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ESCUTA DICÓTICA EM USUÁRIOS IDOSOS DE PRÓTESE AUDIT IVA
NICOLI VALVERDE MAFRA (1)
ANGELA RIBAS (2)
(1) Fonoaudióloga, Especializanda em Audiologia clínica e ocupacional pela Universidade
Tuiuti do Paraná, UTP, Brasil.
(2) Fonoaudióloga; Mestre em Distúrbios da Comunicação, Doutora em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Urbano, Professora adjunta da Universidade Tuiuti do Paraná, UTP,
Brasil. Orientadora de pesquisa.
Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista, Curso de
Audiologia clínica e ocupacional, Universidade Tuiuti do Paraná.
2
RESUMO
Introdução: Atualmente, a exemplo do que acontece no mundo, a população brasileira vem
crescendo aceleradamente e, com a melhora da qualidade de vida, está atingindo idade mais
avançada. A dificuldade de audição é um dos déficits que acometem o idoso em seu processo de
envelhecimento e a utilização de recursos tecnológicos, como a prótese auditiva, é uma forma de
minimizar os efeitos negativos da deficiência auditiva no idoso. A prática clínica revela que,
muitas vezes, idosos com perda bilateral não se acostumam com o uso de duas próteses,
abandonando um aparelho. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a escuta dicótica de
usuários de prótese auditiva que não se adaptam ao uso binaural. Método: Participaram da
pesquisa 15 indivíduos com idade entre 50 e 80 anos, de ambos os sexos, usuários de aparelhos
auditivos com indicação bilateral há mais de seis meses. Apesar de terem dois aparelhos utilizam
somente um. Foi aplico: breve anamnese, audiometria tonal e teste Dicótico de Dígitos em
cabine tratada acusticamente e audiômetro Beta 6000. Resultados: 100% da amostra falharam
no teste dicótico de dígitos, fato esperado devido à idade e a deficiência auditiva da amostra. Em
relação à dominância da orelha no teste Dicótico de Dígitos, a maior parte dominou a orelha
direita. Correlacionando o lado dominante com o lado da prótese auditiva, 93% obtiveram o
mesmo lado de dominância no exame e no uso da prótese. Conclusão: Pode-se concluir com os
achados, que os pacientes utilizavam a prótese auditiva do mesmo lado em que apresentavam a
maior porcentagem de acertos no teste Dicótico de Dígitos. Este fato demonstra que a via
auditiva na qual os usuários apresentam mais acertos para o teste é considerada a melhor via para
qualidade sonora ser enviada com sucesso. Isto pode justificar a escolha destes usuários de
somente uma prótese auditiva. Este estudo possui a importância de demonstrar a eficácia da
inserção de exames do processamento auditivo na bateria da avaliação audiológica para
indicação e seleção de próteses auditivas.
Palavras - Chaves: Audição, idoso, percepção auditiva, escuta dicótica, testes auditivos,
interação binaural.
3
1. INTRODUÇÃO
Atualmente a população brasileira vem crescendo aceleradamente, contribuindo assim
para o crescimento da população idosa. Os efeitos do envelhecimento podem iniciar-se antes
mesmo da idade considerada idosa, 60 anos, para países em desenvolvimento, como é o caso do
Brasil. Estes efeitos acontecem pela diminuição do desempenho do funcionamento do
organismo.
O índice de envelhecimento aponta para mudanças na estrutura etária da população
brasileira. Em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos existiam, 24,7 idosos de 65
anos ou mais. Em 2050, o quadro muda e para cada 100 crianças existirão 172,7 idosos, o que
demonstra a grande aceleração populacional dos idosos (IBGE, 2008).
Em dezembro de 2011, o IBGE, divulgou a expectativa de vida da população brasileira
no ano de 2010 de 73,5 anos (COUTINHO e LAKS, 2012).
A dificuldade de audição é um dos déficits que mais atingem os indivíduos que
envelhecem, sendo esta uma doença incapacitante, pois afeta a habilidade do sujeito de se
relacionar com o outro. É a agente de diversos efeitos, como: isolamento social, depressão,
comunicação inativa, que afetam seriamente a qualidade de vida do indivíduo (FRANCELIN,
MOTTI e MORITA, 2010).
A utilização dos recursos tecnológicos é uma forma de minimizar os efeitos negativos da
deficiência auditiva em idosos. Contudo, diversos aspectos podem influenciar a não utilização
desses recursos, como: a precária orientação ao usuário; falta de aconselhamento; expectativas
inadequadas quanto aos benefícios da prótese auditiva e suas limitações (ANDRADE, et al.
2007).
