn (HELIOTROPIUM INDICUM, Boraginaceae, a crista-de-galo), adicionar odidi ataare (AFRAMO-MUM MELEGUETA, Zingiberaceae, o amorno) e dois ovos (eyin adiye), despejar mel (oyir) por cima e fazer a adivinhao com obi ifin e obi pupa (COLA ACUMINATA, Sterculiaceae, a coleira) para saber onde o trabalho deve ser deixado. Devem-se ento colocar as nozes de coleira em uma rodilha (sk) feita de uma jarda de tecido branco (aso ids funfun). Durante a preparao, pronuncia-se o p/o:

    Ew oj sj I ' n k ' ma fi ohun rere se sj mi.Oyy 1 ' n k ' yn si mi.Ew n 1 ' n k ' sn mi.Ew agog gn 1 'o n k' e ma da 're t 'mi si mi.A ki ma l'yin k' roj.Ofn n k e ma fn n rere.Osn n k e ma fi rere sn mi b.

    A folha de oj sj disse que voc trar coisas boas para mim.Oyy disse que voc tem boa disposio para comigo.A folha de n disse que voc est contente comigo.A folha de agog gn disse que voc lanou minha fortunapara mim.No ficaremos tristes se lambermos mel!Ofn disse que voc me dar fortuna.Osn disse que voc chegar com fortuna para mim.

  • 50 - PIERRE FATUMBI VERGER

    Ir ekun, "cauda-de-leopardo", ao mesmo tempo o nome de uma planta (DRACAENA LAXISSIMA, Agavaceae) e um circunlquio usado a fim de indicar determinado odu de If demasiado perigoso para ser pronunciado. Respeitando essa proibio, diremos apenas que formado pelos dcimo-quarto e dcimo-quinto signos simples5. Uma pessoa nascida sob tal signo deve esperar m sorte na vida6.

    Outros nomes dados a este odu so: ret ekun fir nal, "iret-leopardo-que-bate-com-a-cauda-no-cho", aludindo a um temperamento nervoso e perigoso; ret dd, "/Y-preto", e ret ia tutu t ynyn, "/ref-traz-vida-fria-como-granizo", nomes no muito encorajadores. Em contrapartida, tambm chamado de ret alj, "/re-dono-da-riqueza", pois tudo ambivalente e mesmo os mais terrveis signos de Tf contam com um lado benfico.

    A planta ir ekun, mencionada acima, uma "rvore da floresta que mede at doze metros de altura, com um tronco macio e poroso, cuja seiva dizem cegar as pessoas. As folhas so usadas medicinal-mente"7. Quatro de seus usos foram-nos passados pelos babalas, incluindo trs receitas de trabalhos mgicos. Todas as receitas que empregam ew ir ekn so classificadas no odu ir ekun. Assim, para envolver algum em um processo judicial (ifi niyn sj, frmula 384), deve-se pronunciar o seguinte of:

    Ir ekn w Io r m lgbja. Bomubm w Io r b lj. Knkn Vew injmo. Oj omqd b w ynrn ay ni r t'run. Adi w l r di lgbj.

    Ir ekn, agora v e pegue fulano.Bomubm ["tira-tampa"], agora v e cubra o rosto dele.

  • EFICCIA DA PALAVRA - 51

    A folha in ["folha-de-fogo"] queima a criana na hora.No dia em que a criana procura ynrn ["problema"] na Terra,ela acha o do alm.Adi ["azeite de caroo de dend"], v e amarre fulano.

    Em um trabalho para se conseguir muito dinheiro (wre ow nn) (frmula 299), a influncia benfica do outro nome deste mesmo odu, iret alj, "/Yer-dono-da-riqueza", chamada a atuar com o of:

    Gbogbo ara 1 'asfun fi saj.Ahn ekun l n k ire mi k m wn.Ir ekun l n k won d'er ire w fn mi.

    Asfun sempre faz fortuna com o corpo todo.Ahn ekun ["lngua-de-leopardo"] disse que a minha fortunano ser pequena.Ir ekun disse que trar montes de riqueza para mim.

    Para que uma parturiente d luz facilmente (im obinrin bmo) (frmula 234), o of a ser pronunciado :

    Iru ekun wr wr ki gb in ekiin mj. Aglt 1 ' n k orno n ma sr tete b w.

    Wr wr ["rpido-leopardo"] nunca fica dentro do leopardoat a madrugada.Aglt diz que a criana deve correr para c rpido.

    A quarta dessas receitas diz que, para se proteger uma casa contra 0 mal (idbb il 1'w ibi), devem-se colocar em uma panela de barro (ikk) folhas ew ir ek, ew rgb (ECLIPTA ALBA, Compositae, a

  • 52 - PIERRE FATUMBI VERGER

    erva-boto), e ew itkun (no identificada), despejando sobre elas gua fresca e o lquido extrado do caracol (igbr). Depois enterra-se tudo em algum ponto do cho dentro da casa e marca-se o local com onze bzios dispostos na forma do odu iru ekun, pronunciando-se o of:

    Iru ekun a p o, w ti I 'ekun ibi. Itkun 1 ' n k ibi m kn in il yi. Argb ma gb ibi d s 'de. Il omi ki gbna. Il igbn ki gbna.

