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Out/2001

Done Zine #1

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Primeira edição do zine Done. Com: punk, selos, Fugazi, Astromato.

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Page 1: Done Zine #1

Out/2001

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Muita história para contarnão poderiam ser mais...punks: Joey Ramone morre de câncer linfático;

25 anos. Muitos dos que possam estar lendo este zine talvez ainda não Ronald Biggs o assaltante do Trem Pagador, a quem os Sex Pistols

tenham chegado a essa idade. Mas os que já chegaram ou já a sempre dispensaram admiração e inclusive chegaram a apresentá-lo

ultrapassaram sabem como é fazer 25 anos. Uma certa confusão entre como integrante da banda entrega-se a prisão inglesa depois de viver

tornar-se definitivamente um adulto "sério" ou tentar continuar como mais de 20 anos fugido no Brasil (especula-se que por pura falta de

um "adulto-adolescente", uma confusão entre sonhos realizados e grana, já que um jornal sensacionalista da Inglaterra teria oferecido um

apenas sonhados. Para uns pode ser uma simples idade como os 15, os bom dinheiro à família de Biggs).

21, 30 ou 43. Mas na verdade, não importa a idade e sim o que se viveu Na música, o Brasil teve a chance de receber legítimos representantes

com ela.da cena, inclusive alguns originais de 76, como os Vibrators e

Os 25 anos vividos pelo punk-rock, que foram completados neste ano, Buzzcocks, que fizeram shows em janeiro e junho, respectivamente.

têm muito o que contar. No lado trágico, podemos citar o estilo "viva The Queers, banda americana mais atual que também é referência para

rápido, mora jovem" de Sid Vicious, baixista do Sex Pistols, morto quem gosta do gênero, veio em abril. Varukers, representando o

precocemente, aos 21 anos, por uma overdose de heroína. Por ironia hardcore da Inglaterra, UK, Misfits acompanhados de Marky Ramone

do destino, no meio do aniversário de seu "filhote" mais querido, Joey (baterista dos Ramones) e de Robo e Dez Cadena (do Black Flag)

Ramone morre de câncer linfático sem ao menos poder conferir o final foram outras que haviam desembarcado por aqui até o fechamento

da festa. Mas não só de tragédias viveu o estilo mais podre, criativo e deste zine.

contestador da história da música - que deixou inclusive de ser apenas Para os que estavam na época cuspindo na platéia e continuam no

um rótulo musical e revelou-se em uma expressão de comportamento palco até hoje, as diferenças entre tocar punk em 1976 ou em 2001 são

de todo uma geração que permanece até hoje. poucas. "Em 76 éramos muito jovens. Hoje somos mais calmos, menos

Além de seus percursores como Ramones, Sex Pistols, Clash, agressivos", diz Robbie, baixista do Vibrators. Pete Sheley, líder dos

Dammed, Buzzcocks, Generation X, entre outros, do punk surgiram Buzzcocks, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo na época do

pérolas para o rock como o Joy Division, Dead Kennedys, Black Flag, show brasileiro, comentou que a única diferença é que "naquela época

Minor Threat, Smiths, Jesus and Mary Chain, Husker Dü ou Sonic não conseguia decorar as letras".

Youth. E as crias não pararam. Continuam até hoje em cada esquina, Já o sentimento punk da contestação será sempre o mesmo. Pelo

onde existe um bar que abre espaço para alguma banda de rock menos é isso o que acredita o baixista do Vibrators: "quando se é

independente tocar ou em cada garagem onde os três acordes jovem você sempre tem algo a dizer, algo para se expressar. É isso o

incomodam a família e os vizinhos. que move as bandas. E tanto os grupos punks de hoje como os de 76

Foi o punk estilo surgido nos subúrbios de Nova York e Londres, e fazem isso".

que espalhou-se pelo mundo - que deu origem a atitude do "do it (Márcia Raele)

yourself (faça você mesmo)", mostrando que onde existe boa vontade Dedicamos este zine a todos, de qualquer idade, que mantêm o espírito punk em suas ações e corações. Em homenagem ao movimento, você é possível criar boa informação e cultura. Os fanzines se proliferaram poderá conferir a atitude do "do it yourself" dos selos brasileiros, que lançam e divulgam muita banda independente de qualidade. Para nessa época e o mesmo ocorreu com os selos independentes, que relembrar alguns shows legais que rolaram por aqui, como Vibrators e Luna. Tem também Raindrops, Goiânia Noise Festival e Pelvs. Este é o prensavam as faixas mais toscas possíveis, as quais as "majors" primeiro número de "Done" (do inglês, "feito"). Esperamos que outros números possam vir no futuro. Entrem em contato, mande material da recusavam-se a aceitar. Aqui no Brasil, embora tardio (anos 80), o sua banda para divulgarmos. Reclame, elogie, fale qualquer coisa...