Segundo Russo (1999) em indivíduos portadores de perda auditiva bilateral, o uso de dois
aparelhos é o ideal, pois confere ao usuário a capacidade de localizar eventos sonoros no
ambiente, bem como favorece a resolução de freqüência. Apesar disto, na prática clínica não é
4
raro observarmos pessoas que possuem perdas bilaterais não se acostumarem com o uso de dois
aparelhos, em geral, abandonam o uso de um e referem ter melhor ganho com adaptação
unilateral.
Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar a escuta dicótica em usuários de prótese
auditiva que não se adaptam ao uso binaural, assim como analisar a ocorrência de dominância
em uma das orelhas testadas no teste Dicótico de Dígitos e correlacionar a orelha não adaptada
com a prótese auditiva, quanto ao lado não dominante do usuário.
1.1 A perda auditiva no idoso
A presbiacusia é a perda de audição provocada pelo processo de envelhecimento, uma
diminuição da sensibilidade auditiva com redução na inteligibilidade de fala em níveis
supraliminares, tendo seu início anterior aos 60 anos. Atinge ambos os sexos, porém estudos
mostram que nos homens o inicio é precoce, sendo a evolução mais rápida (SOUSA e RUSSO,
2009).
Existem três tipos de perda auditiva. A perda auditiva condutiva é provocada pelo
bloqueio ou lesão do ouvido externo e/ou médio dando origem a perda de intensidade sonora. A
neurossensorial é ocasionada por lesão ou mau funcionamento da cóclea (parte sensorial) ou do
nervo auditivo (parte neural) conducente a uma perda de intensidade sonora. A perda auditiva
mista ocorre quando existe um problema na via condutiva (no ouvido externo ou médio) e na
via nervosa (ouvido interno) (BISTAFA, 2011).
Seguindo a classificação de Lloyd e Kaplan (1978), as perdas auditivas são
especificadas em grau leve (26 – 40dBNA), moderado (41 – 55dBNA), moderadamente severo
(56 – 70dBNA), severo (71 – 90dBNA) e perda auditiva de grau profundo (> 90dBNA)
(BISTAFA, 2011).
Em virtude da interferência da perda auditiva na qualidade de vida dos indivíduos, estes
são encaminhados para reabilitação que se inicia em muitos casos, com a seleção e a adaptação
de próteses auditivas.
5
Os aparelhos de amplificação sonora são compostos basicamente por microfone,
amplificador, receptor e a fonte geradora de energia (pilha). Diante das características físicas, os
aparelhos podem ser retroauriculares, no qual a posição do corpo do aparelho encontra-se atrás
do pavilhão auricular ou intra-aurais, sendo posicionado na concha do pavilhão ou no meato
acústico externo da orelha. O conhecimento dos componentes e características eletroacústicas
dos aparelhos auditivos é fundamental para que o fonoaudiólogo possa obter a seleção adequada,
indicação e adaptação, almejando o sucesso do tratamento (GARCEZ e TEIXEIRA, 2011).
O objetivo principal da adaptação de próteses auditivas é assegurar sua efetividade em
minimizar as dificuldades auditivas experimentadas pelos idosos e reduzir as conseqüências
psicossociais geradas pela deficiência auditiva. Ao avaliar as limitações auditivas de idosos com
perda auditiva sensorioneural de grau moderado a severo segundo variáveis escolaridade e grau
da perda, por meio do questionário de auto-avaliação Abbreviate Profile of Hearing Aid Benefit
(APHAB), os autores Flores e Iório (2012), observaram benefícios com a prótese na facilidade
de comunicação, reverberação e ruído ambiental. Não encontraram associação entre benefício,
escolaridade e grau da perda auditiva.
Segundo Ferrari (2011), é grande o número de adaptações de aparelhos auditivos com
amplificação digital, devido à melhor qualidade sonora, se comparado a analógica. A seleção
destes componentes apropriadas às necessidades do usuário propicia a aceitação e satisfação do
uso do aparelho em adultos.
Com intuito de verificar a efetividade de um programa de treinamento auditivo com
idosos usuários de próteses auditivas, Andrade et al. (2007), aplicaram em um grupo de 18
idosos um treinamento formal, no qual, demonstrou benefícios aos usuários idosos no período de
adaptação das próteses auditivas, além de modificar o comportamento auditivo destes pacientes.
No estudo de Almeida et al. (2008) foi verificado a melhora na qualidade de vida de
adultos e idosos após a adaptação da prótese auditiva e se ocorre influencia nos resultados
perante a variável sexo. Foi utilizado o instrumento WHOQOL-bref, como questionário em 20
indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 45 e 81 anos. A pesquisa obteve como resultado
que a adaptação da prótese auditiva promoveu a melhora na qualidade de vida de todos os
sujeitos avaliados, independente do sexo.