    Iru ekun, ns chamamos voc para que venha fechar a porta[contra] o mal.Fecha-porta disse que o mal no encher esta casa.Ns-compramos-para-varrer, varra o mal, coloque-o para fora.A casa da gua nunca quente.A casa do caracol nunca quente.

    Notem-se as assonncias entre ekun ("leopardo"), ilkn ("porta") e itkun ("a folha").

    O nome iru ekun explica-se por algumas histrias (itn) classifi-cadas no signo de mesmo nome. Em uma dessas histrias8, feiticeiras (iymi aj) vm morar na barriga da esposa de Orumil. Consultado, If prescreve uma oferenda de caranguejos (akn), um rato (kt, CRICETOMYS GAMBIANUS) e folhas de alugbinrin (TRICLISIA SUBCORDATA, Menispermaceae), que aparentemente so bem aceitas pelas iymi, uma vez que so usadas nas oferendas para se obter favores de feiticeiras (iynu iymi). As oferendas ento se transformaram em um leopardo (ekun) e as iymi ficam com medo e fogem da barriga da esposa de Orumil. Quando esta ltima adormece, tem um sonho com isto e v um

  • EFICCIA DA PALAVRA - 53

    leopardo sair de sua barriga balanando a cauda (ekun fi r y), frase que talvez seja a etimologia do nome r ekn. Esta histria parece completar o of da primeira receita dada na pgina anterior.

    Em outra histria9, caadores preparam um medicamento composto de rabo de leopardo modo com sabo. Esta preparao pode ser considerada um jogo de palavras materializado, em que a ao dos caadores expressa o nome impronuncivel, uma vez que pilar exprimido pelo verbo te, a ltima slaba de /Vete, o primeiro signo do odu, e sabo, ose, , com tons diferentes, a segunda parte do odu impronuncivel. Graas a este preparado, o caador mata muitos animais e torna-se rico, alj, o que estabelece uma relao com o outro nome do mesmo odu, iret alj.

    Isto nos leva questo das "encantaoes mudas" e das "palavras materializadas" sobre as quais Mareei Mauss"' falou, mencionando certos ingredientes que aparecem em composies mgicas investidos de um certo poder em virtude simplesmente de seus nomes. Percebemos que, nestes casos, os ingredientes agem mais como encantaoes do que como objetos materiais, visto serem "palavras materializadas".

    Sobre o assunto W. Bascom" observa que, na preparao de um medicamento classificado no odu irsn se, o p irsn misturado com sabo ose. Pesquisas feitas nesse campo por Henri Lavonds12 entre os habitantes de Madagascar e a concluso a que ele chegou podem ser aplicadas aos iorubs:

    Vale a pena tentar explicar com preciso o uso, nos rituais mgicos, de um conjunto de artigos e ingredientes que parecem desafiar o bom senso. A significao de certas receitas mgicas torna-se clara a partir do momento em que percebemos que so um discurso feito com o auxlio de objetos, atravs de um procedimento em ntima relao com a linguagem.

  • 54 - PIERRE FATUMBI VERGER

    H uma conexo entre a encantao realmente pronunciada pelo mestre-de-cerimnia e os objetos usados durante a cerimnia. Estes objetos so a encantao representada simbolicamente, da qual a encantao falada apenas a expresso da realidade verbal. Uma composio mgica parece ser considerada como uma coleo de coisas materiais, s quais dado um valor simblico; juntas constituem uma mensagem que pode ser exprimida por uma linguagem articulada.

    SIGNIFICADO MLTIPLO DAS PALAVRAS

    Os nomes com vrios significados possveis nos remetem questo do significado mltiplo das palavras. Em seu livro sobre a poesia iorub13, Ulli Beier oferece uma definio das sutilezas dessa lngua:

    Os iorubs no apenas so altamente conscientes do significado dos nomes, mas gostam tambm de interpretar cada palavra que usam. Eles acreditam que cada nome , na verdade, uma sen-tena que foi contrada atravs de uma srie de elises a uma s palavra. Naturalmente, na tentativa de reconstruir a frase origi-nal, podem chegar a vrios significados.

    J vimos o exemplo de br ksun, com seu duplo sentido. Veremos adiante o caso de ogb whin, que pode significar ao mesmo tempo "ogfa-lava-costas", "ogb-cura-costas" e "ogb-olha-para-trs"; e da folha amj, que pode significar "bebe-sangue" e, com uma mudana de tom, "cstanca-sangue" ou "traz-sangue".

  • EFICCIA DA PALAVRA - 55

    O significado mltiplo das palavras uma noo definida entre os polinsios malaios, segundo afirma Paul Ottino14:

    Contrariamente lgica ocidental, que requer uma relao direta entre o significante e o significado, a forma de expresso pode ser entendida de diferentes formas. A compreenso se d em funo do grau de conhecimento da pessoa. Para o desinforma-do, a frase alusiva a um provrbio, conto ou tema permanece incompreensvel ou fora de propsito. O encobrimento do significado real sob uma imagem simblica, o uso extensivo da metfora, torna o significado obscuro enquanto o sistema de correspondncias simblicas da cultura permanecer desconhecido.