barulho desse gênero musical também teve seu volume aumentado por

Ratos de Porão, Cólera, Olho Seco, Replicantes, Mercenárias, e até por Donee-mail:

grupos que antes de tornarem-se pop chegaram a beber da água suja Rua DR. João Valente do Couto, 644 Santa Genebra Campinas/SP CEP 13080040.

do punk, como Legião Urbana, Ira ou Capital Inicial. Fone: (19) 3209.0434 (com Márcia).Agradecimento especial a Dimitri Souza Reis pelas

E em comemoração aos 25 anos do estilo, os acontecimentos de 2001 Inúmeras artes enviadas para capa e que foramaproveitadas não na íntegra, mas conforme o xerox deixou.

[email protected]

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Não entendo todo esse estardalhaço em volta de algumas uma "nova sensação do rock". Tipo um comentário numa

bandas novas que aparecem no cenário do rock. Depois que o página de música especializada, sobre duas bandas da Suécia,

Nirvana surgiu e acabou pouco depois parece que uma lacuna que, segundo o autor, seriam a próxima grande revelação da

enorme se abriu na música, porque a todo instante, todos música. Um horror, as duas. Não me lembro o nome dos

(carentes) parecem tentar preencher de qualquer forma o espaço grupos, mas na crítica, falava que um deles havia unido um

deixado. Todo mundo quer fazer alguma aposta, alguma pouco do Glam Rock, com o punk de Ramones, Sex Pistols e

previsão e talvez ganhar posteriormente os louros por isso. mais Marylin Manson (???!!!!), resultando num som muito

Sei que muitos vão torcer o nariz para o que vou falar. interessante (????) que agradaria a públicos bem distintos

Tudo bem... Strokes é legal, adoro "Is This It", iria com certeza devido a essa mistura. Não, não agrada. Aquilo é puro Motoley

a um show deles, parece um pouco com Velvet Underground Crüe disfarçado com palavras bonitas. Poserzinho, saca? Muito

(mas está mais para Doors), são bem sixties. Mas e aí? É igual a diferente de ser Glam. Na segunda banda, o vocalista era um

algo que já existiu. tipo "mamãe, quero ser Axl Rose". Sem comentários.

Quando vi a primeira reportagem sobre eles pensei "nossa!!, E como esses surgem a cada mês diversas críticas e esperanças

tenho que ouvir isso porque deve ser muito bom!!!", tamanho a fim de que surja alguma música como "Smells Like Teen

era o auê que faziam (e ainda fazem) com eles. Tudo bem falta Spirit", que realmente fazia sentido e dava uma motivação

criatividade ao rock atual, falta alguém para preencher um diferente para muitas pessoas. Dia 24 de setembro fez dez anos

espaço, mas Strokes é só mais uma banda de rock legal. Talvez que Nivermind foi lançado e que o último movimento do rock

um pouco mais legal porque lembre algo bom do passado. Mas tomou impulso. Mas, apesar de Kurt Cobain ter nos deixado,

no passado era algo diferente. Hoje não. Por isso não vejo razão sua voz rouca e as guitarras barulhentas ainda ecoam em nossos

para tantos "Ohhhh!!!". ouvidos, fazendo sentido. Aquilo era isto.

Também tenho visto/lido vários absurdos relacionados sempre a (Márcia Raele)

Is This IT ????????

Quem tem a sorte de conseguir sintonizar a Rádio Muda (105,7 FM) da Unicamp,

não pode deixar de ouvir alguns bons programas, como: Babilônia em Chamas (6ª

feira, das 16 às 18), Mente Engatilhada (domingo, das 15h30 às 17h30 +_), Mão Pra

Cabeça, O Caralho (3ª feira, +- 20 horas) esses três de rap e com muito comentário

inteligente. Outro que também leva para o lado mais revolucionário da palavra, é o

Encruzilhada (6ª, das 18 às 20 horas).