6
A adaptação ao uso dos aparelhos de amplificação sonora costuma ser um processo
complexo, especialmente para os indivíduos idosos, no qual, necessita de um maior período para
assimilarem todas as etapas da adaptação e ajustamento a amplificação.
Assim, Borges et al. (2008), caracterizaram a percepção do idoso e do familiar sobre as
dificuldades e os benefícios vivenciados pelo idoso no processo inicial de adaptação da prótese
auditiva. Foram aplicados questionários padronizados para 31 idosos e seus respectivos
familiares. Em relação aos benefícios da utilização da prótese, não ocorreu concordância entre o
usuário e o familiar, demonstrando a falta de orientação adequada quanto ao objetivo da
amplificação.
1.2 Escuta dicótica – definição da habilidade e situações de uso na vida diária
O processamento auditivo diz respeito aos processos do sistema da audição responsáveis
pelos elementos comportamentais de localização e lateralizacao sonora; discriminação auditiva;
reconhecimento de padrões auditivos; aspectos temporais, abrangendo resolução, mascaramento,
integração e ordenação temporal; e desempenho auditivo na presença de sinais competitivos
(BATISTA, 2010).
Uma das mais comuns manifestações da desordem do processamento auditivo central é a
dificuldade de compreensão da fala em situações de ruído. Resultante de um déficit no
processamento neural do estímulo auditivo.
A população idosa pode apresentar uma desordem do processamento auditivo central,
devido a uma progressiva assimetria do cérebro decorrente do envelhecimento cerebral. Este
processo resulta em uma diminuição da informação auditiva, levando a dificuldades em
processar informações verbais e não-verbais (FROTA e LIPORACI, 2010).
Na pesquisa de Costa e Henriques (2011), foi observada a diferença estatisticamente
significante entre a relação sinal ruído em campo livre, com sujeitos com e sem perda auditiva.
No qual houve um desempenho inferior do deficiente auditivo para perceber as sentenças no
ruído.
Ao comparar o desempenho entre mulheres jovens e idosas para o teste de resolução
temporal RGDT (Random Gap Detection Test), Barreiro, Queiroz e Santos (2009), concluíram
7
que com o avanço da idade a dificuldade de resolução temporal é de grande importância dentre
as habilidades auditivas do indivíduo idoso.
A percepção da direção dos sons é um fenômeno que acontece de maneira inconsciente
desde o início da vida, sendo uma função relacionada com a sobrevivência. Para que ocorra a
percepção da direção sonora, a discriminação de diferenças muito sutis de intensidade,
freqüência e tempo devem existir. A localização sonora ocorre pela influência da onda entre as
orelhas, as denominadas diferenças interaurais (COLAFÊMINA, et al. 2008).
Em idosos com deficiência auditiva, a percepção da direção sonora é ineficaz,
apresentando grandes dificuldades em identificar a localização da fonte sonora durante um
discurso.
Os primeiros testes para avaliar o sistema nervoso auditivo central surgiram na década de
1950, tendo como finalidade a verificação da integridade da via auditiva. Em seu estudo, Frasca,
Lobo e Schochat (2011) se propuseram avaliar a confiabilidade de alguns dos testes que avaliam
o processamento auditivo central, por meio de teste e reteste. A amostra foi de 40 indivíduos,
todos fizeram duas vezes os testes de localização, memória seqüencial verbal e não verbal, dois
testes monóticos e dois dicóticos, incluindo o teste Dicótico de Dígitos.
O teste Dicótico de Dígitos avalia a habilidade do indivíduo de agrupar elementos do
sinal acústico em figura-fundo e identificá-los. Este teste deve ser aplicado através de um
Audiômetro de dois canais, acoplado a um CD player. O exame é composto de uma lista de 20
pares de dígitos, nos quais serão denotados ao paciente pelo fone em cabine acústica. Os
resultados obtidos são registrados em folha de marcação própria. Resultados normais, ou seja,
pela literatura, porcentagem de acertos maior que 90%, indicam uma boa habilidade inter-
hemisférica. Respostas alteradas em ambas as orelhas sugerem alterações no hemisfério esquerdo
(PEREIRA e SANTOS, 1997).
Klagenberg, et al. (2009), estudaram o desempenho da escuta dicótica em idosos com
perda auditiva periférica. Foram avaliados 30 idosos com mais de 60 anos, portadores de perda
auditiva neurossensorial. Foi aplicado o teste de escuta dicótica – dissílabos alternados (SSW).