    Segundo L. Renou'\ tambm os hinos do Rigveda, os mais importantes documentos da religio vdica e os mais antigos textos da ndia, que na aparncia nada mais so que a expresso de uma adorao direta e ingnua das foras da natureza, demonstram ser espcimes de uma poesia muito sagaz. O autor coloca em evidncia as correlaes feitas entre o mundo humano e o supra-humano, que em alguns hinos aparecem na forma de enigmas apresentados em um torneio de oratria. Os enigmas traduzem as correlaes por meio de imagens e convidam o poeta que teoricamente participa do torneio a entend-las e interpret-las, assim como exprimir as suas prprias.

    Gilbert Rouget16, escrevendo sobre a msica interpretada na corte do rei de Porto Novo, aponta para o estilo fortemente alusivo das canes ajogan, compostas de palavras de elogio ao rei local e de desafios abusivos a seus inimigos. Elas se exprimem por meio de sugestes convencionais s compreendidas por aqueles que dominam o tema. "Quanto mais as palavras tm um sentido oculto, mais so apreciadas pelos seus

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    conhecedores." Os melhores jogos de palavras so aqueles cantados na presena da pessoa a quem aludem, sem que ela os perceba.

    O mesmo costume existe na Bahia entre os descendentes de iorubs, que durante as cerimnias para os orixs cantam as chamadas "cantigas de sotaque". So canes nas quais uma ligeira mudana de pronncia transforma elogios em palavras irnicas ou abusivas contra um visitante, que, se for capaz, deve responder com outra cano para mostrar que no foi enganado.

    O significado mltiplo de palavras foi observada pelo padre Huc17 tambm na Monglia, por onde viajou em 1844:

    Um mar subterrneo impediu o erguimento de um templo. Um lama encontrou um velho que lhe explicou a razo desse fracas-so. Mais tarde, arrependido de ter contado seu segredo, mandou seu filho atrs do lama para mat-lo. O filho, no entanto, con-tentou-se em trazer de volta uma tira de couro dada ao lama pelo velho, julgando que ela no valia a morte. O filho havia entendi-do "tira de couro" e no "segredo". A mesma palavra mongol tem os dois significados. O velho pedira a seu filho que matasse o estranho que lhe roubara o "segredo" e no sua "tira de couro".

    Em alguns casos, o significado mltiplo de uma mesma palavra pode contribuir para acentuar a coeso existente entre seus diferentes sen-tidos, a despeito de, primeira vista, parecerem distantes um do outro.

    A palavra fm significa "doena contagiosa", e "planta para-sita ou epfita" (visco, orqudea etc), noes aparentemente remotas que, no entanto, apresentam um vnculo: as folhas mais usadas em tra-balhos dedicados a Spnn, o deus da varola e das doenas conta-giosas, so as de plantas parasitas ou epfitas.

  • EFICCIA DA PALAVRA - 57

    LIGAES ENTRE OS NOMES

    Como j foi visto, os nomes das plantas, das receitas e dos odus de If encontram-se relacionados e refletem o efeito que deles se espera. A seguir sero discutidos alguns exemplos mais detalhadamente.

    1. Irosn mji

    Irosn ao mesmo tempo o nome do quinto odu, consta de vrios odus, o nome das plantas BAPHIA NTIDA e PTEROCARPUS OSUN, ambas Leguminosae Papilionoideae, e do pssaro cardeal (EUPLECTIS FRANCIS-CANA). Este conjunto caracteriza-se pela cor vermelha do pssaro e do p de camwood (madeira de tintura). Muitos trabalhos classificados no odu irosn esto portanto ligados cor vermelha e noo de sangue (j).

    Os medicamentos usados para regular a menstruao (ogn s obinrir) classificam-se nos odus irosn mji, br irosn e ognd irosn, este ltimo tambm aludindo a sangue: Ognd fj kunl irosn, "Ognd-esfrega-a-casa-de-Yosun-com-sangue" e Ognd j ta sr, "Ogund-faz-o-sangue-fluir-copiosamente". Neste remdio utiliza-se tambm ew sjsr (BASELLA ALBA, Basellaceae, a bertalha), cujo nome significa "faz-o-sangue-fluir-copiosamente".

    Em um trabalho para conceder maior virilidade (aremo), classificado no odu s irosn, tambm chamado s elj, "si-dono-do-sangue", devem-se usar folhas de oldd, "dono-da-flor-escarlate" (HEISTERIA PARVIFOLIA, Olacaceae), pronunciando o of Oldd elj ti w'w j, "Dono-da-flor-escarlate que usa um traje de sangue".

    O mesmo odu s irosn tambm chamado de s elpo, "s-dono-do-leo-vermelho", enquanto irosn mji pode ser chamado de

  • 58 - PIERRE FATUMB1 VERGER

    irosun odder, "irosun-papagaio", em aluso s penas muito vermelhas da cauda deste animal. O odu irosun s, tambm deno-minado irosun j, relaciona-se aos nomes de osun e sangue, ambos vermelhos.

    Numerosos trabalhos classificados nos odus irosun se associam idia de sonho (sim) e insnia (isur). A seguir citamos os mais re-presentativos.

    a) Para dormir

    Existem oito receitas para ajudar algum a dormir (ogun im ni rorun sim), das quais apresentaremos duas. Pertencendo ao odu irosun mji (frmula 207), temos o of:

    Irosun mji j kl lgbj l sim. Ak od ni m oorun w. sn d ragbada l b igi ak od. Ata 1 ' ni k ' ta isim jade. lbs b wa sisim yi da. ly yo isim jade.