Numa linha totalmente oposta, levando para o besteirol, mas muito bem feito, tinha

o Programa do Bozo (4ª feiras +- 21h30), mas há algumas semanas eles

desapareceram (cadê vocês?????). Muita piada idiota, música do Balão Mágico, do

Bozo (é lógico), fora algumas coisas breguíssimas da época em que você usava

kichute ou conguinha, chupava dipliq e tomava groselha (diversão garantida). E em

meio a tudo isso, o melhor da música independente como Maybees, Pelvs,

Astromato, Pin Ups, Galaxie 500, Ride etc etc etc.

Para quem prefere um sossego do bom, Living in Jamaica rola todo domingo, mais

ou menos das 11 às 14h30, trazendo sempre boas gravações informações de reggae.

Sorte de quem ouve

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- Queria que você me explicasse bem o que é um selo, se é como chegar aos números devido ao grande montante de trabalho e de uma gravadora, o que é uma distribuidora... outras prioridades.O selo a grosso modo serve para editar e divulgar as bandas que tenham afinidade com as idéias do mesmo, diferente de gravadora que - Saberia me dizer um pouco da história dos selos no Brasil e já trabalha num aspecto mais amplo e com uma visão mais poderia citar alguns principais?mercadológica dos artistas. A história dos selos independentes no Brasil é muito recente. Começou Distribuidora é bem diferente de um selo ou gravadora. Sua função é a ser representativo com o aparecimento do formato cd e se não me apenas de distribuir e vender os lançamentos dos selos. Geralmente as engano um dos primeiros lançamentos desta geração punk rock foi na distribuidoras trabalham com vários selos, colocam seus títulos no primeira metade dos anos 90, talvez o cd ep da banda cold beans, pela catálogo e distribuem para lojistas, outros distribuidores, shows, short recs. Antes disso tinham alguns selos que editavam compactos 7" catálogo etc... e 12".

Com esta facilidade [melhores preços de gravação, prensagem] de - O que leva a criação de um selo? No que um selo contribui para editar cds, começaram a aparecer vários selos e muitos desses as bandas independentes? aproveitaram para se crescerem fazendo coletâneas, através do Para nós da spicy ge, o motivo foi lançar bandas que gostamos e / ou esquema de "cooperativa". Tem alguns selos que posso destacar como que tocamos. A necessidade de mostrar e disponibilizar bandas que a Submarine recs, monstro discos, tamborete, highlight, läjä, 13, 3º achamos interessantes nos leva a ter um selo. mundo, ordinary, bizarre, short records, barulho, etc... não me recordo Como também toco em bandas, vejo o selo como mais um veículo de todos agora... fora os que só editam coletâneas com o $$$ das para divulgar nosso trabalho. Num esquema ideal de trabalho, bandas que se dizem selos mas aí já é outra história...geralmente o selo e as bandas que ali estão se completam dando um perfil para o selo e para as bandas. Isso ajuda bastante para divulgação pois há uma identificação com um determinado público. Veja como se definem alguns selos em seus materiais de divulgação:

- Como é feito o contato e a "contratação" de uma banda? O que Monstro Discos A gravadora tem como prenissa básica lançar bandas é levado em conta? (tipo de som, qualidade do grupo etc.). E alternativas, nos formatos mais inusitados. A especialidade da casa são como é a negociação (porcentagem de vendas)?Até agora nós os compactos de 7" em vinil colorido e parte gráfica impecável. A temos feito tudo verbalmente [que não é recomendável]. A spicy Monstro tem o propósito de encarar o rock independente brasileiro de lançou e lança apenas bandas que realmente gostamos e que haja uma forma profissional e trabalhar sério para que ele seja estimulado e principalmente cumplicidade. Não lançamos bandas de pessoas que respeitado. Tem também um alvo preciso: o público que respira música não conhecemos, mesmo que o som nos agrade. Nestes próximos independente, honesta, fora dos padrões. Se você se enquadra neste lançamentos estaremos editando apenas bandas de amigos e das perfil, entre em contato ( .bandas que tocamos. SpicyGE é um selo paulistano fundado por Rafael Crespo em 97, A negociação é feita da maneira mais simples possível. De alguma dedicado a bandas independentes de São Paulo, na sua maioria. A maneira nos comprometemos a pagar a gravação, seja antes ou depois intenção de trabalhar com artistas de São Paulo não é casual. da prensagem do cd. Quanto a porcentagem, costumamos trabalhar Trabalhando de maneira pontual e com bandas que o selo tenha com 15% - 20% para a banda, de cada tiragem. Mas agora afinidade e amizade é fundamental para que haja cumplicidade e uma pretendemos fazer tudo no papel para evitar futuros problemas. identidade entre ambos ( .