70% dos idosos apresentaram alteração em pelo menos uma das orelhas nas condições esquerda
ou direita competitiva. O desempenho na escuta dicótica em idosos pode ser comprometido
8
devido à perda auditiva periférica, com isso, tem-se observado um prejuízo das informações
acústicas, o que diminui a probabilidade de se entender a fala. Portanto, a avaliação da escuta
dicótica é uma importante ferramenta, no aperfeiçoamento da seleção e adaptação dos aparelhos
de amplificação sonora individual para que seu uso seja mais significativo.
1.2 Cuidados na adaptação de prótese no idoso.
Em um curto período de tempo, diferentes informações são transmitidas ao novo usuário
de prótese auditiva. O usuário necessita entender e armazenar tais informações para imediata
recuperação e ação, assegurando o uso adequado do amplificador.
Bastos, Ferrari e Geraldo (2011), realizaram uma pesquisa no intuito de verificar a
retenção de informações sobre a perda auditiva e o uso e cuidados da prótese auditiva em novos
usuários. Os achados demonstraram diferença significativa na retenção das informações entre
adultos e idosos, nos quais estes últimos apresentam maiores dificuldades. Os autores concluíram
a falta de estratégias que facilitem a melhor compreensão sobre a doença e suas alternativas de
tratamento.
A seleção da prótese demanda considerações cuidadosas em relação ao modelo
retroauricular (BTE), intra-auricular (ITE), intracanal (ITC) ou microcanal (CIC); ao tipo de
adaptação, monoaural ou binaural; tecnologia de amplificação, analógica ou digital; e
características eletroacústicas, como ganho acústico, saída máxima e faixa de freqüência
(AVILA, et al. 2011).
Ávila et al. (2011), verificaram o uso efetivo da prótese auditiva (AASI) pelos idosos,
seus benefícios sociais e pessoais e sua relação com o desempenho cognitivo. Os resultados
comprovaram que o uso do AASI proporcionou benefícios efetivos, sociais e pessoais para todos
os idosos, independentemente dos resultados do Mini-Mental, e lhes permitiu retornar às relações
comunicativas, além de reduzir a percepção do handicap auditivo. Entretanto, pôde-se observar
tendência de melhor desempenho com o AASI em sujeitos sem alteração no Mini-Mental.
Na pesquisa de Cintra, Maciel e Paiva (2011), foram identificados os fatores envolvidos
na busca e no uso de próteses auditivas pelos idosos. Foram selecionados 25 idosos de ambos os
sexos usuários de prótese. Todos os usuários responderam a um questionário. Os autores
9
concluíram que a maioria dos idosos entrevistados usa o(s) aparelho(s) diariamente, o que sugere
uma boa adaptação ao processo. Treze idosos relataram procurar próteses auditivas, por interesse
próprio. As facilidades quanto ao uso envolvem a melhora da conversação e para ouvir TV; as
dificuldades foram quanto ao uso em ambientes ruidosos, não conseguem compreender o que é
dito em palestras e igrejas, e quanto ao uso do telefone, referiram não apresentar melhora com a
prótese.
Buriti e Oliveira (2012), em seu estudo propuseram-se avaliar a adaptação dos aparelhos
auditivos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e propor ações educativas, com base nas
necessidades dos usuários. Foram aplicados dois questionários estruturados com questões
fechadas para os indivíduos. Os resultados demonstraram que os usuários apresentam
dificuldades em relação ao uso e ao manuseio da prótese, as quais influenciam negativamente na
adaptação do aparelho. Os autores enfatizaram a necessidade da promoção de ações de educação
em saúde auditiva, a fim de minimizar tais dificuldades e favorecer a adaptação ao uso de
prótese.
1.3.1 Dificuldades da adaptação binaural no idoso.
Há evidências que sugerem ocorrência de degeneração coclear, mudanças estruturais no
nervo auditivo, nas vias centrais no tronco encefálico e ao nível temporal, resultando em
disfunção do sistema auditivo periférico e central, associadas ao processo de envelhecimento
(BESS, F. H.; HEDLEY-WILLIAMS, 2001).
O protocolo fonoaudiológico de seleção e adaptação da prótese auditiva para adultos e
idosos evidencia que um maior número de informações coletadas propicia melhor orientação da
expectativa real e maior efetividade no aconselhamento ao uso da prótese, favorecendo, desta
maneira, o desempenho auditivo, a satisfação e o benefício do usuário (BENTO et al. 2011).
