154
Ecologia de campo 2013 Foto: Luciana Zago da Silva

Ecologia de campo - ppgeco.files.wordpress.com · realização de um curso conjunto de Ecologia de Campo. O curso ocorreu no período de 24 de junho a 4 de julho de 2013, na Base

Embed Size (px)

Citation preview

Ecologia de campo

2013

Foto: Luciana Zago da Silva

Os Programas de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação daUniversidade Federal do Paraná e em Ecologia de Ecossistemas Aquáticosda Universidade Estadual de Maringá se uniram neste ano, para arealização de um curso conjunto de Ecologia de Campo. O curso ocorreuno período de 24 de junho a 4 de julho de 2013, na Base de Estudos doNúcleo de Pesquisas em Liminologia (NUPÉLIA), em Porto Rico, PR. Tendocomo pano de fundo o belo entardecer das margens do Rio Paraná, ocurso foi uma oportunidade única para troca de experiências deprofessores e estudantes de Curitiba e de Maringá. Os mini-projetosdesenvolvidos durante o período do curso despertaram para questõesecológicas inéditas e interessantes, demonstrando as potencialidadesdeste sistema para testar teorias ecológicas. Num clima de amizade etrabalho em grupo, foram produzidos vários relatórios, que aquiencontram-se compilados.

Porto Rico, 4 de julho de 2013.

Docentes PPGECO - UFPR

André Padial (Ecologia de macrófitas aquáticas)

Fernando Passos (Ecologia de mamíferos)

Márcia Marques (Ecologia vegetal)

Docentes PPGE - UEM

Luiz Gomes (Ecologia de peixes)

Sidnei M Thomaz (Ecologia de macrófitas aquáticas)

Roger Mormul (PDJ - Ecologia de macrófitas aquáticas)

Juliana Dias (PDJ - Zooplâncton)

Docentes colaboradores externos:

Marcos Barbeitos - (Ecologia Aquática) ZOO-UFPR

Discentes PPGECO - UFPR

Bianca Possamai

Emanuel Luis Razzolini

Fernanda Ceschin

Flávio Miranda Marteleto

Francisco W. von Hartenthal

Juliana Wojciechowski

Luciana Zago da Silva

Monica Vasques Mangas Pereira

Rafael Antunes Baggio

Renata Gabriela Noguchi

Sabrina Loise de Morais Calado

Sandra Marisa Nobre de Andrade

Simone Satsuki Takeuchi

Vinícius Marcílio da Silva

Discentes PPGE - UEM

Daniel Alves dos Santos

Diego Corrêa Alves

Érika Neif

Fernando Garcia de Oliveira

Hugo José Message

Vivan Cionek

Letícia Cucolo Karling

Lilian Paula Vasconcelos

Natália C. Lacerda dos Santos

Priscilla Guedes Gambale

Taíse Miranda Lopes

Guilherme Okuda

4

FernandoPassos Luiz

Gomes

Márcia

5

ConteúdoFATORES LOCAIS E REGIONAIS INFLUENCIANDO A ESTRUTURA DAS COMUNIDADES

VEGETAIS NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO PARANÁ........................................................... 7

INFLUÊNCIA DA DIVERSIDADE MORFOLÓGICA NA SEDIMENTAÇÃO DO FITOPLÂNCTON:

QUEM VENCE ESSA CORRIDA? ............................................................................................................. 13

RIQUEZA DE FORMIGAS EM AMBIENTES COM DIFERENTES GRAUS DE PERTURBAÇÃO 17

AÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DE PLANTAS NA PREDAÇÃO DE FORMIGAS

SOLENOPSIS SP. EM DIFERENTES ITENS ALIMENTARES ............................................................. 22

CONTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES ZOOPLANCTÔNICAS EM RIACHOS TRIBUTÁRIOS SOB

INFLUÊNCIA DE UM RIO DE INUNDAÇÃO.......................................................................................... 26

A DENSIDADE DE INVERTEBRADOS ASSOCIADOS À SERAPILHEIRA EM FRAGMENTOS

FLORESTAIS................................................................................................................................................ 31

ESCONDENDO A UTRICULARIA FOLIOSA: SERÁ QUE ENGANAMOS O ZOOPLÂNCTON? .. 36

PARTIÇÃO DE DIVERSIDADE EM MACROINVERTEBRADOS DE SERAPILHEIRA EM ILHA E

CONTINENTE .............................................................................................................................................. 41

EFEITO DA ALTERAÇÃO DA TURBIDEZ DA ÁGUA NAS COMUNIDADES DE

FITOPLÂNCTON E ZOOPLÂNCTON ..................................................................................................... 45

PREDAÇÃO SOBRE MODELOS APOSEMÁTICOS E CRÍPTICOS EM FRAGMENTOS ABERTOS E

FECHADOS ................................................................................................................................................... 50

DISPERSÃO DE FORMIGAS MEDIADA PELOS RECURSOS ALIMENTARES: THE ANTMATE

FIGHTING..................................................................................................................................................... 54

FOCO NA ESCALA: IMPORTÂNCIA DA HIERARQUIA DE ESCALA NA PARTIÇÃO DA

DIVERSIDADE BETA EM AUTÓTROFOS AQUÁTICOS..................................................................... 59

COMPOSIÇÃO SEXUAL DE GRUPOS DE ALOUATTA SPP.: DE ESTUDOS PONTUAIS À

PADRÕES...................................................................................................................................................... 65

RELAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DE EICCHORNIA AZUREA (KUNTH) COM AS

COMUNIDADES ÍCTICA E FITOPLANCTÔNICA................................................................................ 70

COMPLEXIDADE ESTRUTURAL E VOLUME DE RAÍZES DE MACROFITAS AQUÁTICAS

COMO PROMOTORAS DO ENRIQUECIMENTO DA COMUNIDADEDE INVERTEBRADOS

AQUÁTICOS................................................................................................................................................. 75

MIGRAÇÃO HORIZONTAL DE ZOOPLÂNCTON SOB ESTÍMULO DE PREDAÇÃO: UMA

ABORDAGEM EXPERIMENTAL............................................................................................................. 80

6

BIOGEOGRAFIA DE ILHAS: UMA ABORDAGEM UTILIZANDO MACRÓFITAS E

MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS.............................................................................................. 85

EFEITO DA DISTÂNCIA DA MARGEM NA HERBIVORIA EM EICHHORNIA AZUREA.............. 89

ASSOCIAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE A TRIPLARIS AMERICANA E FORMIGAS

PSEUDOMYRMEX: DA OCORRÊNCIA À RESPOSTA A ESTÍMULOS ............................................. 94

INUNDAÇÕES COMO REGULADORAS DA DIVERSIDADE ZOOPLANCTÔNICA EM

PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO ..................................................................................................................... 99

FORRAGEIO ÓTIMO: DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA CARGA EM FORMIGAS-

CORTADEIRAS (ATTA SP) ...................................................................................................................... 104

CONSPICUIDADE DE CORES: A VISUALIZAÇÃO NO PONTO DE VISTA DE MAMÍFEROS

PRONATOPIOS.......................................................................................................................................... 109

GRADIENTE DE LUZ INFLUENCIA A DIVERSIDADE FUNCIONAL DE PLANTAS? ................ 114

INFLUÊNCIA DO TAMANHO DA INFLORESCÊNCIA NA RIQUEZA E VISITA DE INSETOS EM

UMA LEGUMINOSA TROPICAL ........................................................................................................... 118

EXISTEM EFEITOS DA DISTÂNCIA DA BORDA DE BANCOS DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS

NA DIVERSIDADE DE GRUPOS FUNCIONAIS DE INVERTEBRADOS?....................................... 124

VARIAÇÃO DE RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DE MACRÓFITAS AO LONGO DE

UM GRADIENTE AMBIENTAL.............................................................................................................. 130

EFEITO DA TURBIDEZ DA ÁGUA NA PREDAÇÃO DO ZOOPLÂNCTON POR PEIXES ........... 135

EFEITO DA INUNDAÇÃO NA CO-OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES EM COMUNIDADES

VEGETAIS DA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO PARANÁ....................................................... 140

HETEROGENEIDADE AMBIENTAL COMO PREDITOR DA DIVERSIDADE BETA EM LAGOAS

DE PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO ............................................................................................................. 144

DIVERSIFICAÇÃO ECOMORFOLÓGICA EM ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DO ALTO RIO

PARANÁ ...................................................................................................................................................... 149

7

FATORES LOCAIS E REGIONAIS INFLUENCIANDO A ESTRUTURA DAS COMUNIDADES VEGETAIS NA

PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO PARANÁ

Vinicius Marcilio da Silva

Projeto Individual

Resumo

O modo como comunidades ecológicas são estruturadas é uma temática central em ecologia.

Filtros bióticos, abióticos e a história evolutiva das espécies permite compreender como ocorre essa

estruturação. Esse trabalho avaliou o efeito de variações ambientais locais e a diversidade

filogenética e funcional em duas escalas distintas, local e regional. O local de estudo foi a planície

de inundação do alto rio Paraná. Para avaliar tal estrutura, utilizaram-se listas de 9 trabalhos

fitossociológicos na região. A estrutura mais fina foi avaliada com coletas em campo em três pontos

distintos. Os resultados indicaram que a variação ambiental em escala local, influencia a estrutura

mais específica dessas comunidades, e não se relaciona, de forma direta, com os padrões gerais

dessa estrutura.

Palavras-chave: regras de montagem, filogenia, ecologia funcional

Introdução

A estruturação das comunidades no espaço e no tempo é uma temática central em ecologia

de comunidades (Pillar & Duarte 2010). Essa estruturação, em termos gerais, é relacionada aos

filtros ambientais e interações bióticas (Cornwell & Ackerly 2009). Além disso, o efeito cumulativo

dessas relações ao longo do tempo também influencia a forma como ocorre essa estruturação

(Cavender-Bares et al. 2009). Para se entender melhor a estruturação de comunidades ecológicas, é

importante identificar os maiores gradientes filogenéticos entre variações ambientais e/ou

geográficas (Duarte et al. 2012).

A relação filogenética e funcional entre as espécies, ao se utilizar listas de

presença/ausência de espécies e valores médios de estados de atributos por espécie, refletem

padrões mais gerais da estrutura das comunidades. Já analises que consideram a abundância dos

indivíduos e os estados dos atributos de cada um (i.e. variação intra-especifica), refletem padrões

mais finos da estrutura das comunidades (Violle et al. 2012).

A diversidade funcional, combinada com as diversidades filogenética e taxonômica,

potencialmente revelam mais amplamente os processos que estruturam comunidades biológicas.

Juntas, essas medidas podem ajudar a incrementar o conhecimento de como a biodiversidade

8

interage com processos ecossistêmicos e limitações ambientais (Mouchet et al. 2010) num contexto

histórico (Cavander-Bares et al. 2009). Além disso, os padrões de correlação entre essas métricas de

biodiversidade podem ajudar a entender processos ecológicos mais complexos, tais como aqueles

que determinam a distribuição de toda uma biota numa escala ampla (Díaz & Cabido 2001,

Carvender-Bares et al. 2009, Safi et al. 2011).

Neste trabalho, foram analisadas as diversidades funcional e filogenética, em diferentes

escalas, para verificar a influência de variações locais sobre a estruturação das comunidades.

Material e métodos

Área de estudos:

A área de estudo compreendeu remanescentes de florestas ripárias localizadas na planície de

inundação do alto Rio Paraná, no estado do Mato Grosso do Sul e do Paraná (Fig.1).

Figura 1 – Localização do local de estudo, das áreas dos levantamentos compilados (1 = 3 listas, 2 = 2 listas,3 = 1 lista, 4 = 3 listas) e dos pontos coletados neste trabalho (3 transecções em cada ponto coletado), naplanície de inundação do alto rio Paraná (Modificado de Slusarski & Souza 2012)

Compilação de dados:

Foram compiladas informações sobre a ocorrência de espécies lenhosas em 9 listas de

espécies, apresentadas por Slusarski & Souza(2012), de trabalhos de florística e fitossociologia que

abrangem margem esquerda, direita e ilha, na planície de inundação do alto Rio Paraná, próximo ao

município paranaense de Porto Rico (Fig.1). Cada trabalho compilado foi considerado um ponto de

amostragem e, além do número de espécies, foram mensurados índices de diversidade filogenética e

funcional para cada um.

9

A diversidade filogenética foi gerada a partir da relação filogenética entre as espécies,

proposta pela APG III (2009), considerando como medida de semelhança entre pares de espécies o

número de nós da árvore filogenética entre elas. Apesar de não expressar as distâncias evolutivas

reais entre as espécies, o método em questão fornece uma medida útil para avaliar as relações

filogenéticas em plantas (Webb 2000, Webb et al. 2002, Pillar & Duarte 2010, Swenson 2011).

A diversidade funcional foi baseada em atributos funcionais compilados da literatura. A

partir da distância funcional entre as espécies, baseada no estado de seus atributos, foi utilizada a

entropia quadrática de Rao Q (Rao 1982) como medida de diversidade funcional.

Coleta em campo:

A coleta de atributos funcionais em campo foi feita nas duas margens e na ilha, nos

mesmos locais dos trabalhos compilados. Em cada local (margem esquerda, direita e ilha) foram

feitos 3 transecções de 21m paralelas ao Rio Paraná, distando 15m, 30m e 45m da margem do rio.

Em cada transecção foram alocadas quatro parcelas quadradas de 2x2m ao longo doa transecção,

equidistando 5m cada uma da mais próxima. Dentro de cada parcela foram amostrados todos os

indivíduos lenhosos maiores de 50 cm de altura.

Estrutura filogenética da comunidade vegetal:

A estrutura filogenética das espécies vegetais compiladas para a região foi analisada

baseando-se no método descrito por Duarte (2011), para a Análise dos Componentes Filogenéticos

Principais (PCPS). Este método permite verificar os principais gradientes de variação da estrutura

filogenética entre as comunidades. A associação entre os métodos de amostragem e a estrutura

filogenética dos pontos, foi verificada pelo teste de Mantel. Para isso, foi construída uma matriz de

distância entre os pontos baseado nos métodos de amostragem. Essa análise demonstrou a ausência

de vieses causados pelas diferenças de métodos de amostragem na estrutura filogenética dos pontos

(rM=0,205, P=0,245).

A relação entre a distância geográfica e a estrutura filogenética das comunidades foi

verificada analisando a relação entre as coordenadas geográficas (decimais) e cada PCPS gerado. A

disposição geográfica dos pontos manteve alta correlação entre latitude e longitude (r²=0,97,

P<0,005). Por este motivo, cada PCPS foi relacionado com cada eixo geográfico, controlado pelo

outro eixo geográfico, através do teste de Mantel parcial. Isto permitiu se verificar a relação entre

cada PCPS e cada eixo geográfico de maneira exclusiva.

Resultados

10

A diversidade filogenética e a diversidade funcional baseada em dados da literatura não

diferiram entre as situações (P>0,005).

A análise dos componentes filogenéticos principais gerou 7 eixos da PCPS. Os dois

primeiros eixos PCPS continham, respectivamente 76% e 13% da variação total na relação

filogenética da comunidade; todos os outros PCPS representaram <3% cada.

O PCPS1 não teve relação com as coordenadas geográficas (rM(PCPS1,Lat-Long)=0,097,

P=0,236; rM(PCPS1, Long-Lat)= -0,075, P=0,645). O PCPS2 teve relação com latitude (rM(PCPS2,Lat-

Long)=0,48, P=0,021), mas não com a longitude (rM(PCPS1,Lat-Long)=-0,019, P=0,911).

A diversidade funcional, baseada nos atributos levantados em campo, foi maior na margem

esquerda do que na ilha, enquanto a margem direita não diferiu nem da ilha nem da margem

esquerda (Fig. 2).

Local

me il md

Rao

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

0.24

0.26

0.28

0.30

0.32

Figura 2 – Variação da diversidade funcional (Rao) entre os locais ( me = Margem esquerda, Il = Ilha e md =

Margem direita. A ANOVA indicou diferenças apenas entre me e Il.

Discussão

11

O fato da maior riqueza de espécies na margem esquerda não refletir em maiores

diversidades filogenética e funcional, indica que a adição de cada espécie na comunidade pode não

gerar diretamente a adição de maiores variações filogenéticas e funcionais na mesma. A

heterogeneidade ambiental na margem esquerda, por diferentes influências dos eventos de

inundação do Rio Paraná na região estudada (Slusarski & Souza 2012), não é suficiente para alterar

a estrutura filogenética dessa margem em relação às comunidades da ilha e da margem direita.

Deste mesmo modo, essa heterogeneidade ambiental também não reflete em um aumento na

variação dos estados dos atributos (levantados na literatura) para a comunidade vegetal da margem

esquerda em relação a esta mesma variação nas comunidades da ilha e da margem direita.

Possivelmente, as variações ambientais locais não refletem o padrão geral da estrutura dessas

comunidades.

A análise dos componentes filogenéticos principais corrobora a ideia de que a variação

encontrada na composição de espécies entre as margens e a ilha não reflete nos padrões mais gerais

da estruturação dessas comunidades. O PCPS1 descreve um gradiente relacionado com os nós mais

profundos da árvore filogenética enquanto o PCPS2 descreve um gradiente filogenético mais fino

(e.g. gêneros, espécies) (Duarte et al. 2012). A ausência de relação entre as variações geográficas

locais e o PCPS1 corrobora a ideia de que os padrões mais gerais estão estruturados por fatores

ambientais e bióticos em escala regional. A relação entre o PCPS2 e a latitude, sem influência da

longitude, indica que a variação filogenética mais fina está relacionada com a localização das

comunidades em relação ao rio Paraná (margens direita, esquerda ou ilha), uma vez que a principal

diferença entre as áreas e este vetor geográfico é justamente sua localização relativa ao rio.

A variação ambiental (diferentes influências do alagamento entre as áreas) se torna

importante para a variação da diversidade funcional mais fina. O alagamento pode ser o fator que

homogeniíza os estados dos atributos nos indivíduos que estão na ilha, agindo como um forte filtro

ambiental a essa escala.

Os padrões das diversidades filogenéticas e funcionais mais gerais para essas comunidades

estão estruturadas regionalmente, não variando localmente. Já os padrões mais finos dessas

diversidades se relacionam com a posição relativa ao rio Paraná, tendo este uma grande influência

na estrutura fina dessas comunidades.

Referências

APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and

families of flowering plants: APG III. - Botanical Journal of Linnean Society 161: 105-121.

Cavender-Bares J, Kozak KH, Fine PVA & Kembe, SW. 2009. The merging of community ecology

12

and phylogenetic biology. Ecology Letters 12: 693–715.

Cornwell, WK & Ackerly, DD. 2009. Community assembly and shifts in plant trait distributions

across an environmental gradient in coastal California. Ecol. Monogr., 79, 109–126.

Díaz, S & Cabido, M 2001 Vive la diference: plant functional diversity matters to ecosystem

processes. TRENDS in Ecology & Evolution 16: 646-655.

Duarte, LS 2011. Phylogenetic habitat filtering influences forest nucleation in grasslands. Oikos

120: 208–215.

Duarte, LS, Pietro, PV, and Pillar, VD 2012. Assessing spatial and environmental drivers of

phylogenetic structure in Brazilian Araucaria forests. Ecography 35: 001–009.

Mouchet, MA, Villeger, S, Mason, NWH, Mouillot, D2010. Functional diversity measures: an

overview of their redundancy and their ability to discriminate community assembly rules.

Funct. Ecol. 24 (4), 867–876.

Pillar, VD & Duarte, LDS. 2010. A framework for metacommunity analysis of phylogenetic

structure. - Ecology Letters 13: 587-596.

Rao, CR. 1982. Diversity and dissimilarity coefficients: a unified approach. Theoretical Population

Biology 21: 24-43.

Safi, K, Cianciaruso, MV, Loyola, RD, Brito, D, Armour-Marshall, K & Diniz-Filho, JAF. 2012.

Understanding global patterns of mammalian functional and phylogenetic diversity. Phil.

Trans. R. Soc. B 366, 2536–2544.

Slusarski, S R & Souza, M C 2012. Analysis of floristic similarity between forest remnants from the

upper Paraná river floodplain, Brazil. Acta Scientiarum 34: 343-352.

Swenson, NG. 2011. Phylogenetic beta diversity metrics, trait evolution and inferring the functional

beta diversity of communities. PLoS One 6: e21264.

Violle, C, Enquist, B J, McGill, BJ, Jianq, L, Albert, C H, Hulshof, C, Junq, V, & Messier, J 2012.

The return of the variance: intraespecific variability in community ecology. Trends Ecol Evol.

27:244-52.

Webb, CO, Ackerly, DD, McPeek, MA & Donoghue, MJ. 2002. Phylogenies and community

ecology. Annual Review of Ecology and Systematics 33: 475–505.

Webb, CO. 2000. Exploring the phylogenetic structure of ecological communities: an example of

rain forests trees. American Naturalist 156: 145-155.

13

INFLUÊNCIA DA DIVERSIDADE MORFOLÓGICA NA SEDIMENTAÇÃO DO FITOPLÂNCTON: QUEM

VENCE ESSA CORRIDA?

Resumo

As algas fitoplanctônicas apresentam uma série de formas complexas que permitem a manutenção

da sua posição na zona fótica. O objetivo desse trabalho foi verificar a taxa de sedimentação de

diferentes formas do fitoplâncton, a fim de testar a hipótese de que algas com maior relação

superfície/volume apresentam maior resistência à sedimentação. Nossos resultados indicam que a

forma das algas influencia na velocidade de sedimentação e corroboram a hipótese inicial do

trabalho.

Palavras-chave: Morfologia, relação superfície/volume, microalga.

Introdução

O fitoplâncton é composto por microalgas autotróficas que não apresentam locomoção

suficiente para vencer os movimentos da água (Reynolds, 1984). Por conta disso, ao longo do

tempo evolutivo, surgiram alguns mecanismos que aumentam a permanência das células na zona

iluminada da coluna de água, já que, em geral, elas não são capazes de sobreviver no escuro. A

principal adaptação morfológica relacionada a redução da sedimentação foi a formação de colônias,

que aumenta a relação superfície/volume do indivíduo. Essa característica otimiza a fotossíntese e

causa um efeito de “sombreamento” nas outras espécies (Fernandes et al., 2005), evitando a

também a competição inter-específica.

O objetivo desse trabalho foi verificar a taxa de sedimentação de diferentes modelos

baseados em algumas formas comuns do fitoplâncton, com a hipótese de que formas com maior

relação superfície/volume são mais resistentes a sedimentação na coluna de água.

Material e Métodos

Os modelos das formas do fitoplâncton (Fig. 1) foram confeccionados a partir de uma esfera

de massa de modelar com volume padrão (5 g para as algas menores e 10 g para as coloniais

maiores). Setas, feitas com linha de pesca, foram incluídas nos modelos para mimetizar algas com

esses ornamentos. A densidade das células do fitoplâncton é ligeiramente superior a da água

(Reynolds, 1984), já a densidade da massa de modelar utilizada no experimento é superior a da

água, por esse motivo, escolhemos detergente comercial como um líquido mais viscoso para

determinar a taxa de sedimentação dos modelos. A taxa de sedimentação foi calculada a partir da

velocidade de deslocamento dos modelos em um aquário contendo 30 litros de detergente. A

relação superfície/volume foi obtida dividindo-se a área de cada um dos modelos, calculada no

programa ImageJ, pelo volume padrão. Uma correlação foi realizada entre a relação

14

superfície/volume e o tempo de sedimentação de cada modelo. Além disso, uma ANCOVA foi

usada para verificar como a relação superfície/volume e o tempo variam, controlando a variável

presença de setas nos modelos. Para verificar se as taxas de sedimentação dos modelos foram

significativamente diferentes do controle foram realizados teste-t, exceto para Cylindrospermopsis e

Desmodesmus que possuem dois morfotipos, para esses modelos foi utilizado ANOVA seguido de

Tukey. As análises estatísticas foram realizadas em ambiente R.

Figura 1. Modelos das formas dos gêneros do fitoplâncton confeccionados com massa de modelar.

ResultadosAs formas com setas apareceram como outliers e foram excluídas das análises para evitar

a influência dessa característica (Fig. 2A). A relação superfície/volume influenciou

significativamente a taxa de sedimentação dos modelos (R²=0,85; F3,3=12,69; P=0,03; Fig. 2B).

Figura 2. Correlação entre o tempo de sedimentação e a relação superfície/volume dos modelos testados.

As diferenças entre as taxas de sedimentação das formas do fitoplâncton e o controle

foram significativas, exceto para Desmodesmus sem setas (Tab.1; Fig. 3). O teste post-hoc

demonstrou que o tempo de sedimentação de ambas as formas de Cylindrospermopsis (reta e

A B

15

espiralada) diferiram do controle (p<0,001). Apenas o tempo de sedimentação de Desmodesmus

com setas diferiu do controle (p<0,001).

Tabela1. Comparação entre o tempo de sedimentação dos modelos e o controle.

Modelo Estatística p-valor

Cylindrospermopsis F2,6=117,6 <0,001

Desmodesmus F2,6=39,9 <0,001

Fragilaria t5=4,23 0,008

Golenkinia t5=3,32 0,02

Microcystis t5=5,92 0,001

Pediastrum t5=5,47 0,002

Figura 3. Tempo de sedimentação dos morfotipos de Desmodesmus (esquerda) e de Golenkinia (direita) comparadoscom o controle. Letras diferentes indicam p<0,05 (ANOVA).

DiscussãoComo demonstrado em nossos experimentos, a formação de colônia aumenta a relação

superfície/volume do indivíduo e, consequentemente, leva a uma diminuição na taxa de

sedimentação na coluna de água. Por outro lado, em cultivo, algumas algas coloniais não formam

essas agregações. Esse fato é, muitas vezes, atribuído a uma “economia de energia” com a

manutenção da posição na coluna de água, já que os frascos de cultura estão sob constante

agitamento. Alguns exemplos dessas algas são Microcystis (Sangolkar et al., 2009) e Desmodesmus

(Johnson et al., 2007).

Para o gênero Desmodesmus a presença de setas foi o que determinou a diminuição

significativa da taxa de sedimentação. Essa característica é, normalmente, atribuída a resistência à

herbivoria (Verschoor et al., 2004). Todavia, nosso experimento demonstrou que esse pode ser um

importante fator na manutenção da posição do indivíduo na coluna de água. O gênero Golenkinia,

com maior número de setas, foi ainda mais resistente à sedimentação.

Cylindrospermopsis raciborskii é uma alga colonial filamentosa que possui dois tipos

morfológicos principais: reto e espiralado. De acordo com nosso experimento, o morfotipo reto é

a a

b

16

vantajoso em condições de ausência de turbulência, por possuir taxa de sedimentação menor que o

espiralado. De fato, em períodos secos, quando os reservatórios tendem a estratificação, há um

predomínio do morfotipo reto. Já em períodos chuvosos, que levam a circulação da coluna de água,

ocorre uma dominância do morfotipo espiralado (Bittencourt-Oliveira et al., 2011).

O gênero Fragilaria é uma das poucas diatomáceas penadas com hábito planctônico (Round

et al., 1990) e essa característica pode ser atribuída a formação de colônia. Esse hábito diminui a

taxa de sedimentação desses indivíduos que possuem carapaça de sílica e levariam desvantagem

frente às algas de outros grupos que são menos pesadas.

Esse trabalho evidenciou a importância da evolução da forma das algas planctônicas, como

o aumento da relação superfície/volume e o aparecimento de ornamentações e anexos que, como

demonstrado, são eficientes mecanismos para evitar a sedimentação.

Referências Bibliográficas

Bittencourt-Oliveira MC, Moura AN, Hereman TC, Dantas EW 2011 Increase in Straight and

Coiled Cylindrospermopsis raciborskii (Cyanobacteria) Populations under Conditions of

Thermal De-Stratification in a Shallow Tropical Reservoir. Journal of Water Resource and

Protection, v. 3, p. 245-252.

Fernandes LF, Wosiak AC, Domingues L, Pacheco CV, Lagos PED 2005 Comunidades

Fitoplanctônicas em Ambientes Lênticos. Pages 315-366 in: Andreoli CV, Carneiro C

Gestão Integrada de Mananciais de Abastecimento Eutrofizados. Sanepar Finep, Curitiba.

Johnson JL, Fawley MW, Fawley KP 2007 The diversity of Scenedesmus and Desmodesmus

(Chlorophyceae) in Itasca State Park, Minnesota, USA. Phycologia, v. 46, n. 2, p. 214-229.

Reynolds CS 1984 The Ecology of Freshwater Phytoplankton. Cambridge University Press,

Cambridge.

Round FE, Crawford RM, Mann DG 1990 The Diatoms: Biology and Morphology of the Genera.

Cambridge University Press, Cambridge, 747 p.

Sangolkar LN, Maske SS, Muthal PL, Kashyap SM, Chakrabarti T 2009 Isolation and

characterization of microcystin producing Microcystis from a Central Indian water bloom.

Harmful Algae, v. 8, p. 674-684.

Verschoor AM, van der Stap I, Helmsing NR, Lürling M, van Donk E 2004 Inducible colony

formation within the Scenedesmaceae: adaptive responses to infochemicals from two

different herbivore taxa. Journal of Phycology, v. 40, p. 808-814.

17

RIQUEZA DE FORMIGAS EM AMBIENTES COM DIFERENTES GRAUS DE PERTURBAÇÃO

Diego Corrêa Alves, Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Lilian Vasconcelos, Luciana Zago,

Monica Vasques Mangas Pereira

“Projeto livre”

Resumo: O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do impacto antrópico na riqueza de

comunidades de formigas e comparar diferentes tipos de iscas utilizadas como método de captura.

Apesar de haver uma tendência para a diminuição da riqueza de espécies em locais mais

impactados, não foi significativa a diferença do número de morfotipos de formigas encontrados na

área da mata, pastagem e zona urbana. Quanto às iscas utilizadas, não foi possível testar as

diferenças devido a limitações nas amostragens.

Palavras-chave: Formigas; isca; riqueza; perturbações ambientais.

Introdução

Os artrópodes compreendem mais de um milhão de espécies e ocupam uma grande

variedade de nichos nos ecossistemas (Aquino et al, 2006). Esta fauna apresenta uma tendência em

acompanhar a riqueza vegetal, pois muitos animais dependem desta riqueza para sua sobrevivência.

Modificações de paisagens naturais podem influenciar a diversidade de espécies de artrópodes

associada a essas áreas, já que a baixa diversidade vegetal acarreta diferenças na disponibilidade de

recursos em tais ambientes (Battirola et al., 2007).

A estrutura da comunidade de formigas é influenciada por perturbações de origem humana,

tal como alterações nos habitats como pastagens, urbanização e outras mudanças na forma do uso

dos ecossistemas terrestres. Segundo Delabie et al. (2006), as comunidades de formigas possuem

um grande potencial para serem utilizadas como bioindicadores de impactos ambientais, já que a

riqueza das comunidades é relacionada negativamente com o grau de antropização.

Alguns autores enfatizam a importância da utilização de mais de uma técnica de amostragem

para conseguir abranger diferentes espécies em um mesmo estudo (Silva et al. 2011). Iscas em geral

são utilizadas para aumentar a eficiência das armadilhas (Aquino et al. 2006), no entanto, mesmo

estudos que utilizam de técnicas de amostragem diferentes não costumam testar diferentes iscas

(p.ex.Lopes & Vasconcelos 2008).

Sob esse contexto, o presente trabalho visa testar as seguintes hipóteses: i) localidades com

diferentes níveis de impactos influenciam a riqueza de morfotipos de formigas; ii) diferentes iscas

atraem diferentes composições de formigas. Visto que a fauna de invertebrados apresenta uma

18

tendência em acompanhar a diversidade vegetal, espera-se que a riqueza de formigas diminua

conforme aumenta o nível de impacto do local.

Material e métodos

Coleta de dados

As amostragens dos artrópodes foram realizadas através de armadilhas com iscas em três

diferentes localidades: área urbana (dentro da cidade de Porto Rico), área rural (campo de pastagem,

ao lado da base de estudos do Nupélia) e mata (fragmento de mata ciliar do rio Paraná). Em cada

localidade foram determinados quatro pontos aleatórios de coleta. Para todas as localidades foi

utilizado doce de banana pastoso como isca. No fragmento de mata ciliar, foi realizada amostragem

adicional com sardinha em lata. As iscas foram colocadas no solo, em cima de uma folha de papel,

onde ficaram expostas por 15 minutos. Em seguida, as formigas aderidas as iscas foram recolhidas

com o papel e armazenadas em sacos plásticos para posterior identificação dos morfotipos em

laboratório.

Análise dos dados

A primeira hipótese foi testada através de uma ANOVA unifatorial, considerando a

distribuição de Poisson para a estrutura dos resíduos, tendo a riqueza de morfotipos como variável

resposta e as diferentes localidades como o fator. Para testar a segunda hipótese a intenção era

realizar uma PERMANOVA; no entanto, como houve captura de formigas apenas em um dos

quatro pontos amostrados com a isca de sardinha, não foi possível calcular a média das

dissimilaridades para esta isca. Assim, tentou-se identificar o padrão visualmente através de um

gráfico exploratório.

Resultados

Nas amostragens com isca de banana nas três localidades, foram encontradas nove

morfotipos de formigas. Os resultados da ANOVA demonstraram que a riqueza de morfotipos de

formigas nas três localidades não foi significativamente diferente, embora seja possível observar

que a mediana da riqueza na mata foi superior às demais (Fig. 1).

19

Fig. 1. Mediana e quartis 1 e 3 da riqueza de morfotipos de formigas por localidade.

Foi possível observar que houve dominância de um morfotipo de formigas na amostragem

com isca de sardinha, enquanto que com a isca de banana foram capturados mais morfotipos, porém

menos abundantes. Além disso, o único morfotipo capturado com a isca de sardinha não foi

amostrado com isca de banana.

mata pasto cidade

Localidade

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

Riq

ueza

Mediana 25%-75%

p=0,278

19

Fig. 1. Mediana e quartis 1 e 3 da riqueza de morfotipos de formigas por localidade.

Foi possível observar que houve dominância de um morfotipo de formigas na amostragem

com isca de sardinha, enquanto que com a isca de banana foram capturados mais morfotipos, porém

menos abundantes. Além disso, o único morfotipo capturado com a isca de sardinha não foi

amostrado com isca de banana.

mata pasto cidade

Localidade

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

Riq

ueza

Mediana 25%-75%

p=0,278

19

Fig. 1. Mediana e quartis 1 e 3 da riqueza de morfotipos de formigas por localidade.

Foi possível observar que houve dominância de um morfotipo de formigas na amostragem

com isca de sardinha, enquanto que com a isca de banana foram capturados mais morfotipos, porém

menos abundantes. Além disso, o único morfotipo capturado com a isca de sardinha não foi

amostrado com isca de banana.

mata pasto cidade

Localidade

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

Riq

ueza

Mediana 25%-75%

p=0,278

20

Fig.2. Número de indivíduos (bolas maiores = maior número de indivíduos) capturados de cada

morfotipo de formigas por ponto amostral de cada isca utilizada.

Discussão

Embora os resultados não tenham confirmado as diferenças entre os três fragmentos

amostrados no estudo, sabe-se que a fauna do solo é afetada por fatores ambientais e bióticos que

podem gerar alterações na composição das comunidades (Copatti & Daudt 2009). Regiões mais

impactadas tendem a suportar riquezas menores de espécies (p. ex. Lopes et al. 2010 ), e esta

tendência, apesar de não significativa, pode ser observada no estudo. No entanto, o espaço e o

tempo amostral possivelmente foram insuficientes para representar a composição das comunidades.

Para a análise de comparação de iscas, a hipótese não foi confirmada. Entretanto, foi

possível observar que as duas iscas atraíram morfotipos distintos, ressaltando a importância já

discutida por outros autores da utilização de métodos diferentes (Silva et al. 2011, Lopes &

Vasconcelos 2008). Frente a estes resultados, fica evidente que a utilização de diferentes métodos

de captura com a inclusão da busca ativa, maior esforço amostral e diferentes iscas podem prover

melhores representações da mirmecofauna de diferentes habitats.

Referências

Battirola LD, Adis J, Marques MI, Silva FHO 2007 Composição da comunidade de artrópodes

associada à copa de Attalea phalerata Mart. (Arecaceae), durante o período de cheia no

Pantanal de Poconé, Mato Grosso, Brasil. Neotropical Entomology 36:640-651.

Copatti CE, Daudt CR 2009 Diversidade de artrópodes na serapilheira em fragmentos de mata

nativa e Pinus elliottii (Engelm. Var elliottii). Ciência e Natura 31 (1): 95 – 113.

De Aquino AM, et al. 2006 Recomendações para coleta de artrópodes terrestres por armadilhas de

queda (" Pitfall-Traps"). Embrapa Agrobiologia.

Delabie JHC, Paim VRLM, Nascimento IC, Campiolo S, Mariano CSF 2006 As formigas como

indicadores biológicos do impacto humano em manguezais da costa sudeste da Bahia.

Neotropical Entomology 35(5):602-615.

Lopes CT, Vasconcelos HL 2008 Evaluation of Three Methods for Sampling Ground-Dwelling

Ants in the Brazilian Cerrado. Neotropical Entomology 37(4): 399-405.