    Irosun mji, deixe fulano dormir.Ak od sempre traz o sono.Sono profundo o que encontramos na rvore ak od.Ata diz que a insnia deve ser empurrada para fora.Alubs, ajude-nos a colher esta insnia.Sal, expulse a insnia.

    Pertencendo ao odu/Vn irosun, "/Vn-dono-do-sono" (frmula 208), temos o of:

  • EFICCIA DA PALAVRA - 59

    Aj ki b orno r j j. Erw ni t gbingbin. Oj or ni lk omi.

    Aj nunca luta contra seu prprio filho. Gbingbin sempre fresca e calma. Oj or sempre flutua sobre a gua.

    No dita nenhuma palavra sobre o sono propriamente dito, mas a encantao fala de calma e paz.

    b) Para causar insnia

    Existem trabalhos para deixar as pessoas insones, classificados nos signos yk irosn, chamado tambm de yk alisn, "yk-dono-do-sem-sono"; e no d irosn, tambm chamado idin isn, "larva-que-no-dorme". A seguinte receita destina-se a mandar insnia para algum (irn isn si niyr) com o of:

    Mj k lgbjk' l sn.Idin isn ni k fi fn un I 'j k ' m 1 'oj oorun.Efun ni k e fi fn Vj k ' m oj orun.Osn mj k ' l sn.Obi ifin ni k e fi fn Vj k' m l sn.Obi ipa ni k e fi pa oj r d si d lgbj.

    No permita que fulano consiga dormir. Larva-que-no-dorme, no o deixe dormir. Giz, no o deixe dormir.

  • 60 - PIERRE FATUMBI VERGER

    Osn, no deixe que ele seja capaz de dormir.Noz da coleira-branca, borrife o rosto dele que assim nopoder dormir.Noz de coleira-vermelha, vire o rosto dele para o lugar sem sono.

  • c) Para causar e evitar pesadelos

    No campo mgico, o babala pode enviar pesadelos (lkl) s pessoas ou proteg-las deles. Apenas duas receitas agressivas foram-nos passadas, sendo as outras 24 dedicadas proteo contra os pesade-los. A seguir daremos uma receita de cada tipo.

    Pertencendo ao odu ogb fn, temos a receita para mandar pesadelos para algum {blu im ni 1'lkl) (frmula 390). A encan-tao invoca uma entidade poderosa chamada Sigidi, especializada em trabalhos noturnos como golpear as pessoas durante o sono. Estes traba-lhos so classificados sob o odu irosn ou idin isiin, sendo o of Idin isiin m j kl l sim, "Larva-que-no-dorme, no o deixe dormir". De acordo com a tradio18, Sigidi, pesadelo divinizado e representado materialmente por uma espcie de cone de barro de forma vagamente humana, vai sob as ordens de seu proprietrio sentar-se sobre o peito do inimigo apontado, para sufoc-lo. Sigidi no pode agir seno durante o sono das pessoas, mas aquele que o envia deve permanecer acordado (isur) at o seu retorno, porque, se adormecer, Sigidi voltar imediata-mente sem ter cumprido sua misso e sufocar seu proprietrio.

    Para preparar um remdio contra pesadelos (ogn lkl), per-tencendo ao odu iwri fn, queimam-se juntos ew kl dsm (MALA-CANTHA ALN1FOLIA, Sapolaceac), jkbl, 'Teiticeira no-sc-empoleira-0m mim", (CROTON ZAMBESlcus, Hupliorbiaceae), cwc abrkolo, "virar-

  • EFICCIA DA PALAVRA - 61

    imediatamente", (HAUMANIASTRUM LILACINUM, Labiatae) e a cabea de um cachorro (or aj) at obter-se um p preto, parte do qual deve ser esfrega-do em cortes sob os olhos e o restante comido com aca frio. Seu of :

    Al rere ni t'akl dn. Ajkbl e m b l mi. Aj ma gb won. Isink run phind. Ow te ew abrkolo. Isink run phinda.

    Akl dn sempre tem bons sonhos.Ajkbl, no se empoleire em mim.Cachorro, ladre para eles.Mortos, retrocedam.A folha abrkolo foi presa.Mortos, retrocedam.

    2. Ogb iwri

    O odu ogb iwri tem tambm outro nome, ogb whin, "ogb-cura-costas" ou "o^b-lava-costas" ou "o^-olha-para-trs" e est rela-cionado com remdios contra dor nas costas (ogn hin ddn). Das dezenove receitas que temos para esse ogn, doze classificam-se em ogb whin. A seguir so dadas trs receitas para curar dores nas costas, todas classificadas no odu ogb whin:

    Devem-se moer juntas ew igbhin (RAPHIOSTYLIS BENINENSIS, Icacinaceae), egb pe (a raiz de ELAEIS GUINEENSIS, Palmae, o den-dezeiro), iyr (PIPER GUINEENSE, Piperaceae), cozinhando-as com um

  • 62 - PIERRE FATUMBI VERGER

    caracol (igbn), leo e sal e depois comendo-se a mistura. Durante a preparao deve-se dizer o of:

    Igbhin gb 'hin Io. Ehin ki dun pe. hin ni iyr fi ti igi. Ehin ki dun igbn.