Costa, Petry e Santos (2010), em sua pesquisa propuseram comparar a influência do
tempo de uso da prótese de adultos e idosos, sobre o benefício obtido com as mesmas. Os
indivíduos foram avaliados 14 e 90 dias após a adaptação dos aparelhos. Não foi verificado
influência do tempo de uso da prótese sobre o benefício. Os resultados por adultos e idosos
10
foram semelhantes. Contudo, o uso de prótese auditiva pode ocasionar plasticidade do sistema
auditivo e melhorar o reconhecimento da fala ao longo do tempo.
Canto et al (2012), propuseram-se avaliar o efeito da prótese auditiva na qualidade de
vida, no equilíbrio e no medo de queda em idosos com perda auditiva bilateral. O estudo foi
realizado com 56 idosos com perda auditiva neurossensorial, aplicando-se um questionário. 50%
dos idosos se adaptaram ao uso das próteses. Foi observado que o sexo masculino teve maior
dificuldade em adaptar-se ao aparelho auditivo e que as variáveis, idade, grau de perda, presença
de zumbido e vertigem não interferiram na adaptação. O uso da prótese auditiva propiciou a
melhora dos domínios da qualidade de vida, o que refletiu em uma melhor autoconfiança e
conseqüentemente, em longo prazo, na redução do medo de queda.
Com o objetivo de estudar a habilidade de escuta dicótica de um grupo de indivíduos com
mais de 50 anos, os autores Marques, Ribas e Rosa (2009), verificaram um transtorno do
processamento auditivo em todos os grupos avaliados. A habilidade auditiva mais afetada foi à
atenção seletiva. Os pesquisadores concluíram que com o avanço da idade as alterações do
processamento auditivo central, em especial para a escuta dicótica, ficam mais propensas a
aparecer.
1.3.2 Contribuições do processamento auditivo neste processo.
Evidências sugerem que o Sistema Auditivo Central de idosos é capaz de se modificar e,
com o treinamento auditivo, o indivíduo aprende a vivenciar diferentes sons de maneiras
significantes.
Iorio, Megale e Schochat (2010), submeteram 42 indivíduos, portadores de deficiência
auditiva, usuários de próteses auditivas binaurais, a um programa de treinamento auditivo. A
amostra foi avaliada com os testes de Fala com Ruído, Escuta com Dígitos, e questionário de
auto-avaliação Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit (APHAB), em três momentos: sem
próteses (primeira avaliação), quatro semanas (segunda avaliação), e oito semanas (terceira
avaliação. Os autores observaram que o programa de treinamento auditivo em cabina acústica foi
efetivo com relação ao benefício durante o processo de adaptação das próteses auditivas.
11
A deficiência auditiva acarreta dificuldades na comunicação, as quais podem ser
eliminadas e minimizadas pela adequada indicação e adaptação de próteses auditivas e do
treinamento auditivo.
Na população idosa, déficits da inteligibilidade de fala podem ter causas periféricas ou
centrais. A dessimetria em testes dicóticos verbais aumenta com a idade e influência a falha na
transferência inter-hemisférica e nas funções cognitivas. A introdução dos testes dicóticos na
avaliação auditiva de idosos pode auxiliar na identificação precoce dos processos degenerativos
peculiares do envelhecimento (CURY e GONCALES, 2011).
12
2. MÉTODO
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tuiuti do
Paraná, sob o número CEP/UTP027/2008. Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação de seus dados, de acordo com as
Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, Resolução Nº
196/96.
Constituíram a amostra, 15 indivíduos, nove do sexo feminino e seis do sexo masculino,
com faixa etária de 50 a 80 anos. Todos os sujeitos com diagnóstico de perda auditiva
neurossensorial simétrica de grau moderado, com indicação de uso de prótese auditiva binaural
há mais de seis meses, porém não adaptados em uma orelha.
A coleta de dados ocorreu no período de Abril a Novembro do ano de 2011. Para seleção
dos sujeitos da pesquisa, foi realizada uma busca em 120 prontuários de uma Clínica de
Audiologia em Florianópolis, Santa Catarina. Esta Clínica é credenciada pelo Sistema Único de
Saúde de acordo com a Portaria de Saúde Auditiva em Média Complexidade (BRASIL, 2004).
Destes prontuários analisados, foram selecionados 34 pacientes que utilizavam apenas uma
prótese auditiva. Somente quinze sujeitos se disponibilizaram em participar da pesquisa, os
demais por motivo pessoal e de doença, não puderam ser avaliados.
Depois de breve anamnese que visou colher dados sobre a identificação de cada usuário,
tempo de uso da prótese e queixa principal da motivação em usar somente um aparelho auditivo,
foi aplicado o teste de processamento auditivo central Dicótico de Dígitos, segundo Pereira e
Schochat (2005) utilizando-se um audiômetro Beta 6000 de dois canais e Cd player acoplado.