21

Lopes DT, Lopes J, Nascimento IC, Delabie JH 2010 Diversidade de formigas epigéicas

(Hymenoptera, Formicidae) em três ambientes no Parque Estadual Mata dos Godoy,

Londrina, Paraná. Iheringia, Sér. Zool. 100(1): 84-90.

22

AÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DE PLANTAS NA PREDAÇÃO DE FORMIGAS SOLENOPSIS SP.

EM DIFERENTES ITENS ALIMENTARES

Érika Maria Neif, Francisco von Hartenthal, Guilherme Landgraf, Rafael A. Baggio, Sabrina

Calado

Resumo

Nesse estudo, testamos se metabólitos secundários de plantas podem reduzir o consumo de

diferentes itens alimentares de Solenopsis sp. Foram realizados experimentos de curta duração in

situ com extratos de Piper amalago L., Psidium guajava L. e Zanthoxyllum caribaeum sobre maça e

sardinha em três formigueiros. Nossos resultados sugerem que esses metabólitos secundários

possuem potencial para reduzir a herbivoria de Solenopsis sp. sobre esses itens alimentares,

contudo, as análises estatísticas não foram significativas.

Introdução

As plantas produzem uma ampla e diversa ordem de componentes orgânicos divididos em

metabólitos primários e secundários. Os metabólitos primários desempenham função essencial para

o crescimento e desenvolvimento, bem como para a manutenção da célula das plantas. Em

contrapartida, o metabolismo secundário é responsável pelas relações entre o individuo e o

ambiente onde se encontra, essencial para a sobrevivência e continuidade da espécie dentro do

sistema (Taiz & Zeiger, 2006).

As espécies Piper amalago L., Psidium guajava L. e Zanthoxyllum caribaeum Lam, por

exemplo, possuem uma ampla distribuição na região da planície de inundação do alto rio Paraná

(Souza et al, 1997), e são consideradas potencialmente capazes de sintetizar metabólitos

secundários.

Piper amalago tem sido usada na medicina popular como um antiinflamatório, analgésicos,

antipiréticos, terapia para problemas de estômago, vermífugo e ação repelente (Carrara, et al. 2013).

Plantas do gênero Zanthoxylum, têm demonstrado propriedades anti-helmínticas, causando a

redução da ovoposição de nematoides quando expostas a extratos provenientes deste grupo de

plantas (Peneluc, et al. 2009). Vários estudos fitoquímicos e farmacológicos tem sido realizados

com Psidium guajava, evidenciando a inibição de edemas, dores e problemas respiratórios em ratos

(Jaiarj, et al. 1999). É possível, ainda, que compostos secundários dessas plantas tenham efeito

negativo sobre a herbivoria, fenômeno comum entre espécies vegetais (Harborne 1997). Assim,

23

testamos a hipótese que metabólitos secundários de P. amalago, Z. caribaeum e P. guajava podem

reduzir a herbivoria de formigas sobre diferentes itens alimentares.

Material e métodos

O estudo foi realizado na base avançada de pesquisa do Núpelia, em Porto Rico, Paraná,

Brasil. Foram utilizados 2,0 g de folhas de 3 espécies de plantas com compostos secundários

conhecidos: Zanthoxylum caribaeum Lam., Psidium guajava L. e Piper amalago L., as quais foram

coletadas na região. As folhas de cada espécie foram maceradas em solução de etanol 50% em

função da extração dos metabólitos secundários.

Para testar a hipótese, foram utilizados formigueiros da formiga Solenopsis sp, Lava-pés.

Essa espécie foi escolhida por serem amplamente distribuídas no território brasileiro, por terem

hábito alimentar onívoro, sendo altamente atraídas por substâncias oleosas, e por recrutarem um

grande número de operárias ao encontrar alimento (Bueno& Campos-Farinha 1999). Dessa forma, é

possível testar a influência de compostos secundários sobre diferentes itens alimentares (i.e.

sardinha, maçã), com uma forte resposta da colônia.

Foram selecionados 3 formigueiros (i.e. réplicas), nos quais foram colocados 5 tratamentos

com maçã e 5 tratamentos com sardinha. Cada tratamento com o composto secundário de

determinada planta compunha o item alimentar e 1 ml do extrato da planta, totalizando 3

tratamentos, somados a um tratamento com 1 ml de álcool 50% e um controle sem manipulação. Os

experimentos nos formigueiros foram observados por 30 minutos, sendo a quantidade de formigas

forrageando sobre cada item estimado a cada 10 min.

As análises foram realizadas através do método Kruskall-Wallis, implementados no software

Statistica 7.0.

Resultados

Os testes de Kruskal-Wallis não foram significativos para os diferentes itens alimentares

sardinha (H = 4,86; P > 0,05) (Fig 1) e maçã (H = 2,32; P = 0,68) (Fig. 2), portanto não suportaram

a hipótese de que as soluções com compostos das plantas poderiam inibir a herbivoria da formiga

sobre os itens alimentares. Os gráficos também indicam grande variância nos dados, sendo este

motivo, junto com o pequeno número de réplicas, a razão da não significância do teste.

24

Figura 1. Box plot da contagem do número de indivíduos de formigas Solenopsis sp. em sardinhassobre diferentes tratamento, para o tempo 30 minutos.

Figura 2. Box plot da contagem do número de indivíduos de formigas Solenopsis sp. em maçãssobre diferentes tratamento, para o tempo 30 minutos.

Discussão

Plantas são capazes de acumular ou excretar produtos do metabolismo secundário em

diferentes órgãos. Alguns destes compostos são tóxicos para vertebrados e invertebrados e podem

exercer importante papel na defesa contra herbivoria. Entretanto, Harborne (1997) argumenta que é

preciso maior quantidade de experimentos para se verificar se tal afirmação é verdadeira.

Apesar de não significativos, nossos resultados sugerem que compostos do metabolismo

secundário das plantas, em extratos alcoólicos, exercem efeito negativo sobre a herbivoria de

formigas. Nesse caso, apesar do álcool também exercer tal influência, a interação entre álcool e

compostos provenientes das folhas das espécies de plantas analisados parece reduzir ainda mais a

taxa de herbivoria. A não diferenciação estatística entre o controle e os tratamentos, contudo, pode

decorrer do fato de um dos formigueiros analisados estarem degradados, causando prejuízos à

25

colônia, com impacto no forrageamento de suas formigas. O aumento do número amostral,

portanto, é um requesito importante para reduzir a variação decorrente de um ponto amostral com

padrão incomum.

Agradecimentos

Agradecemos aos professores André Padial, Marcos Barbeitos e Roger Mormul pelas contribuições

para as análises estatísticas deste trabalho.

Referências

Carrara VS, Cunha-Júnior EF, Torres-Santos EC, Corrêa AG, Monteiro JL, Demarchi IG,Lonardoni MVC,4 Cortez DAG 2013 Antileishmanial activity of amides from Piper amalagoand synthetic analogs. Brazilian Journal of Pharmacognosy 23: 447-454.

Bueno OC, Campos-Farinha AEC 1999 As Formigas Domésticas, pages 135-180, in MariconiFAM, eds, Insetos e outros invasores de residáncias. Piracicaba: FEALQ.

Harborne JB 1997 Plant Secondary Metabolism, pages 132-155, in Crawley MJ, eds., PlantEcology, 2ª edição. Blackwell Science: Oxford.

Jaiarj P, Khoohaswan P, Wongkrajang P, Peungvicha, P, Suriyawong P, Saraya S M L,Ruangsomboon O 1999. Anticough and antimicrobial activities of Psidium guajava Linn. leafextract. Journal of Ethnopharmacology 67:203-212.

Peneluc T, Domingues LF, Almeida GN, Ayres, MCC Moreira ELT, Cruz ACF, BittencourtTCBST, Almeida MAO; Batatinha MJM 2009. Atividade anti-helmíntica do extrato aquosodas folhas de Zanthoxylum rhoifolium Lam. (Rutaceae). Rev. Bras. Parasitol. Vet., Jaboticabal18: 43-48.

Souza MC de, Cislinski J, Romagnolo MB 1997 Levantamento Florístico, pages 371-394, inVazzoler AEA, Agostinho AA, Hahn NS. A planície de inundação do alto rio Paraná:aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. EDUEM: Maringá.

Souza-Filho APS, Alves SM 2002 Alelopatia: princípios básicos e aspectos gerais. EmbrapaAmazônia Oriental: Belém. 260 p.

Taiz L, Zeiger E 2006 Plant physiology. 4. ed. Sinauer Associates Inc: Massachusetts.

26

CONTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES ZOOPLANCTÔNICAS EM RIACHOS TRIBUTÁRIOS SOB INFLUÊNCIA DE

UM RIO DE INUNDAÇÃO

EMANUEL Razzolini; FERNANDO G. de Oliveira; FLÁVIO M. Marteleto; NATÁLIA C. L. dos

Santos; SANDRA M. N. de Andrade

Projeto livre

Resumo Riachos não são habitats propícios para o desenvolvimento da comunidade zooplanctônica

por apresentarem baixa produtividade primária e dinâmica fluvial instável. Nessa perspectiva, os

objetivos foram analisar a riqueza zooplanctônica no gradiente de influência do rio Paraná sob os

riachos tributários e comparar a riqueza entre regiões com influência dos riachos (montante) e do

rio Paraná (jusante). Os resultados mostraram tendência significativa de redução de espécies

zooplanctônicas à medida que a inundação do rio Paraná diminui o seu efeito a montante dos

riachos tributários.

Palavras-chave: zooplâncton, espécies, variação espacial.

Introdução

Riachos, em particular, não são habitats propícios de desenvolvimento para muitas espécies

de zooplâncton. Allan (1998) descreve uma baixa diversidade de espécies e abundância do

zooplâncton nesses ambientes. Os principais motivos desse cenário são a baixa produtividade

primária e a alta instabilidade da dinâmica fluvial (Ejsmont-Karabin & Kruk 1998). Em riachos de

baixo fluxo, por exemplo, as condições químicas podem exercer um efeito mais sensível sobre a

comunidade zooplanctônica do que em contraste com os riachos de fluxo mais rápido (Czerniawski

2012).

Em macrossistemas fluviais, a dinâmica de planícies de inundação é regida pelos pulsos de

cheia (potamofase) e seca (limnofase) que podem transformar os componentes bióticos e abióticos

de todo o sistema (Neiff 1990). A conectividade durante a cheia promove um maior intercâmbio de

organismos aumentando a similaridade da distribuição de espécies entre os ambientes. Sob essa

perspectiva, os objetivos foram analisar a riqueza zooplanctônica no gradiente de influência do rio

Paraná sob os riachos tributários, e, comparar a riqueza zooplanctônica entre regiões com influência

dos riachos e do rio Paraná. As hipóteses foram: (i) a cheia do rio Paraná contribui com o aporte de

espécies de zooplâncton para riachos tributários; (ii) há diferença quanto as espécies de zooplâncton

entre as regiões a montante e a jusante dos riachos.

Material e Métodos

Área de estudo

27

A área de estudo compreende a região da bacia do Alto rio Paraná situada nas proximidades

do município de Porto Rico, Paraná, Brasil. A fisiografia do rio Paraná encontra-se, notavelmente,

alterada por uma sucessão de aproximadamente 150 barragens a montante da bacia, sendo estas os

principais agentes controladores da vazão do rio (Agostinho & Zalewski 1996). Neste estudo foram

inventariados três riachos da margem esquerda do rio Paraná (São Pedro, Caracu e Araldo) (Fig. 1).

Figura 1. Localização dos riachos (triângulo preto) onde os pontos de coleta foram amostrados. 1. Riacho São Pedro; 2.

RiachoCaracu; 3. Riacho do Araldo.

Para cada riacho, foram estabelecidos 4 pontos de coleta. O primeiro ponto (P0) consistiu

em uma amostragem de zooplâncton no rio Paraná a montante da foz dos riachos (ponto controle).

O segundo ponto (P1) foi amostrado no relento da foz dos riachos conectados com o rio Paraná. O

terceiro ponto (P2) foi estabelecido em uma região mais a montante dos riachos (característico de

água parada), região esta intermediária entre a foz do riacho e o limite da influência (inundação) do

rio Paraná sobre o riacho. O quarto ponto (P3) foi amostrado na região mais a montante, lugar em

que se observava uma pequena corrente de água proveniente do fluxo do riacho. As amostras do

zooplâncton foram coletadas à sub-superfície da região pelágica de cada ponto através de uma rede

de plâncton, com abertura de malha de 68μm. O material coletado foi acondicionado em frascos de

polietileno, sendo etiquetados e fixados em solução de formaldeído a 4%, tamponada com

carbonato de cálcio. Os organismos foram identificados por morfotipos atribuindo ser uma espécie

aqueles diferenciáveis morfologicamente entre um organismo e outro. Para a tabulação dos dados,

foram utilizados a presença e ausência de espécies por riachos e por pontos, e, através de uma

análise de variância (ANOVA), testou-se a significância entre as médias de riqueza dos pontos

amostrados aceitando um nível de significância P < 0,05. O programa estatístico utilizado foi o

Statistic 7.0.

Resultados

A riqueza de espécies de zooplâncton foi semelhante entre os três riachos (Fig. 2A). Já em

relação à distância espacial entre o rio Paraná e a montante dos riachos, observou-se que há uma

28

tendência de diminuição do número de espécies em direção à região limite entre a influência da

água inundada do rio Paraná e a dinâmica natural dos riachos (Fig. 2B), apesar do ponto P3 ter

apresentado um pouco mais de ocorrência de espécies em relação ao ponto P2.

Figura 2. Riqueza do zooplâncton em relação aos riachos (A) e em relação aos pontos de amostragens (B). P0 = ponto

controle (rio Paraná); P1 = ponto na foz do riacho (relento); P2 = ponto a montante do riacho na região intermediária da

influência do rio Paraná (água parada); P3 = ponto mais a montante com influência direta do fluxo natural do riacho.

Dentre as espécies observadas, verificou-se que uma espécie de cladocera (sp4) foi

registrada apenas na região a montante (região de maior influência dos riachos) enquanto que oito

das outras espécies foram registradas apenas no rio Paraná e foz dos riachos (Tab. I). Foi observado

que a maior ocorrência das espécies foi registrada nos pontos P0 e P1 enquanto que a menor

ocorrência ocorreu no ponto P2.

Tabela I. Distribuição espacial das espécies de zooplânctons capturados nos riachos da margem esquerda do alto rio

Paraná. P0 = ponto controle (rio Paraná); P1 = ponto na foz do riacho (relento); P2 = ponto a montante do riacho na

região intermediária da influência do rio Paraná (água parada); P3 = ponto mais a montante com influência direta do

fluxo natural do riacho; RA = riacho do Araldo; RSP = riacho São Pedro; RC = riacho Caracu.

Discussão

O declínio de espécies de zooplâncton em direção a montante dos riachos corrobora com a

premissa inicial de que ambientes de riachos não são bons habitats para suportar uma alta riqueza

R. do Araudo R. São Pedro R. Caracu0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

S (z

oopl

ânct

on)

Média Média ± EP

A

P0 P1 P2 P30

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

S (z

oopl

ânct

on)

Média Média ± EP

F = 12,51; P < 0,01

F = 12,51; P < 0,01

B

Espécie RA RSP RC RA RSP RC RA RSP RC RA RSP RCCopoepode sp1 x x x x x x x x xCopepode sp2 x x x x x x x x xCladocera sp1 x x x x xCladocera sp2 x x x x x x x x xCladocera sp3 x x x xCladocera sp4 xCladocera sp5 xCladocera sp6 xCladocera sp7 xCladocera sp8 xRotífera sp1 x x xRotifera sp2 x x x x x xRotífera sp3 x x x x xRotífera sp4 x x x xRotífera sp5 x x x x xRotífera sp6 x xRotífera sp7 x

P0 P1 P2 P3

29

desses organismos. A hipótese confirmada de que o rio Paraná fornece aporte de espécies para os

ambientes de riacho pode ser explicada pela conectividade entre esses ambientes devido à cheia do

rio. Nessa área, uma grande inundação conecta os diferentes biótopos (lagoas abertas, fechadas,

canais, rios e riachos) (Souza-Filho 2009) configurando vias de dispersão para os organismos

aquáticos entre esses diferentes ambientes. De acordo com Thomaz et al. (2004) e Thomaz et al.

(2007), esses ambientes apresentam uma considerável variabilidade quanto às características

limnológicas, sendo esta associada ao grau de conexão (ou isolamento) com os rios e,

principalmente, ao regime hidrológico do rio Paraná. Nessa área, além das diferenças no que diz

respeito às suas características físico-químicas, outros mecanismos de interação como o influxo e

refluxo da água (Rocha 2002; Comunello et al. 2003) são observados nos ambientes da região,

podendo, então, esta estar sendo a principal característica que esta influenciando na estruturação da

comunidade zooplanctônica.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao barqueiro Sebastião, funcionário do Nupélia/UEM, pelo serviço prestado;

e aos programas de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná e Universidade Estadual de

Maringá pela disciplina ofertada para o treinamento e aprendizagem das pesquisas ecológicas em

campo.

Referencias bibliográficas

Agostinho AA & Zalewski M 1996 A planície alagável do alto rio Paraná: importância e

preservação. Maringá EDUEM 100p.

Allan JD 1998 Ekologia wod p_lyn˛acych [Stream Ecology. Structure and Function of Running

Waters]. Wydawnictwo Naukowe PWN S.A.,Warszawa, 450 pp. ISBN: 83-01-12535-7 Basu

B.K. & Pick F.R. 1996. Factors regulating phytoplankton and zooplankton biomass in

temperate rivers. Limnology Oceanography. 41 (7): 1572–1577.

Comunello EE, Souza-Filho E, Rocha PC, Nanni MR 2003 Dinâmica de inundação de áreas

sazonalmente alagáveis na planície aluvial do alto rio Paraná: estudo preliminar. Anais XI

SBSR, 2459-2466.

Czerniawski R 2012 Spatial pattern of potamozooplankton community of the slowly flowing

fishless stream in relation to abiotic and biotic factors. Polish journal of ecology 60 (2) 323–

338.

Ejsmont-Karabin J, Kruk M 1998 Effects of contrasting land use on free-swimming rotifer

communities of streams in Masurian Lake District, Poland. Hydrobiologia 241–249.

Neiff JJ 1990 Ideas para la interpretación ecológica del Paraná. Interciencia v 15 n 16 p 424-441.

30

Rocha PC 2002 Dinâmica dos canais no sistema rio-planície fluvial do alto rio Paraná, nas

proximidades de Porto Rico-PR. Unpublished Ph.D. Dissertation. Universidade Estadual de

Maringá, Maringá, 171p.

Souza-Filho EE 2009 Evaluation of the Upper Paraná River discharge controlled by reservoirs.

Brazilian Journal of Biology 69: 707-716.

Thomaz SM, Pagioro TA, Bini LM, Roberto MC & Rocha RRA 2004 Limnological

Characterization of the aquatic environments and the influence of the hydrometric levels.

Pages 75-102 in SM Thomaz, AA Agostinho, NS Hahn (eds.). The upper Paraná River and its

floodplain: physical aspects, ecology and conservation. Leiden, Backhuys Publishers.

Thomaz SM, Bini LM & Bozelli RL 2007 Floods increase similarity among aquatic habitats in

river-floodplain systems. Hydrobiologia 579: 1-13.

31

A DENSIDADE DE INVERTEBRADOS ASSOCIADOS À SERAPILHEIRA EM FRAGMENTOS FLORESTAIS

Hugo José Message, Priscilla Guedes Gambale, Renata Gabriela Noguchi, Simone Satsuki

Takeuchi & Taise Miranda Lopes

Projeto Livre

Resumo: A serapilheira exerce inúmeras funções na dinâmica dos ecossistemas, sendo regulada

pela quantidade de material depositado pela parte aérea das plantas e apresentando uma rica fauna

associada. A hipótese de que florestas mais desenvolvidas apresentam uma menor densidade de

serapilheira devido à maior decomposição foi testada, porém os fragmentos analisados não

diferiram entre si em grau de estruturação. O presente estudo comprovou a hipótese de que a

densidade da serapilheira apresenta relação positiva com a densidade da fauna associada.

Palavras-chave: fauna associada, estruturação vegetal, folhas, densidade.

Introdução

A serapilheira exerce inúmeras funções no equilíbrio e dinâmica dos ecossistemas,

compreendendo a camada mais superficial do solo em ambientes florestais, compostas por folhas,

ramos, órgãos reprodutivos e detritos (Costa et al., 2010). Ela contribui para a intercepção das gotas

de chuva, minimizando os efeitos erosivos no armazenamento de água, funcionando como um

isolante térmico e contribuindo para a manutenção do microclima do solo (Figueiró, 2005).

Também possui influência na germinação de sementes, no estabelecimento (Moraes et al., 1999) e

crescimento de plantas (Garay & Kindel, 2001).

A produção de serrapilheira em florestas tropicais pode ser determinada por vários fatores,

por exemplo, diferenças no microclima, composição das espécies, estágio sucessional de

desenvolvimento (Sundarapadian & Swamy, 1999). A camada orgânica da serapilheira é regulada

pela quantidade de material depositado pela parte aérea das plantas e pela taxa de decomposição. A

taxa de decomposição é afetada pela densidade e composição específica das folhas e gravetos

presentes na matéria orgânica, além da diversidade da fauna associada. Os organismos que habitam

esses ambientes podem influenciar todo o ecossistema local através da composição do solo em

microescala, a capacidade de drenagem do local e, em alguns locais, até a entrada de água em

corpos de água vizinhos por percolação.

O presente estudo testou as hipóteses de que (1) florestas mais desenvolvidas (estruturadas)

apresentam uma menor densidade de serapilheira devido à maior decomposição da mesma pelos

32

microrganismos e (2) a densidade de fauna associada apresenta relação positiva com a densidade da

serapilheira.

Material e métodos

A coleta de dados foi realizada em dois fragmentos florestais próximos à base de estudos da

Universidade Estadual de Maringá, um ao lado do córrego Caracu e outro distante cerca de 800

metros em linha reta do primeiro. Os fragmentos localizam-se na margem do rio Paraná e

encontram-se sujeitos a processos antropogênicos. Em cada fragmento realizaram-se duas

transecções de 20 metros de comprimento, cerca de 15 metros distantes entre si e dispostos

perpendicularmente em relação ao rio. Em cada transecção foram medidos os diâmetros à altura do

peito (DAP) de troncos de árvores escolhidos ao acaso. Aleatoriamente, uma área de 0,25 m² no

solo e dentro da transecção foi escolhida e utilizada para a coleta de serapilheira, a qual foi

armazenada em sacos plásticos. Registros fotográficos do dossel foram realizados exatamente acima

deste ponto, a fim de estimar a porcentagem de cobertura vegetal de cada área, determinadas com o

uso do programa Image J. Tais características foram utilizadas para verificar o grau de estruturação

dos fragmentos florestais coletados.

O material coletado foi analisado em laboratório: com auxílio da balança de precisão foram

medidos o peso total. Os invertebrados foram triados com auxílio de um sistema de duas peneiras

com malhas de 1 mm e 2 mm. Os indivíduos triados na malha 2 mm foram quantificados

visualmente, enquanto os na malha 1 mm foram contabilizados com uso de estereoscópio. Para as

verificações estatísticas foi utilizado Teste-t para averiguar os DAP entre as áreas e regressão linear

para a análise da relação entre a densidade de serapilheira e a abundância de invertebrados.

Resultados

O DAP médio das árvores das duas áreas não diferiu entre si (Fig. 1), bem como a

porcentagem de cobertura do dossel, o que impossibilitou o teste da hipótese de que florestas mais

estruturadas apresentam uma menor densidade de serapilheira, porque os fragmentos foram

semelhantes entre si em grau de estruturação.

33

Figura 1: Média e desvio padrão das estruturas avaliadas para medir o grau de estruturação entre os

dois fragmentos florestais.

Foi verificada uma relação positiva entre a densidade de serapilheira e a abundância da

fauna de invertebrados associada, sendo que 90% da variabilidade dos dados foi explicada pela

abundância da fauna (R2=0,90, P<0,01) (Figura 2).

Figura 2. Relação entre e densidade de serapilheira e a abundância de fauna associada, em

fragmentos de mata no município de Porto Rico, Paraná.

Discussão

A similaridade entre as estruturas dos dois fragmentos florestais é sugerida pela proximidade

espacial entre eles e as intervenções antropogênicas a que estão submetidos. Esperava-se que

fragmentos mais desenvolvidos apresentassem menos serapilheira por representarem florestas mais

antigas com maior ação de decompositores. Entretanto, por não haver diferenças estruturais entre

34

os fragmentos estudados, ou seja, os dois fragmentos se encontrarem em estágios de

desenvolvimento semelhantes, a correlação entre estrutura da floresta e densidade de serapilheira

foi nula.

A serapilheira constitui um ambiente adequado para o desenvolvimento da fauna edáfica,

sendo que sua composição pode variar com o clima e a vegetação. Sendo um ambiente adequado,

devido à riqueza de matéria orgânica, maiores densidades de microorganismos associados podem se

alojar em maiores densidades de serapilheira acumulada (Hofer et al., 2001), confirmado no

presente trabalho. Os invertebrados de vários grupos utilizam este ambiente para o forrageamento,

como abrigo e proteção, em especial nos estágios imaturos, para a diapausa, para oviposição,

crescimento, desenvolvimento (Jacot, 1940). Variações da temperatura ou outros fatores abióticos

também podem explicar algumas alterações na densidade dos artrópodes (Basset, 1966), dentre

outros organismos invertebrados terrestres. Adicionalmente pode haver preferências de

invertebrados por componentes estruturais das plantas, devido ao teor de celulose ou baixos teores

de ligninas e taninos (Loranger et al. 2002).

Agradecimentos

Agradecemos ao doutorando Vinícius pela ajuda prestada durante a escrita do trabalho, bem

como ao prof. Marcos pela ajuda durante a elaboração do projeto.

Referências

Basset Y 1966 The seasonality of arboreal arthropods foraging within an Australian rainforest tree.

Ecological entomology 16: 265 – 278.

Costa CCA, Camacho RGV, Macedo ID, Silva PCM 2010 Análise comparativa da produção de

serapilheira: em fragmentos arbóreos e arbustivos em área de caatinga na Flona de Açu -

RN. Revista Árvore 34: 259-265.

Figueiró AS 2005 Mudanças ambientais na interface floresta-cidade e propagação de efeitos de

borda no Maciço da Tijuca – Rio de Janeiro, RJ. Tese (Doutorado em Geografia) –

Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro.

Garay I, Kindel A 2001 Diversidade funcional em fragmentos de Floresta Atlântica. Valor

indicador das formas de húmus florestais. Pages 350-368 in I Garay, B Dias,

eds. Conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais: avanços conceituais e

revisão de novas metodologias de avaliação e monitoramento. Vol. 1 Vozes, Petrópolis.

35

Hofer H, Hanagarth W, Garcia M, Martius C, Franklin E, Rombke J, Beck L 2001 Structure and

function of soil fauna communities in Amazonian anthropogenic and natural ecosystems.

European Journal of Soil Biology 37: 229 – 235.

Jacot AP 1940 The fauna of soil. The Quaternaly Review of Biology 15 (1): 28 – 58.

Loranger G, Ponge JF, Imbert D, Lavelle P 2002 Leaf decomposition in two semi-evergreen

tropical forests: influence of litter quality. Biology and Fertility of Soils 35 (4): 247–252.

Moraes RM, Delitti WBC, Struffaldi-DE Vuono Y 1999 Litterfall and litter nutrient content in two

Brazilian Tropical Forests. Revista Brasileira de Botânica 22(1):09-16.

Sundarapadian SM, Swamy PS 1999 Litter production and leaf-litter decomposition os selected tree

species in tropical forests at Kodayar in the Western Ghats, India. Forest Ecology and

Management 123: 231 – 244.

36

ESCONDENDO A UTRICULARIA FOLIOSA: SERÁ QUE ENGANAMOS O

ZOOPLÂNCTON?

Ariane Ghelfi, Bianca Possamai, Daniel Santos, Juliana Wojciechowski e Vivian Cionek

Resumo: As plantas aquáticas carnívoras do gênero Utricularia podem consumir diferentes

organismos aquáticos, como o zooplâncton. A fim de testar o efeito da camuflagem da macrófita

Utricularia folisosa na predação do zooplâncton, foi desenvolvido um experimento com

tratamentos em que a planta foi exposta e camuflada. Não foram verificadas diferenças

significativas nas densidades de zooplâncton entre tratamentos, o que reflete a biologia dos

organismos, que não são visuais, e erros experimentais. Conclui-se, portanto, que a camuflagem de

Utricularia foliosa não influencia a predação de zooplâncton.

Palavras-chave: planta carnívora, predação, camuflagem.

Introdução

Utricularia foliosa é uma planta carnívora que pode obter recursos além da fotossíntese a

partir da predação, devido à presença de utrículos capazes de digerir diferentes organismos

aquáticos. Essa estratégia auxilia a planta a superar desvantagens ecológicas associadas a falta de

nutrientes (Guisande et al., 2004). Uma grande diversidade de itens alimentares pode ser encontrada

em utrículos dessa espécie, que podem variar desde algas perifíticas aderidas aos seus próprios talos

(Eskinazi-Sant’Anna et al., 2002), espécies zooplanctônicas (Guisande et al., 2000), até alevinos e

larvas de insetos (Pompêo e Bertuga, 1996). Na natureza, essa planta carnívora ocorre emaranhada

entre outras macrófitas. As espécies zooplanctônicas tendem a explorar a estruturação ambiental

oferecida por macrófitas em busca de abrigo e recursos, como algas fitoplanctônicas e perifíticas,

culminando em maiores taxas de encontro do zoo com a planta carnívora (Pompêo e Bertuga,

1996).

O objetivo do trabalho foi investigar a taxa de predação de zooplâncton por Utricularia

foliosa em condições em que a planta se encontra camuflada por outra espécie de macrófita ou

exposta no ambiente, a fim de testar a hipótese de que a camuflagem aumenta a taxa de predação.

Espera-se que o zooplâncton visite mais a macrófita camuflada por fornecer maior área de abrigo,

culminando em redução na densidade de zooplâncton devido à predação.

Material e Métodos

Em campo foram coletados vários ramos de Utricularia foliosa e mantidos em um aquário

aerado e iluminado por 5 dias. O zooplâncton foi amostrado na manhã do experimento com rede de

plâncton (68 µm), nas proximidades de bancos de macrófitas. Ambos foram amostrados em uma

37

lagoa da planície de inundação do Alto Rio Paraná. Em laboratório a amostra contendo o

zooplâncton foi diluída em 1,4 litros da mesma água que foi usada para encher os aquários, a fim de

contabilizar a possível presença de espécies zooplanctônicas nessa água. Uma alíquota de 2 ml foi

retirada para a contagem do número de espécies zooplanctônicas.

Para o design experimental foram definidos 3 tratamentos: controle, sem camuflagem e com

camuflagem; designados aleatoriamente a aquários de 20 litros, preenchidos com água do rio

Paraná. Em todos os aquários foram depositados 200 ml da amostra de zooplâncton, com

estimativa de densidade de 5 indivíduos por ml. O controle foi estabelecido para contabilizar a

possível perda de indivíduos por morte natural e corrigir essa perda nos demais tratamentos. Nos

demais tratamentos foram acrescentados 50 g de ramos de U. foliosa com pelo menos 90% dos

utrículos vazios. Para o tratamento “com camuflagem” foram confeccionados bancos de macrófitas

artificiais constituídos de 20 fitas de plástico cinza de 33 cm de comprimento, amarradas a uma

base cerâmica. A camuflagem foi gerada com material artificial para não introduzir recurso

perifítico, que inevitavelmente estaria associado a qualquer outra macrófita natural. Com o intuito

de estimular a migração horizontal do zooplâncton em direção às macrófitas, foram introduzidos

dois cubos de gelo com sinal químico de peixes depois de 4h e 16h. O período de incubação foi de

20h, depois do qual toda a água do aquário foi filtrada em rede de plâncton (68 µm). As amostras

obtidas foram fixadas em formol e os indivíduos de 3 lâminas (cada uma com 2,5 ml de amostra)

foram contados para a obtenção da densidade de indivíduos após o experimento. Adicionalmente,

foram abertos 5 utrículos cheios de cada tratamento para a visualização do conteúdo interno. A fim

de comparar a densidade inicial e final dos grupos de zooplâncton foi utilizado um teste-t pareado,

bem como para comparação entre tratamentos (com camuflagem e sem camuflagem) foi realizada

um teste-t.

Resultados

Houve uma diminuição significativa na densidade total do zooplâncton ao final do

experimento (t17 = 5,11; P < 0,001), porém a magnitude da perda não pode ser atribuída somente a

predação, considerando que o tratamento controle (sem macrófitas) apresentou uma redução de 50

ind/L (inicial) para 4 ind/L (final). As densidades inicial e final de todos os grupos em ambos os

tratamentos foram significativamente diferentes (Tab. 1).

Tabela 1. Variação das densidades iniciais e finais dos grupos de zooplâncton nos dois tratamentos.

Tratamento Rotíferos Copépodos Cladóceros

Com camuflagem t5 = 14,74; P < 0,01 t5 = 11,89; P < 0,01 t4 = 71,96; P < 0,01

Sem camuflagem t5 = 20,85; P < 0,01 t5 = 10,37; P < 0,01 t4 = 17,26; P < 0,01

38

Não houve diferença significativa entre as densidades finais de zooplâncton nos tratamentos

com e sem camuflagem (t4 = 1,4 = 0,155; P = 0,714). A densidade final dos grupos também não

diferiu entre esses tratamentos: Copépodos: t4 = -0,46; P = 0,66; Cladóceros: t4 = -1,05, P = 0,83; e

Rotíferos: t4 = 0,44; P = 0,67) (Fig. 1).

Figura 1. Comparação das densidades finais de cada grupo zooplanctônico entre tratamentos.

Discussão

O declínio da biomassa zooplanctônica tem sido atribuído à predação por espécies de

Utricularia (Harms, 2002), no entanto, a camuflagem utilizada no presente estudo não afetou a

movimentação do zooplâncton, culminando em densidades muito similares dos grupos. Na

realidade, a camuflagem teve pouca influência no comportamento do zooplâncton, uma vez que

esses organismos são estimulados quimicamente e não identificam alvos através da visão. Cabe

destacar que na natureza a carnívora não ocorre sozinha, por isso simulamos a macrófita camuflada.

A procura pela área com a macrófita poderia estar mais relacionada com a busca do perifíton

associado aos talos da Utricularia, como demonstram alguns estudos da interação Utricularia x

zooplâncton (Sanabria-Aranda et al., 2006; Gross et al., 2007), se houvesse maior tempo para que

esse processo pudesse ser visualizado. Espécies do gênero Utricularia podem obter recursos através

da fotossíntese e dos utrículos, e o investimento em utrículos aumenta em ambientes com menor

qualidade nutricional (Guisande et al., 2004). As plantas do experimento foram mantidas em

aquário com água do rio Paraná e iluminação, o que pode ter contribuído para a obtenção de

recursos através da fotossíntese, culminando em menores taxas de predação de zooplâncton.

O decréscimo acentuado das densidades do zooplâncton nos tratamentos pode ser atribuída,

primeiramente, à um erro na estimativa inicial da densidade de zoo, que pode ter sido enviesada

devido ao uso de uma pipeta de plástico para a contagem da amostra, uma vez que ela é altamente

39

seletiva para animais maiores, culminando na estimativa de densidade inicial muito maior do que a

real. Cabe destacar que apesar de não contribuir com o decréscimo da densidade, houve predação,

uma vez que foram registrados dois organismos zooplanctônicos no interior de utrículos. Conclui-

se, portanto, que a camuflagem de Utricularia foliosa não influencia a predação de zooplâncton e

que esta interação deve ser muito mais influenciada pela busca de recursos (perifíton) pelo zoo,

culminando em maiores possibilidades de encontro dos organismos com os utrículos.

Referências Bibliográficas

Díaz-Olarte J, Valoyes-Valois V, Guisande C, Torres NN, González-Bermudez A, Sanabri-Aranda

L, Majarrés-Hernádez AM, Duque SR, Marciales LJ, Nuñez-Avellaneda M 2007

Periphyton and phytoplaknton associated with the tropical carnivorous plant Utricularia

foliosa. Aquatic Botany 87: 285-291.

Eskinazi-Sant’anna EM, Maia-Barbosa PM, Braz SM, Faria VR, Barbosa FAR 2002 Conteúdo

alimentar em macrófitas aquáticas carnívoras: Utricularia foliosa L. e U. hydrocarpa Vahl.

(Tubiflorae, Lentibulariaceae) Acta Scientiarum 24(2): 297-301.

Gross EM, Nee Körner H, Lombardo S, Mulderij G 2007 Searching for allelopathhic effects of

submerged macrophytes on phytoplankton – state of the art and open questions.

Hydrobiologia 584: 77-88.

Guisande C, Andrade C, Granado-Larencio C, Duque Sr, Núñez-Avellaneda M 2000 Effects of

zooplâncton and conductivity on tropical Utricularia foliosa investment in carnivory.

Aquatic Ecology 34: 137-142.

Guisande C, Aranguren N, Andrade-Sossa C, Prat N, Granado-Lorencio C, Barrios Ml, Bolivar A,

Núnez-Avellaneda M, Duque Sr 2004 Relative balance of the cost benefit associated with

carnivory in the tropical Utricularia foliosa. Aquatic Botany 80: 271-282.