    Igbhin, leve a dor das costas embora. As costas de pe nunca doem. Iyr se encosta na rvore. O caracol nunca sente dor nas costas.

    Uma segunda receita manda moer ew fj shin, "com-sangue-faz-as-costas", (CAMPYLOSPERMUM FLAVUM, Ochnaceae) e dezesseis sementes de ataare (AFRAMOMUM MELEGUETA, Zingiberaceae, o amorno), esfregando-se a mistura em dezesseis cortes feitos nas costas de quem sofre, dizendo o of:

    Fj shin b mi wo hin sn. Ataare ti mi1 'hin.

    Com-sangue-faz-as-costas, ajude-me a curar minhas costas. Amorno, ampare-me.

    Podem-se ainda ferver em gua as folhas ew jomo ruke (CROTON LOBATUS, Euphorbiaceae), ew opon atakun (UAPACA HEUDE-LOTri, Euphorbiaceae) e rit (XYLOPIA AETHIOPICA, Annonaceae, a pimenta-da-guin) e dar de' beber ao paciente todas as manhs, pronun-ciando o of:

  • EFICCIA DA PALAVRA - 63

    Jomo ruke ni wo hin sn. Opon ba mi pon orno yi dgb. ru k' mjk'hin dun mi.

    Jomo ruke, cure [a dor das] costas.Opon, ajude-me a carregar esta criana at ela crescer.ru, no deixe que [minhas] costas doam.

    NOMES MEDICINAIS E MGICOS

    Os nomes das plantas iorubs parecem apresentar uma ambivalncia quanto sua origem mgica ou medicinal, assim como os nomes dados aos signos e trabalhos. Perceba-se a seguir como o nome dado s plantas refora o efeito delas esperado, sendo possvel que seja includa apenas por esta razo. Em um trabalho para se obter boa sorte (wre orire), classificado no odu gnd sorire, "gnd-tem-boa-sorte", deve-se moer ew awrr (COLA MILLENII, Sterculiaceae); ew rr (TRICHILIA MONADELPHA, Meliaceae); ew ori (VITEX DONIANA, Verbenaceae), misturar o p com sabo (ose) e lavar-se a cabea com o preparado, pronunciando-se seu of rico em assonncias:

    Awrr, je k n se orire. Ew rr, j k n se orire. Ognd sorire 1 ' n k n se orire. Orrere ni frni.

    Folha de awrr, deixe-me ter boa sorte. Folha rr, deixe-me ter boa sorte.

  • 64 - PIERRE FATUMBI VERGER

    gind-tem-boa-sorte diz que eu devo ter boa sorte. A boa sorte minha.

    O odu gnd ogb tambm chamado gnd egb, "gnd-ferida-de-faca", e nele est classificado o remdio para curar feridas de faca (ogin egb ogb), em que se emprega ew pogb pogb, "folha-matadora-[da-dor]-do-ferimento-de-faca", (CYATHULA PROSTRATA, Amaranthaceae). A mesma folha, segundo indica Burkill1'', usada para curar a lcera fagednica (nrun) (frmula 78).

    Essas folhas devem ser moidas e misturadas com ltex (q/e) de igi ahn (ALSTONIA CONGENSIS, Apocynaceae), sendo a preparao ento colocada sobre o ferimento de faca, que enfaixado. Seu of :

    Pogb pogb b wa wo egb ogb sn. Ahn b wa hun ara p.

    Matador-do-ferimento-de-faca, ajude-nos a curar o ferimentode faca.Ahn, ajude-nos a fechar [curar] o corpo.

    O ltex de igi ahn citado por Burkill20 como usado tambm em bandagens sobre inchaes causadas por filariose. O mesmo igi ahn usado em uma receita pertencente ao odu fn br, misturado com casca de caracol moda (ikarahun igbr) e folhas moidas de tann jgb, "luz-do-fogo-queima-o-ferimento" (HOSLUNDIA OPPOSITA, Labiatae). Daziel21 confirma que o suco e as folhas frescas desta planta so aplicados em ferimentos. Dessa maneira, podemos verificar que os nomes das plantas e seu uso parecem estar de acordo com as prescries mdicas ocidentais, dando a impresso de que os nomes dados a elas so o resultado da observao das suas qualidades e virtudes.

  • EFICCIA DA PALAVRA - 65

    Ainda assim, algumas vezes essas ligaes verbais parecem basear-se mais no campo mgico do que no mdico.

    As folhas de ikjnj (DALBERGIA LCTEA, Leguminosae Papilionoideae), cujo nome significa "morte-deixa-me-danar", so usadas em um trabalho de proteo contra a morte (idbb rw iki), sendo classificado no odu yk trpn, conhecido tambm como yk b trpn e yk ikjnj, usando-se o of:

    Ikjnj, yk b trpn. Ofjnj, yk b trpn.

    Morte-deixa-me-danar, yk encontra trpn. Perda-deixa-me-danar, yk encontra trpn.

    A folha de myndr, "faa-a-gravidez-ficar" (no identifica-da), usada em receitas para fazer a gravidez prosseguir normalmente (im oyn dr) com o of:

    Myndr tt b mi m oyn dr. Faa-a-gravidez-

    ficar, ajude-me a fazer a gravidez ficar.