Todos os pacientes possuíam audiometria recente.
O teste foi realizado em cabine acústica e fone TDH 39, sem o uso dos aparelhos
auditivos.
Os dados foram digitados e tratados estatisticamente e estão apresentados a seguir.
13
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em nosso estudo verificamos que dos 15 sujeitos pesquisados 60% são do gênero
feminino e 40% do masculino. Na pesquisa de Birck et al. (2011), foi descrito o perfil dos
pacientes do Programa de Saúde Auditiva do Estado de Santa Catarina atendidos no Hospital
Universitário. Foram avaliados os dados referentes à idade, sexo, tipo e grau de perda auditiva,
duração, comorbidades e etiologia provável. Foram analisados 304 prontuários nos quais
demonstraram prevalência significante do sexo feminino, no grupo de adultos, com perdas
auditivas neurossensoriais. Este estudo vem a corroborar com a atual pesquisa, mesmo com a
pequena amostra o estudo atual apresentou prevalência do sexo feminino, com perdas auditivas
neurossensoriais.
O gráfico 1 apresenta a distribuição da amostra segundo a idade dos sujeitos da pesquisa.
Foi observado que dos quinze indivíduos, três apresentam idade entre 50 a 60 anos; três possuem
idade entre 61 a 70 anos e a grande parte do estudo, nove sujeitos apresentam idade entre 71 a 80
anos.
Gráfico 1 – Idade da amostra
0
2
4
6
8
10
50-60 anos 61-70 anos 71-80 anos
3 3
9
Faixa etária dos Pacientes
14
Pode-se notar que a maioria dos sujeitos se concentrou na faixa etária entre 71 a 80 anos,
sendo uma população mais idosa.
Barros et al. (2008), investigaram a eficiência das funções auditivas centrais de idosos
que relatam ouvir bem. Foram avaliados 40 idosos com faixa etária de 60 a 75 anos. Utilizaram-
se testes do processamento auditivo, como: padrão de freqüência e dissílabos alternados por meio
de tarefa dicótica. Concluiu-se que os indivíduos idosos que referem ouvir bem apresentam
prevalência relevante de sinais de ineficiência das funções auditivas centrais. O declínio no
processamento binaural está freqüentemente relacionado com o envelhecimento, mas não se
manifesta em todos os casos.
O gráfico 2 apresenta as queixas dos usuários e motivo pelo qual não utilizam dois
aparelhos auditivos, apesar de possuírem perda bilateral.
Gráfico 2 – Caracterização das queixas
4
9
2
Queixa Principal da Adaptação Binaural
Ruído Interferência na comunicação Estética
A interferência binaural é a condição na qual o desempenho binaural é mais prejudicado
do que o monoaural. Alguns indivíduos apresentam atuação de uma orelha tão inferior à outra
que uma orelha atrapalha o desempenho da outra ocorrendo à interferência binaural. A adaptação
binaural poderia ser acompanhada de maneira mais eficaz se as avaliações auditivas centrais
15
fossem incluídas como parte dos procedimentos de seleção e adaptação de aparelhos auditivos
(RUSSO, 2011).
A queixa de "ouvir pouco" está relacionada à compreensão de fala, principalmente em
local ruidoso. O progresso tecnológico das próteses auditivas nos últimos dez anos não atingiu o
completo contentamento quando o ambiente possui ruído competitivo. Muitos pesquisadores
vêm utilizando testes comportamentais do processamento auditivo na tentativa de encontrar
soluções para as dificuldades de compreender a fala, perceber seus aspectos suprasegmentais e
acompanhar as mudanças rápidas dos estímulos sonoros (COSTA e ZIMMER, 2012).
Os quinze pacientes da pesquisa adquiriram aparelhos auditivos binaurais, contudo todos
se adaptaram apenas a uma orelha, 53% da amostra preferem usar na orelha direita e 47% na
esquerda.
Branco-Barreto e Perrella (2005), em seu estudo citaram autores como: Carter et al.
(2001) e Jerger et al. (1993), nos quais referem que indivíduos que apresentam desempenho ruim
em tarefas de escuta dicótica podem obter melhor aproveitamento com o uso da amplificação
unilateral. Casos de idosos com prejuízo bilateral da audição que optaram pela adaptação
bilateral, demonstrando o efeito da interferência binaural. Neste caso a resposta da pior orelha
interferiu na resposta da melhor orelha, proporcionando um melhor desempenho com a
amplificação unilateral.