Harms S, Johansson F 2000 The influence of prey behaviour on prey selection of the carnivorous

plant Utricularia vulgaris. Hydrobiologia, 427, 113–120.

Kosiba P 1992 Studies on the ecology of Utricularia vulgaris L. II. Physical, chemical and biotic

factors and the growth of Utricularia vulgaris L. in cultures in vitro. Ekologia Polska, 40,

193–212.

40

Pompêo MLM, Bertuga M 1996 Captura de organismos planctônicos pelas plantas carnívoras do

gênero Utricularia (Angiospermae, Dicotyledoneae). Revista Brasileira de Biologia

35(14): 697-703.

Sanabria-Aranda L, González-Bermúdez A, Torres N, Guisande C, Manjarrés-Hernández A,

Valoyes-Valois V, Díaz-Olarte V, Andrade-Sossa C, Duque SR 2006 Predation by the

tropical plant Utricularia foliosa. Freshwater Biology 51: 1999-2008.

41

PARTIÇÃO DE DIVERSIDADE EM MACROINVERTEBRADOS DE SERAPILHEIRA EM ILHA E

CONTINENTE

Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Luciana Zago, Renata Gabriela Noguchi e Simone

Satsuki Takeuchi

Projeto livre

Resumo

Considerando-se que a fauna habitante da serapilheira pode possuir baixas capacidades de

dispersão, visamos testar a hipótese de que menores escalas são mais importantes na determinação

da diversidade de macroinvertebrados edáficos. Os resultados apontaram que maiores escalas são

mais importantes na determinação da diversidade da fauna edáfica, o que pode ser resultante da

existência de uma grande barreira geográfica, de um evento recente de inundação e da amostragem

insuficiente para a representação de toda a comunidade no presente trabalho.

Palavras-chave: Diversidade α, Diversidade β, Ilha Mutum, Rio Paraná.

Introdução

A diversidade de espécies é uma relação entre o número de espécies (riqueza de espécies) e

a distribuição do número de indivíduos entre as espécies (equitabilidade) (Walker 1989). Para

Magurran (2004), diversidade alfa (α) ou diversidade local baseia-se no número total de espécies

em uma localidade, a diversidade gama (γ) ou diversidade regional, na soma do número de espécies

observados nas diferentes localidades, e a diversidade beta (β) é a de mudança de espécies ao longo

dessas localidades.

O sistema solo-serapilheira, composto por um mosaico de condições microclimáticas, é o

habitat natural para uma grande variedade de organismos responsáveis por inúmeras funções (Moço

et al. 2005). A quantidade de serapilheira depositada no solo depende de fatores bióticos, como as

espécies vegetais envolvidas e a estrutura do dossel, e de fatores abióticos, como temperatura e

inundações (Kataguiri 2006). A fauna que habita esses sistemas é composta por organismos

pequenos, de 4 µm até 20 mm, que podem ter uma capacidade de dispersão muito limitada (Moço et

al. 2005). Sob esse contexto, o presente trabalho objetiva testar a hipótese de que menores escalas

são mais importantes na determinação da diversidade de macroinvertebrados em decorrência do

42

baixo potencial de deslocamento dos indivíduos, de modo que eles predominantemente se

apresentariam agregados localmente.

Material e métodos

Os dados foram coletados no mês de junho de 2013, na ilha Mutum e na margem direita do

rio Paraná (continente), nos quais foram amostrados invertebrados da serapilheira. Em cada

localidade foram determinados dois pontos de amostragem nas quais foram dispostas quatro

parcelas de 0,25 x 0,25 m² distantes uma da outra por 10 m de modo a formar um quadrado com as

parcelas em seus vértices. A serapilheira de cada parcela foi recolhida rapidamente e armazenada

em sacos plásticos. Em laboratório, os invertebrados presentes na serapilheira foram triados por

busca ativa e classificados por morfotipos com auxílio de lupas.

Para se testar a hipótese de que a diversidade beta varia principalmente em escala pequenas

foi realizada a partição da diversidade gama em diferentes componentes através da função adipart

para o software R. A contribuição da diversidade em diferentes escalas encontradas na partição

(diversidade média de cada quadrado; variação da diversidade entre parcelas; e variação da

diversidade entre localidades) foram comparados com aqueles esperados em um modelo nulo no

qual o pool de espécies de uma escala é aleatorizado entre suas unidades amostrais. Adicionalmente

foi realizada uma Análise de Coordenadas Principais para visualizar padrões na composição de

espécies.

Resultados

Foi registrado um total de 398 organismos invertebrados associados à serapilheira,

diferenciados em 91 morfotipos pertencentes a diferentes grupos (Platyhelminthes, Oligochaeta,

Insecta, Mollusca). Desses morfotipos 27 foram exclusivos de ilha e 57 exclusivos de continente.

Os demais sete morfotipos ocorreram em ambas às localidades.

A diversidade alfa e beta 1 foram significativamente menores do que esperado pelo modelo

nulo, enquanto que a beta 2 foi não significativamente diferente (Tabela 1 e Figura 1).

43

Tabela 1. Diversidade observada e esperada pelo modelo nulo para os invertebrados de

serapilheira amostrados na ilha Mutum e continente. Alfa = diversidade média dos quadrados; Beta

1 = variação entre parcelas de uma localidade; Beta 2 = variação entre localidades.

Diversidade Observado (%) Esperado (%) P

Alfa 18 20 <0,001

Beta 1 39 41 <0,001

Beta 2 43 39 >0,05

Figura 1. Contribuição relativa da diversidade alfa, beta 1 e beta 2 observada e esperada pelo

modelo nulo para os invertebrados de serrapilheira ocorrentes na ilha Mutum e continente. Alfa =

diversidade média dos quadrados; Beta 1 = variação entre parcelas de uma localidade; Beta 2 =

variação entre localidades.

Discussão

Os resultados encontrados apontaram que menores escalas revelam menores variações nas

diversidades de macroinvertebrados de serapilheira. Se os valores absolutos de cada componente forem

considerados, é evidente que escalas maiores contribuem com a maior parte da variação da diversidade.

Dentre os motivos para tanto, pode estar a posição da ilha em relação ao continente, que está distante

por aproximadamente 700 metros. Tal distância pode ser uma grande barreira para a dispersão dos

pequenos indivíduos analisados. Além disso, a Ilha Mutum esteve sujeita a recente evento de

inundação em decorrência da cheia do Rio Paraná, podendo estar em processo de restabelecimento

da composição de organismos após a enchente.

44

Boieiro et al. (2013) observou que a baixa diversidade em ilhas pode ser explicada pela sua

idade geológica, as distância da fonte mais próxima de colonização, a estrutura da floresta e o nível

de distúrbio do habitat. Assim, os aspectos estruturais da floresta da ilha, como áreas alagadas,

somado à presença de efeitos antropogênicos (residência no local e inserção de espécies vegetais

exóticas), podem ter refletido na diferença da diversidade dos invertebrados em relação a

diversidade do continente.

As pequenas distâncias entre as parcelas também podem ter influenciado os resultados, já

que abordam distâncias insuficientes para contemplar uma maior heterogeneidade local. Além

disso, os esforços amostrais podem ter sido insuficiente para a representação de ambos os locais,

Ilha e Continente, o que pode ter intensificado as diferenças encontradas entre as mesmas.

Referências bibliográficas

Boieiro M, Carvalho JC, Cardoso P, Aguiar CAS, Rego C 2013 Spatial factors play a major role as

determinants of endemic ground beetle beta diversity of madeira island laurisilva. PLoS

ONE 8(5): e64591. doi:10.1371/journal.pone.0064591.

Kataguiri VS 2006 Restabelecimento da fauna edáfica e a qualidade da serapilheira na Floresta da

USP – área de reflorestamento de Floresta Estacional Semidecidual. Dissertação de

Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade de São Paulo,

Ribeirão Preto.

Magurran AF 2004. Measuring Biological diversity. Blackwell, Oxford.

Moço MKS, Gama-Rodrigues EF, Gama-Rodrigues AC, Correia ME 2005 Caracterização da Fauna

Edáfica em Diferentes Coberturas Vegetais na Região Norte Fluminense. Revista Brasileira

de Ciências do Solo 29: 555-564.

Walker D 1989 Diversity and stability. Pages 115-146 in Cherrett JM (ed.). Ecological concepts.

Oxford, Blackwell Scientific Public.

45

EFEITO DA ALTERAÇÃO DA TURBIDEZ DA ÁGUA NAS COMUNIDADES DE FITOPLÂNCTON E

ZOOPLÂNCTON

Érika Maria Neif, Francisco von Hartenthal, Guilherme Landgraf, Rafael A. Baggio, Sabrina

Calado

Resumo

A turbidez pode variar espacialmente e temporalmente nos ecossistemas aquáticos e afetar direta ou

indiretamente as comunidades de fitoplâncton e zooplâncton. Dessa forma, hipotetizamos que

existem diferenças entre a riqueza de espécies de fitoplâncton e zooplâncton no gradiente de

turbidez do rio Paraná, da margem esquerda (afetada pelo Rio Paranapanema) para a margem

direita. Os resultados obtidos não foram significativos, entretanto, mostraram uma tendência de

aumento da riqueza em níveis intermediários de turbidez.

Palavras-chave: comunidades bióticas, turbidez, riqueza de espécies, planície de inundação, Alto

Rio Paraná.

Introdução

A matéria orgânica suspensa é responsável por quase a totalidade da dispersão da luz e

presença de compostos húmicos na coluna d´água (Kirk 1985), sendo, juntamente com a matéria

inorgânica, uma das principais responsáveis pela determinação da turbidez em corpos hídricos

(Esteves 1998). A turbidez pode variar espacialmente e temporalmente em lagos e rios (Scheffer et

al. 1994, Abrams & Kattenfeld 1997) e afetar direta ou indiretamente praticamente todos os grupos

de organismos na coluna d´água (Salonen et al. 2009, Esteves 1998, Abrams & Kattenfeld 1997).

Outros fatores podem alterar a turbidez da água, como afluentes fluviais, que ainda podem

alterar as características nas áreas da foz. No caso do Rio Paraná, existe uma diferença pronunciada

entre as margens esquerda e o resto do rio devido ao grande aporte de águas do Rio Paranapanema,

o que causa uma variação na turbidez de uma margem para a outra.

A turbidez originada por substâncias inorgânicas é facilmente induzidas por distúrbios no

sedimento de fundo, devido à atividade biótica ou resuspensão induzida pelo vento (Horppila &

Nurminen 2003). A turbidez pode atuar como fator limitante nas interações predador-presa em

muitos ecossistemas aquáticos continentais (Abrams & Kattenfeld 1997), pois a habilidade de

presas e predadores em detectar uns aos outros é frequentemente alterada pelas alterações na

turbidez da água (Abrams & Kattenfeld 1997). Nurminem et al 2010 demonstraram que a predação

de Daphnia sp. por Perca fluviatilis e Rutilus rutilus diminui com o aumento da turbidez, podendo

46

levar a um aumento na abundância na comunidade zooplanctônica. Estes padrões se repetem para a

interação predador-presa entre organismos zooplanctônicos e fitoplanctônicos (Salonen et al. 2009).

Dessa forma, hipotetizamos que existem diferenças entre riqueza de fitoplâncton e

zooplâncton ao longo da variação de turbidez do Rio Paraná da margem esquerda (afetada pelo Rio

Paranapanema) para a margem direita (afetada por pela UHE de Porto Primavera), e que a

composição da comunidade de fitoplâncton afeta a composição da comunidade de zooplâncton.

Material e métodos

O estudo foi realizado no Rio Paraná, em frente à Base do Nupélia. Foram selecionados 6

pontos amostrais seguindo o gradiente de transparência da água, da margem esquerda para a direita

do rio. A turbidez foi avaliada a partir da transparência, sendo essa medida com auxilio de disco de

Secchi. Em cada ponto foram coletadas amostras de fitoplâncton e zooplâncton, cada qual em

triplicatas, através de redes de arrasto com malhas de 20 µm e 68 µm, respectivamente, em

lançamentos verticais. As amostras de fitoplâncton foram fixadas com solução de Transeau e

identificadas de forma qualitativa com auxílio de microscópio óptico e literatura especializada

(Bicudo & Menezes, 2006). O zooplâncton foi fixado com solução de formol a 4% e identificado

até o nível de Classe. As métricas utilizadas para testar a hipótese foram riqueza de espécies de

fitoplâncton e de zooplâncton e os gradientes de turbidez.

Para testar a hipótese de que áreas com maior turbidez apresentam maior riqueza de

fitoplâncton, foi utilizado o teste não paramétrico Kruskal-Wallis para as comunidades. Para

visualizar se a composição das espécies dessas comunidades entre as áreas de pequena e grande

turbidez, foi utilizada uma rede bipartida construída no software R (pacote Bipartite). Para testar a

influência da composição da comunidade fitoplanctônica na composição de zooplanctônica, foi

realizado um teste de Mantel (método de distância: Jaccard, 10000 permutações), implementado no

software R (pacote labdsv).

Resultados

A riqueza das comunidades diferiu entre os pontos, apresentando a maior no ponto 3

(Tab.1). O teste Kruskal-Wallis suporta a hipótese de diferenciação para o fitoplâncton (H = 3,9; P

< 0,05). Para o zooplâncton o teste Kruskal-Wallis não foi significante (H=3,13, P > 0,05).

Tab.1. Turbidez da água e abundância das comunidades de fitoplâncton e zooplâncton amostradasno Rio Paraná, por ponto e agrupando pontos com turbidez semelhantes.

Local Turbidez (cm) Fitoplâncton ZooplânctonP1 25 10 10P2 25 10 7P3 45 20 12P4 125 5 4P5 165 6 7

47

P6 165 7 5

Total Alta 26 16Total Baixa 11 10

As diferenças entre as comunidades de fitoplâncton e zooplâncton podem ser vizualizado narede bipartida (Fig. 1). Contudo, a composição da comunidade de fitoplâncton não demonstrou estarrelacionada à composição da comunidade de zooplâncton (r = -0,10; P > 0,05).

Discussão

Os resultados das análises estatísticas não foram significativos para a riqueza e composição

do zooplâncton, mas para o fitoplâncton sim. Desta forma, os resultados, mostraram uma tendência

de que a riqueza do fitoplâncton aumenta com o aumento da turbidez. Contudo, os dados brutos

sugerem que existe uma maior riqueza em níveis intermediários de transparência da água,

possivelmente devido a essas comunidades serem favorecidas com o aumento de matéria orgânica e

inorgânica, porém, quando em excesso, pode ocorrer a predominância de algumas espécies, o que

contribui para a diminuição da riqueza de espécies. A riqueza de zooplâncton deve possuir a mesma

relação de aumentar a riqueza com o aumento da turbidez, corroborando trabalho de Hulot et al.

(2000). Vale a pena ressaltar que nos locais de alta turbidez foram encontradas colônias de uma alga

potencialmente tóxica (Microcystis cf. aeruginosa). As margens do rio Paranapanema apresentam

grande atividade agrícola, o que pode ter contribuído para a presença desta espécie, a qual necessita

de uma alta concentração de nutrientes.

48

Figura 1. Composição das comunidas de zooplâncton e fitoplâncton em ambientes de alta e baixa turbidez no RioParaná.

Agradecimentos: Agradecemos ao ajudante de campo Goiaba, e aos professores André Padial e

Roger Mormul pela contribuição na elaboração deste trabalho.

Referências Bibliográficas

Bicudo CEM, Menezes M 2006. Gêneros de Algas de Águas Continentais do Brasil: Chave para

identificação e descrições. São Carlos: RiMa, 2ed.

Esteves FA 1998. Fundamentos de Limnologia. Editora Interciência, Rio de Janeiro.

Horppila J & Nurminen L. 2003. Effects of submerged macrophytes on sediment resuspensios and

internal phosphorous loading in Lake Hiidenvesi (Southern Finland). Water research 37:4468-

4474.

Hulot FD, Lacroix G, Lescher-Moutoué F, Loreau M. 2000 Functional diversity governs ecosystem

response to nutrient enrichment. Nature 405: 340-344.

49

Kirk JTO 1985. Effects of suspensoids (turbidiy) on penetration of solar radiation in aquatic

ecosystems. Developments in Hydrobiology, 28:195-208.

Nurminen L, Pekcan-Hekim Z, Horppila J 2010. Feeding efficiency of planktivorous perch Perca

fluviatilis and roach Rutilus rutilus in varying turbidity: an individual-based approach.

Salonen, M & Engström-Öst J 2009. Effects of turbidity and zooplankton availability on the

condition and prey selection of pike larvae. Boreal environment research 14:981-989.

Scheffer M, Van den Berg, M, Breukellaar, Breukers, C, Coops H, Doef, R, Meijer, ML. Vegetated

areas with clear water in turbid shallow lakes. Aquatic botany. 49:193-196.

50

PREDAÇÃO SOBRE MODELOS APOSEMÁTICOS E CRÍPTICOS EM FRAGMENTOS ABERTOS E FECHADOS

Emanuel Razzolini, Fernando G. de Oliveira, Flávio M. Marteleto, Monica Vasques M. Pereira,

Natália C. L. dos Santos, Sandra M. N. de Andrade

Projeto Livre

Resumo

Diferentes grupos de animais respondem a diferentes estímulos visuais. Mamíferos em geral

não conseguem enxergar a faixa do vermelho, já aves apresentam uma complexidade visual maior,

possibilitando que os indivíduos enxerguem uma faixa ampla do espectro de luz. Para avaliar o

efeito do contraste de diferentes faixas do espectro de luz visível na predação, foram comparados a

predação em lagartas artificiais de diferentes cores. Tal avaliação também foi comparada em

diferentes ambientes com intuito de determinar a predação em locais onde há baixa e alta incidência

de luz.

Palavras-chave: Espectro da luz, contraste, aposematismo.

Introdução

Padrões crípticos e aposemáticos são mecanismos de defesa encontrados na natureza que se

baseiam em confundir ou alertar predadores. Padrões de coloração crípticos minimizam a

probabilidade de detecção dos organismos no ambiente, enquanto espécies aposemáticas

apresentam cores conspícuas como sinal de advertência a seus predadores, anunciando seu potencial

tóxico e impalatabilidade (Endler 1978).

O padrão de cor dos animais pode mudar de críptico para conspícuo, ou vice-versa, de

acordo com a iluminação do ambiente. Em ambientais florestados, a complexidade estrutural do

dossel determina tanto a quantidade de luz quanto o espectro que atinge estratos inferiores em uma

floresta. A luminosidade destes locais é determinada pela geometria dos raios de luz incidentes,

pelas condições ambientais e pelo período do dia, afetando a capacidade de visão dos animais e

influenciando diretamente nas interações de predação de predadores visuais (Endler 1993).

Além disso, diferentes predadores, como aves e mamíferos, têm percepção distinta das

colorações das presas e acabam tendo limitação da altura em que podem predar organismos que

vivem no tronco doas árvores. A maioria dos mamíferos é dicromata, pois possuem somente dois

tipos de cones, não enxergando a faixa do vermelho. Outros vertebrados, como as aves, possuem

51

maior quantidade de cones, apresentando maior complexidade visual. Assim, a coloração críptica e

aposemática das presas é relativa ao tipo de predador.

O objetivo do presente estudo foi avaliar se há diferença na taxa de predação em lagartas

artificiais de diferentes colorações em dois níveis de cobertura vegetal, tendo como hipóteses: i) o

contraste entre as cores das lagartas artificiais com o fundo é diferente entre ambientes com dossel

fechado e aberto; ii) a predação entre lagartas com cores distintas é diferente entre ambientes com

dossel fechado e aberto.

Material e métodos

As coletas de dados foram realizadas na mata do Caracu, ao lado da base avançada do

Nupélia. Foram utilizadas lagartas artificiais como modelo de presa (mimetizando lagartas de

lepidópteros), feitas com massa de modelar atóxica. Essas lagartas foram fixadas em troncos de

árvores em duas alturas distintas do solo (20 cm e 130 cm), em dois tipos de áreas: áreas

sombreadas, onde existiria maior incidência de luz difusa, e áreas abertas, com maior incidência de

luz direta. Os valores de contraste para cada cor de larva foram calculados a partir de fotos obtidas

sem flash de luz.

As imagens foram desfocadas no Photoshop® para misturar os pixels e foram traçados três

transectos: um sobre a larva e dois adjacentes a ela (à direita e à esquerda). Em cada transecto

traçado, foram analisados 10 pontos. A medida da proporção RGB (vermelho, verde e amarelo) em

cada pixel de cada transecto foi calculada e a eles foi atribuída uma média de cada ponto para a

obtenção de um índice de contraste de cada larva com o respectivo fundo.

Resultados

Em ambientes fechados (69% de cobertura do dossel), a cor branca foi a que apresentou o

maior contraste em relação ao fundo, enquanto a amarela apresentou o menor. Já em regiões abertas

(3% de área coberta), o maior contraste foi encontrado com a cor amarela, e o menor com a cor

preta. Os contrastes das cores (Fig. 1) em ambientes fechados apresentaram maiores valores do que

em ambientes abertos (Fig. 2), apresentando uma correlação negativa entre os contrastes de regiões

abertas e fechadas (R2 = -0.8088, G.L = 4, P = 0,05).

52

Figura 1: Contraste entre os pontos RGB de uma larva e a média dos pontos do fundo.

Figura 2: Contraste das larvas utilizadas em ambientes a) fechados e b) abertos. Os valores encontrados são a razão

entre a coloração do substrato e a coloração da larva.

Lagartas artificiais de cor verde foram as mais predadas em dosséis abertos, em ambas as

distâncias do solo, enquanto em áreas fechadas, vermelhas foram as mais predadas. Lagartas

amarelas e pretas não foram predadas em nenhuma das situações (Fig. 3).

Figura 3: Predação de lagartas artificiais com diferentes colorações em estratos baixos e altos, em áreas apresentando

dosséis abertos e fechados. a) Lagartas em altura de 20 cm, b) Lagartas em altura de 130 cm.

Discussão

O padrão de luz pode mudar ao longo do tempo e do espaço. De fato, mostramos que

locais com uma grande área de cobertura predominaram contrastes diferentes dos locais nos quais a

área de cobertura e menor. Devido à variação da incidência de luz no ambiente o padrão de cor dos

animais pode mudar de críptico para conspícuo, influenciando diretamente nas taxas de predação

por diferentes organismos.

Dossel aberto Dossel fechado0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Pre

daçã

o no

ext

rato

bai

xo

Amarelo Azul Branco Preto Verde Vermelho

Dossel aberto Dossel fechado0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Pre

daçã

o no

ext

rato

alto

Amarelo Azul Branco Preto Verde Vermelho

a) b)

a) b)

53

De acordo com resultados obtidos a cor mais contrastante em ambientes fechados foi

diferente das cores mais contrastantes em ambientes abertos, contrariando resultados anteriores

(veja PO3G1), que mostraram que a cor mais contrastante para ambientes fechados foram a branca

e a azul. No entanto, os resultados obtidos indicam que na área do estudo do presente trabalho, a cor

menos contrastante para ambientes fechados foi o azul. Vale ressaltar que a abertura de dossel da

área utilizada no estudo PO3G1 foi de 11%, enquanto que a utilizada realizada neste trabalho

apresentava uma área aberta de 31%. Diversos fatores relevantes no estudo devem ser levantados,

durante o período do experimento houve uma intensa precipitação no local amostrado, fazendo com

que o tempo de exposição fosse reduzido para apenas um período do dia.

Apesar dos dados utilizados terem respondido parcialmente nossas hipóteses, a utilização

de equipamentos como espectrofotômetro para medir a faixa de luz refletida poderia permitir uma

comparação mais acurada sobre a diferença de ambientes abertos e fechados. Espectros ultravioleta

e infravermelho poderiam ser incluídos, auxiliando a explicação de eventuais diferenças na

predação de presas com estratégias de defesa crípticas e aposemáticas.

Referências

Endler JA 1978 A predador´s view of animal color patterns. Evolutionary Biology 11:319:364.

Endler JA 1993 The Color of light in forests and its implications. Ecological monographs 63(1):1-

27.

54

DISPERSÃO DE FORMIGAS MEDIADA PELOS RECURSOS ALIMENTARES: THE ANTMATE FIGHTING

Diego Corrêa Alves, Hugo José Message, Lilian Paula Vasconcelos, Priscila Guedes Gambale,

Taise Miranda Lopes

Projeto Livre

Resumo

A competição interespecífica é um fator estruturante das comunidades e também pode influenciar

nos padrões de dispersão destes organismos. Essa teoria pode ser aplicada na dinâmica de dispersão

das colônias de formigas. Neste estudo, a média de abundância de formigas em locais com recurso

foi maior do que em locais sem recurso, corroborando com as hipóteses de que a dispersão das

formigas é determinada por busca de recursos alimentares.

Palavras-chave: Deslocamento, forrageamento, formigas.

Introdução

A competição interespecífica é um fator estruturante das comunidades e também pode

influenciar nos padrões de dispersão destes organismos. O grupo dos Hymenopteras apresentam

acentuados comportamentos dispersivos(Price, 1997), o que influencia a interação entre indivíduos

de populações diferentes, as quais sobrevivem e respondem de forma diferenciada às condições

ambientais e recursos, além de persistirem dentro de um contexto de interações bióticas (Fukami,

2004; Macedo-Soares et al., 2010).

As colônias de formigas são capazes de se auto-organizar com base em regras de

comportamento simples e uso de informações locais e comunicação indireta (Bonabeau et al.,

1997). Nestes sistemas existe uma divisão em castas, formados por rainhas e operários. As rainhas

são férteis e responsáveis pela geração de novos indivíduos, já os operários são inférteis e realizam

uma série de atividades dentro da colônia. Em geral, os operários dedicam-se aos cuidados de

ninhada, manutenção ninho, forrageamento e defesa da colônia. No entanto, os indivíduos não são

comprometidos a uma única tarefa para a vida inteira e trocam de tarefa à medida que amadurecem

(Holldobler et al., 1990).

O comportamento de forrageamento foi apontado por Wheller (1928) como a resposta da

fome da colônia. Esse comportamento faz com que a formiga deixe o ninho à procura de um

55

recurso, recolha o alimento e retorne ao ninho com parte do alimento, seja com material sólido ou

através do regurgito.

Assim, este trabalho foi desenvolvido buscando testar a hipótese de que a dispersão e

competição interespecíficas das formigas são determinadas pela busca de recursos alimentares e

área.

Materiais e Métodos

O estudo foi desenvolvido através de um experimento realizado na Base de Pesquisas

Avançadas do Nupélia/UEM (Porto Rico, Paraná). Para o experimento em laboratório dois

formigueiros distantes 40m entre si foram coletados utilizando enxadas e alocados em baldes de

20L. Foi preparado um doce de maça com açúcar para ser utilizado como fonte de recursos

alimentar.

Em laboratório foi construída uma estrutura composta por 5 áreas conectadas por 4

mangueiras de 20 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro cada (Fig. 1). A estrutura foi composta

por dois terráreos, uma área de forrageamento e duas áreas vazias (todas de 15 cm de diâmetro).

Cada terráreo continha duas conexões, uma com a área de forrageamento e outra com a área vazia,

assim, a área de forrageamento era conectada aos dois terráreos (Fig. 1). Duas colônias distintas

foram alojadas em terráreos separados (550g cada terráreo), em seguida, foi realizada uma

aclimatação monitorada dos indivíduos por 5 horas, que possibilitou evidenciar o tempo de

organização social de cada colônia. As interações entre as colônias foram observadas e registradas.

Fig. 1. Esquema da estrutura construída para o primeiro experimento demonstrando o local onde

foram colocadas as colônias 1 e 2 (terráreos 2 e 3, respectivamente), local com recurso (terráreo 3) e

locais sem recurso (potes 1 e 5).

O comportamento das formigas foi gravado continuamente com uma câmera de alta

definição (Sony HX-10) durante uma hora durante a noite. A fim de evidenciar a abundância de

indivíduos no recurso foi realizada uma contagem no intervalo de cinco em cinco minutos por um

período de 9 horas. Encontros entre as duas colônias também foram contabilizados bem como o

tempo percorrido para a formiga de cada colônia chegar ao recurso.

56

Com objetivo de testar a primeira hipótese, foi realizado um Kruskal-Wallis para variância

heterogênea, tendo como variável resposta a abundância de indivíduos nas diferentes áreas (com e

sem recurso). Além disso, uma correlação de Spearman foi realizado a fim de verificar se existe

relação positiva entre o tempo de observação do experimento e a abundância de indivíduos

frequentando o local com recurso.

Resultados

O comportamento inicial de ambas as colônias foi de reconhecimento da área do pote e

transporte dos ovos para o interior do ninho, de maneira a se reestruturarem, por um período médio

de 2h. Durante 3 horas e meia, apenas alguns indivíduos da colônia 1 se deslocaram entre os potes.

Aparentemente, os primeiros deslocamentos foram realizados para o reconhecimento da área,

depois foi observado o início da utilização do recurso. Além disso, a colônia 1 passou a reestruturar

seu ninho, recobrindo com terra toda a superfície do pote, diminuindo progressivamente a

visibilidade do interior do ninho.

Por duas ocasiões formigas da colônia 1 que visitaram o terráreo 1 ficaram presas em um

vestígio de fita adesiva, e, durante este período, foi observado o comportamento de vários outros

indivíduos tentando resgatá-las. Por todo o período de observação a colônia 1 se mostrou mais

ativa e fez alguns deslocamentos entre os terráreos 1, 2 e 3; posteriormente também invadindo o

ninho da colônia 2, passando a ocorrer alguns conflitos e um comportamento de fuga de indivíduos

da colônia 2 para o terráreo 5.

A média da abundância de formigas que se deslocaram em direção ao recurso se diferiu

daquelas que se deslocaram aleatoriamente em direção ao compartimento sem recurso (KW-

H1,122=57,35; P<0,05; N=61) (Fig. 2 esquerda). Adicionalmente, a abundância de indivíduos que se

deslocaram em direção ao recurso apresentou uma tendência de aumento em relação ao tempo de

amostragem (R=0,83; P<0,05) (Fig. 2 direita).

57

Fig. 2. Esquerda: Média da abundância de indivíduos nas áreas com e sem recurso. Direita:

Abundância de indivíduos no tempo de observação (ranking).

Discussão

Nossos resultados demonstraram que a dispersão das formigas estudadas é direcionada,

sendo esta direção mediada pela busca do recurso alimentar. Este comportamento é plausível, já que

as formigas são organismos com grande capacidade sensorial (Bonabeau et al., 1997) e podem

utilizar desta característica para otimizar a demanda energética investida neste tipo de movimento.

O delineamento utilizado neste experimento propiciou um modelo para testar hipóteses

relacionadas a padrões de dispersão de populações. Este delineamento pode ser facilmente

expandido, através do aumento de terráreos e com diferentes configurações de conexão, assim

sendo um delineamento com potencial utilidade para estudar a dinâmica entre organismos e

possivelmente até metacomunidades.

Agradecimentos

Aos docentes do Curso de Campo pelas contribuições no delineamento dos experimentos.

Referências

Bonabeau E, Theraulaz G, Deneubourg JL, Aron S, Camazine S 1997 Selforganization in social

insects. Trends Ecol. Evol., 12, 188-193.

Fukami T 2004 Community assembly along a species pool gradient: implications for multiple-scale

patterns of species diversity. Population Ecology 46: 137-147

Holldobler B, Wilson E 1990 The Ants. Harvard University Press, Cambridge, MA.

Leibold MA, Holyak M, Mouquet N, Amarasekare P, Chase JM, Hoopes MF, Holt RD, Shurin JB,

Law R, Tilman D, Loreu M, Gonzalez A 2004 The metacommunity concept: a framework for

multi-scale community ecology. 7:601-613.

Price, PW 1997 Insect ecology. New York: John Wiley & Sons, Inc.

Macedo-Soares PHM Petry AC Farjalla VF Caramaschi EP 2010 Hydrological connectivity in

coastal inland systems: lessons from a Neotropical fish metacommunity. Ecology of Freshwater

Fish 19: 7-18.

Wheeler WM 1928 The social insects. New York: Harcourt Brace.

Wilson DS 1992 Complex interactions in metacommunities, with implications for biodiversity and

higher levels of selection. Ecology 73:1984–2000.

58

59

FOCO NA ESCALA: IMPORTÂNCIA DA HIERARQUIA DE ESCALA NA PARTIÇÃO DA DIVERSIDADE

BETA EM AUTÓTROFOS AQUÁTICOS.

Ariane Ghelfi, Bianca Possamai, Daniel Santos, Juliana Wojciechowski e Vivian Cionek

Orientador: André Padial

Resumo

A diversidade regional pode ser particionada em componentes alfa e beta em diferentes escalas, as

quais tem seus graus de importâncias relativas investigados.Verificamos em qual escala a

diversidade beta é mais importante em estudos sobre assembleias de macrófitas e fitoplâncton em

lagoas da planície de inundação do Alto Rio Paraná. Para macrófitas observou-se uma maior

variação entre as espécies das diferentes lagoas, enquanto para o fitoplâncton a maior variação foi

entre amostras do mesmo local.

Palavras-chave: Variação de comunidades, turnover, fitoplâncton, macrófitas aquáticas.

Introdução

A diversidade de espécies da planície de inundação do Alto Rio Paraná é alta (Thomaz et al.,

1992) e pode ser particionada em três componentes principais de acordo com a escala de estudo

(Flach, 2012): Diversidade gama (γ), que corresponde ao número total de espécies de uma região;

Diversidade beta (β), que é a variação de espécies observada entre duas ou mais unidades espaciais

ou ainda a variação temporal de espécies em um local e; Diversidade alfa (α), que é definida como o

número de espécies encontradas em um local específico (Magurran, 2004). Em relação à

diversidade β, trabalhos prévios têm demonstrado que a composição de macrófitas e fitoplâncton

varia espacialmente, devido a aspectos limnológicos e morfométricos dentro de uma mesma lagoa,

e entre diferentes lagoas, possivelmente por dispersão e/ou heterogeneidade ambiental (Thomaz e

Bini, 2003; Margalef, 1983). Devido ao curto ciclo de vida, a composição do fitoplâncton pode

variar diariamente em decorrência da dinâmica de circulação da coluna de água (Barbosa e Padisák,

2002) e espacialmente devido à fatores como colonização e adaptação ao ambiente (Reynolds et al.,

2002).

O objetivo do presente estudo foi investigar a principal fonte de variação da diversidade

beta, a fim de testar a hipótese de que a diversidade beta varia principalmente entre lagoas, quando

comparada com as outras fontes de variação em menor escala espacial. Também é esperado que a

variação diária do fitoplâncton seja menos importante para compor a diversidade gama do que a

variação entre lagoas.

Material e Métodos

60

As amostragens foram realizadas na margem esquerda da Lagoa das Garças (22°43’27.18”S;

53°13’4.56”W) e Ressaco do Pau Véio (22°44’76”S; 53°15’11.16”W), ambas pertencente à sub-

bacia do Rio Paraná. As macrófitas foram amostradas aleatoriamente com um quadrado de 50x50

cm, em tréplicas, na região litoral e no meio do banco (6 amostras). Dois bancos foram amostrados

em cada lagoa (entrada e final), totalizando 12 amostras por lagoa. O fitoplâncton foi coletado a

sub-superfície, em tréplicas, na entrada e final de cada lagoa para a investigação da variação

espacial. Nos mesmos locais, foram tomadas amostras em dois períodos (manhã e tarde), a fim de

verificar variação temporal, totalizando 12 amostras por lagoa. Em laboratório, as amostras foram

sub-amostradas em três lâminas, observadas em microscópio e a composição de taxa foi registrada

(presença-ausência).

Com o intuito de verificar a fonte de variação que mais contribui para a diferença nos

componentes da diversidade beta para macrófitas e fitoplâncton foi realizada uma Análise de

Partição de Diversidade, implementada no programa estatístico R® (R Core Team, 2013). As escalas

definidas para investigação foram: a variação entre lagoas (β3), a posição dentro da lagoa (entrada e

final) (β2), posição no banco de macrófitas (regiões litorânea e meio) (β1 – macrófitas), os períodos

matutino e vespertino (β1 – fitoplâncton), dentro do quadrado (α1 – macrófitas) e dentro do pote (α1

– fitoplâncton). Uma NMDS foi aplicada aos dados de riqueza de espécies de macrófitas e

fitoplâncton a fim de visualizar a similaridade da composição entre as fontes de variação definidas

acima.

Resultados

Onze espécies de macrófitas foram identificadas, pertencentes a 8 gêneros e 8 famílias. Para

o fitoplâncton, 89 taxa foram identificados, pertencentes a 9 classes e 40 gêneros. A partição da

diversidade para a assembleia de macrófitas revelou que o valor observado para a diversidade α foi

significativamente menor que o esperado (propexp>obs>0.999). O valor observado do componente β1

foi similar ao esperado (propexp>obs =0.63), já os valores observados para β2 e β3 foram maiores do

que aqueles esperados ao acaso (propexp>obs<0.001) (Fig. 1b). De fato, a ordenação das macrófitas

revelou uma separação clara entre as diferentes lagoas, e também uma separação clara entre o final

e entrada do Ressaco do Pau Véio (Fig. 1a).