    Como esta folha ainda no foi identificada, difcil saber se estamos no campo mgico ou no medicinal.

    A folha rru, "a-noite-chegou", (SPATHODEA CAMPANULATA, Bignoceae, a tulipeira-da-frica), usada para curar a cegueira (ogn oj ffo), moda com ew ynyun (ASPILIA AFRICANA, Compositae) e ew dd kun, "folha-flor-do-mar", (COMBRETUM PLATYPTERUM, Combretaceae), sendo a mistura lambida com leo enquanto se pronun-cia o of:

  • 66 PIERRE FATUMBI VERGER

    Gbgbni rru ri'na.Ari'na d'ale ni ti ynyun.Ew dd kun b mi mu oj ri.

    A-noite-chegou v a luz claramente.Ynyun v a luz at o anoitecer.Folha-f lor-do-mar, ajude meus olhos a verem a luz.

    A folha wfn, "lava-branco", (OLAX SUBSCORPIOIDEA, Ola-naceae) usada para lavar o orix (ww Oris), trabalho classificado no odu wnrn fn ou ownrn wfn, "lava-branco", com o of:

    wfn we funfun, wfn Oris. Lava-limpo-

    lava-branco, lave limpo o orix.

    A folha jmo ruke, "deixe-a-criana-crescer-bem", (CROTON LOBATUS, Euphorbiaceae) usada para pedir que a criana cresa bem (ogun im orno d'gb) (frmula 180) na receita classificada no odu ogb yk, pronunci ando-se o of:

    Jmo ruke j k orno mi ruke22

    Orru mj k orno mi ru. Ow nk orno mi w d'gb.

    Deixe-a-criana-crescer-bem, deixe a minha criana crescer. A-noite-chegou, no deixe minha criana crescer fraca. O algodo diz que minha criana deve crescer bem.

    A folha jmo ruke usada ainda contra dores nas costas em cri-anas (ogun hin ddn omod) (frmula 179). O of desta infuso :

  • EFICCIA DA PALAVRA - 67

    Jmo ruke ni wo hn sn. pn b mi pon orno yi d 'gb Er k ' mj k hin dn n.

    Deixe-a-criana-crescer-bem sempre cura a doena das costas. pn, ajude-me a respaldar esta criana at que ela cresa. Er no deve deix-la sofrer de dor nas costas.

    Esta mesma folha conhecida tambm sob o nome de rmgl, "ele-que-faz-a-criana-crescer". E usada em receitas que tratam de questes da gravidez, como as mencionadas a seguir.

    Para conseguir que uma criana nasa (irmob), trabalho clas-sificado no odu ogb trpn ou ogb tmopnn, "ogb-carrega-a-criana-nas-costas", rmgl fervido em gua com ew egungun gun (CEIBA PENTANDRA, Bombacaceae, a mafumeira) e dado de beber mulher grvida. Seu of :

    Egungun gun b mi b orno mi. rmgl b mi b orno mi.

    Egungun gun, ajude-me a parir meu filho. Ele-que-faz-a-criana-crescer, ajude-me a parir meu filho.

    O mesmo trabalho rmob utilizado na frmula 225 com o of:

    Arakbal ni tn orno se. rmgl j'mo ru gl. Erj k orno ru.

    Corpo-no-descansa, restaure a sade da criana.

  • 66 - PIERRE FATUMBI VERGER

    Gbgbni rru r'na.Ari'na d'ale ni ti ynyun.Ew dd kun b mi m oj ri.

    A-noite-chegou v a luz claramente.Ynyun v a luz at o anoitecer.Folha-f lor-do-mar, ajude meus olhos a verem a luz.

    A folha wfin, "lava-branco", (OLAX SUBSCORPIOIDEA, Ola-naceae) usada para lavar o orix (ww Oris), trabalho classificado no odu wnrn fn ou ownrn wfn, "lava-branco", com o of:

    Awfn we funfun, wfin Oris. Lava-limpo-

    lava-branco, lave limpo o orix.

    A folha jmo ruke, "deixe-a-criana-crescer-bem", (CROTON LOBATUS, Euphorbiaceae) usada para pedir que a criana cresa bem (ogn im mo d'gb) (frmula 180) na receita classificada no odu ogb yk, pronunciando-se o of:

    Jmo ruke j k orno mi ruke22

    rru mj k orno mi r. w nk orno mi w d'gb.

    Deixe-a-criana-crescer-bem, deixe a minha criana crescer. A-noite-chegou, no deixe minha criana crescer fraca. O algodo diz que minha criana deve crescer bem.

    A folha jmo ruke usada ainda contra dores nas costas em cri-anas (ogn hin ddn omod) (frmula 179). O of desta infuso :

  • EFICCIA DA PALAVRA - 67

    Jmo ruke ni wo hin sn. pn b mi pon orno yi d'gb Er k ' mj k hin dn n.

    Deixe-a-criana-crescer-bem sempre cura a doena das costas. pn, ajude-me a respaldar esta criana at que ela cresa. Er no deve deix-la sofrer de dor nas costas.

    Esta mesma folha conhecida tambm sob o nome de rmgl, "ele-que-faz-a-criana-crescer". usada em receitas que tratam de questes da gravidez, como as mencionadas a seguir.