O exame de processamento auditivo conta a maneira pela qual construímos a consciência
do mundo por meio da audição. Pode ser uma medida de atenção e memória auditiva. Resultados
podem ser considerados medidas da atenção e/ou memória auditiva que caracterizam diferentes
transtornos, disfunções e envelhecimento de vias (ALVAREZ, 2011).
O teste Dicótico de Dígitos avalia a habilidade auditiva de figura-fundo para sons verbais,
por meio da tarefa de escuta dicótica e integração binaural. Os estímulos verbais deste teste são
representados por vocábulos de dígitos apresentados em tarefa dicótica. A identificação
adequada dos estímulos recebidos na orelha direita indica integridade neurobiológica, incluindo a
comunicação inter-hemisférica em nível de corpo caloso. Resultados alterados em ambas as
orelhas sugerem alterações no hemisfério esquerdo (ORTIZ et al. 2007).
16
Este teste Dicótico de Dígitos foi aplicado aos quinze pacientes do estudo. O gráfico
abaixo apresenta a dominância de resposta, ou seja, o maior número de acertos referente ao lado
direito ou esquerdo do paciente. A maior parte da amostra obteve dominância na orelha direita
(oito sujeitos). Seis usuários tiveram dominância para a orelha esquerda. E somente um paciente
não teve dominância para nenhum dos lados, tendo o número de acertos iguais para as duas
orelhas.
Gráfico 3 – Dominância de orelha segundo o teste dicótico de dígitos
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Orelha Direita
Orelha Esquerda
Sem Dominância
Do
min
ân
cia
no
Te
ste
Dic
óti
co
de
Díg
ito
s
8
6
1
Dominância no Teste Dicótico de Dígitos
Em seu estudo, Jerger e Martin (2005), indivíduos normais destros eram mais rápidos e
exatos ao reportar estímulos verbais recebidos na orelha direita, apresentando vantagem auditiva
direita. Os autores descrevem a interferência binaural como ineficiência na transferência
interhemisférica, déficit de orelha esquerda em tarefas dicóticas e melhor desempenho de orelha
direita.
Neste aspecto a pesquisa acima vem a corroborar com o atual estudo, onde a maioria dos
participantes demonstrou dominância para a orelha direita.
17
Em pesquisa de Pereira e Pinheiro (2004), foram estudados os aspectos de interação de
sons verbais e não-verbais em idosos com e sem perda auditiva, por meio dos testes de
processamento auditivo. Foram selecionados 110 idosos, na faixa etária dos 60 a 85 anos com
audição normal ou com perda auditiva neurossensorial de grau até moderadamente-severo. Os
idosos apresentaram dificuldade no processo de interação binaural quando a informação auditiva
não está completa. O grau da perda auditiva interferiu principalmente no comportamento
auditivo de localização.
Para Becker, et al. (2011), indivíduos com audição normal com queixas clínicas de
dificuldades de entender a fala em ambientes ruidosos possuem maior dificuldade na tarefa de
reconhecimento de sentenças no ruído quando comparados a sujeitos que não relatam essa
dificuldade. Devido a isso, sugerem na rotina de testes da avaliação audiológica, inclusão de
testes que empregam sentenças na presença de ruído competitivo, avaliando de forma mais eficaz
o desempenho do reconhecimento de fala.
No estudo de Frota e Liporaci (2010), foi avaliada a resolução temporal de indivíduos
idosos com deficiência auditiva. Verificou-se a influência da perda auditiva no desempenho do
teste Gaps in Noise (GIN). A presença da perda auditiva elevou os limiares de detecção de gap e
diminuiu a porcentagem de acertos no teste.
A correlação entre o lado adaptado da prótese auditiva e o lado dominante no teste
Dicótico de Dígitos também foi estudada e os dados encontram-se na tabela 1.
18
PACIENTES SEXO LADO ADAPTADO
DOMINÂNCIA NO EXAME
P1 F OD OD
P2 M OD OD
P3 F OE OE P4 F OE OE
P5 M OD OD
P6 F OE IGUAL
P7 M OE OE P8 F OD OD
P9 F OE OE
P10 F OE OE P11 M OD OD P12 F OE OE
P13 F OD OD
P14 M OD OD
P15 M OD OD
Tabela 1- Relação entre orelha dominante e lado da adaptação do AASI.
É possível verificar que na amostra estudada, oito sujeitos possuem a orelha direita como
o lado adaptado da prótese auditiva e a dominância no exame. Para a orelha esquerda seis
usuários apresentam como lado adaptado e dominante no teste. Somente um sujeito utiliza o
AASI no lado não dominante para o teste aplicado.