61

Figura 1. a. Porcentagem dos componentes alfa e beta observado e esperado da riqueza de espécies de macrófitasaquáticas em duas lagoas da planície de inundação do Alto Rio Paraná e b. Resultado do Escalonamentomultidimensional não-métrico (índice de Jaccard) diferenças nas principais escalas de variação (β2 e β3).

Para algas fitoplanctônicas, a partição da diversidade revelou que os valores observados para

a diversidade alfa (α) foram significativamente maiores que o esperado (propexp>obs<0.001). Os

valores observados dos componentes 1 e β2 variaram pouco menos que o esperado

(propexp>obs>0.999). Já os valores de diversidade observados na maior escala de variação (β3) foram

maiores do que seria esperado ao acaso (propexp>obs<0.001) (Fig. 2b). A importância da variação

local (α) é ressaltada pela ordenação do fitoplâncton, que mostra que as tréplicas nem sempre ficam

agrupadas em relação à outra fonte de variação superior (Fig. 2a). Também é possível observar uma

diferença entre lagoas (Figura 2b).

Observado Esperado30

40

50

60

70

80

90

100

% R

ique

za M

acró

fitas

β3β2β1α

> 0,999

< 0,001

< 0,001

= 0,029

A

-2 -1 0 1 2NMDS Eixo 1

-1.2-1.0-0.8-0.6-0.4-0.20.00.20.40.60.81.01.21.41.6

NM

DS

Eix

o 2

Garças_Final Garças_Entrada Pau Véio_Final Pau Véio_Entrada

B

62

Figura 2. a. Porcentagem dos componentes alfa e beta observado e esperado da riqueza de espécies de algasfitoplanctônicas em duas lagoas da planície de inundação do Alto Rio Paraná e b. Resultado do Escalonamentomultidimensional não-métrico (índice de Jaccard) diferenças nas principais escalas de variação (α). Símbolosrepresentam amostragens, sendo os de cor cinza representando o ressaco do Pau Véio e os preenchidos de preto a lagoadas Garças.

Discussão

Segundo Thomaz (2012) a estrutura das assembleias de macrófitas aquáticas da planície do

Alto Paraná está organizada em macro-escala e a composição de espécies varia de acordo com os

ambientes, o que corrobora nossos resultados. A riqueza de espécies local (α) foi baixa, indicando

que a maior parte da diversidade total é derivada dos componentes beta e que há alta agregação dos

indivíduos das espécies. De fato, macrófitas tipicamente desenvolvem bancos homogêneos. A

variação da composição de espécies entre lagoas pode estar relacionada a limitações de dispersão

das espécies e às características morfométricas e limnológicas de cada lagoa. A maior variação de

macrófitas dentro do ressaco do Pau Véio, ser explicada pelo domínio da espécie P. sagitarium no

trecho final, e a composição mais diversificada observada no trecho entrada.

A diversidade fitoplanctônica entre as amostras foi maior que o esperado, indicando que a

amostragem não representou a flora fitoplanctônica local. A diversidade β1 observada foi menor que

Observado Esperado0

20

40

60

80

100

% R

ique

za F

itopl

ânct

on

β3β2β1α

> 0,999

> 0,999

< 0,001

< 0,001

A

-1.2 -0.8 -0.4 0.0 0.4 0.8 1.2

NMDS Eixo1

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

NM

DS

Eixo

2

2

26

8

8

6 6

4 4

4

2

B

63

a esperada, portanto, a variação diária das espécies não foi tão ampla quanto o esperado ao acaso,

provavelmente devido a perda de alguns táxons por sedimentação ao longo do dia. Porém, os

determinantes da variação diária ainda precisam ser melhor avaliados. A pequena variação diária

observada também pode ser conseqüência de uma pequena variação das condições ambientais ao

longo do dia, que foi caracterizado por alta nebulosidade e pouca variação térmica, provavelmente

diminuindo efeitos de estratificação. Assim como para macrófitas a variação ente lagoas deve ser

devido à heterogeneidade ambiental. Porém, tal variação é pequena se comparada com a variação

das réplicas.

Nosso trabalho evidenciou que grupos biológicos, mesmo que com restrições ambientais

similares, variam em diferentes escalas. Macrófitas aquáticas variam em grandes escalas, pelo

menos no range de escalas estudadas. Porém, não encontramos tal padrão para o fitoplâncton, e a

variação entre réplicas provavelmente reflete a limitação do método para representar corretamente

um ponto de amostragem. De qualquer maneira estudos e mais escalas ainda são necessários para

determinar as principais escalas de variação de diferentes grupos biológicos em planícies de

inundação.

Referências Bibliográficas

Barbosa FA, Padisák J 2002 The Forgotten Lake Stratification Pattern: Atelomixis, And Its

Ecological Importance. Verhandlungen Internationale Vereinigung Für Theoretische Und

Angewandte Limnologie, n. 28, p. 1385-1395.

Cunha ER, Thomaz SM, Evangelista HBA, Carniato J, Souza CF, Fugi R 2011 Small-sized fish

assemblages do not differ between a native and a recently established non-indigenous

macrophyte in a Neotropical ecosystem. Natureza & Conservação, v. 9, n. 1, p. 61-66.

Ferreira FA, Mormul RP, Pedralli G, Potti V.J, Potti A 2010 Estrutura da comunidade de macrófitas

aquáticas em três lagoas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Hoehnea, v.

37, n. 1, p. 43-52.

Flach PZS, Ozorio CP, Melo AS 2012. Alpha and beta components of diversity of freshwater

nematodes at different spatial scales in subtropical coastal lakes. Fundam. Appl. Limnol., v.

180, n. 3, p. 249-258.

Magurran AF 2004 Measuring Biological diversity. Blackwell, Oxford.

Margalef R 1983 Limnologia. Barcelona: Omega.

Reynolds CS, Huszar V, Kruk, C, Naselli-Flores L, Melo S. Towards a functional classification of

the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, v. 24, p. 417-428, 2002.

64

Souza-Filho EE, Stevaux, JC 2001 Locais de amostragem. In: Relatório Final do Projeto de

Pesquisa ecológica de Longa Duração (PELD) – A Planície Alagável do Alto Rio Paraná.

7p.

Thomaz SM et al. 1992 Características limnológicas de uma estação de amostragem do alto rio

Paraná e outra do baixo rio Ivinheima - (PR, MS-Brasil). Acta Limnologica Brasiliensia,

Botucatu, v. 4, p. 32-52.

Thomaz SM et al. 2002 Macrófitas aquáticas da planície de inundação do Alto Paraná: listagem de

espécies e padrões de diversidade em ampla escala, Relatório Peld- UEM.

Thomaz SM, Bini LM 2003 Ecologia e manejo de macrófitas aquáticas. Maringá: EDUEM, 341p.

65

COMPOSIÇÃO SEXUAL DE GRUPOS DE ALOUATTA SPP.: DE ESTUDOS PONTUAIS À PADRÕES.

Diego Correa Alves, Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Luciana Zago, Monica Vasques

Mangas Pereira

Orientador: Fernando C. Passos

Resumo

Verificamos se a proporção sexual de fêmeas e machos adultos dos grupos de primatas das

espécies Alouatta caraya, Alouatta clamitans e híbridos é diferente da esperada ao acaso. Os testes

foram realizados a partir da meta-análise de 14 artigos relacionados ao tema retirados de bancos de

dados da internet. Os resultados encontrados confirmam a proposta de diferentes autores de que os

grupos das espécies A. caraya e A. clamitans possuem um maior número de fêmeas do que de

machos adultos.

Palavras-chave:

Alouatta caraya; Alouatta clamitans; Híbridos; sex ratio.

Introdução

Espécies do gênero Alouatta formam grupos sociais de 2 a 45 indivíduos (Neville et al.

1988), havendo variações intra e interespecíficas nestes valores (Treves 2001). Tais variações

podem estar relacionadas à ampla distribuição do gênero que se estende desde o México até Sul do

Brasil e o Norte da Argentina, englobando diferentes biomas (Gregorin 2006). Os grupos são

geralmente formados por um macho adulto dominante, podendo haver outros machos subordinados,

uma ou várias fêmeas adultas e indivíduos imaturos (Neville et al. 1988). As composições sexo-

etárias encontradas para o gênero sugerem sistemas sociais poligínicos, onde possivelmente apenas

o macho dominante tem acesso às fêmeas reprodutivas (Glander 1980), com eventos sexuais sendo

raros para machos subordinados (Miranda 2009).

A composição sexo-etária dos grupos permite a avaliação de alterações e viabilidade de

populações de primatas não humanos (Treves 2001, Zucker & Clarke 2003). Para o gênero

Alouatta, por exemplo, o sucesso reprodutivo pode ser influenciado pela razão sexual (Treves

2001). Entretanto, não há consenso quanto aos efeitos de variações na razão sexual. Enquanto Ostro

(2001) argumenta que maiores proporções de machos podem ser vantajosas em conflitos

intergrupais, vigilância e defesa do território, Wang & Milton (2003) argumentam que esse maior

número de machos pode aumentar os custos energéticos envolvidos em interações sociais

intragrupais, como a competição por fêmeas em estro.

66

Diante disto, tivemos como objetivo central testar se a proporção entre fêmeas e machos

adultos de grupos de Alouatta caraya, Alouatta clamitans e grupos mistos em diferentes localidades

é diferente da esperada ao acaso (0,5), partindo da hipótese de que esta proporção é maior do que a

esperada ao acaso.

Material e métodos

Os artigos utilizados nesta pesquisa foram obtidos por meio dos bancos de dados do ISI

(Institute for Scientific Information; www.isiknowledge.com) e do Scielo (Scientific Electronic

Library online; www.scielo.org) durante o mês de junho de 2013.

Para a busca de artigos foram utilizados os seguintes termos: group, composition, Alouatta

caraya, Alouatta clamitans. Dos artigos resultantes da busca, foram utilizados para a análise aqueles

que continham o número de machos adultos, fêmeas adultas, indivíduos imaturos, localização dos

grupos. Artigos que analisaram grupos temporalmente tiveram apenas os dados do primeiro ano de

visualização considerados. Grupos com menos de um casal adulto não foram considerados na

análise.

A partir destes dados foi realizado um teste T pareado para verificar se a média das

diferenças entre fêmeas e machos adultos dentro dos conjuntos de grupos de cada espécie e

localidade era significativa. Além disso, foi calculada a estatística Q, a fim de confirmar a

homogeneidade entre os grupos de primatas (Borenstein et al 2009). Com base nesta

homogeneidade foi utilizada a meta-análise com efeitos fixos através da estatística Risk Difference

(Borenstein et al 2009).

Resultados

Foram registrados 14 artigos relacionados à composição sexual das espécies A. caraya, A.

clamitans e seus híbridos na América do Sul, sendo que no total foram analisados 88 grupos de

primatas. Os estudos resgatados na busca predominaram na região sul do Brasil e norte e nordeste

da Argentina (Tab.1).

De maneira geral, o teste T pareado indicou que os conjuntos de grupos de primatas de

mesma região e espécie, apresentaram diferenças significativas no número de indivíduos adultos

fêmeas e machos. No entanto, esta diferença não foi significativa em alguns conjuntos de grupos de

primatas. Após a meta-análise ficou claro que estes resultados destoantes para algumas das análises

possivelmente são decorrentes do pequeno tamanho amostral ou peculiaridades destes estudos.

Tabela 1: Médias dos números de indivíduos machos e fêmeas adultas, sua diferença (∆), número de

grupos de primatas (N) para cada localidade e espécie. Estatística T, grau de liberdade (DF) e valor

67

de p para cada conjunto de grupos de primata.

País Região espécieMédia

N T DF valor de pfêmeas Machos ∆

Brasil Alto rio Paraná A. caraya 3,69 2,00 1,69 13 5,91 12 <0,01 **

Brasil Alto rio Paraná A. clamitans 2,50 1,00 1,5 2 3,00 1 0,20

Brasil Alto rio Paraná Hibrido 2,71 2,00 0,71 7 1,05 6 0,33

Brasil Balsa Nova – PR A. clamitans 2,28 1,43 0,86 7 6,00 6 <0,01 **

Brasil Viamão A. clamitans 2,54 1,36 1,18 11 5,22 10 <0,01 **

Brasil Viamão A. caraya 4,00 1,00 3,00 1 - 0 -

Argentina Misiones A. clamitans 3,00 1,00 2,00 2 - 1 -

Argentina Misiones A. caraya 3,00 2,00 1,00 2 0,50 1 0,70

Argentina Formosa A. caraya 2,15 1,31 0,85 13 4,43 12 <0,01 **

Argentina Isla Brasilera A. caraya 2,67 1,70 0,97 30 5,95 29 <0,01 **

A estatística Q demonstrou que não houve heterogeneidade na proporção de fêmeas entre os

diferentes grupos de primatas (Q= 9,38; G.L.=83; p=1). O efeito médio da proporção sexual em

cada grupo e a estimativa do efeito médio acumulado foi de 0,12±0,03 com intervalo de confiança

de 0,052 a 0,19. Isto evidencia que a proporção de fêmeas é 0,12 maior do que o 0,5 esperado caso

a proporção sexual fosse 1:1, independente da espécie e região do grupo. Assim, pode-se dizer que

há uma proporção média de 0,62 fêmeas e 0,38 machos nos grupos destes primatas (Figura 01).

68

Figura 1. Efeito médio da diferença da proporção observada para a esperada (0,50; 1:1) para cada grupo de

primatas e o efeito médio acumulado.

Discussão

Os resultados encontrados confirmam a proposta de diferentes autores de que os grupos das

espécies A. caraya e A. clamitans possuem um maior número de fêmeas do que de machos adultos

(Treves 2001, Wang & Milton 2003, Miranda & Passos 2005, Aguiar et al. 2009, Miranda 2009). A

meta-análise realizada permite que esta generalização possa ser aplicada a diferentes locais e a essas

duas espécies e seus híbridos. Tal generalização está em concordância com a proposta de que a

estrutura social das espécies abordadas é baseada na presença de um macho dominante com acesso

a todas as fêmeas em estro e a possível presença de outros machos que raramente conseguem

copular. Embora em estudos pontuais este padrão possa não ser confirmado, a meta-análise

possibilitou a avaliação do efeito médio acumulado, evidenciando esse padrão.

Meta-análises são importantes ferramentas para conectar diferentes trabalhos, permitindo a

realização de generalizações. Diante disso, novas meta-análises que agreguem um maior número de

espécies e preditores como a densidade populacional, gradientes latitudinais e variações ambientais

-1.37 -0,68 0 0,68 1.37

69

podem ser muito úteis para o maior entendimento das relações e padrões encontrados na

primatologia.

Referências

Borenstein M. Hedges, L.V., Higgins JPT, Rothstein HR 2009. Introduction to Meta-Analysis, John

Wiley & Sons, 413 p.

Glander KE 1980 Reproduction and population growth in free-ranging mantled howling monkeys.

American Journal of Physical Anthropology 53:25-36.

Gregorin R 2006 Taxonomia e variação geográfica das espécies do gênero Alouatta Lacépède

(Primates,

Miranda JMD 2009 Comportamentos sociais, relações de dominância e confrontos inter-grupais em

Alouatta caraya (Humboldt, 1812) na Ilha Mutum, Alto Rio Paraná, Brasil. Tese apresentada

no Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR.

Neville MK, Glander KE, Braza F, Rylands AB 1988 The howling monkeys, genus Alouatta, p.

349-453. In: Mittermeier RA, Rylands AB, Coimbra-Filho A, Fonseca GAB. (Eds.). Ecology

and Behavior of Neotropical Primates V. 2. Washington, DC, World Wildlife Fund, 610p.

Ostro LET, Silver SC, Koontz FW, Horwich RH, Brockett R 2001 Shifts in social structure of

black howler (Alouatta pigra) groups associated with natural and experimental variation in

population density. International Journal of Primatology 22:733-748.

Treves A 2001 Reproductive consequences of variation in the composition of howler monkey

(Alouatta spp.) groups. Behavioral Ecology and Sociobiology 50:61-71.

Wang E, Milton K 2003 Intragroup social relationships of male Alouatta palliata on Barro

Colorado Island, Republic of Panama. International Journal of Primatology 24(6):1227-1243.

Zucker EL, Clarke M 2003 Longitudinal assessment of immatureto-adult ratios in two groups of

Costa Rican Alouatta palliata. Intenational Journal of Primatology 24:87–101.

70

RELAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DE EICCHORNIA AZUREA (KUNTH) COM AS COMUNIDADES

ÍCTICA E FITOPLANCTÔNICA

Érika Maria Neif, Francisco von Hartenthal, Guilherme Landgraf, Lilian Paula Vasconcelos, RafaelA. Baggio, Sabrina Calado

Orientador: Luiz Carlos Gomes

Resumo

Foi testada a hipótese de que a maior porcentagem de cobertura vegetal de Eichhornia azurea

favorece a riqueza e abundância das comunidades fitoplanctônica e íctica. Foram amostrados 12

pontos no Ressaco do Bilé compreendendo diversos graus de cobertura vegetal. Os resultados

refutam a hipótese, visto que as métricas não estiveram correlacionadas às porcentagens de

cobertura vegetal. No entanto, a baixa riqueza e abundância das comunidades devido à cheia

inesperada possivelmente não representa as condições necessárias para validar as conclusões.

Palavras-chave: Macrófitas, Alto Rio Paraná, planície de inundação, ressaco.

Introdução

Em lagos rasos de planícies de inundação diferentes formas biológicas de macrófitas

aquáticas podem constituir grupos mono ou multiespecíficos que contribuem para elevar a

complexidade e a bioarquitetura dos habitats, de maneira que a presença de macrófitas aquáticas

afeta a estrutura das populações, a diversidade e a composição das assembleias de organismos

aquáticos (Thomaz & Cunha 2010).

As macrófitas podem afetar positivamente a comunidade fitoplanctônica ao promover a

heterogeneidade ambiental ou aumentar a disponibilidade de nutrientes (Santos et al. 2013). Por

outro lado, ao competir por recursos (Agostinho et al. 2003), servir de abrigo para predadores

(zooplâncton) ou liberar substâncias alelopáticas (Gross 2003), afetam negativamente a comunidade

fitoplanctônica. O balanço desses efeitos pode ser afetado pela morfologia da macrófita (Santos et

al. 2013).

A presença de macrófitas também afeta a comunidade de peixes, sendo um fator chave na

seleção de habitats - uma vez que podem servir de refúgio contra predadores, sítio de alimentação

ou reprodução, além de afetar as propriedades físicas e químicas do ambiente (Gomes et al. 2012).

Os efeitos das macrófitas sobre a comunidade de peixes dependem das características do sistema

(e.g. disponibilidade de alimento para as presas, aumento da produtividade do sistema devido à

penetração de luz) e das espécies de peixes (e.g. eficiências do forrageamento de predadores e de

refúgio das presas, fase ontogenética, estratégia de vida) (Agostinho et al. 2003).

71

Uma das mais abundantes macrófitas da bacia do Alto Rio Paraná, Eichhornia azurea

(Kunth), provê alta heterogeneidade estrutural devido a suas raízes submersas, oferecendo proteção

a macroinvertebrados contra predação e afetando o uso do habitat por predadores (Padial et al.

2009), além de favorecer as comunidades algais (Rodrigues et al. 2003).

Assim, considerando o papel das macrófitas E. azurea nas comunidades fitoplanctônica e

íctica, este trabalho foi realizado buscando testar a hipótese de que a maior porcentagem de

cobertura vegetal de E. azurea afeta positivamente as comunidades de fitoplâncton e peixes.

Materiais e Métodos

O Ressaco do Bilé (22o45'13.56"S; 53o17' 9.48"W), localizado na planície de inundação do

Alto Rio Paraná, possui conexão direta com o Rio Paraná e apresenta diversos bancos de macrófitas

aquáticas, entre as quais se destacam os de E. azurea.

Os pontos amostrais foram escolhidos ao longo do gradiente longitudinal do ressaco,

compreendendo diversos graus de cobertura vegetal por E. azurea, desde a ausência da vegetação

até a cobertura mais densa encontrada (90%), totalizando 12 amostras. A determinação da cobertura

vegetal foi realizada a partir de inspeção visual da porcentagem de preenchimento de um quadro de

madeira de 50 x 50 cm pelas folhas das macrófitas.

As amostragens da ictiofauna foram realizadas com utilização de um peneirão, constituído

de uma armação metálica de 1,5 x 1,0 m e uma rede de malha de 500 µm. O instrumento foi

empurrado e submergido sob o banco de E. azurea e rapidamente trazido à superfície para a captura

dos peixes. Os peixes foram acondicionados em sacos plásticos, fixados com formol 4% e,

posteriormente, identificados segundo Graça & Pavanelli (2007).

As amostragens do fitoplâncton foram realizadas na sub-superfície com um frasco de vidro

de 150 ml. As amostras foram fixadas com solução de Transeau, e identificadas de forma

qualitativa com auxílio de microscópio óptico e literatura especializada (Bicudo & Menezes 2006).

Os atributos de comunidade utilizados para testar a hipótese foram a riqueza específica e a

abundância (em número de indivíduos) de peixes, e a riqueza de espécies fitoplanctônicas, visto que

a mensuração da abundância foi impossibilitada pela falta de equipamento adequado.

As correlações entre a porcentagem de cobertura vegetal e a abundância de peixes, riqueza

de espécies de peixes e riqueza de espécies fitoplanctônicas foram aplicadas no software Statistica

7, através do método de Pearson.

Resultados

72

No total foram registradas 6 espécies de peixes e 20 espécies de algas, a maioria das quais

pertencentes à comunidade perifítica.

Tanto a correlação de Pearson realizada entre a abundância de peixes (em número total) e a

cobertura vegetal (%), quanto a realizada entre a riqueza de espécies de peixes e a cobertura vegetal

não foram significativas (r = -0,016; P > 0,05; r = -0,007, P > 0,05, respectivamente) (Fig. 21).

0 20 40 60 80 100

Cobertura Vegetal (%)

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Abu

ndân

cia

de p

eixe

s (N

)

A

0 20 40 60 80 100

Cobertura vegetal (%)

0

1

2

3

4

5

Riq

ueza

de

espé

cies

de

peix

es

B

Figura 1. A: Relação entre a abundância de peixes (número de indivíduos) e a cobertura vegetal(%). B: Relação entre a riqueza de espécies de peixes e a cobertura vegetal (%) de E. azurea.

A correlação entre a riqueza de espécies de fitoplâncton e a cobertura vegetal também não foi

significativa (r = -0,064; P > 0,05) (Fig. 2).

0 20 40 60 80 100Cobertura vegetal (%)

0

2

4

6

8

10

12

14

Riq

ueza

de

fito

plân

cton

Figura 2. Relação entre a riqueza de espécies fitoplanctônicas e a cobertura vegetal (%) de E.

azurea.

DiscussãoOs resultados obtidos neste trabalho refutaram a hipótese testada. A cheia inesperada neste

período na planície de inundação do Alto Rio Paraná e, consequentemente no Ressaco do Bilé,

possivelmente iniciou a homogeneização abiótica característica destes períodos (Thomaz et al.

2007), ocasionando também uma grande dispersão dos peixes, principalmente para áreas litorâneas

73

(Gomes et al. 2011), o que possivelmente ocasionou os baixos valores de riqueza e abundância de

peixes na área amostrada.

O aumento do nível hidrométrico do Rio Paraná também pode sido o responsável pelas

baixas riquezas específicas do fitoplâncton e maior número de espécies perifíticas. O evento de

cheia pode ter promovido a diluição e dispersão do fitoplâncton, e o aumento do fluxo da água do

rio em direção à porção final do ressaco potencialmente ocasionou o deslocamento de organismos

aderidos as macrófitas para a coluna d’água, por isso, a maioria das espécies encontradas foi

pertencente à comunidade perifítica. Finalmente, é possível que, na ausência da cheia, a

comunidade de fitoplâncton e peixes seja favorecida pela presença da macrófita que provê abrigo

contra predadores, como sugerido por Barko et al. (1977) e Flöder et al. (2006).

Agradecimentos

Agradecemos aos funcionários do NUPELIA pelo apoio logístico na coleta de dados e aos docentes

do Curso de Campo pelas contribuições no delineamento e análise dos dados.

Referências

Agostinho AA, Gomes LC, Júlio-Jr. HF 2003. Relações entre macrófitas aquáticas e fauna de

peixes, pages 261-279, in Thomaz SM, Bini LM, eds. Ecologia e Manejo de Macrófitas

Aquáticas. EDUEM: Maringá.

Barko J, Murphy P, WETZEL RG 1977 An investigation of primary production and ecosystem

metabolism in a Lake Michigan dune pond. Archiv. für Hydrobiologie 81: 155-187.

Bicudo CEM, Menezes M 2006 Gêneros de Algas de Águas Continentais do Brasil: Chave para

identificação e descrições. RiMa: São Carlos..

Graça WJ, Pavanelli CS 2007 Peixes da planície de inundação do Alto Rio Paraná e áreas

adjacentes. Eduem: Maringá.

Gross EM 2003 Allelopathy of Aquatic Autotrophs. Critical Reviews in Plant Sciences 22: 313-

339.

Gomes LC, Bulla CK, Agostinho AA, Vasconcelos LP, Miranda LE 2012 Fish assemblage

dynamics in a Neotropical floodplain relative to aquatic macrophytes and the homogenizing

effect of a flood pulse. Hydrobiologia, 685: 97-107.

Flöder S, Combüchen A, Pasternack A, Hillebrand H 2006. Competition between pelagic and

benthic microalgae for phosphorus and light. Aquatic Science 68: 425-433.

74

Padial AA, Thomaz SM, Agostinho AA 2009 Effects of structural heterogeneity provided by the

floating macrophyte Eichhornia azurea on the predation efficiency and habitat use of the

small Neotropical fish Moenkhausia sanctaefilomenae. Hydrobiologia 624: 161-170.

Rodrigues L, Bicudo DC, Moschinicarlos V 2003. O papel do perifiton em áreas alagáveis e nos

diagnósticos ambientais, pages 211-230, in:Thomaz SM, Bini LM, eds. Ecologia e manejo de

macrófitas aquáticas. EDUEM: Maringá.

Santos TR, Ferragut C, Bicudo CEM. Does macrophyte architecture influence periphyton?

Relationships among Utricularia foliosa, periphyton assemblage structure and its nutrient (C,

N, P) status. Hydrobiologia 714: 71-83.

Thomaz SM, Cunha ER 2010 The role of macrophytes in habitat structuring in aquatic ecosystems:

methods of measurement, causes and consequences on animal assemblages: composition and

biodiversity. Acta Limnologica Brasiliensia 22: 218-236.

75

COMPLEXIDADE ESTRUTURAL E VOLUME DE RAÍZES DE MACROFITAS AQUÁTICAS COMO

PROMOTORAS DO ENRIQUECIMENTO DA COMUNIDADEDE INVERTEBRADOS AQUÁTICOS

EMANUEL Razzolini; FERNANDO Garcia de Oliveira; FLÁVIO Miranda Marteleto; NATÁLIA

Carneiro Lacerda dos Santos; SANDRA Marisa Nobre de Andrade

Orientador: Prof. Dr. Marcos Barbeitos

O objetivo do trabalho foi verificar a relação entre riqueza de espécies de invertebrados e o volume

e a complexidade estrutural das raízes das macrófitas no rio Paraná. As variáveis medidas foram:

número de indivíduos e riqueza de morfotipos de invertebrados, além do volume e complexidade

das raízes das macrófitas. Com relação à riqueza o volume e complexidade acumulada explicaram

cada um deles separadamente 48% da variação dos invertebrados, enquanto para a abundância, o

volume explicou 13% e a complexidade acumulada 3% da variação.

Palavras-chave: dimensão fractal, riqueza, lagoas, planície de inundação.

Introdução

Comunidades de macrófitas aquáticas são consideradas fundamentais para a composição de

ambientes de água doce, não somente como fonte de carbono, mas funcionalmente como refúgio

para pequenos vertebrados e invertebrados aquáticos (Dibble & Thomaz, 2009). A riqueza

estrutural entre espécies de macrófitas aumenta a complexidade e heterogeneidade dos habitats

afetando vários grupos de organismos, como por exemplo, invertebrados (Thomaz & Cunha, 2010).

Muito embora a complexidade dos habitats seja utilizada para atribuir maior ou menor

riqueza e abundancia aos sistemas biológicos, ainda hoje as formas de estimar esse parâmetro são

controversas (Dibble e Thomaz, 2009). A geometria Fractal surgiu como uma medida eficaz para a

aproximação da complexidade com a forma, sendo assim amplamente utilizada em estudos em larga

escala espacial, tais como estudos com fragmentos florestais (Thomaz & Cunha, 2010)..

Com o objetivo de endereçar esse assunto, o presente estudo aborda o modo como a

complexidade estrutural das raízes afeta a comunidade de invertebrados associados a macrófitas

aquáticas. A hipótese do trabalho é que existe uma relação positiva entre a riqueza de espécies de

invertebrados e a complexidade estrutural e volume das raízes das macrófitas. É predito que quanto

maior a complexidade estrutural e o volume da raiz maior será a riqueza de espécies. Desse modo

temos como objetivo: (i) verificar a relação entre complexidade estrutural das raízes e riqueza de

invertebrados aquáticos; (ii) Verificar a relação entre riqueza de espécies de invertebrados e o

volume das raízes de macrófitas.

76

Material e Métodos

Área de estudo

O rio Paraná é o décimo maior rio em descarga do mundo e nasce no planalto central

brasileiro, passando a receber esse nome a partir da confluência dos rios Paranaíba e Grande. A

planície de inundação do Alto rio Paraná (PIARP) está localizada na margem direita (oeste) do rio

Paraná (23 43’- 25 33’ S e 54 35’-5310’ O) na divisa dos estados do Mato Grosso do Sul e do

Paraná (Oporto, 2008). A área de estudo compreende dois ressacos (Pau Véio e Bilé) e uma lagoa

aberta (Lagoa das Garças), distribuídos na ilha fluvial mutum e margem direita do rio,

respectivamente.

Figura 1: Planície de Inundação do Alto Rio Paraná, com delimitação para os três locais de amostragem:

Ressaco do Pau Véio, Lagoa das Garças e Ressaco do Bilé.

Procedimento

Foram estabelecidos três pontos de amostragens em cada uma das três lagoas. O primeiro

ponto na entrada da lagoa, o segundo na região intermediaria e o terceiro na porção mais interna da

lagoa em relação à conexão com o rio Paraná. Foi utilizado um quadrante de 50 cm2 para a

padronização da área amostrada em cada banco de macrófitas. As plantas foram transportadas para

a o laboratório da base de pesquisas avançadas do Nupélia no município de Porto Rico-Pr. Em

laboratório, as raízes foram separadas lavadas para a retirada de toda a comunidade de

invertebrados. As amostras foram filtradas e posteriormente triadas com o auxilio de

estereomicroscópio e os organismos identificados até o menor nível taxonômico possível. As

variáveis medidas foram: número de indivíduos, volume e complexidade das raízes das macrófitas

aquáticas. O volume das raízes foi medido através do deslocamento de volume equivalente de água,

77

medido em uma proveta com uma quantidade de água conhecida (500ml). Três amostras das raízes

de cada espécie de macrófita foram escaneadas para a análise da dimensão fractal, sendo calculada

através do programa IMAGEJ. Essa análise leva em conta as diversas escalas de aumento em uma

imagem descrevendo como a complexidade de uma estrutura muda em reflexo da mudança da

magnitude da escala de aumento analisada (Sugihara & May, 1990 in Dibble & Nei, 2009). A curva

de rarefação foi calculada através do pacote VEGAN no software R. O método adiciona as espécies

amostradas em cada localidade selecionada aleatoriamente, e somando-se a estas apenas as novas

espécies encontradas na outra localidade pareada. A curva resultante demonstra se o número de

espécies amostradas é uma aproximação razoável da riqueza total. As análises de correlação foram

feitas no Programa STATISTICA 7.0. A variável Complexidade acumulada foi calculada através da

fórmula:

Ca=∑ Vi x Ci.

Onde Ci é o volume da raiz e o Ci é o índice de dimensão fractal (adaptado de Thomaz e

Cunha (2010)).

Resultados

Foram coletados 580 organismos distribuídos em 31 grandes grupos. Nematoda foi o grupo

mais abundante (83 indivíduos), seguido de larvas de quironomídeos (67 indivíduos) e bivalves (55

indivíduos). Com relação à riqueza de invertebrados aquáticos, ambas variáveis analisadas

separadamente (volume e complexidade acumulada) explicaram 48% da variação da riqueza (Figs.

2A e C), enquanto que para a abundância, o volume explicou 13% e a complexidade acumulada 3%

da variação (Figs. 2B e D, respectivamente).

n

i=1

78

Figura 2. Análise de correlação entre as variáveis. A. r2= 0.48; B. r2= 0,13; C. r2= 0,48; D. r2= 0,03; r2= % de

explicação da variável independente (eixo x); r= coeficiente da força de correlação entre as variáveis; S=

riqueza de invertebrados aquáticos; Log= logaritmo; R= coeficiente de correlação de pearson; Complexidade

acumulada: volume*coeficiente fractal. Nos pontos onde foram coletadas mais de uma espécie de macrofita

aquática, os valores de complexidade foram somados para a análise. A insignificância da correlação entre as

variáveis pode ter sido resultado do baixo "n" amostral.

Figura 3. Curva de rarefação do número de espécies de invertebrados aquáticos em relação às unidades

amostrais acumuladas.

Discussão

79

As macrófitas atuam nas comunidades aquáticas promovendo a riqueza das espécies de

animais associadas através da complexidade estrutural dos microhabitats que proporcionam,

(Dibble e Thomaz, 2009). A tendência de correlação positiva observada entre a riqueza de

invertebrados aquáticos e a complexidade das raízes corroboram com o estudo realizado por Dibble

e Thomaz (2009), no qual encontraram uma correlação positiva significativa entre abundância de

invertebrados com a complexidade de estruturas foliares. Em conclusão, admite-se que a ausência

de significância encontrada pode ser associada à baixa amostragem de pontos em cada tratamento.

Entretanto, a ausência de amostragem exaustiva de espécimes menores, residentes nas escalas

intersticiais inferiores das raízes, pode ser o principal fator responsável para que a curva de

rarefação não tenha atingido uma proximidade à assíntota.

Agradecimentos

Os autores agradecem a orientação e ensinamentos do professor Marcos Barbeitos, ao Sebastião,

funcionário do Nupélia, pelo apoio logístico, e aos programas de pós-graduação da Universidade

Federal do Paraná e Universidade Estadual de Maringá.

Referências

Agostinho, A. A., Zalewski, M., 1996. A planície alagável do alto rio Paraná: importância e

preservação. EDUEM, Maringá, PR, BR, 100 pp.

Opoto, L. T. 2008. Modificações a longo prazo na ictiofauna na planície de inundação do Alto rio

Paraná, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Maringá

Dibble, E. D.; Thomaz S.M. (2009) Use of Fractal dimension to assseshabitat complexityand its

influence on dominant invertebrates inhabiting tropical and temperate Macrophytes. Journal of

Freshwater Ecology. 24, 1, 93-104

Thomaz, S. M., T. A. Pagioro, L. M. Bini, M. C. Roberto & R. R. A. Rocha, 2004a. Limnological

characterization of the aquatic environments and the influence of hydrometric levels. In Thomaz,

S. M., A. A. Agostinho & N. S. Hahn (eds) The Upper Paraná River and its floodplain: Physical

aspects, ecology and conservation. Backhuys publishers, Leiden: 75-102.

Thomaz, S. M & Cunha, E. R. 2010. The role of macrophytes in habitats structuring in aquatic

ecosystems: methods of measurements, causes and consequences on animal assemblages’

composition and biodiversity. Acta Limnologica brasiliensia, 22(2): 218-236.

80

MIGRAÇÃO HORIZONTAL DE ZOOPLÂNCTON SOB ESTÍMULO DE PREDAÇÃO: UMA ABORDAGEM

EXPERIMENTAL

Hugo José Message, Priscilla Guedes Gambale, Renata Gabriela Noguchi, Simone Satsuki

Takeuchi, Taise Miranda Lopes & Juliana Dias

Orientadora: Juliana Dias

Resumo: O zooplâncton pode migrar horizontalmente ocasionando variações de sua densidade ao

longo do espaço, sendo a predação um dos maiores estímulos para esse comportamento. Um

experimento foi realizado para testar a hipótese de que o zooplâncton migra da área sem refúgio

(plâncton) para o refúgio (macrófitas aquáticas) na presença de predadores. Não houve diferenças

na densidade média zooplanctônica entre as regiões sem e com refúgio na ausência de predadores.

No entanto, a densidade média de zooplâncton diferiu na presença de predadores, com maiores

densidades na área com refugio. Assim, mostramos que as populações zooplanctônicas buscaram

locais estruturados devido à pressão de predação.

Palavras chave: refúgio, macrófitas aquáticas, plâncton, densidade.

Introdução

A migração horizontal é um comportamento observado nos organismos zooplanctônicos que

faz com que esses organismos apresentem oscilações de suas densidades ao longo do espaço. Vários

fatores ambientais podem promover as migrações horizontais do zooplâncton, como a busca por

alimentos ou estratégias para evitar predadores (White, 1998). Dentre esses fatores, a predação

influencia os padrões de distribuição e abundância desses organismos, através da indução à

mudança de comportamento (Romare & Hansson, 2003). Na presença de um predador a presa pode

ajustar seus padrões de movimentação e de uso de refúgios em resposta à ameaça (Jeffries & Mills,

1994; Romare & Hansson, 2003).