    Para conseguir que uma criana nasa (irmob), trabalho clas-sificado no odu ogb trpn ou ogb tmopnn, "o^b-carrega-a-criana-nas-costas", rmgl fervido em gua com ew gungun gun (CEIBA PENTANDRA, Bombacaceae, a mafumeira) e dado de beber mulher grvida. Seu of :

    gungun gun b mi b orno mi. rmgl b mi b orno mi.

    gungun gun, ajude-me a parir meu filho. Ele-que-faz-a-criana-crescer, ajude-me a parir meu filho.

    O mesmo trabalho rmob utilizado na frmula 225 com o of:

    Arakbal ni tn orno se. rmgl j'mo o ru gl. Er j k orno ru.

    Corpo-no-descansa, restaure a sade da criana.

  • 68 - PIERRE FATUMBI VERGER

    Ele-que-faz-a-criana-crescer, deixe a criana crescer rpido. Er, deixe a criana crescer.

    Para ajudar a manter a gravidez (im oyn dr), classificada no odu wnrn iwri ou wnrn b iwr, wnrn-panu-iwor\ a ew rmgl pilada com r e misturada com sabo (ose dd), com o qual a mulher grvida lava o corpo. Seu of :

    rmgl b mi m oyn r s 'k. Er b mi m oyn yi d'gb.

    Ele-que-faz-a-criana-crescer, ajude-me a levar a cabo estagravidez.Er, ajude-me a deixar esta gravidez crescer.

  • CAPITULO 2

    OPOSIES

    TRABALHOS MALFICOS E BENFICOS

    As diferentes preparaes usadas por babalas e curandeiros cobrem uma grande gama de receitas medicinais e trabalhos mgicos, podendo ser malficas (bil) ou de proteo (idbb).

    E difcil separar quais dentre elas pertencem ao campo medicinal e quais ao mgico, pois, como veremos, eles esto profundamente interli-gados. A seguir cito exemplos de trabalhos ofensivos e seus antdotos.

    Doenas e acidentes

    Para mandar diarria e vmito a algum (bll irn ongb mji si nyr) (frmula 399), usa-se so apkn, o fruto de DATURA METEL, Solanaceae, pilado com ninhos de vespa provenientes de uma casa (il agbn il) e do campo (il agbn oko), uma vagem de odidi ataare (AFRAMOMUM MELEGUETA, Zingibiraceae, o amorno), e uma centopia (kr). Os ingredientes devem ser pilados, secos e colocados na comi-da ou na gua a ser consumida pela pessoa que se quer atingir e, para completar-se o efeito, um pouco dessa preparao deve ser despejado na soleira da porta do inimigo.

    Para curar a doena citada acima (ogun ongb mji), temos duas receitas muito parecidas. Usam-se ew gnmn, "trepar-para-conhecer-

  • 70 - PIERRE FATUMBI VERGER

    o-caminho" (CULCASIA SCANDENS, Araceae) e odidi ataare (AFRAMOMUM MELEGUETA, Zingibiraceae, o amorno), ao que, em uma das receitas, adiciona-se ew agbado (ZEA MAYS, folha do milho) (frmula 111) e na outra uma pena de perdiz (iy aparo). Queima-se at obter-se um p preto, que ento colocado em uma pequena cabaa, furada no alto e na base, arrolhan-do-se os dois lados. Muito simbolicamente, o p deve ser extrado do lado superior para combater o vmito e do lado inferior para combater a diarria. Em ambos os casos, o paciente deve comer a preparao com aca (ko) frio. Durante a preparao, deve-se pronunciar o of:

    gnmn mj k rn gun mi. Agbado k gb mi 1 'w rn.

    Trepar-para-conhecer-o-caminho, no deixe a doena trepar emmim.Milho, resgate-me da mo da doena.

    Para mandar uma lcera fagednica a algum (bil ifi nrun si niyr), trabalho classificado no odu ogb irsn, preciso uma preparao complicada (frmula 385). A doena nrun tida como a primeira a aparecer na terra, conforme uma histria classificada no perigoso odu fn knrn ou frn ekn, "provocar-o-leopardo".

    Devo dizer, para crdito dos babalas e curandeiros, que nos foi dado apenas um "trabalho agressivo" {bil) para provocar a lcera fagednica, enquanto forneceram-nos 26 receitas do remdio usado para cur-la (ogn nrun). Dois deles pertencem ao odu wnrn mji (frmula 68) e ao odu ogb s (frmula 69). Pertencendo ao odu tr iwr, temos ainda a receita que diz para moerem-se juntas as folhas ew itkn rn (FLABELLARIA PANICULATA, Malpighiaceae), ew oj olgb (ABRUS PRECATORIUS, Leguminosae Papilionoideae),

  • OPOSIOES- 71

    ew fun il (EVOLVULUS ALSINOIDES, Convolvulaceae, a corre-corre) e ingerir-se a preparao com aca frio. Seu of :

    Itkn rn k' bani rn an kr. Oj lgb ki j k ib ri ni. Efun il mj k le fn mi.

    Itkn rn, mande a doena para fora de ns.Oj lgb, no deixe que o mal nos veja.Efun il, no deixe a doena ser capaz de me pressionar [parabaixo].