Submarine Records Formado em dezembro de 1998 em Belo - Existe uma amizade entre um selo e outro, algo do tipo "tudo Horizonte (MG), o selo independente Submarine Records é um pelo bem das bandas"?Pelo menos eu vejo por este lado, se não trabalho idealizado pelos editores do Fanzine Needle. Com o objetivo tivesse este pensamento talvez nem estivesse nesta situação de de ir além da difusão do cenário independente via fanzine, buscar um independente. diferencial tanto musical quanto estético e haver nesta dinâmica o

máximo de cumplicidade entre gravadora e bandas, veio o projeto e - Quais meios vocês utilizam para divulgação? Qual o mais concretização do selo. ([email protected]).eficiente? Ordinary Recordings Manifesto Ordinário: Somos um selo 100% Costumamos usar todos meios possíveis dentro da ética independente. independente. Isto significa que temos que trabalhar muito mais. E Desde zines até internet. Talvez o mais eficiente hoje ainda seja a mídia como tudo possui dois lados, quer dizer que também nos divertimos impressa [jornais e revistas] e a tv [programas de música]. em dobro e somos livres de tendências, rótulos e politicagem. Implica

em gravarmos, produzirmos, fazer desde a arte até a cópia de cada - Você poderia informar uma estimativa de quantos CDs vocês produto. Além da distribuição e divulgação. Começamos em 1996, vendem por mês ou por bimestre,...? cansados da falta de alternativas e resolvemos fazer nós mesmos. (...) hummm... nunca parei para ver isso. Na verdade tenho tentado Independência é uma opção e atitude. Atitude, isso muda tudo.(...)" contabilizar isso através da distribuidora mas até agora não consegui ([email protected]).

www.mosntrodiscos.com.br)

[email protected])

Selos: uma questãode atitude

O "Do It Yourself", palavra de ordem do movimento punk, que resumia de certa forma as atitudes tomadas em relação à indústria fonográfica nos anos 70, gerou, além dos fanzines, os selos de gravações independentes. Graças a eles muitas bandas que nunca assinariam contrato com uma 'major' por não cair no gosto popular puderam ter seus trabalhos prensados, divulgados e, naturalmente, vendidos.Aqui no Brasil a história dos selos é recente, mas resgatam bem o propósito de 76, desempenhando papel importante na vida das bandas indies nacionais. Na verdade, a maior parte dos selos daqui acaba sendo um conglomerado de grupos amigos, reunindo um mesmo estilo de som.Midsummer Medness, Monstro Discos, Submarine, Ordinary, Short Records são alguns desses idealistas que estão fazendo a coisa funcionar aqui em nosso país. A Monstro Discos, por exemplo, além de gravar diversas bandas, realiza há sete anos o "Goiânia Noise Festival", uma festa do rock independente que reúne grupos de todo o Brasil e também de fora. (veja a programação nas outras páginas)

Para saber um pouco mais como funciona esse "negócio" de selos (e, quem sabe inspirar-se em criar o próprio), leia a seguir algumas explicações e comentários de Marcelo Fusco, que cuida da divulgação e distribuição dos trabalhos da Spicy Gravações Elétricas e é também baterista de algumas bandas do circuito independente.