A predação por peixes é um dos fatores mais importantes que influenciam a estrutura e

distribuição espaço-temporal da comunidade de zooplâncton (Brooks & Dodson, 1965). As

estruturas submergidas de macrófitas podem promover refúgio para o zooplâncton (Burks et al.,

2006) e são fontes de alimento para muitas espécies (Henry & Costa, 2003).

O objetivo deste trabalho foi testar experimentalmente a migração horizontal dos

organismos zooplanctônicos. Para isso foi testada a hipótese de que o zooplâncton migra da área

sem refúgio (plâncton) para a área com refúgio (macrófitas) na presença de predadores. A partir

81

dessa hipótese prediz-se que, na ausência de predadores, a densidade de zooplâncton é maior na

área sem refúgio e, que, quando na presença de predadores, a maior densidade é na área com

refúgio.

Material e métodos

Amostragens

O zooplâncton foi coletado com rede de plâncton de 68µm de abertura de malha na

subsuperfície da região limnética do ressaco do Pau Véio. Concomitantemente as amostragens do

zooplâncton foram coletadas macrófitas aquáticas flutuantes da espécie Eichhornia azurea, que

representa abrigo para o zooplâncton na região litorânea.

Os potenciais predadores do zooplâncton (Caracídeos de pequeno porte) foram coletados

com rede de arrasto simples de 10m de comprimento, identificados de acordo com Graça &

Pavanelli (2007) e colocados em um aquário durante 2h para aclimatação.

Delineamento experimental

O experimento foi realizado em três aquários de 200L, representando três réplicas. Em cada

aquário foram delimitadas duas regiões, sendo uma sem refúgio (SR = sem refúgio) e outra com

refúgio (CR =com refúgio - presença de macrófitas aquáticas). A amostra concentrada do

zooplâncton foi adicionada em cada aquário. Após o período de 1 hora foi realizada a primeira

amostragem, afim de que o zooplâncton se estabilize nos aquários. Amostras de 1,5L foram

coletadas nos dois compartimentos de cada aquário e fixadas com solução de formaldeído

tamponado com carbonato de cálcio. Logo em seguida, foram adicionados no aquário 10 peixes

planctívoros isolados em um saco plástico para concentração do estímulo hormonal (5

Bryconamericus stramineus + 3 Serrapinus notomelas + 2 Steindachnerina ‘insculpta’). Após 1h os

peixes foram soltos e 1h depois, o zooplâncton foi novamente amostrado.

O zooplâncton foi quantificado em lupas e microscópios para cálculo e extrapolação da

densidade de indivíduos por litro de água. Para testar a hipótese os dados foram submetidos a um

teste-t (referencia) entre a densidade de zooplâncton na região sem refúgio e com refúgio antes da

presença de predadores e nas mesmas regiões após a presença de predadores.

Resultados

Durante o experimento, a variação da densidade de zooplâncton na ausência de predadores

foi de 43 a 122 indivíduos/L em regiões sem refúgio e de 61 a 112 indivíduos/L em regiões com

refúgio. Após a inserção dos peixes no experimento, foram registradas alterações na densidade de

82

zooplâncton entre as regiões estudadas, sendo de 25 a 29 indivíduos/L em regiões sem refúgio e de

65 a 131 indivíduos/L em regiões com refúgio.

Não houve diferenças entre a densidade média de zooplâncton nas regiões sem e com

refúgio de macrófitas na ausência de predadores (t6=-0,4, P=0,69) (Fig. 1A). No entanto observou-

se uma menor densidade média de zooplâncton em regiões sem refúgio (76 indivíduos/L) do que

com refúgio (88 indivíduos/L).

Na presença de predadores, a densidade média de zooplâncton diferiu entre as regiões com e

sem refúgio (t6=-3,42, P=0,03) (Fig. 1B). Assim, após o estímulo dos predadores, uma maior

densidade ocorreu em regiões com refúgio (100 indivíduos/L) do que sem refúgio (32

indivíduos/L).

Figura 1. Densidade média de zooplâncton em áreas com refúgio de macrófitas e áreas sem refúgio,

na ausência (A) e presença (B) de peixes predadores.

Discussão

A migração horizontal do zooplâncton foi indicada pelas alterações das densidades das

populações das regiões em uma escala de tempo. No presente estudo mostramos que as populações

buscaram estes locais devido à pressão exercida por predadores, visto que na ausência de

predadores a densidade zooplanctônica entre as áreas foi similar. O isolamento dos predadores em

sacos plásticos, possivelmente, intensificou a concentração de hormônios dos predadores

introduzidos nos aquários, fator importante para impulsionar a migração zooplactônica em direção

às macrófitas (Ringelberg et al., 1997). Outros trabalhos conseguiram registrar o padrão de

migração horizontal para algumas espécies de zooplâncton, como Daphinia hyalina (Kvam &

Kleiven, 1995), copépodos calanóides Diaptomus sanguinius (De Stasio, 1993) e cladóceros

(Lauridsen et al. 1996).

83

Era esperada maior densidade zooplanctônica na região aberta, devido às condições

propícias para o desenvolvimento do plâncton, antes da introdução do predador. Todavia, foi

registrada uma maior densidade na região com refúgio, apesar da não significância. Esse fato pode

ter sido explicado pela preferência de algumas espécies pela região litorânea, como por exemplo, os

cladóceros. Assim, nossa hipótese foi parcialmente corroborada uma vez que maiores valores de

densidade foram registrados na região de refúgio após a presença do predador, mas na ausência dos

predadores os maiores valores foram registrados nesse mesmo compartimento aquático.

Apesar da existência de poucos estudos realizados na região tropical (Jeppesen et al. 2005),

esse experimento sugere um modelo conceitual para o padrão da migração horizontal de

zooplâncton em diferentes ecossistemas aquáticos. Como vários fatores, tais como mudanças nos

parâmetros físicos e químicos, disponibilidade de recursos alimentares, arquitetura e densidade da

planta, presença de potenciais predadores podem influenciar o efeito de refúgio de plantas aquáticas

(Burks et al. 2006), novas pesquisas utilizando outros refúgios ou outros estímulos para migração

com especificação dos grupos de zooplâncton podem ser realizadas.

Agradecimentos

Agradecemos à professora Juliana Déo Dias pela orientação do projeto, Alfredo pelas ajudas

na coleta. Agradecemos também aos organizadores e professores do Curso de Ecologia de Campo.

Referências bibliográficas

Brooks J L & Dodson S I 1965 Predation, body size and composition of the plankton. Science 150:

28 – 35.

Burks R, Mulderij G, Gross E, Jones I, Jacobsen L, Jeppesen E, van Donk E 2006 Center stage: the

crucial role of macrophytes in regulating trophic interactions in shallow lake wetlands. Pages

37–53 in R Bobbink, B Beltman, JTA Verhoeven, DF Whigham, eds. Functioning,

Biodiversity Conservation, and Restoration, Ecological Studies. Vol. 191, Springer Verlag,

New York, NY.

De Stacio BT 1993 Diel vertical and horizontal migration by zooplankton: population budgets and

the diurnal deficit. Bullein of Marine Science 53: 44 – 64.

Graças W, Pavanelli CS 2007 Peixes da planície de inundação do alto rio Paraná e áreas adjacentes.

Maringá: EDUEM.

Henry R, Costa MLR 2003 As macrófitas como fator de heterogeneidade espacial: um estudo em

três lagoas com diferentes conectividades com o rio Paranapanema. Pages 189 – 210 in SM

Thomas, LM Bini, eds. Ecologia e manejo de macrófitas aquáticas. Maringá: EDUEM.

84

Jeffries M, Mills D 1994 Freshwater ecology: principles and applications. John Wiley & Sons Ltd.

Jeppesen E, Pekcan-Hekim Z, Lauridsen TL 2006 Habitat distribution of fish in late summer:

changes along a nutrient gradient in Danish lakes. Ecology of Freshwater Fish 15: 180–191.

Kvam OV, Kleiven OT 1995 Diel horizontal migration and swarm formation in Daphnia in

response to Chaoborus. Hydrobiologia 307: 177 – 184.

Lauridsen TL, Pedersen L.J., Jeppesen E, Sondergaard M 1996 The importance of macrophyte bed

size for cladoceran composition and horizontal migration in a shallow lake. Journal of

Plankton Research 18:2283-2294.

Ringelberg J, Flik BJG, Aanen D, van Gool E 1997 Amplitude of diel vertical migration (DVM) is

a function of fish biomass, a hypothesis. Archiv für Hydrobiologie–Beiheft Ergebnisse der

Limnologie 49: 71 – 72.

Romare P, Hansson L-A 2003 A behavioral cascade: top-predator induced behavioral shifts in

planktivorous fish and zooplankton. Limnology and Oceanography 48: 1956–1964.

White, MG 1998 Horizontal distribution of pelagic zooplankton in relation to predation gradients.

Ecography 21: 44–62.

85

BIOGEOGRAFIA DE ILHAS: UMA ABORDAGEM UTILIZANDO MACRÓFITAS E

MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS

Ariane Ghelfi, Bianca Possamai, Daniel Santos, Juliana Wojciechowski e Vivian Cionek

Orientador: Roger Mormul

Resumo

A teoria de Biogeografia de ilhas prediz que a riqueza de espécies em ilhas aumenta com o

tamanho da área amostrada e com a proximidade da fonte de dispersão. Este estudo verificou a relação

espécie-área e relacionou riqueza de macroinvertebrados com distância da fonte (bancos de macrófitas). A

relação espécie-área foi significativa, mas dependeu da diversidade regional e do tamanho amostral. A

distância da fonte de dispersão não foi significativa, possivelmente devido ao grande volume de chuva que

ocorreu nos últimos dias na região.

Palavras-chave: relação espécie-área, área fonte, riqueza de espécies.

Introdução

Uma das principais premissas da teoria de biogeografia de ilhas formulada por MacArthur e Wilson

(1967) é de que o número de espécies presentes em uma ilha é determinado pela sua área e pela

proximidade da fonte de dispersão. Macrófitas aquáticas formam grandes bancos em lagoas e são

conhecidamente locais de abrigo e berçário de espécies (Jeppesen et al., 1997), como por exemplo

macroinvertebrados bentônicos, organismos de grande importância na composição de sedimentos de rios e

lagos (Callisto et al., 1995).

Os objetivos desse trabalho foram (i) investigar se existe relação espécie x área com macrófitas no

ressaco do Pau Véio e (ii) verificar se a riqueza de espécies de macroinvertebrados no sedimento dessa

lagoa é influenciada pela distância da fonte de dispersão (Eichhornia azurea). A primeira hipótese testada

foi de que o número de espécies de macrófitas aumenta com a área amostrada e a segunda hipótese

testada foi de que a riqueza de espécies de macroinvertebrados bentônicos diminui com o aumento da

distância da fonte (banco de macrófitas).

Material e métodos

As amostragens foram realizadas no Ressaco do Pau Véio (22°44’76”S; 53°15’11.16”W),

pertencente à sub-bacia do Rio Paraná. Para analisar a relação espécie-área foram utilizados dois métodos

de amostragem. O primeiro método consistiu em amostrar a riqueza de macrófitas em três escalas

86

aninhadas: pequena, média e grande, com quadrados de 15x15, 50x50 e 100x100 cm, respectivamente, em

três bancos de macrófitas situados na entrada, no meio e no fundo da lagoa. No segundo método a riqueza

foi amostrada nos mesmos bancos a partir de uma transecção utilizando oito quadrados médios (50x50

cm), assim a área amostrada foi sendo aumentada gradativamente em 50 cm a partir de 50X50 até a

transecção atingir 400X50.

Para testar a segunda hipótese foram coletadas amostras de sedimento com Van Veen em locais

próximos e distantes de três bancos de macrófitas (fontes) localizados na entrada, no meio e no fundo do

ressaco. A comunidade de macroinvertebrados dos bancos de macrófitas também foi amostrada (controle)

com auxílio de peneira. Em laboratório, as amostras de sedimentos foram lavadas e os macroinvertebrados

foram identificados em microscópio estereoscópico.

Para verificar a relação espécie-área foram realizadas ANCOVAs e regressões lineares para ambos

os métodos, com alfa = 0,05. A influência da distância foi testada através de ANOVA, com alfa = 0,05. As

análises foram realizadas no R e STATISTICA.

Resultados

Ambos os métodos de amostragem da relação espécie-área foram significativos (Tab. 1). A

regressão linear para o método de transecção foi realizada diferenciando-se os bancos em relação à

diversidade de espécies de cada local, mostrando que em uma baixa diversidade a relação não é observada

(R²=0,40; F1,6=5,78; p>0,05), mas tanto em alta (R²=0,84; F1,6=39,71; p<0,001) como em média diversidade

(R²=0,83; F1,6=36,98; p<0,001) a relação foi significativa (Fig. 1A). Para o aninhamento, todas as escalas de

tamanho foram significativas (Tab. 1, Figura 1B).

Tabela 1. Análise de Covariância da relação espécie-área de macrófitas no ressaco do Pau Véio em dois diferentes métodos

amostrais. β1, β2 e β3 indicam as escalas grande, médio e pequena em aninhado e alta, média e baixa diversidade em transecção.

ANCOVA Aninhado Transecção

Área F=36,46; p<0,01 F=26,09 p<0,01

Escala F = 6,51; p<0,01 F=10,62 p<0,01

Área*Escala F=32,41; p<0,01 F=36,63 p<0,01

β1 0,85 0,53

β2 0,51 0,40

β3 0,22 0,00

87

Figura 1. Regressão linear entre a riqueza de espécies e os tratamentos. (A) método de transecção separado por

diversidade dos bancos: alta y = 0,96+0,53x e média y = 0,17+0,4x; (B) método de aninhamento de escalas.

Com relação à distância dos invertebrados do banco de macrófitas foi encontrada uma diferença

significativa entre a riqueza (F2,9= 30.73; p<0,001) e abundância (F2,9=26.05; p<0,01) de espécies, porém

essa se deu entre o controle e os tratamentos (borda e distante), e não entre os tratamentos (Fig. 2).

Figura 2. Médias de riqueza (esquerda) e abundância (direita) de macroinvertebrados nas diferentes distâncias em relação à

fonte (banco de macrófitas).

Discussão

A riqueza de espécies de macrófitas esteve relacionada com o aumento da área, corroborando

nossa hipótese. Porém, foi possível notar que a relação espécie/área pode ser afetada pelo pool regional de

espécies e pela escala (tamanho da amostra), padrão já relatado em outros estudos (Fattorini e Borges,

2012). Cabe ressaltar que há um viés de área/esforço amostral no caso do uso da escala maior. Conclui-se,

portanto, que o melhor método para analisar a relação espécie-área seria uma abordagem independente

do local, abrangendo a diversidade γ e em escala espacial maior, pois ambas variáveis podem afeta

fortemente a relação.

87

Figura 1. Regressão linear entre a riqueza de espécies e os tratamentos. (A) método de transecção separado por

diversidade dos bancos: alta y = 0,96+0,53x e média y = 0,17+0,4x; (B) método de aninhamento de escalas.

Com relação à distância dos invertebrados do banco de macrófitas foi encontrada uma diferença

significativa entre a riqueza (F2,9= 30.73; p<0,001) e abundância (F2,9=26.05; p<0,01) de espécies, porém

essa se deu entre o controle e os tratamentos (borda e distante), e não entre os tratamentos (Fig. 2).

Figura 2. Médias de riqueza (esquerda) e abundância (direita) de macroinvertebrados nas diferentes distâncias em relação à

fonte (banco de macrófitas).

Discussão

A riqueza de espécies de macrófitas esteve relacionada com o aumento da área, corroborando

nossa hipótese. Porém, foi possível notar que a relação espécie/área pode ser afetada pelo pool regional de

espécies e pela escala (tamanho da amostra), padrão já relatado em outros estudos (Fattorini e Borges,

2012). Cabe ressaltar que há um viés de área/esforço amostral no caso do uso da escala maior. Conclui-se,

portanto, que o melhor método para analisar a relação espécie-área seria uma abordagem independente

do local, abrangendo a diversidade γ e em escala espacial maior, pois ambas variáveis podem afeta

fortemente a relação.

87

Figura 1. Regressão linear entre a riqueza de espécies e os tratamentos. (A) método de transecção separado por

diversidade dos bancos: alta y = 0,96+0,53x e média y = 0,17+0,4x; (B) método de aninhamento de escalas.

Com relação à distância dos invertebrados do banco de macrófitas foi encontrada uma diferença

significativa entre a riqueza (F2,9= 30.73; p<0,001) e abundância (F2,9=26.05; p<0,01) de espécies, porém

essa se deu entre o controle e os tratamentos (borda e distante), e não entre os tratamentos (Fig. 2).

Figura 2. Médias de riqueza (esquerda) e abundância (direita) de macroinvertebrados nas diferentes distâncias em relação à

fonte (banco de macrófitas).

Discussão

A riqueza de espécies de macrófitas esteve relacionada com o aumento da área, corroborando

nossa hipótese. Porém, foi possível notar que a relação espécie/área pode ser afetada pelo pool regional de

espécies e pela escala (tamanho da amostra), padrão já relatado em outros estudos (Fattorini e Borges,

2012). Cabe ressaltar que há um viés de área/esforço amostral no caso do uso da escala maior. Conclui-se,

portanto, que o melhor método para analisar a relação espécie-área seria uma abordagem independente

do local, abrangendo a diversidade γ e em escala espacial maior, pois ambas variáveis podem afeta

fortemente a relação.

88

As macrófitas não responderam como uma fonte de dispersão de macroinvertebrados, rejeitando a

segunda hipótese, porém isso deve ter ocorrido em decorrência das fortes chuvas que lavaram e

resuspenderam o sedimento, gerando a baixa riqueza e abundância encontradas. Em conseqüência disso,

o pool de espécies nas macrófitas foi maior que no sedimento e a identidade das espécies não foi

correspondente entre os locais.

Referências Bibliográficas

Callisto M, Esteves FA 1995 Distribuição da comunidade de macroinvertebrados bentônicos em um lago

amazônico impactado por rejeito de bauxita, Lago Batata (Pará, Brasil). Oecologia Brasiliensis. v. 1.

Estrutura, Funcionamento e Manejo de Ecossistemas Brasileiros. F. A. Esteves (ed.), pp. 281-291,

Programa de Pós- graduação em Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro.

Jeppesen E, Søndergaard M, Christofferssen K 1997 The structuring role of submerged macrophytes in

lakes. Ecological studies series, 131 Springerr-Verlag, New York.

MacArthur RH, Wilson EO 1967 The theory of island biogeography. Princepton University Press, Princepton.

Périco E, Cemin G, Lima DFB, Rempel C 2005 Efeitos da fragmentação de hábitats sobre comunidades

animais: utilização de sistemas de informação geográfica e de métricas de paisagem para seleção

de áreas adequadas a testes. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia,

Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2339-2346.

89

EFEITO DA DISTÂNCIA DA MARGEM NA HERBIVORIA EM EICHHORNIA AZUREA

Diego Corrêa Alves, Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Luciana Zago, Monica Vasques

Mangas Pereira

Orientador: André Padial

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar o efeito da distância da fonte de insetos terrestres na

herbivoria da macrófita Eichhornia azurea. A proporção de folhas consumidas diminuiu e houve

uma diminuição da porcentagem de área consumida em regiões mais distantes da margem de uma

lagoa de inundação. Além disso, ocorreu uma redução na diversidade de níveis de herbivoria entre

folhas de uma mesma distância da margem, com maior dominância do menor nível de consumo em

locais distantes da margem.

Palavras-chave: Macrófitas aquáticas; Planície de inundação; rio Paraná; rio Baía.

Introdução

As macrófitas aquáticas desempenham importantes papéis ecológicos, servindo, por

exemplo, como local de abrigo, desova e substrato para outros organismos (Thomaz & Cunha

2010). Por um longo período, a herbivoria de macrófitas vivas foi considerada funcionalmente sem

importância em teias alimentares aquáticas (Hutchinson 1975). No entanto, estudos posteriores

demonstraram que a biomassa, produtividade e composição de espécies de macrófitas são

frequentemente influenciadas por uma variedade de herbívoros vertebrados e invertebrados (Lodge

1991, Newman 1991).

Embora existam espécies de invertebrados que se alimentem exclusivamente de macrófitas

aquáticas, como o Orthoptera Cornops aquaticum (Ferreira 1995, Capello et al. 2012), espécies que

consomem altas porcentagens de plantas terrestres também podem consumir plantas aquáticas

(Capello et al. 2012). Nesse sentido, a herbivoria deve ter relação com a distância da margem dos

corpos aquáticos. Sob esse contexto, o presente trabalho visa testar as hipóteses: i) a proporção de

folhas consumidas diminui com a distância da margem de uma lagoa de inundação; ii) a área foliar

consumida diminui com a distância da margem e iii) a variação na área foliar predada aumenta com

a distância da margem. Tendo-se como predição de que maiores áreas foliares e maiores números

de folhas serão consumidas em macrófitas que estejam a distâncias menores da margem do rio, já

que nesses ambientes o número de herbívoros é maior.

Material e métodos

90

As coletas foram realizadas no mês de junho de 2013, na lagoa Fechada do afluente rio Baía

da planície de inundação do alto rio Paraná. A coleta de dados foi realizada em três bancos de

macrófitas de Eichhornia azurea, seguindo uma transecção da margem ao meio da lagoa. A

transecção foi divida em pontos equidistantes de 0,5m, nos quais foram acondicionados quadrados

de 625 cm². As folhas de E. azurea de cada quadrado foram coletadas, armazenadas em sacos

plásticos e transportadas para o laboratório para posteriores análises.

As folhas foram classificadas com relação ao grau de herbivoria, estabelecendo ranks de 1 a

4 (do menos para o mais consumido). Como pressuposto das hipóteses, foi realizada uma análise de

covariância (ANCOVA) para verificar se havia diferença nos padrões de relação da herbivoria com

a distância entre os três bancos de macrófitas amostrados. A variável resposta da ANCOVA foi a

proporção de folhas consumidas pelas folhas não consumidas e a variável independente foi a

distância da margem e o banco. Não houve efeito do banco de macrófitas (p = 0.37; Efeito da

interação banco*distância: p = 0,95), portanto as análises foram realizadas utilizando os valores dos

três bancos. A primeira hipótese foi testada com a correlação de Pearson entre a proporção de folhas

consumidas (%) e a distância da margem. A correlação de Spearman foi utilizada para testar a

segunda hipótese, utilizando as variáveis: mediana dos níveis de consumo pela distância da

margem. A variação na área foliar predada foi sumarizada em duas variáveis: riqueza e

equitabilidade de ranks, e correlacionada com a distância da margem através de uma correlação de

Spearman.

Resultados

A análise de Pearson indicou que a proporção de folhas consumidas diminuiu com o

aumento da distância da margem (r =-0.67, p<0.01)(Fig. 1. esquerda). A correlação de Spearman,

(ρ=-0.75, p<0.01), verificou a diminuição da porcentagem de área consumida em regiões mais

distantes da margem (Fig. 1. Direita). As correlações entre equitabilidade e distância da margem

(ρ=-0.60, p<0.01) e entre riqueza de ranks e distância da margem (ρ=-0.62, p<0.01) indicaram uma

redução no número de ranks e a dominância do rank 1 com o aumento da distância da margem (Fig.

2).

91

Figura 1. Esquerda: Relação da proporção de folhas consumidas (%) com a distância da margem.

Direita: Relação da mediana dos ranks de folhas consumidas com a distância da margem. Os

valores das correlações de Pearson (r) e Spearman (ρ) estão mostrados junto com suas

significâncias nos gráficos.

Figura 2. Esquerda: Relação da riqueza de ranks de folhas consumidas com a distância da margem.

Direita: Relação da equitabilidade dos ranks de folhas consumidas com a distância da margem. Os

valores das correlações Spearman (ρ) estão mostrados junto com suas significâncias nos gráficos.

Discussão

Os resultados encontrados para E. azurea corroboram com a proposta de que a herbivoria

em macrófitas aquáticas é maior nas proximidades das margens das lagoas. Invertebrados terrestres

podem alimentar-se intensamente de macrófitas aquáticas e os efeitos combinados do consumo por

coleópteros adultos e larvas de dípteros podem causar um grande dano nas populações Neotropicais

destas macrófitas (Thomaz et al. 2008). Diante disso, embora existam consumidores que se

alimentam exclusivamente de macrófitas aquáticas e têm todo seu ciclo de vida sobre elas (Ferreira

1995, Capello et al. 2012), nas margens dos rios podem estar presentes tanto estas espécies quanto

-2 0 2 4 6 8 10

Distância da margem (m)

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1Fo

lhas

con

sum

idas

(%)

r = -0.67; p <0.01-2 0 2 4 6 8 10

Distância da margem (m)

0.81.01.21.41.61.82.02.22.42.62.83.03.2

Med

iana

dos

rank

s

ρ = -0.758; p < 0.01

-2 0 2 4 6 8 10

Distância da margem (m)

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

Riq

ueza

dos

rank

s

ρ = -0.558; p < 0.01-2 0 2 4 6 8 10

Distância da margem (m)

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Equi

tabi

lidad

e do

sra

nks

ρ = -0.605; p < 0.01

92

espécies terrestres de consumidores. Portanto, as maiores intensidades de herbivoria encontradas

nas margens dos rios podem dever-se a sobreposição de consumidores terrestres e aquáticos. Porém,

também há a possibilidade de as folhas distantes da margem serem mais novas e com maiores

conteúdos de compostos fenólicos. Se existirem, esses dois aspectos também podem contribuir para

uma diminuição da herbivoria com a distãncia da margem de lagoas de inundação. Dessa forma, as

razões para os padrões espaciais na hervivoria de plantas ainda deve ser elucidado.

As menores variações nos graus de herbivoria encontradas mais próximas das margens

também podem ser resultantes do maior número de espécies consumidoras nestes locais, visto que

um maior número de espécies pode resultar em uma maior equitabilidade nas formas e graus de

consumo. Além de fatores abióticos, interações bióticas podem ser importantes modeladores da

estrutura de comunidades de macrófitas tropicais e a herbivoria pode afetar suas assembleias

(Thomaz et al. 2008). Partindo-se desse conhecimento, os resultados aqui encontrados somados a

futuros estudos que abordem as interações bióticas existentes em diferentes espécies de macrófitas

aquáticas podem ser ferramentas fundamentais para a compreensão de estruturas e dinâmicas de

comunidades.

Referências

Capello S, Marchese M, Wysiecki ML 2012 Feeding Habitats and Trophic Niche Overlap of

Aquatic Orthoptera Associated with Macrophytes. Zoological Studies 51(1):51-58.

Ferreira SA 1995 Plantas Hospedeiras de Cornops aquaticum (Bruner) (Orthoptera: Acrididae) no

Pantanal de Poconé – MT. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em

Ecologia da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

Hutchinson GE 1975 A Treatise on Limnology. Vol. 3. Limnological Botany. Wiley-Inter-

Science, 660 pp, Nova York.

Lodge DM 1991 Herbivory on freshwater macrophytes. Aquatic Botany 41:195-224.

Newman RM 1991 Herbivory and detritivory on freshwater macrophytes by invertebrates: a review.

Journal of the North American Benthological Society 10(2):89-114.

Thomaz SM, Cunha ER 2010 The role of macrophytes in habitat structuring in aquatic ecosystems:

methods of measurement, causes and consequences on animal assemblages' composition and

biodiversity. Acta Limnologica Brasiliensia 22(2):218-236.

Thomaz SM, Esteves FA, Murphy KJ, Santos AM, Caliman A, Guariento RD 2008 Aquatic

Macrophytes in the Tropics: Ecology of Populations and Communities, Impacts of Invasions

and Use by Man. In: Del Claro K, Oliveira PS, Rico-Gray V, Barbosa AAA, Bonet A,

93

Scarano FR, Garzon FJM, Villarnovo GC, Coelho L, Sampaio MV, Quesada M, Morris MR,

Ramirez N. International Commision on Tropical Biology and Natural Resources. Eolss

Publishers, Oxford.

94

ASSOCIAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE A TRIPLARIS AMERICANA E FORMIGAS PSEUDOMYRMEX: DA

OCORRÊNCIA À RESPOSTA A ESTÍMULOS

Érika Maria Neif, Francisco von Hartenthal, Guilherme Landgraf, Lilian Paula Vasconcelos, Rafael

A. Baggio, Sabrina Calado

Orientador: Fernando C. Passos

Resumo

A associação mutualística entre Triplaris americana e Pseudomyrmex é altamente conhecida

pela agressividade dos insetos. Neste trabalho foi investigado se existe diferença na ocorrência de

Pseudomyrmex em Triplaris americana de diferentes tamanhos e o tempo de resposta das formigas

a um estímulo físico na planta. Árvores menores puderam ou não ter ocorrência das formigas, já em

plantas maiores estiveram sempre presentes. O tempo médio de resposta das formigas ao estímulo

físico foi de 32 segundos, com alto coeficiente de variação.

Introdução

Uma das associações mais interessantes entre animais e plantas é a simbiose entre vários

gêneros de árvores e formigas Pseudomyrmex (mirmecofilia) (Junior et al., 2009) e este tipo de

interação biológica é a mais diversificada nas florestas tropicais (Price,1997).

Nesse tipo de relação, as formigas podem proteger as plantas de herbívoros (Bruna et al.,

2008), facilitar o acesso das plantas a nutrientes, dispersar sementes e frutos e atuar na polinização.

As plantas, por sua vez, podem fornecer locais para abrigo e nidificação e até mesmo recursos

alimentares para as formigas (Beattie, 1985, Mello, 2012).

Triplaris americana L. (pau de novato ou pau-formiga) está entre as espécies arbóreas mais

comuns na Floresta Estacional Semidecidual localizada nos fragmentos próximos às margens do rio

Paraná, sobre as ilhas e dispersos em áreas mais secas na planície de inundação do alto rio Paraná

(Gimenes et al., 2007). Pertencente à família Polygonaceae, trata-se de uma espécie heliófita, de

crescimento rápido (Lorenzi, 2000) e que apresenta uma relação simbiótica bastante característica

com as formigas Pseudomyrmex. Vivendo nessas árvores, as Pseudomyrmex se alimentam da

substância produzida na domácia (Blatix et al., 2009), estrutura oca dentro do caule que comumente

abrigam grupo de indivíduos, e, por serem insetos que defendem ativamente seu ninho, atacam

organismos que dele se aproximam (Junior et al., 2009), proporcionando proteção às árvores.

95

A biologia das Pseudomyrmex é ideal para a defesa das Triplaris americana, uma vez que

apresentam mecanismos sensoriais aguçados para detectar distúrbios e estímulos, respondendo

rapidamente a eles (Agrawal & Dubin-Thaler, 1999).

Jaffé et al. (1986) afirmam que Pseudomyrmex nunca ocupam indivíduos pequenos de “paus

de novato”. No entanto, através de comunicação informal, profissionais da área afirmam que já

observaram ocorrência das formigas neste tipo de indivíduos.

Assim, este trabalho foi desenvolvido buscando responder duas perguntas: i) Existe

diferença na ocorrência de Pseudomyrmex em Triplaris americana de diferentes tamanhos? ii) Qual

é o tempo de resposta das formigas Pseudomyrmex a um estímulo físico produzido na Triplaris

americana?

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado nas margens do córrego Caracu, na área da base de pesquisa do

Nupélia.

A fim de responder a primeira pergunta proposta foram amostrados 43 indivíduos de T.

americana, distribuídos em diversos tamanhos (altura). A altura das plantas foi determinada

visualmente quando ultrapassavam o tamanho mensurável por fita métrica. Em todos os indivíduos

foi registrada a ocorrência das formigas Pseudomyrmex (presença ou ausência) a partir de um

estímulo físico.

Para analisar o tempo de resposta das formigas ao estímulo físico, 12 árvores de diferentes

tamanhos foram selecionadas. Os estímulos, únicos e de mesma intensidade, foram realizados com

um facão.

Para verificar se a amostragem foi representativa para todas as classes de altura de T.

americana foi gerado um histograma com seis classes de altura. Para determinar a amplitude de

cada classe foi realizado o seguinte cálculo:

Para testar a hipótese de que existe diferença na ocorrência de Pseudomyrmex em indivíduos

de Triplaris americana de diferentes alturas foi utilizado o modelo logit, utilizando como variável

resposta a ocorrência ou não da formiga e variável preditora a altura das árvores.

Finalmente, para avaliar o tempo médio de resposta ao estímulo foi calculada uma média

simples do tempo de resposta da formiga.

Resultados

96

Foram amostrados 43 indivíduos de Triplaris americana, com altura variando entre 0,7 e 12

m (Fig. 1). As plantas sem colônias de formiga variaram entre 0,28 m e 2,8 m, enquanto as plantas

com colônias variaram entre 0,7 e 12 m.

0.28 2.23 4.18 6.14 8.09 10.04 12

Altura (m)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Obs

erva

ções

(N

)

Fig. 3. Histograma das classes de altura dos indivíduos de Triplaris americana amostradas.

O resultado do modelo logit indica diferença significativa entre a presença de

Pseudomyrmex sp em indivíduos de Triplaris americana grandes e pequenos (Fig. 2).

0 2 4 6 8 10 12

Altura (m)

0

1

Oco

rrên

cia

Fig. 4. Modelo logit indicando as diferenças de ocorrência de Pseudomyrmex entre os tamanhos de

Triplaris americana. (0 = Ausência; 1= Presença).

Quanto ao tempo de resposta das formigas ao estímulo físico produzido nos paus de novato,

a média foi de foi 32 segundos variando de 5,6 a 60 segundos (CV= 8,08).

Discussão

Pouco é conhecido sobre os fatores que regulam a interação simbiótica entre Pseudomyrmex

e Triplaris americana (Sanchez, 2011). Contudo, os resultados do presente trabalho indicam que a

97

colonização de Pseudomyrmex em plantas de Triplaris americana ocorre quando a planta atinge

entre 0,7 e 2,8 m de altura. Em plantas maiores do que esses valores, a relação simbiótica sempre

foi observada. Nesse contexto, o tamanho da domária pode ser um fator importante para explicar tal

resultado.

Provavelmente, plantas pequenas de T. americana possuem domária em tamanho

insuficiente para abrigar uma colônia de Pseudomyrmex. A partir de determinado tamanho (i.e.

entre 0,7 e 2,8 m), contudo, a domária se torna grande o suficiente para a colonização, o que tem

grande probabilidade de ocorrer até quando a planta atinge 2,80 m. Os fatores que fazem com que

ocorra essa variação no tempo de colonização devem ser melhores estudados, mas a aleatoriedade

parece ser um fator importante.

Oliveira (1987), através de estudo experimental, mostra que as operárias forrageiam

individualmente e que o maior número de operárias de Pseudomyrmex responde no primeiro minuto

após o estímulo, nossas observações corroboram tal resultado. Contudo, a alta variabilidade nos

valores indica que pode haver diferença de agressividade entre as colônias.

Por fim, o teste das hipóteses levantadas pelo trabalho é essencial para o melhor

entendimento das relações entre Pseudomyrmex e Triplaria americana.

Referências

Agrawal AA, Dubin-Thaler BJ. 1999. Induced responses to herbivory in the Neotropical ant-plant

association between Azteca ants and Cecropia trees: response of ants to potential inducing cues.

Behavior Ecological Sociobiological 45:47–54.

Beattie AJ. 1985. The evolutionary ecology of antplant mutualism. Cambridge University Press,

Cambridge.

Blatix R, Bauamer S, Morand S, Selosse M 2009. Ant-plant mutualisms should be viewed as

symbiotic communities. Plant Signaling & Behavior, 4: 554-556.

Bruna EM, Darrigo MR, Midori AP, Vasconcelos HL 2008. Interspecific variation in the defensive

responses of obligate plant-ants: experimental tests and consequences for herbivory. Oecologia

138: 558-565.

Gimenes MR, Lopes EV, Loures-Ribeiro A, Mendonça LB, Anjos L 2007 Aves da planície

alagável do alto rio Paraná. Maringá, EDUEM.

Jaffé K, Lopez ME, Aragort W 1986 On the communication systems of the ants pseudomyrmex

termitarius and P. triplarinus. Insectes Sociaux Paris 33: 105-117.

98

Junior VH, Bicudo LRH, Fransozo A. 2009. The Triplaria tree (Triplaris spp) and Pseudomyrmex

ants: a symbiotic relationship with risks of attack for humans. Revista da Sociedade Brasileira

de Medicina Tropical 42:727-729.

Lorenzi H 2000 Árvores Brasileiras: manual de identificação de plantas nativas do Brasil. 3 ed.

Nova Odessa: Plantarum.

Price PW 1997. Insect Ecology. John Wiley & Sons: Chinchester.

Oliveira PS, Oliveira-Filho AT, Cintra R 1987 Ant foraging on ant-inhabited Triplaris

(Polygonaceae) in western Brazil: a field experiment using live termite-baits. Journal of

Tropical Ecology 3:193-200.

Sanchez A 2011 Evolutionary relationships in Polygonaceae with emphasis on Triplaris. Phd Tese.

Wake Forest University, Winston-Salen, NC.