Ainda foi verificado que o fator causal mais indicado, pelo não uso das próteses auditivas
bilaterais, referidas pelos usuários foi a interferência que o segundo aparelho tem sobre a
comunicação. A maioria apresentou relatos de que um aparelho auditivo interfere na outra
prótese.
Walden, Walden (2005), realizaram um estudo comparando o desempenho de idosos com
perda auditiva neurossensorial com adaptação mono ou binaural no reconhecimento de sentenças
na presença de ruídos. Os achados verificaram que a maioria dos pacientes apresentou melhor
desempenho no ruído com amplificação unilateral, sendo esta tendência mais evidente com o
19
aumento da idade. Observaram ainda que o reconhecimento de fala foi melhor na orelha direita
do que na esquerda.
O processamento das informações auditivas depende do bom funcionamento de suas
habilidades auditivas. Para que estas habilidades se desenvolvam adequadamente, é preciso
haver integridade funcional e estrutural do sistema auditivo periférico e central (ALVARENGA,
2012).
Estudar as habilidades do processamento auditivo pode auxiliar na adequação dos
protocolos de adaptação dos aparelhos auditivos, na diminuição das queixas dos usuários e na
qualidade de escuta e de vida desses indivíduos (ALVARENGA, 2012).
Alvarenga, et al. (2011), ressaltam a importância do comparecimento geral das famílias
no programa desenvolvido para pacientes deficientes auditivos. Este envolvimento familiar
auxilia na adaptação do usuário com a nova tecnologia auditiva. Ainda refere o treinamento
auditivo como peça chave para o desenvolvimento da adaptação da prótese auditiva. O cérebro
pode se modelar, pode se corrigir e pode reverter à própria plasticidade diante de estímulos e
tarefas específicas, mesmo com o avanço da idade, isto é, sob treinamento cognitivo.
A prevalência da deficiência auditiva em idosos é alta. Entretanto, a falta de estudos de
base populacional em âmbito nacional, pode explicar o fato de a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Portadora de Deficiência fazer referência à literatura internacional, ao citar a presbiacusia
como principal causa de deficiência auditiva em idosos, com incidência de aproximadamente
30% na população com mais de 65 anos (ALVES, et al. 2011).
A avaliação audiológica na pessoa idosa deve envolver não só os exames que visam
definir os limiares audiológicos do indivíduo, como a audiometria tonal, mas também considerar
a percepção do paciente em relação a sua perda auditiva, no aspecto funcional, suas atividades
sociais, familiares e diárias (ALVES, et al. 2011).
20
4. CONCLUSÃO
Nosso estudo permitiu verificar que os pacientes portadores de perda auditiva bilateral,
com indicação de prótese bilateral, mas que preferem utilizar apenas um aparelho, o fazem por
possuírem dominância de uma orelha sobre a outra.
Este fato sugere que a via auditiva na qual os sujeitos apresentam mais acertos para o
teste Dicótico de Dígitos é considerada a melhor via para a adaptação sonora. Isto pode justificar
a escolha dos usuários por somente um aparelho auditivo.
Esta pesquisa explanou a importância e eficácia da inserção de testes de processamento
auditivo central na bateria da avaliação audiológica para indicação e seleção de próteses
auditivas. A audiometria tonal e vocal indica a integridade da via auditiva periférica, os exames
do processamento auditivo sugerem a integridade da via central. Estes em conjunto, auxiliam na
adequada escolha da prótese auditiva e sua satisfação perante o usuário na qualidade sonora
apresentada.
Sugere-se um estudo com um número maior de participantes, para qualificar a amostra e
a pesquisa com maior fidedignidade, trazendo benefícios para ciência do estudo de idosos e
amplificação sonora com qualidade.
21
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APÊNDICE:
PESQUISA DAS HABILIDADES DE INTEGRACAO BINAURAL E S EPARACAO BINAURAL EM PACIENTES
MAL ADAPTADOS EM UMA ORELHA.
Data do Exame: ___/___/___.
Nome do Paciente: _____________________________________________________________.
N. do Prontuário: __________.
Tempo de Adaptação: ______________. AASI que usa (lado): _______. Tecnologia: ________.
Queixa: ______________________________________________________________________.
APLICACAO DO TESTE EM ATENCAO LIVRE E DIRECIONADA.
ntegração Binaural) (Separacao Binaural) (Separacao Binaural)
N. de acertos por orelha: N. de acertos: N. de acertos:
OD: ______% OD: ______% OE: _______%
OE: ______%
PARECER DO EXAME:
Assinatura do Paciente: ________________________________________________________________
Assinatura do Fonoaudiólogo: ___________________________________________________________