    Pertencendo ao odu ik s, temos a receita que manda pilar juntas ew okn ep (IPOMOEA OBSCURA, Convolvulaceae), epo, "casca", de pndr (KIGELIA AFRICANA, Bignoniaceae), uma boa quantidade de orgb (GARCINIA KOLA, Guttiferae), ata gidi (ZANTHOXYLUM SENEGALENSE, Rutaceae) e kn-n bll (potssio concentrado). Deve-se comer o preparado com aca quente, pronunciando o of:

    Ew okn ep pa nrun k' k. Pndr pa nrun k ' k. Orgb gb nrun kr. Kn-n bll kn an dn.

    Folha okn ep, mate nrum [a doena], que ela morra. Pndr, mate nrun, que ela morra. Orgb, carregue nrun para fora. Potssio concentrado, nocauteie-a.

    Para fazer com que algum quebre o brao ou a perna (bil id nils), existe a receita pertencente ao odu irsn gnd ou irsn gd,

  • OPOSIOES - 73

    naceae) e uma r recm morta e despelada (kr), desenhar o odu com iyrsn e em seguida despejar a mistura e o iyrsn em e/nu, "vinho-de-palma". Deve-se ento colocar o iyrsn sobre Exu, desenhar novamente o odu e recitar o of. Logo depois, despeja-se o vinho-de-palma preparado sobre a imagem de Exu e deixa-se que escorra no cho. Seu of :

    B 'kr bVgd, a Vmi Vhin es mjji hin. T'j t'rn omi ki tn nn oljngbd. Em ni k'o fi m 'ji n wy If o. t erji ni k 'o fi t 'j s 'l.

    Quando a r pula fora do rio, traz gua em suas patas traseiras. Chova ou faa sol, a gua no acaba dentro de oljhgbd.Use vinho-de-palma para dirigir a chuva para a terra cie If.

    /Use ot erji para deixar cair gua na terra.

    A receita para parar a chuva (wre im j dr) pertence ao odu ogb yk e determina que se queimem juntas ew kk (CYNOMETRA MANII, Leguminosae Caesalpinoideae) e ew knkn (PALMAE sp.), colo-cando-se a mistura em uma panela quebrada e adicionando cinzas. Tudo deve ento ser posto no teto da casa ou em um lugar a cu aberto.

    Maldies (p)

    Uma atividade importante e assustadora efetuada pelos baba-las ajudar as pessoas a amaldioar outras (sp so ou p ispl niyn) e tambm proteg-las da maldio (idbb Vw p).

    A receita para amaldioar algum (p ispl niyn) (frmula 401) pertence ao odu ogb iret. A proteo contra a maldio uma recei-

  • 74 - PIERRE FATUMBI VERGER

    ta classificada sob o perigoso odu iru ekun e manda pilar juntos o fruto (s) e as folhas (ew) de kidan (TETRAPLEURA TETRAPTERA, Leguminosae Mimosoideae), a casca (ep) e as folhas de odn (Frcus spp., Moraceae) e ew td (CALLIANDRA PORTORICENCIS, Leguminosae Mimosoideae), mis-turando com sabo (ose dd), lavando-se ento o corpo com o preparado..

    Pertencendo ao odu fin iwr ou fn wore, "/i//j-parece-bem", temos outra receita de proteo (idbb lw p) (frmula 426) com o of:

    W b mi pa p ti wn fi mi s yi. Sawerepp b mi pa elp fn mi.

    Venha e ajude-me a matar a maldio que puseram em mim. Sawerepp, ajude-me a matar os que me amaldioam.

    Processos judiciais (e/o ou rr)

    Os babalas tanto so capazes de ajudar as pessoas a envolver algum em um processo judicial (ifi eni s'j) quanto de proteger a pes-soa j envolvida em um (idbb Vw e/o) ou mesmo livr-la do caso (afrn). Mais uma vez, se nos deram uma receita para o lado agressi-vo, conseguimos dezoito para a defesa da parte agredida.

    Para envolver algum em um processo judicial (frmula 384), pronuncia-se o of dado na primeira receita mencionada na parte sobre ir ekun. Para proteger algum contra um processo judicial, usa-se a receita pertencente ao odu tr mji, tambm chamado t elejo, "f-dono-do-caso-na-justia", moendo-se juntas ew gbw kow, "intrprete-do-pssaro-tovFe" (MILLETIA THONNINGII, Leguminosae Papilionoideae) e ew r, "que-desaparece" (RAUVOLFIA VOMITORIA, Apocynaceae) e comendo-se a preparao com aca frio. Seu of :

  • OPOSIOES - 75

    Agbwkow y gba fmi w. r 1 ' n k r n k ' r.

    Intrprete-do-pssaro-kow falar a meu favor. Que-desaparece diz que o caso deve desaparecer.

    Pertencendo ao odu ogb tr ou ogb alr, tambm chamado ogb ksj, "ogb-no-tem-processo-na-justia", existe outra receita para livrar algum de um caso (afrr) (frmula 301) com o of:

    Ogb alr b mi gb rn yi r.Gbgi ni k fi gber.Akf ni ti gbon.Atat ni ti gbgi. \Ahn Vesn h. \

    Ogb alr, ajude-me a