99

INUNDAÇÕES COMO REGULADORAS DA DIVERSIDADE ZOOPLANCTÔNICA EM

PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO

EMANUEL Razzolini; FERNANDO G. de Oliveira; FLÁVIO M. Marteleto; NATÁLIA C. L. dos

Santos; SANDRA M. N. de Andrade

Orientadora: Prof. Dra. Juliana

Dias

Resumo: O pulso de inundação e a conectividade hidrológica estão entre os fatores mais

importantes para a estruturação da diversidade aquática em planícies de inundação. O objetivo deste

trabalho foi determinar a diversidade de espécies em lagoas abertas e fechadas na planície de

inundação do Alto rio Paraná, pressupondo que lagoas abertas apresentam comunidades mais

homogêneas e lagoas fechadas, mais heterogeneas. As lagoas conectadas apresentaram

comunidades mais homogêneas, apesar dessa diferença não ser significativa, isso se deve a

inundação como promotora de uma maior dispersão das espécies zooplânctonicas pela planície de

inundação.

Palavras-chave: similaridade, conectividade, dispersão, comunidade zooplanctônica, lagoas.

Introdução

A comunidade zooplanctônica em ambientes de planície de inundação apresenta uma

elevada diversidade de espécies e abundância de diferentes grupos (protozoários testáceos,

rotíferos, cladóceros e copépodes), devido a sua heterogeneidade espacial e variabilidade temporal,

governados pela hidrodinâmica ambiental, resultante do pulso de inundação (Lansac-Tôha et al.,

2008; Simões et al., no prelo). Padrões de diversidade de espécies podem ser explicados por vários

mecanismos casuais, incluindo um grupo complexo de interações bióticas e abióticas que definem a

variação das espécies, propondo que espécies defiram ecologicamente e sua variação espacial seja

consequência da resposta das mesmas aos gradientes ambientais (Simões et al, no prelo).

O grau de conectividade juntamente com o pulso de inundação, está entre os fatores mais

importantes para a estruturação da diversidade aquática em planícies de inundação (Santos &

Thomaz, 2002). Assim, neste trabalho nos propusemos avaliar a diversidade zooplanctônica em seis

ambientes da planície de inundação do Alto rio do Paraná com diferentes graus de conexão com o

rio. A hipótese formulada para este estudo é de lagoas abertas apresentam comunidades mais

homogêneas e as lagoas fechadas, comunidades mais heterogêneas..

100

Material e Métodos

Área de estudo

Situada na margem direita do rio Paraná, a Planície de inundação do Alto rio Paraná (22o00’

- 23o00’S; 53o00’ - 53o45’ O; Fig. 1) é caracterizada por elevada diversidade de habitats, como

amplas várzeas, ilhas, lagoas com diferentes graus de conectividade e canais (Thomaz et al., 2004),

exercendo, assim, um papel fundamental na manutenção da diversidade biológica aquática regional

(Agostinho et al., 2001). No presente estudo foram amostradas três lagoas conectadas ao rio e três,

isoladas.

Figura 1: Localização dos pontos de amostragem (círculo preto) na Planície de Inundação do Alto Rio Paraná -. L. das

Garças; 2. L. Pousada das garças; 3. L. do Pau Veio; 4. L. Clara; 5. L. do Bilé; 6. L. do Osmar.

Amostragem e análise de dados

As amostras zooplanctônicas foram coletadas através de arrastos verticais em cada ambiente,

com auxílio de uma rede de plâncton com 68µm de abertura de malha. Dentro de cada lagoa foram

amostrados diferentes pontos e foi obtida uma amostra composta, a fim de se obter uma maior

representatividade das espécies zooplanctônicas presentes na lagoa. O material coletado foi

acondicionado em frascos de polietileno, devidamente etiquetados e fixados em formaldeído

tamponado com carbonato de cálcio.

A composição zooplanctônica foi avaliada utilizando microscópio óptico, lâminas

Sedgwick-Rafter e pipetas de 3ml. Os cladóceros e rotíferos foram identificados a nível de espécie e

os copépodes, de ordem. Para o efeito da análise, considerando os objetivos do trabalho, adotou-se

o método de presença e ausência das espécies nos seis ambientes estudados e os mesmos foram

agrupados em ambientes abertos e fechados. O teste t foi empregue para verificar a diferença entre

101

os ambientes abertos e fechados em termos de diversidade α. A diversidade β foi avaliada por meio

de uma análise multivariada de dispersão (Permidisp, Anderson et al., 2006).

Resultados

Foram identificadas 27 espécies de zooplâncton, das quais 4 espécies de copépodes, 14 de

cladóceros e 9 rotíferos. Verificou-se uma maior diversidade α em lagoas abertas quando

comparadas as lagoas fechadas, apesar desta diferença não ter sido estatisticamente significativa

(t4= 1,60; P˃ 0.05) (Fig.2).

Figura 2: Diversidade α de espécies zooplanctônicas nas lagoas abertas e lagoas fechadas (L. aberta= lagoa aberta; L.

fechada= lagoa fechada).

As lagoas fechadas apresentaram maior diversidade β que as lagoas abertas, embora essa

diferença não tenha sido significativa (pseudo F=0,83; P˃ 0.05) (Fig.3). Este resultado sugere que

lagoas fechadas tendem apresentar comunidades mais heterogêneas que as lagoas abertas.

L. aberta L. fechada0

2

4

6

8

10

12

14

Dive

rsid

ade

α de

zoo

plân

cton

MédiaMédia ± EP

t4 = 1,60; P > 0,05

MédiaMédia ± EP

101

os ambientes abertos e fechados em termos de diversidade α. A diversidade β foi avaliada por meio

de uma análise multivariada de dispersão (Permidisp, Anderson et al., 2006).

Resultados

Foram identificadas 27 espécies de zooplâncton, das quais 4 espécies de copépodes, 14 de

cladóceros e 9 rotíferos. Verificou-se uma maior diversidade α em lagoas abertas quando

comparadas as lagoas fechadas, apesar desta diferença não ter sido estatisticamente significativa

(t4= 1,60; P˃ 0.05) (Fig.2).

Figura 2: Diversidade α de espécies zooplanctônicas nas lagoas abertas e lagoas fechadas (L. aberta= lagoa aberta; L.

fechada= lagoa fechada).

As lagoas fechadas apresentaram maior diversidade β que as lagoas abertas, embora essa

diferença não tenha sido significativa (pseudo F=0,83; P˃ 0.05) (Fig.3). Este resultado sugere que

lagoas fechadas tendem apresentar comunidades mais heterogêneas que as lagoas abertas.

L. aberta L. fechada0

2

4

6

8

10

12

14

Dive

rsid

ade

α de

zoo

plân

cton

MédiaMédia ± EP

t4 = 1,60; P > 0,05

MédiaMédia ± EP

101

os ambientes abertos e fechados em termos de diversidade α. A diversidade β foi avaliada por meio

de uma análise multivariada de dispersão (Permidisp, Anderson et al., 2006).

Resultados

Foram identificadas 27 espécies de zooplâncton, das quais 4 espécies de copépodes, 14 de

cladóceros e 9 rotíferos. Verificou-se uma maior diversidade α em lagoas abertas quando

comparadas as lagoas fechadas, apesar desta diferença não ter sido estatisticamente significativa

(t4= 1,60; P˃ 0.05) (Fig.2).

Figura 2: Diversidade α de espécies zooplanctônicas nas lagoas abertas e lagoas fechadas (L. aberta= lagoa aberta; L.

fechada= lagoa fechada).

As lagoas fechadas apresentaram maior diversidade β que as lagoas abertas, embora essa

diferença não tenha sido significativa (pseudo F=0,83; P˃ 0.05) (Fig.3). Este resultado sugere que

lagoas fechadas tendem apresentar comunidades mais heterogêneas que as lagoas abertas.

L. aberta L. fechada0

2

4

6

8

10

12

14

Dive

rsid

ade

α de

zoo

plân

cton

MédiaMédia ± EP

t4 = 1,60; P > 0,05

MédiaMédia ± EP

102

Figura 3: Diversidade β das lagoas abertas e lagoas fechadas ilustrando que lagoas abertas (representadas por

triângulos) apresentam menor variação de diversidade β quando comparadas as lagoas abertas (representadas por

circulos). O eixo um corresponde à PCoA 1, enquanto que o eixo dois corresponde ao componente PCoA 2.

Discussão

Estudos indicam que a presença de conexões hidrológicas entre lagoas e outros corpos de

água podem prover um corredor para dispersão de organismos, como o zooplâncton. Nesse sentido,

o aumento da similaridade entre múltiplos conjuntos de manchas de habitat pode ser

particularmente evidente quando a dispersão é unidirecional (fluxo do rio), como mostrado em um

modelo onde o número total de espécies em um conjunto de manchas de habitats decresce quando a

dispersão inter-manchas for direcional (Akasaka & Takamura, 2012). Assim, o número total de

espécies em conjuntos de manchas de habitats interconectados (lagoas abertas) pode ser similar ou,

possivelmente, menor que o número total de espécies em manchas sem conectividade (lagoas

fechadas) devido à menor variação na composição das espécies. Porém, isso não foi encontrado no

presente estudo. A maior diversidade α encontrada nas lagoas abertas, possivelmente, está

relacionada a entrada de novas espécies trazidas pelo rio, ou ainda devido a mistura provocada pelo

aumento do nível de água do rio, carreando espécies de regiões litorâneas para a região pelágica. Já

em relação à diversidade β não foi observada diferença significativa, porém houve uma tendência

de maior homogeneidade da comunidade nas lagoas conectadas como pressuposto, Esse resultado

corrobora com a diversidade α, no sentido da importância da dispersão de espécies em função do

aumento do nível de água mediado pela inundação. Esse resultado talvez fosse mais nítido se um

maior número de lagoas conectadas e isoladas tivessem sido amostrados, aumentando assim a

variabilidade dos dados.

Agradecimentos

Os autores agradecem a prof. Dra. Juliana Dias pela orientação dada ao longo do projeto e

ao funcionário do Nupelia pelo apoio logistico.

Referências Bibliográficas

Agostinho, A.A., Gomes, L.C., Zalewski, M., 2001. The importance of floodplains for the dynamics

of fish communities of the upper river Paraná. Ecohydrol. Hydrobiol. 1, 209-217

Akasaka, M. & Takamura, N. 2012. Hydrologic connection between ponds positively affects

macrophyte a and c diversity but negatively affects b diversity. Ecology, 93(5) 967–973

103

Anderson, M.J. 2006. Distance-Based Tests for Homogeneity of Multivariate Dispersions.

Biometrics. 62: 245-253.

Lansac-Tôha, F., Bonecker, C., Velho, L., Takahashi, E., Joko, C., Alves, G., Silva, N., Fulone, L.,

Leal, C.M., Fernandes, A., Costa, D., Santos, R., Bastos, V., Soares, P., Braghin, L., Nedlei,

J., Lospes Filho, D. 2008. Relatório Anual/ PELD – A Planície Alagável do Alto Rio Paraná.

Thomaz, S.M., Pagioro, T.A., Bini, L.M., Roberto, M.C., Rocha, R.R.A. 2004. Limnological

Characterization of the aquatic environments and the influence of the hydrometric levels.In:

Thomaz, S.M., Agostinho, A.A., Hahn, N.S. (eds.), The upper Paraná River and its floodplain.

Backhuys Publishers, Leiden, The Netherlands, 75-102pp

Santos, A. & Thomaz, S.M. 2002. O papel da conectividade na estruturação da assembléia de

macrófitas aquáticas. Relatório Anual/ PELD – A Planície Alagável do Alto Rio Paraná.

Simões, N.R., Dias, J.D., Leal, C.M., Braghin, L.S.M, Lansac-Toha, F.A., Bonecker, C.A. no prelo.

Floods control the influence of environmental gradients on the diversity of zooplankton

communities in a neotropical floodplain. 23pp

104

FORRAGEIO ÓTIMO: DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA CARGA EM FORMIGAS-CORTADEIRAS

(ATTA SP)

Hugo José Message, Priscilla Guedes Gambale, Renata Gabriela Noguchi, Simone Satsuki

Takeuchi & Taise Miranda Lopes

Orientador: Marcos Barbeitos

Resumo: As formigas-cortadeiras são caracterizadas pela coleta de folhas, carregando-as por trilhas

que podem chegar a vários quilômetros. Os padrões de forrageamento ótimo das formigas são

complexos e existem poucos estudos em relação ao tamanho da carga e a estrutura corpórea das

formigas. O estudo comprovou as seguintes hipóteses: i) formigas maiores transportam folhas

maiores (R2 = 0,40, p<0,001), ii) todas as integrantes que saem em busca de folhas retornam à

colônia com as mesmas (apenas um número estatisticamente insignificante de formigas contrariou

esta regra) e iii) há um fluxo equivalente de formigas em ambas as direções (entre o formigueiro e a

planta).

Palavras chave: Colônia, Fluxo, Produtividade.

Introdução

As colônias maduras de formigas-cortadeiras (que incluem as saúvas e as quenquéns) são

capazes de chegarem a milhões de formigas e podem ser encontradas facilmente (Rockwood, 1976).

Esses importantes herbívoros são capazes de percorrer vários quilômetros por dia carregando folhas

(Weber, 1966). O estudo do forrageio desses insetos é relativamente simples, desde que eles se

locomovem ao longo de trilhas bem definidas no chão, sendo possível seguir o caminho para uma

determinada planta sendo atacada e consequentemente, informações do tipo de vegetação cortada, a

taxa de corte e a posição da planta em relação ao ninho podem ser adquiridas (Rockwood, 1976).

Por outro lado, as formigas-cortadeiras apresentam padrões de forrageio complexos que podem

mudar constantemente.

Em um cenário ideal, formigas maiores carregariam folhas maiores e todos os indivíduos

que saem do formigueiro para coletar a planta retornariam carregados com folha. É possível, no

entanto, que nem todas as formigas que acessam a planta tragam folhas ao retornarem. Também não

se sabe se as formigas que coletam folhas maiores apresentam maior tamanho corpóreo na intenção

de aproveitar o uso do seu porte para a realização do trabalho. As formigas que carregam folhas

grandes podem ter velocidade média menor em comparação às formigas que carregam folhas

105

pequenas ou às formigas que não transportam nada. Isso geraria uma diferença entre a quantidade

de indivíduos que transitam no rastro nas direções a favor e contra o formigueiro. Em uma

organização ideal, a quantidade de formigas que trafegam em direção à planta é a mesma que as que

retornam ao formigueiro.

O trabalho objetiva verificar os processos de coleta e transporte de folhas por formigas em

termos de produtividade. Deste modo, testaram-se as hipóteses que (1) formigas de maior porte

transportam folhas maiores, (2) todas que saem do formigueiro para coleta de folhas junto às demais

formigas retornam à colônia trazendo folha e (3) o fluxo de formigas em ambas as direções no

rastro entre o formigueiro e a planta é igual.

Material e Métodos

A coleta de dados foi realizada em um pequeno fragmento de mata próximo a base de

estudos da Universidade Estadual de Maringá, localizada na cidade de Porto Rico-PR. Neste

fragmento foi selecionado uma trilha de formigas saúva (Atta sp), identificando o formigueiro

principal, o ponto da primeira ramificação e a árvore de onde elas retiravam as folhas. A trilha foi

mensurada do formigueiro principal até a primeira ramificação.

Para verificar a relação entre o tamanho médio da formiga e a folha carregada, próximo da

primeira ramificação da trilha foram capturadas as formigas e as folhas carregadas com auxílio de

pinça. Foram realizados registros fotográficos dos dois elementos com auxílio de uma régua para

referência de escala. As folhas e as formigas foram fixadas com álcool 95% e analisadas em

laboratório.

Para verificar a densidade de formigas em uma determinada área foram selecionados cinco

pontos aleatórios (distâncias de 1m, 3m, 4m, 8m e 9m), sendo que em cada ponto foi tirada uma

foto a cada dois minutos, com um total de três fotos por ponto. Os pontos foram filmados durante

um minuto em uma escala de 15 cm.

81 folhas foram pesadas com balança de precisão e sua área e maior comprimento foram

calculadas com auxílio do programa Image J. O peso total das folhas também foi medido e dividido

pela área foliar total para calcular a densidade (g/cm²). Através das fotos foram calculados o

comprimento das formigas com auxílio do programa image J, além de quantificar a densidade de

formigas (ind/m²).

Foi computada uma regressão da área das folhas em relação ao comprimento. A equação da

reta de regressão resultante foi utilizada para estimar o peso das folhas amostradas das formigas.

Uma regressão entre o peso estimado e o comprimento das formigas foi efetuada para testar a

correlação entre estas duas variáveis. Para avaliar a diferença na velocidade de transporte das

106

formigas com carga e sem carga (folhas) foi realizado um teste t. Para testar a segunda e terceira

hipótese foram realizados testes de Qui-quadrado.

Resultados

A análise de regressão linear evidenciou 60% da variação área foliar pode ser representada

pelo comprimento foliar (R² = 0,60; P<0,01, n=52) (Figura 1A). A variação do peso foliar também

pode ser representada pelo comprimento (R² = 0,40; P>0,01, n=52) (Figura 1B). Adicionalmente o

comprimento de cada formiga aumentou com o peso foliar carregado pelos indivíduos (R² = 0,40;

P<0,01, n=110) (Figura 1C).

A média da velocidade de transporte das formigas que carregavam folhas foi 1,3 vezes

inferior à média da velocidade daquelas que não carregavam folhas (t110=3,39; P<0,01) (Figura 2).

Apesar de terem sido observadas formigas que voltam para o formigueiro sem carregar folha

alguma, a maioria das formigas voltam com folhas corroborando o esperado (χ2: 6,69; Df= 4;

P<0,15). Foi registrado também que a porcentagem de formigas que saem em direção ao recurso é

similar à porcentagem que volta para o formigueiro (χ2: 7,34; Df= 4; P<0,11).

0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6

Comprimento foliar (cm)

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

Área

folia

r (cm

²)

r2 = 0.6041; y = -0.3931 + 1.0786*x

A B

C

Figura 1: Relação entre: (A) comprimento foliar (cm) e peso foliar (mg) e (B) comprimento daformiga (cm) e peso foliar (mg) em trilhas de saúvas (Atta sp.) em um fragmento de mata nomunícipio de Porto Rico, Paraná.

107

Figura 2: Média e desvio padrão da velocidade de formigas que carregavam folhas e formigas quenão carregavam em um fragmento de mata no município de Porto Rico, Paraná.

Discussão

A relação linear positiva entre o comprimento das formigas e o peso foliar da carga

transportada indica que a estrutura corporal destes indivíduos é um importante fator na delimitação

do tamanho das folhas a serem carregadas por elas, corroborando com Weber (1972). Apesar disso

a correlação de 40% demonstra que outros fatores podem estar associados na determinação da

carga. Um dos fatores nessa determinação pode ser a preferência de folhas de menor peso por

formigas de maior porte a fim de otimizar a velocidade de retorno ao formigueiro. Neste estudo

verificamos apenas que a velocidade de formigas sem carga é maior do que aquelas que transportam

algum tipo de carga, sugerindo assim essa provável relação.

Em relação ao deslocamento das formigas ao longo da trilha, apenas alguns indivíduos

foram observados percorrendo o caminho de volta sem nenhuma carga. Não se sabe ao certo a

explicação para este comportamento, mas acredita-se que esteja associado a algum acidente de

percurso, como por exemplo, a perda da folha ao longo do trecho percorrido. Adicionalmente,

existe uma igualdade na densidade de indivíduos que vão em direção ao recurso e as que retornam

ao formigueiro. Estas constatações demonstram a eficácia do trabalho das formigas cortadeiras

quanto ao transporte do recurso, evidenciando um complexo nível organizacional da colônia.

Apesar da velocidade das formigas sem carga ser maior, a porcentagem de indivíduos se

deslocando para o recurso e retornando para o formigueiro foi similar, indicando um possível

paradoxo no estudo. Uma suposição é a de que as formigas regulam esse fluxo, demorando mais

dentro do formigueiro antes de voltar para a árvore. Outra possibilidade é que o pequeno esforço

amostral devido às limitações de tempo podem ter levado a este possível paradoxo.

Agradecimentos

108

Os autores agradecem ao Prof. Dr. Marcos Barbeitos pela orientação e aos professores da

Ecologia de Campo da Universidade Federal do Paraná pela oportunidade.

Referências bibliográficas

Rockwood LL 1976 Plant selection and foraging patterns in two species of leaf-cutting ants (Atta).

Ecology 57: 48 – 61.

Weber NA 1966 Fungus-growing ants. Science 153: 587 – 604.

Weber NA 1972 Garderning ants: the attines American Philosophic Society, Philadelphia.

109

CONSPICUIDADE DE CORES: A VISUALIZAÇÃO NO PONTO DE VISTA DE

MAMÍFEROS PRONATOPIOS.

Ariane Ghelfi, Bianca Possamai, Daniel Santos, Juliana Wojciechowski e Vivian Cionek

Orientador: Marcos Babeitos

Resumo

A luz que incide e é refletida nos diversos ambientes afeta as relações visuais entre os

organismos. Os animais possuem diferentes capacidades de enxergar as cores. A maioria dos mamíferos

não enxerga na faixa do vermelho enquanto as aves enxergam toda a faixa do visível. Neste estudo,

investigamos a diferença do contraste entre cores aposemáticas e o ambiente sob o ponto de vista de um

pronatópio. Verificamos que aqueles com dicromacia não conseguem perceber presas com coloração

aposemática.

Palavras-chave: Aposematismo, comunicação visual, espectro da luz.

Introdução

Sinais visuais são um produto do espectro de refletância e da luz incidente, altamente

dependentes do ambiente. A luz que ocorre nos diversos ambientes do planeta pode ser

caracterizada em dois diferentes tipos: a direta oriunda do sol e as difusas que chegam através de

outras fontes como o céu, nuvens e folhas (Anderson, 1994).

A variação da composição espectral na faixa do visível afeta a visibilidade de animais, flores

e frutos por vertebrados e invertebrados, o que influencia diretamente as interações de predação,

uma vez que a qualidade da luz pode camuflar ou destacar a presença da presa no ambiente (Endler,

1997). Pode-se então concluir que coloração crípitica e aposemática são relativas, uma vez que a luz

varia no espaço e no tempo (Théry, 2010).

O aposematismo é uma característica adaptativa de alguns animais não-palatáveis, tóxicos

ou venenosos que indica impalatabilidade através de coloração de alerta (aposemática). Entre os

animais que possuem essa aparência estão muitas rãs venenosas, salamandras e cobras (Ricklefs,

2010).

A maioria das espécies de mamíferos apresenta dicromacia pronotopica, ou seja, possuem

dois tipos de células sensíveis à cor (cones), não enxergando na faixa do vermelho, diferindo de

macacos e humanos, que possuem tricromacia (três cones), cuja evolução é relativamente recente.

Outros vertebrados, como répteis e pássaros, a complexidade visual é maior, com grande

dominância de cones (Cunha et al, 2006).

O objetivo foi de investigar o contraste de cores entre presas e ambiente simulando a

110

visualização das presas por mamíferos com dicromacia e testar a hipótese de que há diferença entre

as colorações aposemáticas (coloração de advertência) do ponto de vista de predadores com

dicromacia e tricomacia. Espera-se que mamíferos que não enxergam na faixa do vermelho não

consigam perceber presas com coloração aposemática.

Material e Métodos

O trabalho foi realizado na Mata do Araldo, Porto Rico, Paraná. Em campo, foi traçada uma

transecção de 20m paralela ao rio Paraná, com três pontos aleatoriamente definidos. A cada ponto foram

selecionadas as duas árvores mais próximas com diâmetro superior a 12 cm e nelas fixadas discos de massa

de modelar nas cores vermelho, amarelo, azul, preto e branco. A disposição dos discos no tronco das

árvores foi padronizada com um grid e fotografias foram tomadas a 1,2 m do solo e 1 m de distância do

tronco com iluminação branca (flash) a fim de padronizar a luminosidade.

As imagens foram tratadas no software Photoshop®. Um filtro do tipo “ruído” foi aplicado a cada

imagem. Este filtro substitui a coloração de todos os pixels dentro de um raio de 10 pixels pela coloração

correspondente às medianas computadas para três canais de cores (vermelho, verde e azul - RGB). Este

filtro tem o efeito de uniformizar a coloração, impedindo que valores extremos em pixels individuais

introduzam outliers na análise. Em seguida duas transecções (uma horizontal e uma vertical) foram

sobrepostas a cada disco, e os valores dos três canais de cores de cinco pixels do substrato (árvore), cinco

no disco e mais cinco do substrato foram medidos em ambas as direções. Esse processamento foi realizado

para a imagem natural e para a mesma imagem retirando-se a cor vermelha (alterando-se o canal R para -

30% de acordo com a escala da função “Misturador de canais” do Photoshop) a fim de simular a visão de

um mamífero pronatopio (Fig. 1B e 1C).

A média dos valores RGB do fundo de cada árvore ao redor de cada disco foi calculados para dois

tratamentos (com e sem vermelho). Essas médias definem o centro de massa (ou centróide) da coloração

de fundo. A disparidade da cor de cada pixel amostrado do fundo e do disco, e este centróide, foi

computada como distância euclidiana. Os valores destas distâncias foram representados em um gráfico,

contra os respectivos pontos, orientados da esquerda para direita e de cima para baixo, gerando dois picos

correspondentes aos pixels amostrados dos discos. (Fig.1A). O contraste foi estimado como a área sob a

curva pelo método de aproximação por trapezóides. O contraste logaritmizado (devido à homogeneidade

de variâncias) foi utilizado em uma ANOVA bi-fatorial (cor do disco versus tipo de visão) e as diferenças

pareadas entre tratamentos avaliadas através do teste post-hoc de Tukey. As análises estatísticas foram

realizadas no software Statistica® com α=0,05.

111

Figura 1. (A) Contraste entre os pontos RGB de uma imagem e a média dos pontos da árvore (fundo). Linha tracejadademonstra o ponto onde separa a transecção horizontal da vertical.; (B) imagem utilizada para contagem dos pontosem imagem normal (C) imagem utilizada após a subtração do canal vermelho. Notar a mudança de coloraçãoacentuada do disco vermelho.

Resultados

Os tratamentos (com e sem vermelho) diferiram significativamente (F1,50=19,688; p<0,0001), assim

como o contraste entre cores (F4,50=15,153; p< 0,0001). Porém, a interação dos tratamentos com as cores

não foi significativa (F4,100=1,68 p=0,1690).

Com relação às cores, para o tratamento com vermelho as cores azul e branco foram as que mais

contrastaram com o fundo, diferindo das outras (Tukey p<0,05) (Fig.2). Já com a retirada do vermelho

houve uma formação de grupos de cores mais atrativas (amarelo, azul e branco) e outro com cores de

baixo contraste com o fundo e, portanto, crípticas (vermelho e preto) (Tukey p<0,05; Fig.2).

Figura 2. Médias dos logaritmos dos contrastes entre as cores e o fundo das árvores na Mata do Araldo. Em (A)tratamento com vermelho e em (B) sem vermelho. (a) e (b) indicam grupos que diferem (post-hoc Tukey) com α =0,05.

111

Figura 1. (A) Contraste entre os pontos RGB de uma imagem e a média dos pontos da árvore (fundo). Linha tracejadademonstra o ponto onde separa a transecção horizontal da vertical.; (B) imagem utilizada para contagem dos pontosem imagem normal (C) imagem utilizada após a subtração do canal vermelho. Notar a mudança de coloraçãoacentuada do disco vermelho.

Resultados

Os tratamentos (com e sem vermelho) diferiram significativamente (F1,50=19,688; p<0,0001), assim

como o contraste entre cores (F4,50=15,153; p< 0,0001). Porém, a interação dos tratamentos com as cores

não foi significativa (F4,100=1,68 p=0,1690).

Com relação às cores, para o tratamento com vermelho as cores azul e branco foram as que mais

contrastaram com o fundo, diferindo das outras (Tukey p<0,05) (Fig.2). Já com a retirada do vermelho

houve uma formação de grupos de cores mais atrativas (amarelo, azul e branco) e outro com cores de

baixo contraste com o fundo e, portanto, crípticas (vermelho e preto) (Tukey p<0,05; Fig.2).

Figura 2. Médias dos logaritmos dos contrastes entre as cores e o fundo das árvores na Mata do Araldo. Em (A)tratamento com vermelho e em (B) sem vermelho. (a) e (b) indicam grupos que diferem (post-hoc Tukey) com α =0,05.

111

Figura 1. (A) Contraste entre os pontos RGB de uma imagem e a média dos pontos da árvore (fundo). Linha tracejadademonstra o ponto onde separa a transecção horizontal da vertical.; (B) imagem utilizada para contagem dos pontosem imagem normal (C) imagem utilizada após a subtração do canal vermelho. Notar a mudança de coloraçãoacentuada do disco vermelho.

Resultados

Os tratamentos (com e sem vermelho) diferiram significativamente (F1,50=19,688; p<0,0001), assim

como o contraste entre cores (F4,50=15,153; p< 0,0001). Porém, a interação dos tratamentos com as cores

não foi significativa (F4,100=1,68 p=0,1690).

Com relação às cores, para o tratamento com vermelho as cores azul e branco foram as que mais

contrastaram com o fundo, diferindo das outras (Tukey p<0,05) (Fig.2). Já com a retirada do vermelho

houve uma formação de grupos de cores mais atrativas (amarelo, azul e branco) e outro com cores de

baixo contraste com o fundo e, portanto, crípticas (vermelho e preto) (Tukey p<0,05; Fig.2).

Figura 2. Médias dos logaritmos dos contrastes entre as cores e o fundo das árvores na Mata do Araldo. Em (A)tratamento com vermelho e em (B) sem vermelho. (a) e (b) indicam grupos que diferem (post-hoc Tukey) com α =0,05.

112

Discussão

O padrão de luz em uma floresta pode mudar no espaço e no tempo, afetando a capacidade

de visão dos animais. Com a variação da iluminação do ambiente, o padrão de cor de alguns

animais pode mudar de críptico para conspícuo, ou vice-versa, o que influencia diretamente nas

interações de predação de predadores visuais.

De acordo com o observado durante esse estudo, a variação entre o contraste das cores com

a retirada do vermelho é menor do que com a visão do vermelho. Assim, podemos dizer que

mamíferos e aves têm percepção distinta das colorações aposemáticas das presas, corroborando a

hipótese.

Entre os indivíduos que enxergam todo o espectro do visível a cor mais contrastante com o

fundo entre as cores testadas foi o azul. Isso pode ser explicado pelo fato de que as cascas das

árvores apresentam coloração marrom, que estão mais próximas da faixa do vermelho (600 μm) e

mais distantes do espectro azul (400 μm). Além disso, retirando a cor vermelha das imagens não há

uma variação significativa no contraste entre as cores amarelo, azul e branco, porém estas

contrastaram com preto e vermelho, o que vai de encontro à teoria das cores (Gerritsen, 1975), pois

a exclusão da visão do vermelho torna essa cor acinzentada, muito próxima ao preto.

Apesar do método utilizando imagens ter sido eficaz para testar nossa hipótese, seria

importante realizar estudos que utilizassem equipamentos como espectrofotômetro para o registro

da luz refletida, pois assim seria possível considerar comprimentos de onda fora da região do visível

(ultravioleta e infravermelho) sendo que alguns animais podem ter capacidade de enxergar essas

faixas.

113

Anderson MC 1964 Studies of the woodland light climate. I. The photographic

computation of light conditions. Journal of Ecology 52:27-41.

Cunha DCF, Dantas HVM, Moraes AMM 2006 Electroretinographic study of chromatic

vision. Arq Bas Oftalmol. 69(6):857-63.

Ricklefs RE 2010 A Economia da Natureza. 6ª ed. Editora Guanabara Koogan, Rio de

Janeiro.

Théry M 2001 Forest light and its influence on habitat selection. Plant Ecology 153:

251–261.

Gerritsen F 1975 Theory and practice of color.

114

GRADIENTE DE LUZ INFLUENCIA A DIVERSIDADE FUNCIONAL DE PLANTAS?

Diego Corrêa Alves, Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Luciana Zago, Monica

Vasques Mangas Pereira, Ricardo Augusto Camargo, Vinícus Marcílio da Silva

Orientador: Marcia Marques

Resumo: A estruturação de comunidades ocorre essencialmente através dos filtros

abióticos e bióticos. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar se a riqueza

de morfotipos e a diversidade funcional dos de plantas é influenciada pela cobertura do

dossel. Os resultados encontrados para a riqueza e diversidade funcional não suportam

as hipóteses de que maiores coberturas de dossel resultam em uma maior riqueza e

diversidade funcional. No entanto, eles apontam para um padrão de atuação do filtro

abiótico ao longo do gradiente, não apenas em seu extremo.

Palavras-chave: Diversidade funcional; riqueza; intensidade luminosa.

Introdução

A estruturação de uma comunidade é determinada por processos históricos

biogeográficos (Cavender-Bares et al. 2009), filtros ambientais e interações bióticas

(Dry et al. 2012). A ação de um filtro abiótico deve gerar um padrão de convergência de

atributos funcionais entre as espécies de uma comunidade. Por outro lado, espécies

ecologicamente muito similares não poderiam coexistir em um mesmo local. Assim, a

competição deveria atuar como um filtro biótico e produzir divergência funcional dentro

das comunidades (Tilman 1986).

A fotossíntese das plantas é diretamente dependente da radiação de luz solar

(Mooney & Ehleringer 1997), portanto, esta atua como um filtro abiótico para esses

organismos. A cobertura do dossel, por sua vez, determina a intensidade desse filtro, de

modo que quanto maior for a cobertura do dossel, menor será a intensidade de luz sobre

as plantas. Diante desse contexto, visamos testar as seguintes hipóteses: 1) comunidades

de plantas em estratos inferiores de floresta, sob maiores coberturas de dossel serão

compostas por uma maior diversidade funcional; 2) estratos inferiores com maiores

coberturas de dossel serão compostos por uma maior riqueza de morfoespécies.

Material e métodos

115

Coleta de dados

O estudo foi realizado na ilha Carioca e nas margens do rio Caracu, em Porto

Rico-PR. Em cada uma destas áreas foram determinados 10 pontos amostrais

aleatórios, nos quais a cobertura de dossel foi fotografada e a imagem tratada no

programa Image J, onde calculou-se a porcentagem de abertura de dossel.

Nos pontos amostrais foram delimitadas parcelas circulares com um metro de

raio, nas quais todas as plantas com a altura entre 20 cm e 1 m foram amostradas e

separadas em morfotipos. Cada indivíduo teve os seguintes atributos medidos: textura

da folha (coriácea, cartácea, membranácea); tipo de ápice foliar (acuminado, não

acuminado), número de folhas, largura e comprimento das folhas (a partir dos quais foi

estimada a área foliar, considerando a fórmula da área da elipse); circunferência da base

do caule, altura da planta; área fotossintetizante (calculada a partir da área da folha

multiplicada pelo número de folhas do indivíduo); presença de anexos epidérmicos e

forma de vida.

Para cada parcela, a diversidade funcional foi determinada, através da entropia

quadrática de Rao. Posteriormente estes valores de diversidade, a riqueza e a

abundância das parcelas foram relacionados com a abertura do dossel, através de

análises de regressão.

Resultados

No total foram amostrados 107 indivíduos, compreendendo 12 morfotipos, nas

20 parcelas. A riqueza de morfotipos não apresentou relação com a abertura de dossel

(Fig. 1 A), no entanto, ao aplicar uma relação quadrática entre a riqueza e a abertura de

dossel observou-se um melhor ajuste dos dados (R² = 0,38) (Fig. 1B).

A B

115

Coleta de dados

O estudo foi realizado na ilha Carioca e nas margens do rio Caracu, em Porto

Rico-PR. Em cada uma destas áreas foram determinados 10 pontos amostrais

aleatórios, nos quais a cobertura de dossel foi fotografada e a imagem tratada no

programa Image J, onde calculou-se a porcentagem de abertura de dossel.

Nos pontos amostrais foram delimitadas parcelas circulares com um metro de

raio, nas quais todas as plantas com a altura entre 20 cm e 1 m foram amostradas e

separadas em morfotipos. Cada indivíduo teve os seguintes atributos medidos: textura

da folha (coriácea, cartácea, membranácea); tipo de ápice foliar (acuminado, não

acuminado), número de folhas, largura e comprimento das folhas (a partir dos quais foi

estimada a área foliar, considerando a fórmula da área da elipse); circunferência da base

do caule, altura da planta; área fotossintetizante (calculada a partir da área da folha

multiplicada pelo número de folhas do indivíduo); presença de anexos epidérmicos e

forma de vida.

Para cada parcela, a diversidade funcional foi determinada, através da entropia

quadrática de Rao. Posteriormente estes valores de diversidade, a riqueza e a

abundância das parcelas foram relacionados com a abertura do dossel, através de

análises de regressão.

Resultados

No total foram amostrados 107 indivíduos, compreendendo 12 morfotipos, nas

20 parcelas. A riqueza de morfotipos não apresentou relação com a abertura de dossel

(Fig. 1 A), no entanto, ao aplicar uma relação quadrática entre a riqueza e a abertura de

dossel observou-se um melhor ajuste dos dados (R² = 0,38) (Fig. 1B).