Márcia Raele

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Nos idos de 75 um sujeito chamado Malcolm Mclaren voltava de uma temporada na grande maça onde foi empresário do então famigerado New York Dolls. Circulou pela sarjeta nova-iorquina e encontrou uma crescente efervescência artística que cantava o lado podre da vida, conheceu um fulano chamado Richard Hell e suas roupas em frangalhos e trejeito transloucado.Com tudo isso na cabeça e já em Londres forjou o Sex Pistols e a estética Punk. Mas toda a história que veio depois não ficou apenas como moda para ser consumida nos shoppings centers da vida. Mas com toda a indumentária também veio o lema "Do-It-Yourself" ou "Faça Você Mesmo", fazendo com que jovens insatisfeitos de toda a ilha britânica montasse bandas, escrevesse fanzines e criassem gravadoras. E foi justamente assim que começou a pipocar milhares de bandas e gravadoras para lançar seus discos. Provavelmente este seja o maior legado deixado pelo movimento Punk.A partir daí as gravadoras independentes foram crescendo e conquistando o seu espaço como produto pop. Justamente porque sanava um pedaço do mercado ignorado pelas grandes (maquiavélicas) gravadoras. E vieram a Rough Trade que lançaria posteriormente os Smiths, a Beggars Banquet que entre outros lançaram Bauhaus e The Cult e anos depois a Creation que presenteou o mundo com My Bloody Valentine, House of Love, Oasis. Isso sem contar o outro fenômeno que foi o começo dos anos 90 com a Fool, lançando o Blur, a Dedicated lançando Spiritualized, Clawfist lançando Gallon Drunk e The Family Cat, entre outras.Claro que tudo isso atravessou o Atlântico e tomou a terra do Tio Sam dando origem à Alternative Tentacles do lendário Jello Biafra, que lançou toda a discografia de sua extinta banda Dead Kennedys. O ex-guitarrista do Black Flag fundou a SST nos anos 80 e tinha em seu cast bandas fundamentais como Husker Dü e Sonic Youth. A Sub Pop que deu ao mundo Green River, Mudhoney e Nirvana. A Epitaph do Bad Religion e mais recentemente a Matador, que abasteceu os anos 90 com Pavement, Yo La Tengo, Cat Poer. São muitas e...é claro que tudo isso aportou por aqui com a Ataque Frontal, Baratos Afins e de 95 para cá vêm se destacando a Ordinary, Slag, Monstro Discos. A diferença das daqui com as de fora é, obvio, a infra-estrutura.Mas toda essa ladainha era fundamental para se entender o porquê de se escrever não sobre uma banda, mas sim sobre selos. Mas principalmente para entender a cabeça do então adolescente Rodrigo Lariú, que no dia do seu aniversário em maio de 89 decide escrever um zine e vendo que muitos dos seus amigos tinha bandas tão boas quanto as que ele encontrava nas importadoras, decidiu fazer do zine também uma gravadora, a Midsummer Madness. Hoje, 12 anos depois, já foram mais de 40 fitas e seis CDs lançados, inclusive bandas gringas como Creeping Jenny, January, Honeyhunter, fazendo com que o mercado independente tenha um caráter cada vez mais profissional.

Nesta edição breves comentários sobre duas bandas da Midsummer (se tudo der certo e conseguirmos soltar mais um zine, outras bandas do selo aparecerão).

Melodias de uma Estrela Falsa é basicamente um disco de canções. Mas são canções

bastante diferentes daquilo que se espera de uma banda de rock em português: Os melódicos

vocais se sobrepõem em harmonias sutis, e a poesia está bem longe de parecer com aquilo que se produziu no pop nacional dos anos 80

(fato raro em bandas tupiniquins). E estes vocais são sustentados por camadas de guitarras

abrasivas, fazendo com que o resultado final lembre algo como os caras do Teenage Fanclub cantando sobre o disco Automatic, do Jesus and Mary Chain. Mas as boas influências não param

por aí. Quase todo o guitar-rock europeu produzido entre My Bloody Valentine e Stone Roses pode ser notado, o que deve agradar

bastante os fãs do som dessa época.

(Renato Henriques de SouzaEditor de This is the Modern World

[email protected])

PELVs PenínsulaImagine um desconhecido fenômeno de espaço e tempo, que fizesse com que o Swervedriver se encontrasse com Burt Bacharach numa praia da Califórnia, no começo dos anos 60. O disco resultante deste encontro provavelmente teria muito em comum com Península, do Pelvs. Em comum com o Swerverdriver, está o peso e o tipo de harmonias utilizadas em músicas como Backdoor e Equador. O lado Burt Bacharach pode ser encontrado nos momentos mezzo jazz mezzo easy listening de After Shave, Barbecue e Ricardo. O clima de praia, por sua vez, é garantido pela capa, título do álbum e de algumas músicas (I´ll Surf, Sun of a Beach), e pela sonoridade de Acid Al, onde a influência do surf rock de velha guarda é notável. Dentro da obra, She´s Never Had a Drink merece destaque, por ter uma atmosfera jazzy e onírica bastante interessante, e Even If the Sun Goes Down (I´ll Surf), que abre o disco, é simplesmente a melhor faixa, tem um ótimo astral (uma espécie de alegria tímida) e parece ter exatamente o mesmo ritmo da vida. Mas as outras 15 faixas também são excelentes, e muito bem tocadas. Península é um disco que dá gosto de ouvir.