A B

115

Coleta de dados

O estudo foi realizado na ilha Carioca e nas margens do rio Caracu, em Porto

Rico-PR. Em cada uma destas áreas foram determinados 10 pontos amostrais

aleatórios, nos quais a cobertura de dossel foi fotografada e a imagem tratada no

programa Image J, onde calculou-se a porcentagem de abertura de dossel.

Nos pontos amostrais foram delimitadas parcelas circulares com um metro de

raio, nas quais todas as plantas com a altura entre 20 cm e 1 m foram amostradas e

separadas em morfotipos. Cada indivíduo teve os seguintes atributos medidos: textura

da folha (coriácea, cartácea, membranácea); tipo de ápice foliar (acuminado, não

acuminado), número de folhas, largura e comprimento das folhas (a partir dos quais foi

estimada a área foliar, considerando a fórmula da área da elipse); circunferência da base

do caule, altura da planta; área fotossintetizante (calculada a partir da área da folha

multiplicada pelo número de folhas do indivíduo); presença de anexos epidérmicos e

forma de vida.

Para cada parcela, a diversidade funcional foi determinada, através da entropia

quadrática de Rao. Posteriormente estes valores de diversidade, a riqueza e a

abundância das parcelas foram relacionados com a abertura do dossel, através de

análises de regressão.

Resultados

No total foram amostrados 107 indivíduos, compreendendo 12 morfotipos, nas

20 parcelas. A riqueza de morfotipos não apresentou relação com a abertura de dossel

(Fig. 1 A), no entanto, ao aplicar uma relação quadrática entre a riqueza e a abertura de

dossel observou-se um melhor ajuste dos dados (R² = 0,38) (Fig. 1B).

A B

116

Fig. 1. A) Relação linear entre a abertura do dossel e a riqueza de plantas, B) Relação

quadrática entre a abertura do dossel e a riqueza das plantas.

A diversidade funcional de Rao teve relação com a abertura de dossel (Fig. 2), no

entanto, o padrão desta relação não foi linear (R²= 0,05; p>0,05). Contudo, ao aplicar

relação quadrática aos dados observou-se melhor ajuste (R²=0,46)(Fig. 2).

Fig. 1. Relação entre abertura do dossel e diversidade funcional de Rao .

Discussão

y = 0.0008x + 0.2701R² = 0.0535

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0 20 40 60 80 100

Dive

rsid

ade

func

iona

l de

Rao

Abertura de Dossel

y = -0.0001x2 + 0.0134x + 0.088R² = 0.4641

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0 20 40 60 80 100

Dive

rsid

ade

func

iona

l de

Rao

Abertura de Dossel

117

Os resultados encontrados para a riqueza e diversidade funcional não

suportam as hipóteses de que maiores coberturas de dossel resultam em uma

maior riqueza e diversidade funcional. Entretanto, as relações encontradas refletem

os conhecimentos de que intensidades luminosas extremas desfavorecem a

existência de plantas (Begon et al. 2007), já que baixas iluminações são

insuficientes para atividades fotossintéticas, enquanto iluminações excedentes à

capacidade fotossintética máxima podem estar além das capacidades de dissipação

da energia da planta e gerar estresses térmicos e hídricos (Mooney & Ehleringer

1997).

Frente a isto acreditamos que embora os resultados tenham indicado um

possível padrão com suporte biológico, seriam necessárias novas amostragens para

conseguir confirmá-lo. O estudo deixa evidente a necessidade de maior cautela na

análise de filtros ambientais a partir de um único fator, já que estes filtros não

atuam de maneira isolada. Além disso, é importante ressaltar que os filtros atuam

ao longo de um gradiente, o qual não foi totalmente contemplado no estudo.

Referências

Cavender-Bares J, Kozak KH, Fine PVA, Kembel SW 2009 The merging of community

ecology and phylogenetic biology. Ecological Letters 12:693–715.

Dray S, Pélissier R, Couteron P, Fortin MJ, Legendre P, Peres-Neto PR, Bellier E,

Bivand R, Blanchet FG, De Cáceres M, Dufour A, Heegard E, Jombart T, Munoz

F, Oksanen J, Thioulouse J, Wagner HH 2012 Community ecology in the age of

multivariate multiscale spatial analysis. Ecological Monographs 82(3):257–275.

Mooney HA, Ehleringer JR 1997 Photosynthesis. In: Crawley M (Ed.). Plant Ecology

2nd Ed. Blackwell Publishing.

Tilman D 1986 Plant ecology. Blackwell, Oxford.

118

INFLUÊNCIA DO TAMANHO DA INFLORESCÊNCIA NA RIQUEZA E VISITA DE INSETOS EM

UMA LEGUMINOSA TROPICAL

EMANUEL Razzolini; FERNANDO G. de Oliveira; FLÁVIO M. Marteleto;

NATÁLIA C. L. dos Santos; SANDRA M. N. de Andrade

Orientador:

Fernando

Passos

Resumo

A interação planta-insetos é bem conhecida e estudada na ecologia. A principal

interação nessa relação é a busca por fontes de alimento pelos insetos em contrapartida

com a dispersão de pólens das plantas. Nesse estudo foi verificado uma tendência da

relação positiva entre tamanho de inflorescência e riqueza de morfotipos de insetos;

além de uma relação positiva e significativa entre o número de visitas de insetos com o

aumento do tamanho das inflorescências.

Palavras-chave: Crotalaria, abundância, insetos, riqueza, inflorescência

Introdução

Em ecologia, é bem conhecido que insetos são atraídos por plantas com

inflorescência, devido a sua cor e cheiro. Estes animais procuram néctar e pólen como

fonte de alimento. Grandes áreas de inflorescência podem abrigar mais espécies de

insetos por serem maiores alvos de colonização e ainda por terem mais recursos. Além

do efeito da área, os organismos se comportam de modo a maximizar o ganho

energético melhorando a eficiência do encontro, captura e consumo do alimento. Esse

comportamento é conhecido como forrageamento ótimo proposto por Robert

MacArthur e Eric Pianka em 1966 (Begon et al., 2010; Ricklefs, 2003).

O gênero Crotalaria pertence à família Leguminosae, subfamília Faboideae.

Dentre as 31 espécies nativas e 11 exóticas catalogadas para o Brasil, foram citadas seis

espécies para a Planície de Inundação do Alto Rio Paraná (PIARP). Assim, os objetivos

deste estudo foram (i) analisar a riqueza de espécies de insetos em inflorescências de

Crotalaria sp. de diferentes comprimentos e (ii) avaliar a frequência de visitas de

insetos nas inflorescências de Crotalaria sp com diferentes tamanhos. Sob essa

119

perspectiva, as hipóteses testadas foram: (i) O tamanho de inflorescência de Crotelaria

sp. influencia a riqueza de espécies de insetos. (ii) O tamanho da inflorescência

influencia a frequência de visitas de insetos. Desse modo, é predito que (i)

Inflorescências maiores comportam um maior número de espécies e (ii) Inflorescências

maiores são mais atrativas do ponto de vista visual

Material e Métodos

Área de estudo

O estudo foi desenvolvido próximo à base de pesquisas do Nupélia, município

de Porto Rico, Paraná, Brasil. Situada no trecho superior da Planície de Inundação do

Alto Rio Paraná, a área de estudo está inserida em uma região de clima subtropical, com

temperatura média anual entre 23ºC e 24ºC. A vegetação pertence a uma região do

Bioma Mata Atlântica conhecida como Floresta Estacional Semidecidual, apresentando

ambientes secos e pantanosos, remanescentes florestais ripários, e áreas de Cerrado e de

Campos.

Amostragem e Análise de dados

Em uma primeira etapa, foram coletadas aleatoriamente 40 inflorescências de

Crotalaria sp. com sacos plásticos envolvendo toda a inflorescência, de modo que se

capturasse os organismos presentes na planta. Em laboratório, os sacos plásticos foram

armazenados em ambiente refrigerado para minimizar a atividade dos organismos e,

depois de 30 minutos, as amostras foram examinadas em lupa para a identificação e

contagem dos morfotipos de organismos associados nos diferentes comprimentos de

inflorescências. As inflorescências foram agrupadas em três classes de tamanhos:

pequena (P), com comprimento total (CT) menor ou igual a 7,0 cm; média (M), com

comprimento entre 7,5 e 14,0 cm; e grande (G), com tamanho acima de 14,5 cm. Após

isso, o número de insetos que visitaram cada tamanho de inflorescência foi estimado

durante o tempo de dois minutos e meio. Os organismos foram identificados por

morfotipos diferenciados morfologicamente com características gerais. Os dados foram

analisados através de uma análise de variância (ANOVA) para testar se há diferença

entre as médias de riqueza entre os comprimentos de inflorescência. O programa

estatístico utilizado foi o Statistica 7.0.

Resultados

120

A riqueza de morfotipos de insetos foi semelhante entre as inflorescências

pequenas e médias, porém, apresentou um aumento na inflorescência grande (Figs. 1A,

C). Em relação ao número de visitas de insetos, observou-se uma diferença entre a

inflorescência grande com as demais (Fig. 1B), além de uma tendência de relação

positiva entre essas variáveis (Fig. 1D).

Pequena Média Grande

Classes de comprimento das inflorescências (cm)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Riq

ueza

(S)

Média Média ± EP

A

F = 1,53; P > 0,05

Pequena Média Grande

Classes de comprimento das inflorescências (cm)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Núm

ero

de v

isita

s de

inse

tos

Média Média ± EP

F = 28,94; P < 0,01

B

121

Figura 1. Médias da riqueza (A) e número de visitas de insetos (B) em relação às

classes de comprimento das inflorescências. Os gráficos C e D demonstram as relações

entre as respectivas variáveis.

Coleopteras (2, 3 e 4) (Tab. I) foram presentes apenas nas inflorescências

maiores enquanto que alguns outros morfotipos se apresentaram apenas nas classes de

comprimento pequena e média (Tab. I).

Tabela I. Lista de morfotipos de insetos capturados demostrando a presença e ausência

nas diferentes classes de comprimento das inflorescências.

Morfotiposde insetos

Pequena Média Grande

Formiga 1

Formiga 2

Formiga 3

Lepidoptera 1

Lepidoptera 2

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Comprimento das inflorescências (cm)

0

2

4

6

8

10

Riq

ueza

(S)

y = 0,10*x + 2.21

P > 0,05 C

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Comprimento das inflorescência (cm)

0

2

4

6

8

10

12

14

Núm

ero

de v

isita

s de

inse

to

y = 0,33*x - 2,1274

P < 0,01 D

122

Ortoptera 1

Ortoptera 2

Vespoidea

Hemiptera 1

Hemiptera 2

Coleoptera 1

Coleoptera 2

Coleoptera 3

Coleoptera 4

Diptera 1

Diptera 2

Diptera 3

Diptera 4

Diptera 5

Aranea

Apidea

Pulgao 1

Pulgao 2

Discussão

Um dos pressupostos clássicos para essa teoria da Hipótese de diversidade

(Williams 1964) é que uma área maior só apresenta mais espécies se houver uma maior

diversidade de habitats a serem ocupados. Desse modo a não diferenciação em termos

de riqueza em relação ao tamanho das inflorescências, está diretamente relacionado ao

fato das mesmas apresentarem estrutura bastante similar na escala estudada. Uma vez

que o padrão das flores é o mesmo para qualquer um dos tamanhos, as mesmas

funcionam de fato como habitats homogêneos e semelhantes entre si. Ainda, baixa

fidelidade quanto ao habitat dos morfotipos encontrados pode ter contribuído de forma

significativa para a não diferenciação dos padrões de riqueza.

A diferença significativa encontrada na comparação de visitas entre os diferentes

tamanhos de inflorescência pode ser explicada pelo fato de que as inflorescências

maiores possuem flores maiores e mais aparentes, efeito que funcionaria como um

atrativo muito maior para os insetos em busca de alimento. Essa predição está

123

condizente com teoria do forrageamento ótimo, no qual a chance de maximização da

obtenção de energia por tempo é muito maior, se um organismo consegue detectar a

uma fonte de alimento mais conspícua (Ricklefs, 2003). Porém, os baixos números de

visitas verificadas, podem estar relacionados ao horário de avaliação das mesmas, uma

vez que fatores abióticos como baixa luminosidade e temperatura, que afetam limitações

fisiológicas dos insetos, podem ter interferido negativamente as taxas de visitas.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao professor Fernando Passos pela orientação do projeto

de estudo e aos programas de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná e

Universidade Estadual de Maringá pela disciplina ofertada para o treinamento e

aprendizagem das pesquisas ecológicas em campo.

Referencias bibliográficas

Ricklefs, R.E. 2003. A economia da natureza. 5ª Edição, Rio de Janeiro, Brasil.

Townsend, C.R, Begon, M., Harper, J.L. 2010. Fundamentos em ecologia. 3ª Edição,

São Paulo, Brasil.

Williams, C.B. 1964. Patterns in the Balance of nature. Academic Press, London

124

EXISTEM EFEITOS DA DISTÂNCIA DA BORDA DE BANCOS DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS

NA DIVERSIDADE DE GRUPOS FUNCIONAIS DE INVERTEBRADOS?

Hugo José Message, Priscilla Guedes Gambale, Renata Gabriela Noguchi, SimoneSatsuki Takeuchi, Taise Miranda Lopes.

Orientador: Roger Mormul

Resumo: As macrófitas aquáticas são responsáveis por promover estruturação aosambientes, ocasionando uma maior diversidade de invertebrados. Assim, testou-se ahipótese de que a distribuição de espécies de invertebrados é determinada pela distânciada posição no banco de macrófitas em relação à borda. De acordo com os resultados daanálise de variância, os atributos riqueza de espécies, abundância, comprimento padrãoe diversidade de Shannon não apresentaram significância, possivelmente devido à baixaheterogeneidade ambiental e de espécies de macrófitas no banco

Palavras-chave: Herbivoria, Interações, Plantas aquáticas, Grupos funcionais.

Introdução

Macrófitas aquáticas são componentes chaves nos ambientes aquáticos porserem fonte de alimento e contribuirem para aumentar a complexidade do habitat,influenciando a variação da diversidade de espécie dos organismos em várias escalasespaciais. Além disso, são responsáveis por influenciar as variáveis climáticas, físicas equímicas da água através da ciclagem de nutrientes, da liberação de substânciasalelopáticas e da geração de detritos e produtos derivados (Walker et al, 2013). Lagoasrasas tropicais geralmente apresentam grande abundância de macrófitas aquáticas.

Os maiores bancos de macrófitas flutuantes encontram-se próximos às margens,região que abriga a maior densidade de raízes, possui maior complexidade de habitats etem influência positiva sobre o número de espécies residentes por oferecer maiornúmero de microhabitats e criação de nichos. As regiões desses bancos mais próximos àzona pelágica são menos densas (Thomaz et al, 2008) e apresentam poucosinvertebrados devido a menor quantidade de perifíton e fitoplâncton para alimentação,além da presença e predação por peixes derivados (Walker et al, 2013).

Testou-se a hipótese de que a distribuição de morfotipos de invertebrados édeterminada pela distância da posição dentro do banco de macrófitas aquáticas em

125

relação à borda. Espera-se que exista uma maior densidade de herbívoros (perfuradores,raspadores e cortadores) próximos a esta localização.

Materiais e Métodos

A coleta foi realizada no ressaco do Bilé, localizado na planície de inundação doalto rio Paraná. Foram amostrados 4 bancos de macrófitas aquáticas, o primeiropróximo a entrada do ressaco e os outros distantes 50m entre si. Em cada banco foramamostrados três pontos em distâncias crescentes da borda (margem) em direção à zonapelágica (regiões: borda, centro e pelágica). Os invertebrados foram coletados compeneira de malha 1mm com duas submersões da peneira por ponto, recolhidos comauxílio de pinça e imediatamente armazenados em potes com álcool.

Em laboratório, as amostras foram triadas em microscópio estereoscópio e osindivíduos foram classificados de acordo com seus grupos funcionais (predador,perfurador, raspador, cortador e detritívoro), morfotipos e mensurados quanto aocomprimento total (cm). Foram quantificadas a riqueza e a abundância de cada grupofuncional e morfotipo.

Para avaliar como os morfotipos dos invertebrados se distribuem no interior dosbancos de macrófitas aquáticas foram selecionados os atributos de riqueza, abundância,comprimento e diversidade de Shannon. Para testar possíveis diferenças na variaçãodestes atributos foi utilizada a análise de variância unifatorial (One-way ANOVA),considerando a localização dos bancos de macrófitas (borda, centro e pelágica) comofator. Essas análises foram feitas no programa Statistic 7.0.

Para sumarizar os padrões de similaridade na composição de morfotipos deinvertebrados em relação ao fator localização (borda, centro e pelágica) foi aplicadouma PCoA (análise de coordenadas principais). Nessa análise de ordenação, aabundância relativa dos morfotipos foi transformada e posteriormente aplicado ocoeficiente de similaridade de Bray-Curtis. Para verificar a diversidade beta daslocalizações foi realizada uma PERMDISP, que compara a dispersão dos dados emrelação à centroide do fator, sendo que quanto maior a dispersão, maior a diversidadebeta. As diferenças entre o fator foi determinada usando uma análise de variânciapermutacional (PERMANOVA), aplicada sobre uma matriz de similaridade comdistâncias de Bray-Curtis. Para testar a significância estatística (p<0,05), foi utilizadopermutações de Monte Carlo (N = 9999). Essas análises foram feitas no programaPRIMER 6 add PermanovaTM.

Resultados

Foram identificados 5 grupos funcionais de invertebrados associados asmacrófitas aquáticas, sendo que a maior abundância foi de predadores e perfuradores na

126

região pelágica (Figura 1). Em geral, a borda apresentou maior abundância deperfuradores e raspadores. Cortadores e detritívoros ocorreram em menor quantidade eos raspadores apresentaram abundância intermediária, ocorrendo de forma homogêneanas três localizações.

Figura 1: Abundância dos grupos funcionais nos três estratos de macrófita (borda,centro e pelágica).

De acordo com a análise de variância unifatorial (one-way ANOVA;localização) nenhum dos atributos da comunidade foram significativamente distintosentre a localização dos bancos de macrofitas. (riqueza de espécies,F=1,09, P=0,38;abundância, F=2,56, P=0,13; comprimento padrão, F=0,73, P=0,51; diversidade deShannon, F=0,69, P=0,52) (Figura 2).

126

região pelágica (Figura 1). Em geral, a borda apresentou maior abundância deperfuradores e raspadores. Cortadores e detritívoros ocorreram em menor quantidade eos raspadores apresentaram abundância intermediária, ocorrendo de forma homogêneanas três localizações.

Figura 1: Abundância dos grupos funcionais nos três estratos de macrófita (borda,centro e pelágica).

De acordo com a análise de variância unifatorial (one-way ANOVA;localização) nenhum dos atributos da comunidade foram significativamente distintosentre a localização dos bancos de macrofitas. (riqueza de espécies,F=1,09, P=0,38;abundância, F=2,56, P=0,13; comprimento padrão, F=0,73, P=0,51; diversidade deShannon, F=0,69, P=0,52) (Figura 2).

126

região pelágica (Figura 1). Em geral, a borda apresentou maior abundância deperfuradores e raspadores. Cortadores e detritívoros ocorreram em menor quantidade eos raspadores apresentaram abundância intermediária, ocorrendo de forma homogêneanas três localizações.

Figura 1: Abundância dos grupos funcionais nos três estratos de macrófita (borda,centro e pelágica).

De acordo com a análise de variância unifatorial (one-way ANOVA;localização) nenhum dos atributos da comunidade foram significativamente distintosentre a localização dos bancos de macrofitas. (riqueza de espécies,F=1,09, P=0,38;abundância, F=2,56, P=0,13; comprimento padrão, F=0,73, P=0,51; diversidade deShannon, F=0,69, P=0,52) (Figura 2).

127

A B

C D

Figura 2: Média e Desvio-Padrão da riqueza total (A), abundância total (B),comprimento (C) e diversidade de Shannon (D) na borda, centro e região pelágica emmacrófitas aquáticas flutuantes.

A análise de coordenadas principais apresentou eixos com baixa representaçãoda variação dos dados (PCoA 1 = 25,9% e PCoA = 17,1%). Além disso, a centroide dasregiões não apresentou uma distância significativa entre si (Figura 3). A PERMDISPnão apresentou significância (F= 2,18; P = 0,24), demonstrando uma homogeneidade dadispersão, e, consequentemente, uma baixa diversidade beta entre os locais nos bancosde macrófitas aquáticas.

128

Figura 3: Gráfico representando a ordenação da composição dos morfotipos deinvertebrados nas três localizações nos bancos de macrófitas (borda, centro e pelágica).

A análise de variância permutacional (PERMANOVA) também não identificoudiferença significativa na composição dos morfotipos de invertebrados em relação àlocalização do banco (Pseudo F = 0,90; p = 0,57).

Discussão

A presença de uma diversidade de morfotipos nas macrófitas aquáticas pode serexplicada pela interação mutualística entre a planta e os invertebrados. A alta produçãode matéria orgânica pelas macrófitas atrai os invertebrados aquáticos, que acabam porse alimentar da camada epífitica das raízes, conferindo maior crescimento a elas(Brönmark, 1985).

A similaridade de morfotipos de invertebrados presentes nos diferentes locaisdos bancos de macrófitas pode ser devido à similaridade na qualidade da água(propriedades químicas) da região pelágica e da borda de bancos de macrófitas emlagoas conectadas ao Alto Rio Paraná (Thomaz, 2008). Considerando que fatoresquímicos da água podem influenciar na distribuição dos invertebrados, a semelhançaentre os pontos também confere semelhança entre os indivíduos ali presentes. Alémdisso, os invertebrados apresentam preferência para determinada espécie de planta, poisessas diferem entre si quanto à palatabilidade e composição química (Elger & Barrat-Segretain, 2004). Desse modo, a homogeneidade de espécies de macrófitas entre ospontos de amostragem (composto predominantemente por Eichhornia azurea) pode terrefletido também na homogeneidade da composição dos morfotipos de invertebradosassociados.

129

Referências bibliográficas

Brönmark C 1985 Interactions between macrophytes, epiphytes and herbivores: anexperimental approach. Oikos 45:26-30.

Elger A, Barra-Segretain MH 2004 Plant palatability can be inferred from a single-datefeeding trial. Functional Ecology 18: 483-488.

Thomaz SM, Dibble ED, Evangelista LR, Higuti J, Bini LM 2008. Influence of aquaticmacrophyte habitat complexity on invertebrate abundance and richness intropical lagoons. Freshwater Biology 53: 358-367.

Walker PD, Wijnhoven S, Velde Gvd 2013 Macrophyte presence and growth forminfluence macroinvertebrate community structure. Aquatic Botany 104: 80-87.

130

VARIAÇÃO DE RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DE MACRÓFITAS AO LONGO DE

UM GRADIENTE AMBIENTAL

Ariane Ghelfi, Bianca Possamai, Daniel Santos, Juliana Wojciechowski e Vivian Cionek

Orientador: Sidinei Thomaz

Resumo: A associação entre fatores ambientais e a riqueza e composição de espécies de

macrófitas de uma lagoa conectada ao rio Paraná foi avaliada. A distância da entrada da lagoa,

juntamente com a redução da luminosidade, determinaram a riqueza de espécies, enquanto a

profundidade foi preditora da composição da assembleia. Nossos resultados indicam que as

macrófitas encontram-se organizadas perpendicular e longitudinalmente ao eixo principal da

lagoa, sendo que a intensidade luminosa e a profundidade podem ser fatores determinantes

dessa zonação.

Palavras-chave: macrófitas, zona eufótica, interação espécie-ambiente.

Introdução

Macrófitas aquáticas desempenham diversos papéis ecológicos importantes, como

ciclagem de nutrientes e estruturação de habitats (Biudes e Camargo, 2008). Essas plantas são

classificadas como emergentes, flutuantes-livres, semi-aquáticas, epífitas, submersas livres e

submersas fixas, podendo formar gradientes de distribuição ao longo de lagos (Matias et al.,

2003; Rotta et al., 2010). Essa distribuição pode ser determinada pela profundidade, pela

concentração de íons e por competição, entre outros fatores (Esteves, 2011). Porém, a

profundidade parece ser o principal determinante, pois esse fator é inversamente

proporcional a quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos na coluna d'água

(Preisendorfer, 1986). Entre as diversas interações ecológicas interespecíficas observadas em

macrófitas, é comum observar a diminuição de espécies submersas com o aumento de

espécies que impedem a penetração da luz na coluna d'água (Wetzel, 1983).

Este trabalho objetivou verificar a associação entre variáveis ambientais e a riqueza e

composição de espécies de macrófitas em um gradiente longitudinal de uma lagoa conectada

ao rio Paraná. Também visou analisar a relação entre macrófitas submersas e cobertura da

macrófita flutuante Eichhornia azurea. As seguintes hipóteses foram testadas: i) A riqueza de

131

espécies de macrófitas aumenta e a composição muda ao longo de um gradiente longitudinal

da lagoa; ii) A composição de espécies varia com a profundidade (iii); A radiação luminosa é o

fator determinante da presença e abundância de espécies submersas. Espera-se que ao longo

do gradiente longitudinal a profundidade e transparência diminuam e que a concentração de

nutrientes aumente, culminando em aumento da riqueza e mudança na composição de

espécies. A predição da segunda hipótese é de que espécies emergentes dominem regiões

rasas e espécies flutuantes e submersas dominem regiões profundas. Para a terceira hipótese,

predizemos que locais com mata ciliar e regiões dominadas por E. azurea (uma espécie

enraizada flutuante) sejam colonizados de forma escassa por plantas submersas.

Material e métodos

As amostragens foram realizadas no Ressaco do Pau Véio (22°44’76”S;

53°15’11.16”W), uma lagoa pertencente à sub-bacia do Rio Paraná. Para testar se há

associação entre as variáveis ambientais e a riqueza e composição de espécies de macrófitas

no gradiente longitudinal da lagoa foram amostrados 24 pontos (6 na margem e 18 no centro

da lagoa) em diferentes bancos de macrófitas. A composição e cobertura de espécies foram

amostradas com um quadrado de 100 x 100 cm. Foram mensuradas a profundidade da coluna

de água (régua graduada, cm), a condutividade (condutivímetro, µS/cm), a distância da

entrada do ressaco (GPS, m) e a cobertura de dossel (presença e ausência). Para testar se a

cobertura de E. azurea determina a riqueza de espécies de macrófitas submersas (Cabomba

furcata e Egeria najas), a porcentagem de cobertura da primeira espécie foi estimada dentro

do quadrado de 100 x 100 cm e das submersas a partir de arrasto com garfo no fundo da lagoa

diretamente abaixo do quadrado.

Um nMDS foi realizado para sumarizar a composição de espécies em um eixo para a

geração dos modelos, a fim de investigar a distribuição dos dados no espaço multivariado.

Modelos lineares utilizando as variáveis abióticas como preditoras da composição (valores de

dissimilaridade geradas pelo nMDS) e riqueza de macrófitas foram realizados baseando-se no

critério de AIC. Para analisar diferenças na composição das espécies entre a margem e o meio

do ressaco realizou-se uma PERMANOVA, e a possível diferença entre a riqueza de espécie no

gradiente longitudinal foi testada por ANOVA, ambas análises com α=0,05. Uma correlação de

Pearson foi realizada entre a porcentagem de cobertura de Eichhornea azurea e as espécies

submersas.

132

Resultados

Os modelos revelaram que a variação na riqueza de espécies de macrófitas no ressaco

do Pau Véio é melhor explicada pela distância da entrada e pela cobertura do dossel. A maior

riqueza de espécies ocorreu nas áreas em que a cobertura do dossel foi menor (Fig. 1A). Já a

variação na composição de espécies no gradiente de distância foi predita pela profundidade e

pela condutividade, quando consideradas espécies de margem e meio do ressaco. A

composição de espécies foi diferente entre a margem e o meio do canal (F1,20=7,92; P

=0,0001), e essa diferença é representativa da variação de profundidade. Quando utilizamos

apenas as espécies do meio do ressaco, a distância em relação à entrada foi o que melhor

explicou a composição de espécies (Tab. 1).

Tabela 1. Modelos lineares (LM) para a riqueza e composição de espécies. As variáveisabióticas profundidade (cm), condutividade (µS/cm), distância da entrada (m) do ressaco ecobertura de dossel (aberto/fechado) foram utilizadas como preditoras para os modelos.

Componente Variável Preditora (Valor de importância) AICc

Canal/Margem

Riqueza Distância (0,94); Dossel (0,732) 66,704

Composição (%) Profundidade (1); Condutividade (0,957) 37,607

Composição (P/A) Profundidade (1); Condutividade (0,713) 35,830

Canal

Riqueza Distância (0,92); Dossel (0.83) 50,858

Composição (%) Distância (1) 6,120

Composição (P/A) Distância (1) 18,005

Foi verificada uma fraca correlação do grau de cobertura de E. azurea e a proporção de

macrófitas submersas (R= -0,39; P=0,12), com uma tendência de aumento da cobertura de

submersas com a diminuição da cobertura de E. azurea (Fig. 1B).

133

Figura 1. (A) Riqueza de espécies de macrófitas dos pontos amostrais em relação à cobertura do dossel;(B) Correlação de Pearson entre a porcentagem de cobertura de E. azurea e espécies de macrófitassubmersas.

Discussão

A variação de riqueza e composição de espécies de macrófitas em lagoas abertas

podem ser preditas pela variação na distância da entrada da mesma, cobertura do dossel e

profundidade. A associação entre essas variáveis ocorreu devido a maior cobertura da mata

ciliar na entrada e no final da lagoa, que tendem a ser mais estreitas, incorrendo em maior

sombreamento da água. A limitação da incidência de luz é um fator que seleciona espécies

mais tolerantes ou adaptadas a baixa intensidade luminosa (Biudes e Camargo, 2008),

culminando em baixa riqueza e variação na composição das espécies em relação a trechos de

dossel aberto. Cabe destacar que a transparência foi muito similar ao longo do gradiente

longitudinal da lagoa, ou seja, no período amostrado a zona fótica foi total, não sendo

considerada como um fator relevante para a predição da riqueza e composição de espécies.

A composição de espécies foi diferente entre margem e meio do ressaco e essa

variação foi predita pela profundidade e pela condutividade. As variações de profundidade

tendem a selecionar as formas de vida de macrófitas, e, em geral, em profundidades mais

rasas ocorrem as formas enraizadas emergentes e anfíbias (Esteves, 2011). Nas áreas mais

profundas da lagoa há ocorrência de espécies flutuantes, que dependem mais da concentração

de nutrientes na água, e de espécies submersas, mais adaptadas à menor incidência de luz do

que as espécies das margens (Esteves, 2011).

133

Figura 1. (A) Riqueza de espécies de macrófitas dos pontos amostrais em relação à cobertura do dossel;(B) Correlação de Pearson entre a porcentagem de cobertura de E. azurea e espécies de macrófitassubmersas.

Discussão

A variação de riqueza e composição de espécies de macrófitas em lagoas abertas

podem ser preditas pela variação na distância da entrada da mesma, cobertura do dossel e

profundidade. A associação entre essas variáveis ocorreu devido a maior cobertura da mata

ciliar na entrada e no final da lagoa, que tendem a ser mais estreitas, incorrendo em maior

sombreamento da água. A limitação da incidência de luz é um fator que seleciona espécies

mais tolerantes ou adaptadas a baixa intensidade luminosa (Biudes e Camargo, 2008),

culminando em baixa riqueza e variação na composição das espécies em relação a trechos de

dossel aberto. Cabe destacar que a transparência foi muito similar ao longo do gradiente

longitudinal da lagoa, ou seja, no período amostrado a zona fótica foi total, não sendo

considerada como um fator relevante para a predição da riqueza e composição de espécies.

A composição de espécies foi diferente entre margem e meio do ressaco e essa

variação foi predita pela profundidade e pela condutividade. As variações de profundidade

tendem a selecionar as formas de vida de macrófitas, e, em geral, em profundidades mais

rasas ocorrem as formas enraizadas emergentes e anfíbias (Esteves, 2011). Nas áreas mais

profundas da lagoa há ocorrência de espécies flutuantes, que dependem mais da concentração

de nutrientes na água, e de espécies submersas, mais adaptadas à menor incidência de luz do

que as espécies das margens (Esteves, 2011).

133

Figura 1. (A) Riqueza de espécies de macrófitas dos pontos amostrais em relação à cobertura do dossel;(B) Correlação de Pearson entre a porcentagem de cobertura de E. azurea e espécies de macrófitassubmersas.

Discussão

A variação de riqueza e composição de espécies de macrófitas em lagoas abertas

podem ser preditas pela variação na distância da entrada da mesma, cobertura do dossel e

profundidade. A associação entre essas variáveis ocorreu devido a maior cobertura da mata

ciliar na entrada e no final da lagoa, que tendem a ser mais estreitas, incorrendo em maior

sombreamento da água. A limitação da incidência de luz é um fator que seleciona espécies

mais tolerantes ou adaptadas a baixa intensidade luminosa (Biudes e Camargo, 2008),

culminando em baixa riqueza e variação na composição das espécies em relação a trechos de

dossel aberto. Cabe destacar que a transparência foi muito similar ao longo do gradiente

longitudinal da lagoa, ou seja, no período amostrado a zona fótica foi total, não sendo

considerada como um fator relevante para a predição da riqueza e composição de espécies.

A composição de espécies foi diferente entre margem e meio do ressaco e essa

variação foi predita pela profundidade e pela condutividade. As variações de profundidade

tendem a selecionar as formas de vida de macrófitas, e, em geral, em profundidades mais

rasas ocorrem as formas enraizadas emergentes e anfíbias (Esteves, 2011). Nas áreas mais

profundas da lagoa há ocorrência de espécies flutuantes, que dependem mais da concentração

de nutrientes na água, e de espécies submersas, mais adaptadas à menor incidência de luz do

que as espécies das margens (Esteves, 2011).

134

A ocorrência de macrófitas submersas em lagoas está condicionada à profundidade da

zona eufótica e à associação com a cobertura formada por espécies flutuantes livres e

emergentes que provocam um grau de sombreamento na coluna d’água (Duarte e Kalff, 1986),

o que pode aumentar a competição por luz entre as espécies submersas (Camargo et al.,

2006). Essa relação não foi verificada no presente estudo, e acredita-se que seja em

decorrência do pequeno tamanho dos bancos de E. azurea, permitindo assim a refração da luz

a partir das bordas (Esteves, 2011). A adição de maior número de réplicas e ambientes poderia

contribuir para verificar essa relação de maneira mais robusta.

Referências Bibliográficas

Biudes JFV, Camargo AFM 2008 Estudos dos fatores limitantes à produção primária por

macrófitas aquáticas no Brasil. Oecol. Bras. 12(1): 7-19.

Calheiros DF, Ferreira CJA 1996 Alterações limnológicas no rio Paraguai (“dequada”) e o

fenômeno natural de mortandade de peixes no Pantanal Mato-Grossense - MS.

Corumbá. MS: EMBRAPA-CPAP, 51p. (EMBRAPA- CPAP. Boletim de Pesquisa, 7).

Camargo AFM, Pesatto MM, Henry-Silva GG, Asumpção AM 2006 Primary production of

Utricularia foliosa L., Egeria densa Planchon and Cabomba furcata Schult & Schult.f

from rivers of the coastalplain of hte State of São Paulo, Brazil. Hydrobiologia 570: 35-

39.

Duarte MC, Kalff J 1986 Littoral slope as a predictor of the maximum biomass of submerged

macrophyte communities. Limnol. Oceanogr 31(5): 1072-1080.

Esteves FA 2011 Fundamentos de Limnologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Interciência.

Preisendorfer RW 1986 Secchi disk science: visual optics of natural waters. Limnol. Oceanogr.

31:909-926.

Rotta LHS, Ferreira MS, Imai NN, Tachibana VM 2010 Análise espacial de macrófitas submersas

no reservatório de Porto Colômbia. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e

Tecnologias da Geoinformação.

Wetzel RG 1983 Limnology. 2 ed. Philadelphia: Saunders College, 767 p.

135

EFEITO DA TURBIDEZ DA ÁGUA NA PREDAÇÃO DO ZOOPLÂNCTON POR PEIXES

Diego Corrêa Alves, Fernanda Ceschin, Letícia Cucolo Karling, Luciana Zago, Monica

Vasques Mangas Pereira

Orientador: Juliana

Resumo

A relação entre a turbidez da água e densidades de organismos zooplanctônicos

é influenciada por interações bióticas. Visamos testar por experimentação se a predação

de peixes em zooplâncton é menor em águas mais túrbidas. Os resultados revelaram

maiores predações em águas claras, não suportando a hipótese proposta. Águas túrbidas

podem reduzir esforços com comportamentos anti-predatórios em peixes, aumentando

seus esforços alimentares, entretanto, a confirmação de que os resultados encontrados

estão relacionados a isto só pode ser dada por novas experimentações.

Palavras-chave: Microcosmos, esforços alimentares, planície de inundação, rio Paraná.

Introdução

A predação exerce forte efeito nas comunidades de presas, este efeito varia de

acordo com a densidade e o tamanho dos predadores, sua preferência alimentar e as

condições abióticas do habitat. (Sih et al. 1985). Além dos efeitos diretos (consumo das

presas) a predação tem efeitos indiretos (redução das taxas de forrageamento, migração,

coexistência de presas) na estrutura das comunidades (Sih 2010 et al., Morin 1999). A

estrutura da comunidade de zooplâncton, por exemplo, pode ser determinada por fatores

bióticos e abióticos, como vêm sendo abordado em muitos trabalhos realizados na

planície de inundação do alto rio Paraná (Bonecker & Lansac-Tôha 1996, Bini et al.