ASTROMATO Melod uma Estrela Falsaias de

Midsummer MadnessRafael Martins

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Se você anda procurando uma trilha sonora para alguns de seus entender porque eles se intitulam uma banda "power pop". Muito

casos amorosos mal-resolvidos poderá encontrar no Raindrops violão, guitarras melódicas, tudo muito compassado e calmo.

(Campinas) a combinação certa entre "sound tracks" e "loves". O Anos 60, Beatles , grupos indies atuais como Teenage Fanclub

próprio vocalista da banda, André, afirma que a letras são todas fatalmente serão lembrados. "Nós somos uma banda que vai no

baseadas em suas experiências pessoais e em cenas de filmes. sentido oposto da maioria dos outros grupos de rock

independente, que geralmente abusam da distorção. A gente Ele conta também que um vocalista de um grupo de hardcore emo

prefere algo com menos barulho", comenta André.da Itália, com quem se comunica via Internet, colocou uma das

músicas do Raindrops em sua rádio pessoal com o seguinte Um selo (não divulgado) se mostrou interessado em lançar esse

comentário: 'se você está procurando uma banda "pop, pop, pop" primeiro CD da banda, mas ainda não está nada concretizado.

do Brasil ouça "ellen" do Raindrops'. Mesmo que não role, André afirma que vão soltar o CD com os

próprios meios. Nele entrarão as músicas "ellen", "i won't let you Por sinal, os canais virtuais têm sido o principal meio de difusão

go", "sweet girl", "reason to feel sad", "rainy day", "sunlight is do trabalho do grupo. Eles podem ser ouvidos no listen.com, no

gone", "give me a reason" (a melhor do CD), "power pop song" (a dgolpe e no audiogalaxy. Neles recebem comparações a Weezer,

mais nova e muito boa), "stone river" e mais uma instrumental. E Lou Reed e Galaxie 500. O que é bastante gratificante à banda,

quando elas estiverem na praça, com certeza muitos corações principalmente a André, que está no Raindrops desde sua

apaixonados vão se identificar. Ou vai dizer que nunca passou na formação, em 1997. "No início a banda era mais punk. Mas com a

sua cabeça frases do tipo "por que tão longe?, eu quero você em formação atual, fazemos o som que sempre quis fazer", afirma.

meus braços, eu preciso encontrar uma resposta agora mesmo..." Armando (guitarra), Reginaldo (baixo) e Célia (bateria) são os

(stone river)????outros componentes.

(Contato: [email protected])O Raindrops deve lançar até o final do ano seu primeiro CD.

Numa rápida ouvida no que deverá finalizar-se o trabalho, dá para Márcia Raele

RAINDROPS

“Nós vamos na direçãocontrária”

(GO), Detetives (SP), Los Gramofocas (DF), Soul Rockers (GO) e Señores (GO).Teatro Noise: Os the Dharma Lovers (RS), Momento 68 (SP), Blue Afternoon (SP) e Violins & Old Books (GO).

Pelo sétimo ano consecutivo o "Goiânia Noise Festival" vai estourar os tímpanos do centro brasileiro. Nos dias 12,

13/10/2001 - sábado13 e 14 de outubro estarão reunidas 36 bandas em dois

Palco Noise: Nebula (USA), Dead Billies (BA), Walverdes palcos do Centro Cultural Martim Cererê (para quem for, é

(RS), MQN (GO), Ambervisions (SC), FuzzFaces (SP), só chegar na "rodô", que eles informam onde fica).

Ps&co Ataq (GO), Lobinho e os 3 Porcão (GO).Mechanics, Grenade, Astromato, Ratos de Porão, Hurtmold

Teatro Noise: Grenade (PR), Prot(o) (DF), Astromato (SP) e e também a banda americana Nebula (de Los Angeles, que

NEM (GO).pertence a Sub Pop) são algumas das atrações. Para quem está com fome de boa música, confira a seguir o cardápio

14/10/2001 - Domingocompleto:

Palco Noise: Ratos de Porão (SP), Wander Wildner (RS), Leela (RJ), Hang The Superstars (GO), Prole (SP), Hurtmold

12/10/2001 - sexta feira(SP), Resitentes (GO) e Crack Down (GO).

Palco Noise: Video Hits (RS), Devotos de Nossa Senhora Teatro Noise: Sonic Jr (AL), Tom Bloch (RS), the

(SP), Malditos Ácaros do Microcosmo (PR), Mechanics Tamborines (PR) e Motherfish (GO).

Goiânia Noise Festival

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Para não esquecer>>>>>>>>>>>>>>>>>

LUNA - Planet Z -São Carlos-SP (26-09-2001)

Quando assisti pela primeira vez uma apresentação do LUNA na TV

pensei comigo: - este é o tipo de banda que jamais virá ao Brasil; calmo

demais e punk de menos.

Alguns anos depois cá estou, em frente ao Luna em um palco sem

seguranças, do tipo que ninguém vai derrubar sua cerveja!!

O show de abertura ficou por conta dos cariocas do Pelvs que fez uma

apresentação super competente. Eles já contam com três álbuns

lançados pelo selo MidSummer Madness. Só foram prejudicados por um

corte de energia que deixou todo mundo apreensivo, mas logo tudo foi

resolvido.

Neste momento o pessoal do LUNA já circulava pelo local. A primeira a

ser notada foi a baixista Britta Phillips que, segundo o site oficial deles,

já foi atriz tendo feito um filme com nada menos que Júlia Roberts! Em

seguida avistei, bebendo uma latinha de Skol, ele: Dean Wareham que

liderou o GALIXIE 500 , no final dos anos 80 indo na contra-mão do

movimento grunge, fazendo um som ainda mais introspectivo que o

próprio LUNA. Logo mais Wareham estaria no palco fumando um

Mallrboro.

Com apenas um rodie, a banda montou seu equipamento e começou a

tocar. Dai pra frente foi só curtir um show impressionante, com pouca

distorção e muito bem arranjado , bem próximo aos Cds da banda. O

som estava ótimo, apesar deles reclamarem bastante da falta de

retorno. Para mim o ponto alto ficou por conta de friendly advice, a

mesma da apresentação que eu tinha visto na TV. Dean se irritou com a

insistência do público pedir a cada intervalo a mesma música, que se

tratava de slash your tires, do primeiro disco, que eles tocaram meio

acelerada. E o gran-finale veio com um bis de 4ht of July do GALAXIE

500 levando alguns, incluindo eu, ao delírio!!

Ou seja, tudo que se lê na internet sobre LUNA é a mais pura verdade.

Uma banda Underground que faz pop com um refinamento peculiar e

um dos melhores shows da cena Indie Norte-Ameircana. A produção

está de parabéns assim como o Local (Planet Z) super bacana, e preço

camaradíssimo; R$ 10,00!!!

André Biagio.

www.fuzzywuzzy.com (site Oficial do LUNA)

www.s2discos.com ( produção)

www.brittaphillips.com (site sobre a baixista e musa)

Pogo e Vibração(Campinas - 26-01-2001)

O suor pinga por todos os corpos. O público já está indo embora.

Num canto vazio, um homem troca suas calças sentado em um

banquinho. Só de cueca, preta, se expõe meio às escondidas, mas

sem muita preocupação para uma pessoa com mais de cinqüenta.

Esse é Eddie, baterista do Vibrators (banda punk da Inglaterra), após

o show que fizeram no bar Ozz, no dia 26 de janeiro, em Campinas.

Não muito diferente dele, no canto oposto, Knox, o vocalista e

guitarrista da banda, largado, totalmente exausto com seus cabelos

crespos e cumpridos. "Estou bebendo", diz ele a minha amiga. Mas

Robbie, o baixista, se mantém mais ativo, apesar do aparente

cansaço e do calor insuportável.

Digo a ele que estamos produzindo um fanzine e que gostaria de lhe

fazer algumas perguntas. Na mesma hora pára de arrumar suas

coisas e me chama para um lugar mais tranqüilo para conversarmos à

vontade. A "vibração" do show ainda está presente em seus olhos.

Ser punk ou tocar punk com mais de 50 anos deve ser realmente uma

experiência e tanto. Parece até coisa de criança, mas vendo seu

entusiasmo durante nossa conversa pensei: "quero ser como ele

daqui a 25 anos".