2001, Rossa et al. 2001, Azevedo & Bonecker 2003, Aoyagui & Bonecker 2004,

Bonecker et al. 2005, Leal 2010).

A turbidez da água está entre os fatores abióticos relacionados com as

densidades de alguns organismos zooplanctônicos, entretanto, há suspeitas de que esta

relação é influenciada por interações bióticas como a competição e a predação (Thorp &

Mantovani 2005). Sabe-se que as assembleias de peixes de pequeno porte compõem um

grupo ecológico diverso (Meschiatti et al. 2000, Agostinho et al. 2007) e grande parte

destes peixes tem como principal fonte de alimento o zooplâncton (Silva 2010). Diante

desse contexto, o presente estudo visa através de experimentação em microcosmos

136

testar a hipótese de que a predação de peixes em zooplâncton é menor em águas mais

túrbidas.

Material e métodos

Os experimentos foram realizados em microcosmos (aquários com15 litros de

água do rio filtrada em rede de plâncton) no mês de junho de 2013, utilizando-se dois

tratamentos de turbidez da água, um com baixa turbidez e outro com alta turbidez. Para

os tratamentos com alta turbidez foram adicionadas porções padronizas de argila

dissolvida em água. Foram realizadas três réplicas e um controle para cada tratamento.

Em cada réplica foram dispostos 10 peixes e todas as réplicas e controles foram

adicionadas subamostras padronizadas de zooplâncton (3750 indivíduos por réplica e

controle). Quatro horas depois da adição de zooplâncton, os peixes foram retirados dos

microcosmos e a água de todos os tratamentos e réplicas foi filtrada em rede de plâncton

de abertura de malha de 68 µm, para obtenção do zooplâncton. A predação em

zooplâncton por peixes foi estimada pela diferença inicial e final na densidade do

mesmo, corrigida pela sua mortalidade natural estimada através dos controles.

O zooplâncton foi obtido através de coleta com redes de plâncton de 68 µm no

ressaco do Pau Véio, na planície de inundação do alto rio Paraná. Os peixes também

foram obtidos por meio de coleta, utilizando-se rede de arrasto na margem esquerda do

alto rio Paraná. Antes do experimento os peixes coletados foram mantidos sob

aclimatação em jejum por 18 horas. Ao final do experimento, os peixes foram medidos

com auxílio de paquímetro e foram medidas as taxas de oxigênio dissolvido e

condutividade da água.

A relação entre o tamanho de peixes e a predação em zooplâncton foi verificada

por meio de uma regressão linear. Os resíduos dessa regressão foram utilizados como

variável resposta para se testar se a predação de peixes em zooplâncton é menor em

águas mais túrbidas através de um teste t.

Resultados

O comprimento médio dos peixes predadores foi de 37,2 e 38,0 mm nos

tratamentos com baixa e alta turbidez, respectivamente. O oxigênio dissolvido aferido

nos aquários não variou muito, com exceção do controle com alta turbidez e a

condutividade foi menor no controle com baixa turbidez (Tab. 1).

137

Tab. 1. Comprimento padrão médio (Cp) e desvio-padrão dos predadores, oxigênio

dissolvido e condutividade elétrica dos tratamentos com alta e baixa turbidez e dos

controles.

TurbidezBiótico Abiótico

Cp peixes (mm) Oxigênio dissolvido Condutividade

Baixa tratamento 37,2 ± 3,9 7,2 ± 0,1 88,0 ± 2,9controle - 7,32 85,5

Alta tratamento 38,0 ± 4,7 7,4 ± 0,03 89,9 ± 3,3controle - 8,35 90,9

O número médio de indivíduos de zooplâncton predados foi de 2116 ± 240 e

2630 ± 277 nos microcosmos com baixa e alta turbidez, respectivamente (Fig. 1).

Embora essa diferença não tenha sido significativa (t = -2,16; p = 0,09) foi visualmente

perceptível que houve uma maior predação nos aquários com alta turbidez (Fig. 1). O

número de indivíduos predados não apresentou relação com a média do comprimento

padrão dos predadores e os resíduos desta relação também não alterou os resultados da

análise anterior.

Fig. 1. Número de indivíduos de zooplâncton predado nos tratamentos com baixa e alta

turbidez.

Baixa AltaTurbidez

1900

2000

2100

2200

2300

2400

2500

2600

2700

2800

2900

Núm

ero

de in

diví

duos

pre

dado

s Média Média±EP

t=-2,16p=0,09

138

Discussão

Os resultados encontrados revelaram maiores predações nos tratamentos com

alta turbidez, não suportando a hipótese proposta no presente trabalho. Tais resultados

podem dever-se à exclusão do corpo de fundo dos microcosmos e a erros de

identificação, já que os tratamentos com alta turbidez possuíram maiores corpos de

fundo e que mais de um identificador triou as amostras. Apesar disso, os resultados

podem ser reflexos de padrões ainda desconhecidos, pois os efeitos da turbidez podem

envolver múltiplas relações bióticas. Por exemplo, a redução do risco de predação em

peixes em águas mais túrbidas pode levá-los a dispenderem menos esforços com

comportamentos anti-predatórios e, então, maiores esforços em alimentação (Gregory

1993). Considerando-se que nosso objeto de estudo são peixes planctívoros, a redução

da exposição à predação nos ambientes mais túrbidos pode ter levado a maiores taxas de

predação em zooplâncton.

A despeito do conhecimento de que águas túrbidas podem aumentar os esforços

alimentares de peixes, a confirmação de que os resultados encontrados estão

relacionados a isto só pode ser dada por novas experimentações. A criação de uma

padronização na identificação dos organismos zooplanctônicos e a consideração do

corpo de fundo dos microcosmos, também, se fazem necessárias para a confirmação de

resultados e o estabelecimento de padrões.

Referências

Agostinho AA, Gomes LC & Julio Jr. HF 2003. Relações entre macrófitas aquáticas e

fauna de peixes. In: Thomaz SM & Bini LM, eds. Ecologia e manejo de

macrófitas aquáticas. Maringá: EDUEM, pp. 261–277.

Aoyagui A, Bonecker CC 2004 Rotifers in different environments of the Upper Paraná

River floodplain (Brazil): richness, abundance and the relationship with

connectivity. Hydrobiologia 522: 281-290.

Azevedo F, Bonecker CC 2003 Community size structure of zooplanktonic assemblages

in three lakes on the upper River Parana floodplain, PR-MS, Brazil.

Hydrobiologia 505: 147-158.

139

Bini LM, Bonecker CC & Lansac-Tôha FA 2001 Vertical distribution of rotifers on the

upper Paraná River floodplain: the role of thermal stratification and chlorophyll-

a. Studies on Neotropical Fauna and Environment 36(3): 241-246.

Bonecker CC, Lansac-Tôha FA 1996 Community structure of rotifers in two

environments of the upper River Parana floodplain (MS) – Brazil. Hydrobiologia

325, p. 137-150.

Bonecker CC, Aoyagui ASM 2005 Relationships between rotifers, phytoplankyon and

bacterioplankton in the Corumbá reservoir, Goiás State, Brazil. Hydrobiologia

546: 415-421.

Gregory RS 1993 Effect of turbidity on the predator avoidance behavior of juvenile

chinook salmon (Oncorhynchus tshawytscha). Canadian Journal of Fisheries and

Aquatic Sciences 502: 241-246.

Leal CM 2010 Diversidade de espécies zooplanctônicas em uma planície de inundação

neotropical: influência da predação, das variáveis limnológicas ou da

disponibilidade de alimento? Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-

Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Universidade

Estadual de Maringá.

Meschiatti J, Arcifa, MS & Fenerich-Verani N, 2000. Fish communities associated with

macrophytes in Brazilian floodplain lakes. Environmental Biology of Fish 58:

133-143.

Morin P J, 1999. Community Ecology. Blackwell Science, Malden, MA.Rossa DC, Lansac-Tôha FA, Bonecker CC, Velho LFM 2001 Abundance of

cladocerans in the littoral regions of two environments of the upper Parana River

floodplain, Mato Grosso do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Biologia 61: 45-53.

Sih, A., P. Crowley, M. McPeek, J. Petranka & K. Strohmeier, 1985. Predation,

competition and prey communities: a review of field experiments. Annual

Review of Ecology and Systematics 16: 269–311.

Silva GC, 2010. Peixes de pequeno porte associados à macrófitas aquáticas em uma

planície de inundação neotropical. Tese de doutorado do Programa de Pós-

Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, Universidade

Estadual de Maringá.

Thorp JH, Mantovani S 2005 Zooplankton of turbid and hydrologically dynamic prairie

rivers. Freshwater Biology 50: 1474–1491.

140

EFEITO DA INUNDAÇÃO NA CO-OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES EM COMUNIDADES

VEGETAIS DA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO PARANÁ

Érika Maria Neif, Francisco von Hartenthal, Guilherme Landgraf, Lilian Paula

Vasconcelos, Rafael A. Baggio, Sabrina Calado

Orientadora: Márcia Marques

Resumo

Foram testadas as hipóteses de que sob inundação, espécies vegetais apresentam

maior similaridade funcional; e que a distância filogenética entre as espécies vegetais

pode diminuir (atributos são conservados) ou não apresentar padrão (atributos são

distribuídos na filogenia das plantas). Para isso, foi comparada a composição

filogenética e de atributos (i.e. CAP) em 2 comunidades sob efeito ou não do estresse

causado por inundações periódicas. Nossos dados suportaram apenas a primeira

hipótese.

Palavras-chave: Inundações, filtro ambiental, filogenia.

Introdução

A diversidade funcional, definida por Tilman (2001) como "o valor e a variação

dos traços dos organismos e espécies que influenciam no funcionamento do

ecossistema", potencialmente proporciona maior poder explicativo do que a riqueza de

espécies, uma vez que relaciona os organismos às funções que eles mediam (Griffin et

al., 2009). Esta diversidade tem sido proposta como uma importante característica das

assembleias biológicas, permitindo a previsão das taxas dos processos dos ecossistemas

(Mason et al., 2005). Da mesma forma, aspectos filogenéticos têm sido crescentemente

utilizados em estudos de comunidades, visto que propiciam um aparato histórico para

determinar padrões e inferir processos evolutivos e ecológicos (Emerson & Gillespie,

2008).

Acredita-se que filtros ambientais determinem a similaridade funcional e as

relações filogenéticas na co-ocorrência de espécies de plantas (Silva & Batalha, 2010),

na medida que selecionam espécies que conseguem persistir em comunidades com base

na sua tolerância a condições abióticas (Weiher & Keddy, 1995).

A inundação de terras adjacentes em sistemas rio-planícies de inundação pode ser

considerada um filtro ambiental. Em agrupamentos florestais situados em solos que se

141

cobrem de água nesses períodos, desenvolvem-se apenas espécies tolerantes, formando

florestas abertas, constituídas de poucas espécies, quando comparadas a áreas mais

enxutas, que foram florestas mais densas e diversas (Campos & Souza,1997).

Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar se a inundação modifica a co-

ocorrência de espécies vegetais na planície de inundação do alto rio Paraná, testando,

especificamente as seguintes hipóteses:

H1: Em locais sujeitos a inundação, espécies vegetais apresentam maior similaridade

funcional; H2: Em locais sujeitos a inundação, a distância filogenética entre as espécies

vegetais diminui (i.e. atributos são conservados) ou não diferem (i.e. atributos

relacionados a inundação são distribuídos na filogenia das plantas).

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado na mata do Araldo, à margem esquerda do rio Paraná, no

município de Porto Rico, PR. Foram determinadas duas transecções de 150 metros, uma

na região mais próxima do rio e outra mais para o interior da mata. Em cada transecção

foram amostrados 15 pontos, divididos em 4 quadrantes, com uma distância de 10

metros entre eles. Em cada quadrante foi amostrada a planta que se encontrava mais

próxima, desde que possuísse mais de 20 cm de circunferência a altura do peito (CAP).

Foi calculada a proporção de co-ocorrência de pares de espécies em cada ponto

amostrado. Para se determinar a distância funcional entre as espécies, foi gerada uma

matriz de distância euclidiana da circunferência a altura do peito (CAP) dos pares de co-

ocorrência de espécies. A distância filogenética entre as espécies, baseada na APG 3, foi

calculada a partir do software Phylocom.

Para verificar se existe diferença na relação entre a distância funciona e a distância

filogenética com a co-ocorrência, entre as duas regiões amostradas (perto e longe do

rio), foram realizadas duas Análises de Covariância (ANCOVA). Nestas analises, as

distancias funcionais e as distâncias filogenéticas entre os pares de espécies foram

consideradas como variáveis contínuas independentes, a co-ocorrência dos pares de

espécies como variável resposta, e as duas regiões como variável categórica.

Resultados

As análises de covariância demonstram que o atributo funcional (i.e. CAP) afeta

a co-ocorrência das espécies (F1,378 = 6,06; P < 0,05, Fig. 1), enquanto a filogenia não

(F1,378 = 0,52; P > 0,05, Fig. 2).

142

Fig. 1. Relação entre as distâncias dos atributos (CAP) e co-ocorrência das espécies de plantasestudadas, para as regiões perto, afetada por inundações, e longe do Rio Paraná, não afetada porinundações.

Fig. 2. Relação entre as distâncias filogenéticas das espécies e co-ocorrência das espécies deplantas estudadas, para as regiões perto, afetada por inundações, e longe do Rio Paraná, nãoafetada por inundações.

Discussão

Nossos resultados indicam que a inundação modifica os padrões de co-

ocorrência das plantas. A inundação age como importante filtro ambiental, selecionando

espécies, homogeneizado o CAP entre as espécies que co-ocorrem. Em contrapartida, a

relação filogenética não afeta a co-ocorrência das espécies de plantas.

Dessa forma, os resultados sugerem que a composição florística da região

estudada se insere no modelo de dispersão filogenética e agrupamento fenotípico

apresentado por Emerson & Gillespie (2008). Nesse caso, filtros ambientais têm forte

influência sobre a composição das espécies, selecionando grupos funcionais específicos

(i.e. atributos funcionais em comum), e consequentemente sobre sua co-ocorrência.

-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Distância de atributos (CAP)

-0,02

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

0,22

0,24

0,26

0,28

Co-

ocor

rênc

ia (L

e P

)

Longe Perto

-20 0 20 40 60 80 100Distância filogenética

-0,02

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

0,22

0,24

0,26

0,28

Co-o

corrê

ncia

(L e

P)

Longe Perto

143

Entretanto, tais características não demonstraram ser conservativas ao longo da

filogenia (i.e. conservação filogenética de nicho), ocorrendo variação no atributo

analisado (i.e. CAP) ao longo da filogenia, em resposta à ocupação do nicho.

Agradecimentos

Agradecemos ao “Tião” e ao Ricardo Augusto Camargo pelo apoio logístico

fundamental na coleta de dados e ao Vinícius Marcilio da Silva pelas contribuições no

delineamento e análise dos dados.

Referências

Campos JB, Souza MC 1997 Vegetação. Pages 331-342 in AEAM Vazzoler, AAAgostinho, NS Hahan, eds. A planície de inundação do alto rio Paraná: Aspectosfísicos, biológicos e socioeconômicos. Editora da Universidade Estadual deMaringá.

Emerson BC, Gillespie 2008 Phylogenetic analysis of community assembly andstructure over space and time. Trend in Ecology and Evolution 23(11): 619-630.

Griffin JN, Méndez V, Johnson AF, Jenkins SR, Foggo A 2009 Functional diversitypredicts overyielding effect of species combination on primary productivity. Oikos118: 37-44.

Mason NWH, Mouillot D, Lee WG, Wilson B 2005 Functional richness, functionalevenness and functional divergence: the primary components of functionaldiversity. Oikos 111: 112-118.

Silva IA, Batalha MA 2010 Woody plant species co-occurrence in Brazilian savannasunder different fire frequencies. Acta Oecologica 36: 85–91.

Tilman D 2001 Functional diversity. In: Levin, S. A. (ed.), Encyclopedia ofbiodiversity. Academic Press.

Weiher E, Keddy P 1995 The assembly of experi-mental wetland plant communities.Oikos 73:323–335.

144

HETEROGENEIDADE AMBIENTAL COMO PREDITOR DA DIVERSIDADE BETA EM

LAGOAS DE PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO

Emanuel Razzolini; Fernando G. de Oliveira; Flávio M. Marteleto; Natália C. L. dos Santos;

Sandra M. N. de Andrade

Orientador: Prof. Dr. André

Padial

Resumo

A diversidade beta é um aspecto chave para entender sistemas naturais. O objetivo foi

identificar o papel da heterogeneidade ambiental na diversidade beta de macrofitas aquáticas

em lagoas de planície de inundação. A variação ambiental, considerando a profundidade das

lagoas, foi a que teve maior influência na diversidade beta. Considerando a variação entre

lagoas de um mesmo subsistema, a distância média do centroide da diversidade beta nas

lagoas do rio Baía é menor do que nas lagoas do rio Paraná, padrão que é acompanhado de

uma maior heterogeneidade ambiental e extensão espacial no rio Paraná.

Palavras-chave: escala espacial; riqueza; variação espacial.

Introdução

O estudo da variação é um aspecto chave para entender sistemas naturais e fazer

predições. Em ecologia de comunidades, a maioria dos estudos foca na diversidade local de

espécies (diversidade alfa), e, apenas recentemente, ecólogos passaram a dar atenção

apropriada a variação na composição de comunidades entre sítios amostrais (diversidade beta)

(Melo et al., 2011). A diversidade beta pode ser conceituada como a mudança na estrutura da

comunidade ao longo de um gradiente (turnover) ou a variação na estrutura da comunidade

entre as unidades de amostragem dentro de uma determinada área, sem referência a um

gradiente particular ou direção (Carvalho et al., 2012). Nesse contexto, o objetivo principal

desse estudo foi identificar os determinantes da diversidade em lagoas de planície de

inundação, tendo como objetivo específico investigar o efeito da heterogeneidade ambiental

de uma lagoa na variação da comunidade de macrófitas aquáticas desse ambiente. Em

decorrência disto, foi testada a hipótese de que há uma relação entre a variação das

macrófitas aquáticas com a heterogeneidade ambiental de lagoas de planície de inundação.

145

Dessa forma espera-se que quanto maior for a variação ambiental da lagoa maior será a

diversidade beta da mesma.

Material e Métodos

Situada na margem direita do rio Paraná, a Planície de inundação do Alto rio Paraná

(22o00’ - 23o00’S; 53o00’ - 53o45’ O) é caracterizada por elevada diversidade de habitats.

Alguns exemplos são amplas várzeas, ilhas, lagoas com diferentes graus de conectividade e

canais (Thomaz et al., 2004), exercendo, estes ambientes, um papel fundamental na e

manutenção da diversidade biológica aquática regional (Agostinho et al., 2001). Mesmo dentre

de um ambiente, como uma lagoa, há grande variação ambiental. Em vista dessa complexa

heterogeidade ambiental, foram amostradas 10 lagoas em dois subsistemas: seis lagoas no

subsistema do rio Baía e quatro no subsistema do rio Paraná.

Para testar a hipótese, foram delineados quatro pontos de amostragem dentro de

cada lagoa para obter uma estimativa da composição de macrofitas e heterogeneidade

ambiental. Desses quatro pontos, dois foram em um banco de macrofitas no fundo e outro na

entrada da lagoa. Em cada banco, no interior e na borda, foi contado o número de espécies

observado dentro de um quadrado de 50 cm2. Na borda dos bancos, acrescentou-se à

contagem as espécies capturadas por 3 lançamentos de garatéia. As variáveis preditoras da

heterogeneidade ambiental foram: profundidade (variação da profundidade média dos bancos

localizados no fundo e na entrada da lagoa), transparência da água, largura da lagoa e

declividade da margem (variação média das profundidades no interior e borda dos bancos). A

extensão espacial de cada subsistema foi obtida medindo a distância longitudinal entre os

locais amostrados mais distantes entre si através do programa Google Earth. A diversidade

beta entre bancos foi calculada através do índice de dissimilaridade de Jacard. A variação na

comunidade entre lagoas de um mesmo subsistema foi calculada através da distância média

para o centróide de uma dispersão de pontos gerada após uma análise de coordenadas

principais (PCoA) utilizando índice de Jacard. Nesse caso, as variáveis ambientais originais

também foram submetidas a uma PCoA com distância euclidiana para calcular a

heterogeneidade ambiental de cada subsitema. A extensão espacial de cada subsistema

também foi estimada ao mensurar a distância entre os dois pontos de coleta mais distantes.

Resultados

146

A correlação entre a diversidade beta dentro das lagoas com os coeficientes de

variação da declividade, largura e transparência não foi significativa (Fig. 1A, B e D). A melhor

correlação, com padrão não linear, foi entre a diversidade beta e a variação da profundidade

das lagoas (Fig. 1C).

Figura 1. Análise de correlação (pearson) entre a diversidade beta e os coeficientes de variação

dos fatores: declividade (A), largura (B) e profundidade da lagoa (C), e transparência da água

(D). r = coeficiente de correlação entre as variáveis; R2 = porcentagem de explicação da

regressão não linear; P = nível de significância; CVP = coeficiente de variação da profundidade;

CVT = coeficiente de variação da transparência; Para a variação da profundidade e

transparência foi gerado e testado o ajuste de um modelo não linear.

Em relação à diversidade beta entre os subsistemas rio Baía e Paraná, observou-se

uma evidente separação do centróide da diversidade beta entre esses subsistemas (Fig. 2) e

uma maior heterogeneidade dessa diversidade nas lagoas do rio Paraná em relação às do rio

Baía. Da mesma forma, a extensão espacial e os valores obtidos para a heterogeneidade

ambiental foram maiores para os ambientes do subsistema Paraná (14 km entre os pontos

mais distantes e distância média para o centróide da ordenação com dados ambientais de

3,02) do que do subsistema Baía (8,1 km entre os pontos mais distantes e distância média para

o centróide da ordenação com dados ambientais de 1,92).

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

Coeficiente de variação (declividade)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Div

ersi

dade

bet

a (J

acca

rd)

r = -0.12; P = 0.78

A

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

Coeficiente de variação (largura)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Div

ersi

dade

bet

a (J

acca

rd)

r = -0.119; P > 0.05

B

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

Coeficiente de variação (profundidade)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Div

ersi

dade

bet

a (J

acca

rd)

r = 0.61; P = 0.05

β = 0.66+0.04*log(CVP) *P < 0.05; R2 = 18%

C

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

Coeficiente de variação (transparência)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9D

iver

sida

de b

eta

(Jac

card

)

r = 0.242; P > 0.05

β = 0.81+0.32*log10(CVT) *NS

D

147

Figura 2. Análise de coordenadas principais mostrando a dispersão dos pontos amostrais e

suas e distâncias o centróide dos subsistemas dos rios Paraná e Baía.

Discussão

Devido aos valores insignificantes encontrados na correlação entre a diversidade beta

e as variáveis descritivas de heterogeneidade ambiental, podemos especular que existam

outras variáveis abióticas ou mesmo bióticas que podem explicar a distribuição dos

organismos no gradiente longitudinal das lagoas. De qualquer forma, parece haver um sinal da

heterogeneidade ambiental em termos de variação da profundidade com a diversidade beta

de lagoas de planície de inundação. Além disso, também pode-se especular que a estratégia

amostral podem não estar representando a totalidade das espécies existentes nas lagoas dos

subsistemas estudados.

É conhecido que a distância geográfica e as dissimilaridades ambientais têm efeitos

sobre os padrões globais da diversidade β (Quian & Ricklefs, 2012). A maior variação dessa

diversidade nas lagoas do rio Paraná parece ser explicada pela maior heterogeneidade

ambiental encontrada nesse subsistema. De acordo com Souza-Filho & Stevaux (2004), o rio

Paraná apresenta um padrão de multicanais apresentando uma ampla heterogeneidade de

intensidade de fluxo de água e formas ambientais (ressacos e lagoas de vários formatos e

comprimentos de extensão). Dessa forma, essa heterogeneidade ambiental promoveria uma

maior variação na composição de espécies uma vez que, Shmida & Wilson (1985), descrevem

as condições e disponibilidade de recursos nos diferentes habitats como determinantes da

coexistência e distribuição das espécies. Nesse contexto, era esperado que em ambientes mais

heterogêneos encontraríamos maiores indíces de diversidade beta.

-0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4

PCoA1

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

PC

oA2

Rio Paraná

Rio Baía

148

Referências Bibliográficas

Agostinho, A. A., L. C. Gomes & M. Zalewski. 2001. The importance of floodplains for the

dynamics of fish communities of the upper Paraná River. Ecohydrology Hydrobiology, 1:

209–217.

Carvalho, J.C.; Cardoso, P. & Gomes, P. 2012. Determining the relative roles of species

replacement and species richness differences in generating beta-diversity patterns. Global

Ecology Biogeography. 21: 760–771.

Melo, A.S., Schneck, F., Hepp, L.U., Simões, N.R., Siqueira, T., Bini, L.M. 2011. Focusing on

variation: methods and applications of the concept of beta diversity in aquatic ecosystems.

Acta Limnologica Brasiliensia. 3 (3): 318-331.

Qian, H. & Ricklefs, R. 2012. Disentangling the effects of geographic distance and

environmental dissimilarity on global patterns of species turnover. Global Ecology and

Biogeography. 21: 341-351.

Shmida, A. & M.V. Wilson. 1985. Biological determinants of species diversity. Journal of

Biogeography, 12:1-20.

Souza-Filho, E. E. & J. C. Stevaux. 2004. Geology and Geomorphology of the Baía-Curutuba-

Ivinheima river Complex. Pp. 75-102. In: Thomaz, S. M., A. A. Agostinho & N. S. Hahn (eds.).

The upper Paraná River and its floodplain: physical aspects, ecology and conservation.

Leiden, Backhuys Publishers.

Thomaz, S. M.; T. A. Pagioro, L. M. Bini, M. C. Roberto & R. R. A. Rocha. 2004. Limnological

Characterization of the aquatic environments and the influence of the hydrometric levels.

Pp. 75-102. In: Thomaz, S. M., A. A. Agostinho, N. S. Hahn (eds.). The upper Paraná River and

its floodplain: physical aspects, ecology and conservation. Leiden, Backhuys Publishers.

149

DIVERSIFICAÇÃO ECOMORFOLÓGICA EM ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DO ALTO RIO

PARANÁ

Hugo José Message, Priscilla Guedes Gambale, Renata Gabriela Noguchi, Simone

Satsuki Takeuchi & Taise Miranda Lopes

Orientador: Luiz Carlos Gomes

Resumo: As variações na forma do corpo podem afetar a capacidade de natação, e são

bons indicativos das preferências de habitat. As hipóteses testadas foram 1) ambientes

com diferentes composições de espécies abrigam assembleias de peixes com formatos

diferentes; 2) morfologia de peixes difere entre ambientes. Observou-se que o

morfoespaço não difere claramente entre os ambientes amostrados, apesar de haver uma

tendência de diversificação morfológica para Hemigrammus marginatus e Moenkhausia

sp.

Palavra-chave: Ecomorfologia, macrófitas aquáticas, morfoespaço.

Introdução

As condições hidrológicas e geomorfológicas dos rios são muito variáveis e

dinâmicas, fornecendo diversos habitats para diferentes organismos aquáticos (Chuang

et al., 2006). A arquitetura das macrófitas aquáticas adiciona complexidade estrutural

para a região litorânea, o que possibilita maior diversidade e estabilidade das

comunidades bióticas (Dibble et al., 1996), dentre elas, as assembléias de peixes

(Agostinho et al., 2003). Estudos em ambientes de água doce neotropicais mostram os

peixes associados às macrófitas são tipicamente espécies de pequeno porte (Meschiatti

et al., 2000).

Os peixes apresentam uma das maiores diversidades morfológicas dentro dos

vertebrados. Ademais, a variação morfológica pode ser uma importante fonte de

respostas para indagações a respeito das relações entre morfologia e ecologia (Cunico &

Agostinho, 2006). Para muitas espécies a morfologia pode apresentar uma forte

correlação com a especialização do habitat, sendo que até mesmo uma sutil variação na

forma do corpo pode ser correlacionada com parâmetros de aptidão (Webster et al,

2011).

A forma do corpo, o comprimento do pedúnculo caudal, o tamanho e o formato

da nadadeira caudal, podem afetar o custo energético para o sustento da natação (Webb,

1982). Esses caracteres têm relação com as suas preferências de habitat para águas

150

lênticas ou lóticas (Langerhans et al, 2003). Um corpo cilíndrico que tem uma pequena

proporção de área de superfície para volume corporal com nadadeiras duras e curtas

favorece a existência em rios de rápido fluxo (Webb, 1984).

O objetivo do presente estudo foi comparar se existem diferenças quanto à

assembléia de peixes em duas áreas diferentes (Rio Baía e Ressaco do Bilé), como

também diferenças morfológicas nos peixes em relação aos ambientes. As hipóteses

foram que: 1) locais com diferenças na composição de espécies abrigam assembleias de

peixes com formatos diferentes; 2) morfologia de peixes difere em distintos ambientes.

Espera-se especialmente uma diferença na forma do corpo entre locais com e sem

colonização de plantas aquáticas estruturadoras do habitat.

Material e métodos

As amostragens foram realizadas no Rio Baía (3 pontos – macrófitas; 2 pontos –

sem macrófitas) e no ressaco do Bilé (3 pontos – macrófitas). A coleta dos peixes foi

realizada com o auxílio de uma rede de arrasto simples de 10 m de comprimento. Os

organismos capturados foram acondicionados em sacos plásticos e fixados com

formaldeído diluído.

Em laboratório foram identificadas as espécies e a abundância em cada ponto

amostrado. As variáveis ecomorfológicas medidas foram comprimento total,

comprimento padrão, altura do corpo e espessura com auxílio de paquímetro. Para 2

espécies que coexistem nos ambientes mais afastados do Rio Baia foram medidas

também altura do pedúnculo, comprimento anal e comprimento do pedúnculo.

Para descrever a organização espacial da composição de espécies entre os

ambientes foi realizada uma NMDS, através da medida de distância de Jaccard (Manly,

1994). E para as variáveis ecomorfológicas entre os locais e as espécies foi utilizada a

distância Euclidiana. Após as ordenações foram realizadas PERMANOVAs para

verificar a diferenças entre os fatores. A fim de diminuir a dimensionalidade dos dados

morfológicos de Moenkhausia sp. e Hemigrammus marginatus foi realizada uma análise

de componentes principais (PCA). Os escores da PCA foram testados através do teste-t

de student.

Resultados

A NMDS (Stress=0,0) separou grupos de espécies dos dois locais amostrados

(ressaco do Bilé e ambientes do rio Baía) (Figura 1A). O teste de PERMANOVA

151

confirmou diferenças na composição das assembleias de peixes entre estes ambientes

(Pseudo F = 3,52; P=0,02). Também com uma NMDS baseado na composição de

espécies (Stress=0,0), grupos de espécies distintos foram observados entre três locais

amostrados (lagoas abertas e fechadas no rio Baía, e o ressaco do Bilé no rio Paraná)

(Figura 1B). O teste de PERMANOVA confirmou diferenças na composição das

assembleias de peixes entre estes ambientes (Pseudo F= 2,86; P=0,007).

A

B

Figura 1: Gráfico de ordenação por NMDS baseada no índice de Jaccard (dados de

presença e ausência) mostrando a dissimilaridade da composição das assembleias de

peixes entre os locais do rio Baía e ressaco do Bilé e entre lagoas abertas e fechadas no

rio Baía, e o ressaco do Bilé no rio Paraná (Stress=0,0).

A NMDS considerando variáveis ecomorfológicas das espécies não apresentou a

formação de grupos definidos. No entanto, houve uma tendência de separação entre as

espécies de Hemigrammus marginatus e Moenkhausia sp. do ponto 3 (ambiente do Rio

Baía com colonização de Macrófitas próximo ao rio Paraná) em relação aos pontos 1 e 2

(ambientes do Rio Baía com colonização de Macrófitas distante do rio Paraná). O teste

de PERMANOVA confirmou diferenças na ecomorfologia das espécies para os locais

acima (Pseudo F = 6,91; P<0,01), para as espécies (Pseudo F = 7,57; P<0,01) e para

interação dos fatores (Pseudo F = 5,16; P<0,01).

A ordenação resultante da aplicação da Análise de Componentes Principais

(PCA) para Hemigrammus marginatus, resultou na retenção dos dois primeiros eixos

para a interpretação da variabilidade dos dados, sendo que o eixo 1 representou 47,74%

de explicação e o eixo 2 representou 19,37% (Figura 2A). A ordenação resultante da

aplicação da Análise de Componentes Principais (PCA) para Moenkhausia sp., resultou

na retenção dos dois primeiros eixos para a interpretação da variabilidade dos dados,

152

sendo que o eixo 1 representou 44,91% de explicação e o eixo 2 representou 21,8%

(Figura 2B).

Figura 2: Ordenação resultante da Análise de Componentes Principais (PCA) aplicada a

matriz de dados morfológicos de Hemigrammus marginatus (A) e Moenkhausia sp. (B)

em ambientes distantes amostrados às margens do rio Baía.

Não foram evidenciados diferenças entre as médias do eixo 1 e 2 da PCA para as

espécies de Hemigrammus marginatus (t (1,13)=0,01; P=0,92; t (1,13)=1,57; P=0,14) e

Moenkhausia sp. (t (1,13)=0,24; P=0,81; t (1,13)=2,10; P=0,05) entre os dois ambientes

mais distantes amostrados no rio Baía.

Discussão

A diversificação da composição de espécies entre o Rio Baía e o Ressaco do

Bilé está relacionada com a diferença do fluxo dos ambientes - lótico e lêntico,

respectivamente. Os fatores abióticos, como temperatura da água, fluxo da água e de

nutrientes já foram mostrados como importantes determinantes da diversidade

(Langerhans et al., 2003). A presença de macrófitas aquáticas propicia estruturação ao

ambiente, sendo também um fator associado na diferença da composição das espécies.

Em um mesmo local, a composição de espécies de área sem vegetação é diferente de

espécies de áreas vegetadas, assim como observado por Gomes et al. (2012). Estudos

observaram que habitats maiores e mais heterogêneos conferem maior diversidade de

formas de peixes devido à maior variedade de microhabitats partilhados, refletindo

também na maior riqueza de espécies (Winemiller, 1991).

Em relação a ecomorfologia, esperava-se uma diferença entre as espécies que

ocupam ambientes distintos, representando uma oportunidade de explorar diferentes

microhabitats como base de uma radiação trófica (Wainwright et al., 2004). No entanto

A B

153

o presente estudo evidenciou apenas uma tendência da diversificação ecomorfológica de

uma mesma espécie (Moenkhausia sp. e Hemigrammus marginatus) em relação

ambientes distintos. Para uma melhor representação destas hipóteses deve ser necessário

um maior esforço amostral e uma maior diferença entre os pontos analisados.

Agradecimentos

Agradecemos ao professor Luiz Carlos Gomes pela orientação do projeto, Alfredo, Tato

e João Carlos pelas ajudas na coleta. Agradecemos também aos organizadores e

professores do Curso de Ecologia de Campo.

Referências bibliográficas

Agostinho AA, Gomes LC, Júlio Jr HF 2003 Relações entre macrófitas aquáticas e

fauna de peixes. Pages: 261–280 in Thomaz SM, Bini LM (eds) Ecologia e

Manejo de Macrófitas Aquáticas. Eduem, Maringá, Brasil.

Chuang L-C, Lin Y-S, Liang S-H 2006 Ecomorphological Comparison and Habitat

Preference of 2 Cyprinid Fishes, Varicorhinus barbatulus and Candidia

barbatus, in Hapen Creek of Northern Taiwan Zoological Studies 45(1): 114-

123.

Cunico AM, Agostinho AA 2006 Morphological patterns of fish and their relationships

with reservoirs hydrodynamics. Braz. arch. biol. technol 49 (1): 125-134.

Dibble ED, Killgore KJ, Harrel SL 1996 Assessment of fish–plant interactions. Pages:

357–372 in Miranda E, DeVries D (eds) Multidimensional approaches to

reservoir fisheries management. American Fisheries Society, Bethesda,

Maryland, USA.

Langerhans RB, Layman CA, Langerhans AK, Dewitt TJ 2003 Habitat-associated

morphological divergence in two Neotropical fish species. Biol. J. Linn. Soc. 80:

689-698.

Meschiatti AJ, Arcifa MS, Fenerich-Verani N 2000 Fish communities associated with

macrophytes in Brazilian floodplain lakes. Environ Biol Fish 58:133–143

Webb PW 1982 Locomotor patterns in the evolution of Actinopterygians fishes. Amer.

Zool. 22: 329–342.

Webb PW 1984 Body form, locomotion and foraging in aquatic vertebrates. American

Zoologist 24:107-120.

154

Webster MM, Atton N, Hart PJB, Ward AJW 2011 Habitat-Specific Morphological

Variation among Threespine Sticklebacks (Gasterosteus aculeatus) within a

Drainage Basin. PLoS ONE 6(6): 1-10.