"Qual é a diferença entre ser punk em 1976 e ser punk nos dias de

hoje?", pergunto ao baixista do Vibrators, que responde que em 1976

eram muito jovens. "Hoje é um pouco diferente", afirma, "somos mais

calmos, menos agressivos".

Robbie acha que as bandas punks atuais possuem o mesmo

sentimento das bandas do início do punk. Mesmo as mais comerciais

como Green Day, Rancid ou Off Spring. "Acredito que quando se é

jovem, você sempre tem algo a dizer, algo para se expressar. É isso o

que move as bandas, e os grupos punks de hoje também fazem isso",

comenta.

Na estrada há 25 anos, esta foi a primeira apresentação do Vibrators

no Brasil. Um público de várias fases do grupo estava presente

desde fãs de verdade que levavam o primeiro disco ("Pure Mania")

para ser autografado, até alguns menos conscientes, que nem

sabiam que banda tocaria na noite. Mas sem problemas. Vibração e

pogação fizeram a festa geral.

Robbie diz que não tinha a menor expectativa do tipo de público que

encontraria por aqui. Mas pelo seu sorriso, gostou e muito do que

viu. "Adorei o Brasil e adorei o show de hoje. Gostei também muito

das bandas que tocaram com a gente ".

(Depois do Brasil, a banda partiria para a Inglaterra, depois para os

Estados Unidos e de volta ao resto da Europa. Este mês retornam à

Inglaterra para gravarem um novo disco.)

Márcia Raele

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LANÇAMENTOS

The Argument" - Fugazi"The Argument" é o nome do próximo álbum do Fugazi. O single furniture foi lançado dia 8 de outubro na Europa e dia 15 sai nos Estados Unidos. Essa música já é tocada há algum tempo nos shows da banda, mas nunca foi garavada. Ela estará no CD e na versão 7", mas não entra no LP. "The Argument" será o primeiro álbum com músicas inéditas desde "End Hits", de 1998. Entre eles, o grupo lançou em 99 "Instrument Soundtrack", só com as músicas instrumentais do vídeo homônimo produzido no mesmo ano por Jem Cohen e a banda. Tal vídeo, no próximo mês, será lançado no formato DVD contendo mais filmagens. Também dever sair em DVD o "Minor Threat Live", no início de 2002. Quanto aos shows do Fugazi, Ian Mackaye diz que só para o próximo ano. Até dezembro estão de "recesso", pois o baixista da banda Joe Lally acaba de ser pai e precisará passar uns tempos com sua mulher e baby.

“Since I Left You" - AvalanchesPara os que gostam de música eletrônica o primeiro álbum do grupo australiano The Avalanches, "Since I Left You", lançado em julho, pode agradar alguns ouvidos. As músicas são compressões de colagens dos mais variados tipos. Diálogos de filmes, buzinas, cavalos... tem de tudo. O grupo faz bem o que se propõe, mas até que ponto tantas colagens (são mais de 900 em todo o álbum) pode significar algo interessante vai depender muito do gosto de cada um. Algumas pessoas chegaram a dizer que o grupo faz inveja a DJ Shadow. Não acredito. As colagens de Shadow caem nos lugares certos dando força a música, já na dos Avalanches são muitas informação dentro de uma mesma composição, o que acaba se perdendo e resultando numa música que não chega a lugar algum.

"3.500 Days Alive" - Garage FuzzSaiu em setembro o novo CD do Garage Fuzz, "3.500 Days Alive", só com gravações ao vivo. São 16 músicas, sendo três inéditas (embedded needs, some warm at least e engines and tools). Entre algumas das pancadarias já conhecidas estão observant, it's funny e wrapping paper. Quem costuma aparecer nos shows da banda sabe bem como são. A inédita embedded needs tem um vídeo disponível na Internet. É só acessar o site www.garagefuzz.com.br e ter quicktime para rolar. As músicas do CD são: observant, replace, embedded needs, wrapping paper, shore of hope, lead a pointless life, tireless on fire, it's funny, stream, some warm at least, morgan, explain, simply waiting, after the rain, engines and tools, when all the things.

Outros lançamento legais do ano: Hurtmold, Divine,

Biggs, Gardener, Thee Butcher's Orchestra,

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Essa é a edição 0 - outubro de 2001 - distribuiição gratuita